Upload
others
View
3
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
TutuMeuVira-LataMeuHeróiElesvenceramopreconceitoeoabandono,eentreelesnasceuumalindaeeternaamizade.
(Conto)
By
NatashaNovínskyTodososdireitosreservados.
Nenhumapartedestelivropodeserutilizadaoureproduzidasobquaisquermeiosexistentessemautorizaçãoporescritodaautora.
E-mail:[email protected]éomeupastor,nadamefaltará.
Salmo231:6
SumárioTutuMeuVira-LataMeuHerói
Dedicatória:
ACONSULTA
EDUARDOATROPELAUMCÃO
ODONODETUTUAPARECE
TUTUÉLEVADO
ENZOADOECEEÉSEQUESTRADO
TUTULEVAEDUARDOATÉOCATIVEIRODEENZO
NOTAAOLEITOR(A).
Dedicatória:Comamor,parameusfilhos,neta,irmãoseminhaqueridaMãe.
ACONSULTAMárciaeEduardoesperamnasaladaPediatradeEnzo,opequeninoestavaagitadoenãoparavadesemexerdeumladoparaooutro.
Eduardoirritadocomademora,pegaEnzoevaicaminharpelocorredor.
Enquanto caminhava lhe vem á lembrança de quando conheceu Márcia, de quanto ela era alegre,
descontraída,vaidosaecheiadesonhos.
ElepretendiasetornarumgrandeArquitetoeelaumaAdvogadadegrandesempresas.
Otempopassou,elesseformarameresolveramsecasar.
Avidapareciaumaluademelconstante,atéqueumdiaelacomeçouapassarmal.
Elecorreucomelaparaohospitaledepoisdeváriosexames,elesforamcomunicadosqueteriamum
bebê.
Tudomudouapartirdaqueledia,ecomeçaramosenjôos,asidasaobanheirodemadrugada,osdesejos
malucos,masapesardetudoelesestavamfelizesecomeçaramadecoraroquartodobebê.
Todososexamesforamfeitos,todososcuidadoscomaalimentação,pesoefinalmenteEnzochegou.
Márciatevequenaultimahorapassarporumacesarianaeporisso,elaeEduardosóviramEnzojáno
quarto.
Ansiosaparavêacarinhadele,Márciapegaobebêdasmãosdaenfermeiraeaodescobrirorostinho
deleelaolhaparaEduardoediz:
“Estenãoénossofilho!Cadêmeufilho?Meufilhofoitrocado!”
Eduardosementenderodesesperodamulher,tentaolharapulseirinhadeidentificaçãoealiviadodiz:
“Éclaroqueeleéonossofilhoquerida!Vejaonossosobrenome!”
Márciaviraascostasparaobebêepede:
“Olhepraele!”
Eduardodescobreorostinhodobebêeespantadoperguntaaenfermeira:
“Vocêtemcertezaqueestebebêéomeufilho?”
Amulherirritadadiz:
“Ésempreassim,opreconceitocomeçapelospais.Porquevocêsestãoduvidandoqueestacriança
sejaofilhodevocês?”
Eduardoconfusoresponde:
“Eleédiferente!Oqueeletem?”
AenfermeirapegaobebêecolocandonocolodeEduardodiz:
“EletemSíndromedeDown!Eleéseufilho!Tenteconvencersuaesposadequeestacriançaéespecial
eporisso,eladevesecomportarcomoumaboamãeeentenderqueapartirdeagora,todootempode
vocêsserádedicadoatrilharumcaminhomelhorparaelenestemundodepreconceitosparacomaqueles
quedealgumamaneiranascemdiferenteseporisso,sãoperseguidosedeixadosdeladopelafamíliaea
sociedade.”
AenfermeirasaiedeixaEduardoaliparadoolhandoparaEnzosemsaberoquefazer.
OsdiaspassameMárciase recusaaamamentarEnzodizendoo tempo todoqueaquelacriançanãoé
dela.
EduardonodiadaaltadelaedobebêpediuqueaPediatrafosseatéoquartoorientá-lossobrecomo
cuidardeEnzo.
ADoutoraFlaviachegaepegandoEnzodacamadiz:
“Bem,euvou tentarexplicarempoucaspalavrasoqueocorreparaqueumbebê tenhaSíndromede
Down.ASíndromedeDown,ouTrissomiadoCromossoma21, éumdistúrbiogenéticocausadopela
presençadeumcromossomo21extratotalouparcialmente.CriançascomSíndromedeDownpodemter
umahabilidadecognitivaabaixodamédia,geralmentevariandoderetardomentalleveamoderado.Só
comotempopoderemosdizercomoEnzoirasedesenvolver.Umamaneiradeincentivaraaprendizagem
deleéusarbrinquedosejogoseducativostornandooaprendizadomaisdivertido.Em1946aexpectativa
devidadeumportadordaSíndromedeDowneraentre11a15anos.Hoje temoscasos relatadosde
pessoasde60a70anos.Ospaisdevemestaratentosa tudooqueacriançacomecea fazer sozinha,
espontaneamenteedevemestimularosseusesforços.Devemajudaracriançaacrescer,evitandoqueela
setornedependente;quantomaisacriançaaprenderacuidardesimesma,melhores
condiçõeselateráparaenfrentarofuturo.Porisso,eudesejoquevocêscuidemdesteanjocomtodoo
amordestemundoequefaçamdeleumgrandehomem.
Tomemãe!Amamenteseufilho!Eleprecisasentiroseucalor,oseucarinho,asuaproteção.”
Márciaignorandototalmenteopedidodamédicasimplesmentedaàscostasesai.
EduardoconstrangidopededesculpasaDoutoraFlaviaesaicomasbolsaseEnzoemumdosbraços.
EleseaproximadeMárciaquejáestaaoladodocarroepergunta:
“Queridaporqueestasecomportandoassim?Euseiquenãoestávamospreparadosparaterumfilho
especial,masDeusquisqueeleviesseequenóssomososescolhidosparacuidardelenestemundo.”
MárciaparecianãoouvirumapalavradoqueEduardolhediziaeentrandonocarroignorouopedidode
ajudadeEduardoparacolocarEnzonacadeirinha.
Elesfizeramtodootrajetoparacasaemsilencioechegandoemcasa,Márciatrancou-senoquartoepor
láficou.
EduardosemsaberoquefazerligaparaSerenaparaelaajudá-loacuidardeEnzo.
SerenachegaumahoradepoiscomleitequepegouemumBancodeLeite.
EnzomamoueadormeceunosbraçosdeSerenaqueocolocoudeladonoberçocomcarinho.
Eduardoentranoquartoepedequeelaoacompanheatéoescritório.
Serenaentraeeleesgotadopergunta:
“VocêestacomalgumcompromissoporessesdiasSerena?”
Ajovemsorrirediz:
“Por esses dias não Eduardo! Mas estou esperando a Clinica me chamar para o meu estagio de
enfermagem.”
Eduardopassaasmãospeloscabelosepede:
“Porfavor,Serena,fiqueaquiconoscoporalgunsdias!Euestoucompletamenteperdidosemsabero
quevoufazerdaminhavida.”
Serenasorrirediz:
“NãosepreocupeEduardo,logoaMárciavaientenderqueprecisacuidardobebêetudovaivoltarao
normal.”
Eduardobalançaacabeçaedesanimadodiz:
“Infelizmente minha esposa entrou em uma depressão profunda, não sai do quarto para nada, vive
chorando,nãosealimentaenãoquersaberdoEnzo.”
OsdiaspassavameEduardotinhaquetrabalhareaindaajudarSerenaanoitecomEnzo.
Forammesesde tentativasdeaproximaçãodeMárciacomofilho,maiselaserecusavaaassumirseu
papeldemãe.
Enzo umamadrugada passoumuitomal e foi levado as pressas aoHospital onde foi constatado uma
bronquitealérgica.
ÁmedicaaconselhouEduardoamudar-sedeSãoPauloeirmorarnoRiodeJaneiroondeoclimaémais
quente.
Eduardopreocupadocomobemestardopequeno,nãopensouduasvezesenasemanaseguintemudou-se
paraumacasanaBarra.
Osnegóciosestavamindobem,masEnzocresciasemveramãequecontinuavatrancadaemseumundo
distante.
Eduardo sentia falta deMárcia emuitasvezes, tentou conversar coma esposa,mas ela apenas ficava
olhandoonadaenãodiziaumapalavra.
Enzonãochorava,pareciaanestesiadopeladordaindiferençadamãe.
UmanoiteSerenaapareceunoquartodeEduardoaflitadizendoqueEnzoestavaqueimandoemfebre.
EduardocorreparaoquartodeEnzoecomumtermômetroverificaatemperaturadobebê.
AssustadovêqueEnzoestacom39ºgrausdefebre,eSerenadaumantitérmicoparaopequeninoque
imediatamentecomeçaraterconvulsões.
EduardodesesperadocomeçaachorarabraçadoaEnzo.
NestemomentototaldedesesperoMárciaentranoquartoetomandoofilhodasmãosdomaridoaplica
osprimeirossocorrosemEnzo.Depoisdealgunsminutosdeagonia,Enzovoltaarespirarnormalmentee
élevadoparaaClinicadaDoutoraFlavia.
EduardodistraídonempercebeapresençadeMárciaaoladodeledizendo:
“VenhaEduardo!ADoutoraestachamandooEnzo.”
Eduardorespirafundoediz:
“Finalmente!”
ADoutoraexaminaEnzoepergunta:
“Quantosmeseseleesta?”
Márciaresponde:
“Elevaifazerumano!”
EDUARDOATROPELAUMCÃOADoutoraolhaparaMárciaepergunta:
“Eleestamamandonopeito?”
Márciahesitaporuminstanteeresponde:
“Infelizmentenão!”
Amédicacuriosapergunta:
“Porquenão?Seusseiosestãocheiosdeleite!”
MárciapassaamãonoscabelosdeEnzoedizchorando:
“EutiravacomabombinhaemandavaaSerenadarparaele.”
Ámédica,pegaEnzoeabaixandoablusadeMárciadiz:
“Mãe,saibaquenuncaétardeparacomeçaraamamentaroseufilho.”
Opequenoagarra-seaopeitodamãe,ecomosolhosarregalados,olhapraelacomose tivessemedo
daquelemomentoacabar.
Márcia amamenta o pequeno Enzo com carinho, enquanto isso, Eduardo sai para chorar trancado no
banheirodaClinica.
AlgunsminutosdepoisEduardovoltaeamedicadiz:
“Pai, nosso querido Enzo vai precisa de uma fonoaudióloga e alguns exercícios para estimulá-lo a
andar.”
Eduardopreocupadopergunta:
“Maseafebre?”
AmédicaexaminaagargantadeEnzoediz:
“Elenãoestacomnenhumainfecção,euimaginoquesejadefundoemocional.Quandoseufilhotiver
febrenovamente,dêumbanhoneleprimeiro,coloqueroupasfrescasesódepoisdêumantitérmico.”
Eduardoacariciaoscabelosdofilhoediz:
“PodedeixarDoutora!Euvoucuidarparaquenuncamaisistoaconteçanovamente.”
EleolhaparaMárciaecomcarinhopergunta:
“Vamosagoraquerida?”
Márciasorrireajeitandoablusadiz:
“Sim,vamos!”
Elessedespedemdamedicaeseguemdevoltaparacasa.
Nocaminho,Márciadaumgrito:
“CuidadoEduardo!”
Jáeratarde,Eduardotinhaacabadodeatropelarumcão.
Márciadesesperadasaidocarroevêocãodesmaiado.
EduardocorreeimediatamentepediumamantadeEnzoparaembrulharocão.
MárciapedequeeleleveocãonaVeterinária,amigadelaqueficavaalibemperto.
Chegandolá,Biancaosrecebecomtodoocarinhoeimediatamentesocorreocão.
ComoelateriaquedarpontosnacabeçadocãoBiancapediqueelesaguardemnaoutrasala.
Algunsminutosdepoiselavoltasorridenteediz:
“Bem,ocãozinhodevocêsfelizmentesósofreualgunsarranhões,eunspontinhosnacabeça.”
Eduardoseapressaemdizer:
“NãoBianca!Estecãoestavanaruaeentrounafrentedomeucarro.”
AVeterináriasemgraçadiz:
“Háeusintomuito,masoquevocêspretendemfazercomele?”
EduardoeMárciaseolhameMárciadiz:
“Podemosdeixá-loaquiparaadoção?”
Biancasorrirediz:
“Tudobem,eleébembonitinhoelogovaiaparecerquemqueiraficarcomele.”
Biancaolhanadireçãodocãoevêeledepéemcimadamaca.
Commedodequeelepossacair,elacorreparasegurá-lo.
MárciaeEduardoentramedãoumaultimaolhadanocãozinho.
ElessedespedemdeBiancaesaem,masEnzoseviraedizestendendoamãozinha:
“Tutu!Tutu!Tutu!”
Emocionados,EduardoeMárciaolhamparaocãoeperguntamparaEnzo:
“Oquevocêquerfilho?”
Enzoapontaparaocãoerepete:
“Tutu!Tutu!Tutu!”
BiancapegaocãoecolocandonocolodeEduardodiz:
“Agoraelejátemnome!ÉTutu!AdoreionomeEnzo!”
MárciaeEduardovoltamparacasalevandocomelesomaisnovomorador.
ODONODETUTUAPARECETutupareciasesentirmuitobememseunovolar,suavindatrouxealegriaparaEnzoeMárciaquevoltou
asorrircomasrisadasqueTutufaziaEnzodar.
EnzocomeçavaaandarcomaajudadeTutuejápronunciavaalgumaspalavras.
Eduardoagorafelizcomeçouatrabalharcommaisvontadeeosnegóciossóprosperavam.
Ganhandobem,ecomafamíliamaior,eleresolveucomprarumacaminhoneteimportada.
UmatardeotelefonetocoueEduardoatendeu,minutosdepoisaparecenoquartodeEnzo,epálidodiz
paraMárcia:
“OdonodoTutuapareceuevemdaquiapoucobuscá-lo.”
MárciaolhaparaEnzobrincandoalegrecomTutuecomosolhoscheiosd’águaelapede:
“Nãodeixeestehomemlevá-lodenósEduardo!Enzoprecisadele!”
MárciapegaEnzonocoloelevaeleeTutuparaojardim.
EnquantoobservavaEnzoeTutu,elanotouqueocãozinhopareciaseradestrado.
OinterfonetocaeMárciatentaouviroqueEduardovaifalarcomodonodeTutu.
OhomemchegafalandoaltoedizendoqueEduardotinharoubadoocãodele.
Eduardotentanegociarcomohomem,ofereceumaquantiarazoávelpelocão,maisohomemnãoaceitae
pedequeentreguemocãoparaele.Aborrecidocomotomdevozdohomem,Eduardopedequeelese
retire,poiselenãotinhacomoprovarqueocãoeradele.
Furioso,ohomemsaijurandovoltarcomapolíciaparapegarocãodevolta.Eduardosentequevaiter
problemascomaqueleindividuoepreocupadovaiatéojardimondeMárciaestavacomTutueEnzopara
contaroquehaviaacontecido.
AnsiosaMárciaaovêomaridopergunta:
“Comofoi?Oqueelequeria?”
EduardoolhandoparaEnzoeTutudizcomtristeza:
“Euachoqueteremosgrandesproblemascomaquelesujeito!”
Márciaassustadapergunta:
“Oqueeledissequerido?”
EduardoseaproximadeEnzoepegandoofilhonocolodiz:
TUTUÉLEVADO“Eledissequeocãoédeleequevaiapolíciaparaterocãodevolta.”
MárciapassaamãopeloscabelosdeEnzoediz:
“Enzoamaestecão!Nãopodemosentregá-loaestehomem!QueprovaseletemdequeTutuédele?”
EduardoabraçaMárciaerespirandofundodiz:
“Nãoseiquerida,maseupressintoqueteremosproblemascomele.”
Os dias passam e o aniversário de Enzo esta próximo envolvidos com os preparativos da primeira
festinhadeEnzo,EduardoeMárcianãonotamqueestãosendo
observadosháalgunsdiasporpessoasquerondavamacasadeles.
Chegaograndedia,EnzoestavatransbordandodealegriaeTutuestavalindocomseuchapéucolorido
dandopiruetasparafazerEnzosorrir.
MárciaparadanaportaficaobservandoTutuenotaqueocãoéadestrado,pois,elerola,deita,fingede
mortotudoparadistrairEnzoquesedivertecomasproezasdeseuamigocão.
Tutueraumcãodepelagemlongaquesemisturavamnascores,marromebranco,tinhaportemedianoe
eraumbeloesimpáticocão.
Eduardo chega para pegarEnzo e colocá-lo no carro e se diverte com as gargalhadas que o filho da
vendoTutudandopiruetas.ElepegaEnzoepergunta:
“Amor,seráqueTutuéadestrado?”
Márciaolhacomcarinhoparaocãoediz:
“Achoquesimquerido!Porisso,aquelehomemqueriatantolevá-lo!”
EduardoseaproximadeTutueacariciandoacabeçadocãocomcarinhodiz:
“Nósnãovamosdeixá-loircomaquelehomem,vocêagorafazpartedestafamíliaTutu!”
OcãopareceentenderoqueEduardoestálhedizendoeretribuiocarinhocorrendoemvoltadeEduardo
latindoedemonstrandograndealegria.
Eduardosorrirediz:
“Vamosrapaz,temumalindafesta,nosesperando!”
Todosentramnocarroeseguemparaafesta.
Eduardochegaaosalãoondeaconteceriaafestaenotaqueexisteumcarroparadoemfrentedoportão,
comoeraumdiamovimentadoalieelenãoteriacomosaberseeradealgumconvidado,eleapenasse
apressaemcolocarafamíliaemsegurançadentrodosalão.
Tudocorriabem,EnzosedivertiaeMárciaestavalindaefeliz,paraEduardoeracomoviverumlindoe
encantadosonho.
Faltando algunsminutos para cantar os parabéns paraEnzo, Eduardo notou a presença de ummenino
próximo a Tutu que ele tinha certeza que não fora convidado para a festa.Quando ele pensou em se
aproximardomenino,Márciachamatodosparacantarosparabéns.
As luzes se apagam e quando são acesas novamente, Eduardo vê o menino arrastando Tutu por uma
coleiraeolevandorapidamenteparaoladodefora.
Eduardocorreparadeteromeninomaisaochegarnoportãoelevêapenasumcarropretoarrancandoe
nãovêmaisomeninoenemTutu.
Desolado,EduardovoltaparaafestaeMárciapreocupadapergunta:
“Oqueaconteceuquerido?VocêviuoTutuporai?”
Triste,EduardoabraçaMárciadizendo:
“Eusintomuitoquerida,masinfelizmenteacabaramdelevarTutu!”
MárciaincrédulaseabaixaepegandoEnzoquebrincavanochão,abraçaofilhoepergunta:
“ComolevaramTutu?QuemolevouEduardo?EEnzo?ElevaisentirmuitoafaltadeTutu!”
EduardopassaamãopeloscabelosdeEnzoecomlágrimasnosolhosdiz:
“Euseiquerida,euprometotrazerTutudevoltaomaisrápidopossível,nemqueeutenhaquevasculhar
todaestácidade,nósvamosternossocãodevolta.”
ENZOADOECEEÉSEQUESTRADOOs dias passam e apesar da procura constante por noticias de Tutu, Eduardo não conseguia nenhuma
pista.
Enzoestavacadadiamais tristeenãoqueria sealimentar,Márcia tentavade tudo,masopequenosó
chamavaporTutuechoravaotempotodo.
Umanoite,depoisdeterpassadohorastentandofazerEnzosealimentar,Márciaadormecejuntocomo
filhoeEduardoaoentrarnoquarto,pegaumcobertoreoscobrecomcarinho.
Comlágrimasnosolhoselerecolhealgumasfotosqueestavamespalhadaspelacama,eramfotosdeEnzo
comTutu.ComavozembargadaEduardomurmura:
“OndevocêestáTutu?Nósestamoscomsaudades.”
EduardotambémserendeaocansaçoeadormeceaoladodeMárciaeEnzo.
JáestavaamanhecendoquandoEnzoacordouchorandomuitoeaopegarofilho,Márciapercebequeele
estámuitoquenteepreocupadaacordaEduardodizendo:
“AcordaEduardo!Enzonãoestabem!”
EduardoaindazonzodesonocolocaamãonorostodeEnzoedizpreocupado:
“Eleestamuitoquente,vamoslevá-loagoraaoHospital!”
ÁspressasMárciaarrumaascoisasdeEnzoeelessaemcomomenino.
Eduardo mal consegue se concentrar no trânsito, preocupado para em um sinal e não percebe a
aproximaçãodedoishomensemumamoto.MárciaapesardemuitopreocupadacomEnzo,percebeque
umhomem,estaparadonosinalcomumcãoeaoperceberquesetratavadeTutuelagrita:
“Amor!OlhaéoTutu!”
NestemomentoumdoshomensbatecomorevolvernovidroepedequeEduardosaltedocarro,masele
nãoobedeceeohomematirapracima,Eduardoabreaportaelevaumacoronhada,mesmoferidoele
tentalutarcomobandidoqueapontaaarmaparaeleediz:
“Ficanasuameucamarada,eusóquerooseucarro!”
Márciacomeçaagritar,umdoshomensabreaportaearrancandoeladedentrodocarrodiz:
“Calaabocasenãoeumatooguri!”
EnzoaoserafastadodamãecomeçaachorareumdoshomensparadesesperodeEduardoeMárcia,
entranocarroearrancacomEnzodentro.
Tutuqueestavanosinal,escutaochorodeEnzoepulanacarroceriadacaminhonete.
EduardoaindatontocomapancadanacabeçatentalevantarMárciaquechoraajoelhadanochão.
Minutosdepois,ápoliciachegaeEduardoeMárciasãolevadosparaadelegaciaparaquepossamfazer
umretratofaladodosbandidos.
Devoltaparacasa,EduardotentaacalmarMárciaquenãoseconformaeémedicadaparaquepossase
acalmar.
AlgunspoliciaisestãonacasadeEduardoaguardandoumcontatodosbandidosevigiandoacasa.As
horaspassamsearrastandoeaagoniadaesperaeraacada
segundoumaeternidadedolorosadeduvidas,sobreorealmotivodaqueleseqüestro.
EduardoacordacomosgritosdeMárcia,edesesperadoelecorreparaoquartoparasocorreramulhere
aencontra,sentadacomasmãosnosseios.Preocupadoelepergunta:
“Oquefoiquerida?”
Márciachorandotirasasmãosdosseiosensopadosdeleiteediz:
“NossofilhoestacomfomeEduardo!Cadêonossobebê?Porquelevaramonossobebê?”
EduardotentaacalmarMárciadizendoqueapoliciairaencontrarEnzoeosdoiscorremparaasalaao
ouvirotelefonetocar.Eduardoéorientadoaatenderemanteromáximodetempoobandidonalinha.
Tentandomanteracalmaelediz:
“Alô!”
Dooutroladoumavozmasculinadiz:
“Voufalarbemrápidomeucamarada!Voutedar24horasparadepositaremumacontaquevoutepassar
ovalordeummilhãodereais,seestedinheironãoestivernestacontanohoráriocombinadopodeter
certeza,nuncamaisvocêvaiveroseumoleque.”
Eduardosedesesperaepede:
“Porfavor,euprecisodemaistempoparaconseguirestaquantia,precisosabercomoestaomeufilho?”
IgnorandoopedidodeEduardoohomemdesligaotelefone.
Eduardoperguntadesesperadoaopolicial sehaviaconseguido rastreara ligação,desanimadoo rapaz
dizquenão.Márciasedesesperaeélevadaparaoquarto.
ApolíciapedequeEduardomantenhaacalmaeaguardeapróximaligação.AshoraspassameEduardo
tentajuntarsuaseconomias,masparaobterovalorqueobandidoquer,eleiriaprecisardemaistempo.
Já era demadrugada quando o telefone tocou novamente eEduardo segue novamente a orientação do
policialaoseuladoparamanteracalma.
Tentando demonstrar uma calma que estava longe de sentir, Eduardo atende ao telefone e para o seu
desespero,ouveochorodeEnzo.
Naangustiadenãopoderfazernadapelofilho,eleimploraaobandidodizendo:
“Por favor!Nãomachuqueomeu filho!Eunão tenhoaquantiaquevocêdeseja,mas,euconseguia
metadeequeroteentregarpessoalmente.”
Obandidofuriosodiz:
“Vocêsabeoqueeuvoufazercomesseseufilho?Voudarumtironeleagora!”
Eduardoestremeceaoouvirumtiroeemseguidaosilênciodooutroladoodeixaestáticosemsabero
quefazer.Tremulo,elecaminhaemdireçãoapoltronaecolocandoasmãosnacabeçadiz:
“Digamqueconseguiramlocalizá-lo,porfavor!”
ODelegadoseaproximadeEduardoeosegurandopelosombros,desanimadodiz:
“Eusintomuitomeucaro,infelizmentenãoconseguimosnovamente.Fiquecalmo!Elenãovaifazermal
aoseufilho,elequerapenastorturá-loetentarfazê-loconseguirdequalquermaneiraaquantiaqueele
deseja.”
Eduardotentamanteracalma,masaslágrimasrolampeloseurosto,odesesperodenãosaberseveriao
filhonovamenteeradolorosodemais.
Desoladoesemconseguirdormir,Eduardosaievaicaminharpelojardim.Eleficaalisentadoolhando
osbrinquedosdeEnzopor horas, de repente ele nota um rastro de sanguequedavapara a porta dos
fundosda casa.Preocupadoele foi seguindoospingosde sanguequandoavistouTutudeitado junto à
porta.Eduardoochama,maselenãosemexeeMárciaouvindoavozdomarido,abreaportaeaover
TutunaqueleestadocorreparaligarparaaVeterinária.
Tutuestavaferidoesangravamuito,sempoderperdertempo,aVeterináriadecideoperá-loalimesmo.
TUTULEVAEDUARDOATÉOCATIVEIRODEENZOEduardopreocupadoperguntaàveterinária:
“Comoeleestá?Oqueaconteceucomele?”
Elaretirandoasluvasresponde:
“Bem,pareceferimentoàbala,queatravessouapernadele.”
MárcianervosaseaproximadeEduardoepergunta:
“QuemteriaatiradoemTutu?EporqueEduardo?”
FazendoumcarinhoemTutuEduardoresponde:
“Eunãoseiquerida,masalgoaconteceu.”
Eduardoéchamadoparaatenderaotelefonenasala,opolicialpedequeelecoloqueemvivavozetente
manterobandidoomáximodetempopossívelnalinha.
Tremulo,Eduardoatendeeaoouviravozdobandidodooutrolado,Tutuquehaviaacordadocomeçaa
latirsemparar.
Eduardotentamanterobandidonalinhadizendo:
“Eujátenhoodinheiroquevocêquer,medigaondeeupossoteencontrar?”
Ohomeminsistedizendo:
“Eunãovoumeencontrarcomvocê!Façaodepositoaindahojeatéanoite,ouvocênãoverámaiso
seufilhinho.”
TutuagitadocomeçaalatirparaEduardocomosequisessedizeralgo,Eduardocuriosopergunta:
“OquefoiTutu?”
Obandidodooutroladodalinhapergunta:
“Estecãomeconhece?Poracasoestecãoestaferido?”
Eduardonervosopergunta:
“Porquê?Vocêatirounele?”
Obandidodaumarisadanervosaediz:
“Esteseumolequenãoparavadechorareaieumireinele,masestevira-latasaiunãoseideondeeme
atacou.”
AlinhacaieTutumancandovaiparaoportãodacasa,latindosemparar.Eduardoabreoportãoedecide
seguirTutudecarro.
Tutu entra emumaestradade terraondehaviavários sítios ede repente elepara em frenteumacasa
abandonada.Eduardoparalongedolocaleentranoterrenocomcuidadotentandonãoservisto.
EduardoseaproximadacasaenestemomentoumdosbandidossaieéatacadoporEduardoquelutacom
o
individuo,queconsegueescapareentrarnovamentenacasa.
EmseguidadoisbandidossaemarmadosemandamEduardoficarparado,nestemomentoapoliciachega
ecomeçaa trocar tiroscomosbandidos.Eduardocorreparadentrodacasaecomeçaaprocurarpor
Enzo. Tutu começa a arranhar uma porta e Eduardo a arromba encontrandoEnzo dentro de um berço
dormindoprofundamente.
Os tiros continuam e Eduardo tenta proteger o filho, de repente um dos bandidos entra e da uma
coronhadaemEduardo,elepegaEnzoquechoramuitoelevaomeninoparaosfundosdacasa.
ComaarmaapontadaparaacabeçadeEnzoobandidogritaparaospoliciaisqueiramataracriançase
elesnãoodeixaremfugir.Foramhorasdenegociação.Eduardoemumatodepurodesesperoagarrao
bandido por trás e tenta tirar a arma dele. Tutu corre e pula namão do bandido, ouve-se um tiro, os
policiais correm e imobilizam o homem entregando Enzo para Eduardo que abraça o pequenino
chorando.
Enzoagitadocomeçaaapontarparaochãodizendo.
“Tutu!Tutu!”
EduardoolhanadireçãoemqueofilhoapontaevêTutuestendidonochão.
UmdospoliciaiscorreparasocorrerTutuelutaparareanimá-locommassagenscardíacas,masocão
nãoreage.TutuécolocadoemumaAmbulânciaeélevadoaspressasaumVeterinário.
EduardoélevadoparacasacomEnzo,Márciaaovê-lososabraçachorando.
Enzoagitadodiz:
“Tutu!Tutu!”
Márciaolhaassustadaemvoltaepergunta:
“OndeestaoTutuEduardo?”
Eduardocomlágrimasnosolhosresponde:
“Elefoiferidotentandosalvaronossofilho.”
MárciaemocionadaligaparaoVeterinárioepedeinformaçõessobreoestadodeTutu.
OveterináriodizqueTutuiriapassarporumacirurgiamuitodelicadaequetalvezelenãoresistisse.
MárciadesligachorandoepedequeEduardoaleveparaaClinica.
Eleschegamaclinicaesãorecebidospeloveterinárioquedesanimadodiz:
“Bem,oestadodeTutuémuitograve,eunãoseiseeleiraresistir,masnósnãotemosescolha,temos
queretirarabala.”
Eduardoapertaamãodoveterináriodizendoemocionado:
“Façaoqueforpossível!Aquelecãofazpartedeminhafamíliaeeufareiqualquercoisaparasalvá-
lo!”
OveterinárioseguraEduardopelosombrosediz.
“Euvoufazerdetudoparasalvaroseuamigo,fiquetranqüilo!”
Foramhorasdeumaesperaangustiante,EnzonãoparavadechamarporTutu,EduardoeMárciaestavam
comosolhosfixosnaportaondeTutuestavasendooperado.
Oveterináriofinalmentesaieelesapreensivosperguntamosdoisaomesmotempo:
“Comoeleestá?”
PorumminutoeleficaemsilênciotirandoasluvaseolhandoparaEnzodiz.
“Seucãoéumheróimeuamigo,cuidedelecomtodoocarinho!Vocêspodemficartranqüilos,Tutulogo
estaráemcasacomvocês!”
Diasdepois,Tutuvoltaparacasaetudovoltaaonormalnovamente.
Fim.
NOTAAOLEITOR(A).Os portadores da Síndrome deDown são lindos, amorosos, simpáticos emuitas vezes capazes de se
tornarem completamente independentes quando são tratados como seres normais, com apenas algumas
dificuldades de aprendizado, que pode ser superado com orientação de especialistas e o carinho e
atençãoquemerecemdetodaafamília.
Sevocêconheceouconvivecomumsertãoespecialcomoeste,trate-ocomrespeito,comeducaçãoe
principalmentecomamor.
Nestahistóriatemosdoispersonagensmuitoespeciais,EnzoeTutu.Elesnosmostramqueaamizade,o
respeito e o amor existementre seres diferentes e umdois seresmais especiais queDeusnosdeude
presenteéocão.Elenãovêdiferençaentrericosepobres,nacordapeleesuafidelidadeéinfinita.
NatashaNovínsky.
PERIGOSAS-SIMI-Apollymi
TutuMeuVira-LataMeuHeróiDedicatória:ACONSULTAEDUARDOATROPELAUMCÃOODONODETUTUAPARECETUTUÉLEVADOENZOADOECEEÉSEQUESTRADOTUTULEVAEDUARDOATÉOCATIVEIRODEENZONOTAAOLEITOR(A).