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TranstornosTranstornos
Mentais e Obsessivos Mentais e Obsessivos
• No ano de 1873, quando foi nomeado diretor do Hospício de La Bicêtre, o jovem Dr. Felipe Pinel não
tergiversou em definir como uma das suas primeiras providências libertar os 53 pacientes esquizofrênicos que ali jaziam sepultados vivos, distantes
de qualquer assistência médica ou socorro fraternal.
• Encarcerados em verdadeiras jaulas, alguns estavam
prisioneiros há mais de um decênio.
• A esquizofrenia era, então, considerada enfermidade
incurável, de etiopatogenia desconhecida, verdadeira punição divina imposta às
criaturas para servir-lhes de corrigenda espiritual.
• Considerando o paciente mental como credor de respeito e consideração, o moderno pai da psiquiatria ensejou oportunidade de serem aplicadas
terapêuticas que pudessem minimizar os males decorrentes da grave psicose,
abrindo espaço para a vigência da esperança.
• E caso não conseguisse melhorar os seus enfermos, acreditava que
os amaria, restituindo-lhes a dignidade perdida e o sentimento
de humanidade.
• Lentamente os métodos bárbaros aplicados aos loucos foram
cedendo lugar a tratamento mais humano e condigno, de modo
que fossem vistos como enfermos e não como
merecedores de extinção.
• O exemplo do Dr. Pinel foi seguido em Londres, pelo
eminente Dr. Tucker e em Roma pelo Dr. Chiarucci, que os
libertaram dos cárceres coletivos em que se encontravam
praticamente esquecidos.
• Os progressos, no entanto, nessa área, durante decênios, foram
mínimos.
• O cérebro permanecia como um grande desconhecido, portador
de mistérios que, somente, a pouco e pouco, seriam
elucidados.
• Quando o Dr. Paul Pierre Broca apresentou à Sociedade de Antropologia de Paris, no dia 18 de abril de 1861, o resultado das suas pesquisas no cérebro do senhor Leborgne, que necropsiara na
véspera, e que se tornara famoso pela impossibilidade de enunciar palavras, somente
repetindo o monossílabo tan, como decorrência de um tumor em desenvolvimento na terceira
circunvolução frontal esquerda, que passou a ser denominada como centro de Broca ou centro da
fala, começaram a cair as barreiras que impediam a real compreensão do cérebro.
• Na década 1880-1890, as notáveis investigações do Dr. Jean-Martin Charcot, utilizando-se da hipnose, em memoráveis
sessões, às terças-feiras, na Universidade de Ia Salpêtrièrre, que reuniam os mais cultos e
audaciosos médicos de Paris e de outras cidades europeias, abriram-se mais amplas possibilidades de penetração nos arcanos
cerebrais, a fim de identificar somatizações, conflitos profundos, alterações da
personalidade, personificações múltiplas...
• A histeria, que então dominava os interesses dos estudiosos, digladiando-se os mestres Liébeault e Bernheim, da Universidade de Nancy, que a consideravam de natureza
fisiológica, com os pesquisadores de Ia Sal-pêtrièrre, que a tinham em conta de
psicológica, facultou melhor compreensão do subconsciente e, logo depois, com a
valiosíssima contribuição de Sigmund Freud em torno do inconsciente...
• Tampouco se pode olvidar a grandiosa contribuição do eminente Guilherme
Griesinger, que estabeleceu dois princípios fundamentais na psiquiatria: • os distúrbios mentais devem ser
classificados, e para serem devidamente tratados é necessário que investiguem as
suas causas nas enfermidades dos órgãos.
• Desse modo, atribuía às problemáticas fisiológicas a
responsabilidade pelos distúrbios mentais.
• Anatomopatologistas dedicados, quais Cuvier e Florens,
investigando cadáveres, aprofundaram o bisturi na massa encefálica e descortinaram novos horizontes para o entendimento dos transtornos mentais e com-
portamentais.
• Sem dúvida, a contribuição grandiosa de Freud, de Jung, de Adler, seus
eminentes discípulos, igualmente do Dr. Bleuler e outros nobres investigadores, tornou mais
compreensíveis os mecanismos da psique e mais claras as percepções em torno das alucinações, das de-
mências, da loucura...
• O psiquiatra alemão Emílio Kraepelin, discípulo de Griesinger, tanto quanto Hughlings Jackson
fizera anteriormente, demonstrou ser o cérebro o responsável por faculdades e funções complexas, desmistificando os hemisférios e o
seu corpo caloso, de tal modo, que as modernas neurociências podem alegrar-se com
a contribuição valiosa do passado, que lhes facultou a identificação dos mecanismos
neuronais e respectivas sinapses.
• A esquizofrenia, embora passando por grandiosos
experimentos, é considerada na atualidade como um distúrbio
que engloba várias formas clínicas de psicopatia e distonias
mentais próximas a ela.
• Nela predomina a característica identificada como dissociação e
assintonia das funções psíquicas, disto decorrendo fragmentação
da personalidade e perda de contato com a realidade.
• Além dos fatores preponderantes da hereditariedade, das enfermidades
infecciosas e suas sequelas, bem como daqueles de natureza psicossocial,
socioeconômica, afetiva ou traumatismos cranianos, o paciente aliena-se, tentando libertar-se de uma ignota consciência de
culpa, construindo o seu mundo emocional e comportamental, vivendo outro tipo de
realidade.
• As terapêuticas humanas, realmente compatíveis com os
fenômenos esquizofrênicos, vêm ensejando resultados auspiciosos
em favor dos enfermos dessa natureza.
• Das experiências do Dr. Sakel, mediante os choques de insulina e metrazol, realizados em
sua clínica na cidade de Viena, aos experimentos do eletrochoque, e hoje aos modernos barbitúricos, com a simultânea
contribuição psicoterápica, o conhecimento da esquizofrenia e suas sequelas avançou
muito, facultando possibilidades mais amplas, no futuro, para tratamentos mais adequados
e de resultados felizes.
• A verdade, é que o paciente esquizofrênico já não é considerado como prejudicial à sociedade, que
antes exigia-lhe a exclusão dos seus quadros, internando-o nos terríveis hospícios ou manicômios, onde era tratado com desdém e crueldade,
pelo crime de ser enfermo.
• Desde que não se encontre em período de agressividade, ele pode permanecer
no lar, mantendo vida social, relativamente organizada, sendo exigidos
da sociedade maior compreensão e respeito, de forma que contribua em
favor da sua recuperação, ou, pelo menos, da relativa normalidade da sua
existência.
• A indiscutível contribuição da psicologia e da psicanálise, penetrando nos arcanos do
inconsciente do enfermo, auxilia-o a superar os conflitos jacentes que o atormentam de maneira cruel, sem que possa entender o que se passa
no seu mundo íntimo.
• Herdeiro dos arquétipos ancestrais, muitos deles tornam-se adversários soezes da sua paz,
afligindo-o continuamente.
• A medida que o paciente se vai conhecendo, meIhormente se
equipa de recursos para vencer o lado escuro, o lado sombra da
sua personalidade em conflito e perturbação.
• Passando a identificar outro tipo de realidade, vai-se-lhe
adaptando, experienciando o prazer da convivência com as demais pessoas, ao invés de
evitá-las e tê-las como inimigas, portanto, fruindo alegria de viver.
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