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7/27/2019 Teste de Figuras para discriminao fonmica
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UNIVERSIDADEFEDERALDESANTAMARIACENTRODECINCIASDASADE
PROGRAMADEPS-GRADUAOEMDISTRBIOSDA
COMUNICAOHUMANA
TESTEDEFIGURASPARADISCRIMINAOFONMICA:PROPOSTAEAPLICAO
DISSERTAODEMESTRADO
Beatriz dos Santos Carvalho
Santa Maria, RS, Brasil
2007
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TESTEDEFIGURASPARADISCRIMINAOFONMICA:
PROPOSTAEAPLICAO
por
Beatriz dos Santos Carvalho
Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado do Programa dePs-Graduao em Distrbios da Comunicao Humana, rea de ConcentraoAudio e Linguagem, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS),
como requisito parcial para obteno do grau de
Mestre em Distrbios da Comunicao Humana.
Orientadora: Prof. Dr. Helena Bolli MotaCo-Orientadora: Prof. Dr. Mrcia Keske Soares
Santa Maria, RS, Brasil
2007
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Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Cincias da Sade
Programa de Ps-Graduao Em Distrbios da Comunicao Humana
A Comisso Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertao
TESTEDEFIGURASPARADISCRIMINAOFONMICA:PROPOSTAEAPLICAO
elaborada por
Beatriz dos Santos Carvalho
como requisito parcial para obteno do grau de mestre
Comisso Examinadora
______________________________Dr. Helena Bolli Mota UFSM
(Presidente/ Orientadora)
_______________________________Dr Carla Aparecida Cielo UFSM
(Membro)
______________________________Dr Carolina Lisboa Mezzomo FFFCMPA
(Membro)
Santa Maria, 06 de agosto de 2007
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Fonoaudiologia, profisso to envolvente, dedico este trabalho na esperana de que
possa contribuir para o crescimento da profisso e dos profissionais.
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AGRADECIMENTOS
UFSM, pela sua existncia, pela sua importncia e por toda a minha formao.
Professora Helena Bolli Mota, por anos e anos de orientao. Aprendi muito com voc,
Helena! Obrigada por tudo!
Professora Mrcia Keske Soares, pelo auxlio.
s Professoras Carolina Lisboa Mezzomo e Carla Aparecida Cielo, por toda a reflexo e
crescimento oriundos de suas avaliaes.
Ao Sesi, pelas horas de trabalho cedidas e emprstimo de equipamentos.
colega Grzia de Amorim vila Bocca e futura colega Valquria Zimer pelo auxlio na
coleta de dados. No sei como teria conseguido, dentro dos prazos, sem vocs. Valeu,
meninas!
direo das escolas: Instituto Sinodal da Paz, Fernando Albino, Creche Jeito de Criana,
Colgio Concrdia e Coronel Brulio de Oliveira pela aceitao e receptividade pesquisa.
Aos pais ou responsveis pelas crianas, sujeitos deste estudo, pela autorizao de sua
participao.
todas as crianas que participaram desta pesquisa, pelo aprendizado, carinho e divertimento
propiciados.
s manas Scheila e Jaque, parceiras da famlia em poca de mestrado pelo apoio, discusses e
encorajamento. Nessa, seus ouvidos atentos e constantes incentivos tambm foram muito
importantes!
Aos meus pais, Sonia e Jairo dos Santos, por serem meus pais, por terem me criado to
amorosamente, por terem acreditado em mim e por terem me propiciado condies de
prosseguir. Amo vocs...
Ao Warley Gomes de Carvalho, meu amado esposo, por ter decidido seguir ao meu ladomesmo tendo sua famlia to distante. Pelo ombro amigo nos momentos de desespero, pelos
cafezinhos nas noites em que eu quase dormia na frente do computador, pelas massagens nas
costas nos dias de muita tenso, pela confiana na minha capacidade. Obrigada, amor!
Deus, pela vida.
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RESUMO
Dissertao de Mestrado
Programa de Ps-Graduao em Distrbios da Comunicao Humana
Universidade Federal e Santa Maria
TESTE DE FIGURAS PARA DISCRIMINAO FONMICA: PROPOSTA E
APLICAO
AUTORA: BEATRIZ DOS SANTOS CARVALHO
ORIENTADORA: HELENA BOLLI MOTA
CO-ORIENTADORA: MRCIA KESKE-SOARES
Data e Local da Defesa:
A discriminao fonmica a habilidade de diferenciar os sons da fala. O objetivo desta dissertao foipropor um teste de figuras para avaliar a percepo fonmica de crianas de 4:0 a 8:0 anos de idade atravs depares mnimos. Estes foram escolhidos com base nas oposies dos fonemas em relao ao valor binrio de cadatrao distintivo e s combinaes possveis entre os traos de lugar ([labial], [coronal], [dorsal]) e nas oposiesde estruturas silbicas. O teste deveria abranger todos os fonemas do portugus brasileiro, as palavras deveriampertencer ao vocabulrio de crianas de 4:0 a 8:0 anos e serem facilmente representveis por figuras. Alm disso,o teste deveria ser de fcil aplicao e contribuir para o diagnstico das alteraes fonoaudiolgicas e parapesquisas cientficas desta rea. A partir da reviso bibliogrfica, a respeito da percepo da fala e dadiscriminao fonmica e dos testes j existentes para avaliar esta habilidade ou outras habilidades dalinguagem, esta pesquisa props o Teste de Figuras para Discriminao Fonmica TFDF. O TFDF um testeque avalia a habilidade de discriminao fonmica, composto por 30 pares mnimos (60 palavras) devidamenterepresentados por figuras e organizados em cartelas de apresentao. Para explicar as tarefas do teste, fazemparte dele quatro itens de demonstrao. Os 30 pares mnimos foram organizados em 40 apresentaes, das quais30 contm duas palavras diferentes e 10 contm duas palavras iguais. As tarefas do TFDF consistem em ouvirduas palavras (que podem ser diferentes ou iguais) e apontar para a cartela que contm as figuras que asrepresentam. Foi realizado um estudo piloto para aplicao do TFDF e averiguao da qualidade do teste,estrutura, organizao, adequao das palavras e figuras selecionadas. Este estudo piloto foi realizado em umaescola particular e uma escola pblica da cidade de Santa Rosa-RS. Foram avaliados 49 sujeitos, com idadesentre 4:0 e 7:11, sendo 24 oriundos da escola particular e 25 da escola pblica. Dos sujeitos, 22 eram do sexofeminino e 27 do masculino. Todos os sujeitos foram triados, para excluso de alteraes fonoaudiolgicasgraves. Aps a realizao do estudo piloto, concluiu-se que a estrutura e organizao do TFDF esto adequadaspara a faixa etria a que se prope a avaliar, de fcil e rpida aplicao, bem aceito pelas crianas, no exige
muitos cuidados em relao ao ambiente de testagem, pode ser muito til no diagnstico das alteraesfonoaudiolgicas e pesquisas cientficas desta rea. No entanto precisa sofrer modificaes em duas figuras.Com os resultados quantitativos, verificou-se que no houve diferena significativa de desempenho entre os oitogrupos etrios, entre as escolas e entre os sexos. No entanto, encontrou-se diferena estatisticamente significativano tempo de aplicao do TFDF entre as escolas, sendo este tempo maior na escola pblica. Espera-se que esteteste possa ser padronizado para que se tenha a estimativa de qual o desempenho normal para a populaobrasileira.
Palavras-chave: discriminao fonmica; percepo da fala; avaliao fonoaudiolgica.
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ABSTRACT
Masters Thesis
Post Graduation Program in Human Communication Disorders
Federal University of Santa Maria, RS, Brazil
PHONEME DISCRIMINATION PICTURE TEST: PROPOSAL AND APPLICATION
AUTHOR: BEATRIZ DOS SANTOS CARVALHO
ADVISOR: HELENA BOLLI MOTA
CO-ADVISOR: MRCIA KESKE-SOARES
Phonemic discrimination is the ability to differentiate the sounds of speech. The aim of this paper is topropose a picture test to evaluate the phonemic perception in children from 4 to 8 years old through minimumpairs. These were chosen based on phoneme opposition in relation to the binary value of each distinctive featureand on possible combinations among Place features ([labial]), [coronal], [dorsal]), and on syllabic structureoppositions. The test had to appreciate all Brazilian Portuguese phonemes, the words had to belong to childsvocabulary from 4 to 8 years old and they had also to be easily represented by pictures. In addition, the test hadto be easily applied and it had to contribute to the diagnostic of the phonologic alterations and to scientificresearch on this field. Based on bibliographic references which approaches speech perception, phonemediscrimination, and existing tests to evaluate this or other language abilities, this paper proposed the PhonemeDiscrimination Picture Test. The PDPT evaluates phonemic discrimination ability and it is composed of 30minimum pairs (60 words) properly represented by pictures and arranged in flash cards. In order to explain thetask to be performed there are four demonstration items. The 30 minimum pairs were arranged in 40presentations in which 30 had 2 different words and 10 had 2 equal words. The tasks consisted of listening to 2words (which could be different or equal) and pointing towards the flash card with the pictures that representedthe words. A trial was carried out in order to apply the PDPT and check its quality, structure, arrangement,adequacy of the selected words and pictures. This trial was carried out in a private school in Santa Rosa, State ofRio Grande do Sul, Brazil. 49 subjects at ages 4:0 and 7:11 were evaluated, and from these, 24 studied at aprivate school and 25 at a public school. 22 subjects were female and 27 were male. All the subjects underwent aselection process in order to exclude any serious phonological alteration. At the conclusion of the trial it waspossible to infer that the structure and arrangement of the PDPT were fit for the age group and for what it aimedto evaluate, and that it was easy and fast to apply, well-accepted by the children, and it did not required anyspecial arrangement concerning testing environment and could also be very useful to diagnose phonologicalterations and to conduct scientific research in this field. However, the test needed to have two pictures altered.Analyzing the quantitative results, it was possible to check that there was no significant difference inperformance among the 8 age groups, between both schools and sexes. Nevertheless, there was significantstatistic difference in time spent to do the test in which the subjects from the public school spent more time.There is a hope that this test can be standardized so that one can have an estimate of the usual performance bythe Brazilian population.
Key-words: phonemic discrimination; speech perception; language avaliation.
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LISTADEQUADROS
QUADRO 1 Matriz fonolgica dos segmentos consonantais do portugus (Fonte:
Mota, 1997)........................................................................................................................QUADRO 2 Pares mnimos selecionados para constiturem o teste .............................
QUADRO 3 Pares de palavras selecionados para representar a oposio de estrutura
silbica...............................................................................................................................
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LISTADETABELAS
Tabela 1 Tempo de aplicao do TFDF versus varivel escola ..................................
Tabela 2 Tempo de aplicao do TFDF versus varivel grupo etrio...........................
Tabela 3 Pontuao no TFDF versus varivel escola.....................................................
Tabela 4 Pontuao no TFDF versus varivel grupo etrio...........................................
Tabela 5 Pontuao no TFDF versus varivel sexo.......................................................
Tabela 6 Nmero de erros nas apresentaes do TFDF por grupo etrio total de
sujeitos da amostra ..........................................................................................................
Tabela 7 Comparao do nmero de erros total no TFDF entre os diferentes grupos
etrios................................................................................................................................
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LISTA DE APNDICES
APNDICE A - Cartelas de apresentao do TFDF ........................................................
APNDICE B - Protocolo de apresentao do TFDF ......................................................
APNDICE C - Protocolo de respostas do TFDF ............................................................
APNDICE D - Termo de consentimento livre e esclarecido .........................................APNDICE E - Questionrio desempenho escolar do aluno ........................................
APNDICE F - Alteraes fonoaudiolgicas encontradas nos sujeitos triados ...............
APNDICE G - Resultados gerais escola pblica.............................................................
APNDICE H - Resultados gerais escola particular........................................................
APNDICE I - Nmero de erros nas apresentaes do TFDF por crianas de diferentes
grupos etrios em escolas pblicas....................................................................................
APNDICE J - Nmero de erros nas apresentaes do TFDF por crianas de diferentesgrupos etrios em escolas particulares...............................................................................
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SUMRIO
1 INTRODUO.............................................................................................................2 REVISO BIBLIOGRFICA ...................................................................................
2.1 Percepo da fala .....................................................................................................
2.1.1 Percepo auditiva da fala.......................................................................................
2.1.2 Percepo visual da fala............................................................................................
2.1.3 Teorias de percepo da fala.....................................................................................
2.1.3.1 Teoria auditiva.......................................................................................................
2.1.3.2 Teoria motora.........................................................................................................2.2 Habilidades auditivas/ processamento auditivo central.........................................
2.2.1 Memria auditiva......................................................................................................
2.3 Discriminao auditiva .............................................................................................
2.4 Pesquisas relacionadas discriminao auditiva/ discriminao fonmica ........
2.4.1 Pesquisas do perodo pr-natal e neo-natal ..............................................................
2.4.2 Crianas com atraso de linguagem ..........................................................................
2.4.3 Crianas com distrbio especfico da linguagem .....................................................2.4.4 Crianas com desvio fonolgico ..............................................................................
2.4.5 Crianas sem distrbio da comunicao ..................................................................
2. 5 Deteco fonmica: habilidade de conscincia fonolgica ...................................
2.5.1 Conscincia lingstica ............................................................................................
2.5.2 Conscincia fonolgica ............................................................................................
2.5.3 Conscincia fonmica ..............................................................................................
2.6 Noes de fonologia relevantes a este trabalho ......................................................
2.6.1 Fonologia .................................................................................................................
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2.6.2 Fonemas....................................................................................................................
2.6.3 Traos distintivos .....................................................................................................
2.6.4 Estruturas silbicas....................................................................................................
2.6.5 Par mnimo................................................................................................................
2.7 Sobre o processo de avaliao ..................................................................................
2.8 Testes especficos para avaliar a discriminao auditiva / discriminao
fonmica ...........................................................................................................................
2.8.1 Explanao dos testes internacionais ......................................................................
2.8.2 Explanao dos testes nacionais ..............................................................................
2.8.3 Comentrios sobre aspectos estruturais dos testes que avaliam a discriminao
auditiva/ fonmica..............................................................................................................2.9 Aspectos estruturais de testes que avaliam habilidades da linguagem.................
2.9.1 Uso de figuras ..........................................................................................................
2.9.2 Treino prvio.............................................................................................................
2.9.3 Motivao verbal ao sujeito testado .........................................................................
2.9.4 Avaliao qualitativa do desempenho do sujeito......................................................
2.9.5 Caractersticas do ambiente de testagem .................................................................
3 MTODOS E TCNICAS ..........................................................................................3.1 Elaborao do teste ...................................................................................................
3.1.1 Objetivo ....................................................................................................................
3.1.2 Faixa etria a ser avaliada ........................................................................................
3.1.3 Tipo de estmulo.......................................................................................................
3.1.4 Seleo das oposies de fonemas e dos pares mnimos .........................................
3.1.5 Uso de figuras ..........................................................................................................
3.1.6 Apresentao do estmulo.........................................................................................3.1.7 Itens de demonstrao ..............................................................................................
3.1.8 Nmero de apresentaes.........................................................................................
3.1.9 Pistas visuais ...........................................................................................................
3.1.10 Varivel memria....................................................................................................
3.1.11 Motivao verbal ao sujeito testado........................................................................
3.1.12 Avaliao qualitativa..............................................................................................
3.1.13 Ambiente de testagem.............................................................................................
3.1.14 Composio do TFDF...........................................................................................
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3.1.15 Aplicao do TFDF.................................................................................................
3.2 Estudo piloto ..............................................................................................................
3.2.1 Objetivo ....................................................................................................................
3.2.2 Seleo das escolas e sujeitos..................................................................................
3.2.3 Triagem dos sujeitos selecionados...........................................................................
3.2.4 Avaliao com o TFDF ...........................................................................................
3.2.5 Critrios de excluso dos sujeitos selecionados para a amostra ..............................
3.2.6 Amostra do estudo piloto .........................................................................................
3.2.7 Retorno para escolas e pais/ responsveis ...............................................................
3.2.8 Anlise dos dados do estudo piloto...........................................................................
4 RESULTADOS ............................................................................................................4.1 Dados qualitativos do estudo piloto ........................................................................
4.1.1 Comentrios e reaes dos sujeitos durante a aplicao do teste ...........................
4.1.1.1 Comentrios / reaes sobre as figuras e palavras do teste ..................................
4.1.1.2 Comentrios / reaes sobre a forma como se organiza o teste ............................
4.1.1.3 Comentrios sobre o desempenho no teste ...........................................................
4.1.1.4 Comentrios sobre a marcao de respostas .........................................................
4.1.2 Aspectos do desempenho especfico da criana ......................................................4.1.2.1 Interesse ................................................................................................................
4.1.2.2 Fadiga ....................................................................................................................
4.1.2.3 Dificuldades de compreenso da tarefa ................................................................
4.1.2.4 Utilizao de apoio articulatrio para realizao da discriminao fonmica ......
4.1.2.5 Solicitao de explicaes extras ..........................................................................
4.1.2.6 Respostas que seguiam um determinado padro ..................................................
4.2 Dados quantitativos do estudo piloto ......................................................................4.2.1 Tempo da aplicao do teste ....................................................................................
4.2.2 Pontuao dos sujeitos .............................................................................................
4.2.3 Nmero de erros por apresentao no TFDF ...........................................................
5 DISCUSSO .................................................................................................................
5.1 Discusso dos dados qualitativos..........................................................................
5.2 Discusso dos dados quantitativos............................................................................
6 CONSIDERAES FINAIS ......................................................................................
7 CONCLUSO ..............................................................................................................
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8 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .......................................................................
9 APNDICES ...............................................................................................................
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1 INTRODUO
A discriminao fonmica muito importante para a aquisio da linguagem.
atravs da associao dos aspectos auditivos, como percepo e discriminao, ao gesto motor
articulatrio que os fonemas da lngua so memorizados e passam a ser utilizados na fala da
criana.
Sendo a discriminao fonmica um fator consideravelmente relevante no processo de
aquisio normal da linguagem, deduz-se que, nas patologias da mesma, esta habilidade possa
estar alterada. Esta hiptese foi pesquisada por vrios autores, dentre os quais podemos citar
Tallal & Stark (1980) que a pesquisaram em crianas com atraso de linguagem; Leonard,
McGregor & Allen (1992) em crianas com Distrbio Especfico da Linguagem; Rvachew
(1994), Mota et al. (2002) e Santos (2005) em crianas com Desvios Fonolgicos Evolutivos.
Todos estes autores encontraram alteraes na habilidade de discriminao fonmica /
discriminao auditiva nos grupos estudados.
Lowe (1996) refere que se a criana no percebe corretamente o modelo de fala sua
representao interna ser incorreta, levando a erros na fala. Assim, torna-se necessrio
avaliar a discriminao fonmica em crianas com patologias da linguagem para uma melhor
descrio e diagnstico dessas patologias e para o bom delineamento da terapiafonoaudiolgica.
possvel encontrar diferentes testes de discriminao auditiva dos sons da fala na
literatura internacional como, por exemplo, os conhecidos The Boston University Speech
Sound Discrimination Picture Test (Provnost & Dumbledon, [19--], apud Rodrigues, 1981) e
o Teste de Weepman (Weepman, 1958, apud Rodrigues, 1981). No entanto, na literatura
brasileira, encontrou-se apenas a Prova para Avaliar a Discriminao Auditiva de
Rodrigues (1981).A prova de Rodrigues (op. cit.) utiliza pares de slabas contrastantes como estmulo.
Scliar-Cabral (1991) frisa que o processamento dos sinais lingsticos no se d sobre
unidades estticas tais como consoantes e vogais isoladas, mas sim, atravs do aspecto
dinmico da cadeia de fala. Por isso, considera-se o uso de palavras (e no slabas) como um
estmulo mais adequado para a avaliao desta habilidade auditiva.
No Centro de Estudo da Linguagem e Fala (CELF) da Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM) foi feita uma adaptao ao The Boston University Speech SoundDiscrimination Picture Test, que utiliza palavras como estmulos auditivos (Mota, Keske-
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Soares & Vieira, 2000). Mas esta adaptao precisa ser modificada, no que diz respeito :
incluso da consoante //, melhor distribuio dos contrastes dos traos distintivos nas
possibilidades de posies das slabas nas palavras,escolha de palavras que faam parte do
vocabulrio infantil, adequao da figura utilizada palavra que dever representar,
estabelecimento de padres de normalidade para o teste.
Pela escassez de testes que avaliam a discriminao fonmica propostos para as
crianas brasileiras, considerou-se necessria a criao de um instrumento de avaliao
elaborado a partir do portugus brasileiro e devidamente padronizado para as crianas deste
pas. Este instrumento deve observar aspectos quantitativos e qualitativos durante a tarefa de
discriminar as diferenas entre os fonemas e levar em considerao a adequao das palavras
do teste ao vocabulrio infantil e a escolha de figuras que representem fielmente as palavras aserem testadas.
Assim, esta pesquisa teve como objetivo geral propor um teste que avaliasse a
discriminao fonmica atravs de pares mnimos, escolhidos pelas oposies dos fonemas
em relao ao valor binrio de cada trao distintivo e s combinaes possveis entre os traos
de lugar ([labial], [coronal], [dorsal]) e pelas oposies de estruturas silbicas. Igualmente,
buscar que este teste contribua para o diagnstico de alteraes fonoaudiolgicas e para a
pesquisa cientfica nesta rea.Os objetivos especficos foram os seguintes:
- propor um teste que abrangesse todos os fonemas do portugus brasileiro e utiliz-los em
palavras que pudessem ser facilmente representadas por figuras;
- possibilitar que este teste fosse de fcil aplicao, podendo ser utilizado em qualquer local
de trabalho dos fonoaudilogos (clnicas, escolas, postos de sade, etc.).
Esta pesquisa contm um captulo de Reviso Bibliogrfica, onde se faz uma reviso
da literatura disponvel a respeito da percepo da fala e da discriminao fonmica,pesquisas relacionadas a este tema, habilidades auditivas, deteco fonmica, noes de
fonologia pertinentes ao trabalho de elaborao do teste, mtodos de avaliao, testes
existentes que avaliem a discriminao fonmica/ discriminao auditiva e testes brasileiros
para habilidades da linguagem. Em seguida, o captulo Mtodos e Tcnicas descreve em
detalhes os procedimentos utilizados nesta pesquisa. O captulo Resultados, explicita os
resultados qualitativos e quantitativos encontrados no transcorrer da pesquisa. No captulo
Discusso, so discutidos os resultados, com base na reviso bibliogrfica e nas reflexes
decorrentes da pesquisa. No Captulo de Consideraes Finais so feitos alguns comentrios
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pertinentes pesquisa, frutos das reflexes por ela propiciadas. As concluses alcanadas so
apresentadas no captulo de Concluses.
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2 REVISO BIBLIOGRFICA
Nesta sesso ser apresentada uma reviso da literatura sobre os assuntos abordados
nesta dissertao. Esta reviso estar dividida em tpicos, para facilitar o entendimento do
leitor. A ordem cronolgica da publicao dos trabalhos bem como a ordem alfabtica dos
autores no ser considerada para que a mesma no prejudique o desenvolvimento do texto.
Salienta-se aqui que na reviso bibliogrfica feita, foram encontrados poucos trabalhos
atuais sobre o tema especfico da pesquisa: a discriminao fonmica.
2.1 Percepo da fala
2.1.1 Percepo auditiva da fala
De um modo geral, qualquer estudo ou autor que fale sobre a percepo da fala, fazreferncia ao fato dela ser percebida de maneira diferente dos demais sons e que haveria um
sistema diferenciado ou especializado para sua percepo.
Para Russo & Behlau (1993), a percepo dos sons da fala envolve um sistema de
interao complexa que ultrapassa a realidade da simples deteco de sinais acsticos. Para
que a fala seja percebida, so necessrias as etapas da audibilidade, recepo, discriminao,
reconhecimento, memria e compreenso da mensagem falada. Basicamente, a energia do
sinal de fala deve ser suficientemente audvel e os elementos acsticos desse sinal devem serpassveis de discriminao. Isto envolve a segmentao destes em unidades menores que
sero armazenadas na memria para comparao, reconhecimento e compreenso.
Segundo Schochat (1996), o sinal de fala deve ser transformado pelo sistema auditivo
perifrico para depois serem extradas informaes acsticas sobre os padres temporais e do
espectro deste sinal. Essas informaes so analisadas e delas provm as pistas acsticas da
fala, ou seja, as representaes auditivas do sinal de fala que so usadas para a classificao
fontica. As atividades perifricas so responsveis pela sensao do som, enquanto que ascentrais so responsveis pela percepo.
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Pereira (2004) observa que a percepo e a produo da fala so eventos relacionados.
A habilidade para produzir fala inteligvel depende, em grande parte, das habilidades para
processar os paradigmas do espectro acstico e da prosdia da fala do locutor.
Aguado (2005), numa viso mais psicolgica sobre a percepo da fala, coloca que
baseado em vrias pesquisas sobre a percepo dos sons da fala pode-se concluir que o beb
possui uma extraordinria capacidade para o tratamento dos sons da linguagem. Supe que
isso ocorra porque os sons da linguagem seriam precisamente de origem humana e, deste
modo, essenciais para entrar em contato com o ambiente humano, fonte de segurana,
gratificaes e conhecimentos para a criana. O autor refere ainda que essas capacidades
precoces de tratamento dos sons da fala poderiam ser consideradas como os primeiros passos
para uma discriminao mais perfeita e tambm precoce dos sons produzidos pelo adulto,portadores de uma funo distintiva.
Fazendo um paralelo entre o desenvolvimento lingstico e a percepo da linguagem
pelos bebs, Northern & Downs (1989) colocam que talvez haja uma hierarquia de facilidade
em observar distines entre as propriedades acsticas dos sons da fala. Hierarquia esta que
seria responsvel pela seleo de determinados sons no ciclo de retorno auditivo (feedback
auditivo). Os autores se perguntam se isto est relacionado energia sonora ou sensibilidade
diferencial do ouvido humano em escutar as vrias freqncias. Concluem que existe umarelao entre a sensibilidade auditiva seletiva e a facilidade de produo dos sons, que a
responsvel pela escolha e ordem de aquisio dos sons que os bebs iro produzir.
Northern & Downs (op. cit.) falam que o pr-requisito para uma formulao posterior
da linguagem no beb, um longo perodo de recepo dos estmulos auditivos. Antes da
emergncia da fala, deve haver de 12 a 18 meses de recepo da fala adulta complexa.
Aps fazer uma reviso sobre o problema de como os complexos padres acsticos de
fala so interpretados pelo crebro e percebidos como unidades lingsticas, Moore (1989) fazalgumas concluses gerais. Diz, por exemplo, que ainda no est claro qual a unidade bsica
para a percepo da fala, se a slaba, o fonema ou outra unidade semelhante que tenha carter
fontico distintivo. Isto se torna o problema bsico no estudo da percepo da fala: relatar
quais as propriedades da onda de fala que especificam as unidades lingsticas.
Segundo Moore (op. cit.), existem boas evidncias de que a fala uma classe especial
de estmulo auditivo, e que esse estmulo percebido e processado em caminhos diferentes
dos estmulos que no so de fala. Algumas dessas evidncias so: o fenmeno de que os sons
podem ser melhores identificados quando so reconhecidos lingisticamente, a existncia de
assimetria cerebral que indica que certas reas do crebro so especializadas no intercmbio
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com a fala, estudos de integrao audiovisual que mostram que a percepo e a identificao
dos sons da fala so influenciadas pelo que a pessoa ouve e v da face do falante, etc. Este
autor acredita que os diversos fenmenos que indicam a percepo da fala como uma
habilidade especial conduzem Teoria Motora da Percepo da Fala (ver subitem 2.1.3.2
deste captulo).
Moore (1989) conclui ainda que a percepo da fala envolve muitos nveis diferentes e
que as informaes que so separadas em cada nvel podem ser usadas na resoluo de
ambigidades ou para correo de erros ocorridos em outros nveis. provvel que o
processamento da fala no ocorra numa direo hierrquica de cada nvel para o prximo, mas
que existam ligaes extensas entre cada nvel. Assim, a informao de qualquer nvel pode
ser novamente analisada com base nas informaes vindas de outro nvel. Conforme esteautor, o conhecimento prvio da sinttica e da semntica permitiria promover ajustes e
correes no espao situacional, indicando de que forma o falante identifica previamente a
mensagem contida at o momento nas informaes.
Complementando, Moore (op. cit.) refere ainda que a natureza multidimensional dos
sons da fala e a grande soma de informaes independentes que so avaliadas nos diferentes
nveis de processamento, produzem um elevado nvel de redundncia no discurso. Por isso,
ela pode ser bem compreendida mesmo na presena de rudo de fundo. Deste modo, a falaseria um mtodo altamente eficiente de comunicao que permaneceria confivel frente a
condies de dificuldade.
Para Northern & Downs (1989), qualquer que seja a teoria sustentada sobre a
percepo e aquisio da linguagem, o fato que mais se destaca a primazia da recepo da
fala pelas crianas. Para estes autores, evidente que ouvir a linguagem no um processo
passivo, mas um processo do qual o beb participa atravs da ao sobre os sinais de entrada.
Do ponto de vista fisiolgico, o sistema auditivo do beb plstico, ou seja, pode sermodificado no apenas por alteraes anatmicas, mas tambm por variaes nos estmulos
acsticos (Northern & Downs, op. cit.). Assim, a ausncia ou a falta de estmulos sonoros
resultar em desvio da funo auditiva. Isto o que acontece em crianas surdas: a privao
sensorial auditiva total num determinado perodo de tempo pode resultar em inabilidade
irreversvel para perceber diferenas nos sons da fala.
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2.1.2 Percepo visual da fala
Northern & Downs (1989) dizem que uma representao bimodal (auditiva e visual)
da fala est presente no beb: o reconhecimento de que a seqncia dos movimentos dos
lbios, lngua e mandbula correspondem aos sons que ouvimos.
Mysak (1998) afirma que sob circunstncias normais a recepo da fala uma funo
bi-sensorial; o ouvido recebe a energia de presso sonora associada com eventos de fala e o
olho recebe a energia radiante em conexo com movimentos articulatrios, associados fala,
expresses faciais, movimentos e posturas corporais. A informao da fala, em uma situao
face a face, gerada por via da sntese dos cdigos verbo-acstico e verbo-visual(movimentos articulatrios, faciais, manuais e corporais). Mesmo assim, a audio permanece
sendo a modalidade sensorial dominante para a recepo e percepo dos sinais de fala.
A idia de que a audio parece ser quase perfeita dentro do papel de percepo da
fala, no apoiada por pesquisas atuais que trabalham com sinais acsticos perturbados,
segundo Kozlowski (1997). Esta autora, refere que diferentes pesquisas demonstram
atualmente um processo amodal de percepo da fala, onde a idia sustentada aquela de que
a via visual utilizada mesmo dentro de situaes onde o sinal acstico claro e intacto,sendo que a leitura labial pode auxiliar na percepo da fala de maneira constante. A
percepo visual da fala no se limita aos movimentos dos lbios, mas abrange os
movimentos do rosto, laringe e corpo.
Neste trabalho, no se ignora a questo da participao visual na percepo da fala. No
entanto, como o objetivo pesquisar a discriminao fonmica, que uma habilidade
auditiva, o aspecto auditivo da percepo da fala que ser enfatizado.
2.1.3 Teorias de percepo da fala
Muitos pesquisadores desenvolveram estudos no intuito de precisar como se d a
percepo da fala e formularam teorias que explicam essa percepo. A seguir h uma
descrio das mesmas.
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2.1.3.1 Teoria auditiva
De acordo com Miller (1990), os trs pontos bsicos da Teoria Auditiva so: a
percepo da fala no baseada na produo, ela no especfica da espcie e ela pode ser
inata. Segundo esta teoria, a fala no percebida por um sistema especializado que se baseia
num conhecimento subjacente da articulao. o sistema auditivo por si s que realiza esta
tarefa. Como o sistema auditivo que processa os sons (quaisquer sons, de fala ou no), ele
resolve automaticamente o problema da sobrearticulao, de tal modo que as pessoas so
capazes de perceber e ordenar as seqncias de segmentos fonticos que foram intencionadas
pelos falantes.Esta teoria afirma tambm que, como o sistema auditivo humano muito similar ao de
muitos outros animais, estes tambm poderiam perceber a fala como ns. Assim, a percepo
da fala no seria especfica da espcie humana. No entanto, a Teoria Auditiva da Percepo da
Fala acredita que a habilidade de perceber a fala pode ser inata, pois deve surgir precocemente
na criana para que possa ser bem desenvolvida (Miller, op. cit.).
2.1.3.2 Teoria motora
Segundo Kozlowski (1997), para a Teoria Motora o processo de percepo da fala
diferente do processo de percepo dos demais sons. A percepo e a produo da fala so
ligadas biologicamente: o sinal de fala inicialmente submetido a uma anlise perceptual,
ento os sinais neurais decodificam as unidades fonticas que esto em relao com os gestosarticulatrios. Assim, ao ouvir uma mensagem, o interlocutor reefetuaria dentro de um espao
proprioceptivo o gesto articulatrio a partir de limiares de identificao fontica.
Para Scliar-Cabral (1991), a Teoria Motora prega que o ouvinte modela os dados
acsticos do emissor, transformando-os em representaes dos gestos motores. Assim, os
limites na capacidade de comandar os gestos articulatrios restringiriam os tipos de pistas
acsticas, sua integrao e possveis combinaes que a percepo utiliza e vice-versa.
Miller (op. cit.) refere que a Teoria Motora baseia-se em trs princpios fundamentais:
a percepo da fala baseada na produo, especfica da espcie e inata. Conforme a
autora, os idealizadores desta teoria dizem que h uma ligao ntima entre o sistema
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responsvel por perceber a fala e o sistema responsvel por produzi-la. Esta ligao permite
ao ouvinte, no momento em que ouviu o sinal de fala, determinar que gestos articulatrios o
falante usou e a partir disso descobrir quais os segmentos fonticos (vogais e consoantes) que
foram produzidos. Isto explicaria como o ouvinte consegue entender as palavras faladas
apesar do efeito de sobrearticulao: embora o sinal de fala no seja igual aos segmentos
fonticos pretendidos pelo falante (efeito da sobrearticulao), o ouvinte consegue processar
este sinal de fala reconhecendo os sinais de fala pretendidos.
Alm disso, para a Teoria Motora de Percepo da Fala, esta habilidade especfica da
espcie humana, pois somente ela possui um conhecimento subjacente de articulao, produz
a fala e consegue operar o processo de percepo para reconhecer as estruturas fonticas
como forma de fala (Miller, 1990). Os animais que ouvem a fala humana a entendem comouma srie de rudos porque no possuem um sistema de processamento de fala especializado.
Miller (op. cit.) expe ainda que para esta teoria, a percepo inata, ou seja, o
sistema de processamento especializado que utilizamos para perceber a fala parte da
hereditariedade biolgica dos seres humanos. Os bebs vm ao mundo com um conhecimento
implcito da articulao e da ligao entre produo e percepo. Em outras palavras, os bebs
no tm que aprender a perceber os sons da fala.
Bishop (2002) afirma que a Teoria Motora de Percepo da Fala na busca desolucionar o problema da invarincia acstica (tm-se uma representao inconstante na
forma da onda modulada mas percebe-se como sendo o mesmo som) propugnou que a fala
reconhecida mediante um processo de comparao de um inputacstico com as configuraes
articulatrias que seriam necessrias para produzir o sinal acstico. Assim a percepo da fala
seria dependente da produo.
A Teoria Motora acredita que o conhecimento da forma como os sons da fala se
relacionam com os movimentos de articulao inato e no aprendido. Sendo assim, comoexplicar, por exemplo, que um falante de japons no consiga distinguir a diferena entre dois
sons do ingls? Para isto, os tericos novamente revisaram suas teorias e argumentaram que
uma vez aprendida a lngua nativa, o indivduo perde a capacidade inata de relacionar os sons
da fala com suas correspondncias motoras (Bishop, op. cit.).
Os pressupostos tericos da Teoria Motora da Percepo da Fala, foram os adotados
nesta pesquisa e serviram de guia para a elaborao do Teste de Figuras para Discriminao
Fonmica - TFDF.
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2.2 Habilidades auditivas/ processamento auditivo central
Existem vrias habilidades auditivas, sendo elas: ateno, deteco, discriminao,
localizao, identificao, memria, compreenso. Pereira, Navas & Santos (2002) dizem que
a ateno a habilidade do indivduo focar num estmulo sonoro; deteco a capacidade de
receber o estmulo; discriminao a habilidade de resoluo de freqncia, intensidade,
durao. A localizao a habilidade de analisar diferenas de tempo e de intensidade dos
sons recebidos por cada um dos lados da orelha. Identificao a habilidade de selecionar um
estmulo e ignorar outros (ateno seletiva); memria envolve memorizar um padro de
freqncia ou padro de durao de sons. Compreenso a habilidade de interpretar oseventos sonoros integrando-os com as demais informaes sensoriais (Pereira, Navas &
Santos, op. cit.).
O processamento auditivo pode ser definido segundo Pereira (2004) como a srie de
operaes mentais que o indivduo realiza ao lidar com informaes recebidas via o sentido
da audio e que dependem de uma capacidade biolgica inata e de experienciao no meio
acstico. Segundo esta autora, por volta dos 12, 13 anos de idade que o processamento
auditivo, memria, processamento visual e o aprendizado da lngua tornam-se similares ao doadulto.
Pereira (op. cit.) diz que o processamento da informao se d atravs da assimilao,
da transformao e do uso desta, resultando em futuros comportamentos. Para que estes sejam
desenvolvidos, h necessidade de integridade e neuromaturao das vrias estruturas do
sistema nervoso que lidam com a informao recebida pelo sentido da audio.
Para Magalhes et al (2006), por meio da recepo, anlise e organizao do
processamento das informaes auditivas que se estabelece a representao mental doestmulo lingstico e o armazenamento dessa representao na memria.
Baran & Musiek (2001) dizem que, conforme a ASHA, processos auditivos centrais
so os mecanismo e processos do sistema auditivo responsveis pelos seguintes fenmenos
comportamentais: localizao e lateralizao sonora; discriminao auditiva; reconhecimento
de padres auditivos; aspectos temporais da audio, desempenho auditivo na presena de
sinais competitivo e desempenho auditivo com sinais acsticos degradados. Esses fenmenos
comportamentais referem-se tanto a sons verbais como a sons no-verbais.
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a ateno seletiva auditiva que permite a realizao da figura-fundo auditiva
(Machado & Pereira, 1997). Dficits na ateno seletiva, que envolvem estruturas do sistema
nervoso central, alteram a capacidade que o indivduo tem de selecionar estmulos.
Para Azevedo & Pereira (1997), as pesquisas tm demonstrado que tanto a
plasticidade como a maturao so, em parte, dependentes da estimulao; isto porque a
estimulao que ativa e refora as vias neurais.
Azevedo & Pereira (op. cit.), propem um modelo de terapia para a desordem do
processamento auditivo central em crianas. Neste modelo, existem quatro nveis a serem
trabalhados, necessariamente nesta ordem: deteco, discriminao, reconhecimento e
compreenso. Segundo as autoras, a deteco a habilidade em responder a presena ou
ausncia do som, e inclui ateno aos sons e localizao da fonte sonora. A discriminao ahabilidade de perceber semelhanas e diferenas entre sons verbais. O reconhecimento/
identificao a capacidade de identificar o estmulo verbal e a compreenso a habilidade
de entender o significado da fala respondendo a questes, seguindo instrues, etc.
2.2.1 Memria auditiva
A habilidade auditiva de memria o processo que nos permite adquirir e armazenar
informaes a curto e longo prazo e recuper-las quando necessrio (Corona et al, 2005). Esta
habilidade de suma importncia para os demais processos envolvidos na percepo auditiva,
pois graas memria de seqncia de sons, a comunicao se torna possvel e eficiente.
Para Pereira (2004), a memria uma funo do sistema nervoso que pode ser
definida como a aquisio ou aprendizado, o armazenamento e a evocao de informaes. Jpara Linassi et al (2005) a memria uma capacidade mental que se combina e se relaciona
com outras capacidades, como a linguagem, o raciocnio e a construo de conhecimentos.
Ela permite ao ser humano a fixao de informaes e sua conseqente conservao, bem
como as aes de reconhecimento e de evocao.
A memria de trabalho uma memria de curto prazo, a qual importante para o
desenvolvimento lingstico, uma vez que essa habilidade influencia no processamento da
linguagem. Linassi et al (op. cit.) observam que h um vnculo significativo entre a habilidade
de memria fonolgica e a complexidade da produo de fala. Os trs componentes do
modelo de memria de trabalho, o executivo central, a ala fonolgica e a ala visuo-espacial,
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esto presentes nas crianas pequenas, porm, ocorrem mudanas no desempenho na ala
fonolgica entre as idades de cinco a dez anos.
Segundo Machado & Pereira (1997), a memria de curto termo a entrada para a
memria de longo termo. Pereira (2004), diz que a memria de trabalho ou operacional o
sistema de gerenciamento das informaes auditivas.
Realizando uma pesquisa com o objetivo de caracterizar a habilidade auditiva de
memria seqencial verbal em crianas de trs a 12 anos, Corona et al (2005), aplicaram o
teste de memria seqencial verbal modificado por um acrscimo de uma slaba a cada
seqncia. O teste modificado foi aplicado em 223 escolares, do ensino pblico e privado.
As autoras observaram que todos os sujeitos repetiram corretamente pelo menos duas
das trs seqncias de trs slabas. Aos nove anos, os sujeitos conseguiram repetir as trsseqncias e aos seis anos eles foram capazes de repetir pelo menos duas das trs seqncias
de quatro slabas. Constataram tambm que os sujeitos da escola pblica apresentaram o
mesmo comportamento das crianas das escolas privadas, mas em faixas etrias superiores.
Corona et al (2005) concluram que as respostas comportamentais para sons verbais em
seqncia melhoram com a idade e que as crianas da escola privada apresentam evoluo
mais precoce dessa habilidade.
2.3 Discriminao auditiva
A discriminao auditiva a habilidade de distinguir auditivamente a diferena entre
os sons da fala (Rodrigues, 1981). Conforme Russo & Behlau (1993), a discriminao o
processo de diferenciao de sons acusticamente similares, mas com freqncia, durao e ouintensidades diferentes, e justamente nestas diferenas que reside a informao transportada
pelo som.
Rodrigues (op. cit.) refere que a discriminao auditiva melhora com a idade e que
talvez essa melhora dependa da ao mtua da maturao e da experincia. Afirma ainda,
que o aprendizado dos sons da fala s ocorre quando h condies para que os mesmos
sejam discriminados uns dos outros, o que proporciona unidades aceitveis para a
expresso verbal do pensamento. Para o autor, a diferenciao dos sons da fala
acompanhada pela identificao e o destaque dado aos traos distintivos importantes
providos de significao fonmica.
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Azevedo & Pereira (1997), falando sobre como trabalhar a discriminao em
terapia, sugerem que se apresentem sons verbais para que a criana perceba se so iguais
ou diferentes. As autoras colocam que inicialmente usa-se oposio extrema e aos poucos
deve-se ir aproximando at chegar a sons bem semelhantes.
Northern & Downs (1989) afirmam que logo aps o nascimento, a criana comea
a aprender a discriminar os sons da fala. Estes autores afirmam que a criana de um a
quatro anos j distingue a maioria do pares de sons, sendo que por volta dos seis meses j
reconhece muitos dos sons da fala de sua lngua e continua partir da catalogando os sons
da fala.
Conforme o dicionrio Aurlio (Ferreira, 2004) o termo discriminar significa
diferenciar, distinguir ou discernir; j o termo perceber significa adquirir conhecimento dealgo por meio dos sentidos; formar idia de, abranger com a inteligncia, entender,
compreender. Embora Rodrigues (1981) tenha descrito o termo discriminao auditiva como
sendo a habilidade de distinguir auditivamente a diferena entre os sons da fala, neste trabalho
este termo no ser considerado o mais apropriado, pois muito abrangente (auditiva poderia
referir-se a qualquer som). Acredita-se que o termo percepo tambm no seja o mais
adequado, pois perceber os sons tomar conscincia deles, adquirir conhecimento, entender.
Perceber no garante que eles sejam diferenciados; para isso necessria a discriminao.Assim, neste trabalho o termo discriminao fonmica ser utilizado como sendo a
discriminao dos sons da fala, os fonemas. Salienta-se, entretanto, que ao citar pesquisas de
outros autores ser utilizado o termo usado pelo autor.
2.4 Pesquisas relacionadas discriminao auditiva/ discriminao fonmica
Muitas pesquisas foram realizadas para investigar a discriminao auditiva em grupos
especficos de crianas. Algumas destas pesquisas sero descritas a seguir.
2.4.1 Pesquisas do perodo pr-natal e neonatal
Northern & Downs (op. cit.), investigando o desenvolvimento das habilidades
auditivas pr-natais e neonatais, referem que ao nascer, a criana j tem preferncia pela voz
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da me em detrimento de outras vozes. Vrios estudos citados pelos autores apiam a hiptese
de que muitas experincias auditivas antecederam esta capacidade do recm-nascido. Assim,
os autores conjeturam que o sistema auditivo do feto deve ser pr-adaptado para realizar as
vrias discriminaes (capacidade inata), que j aparecem no recm-nascido. A capacidade
para estas discriminaes dependeria de sistema auditivo e sistema nervoso central normais, e
j estariam presentes no 5 ms de vida intra-uterina. As discriminaes inatas que auxiliam
na preferncia pela voz da me requerem competncias auditivas para discriminar: ritmo,
entoao, variao de freqncia, acento (aspectos supra-segmentais da fala) e componentes
fonticos (aspectos lingsticos).
Com quatro semanas de vida, o beb j capaz de distinguir contrastes fonmicos em
sinais sonoros, como pode ser medido pelas mudanas no ritmo cardaco (Northern & Downs,1989). O fato de que o beb capaz de discriminar os aspectos acsticos da fala significa que
ele pode dividir em segmentos distintivos, uma dose acstica quase contnua. Esta capacidade
de transformar a linguagem em elementos distintos uma base para a competncia completa
da linguagem. E conforme Northern & Downs (op. cit.), o fato de o beb poder fazer isto logo
no comeo da aquisio da linguagem, significa que ele no tem de aprender que esta
formada por elementos distintos, ou seja, uma capacidade inata.
2.4.2 Crianas com atraso de linguagem
Tallal & Stark (1980) desenvolveram um estudo sobre a percepo auditiva, visual e
cruzada (auditiva-visual), envolvendo 40 crianas com atraso de linguagem e 48 crianas
normais (grupo controle) de escolas da mesma regio, com idades compreendidas entre 5:0 e9:0 anos. Os resultados gerais deste estudo indicam que as crianas com atraso de linguagem
so mais defasadas na percepo auditiva do que na visual ou cruzada, embora tambm
apresentem dficit nestas duas modalidades.
Em relao percepo auditiva, as crianas com atraso de linguagem tm prejuzo
especificamente na discriminao entre sinais acsticos que incorporam mudanas rpidas,
sejam eles verbais ou no-verbais. O grupo de crianas com atraso de linguagem teve
desempenho muito inferior ao grupo controle ao responder seqncias de sons apresentadas
muito rapidamente.
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2.4.3 Crianas com distrbio especfico da linguagem
Leonard, McGregor & Allen (1992), desenvolveram uma pesquisa para determinar se
a dificuldade das crianas falantes do ingls e com Distrbio Especfico da Linguagem (DEL)
na percepo dos contrastes tem ligao com a limitao da morfologia gramatical. Os autores
formaram dois grupos de crianas: o grupo controle e o grupo das crianas com DEL, ambos
com oito sujeitos, com idades entre 4:6 e 5:7 anos, sendo 4 do sexo feminino e 4 do
masculino. Todos os sujeitos passaram por triagem auditiva, exame das funes motoras-
orais, avaliao da linguagem (TOLD-P) e da capacidade de pronunciar as consoantes
exigidas na testagem durante o uso de inflexes gramaticais. Alm disso, tinham QI acima de85 e no apresentavam evidncias de disfuno neurolgica.
Foram sintetizados cinco pares de estmulos: [ba] e [da], [dab] e [dab], [i] e [u], [dab-
i-ba] e [dab-u-ba], [das] e [da], sendo que o primeiro representante de cada par era o som-
alvo e o segundo o som de comparao. Os sujeitos foram instrudos a abaixar um painel
circular, toda vez que ouvissem um som-alvo e a no pressionar o painel quando um som de
comparao fosse ouvido. Os autores consideravam que a criana conseguia perceber o
contraste perceptivo quando respondesse corretamente a 12 das 16 apresentaes de
estmulos.
Como resultados, os autores concluram que todas as crianas do grupo controle e 6
das 8 crianas com DEL conseguiram perceber [dab] e [db],mas apenas 6 das 8 do grupo
controle e 2 do grupo com DEL conseguiram perceber a diferena entre [ba] e [da]. As
crianas com DEL mostraram grande dificuldade em perceber os contrastes entre [das] e
[da]. Isto ocorreu tambm para [dab-i-ba] e [dab-u-ba] mas no para [i] e [u]. Neste caso,
comprovou-se a maior dificuldade das crianas com DEL na morfologia gramatical. Embora
as crianas com desenvolvimento normal da linguagem conseguissem um desempenho
satisfatrio no teste, tambm para elas era mais difcil perceber [das] e [da], [dab-i-ba] e
[dab-u-ba].
A partir desses resultados, os autores levantaram duas hipteses para as dificuldades
das crianas com DEL: uma seria a de que essas crianas possuem um dficit nas habilidades
perceptivas e outra que aquelas possuem uma limitao mais geral, de memria. Leonard,
McGregor & Allen (1992) concluem o estudo dizendo que acreditam mais na primeira
hiptese.
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2.4.4 Crianas com desvio fonolgico
Em outro trabalho, Rvachew (1994) investigou a importncia do treinamento da
percepo da fala no tratamento de crianas com desvio fonolgico. A finalidade do estudo
foi demonstrar que o treinamento da percepo da fala poderia facilitar o aprendizado da
produo dos sons em crianas que apresentavam problemas na produo do //. No estudo,
foi usado um jogo de computador para ensinar uma grande amostra de crianas a identificar
sinais naturais de fala pertencentes ou no categoria do //. Os sujeitos foram 21 meninos e
seis meninas com idades entre 42 e 66 meses. Eles foram avaliados por um fonoaudilogo, oqual diagnosticou o desvio fonolgico.
Os resultados deste estudo demonstraram que o programa de treinamento da percepo
da fala conduzido por computador, fornecido ao mesmo tempo do que o treinamento da
produo do som, pode facilitar a aprendizagem da produo do som para algumas crianas.
Alm disso, a seleo dos contrastes para o treinamento da percepo da fala deve ser paralela
seleo dos contrastes para treinamento da produo. Inicialmente devem ser utilizados sons
com oposies mximas de contrastes e gradualmente devem ser inseridas distinesmnimas. A autora salienta tambm que a inteno primria do treinamento de fala instruir a
criana a prestar ateno variabilidade acstica relevante para diferenciar as categorias de
sons.
Wolfe, Presley & Mesaris (2003) realizaram uma pesquisa cujo objetivo era comparar
duas abordagens no tratamento articulatrio com fins de explorar a relao entre a melhora
articulatria e a identificao do som, antes e depois do treinamento. Para isto, aplicaram dois
tipos de tratamento articulatrio, um incluindo treinamento de produo e identificao dossons e outro incluindo apenas treinamento de produo. A amostra constou de sete meninos e
duas meninas, com idades entre 41 e 50 meses. Todos os sujeitos apresentaram desvio
fonolgico severo, com estimulabilidade a nvel silbico para pelo menos trs fonemas.
No foi encontrada nenhuma diferena significativa na produo dos sons treinados
em relao aos dois tipos de tratamento, bem como no houve diferena em relao aos sons
que eram bem identificados antes do tratamento. Para os sons que no eram bem identificados
antes do tratamento, houve melhor evoluo (com diferena significativa) nas crianas que
receberam treinamento simultneo. As autoras concluram tambm que a habilidade de
identificao do som existente antes do tratamento, influenciou apenas na sensibilidade
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daquelas crianas que foram tratadas somente com produo, sendo que o treinamento desta
tende a melhorar a identificao dos sons.
Vrios autores sugerem que a inabilidade em discriminar auditivamente os sons pode
ser um fator causal para o desvio fonolgico evolutivo (DFE). Um estudo que relaciona a
discriminao auditiva com os DFE o de Keske-Soares, Mota & Costamilan (2001), que
procurou verificar a relao entre os fonemas alterados na fala das crianas e os erros
identificados no Teste de Figuras para Discriminao Auditiva (Mota, Keske-Soares &
Vieira, 2000), baseado no The Boston University Speech Sound Discrimination Picture Test.
Foram avaliadas 17 crianas com DFE, 11 do sexo masculino e 6 do sexo feminino, com
idades compreendidas entre 4:0 e 7:0. Alm do Teste de Figuras para Discriminao
Auditiva, realizou-se a AFC (Yavas, Hernandorena & Lamprecht, 1992), avaliaootorrinolaringolgica e audiolgica.
Das crianas estudadas, 23,53% apresentaram desempenho inferior a 62 % no Teste de
Discriminao Auditiva, sendo que os mesmos fonemas alterados no teste encontravam-se
alterados na fala. Outras 47,06% das crianas apresentaram acertos entre 64 e 79% no Teste
de Discriminao Auditiva, mas os fonemas alterados nele no eram os mesmos da fala.
Finalmente, 29,41% das crianas no apresentaram alteraes no Teste de Discriminao
Auditiva. As autoras concluem que percentuais baixos de acertos no Teste de Figuras paraDiscriminao Auditiva podem indicar dificuldade de discriminao auditiva associada
alterao de fala.
Mota et al (2002) realizaram uma pesquisa onde procuraram verificar como crianas
com desvio fonolgico realizam os fonemas no discriminados no Teste de Figuras para
Discriminao Auditiva (Mota, Keske-Soares & Vieira, op. cit.). Foram avaliadas 34 crianas
com desvios fonolgicos, com idades entre 4:0 e 7:0, atendidas no Servio de Atendimento
Fonoaudiolgico da Universidade Federal de Santa Maria /RS. Os resultados apontam que osfonemas no discriminados tm uma alterao correspondente nos sistemas fonolgicos,
sendo apagados ou substitudos. Isto indica que estes desvios fonolgicos podem estar
relacionados com dificuldade de discriminar os sons auditivamente, prejudicando sua
estabilizao no sistema fonolgico.
Em um trabalho, Santos et al (2003) relacionaram o grau de severidade do DFE
(segundo Shriberg & Kwiatkowski, 1982) com a discriminao auditiva. O grupo pesquisado
constituiu-se por 16 sujeitos, com idades entre 4:0 e 7:1, que recebiam atendimento no
Servio de Atendimento Fonoaudiolgico da UFSM. Destes sujeitos, quatro apresentavam
desvio mdio, seis apresentavam desvio mdio-moderado e outros seis, desvio
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moderadamente-severo. Para cada grau de severidade do desvio, foi calculada a mdia de
acertos no Teste de Figuras para Discriminao Auditiva (Mota, Keske-Soares & Vieira,
2000).
Analisando-se os resultados, constatou-se que os sujeitos com desvio mdio
apresentaram melhores resultados na discriminao auditiva e praticamente no houve
diferena nos resultados da discriminao auditiva dos outros dois graus de desvios. As
autoras concluram que a discriminao auditiva pode estar relacionada com o grau de
severidade do desvio, sendo melhor nos sujeitos com desvio mdio.
Para verificar se a habilidade de discriminao auditiva melhora com a idade e
diferente para os sexos, Santos et al (2004) estudaram esta habilidade em 41 crianas, com
idades entre 4:11 e 7:11, que tinham DFE. As crianas foram divididas em trs grupos deacordo com a faixa etria, e para cada grupo calculou-se a mdia de acertos no Teste de
Figuras para Discriminao Auditiva (Mota, Keske-Soares & Vieira, op. cit.). As autoras
concluram que, assim como nas crianas sem distrbio da comunicao oral (Rodrigues,
1981), a discriminao auditiva melhora com a idade. No entanto, o melhor desempenho de
cada sexo parece estar ligado a uma determinada faixa etria; no grupo estudado, o sexo
feminino teve melhor desempenho nas faixas etrias entre 4:11 e 5:11 e 5:11 e 6:11, enquanto
que o sexo masculino desempenhou-se melhor na faixa etria de 6:11 a 7:11.Santos (2005), desenvolveu uma pesquisa onde investigou a habilidade de discriminao
auditiva em 41 crianas com DFE, sendo 16 do sexo feminino e 25 do sexo masculino, com
idades compreendidas entre 4:0 e 8:2, que recebiam ou haviam recebido tratamento
fonoaudiolgico no CELF/ SAF da UFSM. O objetivo da pesquisa era descobrir se os
fonemas alterados no sistema fonolgico so os mesmos no discriminados no teste de
discriminao auditiva e se as habilidades de discriminao auditiva relacionam-se com o
sexo, a idade e o grau de severidade do DFE. Os dados utilizados foram coletados por meiodo Teste de Figuras para Discriminao Auditiva (Mota, Keske-Soares & Vieira, op. cit.) e da
Avaliao Fonolgica da Criana (Yavas, Hernandorena & Lamprecht, 1992).
Aps anlise dos dados, observou-se que no houve diferena estatisticamente
significante de desempenho no teste de discriminao auditiva entre os sexos e que o melhor
desempenho no teste est correlacionado estatisticamente ao avano da idade cronolgica.
Verificou-se que a ocorrncia de inabilidade de discriminao auditiva maior em crianas
com DFE do que em crianas sem distrbios da comunicao. Por fim, concluiu-se que a
inabilidade de discriminao auditiva pode ser um fator causal ou agravante do DFE, embora
no se aplique a todos os casos.
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2.4.5 Crianas sem distrbio da comunicao
Com o objetivo de estudar o desenvolvimento da habilidade de discriminar sons
quanto ao sexo e a idade cronolgica, Rodrigues (1981) elaborou um teste para avaliar a
discriminao auditiva com slabas e o aplicou em 391 crianas oriundas de escolas
particulares de Campinas, no estado de So Paulo. Foram formados oito grupos de crianas de
acordo com a faixa etria, sendo o primeiro grupo constitudo por crianas com idades entre
5:0 e 5:5, o segundo constitudo por crianas com 5:6 at 5:11, e assim consecutivamente at
o ltimo grupo, com crianas de 8:6 at 9:0 incompletos. O critrio de seleo das crianas foi
a ausncia de distrbios da compreenso e expresso orais. Todos os indivduos sesubmeteram a um exame otoscpico e a umscreeningaudiolgico. O teste foi composto por
trinta pares de slabas, dos quais dez eram iguais e vinte eram diferentes quanto aos traos de
sonoridade e de nasalidade e quanto ao ponto e modo de articulao.
Analisando os resultados, Rodrigues (op. cit.) concluiu que houve uma evoluo na
habilidade de discriminar slabas auditivamente, acompanhando a idade cronolgica. Mas
essa melhora na habilidade de discriminao auditiva no homognea para os sexos. No
sexo masculino, a habilidade evolui para melhor, lentamente, dos 5:0 at os 6:5, e apresentaum discreto pico de melhora entre 6:6 e 7:0 incompletos. No sexo feminino, este pico (plat)
de melhora ocorre dos 6:0 at os 7:5, sendo que nos grupos de faixa etria inferior ou superior
a estas idades a melhora lenta. Entre 7:0 e 7:5, os sujeitos do sexo masculino apresentam um
melhor desempenho do que os sujeitos do sexo feminino. Essa situao se inverte entre 7:6 e
8:0. Aps os 8:0, a habilidade de discriminao auditiva evoluiu sem diferenas entre os
sexos.
Essas diferenas de plat entre os sexos sugerem que a maturao para esta habilidadeocorre em momentos e intensidades diferentes para os sexos. Mas Rodrigues (1981) afirma
que, apesar de terem sido encontradas diferenas no desempenho em habilidades de
discriminao auditiva entre os sexos, estas no foram estatisticamente significantes, exceto
nas faixas etrias compreendidas entre 6:0 e 6:5 e 7:5 a 7:11, ambas com melhor desempenho
do sexo feminino.
Para investigar se o meio social exerce influncia no desenvolvimento das habilidades
envolvidas na percepo dos sons, Ribas (2001) desenvolveu uma pesquisa com escolares de
Curitiba, com idades entre 4:6 e 5:6. A autora dividiu os escolares em dois grupos, de acordo
com a condio social. O grupo A era formado por crianas de classe mdia-alta, que
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freqentavam escolas particulares em um turno e faziam atividades extra-classe em outro
turno, como bal, jud, coral e teatro. O grupo B era formado por crianas de classe baixa,
que freqentavam creches do municpio durante todo o dia. Ambos os grupos tinham 40
crianas, sendo 20 de cada sexo.
Foram realizados os testes de localizao sonora, memria seqencial, discriminao e
compreenso auditivas. Os resultados indicam que no h diferena entre os grupos na
habilidade de localizar a fonte sonora. No entanto, o grupo A apresentou melhor desempenho
nas provas de memria, discriminao e compreenso auditivas. Com isto, a autora concluiu
que a qualidade do meio no qual a criana est inserida influencia no desenvolvimento da
percepo auditiva.
2.5 Deteco fonmica: habilidade de conscincia fonolgica
2.5.1 Conscincia lingstica
Segundo Cielo (2001) a conscincia lingstica uma habilidade lingstica especial
que permite refletir sobre a lngua, trat-la como objeto de anlise e observao, focalizar a
ateno nas suas formas e concentrar-se na expresso lingstica. A metalinguagem ou
capacidade metalingstica diferencia-se da conscincia lingstica pelo fato de poder
explicit-la verbalmente, lanando mo da linguagem para falar sobre a prpria linguagem.
A conscincia lingstica composta por diferentes nveis, sendo eles: textual,
pragmtico, semntico, sinttico e fonolgico (Zorzi, 2000). Cielo (2001) apresenta a ordemhierrquica de desenvolvimento das habilidades de conscincia lingstica, enfatizando que
ela varia em funo do nvel de aquisio da linguagem: habilidades em conscincia
semntica, habilidades em conscincia sinttica, conscincia fonolgica. Somente mais tarde
surgem as habilidades pragmticas e textuais, tendo relao direta com a leitura.
Conforme esta autora, a conscincia lingstica resultado do desenvolvimento e
amadurecimento biolgico em constantes trocas com o meio. Cielo (1996) afirma que na
fase dos quatro aos oito anos de idade que ocorre o surgimento das habilidades
metalingsticas.
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A conscincia lingstica uma habilidade especial que ocorre de maneira lenta e
intencional, diferentemente do processamento lingstico automtico ou comunicacional
(Cielo, 1996). A funo do processamento lingstico automtico garantir a produo e
recepo da mensagem, garantindo sua transmisso. A conscincia lingstica uma
habilidade controlada, e no automtica (Cielo op. cit.).
2.5.2 Conscincia fonolgica
Viu-se anteriormente que a conscincia fonolgica um dos nveis da conscincialingstica. Zorzi (2000) define a conscincia fonolgica como sendo a capacidade
metalingstica que permite refletir sobre as caractersticas estruturais da fala, assim como
manipul-las. Morales et al (2002) tambm definem a conscincia fonolgica como sendo a
habilidade do indivduo em refletir e manipular os segmentos da fala.
Cielo (2001) enfatiza que as habilidades em reconhecimento e produo de rimas,
anlise, sntese, reverses e outras manipulaes silbicas e fonmicas e as habilidades em
realizar correspondncias entre fonemas e grafemas so integrantes da conscincia fonolgica.Zorzi (op. cit.) coloca que os diferentes nveis de conscincia fonolgica so: conhecimento
ou sensibilidade rima, conhecimento silbico, conhecimento intra-silbico e conhecimento
segmental ou fonmico. O autor diz que alguns nveis so desenvolvidos espontaneamente,
independentes do ensino formal da escrita; outros, mais elaborados, dependem da evoluo
que o ser alcana na alfabetizao.
Para Zorzi (op. cit.) o conhecimento fonolgico no deve ser entendido como uma
habilidade nica ou linear, pois h conhecimentos que podem ser elaborados em maior oumenor grau de profundidade. Freitas (2004) observa que a conscincia fonolgica no algo
que as crianas tm ou no tm, mas habilidades apresentadas em maior ou menor grau.
Aps revisar vrias pesquisas da rea, Cielo (op. Cit.) diz que de modo geral a ordem
crescente de emergncia das habilidades de conscincia fonolgica : identificao e
produo de rimas, seguidas de habilidades em conscincias silbicas, conseguintes das
habilidades em conscincia fonmica e por fim, da conscincia de traos fonticos.
A conscincia fonolgica pode ser manifestada em um nvel implcito ou explcito.
Segundo Freitas (2004), o jogo espontneo com os sons das palavras representa a conscincia
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implcita, enquanto que a anlise consciente desses sons caracteriza a conscincia fonolgica
explcita.
2.5.3 Conscincia fonmica
Segundo Cielo (1996) a conscincia fonmica a habilidade em reconhecer que um
signo semiolgico consiste em uma seqncia de sons individuais. Para a autora, clara a
distino entre a habilidade de analisar a fala explicitamente em seus componentes
fonolgicos (conscincia fonolgica) e os processos inconscientes e automticos pelos quais alngua habitualmente percebida e compreendida. Ou seja: no h uma relao direta entre a
discriminao de sons lingsticos (conscincia fonmica) e a habilidade em discriminar
fonemas, pois a discriminao funcional entre dois sons lingsticos no implica
identificao consciente das diferenas fonolgicas entre esses sons (Cielo, op. cit.).
Para Freitas (op. cit.), a conscincia fonmica ou nvel dos fonemas compreende a
capacidade de dividir as palavras em fonemas; para isso necessrio o reconhecimento de que
uma palavra , na verdade, um conjunto de fonemas. Fazendo parte da conscincia fonmicaest a deteco fonmica. Porm:
A deteco de fonemas pode ser realizada na ausncia de conscincia fonmica devido ao fato depistas fonticas como durao e intensidade do fonema auxiliarem a deteco, podendo serconsiderada uma forma holstica de conscincia fonolgica. Assim, o sujeito pode ser sensvel scaractersticas fonticas de determinado fonema sem conseguir represent-lo e manipul-loconscientemente. (Morais, 1991, apud Cielo, 2001, p.52).
No foi encontrada na literatura pesquisada nenhuma referncia s ligaes entre a
habilidade de discriminao fonmica (habilidade auditiva) e a deteco fonmica (habilidade
de conscincia fonmica). Assim, a habilidade de discriminao fonmica, tema desta
pesquisa, ser vista como uma habilidade auditiva e no de conscincia fonolgica/ fonmica.
Isto porque ela no uma habilidade controlada, consciente, e sim automtica, presente desde
o nascimento ou at antes dele (conforme pesquisas citadas anteriormente). Ela desenvolve-se
muito antes do incio do desenvolvimento da conscincia fonolgica, sendo imprescindvel
para a aquisio da linguagem.
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2.6 Noes de fonologia relevantes a este trabalho
2.6.1 Fonologia
Conforme Grunwell (1990) a fonologia descreve a organizao e as funes dos
constituintes fonticos da fala como sistema sinalizador da linguagem falada. Yavas,
Hernandorena & Lamprecht (1992) referem que a fonologia a cincia que estuda os fonemas
e a maneira como eles se organizam e se relacionam, alm das regras a que esto sujeitos, a
fim de formarem unidades lingsticas maiores, como as slabas e palavras. Segundo Lowe(1996), a fonologia vista como o estudo de como os sons so organizados e funcionam na
comunicao. Preocupa-se, assim, com o sistema de sons contrastantes da fala e como eles
so usados ao se transmitir o significado. Lamprecht (1999) diz que quando se fala em
fonologia, se est falando, por definio, em organizao, em contraste e em sistema.
Para Callou & Leite (1990) fonologia cabe o estudo das diferenas fnicas
intencionais, distintivas, que se vinculam s diferenas de significao, estabelecendo como
se relacionam entre si os elementos de diferenciao e quais as condies em que secombinam uns com os outros para formar morfemas, palavras e frases. Cagliari (2002) diz
que a fonologia faz uma interpretao dos resultados apresentados pela fontica, em funo
dos sistemas de sons das lnguas e dos modelos tericos que existem para descrev-los. A
fonologia , portanto, interpretativa e a anlise fonolgica baseia-se no valor dos sons dentro
de uma lngua, ou seja, na funo lingstica que eles desempenham nos sistemas de sons das
lnguas.
A aquisio da linguagem uma tarefa complexa que envolve vrias aquisiessimultneas (Mota, 1996). Para a autora, a aquisio fonolgica uma parte desse processo
que permite criana lidar com o sistema de sons de sua lngua levando a um incremento de
todas as outras habilidades lingsticas. Esta aquisio tambm influenciada pelo
desenvolvimento em outras reas tais como o desenvolvimento neuro-motor, cognitivo e
perceptual.
Mota (op. cit.) refere que a aquisio da fonologia de uma lngua implica no
aprendizado de vrios aspectos relacionados aos sons que compem o sistema desta. Assim, a
criana deve aprender quais sons que so possveis em cada posio na palavra, quais as
seqncias de sons que podem ocorrer em uma mesma slaba, onde fica o acento de cada
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palavra, etc. A maioria das crianas aprende todos esses aspectos somente a partir das
evidncias do input, sendo que em geral no h um ensino direto dessas habilidades.
Todas as lnguas do mundo organizam-se em sistemas fonolgicos que so regidos
pelos mesmos princpios (Cagliari, 2002): tm fonemas e alofones, o ambiente fonolgico
exerce presses estruturais, h slabas, ocorrem pausas, os sons apresentam-se numa ordem
linear nos enunciados, h seqncias de sons permitidas e outras proibidas. O que peculiar a
cada uma a escolha de possveis elementos para exercerem as funes fonolgicas, alm da
maneira como se estruturam para formar a realidade oral da lngua.
2.6.2 Fonemas
Definindo os fonemas, Yavas, Hernandorena & Lamprecht (1992) dizem que eles so
unidades distintivas em uma lngua, isto , tm a propriedade de distinguir significados.
Callou & Leite (1990) definem o fonema como a menor unidade fonolgica da lngua.
Segundo Cagliari (op. Cit.) os sons que tm a funo de formar os morfemas e que,
substitudos por outros ou eliminados mudam o significado dos mesmos, so chamados defonemas. Os fonemas, portanto, so sons que estabelecem uma relao de oposio entre si.
Diz-se que esto em oposio fonolgica ou tm um valor distintivo no sistema da lngua.
Caplan (1996) refere que um fonema um som que contrasta com outro e determina a
existncia das palavras da lngua. Os fonemas de cada lngua so selecionados a partir de uma
pequena gama de fones contrastivos que representam sons que podem ser produzidos pelo
trato vocal humano.
Matzenauer (2004) expe que toda lngua um sistema constitudo de diferentesunidades fonemas, slabas, morfemas, palavras, frases cujo funcionamento governado
por regras e/ ou restries. A autora define sons da fala como sendo aqueles emitidos pelo
aparelho vocal humano, diferentemente de fonemas de uma lngua, que so os sons
pertinentes para a veiculao de significado. Todo falante possui uma representao
fonolgica (mais abstrata) que contm os fonemas que identificam a lngua e uma
representao fontica, constituda pelos sons, de acordo com suas propriedades articulatrias
e acsticas.
Os fonemas podem ser divididos em vogais e consoantes. As vogais so, para Knies &
Guimares (1989), sons produzidos com a passagem da corrente de ar bastante livre, que
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constituem sempre o ncleo da slaba. J as consoantes so sons que oferecem obstruo total
passagem do ar, ou parcial com frico, e caracterizam-se por aparecerem na periferia da
slaba. Conforme Callou & Leite (1990) as vogais se opem s consoantes por serem
acusticamente sons peridicos complexos e porque sobre elas podem incidir acento de tom e/
ou intensidade. Toda lngua tem ao menos uma distino de vogal e consoante, refletindo o
extremo contraste entre um trato vocal aberto (vogal) e um trato vocal fechado (consoante)
(Caplan, 1996).
Conforme Machado & Pereira (1997), as vogais carregam a energia da fala. Elas so
eventos sonoros que, na coarticulao da fala, so modificados pelas consoantes que as
antecedem ou precedem.
Numa descrio mais acstica dos fonemas, Russo & Behlau (1993) descrevem asvogais como sons sonoros, longos em durao, intensos em energia e com um padro de
freqncia bem definido, pois so produzidos pela vibrao quase peridica das pregas
vocais. As consoantes, para estas autoras, so rudos produzidos pelas inmeras fontes
friccionais situadas em diversas regies do trato vocal, que produzem sons aperidicos cujo
espectro inclui uma gama de freqncias, sem resoluo de continuidade.
Machado & Pereira (op. cit.) expe as principais caractersticas que auxiliam na
discriminao de cada grupo de consoantes. Sobre os fonemas plosivos as autoras afirmamque:
A discriminao dos fonemas plosivos realizada pelas pistas auditivas como: a fora dearticulao, que maior nos fonemas surdos, grau de aspirao da consoante, que vlido apenaspara o fonema /k/ e ser uma excelente pista para discriminao deste fonema, se o realizarmoscom maior grau de aspirao; transio das vogais adjacentes, mais marcada nos sonoros, duraoda vogal precedente ao fonema plosivo, pois as vogais que precedem fonemas sonoros so 40%mais longas e ao acentuarmos essa pista na emisso dos fonemas plosivos sonoros, estaremosfavorecendo a discriminao dos mesmos e o tempo de incio de sonorizao ou VOT. (Machado &Pereira, 1997, p 62)
Os fonemas fricativos so os mais fracos e agudos do portugus brasileiro, sendo que a
durao da frico a pista auditiva principal para a discriminao desta classe de fonemas
(Machado & Pereira, op. cit.). Nos fonemas lquidos a durao dos fonemas a pista que mais
auxilia na discriminao. J nos fonemas oclusivos nasais, que so muito graves, a
discriminao realizada principalmente pela soltura da ocluso oral bem definida.
Os inventrios de fonemas diferem entre as lnguas: sons presentes em uma podem
estar ausentes em outra (Mota, 1996). Segundo Caplan (1996), os fonemas de uma dada
lngua so parcialmente selecionados com base em fatores da linguagem universal e em partepor processos especficos da linguagem. Os fatores da linguagem universal ditam que alguns
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fonemas so mais provveis de ocorrer na lngua do que outros, por duas razes: eles so mais
fceis de produzir e eles representam contrastes mais extremos dos gestos articulatrios.
Para Callou e Leite (1990), na lngua portuguesa h 26 fonemas segmentais, sendo 19
consoantes e 7 vogais. Mota (1997) refere que o sistema consonantal do portugus formado
por seis consoantes oclusivas: /p, b, t, d, k, g/, seis consoantes fricativas: /f, v, s, z, , /, trs
nasais: / m, n, / e quatro lquidas: / l, r, R/.
2.6.3 Traos distintivos
Os fonemas podem ser subdivididos em unidades menores, chamadas traos
distintivos. Caplan (op. cit.) diz que muitos autores tm concordado que todos os fonemas
consistem em grupos de traos distintivos. Conforme Yavas, Hernandorena & Lamprecht
(1992), os sons da lngua so o resultado do conjunto de propriedades que caracterizam a sua
produo: os traos distintivos. E estes traos so as unidades mnimas que se unem para a
composio de um segmento da lngua (fonema), e podem identificar este fonema ou
distingui-lo dos demais. Yavas, Hernandorena & Lamprecht