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Carlos Monteiro;Nº3 Gonçalo Agostino;Nº11
1
Dossier temático
Fernando Pessoa
Eu, o homem que diz que hoje é um sonho, sou menos do que uma coisa de hoje.
Carlos Monteiro;Nº3 Gonçalo Agostino;Nº11
2
Elaborado por:
Carlos Monteiro;
Gonçalo Agostinho
Disciplina:
Português, 12º ano
Professora:
Fernanda Lamy
Escola Secundária de Albufeira
Carlos Monteiro;Nº3 Gonçalo Agostino;Nº11
3
Índice ●Introdução 4
●Desenvolvimento:
o ●Nota bibliográfica sobre Fernando Pessoa 5
o ●Fotobiografia do poeta 6
o ●A Época de Pessoa em imagens 11
o ●Lista biográfica de obras/estudos do génio 14
o ●Breve antologia de Pessoa ortónimo 16
o ●Breve antologia de Pessoa heterónimo 19
o ●Página do diário de Fernando Pessoa 29
o ●Pessoa visto pelos outros 32
●Conclusão 35
●Bibliografia 36
Carlos Monteiro;Nº3 Gonçalo Agostino;Nº11
4
Introdução Este trabalho, realizado pelos alunos Carlos Monteiro e Gonçalo Agostinho, no âmbito
da disciplina de Português do décimo segundo ano, a pedido da Professora Maria
Jerónimo, tem como principal foco a vida e obra de Fernando Pessoa.
A tarefa será constituída por duas partes, cuja diferença assenta na existência ou
inexistência de possibilidade de selecção. Assim, após uma deliberação conjunta, os
alunos decidiram realizar uma página do diário de Fernando Pessoa, como actividade de
selecção. Esta foi a actividade escolhida uma vez que, na perspectiva dos alunos, é
aquela que requer e permite um maior conhecimento e aproximação a Pessoa, na sua
plenitude: Pessoa ortónimo e heterónimo. Para além disso, a obrigatoriedade de
existência de criatividade e originalidade, também contribuiu para esta decisão. No que
toca às actividades obrigatórias, são constituídas por uma nota biográfica sobre Pessoa,
uma fotobiografia do mesmo, uma lista bibliográfica e uma antologia, opiniões acerca
do poeta e ainda uma contextualização da época de Fernando Pessoa através da
apresentação de imagens.
O trabalho tem como finalidade permitir a aproximação entre os alunos e a vida e obra
de Fernando pessoa, cumprindo assim as seguintes componentes integrantes do
programa nacional da disciplina em questão: contactar com autores do matrimónio
português, utilizar técnicas de pesquisa em vários suportes, organizar a informação
recolhida, desenvolver o gosto pela leitura de textos de literatura Portuguesa e
desenvolver a criatividade. Dito isto, pretende-se que a elaboração e exposição do nosso
trabalho, permita a todos, alunos e docentes, experimentar uma sensação de viagem pelo
mundo enormemente infinito de Fenando Pessoa.
Carlos Monteiro;Nº3 Gonçalo Agostino;Nº11
5
Nota biográfica sobre
Pessoa Em 1988 nasceu, em Portugal, um dos maiores génios de sempre. Seis anos depois, após a
morte do seu pai, emigra com a mãe para Durban, onde recebeu uma educação tipicamente
Inglesa. Já depois de a sua veia artística se ter evidenciado através da elaboração de poemas
além-fronteiras, regressa a Portugal. É nesse ano de regresso, 1905, que se inscreve no Curso
Superior de Letras, que acabaria por abandonar dois anos depois. A partir daqui ocorreu a
emancipação intelectual de Fernando Pessoa, o que lhe permitiu sê-lo na plenitude o ser. Foi
tudo (Sociólogo, filósofo, artista, crítico literário, publicitário) chegando a ser até mais do que
ele próprio, através da criação dos seus 120 heterónimos. Em 1935, deixou-nos sabendo que
iria estar sempre presente.
Carlos Monteiro;Nº3 Gonçalo Agostino;Nº11
6
Carlos Monteiro;Nº3 Gonçalo Agostino;Nº11
7
Fotobiografia do
poeta
Fernando Pessoa ao colo da sua mãe,
Maria Nogueira
Fernando Pessoa aos 5 anos de idade
Carlos Monteiro;Nº3 Gonçalo Agostino;Nº11
8
Fernando Pessoa aos 10 anos de idade
A evolução de um génio
Carlos Monteiro;Nº3 Gonçalo Agostino;Nº11
9
O Artista
Fernando Pessoa
Carlos Monteiro;Nº3 Gonçalo Agostino;Nº11
10
Pessoa com João de Castro
Osório no Martinho da
Areada
Xadrez, um dos muitos ofícios de
Pessoa
Carlos Monteiro;Nº3 Gonçalo Agostino;Nº11
11
A última foto do poeta, datada de 1935
Carlos Monteiro;Nº3 Gonçalo Agostino;Nº11
12
A época de Pessoa
em imagens
1890-Ultimato Inglês
1908-O regicídio
1891- Tentativa revolucionária Republicana
no Porto
Carlos Monteiro;Nº3 Gonçalo Agostino;Nº11
13
1910-Implantação da
República
1917-Aparição de Fátima
Início da 1ª guerra mundial
1917-Movimento da URSS
Carlos Monteiro;Nº3 Gonçalo Agostino;Nº11
14
1933-Instauração do Estado Novo
Carlos Monteiro;Nº3 Gonçalo Agostino;Nº11
15
Lista bibliográfica de
obras/estudos sobre Pessoa
Tese de doutoramento: “Os
livros de Fernando Pessoa”,
Miguel Sepúlveda
“Estudos sobre Fernando
Pessoa”, Georg Lind,1981
“Nos passos de Pessoa”, de
David-Mourão Ferreira, 1988
"Fernando Pessoa et ses personnages"
de Robert Bréchon, 1968
Carlos Monteiro;Nº3 Gonçalo Agostino;Nº11
16
"Fernando Pessoa e o drama simbólico – a
origem e criação” de Teresa Rita Lopes;
“A poesia de Fernando Pessoa” de
Adolfo Monteiro, 1985
“Pensar Pessoa” de Luís Filipe B.
Teixeira
“As Mensagens da “Mensagem””
de Nuno Hipólito
Carlos Monteiro;Nº3 Gonçalo Agostino;Nº11
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Breve Antologia de
Pessoa ortónimo :A esperança como um fósforo inda aceso
A esperança como um fósforo inda aceso,
A esperança como um fósforo inda aceso,
Deixei no chão, e entardeceu no chão ileso.
A falha social do meu destino
Reconheci, como um mendigo preso.
Cada dia me traz com que esperar
O que dia nenhum poderá dar.
Cada dia me cansa da esperança. . .
Mas viver é esperar e se cansar.
O prometido nunca será dado
Porque no prometer cumpriu-se o fado.
O que se espera, se a esperança é gosto,
Gastou-se no esperá-lo, e está acabado.
Quanta acha vingança contra o fado
Nem deu o verso que a dissesse, e o dado
Rolou da mesa abaixo, oculta a carta,
Nem o buscou o jogador cansado.
Carlos Monteiro;Nº3 Gonçalo Agostino;Nº11
18
: Je vous ai trouvé
Je vous ai trouvé,
Je vous ai trouvée,
Je vous ai retrouvée
Car je vous avais rêvée
Depuis tant de jours,
Et je vous ai aimée,
Oh, je vous ai aimée,
Et je vous aimerai toujours.
Non, je ne sais pas
Si vous existez même,
Ni ci se coeur las
Peut vous trouver quand il vous aime.
Car l’amour
Parle toujours bas,
Il a peur du prix [?] et des jours
Mais, je vous aime,
Oh, je vous aime,
Et je vous aimerai toujours.
Êtes-vous reine,
Êtes-vous sirène ?
Qu’importe à cet amour
Carlos Monteiro;Nº3 Gonçalo Agostino;Nº11
19
Qui vous en fait souveraine?
Qu’importe même
L’amour à l’amour
Quand on aime,
Et je vous aime,
Oh, je vous aime,
Et vous aimerai toujours.
toujours
toujours.
: Mar Português
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Carlos Monteiro;Nº3 Gonçalo Agostino;Nº11
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Breve Antologia de
Pessoa heterónimo
:Aspiration(Alexander Search)
Joyless seeing me to be
Mother Nature asked of me:
«What desirest thou?
Whence comes this thy misery?
Whence the sadness on thy brow?
Tell me what thy wish is.»
— «To give it thou art powerless.
Something lovelier than love,
Bluer than the sky above,
Truer than the truth we have
Something better than the grave,
Aught that in the soul has root,
Something that no mistress’ kiss
Nor mother’s love can substitute.
But I, dreaming, do pollute
With my dream its object’s day.»
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In the silence absolute
Of my soul I hear it say:
”Love can make me but to weep,
Glory maketh me but pine.
Give the world with my keep,
And still nothing will be mine.’»
— «But what feelest thou in thee?»
— «Hope and misery the first,
Then despair and misery.
’Oh, it is a desire, a thirst
The limits of my soul to burst,
To spring outside my consciousness,
I know not how nor why;
A wish with moonlight wings to fly
Past the high walls of distress.
Lifting my most daring flight
Up, far up, beyond all night,
More than eagles fly in air
Would I in that atmosphere.
«Something more near to me in space
Than my body is. In fine
Something than myself more mine.
Something (in what words to trace
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Its nature?) nearer in its bliss
To me than my own consciousness.
The Something I desire is this.
It is further than far away
And yet (its nature how to find?)
Closer to me than my mind,
Nearer to me than to-day.»
Carlos Monteiro;Nº3 Gonçalo Agostino;Nº11
23
: Ricardo Reis
“Cada um cumpre o destino que lhe cumpre”
Cada um cumpre o destino que lhe
cumpre.
Cada um cumpre o destino que lhe
cumpre.
E deseja o destino que deseja;
Nem cumpre o que deseja,
Nem deseja o que cumpre.
Como as pedras na orla dos canteiros
O Fado nos dispõe, e ali ficamos;
Que a Sorte nos fez postos
Onde houvemos de sê-lo.
Não tenhamos melhor conhecimento
Do que nos coube que de que nos coube.
Cumpramos o que somos.
Nada mais nos é dado.
“Para ser grande, sê inteiro: nada”
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive
“Amo o que vejo porque deixarei”
Amo o que vejo porque deixarei
Qualquer dia de o ver.
Carlos Monteiro;Nº3 Gonçalo Agostino;Nº11
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Amo-o também porque é.
No plácido intervalo em que me sinto,
Do amar, mais que ser,
Amo o haver tudo e a mim.
Melhor me não dariam, se voltassem,
Os primitivos deuses,
Que também, nada sabem.
:Álvaro de Campos
Ah, perante esta única realidade, que é o mistério
Ah, perante esta única realidade, que é o mistério,
Ah, perante esta única realidade, que é o mistério,
Perante esta única realidade terrível — a de haver uma
realidade,
Perante este horrível ser que é haver ser,
Perante este abismo de existir um abismo,
Este abismo de a existência de tudo ser um abismo,
Ser um abismo por simplesmente ser,
Por poder ser,
Por haver ser!
— Perante isto tudo como tudo o que os homens fazem,
Tudo o que os homens dizem,
Tudo quanto construem, desfazem ou se construi ou desfaz através deles.
Se empequena!
Não, não se empequena. . . se transforma em outra coisa —
Numa só coisa tremenda e negra e impossível,
Carlos Monteiro;Nº3 Gonçalo Agostino;Nº11
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Uma coisa que está para além dos deuses, de Deus, do Destino —
Aquilo que faz que haja deuses e Deus e Destino.
Aquilo que faz que haja ser para que possa haver seres,
Aquilo que subsiste através de todas as formas
De todas as vidas, abstractas ou concretas,
Eternas ou contingentes,
Verdadeiras ou falsas!
Aquilo que, quando se abrangeu tudo, ainda ficou fora,
Porque quando se abrangeu tudo não se abrangeu explicar porque é um tudo,
Porque há qualquer coisa, porque há qualquer coisa, porque há qualquer coisa!
Minha inteligência tornou-se um coração cheio de pavor,
E é com minhas ideias que tremo, com a minha consciência de mim,
Com a substância essencial do meu ser abstracto
Que sufoco de incompreensível,
Que me esmago de ultratranscendente,
E deste medo, desta angústia, deste perigo do ultra-ser,
Não se pode fugir, não se pode fugir, não se pode fugir!
Cárcere do Ser, não há libertação de ti?
Cárcere de pensar, não há libertação de ti?
Ah, não, nenhuma — nem morte, nem vida, nem Deus!
Nós, irmãos gémeos do Destino em ambos existirmos,
Nós, irmãos gémeos dos Deuses todos, de toda a espécie,
Em sermos o mesmo abismo, em sermos a mesma sombra,
Sombra sejamos, ou sejamos luz, sempre a mesma noite.
Ah, se afronto confiado a vida, a incerteza da sorte,
Sorridente, impensando, a possibilidade quotidiana de todos os males,
Inconsciente o mistério de todas as coisas e de todos os gestos,
Carlos Monteiro;Nº3 Gonçalo Agostino;Nº11
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Porque não afrontarei sorridente, inconsciente, a Morte?
Ignoro-a? Mas que é que eu não ignoro?
A pena em que pego, a letra que escrevo, o papel em que escrevo,
São mistérios menores que a Morte? Como se tudo é o mesmo mistério?
E eu escrevo, estou escrevendo, por uma necessidade sem nada.
Ah, afronte eu como um bicho a morte que ele não sabe que existe!
Tenho eu a inconsciência profunda de todas as coisas naturais,
Pois, por mais consciência que tenha, tudo é inconsciência,
Salvo o ter criado tudo, e o ter criado tudo ainda é inconsciência,
Porque é preciso existir para se criar tudo,
E existir é ser inconsciente, porque existir é ser possível haver ser,
E ser possível haver ser é maior que todos os Deuses.
A verdadeira Liberdade
A liberdade, sim, a liberdade!
A verdadeira liberdade!
Pensar sem desejos nem convicções.
Ser dono de si mesmo sem influência de romances!
Existir sem Freud nem aeroplanos,
Sem cabarets, nem na alma, sem velocidades, nem no
cansaço!
A liberdade do vagar, do pensamento são, do amor às coisas naturais
A liberdade de amar a moral que é preciso dar à vida!
Como o luar quando as nuvens abrem
A grande liberdade cristã da minha infância que rezava
Estende de repente sobre a terra inteira o seu manto de prata para mim...
A liberdade, a lucidez, o raciocínio coerente,
A noção jurídica da alma dos outros como humana,
A alegria de ter estas coisas, e poder outra vez
Carlos Monteiro;Nº3 Gonçalo Agostino;Nº11
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Gozar os campos sem referência a coisa nenhuma
E beber água como se fosse todos os vinhos do mundo!
Passos todos passinhos de criança...
Sorriso da velha bondosa...
Apertar da mão do amigo [sério?]...
Que vida que tem sido a minha!
Quanto tempo de espera no apeadeiro!
Quanto viver pintado em impresso da vida!
Ah, tenho uma sede sã. Dêem-me a liberdade,
Dêem-ma no púcaro velho de ao pé do pote
Da casa do campo da minha velha infância...
Eu bebia e ele chiava,
Eu era fresco e ele era fresco,
E como eu não tinha nada que me ralasse, era livre.
Que é do púcaro e da inocência?
Que é de quem eu deveria ter sido?
E salvo este desejo de liberdade e de bem e de ar, que é de mim?
A Fernando Pessoa
(Depois de ler seu drama estático "O marinheiro" em "Orfeu I")
Depois de doze minutos
Do seu drama O Marinheiro,
Em que os mais ágeis e astutos
Se sentem com sono e brutos,
E de sentido nem cheiro,
Diz rima das veladoras
Com langorosa magia
De eterno e belo há apenas o sonho.
Por que estamos nós falando ainda?
Carlos Monteiro;Nº3 Gonçalo Agostino;Nº11
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Ora isso mesmo é que eu ia
Perguntar a essas senhoras...
:Alberto Caeiro
Falaram-me os Homens em Humanidade
Falaram-me os homens em humanidade,
Mas eu nunca vi homens nem vi humanidade.
Vi vários homens assombrosamente diferentes entre si.
Cada um separado do outro por um espaço sem homens.
Nunca busquei viver a minha vida
Nunca busquei viver a minha vida
A minha vida viveu-se sem que eu quisesse ou não quisesse.
Só quis ver como se não tivesse alma
Só quis ver como se fosse eterno.
Dizem que em cada coisa uma coisa oculta mora
Dizem que em cada coisa uma coisa oculta mora.
Sim, é ela própria, a coisa sem ser oculta,
Que mora nela.
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Mas eu, com consciência e sensações e pensamento,
Serei como uma coisa?
Que há a mais ou a menos em mim?
Seria bom e feliz se eu fosse só o meu corpo -
Mas sou também outra coisa, mais ou menos que só isso.
Que coisa a mais ou a menos é que eu sou?
O vento sopra sem saber.
A planta vive sem saber.
Eu também vivo sem saber, mas sei que vivo.
Mas saberei que vivo, ou só saberei que o sei?
Nasço, vivo, morro por um destino em que não mando,
Sinto, penso, movo-me por uma força exterior a mim.
Então quem sou eu?
Sou, corpo e alma, o exterior de um interior qualquer?
Ou a minha alma é a consciência que a força universal
Tem do meu corpo por dentro, ser diferente dos outros?
No meio de tudo onde estou eu?
Morto o meu corpo,
Desfeito o meu cérebro,
Em coisa abstracta, impessoal, sem forma,
Já não sente o eu que eu tenho,
Já não pensa com o meu cérebro os pensamentos que eu sinto meus,
Já não move pela minha vontade as minhas mãos que eu movo.
Cessarei assim? Não sei.
Se tiver de cessar assim, ter pena de assim cessar,
Não me tomará imortal.
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Página do diário de
Fernando Pessoa Amadora,13 de Junho de 1905
Querido Imaterial e Humano Diário,
Hoje, o calor é infernal: assemelha-se uma chama ardente que se respira e queima o peito, uma pluma
de horror, agonizante. Fui passear a Belém e espantei-me, de fato, estanquei de admiração. Esses
turistas dos EUA ricos conquistam as ruas com seu charme, riso, à-vontade e pranto; mas não um
pranto similar ao calor, mas sim tal como um sol que irradia o redor de alegria, com as crianças a
orbitá-los como astros, e estes com gelados tal como luas, num sistema perfeito, lindo, diferente do
nosso… Já eu estou frio e distante disso, o meu magnetismo e vida estão longe, e chamam-se
Margarida. É verão e ela foi-se… Está bem, ela apenas foi para Lagos, mas parece que se afundou o
coração nesse mares infantes… Era tão fácil assumir a morte, estar com ela, que às vezes “Creio que
Irei Morrer”, sempre, naquela natureza rochosa, manchada de azul e cravada de rochedos perfeitos
para uma toca a dois … Mas da teoria à prática tu sabes… E logo “Agora que Sinto o Amor”… E
com esta mágoa escrevi rapidamente “Um dia de Chuva” que simplório e infantil contrasta muito
bem o que me vai na alma…
É arte esse Caeiro e é imperfeição este Pessoa que aqui te escreve. Estou insonso, fechado e negro…
Falta-me a luz da vida, tudo, a Margarida. Mas enfim, estou sozinho em casa, a jogar
compulsivamente, a minha mãe e padrasto estão fora, em Miami. Confesso-te que estou com dores de
cabeça, no corpo e esta barba só agora, tardiamente, desponta e, claro, estou baixo e magro. Em
relação ao estômago, comprar da mais pura cachaça e fumar às escondidas, contribui para os
vómitos… Marlboro, aquele mentolado fresco que refresca os pulmões… Mas o que são vómitos
numa vida solitária? Uma companhia! E é assim que crio amigos imaginários, para roerem comigo a
solidão. Enquanto os meus carnais amigos se afundam em noitadas sujas em bares imundos e
barulhentos, namoros impuros, se banham nessa praia citadina e suja que é a Caparica e tentam
conquistar o sexo oposto para propósitos fisiológicos (tu entendes…), eu elevo-me através da
imaginação, criando coisas palpáveis como uma imaginação que tento transmitir pela escrita, tal
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como num trono que me ascende cada vez que rimo: “Gato que brincas na rua”, “É interior à minha
mágoa” e o meu eterno preferido: “Como Te Amo”, Margarida…. E eles apenas jogam e brincam…
Eu também mas enfim, com moderação… Há-que ser também sério, desenvolver e estudar… E ainda
me pergunto porque estou sozinho? Ah não contei isto: recebi aquele “bip” do Facebook pensando
que seria uma admiradora! Fiquei com o coração da sair da boca, porque não recebi nada há meses
e… depois era só a sessão que tinha expirado… A novidade? Tenta encontra-la… Enfim, o Reis quer
e tem de nascer…
Já te disse que devia ser Grego, amo a cultura que este tempo não proporciona. Aquela magia dos
Deuses, a vida culta e pacífica, à beira-mar, prazerosa… e tu pareces masoquista, ao invés. Saberás
com certeza que ela voltará e atormentaste por ela se abençoar pelo sol algarvio? Sim, ela vai
agradecer… Olha pela janela, agradece aos Deuses por seres sangue pulsante e saudável e observa,
sente o belo, afasta a miséria que a vida traz consigo. Lê os versos de “Prefiro Rosas” a aprende. Vê
os táxis, a polícia, os turista e não absorvas os seus pecados porque, simplesmente, com alegria
suficiente, verás que “No Magno Dia Até os Sons São Claros”, lindos, únicos …A única coisa que
deves atormentar é a boca que te envolverá e sufocará até desistires, aquele negrume que é morte;
sim, só somos efémeros porque a vida desiste quando vê a fraqueza e todo o medo que sentimos é a
morte sussurrar. Sim porque depois disso “Estas só”, viverás o vazio e serás menos que poeira…
Afasta-a para que ela te odeie. Mas enfim, é destino e dele só foge o que não existe. Pessoa, meu
amo, escuta: disciplina-te e aprende a saber quando olhar o sofrimento e senti-lo e afastá-lo porque,
na prática, sem sofrimento somos egoístas… Tenho que fazer uma pausa… O CSI começou agora, já
volto…
Ele já se perdeu completamente naquela triste série americana… Vou ler aqui o que ele andou a
lamentar… É realmente triste o que um amigo pode dizer a outro. “Não absorvas os seus pecados”?!
Como é possível?! Temos de olhar o mundo à volta e criar daí o próprio sangue que pelo corpo flui
no corpo. Temos de sentir tudo de todas as maneiras para criar a compreensão de tudo o que nos
rodeia… Oh esse tempo que já passou, quando eu e o Fernando brincávamos nas traseiras de São
Carlos às escondidas e cheirávamos as flores e abríamos a boca para beber a água da chuva que vinha
diretamente o céu… Aí ele era sensível e feliz, não como agora, um isolado intelectual que apenas o
António, um amigo do secundário, faz sair para aproveitar as noites na baixa… Quais Gregos nem
Troianos?! Temos agora computadores, telemóveis, das melhores salas de cinema no Vasco da
Gama… Temos de aproveitar o que a civilização nos dá porque o mais tecnológico é o mais feliz.
“Ali Não Havia Eletricidade” e em todo o lado há agora tudo. Temos de nos agarrar às crenças,
”Aproveitar o Tempo”, exceder e forçar o mundo aos nossos pés pelo melhor que conseguimos.
Carlos Monteiro;Nº3 Gonçalo Agostino;Nº11
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Confesso que ser engenheiro é um desafio porque quero criar o melhor e às vezes não chega. Não por
chegar mas porque eu não quero chegue porque isso significa que há melhor e isto é ciclo que às
vezes me faz desistir por cansaço. Mas sou assim, solitário e infeliz, confuso (um pouco como o meu
irmão Alberto, apesar que gostar de dizer que: “Eu? Do mais lúcido, sim eu “Sou Lúcido”) que
apenas quer sentir e fundir-se com a evolução, abraça-la, respirá-la… Isto porque a vi…
Não! Álvaro chega, já chega dessas tuas reflexões! Sim é verdade. Acabo por ser sempre o mesmo,
sendo-vos a todos! Emergem de dentro de mim e disputam as frivolidades do Mundo. Sim, porque o
Mundo é a vida e as suas frivolidades. Mais, as frivolidades são fragmentos do Homem, que no final,
é a própria Vida. Por isso, para se ser todo o Mundo o ser ordinário não é suficiente. Lá está, são
necessárias as tais frivolidades, patentes à unicidade do Indivíduo. E essas a mim não me faltam! Que
linda que é a Vida na plenitude das suas diferenças… No episódio que vi, a rapariga é agredida,
violada, estrangulada e morta mas ela sempre foi feliz, unida com os seus. E que feio sou eu, sem a
contiguidade entre o que nasci e que hoje sou: solitário e acompanhado pela solidão das minhas
consciências. Aquela rapariga era fresca, viva e jovem mas somos efémeros porque a vida é toda ela
um sofismo em si. E esta página de diário é efémera porque é vida… Bom, chega por hoje. Amanha
serei um tão diferente quanto igual sou hoje em relação ao amanhã que virá. Serei mais feliz, não
porque mudei, mas porque a Margarida volta amanhã. Diário, de alguém que te ama, espera e verás
um homem tão diferente quanto de igual falam as suas consciências. Coitado de ti, aqui a ser
massacrado pela força da tinta e a violação das conjeturas… Mas amo-te.
Carlos Monteiro;Nº3 Gonçalo Agostino;Nº11
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Pessoa visto pelos
outros
Pessoa-Almada Negreiros Escultura de Pessoa por Lagoa Henriques
Quadro de Pessoa, de autor
anónimo
Carlos Monteiro;Nº3 Gonçalo Agostino;Nº11
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Documentário Rtp -“Os grandes
Portugueses”, 2007
Concerto em honra de Pessoa por Maria
Bethânia
“O ápice da luz”- música em homenagem
a um poema de Pessoa
Carlos Monteiro;Nº3 Gonçalo Agostino;Nº11
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Entrevista a um dos maiores especialistas na
obra de Pessoa
O “Filme do desassossego” – uma longa-metragem de
João Botelho, inspirada no livro do desassossego
Carlos Monteiro;Nº3 Gonçalo Agostino;Nº11
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Conclusão
A nação portuguesa ofereceu ao mundo novos mapas, comidas, culturas, conhecimentos
e sempre foi, desde muito cedo, o berço dos grandes nomes da literatura mundial. Desde
Camões a Gonçalo M. Tavares, dos mais antigos aos mais novos, o século XIX fez
nascer Fernando Pessoa, o maior esplendor da nossa cultura literária. Neste longo
trabalho, a restituição do seu tempo foi concretizada pela busca, muitas vezes árdua, de
fotografias reais, muito difíceis de encontrar para pessoa tão tímida que era. Porém,
“tudo vale a pena quando a alma não é pequena”. A concretização da sua homenagem
na atualidade foi feita através de uma grande pesquisa das estruturas frásicas que Pessoa
utilizava, dados pessoais, atitudes, tanto pessoais como dos seus heterónimos,
resultando tudo numa simbiose ficcionada da sua personalidade. Pretendemos, na
globalidade, desde início, criar um ambiente cultural em torno deste trabalho, e não
apenas uma centralização à volta de Pessoa, mas focando a nossa centralidade na
generalidade de episódios e fatores culturais, sociais, frásicos e atuais, como, são por
exemplo, as várias imagens de episódios internacionais bem como da referência a
atividades que se perceciona na página do diário. Desta forma, pretendemos tornar o
trabalho tão amplo quando possível, sem nunca descoroar Pessoa mas fazendo-o girar à
sua volta.
Portugal, na sua finitude territorial e económica, sempre se abrandou perante outras
potências mas, na literatura, e encabeçando Pessoa, tornou-se no berço do considerado
maior poeta da Humanidade. Sempre atual pelos códigos que os poemas revelam ao
mundo, este trabalho tenta corresponder em grandiosidade a essa mesma personalidade.
Muito gosto nos proporcionou a página do diário e muita pesquisa, no âmbito da cultura
geral, nos forçou este trabalho a desenvolver. Em nada pensamos faltar conteúdo e
Pessoa, esperando com isso muito interesse na leitura e interpretação deste trabalho.
Carlos Monteiro;Nº3 Gonçalo Agostino;Nº11
37
Bibliografia
● http://www.slideshare.net/antonius3/fernando-pessoa-ortnimo-heternimo-
biografia-e-caractersticas
●http://www.prof2000.pt/users/secjeste/dlrc/seucsec/unid12/pg002800.htm
●http://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Pessoa
●http://www.portugues.com.br/literatura/analisando-os-varios-
heteronimos-fernando-pessoa-.html
●http://www.infopedia.pt/$heteronimia;jsessionid=m67KEx+m6MLuDt+D
NQCG3w__
●https://pt.wikipedia.org/wiki/1888 até https://pt.wikipedia.org/wiki/1945
●http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt/index.php?id=2252
●http://pensador.uol.com.br/
● http://www.truca.pt/ouro/biografias1/fernando_pessoa.html
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Carlos Monteiro;Nº3 Gonçalo Agostino;Nº11
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