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1 Tradições Histórico-Culturais: Festa do Funil - Um Atributo Sócio-Ambiental Gilberto de Souza Pereira 1 ; Bruno Bof Campos 2 ; Camila Guimarães de Souza 3 ; & Ricardo Valcarcel 4 1. Discente do Curso de Ciências Biológicas - UFRuralRJ; 2. Discente do Curso de Engenharia Florestal – UFRuralRJ; 3. Licenciada em Ciências Agrícolas; 4. Professor Doutor da UFRuralRJ. Palavra-Chave: Valor Histórico-Cultural, Patrimônio Cultural, Planejamento Turístico, Unidade de Conservação. Resumo Atualmente, a procura pelos locais dotados de atrativos naturais ou histórico-culturais como a região do Funil vem aumentando. Conhecer este patrimônio, torna-se fundamental para o planejamento das atividades de uso, possibilitando sua conservação e desenvolvimento regional. Nessa região, existe a confluência entre a beleza cênica local e tradições com motivação histórico-cultural, fruto da diversidade de povos e culturas que habitaram o vale do Rio Preto, Zona da Mata mineira, deixando suas raízes especialmente nas crendices e na fé católica. Este trabalho resgata o conhecimento da Festa do Funil, ressaltando sua importância como um atributo sócio-ambiental regional. Abstract Nowadays, the increasing movement of people to places with natural and historical atributtes have demanding a better management of the area, but to make this possible, is highly required to know this patrimony, for it´s better conservation. The region of Funil, is caracterized by confluence of their scenic natural beauty and diversity of historic and cultural traditions, resulted by the diversity Rio Preto´s valley people and cultures that occupied the area, living your roots specialy on foolish belif and catolic faith. This work hopes to contribute to a better knowledgement of Party of Funil, standing out your importance as a social-environment regional attribute. Introdução A prática turística vem tomando lugar na vida das pessoas, constituindo-se mais do que uma simples atividade de lazer, mas uma necessidade à vida cotidiana do meio urbano (SEABRA, 2003). Dessa maneira, essa atividade vem se afirmando como de grande potencial para geração de renda em todo o mundo. Dados da World Travel Tourism Council (WTTC) revelam que a atividade faturou, no ano de 1999, 4,5 trilhões de dólares e gerou 192 milhões de empregos em todo o mundo, ficando atrás somente da indústria automobilística (WTTC apud SEABRA, 2003). Neste contexto, o Brasil aproveita apenas 0,3% desse total, subutilizando seus potenciais naturais: litoral com oito mil quilômetros, ecossistemas de exuberante beleza cênica como Amazônia e Pantanal, e aspectos histórico-culturais (PETROCHI, 1998). COELHO (1992), destaca que os bens culturais assumem na sociedade contemporânea um valor cada vez maior, não sendo apenas os grandes monumentos os alvos dos turistas. Entende-se como patrimônio cultural o conjunto de bens móveis e imóveis cuja conservação seja de interesse social, composto pela sua arte, folclore, fatos históricos memoráveis, artesanato, música, religião, crenças, usos e costumes, constituindo-se na representação da organização social do homem junto ao seu ambiente natural (COELHO, 1992; IBT, 1992). Portanto, é evidente a necessidade de reconhecimento de nosso patrimônio, especialmente como forma de conservação de um legado cultural, mas também como alternativa de desenvolvimento e aproveitamento de potenciais locais. No Vale do Rio Preto, Zona da Mata de Minas Gerais, o setor do turismo assegura alternativa econômica e de desenvolvimento regional, embora, em alguns casos, ocorra de forma desordenada e predatória (CASTRO, 1992). CANDEIA et. al. (2003), destacam a região do Funil, município de Rio Preto-MG, coma área potencial para utilização turística, principalmente na ocasião da Festa do Funil, quando há grande afluxo de visitantes em um só final de semana. Esta informação contrasta com a realidade, onde não há registros documentais sobre o evento nos órgãos públicos e nem dados disponíveis sobre o seu significado histórico- cultural.

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Tradições Histórico-Culturais: Festa do Funil - Um Atributo Sócio-Ambiental

Gilberto de Souza Pereira1; Bruno Bof Campos2; Camila Guimarães de Souza3; & Ricardo Valcarcel4

1. Discente do Curso de Ciências Biológicas - UFRuralRJ; 2. Discente do Curso de Engenharia Florestal – UFRuralRJ; 3. Licenciada em Ciências Agrícolas; 4. Professor Doutor da UFRuralRJ. Palavra-Chave: Valor Histórico-Cultural, Patrimônio Cultural, Planejamento Turístico, Unidade de Conservação.

Resumo

Atualmente, a procura pelos locais dotados de atrativos naturais ou histórico-culturais como a região do Funil vem aumentando. Conhecer este patrimônio, torna-se fundamental para o planejamento das atividades de uso, possibilitando sua conservação e desenvolvimento regional. Nessa região, existe a confluência entre a beleza cênica local e tradições com motivação histórico-cultural, fruto da diversidade de povos e culturas que habitaram o vale do Rio Preto, Zona da Mata mineira, deixando suas raízes especialmente nas crendices e na fé católica. Este trabalho resgata o conhecimento da Festa do Funil, ressaltando sua importância como um atributo sócio-ambiental regional.

Abstract

Nowadays, the increasing movement of people to places with natural and historical atributtes have demanding a better management of the area, but to make this possible, is highly required to know this patrimony, for it´s better conservation. The region of Funil, is caracterized by confluence of their scenic natural beauty and diversity of historic and cultural traditions, resulted by the diversity Rio Preto´s valley people and cultures that occupied the area, living your roots specialy on foolish belif and catolic faith. This work hopes to contribute to a better knowledgement of Party of Funil, standing out your importance as a social-environment regional attribute.

Introdução A prática turística vem tomando lugar na vida das pessoas, constituindo-se mais do que uma simples atividade de lazer, mas uma necessidade à vida cotidiana do meio urbano (SEABRA, 2003). Dessa maneira, essa atividade vem se afirmando como de grande potencial para

geração de renda em todo o mundo. Dados da World Travel Tourism Council (WTTC) revelam que a atividade faturou, no ano de 1999, 4,5 trilhões de dólares e gerou 192 milhões de empregos em todo o mundo, ficando atrás somente da indústria automobilística (WTTC apud SEABRA, 2003). Neste contexto, o Brasil aproveita apenas 0,3% desse total, subutilizando seus potenciais naturais: litoral com oito mil quilômetros, ecossistemas de exuberante beleza cênica como Amazônia e Pantanal, e aspectos histórico-culturais (PETROCHI, 1998). COELHO (1992), destaca que os bens culturais assumem na sociedade contemporânea um valor cada vez maior, não sendo apenas os grandes monumentos os alvos dos turistas. Entende-se como patrimônio cultural o conjunto de bens móveis e imóveis cuja conservação seja de interesse social, composto pela sua arte, folclore, fatos históricos memoráveis, artesanato, música, religião, crenças, usos e costumes, constituindo-se na representação da organização social do homem junto ao seu ambiente natural (COELHO, 1992; IBT, 1992). Portanto, é evidente a necessidade de reconhecimento de nosso patrimônio, especialmente como forma de conservação de um legado cultural, mas também como alternativa de desenvolvimento e aproveitamento de potenciais locais. No Vale do Rio Preto, Zona da Mata de Minas Gerais, o setor do turismo assegura alternativa econômica e de desenvolvimento regional, embora, em alguns casos, ocorra de forma desordenada e predatória (CASTRO, 1992). CANDEIA et. al. (2003), destacam a região do Funil, município de Rio Preto-MG, coma área potencial para utilização turística, principalmente na ocasião da Festa do Funil, quando há grande afluxo de visitantes em um só final de semana. Esta informação contrasta com a realidade, onde não há registros documentais sobre o evento nos órgãos públicos e nem dados disponíveis sobre o seu significado histórico-cultural.

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Este trabalho objetivou levantar a motivação histórica para a realização da Festa, descrevendo-a e fornecendo uma visão de sua inter-relação com a população local e com os visitantes, de modo a avaliar sua importância como justificativa para futuros movimentos criatórios de Unidade de Conservação.

Material e Métodos O levantamento das peculiaridades sócio-ambientais e culturais em torno da Festa do Funil, foi realizado através da metodologia de pesquisa integradora (FIGURA 1), com apoio de revisões e pesquisas bibliográficas, visitas de campo, tomadas de informação a partir do contato com a comunidade local e, também, utilizando questionários prontos, denominados entrevistas formais (BOAS, 2000).

Figura 1: Esquema metodológico adotado (BOAS, 2000). As observações prévias, foram obtidas em visitas à Festa em anos anteriores à realização deste trabalho, reunindo informações iniciais sobre comunidade, Festa do Funil e Informantes Chave. Estes informantes, por meio de entrevistas informais (sem a utilização de questões fechadas), possibilitaram uma melhor compreensão da história de vida da comunidade, especialmente no que tange as relações com a Festa do Funil. Também foram realizados registros por fotografias, que juntamente com revisões da bibliografia e

análise de documentos, nos auxiliaram no conhecimento da realidade local. Com esse conjunto de dados, formulou-se e aplicou-se um questionário (entrevista formal), aleatoriamente na Festa do Funil. Inicialmente, no ano de 2003, utilizou-se um modelo experimental que, mesmo não completamente adaptado à realidade, já fornecera algumas informações importantes. Todavia notou-se a necessidade de um aperfeiçoamento para amostragens posteriores visando entrevistas individualizadas com barraqueiros e visitantes. Em 2004, numa segunda amostragem, o questionário foi adaptado de acordo com as observações do ano anterior, gerando dois modelos de questionário: Levantamento Sócio-cultural e Turístico e Levantamento Social e de Infra-Estrutura dos Barraqueiros. Com a tabulação final dos dados, realizou-se a descrição e resgate histórico-cultural, tornando possível a compreensão das relações sócio-ambientais em torno da Festa. Deve-se ressaltar, que estudos desse tipo não visam apenas levantar rapidamente características da situação em questão, mas sim, buscam um conhecimento contextualizado da realidade, evidenciando ou não uma importância como atributo sócio-ambiental para a Festa do Funil.

Resultados e Discussão

Raízes Históricas A interação entre diferentes povos e suas respectivas culturas fundamentaram toda a diversidade cultural presente no Vale do Rio Preto. A presença de índios, negros e europeus deixou suas marcas na maneira de ser do povo, nos hábitos, nas técnicas agrícolas, na preparação dos alimentos e, principalmente, nas crendices e na fé católica (CASTRO, 1992). Como em diversos outros distritos do município de Rio Preto, na região de Funil realiza-se anualmente uma festa da comunidade. Porém, o que difere neste caso, e que torna o evento singular para quem o visita, é sua localização: um morro próximo à Vila onde está localizada a Gruta da Água Santa, hoje, também denominada de Gruta do Funil.

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A celebração associa-se histórico-culturalmente à igreja que fora instalada no interior do primeiro salão da Gruta da Água Santa, quando a 16 de outubro de 1932, o vigário de Rio Preto, padre Domingos Nady, colocou na furna a imagem de Nossa Senhora do Amparo, inaugurando a capela cujas paredes e cobertura são consideradas obras divinas (NOGUEIRA, 1998). Acerca da motivação que levou à inauguração dessa capela ainda restam algumas incertezas e, por conta disso, pairam pela região algumas explicações que são contadas pela própria comunidade. Segundo moradores, na Gruta do Funil nasce a “Água Santa”, dotada de poder medicinal, e cujas curas motivaram a fundação da capela. Moradores antigos da Vila do Funil, como o Tio Braz (†), aventam lendas que explicam a existência da capela. Uma dessas histórias, e talvez a mais conhecida, é de que “um grupo de caçadores, ao ouvir seus cães de caça acuando algum animal, se dirigiu, orientados pelos latidos, até a Gruta. Quando lá chegaram, se espantaram ao ver que não se tratava de um animal e sim de uma pessoa, um “homem santo”, que vivia sozinho na Gruta como uma espécie de monge ou de eremita.” Esse “morador”, nunca mais foi avistado e o local, a partir daí, foi considerado religioso pela população local. Em 16 de agosto de 1937, padre Ceslau Martinho, vigário de Rio Preto, auxiliado pelo povo das redondezas, a venerada senhora D. Felisbina da Conceição Gomes e seus filhos, em procissão, saíram da fazenda do Funil, de sua propriedade, levando a nova imagem de Nossa Senhora da Boa Morte, que foi colocada no fundo da Gruta, ofertada pelo Sr. Cap. Antônio Ferreira de Oliveira Júnior (NOGUEIRA, 1998). Certamente, a partir desse fato, as procissões até a capela da Gruta seguidas de comemorações da paróquia local tornaram-se parte do costume local, repetindo-se anualmente em data mais próxima ao dia 16 de agosto, e, originando a Festa do Funil. Descrição e Interface com a População De acordo com CASTRO (1992) no comportamento dos habitantes do Vale do Rio Preto prevalece o tradicionalismo e o conservadorismo, possibilitando pouca mudança

em relação aos valores familiares, ou seja, essa população preserva suas tradições. Pensando-se sobre esta afirmativa a respeito da Festa do Funil, observa-se que, também, as tradições culturais são mantidas e preservadas. A festa é tradicionalmente organizada e realizada pela comunidade da região do Funil, que se organiza e elege um “festeiro”, coordenador da comissão da festa e que providenciará toda a programação de eventos. Retornando ao ano de 2003, pode-se citar um exemplo que atesta este sentimento da comunidade para com a Festa do Funil: devido a preocupações com a conservação da área próxima à Gruta onde anualmente é instalada a festa, cogitou-se a hipótese de mudança do local da festa. Do local original, as barracas, o leilão e o forró, passariam a acontecer em um campo de futebol, às margens do Ribeirão do Funil e mais próximo à Vila e, as celebrações religiosas, conforme forte tradição, permaneceriam na capela da Gruta da Água Santa. O Resultado? A comunidade local, pequena e bastante organizada em torno da realização e das tradições da festa, prontamente colocou-se contra a proposta e a festa manteve-se no formato e localização tradicional. Como foi dito no ano de 2004 pelo próprio leiloeiro, o Sr. Clério, “apesar de todas as dificuldades para a realização da Festa do Funil, é importantíssimo a manutenção dessa tradição como parte da cultura dessa comunidade e de toda a região.” Poucas são as mudanças na Festa do Funil, ao longo dos anos, quando se observa sua estrutura de realização, com barraquinhas típicas, programação tradicionalmente religiosa com missas e procissão, leilões e forró. O mais antigo barraqueiro da Festa esclarece, “as barracas, no passado, eram de capim e encostadas na pedra da Gruta, de frente pro vale. Depois, cada família construiu, com seu próprio trabalho, as barracas de alvenaria onde trabalhei muitos anos, primeiro com o meu pai e depois com os meus filhos” (Adolfo Ferreira, 2004 - comunicação pessoal). As alterações mais recentes envolvem o sistema de iluminação instalado na subida que dá acesso ao local da festa e o palco. Atualmente é necessária a montagem anual das barraquinhas para a festa, visto que aquelas, de alvenaria, e que foram construídas pelas famílias que

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participavam tradicionalmente da Festa, foram se acabando e, por fim, tiveram que ser retiradas do local. A única restante, ainda é mantida pelo barraqueiro mais antigo da Festa, com seus 33 anos de participação no evento. As barracas atuais tem estrutura de madeira e cobertura de lona plástica, em um platô de solo arenoso, com aproximadamente 20m de largura e 100m de comprimento, localizado enfrente ao paredão rochoso que esconde a Gruta da Água Santa. Nelas, são comercializados os mais diversos produtos que vão desde aqueles produzidos pelos próprios barraqueiros e sua família, como queijos ou lingüiça, até bebidas quentes ou enlatadas (cerveja e refrigerantes), cachorro quente, churrascos no espeto, cigarros, balas, e, até mesmo, brinquedos infantis e bijuterias. Os barraqueiros caracterizam-se por serem predominantemente da região (FIGURA 2), onde 62% são originados de Rio Preto e da Encruzilhada (localidade rural próxima à Vila do Funil), com uma média de idade de 42 anos e nível de escolaridade da 4ª a 8ª série do ensino fundamental.

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25% 25%

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Encruzilhada Valença Rio Preto Não Respondeu Figura 2: Origem dos Barraqueiros 2004. Apresentam tradicionalismo no que diz respeito à freqüência de participação como barraqueiro da Festa, uma vez que a maioria participa a mais de 10 anos (FIGURA 3). Como é o caso do Sr. Adolfo, a tradição de trabalhar nas barraquinhas da Festa do Funil é perpetuada pela família, ao lado de sua barraca fica a de seu filho, Arlindo de Paiva. No caso da barraca do Sr. Brigido, a tradição e o envolvimento familiar são demonstrados em equipe. Na barraca trabalham e permanecem pernoitando

no local da festa como 100% dos barraqueiros, a esposa, suas duas filhas e um filho.

62%

25%13%

< 10 anos 10 - 20 anos > 20 anos Figura 3: Freqüência como Barraqueiro na Festa do Funil. As missas, tradicionalmente são realizadas na capela instalada no 1º salão, dos oito, da Gruta da Água Santa e conta com a participação ativa de grande parte da comunidade da Vila do Funil e de toda a região. Esse local, no mínimo exótico, confere a celebração um ambiente único e de grande religiosidade. A procissão, outro evento da programação religiosa, remonta à 1937. Porém, atualmente ocorre no domingo à tarde e não mais realiza o percurso tradicional, da Vila até a Gruta. Ela parte da Igreja na Gruta, passando pelo Cruzeiro e desce por uma trilha até o caminho que retorna para a Gruta da Água Santa. Mesmo assim, ainda mantém forte tradição, que ficou evidenciada pela participação de mais de 200 pessoas no ano de 2004. Após o término das programações religiosas, em todos os dias de festa, ocorre um leilão. Esta atividade, também organizada pela comissão de festa, conta com a participação da comunidade, seja com a doação de prendas típicas, como vinhos, frangos, leite, batidas e cartuchos com doces ou, com a compra das prendas, gerando receita para a festa e auxiliando em sua manutenção. Contudo, certamente a principal alteração em torno da realização da Festa do Funil, diz respeito ao número e ao tipo de pessoas. Com o passar do tempo e a divulgação da Festa como um atrativo turístico, o público tradicionalmente local foi sendo modificado. Hoje, a origem desses visitantes é variada, recebendo visitantes de cidades como Juiz de Fora, Lavras, Rio de Janeiro, Três Rios, São Paulo e Jacareí, porém, ainda predominando as cidades próximas à Vila do Funil, com Rio Preto

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e Valença, Santa Rita do Jacutinga e o Taboão, representando 65% dos locais de origem em 2004. Todavia, a motivação para visitação da região nesta época do ano, em maior porcentagem, parece ser a mesma (FIGURA 4), o que reforça a condição da Festa do Funil como uma tradição cultural e como atributo turístico importantíssimo para essa região.

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CampanhaEleitoral

2003 2004 Figura 4: Principais motivações para a visitação da Região. Provavelmente, se não fosse a organização em torno da festa, que mobiliza boa parcela da comunidade, o choque cultural, resultado do contato desta comunidade simples com o modo de vida das sociedades urbanas, já poderia ter enfraquecido os sentimentos de identidade com a festa, levando a sua descaracterização. É perceptível a estreita relação e o sentimento da comunidade para com a festa, que para eles, constitui um importante legado cultural a ser mantido e que pode se firmar como uma “alavanca” para o desenvolvimento sócio-ambiental daquela região.

Conclusão O caráter histórico-cultural da Festa do Funil, no que diz respeito à sua origem, ficou evidenciado pelo seu resgate histórico e tradições arraigadas da sociedade. A partir da inauguração da igreja na Gruta da Água Santa, a motivação religiosa impulsionou o desenvolvimento da Festa. Hoje, a comemoração, constitui-se também em um atrativo turístico importante na região, porém sem perder a identidade e tradição entre a população local, visto a mobilização da

comunidade e a participação dos barraqueiros (75% com mais de 10 anos de participação). Esta atratividade associa-se à beleza cênica do local onde se realiza a Festa, especialmente à Gruta da Água Santa, ressaltando a necessidade de mais estudos a cerca de possíveis riscos ou impactos sobre este ambiente, a fim de não comprometer a própria atratividade desses locais. A realização da Festa além de ser uma tradição cultural local, também motiva a procura de visitantes pela região, oferecendo oportunidades econômicas à população. Dessa forma, ressalta-se a importância da Festa do Funil como um atributo sócio-ambiental, com características histórico-culturais a serem conservadas, garantindo o seu legado às gerações futuras.

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