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Tipologias textuais: Descrição e Narração
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A diferença entre descrição, narração e dissertação
Géneros Literários Género Narrativo
Esquema da narração
Tipos de redacção ou composição
Tudo o que se escreve recebe o nome genérico de redacção (ou composição). Existem três
tipos de redacção: descrição, narração e dissertação. É importante que perceba a diferença
entre elas. Leia, primeiramente, as seguintes definições:
Descrição
É o tipo de redacção na qual se apontam as características que compõem um determinado
objecto, pessoa, ambiente ou paisagem.
Exemplo:
A sua estatura era alta e seu corpo, esbelto. A pele morena reflectia o sol dos trópicos. Os
olhos negros e amendoados espalhavam a luz interior de sua alegria de viver e jovialidade. Os
traços bem desenhados compunham uma fisionomia calma, que mais parecia uma pintura.
Narração
É a modalidade de redacção na qual contamos um ou mais factos que ocorreram em
determinado tempo e lugar, envolvendo certas personagens.
Exemplo:
Numa noite chuvosa do mês de Agosto, Paulo e o irmão caminhavam pela rua maliluminada
que conduzia à sua residência. Subitamente foram abordados por um homem estranho.
Pararam, atemorizados, e tentaram saber o que o homem queria, receosos de que se tratasse
de um assalto. Era, entretanto, somente um bêbado que tentava encontrar, com dificuldade, o
caminho de sua casa.
Dissertação
É o tipo de composição na qual expomos ideias gerais, seguidas da apresentação de
argumentos que as comprovem.
Exemplo:
Tem havido muitos debates sobre a eficiência do sistema educacional. Argumentam alguns
que ele deve ter por objectivo despertar no estudante a capacidade de absorver informações
dos mais diferentes tipos e relacionálas com a realidade circundante. Um sistema de ensino
voltado para a compreensão dos problemas socioeconómicos e que despertasse no aluno a
curiosidade científica seria por demais desejável.
**
Não há como confundir estes três tipos de redacção. Enquanto a descrição aponta os
elementos que caracterizam os seres, objectos, ambientes e paisagens, a narração implica
uma ideia de acção, movimento empreendido pelos personagens da história. Já a dissertação
assume um carácter totalmente diferenciado, na medida em que não fala de pessoas ou factos
específicos, mas analisa certos assuntos que são abordados de modo impessoal.
A NARRAÇÃO
Tipos de narrador
Narrar é contar um ou mais factos que ocorreram com determinadas personagens, em local e
tempo definidos. Por outras palavras, é contar uma história, que pode ser real ou imaginária.
Quando vai redigir uma história, a primeira decisão que deve tomar é se você vai ou não fazer
parte da narrativa. Tanto é possível contar uma história que ocorreu com outras pessoas como
narrar factos acontecidos consigo. Essa decisão determinará o tipo de narrador a ser utilizado
na sua composição. Este pode ser, basicamente, de dois tipos:
1. Narrador de 1ª pessoa: é aquele que participa da acção, ou seja, que se inclui na narrativa.
Tratase do narradorpersonagem. 1. Narrador de 1ª pessoa: é aquele que participa da acção,
ou seja, que se inclui na narrativa. Tratase do narradorpersonagem.
Exemplo:
Andava pela rua quando de repente tropecei num pacote embrulhado em jornais. Agarreio
vagarosamente, abrio e vi, surpreso, que lá havia uma grande quantia em dinheiro.
2. Narrador de 3ª pessoa: é aquele que não participa da acção, ou seja, não se inclui na
narrativa. Temos então o narradorobservador. 2. Narrador de 3ª pessoa: é aquele que não
participa da acção, ou seja, não se inclui na narrativa. Temos então o narradorobservador.
Exemplo:
João andava pela rua quando de repente tropeçou num pacote embrulhado em jornais.
Agarrouo vagarosamente, abriuo e viu, surpreso, que lá havia uma grande quantia em
dinheiro.
OBSERVAÇÃO:
Em textos que apresentam o narrador de 1.ª pessoa, ele não precisa ser necessariamente a
personagem principal; pode ser somente alguém que, estando no local dos acontecimentos, os
presenciou.
Exemplo:
Estava parado na paragem do autocarro, quando vi, a meu lado, um rapaz que caminhava
lentamente pela rua. Ele tropeçou num pacote embrulhado em jornais. Observei que ele o
agarrou com todo o cuidado, abriuo e viu, surpreso, que lá havia uma grande quantia em
dinheiro.
Elementos da narração
Depois de escolher o tipo de narrador que vai utilizar, é necessário ainda conhecer os
elementos básicos de qualquer narração.
Todo o texto narrativo conta um FACTO que se passa em determinado TEMPO e LUGAR. A
narração só existe na medida em que há acção; esta acção é praticada pelos PERSONAGENS.
Um facto, em geral, acontece por uma determinada CAUSA e desenrolase envolvendo certas
circunstâncias que o caracterizam. É necessário, portanto, mencionar o MODO como tudo
aconteceu detalhadamente, isto é, de que maneira o facto ocorreu. Um acontecimento pode
provocar CONSEQUÊNCIAS, as quais devem ser observadas.
Assim, os elementos básicos do texto narrativo são:
1. FACTO (o que se vai narrar);
2. TEMPO (quando o facto ocorreu);
3. LUGAR (onde o facto se deu);
4. PERSONAGENS (quem participou do ocorrido ou o observou);
5. CAUSA (motivo que determinou a ocorrência);
6. MODO (como se deu o facto);
7. CONSEQUÊNCIAS.
Uma vez conhecidos esses elementos, resta saber como organizálos para elaborar uma
narração. Dependendo do facto a ser narrado, há inúmeras formas de dispôlos. Todavia,
apresentaremos um esquema de narração que pode ser utilizado para contar qualquer facto.
Ele propõese situar os elementos da narração em diferentes parágrafos, de modo a orientálo
sobre como organizar adequadamente a sua composição.
Esquema de narração
1º Parágrafo: Explicar que facto será narrado. Determinar o tempo e o lugar INTRODUÇÃO
2º Parágrafo: Causa do facto e apresentação das personagens. DESENVOLVIMENTO
3º Parágrafo: Modo como tudo aconteceu (detalhadamente).
4º Parágrafo: Consequências do facto. CONCLUSÃO
OBSERVAÇÕES:
1. É bom lembrar que, embora o elemento Personagens tenha sido citado somente no 2º
parágrafo (onde são apresentados com mais detalhes), eles aparecem no decorrer de toda a
narração, uma vez que são os desencadeadores da sequência narrativa.
2. O elemento Causa pode ou não existir na sua narração. Há factos que decorrem de causa
específica (por exemplo, um atropelamento pode ter como causa o descuido de um peão ao
atravessar a rua sem olhar). Existe, em contrapartida, um número ilimitado de factos dos
quais não precisamos explicar as causas, por serem evidentes (por exemplo, uma viagem de
férias, um assalto a um banco, etc.).
3. três elementos mencionados na Introdução, ou seja, facto, tempo e lugar, não precisam
necessariamente aparecer nesta ordem. Podemos especificar, no início, o tempo e o local, para
depois enunciar o facto que será narrado.
Utilizando esse recurso, pode narrar qualquer facto, desde os incidentes que são noticiados nos
jornais com o título de ocorrências policiais (assaltos, atropelamentos, raptos, incêndios,
colisões e outros) até factos corriqueiros, como viagens de férias, festas de adeptos de futebol,
comemorações de aniversário, quedas e acontecimentos inesperados ou fora do comum, bem
como quaisquer outros.
É importante ressaltar que o esquema apresentado é apenas uma sugestão de como se pode
organizar uma narração. Temos inteira liberdade para nos basearmos nele ou não. Mostrase
apenas uma das várias possibilidades existentes de se estruturarem textos narrativos. Caso se
deseje, poderá inverterse a ordem de todos os elementos e fazer qualquer outra modificação
que se ache conveniente, sem prejuízo do entendimento do que se quer transmitir. O
fundamental é conseguirse contar uma história de modo satisfatório.
A narração objectiva
Observese agora um exemplo de narração sobre um incêndio, criado com o auxílio do
esquema estudado. Lembrese de que, antes de começar a escrever, é preciso escolher o tipo
de narrador. Optámos pelo narrador de 3ª pessoa.
O incêndio
Ocorreu um pequeno incêndio na noite de ontem, num apartamento de propriedade do Sr.
António Pedro.
No local habitavam o proprietário, a sua esposa e os seus dois filhos. Todos eles, na hora em
que o fogo começou, tinham saído de casa e estavam a jantar num restaurante situado em
frente ao edifício. A causa do incêndio foi um curto circuito ocorrido no sistema eléctrico do
velho apartamento.
O fogo começou num dos quartos que, por sorte, ficava na frente do prédio. O porteiro do
restaurante, conhecido da família, avistouo e imediatamente foi chamar o Sr. António. Ele,
rapidamente, ligou para os Bombeiros.
Embora não tivessem demorado a chegar, os bombeiros não conseguiram impedir que o
quarto e a sala ao lado fossem inteiramente destruídos pelas chamas. Não obstante o prejuízo,
a família consolouse com o facto de aquele incidente não ter tomado maiores proporções,
atingindo os apartamentos vizinhos.
Vamos observar as características desta narração. O narrador está na 3ª pessoa, pois não
toma parte na história; não é nem membro da família, nem o porteiro do restaurante, nem
um dos bombeiros e muito menos alguém que passava pela rua na qual se situava o prédio.
Outra característica que deve ser destacada é o facto de a história ter sido narrada com
objectividade: o narrador limitouse a contar os factos sem deixar que os seus sentimentos, as
suas emoções transparecessem no decorrer da narrativa.
Este tipo de composição denominase narração objectiva. É o que costuma aparecer nas
"ocorrências policiais" dos jornais, nas quais os redactores apenas dão conta dos factos, sem se
deixar envolver emocionalmente com o que estão a noticiar. Este tipo de narração apresenta
um cunho impessoal e directo.
A narração subjectiva
Existe também um outro tipo de composição chamado narração subjectiva. Nela os factos são
apresentados levandose em conta as emoções, os sentimentos envolvidos na história.
Notase claramente a posição sensível e emocional do narrador ao relatar os acontecimentos.
O facto não é narrado de modo frio e impessoal, pelo contrário, são ressaltados os efeitos
psicológicos que os acontecimentos desencadeiam nas personagens. É, portanto, o oposto da
narração objectiva.
Daremos agora um exemplo de narração subjectiva, elaborada também com o auxílio do
esquema de narração. Escolhemos o narrador de 1.ª pessoa. Esta escolha é perfeitamente
justificável, visto que, participando da acção, ele envolvese emocionalmente com maior
facilidade na história. Isso não significa, porém, que uma narração subjectiva requeira sempre
um narrador em 1.
Com a fúria de um vendaval
Numa certa manhã acordei entediada. Estava nas minhas férias escolares do mês de Agosto.
Não pudera viajar. Fui ao portão e avistei, três quarteirões ao longe, a movimentação de uma
feira livre.
Não tinha nada para fazer, e isso estava a matarme de aborrecimento. Embora soubesse que
uma feira livre não constitui exactamente o melhor divertimento do qual um ser humano pode
dispor, fui andando, a passos lentos, em direcção daquelas barracas. Não esperava ver nada de
original, ou mesmo interessante. Como é triste o tédio! Logo que me aproximei, vi uma
senhora alta, extremamente gorda, discutindo com um feirante.
O homem, dono da barraca de tomates, tentava em vão acalmar a nervosa senhora. Não sei
por que brigavam, mas sei o que vi: a mulher, imensamente gorda, mais do que gorda
(monstruosa), erguia os seus enormes braços e, com os punhos cerrados, gritava contra o
feirante. Comecei a assustarme, com medo de que ela destruísse a barraca (e talvez o próprio
homem) devido à sua fúria incontrolável. Ela ia gritando empolgandose com a sua raiva
crescente e ficando cada vez mais vermelha, como os tomates, ou até mais.
De repente, no auge de sua ira, avançou contra o homem já atemorizado e, tropeçando em
alguns tomates podres que estavam no chão, caiu, tombou, mergulhou, esborrachouse no
asfalto, para o divertimento do pequeno público que, assim como eu, assistiu àquela cena
incomum.
OBSERVAÇÃO:
A narração pode ter a extensão que convier. Pode aumentála ou diminuíla, suprimindo
detalhes menos importantes. Lembrese: quando um determinado parágrafo ficar muito
extenso, pode dividilo em dois. Destacamos, mais uma vez, que o esquema dado é uma
orientação geral e não precisa ser necessariamente seguido; ele pode sofrer variações
referentes ao número de parágrafos ou à ordem de disposição dos elementos narrativos.
O discurso do narrador
Comparando os dois modelos de narração apresentados, poderá perceber a diferença entre
narrador em 1ª e 3ª pessoas, a maneira como se elabora uma narração utilizando o esquema
estudado, a existência da narração objectiva em oposição à narração subjectiva e alguns
outros aspectos.
É importante também que observe um outro facto sobre o qual ainda não fizemos qualquer
comentário. Lendo as narrações O incêndio e Com a fúria de um vendaval, notará com
facilidade que o narrador contou cada uma das histórias com as suas próprias palavras. Ele não
introduziu diálogos na redacção registando a fala dos 23 personagens. Essas duas narrações
foram elaboradas sem que o narrador introduzisse o discurso directo, isto é, o diálogo entre as
personagens.
Não se esqueça também de que o esquema de narração não precisa ser seguido à risca. Se
julgar importante fazer qualquer alteração, nada o impede de fazêla, desde que a sua
composição não perca as características de organização e clareza indispensáveis a todas as
narrações.
A NARRAÇÃO E OS TIPOS DE DISCURSO
Discurso directo e discurso indirecto
Agora veremos como introduzir o discurso directo (registo da fala dos personagens) no meio de
uma narração, bem como transformálo em discurso indirecto.
O primeiro passo é conseguir diferenciar o discurso indirecto do discurso directo.
Veja estes exemplos:
Discurso indirecto
O rapaz, depois de estacionar o seu automóvel num pequeno posto de gasolina daquela
estrada, perguntou a um funcionário onde ficava a cidade mais próxima. Ele respondeu que
havia um vilarejo a dez quilómetros dali.
Discurso directo
O rapaz, depois de estacionar o seu automóvel num pequeno posto de gasolina daquela
estrada, perguntou:
— Onde fica a cidade mais próxima ?
— Há um vilarejo a dez quilómetros daqui respondeu o funcionário.
Observe o exemplo de discurso directo. Antes do registo da fala do personagem existe um
travessão (—) que inicia um novo parágrafo. No último período desse texto notou que há
também um outro travessão, colocado antes da palavra respondeu; ele serve para separar a
fala do personagem da explicação do narrador ("respondeu o funcionário").
Quando o narrador quer informar qual a personagem que fala, o texto pode ser organizado de
duas maneiras:
Primeiro explicase quem vai falar. A frase termina por doispontos (:). Abrese então um
novo parágrafo para nele colocar o travessão, seguido da fala da personagem.
Exemplo:
O funcionário respondeu:
— Há um vilarejo a dez quilómetros daqui.
Em primeiro lugar, registase, depois de posto o travessão, a fala da personagem. Na mesma
linha colocase um outro travessão e, em seguida, a frase pela qual o narrador explica quem
está dizendo aquilo (iniciada por letra minúscula).
Exemplo:
— Há um vilarejo a dez quilómetros daqui respondeu o funcionário.
OBSERVAÇÃO:
Já verbos que se caracterizam por introduzir a fala do personagem, ou mesmo explicar quem
está a fazer a afirmação registada depois do travessão. Denominamse verbos de elocução e
alguns exemplos deles são: falar, perguntar, responder, indagar, replicar, argumentar, pedir,
implorar, comentar, afirmar e muitos outros.
Vejamos agora um exemplo de como podemos introduzir o discurso directo numa narração.
Leia o texto abaixo, onde não aparece a fala dos personagens. É o narrador que conta os
acontecimentos.
O primeiro dia no curso
Maria Helena acabava de matricularse num famoso curso, desses que preparam os alunos
para os exames.
Logo no primeiro dia de aulas, depois de subir os seis lances de escadas que a conduziam à sua
turma de duzentos e quarenta alunos, entrou na sala espantada com a quantidade de colegas.
Assistiu às três primeiras aulas (ou conferências) que os professores deram com o auxílio de
microfones.
Quando deu o sinal do intervalo, tentou encontrar o bar que ficava no piso térreo. Maria
Helena então começou a descer os seis lances de escadas, acompanhada por uma quantidade
incontável de pessoas, ou seja, os colegas das outras quinze salas de aula existentes em cada
andar.
Após algum tempo, chegou ao piso térreo. Olhou para todos os lados e não viu bar nenhum.
Pouco tempo depois, descobriu que o bar era ali mesmo, mas não dava para ver a caixa
registadora, situada a alguns metros dela, de tanta gente que havia. Ela já estava na fila da
caixa e não sabia.
Leia agora a mesma redacção, depois de introduzidos alguns trechos de discurso directo.
O primeiro dia no curso
Maria Helena acabava de matricularse num famoso curso, desses que preparam os alunos
para os exames.
Logo no primeiro dia de aulas, depois de subir os seis lances de escadas que a conduziam à sua
turma de duzentos e quarenta alunos, entrou na sala, espantada com a quantidade de
colegas. Assistiu às três primeiras aulas (ou conferências) que os professores deram com o
auxílio de microfones.
Quando deu o sinal do intervalo, Maria Helena perguntou a um colega de classe:
— Você, por acaso, sabe onde fica a lanchonete?
— Fica no piso térreo — respondeulhe o colega gentilmente.
Ela então começou a descer os seis lances de escadas, acompanhada por uma quantidade
incontável de pessoas, ou seja, os colegas das outras quinze salas de aula existentes em cada
andar.
Após algum tempo chegou ao piso térreo.
— Por favor, você sabe onde fica o bar? Disseram que ficava no piso térreo — perguntou Maria
Helena a uma moça que estava a seu lado.
— Mas você já está no bar!
Descobriu então que estava no lugar procurado, mas não dava para ver a caixa registadora,
situada a alguns metros dela, de tanta gente que havia. Ela já estava na fila da caixa e não
sabia.
A transformação do discurso directo em indirecto e viceversa
Já aprendeu a identificar os dois tipos de discurso; notou que eles não são registados do
mesmo modo. Vamos agora sistematizar as diferenças que pudemos perceber entre eles.
Discurso Directo Discurso Indirecto
verbos no presente do indicativo (fica, há)
Pontuação característica (travessão, dois
pontos)
Verbos no pretérito imperfeito do indicativo (ficava,
havia)
Ausência de pontuação característica
Portanto, o primeiro passo para se transformar um tipo de discurso em outro consiste em
efectuar as modificações mencionadas, ou seja, alterar o tempo dos verbos e utilizar a
pontuação adequada. Entretanto, restam ainda alguns detalhes.
Tempos Verbais
No exemplo apresentado de discurso directo, as personagens utilizavam o verbo no presente
do indicativo. E se eles se estivessem a expressar no pretérito ou noutro tempo verbal? Siga,
na tabela seguinte, as correlações entre alguns tempos verbais e os tipos de discurso.
Discurso Directo Discurso Indirecto
presente do indicativo: — Tenho
pressa — disse o rapaz.
pretérito imperfeito do indicativo: O rapaz disse que
tinha pressa.
pretérito perfeito do indicativo: —
Presenciei toda a cena — declarou o
jovem.
pretérito maisqueperfeito simples ou composto: O
jovem declarou que presenciara (tinha presenciado)
toda a cena.
imperativo: — Calate — ordenou o senhor ao seu vassalo.
pretérito imperfeito do subjuntivo: O senhor ordenou ao seu vassalo que ele se calasse.
futuro do presente do indicativo: — Farei o possível — disse o rapaz.
futuro do pretérito do indicativo: O rapaz disse que faria o possível.
Não vamos relacionar todos os tempos de verbos e as suas modificações. Acreditamos que
basta uma observação de carácter geral: ao transformar o discurso directo em indirecto, estará
a transcrever algo que alguém já disse; portanto, no discurso indirecto, o tempo será sempre
passado em relação ao discurso directo. O mecanismo é basicamente o mesmo para todos os
casos. Vejase este último exemplo:
Discurso directo
— Quero que você me siga — disse Pedro. (presente do indicativo, presente do conjuntivo)
— Se estiver disposta, eu fáloei — replicou Paula. (futuro do conjuntivo, futuro do presente
do indicativo)
Discurso indirecto
Pedro disse à Paula que queria que ela o seguisse. (pretérito imperfeito do indicativo, pretérito
imperfeito do conjuntivo) Paula replicou que, se estivesse disposta, ela fáloia. (pretérito
imperfeito do conjuntivo, futuro do pretérito do indicativo)
Pronomes e advérbios
Outras classes de palavras, como os pronomes e alguns advérbios, podem igualmente requerer
alterações. Observe o exemplo:
Discurso directo
— Venha cá, minha filha — disse a mãe, impaciente.
— Estarei aí daqui a cinco minutos.
Discurso indirecto
A mãe, impaciente, pediu a sua filha que fosse até lá. Ela respondeu que estaria lá dali a cinco
minutos.
Discurso directo
— Onde estão os meus bilhetes para o espectáculo de patinagem? — perguntou Pedro.
— Estavam aqui ainda neste instante! — replicou Maria.
Discurso indirecto
Pedro perguntou a Maria onde estavam os seus ingressos para o espectáculo de patinagem.
Ela replicou que eles estavam ali ainda naquele instante.
Um acto involuntário
Após assistir às aulas do curso, no seu primeiro dia de aulas, Maria Helena dirigiuse à paragem
do autocarro.
Na paragem havia dezenas de pessoas, alunos com o seu material escolar na mão, à espera
dos transportes colectivos que passavam por aquela imensa avenida. Aproximavase o seu
autocarro. Ao avistálo, notou que vinha superlotado e decidiu esperar por um outro veículo da
mesma linha. Ele certamente passaria cinco minutos depois.
Ela estava na paragem, cercada por inúmeras pessoas, e não sabia que a maioria delas iria
entrar nesse autocarro. De repente, quando o veículo parou, todos correram em direcção à
porta, empurrando Maria Helena. Ela, sem querer, impulsionada pelos outros que a
circundavam, subiu a escadinha do autocarro, contra a sua vontade, tal o número de pessoas
que a comprimiam.
Já dentro do veículo, ouviu a inútil solicitação do cobrador para que as pessoas dessem um
passo à frente. Não havia para onde ir, nem mesmo como se mexer, devido à superlotação.
OBSERVAÇÃO:
Sugerimos a introdução, após o primeiro parágrafo, de uma conversa entre Maria Helena e
uma outra pessoa que também estivesse na paragem do autocarro. Também é possível criar
um diálogo entre um dos passageiros e o cobrador. Além dessas sugestões, pode imaginar
qualquer outro diálogo relacionado com a história narrada.
Níveis de linguagem
Vamos falar agora sobre os tipos de linguagem que pode utilizar nas suas narrações.
Como já deve ter ouvido dizer, existem basicamente dois níveis de linguagem: a linguagem
formal e a linguagem coloquial.
Entendemos por linguagem formal a língua culta, que se caracteriza pela correcção gramatical,
ausência de gírias ou termos regionais, riqueza de vocabulário e frases bem elaboradas.
A linguagem coloquial, por sua vez, é aquela que as pessoas utilizam no diaadia, conversando
informalmente com amigos, parentes e colegas. É a linguagem descontraída, que dispensa
formalidades e aceita gírias, diminutivos afectivos e palavras de cunho regional.
A narração, pode comportar os dois níveis de linguagem. Recomendamos que utilize a
linguagem formal nas frases do narrador e a linguagem coloquial no registo da fala de algumas
personagens. Expliquemos melhor: se registar, no discurso directo, a fala de um alentejano,
poderá utilizar palavras ou expressões típicas do linguajar da sua região, para dar um cunho de
veracidade à composição; se a conversa estiver a ser travada entre dois adolescentes, cabe a
introdução de algumas gírias. Dessa forma, a redacção tornase mais convincente, na medida
em que cada personagem é apresentada com o registo de fala que normalmente o caracteriza.
Isso não significa, porém, que o discurso directo deva sempre estar relacionado com a
linguagem coloquial. Pelo contrário, tratandose de personagens cultos (ou mesmo
razoavelmente instruídos), deve utilizar a linguagem formal no registo das suas falas.
OBSERVAÇÃO:
Esteja atento às solicitações que possam ser feitas nas redacções que vier a realizar. Caso se
peça para elaborar uma narração utilizando a linguagem formal, este tipo de linguagem deverá
aparecer em toda a composição, independentemente de quem sejam as personagens
envolvidas nos trechos do discurso directo.
Veja, nestes pequenos trechos a seguir, como os dois tipos de linguagem podem aparecer no
discurso directo. Lembrese de que o narrador valese sempre da linguagem formal.
Linguagem coloquial
Os dois amigos encontraramse no pátio do colégio, na hora do intervalo, e Marcos perguntou:
— Como é que é, Zé ? Tás a fim de dar uns giros por aí depois da aula ?
— Normal ! A gente pode chamar o Nandinho e ir pra uma esplanada respondeu José
bastante animado.
— É isso. Deixame ir, que já tocou — disse Marcos apertando o passo.
Linguagem formal
No corredor de uma universidade, um eminente professor de Direito Penal encontra um
exaluno, agora seu colega. O professor dizlhe:
— Que prazer encontrálo depois de tanto tempo!
— Como está, professor? É bom revêlo — sorriu o exaluno emocionado. — O senhor nem
pode imaginar o quanto me foram úteis os conhecimentos que adquiri nas suas aulas.
— Você sempre foi um bom aluno. Tinha a certeza de que se tornaria um advogado notável.