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Para a Cláudia A. Thomé de Oliveira— que apesar de Oliveira só é parente de maluquice —,

este livro que nasceu com ajuda das cartas que ela me escreve.

1. Vivinha

Através da vidraça, ela olhava para o céu. Lindo! Mi lhares de estrelinhaspiscavam respirando o perfume das damas-da-noite. Silêncio absoluto; omundo tinha ido dormir. Vez ou outra, um ventinho entrava apressadoper-seguindo um grilo ou um besouro.Sentada na cama, luz apagada, onze anos, morena, Vivinha piscava os olhosnegros. Abraçada aos joelhos, pensava mil coisas. Uns pensamentos doíam.Outros faziam rir ou encucar. O pensamento que doía era o da morte da mãe,quase um ano atrás. Parecia um século ! Como a mãe fazia falta! Ela era linda,amiga, cheia de vida! Mas, de repente, foi levada para o hospital. Em três diasa mãe estava morta, e a casa havia sido fechada. Os vizinhos — a quem elacha mava de tios — ficaram tomando conta dela até que conse guissem entrarem contato com o pai, Dr. Camargo — de quem a mãe havia-se divorciado. Eleestava fazendo um curso na Europa há quatro anos. Enquanto não voltasse. ..Três da madrugada. Vivinha deu um suspiro e passou para um pensamentoale-gre: Santarena, aquela que fazia-chover estrelinhas. A coisa haviacomeçado quando a avó ganhou uma rosa de prata. Dentro da caixa, oJerônimo havia colocado um punhadinho de minúsculas estrelinhas colori dasque a avó deu a ela. Vivinha guardou-as carinhosamente num envelopão. Asestrelinhas serviam como emergência quando a "fossa" era muito grande.Um pensamento de encucar: como seria o futuro dela? Como Vivinha não erade curtir tristezas, pescou uma estrelinha do céu, botou na testa e acendeu aalegria. Dando um salto, atirou longe as cobertas e voou para a mesinha.Um grilo cricrilava comprido, longe. Dentro da casa todos roncavam.Vivinha acendeu a luz, tirou da gaveta o caderno de capa dourada e, folheando-o, foi direto à página em branco. Aí, mordeu a ponta da esferográfica e

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escreveu:SANTARENA NA TERRA DA POLUIÇÃO

Depois de conferir, pôs-se a escrever a estória.Quanto tempo Vivinha escreveu? Ninguém sabe. Ela só percebeu que já erabastante quando os olhos começaram a arder. Bem no ponto em que Santarenaderrotava o poluidor que havia despejado veneno num rio. Um soco direto nonariz, e Santarena salvava mais um rio brasileiro. Agora, ela podia voltar parasua casa lá no fundo do pico do Jaraguá. Assim se encerrava mais um capítulodas emocionantes aven turas de Santarena e Helianto.— Se a tonta da professora me visse escrevendo isto, ia me chamar demaluca! — disse Vivinha devolvendo o caderno à gaveta. — Ela diz que ébesteira falar de fadas para as crianças. Afinal, qual a diferença que existeentre uma fada e a Mulher Maravilha?Bocejou, pulou na cama, apagou a luz, cobriu a cabeça com o travesseiro e nominuto seguinte já estava roncando. Amanheceu um ensolaradíssimo domingode Páscoa. Tia Emília estava na cozinha temperando o pato. Tio Chico tomavacafé com os primos Vá e Cá. Quando Vivinha chegou ainda meio tonta de sono,eles pularam em cima dela com um abraço de feliz Páscoa. Os olhosarregala-ram-se interes seiros quando ela viu o ovo de Páscoa bem em frenteao nariz! Até o celofane era perfumoso!Foi aquela festa! Eles comeram chocolate até não aguen tar mais. Só pararamquando nem mais podiam olhar para os bombons.Então, as duas foram para o quintal.— O que aconteceu pra Santarena ontem à noite? — perguntou Vá curiosaporque sabia das aventuras da heroína de Vivinha.Depois de narrar as peripécias de Santarena contra o agente D. P., o poluidorde rios, Vivinha coçou a cabeça:

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— Santarena disse que da próxima vez há de acabar com Cornélia-Miséria!Acho que no próximo capítulo elas vão se pegar pra valer!— Uai, quem é a Cornélia-Miséria? Essa eu não co nheço!— Uma pestíssima que rouba o dinheiro, a saúde, tudo de bom que os outrostêm, até o sossego. Ela faz as pessoas perderem o emprego, brigarem,ma-tarem, roubarem, terem fome. . . Ela quer ver todo o mundo na miséria enas fave las. Então, Santarena vai sair do pico do Jaraguá e. . . sus-pense! Elaacabará com a Cornélia-Miséria e sua famosa ver ruga no nariz? Não é legal?— Se é! — suspirou Vá. — Eu sou gamada por Santarena, Vivinha! A televisãobem podia fazer os filmes dela. Uma pena que não façam, né?— Pena mesmo...! Mas eu acho que pena maior é que Santarena só acaba com aCornélia-Miséria no meu livro de aventuras. Porque acabar de verdade com afome, a mi séria, as favelas e criancinhas morrendo... acho que isso nunca vaiacabar, não acha?De repente, Vivinha deu um salto, agarrou Vá pela mão e puxou-a dizendo:— Vamos ver se ele já virou a antena-radar para o sol!E desapareceram correndo em direção ao fundo do quintal.

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2. A flor

Ele estava plantado num balde velho. No dia em que tinha vindo morar com ostios, Vivinha o tinha trazido num carrinho de mão. Os vizinhos começaram arir. Viviam sem pre perguntando o que era aquilo. Vivinha respondia uma coisapara cada um e achava muita graça na curiosidade dos que pareciam nunca tervisto aquela flor.Vivinha acariciou as pétalas amarelas que cirandavam o miolo recoberto porum mundo de sementes. Elas pareciam favos de abelha, e o miolo era dotamanho de um pires de café.— Meu girassol! — disse olhando para o caule lanudo. — Minha antena-radarparabólico-geométrica de Santarena! Cada uma dessas sementes é uma célulafotoelétrica que capta as radiações do mal espalhado pelo mundo. Heliantorecebe as mensagens, Santarena calça os sapatos de asas e sai voando paradar um jeito nas coisas.— Você inventa cada estória maluca, Vivinha! — disse Vá também passando odedo nas pétalas da flor. — Engraçado, na minha cabeça não nascem estóriascomo as suas! Por que será? Quando é que eu podia imaginar que cada umadessas sementes fosse uma célula fotoelétrica?— Na sua cabeça não nascem dessas estórias porque você não treinou a suacabeça! Eu treinei a minha. Santarena que me ensinou quando eu era pequena— explicou Vivinha sentando-se ao lado da amiga. — Ela sempre dizia assim:"Vivinha, todo o mundo tem um mistério escondido por dentro e que precisadecifrar. Se você prestar atenção, vai ser capaz de decifrar o seu mistério."Aí, eu comecei a pres tar atenção com muita força, sabe? No começo não foifácil, mas depois, vai. Não é superespionante a antena-radar de Helianto?— Se é! Onde ele está agora?— Lá dentro decifrando as mensagens que não param de chegar porque existeo mal espalhado pelo mundo inteiro. Procure enxergar! Ele está trabalhando nofundo daquela folha maior, ali em cima... Enxergou?— Não...— Na folha mais alta é o quarto de Santarena.— Você inventa cada nome engraçado! Esse Helianto, por exemplo...

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— Não fui eu que inventei. É o nome científico do gi rassol: Helianthus. Sabeque ele é o filho mais novo de Hélio?— E quem é Hélio?— O deus do Sol para os gregos antigos. Os gregos ti nham um deus para tudo.Hélio era filho dos gigantes-titãsHipérion e Teia. Era um lindo moço de cabelos dourados que tinha uma coroade raios de luz. Sabe como ele fazia para iluminar o céu? Todas as manhãs, umgalo de ouro o despertava em seu castelo dourado. Enquanto isso, Alvorada, airmã dele, ia com seus longos dedos cor-de-rosa espalhando colorido pelo céue orvalho na terra. Depois que ela abria os portões do palácio, Hélio saía emseu carro puxado por quatro cavalos com asas. Aí, atravessava o céu pelomesmo caminho de todos os dias. Se ele desviasse um milímetro, seriaperigoso botar fogo na terra e no próprio céu. Ao entar decer, o carro descialá do outro lado do mar, Hélio entrava em uma barca que o trazia de volta aocastelo... e assim acontecia sempre.Vivinha coçou a ponta do nariz.— Ele tinha duas irmãs: Eos, a deusa da alvorada, e Selene, que era a própriaLua.— Onde ficava o castelo de Hélio?— Para uns, num lugar chamado Etiópia. Para outros, na ilha Aea. Os gregosadoravam Hélio porque sem o Sol não existiria o mundo. Pois bem,continue-mos. Havia uma ilha chamada Rodes, onde, na entrada do porto,existia uma estátua de Hélio. Era tão grande que os navios passavam debaixode suas pernas! A estátua tinha o nome de Colosso de Rodes e foi uma dassete maravilhas do mundo. Bom, Hélio teve muitos filhos com várias mulheres.Um dia, ele conheceu uma linda nereida.— O que é nereida?— São deusas dos mares, filhas de um velho barbudo chamado Nereu. Poisbem, Hélio ficou apaixonadíssimo pela nereidinha de cabelos verdes e teve umfilhinho com ela, Em honra a Hélio, a nereidinha deu o nome de Helianto aome nino. Mas quando a verdadeira mulher de Hélio, a ciumenta Perse, soube,foi aquele escândalo! Para castigar a nereida, Perse contratou uns bandidos,ami-gos do deus Tritão, e de ram um jeito de prender a nereidinha numa

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caverna de safira no fundo do mar.— Coitada! E Helianto?— Foi adotado pela tia Eos, a deusa da alvorada que ficou com tanto dó dome-nino! Claro que nem Hélio nem Perse souberam que a tia estava criando oso-brinho, né? Eles pensavam que o menino estava trancado na caverna com ane-reidinha. Então, Eos levou o nenezinho para casa e ensinou a ele ossegredos de tecer fios coloridos de luz. Era com esses fios que Eos tecia ascolchas coloridas que esten dia pêlos caminhos, de manhã, por onde Hélio iapassar. Por isso que, quando amanhece, o céu fica amarelinho, cor de violeta,cor-de-rosa, cor de orquídea...— Que beleza! E depois?— Um dia, a invejosa deusa íris roubou as colchas coloridas de Eos e fez umlindo arco colorido que pôs no céu depois da chuva. Aí, chamou todos osdeuses que mora vam no Olimpo e exclamou: "Vejam que lindo arco eu acabo deinven-tar! Não é uma maravilha?" A única que não gostou da coisa foi Eos,porque re-conheceu as colchas com as quais ela enfeitava o caminho do irmão.Saiu uma discussão feíssi-ma, e as duas deusas se pegaram que foi umtempo-quente! Resultado: para não se passar por ladrona, íris mentiu di zendoque Helianto tinha dado as colchas para ela. Eos ficou tão zangada com osobrinho que re-solveu castigá-lo. Dali por diante, ele teria permissão paratecer somente fios amarelos. Helianto ficou muito triste porque gostava deajudar a tia e passou a enrolar bobinas só com fios amarelos. Como eramtantas, tantas e não tinha onde guardá-las, começou a espe tá-las em favos deabelhas. E assim, nasceu o girassol!— Onde está escrita essa estória de Helianto, Vivinha? É tão bonita!— Está escrita no meu caderno, sua bobinha! — disse Vivinha caindo na risada.— E não é estória, é lenda. Eu que inventei!— Ah! É uma estória tão bonita que até pensei que fosse lenda dos gregos deverdade! — falou Vá desapontada.— As lendas de Hélio, de Eos e de Selene são mesmo de verdade, mas a deHelianto não é.Naquele instante, a voz de tia Emília:— Meninas, o almoço está na mesa!

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Elas podiam gostar lá o quanto fosse do girassol, mas quando falavam emcomida o estômago ficava em primeiro lugar. Por isso, apostando corrida ederrubando o que havia pelo caminho, as duas voaram para casa.

Naquela noite de domingo de Páscoa, lá pelas nove, o telefone tocou. Tio Chicoatendeu. Quando voltou à sala, a expressão era outra.

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— Que foi? — perguntou a mulher.— Dr. Camargo — respondeu embaraçado. — O pai de Vivinha. Acaba deche-gar da Europa...Vivinha arregalou os olhos. O que essa volta signifi cava para ela, agora que nãotinha mais mãe?

3. Últimas saudades

A casa onde Vivinha tinha morado com a avó e a mãe fica a seis quarteirões.Antiga, parecia um pombal enlaçado por uma trepadeira de flores cor-de-rosa.Vivinha não se lembrava de haver morado em outra casa, e suas primeirasre-cordações eram daquelas pencas floridas que pareciam ha ver crescido comela. O que a menina sabia é que, desde quando seus pais se tinham, separado, amãe e a avó haviam ido viver na casa da esquina.— Que cheiro de bolor! — comentou tia Emília abrin do a porta. — Precisoabrir a casa mais vezes.Vivinha já havia resolvido o que fazer com as roupas da mãe. Disse:"Santarena não consegue acabar sozinha com a Cornélia-Miséria que tambéminventou os velhinhos aban donados em asilos. Acho que devemos levar asroupas de mamãe para o asilo."Depois de fechar a última janela, tia Emília se aproxi mou de Vivinha e pôs-lhea mão no ombro.— Melhor irmos embora — disse. — Precisamos almoçar que, depois, tio Chicovai levar você para a sua nova casa.A menina respirou fundo.— Será que vou me acostumar com o Dr. Camargo, titia?— Claro que vai, querida! Você não deve chamá-lo assim. Ele é seu pai. Não seesqueça disso, certo?— É costume, sabe? Quando chegavam as cartas dele, sempre estava escritoDr. Tarso de Camargo no remetente.— Está bem! Agora podemos ir?— Tia Emília, posso pedir um favor pra senhora?— Claro que pode!

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— Continue sempre abrindo muito a casa para o sol entrar como no tempo demamãe. Vou pedir pro doutor, quero dizer, pro papai não vender esta casa.Tenho a impres são de que um dia ainda viremos morar aqui...— Prometo deixar tudo tão perfeito como está. Confie em mim.Tia Emília não via a hora de sair de lá, porque a agonia de Vivinha matando asúltimas saudades causavam-lhe um embargo na garganta. Ela era uma meninade coragem, sem dúvida! Quando soube que iria morar com o pai, não chorou,não reclamou, não disse um A. Mas por dentro... que será que ela estavasen-tindo?Quando elas chegaram à casa de tia Emília, Vá estava acabando de pôr a mesa.Dentro de cada copo ela havia enrolado um guardanapo cor-de-rosa.—- Poxa, está parecendo banquete! — exclamou Vi vinha.— É banquete mesmo — concordou Vá. — Nós nunca fizemos um banquete paravocê. Então, agora que você vai... . .A frase ficou entalada na garganta de Vá, e a chegada de tio Chico desviou oassunto.— Sentem-se que vou servir antes que a comida esfrie— mandou tia Emília.O almoço transcorreu no maior silêncio, e nem o cor-de-rosa dos guardanaposconseguiu afastar o acinzentado que pairava na alma de cada um.Depois da sobremesa, Vivinha foi até ao quarto en quanto tio Chico ia pondo asmalas no carro. Saiu vestida com calças azuis, camiseta, tênis branco e levavaa jaqueta no braço. Ao entrarem no automóvel, ela respirou fundo parasegu-rar as lágrimas que lhe subiam aos olhos. Precisou até morder os lábios.Pouco depois, chegavam à rodoviária. Tio Chico esta cionou o carro.— Você sabe voltar direitinho para casa, Emília? — brincou entregando-lhe aschaves.— Naturalmente que sei! Ou pensa que tirei carta por correspondência? Ficaram conversando na maior animação (fingida) até que o ônibus estacionou.Vivinha sentiu um nó no estômago.— Minha poltrona é a número 13 — disse conferindo a passagem. — Apostoque vai dar sorte!Os passageiros foram entrando. Vivinha olhou para tia Emília e, de repente,

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deu um salto abraçando-a com toda a força. Tia Emília também quase seder-reteu, precisou fazer uma força incrível para não se descontrolar.— Não se esqueça de nos escrever sempre — disse dando-lhe um beijo norosto. — Vá com Deus, minha filha!Depois, despedidas de Vá e de Cá. O motorista come çou a buzinar impaciente.Vivinha entrou correndo, sentou e enfiou a cabeça na janelinha;— Eu estava me esquecendo! — falou estendendo três envelopes. — São umpresentinho para cada um de vocês. Vá, hão esqueça de botar muita água nacasa do Helianto, senão ela seca!— Prometo que não esqueço! .O carro arrancou. Vivinha firmou o corpo na poltrona e fechou os olhos.Estava pensando na hora em que eles abrissem os envelopes com uma carta dedespe-dida e a chuva de estrelinhas coloridas lhes caísse aos pés.Eram as estrelinhas de Santarena, a despedida de Vi vinha.

4. Novos horizontes

Depois de algumas horas de ônibus rodando, aparece ram as primeiras casinhasque se emendavam formando a cidade grande.De repente, o ônibus deu um solavanco, e tio Chico despertou.— O que foi? — perguntou.— Nada, tio. Só atravessamos umas tartarugas. É que estamos chegando.Atrapalhado, o tio penteou com a mão os poucos fios de cabelo que o ventohavia tirado do lugar.Finalmente, o ônibus parou em uma rodoviária moder na e os passageiros foramsaindo.Enquanto Vivinha aguardava que o tio pegasse as malas, ficou olhando paraaquela construção sólida. Gente chegando e partindo. Havia música de umte-levisor ligado, e respirava-se um cheiro de óleo queimado."Acho que vou gostar desta cidade nova" — pensou. "Será que Santarenatam-bém vai gostar? Ela está acostumada lá no interior..."— Vivinha, ajude aqui com as malas...A voz de tio Chico tirou-a do devaneio, e ela pegou as sacolas. Tio Chico foi à

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frente, dirigiram-se à fila de carros de aluguel e arrancaram.Nariz fora da janela, Vivinha não perdia um único detalhe. Era uma cidademui-to movimentada e tinha prédios de muitos andares. Ela adorou uma praçacheia de petúnias roxas, beijos-de-frade e cravos-de-defunto com tons deama relo vivo. Também vibrou com a matriz no fundo da praça. Porque pareciauma velha rainha gorda afundada em seu trono de veludo.Mais avenidas, voltas, e entraram num bairro com muitas árvores.A maioria das casas tinha grades de ferro fechando jar dins bem-cuidados.— Que beleza! — exclamou a menina.— Este é um dos bairros mais ricos da cidade — expli cou o motorista.Logo mais, o carro estacionava à sombra de uma gigan tesca figueira cujosra-mos chegavam até ao meio da rua.Atrás de uma grade, erguia-se o sobrado branco com alpen dre sustentado porquatro colunas altas. Os dois muros late rais da construção eram forrados comhera, e havia duas fileiras de ciprestes altos.— Tio Chico, está parecendo casa de cinema! — co chichou a menina.Enquanto o tio pagava ao motorista, Vivinha ficou olhando para seu futuro lare pensava: "Poxa, por que será que mamãe não quis morar nesta casa?"— Aperte a campainha, Vivinha. Vivinha obedeceu. Dali a pouco aproximou-seuma se nhora magra, bem-vestida, de cabelo curto.— Pois não?— Dr. Camargo está? — perguntou tio Chico. — Esta é Vivinha, a filha dele.— Por favor, queiram entrar! — disse, sorrindo, a mulher ao abrir o portão. —Dr. Camargo ainda não voltou do hospital. Telefonou dizendo que houve umaemergência, mas pediu que entrassem e ficassem à vontade.— Qual é o seu nome? — perguntou Vivinha.— Adélia.— O meu é Vivinha. Como vai, Adélia? — e esten deu a mão.— Vou bem, obrigada. Você é uma menina muito bonita!— Sou um pouco gorda, mas tia Emília disse que, quando eu ficar moça,ema-greço. Tomara!— Sim, você vai ficar uma linda moça — concordou Adélia. — Agora, por favor,esperem um pouco que vou chamar Antônio para levar as malas.

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— Não precisa! — respondeu Vivinha agarrando as sacolas. — Já trouxemosaté aqui e não vamos morrer se le varmos até lá, né, tio? Agora, vamosdepres-sa para dentro, Adélia. Estou maluca pra ir ao banheiro! Onde fica?Com a maior naturalidade, como se já conhecesse o sobrado há muito tempo,Vivinha correu pelo caminho de pedras.

5. O novo lar

Quando Adélia abriu a porta da sala, Vivinha arrega lou os olhos! Era enorme,com paredes brancas, rústicas, piso de lajotas e móveis escuros. Haviabelís-simos quadros a óleo, lustres de ferro batido, tapeçarias, mil coisas, atéuma lareira.— Sentem-se que vou trazer um cafezinho — pediu a empregada retirando-se.Vivinha logo ficou à vontade. Enquanto tio Chico. se afundava em uma poltrona,ela foi examinar com as mãos tudo que existia ali. Estava observando um parde galos de prata, quando Adélia entrou com o café.Depois que eles tomaram, ela perguntou:— Quer conhecer o seu quarto, Vivinha?— Poxa, se quero! Posso?Antes que Adélia respondesse, entrou um senhor de meia-idade. Baixo,atar-racado, cabelos ligeiramente grisalhos.— Este é Antônio, o faz-tudo — apresentou Adélia.— Oi, Antônio! — cumprimentou Vivinha.— Oi!Antônio pegou as malas. Aí, eles atravessaram uma sala ainda maior, onde ascadeiras tinham espaldar alto e a mesa era tão comprida que daria para jogarpingue-pongue. Dali, subiram por um corredor forrado com tapete macio. TioChico, atrás.Lá em cima havia um corredor com muitas portas fe chadas. Adélia abriu aúl-tima, e Vivinha espiou. Que quarto! Cama maciça entalhada, móveis escuros,cortina bege-claro e também uma lareira!"Nossa!" — arrepiou-se a menina. "Parece quarto de filme de terror! Juro quedessa lareira deve sair o fantasma de algum finado capitão, e naquela cadeira

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de balanço a falecida bisavó dos Limões Bravos balança quando batemeia-noite, brrrrr!"Tio Chico também espiou.— Gostou, tio?— Muito. . . sóbrio.— Sóbrio, por acaso, quer dizer mal-assombrado? — cochichou a meninacaindo na risada.Antônio colocou as malas junto à cama e retirou-se. Adélia abriu a janela, e osol entrou.— Dê uma olhada na rua, Vivinha.Vivinha quase despencou. A vista era linda, a relva do jardim parecia umta-pete verdinho. Ficou um bom tempo olhando para a figueira na calçada.— Gostou?Vivinha fez que sim. Olhando para baixo do peitoril da janela, viu que aliexis-tia uma jardineira de cimento. Só um fundinho de terra dentro.— Por que não plantam flores aqui, Adélia?— Não sei!— Nunca plantaram?— Desde que eu trabalho aqui, nunca plantaram. Para dizer a verdade, eu nemsabia que podiam plantar flores nessa caixa — declarou a empregada dandouma olhada.Depois, desceram.— Dr. Camargo não disse a que hora voltava? — per guntou tio Chico vendo queos minutos estavam passando.— Prometeu que voltaria o mais depressa possível.— Acontece que devo seguir ainda hoje para casa. O último ônibus sai às nove.— Então, o senhor não vai passar a noite aqui?— Não, não.Vivinha deu uma olhada para o tio e baixou a cabeça. Para disfarçar, ele pegoua xícara e serviu-se de um pouco mais de café. Adélia saiu. Ficaram só os doisna sala. Tio Chico afundado numa poltrona. Vivinha em outra. Mão na cabeça,ela pensava uma porção de coisas. De repente, per guntou:— Tio, o senhor promete que vem me visitar sempre?

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— Prometo!— E traz todo o mundo?— Claro que trago! Eles vão adorar conhecer esta casa! Principalmente a Vá.— O senhor acha mesmo?— Natural! Quem não gostaria de viver nesta casa de princesa?"Eu não sei se eu gostaria!" — pensou Vivinha, olhando para os lados. "Tenho aimpressão de que estou num museu. As coisas aqui são tão no lugarzinho,toa-lhinhas, bibelôs, estátuas de prata. . . Será que não é chato viver numajaula destas? Acho que vou ter de andar com o maior cuidado, porque soucapaz de ir derrubando tudo por onde passar. Aquela estátua de louça pertodo corri-mão da escada. .. Preciso passar bem longe dela!"— Em que você está pensando, Vivinha?— Em tanta coisa! Nesta casa, por exemplo. Ela é tão... tão... tão sóbria, comoo senhor disse!—- Sóbria significa mal-assombrada? — riu o tio co piando o que a meninaha-via perguntado.— Aposto que sim! Desconfio que dentro de cada mó vel existe meia dúzia defantasmas guardados!O tio não respondeu porque ouviram barulho de um carro chegando. Umestre-mecimento percorreu o corpo da menina.— É ele! — falou Vivinha pondo-se de pé. — Dr. Camargo chegou.Os dois olharam ao mesmo tempo para a porta.

6. Uma casa toda quadrada

Dr. Camargo era pouco mais alto do que tio Chico. Moreno de bigode, usavaó-culos e era impecavelmente ele gante. Quando o viu tão charmoso, Vivinhaaté perdeu o fôlego."Ele deve ser desses que medem tudo com milímetros" — pensou procurandonão deixar aparecer a ruga de preo cupação na testa. "Mas que é lindo, é!Nossa, faz tanto tem po que não vejo meu pai que nem me lembrava dele! Tãodiferente do retrato que mandou de pulôver colorido! Será que são mesmouma só pessoa?"

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No rosto sério apareceu um sorriso, e o médico esten deu a mão, porémVivinha não viu a mão. Correu com os braços erguidos, e com um fortíssimoabraço se dependurou no pescoço do pai. Como ele estava perfumoso!— Oi, Dr. Camargo! — cumprimentou, depois de sol tá-lo, olhando-o tão de

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per-to que até ficou vesga. — Como vai o senhor?— Oi, Viviane, você está crescida e bonita!— Obrigada! Tia Emília acha que estou um pouco gorda de tanto comerchoco-late, mas vou emagrecer.Dr. Camargo cumprimentou tio Chico, e os dois puse ram-se a conversarassun-tos que não interessavam a ela. Vi vinha ficou afundada na poltrona.Escutando, escutando. Sentia uma terrível vontade de sair correndo paraconhecer o res-to da casa, de trocar de roupa, de talvez até tomar um banhoem vez de ficar ali parada como uma estátua!Foi Adélia quem a salvou, talvez adivinhando que Vivi nha queria tomar umba-nho. Os dois homens continuaram conversando assunto de adultos, eVivinha subiu para o ba nheiro. Que banheiro, Santo Deus!Cantarolando, ela tirou a roupa, umedeceu os cabelos, aplicou xampu e pôs-sea massagear o couro cabeludo. Se Vá estivesse ali...! Vá nunca iria acreditarque Vivinha agora tinha à sua disposição um banheiro todo de mármore brancoque parecia a sala dos deuses da Grécia antiga!— Nem em hotel de cinco estrelas! — falou dando uma olhada no espelho. —Nossa, estou parecendo um bolo de aniversário!Conforme Adélia havia explicado, girou o registro para ligar o chuveiro. O queVivinha não esperava era que a ducha saísse de baixo, de cima, dos lados, detoda a parte. Foi um jato fortíssimo e quentíssimo. Vivinha deu um salto, vooudo boxe, arregalou os olhos e quase gritou.E agora? Ficou tudo lambuzado de espuma: paredes, toalhas, o vaso sanitário eaté o teto. O chão estava liso igual sabão.Com todo o cuidado, agarrando-se daqui e dali, afinal ela conseguiu controlar atemperatura da água e tirou o sabão do corpo. Depois de enxugar-se e seme-ter na roupa, toca fazer a limpeza para deixar o banheiro arrumado comoestava antes.Ao terminar, transpirava como se estivesse numa sauna.Vivinha novamente desceu à sala. Não é que os dois ainda continuavamconver-sando?"Meu Deus, não sei como os adultos têm tantos assun tos chatos assim!" —pensou ela.

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Dali a pouco Adélia anunciava o jantar.— Vamos para a sala? — convidou Dr. Camargo.Vivinha marchou à frente. "Será que vai ser na mesa de pingue-pongue?"Acertou! Dr. Camargo sentou-se a uma cabeceira, tio Chico à outra e Vivinhaficou no meio. Com espanto ela viu a grande quantidade de pratos, garfos,fa-cas, colheres e copos."Com tantos talheres assim, afinal, como é que a gente come?" — e deu umaolhada para tio Chico que também não se sentia muito à vontade com tantosprotocolos.Mas Vivinha era esperta! Com o rabo dos olhos obser vou tudo que o pai fazia efez igual. Com classe, Dr. Camar go desdobrou o guardanapo e colocou-o sobreos joelhos. Tio Chico, coitado, enfiou o bico do guardanapo na gola e o deixoudependurado.Adélia serviu sopa quentíssima! Não po dia soprar, e Vivinha estava morrendode fome. Que inferno esperar esfriar para tomar as colheradas sem fazerbarulho!O jantar transcorreu com uma série de pequenas difi culdades. A última foi opêssego. O danado redondo era macio e liso. Vivinha tentava espetar daqui, opêssego corria para lá. Tentava de cá, ele corria para lá. Que raiva! Por fim,perdendo a paciência, ela segurou o pêssego com a mão, espetou-o com o,garfoe enfiou-o inteirinho na boca. Deli cioso! Mas. . . e devolver o caroço? Ela ficouempurrando o caroço de um lado para o outro que até parecia estar comCa-xumba. Houve um momento em que, por descuido, quase engoliu o caroço.Aí, tratou de cuspir antes que desse um vexame maior. E foi nova tragédiacuspir o maldito carocinho sem que os outros percebessem!Tio Chico foi embora depois da xícara de café. Vivinha sentiu um aperto nocoração. Antônio levou-o à rodoviária e, depois que saíram Dr. Camargofe-chou a porta. Olhando para a filha, sorriu e disse:— Gostou da casa?— É linda, poxa!— De agora em diante, esta é a sua casa — disse, pon do-lhe a mão na cabeça.— Você já está mocinha e vai ajudar a administrar as coisas por aqui.Vivinha fez um movimento afirmativo com a cabeça.

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— Bem, agora vou tomar um banho. Foi um dia tra balhoso! Amanhãconversare-mos. Você também deve estar cansada e precisa repousar. Boanoite, Viviane!E subiu a escada.Ela abriu a boca para dizer mais alguma coisa, porém devagar o sorriso foimorrendo no rosto. Que recepção mais fria! Pensava que ia poder sentar nocolo do pai igual fazia com tio Chico, que poderia fazer mil perguntas... Mas,em vez disso, ele tinha só falado boa noite!—É... Vou ter de dar um jeito de desquadrar esta casa toda quadrada! —disse, fincando o dedo na bochecha.Como, porém, não estava para curtir fossas, deu um salto, imitou a voz do pai,olhou para os móveis e despediu-se solene:— Amanhã conversaremos, mesas e cadeiras! Vocês também devem estarcansadas e precisam re-pou-sar. Boa noite, queridinhas!Fez grrrrrr, envesgou os olhos, subiu a escada pulan do de dois em doisde-graus e se trancou no quarto mal-assombrado.

7. A primeira semente

Naquela noite, Vivinha custou para dormir. Ficou um tempão sentada na cama,abraçada às pernas e olhando para o céu. Era um outro céu, o céu de outraci-dade. Tentou se distrair escrevendo as aventuras de Santarena, porém nãoconseguiu mais do que três linhas. Vivinha ficou preocupa da. Será queSanta-rena se recusava a trabalhar na cidade nova?Só a muito custo que, afinal, conseguiu adormecer.Na manhã do dia seguinte levantou-se animada e des ceu correndo. A mesa depingue-pongue estava posta para o café. Estranhou ao ver só uma xícara. Porisso, resolveu ir até à cozinha. Ali, uma mulher baixa e gorda conversava comAdélia.— Bom dia, Vivinha, dormiu bem? — cumprimentou a empregada.— Bem, obrigada, e você?— Ótimo. Esta é Maria, a lavadeira e passadeira. "Quanta gente trabalhandonesta casa!" — pensou Vi vinha estendendo a mão. E em voz alta:

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— Cadê o Dr. Camargo?— Saiu cedinho! Ele é o maior médico-operador da cidade; às seis horas játo-mou banho, café e está prontinho para sair. Mandou dizer que conversacom você quando voltar.Mais uma vez o sorriso morreu do rosto de Vivinha.— Tá bom. Posso tomar café agora?— Claro! Vamos para a sala.— Precisa ser na sala? Não posso tomar aqui na cozi nha pra gente poderconversar?— As refeições sempre são servidas na sala — respon deu Adélia.Vivinha marchou para a sala e sentou-se. Horrível fi car ali sozinha com asfrutas, bolinhos, chá, leite, café, cho colate — tudo o que quisesse."Esses móveis caretudos parece que vão me engolir viva!" — suspirou comendoum pedaço de mamão. Mas, por mais vermelhinho que o mamão fosse, não tinhao sabor dos mamões que ela comia com Vá no fundo do quintal. Quetrabalheira cortá-lo com faca inox, espetar com garfo inox, jogar açúcar emcima com co-lher inox!Vivinha comeu pouco. Depois levantou-se e foi dar uma olhada na casa.Descobriu a biblioteca, cujas prateleiras iam até ao teto. Viu livros e discos.Por isso, assanhou-se:— Oba, pelo menos vou poder curtir minhas músicas no moderníssimo aparelhode som do Dr. Camargo!Que desaponto! Só encontrou discos clássicos e mais clássicos com capas demúsicos que tinham caras de bodes velhos.— Viviane de Camargo, você vai ter de ser muito inte ligente para não morrernesta casa igual passarinho na gaiola! — disse decidida. — Ou você engole estemuseu. ou ele engole você!E saiu correndo.O quintal era todo cimentado e só tinha dois limoeiros. Depois de visitar aga-ragem, a lavanderia, a adega, a des pensa, o apartamento (fechado) deAntônio, Vivinha não tinha mais o que ver. Aí, foi para o jardim. Antônio estavalá e com paciência de santo cortava folhinha por folhinha do gramado. Vivinhapuxou prosa, e dali a pouco eles con versavam como velhos amigos.

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— Antônio, preciso que você me arranje terra estercada — pediu elapensa-tiva.— O que você quer fazer com terra? — estranhou o faz-tudo.— Arranje a terra que depois eu conto. Antônio obedeceu. Pegou uma lata,encheu com a me lhor terra e entregou-a à menina.— Vou plantar uma flor na jardineira de cimento de baixo da janela do meuquarto — explicou Vivinha, — Agora eu sei por que Santarena não me escutouontem à noite: é que não existe aqui uma antena-radar de células fotoelétricaspara teletipar a minha mensagem para Helianto!— O quê? — perguntou Antônio com cara de tonto.— Ai, Antônio, é difícil de explicar pra você! Acon tece que eu preciso de umgirassol na minha janela!— Um girassol na janela? Menina, você ficou maluca? Aquela jardineira é paraflores delicadas, miúdas. Gerânio, por exemplo. Um girassol ficaria esquisito,espetado para cima. Acho que pareceria uma vassoura de ponta-cabeça!— Antônio, eu preciso de fazer urgente os meus contatos de terceiro graugirassolescos! — respondeu Vivinha com uma piscada. — Você vai ver quebele-zura quando o girassol do tamanho de um prato estiver olhando parad e n t r odo meu quarto!E saiu correndo antes que o jardineiro fizesse mais perguntas.Vivinha despejou toda a terra na jardineira, e ainda faltou um pouco. Então,ela desceu pulando para pegar mais. Depois remexeu tudo com a pá, abriu abolsa e retirou um pacote com sementes daquelas que tio Chico comprava para

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o papagaio. Aí, fez na terra um furo com o dedo, deitou a semente e ajeitou-a.— Pronto, agora você pode nascer sossegada — disse, — E trate de nascerdepressa porque sozinha eu não vou conseguir desquadrar esta casa, viu?Do jardim, Antônio olhava para cima.— Será que a menina é lelé da cuca? — perguntou-se preocupadíssimo.Terminado o plantio, Vivinha desceu correndo para a cozinha. Queriaconver-sar com Adélia e Maria porque, se ficasse trancada naquele quartoassombra-do, acabaria mor rendo de tédio.Ou se transformava em um fantasma dependurado num cabide.

8. Colégio de Freiras

Terminado o almoço. Enquanto observava o pai, Vivi nha pensava: "Por quema-mãe se separou dele?" Sempre que fazia essa pergunta, a mãe respondiadi-zendo que não suportava viver o tipo de vida que o marido vivia. Criada nummeio simples, a mãe adorava a liberdade e outras coisas que Dr. Camargo nãotopava. Ele preferia ouvir musicas clássicas, ler livros difíceis, usar roupasca-ras, conversar com amigos cultos e viver no maior conforto. Será que a mãeteve razão de separar-se, só por esse motivo?

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Vivinha começou a brincar com a faca. Dr. Camargo olhou. Ela deixou a faca ecruzou os braços.— Amanhã você começa a frequentar escola — disse ele com naturalidade.— Oba! Que escola é?— O Colégio Nossa Senhora da Alegria. Colégio de freiras.Vivinha murchou. "De freiras? Poxa, o que escuto con tar de colégios defrei-ras é que são uma chatice! Dizem que à noite elas viram morcegos!"— É o melhor colégio da cidade — continuou o médi co. — As religiosas ensinamtambém etiqueta e boas manei ras. Você precisa aprender certas coisas paratomar direito conta desta casa, não acha?Vivinha fez que sim, mas estava louca para contar ao pai que havia plantado asemente do girassol. Só que depois de ouvir falar em colégio de freira nemquis abrir a boca. Freiras, decerto, ensinavam que meninas devem plantar flo-res mais delicadas, não ensinavam?— O senhor está certo, doutor Camargo! — suspi rou ela.— Por que você continua me chamando desse jeito em vez de pai?— Não sei! Acho que acostumei. Tia Emília, quando falava do senhor, diziadoutor Camargo. Atrás de suas cartas sempre estava escrito Dr. Camargo.Aí...— Eu gostaria que mudasse agora, Viviane. Esta não é mais a casa de tiaEmília. É a sua!- É ...— Ótimo! Agora termine a sua refeição.— Já terminei... .O pai continuou comendo. Ela só se levantou depois que ele terminou. Quealí-vio! As pernas já estavam doendo de tanto ficar paradas.— Dout... quero dizer, papai, na casa de tia Emília eu passeava na bicicleta daVá. Será que o senhor não tem aí, guardada, nenhuma bicicleta velha pra mimdar umas voltas?— Você precisa corrigir o seu modo de falar, Viviane! Seu português estáhor-rível!— Sim, e a bicicleta?— Darei um cheque a Adélia. À tarde, vocês duas vão comprar uma bicicleta

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nova, porque não tenho velharias guardadas no porão.Um larguíssimo sorriso apareceu no rosto de Vivinha. Ela correu até ao paiPA-ra dar-lhe um abraço. Dr. Camargo, porém, não viu. Enfiando a mão nobolso, tirou o talão de cheques, colocou-o sobre a mesa, preencheu um chequee des-tacou-o.— Aqui, a sua bicicleta novinha em folha. Escolha a cor que preferir, estábem?Atrapalhada, Vivinha fez que sim. Mas, no íntimo, ela preferia ter recebido umabraço, em vez da bicicleta.— Obrigada, dout. .. quero dizer, papai! O senhor é o melhor pai do mundo!— Vai ser difícil se acostumar a me chamar de pai, não vai?— Não. Só no começo.— Está bem, Viviane. Diga a Adélia para ajudar você a comprar tudo o quepré-cisar, inclusive material escolar. Não se esqueça: começa amanhã vidanova no Colégio Nossa Senhora da Alegria!— Sim, da Alegria — repetiu ela com cara de quem não acreditava muito noque acabava de dizer.Depois, o pai subiu para o quarto.À tarde, Vivinha atormentou Adélia até mais não poder para irem buscar abi-cicleta. Adélia resmungou, acabou se enfiando em um vestido melhor e lá seforam as duas. Vi vinha olhava para tudo, queria saber de tudo, o nome dos vi-zinhos, quem morava nesta ou naquela casa, pedia mil explicações. PobreAdélia que até ficou tonta!Quando chegaram à loja, ao ver aquela porção de bici cletas enfileiradas,Vivi-nha não fez por menos: tocou cam painha, montou em todas, girou o pedal,apertou o bre que, verificou os pneus... Aí, indecisa entre a azul e a dou rada,pediu para Adélia montar, porque queria ver de longe com que cara a bicicletaficava com gente em cima. Adélia fez pé firme e respondeu que não subia numnegócio daque les nem morta.— Aposto que dentro de uma semana você também vai estar andando debici-cleta comigo na cidade!— Eu??? Tinha graça!À tarde, Vivinha passeou de bicicleta nova por todo o quarteirão. Até se

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atra-sou para o banho.À noite, agradeceu o presente ao pai e conversou com ele. Quando ia criandocoragem para falar da semente de gi rassol, o pai explicou que precisava sairporque tinha um compromisso muito importante.— Divirta-se assistindo à televisão — disse. — Com prei uma portátil para oseu quarto. Se não gostar do tama nho, amanha compraremos uma maior. Boanoite, Viviane!E saiu.Vivinha respirou fundo. Adélia não pousava no serviço. Antônio pousava noquartinho dos fundos. Ficar sozinha na quele casarão mal-assombrado? Bem,talvez agora ela come çasse a entender por que a mãe havia se separado domarido...Quando Vivinha levantou no dia seguinte, o pai já havia saído. Antônioesperava no carro para levá-la ao colé gio. Vivinha tomou o café e lá se foi. Aescola fi-cava longe, era um casarão comprido com um jardim cercado porhibiscos. Vi-vinha achou que tinha cara de cadeia. Antônio levou-a até àdiretora que a abraçou em boas-vindas.— É uma honra termos a filha do doutor Tarso de Ca margo em nosso colégio— disse. — Você gosta de estudar, minha filha?"Isso vai ser uma chatice!" — pensou Vivinha descon fiada. "Essa freira estáme alisando demais! Será que ela também vira morcego à noite?"

9. No voo do tempo

A vida de Vivinha entrou em novo esquema. Tão dife rente da casa de tiaEmí-lia! Horas e horas ela ficava sentada na janela olhando para o minúsculopé de girassol. "Cresça, girassolzinho, cresça! Helianto precisa de sementesgraúdas para enviar as minhas mensagens. Santarena tem de me aju dar! Estoutão so-zinha nesta casa!"A plantinha media dois centímetros. As folhas nem eram folhas, tremiam demedo do sol, do vento, da escuridão. Mas havia sido bom ter plantado ase-mente. Talvez animada com aquela presença, Vivinha não se sentiu mais tãosozinha e recomeçou a escrever as aventuras de Santarena, agora vi vendo em

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uma outra realidade. O mundo andava mesmo cheio de violência! Todos os diasAdélia comentava que mar ginais haviam raptado, roubado, assassinado. Grandeera o desemprego, pessoas passavam fome, havia muita doença, os impostossubiam assustadoramente e a vida ficava cada vez mais cara. Adélia achavaque era difícil endireitar uma situação daquelas, mesmo porque havia muitagente vaga bundeando e que preferia se aproveitar da situação fazendomalan-dragens e vivendo na preguiça. Eram assuntos do qual Vivinha já haviaconver-sado com os tios, mas ali na cidade grande a coisa parecia muito maisséria do que no interior.— A professora de Português bem podia explicar o que está acontecendo noBrasil! — dizia Vivinha pensativa. — Mas dona Martita, com aquela cara deli-mão chupado, pa rece estar de mal do mundo! Não ri, não admite conversa,pal-pite, ideias! Não entendo aquela mulher!A verdade é que entre ela e a professora já estava nas cendo um clima dean-tipatia. Isso porque dona Martita dava temas bobos para composição, eVivi-nha sempre retrucava. Um dia, a professora mandou escrever sobre umafesta de aniversário. As colegas até rolaram de felicidade porque po deriamfalar dos presentes, do bolo, da festa, das músicas. Vivinha detestava tudoisso, mesmo porque até então nunca tinha tido uma festança igual à dascolegas. Aí, ela escreveu que festa de aniversário é uma caretice, e donaMartita até ficou vermelha quando leu tão vulgar escrito!Um dia, depois de terminadas as aulas, aconteceu uma coisa. Estava um tempoencoberto, chuvisquento. Ventava úmido e frio. Espiando por trás dos vidrosda porta da escola, Vivinha estava à espera de Antônio, quando o viu. Ele podiaser mais ou- menos de sua idade, mas tinha braços e pernas tão finos quePA-reciam palitos. Vestia malha de lã desbeiçada e calças compridasencardidas. Na cabeça, um bonezinho vermelho. O menino descalço tremia defrio, mas mes mo assim continuava trabalhando, oferecendo saquinhos de balaaos carros que ali vinham buscar as crianças. A maioria fingia nem vê-lo,alguns se zanga-vam e outros compravam as balas só para ficar livres dainsistência dele. Vi-vinha sentiu dó e começou a pensar: "Ele faz aniver sárioigual a mim e às mi-nhas colegas, mas como será uma festa de aniversário nacasa dele? Sem pre-sentes, sem bolo, sem festa, claro! Vai ver que os pais

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nem têm casa! Aposto que deve morar numa favela onde, quando chove, entraágua por todos os la-dos!"De repente, Vivinha sentiu que o rosto estava úmido. Pensou que fosse achuva, mas quando olhou, viu que eram umas lágrimas derramadas sem elaperceber.Dali a pouco Antônio estacionou o carro e com o guarda-chuva aberto foiapa-nhá-la. Vivinha entrou no carro e olhou para trás.— Antônio, você tem dinheiro pra me emprestar?— Para quê?— Quero comprar balas daquele menino.— Ele só vende porcaria. Podemos comprar balas no bar.— Antônio, eu quero comprar balas daquele menino! Você me empresta ou nãoempresta o dinheiro? Antônio resmungou e enfiou a mão no bolso.— Deixe que eu busco para você. . .— Não, obrigada! Eu mesma quero buscar.— Mas...!Antes que ele terminasse a frase, Vivinha abriu a porta do carro, pôs o capuzda capa na cabeça e correu até o me nino. Ele entregou-lhe um pacote e enfioua mão no bolso para procurar troco.— Não precisa! — falou Vivinha. — Está chovendo muito e não quero ficar aquiesperando. Você vende bala todos os dias?— Vendo.— Do que são?— Misturadas.— São as que mais gosto! Por isso, todos os dias vou comprar de você. Tchau!— Tchau!Deu uma corrida, mas antes de entrar no carro virou para trás e aindaperguntou:— Qual é o seu nome?— Donizete.— O meu é Vivinha. Tchau de novo!Entrou, sentou e continuou agarrada ao saquinho.— Podemos ir agora, Antônio. Em casa te pago, viu?

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Antônio não abriu a boca. Continuava achando que Vi vinha era mesmo a meninamais biruta do mundo.Na outra vez em que dona Martita deu outro tema bobo, Vivinha resolveues-crever sobre um menino que levava uma vida muito difícil vendendo balas.Até Santarena entrou no capítulo. Quando terminou, ela sentiu uma coisaesquisita por dentro. Porque escrevendo sobre a miséria de Donizete eracomo se tudo houvesse acontecido com ela própria!Na manhã do dia seguinte, pediu a Adélia que fizesse um lanche dobrado.— Desconfio que hoje vou sentir fome dupla — disse massageando o estômago.Adélia olhou desconfiada...!Depois Vivinha pagou a Antônio o que devia, pegou os cadernos e foi para aescola. Não via a hora de poder com prar mais um saquinho de balas.

IO. Uma grande surpresa

Olhos arregalados (quando os arregalava atrás daquelas lentes para miopia,eles ficavam maiores), dona Martita aba nou a cabeça e declarou:— Não posso acreditar que foi você quem escreveu esta redação, Vivinha!— Fui eu que escrevi, sim senhora!A classe, só olhando. Algumas colegas esconderam o riso. Outras olharama-travessado porque consideravam Vi vinha uma esnobe.— Está um trabalho muito real, muito verdadeiro!

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insistiu a professora pensativa. — Sou capaz de jurar que você conhece ome-nino desta redação! É um menino favela do que vende balas parasobreviver, não é?— Claro que ela conhece, professora — falou a Elisabete, lá do fundo. — É omenino que vende as balas aqui em frente ao colégio. Todos os dias Vivinhareparte o lanche com ele. Vai ver que até estão namorando!Os oclinhos de dona Martita quase caíram. Vivinha ficou vermelha e sentiuvontade de bater na Elisabete ali mesmo. Armou-se a confusão, e, por sorte,bateu o sinal. Com isso, lá se foram a professora e a aluna conversar com asuperiora. Dona Martita gesticulava, ficava nas pontas dos pés, empurravapa-ra cima os óculos que escorregavam para a ponta do nariz enquanto falavado namoro. Vivinha come çou a achar graça e até se esqueceu da zanga. Quando

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che gou a vez dela falar, disse:— Eu não falei pra ninguém que não conheço o meni no que vende balas!Conheço sim! Tudo começou numa tarde de chuva, quando o Antônio veio mebuscar.. .A professora e a religiosa escutaram todo o relato. Vivinha falou, falou,con-tou a estória do menino, a dela, a de Santarena, a de Helianto e até dachuva de estrelinhas. Ao terminar, a freira e a professora estavam com carade cabo de guarda-chuva!— Eu nunca poderia imaginar uma coisa dessas! — murmurou dona Matildaa-fundada na poltrona.— Pois é! — e Vivinha fez cara de mártir. — Com a experiência que a senhoratem, a senhora deveria, sim, ima ginar uma coisa destas!Dona Martita acabou pedindo desculpas, e Vivinha até recebeu uma bênçãoespecial da madre.Foi justamente conversando sobre aniversários que Adélia disse a Vivinha:— O aniversário do Dr. Camargo é sexta-feira.Vivinha deu um salto:— Aniversário? Nossa, estou sentindo cheiro de festa! Adélia, nós precisamosfazer uma festa para o Dr. Camargo! Quero um bolão todo branco recheadocom doce de leite e coberto com Chantilly. Ai, já estou com água na boca!Vamos fazer suspiros, doce de mamão, abóbora, fios de ovos. . .— Você embirutou, Vivinha? Isto é festa de criança! Seu pai é um adulto!— Um adulto quadrado que eu preciso desquadrar. Esse Doutor Camargo medá um trabalho! Se Santarena esti vesse aqui, ela me ajudaria. Ei, peraí! Porque Santarena não pode estar? Você vai virar Santarena, Adélia! Eu faço o pa-pel de Helianto e você de Santarena; aí, nós trabalhamos juntas e vamos fazeraquela festança! Espere que vou trazer umas estrelinhas pra batizar você.. .Adélia arregalou os olhos, Vivinha correu para o quar to, trouxe um punhado deestrelinhas que jogou na cabeça de Adélia, enquanto proferia umas palavrasmisteriosas. Então, explicou que Adélia tinha acabado de se transformar emSantarena.— Você tem um livro de receitas para eu aprender a fazer o bolo?— Bem...

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— Deixa pra lá. Vou comprar bolo de caixa que é só misturar leite, ovos eassar. Recheio? Leite condensado co zido na panela de pressão. Com ameixapreta picadinha. Vamos começar agora, Adelinha!— Menina, ainda faltam cinco dias para o aniversário! Até lá o bolo fica verdede estragado e vai dar dor de bar riga em todo o mundo!— É mesmo! Então, enquanto o dia não chega, vou fazer uns presentes para opai mais lindo do mundo. Genial a sua ideia, Adelinha!Correndo para o quarto, Vivinha revirou as gavetas à procura de papéiscolori-dos. Só encontrou papéis comuns e cadernos. Resolveu, portanto, ir atéà pa-pelaria do supermer cado a poucas quadras dali.Desceu correndo a escada, atravessou a cozinha como uma flecha e foianunci-ando:— Vou dar uma saidinha e volto já.A porta fechou com um estrondo. Quando Adélia a abriu para olhar, Vivinha,com a bicicleta, passou voando.Não fosse Adélia esperta, pulando para trás, as rodas teriam lhe passado nospés.— Vai chover, sua maluca! — gritou a empregada. — Leve o guarda-chuva!Quem escutou? Vivinha já havia atravessado o portão e, minutos depois,che-gava à galeria. Ali pediu um cadeado com uma corrente, acorrentou abicicleta e entregou a chave do cadeado ao vigia do estacionamento. Depois,foi com-prar um belíssimo sorvete duplo de morango e, lambendo-o, entrou napape-laria onde escolheu papéis estampados, cola, clipes, papel engomado eenvelo-pes de todas as cores.Com a encomenda num saco plástico, lá foi ela desacorrentar a bicicleta.De-pois ajeitou os papéis na cestinha-bagageiro. Quando já estava na rua,desa-bou o toró. Choveu água, granizo, gelo, até anjinhos do céu! "Bem queAdélia avisou que ia despencar outro dilúvio!" — pensou, irritada,encostando-se de-baixo de um toldo à espera de que o tempo melhorasse. Deque adiantaria ter trazido o guarda-chuva? Não era de circo para seequilibrar na bicicleta com o guarda-chuva aberto!A pancada parou rápido como tinha vindo. Com isso, Vivinha saiu a toda. Mas ovento traiçoeiro deu uma sacudida nas nuvens, e o aguaceiro repetiu a dose.

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Os carros passavam nas poças e atiravam água para cima. Vivinha tentoubre-car, porém percebeu que o breque havia pifado. Então, abriu a boca dotama-nho de uma laranja e espantou gente do ca minho gritando-buzinandoigual sire-ne de ambulância. Ainda bem que a casa era perto! Vivinha chegouensopadís-sima, quase esborrachou o nariz no portão. E para entrar? Antôniohavia tran-cado o portão! Vivinha tocou a campainha, mas ninguém atendeu. Aí,aprontou um berreiro e, finalmente, Adélia apareceu. Ao ver a meninamolhada, a em-pregada se arrepiou toda:— Já para um chuveiro quente antes que pegue um belo resfriado, suateimosa!Vivinha correu para o banheiro deixando um rastro molhado pelo chão.Resmungando que o Dr. Camargo jamais poderia saber daquilo, Adélia foia-trás. Vivinha tirou a rou pa, entrou no boxe e girou o registro duma vez.O berro que ela deu foi o maior de sua vida. Adélia quase desmaiou, e Antônioacudiu correndo, pensando que alguém havia morrido. Em vez disso, lá deden-tro, Vivinha resmungava zangada:— Acabou a força e eu tomei um j ato de água ge-la-da!

11. Presentes e preparativos

Vivinha levou uns dias fazendo os presentes para o pai. Enquanto trabalhava,conversava animada com Santarena, Helianto e com o pequeno pé de girassolao qual ela pôs o nome de Girassoleiro.O primeiro presente era um beijo. Vivinha recortou um papel branco,quadra-do, beijou-o e fechou depressa para o beijo não escapar. Depoisescreveu no envelope: "Tem um beijo enorme guardado aqui dentro para osenhor." No lu-gar do o desenhou o globo terrestre significando um beijo dota manho do mun-do. Recortando uma boca vermelha, colocou-a no alto doenvelope transparente que recebeu o número 1. O segundo presente era seupróprio retrato autogra-fado den tro do envelope azul, número 2. O envelope3, vermelho, continha um lindo cartão com a mensagem de aniversárioimpressa. O 4, amarelo, era o do convite para a festa que seria realizada nosábado, às 20 horas, na residência do ani versariante, andar térreo. O

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envelope 5, verde-esperança, escondia um chaveiro em forma de coração. Oenvelope 6, lilás, continha uma poesia copia-da, e o último era o da carta queela havia escrito. Todos os envelopes tinham algumas estrelinhas deSantarena.Quando terminou a tarefa, estava descabelada. — Pronto! — disse satisfeita.— Agora só falta pre parar os docinhos para a grande festa! Tomara que o Dr.Ca margo goste da surpresa! Acho que ninguém nunca fez uma surpresa dessaspara ele. Sabe, Vivinha, o Dr. Camargo precisa de uma filha que goste muitodele! O bonitão que parece artista de novela é um homem sozinho e triste,você já des confiou, né? Às vezes, tenho pena dele! Ele levanta de ma drugada,trabalha como um louco, almoça correndo, sai de novo, chega cansado... Aí setranca na biblioteca e fica escutando aquelas músicas que dão um sono! Tenhode mos trar que eu gosto muito dele!Fez cosquinhas no Girassoleiro e desceu correndo para a cozinha:— Dééééé!Quando escutou o grito, Adélia ficou de cabelos em pé: era a tempestade seaproximando.— Querida Dê, precisamos começar a fazer os docinhos do níver do Dr.Ca-margo. Você sabe fazer bom-bocado?— Eu tenho cara de doceira?— Então, dona Teresinha deve saber!— Quem é dona Teresinha?— A vizinha duas casas pra baixo,— Aquela pata choca orgulhosa que não conversa com ninguém?— Orgulhosa nada, Dê! Ela fala até pelos cotovelos, é muito engraçada e sabeo que mais? Tem cinco canários, dois gatos e um cachorro!— Como você sabe disso, Vivinha? Faz cinco anos que trabalho nesta casa e elanem sequer me cumprimentou!— Decerto porque você não cumprimentou antes. Acontece que já bati papocom ela no supermercado, e ela até me convidou pra tomar um cafezinho. Sabede uma coisa? Acho que vou tomar o cafezinho agora e, se ela souber fazerbom-bocado, trago a receita!Vivinha saiu correndo. Adélia tentou segurá-la, porém era tarde demais.

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Vivi-nha tinha o dom de evaporar-se como se a terra a engolisse.Dona Teresinha não só deu a receita de bom-bocado como se ofereceu parafazê-lo. Ótimo, Vivinha só teria de levar o material. Agora seria comprar unsdocinhos, balas de coco prontas, enrolar em papel de seda colorido e. . . desco-brir um bolo.Adélia quase ficou louca com a sujeirada que Vivinha aprontou na cozinha!E-ram cascas de ovos aqui, liquidificador virando lá, forno ligado, gásescapando por quantas bocas o fogão tinha, tigelas sujas, pia cheia, pingos demassa pelo chão, farinha esparramada em cima da mesa. Vivinha tinha açúcaraté no cabe-lo, mas o delicioso aroma de bolo assando saía do forninho. DonaMaria preferiu se trancar no quarto com medo de que lhe pedissem ajuda.— Prefiro enfrentar uma guerra sozinha do que me me ter a fazer outra festade aniversário! — resmungou Adélia terminando de bater o Chantilly.— Se está cansada, pode ficar sentadinha aí que a Mu lher Maravilha limpa acozinha sem a ajuda de ninguém — declarou a menina empurrando Adélia quecaiu sentada numa cadeira.— Acho melhor você cuidar para não derrubar a casa! — gemeu Adélia seaba-nando com o avental.Outra surpresa que Vivinha preparou para o grande dia foi a de cumprimentaro pai só à noite. Assim, evitando se encontrar com ele no café da manhã,atra-sou o mais que pôde e acabou quase perdendo a primeira aula.Depois que ela voltou da escola, até Antônio entrou na dança ajudando amudar de lugar os móveis da sala. A mesa de pingue-pongue foi transformadaem uma belíssima mesa de aniversário com garrafas de refrigerantes, copos,prati-nhos, talheres. Quando eles terminaram, a casa nem parecia a mesma.— Tomara que o Dr. Camargo não me despeça por causa desta maluquice! —suspirou Adélia preocupadíssima.Vivinha voou para um banho caprichado, penteou o ca belo e se meteu numvestido novo.A tarde caiu. Toda nervosa, Vivinha ia de um lado para outro não vendo a horaem que o pai abrisse a porta e entrasse. Ela iria dar o maior abraço do mundonele!Seis horas, e o pai não aparecia! Seis e meia, nada! Vivinha, então, resolveu

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telefonar para saber se havia acon tecido alguma coisa, mas o telefone tocouantes. Ela correu para atender. Do outro lado, a voz do Dr. Camargo:— Viviane, tudo bem? Escute, estou telefonando para avisar que não voujan-tar em casa hoje. Uns amigos me con vidaram para uma reunião, não pudeesca-par. Chegarei um pouco tarde, durma bem. Conversaremos amanhã.Do rosto dela morreu a alegria, e os olhos ficaram bri lhantes por causa daslágrimas.— Que foi ? — perguntou Adélia ao perceber tamanha transformação.— Pap. .. O Dr. Camargo vai a uma reunião com os amigos dele e vem tardepara casa. Disse que é para eu dor mir que a gente conversa amanhã...Adélia ficou muito chateada.— Você dá um jeitinho nessa bagunça toda, Dê? — pediu a menina malconse-guindo falar. — Eu... não posso ajudar você. De repente fiquei muitocansada, sabe?— Pode deixar que Antônio e eu damos um jeito nisso tudo. Mas o que eu façocom ,os doces, com o bolo?— Não sei! Esconda. Amanhã nós conversamos.Vivinha subiu correndo a escada e se trancou no quarto. Depois, pegou os seteenvelopes coloridos, rasgou-os bem miudinhos e atirou-os ao lixo.

12. A festa de aniversário de todo o mundo

Quando se levantou no dia seguinte, Vivinha estava pensativa mas nãozangada. Dr. Camargo já havia saído. Ela tomou o café e, quando ia saindo, aempregada perguntou:— Vivinha, o que vamos fazer com os doces e o bolo do aniversário do seu pai?— Ele desconfiou de alguma coisa?— Não.— Então, continue escondendo tudo. Quando eu voltar da escola, nós vamosagir!— Nós?— Sim, nesse plural você está incluída. Até ao meio-dia, Dê! — e dando umbeijo na bochecha da empregada, saiu correndo.

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Durante o almoço, Adélia ficou com a orelha atrás da porta para ouvir seVi-vinha contava ao pai sobre a festa que havia preparado. Vivinha, porém,nem tocou no assunto. Dona Maria, ao lado de Adélia (e meio surda), toda ahora perguntava à amiga o que estava acontecendo.O Dr. Camargo foi trabalhar sem que a filha revelasse coisa alguma. Assim queo carro saiu, Adélia quase caiu na sala porque, na pressa de entrar, tropeçouna ponta do ta pete. Dona Maria tropeçou atrás.— Posso saber por que você não contou tudo para ele? — perguntou Adéliade-pois que recobrou o equilíbrio.— E eu posso saber se você estava escutando atrás da porta?Adélia ficou vermelha e fez um sinal afirmativo com a cabeça. Vivinha caiu narisada.— O negócio é o seguinte, Dé: ontem à noite eu pensei bastante... Sabe,Santa-rena e Helianto acabaram me con vencendo de uma coisa que eu nãotinha pen-sado antes...— Do quê?— De que o Dr. Camargo não teve a menor culpa e que não fez a coisa para mechatear. Se ele soubesse que eu havia preparado a festa, aposto que teriacancelado todos os outros convites.— Bem, sendo assim, você poderia fazer a festinha hoje.— Aí, ele ia ficar sabendo que tinha sido preparada para ontem, descobririaque me deixou chateada e, em vez de ficar contente, ia ficar triste. Nãoquero que ele sinta remor sos, entende? A culpa foi minha, não dele.Adélia ficou ainda mais espantada. Dona Maria enru gou a testa.— Dé, querida, estou com uma ideia linda e maravi lhosa na cabeça: vamosfa-zer uma festinha de aniversário como nunca aconteceu nenhuma antes.Ajunte as muambas!— Surprise — e Vivinha esnobou um inglês que pro nunciava muito mal. — Voupedir ao Antônio para tirar o carro. Enquanto isso, passe um batom nesse bicoe ajeite essa gaforinha que você está a própria Maria louca!Vivinha saiu correndo.— Dona Maria, a senhora consegue entender essa me nina? — perguntou Adéliade boca aberta.

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— Não, eu não entendo. . . — e dona Maria franziu a testa. — Mas sabe porque nós não a entendemos? Porque ela tem um coração grande demais para asnos-sas cabeças!Dali a pouco, o carro buzinava. Adélia saiu com os ces tos de vime, e Antônioacomodou o bolo no assento de trás, junto a Vivinha.— Para o Hospital São Lucas — pediu a menina.Adélia e Antônio se entreolharam encolhendo os ombros.Dali a pouco o carrão estacionava no pátio à sombra das quaresmeirasfloridas. Assim que Vivinha apeou, apro ximou-se um menino maltrapilho.— Oi, Donizete, que bom que você veio! — disse ela com um largo sorriso. —Quer ajudar Adélia a carregar os cestos?Adélia ficou espantada ao ver Vivinha conversando com aquele desconhecidomaltrapilho e o jeito com que entravam no hospital — como se fosse a casadeles.— Ei, não podemos ir entrando assim! — falou o Antônio espantado.— Meu chapa, já está tudo arrumadinho — respondeu Vivinha empinando onariz. — Cuidado para não tropeçar com o bolo, Antônio!E lá foram os dois empregados marchando atrás das crianças.Mais adiante, Vivinha topou com a madre. Imediata mente elas trocarambei-jos. A madre falou uma porção de palavras de agradecimentos e pediu quea acompanhassem. Quando chegaram diante de uma porta fechada, ela fez umgesto de peraí, respirou fundo, girou a maçaneta, enfiou a cabeça e anunciou:— Criançada, a festa está chegando!Adélia e Antônio quase caíram com o que viram. Havia mais de vinte criançasnos leitos da enfermaria. Umas tinham a barriga inchada, outras estavamimobilizados pelo gesso; grande número delas tomava soro e todas tinhamolha res desanimados. Mas, quando viram o bolo, ninguém mais ficou com aquelacara. Foi aquela alegria; houve música e aplausos. Tudo bem rápido porque acriançada não via a hora de partir o bolo. Só que, antes, Vivinha fez questãode acender a única vela fincada no bolo e pediu que todos can tassem a cançãode aniversário.— É que hoje estamos comemorando o aniversário de todo o mundo — disseela olhando para o Donizete.

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Então, o Donizete enfiou a faca no bolo, deu uma risa da meio sem jeito,en-quanto Vivinha falava bem baixinho pra ninguém ouvir:

— É nada! Estamos comemorando o aniversário do Dr. Tarso de Camargo. Noano que vem, neste mesmo dia, ele vai estar aqui com a gente fazendo a festapara outra porção de criançada!

13. Um lindo domingo de sol

— ... pois é, doutor, eu não tenho nada com isso, não queria abrir a boca, mas

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não consigo ficar com ela fechada! Não acho justo que o senhor não saiba quea sua filha tem um coração desse tamanho! Ela que fez toda a festa, mas sópara não deixar o senhor chateado, preferiu não dizer nada!Sentado na poltrona favorita naquela tarde de sol, en quanto Vivinha passeavade bicicleta, o médico continuava olhando para o vazio.— Então. . . ela sabia do meu aniversário?— Sabia, sim senhor! Faz uma semana que contei. Aí, ela foi ao supermercadocomprar os seus presentes, aju dou a fazer o bolo e até convenceu a vizinha decolaborar com os bons-bocados! Vivinha, doutor, não existe!Os olhos do médico brilharam.— E... no hospital?— Foi aquela linda festa que até parecia Natal! A ma dre disse que muitasda-quelas crianças nunca tinham comidobolo de aniversário. Vivinha convidou um menino pobre, um tal de Donizete quevende bala em frente ao colégio onde ela estuda. Foi ele quem cortou o bolo.— Obrigado por me dizer tudo isso, Adélia!— Por favor, o senhor não vai dizer a Vivinha que eu.. . .— Pode ficar descansada. Dou a minha palavra de que ela nunca ficará sabendodesta nossa conversa.Adélia virou nos pés e saiu.Meia hora depois o ar se encheu com o alegre tilintar da campainha dabici-cleta, e Vivinha entrou como um foguete. Adélia saiu da porta, e Vivinhafoi direto ao filtro d'água. Estava com o rosto vermelho.— Beba devagar que a água não vai acabar! — acon selhou Adélia.Vivinha nem respondeu, atravessou a sala e já ia subin do para o banheiro,quando o pai a chamou da biblioteca. Ela foi ver o que ele queria.— Oi, doutor papai, tudo bem?— Muito bem. Entre, Viviane.— O senhor não está ocupado?— Não. E mesmo que estivesse, não faria mal. Ë mais importante conversarcom você do que qualquer outra coisa.— Nossa, o senhor acha mesmo? — já ia abrindo os braços para abraçá-lo,porém o médico, sem perceber, virou as costas. Vivinha sentou-se. O pai

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parecia meio constran gido.— Viviane, eu quero lhe dizer que sexta-feira foi o meu aniversário.— Oba, foi mesmo? Então eu vou lhe dar um abração!— e antes que o pai tivesse tempo para responder, lá estava dependurada nopescoço dele. Depois, endireitou o corpo. — Se eu tivesse sabido antes, teriapreparado uma fes... nada!— e sentou-se de novo.— Obrigado pelos parabéns! Foram os mais quentes que recebi em toda aminha vida! — Que bom! — falou ela com uma terrível vontade de continuar abraçada aopai.

— Eu estive pensando... — disse ele. — Eu deveria ter avisado você, mas nãoavisei. Por isso.. .— Não faz mal, papai! Eu sab. . . nada!— Não convidei você para aquela reunião com os ami gos porque sabia que seriadessas reuniões que crianças não gostam, entende? Serviram só bebidasalco-ólicas, uns salga dinhos. .-. Não tinha bolo nem nada.— Eu entendo.— Então, resolvi comemorar o meu aniversário ama nhã, que é domingo. Pensoem convidar o Dr. Caldeira, o velho amigo juiz de direito aposentado.— Oh, papai, que delícia!— Como você é a nova dona-de-casa, gostaria que se entendesse lá na cozinhacom Adélia para fazerem o almoço. Eu não gosto e nem sei dirigir uma festa.Você faria isso por mim?— Meu Deus, se eu faço! — e correu até à porta. Che gando lá, deu umabreca-da de franzir o tapete. — Oh, papai, muito obrigada! O senhor tambémquer bolo?— Não, só almoço. Um almoço bem gostoso!Imediatamente Adélia tirou o ouvido de trás da fecha dura porque não queriatomar uma portada. Vivinha nem desconfiou e, sem tomar fôlego, começou anumerar tudo o que ela pensava servir no dia seguinte:— Pato assado, frango com laranja, peixe, cabrito, peru, presunto... .

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— Meu santo anjo da guarda! — suspirou Adélia até arrependida. — Por que éque eu tive de abrir esta minha boca?— Que foi, Dé?— Eu estava dizendo que nós vamos com calma e de vagar. A minha cozinha nãovai virar outra bagunça como naquele dia!Vivinha encolheu os ombros. Que adiantava a Adélia fingir zanga se no fima-cabava mesmo fazendo tudo o que Vivinha queria?O domingo amanheceu que era uma beleza! Quando Vivinha viu um raio de solentrando pela veneziana, deu um salto, abriu a janela e foi fazer cafuné noGirassoleiro que estava bem maior.— Alô, alô! — falou para a planta. — Chamando Helianto! Avisar Santarena queas coisas aqui estão indo de bem para melhor. E aí?Abaixou a cabeça junto à planta como se pudesse real mente ouvir a resposta.Depois, com outro salto, foi trocar-se e desceu para a cozinha quasederru-bando a estátua de louça ao pé da escada.Começou o corre-corre.Dr. Caldeira, o juiz, era baixo, magro e tinha uma longa cabeleira branca.Ves-tia-se esportivo e era elegante. Vivinha logo caiu de amores por ele porachar que ele tinha a cara de primo magro do Papai Noel. O juiz gostava decontar piadas, e, com isso, Vivinha o encheu com aperitivos, salga dinhos,bolachas e patês. Adélia deu graças a Deus por Vi vinha estar azucrinando ojuiz, porque pelo menos poderia trabalhar sossegada na cozinha.O juiz contou toda a sua vida a Vivinha. Era viúvo e tinha um casal de filhos:um em Brasília e o outro em Natal. Ele gostava de crianças, esportes, bichos,flores e... de bicicleta.— Oba! — assanhou-se Vivinha. — Então, não quer dar uma volta na minha?— Um outro dia — respondeu o juiz com uma piscadinha.— Acontece que essesaperitivos já me deixaram meio zonzo... Que tal apostarmos uma corrida?— Oba, eu acho que essa foi a maior ideia de todas!— Você não sabe a besteira que fez prometendo isso! — falou o Dr. Camargoquando Vivinha saiu para buscar refrigerante. — Agora, enquanto não cumprir,ela não vai dar sossego!O almoço foi servido à uma hora na mesa de pingue-pongue. Houve muita

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risa-da, música, alegria. Na cozinha, Adélia pôs a mão no peito e suspiroupensativa:— Até que enfim esta casa ficou feliz! Em tantos anos que aqui trabalho,nun-ca ouvi risadas e nem música baru lhenta aqui dentro!

1 4. Do outro lado do córrego

Todos os dias Vivinha pegava a régua e media o Girassoleiro que crescia ao-lhos vistos. Espantosa a velocidade com que uma planta bem tratada cresce!Vivinha tinha lido que as plantas, como as pessoas, têm muita sensibilidade e,quando pressentem que vão ser destruídas, ficam apavora das. Por isso,trata-va o Girassoleiro com o maior carinho. Estava sempre conversando comele.Uma novidade na casa foi que dona Maria se despediu. Ia morar com a filha,em Curitiba, que há muito tempo a vinha convidando. Foi uma despedida commuito choro, abraços e estrelinhas de Santarena que Vivinha lhe deu em umenvelope.Os dias foram passando.Desde a festa no São Lucas, cresceu a amizade entre Vivinha e Donizete. Elessempre ficavam conversando en quanto ela esperava Antônio. Donizete erain-teligente, brin calhão, mas tinha um gênio esquentado! Por qualquer coisinha,queria brigar. No começo Vivinha implicava com tanta agressividade. "Por queserá que o Donizete é tão explosivo assim?"— pensava.Tentou descobrir, mas quem disse que descobria? Uma vez perguntoudireta-mente; de outras, indiretamente a ele. O menino desviava a conversa.Mas, por acaso, Vivinha per cebeu que aquela agressividade era a defesa domenino. Ele. era bom por dentro, mas não gostava que os outros soubes semporque podiam confundir, achando que não passava de um molóide. Por isso,vivia rosnando pa-ra afugentar os intrometidos. Depois que Vivinha descobriuisso, ficou gostan-do ainda mais do pequeno vendedor de balas.Foi nesse relacionamento que ela soube que ele não gostava de seu própriono-me.— Existem milhões de Donizetes por aí — comentou ele. — Eu queria ter um

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nome diferente, bonito, só meu.Vivinha teimou que aquele era um belo nome, porém, não convenceu. Então,recorreu à estória dos apelidos.

— Eu podia chamar você de Doni, de Nizê ou de Etê. Gosta?Outra torcida de nariz.— É, nem eu gostei. . . — murmurou Vivinha. — Mas... e Dom? Isso! Em PortugalDom era título de gente importantíssima! Por exemplo: Dom Pedro I, Dom.

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Pe-dro II... Eles foram im-pe-ra-do-res do Brasil. Dom, você acaba de serprocla-mado imperador igual a eles. Será que nem assim fica contente?O menino repetiu o nome, sorriu, encheu o peito de ar e se viu coroado comoum imperador de verdade!— Gostei!Com isso, a amizade entre os dois estreitou-se ainda mais. Por isso, um dia,Vivinha lhe pediu que a levasse para conhecer sua família.— Você mora na cidade — respondeu Dom. — Eu moro do outro lado docórre-go.— E qual é a diferença que existe entre o lado de lá e o lado de cá docórrego?— Muita! Quando dá enchente, cai a ponte, e a gente não consegue atravessaro córrego. Quando morre gente na enchente, sempre é gente do lado de lá docórrego. Toda a vez que sai briga, morte ou roubo na cidade, eles dizem quesão os que moram do outro lado do córrego...— Isso é verdade ou mentira?— É um pouco de verdade mas não só verdade. Outro dia a polícia foi lá eprendeu três ladrões.— Existem ladrões dos dois lados — suspirou Vivinha. — Sei de muita gente deterno e gravata que assalta sem usar revólver! Eles vendem mantimentoses-tragados, aumentam impostos, exigem "gorjetas"... e o pior é que a políciaqua-se nunca pode prender esses ladrões. Como são os seus pais?— Eu não tenho pai.— Então vou conhecer a sua mãe mesmo. Ah, Dom, deixa de ser chato e mele-ve para conhecer o outro lado do córrego, vá!O passeio foi marcado para as três da tarde do sábado. Vivinha não contou emcasa. Se contasse, sabia que eles jamais iriam permitir. Ela tinha consciênciade que estava se arriscando, não era nenhuma tonta. Adélia sempre aconselha-va: "Cuidado com os desconhecidos! O mundo está cheio de traidores!"Só que o Dom já não era mais um desconhecido. Na hora marcada, eles seen-contraram na praça da igreja. À medida que foram descendo para abaixada, Vivinha começou a entender o que significava a separação entre olado de lá e o lado de cá. Uma pracinha abandonada era a última barreira

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entre os dois mundos. Ali o capim crescia alto, as pessoas atiravam restos delixo, e três al-tos eucalip tos se erguiam como mãos dizendo: "Pare! Esta é asua última oportunidade para voltar".Seguindo pela trilha, chegaram à ponte. O riacho mal-cheiroso tinha águaen-gordurada e visguenta. Dom explicou que ali corriam os esgotos da cidade.A vila era uma favela com casas de tábuas, telhado de zinco, com águaempo-çada no meio da rua, algumas galinhas ciscando: e cachorros sem dono.Ela viu adultos com olhares desanimados sentados às portas, crianças nuas ebarrigu-das brincando na lama.A casa de Dom tinha só a frente de tijolos, porque o resto era tudo de tábuasvelhas. Mirrada e encardida, a mãe tinha cabelos ensebados e um ar dedesân-mo. Segurava um nenezinho chorão e sujo. "Se ele não tem pai, então,como é que tem um irmão novinho?" — pensou Vivinha.Os irmãos dele faziam uma escadinha. Dona Maria Rosa, a mãe de Dom,come-çou a clamar da vida. Ela clamou da sorte, do mundo, da miséria, docalor, de dores e dos filhos que não conseguiam emprego. Era o caso doEusébio, o mais velho, molecão taludo que vivia vagabundeando por que ninguémlhe dava servi-ço. É que, tempos atrás, ele se havia metido com unsdesordeiros que assalta-ram uma pada ria. Dali para diante, tinham ficadofichados e ninguém con fiava mais nele. Nem que o Eusébio jurasse que não iafazer nada mais de errado.Terminada a visita, Dom levou Vivinha de volta. Quan do iam atravessando aponte, ele parou e atirou com força uma pedrinha na água como se o córregofosse culpado de tudo.— A gente nunca vai conseguir viver do outro lado da cidade! — disse. —Agora você me entende, não entende?Vivinha estava tão confusa que nem soube o que res ponder. Pela primeira vezna vida ela percebeu que nem Santarena seria capaz de dar um jeito em umasituação daquelas.

15. O documento secreto

Alguns dias depois.

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O tempo havia mudado. Entrava o outono. Isso signifi cava céu encoberto,chu-vinha fina, vento, agasalhos e... resfriados. Para piorar, a televisão previaa a-proximação de uma onda de ar frio.Depois da festa de aniversário do domingo, Dr. Camar go tinha ficado maisfa-lante. "Acho que ele não estava acos tumado a lidar com crianças" — pensouVivinha. "Ele sem pre foi pai sem conhecer a filha."Por esse motivo, ela dobrou o esforço para poder aumentar cada vez mais seurelacionamento com o médico. Uma das preferências dele era trancar-se nabiblioteca onde ficava ouvindo músicas clássicas. Então, por que Vivinha nãodava um jeito de aprender algo sobre aquele tipo de música? Com isso, teriaassunto para conversar com o pai.Então, certa tarde, ela pôs os planos em ação e foi dar uma olhada nos discos.As capas mostravam figuras belíssimas, coloridas, mas os compositores todostinham rosto sério, ares mais de tris teza do que alegria. Será por isso que asmúsicas deles eram tão... tão... difíceis de se escutar?Conseguiu decorar o nome de alguns compositores e das músicas deles. Chegouaté a consultar biografias- no di cionário enciclopédico para ter o queconver-sar com o pai.Afinal, era quase a mesma coisa do que estudar para uma sabatina. . .Quando Dr. Camargo percebeu o inesperado interesse da filha, ficouencanta-do! Sentava a menina a seu lado, liga va os discos intermináveis epunha-se a explicar coisas com palavrório técnico que ela não entendiabulhufas! Vivinha fazia uma força danada para prestar atenção e fingir-se in-teressada. Mas os olhos às vezes iam fechando teimosos, ela cochilavaescandalosamente e por várias vezes quase caiu da cadeira!Mesmo assim, valia a pena aguentar tudo aquilo, por que era uma boaoportuni-dade de passar um tempo ao lado do pai.Quando se pilhava sozinha, sentava junto à janela e ficava conversando com oGirassoleiro:— Por que será que o Dr. Camargo não se casou de novo? Ele é moço, bonito,inteligente, rico, e deve ter muitas mulheres correndo-lhe atrás. Então, porque será?De repente, Vivinha estremeceu:

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— E se ele já tem alguma noiva? Meu Deus, e se ele ainda não teve a coragemde me contar?Aí sim que perdeu o sono! Afinal, o que ela sabia da vida particular do pai?Na-da. Ele só lhe havia dito haver, passado quatro anos na Europa e que ospais dele — os avós de Vivinha — tinham resolvido ficar permanentemente naSuí-ça. E se de uma hora para outra chegasse uma noiva... falando uma línguaes-trangeira???Vivinha jurou que ia tomar providências.Ela começou as buscas no dia seguinte. Sabia que não era direito mexer emcoisas que não lhe pertenciam, mas, mesmo assim, quis ver os papéis do Dr.Camargo. Começou pela escrivaninha do escritório. Havia cartas (poucas), masnenhuma perfumosa, nenhuma que levantasse suspeitas. Isso deixou Vivinhaainda mais atrapalhada.No escritório também havia um velho cofre que o pai dizia ser relíquia defamília. Vivinha morria de curiosidade

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de examinar lá dentro. Mas quem disse que ela conseguia abri-lo?Não perdeu as esperanças, porém. Um dia, por sorte, encontrou-odestranca-do. Com o coração batendo forte, ela puxou a folha e começou aolhar. Havia dinheiro, jóias e pastas. Vivinha pegou as pastas, ajoelhou-se nochão e come çou a revirar a papelada. Ela não entendia, mas mesmo assim, ialendo. Viu recibos de impostos, escrituras, certi dões. Vasculhando.,procurando, reme-xendo, de repente caiu-lhe em mãos um amarelado envelopede ofício. Caute-losa, retirou o papel dobrado de dentro e pôs-se a ler. Àmedida que os olhos corriam, foram-se arregalando, arregalando, e ela caiusentada.— N-não!Vivinha continuou imóvel até que escutou a voz de Adélia. Com umestremeci-mento, apanhou depressa O do cumento, dobrou-o e, enfiando-o denovo no en-velope, de volveu-o ao cofre. Em seguida, saiu do escritório. Aovê-la, Adélia estranhou:— Que foi, Vivinha? Você está tão pálida!— N-nada...Dali a pouco ela estava com febre, e a febre se trans formou em terríveispe-sadelos. Vivinha delirava, chorava, dizia coisas que ninguém compreendia.Dr. Camargo passou a noite toda na cabeceira da filha. A febre só cessou natarde do dia seguinte. Ensopada pela transpiração, Vivinha abriu os olhos e só

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então enxergou outra vez o mundo à sua volta.— Como vai, Vivinha? — perguntou Adélia com ter nura pondo-lhe a mão nates-ta.Vivinha deu uma olhada no Girassoleiro que espiava dentro do quarto.— Cadê. .. o Dr. Camargo?— Precisou ir acudir uma emergência, mas volta logo. Ele passou aqui, à suacabeceira, a noite inteirinha tomando conta de você. Está melhor?Vivinha fez que sim. Fechou os olhos porque estava cansada, fraca, sonolentae, então, voltou a adormecer.

16. Uma visita a negócios

Vivinha ficou três dias de cama. Dr. Camargo desdo brou-se em cuidados.Adé-lia não sabia mais o que fazer para mimá-la, e Antônio a visitava a cadahora. O telefone não parava de tocar: a diretora, professoras e colegas docolégio queriam saber do estado de saúde de Vivinha.Por sorte foram três dias de chuva. Deitada, Vivinha observava a chuva cairno Girassoleiro. Foi conversando com ele que a menina teve uma ideia:— O juiz Caldeira! Isso mesmo! Já ia atirando longe as cobertas, quandoAdé-lia entrou com um copo de laranjada.— Nossa doente já sarou?Vivinha tentou ficar de pé, porém uma ligeira tontura a fez sentar-se de novo.Adélia correu a ampará-la.— Calma, calma! Você esteve de molho durante uns dias e agora não pode saircorrendo como um foguete. Tome esta laranjada.Vivinha não queria, mas obedeceu. Enquanto tomava, aproveitou-se para fazerumas certas perguntas que Adélia foi respondendo com a maior naturalidade:— Faz cinco anos que trabalho para o Dr. Camargo. Quando vim para cá, ele jáestava desquitado da sua mãe. A separação aconteceu quando você tinha trêsanos. Depois de um ano que eu trabalhava aqui, Dr. Camargo e os pais viajarampara a Europa e lá ficaram por quatro anos. Como eu não tinha o que fazerneste casarão, passei a trabalhar para outra família, mas a cada quinze diasvinha aqui fazer limpeza e deixar tudo em ordem. Durante todo este tempo,

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Antônio morava, como vigia, no quarto dos fundos.— Pap.. . quero dizer, Dr. Camargo nunca falou em casar de novo?— Esse não é assunto para discutir com empregados!— Será que ele tem alguma namorada?— Quem é que sabe? Ele sai muito pouco. Sempre que sai, sai com amigos.Quando a conversa terminou, Vivinha concluiu que te ria de agir o maisdepres-sa possível.Depois do almoço no dia seguinte, ela foi de bicicleta à casa do Dr. Caldeira.Era um casarão em estilo colonial, mergulhado em um pomar cheio depassari-nhos. Quando Vivinha parou diante do portão, o coração disparou.Deveria ou não deveria tocar a campainha?Tocou.O juiz estava lendo em uma rede branca. Ao ver Vivi nha, levantou-se eabra-çou-a.— Preciso muito conversar com o senhor — falou ela com muito esforço. — Éum assunto muito sério!— Oh, sim, deve ser muito grave! — concordou o magistrado. — Pelo jeito,de-ve ser a conversa que exige por tas fechadas. Vamos ao meu escritório?Com o braço sobre os ombros da garota, eles entraram noescritório-bibliote-ca onde havia muitos livros.— São os velhos amigos que nunca me abandonaram — disse o juizindicando-lhe uma poltrona. — Eles me ensi naram muitas coisas!Principalmente me ensi-naram a ser justo para julgar as causas das pessoas.Afinal, é para isso que um juiz existe, não é?Vivinha começou a falar devagar, reticente, mas depois falou, falou, falou semparar. O juiz escutou sem interromper. Só quando ela silenciou que eleres-pondeu. Foi uma resposta paciente, longa, amiga. Depois que ele tambémcon cluiu, a menina novamente sorria corajosa.— Então, eu vou! — disse decidida. — Confio no senhor e tem de dar certo!— Claro que tem de dar certo, Vivinha! Não se esque ça de que o amor tudovence! Além disso, eu estarei aqui para ajudar. Assim que souber de algumacoisa, avisarei.— Fale só comigo, certo? Nada de recados para Adélia!

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— Não falarei absolutamente com ninguém, a não ser com você. Prometo queesse será o nosso segredo.Emocionada, ela se levantou e atacou o juiz com uma crise de beijos. O pobremagistrado só foi salvo porque alguém bateu à porta.— Entre!A empregada enfiou a cabeça:— O senhor prefere tomar café na sala ou no alpendre?— O que você prefere, Vivinha?— No alpendre, por favor! Quero ficar escutando os passarinhos porque, derepente, eu fiquei de novo tão feliz!— Ótimo! — concordou o juiz fazendo um sinal para a empregada. — Enquantoela prepara a mesa, Vivinha, vamos dar umas voltas pelo quintal? Quero queconheça os meus marrecos.E assim, como se fossem avô e neta, lá se foram eles passear por entreaque-las árvores frondosas e centenárias.

17. Novas surpresas

As próximas surpresas aconteceram com um telefonema no momento em queVivinha estava "estudando" a vida de Chopin. Quando o telefone tocou, ela deuum salto:— Dé, deixe que eu atendo! Adélia até que gostou.— Alô! — falou Vivinha erguendo o fone. Do outro lado, a voz do Dr. Caldeira:— Vivinha, consegui!Ela sentiu uma bambeira nas pernas.— C-conseguiu c-como?— Conseguindo! Seu amigo Eusébio, irmão do Dom, pode começar a trabalharamanhã na loja de um amigo meu. Passe por aqui que lhe entrego a carta deapresentação.— Oh, Dr. Caldeira, o senhor é o caldeirão mais mara vilhoso do mundo!O juiz continuou falando. Vivinha escutou com olhos arregalados e arespiração ofegando. Ao desligar, caiu sen tada na poltrona e ficou um tempãoatordoada com o que tinha acabado de ouvir.

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Mas, de repente, levantou-se decidida: precisava come çar a executar ospla-nos!A primeira coisa foi correr até à cozinha para avisar Adélia de que iria sair.Depois pegou a bicicleta. Finalmente chegou à casa do juiz aposentado onderecebeu a carta. Dali voou até à rodoviária onde Dom vendia balas no períododa tarde. Já de longe ela vinha agitando o papel no ar:— Conseguimos, Dom, conseguimos! — e quase despencou da bicicleta. — Aquiestá a carta de recomendação do juiz para o Eusébio começar a trabalharhoje mesmo, se ele quiser!Dom não queria acreditar. Só depois de ler três vezes a carta é que acreditou.Aí, começou a pular:— Preciso ir correndo falar com ele!— Então vamos, ué! Sente-se aí no bagageiro que eu levo você!Dom se ajeitou que parecia uma galinha no ninho, e lá se foram eles rindofelizes da vida.A mãe de Dom também não queria acreditar. Foi pre ciso que os dois lessemconjuntamente a carta e explicassem direitinho. Eusébio também estavades-confiando que era brincadeira. Para provar que não era, Vivinha resolveuacom-panhá-lo à loja do amigo do Dr. Caldeira.O proprietário era um bigodudo barrigudo. Ele leu a carta do juiz, deu umaolhada no Eusébio, coçou o queixo e disse:— Eu preciso mesmo de alguém de confiança, menino! Vou botar você à prova.Se você merecer a minha confiança, vai ter um ótimo futuro nesta loja. Masse botar os pés pelas mãos. ..!— Não, senhor, eu quero trabalhar de verdade!— Então, pode começar: vá atrás daquele balcão e comece a limpar asgarra-fas. Quero que fiquem brilhando, hein?Depois, Vivinha levou Dom de volta à rodoviária e pe dalou para diante. Só queagora já não estava tão afoita quan to antes. Vivinha pedalava pensativa,meio-quero-não-quero, com uma ruga de preocupação na testa.Até que parou em frente a uma padaria-doceria. Os balcões de vidromos-travam doces apetitosos. Vivinha apeou, entrou e, com o rabo dos olhos,deu uma olhada nos empre gados. Depois, ficou imóvel em frente a um balcão.

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Por trás se aproximou uma moça alta, loira, de olhos verdes e uniformizada.— Pois não, garota. Quer um doce?Vivinha olhou e, de repente, agarrou-se ao balcão.— O que foi? — perguntou a moça. — Está sentindo alguma coisa?— Só uma tontura...— Venha cá comigo. Você precisa de uma boa xícara de café quente.— Não, obrigada. Já passou!— Nada disso! — e, pegando Vivinha pela mão, a moça a fez sentar numban-quinho. Depois, trouxe o café. Vivinha agarrou a xícara e despejou-a,mesmo apesar de sapecar-lhe a língua.— Melhorou?— Sim, obrigada... Meu nome é Vivinha.— O meu é Ana Clara.— Eu sei...— Sabe?— Sei nada, vê lá! Como ia saber? O que não sei é o que está acontecendoco-migo. Você foi muito boa. Obrigada de novo!— Estamos aí para ajudar os amigos, não é?Pouco a pouco Vivinha começou a sentir-se melhor. O calor e o açúcarreno-varam-lhe as energias. Então, pôs-se a conversar com Ana Clara. No fimda conversa sentia-se tão à vontade que nem pestanejou para fazer aproposta:— Você não quer deixar esses doces para ir trabalhar lá em casa? Meu pai émédico. Nós moramos em um casarão assombrado, igual aos de filme deterror, só que até hoje não vi fantasma algum. A gente podia fazer mil coisaslá den-tro, até doces, se você quiser matar a saudade. Você sabe fazer doce,não sabe?A moça olhava espantada.— Foi dose muito forte? — perguntou Vivinha estra nhando a reação de AnaClara.— Eu...— Sabe, desde que dona Maria foi embora, Adélia vive se queixando de queestá cansada de trabalhar sozinha. Em casa é folgado, sabe? Você vai ter

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tem-po para ouvir música e até dormir, se quiser. Melhor que ficar vendendodoce e espantando as coitadas das abelhas que vêm roubar um pou quinho deaçúcar. Como é, você topa?

18. A nova empregada

Dr. Camargo olhava de alto a baixo para a moça. Ves tida com simplicidade, elasorria encabulada.— Nunca prestei serviços em casas — confessou ela. — Durante muitos anostrabalhei na padaria e, para dizer a verdade, nem sei por que me desliguei doemprego. Tanto Vivinha falou que...

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— Fiz bem, não fiz, papai? — perguntou Vivinha ca prichando no papai. — Elasabe fazer os doces de padaria, e, trabalhando aqui, não teremos maisdespe-sas comprando aqueles doces caríssimos! Além disso, a Dé viveresmungan do que precisa de uma ajudante. Aí, eu pensei. . .— Está bem, Viviane, já entendi tudo! — falou o pai. — Você deve ter usado atática de sempre: tanto falou que Ana Clara nem teve tempo para pensardi-reito. Quando você defende um ponto de vista, simplesmente não arredapé!— É, acho que foi isso mesmo... — concordou Vivi nha meio desapontada.Dr. Camargo levantou-se.— Solteira? A moça fez que não.— Viúva.— Tão jovem assim?— Foi um casamento que só durou três meses.— É daqui mesmo?— Sim, moro com meus pais.— Irmãos?Movimento negativo. Dr. Camargo estendeu a mão.— Está bem, Ana Clara, bem-vinda a esta casa! Confio na intuição de Viviane eacho que, mais uma vez, ela acertou.Antes que Ana Clara respondesse, Vivinha agarrou-a pela mão, e saíram quasecorrendo. Na cozinha, mal elas fo ram apresentadas, Adélia pegou o pano deenxugar e o atirou direto aos braços da jovem:— Acabo de lhe passar o cetro e a coroa, majestade.De amanhã em diante, aquele reino — apontou para o quar to de passar roupa— é todo seu!— Obrigada! E onde está o cabide para eu dependurar a minha capa real?— Atrás da porta existe um prego, majestade. Mas cui dado para não espetaro dedo! — respondeu Adélia caindo na gargalhada.

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Foi assim que Ana Clara começou a trabalhar para os Camargos. Ela chegava àsoito e saía às sete. Eficiente, traba lhadeira, risonha, logo percebeu que ali nãoera uma empre gada como na padaria. Naquela casa existia Vivinha, elas podiamconversar o quanto quisessem, o serviço era pouco e até passeavam juntas.Logo no primeiro dia, Vivinha lhe deu um cartão azul cheio de estrelinhascolo-ridas e contou-lhe a estória de Santarena dizendo: "Quando vocêprecisar de alguma coisa, é só falar comigo que eu converso com oGirassoleiro."Foi nessas conversas que Ana Clara ficou sabendo toda a estória de Adélia ede Antônio, o fiel empregado que tra balhava para os Camargos desde o tempoem que o Dr. Tarso era um nenezinho. Mas quando chegava na vez de AnaClara falar da sua vida, falava muito pouco. Vivinha percebeu que ela era muitopare-cida com o Dom, não se abria fácil. Prefe ria dar uma risadinha em vez deres-ponder... e ficava nisso.O tempo foi passando. Agora as manhãs acordavam tarde porque o outonoti-nha entrado para ficar. Nem sempre era fácil despertar Vivinha. Elaresmun-gava, não abria os olhos, não queria sair da cama num tempo encobertocorno aquele.Com seu gênio alegre, Vivinha logo fez uma porção de amigos no colégio. AtéElisabete, aquela que havia falado à dona Martita que Vivinha namorava o Dom,acabou sua amiga. Elisabete não era ruim. Era só meio antipática e mi mada. Nofundo, sentia-se muito infeliz. Certa vez, ela se queixou a Vivinha:— De que adianta eu ter tudo o que quero, se não tenho nem meu pai nemminha mãe?— Não entendi!— Meus pais querem ficar livres de mim... — expli cou a menina. — Meu paitrabalha o dia inteirinho e, quan do chega o fim-de-semana, pega o carro esome. Minha mãe também resolveu trabalhar fora dizendo que vivia entediadae achava que as mulheres não deviam ficar trancadas dentro de casa. Quandochega o fim-de-semana, ela também desa parece. Ela se queixa de que nãoaguenta mais o corre-corre. Eu sempre fico trancada em casa com aempre-gada!— Isso é muito chato mesmo!

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— Pra lá de chato! Às vezes sinto uma tristeza tão grande que gostaria demorrer! Meus pais querem me levar ao analista pra saber o que eu tenho.— Você já sabe o que tem: é a falta deles! Por que não fala para eles?— Já falei, mas os dois sempre têm desculpas para con tinuar cada vez maislonge de mim... e perto dos amigos.— Bem, se é assim, acho que então está faltando pra você um pouco dases-trelinhas de Santarena...— O que é isso?— Um passeio de bicicleta, por exemplo. Você tem bicicleta?— Tenho!— Então, vamos fundar o clube das passeadeiras-de-bicicleta-dos-sábados. Aí,seus pais podem ir pra onde eles quiserem que você nem vai ligar.Os olhos de Elisabete brilharam, e, felicíssima, ela con cordou.Nasceu, então, o clubinho que, no começo, era com posto só de duas meninas.Mas em duas semanas, já contava com mais de vinte e cinco participantes.

19. Um grande perigo

A ideia de aprender primeiros socorros nasceu com dona Odete, a professorade Ciências. A coisa começou por que uma aluna comentou que o irmãozinhohavia se queimado com água fervente... e a coisa acabou se transformando emum cursinho. Dona Odete ensinou o uso de ungüentos, poções, pomadas,cura-tivos, antitérmicos e muitos outros itens que todas as pessoas devemconhe-cer.Os dias continuaram seguindo. Vivinha já estava acos tumada à vida de"prince-sa no castelo" conforme escrevia para Vá. Vá respondia prometendoque nas férias iria visi tá-la. Também sugeria que Vivinha os fosse visitarporque todos estavam com muita saudade dela.O Girassoleiro crescido já estava fazendo o primeiro botão que ansiosamenteVivinha esperava abrir.Em seus passeios de bicicleta, quase sempre Vivinha se encontrava com Domna rodoviária. O menino falava entu siasmado do negócio de balas que estava

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indo bem, mas pensava em arranjar um emprego. Eusébio tinha dito que haviauma vaga numa tipografia perto da loja onde ele tra balhava.—- Maravilhoso! — exclamou Vivinha. — Dá muito mais do que ficar aívenden-do balas. Acho que você deveria começar a trabalhar de dia e aestudar à noi-te.— Não tenho paciência para ficar numa sala de aula porque as escolas parecemprisão! — declarou o menino.— Se você quiser fazer a sua cabeça pra não ficar burrão a vida inteira, aes-cola até que é uma boa! Não lhe contei a estória do menino que não queriaes-tudar e que Santarena ajudou?Claro que Dom nunca havia escutado a tal estória, mesmo porque ela nemexis-tia. Mas a esperta Vivinha inven tou a complicadíssima estória de umgaroto tão parecido com Dom que, no fim, ele desconfiou que ela estavafalando dele mes-mo.— No fim do ano a gente volta a falar do assunto es cola noturna — respondeuele. — Agora não.— Por que só no fim do ano?— Porque só posso pensar em matrícula no ano que vem — informou aliviado.Vivinha, então, resolveu não insistir mais.Naquela tarde, ela acompanhou Dom até à ponte do córrego. Estava a maiordesolação nas margens, porque com as chuvas o capim havia crescido e tomadoconta de tudo.Depois de mais um pouco de conversa, eles se despedi ram, pois começou aventar frio, e nuvens baixas rondavam a terra. Para cortar caminho e chegar acasa mais depressa, Vivinha resolveu atravessar a pracinha. Apertando opasso e empurrando a bicicleta, ia ressabiada porque sabia que não deveriapassar por ali principalmente a uma hora daquelas.Estava na altura dos eucaliptos quando escutou um ge mido. Vivinha sentiu umaperto na boca do estômago e disparou. Quando chegou do outro lado dapra-ça, parou. Que gemido seria aquele? Seria alguém doente e precisando deaju-da? Imediatamente se lembrou das palavras de Adélia: "Cuidado, menina,o pe-rigo está em toda a parte!"Não viu ninguém por perto para comunicar o fato, e o gemido continuava vivo

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em seus miolos.Ressabiada, deixou a bicicleta escondida atrás de uma moita de capim e voltoupela trilha. A cada passo, uma es piada para a frente e outra para trás. Ogemi-do se repetiu. Vivinha percebeu que vinha da direção dos eucaliptos.Redo-brando os cuidados, aproximou-se... e viu um homem caído. Ele estavaencosta-do em um dos troncos da árvore, tinha a perna estendida e a mão emcima. Vi-vinha percebeu uma mancha de sangue. Sua primeira reação foi depânico, mas o homem abriu os olhos, e ela empalideceu, incapaz de sair dolugar.— M-machucou? — perguntou tremendo dos pés à cabeça.O homem fez força para levantar-se, mas a perna certa mente doeu muitopor-que o corpo caiu novamente para trás. Ele não tinha forças nem parafalar. Is-so fez com que Vivi nha se sentisse mais encorajada.— Quer que eu chame um médico? O homem respirava forte, esquisito. Nãorespondeu. Vivinha abrandou a voz e disse:— Eu acho que você está com febre, e sua perna parece muito machucada. Seder tétano, você morre. Então, eu vou chamar um médico, viu?O homem fez um lento movimento afirmativo com a cabeça. Vivinha criou almanova!— Então, espere aí, não saia do lugar que vou correndo procurar umaambulân-cia!E disparou à procura de um telefone público.Em vinte minutos a ambulância chegava, e os enfermei ros levaram o homem namaca. Vivinha acompanhou-o até à ambulância e, durante todo o trajeto, oho-mem olhava para ela como se quisesse dizer muitas coisas.— Você vai ficar bom logo, logo! — disse a menina enquanto os enfermeirosfechavam a porta do veículo. Depois, a barulhenta ambulância partiu a toda. EVivinha pôde, tranquilamente, voltar para casa.

20. A estória de Santarena

Vivinha saiu do banheiro e, toda perfumosa, desceu para a cozinha. Adéliaes-tava terminando o jantar, e Ana Clara acabava de engavetar as roupas. Elas

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ficaram conver sando até que ouviram o carro entrando pelo corredor.— Dr. Camargo chegou! — disse a menina.— Seu pai chegou — falou Ana Clara.Com passadas rápidas, o médico entrou na sala. Sua expressão não era dasmelhores.— Viviane, venha comigo à biblioteca que preciso falar com você! — disse.Ela estranhou aquele tom, mas seguiu atrás do pai. De pois de entrarem nabi-blioteca, ele fechou a porta e cruzou os braços:— Sente-se!Vivinha obedeceu. Dr. Camargo estava pálido e ner voso:— Fiquei sabendo que você chamou uma ambulância para atender um paciente.— Ah,foi isso? — e Vivinha ficou aliviada. — Verda de, chamei sim! Ele estáme-lhor? Coitado, estava tão fraco

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que nem podia falar. Achei que tinha febre, podia estar com tétano e...— Viviane, você sabe quem é aquele homem? Ela fez que não.— Ele é um perigoso delinquente que já esteve preso várias vezes e tem umafama horrível! Por qualquer coisinha, está esfaqueando pessoas. Sabe por queele ficou ferido?O não saiu quase num sopro de voz.— Porque assaltou um posto de gasolina! Levou um tiro na perna!Vivinha sentiu as orelhas pegando fogo.— Tem mais! — continuou o pai. —? Ele mora do outro lado do córrego, e euouvi dizer que você já foi lá várias vezes!— Só fui à casa do Dom para conhecer a família dele...— Viviane, você não entende que lá não é lugar para você?— Só por causa do homem que brigou?— Não! Porque lá moram muitos marginais, pessoas cheias de vícios, pessoasviolentas que não respeitam os di reitos e nem a vida de ninguém!— Eu não acho, papai. O Dom mora lá e é um menino que trabalha para viver. Amesma coisa com o Eusébio, o irmão dele que já conseguiu trabalho. Eu nuncavi uma briga na vila. Só vi aqui na cidade!Procurando abrandar o tom, Dr. Camargo sentou-se ao lado da filha.— Viviane, o mundo está cheio de pessoas maldosas e enganosas. Às vezes osque parecem bonzinhos não são tão bons! Não nego que na cidade não existampessoas perigo sas, mas lá é pior! Poxa, há tantos lugares para você visitar,pis-cinas, salões de jogos infantis, festas, casa das amigas. . . Por que vocêesco-lhe justamente a vila?— Acho que aprendi com Santarena.—— E quem é Santarena?— Ela mora no pico do Jaraguá e é a ajudante de Helianto que quer. . . acabarcom a maldade do mundo. Santarena acredita que um dia não vai existir mais avila do outro lado do córrego porque tudo vai ser só uma única cidade onde

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todos vivem felizes.— Estórias de fadas boazinhas! — disse o pai pondo-se de pé. — Eu devia terimaginado! Encheram a sua cabeça com estorinhas de fadas que, com suasva-ras de condão, resolvem todas as desgraças do mundo! Que estupidez! Eude-veria ter desconfiado que não prepararam você para en xergar o mundocom os olhos da razão! Vai ver que lhe en fiaram na cabeça que todo o mundo ébom, que não se deve desconfiar de ninguém. Fada! É isso que Santarena é!— Não, não é — declarou Vivinha irritada. — Ou o senhor já se esqueceu oununca quis saber. Santarena era o segundo nome da minha avó, a mãe da minhamãe!Dr. Camargo embasbacou.— Apesar de humana, ela era muito mais do que uma fada — continuou Vivinhafalando sozinha. — O pessoal da cidade adorava a minha avó porque ela acudiatodo o mundo. Se tinha alguém doente, ela estava lá. Se morria qualquerpes-soa, Santarena era a primeira a acudir. Ela visi tava os velhos no asilo,levava roupas para as crianças da creche, fazia campanha para socorrer osque pre-cisavam. Não, Santarena não tinha varinha de condão nas mãos. Achoque a va-rinha dela estava escondida no coração, e o pessoal dizia que erambênçãos de Deus...Dr. Camargo continuava silencioso e pensativo. Vivinha concluiu: .— Ela não tinha vestido esvoaçante e nem usava cha péu bicudo, mas era muitomais bonita do que todas as fadas de todos os livros de estória do mundo.Então, quando a gente fala de gente boa hoje em dia, as pessoas estranham enão acreditam. Parece que fazer o bem é ruim! Às vezes me pergunto se souuma boa filha para o senhor, Dr. Camargo. Quase sempre acho que não, porquenão sou elegante, não ando direitinho, não tenho boas maneiras e não souvai-dosa. Eu gostaria de ser a filha do jeito que o senhor gostaria que eufosse, mas não posso ser aquilo que querem que eu seja.Eu só posso ser aquilo que sei ser, aquilo que me ensinaram ser. . .Custou para o médico responder. A expressão dele es tava transformadíssima.Ele sorriu meio sem jeito.— Viviane, fui grosseiro para com você e peço des culpas.— Eu que fiz a bobagem, Dr. Camargo. Se eu não ti vesse atravessado a

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praci-nha de eucaliptos, que é um lugar perigoso, se eu não tivessedesobedecido a Adélia, se...— ... se você não tivesse feito isso, aquele homem te ria morrido porque, defato, ele estava com tétano! Ao ouvir aquilo, Vivinha estremeceu.— Você salvou uma vida. A minha profissão é salvar vidas, e, de repente, eu meesqueci disso! — falou o médico. Obrigado por me lembrar!Vivinha sorriu muito atrapalhada.— Agora, vá jantar.— O senhor não vem?— Não, não estou com fome. Diga a Adélia que toma rei um chá antes dedei-tar-me. Agora preciso ficar um pouco sozinho... para pensar em umascoisas...Vivinha levantou-se e, silenciosa, retirou-se.Dr. Camargo continuou de pé e imóvel no mesmo lugar como se tivesse vistoum fantasma sair por aquela porta.

21. Um convite cheio de sol

Durante o almoço da sexta-feira, Dr. Camargo, sugeriu:— Que tal a ideia de passarmos o domingo em Santos, Viviane?Ela até engasgou!— Está brincando, Dr. Camargo?— Nunca falei tão sério em minha vida! Estou muito branco e preciso de umaqueimadinha...— Poxa, que notícia maravilhosa! Sabe que esta é a melhor surpresa que ose-nhor me dá ? Merece um beijo!— Devagar, então!Ela deu um reforçado beijo em cada bochecha e perce beu que, pela primeiravez, o pai sorria por inteiro. Chegou até a ajeitar-lhe o cabelo caído na testa.— Sabe que o senhor é o pai mais bonito do mundo?— Não precisa vir com badalação extra que já ganhou o bastante por hoje!— Está bem, o senhor manda!Terminado o almoço, o médico levantou-se e saiu em direção à escada. Ali

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pa-rou e acrescentou:— Eu tinha esquecido de dizer uma coisa: o delinquen te que você ajudou... estáfora de perigo!— Essa notícia é ainda mais gostosa do que o passeio a Santos, Dr. Camargo.— Eu sabia que você ia dizer isso! — e o pai subiu a escada.A manhã do sábado foi uma loucura! Vivinha não pa rava de correr de um ladopara o outro. Havia prendido o cabelo com mil trancinhas e queria arrumar amala. Resmun gando, Adélia até saiu de perto:— Graças a Deus vou passar o domingo longe de vocês!Vivinha havia convidado Adélia, Antônio e Ana Clara. Os dois primeirosrecebe-ram convite direto. Com Ana Clara, Vivinha preferiu usar a técnica dorodeio.— O que você vai fazer domingo? — começou.— De manhã, cozinhar. À tarde, ainda não sei...— O que você faz aos domingos?— Descanso, leio, vejo televisão, durmo. .. Nada de especial.— Você não tem amigas?— Poucas."Que cócega de perguntar do casamento dela!" — e Vivinha enrugou a testa."Mas ela não gosta de tocar no assunto, já percebi!"De repente, despejou o convite:— Você não quer ir a Santos domingo com a gente? Ai, eu adoraria! Seria maisgente pra conversar, entende! Eu quero...Vivinha tanto falou, tanto insistiu e tanto azucrinou, que Ana Clara só teve deacabar cedendo, mas disse que só aceitaria depois de conversar com Dr.Ca-margo. Por isso, assim que ele chegou, Vivinha agarrou a empregada pelamão e levou-a à biblioteca. Com paciência de santo o médico ouviu tudo o que afilha tinha a dizer. Ana Clara ficou em absoluto silêncio. Os olhos delafaiscavam como duas contas de luz. Quando Vivinha terminou, Dr. Camargosuspirou:— Está bem, Vivinha, será um prazer levar Ana Clara. Ainda bem que vocêescolheu uma amiga... bonita!Ao ouvir aquele elogio, Ana Clara ficou muito ver melha.

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Vivinha se retirou pulando de alegria e disse que ia fa zer as malas. Depois dequase uma hora de põe roupa, tira roupa, Ana Clara foi chamada para ajudar esolucionou o caso com meia dúzia de palavras:— Uma troca de roupa é suficiente, e uma malha para emergência, se esfriar.Santos é quente, e você não vai fazer uma expedição à Antártida!Vivinha sentou-se. De repente mudou de expressão.— Obrigada, Ana Clara, eu gosto de você. Mas preciso lhe contar um segredo...eu estou muito nervosa!— Por quê? — Não sei bem! Quando vim morar nesta casa, Dr. Camargo vivia de um lado eeu vivia de outro. Eu rezava pra gente se aproximar como pai e filha deverda-de e agora que está funcionando... estou nervosa!— Acho que entendo! — disse Ana Clara com um sorriso largo. — Falta um fielda balança no meio. Falta a mãe, não é?Vivinha mordeu os lábios e fez que sim. Lembrando-se da avó, da mãe, dos tiose de tanta coisa que havia ficado no passado, Vivinha sentiu as lágrimasescor-rendo. Então, num impulso, abraçou Ana Clara e mergulhou o rosto nop e i t odela enquanto soluçava.— Desabafe, Vivinha, desabafe... — disse, ela acari ciando-a. — Ninguém égigante, por mais força que faça!Vivinha chorou, chorou, até que acabou de novo caindo na risada porque haviase acalmado. Enxugou o rosto, endi reitou o cabelo caído no rosto e fungou.— Cada vez eu gosto mais de você, Ana Clara!E, para demonstrar-lhe a verdade daquelas palavras, deu-lhe um lacrimadobeijo na testa.

22. O mar !

A manhã do domingo raiou maravilhosa!Café tomado às pressas (Ana Clara havia pousado lá). Dr. Camargo já haviacolocado a maleta no bagageiro. Aí, assobiou para dentro de casa:— Como é, as duas bonecas não ficam prontas?

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Pouco depois elas chegaram. Não tinham jeito de patroa e empregada,pare-ciam mais duas irmãs. Em vestido branco de algodão, os cabelos soltos echa-péu de palha desfiado, Ana Clara sorria e falava muito, Vivinha vestiacalças compridas e malha.Eles saíram da cidade quando o sol começava a er guer-se.— Hélio já começou a atravessar o céu em seu carro puxado por cavalos —disse Vivinha.— Quem é Hélio? — perguntou Ana Clara.— O deus do Sol dos gregos antigos — explicou Vivi nha.— Lendas, mitologia, coisas assim.— Não brinque com ela que Viviane conhece mais dos gregos antigos do queeles próprios! — brincou o médico dando uma olhada pelo retrovisor.Foi uma viagem gostosa e barulhenta. Vivinha ligou o rádio, cantou com amu-sica e acabou fazendo Ana Clara cantar também. Depois contaramautomóveis, namoraram a paisagem, pagaram o pedágio, maravilharam-se comas serras e mais serras onde milhares de árvores cresciam agrestes, viram osabismos profundos e ameaçadores. Era uma paisagem lindíssima! O tom clarodo cimen-to das obras arquitetônicas fazia com que pontes e viadutosparecessem um rendi lhado branco sobre o verde escuro da natureza. O ar erapuro, e no fun-do das grotas corriam águas cristalinas, espumarentas. Carrose mais carros desciam a imponente serra do Mar. Parecia uma enxurrada deautomovinhos de brin quedo.De repente, um bafo quente, e Santos apareceu espraia da lá embaixo, àsmar-gens do oceano azul-acinzentado. Dr. Camargo apontou:— Junto à escarpa da serra, lá no fundo da planície do litoral, fica Cubatão, omais importante núcleo industrial do Brasil.— E também o mais poluído — ajuntou Vivinha. — Onde fica São Vicente?— Na ilha de São Vicente. Santos cresceu tanto que se uniu a São Vicenteque, hoje, é um bairro de Santos.— E Guarujá ?— No litoral da ilha de Santo Amaro. Qual das duas praias vocês queremco-nhecer?— As duas — respondeu Vivinha.

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— Podemos curtir o solzinho da manhã em São Vicente e à tarde podemos daruma circulada pela cidade para conhecer os pontos turísticos e Guarujá.Logo mais eles estavam em São Vicente. Para tudo Vi vinha apontava e faziauma série de comentários. Mal esta cionaram o carro no pátio de um hotel,Vi-vinha já abriu a porta e saltou.Depois de se trocarem no hotel, começaram a passear. Em traje de banho, Dr.Camargo não tinha aquele ar sério do médico sempre impecavelmente bemves-tido, pois era muito musculoso. Ana Clara ficou admirada, nunca poderiaimagi-nar que o patrão pudesse ser tão forte! Por sua vez, o médico tambémmos-trou, surpresa ao ver a jovem em trajes de banho, pois Ana Clara tinhaum corpo belíssimo.— Ele tem corpo de atleta — disse Vivinha para Ana Clara — e ela tem corpode miss — falou para o pai. "Uma boa duplinha!" — pensou.Muitos turistas, vento soprando quente, um sol delicio so. Dr. Camargo entrounum jogo de bola e depois sentou-se na areia para se queimar enquanto asduas se divertiam no mar. A água estava gostosa. Elas saltaram ondas,mergulha-ram, apanharam conchas. Alguns surfistas levavam tombos de suaspranchas enquanto os salva-vidas com olhos de águia vigiavam atentamente.Longe, perto do horizonte, passavam navios que eram apenas pequenasmanchas pretas se moven do devagar.Sorvetes, sanduíches, refrigerantes — uma festa! O ca lor foi aumentando. Lápelo meio-dia eles tomaram uma re feição leve.— Podemos dar uma passeada pela cidade agora, Dr. Camargo? — pediuVivi-nha.Eles percorreram uma longa avenida e conheceram a praia do Gonzaga,super-lotada com turistas principalmente de São Paulo. Também visitaramalgumas relíquias históri cas: a Casa do Trem, a antiga Casa da Câmara eCadeia, a praça dos Andradas, as ruínas do engenho dos Erasmos no morro deMarapé. Tudo corrido, às pressas, bem típico de turistas. As últimas visitasforam à igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo e ao mosteirode São Bento. No mosteiro, eles foram atendidos por um frei velhinho e delongas barbas. Vivinha puxou conversa com ele e, ao despe dir-se, pediu-lheuma bênção. O frei concordou, fez o sinal da cruz e concluiu dizendo:

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— Abençoados sejam o senhor, sua senhora e sua filhinha em nome de NossoSenhor Jesus Cristo!O sua senhora deixou Ana Clara embaraçada, e Dr. Camargo fez que nãoes-cutou, mas Vivinha fez questão de responder bem alto e devagar:— Assim seja!Depois, enquanto o frei olhava achando estranho, ela agradeceu e tratou desair de perto.

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23- Um girassol na janela

Vivinha quase morreu de emoção quando, certa manhã, ao abrir a janela, viu ogirassol aberto. Fez tamanho barulho que Adélia e Antônio correram para vero que estava acon tecendo.— Ela não é lindíssima? — perguntou a menina aca riciando as pétalas de uma-marelo intenso.— Eu nunca vi um girassol na janela — declarou Adé lia. — É o primeiro.— Também nunca tinha visto uma menina como Vivi nha — ajuntou Antônio. — Éa primeira e única!Ao meio-dia, depois de voltar da escola, a primeira coisa que Vivinha fez foiagarrar Ana Clara e o pai pela mão, le vando-os para conhecer a flor. Dr.Ca-margo achou engraça do. Ana Clara disse que era linda.Vista da rua, a flor fincada na jardineira fazia um efeito esquisito e logoco-meçou a chamar a atenção dos que passa vam. É que ninguém tinha vistoantes um girassol na janela. . Alguns até paravam para admirar. Às vezes, detrás do gi rassol, Vivinha observava o pessoal olhando e ria. Uma coisa eracerta: aque-la casa antes sepultada atrás de grades de ferro havia, de umahora para ou-tra, ficado diferente porque nenhuma outra tinha o sol espiandoda janela.Dois dias depois, quando se olhou no espelho de ma nhã, Vivinha quase caiu decostas. Desceu pisando tão forte que quase derrubou a casa.— O que foi agora? — perguntou Adélia pondo as mãos na cintura.Vivinha apontou para o próprio nariz:— Veja só a montanha que acabou de nascer em meu respirante! Estouhor-rí-vel!

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Adélia olhou e viu que o nariz arrebitado de Vivinha estava disforme, feio evermelho. Então, começou a rir.— Não estou achando um pingo de graça! — declarou Vivinha zangadíssima. —Como vou fazer? Quando minhas colegas virem, será aquela caçoada em cimade mim!— É a idade — explicou Adélia. — Pode se conformar que ficará com a pele dorosto cem vezes pior!— Não fico, não fico e não fico! Vou pedir para o Dr. Camargo dar um jeito e,se for preciso, até me internar numa clínica dermatológica, porque com a caraassim não vou ao colégio!Adélia foi à cozinha, e Vivinha subiu para terminar de se preparar para asau-las. Quando Adélia voltou para servir o café, quase deixou cair a leiteiraao ver a menina sentada à mesa.— Vivinha, cadê a sua frente?É que Vivinha havia penteado o cabelo para a frente, de modo que ficou caídono rosto, deixando mal e mal apa recer. .. justamente a ponta do nariz!— O único jeito que encontrei para disfarçar um pouco foi me "fantasiar" deodalisca com os meus próprios cabelos!— Você está mais parecendo desses cachorros peludos que a gente não sabeonde começa ou onde acaba! — Por acaso vai querer tomar café porcanudinho?— Não — e Vivinha abriu os cabelos igual cortina. — Tomo pela boca mesmo!E foi para a escola que parecia um leão.Claro que a madre implicou, a professora implicou, todo o mundo implicou.Como ia ela escrever — ou ao menos enxergar — com a juba caída nos olhos?Quando Vivinha ergueu o cabelo, a classe arrebentou de rir. É que a espinhahavia crescido mais, e o nariz dela estava feíssimo!— Ela andou metendo o nariz onde não foi chamada! — caçoou alguém, lá dofundo. Chegou bufando em casa:— Eu corto o meu nariz!— Quer o facão? — ofereceu Adélia. A única que não caçoou foi Ana Clara. Elasugeriu po madas. Mas qual pomada?De repente, Vivinha teve uma genial lembrança:

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— A Lurdinha! Isso, uma vez ela curou uma espinha na testa sabe com quê?Com mel e abacate! Isso! Ana Clara, pelo amor de Deus, vá correndo procurarabacates para mim! É questão de vida ou morte !Empurrou Ana Clara para o supermercado e foi revirar a cozinha à cata dovi-dro de mel. Quando Adélia viu todas as garrafas esparramadas pelo chão,qua-se teve um faniquito.— Posso saber que bagunça é essa? — perguntou.— Produtos de beleza. Em vez de cortar o meu nariz com o facão que você meofereceu, preferi fazer uma pasta milagrosa com o seu mel!Ana Clara chegou pouco depois trazendo meia dúzia de abacates. Vivinhacor-tou a fruta, rapou a polpa, despejou no liquidificador, misturou mel e ligou.Ba-teu até conseguir um creme. Depois, foi ao banheiro e besuntou todo orosto. Ficou verdíssima.Quando apareceu daquele jeito na cozinha, Adélia até gritou!— Hum... está escorrendo, fazendo cosquinha, pinicando... — disse Vivinhaes-ticando a língua para dar uma lambida no escorrido. — Nossa, que gostoso!Resolveu, então, comer o resto do creme da tigelinha. , Comeu uma, duas, trêscolheradas até que lambeu o fundo da tigela. Mas como o creme continuavafa-zendo cócegas, pinicando, escorrendo, ela se pôs a passar o dedo no rosto ea dar umas lambidas.E assim, comeu até a última gota da máscara do mila groso creme contraespi-nhas.O nariz de Vivinha continuou vermelho por mais três dias.

24. Um dia de girassol

A ideia da festa de aniversário nasceu de Ana Clara quando Vivinha comentouque ia ficar mais velha.— Em que dia? — perguntou a moça.— Quinze.E mudou de assunto.Só que o assunto não saiu da cabeça de Ana Clara. Ela ficou martelando atéque resolveu ir conversar com Dr. Ca margo. Ele bateu na testa e exclamou:

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— É claro que temos de fazer uma festa para ela! E eu que nem me lembreidisso! Eu vou conversar com Vivinha.— Posso sugerir uma festa-surpresa? — perguntou Ana Clara.O médico coçou a cabeça. Lembrava-se da surpresa que a filha lhe haviapre-parado, e a coisa não tinha dado certo. Bem, é que naquele tempo elesainda não se conheciam di reito, houve um imprevisto. Talvez...— Está bem! — concordou. — Você prepara tudo?— Com o maior prazer. Será uma linda festa, como ela merece!Eles se olharam por alguns instantes até que, encabula da, Ana Clara retirou-seàs pressas. Entrou se abanando na cozinha.— E então? — perguntou Adélia.— Positivo!— O que ele falou que fez você ficar assim tão ver melha?— Nada! Só pediu para cuidarmos de tudo. Eu estou mesmo tão vermelha?— Você nem imagina como!Ana Clara deu meia-volta e ficou de costas:— Encomendarei os doces e o bolo na padaria onde trabalhei — disseprocu-rando disfarçar.— O bolo nunca! — retrucou Adélia. — Tinha graça! Se fiz o bolo para o paidela, não vou fazer o dela?E saiu resmungando enquanto Ana Clara continuava pensando no olhar do Dr.Camargo.Os preparativos para a festa de aniversário transcorre ram no mais absolutosegredo, o que não foi fácil porque Vivinha era um azougue desconfiadíssimo!Ana Clara cui dou dos enfeites, dos doces, de tudo. Agora só faltavam osami-gos de Vivinha.Depois de muito pensar, ela resolveu telefonar à diretora do colégio e expôsos planos. Com isso, obteve a pro messa da madre de que ela falariapessoal-mente com as co legas de Vivinha.— Será sábado às duas horas — informou Ana Clara antes de desligar.Depois de recolocar o fone no gancho, ficou pensando: quem mais Vivinhagostaria de ver na festa?Os dias foram-se passando. Vivinha não abriu a boca para falar do aniversário.

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Ela estava tão feliz com o girassol que nem se lembrava de mais nada.Finalmente, o sábado.Depois do almoço, Ana Clara e Adélia deram upa para forçar Vivinha a sair,porque ela não queria saber de pas seios. Adélia sugeriu umas voltas debici-cleta, visitas, jogos, piscina. Para tudo Vivinha dava uma respostanegativa. A solução foi Ana Clara telefonar a dona Teresinha (a vizinha quefazia bombo-cado) e pedir que chamasse Vivinha para algum serviço. DonaTeresinha inven-tou uma desculpa, e lá se foi a menina. Mal ela virou ascostas, começou a cor-reria. Adélia de um lado, Antônio de outro, Ana Clarano meio e Dr. Camargo mais atrapalhando do que sendo útil.À uma e meia, quando o médico acabava de ajeitar o aparelho de som na sala,começaram a chegar as colegas a quem Ana Clara explicava a surpresa e pediaa colaboração de todos.Alguém vai ficar à janela para avisar quando ela atra vessar o portão — disse.— Aí, todos se escondem, ficam no maior silêncio e, quando ela abrir a porta. ..

As crianças ajudaram a colocar os pratinhos, doces e refrigerantes. A mesade pingue-pongue estava bonita que parecia aniversário de princesa. Do tetopendiam bexigas amarelas; tudo estava enfeitado na base dessa cor.Quando faltavam cinco para as duas, Tiquinho, que vigiava o portão, gritou:— Ela tá chegando!Tiveram de terminar a arrumação de qualquer jeito, e as crianças se enfiaramatrás dos móveis. Ana Clara segurou a respiração, e Dr. Camargo deixou odis-co rodando na vi trola enquanto segurava a cabeça do pick-up.Abriu-se a porta, e Vivinha entrou.Quando ela bateu o olho na mesa, os colegas saíram dos esconderijos ecome-çaram a cantar a canção de aniver sário. Parada no meio da sala, bocaaberta e expressão de espanto, Vivinha não podia acreditar no que via! Oscolegas usa-vam um chapeuzinho de girassol. A casa estava toda ama rela, eaté o bolo era um enorme girassol com pétalas de fios de ovos!— Viva a Vivinha! — gritou Ana Clara dando-lhe o primeiro abraço.Aí todos pularam em cima dela. Não sobrou lugar para o Dr. Camargo, que foi oúltimo. Vivinha estava com os olhos cheios de lágrimas.

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— Papai, vocês são maravilhosos!— Feliz aniversário, Viviane! Que Deus a abençoe!— Obrigada, papai! Mas hoje... eu gostaria de pedir pro senhor um presenteespecial. Posso ?— Claro!— Queria que o senhor me chamasse de Vivinha como os outros. Enquanto nãome chamar assim... parece que o senhor não é o meu pai!Ele sorriu e abraçou-a ainda mais forte.— Sim, Vivinha! Faz tempo que eu já deveria chamar você assim. Porque fazmuito tempo que eu quero que você sinta que eu sou o seu pai!

25. Um domingo friorento

A única tristeza de Vivinha durante a festa foi pensar na mãe. Seria tão bomse ela estivesse ali para repartir toda aquela felicidade!A ideia de Ana Clara, porém, sugerindo um bailinho, afastou os amargospensa-mentos da menina.Música quente, a garotada se pôs a curtir um som. Como Dr. Camargo nãotinha música jovem, os convidados haviam trazido discos. Até nisso Ana Clarahavia pensado.Foi nessa altura que o juiz chegou. Quando o viu, Vivinha foi correndo recebero abraço.— Estava pensando que o senhor não viesse — disse ela. — Ana Clara jurou quenão se esqueceu de convidá-lo.— Desculpe, Vivinha, mas fui obrigado a me atrasar — explicou o juizentre-gando o presente. — Pensa que eu ia me esquecer de você? Nunca!Enquanto, elétrica, Vivinha abria o presente, o juiz sen tou-se ao lado de Dr.Camargo, e começaram a conversar. Ali tomaram cerveja geladinha e comeramuns salgadinhos.Depois de se cansarem de música barulhenta, os jovens puseram músicaro-mântica. A festa foi chegando ao fim. Havia restos de bolo e papéis de balapor toda a parte. Nessa altura, Ana Clara levou um prato de doces ao juiz.— Obrigado, menina! — agradeceu ele. — Se eu fosse mais moço, tiraria você

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para dançar.— Seria uma honra ter um par tão simpático!— Infelizmente, nunca tive tempo de aprender a dan çar. Acredita que passeiquase toda a vida só lendo, estudan do e trabalhando?— Acredito, porque o senhor é um homem muito ho nesto. Eu gosto deste tipode música. Sou muito romântica, sabe?— Pois então, não seja por isso que não vai dançar — declarou o juiz que, sempestanejar, virou-se para Dr. Ca margo: — Tarso, por que você não tira AnaClara para uma dança? A festa é também para os adultos, não é?— Oh, não, obrigada! — agradeceu a moca, atrapalhadíssima.— Que ideia mais estrelada! — assanhou-se Vivinha.— Eu quero ver vocês dois dançando!.Ana Clara não queria ceder. Dr. Camargo não sabia o que dizer. Mas com o juizinsistindo de um lado, a garotada pedindo de outro e Vivinha atiçando, omé-dico se levantou e se aproximou da moça. Quando eles começaram adançar, todos aplaudiram entusiasticamente.A tarde do sábado ia caindo devagar, soprava um vento frio. Naqueleambiente íntimo, os dois acabaram se esque cendo que estavam em umafestinha de ani-versário. Se no começo Ana Clara não conseguia olhar para omédico, pou co a pouco foi erguendo o rosto até que os olhares se encon-traram. Houve um mo-mento de olhar fixo, mas aí a música terminou, enquantoos dois continuavam dançando sem haver percebido.— Nossa, eles estão namorando? — perguntou bem alto uma das colegas deVivinha.Ouvindo aquilo, Ana Clara voltou à realidade.— Desculpe! — pediu soltando-se e fugindo para a cozinha.O médico, a passos lentos, voltou para junto do Dr. Caldeira.Logo mais as crianças foram embora e a festa acabou. Depois de fechar apor-ta para o último convidado, Ana Clara começou a arrumar as coisas. Adéliae Antônio já estavam com a vassoura e tirando a mesa. Vivinha coletava ospra-tos, e Dr. Camargo, sempre conversando com o juiz, se pôs a retirar oaparelho de som!Vivinha, porém, estava preocupada por Ana Clara. A moça estava nervosa,

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ti-nha quebrado dois copos e resmun gava. "Que será que aconteceu com ela?"— pensou Vivinha olhando com o rabo dos olhos. "Será que ela se ofendeu como que a Flavinha falou?"Terminado o serviço, Ana Clara foi embora, e Vivi nha subiu para o quarto.Amanheceu um domingo frio, úmido, nublado. Vivinha não queria sair de baixodas cobertas.Adélia havia pedido dispensa naquele domingo para ir visitar uns parentes, eAna Clara se havia oferecido para substituí-la. Quando, porém, Vivinha desceupara o café, foi o pai que encontrou na cozinha. Deu-lhe um abraço e um beijo.— O que o senhor está fazendo aqui? — perguntou.— Leite fervido, mesa posta e tudo arrumado — res pondeu o médico. —Pre-cisamos fazer um pouco de tudo na vida.— Cadê Ana Clara?— Ainda não veio.Vivinha ajudou o pai a terminar de pôr a mesa. Depois do café, voltou aoquar-to para ler um pouco. Quando tornou a descer, viu que a cozinhacontinuava va-zia. Preocupada, resolveu ir conversar com o pai.— Decerto houve um bom motivo para Ana Clara não vir trabalhar hoje —ex-plicou Dr. Camargo. — Deixe, Vi vinha, ela merece uma folga extra! Afinal,trabalhou tanto ontem, organizou toda a sua festa, deve estar cansada! Alémdisso, podemos almoçar em um belo restaurante. O que acha da ideia?Embora não muito convencida com as explicações do pai, Vivinha deu umsorriso curto. Ana Clara não era de faltar ao serviço e, se tivesse acontecidoalguma coisa, pelo menos telefonaria. Entretanto, nem sequer havia avisado."Tem coisa atrás disso tudo!" — pensou ela voltando para o quarto. "Apostoque tem, sim!"

26. A tarde que não deveria ter acontecido

Enquanto esperava a hora de ir almoçar, Vivinha se pôs a conversar com oGi-rassoleiro. Maior do que um pires de café, a flor de pétalas amarelasespiava para a rua. O caule peludo parecia de feltro. Bonitas e viçosas, asfolhas eram de um verde-acinzentado que a menina lavava todos os dias com o

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borrifador de plástico.— Pois é... — disse ela com o olhar perdido no céu meio encoberto. — Minhavi-da mudou mesmo! Lá com ma mãe, com tia Emília e a turma, eu não tinha umacasa deste tamanho, nem dinheiro, nem roupas bonitas. Mas mesmo

assim, eu sinto saudade de lá. Falta alguma coisa aqui den tro, sabe? Eu sintofalta de. . . mamãel Os olhos encheram-se de lágrimas.— Vá tem a mãe dela. Quando fica assustada ou pre cisa conversar comalguém, ela abraça tia Emília.Batidas à porta interromperam o monólogo. Vivinha cor reu até à penteadeira efingiu que se arrumava. O pai entrou.— Seu quarto está muito bem arrumado! — comentou ele. — Você é mesmouma menina caprichosa.— Faço o que posso, doutor. Já viu o meu Girassoleiro?Enquanto ela punha o cinto, o médico olhou a flor.— Muito bonito! Sabe que você é uma menina dife rente, Vivinha? Eu nunca

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co-nheci uma pessoa que tivesse plantado um girassol na janela!— Nem eu! — respondeu ela. — Mas a gente precisa plantar o que gosta e nãoficar copiando só o gosto dos outros, não acha? Se eu gostasse de gerânios oude violetas como todo o mundo, eu não seria diferente das outras me ninas.Se-ria?— Não, não seria — respondeu ele lhe estendendo a mão. — Vamos?As ruas estavam preguiçosas. Um ou outro carro pas sando, e poucas pessoas.O outono havia-se transformado em quase inverno; muitas árvores soltavamfolhas secas pelo chão.— Vamos ao Senzala ? — convidou Dr. Camargo.— Ótimo! Sempre tive vontade de conhecer lá. A Cíntia falou que é o lugaron-de eles almoçam quase todos os domingos.O Senzala era um restaurante à beira da estrada. O antigo casarão colonialhavia sido adaptado para restauran te. Ficava no meio de um pomar deman-gueiras antigas e frondosas. Uma escada de pedra conduzia ao salão dopiso térreo e uma de madeira levava para o pavimento superior onde serealizavam festas, jantares, convenções e até recep ções de casamentos.Depois de estacionar o carro debaixo de uma daquelas antigas árvores, elessubiram pela escada de pedra e entra ram. Dentro, paredes brancas, mesasrústicas, bancos de madeira grossa. Parecia um mergulho no século passado.Eles escolheram uma mesa junto a uma janela de onde podiam ver o campo etraços do horizonte mergulhado nas brumas do frio.Pediram arroz branco, virado de feijão, couve à minei ra, costelas fritas, pãotorrado e refrigerante. Dr. Camargo quis uma cerveja. De sobremesa, doce delaranja-azeda com queijo bem fresco.Eles conversaram bastante, e, pela primeira vez, Vivinha sentiu-se bem àvon-tade com o pai. Tanto que, de re pente, teve a coragem de fazer apergunta que há muito a atormentava:— Dout... papai, por que o senhor e a mamãe.. .? Ele olhou para o campo onde ovento em liberdade brincava com as folhas das árvores.— Éramos jovens e inexperientes quando nos casa mos, Vivinha. Sua mãe era amoça pobre e trabalhadeira. Eu era o sujeito rico que sonhava com a carreira,com a posição social, com a fama e com o dinheiro. Pensei que o sobrado

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pu-desse ser o palácio onde ela realizaria todos os sonhos. . . mas não fuicapaz de perceber que para sua mãe aquilo não passava de uma cadeia. Suamãe não foi feliz lá.— Entendo, papai. Por isso vocês resolveram se sepa rar, e ela me levouembo-ra, não foi?— Foi. Fiquei muito zangado e cortei relações com sua mãe... e não ia visitarvocê. Então, resolvi tomar outro rumo e parti para a Europa onde aprendi aver as coisas de outro jeito. Só então é que eu pude entender o que haviaconosco, o que motivou nossa separação. Pena que tenha reconhecido issotarde demais!Carinhosamente, ele pôs a mão em cima da mão de Vivinha.— Sua mãe foi uma grande mulher, sabe? Ela educou você para ser igualzinhoao que ela era. Ela foi boa e justa porque não pôs você contra mim... e agora,devo a alegria de haver encontrado a minha filha... à mulher da qual eu medi-vorciei!Vivinha percebeu que Dr. Camargo tinha ficado triste. Procurou, então, tomarum tom alegre.— O senhor não pensa em casar de novo?— Tive algumas namoradas, se quer saber. Só que não me identifiquei comne-nhuma. Sabe, por mais que eu pro cure, não encontro nas pessoas aquilo quetransbordava em sua mãe: calor humano. Conheci muitas mulheres, claro, mastodas mortas por dentro. E à medida que o tempo passa; vou ficando maisexi-gente. Por isso é que gosto de músi ca... enquanto ouço a boa músicarenascem os sonhos que morreram.. . com a morte de sua mãe.Vivinha ficou tão comovida que apertou a mão dele.— Eu entendo, Dr. Camargo, porque também senti muito a falta dela! Masago-ra que nós estamos juntos, vamos esquecer as coisas tristes, tá?Ele sorriu e fez que sim.Depois de paga a conta, saíram. Dr. Camargo começou a contar as suas viagenspela Europa; dirigia devagar. Vivi nha escutava interessada e sonhava coma-queles lugares dis tantes .Para encompridar o passeio, o médico resolveu voltar pela estrada velha, queera menos movimentada e mais bonita.

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Iam tão distraídos que nem perceberam o fusca amare linho que os seguia acurta distância e, quando estavam à altura do canavial, de repente o fuscaacelerou e cortou-lhes a frente.Surpreso, o médico deu um golpe no volante e jogou o carro no acostamentopara evitar a colisão. Tudo aconteceu muito rápido; as portas do fusca sea-briram e saltaram dois homens. Um apontava um revólver. O outro, umafaca.— Isso é um assalto! — gritou o altão. — Entreguem tudo e não se mexam,se-não mando bala!Vivinha se encolheu apavorada. Dr. Camargo manteve a calma, enfiou a mão nobolso e puxou a carteira.— A corrente da menina! — ordenou o de revólver. — A corrente!Naquele instante, saiu um terceiro do carro. Quando olhou para ele, Vivinhaarregalou os olhos. Era o delinquen te que ela havia encontrado, moribundo,junto aos euca liptos, na pracinha! O homem imediatamente a reconheceu e,por isso, virou-se para o que apontava o revólver e ordenou:— Não ponha as mãos na menina, Zelão! E devolva a carteira do homem!— Tá besta? — gritou o outro. — Qual é a sua, cara?— Não mexa com a menina e devolva a carteira, tô mandando, meu! — insistiu ooutro.Dr. Camargo e Vivinha não se mexiam e nem enten diam. Em questão de poucotempo os dois começaram a se insultar gritando, e dali aos sopapos demoroupouco.Até que, de repente, tiros cortaram o ar.

27. A grande tragédia

Pela mesma estrada vinha vindo um carro branco, diri gido por um senhor decabelos brancos. À direita, a esposa. Foi ela quem viu primeiro, empalideceu e,suplicante, agar rou-se ao braço do marido:— Pare, Carlos, pelo amor de Deus!— Que foi, Loli?Ela apontou para o acostamento, e o marido se arre piou. Com o coração aos

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saltos, esterçou o carro, desligou a chave e correu. A mulher, atrás. Oespe-táculo era impres sionante! Caído no chão, um homem com o peitoensanguen tado. O motorista estava com o rosto tombado sobre o vo lante e, napoltrona lateral, via-se uma menina caída para a frente.— Jesus, que tragédia! — murmurou dona Loli le vando as mãos ao rosto.Seu Carlos pôs a mão na jugular do homem, caído:— Ele está morto!Recobrando a coragem, dona Loli contornou correndo o carro e foi acudirVi-vinha. A menina respirava e tinha a blusa toda salpicada de sangue.— Ela foi ferida no peito, Carlos!— O motorista está ferido no braço e tem arranhões no rosto.— Precisamos fazer alguma coisa! Chame a polícia, chame alguém! Chame umaambulância depressa, ou esta menina pode morrer, Carlos !— Que jeito vou chamar uma ambulância, Loli?— Veja se vem vindo alguém! .— Por esta estrada quase ninguém transita. Você que quis vir ver o canavial.— Então, o que está esperando? Suba nessa porcaria de automóvel e vá buscarsocorro!— Então, venha comigo.—— Nunca! Deixar estes infelizes sozinhos? Vá você! Eu espero. — Ficoulou-ca, mulher? Se esse tiroteio foi coisa de bandido, ele pode voltar. — O que eles tinham de fazer já fizeram, Carlos. Ago ra, vá depressa!Desatinado, o marido subiu no carro e saiu a toda en quanto dona Loli seguravaas mãos de Vivinha e rezava para que ela resistisse.Demorou uma eternidade para vir o socorro! O vento assobiava triste entre ashastes de capim à beira da estrada. Parecia chorar. Uma bruma gelada pouco apouco acabou de cobrir pedaços do céu azul. O sol desapareceu, e a natu rezaficou escura. Dona Loli tremia. O motorista não dava acordo de si. A pobremulher já estava começando a deses perar - se quando viu a ambulância no fimda estrada.O veículo freou, e saltaram os enfermeiros com a maca e omédico-plantonista. Imediatamente, eles reconheceram:— São o Dr. Camargo e a filha!

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Apressadamente removeram os corpos para a ambulân cia. Dona Loli insistiuem ir ao hospital.Com a sirene ligada, a ambulância correu a estrada. A luz vermelha no capôpa-recia o olho do diabo prenun ciando a morte.Entraram no pátio do Hospital São Lucas, o médico-plantonista saltou daam-bulância e avisou:— Emergência! Preparem a sala de operações e tele fonem para o Dr. Ladeiravir urgentíssimo.O corre-corre aumentou quando souberam que se tra tava do Dr. Camargo e dafilha.Três carrinhos foram empurrados para as alas do fundo do hospital. Ali, doisseguiram para a ala cirúrgica e o ter ceiro tomou a direção oposta. Dr.Camargo foi levado para a sala de primeiros socorros enquanto Vivinha eracolocada na mesa da sala de cirurgia.Dali a pouco chegou o anestesista. As freiras torciam as mãos, e a frente dohospital ficou lotada de curiosos.— Deram um tiro na menina que tem um girassol na janela — era a vozcorren-te.Enquanto os curiosos esperavam notícias do lado de fora, dois grupos demédi-cos atendiam as vítimas. Já come çava a operação para remover oprojétil alo-jado no peito de Vivinha. Enquanto isso, na sala de primeirossocorros, os mé-dicos acabavam de suturar o ferimento no braço do Dr.Camargo que aos pou-cos voltava à consciência.— O que... aconteceu? — perguntou ele ao abrir os olhos.— Calma, Camargo, calma que está tudo bem! — dis se o Dr. Alexandre.De repente, o médico recobrou a consciência total e tentou pular de ondees-tava. Uma profunda dor, porém, o fez cair novamente deitado.— Vivinha! Onde está a minha filha?— Ela está muito bem, pode ficar sossegado! Acal me-se!— Eu quero ver a minha filha! Eu quero ver a minha filha!

28. Estrelinhas pra você

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Os minutos se arrastavam com uma horrível lentidão.Contrariando as recomendações do colega, Dr. Camar go levantou-se, e ninguémconseguiu segurá-lo. Depois de atravessar o corredor, ele parou diante dapor-ta de vidro da sala de operações. Ficou longamente observando a equipeque circundava a mesa onde Vivinha lutava entre a vida e a morte."Oh, Deus, não permita que ela morra!" — pensou o médico desesperado. "Elatrouxe uma razão de ser para a minha vida, e não quero perder a felicidadepela segunda vez, por favor!"Finalmente, com muito jeito, Dr. Alexandre conseguiu levá-lo para o quartoon-de permaneceram sentados no mais absoluto silêncio.Depois de uma eternidade, a porta foi aberta, e o Dr. Osaki entrou.— Como está ela, Sérgio? — perguntou Dr. Camargo aflito.— Vai sobreviver. Confie em Deus!— Como foi?— Um projétil perfurou o lobo inferior do pulmão es querdo. Mais um pouco...— Malditos ladrões!— Agora está tudo bem, tudo sob controle. A menina é muito saudável e vairesistir. É melhor você descansar um pouco.— Não! Primeiro eu quero ver a minha filha!— Está bem, eu vou com você.O quarto estava mergulhado em penumbra. Pálida, olhos fechados, Vivinharespirava tranquilamente. A madre superiora estava a seu lado. O médico seaproximou e, emo cionado, passou a mão pelo rosto da menina. Tinha os olhosbrilhantes de lágrimas.

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— Você vai ficar boa, Vivinha... e vamos viver feli zes para sempre na casa dogirassol na janela! — disse com a voz embargada.Depois, Dr. Alexandre conseguiu reconduzi-lo ao quar to. A garoa da tarde sehavia transformado em chuvisqueiro. Toda a natureza parecia estar chorandopor Vivinha.Pouco a pouco o efeito do sedativo agiu sobre Dr. Ca margo, e ele adormeceu.O médico só despertou na manhã do dia seguinte. O enfermeiro estava noquarto e informou que Vivinha estava passando bem.— Foi uma noite muito tranquila — disse. — Agora, vá tomar o seu café.Em vez disso, o médico foi vê-la. Firme como uma rocha e com os olhosver-melhos por causa da vigília, a madre con tinuava sentada à cabeceira dacama. Vivinha respirava bem, tudo parecia normal. Só que ainda não havia

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recobrado a consciência devido aos sedativos que haviam adicionado ao soroque estava tomando.— O senhor precisa de um café reforçado... , e eu tam bém — disse a superiorasorrindo. — Vamos ao refeitório?Caminharam silenciosos pelo corredor enquanto a chu va continuava caindo.Dr. Camargo tomou um copo de leite quente e telefonou para casa pedindoroupa limpa. Quando Adélia soube do acontecido, deu um grito. Custou paraela poder novamente coordenar as frases.— E Ana Clara? — perguntou o médico quando, afi nal, Adélia conseguiu secon-trolar.— Ainda não veio.Desligando o telefone, Dr. Camargo foi para o quarto da filha.Adélia e Antônio chegaram cinco minutos depois. Ela já entrou chorando ede-morou um bom tempo para se contro lar. Assim mesmo, só engoliu ossoluços depois que o médico jurou que a menina estava mesmo fora de perigo.Dr. Camargo foi tomar um banho, trocou de roupa e, a passos lentos, voltoupa-ra o quarto de Vivinha. Intimamente só pensava em Ana Clara. Por que elanão dava sinal de vida?Quase uma hora depois, a porta do quarto de Vivinha se abriu de supetão. AnaClara entrava transtornada e, apro ximando-se da cama, começou a acariciar orosto de Vivinha. Como ela chorava! Dr. Camargo aproximou-se dela e, com umgesto impensado, segurou-lhe a mão. Ana Clara tentou reagir, porém eleaper-tou firme. Então, sem atinar com o que estava fazendo, Ana Claraabraçou-o e chorou soluçante com a cabeça apoiada em seu peito.Só depois de alguns minutos é que conseguiu controlar as lágrimas.— Você está bem? — perguntou o médico. Ela fez que sim.— E. .. você ? — olhou para o curativo na testa e no braço.— Sim!— Quando eu soube que tinham sido baleados, fiquei desesperada!— Está tudo bem agora, o pior já passou. Acalme-se!Um gemido fez com que olhassem para o leito. O mé dico e Ana Clarainclinaram a cabeça. Vivinha abriu os olhos. Parecia sonolenta e confusa.— Papai...?

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— Estou aqui, filhinha, estou aqui! — e segurou-lhe a mão direita. Vivinha olhoupara a esquerda.— Ana Clara! Você veio ! ?— Claro que vim! Por quê? Pensou que eu ia abando nar você?— Não... Eu sei que não ia.Nesse instante, o enfermeiro enfiou a cabeça pela porta:— Doutor, aí fora estão dois meninos que disseram que não vão embora semdar uma olhada na Vivinha.— Quem são eles?— Dom e Eusébío.— Oh, papai. . . deixe. . . por favor!O enfermeiro afastou o corpo e os dois apareceram. As sustados, molhados depingar. Dom se aproximou da cama. Procurou sorrir.— Oi, Vivinha. . . — cumprimentou meio sem jeito. — Vim te avisar que jáco-mecei a trabalhar. . .— Que bom!— Ah, ia me esquecendo! Eu e o Eusébio te trouxemos um presente. . . — eenfiando a mão no bolso retirou um envelope cor-de-rosa molhado. Abriu-odevagar e enfiando o dedo no fundo, tirou algumas pequenas estrelascolo-ridas.— Santarena mandou isso pra você ficar boa logo — disse deixando ases-trelinhas caírem no corpo da menina.— Que bonito, Dom! — falou ela pegando uma estre linha com a ponta do dedoindicador do braço livre. — Estre linhas para nós todos... uma pra mim. . .outra pro pa pai . . . outra pra Ana Clara. . . outra pro Dom... outra proEusébio... Es-trelinhas pra todo o mundo!O sorriso de Vivinha foi um alívio, e, com isso, os outros quatro tambémsor-riram. Cada um segurando uma es trelinha da sorte.

29. Tudo em branco e amarelo

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— Não, o senhor ainda não pode sair! — disse Vivi nha puxando de novo o paipara dentro do quarto e fechando a porta. — Que pressa, Dr. Camargo!O médico estava elegantíssimo em terno branco e gra vata de seda. Vivinha, deamarelo, havia encrespado os cabelos.— Dr. Camargo, nunca hei de cansar de repetir que o senhor é o pai mais lindodo mundo! Francamente, não entendo como conseguiu ficar solteirão — oume-lhor, viuvão — durante todo este tempo!— Vivinha, feche a boca!— Não fecho! Tenho culpa que sou a maior fã do meu pai?E, impulsiva, deu-lhe um beijo no rosto.Naquele momento a porta abriu e Vá entrou como um corisco. Ela estavausan-do um vestido de algodão com rendas.— Pronto, podem descer! — disse assanhadíssima. Dr. Camargo deu a mão paraa filha e confessou.— Estou muito nervoso!— Eu também. Mas fique frio aí que não vai doer nada, tá?E saíram.Assim que eles apareceram no alto da escada, Zezinho começou a tocar umalinda música no órgão. A escada estava toda enfeitada com guirlandas decri-sântemos brancos e ama relos. De mãos dadas, pai e filha desceramdevagar.Muitos amigos na sala. Ali estavam tia Emília, tio Chico, Cá, dona Terezinhados bons-bocados & família, Adélia, Antônio, médicos, enfermeiros, até ama-dre superiora. Ao centro da sala, um genuflexório coberto com renda. Umcru-cifixo de prata repousava sobre um fundo florido que im provisava umacapela, e o padre olhava por cima dos óculos.Pouco depois, Ana Clara aparecia de braços com o pai. Atrás, a mãe conduzidapor Dr. Caldeira, o juiz. Ana Clara estava linda com um vestido pérola, curto, ea grinalda de miúdas flores amarelas e brancas.Com passos lentos, ela atravessou a sala e, afinal, segu rou a mão que Dr.Ca-margo lhe estendia. Foi um momento de grande emoção, e todos viram obrilho apaixonado nos olhos do casal.Os noivos se ajoelharam, e o padre começou a cerimônia. Zezinho caprichou no

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órgão e, no momento das alianças, Adélia chorou alto.Finalmente, o beijo dos recém-casados. Agora, eles fi nalmente eram marido emulher.Que alegria! Abraços, risadas, música alegre, conversa animada.

Adélia fez um sinal, e dois garçons removeram o tapume florido, deixandoapa-recer a mesa de pingue-pongue toda branca, coberta com uma finíssimatoalha de renda. Havia arranjos de frutas, as taças rebrilhavam cristalinas emban-dejas inox, champanhas repousavam em baldes de gelo, e bem no centroda mesa, o bolo dos noivos — a coisa mais rica deste mundo!— Preciso de voluntários que ajudem a abrir as cham panhas! — pediu Adélia.Pouco depois, uma verdadeira tempestade de rolhas sal tando fez borbulhar o

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delicioso champanha, e todos ergue ram um brinde para os noivos.— Que eles sejam felizes para sempre! — disse Adélia revirando toda a taçade uma vez.— Cuidado, mulher, que você fica tonta! — aconse lhou Antônio.— Com um vinhinho doce destes? Nem brincando!Cinco minutos depois, após haver esvaziado sozinha quase uma garrafa inteirade champanha, Adélia nem parava em pé.Finalmente, segurando a mão da noiva, o Dr. Camargo cortou o bolo, e osbom-bons foram servidos. Vivinha pegou um naco de bolo e foi sentar-se pertode Vá que estava com os lábios brancos de Chantilly.— O que você está sentindo por assistir ao casamento do seu pai? —pergun-tou Vá mordendo uma cereja.— É a..coisa mais linda deste mundo! Estou quase es tourando de felicidade —respondeu a menina. — Este foi o melhor serviço de Santarena!— Santarena? O que ela teve com isso?— Não lhe contei que foi ela quem mandou jogar as estrelinhas em nós? FoiDom que levou pra mim, quando eu estava lá no hospital. Aí...E, toda animada, Vivinha contou tudo o que havia acontecido. Só que, dessavez, não havia sido uma estória de mentirinha.

30- A grande revelação

Um a um os convidados foram embora. Na casa só fica ram os noivos, Vivinha eo juiz.— Quanta gente! — murmurou Ana Clara sentando no sofá. — Nunca penseique viessem tantos amigos!— Valeu a pena, não valeu? — perguntou Vivinha.— Só penso na limpeza amanha — suspirou Ana Clara.— Deixe para pensar nisso amanhã, querida — pediu o médico. — Por enquantoé o dia do nosso casamento!Dr. Caldeira afrouxou o nó da gravata e olhou para Vivinha que endireitou ocorpo.— Papai. .. mamãe... eu preciso dizer uma coisa...

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— falou a menina.Dr. Camargo e Ana Clara se entreolharam. Aquele ma mãe os deixou muitosurpresos.— Tudo o que fiz, não fiz só pensando em Santarena — continuou Vivinha. —Antes de tomar a decisão, fui con versar com o Dr. Caldeira, e nós achamosque valia a pena tentar...— Não estou entendendo, Vivinha! — disse o médico.— O senhor vai entender daqui a pouco. Antes, res ponda uma coisa: o senhorencontrou em mamãe aquele ca lor humano que, lá na Senzala, me disse não terencontrado em ninguém mais?— Em Ana Clara, você que saber? Sim, lógico que en contrei! Nela encontreitu-do que um homem precisa para resolver se casar com ela.— E você, mamãe, encontrou em papai tudo o que sonhava?— Naturalmente, Vivinha! Tarso compreendeu todos os meus problemas, e issofoi muito bom.— Quer dizer que nenhum dos dois se arrepende por ter casado com o outro?— Vivinha, que pergunta! — respondeu o pai. — Acabamos de nos casar, e vocêvem aí pensando em separação? Não sei aonde você quer chegar!— Nós achamos que seria melhor ela começar fazen do essas perguntas —ob-servou o juiz. — Porque muitos casais, já no dia do casamento, estãopensando que, se não der certo, basta separar.— Não estou entendendo mais nada, Caldeira! — De clarou Dr. Camargo. —Querem fazer, o favor de acabar logo com toda essa charada?— Eu vou explicar, papai — falou Vivinha. — Primei ro de tudo quero que ose-nhor saiba que, quando entrei nesta casa, achei tudo muito triste. Por issoé que plantei o girassol na janela. Eu queria que o sol, que a alegria, entrasseaqui dentro, entende? O senhor era um homem fechado, não es tavaacostu-mado à sua filha. Então, eu precisava conhecer direito o Dr. Camargopara me aproximar dele. Eu precisava saber de quais coisas ele gostava. . .como tinha sido a vida dele... se tinha alguma namorada no Brasil ou na Euro-pa... Por isso, resolvi dar uma olhada nas suas gavetas. ..— Você fez isso, Vivinha?— Eu fiz. Um dia, o senhor esqueceu aberto o cofre do vovô. Lá dentro existe

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um envelope amarelado que tem. .. a escritura da minha adoção. Isso querdi-zer que nem o se nhor e nem mamãe eram os meus pais de verdade.A revelação caiu como uma bomba. O médico empali deceu. Ana Clara ficouper-plexa.— Você não deveria ter feito uma coisa dessas, Vivi nha! — criticou Dr.Camar-go. — Não é direito!— Eu sei que não é direito e peço desculpa — conti nuou a menina. — Mas,quan-do eu soube do fato, fiquei tão desnorteada que caí de cama. Lembra? Ose-nhor ficou lá comigo o tempo todo e mostrou um carinho tão grande que,en-tão, eu entendi que mesmo não sendo meu pai de verdade o senhor meamava mais do que meu verdadeiro pai! Então, procurei o Dr. Caldeira e eleconfirmou a história dizendo que sou mesmo filha adotiva.Um grande silêncio pesou na casa.— Foi aí que tive uma ideia genial: não seria maravilhoso que se eu conseguissecasar o meu querido pai. . . com minha verdadeira mãe?Foi a vez de Ana Clara empalidecer.— O que você está dizendo, Vivinha?— O resto explico eu — pediu o Dr. Caldeira. — Vivinha me contou o plano e euachei que poderíamos tentar.Aliás, quem arranjou os papéis da adoção de Vivinha fui eu. Portanto, resolvifazer pessoalmente as investigações. Quan do você e Mirta, sua primeiraespo-sa, assinaram a escritura de adoção, fizeram questão absoluta de nãosaber quem lhes entregava a filha, certo?Ana Clara estava mais pálida do que o vestido.— Pois bem, quem lhes entregou a filha foi uma jovem que havia ficado viúvadepois de apenas três meses de casa da. Ela não queria de modo algumentre-gar a filha em adoção! Mas eles eram muito pobres, os pais enfrentavamdifi culdades, doenças... e a mãe da criança também estava muito mal de saúde.Com isso, não poderia tratar da criança conforme era preciso. E, nisso, veio aproposta de adoção. Com ela, a menina cresceria em um meio social excelente,teria instrução, dinheiro, assistência... todas as coisas que a mãe de verdadejamais poderia dar-lhe. Então, ela teve de escolher o melhor não para ela...mas o melhor para a filha!

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O juiz olhou para Ana Clara e concluiu:— A mulher que resolveu entregar-lhe a filha, Tarso, é a mulher com a qualvocê acaba de casar .— Impossível! — murmurou Ana Clara num sopro de voz. . — Não, não é impossível — respondeu o juiz. — Você é a mãe legítima deVi-vinha, eu mesmo me certifiquei de tudo. Foi sorte você continuar vivendones-ta cidade. Contei todos os detalhes para Vivinha, e ela topou lutar paracasar a mãe com aquele a quem ela considera seu verdadeiro pai. Mas tudoisso só pô-de acontecer porque, além de Vivinha ser uma menina que luta peloque quer, ela também acredi ta... na vitória do amor. Afinal, não é qualquermenina que planta um girassol na janela!A casa continuava em silêncio. Dr. Camargo continuava sem conseguiracredi-tar.— Como você imaginou uma coisa dessas, Vivinha? — perguntou, afinal.— Acontece, papai, que quem acredita em Santarena, acredita no impossível.Lembra uma vez, quando eu lhe dis se que acreditava em coisas que o senhornão mais acreditava? Pois é aí que está a nossa diferença. O senhor acredi tana ciência, na realidade, na tecnologia, nos computado res. .. enquanto euacre-dito no coração das pessoas. Foi minha avó quem me ensinou a ter essacrença e a lutar para conseguir as coisas nas quais acreditamos. Por isso é queSanta-rena é a fada do meu livro. O senhor não gosta de fa das; como muitosadultos, acha que essas estórias só deixam as crianças bobas. Agora, taí: aminha fada conseguiu unir vocês dois! Santarena e Helianto existem ou nãoexistem? Ana Clara não se aguentou mais. Abrindo os braços, recebeu amenina carinhosa-mente e começou a chorar.

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— Minha filha.. . A minha filhinha está de volta!!!A emoção tinha sido muito forte porque Ana Clara ja mais teria imaginado umreencontro naquelas circunstâncias. Pouco a pouco, porém, as lágrimascome-çaram a diminuir, a secar; no rosto molhado apareceu um sorriso tímido,e, dali a pouco, os sorrisos se transformaram em gargalhadas.— Acho que isto merece uma comemoração especial! — disse o juizlevantan-do-se para apanhar uma garrafa de champanha. — Afinal, não é todosos dias que a noiva ganha uma filha... já quase moça!Eles tomaram um gole, mas Vivinha continuava pen sativa . ..De repente, ela puxou o pai pelo braço e quase entor nou o champanha.Come-çou a metralhar:— Sabe, papai, outro dia Santarena esteve na vila do outro lado do córrego eviu umas crianças barrigudinhas pobres, pobres de fazer dó! Será que ose-nhor não podia dar um jeito...— Vivinha, pelo amor de Deus, ainda é o dia do nosso casamento! — respondeuo médico. — Depois nós falamos disso, está bem? Se eu não me cuidar, essamenina é bem capaz de querer me convencer para sair por aí com um giras solna lapela!O juiz ergueu a taça e propôs o brinde de uma longa vi da feliz para todos.

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— Com muito sol entrando pela janela do mundo! — arrematou Vivinha com umapiscada.

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Autor e obra

Nasci em Casa Branca, Estado de São Paulo era 15 de maio de 1956. Era paraeu ser só Ganymédes, mas na hora do batizado o padre olhou e disse: “Comno-me pagão, não batizo. Só batizo se ajuntarem José.” Daí, eu vireisubstantivo composto. Aliás, acho que não sou um só, devo ser vários mesmo,porque já houve uma crítica de arte que disse que sou sete em um . Issoporque não es-crevo só um gênero de histórias, pois vou do humor aobiográfico, ao parapsi-cológico (esse, ainda não editei), ao histórico, aocômico, ao nonsense, ao rea-lista, ao romântico... e por aí afora. Por isso,graças a Deus, não posso ser ro-tulado.Meu signo é Touro. Vivo pronto para atacar e contra-atacar. Meu dia favoritoé a sexta-feira, adoro o número 13, as bruxas e passo por baixo de umaesca-da sem me arrepiar. Conclusão: nada de superstições comigo.Escrevo desde os oito anos. O primeiro livro que escrevi foi a história de umporquinho que sonhava tocar violino na orquestra.Em 1954 formei-me professor normalista pelo instituto de Educa ção Dr.Fran-cisco Thomaz de Carvalho, em Casa Branca. Em 1959, em Direito pelaPontifí-cia Universidade Católica de Campinas. Mais tarde, cursei a Faculdadede Le-tras de São José do Rio Pardo.

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Meu primeiro romance publicado foi A noite dos grandes pedidos, a que sese-guiu uma fecunda produção de textos: a série "Inspetora", a série "ViviPimen-ta", a série "Goiabinha", muitos romances e novelas.Recebi da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), em 1975, o prêmiode melhor livro infantil com A galinha Nanduca e o o Prêmio Nacional deLite-ratura Infantil "João de Barro", em 1982, concedido pela Prefeitura deBelo Horizonte, com o livro Amarelinho.Tenho minhas predileções e irritações. Por exemplo: gosto de paz, silêncio,plantas, animais, amigos, honestidade, escrever, música, ale gria, fraternidade,compreensão. De outro lado, odeio cigarro, carna val, futebol, birra de criança,capetas mal-educados, burrice, comodis mo, vagabundagem, FMI, país comma-nia de superioridade. Também fico irritado com o pouco caso de nossajuven-tude que curte e valoriza só produtos na base do dólar!Pensando bem, posso me considerar muito feliz, pois além de ter uma ótimafamília, vivo num pequeno e tranquilo pedaço do céu (que construí a duraspe-nas), escrevo quanto eu quero, já publiquei 121 livros em menos de 12 anos— sinal de que, graças a Deus, estou vendendo e minha literatura é apreciada.

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Outras propostas de atividadesPoesia

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Tela de Pedro Sabiá

Meu girassolé lindo ver-te assim

a se abrirpétalas ao sol

pudesseeu te traria

para bem perto de mimmas eu sei, te matariadeixo-te livre entãoa brincar à luz do dia

(Ariadna Garibaldi)

Música

O GirassolComposição : Vinicius de Moraes / Toquinho

Sempre que o solPinta de anilTodo o céuO girassol

Fica um gentilCarrossel

Roda, roda, rodaCarrossel

Roda, roda, rodaRodador

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Vai rodando, dando melVai rodando, dando flor

Sempre que o solPinta de anilTodo o céuO girassol

Fica um gentilCarrossel

Roda, roda, rodaCarrossel

Gira, gira, giraGirassol

Redondinho como o céuMarelinho como o sol

Curiosidades sobre o girassol

O Girassol é uma planta originária das Américas, que foi utilizada comoalimento, pelos índios americanos, em mistura com outros vegetais.DescriçãoÉ caracterizada por possuir grandes inflorescências do tipo capítulo - comaproximadamente 30 cm de diâmetro - cujo caule pode atingir até 3 metrosde altura notável por "olhar" para o Sol, comportamento vegetal conhecidocomo heliotropismo. Porque ele acompanha a trajetória do sol do nascente aopoente. como curiosidade: O girassol é um símbolo da páscoa (pouca gentesabe disso). Girassol é um dos símbolos pascais menos conhecidos em algumasregiões. É porém muito rico em conteúdo. Assim para sobreviver a plantaprecisa ter sua corola voltada para o sol, do nascente ao poente, também oscristãos precisão estar voltados para o Sol-Cristo.A semente também é usada na alimentação de pássaros em cativeiro além deser uma das mais utilizadas na alimentação viva.

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A sua flor é comercializada como flor de corte. Existem dois grupos devarie-dades importantes: uniflor com haste única e uma flor terminal;multiflor com flores menores que com ramos desde a base que são maisutilizadas na confecção de bouquet como a retratada na tela do famoso pintorVan Gogh

A semente do girassol tem sido utilizada no Brasil na produção de biodiesel.Tem sido também uma boa alternativa para alimentação de gado, emsubstituição a outros grãos. As sua folhas podem inibir o crescimento deplantas daninhas através do fenômeno alelopatia.Também usado em adubação verde, devido a seu desenvolvimento inicial

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rápido, à eficiência da planta na reciclagem de nutrientes e por ser um agenteprotetor de solos contra a erosão e a infestação de invasoras.

Plantar e cultivar um girassol na sala de aula elaborandopequenos textos sobre sua germinação

Desenhar a germinação em historinhas em quadrinhos

Montar maquetes dos locais apresentados na história como : a praça, os dois lados da cidade, a casa onde moravam

Emitir opinião sobre o livro, etc.

Professores que trabalharam neste projeto :IzaulinaFabiana

EspecialistaMª Onofra