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OBATA, Sasquia Hizuru (1); SANT´ANNA; Daniele Ornaghi (2); XIMENEZ, José Marcelo Tonini (3) (1) Engenheira Civil, Profª. Dra. da Faculdade de Tecnologia Victor Civita (FATEC-TATUAPÉ), e-mail: [email protected] (2) Arquiteta-urbanista, Profª. Msc. da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), e-mail: [email protected] (3) Arquiteto-urbanista, Prof o . Msc. da Faculdade de Tecnologia Victor Civita (FATEC-TATUAPÉ), e -mail: [email protected] TECNOLOGIA E SUSTENTABILIDADE NA FACULDADE DE TECNOLOGIA VITOR CIVITA: DO EDIFÍCIO AOS REBATIMENTOS NOS CURSOS TECNOLÓGICOS. RESUMO A Faculdade de Tecnologia Vitor Civita, comumente conhecida como FATEC Tatuapé, é sediada por um edifício singular. O Escritório de Arquitetura Benno Perelmutter concebeu e aprovisionou à edificação sustentabilidade e tecnologia. Abrigando cursos tecnológicos voltados para a construção civil e transportes – vide os cursos de Tecnologia em Construção do Edifício, Controle de Obras e Transporte Terrestre – a edificação se torna um objeto de estudo interessante para os acadêmicos, tendo em vista seu histórico, o sitio de inserção a vista do seu caráter social e de mobilidade. A inserção desse equipamento em uma nova centralidade que vem sendo constituída na Zona Leste é uma questão relevante, bem como a adoção de práticas sustentáveis no processo de construção do referido edifício, desde os procedimentos de reforma e retrofit, até seus rebatimentos no cotidiano dos estudantes e no processo de ensino – visto em aspectos como uso, operacionalização, manutenção e desempenho. 1. HISTÓRICO E CARACTERÍSTICAS DO EDIFÍCIO

TECNOLOGIA E SUSTENTABILIDADE NA FACULDADE DE ... … · TECNOLOGIA E SUSTENTABILIDADE NA FACULDADE DE TECNOLOGIA VITOR CIVITA: ... Tatuapé, é sediada por um edifício singular

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OBATA, Sasquia Hizuru (1); SANT´ANNA; Daniele Ornaghi (2); XIMENEZ, José Marcelo Tonini (3) (1) Engenheira Civil, Profª. Dra. da Faculdade de Tecnologia Victor Civita (FATEC-TATUAPÉ), e-mail: [email protected] (2) Arquiteta-urbanista, Profª. Msc. da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), e-mail: [email protected] (3) Arquiteto-urbanista, Profo. Msc. da Faculdade de Tecnologia Victor Civita (FATEC-TATUAPÉ), e -mail: [email protected]

TECNOLOGIA E SUSTENTABILIDADE NA FACULDADE

DE TECNOLOGIA VITOR CIVITA: DO EDIFÍCIO AOS

REBATIMENTOS NOS CURSOS TECNOLÓGICOS.

RESUMO

A Faculdade de Tecnologia Vitor Civita, comumente conhecida como FATEC

Tatuapé, é sediada por um edifício singular. O Escritório de Arquitetura Benno

Perelmutter concebeu e aprovisionou à edificação sustentabilidade e

tecnologia.

Abrigando cursos tecnológicos voltados para a construção civil e transportes –

vide os cursos de Tecnologia em Construção do Edifício, Controle de Obras e

Transporte Terrestre – a edificação se torna um objeto de estudo interessante

para os acadêmicos, tendo em vista seu histórico, o sitio de inserção a vista do

seu caráter social e de mobilidade.

A inserção desse equipamento em uma nova centralidade que vem sendo

constituída na Zona Leste é uma questão relevante, bem como a adoção de

práticas sustentáveis no processo de construção do referido edifício, desde os

procedimentos de reforma e retrofit, até seus rebatimentos no cotidiano dos

estudantes e no processo de ensino – visto em aspectos como uso,

operacionalização, manutenção e desempenho.

1. HISTÓRICO E CARACTERÍSTICAS DO EDIFÍCIO

 

A edificação da FATEC Tatuapé foi ocupada tardiamente. De seu esqueleto de

aço até a ocupação efetiva em 2009 houve um intervalo de 17 anos. O prédio

foi projetado a priori para abrigar a Delegacia Seccional de Fiscalização

Tributária, da Secretaria da Fazenda. O autor do projeto, o arquiteto Benno

Perelmutter, concebeu o espaço para atender confortavelmente à população.

O Estado investiu R$ 23,5 milhões na Fatec Tatuapé: R$ 350 mil em mobiliário

e equipamentos e R$ 23,2 milhões na construção da unidade, erguida sobre a

estrutura de dois subsolos e do andar térreo, cedida pela Secretaria da

Fazenda do Estado (CEETEPS, 2011)

A obra foi paralisada no ano seguinte, por problemas burocráticos. Na

retomada, pequenas alterações no projeto original foram realizadas

principalmente para atender normas de segurança do Corpo de Bombeiros e as

acessibilidade.

Concluídas as modificações solicitadas em julho de 2009, em agosto deste

mesmo ano iniciaria a primeira turma de cursos inéditos nas faculdades de

tecnologia do Centro Paula Souza: Controle de Obras e Construção de

Edifícios. O edifício comporta cerca de 2 mil estudantes. Posteriormente, em

2012, o curso de Transporte Terrestre viria a ser implantado nesta mesma

unidade.

A FATEC Tatuapé leva o nome de Vitor Civita, homenageando o referido

fundador do Grupo Abril, comumente conhecido pelas ações orientadas para

incitar e modernizar a educação no Brasil.

Dentre as demais características da edificação, pode se citar:

• Área do terreno: 2.124,22 m²

• Área construída: 11.859,54 m²

• Início da obra: novembro de 2009

• Início do funcionamento: segundo semestre de 2011

 

O edifício segue as mesmas dimensões do projeto original e sofreu alterações

no projeto para atender às necessidades da faculdade e às normas técnicas

brasileiras mais recentes.

A edificação central possui 25 m de largura, 45 m de comprimento e 38 m de

altura, além dos 6,50 m dos dois subsolos, totalizando cerca de 11 mil m² de

área construída (ROCHA, 2011). A faculdade foi setorizada em duas

edificações: bloco principal com dois subsolos, térreo e oito pavimentos-tipo, e

o de apoio, que abrigará laboratórios.

Figura 1 e 2 – Vistas do edifício.

O prédio, originalmente concebido para o uso de delegacia, atenderia de cerca

de 300 pessoas por dia. Segundo o autor do projeto quando a obra chegou à

quarta laje um conflito econômico-financeiro entre o banco e a construtora

geroua paralisação e uma árdua disputa jurídica, mantendo a construção

estagnada de 1992 a 2009.

O referido arquiteto foi solicitado pelo Centro Paula Souza para realizar um

levantamento do patrimônio estadual em busca de terrenos disponíveis para a

construção de escolas técnicas e descobriu a edificação abandonada. Como a

planta dispunha de imensas áreas livres e grandes salões, uma

compartimentação deu origem as novas salas de aulas e laboratórios.A

construção da faculdade ficou a cargo da empresa Engetal.

Realizadas as adequações dos ambientes internos e atendidas as normas

técnicas brasileiras, havia ainda a reavaliação da estrutura existente (metálica,

 

concreto, pintura), por conta do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) que

forneceu um relatório completo acrescido de recomendações para o reuso da

estrutura. Neste sentido, embora esta última não estivesse danificada, foi

necessário jatear o concreto e repintar os contraventamentos (limpeza

mecânica e química dos metais).

A primeira mudança foi no térreo da edificação principal, originalmente

composta por mezanino e escada rolante, e serviria para atendimento à

população.

A maior parte do público originalmente se concentraria no térreo e mezanino,

com previsão de uma escada rolante, sendo os demais andares ocupados

somente por funcionários. Como os universitários (cuja população é bastante

maior do que a estimada para a delegacia) utilizariam todos os andares da

edificação, o número de elevadores passou de três para cinco unidades.

A segunda alteração no prédio foi efetuada nas fachadas, cujo fechamento

original previa uma pele de vidro com aplicação de película refletiva subposta à

estrutura metálica.

Entretanto, tendo em vista questões acústicas (intenso ruído de trafego

proveniente da Avenida Melo Freire)e de segurança contra incêndio, optou-se

fechamento em alvenaria (peitoris de 1,20 m de altura), nos pavimentos mais

baixos com menor WWR e grandes janelas nos demais andares.

Os subsolos foram ocupados por áreas de apoio e de manutenção (vestiários,

reservatórios, casas de bomba, depósitos). Bombas mais potentes e um maior

número de poços reforçaram o sistema de drenagem de água originalmente

previstos.O prédio de apoio, que em 1991 seria uma creche para os filhos dos

funcionários da delegacia, passaram a abrigar laboratórios. Na área externa

uma grande calçada recebe os estudantes para não afetar a passagem de

pedestres.

Hidráulica, elétrica e telefonia também foram revistos em detrimento das novas

normas da distribuidora de energia Eletropaulo e Sabesp.

 

A estrutura metálica do edifício é projetada no sistema Vierendeel , pintada

com tinta intumescente vermelha, cujos apoios de concreto são revestidos com

aço inox. A influência de uma barra em outra provoca a diminuição nas suas

deformações e, em consequência, nos esforços atuantes, permitindo que o

conjunto possa receber um carregamento maior ou vencer um maior vão maior.

(ROCHA, 2011)

Três pilares circulares que percorrem o lado externo da fachada e nas torres de

escadas e de elevadores, que estão posicionadas do lado oposto. A estrutura

está em balanço dos demais lados.

1.1. ETAPAS CONSTRUTIVAS

A obra foi paralisada em 1992, até então somente executadas as fundações, os

subsolos e parte das torres de escadas e elevadores e da estrutura metálica

até o quarto andar (sem lajes, ficou ao relento por 17 anos). Subsolos

inundados precisaram ser drenados.

Foi necessário unir a estrutura antiga à nova, sendo opção da empresa de

engenharia a soldagem, pela simplicidade e rapidez. Os pilares de concreto

frontais já estavam prontos e a construção das novas torres de elevadores foi

feita com concreto armado convencional.

As lajes em steel deck teve seus painéis fixados à estrutura com solda comum.

Depois, montou-se a fôrma de aço soldando os conectores do tipo stud bold às

vigas. (ROCHA, 2011).

Depois de fazer o fechamento externo com alvenaria de bloco, foram

realizadas as instalações elétricas, hidráulicas e de ar-condicionado e os

revestimentos de um modo geral. O edifício de apoio tem fechamento em

blocos e cobertura de telhas metálicas.

A fundação não demandou nenhum reforço estrutural, projetado a priori em

dois elementos: paredes diafragma pré-moldadas de concreto com 1.766 m² de

painéis no subsolo,abaixo, fundação em barretes de 30 m de profundidade de

 

escavação, que consumiu, segundo os arquitetos, cerca de 35 t de aço e 650

m³ de concreto (ROCHA, 2011).

2. INSERÇÃO URBANA

O edifício está inserido em uma região populosa (Zona Leste – SP), com amplo

acesso tanto aos meios de transporte coletivo (proximidade com a estação

Carrão do Metrô, confluência de linhas de ônibus) e particular (pela Avenida

Melo Freire, mais conhecida como radial leste).

Figura 3 e 4 – Localização do edifício da Fatec Tatuapé no município de São

Paulo e na Radial Leste.

Fonte: PMSP e Google Maps.

Figura 05 e 06 – Sistema viário e delimitação da subprefeitura da Mooca, no

qual o edifício está inserido.

Fonte: PMSP, 2014.

 

3. TECNOLOGIAS CONSTRUTIVAS E SUSTENTABILIDADE

As tecnologias aplicadas no desenvolvimento do edifício da FATEC- Tatuapé

em termos da atividade de construção conta com duas etapas muito

características, ou seja, a elevação estrutural e reforma e retrofit construtivo-

projetual.

Como se trata de um projeto desenvolvido no ano de 1991 e construção inicial

realizada em 1992, retomada somente em 2009, sabe-se que os conceitos e

aderências às tecnologias e certificações sustentáveis ainda não eram

utilizadas, sendo a referência temporal, uma unidade de um banco no ano de

2007 (Santander, 2007), como marco inicial das construções comerciais com

selo sustentável, tanto no Brasil como na América Latina e o boom de

lançamentos com certificações ocorreu no ano de 2012.

O ano de 2012 pode ser indicado como o ano do boom das construções

certificadas, conduzindo o Brasil ao quarto lugar mundial. A contrapartida de

adoção aos edifícios comerciais relaciona-se ao potencial de negociação e

retorno de investimentos, parâmetros que não são tão aderentes aos edifícios

residências e públicos-institucionais, esta última tipologia correspondente ao

objeto de estudo deste artigo.

De forma a contextualizar o valor das construções sustentáveis cita-se que no

ano de 2012 alcançou-se a porcentagem de 8,3% do total da construção de

edifícios e em não ultrapassavam 3% do PIB setorial. O valor total dos imóveis

que reivindicam o selo sustentável atingiu R$ 13,6 bilhões no ano de 2012, em

comparação com um PIB de edificações de R$ 163 bilhões no mesmo

período.(Grandes Construções, 2013).

O posicionamento quanto à sustentabilidade do projeto mesmo não abarcados

as condicionantes de sustentabilidade na época, ou mesmo especificações e

memoriais com justificativas de sustentabilidade, permitem-nos conduzir uma

análise de aderências no pós-obra, uso, ocupação e manutenção.

 

4. A FATEC TATUAPÉ A LUZ DA SUSTENTABILIDADE 4.1. COMPORTAMENTO TÉRMICO

No caso do edifício em estudo e de modo isolado pode-se se citar as condições

quanto ao uso e operação relativos ao conforto térmico e diretamente

relacionado à condutibilidade térmica, sendo que a especificação deve adotar

materiais de construção e detalhes construtivos que reduzam a transferência

de calor. Os pilares, subsistema do edifício em estudo é em perfil metálico, aço,

em seção transversal “I” e para este material cita-se a elevada condutibilidade

térmica λ = 52 W/m.ºC, comparando-se com o valor entre 1,2-1,4 do concreto e

das madeiras entre 0,12-0,23, que em grande parte podem ser consideradas

isolantes, ou seja, quando a condutibilidade térmica for menor a 0,17 W/m.ºC.

Sendo assim, cita-se que a sustentação vertical do edifício FATEC-Tatuapé

possui o pior comportamento térmico que sistemas em concreto e em madeira.

Tal condição exigiria adoção de detalhes construtivos de modo a reduzir as

perdas de calor por condução através das pontes térmicas. Para se reduzir as

perdas por convecção, MATEUS (2014) indica que se deve desenvolver

detalhes que evitem as trocas de calor através de entradas e saídas de ar não

controladas, bem como, as infiltrações e saídas de ar não controladas devem

possuir soluções de calafetagem que utilizem materiais com baixo impacto

ambiental e que não comprometam a qualidade de ar interior, este detalhes

estão localizados principalmente nas juntas existentes entre os elementos

construtivos, como as zonas de batente das portas e janelas.

4.2. ENERGIA INCORPORADA

Um ponto específico e que diz respeito à energia incorporada primária, serve

de base para a delimitação inicial dos materiais a serem aplicados e no caso da

sustentação vertical pode-se realizar um comparativo entre as tecnologias mais

comuns como a alvenaria estrutural, concreto e aço, sendo esta última, a

presente no caso de estudo.

 

Como diretriz comparativa preliminar indica-se que a energia primária

incorporada corresponde em média1 a 80% do total de energia de um edifício

tomada em seu ciclo completo de vida, envolvendo sua produção, transporte,

aplicação na obra, manutenção e demolição, ou seja, a energia primária

incorporada relaciona-se aos recursos energéticos consumidos durante a

produção dos materiais, incluindo a energia diretamente relacionada com a

extração das matérias-primas, com o seu transporte para os locais de

processamento e com a sua transformação.

Diante disto, apresentam-se no Quadro01 os dados da energia primária

incorporada na aplicação com madeiras, concreto e aço, sendo neste último

apresentadas as condições de ter em seus processos produtivos matérias

recicladas ou não. Estes dados estão inseridos por entender que na época

projetual e construtiva não se impôs esta rastreabilidade, conduzindo a uma

análise relativa neste artigo.

Quadro 1 – Dados de energia primária de materiais comuns utilizados na

construção civil. Material PEC (kWh/kg)

Tijolo cerâmico 0,83

Concreto 0,28

Aço (não reciclado) 8,89

Aço (reciclado) 2,77

Pelos dados de energia incorporada percebe-se que o aço em peso é mais

impactante, mas se deve analisar a variável da quantidade em peso disposta

no edifício caso fosse em concreto comparativamente ao aço.Como parâmetro

de análise pode-se citar que um edifício do porte do estudo de caso e

ponderando-se pela atuação projetual de um dos autores deste artigo,

empiricamente pode-se citar que o volume unitário de concreto seja de 11kg/m2

de pavimento, conduzindo a 3,08 kWh/m2 de pavimento e no caso de perfis em

                                                                                                                         1Possuem elevada margem de erro devido a variáveis consideradas como eficiência do processo de transformação; o tipo de combustível utilizado no processo de transformação das matérias-primas e no seu transporte; a distância de transporte das matérias-primas; a quantidade de matéria reciclada utilizada. O valor da PEC não é constante, de país para país, de região para região, e de autor para autor (MATEUS, 2004).

 

aço 7kg/m2 de pavimento, conduzindo a 19,39kWh/m2para aço reciclado e

62,23 kWh/m2.

Para alvenaria estrutural seriam cerca de 368kg/m2 de pavimento, porém o

resultado não seria de grande correspondência aos materiais reticulados de

concreto e aço, por já incluir as vedações como estrutura, de qualquer forma

resultaria 305,44kWh/m2.

Mesmo e caso se considera aço de alta resistência os valores demonstram a

produção do aço teria que ser otimizada em seis vezes para atingir a condição

normal de produção do concreto, ou seja, desconsiderando que esta não

evoluísse, como já estão, em ações de eficiência energética.

Os valores de energia primária incorporada no aço no caso das subestruturas

de sustentação vertical são muito impactantes comparando-se com o concreto.

Outro ponto importante refere-se à evolução das tecnologias e novas formas de

fazer a gestão ao fim do ciclo de vida, que nos estudos de 2004 de Ricardo

Filipe Mesquita da Silva Mateus o concreto e aço tinham a seguinte condição:

“A construção em betão armado tem praticamente a mesma

quantidade de energia incorporada que a de aço, mas é no entanto

menos reciclável no final da sua vida útil. Em geral, o aço estrutural

pode ser reciclado e/ou reutilizado a 100%, podendo ser de novo

utilizado como elemento estrutural, enquanto que a maior parte do

betão só pode ser reutilizada sobre uma forma degradada (por

exemplo, como agregado) e só com grandes limitações pode ser

reciclado outra vez para a sua função estrutural (Yeang, 2001)”.

Atualmente os projetistas estruturais já consideram o uso de partes das

estruturas em concreto que podem ser cortadas e reutilizadas como peças pré-

moldadas, assim como, vem sendo utilizado reciclado, quando triturado como

agregado, em argamassas e concretos com menores resistências e em maior

aplicação em concretos asfálticos de pavimentações. Tais ações necessitam

de menos energia que a reciclagem do aço.

 

4.2. POTENCIAL DE AQUECIMENTO GLOBAL E PRAZO DE EXAUSTÃO DO MATERIAL

Esta caracterização tem como referência as emissões de dióxido de carbono

(CO2) tomadas as atividades de toda a cadeia produtiva dos materiais a partir

da extração das matérias-primas até à sua aplicação no edifício.

Quadro 2 – potencial de aquecimento global relacionado aos materiais da

construção civil. Material PAG (g/kg) Duração (anos)

Tijolo cerâmico 190 Fontes são ainda

abundantes Concreto 65

Aço (reciclado) 557

Aço (não reciclado) Não disponível 21

Aplicando-se as mesmas proporções de energia incorporada o concreto resulta

em menos impacto que o aço reciclado e tem em relação a este um potencial

de aquecimento global 5,45 vezes pior, além de estarem em mesmo pé de

igualdade no que se refere à disponibilidade de matéria prima no planeta caso

seja um aço reciclado e o concreto nas condições atuais de obtenção.

4.3. ÁGUA INCORPORADA OU PEGADA HÍDRICA

O consumo de água associada à extração de matéria prima, processamento e

produção de alguns materiais de construção, também é denominado de

pegada hídrica e de consumo de água virtual, ou seja, corresponde ao

montante de água que não é visto no material e, portanto que se encontra já

incorporado em cada material.

Quadro 3 – Materiais de construção civil e respectivo consumo de água. Material Consumo de água (litros/kg)

Tijolo cerâmico 520

Concreto 170

Aço (não reciclado) 3 400

Aço (reciclado) Não disponível

A partir destes dados pode-se caracterizar que o concreto é 20 vezes melhor

que o aço em pegada hídrica e considerando as proporções anteriores de peso

por tipologia este valor cai para 12,73 vezes do concreto para o aço.

 

4.4. SUBESTRUTURAS NA FATEC TATUAPÉ

As subestruturas no edifício estudado dividem-se em:

• Piso: A composição da subestrutura de piso do edifício da FATEC-

Tatuapé se dá por vigas metálicas em I que apoiam laje nervuradas em

uma direção mista do tipo steel-deck, sendo na grande maioria das

dependências sem forro. Nos ambientes com forro este é em placas de

drywall sem aplicação de mantas de proteções acústica e térmica.

• Este tipo de subestrutura, perante aos indicadores como: Índices de

massa (Im), Energia primária incorporada, Isolamento sonoro a sons de

condução aérea, Isolamento sonoro a sons de percussão, Transmissão térmica

média e Custo de construção e, ainda comparativamente a outras dezesseis

tecnologias, colocou o steel-deck, Figura 7, como penúltimo colocado com

pouca aderência à sustentabilidade (MATEUS, 2014), sendo o melhor

apresentado na Figura 8 e o pior na Figura 9:

Figura 7: Esquema de Subestrutura de pios relativo ao presente na FATEC e

apresentado por MATEUS

Figura 8

Figura 9

Figura 8:Esquema apresentado por MATEUS como a subestrutura de piso

mais sustentável e Figura 9: a menos sustentável.

 

.Sistemas de vedações verticais – paredes internas e externas: Caso fosse realizada a duplicação generalizada das espessuras de das envolventes

exteriores (paredes, coberturas e pavimentos exteriores), a melhoria dos

coeficientes de transmissão térmica seriam de 40%, atendendo relativamente

aos exigidos atualmente.

Quadro – Materiais construtivos Material PEC (kWh/kg)

Tijolo cerâmico 0,83

Gesso cartonado 1,39

• Sistemas de iluminação e energia: Os equipamentos e iluminação

pertencentes às categorias mais eficientes e segundo os respectivos

certificados e desempenho energético, no caso, tem-se o selo Procel.

• Sistemas de cobertura em telha metálica tipo sanduíche: Para as

telhas metálicas do tipo sanduíche utilizadas na obra em estudo, aponta-

se que a conjuntura se traduz pelo momento de desenvolvimento no

Brasil de uma escala de desempenho que segundo a ABCEM –

Associação Brasileira da Construção Metálica (2013a) possui dois

problemas clássicos e comuns: a solicitação fica sem definição de qual o

desempenho o produto deverá atingir e a solicitação de um sistema

termo-acústico, sem definição clara se acústico é por absorção ou

isolação. No caso a absorção é adequada para evitar reverberação (tipo

eco - como em arenas esportivas e casas de espetáculo), e a isolação

como barreira para o som de fora para dentro (exemplo de aeroportos) e

de dentro para fora (exemplo de casas de shows).

• Sistemas de Pintura das Vigas: No que concerne ao melhor

desempenho e durabilidade do sistema reticulado formado pelas vigas

indica-se que a aplicação foi de epóxi na cor vermelho. Como referencial

de análise indica-se que o sistema de pintura de estruturas em aço

vincula-se a consideração da agressividade do meio e o tipo de tinta,

assim como, as etapas de aplicações que se iniciam pelo tratamento

superficial de limpeza até os tempos, formas e quantidades de demãos,

além é claro das condições de trabalho, complexidade do sistema

 

estrutural e variabilidade dos esforços, atributos estéticos e funcionais,

plano de manutenção e manutenção preventiva no caso de ocorrências

de danos mecânicos pela utilização. Richter (ABCEM, 2013b) cita que

as formas de controle de qualidade dos acabamentos de pinturas de

superfícies de aço pode ser visual e ser por ensaios de aderência e do

tratamento superficial utilizado. O mais eficiente e que dependendo da

obra pode ter a durabilidade fixada em 25 anos como para o jateamento

abrasivo. No caso da obra em estudo e em atendimento a norma ISO

12944-5 apresentados pela ABCEM (2013b) os sistemas de pintura para

as vigas devem atender os seguintes atributos e que neste artigo ficam

como referencias, uma vez que não foram possíveis a realização de

ensaios:

Ambientes interno, atmosferas com baixo nível de poluição: Espessura total de

película seca de 160mm.

• Tinta de fundo epoxídica de 80mm, base seca.

• Tinta intermediária e acabamento em poliuretano acrílico alifático 80mm,

base seca.

Ambientes externos, exposto à atmosferas urbanas e industriais com poluição

moderada por SO2: Espessura total de película seca 240mm.

• Tinta de fundo epoxídica de 80mm, base seca.

• Tinta epoxídica de 80mm, base seca. Poliuretano acrílico alifático 80mm,

base seca.

CONCLUSÕES

Percebe-se que a evolução tecnológica e a inserção desde os estudos

preliminares focados na sustentabilidade conduziriam a outras especificações

constatadas no edifício da FATEC- Tatuapé, ou seja, de altos impactos em

energia e conforto.

 

Tais relações só foram possíveis em face da consolidação e pesquisas que

foram solidificadas após o projeto e construção da FATEC, e que servem de

base para melhorias e para ações programadas de retrofit e reformas futuras,

suportadas por dados de sustentabilidade visando melhorar seu desempenho.

Mas certamente, o peso de tornar uma construção inacabada e em desuso

para boas condições de atendimento e uso educacional, focada na formação

de tecnólogos, garantindo sua função social enaltecendo o capital humano, ou

seja, cujos valores de mensuração são intangíveis, dadas as necessidades de

um país como o Brasil e seu déficit em desenvolvimento econômico, social e

conhecimento tecnológico (em especial o ambiental, com vistas aos recursos

naturais em esgotamento).

REFERÊNCIAS

ABCEM – Associação Brasileira da Construção Metálica. Grupo de associados da ABCEM elabora minuta da norma da ABNT para telha sanduíche. Revista Construção Metálica. Edição 112. ABCEM, São Paulo, 2013a.

ABCEM – Associação Brasileira da Construção Metálica. Cor e proteção em superfície de aço. Revista Construção Metálica. Edição 112. ABCEM, São Paulo, 2013b.

Grandes Construções. O "boom" da construção verde no Brasil. Edição 41. 04/10/2013. Disponível em <http://www.grandesconstrucoes.com.br/br/index.php?option=com_conteudo&task=viewMateria&id=1314>. Acesso em 29/01/2014.

MATEUS,R.F.M.S. Novas tecnologias construtivas com vista à sustentabilidade da construção. UNIVERSIDADE DO MINHO: ESCOLA DE ENGENHARIA – Departamento de Engenharia Civil Mestrado em Engenharia Civil .disponível em<http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/817/7/Parte%20III%20(Pag%20153%20a%20197).pdf>. Braga, março de 2004. Acessado em 30-01-2014.

Santander. Construção sustentável certificada. Publicada em 18/07/2007. Disponível em <Construção sustentável certificada>. Acesso em 29/01/2014.

ROCHA, A. P. Projeto Reinventado. Por Ana Paula, In: Techné, Edição 169 - Abril/2011.