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Transformao Gentica de Milho via Agrobacterium tumefaciens
Thiago Henrique Leite, Andra Almeida Carneiro
Trabalho financiado pelo FAPEMIG
Estudante do Curso de Engenharia Ambiental da UNIFEMM, Bolsista PIBIC do Convnio
FAPEMIG - Embrapa
Pesquisadora da Embrapa Milho e Sorgo
Introduo
Originrio do Mxico, o milho evoluiu de uma gramnea selvagem (Zea mays
ssp. parviglumis) para uma espcie domesticada altamente produtiva devido a
interveno humana. Entre os anos de 1976 e 2010, a produtividade do milho no Brasil
aumentou mais de 200%, sendo que a rea utilizada para o plantio cresceu apenas 18%
CONAB, 2012). Estes resultados foram devidos em grande parte a rigorosos programas
de seleo e melhoramento de cultivares.
Enquanto os programas tradicionais de melhoramento continuam exercendo um
papel fundamental na melhoria das caractersticas agronmicas do milho, tecnologias
recentes, geradas em funo dos enormes progressos alcanados pela biologia molecular
e celular nos ltimos anos, permitem que novas ferramentas sejam agregadas a estes
programas no desenvolvimento de novas cultivares com maiores rendimentos agrcolas,
constituio nutricional diferenciada e tolerantes a diferentes estresses biticos e
abiticos.
A biotecnologia est gerando um grande nmero de genes passveis de serem
utilizados para a melhoria gentica do milho, e as tcnicas de transformao de plantas
podero ser empregadas para alterar a funcionalidade in vivo destes genes via
complementao, superexpresso ou silenciamento. Progressos expressivos foram
conseguidos no desenvolvimento da tecnologia de transformao gentica de milho na
ltima dcada. A transformao gentica do milho, considerada por algum tempo
recalcitrante, tornou-se, atualmente, um procedimento de rotina para vrios gentipos na
maioria dos laboratrios pblicos e privados trabalhando com esta cultura (GORDON
KAMM et al., 1990; FRAME et al., 2002; ISHIDA et al., 2007).
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Durante vrios anos a transformao de monocotiledneas via Agrobacterium
tinha uma eficincia muito baixa, entretanto, recentemente, este cenrio est mudando, e
esta metodologia de transferncia gnica tem se tornado o mtodo de escolha para este
grupo de plantas (ISHIDA et al., 1996). Este mtodo de transformao utiliza um
sistema natural de transferncia de genes desenvolvido pela Agrobacterium. Esta
bactria encontrada no solo capaz de causar tumores em vegetais na regio da
infeco. Estes tumores resultam da presena do plasmdeo Ti ou plasmdeo indutor de
tumor na clula bacteriana. O plasmdeo Ti uma molcula circular grande (200 a 800
kb) de DNA fita dupla que pode se replicar independentemente do genoma da
Agrobacterium tumefaciens (GELVIN, 2003). Localizado no plasmdeo Ti se
encontram duas regies importantes para a transferncia de genes da bactria para a
planta, a regio do T-DNA e a regio vir. As regies dos T-DNAs de plasmdeos
selvagens contm genes que comandam a produo de opinas e hormnios, tais como
auxina e citocinina, pela clula vegetal. As opinas so aminocidos utilizados apenas
pela Agrobacterium como fonte de carbono e nitrognio, enquanto os hormnios so
responsveis pela induo de tumores em vegetais. O T-DNA tem, aproximadamente,
entre 10 e 30 Kb e suas extremidades so delimitados por duas sequncias de 25 pb
altamente homlogas, denominados extremidades direita e esquerda. A Agrobacterium
selvagem transfere o seu T-DNA atravs das membranas das clulas vegetais e o
incorpora no DNA genmico da planta. O processamento do T-DNA e sua transferncia
para a clula vegetal devido em grande parte a atividade de virulncia das protenas
codificadas na regio vir (GELVIN, 2003).
Para viabilizar a utilizao da Agrobacterium em processos biotecnolgicos de
transferncia de genes para plantas necessrio que os genes endgenos do T-DNA
causadores de tumor sejam inativados e que os genes exgenos GDI e GMS sejam
inseridos entre as extremidades direita e esquerda do T-DNA. O plasmdeo
recombinante resultante novamente colocado na Agrobacterium para ser transferido
para clulas vegetais (GELVIN, 2003). Tecidos ou clulas transformados podem ser
utilizados para regenerao de plantas transgnicas (HIEI et al., 1994; ISHIDA et al.,
1996).
Por ser muito grande, o plasmdeo Ti difcil de ser manipulado, portanto,
foram criados os vetores binrios (BEVAN, 1984), os quais so menores e capazes de
multiplicar tanto em Agrobacterium como em E. coli e fceis de manipular em
laboratrio. Estes vetores possuem um T-DNA artificial, no qual diferentes transgenes
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podem ser inseridos e uma origem de replicao compatvel com o Ti na
Agrobacterium. Os vetores binrios so introduzidos em Agrobacterium desarmadas, ou
seja, em Agrobacterium que carregam plasmdeos Ti que tiveram a regio do T-DNA
removida. O Ti de Agrobacterium desarmadas ainda possui a regio de virulncia (vir),
sendo seus genes capazes de agir in trans para transferir o T-DNA recombinante do
vetor binrio (GELVIN, 2003).
O primeiro protocolo de transformao de milho mediada por Agrobacterium
com alta eficincia foi relatado em 1996 por um grupo de pesquisadores da Japan
Tobacco Inc. (ISHIDA et al., 1996). Eles foram capazes de infectar embries imaturos
de milho A188 utilizando vetores superbinrios (pSB131 ou pTOK233) (ISHIDA et al.
1996). O plasmdeo superbinrio desenvolvido por Komari (1990) contm uma cpia
extra dos genes de virulncia virB, virC e virG. Trabalhos subsequentes mostraram que
a transformao de milho mediada por Agrobacterium tambm era possvel com a
utilizao de vetores padres (FRAME et al., 2002). Para o milho a tcnica de
Agrobacterium foi relatada resultar em alta eficincia com alto nmero de eventos
contendo apenas uma ou um baixo nmero de cpias do transgene no genoma quando
comparado com a biobalstica (ISHIDA et al., 1996; ZHAO et al., 2001; GORDON-
KAMM et al., 1990; FRAME et al., 2002; LUPOTTO et al., 2004; HUANG; WEI,
2005; ISHIDA et al., 2007).
O objetivo deste trabalho foi estabelecer condies para uma melhor infeco
dos embries imaturos de milho por Agrobacterium tumefaciens. Os resultados
mostraram que a otimizao do protocolo de infeco resultou em um aumento da
eficincia de transformao de milho HiII.
Material e Mtodos
Construo gnica: Foi utilizada a construo gnica pTF102. Esta construo contm
o gene reprter GUS sob o controle do promotor 35S e o marcador de seleo o gene
bar. A expresso do gene GUS (-glucuronidase) foi analisada por ensaios
histoqumicos (JEFFERSON et al., 1987). Utilizou-se um estereoscpio da marca Zeiss
Stemi SV 11 para visualizao da expresso de GUS (Zeiss, So Paulo, SP, Brasil).
Parmetros testados durante a infeco de embries imaturos de milho com
Agrobacterium tumefaciens: (i) perodo de estocagem das espigas de milho a 4 oC antes
da transformao (1 e 2 dias); (ii) Tempo de permanncia dos embries imaturos de
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milho em meio de infeco durante o perodo de coleta (30 e 120 min.); (iii) Tempo de
permanncia dos embries em cocultivo com Agrobacterium tumefaciens a 19 oC; (iv)
Tamanho do embrio imaturo utilizado (>1,5 mm e
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embries. Na Figura 1, pode-se observar, atravs das manchas azuis, que no existe
diferena na qualidade da infeco quando as espigas so estocadas por 24 h a 4 oC
quando comparadas com espigas frescas. O tempo de permanncia dos embries em
meio de coleta (meio de infeco sem Agrobacterium) parece influenciar na qualidade
da infeco pois o menor tempo neste meio (30 min.) apresentou o melhor resultado
(Figura 2). Maior quantidade de manchas azuis foi detectada quando os embries
permaneceram no meio de coleta por apenas 30 min. quando comparados com embries
mantidos neste meio por 120 min. Outro fator que parece ter influncia no processo de
infeco dos embries pela Agrobacterium o estdio evolutivo destes. Embries de at
2 mm de comprimento apresentaram nveis de infeco pela Agrobacterium maiores do
que aqueles com mais de 2 mm (Figura 3). Outro parmetro testado foi o tempo em que
o embrio de milho permaneceu em contato com a Agrobacterium. Nossos resultados
mostraram que aps sete dias de cocultivo a infeco foi melhor do que aps 3 dias
(Figura 3). Portanto, na transformao gentica de embries de milho HiII via
Agrobacterium tumefaciens EHA101 esto sendo adotados os parmetros estabelecidos
neste estudo. Isto , embries de milho com at 2 mm de comprimento, frescos ou
estocados a 4 oC, por at 24 h so utilizados como explantes para a transformao
gentica. O perodo de contato entre a bactria e os embries de sete dias.
Utilizando este protocolo para transformao de milho com construes gnicas
contendo diferentes genes de interesse, por exemplo, dreb2A, cry, AltSB, tem-se obtido
uma frequncia de transformao da ordem de 1,5%.
Figura 1: Tempo de estocagem das espigas de milho a 4 oC antes da transformao usando Agrobacterium tumefaciens . (a) Espigas mantidas por 1 dia a 4 oC; (b) espigas mantidas por 2 dias a 4 oC.
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Agradecimentos
FAPEMIG e Embrapa pelo apoio.
Referncias
BEVAN, M. W. Binary Agrobacterium tumefaciens vectors for plant transformation. Nucleic Acids Research, London, v. 12, p. 8711-8721, 1984.
Figura 2: Tem