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Despedida de Solteira Telyka Madelynne 1 Telyka Madelynne Publicação Amor & Livros Digital www.amorelivros.justtech.com.br TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.

Telyka Madelynne - Despedida de Solteira · 2017. 12. 18. · verdadeiro nome, tinha um só irmão, Enrico. Para ela, o melhor homem do mundo depois do pai. Cecília, sua mãe, não

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Despedida de Solteira Telyka Madelynne

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Telyka Madelynne

Publicação Amor & Livros Digital

www.amorelivros.justtech.com.br

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.

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Despedida de Solteira Telyka Madelynne

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Despedida de Solteira, Copyright© 2008 Telyka Madelynne

Publicação junho de 2009

Arte da Capa: Amor&Livros Digital

Este livro não pode ser reproduzido ou usado em inteiro ou em parte de forma alguma, sem a permissão expressa da autora.

Isadora jamais poderia imaginar que sua despedida de solteira pudesse marcar

tanto sua vida... Uma noite de tragédia, de dor e conhecimento que ao longo dos meses de

intenso sofrimento, lhe trouxera o mais doce lenitivo.

O fruto daquela insana noite, seu filho, não conhecia o pai, pois dele só se lembrava

da forma intensa com que se amaram. O prazer e o carinho que encontrara nos braços

daquele homem envolvente se transformaram num remorso profundo que a fizera jogar

para o fundo da mente, qualquer lembrança do homem que a fizera trair a confiança do

noivo e de seus pais.

Nem toda a autoconfiança e o magnetismo de Maximiliano o impediram de

surpreender-se ao encontrar depois de tantos anos, a mulher que lhe entregara o mais

precioso dos presentes. Ali, a poucos passos, a Odalisca que fora a causa de muitas de

suas noites insones, dançava prazerosamente nos braços de seu sócio.

CAPÍTULO I

A festa de casamento estava no auge quando ela entrou. Alheios a quem não fosse de

sua classe, no salão de festas do luxuoso hotel a beira da praia, a maior parte dos convidados

criteriosamente selecionados por sua tia conversava em pequenos grupos.

Um suspiro de resignação brota de seus lábios, enquanto esgueira-se por entre as

mesas ricamente decoradas, em direção ao casal de noivos que rodeados por algumas pessoas,

conversavam a um canto.

A orquestra afinada brindava-os com músicas de época, enquanto vários casais

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dançavam alegremente.

- Não é a pequena Isadora?

Ouve os murmúrios enquanto passa entre as mesas mais concorridas. Arrepende-se por

não ter seguido sua intuição a princípio, em atravessar a pista lotada.

- Pequena, - resmunga com desdém, enquanto empina o pequeno nariz.

Com um pouco mais de um metro e setenta, Isadora nada tinha de pequena e nunca até

então havia se revoltado com o apelido carinhoso que o pai lhe dera, quando vira a filha

crescer além dos padrões normais. Ver seu apelido exposto entre os amigos esnobes de sua tia

a irrita, mas à vontade de ver a prima e melhor amiga é maior. Por Sandra, valia a pena

enfrentar por algumas horas a especulação e os olhares de que era alvo, ora dissimulados, ora

francamente desdenhosos, toda vez que se via na obrigação de participar de algum evento

programado pela tia.

A máscara de frieza que usava para essas ocasiões não deixava transparecer o desdém

que a invadia toda vez, e graças a Deus e sua vontade não eram constantes, que se encontrava

com os antigos amigos da família.

- Hipócritas, – pensa enquanto sorri aliviada para a noiva que lhe acena

exageradamente, sem se importar em ser repreendida pela senhora altaneira e orgulhosa que

estava do seu lado.

Afetada e francamente desgostosa, Tia Iliana mal espera sua chegada para lhe lançar

às primeiras alfinetadas.

- Você demorou, pequena Isa, perdeu toda a cerimônia. O que aconteceu? Quebrou

aquela lata velha que chama de carro ou não iria suportar ver sua prima realizar o que você

ainda não conseguiu?

- Não, titia. – Isadora enche-se se paciência ao notar os sinais que a noiva fazia por

traz das costas da mãe, explica-se - Estava terminando uma tela e acabei por perder a hora.

- Isadora! Pensei que não viria mais. Como demorou...

Ao ver a mãe se distanciar logo após o ataque, Sandra se levanta do pequeno palco, uma

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grande ostra de coral em que estava sentada com o noivo, para envolvê-la em uma nuvem

branca de babados, cetim e bordados enquanto é abraçada fortemente.

- Obrigado por não se importar em retrucar como ela merece Isa, sabe como ela é.

Mamãe não consegue viver sem alfinetar alguém. E Matheus, não o trouxe? – Sandra pergunta

enquanto limpa com os dedos finos e ágeis, os resíduos de baton do rosto da prima.

- Que jeito? Depois de correr o dia inteiro e de deixar Mariana quase louca, desmaiou

na cama assim que jantou. Nem se lembrou de tua festa. Estava entregue ao cansaço.

- Que pena, eu prometi lhe dar meu buquê, – Sandra faz um muxoxo. – Ele vai te cobrar

amanhã.

- Sandra... – Isadora sorri ante o trejeito da prima – O que ele ia conseguir do buquê,

no meio de tanta moça que o espera?

- Por acaso, minha noivinha querida, não quer me doar para esse monumento de mulher

bonita? – Miguel, o marido de Sandra se aproxima e coloca os braços sobre os ombros das

duas.

- Eu o pegaria com as duas mãos se não fosse marido de minha melhor amiga. - Isadora

entra na brincadeira de Miguel, beijando o rosto que ele oferece.

- Já imaginaram se pudesse me casar com as duas? – Ele suspira com exagero.

- Morreria! – Elas respondem uníssonas, sorrindo.

- Sandra é tua continuação, meu querido.

- Você está linda, Isa. Que bom que pode vir. – Sandra mais uma vez abraça a prima. –

Temi que não viesse...

- Sabe que não sou chegada a festas, Sam. Só estou aqui hoje por que o dia é teu.

- Sei bem, minha querida. Perdoe-me por não conseguir outra data. Não sabe o quanto

pensamos, Miguel e eu, em transferir a cerimônia para o mês que vem, mas parece que todas as

noivas de nossa cidade resolveram se casar nesta Igreja e não conseguimos outra data

disponível...

- Minha preciosa namorada veio me ver? – O pai de Sandra se manifesta,

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interrompendo a explicação...

A voz do tio atrás de si faz Isadora se voltar sorrindo, para encontrar os olhos

amorosos de Enrico.

- Deixe Iliana ouvir-lhe, meu sogro e adeus festa. Sabe o quanto ela adora fazer de

nossa Isa um alvo.

- Ficará só entre nós o que disse, Miguel. Sei bem o que pode acontecer... – Uma

piscadela maliciosa para o genro e Enrico abraça demoradamente a sobrinha. – Estava com

saudades, meu bem.

- Tio Enrico. – Isadora enlaça-o apertadamente sem esconder sua alegria. – Quando

chegou?

- Quase que ele não vem. – Sandra responde pelo pai. – Maximiliano, o sócio dele,

inventou de abrir uma boate em Ibiza e papai, para variar correu em sua ajuda. Acho que ele

queria umas férias de mamãe.

- Trabalhei muito, filha. Muito trabalho mesmo... Mas não está totalmente errada. –

Enrico brinca com a filha antes de voltar-se para Isadora – Lembrei muito de você nesta

viagem.

Isadora acaricia o braço do tio, único parente que lhe restava e seu maior confidente

após a morte do pai.

- Venha meu bem, vamos dançar. Minha senhoria está se aproximando e não terei outra

chance de conversar a sós com você. Estou morrendo de saudades de minha sobrinha

preferida.

- Isso por que só tem você, Isa. - Sandra os empurra alegremente para a pista de

dança. - Rápidos! Mamãe está vindo. No mínimo vai recriminá-los por estarem abraçados.

Incomum, a beleza de Isadora chamava a atenção. Os cabelos lisos e pesados, num tom

castanho caramelado, fugiam dos padrões normais formando um contraste intrigante com os

olhos levemente oblíquos e intensamente azuis, como a cor de um céu sem nuvens num dia

ensolarado. O nariz arrebitado era proporcional ao formato quadrado de seu rosto e os lábios

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cheios mostravam uma mulher sensual, mas determinada. A cintura fina e o ventre liso

valorizavam os seios firmes e fartos, marcados pelo corte discreto do vestido clássico, cuja

saia levemente rodada e quase a altura dos joelhos, mais prometia que mostrava as pernas

longas e torneadas.

Chamar a atenção por onde passava a deixava irritada. Era constante o assédio

masculino. Não eram raras às vezes em que saia de casa sem que voltasse agastada.

Independente e extrovertida, ela era dona da própria vida e deixava passar o mais fiel retrato

da mulher auto-suficiente. O que ajudava a esconder sua grande timidez, que poucas pessoas

conheciam, mas também servia de provocação à maioria dos homens que cultuavam o machismo

e não aceitavam a independência da mulher moderna.

Não pudera terminar o curso de artes plásticas, mas herdara dos pais, o dom de passar

para a tela suas mais profundas emoções. Trabalhava com afinco em suas criações, num

pequeno ateliê nos fundos da casa em que morava com o filho de pouco mais de quatro anos e

um casal de empregados, Mariana e Gerson, remanescentes dos tempos em que morava com os

pais.

Filha única de uma família de classe média alta ela fora criada sem ostentação. Os pais

médicos e de boa formação, viveram a época áurea dos hippies e das grandes mudanças do

novo mundo. Conheceram-se logo que se ingressaram na faculdade e nunca mais se deixaram.

Trabalhavam juntos no mesmo hospital, gostavam das mesmas coisas e faziam juntos os

mesmos tipos de recreação. Não se separavam por nada.

Nos finais de semana, saiam pela periferia da cidade em busca dos menos afortunados.

De coração, eles ajudavam a quem precisassem, fossem conhecidos ou não. Quase sempre

nessas excursões, eles gastavam o alto salário que recebiam.

Outras vezes munidos de blocos e grafites, saiam para o campo em busca de inspiração

e paz. Eram de onde saiam os muitos desenhos que depois passavam para a tela. A venda das

mesmas lhes aumentava consideravelmente a renda.

Isadora os acompanhava em tudo. Espiritual e intimamente ligados, os dois

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dispensavam a ela todas as atenções, sem sufocá-la. Amavam-na com a mesma liberdade com

que amavam a vida. Dr. Paulo, Pablo, como a mãe o chamava carinhosamente e era seu

verdadeiro nome, tinha um só irmão, Enrico. Para ela, o melhor homem do mundo depois do pai.

Cecília, sua mãe, não tivera família. Criada em um orfanato, estudara com afinco até

conseguir uma bolsa de estudos e assim conseguira se formar.

O dinheiro e a posição social da família do pai, não conseguiram impedir que se

amassem desde a primeira vez em que se viram. Gostavam de apregoar que um era a extensão

do outro. Que eram verdadeiras almas gêmeas.

- Está caladinha, meu bem. O que houve? Outra crise de nostalgia? – Enrico a arranca

de seus pensamentos.

Isadora fita o tio sem esconder seus sentimentos. - Estou num de meus ataques

depressivos, desculpe-me tio, viajei.

- Eu notei. Está dançando mecanicamente e isso me afeta senhorita, afinal não é todos

os dias que sou abençoado em ter uma deusa do Olimpo nos braços. Quando a tenho, ela viaja!

Realmente! Meus poderes sedutores estão envelhecendo.

Isa sorri largamente para ele enquanto lhe beija o rosto. – Desculpe, meu lindo. Seus

poderes sedutores ainda estão funcionando a todo vapor, eu é que não estou bem hoje. Só vim

por causa da Sandra, você sabe disso.

- Eu sei. Lembrei-me também... – O semblante de Enrico se fecha - Sabe qual é minha

vontade? Sair daqui agora, ir à boate e encher a cara.

- Não resolveria, meu querido. Amanhã as lembranças estariam a sua espera e o que é

pior, aliadas a uma enorme dor de cabeça. – Isadora lhe responde sorrindo. – Já lhe disse hoje

que te amo?

- Hoje ainda não. Só Sandra se lembrou de mim. Quando acordei com os resmungos de

tua tia, é claro, ela estava dormindo a meu lado toda encolhidinha e chupando o dedo,

acredita? Pareceu-me que o tempo não passara e que minha garotinha estava de volta, – Enrico

suspira antes de concluir, – e precisava da presença protetora do pai.

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- Você é o melhor pai do mundo, tio Enrico. Não deve ser fácil para ela seguir sua vida

com outra pessoa.

- Sei disso, mas fico tranqüilo. Eles se amam... Ouça! – Enrico paralisa-se. - A orquestra

parece que se apiedou de nós e está tocando um tango. Vamos nessa, meu bem?

- É para já, meu querido tio. Sabe que adoro dançar com você!

E o casal não demora a chamar atenção, mas alheios, dançam sincronizados os

complicados passos da música, sem notarem ser o alvo dos muitos olhares que os seguem.

Um, em especial, fita intensamente a moça que se entrega à música passional na pista.

Ao terminarem a dança os dois voltam para junto dos noivos que já se arrumam para

irem embora em meio à algazarra das moças que esperavam Sandra lançar o buquê para o alto.

Por capricho, o mesmo faz um arco no ar passando por cima de diversas mãos estendidas para

cair em Isadora que se aproxima.

Surpresa, ela fita o tio antes de baixar os olhos para as quatro mãos que seguram o

lindo arranjo.

- Uma verdadeira mão do destino! – Enrico lhe diz malicioso.

- Mas foi você quem o pegou, tio! Não vale... – Ela cochicha encabulada quando se vê no

centro das atenções.

- Só nós sabemos, meu bem. Para mim, ele seria suspeito e me traria encrenca das

grossas.

- Você é impossível, tio! – Ela lhe repreende entredentes, segurando o riso. – Acho que

vai perder esse belo sorriso, loguinho... Tia Iliana se aproxima.

- Era para ter caído nas mãos de uma moça, Isadora! – Iliana fala desgostosa – Por que

o pegou?

- E sou o que tia? – Isa não se contém ante a reprimenda e a provoca.

- Olhem! Max vem chegando! Maximiliano, aqui! - Enrico gesticula com certo exagero

ao homem que se aproxima.

Como o tio, e para não revidar novamente a acidez da tia, Isadora se volta para o

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recém chegado.

Seu coração acelera no peito, incomodado em ver o desconhecido que se aproxima com

passos tranqüilos, sem deixar de fitá-la. A agudez em seu olhar, a surpreende.

Não deixa transparecer a surpresa, mas enfrenta-lhe o olhar da mesma forma. Sem

dúvida, o estranho era o homem mais bonito que já vira. Era digno de um segundo exame.

Estranho, ele incomodamente exalava segurança e poder. Os olhos claros, quase

amarelados, lhe passam a impressão de estar frente a frente a um predador. De repente lhe

vem à mente de artista nata, a imagem de uma pantera negra, fria e implacável, hipnotizante e

mortal. Pronta a atacar ao menor movimento de sua presa.

Os lábios cheios e marcantes não sorriam. O queixo quadrado, a testa alta e larga,

marcada por sobrancelhas negras e espessas era de um guerreiro destemido e mortal. Cabelos

negros e brilhantes estavam domados e chegavam à nuca, onde eram presos por uma fina tira

de couro. Bem apessoado e com o terno de marca, ele chamava a atenção das muitas mulheres

presentes.

Ela se encontrava a frente de um homem estranho e dono de si. Daqueles que mexiam

com os sentimentos mais primitivos de uma mulher num simples e até desinteressado olhar.

Um indomável.

Isadora deixa seu lado artístico e crítico observá-lo enquanto ele cumprimenta os tios

sem qualquer afetação.

Ao se voltar para ela, um inexplicável arrepio de medo, da mais pura apreensão toma

conta de sua mente e não deixa de surpreendê-la. Ela se sente subjugada pela intensidade do

olhar que a prende. Ele a fitava abertamente.

Sua timidez, sempre mantida a sete chaves, aflora num átimo. Ouve ao longe a voz do

tio apresentando-os e sua mão obedece prontamente às ordens de seu cérebro. Estende a

sua, numa oferenda!

Logo a tem firmemente presa pelas dele como se elos invisíveis às envolvessem. Poucos

segundos e um arrepio sobre por seu braço e ela perde o resto de seu calor ao ser libertada e

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ele se voltar para falar com seu tio novamente, como se a tivesse cumprimentado por simples

educação.

Intimamente afrontada, ela camufla sua emoção, mas continua e examiná-lo

discretamente. Ela era alta e mesmo assim devia ter uns bons centímetros a menos que ele.

Só conhecera um homem com tal estatura. Só o vira uma vez e muito mal. A máscara

que ele usava e que cobria parcialmente seu rosto, não permitira definir-lhe sua fisionomia e

sua mente alterada pelo álcool e pelo inédito, não pudera completar um exame mais detalhado.

- Esta é a minha sobrinha, Maximiliano. Agora que a conhece, acha que exagerei? –

Enrico tabula uma conversa leve, ante o mutismo de Isadora.

- Tem um belo rosto, Isadora. Difícil de esquecer.

A sonoridade da voz encontra eco no fundo de sua mente e a incomoda. Com certa

rigidez fita o homem ao lado do tio. Os olhos frios desmentiam o que os lábios expressaram

com certo calor. A raiva sonda-lhe a mente.

- É só o que tenho... Dr. Maximiliano? – Responde deixando escapar um pouco da acidez

repentina que a invade.

- Max. - Ele a corrige sucinto.

A voz grave retine em seus nervos novamente e entra com total força em seus

neurônios que a deixa mais incomodada, mais assustada. Volta os olhos para o tio, temendo que

ele note sua recente ojeriza.

O homem era arrogante e temia se confrontar com ele, se insistisse em continuar ali.

Suspira aliviada quando a orquestra inicia outra seleção de músicas. Seu olhar busca

furtivamente a prima e o marido pelo salão, procurando um meio de escapar dali.

- Eles já foram. Deixaram-te um abraço. - Ele murmura perto de seu ouvido. - Ia se

esconder atrás de Sandra?

Ela se volta num gesto estudado ao ouvir a voz irônica. Ele lera seus pensamentos, mas

não daria a ele a chance de vê-la encabulada.

- Bem, então está na minha hora também. – Ela não aceita a provocação, mas seu

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sangue esquenta nas veias. Busca acalmar-se na fisionomia sorridente do tio.

- Não vá agora, meu bem. – Enrico lhe diz fingindo não ver os sinais que ela faz com os

olhos. – Max ficará pouco na cidade e combinamos todos de ir a boate logo que Sandra se

fosse. Vamos conosco?

- Sabe que não posso, tio. Tenho que ir, – ela responde séria.

- Não insista, Enrico. Não vê que a pequena Isa quer ir embora para chorar as

escondidas o aniversário da morte de seu adorado noivo? – Iliana, que não entrara ainda na

conversa, alfineta maldosa antes de se virar para Max. - Essa semana faz cinco anos que ela

perdeu o noivo e os pais no mesmo acidente.

O olhar dele prende-a novamente e não havia o menor sinal de simpatia ou compaixão

neles. Um laivo de alegria quase a faz sorrir. Ele não a crivara de condolências. Não havia caído

no jogo hostil de palavras da tia.

- Vamos dançar?

Mal ele convida e sem esperar seu consentimento, arrasta-a para pista de dança.

Segue-o mais para se livrar da companhia irritante da tia. Uma negativa e teria de agüentar

suas insinuações maldosas.

Quando se vê distante, já na pista, fita-o desafiadoramente. Sua mente o rejeitava e

não queria mais esconder o fato. Uma pequena e acentuada ruga nos cantos dos lábios dele lhe

parece um sorriso, antes de ser enlaçada com intimidade.

- Você parece não ter as graças de Iliana.

Profunda e grave, a voz chega-lhe aos ouvidos segundos antes de sentir o calor do

corpo dele no seu. Ergue o olhar para baixá-los em seguida. Dominantes e atentos, os olhos

dele pareciam transpassá-la e deixavam notar um resquício de calor.

Era o primeiro sinal humano que notava naqueles olhos.

Displicente, passa o braço por seu ombro enquanto o segue pela pista aos passos de

uma balada. As coxas fortes, junto as suas, a provoca sentir os movimentos de cada músculo

rijo. Instintivamente, tenta se afastar, mas ele segura-a junto ao corpo enquanto a mão

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espalmada em suas costas a convida a se soltar.

Desistindo de sua guerrinha e cuidando em não chamar a atenção dos outros casais,

encosta o rosto pouco acima de seu queixo, sentindo o perfume de sua loção. Acompanha-o.

- Dança bem, Isadora. – Ele afasta poucos centímetros a fim de fitar-lhe.

- Você também é um excelente dançarino, Maximiliano.

Responde sem fugir-lhe o olhar. Usaria de sua boa educação enquanto dançassem,

depois faria questão de não vê-lo mais. Ele era amigo de seu tio, não seu.

- Quase não danço, apesar de gostar muito. É difícil encontrar uma parceira de minha

estatura e dançar com uma, palmos abaixo, não me anima.

- Também sempre tive esse problema. Não dava sossego a meu pai e a tio Enrico.

Adorava dançar.

- Não gosta mais?

- Gosto. Mas meu cavalheiro é muito pesado. – Ao ver à indagação muda em seu olhar,

explica com certo prazer. – Meu filho. Ele adora dançar, mas em meu colo.

- Não parece ser mãe. É muito nova.

Isadora se cala. Não iria começar a dar explicações sobre sua vida e a de seu filho, a

um estranho.

A música mudara para um toque mais lento e cadenciado, forçando seus corpos a se

unirem novamente.

Nostálgico, o vocalista inicia uma canção que a toca profundamente e encontra eco em

seu coração melancólico. A música a faz lembrar de sua despedida de solteira.

Como se pressentisse sua lembrança, gentil, ele ergue seus braços até o pescoço e a

faz enlaçá-lo completamente. Os braços másculos em sua cintura e em suas espáduas eram

confortadores. Não o detém. Esquece a vontade de confrontá-lo. Há muito, não era

compensada com a sensação de proteção que um abraço lhe causava.

Deixa-se envolver e se entrega à melodia. Uma das poucas lembranças boas daquela

noite distante.

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CAPÍTULO II

As luzes acesas ao longe, em sua casa, indicavam que sua pequena viagem estava no fim.

Suspira aliviada. A viagem de volta sempre a deixara apreensiva. Não que temesse andar

sozinha, pois conhecia cada recanto e cada propriedade por ali. Era a noite que estava

mexendo com seus nervos. Ou seria o homem? Sua imaginação a inquire. - Não. – Responde em

voz alta. – Não é o homem... Não... Nunca mais o verei.

O portão se abrir logo que encosta o carro, indica que Gerson está a sua espera.

Gratificada, lhe sorri ao passar por ele e entrar na pequena garagem.

- Matheus acordou? – Pergunta assim que desce.

- Nem se mexeu. Seu tio acabou de ligar. Queria saber se já chegara. Parecia

preocupado.

- Sabe que hoje até eu senti um pouco de apreensão?

- Você sempre fica assim nessa época, Isadora. – Gerson a fita firme antes de

continuar. - Todos nós estamos um pouco nervosos.

Num gesto de conforto, ela passa a mão pelos ombros do fiel Gerson e entra. Não

precisavam de maiores explicações. O fato os unia.

Passos firmes a levam ao quarto do filho. Encontra-o profundamente adormecido. Com

carinho, puxa o lençol sobre ele e beija a pequena cabeça. Os cabelinhos fartos e negros

deixavam seu semblante sério, às vezes ele chegava a ser adulto demais para sua idade. A

robustez e a inteligência aguçada a deliciavam. Senta-se na poltrona ao lado da cama e o

observa amorosa, seu parceirinho na dor e na alegria.

Ao se descobrir grávida, golpe fatal após a tragédia, quase deixara o remorso expulsá-

lo de seu ventre. Fora preciso meses de repouso e muitos cuidados até poder continuar a vida

sem medo de perdê-lo. Aprendera a amar a pequena criatura que fora colocado em seu ventre

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e que teimava em resistir, em não se separar dela.

Na segunda vez que o sangramento a fizera procurar seu médico no meio da

madrugada, chegara a implorar a Deus e a ele que não a abandonasse. Prometera aceitá-lo. Não

permitiria que seu ato inconseqüente a fizesse ir contra a natureza. Não o esconderia jamais.

Não se importaria mais com o que falariam. Seria pai e mãe, já que não sabia quem o alojara ali.

Ela não conhecia o rosto e não sabia o nome do pai de seu filho.

Seu cérebro embotado e sua libido inflamada, só se lembravam do corpo atlético e

maravilhoso que a prepara para receber sua semente.

Matheus se meche na cama e a chama tirando-a de seus pensamentos. Beija-lhe com

carinho seu rostinho e murmura, - estou aqui.

Sonolento ele abre os olhinhos. Um sorriso angelical ilumina-os ao vê-la debruçada

sobre ele.

- Eu te amo, mamãe.

Enrolando-se no lençol ele volta a dormir. Ela o beija mais uma vez e sai pela porta de

comunicação, rumo a seu quarto. A mente teimando em retomar suas recordações.

Após um banho demorado, se deita. Sem sono, deixa vir a mente às lembranças da

noite de sua despedida de solteira.

O casamento marcado para dali uma semana enchia seus dias e noites de intensas

atividades. Nathan, seu noivo, ajudava no que podia, pois o hospital público não lhe dava

tréguas. Intenso e ativo, ele gostava de trabalhar na emergência. – Sou mais útil ali, Isa. – Ele

dizia. – Gosto de estar onde realmente precisam de mim.

Amigos desde cedo, o amor chegara aos poucos e foi fortalecendo à medida que

amadureciam. Estavam juntos todo o tempo que tinham disponível ou então saiam com o pai e a

mãe em suas andanças em busca de inspirações.

Quando queriam mais privacidade, iam para o apartamento dele perto do hospital, onde

passavam o tempo lendo, conversando ou assistindo um bom filme.

Namoravam como qualquer casal comum, mas a promessa de se guardarem para a noite

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de núpcias impedia carícias mais tentadoras. Conheciam tudo do corpo um do outro, se

exploravam até explodirem-se em êxtase, mas sem nunca chegarem às vias de fato.

A casa e o enxoval já prontos não os apressavam e quando marcaram a data do

casamento, que a princípio seria intimo, os muitos amigos de ambos descobriram e o que era

para ser um acontecimento pequeno, se tornara uma grande comemoração.

A despedida de solteiro, uma semana antes, marcaria o primeiro dia das

comemorações. As mulheres, lideradas por sua mãe celebrariam na casa dela e os homens, ao

comando do pai, no apartamento dele, Nathan.

Em meio à alegria e a bebida farta, acabaram todas elas, já meio alteradas por vários

drinques e as muitas brincadeiras, em uma boate da moda no centro da cidade.

Isadora era o centro das atenções, vestida de lingerie branca, véu e grinalda e saltos

altíssimos, que num gesto de timidez, protegera-se parcamente sob um lençol de cetim branco.

Na boate lotada e cheia de dependências, pouco se notava o grupo barulhento de

mulheres que fechava um dos muitos bares. Não tardara para que o atencioso gerente

providenciasse uma das dependências da boate só para elas.

Madrugada alta e Isadora sonolenta, meio pelo adiantado das horas e meio por culpa

dos vários drinks consumidos, já não mais participava dos vários stripers que as amigas vaziam.

Até sua mãe, imbuída pela alegria das outras, subira em uma das mesas para mostrar as

pernas, ainda belas, aos passos de um frenético can can.

Resolvendo sair à francesa, sai do bar em busca de um telefone, após pedir ao pai que

as resgatem dali a alguns minutos, escapa da sala esfumaçada em busca da saída.

A porta de saída a leva até os pés de uma escadaria luxuosamente acarpetada de

vermelho. Ergue o olhar e no alto, a porta convidativa a faz subir dolente e preguiçosamente

cada degrau, obrigando seus pés a reclamarem dos saltos altos. No alto, a escada terminava

quase em frente a sua liberdade.

- Devia ter cuidado por onde entrei, – murmura ao abri-la e se deparar com outro

ambiente. - É um escritório. – Ela resmunga mais uma vez, ao ver as paredes tomadas por

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várias telas de televisores. As telas mostravam cada ambiente da boate.

Procura onde estava em uma delas e sorri ao ver que suas amigas ainda estavam

comemorando e não pareciam ter dado sua falta.

Volta-se examinando o ambiente. Um bar de espelhos com os mais variados frascos de

bebidas chamava a atenção pela fineza e pela variação de cor dos recipientes de cristais. A um

canto, um divã branco convidava seu corpo cansado, a um delicioso e merecido descanso. Sorri

diante da imagem de se ver dormindo ali e esquecer de ir embora.

A música suave e preguiçosa destoava do intenso barulho de onde saíra há pouco. A

mente embotada e a sonolência lhe cobram descanso.

Aproxima-se da mesa onde um aparelho de telefone parece ser o único meio de sair

daquele labirinto de salas.

- Ora... Ora... Ora. Uma odalisca em meu território!

A voz grave e baixa não a assusta e ela se volta em sua direção.

Surpreende-se. A poucos passos de si, um autêntico mefístole a observava sorridente.

Os dentes muito brancos destoavam do resto do rosto todo negro, camuflado pela máscara de

veludo.

Logo seus olhos procuram uma das muitas telas na parede onde a pouco vira um baile

de máscaras. Ele segue seu olhar.

- Estava aí o tempo todo e...

- Cansei-me de lá. – Ele não a deixa terminar a frase - Pressenti que me mandariam

uma vítima para o sacrifício. Para minha satisfação... Meu deleite... Hum! Estava na hora.

Isadora, entre o fascínio e o receio, fita a figura toda vestida de negro que se

aproxima. Os passos lentos e o olhar hipnotizante a arrepiam.

- Estava procurando a saída e me perdi. – Ela explica tentando não mostrar sua

condição.

- E veio parar em meu reino. Bem vinda a ele!

Quase se encostando nela, ele provoca-a num sorriso que seu cérebro registra como

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diabolicamente lindo.

Ela ergue o queixo, desafiadora, enquanto tenta decifrar o homem por trás da

máscara. O sorriso exasperante dele parecia lhe desafiar.

Enfrenta-o, aceitando a provocação.

- Não sou a virgem de seu sacrifício, certo? Não sou Odalisca, pois não gosto de servir

a homem nenhum, ao contrário, gosto que me sirvam. Vim para destruí-lo...

- Hum... Por que não acredito no que me diz? Terei meus dias de orgias satânicas e

gloriosas, terminados nas mãos de uma feiticeira, então? – Ele meneia a cabeça

dramaticamente enquanto coloca as mãos sobre o peito. – Não... Não... Só o sacrifício de uma

virgem acabaria comigo, doce Odalisca. Somente ela teria o poder de escravizar o terrível

mefístole. Se não, desaparecei no tempo.

Num gesto audacioso ele deixa cair algo no chão enquanto sorri. Logo uma fumaça

branca e etérea eleva-se do piso e os encobre perfumando o ambiente, e dá guarida para que

ele desapareça.

- Hei! – Ela chama-o sem medo. – Onde é a saída? Preciso ir embora.

A música, agora num tom a mais, é convidativa e erótica.

Ela atravessa a cortina de fumaça procurando-o. E o encontra a poucos passos.

- Venha, doce odalisca. Uma só dança e a libertarei, já que não tem os poderes para

dar cabo de mim.

A mão estendida em sua direção num convite a faz aceitar a brincadeira. O corpo alto

e atlético que encosta ao seu e começa a ondular no compasso cadenciado da música, instiga-a.

Instintivamente segue-o.

A mão firme ergue-lhe o queixo. Choca-se com a intensidade da emoção que domina seu

corpo.

- Posso?

A palavra sussurrada a poucos centímetros de seus lábios a excita, a provoca antes de

sentir a boca máscula tomar a sua sem esperar o consentimento.

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Só um beijo.

Sua mente registra o pedido antes de se deixar explorar pela ponta da língua que

circunda vagarosamente seus lábios e a incita a mordê-la.

Não lhe basta. A sensação poderosa que se infiltra em sua mente e a faz erguer os

braços e abraçar-se aos ombros largos num convite, é nova. A emoção de estar à mercê de um

ser místico a faz se entregar as mãos que a prendem junto ao corpo quente, tornando-a ciente

de seu estado.

Ele era humano, ela registra, e estava explicitamente excitado. Também estava preso

da mesma sensação que a incendiava.

Poder. A palavra lhe vem à mente em um segundo antes de se achegar a ele num gesto

provocante. Uma língua atrevida busca a sua, quando o lençol que a cobre cai ao chão e mãos

espalmadas a acariciam quase que reverentemente, aumentando-lhe as sensações de prazer.

Ele libera seus lábios já inchados e úmidos e parece gostar do que vê.

– Você tem fogo demais para uma odalisca! – Ele provoca, rouco.

- Odaliscas também dominam, meu mestre. – Ela responde exibindo-se, gostando da

sensação do poder, de ter aquele ser em suas mãos. Deixa sua mente trair-lhe, livre para

provocar.

- Me cuidarei. Não deixarei que...

- De nada lhe adiantará. – Ela responde, tomando a iniciativa de buscar seus lábios. –

Está perdido. Renda-se!

O gemido rouco lhe envia sinais de rendição. Arrepia-se como uma gata quando ele suga

seus lábios com maestria, com luxúria, sensação até então desconhecida. O aceita passeando

as mãos pelo peito largo, sobre a fantasia.

Uma sutil pressão em suas costas e seu sutiã toma o mesmo rumo do lençol. Seios

firmes e empinados pedem carinhos das mãos quentes e ousadas que lhe provocam os biquinhos

já endurecidos. Ousada e instintivamente,ela joga os cabelos para traz e se expõe a carícia.

Uma brincadeirinha só. Somente uma, pede seu cérebro já entorpecido e dominado.

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Seria só uma vez, murmura, quando a boca quente lhe suga o pescoço, como se conhecesse seu

ponto fraco. Isadora treme.

A imagem e a sensação de estar se rendendo a um ser mitológico volta a invadi-la e a

excita ainda mais. Procura algum resquício de receio ou pudor em sua mente e não encontra.

Ele interrompe a carícia e encosta a testa na sua, enquanto respira com certa

dificuldade, extasiando-a. Também ele estava tomado da mesma sensação.

- Não vou conseguir parar se formos além daqui, Odalisca. Faça-me parar... Pegue seu

caminho!

A sensação de estar no comando, de ter sob sua égide o homem que a beijara com

tanta intimidade, inebria-a. Delicia-se ao ouvi-lo pedir o impedimento.

- Você enfraquecerá mefístole! Já o tenho em meu poder. Aprisionei-te. Pedirá por

mim como louco. Procurará por mim e não vai me encontrar... Quando eu quiser, o encontro. Se

continuar dócil e bonzinho, pensarei em te dar a liberdade.

- Não iria tão longe, Odalisca! Sou a extensão de seus desejos. Está tão amarrada

nesses liames, quanto eu.

- Se você acha...

Teatralmente, ela se desvencilha dos braços que a prendem e busca a porta por onde

entrara. Mal dá alguns passos, ele a ergue nos braços e ao compasso de seu riso, a leva para o

divã.

- Serei implacável, Odalisca. Não deixarei que sorria de mim... Provocaste a fera. Não

serei complacente, agora terá de agüentar as conseqüências.

- Criará chifres para mim? – Ela pergunta lânguida, entre beijos embriagadores,

esquecendo-se totalmente de fugir.

- Afiadíssimos, letais.

- Então não quero.

- Trocarei por uma marca. Uma só e será eterna, – ele a deita e se estende sobre ela.

O peso do corpo forte sobre si, atiça sua libido até então ingênua. Ele a faz esquecer

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de tudo, pelo prazer de tamanha urgência em satisfazer seu corpo sedento das caricias

inéditas. Procura os botões de sua camisa, buscando-lhe a pele quente.

Ele ajuda-a a se despir sem desprender os lábios ferventes que lhe sugam

generosamente os seios inchados e doloridos e a faz se abrir para os dedos que não demoram

em procurar sua intimidade, livrando-a da calcinha. Faz eco a seu suspiro de prazer ao se

sentir completamente nua, a sua mercê.

Sem deixar de lhe acariciar com os lábios, ele se livra do restante das roupas e busca

seu domínio, sua posse. Os beijos, agora densos, exigentes e possessivos, o atrito dos quadris

entre suas coxas a faz abrir-se mais, perdendo completamente a razão e qualquer resquício de

pudor.

Quando sente a pressão do corpo rijo buscando seu refúgio, um laivo de lucidez a faz

lembrar de sua condição.

- Não!

- Não? Por que, minha Odalisca?

Ela prende a respiração e retesa o corpo num gesto inconsciente, queria demais suas

carícias, pois eram embriagadoras e inéditas, mas a lembrança das brincadeiras e carícias com

o noivo a faz se retesar.

- Não devo!

- Maltrata-me assim? Traz-me a loucura de ter teu corpo jovem sob o meu e nega-me

seu sangue? Se entregue a mim odalisca e conhecerá todas delicias que posso oferecer-lhe.

O conflito desvanece-se em sua mente, quando o corpo saudável se deixa levar pelas

palavras provocantes.

- Não terá meu sangue!

- Uma gota!

- Um beijo.

O pedido o faz fitar-lhe antes de atendê-la.

Ouve seu próprio grito quando ele dilacera-lhe a carne, invadindo-a. Solta a respiração

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que prendera ante a surpresa e fecha os olhos quando ele, gentil, apóia os braços ao lado de

seu rosto e o acaricia com as mãos enquanto busca seus lábios num consolo. O beijo tem o

poder de acalmar a dor lancinante e exigir sua rendição total. Gentil, mas firme, ele pede sua

resposta e penetra-a cada vez mais fundo, fazendo a dor latente e inicial, se misturar ao

prazer da posse, obrigando sua mente embotada a se liberar, a abrir-se toda para ele

completar sua invasão. Desconhece a própria voz ao ouvir os gemidos misturarem-se as

palavras consoladoramente eróticas dele.

Abre os olhos quando sente a mão dele passear com carinho sobre seu rosto. Morde-a

tentando segurar os gemidos que saem de sua garganta, a cada investida. Em vão tenta se

segurar, mas explode sob ele, assustando-se com a intensidade da emoção. Logo em seguida

ele acompanha-a, não sem antes lhe tomar os lábios mais uma vez, em um beijo profundo e

embriagador. Juntos encontram o mais puro, selvagem e inédito dos êxtases.

Exausta, ela sente a volta de sua lucidez, sentindo a cabeça dele descansar em seu seio

arquejante. Controla a vontade de acariciar os cabelos negros e sedosos.

Impiedosos, a timidez e o remorso a invadem. Pressentindo seu desconforto, ele se

levanta sob os cotovelos e a fita.

- Marcou-me, doce virgem. Omitiu-se ao aceitar o sacrifício.

- Eu disse que o marcaria, – responde com certa rudeza, fugindo-lhe do olhar. – Quero

ir embora...

O telefone toca, impondo-se ao tom da melodia que enchia o ambiente. Sem esconder a

surpresa, ele examina-a demoradamente antes de deixar-lhe com cuidado, pegar sua roupa do

chão e entregar-lhe.

- O banheiro é ali, – ele lhe aponta uma porta, antes de desaparecer por outra.

CAPÍTULO III

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Isadora estaciona o carro logo na entrada do cemitério, Metrópole da Paz. Ela

murmura o nome ao passar os olhos pela imensidão de túmulos, meticulosamente colocados lado

a lado.

- Mamãe, nós vamos passear no meio dos anjos de pedra, de novo? Gosto de vê-los.

- Claro que vamos, meu bem. Não é o que gosta de fazer quando vem aqui?

- Eu gosto, mas a Mari fica triste.

- Ela veio ontem e você viu que ela não chorou? A tristeza dela acabou.

- Por que mamãe?

Como toda criança ativa, Matheus tinha uma curiosidade sem limites e Isadora às

vezes se via em armadilhas, para lhe responder suas perguntas, respeitando sua pouca idade.

- Por que agora Mariana sabe que você pode ajudá-la, já está se tornando um

homenzinho e gosta de conversar com ela.

- Eu amo ela, mamãe.

- Você a ama, meu bem, – ela corrige o filho com carinho.

- Mamãe, por que os anjos são de pedra, se são eles que cuidam da gente?

Enquanto explica ao filho que ali só estão os símbolos, Isa se aproxima do mausoléu da

família, onde os grandes e chamativos arranjos de flores testemunhavam à passagem de sua

tia Iliana por ali.

Ainda sem conseguir olhar para a foto do noivo, ao lado da do pai e da mãe, ela ergue o

filho nos braços e o coloca sentado aos pés do mausoléu. Intimamente, mais uma vez pedia o

perdão de Nathan numa oração muda, tentando buscar alivio para seu remorso.

A lembrança do homem risonho, amoroso e sem rancor, vem mais uma vez em seu

consolo.

- Mamãe, eu acho muito querido o tio Nathan. - Matheus interrompe seus pensamentos.

– Olhe como ele sorri para a gente!

Receosa, Isadora ergue os olhos para a fotografia. Nunca, tivera a coragem de

observá-la. Sabia que era só uma fotografia, mas temia ver acusação nos olhos do noivo.

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Surpreende-se com o sorriso que lhe era constante em vida. Seu semblante, no

pequeno pedaço de papel era risonho, francamente amoroso e real. Numa autocensura, procura

qualquer traço desabonador no rosto sorridente e não encontra. As lágrimas saltam-lhe dos

olhos enquanto ergue a mão e acaricia a foto, num gesto de agradecimento. Tenta se controlar

ao sentir os bracinhos do filho em seus ombros, num carinho todo infantil.

- Mamãe, eles vão ficar tristes como eu. Você nunca chora quando vem aqui!

Ela fita o filho por entre lágrimas. Não era só o remorso que agora a machucava. Era

também a vergonha de ter deixado se consumir por sentimentos tão mesquinhos. Conhecia-os,

sabia que os pais e o noivo nunca a cobrariam pelo o que lhe acontecera, ao contrário,

compreenderiam-na e a ajudariam. O remorso que guardara dentro de si todo esse tempo,

aliado à vergonha de seu gesto inconseqüente e leviano, a levara a se distanciar, a não encarar

de frente suas atitudes. Nas visitas anteriores, nunca pudera olhar de frente as fotografias

do noivo e dos pais.

- Já está melhor?

A voz infantil parece arrancá-la do sofrimento ao qual se impusera.

- Estou, meu bem. – Ela responde enxugando as lágrimas e sorri tranqüilizando o filho. –

Vamos ao zoológico?

- Vamos ver as onça?

- As onças, Matheus. – Ela corrige-o novamente. – Vamos sim. – ela abraça o filho.

- Olhe tio Enrico! Ele chegou!

Matheus desvencilha-se de seu abraço e sai correndo ao encontro de Enrico, que chega

acompanhado de Maximiliano. Isadora sente o rosto esquentar quando se vê mais uma vez alvo

de seu escrutínio. Ele parecia enxergar sua alma e a provocava sentir sensações

desconhecidas.

Revolta-se por ele encontrá-la em um campo tão familiar e a descoberto.

O tio, já com Matheus nos braços, abraça-a com carinho. Maximiliano, ao contrário,

aperta-lhe a mão com firmeza, sem o menor vestígio de emoção nos olhos amarelados.

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Afastando-se para lhes dar acesso ao jazigo, novamente ela se deixa envolver pela timidez.

- A mamãe estava chorando! Eu a console, – o filho a entrega.

- As mamães choram mesmo, mocinho. É normal, sabia?

Isadora ouve a voz distante do tio. Seus sentidos parecem entorpecidos na presença

marcante do homem que agora observa seu filho atentamente, que em pé entre os dois, não

para de tagarelar, prendendo-lhes a atenção.

Mais uma vez ela se vê presa pelo magnetismo envolvente do homem pouco adiante que

mesmo sem lhe dispensar a menor atenção, parece espreitá-la.

Exasperada, sai pelas alamedas em direção à saída, tentando recuperar seu controle.

Encosta-se no carro enquanto espera a volta do filho, sentindo-se mal em sua simplicidade. -

Devia ter-me vestido melhor, - resmunga, examinando o jeans surrado e a camisa de malha que

já vira dias melhores.

Sua atenção logo se centraliza nas três figuras que aparecem ao fundo da alameda. Se

oculta sob a falsa tranqüilidade, proteção infalível, enquanto observa-os se aproximarem.

Como sempre, Matheus prendia a atenção dos adultos.

Intrigada, vê o filho procurar a mão de Maximiliano como se o conhecesse. Alerta,

apruma o corpo.

A fortaleza também tem seu ponto fraco, pensa ironicamente, ao vê-lo abaixar a

cabeça a fim de ouvir o que Matheus lhe dizia. Desvia a atenção para o tio que abre um sorriso

ao chegar.

- Parece que fomos convidados a um passeio, minha querida. – Isadora ouve enquanto se

entrega ao abraço do Tio.

- Vamos ao zoológico. Hoje meu dia é todo dele.

- Mamãe, eu chamei o tio Max para ir junto da gente. Ele pode, não é? Ele já fez um

rafári na África.

- Um safári, meu bem e o tio Maximiliano é um homem muito ocupado. Ele não pode ir

conosco, está bem?

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- Ah!...Mamãe, deixa ele ir. – Matheus insiste.

Isadora sente o coração se apertar ao ver a alegria desaparecer do rostinho do filho e

irrita-se ao se sentir na mira dos olhos frios de Maximiliano.

- Ele não gostaria de...

- Gostaria sim, – ele a interrompe, – tenho todo o dia livre.

Isadora volta os olhos para o tio num pedido mudo de socorro, mas ele lhe foge. Não

sem um sorriso maroto nos lábios, enquanto lhe diz: - Parece que encontramos a forma de seus

sapatos, Cinderela! Pelo menos na surpresa.

Sem ação, Isadora se volta para o filho que em momento algum, deixa a mão de seu

novo amigo. Apieda-se.

- Está bem, Matheus. Levaremos o senhor Maximiliano. – Ela sibila enquanto ergue a

criança e coloca-a sentada na poltrona do carro e lhe coloca o cinto de segurança.

- Tio Max, mamãe. Ele permitiu que eu o chamasse assim. Ele disse que eu já sou

grande! – Matheus continua sua conversa enquanto ela manobra o carro e pega a direção do

zoológico, sem se preocupar em se despedir dos dois.

- E ele está certo, meu bem. Você é enorme.

- Eu o conheço, – o filho fala cheio de sua razão infantil.

- Você o conhece...? De onde? – Ela pergunta tentando não sorrir. Para Matheus, todo

homem jovem ou velho que lhe desse atenção era seu conhecido.

- Não me lembro, mas sei que conheço. Sabe o que ele me disse? Que eu tenho que lhe

proteger. Que já sou um hominho. E homens não podem deixar as mamães chorar.

- Homenzinho, meu querido! – Isadora ensina o filho sem esconder a ironia. O homem

era um machista - Parece feliz com seu novo amigo? – Ela estaciona o carro e se volta para

livrá-lo do cinto de segurança.

- Estou é demais.

- Você é demais, meu bem. Vamos descer? Seu amigo já está a nossa espera.

Enquanto o filho desce e corre ao encontro de Maximiliano, Isadora observa-os ainda

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de dentro do carro, tomada por uma sensação incômoda. Sacode a cabeça com determinação.

Estou ficando louca? Nunca precisei de um pai para meu filho! Desce apressada do carro,

temendo se deixar levar pelos pensamentos. Pega a cesta de lanche no porta-malas.

- Não precisa mais, mamãe. O tio Max comprou lanche para nós.

Isa se volta tentando esconder a fúria e encontra um par de olhos zombeteiros e

provocantes quase junto aos seus.

- Disfarce. Está quase saindo fogo por suas orelhas. – Maximiliano se abaixa para pegar

a caixa de isopor.

Isadora lhe lança um olhar faiscante, antes de se voltar para o filho.

- Então vamos juntá-lo ao nosso, não é? – Ela não lhe dá o gosto de aceitar a

provocação.

- Ele perguntou a tio Enrico o que gosto de comer, sabia? – Matheus lhe diz com ares

de importância.

Maximiliano cochicha em seu ouvido. – Vamos. Finja que me aceita. Ele gostará.

Zangada, ela pergunta quando o vê com as mãos vazias: - Onde está o seu lanche?

Com um pequeno aceno de cabeça ele lhe aponta a cesta aos pés de Matheus – Enrico

me deu as coordenadas e me preveni.

Sentindo-se infantil por querer confrontá-lo, Isadora os segue a uma pequena

distância.

- Vamos primeiro ver as onças, não é tio Max?

- Como somos dois homens educados, vamos deixar para sua mãe resolver o que

veremos primeiro, não acha? – Ele imita Matheus, arrancando um sorriso espontâneo de

Isadora.

- Bem, como já é hora de almoço, podíamos lanchar primeiro e depois veremos as onças.

- Mas mamãe... – Matheus começa a reclamar, mas ao ver um das sobrancelhas do amigo

se levantar, sorri desajeitado. – Esqueci que as mulheres é que decide.

- Então vamos procurar um bom lugar para que possamos lanchar. O que acha, amigão?

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– Max estende a mão para a criança.

Mais atrás, Isadora se pega observando-os. Os três pareciam uma família tradicional

em visita ao zoológico num dia de feriado. Sacode a cabeça com certa violência, como se o

gesto pudesse afugentar seus pensamentos teimosos. Não estava à procura de um pai para seu

filho. Há tempo deixara de procurá-lo em cada homem que via.

- O guerreiro parece que vai descansar. – Max fala num tom baixo para não despertar

Matheus, que cochila.

- Também mal almoçou, já quis andar por aí e já são quase três horas. Ele sempre

dorme um pouco durante o dia. – Isadora explica enquanto ajeita o filho na toalha que Max

estende na grama. Em seguida, recolhe os restos do segundo lanche e coloca na cesta.

- Gostei de ver a afinidade entre vocês dois, mais parecem irmãos que mãe e filho.

- Somos uma máfia. – Ela responde enquanto volta a sentar.

- Ele não tem nenhum traço de seu.

- Não. – Isadora responde rápida, desviando o olhar.

- Tampouco notei traço dele na foto de seu noivo. - Ele insiste.

- E no que isso lhe diz respeito? – A voz dura lhe sai acompanhada por um olhar

desafiante.

- A mim? – Ele responde abrupto. – Quero conhecê-la melhor.

- Se eu permitir...

- Permitirá.

- Sabe que sua arrogância é irritante? – Ela não se contém.

- Extrovertida, determinada e independente, – ele não se intimida – Ah! Esqueci-me.

Intrigante também. Devo acrescentar, agressiva?

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- Parece que tio Enrico lhe deu minha ficha. - Ela finge não ouvir a franca provocação.

- Não sou homem de recorrer a esses subterfúgios para conseguir o que quero.

Isadora sabia estar na presença de um homem frio e determinado e não estava

acostumada.

- Não tenho nada que possa te interessar.

- Sabe que tem e que me interessa. Não fuja. Quero tudo de seu. Não sou homem de

meio termo.

Isadora ergue os olhos surpresa com a intensidade de suas palavras.

- Deus! Tua arrogância não tem tamanho! Já tive problemas demais, Doutor

Maximiliano, para poder me envolver com qualquer outra coisa que não seja meu filho. Gosto da

maneira em que vivo. – O homem tentava tirá-la do sério.

- Bonita, desimpedida e com um filho para criar, – ele parece estudá-la.

Isadora busca refúgio para acalmar o desconforto que o diálogo provoca, na cena de

ver o filho dormindo. Ao respondê-lo, a calma já estava presente.

- Meu filho não é um problema.

- Quem é o pai dele, Isadora?

Estremece ao ouvi-lo pronunciar seu nome. Não responde.

- Quem é o pai de Matheus? – Ele insiste.

À vontade de desmoronar sua arrogância e chocá-lo, faz ela erguer a cabeça num gesto

desafiante e responder com um sorriso.

- Não sei. Isso te choca?

Max não meche sequer um músculo na face.

- Não sei quem é o pai de meu filho. Para mim ele foi somente um corpo, Não tem rosto

e nem nome. Não vai me recriminar o ato inconseqüente?

- Não.

- Oh! Está fugindo da regra? Não devia, pois foi o que muitos fizeram na época e ainda

estou aqui, intacta e tranqüila. Não irá me censurar?

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- Não poderia, – ele desarma-a.

Matheus resmunga em seu sono e Isadora aproveita para fugir do interrogatório. Mas

ele muda o tom de voz.

- Vamos jantar juntos hoje?

- Quase não saio e muito menos com quem não conheço, Maximiliano.

- Gostaria que viesse. Assim poderá me conhecer. Tenho algo para lhe mostrar.

A curiosidade dela é maior que à vontade de negar. O que teria ele, um estranho, para

lhe mostrar?

- Somente jantar? – Pergunta desconfiada.

- Claro. Não a forçarei a nada que não queira. Hoje não é mais de meu feitio. Sei ser

paciente quanto é preciso, – ele tranqüiliza-a. – Te pego às oito?

- Não pergunta se está bem para mim? Sabia que não existe algo que me deixe mais

maluca que homem machista? Não suporto que me dêem ordens, doutor.

- Não é uma ordem, Isadora. Além de um pedido, é o mais puro senso de proteção,

minha cara. - Mais uma vez ele a desarma ao responder seguro. – Sei que mora fora da cidade

e não gostaria que se arriscasse a sair só à noite. Vou até lá. Se não aceitar, insistirei até que

me receba. Não poderá fugir.

- Está bem. Meus temores são maiores que minha independência.

- Tens juízo. Não se lembra mesmo quem é o pai de seu filho? – Ele inesperadamente

volta ao ataque.

- Por que o interesse, Maximiliano? Incomoda-te o fato de eu ser mãe solteira ou teu

machismo não aceita ver que uma mulher pode viver muito bem sem um homem do seu lado?

- Já lhe respondi, – ele atalha. – E gostaria que me respondesse seriamente.

- São lembranças minhas. Somente minhas. Não gostaria de partilhá-las com mais

alguém. – Ela responde levantando-se para se encostar ao tronco de uma árvore.

Ele não insiste e desvia o assunto. Conversam outros assuntos até Matheus acordar.

Somente quando o zoológico fecha os portões, os três saem dali.

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CAPÍTULO IV

Com um olhar crítico, ela se fita no espelho. Escolhera uma roupa que gostava muito.

De um azul quase escuro, o vestido adquiria vida quando se ela se movia. O decote simples e

virginal na base do pescoço terminava em um profundo decote quase no final de suas costas.

A saia justa marcava os contornos dos quadris arredondados e descia até abaixo dos

joelhos. Uma fenda aberta até a coxa, era o detalhe que mais o embelezava. Sem meias, as

pernas nuas, era seu ponto forte. Nos pés uma sandália de tiras finas e da cor do vestido,

completava o traje.

Maquiara-se com cuidado. Gostava de seu rosto ao natural, mas optara por evidenciar

os olhos. Nos lábios, um brilho ressaltava sua sensualidade. Isadora gostava do que via.

Uma batida na porta e logo Mariana entra no quarto, com os olhos brilhantes.

– Uau! Isa, que homem! Deus! Que Gerson não me ouça, mas ainda não havia colocado

meus santos olhos num espécime desse naipe! Deu-me vontade de beliscá-lo só para ver se era

humano, acredita?

Isa houve o discurso de Mariana com um sorriso nos lábios.

- Olhe tua idade, Mari! Olhe teu coração...

- Não estou morta filha, velha sim. Que homem! Sabe quem ele me lembrou? - Ante o

olhar indagador da outra, Mariana responde. – Matheus.

- Matheus? Por quê?

- Os mesmos olhos, os mesmos traços. E a altura? Já prestou atenção no tamanho

dele? Nosso menino terá o mesmo tamanho quando crescer. Já não está fora da medida,

segundo o pediatra? Será que não é ele...

- Deixe de ser boba, Mari! – Ela interrompe-a e apesar de não demonstrar, Isadora se

surpreende. – Você procura o pai de Matheus em qualquer homem que vê! Pare, mulher! Há

muito tempo que deixei de fazer isso. - A fisionomia de Maximiliano lhe vem à mente e faz seu

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coração acelerar. - Não vou deixar você me influenciar novamente... E depois...

- Depois o que? Onde o conheceu? – Assumindo a postura de um juiz, a velha amiga a

encosta à parede. – Onde ele estava há cinco anos atrás, heim? – Logo Mariana se retrata ao

notar a intensa palidez da outra. – Desculpe-me, Isa. Sei que não gosta dessa conversa.

Perdão minha amiga. Extrapolei.

- Não me ofendi, querida Mari. – Ela coloca os braços no ombro da outra. – Somente

você e Gerson sabem da verdadeira história. É que fiquei cabreira... – Num gesto conciliador

lhe pergunta: – Viu os olhos dele como são diferentes?

- São iguais aos de seu filho, Isadora! Não notou? – Mariana insiste.

- Pode ser uma coincidência! Não era ele...Ah! Pare com isso! Está me deixando toda

confusa.

- Está bem. Vá logo. Parece que aquele lá não é homem de se deixar esperando.

- Pode acreditar que não. Arrogância é seu segundo nome.

Terminando de prender os cabelos, ela se perfuma sutilmente e vai ao encontro de

Maximiliano.

Na sala, ela o encontra em frente a sua tela favorita. Encosta-se no batente da porta

e o observa. Ele estava totalmente absorto na pintura a sua frente.

Uma sensação estranha apodera-se de seu corpo e de sua mente, ao analisá-lo. Os

ombros largos, a altura elevada, os cabelos negros e lisos... Não! Não devia ser. Sacode a

cabeça com veemência. Estava se deixando levar pelas palavras de Mariana mais uma vez. Ela

via o pai de Matheus em todo homem.

Sentindo sua presença, ele se volta, desconcertando-a mais uma vez com a intensidade

de seu olhar.

- É uma excelente artista, Isadora.

A voz rouca, novamente tem a capacidade de mexer com todas as suas fibras,

eletrizando-as.

- É o que mais gosto de fazer, – ela responde sentindo a timidez devorá-la. - Amo meu

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trabalho.

- Sei que muitos artistas não gostam de comentar sua obra, quando a têm sob os olhos,

mas de onde veio à inspiração para esta? – Ele aponta a tela que o prendera há pouco.

- Um sonho. – Ela responde se aproximando da enorme tela, que retrata uma grande

mancha escura e esfumaçada. Pouco se via contornos humanos nela, mas transmitia a imagem

de um ser de outro mundo, uma entidade mitológica. Na face do estranho ser, lábios cheios

mas extremamente sensuais, se abriam num sorriso luxuriante e diabólico. Ele segurava

possessivamente em seus braços, uma mulher seminua, na pose evidente de uma virgem que se

oferecia a ele em sacrifício. No rosto de beleza serena, ela deixava transparecer a sensação

de um prazer etéreo, indescritível.

- Levei mais de dois anos para conseguir pintá-la em seu total. Digo que é minha tábua

de salvação, um rompimento com minha juventude, meu passado.

- Alguém já viu esse trabalho?

- Só tio Enrico. Não deixo que mais alguém a veja. E também, quase nunca recebo

visitas.

- Então a senhora que me trouxe até sua sala...

- Mariana? – Isadora lhe sorri e lhe confessa: – Ela o achou especial, de outro mundo.

A surpresa no rosto de pedra transforma-se num sorriso espontâneo e sincero que tem

o poder de fazê-la corar.

- Aonde vai me levar? – Isadora pergunta tentando mascarar o embaraço.

- Segredo. – Ele responde já tomado de sua seriedade habitual. – Está muito bonita.

- Você também. – Ela responde sincera ao vê-lo buscar-lhe a mão. Titubeia um segundo

antes de entregá-la.

Em silêncio saem da sala rumo a saída onde um luxuoso carro importado encontra-se

estacionado. Gentil, ele abre a porta para que ela entre, dá a volta e assume o volante.

Furtiva, Isadora examina-lhe os gestos seguros ao comandar a máquina possante.

- Faz muito tempo que não saio assim. Sinto-me feliz.

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Ele parece não ouvi-la, demora a responder.

- E por que aceitou meu pedido?

- Quer mesmo ouvir? – Ela responde-o com uma pergunta travessa.

Ele volta o rosto para ela um segundo antes de voltar à atenção a rodovia. – Nada

conseguiria me surpreender mais. – Maximiliano responde seguro.

- Sinto-me segura com você.

- Enrico me disse que uma de suas qualidades era a franqueza, isso me alegra.

- E você me disse que ele não lhe entregou minha ficha, – Isadora não deixa escapar a

chance de ser irônica.

- E não me entregou. – Maximiliano rebate.

Ela opta por silenciar-se e o mesmo impera até que numa parada de sinal, já dentro da

cidade, ela tira um CD do suporte e coloca-o no aparelho. Logo a melodia invade o interior do

carro. Perfeitamente à vontade, ela se recosta no banco e fecha os olhos, entregando-se aos

acordes e ao momento. Só se alerta novamente quando sente o carro diminuir o movimento e

parar.

Um choque transpassa-a inteira. A adrenalina fere suas veias ao correr gelada por

entre elas. A placa de néon, que com cores chamativas anunciavam o nome da boate, a leva

imediatamente as recordações do passado.

Paralisada, ela sente as luzes lá fora piscarem dentro de seu cérebro.

- Está se sentindo bem?

Ouve a voz dele, distante e preocupada. Sem idéia de que a palidez de seu rosto

evidenciava seu estado de espírito, ela se volta para ele e tenta responder tentando colocar

tranqüilidade na voz.

- Sim.

- Já esteve aqui antes? Se não quer entrar, procuraremos outro lugar. Por acaso, o

lugar te trás más recordações? Ela foi inaugurada há alguns anos atrás.

- Não me trás más ou boas recordações. Somente me surpreendi. Minha despedida de

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solteira foi aqui e foi onde me encontraram para avisar sobre o acidente. – Ela responde sem

esconder certa amargura. – Você já deve saber...

- Se quiser, procuraremos outro lugar . - Num gesto de conforto, ele acaricia seu rosto

com a costa da mão.

Instintivamente ela se achega, buscando sua energia. Ergue o queixo controlando-se e

tenta sorrir, enquanto lhe responde: – Não. Teria que enfrentar meus fantasmas um dia e

parece ser hoje, agora.

Isadora vislumbra um lampejo de admiração nos olhos dele antes de vê-lo

desembaraçar-se do cinto de segurança e vir a seu encontro. Atenta em seu rosto, não nota a

fenda da saia de seu vestido se abrir e mostrar parte de sua coxa, expondo quase toda a sua

perna.

Ao descer do carro ela sente a mão dele em suas costas, em um gesto que lhe

transmitia força e possessividade.

Na entrada, Maximiliano é saudado por várias pessoas. Sério, responde com gentileza

enquanto caminham para o bar. O maitre os recebe com um sorriso.

- Sua mesa está reservada no salão C, Senhor.

- Obrigado. Armand, providencie meu pedido, por favor.

Atravessar os vários salões completamente cheios, não minimiza o estado de Isadora.

Preocupada em não demonstrar seu nervosismo, ela não nota os muitos olhares de admiração

que arranca em sua passagem.

- Acho que terei de escondê-la se quiser tê-la só para mim.

- Não tema. Esse tipo de admiração não me afeta, ao contrário, me incomoda. Sinto-

me caçada e não gosto. Parece não ser só eu o centro das atenções aqui, – ela responde

descontraindo-se.

- Sou como você. Não gosto de ser caçado. Prefiro ir a caça.

- Ora, estou acompanhada de um predador disfarçado?

- Quando se acompanha uma pantera é obrigação se tornar um, para não virar a presa.

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Maximiliano responde puxando-a para si num gesto protetor, enquanto desvia-se de um

admirador mais afoito. Só retira a mão de seu ombro quando chegam ao salão.

Ao entrarem ela tem a sensação de voltar no tempo. O salão era detalhadamente

decorado em estilo antigo, destoando dos ambientes anteriores por onde passaram. A música

suave e de época fazia casais de todas as idades dançarem alegremente.

Seguro, Maximiliano a leva a uma mesa distante das outras e meio escondida por entre

as colunas gregas que criavam um ambiente íntimo.

- Adorei, Maximiliano! – Ela exclama quando ele puxa a cadeira para que se sente.

- Sabia que iria gostar e antes que me provoque, não foi Enrico que me disse. - Ele lhe

diz logo que senta.

- Desculpe-me. Aprendi a desconfiar de tudo e de todos.

- De mim também é claro.

- Principalmente, – ela é sincera.

- Muito bom. Gosta de jogar as claras e eu também.

- Me considera um jogo? – Ela provoca-o.

- Até o final da noite sim, depois não sei.

Isadora tenta decifrar suas palavras fitando-o, mas o semblante fechado não lhe dá a

mínima chance. Ela muda o assunto.

– Aqui existem vários ambientes.

A chegada do maitre, trazendo aperitivos, interrompe-a.

- Tomei a liberdade de pedir um aperitivo leve para você, – ele lhe diz logo que o

maitre de afasta.

- Teme que eu me embebede e lhe faça vergonha?

- Já aconteceu alguma vez? – Ele responde com outra pergunta. - Parece estar sempre

na defensiva.

- Já fiquei alterada algumas vezes, mas não que ficasse envergonhada ou me

arrependesse depois e quanto estar na defensiva, com você tenho que estar.

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O som de um bolero silencia-os. Levantando-se Maximiliano estende-lhe a mão. Segue-

o para a pista lotada e entrega-se ao sabor da dança sentindo-se novamente segura entre os

braços dele. Enlaça-o sentindo o perfume de sua loção. As mãos dele em suas costas nuas,

provocam.

Deslizam suavemente pela pista, cadenciados, uníssonos, como se os corpos

complementassem um ao outro. Isadora fecha os olhos apreciando o contato.

A música termina e eles voltam à mesa. O maitre se aproxima e fala ao ouvido de

Maximiliano. Curiosa, ela tenta ouvi-lo.

- Terei que me ausentar por alguns minutos, tudo bem?

- Sem problemas. Vou aproveitar e ir ao toalete.

- Eu a acompanharei até a porta. Prometo não me demorar.

No banheiro, seguindo os padrões do salão, Isadora acentua o brilho nos lábios. Sentia-

se estranha, intrigada. No casamento de Sandra, quando dançara com Maximiliano, tivera a

sensação de já tê-lo feito e agora, ao dançarem no salão, a sensação era a mesma.

Ao voltar, para não ficar só na mesa, caminha até o bar, onde vários casais conversam.

Espontânea, tabula conversa com um senhor já meio grisalho e muito charmoso, que bebia

sozinho.

Amena e fluente a conversa gira em torno de seus tempos de adolescente. Entretida

em ouvi-lo, ela não nota a chegada de Maximiliano. Assusta-se ao sentir sua mão em seu ombro.

- Eu disse que voltaria logo.

A voz glacial de Maximiliano faz o outro se desmanchar em desculpas e desaparecer

entre as pessoas. O fato consterna Isadora que se irrita. Não ousa respondê-lo ali para não

criar uma situação constrangedora, já que os que estavam mais perto ouviram o que ele

dissera.

Desvencilha-se dele e volta à mesa de cabeça erguida. Tremia de raiva.

- Estava a sua espera, Maximiliano. Não era preciso constranger-me. Por quem me

toma? – Ela lhe diz logo que senta, sem esperar que ele afaste a cadeira.

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- Não gostei de vê-la com outro, – ele rebate, seco.

- Não sou sua propriedade e não estava com outro. Estava a sua espera. – Ela responde

no mesmo tom.

- Será? - E sem esperar sua resposta convida-a – Vamos dançar? Parece que é a forma

que nos entendemos melhor. Não quero brigar contigo. Uma trégua?

- Uma trégua? Acredito que não estamos em guerra.

- Não quero exibi-la. Hoje, você é só minha, – ele lhe diz após dançarem alguns minutos.

Surpresa com as palavras e com o tom de voz, Isadora ergue o rosto buscando seus

olhos. Estremece. Mais uma vez, a sensação de já ter vivido cena parecida, se faz forte e a

assusta.

- Quero-a para mim e não sei dividir.

E justando-a mais a seu corpo, ele lhe busca os lábios, de ímpeto.

Ela se deixa beijar, saboreando intensamente a boca máscula. Logo, interrompe o

beijo. Sua mente estava tomada de recordações. Ergue os olhos sem esconder sua confusão.

Seu corpo, em sintonia com a mente, começa a tremer sem que consiga controlá-lo.

- O que houve? – Maximiliano pergunta, rouco.

- Você me lembra... – Ela se cala ante o olhar inquiridor, estudando-o. – Deixe para lá...

Acho que... Não sei, não estou bem...

Ele não espera que ela conclua a frase, volta a beijá-la. Agora mais intenso e profundo.

O sangue que volta a correr em suas veias como fogo líquido, incendiando-a, lhe dá sustentação

para que absorva as sensações que Maximiliano lhe provoca. Entrega-se a volúpia do beijo como

se buscasse nele, respostas para suas reminiscências, enquanto as mãos dele passeiam

sugestivas e vagarosas por suas costas, acariciando a pele nua sob o decote generoso do

vestido.

Quando se separam, ambos ofegantes, ela espontaneamente se segura nele. E notam

que a música terminara.

Isadora se firma nele, ressentindo-se da falta da energia que ele doara. As

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lembranças, impiedosas, voltam a atacá-la e a silencia.

- Parece que não é só na dança que nos acertaremos, Isadora.

Ela não lhe responde.

- Venha comigo.

Segue-o sem fazer perguntas, já se acostumando ao jeito reticente. Após passarem

por um longo corredor, já longe dos outros salões, eles entram numa sala pouco iluminada.

- Me aguarde aqui. Logo venho te buscar.

- Maximiliano... Não quero ficar só, – confessa ensimesmada. – Tenho receio... – A voz

lhe sai trêmula. Limpa a garganta a fim de expandir o nó que se formava.

- De quê?

- Não sei. O que está havendo? Você tem que sair, por quê? Não quero ficar só... – Ela

mal termina sua queixa, sente amparada pelo conforto dos braços firmes e protetores.

- Deus, você está trêmula! Tranqüilize-se! Não vai acontecer nada que você não

conheça.

A voz calma e segura a faz erguer os olhos para fitá-lo. Mais uma vez sente os lábios

dele nos seus. Enlaça-o frenética, nervosa, e sente o corpo rijo estremecer de encontro ao

seu.

É no beijo suave, que ela busca reforços para acalmar sua mente caótica. Perdem-se

um no outro por vários segundos até que se separam e se fitam longamente.

- Maximiliano.. Não estou atrás de um... – Ela tenta articular quando mais uma vez se vê

presa nos olhos dele, que a estudam com intensidade – Não estou atrás de um relacionamento

inconseqüente... Não pense que...

- Eu sei. Conheço-te mais do que pensa.

- Então vamos parar por aqui, por favor. - Ela se afasta do calor de seus braços. –

Estou com receio. Não sei o que está... Somos muito parecidos, Maximiliano. Noto que somos

fortes demais juntos. Poderíamos nos machucar muito e não sei se estou preparada para isso.

- Também sei disso.

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O semblante tranqüilo e as afirmações explicitamente calmas, como se tudo o que

falasse fosse o certo, a incomodam. Sua independência emerge, expulsando a fragilidade que

sempre aflorava quando estava em seus braços.

- Então não te entendo! Não temos o que oferecer um ao outro. Não daria certo,

Maximiliano!

- Está enganada, Isadora. – Ele a puxa de volta. – Temos sim, muito o que oferecer um

ao outro. Isadora e não vou abrir mão de você. Eu a quero. E vou tê-la.

- Está vendo? Você me quer e eu não sou um objeto. – Completamente livre de suas

fraquezas e deixando-se levar por uma fagulha de ira, ela expõe-se sem mais receio. - O que

quero para mim é mais do que sexo. Não quero e nem preciso de um relacionamento casual. –

Ao notar a surpresa nos olhos felinos, ela continua, secretamente feliz por conseguir arranhar

a arrogância daquele homem - Quero o amor, não só o sexo. Quero um companheiro. Quero o

amor com amizade que se estenda a meu filho, por que o homem para quem eu me doar terá de

ser pai também. Matheus me cobrará se for diferente. Quero aquele amor dos contos de fada,

Maximiliano. Eu mereço. Assusta-o?

Ele a ouve em silêncio, depois lhe beija os lábios levemente, antes de dizer: - Dois

minutos, Isadora.

Maximiliano sai em seguida deixando-a com a sensação de se murchar de toda a

emoção que a nutria. E se sentir completamente vazia, a angustia. - Acabou-se o que nem

começou.

Batidas leves na porta anunciam o maitre que entra solicito.

– Dr. Maximiliano está a sua espera, Senhorita. Pediu-me que a acompanhasse até ele.

A angústia aumenta assustadoramente enquanto ela segue o homem de volta pelo longo

corredor. Depois de minutos que lhe parecem séculos, ele abre uma da muitas portas que

delimitam o longo espaço, e solícito e lhe dá passagem. Isadora gela sentindo-se voltar no

tempo. Anos atrás, estivera ali naquele mesmo local.

A escada parece brotar no tempo. Da mesma forma que antes, ela vem a seu encontro.

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Com o coração aos saltos, as pernas teimando em negar-lhe sustentação, ela sobe os muitos

lances que a levam a mesma porta no alto.

Uma terrível pressão oprime-lhe o peito. Seria possível o destino lhe pregar tal peça?

Será que Maximiliano tentaria seduzi-la no mesmo local que... “Sabe quem ele me lembra, Isa?”

As palavras de Mariana enchem-lhe a mente entorpecida e confusa e se espalha como uma

nuvem gelada por todo o seu corpo. Seu passado voltava a cada passo que dava em direção

àquela porta e os fantasmas à espreita, parecem abri-la lentamente para lhe dar passagem à

mesma sala com suas paredes cheias de monitores. O barzinho de espelhos no mesmo local.

Seus olhos buscam o divã branco rapidamente e o encontra ainda na mesma posição de outrora.

Parecia desafiá-la a desmentir-lhe. O tempo não passara por ali.

- Maximiliano... – Ela estremece ao som da própria voz. – Deus! Só podia...

- Uma virgem disfarçada de odalisca. Você derrubou minhas defesas naquela noite,

Isadora. Nunca poderia imaginar que seria você, a sobrinha de meu melhor amigo hoje, a

mulher que infernizou por tantos anos minha paz.

Saltando como uma mola, ela se volta na direção a voz e não o vê. Uma raiva surda e

inesperada a traz ao presente novamente e a faz colocar para fora, aleatoriamente, o primeiro

dos diversos pensamentos que lhe redemoinham à mente.

– Devia ter exigido meu troféu, Maximiliano. Ou melhor, mefístole... Você sabia o

tempo todo quem eu era e não me disse!

- Não sabia, Isadora. Não até o casamento... – Ele se explica.

- Por que não se deu a conhecer? – Ela não lhe deixa concluir.

- Imagine como me senti ao te ver entrando naquela festa? Minha surpresa foi

tamanha, que o mínimo que eu podia fazer era me calar. Até que pudéssemos nos encontrar a

sós.

- Você podia ter...

- Podia o quê, Isadora?

Com o coração aos saltos ela o vê se aproximar, como a primeira vez, do nada. Sem a

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máscara de antes, ele pareceu-lhe ameaçador.

- Sabia quem eu era ontem... Hoje... – A ira a faz repetir-se – Por que não me disse

antes? Por que...

- Como já lhe disse, fiquei sabendo no casamento de Sandra. Eu a reconheci no ato,

mas você se fechou em copas para mim, aliás, para muitos, pelo que notei. Só a vi se soltar com

Enrico e Sandra.

- Até então... Tio Enrico não havia contado minha história nefasta a você? – Isadora

tenta se esconder atrás da ironia.

- Enrico tem muito respeito por você, Isadora. Ele não comenta sua vida, – ele

repreende-a brandamente. – Eu soube da história, do acidente que havia acontecido aqui na

frente da boate, através dos jornais na época, mas não associei à moça que esteve comigo aqui.

Não poderia. Depois, viajei e fiquei muito tempo fora.

Domando exigentemente a ira, ela faz uso da máscara que acostumara usar para

esconder seus sentimentos. Maximiliano era sagaz.

Um passo. E ele estava do seu lado.

- Acha que o que aconteceu afetou só a você? – Ele se altera. – Sabia que enquanto

estava aqui, delirando em seus braços, a louca com quem havia me casado, tentava abortar um

filho com seis meses de gestação? - O silêncio impera na sala por longos segundos. Ele

continua. – Eu estava saindo a tua procura. Não podia deixar você ir. Telefonaram-me

novamente. Tive que viajar as pressas.

- Não estou te cobrando nada. Desculpe-me... – Isadora ergue a mão. – Foi um ato

louco e... Você era casado? Deus! Que...

- Era sim. E não quero tua recriminação ou teu consolo. Já faz muito tempo. O filho não

era meu, eu sabia, mas não deixava de ser uma criança. A louca cortou os pulsos e me ligou.

Milhares de quilômetros de distância, Isadora. Entre sair atrás de você e ligar para amigos de

lá para que a socorressem, – ele ergue os ombros. - Cheguei somente para os funerais.

Frases curtas e reticentes. Ele não tinha escrúpulos. A mente atordoada e a vergonha

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a dominam.

O silêncio pesa entre os dois. Atenta ao desabafo que não devia estar sendo fácil, pois

ele ainda se mostrava arrogante e orgulhoso, ela teme respirar e quebrar e interrompê-lo.

- Quando a vi no casamento, imagine como me senti? Nunca me esqueci. Lembrei-me

que Enrico havia me contado da morte do irmão e da esposa, que de sua família só havia

sobrado uma sobrinha, – ele se volta para perto dela novamente. Tão perto que Isadora

consegue ver-lhe a íris dos olhos frios. – A sobrinha que perdera os pais e o noivo uma semana

antes do casamento. O pai e o noivo que foram encontrá-la numa boate, em sua despedida de

solteira.

- Os três saíram à procura da louca que... – Ela tenta corrigi-lo.

- Não se desmereça, Isadora! - Ele a interrompe. - Quando Enrico me falava da forma

em que perdera o irmão, ouvia-o por amizade, até por educação. Não os conhecia, – ele lhe

volta às costas e caminha para o bar de espelhos. – No aniversário de suas mortes no ano

passado era para mim acompanhá-lo, mas não deu certo. Esse ano fiz questão. Queria estar

junto dele e entender por que um homem com sua formação ter essa obsessão em estar aqui

exatamente nessa data todos os anos. Cuidei para que meus compromissos não me impedissem.

Estou preocupado com ele. Seu casamento parece não estar bem. Quero dar-lhe uma força.

- São amigos há muito tempo? – A pergunta logo a faz se sentir tola.

- Há uns três anos, mais ou menos. Tornamo-nos muito amigos, além de sócios. Por isso

o convite para padrinho do casamento de Sandra. Matheus é meu filho, Isadora. - Ele afirma

mudando o assunto e pegando-a totalmente desprevenida.

Sobressaltada com a perspicácia de Maximiliano, ela não o enfrenta. Negar, além da

crueldade para com o filho seria o inicio de uma guerra psicológica e ela sabia não ter armas

para tanto. Até onde notara, no pouco tempo que estivera com ele, à arrogância e a frieza,

nele não eram adquiridas, mas naturais. Não devia subestimá-lo, mas também não facilitaria.

- Sim, Matheus é seu filho. Nosso filho.

– Surpreendi-me ao vê-lo no cemitério. Eu reconheci no momento em que o vi. Jamais

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poderia imaginar que aquela noite me havia presenteado com algo tão maravilhoso.

Mais uma vez o silêncio se instala entre eles até que Maximiliano o quebra.

- Ficou silenciosa de repente. O que houve? Vai me negar estar com ele? Você é

daquelas mulheres que sem escrúpulos algum usam os filhos contra o pai, como armas?

- Não sou egoísta e muito menos idiota! Só que há de convir que eu não posso chegar

para ele amanhã e dizer quem você é, - Ela não consegue evitar a provocação. - Matheus, esse

homem é teu pai. Já imaginou?

- Sem ironias, Isadora. Elas não cabem aqui agora. Disse-me que gosta de jogar limpo e

é o que faremos. – Após uma pausa incômoda, ele persiste - Quanto antes falar com ele será

melhor. Quero participar da vida de meu filho e da tua também.

Ela se irrita. – Eu quero isso, eu quero aquilo... Não sabe pedir, não é? Não pode ser

menos arrogante?

- O que sei é que não agüento mais não poder beijá-la. Imagine o quanto esperei

encontrá-la?

De súbito, ele a toma nos braços e reclama seus lábios com avidez.

Isadora retribui o beijo, esquecendo totalmente a ira. Já invadida pelas lembranças do

amante passional e exigente, que em poucos minutos a fizera esquecer sua identidade e sua

condição. Libera-se para as mãos ousadas que passeiam por seu corpo. Como outrora, roubando

seu controle e sua razão. Divide com ele o tremor dos corpos quando enlaçando seu pescoço,

entrega-se.

Ele deixa seus lábios, a fim de fitá-la. Os olhos escurecidos pelo desejo estudam

atentamente seu rosto enquanto lhe solta os cabelos e os faz descer pelos ombros. Enciúma-se

do carinho que os fios sedosos recebem antes de se ver erguida pelos braços firmes.

- É assim que me lembro de você, Isadora. A odalisca que me doou sua virtude, que me

atormentou todos esses anos.

Com suavidade, ele a deposita sobre o tampo da mesa, ergue sua cabeça e expõe o

pescoço alongado para o acesso de seus lábios.

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Os gemidos se misturam e faz ela se lembrar de quantas noites sonhara com ele em

meio a seus remorsos e medos. Quantas vezes sua mente buscara ajuda no homem

desconhecido, temendo perder a semente que ele plantara em seu ventre. A proteção, a força

e o carinho que ele lhe transmitira foram companheiros em sua solidão,

- Eu disse que o marcaria e você não acreditou, – provoca-o entre os beijos

embriagadores que recebia e a mente completamente voltada para aquela madrugada distante.

- Também te marquei, doce virgenzinha. – Maximiliano responde cheio de desejo –

Nunca houve e nem haverá outra igual. Você é minha, Isadora. O destino me deu você.

As palavras chegam longínquas em seu cérebro entorpecido. Ela tenta com esforço,

voltar à razão.

- Não sou sua...

- Será uma questão de tempo...

Ela interrompe os beijos.

E ele as carícias.

Dois oponentes se miram. Isadora se afasta enquanto se recompõe, sob os olhos, agora

acusadores.

- Não pode me negar, – ele lhe diz abruptamente.

- Não posso te negar seu filho. Não posso te negar Matheus. Você tem razão, mas meu

corpo, sim. – Ela replica no mesmo tom.

Ele volta-lhe as costas bruscamente e lhe diz: - O que vou dizer-lhe agora, Isadora, é

único. Não ouvirá outra vez de mim esse assunto. Nunca amei ninguém. Casei-me por causa de

uma falsa gravidez. O que aconteceu conosco é inédito! - Ele se volta e a impressão de ser

firmemente sondada, lhe incomoda. As palavras que se seguem diferem do homem arrogante

de antes. - Vai negar? Somos adultos, fortes e temos um filho. Soube que era meu na hora em

que o vi. - Ao notar um resquício de ternura em sua voz e incomodada em continuar sob seu

escrutínio, ela baixa o olhar, mas as mãos dele, erguem seu rosto em seguida. - Olhe para mim.

Acha que só você sentiu remorsos? O que pensa que senti quando voltei aqui e não a encontrei?

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As manchas no divã atestavam sua condição. Eu havia roubado um bem precioso. Fiz com outro

homem o que foi feito comigo! A diferença é que gostei muito, Isadora. Senti-me lisonjeado,

apesar de reconhecer depois, que você não devia estar em estado normal. Se estivesse, nada

teria acontecido, não é?

- Como soube? – Ela desconversa sentindo o rosto esquentar.

Num gesto largo, Max aponta-lhe os vários monitores na parede.

- Tentamos ter o controle de todos os salões, para não haver surpresas desagradáveis.

Sabia que que num dos salões estava acontecendo uma despedida de solteira, mas não imaginei

que a noiva em questão viesse parar aqui. Estava numa festa à fantasia em outro ambiente. Vim

para cá a fim de fugir um pouco do barulho e então você entrou.

Caminhando até o bar, Maximiliano serve uma dose generosa de bebida aos dois.

Entrega o dela sem lhe retribuir o olhar.

- Para mim, foi o maior presente que recebi em meio a tanta sujeira que era meu

casamento. Nunca imaginei que pudesse ganhar algo tão sublime. Depois, quando você me

tratou com frieza, retirei-me a fim de não constrangê-la. – Ele faz uma pausa como se

revivesse o momento. – Então veio o telefonema. Contatei meus amigos e saí a sua procura...

Procurei você em cada moça do salão... Nunca mais a esqueci. Seu rosto, seu gosto e seu cheiro

ficaram impregnados em mim. – Ele torna a se silenciar por vários segundos e quando volta a

falar, o assunto é outro. – Não é incrível! Conheço Enrico há tempo e ele já havia me falado da

sobrinha que adora, mas nunca vi uma foto sua. Eu a quero, Isadora. - A arrogância torna a ser

notada em sua voz. - Nem que para isso eu tenha de virar sua vida do avesso. Eu a quero. Farei

tudo para tê-la comigo, – ele enfatiza. - Você está no meu sangue.

- E se eu não o querer? – Ela não se conforma com sua forma de se expor.

- Não foi dor ou mágoa que senti naquela tela em sua casa. Você nos retratou como

somos, Isadora. O que somos quando estamos juntos. Êxtase puro. Doce e selvagem ao mesmo

tempo. Parte um do outro. Ali você nos retratou fielmente. Somos parte um do outro, – ele

repete. – Você não soube mentir.

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Ela foge da emoção que as palavras provocam. Não podia se entregar mais do que ele já

pressentia. - Como lhe disse, Maximiliano, quero bem mais que isso. Sexo por Sexo terei a

regalias. É só me dar vontade e ao luxo de querer.

- Mas você não quer. Nunca procurou ninguém desde então.

Um toque na porta faz com que ele se interrompa e se apresse em atender. Abre-a

para que o maitre entre e em meio ao silêncio observa o rapaz arrumar a mesa para o jantar.

A mesa onde a pouco quase fizeram amor.

Mais calma Isadora volta a analisá-lo. Totalmente diferente de qualquer homem,

Maximiliano não precisava de apresentações. Seguro, autoritário e frio. Frio não, corrige-se

mentalmente, pois totalmente frio ele não era. Ele pecava por exalar poder e sexo, mas

também subjugação. E ela queria bem mais que isso.

O pai de Matheus! Com sinceridade, nunca o esquecera. O remorso de ter traído o

noivo as vésperas do casamento, a fizera jogá-lo no fundo da mente por muitos meses. O

nascimento do filho o trouxera de volta com força total. Frustrava-se impiedosamente por não

conseguir decifrar o rosto do homem que a amara com tanta paixão, que a confortara

carinhosamente ao descobrir ser seu primeiro amante. O homem que a atormentava possuindo-

a sempre em seus sonhos.

Agora, com ele materializado ali a sua frente, não sabia como agir. De fato ele

marcara-a não só dando-lhe o filho. Marcara também seu coração. Queria-o sim, mas queria o

que ele dizia nunca poder lhe dar. Amor.

Perdida em pensamentos, ela não nota a saída do maitre e Maximiliano se aproximar,

postando-se atrás de si. Lábios quentes em seu pescoço lhe dão ciência de sua presença e a

amolece.

- Quero você. – Lhe diz abrupta – Não vou negar, mas quero também seu amor. É pegar

ou largar.

Isadora sente o corpo atrás de si se retesar, antes de ouvi-lo. – O que temos aqui não

basta? Amor é um sentimento que pode se transformar em algo muito ruim, Isadora.

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Destruidor.

- Não abro mão, Maximiliano. Sei o que é amar e ser correspondida. E bem amada,

posso dizer.

- Mas foi a mim que se entregou, – ele atalha-a rude.

- E não deixei de amar por isso. Ele teria me compreendido, – Isadora nem pestaneja

ao respondê-lo.

- Não fale dele perto de mim, por favor. Vamos deixá-lo onde está.

- Por quê? Ciúmes de um morto? Ah! Desculpe-me. Esqueci que você não ama. Só sente

ciúme quem conhece esse sentimento.

A ironia dela atinge o objetivo. Maximiliano responde rapidamente.

– Não é ciúme. Só não quero vê-la falar nele. Não em minha frente.

- Pois terá que ouvir se quiser conviver com seu filho, – explica maciamente ante o

olhar enviesado. – Ensinei Matheus a amar Nathan como a um ente muito querido, senão como

explicaria nossas fotos, nossas cartas. Vai ouvi-lo falar muito dele, sim. Convivências, doutor

Maximiliano!

-Ele sabe que não é filho dele?

- Claro que sim! Não mentiria a uma criança e depois eles não se parecem em nada.

Optei por não esconder nada, pois poderia haver perguntas que eu não saberia como

responder. Ele me cobraria demais se usasse de mentiras com ele.

- Não faz idéia do que sinto... Quando imagino que outro poderia estar criando meu

filho...

- Nosso, Maximiliano. Nosso. – Ela o corrige novamente - E se Nathan não tivesse

morrido, tenha a certeza que eu teria contado a ele o que aconteceu aquela noite. Contaria e

suportaria as conseqüências de meu ato, se por acaso, a reação dele fosse diferente do que

imagino.

Maximiliano se cala enquanto a observa. Após alguns segundos depois ele lhe acena em

direção a mesa onde o jantar os espera. - Nosso jantar vai esfriar. - A sombra de um sorriso

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no rosto dele desanuvia o ambiente. – Tomei a liberdade de fazer o pedido por você.

- Como sabe se vou gostar? – Ela aceita a mudança.

- Tenho estudado exaustivamente uma moça chamada Isadora nesses últimos dias.

- E a que conclusão chegou?

- Quero-a para mim e como já disse a ela, não deixarei por menos.

- Quero amor.

- Quero você e meu filho.

Isadora se cala.

- Sabe que tenho o direito de estar com ele. Quero os anos que perdi sem saber dele.

Quero vocês comigo Isadora, mas sem promessas tolas ou românticas.

A frieza torna a sondar os olhos de Maximiliano e as palavras que ele profere a seguir,

abalam-na.

- Sabe que tenho os mesmos direitos que você.

CAPÍTULO V

Ao lado de Gerson, Isadora inspeciona a cerca nova que mandara erguer. Ao comprar a

pequena chácara nos arredores da cidade, sabia que a reforma seria total por causa do

abandono dos antigos proprietários. Aos poucos, conseguira reformar a casa e os alojamentos

e replantara as pastagens e o pomar. A cerca que ficara por último ganhava agora os retoques

finais.

- Ficou danada de bonita, não é Isa? - Gerson pergunta enquanto corre os olhos sobre

os mourões que pintados de branco pareciam sentinelas ao longo da pastagem viçosa.

- Agora parece realmente habitável nossa fazendinha.

- Faltam as vaquinhas de leite. Os cavalos nós já temos.

- Amigão, não me venha com essa agora. Elas são muito dispendiosas e depois, quem vai

cuidar do leite? Matheus não deixa você respirar.

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- Eu gosto, Isa. Sabe que ele é que nem um filho para mim e a Mari.

- Está bem, mas nada de vacas por enquanto, certo?

- Certo, dona Isadora. - Ele retruca risonho. – Já mostrou a Matheus a represa? Ele

nem vai acreditar que vai poder nadar nela agora.

- Quero lhe fazer uma surpresa.

- Vou pagar para ver a alegria dele.

- Nem me fale. Marcos já veio buscar as telas?

- Veio. E mandou lhe dizer que precisa vê-la.

- Deixe as coisas como estão. Ele me absorve demais. Não quero arrumar para minha

cabeça agora.

- Segundo Mariana, ele é um bom partido, Isa. E você precisa de um companheiro.

Ainda espera do pai de Matheus?

- Quem lhe disso isso? – Isadora se surpreende.

- Nós. Eu e a Mariana. Não é difícil deduzir, minha filha. Você não namora e foge de

tudo quanto é homem. Apesar de que agora me sinto mais tranqüilo. Mariana me disse que ele

já apareceu.

Isadora sonda o velho amigo antes de responder.

– Apareceu sim, Gerson. E reconheceu o filho na hora em que o viu.

- E...?

- Me quer. E ao filho também.

- E por que não a noto vibrando de alegria? Não o quer? Não é o que pensava, quando se

guardou para ele todo esse tempo?

- Amor, meu velho. Amor! Ele parece não saber o significado dessa palavrinha tão

pequena, mas que é a chave do infinito.

- É casado?

- Não, viúvo. Quando aconteceu tudo... Ele era casado, acredita?

- Então...

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- Não tem então, Gerson. Ele não sabia quem eu era...

- Isa, – Gerson a interrompe, – o que aconteceu entre vocês é único. Se ele não tem

nada ou ninguém que o impeça, coloque o homem no bolso!

- Gerson, o homem é uma rocha! Não tem essa de colocá-lo no bolso, não.

- Até a rocha tem quem a quebre, Isa. Suas pedras rolam e se distanciam, mas acabam

por se encontrar novamente. Você o quer? Surpreenda-o. Faça-o saber o que pode perder

filha. Vocês são únicos! O que aconteceu entre vocês é raro. Se o homem é difícil, mostre a ele

quem é. Sei que também pode se fazer de difícil quando quer.

- Ah! Meu amigo, ele me desmorona... – Ela confidencia. - Perto dele me sinto tola,

infantil.

- Prestei muita atenção nele quando veio te buscar. Não deixa de ter razão, o danado

não é de se pegar com laço comum não, mas conheço teu jogo de cintura, filha. Vi você crescer

no seio de pais maravilhosos e passar pelo que passou permanecendo inteira.Você não é mulher

de traumas. Todos nós temos os pés de barro. Cada um de nós tem seu calcanhar de Aquiles,

Isa. Ele não pode ter também? Ele é durão? Seja também! Você gosta dele, senão já estava

casada com outro. O que faria você sofrer por ele hoje, heim?

- Ele não me amar. Gerson e não tenho a ousadia de pensar que posso conseguir...

- Mulheres! – Gerson interrompe-a e balança a cabeça num gesto inconformado. –

Vocês são todas tolas! Quanto mais meloso o sujeito, mais vocês acreditam! Mas, voltando ao

assunto, se você o visse hoje com outra mulher, o que faria?

Um gemido doloroso é a resposta de Isadora, que não consegue se expressa e Gerson

ergue os olhos para o alto, num gesto franco de impaciência, antes de voltar a fitá-la.

- Te conheço Isa. Essa frieza tua é só máscara. Quer ele para você? Lute por ele filha,

use suas armas! São natas em vocês mulheres. Com sutileza, provoque o tigre. Se ele a quer,

não vai lhe deixar barato. Lute. E olhe aqui, se precisar de uma mãozinha, o velho Gerson está

pronto para o que precisar. – Sem se conter, o homem esfrega as mãos. – Touro, eu sei que a

gente agarra pelos chifres, tigre eu não sei, mas juntos a gente pode descobrir. Não podemos?

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Mariana vai adorar isso!

- E se ele arranhar nós todos e fugir?

Isadora não segura à gargalhada que rompe o calor da tarde por várias vezes, enquanto

seu velho companheiro elabora e expõe seu plano.

- Mamãe! Do que tanto ri? Sabia que eu e o tio Max só a encontramos por que ouvimos

suas risadas?

Isadora se volta ao ouvir a voz do filho que chega pelo pomar. A seu lado, preso

firmemente pela minúscula mão, Maximiliano a observava. Tenta não deixá-lo notar seu

embaraço ao ser examinada minuciosamente. O short largo e curto evidenciava suas pernas

bronzeadas. A camiseta curta que não a cobria totalmente mostrava parte de seu ventre.

- Mamãe, tio Max veio convidar a gente para ir à praia. Vamos? O Marco já veio hoje,

agora você já pode sair, não é mamãe?

- Marcos? – Max se pronuncia estreitando o olhar.

- É. Marco é o marchão dela...

- Marchand, meu bem. – Isadora corrige o filho e explica segurando o riso. – Marcos é

meu agente.

- Trabalha com ele a tempo?

A pergunta em tom alheio e educado não a engana. Um rápido olhar a Gerson e ganha

de volta, uma imperceptível piscadela. Responde no mesmo tom.

- Há uns dois anos.

Gerson que se mantivera calado, após cumprimentar Maximiliano, alfineta com falsa

inocência:

- Lembre-se de seu jantar com ele, minha filha. Sabe como ele é exigente e não gosta

de esperar. Não vá se expor muito ao sol.

- Não esquecerei. - Isadora baixa o olhar.

- Vai sair com ele, mamãe!? Eu não gosto dele. – O tom amuado do filho faz Isadora se

sentir novamente sob o escrutínio de Maximiliano. Constrangida com a situação, tenta agradar

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Matheus.

- Então meu rapazinho quer ir a praia?

- Quero. Tio Max vai nos levar, mamãe!

- Está bem. Só que teremos que voltar cedo, combinados?

Mal confirmando a pergunta da mãe, Matheus se afasta com Gerson a fim de buscar

seus apetrechos, deixando-os a sós.

- Está mesmo com vontade de nos fazer companhia, Isadora? Tem certeza que não vai

estar cansada nos braços de seu amante, logo mais à noite?

- Não vou nem te responder, Maximiliano!

Isa se sobressalta com o pequeno ataque. Gerson podia estar certo! Temendo que

Maximiliano note em seus olhos, sua alegria ante a demonstração de ciúme, sem mais palavras

caminha rapidamente rumo a casa. Com o canto dos olhos observa-o segui-la. Logo, Mariana

corre a seu encontro, com o rosto afogueado e um largo sorriso no rosto.

- Mari, arruma um lanche para nós? Vamos à praia.

Com a voz desmanchando-se em gentilezas, ela responde: - Não precisa se preocupar,

Isa. Max me disse que vocês vão almoçar no hotel.

- Max!

Ante o olhar surpreso de Isadora, enrubescida ela se explica: – Ele me proibiu de

chamá-lo de senhor ou doutor, não é Max? Ande logo filha. Vá se arrumar. Matheus já está

quase pronto.

No banho, Isadora pensa no plano de Gerson. Achara-o piegas a principio, até hilário,

mas a atitude de Maximiliano a animara muito. Bem que podia dar certo, pois no que

dependesse dela faria o possível e o impossível para conquistá-lo.

Quase desmoronara ao vê-lo ali. Não o esperava!

Os cabelos negros e lisos soltos ao sabor do vento. A calça jeans colada às coxas

musculosas esquentara-lhe imediatamente o sangue. A liberdade e a ousadia, aliada ao corpo

másculo, forte e o semblante sempre sério e seco eram um afrodisíaco poderoso. Ele tinha o

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poder de provocar suas mais secretas sensações, ao menor gesto ou olhar. Os olhos sempre

frios transmitiram-lhe desejo quando fitaram os seios livres do sutiã, mal cobertos pela

camiseta fina. Incendiada, busca refrear-se na ducha gelada.

- Você é um enigma Maximiliano, mas aprendi amar desafios. – Ela resmunga enquanto

se apronta. – Seguirei os conselhos de Gerson. Não tenho nada a perder!

Semideserta, a praia privada os deixava completamente à vontade. Brincando com o

filho, que incansável corria atráz da bola, Maximiliano estava sempre em seu encalço.

Protegida pelo enorme guarda sol, Isadora sonhadora os observa. Não tinha como negar o elo

entre eles. Matheus era Maximiliano em miniatura. Os mesmos traços, a cor dos olhos e a

mesma formação física. Seria uma questão de tempo começar as indagações infantis. Ele já

estava imitando Maximiliano em vários aspectos.

- Mamãe, tio Max e eu vamos fazer um castelo de areia.

- Não seria melhor dar um bom mergulho antes? O calor está sufocante. – Ela pergunta

ao ver ele se aproximar, logo atrás de Matheus.

- Vamos... Vamos... – Em sua alegria infantil, Matheus puxa-a da cadeira e pega a mão

de Maximiliano, arrastando-os para a água. Segue-os visivelmente emocionada.

- É isso que quero, Isadora. É o que seremos – Ele parece ler seu o pensamento. – Uma

família.

Ela não responde temendo se trair. Abraça-se ao filho enquanto deixa as ondas suaves

refrescar seu corpo. Os pequenos braços em seu pescoço acentuam sua emoção, trazendo

lágrimas aos seus olhos. Atento, Maximiliano lhe dá um beijo fugidio no rosto, antes de

mergulhar nas ondas.

- Quero fazer que nem o tio... – Matheus tenta se soltar.

- Quando você tiver sua altura meu bem, poderá furar as ondas como tio Max.

- Tio, me ensina fazer assim. – Ele pede assim que Maximiliano aparece de volta a seu

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lado.

- Quando estiver de minha altura, garotão.

- A mamãe disse a mesma coisa, – reclama amuado, – mas eu aprendo logo.

- E ela está certa. – Max confirma dando-lhe um sorriso, – Vamos ao nosso castelo,

pequeno cavalheiro? Faremos uma torre para aprisionar nossa princesa.

- Que nem no livro? Mamãe, você podia ser nossa princesa, não é? Daí, a gente te

prendia e não deixava você sair.

- Me deu uma grande idéia, garota. - Ele sorri com cumplicidade para a criança. –

Vamos prender sua mãe na torre!

- Daí você pode casar com ela e ser meu pai. Não é legal?

Isadora se surpreende com a colocação do filho e mais ainda, por não ver a mesma

surpresa no semblante de Maximiliano que nem titubeia para responder.

- Quer que eu seja seu pai, Matheus?

- Claro. Você é parecido comigo, bem que podia ser, não é mamãe? Mamãe, eu quero que

meus cabelos fiquem que nem o do tio Max. - Matheus se volta para a mãe.

Isadora fita o rosto marcante a sua frente. Uma sutil palidez marca a fisionomia do

homem quando ele ergue o filho nos braços e pergunta com voz surda.

- E sua mãe. Será que vai aceitar?

- Claro que vai! Nós vamos casar com ela. Vamos nos casar com tio Max. Não é mamãe?

Você vai ser a nossa princesa!

Isadora sente o rosto queimar ante o olhar inquiridor de Maximiliano e a inocência da

pergunta do filho.

- Bem, – ela tenta sair do embaraço. – Não sei se agüentaria dois machões autoritários

mandando em minha vida.

- Ele não vai te mandar, mamãe. Você não é pequena! – E Matheus novamente se volta

para Maximiliano. – Você vai, tio?

- Só um pouquinho. – Novamente uma piscadela é trocada entre pai e filho antes de

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cochicharem um com o outro e Isadora se ver observada por olhinhos sérios, antes de ouvir.

- Não deixo... Não vou deixar.

E os dois saem da água sem ao menos convidá-la. Sorrindo ela os segue. O ciúme era

parte da personalidade de seu filho e agora tinha certeza que de Maximiliano também.

O resto do dia se passa entre brincadeiras e uma gostosa camaradagem. Já no meio da

tarde e vencido pelo cansaço, Matheus adormece. Atento Maximiliano o leva para o carro,

acomodando-o no banco traseiro, antes de embarcarem. O trajeto de volta para casa é feito

em total silêncio. Ao encostar o carro, ao lado do seu na garagem, ele se volta para ela:

- Você não vai sair para jantar com seu amante...

- Ele não é meu amante, Maximiliano. – Ela o atalha antes que ele termine a frase. –

Ainda não é. – Provoca-o.

- Não me provoque, Isadora. - Pegando-a desprevenida, ele toma seus lábios num beijo

dolorido.

Ela se entrega docilmente. Esperara o dia inteiro por ele. O beijo que começara

punitivo transforma-se em faminto, ardoroso, extremamente sensual e incendeia ainda mais

seu corpo já ávido.

- Mamãe, você está beijando o tio Max!?

A pergunta infantil a faz enregelar-se. Esquecera-se completamente da presença do

filho! Tenta se afastar, mas Maximiliano a prende com firmeza junto a ele.

- Ela tem que se acostumar, Matheus. – Ele sussurra observando os lábios úmidos

enquanto acaricia o rosto escarlate com a costa da mão. – Eu também a beijava. Vamos casar

com ela, não vamos?

- Posso contar para a Mari?

A alegria de Matheus ilumina seu rosto. Sem esperar pela resposta dos pais, a criança

sai do carro e entra correndo na casa.

- Não devia fazer promessas a ele Maximiliano! É uma criança! – Isadora o recrimina. –

É muito recente.

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- Não é promessa, Isadora. – E a interrompe. - Para mim é fato consumado...

- Nas mesmas condições impostas por você? Nada feito. Sabe o que quero.

- Droga, Isadora! Eu a quero. Não sou homem de aceitar impasses. - Não vai sair com

ele! - E ele a beija novamente.

Envolvente e carinhoso, Maximiliano desmorona suas defesas. Isadora abraça-o sem

disfarçar o desejo, deixando-se acariciar pelas mãos possessivas.

- Está vendo o que pode perder? – Ele provoca maldoso após liberar seus lábios. - Sabe

que poderá ter muito mais... Aliás, deve se lembrar.

- Escondendo a frustração que a interrupção do beijo e as palavras provocam, ela

responde com frieza. - Posso ter como me consolar.

Isadora desce do carro batendo a porta com força. Só então percebe outro carro

estacionado à porta da casa. Os passos largos de Maximiliano logo atrás, apressam sua

entrada.

Na pequena sala da entrada, Gerson todo sorrisos, segura um lindo arranjo de flores

enquanto despacha o entregador.

- Isadora, olhe que flores lindas! Acabaram de chegar. Como você demorou a entrar,

tomei a liberdade de recebê-las.

Isadora pega o pequeno cartão em meio às flores, preocupada com as artimanhas de

Gerson, mas a letra firme e elaborada atestava o presente de Marcos.

- Não vai abrir? – Parecendo não tomar conhecimento da presença de Maximiliano,

Gerson pergunta com falsa ingenuidade.

- Deixe de ser curioso! – Responde séria. – Abrirei mais tarde.

- Ele acabou de ligar e como você não estava deixou recado. Virá buscar-lhe às nove

horas.

O sorriso de Gerson alarga-se no rosto, ao ouvir a porta de frente bater com estrondo

após a saída intempestiva de Maximiliano.

Esperam ouvir o ronco do motor do carro antes de se abraçarem felizes.

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- Como conseguiu o cartão de Marcos, Gerson? Imitou até sua letra! - Não imitei nada não, Isa. Liguei para ele e contei que você havia destruído seu mais

recente trabalho. É claro que ele se assustou e quis saber a causa. Contei-lhe por alto, que

você estava apaixonada e sofrendo muito por que seu homem não se decidia e que o fato

estava prejudicando sua inspiração. Afirmei incessantemente que temia por seu trabalho.

Bastou, Isa! O resto você imagina. O homem quis saber de tudo. Imediatamente se prontificou

em confortá-la. – E Gerson imita, pela primeira vez e sem receio de ser repreendido, o

maneirismo de Marcos. – Dei a entender que se ele a convidasse para sair seria muito bom. É

por uma boa causa, ele disse... – Gerson abre os braços e sorri para ela. – Isadora, seu

marchand não se preocupou em esconder mais de mim, seu outro lado!

- Está me saindo um velho muito safado, Gerson. Teus cabelos já estão com muitos fios

brancos. Deixe a Mari saber que anda tão alcoviteiro...

- É uma excelente idéia, Isa. Se você aceitar é claro. Mas, preciso fazer a Mariana

saber que...

- Saber o que? – Mariana pergunta entrando na sala.

A conversa que continua, agora entre os três, toma rapidamente a forma de uma peça

teatral.

CAPÍTULO VI

- Meu Deus, mulher! Onde você vivia? – O olhar de admiração de Marcos a faz ter

certeza que acertara na escolha da roupa. – Uau! Se eu gostasse de mulher hoje você não me

escaparia! - Ante o aparente olhar de surpresa de Isadora, ele se explica – Bem, como senti

bem mais que o Gerson quis mostrar, encostei-o na parede logo que cheguei. E já que vamos

ser parceiros nessa pequena, mas ardilosa trama serei franco contigo. Já deve ter percebido

esse meu lado... Bem... Esse meu desvio, certo? Sei que sempre foi educada demais para me

perguntar, mas confirmando, sou homossexual.

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- Marcos!... É certo?

- Isadora... – Ele lhe envia um olhar francamente descrente e irônico.

Ante o olhar do outro, Isadora assente - Bem, desconfiava sim, mas como você volta e

meia tentava lançar suas garras sobre mim, achei que pudesse ser gênero. Nada contra, desde

que você não deixe escapar teu lado de macho comigo. - Ela ralha carinhosa com o amigo.

- Bem que tentei, mas mesmo com toda a tua beleza, você não mexeu com minha libido,

amiga. Não temas, mulher! Hoje sou todo homem, mas só na estampa. – De repente ele fecha o

semblante. - Parece que terei de provocar ciúmes num certo homem. Não vou apanhar de

ninguém, não é Isadora?

- Não. Vamos somente dar uma provocadinha na fera e sair de cena.

- Gerson conversou comigo. Gostei da preocupação dele com você, Isadora! Os dois, ele

e a esposa são realmente seus anjos de guarda. É bom ter pessoas assim a nossa volta. Como

sou teu amigo e sempre gostei de alguma traquinagem, estou à inteira disposição. Vamos lá?

Conversaremos no carro, mas antes quero dizer que está estonteante.

Isadora sorri. Passara hora entre o espelho e o guarda-roupa, examinando

cuidadosamente suas roupas e por fim decidira vestir-se de negro. Usaria a mini saia de couro

que deixava a mostra boa parte de suas pernas, mas num comprimento que não lhe tirava a

classe. Uma blusa da mesma cor, de tecido leve e transparente, fazia às vezes de blazer que

cobria parcamente o bustiê de renda. Os arabescos finamente bordados com fios prateados

combinavam com as sandálias de meio salto. Os cabelos soltos emolduravam o rosto

criteriosamente pintado, mas sem exageros, que a tornava sedutora, irreconhecível.

- Vamos passar o roteiro? – Marcos pede excitado – E na ordem que Gerson me

propôs, acredite! Tomei aulas de sedução com um homem que tem a idade de ser meu pai! Olhe

só: Primeiro iremos ao bar, onde serei todo enamorado e cheio de gentilezas sem ser piegas,

certo? Depois, iremos ao salão de músicas românticas onde me transformarei num homem

completamente apaixonado, mas de poucas falas e por último, o ato final, iremos ao salão de

música eletrônica. Faremos um tour sugestivo, onde provocarei e elevarei teus tributos

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femininos na dança, cuidando sempre para que nenhum afoito se aproxime mais que o permitido

e então desapareceremos. É isso?

- Cada um para sua casa, Marcos. Nossa! Tudo isso é roteiro de Gerson?

- Por que acha que ele está casado há tanto tempo, meu bem? O homem sabe tudo!

Mas, voltando a seus medos, o recado está dado pantera. Não tema. Apesar do traje e da

estampa, sou o mesmo de sempre. - O olhar dele é cheio de malicia. – Não tenho o que você

gosta!

- Formamos um belo casal, Marcos. Vestiu-se todo assim para impressionar mesmo.

Sempre apreciei seu bom gosto.

- Sempre tive, – ele retruca sem falsa modéstia.

Isadora não se surpreende com a seriedade dele. Respeitado no mundo das artes,

Marcos possuía poucos, mas bons amigos. Poucas pessoas sabiam de sua vida particular.

Na boate, ao caminharem para o bar, a mão de Marcos pousa protetoramente em seu

ombro.

Inéditos na noite e em especial ali, o casal chama a atenção logo que sentam no bar.

Sentados nos altos bancos, Marcos acena para a imagem dos dois no espelho ao fundo, antes

de se virar todo amoroso para ela depois de pedir os drinks.

- Parece que nossa sorte está em alta. Não tenho certeza e não olhe agora, mas parece

ser seu tio Enrico que está sentado a poucos passos de nós e está acompanhado.

- Ele está acompanhado? Nosso objetivo é seu sócio, Maximiliano.

- Se for ele a causa de nosso teatro, está conversando com seu tio. Segundo Gerson

ele está tirando sua inspiração e é para tirar mesmo. Uau! Vale a pena o teatro, Isadora! – Ele

cochicha, enquanto abraça-a pelos ombros e encosta a testa à dela. – O homem é um ícone da

noite, sabia?

Isadora meneia a cabeça, negando. Não sabia nada de Maximiliano.

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- O homem é dono das maiores e elitizadas casas noturnas do mundo do

entretenimento! É conhecido e muito respeitado nas altas esferas. Você não é fraca não,

mulher!

- Tio Enrico é sócio dele, mas não o conheço. – Ela explica no mesmo tom, sentindo os

cabelos da nuca se eriçar. - Não sei nada dele.

- Tem certeza do que quer, Isadora? Não o conheço pessoalmente, mas ouço o que

comentam dele nas altas rodas. É um homem muito requisitado, mas frio como um iceberg e é

impiedoso com seus desafetos. Cuidado! O homem é todo um ninho de abelhas africanas.

Rápido e letal. Acha que consegue com esse teu jeito todo meigo e que esconde a sete chaves,

ter competência para administrar seus sentimentos sem se ferir?

- Estou cheia de medo, sim. – Isadora confessa. – Tenho medo de errar, mas sei o que

quero e... Quero-o demais, Marcos. É o homem que amo.

- Então, que se levantem às cortinas! Começaremos nosso teatrinho! Não vá me

desapontar. – Marcos tenta animá-la beijando-lhe a mão. – Vamos ao primeiro ato ou seja,

dançar. - E levantando-se, Marcos a faz segui-lo.

- O que poderíamos conversar? – Ela pergunta fitando-o nos olhos, já que a altura de

ambos era a mesma.

- Que tal sobre o gato que está nos observando atentamente, louco para sangrar o

pescoço de um rato? – Ele graceja.

Isadora não segura o riso ao imaginar a cena. – Está tão sério assim?

- Sério? Quer ver mais de perto? – Enquanto pergunta, num calculado passo da dança,

Marcos a aproxima mais de si e da mesa. - Baixe os olhos, isso, assim toda submissa. Nossa,

você está linda assim! Uau! Quem nos vê, acha que estou quase conseguindo a conquista. – Ante

o olhar dela, Marcos se retrata - Não tenha medo, aqui não tem nada para você.

Espontânea, Isadora não esconde o enorme sorriso e Marcos, oportunista a beija de

leve o queixo. - Meu bem, se não sairmos daqui agora, seremos reduzidos a pó. Quem diria! O

Feroz Maximiliano, também tem seu calcanhar de Aquiles! Vamos ao segundo ato? Ou já quer

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jantar...

- Jantaremos depois, vamos sair daqui. Não quero que ele nos interpele. - Vamos à

música eletrônica.

- E pular a parte romântica? Não vai haver nenhum abraço mais demorado? Ora, é o

ato que mais me especializei!

O salão cheio de energia faz com que eles se soltem. Cônscios de que estavam sob a

mira das muitas câmeras e bons dançarinos, esmeram-se nas danças sugestivas e provocantes.

Isadora sobrepuja as outras mulheres na pista e Marcos sempre a seu lado, mostrava-se

possessivo e às vezes ciumento, intensificando seu papel de homem francamente enamorado.

As horas passam entre generosos drinks e amizades fáceis, quando se lembram do jantar, a

noite já estava alta.

Levemente alterados e abatidos por suas carências pessoais, os dois pareciam

realmente namorados, se apoiando um no outro. Logo que chegam ao restaurante e se sentam,

o maitre aparece solícito.

- Senhor, - ele se dirige a Marcos. – Dr. Enrico está descendo e os convidam a

acompanhá-lo no jantar.

Charmoso e educado, Marcos se volta para ela e prendendo uma mecha solta dos

cabelos, atráz de sua orelha, lhe diz: - Gostaria de juntar-se a eles, meu bem? Ou quer ficar a

sós comigo.

- Jantamos aqui, meu querido! Logo sairemos.

Virando-se para o então silencioso e atento maitre, Marcos responde: - Meu amigo,

hoje eu estou sob o total e irrestrito comando de minha sedutora namorada. Agradeça Dr.

Enrico por nós e diga-lhe que em outra oportunidade, aceitaremos o convite.

- Melhor... – Isadora volta-se para o maitre. – Diga ao Dr. Enrico que nós já havíamos

combinados jantar...

- No meu apartamento, não é meu bem? Hoje você é só minha.

- Isso. – Isadora abre seu melhor sorriso e ganha um beijo no rosto.

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E sem se dignar a olhar uma só vez em qualquer direção, os dois saem da boate.

- Sabe que estou realmente com fome? – Isadora se queixa logo que entram no carro.

- Vamos comprar comida chinesa, você gosta? Depois iremos para o apartamento, para

o ato final.

Do apartamento, Isadora telefona para casa a fim de ter noticias de Matheus e

Gerson lhe diz que Maximiliano já telefonara duas vezes em menos de meia hora.

Após conversar com ele e ter noticias do filho, mais relaxada ela baixa a guarda e se

revela para o amigo. Conta toda sua história a Marcos.

- Que coisa! Mulher, você o ama realmente! Desde que te conheço, nunca a vi com

ninguém. Esperou por ele todo esse tempo? – Compulsivo, ele não espera respostas e continua a

inquirir. - E agora que consegue encontrá-lo, está fazendo esse jogo com ele? Não a entendo.

Você me disse que ele reconhece o filho e a quer também, o que está esperando para agarrá-lo

com unhas e dentes?

- Amor, Marcos. Quero que ele me ame... E ele não é de falar em amor. – Isadora não

esconde seus receios. - Não o entendo. Maximiliano ao mesmo tempo em que é frio, arrogante

e me diz que não sabe amar, me faz subir pelas paredes! Mesmo sendo possessivo, machista e

ciumento, me faz sentir única!

- Olhe a propaganda!

Marcos sorri ante a surpresa de Isadora, mas a gargalhada dela a seguir, o faz

continuar.

– Sabe o que está faltando? – Ele volta a inquiri-la. – Bem, pelo menos é o que acho. De

a ele uma segunda prova, Isadora. Depois de tudo o que passou, o homem desconfia até de sua

sombra, certo? Agora dá para entender seu lado seco, taciturno. – Marcos caminha pela sala

antes de se voltar para ela - Sabe o que você fará? Ame-o. Dê-se a ele sem reservas e sem

cobranças, o aceite como ele é. Quando menos esperar terá o homem completo para si. –

Marcos sorri antes de continuar - Olhe que vou começar a cobrar por meus conselhos, afinal

estou entregando na bandeja, o Manual de como desabar um homem sem que ele perceba. Não

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terá conselhos melhores.

- Esses teus conselhos também não deixam de ser machista Marcos e não se aplicam a

ele. – Isadora não participa da brincadeira. - Com Max não existem rótulos ou formas. Não dá

para usar regra nenhuma com ele. Está sempre um passo à frente de tudo! Às vezes acho que

ele me quer por causa de Matheus...

- Se não tentar nunca vai saber, meu bem. O que tem a perder? O coração já foi, o

corpo será uma questão de tempo, se é como você me contou. Já jantamos? Bem, agora vou te

levar para casa. Se bem conheço o lado masculino da situação, ele estará à sua espera,

fumegando de bravo. Seja dócil e não o provoque, não é hora de bancar a heroína. Dê-se a ele...

- Eu, dócil? Não me conhece Marcos!

- Sabe que te conheço mais do que pensa, Isadora. Esquece que sou eu quem seleciona

suas pinturas? Você é dócil e sensível, tímida e sonhadora e... - Ele faz certo suspense antes

de continuar, - gosta de se esconder atrás de máscaras. Às vezes deixa transpassar isso em

seus quadros, sem contar que se guardou todo esse tempo para um sonho. À prova é concreta.

- Por Deus homem! Não vai querer desnudar-me a alma agora, vai?

- Não falo mais nada então, meu bem. Eu, como o Gerson, quero te ajudar.

O trajeto de volta para casa é efetuado em silêncio. Cada um perdido em seus

pensamentos.

- Não te disse? – Marcos alerta-a logo que chegam e os faróis de seu carro apontar as

lanternas traseiras de outro. - É o carro dele, não é? Quer que desça contigo?

- Não. É melhor não provocarmos mais a fera. – Isadora responde num misto de

apreensão e alegria.

- Lembre-se do que te disse. Use o coração, a cabeça e seu corpo. Estritamente nessa

ordem.

Isadora desce do carro tentando demonstrar desenvoltura, espera Marcos manobrar o

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carro e desaparecer. Só então caminha para o portão fingindo não ver o carro parado perto.

Um intenso arrepio em sua nuca alerta-a de sua presença, antes da energia dele envolvê-la.

- Entre no carro, Isadora. - A voz falsamente calma, mas glacial era mais que um

pedido.

- Não posso. Preciso avisar que cheguei e...

- Já os avisei. – Ele a corta duramente. – Entre.

- Maximiliano... – Isadora ainda tenta argumentar, mas ele, sem muita gentileza, a faz

entrar no carro pela porta do motorista. Logo ele toma a direção de volta à cidade, a toda

velocidade.

Com o coração aos saltos, ela não ergue o rosto a fim de não mostrar sua alegria, mas

pelos cantos dos olhos vislumbra a silhueta arrogante concentrada em dirigir. Não demora em

reconhecer a entrada do hotel de praia. As luzes amarelas indicam a exclusiva entrada da

garagem. Estava no território dele.

Assim que ele desliga o motor do carro, Isadora abre a porta e sai, na tentativa de

escapar da fisionomia austera. Ele chega a seu lado e a leva rumo ao elevador privativo, onde

aperta o botão do último andar, ignorando-a totalmente.

Isadora sai do elevador para a cobertura do hotel. Seu estômago se contrai. A emoção

era tão intensa que lhe doía dos dedos. Estava onde queria estar, no reduto dele e sentia no ar

a eletricidade latente, quase explosiva, a envolvê-los.

Sem buscar seu olhar um segundo sequer, ele abre a porta e lhe dá passagem. Isadora

não toma noção do ambiente, pois a mão firme em seu queixo ergue-lhe o rosto. A imagem de

um animal trêmulo e indefeso nas garras de um predador atravessa-lhe a mente e a faz rir em

descontrole.

Frio, ele a observa.

Os olhos amarelados e atentos passeiam por seu rosto, demoram longos segundos

sobre seus lábios, antes de descerem pelo seu corpo, como se buscasse algum sinal, alguma

evidência que atestasse que ela tivesse ultrapassado limites.

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O sorriso morre em sua garganta quando ele deixa escapar um longo suspiro e a toma

nos braços, murmurando roucamente:- Não gosto que toquem o que é meu, Isadora. Você sabe

a quem pertence.

Ao ser assaltada por um beijo intimidante e possessivo, ela se entrega sem reservas.

Deixa-se invadir pela boca sequiosa, enquanto sente a porta moldar-se às suas costas.

A energia contida deflagra-se num desejo primitivo e selvagem, espalhando suas

chamas pelos corpos estreitamente sintonizados. Lábios que se sugam famintos entre gemidos

de prazer, provocados por mãos que se exploram incontidas. Línguas que se enroscam entre

suspiros apaixonados. O gemido que escapa de sua garganta, quando ele ergue-lhe a saia e

arranca-lhe a calcinha minúscula é de puro desejo. Treme de excitação quando ele interrompe

o beijo e examina seu rosto afogueado.

- Pedi que não saísse com ele. - Ele segura seu rosto entre as mãos. – Por que me

provoca?

Sem esperar resposta, Ela a beija novamente, apertando-se contra ela, fazendo-a

sentir toda a extensão de seu desejo.

Sem pudor, ela se esfrega no corpo duro arrancando-lhe um gemido. A resposta não

tarda. O movimento urgente e audacioso da mão dele, abrindo o abrir o zíper da calça, a

alerta.

- Maximiliano... Eu não... Ninguém mais... – Tenta articular as palavras, mas trêmula, não

consegue.

- Machuquei-te muito da outra vez, não foi? – Ele sussurra em seus lábios. – Nunca

imaginaria que era sua primeira vez.

Com um gesto de cabeça, ela concorda e mesmo sabendo que estava se expondo,

completa. – Mas gostei muito.

A mudança no rosto quase sempre agressivo é visível, total. - Foi o paraíso. Venha,

minha odalisca. Vou amar-te como imaginei fazer todo esse tempo. Como merece a mulher que

se guardou para mim.

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O corpo musculoso e firme, a camisa totalmente aberta no peito e os cabelos soltos,

provocam sua libido insanamente. Guiada pela mão que aprisiona firmemente a sua, ela o segue

pelo extenso corredor rumo ao quarto. Seu lado de Eva aflora com força total, deixando-a

trêmula e submissa, mas totalmente excitada.

A cama imensa colocada em um nível mais alto que o piso, a lembra um pedestal. Cenas

de seus corpos a rolarem sobre ela dominam sua mente, esquenta seu baixo ventre e a faz

gemer antecipadamente.

A meia luz, contrariando sua postura, ele a despe contido, sério. Vagarosamente

passeia as mãos por cada pedacinho de seu corpo, como se buscasse confirmar suas

lembranças. Hipnotizado, ele segura os seios fartos e já túmidos.

- Está mais bonita do que me lembro, Isadora. E não deixei de memorizá-la um dia

sequer.

A voz rouca e baixa, junto aos seus seios a faz tremer. Os lábios ávidos a sugá-los sem

pressa, enquanto sua saia desliza pelas pernas rumo ao chão.

- Está sendo mau... Deixe-me tocá-lo também. – Ela reclama sem se conter. Buscando

seus lábios, tomando iniciativa.

Sem deixar seus lábios, ele a leva para a cama, ampara-a com os braços até deitá-la

por completo. Só então a deixa para poder tirar o restante da roupa.

Impulsiva, Isadora busca-o de volta e ele sorri diante de sua impetuosidade.

Deitando-se a seu lado, Maximiliano procura seus lábios com ardor. A língua sensual explorava

sua maciez torturando-a enquanto as mãos passeavam por seu corpo fazendo arder suas

entranhas.

Um toque leve em sua intimidade a faz arquear o corpo e se abrir, pronta para a

invasão dos dedos atrevidos.

- Maximiliano...

Sem deixar seus lábios, ele separa-lhe as pernas e deita sobre seu corpo, dominando-a.

Abraça-se a ele saudosa. Sentia-se transpassada de desejo.

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- Você me quer agora, odalisca! Desta vez, sou eu quem vai marcar-lhe. – Ele sussurra

sugestivo em seus lábios. – Desta vez será você a vitima dessa deliciosa loucura. – E ele

invade-a lento, cuidadoso. Os olhos hipnotizantes prendendo os seus, cuidando suas reações a

cada investida. - Você se guardou para mim, Isadora.

- Nunca quis outro. – Ela responde acariciando o rosto másculo, enquanto as lágrimas

provocadas pela emoção dolorida, pela sensação urgente de ser possuída por ele deslizam por

seu rosto.

Bebendo-as, Max a incentiva a se abrir mais. Cauteloso, desliza-se todo para dentro

dela como se a degustasse. Estreitam-se como amantes esfomeados, sedentos e dominados

pela urgência de se possuírem e temerosos de se perderem em poucos segundos.

O controle até então firmemente mantido se esvai. A carne macia, quente e úmida,

fecha-se a cada investida lenta e cadenciada.

Isadora, de olhos fechados entrega-se totalmente a posse do homem de seus sonhos,

de sua vida, vivenciando cada lembrança do corpo rijo, deleitando-se com cada músculo, cada

contorno. Enrosca as pernas no quadril estreito e atento Max aprofunda a penetração e faz

eco ao gemido urgente que ela libera. Cola-se a intimidade pulsante e acolhedora. Num acordo

mudo, fitam-se enquanto iniciam a dança milenar. Isadora morde os lábios para não lhe gritar o

nome dele, ao sentir que no ápice, ele se retira quase todo para então se enterrar profunda e

primitivamente dentro dela.

Bom e experiente amante, ele a entorpece de prazer até se soltar inteira e deixar

escapar repetidas vezes seu nome, completamente invadida pelo êxtase.

Suados e extenuados, eles se largam no leito buscando controlar a respiração.

A lembrança da primeira vez em que se dera a ele invade sua mente e ela puxa-o para

si e o faz repousar a cabeça em seu seio. Da outra vez, recusara lhe dar conforto. Repelira-o,

movida pela vergonha do ato despudorado que participara. Fora embora.

- Desta vez você vai ficar nem que eu tenha de amarrá-la a mim. – Ela ouve a voz baixa

e se alegra. Como ela, ele também estava com a mente voltada para aquela noite.

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Um abraço apaixonado é sua resposta, deixando-se levar pela emoção.

Maximiliano ergue o tronco a fim de observar-lhe e Isadora não foge ao seu exame.

Sente o dedo firme passear em cada traço de seu rosto enquanto a coxa rija e musculosa

descansa sobre as suas.

- Está toda marcada!

- Você também! - A provocação maliciosa lhe traz um sorriso ao rosto. – Maximiliano, o

meu amante é passional.

- Max... – Ele a corrige antes de perguntar. - Só ele? O que me diz da resposta ardente

de uma jovem, saudosa e deliciosa odalisca? Ela o tira do sério. O faz pensar em sensações há

muito tempo esquecidas.

- Meu amante não é homem de se tirar do sério. Às vezes, ele é muito controlado. –

Isadora provoca-o em sua resposta. – Gosta de ferir.

- Ele quis puni-la. Ela é muito audaciosa...

- Deliciosa e aconchegante...

- Feita na medida exata para ele. - Maximiliano completa sua frase tomando-lhe os

lábios novamente.

Logo em seguida Isadora interrompe o beijo, completamente assustada. Seus olhos

crescendo rapidamente no rosto desperta a atenção de Maximiliano.

- O que houve?

- Max! Esquecemos de nos proteger.

- Céus, Isadora! Você não toma pílula?

- Para que? Eu não... – Ela não termina a frase já invadida pela timidez e a exposição.

- Já imaginou se aprontamos mais um? – Ele brinca.

- Está louco! – Isadora se assusta mais ainda – Max...

- Você está no seu período fértil? – Ele pergunta enquanto se levanta e sem esconder

a nudez entra no banheiro, voltando segundos depois com uma caixa de preservativos e coloca

no travesseiro ao lado.

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Isadora observa atentamente a caixa. O coração aperta em seu peito. Não consegue

esconder a mágoa ao vê-lo portar-se com naturalidade.

- O que foi agora? – Adivinhando-lhe os pensamentos, ele volta a deitar do seu lado e

estreita-a num abraço possessivo. - Nunca trouxe mulher alguma nesse apartamento, Isadora.

Estão longe meus dias de caçador inveterado.

- Então como isso aí foi parar justamente em seu banheiro? – Isadora não se contém

e olha acusadoramente para a caixa de preservativos.

- Comprei quando reencontrei uma bela e inesquecível Odalisca numa recente festa

de casamento. Tenho intenção de seduzi-la com tanta intensidade, de absorvê-la de tal

maneira, que ela terá seus olhos somente para mim. - Ele a fita seriamente ao enfatizar. – Para

ninguém mais.

- Também ela não suportaria dividir. – Isadora responde séria, como ele. – Ela é capaz

de arrancar certa parte da anatomia de seu amante, se ele bancar o ardoroso para cima de

outra.

- No que ele estaria certo. Tambem teria todo o direito de desfilar com outra. Não

foi o que o que ela fez? É somente ele o passional?

Isadora o abraça num pedido mudo de desculpas. Rapidamente é envolvida fortemente.

- Sabe qual é minha vontade?

A voz rouca em seu ouvido a arrepia enquanto ele, ousado e sem esperar

consentimento, se posiciona e a penetra de uma vez, arrancando-lhe em gemido de prazer.

Já consumida pela sensação urgente, com o corpo em chamas a cada investida vigorosa

e selvagem, ergue o tronco, oferecendo-se a ele e buscando contato maior com o peito largo.

Ele toma seus lábios num beijo exigente. Ela cerca os quadris dele com as pernas num gesto

possessivo, enquanto explora as costas largas com as unhas, marcando-lhe a pele quente e

levemente molhada de suor. Acompanha sem limites sua explosão. Minutos depois, consumidos

pela exaustão dos corpos e a mente extenuada pelas emoções intensas, adormecem pela

primeira vez nos braços um do outro.

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CAPÍTULO VII

Ao acordar, o sol da já invadia o quarto. Isadora procura por Maximiliano a seu lado,

mas se vê sozinha. Olha o relógio e se assusta com o adiantado das horas. Levanta

rapidamente e se depara com sua valise acomodada aos pés da cama.

Intrigada, abre-a e encontra várias peças de sua roupa. Não perde tempo em se

perguntar como foram trazidas ali, corre ao banheiro e se refresca sob uma ducha fria e

revigorante. Quando volta ao quarto novamente, completamente desperta pelo banho, se

incomoda com o silêncio.

Apreensiva, sai pelo corredor acarpetado explorando o vasto apartamento até que

ouve o som de vozes ao fundo. Segue-as e logo entra na cozinha e a cena que encontra, a

emociona totalmente.

De costas para a porta, Matheus completamente à vontade toma o café da manhã em

companhia do pai.

- Nossa dorminhoca acordou, Matheus.

Profunda, a voz tem um toque de intimidade tão deliciosa e natural que faz as lágrimas

umedecer seus olhos.

- Mamãe! Tio Max foi me buscar em casa, acredita! Vamos passar o dia todinho junto

com ele. Não é legal?

Sem parar de falar, o filho desce da cadeira e corre a abraçá-la. Isadora não ergue o

olhar. Teme que Maximiliano note neles sua emoção, seu amor.

- Vamos passar o dia juntos, Isadora? Adiantei-me e tomei a liberdade de buscar

Matheus e roupas adequadas para você. – Ele explica com tranqüilidade. – Sente-se,

preparamos café para você também.

- Vocês!

- Tio Max fez tudinho, mamãe! Até o suco de laranja que você gosta! Ele sabe tudo.

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- Pelo jeito, vocês já traçaram também nosso dia.

- Nós vamos para a fazenda do Tio Max. Vamos ver os cavalos. Ele disse que vou

gostar.

- Quero que passem uns dias comigo. Você vai gostar da fazenda. Será bom para nós. –

Ele se pronuncia fitando-a com seriedade, deixando suas intenções às claras.

De assalto, a lembrança da noite anterior toma seus pensamentos e provocam um

intenso calor que lhe sobe a face.

- Pode dispor de seu tempo assim? – Pergunta encabulada.

- Meu tempo sou eu quem faço, Isadora. Seria bom passarmos alguns dias juntos, não

acha? Assim vocês conhecem meu modo de viver, o que gosto de fazer e eu o de vocês.

- Vamos, mamãe!

Ela baixa os olhos para a xícara de café, entre alegre e receosa. Passar os dias e as

noites com ele como uma família seria ótimo. Poderia conhecê-lo melhor, como agora ali a sua

frente, mas também poderia se tornar um pesadelo. Expor-se a ele em sua total intimidade,

poderia virar uma arma contra si mesma.

- Terei de ir até em casa pegar roupas para nós. – Ela responde ao filho ainda sem

coragem de fitar Maximiliano.

- Ligue para Mariana, assim quando chegarmos já estará tudo preparado. Você pode

você dar uma pausa em seu trabalho?

- Sem problemas. Ligarei para Marcos e...

- Sem ligações a ninguém mais, Isadora. – Max interrompe-a frio, diferente do homem

de segundos atrás. – Peça a Gerson ou a Mariana que o faça.

- Está bem. Como você mesmo disse, sem problemas. – Ela responde com sinceridade ao

ver a tensão marcar o semblante belo e arrogante.

Duas horas depois, Maximiliano que trocara o carro esporte por um utilitário

importado, pega a rodovia rumo ao interior. Poucas foram às palavras trocadas entre eles. Os

olhares diziam tudo e Matheus aperfeiçoava a cumplicidade com sua tagarelice infantil e

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deslumbrada, até que exausto adormece no banco traseiro.

A conversa entre eles então, começa a fluir com tranqüilidade. Hábil, ele a faz falar

da infância alegre, da adolescência despreocupada ao lado dos pais e de quando começara a

cursar a faculdade. A ligação entre ela e Nathan estava presente em cada lembrança. Em

momento algum se retraíra em falar de seu primeiro amor e ele não a interrompera. Ao falar

do noivo Isadora sentiu no gesto solidário dele, ao colocar a mão sobre a sua e apertá-la

gentilmente, que ele a entendia. Gesto que a confortou, pois ele não a deixou até sair da

rodovia para a entrada particular da fazenda, quando teve que trocar a marcha do carro.

- Nos esperam?

- Não avisei de nossa chegada. Não é preciso. – Ele sorri relaxado. - Tenho ótimos

colaboradores, ótimos funcionários. Tudo aqui é mantido na ordem.

- Vem muita... Vem muitos amigos seus para cá?

- Se quer saber se trago mulheres para cá Isadora, a resposta é não. Não misturo meu

prazer com minha intimidade. Quanto a amigos, quase sempre aparecem e não me incomodam.

- E como ficaremos? Quero dizer... – O constrangimento a impede de continuar.

Maximiliano encosta o carro na margem da estrada e virando-se para ela, toma seu

rosto entre as mãos e fita-a com extremo carinho.

- Estou com Isadora, à mãe de meu filho e se ela decidir, em pouco tempo minha

esposa. A Isa mulher, minha amante passional e minha odalisca, eu as tenho. – E beija-a

ardorosamente confirmando suas palavras.

- E o amor? – Pergunta logo que ele a liberta e arrepende-se em seguida ao ouvir sua

resposta.

- Quer que eu a encha de palavras melosas e promessas de amor eterno? Não me cobre

o que não conseguiria lhe dar, Isadora. Vamos viver o agora.

A dor dilacera-lhe o coração, mas ela se cala num mudo consentimento. Em seu intimo,

as palavras de Marcos reverberam. Aceitaria o que ele pudesse lhe dar e não faria cobranças,

se pudesse evitar. Faria o que fosse preciso para estar do seu lado. Só o tempo lhe mostraria

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se ele a amaria e com o mesmo fervor. Seus dias, dali para frente seriam oscilantes.

É aflitiva que recebe mais um beijo antes dele funcionar a picape e entrar de volta na

estrada.

- Não seria bom que acordássemos Matheus? Ele gostaria de ver a entrada da

fazenda.

O alívio em ter como disfarçar a aflição que teima em não lhe abandonar, a faz se

voltar para o filho no banco traseiro, que logo acorda. Suas inúmeras perguntas amenizam o

clima.

- Não estaria na hora de participarmos a ele? – Maximiliano pergunta. – Afinal, será

apresentado na fazenda como tal, como meu filho.

Isadora volta-se e observa Matheus que, admirado com a linda paisagem não ouve a

conversa deles.

– Vamos tentar, mas não estaríamos sendo precipitados? E se não der...

- Certo? Tem intenção de me negar a ele se por ventura achar que não estou apto para

ser seu marido, por não adocicar sua existência com frases idílicas?

A picape parando chama a atenção de Matheus e a impede de responder.

- Tio Max! Vamos olhar aqueles cavalos?

- Daqui a pouco iremos. Antes eu gostaria de te fazer uma pergunta meio séria.

Pela primeira vez, Isadora nota desconforto e certo nervosismo na voz dele ao

responder o filho.

Assumindo ares de importância, Matheus pergunta.

– Conversa de gente grande? De homem para homem? Então eu tenho que sentar no

colo da mamãe. Aí, ficarei grande como você. – E com toda a energia característica de uma

criança célere, ele pula para o banco da frente, para os braços da mãe. Isadora o segura,

trêmula.

- Pois bem. Já que estamos na mesma altura e noto que você gosta de conversar sério,

te farei uma pergunta. Você gostaria de ser meu filho?

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Usando da mesma forma infantil de Matheus ao falar, Maximiliano faz a pergunta.

- Claro que sim! Nós vamos casar com a mamãe. Daí você será o meu pai e eu serei seu

filho, não é?

O alívio na fisionomia de Max é autêntico ao continuar.

– Só que eu gostaria que me chamasse de papai, já que não tenho filho nenhum.

- E eu serei todinho seu filho? Só eu?

A indagação alegre da voz da criança contamina-os. Isadora deixa as lágrimas

represadas descerem quando ouve Maximiliano responder visivelmente emocionado. Era a

primeira vez que o via com a guarda aberta.

– Só você, meu filho.

- Está vendo, mamãe! Se a gente se casar eu vou ter um papai e uma mamãe.

- Claro que terá, meu bem. Você agora terá papai e mamãe.

O abraço espontâneo e carinhoso de Matheus é um bálsamo.

- E eu. Não mereço um abraço desses também? – Maximiliano provoca o filho,

atenuando a emoção dentro do veículo.

Matheus se volta para ele que logo o toma nos braços, apertando demoradamente a

criança, sem esconder os olhos umedecidos.

- Obrigado, – A voz dele sai rouca. – Obrigado...

- Você está agradecendo a mamãe por que, tio Max? Ops!... Desculpe Tio Max... Ops!...

Desculpe papai...

- Diga novamente para mim, filho. – Maximiliano solicita sem esconder a ternura. –

Repita...

- Papai? Está bem? Papai... Papai... Papai... Legal, né?

E ele repete tantas vezes que a euforia se transforma em gargalhadas que ressoam no

interior da picape.

- Posso contar para a Mariana, mamãe, quando a gente voltar? Ela vai amar, não vai?

- Pode sim... Filho – Maximiliano responde por Isadora. – Conte para a Mariana, para o

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Gerson, para todo mundo, se você quiser. Agora venha, vamos conhecer a sua fazenda.

- Minha!

Os olhinhos admirados de Matheus fazem Isadora repreender Maximiliano.

– Ele é muito pequeno.

- Ele é meu herdeiro universal, Isadora. Crescerá sabendo o que possui para aprender

a administrar. É desde a tenra idade que a gente assimila a vida.

- Vem se sentar aqui Matheus. Deixe tio Max... – O olhar dele sobre ela a corrige. –

Teu pai precisa dirigir.

Minutos depois, a entrada da fazenda aparece logo após uma extensa área de mata

virgem, uma luxuriante floresta, entranhada dentro da enorme área. Logo que Maximiliano

para o veículo Isadora desce do carro, admirada com a paisagem exuberante. Do outro lado, o

pasto verdejante perdia de vista, salpicado aqui e ali pelas centenas de reses que formavam

grandes manchas brancas, contrastando com o verde da grama.

Altaneira, a porteira com seus moirões de madeira maciça parecia uma fortaleza. Os

troncos enormes erguiam-se para o alto e estavam ligados por grossas correntes de ferro que

sustentavam uma grande prancha, também de madeira. Nela, aparecia entalhado com maestria

o nome da fazenda. Odalisca.

As emoções se sucedem em seu rosto. Odalisca, o apelido que ele lhe dera anos atrás

não fora um carinho de momento. Realmente, Maximiliano se lembrara dela!

Sem conseguir desfitar a enorme placa, não percebe o olhar de Maximiliano sobre si,

que deliciado observa as emoções estampadas em seu rosto. Surpresa, alegria e uma grande

timidez fazem-na corar quando seus olhares se encontram. Poucos passos e logo ele toma nos

braços o corpo trêmulo.

- Te peguei, não?

- Eu pensava que para você... Pensei que não se lembraria!

- Nunca esqueci.

Ele a beija demoradamente e ambos quase se esquecem da presença do filho. Segundos

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depois ela envolve os ombros dele, encantada.

Ele não a esquecera. Compreendia-o agora. Maximiliano não era homem de muitas

palavras. Teria de estar sempre atenta, pois ele era de demonstrar seu carinho em atos ou

pequenos gestos de atenção.

Com ele tudo era diferente, inédito.

- Ei! E eu? – Com os braços agarrados às pernas dos pais, Matheus pede atenção.

- Max, eu...

- Shss... – Ele silencia-a com um curto beijo e sussurra em seus lábios. – À noite é

nossa.

A promessa em seus olhos faz Isadora vibrar como as cordas afinadas do violino de um

músico exigente.

O restante da viagem ocorre como se ela estivesse sobre nuvens brancas e etéreas.

Nem a tagarelice do filho, admirado com a beleza da fazenda arranca-a de seu estado de

euforia.

- Olhe mamãe, o sol está dentro da água!

- O por do sol aqui é muito bonito, Matheus.

- Mas por que o sol está dentro da água? – O menino insiste com Max.

- Por que o lago é muito grande e a água calma torna-se um grande espelho. Nessas

horas, ela mostra o céu em toda sua beleza.

- É muito bonito aqui.

- De todos os lugares que conheço, este é o único que me toca. É aqui que encontro um

pouco de paz. – A resposta de Maximiliano a faz avaliar o tão pouco que sabe dele, que o

conhece.

- Nunca o imaginaria um fazendeiro.

- E eu nunca a imaginara como mãe de um filho meu. O que só reforça passarmos mais

tempo juntos, Isadora. Precisamos nos conhecer melhor.

A resposta séria volta a deixá-la meio apreensiva.

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- Olhe mamãe, os cavalinhos!

Dividido entre o excitamento e a curiosidade, Matheus se faz presente, distraindo os

receios de Isadora que olha os pequenos animais, que ao lado das mães pastam com

tranqüilidade. Ao fundo, inúmeras construções aparecem ao longo estrada cascalhada,

separadas umas das outras por cercas baixas, simétricas e bem cuidadas.

- Ali moram os funcionários da lida diária com os animais. Às vezes são famílias

numerosas. – Maximiliano explica. – Aqui terá vários amiguinhos Matheus e poderá brincar à

vontade.

- E poderemos andar nos cavalos?

- Com certeza sim, mas terão que estar sempre acompanhados. Já estamos chegando.

Isadora admira a casa que aparece logo após a curva da estrada cascalhada. Meio

escondida entre enormes árvores, ela parecia sair das telas do cinema americano. Admiração

que não passa despercebida a Maximiliano.

- Inspirei-me nas antigas fazendas de algodão dos Estados Unidos. Sempre admirei a

arquitetura dos casarões antigos, delas em especial.

- É simplesmente maravilhosa! – Isadora se exprime examinando os enormes janelões

pintados de branco, no segundo piso. – É toda em madeira!

- Apesar de gostar muito do concreto e do moderno, adoro voltar às raízes sempre que

tenho oportunidade. Gosto de resgatar o antigo. – Maximiliano estaciona a picape na frente da

entrada da casa, sob uma das frondosas árvores.

Após descer, ele dá a volta e abre a porta para ela que logo se vê envolvida em seus

braços.

- Aqui teremos todo o tempo do mundo para nós, Isadora. Aceite. – Ele murmura em

seu ouvido.

Ela se deixa envolver sentindo-se especial. Ergue o rosto para ele que com

naturalidade a beija.

O barulho de passos descendo os degraus da entrada os afasta relutantes.

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- Chegou cedo doutor, esperava-os só mais tarde.

- Fizemos uma ótima viagem, Júlio. – Maximiliano responde voltando-a para o homem

que se aproxima, antes de estender a mão e saúda-lo.

- Isadora, este é Júlio. Meu faz tudo por aqui. Está comigo há muitos anos. Tomará

conta de vocês como faz comigo.

- Senhora. – O homem lhe aperta a mão com a firmeza do povo antigo. Atencioso e

educado, ele se volta para Matheus. – E esse rapazinho? Seja bem vindo, filho!

Matheus parece se intimidar com o porte avantajado do homem, que apesar dos

cabelos totalmente brancos, irradiava juventude e uma grande ternura no olhar.

- É ele, Doutor? Quando ligou quase não acreditei. Não tem como não ser.

Júlio conversa com Maximiliano sem disfarçar a emoção, deixando Isadora intrigada.

- É ele sim, Júlio. Esse homenzinho especial é meu filho.

- É sua semelhança!

- Por isso que vamos casar com a mamãe. O tio Max... Ops! O papai é a minha cara.

Um largo sorriso aparece no rosto de Júlio ao notar que Matheus perdera a timidez

inicial. Baixa o tronco a fim de se igualar a altura da criança.

– Sabia que o reconheceria como filho do doutor Maximiliano na hora em que o visse,

rapaz? Ele é mesmo a tua cara! Dá-me um abraço, filho. Seremos muito amigos, pois cuidarei

de você como cuidei de teu pai todos esses anos.

Com a criança nos braços, ele toma a dianteira em direção a casa enquanto anuncia a

Maximiliano.

- Terá companhia para o fim de semana. Doutor Enrico e dona Iliana chegarão logo

mais.

- Tomara que venham sozinhos.

- Acho bom se preparar. Dona Iliana sempre apronta das suas. Ela já perguntou se o

senhor teria visitas.

- Enrico saberá como controlá-la.

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Isadora ouve a conversa dos dois entre constrangida e decepcionada. Gostaria de não

ter que se confrontar com a tia e suas tiradas maldosas ali. Na hora em que ela visse

Maximiliano e Matheus juntos, notaria a semelhança entre eles e a alfinetaria com milhões de

perguntas.

- Não tema. – Max mais uma vez parece ler seus pensamentos. – Dessa vez não estará

sozinha para enfrentar a megera da sua tia. Se ela ultrapassar os limites, peço a Enrico que a

leve de volta no mesmo instante.

- Por favor, não. Não gostaria de deixar meu tio chateado. Basta-o ter de suportá-la.

- Enrico sabe quem é Iliana, Isadora. E também sabe o que penso dela. Ele entenderá.

– Ele interrompe-a taxativo antes de convidá-la. – Venha, vamos conhecer a casa?

Isadora termina de vestir o pijama do filho já adormecido, exausto pelas emoções do

dia. Pouco se alimentara com a deliciosa refeição que Júlio trouxera.

Arruma-o no leito e beija o rostinho sereno. Seu tesouro maior. O semblante infantil e

sereno a faz se sentir confiante. Ele estava cheio de amor por pelo pai e isso a tranqüilizava.

- Ele é um tesouro!

Ela se assusta com a voz de Maximiliano, já a seu lado. Entretida, não o vira entrar e

parar ao lado da cama. Mais uma vez o vê desarmado, os olhos mostrando grande ternura. O

coração cresce em seu peito e bate acelerado.

- Ele diz que você é parecido com ele. – Isadora tenta amenizar a emoção.

Maximiliano sorri, enquanto se recosta ao lado do filho adormecido, sem importar em

esconder sua emoção. Sua presença enche o ambiente do quarto, roubando-lhe o ar. Ela

observa-o beijar o filho repetidas vezes. Procura dominar as lágrimas que teimam em encher-

lhe os olhos. Tomada pela ternura, com simplicidade busca a mão dele, dividindo sua emoção.

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- Morria de vontade de beijar meu filho desde a primeira vez que o vi.

- E por que não o fez?

- Acha que ele entenderia?

- Acho que não. Ele não anda chegado a beijos. Já tem seus ataques de machismos

mesmo nessa idade, acredite.

- É uma indireta, minha bela namorada? – Maximiliano se levanta segurando sua mão, já

mostrando sua seriedade habitual. – Será que além da incrível semelhança, me agraciaste com

um filho do mesmo gênio? Não sei se isso é bom ou ruim. Nunca fui muito bom em mostrar

meus sentimentos.

- Sempre é tempo de aprender. – Isadora não se contém. Abraça-o.

- Já passei da idade, – ele responde buscando seus lábios fervorosamente,

desmentindo-se.

Isadora sente o ventre se contrair quando ele enrosca a língua à sua. Logo são

interrompidos com a chegada de alguém, fazendo com que se afastem ofegantes.

- Você é puro fogo, mulher! – Ele ainda diz antes de autorizar a entrada de Júlio e

repreendê-lo. – E antes que comece a falar, quero que pare com essa história de Doutor Júlio,

nunca o fizeste antes.

- Desculpe Max. Sabe que sou não sou afeito a mostrar nossa amizade assim quando

estamos perto de convidados.

- Isadora é de casa. E é minha.

- Bem. Só vim te avisar que Enrico vai ligar daqui a alguns minutos.

- Te espero lá embaixo, não demore. – Ele se volta para Isadora.

- É só o tempo de uma ducha. – Ela responde antes de vê-lo sair.

Ela se apressa rumo ao armário onde a arrumadeira colocara suas roupas, tentando

fazer o mínimo de barulho para não acordar o filho.

Não aceitara se separar-se dele, se instalando na suíte ao lado. Maximiliano nada

dissera ao vê-la tomar a decisão, mas uma piscadela discreta lhe indicava que tomara a decisão

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certa e Júlio, prestativo ao lado da arrumadeira não insistira.

Após o banho frio que pouco servira para acalmar o corpo abrasivo, veste-se para o

jantar. O vestido branco de alças finas marca-lhe o busto firme. De corte simples, ele

terminava pouco acima dos joelhos e a sandália de salto completava o traje. Nos lábios, um

pouco de brilho acentuava-lhe o colorido.

Olha o relógio enquanto desce os degraus da escada. Demorara pouco mais de meia

hora para se aprontar.

Embaixo, Júlio se apressa em vir a seu encontro.

- Dr. Maximiliano a espera, senhora.

- Isadora, Júlio. – Corrige-o com um sorriso. – Isadora.

- Eu não ousaria senhora. – Ele responde cerimonioso, mas nos olhos o brilho travesso o

desmentia. – É bom tê-la conosco.

- Obrigada, Júlio. – Ela se emociona com a sinceridade dele. - E ouse sim. Chame-me

pelo nome, assim como o vi fazer com Max. Vai me deixar bem mais à vontade.

- Venha. Vou levá-la até ele. – O homem desconversa, mas o sorriso não se apaga em

seus lábios.

Juntos, atravessam um longo corredor até uma porta envidraçada. Cortez, ele se

adianta e abre-a para sua passagem. Assim que sai, a brisa da noite vem refrescar seu rosto,

cariciosamente. Ela respira deliciada enquanto seus olhos passeiam pela varanda de madeira,

feita em treliças brancas e delicadas. Vários tipos de vasos de barro queimado, de onde saíam

delicados ramos de trepadeiras que se prendiam ao longo da grade de madeira até o teto,

deixavam o ambiente acolhedor e aconchegante.

A mesa a um canto já estava preparada para um jantar a dois. Sai para o jardim ao

ouvir o barulho de água e não demora em encontrar uma borbulhante fonte, fracamente

iluminada. As águas murmurantes em sua queda criavam um aspecto mágico ao jardim.

- Valeu a espera, minha querida! – A voz de Maximiliano chega a ela na semi-escuridão.

Sua pele se arrepia ao vê-lo aproximar-se lentamente. Os olhos, como os de uma

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pantera se destacavam. Os cabelos soltos faziam-no parecer primitivo, indômito. Com a roupa

escura, ele se integrava à noite.

O perfume másculo invade-lhe as narinas ao sentir-se envolvida em seus braços e a

boca faminta buscar a sua. Aspira à magia do momento antes de permitir sua invasão.

Beijam-se esquecidos de tudo, como se o mundo e o tempo fossem deles. Intensos e

passionais. À noite cúmplice, incendeia e provoca as paixões fazendo os corpos se colarem e as

respirações se entrecortarem em meio a gemidos sutis. Arrancam um do outro todas as

sensações, todas as emoções firmemente trancadas durante o dia.

- Quanto mais tiro de você, mais me torno insaciável! - Ele queixa dentro de seus

lábios.

Fitando seus olhos, ela se afasta antes de responder: - Em uma noite, há muito perdida

no tempo, um homem que me pareceu ser de outra dimensão na época, pois não se parecia com

nada que eu conhecia, me fez jogar para o alto minha sanidade, minhas escolhas e minha

preservada inocência. Fez-me trocar meses de meu simples e inocente noivado, por minutos da

mais intensa loucura que uma mulher pode cometer e conhecer, por uma marca. Eu aceitei. Dei-

me sem pudor e ele me marcou imediatamente. Uma só vez... Mas o que ele pareceu não

entender é que ao me marcar ele também foi marcado, pois entrei em seu sangue e estou

profundamente enraizada em sua alma. Ele pode até não gostar de saber, mas sou a metade

dela.

As pupilas de pantera se contraem à medida que ouve as palavras provocantes.

- Ele não me pareceu nada arrependido. Você se arrependeria?

- Nunca! O que aconteceu a ele foi único, louco e louvável!

- Louvável? Sim. Tenho certeza plena quando olho para a semente que ele me deu, meu

filho. Acredito que estava escrito. Era para acontecer. Senão as marcas não seriam tão

visíveis, adoráveis e humanas.

Um beijo delirante a interrompe e Isadora coloca nele seu coração e sua alma. Ouve o

gemido rouco como resposta e seu corpo ser fortemente estreitado. Maximiliano sugava sua

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alma, roubando de sua mente as mensagens de amor, que em ondas telepáticas, ela transmitia.

Uma tossidela não muito distante os faz se afastarem.

- O jantar está servido, doutor.

A voz de Júlio é divertida.

- Você me tira do serio! – Ele ainda diz antes de num gesto carinhoso, arrumar os

cabelos que ele mesmo despenteara.

Ela baixa o rosto para que ele não note o quanto o gesto a deixa feliz. Já notara que

ele se fechava a cada vez que ela deixava transparecer sua emoção ao vê-lo se soltar.

- Venha, vamos alimentar o corpo. – Provoca-o.

- É somente o corpo, formosa odalisca, porque minha alma continua insaciável – Ele

responde passando o braço sobre seus ombros. Nos olhos, ainda se lia a promessa do que viria

depois.

CAPÍTULO VIII

Após o jantar, que pouco prestara a atenção, entretidos um no o outro, Maximiliano a

leva para o escritório que mais parece uma biblioteca.

Isadora se surpreende com o arsenal de livros que ele possuía. Estantes repletas do

piso ao teto eram protegidas por portas de vidro, de onde mostrava títulos de vários autores e

em várias línguas, desde os mais famosos aos mais antigos.

- Meu recanto favorito. – Ela o ouve logo atrás de si. – Gosto muito de vir para cá. É

onde me livro das loucuras do mundo lá fora.

- Também gosto muito de ler, mas ultimamente meu tempo é escasso. Matheus me

absorveu muito quando menor. Agora, a pintura toma o restante do meu tempo.

- Conheci seu trabalho numa galeria em Nova York. Havia algo em tuas telas que me

tocava muito. Ficava em frente a elas tentando decifrar porque os sentimentos da artista

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eram semelhantes aos meus. Adquiri umas quantas. Nunca me passou pela mente que poderiam

ser da mulher que virou o meu mundo em questão de minutos. Não poderia imaginar que a

talentosa artista era a minha odalisca.

Enquanto conversam, ele a leva para um aconchegante espaço a um canto na biblioteca.

Um pequeno bar, onde um sofisticado sistema de som executava uma melodia clássica e suave.

- Não tenho formação universitária, mas nesses dois últimos anos consegui decolar.

Meu marchand é um dos melhores na área... - Ela se cala ao lembrar-se da implicância dele com

Marcos. O olhar sério sobre si obriga-a a mascarar-se.

- Acho que não vamos trazê-lo para junto de nós, vamos? – Ele é cortante em sua

pergunta.

- Terá de se acostumar, Maximiliano. Devo muito de meu reconhecimento hoje, a ele. –

Ela não se intimida.

- Odeio-o.

Uma palavrinha só e cheia de rancor ameaça quebrar a harmonia entre eles.

Atenta Isadora muda o rumo da conversa.

- Você tem empreendimentos em vários países, não?

- Fugindo, dona Isadora? – A ironia dele fere-a. – Age sempre assim quando as coisas

não são como quer ou é só quando está comigo?

- Não estou fugindo Doutor Maximiliano. – Ela enfatiza o nome dele no mesmo tom. –

Só não quero e não vou estragar nossa noite! Até agora não corri atrás de saber com quem

você andou ou anda. Não lhe dou o direito de fazer isso comigo.

- Ora! Garras afiadas não são para odaliscas! – Ele se aproxima com um sorriso

divertido nos lábios. – Odaliscas não devem virar gatas ou panteras ao menor incentivo. –

Depois de analisá-la por intermináveis segundos, ele continua a provocação – Uma mulher de

respostas rápidas, independente e moderna. É o que é Isadora. Se já não conhecesse esse teu

lado manhoso, dengosa e explosiva, eu teria que mudar meu conceito. Você me amedronta.

- Você não me parece ser homem de temer alguma coisa, Max. – Ela quase perde o

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controle ao sentir o corpo másculo encostar as suas costas e os lábios famintos passearem por

seu pescoço.

- Arrepiou-se. Qual delas estará comigo hoje? Até agora vi várias facetas na mesma

mulher.

- Descubra... – Isadora mal articula, tomada de desejo.

- Adoro desafios. – Ele responde-a baixando lentamente o zíper de seu vestido,

enquanto lhe morde seus ombros acintoso, mas cuidadosamente.

Ela geme dolorosamente, ansiando para que a posse se consumasse ali. O tecido do

vestido escorregando por seu corpo faz os seus seios responderem imediatos, endurecendo-

se. Sem controle, arqueia o corpo encostando-se nele, quando sente os seios e o ventre

cobertos por mãos quentes, acariciantes e com a marca dele, possessivas.

- Max... – O nome escapa de seus lábios quando se sê seminua acompanhando-o até o

barzinho.

Os saltos altos e a lingerie de renda, provocam-na a sedução. Ousada, busca-lhe os

lábios enquanto o livra de sua roupa. Faminta, passeia as mãos espalmadas pelos músculos rijos

dos ombros, sentindo cada saliência se moldar ao seu toque. O beijo se intensifica quando

desce as mãos pelo abdome talhado até o cós da calça. Mãos firmes a impedem de continuar.

- Vamos subir? – Ele pergunta sem esconder o desejo francamente visível.

- Não. Quero-o aqui, agora! - Sem lhe dar alternativa, ela abre lentamente o zíper de

sua calça e busca atrevida o membro rijo.

Um gemido rouco é a resposta e o incentivo a continuar. O sangue circula apressado em

suas veias ao ver o homem sensual e primitivo, totalmente entregue em suas mãos. De olhos

fechados, cabeça inclinada para trás e o peito desnudo, Maximiliano se expõe as suas carícias.

As entranhas lhe doem ao pensar nele possuindo-a como gosta, selvagem e exigentemente.

Com um gemido rouco, ele a ergue e encosta o peito coberto por pelos escuros aos

seios túmidos. Prontamente mãos hábeis voltam a acariciá-la enquanto é beijada com

sofreguidão. A mente já toldada pelas caricias flamejantes, mal toma ciência do estreito e

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arredondado banco do bar. As mãos que acariciam suas coxas, abrindo passagem para o

quadril estreito, são firmes, mas logo se tornam sutis ao afastarem para o lado, a frágil

proteção da minúscula calcinha. Sua ansiedade a faz expor sua intimidade para dedos voláteis

que a acariciam enlouquecedoramente até arrancar-lhe a mais primitiva das sensações. A de se

deixar possuir sem reservas. A mesma sensação que a invadira quando na primeira vez em que

se doara a ele lhe facilitando a posse única. E mais uma vez ela facilita-lhe a invasão ao notar

que o beijo se aprofunda. Abre-se para ele que num gesto conciso penetra-a profundamente.

Contém a respiração, perdida nas delícias que o ato incivilizado provoca. Como imaginara, ele a

ama com voracidade. Responde a cada investida deixando fluir a fêmea de dentro de si.

Entrega-se a mãos possessivas, a lábios exigentes e ao sexo rígido, firme e enérgico. Ele sabia

como arrancar todas as respostas que sabia existir. E ela sem temor algum provocava a fera

escondida no homem frio. Completavam-se.

Os sentidos voltam-lhe aos poucos quando ofegantes, eles se fitam enlevados pelo

êxtase.

- Isadora... - A voz ainda rouca de desejo sorri sussurrante em seus ouvidos. –

Esquecemos de nos proteger novamente!

- Oh, não!

A resposta chocada aumenta-lhe o sorriso antes de ver-se abraçada novamente.

- Você me faz esquecer-se de tudo quando a tenho nos braços. É pura dinamite,

mulher!

- Tenho um ótimo professor.

- Venha. Vou levar-te para a cama. Agora, literalmente.

- Assim?

Isadora volta os olhos para a nudez dos corpos suados, despenteados e ainda

estreitamente ligados. Despudoradamente, eles eram a imagem do mais primitivo dos pecados.

- Há uma passagem daqui para meu quarto, – ele lhe diz malicioso, buscando a veia que

pulsa ainda forte em seu pescoço.

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- Não brinque!

- Nem sempre gosto de voltar pela escada. Normalmente quando tenho visitas que não

estou muito a fim de agüentar.

- E têm muitas? – A pergunta enciumada sai de seus lábios sem que tenha tempo de

impedi-la. Desliga-se dele.

- Será que estou notando ciúmes no ar? – Maximiliano a provoca, segurando seu rosto

entre as mãos - Compreendo-te, agora que a tenho comigo. Não gosto de saber ou imaginar

outro em tua vida.

- Sabe que às vezes sinto medo? Somos muito parecidos, Maximiliano.

- Não temos o que temer. Estamos juntos. A química entre nós é única! É só fazê-la

funcionar em outros setores também, por que nesse... – Ele a beija ardentemente antes de

continuar. – Uma faísca basta para fazê-la explodir.

Maximiliano abre uma porta camuflada entre as estantes de livros. Isadora se silencia

enquanto sobem à escada íngreme. Precisava se adaptar a forma dele viver. Tudo nele era

denso. Forte e autoritário, ele estava acostumado a mandar e ser prontamente obedecido e ela

sempre fora dona de si no seu mundinho simples. Nunca precisara pedir nada a ninguém.

- Por que se calou de repente? – O leve aperto em sua mão a faz ater-se a sua

pergunta.

- Seu mundo é vasto, Max...

- Você o vê assim.

- O meu é pequeno e simples...

- Por que é mais confortável para você viver assim, senão já o teria mudado. - Mais uma

vez ele a interrompe.

- Por que gosto dele assim. – Ela o corrige. - Não saberia viver como você vive. Com

tantas posses, ter tantas pessoas sob minha responsabilidade.

- Tenho muito por que trabalhei muito, Isadora. Acha que isso nos prejudicaria?

Entram na suíte, pelo closed e Isadora analisa a simplicidade dos domínios dele. O que

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não passa despercebido.

- Não sou ostensivo. Ele acompanha seu olhar. - Gosto de viver bem, desde que não me

sinta incomodado. É o que quero para você e meu filho também. Quero curti-los. Levá-los a

todo lugar que sentirem vontade de ir. Anseio por ver o brilho nos olhinhos de Matheus em

cada fato que lhe causar admiração. Nunca o Imaginei, nunca o esperei e agora que o tenho...

Por favor, vamos criá-lo juntos. Não o tire de mim. Não use meu filho contra mim. Eu não a

perdoaria. Somos adultos e podemos passar por cima de qualquer diferença que pode haver, se

soubermos usar o diálogo franco, aberto. Somos fortes o bastante para podermos administrar

esse lado, Isadora. Não vou pressioná-la. Não agora. Precisamos de um tempo para os ajustes.

Ela ouve o discurso emocionado do homem pai que em nada lembrava o amante

passional que a possuíra quase com selvageria, minutos atrás. As palavras continham a mesma

paixão que ele expressava em tudo o que fazia.

O coração aperta em seu peito imaginando como ou o quem o machucara tanto, para

que se tornasse desconfiado com o amor. Sua agressividade quando tocava no assunto chegava

a ser amedrontadora.

Ele a ergue nos braços e a leva para a cama. – Quero me casar contigo, com tudo que

tens e que tenho direito. Menos uma despedida de solteira, certo?

- E o que tens contra uma bela despedida de solteira? – Isa se delicia com a lembrança

e deita sobre ele.

- Eu pessoalmente, nada. Ao contrário, foi numa despedida de solteira que ganhei meus

maiores tesouros e não quero perdê-los. Mas nem por isso vou facilitar.

- Não existem dois de você...

- Se existisse eu o anularia. Agora, venha para meus braços. A noite será pequena para

provar o que digo. - Ele pega uma caixa de preservativos sob um dos travesseiros, ainda

lacrada. O que provoca o sorriso de Isadora, que não tarda a se tornar uma sonora gargalhada,

ao notar reciprocidade no rosto sempre sisudo dele.

O riso morre aos poucos à medida que eles se fitam, até perderem-se nos lábios um do

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outro, mais uma vez.

Ao acordar no dia seguinte, Isadora sorri. Já estava se tornando um hábito acordar

com o sol no meio de céu. Ela se vira para o lado e não se admira em não encontrar Maximiliano.

Pelo que já estava ciente, apesar de ser homem da noite ele era um madrugador. Ela estira

preguiçosamente cada músculo do corpo dolorido, prova cabal das vezes que fizeram amor

durante a noite entre um sono e outro. Insaciáveis, amaram-se até sentirem-se totalmente

preenchidos um do outro.

Uma onda calor invade seu corpo ao se lembrar das loucuras a que se entregaram.

Maximiliano arrancara dela, respostas que até então ela não sabia possuir. Ele a levara ao mais

alto grau que a emoção pudesse sustentar, para depois acompanhá-la em sua decida majestosa

e delirante. Acendia, nutria e depois arrancava dela um lado tão selvagem quanto o dele,

muitas vezes assustando-a, quanto deixava evidenciar que ela era tanto quanto ele, passional e

insaciável. Abraça o travesseiro dele sentindo ainda o cheiro de seu corpo. A figura forte e

extremamente máscula lhe enche a mente ao lembrar a forma audaciosa e apaixonada com se

amaram. Ele dizia que não sabia. As palavras de Marcos reverberam em sua mente e alarga seu

sorriso. Ele fez questão de frisar que certos homens demonstram seu amor em pequenos

gestos por não saberem ou não gostarem de se exprimir.

Quem o marcara tanto para que se fechasse como uma ostra? Como seria a mulher que

fora capaz de tal façanha? Uma onda de ciúme a ataca ao imaginar que um dia outra mulher

tivera sua atenção e seu coração. Levanta-se brusca, como se o ato apagasse o pensamento que

tomara sua mente, tentando sombrear sua alegria. Ninguém é dono de ninguém. Ela se

recrimina enquanto entra no banheiro.

Ao contrário do quarto, o banheiro havia saído das páginas de uma revista de

decoração, tamanho era seu luxo. A banheira de hidromassagem, banhada pelos raios do sol

que entravam pela janela de vidro e enchiam o ambiente de luz era um convite a um banho a

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dois. Novamente seu corpo se arrepia ao imaginar-se ali com Maximiliano. - Vá devagar, dona

Isadora. – Se repreende enquanto entra no banheiro, a fim de tomar uma ducha fria. - Vai

acabar viciando.

Minutos depois, completamente renovada, ela se enxuga frente do espelho preso à

parede por antigas cantoneiras de madeira ricamente entalhadas.

Com olhar crítico examina o corpo rijo e bem delineado, onde pequenas marcas

levemente avermelhadas insistiam em se mostrar. Enrola-se na toalha felpuda e sai em busca

da porta de comunicação entre as suítes. Maximiliano a colocara no quanto ao lado, junto do

filho. Novamente ela se excita ao se lembrar das palavras sugestivas, “depois que ele dormir,

você será toda minha”. E ele fizera total questão de lhe mostrar.

Veste um conjunto de bermuda e camiseta curta, calça sandálias leves nos pés e sai à

procura dele e do filho. Ao descer a escada, encontra Júlio que mais uma vez, parece esperá-

la.

- Bom dia, Júlio!

- Bom dia, dona Isadora!

- Não sou dona Isadora, Júlio. – Num gesto de carinho ela aperta a mão do homem que

não esconde a surpresa.

- Como meu Doutor, a senhora despertou radiante.

- E onde se encontra o seu Doutor?

- Eles saíram cedo. Ele foi mostrar a fazenda para o filho. Desculpe minha indiscrição,

dona Isadora, mas conhecer o filho foi à melhor alegria dele nos últimos anos.

- Você acha?

- Tenho certeza. Ele se renovou. Mas, venha! Seu café está pronto.

Júlio toma à dianteira, como se estivesse arrependido de sua confissão. Isadora o

segue, leve como uma pluma.

Após se deliciar com as guloseimas, ela vai à cozinha e depois de conhecer a cozinheira,

agradece-a pelo caprichado café. Dispensa a atenção de Júlio e sai para uma volta, a fim de

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conhecer as redondezas.

Quase hora depois, após andar por várias dependências da enorme fazenda, ela depara

com um imenso pomar. Aspira ruidosamente o ar, inebriada pelo aroma de flores e das frutas.

Como notara em outros lugares, o cuidado e a limpeza ali eram rigorosos, pois muitas das

árvores frutíferas estavam com os galhos escorados por forquilhas de madeira, a fim de

sustentar o peso de seus frutos.

- Mamãe! Onde você está?

A voz de seu filho a faz procurá-lo entre as árvores. Logo o vê aproximar-se pela a

mão de Maximiliano. Cora ante o olhar fixo dele.

- Andamos a cavalo até agora, acredita?

Alheio aos olhares trocado entre os pais, Matheus conta-lhe sua aventura.

– O papai me disse que daqui alguns dias eu posso andar sozinho. Quando crescer mais

um pouquinho.

- Isso vai torná-lo um autêntico caubói, meu amor. – Ela se abaixa para receber seu

abraço.

- Acordei de manhã e você não estava comigo! – Ele reclama sua atenção, – e você

disse que ia dormir comigo.

Isadora se cala, sem saber o que responder levemente constrangida. Com o semblante

tranqüilo e um sorriso nos lábios quase sempre fechados, Maximiliano vem a seu socorro.

- Ela levantou-se cedo e veio dormir um pouco comigo. Não combinamos dividir sua

atenção?

–- Ih! Esqueci-me!

- Combinaram é? Já estão assim? – Ela entra na brincadeira. – Tenho que me dividir

entre dois homens?

- Não precisa não, mamãe. De dia você é minha e de noite e de Ma... De papai. – Ele se

volta orgulhoso para Maximiliano.

- E ela não poderá fugir de nós, não é filho?

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- Não mesmo, – ele confirma com a seriedade de um adulto. – Se ela fugir nós vamos

prender ela no castelo.

Sem conter-se, Isadora o beija. – Eu te amo, meu bem! - Eu também, mamãe. - Num gesto infantil, mas possessivo, ele ergue os pequenos

braços em busca de colo.

Erguendo-o, Isadora o leva a conhecer o pomar sob os olhares cuidadosos de

Maximiliano.

Fechando o bloco de desenhos, Isadora observa o barco se aproximar da margem do

lago. Maximiliano, após descer e prender a embarcação volta para apanhar o filho. Observa-os

dividida entre a felicidade e a apreensão. Já fazia três dias que estavam ali e os dois não se

separavam. Passavam parte do dia juntos. Para onde fosse o pai o levava, desenvolvendo assim

um forte elo entre os dois e Matheus já estava muito apegado a ele. Não notara que a falta da

figura paterna o tivesse afetado tanto. Temia pelo filho, pois Maximiliano era muito ocupado.

Ele viajava muito e os dias na fazenda eram roubados, tinha plena certeza. Matheus sofreria

com sua ausência.

- Parece que Enrico chegou. – Ele lhe diz logo que se aproxima.

- Ouvi o barulho do helicóptero. – Ela confirma sem esconder sua apreensão.

- Não fique assim. – Pela primeira vez ele acaricia seu rosto na presença do filho. –

Ninguém vai agravar a você e meu filho.

- Tia Iliana sabe ser desagradável quando quer.

- Não permitirei. - Ele afirma seco. - Tudo continuará como está. Nada será mudado

Isadora. É minha mulher e mãe de meu filho. Quanto mais cedo ela compreender, melhor.

- Está ouvindo, mamãe? Eu sou filho dele, – Matheus entra na conversa.

- Deus! Esquecemos da presença dele. – Isadora sussurra para Maximiliano enquanto

volta sua atenção para o filho. – Matheus, olhe só o desenho que fiz dos maiores pescadores

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que conheço. - Abrindo o bloco, ela mostra o desenho que fizera dos dois.

- Olhe papai! O barco está no meio do lago! Mas onde está a gente? Só tem o barco?

- Quando eu ia colocá-los, vocês vieram para cá. Não tive tempo suficiente.

- E os peixes também?

- E os peixes também. – Maximiliano afirma enquanto encaminha-os para a picape

estacionada perto dali. – Nosso almoço está garantido, não é filho?

Assim que chegam a casa, a voz anasalada de Iliana se faz ouvir.

– Max querido! Olhe a surpresa que eu lhe trouxe.

No ato Isadora nota a reação dele. O semblante endurecido, a rigidez do maxilar e a

frieza total dos olhos, trás de volta o outro Maximiliano. Somente a forma da mão dele

procurar a sua num gesto firme a tranqüiliza.

- Vamos enfrentar essa surpresa, juntos.

Mal ele a acalma, desce do carro, dá a volta e toma o filho nos braços antes da

aproximação de Iliana e Mara sua sobrinha.

- Não sabia que tinha visitas, querido. – Sem fazer questão de disfarçar o

descontentamento, ela beija-o no rosto num gesto afetado, ignorando totalmente a presença

de Isadora.

– Matheus, meu querido! O que faz aqui tão longe de tua casa? Max, já conhece minha

sobrinha Mara, não?

- Eu lhe disse que um dia o pegaria de surpresa em seu refúgio, Maximiliano.

Como a tia, Mara o abraça ronronante e ostensivamente. A presença de Matheus em

seus braços, não a impede de buscar seus lábios.

O menino a empurra com força - O papai é só meu e de minha mãe.

Fingindo surpresa e num gesto ensaiado, Mara olha para um e outro, ignorando a zanga

de Matheus.

– Papai? E desde quando você tem filho, Maximiliano?

Como expectadora, Isadora analisa as reações da tia e sobrinha que em nenhum

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momento se dignaram a lhe dirigir a palavra.

- Isa... Minha querida. É bom demais ver você e Max juntos!

Enrico se aproxima fingindo não notar a situação em que a sobrinha se encontrava.

Abraça-a com carinho. – Fico feliz em vê-los juntos, querida.

- Pequena Isadora! O que faz aqui?

Só então a tia a reconhece. O olhar frio acompanhando o abraço do tio e sobrinha.

- Pois é Tia Iliana. O mundo é pequeno, não? Vim passar uns dias com o pai de meu

filho. – Isadora enfrenta-a sem esconder a alegria que o fato de chocá-la lhe dá.

- Pai de nosso...! Max é o pai de nosso pequeno Matheus, Isadora? - Enrico explode em

risos. - Eu sentia! Era isso! Toda vez que via Matheus, ele me lembrava outra pessoa.

Maximiliano, meu amigo! Então é você o misterioso? Para mim, a felicidade é dupla, folgo em

dizer.

- Pai de seu filho! Como? E Nathan? – Iliana não esconde seu desprezo, atacando-a. –

Seu noivo não... Eu sabia... Todo aquele choro era encenação. Esquentou a cama de Maximiliano

no dia do enterro de seu noivo e seus pais, pequena Isadora?

- Enrico, se tua esposa quer realmente passar o final de semana conosco, diga a ela que

qualquer ofensa à mãe de meu filho será sua passagem de volta à cidade. – A voz de

Maximiliano é gelada.

- Não se preocupe Maximiliano. Iliana não fará nada que desagrave nossa Isadora, não

é querida? – E mais uma vez, beijando a face de Isadora, ele completa. – O que mais quero é

vê-la feliz, meu bem. Se alguém merece ser feliz é ela Max. E o que mais quero é vê-los

juntos!

- Vai se casar, Maximiliano? – Mara não se contém.

Matheus que até então ouvia a conversa dos adultos e ainda nos braços do pai, a

responde:

- Eles já casaram. De dia a mamãe é minha e de noite ela é do papai. Até já dorme com

ele de manhã.

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Maximiliano enfrenta os olhares surpresos com um leve ar de divertimento, Isadora

francamente ruborizada e Enrico explode novamente em risos.

- Meu filho já te respondeu Mara. – Maximiliano é irônico. - Perdoe-me Enrico por não

lhe participar antes. Queria estar com eles primeiro.

- Max, você é o melhor amigo que tenho. Isadora é o único elo que restou de meu irmão

e eu a adoro. Vocês não precisam de autorização alguma meu chapa. Estou explodindo de

alegria.

- E o noivo nem havia ainda esfriado no túmulo. Desavergonhada... – Resmunga Iliana.

- O helicóptero ainda está com o motor quente querida esposa. Já quer voltar? – As

palavras do marido penetram rápidas nos ouvidos de Iliana que sai pisando duro em direção a

casa, seguida por uma Mara não menos atuante.

- Então era ele meu bem, o pai de seu filho? – Enrico se volta para Isadora logo que vê

a mulher pelas costas - Quanto você sofreu minha pequena! Se tivesse me dito, teríamos

evitado tanto sofrimento.

- Você sofreu mamãe? – Matheus se assusta.

A presença do sobrinho faz Enrico mudar de assunto rapidamente.

– E você meu homenzinho, não vai me dar um abraço? Estava morrendo de saudades de

você também!

Mudando o rumo da conversa, os três caminham para dentro da casa, onde um Júlio

solícito os espera.

- Nós pescamos cada peixão! O meu foi o mais grandão, não é papai? – Matheus

continua a tagarelar.

- Foi o maior, pescador. – Isadora corrige o filho. – Agora vamos ao banho. Está

passando da hora. Vamos lá?

E pegando o filho pela mão, ela sobe a escada deixando Maximiliano e Enrico a sós, já

que as duas mulheres pareciam ter evaporado.

Ao entrar no quarto ela se depara com as duas, a desmancharem as valises. Iliana a

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ataca assim que nota sua presença.

- Então a santinha da pequena Isadora não havia enterrado os pais e o noivo direito e

já se espojava na cama com outro homem. Ou quem sabe o caso era antigo? Ainda bem que

Nathan está morto. O coitado se livrou de ter que assumir um bastardo.

Isadora ouve-a sem se deixar atacar. Sempre soubera a opinião da tia sobre a forma

que os pais viviam e a haviam criado. Sua mãe sofrera poucas e boas nas mãos dela. Com

aparente tranqüilidade, pergunta: - Eu gostaria de saber o que as senhoras fazem no meu

quarto?

- Seu quarto, queridinha? Nunca o foi. Saiba que é aqui que durmo toda vez que venho.

Max e eu gostamos de manter as aparências. – Mara solta suas farpas com maldade.

- Oh! Então deve ser por isso que ele me colocou em seu quarto. Ou melhor, em sua

cama. Comigo ele não gosta de manter aparências, como você deve ter notado.

- Vulgar! – A outra explode em ofensas. – Se você acha que pode prendê-lo usando seu

corpo está perdendo seu tempo. Maximiliano é homem rodado, minha cara. Não é um suposto

filho que vai prendê-lo.

- Poderia respondê-la como merece Mara, mas ao contrário de você, tenho respeito por

mim e por meu filho. Não gostaria que ele presenciasse suas baixarias.

- Cadela!... Vagabunda!... Você não vai tirá-lo de mim. – Desestruturada, ela avança

sobre Isadora.

Matheus grita assustado e se agarra a mãe, sob os rápidos ataques de Mara. Isadora

ergue o filho nos braços e tenta voltar pela porta, mas Iliana lhe barra a passagem.

- Vai fugir pequena Isadora? Vai para os braços do titio como fez todos esses anos?

Dormiu com ele também? Sabe o que será para Max? Mais uma. Não será você e nem esse

bastardo que irão segurá-lo. Maximiliano gosta de mulheres de classe.

Isadora afasta a tia com rudeza, abre a porta e sai preocupada com os intensos

soluços do filho. Desce a escada rapidamente, tentando se manter controlada para não

assustá-lo ainda mais. No caminho, se esbarra nos homens, que surpresos se apressam em seu

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alcance. Maximiliano ainda tenta pegar o filho, mas ela o nega saindo por uma das portas

laterais.

- O que houve? – Enrico tenta segui-la.

- O doutor não devia colocar suas amantes sob o mesmo teto. – Ela desabafa, mas logo

toma ciência do que dissera. - Dê-me um tempo tio, preciso acalmar meu filho.

Mas a raiva contida a faz vociferar as palavras antes de continuar rumo ao jardim.

CAPÍTULO IX

Meia hora depois e com o filho adormecido nos braços, Isadora olha a sua volta e então

nota o lugar em que se encontra. Com os nervos em ebulição e tentando acalmar Matheus, saíra

andando pela fazenda até parar no meio do pomar.

Não fora difícil acalmá-lo. Distraíra-o fazendo perguntas sobre a pescaria da tarde.

Agora, profundamente adormecido, ela o fita cheia de ternura. Conseguira escapar de suas

perguntas.

Sua postura incomodava por causa da posição em que se encontrava, sentada ao chão, e

a faz pensar duas vezes antes de tentar voltar a casa com ele dormindo. Tenta acomodá-lo

melhor em sua perna e ele se assusta com o movimento. Cuidadosa, ajeita-o o melhor que pode

e fica a espera dele acordar.

Mais calma, reflete sobre o que acontecera. Não podia culpar Maximiliano. A raiva do

momento a impedira de aceitar sua companhia.

O barulho do helicóptero decolando logo depois, lhe dizia que ele ou o tio deviam ter

tomado alguma providência contra as duas mulheres. Uma delas devia ter partido. Mais

tranqüila ela tenta acordar o filho, preocupando-se com a hora. Já estava escurecendo.

Acaricia o rostinho pequeno enquanto o chama. - Acorde meu bem, daqui a pouco será noite e

daí será difícil sairmos daqui. Matheus... Acorde. Vamos... Senão vou te encher de beijos, que

ver? – Ela provoca-o sabendo de sua fase de aversão a beijos. Para seu pequeno homem, isso

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era totalmente infantil. Sorri quando ele começa a se mexer.

Passos quebrando as folhas secas no solo anuncia a chegada de Maximiliano que logo

ele senta a seu lado. A presença forte lhe causa várias sensações. Irritação, ciúmes e desejo

se misturam dentro de si. Num esforço supremo em se conter, ignora-o.

- Meu bem, acorde. - Ela acaricia os cabelos negros do filho até vê-lo abrir os olhos

sonolentos.

- Mamãe, o que é bastardo? – Matheus a inquire logo que abre os olhinhos inchados.

- É uma palavra feia, filho. Não a repita nunca mais. – Maximiliano sussurra a ele,

enquanto o levanta das pernas da mãe.

Ao se sentir nos braços do pai, a criança o enlaça apertadamente. - Aquela mulher quis

bater na mamãe e chamou-aela de... Cadela.

- Ela não vai mais nos incomodar. - Max responde com firmeza. – E depois meu bem...

Cadela é o animal que mais bem cuida dos filhos, sabia?

- Eu sei... Mas não quero ver mais tia Iliana. – Matheus resmunga.

- Não verá. Elas já foram embora.

- Tia Iliana é má.

- Existem muitas pessoas assim, mas não podemos ficar tristes por causa delas, não é?

- A mamãe ficou. Daí eu comecei a contar dos peixes e ela se acalmou. – A criança

conta cheia de orgulho. – Só que dormi depois...

A inocência na fisionomia infantil e a desculpa na voz ainda sonolenta fazem os dois

adultos sorrirem.

- Ainda bem que conto com você... Conseguiu acalmar a mamãe!

A noite já se anunciava quando os três entram de volta em casa. Júlio, solícito os

encontra na entrada:

- O jantar dele já está pronto, doutor.

- Ótimo. Daqui a uns quinze minutos leve-o ao quarto.

Maximiliano sobe a escada com o filho ainda nos braços. Matheus se mostrava

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encantado com tanta atenção.

Na porta, ao notar a criança se retesar, Maximiliano o tranqüiliza: - Elas já foram

embora, não se preocupe. Quer tomar seu banho comigo? Tenho uma banheira enorme...

- A mamãe pode também?

- Será bem vinda, se ela quiser. Afinal hoje o dia dela foi meu.

- Então os dois terão que terminá-lo, inclusive pijama e cama.

Isadora entra na conversa e brinca com eles antes de entrar no quarto ao lado. Ao

voltar minutos depois, a algazarra no banheiro é total. Observa-os por segundos e sai,

deixando os dois se curtirem. Quando desce em busca do jantar do filho, encontra Júlio já a

subir a escada.

- Deixei-os por conta, – ela explica.

- Isso é bom. Como disse antes, o doutor parece ter remoçado depois que encontrou o

filho. Ele merece ser feliz.

- Está com ele há muito tempo, Júlio?

- Desde que ele começou a engatinhar no mundo dos grandes, dona Isadora. Sempre

estou com ele, com dona Juliana ou com dona Marcela. – O homem sorri.

- Juliana?

Júlio desculpa-se. Ciente que mais uma vez falara demais, sobe a escada

apressadamente, deixando Isadora a pensar.

Juliana. Quem seria? E Marcela? Por que Maximiliano nunca falara nelas? Será que...?

Ele nunca falava nada de sua vida pessoal. Quando conversavam era sempre sobre os negócios

dele ou sobre o trabalho dela. Ainda não haviam conversado a fundo sobre suas vidas.

Com a mente cheia de perguntas, ela sai para o jardim. Quase meia hora depois o vê

sair da casa e vir em sua direção. Mesmo com o coração oprimido, admira-o. A estatura

elevada não o impedia de mover-se com leveza. Quem é você, Maximiliano? A própria voz ecoa

em seu cérebro quando se sente presa sob o olhar firme. Ergue o rosto para receber seu

beijo.

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- Está mais calma? – Ele encosta a testa à sua. - Desculpe-me, não imaginei que elas

poderiam te agredir.

- Já dormiu com a Mara? – Ela pergunta de chofre.

- Por que isso agora? – Ele responde com outra pergunta.

Ela se desvencilha de seus braços sem esconder a cólera.

– Uma mulher que tenta agredir outra por causa de um homem é por que se acha no

direito.

- Não a teria deixado nem entrar nesta casa se tivesse um caso com ela. Por quem me

toma? Acha que eu correria o risco de ver quebrado o inicio de nosso relacionamento?

- Não sei quem você é Maximiliano! Não o conheço! - Ela reclama.

- E, no entanto é a pessoa que mais chegou perto de mim até hoje, Isadora. Além de

meu filho. O que quer saber de mim? Que é a única mulher que tem a capacidade de me tirar

do sério? Com quem quero me casar e formar uma família? Isso você já sabe.

- Quero te conhecer, Maximiliano. – Isa insiste.

- Não. – Ele a corta, abrupto. – Você não quer me conhecer, Isadora. Como toda

mulher, quer encontrar uma falha, um meio de dominar o homem. Um meio de enrredar-lhe em

suas teias, de tê-lo sob seu controle. Não faço parte desse rol de tolos, – ele completa

amargo.

- Quem te machucou tanto assim, Max?

Um riso baixo e irônico é sua resposta. Ela não insiste no assunto, pressentindo o

conflito dele. Silenciosa caminha a seu lado e intuitiva procura sua mão, apertando-a

levemente.

Ele a leva em direção a um dos bancos de madeira. Sentando-se, coloca-a sobre suas

pernas. Isadora descansa a cabeça em seu ombro. Por vários minutos, só o cantar dos grilos e

o leve sereno da noite são seus companheiros.

- Isa, o que acontece conosco é excepcional. Gosto e quero estar com você, com meu

filho. – Maximiliano quebra o silêncio colocando a mão espalmada sobre o ventre dela e revela:

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– Gostaria de ter outros mais se também for tua vontade. Quero encher essa casa de

crianças. Gosto da alegria que Matheus me dá. – Uma pausa aflitiva para Isadora e ele

continua: - Você me pede amor e sei que não tenho capacidade para tanto. Não mais. É pedir

muito vivermos assim? Nós nos completamos. Damo-nos bem, não precisamos fingir. Somos

fortes e explosivos e se nos enchermos de ilusões românticas podemos nos machucar, nos

destruir.

Ela ouve-o sem interromper, tentando não se sentir ferida em seu amor, compreender

que não tem o direito de cobrá-lo. Procura seus lábios num beijo cálido, doce. Ouve-o suspirar

ao corresponder-lhe enquanto mãos ternas acariciam seu rosto, seus cabelos. Quando o beijo

termina, ela abraça seu pescoço e sussurra: - Vou tentar com todas as minhas forças não te

cobrar nada, Maximiliano.

- Não tenho mais idade e nem paciência para compreender infantilidades, Isadora.

Paguei minha juventude e a credibilidade no ser humano. Não sou homem de curtir traumas ou

fazer promessas, mas acredite que você é única. Não estaria aqui comigo agora, nem por meu

filho, se fosse diferente.

Maximiliano sela suas palavras colando seus lábios aos dela num beijo totalmente

diferente do que ela lhe dera minutos antes, ele se mostra possessivo e exigente.

- O Dr. Enrico ligou e precisa lhe falar com urgência, Max. – Júlio ofegante, se

apressa ao encontro deles quando a picape encosta na garagem.

- Será que aconteceu alguma coisa? – Isadora se assusta.

- Não com a família dele senhora, mas ele pediu que eu transmitisse o recado a

Maximiliano logo que chegassem.

Pressentindo o fim de suas férias, Isadora pega Matheus no banco traseiro e entra

em casa, segundos depois de Maximiliano, a tempo de vê-lo caminhar apressado rumo ao

escritório.

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Toma o filho pela mão e sobe a escada. Após o banhá-lo demoradamente tentando se

livrar das muitas perguntas que sua insegurança teima em fazer, ela e Matheus descem para o

almoço. De imediato nota a ausência de Maximiliano. Taciturno, Júlio os serve.

- Ele vai demorar um pouco, dona Isadora. Está fazendo umas ligações para o exterior.

- Já as fiz, – explica Maximiliano entrando na sala e sentando-se à mesa. – Teremos

que interromper nossas férias, Isadora. Farei uma viagem de urgência.

- Vai embora, papai?

- Embora não, meu filho. Vou viajar e vou voltar. – Ele responde fazendo um carinho

nos cabelos de Matheus. - Aconteceram alguns problemas que só poderão ser solucionados com

minha ajuda. Tudo bem? – Ele pergunta a Isadora.

O nó que se forma em sua garganta e o coração oprimido pela insegurança impedem-

na de responder, mas ela afirma com um aceno de cabeça.

- Quero ir junto, – Matheus choraminga. - Quero ir com ele, mamãe.

A criança insiste olhando para o pai que silencioso acompanha a conversa.

- Você nunca ficou longe da mamãe. – Isadora tenta chamar o filho à razão.

- Mas eu quero ir... – Matheus sai da mesa chorando e corre para fora.

Isadora se levanta para ir atrás e é impedida por um gesto de Maximiliano.

- Ele não irá longe.

- Ele nunca agiu assim. – Ela não esconde sua aflição.

- Posso levá-lo se você permitir. Viajarei num avião particular. Eu precisaria só de

uma permissão sua já que ele ainda não tem meu sobrenome.

Isadora fita-o assustada. Surpresa, por ele querer levar o filho e magoada por ele

não incluí-la junto.

- Nós nunca nos separamos, – ela consegue balbuciar.

- Então está na hora, Isa. Não o terá sempre. Ele tem muito de nós. É determinado e

independente. Sabe que ele não me dará problemas e você aqui terá mais tempo de procurar

uma casa para nós ou se quiser, redecorar essa. Assim que eu voltar nos casaremos.

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Ela, num esforço excelso, tenta não demonstrar o descontentamento que fragiliza

suas emoções. Em momento algum ele a convidara para seguir com ele. Por quê? Se os dias que

passaram juntos foram maravilhosos. Será que ele não estava com sua vida resolvida lá fora?

Afinal, ele não esperava encontrá-la quando viera assistir o casamento de Sandra.

- Vai demorar? – Ela pergunta hesitante.

- Somente o tempo de resolver os problemas. Tenho outra notícia para lhe dar. Seus

tios se separaram. Parece que Iliana maltratá-la aqui foi à gota d’água para Enrico. Estava na

hora.

O assombro no rosto de Isadora o faz defender o amigo. - Por que a surpresa? Há anos

o casamento deles é somente aparências. Mais cedo ou mais tarde Enrico teria de seguir sua

vida sem ter de carregar aquela harpia.

- E Sandra? Deus, ela ficará arrasada! Adora o pai...

- Sandra e o marido já estão sabendo. Interromperam a viajem e já estão com ele.

- E tio Enrico. Como ele está?

- Segundo ele, aliviado. Depois de anos tentando compreender o mau gênio da mulher

estava mais do que na hora dele se ver livre. Por isso não acredito em promessas de amor,

Isadora. O que era amor de repente se torna uma tortura, uma mágoa. É degradante. Esse tipo

de relação sempre sufoca um dos lados. Sempre se perde muito.

- E a pouco o ouvi afirmar que quer casar-se comigo. – Ela o provoca com desdém. –

Nem me perguntou se eu concordava ou não.

- Está insegura, Isadora? Não devia. Nós somos diferentes e tentamos ser realistas.

E se não soubesse ou percebesse em você, que o desejo é mútuo, que você tem a mesma

vontade de estar comigo, não teria lhe proposto. Estou enganado, Isadora?

- Sabe que não...

- Nosso casamento será fundamentado em respeito mútuo. - Ele continua, - não em

palavra doces e promessas vazias.

Ela se exaspera.

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– Respeito mútuo! Palavras vazias? Pois bem, um filho e sexo passional. Para mim isso

também não fundamenta um casamento, doutor Maximiliano. Não sei nada sobre você, sobre

sua vida, se tem alguém... Se ainda tem alguém lá fora. – Ela não lhe dá chance de replicar, -

não sei nem o que faz para viver. Aliás, só você tomou decisões até agora e de uma coisa tenho

plena certeza, não serei eu a parte fraca da relação. Pode apostar.

Virando-lhe as costas, Isadora o deixa. Furiosa e decepcionada ela sai à procura do

filho. Após procurá-lo nas imediações e não o avistá-lo sobe para o quarto e encontra-o ali.

- Mamãe... Deixa-me ir junto. – Ele faz novamente o pedido, logo que a vê. – Ou então

eu vou pedir ao papai para levar você com a gente.

- Que tal na próxima viagem meu filho? Iremos todos juntos. O que acha meu

guerreiro? - Maximiliano responde para Matheus, entrando no quarto. - Vamos combinar com a

mamãe que quando eu voltar, nós vamos juntos os três numa longa viagem, está bem? E agora

que tal vestir o pijama e dormir? Hoje você fica comigo?

- Agora e de noite também? – Matheus se alegra-se já esquecendo a viajem.

- Agora. Está bem?

Isadora beija o filho e sai. Concentra-se em não deixar se invadir por seus

pressentimentos. Esconderia seus medos. Não faria cobrança, mesmo que sua insegurança lhe

cobrasse um alto preço depois. Não ia deixar de aproveitar sua noite com ele, poderia ser a

última em muitos dias. O amaria com o coração e a alma, com a mesma angustia das muitas

noites que o desejara em sonhos e não podia tê-lo. Impregnaria as lembranças dele com seu

amor. Agiria como ele, com atos e não com palavras.

A mente rápida a faz ir à procura de algum acessório que pudesse formar a mesma

fantasia que usara quando o encontrara pela primeira vez. Faria com que ele se lembrasse a

primeira vez em que a tivera nos braços.

O sorriso de satisfação sai espontâneo de seus lábios ao correr olhar a sua volta.

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Estava tudo pronto. No aparelho de som, a música suave a faz ondular-se no ritmo enquanto

caminha para o bar. Com as emoções a flor da pele e a mente fervilhando, ela prepara o drink

preferido dele.

O receio em ver frustrada sua fantasia a deixa em semi alerta. Será que ele

encontrara o bilhete? Deixara-o às claras.

Não estaria agindo como uma tresloucada adolescente apaixonada? Seu coração bate

alucinadamente no peito em resposta. Como adolescente apaixonada não, mas como uma mulher

que sabia o que quer. Sua mente e seu corpo lhe diziam. Exigiam. Iria agradá-lo como a mais

perfeita odalisca, como a mais dócil gueixa. Não deixaria dúvidas. Ele não a esqueceria. - Pode

dizer não me amar, Doutor Maximiliano, mas jamais esquecerá essa noite. A pantera tomou sua

odalisca... – Ela sussurra enlevada diante da idéia.

Sabia na pele que ele era um amante intenso, insuperável e inesquecível e que devia

estar acostumado a ter as mais fogosas amantes em sua cama, mas não era ela. Como devia

interpretar a vontade férrea dele em fazê-la sua mulher, a moça simples e sem truques que se

rendera totalmente a seu fascínio?

Deixaria sua marca da mesma forma que antes, da única maneira que ele francamente

entendia e não a escondia, pelo sexo. Era um meio que usaria sem pudor, de chegar a seu

coração.

Na frente do espelho fita cuidadosamente o rosto bem maquiado. Acentuara os olhos

com delineador, deixando-os maiores. Na boca, o batom vermelho sangrava os lábios cheios e

já trêmulos pela antecipação. O cabelo solto e em volta do rosto a deixa sofisticada e não

escondia o semblante de olhar agudo da fêmea ameaçada que teimava em marcar seu macho.

A minúscula camisola branca que tomara a forma de uma saia ao ser enrolada à cintura

combinava com o soutien de renda da mesma cor e que mal cabiam os seios opulentos.

Os toques suaves entre as prateleiras atestam que ele encontrara seu bilhete e viera a

seu encontro.

O coração bate como açoite em seu peito e a adrenalina que corre em suas veias faz

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com que os batimentos ecoem em seus ouvidos. Enrola-se ao lençol antes de apertar o botão

que abre a porta camuflada. Finge não notar a surpresa em seu rosto, quando o pega pela mão

e o faz entrar na biblioteca.

- Minha odalisca! – Ele murmura deliciado.

- A própria. – Ela responde enquanto coloca suavemente os dedos em seus lábios.

Uma intensa emoção a invade quando ele os suga sugestivamente.

- Uma dança meu mestre e o livrarei. – Isadora provoca. A lembrança da primeira vez

em que dançaram juntos aflora com tanta intensidade que a deixa trêmula. Participando de

seus pensamentos ele a abraça com urgência.

- Dança comigo? – Ele deixa fluir o homem que se escondera atrás da antiga

fantasia de mefístole. E como da outra vez, a voz provocava arrepios. - Não faz idéia do

quanto sonho em repetir aquela noite!

Isadora se aperta ao corpo dele enquanto se embalam sob a música. Usa de firme

controle a fim de não tremer ao sentir os músculos firmes de sua coxa de encontro as suas. O

sexo intumescido preenchia seu baixo ventre e a incentivava a se abrir.

- Um beijo?

- Uma marca. Quero seu sangue, sua alma.

- É recíproco.

O sangue esquenta em suas veias quando ele a puxa de encontro ao corpo e procura-lhe

os lábios e os contorna com a ponta da língua, numa provocação. Não tarda em se ver sentada

no banco arredondado do bar. Sem inibição, abre-lhe a camisa de uma só vez, ferindo a seda

finíssima ao saltar alguns botões. Ele deixa seus lábios e a fita entregando-se as mãos macias

que lhe soltam os cabelos lisos. A respiração funda atesta seu desempenho em se controlar,

quando ela acaricia seu pescoço em suaves e pequenas mordidas.

Afastando com gentileza os braços que tentam rodear-lhe o corpo, Isadora desce

beijando vagarosamente o peito largo onde sem a menor pressa, tortura cada mamilo

escondido entre os pelos negros e macios. As minúsculas protuberâncias logo se mostram. Ela

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intensifica as carícias até arrancar-lhe gemidos roucos.

- Não consigo resistir, – ele reclama enquanto a ergue e sôfrego busca seus lábios.

Maldosa, ela se nega. Surpreso, ele a fita.

– Não estou lhe agradando, meu amo? Não gosta de minhas carícias? O que quer que

eu faça para agradá-lo? – Ela pergunta com falsa timidez, baixando os olhos enquanto acaricia

a extensão da cintura estreita e firme com os polegares. Depois, desce do banco e com os

lábios, refaz a trajetória erótica.

Vê-lo perder o controle em espasmos à medida que morde suavemente a pele de seu

ventre a excita loucamente. Ter a sua mercê o corpo másculo e vigoroso quase a faz esquecer

seus propósitos. Consciente dos olhos amarelados sobre qualquer um de seus gestos, das

mandíbulas cerradas a fim de se conter, ela se abaixa e ajoelha-se a seus pés enquanto abre

lentamente o zíper de sua calça. Ergue os olhos e se vê sob a mira de olhos já escurecidos pelo

mais incivilizado desejo. Treme de ansiedade ao decifrar neles a luxúria e a paixão que estava

provocando.

Como uma gueixa, lentamente lhe tira os sapatos, depois as meias e com sensualidade

acaricia demoradamente seus pés. Com extrema lentidão sobe as mãos pelas pernas até as

coxas musculosas, onde maldosamente circula-as, deixando entrever a promessa de seguir

adiante.

A protuberância indisfarçável a poucos centímetros de seu rosto a faz ousadamente,

como uma gata manhosa, esfregar o rosto no tecido macio da calça. Tateantes, as mãos livram

da prisão o membro sólido e ereto, que atrevido levanta-se quase ao encontro do cós da calça.

Acaricia-o em toda sua extensão.

Ouve o imortal grunhido do macho selvagem, ao rodeá-lo com pequenos beijos, sugadas

leves e demoradas, até não mais resistir e provar-lhe o gosto colocando-o na boca. Deliciada

vê sua mão afastar os cabelos de seu rosto, enquanto saboreia-o sem esconder a gula.

O ato erótico e o prazer que sentia provocavam-na a buscar o ápice. Ela estava em

chamas.

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Num gesto lento, mas firme, ele se libera e a traz para si. A satisfação evidente em

seu rosto parece provocá-lo profundamente. Maximiliano a livra do lençol que até então a

protegia e tenta livrá-la da minúscula calcinha.

– Não! - Sem o disfarce ela lhe nega o acesso. – Não terá sua odalisca.

Logo os lábios dele buscam os seus sem qualquer gentileza, aplacando o intenso desejo

que os consome. Isadora ouve o barulho de tecido rasgando-se e se vê livre do último

empecilho. Ele rasgara sua calcinha. Arrepia-se como uma pantera sob o momento explosivo.

Afasta-se ofegante e enfrenta o olhar flamejante. Balançando os cabelos languidamente, eles

lhe cobrem as costas como uma suave proteção. Incentiva a fera atrás de si, voltando-lhe

acintosamente as costas. Sem demora o sente encostar-se, emaranhar-se em seus cabelos e

com uma das mãos separar suas pernas a procura de sua intimidade. A invasão é única e

ardente.

Grita de assalto, ao sentir os dentes dele prenderem-se em seus ombros. Geme de

prazer a cada investida vigorosa e selvagem. Tenta acompanhar sua dança com todo o corpo e

coração, mas sua emoção de esvai em espasmos violentos quando explode num êxtase

profundo, inédito, que traz lágrimas a seus olhos e a deixa completamente extenuada,

amolecida. Maximiliano roubara a cena.

Lábios gentis acariciam seus ombros e sua nuca, como a se desculpar pela violência do

ato. A pantera vira gueixa novamente quando ele se desliga dela com suavidade e a estende no

macio tapete e novamente a toma. Agora, como se ela fosse uma preciosidade, ele a ama com

total ternura e gentileza.

CAPÍTULO X

- Isa, eu não sei mais o que fazer com Matheus. Não quer brincar, não quer comer... –

Mariana se queixa entrando no ateliê.

Desanimada, Isadora se volta para ela e desabafa. – Mari, já tentei de tudo. Tentei

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convencê-lo que o pai só fez uma viajem... Que Max vai voltar logo, mas parece que não entra

na cabecinha dele!

- Eu sei. Ele ainda é pequeno para entender Isa, mas temos que tentar alguma coisa, –

Mariana insiste, – a tristeza dele é de dar pena! Temo que ele possa adoecer!

- Zoológico e praia você viu que não resolvem mais. O tempo inteiro ele só fala no pai...

– Isadora limpa os pincéis enquanto se levanta. – Onde ele está?

- Amuado, lá no quintal.

- Eu temia isso, Mari. – O desabafo sai mais uma vez sem que ela se dê conta. – Se

pelo menos ele ligasse... Pediria que conversasse com o menino, poderia fazê-lo compreender a

demora, mas parece que fomos esquecidos.

- Isa... – Mariana se compadece com o nervosismo da patroa e amiga. – Vamos

esperar. Ele disse que ligaria? – Ela não espera a resposta, para continuar: - Dr. Enrico deve

estar cheio de problemas e de repente encostou-se ao amigo. Você não tem o telefone de seu

tio? Liga para ele.

- Não, Mari. Eu não vou ligar. Temo que Max pense que estou tentando vigiar seus

passos.

- Tem razão. – Concorda Mariana. - Ele é muito seguro de si... Vamos aguardar então,

meu bem. Quem sabe ele telefona hoje, mas não foi só o que vim fazer aqui. Vim lhe dar outro

recado e me esqueci... Dona Iliana te ligou.

- O que aquela cobra quer comigo, agora? Eles se separaram... Consolo é que não é.

- Ela não me parecia nem um pouco infeliz. A voz dela estava muito alegre.

- Nunca esperei boa dela Mari.

- E eu não sei? Vai retornar a ligação?

- Não. Ela nunca me ligou antes. Se fosse algo de urgência já teria dado as caras por

aqui. Ainda deve se lembrar do caminho.

- Quer saber de uma coisa? Vamos parar de falar naquela cobra ruim. – Mariana se

benze entre as risadas de Isadora. – Você vai à cidade hoje? Ou quer que o Gerson vá para ti.

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- Peça a ele que vá, Mari. Vou tentar acalmar minha ferinha.

Isadora acompanha a amiga para fora do ateliê e sai à procura do filho. No quintal,

Matheus nem levanta os olhos à sua chegada. A angústia e a pena misturam-se em seu peito.

Levanta-o nos braços enquanto tenta conversar com ele.

- Você não me deixou ir junto com ele, agora ele não vai mais voltar... – O menino

reclama. – Ele não vai mais me querer...

- Ele não pediu que você cuidasse de mim? Não lhe disse que era o homenzinho da

casa? – Ante o mutismo de Matheus, ela apela para seu amor, - Se você fosse eu ia ficar muito

triste e sozinha.

Tocado, o filho ergue os olhinhos tristonhos para ela. – Desculpe mamãe... É que estou

com saudades.

Ver o filho com os olhos cheios de lágrimas intensifica sua dor ao mesmo tempo em que

sua revolta contra Maximiliano cresce. Por que ele não dava notícias? Custava ligar para saber

do filho já que estava dando provas que não a amava?

- Nós podíamos viajar também. O que acha? – Ela tenta alegrar o filho, diante o

pensamento que lhe vem a cabeça.

- Vamos encontrar o papai?

Isadora se surpreende. Em momento algum se lembrara de perguntar a Maximiliano

para onde ele ia ou em que cidade estaria. Seria em Ibiza? Ela tem vaga lembrança do nome

da cidade. Seria essa mesma?

- Bem. Não sei direito em que cidade ele está, mas poderíamos viajar e deixaríamos um

recado para ele. Quando ele chegasse iria a nosso encontro. O que acha?

- Vamos para a fazenda então? – Matheus se anima pela primeira vez em dias.

- Vamos deixar o Gerson chegar da cidade, então veremos, está bem? E agora, que tal

uma boa tigela de sucrilhos com leite. O que acha?

- Vamos até a represa primeiro, mamãe?

Mais tarde Isadora vê o filho descontraído se sentar à mesa e devorar seu lanche. A

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chegada de Gerson anima-o mais ainda.

- Gerson, nós vamos para a fazenda do papai. Vamos esperar ele lá, não é legal?

Surpreso Gerson olha para Isadora que lhe dá uma piscadela enquanto pega de suas

mãos, as várias sacolas de compras.

- Então vamos arrumar nossas coisas garotão. – Ele acaricia os cabelos da criança. –

Isa, eu passei pelo correio. Trouxe sua correspondência.

- Viu se tem alguma do Marcos? Ele ficou de me ligar de Nova York e me dar os

folhetos das galerias. Parece que vai expor minhas telas por lá. – Ela olha a volta - Onde está a

correspondência?

- No meio dessas sacolas. E nós rapazinho, vamos nos preparar para viajar?

- Gerson, antes pergunte ao Alberto se ele pode passar alguns dias aqui. Não quero

deixar tudo fechado e depois não podemos levar os cachorros.

- Ele vai gostar. Está desempregado novamente e com aquele mundo de filhos. Cuidar

daqui será uma benção para ele, mesmo que seja por alguns dias. Algo está me dizendo que

dessa vez iremos juntos, é?

Isadora mal presta atenção à conversa. Um envelope pardo e grosso lhe chama a

atenção em meio à correspondência.

- Isa. – Mariana lhe chama. – Acho melhor você ir atender ao telefone. Tua tia já ligou

diversas vezes. Sabe o que ela me perguntou? Se você já está sabendo das novidades. Atenda

logo essa cobra, filha. Toda vez que ouço aquela voz roufenha me dá asco.

- Aquela ali sabe encher o saco. Vou atendê-la e acabar logo com isso.

Com a correspondência nas mãos, Isadora pega o telefone sob o olhar de Mariana que

se posta do seu lado enquanto ela atende a ligação.

Atenta, a amiga a vê empalidecer mortalmente. Encosta-se nela e ouve ao longe a voz

anasalada de Iliana. Sem responder uma palavra, Isadora desliga o aparelho com os olhos

vazios de qualquer emoção.

- Isa, meu bem. O que aconteceu? Por Deus, fale comigo! – Mariana a chama enquanto a

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vê tomar o rumo do ateliê. Logo ouve o barulho da porta se fechando. Dominada pela

preocupação, mas respeitando seu silêncio, ela planta-se a porta atenta a algum barulho. Só a

vira em tal estado, quando a tragédia a abatera anos atrás. Decidida, senta-se no chão a

espera de algum chamado.

Na proteção de seu ateliê, Isadora se entrega a um pranto silencioso e dolorido. Abre

o envelope e retira dele vários recortes de jornais do exterior. Em várias línguas, reportagens

extensas e fotos grandes e vívidas de Maximiliano abraçado a uma belíssima mulher. No rosto,

seus olhos irradiavam plena felicidade. Em outra, os dois, abraçados ao tio lhe chama a

atenção. Entre os dois homens e com os braços nos ombros de cada um, o rosto virado para

Maximiliano que de perfil a olhava também, a mulher era a face real da alegria. O sorriso dela

era de puro encantamento e amor. Sobre a mão de Maximiliano em seu ombro, a dela mostrava

no dedo anular, uma aliança larga que atestava a manchete que se lia em outro recorte de uma

revista conhecida. A única em que se podia ler e entender com clareza evidenciava:

“MAGNÍFICA DIVA DO TEATRO SE DECLARA A SEU ÚNICO E INESQUECÍVEL AMOR.

Nossa adorável atriz não esconde sua felicidade ao dar a declaração oficial de seu casamento

com milionário dono da noite”.

As lágrimas toldam-lhe a visão sob a agonia da dor que lentamente penetra seus

sentidos e se espalha por todo seu corpo ao ler o restante da curta manchete. “Após desfilar

com as mais belas mulheres do Jet set internacional, Maximiliano Ortiz deixa a cômoda

situação do viúvo mais concorrido da atualidade e diz o sim, confirmando oficialmente que irá

se casar, para felicidade de nossa deusa do teatro”.

Os soluços explodem em seu peito e lhe traz a boca um gosto amargo. A noticia que tia

Iliana lhe dera por telefone sem esconder sua alegria estava confirmada nas diversas

reportagens que ela impiedosamente lhe enviara.

Tenta evitar o grito que rasga sua alma. Tenta engolir o nó em sua garganta, mas a dor

insana cobra seu preço. A rouquidão não impede que sua voz corte o silêncio.

Preocupada, Mariana irrompe ateliê à dentro sem se importar em estar invadindo a

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intimidade da amiga. Ampara-a no momento que ela, lívida, escorrega ao chão.

A ligação de Iliana, as fotos espalhadas no chão a fazem compreender o que

acontecera. Não deixa à revolta lhe dominar à mente e chama Isadora à razão.

- Por Deus, mulher! Acalme-se! Pode ser um engano!

- Tia Iliana me disse...

A dor e o desespero estampados no rosto de Isadora a assustam. Mariana abraça o

corpo trêmulo.

- Isa, meu bem... As pessoas são maldosas! Isso pode ser um engano... Filha, Por Deus!

Cuide... Matheus não pode ver essas fotos e nem vê-la neste estado! Ele pode entrar aqui a

qualquer momento. - Mariana recolhe rapidamente o material do chão e recoloca-os no

envelope controlando-se para não desfiar um rosário de palavrões. O toque do telefone a faz

encarar Isadora.

- Não atenda, deve ser aquela cobra venenosa novamente. Ela agora não vai lhe dar

sossego. Cuide... Matheus está chegando.

Isadora parece ser sacudida por uma mão invisível. Com esforço supremo tenta se

dominar ao ouvir a voz do filho e de Gerson se aproximando. Levanta-se rapidamente e tenta

se recompor.

- Mamãe, nós já arrumamos tudinho. Estamos prontinhos.

- Já, meu bem? - Mariana responde por ela enquanto a ajuda a arrumar seu material de

pintura.

A fim de não deixar o filho ver seu rosto, Isadora concentra-se nos pincéis, limpando-

os incessantemente. Depois de alguns minutos, ela consegue articular. A voz ainda trêmula faz

Gerson fitá-la intensamente.

– Gerson, ligue para o Alberto. Vê se ele pode vir hoje ainda, no mais tardar amanhã

bem cedo.

- Isadora?

- Agora homem! - Mariana não contém a impaciência. - Faça sua parte que farei a

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minha.

Puxando o marido para fora, eles deixam mãe e filho juntos. Isadora saberia o que

dizer a ele.

- Isadora, já está escurecendo, venha logo para dentro. – Mariana reclama vendo-a

sentada sob uma palmeira, rabiscando furiosamente seu bloco de desenhos.

- E Matheus? – Isa pergunta levantando-se com dificuldades.

- O que acha? Plantado a frente da televisão assistindo seu desenho.

- A escolinha parece fazer bem a ele. Voltou a ser o tagarela de antes. Acertamos em

nossa escolha, não acha?

Isadora conversa enquanto passa as mãos pelo corpo a fim de retirar à areia ali

impregnada.

- Graças a Deus! E a chegada do bebê deixou-o mais feliz ainda – Mariana examina o

ventre inchado de Isadora.

- Eu achei que ele iria ficar enciumado.

- Matheus precisava era de conviver com outras crianças, Isa. Nós nunca notamos o

quanto ele era sozinho. Certos males nos chegam para que possamos nos orientar melhor.

- Acho que a mudança ajudou-o também. Isso aqui é o paraíso. – Isadora passeia o

olhar pela praia maravilhosa ao por do sol.

- Não imaginava que eu ia gostar tanto daqui como gosto, apesar de que sempre gostei

de morar em cidade pequena. – Mariana inala ruidosamente o ar marinho. – Já o chato do

Gerson não vê a hora de voltar.

- Ele ligou?

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- Ligou. As telas chegaram bem, sem nenhum arranhãozinho. Disse que Marcos as

inspecionou pessoalmente.

- Que bom! Preciso ligar para ele. A exposição será a semana que vem.

- Você irá? – Mariana pergunta já sabendo a resposta que vai ouvir.

- Sabe que não vou, Mari. Não quero me expor.

Mariana não a contesta. Acostumara-se aos longos silêncios e aos passeios solitários

que ela fazia pela praia enquanto o filho estava para a escolinha.

A princípio ela fora contra a idéia. Achara uma loucura atravessar o país como se

fossem fugitivos, cuidando para não deixarem vestígio algum de suas passadas, para

Maximiliano ou Enrico. Isadora temia que Maximiliano depois de casado reivindicasse a guarda

do filho, já que os dias passados na fazenda os uniram.

Ao encontrarem uma pequena vila de pescadores no litoral, alugaram uma casa pequena

e ali se estabeleceram. A descoberta da gravidez os chocara, mas como da outra vez, o

silêncio de Isadora era absoluto.

Levavam uma vida quase reclusa. O medo de que Maximiliano ou o tio a encontrasse

contribuíra para que não se expusessem.

O sofrimento às vezes tornava-se visível no rosto sempre melancólico, mas bastava um

sorriso do filho para que ela se reerguesse. Isadora se entregara de corpo e alma para a

pintura. Cada tela que pintava superava a anterior. O amadurecimento mostrava-se em seu

trabalho.

Depois de meses, Isadora pedira a Gerson que falasse com Marcos, seu marchand, mas

não dera a ele endereço algum para que não pudesse localizá-los. Temia que o amigo sob

pressão entregasse seu paradeiro. Gerson fazia a metade da trajetória, telefonava a Marcos e

só depois seguia com as telas. Nunca telefonava do mesmo estado.

A vida entre eles mudara radicalmente e fizera com que os laços se estreitassem ainda

mais. Não existia patroa e nem empregados. Para os habitantes da cidadezinha eram uma

pequena família que viera se estabelecer ali após a separação conturbada e sofrida da filha.

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A silhueta de Isadora, agora caminhando ao longe e recortada pelo entardecer

majestoso, faz sua alma se encolher sob a piedade. A vida fora cruel com Isadora. Mais uma

vez ela se via grávida e sozinha. Por sorte, não estava sendo uma gravidez difícil como a

primeira e Isadora florescia.

O porquê de tanto desencontro estava além de sua compreensão e às vezes lhe causava

revolta. Como poderia ter se enganado tanto em relação ao pai de Matheus? Ele não lhe

parecera comum, ao contrário, sentira confiança nele no momento em que o vira pela primeira

vez. Por que ele a enchera de esperanças para depois se casar com outra? E Matheus? Quanto

sofrera o pobrezinho. Quantas perguntas que não soubera responder a ele.

À mudança, a escola e os amiguinhos que fizera ali, ajudaram a desviar sua atenção da

falta do pai.

Gostaria que ela fosse à exposição. Queria ele a encontrasse, que Maximiliano a visse

grávida. Não, ela meneia a cabeça com violência. O homem seria capaz de querer tê-la para

amante e isso Isadora não suportaria, não consentiria e para ele tentar tirar-lhe o filho era

fácil, pois Matheus aprendera a amar o pai nos poucos dias em que estivera com ele.

- Mari! Mari! Venha ver o tio Enrico na televisão.

A voz alterada de Matheus a tira de seus pensamentos. Olha ao longe a figura de

Isadora caminhando descalça pela praia, antes de entrar para atender a criança.

- Ande... Mari... Tio Enrico está na televisão... – O menino insiste.

Mariana atravessa a estreita varanda em dois passos, acaricia a cabeça de Matheus

antes de para parar em frente ao aparelho de televisão, a tempo de ver o tio de Isadora

abraçado a uma formosa mulher. A voz do repórter sorridente ganha eco em seu cérebro

quando se volta para sua companheira e após algumas palavras sobre o turbulento divórcio,

confirma o enlace do Dr. Enrico com a famosa atriz, já em adiantado estado de gestação.

O sangue torna gelo em suas veias e paralisa a imagem em sua retina. A famosa atriz

sorridente na tela era a mesma mulher que meses atrás aparecia abraçada a Maximiliano e a

Enrico nas fotos dos recortes de jornais e da revista que Iliana mandara para Isadora.

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Mariana se aborrece ao notar o fim da reportagem e os apresentadores já comentando

a seguinte. Deus! Precisava saber mais. Será que... Não... Não podia ser. Colocando as mãos na

cabeça, num gesto de desespero, ela era a imagem do total assombro - Seria demais... –

Mariana murmura. - Não, não pode ser. - Passando as mãos frias pelo rosto, ela tenta assimilar

as informações – Senhor! Teriam eles se enganado tanto?

- Matheus, meu bem... – Ela se volta para a criança. – Vou atrás de sua mãe. Ela gostará

de saber a novidade.

Célere, ela corre ao encontro de Isadora pensando na reação que ela teria. Preocupa-

se. Conhecia-a. Ela se acabaria em remorsos e poderia ser muito perigoso. Tambem poderia

entrar em trabalho de parto. Não contar seria pior, pois Matheus com certeza comentaria

sobre o casamento do tio. – Deus! Como a gente pôde se enganar dessa forma? – Ela resmunga

enquanto afunda os pés na areia fofa e morna pelo sol do dia.

- Deu para conversar sozinha, dona Mariana? Não tem idade para tanto. – Isadora

brinca ao vê-la se aproximar. – Cuidado, isso é coisa de gente senil ou a chegada de mais um

neto está mexendo com teus neurônios?

- Isadora, minha querida, sente-se... – Mariana a pega pelo braço e a faz sentar-se na

areia. Ante a surpresa da outra, ela explica: – É melhor você estar sentada. Vai ficar

apavorada, senão louca, com o que vai ouvir...

- Deus, Mari! O que houve? Matheus... - Ante o menear de cabeça da amiga, Isadora

segura entre as suas, as mãos trêmulas da outra. – Nossa! Você está com as mãos frias. O que

houve? É Gerson? - Isadora sacode-a levemente. - Ei... Acalme-te!

Frenética, Mariana despeja as palavras que ouvira na reportagem.

Isadora ouve-a sem interrompê-la. Só depois que o silêncio toma conta das duas é que

consegue se pronunciar.

– Por Deus Mari! Tem certeza do que está me dizendo?

- Você está bem? – Mariana se preocupa ao ouvir a voz quase inaudível.

- Como acha que estou?

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- Não pode ficar preocupada, Isa. O bebê...

- Se o que viu é verdade Mari, eu fiz a maior burrada de minha vida. Max não me

perdoará nunca!

- Você não teve culpa, Isa! E seu sofrimento ao receber aquele nefasto telefonema de

tua tia e os recortes dos jornais?

- Não devia ter me precipitado, Mariana! Devia ter tentado saber mais... Aquelas

fotos... Deus as fotos... Não tenho desculpas! – Isadora balbucia.

- Todos nós acreditamos no que vimos Isadora! E eram fotos... Não pode se encher de

culpas agora!

- Como não? Não há desculpa para minha falta de confiança em Max. Ele não me

perdoará! Dirá que eu quis deixá-lo... Por insegurança. Por medo de perder meu filho para ele...

Max é frio!

- E o telefone de dona Iliana? Aquela megera, cobra infeliz... Praga dos infer... –

Mariana então desabafa desfiando um rosário de palavrões.

- Meu ato é indesculpável, Mari. Eu devia tê-lo procurado. Exigido explicações, mostrar

os recortes... Sei lá... Brigar com ele.

- Como, filha? Se não sabia onde encontrá-lo!

- Agi covardemente! Deus! Como fui insegura!

- Você sabia onde ele encontrava? Alguma vez ele ligou pelo menos para saber do filho?

– Mariana se descontrola ante a aceitação derrotista de Isadora – Isadora! Você estava

sofrendo, se sentindo ferida, traída... Qualquer mulher apaixonada e insegura faria o mesmo.

O que ele queria que você fizesse? Pelo menos devia ter ligado! Será que ele pensou que aquilo

tudo não chegaria até você? E tem mais, – Mariana se levanta e ralha com Isadora, - não gosto

de ver esse teu lado de vaquinha de presépio, não. Só abaixando a cabeça e aceitando, filha!

Você tem de reagir sim, mas de outra forma e sabe que eu e Gerson estamos do seu lado.

- Mari, ele não entenderá. Vai me acusar... – E sem que consiga mais se conter, Isadora

se entrega para o pranto e os braços de sua única amiga.

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- Isso, meu bem. Chore, chore mesmo... Desabafe. Fizemos uma burrada? Fizemos.

Fazer o quê? – Mariana a recebe num abraço amoroso. - Depois vamos ligar para o Marcos e

pedir a ele que tente saber ao certo sobre a reportagem que saiu. Então juntas tomaremos

uma decisão.

Isadora ouve sem interromper a voz de Marcos, que falante, não lhe dava chance de

conversar.

- Até que enfim, Isadora! Onde se meteu, mulher? Caiu do mapa? Adorei tuas telas,

viu? Apesar de achá-las um pouco agressivas. Mas você se superou, mulher! A exposição será

um sucesso. Você não tem idéia do quanto fui procurado, espremido e até ameaçado pelo tal

doutor e por seu tio. Isa, o tal Maximiliano quase me mata quando eu lhe disse que ele tivera o

amor da mulher mais formosa e humana que conheço e não soube segurá-la. Esnobei! Sabe o

que disse mais a ele? Que ele é que tinha que saber e não eu. O homem quase me esgana.

Acredita que ele disse que vai me processar por ser cúmplice do seqüestro do filho? O homem

está insano! Se não fosse por seu tio, não sei não, acho que ele teria me agredido fisicamente.

Saiu daqui botando fogo por aqueles lindos olhos. Parecia uma pantera pronta para sangrar

minha jugular.

- É sobre ele que quero falar, Marcos. – Isa fala pela primeira vez – Ele esteve a minha

procura?

- Várias vezes, amor. Chegou a me ameaçar mesmo. Pensa que é brincadeira? Olhe

querida, o homem pode não saber falar de amor, mas de uma coisa eu tenho certeza, ele te

ama e você sabe que dessas coisas eu entendo e o que é melhor ainda, dos dois lados da moeda.

– Marcos sem notar o sofrimento de Isadora sorri da própria piada. - Soube que teu tio se

casou?

- Marcos... – Novamente Isadora tenta articular. Sem sucesso.

- Olhe, a exposição vai ser magnífica. Sabia que tenho pedidos de suas telas por toda a

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Europa, também? E o pessoal das galerias em...

- Marcos!

O grito de Isadora parece penetrar-lhe nos ouvidos.

- Oi! Está nervosa meu bem? – Ele se queixa. – O que houve? Não poderá vir para a

exposição?

- Vou te enviar por fax umas reportagens. Elas estão em inglês e você sabe que eu

não...

- Olhe aí, está vendo? – A interrupção não tarda. - Lembra-se do quanto pedi a você

para fazer um curso intensivo de Inglês, moça?

- Marcos? Por Deus! Não me deixe pior do que estou me sentindo. – Ela se obriga a

chamar a atenção do amigo novamente. – Por favor, você pode interpretá-las e enviá-las de

volta para mim? Elas saíram a algum tempo, em jornais americanos e parece-me que da

Inglaterra também. Pode traduzi-las para mim? Se puder, vou esperá-las aqui mesmo, está

bem?

Isadora lhe fornece o número do telefone da agência do Correio local e logo envia as

reportagens. Não demora mais que vinte minutos para que o telefone da pequena agência volte

a tocar e logo a agente lhe chamar. Temerosa e apreensiva atende.

- Isadora, minha amiga! Se você desapareceu no mapa por este motivo, por causa

dessas reportagens, você está numa grande enrascada! Não queria estar em seu lugar na hora

que encontrar o doutor. – Marcos nem se identifica o logo lhe chama a atenção. – Você agiu

como uma ignorante no sentido total, mulher. Se teu desaparecimento foi pelas fotos, até

posso entender, você está apaixonada e tem pavio curto, mas por que não me pediu que eu

traduzisse as reportagens? Eu poderia ter lhe explicado que o Love em questão era do teu tio,

my dear.

- Marcos...

- Não deveria se envergonhar em não saber falar outras línguas, Isadora. Bem, apesar

de que eu acho que devia se esforçar. Teu trabalho exige! E tem mais minha amiga, a tal atriz

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informa o casamento dela com Enrico e afirma também, que o irmão em breve terminaria seus

dias de solteiro, pois estava de casamento marcado com a sobrinha do futuro marido. – Após

um longo silêncio, eterno para Isadora, ele conclui baixinho. – Não queria sentir o que deve

estar sentindo agora, amiga. Peço a Deus, que nunca sinta!

Segurando o filho pela mão, Isadora atravessa o saguão do aeroporto sem prestar

atenção nos olhares cobiçosos que atrai. A postura alta e elegantemente vestida, os cabelos

mechados pelos raios do sol que acentuava seu bronzeado e emoldurava seu rosto liso e

radiante mostravam a bela imagem de futura mamãe.

Mariana do seu lado tinha a ciência de que pelo menos metade dos homens que ali

estavam gostariam de saber seu, o fruto que arredondava o ventre daquela bela mulher, já nos

últimos dias de gestação. Como ela, mas munida de uma boa dose de arrogância, ela ergue o

nariz como se o gesto pudesse espantar qualquer um que inventasse de abalroá-las.

Matheus, alheio aos pensamentos adultos e encantado em poder estar de volta,

saltitava aqui e ali apreciando com seu jeitinho meigo, tudo o que via.

Com os pensamentos a mil, tentando não deixar se dominar pelo nervosismo, Isadora os

faz entrar no táxi e logo explica ao diligente motorista, o endereço do apartamento de

Marcos. Ele a intimara a se hospedarem com ele até ela resolver o que faria com sua situação,

com a enorme confusão que ela criara com Maximiliano.

No trânsito pesado já no centro da cidade, o carro para em um cruzamento a espera da

troca de sinal, o que faz Isadora prestar um pouco de atenção nos arredores. Logo à frente,

vários trabalhadores terminavam de fixar em um outdoor a propaganda da exposição de suas

telas.

Isadora se enche de apreensão. A gravura que ali eles fixavam era de sua tela

favorita. Êxtase. Em um gesto de pura cólera, entregara-a Marcos para vendê-la.

Inconsciente, ela passa a mão pelo ventre acariciando o bebê, enquanto admira a virgem se

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entregando a mefístole num doce e etéreo sacrifício.

O arrependimento que lhe toma, torna-se impiedoso e logo destrói sua admiração.

Piora-lhe o estado de ânimo e aumenta seus receios. Maximiliano ficaria furioso, pois sentiria

que em seu gesto estar sendo arrancando de sua vida. E não estaria errado. Foi com a

intenção de tirá-lo que entregara o quadro a Marcos para que fosse vendido.

Estava ficando cada vez mais difícil se explicar, tentar reconquistar o homem ao qual

devia ter magoado profundamente ao fugir. Atitude infantilmente gerada pela falta de

confiança e pela autopiedade.

- Não vai descer mamãe?

A voz de Matheus arranca-a de suas preocupações, dando-lhe alívio momentâneo.

Chegara à frente do condomínio em que Marcos morava sem que notasse.

Gentil, o porteiro que parece esperá-las ajuda-as com a pouca bagagem. Mal se

identifica no interfone e a porta do elevador privativo se abre. Marcos esperando-as dentro

do elevador não disfarça o choque ao notar seu estado.

- Deus do céu, não é possível! De novo, Isadora! – Ele exclama horrorizado, com os

olhos enormes no rosto. – Em pleno século vinte e um, você não conhece camisinha, mulher?

Não sabe o que é contraceptivo?

- Não é camisinha, tio Marcos. É camiseta. Como essa minha aqui, oh! – Matheus

corrige-o buscando sua atenção ao mostrar o próprio peito.

- Oh! Desculpe meu anjinho, esqueci de você! – Marcos procura abraçá-lo e dessa vez a

criança não se desvia. - Esse estava mesmo com vontade de vir embora, - ele pisca para

Isadora acenando Matheus, antes de cochichar. – Não está me estranhando.

Isadora abraça o amigo, saudosa. – E eu? Não mereço um abraço também?

Gargalhando eles se abraçam já à porta do apartamento, como se não se vissem há

anos.

– Estou louco para falar contigo. – Característico, ele não espera Isadora se acomodar

e a puxa para o escritório. – Anunciei a exposição em tudo que é meio de comunicação. Mandei

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fazer outdoor, gravei reportagem na galeria falando sobre tuas telas e usei a Êxtase como

fundo. O que acha? Fiz de tudo para chamar a atenção, só não confirmei tua presença. Acho

que será uma questão de tempo, Maximiliano ou Enrico virem me procurar.

- Estou aterrorizada, Marcos. Eu o perdi e por pura estupidez. – Isadora não segura às

lágrimas.

- Estupidez e burrice, minha amiga. Viu o que uma informação mal interpretada pode

fazer?

Ao notar que pranto toma conta de sua amiga, ele se apressa em desviar o assunto. -

Não chore Isadora. Pode fazer mal ao bebê... Ah! Falando nele, eu marquei as consultas e os

exames que me pediu. Como sou inocente! Devia ter imaginado. – Marcos olha assustado, para a

barriga protuberante.

- Trouxe meu pré-natal. Vai ajudar meu ginecologista. – Isadora, entre soluços, o

tranqüiliza.

- Não tem mesmo nada que eu possa fazer para te ajudar a recuperar teu doutor? E se

Gerson...

- Gerson está vindo com a mud... Marcos! Tive uma idéia...

- Boa? O que quer aprontar dessa vez? – Ele se delicia ao vê-la com os olhos brilhantes

pelas lágrimas, mas já com um sorriso nos lábios. – Estou vendo seus neurônios a mil, mulher. O

que quer fazer agora?

- Primeiro tem que me prometer que vai me ajudar.

- Fale logo, Isadora... – Ele esfrega as mãos antes de beijar os dedos em cruz. – Adoro

bancar o cupido. O que é?

- Tente localizar tio Enrico e diga a ele que Matheus está hospedado no hotel da praia.

– Isadora enxuga os vestígios de lágrimas do rosto, entre as palavras eufóricas. - Eu poderia

fazê-lo, mas teria de dar explicações que não quero no momento. Tenho que me redimir

primeiro com Maximiliano.

Falar no nome de Maximiliano faz seus músculos contraírem-se e as lágrimas voltarem.

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- Chorando de novo mulher! Não faça isso. Fico amolecido, emocionado toda vez que

vejo alguém se debulhando em lágrimas perto de mim. Mulheres! – Marcos funga antes de

perguntar. – É essa a idéia?

CAPÍTULO XI

No dia seguinte, Isadora chega da consulta médica, já no meio da tarde. Matheus

reclama logo que entra.

– Você demorou mamãe.

- Fui ao médico para ele poder dar uma olhada no bebê. Ele quis que a mamãe refizesse

todos os exames...

- Eu quero ir logo. Mariana me disse que vamos para o hotel do papai e que ele pode

estar lá. Por que você não vai junto?

- Vou levar vocês e logo voltarei. Teu pai vai querer você só para ele por uns dias e

resolvi deixar. Gosta? – Isadora tenta se explicar sem deixar transparecer seu nervosismo.

Como dizer a uma criança que o pai não queria ver sua mãe nunca mais? E por um erro tão

estúpido? - Posso te pedir um favor? Bem grandão? - Ela abre os braços em exagero, para o

deleite de Matheus. - Não fale a ele sobre o bebê. Quero fazer-lhe uma surpresa. O que acha?

O semblante do filho se ilumina ante a responsabilidade, como se fosse já adulto. – Ele

vai gostar que nem eu. Somos iguais.

Isadora se contrai ao ver novamente nele um pouco da arrogância do pai. E mesmo

sabendo que ele poderia requisitar a guarda do filho, arrisca-se. – Conseguiria guardar esse

segredo? Será só nosso por enquanto. – Ela tenta acreditar no sigilo da criança.

- Não vou dizer nem uma palavra. – Matheus promete-lhe solene, beijando os dedinhos.

- Então vou tomar um banho e os levarei.

- Isa é para você ligar para o Marcos antes de sairmos. – Mariana que assistira a

conversa calada, se manifesta. – Vamos ver se nossas coisas estão em ordem, Matheus?

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O telefone toca fazendo-a buscar Isadora com os olhos. A um sinal dela atende-o e

depois de confirmar ser Marcos, entrega-lhe o aparelho.

- O que houve? – Pergunta ansiosa.

- Tem uma mulher querendo saber de você. Já me ligou diversas vezes, mas não lhe dei

chance. Consegui localizar teu tio. Não foi fácil, mas consegui.

Isa revira os olhos para o teto enquanto espera as demoradas e confusas explicações

do amigo. Após alguns segundos, para ela intermináveis, não se contém e o interrompe.

- Será que era da parte de Maximiliano?

- Acredito que sim. Devia ser alguma secretária muito eficiente, pois a voz era formal,

fria. Dr. Enrico deve tê-lo avisado. Já imaginou se amanhã ele aparece na exposição? Está

preparada?

O bebê cutuca-lhe o ventre como se confirmasse às palavras de Marcos. Isadora sente

um arrepio de frio que logo gela suas veias.

– Serei obrigada a enfrentar a situação que criei, – responde com um fio de voz.

- Não vá chorar novamente, mulher. Lembre-se que estamos juntos nessa. No que

precisar, estou pronto a ajudá-la. Já parou para pensar que se eu gostasse da coisa, esse bebê

poderia ser meu? – Ele brinca tentando fazê-la descontrair-se.

- Está bem, seu bobo. Agora me deixe aprontar para minha missão, senão Matheus vai

parir em meu lugar. À noite conversamos, está bem?

Após desligar o telefone, ela corre rápida para o banheiro. Depois da ducha gelada,

apressa-se em se vestir. Ao chegar à sala, o filho vem a seu encontro.

- O táxi já está me esperando, mamãe.

- Então não vamos deixar esperá-lo mais.

O coração bate forte, ressoando suas pulsações em sua garganta enquanto descem até

a portaria do condomínio. E não se acalmam quando atravessa a cidade rumo ao hotel. Ao

avistar o imponente prédio ao longe, sente suas mãos suarem, geladas. Esta entrando na do

lobo. O pensamento vem-lhe a mente enquanto acaricia o ventre, tentando transmitir ao bebê

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uma mensagem contrária as batidas de seu coração.

- Será que ele vai estar lá?

Matheus pergunta com os olhinhos brilhando. A excitação do filho é tão evidente que a

faz se sentir pior, por tê-lo afastado do pai por tanto tempo.

- Pode não estar meu bem, mas pedirei que o avisem de sua chegada, – ela tenta

parecer calma.

- Não vejo à hora de ver ele.

- De vê-lo, meu bem. – Mariana corrige o menino enquanto busca a mão de Isadora num

gesto de solidariedade. – Dará tudo certo, Isadora. – Ela afirma. – Faremos como combinamos.

Surpreendi-me com Gerson. Não sabia que era dele a idéia, na outra vez. Se ele deu conta do

recado, por que eu não darei?

- Obrigado. Mari! Tem sido mais que uma mãe para mim.

- E minha vovó, não é mamãe?

- Sou sua vovó, meu adorado.

- É para esperá-la, senhora? – A voz do taxista interrompe o colóquio.

Logo que chegam à portaria, um homem uniformizado atravessa a marquise e abre a

porta do carro.

- Meu pai está aí? – Matheus o inquire assim que desce.

- Ele não vai saber meu bem. Vamos entrar e perguntar na recepção, está bem? Se não

mudou nada, lembro-me do gerente.

Isadora afaga a cabecinha do filho enquanto entram na recepção. Após pedir um

quarto para Matheus e Mariana, pergunta pelo gerente do hotel. Não tarda para a

recepcionista localizá-lo pelo telefone e após alguns segundos, desligar e encaminhá-los para o

escritório. Ao entrarem, ela vislumbra um olhar de surpresa no rosto do homem sentado atrás

de uma mesa.

- Dona Isadora! Há pouco falei com Doutor Enrico? Que coincidência! Estava ligando

em outros hotéis a sua procura.

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- Bem. Estamos aqui. – Ela responde com uma calma que estava longe de sentir.

- Vou avisá-lo de sua chegada.

- Ele está aqui? – Ela se assusta.

- Ele, sua esposa e o Dr Maximiliano chegaram pela manhã.

- Meu pai está aqui? – Matheus pula de alegria. – Você viu mamãe. Não te falei? Eu

falei... Eu sabia.

- Vou avisá-los da chegada de vocês. - E o gerente leva a mão ao telefone, gesto logo

interrompido por Isadora.

- Deixe. Nós vamos surpreendê-los. – Ela envia um sorriso ao homem - Sei o caminho.

Não os avise.

- Então vou levá-los até o elevador privativo. – Solícito o homem se levanta.

- Mariana, vá com ele. Vou dispensar o táxi e logo me junto a vocês.

- Quer me enlouquecer? - Marcos reclama entre um e outro sorriso aos inúmeros

convidados. – Além de chegar atrasada, me faz desfazer um negócio milionário.

- Não quero mais vender a tela, Marcos. Se ela não tivesse no folheto, eu a tiraria da

exposição ainda hoje. – Isadora explica enquanto tenta esquecer o cansaço. – Posso me

esconder um pouco em seu escritório? Estou com as pernas latejando.

- Oh! Desculpe minha querida! Às vezes e esqueço-me de teu estado. Vamos, te

acompanho.

- Não sabia que minhas pinturas eram tão procuradas. – Ela examina o salão cheio. -

Praticamente estão todas vendidas!

- Está com uma boa fortuna, cara amiga e pode empobrecer a qualquer momento se eu

não honrar meu compromisso. Terei que desmanchar a venda de Êxtase, Isadora? Vamos

pagar uma soma considerável de multa!

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- Por que não me disse antes? Eles te pressionaram?

- Eles não, ela. – Marcos fecha os olhos por segundos, antes de continuar. - Quando me

pediu que não a vendesse mais era tarde. Fechamos o negócio por telefone e pouco depois ela

ligou pedindo que eu confirmasse meu saldo bancário. Estava lá todo o dinheiro, Isadora!

Quando tive de ligar de volta desmanchando a venda, explicando que foi um engano, que a

autora da tela estava prostrada de angústia por ter resolvido vendê-la num acesso de

rebeldia, ela não teve piedade. Ameaçou-me de processo! Terei que pagar a multa ou ela vai

impedir que eu faça exposição em qualquer lugar que seja. Disse que vai a público me

denunciar, se eu não honrar o compromisso.

Isadora o ouve com lágrimas nos olhos. Sabia o quanto o nome de Marcos era

respeitado no mundo das artes.

– Não posso deixar isso acontecer contigo, Marcos! É culpa minha. Entregue-a...

- Posso? Daqui a pouco ela estará aqui pessoalmente.

- Deixe-me falar com ela, então. Explicarei-lhe os motivos...

- Posso trazê-la aqui? – Ele a interrompe.

- Traga-a. Tentarei me explicar, convencê-la. Senão, entregaremos a tela. Ela não me

trouxe sorte.

- É louca? Valendo esse dinheirão todo e você diz que essa tela não lhe dá sorte,

Isadora? Vai entender você...

Marcos sai resmungando enquanto Isadora entra no luxuoso escritório da galeria, em

busca de um pouco de sossego.

Não descansa muito, pouco mais de hora depois é interrompida quando Marcos entra

seguido de uma senhora de idade.

Na casa dos sessenta e poucos anos, ela era de descendência espanhola ou mexicana e

seu ar distinto atestava a frieza dos olhos. A roupa de grife mostrava sua condição de pessoa

acostumada a mandar e ser obedecida. Após as devidas apresentações, ele as deixa.

Isadora se vê sob o exame franco e minucioso antes de se sentar. Decidida a usar de

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honestidade e franqueza, falar de mulher para outra mulher, ela toma a iniciativa e fala sobre

o arrependimento do negócio. Não cita nomes, mas conta-lhe por que pintara a tela, o porquê

do gesto rebelde em vendê-la e depois se arrepender.

Não esconde seu amor ao falar-lhe sobre Matheus e o filho em seu ventre. Conta-lhe

do erro que cometera e o porquê de querer o quadro de volta. Confidencia-lhe que a tela é a

única lembrança, somente dela, de como encontrara o amor.

- Como lhe disse, não quero sua piedade, senhora. Gostaria de contar com sua

compreensão. Sei que negócios não se misturam a sentimentalismos, mas pagarei a multa que

pediu. Gostaria muito de ter a tela de volta.

Marcela, como se apresentara a Marcos e depois a ela, representava uma organização

mundial que fazia grandes investimentos em obras de arte, inclusive já haviam adquirido

outras telas de Isadora.

Educada, a mulher a ouvira sem interrompê-la uma única vez. Fria a princípio, ela

mostrava entender a situação após sua narrativa, mas os olhos astutos não a deixavam um

segundo. Pareciam em constante vigília.

- Isadora, me permita chamá-la assim, – a voz firme e pausada a fizera lembrar sua

mãe. – Deve saber que não será nada fácil convencer os acionistas e o presidente da

organização que represento. Há uma boa quantia em dinheiro envolvida nessa transação, mas

tentarei. Tentarei ajudá-la. Não prometo conseguir, mas tentarei. Como você mesma disse, em

negócios não pode haver sentimentalismos. Para quando é seu bebê?

A mudança de assunto a faz perder a esperança, mas responde com gentileza. Gostara

dela. Seus olhos, apesar de frios, lhe transmitiam confiança.

- Já estou entrando nas últimas semanas. Se conseguir segurá-lo mais um pouco aqui

dentro, será para daqui a três semanas. – Ela responde alisando o ventre sob o vestido longo

que escolhera para a exposição. Mesmo com o ventre inchado, o decote princesa lhe deixava

elegante e ao mesmo tempo simples. Escolhera usar branco, pois lhe valorizava os seios já

cheios e firmes. Levantava seu ego bem machucado nos últimos dias.

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- Vai contar ao pai? – Marcela pergunta de chofre. - Desculpe-me à intromissão, não é

de meu feitio, mas já que agiu com franqueza comigo, me creio no direito de perguntar.

- Sinta-se à vontade, Marcela. – Ela tenta sorrir, mas os músculos de sua face

protestam. - Não sei se é a gravidez ou os hormônios, sinto-me carente, fragilizada.

Sentimentos que até bem pouco tempo não me dava o direito de sentir. Sim, vou procurá-lo

para o sim ou para o não. Ele tem todo o direito de saber.

- Mas como me disseste, ainda não teve coragem.

Isa sente uma leve reprimenda na voz dela, mas se explica.

– Quis dar espaço primeiro a nosso filho, Matheus. E como bem o conheço deve estar

tomando todo o tempo dele. Depois eu o procurarei, mas sei que ele não vai me perdoar. Agi

muito mal fugindo.

- Acha então que não terá perdão? Se ele a ama, perdoará.

- Não perdoará, tenho certeza. – Ela responde mais para si. – Nunca tive a chance de

conhecê-lo bem. Foram poucos os dias que passamos juntos, mas valerá uma vida.

- Você o ama mesmo, não?

- Até a morte, – responde consciente do calor nos olhos antes tão frios. – Acho que me

guardei para ele. Senão, não teria me dado em minha despedida de solteira, com casamento

marcado com outro homem.

- Realmente tua história é comovente, nada banal. Farei votos para que consiga

reconquistá-lo.

- Não me iludo, mas vou tentar. O gênio dele é difícil. É arrogante e autoritário, mas o

pouco que tive dele foi com ternura e entrega. Às vezes cheguei a sentir que era

correspondida.

E entrando numa doce viagem por suas lembranças, Isadora se cala. Não vê a senhora

sair e nem ouve sua despedida.

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Com a ajuda de Marcos, horas mais tarde ela entra em um táxi rumo ao hotel. O corpo

cansado e as pernas doloridas adquirem força ao sentir a adrenalina correr rápida em suas

veias.

Andando de um lado a outro, a sala de estar do apartamento no hotel parecia pequena

para seus passos. Seu coração bate forte no peito e a faz se sobressaltar a cada barulho que

se destaca.

O gerente disfarçara bem a surpresa em vê-la ali pedindo para ver Maximiliano, mas

depois de uma rápida ligação, ele a leva a um dos muitos apartamentos.

Não se surpreende com a demora. Maximiliano devia estar zangadíssimo com ela.

Meticuloso, não ia querer discutir no mesmo ambiente que Matheus estivesse. A saudade do

filho traz lágrimas a seus olhos. Nunca ficara tanto tempo longe dele. Como estaria? Pedira

por ela? Estaria sentindo sua falta, como ela a dele?

Respira fundo tentando se acalmar enquanto senta na macia poltrona que parece

pequena para acomodá-la com conforto. O desconforto a faz se levantar e passar para a

poltrona maior, convidativa, a fim de erguer as pernas já inchadas pela falta de descanso e o

peso do corpo. Fecha os olhos enquanto exercita técnicas de respiração, na tentativa de se

acalmar. Alisa o ventre tentando passar a mesma mensagem ao filho. Não demora, o sono pesa

suas pálpebras. Ajeitando-se sobre as pequenas almofadas, Isadora perde terreno o cansaço e

o sono.

É assim que mais de hora depois, Maximiliano a encontra. Profundamente adormecida.

Surpreendera-se quando seu gerente lhe avisara, no fim de um jantar de negócios. Isadora se

encontrava no hotel.

A raiva corroia suas entranhas a cada passo que dava. Atrevida! Ela tinha o desplante

de aparecer, depois de fazê-lo revirar céus e terra a sua procura por meses seguidos. Após

deixar ele e o tio quase loucos de preocupação a ponto de colocarem detetives em seu encalço,

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e depois de ver um após outro voltar sem notícia alguma, ela aparecia do nada. E precavida

enviara o filho na frente, na tentativa de acalmá-lo.

Quase louco de preocupação chegara a ameaçar o caseiro dela, quase a ponto de ser

ver envolvido com a polícia. De repente ela aparece, deixa-lhe o filho e Mariana de quem em

vão tentara arrancar alguma explicação e volta a desaparecer. Definitivamente não esperava

que ela tivesse a coragem de desafiá-lo.

Em sua mente desfila cada uma das facetas dela que conhecia. Atrevida e corajosa se

destacaram. De Isadora ele podia esperar tudo. Rotina com ela? Nunca.

- Vamos à luta, atrevida. – Ele murmura enquanto abre cuidadosamente a porta. Iria

surpreendê-la. Assim minaria suas defesas e exigiria uma explicação convincente para sua

fuga.

Controla a raiva que se apodera de seu cérebro enquanto entra silencioso. Seus passos

eram abafados pelo espesso carpete.

A primeira visão que tem dela é dos pés erguidos no descanso do sofá. Ele afasta

rapidamente a onda de saudade que o invade. Ao aproximar-se mais se depara com ela a dormir

tranqüilamente. Sua ira chega a proporções gigantescas.

Silencioso e caminha em torno do sofá. Entre a vontade de gritar com ela, sacudi-la e o

temor de não poder se conter o faz se sentar em uma das poltronas a sua frente, de onde a

tem toda sob sua visão. Precisava estar calmo. Não daria a ela o gosto de vê-lo irado.

Seus olhos passeiam pelo rosto liso e plácido em seu sono e mais uma vez ele precisa se

conter, mas desta, para não se levantar e se apoderar dos lábios carnudos e entreabertos

relaxados pelo sono. A cabeleira solta que lhe cai sobre um dos ombros, quase encosta ao chão.

O decote do vestido marca-lhe os seios e uma sensação conhecida transpassa-lhe o corpo ao

lembrar quantas vezes os tivera em suas mãos e lábios, mas seus olhos se estreitam. O

cérebro o alerta. Os seios dela lhe pareciam mais cheios, diferentes.

Num átimo seus os olhos focalizam o ventre enorme protegido por mãos delicadas, que

mesmo em seu sono pareciam temer que lhe tirassem o fruto.

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A adrenalina corre veloz por suas veias, explode em seu corpo e chega a seu cérebro

como uma bomba, o deixa atônito.

Deus! Ela está grávida novamente!

O grito morre em sua garganta e a voz não lhe sai, ao constatar o estado adiantado.

Aperta firmemente os olhos no afã de arrancar das retinas a cena registrada. Tenta

se controlar, analisar a surpresa com frieza, mas não consegue. Passa as mãos pelo rosto, numa

tentativa de esconder o tremor. Pela primeira vez em anos, ele se sente acuado e sem coragem

para tomar qualquer atitude.

Teria de recuar em sua decisão firmemente mantida nos últimos meses. Não era

homem de atitudes drásticas, mas à vontade de chacoalhar incessantemente aquela mulher que

lhe atormentava a vida com seu jeito imaturo de ser, mas meigo, era enorme e o estava

assustando.

Levanta-se e como entrara e sai do apartamento, obrigando-se a enviar rápidas

mensagens ao cérebro acostumado a comandar. Não estava fugindo dela. Não estava fugindo

de Isadora. Daria a eles, uma trégua de algumas horas.

Como um furacão Maximiliano entra no quarto de Marcela, não se importando com o

adiantado das horas. Não queria saber se ela dormia ou não. Queria, precisava urgente de

explicações e alguém tinha que lhe dar. Começaria por ela e depois falaria com Mariana.

A sensação de estar sendo observada penetra lentamente em seu sono fazendo-a

acordar. Isadora abre os olhos e sonolenta escrutina o ambiente. Quando se vê sozinha a

decepção a fere. Maximiliano não queria falar com ela. Era para estar preparada, ela se

censura ante a dor que toma lentamente seu ser. Sabia que poderia acontecer, mas

secretamente acreditava que ele quisesse vê-la, nem que fosse para brigar e depois mandá-la

embora. Em seu íntimo permanecera a esperança que guardara no fundo de seu coração. Que

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ele poderia perdoá-la por amor ao filho.

Parecendo sentir seu conflito, o bebê endurece em seu ventre, curvando-a ante a

inesperada pontada de dor.

Alarmada, ela respira profundamente na tentativa de se acalmar, enquanto as lágrimas

descem pelo rosto. – Ele não nos quis. – Ela se queixa cheia de mágoa, de piedade.

Novamente a dor rasga-lhe o ventre. Isadora olha em torno, a procura de um telefone.

Ao encontrá-lo, liga para Marcos e depois para a recepção e pede um taxi. Entre os rápidos

espasmos de dor, ela pega o elevador rumo ao térreo.

Os olhos chocados da recepcionista a faz olhar para baixo. Só então é que toma ciência

do vestido antes branco e elegante, agora todo manchado de sangue. Ela não se assusta. Uma

calma inesperada toma conta de sua mente, antes dela sair para a rua à espera do táxi.

- Senhora... Por favor, espere! Temos recursos médicos aqui no hotel. Posso chamar

uma ambulância?

A atenção da recepcionista a comove. – Não se assuste. É que o bebê resolveu se

adiantar um pouco. Liguei para um amigo que já avisou meu ginecologista e está vindo me

buscar.

Em poucos minutos, o carro chega e com a ajuda da recepcionista e do motorista, ela

entra. A viagem até a clínica parece-lhe uma eternidade. O fluxo de sangue cada vez maior, já

empapava o espesso forro que protegia o banco do carro. Ao ajudá-la descer e notando seu

estado, apavorado o motorista entra aos gritos na clínica, em busca de socorro.

Marcos chega minutos depois e tem a informação de que ela estava sendo preparada

para uma cirurgia de emergência. Ele entrega ao médico de plantão o envelope que continha

todos os exames que ela lhe pedira.

O médico pergunta: - É o pai do bebê?

- Não. Sou um amigo, mas será uma questão de minutos o marido dela saber.

- Então o avise logo. Pelo que vejo aqui nos exames, ela fez uma consulta ainda ontem e

tudo estava dentro do normal. Já pedi providencias para que seja chamado o ginecologista que

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a consultou. Logo ele estará aqui. Avise o pai do bebê. Precisaremos de uma autorização para

fazer uma cirurgia de emergência, já que não há nenhuma dela registrada aqui. – O médico

explica enquanto guarda os diversos exames de volta no envelope e entrega a enfermeira.

Alarmado, Marcos toma sua decisão. E pouco depois liga para um determinado número.

O toque insistente do celular não interrompe a discussão acalorada entre Maximiliano

e Marcela.

– Eu senti Maximiliano. Estive com ela e acredito nela. Por isso não lhe contei sobre a

gravidez... Queria que você mesmo a visse e então poderia engolir esse orgulho tolo, depois de

tudo o que já lhe aconteceu. Você precisa voltar a confiar, Max. Precisa voltar a amar, só

assim poderá perdoar e viver.

- Eu amar, Marcela? – O riso irônico sai um pouco mais alto que o normal. – Não tenho

essa capacidade.

- Você não ama? Que nome dá a esse sentimento que o manteve todos esses anos sem

se envolver com mulher nenhuma? Não depois dela. – Marcela altera o tom da voz. - Uma

mulher por noite e alguma conseguiu te prender? Esqueceu que acompanho tua vida? O que

acredita que procurou em cada rosto de mulher que passou por você? Não a que conheceu

numa noite distante? Por que não usa essa mesma vontade para perdoá-la? – Marcela ergue a

mão ao vê-lo tentar interrompê-la. - Não me olhe assim e não me retruque. - Ame-a, sim.

Agora! – Marcela baixa o tom de voz - Hoje tive a oportunidade de juntar as peças do quebra-

cabeça. Você está amedrontado Maximiliano. O todo poderoso homem da noite está com medo!

- O toque insistente do celular faz com que ela se interrompa. - Atenda ou desligue esse

celular. Está me irritando.

Num gesto brusco ele puxa o aparelho do bolso da calça e atende. Depois de ouvir a

voz do outro lado por alguns segundos, ele exclama: - Quando foi isso? Não faz muito que a...

O olhar apavorado de Maximiliano enquanto ouve e fala ao telefone, faz Marcela sorrir

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intimamente. Devia ser algo relacionado à Isadora. Apesar da preocupação em querer saber o

que acontecia, ela se alegra ao ouvi-lo atacar.

- Você não tem o direito de me dar sermões. Foi cúmplice dela o tempo inteiro. Você a

ajudou a esconder meu filho e...

Vê-lo ser interrompido e mostrar no rosto e na voz o ciúme explícito a faz dar as

costas para ele, a fim de esconder o rosto. Ele estava mais arrogante ainda.

- Onde ela está? Estou indo para aí, agora.

Assim que desliga o celular ele se volta para Marcela em total assombro.

– Isadora entrou em trabalho de parto. Você não me disse que era para daqui a três

semanas? Há pouco ela estava dormindo aqui no hotel! – Maximiliano tenta sem sucesso

controlar o tremor na voz. – Mãe, ela entrou em trabalho de parto! E parece ter complicações.

Você não me disse que o bebê seria mais para o final do mês? – Ele se repete.

- E você está se tornando repetitivo, Maximiliano. – Marcela não lhe poupa, mas a

palidez que cobre o semblante do filho a faz abrandar a voz. - Me dê uns segundos. É somente

o tempo de me trocar e irei contigo.

Ainda atrapalhado com o tremor das mãos, Maximiliano faz algumas ligações enquanto

espera por Marcela.

- Deus, Marcela! Não posso perdê-la. – Ele reclama logo que vê voltar e abraçá-lo

protetoramente, a mulher que o criara e o mantivera em constante equilíbrio sua vida inteira.

- Você me disse que não a ama! – Ela volta a insistir. – E, por favor, não vá sair por aí

como louco. Se ela está mal, parte disso é sua culpa. Devia tê-la procurado logo que ela lhe

trouxe o filho.

O silêncio paira no interior do carro enquanto ele costura o trânsito de final de

madrugada. Quando estaciona o carro em frente à clínica indicada, Marcos apavorado e a

postos vem a seu encontro. Esquecendo suas diferenças, ele lhe pede mais informações.

- Não sei direito, – Marcos responde nervoso. – Ela me ligou ainda do hotel. Dizem que

chegou sangrando e branca como uma nuvem. Está na sala de parto. E você como pai do bebê é

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o responsável por ela. – Marcos lhe diz num fôlego só.

- Obrigado por ter me avisado. – Maximiliano agradece provocando surpresa no outro.

- Sei que é você que ela gostará de ver ao acordar. – Marcos responde seriamente. -

Vamos falar com a enfermeira que a recebeu, ela te dará maiores informações.

Ao ver chegar outros médicos e entrarem apressados, Maximiliano se desespera.

Tenta falar com eles, mas não consegue. Busca apoio em Marcela.

Cinco minutos depois, lhe chega à informação que seu filho havia sido retirado através

de uma cirurgia de cesariana. Apavorado, ele pede para falar com o diretor da clínica.

- Onde está sua confiança, Maximiliano! – Marcela intervém ante a inquietação dele. -

Ela é jovem e forte. Não vai morrer homem! É somente mais uma mãe colocando seu filho no

mundo. Acalme-se! Não será de valia alguma se continuar neste estado.

A recriminação da mãe e amiga não o acalma. Ao ver um médico se aproximar, ele o

criva de perguntas: - O banco de sangue daqui é auto-suficiente? Isadora está bem? Por

favor, ela...

- Sim, o banco de sangue é auto-suficiente, mas não vamos precisar dele. Ela está em

boas mãos. É o pai do bebê? – Ao ver Maximiliano assentir o homem continua. – Está nos

preocupando essa hemorragia inesperada. Ainda ontem ela fez todos os exames preventivos.

Estava tudo em ordem, sem risco algum.

A chegada da enfermeira o livra de explicações maiores. – Vocês são da família?

- Somos. – respondem os três em uníssono.

- O bebê já foi tirado e...

- Graças a Deus! – A voz de Marcela mostra alívio, enquanto ela busca a mão de

Maximiliano.

- É uma linda e saudável menina, apesar de prematura.

- E Isadora?

A mulher procura os olhos do médico, como se buscasse confirmação para responder.

Ele consente. – O quadro dela continua o mesmo.

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- Faça o possível, doutor. Vamos tirá-la daqui se necessário... Não se pode fazer mais

nada?

- Nossa clínica está aparelhada para qualquer emergência, senhor. Vamos confiar na

juventude de sua esposa.

- Faça o que for necessário... Por... Por minha mulher e minha filha. Se houver lugar de

mais recurso que este, não hesite em retirá-la daqui.

Quase trinta minutos depois, ele consegue vê-la sendo transportada para o

helicóptero, uma UTI móvel. Chocado, observa sob a palidez excessiva em meio a tubos e

inúmeros fios, o rosto adormecido de Isadora. O bebê, nos braços de uma das enfermeiras

chora a plenos pulmões.

- Ela te deu uma linda filha, Maximiliano. – Marcela exclama emocionada ao ver a

criança por alguns segundos. – Dará tudo certo, meu filho. Vá junto de sua família. Eles a

levarão para um hospital bem mais equipado e especializado nestes casos. Vá com elas.

CAPÍTULO XII

A luz clara e fria lhe ofusca os olhos ao tentar abri-los. Isadora fecha-os novamente

buscando se ambientar. Um toque suave e quente em sua mão a faz tentar abri-los novamente.

- Isso meu bem, tente... – A voz grave e profunda penetra em seus ouvidos como uma

doce melodia. Um som forte e sonoro que se mistura a outros sons familiares. As batidas

fortes de seu coração, monitoradas pela máquina ao lado do leito. A voz se faz ouvir bem

perto, segundos antes de sentir o toque dos lábios em seu rosto.

- É um sonho. – A própria voz ecoa em seu cérebro rompendo a névoa letárgica

- Não é sonho, meu bem. É real. Nosso bebê e Matheus estão bem e falta somente

você para estarmos juntos novamente.

Isadora tenta com esforço abrir os olhos para vê-lo, se certificar se era real

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Maximiliano estar ali, mas o sono é mais forte e a abate novamente. Entrega-se a ele com um

sorriso nos lábios descorados.

Horas mais tarde ao acordar, ela se depara com seu médico e uma enfermeira ao lado

da cama.

– Bem vinda a terra, Isadora. – Ele brinca enquanto ausculta-lhe o peito. – Você tem

uma linda família e uma filha esfomeada. Vamos tratar de sair logo desse leito, para

amamentá-la.

- Max... – Ela murmura, sentindo-se fraca para falar.

- Teu marido? Esse só faltou nos deixar loucos. – O médico sorri enquanto a examina

minuciosamente. – Não há deixou um minuto sequer. Tivemos de transformar a UTI num

apartamento.

- Meu bebê...

- Uma menina. Não foi necessário nem utilizar incubadora. É forte, saudável e está aqui

do seu lado. Quer vê-la?

A enfermeira lhe pergunta com um largo sorriso no rosto. Ao notar o assentimento do

médico, ela pega um pacotinho caprichosamente enrolado em uma manta rosa e aproxima de

seu rosto.

Isadora deixa sua emoção aflorar ao notar um minúsculo rosto rosado e adormecido,

entre as elaboradas dobras do tecido macio e aconchegante. Tenta se erguer do leito a fim de

vê-la melhor e logo se sente amparada pelos cuidados do doutor que coloca um travesseiro em

suas espáduas, erguendo-lhe o tronco.

- Está melhor assim? - Ele exclama ao notar seu esforço.

- Ela é linda... – O sussurro feliz escapa de seus lábios. – É linda...

- E você está amamentando-a. Mesmo com você dormindo, nós a colocamos para sugar

seu leite. Alimenta-se muito bem sua mocinha!

- É bom.

- Agora vamos para mais um sono? Quando acordar se sentirá melhor, mais fortalecida.

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Pode ter certeza que seu marido estará aqui.

- E seu filho também...

Ela ouve a voz da enfermeira segundos antes de sentir uma picada em seu braço. Na

esperança de vê-los depois, se deixa levar por um sono longo, profundo e sem sonhos, buscando

recompor sua energia. E não nota o auxílio administrado pela intensa medicação venosa.

Ao despertar, muito tempo depois, a enfermeira de plantão a convida para um banho.

- Já é manhã, dona Isadora. Após seu banho irá para um apartamento já livre de todos

esses fios. Seu médico acha que já está pronta. – Atenta, a moça a ajuda a se levantar. -

Sente alguma indisposição, algum atordoamento? – Ao vê-la menear a cabeça num gesto

negativo, ela conclui. - Então vamos escolher que roupa usar, antes de irmos para o banheiro.

- Essas roupas não são minhas. – Isadora reclama para a enfermeira ao vê-la pegar da

valise, uma linda camisola.

- Claro que são. Seu marido as trouxe. – A moça mostra-lhe a veste finíssima. - Vamos

usar essa? O decote vai ajudá-la na hora de amamentar sua filha.

Isadora, após se levantar com extremo cuidado, se deixa ser levada ao banheiro. Pelas

mãos da enfermeira que com capricho e cuidado higieniza seu corpo depois de colocá-la sob a

ducha, ela se sente revigorada.

- Ficou bem, senhora! Mudou totalmente seu aspecto. – Gentil, a moça lhe escova o

cabelo e a examina antes de elogiá-la. - Nem parece que passou por um parto difícil. Confirme.

- Ela diz colocando um pequeno espelho a sua frente.

A palidez ainda era acentuada em seu rosto, mas os olhos brilhantes e cheios de

expectativa lhe emprestavam uma aparência melhor.

- Estou bem. – Ela confirma, enquanto se olha mais uma vez no espelho.

- Claro que está! Não houve nem a vertigem costumeira que ataca as parturientes de

cesariana. E ficará melhor ainda logo que estiver no quarto. Poderá se sentar numa poltrona e

amamentar sua filha.

A imagem de seu bebê lhe vem à mente e Isadora sente os seios latejarem, cheios de

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leite. – Não vejo a hora de estar com ela em meus braços. Não a vi ainda.

- Será uma questão de minutos, senhora. – A moça lhe responde trazendo para perto,

uma cadeira de rodas.

Elas atravessam longos corredores brancos antes de chegarem ao quarto. A mobília

bem cuidada estava toda enfeitada com pequenos arranjos de flores e lhe dava um aspecto

aconchegante. A um canto no minúsculo berço, seu bebê dormia sob os vigilantes olhos de

outra enfermeira que lhe entrega um grande arranjo de rosas vermelhas, assim que se

aproxima.

- São de seu marido. Todos os dias ele vem cuidar pessoalmente do bebê. E ela já o

reconhece. Parece senti-lo, pois reclama se ele sai um pouco ou dá atenção a seu outro filho. A

mocinha é exigente.

- Ele cuida dela? – Isadora, feliz com a informação não esconde sua surpresa.

- Como a mais dedicada mãe, desde que ela foi liberada pelo pediatra. É bonito de se

ver. Todos os dias dessa semana, ele esteve presente e a noite, qualquer choramingo e ele está

pronto para atendê-la. - Responde a outra enfermeira perto do berço. – Ele me disse que se a

senhora permitir, me contratará para auxiliá-la permanentemente.

Isadora tenta não deixar a euforia lhe dominar. Maximiliano a perdoara? A pergunta

atravessa-lhe o cérebro e contrariando seu sentido, aumenta-lhe a estima.

- A senhora é quem decidirá. - Expectativa e apreensão marcam os olhos da moça ao

fitá-la.

- Se ele acha que está qualificada para tanto, por mim tudo bem. – Ela responde

tranquilizadoramente. Não era só ela que estava com receio de perder ali.

Um reclame leve vem do berço, o que faz as três mulheres se voltar para ele, cheias de

atenção.

- Pelo o que já dá para notar dona Isadora, sua filha será determinada. – A enfermeira

conversa enquanto retira o bebe do berço. – Como irá chamá-la?

O calor do pequeno corpo de sua filha a atinge, logo que a enfermeira a coloca em seus

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braços. Beija-a reverenciosamente antes de responder. – Maria. Esse será o nome de minha

princesa. Não é, meu doce? – Pela primeira vez depois de uma semana, Isadora consegue

segurar a filha nos braços. A emoção a faz chorar silenciosamente.

Alheia a emoção da mãe, Maria reclama-lhe o seio, levando de um lado a outro o

rostinho, em busca de sua alimentação. Só depois de sugadas fortes e rápidas, ela abre os

olhos para conferir a fonte.

- Seu marido conversa todo o tempo com ela, dona Isadora. Segundo ele, ela tem toda

sua semelhança. Agora que estão assim tão pertinho uma da outra, realmente dá para bem

notar. Se me permite dizer senhora, ele está com toda a razão.

- Esteja à vontade, minha querida. – Isadora responde examinando a fisionomia da

filha. Os cabelos e vários traços do rostinho miúdo eram mesmo como os seus. – O que ele

conversa contigo, meu bem? - Atenta à filha, ela não nota que se expressara em voz alta.

- Ele disse que agora será duas a branquear-lhe os cabelos, senhora. – A enfermeira

responde sorrindo.

Ela a ouve e imagina os cabelos negros e lisos de Maximiliano entremeados de fios

brancos. Saudosa, fecha os olhos para melhor visualizá-lo, mas inclemente, o receio a invade.

Será que veria?

Alheia às suas emoções, a enfermeira a interrompe. - Ela já está alimentada, dona

Isadora e já dormiu novamente. Descanse um pouco, logo o quarto estará cheio de visitas e se

o médico notar qualquer traço de exaustão na senhora, ele a impedirá de recebê-las.

Quando se estende no leito, Isadora sente o quanto cansara, nos poucos minutos em

que estivera sentada amamentando a filha, pois mal fecha os olhos o sono volta a abatê-la.

Mais uma vez é assim que Maximiliano a encontra.

Ela o pressente. A intensa energia que emana dele envolve-a como um manto acolhedor

e a acorda, para vê-lo sentado numa poltrona bem perto da cama, a sua cabeceira.

Os olhos se encontram e se prendem. Emoções urgentes. Palavras para serem ditas,

não saem dos lábios.

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Elos se unem. Soldam-se.

Ela estende a mão e ele sem demora a toma e aperta levemente, antes de levá-la aos

lábios.

- Max...

Ele aproxima o rosto até quase encostar ao dela. – Me perdoa?

Isadora ouve-o antes de sentir os lábios que tanto desejara encostar-se aos seus num

beijo suave. Lágrimas toldam-lhe a visão quando ela passa os braços pelos ombros largos e o

enlaça, o traz para si deixando-se levar pelo beijo amoroso e demorado. A emoção toma-lhe o

coração e a alma.

- Te amo. – Ela solta, logo que ele a libera.

- Eu sei. – A resposta é baixa, mas firme e emocionada.

- É uma menina...

- Eu sei.

- É linda...

- Eu sei.

- Você está...

- Repetitivo eu sei, mas não consigo...

Maximiliano sacode vigorosamente a cabeça de um lado a outro. Levanta-se e vai até o

berço da filha, tomando-a nos braços.

- E Matheus?

- Não vê a hora de te ver. Não quis trazê-lo hoje, agora que acordou. Temi assustá-lo.

- Estou tão horrível assim? – Isadora pergunta tentando acalmar as batidas frenéticas

do coração. Ele se distanciara. Maximiliano se fechara.

Como se pressentisse sua preocupação, ele se volta para ela que é aprisionada pela

intensa emoção que ele transmite.

- Não. Mas acho que será melhor ele vê-la já andando. Quero que ele a veja saudável e

com o bebê nos braços.

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- Maria...

- Maria? - O sorriso renova o semblante sério, quando ele se responde: - Gostei da

simplicidade do nome.

- Quando poderei ir embora?

Ele a fita com seriedade antes de respondê-la, categórico: - Irá para a fazenda

comigo, Isadora. Acho melhor. Já conversei com seu médico. Iremos de helicóptero e

levaremos uma enfermeira. A viajem não vai cansá-la.

- É o que quer? – Isadora não se sente segura.

- Você não quer?

A pergunta, em lugar de uma resposta, apesar de pegá-la desprevenida não a

surpreende. Usa sinceridade ao respondê-lo: - É o que mais quero.

- Eu também. E antes de encher a cabeça de idéias ruins ou tomar atitudes infantis

vou lhe dizer que pelas crianças também. A decisão maior foi pela mulher.

- Max...

- Quero que fique boa logo, Isadora. Quando estiver melhor, conversaremos. Não irei

brigar contigo.

A afirmação dele não a tranqüiliza.

O deslocamento do ar provocado pelas hélices do helicóptero balança fortemente as

folhas das árvores antes de pousar com facilidade no vasto gramado em frente a casa.

Esquecendo-se de seu estado, já que se recuperava a olhos vistos, Isadora se prepara para

descer. Maximiliano que esperava sua chegada a ampara no momento que abre a porta da

aeronave.

- Você não pode se dar ao luxo de descer sozinha, moça! – Ele reprova-a com ternura

buscando-lhe os lábios sem se importar com a presença dos outros.

- Estava com muitas saudades, – ela reclama logo que ele a põe no chão.

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- Eu também. Esses dois dias foram os mais longos de minha vida. Venha, tenho uma

surpresa para você.

Logo que entram na casa, ele a apresenta a um casal idoso e sisudo. Após as

apresentações ele os leva rumo ao escritório. O calor dos braços dele a rodear seus ombros e

o corpo forte encostado ao seu, a faz se lembrar das emoções ali vivenciadas.

Um leve aperto em seu ombro a faz pensar que como ela, ele se lembrara do que

fizeram ali.

- Isadora, o Sr. Cristino é tabelião na cidade vizinha. Veio colher sua assinatura a fim

de dar início aos trâmites do processo de nosso casamento.

- Que ótimo! – Ela não esconde a alegria.

- Quero ser uma das testemunhas... – Marcela entra no aposento com Maria nos

braços, seguida da enfermeira e de Mariana.

- Mariana e Gerson, também. – Maximiliano completa. – Faço questão.

- É de praxe levar quinze dias para correr os proclamas. A partir daí poderão marcar o

dia do casamento, – o homem se manifesta.

- No dia seguinte.

A resposta uníssona faz Isadora e Maximiliano se olharem surpresos, antes de ouvirem

as gargalhadas encherem o ambiente.

Em um clima de alegria e intimidade e recheado de tiradas espirituosas por parte de

Marcela, os dois assinam os autos. Matheus, que chegara com Gerson se mostrava sério ao lado

do pai.

- Agora ela não vai mais viajar sozinha, não é papai? Ela casou com a gente. Terá de

levar nós dois e mais a Maria, não é? – Ele pergunta assim que vê a mãe se aproximar do pai,

após assinar as diversas folhas que formavam o processo do casamento.

- E nós todos juntos, guerreiro. Agora ela terá de levar o pacote inteiro. - Marcela

completa. Nos olhos astutos ela mostrava uma pitada de divertimento ao olhar para

Maximiliano que ouvia tudo em silêncio.

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- Não haverá mais viagens, Marcela. – Isadora responde à mãe de Maximiliano. Gostara

dela desde que a encontrara na galeria, antes de ter o bebê e depois, as visitas constantes que

ela lhe fizera no hospital estreitara os laços entre as duas.

Nas horas em que lhe fizera companhia no hospital, ela contara parte da trajetória da

vida do homem que Isadora amava. Fizera-a compreender sua agressividade, sua arrogância e a

descrença no ser humano e em especifico, nas mulheres que diziam amá-lo. Quando lhe

perguntara sobre a mulher que o havia ferido tanto, ela relutou em responder.

Marcela, praticamente criara Maximiliano. Diretora do orfanato em que ele fora

abandonado, o adotara logo que conseguira uma situação que permitisse.

Do orfanato ela adotara três crianças. Eram três os seus filhos adotivos, Juliana,

Soraia e Maximiliano. Juliana e Maximiliano se casaram logo que atingiram a maioridade.

Soraia, hoje era esposa de Enrico.

- O que quiser saber, além disso, minha filha terá de perguntar a Maximiliano. Ele

mesmo lhe contará, quando achar que está pronto para tanto.

- Não me importo mais, Marcela. Amo-o tanto que o aceito como é, se ele me perdoar.

- Eu sei. Compreendi no dia que fui à galeria. E pensar que fui lá somente para lhe dizer

poucas e boas!

- Fui autêntica contigo. – Isadora relembra-a.

- Eu senti e foi o que me conteve. Quanto desencontro... Às vezes eu pensava que a

felicidade não estava traçada no destino de meu filho até conhecer Matheus. Não sabe o

quanto ele ficou feliz ao saber que era pai. Quando a vi e a ouvi, principalmente, compreendi

que teria de ajudá-los. O orgulho era uma barreira enorme entre vocês.

- Nunca mais, meu Deus.

- Tenho observado-os, Isadora. Vocês serão felizes juntos, mas até se ajustarem

terão de confiar muito um no outro. Maximiliano nunca foi dado a confissões.

- Eu sei. Ainda não conversamos e me assusta ele ainda não ter me cobrado minha fuga.

- Vocês irão conversar, sim. Disso pode ter certeza. Poderão brigar e até se magoar

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muito, pois ambos são de personalidade forte, destemidos e coléricos, mas acho que não deve

temê-lo. Converse com ele como conversaste comigo. Use franqueza. Conte como se sentiu,

afinal você o abandonou por se sentir traída e ele tem nisso boa parcela de culpa por não ter

confiado em você, por não ter lhe contado sobre sua vida antes. Por não lhe falar sobre sua

família.

- Nem ele e nem tio Enrico. Nunca foi mencionado nada sobre vocês duas.

- Enrico estava atravessando sérios problemas com Iliana.

- Deixei me envenenar por ela e não me perdôo. É indesculpável, agi com infantilidade.

Hoje, eu sei que estava preparada para fugir ao menor deslize de Max... Na época nem me

toquei.

- Pura falta de diálogo, Isadora. Foi o que faltou a vocês dois. Pelo que sei de meu Max,

nem houve tempo, não é?

- Maior foi minha falta de confiança, Marcela...

- De ambas as partes, vamos ser sinceras – Marcela atalha sorrindo. – Mas vocês, como

disse antes, terão de encontrar um meio termo se querem viver juntos. De uma coisa tenho

certeza, ele fará de tudo para viver com você, só não sabe como se exprimir. Maximiliano é de

atos, de ações.

Tempo depois, em seu quarto, enquanto amamentava a filha, ela reflete sobre o que

ouvira de Marcela. Observar o semblante sempre frio de Maximiliano e imaginar o que

acontecera com ele dava-lhe receio imaginar o dia em que ele a cobraria por seu gesto tolo e

infantil. Um leve aperto em sua mão a arranca de seus pensamentos.

– Mamãe, na outra vez que você viajar, eu fico com o papai e a Maria cuida de você.

- Ela ainda é pequena, guerreiro e somos nós os homens, quem cuidará delas.

Maximiliano que entrava no quarto seguido de Mariana, responde ao filho.

- Você nunca me leva quando viaja, – a criança não se dá por satisfeita e cobra o pai.

- Amanhã o levarei, está bem?

- Vai viajar novamente? – Isadora pergunta escondendo o desapontamento.

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- Não me demorarei. Quero providenciar pessoalmente seu vestido de noiva. Sei que é

a mulher que deve escolher, mas o seu eu não abro mão.

- Um enxoval completo, Max. – Mariana até então calada, se manifesta. – Afinal não se

casa todos os dias e seu casamento é especial, Isadora. Terá de ser tudo novo. Traz sorte.

- Este não é especial. – Maximiliano corrige-a. - Será somente este. Ela não poderá

mais fugir de mim.

Isadora gela ao ouvi-lo. As palavras poderiam ser amenas, mas a cobrança velada

indicava que como pensava a pouco, o acerto entre eles não tardaria.

CAPÍTULO XIII

Após o jantar e Maximiliano se recolher no escritório, ela amamenta novamente a filha

em aparente tranqüilidade. Ao vê-la terminar, a enfermeira e babá que ele contratara em

tempo integral, pega Maria de seus braços e a faz regurgitar dando suaves palmadinhas nas

minúsculas espáduas. Isadora observa Mateus que dorme a sono solto numa cama colocada ao

lado do berço da irmã. Exigência que o pai fizera questão de cumprir no ato.

Em tempo recorde, Maximiliano mandara preparar dois quartos conjugados no térreo

para que ficassem todos juntos, já que ela não poderia subir a longa escada para o andar

superior e demoraria dias até ser instalado um elevador. O dormitório maior ficara para a

enfermeira e as crianças. No outro, ela e Maximiliano, que em nenhum momento lhe cobrara

carinho, além do beijo em sua chegada. Quero estar do seu lado, ele dissera simplesmente.

Isadora olha para a cama, que desde que chegara do hospital dividia com ele noite após

noite. A presença marcante não a deixava esquecer que apesar de toda a calma e doçura com

que ele a tratava havia ainda um grande obstáculo a transpor.

E não adiantava prorrogar o momento. Não conseguiria dormir mais uma noite com ele,

nos braços dele sem resolver a situação. Afinal, fora ela quem quase estragara tudo com sua

fuga. Teria de enfrentar a fera

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Decidida, toma o rumo do escritório.

Ao contrário das batidas fortes de seu coração, ela bate suavemente na porta antes

de entrar.

- Podemos conversar Maximiliano?

Isadora nota um flash de surpresa no olhar que se ergue e prende o seu, antes de ser

estudada demoradamente.

- Acho melhor não, Isadora. Você ainda está em recuperação. – Ele responde sério.

- Meu corpo está se recuperando muito bem e minha mente não sofreu nada. Não estou

inválida Max. Somente pari um filho. Meu cérebro continua intacto e me cobrando, – Isadora

abre o jogo.

- Sente-se.

Ele se levanta e a auxilia se sentar.

- Estou cansada de ficar sentada, deitada...

- Você quase morreu... – Ele interrompe-a. – Tem que se cuidar.

- Não morri e estou aqui, Max... Com o pai de meus filhos, o homem que amo. Não quero

deixar nada mais interferir entre eu e ele. A vida é frágil e curta e não quero mais complicá-la.

- E acha que é somente chegar e conversar... Sabe que não será tão fácil assim.

- Estou preparada, Max.

- Se você achou que eu não podia saber onde se encontrava, devia ao menos ter me

deixado saber da gravidez, Isadora. – Ele não demora a atacar. – Faz idéia do que senti quando

a procurei na volta e não a encontrei? Você tem noção de minha preocupação em saber o que

tinha acontecido com você e meu filho? Simplesmente desapareceram sem deixar vestígios.

Isadora não responde.

- Meses depois é que venho saber o por que. De que maneira? Iliana disse a uma amiga

e ela contou a Sandra e ela a Enrico que me contou. Fugiu sem nem tentar descobrir a verdade!

Podia ter falado comigo, senão com teu tio.

A impassibilidade dos olhos e a voz gélida a emudecem.

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- Me deixou acreditar que não me queria mais, – ele continua gélido. – Tem idéia do que

senti?

- Nunca neguei que te amo, mas você não me deu base para confiar... Para acreditar em

você. – Ela tenta se defender.

- Confiar! Você sabe o que é confiar Isadora? Sabe o que é acreditar e depois sentir o

chão ruir a seus pés? Não, não sabe. O que sabe muito bem é correr ao menor sinal de

problemas...

- Sei sim... – Isadora se levanta da poltrona e se aproxima. Ele afrontoso, lhe vira as

costas. A ira toma forma em seu íntimo e as palavras saem de seus lábios, atropeladoras. – Sei

o que é acreditar, confiar e depois ser traído... Sei o que é pensar que se tem o amor de sua

vida e se entregar a outro uma semana antes de seu casamento... Sei...

– Você não o amava como a um homem. Teu noivo era seu amigo, Isadora! – Ele

interrompe-a, endurecendo o tom da voz. - Você se deu a mim. Fui seu primeiro homem. – Max

se volta, exasperado - E você me abandonou no menor sinal de problemas.

- Você não pode e não tem o direito de me cobrar, – ela não se amedronta. – Nunca me

deu a menor segurança em relação a você, Maximiliano. Estar com você era tentar andar sobre

areia movediça o tempo todo. Não me sentia segura...

- Você sabia que eu a queria. Quantas vezes te pedi que se casasse comigo? – Ele a

corta mais uma vez.

- E também disse que não podia... Que não sabia amar... Como queria que eu me

sentisse? Minha foi baseada em que amor é o fundamento de tudo.

Maximiliano se cala.

- De repente o vejo abraçado a uma mulher belíssima. “Finalmente atriz famosa se casa

com seu grande amor”. – Ela repete sem esconder a ira, a manchete do jornal. – Acreditei no

que vi Maximiliano e me senti profundamente traída. Até você faria isso se tivesse às

limitações que tenho.

- Devia ter me procurado...

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- Como? Onde? Você me disse para aonde iria? – Isadora não o deixa continuar. Estava

ali... Era você que estava ao lado da mulher Max. Ali, a minha frente, um nos braços do outro.

Não contestei... Errei... Devia ter pedido a Marcos que traduzisse a reportagem para mim... –

Ela baixa um pouco o tom da voz. - Fiquei com vergonha. Além de minhas limitações e teria que

expor meus sentimentos mais íntimos em relação a você.

- E optou por desaparecer, por fugir.

- Se te consola saber foi horrível. Consegue entender o que passei? Matheus me

cobrava direto sua presença, mal falava comigo por eu não ter permitido que ele viajasse com

o pai. Você não havia telefonado uma vez sequer. Custava telefonar? Dia após dia, noite após

noite eu te esperei. Nenhuma noticia Max! Então recebi as fotos... – Com um gesto de ombros,

ela termina a frase.

- Quase coloca tudo a perder...

- Perder o que nunca tive? – Isadora se altera novamente. – Qual a chance que me deu

para eu te conhecer? Nenhuma. Nunca deixou que eu chegasse nem perto de seu coração. O

pouco que conversamos fora da cama, nenhuma vez sequer foi sobre você ou nós. Havia sim um

nós, mas de minha parte.

Maximiliano volta a se silenciar.

- Não conseguiria dividi-lo, Maximiliano. Nunca conseguirei. Paguei por ter sido tola e

insegura. Paguei em me ver mais uma vez grávida e sozinha e com um filho me cobrando a

presença do pai.

- Nosso filho... – Ele corrige-a enquanto se aproxima.

- A raiva se evaporou logo, dando lugar à solidão, ao vazio. Nunca, nem quando meus

pais e Nathan morreram me senti tão só. E se acha que estou te dizendo isso para que se

apiede está enganado. – Ela o fita sem receio de se expor. - Quando aconteceu o acidente...

Não demorou muito para eu saber que estava grávida. Não estava sozinha. Dessa vez foi

diferente. Eu tinha Matheus estava grávida novamente, mas estava terrivelmente sozinha... A

diferença é que eu então sabia, eu conhecia o pai de meu filho e o tempo inteiro o queria a meu

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lado. Aliás, quero muito que ele esteja do meu lado.

Maximiliano não se manifesta e Isadora continua.

- Ao saber que tio Enrico era o... Estava feliz com sua nova esposa e ela estava grávida

como eu... Foi como se um raio me atingisse. Paguei o preço de minha estupidez. Sei que pode

parecer supérfluo, simples demais agora, mas por Deus, me perdoe.

Braço protetor e possessivo envolve-lhe os ombros.

– Queria ter coragem de torcer seu pescoço. – Ele confessa.

- Temi isso!

- Quando soube que resolvera se desfazer da tela pensei que tudo estava perdido.

- Não suportaria vê-la sem sofrer e eu tinha que continuar minha vida por meus filhos.

Não podia imaginar que...

- Só por eles? – Max a interrompe, ironizando.

- Não zombe de mim, por favor.

- Quando soube que se arrependera e a queria de volta, me enchi de esperança.

- E mandou Marcela para brigar por ela. Sabia que me confessei com ela?

- Por que me trouxe Matheus e não ficou? – Ele responde sua pergunta com outra.

- Para que torcesse meu pescoço? Queria ter nosso filho primeiro. – Ela se volta entre

seus braços e fita os olhos de lince, bem perto dos seus. – Estava com medo de você não me

querer mais. Não suportaria.

- Eu a vi no apartamento. – E ante o olhar surpreso dela, ele explica. – Entrei pronto

para a briga e te encontrei dormindo. Esqueci de te estrangular.

- Por que não me acordou? Foi horrível acordar e saber que não havia ido a meu

encontro. Pensei que tua raiva havia superado o que tínhamos.

- Fiquei confuso. – Ele admite.

- Você confuso? O grande doutor, Maximiliano, confuso? – Isadora se delicia com a

confissão e não deixa de mostrar.

- Você estava bem armada Isadora... E eu não havia me preparado para enfrentar o que

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vi. Estava preparado para brigar com a mulher, com minha amante. Não me passou pela cabeça

que pudesse estar grávida novamente. Devia ter imaginado. Nocauteou-me.

- E eu pensando que você não me queria mais. Se Maria não resolve adiantar sua

chegada, você teria me procurado novamente?

- Pode acreditar que sim. – Max abraça-a, ferozmente. – Quase me mata de susto!

Achei que ia perdê-la. Não quero mais filhos Isadora. Não a esse preço.

- Então não haverá mais sexo entre nós! – Ela pergunta com falsa inocência.

- Caixas e caixas de preservativo. – Ele responde beijando-a, – centenas delas. Conheço

a mulher que tenho, agora só falta prendê-la a mim pelo resto de meus dias.

- Prendê-la?

- O certo seria acorrentá-la, mas confio nas crias que lhe dei para mantê-la sempre

bem junto a mim.

- E como vou mantê-lo preso a mim? Não me deixa alternativa. - Ela se queixa cheia de

dengos.

- Me prendeste desde a primeira vez. – Maximiliano confessa. – Agora vamos sair

daqui, o clima está quente demais e não quero quebrar barreiras. Ainda não.

O beijo que trocam os faz gemer e ela sente que conseguira um grande espaço no

coração dele. Não se precipitaria. Teria todo o tempo do mundo para fazer ele se abrir e

confiar.

Como Mariana lhe explicara, Maximiliano era de atos e nem de muitas palavras.

- Não acredito no que vi! – Sandra entra no quarto já cheio de mulheres, todas dando

seus palpites à noiva que se arruma.

- E o que viu que te causa tanta surpresa? – Soraia pergunta enquanto amamenta o

filho, sentada numa das poltronas.

- Max descontrolado. Está aos berros no telefone. Se a empresa que ele empreitou não

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terminar de instalar o elevador até as dezoito horas... – Num gesto característico ela passa os

dedos de um lado a outro do pescoço provocando riso em todas.

- Ontem ele achava que Isadora estava quieta demais e ia desistir do casamento. –

Soraia faz aumentar o riso das outras. – Acreditem que ele queria que Enrico falasse com ela?

Já imaginaram? Nunca vi meu irmão tão inseguro! O que te deu ontem para desaparecer

daquele jeito mulher? – Ela vira o rosto para Isadora.

- Estava terminando o presente de casamento dele. - Ela responde lembrando-se da

tela que pintara para lhe dar de presente. Retratara-o como o conhecera, Mefístole. Uma

entidade selvagem, mas com formas humanas, que retinha nos braços sobre o leito, numa pose

explicitamente de posse, sua odalisca. No rosto sem a máscara, os olhos amarelados

transmitiam amor ao fitarem a mulher que se oferecia a ele, com evidente adoração nos olhos

e um sorriso sensual nos lábios. A mão máscula que seguravam possessivamente o ventre

intumescido exibia uma larga aliança no dedo anular. Ela o marcara. O prendera.

- Os presentes já estão prontos e saudáveis. – Soraia provoca arrancando-a de seus

pensamentos, para delícia e gargalhadas das outras. - Essa quarentena é horrível, não? Não

devia demorar tanto. Imagino a sede que vocês estão. – A outra se queixa enquanto troca o

filho de seio a fim de continuar amamentando. – Devia ser bem menor.

- Desde que o mundo é mundo minhas filhas, será sempre assim. Nem toda a ciência e a

tecnologia são capazes de mudar isso. Ela que o diga, – Mariana entra na brincadeira

mostrando Isadora com um gesto largo e arranca mais sorrisos. – Tem-se que esperar e

suspirar. É a natureza.

Batidas vigorosas na porta anunciam a chegada de Enrico no já apertado quarto.

– Maximiliano terá um enfarte com toda essa demora, meninas! Vai acabar por invadir o

quarto em busca de sua noiva.

- Realmente, ele está por um fio. – Sandra confirma antes de se voltar e provocar o

pai. – Você também ficou. Não se lembra?

- O meu minha querida, foi diferente. Muitos anos de espera, – ele tenta se defender

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enquanto beija a cabecinha do filho e os lábios da mulher.

- O de Max também. Esse pessoal é difícil, não? – Soraia faz charme para o marido. –

Espero anos por você e Max outros tantos por Isadora. Definitivamente vocês são difíceis de

capturar.

- Ei! Vamos parar de cobranças. Não está na hora de eu ir ao encontro de meu noivo? –

Isadora interrompe os beijos de desculpas.

- Está bem. Vamos acabar com o sofrimento do pobre homem. Se ele não a ver logo,

tenha a certeza Isadora que ele invadirá esse quarto. Você está linda, meu bem! – Enrico se

emociona ao ver a sobrinha em seu vestido de noiva. – Valeu a espera, Isa! Max será feliz,

posso notar em seus olhos.

- Ele merece essa chance que o destino lhe deu, aliás, a vocês dois. A história de vocês

é incrível. – Soraia fala enquanto entrega o filho já dormindo a Enrico e se volta para Isadora.

- E eu o deixei acreditando que o grande amor de sua vida era você. – Isadora faz um

carinho no rosto de Soraia.

- Decididamente! Você e seu tio são difíceis de pegar! – A irmã de Maximiliano lhe

sorri.

- Não mais, te juro. – Enrico se desmancha para a esposa.

Mais batidas na porta e Gerson entra apressado.

– Vocês não virão?

O riso é geral e contagiante.

Enrico leva pelo braço, uma Isadora trêmula de emoção.

Caprichosamente arrumado, o jardim deixava exalar o perfume delicioso de suas

flores, dando boas vindas aos noivos e as dezenas de convidados que sob o enorme toldo

branco esperavam os noivos, usufruindo o aroma das flores a brisa suave do esplêndido

entardecer.

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Quando Isadora coloca os pés na comprida passarela vermelha, um violino solitário

começa a executar uma melodia. Ela retém seu passo por segundos ao ouvi-la. A emoção cresce

assustadoramente em seu íntimo e lhe trás lágrimas aos olhos. Reconhece-a. Era a mesma

música que ouvira no escritório de Maximiliano na boate, quando se entregara a ele em sua

primeira vez.

Procura por ele que logo se destaca entre os padrinhos no altar e vem a seu encontro.

Sob a proteção que cobria parcialmente seu rosto, ela deixa as lágrimas descerem.

Estava totalmente dominada pela emoção. Amava-o com tanta intensidade, com tanta loucura,

que temia por sua sanidade.

A seriedade do rosto de Maximiliano não encobre a emoção ali explicita, do homem que

se aproxima a passos lentos. Hipnotizantes, os olhos buscavam prendê-la, fazendo-a se sentir

especial, única. Um soluço trava-se em sua garganta e provoca dor em seu peito. Poucos

minutos e ele, belo demais, homem demais e pai de seus filhos faria completa sua vida pela lei

de Deus e a dos homens.

Igualmente tocado e com olhos brilhantes, ele recebe-a de Enrico, beijando-lhe

reverentemente a testa sobre o véu.

- Minha odalisca!

Ouve-o murmurar roucamente e a certeza de que era amada com a mesma intensidade

em que o amava, enleva-a.

Odalisca. Fora como realmente se sentira ao colocar o vestido que ele mandara lhe

entregar pouco antes da cerimônia.

Confeccionado em seda de cor clara e perolada, o vestido tinha o corpete ricamente

bordado com pedras semipreciosas e lembrava as roupas diáfanas e luxuosas das odaliscas

quando dançavam para seu homem especial. Cada arabesco, bordado com fios de seda num tom

mais escuro era minuciosamente elaborado para receber em seu centro, pequenas e ovaladas

gemas amarelas que a fizeram lembrar os olhos dele. O decote evidenciava sem ostentar, os

seios volumosos e cheios. Da cintura, a saia descia em inúmeras tiras que desciam fartas para

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dançarem preguiçosamente sob a brisa, até alcançar seus pés calçados em delicada sandália de

tiras finas, que seguiam o padrão do corpete. Uma grande echarpe, diáfana como as tiras da

saia, cobria-lhe o cabelo, parte do rosto e os ombros nus, em um falso moralismo. Suas pontas

desciam rentes ao cumprimento do vestido.

No altar, os filhos Matheus e Maria aguardavam-nos aos cuidados da babá.

A voz grave e profunda não falha ao fazer seu voto. O aro fino e frio que ele faz

deslizar sobre seu dedo, sela a posse que transmitia no olhar. Com a mesma reverência, ela faz

seus votos a ele sem esconder as lágrimas que descem por seu rosto ao colocar no dedo anular

dele, sua marca.

- Eu te amo, Isa.

Isadora ouve-o segundos antes de ser beijada com carinho. Extremamente surpresa,

ela procura seus olhos buscando confirmação do que pensara ouvir. A emoção neles expressa

lhe confirma a verdade. Os olhos dele mostram o sentimento que tanto almejara ver e sentir.

A cerimônia termina e Isadora não toma ciência. Estava presa ao mundo do homem que

amava, com a mente tomada pelas três minúsculas palavras, as mais doces promessas que

solidificavam seu maior sonho.

Tarde da noite, após deixarem os convidados, ele lhe faz companhia ao amamentar a

filha e depois juntos colocam Matheus na cama e só então ele a leva pela mão, com passos

decididos, rumo à sala onde ele mandara instalar o elevador.

A timidez, inédita com ele, a surpreende mal começam a subir e ele lhe tirar a echarpe

dos ombros, onde a deixara após livrar-lhe o rosto durante a cerimônia do casamento deixando

à mostra o vestido maravilhoso.

- Você me fez lembrar a noite que nos conhecemos. Era a intenção?

- Provocar-te? Sabe o que te espera. – Ele beija levemente seu rosto. – Foi o que fez

comigo o tempo inteiro. Tive que me conter para não trazê-la para cá logo após a cerimônia.

- E o que os convidados pensariam?

- Que sou louco por você, – ele responde enquanto elevador para e eles saem para o

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corredor.

Na porta do quarto, ele a pega nos braços antes de entrarem. – Você está leve como

uma pena. Tem se alimentado direito?

- Sim, meu amo. – Ela provoca mordendo seu queixo, enquanto ele a deixa em pé

novamente, já dentro do quarto. - Max! – Isa exclama ao notar a elaborada decoração. - Deus...

Sinto-me no meio do deserto! Estou totalmente a mercê de meu sheik perverso.

Uma autêntica tenda a moda beduína, tomava todo o espaço do enorme aposento. O

tapete persa estava quase todo coberto por almofadões coloridos. Ao lado do leito, em uma

mesa pequena e baixa, uma fruteira estava repleta das mais variedades de frutas tenras e

frescas. O champanhe no balde de gelo era a promessa de uma comemoração intima. Ele não

esquecera nenhum detalhe, a fim de vivenciar sua fantasia.

A música dolente e cadenciada a enche de lembranças. Atento, ele encosta o corpo

másculo ao seu.

- Está em meu reino, Odalisca.

- Uma dança, meu mestre?

- Tua alma.

- Tomarei a sua.

- Já a tem.

O calor do corpo másculo junto ao seu, a inflama. A saudade de se sentir tomada,

dominada por ele a faz ondular-se ao compasso da música e entregar-se aos lábios exigentes

que a tomam com volúpia.

Os braços que a envolvem erguem-na do chão e a levam em direção do leito rebaixado,

coberto por uma colcha adamascada.

Caem nela estreitamente abraçados, trocando beijos embriagadores.

- Eu te amo, Maximiliano. Tanto que chega a me doer, – ela confessa assim que ele a

libera, para fitá-la amorosamente.

- Eu sei.

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- Assim será, meu amor, para sempre.

FIM

A AUTORA

Telyka Madelynne é natural do Estado de Mato Grosso do Sul, mas reside atualmente no Amazonas. Antes da idade escolar já foi incentivada pelo pai, que era cartorário, e pela mãe, professora, a ler os títulos de jornais e revistas que assinavam. Aos doze anos, já lia livros que eram muito avançados para sua idade. Mas seu gosto pela leitura foi ficando cada vez maior. Trabalhou como Escrevente Juramentada, época em que iniciou-se na literatura romântica, escrevendo com facilidade romances e crônicas. Nas duas profissões que escolheu, uma trabalhou com a mente e a outra com o corpo humano, tanto o lado espiritual como o material. Por gostar de ouvir e ser atenta, coloca em seus romances a simplicidade, a crendice, os erros e acertos do ser humano, sem cair na mesmice. Escreve sem parar com o pseudônimo Telyka Madelynne, nomes de suas madrinhas ciganas. No Orkut ela faz parte de várias Comunidades e grupos, através das quais, mais uma vez apoiada pelo marido e pela irmã, postou a primeira de suas histórias, "Despedida de Solteira".

Contatos: [email protected]