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Universidade do Minho Instituto de Educação fevereiro de 2018 Ensino das Ciências orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos: conceções e representações de práticas de professores de Física e Química Tânia Sofia Teixeira Fernandes Ensino das Ciências orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos: conceções e representações de práticas de professores de Física e Química UMinho|2018 Tânia Sofia Teixeira Fernandes

Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

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Universidade do MinhoInstituto de Educação

fevereiro de 2018

Ensino das Ciências orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos: conceções e representações de práticas de professores de Física e Química

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Tânia Sofia Teixeira Fernandes

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Tânia Sofia Teixeira Fernandes

fevereiro de 2018

Ensino das Ciências orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos: conceções e representações de práticas de professores de Física e Química

Universidade do MinhoInstituto de Educação

Trabalho realizado sob a orientação daDoutora Maria Teresa Machado Vilaça

Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica na Educação em Ciências

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II

DECLARAÇÃO

Nome: Tânia Sofia Teixeira Fernandes

Endereço eletrónico: [email protected]

Número do cartão de cidadão: 11885233

Título da dissertação: Ensino das Ciências orientado para a Aprendizagem Baseada em

Projetos: conceções e representações de práticas de professores de Física e Química

Orientadora: Doutora Maria Teresa Machado Vilaça

Ano de conclusão: 2018

Designação do Mestrado: Mestrado em Ciências da Educação, Área de Especialização

em Supervisão Pedagógica na Educação em Ciências

É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO INTEGRAL DESTA DISSERTAÇÃO,

APENAS PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO

ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE.

Universidade do Minho, 14 de fevereiro de 2018

______________________________________

(Tânia Sofia Teixeira Fernandes)

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III

AGRADECIMENTOS

Atingida a reta final deste trabalho de investigação, quero expressar o meu

agradecimento a todas as pessoas e instituições que de alguma forma contribuíram para

que este estudo fosse concluído mais facilmente.

À minha orientadora, Doutora Teresa Vilaça pelo seu apoio incondicional, pela sua

dedicação, presteza e profissionalismo, que foram fulcrais para finalizar este trabalho de

investigação. Agradeço ainda todas as sugestões e correções que contribuíram para a

melhoria deste trabalho e para o meu desenvolvimento pessoal e profissional.

Aos especialistas em Educação em Ciências e aos professores que colaboraram na

validação do instrumento de recolha de dados, a minha gratidão pelo contributo que

deram para melhorar a qualidade dos resultados obtidos.

Às escolas e aos professores que aceitaram colaborar neste estudo, permitindo a

obtenção dos dados necessários para a realização deste trabalho.

A todos os meus amigos pela paciência, carinho e incentivo que sempre me deram,

especialmente à Ana Gören e ao Attila Gören.

Aos meus pais, que sempre me deram todo o apoio e incentivo para estudar e me

desenvolver pessoal e profissionalmente.

Ao meu marido pelo apoio incondicional em todas as fases da minha vida. Sem o teu

amor e dedicação tudo seria mais difícil.

Page 5: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

IV

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V

Ensino das Ciências orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos:

conceções e representações de práticas de professores de Física e Química

RESUMO

Os progressos que advêm das Ciências exigem que os cidadãos disponham de

conhecimentos e competências que lhes permitam adaptar-se às circunstâncias mutantes

da vida em sociedade. A Aprendizagem Baseada em Projetos (ABPj) é um método de

ensino que envolve os alunos na aquisição de conhecimentos e habilidades por meio de

um extenso processo de investigação, estruturado para responder a questões complexas

e autênticas, que lhes permite alcançar as habilidades do século XXI.

Assim, esta investigação visa compreender as conceções e as representações das

práticas, de professores portugueses de Física e Química, relativamente ao Ensino das

Ciências orientado para a ABPj. Neste sentido realizaram-se entrevistas semidirigidas a

doze professores de Física e Química que lecionavam a disciplina há pelo menos cinco

anos. A entrevista teve os seguintes objetivos: caracterizar as conceções e as

representações de práticas dos professores sobre o Ensino das Ciências orientado para a

ABPj; averiguar as suas perspetivas sobre a viabilidade de implementação da ABPj e

identificar as condições que consideram necessárias para a implementação da ABPj.

Os resultados mostram que os entrevistados não têm conhecimento ou têm um

conhecimento ingénuo sobre as principais características e objetivos da ABPj.

Verificou-se que esta forma de concetualizarem a ABPj condiciona as suas práticas de

ensino, respeitando apenas algumas das características principais, nomeadamente, o

trabalho colaborativo entre os alunos, a escolha do tema pelos alunos e a apresentação

do produto final. A maioria dos professores considerou que não era viável o uso regular

deste método no Ensino das Ciências e que, para isso acontecer, têm de ocorrer

mudanças ao nível do currículo, da própria cultura das escolas, da formação dos

professores e dos recursos materiais e logísticos de suporte às investigações.

Como consequência, destes resultados ressaltou a necessidade de ocorrer

algumas alterações ao nível: do programa da disciplina, reduzindo a sua extensão e

atualizando os temas de estudo; do processo de avaliação dos alunos, adequando-o às

novas exigências da sociedade; da cultura da escola, tornando-a defensora e promotora

deste tipo de projetos e da formação de professores, apropriada a este método de ensino.

Palavras-Chave: Educação em Ciências; Aprendizagem Baseada em Projetos;

Investigação Situada

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VI

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VII

Project-based learning in Science Education: conceptions and representations of

practices of physics and chemistry teachers

ABSTRACT

The progress of Sciences requires that citizens have the knowledge and skills that allow

them to adapt to the changing circumstances of life in society. Project-Based Learning

(ABPj) is a teaching method that engages students in acquiring knowledge and skills

through an extensive research process, structured to address complex and authentic

issues or challenges, enabling them to achieve the XXI century abilities.

Thus, this research aims to understand the conceptions and representations of the

practices of portuguese professors of Physics and Chemistry, regarding the teaching of

Sciences oriented to ABPj. In this sense, semi-directed interviews were conducted with

twelve physics and chemistry professors who had been teaching the discipline for at

least five years. The interview had the following objectives: to characterize the

conceptions and representations of teachers' practices on science teaching oriented to

ABPj; to ascertain their perspectives on the feasibility of implementing the ABPj and to

identify the conditions that they consider necessary for the implementation of the ABPj.

The results show that the interviewed are not aware of or have a naive

knowledge about the main characteristics and objectives of ABPj. It was verified that

this way of conceptualizing the ABPj conditions their teaching practices, respecting

only some of the main characteristics, namely, the collaborative work among the

students, the choice of the subject by the students and the presentation of the final

product. Most teachers considered that regular use of this method in science teaching

was not feasible. For that to happen there must be changes in the curriculum level, in

the school culture itself, in the formation of teachers and in material and logistical

resources that support the investigations.

As a consequence, these results highlighted the need for some changes occurring

at the level of: the program of the discipline, reducing its extension and updating the

subjects of study; of the students' evaluation process, adapting it to the new demands of

society; of the culture of the school, making her the advocate and promoter of this type

of projects and the formation of teachers, appropriate to this method of teaching.

Key Words: Education in Sciences; Project-Based Learning; Situated research

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VIII

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IX

ÍNDICE

AGRADECIMENTOS ................................................................................................... III

RESUMO ......................................................................................................................... V

ABSTRACT .................................................................................................................. VII

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ................................................................... XII

LISTA DE QUADROS ................................................................................................ XIII

LISTA DE TABELAS ................................................................................................. XIII

LISTA DE FIGURAS ................................................................................................. XIV

CAPÍTULO I CONTEXTUALIZAÇÃO E APRESENTAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO1

1.1. Introdução ........................................................................................................................... 1

1.2. Contextualização da Investigação ....................................................................................... 2

1.2.1. Educação em Ciências para a literacia científica ........................................................ 2

1.2.2. A Aprendizagem Baseada em Projetos e a promoção da literacia científica .............. 6

1.2.3.Conceções e práticas de professores de Ciências relativas à promoção da literacia

científica e ao ensino orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos ...................... 11

1.3. Objetivos da investigação ................................................................................................. 13

1.4. Importância da investigação ............................................................................................. 14

1.5. Limitações da investigação ............................................................................................... 15

1.6. Estrutura geral da dissertação ........................................................................................... 16

CAPÍTULO II REVISÃO DE LITERATURA ............................................................. 19

2.1. Introdução ........................................................................................................................ 19

2.2. Educação em Ciências e Aprendizagem Baseada em Projetos ........................................ 20

2.2.1.Contextualização da Aprendizagem Baseada em Projetos na Educação em Ciências20

2.2.2. . O Trabalho de Projeto em Portugal e os desafios distintos da Aprendizagem Baseada

em Projetos .......................................................................................................................... 30

2.3. Aprendizagem Baseada em Projetos, conceções e representações sobre as práticas ........ 36

2.3.1. Características da Aprendizagem Baseada em Projetos ............................................ 36

2.3.2. Conceções sobre a Aprendizagem Baseada em Projetos .......................................... 51

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X

2.3.3. Representações de práticas sobre o Ensino Orientado para a Aprendizagem Baseada

em Projetos .......................................................................................................................... 54

2.4. Formação de professores e Ensino Orientado para a Aprendizagem Baseada em

Projetos .................................................................................................................................... 64

2.4.1. Potencialidades da formação inicial de professores para a implementação do Ensino

Orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos........................................................ 64

2.4.2. Formação contínua de professores e Ensino Orientado para a Aprendizagem Baseada

em Projetos .......................................................................................................................... 79

CAPÍTULO III METODOLOGIA ................................................................................ 87

3.1. Introdução ......................................................................................................................... 87

3.2. Descrição geral da investigação ........................................................................................ 87

3.3. População e amostra ......................................................................................................... 88

3.4. Seleção da técnica e instrumento de recolha de dados ...................................................... 92

3.5. Elaboração e validação do instrumento de investigação ................................................... 92

3.6. Recolha de dados .............................................................................................................. 95

3.7. Tratamento e análise de dados .......................................................................................... 96

CAPÍTULO IV APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ............. 103

4.1. Introdução ....................................................................................................................... 103

4.2. Conceções de professores sobre a Aprendizagem Baseada em Projetos ........................ 104

4.2.1. Conceções sobre o conceito de Aprendizagem Baseada em Projetos ..................... 104

4.2.2. Papel da tecnologia na Aprendizagem Baseada em Projetos .................................. 113

4.2.3. Contributo da Aprendizagem Baseada em Projetos para a Educação em Ciências 117

4.2.4. Papel do professor na Aprendizagem Baseada em Projetos .................................... 119

4.2.5. Reações dos alunos a um ensino orientado para a Aprendizagem Baseada em

Projetos .............................................................................................................................. 121

4.3. Representações de professores sobre as práticas atuais e futuras de Ensino das Ciências

orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos .......................................................... 123

4.3.1. Práticas de Ensino das Ciências orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos

........................................................................................................................................... 123

4.3.2. Viabilidade da implementação do Ensino das Ciências orientado para a

Aprendizagem Baseada em Projetos ................................................................................. 142

4.3.3.Condições necessárias para a implementação do Ensino das Ciências orientado para a

Aprendizagem Baseada em Projetos ................................................................................. 152

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XI

CAPÍTULO V CONCLUSÕES E IMPLICAÇÕES ................................................... 165

5.1. Introdução ....................................................................................................................... 165

5.2. Conclusões da investigação ............................................................................................ 165

5.3. Implicações dos resultados da investigação .................................................................... 172

5.4. Sugestões para futuras investigações .............................................................................. 174

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 177

ANEXO I – Guião da Entrevista ........................................................................................... 191

ANEXO II – Pedidos de autorização à Direção Geral de Inovação e Desenvolvimento

Curricular e à Comissão de Ética da UMinho ....................................................................... 197

ANEXO III – Parecer da Direção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular e da

Comissão de Ética da UMinho .............................................................................................. 207

ANEXO IV – Declaração de Consentimento Informado ...................................................... 211

ANEXO V – Exemplos de transcrições de entrevistas ......................................................... 215

ANEXO VI – Categorização das respostas ........................................................................... 241

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XII

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABPj – Aprendizagem Baseada em Projetos

BIE – Buck Institute for Education

CE – Comissão Europeia

CNE – Conselho Nacional de Educação

CRSE – Comissão de Reforma do Sistema Educativo

CTS – Ciência, Tecnologia e Sociedade

DGIDC – Direção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular

ECTS – European Credit Transfer and Accumulation System

EoABPj – Ensino orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos

ME-DEB – Ministério da Educação – Departamento da Educação Básica

NAP – National Academy Press

OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico

PNEP – Programa Nacional de Ensino do Português

QCA – Qualifications and Curriculum Authority

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XIII

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Competências para o século XXI ................................................................ 20

Quadro 2 - Evolução da Legislação Portuguesa sobre o Trabalho de Projeto no Ensino

Básico e Secundário até 2001 .......................................................................... 30

Quadro 3 - Evolução da Legislação Portuguesa sobre o Trabalho de Projeto no Ensino

Básico e Secundário entre 2001 e 2004 ........................................................... 31

Quadro 4 - Evolução da Legislação Portuguesa sobre o Trabalho de Projeto no Ensino

Básico e Secundário entre 2004 e 2012 ........................................................... 32

Quadro 5 - Diferenças entre Trabalho de Projeto e Aprendizagem Baseada em Projetos

......................................................................................................................... 35

Quadro 6 - Evolução da legislação portuguesa no âmbito da formação de docentes

entre 1986 a 1989 ............................................................................................ 66

Quadro 7 - Evolução da legislação portuguesa, no âmbito da formação de docentes

entre 1989 a 2000 ............................................................................................ 67

Quadro 8 - Evolução da legislação portuguesa no âmbito da formação de docentes

entre 2000 a 2001 ............................................................................................ 68

Quadro 9 - Evolução da legislação portuguesa no âmbito da formação de docentes

entre 2005 e a atualidade ................................................................................. 68

Quadro 10 - Configurações estruturais possíveis dos cursos de formação inicial de

professores do 3.º Ciclo do Ensino Básico e do Ensino Secundário para o

modelo integrado e número de cursos que adotaram cada configuração em

1992 ................................................................................................................. 73

Quadro 11 - Soluções de formação de professores não profissionalizados em atividade

docente ............................................................................................................. 75

Quadro 12 - Estrutura do guião da entrevista para professores de Física e Química .... 94

Quadro 13 - Subcategorias da conceção de ABPj e suas características com exemplos

......................................................................................................................... 99

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Características pessoais e formação profissional dos professores

entrevistados .................................................................................................... 90

Tabela 2 - Caracterização da amostra de professores entrevistados relativamente à

experiência profissional ................................................................................... 91

Tabela 3 - Conceito de Aprendizagem Baseada em Projetos (n = 12) ........................ 104

Tabela 4 - Aplicação do conceito de Aprendizagem Baseada em Projetos ................. 109

Tabela 5 - Papel do computador na Aprendizagem Baseada em Projetos ................. 113

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XIV

Tabela 6 - Papel de outras tecnologias, para além do computador, na Aprendizagem

Baseada em Projetos ...................................................................................... 115

Tabela 7 - Principais objetivos da Aprendizagem Baseada em Projetos na Educação em

Ciências ......................................................................................................... 117

Tabela 8 - Papel do professor no ensino orientado para a Aprendizagem Baseada em

Projetos .......................................................................................................... 119

Tabela 9 - Dificuldades que os alunos poderão demonstrar no ensino orientado para a

Aprendizagem Baseada em Projetos ............................................................. 121

Tabela 10 - Razões para os professores não implementarem um Ensino orientado para a

Aprendizagem Baseada em Projetos ............................................................. 123

Tabela 11 - Características das práticas dos professores sobre o Ensino das Ciências

orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos .................................. 126

Tabela 12 - Tipos de aprendizagens proporcionadas aos alunos no Ensino das Ciências

orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos .................................. 133

Tabela 13 - Dificuldades manifestadas pelos alunos num Ensino das Ciências orientado

para a Aprendizagem Baseada em Projetos................................................... 136

Tabela 14 - Dificuldades e fatores facilitadores sentidos pelos professores ao usarem

um Ensino das Ciências orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos

....................................................................................................................... 138

Tabela 15 - Uso regular da ABPj no Ensino das Ciências .......................................... 142

Tabela 16 - Constrangimentos/Dificuldades que os professores poderão encontrar ao

aplicar no futuro o Ensino das Ciências orientado para a Aprendizagem

Baseada em Projetos ...................................................................................... 145

Tabela 17 - Aspetos facilitadores que os professores poderão encontrar ao aplicar no

futuro o Ensino das Ciências orientado para a Aprendizagem Baseada em

Projetos .......................................................................................................... 148

Tabela 18 - Condições ideais para implementar no futuro o Ensino das Ciências

orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos .................................. 152

Tabela 19 - Valências que os professores têm que ter para implementar o Ensino das

Ciências orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos .................... 156

Tabela 20 - Características da formação de professores de Ciências para promoverem

um Ensino orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos ................ 158

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Características da aprendizagem da Ciência e da Tecnologia baseada em

Projetos .............................................................................................................. 8

Figura 2 - Fases do Ensino orientado para a Aprendizagem baseada em Projetos ....... 42

Figura 3 - Função da questão central ............................................................................. 45

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1

CAPÍTULO I

CONTEXTUALIZAÇÃO E APRESENTAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO

1.1. Introdução

O presente capítulo está dividido em cinco subcapítulos reservados a uma breve

contextualização e apresentação da investigação desenvolvida.

No primeiro subcapítulo é apresentada uma contextualização do problema de

investigação (1.2) através da exploração do contributo da Educação em Ciências para a

literacia científica (1.2.1), do contributo que um Ensino orientado para a Aprendizagem

Baseada em Projetos poderá ter para a promoção da literacia científica (1.2.2) e de uma

breve análise das conceções e representações de práticas de professores de Ciências

sobre a promoção da literacia científica e o Ensino das Ciências orientado para a

Aprendizagem Baseada em Projetos (1.2.3).

Seguidamente é apresentado o objetivo geral e os objetivos específicos da

presente investigação (1.3), explica-se em que medida o estudo nesta temática é

importante e relevante (1.4), expõem-se as principais limitações desta investigação (1.5)

e, por último, é apresentada a estrutura geral deste trabalho de investigação (1.6).

Page 17: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

2

1.2. Contextualização da Investigação

1.2.1. Educação em Ciências para a literacia científica

O ensino e a aprendizagem formal das Ciências nas escolas difundiu-se, na Europa e

nos Estados Unidos da América, por volta do século XIX. A “ciência para todos”

(Fensham, 1997) é um objetivo de muitos países e isso é visível nos currículos de

Ciências e em diversas iniciativas promovidas pelos países, nomeadamente, através da

realização de debates sobre Ciência e organização e desenvolvimento de exposições de

Ciência.

A Lei de Bases do Sistema Educativo, Lei número 65/2015, de 3 de julho, define

quais são as finalidades do Sistema Educativo, nomeadamente da Educação em

Ciências. Nesse documento é possível verificar que a Educação Básica assume a missão

de proporcionar a todos os alunos as ferramentas necessárias para um exercício pleno da

sua cidadania, o que deverá incluir a literacia científica. Hurd (1998) defende que a

literacia científica é indispensável para todos os cidadãos de forma a garantir a

segurança económica global e um equilibrado progresso social. Do ponto de vista deste

investigador, para uma verdadeira cidadania é fulcral a educação científica, devendo as

Ciências assumir um lugar relevante no currículo educativo moderno desde o primeiro

ao décimo segundo ano.

Em Portugal, o Ensino das Ciências assume um cariz universal e obrigatório

para os alunos do Ensino Básico, ou seja, para as crianças e adolescentes com idades

compreendidas entre os seis e os quinze anos. O Ensino das Ciências no 1.º Ciclo inclui

a área de Estudo do Meio, no 2.º Ciclo a disciplina de Ciências da Natureza e no 3.º

Ciclo as disciplinas de Ciências Naturais e Ciências Físico-Químicas. Para cada uma

das disciplinas e/ou áreas curriculares há documentos curriculares que determinam as

orientações para a sua operacionalização.

O Currículo Nacional do Ensino Básico (ME-DEB, 2001), publicado com o

objetivo de articular horizontalmente e verticalmente as diversas disciplinas e áreas

disciplinares do currículo do Ensino Básico, constitui uma orientação curricular

importante para todas as áreas disciplinares e disciplinas destes Ciclos de Ensino,

incluindo as relacionadas com o Ensino das Ciências. Neste documento, as finalidades

Page 18: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

3

mencionadas para o Ensino das Ciências demonstram que o que se pretende é o

desenvolvimento da literacia científica nos alunos. No entanto, o termo “literacia

científica” só surge explicitamente nesse documento na secção “Competências

Especificas para a literacia científica dos alunos no final do Ensino Básico” onde é

referido que, para um aluno se revelar competente em termos de literacia científica terá

de, ao longo dos três Ciclos do Ensino Básico, desenvolver competências no domínio do

conhecimento (substantivo, processual e epistemológico), raciocínio, comunicação e

atitudes. “Tal exige o envolvimento dos alunos no processo ensino e aprendizagem,

através de experiências educativas diferenciadas que a escola lhes proporciona. Estas,

por um lado, vão ao encontro dos seus interesses pessoais e, por outro, estão em

conformidade com o que se passa à sua volta” (ME-DEB, 2001, p. 132). O

desenvolvimento destas competências e o grau de profundidade das atividades sugeridas

deve atender ao nível etário dos alunos.

Para cada Ciclo do Ensino Básico, para além das Orientações Curriculares

presentes no Currículo Nacional do Ensino Básico, há ainda um programa ou

orientações curriculares, no caso do 3.º Ciclo, para o desenvolvimento curricular da área

e/ou disciplina. Nos programas do 1.º e 2.º Ciclos não há uma única referência explícita

ao termo “literacia científica” e deteta-se um problema de coerência, relativamente ao

Currículo Nacional do Ensino Básico, em termos organizacionais, concetuais e

metodológicos, pois os conteúdos são associados a objetivos quase exclusivamente no

âmbito do domínio do conhecimento substantivo. No 3.º Ciclo foram desenvolvidas

orientações curriculares para as disciplinas de Ciências Naturais e Ciências Físico-

Químicas. Neste documento não se identificam as incoerências registadas nos

documentos do 1.º e 2.º Ciclos, surgindo explicitamente o termo “literacia científica”

nas orientações e sendo apontada como a principal finalidade destas disciplinas.

No ano letivo 2009/2010, o Ministério da Educação disponibilizou um conjunto

de documentos curriculares: as Metas de Aprendizagem. Nas Metas de Aprendizagem

para o 1.º Ciclo não é referido explicitamente o termo “literacia científica” ao contrário

das Metas de Aprendizagem para o 2.º e 3.º Ciclos, em que surge na Introdução mas

nunca nas metas apresentadas.

Em abril de 2013 foram homologadas as Metas Curriculares aplicáveis ao

currículo do Ensino Básico (Despacho n.º 5122/2013). No que respeita ao Ensino das

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4

Ciências, foram desenvolvidas as Metas Curriculares para as Ciências Naturais do 2.º e

3.º Ciclos (Bonito et al., 2013, 2014) e para as Ciências Físico-Químicas do 3.º Ciclo

(Fiolhais et al., 2013). Ainda não foram disponibilizadas as Metas Curriculares para o

1.º Ciclo, para a área de Estudo do Meio. A análise destas Metas Curriculares permite

constatar que não há uma única referência explícita ao termo “literacia científica” e há

um destaque curricular do Ensino das Ciências focado na Ciência e nos Cientistas. São

privilegiadas as aprendizagens com baixa exigência cognitiva, que podem ser

alcançadas, na maior parte dos casos, através da memorização. A ênfase centra-se nos

conteúdos concetuais, havendo muito poucos descritores centrados em conhecimentos

procedimentais e epistemológicos.

Em suma, parece existir alguma incoerência nos diversos documentos

curriculares no que respeita às orientações para o Ensino das Ciências, não sendo estes

últimos consistentes com a perspetiva de ensino e aprendizagem construtivista

defendida no Currículo Nacional do Ensino Básico e com o desenvolvimento da

literacia científica instigada no referido documento. Por esta razão, os professores

devem encarar as Metas como indicadores de aprendizagem a realizar e não como o fim

a atingir.

Apesar de verificar-se algumas incoerências entre os vários documentos

supracitados, existe uma preocupação em Portugal com a participação ativa e

responsável dos cidadãos, presente, nomeadamente, na Lei de Bases do Sistema

Educativo Português, artigo 50.º, pontos 1 e 2 (Lei n.º 46/86, de 14 de outubro),

atualizada pela Lei número 65/2015 de 3 de julho; no Currículo Nacional do Ensino

Básico e nas Orientações Curriculares para as disciplinas de Ciências Naturais e

Ciências Físico-Químicas. Para que isso seja possível os cidadãos têm de ser literatos

em Ciência. Acresce ainda que, como é defendido por Hurd (1998), a literacia científica

é determinante para a inclusão dos indivíduos numa sociedade em constante evolução,

em termos científicos e tecnológicos, pois sem ela os indivíduos não podem viver em

plenitude, existindo alheios à cultura que os rodeia. Apesar das definições de literacia

científica não serem consensuais, todas incluem os conceitos e processos científicos e a

compreensão do papel da Ciência e da Tecnologia na Sociedade.

Os padrões Nacionais para a Educação em Ciências (NAP, 1996), recomendados

pelo Estados Unidos da América do Norte, indicam o que todos os cidadãos devem

Page 20: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

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compreender e ser capazes de fazer através das aprendizagens realizadas no seu

percurso escolar e ao longo da sua vida. De acordo com estes padrões, uma pessoa

literata em Ciência é uma pessoa que ao longo da vida é capaz de questionar e responder

a situações que lhe despertam a atenção, bem como analisar criticamente e prever

fenómenos físicos e naturais; é capaz de tomar decisões fundamentadas em dados

empíricos, sobre assuntos científicos e tecnológicos, e é capaz de analisar e interpretar

informação científica, avaliando a validade das conclusões formuladas.

Hodson (1998) acredita que a literacia científica pode ser promovida no

currículo de Ciências. O autor propõe uma abordagem que muna os alunos de

ferramentas que lhe permitam assumir ações apropriadas, responsáveis e

fundamentadas, relativamente às questões de ordem ambiental, ética, social, económica

e moral. Na ótica do autor, esta literacia científica pode ser desenvolvida no aluno se:

aprender Ciências, adquirindo conhecimento concetual e teórico; aprender acerca de

Ciência, compreendendo a natureza, a história e os métodos da Ciência e compreender

as relações entre a Ciência, a Tecnologia e a Sociedade; e aprender a fazer Ciência,

adquirindo experiência em investigação científica e na resolução de problemas.

Em suma, como refere Chagas (2000),

“um programa de literacia científica envolve um conjunto diversificado de competências,

capacidades, atitudes e valores acerca dos produtos e processos atuais das Ciências e suas

implicações na vida pessoal e na sociedade. Estas aprendizagens não se restringem ao período

de escolaridade, mas desenvolvem-se e progridem ao longo de toda a vida. Todas elas se

revestem de igual importância e implicam práticas de ensino e de divulgação múltiplas e

diversificadas” (p. 7).

As práticas de ensino que reforçam o ensino convencional das Ciências

centrado na aquisição de princípios, factos, terminologia e leis, não permitem o alcance

dos objetivos de um programa de literacia científica. Hurd (1998) considera que os

objetivos são alcançáveis com práticas de ensino em que os alunos resolvem problemas,

fazem investigações e desenvolvem projetos. Como é mencionado pela Comissão

Europeia (2011), as práticas de ensino que se propõem atualmente distinguem-se pela

sua flexibilidade, por se centrarem nas questões geradas pelos próprios alunos e por

envolverem o trabalho de grupo colaborativo e a resolução de problemas, pois “… a

lecionação e a utilização de métodos baseados na investigação, revestem-se de

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particular importância no Ensino das Ciências” (Comissão Europeia, 2011, p. 103).

Neste sentido, o ensino orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos (ABPj)

constitui um método adequada para a promoção da literacia científica dos alunos.

1.2.2. A Aprendizagem Baseada em Projetos e a promoção da literacia científica

Atendendo às finalidades do Ensino das Ciências, a aprendizagem de conhecimentos

teóricos pelos alunos na escola, por vezes, desligados da sua realidade, não é suficiente.

À escola é exigido que crie condições para a aprendizagem de saberes úteis aos alunos,

nomeadamente, do saber-fazer, saber-ser, saber viver consigo e com os outros. Logo, as

metodologias tradicionais de ensino, baseadas na exposição e conteúdo, não são

suficientes.

Boff (2015) considera que o aluno tem de assumir um papel mais ativo na

aprendizagem (re)construindo, com o auxílio do professor, os seus conhecimentos, e

assumindo um papel ativo e decisivo na sua aprendizagem. A Aprendizagem Baseada

em Projetos é um exemplo de uma metodologia ativa de aprendizagem. Klein et al.

(2009), no livro Project-Based Learning: Inspiring Middle School Students to Engage in

Deep and Active Learning referem que a Aprendizagem Baseada em Projetos permite

capacitar os alunos para a aprendizagem autónoma do conhecimento e para a sua

exposição à comunidade através de uma diversidade de modos de apresentação. Trata-se

de uma metodologia ainda em construção e para a qual ainda não há uma

concetualização única e precisa. O Buck Institute for Education (BIE, 2017) considera

que este método de ensino envolve os alunos na aquisição de conhecimentos e

habilidades por meio de um extenso processo de investigação, estruturado para

responder a questões complexas e autênticas ou desafios.

O método de ensino orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos,

assim como a Aprendizagem Baseada na Resolução de Problemas, permitem respeitar o

ritmo de aprendizagem dos alunos e promover o desenvolvimento de habilidades e

capacidades de resolução de problemas. Segundo Schwartz (2011), ambos estão

assentes numa perspetiva construtivista da aprendizagem; estão centrados no aluno e

inclinados para tarefas do mundo real e atual; permitem o uso de mais que uma

abordagem para a sua resolução; geralmente os alunos trabalham em grupos de forma

Page 22: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

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colaborativa e o professor é um facilitador/orientador da aprendizagem; os alunos são

incentivados a pesquisar diversas fontes de informação e é enfatizada uma avaliação

baseada no desempenho dos alunos ao longo do percurso. Sandoval, Solano e Cortér

(2010) referem que a Aprendizagem Baseada em Projetos parece começar onde termina

a Aprendizagem Baseada em Problemas, porque os alunos "começam os projetos

resolvendo problemas" (p. 16).

Apesar das semelhanças existentes entre estas metodologias, é possível

identificar algumas diferenças entre elas. Segundo Donnelly e Fitzmaurice (2005),

existem essencialmente duas diferenças relacionadas com o papel desempenhado pelo

produto final e pelo problema. Na Aprendizagem Baseada em Projetos, o produto final

tende a ser mais elaborado, normalmente sob a forma de um artefacto, concretizado ou

apenas projetado, e orienta as fases de planeamento, execução e avaliação. Exige, por

isso, mais competências de "saber fazer" e conhecimento específico no assunto a

trabalhar. Na Aprendizagem Baseada em Problemas, habitualmente, o produto é mais

simples e tem a forma de um relatório porque resulta basicamente de processos de

inquérito e pesquisa. A outra diferença, relacionada com o papel do problema no

processo, tem a ver com o facto de na Aprendizagem Baseada em Projetos se assumir

que poderão surgir novos problemas no decorrer do processo exigindo uma maior

capacidade de adaptação do aluno, enquanto na Aprendizagem Baseada na Resolução

de Problemas o problema está bem definido exigindo, por isso, uma resposta ou solução

mais direta. Em suma, enquanto a Aprendizagem Baseada na Resolução de Problemas

explora o "saber como", pois centra-se na ideia de que a aprendizagem resulta do

processo de alcançar a resolução de um problema, a Aprendizagem Baseada em

Projetos explora o “saber em ação” pois o que se pretende é obter um produto final ou

elaborar um projeto do produto final ou artefacto.

Krajcik e Blumenfeld (2006) referem que, a Aprendizagem Baseada em

Projetos favorece a articulação entre as várias disciplinas do currículo, contribuindo

para a não fragmentação do currículo, permitindo ao aluno adquirir uma visão mais

global e integradora do mundo que o rodeia. Esta abordagem mais integrada dos

conteúdos das várias áreas do conhecimento, motiva o aluno e ajuda-o a melhorar a sua

compreensão dos acontecimentos ou fenómenos físicos ou naturais em estudo

(Wellington & Ireson, 2008) e permite o uso de outros recursos disponibilizados pela

escola, como por exemplo, computadores, vídeos, livros. Wellington e Ireson (2008)

defendem que a integração das Ciências torna o seu estudo mais coerente, logo, com

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mais significado e interesse para o aluno.

Segundo Hasni et al. (2016), para se falar de Aprendizagem das Ciências e da

Tecnologia Baseada nos Projetos é necessário distinguir as características que se

enquadram nos objetivos de aprender Ciências e Tecnologia e, portanto, constituem o

núcleo do ensino (características centrais) das características secundárias, que se

consideram os meios ou condições exigidas/necessárias para a aprendizagem das

características que constituem o núcleo central. Por exemplo, colaborar para aprender

Ciências e Tecnologia não é a mesma coisa que aprender a colaborar. Esta designação

de características secundárias não significa que não devem ser fomentadas na escola ou

que não são importantes, mas significa que não são o objetivo principal do ensino de

Ciência e Tecnologia. Na figura 1 (adaptada de Hasni et al., 2016, p. 219) apresenta-se

um esquema que resume e distingue as características centrais e secundárias da

Aprendizagem Baseada em Projetos.

Fonte: adaptada de Hasni et al., 2016, p. 219

Ainda segundo Hasni et al. (2016), no que respeita ao problema, um problema

científico ou tecnológico deve: envolver os alunos em contextos de aprendizagem

semelhantes aos contextos de produção de conhecimento dos pesquisadores; utilizar um

ambiente com o qual os alunos estão familiarizados para aprender conteúdos de Ciência

e Tecnologia; ensinar o conteúdo de Ciência e Tecnologia mostrando aos alunos a

Características

da

Aprendizagem

Baseada em

Projetos

Características centrais

Problema ou questão

ancorada no mundo real

(aberto, complexo e

contextualizado);

Produto ou artefacto

(material ou não) com uma

utilidade, real ou simulada.

Métodos de investigação

científica ou de conceção

tecnologia;

Conhecimento concetual de

Ciências e Tecnologia e

aplica-lo em situações do

mundo real;

Funcionamento das

Ciências e da Tecnologia.

Características secundárias

Colaboração entre pares e

com o professor ou outras

pessoas relevantes para a

investigação;

Utilização de tecnologias de

aprendizagem (T.I.C.);

Uso de recursos externos à

escola (ex. museus, visitas

de estudo, etc.);

Abordagem interdisciplinar;

Outras abordagens

pedagógicas que motivem

os alunos.

Figura 1 - Características da aprendizagem da Ciência e da Tecnologia baseada em Projetos

Page 24: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

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utilidade que têm para eles; estudar conteúdos de Ciência e de Tecnologia através de

questões sócio científicas (ex. questões ambientais, por exemplo, relacionar o

comportamento do ser humano com as mudanças climatéricas). O produto ou artefacto

também deve satisfazer determinados critérios, incluindo a viabilidade e a utilidade, real

ou virtual. Os métodos de investigação ou de conceção tecnológica devem ser usados

para resolver o problema e para criar o produto final desejado. Estes não envolvem

apenas a procura de informação em livros e na internet, mas também o uso de métodos

que promovam a utilização de habilidades de investigação e de comunicação das

Ciências e da Tecnologia.

O desenvolvimento do conhecimento concetual de Ciências e Tecnologia e a

sua implementação noutros contextos de aprendizagem ou situações do mundo real são

também objetivos centrais da Aprendizagem Baseada em Projetos. Este tipo de trabalho

também permite ao aluno compreender como funcionam a Ciência e a Tecnologia, isto

é, permite ao aluno compreender como é que o conhecimento científico é produzido e

validado e como são desenvolvidas soluções que procuram a melhoria da nossa vida.

De acordo com Hasni et al. (2016) há diversas razões para basear a Educação

em Ciência e Tecnologia no ensino orientado para a Aprendizagem Baseada em

Projetos, nomeadamente:

A melhoria da aprendizagem (aprendizagem mais significativa, mais

estruturada);

O aumento da motivação e interesse dos alunos;

A compatibilidade com as perspetivas construtivistas e socioconstrutivistas;

Contextualização do conhecimento de Ciência e Tecnologia;

Estas são algumas das justificações para a utilização da Aprendizagem Baseada

em Projetos e algumas já foram testadas por estudos realizados nesta temática,

nomeadamente, por Ayodele (2016) e por Ergul & Kargınb (2014), como veremos

posteriormente (secção 2.3.1). Esta forma de definir a Aprendizagem Baseada em

Projetos, assente nas características centrais (nucleares) e secundárias e nas razões do

seu uso, admite a sua utilização como uma ferramenta para a aprendizagem de Ciência e

Tecnologia. O uso da pedagogia de projetos permite ao professor prestar um ensino

mais individualizado, respeitando os ritmos de aprendizagem e as capacidades de cada

aluno (Rangel & Gonçalves, 2010, p. 26) e poderá ser usada, segundo Ramos (2008),

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quando: o problema ou produto a construir apresenta um certo grau de complexidade; é

necessária a realização de uma grande diversidade de tarefas, num período

relativamente longo; é necessário mobilizar conhecimentos de várias áreas do saber e

são necessários recursos humanos e materiais para a execução das tarefas.

Se por um lado, a pedagogia de projetos, pode ser considerada mais uma

alternativa ao método de ensino convencional e pode apresentar muitas vantagens, por

outro lado, também tem algumas desvantagens, nomeadamente, a complexidade do

método (Abrantes, 2002; Ferreira 2013) pois “é necessário gerir conteúdos

diversificados em função das questões colocadas pelos alunos, gerir a orientação a dar

aos diferentes grupos de trabalho e ser capaz de dar respostas didáticas ao imprevisto e à

diversidade de necessidades de vários alunos” (Ferreira, 2013, p. 322) e exige muito

tempo para a sua concretização.

A Aprendizagem Baseada em Projetos permite uma aprendizagem das Ciências

mais rica e mais alargada. Quanto maior for a complexidade do Projeto, com temas

transversais e que envolvam a colaboração interdisciplinar, mais enriquecida será a

aprendizagem dos alunos. Neste sentido, como é defendido por Dogan, Batdi e Yildirim

(2012), através da Aprendizagem Baseada em Projetos os alunos desenvolvem

competências fundamentais para o seu sucesso educativo e para a sua vida ativa na

sociedade atual, nomeadamente, o aprender a aprender, a cooperação, a tomada de

decisões críticas e fundamentadas, a seleção e a análise de informação, a autonomia e a

responsabilidade. Por outras palavras, o ensino orientado para a Aprendizagem Baseada

em Projetos contribui para o desenvolvimento da literacia científica dos alunos,

principal objetivo da Educação em Ciências, pois contribui para o desenvolvimento de

competências essenciais nos domínios do conhecimento, do raciocínio, da comunicação

e das atitudes, através do envolvimento do aluno no processo de aprendizagem, e

proporcionando-lhe a vivência de experiências educativas diferenciadas e ajustadas à

sua realidade.

Page 26: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

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1.2.3.Conceções e práticas de professores de Ciências relativas à promoção da

literacia científica e ao ensino orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos

As conceções, como refere Thompson (1992), podem ser consideradas estruturas

mentais, conscientes ou inconscientes, constituídas por crenças, significados, regras,

conceitos, imagens mentais e preferências. Estas condicionam e proporcionam formas

de se percecionar o mundo e organizar os conceitos, pelo que podem ser consideradas

como perspetivas pessoais sobre a realidade em análise. A importância das conceções

de um individuo está relacionada com a sua influência no comportamento da pessoa,

portanto, na sua ação. Como é mencionado por Martínez et al. (2001, 2002), a atividade

profissional do professor está baseada e condicionada pelas suas conceções sobre o

currículo, o ensino e a aprendizagem. São estas conceções que vão influenciar a

interpretação das finalidades e dos objetivos curriculares pelo professor e as práticas que

vai adotar para o ensino dos alunos. Portanto, para alterar as práticas do professor na

sala de aula é necessário alterar as suas conceções acerca da natureza do ensino e da

aprendizagem.

De acordo com Chagas (2000), fundamentando-se em vários estudos e

relatórios, há uma tendência generalizada para a conservação de práticas pelos

professores, isto é, um ensino convencional das Ciências, focado na aquisição de

terminologia, factos, princípios e leis. A autora refere que a manutenção destas práticas

não se coaduna com os objetivos de um programa cujo objetivo principal é a promoção

da literacia científica. Como refere no seu trabalho Martins (2002), sobre as práticas de

Ensino das Ciências nas instituições de ensino superior portuguesas, “é plausível

admitir que elas são predominantemente de índole transmissiva, valorizando o

conhecimento de conceitos, leis e teorias, onde predomina a resolução de exercícios de

acentuado cariz quantitativo, por oposição à interpretação qualitativa de situações-

problema abertas” (p.35). Deste modo, é admissível assumir-se que os professores e

futuros professores não se sintam capazes de assumir uma prática de ensino diferente da

que lhes foi ministrada. Esta análise é corroborada por Korthagen (2004) que considera

que há vários níveis no professor que o podem influenciar na sua prática de ensino. Os

níveis mais exteriores, ambiente e comportamento, são os únicos que podem ser

observados pelos outros. No entanto, com muita influência no comportamento do

professor está o nível das suas competências que, por sua vez, são determinadas pelas

suas crenças. O autor explica ainda que as crenças do professor estão muito relacionadas

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com as suas experiências pessoais e influenciam a sua prática de ensino, isto é, os seus

comportamentos. Reforçando esta ideia, Shuell (1987) afirma que as conceções e

premissas que possuímos sobre a natureza do conhecimento, a forma como o

conhecimento é representado e a maneira como o novo conhecimento é adquirido

determinam o que nós estudamos em Ciências, o que ensinamos na sala de aula e a

maneira como ensinamos Ciências.

O projeto Aqeduto: Avaliação, Qualidade e Equidade na Educação realizou um

estudo analítico sobre os professores em Portugal e noutros países da Europa, tendo

concluído que “em Portugal, os professores continuam a privilegiar as aulas de cariz

expositivo em detrimento de aulas práticas Baseadas em Projetos” (Aqueduto, 2016,

p.6). Nesse mesmo estudo é referido que as aulas Baseadas em Projetos ou outras

práticas de ensino que envolvam ativamente o aluno, são pouco utilizadas pelos

professores portugueses e não há grandes diferenças nas metodologias de ensino usadas

pelos professores de diferentes grupos etários, quer em Portugal, quer nos outros países

analisados, tendendo os professores a recorrerem às metodologias adotadas pelos seus

colegas de trabalho.

Atendendo ao mencionado anteriormente, é admissível considerar-se que os

professores portugueses continuam a adotar práticas de ensino pouco adequadas à

promoção da literacia científica dos alunos, pois são baseadas na transmissão do

conhecimento concetual, onde o aluno assume um papel passivo na sua aprendizagem e

onde há uma desvalorização do conhecimento processual e epistemológico, bem como,

nos domínios da atitude, comunicação e raciocínio. As exigências dos programas atuais

obrigam a uma mudança de práticas de ensino, permitindo ao aluno assumir um papel

ativo na sua aprendizagem. Entre as várias metodologias disponíveis destacam-se as que

se baseiam na investigação científica, ou seja, as que são flexíveis por estarem focadas

nas questões formuladas pelos próprios alunos e por envolverem a resolução de

problemas, o trabalho colaborativo e a promoção de Projetos interdisciplinares. Os

alunos não podem aprender a pensar criticamente, a analisar informações, a comunicar

ideias científicas, a apresentar argumentos lógicos, a trabalhar em equipa e adquirir

outras competências, se não forem encorajados a fazê-lo em múltiplos contextos.

O método de ensino orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos é

adequado às exigências do atual currículo de Ciências pois envolve ativamente o aluno

na aprendizagem, permitindo que construa o seu próprio conhecimento e desenvolva

habilidades para adquirir, futuramente, de forma autónoma, o conhecimento. O seu uso

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contribuirá para o desenvolvimento da literacia científica dos alunos. Já existem

algumas investigações onde se procura descrever como os professores percecionam o

ensino da Ciência e Tecnologia através da Aprendizagem Baseada em Projetos,

nomeadamente, a investigação realizada por Hasni et al. (2016) como veremos

posteriormente (secção 2.3.2.). Segundo estes autores, os professores têm uma

compreensão limitada desta metodologia, usando-a frequentemente como estratégia

para motivar os alunos para a aprendizagem e não como um método de ensino orientado

para a aprendizagem da Ciência e da Tecnologia.

1.3. Objetivos da investigação

Atendendo a que um dos principais objetivos da Educação em Ciências é o

desenvolvimento da literacia científica dos alunos e para o conseguir é necessário

envolver o aluno no processo de aprendizagem e proporcionar-lhe a vivência de

experiências educativas diferenciadas, o Ensino orientado para a Aprendizagem

Baseada em Projetos é um método de ensino que pode ser usado pelos professores para

o alcance dos objetivos propostos neste currículo. Percebendo que há registos na

literatura de uma concetualização deste método de ensino pouco rigorosa e aprofundada

pelos professores, tendo consciência de que a atividade profissional do professor está

condicionada pelas suas conceções sobre o currículo, o ensino e a aprendizagem assim

como para alterar as suas práticas na sala de aula é necessário alterar as suas conceções,

torna-se necessário realizar uma investigação que tenha como objetivo geral:

compreender as conceções e as representações das práticas, de professores portugueses

de Física e Química, relativamente ao Ensino das Ciências orientado para a

Aprendizagem Baseada em Projetos.

Este objetivo concretiza-se através dos seguintes objetivos específicos:

1. Caracterizar as conceções de professores de Física e Química sobre a

Aprendizagem Baseada em Projetos;

2. Caraterizar as representações de práticas de professores de Física e Química

sobre o Ensino das Ciências orientado para a Aprendizagem Baseada em

Projetos;

3. Averiguar as perspetivas de professores de Física e Química sobre a

viabilidade de implementação do Ensino das Ciências orientado para a

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Aprendizagem Baseada em Projetos;

4. Identificar as condições que, na perspetiva de professores de Física e

Química, são necessárias para a implementação do Ensino das Ciências

orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos.

1.4. Importância da investigação

O desenvolvimento da literacia científica dos alunos é considerado pelos investigadores

em educação como sendo a principal finalidade da Educação em Ciência para todos, a

nível internacional e também em Portugal. Porém, para esse desenvolvimento, é

necessário que o aluno seja ativamente envolvido no processo de aprendizagem,

construindo o seu próprio conhecimento.

Contudo, como os resultados do relatório Teaching Practices and Pedagogical

Innovation: Evidence From Talis (Vieluf, Kaplan, Klieme & Bayer, 2012) mostram, os

professores em Portugal continuam a privilegiar aulas de cariz expositivo, em que o

aluno é um recetor passivo da informação que lhe é transmitida pelo professor. Embora

haja indicações de que o ensino orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos

pode contribuir para o desenvolvimento da literacia científica dos alunos (Klein et. al.,

2009) e nas escolas se fale muito em Projetos, não se conhecem as conceções nem as

práticas de professores portugueses de Física e Química sobre esse método de ensino,

antecipando-se que os Projetos possam surgir no fim e não no início do processo de

aprendizagem.

Assim, atendendo a que as conceções dos professores determinam, pelo menos

em parte as suas práticas (Thompson, 1992), esta investigação permitirá compreender

quais são as conceções dos professores sobre a ABPj e como percecionam o Ensino das

Ciências orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos, fornecendo informações

sobre a necessidade, ou não, de uma formação para professores que os capacite para

usarem este método de ensino. Os resultados deste estudo serão úteis para a estruturação

de uma ação de formação contínua para professores, assente numa perspetiva

construtivista, que tenha como ponto de partida as conceções e práticas dos professores

e as caraterísticas do seu contexto de trabalho, e que seja capaz de promover a sua

mudança concetual face ao método de ensino orientado para a Aprendizagem Baseada

em Projetos, necessária para a eventual mudança de práticas. Por conseguinte, os dados

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recolhidos através desta investigação poderão contribuir ainda, indiretamente, para a

melhoria das aprendizagens dos alunos, pois permitirão desenvolver ações com

probabilidade de promoverem uma mudança sustentada da ação do professor na escola.

1.5. Limitações da investigação

As principais limitações deste trabalho de investigação estão relacionadas com o

tipo de amostra, com a técnica de recolha de dados e de análise de dados.

Pelo facto de o tempo útil para a investigação ser limitado, optou-se por

trabalhar com uma amostra de conveniência. No entanto, manteve-se a preocupação de

garantir a diversidade de participantes da amostra, respeitando-se os critérios

estabelecidos inicialmente relativos ao número de anos de serviço do professor e de

lecionarem em escolas diferentes. Apesar de este tipo de amostra permitir o alcance dos

objetivos propostos para este estudo, tem implicações, nomeadamente, no facto de os

resultados e as conclusões só serem válidos para a amostra, não podendo ocorrer a

generalização dos dados produzidos à restante população de professores de Física e

Química, pois a amostra não é representativa da população. Contudo, os dados

produzidos podem ser úteis para futuras investigações e intervenções.

No que respeita à técnica de recolha de dados, o instrumento usado foi a

entrevista. Neste sentido, a investigadora teve acesso não à ação dos professores mas às

representações que os professores têm da sua ação. Para além disso, as respostas dos

professores entrevistados foram alvo de análise pela investigadora pelo que poderá

haver alguma subjetividade na interpretação das respostas. No entanto, esta limitação

foi ultrapassada porque, para minimizar este risco, a investigadora repetiu a análise para

retificar eventuais desvios e discutiu com a orientadora da investigação a interpretação

dos resultados de forma a validá-los. Quando as interpretações não eram semelhantes,

foram discutidas e se não se chegou a consenso a resposta não foi categorizada.

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16

1.6. Estrutura geral da dissertação

A presente dissertação de mestrado está organizada em cinco capítulos. Cada um dos

capítulos tem um objetivo e uma estrutura diferente, sendo a estrutura consentânea com

a finalidade do capítulo. No início de cada capítulo é apresentada uma breve introdução

ao capítulo. No primeiro capítulo realiza-se uma contextualização e apresentação da

investigação realizada. Neste sentido, apresenta-se uma contextualização geral do

estudo (1.2), os objetivos da investigação (1.3), a importância da investigação realizada

(1.4) e as suas limitações (1.5) e conclui-se o capítulo com a estrutura geral desta

dissertação (1.6).

No segundo capítulo é apresentada uma revisão da literatura existente sobre a

temática em estudo, constituindo a fundamentação teórica para a investigação realizada.

Este capítulo está dividido em quatro subcapítulos, sendo o primeiro a introdução,

conforme foi explicitado anteriormente. Os restantes subcapítulos ainda se encontram

divididos em dois ou três subcapítulos mais pequenos. Neste capítulo discute-se a

relação entre a Educação em Ciências e a Aprendizagem Baseada em Projetos (2.2),

sendo primeiramente apresentada uma contextualização da ABPj na Educação em

Ciências (2.2.1) e posteriormente exposta a evolução do Trabalho de Projeto em

Portugal e as diferenças com a ABPj (2.2.2). Seguidamente é apresentado um

subcapítulo sobre as conceções e representações de práticas da ABPj (2.3), organizado

em três partes. Primeiramente, são apresentadas e explicitadas as características da

ABPj (2.3.1), depois as conceções sobre a ABPj (2.3.2) e, por fim as representações de

práticas sobre o Ensino Orientado para a ABPj (2.3.3). Um último assunto que é

discutido neste capítulo é a formação de professores e o Ensino Orientado para a ABPj

(2.4). Este último subcapítulo está dividido em duas partes, na primeira parte faz-se uma

abordagem da evolução da formação inicial de professores e são apresentadas e

analisadas as potencialidades da formação inicial de professores para a implementação

do Ensino Orientado para a ABPj (2.4.1) e na segunda parte é exposta a evolução e a

fundamentação teórica da formação contínua de professores e a sua relação/contributo

para o Ensino Orientado para a ABPj (2.4.2).

No terceiro capítulo é apresentada e justificada a metodologia de investigação

utilizada neste estudo. Numa primeira fase é realizada uma descrição geral da

investigação (3.2) e, depois, é identificada a população e caracterizada a amostra

participante na investigação (3.3). Seguidamente é descrita e justificada a técnica e o

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instrumento utilizado para a recolha de dados (3.4) e explorado o processo de

elaboração e validação do instrumento de recolha de dados (3.5). Por último, é

apresentado o procedimento usado para a recolha de dados (3.6) e para o tratamento e

análise de dados (3.7).

No quatro capítulo realiza-se a apresentação e discussão dos resultados, em

função dos objetivos estabelecidos no primeiro capítulo. Este capítulo está dividido em

três partes, na primeira é apresentada uma introdução ao capítulo (4.1), na segunda as

conceções sobre o conceito de ABPj (4.2) e, na terceira, as representações de

professores sobre as práticas atuais e futuras de Ensino das Ciências Orientado para a

ABPj (4.3). A segunda e a terceira parte deste capítulo ainda se encontram divididas,

cinco e três subcapítulos, respetivamente.

No último capítulo apresentam-se algumas das conclusões finais e implicações

das mesmas e propõem-se investigações futuras. Sendo assim, este capítulo está

dividido em quatro subcapítulos. No segundo subcapítulo são apresentadas as

conclusões desta investigação (5.2), em seguida, as implicações dos resultados obtidos

na investigação (5.3) e, por último, apresentam-se algumas sugestões para futuras

investigações.

Esta dissertação de mestrado é finalizada com a indicação das referências

bibliográficas utilizadas neste estudo e com os anexos relevantes para a compreensão

deste trabalho de investigação.

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18

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19

CAPÍTULO II

REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Introdução

Este capítulo está organizado em quatro subcapítulos. No primeiro subcapítulo é

realizada uma breve introdução ao capítulo, explicitando-se os assuntos que nele vão ser

tratados (2.1). Seguidamente é apresentada uma revisão de literatura sobre a Educação

em Ciências e a Aprendizagem Baseada em Projetos (2.2), contextualizando-se a ABPj

na Educação em Ciências (2.2.1) e apresentando-se uma evolução do Trabalho de

Projeto em Portugal e as suas diferenças com a ABPj (2.2.2).

No terceiro capítulo são analisadas as conceções e as representações sobre as

práticas da ABPj (2.3). Inicia-se esta análise com a apresentação das características da

ABPj (2.3.1). Em seguida, são analisadas conceções sobre a ABPj (2.3.2) e, por último,

são exploradas representações de práticas sobre o Ensino Orientado para a ABPj (2.3.3).

No último subcapítulo é apresentada uma revisão de literatura sobre a formação

de professores e o Ensino Orientado para a ABPj (2.4), começando-se por apresentar

uma abordagem evolutiva da formação inicial de professores em Portugal e as

potencialidades desta formação de professores para a implementação de um Ensino

Orientado para a ABPj (2.4.1.). Termina-se este subcapítulo com um estudo sobre a

formação contínua de professores, abordagem evolutiva desta formação e contributo

para um Ensino Orientado para a ABPj (2.4.2).

Page 35: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

20

2.2. Educação em Ciências e Aprendizagem Baseada em Projetos

2.2.1.Contextualização da Aprendizagem Baseada em Projetos na Educação em

Ciências

O século XXI coloca novos desafios aos alunos, exigindo-lhes a aprendizagem de

diversas competências essenciais que os capacitem para uma efetiva ação humana.

Consequentemente, os sistemas educativos têm de reajustar-se, adaptando-se às novas

necessidades do público-alvo. Obrigatoriamente,

“Hoje mais do que nunca a escola deve preparar para o imprevisto, o novo, a complexidade e,

sobretudo, desenvolver em cada indivíduo a vontade, a capacidade e o conhecimento que lhe

permitirá aprender ao longo da vida. Aquele que reconhece o valor da educação estuda sempre

e quer sempre aprender mais.” (Gomes et al., 2017, p.8)

Neste sentido, e de acordo com o trabalho de Ananiadou e Claro (2009), as

aptidões e conhecimentos considerados essenciais para o século XXI nos países

membros da OCDE são diversas e podem ser abrangidas em três dimensões:

informação, comunicação e ética e impacto social. Seguidamente, apresenta-se uma

tabela de Ananiadou e Claro (citado por Faria, Rodrigues, Perdigão & Ferreira, 2017,

p.11) com exemplos de competências para o século XXI, relacionadas com cada uma

dessas dimensões.

Quadro 1 - Competências para o século XXI

Dimensões Subdimensões Exemplos de competências

Informação Pesquisa, seleção, avaliação e organização de

informação.

Literacia de informação

Investigação

Literacia mediática

Reestruturação da informação e desenvolvimento

de ideias próprias.

Criatividade e inovação

Resolução de problemas

Tomada de decisões

Comunicação Comunicação efetiva Literacia de informação

Literacia mediática

Pensamento crítico

Comunicação

Colaboração e interação virtual Colaboração/Trabalho de

equipa

Flexibilidade e adaptabilidade

Ética e impacto

social

Responsabilidade social Pensamento crítico

Responsabilidade

Tomada de decisões

Impacto social Cidadania digital

Impactos ambientais

Fonte: Ananiadou e Claro (citado por Faria, Rodrigues, Perdigão, & Ferreira, 2017)

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Atualmente, em Portugal a escolaridade obrigatória é de doze anos. Aos alunos

são disponibilizados diversos percursos educativos, atendendo ao seu contexto pessoal e

social e aos respetivos objetivos formativos. Pelo facto de o aluno poder optar por

diferentes percursos torna-se perentório definir um perfil de aluno à saída da

escolaridade obrigatória, comum a todos, que suportará a tomada de decisões ao longo

do processo educativo dos mesmos. Neste sentido, Gomes et al. (2017) elaboraram um

documento que define o perfil do aluno à saída da escolaridade obrigatória. Nesse perfil

referem que a escola deve dotar o estudante de competências que lhe permitam ser um

cidadão:

“dotado de literacia cultural, científica e tecnológica que lhe permita analisar e questionar

criticamente a realidade, avaliar e selecionar a informação, formular hipóteses e tomar

decisões fundamentadas no seu dia a dia;

livre, autónomo, responsável e consciente de si próprio e do mundo que o rodeia;

capaz de lidar com a mudança e a incerteza num mundo em rápida transformação;

que reconheça a importância e o desafio oferecidos conjuntamente pelas Artes, as

Humanidades, a Ciência e Tecnologia para a sustentabilidade social, cultural, económica e

ambiental de Portugal e do mundo;

capaz de pensar critica e autonomamente, criativo, com competência de trabalho colaborativo

e capacidade de comunicação;

apto a continuar a sua aprendizagem ao longo da vida, como fator decisivo do seu

desenvolvimento pessoal e da sua intervenção social;

que conheça e respeite os princípios fundamentais da sociedade democrática e os direitos,

garantias e liberdades em que esta assenta;

que valorize o respeito pela dignidade humana, pelo exercício da cidadania plena, pela

solidariedade para com os outros, pela diversidade cultural e pelo debate democrático;

que rejeite todas as formas de discriminação e de exclusão social.” (Gomes, et al., 2017, p.

10)

A Educação em Ciências pode contribuir para o desenvolvimento integral dos

alunos, dotando-os das competências necessárias para viverem em plenitude na

sociedade atual. Segundo Everington (2004) a Ciência pode contribuir para o

desenvolvimento espiritual, moral e cultural dos alunos. O papel das descobertas

científicas ajuda a mudar a forma de viver e pensar das pessoas, contribuindo para o

desenvolvimento espiritual dos estudantes; o desenvolvimento moral, na medida em que

contribui para o desenvolvimento sustentável; o desenvolvimento cultural pois

estabelece a relação entre a cultura e a natureza da exploração científica. Wellington e

Page 37: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

22

Ireson (2008) consideram que a Ciência pode contribuir para o desenvolvimento da

cidadania dos alunos de uma forma única. Os autores acreditam que sem a perspetiva e

valores científicos, a educação em cidadania estará incompleta.

De acordo com a Qualifications and Curriculum Authority (QCA) (1998), a

“educação em cidadania deve ser a educação para a cidadania” (p.8), porque a

aprendizagem de um conjunto vasto de conhecimentos, habilidades e valores não deve

ser um fim em si mas deve fomentar a responsabilidade social e moral, o envolvimento

da comunidade e a alfabetização política (QCA, 1998). Wellington e Ireson (2008)

consideram que os professores de Ciências para promoverem uma educação para a

cidadania devem assegurar que os alunos progridem em três áreas: tornarem-se cidadãos

informados, desenvolverem habilidades de investigação e participação e agirem e

participarem de forma responsável. Os autores acreditam que a Educação em Ciências

pode e deve contribuir para o desenvolvimento de todas as áreas supracitadas, e pode

ajudar a promover o crescimento de algumas das atitudes e valores que contribuem para

a cidadania. No seu trabalho, os autores ainda apresentam alguns exemplos de

conteúdos em que a Educação em Ciências pode contribuir para a cidadania,

nomeadamente, a poluição, genética, energia, saúde e medicina, etc., e enumeram

algumas competências e habilidades que podem ser desenvolvidas e/ou aprimoradas

através da educação científica, designadamente, comunicação, participação em debates,

julgamento pessoal informado, atuação legal, respeito pelos outros, questionar,

descobrir, procurar e avaliar a origem da informação.

Wellington e Ireson (2008) consideram que, a Educação em Ciências pode

desenvolver nos alunos atitudes e valores para a cidadania que incluem: o pensamento

crítico; a leitura, observação e escrita crítica; o ceticismo benéfico e a avaliação cuidada

e opinião devidamente fundamentada e informada. Os autores referem algumas

estratégias que podem ser utilizadas pelos professores de Ciências para lidar com

assuntos controversos, ética e cidadania, dentro e fora da sala de aula:

“Usar conteúdo de jornais ou outras fontes para atividades de leitura em grupo;

Usar de uma forma estruturada materiais de vídeo;

Convidar palestrantes com uma variedade de pontos de vista, sobre uma variedade de

tópicos;

Simular debates de TV/rádio e conferências de imprensa na sala de aula;

Visitas no local de trabalho e auditorias escolares, por exemplo, para verificar o consumo

de energia, conservação e impacto para o ambiente;

Page 38: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

23

Projetos comunitários, por exemplo, desenvolvimento selvagem; atividades de

conservação;

Estudar a própria escola, por exemplo, aquecimento e temperatura ambiental, iluminação,

transporte;

Lidar com incidentes críticos que envolvam assuntos éticos;

Usar projetos que relacionem a Ciência, Tecnologia e Sociedade e material produzido na

aula sobre assuntos controversos.” (Wellington & Ireson, 2008, p. 342).

A adoção das estratégias mencionadas anteriormente implica que seja

despendido mais tempo para o estudo dos assuntos, podendo constituir um obstáculo à

sua implementação pelos professores. No entanto, Wellington e Ireson (2008)

consideram que as vantagens superam as desvantagens e que o tempo pode ser

recuperado recorrendo à cooperação entre professores dos diferentes departamentos

pois, deste modo, os alunos atingem um conhecimento mais profundo dos assuntos

debatidos e o tempo recuperado pode ser concedido às Ciências. Os autores defendem

que, “se a cidadania está integrada nos assuntos então o tempo do currículo não é

necessário para lições discretas” (Wellington & Ireson, 2008, p. 343).

Além destas finalidades para a Educação em Ciências existem outras que

podem ser elencadas. Por exemplo, Reis (2006) justifica o alargamento da Educação em

Ciências para todos os alunos com base em argumentos de natureza económica,

utilitária, cultural, democrática e moral. Assim, segundo este autor, os utilizadores do

argumento de natureza económica defendem que o ensino em Ciências capacita os

alunos para uma carreira científica, permitindo selecionar os futuros cientistas e

engenheiros. Os alunos que não seguirão uma carreira científica, atendendo ao ritmo de

desenvolvimento da ciência e da tecnologia, ficarão mais aptos e preparados

profissionalmente. Os usuários do argumento utilitário defendem que todo o cidadão

precisa dos conhecimentos científicos para estar informado sobre o mundo em que vive

e para ser capaz de prever e formular hipóteses e de analisar e interpretar dados, isto é,

de assumir uma atitude analítica e racional de pensar, de curiosidade e ceticismo face às

questões colocadas à sociedade. O argumento cultural defende que todos os cidadãos

devem ter acesso à Educação em Ciências, porque a Ciência ocupa cada vez mais um

espaço relevante na sociedade, obrigando os cidadãos a adquirir alguns conhecimentos

sobre história e ética da Ciência, fundamentação em Ciência e discussão de ideias

científicas. A educação científica deve enfatizar a parte humana da Ciência e não o seu

corpo de conhecimentos. O argumento democrático apoia a Educação em Ciências para

Page 39: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

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todos, porque considera que para existir uma sociedade mais democrática, todos os

cidadãos têm de se sentir capazes de participar em assuntos de Ciência e de Tecnologia,

de forma crítica e reflexiva. Os utilizadores do argumento moral defendem que o

contacto dos cidadãos com a prática científica e com as regras, obrigações morais e

éticas, são úteis à sociedade.

Para que um professor de Ciências promova um Ensino das Ciências

equilibrado, deve trabalhar quatro dimensões: conteúdo e conceitos; práticas e processos

da Ciência; ligações entre Ciência, Tecnologia e Sociedade e História e Natureza da

Ciência. Portanto, uma Educação em Ciências equilibrada vai focar-se no

desenvolvimento de três tipos de conhecimentos: saber que (factos, “acontecimentos”,

fenómenos, experiências), saber como (destrezas, processos, habilidades) e saber porquê

(explicações, modelos, analogias, teorias, redes de conceitos) (Wellington & Ireson,

2008).

Atendendo ao que foi referido anteriormente, a Educação em Ciências deve ser

organizada de modo a contribuir para uma melhor qualidade de vida da população e,

portanto, promover o desenvolvimento da literacia científica. É mais importante ensinar

os alunos a enfrentarem a evolução do conhecimento científico e tecnológico, do que

ensinar aquilo que já é conhecido. De acordo com a Organisation for Economic Co-

operation and Development (OCDE) (2006), um individuo com literacia científica:

“tem conhecimento científico e é capaz de o usar para identificar questões, adquirir novo

conhecimento, explicar fenómenos científicos e é capaz de elaborar conclusões

fundamentadas sobre temáticas relacionadas com Ciência;

compreende as características particulares da Ciência, como uma forma de investigação e

conhecimento humano;

tem consciência do modo como Ciência e Tecnologia modificam os ambientes cultural,

material e intelectual;

detém o desejo de envolver-se em questões relacionadas com a Ciência e com o

conhecimento científico, enquanto cidadão consciente.” ( p. 23).

Portanto, para que o aluno se torne uma pessoa com literacia científica é

necessário que os professores de Ciências adotem práticas de ensino centradas no aluno,

onde ele assume um papel ativo na sua aprendizagem. De acordo com Chagas (2000),

para promover a literacia científica crítica, o aluno deve aprender a tomar decisões

fundamentadas e a agir em conformidade; deve aprender Ciência, aprender acerca de

Page 40: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

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Ciência e fazer Ciência. O professor deve adotar uma abordagem mais personalizada e

crítica da Ciência, permitindo ao aluno aprender a agir de forma responsável e

fundamentada sobre assuntos sociais, económicos, ambientais, éticos e morais. O aluno

deve ser envolvido em atividades de aprendizagem diversificadas, destacando-se as

metodologias de ensino assentes em pesquisas e investigações (Chagas, 2000).

Em suma, num programa de literacia científica, as práticas de ensino adotadas

pelos professores de Ciências devem atender aos seguintes domínios: conhecimento

concetual, processual, metodológico e epistemológico; atitude; raciocínio e

comunicação. A Educação em Ciências deve potenciar o desenvolvimento integral dos

alunos e deve ser para todos os alunos, logo deve atender à diversidade, à cultura, à

história e à equidade de género. Se não se atender a estes fatores “os alunos sentem-se

alienados nas aulas de Ciências e afastam-se das aulas de Ciências logo que podem”

(Reiss, 2002, p. 255). Para que todos os alunos aprendam Ciência e adquiram um

conhecimento mais profundo e enriquecido em Ciência, os professores devem assumir

uma abordagem multicultural nas escolas; devem promover a equidade de género e

incluir nas aulas de Ciências uma perspetiva evolutiva do conhecimento/História da

Ciência e do conhecimento realizado no Oriente e Ocidente (Reiss, 2002).

A Ciência deve ser ensinada juntamente com os seus métodos, as suas

aplicações, o seu impacto na sociedade e com alguma consideração pela sua natureza e

limites. “A abordagem tradicional do currículo de Ciências com mais ênfase na

recordação factual, nas ideias inertes, nas leis e teorias irrelevantes e nas abstrações

difíceis tem resistido à mudança” (Wellington & Ireson, 2008, p. 60), mas uma

abordagem exclusiva no processo e habilidades também é indesejável, assim como o

ensino do processo isoladamente do conteúdo (Wellington & Ireson, 2008).

Para se alcançarem as finalidades definidas para a Educação em Ciências é

necessário mudar a metodologia de ensino adotada pelos professores e por todos os

intervenientes neste processo. Se o objetivo principal é ensinar Ciências para a

promoção da literacia científica, isto é, para que os alunos aprendam Ciência, aprendam

a “fazer” Ciência e aprendam acerca da Ciência, é preciso abandonar a metodologia de

transmissão-receção e adotar uma metodologia construtivista.

Nesta metodologia de ensino por transmissão-receção, o aluno é um sujeito

passivo, é acrítico e mero reprodutor de informação (Jiménez, 1996; Cachapuz, Praia &

Jorge, 2002). O que se passa na sua mente não é importante pois o que importa é o

estímulo que lhe é dado pelo meio exterior. Jiménez (1996) ainda consigna que o

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professor não se preocupa com o que o aluno já sabe, e a sua preocupação principal é

conhecer bem os conteúdos a ensinar e expô-los verbalmente de modo claro e ordenado,

pois há a crença de que se o professor explica bem, o aluno aprende bem. Nesta

metodologia de ensino, como referem Cachapuz, Praia e Jorge (2002), o professor é

visto como a fonte de autoridade científica e, habitualmente, usa como recursos

didáticos o manual escolar ou recursos audiovisuais, repletos de informação e usados

numa ótica demonstrativa. Neste contexto, o conhecimento concetual é valorizado em

relação ao atitudinal, epistemológico ou procedimental e o conteúdo é transmitido já

elaborado, logo, deve ser aprendido tal como é transmitido (Jiménez, 1996). No que

refere às interações na sala de aula, a maior parte das tarefas são realizadas

individualmente, fomentando a competição entre os alunos, e as interações são

unidirecionais, de professor para aluno ou aluno para professor, não havendo lugar para

a discussão e argumentação (Cachapuz, Praia & Jorge, 2002). Cachapuz, Praia e Jorge

(2002) ainda aludem que, de acordo com esta metodologia baseada na teoria de ensino

behaviorista, a avaliação das aprendizagens não é realizada em consonância com o

processo de ensino e o objetivo principal do seu uso é a atribuição de uma classificação

aos alunos, fundamentada essencialmente em comportamentos observáveis e nas

crenças dos professores sobre o ensino que realizam e a aprendizagem que acreditam

que o aluno deve adquirir. Como diz Martins (2006), neste tipo de aulas “o conteúdo da

educação científica não refletia o estado atual da ciência (…) Não acompanhava a

evolução do pensamento epistemológico e este desfasamento era grande em relação aos

avanços da ciência e da filosofia da ciência…” (p.3).

Como já foi mencionado, aos professores de áreas científicas cabe a missão de

preparar os jovens cidadãos para acompanharem as mudanças sociais, a evolução da

Ciência e da Tecnologia e o seu impacto para a sociedade. Neste sentido, Martins

(2006) afirma que “a educação tem de abrir-se para uma visão pluralista e mutável do

mundo, uma visão que permita a cada um desenvolver a sua singularidade e integrar-se

depois no conjunto social” (p.2). Para que estes objetivos sejam alcançáveis, o aluno

tem de assumir um papel ativo na sua aprendizagem. Deste modo, o professor deve

assumir um papel de facilitador da aprendizagem, promovendo um ensino que

possibilite aos alunos aprender a planificar e a ser o mais independentes possível na sua

aprendizagem e motivando-os consequentemente para a sua autonomia na

aprendizagem (Bonito, 2008). Como defende Martins (2006), cabe ao professor orientar

a aprendizagem dos alunos e refletir sobre o processo de ensino, procurando diversificar

Page 42: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

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as estratégias de ensino adotadas. Uma aula estruturada e desenvolvida nestes princípios

é uma aula assente na perspetiva construtivista e, segundo Jiménez (1996), é uma aula

em que o aluno é responsável pela sua aprendizagem porque transforma a nova

informação e integra-a na sua estrutura cognitiva, construindo os seus próprios

significados, que podem ou não ser os ensinados. Logo, ao usar esta metodologia de

ensino assume-se que o aluno só aprende quando reconstrói o seu conhecimento,

partindo do que já possui, e a construção do conhecimento está condicionada pelo seu

desenvolvimento cognitivo e pelos seus conhecimentos prévios. Como refere Jiménez

(1996), na implementação deste modelo deve haver uma fase de exploração das ideias,

uma de reestruturação dos conhecimentos, incluindo a criação de conflitos cognitivos, a

introdução das novas ideias e a sua aplicação a novos contextos. As interações na sala

de aula são múltiplas, quer entre professor e estudantes, quer entre eles (Cachapuz, Praia

& Jorge, 2002) e a exploração das ideias e a aprendizagem cooperativa exigem um

clima de diálogo na aula, onde todos os intervenientes se sintam capazes de expor as

suas ideias e de falhar (Jiménez, 1996). Os recursos e os materiais usados podem ser

livros de texto, guias de trabalho, programas de trabalho e portfólio, entre outros

(Jiménez, 1996).

Em suma, numa metodologia de ensino assente na transmissão-receção são

enfatizados os conceitos e na construtivista são enfatizados os conceitos, os processos e

as relações interpessoais, pelo que o professor deve ser detentor de conhecimentos do

conteúdo da disciplina, psicopedagógicos e da didática das Ciências. Analisando alguns

dos documentos reguladores do ensino e da aprendizagem das Ciências portugueses,

nomeadamente, a Lei de Bases do Sistema Educativo, Lei n.º 65/2015, de 3 de julho; o

Currículo Nacional do Ensino Básico (ME-DEB, 2001) e as Orientações Curriculares

do 3.º Ciclo do Ensino Básico (Galvão et al., 2001) constata-se que são consistentes

com a perspetiva construtivista, pois em todos eles estão presentes aspetos gerais do

construtivismo, nomeadamente, o papel ativo do aluno na aprendizagem; o professor

como orientador da aprendizagem, que diversifica as atividades e reflete sobre o

processo de aprendizagem dos alunos; a importância dos conhecimentos prévios dos

alunos na construção do conhecimento e as interações múltiplas na sala de aula.

Como é referido por Gomes et al. (2017) é necessário que se adeque a

globalidade da ação educativa às finalidades do perfil de competências que os alunos

devem possuir à saída da escolaridade obrigatória. Os autores referem um conjunto de

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ações que os professores podem desenvolver e que são determinantes para o alcance do

perfil de competências dos alunos:

“Abordar os conteúdos de cada área do saber associando-os a situações e problemas

presentes no quotidiano da vida do aluno ou presentes no meio sociocultural e geográfico em

que se insere, recorrendo a materiais e recursos diversificados;

Organizar o ensino prevendo a experimentação de técnicas, instrumentos e formas de

trabalho diversificados, promovendo intencionalmente, na sala de aula ou fora dela, atividades

de observação, questionamento da realidade e integração de saberes;

Organizar e desenvolver atividades cooperativas de aprendizagem, orientadas para a

integração e troca de saberes, a tomada de consciência de si, dos outros e do meio e a

realização de projetos intra ou extraescolares;

Organizar o ensino prevendo a utilização crítica de fontes de informação diversas e das

tecnologias da informação e comunicação;

Promover de modo sistemático e intencional, na sala de aula e fora dela, atividades que

permitam ao aluno fazer escolhas, confrontar pontos de vista, resolver problemas e tomar

decisões com base em valores;

Criar na escola espaços e tempos para que os alunos intervenham livre e responsavelmente;

Valorizar, na avaliação das aprendizagens do aluno, o trabalho de livre iniciativa,

incentivando a intervenção positiva no meio escolar e na comunidade.” (Gomes et al, 2017,

p.18)

As ações supracitadas requerem a adoção pelos professores de metodologias

ativas de aprendizagem, onde os alunos são os “atores” principais na (re)construção do

conhecimento. Nestas metodologias de ensino, o ensino de conceitos pelos conceitos

deixa de ter sentido, pois os alunos atingem um conhecimento mais profundo e

completo quando aprendem os conceitos enquanto procuram uma explicação ou

procuram dar sentido a algo que foi questionado (Martins, 2002). Usando metodologias

ativas de aprendizagem, os alunos desenvolvem as competências necessárias para

acompanharem autonomamente a evolução do conhecimento científico e tecnológico,

pois têm oportunidade de aprender a resolver problemas, analisar criticamente

argumentos e discutir limites de validade de conclusões alcançadas, confrontar pontos

de vista e formular novas questões (Martins, 2002; Morán, 2015).

Como é referido por Chagas (2000), as práticas de ensino frequentemente

utilizadas pelos professores não estão ajustadas aos novos desafios colocados ao Ensino

das Ciências: o desenvolvimento da literacia científica nos alunos. A conservação de

práticas de Ensino das Ciências centrados na aquisição de terminologias, factos,

Page 44: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

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princípios e leis, é um facto a nível internacional (National Academy Press, 2000). No

entanto, em contraste com as práticas que reforçam o ensino convencional das Ciências

existem diversas metodologias de ensino e aprendizagem ativas que envolvem

ativamente o aluno na sua aprendizagem, colocando-o como o “ator” principal deste

processo (Morán, 2015). Morán (2015) ainda defende que entre as diversas

metodologias ativas, destacam-se as que se centram em questões geradas pelo próprio

aluno e que o envolvem na resolução de problemas, em trabalho de grupo colaborativo,

obrigando-o a elaborar um desenho de investigação e a recolher, analisar e interpretar

dados para, posteriormente, responder às questões formuladas inicialmente. A

Aprendizagem Baseada em Projetos é um método de ensino que se baseia nestes

princípios e que contribui, portanto, para o desenvolvimento da literacia científica dos

alunos.

Em Portugal, a utilização do trabalho de projeto nas escolas já ocorre com

alguma frequência e regularidade, apesar de ser poucas vezes usado como um método

de ensino para o estudo dos conteúdos definidos no currículo. Anualmente, há algumas

entidades que desafiam as escolas e os professores, no âmbito da Educação em

Ciências, a desenvolverem atividades de procura ativa do conhecimento pelos alunos,

através de competências de investigação que têm por base o levantamento de questões.

O objetivo dessas atividades é despertar a curiosidade e criatividade dos alunos e

motivá-los para a aprendizagem e para a aquisição de um conhecimento mais

significativo. Um exemplo destas iniciativas é o programa Ciência Viva que promove o

desenvolvimento de vários projetos nacionais e internacionais como é o caso do projeto

europeu MARCH (Making Science Real in Schools). Este projeto decorreu entre 2014 e

2017 e envolveu organizações de sete países europeus. Em cada país foi criada uma

rede de escolas, centros de investigação e parceiros locais com o objetivo de promover a

inovação na Educação em Ciência e Tecnologia. Este desafio foi aceite em Portugal por

grupos de 25 escolas que se propuseram a identificar problemas ambientais locais e a

procurar soluções para tornar as suas cidades sustentáveis, com recurso à Ciência e à

Tecnologia. As atividades foram desenvolvidas pelos alunos, com a colaboração de

professores, investigadores de universidades e entidades locais, e através do método da

Aprendizagem Baseada em Projetos (ABPj) (Ciência Viva, 2014).

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30

2.2.2. O Trabalho de Projeto em Portugal e os desafios distintos da Aprendizagem

Baseada em Projetos

Em Portugal, o uso do Trabalho de Projeto, que embora com características distintas da

ABPj pode ser um espaço curricular para a desenvolver, no Ensino Básico e Secundário,

tem sofrido avanços e retrocessos, tendo havido nos últimos anos um desinvestimento

pelos professores de Ciências e Ministério da Educação neste método de ensino. Nas

tabelas que se seguem, é apresentada uma síntese da Legislação emanada pelo

Ministério da Educação, ao longo dos últimos anos, sobre o trabalho que as escolas e os

professores devem desenvolver ao nível do trabalho de projeto.

A análise do Quadro 2 permite constatar que após a publicação da Lei de Bases

do Sistema Educativo foram necessários quase três anos para a criação da área

curricular não disciplinar “Área Escola”.

Quadro 2 - Evolução da Legislação Portuguesa sobre o Trabalho de Projeto no Ensino Básico e

Secundário até 2001

Documento legal Descrição do conteúdo principal

Ano 1986

Publicada a Lei de Bases do

Sistema Educativo – Lei nº

46/86 de 14 de outubro.

Estabelece o quadro geral do

Sistema Educativo.

No artigo 2.º, “Princípios Gerais”, no ponto 4, é referido que o

sistema educativo deverá contribuir “para o desenvolvimento pleno e

harmonioso da personalidade dos indivíduos, incentivando a

formação de cidadãos livres, responsáveis, autónomos e solidários e

valorizando a dimensão humana do trabalho.” (p. 3068). No ponto 5,

do mesmo artigo, ainda é mencionado que, a educação deverá

contribuir para formar “cidadãos capazes de julgarem com espírito

crítico e criativo o meio social em que se integram e de se

empenharem na sua transformação progressiva.” (p. 3068).

Nesta Lei são definidos os objetivos relativos à Educação Pré-

Escolar, Ensino Básico (1.º 2.º e 3.º Ciclos) e Ensino Secundário

(artigos números 5.º, 7.º e 9.º), sendo sempre mencionada a

necessidade de, criar hábitos de trabalho, individual e em grupo;

desenvolver atitudes de reflexão metódica, de espirito crítico e de

adaptação à mudança; desenvolver a capacidade de resolução de

problemas do país e mundial.

Ano 1989

Decreto-Lei n.º 286/89, de 29

de agosto

Estabelece os princípios gerais

que ordenam a reestruturação

curricular, prevista na alínea e),

do n.º1, do artigo 59.º da Lei de

Bases do Sistema Educativo.

Cria a área curricular não disciplinar denominada "Área Escola" e no

artigo 6.º, desta legislação, especifica as suas características. Neste

sentido, no ponto 1, é definida a duração anual de 95 a 110 horas,

para todos os anos de escolaridade do Ensino Básico e Secundário, e

é atribuído o puder de decisão às escolas sobre a respetiva

distribuição, conteúdo e coordenação. No ponto 2, é proposta a

realização de atividades e projetos multidisciplinares, a articulação

entre a escola e o meio envolvente e a formação pessoal e social dos

alunos.

O plano de concretização da Área Escola, nomeadamente, sugestão

de metodologias e atividades bem como a determinação de

responsabilidades e iniciativa não foi definido neste documento mas

posteriormente.

Page 46: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

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Quadro 2 – Evolução da Legislação Portuguesa sobre o Trabalho de Projeto no Ensino Básico e

Secundário até 2001 (cont.)

Documento legal Descrição do conteúdo principal

Ano 1990

Despacho Nº142/ME/90

Aprova o plano de concretização, define o

modelo organizativo e apresenta

sugestões de estrutura da Área Escola.

No despacho, no anexo I, são esclarecidos alguns aspetos

relevantes para o desenvolvimento desta área curricular não

disciplinar, a referir:

Artigo 1.º: define Área-Escola;

Artigo 2.º: indica o que se pretende desenvolver nos

alunos com as atividades realizadas na Área-Escola;

Artigo 3.º: identifica os níveis e ciclos de ensino em que

se aplica;

Artigo 4.º: Organização (atribui a responsabilidade aos

órgãos de gestão das escolas para a promoção da sua

concretização e assegurar a respetiva orientação

pedagógica);

Artigo 5.º: Indica como podem ser iniciados os projetos;

Artigo 9.º: enumera algumas funções dos alunos e

professores;

Artigo 11.º a 15.º: Avaliação

No entanto, os moldes em que deveria funcionar e o que se pretendia

desenvolver nos alunos com esta nova área curricular não foram clarificados, tendo sido

atribuído às escolas essa responsabilidade e autonomia e permitindo que fosse

implementada, por vezes, de forma indevida. Apenas no ano seguinte foi aprovado o

plano de concretização da “Área Escola”, que esteve em vigor até 2001.

O Quadro 3 apresenta um resumo da legislação que substitui a “Área Escola”

pela “Área de Projeto” no Ensino Básico e no Ensino Secundário dos Cursos Gerais e

Tecnológicos, e clarifica a necessidade desta área curricular ser assegurada por dois

professores, preferencialmente de áreas científicas diferentes.

Quadro 3 - Evolução da Legislação Portuguesa sobre o Trabalho de Projeto no Ensino Básico e

Secundário entre 2001 e 2004

Documento legal Descrição do conteúdo principal

Ano 2001

Decreto-Lei n.º6/2001,

de 28 de janeiro

Estabelece os

princípios orientadores

da organização e da

gestão curricular do

Ensino Básico.

No artigo 3.º, “Princípios Orientadores”, na alínea c), é referida a existência de

áreas curriculares e não curriculares para promover o desenvolvimento integral

dos alunos e permitir a realização de aprendizagens significativas.

No capítulo II, no artigo 5.º, ponto 2, é definido o currículo do ensino básico,

nos três Ciclos de Ensino, que inclui áreas curriculares disciplinares e não

disciplinares. No ponto 3 são indicadas quais são as áreas curriculares não

disciplinares (Área de Projeto, Estudo Acompanhado e Formação Cívica) e o

que se pretende que seja desenvolvido em cada uma. Relativamente à Área de

Projeto, no Capítulo II, artigo 5.º, ponto 3, alínea a), é referido que visa a

conceção, realização e avaliação de projetos, através da articulação entre as

várias áreas curriculares, sobre temas que vão ao encontro aos interesses dos

alunos.

No mesmo documento é referido que, a Área de Projeto deve ser assegurada

por dois professores da turma, preferencialmente de áreas científicas diferentes.

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Quadro 3 – Evolução da Legislação Portuguesa sobre o Trabalho de Projeto no Ensino Básico e

Secundário entre 2001 e 2004 (cont.)

Documento legal Descrição do conteúdo principal

Ano 2001

Decreto-Lei n.º7/2001,

de 18 de janeiro

Estabelece os

princípios orientadores

da organização e da

gestão curricular dos

cursos gerais e dos

cursos tecnológicos do

Ensino Secundário

Regular.

No capítulo II, artigo 5.º, ponto 2, é definido o plano de estudos dos cursos

gerais, com uma componente de formação geral, uma componente de formação

específica e uma componente de área de projeto, e a carga letiva semanal de

cada uma. No ponto 3, do mesmo artigo, é definido o plano de estudos dos

cursos tecnológicos, também com uma componente geral, uma componente de

formação científico-tecnológica e uma componente de projeto tecnológico.

No ponto 4, alínea c), do artigo 5.º, é referido que a área de projeto ou área de

projeto tecnológico, dependendo do curso, visa “desenvolver uma visão

integradora dos saberes e da relação teórico-prática, assim como promover a

orientação escolar e profissional e facilitar a aproximação ao mundo do

trabalho". (p. 267).

Ainda no mesmo artigo mas no ponto 5, ainda é apelado às escolas o

desenvolvimento de outros projetos e atividades que contribuam para o

desenvolvimento pessoal e social dos alunos.

A Área de Projeto ou Área de Projeto Tecnológico é assegurada por uma

equipa de dois professores da turma, preferencialmente, dos que lecionam

disciplinas da componente de formação específica. Ambas têm uma carga

horária semanal de 3 unidades de tempo nos 10.º, 11.º e 12.º anos. Funcionava

de forma integrada numa das disciplinas da componente científico-tecnológica

nos 10 e 11.º anos e autonomamente no 12.º ano,

Esta legislação mentem-se em vigor até 2004, ano em que se inicia o

desinvestimento na “Área de Projeto” pelo Ministério da Educação. A análise do

Quadro 4 permite verificar que o desinvestimento na “Área de Projeto” começou por

ocorrer ao nível do número de professores e do número de horas semanais e culminou

com a sua extinção ao fim de sete anos no Ensino Básico, e oito anos no Ensino

Secundário.

Quadro 4 - Evolução da Legislação Portuguesa sobre o Trabalho de Projeto no Ensino Básico e

Secundário entre 2004 e 2012

Documento legal Descrição do conteúdo principal

Ano 2004

Decreto-Lei n.º74/2004,

de 26 de Março

Estabelece os princípios

orientadores da

organização e da gestão

do currículo do Ensino

Secundário.

No artigo 6.º, ponto 4, é referido que a matriz curricular dos cursos

científico-humanísticos, com exceção dos de ensino recorrente, inclui a

Área de Projeto. Nos Cursos Tecnológicos tem o nome de Projeto

Tecnológico.

Este Decreto-Lei altera o número de professores que asseguram a Área de

Projeto ou Projeto Tecnológico, por turma, passando a ser assegurado por

um professor. Relativamente à carga horária semanal, nos Cursos

Científico-Humanísticos passou a ser de duas unidades semanais, apenas no

12.º ano, e nos Cursos Tecnológicos, o Projeto Tecnológico, passou a fazer

parte da Área Tecnológica Integrada, componente de Formação

Tecnológica, e também a funcionar apenas no 12.º ano, com 27 unidades

letivas.

Ano 2011

Decreto-Lei nº 18/2011,

de 2 de fevereiro

No artigo 1.º, alínea b), procedeu-se à eliminação da Área de Projeto, do

elenco das Áreas Curriculares Não Disciplinares do Currículo do Ensino

Básico.

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Quadro 4 – Evolução da Legislação Portuguesa sobre o Trabalho de Projeto no Ensino Básico e

Secundário entre 2004 e 2012 (cont.)

Documento legal Descrição do conteúdo principal

Ano 2012

Decreto-Lei n.º139/2012, de 5

de julho

Estabelece os princípios

orientadores para os alunos dos

Ensinos Básico e Secundário.

(inclui as matrizes curriculares

do Ensino Básico e Secundário).

Este Decreto-Lei elimina a Área de projeto ou Projeto tecnológico do

currículo, quer do Ensino Básico (já tinha sido eliminada), quer do

Ensino Secundário. Na introdução do diploma é mencionado que

“pretende-se que a educação para a cidadania enquanto área

transversal seja passível de ser abordada em todas as áreas

curriculares, não sendo imposta como uma disciplina isolada

obrigatória, …” (p.3476).

O estudo dos dados, sistematizados nos quadros anteriores, facilmente permite

depreender que as políticas educativas portuguesas não são consistentes e constantes.

Frequentemente são publicados diplomas que introduzem alterações no Currículo do

Ensino Básico e do Ensino Secundário, sem ser clarificado/definido de que modo pode

e deve ser concretizado pelas escolas e professores, permitindo diferentes interpretações

e o reforço de práticas de ensino desajustadas. Como é referido no trabalho da Comissão

de Reforma do Sistema Educativo (CRSE, 1988), “a reforma educativa só poderá ter

êxito se for compreendida e assumida nas escolas e realizada nas escolas” (p. 48). O

facto de o Currículo oficial do Ensino Básico e Secundário ter resultado de um processo

de explicitação iniciado com a publicação da Lei de Bases do Sistema Educativo e que

foi continuado com a emissão de diversos documentos, elaborados em tempos e

contextos díspares, faz com que o currículo resultante apresente, por vezes, discursos

diferentes, criando-se algumas incongruências (Ferreira, 1999). Este facto é reforçado

pelo Conselho Nacional de Educação que defende que “a continuidade das políticas

educativas, sustentada numa cuidada avaliação, é crucial para o desenvolvimento

estratégico da Educação e não se coaduna com alterações avulsas na estrutura e

organização do sistema” (CNE, 2011b, p.213).

O Conselho Nacional de Educação (CNE), nos pareceres emitidos sobre a

eliminação da Área de Projeto no Ensino Básico e Secundário (Parecer 1/2011 e Parecer

3/2011, respetivamente), defende que os objetivos que justificaram a introdução desta

área curricular não disciplinar mantêm-se pelo que não apoiam a supressão da Área de

Projeto no Currículo. No Parecer 1/2011, no ponto 4 – “Recomendações”, alínea g), o

CNE sugere que a eliminação da Área de Projeto não ocorra:

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“sem que primeiro fossem criados mecanismos para a sua melhoria curricular ou, caso seja

suprimida, tomadas decisões sobre a inserção da metodologia de projeto ao nível das áreas

curriculares disciplinares e não disciplinares e das atividades de enriquecimento do currículo”

(CNE, 2011a, p.60).

O parecer emitido pelo CNE relativamente à reorganização curricular do

Ensino Secundário também defende que se mantenha a Área de Projeto no 12.º ano de

escolaridade, nos Cursos Científico-Humanísticos, e que “se deve investir na divulgação

de experiências positivas e na formação de professores” (CNE, 2011b, p. 213). Nesse

mesmo documento, é mencionado que a eliminação da Área de Projeto, do 12.º ano,

resulta do objetivo do Ministério da Educação pretender reduzir o orçamento gasto na

educação, ou seja, reduzir o número de docentes. No entanto, no mesmo relatório é

deixado o seguinte alerta “avançar com medidas nessa ótica economicista, sem atender

às exigências atuais da formação dos jovens, terá consequências muito negativas para a

educação em Portugal “ (CNE, 2011b, p.212).

Numa investigação, de natureza qualitativa, em que foram realizadas 105

entrevistas, com antigos alunos do Ensino Secundário, sobre as competências

transversais adquiridas no ensino secundário, através das áreas curriculares não

disciplinares, particularmente a Área de Projeto no 12.º ano, constatou-se que “as

competências transversais (e de liderança) adquiridas e desenvolvidas no Ensino

Secundário são importantes para o desenvolvimento integral dos alunos e para a sua

adaptação ao Ensino Superior” (Bento & Mendonça, 2014, p. 241). Nesse estudo foi

destacado o desenvolvimento de algumas capacidades, a referir: organização e

planeamento, dinâmica de trabalho de grupo, autoconfiança, resolução de problemas e

relacionamento interpessoal (muito importante para a adaptação e sucesso no Ensino

Superior). No entanto, também foi referido pelos antigos alunos inquiridos que há

outros aspetos que deveriam ser mais desenvolvidas no Ensino Secundário como: a

motivação para a aprendizagem; a construção de uma opinião pessoal crítica e

fundamentada; a aprendizagem de métodos e técnicas de investigação e a capacidade de

resolução de problemas. Outro aspeto, mencionado pelos alunos, foi a necessidade de os

professores usarem outros e melhores métodos de ensino (Bento & Mendonça, 2014).

De acordo com Mayer (2012) a Aprendizagem Baseada em Projetos não é

sinónimo de Trabalho de Projeto. Na sua perspetiva a designação Aprendizagem

Baseada em Projetos coloca a ênfase numa aprendizagem que é realizada através da

Page 50: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

35

elaboração de Projetos pelos alunos, em resposta a um problema que lhes é colocado ou

que eles próprios formulam. Assim, o Trabalho de Projeto é uma designação mais vaga

que aponta para uma estratégia que pode contar com o envolvimento mais ou menos

reduzido por parte do aluno. Em seguida, é apresentado um quadro que ilustra algumas

das diferenças entre a Aprendizagem Baseada em Projetos e o Trabalho de Projeto.

Quadro 5 - Diferenças entre Trabalho de Projeto e Aprendizagem Baseada em Projetos

Trabalho de Projeto Aprendizagem Baseada em Projetos

Pode ser feito em casa, sem a orientação do

professor ou colaboração dos colegas.

Requer a orientação do professor e a colaboração

dos colegas.

O foco principal é o produto final. O foco principal é o processo de aprendizagem.

Dirigido pelo professor. Dirigido pelos alunos.

Pouco contextualizado ao mundo real. É pouco

relevante para a vida dos alunos.

Baseado em problemas/experiências do mundo

real. É relevante para a vida dos alunos ou para o

seu futuro.

O projeto é realizado depois da aprendizagem. A aprendizagem ocorre através do projeto.

São fechados: todos os projetos têm o mesmo

objetivo.

São abertos: as escolhas dos alunos é que

determinam o resultado e o caminho da

investigação.

Fonte: adaptado de Mayer, 2012

A Aprendizagem Baseada em Projetos é um método de ensino que permite o

desenvolvimento das competências desejadas pelos alunos, favorecendo uma integral

inserção na sociedade atual. No entanto, as sistemáticas alterações da legislação,

pontuais e desconexas, sem ou com insuficiente fundamentação pedagógica, geram

instabilidade no sistema educativo. Alterações do currículo que não são compreendidas

pelas escolas e pelos professores não se traduzem em alterações significativas na

dinâmica de sala de aula e no trabalho desenvolvido pelas escolas.

O Ministério da Educação tem desvalorizado este método de ensino, baseada na

investigação realizada pelo aluno e orientada pelo professor, não disponibilizando

formação adequada e ajustada às necessidades dos professores e que lhes permita

adquirir e desenvolver as competências necessárias para a sua correta implementação.

Como foi consignado num dos pareceres emitido pelo Conselho Nacional de Educação,

a Área de Projeto não deveria ter sido eliminada sem que primeiramente fossem

desenvolvidos mecanismos para a inserção da metodologia de projeto ao nível das áreas

curriculares disciplinares e não disciplinares. Para que se verifique a transformação do

Trabalho de Projeto em ABPj é preciso que se invista no desenvolvimento profissional

dos professores, no âmbito do Trabalho de Projeto e da Aprendizagem Baseada em

Projetos.

Page 51: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

36

2.3. Aprendizagem Baseada em Projetos, conceções e representações sobre as

práticas

2.3.1. Características da Aprendizagem Baseada em Projetos

As investigações sobre a aprendizagem das Ciências permitiram melhorar a

compreensão sobre o modo como os alunos aprendem. Baseados nessas investigações

Krajcik e Blumenfeld (2006) defendem que uma aprendizagem das Ciências mais

enriquecida realiza-se com base em quatro grandes princípios: construção ativa,

aprendizagem situada, interação social e ferramentas cognitivas. Na sua perspetiva, o

desenvolvimento de um conhecimento mais profundo da Ciência é um processo

contínuo, onde o aluno constrói e reconstrói o seu conhecimento a partir de novas

experiências e ideias, conhecimentos e experiências anteriores. Os alunos constroem

“ativamente” o conhecimento quando exploram o mundo que os rodeia, observam e

interagem com um fenómeno e formulam novas ideias, estabelecem ligações entre as

novas ideias e as antigas e discutem e interagem com outras pessoas, por isso, o Ensino

orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos é um método de ensino que atende

a esses princípios.

Para Krajcik e Blumenfefd (2006) a aprendizagem mais significativa ocorre

quando está situada num contexto do mundo real. Na sua perspetiva, esta aprendizagem

das Ciências situada, obriga o aluno a envolver-se no estudo de um fenómeno,

desenhando e realizando investigações, elaborando explicações e apresentando as suas

ideias aos outros. Um dos benefícios que referem da aprendizagem situada da Ciência é

que os alunos aprendem mais facilmente o valor e o significado das tarefas e atividades

que realizaram. Quando os alunos fazem uma experiência, executando apenas os passos

de um protocolo detalhado, pouco mais aprendem do que quando ouvem passivamente a

explicação de um professor, mas quando os alunos desenham a sua própria investigação

para dar resposta a um problema que é importante para si e para a sua comunidade,

conseguem compreender como é que a Ciência pode ser usada para resolver problemas

importantes (Krajcik & Blumenfefd, 2006). Isto significa que quando os alunos

adquirem a informação num contexto que lhes é familiar e a relacionam com

conhecimentos e experiências anteriores, conseguem desenvolver uma melhor e maior

compreensão do conceito (Bell, 2010). Outro benefício da aprendizagem situada é que o

aluno consegue mais facilmente aplicar o novo conhecimento a novas situações

Page 52: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

37

(Ayodele, 2016; Bell, 2010; Ergul & Kargın, 2014; Krajcik & Blumenfefd, 2006), o que

não acontece quando o aluno participa em experiências em que lhe é fornecido um

protocolo detalhado do procedimento a adotar (Ayodele, 2016; Ergul & Kargın, 2014).

De acordo com Blumenfeld, Marx, Soloway e Krajcik (1996), as interações

sociais também têm um papel muito importante na aprendizagem, pois quando os

professores, estudantes e membros da comunidade trabalham em conjunto numa

atividade situada, obtêm-se melhores resultados na aprendizagem e os estudantes

melhoram a compreensão dos princípios e das ideias através da partilha, uso e debate

com os outros.

Na perspetiva de Krajcik e Blumenfefd (2006), as ferramentas cognitivas

também desempenham um papel muito importante na aprendizagem das Ciências. Os

gráficos são exemplos de ferramentas cognitivas que ajudam a identificar padrões nos

dados recolhidos e o software dos computadores é outro exemplo de ferramenta

cognitiva porque pode auxiliar na concretização de tarefas que não seriam possíveis sem

o suporte do software, como, por exemplo, analisar conjuntos de dados completos,

funcionando como uma tecnologia de aprendizagem (Krajcik & Blumenfefd, 2006). Os

investigadores Novak e Krajcik (2006) consideram que a tecnologia de aprendizagem

pode ajudar os estudantes em vários aspetos, nomeadamente, no acesso e recolha de

dados e informações científicas; com ferramentas de visualização e de análise de dados,

usadas pelos investigadores em Ciência; permitindo a partilha e troca de informação;

permitindo planear, construir e testar modelos e suportando o desenvolvimento de

documentos digitais, que traduzem o que o estudante compreendeu sobre o assunto

estudado. Apesar dos estudantes poderem usar uma grande variedade de ferramentas

cognitivas, Moura (2016) e Krajcik e Blumenfeld (2006) atribuem uma importância

especial à tecnologia na Aprendizagem Baseada em Projetos, pois permite ampliar o

número de tarefas que os alunos podem realizar na sala de aula e fornece um conjunto

vasto de ferramentas cognitivas que auxiliam o professor a refletir sobre a pesquisa e a

aprendizagem dos alunos. No entanto, para que se possa beneficiar destas qualidades, é

necessário que todas as salas estejam equipadas com computadores em rede e não

apenas as salas de informática, que não são exclusivas das aulas de Ciências (Krajcik &

Blumenfeld, 2006).

De acordo com o Ministério da Educação da Malásia (2006), a Aprendizagem

Baseada em Projetos e o uso da tecnologia trazem um novo valor para a aprendizagem

realizada pelos alunos, porque estimula-os a tornarem-se trabalhadores por conta

Page 53: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

38

própria, pensadores críticos e aprendizes ao longo da vida. Neste documento, defende-se

que neste método os alunos são responsabilizados pela sua aprendizagem, o que lhes

permite desenvolver as suas habilidades sociais, aprendendo a trabalhar com os outros

através do trabalho colaborativo, pois não é apenas uma maneira de aprender mas uma

maneira de trabalhar em conjunto.

Os recursos materiais podem ser diversos pois constituem todos os meios que

podem ser usados na investigação desenhada e desenvolvida pelo aluno. Como foi

referido anteriormente, a tecnologia é um recurso muito importante para a

Aprendizagem Baseada em Projetos, podendo assumir diferentes formatos e

funcionalidades, desde os computadores, os smartphones e os microcomputadores, etc.

(Moura, 2016). Atualmente, os dispositivos móveis, com acesso à internet, por exemplo,

tablet e smartphone, são muito usuais entre os alunos pelo que é “urgente que aprendam

a utilizá-la adequadamente em ambientes de sala de aula” e que se “explore as

oportunidades de aprendizagem, dentro e fora da escola” (Moura, 2016, p. 17). Estes

dispositivos facilitam o acesso à informação e permitem a realização de um elevado

número de tarefas, nomeadamente, a pesquisa e a troca de informação entre pares e/ou

outros elementos que possam colaborar na investigação. No entanto, para que o

professor possa integrar esta ferramenta de aprendizagem nas suas práticas de ensino,

tem de dominar algumas competências digitais, nomeadamente, saber gerir redes

sociais, partilhar com parceiros nacionais ou estrangeiros; elaborar apresentações

digitais; usar e criar blogues para os alunos, por exemplo, publicarem informação;

avaliar através de portefólios digitais, etc. (Moura, 2016).

Numa sociedade de informação e tecnologia é importante que os professores

repensem as suas práticas e aproveitem as potencialidades destas ferramentas, usando os

dispositivos móveis orientados para a aprendizagem dos alunos. É crucial que se ensine

os alunos a viver numa sociedade global e a aproveitar todas as potencialidades destes

dispositivos para aprender. Moura (2016) defende que para o potencial das tecnologias

móveis ser verdadeiramente usado pelos alunos como ferramenta para a sua

aprendizagem, é importante que o professor as use de forma criativa e inovadora, com

recurso a práticas educativas mais colaborativas e interativas, baseadas no trabalho de

equipa, resolução de problemas atuais e reais, jogos educativos e simulações. Como

defende Moura (2016), “mais do que proibir, importa aceitar os desafios e educar para o

uso responsável da tecnologia, para não perder oportunidades de colaboração, interação

e partilha de informação” (p. 21).

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Os dispositivos móveis dos alunos e os computadores da escola podem ser

usados como ferramentas na Aprendizagem Baseada em Projetos. Os investigadores

Johnson et al. (2016) e Moura (2016) acreditam que, pelo facto de os dispositivos

móveis serem equipamentos pessoais dos alunos, isto pode ser um fator importante e

decisivo para o sucesso do seu uso na educação. No seu trabalho, Moura (2016)

apresenta alguns exemplos de projetos que contribuíram e contribuem para a mudança

de prática educativa de professores, que recorrem ao uso e integração de computadores

e dispositivos móveis dos alunos nas práticas educativas, a referir: “eTwinning” é um

projeto de geminação de escolas europeias; “Conexões literárias” é um projeto de

aprendizagem colaborativa, realizado nas aulas de Língua Portuguesa no estudo de uma

obra de Gil Vicente, com alunos do 9.º ano de escolaridade portugueses e brasileiros;

“Projeto Leituras d’Oriente e d’Ocidente” é desenvolvido nas aulas de Português, com

recurso, por exemplo, a atividades baseadas em vídeos e podcasts, usando o tablet como

instrumento pedagógico e ferramenta de aprendizagem; e “Projeto ERASMUS+ - My

city in QR Codes”, neste último projeto, os alunos utilizaram os seus dispositivos

móveis para efetuar gravações áudio e vídeos, nas diferentes línguas do projeto

(português, francês, inglês, espanhol e língua gestual portuguesa), com o objetivo de

divulgar alguns trabalhos do arquiteto Carlos Amarante, patrono da escola frequentada

pelos alunos, Escola Secundária Carlos Amarante.

Os exemplos de projetos apresentados anteriormente mostram o quanto os

dispositivos móveis e os softwares informáticos podem ser úteis para o sucesso dos

projetos e dos alunos, para além de que permitem aos alunos aceder a um maior número

de experiências de aprendizagem e motivá-los mais para a aquisição de novos

conhecimentos. Porém, Moura (2016) considera que existem alguns desafios e

dificuldades associados à implementação destes projetos, nomeadamente, o número de

alunos por turma e a gestão do espaço e equipamento disponíveis; a falta de qualidade e

estabilidade do sinal da internet; a durabilidade da carga da bateria dos dispositivos

móveis dos alunos que condiciona a sua utilização e a diversidade de sistemas

operativos dos dispositivos móveis. Outro obstáculo, que é colocado às tecnologias de

aprendizagem e a todos os modelos construtivistas, é o tempo de execução, porque

quando são utilizadas atividades situadas e com significado, em que o aluno constrói o

seu próprio conhecimento, o tempo necessário para a sua concretização é muito superior

ao despendido num ensino tradicional (BIE, 2017; Marx et al., 1994). Krajcik e

Blumenfeld (2006) acreditam que para os professores de Ciências fazerem um ensino

Page 55: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

40

orientado para os alunos usarem tecnologias de aprendizagem e realizarem

investigações, é preciso que sejam fornecidos materiais que os orientem no processo e

os currículos devem ser desenvolvidos assentes nos princípios da Aprendizagem

Baseada em Projetos e incorporarem as tecnologias de aprendizagem.

A Aprendizagem Baseada em Projetos é muito importante no processo de

aprendizagem, pois é um método que possui os meios para alcançar as habilidades do

século XXI (Ministério da Educação da Malásia, 2006). Como já referido, o modelo de

ensino tradicional, onde o aluno aprende factos passivamente e recita-os fora de

contexto, não é suficiente para os preparar para as exigências da sociedade atual.

Resolver problemas altamente complexos, exige que os alunos sejam detentores de

habilidades fundamentais e habilidades associadas às novas tecnologias. Este método

permite que os alunos explorem os seus interesses no âmbito do currículo definido, pois

“não é uma atividade suplementar para apoiar a aprendizagem. É a base do currículo”.

(Bell, 2010, p. 39).

Consiste num método de ensino orientado pelo aluno e facilitado pelo

professor, pois “é uma estratégia chave para a criação de pensadores e aprendizes

independentes” (Bell, 2010, p. 39). Neste método as atividades são de longo prazo,

interdisciplinares, os alunos é que vão em “busca” do conhecimento para resolverem

problemas do mundo real, projetando as suas próprias investigações, planejando a sua

aprendizagem, organizando a sua pesquisa e implementando uma diversidade de

estratégias de aprendizagem (Bell, 2010; Mentzer & Brooks, 2017). Como defende Bell

(2010), os alunos questionam, pesquisam, sob a supervisão do professor, coletam e

analisam informações e dados e fazem interpretações, tiram conclusões e, no fim,

partilham as descobertas realizadas com uma audiência selecionada para o efeito. A

colaboração é outro aspeto considerado essencial na construção do conhecimento e no

desenvolvimento do projeto (Mentzer & Brooks, 2017). Como refere Bell (2010), os

alunos com este método adquirem habilidades valiosas para o seu futuro na sociedade

atual.

Este método de ensino permite que se realize uma avaliação “mais completa”,

em termos da diversidade de dados passíveis de serem recolhidos, e uma avaliação

“contínua”, pois são vários os momentos ao longo do processo em que se pode realizar

uma recolha de dados, tornando-a mais fidedigna (Bell, 2010; Ministério da Educação

da Malásia, 2006). O professor aprende mais sobre a criança, enquanto ser humano, o

que lhe permite estabelecer uma comunicação mais significativa e eficaz com o aluno

Page 56: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

41

ou grupo de alunos numa série de assuntos (Ministério da Educação da Malásia, 2006).

De acordo com Blumenfeld et al. (1991), os alunos aprendem mais quando

desenvolvem artefactos, pois enquanto o fazem constroem e reconstroem o seu

conhecimento, alcançando um conhecimento mais profundo e elaborado. Estes autores

acreditam que os artefactos constituem representações do conhecimento adquirido pelo

aluno; resultam das investigações que realizou para responder à questão central; podem

assumir vários formatos, como, por exemplo, modelos físicos ou de computador,

desenhos, vídeos, páginas da internet, relatórios. No entanto, é importante para o

processo de aprendizagem que o professor dê o feedback aos alunos do trabalho que

estão a desenvolver, o que frequentemente não acontece nas melhores condições

(Lasauskiene & Rauduvaite, 2015). Como Krajcik e Blumenfeld (2006) afirmam, é

muito raro os professores darem um feedback com qualidade e individual aos alunos,

porque têm muitas turmas e grandes e muitos professores de Ciências têm pouco

conhecimento sobre como se deve fazer um feedback de qualidade.

Os testes padronizados, habitualmente usados nas escolas portuguesas, não

medem habilidades essenciais para o sucesso do aluno no século XXI. O teste

padronizado é apenas uma medida de realização, pois vai medir o conhecimento de

conteúdo específico que se pretende testar/validar (Bell, 2010). No entanto, em diversos

estudos verificou-se que os alunos sujeitos a este método obtiveram melhores resultados

em testes padronizados do que os alunos sujeitos ao ensino tradicional, pois adquirem

uma compreensão mais sólida dos conceitos e melhoram a capacidade de resposta a

problemas aplicados e concetuais quando sujeitos ao ensino orientado para a

Aprendizagem Baseada em Projetos (Boaler, 1999; Thomas, 2000). A Aprendizagem

Baseada em Projetos promove a aprendizagem ao longo da vida (Bell, 2010; Mentzer &

Brooks, 2017; Ministério da Educação da Malásia, 2006). Como o Ministério da

Educação da Malásia (2006) refere, os alunos tornam-se ativos pois controlam a sua

aprendizagem e são motivados a construir uma nova base de conhecimento e a

tornarem-se aprendizes ao longo da vida.

Page 57: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

42

Este método de ensino é desenvolvido num conjunto de fases que devem ser

concluídas em tempo útil e o trabalho desenvolvido pelos alunos culmina numa

apresentação a um público-alvo, autêntico e apropriado (Bell, 2010). A Figura que se

segue é um esquema que sistematiza as várias fases da ABPj (Figura 2).

Fonte: adaptado de Lorenzoni, 2016; Ministério da Educação da Malásia, 2006

Como é defendido por Bell (2010), o facto de existir uma apresentação final do

projeto a um público-alvo e uma data de conclusão do trabalho, motiva os alunos a

Questão central/motriz

A questão ancorada no mundo real (aberta, complexa e contextualizada) não deve ser resolvida

facilmente e deve motivar/envolver os alunos, pelo que deve ter significado para eles.

Planear a investigação

Os alunos, orientados pelo professor, devem planear a sua investigação colaborativa; definir um

procedimento para a pesquisa a realizar e identificar os materiais necessários.

Calendarizar a investigação

Em conjunto com o professor, os alunos devem criar um cronograma para as várias etapas da

investigação. Nesta fase, o professor deverá ajudar os alunos a perceber que haverá mudanças

na programação definida inicialmente, portanto, que têm de ser flexíveis mas conscientes de que

terão de concluir os seus pensamentos, descobertas e avaliações em tempo útil.

Monitorizar os alunos e progresso da investigação

O professor deverá ajudar os alunos a desenvolverem um trabalho colaborativo e a

desempenharem as funções a que se propuseram, lembrando-os que cada elemento desempenha

um papel fundamental para a conclusão da investigação. O professor deve fornecer os recursos

necessários, promover a reflexão dos alunos e avaliar o seu processo de investigação.

Apresentar o produto final e avaliar o resultado

O produto final elaborado pelos alunos deve ser aplicado na resolução do problema real e os

resultados obtidos deverão ser apresentados a um público autêntico e apropriado. A avaliação

permite dar aos alunos o feedback sobre o seu desempenho na investigação e o que precisam

melhorar futuramente e ajuda os professores a melhoraram a sua ação no futuro.

Figura 2 - Fases do Ensino orientado para a Aprendizagem baseada em Projetos

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realizarem e a concluírem as tarefas que se propuseram fazer ao longo do projeto,

“aprender responsabilidade, independência e disciplina são três resultados da ABPj”

(Bell, 2010, p. 40). Portanto, os alunos para terem sucesso devem gerir o seu tempo de

forma eficaz e manter-se focados nas tarefas que têm de realizar. A definição, pelos

alunos, das estratégias para resolução da questão de investigação, procedimento a adotar

e recursos necessários, permite-lhes aprenderem a ser disciplinados na gestão do seu

tempo (Bell, 2010). No entanto, é muito importante que o professor acompanhe o

processo e se certifique que os alunos estão a desenvolver em plenitude os seus

conhecimentos e habilidades, pois estas são essenciais para o seu sucesso no futuro

(Mentzer & Brooks, 2017).

Quando neste método os alunos trabalham em colaboração, existe a espectativa

entre eles de que cada um deverá contribuir igualmente para o projeto. Deste modo, a

pressão exercida pelos elementos do grupo de trabalho contribuirá para a realização das

tarefas definidas para o projeto pois, frequentemente, a responsabilidade para com os

colegas de grupo motiva e tem mais consequências para o aluno do que se o mesmo

fosse apenas responsabilizado perante o professor (Bell, 2010). O ensino orientado para

a Aprendizagem Baseada em Projetos promove a aprendizagem social, melhorando as

habilidades de colaboração (Bell, 2010). Neste método de ensino, os alunos têm a

oportunidade de praticar as habilidades de comunicação, negociação e colaboração,

necessárias para a sociedade do século XXI (Bell, 2010; Ministério da Educação da

Malásia, 2006; BIE, 2017), pois no decorrer dos projetos, os alunos têm de trocar de

opinião/ideias e ouvir os elementos do grupo de trabalho. Como diz Bell (2010),

enquanto investigam e produzem novas ideias em grupo, aprendem habilidades

primordiais de comunicação eficaz, respeito pelos outros, trabalho de equipa e

negociação da forma de resolver em conjunto o problema e, no final do trabalho, os

alunos realizam uma autoavaliação da sua aprendizagem e da eficácia das suas

interações sociais. Estas habilidades, nomeadamente de colaboração, são fulcrais para o

seu sucesso na sociedade.

Além das potencialidades já referidas, a Aprendizagem Baseada em Projetos

atende aos vários estilos e preferências de aprendizagem dos alunos e respeita as

diferenças que existem entre eles (Bell, 2010; Efstratia, 2014; Ministério da Educação

da Malásia, 2006; BIE, 2017), porque os alunos podem construir os seus conhecimentos

a partir de diferentes contextos e experiências, usando diferentes ferramentas e recursos

para as pesquisas e para elaborar o produto final. Como é mencionado por Bell (2010),

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44

quando os alunos têm liberdade para decidir sobre a sua aprendizagem, aprendem muito

sobre si mesmos, pois ao longo do processo irão refletir sobre as escolhas a adotar,

procurando tomar a melhor decisão possível. Bell (2010) ainda defende que a

oportunidade de falhar faz parte do processo de aprendizagem do aluno, capacitando-o

para fazer melhores escolhas no futuro ao nível do processo, ambiente ou resultado.

Logo, este método permitirá que se torne mais independente e responsável pelo seu

processo de aprendizagem.

Como já foi mencionado neste trabalho, a Aprendizagem Baseada em Projetos

envolve os alunos em tarefas do mundo real. É um método de ensino que permite o

desenvolvimento de muitas das habilidades exigidas pelos empregadores do século

XXI, nomeadamente, a capacidade de desenvolver um bom trabalho com os outros,

lidar com conflitos interpessoais, tomar decisões ponderadas, bem como resolver

problemas complexos (Musa, Mufti, Latiff, & Amin, 2012). Os estudos também

indicam que através da Aprendizagem Baseada em Projetos, os alunos melhoram os

resultados escolares e assumem uma atitude mais positiva para estudar Ciências (Boaler,

1999; Ergul & Kargin, 2014; Ayodele 2016). Como é defendido por Mentzer e Brooks

(2017), a Aprendizagem Baseada em Projetos deve ser vista como uma prática de

ensino e não como uma estratégia de ensino, pois é um método que se afasta das

práticas de ensino habituais, aulas curtas, isoladas e centradas no professor.

Os ambientes de Aprendizagem Baseada em Projetos não são recentes e têm a

sua base numa perspetiva construtivista, ao contrário da instrução tradicional em sala de

aula, pois permitem aos estudantes aprender, fazendo e aplicando ideias. Numa revisão

sobre Aprendizagem Baseada em Projetos pode constatar-se que há uma diversidade de

características definidoras de ambientes de Aprendizagem Baseada em Projetos, mas

não há nenhum modelo universalmente aceite (Thomas, 2000). Com base nas

características frequentemente encontradas na literatura, apresenta-se seguidamente

cinco características principais do método de Aprendizagem Baseada em Projetos

(Krajcik & Czerniak, 2014):

Questão motriz/central ou pergunta de condução;

Pesquisa situada (com oportunidade de investigação científica e de trabalhar

com os dados de investigação e dar-lhes sentido);

Uso de tecnologia para apoiar as investigações;

Oportunidade de colaboração;

Page 60: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

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Relevância do produto final para o mundo real.

Para Krajcik e Blumenfeld (2006), a questão motriz é para ajudar a “organizar

e definir as atividades do projeto, fornecer um contexto em que os estudantes podem

usar e explorar objetivos de aprendizagem e práticas científicas, e fornecer continuidade

e coerência a toda a gama de atividades do projeto” (p.321).

A questão motriz é central para a investigação e antecede a tomada de decisão

sobre as atividades do projeto. De acordo com o Ministério da Educação da Malásia

(2006), o resultado do projeto é incitado pela questão central pelo que a mesma deve:

dirigir o projeto; apreender o tema do projeto; orientar os alunos para os conteúdos e

habilidades que devem dominar para responder à questão e não deve ser facilmente

resolvida ou respondida. Portanto, para elaborar questões centrais é necessário tempo e

um pensamento cuidadoso.

De acordo com McKenzie (2004), a questão central pode desempenhar

diversas funções, conforme se pretende representar na figura 3.

Fonte: adaptado de McKenzie, 2004

McKenzie (2004) explica que o professor deve escolher uma destas funções

para a questão central que vai formular, relacionada com o conteúdo do currículo:

Construir ou inventar. Esta função suporta a construção ou a adaptação para

atender a condições ou requisitos especiais. Um exemplo de problema de

pesquisa mal formulado para esta função é “Pesquise sobre a chuva ácida ou

Função da questão central

Construir ou inventar

Persuadir ou convencer

Desafiar ou destruir

Indagar

Decidir Prever

Descartar

Familiarizar

Compreender

Descobrir

Figura 3 - Função da questão central

Page 61: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

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sobre outro problema que a nação esteja a enfrentar”. No entanto, este

problema estaria bem formulado se fosse apresentado da seguinte forma

“Imagine que lhe foi pedido que criasse um plano para reduzir os danos

provocados pela chuva ácida nas florestas portuguesas. Depois de analisar o

que foi feito no passado, qual seria o principal impulso da sua proposta para

restaurar florestas saudáveis e moderar os impactos das chuvas ácidas? Como

pode melhorar os esforços do passado?”.

Persuadir ou convencer. Esta função identifica os principais argumentos em

nome de uma proposta. Seguidamente, apresenta-se novamente um exemplo de

problema de pesquisa para esta função mas que foi mal formulado “O que

descobriu Marie Curie?”. Este problema estaria bem formulado se fosse, por

exemplo, apresentado da seguinte maneira “Se quisesse nomear Curie como a

cientista mais influente do seu tempo, como apoiaria o seu caso?”.

Desafiar ou destruir. Esta função procura os pontos fracos de uma ideia,

argumento, pesquisa ou plano. Um exemplo de problema de investigação mal

formulado é “Qual é o programa espacial atual para os EUA?”. No entanto,

este problema estaria bem formulado se fosse, por exemplo, apresentado da

seguinte maneira: “Estamos no caminho certo quando se trata de financiar a

NASA e o programa de exploração espacial atual, ou deveríamos fazer grandes

mudanças ou considerar algumas das ideias avançadas pelo presidente Bush?”.

Indagar. Este tipo de função explora dúvidas ou limites mas, ao mesmo tempo,

dá a conhecer possibilidades incomuns e positivas. Um exemplo de um

problema com esta função mal formulado é “Qual é a vida do artista? Do

engenheiro? Do professor? Do político?”, mas estaria bem formulado se fosse

colocado da seguinte forma: “Posso encontrar alegria e bem-estar como artista?

Como engenheiro? Como um professor? Como um político? Como poderia

proteger-me dos riscos e aproveitar ao máximo essa vida?”.

Compreender. Este tipo de função é para orientar o aluno para algum tópico,

ideia, desafio ou proposta. No final, espera-se compreender traços, elementos e

estruturas-chave. O problema “Procure descobrir a costa vitoriana (ou qualquer

outra região, cidade, estado, província ou nação). É muito extensa? Quantas

pessoas vivem lá? Qual é o clima?”, é um exemplo de problema de pesquisa

mal formulado. Este problema estaria bem formulado se fosse apresentado, por

exemplo, como: “Quais são os maiores desafios ou ameaças que enfrenta a

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costa? Posicione as dez maiores ameaças que enfrenta a costa, das mais altas

para a mais baixa, e explique por que as classifica assim. O que deve ser feito

sobre esses desafios?”.

Decidir. Este tipo de função aclara as principais diferenças entre as várias

opções ou fornecerá a base para avaliar para um determinado curso de ação. No

exemplo de pesquisa “Procure descobrir o que as pessoas tentaram fazer para

evitar guerras!”, o problema está mal formulado. Uma forma de apresentar

corretamente este problema é: “Quais foram as abordagens que tiveram o

maior sucesso ao longo dos anos para prevenir a guerra? Por que acha que isso

é assim? Quais as melhores perspetivas para o século atual?”.

Familiarizar. Este tipo de função gera familiaridade e apreciação. Por

exemplo, a questão “Que histórias Annie Prouix escreveu?”, é um exemplo de

problema de pesquisa mal formulado, mas estará correto se for apresentado,

por exemplo, da seguinte forma: “Como mudaram as histórias de Annie Prouix

desde que se mudou para o Wyoming? Essa mudança foi boa? Para onde

espera que ela vá a seguir?”.

Descartar. Este tipo de função desvaloriza o que não vale a pena ter em

consideração. Um exemplo de problema de pesquisa mal formulado para esta

função é: “Qual é a nossa política nos empregos?”, mas estaria bem formulado

se fosse: “O que está a acontecer de errado nos trabalhos?”.

Prever. Este tipo de função fornece hipóteses sobre possíveis resultados. A

questão “Que leis ou princípios científicos provaram ser pouco fiáveis ou

inadequados à medida que ampliamos e aprofundamos a gama de

entendimentos científicos?”, é um exemplo de problema mal formulado para

esta função. Porém, estaria correta se fosse colocada da seguinte forma: “Quais

são as leis científicas, atualmente consideradas verdadeiras, mais propensas a

mudar durante a próxima década? Quais são as menos merecedoras de ser

verdadeiras? Se não podemos confiar na ciência, então, como sabemos o que

fazer?”.

Descobrir. Este tipo de função decifra um enigma, resolve um mistério ou

completa um quebra-cabeças. O processo pode começar com especulações e

hipóteses mas o objetivo é alcançar opiniões baseadas em fatos e na realidade.

No exemplo, “Saiba mais sobre Osama Bin Laden” o problema está mal

formulado, mas estaria bem formulado se fosse apresentado da seguinte forma:

Page 63: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

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“Onde poderia estar escondido Bin Laden? Por que é tão difícil de capturar?

Como pensa Bin Laden? Como podemos superá-lo?”.

No processo de elaboração da questão central pode e deve ser usada uma lista

de verificação para assegurar que está a ser formulada uma boa questão, podendo essa

lista incluir questões do seguinte tipo: é provocativa? É aberta? É desafiadora? Está

relacionada com dilemas do mundo real? Está direcionada para uma disciplina ou

assunto? (Ministério da Educação da Malásia, 2006). Outros aspetos a ter em

consideração na elaboração da questão central são os seus níveis de complexidade,

coerência e autenticidade, pois a questão central deve: exigir múltiplas atividades de

investigação antes que possa ser respondida; trazer coerência às diversas atividades

realizadas no projeto; orientar/direcionar os alunos para as metas e objetivos do projeto

e abordar assuntos reais, problemas do mundo real (Bell, 2010; Mentzer & Brooks,

2017; Ministério da Educação da Malásia, 2006). Como refere Thys, Verschaffel,

Dooren e Laevers (2016), a autenticidade do problema inicialmente fornecido é uma

característica deste método e o facto de estar relacionado com o quotidiano dos alunos

motiva-os e prepara-os para a complexidade do mundo real. Esta ideia é reforçada por

Bell (2010) quando explica que, na Aprendizagem Baseada em Projetos, os alunos

utilizam vários métodos e instrumentos de investigação, semelhante ao que fazem os

investigadores, pois os alunos têm a oportunidade de realizar investigação científica,

planejar e testar as suas ideias, aprender a formular explicações baseadas nas evidências

e nos princípios científicos, e tomar decisões conscientes e devidamente fundamentadas

como deverá acontecer no mundo real para exercerem a sua cidadania.

A Aprendizagem Baseada em Projetos ajuda todos os alunos a aprender

Ciências, independentemente do seu género, cultura ou raça (Krajcik & Blumenfeld,

2006). Krajcik e Blumenfeld (2006) ainda afirmam que, como em qualquer aula, a

Aprendizagem Baseada em Projetos requer uma preparação e planificação das lições,

atendendo às cinco características principais deste método: perguntas de condução,

pesquisa local, colaboração, tecnologias de aprendizagem e artefactos. Por isso, antes de

começar a preparar as lições para implementar este método, o professor tem de definir

quais são os conteúdos programáticos que pretende integrar no projeto e refletir sobre os

materiais e recursos que podem e devem ser disponibilizados aos alunos para a sua

investigação. Durante o processo de investigação, o professor deverá acompanhar os

alunos para os ajudar na gestão do tempo e para garantir que se mantêm focados no

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trabalho de investigação, pois todo o processo deve ser avaliado pelos alunos e pelo

professor (Alozie, Eklund, Rogat & Krajcik, 2010; Krajcik & Blumenfeld, 2006;

Mentzer e Brooks, 2017).

Através de investigações levadas a cabo em parceria com escolas públicas e

com universidades, Krajcik e Blumenfeld (2006) recolheram novos dados relacionados

com a implementação deste método de ensino. Esses novos dados foram interpretados e

associados às características principais da Aprendizagem Baseada em Projetos. Uma das

características é a questão central que, conforme já foi referido, desempenha um papel

crucial no projeto porque é ela que conduz a pesquisa e desperta a atenção/curiosidade

do aluno para o trabalho de investigação. À medida que os estudantes procuram

soluções para a questão central, desenvolvem uma compreensão mais profunda dos

conceitos, princípios e práticas em Ciência. A seleção da questão central é feita pelos

professores, ou por quem define o currículo, mas também pode ser feita pelos

estudantes em colaboração com o professor. Krajcik e Blumenfeld (2006) referem que,

por vezes, os alunos começam o trabalho desenvolvendo as suas questões centrais, o

que tem a vantagem de aumentar o significado da questão para os mesmos. No entanto,

é muito difícil para os alunos criarem questões centrais com as características de uma

boa questão motriz.

Krajcik e Blumenfeld (2006) referem que um dos grandes desafios para os

professores e responsáveis pelo currículo está relacionado com o facto de os alunos não

compreendem, por vezes, o valor da questão central. No entanto, acrescentam que esta

dificuldade pode ser ultrapassada com o uso de experiências familiares. Outro desafio

que as questões centrais colocam é, frequentemente, não atenderem ao que é exigido nas

metas de aprendizagem definidas no currículo (Alozie, Eklund, Rogat & Krajcik, 2010;

Ergül & Kargın, 2014; Krajcik & Blumenfeld, 2006). Para solucionar este problema,

Krajcik e Blumenfeld (2006) sugerem formular a questão motriz depois de definir quais

são as aprendizagens que se pretende que o aluno realize com o projeto. No entanto,

aclaram que este procedimento pode tornar difícil criar questões centrais com

significado e interesse para os alunos.

São vários os defensores de uma aprendizagem das Ciências baseada nos

princípios do processo científico (Bell, 2010). Ou seja, por um lado, as aulas de

Ciências têm de ser consistentes com os objetivos das Ciências, prever e explicar

fenómenos, e, por outro lado, com os processos de investigação em Ciências,

nomeadamente, formular hipóteses a partir de teorias/pesquisas anteriores; desenhar

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uma investigação que permita reunir, analisar e interpretar dados e, a partir desses dados

criar explicações para o fenómeno em estudo (Krajcik & Blumenfeld, 2006).

O método de ensino orientado para a Aprendizagem Baseada em projetos é

muito diferente das aulas tradicionais de Ciências, em que os alunos realizam atividades

curtas, muito orientadas e descontextualizadas, por isso, habitualmente, os alunos

revelam dificuldade em fazer o desenho da investigação (Krajcik et al., 1998). Krajcik e

Blumenfeld (2006) consideram que os alunos têm que aprender como se faz uma

investigação relacionada com a questão central e, para isso, numa primeira fase, o

professor deve explicar qual é o processo de fazer Ciência e deve orientar os alunos ao

longo do processo. Ou seja, os autores defendem que o professor, em colaboração com

os alunos, modela a investigação a realizar e, em seguida, usando essas técnicas, os

alunos realizam as suas próprias investigações enquanto o professor orienta e fornece

feedback sobre o processo.

Uma vez concluído o processo de recolha de dados e de os reunir, o professor

deve apoiar os alunos a desenvolver explicações para os dados obtidos. É difícil para os

alunos usarem as suas explicações para articular e fundamentar as suas opiniões (Sadler,

2004), saber identificar uma evidência e usá-la corretamente (Sandoval & Reiser, 2004),

e analisar os dados de forma isenta, sem que as suas crenças o condicionem (Hogan &

Maglienti, 2001). Fundamentar as conclusões utilizando os dados, que constituem

evidências para a investigação, requer experiência e um raciocínio elaborado, o que a

maior parte dos alunos não possui, assim como muitos professores de Ciências (Krajcik

& Blumenfeld, 2006). Para contornar este obstáculo pode tornar-se explícito o

raciocínio que está por detrás de uma explicação, mostrar como se constroem

explicações, proporcionar aos alunos oportunidades de se familiarizarem com a

construção de explicações, e escrever comentários nos documentos de investigação do

aluno que o auxiliem neste processo (Krajcik & Blumenfeld, 2006).

Os ambientes da Aprendizagem Baseada em Projetos proporcionam aos alunos,

professores e outros membros da comunidade, a oportunidade de colaborarem para

investigar questões e ideias. No entanto, como Mentzer e Brooks (2017) e Krajcik el al.

(citado por Krajcik & Blumenfeld, 2006) referem, os alunos não o fazem naturalmente,

por isso, os professores têm que os ajudar a desenvolver ferramentas de colaboração,

nomeadamente, saber ouvir e respeitar a opinião dos outros. Outro desafio, que os

professores encontram neste método, é o facto de os alunos estarem habituados à

metodologia de ensino baseada na transmissão-receção, pelo que estão à espera que o

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professor lhes transmita o conhecimento e, numa fase inicial, não assumem com

seriedade a aprendizagem colaborativa (Krajcik & Blumenfeld, 2006) e têm a tendência

de esperar pela resposta do professor, continuando a assumir uma atitude passiva na sua

aprendizagem. Krajcik e Blumenfeld (2006) sugerem que para mudar esta atitude dos

alunos, o professor use durante o ano métodos de ensino que permitam aos alunos

aprenderem de uma forma colaborativa.

2.3.2. Conceções sobre a Aprendizagem Baseada em Projetos

A Aprendizagem Baseada em Projetos é um método de ensino centrado no aluno

pelo que se torna relevante explorar o que influencia os alunos quando tomam decisões

no decorrer do projeto. Grant (2011) realizou uma investigação qualitativa, na disciplina

de Geografia, com cinco alunos do 8.º ano de escolaridade, de uma escola particular,

com o objetivo de estudar como os alunos desenvolvem projetos. A partir de entrevistas,

observações e análise de documentos verificou que foram quatro os aspetos que

influenciaram os alunos participantes na tomada de decisões, a referir: influências

internas (habilidades pessoais, persistência e motivação e quantidade de esforço que as

tarefas exigem), influências externas (professor, avaliação final, tempo e logística),

crenças sobre projetos e ferramentas cognitivas para ambientes de aprendizagem,

nomeadamente, tecnologia. Os resultados e produtos de aprendizagem foram moldados

por essas influências.

Ainda na investigação realizada por Grant (2011), os dados recolhidos sugeriram

que os alunos quando têm de escolher um caminho para completar uma tarefa vão

atender aos recursos que lhes são disponibilizados, à quantidade de tempo necessária

para completar o projeto, o grau de dificuldade para o completarem, o esforço

necessário para obter uma boa avaliação final e se o projeto atende às expectativas do

professor.

Grant (2011) constatou que a definição dos alunos sobre “projetos” é

influenciada pelas experiências que tiveram anteriormente com outros projetos e vai

influenciar o artefacto/produto final produzido nos novos projetos. O mesmo autor

notou que os alunos participantes compreendem o valor da Aprendizagem Baseada em

Projetos no que respeita aos elementos motivacionais, à aprendizagem conduzida pelo

aluno e à autonomia e que lhes proporciona uma oportunidade para demonstrarem os

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seus conhecimentos de uma forma diferente dos testes padronizados tendo, portanto,

surgido algumas evidências que os participantes compreenderam que os projetos

apoiam múltiplas representações do conhecimento. No entanto, Grant (2011) concluiu

que apesar de os participantes parecerem compreender o alcance e o propósito da

Aprendizagem Baseada em Projetos, alguns consideravam-na menos significativa do

que o ensino didático a que estavam acostumados – palestras e instrução direta.

Na preparação das aulas através do método ABPj é necessário atender-se às

“vozes” dos alunos. No entanto, as conceções que os professores possuem sobre este

método de ensino também vão influenciar o seu planeamento do processo. Marshall,

Petrosino e Martim (2010) realizaram um estudo sobre as conceções de futuros

professores de Matemática e Ciências sobre a Aprendizagem Baseada em Projetos e a

sua utilização na aprendizagem dos alunos. Os dados recolhidos com os futuros

professores para determinar as suas conceções sobre este método de ensino efetuaram-

se antes da frequência de um curso de desenvolvimento profissional em Aprendizagem

Baseada em Projetos, de caráter obrigatório na sua formação académica. Nesta fase do

estudo, participaram 79 futuros professores, aproximadamente metade de Matemática e

a outra metade de Ciências. Os investigadores constataram que a maioria dos alunos

“candidatos a futuros professores”, ao descreverem este método de ensino,

concentraram-se nas características mais gerais da Aprendizagem Baseada em Projetos,

como a abordagem centrada no aluno, por descoberta e em trabalho de grupo, e os

aspetos mais superficiais, como a duração ou a existência de uma atividade designada

de “projeto”. Tudo isto, surge em oposição às características únicas identificadas por

especialistas na área, como a questão de condução, a produção de um produto final ou

artefacto, a realização de uma tarefa autêntica e orientada pelos alunos ou os elementos

necessários para a sua implementação, como as ferramentas cognitivas, a avaliação

contínua e o acompanhamento prestado aos alunos pelo professor.

Como foi referido por Marshall, Petrosino e Martim (2010), os participantes no

estudo descrevem este método de ensino de uma forma muito vaga, referindo que

envolve um projeto mas sem clarificar a sua natureza ou como deve ser implementado.

Apenas 9% dos alunos referiram que era necessária uma questão de condução e apenas

8% fizeram referência à existência de um produto final/artefacto. Apesar de

reconhecerem que este método de ensino deve envolver uma aprendizagem prática, por

descoberta, menos de 20% referiram que este processo deveria ser conduzido pelos

próprios alunos e envolver uma tarefa complexa. No que concerne ao trabalho

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colaborativo, um dos elementos-chave deste método de ensino, apenas foi mencionado

por 25% dos participantes do estudo; o acompanhamento prestado aos alunos durante o

processo e a sua avaliação apenas foi apontado por 10% dos participantes e o uso de

ferramentas cognitivas não foi indicado por nenhum dos participantes (Marshall,

Petrosino & Martim, 2010).

Ainda no trabalho elaborado por Marshall, Petrosino e Martim (2010) foram

identificadas as barreiras ou inconvenientes para os futuros professores na

implementação da Aprendizagem Baseada em Projetos. As barreiras apresentadas por

mais de um terço dos participantes foram: o tempo inadequado para implementar este

método de ensino; a falta de iniciativa ou disciplina dos alunos e a especificidade do

currículo. No entanto, também foram referidas as limitações de recursos, a realização de

exames nacionais e a cultura escolar. Menos de 10% dos participantes indicaram como

barreiras ou inconvenientes à implementação deste método de ensino o facto de não

funcionar; os pais se oporem à sua implementação; a falta de experiência dos

professores e o próprio currículo.

Hasni et al. (2016) na sua investigação fizeram a recolha de dados através da

análise de artigos publicados, entre 2000 e 2014, em revistas especializadas de educação

em Ciência e Tecnologia e indexadas no banco de dados Education Resources

Information Center (ERIC) – Institute of Education Sciences. Nesse estudo verificaram

que os professores geralmente têm uma compreensão limitada sobre este método de

ensino em comparação com a sua caracterização em publicações científicas. Os dados

que recolheram mostraram que os professores para definirem este método recorrem à

enumeração das suas características e centram-se nas características mais gerais desta

metodologia (ex. método centrado no aluno, descoberta, trabalho de grupo, etc.), em

oposição às características únicas e identificadas por especialistas (ex. problema ou

questão de condução, produto final, etc.) ou aos elementos necessários para

compreender os assuntos a estudar (ex. ferramentas cognitivas, avaliação contínua, etc.).

Para além disso, constataram que os professores atribuem a mesma importância aos

objetivos específicos colocados para a Ciência e Tecnologia e às características (ex.

colaboração, utilização das novas tecnologias) e justificativas (ex. motivação, aquisição

de conhecimentos e habilidades de colaboração, etc.) que não são específicas da Ciência

e da Tecnologia, ou seja, quando utilizam este método, têm tendência para se

concentrarem nos aspetos superficiais e não na aprendizagem específica da Ciência e da

Tecnologia. Ainda concluíram que os professores têm alguma dificuldade em distinguir

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a Aprendizagem Baseada na Resolução de Problemas e a Aprendizagem Baseada em

Projetos, devido ao facto de apresentarem muitas características semelhantes.

Hasni et al. (2016) defendem que esta forma de concetualizar o ensino orientado

para a Aprendizagem Baseada em Projetos poderá levar à sua utilização apenas como

uma estratégia para promover a motivação dos alunos para a aprendizagem e não como

uma ferramenta para a aprendizagem de Ciência e Tecnologia e, portanto, para a

promoção da literacia científica dos alunos.

2.3.3. Representações de práticas sobre o Ensino Orientado para a Aprendizagem

Baseada em Projetos

Como tem vindo a ser enfatizado nas investigações anteriormente referidas, a Educação

em Ciências orientada para a Aprendizagem Baseada em Projetos é um método de

ensino que envolve ativamente os alunos no seu processo de aprendizagem, permitindo-

lhes a aquisição de um conhecimento mais profundo e o desenvolvimento de

competências essenciais para a sua integral inserção na sociedade atual. No entanto,

trata-se de um método de ensino muito diferente das práticas de ensino tradicionais,

obrigando professores e alunos a assumirem papéis diferentes no ensino e na

aprendizagem. Para muitos professores requer a mudança de um ensino que privilegia o

conteúdo para um ensino que privilegia as práticas, em que o aluno conduz a

investigação ou realiza projetos completos que podem, ou não, ter uma resposta pré-

determinada. Neste contexto, serão referidas em seguida algumas investigações sobre as

práticas dos professores no ensino orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos.

Práticas dos professores durante o Ensino orientado para a Aprendizagem Baseada em

Projetos

Mentzer e Brooks (2017) numa investigação cujo objetivo era avaliar a compreensão

dos professores de Ciências sobre a Aprendizagem Baseada em Projetos, como

resultado da sua participação num programa de desenvolvimento profissional extenso,

constataram que numa fase inicial esses professores possuíam um conhecimento

ingénuo sobre as principais características e objetivos deste método de ensino. Também

Page 70: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

55

constataram que esses professores não tinham consciência desta falta de conhecimento,

pois consideravam que tinham uma boa compreensão sobre os seus fundamentos e

modo de implementação. De acordo com estes investigadores foi apenas no terceiro ano

de utilização deste método que os professores se aperceberam que as ideias iniciais

sobre a ABPj não correspondiam à realidade das suas práticas.

De acordo com Mentzer e Brooks (2017), os professores ainda mostraram que

têm muita dificuldade em permitir que os alunos sejam autónomos na sua

aprendizagem, sendo-lhes custoso possibilitar aos alunos que identifiquem

autonomamente as questões importantes para a investigação e definam os meios de

investigação adequados para alcançar os resultados pretendidos. Observaram que

frequentemente os professores definiam e estruturavam o processo de investigação que

deveria ser realizado pelos alunos, sendo o tema muitas vezes comum a todos, pois

todos os alunos utilizavam o mesmo procedimento, seguiam a mesma ordem e obtinham

o mesmo resultado, ou seja, era fornecida ao aluno a “resposta correta”, como explicita

Mentzer e Brooks (2017):

“Frequentemente os professores definem um conjunto de atividades práticas, reunidas sob o

guarda-chuva de um tópico comum. Além disso, os professores fornecem investigações aos

alunos, em vez de fornecer uma pergunta motriz que os motive a desenvolver as suas próprias

investigações e raramente há um produto final” (p. 8).

No estudo realizado por Habok e Nagy (2016), os professores destacam a

atividade dos alunos e o bom ambiente na sala de aula como as características principais

de um projeto bem-sucedido, mas estas duas características também foram destacadas

para o ensino tradicional assim como o entusiasmo dos alunos e a utilização de

metodologias de ensino variadas. Nesse estudo, o uso das novas tecnologias de

informação e comunicação não foi considerado importante na ABPj e a avaliação não

assumiu um papel relevante, não sendo avaliadas as diferentes etapas do projeto.

Marshall, Petrosino e Martim (2010) constataram que os professores não

implementam autenticamente a Aprendizagem Baseada em Projetos quando não têm

experiência em fazê-lo, mesmo que tenham recebido conhecimento teórico sobre o

assunto. Os dados recolhidos através de entrevista a 16 participantes do estudo,

relacionados com a pergunta de condução, descrição dos projetos, trabalho colaborativo

e o cumprimento do projeto, permitiram verificar que cerca de metade dos projetos

tiveram uma duração de uma semana ou menos e a investigação realizada pelos alunos

Page 71: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

56

não permitiu a implementação completa da ABPj; nos projetos era evidente a presença

dos conteúdos da disciplina mas não era considerado prioritária a construção do

conhecimento direcionada pelo aluno e o objetivo fulcral não era a realização do

processo pelos alunos com total compreensão sobre ele. Dos 16 entrevistados apenas

um implementou verdadeiramente este método de ensino.

Ayodele (2016) realizou um estudo com 360 estudantes de 9 escolas secundárias

dos três distritos de Ekiti Estado, Nigéria, cujo objetivo era investigar se o desempenho

académico dos alunos e a sua atitude em relação à Ciência Básica eram influenciados

pela implementação da Aprendizagem Baseada em Projetos. Neste estudo foi usado um

grupo de controlo sujeito ao método de ensino convencional, e um grupo experimental

sujeito ao método ABPj. Na análise da investigação pode constatar-se que o conjunto de

atividades que os alunos desenvolveram no grupo experimental não foram planeadas e

definidas pelos alunos, verificando-se que os professores não conseguiram abdicar deste

controlo e não deram autonomia aos alunos para que desenvolvessem a sua própria

investigação. Apesar de os alunos do grupo experimental terem obtido um melhor

desempenho que os alunos do grupo de controlo, não se pode considerar que a

Aprendizagem Baseada em Projetos tenha sido autenticamente implementada.

Papel do professor

Na investigação realizada por Grant (2011) com 5 alunos do 8.º ano de escolaridade,

constatou-se que uma das principais influências externas ao aluno, mas crítica para o

ambiente de aprendizagem, é o professor. Como já foi mencionado anteriormente, o

papel do professor como facilitador em ambientes de aprendizagem baseados em

projetos é difícil, particularmente porque os professores estão a encorajar os alunos a

assumirem a responsabilidade pela sua aprendizagem. Embora a Aprendizagem Baseada

em Projetos ofereça aos alunos escolha, desafio e controle de conteúdo, recursos e tipos

de artefactos, Grant (2011) verificou que os alunos confiaram no professor para orientar

a sua aprendizagem, pois o professor moldou os recursos que eles usaram, o conteúdo

que pretendiam pesquisar e, de certa forma, os elementos que foram incorporados nos

seus artefactos. Atendendo aos dados recolhidos ao longo da investigação, Grant (2011)

concluiu que as expectativas em relação à avaliação final influenciaram o

comportamento e as ações dos alunos, pelo que o autor considera que os professores

Page 72: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

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devem ser explícitos sobre os elementos necessários dos projetos e os elementos que

podem ser originais, incomuns ou deixados à descrição do aluno.

A falta de envolvimento dos professores na ABPj afeta negativamente o

ambiente de Aprendizagem Baseado em Projetos, pois impede a aplicação eficaz deste

método de ensino (Lasauskiene & Rauduvaite, 2015). Como referem Lasauskiene e

Rauduvaite (2015), baseado numa investigação realizada com nove professores do

ensino superior, a falta de diálogo entre professor e alunos, o encorajamento insuficiente

à reflexão e a desresponsabilização do professor pela eficácia do processo de

aprendizagem, predeterminam a experiência mal sucedida em ABPj.

Num estudo relacionado com as representações sobre a Aprendizagem Baseada

em Projetos de 109 professores do ensino Básico e do ensino Secundário Profissional,

em atividade profissional, com diferente experiência de ensino e que já usaram a ABPj,

Habok e Nagy (2016) constataram que a maioria dos professores não se vê neste método

necessariamente no papel de instrutor, educador ou avaliador. Também observou que no

ensino, a educação social e afetiva e a manutenção da disciplina na sala de aula estão

mais relacionados com os métodos de ensino tradicionais do que com a ABPj. Nesse

mesmo estudo, no que respeita ao desenvolvimento de competências nos alunos, os

professores consideram que podem desenvolver-se, todavia, consideram que podem ter

mais dificuldade em monitorizá-las do que no ensino tradicional, pois para um grande

número de professores o seu papel na ABPj é motivar, desenvolver valores e formar

personalidades, enquanto no método tradicional além de motivarem e desenvolverem

valores, a sua função é ensinar e não formar personalidades. Assim, segundo este

investigador, pode considerar-se que os professores participantes neste estudo

continuam a assumir um papel de educadores e não de facilitadores da aprendizagem,

ou seja, esforçam-se por continuar a desempenhar um papel de liderança.

Barreiras percecionadas pelos professores no EoABPj

Le Levre (2014) ao realizar uma investigação com 30 professores de uma escola,

selecionada com base no envolvimento existente dos pesquisadores com a escola e o

aparente nível limitado de mudança pedagógica, verificou que os professores tendem a

evitar os riscos associados à mudança das suas práticas pedagógicas. Na sua

investigação encontrou que os professores entrevistados identificaram três ações em que

Page 73: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

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não se conseguem envolver por apresentarem um elevado nível de risco: redução da sua

dependência dos livros didáticos, aumento da voz do aluno na sala de aula e partilhar a

sua prática de ensino com os outros. Enquanto os professores considerarem que estas

ações apresentam um elevado risco, o seu ensino não vai mudar e vão continuar a

privilegiar uma educação centrada no professor, pois é-lhes importante manter o

controlo sobre as atividades da sala de aula (Le Levre, 2014). Assumir o papel de

facilitador da aprendizagem dos alunos requer um grande esforço dos professores

porque, frequentemente, assumem que estão a perder o controlo da aula (Habók &

Nagy, 2016). Hertzog (2007) mencionou que muitas das barreiras identificadas pelos

professores para implementar um método baseado em Projetos são externas,

nomeadamente, o currículo e as políticas educativas, e outras estão relacionadas com

fatores internos, como o sistema de crenças do professor sobre o ensino, seus

pressupostos sobre os alunos e valores. Mais uma vez é salientada a dificuldade dos

professores de “desistir do controlo e assumir o papel de facilitador” (Hertzog, 2007, p.

553).

Segundo Alozie, Eklund, Rogat e Krajcik (2010) e Mentzer e Brooks (2017), os

professores mostram as seguintes dificuldades na implementação deste método de

ensino:

Criar uma questão motriz que motive os alunos (Mentzer & Brooks,

2017). A questão motriz ou central é que diferencia a Aprendizagem Baseada em

Projetos das outras atividades práticas ou experiências. Sendo assim, é

importante que o professor compreenda o que é uma boa questão motriz para

implementar verdadeiramente e com qualidade este método de ensino. Gerar

uma questão motriz implica gerar uma questão que motive os alunos a criarem

as suas próprias investigações, que tenham conexão com o conteúdo que se

pretende estudar e a sua vida. Este é o aspeto mais desafiador da implementação

da ABPj para os professores.

Implementar trabalho colaborativo. A colaboração entre os alunos é uma

das características deste método e os professores frequentemente têm a conceção

de que os alunos naturalmente desenvolvem habilidades colaborativas, não as

ensinando aos alunos quando têm de realizar trabalho colaborativo (Mentzer &

Brooks, 2017). Como defende Mentzer e Brooks (2017), é extremamente

importante no método de ABPj que os professores ensinem e treinem os alunos

para o trabalho de grupo, caso contrário, um dos alunos poderá dominar a

Page 74: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

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investigação e não permitir que os restantes colegas opinem sobre o assunto. Os

professores devem facilitar o trabalho em grupo dos alunos, ajudando-os a

trabalhar colaborativamente (Lasauskiene & Rauduvaite, 2015).

Motivar os alunos para a investigação. Os professores devem incentivar

os alunos a permanecerem na investigação porque frequentemente os alunos

dispersam para outros assuntos. Mentzer e Brooks (2017) constataram que a

interpretação que muitos professores fazem sobre “aprendizagem dirigida pelo

aluno” é “tempo de aula livre”, não se preocupando em assumir um papel de

motivador e orientador/facilitador da aprendizagem. Se a aprendizagem for

dirigida pelos alunos e o professor não os acompanhar e os incentivar a manter

na investigação, alguns alunos continuarão a trabalhar e outros não farão nada

pela investigação.

Refletir com os alunos sobre o processo de investigação. Lasauskiene e

Rauduvaite (2015) acreditam que a falta de colaboração/diálogo entre os alunos

e o professor, assim como o reduzido encorajamento de reflexão sobre o

processo de investigação definido pelos alunos e orientado pelo professor,

conduzirá a uma experiência mal sucedida numa Aprendizagem Baseada em

Projetos.

Familiarizar os alunos com o método e com o processo de investigação.

A implementação deste método implica familiarizar os alunos com o processo de

investigação, mostrando-lhes que se pode construir conhecimento de diferentes

modos, usando diferentes instrumentos e técnicas de investigação (Mentzer &

Brooks, 2017). Alozie, Eklund, Rogat e Krajcik (2010) consideram que a

dificuldade em familiarizar os alunos com o método e com o processo de

investigação é um dos obstáculos colocados pela maioria dos professores a este

método de ensino, assim como a falta de habilidade para ajudar os alunos a

combater a resistência ao uso do pensamento crítico.

Avaliar os alunos. Os investigadores Alozie, Eklund, Rogat e Krajcik

(2010) consideram que a dificuldade em desenvolver avaliações autênticas é

outro dos obstáculos dos professores quando implementam este método de

ensino, pois têm dificuldade em realizar uma avaliação dos artefactos. No

entanto, na sua opinião, apesar de ser mais difícil do que a dos testes

convencionais, permite uma avaliação mais justa e fidedigna sobre a

compreensão que o aluno realizou em relação ao tema, pois o professor pode

Page 75: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

60

questionar os alunos sobre as aprendizagens realizadas, antes e durante a

elaboração do artefacto, ajudando-os e incentivando-os a demonstrações de

conhecimento de nível superior. Chagas (2000) também considera que, a

avaliação é outro obstáculo à implementação da ABPj em Portugal. Os testes

padronizados, a nível de escola e nacional, só avaliam o conhecimento de

conteúdo específico para o qual foi projetado e não avaliam as competências

essenciais para o sucesso do aluno no século XXI que são desenvolvidas com

uma ABPj (Bell, 2010). A avaliação formativa deve ser privilegiada e deve ser

realizada quando se realiza uma atividade (Leite, 2000), utilizando “diversas

técnicas e instrumentos de avaliação, de modo a avaliar a diversidade de

conhecimentos associados às atividades laboratoriais” (p. 106). Como referem

Doran, Chan, Tamir e Lenhardt (2002), a avaliação sumativa das aprendizagens

dos alunos é importante pois permite emitir um juízo de valor sobre o progresso

do aluno, no final de uma unidade, no entanto, permite avaliar um número

limitado de conteúdos aprendidos pelo aluno. Estes investigadores defendem que

uma avaliação formativa contínua ou pelo menos sistemática e relevante, com

recurso a diferentes técnicas e instrumentos, permitirá avaliar os vários tipos de

aprendizagens realizadas pelos alunos (concetuais, procedimentais,

epistemológicas e atitudinais).

Resistência do professor à instrução dirigida pelo aluno. Alozie, Eklund,

Rogat e Krajcik (2010) e Mentzer e Brooks (2017) fazem referência a esta

dificuldade nos professores ao aplicarem o EoABPj. Habók & Nagy (2016)

ainda afirmam que é necessário que o professor aprenda a orientar o aluno na

sua aprendizagem autodirigida e para isso terá de receber formação adequada.

As dificuldades supracitadas resultam da falta de familiaridade e experiência dos

professores na implementação do EoABPj (Alozie, Eklund, Rogat & Krajcik, 2010;

Mentezer & Brooks, 2017), porém, estas dificuldades superam-se com uma formação

profissional adequada que permita aos professores desenvolver conhecimento,

confiança e compreensão para implementar a ABPj (Mentezer & Brooks, 2017).

Efstratia (2014) defende que a Aprendizagem Baseada em Projetos é muitas vezes

desvalorizada e invalidada pelos professores devido à sua falta de formação e

experiência na sua implementação, falta de motivação ou por considerarem a ABPj

como mais uma “atividade”.

Page 76: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

61

As ações e vontades dos professores estão condicionadas pelas suas conceções

e crenças (Korthagen, 2004), e o sistema educativo está condicionado pelos professores

porque tudo o que se alcançar nos vários ciclos e níveis de ensino dependerá da vontade

e ações do professor (Martins, 2002). A formação inicial, obrigatória, facultada aos

professores de Ciência (do Ensino Básico e Secundário) é extremamente importante na

definição dos modelos de ensino que os professores adotarão na sua prática profissional

futura. Atendendo a que não é exigida qualquer formação específica em ensino aos

professores do Ensino Superior, é aceitável que se considere que as práticas de Ensino

das Ciências em instituições de Ensino Superior portuguesas sejam predominantemente

de índole transmissiva (Martins, 2002). Portanto, é aceitável que se considere que os

professores de Ciências se sintam mais confortáveis com práticas de ensino assentes

numa perspetiva de ensino de transmissão-receção de informação.

Um outro constrangimento relacionado com a formação inicial de professores

de Ciências é a formação muito especializada e especifica dos professores, que os

tornam menos confiantes e com menos conhecimento para estudar Ciências a partir de

temas integradores, de relevância social e com significado para os alunos (Wellington &

Ireson, 2008). Na formação inicial de professores de Ciências faltam “disciplinas de

Ciências de espetro largo” (Martins, 2002, p. 34) que capacitem o professor para ensinar

a disciplina a partir de temas integradores, motivando mais os alunos para a

aprendizagem, e permitindo-lhe adquirir uma visão mais global e integradora do mundo

que os rodeia.

No que respeita à formação contínua de professores, atualmente está menos

desenvolvida em Portugal. É exigida formação creditada aos professores, para que

possam progredir na carreira docente. No entanto, não é restringida a natureza da

formação, permitindo que os professores de Ciências nunca realizem uma formação

continua em Metodologias do Ensino das Ciências.

Apesar da falta de formação dos professores constituir um constrangimento à

implementação do método ABPj (Habók & Nagy, 2016; Fallik, Eylon & Rosenfeld,

2008; Rosenfeld & Ben-Hur, 2001), não é o único obstáculo à sua implementação. De

acordo com Chagas (2000), para se mudar de direção no ensino, permitindo ao aluno

aprender através de um processo que contribui para o seu desenvolvimento cognitivo,

processual, atitudinal, emocional, moral e espiritual, é necessário que se mude em

algumas vertentes, nomeadamente, curricular, avaliação, recursos, formação de

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professores e Escola, pois só havendo mudanças nestas vertentes é que se promoverá a

literacia científica.

Martins (2002) analisou alguns obstáculos à implementação de uma educação

Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) nas escolas portuguesas. Na perspetiva CTS,

pretende-se:

“conduzir o Ensino das Ciências segundo grandes temas em torno de problemáticas reais e

atuais, selecionar os conceitos de Ciências e Tecnologia que são importantes para o

desenvolvimento de uma explicação/interpretação plausível para o nível de estudos em questão,

levantando questões criadas na sociedade pela repercussão da tecnologia ou pelas implicações

sociais do conhecimento científico e tecnológico” (Martins, 2002, p. 30).

Portanto, a perspetiva CTS está assente nos mesmos princípios que a ABPj e,

em ambos os métodos de ensino, os alunos têm um papel ativo na sua aprendizagem,

devendo questionar e investigar para resolver problemas situados e com significado para

si. Neste sentido, as razões equacionadas pela autora, que funcionam como

constrangimentos à implementação mais alargada desta perspetiva de ensino, podem ser

elencadas para o método ABPj. Martins (2002) defende que os obstáculos podem ser

agrupados em três dimensões, que se influenciam umas às outros: “os professores – sua

formação, conceções e crenças e atitudes; [...] os programas – sua lógica interna e sua

articulação horizontal longitudinal e transversal; [...] os recursos didáticos/materiais”

(p.33).

Os programas escolares definidos pelo Ministério da Educação regulam e

condicionam o trabalho dos professores na sala de aula, nomeadamente, através da

necessidade do seu cumprimento nas várias disciplinas (Abrantes, 2002). Os professores

mencionam, frequentemente, que a extensão e a complexidade dos programas limitam

as suas ações na sala de aula, porque para que possam “ser cumpridos” os professores

têm que adotar estratégias de ensino mais baseadas na transmissão de conteúdos, pois as

atividades que são desenvolvidas autonomamente pelos alunos requerem mais tempo de

estudo (Chagas, 2000; Martins, 2002). Uma aprendizagem ativa é mais completa, pois o

aluno desenvolve um conhecimento mais profundo e complexo e é capaz de o aplicar a

novas situações (Morán, 2015). No entanto, requer mais tempo para que ocorra,

comparativamente com o ensino tradicional em que o aluno é um mero recetor da

informação (Alozie, Eklund, Rogat & Krajcik, 2010). O equilíbrio entre o tempo,

conteúdo e ABPj é um obstáculo identificado pelos professores à implementação da

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ABPj na sala de aula (Marx et al., 1994; Efstratia, 2014). No entanto, Alozie, Eklund,

Rogat e Krajcik (2010) defendem que este obstáculo deve ser desvalorizado pois as

vantagens superam esta desvantagem, já que este método de ensino permite que os

alunos adquiram um conhecimento mais complexo e elaborado e sejam capazes de o

aplicar a novas situações.

Um outro problema nos programas escolares é o facto de não serem estudados

temas relevantes e atuais para os alunos, o que faz com que se sintam alienados e

desmotivados para estudar Ciências (Reiss, 2002). Se a Educação em Ciências não

atender à diversidade, à cultura, à história e à equidade de género, os alunos vão

aprender Ciências de uma forma empobrecida e limitada. Como refere Martins (2002),

os programas escolares estão desfasados das sociedades atuais e dos interesses dos

alunos, portanto, é necessário “selecionar temas educacionalmente relevantes e através

deles permitir que os jovens possam alcançar saberes importantes para a sua formação,

onde se incluem também as principais ideias científicas” (p. 36). Se os alunos não

estiverem interessados e envolvidos nas atividades, não vão aprender Ciências. Como

defendem Wellington e Ireson (2008), um Ensino das Ciências integrado, a partir de

temas reais e atuais, contribuiria para um estudo mais coerente das Ciências. No

entanto, em países como Portugal, nunca se concretizou o Ensino das Ciências a partir

de temas integradores, em parte devido: à formação especializada dos professores; aos

exames nacionais realizados no Ensino Secundário; à compartimentação das disciplinas;

aos horários das escolas; e à dificuldade de colocar professores de diferentes áreas a

trabalhar em conjunto, procurando tornar os temas estudados nas disciplinas mais

integradores (Wellington & Ireson, 2008).

Os recursos disponibilizados aos professores e alunos, nomeadamente, “recursos

laboratoriais, informáticos, audiovisuais e bibliográficos que servem de apoio à criação

de diferentes ambientes de aprendizagem” (Chagas, 2000, p. 10) também podem

constituir um desafio à implementação do Ensino da Ciência Baseado em Projetos, pois

os intervenientes neste processo devem ter disponíveis os recursos materiais necessários

para desenvolverem um trabalho de investigação completo. A cultura da Escola, como

refere Chagas (2000), pode ser um facilitador ou constrangimento à introdução de

mudanças na escola, nomeadamente, na implementação do método de ABPj.

Page 79: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

64

2.4. Formação de professores e Ensino Orientado para a Aprendizagem Baseada

em Projetos

2.4.1. Potencialidades da formação inicial de professores para a implementação do

Ensino Orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos

O Parlamento Europeu e o Conselho da União Europeia (2006) emitiu uma

recomendação sobre as competências essenciais para a aprendizagem ao longo da vida,

tendo estabelecido as seguintes oito competências necessárias para todos os cidadãos:

comunicação na língua materna; comunicação em línguas estrangeiras; competência

matemática e competências básicas em Ciência e Tecnologia; competência digital;

aprender a aprender; competências sociais e cívicas; espírito de iniciativa e espírito

empresarial e sensibilidade e expressão cultural. No mesmo documento é referido que o

“pensamento crítico, criatividade, espírito de iniciativa, resolução de problemas,

avaliação de riscos, tomada de decisões e gestão construtiva dos sentimentos são

elementos importantes nas oito competências essenciais” (Parlamento Europeu e

Conselho da União Europeia, 2006, p. 14). A escola e os professores desempenham um

papel muito importante no desenvolvimento destas competências nos alunos. Porém, é

necessário que se tenha consciência que “muitas destas competências colocam

igualmente grandes desafios aos professores, que podem não as ter adquirido durante a

sua formação, constituindo-se assim como um referencial para a formação contínua”

(CNE, 2013, p. 60).

No relatório técnico elaborado por Ramos, Faria, Ramos F. e Rodrigues

(2016), sobre a condição docente em Portugal, é mencionado que os professores

correspondem a 28% dos trabalhadores da função pública, constituindo o maior grupo

profissional desta administração. Nesse mesmo documento é referido que a

percentagem de professores do sexo feminino é superior a 70%, em todos os níveis de

ensino, e que se tem verificado ao longo dos últimos anos um envelhecimento do corpo

docente:

“Se se estabelecer a comparação, na evolução registada nos últimos anos (2004-2014), entre a

percentagem de educadores de infância em exercício com menos de 30 anos e com 50 e mais

anos de idade verifica-se um decréscimo significativo do número de educadores com menos de

30 anos, de 15,0% para 5,9%, e um aumento expressivo de educadores com 50 e mais anos, de

10,3% para 37,7%. O mesmo acontece nos restantes níveis de educação e ensino, em que se

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65

confirma também um crescimento da percentagem de docentes com 50 e mais anos de idade e

uma diminuição da percentagem de docentes com menos de 30 anos.” (Ramos C., Faria, Ramos

F. e Rodrigues, 2016, p. 10).

Ainda neste relatório, é apresentada a média etária dos professores portugueses,

no ensino básico e secundário, de 44.7 anos de idade. No que respeita à experiência

profissional, em média, os professores portugueses possuem 19.4 anos de experiência,

enquanto na OCDE é 16.2 anos (Ramos C., Faria, Ramos F. e Rodrigues, 2016).

Relativamente ao nível de qualificação profissional, “os professores portugueses são os

que apresentam o nível mais elevado de formação entre os professores da OCDE”

(Ramos C., Faria, Ramos F. e Rodrigues, 2016, p. 12), possuindo, em 2013/2014, mais

de 80% dos professores portugueses uma licenciatura ou equiparado. Em relação a este

indicador importa referir que os atuais níveis de qualificação profissional dos

professores portugueses são muito superiores aos da década de 70 e 80, devido a

medidas tomadas e a projetos desenvolvidos pelo Ministério da Educação, que

procuraram resolver as carências do sistema educativo, a nível do pessoal docente

devidamente habilitado, nomeadamente, através da profissionalização de docentes em

serviço e da criação de licenciaturas em ensino e nos ramos educacionais, conforme se

explorará mais adiante.

Portugal tem assistido a um forte movimento de reformas e alterações da

legislação determinadas, muitas vezes, por diretrizes internacionais, principalmente,

desde a entrada de Portugal, em 1986, para a Comunidade Económica Europeia, e por

“alternância política no governo do país” (Favinha, 2016, p.2). Infelizmente, como

refere Favinha (2016), as alterações nas reformas educativas e na legislação portuguesa

raramente são fundamentadas por “estudos profundos e sustentados” (p.2). A legislação

portuguesa relacionada com a formação de educadores e professores e acesso à

profissão foi sofrendo alterações ao longo dos anos, tendo-se realizado diversas

mudanças e revogações à legislação em vigor. Seguidamente apresenta-se uma tabela

que sistematiza a principal legislação referente à temática em análise.

Page 81: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

66

Quadro 6 - Evolução da legislação portuguesa no âmbito da formação de docentes entre 1986 a 1989

Documento legal Conteúdo principal

Lei n.º 46/86 de 14 de outubro,

alterada pelas Leis n.º 115/97 de 19

de setembro, n.º 49/2005 de 30 de

agosto e n.º 85/2009 de 27 de agosto.

Lei de Bases do Sistema Educativo que estabelece o quadro

geral do sistema educativo.

Decreto-Lei n.º 287/88 de 19 de

agosto

Regulamentou a profissionalização em serviço dos professores

dos quadros, com nomeação provisória. Esta profissionalização

decorria num período de 2 anos escolares, sendo o primeiro ano

para as componentes de ciências da educação e o segundo ano

de projeto de formação para a ação pedagógica. Os professores

que apresentassem seis anos de serviço efetivo, prestado como

portadores de habilitação própria, ficavam dispensados do

segundo ano.

Decreto-Lei n.º286/89 de 29 de

agosto

Aprova os planos curriculares dos ensinos básico e secundário e

no artigo 13.º determina a reestruturação dos grupos de

docência:

“1 - Em acordo com os princípios definidos na Lei de Bases

do Sistema Educativo e com as necessidades decorrentes dos

novos planos curriculares, o Ministro da Educação definirá

por despacho os grupos e respetivas qualificações para a

docência nos ensinos básico e secundário.

2 - Os cursos específicos de formação inicial de professores

dos ensinos básico e secundário devem ser organizados de

acordo com as qualificações definidas para a docência nos

termos do número anterior e em conformidade com o artigo

31.º da Lei de Bases do Sistema Educativo.

3 - O regime de transição para os novos quadros de docência

constará de disposições regulamentares a publicar pelo

Ministro da Educação.

4 - Embora não podendo os professores em exercício ser

afetados nos direitos adquiridos, as novas necessidades do

sistema determinam a sua participação em ações de formação

contínua que visem não só o complemento, aprofundamento e

atualização de conhecimentos e de competências profissionais,

como também operações de mobilidade e de reconversão

profissional.”

O Quadro 6 apresenta a principal legislação relativa à formação de professores

até agosto de 1989. Como se pode verificar pela sua análise, foi apenas em agosto de

1989 que foram definidos os planos curriculares dos cursos específicos de formação

inicial de professores dos Ensinos Básico e Secundário para a obtenção de qualificação

para a docência. Aos Educadores de Infância não é ainda exigida a frequência de cursos

específicos de formação inicial.

A análise do Quadro 7 permite verificar que foi a partir de outubro de 1989 que

ficou definido que a qualificação profissional para Educadores de Infância e professores

do Ensino Básico e Secundário é obtida através da frequência, com aproveitamento, de

cursos específicos de formação inicial de professores.

Page 82: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

67

Quadro 7 - Evolução da legislação portuguesa, no âmbito da formação de docentes entre 1989 a 2000

Documento legal Conteúdo principal

Decreto-Lei n.º 344/89 de 11 de

outubro

Veio definir o ordenamento jurídico da formação de

educadores de infância e de professores dos ensinos básico e

secundário (formação especifica para cada grupo, organização

dos cursos, tomando como quadro referencial a Lei de Bases do

Sistema Educativo e outra legislação relacionada que se

encontrava em vigor). Este documento determina que a

qualificação profissional dos educadores de infância e

professores dos ensinos básico e secundário é obtida através da

frequência, com aproveitamento, de cursos específicos de

formação inicial. No entanto, os professores do 3.º ciclo e

secundário também poderiam adquirir a qualificação

profissional se fossem detentores de habilitação científica para

a docência da respetiva área ou especialidade, após a

frequência, com aproveitamento, de um curso próprio de

pedagogia.

Nesta legislação, no artigo 26.º, ponto 2, é definido que a

formação contínua se inicia com um período de indução, que

será regulamentado posteriormente mas que deverá ser

garantido pelas instituições de formação e que servirá de apoio

ao novo docente.

Decreto-Lei n.º 139-A/90 de 28 de

abril, alterado pelos Decretos-Lei n.º

105/97 de 29 de abril, 1/98 de 2 de

janeiro, 35/2003 de 27 de fevereiro,

121/2005 de 26 de julho, 229/2005

de 29 de dezembro, 224/2006 de 13

de novembro, 15/2007,de 19 de

janeiro, 35/2007 de 15 de fevereiro,

270/2009 de 30 de setembro,

75/2010 de 23 de junho, 41/2012,de

21 de fevereiro, pela Lei n.º 80/2013

de 28 de novembro, pelo Decreto-

Lei n.º 146/2013 de 22 de outubro, e

pela Lei n.º 7/2014 de 12 de

fevereiro.

Aprovou o Estatuto da Carreira dos Educadores de Infância e

dos Professores dos Ensinos Básico e Secundário. Neste

documento são clarificados vários assuntos referidos no ECD e

é clarificado o que se pretende com o período probatório, em

que consiste, como se processa e com que finalidade.

Decreto-Lei n.º 249/92, de 9 de

novembro

(com as alterações que lhe foram

introduzidas pela Lei n.º 60/93, de

20 de agosto, pelo

DL n.º 274/94, de 28 de outubro

pelo DL n.º 207/96, de 2 de

novembro,

pelo DL n.º 155/99, de 10 de maio e

pelo DL n.º 15/2007, de 19 de

janeiro)

Institui o regime jurídico da formação contínua, estabelecendo

as suas finalidades, definindo os princípios que deve obedecer,

as áreas em que deve incidir e as modalidades e níveis que

pode assumir.

Decreto-Lei n.º 241/2000, de 30 de

agosto

Aprovou os perfis específicos de desempenho profissional do

educador de infância e do professor do 1.º ciclo do ensino

básico.

Porém, é apenas no ano 2000 que são definidos os critérios, genéricos a todos os

cursos, que permitem a avaliar a adequação dos cursos aos requisitos de desempenho

docente.

Page 83: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

68

A leitura do Quadro 8 permite constatar que é apenas em agosto de 2001 que é

aprovado o perfil geral de desempenho profissional dos educadores de infância e

professores do ensino básico e secundário, que vai ter um papel crucial na estruturação

dos cursos e na sua uniformização.

Quadro 8 - Evolução da legislação portuguesa no âmbito da formação de docentes entre 2000 a 2001

Documento legal Conteúdo principal

Deliberação n.º

1488/2000 de 15

de dezembro

O conselho geral do Instituto Nacional de Acreditação da Formação de Professores

(INAFOP) homologa os padrões de qualidade da formação inicial de professores.

Estes padrões formam um conjunto de critérios que permitem avaliar a adequação do

curso aos requisitos do desempenho docente e são genéricos a todos os cursos.

Recaem nos seguintes domínios: objetivos profissionais, coordenação e regulação do

curso; colaborações e parcerias para o desenvolvimento do curso; currículo do curso;

seleção e avaliação dos formandos e certificação da qualificação profissional; pessoal

docente e não docente e recursos materiais.

No ponto 3.4 desta deliberação são enumeradas as componentes de formação do

currículo do curso que devem ser articuladas entre si: formação cultural, social e

ética; formação na especialidade da área de docência; formação educacional e

iniciação à prática profissional.

No ponto 3.9 é feita referência ao estágio, sendo comunicado que: “i) é realizado na

lecionação de uma ou mais turmas num sistema de coresponsabilização dos

formandos com o orientador da escola e a supervisão da instituição formadora,

salvaguardando a especificidade de cada nível de educação e ensino; ii) Decorre ao

longo de um ano letivo ou equivalente; iii) Envolve a realização de seminários de

integração científico-pedagógica e teórico-prática, bem como trabalho de análise e

reflexão com os orientadores e com o grupo de estágio.”

Decreto-Lei n.º

240/2001, de 30

de agosto

Aprovou o perfil geral de desempenho profissional do educador de infância e dos

professores dos ensinos básico e secundário e, por isso, assume um papel relevante

na estruturação dos cursos que concedem habilitação profissional para a docência e

na acreditação dessas formações.

A legislação apresentada no quadro que se segue (Quadro 9) decorre da

assinatura da Declaração de Bolonha, em 1999.

Quadro 9 - Evolução da legislação portuguesa no âmbito da formação de docentes entre 2005 e a

atualidade

Documento legal Conteúdo principal

Portaria n.º 1097/2005, de 21 de

outubro

Regulou aspetos relacionados com o estágio pedagógico dos cursos de

formação inicial de professores do 3.º ciclo e do ensino secundário.

Decreto-Lei n.º 74/2006, de 24 de

março, alterado pelos Decretos-Lei n.º 107/2008 de 25 de junho, 230/2009 de 14

de setembro e 115/2013 de 7 de agosto

Aprovou o regime jurídico dos graus e diplomas do ensino superior.

Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19

de janeiro

Procede a alterações ao Estatuto da Carreira dos Educadores de

Infância e dos Professores dos Ensinos Básico e Secundário,

nomeadamente, ao nível da formação contínua de professores,

sobrevalorizando, por exemplo, as que estão relacionadas com a área

de docência do professor.

Page 84: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

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Quadro 9 – Evolução da legislação portuguesa no âmbito da formação de docentes entre 2005 e a

atualidade (cont.)

Documento legal Conteúdo principal

Decreto-Lei n.º 43/2007, de 22

de fevereiro

Fez alterações à estrutura dos ciclos de estudo para atender ao

Processo de Bolonha. Substituiu os modelos de formação que se

encontravam em vigor por um modelo sequencial, organizado em dois

ciclos de estudos.

A habilitação para a docência é apenas habilitação profissional pois

deixa de existir a habilitação própria e a habilitação suficiente.

Decreto-Lei n.º 220/2009, de 8 de

setembro, alterado pelo Decreto-Lei n.º

79/2014 de 14 de maio

Aprovou o regime jurídico da habilitação profissional para a docência,

complementando o Decreto-Lei n.º 43/2007, de 22 de fevereiro.

Despacho n.º 21666/2009, de

28 de setembro

Definiu as regras do período provatório, previsto no Estatuto da

Carreira Docente. Explica que o professor deve ser apoiado e

acompanhado no plano didático, científico e pedagógico por um

professor mentor – professor titular.

Como se pode constatar pela análise dos Quadros 6, 7, 8 e 9, nos últimos anos, a

legislação portuguesa relacionada com a formação de educadores e professores, sofreu

diversas mudanças e revogações à legislação em vigor. Mais uma vez, estas mudanças

constantes da legislação não contribuíram ou contribuem para a estabilidade do Sistema

Educativo português. O relatório, com o título “Common European Principles for

Teacher Competences and Qualifications” (CE, 2005), expõe um conjunto de princípios

que devem ser usados como ferramentas para apoiar o desenvolvimento de políticas

educativas a nível nacional e regional. Um dos princípios que é estabelecido é que o

ensino deve ser uma profissão: com formação superior; em que se realize uma

aprendizagem ao longo da vida; com mobilidade (entre países da União Europeia para

desenvolvimento profissional, entre níveis de ensino diferentes e funções diferentes do

setor educativo) e baseada em parcerias, por exemplo, entre escolas e indústrias.

Piesanen e Välijärvi (2010) também indicam um conjunto de capacidades e

competências-chave para os professores que devem ser desenvolvidas na sua formação,

a referir: conhecimentos sobre a disciplina; conhecimento pedagógico; integração da

teoria e da prática; cooperação e colaboração; avaliação para garantir a qualidade do

processo; mobilidade entre culturas, alunos, professores; liderança e aprendizagem ao

longo da vida.

Em Portugal e no resto da Europa, a formação dos professores tem sido

considerada uma prioridade, porque “uma formação de professores de qualidade

contribuirá para melhorar a qualidade do ensino e consequentemente a qualidade das

aprendizagens e dos resultados escolares dos alunos” (Flores, 2015, p. 192). Em

Portugal, a formação de professores pode ser dividida em dois momentos, antes e depois

Page 85: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

70

da adequação ao Processo de Bolonha. A breve descrição que se segue incide na

formação de professores antes da adequação ao Processo de Bolonha porque “a maior

parte dos diplomados após as alterações decorrentes do denominado Processo de

Bolonha ainda não entraram no sistema: 0.5% dos professores que estão no sistema têm

idade inferior a 30 anos (2013/2014)” (Faria, Rodrigues, Gregório & Ferreira, 2016, p.

4). Por conseguinte, o período que interessa incidir neste capítulo é da década de 80 até

à adequação dos cursos de ensino ao Processo de Bolonha, pois corresponde ao período

em que a maioria dos professores que se encontram a trabalhar no sistema de ensino,

público e privado, adquiriram a formação que os habilita profissionalmente.

No final da década de 80, em outubro de 1986, foi publicada a Lei de Bases do

Sistema Educativo (Lei n.º46/86, de 14 de outubro) que sinaliza o papel pertinente da

formação na competência científica e pedagógica dos professores. No artigo 30.º da

referida Lei são definidos os princípios gerais sobre a formação de educadores e de

professores:

“1 – A formação de educadores e professores assenta nos seguintes princípios:

a) Formação inicial de nível superior, proporcionando aos educadores e professores de todos

os níveis de educação e ensino a informação, os métodos e as técnicas científicos e pedagógicos

de base, bem como a formação pessoal e social adequadas ao exercício da função;

b) Formação contínua que complemente e atualize a formação inicial numa perspetiva de

educação permanente;

c) Formação flexível que permita a reconversão e mobilidade dos educadores e professores

dos diferentes níveis de educação e ensino, nomeadamente o necessário complemento de

formação profissional;

d) Formação integrada quer no plano da preparação cientifico-pedagógica quer no da

articulação teórico-prática;

e) Formação assente em práticas metodológicas afins das que o educador e o professor vierem

a utilizar na prática pedagógica;

f) Formação que, em referência à realidade social estimule uma atitude simultaneamente critica e

atuante;

g) Formação que favoreça e estimule a inovação e a investigação, nomeadamente em relação

com a atividade educativa;

h) Formação participada que conduza a uma prática reflexiva e continuada de autoinformação

e autoaprendizagem.

2 – A orientação e as atividades pedagógicas na educação pré-escolar são asseguradas por

educadores de infância, sendo a docência em todos os níveis e ciclos de ensino assegurada por

professores detentores de diploma que certifique a formação profissional específica com que se

encontram devidamente habilitados para o efeito.”

Page 86: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

71

Relativamente à formação inicial de educadores de infância e de professores

dos ensino básico e secundário, na Lei n.º46/86, no artigo 31.º, é disposto o seguinte:

“1 – Os educadores de infância e os docentes dos ensinos básico e secundário adquirem

qualificação profissional em cursos específicos destinados à respetiva formação, de acordo com

as necessidades curriculares do respetivo nível de educação e ensino, em escolas superiores de

educação ou em universidades que disponham de unidades de formação próprias para o efeito,

nos termos a seguir definidos:

a) A formação dos educadores de infância e dos professores do 1.º e 2.º ciclos do ensino básico

realiza-se em escolas superiores de educação;

b) A formação dos educadores e dos professores referidos na alínea anterior pode ainda ser

realizada em universidades, as quais, para o efeito, atribuem os mesmos diplomas que os das

escolas superiores de educação;

c) A formação de professores do 3.º ciclo do ensino básico e de professores do ensino secundário

realiza-se em universidades.

2 – A formação dos professores de disciplinas de natureza profissional, vocacional ou artística

dos ensinos básico ou secundário adquire-se em cursos profissionais adequados, que se

ministram em escolas superiores, complementados por uma formação pedagógica.

3 – Podem também adquirir qualificação profissional para professores do 3.º ciclo do ensino

básico e para professores do ensino secundário os licenciados que, tendo as habilitações

científicas requeridas para o acesso à profissionalização no ensino, obtenham a necessária

formação pedagógica em curso adequado.

4 – Os cursos de formação de professores do 2.º e 3.º Ciclos do ensino básico e de professores do

ensino secundário serão cursos de licenciatura.

5 – Os cursos de licenciatura para formação de professores do 2.º ciclo do ensino básico

realizados nas escolas superiores de educação organizam-se nos termos do n.º 7 do artigo 13.º.

6 – As escolas superiores de educação e as instituições universitárias podem celebrar convénios

entre si para a formação de educadores e professores.”

No entanto, foi apenas em 1989, com a publicação dos Decreto-Lei n.º286/89 e

Decreto-Lei n.º344/89, relacionados com os planos curriculares e o ordenamento

jurídico da formação de Educadores de Infância e de professores dos Ensinos Básico e

Secundário, que se iniciaram as licenciaturas em ensino nos ramos educacionais para o

Ensino Básico e Secundário, nas instituições de Ensino Superior. Apesar de não existir

apenas um currículo nacional para a formação inicial de professores, nem um só modelo

estrutural ou organizativo, em Portugal a formação inicial de professores, até à data da

adaptação ao Processo de Bolonha, seguiu fundamentalmente dois modelos estruturais:

Page 87: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

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o modelo sequencial e o modelo integrado (Ferreira & Mota, 2013). Um aspeto comum

a ambos os modelos estruturais era o estágio pedagógico, que se realizava no último ano

e tinha a duração de um ano letivo. No entanto, estes modelos estruturais diferiam na

sua duração (5 ou 6 anos) e na distribuição das disciplinas científicas da especialidade e

da educação, ao longo dos anos do curso.

De acordo Esteves (2006), no modelo sequencial, nos primeiros 3 ou 4 anos do

curso, a formação incidia nas disciplinas científicas da especialidade e no penúltimo ano

incidia nas disciplinas científicas da educação. Os cursos que adotaram este modelo

ainda podiam assumir duas configurações distintas pois podiam ter uma duração global

mais curta (5 anos = 3 anos da especialidade + 1 ano da educação + 1 ano de estágio),

com a obtenção do grau de Licenciado em Ensino, ou uma duração mais longa (6 anos =

4 anos da especialidade + 1 ano da educação + 1 ano de estágio), em que ao fim dos

primeiros quatro anos do curso obtinham o grau de licenciado numa dada especialidade

e ao fim dos outros dois anos, obtinham um diploma de profissional para a docência.

Esteves (2006) analisou 120 planos de cursos universitários de formação de professores

do 3.º ciclo do Ensino Básico e do Secundário, para o ano letivo 1992/1993 em

Portugal. Constatou que 54 cursos tinham o modelo sequencial e desses, 19 cursos

tinham a duração de 5 anos e 35 cursos tinham a duração de 6 anos, sendo que os cursos

com duração mais curta ocorriam “predominantemente em cursos de formação inicial

de professores de Ciências” (Esteves, 2006, p. 159) e os de duração de 6 anos ocorriam

“predominantemente em cursos de Faculdades de Letras e de Ciências Sociais e

Humanas” (Esteves, 2006, p. 159). As quatro Universidades mais antigas

disponibilizavam principalmente cursos com o modelo sequencial.

No modelo integrado, as disciplinas científicas da especialidade e da educação

distribuíam-se em simultâneo ao longo do curso, numa tentativa de associar e articular a

teoria e a prática. Este modelo foi uma “criação das então chamadas Universidades

Novas” (Esteves, 2006, p. 59), tinha uma duração de cinco anos e apresentava, em 1992,

quatro configurações possíveis, conforme ilustra o quadro que se segue.

Page 88: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

73

Quadro 10 - Configurações estruturais possíveis dos cursos de formação inicial de professores do 3.º

Ciclo do Ensino Básico e do Ensino Secundário para o modelo integrado e número de cursos que

adotaram cada configuração em 1992

Ano do curso Configuração A Configuração B Configuração C Configuração D

5.º Ano Estágio Estágio Estágio Estágio

4.º Ano Especialidade Educação Especialidade Educação Especialidade Educação Educação

3.º Ano Especialidade Educação Especialidade Educação Especialidade Educação Especialidade Educação

2.º Ano Especialidade Educação Especialidade Educação Especialidade Especialidade

1.º Ano Especialidade Educação Especialidade Especialidade Especialidade

Número de

cursos

(Total = 66

cursos)

33 Cursos 4 Cursos 28 Cursos 1 Cursos

Fonte: Adaptada de Esteves, 2006, p.160

Pela análise do quadro constata-se que os cursos divergiam quanto ao modo de

articular as disciplinas científicas, da especialidade e da educação, bem como quanto à

duração das disciplinas de educação. Como verificou Esteves (2006), as diferenças

verificavam-se entre Universidades, entre Faculdades da mesma Universidade e entre

cursos da mesma Faculdade e da mesma Universidade. Só mais tarde, com a publicação

da Deliberação n.º 1488/2000, são determinados, pela primeira vez, os Padrões de

Qualidade para a Formação Inicial de Professores que permitiam avaliar o nível de

adequação dos Cursos às exigências do desempenho docente estabelecido. Este é o

momento que marca o aumento do uso das unidades de crédito, isto é, pela primeira vez,

o peso atribuído às diferentes componentes de formação dos Cursos é apresentado em

créditos – European Credit Transfer and Accumulation System (ECTS). As unidades de

crédito estão relacionadas com a carga total de trabalho, o que engloba horas de trabalho

presencial e horas de trabalho individual do aluno. No entanto, a falta de experiência no

uso das unidades de crédito originou situações de reconversão das componentes de

formação em unidades de crédito desadequadas (Favinha, 2016).

A existência de dois modelos estruturais de formação inicial de professores,

sequencial e integrado, findou com a aplicação dos parâmetros do Processo de Bolonha.

Atualmente existe um modelo de formação inicial de professores, que habilitada para a

docência, e é um modelo estrutural sequencial. A publicação do Decreto-Lei n.º

43/2007 introduziu muitas alterações na obtenção da habilitação para a docência,

nomeadamente, o facto de ser atribuída apenas pelo grau de mestre, 2.º Ciclo de Estudos

Page 89: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

74

(anteriormente era pela licenciatura em ensino), para qualquer nível ou área de ensino.

O 1.º Ciclo de estudos, corresponde ao grau de licenciado e consiste num curso de

formação geral, em uma ou mais áreas científicas (as que poderão ser lecionadas pelo

candidato após a conclusão da formação) e o 2.º Ciclo de estudos, corresponde ao grau

de mestre e é o que permite que os alunos obtenham formação específica para a

docência. Neste ciclo de estudos, adquirem competências teóricas e práticas essenciais

para ensinar, o que requer a realização de um estágio profissional num estabelecimento

de ensino.

O Decreto-Lei n.º 43/2007 sugere um reconhecimento do Sistema Educativo

através da relação entre a qualidade de ensino e os resultados da aprendizagem com a

qualidade da formação dos educadores e professores, pois a habilitação para a docência

passa a ser do mesmo nível para todos os docentes (educadores e professores do Ensino

Básico e Secundário) e passa a ser apenas habilitação profissional, abandonando a

habilitação própria e suficiente. No entanto, o novo modelo estrutural dos cursos de

formação inicial de professores tem revelado algumas debilidades “nomeadamente no

que se refere ao contacto dos formandos com a prática ao longo do percurso formativo e

aos mecanismos de seleção para garantia da qualidade” (Faria, Rodrigues, Gregório &

Ferreira, 2016, p.11). No trabalho realizado por Flores (2015) são enumerados alguns

problemas da formação inicial de professores pós-Bolonha:

“(…) falta de tempo e condições para o desenho e desenvolvimento do projeto de intervenção;

coordenação insuficiente (geral e entre docentes da universidade); irrelevância de alguns

seminários/módulos na análise dos contextos e desenvolvimento de competências profissionais e

inadequação de modalidades de avaliação nalguns seminários e módulos.” (p.203)

No mesmo trabalho é mencionado que os futuros professores consideram que o

estágio é a experiência mais importante ao nível da aprendizagem profissional, pois têm

a oportunidade de conhecer a realidade das escolas e da sala de aula, permitindo a

articulação entre a teoria e a prática, e podem interagir com os alunos, com os seus

problemas e desafios. Como Korthagen, Loughran e Russell (2006) referem:

“a questão da prática e da teórica parece inacessível: dizer aos novos professores o que a

investigação mostra sobre o bom ensino e enviá-los para a prática não conseguiu mudar

significativamente o que acontece nas nossas escolas e universidades. Nem ter professores que

escrevem objetivos comportamentais, nem estimulá-los para serem praticantes reflexivos

produziu grandes avanços.” (p. 1038).

Page 90: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

75

Como Korthagen, Loughran e Russell (2006) ainda referem, é preciso dar

“atenção direta e aclarada ao local da experiência na aprendizagem sobre o ensino” (p.

1039).

Os problemas na formação inicial de docentes não existem apenas nos cursos de

ensino supracitados; também existem nas medidas e projetos desenvolvidos pelo

Ministério da Educação, para suprimir o défice de professores não profissionalizados

que lecionavam nas escolas portuguesas:

“o diagnóstico feito aquando da aprovação da Lei de Bases do Sistema Educativo revelava a

existência de 29.3% de docentes do 2.º ciclo e de 34.6% de docentes do 3.º ciclo do Ensino

Básico e Secundário com habilitação académica mas sem habilitação profissional para a

docência” (Esteves, 2006, p. 187).

Com a publicação da Lei de Bases do Sistema Educativo são colocadas novas

exigências à formação dos professores, impondo-se a necessidade de uma formação de

professores que lhes permitisse adquirir habilitações para satisfazer as novas exigências

do sistema educativo. Surgiram, ao longo da década de 80, três soluções normativas de

formação de professores em atividade, que se apresentam na tabela que se segue,

baseada em informação do trabalho de Ferreira e Mota (2013).

Quadro 11 - Soluções de formação de professores não profissionalizados em atividade docente

Solução Breve descrição da solução

Profissionalização em

exercício

(1980 - 1986)

Duração: 2 anos de estágio;

Centrava-se na escola e na prática docente: o projeto enfatizava a

prática e a experiência e colocava em segundo plano a articulação

entre a teoria e a prática.

Sem intervenção de instituições de Ensino Superior.

Projeto de formação em

serviço

(1986 – 1988)

A responsabilidade de formação das escolas básicas e secundárias

passa para as instituições de ensino superior – as escolas deixam

de assumir o papel de agente principal na formação;

Duração: 2 anos. No 1.º ano, uma componente teórica relativa às

Ciências da Educação e no 2.º ano, prática pedagógica,

acompanhada e focada na atividade docente.

Profissionalização em serviço

(1988 – atualidade) Duração: 2 anos. No 1.º ano, uma componente teórica das

Ciências da Educação e no 2.º ano, desenvolvimento do Projeto de

Formação e Ação Pedagógica, que procura garantir uma

articulação entre a teoria e a prática;

Há uma responsabilidade partilhada entre a instituição de Ensino

Superior e as escolas, na formação de professores, e existe o

reconhecimento de que a escola é o centro de formação.

Este modelo foi pensado para uma duração de 6 anos. No entanto,

a necessidade de formar professores, com formação académica

mas sem habilitação profissional, do ensino particular e

cooperativo e das disciplinas tecnológicas, técnicas e artísticas

obrigam a sua manutenção.

Page 91: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

76

Os modelos de formação inicial analisados anteriormente, cursos superiores para

obtenção de habilitação profissional para a docência e modalidades de formação de

professores não profissionalizados, de um modo geral, apresentam as três componentes

de formação consideradas essenciais na formação inicial de professores: estudos para

conhecimento do conteúdo e do conhecimento pedagógico do conteúdo, estudos nas

ciências da educação e estágio profissional (Kansanen, 2014). No entanto, e como refere

Flores (2015), “a chave do seu sucesso e da sua eficácia encontra-se no modo como eles

se estruturam e articulam no currículo de um determinado curso de formação” (p. 198).

Um relatório da OCDE (Schleicher, 2012) expõe os quatro princípios seguintes,

que devem ser atendidos na formação inicial de professores e que corroboram as ideias

apresentadas no parágrafo anterior: aquisição de conhecimento do conteúdo e de

conhecimento pedagógico do conteúdo na área disciplinar de interesse; equilíbrio

adequado entre teoria, prática e colaboração entre professores, implicando uma maior

aposta na componente prática, em que o aluno desenvolve práticas inovadoras e realiza

investigações, sob a orientação de professores experientes e em parceria com a

instituição de ensino superior; deve fornecer ferramentas ao futuro professor para

práticas reflexivas e investigativas e redução do número de Universidades formadoras

de professores e aumento dos padrões de entrada no curso.

O modelo Finlandês, que tem apresentado resultados muito positivos na

aprendizagem dos alunos, exibe características que o distinguem dos modelos da

maioria dos países da União Europeia (Kansanen, 2014):

Tem um currículo teoricamente muito enriquecido. Os programas têm em

consideração os resultados obtidos nas investigações, nomeadamente, sobre

o ensino e a formação de professores;

Promovem a reflexão e o raciocínio pedagógico dos futuros professores para

estimular o desenvolvimento das suas competências metacognitivas;

Há uma interação constante entre a teoria e a prática ao longo do curso. No

entanto, a prática de ensino é diferente ao longo do curso pois, numa fase

inicial, o futuro professor apenas observa e analisa as aulas e, depois,

gradualmente, começa a lecionar nas escolas da universidade e nas escolas

regulares, que apresentam o mesmo currículo. Outro fator relevante é a

prática de ensino estar articulada com estudos teóricos, relacionados com o

tópico da prática de ensino.

Page 92: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

77

Para Kansanen (2014) a ligação entre a teoria e a prática é feita através da

investigação levada a cabo pelos futuros professores durante o curso. Flores, Vieira e

Ferreira (citado por Flores, 2015) defendem que,

“A investigação pode, assim, potenciar a articulação entre a teoria e a prática na formação

inicial, não no sentido de uma conceção de professor como executor de teorias produzidas pela

investigação académica, que desvaloriza as suas teorias pessoais e o papel da experiência na

construção do profissionalismo docente, mas através de uma nova pedagogia da formação

baseada em problemas e preocupações emergentes dos contextos reais, na reflexão sistemática

dos professores sobre o seu pensamento e a sua ação, e na interação entre os professores e os

formadores e supervisores no sentido da consciencialização e reconstrução da prática” (p. 204).

A qualificação profissional dos professores portugueses, atualmente, é superior

ao que era há cerca de 20 anos atrás, pelo que as competências profissionais também o

serão. No entanto, a sociedade atual exige do professor um desempenho profissional

cada vez mais complexo, impondo-se a necessidade do aumento dos níveis de qualidade

da formação de professores. Como defende Esteves (2006), os professores são

profissionais de uma profissão complexa, por isso, para além de precisarem muito do

conhecimento, precisam de saber aprender a aprender, ser empenhados, saber integrar

ou combinar saberes heterogéneos e múltiplos, saber usar os conhecimentos no contexto

de trabalho e agir com pertinência.

Como tem sido referido ao longo deste trabalho, a Aprendizagem Baseada em

Projetos é um método de ensino que devidamente implementado nas escolas ajudará a

preparar os alunos para as exigências da sociedade atual. No entanto, para que os

professores o consigam utilizar, mudando a sua postura na sala de aula e na escola e

deixando de ocupar o papel central e passando-o para os alunos, é necessário que esta

mudança também ocorra durante a sua formação inicial pois, como defende Korthagen

(2009), os professores têm tendência a reproduzir as práticas de ensino que foram

adotadas consigo enquanto estudantes.

Para que este método de ensino seja usado nas escolas pelos professores também

terá de ser adotado pelas Universidades que formam os futuros professores. Como

Marshall, Petrosino e Martim (2010) constataram, os professores não implementam

autenticamente a Aprendizagem Baseada em Projetos quando não têm experiência em

fazê-lo, mesmo após a frequência de um curso de desenvolvimento profissional na área

durante a formação inicial do professor, ministrado através de uma aprendizagem

Page 93: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

78

dirigida e colaborativa, onde foram estudadas as características principais do método de

ensino e onde procederam ao planeamento de uma unidade temática assente nos

princípios da ABPj.

De acordo com Marshall, Petrosino e Martim (2010), os alunos “futuros

professores” participantes neste estudo estavam mais familiarizados com atividades de

pequena escala, altamente estruturadas e orientadas, por isso, precisavam de tempo,

experiência e encorajamento para ver como essas atividades menores podem ser aliadas

em projetos completos conduzidos por uma questão motriz, tarefas autónomas e abertas,

assumindo o aluno um papel ativo na sua aprendizagem e cumprindo os mesmos

objetivos de aprendizagem definidos institucionalmente. Como referiu um aluno,

candidato a futuro professor, durante a investigação, “enquanto penso ter aprendido

alguns dos ideais do que deveria ser a ABPj, praticamente não aprendi como pensar até

que eu realmente o ensinei” (Marshall, Petrosino & Martim, 2010, p. 381). Para além

disso, é importante que os professores em formação inicial tenham oportunidades e

sejam encorajados a implementar a ABPj nas suas aulas porque o destaque da

implementação deste método de ensino, como parte do processo de aprendizagem do

professor em formação inicial, pode contribuir para que os professores implementem

mais autenticamente a ABPj (Marshall, Petrosino & Martim, 2010).

Atendendo ao que foi mencionado anteriormente e ao atual modelo de formação

inicial de professores que habilita para a docência, o modelo estrutural sequencial, deve

ser incorporada, pelo menos no 2.º Ciclo de estudos, formação que capacite os futuros

professores para implementar a ABPj. Esta formação, considerando os resultados

obtidos na investigação realizada por Marshall, Petrosino e Martim (2010), deverá

atender aos seguintes aspetos:

O estudo das características principais deste método de ensino deverá realizar-se

atendendo aos pré-requisitos dos alunos e às conceções que possuem sobre o

ensino e a aprendizagem. Neste sentido deverá ser promovida a reflexão e a

reestruturação de algumas das ideias dos futuros professores sobre o processo de

ensino e da aprendizagem, nomeadamente, ao nível do papel do professor e do

aluno e do tipo de atividades a desenvolver nas suas aulas;

Durante o estágio profissional num estabelecimento de ensino, o futuro professor

deverá ser incentivado a incorporar este método de ensino nas suas aulas e

apoiado por todos os responsáveis desse estabelecimento através do

fornecimento de todos os recursos necessários.

Page 94: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

79

Os professores que atualmente lecionam nas escolas, durante a sua formação

inicial, não receberam qualquer formação sobre esta abordagem de ensino, pelo que a

formação contínua de professores deverá proporcionar aos professores a aquisição das

ferramentas necessárias à implementação autêntica de uma Aprendizagem Baseada em

Projetos.

2.4.2. Formação contínua de professores e Ensino Orientado para a Aprendizagem

Baseada em Projetos

Atendendo a que a formação de professores é um conjunto que engloba: a formação

inicial de professores; o apoio em início de carreira (período de indução) e a formação

contínua de professores, esta última poderá ser usada para apoiar na resolução de

problemas das escolas e dos professores. Como refere Esteves (2006):

“Porventura, até agora as ações de formação contínua têm privilegiado uma perspetiva de

supressão de défices na formação dos professores (sobretudo, défices de conhecimentos e menos,

défices de competências). Não sendo uma linha de intervenção a abandonar face a necessidades

de formação devidamente identificadas, haveria contudo que contrabalançá-la desenvolvendo

mais (em quantidade e em qualidade) as linhas orientadas para a promoção da mudança e da

inovação a fazer pelas escolas, para a resolução de problemas concretos e para o efetivo

desenvolvimento profissional e pessoal dos professores.” (p. 192).

No Decreto-Lei n.º 249/92, de 9 de novembro, com as alterações que lhe foram

introduzidas pela Lei n.º 60/93, de 20 de agosto, pelo Decreto-Lei n.º 274/94, de 28 de

outubro pelo Decreto-Lei n.º 207/96, de 2 de novembro, pelo Decreto-Lei n.º 155/99, de

10 de maio e pelo Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de janeiro, no capítulo I, artigo 3.º,

são elencados como principais objetivos da formação continua:

“a) A melhoria da qualidade do ensino e das aprendizagens, através da permanente atualização e

aprofundamento de conhecimentos, nas vertentes teórica e prática;

b) O aperfeiçoamento das competências profissionais dos docentes nos vários domínios da

atividade educativa, quer a nível do estabelecimento de educação ou de ensino, quer a nível da

sala de aula;

c) O incentivo à autoformação, à prática da investigação e à inovação educacional;

Page 95: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

80

d) A aquisição de capacidades, competências e saberes que favoreçam a construção da

autonomia das escolas e dos respetivos projetos educativos;

e) O estímulo aos processos de mudança ao nível das escolas e dos territórios educativos em que

estas se integrem suscetíveis de gerar dinâmicas formativas;

f) O apoio a programas de reconversão profissional, de mobilidade profissional e de

complemento de habilitações.”

Nesse mesmo documento, no capítulo II, artigo 7.º, são indicadas as

modalidades das ações de formação contínua, a referir: cursos de formação; módulos de

formação; frequência, com aproveitamento, de disciplinas singulares em instituições de

ensino superior; seminários; oficinas de formação; estágios; projetos e círculos de

estudos. No entanto, os projetos de intervenção na escola, independentemente do nível

de formação pretendido, necessitam de autorização prévia do respetivo órgão de gestão

e administração, ouvido o órgão de coordenação pedagógica. A duração mínima das

ações de formação contínua é de 15h. Relativamente à escolha das ações de formação

contínua que pretendem realizar, os professores têm alguma liberdade na seleção da

ação de formação, pois a sua escolha deve estar de acordo com os seus interesses e

necessidades pessoais e profissionais, uma vez que:

“a formação contínua deve visar a atualização pedagógica, científica e tecnológica do docente, o

acompanhamento reflexivo do ritmo e da evolução da sociedade, e contribuir para o esforço de

afirmação da dignidade e da relevância da carreira docente. Não pode, por isso, ser considerada

como uma obrigação a cumprir para progredir na carreira, nem tão pouco como uma simples e

avulsa atualização ou complemento de formação inicial. Também não deve subordinar-se à

imposição arbitrária que obriga que dois terços da formação incidam sobre conteúdos de

natureza científico-didática” (CNE, 2013, p. 58).

No entanto, no relatório do CNE (2013), é indicado que “algumas avaliações do

impacto desta formação referem que a mesma nem sempre se traduziu em melhorias no

desempenho docente na escola pelo facto de ser, muitas vezes, descontextualizada” (p.

63). Estes resultados, tal como na formação inicial de professores, podem ser explicados

pela falta de articulação entre a teoria e a prática do professor, surgindo a teoria

completamente “desligada” da prática. Por este motivo, atualmente decorrem mais

formações ao nível da escola, assumindo-se como um local privilegiado para a sua

realização. Mesmo assim, “nos últimos anos, houve uma evolução da oferta de

formação acreditada no sentido de se equilibrar os tipos de formação, notando-se

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81

positivamente o aumento da formação creditada nos contextos escolares.” (CNE, 2013,

p. 63). Os planos de formação podem ser a nível de escola ou a nível nacional. A nível

de escola, a formação é centrada na escola e, portanto, apropriada ao contexto em que se

vai realizar. No entanto, pode não ser eficaz nesse contexto se não contar com a

participação ativa dos professores na elaboração do plano de formação (CNE, 2013). A

nível nacional, a formação contínua de professores acontece a partir de situações

disponibilizadas pelos governos, cujos planos de formação se justificam

“na medida em que garantam maior equidade, possibilitem acesso a conhecimento científico-

pedagógico atualizado ou relativo a programas e orientações curriculares nacionais,

disponibilizem recursos e condições mais substantivos e eficazes do que no caso da formação

organizada em contexto de trabalho ou, mesmo, em centros de formação de associação de

escolas. Ressalva-se, todavia, a participação das instituições de ensino superior e das associações

profissionais, sindicais e científicas na implementação destes planos.” (CNE, 2013, p.64).

Em Portugal têm-se realizado alguns planos de formação a nível nacional,

nomeadamente, os programas nacionais de formação de professores do 1.º e 2.º Ciclos

do Ensino Básico (2006 – 2010) - o Programa de Formação Contínua em Matemática; o

Programa Nacional de Ensino do Português (PNEP) e o Programa de Formação em

Ensino Experimental das Ciências. As avaliações realizadas aos diferentes programas

são positivas, mostrando mudanças nas conceções dos professores, nos seus

conhecimentos científicos e nas práticas letivas (CNE, 2013). No caso concreto do

Programa de Formação em Ensino Experimental das Ciências registaram-se diversas

mudanças, designadamente, ao nível do conteúdo dos manuais didáticos, na

aprendizagem realizada pelos alunos e nas conceções que os professores possuíam desta

área do conhecimento científico (CNE, 2013). No relatório elaborado pelo Conselho

Nacional de Educação (2013) ainda se lê que,

“os resultados de 2012 do desempenho de alunos portugueses em exames internacionais, como o

TIMSS 2011 (Trends in International Mathematics and Science Study), poderão ser explicados,

pelo menos em parte, pelo facto de aqueles programas de formação contínua serem consistentes

e de duração prolongada, com incidência na escola e na prática docente.” (p.65)

Nestes programas de formação, de iniciativa nacional, os planos são elaborados

com a colaboração dos institutos de ensino superior e as escolas, e há a preocupação em

adotar um modelo de formação focado na experiência profissional do professor,

Page 97: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

82

procurando estabelecer uma relação entre a teoria e a prática do professor. O sucesso

destes programas deve-se à abordagem de formação de professores usada; à mudança no

papel dos formadores de professores, ou seja, ao facto de a formação incidir na escola e

na prática docente, “de se basear nas preocupações dos professores formandos, de

ajudar cada estudante a passar pelas fases de reflexão, de organizar interações reflexivas

entre os professores formandos, de ensinar aos futuros professores a forma como podem

desenvolver-se sistematicamente por si mesmos…” (Korthagen, 2012, p.155).

Korthagen (2012) considera que a formação de professores deve estar “mais orientada

para a pessoa do que para uma abordagem baseada na competência (…) em listas de

competências” (p.153).

Korthagen (2012) faz a distinção entre três abordagens na formação de

professores: abordagem baseada-na-teoria, a abordagem baseada-na-prática e a

abordagem realista. Na abordagem baseada-na-teoria (abordagem dedutiva), é o

formador que decide o que se vai aprender, atendendo aos conhecimentos existentes, e

há a crença de uma transferência direta do conhecimento. Na abordagem baseada-na-

prática, é atribuído muito destaque à componente prática, acabando por ser uma

abordagem de tentativa-e-erro. Nestas abordagens não há uma correta ligação entre a

teoria e a prática, já que na primeira abordagem há uma excessiva utilização da teoria e

na segunda abordagem há uma excessiva utilização da prática. Sendo assim, surge a

terceira abordagem, a abordagem realista, “que procura integrar teoria e prática a partir

das próprias experiências docentes e preocupações dos futuros professores” (Korthagen,

2012, p.155), pois o estudante/professor-formando tenta encontrar o seu próprio

caminho, já que as suas preocupações são o ponto de partida para o processo educativo,

obrigando o estudante a refletir sobre as suas experiências.

Na abordagem realista, não se trabalha com o saber teórico, trabalha-se a partir

de situações reais. Não se trabalha com “Teoria” (teoria científica) mas com “teoria”

(teoria pessoal) construída com base nas experiências pessoais, nas aprendizagens

realizadas. Como defende Palmer (1998), “o bom ensino não pode ser reduzido à

técnica, o bom ensino vem da identidade e integridade do professor” (p.10).

Atualmente, tem-se consciência que o professor é mais do que as teorias que aprendeu,

por isso, é importante que reflita sobre os seus comportamentos, conscientes e

inconscientes. Diariamente, os professores têm de tomar muitas decisões imediatas

enquanto ensinam e muitas dessas decisões são tomadas de uma forma inconsciente ou

semiconsciente (Korthagen, 2009). Korthagen (2009) ainda refere que os

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comportamentos imediatos do professor são comportamentos que ocorrem sem muita

reflexão e escolha deliberada; são o resultado de um processo interno no qual um

conjunto dinâmico de necessidades, valores, sentimentos, conhecimento tácito,

significados e tendências comportamentais desempenham um papel relevante. Uma das

principais características da abordagem realista é a aprendizagem com as experiências,

através da reflexão sistemática pois procura-se: “promover um desenvolvimento na sua

consciência desses aspetos implícitos, já que acreditamos que eles têm frequentemente

um impacto muito maior sobre os comportamentos destes professores formandos do que

as teorias a que foram expostos na formação de professores” (Korthagen, 2012, p. 149),

contribuindo para a capacidade de aprendizagem ao longo da vida do professor.

Alguns investigadores (Flores, 2015; Korthagen, 2009, 2012) que estudam o

comportamento dos professores e como foram ensinados/treinados, acreditam que é

extremamente importante conhecer o que os professores pensam e quais são as suas

crenças, porque as crenças que os professores possuem quanto ao ensino e

aprendizagem determinam as suas ações. São vários os autores (Flores, 2015; Martins,

2002) que afirmam que os professores desenvolveram muitas crenças sobre o ensino e

aprendizagem durante os anos que passaram na escola como estudantes e muitas são

contraditórias àquelas que aprenderam durante a formação inicial. Por exemplo, muitos

formadores encontram nos professores a crença de que o ensino é a transmissão de

conhecimento, o que não consideram muito benéfico para se ser um bom professor

(Korthagen, 2004). Por este motivo, Formosinho, 2009 (citado por Flores, 2015)

“chama a atenção para os efeitos (de)formativos da prática docente dos formadores de

professores” (p.205). Como refere Korthagen (2012),

“se queremos que os estudantes nas escolas confiem na sua capacidade de construir o seu próprio

conhecimento, de refletir sobre as suas próprias visões do mundo e de desenvolver a sua

identidade pessoal e missão na vida, acredito que os formadores de professores devem adotá-lo

como modelo salientando as mesmas coisas na aprendizagem dos nossos professores

formandos.” (p.155).

Atendendo à descrição realizada sobre a formação de professores em Portugal,

facilmente se compreende que os professores ao longo da sua formação (inicial e

contínua) não desenvolveram as competências profissionais necessárias à

implementação da Aprendizagem Baseada em Projetos. Efetivamente, mesmo que o

professor tivesse, na sua informação inicial, “recebido conhecimento Teórico” sobre a

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84

ABPj, a verdade é que a falta de articulação entre a teoria e a prática não lhe permitiria

o desenvolvimento das competências necessárias à sua implementação em sala de aula

(Korthagen, 2012; Marshall, Petrosino & Martim, 2010).

Pesquisas realizadas a nível internacional permitem constatar que há países que

têm investido nesta prática de ensino, nomeadamente, através da formação de

professores, no âmbito da ABPj e os resultados que obtiveram foram muito positivos e

encorajadores para a sua futura implementação em Portugal. Por exemplo, Mentzer e

Brooks (2017) desenvolveu um programa de desenvolvimento profissional para

professores, com a duração de três anos, onde analisou e avaliou a compreensão e a

implementação deste método de ensino durante o período da investigação. Neste

programa participaram 24 professores de Ciências e no seu decorrer, para a recolha de

dados da investigação, realizaram-se observações de aulas, entrevistas reflexivas e

levantamento das suas atitudes. Os resultados mostram que os professores demoraram

entre dois a três anos a desenvolver o conhecimento, confiança, compreensão e

habilidades para a verdadeira implementação do método ABPj. Foram diversas as

dificuldades detetadas nos professores na implementação deste método, a referir:

elaboração de perguntas de condução adequadas, resistência à instrução direcionada ao

aluno, incapacidade de motivar os alunos para o trabalho colaborativo. Por exemplo,

“Stephen observou, após dois anos em LEADERS, que a sua visão do papel do

professor na educação científica mudou de apresentar factos sobre Ciência para orientar

os alunos a investigarem problemas importantes e também envolvê-los para projetar,

desenvolver e avaliar artefactos ou produtos finais” (Mentzer & Brooks, 2017, p. 84).

Rosenfeld e Ben-Hur (2001) planejaram uma formação contínua para

professores, dividida em três fases: professores como aprendizes de ABPj; como

professores de ABPj em suas salas de aula e como educadores inovadores (agentes de

mudança) nas suas escolas. Esta divisão baseia-se no facto de as investigadoras

considerarem que os professores necessitam de apoio nestes três estágios consecutivos.

O trabalho que apresentaram está relacionado com a primeira fase do projeto,

professores como aprendizes de ABPj. As investigadoras verificaram que os professores

experimentaram as mesmas dificuldades que os alunos experimentam habitualmente

durante o processo de ABPj (dificuldade na formação de grupos, aspetos afetivos

(excitação inicial para desanimo e frustração, seguido de realização) e dificuldades

relacionadas com a falta de competências de investigação. As autoras acreditam que os

professores ao sentirem e lidarem com estas dificuldades tornar-se-ão mais capazes de

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ajudar os seus alunos na aprendizagem baseada em projetos e que para se promover o

desenvolvimento profissional dos professores em ABPj é necessário um sistema de

apoio, a longo prazo, para os professores. As autoras referem que, no fim do estudo, os

professores mostraram-se muito entusiasmados com este método de ensino e com

vontade de implementá-lo nas suas salas de aula.

Em suma, não chega alterar os documentos orientadores do ensino porque,

“Introduzir inovação naquilo que são práticas correntes nalguns casos de vários anos, exige

formação e dedicação. Mas sem cursos de formação contínua atualizados que capacitem os

professores sobre a natureza das modificações e a sua finalidade, não é de prever que “novos

programas” provoquem “novo ensino”. Muitos deles irão “ajustar” o que faziam antes à nova

ordem socorrendo-se nos casos novos das propostas que os manuais escolares se encarregarão de

apresentar.” (Martins, 2002, p.36)

Como é referido no relatório do Conselho Nacional da Educação (Faria,

Rodrigues, Gregório & Ferreira, 2016), “as reformas em matéria de formação de

professores devem ser acompanhadas de reformas na organização das escolas e das

condições de trabalho e convém consagrar meios financeiros suficientes para levar a

cabo estas reformas” (p.17). Se não se fizer um investimento na formação contínua de

professores não é de admirar que os professores continuem a reproduzir as práticas de

quando foram alunos porque,

“ (…) se o nível de risco for considerado muito alto, os professores não se envolverão nas

práticas pedagógicas promovidas. As implicações desta pesquisa [sobre por que muitas

iniciativas de desenvolvimento profissional destinadas a provocar a mudança na prática de

ensino falham] incluem a importância de desenvolver a capacidade de identificar riscos, reduzir

o nível de risco percebido e proporcionar um ambiente de apoio em que os professores se sintam

capacitados para assumir riscos.” (Le Levre, 2014, 56).

Mais concretamente, baseado nos aspetos anteriormente referidos, a formação

contínua de professores em ABPj deveria:

Ser um programa de desenvolvimento profissional com a duração de 3 anos;

elaborado com a colaboração entre especialistas de institutos superiores da

educação e as escolas e a abordagem de formação deve ser uma abordagem

realista;

Page 101: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

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No primeiro ano de formação, possibilitar aos professores a experiência do

processo de ABPj pois desta forma futuramente compreenderão melhor as

dificuldades sentidas pelos alunos e, consequentemente conseguirão orientá-

los mais facilmente;

No segundo e terceiro ano de formação, os professores devem implementar a

ABPj na sua sala de aula. Esta implementação deverá ocorrer com a

supervisão de um especialista na área que deverá ajudar o professor na

reflexão e na promoção de melhorias no processo de implementação.

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87

CAPÍTULO III

METODOLOGIA

3.1. Introdução

Neste capítulo é apresentada a metodologia utilizada neste trabalho de investigação.

Após esta breve introdução (3.1), é feita uma descrição geral da investigação realizada

(3.2). Seguidamente realiza-se uma descrição da população e procede-se à

caracterização da amostra participante na investigação (3.3), explicita-se e justifica-se

como foi feita a seleção da técnica e instrumento de recolha de dados (3.4) e descreve-se

o processo de elaboração e validação do instrumento de investigação (3.5). Termina-se

este capítulo com a apresentação do procedimento usado para a recolha de dados (3.6) e

para o tratamento e análise dos dados da investigação (3.7).

3.2. Descrição geral da investigação

Com esta investigação visou-se compreender as conceções e as representações das

práticas, de professores portugueses de Física e Química, relativamente ao Ensino das

Ciências orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos. Atendendo a este

objetivo, nesta investigação optou-se por uma investigação de tipo qualitativo e por um

desenho fenomenológico, pois pretendeu-se investigar quais são as conceções e

representações de práticas de professores de Física e Química sobre a Aprendizagem

Baseada em Projetos. De acordo com Ludwing (2014), “a fenomenologia é a doutrina

das vivências pessoais” (p.217), ou seja, a tarefa da fenomenologia é a análise das

vivências intencionais da consciência com o objetivo de compreender o sentido para

aquela pessoa de determinado fenómeno. Pode resultar em diversas

compreensões/interpretações sobre o assunto em análise. O autor enumera três regras do

método fenomenológico, a referir: suspensão provisória de qualquer juízo sobre o

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objeto investigado; descrição desse objeto e interpretação dos dados, com base em

referenciais teóricos específicos.

A população alvo deste estudo foram os professores de Física e Química de

escolas públicas portuguesas. Atendendo aos objetivos propostos para esta investigação,

foi realizada uma pesquisa qualitativa e a recolha de dados realizou-se através da

entrevista pelo que foi selecionada uma amostra de doze professores de Física e

Química, que lecionavam no 3.º Ciclo e/ou no Ensino Secundário a disciplina de Física

e Química e tinham cinco ou mais anos de experiência de ensino na disciplina, em

escolas públicas. A escolha desta técnica de inquérito para a recolha de dados deve-se

ao facto de permitir uma comunicação bilateral entre a investigadora e o inquirido,

possibilitando o esclarecimento de questões e o aprofundamento das respostas dadas

pelos sujeitos.

As respostas dadas na entrevista às diferentes questões, pelos sujeitos

participantes no estudo, foram analisadas pela investigadora com o objetivo de

identificar padrões de resposta através de procedimentos indutivos, construindo

posteriormente ideias mais gerais de forma a alcançar os objetivos, específicos e geral,

formulados para este estudo. Excecionalmente foram utilizadas categorias dedutivas

(ver secção 3.7). Os dados, no decorrer da apresentação e discussão de resultados, foram

complementados com excertos das entrevistas.

3.3. População e amostra

Numa investigação de tipo qualitativo considera-se que a população alvo ou universo

são os membros de um grupo de pessoas, objetos ou acontecimentos, que obedecem a

um dado critério e que se pretende compreender em algum(ns) aspetos (McMillan &

Schumacher, 2010). Como refere Fernandes (1991), numa investigação qualitativa, mais

importante do que o número de sujeitos com que se trabalha é a riqueza informativa dos

participantes. Neste sentido, e dada a elevada dimensão da população, foi selecionada

uma amostra constituída por doze professores de Física e Química que se encontravam a

lecionar no 3.º Ciclo e/ou no Ensino Secundário a disciplina de Física e Química. Além

disso, os participantes apresentavam cinco ou mais anos de experiência de ensino da

referida disciplina em escolas públicas. A introdução desta variável delimitadora esteve

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89

relacionada com o facto de se pretender inquirir professores com alguma experiência de

ensino, logo com mais probabilidade de apresentarem riqueza de conteúdo informativo

para esta investigação. Nesta investigação não houve a necessidade de aumentar o

número de sujeitos da amostra participante previstos inicialmente, pois atingiu-se a

saturação de respostas e, como refere Ghiglione & Matalon (1997), a recolha de dados

deve terminar quando não são produzidos novos dados, ou seja, quando as respostas se

passam a repetir. Com o objetivo de diversificar a amostra, foi selecionado um professor

por escola, procurando garantir professores com percursos profissionais e vivências

diferentes e, simultaneamente, reduzir a possibilidade de partilha de informações, entre

colegas de escola, sobre os assuntos analisados na entrevista, permitindo obter opiniões

mais independentes dos professores participantes.

Uma vez definidos os critérios de inclusão e de exclusão da amostra e atendendo

aos objetivos para esta investigação, considerou-se adequado constituir uma amostra de

conveniência para a recolha de dados (Oliveira, 2001). Como refere a autora, neste

processo de amostragem o investigador irá selecionar os membros da população que lhe

são mais acessíveis, permitindo agilizar o processo e torna-lo mais acessível

economicamente. Os professores incluídos na amostra, para além de serem os mais

acessíveis à investigadora, foram os que se voluntariaram/disponibilizaram para realizar

a entrevista, pois considerou-se que deste modo estariam mais disponíveis e motivados

para responder de forma consciente, completa e fundamentada às questões colocadas

pela investigadora. Atendendo a que a localização geográfica dos estabelecimentos de

ensino em que os professores estão inseridos não constitui uma condicionante para a

concretização dos objetivos definidos para o estudo, privilegiou-se entrevistar

participantes residentes nos distritos de Braga e Porto por serem mais acessíveis à

investigadora em termos de distância. A utilização de uma amostra de conveniência

nesta investigação pode apresentar algumas desvantagens, nomeadamente, os resultados

e as conclusões só serem válidos para a amostra, não podendo ser extrapolados com

confiança para a população alvo pois não há qualquer garantia da sua representatividade

(Hill & Hill, 2008).

Seguidamente são apresentadas duas tabelas (tabela 1 e 2) com uma

caracterização sumária da situação pessoal e profissional dos professores participantes

nesta investigação. A amostra é constituída por quatro professores do sexo masculino e

oito professoras do sexo feminino, com idades entre os 37 e os 56 anos (Tabela 1).

Page 105: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

90

Tabela 1 - Características pessoais e formação profissional dos professores entrevistados

Professores TOTAL

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12

Sexo:

Homem √ √ √ √ 4

Mulher √ √ √ √ √ √ √ √ 8

Idade:

[30 - 39] anos √ 1

[40 - 49] anos √ √ √ √ √ √ √ √ 8

[50 - 59] anos √ √ √ 3

Formação Académica:

Lic. Ens. Física e

Quím. √ √ √ √ √ √ √ √ √ √ 10

Química

(Investigação) √ 1

Engenharia Química √ 1

Lic. Física Aplicada √ 1

Tipo de Estágio:

Pedagógico √ √ √ √ √ √ √ √ √ 9

Profissionalização

em serviço √ √ √ 3

Formação

Complementar:

Pós-Grad. ‘Ciências

da Terra’ √ 1

Pós-Grad. em Ensino

da Física e

Química

√ 1

Pós-Grad. ‘Ed.

Especial’ √ 1

Mest. ‘Ensino da

Física e Química’ √ 1

Mest. ‘Ensino da

Física’ √ √ 2

Mest. ‘Compostos

com Atividade

Biológica’

√ 1

Dout. em Física √ 1

Não tem formação

complementar √ √ √ √ √ 5

Relativamente ao tipo de estágio realizado pelos professores entrevistados, a

maioria fez o estágio pedagógico integrado na sua Licenciatura em Ensino de Física e

Química. Apenas três professoras fizeram a profissionalização em serviço. Do grupo de

professores entrevistados, cinco professores não têm formação complementar, no

entanto, o professor P3 iniciou o doutoramento, tendo-o frequentado durante dois anos.

O número de anos de serviço destes professores varia entre os 8 e os 30 anos e a

maior parte tem 18 ou mais anos de experiência profissional (Tabela 2).

Page 106: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

91

Tabela 2 - Caracterização da amostra de professores entrevistados relativamente à experiência

profissional

Professores TOTAL

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12

Situação Profissional:

QE/QA √ √ √ √ √ √ 6

QZP √ √ √ 3

Contratado √ √ √ 3

N.º de anos de ensino:

<10 anos √ 1

[10 - 19] anos √ √ √ √ √ 5

[20 - 39] anos √ √ √ √ √ √ 6

N.º máximo de anos

letivos lecionados na

mesma escola:

<6 anos √ √ √ √ √ √ √ 7

[6 - 10] anos √ √ √ √ 4

[11 - 15] anos 0

[16 - 20] anos 0

>20 anos √ 1

Em 2017/2018:

Ciclo de estudos

lecionado

3.º Ciclo √ √ √ √ √ √ √ √ √ √ √ 11

Secundário Regular √ √ √ √ √ 5

Secundário

Profissional √ √ 2

Disciplinas lecionadas

Ciências Físico-

Quím. √ √ √ √ √ √ √ √ √ √ 10

Física e Química √ √ √ √ √ 5

Química 12.º √ 1

Física 12.º √ √ 2

TIC √ 1

Frequência de AFCP

relacionada com ABPj:

Não frequentou √ √ √ √ √ √ √ √ √ √ √ √ 12

NOTA: QE/QA - Quadro de Escola ou Quadro de Agrupamento de Escolas; QZP - Quadro de Zona

Pedagógica; AFCP – Ação de Formação Contínua de Professores; TIC – Tecnologias de Informação e

Comunicação.

Apenas uma professora nunca lecionou na mesma escola e para a maior parte

dos professores o número de anos letivos que lecionou no máximo na mesma escola

variou entre 2 e 7 anos. Dos professores entrevistados, apenas três professores eram

contratados, os restantes eram professores do Quadro de Nomeação Definitiva (6

professores do Quadro de Escola/Quadro de Agrupamento de Escolas e 3 professores do

Quadro de Zona Pedagógica). Nenhum dos professores entrevistados frequentou uma

ação de formação contínua de professores relacionada com a Aprendizagem Baseada

em Projetos.

Page 107: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

92

3.4. Seleção da técnica e instrumento de recolha de dados

A técnica usada para a recolha de dados foi o inquérito por entrevista, tendo-se optado

por uma entrevista semidirigida. Esta técnica foi selecionada de entre as técnicas

disponíveis na literatura, pois considerou-se que é a mais adequada para a recolha de

dados necessários para o alcance dos objetivos propostos para esta investigação, dado

que permite uma recolha de informações mais completas e profundas sobre a

problemática em estudo, o que, segundo Ghiglione & Matalon (1997), possibilita uma

melhor compreensão das respostas do inquirido, conferindo mais validade e fiabilidade

aos dados.

Para este estudo, não era viável a aplicação de um questionário pois ainda havia

pouca informação sobre esta problemática, por isso, não se sabia se os professores

estavam devidamente familiarizados com o vocabulário técnico e como iriam interpretar

esses termos. Na entrevista, as questões foram colocadas oralmente através de

comunicação direta e interativa entre o entrevistador e o entrevistado, o que permitiu

esclarecer as questões, aprofundar as respostas, bem como esclarecer dúvidas da

investigadora e/ou dos inquiridos, tal como defendiam Ghiglione & Matalon (1997).

Com esta técnica foi possível obter na entrevista uma informação profunda e detalhada

das opiniões dos entrevistados.

Como a entrevista que se realizou foi semidirigida, foi elaborado um

instrumento de recolha de dados, um guião de entrevista, que incluiu as questões

fundamentais para a investigação. O uso deste instrumento na entrevista permitiu

garantir que essas questões foram abordadas com todos os sujeitos.

3.5. Elaboração e validação do instrumento de investigação

As questões do guião da entrevista foram produzidas de forma a permitirem alcançar os

objetivos desta investigação, pelo que incidiram nas seguintes dimensões de análise:

I. Características pessoais e profissionais dos professores;

II. Conceções sobre a Aprendizagem Baseada em Projetos;

III. Representações sobre as práticas de Ensino das Ciências orientado para a

Aprendizagem Baseada em Projetos;

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93

IV. Perspetivas sobre a viabilidade da implementação do Ensino das Ciências

orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos

V. Opiniões sobre as condições necessárias para a implementação do Ensino das

Ciências orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos.

Depois de elaborado, o guião (protocolo) da entrevista foi sujeito a uma análise

da validade conteúdo por especialistas em Educação em Ciências, e à aplicação a alguns

sujeitos, não participantes neste estudo. Como é referido por McMillan e Schumacher

(2010), os especialistas na área devem analisar, não só, a adequação das questões

formuladas aos objetivos do estudo e aos objetivos específicos da entrevista, aos

destinatários e ao tema em estudo, mas também analisar se devem ser acrescentadas

outras questões ou eliminadas e/ou reformuladas algumas de modo a que o instrumento

permita a recolha dos dados necessários para atingir os objetivos da investigação. Por

sua vez, a aplicação do protocolo da entrevista a sujeitos não participantes no estudo

teve como principal objetivo a análise da adequação das questões aos participantes no

estudo e o treino da investigadora na condução da entrevista. As imperfeições detetadas

na fase de validação foram retificadas, o que permitiu à investigadora aperfeiçoar o

instrumento de recolha de dados, tornando-o mais objetivo e mais fiável.

A elaboração do guião da entrevista concretizou-se após a realização de uma

revisão da literatura disponível sobre a temática, a nível nacional e internacional, e a

definição dos objetivos a alcançar com a sua aplicação. O guião da entrevista foi

elaborado de raiz pois não se encontrou na literatura nenhum instrumento diretamente

relacionado com a problemática em causa e que permitisse responder aos objetivos

previamente estabelecidos. No quadro que se segue (Quadro 12) identificam-se os

objetivos das questões essenciais definidas para a entrevista e relacionam-se as

diferentes questões com as partes estruturantes da entrevista.

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94

Quadro 12 - Estrutura do guião da entrevista para professores de Física e Química

Dimensões Sub-Dimensões Objetivos Específicos Questões

Principais

I. Dados pessoais e profissionais

1. Identificar as características pessoais 1

2. Caracterizar a formação académica 2, 2.1, 2.2

3. Caracterizar a experiência profissional 3, 4, 5, 6

4.Caraterizar a formação contínua de professores

sobre o Ensino das Ciências orientado para ABPj

20, 20.1 a

20.5

II. Conceções

sobre a

aprendizagem

baseada em

projetos

Conceito 1. Caraterizar o conceito de ABPj 7, 7.1, 7.2

Papel da

tecnologia

2. Caraterizar o papel da tecnologia na

aprendizagem baseada em projetos

8, 8.1, 9

Contributo para a

Ed. em Ciências

3. Identificar os objetivos que a ABJ permite

alcançar na Educação em Ciências

10

Papel do

professor

4. Identificar o papel do professor no ensino

orientado para a ABPj

11

Reações dos

alunos

5. Caraterizar as dificuldades que os alunos

poderão mostrar durante a ABPj

12

III. Representações sobre as práticas

de Ensino das Ciências orientado para

a aprendizagem baseada em projetos

1. Identificar as razões porque os professores não

implementam a ABPj

13.1

1. Caraterizar as práticas dos professores sobre o

Ensino das Ciências orientado para a ABPj

13.2,

13.2.1,

13.2.2,

13.2.3

2. Caraterizar a percepção dos professores sobre o

tipo de aprendizagens proporcionado aos alunos

no Ensino das Ciências orientado para a ABPj

13.3

3. Identificar a percepção do professor sobre as

dificuldades manifestadas pelos alunos durante a

ABPj

13.4

4. Identificar as barreiras e os fatores facilitadores

encontrados pelos professores ao implementarem

nas suas aulas o Ensino das Ciências orientado

para ABPj

13.5, 13.6

IV. Perspetivas sobre a viabilidade da

implementação do Ensino das Ciências

orientado para a aprendizagem baseada

em projetos

1. Averiguar as razões para a aplicação, ou não,

no futuro da Educação em Ciências orientada

para ABPj

14

2. Identificar os obstáculos que poderão ser

encontrados pelos professores no futuro para

promoverem o Ensino das Ciências orientado

ABPj

15

3. Identificar os aspetos facilitadores que poderão

ser encontrados pelos professores no futuro para

promoverem o Ensino das Ciências orientado

ABPj

16

V. Condições necessárias para a

implementação do Ensino das Ciências

orientado para a aprendizagem baseada

em projetos

1. Identificar as condições ideais para

implementar no futuro o Ensino das Ciências

orientado para a ABPj

17

2.Caracterizar as necessidade de formação dos

professores para implementarem o Ensino das

Ciências orientado para a ABPj

18

3. Caraterizar a formação que os professores

gostariam de ter para implementarem o Ensino

das Ciências orientado para a ABPj

19

Para a elaboração do guião da entrevista foi fulcral a definição prévia dos

objetivos específicos a atingir em cada uma das dimensões da entrevista, conforme

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95

apresentado no Quadro 12. Depois de elaborado e validado o instrumento de recolha de

dados, obteve-se a versão final do guião da entrevista (Anexo I) utilizado nesta

investigação para a recolha de dados.

3.6. Recolha de dados

Numa primeira fase, foi solicitada autorização à Direção Geral de Inovação e

Desenvolvimento Curricular (DGIDC) para efetuar a recolha de dados e à Comissão de

Ética da UMinho (Anexo II). Quando foi comunicado que o parecer era favorável

(Anexo III) foram contactados os professores selecionados para esta investigação.

As entrevistas, efetuadas a professores de Física e Química, realizaram-se entre

o final do mês de outubro e o início do mês de dezembro. Os professores foram

informados de que a DGIDC ainda não tinha dado a autorização para a recolha de dados

pelo que se o pedido viesse indeferido os dados recolhidos seriam inutilizados. Esta

decisão foi tomada, pois de outro modo não seria possível concluir a investigação no

tempo útil. A escolha deste período para a recolha de dados prendeu-se com a

disponibilidade dos professores, pois trata-se de um período de alguma estabilidade ao

nível do trabalho laboral dado que não coincide com o início do ano letivo ou do

período, nem com as épocas de avaliação de final do período letivo.

Os professores participantes desta investigação foram numa primeira fase

contatados telefonicamente. Nesse primeiro contato foi-lhes explicado os objetivos

deste estudo e foi solicitada a sua participação. Após a confirmação da sua participação

foi agendada a entrevista individual, nomeadamente, o dia, a hora e o local. A entrevista

foi realizada pela investigadora no local e horário combinado com o entrevistado, tendo

em conta a disponibilidade e a conveniência deste, mas garantindo que decorreria num

local sossegado e reservado para que o entrevistado se sentisse à vontade.

No início de cada entrevista, o professor em causa foi informado sobre o

objetivo da mesma, sobre o que se espera dele e sobre o caráter anónimo dos dados,

bem como sobre a possibilidade de, a qualquer momento da entrevista, poder desistir de

participar. Esclarecidos estes aspetos, foi assinada a declaração de consentimento

informado (Anexo IV), e o entrevistado foi incentivado a expressar a sua opinião, sem

constrangimentos, devido ao facto de permanecer no anonimato. Com permissão dos

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96

entrevistados, as entrevistas foram áudio-gravadas de modo a permitir à investigadora

concentrar-se na condução da entrevista, sem perder informação fornecida pelo

entrevistado. Atendendo a que entrevista se realizou num clima descontraído, de

conversa entre dois colegas, a presença do gravador não pareceu condicionar os

entrevistados pois transmitiram a sua opinião de uma forma entusiasta e completa. Foi

garantido ao entrevistado que logo que se acabasse a transcrição a gravação seria

destruída.

A entrevista teve uma duração que oscilou entre 30 minutos e 1h 20 minutos.

Esta oscilação esteve relacionada com a diferente riqueza de informação relacionada

com a temática e com a diferente objetividade dos entrevistados para responder às

questões colocadas. Durante a entrevista, a entrevistadora preocupou-se sempre em

cumprir e seguir a ordem das questões selecionadas para o guião da entrevista, de forma

a garantir que todos os assuntos pertinentes fossem discutidos. Para além das questões

constantes no guião da entrevista, por vezes, surgiu a necessidade de acrescentar

algumas questões de forma a clarificar as respostas dadas pelos entrevistados. Nas

respostas mais longas, a entrevistadora procurou assegurar a sua correta interpretação da

informação transmitida pelo entrevistado, reproduzindo de uma forma resumida o que

foi respondido e questionando o entrevistado sobre a correção ou não da sua

interpretação. Uma outra preocupação que houve durante as entrevistas foi de não

interromper o entrevistado enquanto respondia, de forma a não quebrar o seu raciocínio

e obter uma resposta o mais espontânea possível.

No fim da entrevista todos os entrevistados foram questionados sobre a

existência de algum assunto relacionado com a temática que não tivesse sido discutido e

que considerassem importante acrescentar, e sobre a clareza das questões colocadas pela

entrevistadora. Em anexo (Anexo V) encontram-se, como exemplo, duas das

transcrições das entrevistas realizadas nesta investigação.

3.7. Tratamento e análise de dados

O tratamento dos dados obtidos nesta investigação foi realizado atendendo aos objetivos

específicos deste estudo. Neste sentido, a informação recolhida nas entrevistas foi

transcrita pela investigadora, o mais fielmente possível para não comprometer a

qualidade dos dados. Seguidamente, os dados foram sujeitos a uma análise qualitativa

Page 112: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

97

de conteúdo, no sentido que lhe atribuem McMillan e Schumaker (2010). Para o efeito,

para cada questão da entrevista, foram identificados os segmentos relevantes das

respostas e, para cada segmento, a ideia que lhe está subjacente.

Os dados, pessoais e profissionais, recolhidos na primeira parte da entrevista

foram tratados e apresentados na secção 3.3. “População e amostra” pois permitem

caracterizar a amostra participante.

A exibição dos outros dados recolhidos foi organizada em duas secções,

designadamente: Conceções de professores sobre a Aprendizagem Baseada em Projetos

e Representações de professores sobre as práticas atuais e futuras de Ensino das

Ciências orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos. Esta última secção foi

dividida em três subsecções: Práticas de Ensino das Ciências orientado para a

Aprendizagem Baseada em Projetos; Viabilidade da implementação do Ensino das

Ciências orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos e Condições necessárias

para a implementação do Ensino das Ciências orientado para a Aprendizagem Baseada

em Projetos.

Atendendo a que as questões da entrevista eram questões abertas, no tratamento

de dados procedeu-se a uma análise de conteúdo das respostas. Neste sentido, conforme

foi referido anteriormente, para cada questão da entrevista foram identificados os

segmentos relevantes de cada resposta e reconhecida a ideia que lhe está subjacente.

Para algumas questões, essas ideias conduzirão a um conjunto de categorias de resposta,

definidas a posteriori, que serão utilizadas para classificar os segmentos relevantes

identificados nas diversas respostas obtidas para a pergunta em causa.

De acordo com McMillan e Schumaker (2010), a homogeneidade (as categorias

têm a ver com a mesma variável), a exclusão (as categorias não se sobrepõem), a

inclusividade (as categorias abrangem todos os elementos a classificar), a objetividade

(as categorias são interpretadas da mesma forma por todos) e a pertinência (as

categorias são úteis face aos elementos a classificar) são características de um conjunto

de categorias. O recurso a um conjunto de categorias para analisar os dados relativos a

uma questão ou a uma determinada variável é uma maneira prática de organizar os

dados recolhidos, resumindo-os e apresentando-os de um modo mais acessível à análise

de outros. De acordo com Vala (1986), “a construção de um sistema de categorias pode

ser feita a priori ou a posteriori, ou ainda através da combinação destes dois processos”

(p. 111). No caso específico desta investigação, foram utilizados os dois processos de

categorização, categorias a priori, teóricas ou dedutivas e categorias a posteriori,

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98

emergentes ou indutivas. No primeiro caso, a investigadora elaborou as categorias

baseando-se em trabalhos de outros autores e no segundo caso, a investigadora elaborou

as categorias após a análise do conteúdo das respostas dadas nas entrevistas.

O processo de categorização utilizado para a maioria das respostas dadas na

entrevista foi a categorização a posteriori, exceto para as respostas às questões 7. e 7.1.

Neste caso, foi uma categorização a priori. Neste sentido, numa primeira fase, para esta

variável em estudo – conceito de Aprendizagem Baseada em Projetos, elaborou-se uma

resposta considerada a desejada, baseada em trabalhos realizados por outros

investigadores. Deste modo, a análise das respostas dos professores às questões

supracitadas teve em conta esse nível de formulação desejado. Este nível de formulação

do conteúdo desejável permitiu definir o nível de análise a realizar para considerar uma

resposta Cientificamente Aceite (CA).

No entanto, a análise qualitativa do conteúdo das respostas dos participantes,

atendendo ao critério de análise previamente definido (atributos que deverão estar

presentes na resposta considerada desejada), originou subcategorias de análise que já

foram utilizadas noutras investigações (Vieira, 2007; Viegas, 2010). Essas

subcategorias foram as seguintes:

Respostas Cientificamente Aceites (CA). Nesta subcategoria são incluídas as respostas

que contêm todas as ideias requeridas na resposta considerada desejada.

Respostas Incompletas (Inc). Nesta subcategoria são incluídas todas as respostas que

contêm algumas das ideias requisitadas na resposta considerada desejada mas

não apresentam incorreções/aspetos considerados inválidos. As respostas que

contenham simultaneamente ideias válidas e não válidas não serão incluídas

nesta categoria.

Respostas cientificamente não aceites (CnA). Nesta subcategoria são incluídas todas as

respostas que apesar de serem inteligíveis ou não contêm ideias consideradas

válidas ou contêm, simultaneamente, ideias consideradas válidas e não válidas.

Não responde (Nr). Nesta subcategoria são incluídas as situações em que o entrevistado

não dá resposta à questão colocada ou a resposta não é compreensível.

O quadro que se segue (Quadro 13) apresenta para cada uma das três primeiras

subcategorias de análise (CA, Inc e CnA) uma breve descrição dos aspetos que deverão

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99

estar presentes na resposta para pertencer a cada uma das subcategorias de resposta

apresentadas na Tabela 3 (secção 4.2.).

Quadro 13 - Subcategorias da conceção de ABPj e suas características com exemplos

Conceções Características Exemplos de citações

Cientificamente

Aceite

(CA)

Refere as cinco

características principais da

ABPj e diferencia

corretamente ABPj de

Trabalho de Projeto.

Não há exemplos para apresentar

Incompleta

(Inc)

Refere apenas algumas das

características principais da

ABPj e diferencia

corretamente ABPj de

Trabalho de Projeto.

Refere algumas das

características principais da

ABPj e não indica qual é a

relação entre ABPj e

Trabalho de Projeto.

Ent.3: “…fazendo com que os alunos tenham de definir

um conjunto de procedimentos a adotar com o objetivo de

atingir um determinado objetivo … mas que seja eles

próprios … digamos assim … a ter que … chegar a esse

conhecimento através da realização de atividades

científicas, atividades de investigação … com a meta de

atingir …o conhecimento. (...) de realizar um trabalho que

lhe permita responder a um conjunto de questões iniciais

que lhe são propostas pelo professor.”

Ent.3: “O trabalho de projeto provavelmente será mais

estanque do a que Aprendizagem Baseada em Trabalho de

Projeto … O trabalho de projeto pode ser … simplesmente

seguir um conjunto … uma receita, um conjunto de passos

que já estão predefinidos, portanto, em que o aluno é

apenas um mero executor … digamos assim … daquilo

que é dito. Enquanto no Trabalho Baseado em Projetos é o

aluno que vai ter de construir os passos da sua

investigação, portanto, terá um papel muito mais ativo,

muito mais relevante, digamos assim, na construção do seu

conhecimento.”

Não há exemplos para apresentar

Cientificamente

Não Aceite

(CnA)

Refere algumas das

características principais da

ABPj e não consegue

diferenciar corretamente

ABPj de Trabalho de Projeto.

Refere aspetos que não são

característicos da ABPj e não

consegue diferenciar

corretamente ABPj de

Trabalho de Projeto.

Ent.12: “…tem que ser uma aprendizagem … de busca, de

investigação (...) Eu acho que faz mais sentido em grupo

quando é projeto.”

Ent.12: “Deve haver uma diferença porque o trabalho de

projeto cinge-se só … normalmente a um curto … a um

tema ou um curto espaço de tempo, enquanto que uma

aprendizagem baseada em projetos já tem que estar

estruturada para um ano de currículo, não é?”

Ent.6: “Seria pegar num tema de interesse relacionado com

a disciplina e depois arranjarmos várias formas de trabalho

e pesquisa e projeto, com atividades diversificadas para

levar ao aluno a chegar ao conteúdo, à conclusão e não

sermos nós …”

Ent.6: “Penso que Trabalho de Projeto teria como objetivo

a Aprendizagem por Projetos (riso) … mas não sei então…

não estou a ver uma diferença específica.”

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100

Quadro 13 – Subcategorias da conceção de ABPj e suas características com exemplos (cont.)

Conceções Características Exemplos de citações

Cientificamente

Não Aceite

(CnA)

(cont.)

Refere aspetos que não são

característicos da ABPj e

diferencia corretamente

ABPj de Trabalho de Projeto.

Não refere características da

ABPj e não consegue

diferenciar corretamente

ABPj de Trabalho de Projeto.

Ent.11: “Um projeto é construir alguma coisa,

nomeadamente, os alunos construírem algo que os una e

que tenha a ver com a disciplina, portanto, pode ser um

tema que seja um tema que eles queiram desenvolver e

trabalhá-lo de maneira diferente daquilo que estão

habituados. Em vez de ser professor-aluno serão eles a

tentar chegar ao objetivo que é a matéria, não é? (...)

Geralmente quando se fala em projeto é trabalho em

grupo.”

Ent.11: “Para mim trabalho de projeto é o professor “vais

fazer isto e tens que abordar estes temas”, portanto, eles

são mais orientados. Se for uma Aprendizagem Baseada

em Projetos se calhar é mais há descoberta por eles para

tentarem chegar a algum lado. Portanto, se for

Aprendizagem Baseada num Projeto se calhar é mais há

descoberta, se for um projeto é mais orientado para eles

darem resposta aquilo que é pretendido. Se calhar é mais

fechado.”

Ent.9: “Sinceramente não sei responder …

Investigadora: Então não consegue dar uma opinião do que

acha que é …

Ent.9: Não. Neste momento não.”

Ent.9: “Talvez não … Pronto… Se calhar a aprendizagem

baseada num projeto … pronto … penso eu que requer

alguma investigação, não só pela nossa parte mas também

pela parte dos alunos …”

Na elaboração da resposta Cientificamente Aceite teve-se em consideração a

explicitação do conceito apresentada por outros investigadores e o seguinte critério de

análise:

Relação estabelecida entre Trabalho de Projeto e Aprendizagem Baseada em

Projetos: de acordo com Mayer (2012) a Aprendizagem Baseada em Projetos

não é sinónimo de Trabalho de Projeto pois a ABPj coloca a ênfase numa

aprendizagem que é realizada através da elaboração de Projetos pelos alunos, em

resposta a um problema que lhes é colocado ou que eles próprios formulam e o

Trabalho de Projeto aponta para uma estratégia que pode implicar um maior ou

menor envolvimento do aluno.

De acordo com Krajcik e Czerniak (2014), as cinco características principais do

método de ensino Aprendizagem Baseada em Projetos são: 1) questão

motriz/central ou pergunta de condução ancorada no mundo real (aberta,

complexa e contextualizada); 2) realizar investigação científica e de trabalhar

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101

com os dados de investigação e dar-lhes sentido; 3) uso de tecnologia para

apoiar as investigações; 4) oportunidade de colaboração; e 5) relevância do

produto final para o mundo real.

De forma a clarificar as categorias de análise exibidas na próxima secção

“Apresentação e discussão resultados”, aquando da apresentação dos dados são

expostos alguns excertos das respostas dos professores.

Atendendo a que a análise de conteúdo das respostas acarreta sempre alguma

subjetividade, a categorização (ou classificação) foi revista, de forma a identificar e a

corrigir possíveis incorreções da investigadora, e foi submetida à apreciação da

supervisora. Quando não houve consenso, as duas interpretações foram discutidas e a

resposta foi categorizada quando se chegou a consenso ou, caso contrário, foi

considerado “Não responde”. A categorização completa de todas as respostas encontra-

se no anexo VI.

Os resultados serão apresentados em tabelas que indicam a frequência de

respostas em cada categoria e subcategoria e, para aprofundar a análise serão

apresentados extratos das entrevistas considerados relevantes. Cada extrato da entrevista

(Ent.) será acompanhado pelo número do entrevistado a que se refere (por exemplo,

Ent.1).

Seguidamente, sempre que possível, os resultados obtidos foram comparados

com os resultados de outras investigações realizadas nesta temática ou em temáticas

afins e com objetivos semelhantes, com a finalidade de obter uma ideia sobre a sua

consistência, ou não, com os resultados de outros estudos e de, eventualmente,

identificar novas questões de investigação.

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102

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103

CAPÍTULO IV

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1. Introdução

Este capítulo está dividido em três subcapítulos, sendo que este primeiro subcapítulo

consiste numa breve apresentação da estrutura do capítulo de Apresentação e Discussão

dos Resultados (4.1). O subcapítulo que se segue está relacionado com a análise das

conceções dos professores participantes no estudo sobre a ABPj (4.2) e está dividido em

cinco secções. Na primeira secção são analisadas as conceções sobre o conceito de

ABPj (4.2.1) e, em seguida, o papel da tecnologia na ABPj para os professores

entrevistados (4.2.2). Na terceira secção é examinado o contributo que os professores

entrevistados atribuem à ABPj para a Educação em Ciências (4.2.3), seguido da análise

do papel do professor na ABPj (4.2.4). Por fim, apresentadas as reações que os

professores consideram que os alunos têm a um Ensino Orientado para a ABPj (4.2.5).

No terceiro subcapítulo são analisadas as representações de professores sobre as

práticas atuais e visões para o futuro do Ensino das Ciências Orientado para a ABPj

(4.3), estando dividido em três secções. Na primeira secção apresentam-se as práticas de

Ensino das Ciências Orientado para a ABPj (4.3.1); na segunda secção a viabilidade da

implementação do Ensino das Ciências Orientado para a ABPj, para os professores

entrevistados (4.3.2) e, na última secção, são identificadas as condições que os

professores participantes consideram necessárias para a implementação do Ensino das

Ciências Orientado para a ABPj (4.3.3).

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104

4.2. Conceções de professores sobre a Aprendizagem Baseada em Projetos

4.2.1. Conceções sobre o conceito de Aprendizagem Baseada em Projetos

Com o objetivo de caraterizar o conceito de ABPj questionou-se os professores sobre o

que é a Aprendizagem Baseada em Projetos e sobre a existência, ou não, de alguma

diferença entre a Aprendizagem Baseada em Projetos e o Trabalho de Projeto. Os dados

encontram-se na tabela 3.

Tabela 3 - Conceito de Aprendizagem Baseada em Projetos (n = 12)

A análise da tabela 3 permite constatar que a maior parte dos professores

entrevistados, nove professores (Ent.2, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 11 e 12), tem uma conceção

cientificamente não aceite da Aprendizagem Baseada em Projetos. Apenas três

professores (Ent.1, 3 e 10) apresentaram uma conceção incompleta do conceito, isto é,

Conceções

Professores T

O

T

A

L

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12

CA 0

Inc. 3

Refere apenas algumas

das características

principais da ABPj e

diferencia corretamente

ABPj de Trabalho de

Projeto.

√ √ √ 3

CnA 9

Refere algumas das

características principais

da ABPj e não consegue

diferenciar corretamente

ABPj de Trabalho de

Projeto.

√ √ 2

Refere aspetos que não

são característicos da

ABPj e diferencia

corretamente ABPj de

Trabalho de Projeto.

√ √ 2

Refere aspetos que não

são característicos da

ABPj e não consegue

diferenciar corretamente

ABPj de Trabalho de

Projeto.

√ √ √ √ 4

Não refere características

da ABPj e não consegue

diferenciar corretamente

ABPj de Trabalho de

Projeto.

√ 1

Nr. 0

Page 120: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

105

estes professores nas suas respostas referiram algumas características principais da

ABPj e conseguiram diferenciar adequadamente apesar de o terem feito de uma forma

incompleta, a ABPj do Trabalho de Projeto.

A característica da ABPj que foi mencionada por um maior número de

professores entrevistados, cinco professores (Ent.2, 3, 7, 10 e 12), foi a possibilidade de

realizar uma investigação científica autonomamente, foi referido pelo professor

entrevistado 2:

“ (...) para trabalhar em Projetos tem que haver uma planificação própria com vista o

estabelecimento de objetivos, com estabelecimento de prazos, com estabelecimento de uma

metodologia que deve ser seguida sequencial, evidentemente com uma determinada

calendarização, em que avaliamos os nosso “passos” que conseguimos atingir em cada uma das

etapas e depois com a parte final … que é a apresentação de um produto ou de … que pode ser

um poster, que pode ser uma apresentação oral, que pode ser participar num congresso…”

No entanto, também foram referidas outras características principais da ABPj,

como: a possibilidade de realizar investigação científica orientada (Ent.1 e 7), a

relevância do produto final para o mundo real (Ent.2 e 7), o objetivo de investigação

bem definido (questão motriz) (Ent.2 e 3) e a oportunidade de trabalho colaborativo

(Ent.11 e 12).

Nas respostas cientificamente não aceites dos professores entrevistados

identificaram-se três ideias consideradas não válidas de características de uma ABPj.

Dois professores (Ent.5 e 6) referiram que uma das características da ABPj seria o

professor propor algumas atividades para os alunos realizarem, como é o caso do Ent.6:

“Seria pegar num tema de interesse relacionado com a disciplina e depois arranjarmos

várias formas de trabalho e pesquisa e projeto, com atividades diversificadas para levar

ao aluno a chegar ao conteúdo, à conclusão e não sermos nós …”

Um dos professores entrevistados (Ent.7) referiu que a situação ideal numa

ABPj é os alunos desenvolverem individualmente o seu projeto, mostrando

desvalorização pelo trabalho colaborativo, uma das características principais deste tipo

de projetos. O Ent.7 afirmou o seguinte: “(...) O ideal é que cada um desenvolvesse o

seu próprio projeto. Isso é inviável porque é inviável em termos de tempo, de eu puder

ajudar, etc. Então eles trabalham em grupo…”

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106

O outro aspeto identificado em algumas respostas cientificamente não aceites foi

a confusão entre uma ABPj e o Trabalho de Projeto, isto é, três professores (Ent.4, 8 e

11) nas suas respostas descreveram um ensino orientado pela ABPj como sendo um

Trabalho de Projeto. Um dos casos é o do professor entrevistado 8:

“os alunos são chamados a desenvolverem as suas competências ou o que é esperado para aquele

ano letivo … no decorrer, na exploração desse … desse projeto. No fundo é … é o saber fazer, não

é? e com o saber fazer a … adquirir aprendizagens …”

No que respeita à relação estabelecida entre a ABPj e o Trabalho de Projetos,

dos doze professores entrevistados, apenas cinco professores (Ent.1, 3, 4, 10 e 11)

apresentaram conceções cientificamente aceites. Porém, nenhum destes professores

conseguiu dar uma resposta completa sobre a diferença entre estes dois tipos de

projetos. Três dos professores (Ent.3, 10 e 11) apresentam a conceção cientificamente

válida de que, na ABPj é o aluno que planifica a investigação, o que não é exigido no

Trabalho de Projeto, como é o caso do professor entrevistado 3:

“ O trabalho de projeto provavelmente será mais estanque do a que Aprendizagem Baseada em

Trabalho de Projeto … O trabalho de projeto pode ser … simplesmente seguir um conjunto …

uma receita, um conjunto de passos que já estão predefinidos, portanto, em que o aluno é apenas

um mero executor … digamos assim … daquilo que é dito. Enquanto no Trabalho Baseado em

Projetos é o aluno que vai ter de construir os passos da sua investigação, portanto, terá um papel

muito mais ativo, muito mais relevante, digamos assim, na construção do seu conhecimento.”

O professor entrevistado 1 apresenta a conceção cientificamente válida de que,

ambos os tipos de projetos obrigam o aluno a realizar uma investigação científica: “O

trabalho de projeto obriga a que a pessoa também tenha uma ideia de como fazer

investigação senão não consegue chegar lá … ao que é a elaboração de um projeto…”

O professor entrevistado 4 também apresenta uma conceção cientificamente

válida sobre a ABPj e o Trabalho de Projeto pois considera que ambas envolvem

aprendizagem pelo aluno: “…quando se faz um trabalho de projeto também se aprende

com o que se está a fazer. Portanto, … para mim parece ser a mesma coisa,

sinceramente mas admito que o conceito não seja o mesmo.”

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107

Os restantes sete professores entrevistados (Ent.2, 5, 6, 7, 8, 9 e 12) revelaram

ideias não válidas relativamente à relação entre a ABPj e o Trabalho de Projeto. Dois

dos professores (Ent.6 e 8) não reconhecem diferenças entre estes tipos de projetos,

como é o caso do professor entrevistado 8:

Ent.8: A diferença … ora bem, não sei. Num ele aprende com o projeto, constrói a sua

própria aprendizagem … no Trabalho de Projeto basicamente acaba por ser a

mesma coisa, não? Eu estou a ter dificuldade em perceber o que é que é o

Trabalho de Projeto.

Investigadora: Então o que sente neste momento é que acabam por ser, traduzir …

Ent.8: Sim, a mesma coisa.

Os restantes cinco professores consideram que são diferentes, mas apresentam

ideias que não são válidas, nomeadamente, considerarem que a ABPj é uma vertente do

Trabalho de Projeto (Ent.2); o Trabalho de Projeto é a primeira etapa do projeto, a

preparação, e a ABPj é depois a aplicação do projeto (Ent.5); no Trabalho de Projeto o

aluno está envolvido na conceção do projeto até ao produto final, na ABPj o aluno vai

reproduzir projetos já realizados por outros (Ent.7) e a ABPj é projetada para um ano

letivo enquanto o Trabalho de Projeto é para um tema ou um curto período de tempo

(Ent.12). Um dos exemplos de conceção cientificamente não aceite sobre a ABPj e o

Trabalho de Projeto é a do professor entrevistado 7:

Ent.7: Trabalho de projeto é … ok … o aluno está envolvido desde a conceção, desde

a raiz até ao produto final, seja qual for, seja … esse para mim é o trabalho de

projeto… Por aquilo que eu entendo, está bem? Agora baseado no projeto…

eu posso pegar num projeto que já existe e posso tentar implementá-lo. Ora

para mim é mais válido …

Investigadora: Para ver se eu compreendi.

Ent.7: Ok.

Investigadora: Na sua opinião, a Aprendizagem Baseada em Projetos poderá ser …

Ent.7: Para mim é mais limitativo. Se entender … eu conheço um projeto que foi

implementado na escola A. Ok. Vou trazê-lo para aqui e vou replicá-lo. Os

meus alunos vão replicá-lo, vão trabalhar. Ok. Perceberam as fases todas e vão

replicá-lo. Aprendem mas para mim aprendem mais se são eles a criar … se

são eles de raiz a criar o trabalho de projeto.

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108

Em seguida, pediu-se aos professores para explicarem qual de duas situações

apresentadas correspondia, na sua opinião, a uma ABPj. A situação A mostrava as

caraterísticas principais da ABPj, nomeadamente, a possibilidade de os alunos

formarem o seu grupo, “de acordo com os seus interesses pessoais”, pois a investigação

a desenvolver deve ser colaborativa entre todos os elementos do grupo; os alunos

“selecionaram o problema mais relevante para eles” pois a questão central deve

motivar/envolver os alunos pelo que deve ter significado para eles e os alunos tiveram

oportunidade de investigação científica e de trabalhar com os dados de investigação e

dar-lhes sentido, sempre com a orientação da professora. Os alunos para investigarem,

planearem, testarem as suas ideias e formularem explicações tiveram de usar a

tecnologia como apoio à sua investigação. Para além disso, os três problemas

formulados, distintos e relevantes, são abertos e complexos pois vão dar oportunidade

aos alunos de realizarem uma investigação científica e estão contextualizados em

problemas reais dentro da temática da Eletricidade. No fim, o produto final, que deve ter

relevância para o mundo real, foi apresentado à turma e analisado por todos os

intervenientes. Por outro lado, a situação B não mostrava um contexto de ABPj porque

não houve a preocupação de motivar os alunos para investigação, dado que todas as

questões tinham de ser resolvidas por todos os alunos, independentemente dos seus

interesses pessoais; a definição dos grupos de trabalho foi da responsabilidade da

professora não havendo a preocupação em incentivar os alunos para a realização de uma

investigação colaborativa entre pares, pois os alunos não se juntaram de acordo com os

seus interesses pessoais, e foi-lhes dada a possibilidade de trabalharem individualmente,

e o facto de “a professora definiu um conjunto de atividades práticas que orientaram os

alunos para a resposta final”, portanto, os alunos não tiveram a oportunidade de planear

a sua investigação, definir um procedimento para a pesquisa a realizar e identificar os

materiais necessários para a investigação. A Tabela 4 apresenta os dados resultantes da

resposta a essa questão que estão relacionados com a aplicação do conceito de ABPj.

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109

Tabela 4 - Aplicação do conceito de Aprendizagem Baseada em Projetos (n = 12)

Professores TOTAL

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 Escolhe:

Situação A √ √ √ √ √ √ √ √ √ √ √ 11

Situação B √ 1

Argumentos adequados usados para escolherem a situação como ABPj:

Pergunta de

condução √ √ √ √ 4

Relevância da

temática para os

alunos

√ √ √ √ √ 5

Realizar

investigação

cientifica

autonomamente

√ √ √ √ √ √ √ √ 8

Investigação

orientada √ √ √ √ √ 5

Oportunidade de

trabalho

colaborativo

√ √ √ √ 4

Oportunidade de

trabalho

colaborativo,

com formação de

grupos por

afinidade

√ √ 2

Apresentação aos

colegas do

produto final

√ 1

Argumentos não adequados usados para escolherem a situação como ABPj:

Estudo dos

mesmos temas

em simultâneo

√ 1

Trabalho facilitado

para o professor √ 1

Não apresenta

argumentos √ 1

NOTA: O professor entrevistado P9 escolheu a situação B, ou seja, a situação em que a professora

aplicou incorretamente uma Aprendizagem Baseada em Projetos. Todos os restantes professores

escolheram a opção correta.

Como se pode constatar pela análise da tabela 4, quase todos os professores,

onze professores (Ent.1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 10, 11 e 12), escolheram a situação A, a

situação correta de aplicação da ABPj e todos apresentaram argumentos adequados à

escolha que realizaram com exceção do professor entrevistado 6 que escolheu esta

situação por ser mais aliciante, pois respondeu: “Agora, se calhar será mais a A … não

sei … pronto. Eu acho que a A é muito aliciante. Acho que é impraticável em … com

alguns tipos de alunos.”, não conseguindo fundamentar a escolha realizada.

Um dos argumentos adequados mais utilizado pelos professores foi a

possibilidade de o aluno realizar investigação cientifica autonomamente. Oito

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110

professores (Ent.1, 2, 3, 4, 5, 8, 10 e 11) usaram este argumento, como foi o caso do

professor 5:

“… o que os projetos … o que se pretende hoje é que cada vez mais o aluno, cada vez mais cedo

seja independente, seja capaz de fazer, seja capaz de ser … até autodidata e, portanto, os

projetos, imagino eu, devem seguir por esse caminho.”

Outros argumentos adequados usados pelos professores para justificarem a sua

opção foram os seguintes: a relevância da temática para os alunos (Ent.2, 4, 7, 8 e 12); o

facto de a investigação ser orientada (Ent.2, 3, 7, 8 e 10); existência de uma pergunta de

condução (Ent.1, 2, 8 e 10) e a oportunidade de trabalho colaborativo (Ent.1, 2, 3, 4, 7 e

8). Relativamente a este último argumento importa salientar que dois (Ent.7 e 8) dos

seis professores consideram importante a oportunidade de trabalho colaborativo, mas

com formação de grupos por afinidade, como é o caso do professor entrevistado 8:

“… como os grupos foram feitos eles podem ter calhado num grupo com colegas com os quais

não estão … não têm mais à vontade ou com os quais é mais difícil de trabalhar e isso torna-se

uma vantagem na situação A porque os alunos é que formaram esses grupos a … e partilham do

mesmo interesse, não é? e … e quando é assim, na minha opinião, os alunos tornam-se mais

participativos e o interesse é o ideal porque … o grupo funciona como motivador para todos os

alunos.”

Denota-se nestes professores uma preocupação pela motivação dos alunos para

esta aprendizagem, considerando que a afinidade entre os elementos do grupo é um

fator que poderá contribuir para um maior envolvimento do aluno no trabalho.

Relativamente ao professor entrevistado 9, o único que escolheu a situação B,

fundamentou a sua opção com a seguinte resposta:

“…o facto de todos eles terem que abordar os mesmos temas … se calhar … vamos aqui ao

encontro de várias ideias, enquanto que na A já não (...) até se calhar mesmo para o próprio

professor … terá um trabalho mais fácil, conseguirá … na minha opinião … se surgir uma

dúvida que às vezes é comum a todos … ele puder explicar.”

Portanto, pode-se constatar que este professor utiliza dois argumentos não

adequados para a sua escolha, pois considera que o estudo dos mesmos temas em

simultâneo, sem atender aos interesses pessoais dos alunos, é uma vantagem e que deste

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111

modo o trabalho é facilitado para o professor. Esta situação também foi verificada por

Mentzer e Brooks (2017) que observaram na sua investigação as práticas de ABPj de

professores, que frequentemente referiram que o tema em estudo era comum a todos os

alunos, pois utilizavam o mesmo procedimento, seguiam a mesma ordem e obtinham o

mesmo resultado, demonstrando a dificuldade dos professores em permitir que os

alunos sejam autónomos na sua aprendizagem.

Apesar de dez dos professores que escolheram a opção A (Ent.1, 2, 3, 4, 5, 7, 8,

10, 11 e 12) terem utilizado argumentos adequados para justificarem a sua escolha,

nenhum dos professores conseguiu apresentar uma resposta completa. O professor que

apresentou a resposta com mais argumentos adequados foi o professor entrevistado 2

que referiu:

“… de uma questão problema ou questão central, que a partir dai depois vamos fazer um mapa e

vão … desfragmentar a questão central é várias pequenas questões. (…) diz aqui investigando,

planeando, testando as suas ideias e formulando explicações baseadas nas evidências e princípios

científicos, ou seja, aqui é a conjugação, interligação com os conhecimentos que eles trazem face

… aquele problema e ai depois o professor também tem um papel importante em ajudar … se vir

que os conhecimentos que eles têm não são suficientes ou eles precisam de conhecimentos já

mais avançados depois pode dizer “essas questões não são da vossa … faixa etária, então vamos

simplificar isso um bocadinho”. (…) portanto, não foi ela que dava as respostas às perguntas mas

no fundo foi um … professor orientador em todo o processo, que estava aqui ao lado e se

sentissem perdidos a quem podiam recorrer… (…) e depois eles tinham de apresentar um

produto final … tal e qual … projeto tem um produto final e … debatê-los com os outros

intervenientes … (...) Depois a professora definiu um conjunto de atividades práticas isto já é

muito direcionado (…) Não há aqui nenhuma incerteza, não há aqui nenhuma procura de … não

há suficiente autonomia dos alunos no projeto…. (…) as competências sociais e as competências

de interação também são avaliadas no trabalho em projeto, não é só o produto em si; é saber

comunicar, é saber escutar o outro, saber … também reconhecer quando nós erramos. Isso no

segundo caso foi contornado para evitar este tipo de conflitos … através do trabalho individual,

portanto, isso não é projeto. (...) diz aqui assim os alunos foram divididos em grupos de acordo

com os seus interesses pessoais, portanto, … num projeto é fundamental que … temos em

consideração o gosto pessoal do aluno… (...) diz aqui assim os alunos foram divididos em

grupos de acordo com os seus interesses pessoais, portanto, (…) num projeto é fundamental que

… temos em consideração o gosto pessoal do aluno… (…) porque uma coisa fundamental nos

projetos é a palavra motivação e … sem motivação vai-se fazendo mas não é aquela coisa de …

ai tenho curiosidade em saber mais sobre o assunto.”

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112

Nesta resposta, o professor entrevistado 2 revela que considera importante numa

ABPj a existência de uma pergunta de condução e a escolha de uma temática relevante

para os alunos. Também faz referência ao facto de os alunos deverem realizar uma

investigação autonomamente, mas com orientação do professor, e em colaboração com

os seus colegas de grupo e, no fim, apresentarem o produto final aos colegas. No

entanto, denota-se que este professor tem uma conceção muito generalizada do que é a

Aprendizagem Baseada em Projetos pois, por exemplo, nunca faz referência ao facto de

que a questão central deve estar ancorada no mundo real (Bell, 2010; Krajcik &

Czerniak, 2014; Mentzer & Brooks, 2017), deve ser contextualizada, e não apenas

aberta e complexa para permitir ao aluno realizar uma investigação científica, e o

problema inicial fornecido aos alunos deve ser autêntico (Thys, Verschaffel, Dooren &

Laevers, 2016). Uma outra característica muito importante deste método e que não foi

referida pelo professor é a produção de um produto final/artefacto, pelos alunos, com

relevância para o mundo real (Blumenfeld et al., 1991).

Em suma, a análise dos dados apresentados nas tabelas 3 e 4 permite-nos

considerar que os professores entrevistados possuem um conhecimento ingénuo sobre a

Aprendizagem Baseada em Projetos, pois concentram-se nas características mais gerais

deste método de ensino (realizar investigação científica autonomamente e orientada pelo

professor, oportunidade de trabalho colaborativo, existência de uma pergunta de

condução, etc.), desvalorizando as características únicas identificadas por especialistas

na área, tais como: o facto de serem os alunos a “procurar” o conhecimento para

resolverem problemas do mundo real (Bell, 2010; Mentzer & Brooks, 2017) através de

uma questão central ancorada no mundo real; a produção de um produto final ou

artefacto com relevância para o mundo real; a realização de uma tarefa

autêntica/pesquisa situada e orientada pelos alunos ou a indicação dos elementos

necessários para a sua implementação, nomeadamente, as ferramentas cognitivas; a

avaliação; e o tipo de acompanhamento prestado pelo professor aos alunos. Estes

resultados vão ao encontro dos resultados obtidos por outros investigadores,

nomeadamente, Marshall, Petrosino e Martim (2010) e Mentzer e Brooks (2017).

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113

4.2.2. Papel da tecnologia na Aprendizagem Baseada em Projetos

Com o objetivo de caracterizar o papel da tecnologia na ABPj colocaram-se três

questões aos professores. Um dos aspetos que foi questionado foi a utilização, ou não,

dos computadores na ABPj, à qual todos responderam que sim, isto é, que os alunos

devem utilizar os computadores neste método de ensino pelo que, seguidamente, todos

os professores foram questionados sobre as razões para o seu uso. As outras duas

questões eram sobre o tipo de programas ou aplicações do computador que

consideravam úteis na ABPj e sobre a utilidade, ou não, de usar outras tecnologias na

ABPj. Aos professores que responderam afirmativamente a esta última questão foi

pedido para indicar exemplos de outras tecnologias. As tabelas 5 e 6 apresentam os

dados resultantes da resposta a estas questões.

A análise da tabela 5 permite concluir que a razão mais apontada pelos

professores (n=8), para usar o computador numa ABPj é o ser uma fonte de informação.

Tabela 5 - Papel do computador na Aprendizagem Baseada em Projetos (n = 12)

Professores TOTAL

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12

Razões para o uso do computador na ABPj:

Fonte de

informação √ √ √ √ √ √ √ √ 8

Acompanhar a

evolução

tecnológica

√ √ 2

Elaborar o trabalho

escrito √ √ 2

Permite

rentabilizar o

tempo

√ 1

Programas ou aplicações no computador que são úteis na ABPj

EXCEL

Tratamento de

dados √ √ √ √ √ 5

WORD

Elaboração de

produtos finais √ √ √ √ √ √ 6

POWERPOINT

Elaboração de

produtos finais √ √ √ √ √ √ 6

PUBLISHER

Elaboração de

produtos finais √ 1

MOVIE MAKER

Elaboração de

produtos finais √ √ 2

GOOGLE

Fonte de

informação √ √ √ √ √ √ 6

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114

Tabela 5 – Papel do computador na Aprendizagem Baseada em Projetos (cont.)

Professores TOTAL

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12

Programas ou aplicações no computador que são úteis na ABPj (Cont.)

YOUTUBE

Fonte de

informação √ √ 2

Observar

experiências √ 1

PROGRAMAS DE FÍSICA

Fazer experiências √ √ 2

SOFTWARE

ASSOCIADO AOS

SENSORES

Registo e

tratamento de

dados

√ 1

PROGRAMAS PARA

PROGRAMAR ROBÔS

Fazer experiências √ 1

Um exemplo disso é o do Ent.1: “… é uma fonte no qual eles podem buscar

mais informação atualizada”. No entanto, também foram elencadas outras razões pelos

professores, nomeadamente: a necessidade de acompanhar a evolução da tecnologia

(n=2), “Porque atualmente é uma ferramenta que não dispensámos. Ninguém… quase

… todas as profissões agora utilizam. Nós utilizamos muito, os professores, e eles

também acho que devem utilizar e saber utilizar.” (Ent.12); para elaborar o trabalho

escrito (n=2) e para rentabilizar o tempo (n=1). O Ent. 9, explica assim, a rentabilização

do tempo e a elaboração do trabalho escrito:

“… é uma ferramenta que está ali há mão, não é? … e depois … ao mesmo que pode estar a

trabalhar para o projeto, pode estar a investigar … portanto, penso eu, que é … portanto … está a

rentabilizar tempo … e ao mesmo tempo … a construir o seu próprio trabalho.”

Os dados apresentados na tabela 5 ainda nos permitem constatar que os

programas ou aplicações do computador que os professores consideram mais úteis na

ABPj são: Word e PowerPoint para a elaboração do produto final (n=6; Ent.1, 2, 4, 10,

11 e 12 e Ent.2, 4, 9, 10, 11 e 12, respetivamente); Google como fonte de informação

(n=6; Ent.2, 3, 7, 9, 11 e 12); e o Excel para tratamento de dados (n=5; Ent.1, 2, 4, 7 e

12). Ainda para a elaboração do produto final, um professor (Ent.2) referiu o Publisher e

dois professores (Ent.2 e 4) o Movie Maker. Como fonte de informação também foi

considerado o Youtube por dois professores (Ent.2 e 5) e um professor (Ent.6)

mencionou-o para observar experiências. Para fazer experiências, dois professores

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115

(Ent.5 e 8) mencionaram os Programas de Física e um professor (Ent.8) os Programas

para programar Robôs. Um professor (Ent.7) ainda acrescentou o Software associado

aos sensores que permite o registo e tratamento de dados. Sendo assim, os professores

entrevistados identificaram várias utilidades para os diferentes programas ou aplicações

do computador, nomeadamente, fonte de informação, registo e tratamento de dados,

observar e fazer experiências e elaboração do produto final.

A tabela 6 mostra que apenas três professores (Ent.1, 6 e 10) não apresentaram

outros exemplos de tecnologias na ABPj como é o caso do professor entrevistado 6,

como pode verificar-se pelo seguinte diálogo:

“Investigadora: Mas outros … outro tipo de tecnologia … que pudesse ser usado na ABPj. Não

recorda nenhum que possa ser útil? Quando digo tecnologia pode ser qualquer

equipamento. Sugeri o telemóvel mas como o telemóvel qualquer equipamento

eletrónico. Um aparelho digital que possa ser útil?

Ent.6: Não. De momento não me recordo de nenhum. Não.”

Tabela 6 - Papel de outras tecnologias, para além do computador, na Aprendizagem Baseada em

Projetos (n = 12)

Outras tecnologias

utilizadas na ABPj

Professores TOTAL

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12

SMARTPHONE √ √ √ √ √ √ √ √ 8

Calculadora

científica √ 1

Registo de imagens

ou fotografias √ 1

Medições de

grandezas físicas √ 1

Partilha de

informação √ 1

Acesso a

informação e

aplicações

√ √ 2

Substituir o

computador √ √ 2

CÂMARA DE FILMAR √ 1

Fazer vídeos √ 1

SENSORES √ √ √ 3

Medições de

grandezas físicas √ √ 2

TABLET √ √ √ √ 4

Partilha de

informação √ 1

Substituir o

computador √ 1

MÁQUINA GRÁFICA

Substituir o

computador √ 1

PLACAS

PROGRAMÁVEIS √ 1

Não apresenta outras

tecnologias √ √ √ 3

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116

Os restantes professores entrevistados apresentaram exemplos de outras

tecnologias, sendo que a mais referida foi o smartphone (n=8; Ent.2, 4, 5, 7, 8, 9, 11 e

12), por ter como funcionalidades o acesso a informação e aplicações (Ent.7 e 9), ser

substituto do computador (Ent.11 e 12), ter calculadora científica (Ent.2), fazer registo

de imagens e fotografias (Ent.4), fazer medições de grandezas físicas (Ent.4) e permitir

a partilha de informação (Ent.5). O Tablet também foi considerado por quatro

professores (Ent.4, 5, 8 e 12), sendo que o Ent.12 considera-o um substituto do

computador, o Ent.5 referiu que pode ser usado para a partilha de informação e os Ent.4

e 8 não apresentaram exemplos de funcionalidades. Os sensores foram referidos por três

professores (Ent.2, 3 e 7) para efetuar medições de grandezas físicas. Outras tecnologias

que foram mencionadas, mas cada uma delas por apenas um professor, foram: máquina

gráfica para substituir o computador (Ent.7), câmara de filmar para fazer vídeos (Ent.2)

e placas programáveis (Ent.4).

A análise da tabela 6 também nos permite apurar quais são os principais papéis

que os professores entrevistados atribuem às outras tecnologias na ABPj, tendo referido

as seguintes: substituição dos computadores (Ent.7, 11 e 12), medição de grandezas

físicas (Ent.2, 4 e 7), acesso a informação e aplicações (Ent.7 e 9) e partilha de

informação (Ent.5).

Em suma, os professores entrevistados reconhecem que a tecnologia é muito

importante na ABPj, podendo os computadores, smartphones, tabletes, etc.

desempenhar diferentes funções ao longo do trabalho de investigação, tal como foi

encontrado em outros estudos (Krajcik & Blumenfeld, 2006; Moura, 2016; Novak &

Krajcik, 2006). Algumas das funcionalidades mencionadas pelos professores foram as

seguintes: fonte de informação e aplicações, elaboração do produto final, rentabilizar o

tempo; acompanhar a evolução tecnológica, medições de grandezas físicas, registo e

tratamento de dados, observar e fazer experiências, partilha de informação, registo de

imagem ou fotografia e fazer vídeos. Estes dados vão ao encontro dos encontrados por

vários investigadores, nomeadamente, Krajcik e Blumenfeld (2006) e Moura (2016),

que atribuem um papel especial à tecnologia na ABPj, pois permite ampliar o número

de tarefas que os alunos podem realizar dentro da sala de aula e fornece um conjunto

amplo de ferramentas cognitivas que apoiam o professor na pesquisa e aprendizagem

dos alunos.

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117

4.2.3. Contributo da Aprendizagem Baseada em Projetos para a Educação em

Ciências

Com o propósito de identificar os objetivos que a Aprendizagem Baseada em Projetos

permite alcançar na Educação em Ciências fez-se a seguinte questão aos professores:

“Na sua opinião, quais são os principais objetivos que a Aprendizagem Baseada em

Projetos permite alcançar na Educação em Ciências?”. A tabela 7 apresenta os dados

resultantes da resposta dada pelos professores a essa questão.

Tabela 7 - Principais objetivos da Aprendizagem Baseada em Projetos na Educação em Ciências (n =

12)

Os principais objetivos da Aprendizagem Baseada em Projetos na Educação em

Ciências elencados pelos professores entrevistados foram:

- desenvolvimento da autonomia (n=8, Ent.2, 3, 5, 6, 7, 10, 11 e 12), um deles

defende esta conceção da seguinte maneira: “Desde logo a capacidade de

trabalho autónomo que é fundamental é uma ferramenta que eles

provavelmente irão utilizar ao longo da sua vida …” (Ent.3);

Objetivos

Professores T

O

T

A

L P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12

Desenvolver capacidades

inerentes a uma

investigação

√ √ √ √ 4

Desenvolver a autonomia √ √ √ √ √ √ √ √ 8

Aprender a lidar com o

insucesso √ 1

Desenvolver a perseverança √ 1

Promover aprendizagens

mais significativas √ √ √ 3

Desenvolver competências

de trabalho cooperativo √ √ 2

Estabelecer uma relação

entre a teoria e a prática √ √ 2

Ser uma alternativa ao

ensino tradicional √ 1

Pensamento crítico √ √ 2

Assertividade √ 1

Criatividade √ 1

Respeitar a individualidade

do aluno √ 1

Aprender “a fazer” √ 1

Curiosidade √ 1

Motivar para a

aprendizagem √ 1

Page 133: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

118

- desenvolvimento de capacidades inerentes a uma investigação (n=4, Ent.1, 3,

5 e 7), em que um deles afirma “… Permite que eles adquiram, desenvolvam

outras capacidades que … sem ser por uma área de investigação, mais prática,

que …” (Ent.1);

- promover aprendizagens mais significativas (n=3, Ent.3, 10 e 11), explicando

que “… é uma aprendizagem duradoura, não é aquele de decorar porque tens

um teste para fazer ou tens um exame para realizar.” (Ent.10);

- desenvolver competências de trabalho colaborativo (n=2, Ent.3 e 11), como

disse o Ent.3: “…questão do trabalho cooperativo e da capacidade de

promover um eficaz trabalho de grupo e o relacionamento interpessoal …”;

- estabelecer uma relação entre a teoria e a prática (n=2, Ent.4 e 9), pois: “…

essencialmente faz uma ligação entre a teoria e a prática, concretiza os

conceitos teóricos que eles aprendem…” (Ent.4);

- desenvolver o pensamento crítico (n=2, Ent.7 e 10), como mencionou o

Ent.10: “…o desenvolvimento do espírito crítico, que é isso que é preciso em

Ciências...”.

Como se pode constatar pela análise da tabela 7, houve outros objetivos da ABPj

mencionados pelos professores mas cada um deles foi apenas referido por um dos

entrevistados.

Mais uma vez constata-se que os professores possuem um conhecimento

ingénuo sobre os principais objetivos deste método de ensino, pois centram-se nas

características mais gerais para os definir. A ABPj contribui para o desenvolvimento da

literacia científica dos alunos (Bell, 2010), um dos principais objetivos da Educação em

Ciências (NAP, 1996); permite que os alunos, se tornem mais responsáveis,

independentes e disciplinados (Bell, 2010), que trabalhem colaborativamente com os

outros, que tomem decisões ponderadas e resolvam problemas complexos (Musa, Mufti,

Latiff & Amin, 2012); que tenham uma atitude mais positiva para estudar Ciências

(Boaler, 1999; Ergul, 2014; Ayodele, 2016); capacita-os para fazer melhores escolhas

no futuro (Bell, 2010) e ajuda-os a aprender Ciências, independentemente, do seu

género, cultura ou raça (Krajcik & Blumenfeld, 2006). Estes são alguns dos principais

objetivos que a ABPj permite alcançar na Educação em Ciências e que não foram

mencionados pelos professores entrevistados ou foram mencionados apenas por um

professor, revelando o seu desconhecimento sobre as potencialidades deste método de

ensino na Educação em Ciências. O resultado do nosso estudo é, no entanto, semelhante

Page 134: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

119

ao de outras investigações, nomeadamente, as realizadas por Hasni et al. (2016) e

Mentzer e Brooks (2017).

4.2.4. Papel do professor na Aprendizagem Baseada em Projetos

Com o objetivo de identificar o papel do professor no ensino orientado para a

Aprendizagem Baseada em Projetos, questionou-se os professores sobre o papel do

professor num ensino orientado para a ABPj. A tabela 8 apresenta os dados resultantes

da resposta a essa questão.

Tabela 8 - Papel do professor no ensino orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos (n = 12)

A tabela 8 permite concluir que a maioria dos professores (n=10; Ent.2, 3, 4, 5,

6, 7, 9, 10, 11 e 12) considera que um dos papéis do professor é o de orientar os alunos

em todo o processo de investigação, como diz o Ent. 3:

“Neste sentido temos que lhes mostrar, digamos assim, para onde é que eles podem seguir … ao

longo do percurso que eles forem fazendo também podemos ajudá-los a perceber que há algumas

“estradas” que estão fechadas (…) e dizer, provavelmente isso não é a melhor ideia… não vás

por ai porque vais encontrar obstáculos que não vais conseguir resolver ou porque na nossa

escola não temos essa tecnologia ou porque simplesmente isso ai nunca ninguém o fez e não vai

Papel do professor

Professores T

O

T

A

L

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12

Colaborar com os

alunos apoiando-os na

pesquisa

√ 1

Criar as condições para

os alunos investigarem √ 1

Promover a reflexão do

aluno √ 1

Orientar os alunos em

todo o processo de

investigação

√ √ √ √ √ √ √ √ √ √ 1

0

Colaborar com os

alunos na gestão de

conflitos entre pares

√ 1

Monitorizar o trabalho

dos alunos √ √ 2

Explicar os conteúdos

científicos quando

solicitado pelos alunos

√ 1

Page 135: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

120

ser possível (…) um guiar mas um guiar com grande liberdade de movimentos, ou seja,

simplesmente impedir que eles vão para os caminhos que nós já sabemos à partida que são

errados e que temos de tentar voltar a pô-los no caminho certo mas deixa-los construir o

conhecimento.”

Depois, são apontados outros papéis aos professores mas, cada papel, por um

número reduzido de professores. Dois professores (Ent.5 e 6) referiram que um dos

papéis seria o de monitorizar o trabalho dos alunos, como diz o Ent. 5: “… e

monitorizar o trabalho do aluno, ver e só intervém quando o aluno está com dúvidas,

portanto, o aluno é ativo.”. Os restantes foram mencionados por apenas um professor

(Ent.1, 2 e 8).

No grupo de professores entrevistados há sete professores (Ent.3, 4, 7, 9, 10, 11

e 12) que referiram apenas que o papel do professor é orientar os alunos em todo o

processo de investigação e dois professores (Ent.5 e 6) acrescentaram a este papel o de

monitorizar o trabalho dos alunos. Portanto, a maioria dos professores (n=9), revela

desconhecimento das suas funções numa ABPj e alguma falta de consciência da falta de

conhecimentos sobre este método de ensino, tal como verificado noutros estudos

(Alozie, Eklund, Rogat & Krajcik, 2010; Mentzer & Brooks, 2017), pois não explicitam

nas suas respostas quais são as suas funções, quando devem intervir e de que forma o

devem fazer, acabando por dar uma resposta muito generalista para o seu papel.

Como é defendido por diversos autores, o professor tem as seguintes funções

numa ABPj: antes do processo de investigação, preparar e planificar as lições atendendo

às cinco características principais deste método (Krajcik & Blumenfeld, 2006) e durante

o processo, acompanhar os alunos para os ajudar na gestão do tempo e para garantir que

se mantêm focados no trabalho de investigação (Alozie, Eklund, Rogat & Krajcik,

2010; Krajcik & Blumenfeld, 2006; Mentzer & Brooks, 2017); explicar aos alunos qual

é o processo de fazer Ciência e orientá-los ao longo desse processo (Krajcik &

Blumenfeld, 2006), questionando-os para os ajudar a refletir; ajudar os alunos a

desenvolver explicações para os dados obtidos, por exemplo, explicitando o raciocínio

que está por detrás de uma explicação (Krajcik & Blumenfeld, 2006) e apoiá-los no

desenvolvimento de ferramentas de colaboração, nomeadamente, saber ouvir e respeitar

a opinião dos outros (Mentzer & Brooks, 2017).

Page 136: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

121

4.2.5. Reações dos alunos a um ensino orientado para a Aprendizagem Baseada em

Projetos

Com o objetivo de caracterizar as conceções dos professores sobre as dificuldades que

os alunos poderão mostrar durante a Aprendizagem Baseada em Projetos, foram

questionados sobre isso. Os dados obtidos encontram-se na Tabela 9.

Tabela 9 - Dificuldades que os alunos poderão demonstrar no ensino orientado para a Aprendizagem

Baseada em Projetos (n = 12)

A análise da tabela 9 permite apurar que a maior parte dos professores (n=8,

Ent.1, 2, 3, 5, 6, 7, 8 e 9) considera que planear a investigação, isto é, fazer o desenho da

investigação, é uma das dificuldades que os alunos poderão demonstrar na ABPj. Como

refere Krajcik et al. (1998), isto acontece porque este método de ensino é muito

diferente das aulas tradicionais de Ciências, em que os alunos realizam atividades

curtas, muito orientadas e descontextualizadas. Outra dificuldade mencionada por dois

Dificuldades

Professores T

O

T

A

L

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12

Planear a investigação √ √ √ √ √ √ √ √ 8

Autorregular o

desenvolvimento do

processo de

investigação

√ 1

Tratamento dos dados

recolhidos √ 1

Elaboração do produto

final √ 1

Escolha da temática √ 1

Gestão das relações

interpessoais √ √ 2

Cumprimento de

prazos √ 1

Onde e como procurar

informação √ 1

Selecionar a

informação relevante

para a investigação

√ 1

Gestão do sentimento

de frustração √ 1

Falta de autonomia √ √ 2

Falta de pensamento

crítico √ 1

Falta de

responsabilidade na

sua aprendizagem

√ 1

Falta de criatividade √ 1

Page 137: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

122

professores (Ent.2 e 11) foi a gestão das relações interpessoais. Apesar de a maioria dos

professores não considerar o trabalho colaborativo como uma das dificuldades dos

alunos, Mentzer e Brooks (2017) e Krajcik et al. (citado por Krajcik & Blumenfeld,

2006) referem que os alunos não o fazem naturalmente pelo que têm de ser ajudados

pelos professores.

Outras dificuldades referidas pelos professores, e que podem estar relacionadas

com o facto de os alunos estarem habituados a uma metodologia de ensino baseada na

transmissão-receção, foram as seguintes: falta de autonomia (Ent.7 e 11), autorregular o

desenvolvimento do processo de investigação (Ent.4), escolha da temática (Ent.2),

tratamento dos dados (Ent.1), elaborar o produto final (Ent.3), cumprimento de prazos

(Ent.2), onde e como procurar informação (Ent.3), gestão de sentimento de frustração

(Ent.6), falta de pensamento crítico (Ent.7), falta de responsabilidade na sua

aprendizagem (Ent.10) e falta de criatividade (Ent.10). Como Krajcik e Blumenfeld

(2006) referem, os alunos estão habituados a que os professores lhes transmitam a

informação, pelo que têm tendência a esperar pela resposta do professor, continuando a

assumir uma atitude passiva na sua aprendizagem.

Uma dificuldade que não foi referida pelos professores entrevistados foi a de os

alunos desenvolverem explicações para os dados obtidos. Apesar de os professores não

a terem indicado, outros investigadores consideram que os alunos têm dificuldade em

analisar os dados de forma isenta, sem que as suas crenças o condicionem (Hogan &

Maglienti, 2001); em identificar uma evidência e usá-la corretamente (Sandoval &

Reiser, 2004), e em usar as suas explicações para articular e fundamentar as suas

opiniões (Sadler, 2004).

Krajcik e Blumenfeld (2006) ainda fazem referência a outra dificuldade dos

alunos na ABPj que está relacionada com o facto de, por vezes, não compreenderem o

valor da questão central, mas que pode ser ultrapassada com o uso de experiências

familiares.

Em suma, e atendendo às respostas dos professores a esta questão, quase que se

pode afirmar que os professores entrevistados não estão muito familiarizados com este

método de ensino, nem com metodologias de ensino que coloquem os alunos no papel

principal da aprendizagem, pelo que não têm consciência de muitas das suas

dificuldades.

Page 138: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

123

4.3.Representações de professores sobre as práticas atuais e futuras de Ensino das

Ciências orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos

4.3.1. Práticas de Ensino das Ciências orientado para a Aprendizagem Baseada em

Projetos

Razões para os professores não implementarem um ensino orientado para a

Aprendizagem Baseada em Projetos

Com o objetivo de identificar as razões porque os professores não implementam a

ABPj, após a visualização de um vídeo com um exemplo de aplicação deste tipo de

projetos, fez-se a seguinte questão aos professores: “Já ensinou temas da sua disciplina

usando este tipo de projeto?”. Sete dos entrevistados (Ent. 1, 4, 5, 6, 8, 9 e 10)

responderam que nunca ensinaram temas da sua disciplina usando este tipo de projetos e

explicaram as razões porque não o faziam. A tabela 10, apresenta os dados resultantes

da resposta destes sete professores a essa questão.

Tabela 10 - Razões para os professores não implementarem um Ensino orientado para a Aprendizagem

Baseada em Projetos (n = 7)

Como se pode constatar pela análise da tabela 10, a maioria (n=5, Ent.5, 6, 8, 9

e 10) justificou-o com a falta de tempo/extensão do programa, como explicou o Ent. 5:

“… Portanto, o não aplicar nestes moldes, portanto, a Aprendizagem Baseada em Projetos, está

muito relacionado com as condições … com o tempo. (…)tempo … mas os mais rápidos, digo

eu, eram capaz de demorar para ai umas 5 ou 6 aulas porque tinham que olhar … é assim, eles

Razões porque os professores não

implementam a ABPj

Professores TOTAL

P1 P4 P5 P6 P8 P9 P10

Desconhecimento do método √ √ 2

Recursos materiais disponibilizados pelas

editoras não incentivam o uso deste

método de ensino

√ √ 2

Falta de iniciativa para o usar √ 1

Desconhecimento dos alunos do método √ 1

Falta de tempo para preparar as atividades √ √ 2

Turmas com muitos alunos √ 1

Especificidade das matérias √ 1

Falta de tempo letivo/Extensão dos

programas √ √ √ √ √ 5

Dinâmica da Escola √ 1

Falta de flexibilidade do currículo √ 1

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124

tinham de ir para o computador, saber que material é que precisavam, tinham que saber onde é

que o material está … isso teriam de ser eles a fazer. Enquanto que, da forma que nós fazemos,

nós preparamos tudo no intervalo, já sabemos qual é o material que precisamos, já … mas isto

foi preciso aprender, não é?”

Este facto também é referido por BIE (2017) e Marx et al. (1994), que

consideram que o tempo de execução é um obstáculo colocado a este tipo de métodos

de ensino, porque quando é o aluno a construir o seu próprio conhecimento o tempo

necessário para a sua concretização é muito maior do que o de um ensino tradicional.

Outras das razões mais apontadas pelos professores para não utilizarem a ABPj

foram as seguintes: o desconhecimento do método (Ent.1 e 6), tendo um professor dito:

“… porque não … não tinha visto coisas assim talvez por isso não me tivesse motivado

para iniciar uma situação deste género …” (Ent.1); o facto dos recursos materiais

disponibilizados pelas editoras não incentivarem o seu uso, como diz o Ent. 4: “…

muitas vezes é falta de recursos didáticos para (…) ainda hoje os professores têm a sorte

de ter o apoio das editoras que ajudam muito … nos materiais, nos recursos. Agora

nunca … não é muito fácil de encontrar nesses materiais coisas deste género … era

melhor.” e a falta de tempo para preparar as atividades, uma vez que, como explica o

Ent. 9: “…depois também é uma coisa que requer tempo, requer pesquisa também da

nossa parte de professores e … e, às vezes, nós já estamos tão desmotivados … que nem

nos lembramos deste tipo de coisas …”.

A análise da tabela anterior também permite verificar que foram referidas outras

razões pelos professores, porém apenas um professor mencionou cada um desses

motivos, nomeadamente: a falta de iniciativa para o usar (Ent.4); o desconhecimento

dos alunos do método (Ent.4); as turmas com muitos alunos (Ent.5); a especificidade

das matérias (Ent.5); a dinâmica da escola (Ent.6) e a falta de flexibilidade do currículo

(Ent.10).

Chagas (2000) agrupou os obstáculos à implementação de um ensino que

promova a literacia científica, como é o caso da ABPj, em algumas vertentes: curricular,

avaliação, recursos, formação de professores e Escola. Uma análise aos dados obtidos

permite-nos constatar que estas razões identificadas pelos professores enquadram-se em

algumas destas vertentes, a referir:

- Formação de professores – “desconhecimento do método”, “falta de iniciativa

para o usar” e “falta de tempo para preparar as atividades”, pois como refere

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125

Wellington e Ireson (2008) o facto de os professores terem uma formação muito

especializada e especifica, torna-os menos confiantes e com menos conhecimentos

para estudar Ciências a partir de temas integradores, de relevância social e com

significado para os alunos, como é o caso da ABPj;

- Escola – “dinâmica da escola” e “turmas com muitos alunos”. Como diz Chagas

(2000), a cultura da escola pode ser um constrangimento ou um fator facilitador à

implementação do método de ABPj;

- Curricular – “Falta de tempo letivo/extensão do programa”, “especificidade das

matérias” e “falta de flexibilidade do currículo”;

- Recursos – “recursos materiais disponibilizados pelas editoras” pois, como

refere Chagas (2000), os recursos informáticos, audiovisuais, laboratoriais e

bibliográficos também podem constituir um desafio à implementação de um

Ensino das Ciências Baseado em Projetos.

Em suma, pode afirmar-se que as principais razões porque os professores não

implementam a ABPj são curriculares (n=7) e estão relacionadas com a formação de

professores (n=5). Estes resultados vão ao encontro dos obtidos na investigação

realizada por Hertzog (2007), que concluiu que muitas das barreiras dos professores

para implementar a ABPj eram externas, nomeadamente, o currículo e as políticas

educativas, e outras estavam relacionadas com fatores internos, nomeadamente, o

sistema de crenças do professor sobre o ensino, seus pressupostos sobre os alunos e

valores.

Práticas de professores no Ensino das Ciências orientado para a Aprendizagem

Baseada em Projetos

Com o objetivo de caracterizar as práticas dos professores sobre o Ensino das Ciências

orientado para a ABPj, os professores que responderam que sim à questão “Já ensinou

temas da sua disciplina usando este tipo de projetos?” (Ent. P2, P3, P7, P11 e P12),

foram convidados a selecionar um caso que considerassem que correu melhor, e a

descrever como organizaram as atividades e se houve envolvimento de outras

disciplinas. A esse propósito, ainda lhes foram colocadas as seguintes questões: “Nessas

aulas, costuma, ou não, utilizar alguma estratégia com o objetivo específico de

promover o pensamento crítico dos alunos? (Se sim) Descreva, por favor, essa

Page 141: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

126

estratégia?”; “E o trabalho colaborativo? (Se sim) Como?”; “Costuma, ou não, utilizar

nessas aulas alguma estratégia para os alunos partilharem o que aprendem e

comunicarem resultados científicos? (Se sim) Qual/ais?”. Os dados resultantes da

resposta dos professores a essas questões apresentam-se na tabela 11.

Tabela 11 - Características das práticas dos professores sobre o Ensino das Ciências orientado para a

Aprendizagem Baseada em Projetos (n = 5)

Características das práticas de professores sobre a ABPj Professores

TOTAL P2 P3 P7 P11 P12

- Interdisciplinaridade com outras disciplinas:

Houve √ √ 2

Não houve √ √ √ 3

- Dinâmica do trabalho desenvolvido pelos alunos:

Trabalho individual 0

Trabalho colaborativo √ √ √ √ √ 5

- Escolha do tema a investigar:

Temas diferentes e escolha livre dos alunos √ √ √ √ 4

Tema comum a todos os grupos e definido pelo professor √ 1

- Estratégia usada para promover o pensamento crítico dos

alunos:

Questionamento dos alunos √ √ √ 3

Apresentações intermédias do trabalho realizado até ao

momento, com discussão dos resultados com a restante turma

e o professor

√ 1

Dar liberdade aos alunos √ 1

- Estratégia usada para promover o trabalho colaborativo:

Escolha livre dos elementos do grupo √ 1

Controlo do professor na escolha dos elementos do grupo √ 1

Diálogo com os alunos √ √ √ 3

Não foi usada nenhuma estratégia √ 1

- Estratégia usada para partilha das aprendizagens e dos

resultados científicos:

Apresentações regulares do trabalho realizado até ao momento,

com discussão dos resultados com a restante turma e

professor

√ √ √ 3

Apresentação final à turma do trabalho realizado √ √ √ √ 4

Apresentação do projeto à Comunidade Educativa através de

apresentação oral ou póster √ 1

Dos cinco professores que referiram que já implementaram este método de

ensino, apenas em dois (Ent.2 e 12) houve interdisciplinaridade com outras disciplinas,

como é o caso do Ent. 2: “Portanto, é um projeto interdisciplinar, coorientado por 3

professores em que tentamos: “tocar” … no fundo fazer a interdisciplinaridade através

da Física, com conceitos de Física. Depois utilizamos conceitos de Informática e

também a parte Visual, Artística”. Os outros três professores (Ent.3, 7 e 11) referiram

que não houve interdisciplinaridade com outras disciplinas, que apenas foram estudados

assuntos relacionados com a disciplina de Física e Química, como afirma o Ent. 11:

Page 142: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

127

“… o que eu usei … uma das matérias que eu dei foi o som em que eu coloquei … fiz um

pequeno vídeo com alguns alunos e depois coloquei o vídeo (…)e então foram levantadas uma

série de questões … aqui era o da gripe, porquê … naquela altura foram uma série de questões,

depois foram os próprios alunos que foram pesquisar as respostas a essas questões e depois

apresentar as suas respostas ao resto da turma.” (Ent.11)

De acordo com vários autores, nomeadamente, Bell (2010) e Mentzer e Brooks

(2017), neste método de ensino as atividades são de longo prazo, interdisciplinares e os

alunos é que procuram o conhecimento para resolverem problemas do mundo real. Para

além disso, a descrição da atividade realizada pelo Ent. 11 aproxima-se mais de uma

atividade da Aprendizagem Baseada em Resolução de Problemas do que de uma

Aprendizagem Baseada em Projetos, porque o problema está bem definido exigindo,

por isso, uma resposta mais direta, e o produto final é mais simples e tem a forma de um

relatório, pois resulta basicamente de processos de inquérito e pesquisa, tal como

diferenciaram Donnelly e Fitzmaurice (2005). Segundo estes autores, numa

Aprendizagem Baseada em Projetos, o produto final tende a ser mais elaborado,

normalmente sob a forma de um artefacto, concretizado ou apenas projetado, e no

decorrer do processo poderão surgir novos problemas exigindo uma maior capacidade

de adaptação do aluno.

Relativamente à dinâmica de trabalho desenvolvido pelos alunos, os cinco

professores responderam que o trabalho desenvolvido pelos alunos foi colaborativo,

como diz o Ent, 12: “Era em grupo, esses trabalhos são em grupo”. Mentzer e Brooks

(2017) defendem que a colaboração é outro aspeto considerado fundamental numa

ABPj.

No que respeita à escolha do tema a investigar, como se pode verificar pela

tabela 11, a maior parte dos professores (n=4, Ent.2, 3, 7 e 12), referiram que a escolha

era realizada pelos alunos e os temas eram diferentes entre os grupos, como diz o Ent. 3:

“Neste caso, um grupo optou por este tema. Portanto, eu basicamente o que faço é: escolho/pego

num conjunto de temas do programa e depois cada grupo fica responsável por desenvolver um

trabalho projeto onde mostre aos outros, através de um conjunto de experiências resolvidas por

eles, de que forma … no fundo, que implementem, que desenvolvam um projeto que aborde essa

temática mas numa perspetiva mais prática…”

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128

Outro professor respondeu:

“E lá está … eles organizaram-se nos grupos que quiseram, situaram-se nos temas que quiseram,

pronto, negociaram entre eles. Isso também é importante porque eles sabiam que não podiam ir

todos para o mesmo e … não é? Eles tinham que se dividir por aqueles … já não me lembro … 5

talvez, talvez 5 temáticas.” (Ent.7)

Apenas um professor referiu que o tema era comum a todos os grupos e que

tinha sido definido por si, como se pode verificar pelo seguinte diálogo:

“Ent.11: Sim, sim. Portanto, todos eles trabalharam aquelas questões.

Investigadora: Portanto, todas elas foram trabalhadas por todos os alunos?

Ent.11: Sim.”

Apesar de a maioria dos professores entrevistados ter permitido que os alunos

escolhessem o tema a investigar, parece que a escolha estava limitada a um conjunto de

temáticas que tinham de ser estudadas numa das unidades curriculares da disciplina, não

havendo indícios de preocupação do professor em ancorar a questão central a problemas

reais, familiares dos alunos. No entanto, na elaboração da questão central pode e deve

ser usada uma lista de verificação para assegurar que está a ser formulada uma boa

questão, podendo essa lista incluir questões como: A questão é provocativa? É aberta? É

desafiadora? Está relacionada com dilemas do mundo real? (Ministério da Educação da

Malásia, 2006). Na ABPj, a questão central deve estar relacionada com problemas do

mundo real, o que possibilita ao aluno a realização de uma pesquisa situada (Bell,

2010), contribuindo para a sua compreensão de como é que a Ciência pode ser usada

para resolver problemas importantes (Krajcik & Blumenfeld, 2006).

Analisando os dados da tabela 11 relativos às estratégias usadas pelos

professores neste tipo de atividades, pode constatar-se que para a promoção do

pensamento crítico, a maior parte dos professores (n=3, Ent.2, 7 e 11) utilizou como

técnica o questionamento dos alunos, como diz o Ent. 2:

“Claro… é questioná-los porque … eles querem “vamos fazer assim, assim” e eu pergunto por

quê, qual é a razão de ir por este caminho… qual é o objetivo de fazerem assim, assim, assim…

por que é que agora para fazer…”

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129

Um dos professores referiu que a estratégia que usa são as apresentações

intermédias do trabalho realizado até ao momento, com discussão dos resultados com a

restante turma e o professor, como explica em seguida:

“… fazemos uma espécie de miniapresentações intermédias em que … é quase como um ponto

da situação … em que eles têm de dizer aos colegas o que é que estão a fazer, explicar em que

caminho é que vão e os colegas podem pôr questões… “por que é que foste por aqui … por que é

que foste por ali … o que é que obtiveram até agora?”. Muitas vezes ai acabam, até os próprios

colegas acabam por levantar questões pertinentes que eles próprios muitas vezes não … não se

tinham lembrado ou não tinham sequer pensado nelas com mais pormenor. Isso permite muitas

vezes que eles ajustem um bocadinho … (…) Portanto, eu acho que isso é um momento ideal,

digamos assim … em que há este refletir sobre o que se fez e desenvolver um espaço físico para

isso até pela necessidade que eles têm muitas vezes de pensar um bocadinho mais à frente para

responder a perguntas dos colegas que se calhar nunca tinham pensado e acabam por refletir um

pouco no que estão a fazer.” (Ent.3)

Efetivamente, a falta de colaboração entre os alunos e o professor e o reduzido

encorajamento de reflexão sobre o processo de investigação conduzirão a uma

experiência mal sucedida numa ABPj (Lasauskiene & Rauduvaite, 2015). É importante

para o processo de aprendizagem do aluno que o professor dê o feedback do trabalho

que estão a desenvolver, o que frequentemente não acontece nas melhores condições

porque os professores têm muitas turmas e grandes e, por vezes, não sabem como o

fazer (Krajcik & Blumenfeld, 2006).

Outro professor referiu que a estratégia que usa para promover o pensamento

crítico é dar liberdade aos alunos, explicando: “… É dar-lhes … o que eu acho é dar-

lhes alguma liberdade, mas não… não conheço mais nenhuma estratégia para

promover…” (Ent.12). Mentzer e Brooks (2017) verificaram na sua investigação que a

interpretação que muitos professores fazem sobre “aprendizagem dirigida pelo aluno” é

“tempo de aula livre”, não se preocupando em assumir um papel de motivador e

orientador/facilitador da aprendizagem.

Efetivamente, a maior parte dos professores (n=4, Ent. 2, 3, 7 e 11) considerou

que o diálogo e a colaboração dos alunos com o professor são fundamentais para a

aprendizagem dos alunos, e fazem-no através do questionamento dos alunos e de

apresentações intermédias com discussão de resultados entre todos os intervenientes. No

entanto, e atendendo a que os alunos não estão familiarizados com atividades deste tipo,

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130

mas sim com atividades curtas, muito orientadas e descontextualizadas (Krajcik et al.,

1998), é expectável que os alunos não tenham um raciocínio elaborado que lhes permita

fundamentar conclusões utilizando os dados, pelo que caberá ao professor orientá-los,

por exemplo, tornando explicito o raciocínio que está por detrás de uma explicação

(Krajcik & Blumenfeld, 2006). Portanto, as estratégias apresentadas pelos professores

para a promoção do pensamento crítico parecem insuficientes para permitir aos alunos a

realização do processo de investigação com total compreensão. Como Marshall,

Petrosino e Martim (2010) verificaram na sua investigação, quando os professores não

têm experiência para implementarem uma ABPj, mesmo tendo conhecimento teórico do

assunto, os conteúdos da disciplina estão presentes no projeto, mas a construção do

conhecimento direcionada pelo aluno não é considerada prioritária, e o objetivo fulcral

não é a realização do processo pelos alunos com total compreensão, como se pode

verificar na resposta do Ent. 11:

“… a única coisa será quando eu vou orientar um bocadinho e se eles tinham a … questão e eu

disse “será que isso dá realmente resposta aquilo que nós queremos?”. Pronto e eles ai, se eu

dissesse qualquer coisa deste género, quer dizer que o que estava ali não estava bem e então eles

lá iam tentar reformular mas … pronto … era só isso.”

No que concerne às estratégias usadas pelos professores para promoverem o

trabalho colaborativo neste tipo de atividades, foram mencionadas três estratégias. O

Ent. 11 considerou que o controlo do professor na escolha dos elementos do grupo é

suficiente, pois disse:

“Eu ai, às vezes, tenho algum cuidado para não pôr aqueles que querem ficar todos juntos porque

já sei que em vez de trabalhar vão conversar, portanto, haver uma separação … há muitos que no

início “não quero ficar neste grupo, não quero ficar naquele…” mas a partir do momento que

eles percebem que tem de ser assim, aquilo vai começando a andar devagar.” (Ent.11)

Outro professor respondeu que não usa nenhuma estratégia como se pode

constatar no diálogo seguinte:

“Ent.3: Entre eles … eu não digo que desenvolva outra estratégia específica…

Investigadora: Sem grande necessidade de orientação por parte do professor?

Ent.3: Nunca senti … nunca senti essa necessidade. Creio que eles … quando começa a

entrar em “modo automático” eles depois costumam funcionar bem.”

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131

Em ambos os casos, os professores (Ent.3 e 11) têm a conceção de que os alunos

naturalmente desenvolvem habilidades colaborativas, não as ensinando aos alunos,

como já tinha constatado Mentzer e Brooks (2017). Estes autores defendem que é muito

importante na ABPj que os professores ensinem e treinem os alunos para o trabalho de

grupo, pois um dos alunos poderá dominar a investigação e não permitir que os outros

colegas opinem.

Três professores (Ent.2, 7 e 12) indicaram o diálogo com os alunos como uma

estratégia para promover o trabalho colaborativo, dizendo o Ent. 2 o seguintes:

“O diálogo. Eu tento sempre que eles dialoguem, que eles se sintam à vontade em … expor a …

as suas preocupações e … tentar … explicar-lhes que é normal que haja … atritos …quando

ocorrem. No entanto, nós estamos aqui para ultrapassar e o mais importante é não manter as

coisas … como se diz … “engolir”, não dizer as coisas, não falar. Explicar, saber escutar porque

às vezes falam e não deixam falar o outro.” (Ent.2)

Como defendem vários autores (Bell, 2010; BIE, 2017; Lasauskiene &

Rauduvaite, 2015), os professores devem facilitar o trabalho em grupo dos alunos,

ajudando-os a trabalhar colaborativamente, pois na ABPj os alunos têm a oportunidade

de praticar as habilidades de comunicação, negociação e colaboração.

Por último, os professores apresentaram três estratégias diferentes para partilha

das aprendizagens e dos resultados científicos. Neste sentido, quatro professores (Ent.2,

7, 11 e 12) responderam “apresentação final à turma do trabalho realizado”, tendo um

dito:

“Em turma, neste caso, como era a apresentação de um conteúdo que tinha de ser mesmo

lecionado, eu própria depois faço … portanto, já fiz o percurso, depois … pouco ou nada tenho a

acrescentar, não é? Portanto, já os acompanhei mas se tiver que fazer alguma reflexão faço e … e

os outros todos fazem, é condição, é condição que os outros grupos façam uma reflexão sobre o

trabalho dos colegas. Uma reflexão oral, ali, frontal, frontal. O que é que acharam, se foi bem

explorado, se não foi, o que é que gostavam de ter visto mais trabalhado, o que é que não

perceberam ou deixaram de perceber.” (Ent.7)

Três professores (Ent.2, 3 e 12) referiram: “apresentações regulares do trabalho

realizado até ao momento, com discussão dos resultados com a restante turma e o

professor”. Explicando o Ent. 2 da seguinte maneira essa estratégia:

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“… então fazemos avaliações intermédias, quais são … o que é que significa … que eles até essa

data apresentam aos outros colegas aquilo que eles fizeram … também no fundo há ali um

timing … obriga-os a organizar as ideias de uma forma clara no papel e eles comunicam o que

têm feito. E é positivo pois depois há outros grupos que até dão sugestões que são positivas no

sentido de …” (Ent.2)

Ainda foi referida outra estratégia pelo Ent.3, “apresentação do projeto à

Comunidade Educativa através de apresentação oral ou póster”, esclarecendo a

estratégia do seguinte modo:

“Normalmente terminam com … O objetivo é fazerem algo para mostrar, seja uma maquete,

sejam conclusões de um estudo científico, seja até um protótipo. Portanto, eu procuro que haja

sempre um produto final associado a este trabalho de projeto… Normalmente o que eles gostam

mais de fazer, ou são protótipos para resolver um determinado problema ou então um produto

como por exemplo, no caso … tive uns que fizeram plásticos biodegradáveis, fizeram capas para

telemóveis, fizeram … fizemos uma base para os ratos… Ou seja, algo palpável, algo que eles

possam mostrar aos colegas e já agora com alguma utilidade.”

“É assim … eu costumo dinamizar na minha escola (sorriso) uma coisa que se chama “A noite

dos jovens cientistas e investigadores do (…)” e então, no fim do 3.º período temos uma noite

em que todos os projetos são mostrados à comunidade educativa. (…) Fazemos uma espécie de

um mini congresso, em que eles apresentam os trabalhos, uns vão à comunicação oral, outros são

apresentados no intervalo sob a forma de poster mas … há … digamos … uma partilha no fim e

normalmente, especialmente os pais aderem muito … normalmente convidamos alunos de faixas

etárias mais baixas, também para começarem a entrar e a conhecer …”

Portanto, analisando a tabela 11, verifica-se que todos os professores consideram

que a apresentação do produto final à turma ou à Comunidade Educativa deve

acontecer, e deve ser utilizada como uma estratégia para partilha das aprendizagens e

dos resultados científicos. Bell (2010) acredita que a apresentação final do projeto a um

público-alvo, com uma data de conclusão do trabalho de investigação, motiva os alunos

a realizarem e a concluírem as tarefas que se propuseram a fazer ao longo do projeto.

Em suma, pode considerar-se que os professores não implementaram

verdadeiramente um ensino orientado para a ABPj, pois apesar de permitirem o trabalho

colaborativo entre os alunos, alguns não o souberam promover. Esta interpretação é

feita com base nas evidências de que os professores assumem que os alunos já têm essas

capacidades desenvolvidas, são inatas. Apesar de a maioria permitir que os alunos

escolhessem o tema, não se denotou uma preocupação nos professores em elaborar uma

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questão central ancorada no mundo real e motivadora para os alunos. Também se

verificou que para a maior parte dos professores não ocorreu interdisciplinaridade com

outras disciplinas. Observou-se, ainda, que para a promoção do pensamento crítico dos

alunos foram mencionadas duas estratégias, mas que parecem insuficientes atendendo

ao tipo de atividades a que os alunos estão familiarizados, portanto, não permitirá, à

maioria dos alunos, uma total compreensão sobre o processo de investigação realizado.

Esta análise dos dados é coerente com a falta de formação dos professores entrevistados

neste método de ensino, conforme se pode confirmar nos dados apresentados na tabela 2

deste documento. Como Marshall, Petrosino e Martim (2010) verificaram na sua

investigação, os professores não implementam autenticamente a Aprendizagem Baseada

em Projetos quando não têm experiência em fazê-lo, mesmo que tenham recebido

conhecimento teórico sobre o assunto.

Tipos de aprendizagens proporcionadas aos alunos no Ensino das Ciências orientado

para a Aprendizagem Baseada em Projetos

Com o objetivo de caracterizar a perceção dos professores sobre o tipo de aprendizagens

proporcionadas aos alunos no Ensino das Ciências orientado para a ABPj, questionou-se

os professores que disseram que a faziam (P2, P3, P7, P11 e P12) sobre “o que

aprenderam os alunos de mais importante graças ao uso dessa metodologia”. Os dados

resultantes da resposta a essa questão apresentam-se na tabela 12.

Tabela 12 - Tipos de aprendizagens proporcionadas aos alunos no Ensino das Ciências orientado para a

Aprendizagem Baseada em Projetos (n = 5)

Aprendizagens proporcionadas aos alunos numa ABPj Professores

TOTAL P2 P3 P7 P11 P12

Planificar e desenvolver um projeto √ 1

Desenvolvimento de competências sociais, associadas ao

trabalho colaborativo √ √ 2

Competências de trabalho colaborativo √ √ 2

Desenvolvimento das relações interpessoais, aluno-aluno

e professor-aluno √ 1

Utilizar corretamente os diferentes recursos materiais √ 1

Selecionar a informação relevante para uma apresentação

final do projeto √ 1

Capacidade para autonomamente resolver problemas √ 1

Aprendizagem do conhecimento científico mais

significativa √ 1

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134

A análise da tabela 12 permite constatar que todos os professores consideraram

que a capacidade de desenvolver um bom trabalho com os outros é uma aprendizagem

proporcionada aos alunos numa ABPj, pois dois professores (Ent.2 e 11) referiram

“desenvolvimento de competências sociais, associadas ao trabalho colaborativo”, dois

professores (Ent.3 e 12) mencionaram “trabalho colaborativo” e um professor (Ent.7)

considerou “desenvolvimento de relações interpessoais, aluno-aluo e professor-aluno”.

É ainda importante referir que dois professores (P7 e P11), apenas fizeram referência a

este tipo de aprendizagem neste tipo de projetos, tal como ficou muito claro na Ent. 7:

“Mas aquilo que se verifica e … concretamente eu verifiquei à sempre aqueles muito tímidos,

com medo de falar, com medo de dizer disparates porque o colega do lado vai … e como são

alunos obrigados … como sabem que têm que … portanto acabam por, por … desenvolvem a …

está mais à vontade. Conseguem estar mais um bocadinho à vontade, já conseguem encarar

assim… já falam comigo encarando-me, assim … porque eu também … isso é uma das coisas

que eu faço, quando falo com alguém gosto que ele olhe para mim e então eles têm alguma

dificuldade, muitas das vezes e depois já conseguem…”

Um outro tipo de aprendizagem identificado por um professor (Ent.2) está

relacionado com a prática de Ciência, isto é, com o processo de investigação. Neste

sentido, referiu “planificar e desenvolver um projeto”, “utilizar corretamente recursos

materiais” e “selecionar a informação relevante para uma apresentação final do projeto”.

Apenas um professor, dos cinco professores que responderam a esta questão,

mencionou a “capacidade de autonomamente resolver problemas”, quando diz: “Na

minha opinião é a capacidade de autonomamente resolverem problemas. Isso, eu acho

que é uma competência, uma … habilidade que será muito importante para eles, quer na

Universidade, quer posteriormente numa profissão.” (Ent.3).

Um outro professor refere que com este método de ensino, a aprendizagem do

conhecimento científico é mais significativa, pois diz: “… e eu acho que quando eles

procuram o conhecimento eles retêm mais porque se esforçam. (…) quando são eles,

foram eles que descobriram e não se esquecem.” (Ent.12). Para este professor, a

aprendizagem é mais efetiva/consolidada quando há o envolvimento dos alunos na sua

aprendizagem, mas não faz referência ao facto de permitir que desenvolvam uma

compreensão mais profunda dos conceitos, princípios e práticas.

Portanto, para estes cinco professores, os tipos de aprendizagem proporcionadas

aos alunos na Educação em Ciências orientada para a ABPj estão relacionados,

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135

essencialmente, com o trabalho colaborativo e com o processo de investigação. Estas

respostas permitem constatar que estes professores estão mais concentrados nos aspetos

superficiais da ABPj e não na aprendizagem específica da Ciência e da Tecnologia,

facto também verificado por Hasni et al. (2016) na sua investigação. Como este autor

ainda acrescenta, o facto de os professores terem esta conceção deste método de ensino,

pode inviabilizar o seu uso como uma estratégia para a aprendizagem da Ciência e

Tecnologia, logo, para a promoção da literacia científica dos alunos.

Para além das aprendizagens destacadas pelos professores entrevistados, este

tipo de aprendizagem situada permite que, por exemplo, os alunos: aprendam mais

facilmente o valor e o significado das tarefas e atividades que realizam (Krajcik &

Blumenfeld, 2006); consigam mais facilmente aplicar o novo conhecimento a novas

situações (Ayodele, 2016; Bell, 2010); adquiram habilidades valiosas para o seu futuro

na sociedade atual (Bell, 2010); se conheçam melhor porque vão ter a liberdade, ao

longo do processo de investigação, de decidir sobre a sua aprendizagem (Bell, 2010); se

tornem mais independentes e responsáveis pelo seu processo de aprendizagem (Bell,

2010); tenham uma atitude mais positiva para estudar Ciências (Boaler, 1999; Ergul,

2014); aprendam a tomar decisões ponderadas e resolver problemas complexos (Musa,

Mufti, Latiff & Amin, 2012) e desenvolvam uma compreensão mais profunda dos

conceitos, princípios e práticas de Ciência.

Dificuldades manifestadas pelos alunos num Ensino das Ciências orientado para a

Aprendizagem Baseada em Projetos

Os professores P2, P3, P7, P11 e P12, que responderam que já usaram este método de

ensino nas suas aulas para o ensino de temas de Física e de Química, foram

questionados sobre as dificuldades mostradas pelos alunos relacionadas com o uso deste

tipo de projetos. Os dados recolhidos encontram-se na tabela 13.

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Tabela 13 - Dificuldades manifestadas pelos alunos num Ensino das Ciências orientado para a

Aprendizagem Baseada em Projetos (n = 5)

A análise dos dados da tabela 13 permite agrupar as dificuldades manifestadas

pelos alunos numa ABPj em três grupos: dificuldades no desenho de investigação,

dificuldades associadas à postura do aluno e dificuldades na gestão das relações

interpessoais. Neste sentido, os entrevistados fizeram referência a dificuldades

associadas ao desenho de investigação (n=4; Ent.2, 3, 7 e 12), a “planificar um projeto

exequível” (n=2; Ent.2 e 7); ao “desconhecimento da metodologia de projeto” (n=2;

Ent.3 e 7); em “pesquisar e selecionar informação para a temática” (n=2; Ent.3 e 12); e

na “gestão do tempo” (n=1; Ent.2). Como Krajcik et al. (1998) referem, é comum os

alunos terem dificuldade em elaborar o desenho da investigação, pois estão habituados a

realizarem atividades curtas e muito orientadas pelo que não dispõem das habilidades

necessárias para desenvolverem a investigação. Como afirmam Krajcik e Blumenfeld

(2006), os professores numa fase inicial têm que explicar qual é o processo de fazer

Ciência e orientá-los ao longo desse processo, tal como defende o Ent. 2:

“… primeiro aprender metodologia de trabalho, como se trabalha em projeto… portanto… tem

de haver uma linha orientadora. É importante debater ideias mas também é importante trabalhar

no papel, portanto, para organizar, o tal Brainstorming mas depois temos de organizar as ideias.

É importante … um projeto ter sempre a parte do orçamento. Portanto, os materiais e os recursos

também são importantes no desenvolvimento dos projetos e, portanto … saber que tem que se

trabalhar por etapas.” (Ent.2)

Relativamente às dificuldades associadas à postura dos alunos, os entrevistados

2 e 3 referiram “dificuldade em tomar uma decisão, em ser autónomos” (n=2; Ent.2 e

3); “ser responsável pelo seu trabalho e do grupo” (n=1; Ent.2) e fazerem a “gestão das

Dificuldades manifestadas pelos alunos numa ABPj Professores

TOTAL P2 P3 P7 P11 P12

Dificuldade em tomar uma decisão, em ser autónomos √ √ 2

Ser responsável pelo seu trabalho e do grupo √ 1

Planificar um projeto exequível √ √ 2

Gestão do tempo √ 1

Gestão das emoções; da frustração quando se deparam

com obstáculos √ 1

Gestão das relações interpessoais com os elementos do

grupo √ 1

Desconhecimento da metodologia de projeto √ √ 2

Pesquisar e selecionar informação relevante para a

temática √ √ 2

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emoções; da frustração quando se deparam com obstáculos” (n=1; Ent.2). Estes aspetos

são ilustrados com o excerto seguinte da entrevista do professor 2:

“… Alunos pela sua natureza intrínseca ou pela falta de prática têm alguma aversão a trabalho de

projeto porque se sentem perdidos, porque vêm que … têm de tomar decisões por si … têm que

ser mais autónomos, que é diferente daquelas aulas em que o professor leciona tudo, que se

sentem mais confortáveis porque são mais controlados, ou seja, não sentem aquela … ansiedade

de estou a fazer bem, estou a fazer mal. (…) Outra dificuldade é a responsabilização individual e

responsabilização do grupo porque não podem dizer que o A não fez porque o B não fez …

porque tem de fazer o trabalho. Portanto, aqueles alunos que são menos responsáveis, neste tipo

de trabalho acabam por tornar-se mais responsáveis. Tem de ser senão o projeto não é levado a

bom termo e é facilmente detetado porque é que ele não faz, porque é que o outro não faz (…) às

vezes também há a fase de desmotivação, quando as coisas não andam para a frente mas ai está o

professor para … para os ajudar.” (Ent.2)

Esta dificuldade é reconhecida por Krajcik e Blumenfeld (2006) e como estes

investigadores defendem, os alunos estão habituados a métodos de ensino baseados na

transmissão-receção pelo que estão à espera que os professores lhes transmitam o

conhecimento e, numa fase inicial, não assumem com seriedade a aprendizagem

colaborativa e têm tendência a continuar a assumir uma atitude passiva na sua

aprendizagem.

No que respeita às dificuldades na gestão das relações interpessoais, apenas um

professor fez referência a isso, dizendo:

“…o entendimento entre eles e … primeiro como é que vamos fazer isto, como é que vamos

fazer, portanto, … a partir do momento em que eles interiorizam como é que têm de trabalhar as

coisas já se tornam mais fáceis, portanto, é mesmo aquele início que é mais complicado.”

(Ent.11)

Este professor considera que esta foi a única dificuldade que os alunos

manifestaram num ensino ABPj. Como Mentzer e Brooks (2017) referem, os alunos não

o fazem naturalmente pelo que, numa primeira fase, têm que desenvolver ferramentas

de colaboração, nomeadamente, saber ouvir e respeitar a opinião dos outros.

Uma dificuldade que não foi mencionada por nenhum dos professores foi a de

desenvolver explicações para os dados obtidos. Como Krajcik e Blumenfeld (2006)

afirmam, fundamentar as conclusões utilizando os dados que constituem evidências para

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a investigação, requer experiência e um raciocínio elaborado, o que maior parte dos

alunos não possui. Os alunos têm dificuldade em usar as suas explicações para articular

e fundamentar as suas opiniões (Sadler, 2004), saber identificar uma evidência e usá-la

corretamente (Sandoval & Reiser, 2004) e analisar os dados de forma isenta, sem que as

suas crenças o condicionem (Hogan & Maglienti, 2001). O facto de os professores não

fazerem referência a estas dificuldades dos alunos, pode ser um indicio de que não estão

a usar este método de ensino corretamente e, portanto, tal como constatou Marshall,

Petrosino e Martim (2010) na sua investigação, estes professores podem não considerar

prioritária a construção do conhecimento direcionada pelo aluno e o objetivo principal

pode não ser a realização do processo de investigação pelos alunos com total

compreensão.

Barreiras e fatores facilitados detetados pelos professores ao implementarem um

Ensino das Ciências orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos

Novamente, os professores P2, P3, P7, P11 e P12 foram questionados sobre “Quais

foram as dificuldades que sentiu ao usar o ensino orientado para a ABPj nas suas

aulas?” e sobre se “Houve algum fator ou fatores que facilitaram a sua aplicação do

ensino orientado para a ABPj? (Se sim) Quais?”. Estas questões foram colocadas com o

objetivo de identificar as barreiras e os fatores facilitadores encontrados pelos

professores ao implementarem nas suas aulas o Ensino das Ciências orientado para a

ABPj. Os dados resultantes das respostas dos professores a estas duas questões

apresentam-se na tabela 14.

Tabela 14 - Dificuldades e fatores facilitadores sentidos pelos professores ao usarem um Ensino das

Ciências orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos (n = 5)

Professores

TOTAL P2 P3 P7 P11 P12

- Dificuldades sentidas pelos professores numa ABPj

Falta de tempo letivo para os projetos √ √ √ √ 4

Dificuldades logísticas e a falta de recursos materiais,

nomeadamente, computadores √ 1

- Fatores que facilitaram a aplicação da ABPj

Cultura da escola, ou seja, o apoio da Direção √ √ 2

Motivação do professor para os projetos √ 1

Apresentação dos projetos à Comunidade Educativa √ 1

Formação profissional e experiência em investigação √ 1

Acompanhamento por alguém com experiência em projetos √ √ 2

Atualização profissional ao nível das práticas de Ensino das

Ciências √ 1

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Relativamente às dificuldades que os professores sentiram quando usaram um

ensino orientado para a ABPj, quatro professores referiram a falta de tempo para os

projetos, tendo um explicitado da seguinte maneira:

“No cumprimento de programas. Eu se quiser fazer uma coisa destas tenho sempre o fantasma

do programa que tenho que cumprir e, portanto, não me posso alargar. É assim … é uma coisa

que eu gosto de fazer, que eu gosto e que até sei que consigo … bons resultados e muitas vezes

não posso. Tenho de descurar, tenho de deixar de lado. Não há tempo, não há tempo porque

tenho o programa para cumprir.” (Ent.7).

Esta dificuldade é mencionada por vários autores, por exemplo, BIE (2017) e

Marx et al. (1994), que consideram que um dos obstáculos dos modelos construtivistas,

como é o caso da ABPj, é o tempo de execução, pois as atividades situadas e com

significado são realizadas pelo aluno e o tempo necessário para a sua realização é muito

superior ao despendido num ensino tradicional. Marx et al. (1994) e Efstratia (2014),

também afirmam que um dos obstáculos identificados pelos professores é o equilíbrio

entre o tempo, o conteúdo e a ABPj.

O Ent. 12 ainda fez referência a outra dificuldade relacionada com a logística e a

falta de recursos materiais, nomeadamente, computadores, dizendo:

“…as de logística e as de não ter material, não é? Porque … o não ter a sala com os

computadores, não é? E eu deixo utilizar os telemóveis que não é … não é muito bem visto

deixar e os miúdos ficam um bocado chocados mas tem que ser é porque há escolas que dizem

“têm que pôr na caixinha o telemóvel”, “não podem utilizar” e eles ficam às vezes um bocado

chocados porque às vezes eu digo que podem usar se for para a … se for útil … (…)… eu não

consigo marcar a sala … que tem os computadores ou levá-los para a biblioteca, já está outra

turma e … e já há muita confusão, já não … não se consegue trabalhar … às vezes é essas

condições…”

Moura (2016) também considera que a gestão do espaço e equipamentos

disponíveis e a falta de qualidade e estabilidade do sinal da internet são algumas

dificuldades associadas à implementação deste tipo de projetos. Chagas (2000)

acrescenta que os recursos materiais podem constituir um desafio à implementação de

um Ensino das Ciências Baseado em Projetos, pois pode inviabilizar o desenvolvimento

de um trabalho de investigação completo.

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Estas duas dificuldades sentidas pelos professores ao implementarem um Ensino

das Ciências orientado para a ABPj são dificuldades associadas a fatores externos ao

professor. Nenhum dos professores entrevistados indicou obstáculos relacionados com o

processo de implementação deste método de ensino, nomeadamente, criar uma questão

motriz que motive os alunos, implementar o trabalho colaborativo, motivar os alunos

para a investigação, refletir com os alunos sobre o processo de investigação, familiarizar

os alunos com o método e com o processo de investigação, avaliar os alunos e resistir à

instrução dirigida ao aluno, apesar de serem aspetos centrais na ABPj como referem

Alozie, Eklund, Rogat e Krajcik (2010) e Mentzer e Brooks (2017). Como estes autores

defendem, estas dificuldades resultam da falta de familiaridade e experiência dos

professores na implementação deste método de ensino, mas que se superam com a

formação profissional adequada. Portanto, seria espectável que os professores

entrevistados sentissem essas dificuldades, pois nunca receberam qualquer formação

nesta temática, logo estão pouco familiarizados com a dinâmica deste método de ensino.

O facto de não fazerem referência a este tipo de dificuldades, pode ser um indicativo da

sua falta de consciência da falta de conhecimento em relação aos fundamentos e modo

de implementação deste método. Mentzer e Brooks (2017) constataram, na investigação

que realizaram, que os professores com pouca ou nenhuma experiência na ABPj

possuem um conhecimento ingénuo sobre as principais características e objetivos deste

método, mas revelam-se pouco conscientes desta falta de conhecimento.

No que concerne aos fatores que facilitaram a aplicação deste método de ensino,

os professores fizeram referência essencialmente a dois fatores: cultura da Escola e

formação de professores.

Relativamente ao grupo “Cultura da Escola”, podem incluir-se os fatores

“cultura da escola, ou seja, apoio da Direção”, (n=2, Ent. 2 e 3), e “Apresentação dos

projetos à comunidade”, (n=1, Ent.3). Efetivamente, como refere Chagas (2000), a

cultura da escola pode ser um facilitador ou constrangimento à introdução de mudanças

numa escola, como por exemplo, à implementação de um Ensino das Ciências orientado

pela ABPj. Quando os professores indicam que a apresentação dos projetos à

comunidade é um fator que facilita a implementação destes projetos, estão de acordo

com os resultados obtidos por Bell (2010) quando observou que o facto de existir uma

apresentação final do projeto a um público-alvo e uma data de conclusão do trabalho,

motiva os alunos a realizarem e a concluírem as tarefas que se propuseram fazer no

projeto. Esta ideia também foi defendida pelo Ent. 3:

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“… e depois também, como eu disse, o facto de a gente realizar no fim do ano atividades que são

mais uma vez, que contam com a presença da Direção, que acaba por dar um bocadinho “mais de

força”, mais importância ao … por exemplo, à noite dos jovens cientistas, que eu referi

anteriormente e a sua divulgação causa … responsabiliza mais os alunos e fá-los sentir que

realmente é algo importante o que eles estão a fazer e que tem visibilidade e que é um motivo,

até para eles, de participar.”

No que respeita ao grupo “formação de professores”, podem considerar-se os

seguintes fatores identificados pelos professores: “acompanhamento por alguém com

experiência”, (n=2; Ent.11 e 12); “motivação dos professores para os projetos”, (n=1;

Ent.2); “formação profissional e experiência em investigação”, (n=1; Ent.7) e

“atualização profissional ao nível das práticas de Ensino das Ciências” (n=1; Ent.12).

Efetivamente, estes dados vão ao encontro a Efstratia (2014) quando afirma que a ABPj

é muitas vezes desvalorizada pelos professores devido à sua falta de formação e

experiência na sua implementação, falta de motivação, ou por considerarem a ABPj

como mais uma “atividade”. Portanto, a formação de professores é um fator muito

importante e que facilitará a implementação da ABPj.

Relativamente ao “acompanhamento por alguém com experiência”, mencionado

por dois professores (Ent.11 e 12), o Ent. 11, explica:

“ … a primeira vez que apliquei foi no estágio e a minha orientadora, a tese de doutoramento,

acho eu que era de doutoramento, era nisso. Portanto, qualquer dúvida, qualquer questão uma

pessoa tinha ali um suporte que nos tirava a dúvida e nos ajudava a explicar o que é que podia

ser feito, o que podia ser melhorado.” (Ent.11).

De acordo com várias investigações realizadas na área, nomeadamente por

Mentzer e Brooks (2017), os professores demoram entre dois a três anos a

desenvolverem o conhecimento, a confiança, a compreensão e as habilidades para a

verdadeira implementação da ABPj. Ao longo do programa de desenvolvimento

profissional implementado por estes investigadores, com uma duração de três anos, os

professores participantes foram acompanhados por especialistas na área através da

observação de aulas e de entrevistas reflexivas. Esta supervisão de um especialista,

portanto, ajuda os professores a refletirem e a promoverem melhorias no processo de

implementação da ABPj.

Page 157: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

142

4.3.2. Viabilidade da implementação do Ensino das Ciências orientado para a

Aprendizagem Baseada em Projetos

Razões para no futuro aplicar, ou não, na Educação das Ciências a Aprendizagem

Baseada em Projetos

Com o objetivo de averiguar as razões para no futuro aplicar, ou não, na Educação em

Ciências a Aprendizagem Baseada em Projetos, questionou-se os doze professores sobre

a possibilidade de usarem, ou não, regularmente o ensino orientado para a ABPj nas

suas disciplinas, solicitando-se que justificassem a sua resposta. Os dados resultantes

encontram-se na tabela 15.

Tabela 15 - Uso regular da ABPj no Ensino das Ciências (n = 12)

Averiguar a

possibilidade do uso

regular da ABPj no

Ensino das Ciências

Professores TOTAL

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12

Responde:

Podem usar

regularmente √ √ √ √ 4

Não podem usar

regularmente √ √ √ √ √ √ √ √ 8

Argumentos usados para

usar regularmente:

Desenvolve nos alunos

o pensamento crítico √ 1

Estimula a criatividade

dos alunos √ 1

Motiva os alunos para

a aprendizagem √ √ 2

Aprendizagem mais

efetiva √ 1

Argumentos usados

para não usar

regularmente:

Preparação dos alunos

para o exame

nacional de 11.º ano

não se coaduna com

a metodologia de

projetos

√ √ 2

Cumprimento do

programa √ √ √ √ √ 5

Número elevado de

alunos por turma √ 1

Curta duração das

aulas de

desdobramento no

Ensino Básico

√ 1

Tempo não letivo

despendido no

projeto pode

comprometer o

sucesso das outras

disciplinas

√ 1

Page 158: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

143

A maioria dos professores entrevistados, (n=8; Ent.3, 5, 6, 7, 8, 10, 11 e 12),

considera que não pode usar regularmente uma educação em Ciências orientada para a

ABPj nas suas aulas, sendo que cinco professores (Ent.5, 6, 10, 11 e 12) apontam como

razão o cumprimento do programa e dois professores (Ent.3 e 7) referem que a

preparação dos alunos para o exame nacional do 11.º ano não se coaduna com esta

metodologia, explicando o entrevistado 7 da seguinte maneira:

“Enquanto nós tivermos um programa para cumprir e que sabemos que tem … que é aquilo, que

está ali, é formatadinho, tem de ser tudo dado porque vai ser tudo avaliado no final. Enquanto

que nós soubermos que existe isso, enquanto nós soubermos que a nossa disciplina é uma das

disciplinas … fundamental para uma grande parte dos cursos superiores, para a entrada dos

nossos alunos. Nós não podemos e o que eu vou dizer é disparatado porque não é o que eu penso,

nós não podemos perder o tempo que gostaríamos de perder nos projetos. Não dá. (…)Não posso

porque não posso também descurar a outra parte porque sei que estes alunos vão ser submetidos

a um processo de seleção que não vai contemplar os projetos, não vai contemplar.”

Efetivamente, Bell (2010) considera que os testes padronizados, habitualmente

usados nas escolas portuguesas, não medem habilidades essenciais para o sucesso dos

alunos na sociedade atual, pois apenas vão medir o conhecimento de conteúdo

específico que se pretende testar/validar. Relativamente aos programas escolares,

Abrantes (2002) refere que regulam e condicionam o trabalho do professor na sala de

aula e várias investigadoras portuguesas argumentam que, frequentemente, os

professores informam que a extensão e complexidade dos programas limitam as suas

ações na sala de aula (Chagas, 2000; Martins, 2002).

Outros aspetos que foram mencionados como impeditivos para a implementação

da ABPj, relacionados com a organização curricular da disciplina, foram a curta duração

das aulas de desdobramento do Ensino Básico e o número de alunos por turma, sendo

que o professor que utiliza estes dois argumentos fundamenta do seguinte modo:

“Na forma como o ensino está estruturado, com as condições que temos, com turmas de 30

alunos, com desdobramentos de 45 minutos, quando existem, e com as extensões dos programas

que nós temos e o peso de cumprir e das metas, desta forma é muito difícil de aplicar a

metodologia … um trabalho baseado na metodologia de projeto. Muito difícil.” (Ent.6).

Moura (2016) também refere no seu trabalho que o número elevado de alunos

por turma condiciona/dificulta a implementação deste tipo de projetos nas aulas.

Page 159: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

144

Um outro argumento, apresentado pelo Ent. 8 para não usar regularmente no

Ensino das Ciências a ABPj foi “o tempo não letivo despendido no projeto pode

comprometer o sucesso das outras disciplinas”, quando diz:

“exemplo … mas agora, imaginando um professor que tem apenas disponíveis aquelas horas,

com aquela turma, sem correr o risco de … de depois ser chamado à atenção porque os alunos

usaram demasiado tempo livre em casa para o … unicamente para o seu projeto, pondo em causa

as aprendizagens nas outras disciplinas … nestes moldes não dá.”

No entanto, a ABPj é um método de ensino que pressupõe a interdisciplinaridade

entre as várias disciplinas do currículo (Bell, 2010) e requer a orientação do professor e

a colaboração dos colegas na sala de aula (Mayer,2012). Portanto, este argumento

mostra algum desconhecimento do professor das características e como se implementa

devidamente este método de ensino.

Os professores que responderam que a ABPj pode ser usada regularmente no

Ensino das Ciências, quatro professores (Ent.1, 2, 4 e 9), apresentaram quatro

argumentos para fundamentar a sua resposta: motiva os alunos para a aprendizagem

(n=2; Ent.2 e 9); desenvolve nos alunos o pensamento crítico (n=1; Ent.1); estimula a

criatividade dos alunos (n=1; Ent.1) e realizam uma aprendizagem mais efetiva (n=1;

Ent.4). O Ent. 1 explicou: “… provavelmente seria uma boa forma de desenvolvermos

nos nossos alunos um maior poder crítico e de criatividade relativamente aos conceitos

que a Física e a Química permitem atingir com esta metodologia”. Estes professores,

atendendo à resposta que deram a esta questão, mostram que consideram que as

vantagens do uso deste método superam as desvantagens. Igualmente, Alozie, Eklund,

Rogat e Krajcik (2010) defendem que o equilíbrio entre o tempo, o conteúdo e a ABPj é

um obstáculo que deve ser desvalorizado pois as vantagens superam as desvantagens.

Obstáculos que os professores poderão encontrar no futuro para promoverem um

Ensino das Ciências orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos

Com o objetivo de identificar os obstáculos que poderão ser encontrados pelos

professores no futuro para promoverem o Ensino das Ciências orientado para a ABPj

questionou-se os professores sobre “os constrangimentos ou dificuldades poderão

Page 160: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

145

encontrar os professores ao aplicar no futuro o ensino orientado para a ABPj”. Os dados

resultantes da resposta dos professores apresentam-se na tabela 16.

Tabela 16 - Constrangimentos/Dificuldades que os professores poderão encontrar ao aplicar no futuro o

Ensino das Ciências orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos (n = 12)

Eventuais dificuldades

dos professores ao

aplicar no futuro a ABPj

Professores TOTAL

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12

Falta de recursos

materiais (ex.

computadores, livros,

etc.)

√ √ 2

Falta de espaço físico

adequado √ √ 2

Ajustar a complexidade

da pergunta de

condução aos alunos

√ 1

Preparação prévia do

projeto pelo professor

adequada

√ 1

Falta de tempo do

professor para

preparar as atividades

do projeto

√ √ 2

Falta de motivação do

professor para este

tipo de projetos

√ √ √ 3

Resistência dos alunos

ao método de ensino √ √ √ 3

Desconhecimento do

trabalho a ser

desenvolvido neste

tipo de projetos

√ √ √ √ 4

Gestão do tempo de aula √ √ √ 3

Gestão do elevado

número de alunos por

turma

√ √ 2

Preparação dos alunos

para o Exame

Nacional

√ 1

Competir no Ranking de

escolas √ 1

Assumir um papel de

orientador das

aprendizagens

√ 1

Restrições impostas pelo

Regulamento Interno

da Escola

√ 1

Abdicar do controlo da

aula √ 1

As dificuldades identificadas pelos professores vão ser agrupadas em cinco

vertentes: curricular, avaliação, recursos, formação de professores e Escola. Esta

categorização foi baseada em Chagas (2000).

Na vertente formação de professores estarão incluídas todas as dificuldades

identificadas pelos professores entrevistados que são inerentes à sua falta de formação

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146

neste método de ensino. Foram referidas pelos professores sete dificuldades diferentes

sendo que a que foi considerada por um maior número de professores (n=4; Ent.4, 6, 8 e

10) foi o “desconhecimento do trabalho a ser desenvolvido neste tipo de projetos”,

como explica o Ent. 4:

“Os professores não sabem fazer um ensino deste, não é? Eu não tenho dúvidas de que se falar

disto a alguns professores, nunca ouviram falar mesmo professores de Ciências. Porquê? Porque

aprenderam na maneira que estão a ensinar e … vão ser assim professores durante 30, 40 anos,

não é? E … por isso … isso é logo um problema … acho que também era preciso formar,

começar ou continuar a formar professores para aplicar esta modalidade de ensino…” (Ent.4).

Para além desta dificuldade, três professores mencionaram a “falta de motivação

do professor para este tipo de projetos” (Ent.3, 7 e 12), o que vai ao encontro com o que

Le Levre (2014) constatou na investigação que realizou. Le Levre verificou que, os

professores tendem a evitar os riscos associados à mudança das suas práticas

pedagógicas, principalmente nas ações que implicam um papel mais ativo dos alunos na

sala de aula, a redução da sua dependência dos livros didáticos e a partilha da sua

prática de ensino com os outros. Outras dificuldades referidas foram: a “falta de tempo

do professor para preparar as atividades do projeto”, (n=2; Ent.3 e 7); “ajustar a

complexidade da pergunta de condução aos alunos”, (n=1; Ent.2); “preparação prévia

do projeto pelo professor adequada” (n=1; Ent.2); “assumir um papel de orientador das

aprendizagens” (n=1; Ent.11) e “abdicar do controlo da turma” (n=1; Ent.11). O barulho

em sala de aula que este método pode proporcionar foi referido assim pelo Ent. 11:

“Até porque as aulas nestes casos deixam de ser as aulas em que eles estão quietos e calados e a

ouvir, não é? Há sempre mais discussão, mais barulho, mais ruido e nem todos os professores

sabemos que estão … estão para ai virados, haver muita confusão.” (Ent.11).

Vários investigadores (Le Levre, 2014; Mentzer & Brooks, 2017) referiram que,

tal como este professor entrevistado explicou, abdicar do controlo da turma, assumindo

um papel de orientador das aprendizagens dos alunos, permitindo que sejam autónomos

na sua aprendizagem, é uma das maiores dificuldades dos professores.

Para esta questão, ainda foram identificadas duas dificuldades relacionadas com

o currículo: “gestão do tempo de aula” (n=3; Ent. 8, 11 e 12) e “gestão do elevado

número de alunos por turma” (n=2; Ent.6 e 9). Conforme se referiu anteriormente, estas

Page 162: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

147

dificuldades também foram identificadas por outros investigadores (Chagas, 2000;

Moura, 2016).

Na vertente recursos, os professores mencionaram duas dificuldades: a “falta de

recursos materiais” (n=2; Ent.1 e 9) e a “falta de espaço físico adequado” (n=2; Ent.1 e

9). A este propósito explica o Ent. 9:

“… nós não temos uma sala que seja adequada para a realização de experiências mesmo tendo o

material …portanto, tentamos sempre improvisar… claro que deveríamos ter mais equipamento,

mais ferramentas … portanto, salas próprias e direcionadas mesmo só para as Ciências porque a

maioria das escolas, pelo menos por onde tenho passado, … não temos material para fazer,

realizar com regularidade …”

Como Chagas (2000) indica, os recursos disponibilizados aos alunos e

professores também podem constituir um desafio à implementação de uma

Aprendizagem Baseada em Projetos.

Relativamente à vertente avaliação, foram identificadas duas dificuldades: a

“preparação dos alunos para o exame nacional” (Ent.8) e “competir no Ranking de

escolas” (Ent.10). Chagas (2000) também considera que a avaliação é um dos

obstáculos à implementação da ABPj em Portugal. Como foi referido anteriormente, os

testes padronizados, a nível de escola e nacional, só avaliam o conhecimento de contudo

específico e não avaliam as competências essenciais desenvolvidas numa ABPj (Bell,

2010).

No que concerne à vertente Escola, foi identificada a dificuldade pelo Ent. 12

das restrições impostas pelo Regulamento Interno da escola, dizendo o professor: “E os

nossos regulamentos internos, não é? Que nos impedem de … há muitas regras. Há

regras a mais nas escolas”. Como Chagas (2000) refere, a cultura da escola pode ser um

facilitar ou um constrangimento à implementação de uma ABPj.

Um obstáculo identificado pelos professores (n=3; Ent. 4, 5 e 7) que não foi

incluído em nenhuma das cinco vertentes foi “a resistência dos alunos ao método de

ensino”, pois como refere Krajcik e Blumenfeld (2006), os alunos estão habituados à

metodologia de ensino baseada na transmissão-receção e, numa fase inicial, têm

tendência a continuar a assumir uma atitude passiva, ficando à espera da resposta do

professor.

Page 163: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

148

Em suma, atendendo à análise apresentada anteriormente, considera-se plausível

considerar que a formação é um dos maiores obstáculos dos professores para

promoverem, no futuro, um Ensino das Ciências orientado para a ABPj, pois foi a

vertente em que os professores elencaram um maior número de dificuldades. Esta

análise é sustentada por Wellington e Ireson (2008) quando referem que a formação

muito especializada e específica dos professores, torna-os menos confiantes e com

menos conhecimento para estudar Ciências a partir de temas integradores, de relevância

social e com significado para os alunos, como acontece numa ABPj.

Aspetos facilitadores que os professores poderão encontrar no futuro para promoverem

um Ensino das Ciências orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos

Com o objetivo de identificar os aspetos facilitadores que poderão ser

encontrados pelos professores no futuro para promoverem o Ensino das Ciências

orientado para a ABPj fez-se a seguinte questão aos professores: “Que fatores poderão

facilitar a sua aplicação?”. Os dados resultantes encontram-se na tabela 17.

Tabela 17 - Aspetos facilitadores que os professores poderão encontrar ao aplicar no futuro o Ensino

das Ciências orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos (n = 12)

Fatores que poderão

facilitar a aplicação da

ABPj

Professores TOTAL

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12

Direção apoiar este tipo

de projetos √ √ 2

Interesse dos alunos por

este tipo de projetos √ √ 2

Formação/Experiência do

professor em ABPj √ √ √ √ √ 5

Motivação do professor

para este tipo de

projetos

√ √ √ 3

Disponibilidade de

recursos materiais √ √ √ 3

Existência de uma

disciplina de Projetos √ √ √ 3

Aumento da carga horária

das disciplinas de opção

(12.ºano)

√ 1

Este tipo de projetos

pertencer ao currículo √ 1

Menos alunos por turma √ √ 2

Diminuir a extensão do

programa da disciplina √ √ √ 3

Articulação no grupo

disciplinar √ 1

Autonomia dos

professores para gerir o

currículo

√ √ 2

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149

Os aspetos facilitadores identificados pelos professores vão ser agrupados, tal

como considerou Chagas (2000). Foram identificadas nesta análise três vertentes,

formação de professores, currículo e Escola. Tal como aconteceu no ponto anterior, há

um aspeto que não vai ser inserido em nenhuma das vertentes e está relacionado com os

alunos que é: “interesse dos alunos por este tipo de projetos”, mencionado por dois

professores (Ent.1 e 7). Tal como foi referido anteriormente, os alunos não estão

familiarizados com este tipo de método de ensino, em que têm um papel ativo na sua

aprendizagem, pelo que, numa fase inicial, não assumem com seriedade este tipo de

aprendizagem, como já tinha sido encontrado no estudo de Krajcik e Blumenfeld

(2006).

A maior parte dos aspetos facilitadores identificados pelos professores, seis

fatores, estão inseridos na vertente currículo, nomeadamente: a diminuição da extensão

do programa (n=3; Ent.5, 11 e 12); a existência de uma disciplina de projetos (n=3;

Ent.3, 4 e 8), sendo que o Ent. 3 diz: “… retornar à tal disciplina que era Área de

Projeto que no fundo até podia congregar os projetos … projetos mais interdisciplinares

porque apesar de a gente tentar fazer nem sempre é fácil de conciliar todas as

disciplinas”. Este último entrevistado mostrou que considera importante a

interdisciplinaridade entre as disciplinas, mas não imagina o uso da ABPj no Ensino das

Ciências, nomeadamente, da Física e Química. Esta perspetiva de uma disciplina para

projetos pode dever-se ao facto de os professores considerarem a ABPj como mais uma

“atividade” e não como um método de Ensino das Ciências, o que vai ao encontro do

que Efstratia (2014) defende. Segundo o autor, muitas vezes os professores

desvalorizam este método de ensino devido à sua falta de formação e experiência na sua

implementação. Portanto, a falta de formação nesta temática poderá estar a

comprometer a sua implementação no Ensino das Ciências.

Ainda na vertente currículo, foram referidos outros fatores, nomeadamente, o

número de alunos por turma (n=2; Ent.5 e 11) e a autonomia dos professores para gerir

o currículo (n=2; Ent.9 e 12), como mencionou o Ent. 12: “Eu acho que deve ser o

flexibilizar e diminuir os currículos não é?”. Reiss (2002) refere mesmo que, um

problema dos programas escolares é o facto de não serem estudados temas relevantes e

atuais para os alunos. A flexibilização do currículo poderia ajudar a colmatar este

obstáculo.

O aumento da carga horária das disciplinas de opção (12.º ano) foi outro fator

mencionado pelo Ent. 3 como se pode constatar na sua exposição:

Page 165: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

150

“… nas disciplinas de opção até, que a carga horária fosse, digamos assim, bastava que

restituíssem, por exemplo, no caso da Química e a Física 12.º das atuais 4h para as 7h que já

existiram há bastante tempo, permitiam uma muito maior … maior tempo para, digamos assim,

para … desenvolver os trabalhos de projeto e dar uma maior liberdade aos professores e … não

havia aquela sensação de que não se vai conseguir dar a matéria naquelas horas e, portanto,

muito menos fazer trabalhos de projeto que absorvem muito tempo e que realmente absorvem …

as pessoas sentem um bocadinho isso.”

Mais uma vez houve a referência a que o tempo de execução deste tipo de

atividades construtivistas é muito superior às atividades promovidas no ensino

tradicional, curtas e muito direcionadas, como já tinha sido observado por BIE (2017) e

Marx et al. (1994).

Por último, o Ent. 4 ainda mencionou o fator fazer parte do currículo das

disciplinas este tipo de projetos, pois diz: “…o facto de haver uma certa obrigatoriedade

no currículo de fazer este tipo de ensino … (…) Se calhar pode ser em todas. Todas

terem que desenvolver um … um projeto, não sei”. No entanto, a imposição sem a

formação adequada dos professores neste método de ensino conduzirá a uma

implementação incorreta da ABPj, pois a vontade e ações dos professores estão

condicionadas pelas suas conceções e crenças (Korthagen, 2004).

No que respeita à vertente “professores” foram mencionados dois aspetos

facilitadores: a formação/experiência do professor em ABPj (n=5; Ent.2, 4, 6, 8 e 9),

tendo o Ent. 2 referido: “… portanto ter formação na área… portanto adquirir em

contexto real ou através de formação, portanto, existem formações … ensino

aprendizagem por projetos”. Habók e Nagy (2016) e Fallik, Eylon e Rosenfeld (2008)

consideram que a falta de formação dos professores também é um constrangimento à

implementação da ABPj, portanto, o desenvolvimento profissional dos professores neste

método de ensino através da formação contribuirá para a sua implementação. Três

professores (Ent.2, 7 e 10) ainda referiram outro fator, a motivação dos professores para

este tipo de projetos, como explicou, por exemplo, o Ent. 2: “…a própria motivação do

docente nesse tipo de trabalho, que é fundamental. Estar convencido de que é positivo

para os alunos”. Como Le Levre (2014) afirma, enquanto o professor considerar que

uma determinada ação apresenta um elevado risco, o seu ensino não vai mudar, vai

continuar a privilegiar uma educação centrada em si.

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151

Relativamente à vertente “Escola”, foram mencionados pelos professores dois

aspetos facilitadores, para a implementação nas suas aulas do Ensino das Ciências

orientado para a ABPj: a direção apoiar este tipo de projetos (n=2; Ent.1 e 8), como

explicou o Ent. 8: “… e … a escola fazer disso um grande exemplo quando for a altura

de apresentar os projetos porque depois o ano seguinte não vai querer apresentar piores

projetos que o ano anterior”, e a articulação entre os elementos do grupo disciplinar

(n=1; Ent.6). Este último aspeto facilitador foi explicado pelo Ent. 6 da seguinte

maneira:

“mas se calhar o grupo disciplinar, lá está, … interagir muito mais e haver um espaço semanal

em que as pessoas se reúnem e pensar “olha pelo menos numa aula mensal … tentamos usar e

em conjunto…”. (…) Pronto, mas teria de ser sempre com … não acredito que uma pessoa

sozinha … aliás como em tudo na vida, não é? consiga … consiga pôr isso em prática mas

realmente … a escola dando condições para isso e horário para isso e para as pessoas se

encontrarem e pensarem, refletirem e pensarem na forma de aplicarem … se calhar até aos

pouquinhos se podia começar a fazer … nunca ser a prática comum, não é? mas começar aos

pouquinhos a fazer.”

Efetivamente, como afirma Chagas (2000), a cultura da Escola pode ser um

facilitador ou um constrangimento à implementação deste tipo de projetos. Se a Direção

da escola apoiar este tipo de projetos e incentivar a articulação entre os professores do

grupo disciplinar, estruturando os seus horários para que consigam reunir e partilhar

experiências, contribuirá para a implementação da ABPj pelos professores nas suas

aulas.

Em suma, e atendendo à análise apresentada, pode considerar-se que os aspetos

facilitadores encontrados pelos professores para implementarem um Ensino das

Ciências orientado para a ABPj estão assentes em três vertentes: curricular, professores

e Escola. No entanto, considerando o número de fatores que foram elencados para a

vertente curricular, pode concluir-se que esta é a que os professores consideram que

mais contribuirá para a promoção, no futuro, do Ensino das Ciências orientado para a

ABPj. Chagas (2000) e Martins (2002) referem que os professores adotam,

frequentemente, estratégias de ensino baseadas na transmissão de conteúdos, porque os

programas são muito extensos e complexos. Como Abrantes (2002) afirma, os

programas escolares definidos pelo Ministério da Educação regulam e condicionam o

trabalho dos professores na sala de aula.

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152

4.3.3.Condições necessárias para a implementação do Ensino das Ciências orientado

para a Aprendizagem Baseada em Projetos

Condições ideais para implementar no futuro o Ensino das Ciências orientado para a

Aprendizagem Baseada em Projetos

Com o objetivo de identificar as condições ideais para implementar no futuro o Ensino

das Ciências orientado para a ABPj, fez-se a seguinte questão aos professores: “Se

pudesse criar as condições perfeitas para promover o Ensino das Ciências orientado para

a ABPj, quais seriam?”. Os dados resultantes apresentam-se na tabela 18.

Tabela 18 - Condições ideais para implementar no futuro o Ensino das Ciências orientado para a

Aprendizagem Baseada em Projetos (n = 12)

Condições ideais para

implementar a ABPj

Professores TOTAL

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12

Parcerias entre as

Universidades e as

Escolas

√ 1

Formação de

professores neste tipo

de projetos

√ √ √ 3

Sala projetada para

realizar projetos √ √ √ √ 4

Reformular o currículo

do Ensino Básico,

incluindo ABPj

√ 1

Disciplina de projetos

no 12.ºano √ 1

Cultura da escola

defensora deste tipo

de projetos

√ √ 2

Professores motivados

para a ABPj √ 1

Turmas homogéneas em

termos de

aprendizagens

realizadas

√ 1

Turmas com menos

alunos √ √ √ 3

Revisão do currículo da

disciplina √ √ √ √ √ 5

Flexibilidade na gestão

do currículo √ √ 2

Recursos materiais para

os projetos √ √ √ 3

Articulação entre

professores do mesmo

ano letivo

√ √ 2

Horas para o professor

preparar as atividades

do projeto

√ 1

Liberdade para escolha

do espaço físico da

aula

√ 1

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153

Com o objetivo de identificar as condições ideais para implementar no futuro o

Ensino das Ciências orientado para a ABPj, procedeu-se à análise dos dados da tabela

18 em termos das vertentes sugeridas por Chagas (2000). Considerando os dados

recolhidos através das respostas dos professores, vão ser apreciadas quatro vertentes:

curricular (referidas seis condições ideias); Escola (identificadas cinco condições

ideias); recursos (aludidas duas condições ideais) e professores (mencionadas duas

condições ideais).

Relativamente à vertente “curricular", os aspetos referidos pelos professores

foram:

- a revisão do currículo (Ent.3, 5, 6, 7 e 12), nomeadamente, a “revisão do

currículo da disciplina” (n=5; Ent.3, 5, 6, 7 e 12) e “reformular o currículo do

Ensino Básico, incluindo a ABPj” (n=1; Ent.3);

- turmas com menos alunos (n=3; Ent.7, 10 e 11) e, efetivamente, segundo Krajcik

e Blumenfeld (2006) muitas vezes os professores não dão um feedback com

qualidade e individual aos alunos, importante para o processo de aprendizagem

dos alunos na ABPj, porque têm turmas muito grandes;

- flexibilidade na gestão do currículo (n=2; Ent.10 e 12);

- disciplina de projetos no 12.º ano (n=1; Ent.3), pois diz: “No ensino secundário

acaba por ir “bater” ao que eu já referi. Ou reimplementar uma nova disciplina

de Área de Projetos, no 12.º ano…”, o que mostra que não vê a ABPj como um

método para o Ensino das Ciências, mas apenas como uma “atividade”, o que se

pode dever à sua falta de formação e experiência na sua implementação

(Efstratia, 2014);

- turmas mais homogéneas em termos de aprendizagens realizadas (n=1; Ent.5),

referindo este entrevistado: “…turmas … não sei se isto é muito … sei lá, tudo

tem as suas vantagens e desvantagens mas teria que haver turmas onde houvesse

alunos com capacidades mais próximas, onde houvesse … mais homogéneos,

onde não houvesse tanta disparidade de capacidade de aprendizagem.”

Relativamente a este último aspeto, importa expor que segundo vários autores

(Bell, 2010; Efstratia, 2014; Ministério da Educação da Malásia, 2006; BIE, 2017), uma

das potencialidades da ABPj é o facto de atender aos vários estilos e preferências de

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154

aprendizagem dos alunos, respeitando as diferenças que existem entre eles, pois os

alunos podem construir os seus conhecimentos a partir de diferentes contextos e

experiências, usando diferentes ferramentas e recursos para as pesquisas e para elaborar

o produto final.

No que respeita à vertente “Escola” foram apontadas pelos professores cinco

condições ideias:

- cultura da escola defensora deste tipo de projetos (n=2; Ent.4 e 6), em que um

dos professores afirma: “…tinha que haver de facto uma mudança nas

mentalidades mesmo vindas logo de cima, da Direção, que é a parte … (riso) …

quer se queira, quer não, que depois comanda todos os nossos procedimentos.

Pronto.” (Ent.6), o que vai ao encontro à argumentação de Chagas (2000) de que

a cultura da escola pode ser um facilitador ou constrangimento à ABPj;

- articulação entre professores das diferentes disciplinas do mesmo ano letivo

(n=2; Ent.6 e 7), em que o Ent.7 explica da seguinte forma: “…haver também

um cruzamento, uma interdisciplinaridade diferente do que tem havido até

agora. Haver um cruzamento de saberes … um cruzamento de saberes.”, pois as

atividades na ABPj são interdisciplinares e situadas (Bell, 2010);

- parcerias entre escolas e Universidades (n=1; Ent.1), pois é uma mais-valia para

a ABPj, atendendo ao tipo de formação inicial que os professores tiveram, muito

especializada e específica, que os torna menos confiantes e com menos

conhecimentos para estudar Ciências a partir de temas integradores, de

relevância social e com significado para os alunos (Wellington & Ireson, 2008);

- horário do professor contemplar horas para a preparação das atividades do

projeto (n=1; Ent.7), pois segundo Krajcik e Blumenfeld (2006), a ABPj requer

uma preparação e planificação das lições e antes de preparar as lições, o

professor tem de definir os conteúdos programáticos a contemplar no projeto e

refletir sobre os materiais e recursos a disponibilizar aos alunos;

- não haver condicionamento a um único espaço físico para a aula (n=1; Ent.10),

como explica: “Depois não ter condicionamentos de espaço, ok? Se eu hoje

preciso do laboratório, eu tenho o laboratório das tantas às tantas e tenho lá tudo

aquilo que é preciso. Não estar condicionada a um espaço que está estabelecido

num horário.”

Page 170: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

155

Na vertente “professores”, podem ser identificadas duas condições ideais: a

“formação para professores neste tipo de projetos”, (n=3; Ent.1, 4 e 8) e os “professores

motivados para a ABPj” (n=1; Ent.4), como defende o Ent. 4:

“… há aqui uma questão chave … o professor tem que ser preparado para isso e tem que gostar

muito do que está a fazer e … tem que ter competência para isso, pronto. Não há projeto que

resista a um professor desmotivado, não é? Professor que não quer saber …”

A falta de formação e de experiência na implementação da ABPj e a falta de

motivação contribui para que os professores desvalorizem e invalidem este método de

ensino (Efstratia, 2014).

Por último, na vertente “recursos” foram mencionadas duas condições ideais: a

“sala projetada para os alunos fazerem projetos” (n=4; Ent.2, 4, 8 e 9), em que um

professor diz:

“…tem de haver um espaço em que os alunos se sintam bem de estar, que não seja aquele espaço

austero da sala de aula com 25 carteiras alinhadas e bem alinhadas … o quadro branco ou preto

na frente e o professor ali a debitar matéria … portanto, tem que ser … o espaço não pode ser o

mesmo, não pode ser o mesmo. Um espaço com condições, onde os miúdos gostem de estar e

onde têm os recursos … têm os computadores, … as ferramentas … o que fizer falta para

desenvolver … projeto, os materiais e as pessoas bem preparadas para …” (Ent.4).

Outra condição indicada foi “recursos materiais disponibilizados para os

projetos” (n=3; Ent.5, 11 e 12), dizendo o Ent. 11: “Depois terem o material necessário

para fazer a pesquisa e até o material necessário para fazerem as atividades que eles

achavam pertinentes…”. Chagas (2000) afirma que os intervenientes neste método de

ensino devem ter disponíveis os recursos materiais necessários para desenvolverem um

trabalho de investigação completo, pois caso contrário poderá ser um desafio à

implementação da ABPj.

Em suma, as condições ideais identificadas pelos professores, para promoverem

no futuro um Ensino das Ciências orientado para a ABPj, impõem mudanças em

algumas vertentes: i) no currículo, por exemplo, flexibilização curricular, revisão

curricular e menor número de alunos por turma; ii) na Escola, por exemplo, uma cultura

defensora dos projetos e promotora da articulação entre os professores das várias

disciplinas, parcerias entre escolas e Universidades, flexibilidade logística dos espaços

Page 171: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

156

escolares e horas para trabalho individual do professor; iii) nos professores, por

exemplo, a formação neste tipo de projetos e ao nível dos recursos, como é o caso de

salas projetadas para este tipo de projetos e recursos materiais disponibilizados para o

processo de investigação.

Necessidades de formação dos professores para o Ensino das Ciências orientado para

a Aprendizagem Baseada em Projetos

Com o objetivo de caracterizar as necessidades de formação dos professores para

implementarem o Ensino das Ciências orientado para a ABPj fez-se a seguinte questão:

“O que precisam de saber os professores para implementarem o Ensino das Ciências

orientado para a ABPj?”. Os dados resultantes das apresentam-se na tabela 19.

Tabela 19 - Valências que os professores têm que ter para implementar o Ensino das Ciências orientado

para a Aprendizagem Baseada em Projetos (n = 12)

O que precisam de saber

os professores para

implementar a ABPj

Professores TOTAL

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12

Como implementar

corretamente este

método de ensino

√ √ √ √ √ √ √ √ √ √ 10

Estarem atualizados

cientificamente √ √ 2

Dominar as ferramentas

com que vai trabalhar √ 1

Saber que este tipo de

projetos é reconhecido

e validado pela escola e

pelos pais

√ 1

Conhecimento concetual

mais abrangente e

interdisciplinar

√ 1

Conhecimento do

currículo do Ensino

Básico e Secundário da

disciplina

√ 1

Domínio dos temas a

investigar √ 1

A maioria dos professores (n=10; Ent.1, 2, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 11 e 12), considerou

que precisa saber como implementar corretamente este tipo de ensino, tal como

explicou o Ent.1: “… a uma boa formação de base para ter a noção de como é que se

aplica o projeto, como é que se elaboram e … para depois puder … desenvolver com os

seus alunos nas suas aulas.”. Efetivamente, a falta de formação dos professores neste

Page 172: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

157

método de ensino constitui um constrangimento à implementação da ABPj (Habók &

Nagy, 2016; Fallik, Eylon & Rosenfeld, 2008; Rosenfeld & Bem-Hur, 2001).

Outra necessidade de formação que foi elencada pelos professores foi ao nível

do conhecimento concetual de Ciências, nomeadamente: estarem atualizados

cientificamente (n=2; Ent.3 e 9); terem conhecimento concetual mais abrangente (n=1;

Ent.10); conhecerem o currículo do Ensino Básico e Secundário da disciplina (n=1;

Ent.10) e dominarem dos temas a investigar (n=1; Ent.12). De acordo com Wellington e

Ireson (2008), a formação inicial dos professores de Ciências muito específica e

especializada, torna-os menos confiantes e com menos conhecimento para estudar

Ciências a partir de uma ABPj, pelo que é compreensível que sintam necessidade desta

formação. Martins (2002) considera que na formação inicial de professores faltam

disciplinas de Ciências que os capacitem para ensinar a disciplina a partir de temas

integradores.

O Ent.4 ainda fez referência a outra necessidade de formação, dominar as

ferramentas com que vai trabalhar, e explica da seguinte maneira:

“… depois tem que dominar minimamente as ferramentas com que vai trabalhar, não é? Se lhes

vai pedir coisas na área da eletrónica e da … tem de estar preparado para resolver problemas

dessa área ou senão …ou saber a quem vai perguntar. A quem … ter alguém que o apoie. Muitas

vezes … não é preciso saber tudo mas ter alguém que possa ajudar … houve um bloqueio mas o

professor está preparado para dar resposta … não é preciso muito mais.”

Moura (2016) defende que para que os professores possam integrar dispositivos

móveis, como computadores, smartphones, etc. nas suas práticas de ensino, é necessário

que dominem algumas competências digitais.

O Ent.7 ainda indicou que os professores precisam saber que este tipo de

projetos é reconhecido e validado pela escola e pelos pais, pois disse:

“Precisam de saber que o trabalho que vão fazer com os alunos é reconhecido e é validado e não

é um trabalho para encher tempo ou para os meninos fazerem uns cartazes e colarem não sei

aonde. Portanto, precisam de saber que esse trabalho vai ser reconhecido por quem de direito e

que vai ser validado também … (…) Precisam de saber, por assim dizer, que têm as costas

quentes, isto é, que estão a ser apoiados e que o seu trabalho está a ser validado, está a ser … é

importante o trabalho que estão a fazer daquela maneira. É importante. Penso que precisam

também de ter o reconhecimento dos pais, não é? Perceber que afinal o ensino não tem que ser só

aquele diretivo mas pode ser de outra forma…”

Page 173: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

158

Como já foi referido em pontos anteriores, a cultura da Escola pode ser um

constrangimento ou um facilitador à implementação da ABPj.

Em suma, as necessidades de formação dos professores para implementarem um

Ensino das Ciências orientado para a ABPj estão relacionadas com: conhecimento

concetual de Ciências mais abrangente; compreender os objetivos e as características da

ABPj e aprender a implementar devidamente e dominar algumas ferramentas digitais.

No entanto, a formação que quase todos os professores consideram que necessitam é ao

nível da compreensão e implementação da ABPj.

Formação que os professores gostariam de ter para implementarem o Ensino das

Ciências orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos

Com o objetivo de caracterizar a formação que os professores de Ciências gostariam de

ter para implementarem o Ensino das Ciências orientado para a ABPj, questionaram-se

os professores sobre como deveria ser feita a formação de professores de Ciências, em

termos de modalidade de formação, duração, formadores, metodologia e avaliação, para

implementarem o Ensino das Ciências orientado para a ABPj. Os dados resultantes

apresentam-se na tabela 20.

Tabela 20 - Características da formação de professores de Ciências para promoverem um Ensino

orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos (n = 12)

Características da

formação de professores

para a ABPj

Professores TOTAL

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12

Modalidade de

formação:

Oficina de formação √ √ √ √ √ √ √ √ √ √ √ 11

Demonstração √ 1

Duração da formação:

Curta duração (< 50h) √ √ 2

Longa duração (>51h) √ √ 2

Ao longo do ano √ √ √ 3

Vários anos √ √ 2

Não apresenta opinião √ √ √ 3

Formadores:

Especialistas na área

da Universidade √ √ √ √ √ 5

Professores com

experiência neste

tipo de projetos

√ √ √ √ √ √ 6

Especialistas na área

da Universidade e

um professor

√ 1

Page 174: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

159

Tabela 20 – Características da formação de professores de Ciências para promoverem um Ensino

Orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos (n = 12; Cont.)

Características da

formação de professores

para a ABPj (cont.)

Professores TOTAL

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12

Metodologia da

formação:

Uma componente

teórica, seguida de

um projeto

desenvolvido pelos

formandos como se

fossem alunos

√ √ √ √ √ √ √ √ √ 9

Uma componente

teórica, seguida de

prática para a

definição de um

tema a investigar

√ 1

Uma componente

teórica, seguida de

um projeto a

implementar numa

das turmas

√ √ 2

Não apresenta uma

opinião √ 1

Avaliação da formação:

Baseada na

participação e

desempenho nas

sessões e na

apresentação do

projeto

desenvolvido

durante a ação

√ √ √ √ √ 5

Semelhante à

avaliação dos alunos

neste tipo de

projetos

√ 1

Baseada na

capacidade do

professor para

solucionar os

problemas aquando

a implementação

numa turma

√ 1

Baseada nos

resultados dos

alunos no projeto

√ √ 2

Através de uma ficha

de avaliação

sumativa

√ 1

Não apresenta uma

opinião √ √ 2

Os professores entrevistados são de opinião que a formação que gostariam de ter

para implementarem o Ensino das Ciências orientado para a ABPj deve ter cinco

caraterísticas.

Page 175: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

160

Relativamente à modalidade de formação, quase todos os professores (n=11;

Ent.1, 2, 3, 4, 6, 7, 8, 9, 10, 11 e 12) indicaram a Oficina de Formação. O Ent.2

esclarece do seguinte modo:

“… tem que haver aqui uma conjugação de conceitos teóricos que … portanto … no fundo …

permitam que os professores adquiram … a filosofia em termos teóricos, pronto. Agora é a

conjugação. Depois eles podem fazer projetos porque só quem passa por elas é que percebe o

que é, quais são as dificuldades de implementação, como é que vamos implementar, como é que

vamos fazer mas a modalidade devia ser na forma de Oficina.” (Ent.2).

Tal como defenderam estes entrevistados, Korthagen (2012) e Marshall,

Petrosino e Martim (2010), explicam que não havendo articulação entre a teoria e a

prática não é possível o desenvolvimento das competências necessárias à

implementação da ABPj na sala de aula.

No que respeita à duração da formação, três professores (Ent.5, 6 e 10) não

emitiram a sua opinião, tendo o Ent.6 justificado a sua resposta da seguinte forma:

“Isso não sei porque … porque eu também não sei a exigência desse género de metodologia, não

é? e também seria com certeza diferente de pessoa para pessoa … não … é como lhe digo, não

tenho a noção porque nunca tive uma formação nesse sentido. Sei que se fosse para ser

implementada a serio, teria haver mesmo muita formação.”

Dois professores (Ent.11 e 12) falaram de menos de 50 horas, dois professores

(Ent.1 e 9) defenderam que deveria ter mais de 51 horas, três professores (Ent.3, 7 e 8)

que deveria ser ao longo de um ano e dois professores (Ent.2 e 4) referiram vários anos.

Mentzer e Brooks (2017), na investigação que realizaram, descobriram que os

professores demoram entre dois e três anos a desenvolver o conhecimento, compreensão

e habilidades para a verdadeira implementação da ABPj, mostrando que talvez a opinião

deste último professor seja a mais válida.

Quanto aos formadores, seis professores (Ent.2, 3, 4, 5, 6 e 11) indicaram

professores com experiência neste tipo de projetos, tendo dito isso, muito claramente, o

Ent. 2:

“… podiam ser professores que já têm experiência no campo … isso seria fundamental …

professores que têm experiencia no campo, que trabalham por projetos e sabem do que estão a

falar. Isso seria muito diferente porque … porque há muitas coisas que em termos teóricos

Page 176: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

161

sabemos mas que na prática ganham mais sentido. Não é? Porque nós sabemos professores, nas

aulas e aprendemos na Licenciatura, depois na prática nós damos o cunho pessoal, o cunho

prático de como contornar os problemas que surgem, porque os problemas não estão escritos na

teoria, estão na prática…” (Ent.2).

Cinco professores (Ent.1, 8, 9, 10 e 12) mencionaram especialistas na área, da

Universidade e o Ent.1 justifica da seguinte forma: “… Devem ser pessoas que já fazem

investigação nesta área e as universidades provavelmente serão o local onde teremos as

pessoas mais indicadas para desenvolver este tipo de ação.” No entanto, Formosinho,

2009 (citado por Flores, 2015) “chama a atenção para os efeitos (de)formativos da

prática docente dos formadores de professores” (p.205), pois os professores

desenvolvem muitas crenças sobre o ensino e a aprendizagem durante os anos que

passaram na escola como estudantes (Flores, 2015; Martins, 2002). Korthagen (2009)

acredita que os professores têm tendência a reproduzir as práticas de ensino que foram

adotadas consigo enquanto estudantes, por isso, se o formador quer que os professores

implementem a ABPj, tem de adotar este método nas suas aulas.

Relativamente à metodologia de formação, a maior parte dos professores (n=9;

Ent.1, 2, 4, 6, 7, 8, 9, 10 e 12), referiu uma componente teórica seguida de um projeto

desenvolvido pelos formandos como se fossem alunos, como se pode ver no diálogo

que se segue:

“Ent.8: Tinha que ser prático, teoria já temos nós, não é?... Nós percebemos que Química,

percebemos de Física … tem que ser formação prática, pôr-nos à prova. É isso

que nos falta, é … ok, tenta desenvolver um projeto … que seja palpável, que se

veja, que tenha utilidade, que … não é?

Investigadora: Colocar os professores a fazer projetos …

Ent.8: Desenvolver projetos, papel do aluno. Começar por ai. É para perceber as

dificuldades que os nossos futuros alunos vão encontrar pela frente e … como é

que nós conseguimos resolver essa questão ou como é que nós fizemos, que

informação … onde é que procuramos informação … para depois também dar

essas ajudas ao próprio aluno, não é?”

Rosenfeld e Ben-Hur (2001) acreditam que os professores precisam de apoio em

três fases: professores como aprendizes de ABPj, em que realizam projetos e

experimentam as mesmas dificuldades dos alunos na sala de aula; como professores de

ABPj nas suas salas de aula e como agentes de mudança na sua escola. Também

Page 177: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

162

Marshall, Petrosino e Martim (2010) constataram que os professores não implementam

autenticamente a ABPj quando não têm experiência em fazê-lo, mesmo após a

frequência de um curso onde estudaram as características principais do método de

ensino e onde procederam ao planeamento de uma unidade temática assente nos

princípios ABPj. Portanto, seguidamente os professores deveriam adotar a metodologia

proposta por dois professores, uma componente teórica seguida de um projeto a

implementar numa das turmas.

No que concerne à avaliação da formação, dois professores (Ent.5 e 6) não

emitiram opinião e cinco (Ent.1, 4, 7, 8 e 12) referiram que deveria ser baseada na

participação e desempenho nas sessões e na apresentação do projeto desenvolvido

durante a ação, como explicou o Ent. 1: “A avaliação será em termos da sua

participação, desempenho na ação e … apresentar um … projeto que tenha sido

desenvolvido juntamente com os alunos seus, desse ano, para apresentar nessa ação”.

Dois professores (Ent.10 e 11) ainda defenderam que a sua avaliação como formandos

deveria ser baseada nos resultados dos alunos no projeto, como argumentou o Ent. 11:

“Portanto, na formação … pensar na formação … fazia-se um esquema daquilo que se quer e

depois ia-se à turma aplicar e depois via-se se correu bem, ou não, mas também às vezes pode

correr mal e não tem nada a ver com aquilo que uma pessoa fez. Teve a ver com os alunos ou

outras coisas. A avaliação é sempre um bocado subjetiva … mas seria qualquer avaliação dentro

desse género.”

O Ent.2 referiu que deveria ser semelhante à avaliação dos alunos neste tipo de

projetos, pois disse:

“Portanto teria de ser uma avaliação muito próxima do que seria com os meus alunos para eles

sentirem como se avalia uma … aprendizagem por projeto. Tinha … tinha interesse que se

avaliasse dentro do possível, como é que se avaliam os alunos então eu vou avaliar os

professores da mesma forma.”

De acordo com Bell (2010) e o Ministério da Educação da Malásia (2006), a

ABPj permite que se faça uma avaliação “mais completa” e “contínua”, tonando-a mais

fidedigna.

Page 178: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

163

O Ent.3 ainda indicou que a avaliação deve ser baseada na capacidade do

professor solucionar os problemas aquando da implementação na turma, tendo

explicitado a sua opinião do seguinte modo:

“… eu acho que seria mais uma avaliação de verificar se a pessoa foi capaz de responder aos

problemas, se foi capaz de … com ajuda … de os solucionar, se foi capaz de gerar nos alunos

todo o tipo de habilidades que eles precisam para resolverem os problemas …(…) … se foi

capaz de saber lidar com os problemas que lhe iam surgindo.”

Esta opinião é partilhada por Mentzer e Brooks (2017) que, num programa de

desenvolvimento profissional, avaliaram a compreensão e a implementação da ABPj

pelos professores através da observação de aulas, de entrevistas reflexivas e do

levantamento das suas atitudes. Portanto, recolherem uma grande diversidade de dados

para avaliar se o professor foi capaz de aplicar devidamente, ou não, um ensino

orientado para a ABPj.

Em suma, foi quase unânime entre os professores entrevistados que a

modalidade de formação deve ser a Oficina de Formação, pois consideram que é

importante a articulação entre a teoria e a prática para o desenvolvimento das

competências necessárias à implementação da ABPj. Em relação à duração da formação

as opiniões dos professores foram muito díspares, contudo, a maior parte dos

professores considera que deve ser até um ano, mostrando desconhecimento das

dificuldades normalmente sentidas pelos professores pouco experientes, neste método

de ensino, aquando a sua implementação. Relativamente aos formadores, metade dos

professores considerou que deve ser um professor com experiência neste tipo de

projetos, pois consideram que deste modo é capaz de estabelecer uma articulação entre a

teoria e a prática, estudando as características principais deste método de ensino num

contexto vivenciado pelo professor-formador. Na metodologia de formação, a maior

parte dos professores propôs uma componente teórica seguida de um projeto

desenvolvido pelos formandos como se fossem alunos, de forma a experimentarem as

dificuldades dos alunos e, deste modo, desenvolverem as ferramentas necessárias para

os apoiar futuramente. Para terminar, a metodologia de avaliação dos formandos deveria

ser baseada na participação e desempenho nas sessões e na apresentação do projeto

desenvolvido durante a ação, indicando que acham que a avaliação deve estar centrada

nos objetivos que o aluno/formando deve alcançar e não na sua capacidade de

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164

solucionar os problemas, nomeadamente, aquando da implementação supervisionada

numa turma, como sugeriu o Ent.3.

As características enumeradas pelos professores para a formação que gostariam

de ter para implementarem devidamente o Ensino das Ciências orientado para a ABPj,

mostram-nos que os professores não têm consciência: da sua falta de conhecimento

sobre os fundamentos e modo de implementação deste método de ensino; da

complexidade da mudança de papéis que deve ocorrer entre os alunos e o professor e do

tipo de avaliação que pode e deve ser realizada das aprendizagens dos alunos, mais

completa e contínua, isto é, com uma recolha sistemática de informação, através de

técnicas e instrumentos adequados, que possibilitem a formulação de um juízo de valor.

Page 180: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

165

CAPÍTULO V

CONCLUSÕES E IMPLICAÇÕES

5.1. Introdução

Neste capítulo são apresentadas as conclusões deste trabalho de investigação em função

do objetivo geral e dos objetivos específicos apresentados no primeiro capítulo (5.2).

Seguidamente, são discutidas as implicações dos resultados desta investigação (5.3) e

por último, baseado nos resultados desta investigação e nas implicações desses

resultados, são apresentadas algumas propostas de investigações a realizar no futuro

(5.4).

5.2. Conclusões da investigação

O objetivo geral deste trabalho de investigação foi compreender as conceções e as

representações das práticas, de professores portugueses de Física e Química,

relativamente ao Ensino das Ciências orientado para a Aprendizagem Baseada em

Projetos. Neste sentido realizaram-se entrevistas semidirigidas a doze professores de

escolas públicas portuguesas, com pelo menos cinco anos de tempo de serviço e

provenientes de escolas diferentes. As conclusões deste estudo estão organizadas

atendendo aos objetivos específicos definidos para esta investigação, apresentados no

capítulo I, e estão assentes nos resultados obtidos através do tratamento e análise dos

dados recolhidos.

Relativamente ao primeiro objetivo específico, “Caracterizar as conceções de

professores de Física e Química sobre a Aprendizagem Baseada em Projetos”, conclui-

se que:

- A maior parte dos professores tem uma conceção cientificamente não aceite

sobre a ABPj, tendo sido identificadas três ideias consideradas não válidas de

características de uma ABPj, designadamente, o professor propor atividades para

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166

os alunos desenvolverem, o trabalho ser individualizado e a ABPj ser assumida

como um Trabalho de Projeto. Os poucos professores que apresentaram uma

conceção incompleta do conceito, fizeram referência apenas às características

mais gerais deste método de ensino, nomeadamente, a realização de uma

investigação cientifica autónoma e orientada pelo professor, a oportunidade de

trabalho colaborativo e a existência de uma pergunta de condução. Para além

disso, distinguiram de forma incompleta a ABPj do Trabalho de Projeto.

- Todos os professores consideraram que os computadores devem ser utilizados na

ABPj. Para além desta tecnologia sugeriram outras, designadamente, o

smartphone, o tablete e os sensores. Algumas das funcionalidades propostas para

a tecnologia na ABPj foram: fonte de informação e aplicações, elaboração do

produto final, rentabilizar o tempo, medição de grandezas físicas, registo e

tratamento de dados, partilha de informação e observar e fazer experiências.

- Os professores são da opinião que um Ensino das Ciências orientado para a

ABPj permite desenvolver a autonomia dos alunos, as capacidades inerentes a

uma investigação, as competências de trabalho colaborativo e o pensamento

crítico. Para além disso, possibilita a promoção de aprendizagens mais

significativas e uma relação entre a teoria e a prática.

- A maior parte dos professores considerou que o seu papel numa ABPj é orientar

os alunos em todo o processo de investigação. As respostas foram muito

generalistas, pois não explicitaram as suas funções, quando devem intervir e de

que forma o devem fazer.

- A maior parte dos professores considerou que a grande dificuldade dos alunos

numa ABPj é ao nível do desenho de investigação, ou seja, como planear uma

investigação. No entanto, alguns professores ainda mencionaram mais duas

dificuldades: a gestão das relações interpessoais e o desenvolvimento de

explicações para os dados obtidos na investigação.

As conclusões supracitadas mostram que os professores desconhecem ou

possuem um conhecimento muito ingénuo sobre os objetivos, as características

principais da ABPj, as suas potencialidades e os seus contributos para a Educação em

Ciências, pois, para além, da maior parte dos professores apresentar uma conceção

Page 182: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

167

cientificamente não aceite sobre a ABPj, não compreende que este método de ensino

contribui para o alcance de um dos principais objetivos da Educação em Ciências, o

desenvolvimento da literacia científica dos alunos (NAP, 1996). Para além disso, os

professores revelaram que estão pouco familiarizados com metodologias ativas de

aprendizagem, como a ABPj, porque não têm consciência de muitas das dificuldades

sentidas pelos alunos neste tipo de ensino e não apresentam respostas concretas e

objetivas sobre o seu papel numa aprendizagem deste tipo. No entanto, também se

constatou que os professores têm a perceção de que a tecnologia é uma ferramenta útil e

importante num Ensino das Ciências orientado para a ABPj.

No que respeita ao segundo objetivo específico, “Caracterizar as representações

de práticas de professores de Física e Química sobre o Ensino das Ciências orientado

para a Aprendizagem Baseada em Projetos”, conclui-se que:

- A maior parte dos professores não implementa a ABPj nas suas aulas e justifica-

o com o currículo e com a sua falta de formação neste método de ensino.

- Os professores que responderam que já usaram a ABPj para ensinar temas da sua

disciplina, não a implementaram verdadeiramente. Apesar de todos

considerarem que deve haver uma apresentação final a um público-alvo

escolhido para o efeito, nenhum professor mostrou preocupação em definir uma

questão central ancorada no mundo real e motivadora para os alunos; na maior

parte dos projetos desenvolvidos não houve interdisciplinaridade; houve uma

desvalorização da compreensão do processo de investigação pelos alunos, pois

as estratégias que os professores referiram que usaram para a promoção do

pensamento crítico nessas aulas parecem ser insuficientes face às competências

que os alunos possuem para este tipo de atividades e alguns professores, apesar

de organizarem o trabalho colaborativo entre os alunos, não o souberam

promover devidamente por considerarem que ocorre naturalmente.

- Os professores reconheceram basicamente dois tipos de aprendizagens

proporcionadas aos alunos numa Educação em Ciências orientada para a ABPj, a

capacidade de desenvolver um trabalho colaborativo com os outros e de realizar

um processo de investigação.

- Para os professores, as principais dificuldades manifestadas pelos alunos numa

ABPj são ao nível: do desenho de investigação (planificação de um projeto

Page 183: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

168

exequível, pesquisa e seleção de informação, gestão do tempo e falta de

conhecimento sobre a metodologia de projeto, etc.); da postura do aluno

(capacidade de tomar autonomamente decisões e responsabilidade pelo trabalho

a desenvolver no projeto) e das relações interpessoais.

- Os professores identificaram essencialmente duas dificuldades/barreiras ao

implementarem um Ensino das Ciências orientado para a ABPj: a falta de tempo

para desenvolver os projetos e a existência de obstáculos logísticos e poucos

recursos materiais, nomeadamente, computadores.

- Os fatores facilitadores detetados pelos entrevistados ao implementarem um

Ensino das Ciências orientado para a ABPj foram, basicamente, ao nível da

Cultura da Escola, uma Escola defensora e valorizadora deste tipo de projetos, e

ao nível da formação de professores, através de formações de desenvolvimento

profissional em práticas de Ensino das Ciências, nomeadamente, em ABPj, e da

supervisão por alguém experiente na área.

As conclusões apresentadas anteriormente permitem compreender que o

currículo é um dos motivos dos professores não implementarem a ABPj e constitui uma

das dificuldades identificadas pelos professores que referem terem implementado este

tipo de projetos nas suas aulas de Ciências. A falta de formação dos professores num

Ensino Orientado para a ABPj é outro motivo apresentado pelos professores para não

desenvolverem este tipo de projetos nas suas aulas. Porém, os professores que disseram

que implementaram nas suas aulas uma ABPj e que nunca receberam qualquer

formação nesta temática, não identificaram quaisquer dificuldades resultantes desta sua

falta de formação, designadamente, ao nível da elaboração da questão motriz, da

implementação do trabalho colaborativo, da reflexão com os alunos sobre o processo de

investigação, da avaliação dos alunos, da dificuldade em assumir um papel menos ativo

na aprendizagem dos alunos, etc. (Alozie, Eklund, Rogat & Krajcik, 2010; Mentzer &

Brooks, 2017). O facto de: os professores não sentirem este tipo de dificuldades quando

implementaram este tipo de projetos; as aprendizagens identificadas pelos professores

nos alunos na ABPj estarem centradas nos aspetos superficiais e não na aprendizagem

específica da Ciência e da Tecnologia; as dificuldades reconhecidas pelos professores

nos alunos ao implementarem nas suas aulas uma ABPj não contemplarem obstáculos

dos alunos ao nível do desenvolvimento de explicações para os dados obtidos, indicia

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169

que os professores não estão a utilizar devidamente este método de ensino,

nomeadamente, para a promoção da literacia científica dos alunos e não têm consciência

da sua falta de conhecimento relativamente aos fundamentos e modo de implementação

deste método, pois há sinais de falta de preocupação dos professores pelo

desenvolvimento de um processo de investigação totalmente compreensível e

direcionado pelos alunos. Estas conclusões são semelhantes às obtidas por Hasni et al.

(2016). Estes investigadores verificaram que, normalmente, os professores têm uma

compreensão limitada da ABPj, centrada nas características mais gerais, em oposição às

características únicas identificadas por especialistas ou aos elementos necessários, como

as ferramentas cognitivas e a avaliação contínua, para compreender os assuntos a

estudar, o que poderá conduzir à utilização indevida deste método de ensino e ao

desaproveitamento das suas potencialidades.

Com o terceiro objetivo específico pretendia-se “Averiguar as perspetivas de

professores de Física e Química sobre a viabilidade de implementação do Ensino das

Ciências orientados para a Aprendizagem Baseada em Projetos”. Verificou-se que, a

maior parte dos professores considera que não pode ser usado regularmente na

Educação em Ciências e as razões apontadas relacionam-se com os seguintes aspetos: o

cumprimento do programa; a preparação dos alunos para o Exame Nacional do 11.º ano;

o elevado número de alunos por turma e a curta duração das aulas de desdobramento do

Ensino Básico. Também se constatou que um dos maiores obstáculos dos professores

para promoverem, futuramente, um Ensino das Ciências orientado para a ABPj é a sua

formação. Este aspeto já foi mencionado anteriormente por alguns professores como

sendo a razão para não implementarem a ABPj. Porém, verificou-se que os

entrevistados sentem que alterações essencialmente ao nível curricular, nomeadamente,

através da diminuição da extensão do programa, da diminuição do número de alunos

por turma e de uma maior autonomia na gestão do currículo pelos professores,

contribuirão para a promoção, no futuro, de um Ensino das Ciências orientado para a

ABPj.

Finalmente, com o quarto objetivo específico pretendia-se “Identificar as

condições que, na perspetiva de professores de Física e Química, são necessárias para a

implementação do Ensino das Ciências orientado para a Aprendizagem Baseada em

Projetos”. Constatou-se que os professores consideram que as condições ideais para

promoverem, no futuro, um Ensino das Ciências orientado para a ABPj obrigam a

mudanças ao nível: do currículo, da Escola, dos professores e dos recursos. Ao nível do

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170

currículo, por exemplo, através da diminuição do número de alunos por turma e da

revisão e flexibilização curricular. A Escola, nomeadamente, ao apoiar este tipo de

projetos e ao promover a articulação entre os professores de diferentes áreas curriculares

e a própria Escola e as Universidades. Ao nível dos professores, principalmente através

do desenvolvimento de formações para o Ensino das Ciências neste tipo de projetos.

Neste sentido, os professores referiram que necessitam de desenvolver um

conhecimento concetual de Ciências mais abrangente, de dominar algumas ferramentas

digitais e de compreender os objetivos e as características da ABPj e aprender a

implementar devidamente. Este último aspeto foi mencionado por praticamente todos os

professores. Por último, ao nível dos recursos, serem disponibilizados recursos materiais

e logísticos para a realização das investigações.

Ainda no âmbito do quarto objetivo específico, os professores identificaram

cinco características da formação que gostariam de ter para implementarem o Ensino

das Ciências orientado para a ABPj. Concluiu-se que para a maior parte dos professores

deve ser uma Oficina de Formação, deve ter uma duração até um ano e deve ser

dinamizada por um professor com experiência neste tipo de projetos. A formação deve

ter uma componente teórica seguida de uma componente prática, em que os formandos

desenvolvem um projeto como os alunos e são acompanhados pelo formador, como

supervisor das práticas. Relativamente à avaliação da formação, a maior parte dos

professores considera que deve ser baseada na participação e desempenho nas sessões e

na apresentação do projeto desenvolvido durante a ação.

Esta concetualização da formação é reveladora do conhecimento ingénuo que os

professores possuem sobre os objetivos e as características da ABPj e sobre a

complexidade da mudança de papéis que tem de ocorrer entre os professores e os

alunos, pois como alguns estudos indicam, nomeadamente, os realizados por Mentzer e

Brooks (2017) e Rosenfeld e Bem-Hur (2001), os professores demoram entre dois a três

anos a desenvolverem o conhecimento e as habilidades necessárias para a verdadeira

implementação da ABPj. Para além disso, o trabalho realizado por Marshall, Petrosino e

Martim (2010) mostrou que a realização de uma formação teórica, onde são estudadas

as características teóricas deste método de ensino, seguida de uma componente prática,

onde os professores desenvolvem um projeto assente nos princípios da ABPj, é

insuficiente para o desenvolvimento profissional dos professores neste método de

ensino, porque os professores têm que trabalhar a partir de situações reais; não têm de

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171

trabalhar apenas com a teoria científica mas, também, com a teoria pessoal construída

com base nas suas experiências pessoais, nas aprendizagens realizadas.

Esta forma ingénua dos professores concetualizarem o Ensino Orientado para a

ABPj pode conduzir à utilização indevida deste método de ensino, conforme defendem

Hasni et al. (2016) e os dados obtidos nesta investigação testemunham.

Uma outra conclusão que se pode retirar deste aspeto, é que os professores

continuam a concetualizar uma avaliação centrada nos objetivos que o aluno/formando

deve alcançar, pois a maior parte considerou que a avaliação da formação deve ser

baseada na participação e desempenho nas sessões e na apresentação do projeto

desenvolvido durante a ação. Este facto mostra-nos que os professores têm dificuldade

em realizar avaliações autênticas, utilizando diversas técnicas e instrumentos de

avaliação, de modo a avaliar os vários tipos de aprendizagens realizadas, tal como

defendem Alozie, Eklund, Rogat e Krajcik (2010), e que não vêm a avaliação como um

processo de negociação e metodologia construtivista de interação, análise e reanálise.

Portanto, indiciando uma visão tradicional dos professores do processo de ensino e

aprendizagem, assente nos princípios da metodologia de ensino por transmissão-receção

(Cachapuz, Praia & Jorge, 2002).

Retomando o objetivo geral deste trabalho de investigação, “Compreender as

conceções e representações de práticas, de professores portugueses de Física e Química,

relativamente à Aprendizagem das Ciências Baseada em Projetos”, os resultados

sugerem que os professores não têm conhecimento ou têm um conhecimento ingénuo

sobre as principais características e objetivos deste método de ensino, pois centram-se

nas características mais gerais para o definir e não reconhecem a sua potencialidade ao

nível das aprendizagens passíveis de serem realizadas pelos alunos. Para além disso,

constatou-se que a maior parte destes professores: não identifica qualquer diferença

entre a ABPj e o Trabalho de Projetos; não é capaz de explicitar qual é o seu papel neste

tipo de projetos e não reconhece muitas das dificuldades sentidas pelos alunos no

desenvolvimento deste tipo de investigações. Esta forma de concetualizarem este

método de ensino condiciona as práticas destes professores porque mostraram que não o

implementam devidamente nas suas aulas. Nas suas respostas foram encontradas

evidências da presença de conteúdos específicos da disciplina de Física e Química mas

também uma desvalorização pela compreensão total do processo de investigação pelos

alunos e pela sua construção autónoma do conhecimento. A estes factos, acresce o de

nenhum dos professores participantes mostrar preocupação em ancorar a questão central

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172

ao mundo real, com sentido e significado para os alunos, não se preocupando com o

desenvolvimento pelos alunos de uma pesquisa contextualizada em problemas reais.

5.3. Implicações dos resultados da investigação

As conclusões desta investigação sugerem algumas implicações ao nível do

Currículo e da avaliação da disciplina de Física e Química, da Cultura da Escola e da

formação inicial e contínua de professores.

Ao nível do Currículo da disciplina de Física e Química, atendendo aos

resultados obtidos com esta investigação, o programa curricular da disciplina para os

vários anos de ensino deve ser revisto, pois o facto de ser extenso e complexo

condiciona a prática dos professores na sala de aula, forçando-os a adotar estratégias de

ensino mais baseadas na transmissão de conteúdos. Estes resultados também foram

verificados noutros estudos, nomeadamente, de Abrantes (2002), Chagas (2000) e

Martins (2002). Salienta-se ainda que este tipo de atividades não se coaduna com o

desenvolvimento das competências previstas para os alunos à saída da escolaridade

obrigatória e definidas no documento elaborado por Gomes et al. (2017). Portanto, urge

a necessidade de reduzir a extensão dos programas e de se definir temas de estudo mais

relevantes e atuais, pois como sugere Martins (2002), os programas escolares estão

muitas vezes desfasados da sociedade atual e dos interesses dos alunos.

Ao nível da avaliação da disciplina de Física e Química, os resultados mostram

que a existência de Exames Nacionais e de testes padronizados a nível de escola

condicionam a prática docente, pois não avaliam as competências essenciais

desenvolvidas através de métodos de ensino como a ABPj, essenciais para o sucesso do

aluno na sociedade atual e previstas no perfil do aluno à saída da escolaridade

obrigatória, e avaliam apenas o conhecimento de conteúdo específico para o qual foi

projetada a prova. Deste modo, é importante que se repense o processo de avaliação dos

alunos e que se adeque às novas exigências da sociedade atual, pois pressupõe-se que a

Escola deve potenciar o desenvolvimento das competências essenciais à integração de

um indivíduo na sociedade.

Relativamente à Cultura da Escola, os resultados permitiram constatar que a

valorização, o reconhecimento e uma dinâmica da Escola, nomeadamente, da Direção

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173

da Escola, favorável a este tipo de projetos contribuirá para a implementação de um

Ensino das Ciências orientado para a ABPj. Sendo assim, para que se introduzam

mudanças na Escola é primordial que todos os intervenientes, particularmente, a

Direção da Escola sejam defensores e colaborem no desenvolvimento de estratégias que

facilitem a implementação deste tipo de métodos de ensino.

Por último, também se constatou que a formação dos professores constitui um

grande obstáculo à implementação de um Ensino Orientado para a ABPj, impondo

mudanças ao nível da formação inicial e contínua de professores. Ao nível da formação

inicial de professores, o ideal seria organizar os cursos de formação inicial de

professores em termos de um Ensino Orientado para a ABPj. No entanto, considerando

que as instituições de Ensino Superior oferecem alguma resistência a este tipo de

mudanças, considera-se que pelo menos no 2.º Ciclo de estudos da formação inicial de

professores, os futuros professores recebam formação que os capacite para implementar

a ABPj. Atendendo aos dados recolhidos através da pesquisa bibliográfica, apresentada

no Capítulo II deste documento, considera-se que o estudo das características principais

deste método de ensino deverá atender aos pré-requisitos dos alunos e às conceções que

possuem sobre o processo de ensino e aprendizagem, pelo que deverá ser promovida a

reflexão de forma a possibilitar a reestruturação de algumas ideias dos futuros

professores, especialmente, ao nível do papel do professor e do tipo de atividades a

realizar com os alunos na sala de aula. Posteriormente, e durante o estágio profissional,

o futuro professor deverá ser encorajado a implementar este método de ensino nas suas

aulas e este processo deverá ocorrer sob supervisão de alguém com experiência neste

tipo de projetos e que promova a reflexão contínua “sobre” e “na” prática, auxiliando o

futuro professor a melhorar o seu desempenho e a implementar verdadeiramente a ABPj

no Ensino das Ciências.

Por último, no que concerne à formação contínua de professores, e atendendo

que os professores que lecionam nas escolas não receberam qualquer formação sobre

este método de ensino, considera-se necessário que sejam desenvolvidas formações que

lhe permitam conhecer e desenvolver capacidades para implementarem futuramente na

sala de aula a ABPj. Mais uma vez, baseado em alguns dos dados bibliográficos

recolhidos e apresentados no Capítulo II, considera-se que essa formação deve ocorrer

por um período de três anos e deve ser usada uma abordagem realista, de forma a

promover a reflexão “sobre” e “na” prática do professor, bem como desenvolver

competências de meta-reflexão, e contribuir para a sua mudança. No primeiro ano de

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174

formação, os professores deverão experimentar o processo de ABPj, desenvolvendo

projetos orientados como formandos, e no segundo e terceiros anos de formação,

deverão implementar este método de ensino na sua sala de aula, com os seus alunos,

mas sob supervisão de um especialista na área. Este especialista deverá auxiliar o

professor estimulando a reflexão sobre a prática e, deste modo, contribuindo para a

promoção de melhorias no processo de implementação. No que respeita à elaboração do

programa de desenvolvimento profissional de professores para um Ensino das Ciências

orientado para a ABPj, deve ser concebido por especialistas em Educação do Ensino

Superior, mas em colaboração com as escolas.

5.4. Sugestões para futuras investigações

Atendendo às limitações da investigação (Capítulo I), aos resultados obtidos (Capítulo

IV) e às conclusões expostas neste capítulo, seguidamente, apresentam-se algumas

sugestões de futuras investigações:

- Dado que o objetivo deste estudo era compreender como os professores de

Física e Química percecionam o Ensino das Ciências orientado para a ABPj,

envolveu um número reduzido de professores, constituindo um dos motivos para

não ser possível a generalização dos resultados à restante população. Deste

modo, sugere-se que os dados recolhidos sejam utilizados numa nova

investigação para a elaboração de um instrumento de recolha de dados, por

exemplo, um inquérito por questionário, que permita gerar uma amostra

produtora de dados de maior dimensão e representativa da população para,

posteriormente, proceder à generalização dos resultados à restante população-

alvo de professores de Física e Química.

- Este estudo envolveu apenas professores de Física e Química pelo que seria

interessante realizar uma investigação que envolvesse professores de outros

grupos disciplinares, de forma a comparar os resultados obtidos para os

diferentes grupos disciplinares e avaliar se as conceções e representações de

práticas sobre a ABPj são semelhantes ou diferentes entre os diferentes grupos

de professores.

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175

- Os resultados obtidos e as conclusões formuladas neste estudo são úteis para a

estruturação de uma ação de formação contínua de professores, assente numa

perspetiva construtivista. Portanto, seria interessante desenvolver uma ação de

formação contínua de professores no âmbito da ABPj e avaliar os seus efeitos na

prática letiva do professor-formando.

- A formação dos professores que atualmente lecionam nas escolas condiciona a

implementação de um Ensino das Ciências orientado para a ABPj e de outros

métodos de ensino baseados nos princípios construtivistas, pelo que seria

aliciante estudar se a atual formação inicial de professores está em consonância

com a abordagem construtivista de ensino, nomeadamente, através da análise do

grau de abertura das atividades desenvolvidas pelos futuros professores e da

preocupação, ou não, em promover a reflexão e o raciocínio pedagógico dos

futuros professores.

Apesar de este trabalho de investigação estar centrado numa Aprendizagem

Baseada em Projetos e de se acreditar que é um método de ensino com muitas

potencialidades para o desenvolvimento de muitas das habilidades e das capacidades

necessárias aos alunos, atendendo às atuais exigências da sociedade, acredita-se que não

deve ser o único método usado no Ensino das Ciências. No entanto, a adoção de

metodologias ativas de ensino pelos professores, organizadas num Ensino das Ciências

baseado na investigação, é fulcral para o desenvolvimento da literacia científica dos

alunos e, por isso, os professores são um elemento fundamental no sistema educativo.

Porém, também o podem condicionar e fazem-no porque estão condicionados pelas suas

conceções e crenças. Pelo que, acredita-se que este trabalho poderá contribuir, ainda que

de uma forma muito modesta, para melhorar a formação de professores e, portanto, para

ajudar a resolver alguns dos problemas educacionais atuais.

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176

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ANEXOS

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ANEXO I – Guião da Entrevista

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193

GUIÃO PARA A ENTREVISTA

Esta entrevista, como já foi referido na Declaração de Consentimento Informado, está a ser

realizada no âmbito do Mestrado em Ciências da Educação, na área de especialização em

Supervisão Pedagógica na Educação em Ciências. O objetivo deste estudo é compreender quais

são as conceções e as representações das práticas, de professores portugueses de Física e

Química, relativamente à aprendizagem das Ciências baseada em projetos.

Com as primeiras questões gostava de obter algumas informações sobre as suas

habilitações académicas e experiência profissional. Depois farei algumas questões sobre a

aprendizagem das Ciências baseada em projetos e, para terminar, vou pedir-lhe um pequeno

feedback sobre a entrevista. Muito obrigada desde já pela sua colaboração neste estudo.

Parte I – Formação e experiência profissional

1. (Registar o sexo) Qual é a sua idade?

2. Qual é a sua formação académica?

2.1. Que tipo de estágio fez?

2.2. Fez alguma pós-graduação, mestrado ou doutoramento? (se sim) Qual/

Quais?

3. Qual é a sua situação profissional?

4. Que tempo de serviço tem?

5. Vamos recuar até 31 de agosto de 2017: Quantos anos letivos consecutivos lecionou

no máximo na mesma escola?

6. Quais são as disciplinas e os anos de escolaridade que está a lecionar no presente ano

letivo?

Parte II – Conceções sobre a Aprendizagem Baseada em Projetos

7. Na sua opinião, o que é a Aprendizagem Baseada em Projetos?

7.1. Considera que há, ou não, alguma diferença entre a Aprendizagem Baseada

em Projetos e o Trabalho de Projeto? Porquê?

7.2. Em seguida vou descrever duas estratégias diferentes seguidas por uma

professora, em diferentes turmas, para iniciar o ensino da Eletricidade

orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos.

A professora realizou um debate com os alunos sobre problemas sociais atuais

relacionados com a temática da Eletricidade. No fim do debate, constatou que para

as duas turmas existem três problemas distintos e relevantes.

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194

Na situação A – Os alunos formaram grupos, de acordo com os seus interesses

pessoais. Em colaboração com a professora, os alunos, em turma, selecionaram o

problema mais relevante para eles e procuraram responder a esse problema,

investigando, planeando, testando as suas ideias e formulando explicações

baseadas nas evidências e princípios científicos. A professora orientou os alunos

durante todo o processo questionando-os para os ajudar a refletir sobre a forma como

estão a fazer as suas investigações e interpretações, auxiliando-os no processo e

apoiando-os na elaboração de explicações para os dados novos que encontram. O

produto final foi apresentado à turma e analisado por todos os intervenientes.

Na situação B – Os alunos foram divididos em grupos pela professora. Todos os

problemas formulados eram relevantes, por isso, foram todos estudados pelos

alunos ao mesmo tempo. A professora definiu um conjunto de atividades

práticas que orientaram os alunos para a resposta final e ajudou-os a formularem

explicações baseadas nas evidências e princípios científicos. As atividades foram

realizadas em grupo, no entanto, a professora permitiu que os alunos que não

conseguiram trabalhar em colaboração com os outros trabalhassem

individualmente. O produto final foi apresentado à turma e analisado por todos os

intervenientes.

Na sua opinião, em qual das situações a professora aplicou, de forma

adequada, a Aprendizagem Baseada em Projetos? Porque diz isso?

8. Na sua opinião, os alunos devem, ou não, usar computadores na ABPj? Porquê?

8.1. (Se respondeu sim e não referiu) Que tipo de programas ou aplicações do

computador são úteis na ABPj? Porquê?

9. Para além do computador é, ou não, útil utilizar outras tecnologias na ABPj?

Quais? Porquê?(ex. telemóvel, smartphone, tablet, sensores)

10. Na sua opinião, quais são os principais objetivos que a Aprendizagem Baseada em

Projetos permite alcançar na Educação Em Ciências?

11. Qual é o papel do professor no ensino orientado para a Aprendizagem Baseada em

Projetos?

12. Na sua opinião, que dificuldades poderão mostrar os alunos durante a

Aprendizagem baseada em Projetos?

Parte III – Representações sobre as práticas de ensino das Ciências orientadas

para a Aprendizagem Baseada em Projetos

Agora vou mostrar um pequeno vídeo sobre um caso de Aprendizagem Baseada em

Projetos: https://www.youtube.com/watch?v=_8xiH6oLK10 (0.46 – 1.35 + 2.18 -3.38).

13. Já ensinou temas da sua disciplina usando este tipo de projetos?

13.1. (Se não) Porquê?

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195

13.2. (Se sim) Por favor, selecione o caso (tema) que considera que correu

melhor e descreva como organizou as atividades. Foram trabalhados assuntos

da sua disciplina, apenas, ou foram envolvidas outras disciplinas?

(Se não referiu)

13.2.1. Nessas aulas, costuma, ou não, utilizar alguma estratégia com o

objetivo específico de promover o pensamento crítico dos alunos? (Se

sim) Descreva, por favor, essa estratégia.

13.2.2. E o trabalho colaborativo? (Se sim) Como?

13.2.3. Costuma, ou não, utilizar nessas aulas alguma estratégia para os alunos

partilharem o que aprendem e comunicarem resultados científicos? (Se

sim) Qual/ ais?

13.3. O que aprenderam os alunos de mais importante graças ao uso dessa

metodologia?

13.4. Que dificuldades mostraram os alunos relacionadas com o uso dessa

metodologia?

13.5. Quais foram as dificuldades que sentiu ao usar o ensino orientado para a

Aprendizagem Baseada em Projetos nas suas aulas?

13.6. Houve algum fator ou fatores que facilitaram a sua aplicação do ensino

orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos? (Se sim) Quais?

Parte IV – Perspetivas sobre a viabilidade do ensino das Ciências orientado para a

ABProj

14. Na sua opinião, os professores de Ciências podem, ou não, usar regularmente o

ensino orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos nas suas disciplinas?

Porquê?

15. Que constrangimentos ou dificuldades poderão encontrar os professores ao aplicar

no futuro o ensino orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos?

16. Que fatores poderão facilitar a sua aplicação?

Parte V – Condições necessárias para a implementação do ensino das Ciências

orientado para a ABProj

17. Se pudesse criar as condições perfeitas para promover o Ensino das Ciências

orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos, quais seriam?

18. O que precisam saber os professores para implementarem o ensino das Ciências

orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos?

19. Na sua opinião, como deveria ser feita a formação de professores de Ciências para

implementarem o Ensino das Ciências orientado para a Aprendizagem Baseada em

Projetos? (modalidade da formação, duração, quem devem ser os formadores,

metodologia, avaliação).

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20. Nos últimos 4 anos fez alguma Ação de formação contínua de professores

relacionada com a Aprendizagem Baseada em Projetos?

(Se sim)

20.1. Porque a frequentou?

20.2. Qual foi a modalidade dessa formação?

20.3. Quantas horas teve a formação?

20.4. Qual foi o método de ensino usado nessa formação?

20.5. Como foi avaliada?

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ANEXO II – Pedidos de autorização à Direção Geral de Inovação e

Desenvolvimento Curricular e à Comissão de Ética da UMinho

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201

Formulário de identificação e caracterização do projeto

Identificação do projeto

Título do projeto Aprendizagem das Ciências Baseada em Projetos: Conceções e

representações de práticas de professores de Física e Química

Data prevista de início Fevereiro 2017 Data prevista fim Janeiro 2018

Investigador

principal e filiação

Tânia Fernandes, Instituto de Educação, Universidade do

Minho (Tese de Mestrado, no âmbito do Mestrado em

Ciências da Educação, Especialidade em Supervisão

Pedagógica)

Co-investigadores e

filiação

Maria Teresa Machado Vilaça, Instituto de Educação,

Universidade do Minho (orientadora)

Nota: Os projetos dos estudantes de mestrado ou doutoramento devem indicar o nome do

supervisor como co-investigador e indicar claramente quem é o orientador.

Instituição

proponente

Universidade do Minho

Instituição(ões)

onde se realiza a

investigação

Universidade do Minho

Entidades

financiadoras

Sem financiamento

Questões relativas ao envolvimento de investigadores exteriores

Estão envolvidos no projeto, colegas de outra (s) Escola(s)/Instituição(ões)? N

Se sim, este pedido de parecer cobre o seu envolvimento?

Qualificação dos investigadores

- Tânia Fernandes, aluna do mestrado em Ciências da Educação, Especialidade em

Supervisão Pedagógica, sob orientação de Maria Teresa Machado Vilaça do IE-UMinho.

-Maria Teresa Machado Vilaça, Doutoramento em Educação- Educação em Ciências,

pela UMinho

Caracterização do projeto e questões de carácter ético relativas à sua execução

Introdução justificativa do projeto e sumário dos seus objetivos

a) Forneça uma explicação breve do objetivo do estudo, incluindo as hipóteses específicas, objetivos e racional.

Atendendo a que, um dos principais objetivos da Educação em Ciências é o

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202

desenvolvimento da literacia científica dos alunos e para o conseguir é necessário envolver o aluno no processo de aprendizagem e proporcionar-lhe a vivência de experiências educativas diferenciadas, o ensino orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos é uma metodologia que pode ser usada pelos professores para o alcance dos objetivos propostos nesse currículo. Percebendo que há registos na literatura (Habok & Nagy, 2016; Hasni et al., 2016; Mentzer & Brooks, 2017) de uma concetualização desta metodologia pouco rigorosa e aprofundada pelos professores e tendo consciência de que a atividade profissional do professor está condicionada pelas suas conceções sobre o currículo, o ensino e a aprendizagem e que para alterar as suas práticas na sala de aula é necessário alterar as suas conceções, torna-se necessário realizar uma investigação que tenha como objetivo geral: compreender as conceções e as representações das práticas, de professores portugueses de Física e Química, relativamente à aprendizagem das Ciências baseada em projetos. Este objetivo concretiza-se através dos seguintes objetivos específicos:

das Ciências baseada em projetos;

a aprendizagem das Ciências baseada em projetos; Averiguar as perspetivas de professores de Física e Química sobre a viabilidade de

implementação do ensino das Ciências orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos;

o necessárias para a implementação do ensino orientado para a aprendizagem das Ciências baseada em projetos.

b) Inclua a contextualização relevante O desenvolvimento da literacia científica dos alunos é considerado pelos

investigadores em educação como sendo a principal finalidade da Educação em

Ciências para todos, a nível internacional e também em Portugal. Porém, para esse

desenvolvimento, é necessário que o aluno seja ativamente envolvido no processo

de ensino e aprendizagem, construindo o seu próprio conhecimento.

Contudo, como os resultados do relatório Teaching Practices and Pedagogical

Innovation: Evidence From Talis (Vieluf, Kaplan, Klieme & Bayer, 2012) mostram os

professores, em Portugal, continuam a privilegiar aulas de cariz expositivo, em que o

aluno é um recetor passivo da informação que lhe é transmitida pelo professor.

Embora haja indicações de que o ensino orientado para a Aprendizagem Baseada em

Projetos pode contribuir para o desenvolvimento da literacia científica dos alunos

(Klein et. al., 2009) e nas escolas se fale muito em Projetos, não se conhecem as

conceções nem as práticas de professores portugueses de Física e Química sobre

essa metodologia de ensino, antecipando-se que os Projetos possam surgir no fim e

não no início do processo de aprendizagem.

Assim, atendendo a que as conceções dos professores determinam, pelo menos em

parte, as suas práticas (Thompson, 1992), esta investigação permitirá compreender

como os professores percecionam a Aprendizagem das Ciências Baseada em

Page 218: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

203

Projetos, fornecendo informações sobre a necessidade, ou não, de uma formação

para professores que os capacite para usarem esta metodologia de ensino. Os

resultados deste estudo serão úteis para a estruturação de uma ação de formação

contínua para professores, assente numa perspetiva construtivista, que tenha em

conta o “ponto de partida” dos professores e as caraterísticas do seu contexto de

trabalho, e que seja capaz de promover a sua mudança concetual face à metodologia

de Aprendizagem Baseada em Projetos, necessária para a eventual mudança de

práticas. Por conseguinte, os dados recolhidos através desta investigação poderão

contribuir, indiretamente, para a melhoria das aprendizagens dos alunos, pois

permitirão desenvolver ações com probabilidade de promoverem uma mudança

sustentada da ação do professor na escola.

Participantes

Será selecionada uma amostra constituída por um mínimo de doze professores de

Física e Química, que se mostrem recetivos e interessados em participar neste

estudo.

Recrutamento e triagem

Como refere Fernandes (1991), numa investigação qualitativa, mais importante do

que o número de sujeitos com que se trabalha é a riqueza informativa dos

participantes. Neste sentido, e dada a elevada dimensão da população, será

selecionada uma amostra constituída por um mínimo de doze professores de Física e

Química que estejam a lecionar no 3.º Ciclo e/ou no ensino secundário a disciplina

de Física e Química. Além disso, os participantes deverão ter cinco ou mais anos de

experiência de ensino da referida disciplina em escolas públicas. A introdução desta

variável delimitadora está relacionada com o facto de se pretender inquirir

professores com alguma experiência de ensino, logo com mais probabilidade de

apresentarem riqueza de conteúdo informativo para esta investigação. O número de

sujeitos da amostra participante poderá aumentar caso não se atinja a saturação de

respostas com os participantes inicialmente previstos.

Com o objetivo de diversificar a amostra, será selecionado um professor por escola,

procurando garantir professores com percursos profissionais e vivências diferentes e,

simultaneamente, reduzir a possibilidade de partilha de informações, entre colegas

de escola, sobre os assuntos analisados na entrevista, permitindo obter opiniões

mais independentes dos professores participantes.

A investigadora quando estabelecer o primeiro contacto com o Diretor do

Agrupamento de Escolas ou Escolas Não Agrupadas informará do motivo do contacto

e solicitará a identificação dos professores de Física e Química que se encontrem a

lecionar no estabelecimento de ensino e que reúnam as condições anteriormente

mencionadas. Na eventualidade de existirem dois ou mais professores em condições

de serem entrevistados, será selecionado o que se voluntarie ou se mostre mais

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204

recetivo. Esta seleção será realizada pela investigadora e o motivo do seu uso tem a

ver com o facto de se acreditar que o entrevistado estará mais disponível e motivado

para responder de forma consciente, completa e fundamentada às questões

colocadas pelo investigador.

Compensação e custos

Os participantes não terão uma compensação monetária pela participação neste

estudo mas também não terão custos associados à sua participação pois a

investigadora é que se deslocará para realizar as entrevistas.

Procedimento

a) Realização de uma entrevista semiestruturada anónima, com duração aproximada de 60 minutos, aos professores e professoras participantes.

b) A entrevista será realizada pela investigadora no local e horário a combinar

com o entrevistado, tendo em conta a disponibilidade e a conveniência deste, mas garantindo-se que decorrerá num local sossegado e reservado para que o entrevistado se sinta à vontade.

c) No início de cada entrevista, o professor em causa será informado sobre o

objetivo da mesma, sobre o que se espera dele e sobre o carater anónimo dos dados, bem como sobre a possibilidade de, a qualquer momento da entrevista, poder desistir de participar. Esclarecidos estes aspetos, será assinada a declaração de consentimento informado, e o entrevistado será incentivado a expressar a sua opinião, sem constrangimentos, devido ao facto de permanecer no anonimato. As respostas das entrevistas serão registadas por escrito pela investigadora.

d) A informação recolhida nas entrevistas deverá ser escrita pela investigadora,

o mais fielmente possível para não comprometer a qualidade dos dados. Seguidamente, os dados serão sujeitos a uma análise qualitativa de conteúdo. Para o efeito, para cada questão da entrevista, serão identificados os segmentos relevantes das respostas e, para cada segmento, a ideia que lhe está subjacente. Essas ideias conduzirão a um conjunto de categorias de resposta, definido a posteriori, que será utilizado para classificar os segmentos relevantes identificados nas diversas respostas obtidas para a pergunta em causa. A categorização (ou classificação) deve ser revista, de forma a identificar e a corrigir possíveis incorreções do investigador, pois este tipo de análise acarreta sempre alguma subjetividade. Os resultados obtidos serão comparados com os resultados de outras investigações, realizadas nesta temática ou em temáticas afins e com objetivos semelhantes, com a finalidade de obter uma ideia sobre a sua consistência, ou não, com os resultados de outros estudos e de, eventualmente, identificar novas questões

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205

de investigação. O registo da entrevista depois de escrito a partir das notas de campo sob anonimato será enviado ao entrevistado para verificação e, posteriormente, será destruído no prazo máximo de cinco anos após a conclusão do projeto de investigação.

Benefícios, Riscos e Desconforto

Existem alguns benefícios potenciais para os participantes, nomeadamente a familiarização com o método de ensino para a Aprendizagem das Ciências baseada em Projetos e a consciencialização para a importância da mudança de práticas de ensino. Não existem riscos e desconforto conhecidos que estejam associados aos procedimentos do estudo.

Confidencialidade

Para manter a confidencialidade, será colocado o anonimato na escrita das

entrevistas e escritas serão posteriormente destruídos no prazo máximo de cinco

anos após a conclusão do projeto de investigação. O mesmo acontecerá com a

análise documental.

Apenas terá acesso ao registo de dados, guardados em pasta codificada no

computador, a investigadora principal e a co-investigadora. Não existirá a divulgação

de dados identificáveis.

Conflito de interesses

Declaro que não existe qualquer situação de conflito de interesses.

Consentimento Informado

A investigação envolve apenas voluntários saudáveis? S

A investigação envolve grupos vulneráveis: crianças, menores,

idosos ou outras pessoas com incapacidade temporária ou

permanente?

N

O pedido de parecer inclui a declaração de consentimento

informado, livre e esclarecido?

S

Aqui tem de escolher o formato de consentimento informado

[X] Consentimento informado – utilize dentro do possível o modelo fornecido [ ] Consentimento informado não assinado - E.g. formulário para questionários

preenchidos online. Deverá adicionar a informação incluída e o modo de os participantes concordarem em participar

[ ] Consentimento informado alterado - Um formulário de consentimento informado que omite informação requerida. E.g., se não indica o objetivo do estudo para evitar o viés na resposta dos participantes. Deve explicar o racional no procedimento e os processos de debriefing

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206

[ ] Isenção de consentimento – quando não é obtido consentimento informado – esta opção pode ser apropriada para utilização de dados já disponíveis. Justifique

Anexe o formulário de consentimento informado e outro material informativo relevante

quando adequado, ou justifique a isenção de consentimento

Documentação a anexar [x] Parecer da orientadora [x] Inquérito por entrevista [x] Declaração de consentimento informado [X] Declaração de confidencialidade da investigadora principal

[X] curriculum vitae resumido dos investigadores responsáveis.

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207

ANEXO III – Parecer da Direção Geral de Inovação e Desenvolvimento

Curricular e da Comissão de Ética da UMinho

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210

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ANEXO IV – Declaração de Consentimento Informado

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CONSENTIMENTO INFORMADO, LIVRE E ESCLARECIDO PARA PARTICIPAÇÃO EM

INVESTIGAÇÃO

Por favor, leia com atenção a seguinte informação. Se achar que algo está incorreto ou que não está

claro, não hesite em solicitar mais informações. Se concorda com a proposta que lhe foi feita, queira

assinar este documento.

Título do estudo:

Aprendizagem das Ciências baseada em Projetos: Conceções e representações de práticas de professores

de Física e Química.

Enquadramento:

Este estudo está a ser realizado no Instituto de Educação da Universidade do Minho, Braga, Portugal, no

âmbito do Mestrado em Ciências da Educação, Especialidade em Supervisão Pedagógica na Educação em

Ciências, sob orientação da Doutora Teresa Vilaça, professora Auxiliar dessa Universidade.

Esta investigação tem como objetivo geral, compreender as conceções e as representações das práticas, de

professores portugueses de Física e Química, relativamente à aprendizagem das Ciências baseada em

Projetos.

Explicação do estudo:

Para concretizar o objetivo geral do estudo serão realizadas entrevistas semidirigidas a 12 professores de

Física e Química que lecionem essa disciplina, em 12 escolas públicas portuguesas, há pelo menos cinco

anos. A entrevista incidirá nos seguintes aspetos: características pessoais e profissionais dos professores;

conceções sobre a Aprendizagem Baseada em Projetos; representações de práticas de utilização de

Projetos na Aprendizagem das Ciências; opiniões sobre a viabilidade de implementação do ensino

orientado para a ABPj e sobre as condições necessárias para a sua implementação. As respostas às

questões das entrevistas serão registadas por escrito pela investigadora. Posteriormente, as respostas

dadas nas entrevistas, a cada uma das diferentes questões, serão analisadas com o objetivo de identificar

padrões de resposta para cada questão, de modo a alcançarem-se os objetivos propostos para esta

investigação.

Condições e financiamento:

Os participantes não terão uma compensação monetária pela participação neste estudo mas também não

terão custos associados à sua participação pois a investigadora é que se deslocará para realizar as

entrevistas.

Confidencialidade e anonimato:

Garanto a confidencialidade e uso exclusivo dos dados recolhidos para o presente estudo.

Agradeço a atenção dispensada à apresentação desta investigação e, se decidir participar nela, agradeço a

sua colaboração.

A investigadora: Tânia Fernandes, Instituto de Educação da Universidade do Minho, email: tania.prof

@gmail.com

Assinaturas: (Investigadora)… … … … … … … … … ... … … … …... … … … … … … … … …

(Participante no estudo)… … … … … … … … …... … … … …... … … … … … …

-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-

Declaro ter lido e compreendido este documento, bem como as informações verbais que me foram

fornecidas pela pessoa que acima assina. Foi-me garantida a possibilidade de, em qualquer altura,

recusar participar neste estudo sem qualquer tipo de consequências. Desta forma, aceito participar neste

estudo e permito a utilização dos dados que de forma voluntária forneço, confiando em que apenas serão

utilizados para esta investigação e nas garantias de confidencialidade e anonimato que me são dadas

pela investigadora.

Nome: … … … … … … … …... … … … …... … … … … … … … … … … … …… … … …

Assinatura: … … … … … … … …... … … … … ... … … … … … … Data: …… /…… /……

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214

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215

ANEXO V – Exemplos de transcrições de entrevistas

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216

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Transcrição da entrevista ao professor 1

Investigadora (I): Parte I. A Parte I está relacionada com a Formação e experiência

profissional. Qual é a sua idade?

Professor 1 (P1): 47 anos.

I: Qual é a sua formação académica?

P1: Licenciatura em Ensino de Física e Química na Universidade do Minho.

I: Que tipo de estágio fez?

P1: Estágio integrado

I: ok. Estágio pedagógico…

P1: Pedagógico … Sim.

I: Fez alguma pós-graduação, mestrado ou doutoramento?

P1: Não.

I: Qual é a sua situação profissional?

P1: Sou professora do quadro de agrupamento de escolas de Lousada … já estou nos

quadros de escola desde 2001.

I: Que tempo de serviço tem?

P1: … com o estágio 18 anos.

I: Vamos recuar até 31 de agosto de 2017: Quantos anos letivos consecutivos lecionou

no máximo na mesma escola?

P1: … sete.

I: Quais são as disciplinas e os anos de escolaridade que está a lecionar no presente ano

letivo?

P1: 8.º ano, 3.º Ciclo, e um curso profissional 11.º de Gestão e Programação de

Sistemas Informáticos.

I: Então agora vamos passar para a Parte II. Esta Parte II é sobre as conceções sobre a

Aprendizagem das Ciências Baseada em Projetos. Na sua opinião, o que é a

Aprendizagem Baseada em Projetos?

P1: … esse tipo de aprendizagem deve consistir numa investigação orientada pelo

professor para os alunos … em que eles terão que ter um guião com algumas

orientações de forma a que os alunos tenham em mente qual é o objetivo final deste

Page 233: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

218

projeto. O que é que se pretende com este projeto… e ao mesmo tempo fazer uma

investigação mais aprofundada, sempre com orientação por parte do professor.

I: Fala de orientação. Que tipo de orientação é que é?

P1: … sempre à medida em que eles vão fazendo investigação ou criando … pode ser

uma atividade prática ou outra situação, em que o professor tem de estar em simultâneo

a acompanhar e a apoiar e … verificar se aquela investigação feita pelos alunos é válida

ou não de acordo com as Teorias e as Leis da Física e da Química.

I: Considera que há, ou não, alguma semelhança entre a Aprendizagem Baseada em

Projetos e o Trabalho de Projeto? Acha que há ou não alguma semelhança …

P1: … eu acho que sim. O trabalho de projeto obriga a que a pessoa também tenha uma

ideia de como fazer investigação senão não consegue chegar lá … ao que é a elaboração

de um projeto… não sei se consegui … (sorriso)

I: São semelhantes porque ambos envolvem um projeto? É isso?

P1: … sim… Para tu fazeres uma investigação primeiro tens de fazer um plano do que

vais investigar ou seja esse plano será semelhante como se elaborar um projeto para

investigação. Não? …

I: Então são semelhantes.

P1: Por isso são semelhantes …

I: Ok. Em seguida vou descrever duas estratégias diferentes seguidas por uma

professora, em diferentes turmas, para iniciar o ensino da Eletricidade orientado para a

Aprendizagem Baseada em Projetos (Para acompanhar mais facilmente a leitura foi

apresentado à professora um documento com a informação que iria ser lida).

A professora realizou um debate com os alunos sobre problemas sociais atuais

relacionados com a temática da Eletricidade. No fim do debate, constatou que para as

duas turmas existem três problemas distintos e relevantes. As duas estratégias diferentes

vou apresentá-las em seguida …

Na situação A – Os alunos foram divididos em grupos, de acordo com os seus interesses

pessoais. Em colaboração, os alunos procuraram resposta à questão central,

investigando, planeando, testando as suas ideias e formulando explicações baseadas nas

evidências e princípios científicos. A professora orientou os alunos durante todo o

processo questionando-os para os ajudar a refletir sobre a forma como estão a fazer as

suas investigações e interpretações, auxiliando-os no processo e apoiando-os na

elaboração de explicações para os dados novos que encontram. O produto final foi

apresentado à turma e analisado por todos os intervenientes.

Na situação B – Todos os problemas formulados eram relevantes, por isso, foram todos

estudados pelos alunos ao mesmo tempo. A professora definiu um conjunto de

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219

atividades práticas que orientaram os alunos para a resposta final e ajudou-os a

formularem explicações baseadas nas evidências e princípios científicos. As atividades

foram realizadas em grupo, no entanto, a professora permitiu que os alunos que não

conseguiram trabalhar em colaboração com os outros trabalhassem individualmente. O

produto final foi apresentado à turma e analisado por todos os intervenientes.

Em qual das situações, A e B, a professora aplicou, de forma adequada, a Aprendizagem

Baseada em Projetos?

P1: … eu penso que é mais na A.

I: Na A. Porquê? Porque diz isso …

P1: Ou seja … houve um trabalho … por parte da professora mais orientado, mais

próximo da atividade … na outra … é assim … os alunos que não conseguiam fazer …

não colaboraram com os alunos do grupo deixou-os fazer sozinhos, não é? … Será que

esses depois sozinhos conseguiam chegar ao que se pretendia? Sem o apoio, a ideia dos

colegas?… só se eles fossem muitos bons alunos … sendo bons alunos seria fácil eles

também conseguir acompanhar o mesmo método de trabalho … senão acho que o A

seria o mais adequado.

I: Então … considera que a professora tem … existe uma questão central, não é?

P1: Exato

I: … Os alunos vão realizar a investigação, vão planear e a professora não define as

atividades que os alunos devem concretizar … na situação B … o que quero dizer é… a

professora definiu um conjunto de atividades práticas…

P1: E no A não era também? … (A professora está a reler!) … À está bem … Não me

tinha apercebido dessa parte …

I: O que estou a questionar é: considera que o trabalho colaborativo é importante?

P1: É. Há sempre uns que têm uma ideia, outros que têm outra e que se complementam

se houver esse debate de ideias entre eles… que os ajudam e ao mesmo tempo vão

construindo mais facilmente a resposta ao problema e constroem mais facilmente o

conhecimento… senão houver esse trabalho colaborativo, se for um trabalho mais

individual, sendo um bom aluno provavelmente chega tão rápido como se for um grupo

de alunos médios mas … senão for um aluno … com base de conhecimento terá muita

mais dificuldade em dar respostas ao projeto mas… sendo um trabalho … uma

atividade prática que foram definidos conjuntos pela parte da professora, eles já têm o

trabalho todo orientado, é só conseguir investigar e procurar dar resposta ao que está a

ser solicitado … sendo assim … à partida se… é assim … estou dividida entre uma e

outra…não …

I: Ok. Quais são os aspetos que considera … portanto … na situação A quais são os

aspetos que considera que apoiam, as características que apoiam …

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220

P1: Precisava de mais um apoio. Na A se calhar também haver um conjunto de

atividades práticas já definidas pela professora para eles acompanharem. Na segunda

tenho um bocado de receio no sentido de ser um só aluno individualmente.

I: Então acha que na situação A ficaria mais completa … digamos … esta estratégia se a

professora ao orientar, a sua orientação fosse no sentido de definir atividades. É isso?

P1: Definir a atividade a executar por cada grupo mas … na investigação … envolve

também … eles serem mais enriquecedor … eles próprios também descobrir e puderem

definir … outro tipo de questões que poderiam abordar não sendo só aquelas que estão

definidas no plano que a professora definiu…

I: Então?...

P1: Pois … (sorriso) … espera um bocadinho … acho que vou pela 1, pela A. Foi a

primeira que eu senti … (sorriso)

I: Pronto. E, portanto, a situação A é a situação em que foi aplicada de forma adequada

a Aprendizagem …

P1: Exato

I: … Baseada em Projetos e essa resposta está assente em que aspetos? Por que é que é

A. Para … sistematizar…

P1: Porque obriga os alunos a investigar por si … procurar encontrar um problema e

resolvê-lo por eles e … chegar a uma conclusão, conjunta ao grupo, e … depois colocar

em debate com os restantes colegas e … continuam a ter a colaboração por parte da

professora nessa área de investigação.

I: Muito bem. Na sua opinião, os alunos devem, ou não, usar computadores na ABPj?

P1: Devem

I: Porquê?

P1: Porque para além dos manuais é uma fonte no qual eles podem buscar mais

informação atualizada, que ainda não está divulgada em suporte de papel … na parte

dos computadores… nas VEBS, não é?

I: Que tipo de programas ou aplicações do computador são úteis na ABPj?

P1: Para nós é importante a parte de tratamento de gráficos, o excell … com o objetivo

de tratar os dados … depois … o word não é? para escrever … agora … não sei

I: Para além do computador é, ou não, útil utilizar outras tecnologias na ABPj? Quais?

Porquê?

P1: Recorrer a teses por exemplo … teses de doutoramento … de mestrados … livros…

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I: Mas outras tecnologias para além do computador?

P1: Há outras tecnologias …

I: Para além do computador será útil utilizar outras tecnologias na ABPj?

P1: … é assim … na área das engenharias mas … eu pessoalmente não sei quais são os

nomes que possam designar … que eles trabalham, que os possam ajudar, não é? Não

estou a ver …

I: Na sua opinião, quais são os principais objetivos que a Aprendizagem das Ciências

Baseada em Projetos permite alcançar na Educação Em Ciências?

P1: … Permite que eles adquiram, desenvolvam outras capacidades que … sem ser por

uma área de investigação, mais prática, que … eles conseguem por em prática algumas

atividades que já foram testadas anteriormente por outros cientistas e que eles consigam

… tentar conseguir … testá-las.

I: Qual é o papel do professor no ensino orientado para a Aprendizagem Baseada em

Projetos?

P1: … é estar muito bem preparado para ajudar a … pesquisar e a fazer essa

colaboração com eles.

I: Acha que esse papel é semelhante ao papel do professor no ensino tradicional?

P1: Não tem de ser diferente. Tem de ser alguém que crie outras dinâmicas, outras

estratégias de … trabalho para os alunos, de forma a terem condições de poderem fazer

esse estudo, dessa investigação, desde o espaço, a recursos materiais, a … de tempo

definido também … para eles poderem ter tempo de poderem elaborar, pesquisar e

apresentar.

I: Então está dizer-me que o papel do professor …o papel central é de quem na

Aprendizagem Baseada em Projetos?

P1: É do aluno e o professor será uma retaguarda de apoio a esses alunos.

I: Na sua opinião, que dificuldades poderão mostrar os alunos durante a Aprendizagem

baseada em Projetos?

P1: É assim … no início como não está preparado nessa metodologia de trabalho vai …

recorrer mais, provavelmente, ao professor … para se conseguir orientar, à partida … ou

então é aquele tipo de aluno que é perspicaz e que já tem alguma autonomia e que por si

só vai descobrindo e às vezes tem bons resultados a nível das suas análises e tratamento

dessas informações …

I: Ou seja, está a dizer que uma das dificuldades poderá ser no tratamento dos dados…

na análise dos dados. É isso?

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222

P1: … Às vezes passará um bocadinho por essa parte… a parte deles interpretarem ou

analisarem a recolha ainda vão conseguindo fazer, a dificuldade às vezes passará

exatamente por ai … como tratarem a informação que recolheram.

I: Vamos passar para a parte III. A parte III está relacionada com as representações

sobre as práticas de ensino das Ciências orientadas para a Aprendizagem Baseada em

Projetos e vou mostrar um pequeno vídeo.

(Vídeo)

I: Já ensinou temas da sua disciplina usando o ensino orientado para a Aprendizagem

Baseada em Projetos?

(Silêncio)

I: Atendendo ao que viu sobre a Aprendizagem Baseada em Projetos acha que houve

algum tema ou assunto na sua disciplina que tenha sido estudado … usando este método

de ensino?

P1: … Assim … deste tipo … não … mas às vezes lançar uma questão … mas não

considero que seja neste tipo de formato de projeto. Vendo estes vídeos não …

I: Porque não?

P1: … porque não … não tinha visto coisas assim talvez por isso não me tivesse

motivado para iniciar uma situação deste género … acaba por ser também a parte dos

recursos que nós temos das editoras e … que nós vamos consultando os manuais e não

vão muito neste sentido … é mais o trabalho em que o professor coloca uma questão,

obtém uma resposta mas não vai muito além … deste tipo de projeto … são mais

curtos… talvez … não sei …

I: Quando diz mais curtos, então … os alunos costumam realizar investigações?

P1: Não será investigação … como é que eu hei-de dizer … uma investigação implica o

envolvimento … como foi dito nos vídeos, não é? … da criatividade, depois eles

apresentarem aos restantes elementos da turma, ao professor … e analisarem em

conjunto. Aquela situação apenas … não sei … é apenas o lançamento de uma questão

de desenvolvimento para ver se o aluno chega lá através de uma imagem, ou através de

uma questão, de uma questão-problema tentar saber qual é a resposta mas olhando para

este tipo de situações não envolve essas etapas todas para ser considerado uma …

situação de investigação em formato de projeto.

I: Uma Aprendizagem Baseada em Projetos?

P1: Sim

I: Então vamos passar para a Parte IV. Na Parte IV vamos falar nas perspetivas sobre a

viabilidade do ensino das Ciências orientado para a ABProj. Na sua opinião, os

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223

professores de Ciências podem, ou não, usar regularmente o ensino orientado para a

Aprendizagem Baseada em Projetos nas suas disciplinas? E porquê?

P1: Eu … penso que sim mas ao nível do ensino básico tenho mais receio que seja tão

fácil de ser aplicado este tipo de … situações. Ao nível do secundário provavelmente

deve ser uma área interessante a apostar e começar a aplicar … embora os alunos com

os exames … isto requer tempo e às vezes o tempo e a extensão dos programas poderá

ser uma … situação mais difícil de se cumprir mas ao nível de um 12.º ano …

provavelmente seria uma boa forma de desenvolvermos nos nossos alunos um maior

poder crítico e de criatividade relativamente aos conceitos que a Física e a Química

permite atingir com esta metodologia.

I: E os alunos no ensino básico não porque …

P1: Os alunos do ensino básico … teria de ser uma situação muito curta … tipo como

aquela que disseram … mas … mesmo assim … não sei se conseguiriam tão facilmente

chegar lá …

I: Que constrangimentos poderão encontrar os professores ao aplicar no futuro o ensino

orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos?

(Silêncio)

I: Que dificuldades os professores poderão encontrar …

P1: … Os alunos não começarem desde cedo a trabalhar neste tipo de situações vão

encontrar mais dificuldades …

I: Os professores … Que constrangimentos poderão encontrar os professores ao aplicar

no futuro o ensino orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos?

P1: É para os professores?

I: Que constrangimentos poderão encontrar os professores ao aplicar no futuro o ensino

orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos?

(Silêncio)

I: Existem dificuldades/obstáculos à implementação pelos professores no futuro deste

método de ensino?

P1: É assim … as infraestruturas terão de estar bem equipadas, não é? Ter espaços,

recursos desde os computadores… também equipamento ao nível das bibliotecas … só

dessa forma será mais fácil de ser aplicado … caso não existam esses recursos

materiais, nem a nível de espaço … torna-se sempre mais difícil porque requer sempre

ter … um recurso de apoio seja em suporte de papel, seja informático para

conseguirmos fazer uma melhor investigação e outros materiais a nível de … se querem

criar uma maquete... Ou outra situação … tem de haver condições financeiras a nível da

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224

escola para puder desenvolver essa atividade … prática … no formato dessa

investigação.

I: Que fatores poderão facilitar essa aplicação?

P1: … Haver um bom trabalho de reconhecimento por parte das Direções, do grupo da

Física e Química … mesmo os próprios alunos que estão envolvidos nesse projeto

trazerem ideias, estarem disponíveis também para facultar recursos que possam ser

necessários para desenvolver essa atividade.

I: Vamos passar à Parte V que é a última parte e está relacionada com as condições

necessárias para a implementação do ensino das Ciências orientado para a ABProj. Se

pudesse criar as condições perfeitas para promover o Ensino das Ciências orientado para

a Aprendizagem Baseada em Projetos, quais seriam? … Quais seriam as condições

perfeitas?

P1: As condições perfeitas … ou seja … puder haver uma articulação, protocolo com as

universidades, em que em simultâneo … conseguisse estar mais atualizada a nível de

investigação que está a ser feita no momento … e criar um projeto para desenvolver

com os meus alunos e … em simultâneo … parte ser feita na escola, criar essas

condições na escola que me permitissem junto dos meus alunos fazer … essa atividade

e depois … partes que não fosse possível porque a escola não tem infraestruturas

suficientes, às vezes, para determinado tipo de investigação que atualmente já se faz …

puder levá-los para a própria universidade e … complementar uma outra parte, com

eles, a nível da investigação na própria universidade.

I: Portanto, as parcerias …

P1: … Serão fundamentais a este nível.

I: E, portanto, é o que falta para …

P1: … Não é só isso … Isso seria uma das partes. A outra parte é … eu própria me

preparar para uma situação dessas, acho que ainda tenho muita coisa para aprender para

conseguir fazer um trabalho nessa área, haver mais formação também … provavelmente

as escolas, centros de formação fazerem uma maior aposta a esse nível, nestas áreas

porque … dentro daquilo que vou falando … não sei se a maior parte dos colegas … são

poucos os que poderão aplicar este tipo de metodologias, estratégias junto dos nossos

alunos.

I: O que precisam saber os professores para implementarem o ensino das Ciências

orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos?

P1: Primeiro, lá está, recorrer à … a uma boa formação de base para ter a noção de

como é que se aplica o projeto, como é que se elaboram e … para depois puder …

desenvolver com os seus alunos nas suas aulas.

I: Portanto, o que precisam de saber? … precisam de conhecer

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225

P1: … primeiro

I: … este método de ensino

P1: Sim … acho que precisa de ser mais divulgado … provavelmente está divulgado

mas a nível de formação não me parece que esteja … dentro das formações que tenho

tido conhecimento dos centros de formação, ao qual as minhas escolas têm feito parte,

não é uma das opções que tem sido divulgada… deveria haver uma maior divulgação e

incentivar as pessoas a fazer esta formação.

I: Na sua opinião, como deveria ser feita a formação de professores de Ciências para

implementarem o Ensino das Ciências orientado para a Aprendizagem Baseada em

Projetos? Portanto, como é que deve ser feito refiro-me em termos de modalidade da

formação, deve ser uma formação…

P1: De oficina … No meu entender seria interessante ter uma em formato de oficina

porque … nessa modalidade há sempre uma parte que é dada pelo formador, a

esclarecer como funciona e como é que se tem de implementar e depois cada formando

apresentar o seu projeto e ai há uma forma de puder ser validada, por alguém

especialista nessa área, para tirarmos as devidas conclusões … se o trabalho que foi

elaborado e aplicado estava de acordo com as linhas orientadoras da … formação que

foi dada.

I: A duração da formação deve ser de curta duração ou longa duração?

P1: No meu entender deve ser de longa duração porque é muito específica e requer

tempo para as pessoas poderem consolidar os seus conhecimentos.

I: Quando fala em longa duração está a falar …

P1: … No mínimo 50 horas e às vezes poderá ser até mais.

I: Quem considera que devem ser os formadores?

P1: No meu entender … Devem ser pessoas que já fazem investigação nesta área e as

universidades provavelmente serão o local onde teremos as pessoas mais indicadas para

desenvolver este tipo de ação.

I: Qual considera que deve ser a metodologia usada … portanto … nesta formação para

que realmente capacite ou ajude/apoie os professores a implementar este método de

ensino?

P1: Metodologia … serem feitas nas próprias escolas, nos centros de formação à partida

vão ter mais pessoas para … fazer essa formação … e o tipo de metodologia? Pois …

fugi à questão … é apresentar situações problema ao grupo dos formandos e como é que

eles resolviam essas situações … para que em conjunto seja feito um levantamento de

como desenvolver esses tipos de projetos porque cada pessoa tem uma forma de

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226

interpretar, tem ideias que às vezes são diferentes mas que em conjunto se

complementam para sair um bom produto, no final.

I: E a avaliação?

P1: A avaliação será em termos da sua participação, desempenho na ação e …

apresentar um … projeto que tenha sido desenvolvido juntamente com os alunos seus,

desse ano, para apresentar nessa ação.

I: Nos últimos 4 anos fez alguma Ação de formação contínua de professores

relacionada com a Aprendizagem Baseada em Projetos?

P1: Não.

I: Obrigada pela colaboração. Não sei se quer tecer algum comentário em relação à

entrevista? … As questões estavam esclarecedoras? Acha que ficou algo por discutir?

P1: Provavelmente ficou algo por discutir mas por falta de conhecimento da minha

parte relativamente ao tema em si porque acho que as questões parecem-me … são de

fácil compreensão mas eu é que não estava a dominar (sorriso) … totalmente esta parte

porque tenho ainda alguma falta de conhecimento a este nível.

I: Obrigada mais uma vez

P1: Obrigada.

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227

Transcrição da entrevista ao professor 11

Investigadora (I): Portanto, esta entrevista está a ser realizada no âmbito do mestrado

em Supervisão Pedagógica na Área das Ciências e o objetivo deste estudo é … portanto,

compreender as conceções e representações de práticas de professores de Física e

Química em relação à Aprendizagem Baseada em Projetos. Esta entrevista está dividida

em 5 partes e eu vou dando indicação de cada uma delas e de que assuntos é que vamos

discutir … em cada uma dessas partes. Está bem?

Professor 11 (P11): Ok.

I: Na primeira parte vamos falar na experiência profissional e formação. Qual é a sua

idade?

P11: 42.

I: Qual é a sua formação académica?

P11: Tenho uma licenciatura em Ensino de Física e Química, tirei o mestrado em

Ensino da Física e uma Licenciatura em ramo Ótico eletrónica e laser.

I: Portanto, duas licenciaturas e um mestrado. Portanto, o estágio … dado que a

licenciatura é ensino de Física e Química suponho que o estágio é o pedagógico.

P11: Sim, sim.

I: Já referiu que fez o mestrado, portanto, em Ensino da Física e qual é a sua situação

profissional?

P11: Sou contratado.

I: Professor contratado.

P11: Sim.

I: Que tempo de serviço tem?

P11: Cerca de 11 anos.

I: Aproximadamente 11 anos. Vamos recuar até 31 de agosto de 2017. Portanto o ano

letivo anterior. Quantos anos letivos consecutivos lecionou no máximo na mesma

escola?

P11: Até 31 de agosto? … 2 anos.

I: Quais são as disciplinas e os anos de escolaridade que está a lecionar no presente ano

letivo?

P11: 7.º e 8.º ano.

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228

I: Primeira parte está concluída. Vamos há segunda Parte em que vamos, portanto,

avaliar digamos as conceções sobre a Aprendizagem Baseada em Projetos … e neste

sentido …coloco a primeira questão, na sua opinião o que é a Aprendizagem Baseada

em Projetos?

P11: Ora bem … Um projeto é construir alguma coisa, nomeadamente, os alunos

construírem algo que os una e que tenha a ver com a disciplina, portanto, pode ser um

tema que seja um tema que eles queiram desenvolver e trabalhá-lo de maneira diferente

daquilo que estão habituados. Em vez de ser professor-aluno serão eles a tentar chegar

ao objetivo que é a matéria, não é? Penso que mais ao menos é isso que eu julgo.

I: Esse trabalho deveria ser individual ou em grupo?

P11: Geralmente quando se fala em projeto é trabalho em grupo.

I: E o trabalho seria desenvolvido pelos grupos, todos os grupos a trabalhar o mesmo

tema ou temas diferentes?

P11: Isso depois também depende daquilo que se quer no próprio projeto. Pode ser um

projeto em que seja um tema para todos ou dentro do projeto haver vários subtemas e

cada grupo trabalhar num subtema para depois, no final, ser o projeto o conjunto dos

temas que os diferentes grupos trabalharam.

I: E esse produto final que os alunos produzem o que é feito com ele, digamos?

P11: Bom. Isso depois depende daquilo que nós queremos. Pode ser … eu a lembrar-

me, pode ser uma apresentação, pode ser uma cartolina, pode ser outro tipo de … de

amostra que eles queiram fazer de modo a dar a conhecer aquilo que eles fizeram.

I: Ou seja, será sempre partilhado o trabalho.

P11: Sim. Nem que seja entre eles porque cada um vai trabalhar um tema, neste caso,

portanto convinha ter uma apresentação global para todos eles ficarem a conhecer todo

o que faz parte do projeto.

I: Considera que há ou não alguma diferença entre Aprendizagem Baseada em Projetos

e Trabalho de Projeto?

P11: É assim. Para mim trabalho de projeto é o professor “vais fazer isto e tens que

abordar estes temas”, portanto, eles são mais orientados. Se for uma Aprendizagem

Baseada em Projetos se calhar é mais há descoberta por eles para tentarem chegar a

algum lado. Portanto, se for Aprendizagem Baseada num Projeto se calhar é mais há

descoberta, se for um projeto é mais orientado para eles darem resposta aquilo que é

pretendido. Se calhar é mais fechado.

I: As atividades são planeadas por quem, em ambos os casos… são planeados pelo

professor, pelos alunos ou…?

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P11: Também depende daquilo que se queira. Pode ser o professor a orientar mais o

trabalho ou então também pode dar a liberdade aos alunos, sabendo aquilo que eles

querem fazer, até podem optar por serem eles a optar. Pronto. Isso acho eu, deve ficar

ao cargo de quem está no trabalho. Se os alunos até tiverem boas ideias acho que não se

deve cortar as ideias que eles têm.

I: Portanto, para ver se eu compreendi, na sua opinião o trabalho de projeto será um

trabalho mais orientado, mais restrito, digamos e a Aprendizagem Baseada em Projetos

é …

P11: Se calhar mais amplo.

I: Em que o aluno terá mais liberdade para investigar.

P11: Para investigar, sim.

I: Em seguida vou descrever duas estratégias diferentes seguidas por uma professora,

em diferentes turmas. O objetivo é desenvolver um ensino orientado pela Aprendizagem

Baseada em Projetos. Dado que se trata de alguma informação pode acompanhar a

leitura por esse documento. A professora realizou um debate com os alunos sobre

problemas sociais atuais relacionados com a temática da Eletricidade. No fim do debate,

constatou que para as duas turmas existem três problemas distintos e relevantes:

Na situação A – Os alunos formaram grupos, de acordo com os seus interesses pessoais.

Em colaboração com a professora, os alunos, em turma, selecionaram o problema mais

relevante para eles e procuraram responder a esse problema, investigando, planeando,

testando as suas ideias e formulando explicações baseadas nas evidências e princípios

científicos. A professora orientou os alunos durante todo o processo questionando-os

para os ajudar a refletir sobre a forma como estão a fazer as suas investigações e

interpretações, auxiliando-os no processo e apoiando-os na elaboração de explicações

para os dados novos que encontram. O produto final foi apresentado à turma e analisado

por todos os intervenientes.

Na situação B – Os alunos foram divididos em grupos pela professora. Todos os

problemas formulados eram relevantes, por isso, foram todos estudados pelos alunos ao

mesmo tempo. A professora definiu um conjunto de atividades práticas que orientaram

os alunos para a resposta final e ajudou-os a formularem explicações baseadas nas

evidências e princípios científicos. As atividades foram realizadas em grupo, no entanto,

a professora permitiu que os alunos que não conseguiram trabalhar em colaboração com

os outros trabalhassem individualmente. O produto final foi apresentado à turma e

analisado por todos os intervenientes.

Portanto temos aqui duas situações que apresentam algumas diferenças.

P11: Sim.

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230

I: Nomeadamente na distribuição dos alunos pelos grupos, na situação A tiveram mais

autonomia, foram eles que escolheram, ao passo que na situação B foi a professora que

… portanto … organizou os grupos de trabalho. Temos aqui diferenças no próprio

estudo, portanto, na situação A os alunos estudam o tema que lhes é mais interessante,

enquanto que na B todos os alunos tiveram que estudar o mesmo tema.

P11: Lá está se calhar vem de encontro aquilo que falamos antes. Para mim o A é o

projeto, Aprendizagem Baseada em Projeto, e o B é então o Trabalho de Projeto.

I: A questão que lhe iria colocar é mesmo, na sua opinião, em qual das situações a

professora aplicou de forma adequada a Aprendizagem Baseada em Projetos?

P11: Na A. Na B é apenas… fazer um projeto, um trabalho de grupo, em que a

professora definiu tudo que é preciso fazer e responder, portanto, um trabalho mais

fechado. Portanto, é isso.

I: Muito bem. Então o facto de o trabalho estar orientado, as atividades já estarem

definidas classificaria esta situação como um trabalho de projeto.

P11: Sim.

I: Na sua opinião, os alunos devem ou não usar computadores numa Aprendizagem

Baseada em Projetos?

P11: Sim.

I: Porquê?

P11: É sempre uma maneira que eles têm para … não sei. Aqui de computador estamos

a falar de Internet.

I: Sim, por exemplo.

P11: Para procurar diferente informação, portanto, não se ficarem limitados ao livro.

Inclusive se for um tema aberto, claro que eles vão procurar muitas mais coisas do que

aquilo que era necessário. Vamos dizer assim, por isso acho que sim.

I: E que aplicações ou programas de computador é que seriam úteis numa

Aprendizagem Baseada em Projetos?

P11: A Internet para a pesquisa. Depois Word para fazer o trabalho e o PowerPoint para

fazer uma apresentação. Também eu, sinceramente, não sou muito versado nas novas

tecnologias. Não sei se haverá mais mas pelo menos essas três poderiam utilizar na sala

de aula.

I: Para além do computador é, ou não, útil utilizar outras tecnologias na ABPj?

P11: Sim… Estou a lembrar dos sensores para se eles quiserem fazer … as tais

atividades para experimentar alguma coisa. Portanto, é sempre uma mais-valia para eles

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231

verem na prática como as coisas funcionam. Portanto, ou outra coisa parecida em que

eles possam realmente mexer e … e estou a lembrar-me que há vários programas,

aplicações em que há a simulação de experiências, atividades. Portanto, também era

uma coisa útil para eles.

I: Muito bem. Por exemplo, o telemóvel. Consideraria útil …

P11: Sim. A gente … o meu não (sorriso)… mas os telemóveis de agora são

basicamente mini computadores, portanto, o que o computador faz, o telemóvel faz, por

isso…

I: Poderia ser …

P11: Claro.

I: Muito bem. Na sua opinião, quais são os principais objetivos que a Aprendizagem

das Ciências Baseada em Projetos permite alcançar na Educação em Ciências?

P11: Principalmente a … o método de descoberta, serem eles a chegar lá. Já se sabe que

quando são eles a chegar lá, a aprendizagem é mais consolidada. Portanto, logo ai era

um ganho para os alunos, o serem eles a chegar, o serem eles a descobrir. Portanto …

ainda por cima se for em grupo … há uma entreajuda entre eles e então o ganho é

sempre maior.

I: Portanto, considera que o ganho principal será … um conhecimento mais sólido.

P11: Sim, sim.

I: Qual é o papel do professor no ensino orientado para a Aprendizagem Baseada em

Projetos?

P11: O papel do professor é auxiliar, portanto, dar algumas “pequenas ajudas”, coloca-

los no caminho certo mas nunca sendo o professor a … a dizer o que devem fazer, sei

lá, às vezes uma chamada de atenção se eles se começarem a afastar muito daquilo que

é pretendido para tentar voltar a coloca-los “na linha” mas basicamente o professor ai

passa a ter um papel secundário.

I: Muito bem. Na sua opinião, que dificuldades poderão mostrar os alunos numa

Aprendizagem baseada em Projetos?

P11: Que dificuldades? Logo à partida o … a dificuldade que eles terão em

compreender ou perceber que têm que ser eles a trabalhar para chegar a algum lado

porque estão habituados a os professores darem tudo já feito e mesmo assim eles não

aproveitam. Portanto, mudar a perspetiva, se calhar, a mentalidade, é … para mim é o

principal problema.

I: E essa falta de prática, digamos, em trabalharem, em serem eles os autores da

aprendizagem vai-se manifestar de que forma?

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P11: Principalmente, acho eu, haverá logo uma discussão sobre … o que é que devem

pesquisar, depois cada um vai pesquisar umas coisas e depois se calhar vão achar que as

coisas que eles pesquisam é que são as realmente importantes. Depois ainda há aqueles

que não pesquisam nada e vão-se encostar à sombra do trabalho dos outros … portanto,

aqui há sempre o trabalho dito de grupo não quer dizer que todos trabalhem. Pronto, ai é

um dos principais problemas. Depois outro problema será o consenso entre eles que às

vezes não é fácil.

I: Ou seja, a dinâmica de grupo será uma grande dificuldade na implementação destes

projetos.

P11: Sim, sim pelo menos no início. Acho que é sempre … depois se calhar com o

tempo as coisas acabarão por começar a “acontecer melhor”.

I: Vamos passar para uma 3.ª Parte e esta está relacionada com as representações sobre

as práticas, não é? Neste caso, práticas de ensino da disciplina de Física e Química, no

âmbito da Aprendizagem Baseada em Projetos e para iniciarmos esta 3.ªParte vamos ver

um pequeno vídeo em que é apresentado um caso de Aprendizagem Baseada em

Projetos.

(Vídeo)

I: Já ensinou temas da sua disciplina utilizando este tipo de projetos?

P11: Já. Quer dizer na altura não se chamava assim, tinha outro nome mas já.

I: Quer escolher uma situação, um tema …

P11: Eu na altura … o que eu usei … uma das matérias que eu dei foi o som em que eu

coloquei … fiz um pequeno vídeo com alguns alunos e depois coloquei o vídeo … e

depois … durante o vídeo havia um diálogo, uma discussão em que eram levantados …

algumas das questões que seriam abordadas naquele tema e então depois de reproduzir o

vídeo questionei os alunos “então, o que é que vocês não sabem disto? Que perguntas é

que vos faz levantar?” e eles então … falava-se lá o que é o timbre, o que é o som

agudo, o som fraco e não sei quê … “então o que será isso?” e então foram levantadas

uma série de questões … aqui era o da gripe, porquê … naquela altura foram uma série

de questões, depois foram os próprios alunos que foram pesquisar as respostas a essas

questões e depois apresentar as suas respostas ao resto da turma.

I: E esse trabalho foi desenvolvido pelos alunos em grupo?

P11: Sim. As perguntas não. As perguntas foi durante a aula normal, foram colocadas

perguntas, depois … havia algumas parecidas e uma pessoa foi eliminando porque

também não podemos ter muitas perguntas, portanto, chegamos às perguntas “básicas”.

Depois foram formados grupos, 4 ou 5 grupos, dependendo também da turma e depois

trabalhavam em grupo para dar resposta a essas questões.

I: E todos os alunos trabalharam as mesmas questões ou …?

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P11: Sim, sim. Portanto, todos eles trabalharam aquelas questões.

I: Portanto, todas elas foram trabalhadas por todos os alunos?

P11: Sim.

I: E as atividades que eles realizaram, portanto, foram os alunos que definiram,

planearam essas atividades, que estruturaram um plano para … responder a essas

questões?

P11: Sim, sim. Inclusive depois tinham de apresentar aos colegas as suas conclusões e

as suas respostas, portanto, isso foi deixado ao critério … não foi deixado ao critério dos

alunos.

I: O produto final … qual era o produto final. Tinha uma obrigatoriedade ou eles

podiam …

P11: A obrigatoriedade era dar resposta aquilo. Tinham de dar uma resposta aquilo

porque todo o tema estava estudado, portanto, o que é que eu fiz depois … no fim cada

um foi apresentando e então eles iam tomando notas das respostas … fazendo-se, vá lá,

uma sumula de cada uma das respostas para chegar … para ficar tudo direitinho no

caderno, não é?

I: As questões eram de resposta direta ou eram questões que implicavam investigação

por parte do aluno, portanto, …

P11: Tinham sempre que pesquisar e depois eu … na altura não havia estas tecnologias,

eu fornecia uma série de manuais e depois eles iam procurar a resposta em vários

manuais. Depois tinham que chegar a acordo qual era … aquele caso em que eles nem

sempre concordam … “gosto mais desta, gosto mais daquela”. Pronto mas eles tinham

que se entender para chegar a uma resposta, sim.

I: Nessas aulas costuma ou não utilizar alguma estratégia com o objetivo específico de

promover o espirito crítico, portanto, … com o objetivo de promover o pensamento

crítico nos alunos. Há alguma estratégia que costuma utilizar?

P11: Não. Assim de repente … a única coisa será quando eu vou orientar um bocadinho

e se eles tinham a … questão e eu disse “será que isso dá realmente resposta aquilo que

nós queremos?”. Pronto e eles ai, se eu dissesse qualquer coisa deste género, quer dizer

que o que estava ali não estava bem e então eles lá iam tentar reformular mas … pronto

… era só isso.

I: E para o trabalho colaborativo? Nesse tipo de aulas tem alguma estratégia para

promover o trabalho colaborativo?

P11: Não, não.

I: Acontece espontaneamente.

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P11: Sim. Eu … como falei há bocado, no início … é um bocado complicado mas

depois eles sabem que têm de trabalhar porque depois uma pessoa … aquele resultado

do trabalho é o resultado do trabalho de grupo.

I: E eles por si só acabam por …

P11: E eles, tirando aqueles que não (sorriso) … mas há sempre aqueles que querem

que aquilo vá para a frente e que corra bem. Isso também às vezes tem a ver com a

formação dos grupos, não é?... Eu ai, às vezes, tenho algum cuidado para não pôr

aqueles que querem ficar todos juntos porque já sei que em vez de trabalhar vão

conversar, portanto, haver uma separação … há muitos que no início “não quero ficar

neste grupo, não quero ficar naquele…” mas a partir do momento que eles percebem

que tem de ser assim, aquilo vai começando a andar devagar.

I: … Costuma usar nessas aulas alguma estratégia para os alunos partilharem, entre

eles, os resultados, o que aprenderam?

P11: Sim. Depois no fim é dado a conhecer … pelo menos acho que é assim … no fim

do trabalho é dado a conhecer a todos o que cada grupo, neste caso fez, e eles sabem o

que cada um fez e quais as respostas que cada grupo obteve.

I: Há uma apresentação oral, digamos, para a turma.

P11: Sim, sim e depois claro há os que querem apresentar PowerPoint, outros são mais

simplistas e apenas leem e até fazem numa cartolina mas a ideia é todos ficarem a

conhecer o trabalho de cada um, que cada grupo fez neste caso.

I: E os alunos apresentam e quem está a ouvir tem a oportunidade de …

P11: Sim, sim, claro.

I: … dar o feedback?

P11: Sim, perguntar … até porque se houver coisas diferentes … olha mas eu vi aquilo

e tal e prontos… gera-se às vezes um bocado a discussão mas … da discussão sai um

resultado.

I: O que aprenderam os alunos de mais importante graças ao uso dessa metodologia?

P11: Acho que … neste caso foi o trabalho de grupo. Portanto, eles aprenderem a

trabalhar em grupo e a discutirem e a atingirem um objetivo comum. Acho que … e

prontos … mesmo os conceitos, às vezes, o que é que eles fazem, procuro esta, tu

procuras aquela, portanto, há sempre … é sempre um bocado o risco de haver uma

divisão do trabalho mas … mas eu acho que aqui é o trabalho de grupo, eles

entenderem-se.

I: Portanto, o fundamental acaba por ser o trabalho colaborativo entre os alunos.

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P11: Sim, sim. Claro que também é importante eles chegarem aquilo que nós queremos,

não é? Senão as coisas ficam …

I: A aquisição dos conceitos.

P11: Sim, sim.

I: Que dificuldades mostraram os alunos relacionadas com o uso dessa metodologia.

Nessa situação que relatou que dificuldades é que os alunos mostraram?

P11: Foi … aquilo que eu já referi. No início o entendimento …

I: Da informação?

P11: Nem tanto, o entendimento entre eles e … primeiro como é que vamos fazer isto,

como é que vamos fazer, portanto, … a partir do momento em que eles interiorizam

como é que têm de trabalhar as coisas já se tornam mais fáceis, portanto, é mesmo

aquele início que é mais complicado.

I: Não saber como fazer.

P11: Como fazer, exatamente. Como eles passam de um papel passivo para um papel

ativo, que eles não estão muito habituados.

I: Quais foram as dificuldades que sentiu enquanto professor … no ensino orientado

pela Aprendizagem Baseada em Projetos? Nessas aulas que dificuldades é que sentiu?

P11: … Dificuldade? A principal dificuldade, nem é uma dificuldade, tem a ver com …

com o tempo porque estes trabalhos demoram sempre mais tempo do que o normal, não

é? Depois uma pessoa começa a ver e … não é? Quer que eles desenvolvam e eles …

pronto têm o seu ritmo e tal e … portanto, a principal dificuldade é mesmo em termos

de tempo que não é suficiente. Eu estou a lembrar-me que se fizesse isto para todos os

temas, se calhar dava … sei lá … metade da matéria.

I: Pois. A gestão do tempo é a grande dificuldade que tem.

P11: Acho que sim.

I: Houve algum fator ou fatores que facilitaram a sua aplicação? Portanto, algo que

tenha facilitado a aplicação da …

P11: Sim. Prontos. Eu apliquei porque na altura … a primeira vez que apliquei foi no

estágio e a minha orientadora, a tese de doutoramento, acho eu que era de

doutoramento, era nisso. Portanto, qualquer dúvida, qualquer questão uma pessoa tinha

ali um suporte que nos tirava a dúvida e nos ajudava a explicar o que é que podia ser

feito, o que podia ser melhorado. Por isso, prontos … tanto é que apliquei nesse ano, no

estágio, mas depois fui sempre aplicando até que cheguei a uma altura que comecei a

ver que demorava muito tempo e então já não aplico com tanta regularidade.

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I: Por uma questão de tempo.

P11: Sim, de tempo. É mas nesse caso as dificuldades não foram … quer dizer surgem

mas como tinha ali alguém versado nessa matéria as coisas tornaram-se relativamente

mais fáceis.

I: Portanto, existir alguém mais experiente numa …

P11: Sim claro.

I: … abordagem deste tipo ajuda o professor a implementar na sua aula.

P11: Sim. Depois implementando já vê como as coisas correm, por isso é que no

primeiro ano fui quase que obrigado, não é? … (riso) … mas depois, nos anos a seguir,

… apliquei todo tranquilo. Já …

I: Com outra confiança.

P11: Sim. Já sabia o que tinha que fazer, os aspetos que tinha de ter em atenção, o

trabalho em conjunto, por isso, … prontos e foi isso. Pois claro depois uma pessoa

perde … (riso).

I: Vamos passar para uma 4.ª Parte que está relacionada com as perspetivas sobre a

viabilidade do ensino das Ciências orientado para a Aprendizagem Baseada em

Projetos, um pouco ao encontro com o que referiu agora. Na sua opinião os professores

de Ciências podem ou não utilizar regularmente nas suas aulas o ensino orientado para a

Aprendizagem Baseada em Projetos? E porquê?

P11: Puder, podem mas é aquilo que eu disse, em termos de tempo ia ser muito

complicado de gerir tudo porque este tipo de trabalho acho que demoram ou exigem

mais tempo do que o ensino dito normal. Depois se for sempre, sempre assim não sei se

daria para cumprir o programa.

I: Portanto, puder, podem mas compromete o cumprimento do programa.

P11: Sim, eu acho que sim. Ainda por cima o programa é extenso, não é? Então era …

também depende daquilo que se pretende, se calhar num projeto posso dar um capítulo

inteiro só que se calhar para fazer isso é preciso muito tempo. Portanto, eu acho que o

tempo é aqui a principal dificuldade.

I: Que constrangimentos ou dificuldades poderão encontrar os professores ao aplicar no

futuro um ensino orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos? Portanto,

dificuldades que os professores poderão encontrar ao aplicar.

P11: Dificuldades é isso … é o tempo. O tempo é a dificuldade porque o ponto de

partida facilmente se arranja para qualquer tema, para qualquer projeto neste caso. Basta

uma pergunta, uma questão, como ali a gripe, não é? Qualquer situação dá origem a

uma série de questões que podem ser respondidas … por pesquisa e por trabalho de

projeto, por isso, acho que é mesmo o tempo.

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I: O tempo é a dificuldade …

P11: É, eu acho que sim e claro que também não é muito fácil para um professor passar

de um papel ativo para um papel passivo, não é? Porque basicamente são os alunos que

trabalham no projeto, o professor depois só vai orientá-los, portanto, às vezes, não é

muito fácil passar e “não fazer nada” daquilo que uma pessoa está habituada a fazer.

Portanto, isso também … se calhar, às vezes, é um obstáculo, uma dificuldade.

I: Portanto, o abdicar do controlo …

P11: da aula. Sim, sim. Até porque as aulas nestes casos deixam de ser as aulas em que

eles estão quietos e calados e a ouvir, não é? Há sempre mais discussão, mais barulho,

mais ruido e nem todos os professores sabemos que estão … estão para ai virados, haver

muita confusão.

I: Pois há professores que não estão recetivos a essa dinâmica, a essa agitação inerente a

esse tipo de trabalhos.

P11: É, é. Uma coisa é ter os alunos calados e quietos, que já não é muito fácil agora

mas … outra coisa é eles estarem ali a pesquisar, a discutir, … é uma maneira um

bocadinho diferente.

I: Que fatores poderão facilitar a sua aplicação, portanto …

P11: Primeiro seria programa menos extenso por causa do fator tempo. Depois também

acho que as turmas mais pequenas ajudariam porque uma pessoa apesar de ter um papel

passivo, se tivermos 5 ou 6 grupos a trabalhar, é difícil uma pessoa andar a ver o que é

que … andam todos a fazer, não é? Portanto … o número de alunos também e o tempo,

acho que é o principal.

I: O número de alunos e o tempo.

P11: Sim.

I: Vamos há 5.ªParte. esta 5.ªParte está relacionada com as condições necessárias para a

implementação de um ensino das Ciências orientado para a Aprendizagem Baseada em

Projetos. Se pudesse criar as condições perfeitas para promover o Ensino das Ciências

orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos, quais seriam essas condições

perfeitas?

P11: Primeiro era uma turma mais pequena, portanto, 15 ou 16 alunos. Depois terem o

material necessário para fazer a pesquisa e até o material necessário para fazerem as

atividades que eles achavam pertinentes, portanto, tendo isso acho que já se conseguia

fazer … fazer um trabalho bom de projeto.

I: Quando refere material é material de pesquisa, portanto, …

P11: Computadores, sim. Uma coisa é como eu fiz andar a trabalhar com manuais para

4 ou 5 grupos, não é? Mas tinha de arranjar 20 livros para pelo menos todos eles terem

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238

um livro para consultar. Quer dizer não é uma coisa muito prática, portanto, se eles

tivessem acesso a material mais facilmente, mais fácil eram as coisas porque eu lembro-

me da situação … quer dizer… não havendo manual, apesar de todos terem o manual da

disciplina, não é? Mas não tendo um manual eles ficam … “fico por aqui. Só tenho este,

portanto, fico por aqui. Só pesquiso isto.” É … portanto, se tiverem material para

pesquisar é … acho que era … material, número de alunos e o … pronto se quiserem

fazer uma atividade também terem acesso a esse material prático. Acho que é isso.

I: O que precisam saber os professores para implementarem o ensino das Ciências

orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos?

P11: O que precisam de saber? … Primeiro … saber, saber penso que não têm que

saber grande coisa porque só tem que perceber aquilo que se falou, passar de um papel

ativo para um papel passivo. Depois estar atento, atentos para saber orientá-los quando

eles estão a fugir um bocadinho daquilo que é esperado mas eu penso que … que e na

altura foi mais essa dificuldade, passar de um papel ativo para um papel passivo, por

isso, … não é assim … na minha ótica não é assim… não precisa de fazer grande coisa.

I: Na sua opinião, como deveria ser feita a formação de professores de Ciências para

implementarem o ensino orientado para a Aprendizagem Baseada em Projetos? Em

termos de modalidade deveria ser uma formação mais teórica mais prática? quem é que

deveria … ministrar essa formação? Qual deveria ser a duração dessa formação?

P11: É assim, eu penso que não era necessário uma grande formação. Mesmo que uma

pessoa percebesse os passos principais daquilo que é o projeto, portanto, que tem que

haver … na minha ótica … um ponto de partida, a formação dos grupos … acho que

não é necessário … se calhar às vezes é mais complicado de arranjar o ponto de partida

para determinado tema que seja abrangente e que vá buscar tudo aquilo que nós

queremos mas … eu penso que não era necessário grande coisa.

I: Não? Essa formação deveria ser teórica ou prática ou é indiferente?

P11: Não… Uma parte teórica para explicar como é que deve ser um trabalho de

projeto, os objetivos que se querem. Depois uma parte prática de uma aula, quer dizer

quem arranja um tema com um bocado de jeitinho arranja os outros, portanto, se

praticar para um, se arranjar para um depois arranja para os outros.

I: E a duração? Pode ser uma formação de 25 horas, então.

P11: Sim, sim acho que chega perfeitamente.

I: E quem é que deveria … ministrar essa formação?

P11: Se calhar alguém … alguém mais habituado a trabalhar em projetos. Uma pessoa

quanto mais trabalhar, mais está à vontade.

I: Ou seja, aqui seria um fator importante a experiência neste tipo de projetos.

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239

P11: Sim, sim.

I: E a avaliação?

P11: A avaliação?

I: A avaliação da formação?

P11: Supostamente seria pelo trabalho que depois uma pessoa ia apresentar mas … a

avaliação é sempre um bocado … difícil de quantificar nestes casos porque uma pessoa

até pode pensar bem na teoria e às vezes na prática não funciona. Portanto, a avaliação é

um bocado mais complicado, isso se calhar só aplicando mesmo num caso real e

verificar se realmente aquilo … se eles conseguiram chegar aquilo que era pretendido.

Portanto, na formação … pensar na formação … fazia-se um esquema daquilo que se

quer e depois ia-se à turma aplicar e depois via-se se correu bem ou não mas também às

vezes pode correr mal e não tem nada a ver com aquilo que uma pessoa fez. Teve a ver

com os alunos ou outras coisas. A avaliação é sempre um bocado subjetiva … mas seria

qualquer dentro desse género.

I: Portanto, a avaliação do trabalho, do desempenho do professor no projeto.

P11: Sim.

I: Nos últimos 4 anos fez alguma Ação de formação contínua de professores

relacionada com a Aprendizagem Baseada em Projetos?

P11: Não.

I: Por opção ou porque não tomou conhecimento de nenhuma?

P11: Não … não tomei conhecimento de nenhuma até porque uma pessoa anda sempre

a saltar e … são muito poucas as ações para a área, mesmo muito poucas, por isso, é

mesmo pela falta de formação.

I: Não sei se quer acrescentar mais alguma informação? Eu não tenho mais questões

mas acha que poderá ser acrescentado algo mais … a este tema? Sente que ficou algo

por dizer?

P11: Não acho que não. Acho que ficou tudo dito. (sorriso)

I: (sorriso) Agradeço a colaboração e a participação neste estudo.

P11: De nada.

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240

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ANEXO VI – Categorização das respostas

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Questão Subcategorias Prof. Respostas

7 Características

da ABPJ

P1 “… e ao mesmo tempo fazer uma investigação mais

aprofundada, sempre com orientação por parte do

professor”.(Realizar investigação científica orientada) –

Resposta incompleta

P2 “… a Aprendizagem Baseada em Projetos é a utilização de

conceitos da área disciplinar da Física e Química, Matemática,

mais portanto a nossa área … com aplicação concreta em algo.

(relevância do produto final para o mundo real (...) para

trabalhar em Projetos tem que haver uma planificação própria

com vista o estabelecimento de objetivos, com estabelecimento

de prazos, com estabelecimento de uma metodologia que deve

ser seguida sequencial, evidentemente com uma determinada

calendarização, em que avaliamos os nosso “passos” que

conseguimos atingir em cada uma das etapas e depois com a

parte final … que é a apresentação de um produto ou de … que

pode ser um poster, que pode ser uma apresentação oral, que

pode ser participar num congresso…” – (realizar investigação

científica autonomamente) (...) ter um objetivo bem definido,

estes objetivos são divididos em objetivos parcelares, tem de

haver uma calendarização em simultâneo, identificação dos

materiais e recursos necessários para desenvolver o Projeto…”

(objetivo bem definido-questão motriz) – Resposta

incompleta

P3 “…fazendo com que os alunos tenham de definir um conjunto

de procedimentos a adotar com o objetivo de atingir um

determinado objetivo - objetivo bem definido (questão motriz)

… mas que seja eles próprios … digamos assim … a ter que …

chegar a esse conhecimento através da realização de atividades

científicas, atividades de investigação … com a meta de atingir

…o conhecimento. (Realizar investigação científica

autonomamente) (...) de realizar um trabalho que lhe permita

responder a um conjunto de questões iniciais que lhe são

propostas pelo professor.” (questão motriz) – Resposta

incompleta

P4 “… a aprendizagem durante o processo de desenvolvimento do

projeto (…) portanto todas as competências, todo o

conhecimento que o aluno adquire no desenvolvimento do

projeto, na preparação, no planeamento, no desenvolvimento do

projeto.” (Trabalho de projeto) – Resposta cientificamente

não aceite

P5 “P5: Imagino que seja uma aprendizagem baseada em algo que

nós pensamos previamente … fazemos um plano … e depois

tentamos concretizar esse plano de maneira a que as

aprendizagens sejam mais efetivas. Imagino eu que seja uma

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244

coisa desse género.

Investigadora: Esse plano que informações é que deverá

contemplar?

P5: … O que é que ele poderá ter… para as aprendizagens tem

de ter sempre … um plano de aula e tem que ter sempre as

atividades que pensamos em realizar durante essa aula mas …”

(Atividades propostas pelo prof.) – Resposta cientificamente

não aceite

P6 “Seria pegar num tema de interesse relacionado com a disciplina

e depois arranjarmos várias formas de trabalho e pesquisa e

projeto, com atividades diversificadas para levar ao aluno a

chegar ao conteúdo, à conclusão e não sermos nós …” –

(Atividades propostas pelo prof.) – Resposta cientificamente

não aceite

P7 “… serem capazes de fazer uma pesquisa sobre o assunto, aquilo

que já existe, aquilo que ainda não existe, o que gostavam de

fazer, portanto, fazer um trabalho de pesquisa, primeiro,

portanto, conhecer o tema, não é?” – (realizar investigação

científica autonomamente) (...) aprender descobrindo,

descobrindo claro que orientado naturalmente mas eles é que

vão descobrindo e cada um deles, às vezes, a aprendizagem que

fazem não é toda igual.” - (investigação científica orientada)

(...) Interessa-me que eles vejam a … de que modo aquele tema

depois pode ser… ou já é aplicado ou pode ser aplicado em

contextos reais, em contextos do quotidiano, reais (…)

(relevância do produto final para o mundo real) (...) O ideal é

que cada um desenvolvesse o seu próprio projeto. Isso é inviável

porque é inviável em termos de tempo, de eu puder ajudar, etc.

Então eles trabalham em grupo…” (desvalorização do trabalho

colaborativo) – Resposta cientificamente não aceite

P8 “os alunos são chamados a desenvolverem as suas competências

ou o que é esperado para aquele ano letivo … no decorrer, na

exploração desse … desse projeto. No fundo é … é o saber

fazer, não é? e com o saber fazer a … adquirir aprendizagens

…” (Trabalho de projeto) – Resposta cientificamente não

aceite

P9 P9: “Sinceramente não sei responder …

Investigadora: Então não consegue dar uma opinião do que

acha que é …

P9: Não. Neste momento não. “ – Não responde

P10 “…portanto, isso para mim é que é uma aprendizagem com

projeto porque eles não sabem nada de nada mas eram eles que

iam chegar sozinhos ao pH, o que é o pH, como é que

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245

influencia…” – realizar investigação científica

autonomamente – Resposta incompleta

P11 “Um projeto é construir alguma coisa, nomeadamente, os alunos

construírem algo que os una e que tenha a ver com a disciplina,

portanto, pode ser um tema que seja um tema que eles queiram

desenvolver e trabalhá-lo de maneira diferente daquilo que estão

habituados. Em vez de ser professor-aluno serão eles a tentar

chegar ao objetivo que é a matéria, não é?...” – (Trabalho de

projeto) (...) Geralmente quando se fala em projeto é trabalho

em grupo.” (oportunidade de trabalho colaborativo) –

Resposta cientificamente não aceite

P12 “…tem que ser uma aprendizagem … de busca, de

investigação…” – (realizar investigação científica) (...) Eu

acho que faz mais sentido em grupo quando é projeto.”

(oportunidade de trabalho colaborativo) – Resposta

incompleta

7.1 Relação

estabelecida

entre TP e

ABPj

P1 “ O trabalho de projeto obriga a que a pessoa também tenha uma

ideia de como fazer investigação senão não consegue chegar lá

… ao que é a elaboração de um projeto…” – Ambas exigem

realizar investigação científica - Resposta incompleta

P2 “… Trabalho de Projeto pode ser um tipo mais abrangente,

Trabalho de Projeto genérico, e depois dividir isso entre

Aprendizagem em Projeto e Ensinar em Projeto … ou seja, a

relação seria mais esta. Trabalho de Projeto genérico e

Aprendizagem é uma vertente que se enquadra dentro do

Trabalho de Projeto…” – Resposta cientificamente não aceite

P3 “ O trabalho de projeto provavelmente será mais estanque do a

que Aprendizagem Baseada em Trabalho de Projeto … O

trabalho de projeto pode ser … simplesmente seguir um

conjunto … uma receita, um conjunto de passos que já estão

predefinidos, portanto, em que o aluno é apenas um mero

executor … digamos assim … daquilo que é dito. Enquanto no

Trabalho Baseado em Projetos é o aluno que vai ter de construir

os passos da sua investigação, portanto, terá um papel muito

mais ativo, muito mais relevante, digamos assim, na construção

do seu conhecimento.” Na ABPj é o aluno que planifica a

investigação o que não é exigido no TP – Resposta

incompleta

P4 “… quando se faz um trabalho de projeto também se aprende

com o que se está a fazer. Portanto, … para mim parece ser a

mesma coisa, sinceramente mas admito que o conceito não seja

o mesmo.” - Ambos envolvem aprendizagem - Resposta

incompleta

P5 “…O trabalho de projeto é a preparação, a primeira parte … a

preparação e depois a aprendizagem já é a aplicação do projeto

na sala de aula, diria eu.” –Resposta cientificamente não aceite

P6 “Penso que Trabalho de Projeto teria como objetivo a

Aprendizagem por Projetos (riso) … mas não sei então… não

estou a ver uma diferença específica.” –Resposta

cientificamente não aceite

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246

P7 “P7: Trabalho de projeto é … ok … o aluno está envolvido

desde a conceção, desde a raiz até ao produto final, seja qual for,

seja … esse para mim é o trabalho de projeto… Por aquilo que

eu entendo, está bem? Agora baseado no projeto… eu posso

pegar num projeto que já existe e posso tentar implementá-lo.

Ora para mim é mais válido …

Investigadora: … Para ver se eu compreendi.

P7: Ok.

Investigadora: Na sua opinião, a Aprendizagem Baseada em

Projetos poderá ser …

P7: Para mim é mais limitativo. Se entender … eu conheço um

projeto que foi implementado na escola A. Ok. Vou trazê-lo para

aqui e vou replicá-lo. Os meus alunos vão replicá-lo, vão

trabalhar. Ok. Perceberam as fases todas e vão replicá-lo.

Aprendem mas para mim aprendem mais se são eles a criar …

se são eles de raiz a criar o trabalho de projeto - Resposta

cientificamente não aceite

P8 “P8: A diferença … ora bem, não sei. Num ele aprende com o

projeto, constrói a sua própria aprendizagem … no Trabalho de

Projeto basicamente acaba por ser a mesma coisa, não? Eu estou

a ter dificuldade em perceber o que é que é o Trabalho de

Projeto.

Investigadora: Então o que sente neste momento é que acabam

por ser, traduzir …

P8: Sim, a mesma coisa.” - Resposta cientificamente não

aceite

P9 “Talvez não … Pronto… Se calhar a aprendizagem baseada num

projeto … pronto … penso eu que requer alguma investigação,

não só pela nossa parte mas também pela parte dos alunos …” –

Resposta cientificamente não aceite

P10 “P10: O Trabalho de Projeto para mim é eu dar ao aluno um

projeto. “Olha tens isto aqui”, já com os itens todos que ele tem

que desenvolver. É um projeto de trabalho que pode ser de

pesquisa “Olha faz-me um trabalho”, estou a falar, sei lá, em

Lavoisier e a seguir digo ao aluno, “Olha faz um trabalho”.

Investigadora: É mais limitativo.

P10: É muito limitativo porque depois aparecem aquelas coisas

em que todos escrevem o mesmo. Pronto, acho que limita-lhes a

criatividade….

Investigadora: Para ver se realmente compreendi, o trabalho de

projeto será muito mais orientado, muito mais …

P10: Completamente orientado. Orientado e já ali um

bocadinho, pronto.

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247

Investigadora: E a aprendizagem baseada em projetos já seria

mais livre.

P10: Completamente.” – (Na ABPj é o aluno que planifica a

investigação o que não é exigido no TP) Resposta incompleta

P11 “Para mim trabalho de projeto é o professor “vais fazer isto e

tens que abordar estes temas”, portanto, eles são mais

orientados. Se for uma Aprendizagem Baseada em Projetos se

calhar é mais há descoberta por eles para tentarem chegar a

algum lado. Portanto, se for Aprendizagem Baseada num Projeto

se calhar é mais há descoberta, se for um projeto é mais

orientado para eles darem resposta aquilo que é pretendido. Se

calhar é mais fechado.” – (Na ABPj é o aluno que planifica a

investigação o que não é exigido no TP) - Resposta

incompleta

P12 “Deve haver uma diferença porque o trabalho de projeto cinge-

se só … normalmente a um curto … a um tema ou um curto

espaço de tempo, enquanto que uma aprendizagem baseada em

projetos já tem que estar estruturada para um ano de currículo,

não é?” – (diferença entre ABPj e TP) – Resposta

cientificamente não aceite

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248

Questão Subcategorias Prof. Respostas

7.2 Argumentos

para escolha

opção A

P1 “Há sempre uns que têm uma ideia, outros que têm outra e

que se complementam se houver esse debate de ideias entre

eles… que os ajudam e ao mesmo tempo vão construindo

mais facilmente a resposta ao problema e constroem mais

facilmente o conhecimento… senão houver esse trabalho

colaborativo, se for um trabalho mais individual, sendo um

bom aluno provavelmente chega tão rápido como se for um

grupo de alunos médios mas … senão for um aluno … com

base de conhecimento terá muita mais dificuldade em dar

respostas ao projeto mas…” (trabalho colaborativo) (...)

Porque obriga os alunos a investigar por si … procurar

encontrar um problema (pergunta de condução) e resolvê-

lo por eles e … chegar a uma conclusão (realizar

investigação científica autonomamente), conjunta ao

grupo (trabalho colaborativo), e … depois colocar em

debate com os restantes colegas e … (trabalho

colaborativo) – Resposta incompleta

P2 “… de uma questão problema ou questão central, que a

partir dai depois vamos fazer um mapa e vão …

desfragmentar a questão central é várias pequenas questões.

(Pergunta de condução) (…) diz aqui investigando,

planeando, testando as suas ideias e formulando

explicações baseadas nas evidências e princípios

científicos, ou seja, aqui é a conjugação, interligação com

os conhecimentos que eles trazem face … aquele problema

(realizar investigação científica autonomamente) e ai

depois o professor também tem um papel importante em

ajudar … se vir que os conhecimentos que eles têm não são

suficientes ou eles precisam de conhecimentos já mais

avançados depois pode dizer “essas questões não são da

vossa … faixa etária, então vamos simplificar isso um

bocadinho (investigação orientada). “…portanto, não foi

ela que dava as respostas às perguntas mas no fundo foi um

… professor orientador em todo o processo, que estava aqui

ao lado e se sentissem perdidos a quem podiam recorrer…

(papel orientador do professor) (…) e depois eles tinham

de apresentar um produto final … tal e qual … projeto tem

um produto final e … debatê-los com os outros

intervenientes … (apresentação aos colegas do produto

final) (...) Depois a professora definiu um conjunto de

atividades práticas isto já é muito direcionado (…) Não há

aqui nenhuma incerteza, não há aqui nenhuma procura de

… não há suficiente autonomia dos alunos no projeto….

(reforça necessidade de investigação orientada com

autonomia dos alunos) (…) as competências sociais e as

competências de interação também são avaliadas no

trabalho em projeto, não é só o produto em si; é saber

comunicar, é saber escutar o outro, saber … também

reconhecer quando nós erramos. Isso no segundo caso foi

contornado para evitar este tipo de conflitos … através do

trabalho individual, portanto, isso não é projeto.

(oportunidade de trabalho colaborativo). (...) diz aqui

Page 264: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

249

assim os alunos foram divididos em grupos de acordo com

os seus interesses pessoais, portanto, … num projeto é

fundamental que … temos em consideração o gosto pessoal

do aluno… (...) diz aqui assim os alunos foram divididos

em grupos de acordo com os seus interesses pessoais,

portanto, (…) num projeto é fundamental que … temos em

consideração o gosto pessoal do aluno… (…) porque uma

coisa fundamental nos projetos é a palavra motivação e …

sem motivação vai-se fazendo mas não é aquela coisa de …

ai tenho curiosidade em saber mais sobre o assunto”

(relevância da temática para os alunos) - Resposta

incompleta

P3 “… portanto, serão eles que poderão fazer todo o

planeamento, toda a investigação...digamos assim, a

formulação de hipóteses para a sua explicação… (realizar

investigação científica autonomamente) (...) o papel do

professor é um papel de orientador do processo e não um

papel, digamos assim, de … tem um papel que permite aos

alunos maior liberdade … (investigação orientada) (...) é

muito importante o trabalho de grupo e também é muito

importante serem os alunos a definirem o grupo de

trabalho… (...)

Investigadora: Então diria que é uma característica

importante da Aprendizagem Baseada em Projetos?

P3: Penso que sim … e à medida, digamos assim, que os

alunos vão ficando, ao longo do seu percurso, mais velhos e

mais maduros, digamos assim, eu penso que assume um

especial relevo….” (oportunidade de trabalho

colaborativo) - Resposta incompleta

P4 “P4: No segundo caso … parece mais um trabalho de grupo

do que um trabalho de projeto, sinceramente. Trabalho de

grupo distribui os temas, toda a gente trabalha, o professor

diz agora têm de fazer isto, fazer um PowerPoint com estes

tópicos e tal … e ao fim têm de apresentar à turma.

Portanto, isto parece-me mais um trabalho de grupo do que

propriamente um trabalho de projeto … não há aqui um …

um dinamismo que há na situação A.

Investigadora: A autonomia …

P4: A autonomia … exatamente … a autonomia. (realizar

investigação científica autonomamente) (...) os interesses

… o assunto tem que lhes dizer alguma coisa aqueles

alunos senão … tem que haver ali algum interesse pessoal

da parte dos alunos;… (relevância da temática para os

alunos) (...) … a própria definição do grupo de trabalho é

importante … é obvio que eles têm de saber trabalhar em

equipa com toda a gente mas quando eles próprios podem

organizar a sua equipa de trabalho é mais eficiente, do meu

ponto de vista…”. (oportunidade de trabalho

colaborativo) - Resposta incompleta

P5 “… o que os projetos … o que se pretende hoje é que cada

vez mais o aluno, cada vez mais cedo seja independente,

seja capaz de fazer, seja capaz de ser … até autodidata e,

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250

portanto, os projetos, imagino eu, devem seguir por esse

caminho.” (realizar investigação científica

autonomamente) - Resposta incompleta

P6 “Agora, se calhar será mais a A … não sei … pronto. Eu

acho que a A é muito aliciante. Acho que é impraticável em

… com alguns tipos de alunos.” – Não apresenta

argumentos para a sua escolha

P7 “…. Total liberdade para escolherem grupos. (…) a questão

de … de os grupos serem feitos por mim, que eu não faço.

Acho isso … até porque há alunos que têm afinidades de

trabalho … eu quando trabalhava em grupo, eu gostava que

me permitissem deixar trabalhar com quem eu… porque há

afinidades mesmo, de feitios, com quem nos identificamos.

(oportunidade de trabalho colaborativo com formação

de grupos pela afinidade) (...) eu aprendo muito mais

quando é meu interesse aquela temática ou aquilo que me

estão a … (relevância da temática para os alunos) (...)

sempre apoiados, eu estou por detrás, orientando mas nunca

… respondendo … entende … aqui diz mesmo a professora

orientou os alunos, questionando, orientando, intervindo …

mas de uma forma a nunca pisar a liberdade deles de

poderem trabalhar. (...) eu não defino as atividades, eu

posso orientar mas eles é que definem o que querem

fazer…” (investigação orientada) - Resposta incompleta

P8 “… como os grupos foram feitos eles podem ter calhado

num grupo com colegas com os quais não estão … não têm

mais à vontade ou com os quais é mais difícil de trabalhar e

isso torna-se uma vantagem na situação A porque os alunos

é que formaram esses grupos a … e partilham do mesmo

interesse, não é? e … e quando é assim, na minha opinião,

os alunos tornam-se mais participativos e o interesse é o

ideal porque … o grupo funciona como motivador para

todos os alunos.” (oportunidade de trabalho colaborativo

com formação de grupos pela afinidade) (...) respeita a

… os interesses pessoais dos alunos e com isso faz com que

nenhum se sinta excluído… (relevância da temática para

o aluno) (…) Escolhi a situação A por outro motivo, é que

parece-me que os alunos formulam as suas próprias

questões, não é? (Pergunta de condução) Como trabalhar

aquele tema da melhor forma, investigam e planeiam e

testam as suas ideias.” (realizar investigação científica

autonomamente) (…) portanto, a professora não impõe

nada, não parece que direcione o estudo, que direcione o

projeto em si, os alunos são livre e tornam-se em

aprendizagens mais efetivas, a meu ver, porque não foi

nada imposto, foi algo que eles acharam necessário para

chegar a bom porto, não é?” (investigação orientada) -

Resposta incompleta

Argumentos

para escolha

opção B

P9 “…o facto de todos eles terem que abordar os mesmos

temas … se calhar … vamos aqui ao encontro de várias

ideias, enquanto que na A já não.” (estudo dos mesmos

temas em simultâneo) (...) até se calhar mesmo para o

próprio professor … terá um trabalho mais fácil, conseguirá

… na minha opinião … se surgir uma dúvida que às vezes é

Page 266: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

251

comum a todos … ele puder explicar (trabalho facilitado

para o professor) - Resposta cientificamente não válida

Argumentos

para escolha

opção A

P10 “… o aluno é autónomo, lá está o professor tem um

trabalho orientar.” (investigação orientada) (...)

Desenvolvo o aluno, o aluno aprende mas aprende como ele

acha que tem que aprender (…) (realizar investigação

científica autonomamente) (…) nunca mais se vai

esquecer daquele problema que ele escolheu como

relevante …” (Pergunta de condução) – Resposta

incompleta

P11 “Na A. Na B é apenas… fazer um projeto, um trabalho de

grupo, em que a professora definiu tudo que é preciso fazer

e responder, portanto, um trabalho mais fechado. Portanto,

é isso.“ (realizar investigação científica autonomamente)

- Resposta incompleta

P12 “Para mim é a A. Aliás, eu acho que não funciona na B …

quando o tema é igual para todos … quando eles

investigam todos e o tema é igual para todos depois na

apresentação torna-se muito massudo (...) e ser de acordo

com os interesses dos alunos, eles motivam-se mais e fazem

um trabalho melhores. Na minha experiência é assim,

quando eles gostam, quando se empenham e lhes damos

alguma liberdade e … e eu acho sempre … na minha

opinião, eu deixo sempre que eles se agrupem conforme os

seus interesses.” (relevância dos temas para os alunos) -

Resposta incompleta

Page 267: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

252

Questão Subcategorias Prof. Respostas

8. Razões para o

uso do

computador na

ABPj

P1 “… é uma fonte no qual eles podem buscar mais

informação atualizada” – fonte de informação

P2 “…perguntas práticas que surgem e depois através da

pesquisa orientada e inteligente encontramos respostas que

já foram colocadas por outros alunos, por outros … por

exemplo, problemas de informática “vamos ver como é que

se faz”. Eles aprendem a trabalhar com o computador como

uma ferramenta de apoio.” – fonte de informação

P3 “… quando os alunos pensam num trabalho de investigação

automaticamente eles pensam na pesquisa na internet muito

mais até do que nas bibliotecas e … outros meios mais …

digamos assim … táteis e mais físicos que a gente

provavelmente estaria mais habituada a utilizar.” – fonte de

informação

P4 “…Não … de facto eles são muito desorganizados nesse

processo da pesquisa e … na busca da informação mas à

parte disso, que é outra coisa, não é? Não tem a ver com o

trabalho de projeto em si… acho que o computador é uma

ferramenta mas …” – fonte de informação

P5 Neste momento, neste momento nós nunca mais podemos

pensar que os computadores estão fora. Os computadores

têm que estar presentes seja ele como for. (…)Portanto, e

impensável … os computadores têm que estar porque a

vida dos nossos filhos, dos nossos netos não vai ser

diferente e, portanto, temos que dominar a máquina.” -

Acompanhar a evolução tecnológica

P6 “…mas é óbvio que tendo um computador ligado à internet

… a diversidade de informação que vamos obter será muito

maior. Portanto, eu acho que … num ensino baseado em

projetos terá que haver sempre a presença da … do

computador ou de outro recurso qualquer da … pronto mas

acho que não fazia sentido deixar de fora.” – fonte de

informação

P7 “… devem usar como ferramenta da pesquisa, como … até

para depois elaborar os trabalhos, não é?” – fonte de

informação e elaboração do trabalho escrito

P8 “… mas que os alunos têm que saber usá-lo porque a

internet … tem muita informação fidedigna mas também

não tem. Portanto, obriga-os a fazer uma triagem daquilo

que vêm através da internet e dos meios de comunicação

em geral, não é?” – fonte de informação

P9 “… é uma ferramenta que está ali à mão, não é? … e

depois … ao mesmo que pode estar a trabalhar para o

projeto, pode estar a investigar … portanto, penso eu, que é

… portanto … está a rentabilizar tempo … e ao mesmo

tempo … a construir o seu próprio trabalho.”- Rentabilizar

o tempo e elaborar o trabalho escrito

P10 “Eles têm um trabalho de pesquisa que é muito mais rápido,

que é muito mais apelativo se for com um computador

Page 268: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

253

porque a gente não se pode esquecer que é assim …” –

fonte de informação

P11 “Para procurar diferente informação, portanto, não se

ficarem limitados ao livro.” – fonte de informação

P12 “Porque atualmente é uma ferramenta que não

dispensámos. Ninguém… quase … todas as profissões

agora utilizam. Nós utilizamos muito, os professores, e eles

também acho que devem utilizar e saber utilizar.” -

Acompanhar a evolução tecnológica

8.1. Tipos de

programas uteis

na ABPj

P1 “… Para nós é importante a parte de tratamento de gráficos,

o excell … com o objetivo de tratar os dados … depois … o

word não é? para escrever …” – word, excel (tratamento de

dados + (elaboração de produtos finais)

P2 Google – “… temos de consultar fontes fidedignas que nos

garantam que a informação científica tem valor e qualidade,

por isso, também existe nos próprios sites …” (fonte de

informação)

Youtube – “… Depois o Youtube também é uma

ferramenta bastante útil em que há explicações, no entanto,

… com a parte crítica atrás.” (fonte de informação)

Word, excel, PowerPoint – “…o Word, o Excel é a análise

Matemática de experiencias, por exemplo, é fundamental o

Excel, o Word (tratamento de dados + elaboração de

produtos finais). O PowerPoint depende se depois querem

fazer uma apresentação oral também com poucas

animações, muita clareza e também há diretrizes

específicas,…” (elaboração de produtos finais)

Publisher – “…fazer um poster também é importante.

Existe o próprio Publisher …” (elaboração de produtos

finais)

Movie Maker – “…trabalho com o Movie Maker para

fazer filmes…” (elaboração de produtos finais)

P3 Google – “Nomeadamente os motores de busca assumem

um papel fundamental nesta situação … desde o Google, ao

Yahoo, se bem que agora o que se usa mais é o

Google…”(fonte de informação)

P4 Word, PowerPoint – “Aqueles programas de processador

de texto, … o programa de fazer as apresentações … há

vários, não é? Mas os mais usados são o Word, o

PowerPoint, as similares com acesso livre, sem licença,

…”(elaboração de produtos finais)

Movie Maker – “… já há alunos que fazem uso dos

editores de vídeo também para preparar as apresentações…

já trabalham algumas imagens, já editam algumas imagens

também.” (elaboração de produtos finais)

Excel – “I: O Excel por exemplo porque …

P4: … Para tratamento de dados, elaboração de gráficos,

tabelas e essas coisas todas…”(tratamento de dados)

P5 Youtube – “Nós temos … temos, às vezes temos vídeos,

eles podem ver e ficam esclarecidos mas se, por exemplo,

fossem eles a fazer era muito melhor. Às vezes eu mostro

um vídeo sobre os indicadores em que aquilo é muito

bonito, é uma coisa que é simples …” (fonte de

informação)

Page 269: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

254

Programas de Física – “…programas de som, de … que

substituem … até porque os programas … nós facilmente

vamos buscar programas à internet … são gratuitos e que

nos evitam comprar materiais tão caríssimos. (…) Temos o

osciloscópio que é sempre … porque se nós tivéssemos de

comprar um osciloscópio nunca o teríamos…” (fazer

experiências)

P6 Youtube – “Sim, simulações no Youtube, vídeos. Aliás a

gente quer aprender uma atividade experimental antes de …

isso eu já cheguei a fazer com os alunos, antes de

realizarmos vamos visualizar no Youtube, por exemplo, ou

aquelas que eu acho que não há condições, por motivos

diversos, vamos visualizar, recorrer ao Youtube e vamos

ver várias formas de fazer…” (observar experiências)

P7 Excel – “…Excel para tratamento de dados … A parte

gráfica toda, toda a parte gráfica é feita mas isso eles usam

muito o Excel …”(tratamento de dados)

Google – “…a parte de texto obviamente usam aquilo que

já é, usam todos os motores de busca, usam isso tudo que

…”(fonte de informação)

Software associado aos sensores – “…softwares

associados aos sensores que usamos movimento, som nas

atividades experimentais ao nível do 10.º e 11.º e no 12.º

eles usam depois usam um software que às vezes é o

próprio para aquele sensor e aprenderam a trabalhar com

ele.” (registo e tratamento de dados)

P8 Programas de Física – “… podem fazer experiências e

utilizar por exemplo o Audacity que é um programa de

som, podem dinamizar de maneira diferente. (fazer

experiências)

Programas para programar autómatos – “… por

exemplo se for um projeto que envolva automação todos

eles passam por computadores, por autómatos … e,

portanto, os autómatos, daquilo que eu sei, têm que ser

programados utilizando o computador.” (fazer

experiências)

P9 Google – “Por exemplo, e agora no Google, eles usam

muito a pesquisa … também convém … orientá-los para os

sítios na internet…” (fonte de informação)

PowerPoint

P10 Word – PowerPoint – “Depois … além de terem que fazer

as pesquisas e não sei quê vão ter que apresentar … vão ter

de criar um documento. Ok. Vão ter que saber Word, vão

ter que saber PowerPoint …” (elaboração de produtos

finais)

P11 Google - Word – PowerPoint – “A internet para a

pesquisa. (fonte de informação) Depois Word para fazer o

trabalho e o PowerPoint para fazer uma apresentação.”

(elaboração de produtos finais)

P12 Google – Word – Excel – PowerPoint - “É assim para

mim eles têm que saber trabalhar no Excel (tratamento de

dados), Word, utilizar para depois apresentar o PowerPoint

(elaboração de produtos finais), e depois os motores de

busca para conseguirem pesquisar.” (fonte de informação)

Page 270: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

255

9 Outras

tecnologias

utilizadas na

ABPj

P1 “… é assim … na área das engenharias mas … eu

pessoalmente não sei quais são os nomes que possam

designar … que eles trabalham, que os possam ajudar, não

é? Não estou a ver …” – não sabe

P2 Smartphone – “…eles fizeram download e conseguiram lá

uma máquina calculadora cientifica no smartphone.”

Câmara de filmar – “Vídeo Análise, ou seja, filmagem

que depois vamos, portanto, com uma máquina básica com

30 imagens por segundo podemos analisar movimentos e

fazer a análise de movimentos que é muito importante na

parte da Física, da Cinemática, o movimento

estroboscópico.”

Sensores – “…sensores, nomeadamente, por exemplo, com

o acelerómetro depois … mais coisas … já vai alguns

anos… agora não me lembro bem mas trabalhei bastante

com sensores. Medições de temperatura, de humidade, de

pH, de oxigénio … portanto, mesmo a escola tem de ter

feito um investimento … os sensores são ferramentas.”

P3 Sensores – “…Hardwin ou sensores … todo o tipo de

sensores que são, digamos assim, utilizados com essa

plataforma …”

P4 placas programáveis

tablet

Smartphone – “… já usam os telemóveis para fazer

registos de imagem ou fotografia, para fazer download de

algumas aplicações que já correm nos telemóveis e

permitem medir … por exemplo há uma que eu uso em

Física para medir … que é de instalação no telemóvel …

dados de aceleração, inclinação, … orientação, bússola …

isso, tudo isso é muito útil para estes projetos…”

P5 Tablet e telemóvel –

“I: Portanto, os tablets e os telemóveis ajudam …

P5: Na partilha de informação … sem dúvida nenhuma,

sem dúvida nenhuma e não é uma preocupação a gente

esquecer de entregar uma coisa fisicamente, que ela vai ser

visualmente entregue no primeiro momento que seja

possível.”

P6 Não deu exemplos –

“I: Mas outros … outro tipo de tecnologia … que pudesse

ser usado na ABPj. Não recorda nenhum que possa ser útil?

Quando digo tecnologia pode ser qualquer equipamento.

Sugeri o telemóvel mas como o telemóvel qualquer

equipamento eletrónico. Um aparelho digital que possa ser

útil?

P6: Não. De momento não me recordo de nenhum. Não.”

P7 Máquina gráfica – “Eles têm máquinas gráficas, não é?

Calculadoras … eu acho que elas são extremamente úteis

… porque se vamos para campo, por exemplo, se vamos

para um trabalho de campo… nós às vezes vamos com o

computador atrelado mas as máquinas gráficas fazem um

trabalho similar, similar.”

Page 271: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

256

Sensores – “…com sensores, eles têm muitas das vezes,

muitas e sempre, um software associado mas passa

primeiro por um dispositivo e eu … aquilo que faço, eu

faço questão que eles aprendam a trabalhar também com

aquilo mesmo que vão trabalhar uma ou duas vezes e não

vão trabalhar mais…”

Smartphone – “Mesmo às vezes há testes de resposta …

autocorretivos e que se faziam. Eu não me importava nada

de dizer “descarreguem rapidamente…”, não posso

fazer…”

P8 Tablet e Smartphone

P9 Smartphone – “P9: …lhes dizer o que devem ou não

procurar ou como aplicar as aplicações do telemóvel, como

usar as aplicações do telemóvel …

I: Portanto, um exemplo de tecnologia referiu o telemóvel

… e em quê que o telemóvel pode ser útil?

P9: Pronto, para já na própria pesquisa … e depois terá

aplicações provavelmente que … por exemplo … analisar

ou usar o telemóvel … por exemplo estamos a estudar o

estudo da variação da velocidade…”

P10 Não propõe outras tecnologias –

“I: Em relação há Aprendizagem Baseada em Projetos tem

algumas reservas.

P10: Tenho. Essa do telemóvel não …

I: E recorda-se de mais alguma tecnologia que possa ser útil

nesta aprendizagem?

P10: Não.”

P11 Sensores – “Estou a lembrar dos sensores para se eles

quiserem fazer … as tais atividades para experimentar

alguma coisa. Portanto, é sempre uma mais-valia para eles

verem na prática como as coisas funcionam.”

Smartphone – “mas os telemóveis de agora são

basicamente mini computadores, portanto, o que o

computador faz, o telemóvel faz, por isso…”

P12 Smartphone – “O telemóvel, na forma como utilizam, é

como se fosse um computador, não é?...”

Smartphone e tablet –

“I: O telemóvel e o tablete teriam um papel quase de

substituição do computador.

P12: Eu acho que sim e eles até têm muito maior facilidade

em manusear do que … não é?”

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257

Questão Subcategorias Prof. Respostas

10 Objetivos da

ABPj na

Educação em

Ciências

P1 “… Permite que eles adquiram, desenvolvam outras

capacidades que … por uma área de investigação, mais

prática, que …” – desenvolver as capacidades inerentes a

uma investigação

P2 Autonomia – “… posso dizer que é … o aluno é

confrontado com uma questão problema e ele é que, com os

conhecimentos que tem e recursos disponíveis, com um

certo grau de autonomia tem que encontrar respostas a

essas questões … o que é comparável a situações futuras no

trabalho, por exemplo.”

Lidar com o erro – “…o aluno aprende a errar … porque

faz parte ele enganar-se e reconhece que … a tentativa erro

faz parte e …”

Perseverança – “Aqui conseguimos distinguir bem aqueles

que já têm autonomia, que têm força de vontade porque há

aqui outros componentes que são importantes numa

Aprendizagem por Projeto e … que se motivam,

entusiasmam pelas coisas.”

P3 Autonomia – “Desde logo a capacidade de trabalho

autónomo que é fundamental é uma ferramenta que eles

provavelmente irão utilizar ao longo da sua vida …”

Capacidade de investigar

Aprendizagem mais significativa – “… os conhecimentos

sejam mais significativos uma vez que são eles que os

produzem e … se forem eles a produzir e a chegar lá …

mesmo a nível de capacidade de memorização dos mesmos

e a capacidade de não esquecimento dos mesmos acaba por

ser potenciada porque foram eles que os construíram e,

portanto, para eles vai fazer sentido, não têm que os

decorar…”

Desenvolver competências de trabalho cooperativo –

“…questão do trabalho cooperativo e da capacidade de

promover um eficaz trabalho de grupo e o relacionamento

interpessoal …”

P4 Estabelecer uma relação entre a teoria e a prática - “…

essencialmente faz uma ligação entre a teoria e a prática,

concretiza os conceitos teóricos que eles aprendem…”

P5 Autonomia – capacidade de investigar – “Para mim é a

autonomia, sem dúvida a autonomia e o desenvolvimento

de capacidades, de potencialidades vai ser … como não é

um ensino dirigido, só por exposição em que o aluno está lá

e ouve, não o aluno é ensinado a ir procurar mais, o aluno é

ensinado a … sozinho descobrir o que tem de aprender.”

P6 Autonomia – alternativa ao ensino tradicional – “… bem

eu acho que sobretudo os principais objetivos de uma

aprendizagem por projetos é sobretudo fugir do ensino

tradicional e sobretudo dar liberdade e autonomia a … aos

miúdos…”

P7 Autonomia – pensamento crítico – “Autonomia,

autonomia … espirito critico, capacidade de perceber o que

eu quero, o que eu quero, o que não quero saber, o que não

Page 273: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

258

é importante, o que é prioritário agora, o que é prioritário

acolá, portanto, autonomia, sentido crítico ou espirito

crítico neste sentido de … não é? … de selecionar

informações e … é assim, quando eu falo em espirito

critico já envolvo tanta coisa mas …”

Capacidade de investigar – “P7: … … este crescer no

saber, isto é, eu quero aprender isto mas para aprender isto

eu tenho que aprender primeiro então eu vou … como é que

eu lhe hei-de explicar …

I: A estruturar …

P7: Exato, se quiser. É isso mesmo. Eu tenho de ter o meu

pensamento estruturado, pronto. Organizado, portanto, …

dá-me a sensação que aprendendo desta maneira eles

aprendem a ser mentalmente estruturados, se assim

podemos chamar, organizados,…”

Assertividade – “…muito mais assertivos porque estão

direcionados para aquilo que gostam, portanto, são muito

mais assertivos naquilo que fazem …”

P8 Criatividade - Aprender a fazer – “Ora acima de tudo a

inovação porque eles aprendem a inovar e a concretizarem,

não é? … e a conceberem algo, não é?”; “A inovação e a

implementação e acredito que no futuro … a capacidade de

estes alunos terem para construírem algo efetivamente.

Estou a falar mesmo em termos empresariais, não é?”

Respeitar a individualidade – “… fazer as suas próprias

aprendizagens, no seu timing e de acordo com os seus

interesses, não é? …”

P9 Relacionar a teoria com a prática – “…nesta fase, 3.º

ciclo, principalmente, há muitos alunos e este ano já ouvi

“mas para que eu quero saber da Física ou da Química?”.

Se calhar pegar em projetos do nosso dia-a-dia para eles

poderem trabalhar, analisarem, se calhar ajuda-os a

entender melhor porque é que temos este tipo de

disciplinas, não é?...”

P10 Autonomia e pensamento crítico – “…o desenvolvimento

do espírito crítico, que é isso que é preciso em Ciências,

autonomia que é precisa em todas … é uma forma

transversal.”

Curiosidade – “…quanto mais desenvolvido estiver o

espírito crítico, mais o aluno se interessa em descobrir o

porquê, porquê que isto acontece, porquê que aquilo

acontece e ele próprio investiga…”

Aprendizagens mais significativas – “ … e é uma

aprendizagem duradoura, não é aquele de decorar porque

tens um teste para fazer ou tens um exame para realizar.”

P11 Autonomia - “Principalmente a … o método de descoberta,

serem eles a chegar lá. (…)Portanto, logo ai era um ganho

para os alunos, o serem eles a chegar, o serem eles a

descobrir.

Aprendizagens mais significativas – “Já se sabe que

quando são eles a chegar lá, a aprendizagem é mais

Page 274: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

259

consolidada.”

Trabalho colaborativo – “Portanto … ainda por cima se

for em grupo … há uma entreajuda entre eles e então o

ganho é sempre maior.”

P12 Autonomia e motivação – “…estejam muito mais

motivados para a aprendizagem. Torna-os mais autónomos

(…)Pronto, eu acho que sim. Que é uma motivação que eles

têm, que eles adoram mexer e dá-lhes autonomia, ficam

mais autodidatas …”

Page 275: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

260

Questão Subcategorias Prof. Respostas

11 Papel do

professor na

ABPj

P1 Colaborar com os alunos apoiando-os na pesquisa – “…

é estar muito bem preparado para ajudar a … pesquisar e a

fazer essa colaboração com eles.”

Criar as condições para os alunos investigarem – “Tem

de ser alguém que crie outras dinâmicas, outras estratégias

de … trabalho para os alunos, de forma a terem condições

de poderem fazer esse estudo, dessa investigação, desde o

espaço, a recursos materiais, a … de tempo definido

também … para eles poderem ter tempo de poderem

elaborar, pesquisar e apresentar.”

P2 Promover a reflexão do aluno – “… o papel do professor

é questioná-los, confrontá-los com as afirmações que

fazem, se fazem sentido … fazem sempre sentido mas

questioná-los sempre numa lógica de … de ajudar, de não

… não trazer aquelas coisas negativas, não … por que é que

fizeste isso? Muito bem. É confrontá-los, questioná-los, pô-

los a pensar …”

Orientar no processo de investigação – “… corrigir

quando é preciso e esclarecer o porquê da correção e … no

fundo é … tipo … levar o “barco ao bom porto”, no bom

sentido. Não é “faz assim, faz assim”, não … questioná-los.

Ele propriamente vai encontrando as respostas com a nossa

ajuda.”

Colaborar com os alunos na gestão de conflitos entre

pares – “… depois há também a parte … em que os

elementos do grupo às vezes também … tem de se gerir a

parte humana porque também é muito importante “ai este

não fez!”, “este fez, como é que fez?”, “não faz nada!”, ou

seja, fazer-lhes ver que num trabalho de projeto não

podemos fazer medições ao … quantitativas exatas do

contributo de cada um deles, uns são melhores numa coisa,

outros são melhores naquilo, ou seja, há aqui uma grande

complementaridade em termos de competências, tento

sempre lhes dizer isto.”

P3 Orientar no processo de investigação – “Neste sentido

temos que lhes mostrar, digamos assim, para onde é que

eles podem seguir … ao longo do percurso que eles forem

fazendo também podemos ajudá-los a perceber que há

algumas “estradas” que estão fechadas (…) e dizer,

provavelmente isso não é a melhor ideia… não vás por ai

porque vais encontrar obstáculos que não vais conseguir

resolver ou porque na nossa escola não temos essa

tecnologia ou porque simplesmente isso ai nunca ninguém

o fez e não vai ser possível (…) um guiar mas um guiar

com grande liberdade de movimentos, ou seja,

simplesmente impedir que eles vão para os caminhos que

nós já sabemos à partida que são errados e que temos de

tentar voltar a pô-los no caminho certo mas deixa-los

construir o conhecimento.”

P4 Orientar no processo de investigação – “… papel do

Page 276: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

261

orientador não do fazedor, aquele que vai executar o

projeto. (…) tem de definir o rumo do projeto, o trabalho

que o grupo tem de fazer mesmo, mesmo até participar um

pouco na divisão de tarefas, orientar, ver qual é o aluno que

tem mais perfil para fazer uma coisa, que tem mais perfil

para fazer outra… mesmo até ajudando-os a … a escolher

caminhos alternativos, experimentar outras coisas ou

aprender com os alunos mesmo, muitas vezes isso acontece

…”

P5 Orientar no processo de investigação – “É orientar. É

ajudar nos momentos em que o aluno não está a conseguir

avançar. (…)Se o aluno precisa do professor, ele está lá

para puder continuar a trabalhar, só.”

Monitorizar o trabalho dos alunos – “… e monitorizar o

trabalho do aluno, ver e só intervém quando o aluno está

com dúvidas, portanto, o aluno é ativo. “

P6 Monitorizar o trabalho dos alunos – Orientar no

processo de investigação – “No ensino por projeto, eu

penso que o professor sairá um bocado desse papel, ou seja,

lança a problemática, dá umas orientações mas depois passa

a ser muito mais … apenas … não é apenas porque eu acho

que continua a ser um papel muito importante mas muito

mais de feedback também, de … ir supervisionando, de ir

vendo o que é conseguido, ir dirigindo, orientado.”

P7 Orientar no processo de investigação – “…o papel do

professor a meu ver é orientar, é caminhar ao lado. (…)Ok,

encontraram a primeira dificuldade e o professor está lá.

Para quê? Não é para lhes tirar as pedras do caminho. Não é

para dizer “não vão por ai”, não. “Olhem mas pensem lá,

mas vocês acham mesmo … será assim? Não poderá ser

desta maneira?”, orientar.”

P8 Explicar os conteúdos científicos quando solicitado pelo

aluno – “Meramente orientador, meramente orientador.

(…)O professor poderá eventualmente ajudar mas é o aluno

que procura o professor, é o aluno que diz “eu esta parte

não compreendo, não tenho os conhecimentos de Química

ou de Física necessários” e ai o professor nessa fase porque

o aluno está interessado e porque o aluno precisa daquela

parte para prosseguir o seu projeto, o professor explica, não

é? Claro que o aluno até pode procurar compreender

sozinho, isso seria … ser autodidata é sempre bom, não é?”

P9 Orientar no processo de investigação – “De apoio, de

orientador. Serem os próprios alunos a pesquisarem e a

realizarem … o projeto todo em si. O professor está ali

apenas como uma base de apoio, quando surge alguma

dúvida para eles poderem … porque acho que obriga os

alunos, não é? … a procurar por eles próprios, a … penso

eu que a desenvolverem um bocado … o seu espirito

critico, de pesquisa, de autonomia…”

P10 Orientar no processo de investigação – “Acho que já

disse isso é mesmo orientador. (…)“Olhem estou aqui, se

vocês precisarem de alguma ajuda eu dou”. Até pode achar

Page 277: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

262

que eles estão a ir pelo caminho completamente errado mas

tem que os deixar ir porque eles têm que aprender que

afinal não era assim e têm que ir por outro caminho.”

P11 Orientar no processo de investigação – “O papel do

professor é auxiliar, portanto, dar algumas “pequenas

ajudas”, coloca-los no caminho certo mas nunca sendo o

professor a … a dizer o que devem fazer, sei lá, às vezes

uma chamada de atenção se eles se começarem a afastar

muito daquilo que é pretendido…”

P12 Orientar no processo de investigação – “É mesmo

orientar, tentar que eles consigam ter melhor rendimento

possível com as ferramentas que têm. Orientá-los para que

eles não se … podem começar a desviar muito do tema

porque há muita informação que é possível aceder, não é?

na internet. É mais orientar para eles se focarem mais no

que devem aprender e pesquisar e … tentar compreender,

não é?”

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263

Questão Subcategorias Prof. Respostas

12 Possíveis

dificuldades dos

alunos na ABPj

P1 Planear a investigação - “É assim … no início como não

está preparado nessa metodologia de trabalho vai …

recorrer mais, provavelmente, ao professor … para se

conseguir orientar, à partida …”

Tratamento dos dados recolhidos – “… a parte deles

interpretarem ou analisarem a recolha ainda vão

conseguindo fazer, a dificuldade às vezes passará

exatamente por ai … como tratarem a informação que

recolheram.”

P2 Escolha da temática – “Às vezes na escolha da temática,

começa logo por ai. A escolha de um tema que exige …

portanto … exige a aquisição de materiais ou equipamentos

que a escola não tem, por exemplo, começa logo por ai…”

Planear a investigação – “Depois de escolhida a temática

é dificuldade na planificação que é … quem não está

habituado a fazer, fazer uma planificação.” “…

desconhecimento científico face ao projeto que eles se

propõem a fazer.”

Gestão das relações interpessoais – “Outra dificuldade é

os elementos do grupo na sua interação, não se darem bem,

que é a parte social que o professor tem sempre que gerir.

(…) Depois … gerir … gerir é um dos problemas porque

um faz e os outros 2, 3 não fazem, fazem pouco ou nada,

“encostam-se”… isso é um problema.”

Cumprimento de prazos – “… os prazos. Portanto, não

cumprimento dos prazos e … essas são as dificuldades…

cumprimento do prazo.”

P3 Onde e como procurar informação – “As dificuldades

iniciais têm muitas vezes a ver com o saber onde ir buscar a

informação (…) numa fase inicial isso verifica-se pois eles,

muitas vezes, propõem temas que gostavam desenvolver

mas depois não sabem onde é que vão procurar informação

sobre isso (…)… não têm a capacidade de entrar num

motor de busca como o Google e não sabem escolher as

palavras-chave corretas..”

Planear a investigação - “… no início como não está

preparado nessa metodologia de trabalho vai … recorrer

mais, provavelmente, ao professor … para se conseguir

orientar, à partida …”

Elaboração do produto final – “Outra coisa que eles

muitas vezes também têm dificuldade é, eles gostam muitas

vezes de fazer as partes experimentais mas depois têm

alguma dificuldade em passar para o papel, por exemplo,

quando querem fazer uma apresentação, passar aquilo que

fizeram … digamos assim, alguma dificuldade na síntese

do trabalho.”

P4 Autorregular o desenvolvimento processo de

investigação – “Portanto … dificuldade principal é eles

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264

sentirem-se “perdidos”. A certa altura sentem-se perdidos,

não sabem por onde ir. Portanto, o professor tem de estar ai

nesse momento e dizer “olha, façam isto. Só têm de fazer

isto e depois vemos o que é que dá”… pronto …

normalmente o professor tem uma visão mais abrangente,

está a ver o problema “mais de cima”, os alunos só … surge

ali uma barreira e não sabe como transpor aquilo mas o

professor já sabe.”

P5 Planear a investigação – “: É assim … se não estiverem

habituados, no início é sempre mais difícil. (…)Se um

aluno lhe custa a arrancar com o trabalho, nós, numa

primeira fase, a orientação tem de ser maior mas depois

acaba, pelo hábito, acaba por … por chegar a um ponto em

que os alunos atingem mesmo a capacidade e autonomia

desejada.”

P6 Planear a investigação – “É um bocado do género do que

se passa com o professor porque eu acho que … que a

mesma coisa que o professor sente se lhe for pedido um

tipo de trabalho de investigação por projeto, sobretudo

porque não tem feito propriamente, não é? Logo também

não está habituado a um tipo de trabalho dessa forma e …”

Gestão do sentimento de frustração – “… num trabalho

de investigação por projeto, em que sejam deixados de

forma mais livre, podem apresentar muitas dificuldades,

sentirem-se muito mais perdidos, muito mais desapoiados,

dar asas a que surjam comportamentos menos apropriado.”

P7 Falta de autonomia - “não são autónomos, não fazem nada

sem “oh professor, mas oh professor…”, não; não têm

autonomia, não têm uma … um pensamento … estou a

falar de uma forma genérica (…) eles não são autónomos,

não fazem nada que o professor não veja primeiro se podem

fazer, que o professor não diga primeiro que sim, que o

professor… pronto.”

Planear a investigação - “Muito pouco organizados

naquelas cabeças, muito … pouco estruturada … o

pensamento deles é muito pouco estruturado …”

Falta de pensamento crítico – “Falta-lhes o espirito

crítico. Qualquer resultado que eles obtenham, fantástico.”

P8 Planear a investigação - “…eu acho que os alunos atuais

nem sequer conseguiriam a … pegar no tema, no objetivo e

traçar um … um caminho, um … como é que hei-de dizer

… delinear os passos que têm que desenvolver até chegar

aquele objetivo, ou seja, compartimentar em pequenos

objetivos para que depois de compartimentados puderem

atingir o grande objetivo, o projeto final.”

P9 Planear a investigação – “A planificação do trabalho.

Penso que se eles tiverem uma planificação do trabalho,

acho que a partir dai já conseguem … fazer até as coisas

sozinhos e o professor só a ter mesmo o papel de orientador

…”

P10 Falta de responsabilidade na sua aprendizagem - “… a

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dificuldade era eles concentrarem-se e levarem aquilo a

sério. Levarem aquilo como uma aprendizagem porque a

aprendizagem para os alunos que nós temos hoje em dia é a

tal coisa … aulas expositivas, é na véspera do teste

chegarem à aula e tirarem dúvidas, é fazerem o teste e

esquecerem aquilo tudo.”

Falta de criatividade – “…não estão a ser educados para

… para serem criativos, para serem eles a fazer as

coisas…”

P11 Falta de autonomia – “… a dificuldade que eles terão em

compreender ou perceber que têm que ser eles a trabalhar

para chegar a algum lado porque estão habituados a os

professores darem tudo já feito e mesmo assim eles não

aproveitam. Portanto, mudar a perspetiva, se calhar, a

mentalidade, é … para mim é o principal problema.”

Gestão das relações interpessoais – “Principalmente, acho

eu, haverá logo uma discussão sobre … o que é que devem

pesquisar, depois cada um vai pesquisar umas coisas e

depois se calhar vão achar que as coisas que eles pesquisam

é que são as realmente importantes. Depois ainda há

aqueles que não pesquisam nada e vão-se encostar à sombra

do trabalho dos outros … portanto, aqui há sempre o

trabalho dito de grupo não quer dizer que todos trabalhem.

Pronto, ai é um dos principais problemas. Depois outro

problema será o consenso entre eles que às vezes não é

fácil.”

P12 Selecionar a informação relevante para a investigação –

“…É o conseguir selecionar a informação, de se orientarem

e não se perderem com outra … com outros temas e … sair

do âmbito…”

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266

Questão Subcategorias Prof. Respostas

13.1 Razões porque

os professores

não

implementam a

ABPj

P1 Desconhecimento do método de ensino - “… porque não

… não tinha visto coisas assim talvez por isso não me

tivesse motivado para iniciar uma situação deste género …”

Recursos materiais disponibilizados pelas editoras não

incentivam o uso deste método de ensino - “…a parte dos

recursos que nós temos das editoras e … que nós vamos

consultando os manuais e não vão muito neste sentido …”

P2

P3

P4 Falta de iniciativa para o usar – “… nunca houve aquela

predisposição para… para chegar aquele momento e dizer

“vamos fazer desta maneira”…”

Desconhecimento dos alunos do método – “”… por ser

também “fora” do que os alunos estão habituados …”

Falta de tempo para preparar as atividades – “… muitas

vezes por falta de tempo para preparar este tipo de

atividades… isto dá muito trabalho para preparar uma coisa

dessas …”

Recursos materiais disponibilizados pelas editoras não

incentivam o uso deste método de ensino – “… muitas

vezes é falta de recursos didáticos para (…)ainda hoje os

professores têm a sorte de ter o apoio das editoras que

ajudam muito … nos materiais, nos recursos. Agora nunca

… não é muito fácil de encontrar nesses materiais coisas

deste género … era melhor.”

P5 Turmas com muitos alunos – “… e tinha de ser com

grupos muito mais pequenos não há duvida e …”

Especificidade das matérias – “Aqui as matérias têm

bastante especificidade, se calhar torna-se muito mais

difícil …”

Falta de tempo letivo – “… Portanto, o não aplicar nestes

moldes, portanto, a Aprendizagem Baseada em Projetos,

está muito relacionado com as condições … com o tempo.

(…)tempo … mas os mais rápidos, digo eu, eram capaz de

demorar para ai umas 5 ou 6 aulas porque tinham que olhar

… é assim, eles tinham de ir para o computador, saber que

material é que precisavam, tinham que saber onde é que o

material está … isso teriam de ser eles a fazer. Enquanto

que, da forma que nós fazemos, nós preparamos tudo no

intervalo, já sabemos qual é o material que precisamos, já

… mas isto foi preciso aprender, não é?”

P6 Desconhecimento do método de ensino - “Por também

não ter grande conhecimento como … como fazer, como

explorar…”

Falta de tempo letivo – “...depois também porque com a

complexidade dos nossos programas e com o tempo que

nós temos… (…) … e temos um programa a cumprir, é

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muito raro acontecerem aulas deste género…”

Dinâmica da Escola – “…e com a escola que nós temos,

não é propriamente fácil de ser concretizado.”

P7

P8 Falta de tempo letivo/Extensão dos programas – “…o

cumprimento de programas e este tipo de projetos não são

complicados, são simples de aplicar, mas exigem tempo de

aula e … e aquilo que … o sumo desse trabalho, desse

projeto eu posso dá-lo em dois tempos. (…)uma das contas

que temos que dar é precisamente o cumprimento dos

programas até porque se o programa não for cumprido, põe

em causa o ano seguinte e, normalmente, a Físico-Química

tem … no Secundário tem mais tempos letivos, tem

atividades experimentais já pré-definidas, de qualquer

forma, apesar de ter mais tempos letivos, não significa que

eu possa ter mais tempo. Aliás muito pelo contrário, são …

são programas extensíssimos a … que não dá abertura para

projetos deste nível.”

P9 Falta de tempo letivo/Extensão dos programas – “…

porque … como eu disse há bocado, nós temos um

programa, sempre a correr, sempre a correr …”

Falta de tempo para preparar as atividades – “… e

depois também é uma coisa que requer tempo, requer

pesquisa também da nossa parte de professores e … e, às

vezes, nós já estamos tão desmotivados … que nem nos

lembramos deste tipo de coisas …”

P10 Falta de tempo letivo/Extensão dos programas – “I: Mas

porquê que não utiliza ou não utilizou até hoje, nas suas

aulas, para o estudo dos vários temas, este tipo de projetos?

P10: É assim … seria interessante chegar no final do ano à

reunião de grupo e dizer “dei metade da planificação”.

I: Então sente que a concretização deste método de ensino

inviabiliza a … o cumprimento dos programas.

P10: Completamente.”

Falta de flexibilidade do currículo – “E outra coisa que eu

acho … é que … eu acho que aqui há uns anos atrás … esta

reforma curricular que houve era de maneira a abrir … que

tudo estivesse aberto, ok? Nós até poderíamos escolher,

este ano os miúdos estão a trabalhar nesta área, seria mais

interessante continuarem com outra área, dar seguimento

para outra. Ok. Isto era um espírito ótimo mas … o que é

certo é que quem faz os livros fechou tudo outra vez. Nós

temos um livro certo, então é aquilo que nós temos que dar

que está no livro do 8.º e isso, às vezes, condiciona.”

P11

P12

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Questão Subcategorias Prof. Respostas

13.2 Características

das práticas de

professores

sobre a ABPj

P2 Interdisciplinaridade com outras disciplinas – “Portanto,

é um projeto interdisciplinar, coorientado por 3 professores

em que tentamos “tocar” … no fundo fazer a

interdisciplinaridade através da Física, com conceitos de

Física. Depois utilizamos conceitos de Informática e

também a parte Visual, Artística.”

Dinâmica do trabalho desenvolvido pelos alunos – “…

depois os outros trabalhos foram divididos em grupos mais

pequenos, 3 no máximo 4 alunos.”

Escolha dos elementos do grupo – “… eram os mesmos

grupos que eles tinham feito, portanto, de livre vontade …

para fazer as atividades laboratoriais previstas pelo

currículo, que eram depois aproveitados para fazer em

paralelo um miniprojecto ao longo do ano.”

Escolha do tema a investigar – “… portanto, o projeto

tinha de ser na área da Física e eu dei-lhes a liberdade de

escolher … propor alguma coisa. Caso não houvesse já

tinha uma lista preparada de diferentes temáticas no qual …

do qual … dessa lista eles podiam escolher.”

Estratégia usada para promover o pensamento crítico

dos alunos – “Claro… é questioná-los porque … eles

querem “vamos fazer assim, assim” e eu pergunto por quê,

qual é a razão de ir por este caminho… qual é o objetivo de

fazerem assim, assim, assim… por que é que agora para

fazer…”

Estratégia usada para promover o trabalho

colaborativo –

“Tinham de ser os mesmos grupos que eles já tinham tido

liberdade de escolher para fazer as atividades experimentais

durante o ano. Portanto, tinha sido … porque … é assim …

uma vez que há uma parte substancial em que eles vão

trabalhar em grupo … deixo-os escolher com querem

trabalhar.”

Estratégia quando há obstáculos durante o trabalho - “O

diálogo. Eu tento sempre que eles dialoguem, que eles se

sintam à vontade em … expor a … as suas preocupações e

… tentar … explicar-lhes que é normal que haja … atritos

…quando ocorrem. No entanto, nós estamos aqui para

ultrapassar e o mais importante é não manter as coisas …

como se diz … “engolir”, não dizer as coisas, não falar.

Explicar, saber escutar porque às vezes falam e não deixam

falar o outro.”

Estratégia usada para os alunos partilharem o que

aprenderam e os resultados científicos –

Apresentações regulares do trabalho realizado até ao

momento, com discussão dos resultados com a restante

turma e professor – “… então fazemos avaliações

intermédias, quais são … o que é que significa … que eles

até essa data apresentam aos outros colegas aquilo que eles

fizeram … também no fundo há ali um timing … obriga-os

a organizar as ideias de uma forma clara no papel e eles

comunicam o que têm feito. E é positivo pois depois há

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outros grupos que até dão sugestões que são positivas no

sentido de …”

Apresentação final do trabalho – “Ou seja, não espero até

ao final… de X em X tempo faço assim uma… um briefing

… um curto briefing de alguns minutos, não tem de

demorar muito tempo mas permite que eu discuta os

resultados até aquela data e acaba também para os treinar

para expor … e tirar essa ansiedade depois de estar no final

já com o produto final.”

P3 Interdisciplinaridade com outras disciplinas – “Temos

uma vantagem na nossa escola digamos, temos boas

relações com o Departamento de Química e de Física da

Universidade do Minho e muitas vezes quando os alunos

tinham dúvidas podiam contactar diretamente com um

professor da Universidade e tirar diretamente, questões

mais técnicas… (…) Existe essa parceria que é uma mais-

valia da nossa escola que digamos assim … não só o

professor da disciplina mas também eles possuam uma

espécie de consultores científicos que eles podem contactar

e que lhes ajudam também a tirar dúvidas e que os orientam

muitas vezes …

Dinâmica do trabalho desenvolvido pelos alunos – “I: O

trabalho é em grupo?

P3: Sim, é em grupo.”

Escolha dos elementos do grupo – “I: O trabalho é em

grupo?

P3: Sim, é em grupo.

I: Definido pelos alunos ou pelo professor?

P3: Eu só lhes dou os temas…”

Escolha do tema a investigar – “Neste caso, um grupo

optou por este tema. Portanto, eu basicamente o que faço é:

escolho/pego num conjunto de temas do programa e depois

cada grupo fica responsável por desenvolver um trabalho

projeto onde mostre aos outros, através de um conjunto de

experiências resolvidas por eles, de que forma … no fundo,

que implementem, que desenvolvam um projeto que aborde

essa temática mas numa perspetiva mais prática…”

Estratégia usada para promover o pensamento crítico

dos alunos – “… fazemos uma espécie de

miniapresentações intermédias em que … é quase como um

ponto da situação … em que eles têm de dizer aos colegas o

que é que estão a fazer, explicar em que caminho é que vão

e os colegas podem pôr questões… “por que é que foste por

aqui … por que é que foste por ali … o que é que obtiveram

até agora?”. Muitas vezes ai acabam, até os próprios

colegas acabam por levantar questões pertinentes que eles

próprios muitas vezes não … não se tinham lembrado ou

não tinham sequer pensado nelas com mais pormenor. Isso

permite muitas vezes que eles ajustem um bocadinho …

(…) Portanto, eu acho que isso é um momento ideal,

digamos assim … em que há este refletir sobre o que se fez

e desenvolver um espaço físico para isso até pela

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necessidade que eles têm muitas vezes de pensar um

bocadinho mais à frente para responder a perguntas dos

colegas que se calhar nunca tinham pensado e acabam por

refletir um pouco no que estão a fazer.”

Estratégia usada para promover o trabalho

colaborativo –

“P3: Entre eles … eu não digo que desenvolva outra

estratégia específica…

I: Sem grande necessidade de orientação por parte do

professor?

P3: Nunca senti … nunca senti essa necessidade. Creio que

eles … quando começa a entrar em “modo automático” eles

depois costumam funcionar bem.”

Estratégia usada para os alunos partilharem o que

aprenderam e os resultados científicos – “Normalmente

terminam com … O objetivo é fazerem algo para mostrar,

seja uma maquete, sejam conclusões de um estudo

científico, seja até um protótipo. Portanto, eu procuro que

haja sempre um produto final associado a este trabalho de

projeto… Normalmente o que eles gostam mais de fazer, ou

são protótipos para resolver um determinado problema ou

então um produto como por exemplo, no caso … tive uns

que fizeram plásticos biodegradáveis, fizeram capas para

telemóveis, fizeram … fizemos uma base para os ratos…

Ou seja, algo palpável, algo que eles possam mostrar aos

colegas e já agora com alguma utilidade.”

“É assim … eu costumo dinamizar na minha escola

(sorriso) uma coisa que se chama “A noite dos jovens

cientistas e investigadores do Agrupamento Padre

Benjamim Salgado” e então, no fim do 3.º período temos

uma noite em que todos os projetos são mostrados à

comunidade educativa. (…)Fazemos uma espécie de um

mini congresso, em que eles apresentam os trabalhos, uns

vão à comunicação oral, outros são apresentados no

intervalo sob a forma de poster mas … há … digamos …

uma partilha no fim e normalmente, especialmente os pais

aderem muito … normalmente convidamos alunos de

faixas etárias mais baixas, também para começarem a entrar

e a conhecer …”

P7 Interdisciplinaridade com outras disciplinas –

Dinâmica do trabalho desenvolvido pelos alunos – “E lá

está … eles organizaram-se nos grupos que quiseram,

situaram-se nos temas que quiseram, pronto, negociaram

entre eles. Isso também é importante porque eles sabiam

que não podiam ir todos para o mesmo e … não é? Eles

tinham que se dividir por aqueles … já não me lembro … 5

talvez, talvez 5 temáticas.”

Escolha dos elementos do grupo –

Escolha do tema a investigar –

Estratégia usada para promover o pensamento crítico

dos alunos – “P7: Isto depende um bocadinho dos alunos,

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não é? Há alunos que têm uma autonomia fantástica e,

portanto, eu sou capaz de ir ao grupo “ok em que fase estão.

O que é que precisam?” e os alunos “Nada professora.

Estivemos a ver isto, achamos que isto aqui não”, portanto,

esses é deixá-los caminhar. Aqueles que … também há

aqueles que se põe um texto à frente e “mas eu não percebi

o que está aqui”, muita dificuldade na interpretação (…)

I: Depois é à base do diálogo que …

P7: Há sempre … sim, sim … ai nunca lhes digo … “então

está aqui, a resposta …”, não. “Oh querido vamos lá ler

outra vez, faz favor. Lê com atenção. Tirar aquilo que é

importante. Vejam lá o que é … Então vão ler um texto por

ler? Não, vão sublinhando, vão destacando, vão vendo…”.”

Estratégia usada para promover o trabalho

colaborativo –

“Eu costumo dizer o seguinte “num grupo de trabalho todas

as opiniões são importantes. Todas podem ser debatidas…

todas têm que ser refletidas. A minha opinião não tem que

prevalecer. Eu tenho a minha opinião, partilho. O outro

partilha, o partilha e agora … daqui há um mix e vamos lá

ver o que é que daqui … portanto … e sempre uma critica

construtiva”. Sempre nessa linha que eles sabem que têm de

trabalhar. Eu não … “isto que tu disseste não interessa

nada”. Calma pode interessar, vamos lá ver onde e em que

medida vai interessar mas … sempre … isso tento

fomentar. É o espirito crítico construtivo. Pronto, aqui em

grupinho.”

Estratégia usada para os alunos partilharem o que

aprenderam e os resultados científicos – “Em turma,

neste caso, como era a apresentação de um conteúdo que

tinha de ser mesmo lecionado, eu própria depois faço …

portanto, já fiz o percurso, depois … pouco ou nada tenho a

acrescentar, não é? Portanto, já os acompanhei mas se tiver

que fazer alguma reflexão faço e … e os outros todos

fazem, é condição, é condição que os outros grupos façam

uma reflexão sobre o trabalho dos colegas. Uma reflexão

oral, ali, frontal, frontal. O que é que acharam, se foi bem

explorado, se não foi, o que é que gostavam de ter visto

mais trabalhado, o que é que não perceberam ou deixaram

de perceber.”

P11 Interdisciplinaridade com outras disciplinas – “… o que

eu usei … uma das matérias que eu dei foi o som em que eu

coloquei … fiz um pequeno vídeo com alguns alunos e

depois coloquei o vídeo (…)e então foram levantadas uma

série de questões … aqui era o da gripe, porquê … naquela

altura foram uma série de questões, depois foram os

próprios alunos que foram pesquisar as respostas a essas

questões e depois apresentar as suas respostas ao resto da

turma.”

Dinâmica do trabalho desenvolvido pelos alunos –

“Depois foram formados grupos, 4 ou 5 grupos,

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dependendo também da turma e depois trabalhavam em

grupo para dar resposta a essas questões. “

Escolha dos elementos do grupo –

Escolha do tema a investigar – “P11: Sim, sim. Portanto,

todos eles trabalharam aquelas questões.

I: Portanto, todas elas foram trabalhadas por todos os

alunos?

P11: Sim.”

Estratégia usada para promover o pensamento crítico

dos alunos – “… a única coisa será quando eu vou orientar

um bocadinho e se eles tinham a … questão e eu disse “será

que isso dá realmente resposta aquilo que nós queremos?”.

Pronto e eles ai, se eu dissesse qualquer coisa deste género,

quer dizer que o que estava ali não estava bem e então eles

lá iam tentar reformular mas … pronto … era só isso.”

Estratégia usada para promover o trabalho

colaborativo – “Eu ai, às vezes, tenho algum cuidado para

não pôr aqueles que querem ficar todos juntos porque já sei

que em vez de trabalhar vão conversar, portanto, haver uma

separação … há muitos que no início “não quero ficar neste

grupo, não quero ficar naquele…” mas a partir do momento

que eles percebem que tem de ser assim, aquilo vai

começando a andar devagar.”

Estratégia usada para os alunos partilharem o que

aprenderam e os resultados científicos – “ P11: … no fim

do trabalho é dado a conhecer a todos o que cada grupo,

neste caso fez, e eles sabem o que cada um fez e quais as

respostas que cada grupo obteve.

I: Há uma apresentação oral, digamos, para a turma.

P11: Sim, sim e depois claro há os que querem apresentar

PowerPoint, outros são mais simplistas e apenas leem e até

fazem numa cartolina mas a ideia é todos ficarem a

conhecer o trabalho de cada um, que cada grupo fez neste

caso.”

P12 Interdisciplinaridade com outras disciplinas – “E

fazíamos em parceria com a professora de TIC.”

Dinâmica do trabalho desenvolvido pelos alunos – “Era

em grupo, esses trabalhos são em grupo.”

Escolha dos elementos do grupo –

Escolha do tema a investigar – “I: Então nessa situação,

nesse curso, nesse CEF, o tema geral era a Eletricidade e

depois cada grupo tinha um subtema… formulou uma

questão problema dentro desse tema?

P12: Sim, sim, sim. Já não me lembro porque já foi há

alguns anos mas foi cada um fez um tipo de apresentação,

de projeto. Foi diferente. Uns optaram pelos flyers, outros

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até acho que foi … dentro da sala, fazerem cartazes para a

sala, outros fizeram uma apresentação às turmas…

I: Mas tudo no âmbito da poupança?

P12: Não. Dentro do tema da Eletricidade. Foi, foi.”

Estratégia usada para promover o pensamento crítico

dos alunos – “… É dar-lhes … o que eu acho é dar-lhes

alguma liberdade mas não … não conheço mais nenhuma

estratégia para promover…”

Estratégia usada para promover o trabalho

colaborativo – “A estratégia é o diálogo e tento convencê-

los … e ai não cedo mesmo. Quando é grupo, é grupo. É

trabalho de grupo e eu quero que eles saibam trabalhar em

grupo.”

Estratégia usada para os alunos partilharem o que

aprenderam e os resultados científicos – “P12: No final

da primeira aula, eles … tinham que decidir o que iam

fazer, como é que iam fazer e ai debatiam e diziam em que

ponto é que estavam. Claro que há um timing determinado

de quando era para apresentar, no fim eles apresentam a

toda a turma.

I: Esse feedback que é feito no fim de cada aula é feito ao

professor, o grupo ao professor, ou há turma?

P12: Não. Há turma. Cada grupo faz há turma. Aliás, eles

depois quando apresentam, quando é trabalhos para

apresentar, eu depois peço sempre uma auto e uma

heteroavaliação à turma. A turma avalia os aspetos que

acha que estão menos conseguidos do grupo. Eu peço

sempre esse feedback no fim, sempre. Sempre que há uma

apresentação, a turma tem que se manifestar,…”

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Questão Subcategorias Prof. Respostas

13.3 Aprendizagens

proporcionadas

aos alunos

numa ABPj

P2 Planificar e desenvolver um projeto – “… primeiro

aprender metodologia de trabalho, como se trabalha em

projeto… portanto… tem de haver uma linha orientadora. É

importante debater ideias mas também é importante

trabalhar no papel, portanto, para organizar, o tal

Brainstorming mas depois temos de organizar as ideias. É

importante … um projeto ter sempre a parte do orçamento.

Portanto, os materiais e os recursos também são

importantes no desenvolvimento dos projetos e, portanto …

saber que tem que se trabalhar por etapas.”

Desenvolvimento de competências sociais, associadas ao

trabalho colaborativo – “É importante que eles aprendam

também a ser flexíveis. É importante escutar, portanto …

aceitar a opinião do outro, isso é muito importante …”

Utilizar corretamente os diferentes recursos materiais –

“… saber recorrer a recursos de uma forma inteligente,

nomeadamente, ferramentas da informática ou outras

ferramentas que são necessárias…”

Selecionar a informação relevante para uma

apresentação final do projeto – “… acho que é isso que

eles aprendem e que é possível fechar o círculo de

aprendizagem com a apresentação do produto. (…)Depois

eles têm que saber, quando apresentam algo não têm de

mostrar o conhecimento todo a toda a gente. Eles só têm de

se focar em 2 ou 3 aspetos que depois têm… cada pessoa

que sai daquela apresentação leva consigo.”

P3 Capacidade para autonomamente resolver problemas –

“Na minha opinião é a capacidade de autonomamente

resolverem problemas. Isso, eu acho que é uma

competência, uma … habilidade que será muito importante

para eles, quer na Universidade, quer posteriormente numa

profissão.”

Competências de trabalho colaborativo – “Claro que

associado a isto o trabalho cooperativo e o trabalho em

equipa também não é de negligenciar. Penso que também é

uma …”

P7 Desenvolvimento das relações interpessoais, aluno-aluno

e professor-aluno – “Mas aquilo que se verifica e …

concretamente eu verifiquei à sempre aqueles muito

tímidos, com medo de falar, com medo de dizer disparates

porque o colega do lado vai … e como são alunos

obrigados … como sabem que têm que … portanto acabam

por, por … desenvolvem a … está mais à vontade.

Conseguem estar mais um bocadinho à vontade, já

conseguem encarar assim… já falam comigo encarando-

me, assim … porque eu também … isso é uma das coisas

que eu faço, quando falo com alguém gosto que ele olhe

para mim e então eles têm alguma dificuldade, muitas das

vezes e depois já conseguem…”

P11 Desenvolvimento de competências sociais, associadas ao

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trabalho colaborativo - “Portanto, eles aprenderem a

trabalhar em grupo e a discutirem e a atingirem um objetivo

comum. Acho que … e prontos … mesmo os conceitos, às

vezes, o que é que eles fazem, procuro esta, tu procuras

aquela, portanto, há sempre … é sempre um bocado o risco

de haver uma divisão do trabalho mas … mas eu acho que

aqui é o trabalho de grupo, eles entenderem-se.”

P12 Competências de trabalho colaborativo – “Eu acho que

alguns começaram a aprender a trabalhar em equipa e …”

Aprendizagem do conhecimento científico mais

significativa – “… e eu acho que quando eles procuram o

conhecimento eles retêm mais porque se esforçam. (…)

quando são eles, foram eles que descobriram e não se

esquecem.”

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Questão Subcategorias Prof. Respostas

13.4 Dificuldades

manifestadas

pelos alunos

numa ABPj

P2 Dificuldade em tomar uma decisão, em ser autónomos –

“… Alunos pela sua natureza intrínseca ou pela falta de

prática têm alguma aversão a trabalho de projeto porque se

sentem perdidos, porque vêm que … têm de tomar decisões

por si … têm que ser mais autónomos, que é diferente

daquelas aulas em que o professor leciona tudo, que se

sentem mais confortáveis porque são mais controlados, ou

seja, não sentem aquela … ansiedade de estou a fazer bem,

estou a fazer mal.”

Responsabilidade individual e pelo trabalho do grupo –

“Outra dificuldade é a responsabilização individual e

responsabilização do grupo porque não podem dizer que o

A não fez porque o B não fez … porque tem de fazer o

trabalho. Portanto, aqueles alunos que são menos

responsáveis, neste tipo de trabalho acabam por tornar-se

mais responsáveis. Tem de ser senão o projeto não é levado

a bom termo e é facilmente detetado porque é que ele não

faz, porque é que o outro não faz …”

Planificar um projeto exequível – “… ideias, muita gente

tem muitas ideias só que depois é importante saber se é

possível executá-las e … isso também é bom porque no

fundo vêm que … para executar um projeto é preciso

pensar, é preciso planificar, é preciso identificar os pontos

fortes e os pontos fracos, é preciso saber se nós próprios

temos os próprios conhecimentos …”

Gestão do tempo – “?”… dificuldades também em termos

de tempo, isso é uma das dificuldades principais. Não têm

noção que para fazer isto, isto leva muitas horas e então

temos que desfragmentar o projeto ou simplifica-lo mas

isso é próprio do projeto.”

Gestão das emoções; da frustração quando se deparam

com obstáculos – “… às vezes também há a fase de

desmotivação, quando as coisas não andam para a frente

mas ai está o professor para … para os ajudar.”

P3 Dificuldade em tomar uma decisão, em ser autónomos –

“Ou porque não estão habituados … a maior parte das

vezes não estão habituados a trabalhar assim e também

porque … lá está … está relacionado com isso, o nosso

ensino ali até ao 11.º ano é muito … eles têm muito

exercícios, estudar, testes, exames e, portanto, perdem ali

um bocadinho quer liberdade criativa, quer capacidade de

pensar um bocadinho sobre as coisas e desenvolverem

precisamente essa capacidade, essa autonomia.”

Desconhecimento da metodologia de projeto – “Eles

quando chegam à altura de aplicar uma metodologia mais

de projeto há ali uma inercia inicial porque eles também

não sabem muito bem por onde … o que devem fazer, “o

que vou fazer …”

Pesquisar e selecionar informação relevante para a

temática – “… o que é que vou pesquisar, onde vou

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pesquisar”. Acham muitas vezes que quando chegam ao

Google e metem lá uma palavra lhes vai aparecer logo tudo,

que não é preciso filtrar informação. Portanto estão muito

habituados a fazer o “copy paste” como a gente diz que é

chegar a uma página e copiar o que lá está e achar que já

está feito, “que é isso”…”

P7 Desconhecimento da metodologia de projeto – “Aquela

que sobressai primeiro, “não sabemos o que vamos fazer”,

“oh professora e agora o que é que vamos fazer?”. Não

saber como começar. Pronto. Têm muita dificuldade em

começar, em arrancar. Depois de arrancar a coisa vai,

arrancar têm muita dificuldade. Essa é para mim a maior

dificuldade que eles têm “o que é que vamos fazer agora?”.

Temos um tema fantástico, bonito, que são eles que

escolhem mas depois não sabem como começar.”

Planificar um projeto exequível – “Outra dificuldade é

não conseguirem perceber aquilo que é concretizável e o

que não é também no inicio…”

P11 Gestão das relações interpessoais com os elementos do

grupo - “…o entendimento entre eles e … primeiro como é

que vamos fazer isto, como é que vamos fazer, portanto, …

a partir do momento em que eles interiorizam como é que

têm de trabalhar as coisas já se tornam mais fáceis,

portanto, é mesmo aquele início que é mais complicado.”

P12 Pesquisar e selecionar informação relevante para a

temática – “I: A seleção … o selecionar a informação…

P12: Eu acho que sim, que é o grande problema. Eles

trabalhar com as ferramentas, eles … estão muito à

vontade, eu acho que estão principalmente … mexem e

conseguem. Agora é mais isso o saber selecionar.

I: Portanto, saber o que é importante …

P12: O que é importante e o que não é.”

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Questão Subcategorias Prof. Respostas

13.5 Dificuldades

sentidas pelos

professores

numa ABPj

P2 Falta de tempo letivo para os projetos - “… às vezes é …

a falta de tempo. É mais isto, a falta de tempo porque … eu

também quando faço projetos com os alunos, gosto de

aprender e … dificilmente repito os projetos … porque vou

também aprendendo como professor … se os faço … nós

transmitimos também essa motivação… (…)… quem faz

projetos no ensino secundário tem o peso do exame

nacional no final dos dois anos e ai não me vão perguntar

pelos projetos … ai é o currículo que tem de ser cumprido

mas com os alunos tenho conseguido equilibrar … eles

também vêm fora das horas para continuar … 6.ª feira de

tarde para trabalhar porque nós não podemos acabar isto

nas aulas… isso é uma das principais dificuldades em

termos de execução ou … fazer projetos dentro da aula e …

dentro das aulas normais, aprendizagem por projetos … se

fizermos produtos grandes.”

P3 Falta de tempo letivo para os projetos - “Até há alguns

anos as disciplinas de opção tinham a duração de 7h e

passaram, mantendo o mesmo… vamos chamar programa

ou metas foram reduzidas para 4h. Portanto, o tempo

disponível para o trabalho de projeto, digamos assim, e para

ter alguma liberdade nas aulas foi muito restringido. (…) …

muitas vezes o tempo … o tempo da disciplina é

largamente excedido porque não … muitas vezes vêm para

a escola fora do horário letivo para completar os trabalhos.”

P7 Falta de tempo letivo para os projetos - “No

cumprimento de programas. Eu se quiser fazer uma coisa

destas tenho sempre o fantasma do programa que tenho que

cumprir e, portanto, não me posso alargar. É assim … é

uma coisa que eu gosto de fazer, que eu gosto e que até sei

que consigo … bons resultados e muitas vezes não posso.

Tenho de descurar, tenho de deixar de lado. Não há tempo,

não há tempo porque tenho o programa para cumprir.”

P11 Falta de tempo letivo para os projetos – “A principal

dificuldade, nem é uma dificuldade, tem a ver com … com

o tempo porque estes trabalhos demoram sempre mais

tempo do que o normal, não é? Depois uma pessoa começa

a ver e … não é? Quer que eles desenvolvam e eles …

pronto têm o seu ritmo e tal e … portanto, a principal

dificuldade é mesmo em termos de tempo que não é

suficiente.”

P12 Dificuldades logísticas e a falta de recursos materiais,

nomeadamente, computadores – “…as de logística e as

de não ter material, não é? Porque … o não ter a sala com

os computadores, não é? E eu deixo utilizar os telemóveis

que não é … não é muito bem visto deixar e os miúdos

ficam um bocado chocados mas tem que ser é porque há

escolas que dizem “têm que pôr na caixinha o telemóvel”,

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“não podem utilizar” e eles ficam às vezes um bocado

chocados porque às vezes eu digo que podem usar se for

para a … se for útil … (…)… eu não consigo marcar a sala

… que tem os computadores ou levá-los para a biblioteca,

já está outra turma e … e já há muita confusão, já não …

não se consegue trabalhar … às vezes é essas condições…”

13.6 Fatores que

facilitaram a

aplicação da

ABPj

P2 Cultura da escola, ou seja, o apoio da Direção – “… a

própria escola é importante, que apoie os projetos. Isso é

fundamental … portanto… a parte da Direção.”

Motivação do professor para os projetos – “… um fator

importante é a própria motivação do professor para fazer

projetos … se o professor não acredita nisto então não se

faz, não é possível se fazer porque na teoria … podemos

ver como é que faz … mas depois o que conta é … a

conjugação dos conhecimentos teóricos com a prática.

(…)Se o professor não acredita naquilo, não é possível

fazer projetos porque transmite isso, não é ao falar mas pela

atitude e o aluno nota que o professor está se desleixando

para aquilo, está …”

P3 Cultura da escola, ou seja, o apoio da Direção – “Eu

considero que na minha escola uma coisa que permitiu esta

implementação foi uma certa, digamos assim, um certo da

estrutura diretiva para a realização deste tipo de ensino …

permitindo muitas vezes, por exemplo, colmatar a falta de

tempo com a promoção de Clubes, com a promoção de

outro tipo de atividades extracurriculares que permite

muitas vezes a continuação, digamos assim, deste trabalho

de projeto fora das aulas e … isso ajuda muito e faz com

que os alunos … (…)por se sentir orgulhosos por fazer

parte de uma atividade extracurricular e na minha escola

esse tipo de atividades é valorizada e isso permite também

que eles sintam que o trabalho de projeto e o desenvolver

projetos é algo que a escola apoia e que … e que pronto …

eles sentem-se mais motivados, mais interessados nisto.”

Apresentação dos projetos à Comunidade Educativa –

“… e depois também, como eu disse, o facto de a gente

realizar no fim do ano atividades que são mais uma vez,

que contam com a presença da Direção, que acaba por dar

um bocadinho “mais de força”, mais importância ao … por

exemplo, à noite dos jovens cientistas, que eu referi

anteriormente e a sua divulgação causa … responsabiliza

mais os alunos e fá-los sentir que realmente é algo

importante o que eles estão a fazer e que tem visibilidade e

que é um motivo, até para eles, de participar.”

P7 Formação profissional e experiência em investigação –

“Eu acho que a minha formação de raiz. Eu não sou,

portanto, como eu disse, a minha licenciatura base ou se

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quisermos a minha primeira licenciatura, pronto, não é de

ensino. Eu não fui … desculpe Tânia … eu não fui

formatada para dar só aulas, não fui. A minha primeira

formação foi em investigação, onde eu … eu e todos os

outros temos a liberdade … sabemos o que temos de fazer,

sabemos que temos de apresentar o produto final mas temos

a oportunidade de o fazer ao nosso ritmo e … e então … a

minha primeira formação foi essa e depois trabalhei, como

lhe disse, muitos anos na investigação, portanto … (…) O

facilitador e o gosto que eu tenho nos projetos vem da

minha formação de raiz, da minha formação e do trabalho

que tive muitos anos na indústria.”

P11 Acompanhamento por alguém com experiência em

projetos - “ … a primeira vez que apliquei foi no estágio e

a minha orientadora, a tese de doutoramento, acho eu que

era de doutoramento, era nisso. Portanto, qualquer dúvida,

qualquer questão uma pessoa tinha ali um suporte que nos

tirava a dúvida e nos ajudava a explicar o que é que podia

ser feito, o que podia ser melhorado.”

P12 Acompanhamento por alguém com experiência em

projetos – “Se calhar … o que é que facilitou … a

discussão com alguns colegas que já tinham a experiência

… porque eu comecei mais a aplicar estas estratégias foi

quando comecei a ter os CEF`s e os profissionais porque

era uma forma … eu quando estava a debitar ninguém

ouvia. Era nítido que eles estavam todos … e ninguém

estava a entender e eu tive de mudar de estratégia e fui

falando com colegas e … e debatendo e comecei a aplicar

essas estratégias que alguns já aplicavam e eu achei que

realmente era mais indicado …”

Atualização profissional ao nível das práticas de ensino

das Ciências – “I: Um fator que considera que foi

satisfatório de … que contribuiu, portanto, para a

implementação deste método de ensino foi efetivamente a

partilha de experiências com colegas ou mesmo ao nível da

universidade quando frequentou o mestrado, na pós-

graduação.

P12: Sim. Ai, eu atualizei muitas coisas que já estavam um

bocadinho desatualizadas. Eu usava o básico, não é? Fui

aprender alguns recursos porque já estava desatualizada…”

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Questão Subcategorias Prof. Respostas

14 Averiguar a

possibilidade

do uso regular

da ABPj no

ensino das

Ciências

P1 Sim. Desenvolve nos alunos o pensamento crítico -

Estimula a criatividade dos alunos - “… provavelmente

seria uma boa forma de desenvolvermos nos nossos alunos

um maior poder crítico e de criatividade relativamente aos

conceitos que a Física e a Química permite atingir com esta

metodologia.”

P2 Sim. Motiva os alunos para a aprendizagem – “No caso

de projetos … a aprendizagem baseada em projetos a nível

de escala pequena, de sala de aula, também é possível. (…)

“… aprendizagem por projeto, obviamente a uma escala

muito reduzida mas adequada e que lhes permite também

ter os momentos de … “há espetacular conseguimos” que

isso é muito importante, essa motivação… pode ser uma

aprendizagem em projeto de …”

P3 Não. Preparação dos alunos para o exame nacional de

11.º ano não se coaduna com a metodologia de projetos -

Como referi, eu creio que realisticamente no ensino

secundário só no 12.º ano é que realmente há …

disponibilidade … há possibilidade para desenvolver um

trabalho mais relacionado com projetos porque creio que no

10.º e 11.º ano, o ensino é muito virado para uma meta que

se chama exame nacional. (…) Portanto, há muita

preocupação em fazer um ensino muito orientado para os

exames e esse ensino muito orientado para os exames não é

muito baseado em projeto porque, quer se queira, quer não

um exame é uma avaliação mais formal e … mais, digamos

assim, mais objetiva… digamos assim, … capacidades

como o trabalho de equipa, a capacidade de resolver

problemas não são avaliadas no exame nacional.”

P4 Sim. Aprendizagem mais efetiva - Podem e devem…

porquê? Por causa da efetividade da aprendizagem, é mais

efetiva.

P5 Não. Cumprimento do programa – “Se usarem não vão

chegar ao final do programa. Eu acho … eu estou

convencida que … que acontece isso e porquê? Porque nós

com a … já temos muita dificuldade em conseguir terminar

o programa. (…) Portanto, nós podemos dar um assunto

com esse método mas todos não. Para darmos todos os

assuntos através do método dos projetos teríamos que ter

um programa muito menor para podermos cumpri-lo. Caso

contrário, não … estou convencida que não cumprimos.”

P6 Não. Número de alunos por turma – curta duração das

aulas de desdobramento no ensino básico –

cumprimento do programa - “Na forma como o ensino

está estruturado, com as condições que temos, com turmas

de 30 alunos, com desdobramentos de 45 minutos, quando

existem, e com as extensões dos programas que nós temos e

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o peso de cumprir e das metas, desta forma é muito difícil

de aplicar a metodologia … um trabalho baseado na

metodologia de projeto. Muito difícil.”

P7 Não. Preparação dos alunos para o exame nacional de

11.º ano não se coaduna com a metodologia de projetos -

“Enquanto nós tivermos um programa para cumprir e que

sabemos que tem … que é aquilo, que está ali, é

formatadinho, tem de ser tudo dado porque vai ser tudo

avaliado no final. Enquanto que nós soubermos que existe

isso, enquanto nós soubermos que a nossa disciplina é uma

das disciplinas … fundamental para uma grande parte dos

cursos superiores, para a entrada dos nossos alunos. Nós

não podemos e o que eu vou dizer é disparatado porque não

é o que eu penso, nós não podemos perder o tempo que

gostaríamos de perder nos projetos. Não dá. (…)Não posso

porque não posso também descurar a outra parte porque sei

que estes alunos vão ser submetidos a um processo de

seleção que não vai contemplar os projetos, não vai

contemplar.”

P8 Não. Tempo não letivo despendido no projeto pode

comprometer o sucesso das outras disciplinas –

“exemplo … mas agora, imaginando um professor que tem

apenas disponíveis aquelas horas, com aquela turma, sem

correr o risco de … de depois ser chamado à atenção

porque os alunos usaram demasiado tempo livre em casa

para o … unicamente para o seu projeto, pondo em causa as

aprendizagens nas outras disciplinas … nestes moldes não

dá.”

P9 Sim. Motiva os alunos para a aprendizagem – “Sim pelo

menos em determinados temas é bem possível … e,

portanto, se calhar até é uma forma de motivar … os alunos

para aprender de uma maneira diferente o ensino das

Ciências.”

P10 Não. Cumprimento do programa – “Podem se ninguém

lhes condicionar com o fator tempo. Podem se ninguém os

condicionar a que o aluno no final do ano tem que saber

“isto, isto e aquilo”. Não interessa se o aluno sabe ou não

sabe. Tem que saber “isto, isto e aquilo”.”

P11 Não. Cumprimento do programa – “Poder, podem mas é

aquilo que eu disse, em termos de tempo ia ser muito

complicado de gerir tudo porque este tipo de trabalho acho

que demoram ou exigem mais tempo do que o ensino dito

normal. Depois se for sempre, sempre assim não sei se

daria para cumprir o programa.”

P12 Não. Cumprimento do programa – “P12: A sensação que

eu tenho … apesar de eu tentar sempre aplicar … depois

em alguns anos, para cumprir ficamos com aquela

dificuldade de gerir o tempo. Queremos fazer alguma coisa

diferente e perder mais tempo … que alguns precisam de

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mais tempo. As turmas não são heterogéneas … não são

homogéneas, são heterogéneas e … e os programas são

demasiados extensos e …

I: Portanto, devemos mas nem sempre podemos …

P12: É eu acho que devemos mas nem sempre podemos

porque nem sempre conseguimos, não é?”

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Questão Subcategorias Prof. Respostas

15 Eventuais

dificuldades dos

professores ao

aplicar no futuro

a ABPj

P1 Falta de recursos materiais (ex. computadores, livros,

etc.) - Espaço físico disponível – “É assim … as

infraestruturas terão de estar bem equipadas, não é? Ter

espaços, recursos desde os computadores… também

equipamento ao nível das bibliotecas … só dessa forma

será mais fácil de ser aplicado … caso não existam esses

recursos materiais, nem a nível de espaço … torna-se

sempre mais difícil porque requer sempre ter … um recurso

de apoio seja em suporte de papel, seja informático para

conseguirmos fazer uma melhor investigação e outros

materiais a nível de … se querem criar uma maquete... Ou

outra situação …”

P2 Pergunta de condução desajustada aos alunos – “… a

questão problema ou aquilo que eles vão desenvolver no

âmbito do projeto não ser adequado à faixa etária ou aos

conhecimentos que eles têm … (…) Portanto é preciso

também saber a “massa crítica que temos à nossa frente”

para não criar frustrações desnecessárias porque se não

gostarem de um projeto, nunca mais querem fazer.”

Falta de preparação prévia do projeto pelo professor -

… portanto uma planificação por parte do professor não

rigorosa, quando eu digo planificação não quer dizer que eu

tenha lá a planificação do que os alunos vão fazer mas ele

propriamente já tem que saber o que vai fazer com eles e …

como é que vai intervir. Pensar um bocadinho nas

estratégias que eu próprio … como é que vai ser o projeto

um “sucesso”.”

P3 Falta de tempo do professor para preparar as atividades

do projeto – “… eu considero que, por exemplo, para

desenvolver isto é preciso horas, as pessoas têm que ter

horas para desenvolver isto. Um professor que tenha um

horário completo com disciplinas, várias disciplinas e não

possua na sua componente letiva ou não letiva horas para

desenvolver este tipo de trabalho não vai conseguir ou

então fá-lo à custa de muito sacrifício pessoal.”

Falta de motivação para este tipo de projetos – “… não é

um tipo de trabalho que seja muito confortável, é um tipo

de trabalho que requer … eu não diria que é mais cansativo

mas requer … requer outro tipo de … não lhe queria

chamar competências mas requer outro tipo de … até de

espirito para o realizar e nem sempre isso está presente.

Não … porque as pessoas muitas vezes não são … mas

porque também não foram habituadas ou porque estão

habituadas a um ensino mais formal e isso requer sair um

bocadinho “da caixa” … é preciso uma visão um bocadinho

mais alargada da Ciência e isso nem sempre é fácil.”

P4 Resistência dos alunos ao método de ensino – “… e vão

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haver logo muitos que não vão aderir à primeira … que se

vão desligar, não é? Não estão habituados, desconhecem a

metodologia … até não vão achar assim tanta piada ao

tema, por exemplo … depois vão haver aqueles alunos que

vão começar a dizer “Ai, estamos a perder tempo com isto e

não estamos a dar matéria para o exame.””

Desconhecimento dos professores do trabalho a ser

desenvolvido neste tipo de projetos – “Os professores não

sabem fazer um ensino deste, não é? Eu não tenho dúvidas

de que se falar disto a alguns professores, nunca ouviram

falar mesmo professores de Ciências. Porquê? Porque

aprenderam na maneira que estão a ensinar e … vão ser

assim professores durante 30, 40 anos, não é? E … por isso

… isso é logo um problema … acho que também era

preciso formar, começar ou continuar a formar professores

para aplicar esta modalidade de ensino…”

P5 Resistência dos alunos ao método de ensino – “… se os

alunos não tiverem vontade de trabalhar, nós temos

constantemente essa situação … isso será um

constrangimento que vai impedir, de certeza absoluta, a

evolução do trabalho de acordo com aquilo que se

planificou … de acordo com a ideia inicial que … que o

professor tinha.”

P6 Desconhecimento dos professores do trabalho a ser

desenvolvido neste tipo de projetos – “… as dificuldades

partem logo do pressuposto de que não fomos habituados a

trabalhar assim e o ser humano funciona muito desta forma,

reage muito mal à diferença. Acho que num grande número

de pessoas, sim, haveria uma … uma reatividade positiva,

de outras nem tanto… e a principal dificuldade seria

mesmo a … dentro dos recursos, do espaço e … das

condições que têm, conseguirem mudar completamente as

práticas de ensino.”

Gestão do elevado número de alunos por turma –

“Número de alunos por turma e … e os desdobramentos, a

forma como funciona e … o espaço físico da escola …”

P7 Resistência dos alunos ao método de ensino – “os nossos

alunos não virem habituados a pensar … não vêm

habituados a … à descoberta, pronto. Eles vêm habituados

a … eu dou, tu fazes e, portanto, eles … eles sistematizam

as coisas e fazem aquilo … se tiverem que sair um

bocadinho mais ao lado, não fazem.”

Falta de motivação do professor para este tipo de

projetos - “Ai pode haver um constrangimento já pessoal

que é … eu não tenho tempo para andar a acompanhar os

alunos. Ponto. Nem disponibilizo do meu tempo extra, fora

do tempo letivo, não disponibilizo. Isto é um

constrangimento porque um trabalho de projeto como eu

digo, isto na minha opinião, não ando atrás deles mas

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necessitam de um acompanhamento e isso de facto faz com

que eu tenha de me deslocar várias vezes com eles a

qualquer sítio seja de que tipo for. Portanto, exige

disponibilidade de tempo. Se eu digo à partida “eu não

disponho do meu tempo. Não vou disponibilizar o meu

tempo para trabalhos fora do meu horário letivo”, então não

vale a pena meter-me em nenhum projeto, portanto, isso é

logo um constrangimento pessoal.”

Falta de tempo do professor para preparar as atividades

do projeto – Ou seja, nós além dos tempos letivos temos

um conjunto de coisas que nos são, funções e … e situações

que nos são exigidas, não é? e que nos fazem dispersar o

nosso tempo em coisas que não são propriamente o ensino,

nem nada disto. Portanto, é outro constrangimento e nós

temos a carga letiva e depois temos a carga não letiva que

é, no meu caso, tão grande ou maior que a carga letiva.

Portanto, para mim é um constrangimento, é o tempo.”

P8 Desconhecimento dos professores do trabalho a ser

desenvolvido neste tipo de projetos – “… isso partindo do

pressuposto que o professor já terá a preparação necessária,

… o à vontade, a formação necessária para implementar

este tipo de estratégia porque naturalmente … há

professores e também falo por mim estamos demasiado

formatados para o que é o ensino em Portugal, não é?”

Gestão do tempo de aula – “A questão do tempo parece

sempre … para mim é o principal dissuasor desta

modalidade é o tempo que ela exige, não é? … Tempo de

aula porque também não me parece justo estar a ocupar os

tempos livres que estes alunos têm porque uma disciplina

não é mais importante que as outras, não é? …”

Preparação dos alunos para o Exame Nacional – “E

depois é a questão do exame, havendo exame, havendo a …

obrigatoriedade de cumprir um programa cai por terra

basicamente porque eu posso fazer uma certa magia, uma

certa … um planeamento e até conseguir 3 ou 4 aulas para

um determinado projeto mas mais do que isso é impossível.

Depois sou chamada às minhas responsabilidades que é um

programa para cumprir, um exame para fazer, não é?”

P9 Falta de recursos materiais- Falta de espaço físico

adequado - … nós não temos uma sala que seja adequada

para a realização de experiências mesmo tendo o material

…portanto, tentamos sempre improvisar… claro que

deveríamos ter mais equipamento, mais ferramentas …

portanto, salas próprias e direcionadas mesmo só para as

Ciências porque a maioria das escolas, pelo menos por onde

tenho passado, … não temos material para fazer, realizar

com regularidade …

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Gestão do elevado número de alunos por turma – “Estar

com 25 e às vezes mais não é? No ano passado tinha turmas

de 9.º ano acima de 25 … portanto, às vezes é difícil

conseguir … porque nós temos muitos alunos … turmas

muito heterogéneas, não é? e às vezes … portanto,

conseguir chegar a todos é mais difícil…”

P10 Desconhecimento dos professores do trabalho a ser

desenvolvido neste tipo de projetos – “Eles precisam

realmente de formação mas aquela formação mais dada

para o debate, mais dada a ouvir ideias dos outros, ver

coisas que já foram feitas … ver como realmente um

projeto facilita, se calhar, o bom funcionamento de uma

sala de aula, ou não. (…)mas não é formações de 3 horas

que nós estamos ali semana a semana a ouvir alguém blá,

blá, blá. Não é vermos realmente como é que isto pode

funcionar positivamente.”

Ranking de escolas – “…porque é assim isto não vai

resultar igualmente em todas as escolas porque não nos

podemos esquecer … já na mesma escola, não há duas

turmas iguais. Portanto, se calhar até há uns miúdos que até

vão … têm outro espírito, até vão fazer projetos … não

digo melhores porque isso também é relativo mas vão fazer

um tipo de projetos que a maneira de ser deles os leva a

fazer isso e noutra turma os projetos não vão ser assim tão

… glamorosos, não é? E isto dentro da mesma escola,

comparando duas turmas. Portanto, não vamos querer que

num país inteiro, por muito pequenino que ele seja…”

P11 Gestão do tempo de aula – “O tempo é a dificuldade

porque o ponto de partida facilmente se arranja para

qualquer tema, para qualquer projeto neste caso.”

Assumir um papel de orientador das aprendizagens –

“…também não é muito fácil para um professor passar de

um papel ativo para um papel passivo, não é? Porque

basicamente são os alunos que trabalham no projeto, o

professor depois só vai orientá-los, portanto, às vezes, não é

muito fácil passar e “não fazer nada” daquilo que uma

pessoa está habituada a fazer.”

Abdicar do controlo da aula – “Até porque as aulas nestes

casos deixam de ser as aulas em que eles estão quietos e

calados e a ouvir, não é? Há sempre mais discussão, mais

barulho, mais ruido e nem todos os professores sabemos

que estão … estão para ai virados, haver muita confusão.”

P12 Falta de motivação do professor para este tipo de

projetos – “… as mentalidades mesmo de toda a

comunidade educativa. Poderem … de aceitarem porque a

maior parte ainda está formatado para que sejam aulas

expositivas. (…)Eu acho que é mais mesmo … os

funcionários e os colegas, alguns colegas que acham que

estamos a brincar, que não estamos a ensinar. Para eles

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ensinar é … tem de ser expositivo mas depois quando vêm

o resultado até acham que sim … eu acho que é uma

questão de mudarmos mentalidades porque ainda estamos

com um modelo de ensino muito retrogrado, do século

XIX.”

Gestão do tempo de aula – “E … o tempo, não é? Porque

quando nós fazíamos aqueles projetos do Ilídio Pinho,

fazíamos extra aula. Nós marcávamos com os miúdos

porque também conseguíamos essa flexibilidade de marcar

com os miúdos, fora do tempo, mas agora eles têm uma

carga muito … muitas vezes eles têm uma carga muito

grande, letiva, não têm horas para …”

Restrições impostas pelo Regulamento Interno da

Escola – “E os nossos regulamentos internos, não é? Que

nos impedem de … há muitas regras. Há regras a mais nas

escolas.”

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Questão Subcategorias Prof. Respostas

16 Fatores que

poderão

facilitar a

aplicação da

ABPj

P1 Direção apoiar este tipo de projetos – “Haver um bom

trabalho de reconhecimento por parte das Direções, do

grupo da Física e Química …”

Interesse dos alunos por este tipo de projetos – “…

mesmo os próprios alunos que estão envolvidos nesse

projeto trazerem ideias, estarem disponíveis também para

facultar recursos que possam ser necessários para

desenvolver essa atividade.”

P2 Formação/Experiência do professor em ABPj – “…

portanto ter formação na área… portanto adquirir em

contexto real ou através de formação, portanto, existem

formações … ensino aprendizagem por projetos.”

Motivação do professor para este tipo de projetos – “…a

própria motivação do docente nesse tipo de trabalho, que é

fundamental. Estar convencido de que é positivo para os

alunos.”

Disponibilidade de recursos matérias – “… Ah e depois

os recursos, os recursos. A necessidade de “isto não

funciona, não funciona”, embora eu diga sempre … “isso

tem que ter isto, tem que ter aquilo”, eles têm essas ideias

“aquela experiência tem que dar aquilo”, não, não tem que

dar nada … vocês têm que fazer a parte experimental e

depois temos de saber interpretar aquilo que temos à nossa

frente…”

P3 Existência de uma disciplina de Projetos – “… retornar à

tal disciplina que era Área de Projeto que no fundo até

podia congregar os projetos … projetos mais

interdisciplinares porque apesar de a gente tentar fazer nem

sempre é fácil de conciliar todas as disciplinas.”

Aumento da carga horária das disciplinas de opção –

“… nas disciplinas de opção até, que a carga horária fosse,

digamos assim, bastava que restituíssem, por exemplo, no

caso da Química e a Física 12.º das atuais 4h para as 7h que

já existiram há bastante tempo, permitiam uma muito maior

… maior tempo para, digamos assim, para … desenvolver

os trabalhos de projeto e dar uma maior liberdade aos

professores e … não havia aquela sensação de que não se

vai conseguir dar a matéria naquelas horas e, portanto,

muito menos fazer trabalhos de projeto que absorvem muito

tempo e que realmente absorvem … as pessoas sentem um

bocadinho isso.”

P4 Fazer parte do currículo das disciplinas este tipo de

projetos – “…o facto de haver uma certa obrigatoriedade

no currículo de fazer este tipo de ensino … (…)Se calhar

pode ser em todas. Todas terem que desenvolver um … um

projeto, não sei.”

Existência de uma disciplina de Projetos – “Ou

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professores de 2 ou 3 disciplinas estarem no mesmo

momento juntos para desenvolver com os alunos um

projeto. Isso era uma coisa que facilitava.”

Formação/Experiência do professor em ABPj –

“Formação facilitava muito. Formar os professores para

ensinar dessa forma…”

Disponibilidade de recursos materiais – “Recursos a

todos os níveis, é preciso comprar um pedaço de madeira

não tem de se andar a rugar … pedir isso com um mês de

antecedência e pelas alminhas arranja-me ai umas rifas

porque preciso de construir uma estufa para pôr ali no

terreno da escola, não é? Pronto e … isso já para não falar

de coisas mais avançada, não é? Mas é preciso haver

recursos também porque essas coisas também custam

dinheiro …”

P5 Menor número de alunos por turma – diminuir a

extensão do programa da disciplina - “Olhe, desde logo

menor número de alunos por turma e programas mais

pequenos …”

P6 Formação/Experiência do professor em ABPj – “Que se

investisse muito mais na formação dos professores nesse

sentido, …”

Articulação no grupo disciplinar – “mas se calhar o

grupo disciplinar, lá está, … interagir muito mais e haver

um espaço semanal em que as pessoas se reúnem e pensar

“olha pelo menos numa aula mensal … tentamos usar e em

conjunto…”. (…)Pronto, mas teria de ser sempre com …

não acredito que uma pessoa sozinha … aliás como em

tudo na vida, não é? consiga … consiga pôr isso em prática

mas realmente … a escola dando condições para isso e

horário para isso e para as pessoas se encontrarem e

pensarem, refletirem e pensarem na forma de aplicarem …

se calhar até aos pouquinhos se podia começar a fazer …

nunca ser a prática comum, não é? mas começar aos

pouquinhos a fazer.”

P7 Motivação do professor para este tipo de projetos –

“Fator pessoal é o gosto que eu sei que a maior parte dos

colegas não tem, pronto. É verdade. Mas é o gosto por este

tipo de trabalho. Tem que se gostar senão … e o professor

tem que gostar deste tipo de trabalho senão não consegue

…”

Interesse dos alunos por este tipo de projetos – “Aos

nossos alunos, um fator que pode ajudar é … e que eu acho

que … e alguns deles já têm é a … é começarem a perceber

que há mais do que isto aqui, sala de aula, há mais do que

isto, há um mundo muitíssimo mais vasto… (…)É eles

perceberem que para além daqui, daqui o ambiente escola,

há muito mais que eu posso ver e experimentar e isso eu

penso que … a net veio, veio, a internet veio facilitar-

Page 306: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

291

lhes… é mostrar-lhes que há um mundo tão grande, tão

grande que o gosto pelo explorar e pela descoberta seja um

fator que facilite o … o eles ficarem a perceber que afinal

isto é giro.”

P8 Existência de uma disciplina de Projetos – “E depois ter

outro espaço, não é de nenhuma disciplina em particular,

em que temos um professor ou até dois ou três. O ideal

seria dois ou três de várias áreas, não é? … E que a escolha

do projeto fosse livre para diferentes alunos, não é? Eles

pudessem e se fosse obrigatório apresentavam no final do

ano letivo e fizesse parte da sua avaliação, do seu mapa

global, também depender disso porque o aluno não se vai

mostrar … infelizmente é assim em Portugal. Por muito …

hora … por muito interessados que eles estejam num

determinado projeto, o interesse é completamente diferente

se souberem que vai ter impacto na sua nota final.”

Direção apoiar este tipo de projetos - “… e … a escola

fazer disso um grande exemplo quando for a altura de

apresentar os projetos porque depois o ano seguinte não vai

querer apresentar piores projetos que o ano anterior.”

Formação/Experiência do professor em ABPj –

“Ajudava sempre, em vez de fazermos formação de tudo e

mais alguma coisa e não … precisávamos de formação …

porque não pôr os próprios professores a fazer projetos

porque também só se aprende, realizando-os, não é? …

Aprender na teoria para mim não tinha, não tem … não é?

grande interesse…eu acho que … a própria formação dos

professores seria, “escolhe um tema, escolhe um projeto,

apresentem-mo”, tal e qual como os alunos terão que fazer

e se começarmos por ai, que é o B,ABA, no sentido em que

começamos num nível mais básico que é nós próprios

sermos capazes de também implementar um projeto. Ai

acho que já estaríamos em situação de pudermos ajudar os

nossos alunos numa projeto…”

P9 Autonomia dos professores para gerir o currículo – “…

dar mais autonomia se calhar ao próprio professor para

gerir, por exemplo, os conteúdos programáticos … não ter

que se obrigado a cumprir aquele programa …”

Formação/Experiência do professor em ABPj – “… e

não sei se calhar também um bocadinho mais de … de

formação aos próprios professores, que é onde eu sinto

mais dificuldade porque as formações são todas … ou

melhor ... são muito teóricas, teóricas … e se calhar

deveriam ser também viradas mais para a prática …”

P10 Motivação do professor para este tipo de projetos - “…

lá está … o professor tem de estar predisposto a isso, está

bem? E isto é … e nem todos nós estamos… é mais fácil

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292

ser um professor convencional, do que ser um professor

assim. Lá está mas isso é a nossa maneira … é a nossa

motivação.”

P11 Menor número de alunos por turma - Diminuir a

extensão do programa da disciplina – “: Primeiro seria

programa menos extenso por causa do fator tempo. Depois

também acho que as turmas mais pequenas ajudariam

porque uma pessoa apesar de ter um papel passivo, se

tivermos 5 ou 6 grupos a trabalhar, é difícil uma pessoa

andar a ver o que é que … andam todos a fazer, não é?”

P12 Disponibilidade de recursos materiais - Diminuir a

extensão do programa da disciplina - Autonomia dos

professores para gerir o currículo - “Eu acho que deve

ser o flexibilizar e diminuir os currículos não é? E … e

conseguir ter os meios logísticos, materiais para …”

Page 308: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

293

Questão Subcategorias Prof. Respostas

17 Condições

ideais para

implementar a

ABPj

P1 Parcerias entre as Universidades e as Escolas – “…

poder haver uma articulação, protocolo com as

universidades, em que em simultâneo … conseguisse estar

mais atualizada a nível de investigação que está a ser feita

no momento … e criar um projeto para desenvolver com os

meus alunos e … em simultâneo … parte ser feita na

escola, criar essas condições na escola que me permitissem

junto dos meus alunos fazer … essa atividade e depois …

partes que não fosse possível porque a escola não tem

infraestruturas suficientes, às vezes, para determinado tipo

de investigação que atualmente já se faz … puder levá-los

para a própria universidade e … complementar uma outra

parte, com eles, a nível da investigação na própria

universidade.”

Formação para professores neste tipo de projetos - “…

eu própria me preparar para uma situação dessas, acho que

ainda tenho muita coisa para aprender para conseguir fazer

um trabalho nessa área, haver mais formação também …

provavelmente as escolas, centros de formação fazerem

uma maior aposta a esse nível, nestas áreas porque …

dentro daquilo que vou falando … não sei se a maior parte

dos colegas … são poucos os que poderão aplicar este tipo

de metodologias, estratégias junto dos nossos alunos.”

P2 Sala projetada para os alunos livremente fazerem

projetos - “…poderia ser uma sala própria que a escola

tivesse, com um professor … existem as tais bibliotecas

escolares, podia ser uma sala de Ciência Experimental, se

falamos de projetos na área das Ciências, podia ser também

simplesmente “Sala de Projetos” que também pode sempre

envolver outras áreas mas aqui são apresentados mais

projetos da minha área Ciências em que tínhamos, por

exemplo, posto de trabalho, em que tínhamos computadores

ligados à internet, em que tínhamos recursos materiais

disponíveis para a faixa etária … e um orçamento de parte

para o que fosse preciso, em que os alunos fora das suas

aulas pudessem frequentar e desenvolver projetos ao longo

do ano…”

P3 Reformular o currículo do Ensino Básico, incluindo

ABPj – “Eu penso que no Ensino Básico … a carga horária

dos alunos é extremamente elevada e para podermos

implementar trabalhos de projeto eu não penso que seria

preciso eles terem mais horas na escola mas talvez um

reformular do currículos de forma a … digamos assim,

otimizar o tempo que eles passam na escola, eventualmente

reduzir a carga horária de algumas disciplinas ou então

fundir disciplinas, como se faz em alguns países, e de forma

a libertar algum tempo para estas atividades de projeto…”

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294

Disciplina de projetos no 12.ºano – “No ensino

secundário acaba por ir “bater” ao que eu já referi. Ou

reimplementar uma nova disciplina de Área de Projetos, no

12.º ano…”

Aumento da carga horária das disciplinas de opção ou

diminuição da extensão do programa – “… atribuir mais

carga horária e no fundo talvez até simplificar um

bocadinho as metas associadas a algumas das disciplinas,

nomeadamente, das opções, de forma … se não se puder

aumentar a carga horária pelo menos para aligeirar os

programas e permitir uma maior, digamos assim, liberdade

na abordagem dos mesmos e não termos metas tão

especificas, digamos assim, e mais ter um conjunto … não

sei se deva chamar competências mas um conjunto de …

uma coisa mais leve … uns temas … que não haja um tanto

afunilamento e uma obrigação por seguir por este caminho,

por este ou por aquele mas a criação, por exemplo, de

temas a desenvolver nestas disciplinas e não tanto metas

específicas.”

P4 Formação para professores neste tipo de projetos -

Professores motivados para a ABPj – “… há aqui uma

questão chave … o professor tem que ser preparado para

isso e tem que gostar muito do que está a fazer e … tem que

ter competência para isso, pronto. Não há projeto que

resista a um professor desmotivado, não é? Professor que

não quer saber …”

Sala projetada para os alunos fazerem projetos – “…tem

de haver um espaço em que os alunos se sintam bem de

estar, que não seja aquele espaço austero da sala de aula

com 25 carteiras alinhadas e bem alinhadas … o quadro

branco ou preto na frente e o professor ali a debitar matéria

… portanto, tem que ser … o espaço não pode ser o

mesmo, não pode ser o mesmo. Um espaço com condições,

onde os miúdos gostem de estar e onde têm os recursos …

têm os computadores, … as ferramentas … o que fizer falta

para desenvolver … projeto, os materiais e as pessoas bem

preparadas para …”

Cultura da escola defensora deste tipo de projetos – “…

não sei mas também é importante isso, a forma como a

escola acolhe … por acaso a minha escola nesse aspeto toda

a gente colabora quando é preciso … e nas outras por onde

eu tenho passado … tenho essa experiência. Quando é

preciso todos, até os funcionários, ajudam. E quando não há

dinheiro para ir aqui ou ali até … toda a gente ajuda e até se

fazem rifas, vendem-se bolos … toda a gente ajuda, por

isso, não é … é isso, é importante o fator humano, o … o

próprio ambiente da escola … um trabalho de equipa, é um

trabalho de equipa.”

P5 Revisão do currículo da disciplina – “Não havia

programa, havia … não havia programa limitante, portanto,

Page 310: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

295

programa podia estar... Haveria um programa para ensinar e

o programa não teria tempo e … tinha que ser …(…) O

tempo não podia estar determinado e sendo assim

poderíamos fazer aquilo que fosse preciso com qualquer

aluno, aprendesse a uma velocidade ou a outra e

poderíamos chegar às aprendizagens de uma forma mais

efetiva mas eu diria que o tempo era fundamental.”

Turmas mais homogéneas em termos de aprendizagens

realizadas – “…turmas … não sei se isto é muito … sei lá,

tudo tem as suas vantagens e desvantagens mas teria que

haver turmas onde houvesse alunos com capacidades mais

próximas, onde houvesse … mais homogéneos, onde não

houvesse tanta disparidade de capacidade de

aprendizagem.”

Recursos materiais disponibilizados para os projetos -

“ser … tinha que haver material para pesquisa, tinha que

haver todo o material para a execução da … da parte

experimental, por exemplo, tinha …”

P6 Revisão do currículo da disciplina – “A revisão dos

programas, tempos distribuídos de forma diferente pelos

diferentes conteúdos…”

Articulação entre professores das diferentes disciplinas

do mesmo ano letivo – “…uma dinâmica de encontro dos

colegas que estão a lecionar os mesmos anos, muito maior e

ai teria de ser criado um espaço semanal para essa prática

… (…)… uma escola muito mais aberta e era aquilo que eu

lhe estava a explicar que aconteceu nessa minha

experiencia em Área de Projeto e não era à toa que a

disciplina de chamava Área de Projeto, em que de facto a

porta estava aberta, uns alunos estavam a trabalhar aqui,

outros iam para a oficina, outros iam falar com a professora

de Português porque até estava em apoio ou na biblioteca e

… e de facto numa dinâmica destas teria que de facto a

escola estar toda evoluída, não podia ser … uma prática

“olha só naquela disciplina”.”

Cultura da escola defensora deste tipo de projetos –

“…tinha que haver de facto uma mudança nas mentalidades

mesmo vindas logo de cima, da Direção, que é a parte …

(riso) … quer se queira, quer não, que depois comanda

todos os nossos procedimentos. Pronto.”

P7 Turmas com menos alunos – “Turmas pequeninas para se

puder trabalhar … para se criar uma relação interpessoal

com os alunos e puder trabalhar de outra forma, turmas

pequeninas;”

Revisão do currículo da disciplina – “Tinha de haver uma

revisão total dos programas, dos programas no sentido de

ter de dar muita coisa em pouco tempo, isso não facilita

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296

nada…”

Articulação entre professores das diferentes disciplinas

do mesmo ano letivo – “…haver também um cruzamento,

uma interdisciplinaridade diferente do que tem havido até

agora. Haver um cruzamento de saberes … um cruzamento

de saberes.”

Horário do professor contemplar horas para

preparação das atividades do projeto – “horários …

agora estou a falar nós professores … horários com a

capacidade de abarcar tempos para que eu possa deslocar-

me a outros sítios e não esteja confinada ao espaço escola e

os programas.”

P8 Formação para professores neste tipo de projetos – “…

portanto, criar essa equipa multidisciplinar, com formação

sempre, naturalmente, e … tentar implementar isso sem que

os professores se sintam minimamente preparados não vai

dar em nada, isso já se fez na Área Escola e é repetir erros

do passado. Portanto, tem que se começar do zero nesse

sentido porque nós não estamos de facto … a nossa

formação base enquanto licenciados não nos preparou

minimamente para uma metodologia deste género, ponto

final. Nem como alunos … nós como alunos estivemos

sempre sujeitos há mesma modalidade de ensino, portanto,

é isso que nós mais sabemos fazer. Portanto, eu poria a

formação em primeiro lugar, depois a criação desse tal

espaço …. Em que os alunos, eu até acho … é difícil de

implementar mas … em vez de criar esse espaço para uma

turma, criar esse espaço em que pudessem juntar alunos de

diferentes anos, eventualmente, portanto, dedicar uma

tarde, 4.ª feiras de tarde, toda a gente faz projeto, ok?”

Sala projetada para os alunos fazerem projetos –

“…criar aquele espaço que falava até aqui. Criar esse

espaço, criar equipas ou seja não só um professor mas uma

equipa de três professores, um da área das TIC que pudesse

dominar a automação, etc., um da área das Ciências Físico-

Químicas e outro da Ciências Naturais, … eventualmente

Matemática mas pronto Físico-Química poderá dar uma

mãozinha ai … portanto, criar essa equipa multidisciplinar

… (…)…. Em que os alunos, eu até acho … é difícil de

implementar mas … em vez de criar esse espaço para uma

turma, criar esse espaço em que pudessem juntar alunos de

diferentes anos, eventualmente, portanto, dedicar uma

tarde, 4.ª feiras de tarde, toda a gente faz projeto, ok?”

P9 Sala projetada para os alunos fazerem projetos – “P9:

… portanto, ter salas com vários … com equipamento

necessário para fazer pesquisa, para se puder trabalhar,

portanto, … fazer a experimentação e analisar … sei lá …

Page 312: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

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não sei. Tanta coisa.

I: Efetivamente salas equipadas, portanto, com

equipamento …

P9: Em que se pudesse fazer a pesquisa teórica, pudesse

depois aplicar, portanto, experimentar … puder tirar

conclusões daquilo que foi trabalhado … penso que sim …

poderia ser começar por ai.”

P10 Turmas com menos alunos – “Menos alunos em cada sala.

Ok? É mais fácil eu orientar no máximo 12 alunos do que

orientar 25, 26 ou 30 porque é assim, eu para orientar tenho

de estar atenta aquilo que eles estão a fazer e íamos voltar

outra vez que a postura deles, às vezes, leva para a

brincadeira e pronto.”

Flexibilidade na gestão do currículo – “… por exemplo,

vamo-nos referir ao 3.º Ciclo. O 3.º Ciclo são 3 anos, não

… o ensino não estar fechado, não estar fechado por ano.

Ok? Eles estão no 7.º ano a desenvolver um projeto e …

queriam seguir essa via e … eu não lhes posso dizer “olhem

esperem ai que agora o próximo, o que está em seguimento

desse só pode ser no próximo ano porque isso é do 8.º”.

Não estar, não haver portas entre o 7.º, 8.º e 9.º para eles

poderem …”

Não haver condicionamento a um espaço físico para a

aula – “Depois não ter condicionamentos de espaço, ok? Se

eu hoje preciso do laboratório, eu tenho o laboratório das

tantas às tantas e tenho lá tudo aquilo que é preciso. Não

estar condicionada a um espaço que está estabelecido num

horário.”

P11 Turmas com menos alunos – “Primeiro era uma turma

mais pequena, portanto, 15 ou 16 alunos.”

Recursos materiais disponibilizados para os projetos –

“Depois terem o material necessário para fazer a pesquisa e

até o material necessário para fazerem as atividades que

eles achavam pertinentes…”

P12 Revisão do currículo da disciplina – “e se os currículos

não fossem tão estanques e tão extensos, se calhar era mais

viável fazer essa articulação e eu acho que é positiva

porque consegue-se ir buscar outras áreas e … e está tudo

interligado, não é?”

Flexibilidade na gestão do currículo – “E ter uma

flexibilidade curricular. Também já conseguiam ir ao

encontro com mais … outras áreas … pedir a colegas a

colaboração, não é?”

Recursos materiais disponibilizados para os projetos –

“Que seriam … é eles terem acesso a um laboratório para

eles próprios testarem, não é? Os miúdos terem acesso a um

laboratório bem equipado, terem os meios tecnológicos …”

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299

Questão Subcategorias Prof. Respostas

18 O que

precisam de

saber os

professores

para

implementar a

ABPj

P1 Como implementar corretamente este método de ensino

– “… a uma boa formação de base para ter a noção de

como é que se aplica o projeto, como é que se elaboram e

… para depois puder … desenvolver com os seus alunos

nas suas aulas.”

P2 Como implementar corretamente este método de ensino

– “Ou já terem formação adquirida em contexto real, ou

fazer formação, precisam de saber … estar motivados para

… porque sem motivação não funciona, não funciona.

Perceber que pequenas coisas fazem a diferença, às vezes

… o nome muito pesado Aprendizagem por Projetos e a

palavra Projeto … pode ter uma conotação pesada, de coisa

grande quando pode ser uma coisa pequenina… uma coisa

muito simples. Só que a abordagem da temática não é a

abordagem tradicional é por … aprendizagem por projeto

… (…)... Isso o professor tem de saber exatamente o que é

que é e dar alguma liberdade, obviamente, dentro da faixa

etária e eles fazerem…”

P3 Estarem atualizados cientificamente - “Bem … desde

logo têm de estar atualizados … a gente tem de procurar

estar muito atualizado cientificamente e quando digo

atualizado cientificamente não tem que ser a última

tecnologia mas … ter algum conhecimento de algumas …

alguma evolução científica que ocorreu para muitas vezes

puder orientar os alunos no caminho certo. (…)… nós todos

temos acesso à informação mas eles muitas vezes nas suas

conversas e … eles estão sempre “em cima” das novas

tecnologias e acabam por ter conhecimento de coisas que

nós não fazemos ideia e muitas vezes somos confrontados e

ficamos admirados … se nós queremos ajudá-los no

desenvolvimento dos trabalhos de projetos temos de estar

pelo menos ao nível deles que é para também … ou até um

bocadinho acima que é para depois os puder orientar nos

“caminhos certos”.”

P4 Como implementar corretamente este método de ensino

– “… O professor tem que saber ouvir, tem que saber …

orientar, tem que ser um bom gestor de recursos … quer

dizer no fundo … (…)O professor tem aqui um papel muito

importante e tem que ser … tem que saber gerir bem os

recursos que tem, recursos humanos, recursos físicos…”

Dominar as ferramentas com que vai trabalhar – “…

depois tem que dominar minimamente as ferramentas com

que vai trabalhar, não é? Se lhes vai pedir coisas na área da

eletrónica e da … tem de estar preparado para resolver

problemas dessa área ou senão …ou saber a quem vai

perguntar. A quem … ter alguém que o apoie. Muitas vezes

… não é preciso saber tudo mas ter alguém que possa

Page 315: Tânia Sofia Teixeira Fernandes · Doutora Maria Teresa Machado Vilaça Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências da Educação Área de Especialização em Supervisão Pedagógica

300

ajudar … houve um bloqueio mas o professor está

preparado para dar resposta … não é preciso muito mais.”

P5 Como implementar corretamente este método de ensino

– “Se calhar tem que ter uma formação para saberem como

devem orientar as suas aulas porque para … para se fazer

qualquer trabalho é preciso saber o que se está a fazer e,

portanto, se calhar formação nessa área era o que

precisávamos.”

P6 Como implementar corretamente este método de ensino

- “…ter uma motivação maior também … e depois claro ter

também formação especializada de como fazer … pronto.

Acho que não é impossível para ninguém começar a

praticar uma metodologia por projeto mas acho que

requeria também … claro que dependendo dos casos …

alguns colegas iriam muito mais facilmente conseguir

chegar à aplicação em sala de aula muito mais facilmente

que outros mas eu acho que … regra geral toda a gente

conseguiria. Teria de haver um investimento muito grande

de todas as partes … de todas mesmo, não é? para que isso

aconteça.”

P7 Saber que este tipo de projetos é reconhecido e validado

pela escola e pelos pais – “Precisam de saber que o

trabalho que vão fazer com os alunos é reconhecido e é

validado e não é um trabalho para encher tempo ou para os

meninos fazerem uns cartazes e colarem não sei aonde.

Portanto, precisam de saber que esse trabalho vai ser

reconhecido por quem de direito e que vai ser validado

também … (…)Precisam de saber, por assim dizer, que têm

as costas quentes, isto é, que estão a ser apoiados e que o

seu trabalho está a ser validado, está a ser … é importante o

trabalho que estão a fazer daquela maneira. É importante.

Penso que precisam também de ter o reconhecimento dos

pais, não é? Perceber que afinal o ensino não tem que ser só

aquele diretivo mas pode ser de outra forma…”

Como implementar corretamente este método de ensino

- “… perceber como é que funciona o trabalho de projeto,

não é? Perceber que não é fazer um cartaz com meia dúzia

de coisas lá penduradas e está. Em cartolina, com 3 ou 4,

não é? e que já está. Não. Perceber como é que se faz um

trabalho de projeto e para isso às tantas precisam de uma

formação.”

P8 Como implementar corretamente este método de ensino

- “Tem que ter experiência. É isso. Eu acho que tem de

começar por ai. O professor tem de se auto propor a realizar

os seus próprios projetos.. tem de dominar uma

determinada disciplina … já não digo todas, tem de ter um

leque mais abrangente, de conhecimentos mais abrangentes

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e lá está passa sempre pela formação.”

P9 Estarem atualizados cientificamente – “… que há falta de

formação a nível científico para os professores, ao longo

…”; “Em Física e Química … dentro da área das Ciências

… acho que falta um bocadinho isso … mas além disso o

que há é tudo pago. Se a pessoa quiser … saber mais ou faz

a pesquisa por ela própria, como eu costumo fazer muitas

vezes, não é? E … mas eu creio que as próprias

universidades podiam criar centros de formação … para

que os professores ao longo da vida profissional possam

depois aprender mais, no fundo aprender mais.”

Como implementar corretamente este método de ensino

– “… É assim nós saímos da faculdade e é muita teoria, não

é? … E depois ao longo da vida, nós vamos aprendendo

com a prática de darmos aulas … e … eu sinto, continuo a

sentir e sentirei que há determinadas coisas, se calhar, e até

pequenos projetos … se calhar podiam ser levados para a

escola mas depois falta-nos formação para podermos …

trabalhar e orientar os alunos em determinadas pesquisas

…”

P10 Conhecimento concetual mais abrangente e

interdisciplinar – “… nós temos de ter um bocadinho de

abertura para todas as disciplinas...”

Conhecimento do currículo do Ensino Básico e

Secundário da disciplina – “E não se fechar apenas nos

Ciclos em que dá aulas. Saber o que se passa para trás. Por

exemplo, no Secundário, as pessoas passam anos e anos no

Secundário, às vezes, esquecem-se do que vai para trás e os

que estão com o 3.º Ciclo anos e anos esquecem-se daquilo

que vai para a frente.”

P11 Como implementar corretamente este método de ensino

– “Primeiro … saber, saber penso que não têm que saber

grande coisa porque só tem que perceber aquilo que se

falou, passar de um papel ativo para um papel passivo.

Depois estar atento, atentos para saber orientá-los quando

eles estão a fugir um bocadinho daquilo que é esperado…”

P12 Como implementar corretamente este método de ensino

– “O que precisam de saber? Se calhar muito … temos que

aprender se calhar, não é? Eu nem sei se há pontos …

essenciais para ser considerado um projeto … “; “… Ah

precisa de estar à vontade com os métodos de investigação

e … e ter se calhar uma mentalidade um bocadinho aberta

para … promover a discussão de determinados temas, que

sejam mais autónomos, não é?”

Domínio dos temas a investigar - “… Tem de dominar os

temas, dos projetos.”; “Sim, tem que dominar os temas, não

é? Ou também aprender como eu aprendi e eu acho que

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também deve haver mas tem dominar a base, não é?”

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Questão Subcategorias Prof. Respostas

19 Características

da formação

de professores

para a ABPj

P1 Modalidade de formação: “De oficina … No meu entender

seria interessante ter uma em formato de oficina porque …

nessa modalidade há sempre uma parte que é dada pelo

formador, a esclarecer como funciona e como é que se tem de

implementar e depois cada formando apresentar o seu projeto e

ai há uma forma de puder ser validada, por alguém especialista

nessa área, para tirarmos as devidas conclusões …”

Duração: “… No mínimo 50 horas e às vezes poderá ser até

mais.”

Formadores: “… Devem ser pessoas que já fazem

investigação nesta área e as universidades provavelmente serão

o local onde teremos as pessoas mais indicadas para

desenvolver este tipo de ação.”

Metodologia: “… nessa modalidade há sempre uma parte que

é dada pelo formador, a esclarecer como funciona e como é que

se tem de implementar e depois cada formando apresentar o

seu projeto.”; “… é apresentar situações problema ao grupo dos

formandos e como é que eles resolviam essas situações … para

que em conjunto seja feito um levantamento de como

desenvolver esses tipos de projetos porque cada pessoa tem

uma forma de interpretar, tem ideias que às vezes são

diferentes mas que em conjunto se complementam para sair um

bom produto, no final.”

Avaliação: “A avaliação será em termos da sua participação,

desempenho na ação e … apresentar um … projeto que tenha

sido desenvolvido juntamente com os alunos seus, desse ano,

para apresentar nessa ação.”

P2 Modalidade de formação: “… tem que haver aqui uma

conjugação de conceitos teóricos que … portanto … no fundo

… permitam que os professores adquiram … a filosofia em

termos teóricos, pronto. Agora é a conjugação. Depois eles

podem fazer projetos porque só quem passa por elas é que

percebe o que é, quais são as dificuldades de implementação,

como é que vamos implementar, como é que vamos fazer mas

a modalidade devia ser na forma de Oficina.”

Duração: “Tinha-se também que saber… tinha-se também que

definir com o Conselho de Formação e saber qual é a

experiência que eles têm mas … não há aqui um tempo fixo,

depende daquilo que pretendemos portanto podemos fazer

formação de curta duração para “sincronizar” e para mostrar

como é que se faz e eles que façam alguma coisa em pequena

escala ou pode também ser uma formação de maior escala.”

Formadores: “… podiam ser professores que já têm

experiência no campo … isso seria fundamental … professores

que têm experiencia no campo, que trabalham por projetos e

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sabem do que estão a falar. Isso seria muito diferente porque …

porque há muitas coisas que em termos teóricos sabemos mas

que na prática ganham mais sentido. Não é? Porque nós

sabemos professores, nas aulas e aprendemos na Licenciatura,

depois na prática nós damos o cunho pessoal, o cunho prático

de como contornar os problemas que surgem, porque os

problemas não estão escritos na teoria, estão na prática…”

Metodologia: “ … que tem a vertente teórica e a vertente

experimental, em que o grupo de professores propriamente tem

de resolver uma questão-problema, tem que se pôr no papel do

aluno… fazer, desenvolver um projeto… em pequena escala ou

propriamente … pode ser de duas formas, ou eles aproveitam a

formação e aplicam em contexto de sala de aula, ou serem eles

próprios alunos a tempo inteiro, no âmbito da formação, e

resolver o problema segundo essa filosofia porque sentem na

pele o que é aprender por projetos…(…) Até pode ser por

etapas, 2,3 etapas em que eles apresentam os produtos

intermédios aos colegas. Falo em produtos seja planificação,

seja … eles podem fazer como se fossem alunos. Acho que isso

seria a melhor forma de cativar os professores para esse tipo de

trabalho.”

Avaliação: “Portanto teria de ser uma avaliação muito próxima

do que seria com os meus alunos para eles sentirem como se

avalia uma … aprendizagem por projeto. Tinha … tinha

interesse que se avaliasse dentro do possível, como é que se

avaliam os alunos então eu vou avaliar os professores da

mesma forma.”

P3 Modalidade de formação: “… teria de ser Oficinas coisas

práticas, não é? …”

Duração: “… Portanto, um tipo … este tipo de ação de

formação deveria ser uma ação de formação ao longo do ano.

(…) Teria de ser mais um acompanhamento até do que uma

formação de 1 mês, nem que fossem 50 ou 100h, porque os

problemas vão surgindo à medida que a pessoa vai … que as

situações vão aparecendo. E se a formação já tiver acabado, a

pessoa pode sentir um bocado mais constrangida … seria mais

numa perspetiva de um acompanhamento, uma ação de

formação mais de … se é que isso é possível … de

acompanhamento ao longo do ano mais até do que sessões

formais durante X horas por mês ou … seria mais neste sentido

… uma espécie de apoio. Alguém que as pessoas pudessem

recorrer quando … à medida que as dificuldades fossem

surgindo.”

Formadores: “A formação deveria ser essencialmente com

pessoas que já implementaram no terreno muitos trabalhos de

projeto e que tenha alguma prática porque aqui eu acho que é

fundamental … uma formação por alguém que já tivesse

prática no terreno e que já tenha desenvolvido e que pudesse

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partilhar as dificuldades que lhe apareceram ou … o tipo de

reação dos alunos a determinado tipo de coisas.”

Metodologia: componente teórica – “… alguém que já andou

lá, na prática … que já trabalhou com os alunos, que tenham

um feedback de como eles reagiram, como eles desenvolveram

os projetos, o que correu bem e correu mal … assim … no

fundo é uma partilha com outros colegas daquilo que foi feito

para eles também poderem criar, digamos assim, o “bichinho”,

digamos assim, para desenvolverem essa … esse tipo de

atividades.” Componente prática – “Em que a pessoa começava

no início do ano a desenvolver o projeto e ao longo do ano ia

ter o apoio dessa pessoa que está mais habituada para também

o ajudar a resolver as dificuldades.”

Avaliação: “… eu acho que seria mais uma avaliação de

verificar se a pessoa foi capaz de responder aos problemas, se

foi capaz de … com ajuda … de os solucionar, se foi capaz de

gerar nos alunos todo o tipo de habilidades que eles precisam

para resolverem os problemas …(…) … se foi capaz de saber

lidar com os problemas que lhe iam surgindo.”

P4 Modalidade de formação: “Tem de ser prática. Tem que ser

prática, portanto, os professores para aprender um ensino

através de pro… por esta metodologia de projeto têm que fazer

projetos, têm de desenvolver projetos … mesmo os próprios

professores.”

Duração: “São anos … são anos isso demora muito tempo,

acho eu. Acho que demora muito tempo a … mas pronto

qualquer formação que faça é boa, não é? O professor vai

aprender sozinho também, “mete-se o bichinho e tal”, o

professor fica a gostar daquela modalidade e depois no ano a

seguir repete e … no ano a seguir volta a repetir e depois vai

apurando também o seu método.”

Formadores: “. Eu vejo muitas vezes pessoas a dar formação

teórica, nunca experimentaram, nunca … nunca testaram se

aquilo que estão a dizer funciona ou não. Estão a dizer aquilo

porque vem nos livros. Acho que é muito importante falar com

conhecimento de causa … e ver o que funciona, o que não

funciona … ter experiência. A experiência é uma coisa

importante.”

Metodologia: “Tem de ser prática. Tem que ser prática,

portanto, os professores para aprender um ensino através de

pro… por esta metodologia de projeto têm que fazer projetos,

têm de desenvolver projetos … mesmo os próprios

professores.”

Avaliação: “… quer dizer a avaliação tem que ser um

processo, as pessoas têm que ter ali no meio uma série de

etapas que vão cumprindo e a sua avaliação vai sendo feita, não

é? o professor tem que fazer uma … planificar uma atividade

na sessão de hoje. No fim a atividade tem de estar planificada e

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bem planificada e pronto já está avaliado o professor, objetivo

atingido.”

P5 Modalidade de formação: “… é assim, a formação deveria ser

se calhar vir cá alguém que já está habituado a dar as aulas com

base em projetos e vir para a sala de aula e dizer assim “olhe,

eu vou dar uma aula baseada em projetos. Quero que esteja …

está aqui a informação, quero que esteja a ver.””; “Já habituado

a ministrar dessa forma que viesse mostrar, demonstrar que

realmente dar aquela aula desta ou daquela forma é … viável e

que … é viável e pode ser feita e … que não há qualquer

constrangimento, qualquer … dentro daqueles que existem mas

que é possível fazer-se aquilo que se teoriza.”

Duração:

Formadores: “…a formação deveria ser se calhar vir cá

alguém que já está habituado a dar as aulas com base em

projetos…”

Metodologia:

Avaliação:

P6 Modalidade de formação: “Teria que haver uma introdução

mas depois teria mesmo que na própria formação se

exemplificar e dar exemplos concretos de … de como se faz.”

Duração: “Isso não sei porque … porque eu também não sei a

exigência desse género de metodologia, não é? e também seria

com certeza diferente de pessoa para pessoa … não … é como

lhe digo, não tenho a noção porque nunca tive uma formação

nesse sentido. Sei que se fosse para ser implementada a serio,

teria haver mesmo muita formação.”

Formadores: “Pessoas que já tivessem experiência nesta área

ou a nível de ensino superior mas já … com conhecimento

porque às vezes à um distanciamento muito grande da realidade

do ensino superior, do que se estuda … no laboratório, depois

na aplicação no ensino básico e secundário, são realidades

muito diferentes mas teríamos de facto que ter formação

orientada por pessoas que tivessem experiência ou

conhecimento da aplicação da metodologia de projeto nas

Ciências.”

Metodologia: “Teria que haver uma introdução mas depois

teria mesmo que na própria formação se exemplificar e dar

exemplos concretos de … de como se faz. (…) Nós temos que

ver exemplos, têm que nos mostrar “neste conteúdo funciona

muito bem, fazemos assim”… mudar, explicar, temos que

sentir … por isso é que eu acho que também somos das

Ciências, sou assim em tudo na vida. Não me adianta dizerem

“olhem vai ser assim”. Não. Eu tenho que … eu própria

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experimentar para ver … “ah, afinal é assim que se faz”. Meter

a mão na massa.”

Avaliação:

P7 Modalidade de formação:

Duração:” Termos tempo nos horários, nem que fosse … ok, o

professor vai ter no seu horário, por exemplo, agora estou a

falar dos professores de Ciências, termos um dia comum em

que, por exemplo, não tivéssemos aulas na escola mas

pudéssemos ter aulas, por exemplo, na universidade. Entende?

E não é 25 horas ali dadas à pressão no fim de um dia. Ok

durante um semestre, chamem-lhe como quiserem … ok, todos

os professores desta escola, dos de Física e Química, dos …

não interessa … Física e Química vamos falar só por nós …

ok. Todos têm, por exemplo, a 4.ªfeira de manhã, não têm aulas

mas estão todos na Universidade do Minho a ter … mas uma

coisa gira, fantástica, não é chegar ali e ouvir alguém a falar,

falar, falar …”

Formadores: “Sempre … a meu ver … sempre em parceria

com alguém que esteja numa universidade, seja qual for, mas

também com colegas, connosco, portanto, com colegas que

estão aqui em campo, no terreno porque é assim um professor

universitário, obviamente, e como eu digo …(…) tem um

mundo à frente dele que é totalmente distinto de um mundo

como uma escola destas, uma secundária. Num terceiro ciclo

nem se fala. (…)… tudo muito bem com certeza, pessoas que

estão na investigação e que estão na área pois com certeza mas

também alguém que esteja no terreno porque eu tenho a parte

do terreno e o outro colega ou o outro professor da

universidade tem a parte teórica, a investigação.”

Metodologia: “… tem de haver sempre alguma parte teórica

mas que seja uma coisa muito mais … até que nós pudéssemos

desenvolver um trabalho de projeto, uns com os outros, uns

com os outros.”

Avaliação: “Nós fizemos um trabalho de projeto e vamos

apresentar aqui ao resto dos colegas. Estamos na UM. Mas sem

aquela … “ai meu Deus eu não vou ter, não vai dar nota…”.

Não. Percebe? Apresentar de outra forma: “nós vamos partilhar

convosco o que nós fizemos. As dificuldades que sentimos, o

… aquilo que nós tiramos daqui de bom, aquilo que nós

conseguimos fazer foi isto. Ok. O que é que vocês acham?” e

depois alguém teria que … não é? “O que é que vocês

acham?”… “foi um trabalho interessante, conseguimos tirar

ideias para nós”. Pronto e a avaliação para mim era isso.”

P8 Modalidade de formação:

Duração: “Isso é difícil de responder mas … não é … tem de

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ser uma formação anual, um ano pelo menos. Estamos a falar

de projetos a sério, projetos com uma determinada

envergadura, não é? E se tivermos no ativo, a desenvolver isso

fora de horas, um ano seguramente.”

Formadores: “Alguém mais capacitado do que nós. Pode ser

as universidades mas alguém que … parte muito de cada um de

nós mas temos de ter uma entidade que regulamenta, que nos

orienta, não é? Uma vez que nós já somos licenciados teria que

ser sempre a universidade a ter esse papel.”

Metodologia: “P8: Tinha que ser prático, teoria já temos nós,

não é?... Nós percebemos que Química, percebemos de Física

… tem que ser formação prática, pôr-nos à prova. É isso que

nos falta, é … ok, tenta desenvolver um projeto … que seja

palpável, que se veja, que tenha utilidade, que … não é?

I: Colocar os professores a fazer projetos …

P8: Desenvolver projetos, papel do aluno. Começar por ai.”

“É para perceber as dificuldades que os nossos futuros alunos

vão encontrar pela frente e … como é que nós conseguimos

resolver essa questão ou como é que nós fizemos, que

informação … onde é que procuramos informação … para

depois também dar essas ajudas ao próprio aluno, não é?”

Avaliação: “… se conseguiu concluir aquilo que se propôs,

não é? Conseguiu realizar o projeto … e depois terá que ter

obviamente … terá que estar relacionado com a dificuldade do

próprio projeto, não é bem dificuldade que eu queria dizer … é

mais … portanto, há projetos que são mais fáceis e há outros

que são mais difíceis, mais completos, mais … não é? Terá que

haver … uma relação daquilo que se conseguiu produzir, mais

completo, menos completo, mais … depende.”

P9 Modalidade de formação:

Duração: “… poderia ser dada, por exemplo, durante um

período … não sei, talvez.”

Formadores: “… penso que sempre alguém que estivesse mais

… direcionado mas teria que ser a nível das universidades,

penso eu.”; “Alguém com experiência nessa área … que depois

nos transmitisse a nós professores … para nós desenvolvermos

um trabalho mais … apelativo com os alunos.”

Metodologia: “Depois se calhar partir de exemplos … que às

vezes a nós nem nos passa pela cabeça … “olhem se calhar este

exemplo servia para vocês desenvolverem um trabalho…”,

como é que deviam fazer … o quê que podiam … para que

lado deviam caminhar os alunos … quais os constrangimentos,

quais … as facilidades…”

“I: Falou em transmitir … considera que é suficiente …

portanto, a transmissão de conhecimento de como

implementar?

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P9: E se calhar também obrigar os próprios professores a …

entre eles, por exemplo, em grupo a … lançar um desafio de

um projeto qualquer, serem eles próprios … para também

sentirem as dificuldades, não é? Os constrangimentos que

depois, provavelmente, os alunos também vão ter … e depois

se calhar como depois puder ultrapassá-los para depois também

ajudar os alunos … quando eles sentirem essas dificuldades. “

Avaliação: “P9: Uma ficha que … pronto … que avaliasse o

projeto todo em si, para ver a … não sei … em termos de

avaliação é um bocado … difícil mas se calhar o que seria mais

… não é correto, agora falta-me a palavra … que não …

prejudicasse uns …

I: Mais justo.

P9: Mais justo, mais justo porque nós sabemos sempre que há

uns que trabalham mais que os outros, não é? … ou então teria

que ser uma avaliação igual por todos, independente de … de

um ter feito mais que o outro… não sei mas se calhar uma

ficha de avaliação sobre o próprio projeto … claro que ai teria

que ser um projeto … o mesmo projeto para todos os grupos da

turma, não é?”

P10 Modalidade de formação:

Duração: “Um mês … é assim … um mês, uma vez por

semana são quatro vezes porque também não pode ser mais de

3 horas porque senão depois ninguém aguenta porque depois

nós também temos que trabalhar e não sei que mais. Portanto, 4

x 3 são 12, não impensável. Meio ano? Depende também de

nós, não é? Se calhar, eu consigo aprender muito em 2 meses

se fizer as coisas com muito gosto e com muito entusiasmo,

mais do que se andasse ali 1 ano contrariada. Certo? Mas nunca

… se a curta duração são aquelas que a gente faz de 25 horas,

isso nunca daria nada.”

Formadores: “É assim, eu sei que a nível de faculdade, estou a

falar da Faculdade do Porto … eu sei que a nível de faculdade

há muitos professores … que têm estudado isto tudo.

Teoricamente também mas eles têm desenvolvido ao longo

destes anos trabalho nesse campo. Portanto, seriam as

primeiras pessoas que eu me lembraria … de recorrer …”

Metodologia: “Pusessem-nos a fazer projetos, “então que

projetos é que vocês vão dar aos vossos alunos?” mas já numa

… globalmente … porem-nos a nós a fazer as coisas. O que

nós vamos fazer aos nossos alunos, fazerem-nos a nós.

Apresentarem-nos uma data de casos e fazerem o papel de

orientadores. Fazerem-nos chegar lá sozinhos.”

Avaliação: “… a avaliação seria se calhar … a avaliação

prática também … porem-nos … nós fazermos isto, aplicarmos

isto a uma turma que quiséssemos e a nossa avaliação seria os

resultados finais da turma e eu estou a apostar alto. Se os

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alunos não tivessem recetivos, a minha avaliação ia depender

disso.”

P11 Modalidade de formação:

Duração: “I: E a duração? Pode ser uma formação de 25 horas,

então.

P11: Sim, sim acho que chega perfeitamente.”

Formadores: “Se calhar alguém … alguém mais habituado a

trabalhar em projetos. Uma pessoa quanto mais trabalhar, mais

está à vontade.”

Metodologia: “… Uma parte teórica para explicar como é que

deve ser um trabalho de projeto, os objetivos que se querem.

Depois uma parte prática de uma aula, quer dizer quem arranja

um tema com um bocado de jeitinho arranja os outros,

portanto, se praticar para um, se arranjar para um depois

arranja para os outros.”

Avaliação: “Portanto, na formação … pensar na formação …

fazia-se um esquema daquilo que se quer e depois ia-se à turma

aplicar e depois via-se se correu bem ou não mas também às

vezes pode correr mal e não tem nada a ver com aquilo que

uma pessoa fez. Teve a ver com os alunos ou outras coisas. A

avaliação é sempre um bocado subjetiva … mas seria qualquer

dentro desse género.”

P12 Modalidade de formação:

Duração: “Eu acho que sim. As 25 horas, com mais as 25

horas não presenciais, não é?”

Formadores: “Se calhar os da universidade, não sei. Que

trabalham mais em projetos porque desenvolvem mais projetos

que no Básico, não é? Fazem mais investigação …”

Metodologia: “P12: Com exemplos práticos, não é? Dar-lhes

ferramentas para eles saberem planear um projeto. Seja o

professor a dar ou os alunos a planearem, o professor tem que

saber como é que se planeia um projeto, não é? E saber dar as

linhas orientadoras.

I: E chegaria uma apresentação teórica com essas linhas

orientadoras?

P12: Não, acho que tem de ser prática mesmo. Tinham que ser

workshops mesmo.

I: Os professores a implementarem.

P12: Os professores a implementarem.”

Avaliação: “Com … não sei … com uma apresentação da ideia

de um projeto.”

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