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TYCIANE CRONEMBERGER VIANA VAZ JORNALISMO DE SERVIÇO: O GÊNERO UTILITÁRIO NA MÍDIA IMPRESSA BRASILEIRA Universidade Metodista de São Paulo Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social São Bernardo do Campo – SP, 2009

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TYCIANE CRONEMBERGER VIANA VAZ

JORNALISMO DE SERVIÇO: O GÊNERO UTILITÁRIO NA MÍDIA IMPRESSA BRASILEIRA

Universidade Metodista de São Paulo

Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social

São Bernardo do Campo – SP, 2009

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TYCIANE CRONEMBERGER VIANA VAZ

JORNALISMO DE SERVIÇO: O GÊNERO UTILITÁRIO NA MÍDIA IMPRESSA BRASILEIRA

Dissertação apresentada em cumprimento parcial às exigências do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo, para a obtenção do título de Mestre. Orientador: Prof. Dr. José Marques de Melo.

Universidade Metodista de São Paulo

Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social

São Bernardo do Campo – SP, 2009

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FICHA CATALOGRÁFICA

V477j

Vaz, Tyciane Cronemberger Viana Jornalismo de serviço : o gênero utilitário na mídia impressa brasileira / Tyciane Cronemberger Viana Vaz. 2009. 197 f. Dissertação (mestrado em Comunicação Social) --Faculdade de Comunicação da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2009. Orientação : José Marques de Melo 1. Jornalismo 2. Mídia impressa 3. Jornalismo - Brasil I. Título. CDD 079.81

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FOLHA DE APROVAÇÃO

A dissertação Jornalismo de Serviço: O gênero utilitário na mídia impressa brasileira,

elaborada por Tyciane Cronemberger Viana Vaz, foi defendida no dia 18 de março

de 2009, perante mesa examinadora composta por prof. Dr. José Marques de Melo,

profa. Dra. Sandra Reimão e prof. Dra Manuel Carlos Chaparro.

Declaro que a autora incorporou as modificações sugeridas pela banca

examinadora, sob a minha anuência enquanto orientador, nos termos do Art. 34 do

regulamento dos Cursos de Pós-Graduação.

Assinatura do orientador: _______________________________________________

Nome do orientador: Prof. Dr. José Marques de Melo

São Bernardo do Campo, 18 de março de 2009.

Visto do Coordenador do Programa de Pós-Graduação: ______________________

Área de concentração: Comunicação Social

Linha de Pesquisa: Midiologia

Projeto Temático: Jornalismo de Serviço

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Ao amor de

Lucas Cronemberger, Amparo e Eneas Vaz

(minha família, minha vida)

Ao exemplo de

José Marques de Melo, Ana Regina Rêgo,

Samantha Castelo Branco e Sandra Reimão

(meus professores, meus mestres)

À memória de

Diego e Daniel

(meus irmãos, meus anjos)

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AGRADECIMENTOS

À Deus, fonte de coragem e força (“Ele é a razão para lutarmos até o final”).

Ao Lucas, meu marido e exemplo de determinação, pelo amor e companheirismo.

Aos meus pais, meus guias, por possibilitarem a realização de todos os meus

sonhos.

À minha querida família, avós, tios, primos, à tia-irmã Alinne, à afilhada amada

Leticia, à minha sogra e cunhada, por estarem sempre por perto, mesmo que de

longe.

Ao professor José Marques de Melo, pela confiança, apoio e orientação.

Aos professores do Pós-Com, pela acolhida e valiosos ensinamentos, em especial,

Sandra Reimão, Cicília Peruzzo, Antônio Carlos Ruótolo e Isaac Epstein.

Às minhas mestras e amigas, Ana Regina Rêgo e Samantha Castelo Branco,

grandes incentivadoras dessa empreitada.

À equipe da Cátedra Unesco de Comunicação, em especial, Damiana Rosa e

Cristina Gobbi, pela atenção.

Aos colegas da Metodista, em especial à Ana Caroline Castro e Mônica Nunes,

pelas proveitosas e divertidas discussões, e à Alexandra González, Francisco de

Assis, Érica Rizzi, Roni Petterson, Thailissa Andara, Alessandra Falco, Leonardo

Zanon, Victor Alves e Orlando Berti, pelo convívio e aprendizado compartilhado.

Aos amigos que deixei em Teresina, pelo carinho e incentivo, em especial, à

Dayanne Holanda, Thaís Loiola e Paula Danielle (e o pequeno João Vicente).

Aos que me receberam em São Paulo, por tornarem minha estadia mais feliz. Meus

agradecimentos à Joana e Marcelo Markunas, pela acolhida; à Camila Pieroti, pela

amizade e companhia; e à Karla e Lauro Rodolpho Lopes, amigos de toda vida.

Ao pedacinho de Teresina em São Paulo, através dos casais amigos, Lígia e Rafael

Correia Lima, Mariana e Ivo Canamary, Larissa e Thiago Nunes, Lorena e André

Castro, e Anucha e Sérgio Lobão (e o pequeno Lucas).

Aos funcionários do Arquivo Público do Estado de São Paulo, pelo zelo ao material

pesquisado.

Ao CNPq, pela bolsa de estudos.

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“Porque o jornalismo é uma paixão insaciável [...].

Ninguém que não tenha nascido para isso e esteja

disposto a viver só para isso poderia persistir

numa profissão tão incompreensível e voraz”

(Gabriel Garcia Márquez)

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RESUMO

Esta pesquisa tem o propósito de analisar o jornalismo de serviço em dois casos da mídia impressa brasileira: o jornal Folha de S. Paulo e a revista Veja, incluindo a revista Veja São Paulo. O que se buscou foi entender como o jornalismo de serviço, também denominado de gênero utilitário ou espécies utilitárias, está presente no jornalismo impresso atual. Em um primeiro momento realizou-se revisão bibliográfica sobre esta modalidade de produção jornalística. A seguir, fez-se uma pesquisa exploratória sobre o material de jornalismo de serviço publicado nos objetos estudados. Em terceiro momento, foi efetuada uma abordagem quantitativa dos formatos e tipos do gênero utilitário nesses veículos em questão, em edições selecionadas no ano de 2008. E, por último, através de entrevistas semi-abertas com editores da Veja e da Folha de S. Paulo, pretendeu-se entender os motivos que subsidiam as decisões editorais a respeito de tal modalidade jornalística. A análise revelou a presença deste gênero jorna lístico desde o início da publicação desses veículos até os dias atuais. Contatou-se a existência de seis formatos, sendo quatro deles já identificados por Marques de Melo, e dois identificados nesta pesquisa, que foram considerados como tipos híbridos de gêneros. Palavras-chave: Midiologia, Jornalismo, Jornalismo Brasileiro, Gêneros Jornalísticos, Jornalismo Utilitário.

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ABSTRACT

This research has the purpose to analyze service journalism in two cases of Brazilian print media: the newspaper Folha de São Paulo and the magazine Veja, including the magazine Veja São Paulo. The intention was to understand how service journalism, also named as utilitarian genre or utilitarian species, is present in actual print journalism. Firstly, a bibliographic revision was made on this journalism production mode. Then, an exploratory research was made on the service journalism material, published on the studied objects. Thirdly, a quantitative study was made on formats and types of the utilitarian genre on those media vehicles, in editions selected in the year of 2008. And at last, through semi-open interviews with editors from Veja magazine and Folha de São Paulo, it intended to understand the reasons that subside the editorial decisions on behalf of that journalistic kind. The analysis showed that this journalistic genre has been present since it started to be published, until today. It has been noticed that there are six formats; Marques de Melo had already identified four of them, and two, identified in this research, were considered hybrid genres. Keywords: Mediology, Journalism, Brazilian Journalism, Journalistic Genres, Utilitarian Journalism

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RESUMEM

Esta investigación tiene el propósito de analizar el periodismo de servicio en dos casos de la media impresa brasileña el periódico Folha de S. Paulo y la revista Veja, incluyendo la revista Veja São Paulo Lo que se buscó fue comprender como el periodismo de servicio, también denominado género utilitario o especies utilitarias, está presente en el periodismo impreso actual. En un primer momento se realizó una revisión bibliográfica sobre esta modalidad de producción periodística. En seguida, hicimos una investigación exploratoria sobre el material de periodismo de servicio publicado en los objetos estudiados. En tercer momento, efectuamos un abordaje cuantitativo de los formatos y tipos del género utilitario en esos vehículos en cuestión, en ediciones seleccionadas en el año de 2008. Y, por último, a través de entrevistas semiabiertas con editores de la Veja y de la Folha de S. Paulo, buscando comprender así los motivos que subsidian las decisiones editoriales a respecto de tal modalidad periodística. El análisis reveló la presencia de este género periodístico desde el inicio de la difusión de estos vehículos hasta los días actuales. Se constató la existencia de seis formatos, siendo cuatro de ellos ya identificados por Marques de Melo, y dos identificados en esta investigación, que fueron considerados como tipos híbridos de géneros. Palabras-clave: Midiologia, Periodismo, Periodismo Brasileño, Géneros Periodísticos, Periodismo Utilitário.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Jornais de maior circulação no país 22

Quadro 2 – Revistas de maior circulação no país 22

Quadro 3 – Classificações de gêneros e formatos de Luiz Beltrão 36

Quadro 4 – Classificações de gêneros e formatos de Marques de Melo, década de 80 37

Quadro 5 – Classificações de gêneros e formatos de Marques de Melo, século XXI 37

Quadro 6 – Classificações de gêneros e espécies de Chaparro 39

Quadro 7 – Pesquisa de Lailton Costa (2008): quantificação de gêneros por jornal 45

Quadro 8 – Pesquisa de Lailton Costa (2008): quantificação de formatos do Gênero

Utilitário por jornal

45

Quadro 9 – Planilha de análise Folha de S. Paulo 133

Quadro 10 – Planilha de análise Veja e Veja S. Paulo 142

Quadro 11 – Unidades de informação por dia analisado na Folha 150

Quadro 12 – Unidades de informação por dia analisado na Veja e Veja S. Paulo 154

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Data da coleta dos exemplares da Folha e Veja. 132

Tabela 2 – Formatos e tipos do gênero utilitário na Folha de S. Paulo 148

Tabela 3 – Formatos do gênero utilitário e cadernos da Folha de S. Paulo 151

Tabela 4 – Formatos e tipos do gênero utilitário na Veja e Veja S. Paulo 152

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Folha da Manhã: Necrologia 69

Figura 2 – Folha da Manhã: Cotação e Indicadores Econômicos 70

Figura 3 – Folha da Manhã: Loterias e Achados 70

Figura 4 – Folha da Manhã: Roteiros culturais 71

Figura 5 – Folha da Manhã: Assuntos femininos 72

Figura 6 – Folha da Noite: Necrologia/Parte Commercial 72

Figura 7 – Folha da Noite: Diversões/Femininas 73

Figura 8 – Folha da Noite: Notícias Religiosas/Turf/Necrologia 74

Figura 9 – Folha da Manhã: Útil e Interessante para todos 75

Figura 10 – Folha da Manhã: Consultas 76

Figura 11 – Folha da Manhã: Programa de Rádio 76

Figura 12 – Folha da Noite: Sugestões Úteis 78

Figura 13 – Folha da Noite: O povo reclama/ Sugestões e Reclamações 79

Figura 14 – Folha da Noite: Livros Novos 79

Figura 15 – Folha da Manhã: Farmácias de Plantão 80

Figura 16 – Folha da Manhã: Editoria Feminina 81

Figura 17 – Folha da Manhã: Anúncio 82

Figura 18 – Folha da Manhã: Diretoria do Serviço de Trânsito 84

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Figura 19 – Folha da Manhã: Pontos de embarque 85

Figura 20 – Folha da Manhã: capa 86

Figura 21 – Folha da Noite: Bolsa de Teatro 86

Figura 22 – Folha da Tarde: Programação da TV 87

Figura 23 – Folha da Manhã: capa 88

Figura 24 – Folha de S. Paulo: capa 89

Figura 25 – Folha de S. Paulo: capa- um jornal a serviço do Brasil 89

Figura 26 – Folha de São Paulo: Como escolher os brinquedos 90

Figura 27 – Folha de S. Paulo: Folha Feminina 91

Figura 28 – Folha de S. Paulo: Folha Agropecuária 92

Figura 29 – Folha de S. Paulo: Caderno de Turismo 92

Figura 30 – Folha de S. Paulo: Caderno de Turismo/Dicas de Viagem 93

Figura 31 – Folha de S. Paulo: As opções dos jovens 93

Figura 32 – Folha S. Paulo: A cidade é sua 94

Figura 33 – Folha de S. Paulo: Os livros mais vendidos da semana 95

Figura 34 – Folha de S. Paulo: Folha Ilustrada/Acontece 96

Figura 35 – Folha de S. Paulo: Placar esportivo 96

Figura 36 – Folha de S. Paulo: Agenda esportiva 97

Figura 37 – Folha de S. Paulo: Mortes 98

Figura 38 – Folha de S. Paulo: Acontece/ Cidades 98

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Figura 39 – Folha de S. Paulo: Valores de IPVA 99

Figura 40 – Folha de S. Paulo: Indicadores econômicos 100

Figura 41 – Folha de S. Paulo: Serviço em Turismo 101

Figura 42 – Folha de S. Paulo: Agenda do candidato/Fovest 90 101

Figura 43 – Folha de S. Paulo: Informática/Guia de Compras 102

Figura 44 – Folha de S. Paulo: Agenda da Folhinha 103

Figura 45 – Folha de S. Paulo: Empregos, como se portar em entrevista 103

Figura 46 – Folha de S. Paulo: Revista Folha/Consumo 104

Figura 47 – Folha S. Paulo: Lançamento do Guia da Folha. 105

Figura 48 – Folha de S. Paulo: Guia da Folha. 105

Figura 49 – Revista Veja: capa da primeira edição 116

Figura 50 – Revista Veja: Roteiros 117

Figura 51 – Revista Veja: Vida Moderna 118

Figura 52 – Revista Veja: Indicações culturais 119

Figura 53 – Revista Veja: Cotações 119

Figura 54 – Revista Veja: Cotações e Investimentos 120

Figura 55 – Revista Veja: Matéria serviço 121

Figura 56 – Revista Veja: Carta do editor I 122

Figura 57 – Revista Veja: primeira edição da Veja em São Paulo (Encarte da revista) 123

Figura 58 – Revista Veja: Carta do editor II 123

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Figura 59 – Gráfico dos formatos do gênero utilitário na Folha de S. Paulo 148

Figura 60 – Gráfico dos Formatos do gênero utilitário na Veja 153

Figura 61 – Cotação, tipo serviço/salários 155

Figura 62 – Cotação do tipo mercados 155

Figura 63 – Cotação, tipo moedas e bolsa 156

Figura 64 – Indicador do tipo meteorologia I 156

Figura 65 – Indicador do tipo meteorologia II 157

Figura 66 – Indicador do tipo loterias 157

Figura 67 – Indicador do tipo telefones úteis 157

Figura 68 – Indicador do tipo necrologia 158

Figura 69 – Indicador do tipo programação de TV 158

Figura 70 – Indicador do tipo lista de indicações I 159

Figura 71 – Indicador do tipo lista de indicações II 159

Figura 72 – Indicador do tipo lista de indicações III 160

Figura 73 – Indicador do tipo indicador econômico 160

Figura 74 – Indicador do tipo indicador e trânsito 161

Figura 75 – Indicador do tipo indicador esportivo 161

Figura 76 – Roteiro do tipo cultura, lazer e diversão I 162

Figura 77 – Roteiro do tipo cultura, lazer e diversão II 162

Figura 78– Roteiro do tipo cultura, lazer e diversão III 163

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Figura 79 – Roteiro do tipo cultura, lazer e diversão IV 163

Figura 80 – Serviço tipo expediente 164

Figura 81 – Serviço do tipo relatos de serviço I 165

Figura 82 – Serviço do tipo relatos de serviço II 165

Figura 83 – Serviço do tipo relatos de serviço III 166

Figura 84 – Serviço do tipo consumo I 167

Figura 85 – Serviço do tipo consumo II 167

Figura 86 – Carta – consulta 168

Figura 87 – Serviço do tipo entenda as tabelas e códigos 168

Figura 88 – Serviço do tipo box e quadros de serviço 169

Figura 89– Serviço do tipo orientação. 170

Figura 90 – Serviço do tipo box roteiro 170

Figura 91 – Anúncio publicitário em matéria jornalística 179

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..........................................................................................................................19 Procedimentos metodológicos .............................................................................................23 Estrutura da dissertação.......................................................................................................27

CAPÍTULO I - O SERVIÇO DO JORNALISMO: UM GÊNERO EM QUESTÃO.....................29 1.1. O jornalismo e os gêneros ............................................................................................29 1.2. Os gêneros e suas classificações .................................................................................36 1.3. Jornalismo de Serviço: a informação útil na mídia .......................................................40 1.4. O serviço no jornal impresso.........................................................................................42 1.5. O jornalismo utilitário nas revistas ................................................................................48 1.6. O jornalismo de serviço no rádio e televisão ................................................................50 1.7. Informações úteis no jornalismo produzido na Internet ................................................53 1.8. Jornalismo de serviço: um gênero independente? .......................................................54

CAPÍTULO II - GÊNESE E DESENVOLVIMENTO DA UTILIDADE NA IMPRENSA BRASILEIRA.............................................................................................................................57

1.1. Processos de urbanização no Brasil e a relação com o jornalismo de serviço...........57 1.2. Nasce a imprensa, e com ela, as informações utilitárias .............................................62 1.3. A Imprensa Paulista ......................................................................................................65 1.4. A Folha de São Paulo....................................................................................................67

1.4.1 O jornalismo de serviço na Folha............................................................................68 1.4.2 Folha de S. Paulo nos dias atuais: características e rotina de produção ............107

1.5. Segmento revistas .......................................................................................................111 1.6. Revistas Semanais......................................................................................................114

1.6.1 O jornalismo de serviço na Veja ...........................................................................116 1.6.2 Veja nos dias atuais: características e rotina de produção..................................124

1.7. Considerações sobre a pesquisa descritiva exploratória ...........................................126 CAPÍTULO III - PRESENÇA DO GÊNERO UTILITÁRIO NA FOLHA E VEJA.....................127

1.1. Tipologia do gênero utilitário por Beltrão, Marques de Melo e Chaparro ..................127 1.2 Análise ..........................................................................................................................132

1.2.1 Grupos de análise .................................................................................................133 1.3. Resultados da Folha de São Paulo.............................................................................147 1.4. Resultados Veja...........................................................................................................151 1.5. Formatos e tipos em figuras........................................................................................154

1.5.1 Cotação..................................................................................................................154 1.5.2 Indicador ................................................................................................................156 1.5.3 Roteiro ...................................................................................................................161 1.5.4 Serviço...................................................................................................................164 1.5.5 Olho .......................................................................................................................169 1.5.6 Dica........................................................................................................................170

1.6 Observações sobre os gêneros jornalísticos ...............................................................171 CAPÍTULO IV - UTILIDADE NO JORNALISMO OU PROPAGANDA DISFARÇADA?........173

1.1.Relação entre jornalismo, serviço e consumo.............................................................173 1.2. Utilidade ou disfarce: visão de autores .......................................................................176 1.3. Versão dos veículos sobre a prestação de serviços ..................................................181

1.3.1 Folha de São Paulo...............................................................................................181 1.3.2 Revista Veja...........................................................................................................184

1.4. A prestação de serviço nos media é jornalismo.........................................................186 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................189 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................194

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19

INTRODUÇÃO

Na sociedade atual, variadas opções são oferecidas aos consumidores, seja

em termos de lazer e cultura ou ainda bens e serviços disponíveis no mercado.

Dessa forma, os cidadãos necessitam cada vez mais de apoio e orientação para a

tomada de decisões. Os meios de comunicação buscam prestar serviços de

utilidade pública, muitas vezes, sobre assuntos que fazem parte do cotidiano dos

cidadãos.

A mídia impressa oferece este jornalismo utilitário, também conhecido como

jornalismo de serviço, de diversas formas. Presente tanto nos cadernos fixos dos

jornais quanto nos cadernos especiais e suplementos, editado em revistas semanais

e revistas especializadas, esse gênero do jornalismo vem ganhando espaço na

indústria midiática.

Prova disso é o aparecimento dos guias de serviço, principalmente nos jornais

localizados em metrópoles, onde as opções de lazer e consumo são mais diversas.

Entretanto, o serviço nos media nem sempre se manifesta pela orientação de

compra de produtos. Os jornais, revistas, telejornais e meios eletrônicos publicam a

previsão meteorológica, cotação de moedas e de mercado, entre outras informações

que se configuram como material jornalístico útil para o cidadão em suas ações

habituais.

Sabendo-se que há uma série de questões a serem analisadas em torno da

temática escolhida para este estudo, problematiza-se o projeto de pesquisa da

seguinte forma: como e por que o jornalismo de serviço é produzido pela mídia

impressa?

Antes de adentrar mais profundamente nas discussões sobre este gênero

jornalístico, há um ponto que merece ser tratado de antemão, que diz respeito à

terminologia. Gênero utilitário é uma expressão usada por Marques de Melo (2007).

Espécies utilitárias é o termo utilizado por Chaparro (2008). No decorrer deste

trabalho, utilizamos essas e outras terminações, como jornalismo de serviço, sem

distinção de significados, de acordo com o contexto situado pelos autores.

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20

No que concerne às hipóteses, propomos inicialmente que o gênero utilitário

tenha suas raízes na sociedade da informação, no final do século XX. Esse gênero

surge em um contexto pautado pelo consumismo, numa sociedade que exige dos

cidadãos decisões rápidas sobre a vida cotidiana. Outra hipótese assumida é com

relação à produção do jornalismo de serviço: parte do material utilitário chega pronto

para ser publicado através de instituições de divulgação ou assessorias de

imprensa.

Nesta pesquisa, parte-se do objetivo geral de analisar como o jornalismo de

serviço é produzido pela mídia impressa e verificar de que forma esse gênero

jornalístico aparece no jornal e na revista de maior circulação no país. Para atingir

essa proposta principal, a pesquisa busca:

1. Identificar os formatos e tipos do gênero utilitário publicados pelos

veículos selecionados;

2. Avaliar se o material jornalístico de serviço cumpre a função de prestar

orientações ao receptor;

3. Verificar como acontece o processo de produção desse material que visa

prestar serviço;

4. Aferir se há relação do departamento comercial com a parte editorial dos

veículos.

Justifica-se a escolha do tema de pesquisa por uma série de motivos.

Acredita-se que há uma reconhecida importância no âmbito acadêmico sobre os

estudos dos meios de comunicação de massa. Os cursos de graduação e pós-

graduação do Brasil a cada ano contabilizam um crescente número de pesquisas,

que abordam uma diversidade de temas e ângulos, que têm contribuído para o

avanço dos estudos em comunicação social.

Pensando no progresso das pesquisas no campo comunicacional brasileiro,

escolheu-se uma temática pouco focada anteriormente pela academia. Dessa forma,

justifica-se o foco desta pesquisa pela perspectiva de que os estudos sobre o

jornalismo de serviço na mídia brasileira são escassos e ainda não se dispuseram a

oferecer respostas a tal lacuna do campo científico da comunicação.

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Ainda sobre o enfoque do trabalho, acredita-se que há uma importante

relevância em desvendar como acontecem os processos de produção do material

jornalístico de serviço nos meios de comunicação impressos. Parte dele chega às

redações através de agências noticiosas ou instituições para ser publicado. Esses

materiais correspondem principalmente à cotação de mercado, a previsão do tempo,

ou mesmo os realeses e press-realeases de empresas que lançam um produto novo

no mercado e aspiram uma matéria de cunho de serviço.

Dessa forma, é de interesse a realização de uma pesquisa para saber se

esse material recebe tratamento nas redações dos jornais. Acredita-se que é

relevante uma pesquisa a fim de verificar se o produto final que chega ao receptor

seria um material jornalístico e se teria a finalidade de prestar serviço ao leitor.

Também, espera-se que a pesquisa possa avançar os estudos sobre

jornalismo de serviço, no sentido de desvendar tipologias desse gênero. Marques de

Melo (2007) classifica o gênero utilitário em quatro formatos (cotação, roteiro,

indicador e serviço). A pesquisa parte dessa classificação e, através de estudo

exploratório, visa chegar a uma tipologia específica desse gênero encontrada no

suporte impresso.

Para a definição dos objetos analisados, seguiu-se a classificação do Instituto

Verificador de Circulação (IVC)1. Logo mais, têm-se os quadros (quadro 1 e quadro

2) com os cinco jornais e as cinco revistas de maior circulação no Brasil e a média

de edições vendidas no ano de 2007. Os números apresentados nos quadros devem

ser multiplicados por mil.

1 Dados do IVC disponíveis em: MÍDIA DADOS 2008. São Paulo: Grupo de Mídia de São Paulo, 2008.

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Quadro 1 – Jornais de maior circulação no país

Jornal Cidade Média por edição (2007)

1. Folha de S. Paulo São Paulo 302,6

2. O Globo Rio de Janeiro 280,3

3. Extra Rio de Janeiro 273,6

4. O Estado de S. Paulo São Paulo 241,1

5. Super Notícia Belo Horizonte 238,6

* Fonte: IVC

Quadro 2 – Revistas de maior circulação no país

Revista- Interesse

geral/atualidades

Periodicidade Média por

edição (2007)

1. Veja Semanal 1.094,1

2. Época Semanal 417,8

3. Seleções Mensal 397,1

4. Isto É Semanal 344,2

5. Veja São Paulo Semanal 343,4

* Fonte: IVC

Assim, selecionou-se a Folha de São Paulo como mídia diária impressa, e a

Veja como revista semanal. Apesar da Veja São Paulo ser considerada uma revista

separada da Veja nacional, incluiu-se este veículo na pesquisa por ser um guia de

serviço ao paulistano, portanto, uma importante fonte de análise para o tema

abordado.

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Procedimentos metodológicos

O problema desta pesquisa se enquadra em uma situação indutiva, cuja

observação envolve tema e objetos que, possivelmente, permitem uma

generalização sobre o tema estudado. Sobre o método indutivo, Gil (2007) afirma

que nessas situações parte-se da observação ou fenômenos, cujas causas se

desejam conhecer; em seguida, procura-se compará-los com a finalidade de

descobrir as relações existentes entre eles. “Por fim, procede-se à generalização,

com base na relação verificada entre os fatos ou fenômenos”. (pp. 28-29).

No que concerne ao nível da pesquisa, destaca-se a realização de estudo

exploratório, com a utilização de algumas técnicas utilizadas em estudos de caso,

como levantamento bibliográfico e documental, entrevistas qualitativas e análise de

conteúdo. Isso porque se pretende chegar a uma descrição detalhada no resultado

final sobre o assunto submetido à indagação no problema de pesquisa.

Gil (2007) afirma que em pesquisas exploratórias o tema escolhido é bastante

genérico. Dessa forma, é preciso trabalhar com a perspectiva de esclarecimento ou

delimitação, sendo necessária a realização de revisão de literatura, discussão com

especialistas, entre outros procedimentos. O autor afirma também que os estudos

exploratórios buscam proporcionar uma visão geral, do tipo aproximativo, de

determinado fato. “Este tipo de pesquisa é realizado especialmente quando o tema

escolhido é pouco explorado” (p.43).

Nesta fase exploratória, fez-se um levantamento de edições dos veículos

selecionados, Folha e Veja, e verificou-se como o gênero utilitário se manifestava ao

longo dos anos nesses meios. Procurou-se selecionar desde as primeiras edições

até as do final do século XX. Nesta fase, não houve intuito de pontuar datas sobre

cadernos, suplementos ou editorias, nem quantificar através de uma amostragem

representativa. Na verdade, fez-se um resgate histórico da presença de formatos e

tipos do gênero utilitário, tentando apresentar a evolução dessa tipologia.

Tem-se aqui a proposta de apresentar um panorama sobre o que é o gênero

utilitário, como é produzido e de que forma ele chega aos leitores. Assim, configura-

se uma temática genérica que justifica a realização dessa pesquisa exploratória,

permitindo ainda o uso de diferentes técnicas incorporadas. Uma delas é a

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realização de levantamento bibliográfico detalhado, parte inerente a toda pesquisa

de cunho científico.

A revisão da literatura disponível, embora escassa, principalmente quando se

trata de referências brasileiras, é norteadora para a construção de idéias e conceitos

que envolvem a temática. Assim há necessidade de inclusão de autores forâneos,

provindos, sobretudo, da literatura espanhola .

A realização de entrevista em profundidade ou qualitativa é outra etapa

importante da pesquisa. Portanto, profissionais da redação de meios de

comunicação impressos foram abordados para a fase de aplicação de entrevistas do

tipo semi-abertas. Segundo Duarte (In: DUARTE, 2006, p.66), esse tipo de pesquisa

se caracteriza como: “modelo de entrevista que tem origem em uma matriz, um

roteiro de questões-guia que dão cobertura ao interesse a pesquisa”.

Como se pretende explorar o tema e, consequentemente, descrevê-lo,

acredita-se que a técnica de entrevista em profundidade permite a aproximação com

a situação em que se busca uma resposta.

A entrevista em profundidade é um recurso metodológico que busca, com base em teorias e pressupostos definidos pelo investigador, recolher respostas a partir da experiência subjetiva de uma fonte, selecionada por deter informações que se deseja conhecer (DUARTE In: DUARTE, 2006, p.62).

Ruótolo (1996) explica que a entrevista qualitativa configura-se como uma

forma fidedigna de aproximação com o público-alvo. Neste caso, o público-alvo foi

formado por produtores da informação, onde se insere o que chamamos de

jornalismo de serviço. Selecionou-se um profissional que respondesse em nome do

veículo de forma geral, e editores de cadernos ou suplementos, que tivessem uma

relativa importância na produção desse gênero jornalístico analisado.

Assim, as entrevistas foram realizadas com os seguintes profissionais:

a) na Folha:

1. Secretária-assistente de redação: Vera Guimarães

2. Editor interino do caderno “Ilustrada”: Naief Haddad

3. Editora do “Guia da Folha”: Adriana Ferreira

4. Editora do caderno “Cotidiano”: Denise Chiarato.

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b) na Veja:

5. Diretor de redação: Eurípedes Alcântara

6. Editor de executivo da Veja São Paulo: Wanderley Sanches

7. Editor da Veja São Paulo: Alessandro Duarte.

Segundo Yin (2005), as técnicas aplicadas ao estudo de caso permitem a

descrição de uma situação no contexto em que ela ocorre, utilizando múltiplas fontes

de evidências. “Você usaria o método de estudo de caso quando deliberadamente

quisesse lidar com condições contextuais, acreditando que elas poderiam ser

altamente pertinentes ao seu fenômeno de estudo” (p.32).

No caso desta pesquisa, as condições contextuais que envolvem a produção

do jornalismo de serviço nos jornais impressos são relevantes no desenvolvimento e

descrição do estudo. Acredita-se que o contexto em que a sociedade está inserida,

principalmente nesta era da informação, contribui para a existência do jornalismo

voltado para orientação dos cidadãos, dizendo como se deve agir em diversas

situações.

Godoy (1995) afirma ainda que o estudo de caso procura estabelecer relação

entre teoria e prática. Assim, essa técnica tem uma grande relevância para esta

análise, já que há uma necessidade da construção de uma teoria sobre o tema,

possível através de observação da prática. Sobre isso, considerou-se a necessidade

de combinar matizes quantitativas a essas técnicas qualitativas aplicadas à

pesquisa.

Assim, acrescentou-se ao estudo a aplicação da técnica de análise de

conteúdo. Segundo Herscovitz (2007, p. 126), nesta técnica há uma tentativa de

superar a dicotomia entre o qualitativo e o quantitativo com a:

integração entre as duas visões de forma que os conteúdos manifesto (visível) e latente (oculto, subentendido) sejam incluídos em um mesmo estudo para que compreenda não somente o significado implícito, o contexto onde ele ocorre, o meio de comunicação que o produz e o público ao qual é dirigido (Herscovitz, 2007, p. 126).

Acredita-se que a técnica permite uma melhor codificação do conteúdo

através de definições estabelecidas. Para Krippendorff (1990, p.28-29), a análise de

conteúdo é baseada em “técnicas de amostragem, de decomposição, de

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codificação, e outras análises matemáticas e estatísticas destinadas a fazer

aparecer as propriedades imediatas dos documentos”.

Com relação à amostra, as edições selecionadas foram do primeiro semestre

do ano de 2008. A amostragem incluiu sete edições de cada veículo, assim

formando uma semana construída da Folha de S. Paulo e sete edições de meses

diferentes da Veja. Analisaram-se as edições de ambos os veículos no mesmo

período, quer dizer, em semanas coincidentes. No capítulo da análise tem-se um

calendário com o período selecionado para a amostra.

A unidade de medida utilizada nesta pesquisa foi baseada em Unidade de

Informação (U.I.), proposta por Violette Morin (1974).

É extraída do texto para designar elementos persistentes de uma informação à outra e objetiva enumerar aquilo que se repete através daquilo que se modifica. O índice de frequência de que cada unidade está dotada e que servirá de ponto de partida para todas as análises (MORIN, 1974, p. 29).

Segundo esta proposição, não se tem a mensuração por superfície de

impressão (centímetro quadrado). Cada unidade de informação independe da

amplitude do texto, podendo ocorrer dentro de longos espaços, várias páginas, ou

em pequenos textos, como em notas. Essas unidades foram inseridas em grupos,

uma espécie de categorias.

A categorização foi feita em duas planilhas, uma para cada objeto analisado.

As variáveis foram construídas de acordo com a necessidade de identificação das

unidades de informação. Destaca-se que as variáveis de formatos e tipos foram

baseadas em classificações dos gêneros jornalísticos de autores como Marques de

Melo, Luiz Beltrão e Manuel Carlos Chaparro. Entretanto, foi necessária a realização

de pré-testes a fim de moldar e acrescentar outros grupos de análise para que

abarcassem as unidades do jornalismo utilitário encontradas no jornal e na revista.

É preciso dizer também que esta pesquisa considerou apenas as unidades de

informação de cunho utilitário. Portanto, excluindo os formatos e tipos de demais

gêneros jornalísticos. Em alguns casos, pode-se notar a hibridização de gêneros,

identificados pelas unidades que destacavam algum conteúdo com proposta de

prestar serviço. As planilhas, com as categorias, estão mais detalhadas no capítulo

três, onde também se concentrou os resultados desta pesquisa.

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Estrutura da dissertação

A dissertação encontra-se divida em quatro capítulos:

O primeiro consta de uma fundamentação teórica que inicia com uma revisão

sobre o ethos do jornalismo brasileiro. Em um segundo momento mostrou-se as

classificações dos gêneros jornalísticos pela perspectiva de Luiz Beltrão, Marques

de Melo e Manuel Carlos Chaparro. Em seguida, extraiu-se um único gênero, o

utilitário, a fim de prosseguir com as discussões teóricas e conceituais no que diz

respeito ao tema analisado.

Ainda na primeira parte da pesquisa, apresenta -se como acontece a

prestação de serviço nos suportes midiáticos na perspectiva de teóricos. E por fim,

levanta-se a discussão sobre jornalismo de serviço ser um gênero independente e

que não cabe em classificações opinativas e informativas já existentes.

Na segunda parte são apresentados os resultados da pesquisa exploratória e

histórica sobre o gênero utilitário na imprensa. No início do capítulo, discute-se a

questão dos processos de urbanização no Brasil e sua relação com o jornalismo de

serviço, perpassando sobre alguns aspectos do surgimento da imprensa brasileira e

paulista, no universo dos jornais impressos e revistas. Fez-se também um resgate

sobre a presença do gênero utilitário na Folha de S. Paulo e Veja, das primeiras

edições até meados da década de 90.

Em uma terceira parte, a pesquisa apresenta os resultados da verificação

empírica, quer dizer, a análise de conteúdo. Neste capítulo, os grupos de análise

foram apresentados, e em seguida, tecemos algumas considerações sobre os

diagnósticos estatísticos realizados na Folha e Veja, principalmente no que diz

respeito a formatos e tipos do gênero utilitário. Aqui se pode ter um diagnóstico de

cada veículo pesquisado. Também pode-se ter uma descrição da tipologia

identificada nesses meios.

Por fim, no último capítulo, discutimos aspectos da relação do jornalismo de

serviço, consumo e publicidade. Também abordamos questões referentes à

produção desse gênero jornalístico na visão dos produtores dessa informação. E

nas considerações finais, retomamos a discussão levantada nas hipóteses e nos

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objetivos dessa pesquisa, apresentando características inerentes ao jornalismo de

serviço e as principais contribuições da pesquisa.

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CAPÍTULO I - O SERVIÇO DO JORNALISMO: UM GÊNERO EM QUESTÃO 1.1 O jornalismo e os gêneros

Sabe-se que o jornalismo tem como característica intrínseca a atualidade.

Esse atributo está relacionado com o cotidiano, isto é, aos assuntos e

acontecimentos que envolvem o dia-a-dia da sociedade e que têm relevância

pública. Dessa forma, à instituição jornalística cabe a função de integrar os cidadãos

a um sistema coletivo mais amplo e complexo.

Marques de Melo 2 (2007) afirma que, além da atualidade, o jornalismo tem

como características operacionais a oportunidade, universalidade e publicidade.

Sobre a atualidade, o autor diz que o fio de ligação entre emissor e receptor no

jornalismo é o conjunto de fatos que estão acontecendo. Com relação à

oportunidade, Marques de Melo (2007) destaca a diferença entre o jornalismo na

idade da imprensa, pautado pela periodicidade, e o jornalismo na Internet, onde

impera a instantaneidade.

A universalidade é explicada pela diversidade dos veículos jornalísticos.

Segundo o autor, quanto mais diversificado um veículo jornalístico maior a sua

eficácia institucional. Já, o conceito de publicidade no jornalismo é apresentado

como a difusão coletiva das notícias e dos comentários, garantindo assim sua

acessibilidade ao público potencialmente interessado.

Ainda de acordo com Marques de Melo (2003a), o jornalismo é definido como

processo social que se articula a partir da relação (periódica/ oportuna) entre organizações formais (editoras e emissoras) e coletividades através de canais de difusão (jornal/revista/rádio/televisão/cinema/Internet) que asseguram a transmissão de informações (atuais) em função de interesse e expectativas (universos culturais ou ideológicos) (MARQUES DE MELO, 2003a, p. 17).

2 Notas de aula, na disciplina Gêneros Comunicacionais, curso de Pós-Graduação da Universidade Metodista de São Paulo.

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Danton Jobim (1960, apud Marques de Melo, 2003a) entende o jornalismo

como “necessidade social”. Para o autor, o jornalismo assume o caráter de

informação fundamentado nos princípios apontados por Jacques Kayser (apud

Marques de Melo, 2003a): a universalidade e a instantaneidade. Segundo Marques

de Melo (2003a, p.15), “a essência do jornalismo está no fluxo de informações da

atualidade que ocorre nas páginas dos jornais (e implicitamente também nos

espaços dos outros media)”.

Já na percepção de Luiz Beltrão (2006, p.30), o “jornalismo é informação de

fatos correntes, devidamente interpretados e transmitidos periodicamente à

sociedade, com objetivo de difundir conhecimento e orientar a opinião pública no

sentido de promover o bem comum”.

Nesse contexto de conceitos e características, enxerga-se o jornalismo como

um processo comunicativo social que envolve informação, orientação, educação e

diversão. Neste processo, existe o conjunto de características operacionais já

citadas por Marques de Melo (2007).

A informação corresponde aos fatos e acontecimentos de interesses coletivos

que são registrados pela mídia e transmitidos para a sociedade. No papel de

orientador, os meios de comunicação de massa funcionam como suporte

esclarecedor, conselheiro e útil, principalmente numa era em que há muita

informação e um receptor que possui pouco tempo disponível para se informar.

Acredita-se que a função de educação diz respeito, entre outros fatores, à

formação de opinião. Neste caso, o jornalismo atua como reforço das idéias dos

receptores já pré-existentes ou na própria formação de conceitos e idéias. Por fim,

outro fator peculiar ao jornalismo é a diversão, que corresponde aos espaços

abertos pelos media para entreter os receptores.

O jornalismo brasileiro nasceu com características e motivações externas.

Influências européias e norte-americanas se impuseram e tornaram-se inspirações

para a formação da identidade do jornalismo do Brasil.

Nosso jornalismo é contemporaneamente o resultado cultural desse conjunto de motivações forâneas, sem que isso queira significar a existência de uma fisionomia amorfa, produzida pelo entrecruzamento dos padrões estrangeiros (MARQUES DE MELO, 2006, p.69).

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Marques de Melo (2006) reconhece as influências no jornalismo brasileiro do

jornalismo praticado em Portugal, sendo este nutrido por modelos franceses e

britânicos. Na obra Sociologia da Imprensa Brasileira, publicada em 1973, o autor

interpreta a evolução da imprensa no Brasil e, entre outras análises, narra a

implantação da imprensa no país , em 1808, com a chegada da Corte de D. João ao

Rio de Janeiro. O autor considera que o aparecimento da imprensa foi tardio,

relaciona o advento da imprensa com medidas governamentais para as atividades

da coroa portuguesa e caracteriza a produção da imprensa régia no Rio de Janeiro

como “limitada e medíocre”. (MARQUES DE MELO, 1973, p.88).

Apesar do jornalismo brasileiro possuir suas raízes na Europa, por meio de

Portugal, o maior impacto no jornalismo praticado no país veio do modelo norte-

americano. Essa influência, segundo Marques de Melo (2006), aconteceu

principalmente pela atuação das agências noticiosas e se consolidou com a

importação de tecnologia. Neste contexto, o Brasil figura como nação importadora

de tecnologia e os Estados Unidos como potência capitalista.

No caso brasileiro, não é suficiente fazer remissões àqueles modelos que nos trouxeram os colonizadores lusitanos, mas torna-se imprescindível perceber as determinações que configuram o padrão transplantado e descobrir os atravessamentos gerados pelas influências conjunturais, inevitáveis na trajetória dos povos e das culturas que vivem em tono dos pólos hegemônicos do poder internacional. Neste sentido é que o jornalismo brasileiro tem uma fisionomia entrecortada por múltiplas diretrizes, algumas convivendo contraditoriamente no estilo que nos trouxeram os portugueses, outras que chegaram através dos processos de comunicação intercultural implícitos nos movimentos migratórios, e também aquelas que emergiram de situações de dependência tecnológica e econômica, que incluem no seu bojo alterações simbólicas fundamentais (MARQUES DE MELO, 2006, pp.67-68).

Espera-se que através de revisão bibliográfica das procedências, tipicidades e

identidades do jornalismo, se possa compreender os gêneros jornalísticos. Essa

questão vem sendo discutida há muito tempo, desde os tempos da antiguidade

grega, ainda nos tempos de Platão. Os gêneros literários platônicos foram

posteriormente reelaborados por seu discípulo Aristóteles, estabelecendo assim a

classificação: épica, lírica e dramática, que acabou por se fixar como o princípio dos

estudos dos gêneros.

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O ouvinte é, necessariamente, espectador ou juiz; se exerce as funções de juiz, terá de se pronunciar ou sobre o passado ou sobre o futuro. Aquele que só tem que se pronunciar sobre a faculdade oratória é o espectador. Donde, resultam necessariamente três gêneros de discursos oratórios: o gênero deliberativo, o gênero judiciário e o gênero demonstrativo (ou epidíctico) (Aristóteles, 1964, pp. 30-31).

Marques de Melo (2003b) afirma que Aristóteles “constitui a principal fonte

codificadora da cultura greco-romana, sustentáculo do pensamento ocidental” (p.15).

Encontra-se ali o primeiro paradigma comunicacional, firmando-se como “protótipo

das matrizes teóricas contemporâneas”. (p.15).

A questão dos gêneros jornalísticos tem origem na própria práxis. “Desde o

início das atividades permanentes de informação sobre a atualidade (processo livre,

contínuo, regular), colocou-se a distinção entre as modalidades de relato dos

acontecimentos” (p.42). Marques de Melo (2003a) afirma ainda que no campo do

jornalismo, Samuel Buckeley, editor do Daily Courant, na Inglaterra do século XVIII,

criou a primeira classificação dos gêneros no jornalismo ao separar o texto do diário

em duas categorias: news e comments. Nos Estados Unidos, os gêneros

predominantes entre os séculos XVIII e XIX eram os comments e a story. Entre os

povos latinos, no entanto, os gêneros tornam-se bem mais variados.

Lia Seixas (2004) considera que o pioneirismo da produção teórica dos

gêneros no jornalismo se deu nos anos de 1950, na Europa, referenciando o

aparecimento da disciplina “Os gêneros jornalísticos”, na Universidade de Navarra,

em 1951, como um dos marcos para as pesquisas dos gêneros no jornalismo.

Segundo a autora (2004), o primeiro professor da disciplina foi Martinez Albertos,

também um dos estudiosos nesse campo.

Na Espanha, como afirma Seixas (2004), os estudos dos gêneros tornaram-

se tradição. Além de Martinez Albertos, a autora destaca o pesquisador catalão

Hector Borrat, por suas pesquisas sobre textos narrativos, descritivos e

argumentativos, e Gonzalo Martin Vivaldi, também um dos pioneiros nesta

discussão.

Sonia Fernandez Parrat (2001) afirma que um dos pioneiros a trabalhar com

os gêneros no jornalismo foi o francês Jacques Kayser, nos últimos anos da década

de 50. A pesquisadora defende que a teoria dos gêneros jornalísticos não nasceu

somente como uma preocupação literária, mas também como uma técnica de

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trabalho para análise sociológica de análise quantitativa das mensagens que

apareciam na imprensa. No uso espanhol, Parrat (2008, pp.40-41) aponta Manuel

Graña como pioneiro, mostrando estudos dos gêneros jornalísticos desde 1930.

No Brasil, os estudos sobre os gêneros jornalísticos se iniciaram com Luiz

Beltrão na década de 60. Através de suas experiências em salas de aula, na

Universidade Católica de Pernambuco e sua vivência no Centro Internacional de

Estudos Superiores de Periodismo para América Latina (CIESPAL), Beltrão

começou a produzir textos, posteriormente publicados, importantes para o

desenvolvimento das pesquisas em Jornalismo no país. A primeira obra lançada foi

Introdução à Filosofia do Jornalismo. Beltrão publicou também a trilogia que tratava

especificamente dos gêneros jornalísticos: A Imprensa Informativa (1969),

Jornalismo Interpretativo (1976) e Jornalismo Opinativo (1980).

Marques de Melo (2003b), ao comentar as pesquisas sobre os gêneros no

Brasil, afirma que o único pesquisador a se preocupar sistematicamente com o

fenômeno foi Luiz Beltrão. Cita que pesquisadores como Juarez Bahia e Luiz Amaral

apresentam noções técnicas voltadas para a produção de matérias, pouco

interessadas na configuração conceitual dos gêneros. Por sua vez, afirma que

Cremilda Medida volta suas preocupações para a análise estilística e estrutural de

mensagens específicas de jornais paulistas e cariocas, mas sem aprofundar as

discussões sobre as classificações das mensagens jornalísticas. Outro autor citado

por Marques de Melo (2003b) é Mario Erbolato, que na visão do pesquisador atenta-

se para as classificações do jornalismo em categorias funcionais, porém sem

relacionar essas categorias aos gêneros.

Além desses pesquisadores citados por Marques de Melo, autores como

Chaparro, Aronchi, Lia Seixas e o próprio José Marques de Melo, entre outros

estudiosos que podem ser encontrados nos programas de pós-graduação do Brasil,

têm deixado importantes legados para o desenvolvimento dos estudos dos gêneros

jornalísticos. Essas pesquisas têm relevante importância no sentido de fortalecer

conceitualmente e melhorar a categorização dos gêneros produzidos pela mídia.

Além de alicerce teórico-metodológico para as pesquisas no campo comunicacional,

os estudos servem para a preparação de profissionais que atuam diretamente na

imprensa.

Bonini (2002) defende as pesquisas sobre os gêneros na mídia.

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O estudo dos gêneros do jornal é uma necessidade premente no âmbito do ensino de linguagem e formação de professores, uma vez que tais gêneros são de grande relevância social, dada a importância dos meios de comunicação de massa na sociedade (BONINI, 2002, on-line).

Sobre as formas conceituais, Fonseca (2005, on-line) defende que os

gêneros jornalísticos são determinados pelo estilo , e que este depende da relação

do jornalista com seu público, aprendendo seus modos de expressão (linguagem) e

suas expectativas temáticas. Ela defende os gêneros jornalísticos como “as

modalidades de relato dos acontecimentos que compõem a realidade social de onde

os jornalistas recortam aqueles que, pelos seus valores-notícia, adquirem existência-

pública”.

Aronchi (2004), baseado na visão de Martín-Barbero, afirma que os gêneros

podem ser entendidos como “estratégias de comunicabilidade”, “fato cultural”, e

“modelo dinâmico”.

Somos capazes de reconhecer este ou aquele gênero, falar de suas especificidades, mesmo ignorando as regra de sua produção, escritura e funcionamento. A familiaridade se torna possível porque os gêneros acionam mecanismos de recomposição da memória e do imaginário coletivos de diferentes grupos sociais (ARONCHI, 2004, p.44).

Manovich (apud Seixas, on-line) diz que os gêneros são práticas sociais

instituídas historicamente, cujas mudanças sociais aparecem com novas formas de

produção, de linguagem, novos ambientes, novos suportes, em última instância,

envoltas e fundadas em novas “formas culturais”. Assim, Seixas (2004, on-line)

propõe que “se um gênero de discurso é resultado de determinadas práticas sociais,

a evolução (mudança) de práticas sociais implica necessariamente uma

transformação nos gêneros e o surgimento de outros”. (SEIXAS, 2004, p.4, on-line)

Seixas (2004, on-line), em seus estudos dos gêneros digitais, considera que

os gêneros no jornalismo estão divididos por mídias, e que há mudanças nos

gêneros de acordo com a evolução das práticas sociais. Dessa forma, acredita que

as teorias classificatórias existentes não acomodam “a grande variedade produzida

pela evolução da atividade jornalística, da qual surgem gêneros ‘mistos’,

influenciados pelas novas mídias (digitais)”. (p.1, on-line).

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Sobre as transformações dos gêneros dentro do contexto das práticas sociais,

o francês Jean Michel Utard (2003, p.69, on-line) considera que os “gêneros são

aqueles sobre os quais incidem as transformações (hibridização dos gêneros)”. Este

autor afirma que o gênero é apresentado como caracterização da mensagem, esta

considerada como produto. Assim, a mensagem tem uma dimensão estrutural

(classe e código) e dimensão de processo (traço histórico).

Utard (2003), em sua análise sobre o embaralhamento dos gêneros

midiáticos, parte de uma hipótese de interferência generalizada numa perspectiva

dos estudos nos suportes digitais. “A Internet parece apagar as fronteiras naturais de

informação tais como nos propõem as mídias clássicas”. (p.66, on-line). O autor

defende ainda que as fronteiras entre informação e publicidade estão cada vez mais

bem-aceitas.

As pessoas não se espantam com o casamento entre publicidade e entretenimento ou com a ficção. É em torno da oposição e da restituição em causa entre, de um lado, a informação e de outro, todo o resto [...]. Assim se articula então em uma premissa teórica forte sobre o qual existem duas ordens de representação do real que são a informação e a ficção, e que recortam as oposições implícitas como o sério e o lúdico, o político e o comercial, a obra e a série (UTARD, 2003, p. 67, on-line).

Embora o autor esteja envolvido com o contexto da França, apresenta uma

série de considerações que podem ser aplicadas à realidade brasileira. Os meios

digitais não entram como foco desta pesquisa, mas através de revisões

bibliográficas e observações pessoais, percebe-se que este suporte midiático vem

transformando diversas características dos outros media; entre essas características

que estão mudando, podemos destacar a periodicidade.

Na era da Internet, o que predomina é a instantaneidade, a informação minuto

a minuto. Entretanto, acredita-se que as classificações dos gêneros já existentes

ainda abarcam esse suporte. O meio digital também trabalha com os gêneros

informativo, opinativo, interpretativo e utilitário. Mas, considera-se que se faz

necessária a realização de estudos que possam identificar e levantar as tipologias

utilizadas, já que as transformações são ainda mais rápidas e a interatividade maior

do que em qualquer outro meio de comunicação.

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36

1.2. Os gêneros e suas classificações

Em meio aos estudiosos brasileiros e forâneos sobre os gêneros no

jornalismo, há aqueles que se preocuparam em classificar os gêneros e os formatos

existentes. Na obra Jornalismo Opinativo, Marques de Melo (2003a) analisa

classificações européias, norte-americanas, hispano-americanas e brasileiras,

contextualizando a questão dos gêneros em diversos países, oferecendo uma

importante contribuição ao reunir os estudos existentes nesse campo.

No universo brasileiro, sabe-se que a primeira classificação foi proposta por

Luiz Beltrão, no final dos anos 60, relacionada ao jornalismo impresso. Este autor

realiza uma divisão funcional dos gêneros no jornalismo, dividida em três categorias:

informativa, interpretativa e opinativa.

Quadro 3: Classificações de gêneros e formatos de Luiz Beltrão*

Os gêneros Formatos propostos por Luiz Beltrão

1. Jornalismo Informativo

a) Notícia

b) Reportagem

c) História de interesse humano

d) Informação pela imagem

2. Jornalismo Opinativo

a) Editorial

b) Artigo

c) Crônica

d) Opinião ilustrada

e) Opinião do leitor

3. Jornalismo Interpretativo a) Reportagem em profundidade

*Quadro elaborado pela autora

Utilizado como referência ainda nos dias atuais, Beltrão influenciou

pesquisadores como Marques de Melo, que se identifica como seu seguidor.

Marques de Melo (2003a) trata somente de dois gêneros jornalísticos: o informativo

e o opinativo. Afirma que não identificou tendências como jornalismo interpretativo e

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jornalismo diversional na práxis jornalística no país, em estudo na década de 80

(século XX).

Quadro 4: Classificações de gêneros e formatos de

Marques de Melo, década de 80*

Os gêneros Formatos propostos por Marques de Melo

1. Gênero Informativo

a) Nota

b) Notícia

c) Reportagem

d) Entrevista

2. Gênero Opinativo

a) Editorial

b) Comentário

c) Artigo

d) Resenha

e) Coluna

f) Crônica

g) Caricatura

h) Carta

*Quadro elaborado pela autora

Em revisão recente, apresentada no curso de Pós-Graduação da

Universidade Metodista de São Paulo, Marques de Melo (2007) amplia esta

classificação, e acrescenta os gêneros interpretativo, utilitário e diversional,

cultivados nos primeiros anos do século XXI.

Quadro 5: Classificações de gêneros e formatos de

Marques de Melo, século XXI*

Os gêneros

Formatos recentes propostos por Marques de Melo

1. Gênero Informativo

a) Nota

b) Notícia

c) Reportagem

d) Entrevista

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2. Gênero Opinativo

a) Editorial

b) Comentário

c) Artigo

d) Resenha

e) Coluna

f) Caricatura

g) Carta

h) Crônica

3. Gênero Interpretativo

a) Dossiê

b) Perfil

c) Enquete

d) Cronologia

4. Gênero Utilitário

a) Indicador

b) Cotação

c) Roteiro

d) Serviço

5. Gênero Diversional a) História de Interesse Humano

b) História Colorida

*Quadro elaborado pela autora

Segundo Bonini (2003, on-line), a classificação dos gêneros proposta por

Marques de Melo é baseada em dois critérios: 1) A intencionalidade presente nos

relatos (o jornalismo como tentativa de reproduzir o real e como tentativa de ler o

real); 2) A natureza estrutural do relato.

Seixas (2004, on-line), ao analisar as pesquisas sobre gêneros, afirma que as

propostas de Luiz Beltrão (1980) e de Marques de Melo (1985) estão

fundamentadas em cinco critérios. 1) finalidade do texto ou disposição psicológica

do autor, ou ainda intencionalidade; 2) estilo; 3) modos de escrita, ou morfologia, ou

natureza estrutural; 4) natureza do tema e topicalidade; e 5) articulações

interculturais (cultura). (SEIXAS, 2004, p.3, on-line).

Para Seixas (2004), os autores trabalham a classificação de gêneros no

jornalismo baseados na separação de forma e conteúdo, o que gera uma divisão

temática que dá vazão ao critério de intencionalidade do autor, que na sua visão,

realiza uma função de opinar, informar, interpretar ou entreter.

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Outro autor que apresenta uma classificação dos gêneros é Manuel Carlos

Chaparro (2008). Em sua pesquisa, comparando os gêneros no Brasil e Portugal, o

pesquisador questiona a divisão dos gêneros baseada na separação de informação

e opinião. Segundo Chaparro, trata-se de "um falso paradigma, porque o jornalismo

não se divide, mas se constrói com informações e opiniões" (CHAPARRO, 2008,

p.146).

Chaparro (2008) relaciona o jornalismo à ação de comentar e relatar. Dessa

forma, propõe sua classificação baseada em dois gêneros: comentário (espécies

argumentativas e espécies gráfico-artísticas) e relato (espécies narrativas e espécies

práticas).

Quadro 6: Classificações de gêneros e espécies de Chaparro*

Gêneros Espécies

1. Comentário

1.1. Espécies Argumentativas

a) Artigo

b) Crônica

c) Cartas

d) Coluna

1.2. Espécies Gráfico-artísticas

a) Caricatura

b) Charge

2. Relato

2.1. Espécies Narrativas

a) Reportagem

b) Notícia

c) Entrevista

d) Coluna

2.2. Espécies Práticas

a) Roteiros

b) Previsão de tempo

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c) Indicadores

d) Agendamentos

e) Cartas-consulta

f) Orientações úteis

*Quadro elaborado pela autora

As classificações existentes sobre os gêneros jornalísticos continuam como

importantes fontes de pesquisas para a academia e para a formação de jornalistas.

A questão dos gêneros, apesar de muitas vezes causar divergências entre os

autores, configura-se como uma área que gera estudos nos diversos suportes

midiáticos. Os debates e críticas que surgem, por sua vez, acabam por

desempenhar papéis relevantes, que proporcionam a evolução das pesquisas. Mas,

é preciso destacar que ainda são escassas as pesquisas que se propõem a

descrever e analisar os gêneros jornalísticos.

Há teóricos que concebem os gêneros por uma perspectiva funcionalista.

Estes procuram conceituar os gêneros jornalísticos, apontando os formatos neles

existentes na mídia através das funções desempenhadas dentro do jornalismo. Por

outro lado, há pesquisadores da área da linguística que ao invés de buscar a

tipologia, procuram entender os gêneros dentro do sentido discursivo.

Nesta pesquisa, busca-se descrever um único gênero, o utilitário, a partir dos

pressupostos já existentes e através de observações na mídia impressa.

Reconhece-se que a proposta inclui a busca pelos conceitos, mas também há

necessidade de desvendar as tipologias que envolvem o jornalismo de serviço.

Porém, antes de partir para a parte exploratória e empírica, é preciso prosseguir com

as discussões teóricas e conceituais no que diz respeito ao tema analisado.

1.3. Jornalismo de Serviço: a informação útil na mídia

O termo jornalismo de serviço pode ser considerado como uma redundância,

já que o jornalismo, em sua essência, tem o propósito de prestar serviço à

sociedade. Porém, a denominação, empregada para classificar o material jornalístico

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com proposta orientadora ao público, tem sido bastante utilizada nesta era dominada

pelo capitalismo.

Na sociedade atual, impera o consumismo, o que gera amplitude de opções

de produtos e bens simbólicos. Assim, os cidadãos necessitam cada vez mais de

orientações. Correspondendo a essa demanda, os meios de comunicação de massa

utilizam-se do jornalismo para prestar serviços de utilidade pública, muitas vezes,

sobre assuntos e temas que fazem parte do cotidiano dos cidadãos.

O jornalismo utilitário tem como proposta principal oferecer a informação que

o receptor necessita ou que poderá se tornar necessária em algum momento. Assim,

manifesta-se em todos os suportes midiáticos, e nos dias atuais com espaços bem

mais amplos, levando à audiência uma informação útil e utilizável.

O francês Jacques Kayser (apud Parrat, 2008) quando estabeleceu a

classificação dos gêneros jornalísticos em 1962, tratou a seção de serviços como

informação de utilidade prática. O autor classificou essas seções entre os gêneros

de caráter secundário, e referenciou os programas de espetáculo, programações de

rádio e televisão, cotações da bolsa e previsões meteorológicas.

Parrat (2008, p.32) afirma que o jornalismo de serviço ocupa-se em

proporcionar uma variedade de ferramentas necessárias para as atividades práticas

da vida diária do cidadão, isso acontece em forma de guias, listas ou conselhos.

Assim, a autora afirma que o conteúdo desse jornalismo se traduz de três formas:

1. Na criação de seções especiais dedicadas a cobrir preocupações e

necessidades práticas do dia a dia do cidadão;

2. As seções especiais incorporam informação da atualidade sobre

numerosas questões consideradas de interesse geral;

3. A incorporação da informação de serviço nos textos mais

convencionais (tanto interpretativos como informativos) publicados nas

páginas de informação geral mediante elementos de apoio de ‘serviço’.

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1.4. O serviço no jornal impresso

Nos jornais impressos há os cadernos especiais que geralmente trazem

novidades em determinadas áreas, cotação de produtos no mercado, etc.. Esses

cadernos, muitas vezes temáticos, ensinam ao leitor a prática de alguma coisa,

orientam e dão dicas em diversas áreas. Nos diários editados em grandes

metrópoles, comumente há os guias de serviço, que trazem roteiros e indicação de

cinema, teatro e restaurantes, oferecendo opções de lazer ao leitor.

Luiz Beltrão (2006) não inclui o serviço nem como categoria, nem como

formatos em sua classificação dos gêneros do jornalismo: informativo, opinativo e

interpretativo. Porém, o autor reconhece a existência dos serviços no jornal

impresso. Segundo ele, parte desse material “o noticiarista recebe, com pedido de

publicação, avisos, comunicações, convites, votos de felicitações ao jornal ou de

agradecimento a pessoas e entidades. Este material reclama um tratamento

especial”. (BELTRÃO, 2006, p.118).

Beltrão (2006) identifica a presença do material jornalístico de serviço no

jornalismo impresso através das seguintes formas: avisos diversos (plantão de

farmácias, perdidos e achados, pauta de pagamentos, cotações de câmbio, convites

para reuniões de entidades diversas); informações úteis (telefones de urgência,

horário de transporte coletivo, conselhos de saúde, relações de endereços etc.); e

cartaz do dia (programas das casas de espetáculos – cinemas, teatros, exposições,

conferências, comícios, festas) (2006, p.106).

Para o autor, grande parte desse material que chega à redação é

“interesseiro”:

Disfarça publicidade, propaganda pessoal, desejo de aparecer em letra de fôrma. O noticiarista, porém, é o homem indicado para distinguir entre aquelas informações que podem ser graciosamente divulgadas e as que somente poderão sair através do departamento comercial, ou seja, como matérias pagas (BELTRÃO, 2006, p.118).

As palavras de Beltrão ainda são bastante válidas para os dias atuais. Os

jornais continuam recebendo realeses ou materiais que podem se configurar como

publicidade camuflada, como por exemplo, empresas que lançam um produto novo

no mercado e aspiram uma matéria de cunho de serviço. Também, concorda-se com

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Beltrão quando o autor diz que cabe ao jornalista definir o material que pode vir a ser

o serviço que o jornalismo presta ao receptor e que esse material merece um

tratamento específico.

Ainda sobre a distinção entre o material de serviço daqueles que são

“interesseiros”, Beltrão ressalta:

Modificações nos horários das linhas de trens ou ônibus, avisos de fechamento extraordinário do comércio, de alterações nas pautas de pagamentos de impostos, vencimentos de funcionários e outras matérias semelhantes são, sem dúvida, objetos de interesse para o jornal e para o público em muito maior grau do que a convocação de uma assembléia geral de uma sociedade cooperativa, a transferência de endereço de estabelecimento comercial, a inauguração de um consultório médico ou os aplausos de um leitor a um articulista do jornal ou a uma instituição qualquer (BELTRÃO, 2006, p.118).

Sobre o material que chega às redações e que ganha tratamento para se

transformar nos serviços do jornal, Beltrão (2006, p.118) afirma que geralmente o

jornalista economiza nas palavras e no espaço, usando uma “linguagem lacônica,

em meros registros”. O autor ressalta também uma coluna que tem destaque nos

jornais referindo-se aos programas de entretenimento da comunidade, citando entre

esses programas: cartazes cinematográficos, de teatro de espetáculos circenses, de

programas de emissoras de rádio e televisão. “O material informativo é distribuído

pelos serviços de propaganda dos empresários ou diretores de ‘broadcasting’ (no

último caso) e coordenado pelo noticiarista, dentro das normas estilísticas do jornal”

(p. 118).

Nos dias atuais o que acontece com esse material informativo não é diferente :

parte dele chega através de agências, empresas ou instituições para publicação. Os

profissionais da redação adequam às normas e publicam aquilo que pode ser útil ao

leitor, podendo ele tomar decisões em torno das informações obtidas. Porém,

acredita-se que os meios de comunicação atualmente não tratam os serviços

apenas como meros registros. Cada vez mais nota-se uma ampliação deste espaço

nos meios de comunicação de massa, com o surgimento de suplementos exclusivos

para esse conteúdo.

Marques de Melo (2007), em seus estudos sobre gêneros, identifica quatro

formatos do gênero utilitário no jornal impresso e conceitua cada um deles:

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1. Indicador - Dados fundamentais para a tomada de decisões cotidianas. (Cenários econômicos, meteorologia, necrologia etc.) 2. Cotação - Dados sobre a variação dos mercados: monetários, industriais, agrícolas, terciários. 3. Roteiro - Dados indispensáveis ao consumo de bens simbólicos. 4. Serviço – Informações destinadas a proteger os interesses dos usuários dos serviços públicos, bem como dos consumidores de produtos industriais ou de serviços privados. (informação verbal)3

Por sua vez, Chaparro (2008) identifica o jornalismo de serviço na sua

classificação entre as espécies práticas do gênero relato. Esta espécie prática

encontra-se em conjunto diferente daquela que ele trata como espécie narrativa

(reportagem, entrevista, notícia e coluna). Em seu estudo sobre jornais impressos,

Chaparro (2008) aponta seis formatos utilitários entre aquilo que chama de

“espécies práticas” da categoria relato : roteiros, previsão de tempo, indicadores,

agendamentos, cartas-consulta e orientações úteis.

Em sua pesquisa, o autor identifica as espécies utilitárias em 21,31% de

espaço dedicado pelo jornal ao relato da atualidade no ano de 1995, na Folha de S.

Paulo. “Os estudos de 1995 confirmam a consolidação dessa política editorial de

valorização da vocação utilitária do jornalismo” (CHAPARRO, 2008, p.121). O autor

deixa claro que há necessidade de se estudar e de se classificar o gênero utilitário.

Entre as insuficiências e inadequações que os critérios tradicionais revelaram para a tipificação das formas discursivas do atual jornalismo brasileiro, uma adquire relevância acentuada: a incapacidade de classificar as espécies utilitárias, aquilo a que vulgarmente se chama “serviço”, até agora tratadas como simples tendência ou curiosidade. Entretanto, a significação da participação dessas espécies nos espaços pelos conteúdos jornalísticos impõe a sua caracterização enquanto manifestação discursiva. São formas adequadas de mediação para solicitações concretas da vida urbana, nos planos do negócio, da cultura, do consumo, do lazer, do acesso a bens e serviços, na ordenação de preferências e movimentos, nas estratégias e tácticas da sobrevivência. As espécies utilitárias deixaram de ser manifestações secundárias no relato da atualidade. Por isso, há que entendê-las e classificá-las enquanto formas do discurso, no jornalismo (CHAPARRO, 2008, pp. 166-167).

Esta citação de Chaparro é importante para justificar a existência da pesquisa

realizada na presente dissertação, especialmente quando ele trata da pouca atenção

3 Notas de aula, na disciplina Gêneros Comunicacionais, curso de Pós-Graduação da Universidade Metodista de São Paulo

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que esse tipo de jornalismo tem merecido na literatura brasileira e como há

necessidade do tema ser estudado mais intensamente.

Também focalizando os gêneros jornalísticos, Costa (2008) quantifica os

gêneros e formatos existentes nos maiores jornais regionais do país (quadros 7 e 8).

O autor, baseado na classificação de gêneros jornalísticos de Marques de Melo

(2007), apresenta os resultados nos jornais: Zero Hora (Porto Alegre/Região Sul),

Folha de S. Paulo (São Paulo/Região Sudeste), Correio Brasiliense (Brasília/Região

Centro-Oeste) e A Tarde (Salvador/Região Nordeste) e O Liberal (Belém/Região

Norte).

Quadro 7: Pesquisa de Lailton Costa (2008): quantificação de gêneros por jornal*4

Jornal/

Gênero em %

Zero Hora Folha de S.

Paulo

Correio

Brasiliense

A Tarde O Liberal

Informativo 49,2 58,8 63,2 53,2 61,5

Opinativo 18,0 16,4 10,5 12,2 14,4

Interpretativo 1,8 0,9 1,7 0,8 0,4

Diversional 0,2 0,0 0,2 0,0 0,0

Utilitário 15,4 11,2 13,0 12,3 8,5

Outros 15,3 15,8 11,4 21,6 15,3

*Quadro elaborado pela autora

Quadro 8: Pesquisa de Lailton Costa (2008): quantificação de formatos do Gênero Utilitário por jornal*5

Jornal/Formato

em %

Zero Hora Folha de S.

Paulo

Correio

Brasiliense

A Tarde O Liberal

Cotação 1,1 0,5 0,5 0,5 0,3

Indicador 5,6 5,1 5,3 6,3 2,0

Roteiro 3,8 2,4 4,5 1,9 3,8

Serviço 4,8 3,2 2,7 3,6 2,3

*Quadro elaborado pela autora

4 Resultados encontrados nas páginas 112, 121, 130, 137 e 142 da dissertação de Lailton Costa. Teoria e Prática dos Gêneros Jornalísticos: estudo empírico dos principais diários das cinco macro-regiões brasileiras – Universidade Metodista de São Paulo, 2008. 5 Resultados encontrados nas páginas 113, 122, 132, 138 e 142.da dissertação de Lailton Costa. Teoria e Prática dos Gêneros Jornalísticos: estudo empírico dos principais diários das cinco macro-regiões brasileiras – Universidade Metodista de São Paulo, 2008.

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Outro autor que estuda a presença dos serviços nos jornais impressos é

Alberto Dines (1996, p.97). Ele reconhece a concepção de utilidade nos jornais

impressos ao afirmar que “o jornal, pela sua periodicidade diária, é o melhor

instrumento para o fornecimento desse material utilitário, o serviço, que vai tornar a

existência, na sociedade organizada, possível e mais fácil”. Mesmo assim, questiona

o espaço destinado para informações de cunho utilitário. “Compensa gastar duas ou

três páginas inteiras com a relação dos aprovados no vestibular? Vale desperdiçar

um precioso espaço publicando a lista de postos de vacinação contra a pólio ou as

farmácias de plantão, as feiras livres, etc.? ”.

Para Dines (1996) é preciso escolher o que é importante. Dessa forma,

destaca que as “informações mutáveis” devem ser aproveitadas, como o tempo e as

programações de espetáculos. Por outro lado, o autor diz que as informações que se

repetem são desnecessárias, como a lista das farmácias de plantão. “O dilema

sobre a publicação de ‘calhamaços’ utilitários não tem respostas definitivas para

resolvê-lo. Cada jornal, como se disse, procurará os serviços diários ou eventuais

que mais se adaptem à sua estratégia” (DINES, 1996, pp. 97-98).

É verdade que os jornais devem saber o que interessa ao leitor para

apresentar aquilo que realmente lhe pode ser útil e utilizável. Mas é preciso ressaltar

que a publicação do material de serviço está diretamente relacionada aos interesses

dos leitores. Sobre isso, Marcelo Leite (1996, on-line), à época ombudsman da Folha

de S. Paulo, explica que os impressos têm consciência dessa necessidade do leitor.

Boa parte das pessoas que leem o jornal num determinado dia procura ali informações úteis para a vida. Consciente desta demanda, a maioria das publicações vem investindo no chamado jornalismo de serviço, realimentando assim esse vínculo de confiança com seus leitores. Apesar de tudo, os erros acontecem. Qualquer leitor já viveu a experiência desagradável de perder o filme porque o horário no jornal estava errado (LEITE, 1996, on-line).

Sobre esse relato de confiança entre o jornal e o leitor, Lourival Sant’Anna

(2008) afirma que os meios de comunicação devem constantemente conquistar seu

público, através de informações que ajudem o leitor a decidir sobre os bens a serem

consumidos.

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Acontece que a informação é um bem de experiência, em oposição aos bens de procura. Os bens de experiência são aqueles cuja qualidade e utilidade o consumidor só pode saber depois de consumi-los. É o caso de uma refeição ou um destino turístico, por exemplo. Em contrapartida, bens de procura podem ter a sua qualidade e a utilidade pesquisadas, escrutinadas, antes da decisão da compra. Exemplos, móveis e sapatos. Sendo um bem de experiência, e com o tempo cada vez mais escasso, a notícia requer que o consumidor esteja constantemente atento às relações custo-benefício de sua experiência com os meios de comunicação, e faça uma reflexão contínua sobre seus hábitos. Com o aumento da variedade de meios disponíveis, com as rápidas mudanças tecnológicas, os meios de comunicação não se podem fiar apenas em ‘hábitos’ ou mesmo em sentimentos de ‘obrigação’ por parte dos consumidores (SANT’ANNA, 2008, p.59).

Por sua vez, Nassif (2003) relaciona a existência desse jornalismo prestador

de serviço aos cadernos e suplementos do Jornal da Tarde. O autor afirma que a

partir da década de 80 o caderno de economia “Seu Dinheiro” e o suplemento sobre

automóveis “Seu Carro” ofereciam dicas de investimentos, orientação sobre

financiamento, capitalização, como também tabelas de preços de veículos. “O Jornal

da Tarde consagrou um padrão de jornalismo didático, com temas do dia a dia do

leitor. As manchetes majoritariamente se dirigiam diretamente ao leitor, tipo ‘entenda

como faz isso’, ‘defesa dos seus direitos’ etc”. (NASSIF, 2003, p.13).

Sobre a relação do Jornal da Tarde com o jornalismo de serviço, Chaparro

(2008, p.120) afirma que este impresso surge com clara e assumida vocação

urbana, voltando a atenção do projeto jornalístico para a importância da informação

utilitária do jornal para o leitor da classe média emergente de São Paulo.

Em pesquisa sobre o suplemento de turismo nos jornais Folha de S. Paulo e

O Estado e S. Paulo, Carmem Carvalho (2003) identifica fortes indícios do jornalismo

de serviço, como a presença de orientações úteis, com tabelas de preços de

pacotes turísticos, passagens aéreas e hotéis. “Os suplementos de turismo são úteis

porque oportunizam aos leitores informações sobre como e para onde ir viajar,

quanto gastar, o que levar [...] Nos tempos modernos, poupam tempo e dinheiro dos

turistas” (CARVALHO, 2003, p.156).

Também sobre a prestação de serviço nos espaços jornalísticos destinados

ao turismo, Ramírez (1999) diz que a informação turística pode considerar-se como

uma área de jornalismo de serviço. “Resulta da grande utilidade da informação

facilitada pelas instituições oficiais com incidência na atividade turística, assim como

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facilitadas por agências, operadoras de turismo, oficinas de informação turística,

meios especializados, etc.” (RAMIREZ, 2009, p. 247, tradução nossa).

Ramírez leva-nos a outra questão que será debatida posteriormente neste

trabalho, que se refere à produção desse serviço, pois muito do material chega à

redação dos veículos por agências e assessorias de imprensa. Será que há um

tratamento adequado, uma produção jornalística em torno disso?

Os estudos dos autores apresentados provam que o jornal busca apresentar

informações de cunho utilitário ao leitor de diversas formas. São informações que ele

poderá utilizar no seu dia a dia (como por exemplo, qual roupa vestir, dependendo

do tempo) ou planejar uma ação para um futuro próximo (como uma viagem, compra

de algum produto, etc.), propiciando uma relação de afinidade entre leitor e o jornal.

1.5. O jornalismo utilitário nas revistas

Nas revistas, há um inquestionável espaço dedicado ao serviço,

principalmente nas especializadas: moda, arquitetura, decoração, casamentos,

saúde, etc. Preocupando-se em mostrar ao leitor quais as tendências, novidades e

opções, as revistas semanais também têm espaços destinados ao serviço, com

orientações, algumas vezes como complementos de reportagens. Além disso, há as

seções ou suplementos próprios destinados aos serviços.

A pesquisadora espanhola Maria Pilar Diezhandino (1994, pp. 93-95), em seu

estudo sobre as revistas americanas Time, Newsweek e U.S. News and World

Report, afirma que o serviço se configura como uma informação útil, proveitosa e

utilizável pelo leitor. Segundo a autora, o jornalismo de serviço, “ensina, previne,

anima, adverte e aconselha” (DIEZHANDINO, 1994, p.60, tradução nossa).

Diezhandino (1994) diz que o jornalismo de serviço faz da informação um

instrumento útil para a vida diária. Considera ainda que esse tipo de jornalismo pode

ser uma necessidade pessoal das pessoas, que irão aplicar essas informações para

assumir uma atitude. Ressalta também que o jornalismo utilitário leva o receptor a

uma possibilidade: ação ou reação.

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O jornalismo de serviço é a informação que aporta o receptor a possibilidade efetiva de ação e ou reação. Aquela informação, oferecida oportunamente, que pretende ser de interesse pessoal do leitor-ouvinte-espectador; [...] a informação cuja meta deixa de oferecer dados circunscritos do acontecimento, para oferecer respostas e orientação (DIEZHANDINO, 1994, p. 89, tradução nossa).

Como contribuição, Diezhandino (1994) sugere que são sete os tipos de

jornalismo de serviço em revistas.

1. Informação com sentido de “faça você mesmo”. Vários fatores influenciam

este tipo, entre eles, a inflação e desemprego, que induziram o crescente

apreço pela autosuficiência. Dessa forma, o consumidor assume parte das

funções de empregados, necessitando assim de informações para

desempenhar tais funções;

2. Informação que impulsiona a atuar num sentido determinado, como por

exemplo, campanha para coleta de donativos, promovida pelo próprio

veículo de comunicação;

3. Informação que induz o leitor a prevenir um mal, ou mesmo, enfrentar ou

combatê-lo. Como exemplo, a autora cita doenças, ato de violência,

problemas familiares ou pessoais;

4. Informação que identifica o leitor comum a outros seres humanos. Cita um

exemplo de uma mulher divorciada ou violada poder entrar em contato com

associações de defesa dos seus direitos, ou mesmo um dependente químico

ou alcoólatra poder se unir a grupos sociais que ofereçam soluções ou alívio

para seus problemas;

5. Informação que ajuda a mudar uma atitude que parecia consolidada.

Como exemplo, destaca aquilo que impulsiona a comprar algo, como

renovar o vestuário, utilizar um novo produto de beleza ou decidir um local

para as férias;

6. Informação que oferece novas orientações, expectativas e elementos

para os problemas pessoais, familiares e sociais. Aqui, o meio de

comunicação oferece consultas, respostas às dúvidas, conselhos e

orientações. Estão incluídas as seções de consultas diretas e formatos

pergunta-resposta;

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7. Informação que favoreçam ao leitor sua autocrítica, autoafirmação e

benefício em algum aspecto de sua vida. Essas informações pessoais

oferecem ao leitor uma possibilidade de ação e/ou reação.

Rios dos Santos (1996) analisa a revista Cláudia e encontra indícios desse

tipo de jornalismo, percebendo que os números se elevam a partir do final da

década de 1980: 25% (1980), 18% (1981), 21% (1982), 10% (1983), 16% (1984),

16% (1985), 12% (1986), 28% (1987), 28% (1988), 25% (1990) e 40% (1991). “A

categoria serviço predominou indiscutivelmente no espaço impresso de Claúdia”.

(RIOS DOS SANTOS, 1996, p.77).

A autora afirma ainda que é preciso valorizar a importância do jornalismo de

serviço, porque a leitora tem necessidade de resolver os problemas do seu dia a dia.

Dessa forma, acredita que o jornalismo sofre mutações, que lhe exigem uma

reciclagem diária, assim, entre essas adaptações procura também atender os

anseios dos receptores.

Assim como Rios dos Santos, acredita-se que a presença do jornalismo de

serviço, não só nas revistas, mas nos meios de comunicação de forma geral, está

intimamente relacionada com as pretensões dos leitores. Por isso, como forma de

suprir essa necessidade do receptor de receber orientações, os meios oferecem as

informações úteis e possivelmente utilizáveis.

1.6. O jornalismo de serviço no rádio e televisão

Sobre a presença desse gênero de jornalismo na televisão, sabe-se que os

noticiários nos últimos anos têm aberto cada vez mais espaços para flash ao vivo,

com informações sobre o trânsito, meteorologia, entre outras informações benéficas

para quem vai sair de casa. Constatam-se também indícios de prestação de serviço

nos próprios telejornais. Resende (1998) identifica, em pesquisa sobre telejornais

brasileiros, o formato indicador. “São matérias que se baseiam em dados objetivos

que indicam tendências ou resultados de natureza diversa, de utilidade para o

telespectador em eventuais tomadas de decisões” (p. 169).

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Resende (1998) defende que o indicador segue um modelo informe de

elaboração, tornando esse formato “aparentemente repetitivo”. “Esses indicadores

podem ter caráter permanente, caso das previsões meteorológicas, números do

mercado financeiro e informações sobre condições de trânsito ou temporário, a

exemplo dos resultados das pesquisas eleitorais” (p. 169).

O autor identifica em sua pesquisa o material jornalístico utilitário como parte

da categoria informativa. As matérias com caráter de serviço e previsão do tempo,

nomeadas por ele como indicador, foram encontradas no Jornal da Cultura

(RESENDE, 1998, pp.265-266) em 16,4% do espaço total do telejornal, enquanto no

Jornal Nacional, da Rede Globo, esse jornalismo de serviço corresponde a 15,4% do

telejornal. (RESENDE, 1998, p.250).

Ana Carolina Temer (2001), em análise dos telejornais da Rede Globo, afirma

que as matérias de serviço têm componente pedagógico, cumprindo as

necessidades reais da comunicação. “De fato, este tipo de jornalismo pode ser visto

como uma consequência natural do jornalismo enquanto responsabilidade social,

uma vez que oferece opções, propostas, soluções e variados tipos de informações

úteis para se enfrentar a vida cotidiana”. (TEMER, 2001, p.135).

Ainda segundo Temer (2001), no jornalismo utilitário predomina o caráter

orientador, sendo direcionado ao consumo ou formação de comportamento do

público.

Muitas matérias de serviço não só oferecem a possibilidade de consumir como a de consumir melhor, exercendo a função de ‘orientadora’ para os receptores que não tiveram acesso à informação por meio do sistema de ensino institucionalizado ou das vias de comunicação pública [como seria o caso das instruções do governo para o preenchimento dos formulários] (TEMER, 2001, p.135).

A autora incluiu as matérias de serviço no gênero informativo. Na sua

pesquisa, analisou 44 edições dos quatro telejornais da Rede Globo, um total de 898

matérias. Identificou a predominância do gênero informativo, com alguma presença

do opinativo apenas no Bom Dia Brasil (comentário e crônica) e Jornal da Globo

(comentário), enquanto no Jornal Hoje e Jornal Nacional, foi identificado apenas o

informativo. Sobre os tipos, o Bom Dia Brasil apresentou um elevado índice de

matérias de serviço, com ênfase principalmente em economia. O Jornal Hoje

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também conta com relevantes matérias sobre prestação de serviço, a maioria

voltada para bem-estar. O Jornal Nacional varia nos temas nas matérias de serviço e

o Jornal da Globo é o telejornal com menor incidência desse tipo.

Entre as considerações mais relevantes de Temer (2001), destaca-se que há

uma clara predominância das matérias de serviço nos telejornais. Estas não são

necessariamente ligadas ao consumo, abordam novidades na área da medicina,

tecnologia e investimentos financeiros. Ainda segundo a autora, a presença dos

formatos jornalísticos depende da diretriz editorial de cada telejornal. Também

considera que o telejornalismo vinculado pela Rede Globo (em termos quantitativos)

é um espaço de orientação de comportamentos. Esse espaço é predominantemente

ocupado por matérias de serviços e/ou matérias de denúncias e matérias de

interesse humano, ou matérias que apontem comportamento a serem seguidos.

A autora afirma que o telejornalismo da Rede Globo depende das matérias de

serviço em termos quantitativos, pois identificou uma grande quantidade distribuída

nos telejornais diários. Mas, ressalta que o material não é tratado de maneira correta

e acaba sendo veiculado com menor importância. “O serviço é produzido com mais

calma e, por isso, pesa sobre ele critérios de qualidade mais rígidos. Se no factual o

tempo é fator fundamental, o serviço deve ser preciso e preferencialmente inédito”.

(TEMER, 2001, p.296).

O jornalismo de serviço também está presente no suporte radiofônico.

Algumas emissoras de rádios ocupam-se de informar a cada minuto como se

encontra a situação do trânsito na cidade, ruas prejudicadas por chuvas e indicando

qual o melhor caminho para o condutor seguir. Em pesquisa sobre os gêneros nesse

suporte midiático, Barbosa Filho (2003) identifica a existência do serviço, mas não

inclui entre o que classifica como gênero jornalístico.

Segundo Barbosa Filho (2003), o rádio possui seis gêneros: jornalístico,

educativo-cultural, publicitário, propagandístico, especial ou multifuncional e serviço.

Entre o gênero jornalístico, o autor identifica os formatos: nota, boletim, notícia,

reportagem, entrevista, comentário, editorial, crônica, radiojornal, documentário

jornalístico, mesas-redondas, programa policial, programa esportivo e divulgações

técnico-científicas. Já o gênero serviço inclui os formatos: notas de utilidade pública

(notas informativas de curta duração); programetes de serviço (aconselhamentos:

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cuidados com a saúde, questões jurídicas, investimento, preço, turismo, emprego

etc.) e programas de serviço (rádio de oportunidade).

Sobre a divisão do gênero jornalismo do gênero serviço, o autor afirma: “a

informação de serviço se distingue da jornalística pelo seu caráter de ‘transitividade’

– indicativo de movimento, circulação, trânsito- provocando no receptor uma

manifestação sinérgica, ao reagir á mensagem” (BARBOSA FILHO, 2003, p. 135).

Barbosa Filho comete um equívoco nas suas explicações sobre a diferença

entre o serviço e jornalismo. Pois, é intrínseca ao jornalismo a característica

transitividade, indicada por este autor como atributo peculiar da informação de

serviço. Já a “manifestação sinérgica” citada pelo autor tem o mesmo sentido da

possibilidade de ação e reação, tratada por Diezhandino (1994), quando o receptor

está diante de uma informação de cunho utilitário.

1.7 Informações úteis no jornalismo produzido na Internet

O material de serviço se faz presente em todos os suportes midiáticos.

Quando se fala em Internet, não é diferente. Esse meio, ainda novo e incipiente de

pesquisas na área do jornalismo, também produz informações de serviço para seu

público internauta. Assim como os demais media, a Internet disponibiliza materiais

úteis e de caráter orientador.

Santos (2007), ombudsman do iG, reconhece a prestação de serviço pelos

portais de notícias. “Esse caráter de serviço é muito estimado pelos leitores,

especialmente em situações de necessidade até de emergência”. Em coluna

publicada após o feriado de Finados, o ombudsman elogia o trabalho da redação

pela informação útil produzida pelos jornalistas da redação.

A Redação do Último Segundo tradicionalmente faz um bom trabalho de serviço aos internautas, mostrando o que abre e fecha no feriado, tanto no Rio como em São Paulo. No Rio, por exemplo, esse trabalho do iG inclui informações importantes, como a escala de funcionamento de hospitais e prontos socorros, serviços de atendimento ao cidadão, feiras livres, controle urbano, defesa civil, vigilância sanitária e até cemitérios de cães e gatos (SANTOS, 2007,on-line).

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Segundo Santos (2007), o que o portal de notícias iG deixa a desejar para o

leitor com relação a este tipo de jornalismo é a edição gráfica. Assim, o ombudsman

sugere a utilização de recursos gráficos a fim de melhorar a visualização desse

material para o inte rnauta. “Serviço jornalístico é sempre melhor quando é feito de

maneira gráfica, visual, ou seja, com quadros de leitura ágil, ao estilo ‘o que abre e

fecha, quando e onde’” (on-line).

A Internet nos dias de hoje se configura como um importante espaço para

divulgação de material de serviço. Nota-se que os demais veículos de comunicação

ultimamente têm mantido uma relação cada vez mais próxima com esse meio.

Veículos como jornais, revistas e emissoras de televisão mantêm páginas na

Internet. Assim, é comum, ao final das matérias, seja no suporte impresso ou no

eletrônico, a indicação de links da Internet, que podem oferecer mais informações

para o receptor.

Nesta pesquisa, parte-se do ponto crucial de que o jornalismo de serviço tem

um papel orientador, que busca ajudar o cidadão em suas escolhas e atividades do

cotidiano. Sabe-se que é preciso levar em conta os indícios dessa produção

jornalística nos diferentes suportes midiáticos, discussões de autores, pesquisas

existentes sobre o jornalismo de serviço, como também classificações de gêneros. O

referencial teórico apresentado até agora serve para o entendimento dos conceitos,

formas e características desse tipo de jornalismo estudado.

1.8. Jornalismo de serviço: um gênero independente?

O pressuposto desta pesquisa é de que o jornalismo de serviço é um gênero

independente e que não cabe em classificações opinativas e informativas já

existentes. Este jornalismo possui características próprias marcantes que o tornam

um gênero a parte. Resende (1998) afirma que as matérias de cunho de serviço não

se acomodam em outro gênero determinado.

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No entendimento deste pesquisador, as matérias jornalísticas em que, supostamente, se presta algum tipo de serviço ao público não se encaixam em um gênero determinado, e nem sequer dentro de um das duas categorias, informativa e opinativa. Tanto uma reportagem como um comentário econômico podem ser de extrema utilidade pública, à medida que neles estiver embutida a intenção de esclarecer, orientar ou mesmo despertar a consciência do telespectador quanto a um problema qualquer. Não importa, portanto, que o assunto abordado seja de saúde pública- como evitar uma doença contagiosa -, ligado à área de educação, as propriedades de um método pedagógico – ou que fique no nível trivial de uma receita de um prato regional, o que interessa mesmo é o valor que essa informação possa ter a audiência. A simples divulgação de indicadores meteorológicos ou financeiros ajuda o telespectador a tomar decisões de seu interesse (RESENDE, 1998, p. 170).

A conjuntura da intencionalidade do texto é imprescindível para identificação

do material jornalístico destinado à prestação de serviços por parte dos media. É

preciso verificar se nas matérias há um elemento pedagógico com intento de

orientar, esclarecer ou indicar ao receptor da informação algo que poderá ou deverá

fazer.

Marques de Melo (2007) reconhece a existência do gênero utilitário ou

operacional, identificando-o como gênero complementar, assim como analítico

(interpretativo) e emocional (diversional). Esses gêneros nasceram no século XX,

diferentemente dos gêneros denominados hegemônicos: referencial (informativo,

século XVII) e argumentativo (opinativo, século XVIII).

Segundo este autor, o gênero utilitário surge no limiar da sociedade da

informação, cujo funcionamento repousa na tomada de decisões rápidas no mundo

financeiro, projetando-se também na vida cotidiana. Afirma ainda que sua

legitimação se dá com mais vigor nas sociedades povoadas pelos cidadãos-

consumidores, principalmente a partir do final do século XX. E diz ainda que este

gênero tem como uma das características principais a atualidade, porém, sem o

fator novidade. O fato é geralmente o mesmo, a fórmula se repete.

Tal característica apontada por Marques de Melo é uma das formas de

distinguir esse gênero dos demais. O gênero utilitário não traz novidade, as formas

são as mesmas, se repetem a cada edição, sendo atualizadas apenas informações.

Nota-se isso nos roteiros de teatro, cinemas e filmes, previsão do tempo, indicadores

necrológicos, cartas-consultas, entre outros tipos de jornalismo de serviço produzido

pelos media.

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Claro que há, em diversas situações, dificuldades para identificar o gênero

utilitário. Por muitas vezes, pode-se confundir com outros gêneros do jornalismo,

principalmente o informativo. Isso, porque o serviço pode aparecer como

complemento de um material informativo ou embutir algumas características em

formatos, como de reportagem. “As matérias de serviço podem ser sequenciais às

matérias puramente informativas, ou o serviço está escondido num conjunto de

informações”. (TEMER, 2001, p. 137).

Nesta pesquisa, parte-se para um estudo exploratório sobre os indícios do

gênero utilitário na mídia impressa, considerando as afirmações de Marques de Melo

e Chaparro sobre a legitimação desse gênero jornalístico na sociedade consumidora

e urbanizada. Em complementação, faz-se um resgate sobre a presença dessa

espécie de jornalismo em alguns momentos da história da imprensa, com foco no

jornal Folha de S. Paulo e revista Veja.

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CAPÍTULO II. GÊNESE E DESENVOLVIMENTO DA UTILIDADE NA IMPRENSA BRASILEIRA

1.1 Processos de urbanização no Brasil e a relação com o jornalismo de serviço

A partir da segunda metade do século XX, o processo de urbanização no

Brasil foi bastante acelerado. Na passagem da década de 1960 para 1970, a

população urbana passou a ser maior do que a população rural. Contabilizava-se

mais da metade da população vivendo em cidades com mais de 100 mil habitantes,

cidades estas chamadas de aglomerados metropolitanos. Era a sociedade brasileira

tornando-se cada vez mais urbana.

Brito (2006) afirma que a velocidade da urbanização brasileira foi maior do

que em países capitalistas mais avançados. A transformação pela qual passou a

sociedade brasileira, principalmente a partir da década de 50, tinha como um dos

seus principais motivos a grande expansão das migrações internas. Essas

migrações influenciaram diretamente nas mudanças estruturais da sociedade e da

economia e na aceleração do processo de urbanização.

A maior parte do crescimento demográfico urbano, entre 1960 e 1980, deveu-se ao intenso fluxo migratório rural-urbano. Somente entre 1960 e o final dos anos 1980, estima-se que saíram do campo em direção às cidades quase 43 milhões de pessoas, incluído o efeito indireto da migração, ou seja, os filhos tidos pelos migrantes rurais nas cidades (BRITO, 2006, p.223, on-line).

O deslocamento da população para as grandes cidades era intenso, e tinha

como peça chave o processo de industrialização nas cidades de São Paulo e Rio de

Janeiro, impulsionado inicialmente pela cafeicultura paulista e depois pela

penetração de outros mercados.

Por ser uma região com maior grau de desenvolvimento e mais favorável à

industrialização, cresciam assim as disparidades regionais, com a concentração de

investimentos do país voltados para o centro-sul. As diferenças entre as regiões se

tornam maiores após a Segunda Guerra Mundial, quando os processos de

industrialização se intensificam, estimulando as migrações.

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A grande concentração espacial do desenvolvimento da economia brasileira, comandado pelo processo de industrialização no Rio de Janeiro e, principalmente, em São Paulo, ampliou os desequilíbrios regionais e sociais, impulsionando as migrações internas, que transferiram a população do campo para as cidades, assim como a redistribuíram entre os estados e as diferentes regiões do país (BRITO, 2006, p.224, on-line).

O fenômeno das migrações, e a consequente expansão urbana no Brasil,

provocaram a formação de grandes regiões metropolitanas a partir a década de

1970. Foram consideradas aglomerações metropolitanas de nível global as cidades

de São Paulo e Rio de Janeiro, e de nível nacional, Belém, Fortaleza, Recife,

Salvador, Belo Horizonte, Campinas, Curitiba, Porto Alegre, Goiânia e Brasília,

segundo informações do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), IBGE

(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e NESUR (Núcleo de Economia

Social, Urbana e Regional) (IPEA; IBGE; NESUR apud BRITO, 2006).

Brito (2006) levanta questões sobre a urbanização somente a partir da

segunda metade do século XX. Em contrapartida, Lopes (1976) é ainda mais

profundo ao analisar a formação da sociedade urbana-industrial do Brasil. Segundo

o autor, processo de urbanização dá-se em todo país, com destaque para cidades

do centro-sul, do sul e da região litorânea do Nordeste.

A urbanização no Brasil está relacionada ao processo de industrialização,

iniciado, como afirma Lopes (1976), ainda no final do século XIX. O autor aponta três

momentos de surtos da industrialização no Brasil. Segundo Lopes (1976), o primeiro

acontece no início do período republicano, com a política de livre flutuação cambial e

encarecimento dos produtos importados. O autor também associa as elevadas

tarifas e a política do “dinheiro fácil” nos primeiros anos do governo republicano aos

interesses dos industriais com os interesses da classe agrária-mercantil. As

indústrias que surgem são principalmente alimentícias e têxteis. O segundo surto da

industrialização brasileira acontece em 1930, período em que os fazendeiros e

comerciantes de café perdiam o poder. O momento era de queda no preço do café

no mercado internacional e uma política nacional de superprodução e estocagem.

Por outro lado, nascia uma burguesia industrial e o país passava por condições

favoráveis de substituição de importações por produtos nacionais.

Lopes (1976) considera que o terceiro surto está relacionado com o pós-

guerra. Até então, o Brasil ainda era considerado um país “essencialmente agrícola”.

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Formava-se então uma política industrializadora, a partir da constitucionalização do

país, em 1946. Já a partir da segunda metade dos anos 50, concretizavam-se as

medidas de industrialização, com a política do “desenvolvimentismo” do presidente

Juscelino Kubitschek e a entrada de capitais estrangeiros.

Na década de 50, o Brasil passava por transformações econômicas e

políticas, ritmo imposto ao mundo no momento pós-guerra, com o início ao intenso

processo de industrialização. Neste período buscava-se a construção do novo na

cultura, nas artes plásticas e na poesia, no teatro e na música. Foram os anos em

que se abriram as portas para a modernidade.

É a partir da década de 50 que o país inicia uma tendência à urbanização e à

aglomeração da população nos centros urbanos. Ao tempo em que os processos de

urbanização eram acelerados pelas migrações e industrialização, a sociedade

brasileira se transformava com o fortalecimento das comunicações de massa. Os

jornais impressos, rádio e cinema faziam parte do cotidiano da sociedade urbano-

industrial em formação. Nesse período chegava aos olhos da elite paulistana a

televisão6: o novo veículo adentra depois o Rio de Janeiro e aos poucos as demais

cidades.

Falou-se aqui em migrações, urbanização, industrialização e transformações

da sociedade brasileira no século XX. Sabe-se que o jornalismo utilitário se fortalece

em sociedades consumidoras, formadas por cidadãos que têm contato com opções

de consumo, sejam de bens simbólicos ou bens industriais. Surge então uma

relação estreita entre a informação utilitária e o desenvolvimento da urbanização no

Brasil.

Chaparro (2008), ao observar as espécies utilitárias, identifica, com o passar

das décadas, um crescimento acentuado no percentual da totalidade do espaço

ocupado por conteúdos jornalísticos desse gênero nos jornais O Estado de S. Paulo

e Jornal do Brasil. No período de 1945-1954, O Estado de S. Paulo contava com o

percentual de 6,72% de conteúdo de serviço; em 1965-1974, esse percentual

cresceu para 7,72%; em 1975-1984 já era de 11,31%; e no período de 1985-1994, o

percentual desse gênero atingia 16,63%. No Jornal do Brasil, também foi observado

um crescente aumento do espaço voltado para informação utilitária, que em 1945-

6 “A TV Tupi, inaugurada em caráter definitivo em 18 de setembro de 1950 em São Paulo, como PRF-3 TV Tupi-Difusora, Canal 3, foi a primeira emissora e televisão brasileira, pioneira também na América no Sul” (REIMÃO, 2006, p. 17).

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1954 era de 5,92%; em 1965-1974 subiu para 8,18% e em 1975-1984 esse

percentual foi contabilizado em 9,57%. Já no último período analisado, entre 1985-

1994, o gênero ocupava 13,87% do espaço do jornal.

No caso da Folha de S. Paulo, os números observados por Chaparro (2008)

são ainda maiores. No período de 1986-1994, contabilizou-se um índice de 26,03%

de material informativo utilitário no espaço ocupado por conteúdo jornalístico deste

jornal. Segundo Chaparro (2008), a progressão crescente do percentual de conteúdo

utilitário nos jornais impressos brasileiros indica uma tendência clara que no Brasil

acompanha a intensificação dos processos de urbanização e das respectivas

decorrências, em termos de mercado, cultura, costumes e demandas sociais.

A partir dessa justificativa para o crescimento nos impressos dos espaços

destinados ao conteúdo utilitário oferecida na pesquisa de Chaparro (2008),

percebe-se a relação entre esse gênero do jornalismo e o crescimento dos centros

urbanos. Assim, fica claro que quanto maior a oferta de opções aos consumidores

de produtos de mercado e de bens simbólicos, mais há necessidade do cidadão em

obter informações que lhe leve a fazer a escolha. Com isso, consequentemente, os

meios de comunicação tentam suprir essas necessidades dos receptores com

maiores espaços jornalísticos, voltados para essa prestação de serviço.

É preciso destacar ainda que não só as espécies de jornalismo de serviço que

nascem e se desenvolvem em espaços mais urbanizados. A própria história do

jornalismo tem relação com a urbanização. Marques de Melo (2003c), ao analisar os

motivos da demora do surgimento imprensa no Brasil, diz que “o retardamento não

se explica por uma única causa (política ou econômica), mas por um conjunto de

circunstâncias causais, que se inter-relacionam e se influenciam mutuamente ”

(p.112).

Entre os fatores socioculturais que retardaram a implantação da imprensa no

país no período colonial, Marques de Melo (2003c, p.113) cita a ausência de

urbanização, além de outros como: a natureza feitorial da colonização,

predominância do analfabetismo e incipiência das atividades comerciais e

industriais. Focando-se em um dos motivos citados pelo autor, a ausência de

urbanização, é importante considerar que no Brasil colônia a vida era

essencialmente rural, com propriedades de terra isoladas voltadas para produção

agropecuária. A vida urbana era resumida a núcleos pouco povoados, que

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começaram a se desenvolver a partir das migrações européias e mais intensamente

com a Independência.

Com o Brasil praticamente rural, havia pouca necessidade da imprensa. Já

que as atividades midiáticas são “essencialmente citadinas” (MARQUES DE MELO,

2003c, p. 131). Mesmo após o nascimento da imprensa brasileira, no início do

século XIX, impulsionada pela chegada da Coroa Portuguesa de D. João VI, a

imprensa primária brasileira não era diária, caracterizada por Marques de Melo

(2003, p.132) como “raquítica”, já que as cidades não tinham autonomia econômica

e social.

Os primórdios da imprensa na Europa7 já estavam relacionados com o

desenvolvimento dos centros urbanos, proporcionado pelo nascente capitalismo e

atividades mercantilistas. Marques de Melo (2003c) relaciona o aparecimento da

imprensa periódica européia à necessidade de comunicação que havia entre os

aglomerados urbanos.

No que se refere, particularmente, à imprensa periódica, é preciso convir que o seu aparecimento decorreu sempre da necessidade de comunicação extracomunitária provocada pela mobilidade social nos aglomerados urbanos. Os indivíduos que aí residem mantendo-se também em contacto com cidadãos de outros aglomerados, não se conformavam em saber apenas o que ocorria em sei meio ambiente, mas precisavam, até mesmo para fins utilitários, conhecer os fatos do exterior. E a imprensa surge para atender a essa demanda de informações, sobretudo comerciais (MARQUES DE MELO, 2003c, p. 132).

Se no desenvolvimento do próprio jornalismo há uma ligação com a

proliferação dos centros urbanos, quando se trata de jornalismo de serviço essa

relação é ainda maior, por conta das necessidades que o receptor tem de buscar

nos meios de comunicação de massa soluções para situações cotidianas, que se

constroem principalmente em meio a sociedade consumidora, onde há muita oferta

e pouco tempo para tomada de decisões.

Como já foi dito aqui, é bem verdade que o incremento desse gênero

jornalístico acontece nos espaços geográficos mais desenvolvidos, locais com mais

opções culturais, de mercado e com demandas sociais mais acentuadas. Entretanto,

7 As técnicas de impressão nascem na Europa, após o invento de Gutenberg, no início de século XV. O que proporciona uma expansão da tipografia pelos países europeus. PASSOS, Alexandre. A imprensa no período colonial. Rio de Janeiro: MEC/Serviço de Documentação, 1952.

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não se pode deixar de considerar que a história do jornalismo de serviço está

diretamente relacionada ao nascimento da imprensa.

1.2. Nasce a imprensa, e com ela, as informações utilitárias

Surge na Europa no início do século XV o invento da prensa de impressão. A

novidade à época veio para atender às solicitações da elite intelectual por produção

de livros, incentivo das universidades e do movimento renascentista. O nascimento

da imprensa também foi motivado pela necessidade de comunicação e obtenção de

informação sobre os acontecimentos do período.

Nesse contexto, havia também os interesses da Igreja, que detinha bastante

poder, e queria impressos de manifestações cristãs, como santos e orações, a fim

de promover a religiosidade. Por outro lado, existiam os interesses da burguesia

comercial e industrial que nascia sob o desenvolvimento das atividades

mercantilistas e também dos governos das cidades, que precisavam das impressões

para suas necessidades institucionais.

As atividades de impressão serviram também como suporte para o desenvolvimento das atividades da nascente burguesia comercial e industrial, dando letra de forma aos instrumentos da sua complexa engrenagem burocrática (letras de câmbio, recibos, contratos, modelos contábeis, tabelas de preços etc.). Ou então, atenderam às necessidades da organização administrativa das cidades e dos principados (guias para recolhimento de impostos, editais, proclamações, avisos, formulários, etc.) (MARQUES DE MELO, 2003c, p.42).

Os interesses comerciais dessa nascente burguesia começaram a ocupar

espaços nos pioneiros boletins informativos. Os primeiros números desses boletins

ainda eram manuscritos, mas incentivados pela invenção da prensa de impressão

por Johann Gutenberg, em 1447, passaram prontamente a ser produzidos de

maneira impressa.

Somente no século XVII são lançados os primeiros jornais na Europa, período

em que se otimizou a aplicação das técnicas de impressão. Nesses jornais ou

gazetas, como foram chamados, as notícias de interesse sobre mercado eram

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propagadas. Os reis que estavam no poder nos países europeus tinham interesses

na circulação das gazetas, a fim de difundir as informações sobre o mercado,

principalmente os preços de produtos. Em alguns casos, como o de Felipe V da

dinastia Bourdons na Espanha, o custeio desses periódicos eram feitos pelos

próprios reis. Mesmo os impressos que não eram bancados pelos cofres reais,

possuíam uma relação estreita com o poder real, necessitando de licença circulação.

Passos (1952) deixa clara essa ligação do poder da realeza com a imprensa

ao tratar das primeiras gazetas na França. “Em 1631, Teofrasto Renaudot conseguiu

licença do rei Luís XIII para distribuir sua gazeta” (p.6). Com relação à imprensa em

Portugal, também fica nítida essa relação entre o governo e o aparecimento dos

jornais. “Presume-se ser ainda no século XV a introdução dos prelos em Portugal.

No século seguinte, em 1641, surgia a Gazeta em que se relatam as novas todas

que houve nessa Corte [...] – com todas as licenças necessárias e privilégio real”

(p.13).

No Brasil, a imprensa também nasce relacionada aos interesses da realeza.

D. João e sua corte de Portugal se instalaram na capital brasileira, Rio de Janeiro,

em 1808, impedidos de continuar em solo lusitano por conta das invasões francesas.

Portanto, trouxeram na bagagem as necessidades de fazer funcionar em terras

brasileiras as atividades da Corte Portuguesa. A implantação dos sistemas de

impressão8 foi uma das medidas de infraestrutura aplicada para possibilitar melhor

acomodação dos novos hóspedes do país.

Foi nesse contexto, da chegada da família real, que surgiu a imprensa

brasileira. É verdade que bem tardia, na visão dos pesquisadores como Marques de

Melo (2003c) e Nelson Werneck Sodré (1977). Também é preciso destacar que há

controvérsias sobre o primeiro jornal brasileiro, embora não seja motivo de

discussão alongada nessa pesquisa. As contradições giram se o primeiro impresso

brasileiro seria o Correio Brasiliense ou Gazeta do Rio de Janeiro.

8 Em 13 de maio de 1808 é lançado o decreto oficial que implanta no Brasil as artes tipográficas, diretamente relacionadas à corte. “Tendo-me constado que os prelos se acham nessa capital eram os destinados para a Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros e de Guerra; e atendendo à necessidade que há da oficina de impressão nestes meus Estados: sou servido, que a casa, onde eles se estabeleceram, sirva interinamente de Imprensa Régia, onde se imprimiam exclusivamente toda a legislação e papéis diplomáticos, que emanarem de qualquer repartição do meu real serviço; e se possam imprimir todas e quaisquer obras; ficando interinamente pertencendo ao seu governo à mesma Secretaria” (PASSOS, 1952, p.25).

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A Gazeta do Rio de Janeiro teve a primeira edição publicada em 10 de

setembro de 1808 e em 1821 passou a se chamar Gazeta do Rio. A idéia inicial era

ser semanal, porém, teve grande aceitação e passou a ser bissemanal. Era

considerada uma folha oficial onde se publicavam os decretos e os fatos

relacionados com a família real. “Publicava, além de notícias de acontecimentos

mais notáveis do exterior, falecimentos de pessoas gradas, anúncios e noticiário

social” (PASSOS, 1952, p.28).

Sendo as notas de falecimentos um dos tipos do gênero utilitário apontados

por Marques de Melo (2007), pode-se dizer que essa espécie de jornalismo,

analisada aqui, tem suas primeiras marcas no Brasil junto com o aparecimento da

imprensa.

No Correio Brasiliense encontra-se informações sobre preço de mercadorias.

Logo nas primeiras edições, verifica-se um foco maior nos valores de importações

do algodão do Brasil comparadas com preços de outros países, como também

preços do açúcar e outros produtos. Era comum esse impresso apresentar quadros

indicativos sobre valores de importação e exportação de diversos portos (Brasil,

Estados Unidos, Inglaterra, etc.).

O Correio Brasiliense foi editado em Londres até 1822, ano da independência

do Brasil, por iniciativa de Hipólito da Costa, um brasileiro que viveu nos Estados

Unidos e passou a maior parte da sua vida na Ingla terra. O impresso era produzido

em outro país, mas com mensagens voltadas para os leitores brasileiros, com

conteúdos mais opinativos do que informativos. Costa tinha idéias liberais e tentava

influenciar os leitores através de notícias de todo mundo. No início do século XIX,

eram chamados de brasilienses os portugueses nascidos ou estabelecidos no país e

que se sentiam vinculados à nação, e o jornal era destinado a este público.

Sodré (1977), um dos principais estudiosos da história da imprensa brasileira,

considera que o primeiro jornal realmente informativo a circular no Brasil foi o Diário

do Rio de Janeiro. Esse periódico nasceu em 1821, pelas mãos do português

Zeferino de Meireles, com a proposta de levar informações aos leitores relacionadas

a questões locais. Sobre esse jornal, o autor afirma:

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Inseria informações particulares e anúncios: aquelas tratavam de furtos, assassínios, demandas, reclamações, divertimentos, espetáculos, observações meteorológicas, marés, correios; estes tratavam de escravos fugidos, leilões, compras, vendas, achados, aluguéis e, desde novembro de 1821, preços de gêneros (SODRÉ, 1977, p.58).

O detalhamento sobre o conteúdo do Diário do Rio de Janeiro por Sodré

(1977) é mais uma prova de que o as informações utilitárias estão presentes nos

primeiros anos de imprensa no Brasil. Neste jornal, há uma abertura maior para o

material informativo local e, portanto, as informações utilitárias estão presentes,

como as opções de lazer e indicações de meteorologia, além de dados sobre

mercado.

As gazetas e jornais que se proliferaram em regiões de todo país no século

XIX carregavam características das espécies utilitárias. É verdade que neste período

as informações que mais se destacavam eram as notas de falecimento e as

informações de mercado, principalmente as cotações preços de produtos. Aos

poucos, os periódicos acrescentavam em suas edições informações de lazer, como

também de previsões de meteorologia e seções de achados e perdidos. Isso

principalmente em cidades mais desenvolvidas, aquelas que se urbanizavam mais

rapidamente e ganhavam opções de lazer, como os espetáculos de teatro e cinema.

1.3. A Imprensa Paulista

Em São Paulo, o primeiro jornal editado foi O Paulista, ainda manuscrito, em

1823. Ainda sem tipografia na cidade, o professor de gramática latina e retórica,

Antonio Mariano de Azevedo Marques, conhecido como Mestrinho, se engajou em

lançar o bi-semanário para a cidade que tinha um total de 6.920 habitantes, sendo

2.916 homens e 4.004 mulheres. “Era manuscrito a bico-de-pena ora em lauda e

meia de papel de peso ou em duas laudas de papel ordinário usadas pelos

cartorários para lavrar escrituras e outros documentos”. (PETROLLI, 2007, p. 02, on-

line).

O jornal O Paulista não durou mais do que um ano. E somente em 1827

aparece na província o primeiro jornal a ter oficina tipográfica. Era o tri-semanário O

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Farol Paulistano, dirigido por José da Costa Carvalho, Barão, Visconde e Márquez

de Montalegre e membro da Regência Trina, em 1831 - 1835. São Paulo foi a sétima

província brasileira a ter um jornal, mas no final do século XIX já havia mais de 1493

títulos, incluindo jornais, revistas e outras publicações. (PETROLLI, 2007, p. 6, on-

line). Entre esses jornais, havia o Correio Paulistano publicado em São Paulo, de

1854 até 1963, o Diário de S. Paulo, que surge em 1865, e O Ipiranga, em 1869, e A

Província de S. Paulo, que nasceu no dia 4 de janeiro de 1875 e está em circulação

até os dias atuais com o nome de O Estado de S. Paulo. A mudança de nome

aconteceu em janeiro de 1890.

O Estadão, o impresso mais antigo em circulação nos dias atuais, surgiu

durante o Império com ideais republicanos. A proposta do jornal surgiu após a

realização da Primeira Convenção Republicana no Brasil, na cidade de Itu, interior

de São Paulo, em abril de 1873. O jornal foi fundado por 16 pessoas reunidas por

Manoel Ferraz de Campos Salles e Américo Brasiliense, concretizando uma

proposta de criação de um diário republicano, com o propósito de combater a

monarquia e a escravidão (O Estadão, on-line).

A novidade trazida pelo Estadão era a venda avulsa pelas ruas da cidade. No

período não havia pontos de vendas de jornais. Então, o imigrante francês Bernard

Gregoire saía às ruas, montado num cavalo e tocando corneta para chamar atenção

do público. Gregoire tornou-se o primeiro jornaleiro no Brasil (PETROLLI, 2007, p. 8,

on-line). Os proprietários desse jornal formavam uma sociedade comandita

integrada por industriais, comerciantes, agricultores, intelectuais e políticos. O jornal

era administrado por José Maria Lisboa, que depois fundou o Diário Popular,

atualmente chamado de Diário de S. Paulo, pertencente ao grupo O Globo.

No final do século XIX, as cidades cresciam e os jornais também se

desenvolviam. Eles deixavam de ser artesanais e se transformavam em verdadeiras

empresas. Sodré (1977) afirma que a passagem do século XIX para século XX

marca a transição da pequena para a grande imprensa. “Os pequenos jornais, de

estrutura simples, as folhas tipográficas cedem lugar às empresas jornalísticas, com

estrutura específica, dotadas de equipamento gráfico necessário ao exercício de sua

função” (p. 315).

Na transição dos séculos, o Brasil passava por transformações importantes

na política; era época do início do período republicano e fim da escravidão. Com

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isso, o capitalismo avançava e a burguesia ascendia. Já nesse início do século XX

“os jornais eram empresas capitalistas” (SODRÉ, 1977, pp. 319).

1.4. A Folha de São Paulo

É nesse contexto de transformações nas estruturas da imprensa que se inicia

a história do atual jornal diário de maior representação do país, a Folha de S. Paulo.

No dia 19 de fevereiro de 1921 surge a primeira Folha. Chamada de Folha da Noite,

o jornal vespertino nascia por iniciativa de um grupo de jornalistas que fazia parte da

redação do O Estado de S. Paulo. O momento histórico do aparecimento desse

diário culminava também com as mudanças sociais e políticas trazidas pela Primeira

Guerra Mundial.

No período de fundação, os proprietários eram Olival Costa e Pedro Cunha. O

vespertino tinha proposta oposicionista, marcando oposição ao governo até o ano de

1929, quando Pedro Cunha sai da sociedade. A Folha da Noite passa por um

período de interrupção, em 1924, 1927 e 1930. A partir de 1925, o grupo passava a

editar também a folha matutina, Folha da Manhã, que nasce no dia 01 de julho , e

também sofre interrupções em 1930. Nos cinco primeiros anos de sua história, os

jornais eram impressos na oficina do Jornal do Commercio.

Segundo Mota e Capelato (1981), a Folha da Noite tinha a proposta de atrair

os trabalhadores das classes médias urbanas e operárias com assuntos mais

voltados para os problemas da cidade. Neste periódico, eram feitas campanhas de

melhoria de habitação, educação, alimentação, saúde, e construção de creches e

escolas. Já a Folha da Manhã era direcionada aos comerciantes e profissionais

liberais. Caracterizava-se como um jornal local e urbano, mas com estilo menos

popular.

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1.4.1 O jornalismo de serviço na Folha

O primeiro momento da Folha é o surgimento, que tinha como proposta

principal fazer oposição ao governo e, com isso, abordar leitores que O Estado de S.

Paulo não alcançava. Também faziam parte do grupo de opositores os jornais:

Diário da Noite, de 1925, das empresas Diários e Associados de Assis

Chateaubriand; São Paulo Jornal, de 1926, e Diário Nacional, de 1926. Do lado dos

governistas estavam: Correio Paulistano, A Gazeta e Jornal do Commercio. (MOTA;

CAPELATO, 1981)

Sobre o conteúdo de jornalismo de serviço publicado nesses primeiros anos

de Folha, verificam-se principalmente notas de falecimento, dados sobre o comércio

e informações sobre atividades culturais. Em ambos periódicos encontrou-se

claramente marcas desse gênero jornalístico. Isso se configura por estes jornais

reproduzirem as mudanças sociais pelas quais passava São Paulo à época. Foi

exatamente nesse período que aconteceu o primeiro surto da industrialização

brasileira, com o início da República no Brasil (LOPES, 1976).

Como forma de observar a manifestação do jornalismo de serviço na Folha,

fez-se uma pesquisa exploratória e descritiva através de observações em edições

desse jornal, no início de sua publicação até o final da década de 1990. Assim,

percebe-se que a Folha da Manhã inicialmente contava com 12 páginas, entre

notícias, artigos, notas oficiais, anúncios e coluna social. Nas capas, muitas vezes,

apareciam charges.

Na pesquisa em edições dos anos 1925 e 1927, nota-se a preocupação em

apresentar para os leitores notas informativas sobre falecidos, com informações

sobre sepultamento e missas. Também estava presente no jornal, dados de cotação

de produtos como café, algodão, açúcar, cereais, banha, farinha de trigo, farinha de

mandioca e óleos. Outros indícios de informações utilizáveis para o leitor eram as

notas sobre espetáculos de teatros e circos, sessões de cinema, seção de achados,

resultados de loterias e seção voltada para o público feminino com notas e

reportagens de serviço9.

9 Na década de 20, foram observadas edições da Folha da Manhã no período de julho a outubro de 1925, julho a setembro de 1927 e março a abril de 1929.

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As notícias de falecimento apareciam de duas formas, em notas resumidas ou

um pouco mais extensas, contendo informações sobre familiares e sobre cerimônia

de sepultamento. Exemplos de como eram publicadas as informações sobre os

mortos, estão disponíveis na reprodução da Folha da Manhã de 09 de julho de 1925

(Figura 1)

Figura 1: Folha da Manhã: Necrologia Fonte: publicado em 09 de jul. 1925. Folha da Manhã

As cotações sobre produtos do mercado tinham considerável espaços no

jornal. Diariamente, era publicada uma página denominada de “Parte Commercial”,

com valores de produtos como algodão, café, açúcar, entre outros gêneros

alimentícios. Nessa página, também eram divulgados indicadores, chamados de

câmbio, relacionados aos cenários econômicos do período, com informações sobre

como funcionaram o mercado financeiro no dia anterior.

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Figura 2 – Folha da Manhã: Cotação e Indicadores Econômicos Fonte: publicado em 11 jul. 1925. Folha da Manhã

Outros exemplos de indicadores nos primeiros anos de Folha da Manhã eram

os resultados das loterias e uma seção de objetos achados. Os leitores podiam

encontrar no jornal esse tipo de informação útil e que podia ser utilizável seja para

conferir o resultado de jogo na loteria ou para se informar sobre algum objeto

perdido.

Figura 3 – Folha da Manhã: Loterias e Achados Fonte: publicado em 11 jul. 1925/ 15 jul. 1925. Folha da Manhã

As opções de cultura disponíveis para os paulistanos (cinemas, teatros,

circos, museus) eram relatadas na Folha da Manhã, através de pequenos textos em

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formato de roteiros. Nesses espaços, o jornal publicava nome do evento, quais os

atores faziam parte do elenco e o local, como também uma pequena sinopse. Não

foram encontradas informações de serviço mais completas contendo preços e

horários dos espetáculos.

Figura 4 – Folha da Manhã: Roteiros culturais Fonte: publicado em 15 de jul. 1925. Folha da Manhã

Semanalmente o jornal publicava uma página denominada “Assuntos

Femininos”. Com conteúdo voltado para mulheres, o espaço contava com notas e

reportagens de cunho de serviço. Era um material voltado para aconselhar as

leitoras principalmente sobre trabalhos domésticos, cuidados com beleza,

tendências da moda na Europa e dicas para educação dos filhos.

Também é preciso destacar que nesse período, os anúncios se confundiam

com as notícias de cunho de serviço. Muitos anúncios de novidades do mercado,

novos medicamentos, tratamento capilar e consultórios médicos eram precedidos

pelo título “Indicador da Folha da Manhã”. O que parece ser uma notícia do jornal,

na verdade era publicidade. A fonte dos anúncios não era diferenciada das matérias

jornalísticas e como no jornal não havia cores, tudo era preto e branco, o material

publicitário era facilmente confundido com o jornalístico.

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Figura 5 – Folha da Manhã: Assuntos femininos Publicado dia 20 de out. 1925. Folha da Manhã.

Com relação ao conteúdo de serviço, a Folha da Manhã e Folha da Noite não

tinham maiores diferenciações nos primeiros anos de existência em São Paulo.

Observou-se10 que a Folha da Noite também publicava resultados de loterias; notas

de falecimento e sepultamentos, noticiados em uma coluna “Sociedade”; as

cotações e indicadores econômicos também eram editados em página denominada

“Parte Comercial”; os roteiros de cinema, teatro e circo eram publicados na seção

“Diversões”. Para o público feminino, havia a coluna “Feminina”, onde eram

publicadas dicas, receitas e conselhos.

Figura 6 – Folha da Noite: Necrologia/Parte Commercial Fonte: publicado dia 01 de out. 1928. Folha da Noite

10 Na década de 1920, foram observadas edições da Folha da Noite no período de julho a setembro de 1926 e outubro a dezembro de 1928.

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Figura 7 – Folha da Noite: Diversões/Femininas Publicado em 01 de out. de 1928. Folha da Noite

Notou-se que tanto na edição vespertina quanto na matutina, na Folha eram

destinados espaços diários para cotação de hipódromo. Nesse período, as corridas

de cavalo eram uma atração forte na cidade de São Paulo. Na Folha da Noite, a

coluna “Turf” divulgava as cotações dos cavalos, como também os resultados do dia

anterior. Nessa época inicial da Folha da Noite também era publicada uma coluna

denominada de “Notícias Religiosas”11, neste espaço os leitores podiam encontrar

horários e outras informações sobre missas, quermesses e festejos de padroeiros.

11 As notícias religiosas também foram encontradas na Folha da Manhã.

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Figura 8 - Folha da Noite: Notícias Religiosas/Turf/Necrologia Fonte: Publicado em out. de 1928. Folha da Noite

Ainda se pode acrescentar que nesses primeiros anos de publicação da Folha

da Noite e Folha da Manhã havia outras manifestações de gênero utilitário. Algumas

notícias tinham caráter indicativo, como, por exemplo, a publicada no dia 25 de

outubro de 1925 na Folha da Manhã, em que apareciam os números e as causas de

mortes na semana, quantas eram do sexo masculino e quantos do sexo feminino,

como também noticiavam a quantidade de nascimentos, casamentos e vacinações.

Esporadicamente, os jornais também selecionavam espaços para noticiar pessoas

desaparecidas.

No ano de 1929, identificou-se na Folha da Manhã um espaço chamado de

“Útil e Interessante para todos”, que ocupada a metade de uma página. Nele havia

diversos elementos, entre eles, calendário com fases da lua; horóscopo;

efemeridades; necrologia; loterias; horário de trens; previsões do tempo; passeios

interessantes, dicas de lugares para serem visitados; e também notas de agricultura

e pecuária, com dicas e informações sobre colheitas. Como o próprio título

anunciava, o jornal passava para os leitores a idéia de que essas informações eram

úteis.

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Figura 9 – Folha da Manhã: Útil e Interessante para todos Fonte: Publicado em 14 set. 1929. Folha da Noite

Neste período, destaca-se ainda uma seção denominada de “consultas”. Este

espaço era destinado a tirar dúvidas e aconselhar os leitores sobre diversos

assuntos, como as novidades do mercado. Os leitores enviavam suas dúvidas e o

jornal trazia as respostas nesta coluna em forma de conselhos. Um exemplo de que

este espaço era voltado para esclarecimentos de dúvidas de novidades do mercado

encontrou-se na edição de 01 de março de 1929, em que a coluna trazia explicações

sobre o recente meio de comunicação implantado no Brasil, o rádio12. Na abertura

da coluna estava escrito: “essa seção é dedicada a todos os interessados nos

esclarecimentos sobre construção, funcionamento de seus aparelhos, novas

orientações, compras de peças e outras particularidades sobre rádio”.

12 O rádio foi inaugurado no Brasil oficialmente no dia 7 de setembro de 1922, em cerimônia de discurso do Presidente Epitácio Pessoa, no Rio de Janeiro, em plena comemoração do centenário da Independência do Brasil.

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Figura 10 – Folha da Manhã: Consultas Fonte: publicado em 21 de abr. 1929. Folha da Manhã

Ainda é preciso destacar que no final da década de 20 as Folhas começaram

a publicar a programação das emissoras de rádio de São Paulo. Na década de 30, o

espaço para divulgação da programação de rádio já era bem maior. Em 1936,

apareciam nos jornais programações das emissoras: Educadora, Record, Excelsior,

Cruzeiro, Cultura, Cosmos e São Paulo.

Figura 11 - Folha da Manhã: Programa de Rádio Fonte: publicado em 18 de jul. 1936. Folha da Manhã.

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Foi no início da década de 30 que começou a segunda fase da história da

Folha de S. Paulo, segundo Mota e Capelato (1981). Essa fase se inicia com a

entrada do grupo Octaviano Alves de Lima, que garante aos jornais um caráter mais

empresarial e voltado para os interesses da cafeicultura. Até mesmo a Folha da

Noite que a princípio tinha uma proposta mais popular, nesta segunda fase,

fortalecia seus discursos dirigidos à classe dominante. “Pensando o trabalho como

agente produtor de riquezas, os representantes das Folhas se preocuparam com a

organização do trabalho no campo, ou, em outras palavras, enfatizaram o

aperfeiçoamento das relações capitalistas nesse setor” (p.84).

A partir do movimento de 1932, as Folhas definem a linha política do jornal.

Com uma posição liberal, as Folhas combatem Getúlio Vargas (MOTA; CAPELATO,

1981, p. 88). Mas, com o golpe de Estado em 1937, o projeto liberal foi por água a

baixo. Havia censura e apenas os assuntos de natureza econômica eram discutidos

em suas páginas. (p.94). A segunda fase vai até 1945, quando se muda mais uma

vez a direção dos periódicos.

Nessa segunda fase, os jornais13 mantiveram os espaços destinados a

informações úteis e utilizáveis para o leitor observados na primeira fase, como os

roteiros de cinema, teatro e circos; cotações e indicações de produtos no mercado;

necrologia; resultados de loterias, desaparecidos e objetos achados. Percebe-se que

nesse período há uma entrada de outros elementos desse gênero.

Os relatos sobre as opções de consumo de cultura estavam mais completos,

com locais e horários. Assim, os leitores encontravam as informações necessárias

no jornal antes de sair de casa para ir ao cinema, por exemplo. É nesse período

também que as Folhas começam a publicar listas nominais, como os nomes de

novos reservistas convocados para exército e lista de pessoas para buscar carteiras

de identificação. Essas listas geralmente eram acompanhadas de títulos

“Informações úteis”.

Encontrou-se também nesse período algumas chamadas denominadas de

“Sugestões úteis”, identificadas em edições da Folha da Noite em 1944. Nesses

espaços, os jornais traziam sugestões práticas para situações do cotidiano do leitor,

13 Na década de 30, observou-se edições da Folha da Noite de outubro a dezembro de 1939 e janeiro a março de 1944. Na Folha da Manhã, foram observadas edições de julho a setembro de 1936, maio a junho de 1939 e janeiro a março de 1945.

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como tirar manchas, limpar garrafas, entre outras informações que podiam facilitar a

vida do cidadão leitor do jornal.

Figura 12 - Folha da Noite: Sugestões Úteis Fonte: publicado em 10 mar. 1944. Folha da Noite.

Na segunda fase nota-se um maior espaço para os leitores, principalmente na

Folha da Noite. Identificou-se a seção “O povo reclama”, em 1939, e “Sugestões e

Reclamações”, em 1944. Em ambas as seções eram divulgadas cartas de leitores

com suas queixas sobre algum problema na cidade. O jornal não apontava

respostas, portanto, não se caracterizando por completo como material jornalístico

de serviço.

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Figura 13 - Folha da Noite: O povo reclama/ Sugestões e Reclamações Fonte: Publicado em 10 out. 1939. Folha da Noite /

Publicado em 13 fev. 1944. Folha da Noite Também em 1944, na Folha da Noite, identificou-se uma coluna destinada

para apresentar aos leitores os lançamentos de livros. Intitulada de “Livros Novos”, a

coluna levava informações sobre obras recém-lançadas, com um breve resumo

sobre a obra, editora e cidade.

Figura 14 – Folha da Noite: Livros Novos Fonte: publicado em 15 mar. 1944. Folha da Noite.

As Folhas pareciam buscar atender as necessidades dos leitores. Na década

de 1930, uma dessas formas era a lista de farmácias de plantão disponibilizadas por

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bairro da cidade de São Paulo. No jornal, o leitor podia encontrar os nomes e

endereços das farmácias.

Figura 15 – Folha da Manhã: Farmácias de Plantão Fonte: publicado em 07 maio 1939. Folha da Manhã.

Já no final da segunda fase dos jornais, pode-se considerar também uma

extensão da editoria feminina chamada “Elegância e conforto”. Aos domingos eram

publicadas duas páginas da Folha da Manhã dedicada aos assuntos femininos. As

matérias neste espaço dedicavam-se a aconselhar, ensinar a mulher sobre truques

de beleza e moda, e ainda assuntos relacionados aos filhos. O material era voltado

geralmente para o “como fazer”. Na citação abaixo se pode perceber primeiramente

dicas de roupa para crianças e, em seguida, uma matéria que ensina a fazer

exercícios no pescoço e por fim um conselho sobre beleza.

Vestidinhos de seda, cambraia, bordados ou enfeitados com ninho de abelha e lindas golinhas são estes modelos, todos graciosos e lindos, para satisfazer qualquer gosto, mesmo mais exigente. Escolha entre eles o modelinho para o aniversário de sua filhinha Problemas de beleza O desejo de toda mulher é possuir um pescoço formoso e bem torneado, que possa realçar tanto com um vestido diário, como também com trajes de festa. Para possuí-lo é indispensável dedicar-lhe cuidados constantes, porque de outro modo, a falta de atenção se evidenciará de muitas maneiras, contrastando com o rosto perdendo a harmonia do conjunto. Para a firmeza do pescoço, experimente o seguinte exercício circular: deixa cair a cabeça para frente, para trás, depois para esquerda,

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para adiante e volte, por último para frente. Repetir o exercício de esquerda e direita. Para combater a flacidez dos músculos debaixo do queixo, golpeie suavemente com um algodão molhado em água gelada [...] Conselho A beleza deve ser uma preocupação e não uma obsessão. É preciso que a mulher compreenda toda a importante que constitui com cuidado de seus encantos. Não obstante, quando pensa noite e dia na possibilidade de perdê-los, segue o caminho que conduz a uma tensão nervosa e facilmente envelhecerá. É preciso pensar na beleza como algo agradável e que não se está disposta a perder. Nunca como um verdadeiro pesadelo[...] (FOLHA DA MANHÃ, 25 fev. 1945, pp. 14- 15).

Figura 16 – Folha da Manhã: Editoria Feminina Fonte: publicado em 25 fev. 1945. Folha da Manhã.

Percebe-se ainda que não há distinção entre material jornalístico e

publicitário. Este é colocado no meio das matérias jornalísticas na seção feminina,

com mesma especificação, mesmo tamanho e mesma fonte. Além disso, as leitoras

não eram avisadas que o texto ali apresentado era um anúncio. Na figura 17, nota-

se um claro anúncio de “creme de alface brilhante”.

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Figura 17 – Folha da Manhã: Anúncio Fonte: publicado em 25 fev. 1945. Folha da Manhã.

Depois de 1945, entra a terceira fase da história das Folhas, quando José

Nabantino Ramos, um proclamado jacobino, assume a direção (MOTA; CAPELATO,

1981). Segundo os autores, era um período em havia preocupação em adaptar as

Folhas aos ritmos e à racionalidade de ordem burguesa. O novo diretor preocupava-

se em levar para a empresa uma visão mais capitalista. Dessa forma, os diários se

afastam gradativamente das questões agrárias, passando a incorporar um caráter

mais urbano.

Esse período histórico dos jornais coincide com o pós-guerra, quando a

urbanização brasileira ganhava impulso. Era o terceiro surto de industrialização do

país. Conforme Lopes (1976). “O avanço da industrialização era visto com

entusiasmo pela ‘Folha’, considerando-se mesmo que as dificuldades enfrentadas

pelo Brasil com a crise externa tinham seu lado positivo” (MOTA; CAPELATO, 1981,

p. 165).

Mota e Capelato (1981) afirmam que nessa fase o jornal se colocava a favor

dos que defendiam a internacionalização do mercado, e também a favor da extinção

do Partido Comunista Brasileiro e contra a permanência dos parlamentares

comunistas no Congresso. Coloca-se ainda favorável à entrada de captais

estrangeiros no país para estimular o desenvolvimento. “O jornal na década de 50,

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enquanto formador de opinião pública, contribuiu na preparação ideológica de seus

leitores para aceitação do movimento militar em 1964” (p. 179).

Ainda segundo Mota e Capelato (1981), a Folha de Nabantino se arrogará de

um papel modernizador e fiscalista. Em 3 de maio de 1948 era apresentada à

Assembléia Geral Extraordinária da empresa proprietária dos jornais Folha da

Manhã e Folha da Noite um programa de ação que determinava como princípio

básico “absoluta imparcialidade em política partidária e inflexível defesa de interesse

público” (p. 134). Com esse programa de ação, a atividade jornalística da empresa

era dividida em quatro tópicos: informação, opinião, colaboração e fontes de receita.

A informação significava que as Folhas noticiavam os acontecimentos

importantes do país, interior e capital do Estado de São Paulo e deveriam fazer isto

de maneira objetiva. Sobre a opinião, explicou-se que a Folha da Noite, pela sua

natureza vespertina, preferia dedicar-se aos problemas locais da cidade de São

Paulo. Já a Folha da Manhã, tinha caráter mais opinativo, levantando opiniões sobre

fatos relevantes e debates sobre assuntos da atualidade. O terceiro tópico, a

colaboração, representava os espaços destinados aos colaboradores nacionais e

estrangeiros dos jornais. E, por fim, as fontes de receita da empresa eram as

assinaturas, vendas avulsas e publicidade. (MOTA; CAPELATO, 1981, pp. 134-135).

Em meio a essa terceira fase, em 1949, estreia mais uma versão do jornal, a

Folha da Tarde, que também apresenta diversos elementos do gênero utilitário. A

Folha da Tarde fica um tempo fora de circulação na década de 1960, voltando a

circular em 1967 com seu nome oficial e pertencendo ao mesmo grupo empresarial

da Folha. A publicação desse jornal segue até 21 de março de 1999, quando no dia

seguinte o Grupo Folha lança o jornal Agora em sua substituição.

Na terceira fase14, as Folhas passaram a ser vistas como uma empresa

capitalista, mais distante dos interesses agrários e do lado daqueles que defendiam

a internacionalização do mercado. “Os diretores da Folha vão se distanciando da

proposta agrarista, o que denota uma certa independência com relação ao grupo ao

qual, de início se achavam intimamente vinculados”. (MOTA; CAPELATO, 1981,

p.165).

14 Nesta terceira fase foram analisados os jornais: Folha da Manhã de janeiro e fevereiro de 1949, junho e dezembro de 1955, e janeiro e novembro de 1959; Folha da Noite de abril a junho de 1954, e dezembro de 1957; e Folha da Tarde, de julho a setembro de 1949, e janeiro e agosto de 1957.

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Nota-se uma preocupação maior com assuntos relacionados ao meio urbano,

quando se identifica no jornal informações sobre trânsito e avisos de alteração de

horário de transportes, como trens e ônibus. Nas informações sobre trânsito, o leitor

podia encontrar as ruas onde era permitido ou proibido estacionar, ou ainda outras

informações sobre o tráfico de automóveis da cidade de São Paulo. Já nos avisos e

horários de transportes, os jornais disponibilizavam aos leitores todos os elementos

necessários caso eles necessitassem de transportes públicos.

Figura 18 – Folha da Manhã: Diretoria do Serviço de Trânsito Fonte: publicado em 03 jan. 1949. Folha da Manhã.

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Figura 19 – Folha da Manhã: Pontos de embarque Fonte: publicado em 04 jan. 1949. Folha da Manhã.

No final da década de 1940 e decorrer da década de 1950, a Folha da Manhã

continuava com os formatos do gênero utilitário identificados em fases anteriores,

como os conselhos práticos nas páginas femininas, previsão tempo, horários de

missas e cultos da seção vida religiosa, roteiros de exposições, música, teatro, artes,

lista de farmácias de plantão, cotações de hipódromo e informações de necrologia.

Percebe-se que os espaços destinados a indicadores econômicos e cotações

de bolsas e mercado internacionais e nacionais ganharam nesse período um

destaque ainda maior, inclusive com quadros indicativos na capa (figura 20). Não

somente a Folha da Manhã editava material utilitário dessa espécie. Mas também na

Folha da Noite e na Folha da Tarde, nota-se principalmente uma preocupação maior

com os indicadores, roteiros e cotações em ótimo, bom e regular de produtos

culturais (figura 21).

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Figura 20 – Folha da Manhã: capa

Fonte: publicado em 01 e 02 jan. 1949. Folha da Manhã.

Figura 21 – Folha da Noite: Bolsa de Teatro

Fonte: publicado em 12 dez. 1957. Folha da Noite.

Ainda é preciso destacar que nesta terceira fase, a edição das Folhas fica

mais clara e coerente com relação à divisão de editorias e diferenciação entre os

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anúncios e as unidades jornalísticas. Outro ponto observado é a entrada, nos anos

50, da programação televisiva. Diariamente era publicada nos jornais a programação

da TV Tupi de São Paulo, a primeira emissora brasileira15, e ao longo dos anos 50,

eram incluídas as programações das demais emissoras que iam surgindo no país.

Em agosto 1957, a Folha da Tarde publicava em sua edição a programação das três

emissoras existentes na cidade de São Paulo nesse ano: TV Tupi, canal 3 (1950);

TV Paulista, canal 5 (1952); e TV Record, canal 7 (1953).

Figura 22 – Folha da Tarde: Programação da TV Fonte: publicado em 1 ago. 1957. Folha da Tarde.

15 A TV nasce por uma iniciativa privada do empresário brasileiro Assis Chateaubriand. Em 1965, São Paulo contava com cinco emissoras: Canal 2 – TV Cultura; Canal 4 – TV Tupi; Canal 5 – TV Paulista; Canal 7 – TV Record e Canal 9 – TV Excelsior. (REIMÃO, 2006, p.31)

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As três Folhas não eram tão diferentes com relação ao conteúdo utilitário

publicado diariamente. Os formatos desse gênero eram semelhantes nos três

periódicos, modificando muitas vezes, o conteúdo editado em cada jornal e alguns

formatos que existiam em um e que nem sempre havia em outro. Eram comuns às

três Folhas as listas de mortos e cerimônias fúnebres, horários de programas de

rádio e televisivos, cotação de produtos de mercado, indicadores econômicos e

meteorológicos e os roteiros culturais.

A quarta fase da Folha inicia em 1962. O marco desta nova etapa foi a saída

de Nabantino Ramos da direção e a entrada de Octávio Frias de Oliveira e Carlos

Caldeira Filho, após a greve dos jornalistas, em 1961. Antes disso, no início da

década de 1960, as três edições diárias se fundem em uma só e tornam-se a Folha

de S. Paulo. Esse era um período, em que no país imperava a alta inflação, e o

jornal ocupava-se em criticar o presidente Juscelino Kubitschek, e ao mesmo tempo

incentivava o progresso através da construção de Brasília. O jornal nesse período

defende um discurso de modernização, e se definia como “liberal e democrática”

(MOTA; CAPELATO, 1981).

Os leitores puderam observar o processo de fusão das três Folhas pelas

capas. No ano de 1959, a Folha da Manhã, já trazia em suas capas o subtítulo Folha

de S. Paulo (figura 23). Em 1° de janeiro de 1960, o jornal era denominado de Folha

de São Paulo, com subtítulo Folha da Manhã (figura 24). Já em 1963, após Frias e

Caldeira assumirem a direção, o diário adotava a posição de “um jornal a serviço do

Brasil” (figura 25).

Figura 23 – Folha da Manhã: capa Fonte: publicado em 16 dez. 1959. Folha da Manhã

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Figura 24 – Folha de S. Paulo: capa Fonte: publicado em 1e jan. 1960. Folha de S. Paulo.

Figura 25 – Folha de S. Paulo: capa- um jornal a serviço do Brasil Fonte: publicado em 1° de maio de 1963. Folha de S. Paulo.

Observa-se que nos primeiros anos da década de 1960, a Folha16 trazia em

suas edições lista de farmácias de plantão, notas necrológicas, previsão do tempo,

loterias, cotação de hipódromos, roteiros de cinema, teatro e exposições,

programação do rádio e TV, situação dos mercados (indicadores econômicos e

cotação de produtos como café, açúcar, arroz, feijão, carnes, milho) e indicações de

livros novos. Nota-se que neste período as opções de lazer na cidade de São Paulo

eram mais variadas, pois o jornal acrescentava em seus roteiros informações sobre

16 Foram observadas edições da Folha de S. Paulo de janeiro e dezembro de 1960, maio de 1963, agosto de 1966, fevereiro de 1971, maio de 1974, agosto de 1977, dezembro de 1981, março de 1984, maio de 1987, janeiro de 1990, maio de 1995 e março de 1997.

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bares, restaurantes e boates. Também foram identificadas matérias em forma de

dicas ou ensinando “como fazer” algo. Sobre isto, encontrou-se a matéria “Como

escolher os brinquedos de Natal” (figura 26), que ajuda o leitor a comprar presentes

de natal para as crianças.

Figura 26 – Folha de São Paulo: Como escolher os brinquedos Fonte: publicado em 17 dez. 1960. Folha de S. Paulo.

A partir da segunda metade da década de 60, o jornal passava a acrescentar

em suas edições suplementos e cadernos especiais, que se caracterizavam em

grande parte como material jornalístico de serviço. Na edição de 7 de agosto de

1966 (figura 27) identificou-se o suplemento “Folha Feminina”. Nele, foram

observados elementos que já existiam nas páginas femininas das Folhas, como

matérias em forma de dicas de beleza e moda, porém ainda mais ilustrativas, com a

presença de muitas fotos.

O suplemento feminino adicionava em suas páginas uma seção voltada para

as novidades do mercado, entre elas, roupas femininas, enxovais para noivas,

móveis e lentes de contato. Essas novidades eram apresentadas para a leitora em

forma de textos persuasivos, inclusive destacando em caixa alta o nome da loja

onde a leitora poderia encontrar o produto, além de frases convidativas para ela não

perder a oportunidade de comprar: “Aproveite logo para visitá-la, pois está com