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Na visão de Asad a teoria da religião de Geertz é universalista, expressa um modelo cristão moderno de religiosidade, é fenomenológica, e ambígua ou confusa. [universalista] Asad argumenta que não pode haver uma definição universal, ou seja, trans-histórica de religião, não apenas porque suas características e relações são historicamente específicos, mas também porque esta definição é ela mesma o produto histórico de processos discursivos. Dessa forma, ele argumenta, por exemplo, que o axioma básico do que Geertz chama de “a perspectiva religiosa” não é o mesmo em toda parte, assim como não era no mundo cristão do século 12 mencionado por Asad. [cristã] Essa visão de Geertz sobre a crença religiosa, que enfatiza a prioridade desta como estado mental em vez de saberes práticos, evidencia um modelo de religiosidade cristão moderno privatizado, é uma visão ocidental que divide o conhecimento de crença, a ciência versus religião. E por falar em religião e ciência, também é criticado por Asad a ideia de que a religiosa é uma perspectiva similar a muitas outras – a científica, a estética e a do senso comum – mas na contemporaneidade, enquanto a religião é apenas uma perspectiva, a ciência não é. [cristã] Outro elemento que expressa um modelo religioso cristão moderno é a visão modesta da religião como uma questão apenas de manter uma atitude positiva em relação ao problema do caos, pois este é o único espaço legítimo permitido ao cristianismo pela sociedade pós-iluminista. Além disso, há o problema de que esta visão tornaria qualquer filosofia uma religião.

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Na visão de Asad a teoria da religião de Geertz é universalista, expressa um modelo cristão

moderno de religiosidade, é fenomenológica, e ambígua ou confusa.

[universalista] Asad argumenta que não pode haver uma definição universal, ou seja, trans-

histórica de religião, não apenas porque suas características e relações são historicamente

específicos, mas também porque esta definição é ela mesma o produto histórico de processos

discursivos. Dessa forma, ele argumenta, por exemplo, que o axioma básico do que Geertz

chama de “a perspectiva religiosa” não é o mesmo em toda parte, assim como não era no

mundo cristão do século 12 mencionado por Asad.

[cristã] Essa visão de Geertz sobre a crença religiosa, que enfatiza a prioridade desta como

estado mental em vez de saberes práticos, evidencia um modelo de religiosidade cristão

moderno privatizado, é uma visão ocidental que divide o conhecimento de crença, a ciência

versus religião.

E por falar em religião e ciência, também é criticado por Asad a ideia de que a religiosa é uma

perspectiva similar a muitas outras – a científica, a estética e a do senso comum – mas na

contemporaneidade, enquanto a religião é apenas uma perspectiva, a ciência não é.

[cristã] Outro elemento que expressa um modelo religioso cristão moderno é a visão modesta

da religião como uma questão apenas de manter uma atitude positiva em relação ao

problema do caos, pois este é o único espaço legítimo permitido ao cristianismo pela

sociedade pós-iluminista. Além disso, há o problema de que esta visão tornaria qualquer

filosofia uma religião.

[cristã] Mais uma manifestação desse mesmo modelo é a ideia moderna a de que uma prática

religiosa só é religiosa se estiver inserida em um discurso religioso. Essa é, na verdade, uma

operação distinta com signos envolvidos distintos.

[cristã/fenomenológica] A razão pela qual Geertz mistura os dois tipos de processos parece ser

por um desejo de deparar disposições seculares e religiosas. O argumento de Geertz é

plausível, mas apenas se for explicitado que a questão pertence ao processo autoritativo, é a

autoridade da religião que os legitima como religiosa, não as convicções do praticante.

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[cristã/fenomenológica] A omissão do poder na religião em Geertz é, assim, parcialmente

devido a construção da religião em um contexto cristão moderno e também por manter uma

abordagem demasiadamente fenomenológica, ignorando elementos que vão além da religião

como fenômeno sui generis.

[fenomenológica] Para Asad símbolo religioso não pode ser compreendido

independentemente das relações históricas com símbolos não-religiosos, e isso já põe em

cheque a ideia de Geertz de dois estágios para estudo antropológico da religião expresso em

sua conclusão. Asad não argumenta que os significados dos símbolos religiosos encontram-se

exclusivamente em fenômenos sociais, mas que o estado autoritário destes símbolos é o

produto de forças historicamente distintas e ao insistir na primazia do significado em

detrimento dos processos através dos quais os significados são construídos, Geertz acaba por

assumir o ponto de vista da teologia.

[fenomenológica] Assim, essa busca por uma essência da religião em Geertz o fez criar uma

teoria que separa religião do domínio de poder. Por exemplo, Asad afirma que não é possível

prever qual seria o conjunto de disposições “distintivas” de um devoto cristão na sociedade

industrial moderna, pois que não é apenas a devoção, mas as instituições sociais, políticas e

econômicas em geral que conferem estabilidade ao fluxo de atividades de um cristão e à

qualidade de sua experiência. Portanto, não são apenas os símbolos que implantam

disposições verdadeiramente cristãs, mas o poder.

[fenomenológica] A perspectiva fenomenológica pode ser percebida também na definição de

símbolo de Geertz, que identifica símbolo como o veiculo que carrega o significado, porém,

para Asad, o símbolo é o próprio significado. Essa definição, aliada à perspectiva de Geertz de

que os padrões culturais, que são sistemas simbólicos, são fontes extrínsecas de informação,

evidencia a problemática suposição de que o cultural está separado do social e psicológico.

Contudo, não se pode separar símbolos das condições socais e dos estados mentais.

[ambígua] Por fim, há ainda a crítica que toda a teoria da religião de Geertz é bastante

ambígua, confusa ou pouco fundada, por exemplo, quando ele diz que a religião deve afirmar

algo específico acerca da realidade, ainda que obscuro, raso, ou perverso, para uma sugestão

de que a religião é uma questão de como cultivar uma atitude positiva em relação ao

problema da desordem. Ou na passagem sobre os rituais, esta oscila entre especulações

arbitrárias sobre o que acontece na consciência daqueles que conduzem cerimônias religiosas

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e afirmações infundadas sobre o ritual. Geertz postula a função ocupada pelos rituais na

geração de convicção religiosa, mas como ou por que isso acontece não é explicado em lugar

algum. Também afirma que o ritual não pode ser o lugar onde a fé religiosa é alcançada, mas a

maneira como ela é (literalmente) atuada.