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TECENDO A INTERDISCIPLINARIDADE NO CAMPO CTS

Tecendo a interdisciplinaridade no campo CTS

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livro contendo artigos de discentes e docentes do programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade da UFSCar

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TECENDO A  

INTERDISCIPLINARIDADE  

NO CAMPO CTS         

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Wilson José Alves Pedro Wanda Aparecida Machado Hoffmann 

Valdemir Miotello  

[Organizadores]        

TECENDO A  

INTERDISCIPLINARIDADE  

NO CAMPO CTS          

 

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Copyright © dos autores  Todos  os  direitos  garantidos. Qualquer  parte  desta  obra  pode  ser  reproduzida, transmitida ou arquivada desde que levados em conta os direitos dos autores.   Wilson  José Alves Pedro; Wanda Aparecida Machado Hoffmann; Valdemir Miotello [Organizadores]   

Tecendo  a  interdisciplinaridade  no  campo CTS.  São Carlos: Pedro & João Editores, 2012. 270p.  ISBN 978‐85‐7993‐???‐?  

1.  Estudos  de  CTS.  2.  Pesquisas  de Mestrado.  3.  Interdisciplinaridade.  I. Título.  

 CDD – 410 

 Capa: Marcos Antonio Bessa‐Oliveira Editores: Pedro Amaro de Moura Brito & João Rodrigo de Moura Brito   Conselho Científico da Pedro & João Editores: 

Augusto  Ponzio  (Bari/Itália);  João  Wanderley  Geraldi (Unicamp/Brasil); Roberto Leiser Baronas (UFSCar/Brasil); Nair F. Gurgel  do  Amaral  (UNIR/Brasil);  Maria  Isabel  de  Moura (UFSCar/Brasil); Dominique Maingueneau (Universidade de Paris XII/França); Maria da Piedade Resende da Costa (UFSCar/Brasil). 

  

    

Pedro & João Editores Rua Tadão Kamikado, 296  

www.pedroejoaoeditores.com.br 13568‐878 ‐ São Carlos – SP 

2012 

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SUMÁRIO   

A Problemática Ambiental redefinindo o  Estatuto de Verdade Científica 

Allan Rogério VeltroneThales Haddad Novaes de Andrade

Ensaio sobre a responsabilidade ativa no campo da Ciência, da Tecnologia e da Sociedade 

Allan Tadeu Pugliese Valdemir Miotello

Direito Autoral e tecnologia: apontamentos de novos caminhos para a circulação e acesso ao conhecimento 

Alyssa Cecilia BaracatCamila Carneiro Dias Rigolin

Análise bibliométrica da atividade científica em citricultura:  a laranja no Brasil 

Cláudia Daniele de SouzaLeandro Innocentini Lopes de Faria

Indicadores de inovação:  análise da metodologia adotada nas pesquisas 

Denise Rodrigues VichiattoRoberto Ferrari Junior (Orientador)

Ciência, Tecnologia e Sociedade em preto em branco: Perspectivas da tecnologia nos mangás 

Felipe MussarelliValdemir Miotello

Uma revisão histórico‐conceitual sobre a Tecnologia Social Gabriela G. Mezzacappa

Blogs como espaço discursivo:  para além da perspectiva tecnológica  

Gustavo Grandini BastosLucília Maria Sousa Romão

 

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O planejamento sustentável do turismo  e sua interface com o campo CTS 

Helton GonçalvesReflexões sobre a importância do conhecimento tradicional 

para a ciência e o desenvolvimento da sociedade  Lívia Coelho de Mello

Camila Carneiro Dias RigolinAlfabetização científica e a participação pública  

nas políticas de saúde Luiz Henrique Chenchi

Maria Lúcia Teixeira MachadoO processo de indexação como técnica de controle social 

Marco Donizete Paulino da SilvaA Ciência Cívica e as Mudanças Climáticas:  

construindo um diálogo Maria Luísa Nozawa Ribeiro

Thales Haddad Novaes de AndradeLogística humanitária:  

conhecimentos e técnicas a serviço da comunidade Martha Regina Bortolato Cardoso

Wanda Aparecida Machado HoffmannConsiderações sobre divulgação científica  

para crianças e adolescentes Raquel Juliana Prado Leite de Sousa

Os tesauros multilíngues pelas perspectivas da ciência, tecnologia e sociedade: possibilidades de construção e uso 

Ricardo BiscalchinVera Regina Casari Boccato

Um pouco sobre o fundo documental  do sociólogo brasileiro Florestan Fernandes 

  Vera Lucia Cóscia    Luzia Sigoli Fernandes Costa

 

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APRESENTAÇÃO    

   Cada vez mais a interdisciplinaridade vem se consolidando e 

ocupando  os  debates  e  discussões  no  campo  acadêmico  e político. Em 2007, a Universidade Federal de São Carlos criou o PPGCTS  –  Programa  de  Pós‐Graduação  Ciência,  Tecnologia  e Sociedade  visando  a  formação  de  recursos  humanos  para  a pesquisa, docência  e  atuação profissional  em diversas  áreas do conhecimento.  Uma  proposta  inovadora  de  um  grupo  de docentes da Universidade, de diversos departamentos e Centros, bem  como  de  outras  instituições  parceira  de  ensino  superior; com  diferentes  formações  e  que  defendem  a interdisciplinaridade “como uma rede que se tece coletivamente” a partir do diálogo entre as ciências humanas e sociais, as exatas e  tecnológicas, as  ciências biológicas e da  saúde e a  lingüística, letras e artes.  

Organizado em três Linhas de Pesquisas, interdependentes e complementares  – Dimensões  Sociais  da Ciência  e  Tecnologia, Gestão  Tecnológica  e  Sociedade  Sustentável;  Linguagens, Comunicação  e Ciência,  a  cada  ano,  no  contexto  da  disciplina Ciência,  Tecnologia  e  Sociedade,  um  grupo  de  docentes  do Programa  tem  trabalhado  no  sentido  de  “contribuir  com  a formação  básica  do  estudante  de  pós‐graduação  através  da apresentação  e  discussão  de  temas  relacionados  à  perspectiva CTS”,  tendo  como  ponto  de  partida  as  diferentes  visões  e 

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análises propiciadas pelas três Linhas de Pesquisa do Programa e consequentemente as interações e interfaces.  

Essa  nova  visão  e  maturidade  expressadas  pela  pesquisa multidisciplinar são importantes para consolidar e articular uma sabedoria nacional sobre as possibilidades  futuras em Ciência e Tecnologia, para colocá‐las à disposição da sociedade. 

Um  exercício dialógico  e  reflexivo,  que  tem  transcendido  a sala de aula e propiciado aos docentes, discentes e comunidade acadêmica  algumas  produções  de  caráter  introdutório  ao complexo campo CTS. 

Assim,  mantém‐se  aceso  o  debate  sobre  as  políticas adequadas  para  sustentar  o  avanço  da  ciência  e  os desenvolvimentos  tecnológicos  e,  continuar  a  estimular  a apropriação  do  conhecimento  gerado  nesse  processo  pela sociedade brasileira. O fato de haver um  lugar para esse debate na  pauta  acadêmica  e  principalmente  esse  debate  vem  se alastrando nos meios de comunicação demonstram sinais de que mais segmentos da sociedade estão ganhando consciência de que a  produção  e  a  difusão  do  conhecimento  representam  um acionador  para  o  desenvolvimento  social  e  sustentável.  É possível encontrar exemplos como esse no exame da experiência internacional, mas a participação e a construção das conquistas nos  estudos  multidisciplinares  por  pesquisadores  nacionais destacam o rastro da qualidade dessas pesquisas na produção de conhecimento e na formação de pessoas capazes de criá‐lo e usá‐lo  se  tornando  essencial  à  movimentação  da  fronteira  do conhecimento. 

No  ano  de  2011,  três  docentes  do  PPGCTS,  com  visões, trajetórias e produções acadêmicas bastante distintas se lançaram mais uma vez ao desafio de oportunizar ao grupo de discentes ingressantes a inserção ao campo CTS.  

Através  de  leituras,  discussões,  palestras  e  estratégias inovadoras  de  ensino  e  aprendizagem,  os  trabalhos  foram 

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realizados, objetivando também instigar e mobilizar os discentes, com  seus  respectivos  orientadores  na  produção  de  textos acadêmicos  que  retratassem  este  movimento  coletivo.  A disciplina  tornou‐se  um  observatório  importantíssimo  das proposições deste grupo de  ingressante no  campo CTS  que nos permitiu  a  presente  sistematização  e  disponibilizamos  neste momento à comunidade acadêmica para leitura e diálogo sobre os desafios  e  a  importância da  construção da  interdisciplinaridade, em particular no âmbito dos estudos CTS. 

A  prospecção,  a  eleição  de  certos  focos  sem  prejuízo  da pesquisa motivada pela curiosidade do aluno, o futuro cientista, reconhecidamente tão  importante, busca a análise constante das oportunidades e dos desafios a serem atacados na compreensão das  complexidades  impostas  pelo  futuro  incerto  e  as responsabilidades de prover estudos para minimizar ou superar os desafios. 

A diversidade de temas é grande: a problemática ambiental, a  responsabilidade  ativa,  o  direito  autoral  e  a  tecnologia, citricultura,  indicadores de  inovação, mangás,  tecnologia social, blogs, turismo, conhecimento tradicional, alfabetização científica, políticas  de  saúde,  controle  social,  mudanças  climáticas, logística,  divulgação  científica,  tesauros  multilíngües,  fundo documental,  dentro  outros  temas  que  chamarão  a  atenção  do leitor,  pois  retratam  algumas  das  diversas  possibilidades  de estudos e pesquisas realizadas no PPGCTS. 

A  junção de atividades acadêmicas,  tecnológicas, culturais e de  mercado  resulta  de  um  processo  de  amadurecimento  das conexões entre as áreas de conhecimento, destacando a atuação humana através da sua criatividade, surgindo como um recurso renovável  na  sociedade.  Sendo  multiplicada  através  dos processos de mudanças que a sociedade vem sofrendo, ao longo da  sua  história,  na  busca  de  conciliar  seus  desejos  presentes  e futuros.  

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Este  livro  é  para  nós  “obra  aberta”  em  um  campo  em construção,  donde  se  justifica  o  tema  escolhido  pelos organizadores  para  o  presente  trabalho:  TECENDO  A INTERDISCIPLINARIEDADE  NO  CAMPO  CTS  Recomendamos a  todos boa  leitura e convidamos uma vez mais ao diálogo interdisciplinar.  

  

Wilson José Alves Pedro Wanda Aparecida Machado Hoffmann 

Valdemir Miotello  

Professores da UFSCar, também no Programa CTS Maio de 2012 

           

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A Problemática Ambiental redefinindo o  Estatuto de Verdade Científica 

 Allan Rogério Veltrone 

Thales Haddad Novaes de Andrade   

Introdução  

Nas  ultimas  décadas  as  questões  ambientais  superaram  a etapa de reivindicações de determinados grupos, e passaram a se configurar  como  um  projeto de  sociedade,  entremeando‐se  em diversos  setores  e  abordagens.  Isso  devido  a  mudanças paradigmáticas  ocorridas  nos  debates  em  torno  da  questão,  a partir da década de 1980, com o reconhecimento da necessidade de  se  incorporar  as  demandas  sociais  (INOUE,  2006). Mesmo antes  desse  período,  na  verdade,  pois  desde  a Conferência  de Estocolmo  (1972),  estabeleceu‐se  um  quase  consenso  de  que  a variável  ambiental  não  poderia  ser  pensada  em  separado  da variável  social,  e  mesmo  o  desenvolvimento  econômico  não poderia  ser  pensado  de maneira  independente  da  preservação ambiental. (KECK e SIKKINK, 1998: p. 125, apud INOUE, 2006).  

O discurso contestador vem então cedendo espaço para um discurso  de  colaboração multidisciplinar  e  esforços múltiplos, com  o  envolvimento  de  setores  sociais  heterogêneos,  dado  o reconhecimento  da  universalidade  da  questão  ambiental (FERREIRA, 1999).  

O presente artigo pretende analisar as variáveis culturais dos atores em jogo, argumentando que a ciência é um instrumento de construção  de  conhecimento  da  natureza.  Sendo  assim,  está inserida  em  uma  determinada  cultura,  que  é  socialmente construída.  A  aplicação  dos  conceitos  abstratos  científicos (LATOUR, 2000; 2001), resulta na técnica, a qual, por sua vez, vem 

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sendo questionada quanto os seus  limites e a sua capacidade de promover  bem  estar  social  (VELHO,  2009),  por  parte  do  que denominaremos neste artigo de pensamento ambientalista.   

Existem diversas correntes e movimentos sociais que podem ser designadas por  ambientalistas. O  tipo  ideal  (WEBER,  1985) do pensamento ambientalista com o qual trabalharemos aqui se constrói pelo conceito de cultura critica a modernidade, na qual o pensamento científico se insere (FERREIRA, 1999). 

Procuraremos  relativizar  o  conceito  de  verdade  cientifica demonstrando suas origens históricas em relação à concepção de natureza, e faremos uma desconstrução critica de seus métodos, de modo a ilustrar como a ciência é uma construção. 

Argumentaremos  também  que  decisões  embasadas  em pareceres  técnicos  freqüentemente  atendem  a  interesses  de grupos  específicos,  e, mesmo  em  situações  onde  se  busca  um acordo,  como  na  proteção  do  patrimônio  intelectual  de comunidades  tradicionais,  os  acordos  operam  dentro  da gramática de uma determinada cultura. 

 Ciência como visão de mundo 

 Faremos  agora,  uma  desconstrução  critica  da  ciência 

moderna. Para este fim, faremos um breve esboço da historia do pensamento  ocidental  em  relação  à  natureza,  e  uma  crítica antropológica da sociedade moderna. 

Keith Thomas (1996) trata das atitudes dos homens para com os animais e a natureza durante os séculos XVI, XVII e XVIII. O autor expõe os pressupostos que  fundamentaram as percepções dos ingleses no início da época moderna frente à natureza. 

Os animais eram classificados pelos zoólogos, no início desse período,  conforme  sua estrutura anatômica e  seus hábitos.   No entanto, eram também classificados de acordo com sua utilidade para o homem. A existência de uma  linha divisória nítida entre 

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homens e animais serviria de justificativa para que os homens os utilizassem  conforme  lhes  convinha.  Essa  divisão  teve conseqüências  importantes, e  legitimava os maus‐tratos àqueles homens  que  viviam  em  uma  condição  tida  como  animal (“selvagens”,  negros,  pobres,  mulheres,  etc.).  Os  intelectuais, poetas  e  pensadores  contribuíram  para  que  os  animais  fossem incluídos  dentro  da  doutrina  da  piedade  cristã,  e,  no  final  do século XVIII, essas preocupações eram evidentes entre as classes médias inglesas (THOMAS, 1996). 

No  inicio  do  período  moderno,  os  cientistas  naturais propuseram classificações  taxonômicas menos antropocêntricas, o que contribuiu para uma mudança de atitude em  relação aos animais. O  saber  científico,  entretanto,  fora  separado  do  saber popular (THOMAS, 1996). 

Turner (1990) defende a  idéia de que a expansão européia é antes de tudo uma “aventura do espírito”. Mas um espírito que possui  um  corpo,  que  necessita  interagir  com  a  natureza. Necessidades psíquicas moldando  a natureza,  tanto  econômica quanto simbolicamente. 

Em todas as culturas, os mitos teriam a função pedagógica de conectar  o  individuo  com  o  mundo  onde  vive  (CAMPBELL, 1992). Acolhida por Roma em um período de crise e pessimismo, a  seita  do  cristianismo  teria  sido  apropriada  e  moldada  pelo Estado. (TURNER, 1990). O cristianismo passa então a assumir um caráter histórico em oposição ao tempo cíclico do mito. Tornou‐se, no  contexto, uma  religião de negação da natureza, uma  vez  que propunha  a  repressão  dos  instintos,  o  desprezo  pelo  corpo  em detrimento  da  alma  e  uma  concepção  de  vida  terrena irremediavelmente  imperfeita  e  insatisfatória.  A  Igreja  também havia  delegado  a  construção  do  conhecimento  somente  ao  clero (especialistas), demonizando  a possibilidade de  revelação mística aos fiéis, característica de diversas outras cosmologias, inclusive do cristianismo nos tempos iniciais de pequena seita (TURNER, 1990).   

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Tal  mitologia  geraria  uma  sociedade  constantemente insatisfeita  (FREUD,  1996),  sendo  lançados  os  alicerces  para  a construção de uma Historia que se baseia na noção de progresso tecnológico  cumulativo,  pela  via  de  transformação  da  natureza. (TURNER, 1990). Embora  todos os mitos sejam uma  tentativa de conforto diante do desconhecido, e, portanto controle da natureza (material e simbólico), no ocidente teria ocorrido uma hipertrofia desse impulso (MUNFORD, 1963 apud TURNER, 1990).  

A partir daí o ocidente se lança então para a América, Ásia e África. E o mesmo  impulso de sujeição da natureza encontraria aqui um novo vigor, uma vez que os nativos eram vistos como selvagens1, portanto, mais próximos da natureza. 

Weber,  ao  longo  de  suas  obras,  nos  fala  da  noção  de desencantamento do mundo, um movimento de secularização da ontologia ocidental promovido pela ciência e pelo cristianismo, na  sua  faceta  protestante  (WEBER,  1985).  No  entanto,  será  a ontologia ocidental de fato objetiva em relação à natureza? 

Poder‐se‐ia  objetar  que  o  expansionismo  europeu  foi motivado por causas puramente econômicas, e não culturais. No entanto, não se pode dizer que ouro e prata sejam necessidades puramente econômicas. (TURNER, 1990) 

Sahlins  (2003)  discorre  sobre  o  totemismo2  na  sociedade capitalista.  O  autor  procura  mostrar  como  a  valorização  de determinadas  carnes  e  cortes  não  segue  somente  critérios  de 

                                                            1 A percepção de indígenas como mais próximos da natureza ainda permanece, embora essa característica tenha adotado uma conotação positiva (GORDON, 2000). No  entanto,  ainda  é  uma  representação  simplificadora,  pois,  como demonstra  a  etnologia,  as  concepções  ameríndias  de  natureza  podem  ser bastante  complexas,  não  operando  em  uma  interface  direta  entre necessidades orgânicas e meio ambiente. (BRIGHTMAN, 1993; CADOGAN, 1959; DESCOLA, 1987; VIVEIROS DE CASTRO, 2002)  

2  Trata‐se  de  organizar  a  vida  social  fazendo‐se  analogias  com  a  natureza. Sahlins  procura  demonstrar  que  o  totemismo  também  está  presente  em sociedades complexas, como a capitalista. 

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ordem  econômica.  Haveria  uma  escala  de  humanização  dos animais,  onde  os  mais  próximos,  com  os  quais  se  desenvolve relações afetivas (como cães e gatos), não poderiam ser comidos. O mesmo valeria para os selvagens, que são os mais distantes do homem. O consumo destes animais também não seria valorizado. Restam  os  animais  intermediários,  como  os  bois,  estes  sim podendo  ser  consumidos.  Entretanto,  ocorreria  uma desvalorização de certas partes mesmo nesses animais: partes que lembram órgãos humanos, como rins e fígado. Tomando de uma análise  da  linguagem  para  a  compreensão  do  problema,  Leach (1983)  afirma  que  a  nomeação  e  a  classificação  da  natureza obedecem a uma necessidade do pensamento de organização do caos. Os tabus seriam as substâncias inomináveis, inclassificáveis, ou, em suas próprias palavras, seriam “não coisas”. 

Leach  (1983)  também  observa,  como  posteriormente  faz Descola  (1998),  que  se  confere  um  trato mais  “humano”  com animais que são considerados nossos próximos. 

Mas  o  pensamento  científico,  também  é  uma  cultura,  uma linguagem. A exemplo dos mitos, a ciência também visa ordenar o mundo. Seu mecanismo de inteligibilidade e operacionalização consiste em desconstruir os objetos (a natureza) e transformá‐los em  conceitos  abstratos,  se  tornando  operacionalizáveis  a partir daí (LEVI‐STRAUSS, 2009). 

Através de uma  série de  rupturas  e  etapas de mediação,  o objeto  vai  sendo  transformado  em  uma  inscrição  literária (LATOUR, 2000; 2001). 

Latour  (2000;  2001)  cita  como  exemplo  um  caso  onde  um grupo de cientistas se reúne para decidir se em um determinado local  com  características  hibridas  dos  biomas  cerrado  e Amazônia, o cerrado estaria invadindo a floresta ou o contrario. 

Inicialmente,  tiram  fotos  aéreas,  e  confeccionam  um mapa. Dividem  então  a  floresta  em  quadrantes  segundo  coordenadas 

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cartesianas  (conceito  abstrato),  quadrantes  estes  que  serão referidos no mapa. 

Em cada um dos quadrantes, são retiradas amostras do solo. Os  torrões  do  solo,  por  sua  vez,  são  peneirados,  de  modo  a ficarem  livres  de  insetos,  pedras,  folhas  etc.,  situação  esta  que não pode ser encontrada no objeto empírico. Uma vez limpos, os torrões de solo são classificados e nomeados de acordo com uma escala cromática. 

Enfim,  chega‐se a um veredicto: a  floresta está  invadindo o cerrado. Tal  conclusão,  é  claro, não possui  legitimidade  se não for  transformada em um  relatório de pesquisa. Enfim, o objeto, reduzido  a  sua  essência  ‐conforme  a  visão  cientifica‐  pode  ser transformado em uma  inscrição  literária –abstração‐  (LATOUR, 2000;  2001;  LORENZI,  2010).  E  a  partir  daí,  decisões  políticas possivelmente serão tomadas. 

Processos como este, sendo repetidos, dão origem a teorias. E assim  se  elabora  a  linguagem  cientifica.  Por  construção,  mas também por convenção. Qualquer um que deseje conhecer este objeto  chegará  a  mesma  conclusão. Mas  desde  que  refaça  os passos  dos  cientistas. Mesmo  longe  dos  seus  laboratórios,  os cientistas  transformam o objeto em  laboratório  (LATOUR, 2000; 2001).  Só  assim  podem  interagir  com  a  natureza  empírica, através da linguagem e da cultura. Não se trata, portanto de um conhecimento direto e objetivo do objeto.  

  Questões ambientais e as Dimensões políticas da ciência  

 Os  pareceres  técnicos  em  relação  a  questões  sócio‐políticas 

emitidos  por  especialistas  assumem  legitimidade  devido  ao pressuposto  de  que  foram  realizados  de  acordo  com  os procedimentos de neutralidade científica. Pareceres competentes isentos  de  interesses,  que  pretendem  solucionar  conflitos (LATOUR, 2004; VELHO, 2010) 

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Leite  (2007)  e  Santos  (2007),  ao  discorrer  sobre  a normatização do uso e das pesquisas em  torno dos organismos geneticamente  modificados  ilustram  um  desacordo  entre cientistas e ambientalistas quando  falam de defesa de posições. Os  atores  que  adotam  uma  postura  anti‐transgênicos  são representados  por  membros  do  Greenpeace,  procuradores  da república  e  representantes do Ministério do Meio Ambiente. O êxito  em  barrar  a  liberação  dos  plantios  de  transgênicos  é atingido  através  da  manipulação  da  opinião  pública,  com previsões  apocalípticas  e  mal  fundamentadas  e  expondo  os intestinos  da  CTNBio.  (Comissão  Técnica  Nacional  de Biossegurança) 

A  CTNBio  adota  uma  postura  de  pesquisa descontextualizada,  que  assume  que  a  técnica  independe  de questões históricas, sociais e ambientais. A título de exemplo de como  essa posição pode  ser problemática, Leite afirma que  em um  manual  da  CTNBio  destinado  a  agricultores  que  iriam realizar um plantio de soja transgênica, era recomendado que as máquinas  utilizadas  na  colheita  deveriam  passar  por  um procedimento de descontaminação antes de serem utilizadas no manuseio  de  soja  não‐transgênica.  Um  procedimento tecnicamente eficaz. No entanto, não existe nenhum mecanismo para que  a  instituição  se  certifique de que  o  agricultor de  fato fará isso. (LEITE, 2007) 

Aqueles  atores  que  defendem  a  liberação  dos  transgênicos ignorariam  esse  tipo  de  questão.  Lutam  para  que  o  processo decisório  seja  encabeçado  unicamente  por  técnicos  e especialistas,  que  não  levarão  em  conta  as  variáveis  sócio‐ambientais. (LEITE, 2007). Santos (2007) afirma ainda que não só aos  tecnólogos  interessa  que  as  coisas  se  dêem  desta maneira, mas  também  as  transnacionais.  E,  além  disso,  os  tecnólogos estariam  recebendo  financiamento  de  setores  ligados  ao 

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agronegócio,  que  não  tem  interesse  em  adiar  a  implantação destas novas tecnologias para que novas pesquisas sejam feitas. 

O que as duas posições  fundamentalistas  têm em comum, é que utilizam métodos que não incentivam a pesquisa. Os setores ambientalistas,  também  não  admitem  um  diálogo  e  uma discussão  acerca  dos  instrumentos  regulatórios. No  entanto,  a opinião  pública  espera  que  comunidade  científica  seja  a reguladora desse tipo de questão. (LEITE, 2007). 

Vandana Shiva  (2001), discorrendo sobre os mecanismos de proteção do patrimônio intelectual de comunidades tradicionais, afirma  que  tratados  como  o  Acordo  Geral  sobre  Tarifas  e Comercio (que legisla sobre os referidos direitos de propriedade intelectual)  substituem  as  antigas  bulas  papais  que davam  aos europeus o direito de gerir as terras e os nativos conquistados. O critério  de  validação  do  conhecimento  pela  comunidade cientifica  é  a  impessoalidade,  o  que  não  ocorre  com  as comunidades  tradicionais.  Sendo  assim,  o  conhecimento tradicional  só  teria  validade  quando  fosse  despersonalizado. (ALMEIDA, 2008). No entanto, a autora afirma que os cientistas não  tiram  suas  premissas  de  simples  observação,  mas direcionam  suas pesquisas de modo  a  atender os  interesses de determinadas  comunidades  epistêmicas.  Sendo  assim,  o conhecimento  tradicional  teria  a  mesma  validade,  segundo  a autora.  E,  além  disso,  as  patentes  cessariam  os  mecanismos criativos  das  populações,  e  substituiria  o  valor  intrínseco  do conhecimento por seu valor instrumental. (SHIVA, 2001) 

O mesmo  afirma  Boaventura  Santos,  que  concorda  com  a idéia  de  colonização  do  real  (SHIVA,  2001)  onde  existiriam diferentes  realidades  provenientes  de  diversas  comunidades epistêmicas, mas com uma se impondo sobre as demais (INOUE, 2006; SANTOS, 2007). 

Os movimentos  ambientalistas  pretendem  estender direitos políticos a natureza, que está  fora da política, o que a principio 

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seria uma contradição, uma vez que a política é definida como sendo compostas por arranjos sociais, ao contrário da natureza, que  seria  concebida  como  sendo  regulada  por  leis  isentas  de subjetividade (LATOUR, 2004). 

Os  ambientalistas  e  os  cientistas  naturais  pretendem  “falar pela natureza”. Em  outras palavras,  seriam  os porta‐vozes das “coisas que falam por si”. No entanto, este processo não é assim tão objetivo, uma vez que as conclusões científicas passam antes por  uma  discussão,  mesmo  jogos  de  poder  “no  interior  dos laboratórios”, como visto no exemplo das pesquisas envolvendo organismos geneticamente modificados. Mas Latour afirma que o ambientalismo (que ele denomina ecologia política), estaria em uma posição mais confortável do que a dos cientistas, uma vez que não chega a acreditar totalmente nos métodos impessoais da ciência,  mesmo  na  separação  entre  sociedade  e  natureza, podendo  se  beneficiar  com  uma  reestruturação  radical. Reestruturação esta que  já estaria  sendo  feita, uma vez que em acordos  como  o  Protocolo  de  Kyoto,  participam  na  mesma câmara, tanto tecnólogos como policy makers. (LATOUR, 2004) 

 Conclusão 

 A problemática ambiental aparece  como uma oportunidade 

de  reestruturação de  saberes, um dos  rumos que podem  tomar os estudos em Ciência, Tecnologia e Sociedade.  

A  correlação  entre  técnica  e  demandas  sociais  vem  sendo contemplada  por  esse  campo.  No  sentido  de  aprofundar  a discussão, o artigo pretendeu mostrar que a ciência opera dentro de uma linguagem e uma cultura, que por sua vez interage com outras culturas. 

Nosso  foco  foi  a  construção  de  conhecimento  sobre  a natureza.  Embora  com  pretensões  de  conhecimento  real  sobre este objeto (em oposição a representação cultural), a ciência o faz 

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dentro  de  uma  dada  linguagem.  O  projeto  de  construção  da ciência se insere dentro do projeto da modernidade. Este projeto, no entanto, esbarra com os limites naturais do planeta.  

Sendo  assim,  a  crítica  ambientalista  pode  conduzir  a  uma nova racionalidade de produção de conhecimento e aplicação da técnica. Mas para que isso ocorra, é necessário uma ciência auto‐consciente.  Consciente  de  seu  estatuto  de  linguagem  de construção de conhecimento, mas uma linguagem entre outras.  

   

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Ensaio sobre a responsabilidade ativa no campo da Ciência, da Tecnologia e da Sociedade 

 Allan Tadeu Pugliese 

Valdemir Miotello  

Introdução   Qual seria o papel dos cientistas, das indústrias, do governo e 

da sociedade no desenvolvimento de um país e do mundo? E no desenvolvimento  das  pequenas  comunidades?  Com  essas questões  que  já  estão  dentro  do  senso  comum,  começamos  a pensar  e  repensar  a  responsabilidade  ativa  de  alguns  desses papeis e como o campo do CTS pode e deve posicionar‐se para ajudar a construir ciência voltada para a sociedade e preparar a sociedade para a ciência. Vamos começar esse estudo com uma rápida  introdução  aos  campos  do  CTS,  relacionando  com  o pensamento Bakhtiniano, que também permeia toda a discussão sobre  a  responsabilidade  ativa.  Trazendo  algumas  discussões ainda  sobre  tecnologia,  gestão,  políticas  públicas  entre  outros pensamentos desse campo tão abrangente. 

Por  último  levantaremos  novas  questões  e  hipóteses  que ficaram durante esse estudo, que permeiam a  responsabilidade ativa  e  os  campos  da  Ciência,  Tecnologia  e  Sociedade, principalmente suas teorias.  

Um pouco sobre os estudos do CTS  Para  começar  nossa  discussão  sobre  o  Campo  CTS,  vale 

pensar  na  concepção  positivista  da  ciência,  um  pensamento muito frequente em diversos espaços acadêmicos e nos meio de divulgação  (BAZZO,  2003:120)  e  que  ainda  permeia  o pensamento escolar em diversos níveis . 

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A concepção clássica das relações entre a ciência e a tecnologia com a sociedade  é  uma  concepção  essencialista  e  triunfalista,  que  pode resumir‐se  em  uma  simples  equação  “modelo  linear  de desenvolvimento”: + ciência = + tecnologia = + riqueza = + bem‐estar. (BAZZO, 2003:120) 

 Nesse modo linear de pensar, parece muito fácil atingir o bem 

estar social, de forma individualista. Em momento algum vemos nessa  “equação”  uma  preocupação  com  outros  países  ou  com outras sociedades. É como se apenas os países ou sociedades que tem  dinheiro  para  investir  em  ciência,  vão  conseguir  ter mais tecnologia, mais riquezas e mais bem estar; aumentando assim a discrepância e a desigualdade entre as pessoas no mundo.   

Nesta visão clássica a ciência só pode contribuir para o mais bem‐estar social  esquecendo‐se  da  sociedade,  para  dedicar‐se  a  buscar exclusivamente  a  verdade.  A  ciência,  então,  só  pode  avançar perseguindo  o  fim  que  lhe  é  próprio,  a  descoberta  de  verdades  e interesses  sobre  a  natureza,  se  se mantiver  livre da  interferência de valores sociais mesmo que estes sejam benéficos. Analogamente, só é possível  que  a  tecnologia  possa  atuar  como  cadeia  transmissora  na melhoria  social  se a  sua autonomia  for  inteiramente  respeitada,  se a sociedade for preterida para o atendimento de um critério  interno de eficácia  técnica. Ciência  e  tecnologia  são  apresentadas  como  formas autônomas  da  cultura,  como  atividades  valorativamente  neutras, como  uma  aliança  heróica  de  conquista  cognitiva  e  material  da natureza.  (BAZZO, 2003:120) 

 Os  interesses  da  ciência  cada  vez  mais  se  distanciam  dos 

interesses  sociais  e  culturais,  com  a  premissa  de  que  a  ciência deve  ser neutra  e buscar  a verdade. Mas que verdade? Vamos pensar um pouco sobre as palavras russas para os dois tipos de verdade.   

Na  Tradução  do  livro  Para  a  filosofia  do  ato  responsável (BAKHTIN, 2010) temos a marcação de duas palavras em russo‐ PRAVDA  e  INSTINA‐ que,  em nosso  idioma  são  representadas pela mesma palavra: Verdade 

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Aproveitando  o  texto do Grupo de  estudos dos  gêneros do discurso,  presente  no  livro  Palavras  e  contra  palavras  II: conversando  sobre  os  trabalhos  de  Bakhtin  (NAGAI, MIOTELLO, 2010) o qual exemplifica essa relação entre as palavras.  

A Instina, uma verdade dura, imutável, universal e feita de momentos gerais, herança do racionalismo que considera o ato superficialmente, sem  contar  os  fatores  emotivo‐volitivos  ativo.  Já  a  Pravda  enuncia todos os movimentos do ato em questão,  transformando‐o em único, uma  verdade  possível  para  aquele momento,  para  aquela  situação, para  aquele  outrem  a  partir  do  meu  lugar  único.  (NAGAI, MIOTELLO, 2010:57) 

 Na ciência positivista, vemos uma busca pela verdade única e 

universal (Instina), como se apenas uma verdade existisse e que aquele ponto de vista “correto” deveria servir para  tudo e para todos. Já na construção de uma ciência e tecnologia voltada para a  sociedade,  procuramos  cada  vez  mais  verdades  adequadas para  cada  valoração  cultural,  para  cada  pedaço  de  mundo (Pravda).  Com  essa  verdade  que  leva  em  conta  a  sociedade poderíamos melhor trabalhar em busca do bem‐estar. 

Mas  qual  é  esse  bem  estar  que  procuramos?  Ele  pode  ficar delimitado  apenas  para  nosso  círculo  social?  Em  sua  fala  de posse como presidente da AAAS (The American Association for the Advancement  of  Science)  John  P.  Holdren  (HOLDREN,  2009) elenca  diversas  atividades  e  problemas  para  conseguirmos atingir um  bem‐estar  social, para  todos no planeta. Uma visão que  almeja  um  mundo  onde  todos  tenham  o  mesmo  nível conforto  e  bem  estar,  de maneira  sustentável,  consumindo  os recursos  do  planeta  de  forma  consciente.  Apesar  de  parecer muito difícil atingir esse  ideal, ele parece ser um bom caminho para pensarmos qual bem estar queremos para o mundo. 

Para Holdren, desenvolver  consiste em melhorar a  condição do  ser  humano  em  todos  os  aspectos,  não  só  econômica, mas também sócio‐político e ambientalmente, e esse desenvolvimento 

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sustentável  significa  fazê‐lo  em  pontos  consistentes  com  a manutenção  e  melhoria  indefinidamente  e  um  bem  estar sustentável  é  alcançar  o  desenvolvimento  onde  ele  ainda  não existe  ou  transformar  nos  lugares  que  ele  existe,  mas  é insustentável.  Para  isso  ele  propõe  cinco  desafios  a  serem quebrados:  pensar  nas  necessidades  básicas  dos  pobres;  uma gestão  de  concorrência  para  a  terra,  água  e  biotas  (biomas +ecossistemas)  do  planeta,  a  manutenção  e  integridade  dos Oceanos;  dominar  o  dilema  Energia  –  Economia  ‐  Meio ambiente;  e  mover‐se  em  direção  de  um  mundo  sem  armas nucleares. (HOLDREN, 2009).  

Ele  ainda  marca  as  deficiências  na  Busca  por  um desenvolvimento  sustentável:  A  pobreza,  a  prevenção  de doenças, a degradação do ambiente, a disseminação da violência, a  opressão  dos  direitos  Humanos,  o  desperdício  de  potencial humano, o não uso, uso ineficaz, desvio do uso ou uso indevido intencional da ciência e tecnologia (como no desenvolvimento e implantação  de  armas  de  destruição  de  massa)  ou  acidental (como se manifesta nos efeitos colaterais do uso de herbicidas e antibióticos);  a má  distribuição  de  recursos  e  investimentos;  a incompetência, má  gestão  e  corrupção;  o  crescimento  contínuo da  população  e  a  ignorância,  apatia  e  negação,  por  falta  de exposição  à  informação  ou  exposição  sem  convicção  ou compreensão. (HOLDREN, 2009). 

Ele ainda propõe que a ciência e a  tecnologia podem ajudar, melhorando  a  compreensão  sobre  os  perigos  e  possibilidades sobre  os  avanços  na  tecnologia;  pensando  nos  avanços  na tecnologia  ajudando  as  necessidades  humanas  básicas  e  o crescimento econômico e a ciência e a tecnologia oferecendo base para  ajudar  os  decisores  públicos  em  suas  avaliações. (HOLDREN, 2009). 

As  idéias  de  Holdren  nos  levam  a  pensar  em  nossa  real função  como  estudiosos,  que  além  de  buscar  as  “verdades”  é 

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ajudar  o  nosso mundo  a  ser um  lugar melhor. Talvez um dos principais problemas da  ciência é que, durante muito  tempo  (e ainda  hoje),  ela  tem  um    caminho  comum  sobre  seu desenvolvimento,  é  primeiramente  financiada  para  pesquisas para a guerra.  

No rastro da história é preciso mencionar que o exemplo dos Estados Unidos será seguido pelo resto dos países industrializados ocidentais durante a guerra fria, que se envolveram ativamente no financiamento da ciência para a produção de armamentos para as guerras da Coréia e do Vietnã... Enfatizando  a  necessidade de  financiamento público da pesquisa  básica,  poderíamos  dizer,  seguindo  a  Steve  Fuller  (1999, p.177 e SS.), que  se matavam dois pássaros  com um  só  tiro: por um lado promovia a autonomia da instituição científica frente ao controle político  ou  ao  escrutínio  público,  deixando  nas mãos  dos  próprios cientistas a  localização dos recursos próprios do sistema de  incentivo do  conhecimento  e,  por  outro,  favorecia‐se  uma  projeção  de  longo prazo  de  pesquisa  que,  segundo  a  experiência  de  guerra,  havia demonstrado ser necessária para satisfazer as demandas militares no âmbito  da  inovação  tecnológica.  Somente  deste  modo  podia‐se avançar  até  esta  fronteira  sem  fim,  até  a  verdade  como  meta inalcançável, tomando a título do escrito de Bush. (BAZZO, 2003:122) 

 Assim,  contrapondo  a  idéia  de Holdren,  que  caminha  para 

um mundo  sem  armas nucleares,  vemos  que  a  tendência  seria cada vez mais  termos armas  (nucleares ou não). Apesar de que muitas pesquisas que a princípio eram para guerra, e depois se voltaram para a sociedade como produtos de bens de consumo, vemos que é muito mais fácil os governos financiarem a guerra do que o bem estar humano. 

Seguindo  a  idéia de Holdren,  temos um  exemplo  citado  no trabalho  de  DAGNINO,  BRANDÃO  e  NOVAES,  sobre Mohandas Karamchand Gandhi (1869 — 1948) e seu trabalho na Índia, aproveitando‐se de uma tecnologia que  já estava obsoleta (a forma de Tear através do Charkha) para mudar a sociedade de castas da índia, onde a desigualdade social só aumentava. 

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Entre 1924 e 1927, Gandhi dedicou‐se a construir programas, visando à  popularização  da  fiação  manual  realizada  em  uma  roca  de  fiar reconhecida  como  o  primeiro  equipamento  tecnologicamente apropriado, a Charkha, como forma de lutar contra a injustiça social e o  sistema  de  castas  que  a  perpetuava  na  Índia.  Isso  despertou  a consciência política de milhões de habitantes das vilas daquele país sobre a necessidade da autodeterminação do povo e da renovação da indústria nativa hindu, o que pode ser avaliado pela significativa frase por ele cunhada: “Produção pelas massas, não produção em massa”. (DAGNINO; BRANDÃO; NOVAES, 2004:5) 

 Assim, podemos pensar  que,  além de  trabalhar  em  grandes 

avanços  para  a  tecnologia,  também  cabe  aos  cientistas  pensar como pequenas mudanças podem e devem melhorar a vida em comunidades pobres, por exemplo. 

Essa  perspectiva  de  trabalho  já  existe,  mas  ainda  parece, principalmente aqui no Brasil, algo muito distante da realidade.   

Durante  as  décadas  de  1970  e  1980,  houve  grande  proliferação  de grupos  de  pesquisadores  partidários  da  idéia  da  TA  nos  países avançados e  significativa produção de artefatos  tecnológicos baseados nessa perspectiva. Embora o objetivo central da maioria desses grupos fosse  minimizar  a  pobreza  nos  países  do  Terceiro  Mundo,  a preocupação com as questões ambientais e com as fontes alternativas de energia, de forma genérica e, também, referida aos países avançados, era relativamente freqüente. (DAGNINO; BRANDÃO; NOVAES, 2004:7) 

 Cabendo assim a  cada um de nós,  tanto atores da academia 

quanto  da  sociedade,  pensar  em  nossa  responsabilidade  na singularidade  de  cada  ato.  Levando  a  discussão  para  nossa responsabilidade junto com a tecnologia e as mudanças sociais.  

A responsabilidade ativa dos atores da Ciência, da Tecnologia e da Sociedade  Quando proposto um estudo geral sobre a ciência, tecnologia 

e  a  sociedade,  sempre  entramos  no  embate  que  a  sociedade 

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precisa participar das decisões dos gestores público,  juntamente com os  cientistas, para construir uma  tecnologia que  realmente saia  da  academia  e  atinja  todos  os  níveis  sociais,  pensando tecnologias  mais  viáveis  para  resolver  problemas  (sociais  e ambientais)  mais  urgentes,  tanto  em  macro  sistemas  (como países  inteiros)  quando  em  micro  sistemas  (como  uma comunidade  pobre).  Porém  quando  vemos mais  de  perto  essa interação,  acontece  que  pessoas  despreparadas  e  que desconhecem a ciência podem levar a decisões errôneas.  

A percepção pública da  ciência e da  tecnologia é, além de  tudo, um pouco  ambígua.  A  proliferação  de  mensagens  do  tipo  otimista  ou catastrófica  em  torno  do  papel  desses  saberes,  nas  sociedades contemporâneas,  tem  levado a que muitas pessoas não  tenham uma idéia muito clara do que é a ciência e qual seu papel na sociedade. A isto se soma um estilo de política pública sobre a ciência  incapaz de motivar uma participação que contribua para o debate aberto acerca desses assuntos e, em geral, para favorecer sua apropriação por parte das comunidades (BAZZO, 2003:13) 

 Mas  também  temos  exemplos  de  como  essa  relação 

transforma a tecnologia. Mesmo que  indiretamente, a sociedade impõe  mudanças  –  que  no  nosso  sistema  capitalista  atual poderíamos  chamar de mudanças mercadológicas  ‐ para novos usos  da  tecnologia.  Dentro  do  estudo  do  CTS  existe  uma corrente,  a  do  construtivismo  tecnológico,  que  propõe  essa mudança  impulsionada  pela  sociedade.  Um  bom  exemplo seriam as mudanças que ocorreram com a bicicleta ao longo dos anos.  

Os  fundadores  do  construtivismo  –  Bijker  e  Pinch  –  ilustram  esse argumento  com  a  história  de  um  conhecido  artefato  tecnológico:  a bicicleta.  Trata‐se  de  um  objeto  que,  como  tantos  outros,  seria  hoje visualizado como uma “caixa‐preta”. De fato, começou sua existência com formas. 

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Sobre o marco analítico‐conceitual da tecnologia social muito distintas, que  iam desde um  equipamento  esportivo  até um veículo de  carga. Sua roda dianteira mais alta, necessária naquele  tempo para alcançar maior velocidade (a força de tração era exercida diretamente na roda dianteira) numa bicicleta usada como equipamento esportivo, causava instabilidade, numa bicicleta empregada como veículo de  transporte, ou desconforto para as mulheres com longos vestidos (Pinch e Bijker, 1990). Em  sua  forma  final,  observa‐se  que  rodas  de  igual  tamanho  foram sendo paulatinamente  adotadas visando  à  segurança  em detrimento da velocidade. Não obstante, durante certo período, os dois projetos que atendiam a necessidades diferentes conviveram lado a lado. Essa temporária ambigüidade do artefato tecnológico bicicleta foi chamada de  “flexibilidade  interpretativa”. Tal  conceito  aponta  para  o  fato de que  significados  radicalmente  distintos  de  um  artefato  podem  ser identificados pelos diferentes grupos sociais relevantes, que outorgam sentidos  diversos  ao  objeto  de  cuja  construção  participam.  Isso  não significa  que  eles  não  compartilhem  um  significado  especial  do artefato:  aquele  que  é  utilizado  para  referenciar  as  trajetórias particulares  do  desenvolvimento  que  ele  percorre.  (DAGNINO; BRANDÃO; NOVAES, 2004:25) 

 Sempre que pensamos nisso, entramos em um efeito “bola‐de‐

neve”  onde  a  sociedade  precisaria  participar mais  ativamente, porém precisaria estar mais bem  informada e querer participar desse encontro ciência, tecnologia e sociedade. 

Mas o que é participar ativamente? Vamos usar agora alguns exemplos  do  trabalho  de  Mikhail  Bakhtin,  em  um  de  seus primeiros  escritos  (1924)  publicado  no  Brasil  em  2010  com  o nome  de  Para  uma  filosofia  do  ato  responsável.  Logo  no  começo dessa edição, Augusto Ponzio, no texto de abertura já demonstra que,  responder  ativamente  em  seu  singular,  sabendo  sim  que vivemos  em  uma  comunidade  (plural), mas  sem  buscar  álibis para  nossas  decisões  (ou  até  mesmo  a  falta  delas)  é  buscar melhor qualidade de vida.  

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Trata‐se também de uma questão que toca diretamente a vida de cada um e que produz um profundo impacto sobre ela, de uma questão em que entra em jogo a qualidade de vida, o reconhecimento da diferença singular de cada um, pelo fato de que a organização social mesma, a modelagem  cultural  mesma  da  vida,  funciona  sobre  a  base  de classificações,  de  fechamentos,  de  atribuições  de  pertencimento, recorre  ao  gênero,  ao  universal  como  condição  da  identificação,  da diferenciação, da individuação. (PONZIO in BAKHTIN, 2010:17) 

 Bakhtin, durante seu texto, luta contra o que ele chama de “a 

crise do século XX” que seria a falta de comprometimento sobre os atos. Algo que parece muito comum aos dias de hoje, onde em todos  os  atos,  procuramos  álibis  para  nos  ausentarmos  da responsabilidade. A mídia é muito boa em construir esses álibis. Pegue qualquer fato catastrófico que tenha ocorrido. Em poucas horas  já  vemos  diversos  profissionais  especulando  que determinado  ato  ocorreu  por  um  problema  social,  genético  ou até mesmo divino. Nunca escutamos alguém ativamente assumir a  culpa  e  dizer,  mesmo  pelos  fatores  sociais,  culturais  e genéticos, eu cometi um erro, eu decidi e decidi equivocadamente.  

Não  é  o  contexto  da  cultura  que  uma  afirmação  emotivo‐volitiva adquire seu tom; tida a cultura na sua totalidade vem integrada a um contexto  unitário  e  singular  da  vida  do  qual  participo.  Vem  sendo integrados,  seja  cultura  no  seu  conjunto,  seja  cada  pensamento singular, cada produto  individual do ato vivo no contexto unitário e singular  do  pensamento  como  evento  real. O  tom  emotivo‐volitivo interrompe o isolamento e a autossuficiência do conteúdo possível do pensamento, incorpora‐o existir‐evento unitário e singular. Cada valor que  apresente validade  geral  se  torna  realmente  válido  somente  em um contexto singular. (BAKHTIN, 2010:90) 

 Bakhtin  ainda  diz  que  sempre  que  nos  abstraímos  da 

responsabilidade,  não  estamos  isentos  da  parcela  da  culpa. Quando me abstraio eu decido que decidam por mim,  logo eu também devo assinar aquela decisão do outro como minha.  

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Somente do  interior de minha participação pode ser compreendida a função de cada participante. No lugar do outro, como se estivesse em meu  próprio  lugar,  encontro‐me  na  mesma  condição  de  falta  de sentido.  Compreender  um  objeto  significa  compreender meu  dever em relação a ele  (a orientação que preciso assumir em relação a ele), compreendê‐lo em relação a mim na singularidade do existir evento: o que  pressupõe  a  minha  participação  responsável,  e  não  minha abstração. (BAKHTIN, 2010:66) 

 É  percebido,  cada  vez mais,  tanto  na  sociedade  quanto  na 

academia  um  comodismo  a  “não  decisão”,  como  se  a  posição escolhida  fosse muito pequena e não  tivesse efeito.  Isso  seria a não  decisão,  e  depois  a  procura  de  álibis  para  dizer,  tal  coisa aconteceu, mas eu não tenho nada a ver com isso. A responsabilidade como agentes sociais dentro e fora da academia e de fiscalizar e exigir  ativamente  do  governo  e  da  academia  novas  políticas  e tecnologias que resolvam grandes e pequenos problemas, globais e únicos daquele pequeno grupo social.  

Apesar  do  otimismo  proclamado  pelo  promissor  modelo  linear,  o mundo  foi  testemunha  de  uma  sucessão  de  desastres  relacionados com  a  ciência  e  com  tecnologia,  especialmente  desde  os  finais  da década  de  1950.  Vestígios  de  resíduos  contaminantes,  acidentes nucleares em reatores civis de  transportes militares, envenenamentos farmacêuticos, derramamentos de petróleo, etc. Tudo isso nos ajuda a confirmar a necessidade de revisar a política científico‐tecnológica di laissez‐faire e do cheque‐em‐branco e, com ela, a concepção mesma da ciência‐tecnologia em relação a sociedade. (BAZZO, 2003:123) 

 Bakhtin  ainda  “apela”  para  a  posição  de  cada  um  no  seu 

singular, e que esse  singular  construa o  comunitário. Que  cada um  coloque um ponto de vista e assine  responsivamente  sobre ele. Cada um  tem seu próprio momento e seu próprio ato, que não pode ser  feito por outra pessoa. Se assim  fosse, seria outro ato e outra relação, não aquela que você  tinha em determinado momento. 

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Quanto mais a singularidade individual se mantém longe da unidade teórica,  tanto mais  se  torna  concreta  e  plena:  a  unicidade do  existir evento que se executa realmente em toda a sua variedade individual, de cujo  limite extremo se aproxima o ato na sua responsabilidade. A inclusão  responsável  na  singularidade  única  reconhecida  do  ser‐evento é o que constitui a verdade[pravda] da  situação. O momento do que é absolutamente novo, que nunca existiu antes e que não pode ser repetido, está aqui em primeiro plano, e constituí uma continuação responsável no  espírito da  totalidade, que  foi uma vez  reconhecida. (BAKHTIN, 2010:95) 

 Engelmeier é citado por Bazzo, como um autor que já pensou 

a  função dos  tecnólogos e engenheiros como atores de atitudes mais responsáveis dentro da sociedade. Desenvolvendo projetos sociais  e  filosóficos  que  realmente  pensasse  o  caminho  que  a tecnologia em relação com a sociedade e os seres humanos, não apenas  sendo úteis, mas  sendo  elaborados de uma  forma mais complexa.  

Segundo Engelmeier, os tecnólogos e os engenheiros pensam que sua meta  é  elaborar  produtos  tecnológicos  úteis.  No  entanto,  esta  é somente  uma  parte  da  tarefa  profissional,  visto  que  tecnólogos  e engenheiros  formam parte dos postos mais altos da dentro do status social, transformando‐se inclusive em homens de poder. Esta extensão das funções e da influência dos engenheiros e técnicos da vida social, conforme  Engelmeier,  não  só  pode  considerar‐se  positiva,  mas também  uma  consciência  do  enorme  crescimento  econômico  da sociedade moderna e é um bom sinal para o  futuro das sociedades... Em suma Engelmeier se propôs como objetivo defender a necessidade de  desenvolver  um  programa  filosófico  que  abordasse  a  tarefa  de definir  o  conceito  de  tecnologia,  os  princípios  da  tecnologia contemporânea, no qual se analisasse a tecnologia como um fenômeno biológico  e  antropológico.  Esse  programa  filosófico  estava  também preocupado em analisar o papel da tecnologia na história da cultura, as  relações  entre  a  tecnologia  e  a  cultura,  a  tecnologia  e  a  ética,  e  a tecnologia frente a outros fatores sociais. (BAZZO, 2003:51‐52) 

 

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Outros  autores  como  Lenk,  Moser,  Rapp  e  Ropohl  já pensaram em aproximar a sociedade e a política do trabalho dos engenheiros.  Criando  a  filosofia  da  tecnologia.  Inclusive,  sem talvez  ter  uma  relação  com  Bakhtin,  eles  já  tendiam  a  um pensamento ativo/responsivo de  todos os atores   da  sociedade, rompendo as barreiras da academia e  trazendo avanços para o bem estar em todos os níveis da sociedade.  

Graças  ao debate  estimulado pela VDI, Lenk, Moser, Rapp, Ropohl, dentre outros, desenvolveram um novo enfoque dentro da filosofia da tecnologia. Para  estes  autores,  a  tarefa da  filosofia da  tecnologia  era desenvolver uma analise sistemática das atividades  tecnológicas, que tornasse possível a aproximação dos políticos e do público ao trabalho dos  engenheiros  através  da  explicação  desses  tipos  de  atividade. A filosofia da Tecnologia devia propor  também medidas  éticas para  a evolução  da  própria  tecnologia.  Finalmente,  como  assinala  I. Hronzsky,  a  filosofia  da  tecnologia  devia  conduzir  a  uma alfabetização  tecnológica  do  público,  e  a  um  impulso  da  dimensão ética  da  tecnologia  para  promover  certa  consciência  ética  acerca  do desenvolvimento  tecnológico  (Hronzsky,  1998,  p101).  Em  sua  obra Para uma  filosofia da  tecnologia  interdisciplinar e pragmática: a Tecnologia como centro de uma reflexão interdisciplinar e uma investigação sistemática, Hans Lenk e Gunter Ropohl (1979) sustentavam que os problemas do mundo tecnológico dado seu caráter multidimensional, só podem ser abordados com alma possibilidade de êxito partindo do pressuposto de uma participação ativa dos generalistas das ciências  sociais e dos universalistas da  filosofia;  e  resolvidos de  forma adequada,  contando com a contribuição dos especialistas em engenharia. Para esses autores se faz necessária uma cooperação efetiva entre engenheiros e filósofos que  se  estenda  pelos  obsoletos  departamentos  e  rompa  com  as fronteiras acadêmicas. (BAZZO, 2003:62) 

 Retomando o problema citado acima, sobre como a sociedade 

pode e deve atuar, e o fator da falta de informação criar opiniões errôneas  sobre  os  caminhos  que  devemos  tomar,  podemos pensar  que  uma  das  funções  do  estudo  em  CTS  seria  como educadora  em  todos  os  níveis  de  ensino  (escolar,  técnico  e 

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acadêmico)  para  criar  um  olhar  Ativo/responsivo  de  CTS  em todas  as  pessoas,  organizações  e  empresas.  Levantando  assim nossa  responsabilidade  como  pessoas,  independente  do  nível que estamos, de buscar um mundo melhor.  

Somente  sendo  eu mesmo, único,  em  todo o  existir;  todos os outros eus  (teóricos) não  são eu para mim; por  sua vez, este meu único eu (não  teórico)  participa  do  existir  singularidade:  eu  sou  nele. (BAKHTIN, 2010:98)  O ato  responsável é precisamente, o ato baseado no  reconhecimento desta obrigatória singularidade. É essa afirmação do meu não‐álibi no existir que constitui a base da existência sendo tanto dada como sendo também  real  e  forçosamente  projetada  como  algo  ainda  por  ser alcançado. (BAKHTIN, 2010:99) 

 O conhecimento e o avanço da tecnologia também são citados 

como  um  fator  libertador  da  sociedade,  expandindo  nossos horizontes.  Sendo  extremamente  necessários  para  a  construção de  um mundo  como  o  almejado  por HOLDREN,  (2009),  onde todos teriam o mesmo nível de conforto e bem estar em todos os cantos do mundo, consumindo os recursos do planeta de forma consciente.  

Mitcham descreve a  sociedade que  caracteriza  como acometida pelo que  chama  <<desassossego  romântico>>, manifestando  uma  atitude ambígua para com a  tecnologia. Nela a vontade de  tecnologia é uma forma da criatividade, que por manifestar‐se como tecnologia, tende a ocupar‐se  menos  de  outros  aspectos.  Esta  ambigüidade  de  repete desde  o  ponto  de  vista  da  ação  pessoal,  posto  que  esta  sociedade acredita  que  a  tecnologia  engendra  liberdade, mas  separa  da  força necessária  para  exercitá‐la;  pensa‐se  que  socialmente  enfraquece  os laços  de  afeto  pessoais.  Com  respeito  ao  conhecimento,  são  mais importantes  a  imaginação  e  a  visão  que  o  conhecimento  técnico. Finalmente, julga‐se que os artefatos expandem os processos da vida e revelam o sublime. (BAZZO, 2003:100‐101) 

 

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Porém  vale  ressaltar  que,  quando  pensamos  em  novas tecnologias, também estamos criando o desemprego tecnológico, no  qual pessoas  que  trabalhavam  fazendo determinada  função (muitas  vezes  desumanas)  são  substituídas  por máquinas  que apresentam um custo mais baixo e uma economia a longo prazo.  

Neles não tendia a ocorrer o mecanismo virtuoso observado nos países centrais,  onde  a  introdução  de  tecnologias  de maior  produtividade criava,  dada  a  então  relativamente  baixa  taxa  de  substituição tecnológica,  oportunidades  de  emprego,  de  remuneração freqüentemente  superior,  em  novos  ramos  industriais. Não  seria  no “setor moderno” que o combate ao desemprego poderia ser  travado. O  “vazamento”  das  atividades  mais  intensivas  em  tecnologia,  de maior valor adicionado e remuneração para o exterior – característica da  situação  de  dependência  –,  e  a  escassa  probabilidade  de  que  os “desempregados tecnológicos” de inadequada qualificação pudessem ser retreinados e reincorporados à produção eram visualizados como um sério obstáculo. O desemprego demandava um tratamento global que  ia,  na  realidade,  no  sentido  contrário  ao  que  propunha  o “neoiudismo”  imputado  por  seus  críticos  ao  movimento  da  TA. Tratava‐se de proporcionar tecnologias aos que não tinham acesso aos fluxos usuais pelos quais elas se difundem. (DAGNINO; BRANDÃO; NOVAES, 2004:10) 

 Sendo  assim,  uma  discussão  que  também  deve  permear  o 

trabalho  dos  profissionais  em  CTS,  a  responsabilidade  de realocar  essas  pessoas  no  mercado  de  trabalho,  em  novas funções, com melhor remuneração e qualidade de vida.  Considerações finais  Nesse  artigo,  existe  uma  abertura  para  discussão  de  vários 

pontos. O primeiro que gostaríamos de ressaltar é como o estudo em  CTS  é  pensado  por  um  lado  mais  objetivista,  como  o determinismo  tecnológico  e  outro,  no  construtivismo  social tecnológico, um lado mais psicossocial.  

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No determinismo  tecnológico  é  como  se pensássemos que  a responsabilidade das mudanças sociais é causada pela tecnologia (objetivismo),  como  se  não  tivéssemos  responsabilidade nenhuma  sobre  essas  mudanças  sociais.  É  quase  como  se  a tecnologia, depois de  criada pelo homem  se  impusesse no  tipo de  vida  que  levamos,  como  se  ela  tivesse  uma  consciência própria, uma força e uma vontade maior do que realmente tem.  

Já no que  tange  ao  construtivismo  social  tecnológico,  são  as formas que  a  sociedade utiliza as  tecnologias que  encaminham para as mudanças da  tecnologia, como no exemplo da bicicleta (DAGNINO; BRANDÃO; NOVAES, 2004:25) e  suas mudanças. De  fato  ainda  é  preciso  avançar  mais  nas  leituras  em  vários autores, para poder conceituar de forma clara esse pensamento, assim pretendemos apenas demarcar essa hipótese que será mais aprofundada em outros estudos.  

Outros  dois  pensamentos  que  merecem  destaque  são  o pluralismo  e  a  teoria da participação direta,  essas duas  frentes tentando  juntar  a  sociedade  nas  escolhas  políticas  científicas, cada uma a sua visão.  

Existem duas  grandes  teorias da democracia  com  relação  ao  tema da participação  pública  na  gestão  da  política  científico‐tecnológica:  o pluralismo e a teoria da participação direta, que são fundamentais para definir  quem  participará.  O  pluralismo  é  uma  teoria  da  democracia baseada  nas  ações  dos  grupos  de  interesse  organizados voluntariamente.  Os  cidadãos  assumem  unir‐se  para  apoiar  estes grupos  a  fim  de  fomentar  seus  interesses,  de modo  que  o  governo democrático é visto  como  funcionamento  livre e bem  sucedido destes grupos através da  interação de uns com os outros e com o governo. A participação  direta,  em  troca,  fundamenta‐se  na  noção  de  que governabilidade  democrática  implica  a  intervenção  dos  indivíduos como tais no estabelecimento das diversas políticas. (BAZZO, 2003:136) 

 A ideia de juntar essas duas visões existe, pois, elas têm muito 

em  comum,  as  duas  fazem  com  que  os  cidadãos  assumam  de 

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forma  responsável  o  ato  dessa  participação,  ou  como  diria Bakhtin (2010) não apenas ajudar a formular os caminhos que a ciência deve tomar, mas assinar que aquela decisão faz parte dos pensamentos de todos.  

A  comparação  das  diferenças  e  das  semelhanças    nos  proporciona uma visão maior e mais ampliado que significa defender que alguma forma  de  participação  é  democrática.  Ambas  teorias  compartilham uma  série  de  pressupostos  comuns.  Por  exemplo,  exigem  que  os cidadãos  intervenham na  formação das políticas de maneira que vão mais além do mero ato de depositar um voto em uma urna e deixar o resto para elite de políticos e o estado administrativo, para que se dê um  adequado  funcionamento  a  democracia. Ainda  que  a  forma  da participação  difira,  ambas  teorias  rechaçam  aquela  definição  da democracia  segundo  a  qual  esta  não  é  nada mais  que  um  processo para eleger um governo no qual as elites competem para   consegui o apoio das massas. As duas  teorias   requerem que a participação seja significativa em dois  sentidos: que capacite melhor os cidadãos para compreender  seus  interesses  e  como  estes podem  afetar  as decisões que tenham impacto sobre seus interesses, por um lado, e que prepare os cidadãos para que tenham alguma classe de influência substantiva sobre o resultado da política atual, por outro. (BAZZO, 2003:136) 

 Assim  criando  cidadãos  ativos  responsivamente  que 

interagem de  forma construtiva para elaboração e pensamentos sobre  os  caminhos  que  a  ciência  deve  tomar,  mesmo  que  a participação  de  todos  da  sociedade  seja  uma  ideia  um  tanto quanto  utópica,  uma  solução  poderia  ser  como  citado  por Dagnino;  Brandão  e  Novaes,  2004  sobre  o  trabalho  de  dois autores,  Callon  e  Latour,  a  criação  de  um  o  ator‐rede,  que representa o papel da ciência, da tecnologia e da sociedade como um todo nos caminhos que devem tomar.  

A abordagem do ator‐rede, extrapolando o conceito convencional de ator,  cunha  tal  expressão  para  abarcar  um  conjunto  heterogêneo de elementos  –  animados  e  inanimados,  naturais  ou  sociais  –  que  se relacionam  de  modo  diverso,  durante  um  período  de  tempo 

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suficientemente  longo,  e  que  são  responsáveis  pela  transformação  – incorporação de novos elementos, exclusão ou redefinição de outros, reorientação  das  relações  –  ou  consolidação  da  rede  por  eles conformada  (CALLON,  1987).  Esse  conjunto  de  elementos  estaria, então,  formado  não  apenas  pelos  inventores,  pesquisadores  e engenheiros, mas  também pelos gerentes,  trabalhadores, agências de governo,  consumidores,  usuários  envolvidos  com  a  tecnologia  e, mesmo,  os  objetos  materiais  (LATOUR,  1992).  (DAGNINO; BRANDÃO; NOVAES, 2004:23) 

 Talvez,  podemos  também  usar  o  nosso  modo  econômico, 

capitalista, a nosso favor, vivemos agora a moda do sustentável, em  que  todas  as  empresas  buscam  ser mais  responsivas. Que todas as modas e todos os meios da publicidade fossem assim – porém  tomando  os  devidos  cuidados  para  saber  se  esses discursos são verdadeiros ou não.  

A discussão pública, o intercâmbio dialógico e a confrontação de dados,  informações, argumentos e prospectivas que cada equipe de estudantes  poderia  reparar  na  situação  escolhida  serviriam  para encenar uma possível avaliação construtiva de um desenvolvimento tecnológico. (BAZZO, 2003:71) 

 Que  a moda  para  ciência  agora  fosse  pesquisar  e  financiar 

pesquisas  que  não  foquem  apenas  em  grandes  coisas  (como  o genoma  e  as  células  troncos),  mas  também  as  pequenas mudanças sociais, como uma tecnologia ou técnica que melhora a vida e o conforto de uma pequena aldeia na áfrica, etc.. e que a ciência sempre pensasse no custo–benefício, mas colocando nos custos  os  elementos  dos  riscos  para  a  natureza  e  para  a sociedade. 

Fechamos esse artigo com o pensamento muito trabalhado no campo  CTS  e  que  também  terá  nossa  atenção  nos  próximos estudos: o caminho adequado para conseguirmos construir uma sociedade  que  saiba  se  relacionar  bem  com  os  avanços tecnológicos  com  as  necessidades Macro  e Micro  sociais  será 

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através  da  educação  em  CTS,  em  todos  os  níveis  de  estudo (infantil, escolar, técnico, graduação e pós‐graduação) formando não apenas para o conteúdo, mas que eles saibam como construir o conhecimento  juntos, de  forma responsável e ativa, não como meros espectadores, mas como pessoas atuantes para o caminho do bem estar social.   

As  unidades  curriculares  CTS  –  ora  integradas  em  programas  já estabelecidos em ciência, tecnologia e engenharia, ciências sociais, ora em  cursos  de  artes  e  línguas,  ora  estruturadas  como  curso independentes ‐ contemplam, geralmente, cinco fases: 1) formação de atitudes  de  responsabilidade  pessoal  em  relação  com  o  ambiente natural  e  com  a  qualidade  de  vida;  2)  tomada  de  consciência  em pesquisas  de  temas  CTS  específicos,  enfocados  tanto  no  conteúdo científico‐tecnológico  como  nos  efeitos  das  distintas  opções tecnológicas  sobre o bem‐estar dos  indivíduos  e do bem  comum;  3) tomada  de  decisões  com  relações  a  estas  opções,  levando  em consideração  fatores  científicos,  técnicos,  éticos,  econômicos  e políticos;  4)  ação  individual  e  social  responsável,  orientada  a  levar para a prática o processo de estudos e tomadas de decisão, geralmente em colaboração com grupos comunitários  (por exemplo, “oficinas de ciência” grupos ecologistas, etc.); 5) generalização a consideração mais amplas  de  teorias  e  princípio,  incluindo  a  natureza  “sistêmica”  da tecnologia e seus  impactos ambientais, a  formulação de políticas nas democracias tecnológicas modernas, e os princípios éticos que possam guiar o estilo de vida e as decisões políticas dobre o desenvolvimento tecnológico. Por outro lado, podemos chamar essas fases progressivas de “ciclo de responsabilidade” (WAKS, 1990, in BAZZO, 2003:145) 

   

Referências  BAKHTIN, M. Para  uma  filosofia  do  ato  responsável.  São Carlos:  Pedro &  João editores, 2010. 

BAZZO,  W.  et  AL  [Eds.]  Introdução  aos  estudos  CTS  (ciência,  tecnologia  e sociedade), Madrid: OEI, 2003 

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DAGNINO,  R.;  BRANDÃO,  F.C.  e  NOVAES,  H.T.  Sobre  o  marco  analítico conceitual da tecnologia social. In: LASSANCE Jr, A. et al. Tecnologia Social – uma estratégia para o desenvolvimento. Rio de  Janeiro, Fundação Banco do Brasil, 2004, p.15 a 64. 

HOLDREN  J. P. Science  and Technology  for Sustainable Well‐Being  in SCIENCE VOL  319    25  JANUARY  2008  ‐     Downloaded  from www.sciencemag.org on March 4, 2009 

   

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Direito Autoral e tecnologia: apontamentos de novos caminhos para a circulação e acesso ao conhecimento 

 Alyssa Cecilia Baracat 

Camila Carneiro Dias Rigolin   Introdução  

Direito  Autoral  é  um  tema  central  em  debates  acerca  da produção, difusão e apropriação do conhecimento e da cultura, sendo  a  forma  jurídica  um  instrumento  de  proteção  para criadores  de  obras  artísticas  e  literárias. Desde  o  princípio  do desenvolvimento das regras e normas que regulam a proteção da propriedade  artística  e  literária,  existiam  dois  discursos  que “constituíram uma tensão entre o ponto de vista das idéias como propriedade  e  a  noção  de  cultura  e  conhecimento  como naturalmente comunitários” (GANDELMAN, 2004, p. 72). 

Embora o argumento da exclusividade da propriedade tenha sido  adotado  e  estabelecido  como  a  base  para  o  direito  da propriedade  intelectual,  o  debate  relativo  à  forma  ideal  de proteção e acesso dos bens imateriais ainda se encontra longe de estabilização e é mais intensificado pelas novas possibilidades de circulação  trazidas  pelas  tecnologias  da  informação  e comunicação (TICs).  

Entende‐se  que  a  circulação  de  tais  bens  é  facilitada  pelas TICs (entre elas a internet e as mídias digitais) e que a produção artística  e  literária não  está  limitada  às  fronteiras de um único Estado.  Isto  leva  a  discussões  multilaterais  em  organizações internacionais  como  a  Organização  Mundial  da  Propriedade Intelectual  (OMPI),  a  UNESCO  e  a  Organização  Mundial  do Comércio (OMC).    

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Portanto,  no  plano  internacional  as  normas  referentes  ao sistema de  regulação do Direito Autoral  refletem o discurso de valorização da propriedade  artística  e  literária, uma  vez  que  o bem mais  valorizado  na dinâmica  econômica  da  Sociedade do Conhecimento  é  o  bem  imaterial  produzido  pelo  esforço intelectual. Por “Sociedade do Conhecimento” entende‐se a troca de  informação  potencializada  pelas  TICs  que  conferem  novas possibilidades de produção, circulação e acesso ao conhecimento em nível global. Segundo CASTELLS (2005, p.69) existe:  

 [...] uma  ralação muito próxima  entre os processos  sociais de criação e manipulação de símbolos (a cultura da sociedade) e a capacidade de produzir e distribuir bens e  serviços  (as  forças produtivas). Pela primeira vez na história, a mente humana é a força direta de produção, não apenas um elemento decisivo no sistema produtivo. 

 Isto posto, este trabalho tem a finalidade de, primeiramente, 

apresentar o histórico de construção do sistema de proteção dos direitos  autorais  abordando  os  aspectos  de  valorização  da proteção  de  conhecimento  que  culminou  no  monopólio  de emprego da propriedade  intelectual para  fins de competição na economia global dita liberal.  

Posteriormente,  é  realizada  uma  análise  que  relaciona  as normas  que  regulam  os  sistemas  nacionais  de  proteção  do Direito  Autoral  com  as  novas  tecnologias  de  informação  e comunicação,  na  tentativa  de  providenciar  respostas  para  as seguintes  questões:  Será  que  estas  normas  ainda  atendem,  de forma  satisfatória, às demandas das práticas  sociais? Quais  são as  mudanças  provocadas  pelas  TICs  que  incorrem  na inadequação  de  tais  normas  e  princípios  à  Sociedade  do Conhecimento?  Por  fim,  quais  são  as  conseqüências  destas mudanças no processo de produção e difusão do conhecimento? 

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Para  responder  estas  questões,  será  considerado  o  contexto internacional  de  proteção  da  propriedade  artística  e  literária, além  de  documentos  normativos  que  são  a  base  para  as legislações nacionais  sobre  a matéria. São  estes documentos:  a) Convenção de Berna para a Propriedade Artística e Literária, de 1886,  documento  que  sofreu  várias  alterações  e  revisões  no decorrer dos anos, a última em 1979, e é administrado pela OMPI e;  b)  o  Tratado  TRIPs  (Acordo  Relativo  aos  Aspectos  da Propriedade  Intelectual  Relacionados  com  o  Comércio)  criado em 1994 e administrado pela OMC.   

 Breve histórico do desenvolvimento do  sistema  internacional de proteção do Direito Autoral 

 O  sistema  internacional  de  proteção  da  propriedade 

intelectual  consolida‐se  a  partir  do  final  do  século  XIX  e  é formado com base em princípios e normas  já estabelecidos nos sistemas domésticos que foram amplamente aceitos por todos os Estados  que  participaram  da  realização  dos  tratados  e convenções internacionais neste tema (GANDELMAN, 2004).  

Estes  princípios  e  regras  foram  permeados  pelos  valores atribuídos  à  teoria  da  propriedade  privada,  com  o  a fundamentação no Direito Natural  e no pensamento  liberal do século XVIII. O direito à propriedade era considerado natural do homem  a  partir  dos  esforços  de  seu  trabalho  e  os  esforços intelectuais  também eram considerados os mais  legítimos: “não há propriedade mais particular, mais  legítima do homem que a produzida pelo trabalho de seu cérebro” 1.     

Antes  da  criação  do  direito  autoral  existia  um  regime  de concessões  no  qual  as  autoridades  públicas  concediam privilégios de impressão aos editores. Foi a noção emergente de                                                             1 Preâmbulo do Copyright Law do Estado de Massachussets de 17 de março de 1783 

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justiça natural, nos séculos XVIII e XIX, que  inspirou a  idéia de que eram os criadores merecedores da proteção e, desta  forma, os  privilégios  de  impressão  foram  substituídos  pelo  direito exclusivo  atribuído  ao  criador  do  trabalho  intelectual (HUGENHOLTZ, 2000). O autor, portanto, é o último elemento a ser socialmente reconhecido no sistema de produção de cultura e conhecimento, como coloca Martins (1957, p. 442‐443): 

 Socialmente  o  autor  é  o  último  elemento  que  aparece  na história do  livro. Quando  isso ocorre  já as grandes bibliotecas tinham  inscrito  sua  existência  no  enorme  tombo  da humanidade;  os  manuscritos  se  haviam  transformado  em impressos; os tipógrafos célebres tinham conduzido a sua arte a um ponto extraordinário de perfeição. É estranho que apenas um  personagem  esteja  faltando  nessa  verdadeira  “commedia dell’arte”  –  o  personagem  sem  o  qual  ela  não  poderia  ter existido.  Com  efeito,  pode‐se  dizer  que  até  o  século  XVIII  a sociedade  não  reconhece  o  autor  como  uma  identidade definida: individualmente considerado e celebrizado, conforme o grau de seu sucesso, o autor não tem existência social, não é uma das rodinhas da engrenagem. 

 Dessa forma, foram reproduzidas no cenário internacional as 

normas de proteção da propriedade artística e literária centradas na pessoa do autor uma vez que os particulares se deram conta da  “repercussão  internacional  dos  seus  direitos  e  da continuidade  da  sua  personalidade  jurídica,  e  começaram  a apresentar  propostas  com  conferência  internacional  sobre  a matéria”  (BASSO,  2000,  p.87).  Depois  de  alguns  anos  de negociação a Convenção da União de Berna foi estabelecida, em 1886,  como  uma  convenção‐modelo  que  substituiria  pouco  a pouco os tratados existentes (BASSO,op. cit.), além de estabelecer os  padrões  mínimos  para  a  proteção  doméstica  das  obras 

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artísticas e  literárias, com o objetivo de harmonizar os sistemas legislativos de todos os Estados contratantes.    

Após  a  Segunda  Guerra  Mundial  a  ordem  internacional sofreu  intensas  transformações  e  o  sistema  tradicional  de proteção da propriedade  intelectual cedeu  lugar para o sistema regulado a partir de organizações internacionais.  

Em  1967,  através da Convenção de Estocolmo,  foi  criada  a OMPI  com  a  finalidade  de  responder  às  novas  necessidades geradas a partir do pós‐guerra, tais como o surgimento de novos Estados nacionais a partir dos processos de  independência dos países da África  e da Ásia,  o  crescimento da  interdependência econômica  entre  os  Estados  e  a  intensificação  do  processo  de globalização.  

No entanto, a OMPI não dispunha de mecanismos de sanção aos  infratores das regras de proteção e nem um sistema efetivo de  aplicação  das  normas  estabelecidas  pelos  acordos  de propriedade  intelectual.  A  partir  deste  momento,  passou  ao centro da discussão a necessidade de  criar um novo  regime de proteção para os bens imateriais. 

 A era da proteção comercial da propriedade intelectual 

 O  reconhecimento  da  vinculação  entre  proteção  da 

propriedade  intelectual  –  que  abarca  tanto  a  propriedade industrial  quanto  a  propriedade  artística  e  literária  protegida pelo  Direito  Autoral  –  e  aumento  do  comércio  mundial consolidou‐se  a  partir  das  décadas  de  70  e  80,  quando  “ficam evidentes  os  benefícios  da  proteção  à  propriedade  intelectual como  fator  fundamental  de  desenvolvimento  tecnológico  e aumento dos  investimentos diretos do  exterior”  (BASSO,  2000, p.160). 

No  início  da  década  de  90,  foi  criada  a  OMC,  agência internacional do  sistema ONU  que  substituiria  o  antigo GATT 

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(Acordo Geral de Tarifas  e Comércio)  estabelecido  em  1947. A OMC  passaria  a  administrar  o  TRIPS  (1994)  que  realocou  o sistema de proteção da propriedade  internacional no âmbito do comércio. Nesta  época  estima‐se  que  77%  das  exportações dos Estados  Unidos  continham  produtos  protegidos  pela propriedade  intelectual  em  contraposição  a  10%  estimados  no final da década de 40 (COTTIER, 2007), sendo este país o maior interessado na proteção comercial dos bens imateriais.  

Este  rápido  crescimento  na  importância  da  propriedade intelectual para o comércio internacional é refletido na mudança de regime, com forte influência norte‐americana, que passava da OMPI  para  o  âmbito  da  OMC,  organização  que  detinha mecanismos  de  sanção  caso  houvesse  o  descumprimento  de normas  dos  acordos  por  parte  dos  Estados‐membros.  A propriedade  intelectual,  portanto,  tornou‐se  uma  espécie  de monopólio, mesmo em meio à economia liberal.   

As discussões acerca do desequilíbrio entre proteção e acesso aos  bens  imateriais  não  foram  sanadas  durante  a mudança  de regime.  Também  ficaram  mais  evidentes  neste  processo  os conflitos de interesses entre os países industrializados e os países em  desenvolvimento  devido  às  assimetrias  socioeconômicas. Restringindo a proteção da propriedade intelectual em termos de competição  no  comércio  internacional,  o  debate  sobre  o desenvolvimento  econômico  e  social  possibilitado  pelos  bens imateriais não era tão evidente no âmbito da OMC.   

Enquanto  isso,  as  práticas  sociais  tratavam  de  estabelecer outras normas mediadas pelas novas tecnologias que se tornvam cada vez mais acessíveis.  

O quadro descrito  culminou numa  contradição  amplificada das  questões  de  Direito  Autoral  que  ultrapassava  demandas meramente jurídicas:  

 

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[...] para além das relações  jurídicas entre os autores, editores, produtores,  sociedade  e  Estado,  existem  inúmeras  relações sociais que  transcendem, em muito, o  ʹpuroʹ discurso  jurídico estatal e no plano  internacional essas  relações  tornam‐se mais complexas  e  geram  outras  normatividades  envolvendo  esses mesmos personagens (STAUT, 2006, p. 28‐29) 

 A necessidade de acomodar e articular os atores e as normas 

aplicadas nos diferentes níveis levou a uma necessidade de rever os princípios do Direito Autoral.  

 Revendo  as  normas  de  proteção  a  partir  das  TICs:  um  novo caminho para a produção e circulação do conhecimento 

 Para compreender a influência exercida pelas TICs na revisão 

das  normas  de  proteção  da  propriedade  artística  e  literária  é necessário  considerar  alguns  princípios  e  valores  que fundamentam o atual  regime de proteção de Direito Autoral: o princípio da propriedade e o objetivo comercial da proteção.      

O  conceito  jurídico  de  propriedade  já  sofreu  alterações ocasionadas  por  inovações  tecnológicas.  Esta  relação  entre desenvolvimento tecnológico e propriedade é importante foco de vários  autores  do  Direito  da  Propriedade  Intelectual.  LESSIG (2001)  descreve  que  o  conceito  de  propriedade  nos  Estados Unidos até a década de 40 abrangia não apenas a superfície da terra, mas  tudo  abaixo  dela  até  o  infinito  do  céu. No  entanto, com a  invenção do avião, o espaço aéreo passou a ser utilizado sem  a  “permissão”  dos  proprietários  de  terras. Diante  de  um processo,  a  Suprema Corte Norte‐Americana declarou públicas as vias aéreas e, dessa forma, alterou o conceito de propriedade. E no ambiente digital esta questão ganha nova perspectiva: 

 Throughout the time Iʹve been groping around cyberspace, an immense,  unsolved  conundrum  has  remained  at  the  root  of 

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nearly every legal, ethical, governmental, and social vexation to be  found  in  the  Virtual  World.  I  refer  to  the  problem  of digitized property. The enigma  is  this:  If our property can be infinitely  reproduced and  instantaneously distributed all over the  planet without  cost, without  our  knowledge, without  its even  leaving  our  possession,  how  can  we  protect  it? (BARLOW, 1993)2 

 Em  relação  ao  objetivo  comercial  de  proteção  dos  bens 

imateriais, verifica‐se que existem outras funções essenciais para eles: 

 Depois  da  revolução  industrial  –  que  patrimonializou  as relações  jurídicas até pelo menos a primeira metade do século XX  –  vivemos  hoje  uma  revolução  tecnológica  que  tem  de conviver  com determinados  fatos  e  acomodá‐los numa difícil equação:  ao  mesmo  tempo  em  que  a  riqueza  se desmaterializou, ou seja, os bens não materiais, intangíveis, são mais  valiosos  do  que  os  bens  físicos,  o  direito  exige  a funcionalização  dos  institutos,  o  que  significa  que  a propriedade  de  tais  bens  não  pode  ser  exercida arbitrariamente, devendo atender sua função social. (BRANCO, 2007) 

 Isto significa que a propriedade intelectual deve cumprir sua 

função  social,  uma  vez  que  o  acesso  ao  conhecimento  é fundamental  para  o  desenvolvimento  de  um  indivíduo.  Esta função está prevista no direito e precisa ser colocada em prática. 

                                                            2 Ao longo do tempo em que eu fui tateando o ciberespaço, um grande dilema, sem  solução  se manteve na  raiz de quase  todos os abusos  jurídicos, éticos, governamentais  e  sociais  encontrados  no  mundo  virtual.  Refiro‐me  ao problema dos bens digitalizados. O  enigma  é  este: Se a nossa propriedade pode ser infinitamente reproduzida e instantaneamente distribuída em todo o planeta, sem custo, sem nosso conhecimento, sem que mesmo deixando a nossa posse, como podemos protegê‐lo? (tradução livre) 

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As  TICs,  e  mais  especificamente  a  internet,  representam instrumentos facilitadores que atendem esta necessidade. 

A  OMPI,  ao  realizar  as  revisões  da  Convenção  de  Berna, incluía as tecnologias como objeto de proteção. Ou seja, quando uma nova tecnologia era criada como, por exemplo, a fotografia, esta  seria  incluída  no  escopo  de  conteúdo  protegido  pelos direitos  autorais. O mesmo  aconteceu  com  o  cinema  e  com  os softwares, estes últimos de grande  importância para os Estados Unidos a partir da década de 80.  

No  entanto,  os  próprios  objetos  protegidos  pelos  direitos autorais,  como  os  banco  de  dados  e  os  softwares,  estão imprimindo  um  novo  significado  nos  processos  sociais  de produção,  circulação  e  proteção  dos  bens  imateriais.  Os processos  coletivos  de  construção  de  conhecimento,  como  as bases de dados  abertas, os  softwares  livres  e  o  creative  commons, são  exemplos  que  desafiam  a  noção  de monopólio  atribuída  à propriedade  intelectual  e  que  permitem  a  sociedade  formar normas alternativas às vigentes no atual regime de proteção da propriedade intelectual.     

Para  os  campos  de  produção  de  conhecimento  científico  e artístico,  a  prática  que  Bourdieu  denomina  “interesse  pelo desinteresse”  adapta‐se  às  novas  possibilidades  de  circulação dos bens imateriais. Ao contrário do que se observa na economia capitalista,  os  campos  de  produção  científicos  e  artísticos representam  uma  economia  antieconômica  onde  impera  o interesse  no  desinteresse  como  forma  de  competir  na concorrência regulada (BOURDIEU, 2004).   

Estes campos encontram certa autonomia através das novas possibilidades  de  divulgação  do  conhecimento  e  da  produção científica  facilitadas,  principalmente,  através  da  internet. Desta forma, a prática da economia antieconômica intensifica‐se nestes espaços, onde a circulação dos bens simbólicos é o lucro desejado por  seus  produtores.  Por  essa  razão  “certamente  a  internet 

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rapidamente se tornou o meio dominante de comunicação entre os cientistas” (HUGENHOLTZ, 2000).   Considerações finais 

 Os últimos 50 anos testemunharam mudanças dramáticas no 

desenvolvimento do direito internacional em vários aspectos tais como  nos direitos  humanos  e  na  cooperação  internacional. No entanto,  o  maior  destaque  é  atribuído  a  uma  variável  das relações  internacionais  considerada  a mais  influente:  ciência  e tecnologia (COTTIER, 2007).   

As  relações  entre o  conhecimento produzido  e o poder  são percebidas  de  forma  clara  quando  se  observa  as  normas  de regulação da propriedade artística e literária que tendem para a proteção em forma de monopólio.   

As  TICs  auxiliam  na  desconstrução  de  alguns  valores subjacentes  aos  princípios  de  proteção  dos  bens  imateriais,  no entanto, não serão as tecnologias que determinarão o processo de reconstrução destes valores. Cabe às relações sociais o papel da reconstrução destes princípios e normas.  

O conhecimento em forma de propriedade e destinado para a competição  na  economia  global  perde  força  quando  existem alternativas  que  permitem  a  produção,  circulação  e  acesso  aos bens  intelectuais  para  fins  de  socialização.  Existem  outros caminhos para a proteção da propriedade artística e literária, que estão  sendo  desenhados,  os  quais  não  deixarão  de  proteger efetivamente seus autores.  

Estas  novas  alternativas  que  visam  o  desenvolvimento socioeconômico  estão  sendo  discutidas  nos  fóruns internacionais,  como  é  o  caso  da  Agenda  para  o Desenvolvimento  criada  em  2004,  na OMPI,  por  iniciativas  do Brasil e da Argentina, uma vez que as tentativas de discuti‐las no 

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âmbito  da  OMC  encontraram  barreiras  em  decorrência  das assimetrias entre países industrializados e em desenvolvimento.  

As  questões  de  pesquisa  que  norteiam  o  campo  de investigação da regulação internacional sobre os direitos autorais seguem  a  tendência  de  relacionar  Direito  Autoral,  acesso  ao conhecimento  e  desenvolvimento  socioeconômico  local, tendência esta vinculada às discussões sobre as políticas públicas de acesso às TICs.    

Os  diversos  cenários  e  perspectivas  sociais,  culturais, políticas  e  econômicas,  sobrepõe‐se,  apontando  para  a necessidade de enfoques  interdisciplinares para as questões que permeiam  as  discussões  acerca  do Direito Autoral. O  enfoque apresentado  nos  estudos  em  Ciência,  Tecnologia  e  Sociedade permite  esta  articulação  e  colabora  para  a  formulação  de respostas  às  questões  de  proteção  e  acesso  ao  conhecimento, principalmente aquele produzido no campo científico.            Referências  BRANCO,  Sergio. A  lei  autoral  brasileira  como  elemento  de  restrição  à  eficácia  do direito humano à educação. Sur, Rev.  int. direitos human.,  São Paulo,  v. 4,  n. 6,   2007  .     Disponível:  <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid= S1806‐64452007000100007&lng=en&nrm=iso>.  Acesso:  30   Jun.   2011.   doi: 10.1590/S1806‐64452007000100007 

BARLOW, John Perry. The economy of ideas: A framework for rethinking patents and  copyrights  in  the Digital Age  ‐  everything  you  know  about  intellectual property  is  wrong.  Disponível  em:  <http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/ index.php/buscalegis/article/viewFile/3384/295>. Acesso: 5 maio 2009 

BASSO, Maristela. O direito internacional da propriedade intelectual. Porto Alegre: Ed. Advogado, 2000. 

BOURDIEU,  Pierre. Os  usos  sociais  da  ciência:  para  uma  sociologia  clínica  do campo científico. São Paulo: UNESP, 2004. 

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CASTELLS, Manuel. A era da  informação: economia, sociedade e cultura; vol. 1: A Sociedade em rede. 8ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2005. 

COTTIER, Thomas.  Impacto das novas  tecnologias na regulamentação e governança do  comércio  multilateral.  In:  POLIDO,  Fabrício;  RODRIGUES  JÚNIOR,  Edson Beas (Org.). Propriedade Intelectual: novos paradigmas internacionais, conflitos e desafios.  Rio de Janeiro: Campus Jurídico, 2007. 

GANDELMAN, Marisa. Poder e conhecimento na economia global. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004. 

HUGENHOLTZ, P. Bernt. O grande roubo de direitos autorais: a alocação de direitos no  ambiente  digital.  In:  POLIDO,  Fabrício; RODRIGUES  JÚNIOR,  Edson Beas (Org.).  Propriedade  Intelectual:  novos  paradigmas  internacionais,  conflitos  e desafios.  Rio de Janeiro: Campus Jurídico, 2007. 

LESSIG, Lawrence. The  future  of  ideas:  the  fate  of  the Commons  in  a  connect world. Nova  Iorque:  Random House,  2001. Disponível  em:  <http://thefuture ofideas.s3.amazonaws.com/lessig_FOI.pdf > Acesso: 28 set. 2008. 

MARTINS, Wilson. A palavra escrita. São Paulo: Anhembi, 1957. 

STAUT JR JUNIOR, Sérgio Said. Direitos autorais: entre as relações sociais e as relações jurídicas. Curitiba: Moinho do Verbo, 2006. 

 

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Análise bibliométrica da atividade científica em citricultura:  a laranja no Brasil 

  

Cláudia Daniele de Souza Leandro Innocentini Lopes de Faria 

  Introdução  

A  Citricultura  se  refere  ao  cultivo  ou  plantação  de  frutas cítricas. Os citros compreendem um grande grupo de plantas do gênero Citrus representado, na maioria, por laranjas, tangerinas, limões,  limas ácidas como o Tahiti  e o Galego, e doces como a lima da Pérsia, pomelo, cidra, laranja‐azeda e toranjas (MATTOS JR., 2005). 

No Brasil, a Citricultura apresenta números expressivos que traduzem  a  grande  importância  econômica  e  social  que  a atividade  tem para a economia do País. O Brasil detém 50% da produção  mundial  de  suco  de  laranja,  exporta  98%  do  que produz  e  consegue  85%  de  participação  no mercado mundial (NEVES,  2010).    O  cultivo  de  citros  está  presente  em  vários Estados do país,  sendo que o Estado de São Paulo  se  constitui como pólo dinamizador do  setor  (Figura  1)  representando por volta de 80% da produção e o cultivo da fruta (NEVES, 2010).  

O setor citrícola nacional, mesmo fazendo parte de um setor primário  onde  teoricamente  a  pesquisa  de  ponta  não  seria primordial,  é  uma  das  áreas  mais  atuantes  em  pesquisas  e tecnologia. Abrange  estudos  de  clima,  solo,  genética,  botânica, sanidade  das  plantas,  propagação  de material,  portas‐enxerto, manejos de  fitotecnia  (água, espaçamentos), nutrição,  fisiologia, economia  e  administração  (CASER,  2004).  Investe  também  na geração de  tecnologia de  logística de  transporte,  conservação  e 

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movimentação de produto  congelado  e  transporte  a granel  em navios especialmente desenvolvidos  ‐ o único país do mundo a dispor de navios‐tanque, controle de qualidade e  rastreamento. (GARCIA, 2011).  

 

Figura 1: Regiões produtoras de citros no Brasil. (Fonte: Sentelhas, 2011)  O  presente  estudo  pretende,  através  da  elaboração  de 

indicadores bibliométricos, ter uma visão de como se constitui a atividade científica no que se refere especificamente à laranja no Brasil.  Pretende‐se  verificar  como  se  dá  a  evolução  desta atividade  ano  a  ano  no  país,  detectar  quais  são  as  instituições brasileiras  que pesquisam  e publicam  sobre  a  laranja,  quais  os títulos dos periódicos em que esse  tema é mais  fequente e, por fim,  verificar  quais  são  os  principais  assuntos  tecnológicos relacionados às publicações sobre a laranja no Brasil. 

Será uma grande contribuição para o campo em consolidação denominado  CTS  –  Ciência,  Tecnologia  e  Sociedade  (VON 

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LINSINGEN,  2007),  visto  que  os  resultados  desta  pesquisa demonstrarão  um  conjunto  de  informações  que  poderão subsidiar  avaliações  institucionais,  auxiliar  estudos  sobre  a atividade  científica  e  tecnológica  na  Citricultura  brasileira  e também  desenvolver  políticas  públicas  específicas  para  as Ciências Agrárias. 

A realização deste estudo é motivada pela restrita existência de informações na literatura relativas à todos esses tópicos e pela percepção  dos  autores  do  grande  interesse  da  sociedade  em geral. 

Esta  pesquisa  pode  ser  enquadrada  na  área  de  estudos exploratórios sobre a atividade científica. Constitui‐se de grande valia,  visto  que  os  indicadores  de  atividades  científicas encontram‐se  no  centro  de  diversos  debates,  tanto  sob  a perspectiva  das  relações  entre  o  avanço  da  ciência  e  da tecnologia  quanto  sobre  o  progresso  econômico  e  social (MACIAS‐CHAPULA, 1998).                                                                                  

 Importância econômica da laranja no Brasil 

 De origem asiática, as plantas cítricas foram introduzidas no 

Brasil  por  uma  das  primeiras  expedições  colonizadoras, provavelmente na Bahia. Com melhores condições para vegetar e produzir  do  que  nas  próprias  regiões  de  origem,  os  citros  se expandiram para todo o país rapidamente. A partir dos anos 30 do  século  passado,  a  Citricultura  começou  a  ser  implantada comercialmente  nos  Estados  de  São  Paulo,  Rio  de  Janeiro  e Bahia,  tendo  apresentado maiores  índices  de  crescimento  nos Estados do Sudeste e Sul (EMBRAPA, 2011). 

Em meados da década de 60, a  indústria de suco de  laranja foi implantada no Brasil em consequência de uma grande geada na  Flórida,  nos  Estados  Unidos,  e  alcançou  rapidamente  um nível tecnológico equivalente ou até superior ao dos países mais 

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adiantados  do  setor.  Na  década  de  80,  a  união  de  uma Citricultura  extremamente  desenvolvida  e  de  uma  indústria competitiva,  fez com que o Brasil se  tornasse o maior produtor mundial de  laranjas, ultrapassando  a  região da Flórida, não  só em produção como também em tecnologia de citros (CITRUSBR, 2011).  

Atualmente, os pomares mais produtivos, resultantes de uma Citricultura  estruturada,  estão  distribuídos  no  mundo,  nas regiões de  clima  tropical  e  sub‐tropical, destacando‐se o Brasil, Estados  Unidos,  Espanha,  países  do  Mediterrâneo,  México, China  e  África  do  Sul.  A  Citricultura  brasileira,  que  detém  a liderança mundial, têm se destacado amplamente pela promoção do  crescimento  sócio‐econômico,  contribuindo  com  a  balança comercial  nacional  e  principalmente,  como  geradora  direta  e indireta de aproximadamente 500 mil empregos. O país produz a metade do suco de  laranja do planeta, cujas exportações trazem de  US$  1,5  bilhões  a  US$  2,5  bilhões  por  ano  ao  país.  Em praticamente  50  anos,  a  cadeia  produtiva  de  citros  trouxe, diretamente do  consumidor mundial de  suco de  laranja, quase US$  60  bilhões  ao  Brasil  a  preços  de  hoje  (NEVES,  2010). Portanto,  fica  claro  que  a  Citricultura  brasileira  apresenta números  expressivos  que  traduzem  a  grande  importância econômica  e  social  que  a  atividade  tem  tanto  no  território paulista, no Brasil e também no mundo.  

A cultura dos citros é também, uma das áreas mais atuantes em pesquisa e tecnologia no Brasil. Conforme descreve Zambolin (2006)  apesar  da  liderança  brasileira  nesta  atividade,  vários fatores  interferem no crescimento da Citricultura, passando por problemas  climáticos,  de  mercado  e  fitossanitários.  Assim,  a pesquisa  neste  setor  é  importante  no  sentido  de  desenvolver novas  tecnologias  capazes  de  aumentar  a  produtividade  dos pomares  e  também  na  descoberta  e  no  controle  das  inúmeras pragas  e  doenças  que  ameaçam  a  atividade,  sendo  esta  uma 

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questão  prioritária  para  a  garantia  da  competitividade  do negócio (FIGUEIREDO, 2008).  

Figueiredo  ainda  cita  que  a  maior  parte  dos  recursos  e investimentos  no  setor  está  direcionada  à  aspectos fitossanitários, uma vez  que, apesar da liderança brasileira nesta atividade, existem diversos problemas climáticos, de mercado e principalmente  fitossanitários  –  cerca  de  300  pragas  e  doenças que afetam os pomares – que interferem no seu crescimento. Em estudo desenvolvido por Neves e Lopes (2005), estimativas com gastos  e  prejuízos  provocados  pelas  doenças  são  alarmantes, tendo  o  setor  gasto  em  2003, US$  141 milhões  com defensivos agrícolas, aos quais seria necessário agregar prejuízos avaliados em cerca de US$ 150 milhões por ano, provocados pela queda de produção e por perdas de plantas. 

Conforme  Amaro  (2005)  a  transferência  dos  resultados  de pesquisa  na  Citricultura  representa  um  elo  fundamental  na cadeia de geração de conhecimentos. É nessa transferência que a pesquisa  expressa  seu  retorno  socioeconômico.  Assim,  a quantificação da atividade científica nesse setor se faz necessário e  é  extremamente  relevante  no  contexto  atual.  Dominando  a fruticultura  internacional,  a  Citricultura  movimenta  grandes valores  financeiros  no  Brasil  e  é  uma  das  maiores  áreas responsáveis  pela  pesquisa,  desenvolvimento  e  inovação tecnológica no setor agronômico paulista. 

 Bibliometria e indicadores 

 Na sociedade do conhecimento, a quantidade de informação 

mais  do  que  duplica  anualmente,  e  essa  ‘superoferta  de informação’  obriga  indivíduos  e  organizações  a  utilizarem técnicas  específicas  para  extrair  dessa  enorme  massa  de conhecimentos  disponíveis,  a  informação  necessária  (FARIA; QUONIAM, 2002).  

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A bibliometria estuda a organização dos setores científicos e tecnológicos  a  partir  de  fontes  bibliográficas  e  patentes  para identificar  autores,  suas  relações  e  tendências. Trata das várias formas de medir a  literatura dos documentos e outros meios de comunicação e é  importante, pois permite  identificar tendências e  crescimento,  usuários  e  autores,  verificar  a  cobertura  das revistas, medir a disseminação da informação, formular políticas, etc. (SPINAK, 1998). 

Os  indicadores  de  produção  científica  são  construídos  a partir  da  bibliometria,  ou  seja,  pela  contagem  do  número  de publicações por  tipo de documento  (livros, artigos, publicações científicas, relatórios, etc.), por instituição, área do conhecimento, país,  etc. O  indicador  básico  é  o  número  de  publicações,  que procura  refletir  características  da  produção  ou  do  esforço empreendido,  mas  não  mede  a  qualidade  das  publicações (SANTOS et al., 2007). 

Existem vários tipos de indicadores e os principais de acordo com Faria (2001) são: 

•  Indicadores de atividades: também chamados de indicadores de  produção,  analisam  os  dados  bibliográficos  das publicações  científicas,  como  o  ano,  autor,  instituição  e país, indicados em tabelas de frequência; 

•  Indicadores  de  impacto:  são  os  indicadores  que medem  os dados  de  citações  de  uma  publicação,  calculando  sua frequência  por  ano,  país,  instituição,  etc.  O  Fator  de Impacto  (FI)  é  uma  medida  de  avaliação  que  surge  da divisão  do  número  de  citações  pelo  número  de  artigos contidos em uma revista; 

•  Indicadores  de  ligação:  ocorre  quando  dois  dados bibliográficos  das  publicações  são  relacionados.  Os principais  indicadores  desta  natureza  são  os  de  co‐ocorrências de autoria, citações (co‐citações) e palavras (co‐word).  São  muito  utilizados  para  medir  as  colaborações 

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científicas  e  as  redes  de  relacionamento  entre  países, instituições e pesquisadores. 

Cada  tipo de  indicador bibliométrico apresenta vantagens e limitações. A definição prévia do  foco e o recorte geográfico do estudo  são  importantes  para  a  escolha  apropriada  do instrumental bibliométrico. Assim, faz‐se necessário planejar sua construção  e  aplicação  de  forma  criteriosa  e  contextualizada  a fim  de  não  considerá‐los  como  índices  absolutos,  pois  são complementares  e  devem  ser  usados  de  forma  articulada,  em função  dos  objetivos  de  investigação  e/ou  de  avaliação pretendidos. Concordamos com Oliveira (1984, p. 59), quando o autor  afirma que  ʺesse método não deve  ser o único  indicador para a tomada de decisãoʺ. 

 Metodologia 

   Quanto  à  característica  desta  pesquisa,  considera‐se  como 

quantitativa, pois ela enumera e mede e também qualitativa, pois compreende  e  explica  um  determinado  fenômeno (KLEINUBING, 2010).  

Para  fins  de  melhor  desdobramento,  foram  estabelecidas algumas etapas, a saber: 

• Revisão bibliográfica – Revisão de literatura sobre Citricultura e  a  laranja  no Brasil  e  também Análise  bibliométrica,  com  o objetivo de fundamentar teoricamente a pesquisa;  

• Identificação da Base de Dados – Análise das possibilidades de cobertura que a Web of Science ‐ WoS oferece em termos de área e período; 

Para Santos et al. (2007, p. 03) “a produção de indicadores da ciência,  por  métodos  bibliométricos,  requer  um  conjunto  de dados padronizados, sistematizados e consistentes, em princípio encontráveis  nas  bases  de  dados  bibliográficos.” Optamos  por recuperar esses dados na base WoS que foi produzida pelo ISI – 

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Institute  for  Scientific  Information  e  atualmente  é  do  grupo empresarial ThomsonReuters. Ela está disponível desde 1997, têm abrangência  internacional e contém  informações bibliográficas e citações de  aproximadamente  40 milhões de  artigos  científicos, publicados  a  partir  de  1945  em mais  de  230  disciplinas. Além disso,  a  WoS  oferece  registros  bibliográficos  padronizados, dando  a  possibilidade  de  trabalhar  com  o  software VantagePoint1. 

• Elaboração da expressão de busca – Observou‐se na literatura o nome  científico  da  laranja,  suas  sinonímias  e  também nomes  comuns  em  português,  inglês  e  espanhol.  Com  o intuito  de  delimitar  a  pesquisa,  elaborou‐se  a  seguinte expressão de busca: 

 Topic2=(ʺcitrus  sinensisʺ  OR  ʺCitrus  sinensis  (L.) Osbeckʺ  OR  ʺsweet  orangeʺ  OR  naranja  OR  laranja) Refined by: Countries/Territories=( BRAZIL )  

 • Coleta  de  dados  –  Busca  e  recuperação  dos  registros bibliográficos  da WoS  em  formato  .txt  que  é  reconhecido pelo  software de  tratamento  bibliométrico utilizado; mais comumente,  os  estudos  bibliométricos  tendem  a  analisar apenas  os  artigos  científicos  contidos  nos  periódicos indexados, assumindo que estes têm maior qualidade e são mais  representativos  da  atividade  científica  do  que  os artigos  de  revisão,  cartas  e  outros.  Entretanto,  da mesma forma  que  Lima  e  Velho  (2008),  decidiu‐se  aqui  incluir todos  os  tipos  de  publicação,  uma  vez  que,  o  objetivo  é analisar a atividade de pesquisa (e não somente a produção científica)  e  essa  está  refletida  não  apenas  na  publicação 

1  Software  que  auxilia  na  contagem,  padronização  e  organização  de  texto  e palavras. 

2 Pesquisa nos campos título, resumo e palavras‐chave. 

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dos resultados em artigos, mas também nas demais formas de comunicação científica. 

• Organização  e  tratamento  bibliométrico  –  Importação  dos registros bibliográficos para o VantagePoint e padronização de  termos  relativos  à  nomes  de  instituições  e  títulos  de periódicos. Criação de listas para visualização dos dados. 

• Representações gráficas – Exportações das listas para o Excel e elaboração  de  gráficos  para  apresentação  e  análise  dos resultados. 

 Resultados e análises 

 Inicialmente,  com  o  objetivo  de  mensurar  o  número  de 

publicações  científicas  geradas  sobre  a  laranja  a  cada  ano, verificou‐se que na WoS  surgem publicações  sobre  esse  tema  a partir  de  1980  (Gráfico  1).  Entretanto,  a  quantidade  começa  a crescer e ser relevante somente no final da década de 1990. 

 

  

Gráfico 1: Evolução da produção científica, de 1981 a 2010 em períodos de cinco em cinco anos. 

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Este fato pode ser justificado, visto que nesta época surgiram diversas  doenças  importantes  nos  pomares  citrícolas,  fazendo com  que  as  pesquisas  neste  setor  se  aprimorassem  cada  vez mais, a fim de que fossem encontradas soluções para a cura das plantas  cítricas. Vale  citar  como  exemplo,  a pesquisa  realizada por  192  cientistas  brasileiros,  considerada  um  dos  maiores marcos  da  história  da  ciência  nacional:  o  seqüenciamento genético da bactéria Xylella fastidiosa publicado na revista Nature no ano 2000. 

De acordo com Neves (2010) estima‐se que mais de 60% dos custos de produção da  laranja no Brasil estejam relacionados ao controle fitossanitário3. O Gráfico 2 confirma este dado,  já que o assunto  plantas  e  animais  está presente  em  quase metade  (44%) das publicações científicas brasileiras relativas à laranja. 

 

 Gráfico 2: Principais assuntos tecnológicos relacionados a laranja 

  

3 Aplicação prática de medidas de combate às pragas e controle das doenças em plantas. 

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Outro assunto de destaque é a biologia molecular e genética (3� lugar).  Nos  últimos  anos,  diversas  agências  de  fomento brasileiras  e  internacionais  têm  percebido  a  importância  e financiado trabalhos de melhoramento genético, vendo‐os como estratégia  abrangente  e  duradoura  de  controle  das  diversas doenças existentes na laranja. 

As principais instituições que pesquisam e publicam sobre a laranja no Brasil estão  representadas no Gráfico 3. Nota‐se que todas estão  localizadas nas  regiões Sul e Sudeste do país. Pode ser uma estratégia de localização, pois, conforme Neves (2010) é do cinturão citrícola ‐ São Paulo e Triângulo Mineiro – que saem mais de 80% das laranjas produzidas no país. 

 

  

Gráfico 3: Principais instituições brasileiras que publicam sobre a laranja  

A  Universidade  de  São  Paulo  (USP)  possui aproximadamente  30%  de  toda  a  publicação  sobre  o  tema  na base WoS. A USP é a maior universidade pública brasileira e tem papel  de  destaque  na  criação  de  infra‐estrutura  científica  e tecnológica  e  na  formação  da  elite  intelectual  do  país. Assim, percebe‐se  que  no  setor  citrícola,  não  faz  diferente,  sendo bastante representativa. 

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Dentre  os  10  periódicos  que  se  destacam  em  publicações sobre a  laranja e que estão  indexados na WoS, (Gráfico 4) o que possui  a  maior  quantidade  (60)  é  o  Pesquisa  Agropecuária Brasileira,  editado  pela  Empresa  Brasileira  de  Pesquisa Agropecuária – Embrapa. 

 

  Gráfico 4: Principais periódicos científicos 

 É  importante ressaltar que Plant Disease e Phytopathology são 

dois  periódicos  muito  bem  prestigiados  e  reconhecidos internacionalmente na área e estão no ranking em 5º e 9º  lugar, respectivamente. Tal fato demonstra o alto nível de competência dos  pesquisadores  brasileiros,  em  pesquisar  e  divulgar  o conhecimento gerado no país para o mundo. 

 Considerações finais 

 O desenvolvimento do conhecimento e o progresso científico 

são características marcantes na última década no setor citrícola. 

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No entanto, a grande quantidade de informação gerada necessita de  um  controle,  que  permita  aos  usuários  a  sua  obtenção, disseminação e uso. Para sanar essa demanda, o uso da análise bibliométrica e dos  indicadores da atividade científica passam a ser cada vez mais frequentes (ARAÚJO, 2006).   

O  presente  capítulo  tratou  sobre  análise  bibliométrica  da atividade  científica  indexada  na  base  de  dados  WoS  especificamente  sobre  o  tema  a  laranja  no  Brasil.  Foram elaborados quatro indicadores relevantes: evolução da atividade científica  desse  tema  ao  longo  da  história,  principais  assuntos tecnológicos  relacionados  às  publicações  de  laranja,  as  10 instituições  brasileiras  que  mais  pesquisam  e  publicam  nesse tema e por fim, os periódicos científicos que se destacam.  

Em  suma, o  estudo permitiu  tecer uma  abordagem  sobre  a atividade científica no setor citrícola. Embora se restrinja apenas às  publicações  indexados  na WoS  pôde‐se  te  uma  visão  geral dessa  atividade,  o  que  não  esgota  outras  reflexões  e pesquisas bibliométricas. Por fim, demonstra a importância econômica que o  setor  tem  tanto no  território paulista, no Brasil  e  também no mundo.  

As considerações levantadas durante todo o estudo reforçam que a análise bibliométrica tem muito a contribuir para o campo CTS,  podendo  subsidiar  avaliações  institucionais,  auxiliar estudos  sobre  a  atividade  científica  e  tecnológica  e  também contribuir desenvolver políticas públicas específicas. 

   

Referências  AMARO,  A.  A.;  MATTOS  JUNIOR,  D.;  POMPEU  JUNIOR,  J.  Pesquisa  e desenvolvimento  na  Citricultura.  In:  MATTOS  JUNIOR,  D.  et  al.  Citros. Campinas: Instituto Agronômico e Fundag, 2005. Cap. 31, p. 913‐928. 

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ARAÚJO, C. A. Bibliometria: evolução histórica e questões atuais. Em Questão. Porto Alegre, v.12, n.1, p.11‐32, jan./jun. 2006. 

CASER,  D.  V.;  AMARO,  A.  A.  Evolução  da  produtividade  na  citricultura paulista. Informações Econômicas, v. 34, n. 10, p.6‐12, 2004. 

CITRUSBR.  História  da  laranja.  Disponível  em:  <http://www.citrusbr.com/ exportadores‐citricos/setor/historia‐da‐laranja‐150989‐1.asp>.  Acesso  em:  20 abr. 2011. 

EMBRAPA.  Importância  econômica  dos  citros.  Disponível  em:  <http://sistemas deproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Citros/CitrosNordeste/importancia.htm>. Acesso em: 20 abr. 2011. 

FARIA,  L.  I.  L.  Prospecção  tecnológica  em materiais:  aumento  da  eficiência  do tratamento  bibliométrico:  uma  aplicação  na  análise  de  tratamento  de superfícies resistentes ao desgaste. 2001. 176 f. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) ‐ Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2001. 

FARIA, L. I. L.; QUONIAM, L. Ferramentas para estudos prospectivos: tutorial. In: WORKSHOP BRASILEIRO DE INTELIGÊNCIA COMPETITIVA E GESTÃO DO  CONHECIMENTO,  3.,  2002,  São  Paulo.  Anais...  São  Paulo:  Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento, 2002. 

FIGUEIREDO,  M.  G.  Retorno  econômico  dos  investimentos  em  pesquisa  e desenvolvimento  (P&D)  na  Citricultura  paulista.  153  f.  Tese.  (Doutorado  em Ciências) – Universidade de São Paulo, 2008. 

GARCIA, A. Quando  o  setor  produtivo  faz C&T. Disponível  em:  <http://www. comciencia.br/reportagens/cientec/cientec145.htm>. Acesso em: 15 abr. 2011. 

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LIMA, R. A.; VELHO, L. M. L. S.  Indicadores  Ibero‐Americanos de atividade científica em bioprospecção. Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, v. 06, n. 01, p.1‐14, 2008. 

MATTOS JUNIOR, D. et al. Citros. Campinas: Instituto Agronômico e Fundag, 2005. 928 p. 

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Indicadores de inovação:  análise da metodologia adotada nas pesquisas 

 Denise Rodrigues Vichiatto1 

Roberto Ferrari Junior (Orientador)2  

 1. Introdução.  

A  Inovação  Tecnológica  promove  o  desenvolvimento econômico  e  é  vista  como  estratégica  para  empresas,  para  o desenvolvimento de regiões e de países. Os Indicadores de inovação tecnológica  podem  ser  utilizados  para  justificar  a  formulação  de políticas de incentivo a inovação e orientar os empreendedores sobre estratégias, área de atuação e  investimentos. Algumas das métricas de  inovação  mais  utilizadas  nas  pesquisas  são  as  atividades  em Pesquisa e Desenvolvimento – P&D, lançamento de novos produtos, criação de novos processos, e patentes.  

Estes  indicadores  são  elaborados  para  verificar  o  esforço inovador  e  a  taxa  de  inovação  nas  indústrias  de  produtos  e serviços  de  países,  estados  ou  regiões.  As  pesquisas  são conduzidas  de  diferentes  formas,  incluindo  análise  de  bases  de dados  e pesquisas  conduzidas por  entrevistas  com  aplicação de questionários.  

Os  Indicadores  de  Inovação  tecnológica  existentes  são abrangentes,  considerando  inovação  de  forma  ampla,  não  se restringindo  a  apenas  produtos  e  processos,  mas  envolvendo novas  formas  de  gestão,  novos  mercados,  novos  insumos  de produção,  entre  outros.  A  amplitude  destes  estudos  é  em  sua maioria direcionada para grandes regiões, como o Estado de São Paulo, ou para países, como o Brasil.  

Este artigo tem o objetivo de analisar a metodologia utilizada nas pesquisas envolvendo indicadores de inovação no Brasil e no 

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exterior ‐ métricas de inovação utilizadas, fontes de dados, forma de  coleta  dos  dados,  tipos  de  empresas  observadas,  local  e abrangência das pesquisas. 

 2. Metodologia de Seleção de Literatura 

 A  busca  da  literatura  aconteceu  nas  bases  Scielo,  Google 

acadêmico,  banco  de  teses  e  dissertações  da USP  e  ISI Web  of Science. 

A  expressão  de  busca  por  palavra‐chave  (subject  index) utilizada  na  base  de  dados  Scielo  (Scientific  Electronic  Library Online)  foi:  inovação  ou  inovação  tecnológica  ou  indicadores  de inovação. Foram recuperados os registros contendo esta expressão de busca no título, abstract ou nas palavras ‐ chave. 

A  fim  de  recuperar  documentos  referentes  a  pesquisas realizadas no Brasil  também  foram utilizados o banco de  teses e dissertações da USP  e  o Google Acadêmico. Nestes, o  termo de busca  utilizado  foi  indicadores  de  inovação*  recuperando documentos que continham estas palavras no título, no abstract e nas palavras‐chave. 

Para recuperar documentos referentes à pesquisas publicadas em inglês a expressão de busca utilizada na ISI Web of Science foi: innovation* ou technological  innovation* ou  innovation  indicators*. O uso  das  referências  bibliográficas  dos  documentos  recuperados nas bases de dados também foi utilizado como recurso de busca. 

 3.  Resultados  e  Discussão:  Metodologias  Adotadas  nas pesquisas sobre Indicadores de Inovação. 

 3.1 Indicadores de Inovação Adotados 

 Indicadores  são  ferramentas  que  medem  o  processo  de 

inovação de uma organização ou de um grupo de organizações. 

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Estes  fornecem  dados  objetivos  sobre  os  tipos  de  inovação praticados pelas  empresas. Por  exemplo,  o  quanto  investem  em P&D,  se  compram  conhecimento  e  tecnologia,  se  depositam pedidos de patentes, ou se lançam novos produtos. 

Os  dados  observados  nas  pesquisas  para  elaboração  dos indicadores  no  Brasil  podem  ser  vistos  na  Tabela  1.  Os  dados observados nas pesquisas estrangeiras podem ser vistos na Tabela 2. 

As  pesquisas  sobre  indicadores  de  inovação  envolvem estudos  que  avaliam  qual  têm  sido  o  esforço  inovador  das empresas  por  meio  dos  índices  de  investimentos  em  P&D, aquisição  de  novas  tecnologias,  recursos  humanos,  escolaridade de pessoal alocado em atividades  inovadoras e novas  formas de gestão. Estas pesquisas também verificam a propensão por inovar das  empresas  segundo  sua  localização  geográfica,  produção científica,  captação  de  recursos  governamentais,  interação  e cooperação com outros agentes como, por exemplo, universidades e centros de pesquisa e desenvolvimento.  

Os  indicadores  de  inovação  avaliam  os  índices  de  novos produtos  e  novos  processos  lançados  e  implementados  pela empresa  em  um  determinado  período  de  tempo  assim  como  o número  de  patentes  depositadas.  Alguns  estudos  buscaram avaliar  a  relação  entre  inovar  e  obter  resultado  empresarial  nas indústrias  nacionais,  sendo  os  indicadores  de  resultados  o faturamento,  lucro,  participação  de  mercado,  aumento  nas exportações entre outros.  

 Tabela 1: Metodologia utilizada nos estudos desenvolvidos no Brasil  

Autor  

Métrica de Inovação  Fonte de Dados 

Local abrangência 

Tipo de empresas 

 Figueiredo, Paulo N. 

Capacidades em Engenharia de Software 

Questionário, observação direta e análise de 

Institutos de P&D das regiões 

Empresas de Tecnologia da Informação 

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2001  Capacidade em Gestão de projetos 

Capacidade em Produtos e Soluções 

Capacidade em Ferramentas e Processos 

documentação  Sul, Sudeste, Norte e Nordeste do Brasil 

  Rocha, Dufloth 2003 

Valor despendido em P& D em relação à receita líquida de vendas 

Implementação de inovação de produto ou processo 

Patentes  Suporte 

Governamental 

Pesquisa Industrial Inovação Tecnológica (PINTEC) 

Regiões Brasileiras C. Oeste, Sul, Sudeste, Nordeste e Norte 

Empresas industriais  

Rocha e Ferreira 1998 

Percentual do faturamento aplicado em inovação 

Número de pessoal qualificado envolvido com atividades inovativas 

Número de Patentes concedidas/ depositadas 

Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das empresas Industriais (ANPEI) 

Brasil  Grupo de Empresas Privatizadas e um grupo geral de empresas 

Filho e Moutinho 2002  

P&D interno  Aquisição 

tecnologia  Lançamento de 

novos produtos e processos 

 

Questionário  Brasil ‐ Paraíba 

Pequenas e Microempresas 

Cabral  Número de  Questionário  Brasil  Indústria 

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2004  inovações de produto e processo  

Brasileira de Alimentos 

Gomes e Kruglianskas 2006  

Número de inovações de produto e processo 

Questionário  Brasil  Empresas industriais e de transformação ligadas a ANPEI e do PGT da USP e da Fundação Instituto de Administração 

Suzigan, Wilson et al 2002 

Pessoal qualificado em atividade de P&D  

Marcas e patentes  

Produção Científica 

Pesquisa de Inovação tecnológica PINTEC – INPI , USPTO – Base de dados RAIS 

Estado de São Paulo 

Empresas do estado de São Paulo ligadas as bases de dados analisadas 

Brito et al. 2000 

Número de Inovações de produto e processo 

PINTEC  Brasil  Indústria Química  

Rieg & Alves Filho 2000‐2002 

Montante de recursos investidos em P&D e em capacitação tecnológica 

Inovações de produto e processo 

Parcela do faturamento proveniente das inovações introduzidas no mercado 

Questionário  São Carlos  Setor Médico Hospitalar de São Carlos 

Queiroz e Carvalho 2000 

Atividades de P&D 

PINTEC e PAEP  Brasil  Indústrias Multinacionais 

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Hayahi et al 2006 

Patentes  Instituto Nacional de Propriedade Intelectual INPI 

São Carlos  Empresas, Universidades de São Carlos 

Arbix e De Negri (2005) 

Inovação de produto e processo 

IPEA ‐ Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada 

Brasil  Indústrias diversas 

 Tabela 2: Metodologia utilizada nos estudos desenvolvidos no Exterior 

 Autor  Métrica  Fonte (Coleta de 

Dados) País  Tipo de 

empresas Motohashi  1998 

Gastos com P&D 

Patentes  Empregados 

devotados à inovação 

Instalações de P&D 

Receita com licenciamento 

S&T ‐ Pesquisa da National Bureau de Estatística (NBS) da China  Questionários 

China  Indústria manufatura 

Tidd 2001 

Gastos com P&D 

Patentes  Inovações de 

produto  Empregados 

devotados à inovação  

Indicadores de domínio público  

USA  Indústria manufatura 

Li, Atuahene‐Gima e Luca 2001 

Gastos com P&D 

Empregados devotados à inovação 

Introdução Novos produtos 

Questionários  Shenzen ‐ China 

Indústria manufatura 

Klomp L, Roelandt, 2004 

Gastos com P&D 

Atividades de P&D 

Resultados P&D 

European Innovation Scoreboard 2003 

Holanda  Indústria manufatura 

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Koschatzky K, Bross U, Stanovnik P 1994‐1996 

Gastos com inovação ou atividades inovadoras 

Percentual da receita obtida com novos produtos 

Cooperações e networking externo 

Questionários  Eslovênia  Indústria manufatura 

Damampour; Avellaneda 2005 

Performance do serviço 

Satisfação do cliente 

Audit Commission (2002) e Questionários 

Inglaterra  Indústria de serviços 

Evangelista e Archibugi  1997 

Investimentos em novas máquinas 

Investimento em P&D 

Questionários  Itália  Indústria manufatura 

Patel, P Pavitt K 1997 

Patentes  USPTO  

USA  Indústria manufatura 

 3.2 Local e Amplitude das Pesquisas  

Nos  estudos  realizados  no  Brasil  (Tabela  1)  é  possível verificar  que  apenas  dois  estudos  foram  feitos  com  amplitude local realizados (HAYASHI et al 2006, e RIEG e ALVES 2002). As demais pesquisas  estão  concentradas  nas macrorregiões do país (ROCHA e DUFLOTH 2003) e no estado de São Paulo (SUZIGAN et  al  2002).  Estudos  estrangeiros  sobre  inovação  (reportados  na Tabela  2)  ocorreram  nos  Estados  Unidos,  Inglaterra,  China, Eslovênia e Holanda.  

Os  estudos  realizados  na  Inglaterra  (DAMANPOUR; WALKER,  AVELLANEDA  2002)  e  Estados  Unidos  (PATEL,  P PAVITT K  1997), China  (Li, ATUAHENE‐GIMA  e  LUCA  2001) Holanda  (KLOMP;  ROELANDT,  2004),  Eslovênia 

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(KOSCHATZKY,  BROSS,  STANOVNIK  1996),  e  Itália (EVANGELISTA,  PERANI,  RAPITI,  ARCHIBUGI  1997) compreenderam o país por completo. Foi identificado um estudo com  amplitude  local  na  província  de  Shenzen,  China  por  (Li, ATUAHENE‐GIMA e LUCA 2001). 

  3.3 Tipos de Empresas Estudadas 

 Os estudos sobre  Inovação no Brasil são diversos e estudaram 

empresas  locais,  regionais  e  nacionais  de  produtos  e  serviços,  de forma  abrangente  (independente  do  porte). Outros  pesquisadores focaram em segmentos e locais específicos como os de tecnologia de informação  (FIGUEIREDO  2001),  médico  hospitalar  de  empresas localizadas em São Carlos (RIEG; ALVES FILHO 2002), da indústria química (BRITO et al 2000), e de alimentos no Brasil (CABRAL 2004). 

As  indústrias  multinacionais  foram  alvo  do  estudo  sobre indicadores de inovação por QUEIROZ E CARVALHO (2000), as empresas  privatizadas  por  ROCHA  e  FERREIRA  (1998),  e  as pequenas e microempresas por FILHO E MOUTINHO (2002). 

Como  mostrado  na  Tabela  2,  as  pesquisas  realizadas  em outros  países  abrangeram  o  setor  industrial  (independente  do porte).  Foi  encontrada  uma  pesquisa  com  foco  nas  grandes empresas (PATEL e P. PAVITT 1997), e uma pesquisa focada em empresa de  serviço  (DAMANPOUR; WALKER, AVELLANEDA 2002). Pesquisa realizada na Itália comparou a  inovatividade das empresas nas indústrias aeroespacial, rádio, TV e comunicação, e maquinário de escritório (EVANGELISTA et al. 1997).  

 3.4  Fontes  de  dados  para  as  pesquisas  sobre  Indicadores  de Inovação 

 As fontes de dados mais utilizadas pelas pesquisas realizadas 

no  Brasil  para  coleta  de  informações  foram  os  da  Pesquisa 

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Industrial  Inovação  Tecnológica  (PINTEC)  realizados  pelo Instituto  Brasileiro  de  Geografia  e  Estatística  (IBGE),  Instituto Nacional da Propriedade  Industrial  (INPI), Associação Nacional de  Pesquisa  e  Desenvolvimento  das  empresas  Industriais (ANPEI),  Pesquisa  de  atividade  econômica  Paulista  (PAEP), Relação  Anual  de  informações  Sociais,  (RAIS),  Indicadores  de Ciência Tecnologia & Inovação (CT&I) do Ministério da Ciência e Tecnologia  (MCT),  Fundo  de  Apoio  a  Pesquisa  de  São  Paulo (FAPESP),  Conselho Nacional  de  Desenvolvimento  Científico  e Tecnológico  (CNPQ)  e  Coordenação  de  Aperfeiçoamento  de Pessoal  de  Nível  Superior  (CAPES),  Instituto  de  Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). 

Como  pode  ser  observado  na  Tabela  2,  as  pesquisas realizadas em outros países utilizaram  informações do European Innovation  Scoreboard  2003,  US  Patent  Office  (USPTO),  S&T Pesquisa pela Nacional Bureau de Estatística (NBS) da República Popular  da  China  (PRC),  Istituto Nazionale  di  Statistica  ISTAT 1995, Community  Innovation  Survey  (CIS),  Fraunhofer  Institute for  Systems  and  Innovation Research  (ISI),  Slovenian Office  for Statistics  (SURS),  OCDE  (Organização  para  Cooperação Econômica  e  Desenvolvimento)  e  Audit  Commission  (2002). Indicadores  também  foram  elaborados  através  de  questionários tanto no Brasil como nos outros países. 

 4. Conclusão 

  As  pesquisas  adotaram  como  indicadores  de  inovação  a 

propriedade  intelectual (patentes, marcas), os novos produtos ou processos  introduzidos no mercado, os  investimentos  realizados (em  P&D,  em  capacitação,  em  equipamentos),  as  atividades  de P&D realizadas internamente ou externamente, o pessoal alocado em P&D e suas capacitações, e resultantes da inovação tais como a 

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parcela  do  faturamento  proveniente  da  introdução  de  novos produtos/inovações no mercado.  

Para  coletar  dados  referentes  à  inovação  das  empresas,  as pesquisas  utilizaram,  principalmente,  duas  estratégias:  (a) questionários  respondidos  diretamente  pelas  empresas,  e  (b) busca de informações em bases de dados ou em macro‐pesquisas realizadas por órgãos governamentais ou associações. No Brasil, as pesquisas utilizaram  como  fonte de dados  a PINTEC, PAEP, IPEA, ANPEI, RAIS, INPI e USPTO.  

As pesquisas observaram a inovação realizada nas empresas. A inovação desenvolvida na academia não foi observada de modo direto. Resultados e conclusões foram divulgados no contexto de todo um conjunto de empresas, e não no contexto de uma única empresa. 

As  principais  contribuições  das  pesquisas  são  identificar  o patamar  inovador  das  empresas  em  determinadas  regiões, identificar  sistemas  locais  de  inovação,  conferir  o  desempenho empresarial  inovador,  e  prover  subsídios  para  a  elaboração  de políticas públicas. 

   

NOTAS:  1. Bacharel em Engenharia de Produção pelas Faculdades Integradas de São Carlos – FADISC – Mestranda em Ciência, Tecnologia e Sociedade pela  Universidade  Federal  de  São  Carlos.  Contato: [email protected] 

2. Bacharel  e Mestre  em Ciência da Computação  (UFSCar  1988,  1992), doutor  em  Física  Computacional  (USP,  1996).  Professor  e  chefe  do Departamento  de  Computação  na  UFSCar.  Linha  de  pesquisa: Empreendedorismo Tecnológico 

 

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Ciência, Tecnologia e Sociedade em preto em branco: Perspectivas da tecnologia nos mangás 

 Felipe Mussarelli 

Valdemir Miotello   

“[...]  quadrinhos  são  a  poesia  escrita  de  nosso  tempo. Eles recuperam fragmentações, sugestões e silêncios que dificilmente  teriam vida na prosa.” –  trecho do  texto contido  na  orelha  da  edição  nacional  do mangá Gourmet. 

 Os  quadrinhos  têm  ganhado  cada  vez  mais  espaço  nas 

produções e discussões acadêmicas. Antes  relacionados a obras de baixa qualidade  literária destinadas ao público  infantil, hoje caminham  entre  os  grandes  clássicos  e  são  considerados  obras cult. Autores  como Will Eisner, Allan Moore, Frank Miller,  Joe Sacco, Milo Manara, Osamu Tesuka e Hayao Miyazaki  figuram entre os grandes quadrinistas cujas obras são cultuadas mundo afora. 

São  várias  as  estéticas  e  temáticas  apresentadas  nos quadrinhos, cada uma com suas peculiaridades, sejam elas traços pitorescos ou temáticas jornalístico‐biográficas. 

Uma  vertente  dos  quadrinhos  que  vem  chamando  atenção, devido a sua grande aceitação pelos públicos de todas as idades, é  o mangá. Mangá  é  o  nome  dado  aos  quadrinhos  de  origem japonesa,  mas  isso  não  significa  dizer  apenas  que  são reproduções das histórias  em quadrinhos  tradicionais  feitas no Japão.  Os  mangás  possuem  características  próprias,  sendo considerados por muitos um estilo único de se fazer quadrinhos, um subgênero das HQs. 

Para entendermos a idéia de gêneros discursivos, Bakhtin, em Estética  da  Criação  Verbal  (1997),  reporta  o  funcionamento  da 

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língua  em  práticas  comunicativas  reais  e  consolidadas, estabelecidas por sujeitos que  interagem no campo das relações humanas e na comunicação. É no interior das relações humanas que  se  organizam  os  gêneros  discursivos,  que  suprem  as necessidades  sócio‐intelocutivas  dos  sujeitos  que  se  inter‐relacionam.  

Cada  gênero  possui  normas  e  regras  específicas  de  acordo com  a  esfera  social  em que  se  encontra. A  fala  comporta‐se de maneira  descompromissada  em  uma  reunião  de  amigos,  ao passo que em uma apresentação acadêmica há regras e padrões que devem ser seguidos.  

Há  toda  uma  gama  dos  gêneros  mais  difundidos  na  vida cotidiana que apresenta formas tão padronizadas que o querer‐dizer individual do locutor quase que só pode manifestar‐se na escolha do gênero, cuja expressividade de entonação não deixa de  influir  na  escolha.  É  o  caso,  por  exemplo,  dos  diversos gêneros  fáticos,  das  felicitações,  dos  votos,  das  trocas  de novidades —  sobre  a  saúde,  os  negócios,  etc. A  diversidade desses  gêneros deve‐se  ao  fato de  eles  variarem  conforme  as circunstâncias, a posição social e o relacionamento pessoal dos parceiros:  há  o  estilo  elevado,  estritamente  oficial,  deferente, como  há  o  estilo  familiar  que  comporta  vários  graus  de familiaridade e de intimidade. (BAKHTIN, 1997, p. 302). 

 Os  gêneros  discursivos,  para  Bakhtin,  distinguem  em  dois 

agrupamentos,  primários  e  secundários,  sendo  os  primeiros aqueles  construídos  em  situações  discursivas  em  esferas privadas,  ligadas  a  experiências  cotidianas  e  íntimas,  e  os secundários,  por  sua  vez,  construídos  em  situações  públicas, relativamente mais formais.  

Cada  gênero  pertence  a  um  domínio  discursivo;  assim,  no domínio  de  textos  religiosos,  por  exemplo,  temos  vários 

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gêneros:  oração,  sermão  homilia,  cartas,  etc.;  nos  textos literários, podem  ser  citados os  seguintes gêneros:  romance, conto, novela, poema etc.; nos  textos midiáticos  jornalísticos, notícia, editorial, artigo opinativo, histórias em quadrinho etc. (MESSIAS, 2006, p. 39). 

 Todavia,  as  propriedades  dos  gêneros  discursivos  não  são 

estáticas  e,  assim  como  o  signo,  evoluem  junto  à  língua  e  ao sujeito falante. 

Dentre  as  diversas  temáticas  retratadas  nos mangás,  tem‐se uma  em  especial  que,  pode‐se  assim  dizer,  dialoga  com  as discussões  propostas  pelos  estudos  em  Ciência,  Tecnologia  e Sociedade  (CTS).  Os  enredos  baseados  em  temas  de  cunho escatológico,  que  relatam  o  futuro,  a  vida  após  a morte,  “[...] promovem  debates  cuja  ideologia  é  fortemente  impregnada  com  a perspectiva CTS”. (LINSINGEN, 2007, p. 03). 

Os estudos em CTS estão fortemente ligados aos debates com relação ao homem e o avanço tecnológico e seus efeitos a  longo prazo na natureza e na sociedade.  

O movimento  CTS  teve  suas  origens  nos  acontecimentos  de 1960 e 1970, os quais causaram profundas mudanças no cenário dos países europeus e da América do Norte, vindo mais tarde a refletir‐se  no  mundo  de  forma  geral.  Esses  movimentos pautaram‐se  em  questionamentos  em  torno  da  ciência  e  da tecnologia,  com  relação  às  armas  nucleares  e  químicas, agravamento  dos  problemas  ambientais  e  seus  impactos  na vida  das  pessoas.  A  partir  desses  questionamentos, organizações  começaram  a  tomar  corpo  em  prol  de  uma educação  científica  e  tecnológica.  (PINHEIRO;  MATOS; BAZZO, 2007, p. 05). 

 Este  trabalho  tem  como base o artigo Mangás  e  sua utilização 

pedagógica no  ensino de  ciências  sob  a perspectiva  cts  (2007) escrito 

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por Luana Von Linsingen, e  tem por objetivo dar continuidade às discussões acerca dos quadrinhos, em especial os mangás, no que tange os estudos relacionados à CTS. 

Cabe aqui uma rápida contextualização do mangá no que diz respeito a sua origem e chegada ao Brasil.  Origem do mangá e sua expansão para o mercado exterior.  O mangá surgiu em meados da década de 50, no pós‐guerra. 

Os  recursos  injetados  pelos  EUA  no  território  japonês permitiram  ao  Japão  criar um  fabuloso mercado  interno  e  com isso, uma identidade mercadológica própria.  

As  histórias  em  quadrinhos  japonesas  são  “[...]  facilmente reconhecíveis por seu traço peculiar, utilização da cor, forma de cabelo, temas  e  públicos  distintos”  (PATATI  &  BRAGA,  2006,  p.  25)  e pode‐se dizer que a primeira aparição de um estilo semelhante a esse  foi entre os anos de 1814 e 1849, quando o artista  japonês Katsushita  Hokusai,  conhecido  por  suas  xilogravuras  (um processo  de  gravação  em  relevo  que  utiliza  a  madeira  como matriz), retratou cenas do cotidiano com pessoas em situações e traços pitorescos. Esta coleção de caricaturas recebeu na época o nome de Hokusai Manga.  

Contudo, foi em 1946 que este estilo de desenho e narrativa se consagrou.  A  publicação  do  mangá  A  Nova  Ilha  Do  Tesouro, produzido pelo artista Osamu Tezuka  (1928‐1989), acentuou de uma vez por todas a estética que ficaria conhecida como mangá. 

Com o  sucesso da  exibição dos  animês  (desenhos  animados de origem japonesa), algumas editoras iniciaram a publicação de mangás no Brasil  

[...]  a  partir  de  2000  [...]  quando  a Conrad  Editora  trouxe  ao Brasil  os  títulos Dragon  Ball  e Cavaleiros  do Zodiáco,  os  fãs ficaram  exultantes:  a  leitura  era  feita no  sentido  oriental  e  as 

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onomatopéias eram mantidas em japonês, pois faziam parte do desenho, dando início a uma nova era no mercado nacional de quadrinhos. (GUSMAN apud FARIA, 2007, p. 20).  

Com  a  crescente  popularização  dos  mangás,  algumas editoras,  segundo  Vergueiro  (2003),  praticamente  se especializaram em sua publicação, o que possibilitou explorar o mercado de forma mais ampla, lançando títulos inéditos no país em  seu  formato  original  (impressão  japonesa),  ou  seja,  de  trás para frente e da direita para a esquerda.  

Hoje as vendas de quadrinhos japoneses no Brasil superam as vendas  das  tradicionais  histórias  em  quadrinhos  norte americanas e o quadrinho nacional de maior sucesso no país é o gibi  Turma  da Monica  Jovem  (ou  Turma  da Monica Mangá, devido  ao  fato  de  sua  arte  e  narrativa  basearem‐se  nos quadrinhos japoneses), criado por Maurício de Souza. 

Nas  próximas  páginas  faremos  um  apanhado  de  imagens encontradas  no mangás  que  fazem  referencia  a  tecnologia,  ora retratadas de  forma  fantástica  (com base  em  tecnologias  reais), ora  representando  tecnologias,  de  fato  reais,  desenvolvidas  e aplicadas pelo homem.  

Tecnologia fantástica nos mangás  

As  narrativas  escatológicas,  para LINSINGEN  (2007),  fazem grande  referência ao uso da ciência e  tecnologia, em como esta influencia o desenvolvimento do futuro da humanidade e, desse modo, o futuro da natureza. O destino de ambos é amplamente trabalhado em diversos mangás e animês e tem, na maioria das vezes,  o Homem  e  sua  ganância  como  a  causa de  sua própria destruição. 

É nesse tipo de narrativa que encontramos a maior parte das referências  a  tecnologia. No mangá X‐1999, do grupo CLAMP, 

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publicado no Brasil pela editora JBC, narra‐se uma batalha entre pessoas  destinadas  a  decidir  o  futuro  da  humanidade,  de  um lado àqueles que querem salvar o planeta apagando a existência humana,  e  do  outro  àqueles  que  ainda  acreditam  que  a humanidade  tomara  novos  rumos  visando  a  correção de  erros passados. 

A  temática  relacionada  a  CTS  no  mangá  citado  foi amplamente  discutida  no  artigo  de  LINSINGEN  (2007), portanto,  nos  limitaremos  aqui  a  exemplificar  um  pouco  da tecnologia  fantástica  que  permeia  as  páginas  dos  quadrinhos japoneses. 

As  imagens  (figuras  01  e  02)  abaixo  mostram  uma personagem capaz de se conectar fisicamente a um computador de  potência  inimaginável,  que  funciona  como  uma  entidade pensante.  Essa  conexão  permite  a  personagem  ter  acesso  e controle  ilimitado  a  inúmeras  tecnologias  computadorizadas  e usá‐las a sua vontade.  

Figura 01 ‐ X‐1999, CLAMP, Vol. 02, pág. 77  

 Figura 02 ‐ X‐1999, CLAMP, Vol. 02, pág. 79 

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Em 1999  talvez não houvesse um computador com  tamanho poder de  conexão, mas hoje,  12  anos depois,  sabemos  que um aparelho desse porte não só é possível como também é comum. Devido  aos  avanços  da  informática,  sistemas  monitoram  e controlam  praticamente  sozinhos  inúmeras  outras  redes  de computadores e, conectar‐se fisicamente ao computador também já é algo possível. 

Também  discutido  por  LINSINGEN  (2007),  o  mangá Metrópolis  de  1949,  criado  por  Osamu  Tesuka,  publicado  no Brasil pela editora Conrad, trata de temas relacionados ao futuro (o  futuro  imaginado  pelo  autor  em  1949),  onde  autômatos  (no caso do mangá, robôs humanóides), construídos para  facilitar o trabalho  dos  seres  humanos,  acabam  substituindo  os trabalhadores  em  fábricas,  realizando  funções  em  ambientes nocivos a saúde humana  (figura03), aumentando drasticamente os  níveis  de  desemprego  na  sociedade,  causando  revoltas populares1.   

 Figura 03 ‐ Metrópolis, Osamu Tesuka, p. 74 

                                                            1 O  desemprego  e  revoltas motivados  pela  automação  das  fábricas  na  obra podem  ser  vistos  também  como  uma  alusão  ao  Ludismo,  movimento contrário à mecanização do trabalho trazido pela Revolução Industrial. 

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Posteriormente  a  isso,  os  próprios  robôs,  dotados  de sentimentos, acabam se revoltando contra seus criadores devido aos maus  tratos no ambiente de  trabalho  (figura 04). Panorama semelhante é mostrado no mangá Astro Boy, de 1952 (figura 05), do mesmo autor. Nele, um  cientista  cria um protótipo de  robô capaz de ter sentimentos.  

 Figura 04 ‐ Metrópolis, Osamu Tesuka, p. 138 

 Figura 05 ‐ Astro Boy, Osamu Tesuka 

 O desemprego causado pelo avanço tecnológico, pode não ter 

sido  causado  por  autômatos  humanóides  como  imaginou  o autor, mas  de  fato  ocorreu  uma  substituição  da mão  de  obra humana pela  automatizada  em  fábricas,  que  também passou  a ser  utilizada  em  rotinas  de  trabalhos  desgastantes  aos  seres humanos e em ambientes nocivos a saúde dos mesmos. Embora ainda não se tenha criado robôs capazes de possuir sentimentos humanos,  suas  especializações  e  formas  estão  cada  vez  mais próximas  da  humana,  realizando  atividades  cada  vez  mais complexas. 

Vimos  acima  alguns  exemplos  de  como  a  tecnologia fantástica,  mas  com  base  na  realidade,  é  mostrada  nos quadrinhos  japoneses.  Diversos  outros mangás  que  tratam  de 

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temas fantásticos,  ligados a tecnologia, apresentam semelhanças no que diz respeito a apresentação de tecnologias. 

Em seguida veremos alguns aspectos de tecnologias reais, ou seja, fabricadas e aplicadas pelo homem, mostradas no cotidiano dos cidadãos ou exemplificadas em situações fictícias.  Aspectos de tecnologias reais nos quadrinhos japoneses  Na  obra  Gourmet,  de  Jiro  Taniguchi  e  Masayuki  Qusumi, 

publicada recentemente no Brasil pela editora Conrad, chama a atenção  por  seu  roteiro  peculiar.  O  que  seria  colocado  em segundo  plano  em  outro  mangá,  aqui  recebe  destaque  de primeiro  plano  narrativo...  a  culinária! Gourmet  é  uma  viagem gastronômica pelo Japão. A cada capítulo uma refeição diferente, e ao fim, um banquete de conhecimento culinário. 

Na  figura  abaixo  (figura  06)  podemos  ver  o  protagonista comprando  um  item  conhecido  como  Jetbox.  Alguns  mangás mantêm seus  termos de  língua materna não  traduzidos, apenas romanizados (Romaji)2, aumentando a imersão do leitor. Devido a esse  fato, é oferecido ao  final de  cada volume de mangá, em sua maioria, um glossário com traduções e definições dos termos não traduzidos. 

Além de pequenas  tecnologias utilizadas no cotidiano social, o  mangá  também  nos  permite  entender  a  funcionalidade  de alguns aparatos de tecnologia avançada. 

O mangá High School Of The Dead, de Daisuke Sato e Shouji Sato, publicado no Brasil pela editora Panini, conta o drama de um grupo de estudantes que  se vê em meio a uma  invasão de mortos‐vivos. Em um determinado momento da trama, os países com grande  arsenal bélico disparam,  em um  ato de desespero, 

                                                            2  O  romaji  é  empregado  na  transcrição  fonética  da  língua  japonesa  para  o alfabeto latino (ou romano). É a transliteração da língua japonesa. 

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mísseis  (figura  07)  contendo  ogivas  nucleares  nos  países  de conflito.  

 Figura 06 ‐ Gourmet, de Jiro Taniguchi e Masayuki Qusumi, pág. 63 

 * N. T.:  JETEBOX  é um  recipiente  com dispositivo  aquecedor usado para esquentar marmitas. Sob o  fundo do  recipiente há cal virgem e uma  bolsa d’água. Quando  se puxa  o  barbante  que  fica do  lado de fora, a bolsa d’água estoura, colocando a cal em contato com a água e desencadeando  uma  reação  que  libera  calor  (trecho  retirado  do glossário  apresentado  no  próprio mangá.  Trata‐se,  portanto,  de  um curioso artefato tecnológico de uso culinário, neste caso, utilizado para esquentar a comida). 

 A frota de defesa naval japonesa consegue destruir os mísseis 

antes de atingirem a atmosfera, com exceção de um, que acaba sendo  interceptado  tardiamente  na  atmosfera  (figura  08) causando  um  efeito  eletromagnético  conhecido  como  P.E.M. (Pulso Eletromagético) ou EMP, do inglês, electromagnetic pulse.  

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Figura 07 – High School Of The Dead, de Daisuke e Shouji Sato, Vol. 04, p. 66 

Figura 08 – High School Of The Dead, de Daisuke e Shouji Sato, Vol. 04, p. 69 

  

 Algumas  personagens,  conhecedoras  de  termos  técnicos 

militares  explicam  aos  companheiros,  e  consequentemente  ao leitor, o significado de tais termos (figura 09).  

 Figura 09 – High School Of The Dead, de Daisuke e Shouji Sato, Vol. 04,  p. 85  Na  sequência de  imagens  surgem os  termos H.A.N.E, Raios 

Gama, Efeito Compton, Estratosfera e P.E.M. Com a presença do 

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glossário ao fim do volume do mangá, encontramos as seguintes definições para cada termo. 

 H.A.N.E.  –  sigla  de  “High‐Altitude  Nuclear  Explosion”,  do  ingles, “Explosão  Nuclear  em  Grande  Altitude”,  relativo  a  explosões nucleares ocorridas em grande altitude e que geram efeito P.E.M. (ver termo nesse glossário) em larga escala. A maior altitude foi de 400 km na detonação da ogiva nuclear norte‐americana “Starfish‐Prime”, em 9 de julho de 1962. O P.E.M. gerado foi tão intenso, que muitos satélites foram danificados, além de causar danos elétricos em  todos os  tipos de componentes eletrônicos na região do Havaí. Nos testes soviéticos da “Operação K”, de 1962 detonações a 300 km acima do nível do mar geraram  um  P.E.M.  que  conseguiu  fritar  570  km  de  cabeamento telefônico  e  1000  km  de  cabos  de  alta  voltagem  que  estavam enterrados. Raios  Gama  –  refere‐se  à  radiação  ionizante  por  radiação eletromagnética. Efeito Compton  – diminuição de  energia  (aumento de  comprimento de onda) de um fóton de raios‐X ou de raio gama, quando ele interage com a matéria, ou seja,  fótons carregados de energia eletromagnética podem  golpear  elétrons  e  expulsá‐los  de  átomos  com  números atômicos baixos. No caso de uma bomba nuclear, os fótons de intensa radiação gama produzida pela explosão podem arrancar uma grande quantidade de elétrons dos átomos de oxigênio e nitrogênio existentes na atmosfera. Esse fluxo de elétrons interage com o campo magnético da  Terra,  criando  uma  corrente  elétrica  alternada,  que  por  sua  vez induz  um  potente  campo  magnético.  Finalmente,  o  pulso eletromagnético  resultante  induz  intensas  correntes  elétricas  em materiais  condutores  espalhados  por  uma  extensa  área,  queimando circuitos e causando um blackout generalizado. Estratosfera – camada da atmosfera entre 21 e 50 km de altitude. P.E.M.  –  sigla  de  “Pulso  Eletromagnético”  (ou  “EMP”,  em  inglês, “electromagnetic pulse”). Um  campo eletromagnético pode danificar componentes eletrônicos presentes na área. Os P.E.M. podem ter três causas:  fatores  naturais  (explosões  estelares);  explosões  nucleares  e bombas de P.E.M. (de alcance bem menor. 

 Mesmo  não  sendo  essa  a  intenção  primordial  da  obra,  ela 

acaba  nos  oferecendo  uma  gama  de  informações  acerca  de 

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ciência  e  tecnologia, bem  como alertas aos danos  causados por essas mesmas tecnologias, como no caso exemplificado acima. 

Muitos  outros  títulos possuem  essas mesmas  características, mas escolhemos apenas dois títulos que mostrassem dois níveis distintos  de  tecnologia,  uma  cotidiana  e  uma  de  cunho  mais avançado.  

Concluindo  São  inúmeras  as  aparições  nas  páginas  dos  quadrinhos 

japoneses  de  termos  utilizados  nas  ciências  e  que  fazem referência aos atuais debates no  campo da  ciência,  tecnologia e sociedade. 

Nos mangás mais antigos é possível notar um panorama de futuro, o futuro imaginado pelo autor na época em que criava a obra;  memórias  de  futuro,  que,  para  Bakhtin,  constitui  o inacabamento em que estamos inseridos, com foco no tempo que esta  por  vir,  ajudando‐nos  nas  escolhas  e  tomadas  de  decisão. Alguns  desses  panoramas  imaginados  pelos  autores  podem  se tornar,  em  parte,  realidade,  como  foi  o  caso  das  “tecnologias fantásticas” ao longo do texto. 

Também foi possível notar uma preocupação dos editores na significação  dos  termos  escolhidos,  apresentando  glossários  ao final  de  cada  edição  lançada3,  aumentando  o  grau  das informações contidas no mangá, como foi o caso das “tecnologias reais” durante a construção do artigo. 

Essa  preocupação  em  significar  da  melhor  forma  possível termos  mais  específicos  nas  narrativas  das  histórias  em quadrinhos  japonesas  possibilita  que  as mesmas  sejam  usadas como  complementação  dos  estudos  em CTS,  ajudando  no  que 

                                                            3 Nem todas as editoras fazem uso de glossários, contudo, é unânime o uso de notas  de  rodapé  explicativas,  tanto  para  traduzirem  termos  como  para contextualização e significação dos mesmos. 

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diz  respeito  ao  entendimento  de  discursos  e  discussões motivadas pelos debates em  campos  científicos, bem  como, em muitos casos, os efeitos colaterais de certas tecnologias criadas e aplicadas pelo homem. 

Acompanhando os estudos pedagógicos em CTS fazendo uso de mangás  realizados  por  LINSINGEN  (2007),  contudo,  numa abordagem mais demonstrativa, acentuamos nesse  texto alguns aspectos  relacionados  a  ciência,  tecnologia  e  sociedade apresentados,  através  de  discursos  quadrinísticos,  nos quadrinhos  japoneses, cuja aceitação entre a população mundial é cada vez maior.  

Utilizar outros suportes de informação que não os tradicionais é  uma  realidade  e  a memória  coletiva  é  preservada de  acordo com os acontecimentos na qual esta é contextualizada, fazendo‐se assim parte de uma ciência chamada história. Jacques Le Goff em sua obra História e memória (1990), estrutura ideologicamente no  último  capítulo,  nuances  entre  ambas  as  disposições  de observar  a  história,  seja  pelos  monumentos  ou  pelos documentos.  Hoje  os  quadrinhos  são  apenas  quadrinhos, entretanto,  futuramente,  poderão  nos  contar  acerca  do pensamento  dominante,  dos  debates  e  discussões,  das preocupações  sociais  da  época  de  sua  criação...  Assim  como fazem hoje.  

  Referências  BAKHTIN, M. Estética da criação verbal.  2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997. 

BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. 12 ed. São Paulo: Hucitec, 2006. 

BAZZO, W. A. ; LINSINGEN, I. V. ; PEREIRA, L. T. D. V. Introdução aos Estudos CTS. 01. ed. Madrid: Organização dos Estados Iberoamericanos, 2003. 

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FARIA, M. L. de. Comunicação pós‐moderna nas  imagens dos mangás. Dissertação (Mestrado), Faculdade de meio de comunicação social. Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2007. 

LE GOFF,  Jacques. História  e Memória. Campinas, SP  : Editora da UNICAMP, 1990. 

LINSINGEN, L. V. Mangás e sua utilização pedagógica no Ensino de Ciências sob a perspectiva CTS. Ciência & Ensino, v. 1, p. 1‐9, 2007. 

MESSIAS, A.  da  S. Marcas  enunciativo‐discursivas  nas Histórias  em Quadrinhos (HQs): Uma proposta de  leitura de  texto  com discurso. Mestrado  em Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: UFRJ, Faculdade de Letras. 2006. 

PATATI,  C;  BRAGA,  F.  Almanaque  dos  quadrinhos:  100  anos  de  uma  mídia popular. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006. 

PINHEIRO, N. A. M.  ; MATOS, E. A. A.  ; BAZZO, W. A. Refletindo acerca da ciência,  tecnologia  e  sociedade:  enfocando  o  ensino  médio.  Revista Iberoamericana de Educación, v. 44, p. 147‐166, 2007. 

 

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Uma revisão histórico‐conceitual sobre a Tecnologia Social  

Gabriela G. Mezzacappa   Introdução 

 Tecnologia  Social  (TS)  é  um  termo  que  vem  recentemente 

ganhando  crescente  repercussão  social  e  acadêmica  no  Brasil. Embora  haja  ainda  poucos  trabalhos  desenvolvidos  a  esse respeito,  sendo a maior parte proveniente dos mesmos autores ou  núcleos  de  pesquisa,  sua  abrangência  vem  crescendo  tanto em quantidade de trabalhos (boa parte foi publicada de meados de 2005 para cá), quanto em diversidade de olhares a respeito do conceito,  de  tecnologias  desenvolvidas  e  de  populações relacionadas. 

Este trabalho tem como objetivo realizar uma breve retomada histórico‐conceitual  do  termo,  de  forma  a  suscitar  novas reflexões que possam contribuir, direta ou indiretamente, com o desenvolvimento  da  definição  e  das  aplicações  da  tecnologia social. 

Primeiramente,  será  abordada  a  noção  de  tecnologia, conforme o olhar de Feenberg  (2008). Num  segundo momento, serão apresentadas as definições de Tecnologia Social segundo a Rede de Tecnologia Social (RTS, 2005) e o Instituto de Tecnologia Social  (ITS, 2009), além de explorar as diretrizes que definem e orientam  a  TS,  com  contribuições  de  diversos  autores.  Em seguida,  será  realizada  uma  retomada  histórica  do  conceito, indicando  suas  possíveis  origens.  Por  fim,  será  indicada  uma reflexão a  respeito das  relações entre TS e o campo da Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS). 

 

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A Noção de Tecnologia  O  correto  entendimento  do  termo  tecnologia  social  é 

facilitado  por  um  entendimento  do  significado  do  conceito tecnologia,  bem  como  dos  diversos  olhares  a  respeito  da natureza da ciência e da tecnologia. Segundo Feenberg (2008), a noção de  tecnologia  remonta à Grécia antiga,  tempo e  local em que se acreditava que as coisas possuíam em si uma essência que presumia  sua  finalidade  para  o  uso  humano,  cabendo  aos estudiosos descobri‐la. A techné, nesse contexto, seria o conjunto de conhecimentos a respeito dessa  finalidade, que correspondia em seu contexto ao papel que a moderna tecnologia desempenha na sociedade contemporânea. 

Para  Feenberg,  duas máximas  exemplificam  o  pensamento predominante  a  respeito da  ciência  e da  tecnologia,  a de René Descartes,  que  defendia  o  domínio  da  natureza  por  meio  da ciência,  e  a de Francis Bacon, que  afirmava que  ser detentor  o conhecimento  significa  ser  detentor  do  poder.  A  visão  atual predominante  sobre  a  Ciência  e  Tecnologia  (C&T)  não  difere muito da visão moderna. Nos alicerces dessa  construção está a noção  de  que  as  coisas  não  possuem  um  significado  e  uma função  para  uso  humano  em  si,  mas  que  os  seres  humanos atribuem  sentidos  e utilidades  às  coisas  ao desenvolver nossos artefatos tecnológicos. 

Desde  a  modernidade  até  atualmente,  a  tecnologia  é  o modelo do “ser”. O autor destaca os exemplos da descrição de Galileu a respeito do funcionamento do Universo comparando‐o ao  funcionamento  de  um  relógio  e  dos  diversos  manuais  de “como  fazer”  que  assumem  o  próprio  ser  humano  como  um artefato,  cujas  regras  de  funcionamento  são  por  eles  ditadas (“Como  educar  seu  filho”,  “Como  perder  peso”,  entre  tantos outros). 

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Essas  diferentes  visões  a  respeito  da C&T  se  encaixam  em uma representação proposta pelo autor, composta por dois eixos, um simbolizando a neutralidade ou não neutralidade da C&T e outro  simbolizando a autonomia ou  controle  sobre o progresso delas.  A  Figura  1  pode  facilitar  o  entendimento  dessa representação.  Nos  quadrantes  formados  por  esses  eixos  se encontram: a) o determinismo (C&T neutras e autônomas em seu desenvolvimento);  b)  o  substantivismo  (C&T  perspassadas  por valores  e  autônomas  em  seu  desenvolvimento);  c)  o instrumentalismo  (C&T  neutras  e  controladas  em  seu desenvolvimento);  e  d)  a  teoria  crítica  (C&T  não  neutras  e controladas em seu desenvolvimento).  

 

 Figura  1  – Representação das  correntes de pensamento  a  respeito do funcionamento da C&T. Figura produzida pela autora. 

 Todas  essas  visões  encontram  coro  em  algumas  vozes  na 

sociedade contemporânea, porém Feenberg defende o ponto de vista da teoria crítica, uma vez que ao assumir que C&T não são 

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neutras e que seu desenvolvimento deve ser controlado, o autor admite  que  é  necessário  pensar  nas  consequencias  do desenvolvimento  científico  e  tecnológico  desde  sua  concepção. Esse ponto de vista  também advoga que o desenvolvimento da C&T  deveria  ser  pautado  pelas  necessidades  sociais  e desenvolvido democraticamente. Como será possível verificar na próxima  seção,  esse  ponto  de  vista  é  bastante  adequado  às definições e diretrizes da tecnologia social. 

 Tecnologia Social: Definições e Diretrizes 

 Foram  admitidas  aqui  as  definições  de  dois  dos  principais 

núcleos  de  pesquisa  e  registro  de  TS  no  Brasil:  a  Rede  de Tecnologia Social  (RTS) e o  Instituto de Tecnologia Social  (ITS). Ambas  possuem  uma  grande  similaridade,  embora  possa  ser considerado que a definição do ITS inclui dois elementos a mais: a apropriação da TS pela população e a noção de melhoria das condições  de  vida.  Também,  a  definição  da  RTS  inclui “produtos”  como parte do  que pode  ser  considerado TS,  além das técnicas e metodologias. Devido a essas pequenas diferenças, pode‐se  considerar  que  as  definições  não  são  mutuamente excludentes, mas complementares. 

Assim, a RTS considera que TS são “produtos, técnicas e/ou metodologias  reaplicáveis,  desenvolvidas  na  interação  com  a comunidade que representem efetivas soluções de transformação social” (RTS, 2005). Já o ITS afirma que se trata do  

 conjunto de  técnicas  e metodologias  transformadoras, desenvolvidas e/ou  aplicadas na  interação  com  a população  e  apropriadas por  ela, que  representam  soluções  para  inclusão  social  e  melhoria  das condições de vida (ITS, 2009, p. 13). 

 É  possível  depreender  daí  as  diretrizes  que  definem  uma 

certa  tecnologia  como TS. Cabe  ressaltar que  as definições não 

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foram  construídas de  forma  a  criar  essas diretrizes,  antes  foi  a confluência  de  características  dos  diversos  contextos  em  que  a terminologia  foi  utilizada  que  permitiu  a  construção  das definições (ITS, 2004). 

Há  uma  concordância  entre  diversos  autores  a  respeito  de quais são essas diretrizes, que são apresentadas abaixo, seguidas das referências que as endossam. 

a) TS implica na visão de mundo de que C&T não são neutras, mas condicionadas  por  valores  e  intenções  específicos  (FONSECA, SERAFIM, 2010; ITS, 2004); 

b) Voltada  à  inclusão  social,  compreendida  como  inserção de populações historicamente excluídas (como  idosos, pessoas com necessidades especiais, mulheres, doentes mentais, entre outros), especialmente  em  relação  ao mercado de  trabalho  (FONSECA, SERAFIM, 2010); 

c) Requer  a  participação  de  diversos  atores:  pesquisadores,  poder público  e movimentos  sociais,  sociedade  civil organizada, de  forma a garantir  uma multiplicidade  de  olhares  que  possam  contribuir para a resolução de uma demanda social (FONSECA, SERAFIM, 2010; ITS, 2004); 

d)  Possui  uma  relação  com  políticas  públicas,  à medida  que podem  indicar  diretrizes  para  essas  políticas  com  base  na resolução  de  necessidades  sociais  específicas  (FONSECA, SERAFIM, 2010; DAGNINO, R., 2004); 

e) A ênfase está no processo de produção da tecnologia, mais do que no  artefato,  processo  ou  metodologia  em  si  (RODRIGUES; BARBIERI, 2007); 

f) A  construção de  conhecimento  é  coletiva,  com  participação dos  diretamente  atingidos  (RODRIGUES;  BARBIERI,  2007;  ITS, 2004); 

g)  Objetiva  o  atendimento  a  demandas  sociais  concretas, especialmente as locais, uma vez que a C&T não é neutra, deve ser 

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direcionada  de  forma  a  promover  a  inclusão  e  a  resolução  de problemas sociais (RODRIGUES; BARBIERI, 2007; ITS, 2004); 

h)  O  planejamento  e  a  aplicação  são  organizados,  partindo  de uma agenda pré‐definida, de forma que seja possível avaliar seus impactos para aquela população (RODRIGUES; BARBIERI, 2007; ITS, 2004); 

i) O processo de construção do conhecimento é ensejo para a aprendizagem  de  todos  os  envolvidos,  possibilitando concomitantemente uma certa  forma de alfabetização científico‐tecnológica  para  os  assim  chamados  “leigos”  e  o  contato  com objetos  de  pesquisa  interessantes  para  os  pesquisadores,  entre outras possíveis aprendizagens  (RODRIGUES; BARBIERI, 2007; ITS, 2004); 

j) A  tecnologia desenvolvida deve garantir a  sustentabilidade econômica, social e ambiental (RODRIGUES; BARBIERI, 2007); 

k) A  construção  de  conhecimento  deve  ser  realizada  a  partir  da prática,  levando  em  consideração  o  conhecimento  tradicional  e empírico da população diretamente afetada (ITS, 2004); 

l) Deve haver  a  possibilidade  de  aplicação  e  aperfeiçoamento  em situações similares (ITS, 2004); 

m)  Deve  ser  interdisciplinar  em  seu  desenvolvimento,  de forma  a  possibilitar  um  olhar  mais  abrangente  acerca  da complexidade  do  problema  e  solução  abordados  (DAGNINO, 2004); 

n) O conceito deve permanecer em constante construção conjunta, por meio de reuniões, encontros e estudos específicos para esse fim, de forma que a evolução do conceito acompanhe a evolução da  sociedade  conforme  as mudanças  forem  acontecendo  (ITS, 2004). 

    

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Histórico  Segundo França (2010), existem duas vertentes a respeito do 

surgimento  da  TS,  quais  sejam  na  Índia,  com  base  no desenvolvimento  da  Tecnologia  Apropriada  (TA)  ou  em contraposição  à  Tecnologia  Convencional  (TC).  É  possível, porém,  considerar  que  ambas  as  vertentes  se  entrecruzam, podendo  ter  influenciado  concomitantemente  o  surgimento  do conceito. 

Dagnino,  Brandão  e  Novaes  (2010)  contextualizam  o surgimento  da  TS  a  partir  da  crise  da  Tecnologia Apropriada (TA), cuja origem remontaria à Índia do século XIX. No contexto da dominação inglesa, Ghandi teria incentivado a apropriação de uma tecnologia já utilizada por pequenos grupos de artesãos por parte de uma gama maior da população indiana, como forma de combater a importação de produtos estrangeiros e de valorizar a produção nacional, fortalecendo a economia indiana. Trata‐se de uma espécie de roca de fiar, chamada Charkha, cuja importância prática  e  simbólica  foi  tão  forte  no  contexto  em  que  o  país  se encontrava  que  até  hoje  é  representada  em  sua  bandeira.  A apropriação da tecnologia do Charkha para um uso diferente, em mais larga escala, possibilitou estabilidade econômica e social no contexto  de  crise.  Uma  frase  de  Ghandi  se  tornou  célebre  ao valorizar  o  saber  tradicional  e  o uso da  tecnologia  apropriada: “produção  pelas  massas  e  não  produção  em  massa”, contrapondo essa forma de apropriação tecnológica à tecnologia industrializada. 

Segundo  Rodrigues  e  Barbieri  (2007),  mais  tarde,  já  nas décadas de 1960 e 1970, a TA foi difundida como alternativa ao uso das  tecnologias desenvolvidas  pelos  países de  ponta,  uma vez  que  essas  Tecnologias  Convencionais  (TC)  eram  caras  e inacessíveis aos países subdesenvolvidos. A TA recebeu diversas denominações entre as décadas de 70 e 90, porém  todas elas se 

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referiam a um mesmo modelo: admitir uma certa tecnologia pré‐existente  e  adapta‐la para um uso  ou propósito  específicos, de acordo  com  as  condições  sócio‐culturais  dos  usuários  dessa tecnologia. 

Para  esses  autores,  os  princípios  da  TA  seriam  a  baixa necessidade  de  investimento,  a  geração  de  empregos,  a simplicidade  organizacional,  a  adaptação  sociocultural,  a  auto‐suficiência  local,  a  economia  de  recursos,  o  uso  de  recursos renováveis e o controle social. 

Na década de 70, aconteceu a reunião do Clube de Roma, em que os países desenvolvidos debatiam questões ambientais. Nesse contexto, admitiu‐se que a TA desenvolvida pelos países pobres era  interessante,  uma  vez  que  permitiria  que  esses  países permanecessem  poluindo  a  uma  baixa  taxa,  de  forma  que  o montante  de  poluição  gerado  pelos  países mais  desenvolvidos pudesse permanecer o mesmo, minimizando a questão ambiental a nível global. Dessa forma, o apoio à TA por parte do Clube de Roma  envolveu  o  interesse  de  que  servisse  como  um  paliativo, mitigou  consequencias da  situação de dominação por parte dos países  desenvolvidos,  de  forma  a  manter  esse  sistema  de dominação (RODRIGUES; BARBIERI, 2007). 

Assim, uma das críticas citadas pelos autores à TA é o fato de tender  a  manter  a  exclusão  social  por  meio  de  uma  geração paliativa de melhores condições de vida. Outras críticas citadas são de que algumas correntes da TA mantinham um pensamento salvacionista,  do  tipo  “a  minha  tecnologia  é  a  tecnologia adequada,  é melhor  do  que  a  sua”,  e  determinista,  segundo  o que  o  desenvolvimento  científico‐tecnológico  é  linear  e invariavelmente  ruma  ao  progresso,  além  da  visão  da  ciência como neutra. Assim, a TA gera desenvolvimento social, mas não critica o funcionamento da sociedade (RODRIGUES; BARBIERI, 2007). 

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Ainda segundo esses autores, no contexto da globalização e do neoliberalismo, a TA entra em crise, ao se  instituir o modelo da TC como a tecnologia ideal, a mais desenvolvida e a que gera vantagens no mercado competitivo, de forma que a TA não mais aparenta ser suficiente para a geração de qualidade de vida, uma vez que aqueles que a adotam não são capazes de competir com os  que  fazem  uso  da  TC.  A  crise  da  TA  abriria,  assim,  em conjunto  com  os  processos  de  adequação  sociotécnica,  portas para  o  desenvolvimento  de  uma  forma  mais  socialmente adequada  de  desenvolvimento  tecnológico,  mantendo  os princípios da TA, mas assumindo a não‐neutralidade da C&T e a necessidade  da  construção  coletiva  da  tecnologia,  envolvendo aqueles diretamente atingidos por ela, de  forma a possibilitar o empoderamento  da  população  em  relação  ao  conhecimento. Assim,  a  TS  se  contrapõe  à  TA  basicamente  em  relação  ao processo de construção do conhecimento. 

Para Oliveira, Costa, Dagnino  e  Faria  (2009),  a  TC  serve  à lógica capitalista e mercadológica, sendo guiada pelos interesses de quem detém o poder nesse contexto. Porém, essa  finalidade da  TC  permaneceria  protegida  pela  noção  de  neutralidade científica  e  tecnológica  (a  visão de  que  a TC  é  a  tecnologia de ponta,  a  mais  avançada,  isenta  de  interesses,  mas  como desenvolvimento  natural  da  C&T).  Além  disso,  por  meio  de processos  de  patenteamento,  a  TC  traria  lucro  aos  seus inventores, e não diretamente aos seus usuários, e a geração de bem‐estar e qualidade de vida para a sociedade como um  todo aconteceria mais a  longo prazo. Dagnino (2004) considera ainda que a TC é inadequada à inclusão social, uma vez que é pautada na  lógica da  competição  e da  hierarquização do  trabalho,  cujo ritmo  de  trabalho  é  ditado  pelas  máquinas  num  modelo coercitivo  de  controle  da  produtividade.  Devido  ao  fato  de objetivar  o  lucro  e  a  competitividade,  a  TC  não  permite  a participação pública em sua formulação. 

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Contrapondo essas características, a TS seria capaz de gerar desenvolvimento  social  e  qualidade  de  vida  a  curto  prazo diretamente  para  os  inventores  e  usuários  da  tecnologia desenvolvida  –  os  próprios  atingidos  pela  problemática solucionada pela TS  (OLIVEIRA, COSTA, DAGNINO e FARIA, 2009).  Ela  seria  adequada  à  inclusão  social,  aos  pequenos produtores e aos empreendimentos autogestionários, sendo que o ritmo do trabalho é ditado pelas necessidades e características daquela população. A TS seria intrinsecamente participativa, não apenas  possibilitando  a  opinião  pública  a  seu  respeito, mas  a construção coletiva e participativa do conhecimento por todos os interessados (DAGNINO, 2004). 

Retomando  essa  perspectiva  histórica,  parece  bastante palpável  imaginar  a  TS  enquanto  procedimentos  ou  artefatos, uma  máquina  inventada  por  um  conjunto  de  pessoas,  com determinada  forma  de  utilização.  Porém  alguns  autores,  como Dal Ri (2007), consideram que o termo TS poderia ser aplicado a formas  organizacionais  do  trabalho  e  da  produção, especificamente  as  formas  associativas  e  autogestionárias  de trabalho,  que  teriam  surgido  para  sanar  uma  demanda  social específica. Assim, não se pode perder de vista que a definição de TS  é mais  ampla,  e  tem  sempre  em vista uma  inovação  social, uma  tecnologia  nova  para  ser  aplicada  com  um  propósito específico a uma situação específica. 

Com o desenvolvimento da TS e a criação da RTS e do  ITS, foram  também desenvolvidos  centros de difusão de  tecnologia social  e  incentivos  ao  desenvolvimento  de  TS,  de  forma  a possibilitar  a  replicação  da  TS  por  outros  grupos  sociais,  de forma  adaptada  ao  novo  contexto  sócio‐cultural. Algumas  das instituições relacionadas a isso são: RTS, ITS, Fundação Banco do Brasil,  Banco  de  Tecnologias  Sociais,  Centro  Brasileiro  de Referência  em  Tecnologia  Social,  Centro  Avançado  de 

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Tecnologia Social Ayrton Senna (RODRIGUES; BARBIERI, 2007; OLIVEIRA, COSTA, DAGNINO E FARIA, 2009). 

 Tecnologia Social e o Campo CTS 

 Bourdieu (1997) afirma que a agenda da C&T é definida por 

quem  detém  poder  na  comunidade  acadêmica.  Essa  afirmação suscita a reflexão a respeito de quem detém o controle da ciência. O mercado? Os gestores públicos? A  comunidade  científica? A sociedade em geral? Nesse sentido, Dagnino (2004) aponta que a agenda  de  pesquisa  da  Universidade  é  definida  pelos  grande nomes,  que  são  os  que  são  reconhecidos,  especialmente  no exterior.  Dessa  forma,  a  pesquisa  seria  orientada  para  os interesses externos, e não para a realidade nacional. 

Merthon  (1968)  postulou  o  chamado  Efeito  Matheus  na ciência.  Segundo  esse  modelo,  a  comunidade  científica  é estratificada  de  forma  que  apenas  aqueles  que  já  possuem renome obtêm vantagens, sendo que pesquisadores que não têm vínculos  com  esses  “grandes  nomes”  dificilmente  se  tornarão reconhecidos. Assim,  analisando  esse  fato  em  conjunto  com  as postulações  de  Dagnino  (2004)  e  Bourdieu  (1997),  é  possível inferir  que  se  trata  de  um  círculo  vicioso,  em  que  o reconhecimento recai sobre os pesquisadores que estão no  topo da pirâmide, que definem  a  agenda de pesquisa nacional,  e os temas que esses pesquisadores tratam está relacionado à agenda de  pesquisa  internacional,  que  prioriza  a  tecnologia convencional. Dessa  forma,  pesquisas  relacionadas  a  temáticas de interesse direto da sociedade brasileira seriam desvalorizadas, e  esse  pode  ser  um  dos  motivos  do  descrédito  sofrido  pela universidade  na  sociedade  brasileira  (DAGNINO,  2004),  uma vez que ela não atende interesses “nem para a classe dominante nem para a classe dominada” (DAGNINO, 2004, p. 21). 

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Nesse  contexto,  a  tecnologia  social  poderia  se  apresentar como possível  alternativa para  o  concomitante  atendimento de necessidades  e  problemáticas  sociais  específicas  e  para  o desenvolvimento  de  pesquisas mais  focadas  à  realidade  local, regional  e  nacional  (DAGNINO;  BRANDÃO; NOVAES,  2010). Segundo  o  FINEP  (2008),  a  TS  foi  inserida  recentemente  no campo  da  ciência,  tecnologia  e  sociedade,  por  se  tratar  de  um conceito relativamente recente. Ele se relaciona intimamente com a metodologia de pesquisa‐ação, uma vez enfocando a resolução de  uma  condição  social  adversa  e  específica,  de  forma  que  o debate  pode  ser  expandido  na  direção  das  metodologias  de pesquisa  atuais,  numa  interface  que  pode  ser  rica  tanto  ao desenvolvimento  do  conceito  de  TS  quanto  aos  estudos metodológicos. 

Ainda no sentido de uma possível  interface entre o conceito de TS e os estudos em Ciência, Tecnologia e Sociedade, Oliveira (2005) critica o modelo de ciência como alavanca do progresso, ou seja, a visão determinista, se aproximando da visão da teoria crítica  a  respeito  da  ciência  e  da  tecnologia.  Retomando  as diretrizes e o histórico apresentados acima, é possível relacionar mais  intimamente a TS ao modelo da  teoria crítica da C&T que Feenberg  (2008)  aborda, uma  vez  que  ambas  se pautam  numa noção de C&T não neutra e cujo progresso deve ser controlado, no  sentido  de  que  os  pesquisadores,  ao  desenvolver  um conhecimento ou uma tecnologia, são também responsáveis por pensar sua aplicação e, com isso, seus possíveis efeitos positivos ou negativos sobre a sociedade e o meio‐ambiente. França (2010) coloca  ainda  a  necessidade  de  repensar  o  modelo  de desenvolvimento, pautado pelo aumento da produtividade e do consumo  acima  das  condições  do  meio‐ambiente  e  do  ser humano. Nesse  sentido,  o  autor  considera  que  a  TS  pode  ser disseminadora  de  novos  valores,  por  ter  como  um  de  seus critérios a sustentabilidade sócio‐ambiental.  

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Para  o  ITS  (2004),  existe  a  necessidade  de  participação pública  para  o  avanço  da  ciência,  em  consonância  com  os interesses e necessidade da  sociedade. A TS é  colocada por ele como  facilitadora  desse  processo,  uma  vez  que  não  apenas permite  a  opinião  pública  a  respeito  do  desenvolvimento científico‐tecnológico,  mas  também  coloca  ao  alcance  dos próprios  interessados  diretos  (acometidos  pelas  situações‐problema)  participarem  da  construção  do  conhecimento  e  da tecnologia que lhe serão mais adequados, tendo valorizado o seu saber empírico e tradicional. 

Segundo Velho  (2010), as políticas de Ciência, Tecnologia  e Inovação (CTI) no Brasil estão gradativa e lentamente mudando a visão predominante de  ciência,  ao menos  em  alguns  círculos sociais,  de  uma  visão  determinista  para  uma  visão  de  que  ela deve ser socialmente contextualizada, local e voltada a interesses nacionais.  Essas  características  estão  presentes  nas  diretrizes nacionais  para  CTI,  embora  na  prática  provavelmente  não  se verifique uma mudança palpável na visão predominante  sobre C&T,  especialmente  dentro  da  academia.  Nesse  contexto,  e considerando  todas  as  possíveis  articulações  já  apresentadas entre  TS  e  o  campo  CTS,  a  TS  encontra  campo  fértil  para  se desenvolver  e  contribuir  com  a  expansão  e  consolidação  do campo CTS, como ferramenta potencialmente transformadora do fazer científico atual. 

 Conclusão 

 Este  trabalho  coloca‐se  enquanto  um  esforço  de  reflexão 

sobre  a  tecnologia  social,  suas diretrizes, história  e  inserção no campo  CTS.  Porém  ainda  são  necessários  estudos complementares,  de  forma  a  clarear  essas  questões.  Uma discussão que poderia  ser aprofundada, por exemplo, seria sua relação com a metodologia de pesquisa‐ação participativa, cujos 

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pressupostos metodológicos em muito se assemelham aos da TS: construção  de  conhecimento  para  a  solução  de  uma  demanda social  específica, participação do grupo diretamente afetado na construção desse conhecimento, adequação a coletivos pequenos e médios, entre outros (THIOLLENT, 2003). 

A TS é criticada por diversos pensadores, como paternalista, assistencialista  e  postuladora  de  necessidades  sociais  irreais (FINEP,  2008).  Todas  essas  críticas  poderiam  ser  respondidas com as seguintes informações:  

a) não se trata de paternalismo ou assistencialismo, uma vez que  promove  a  aprendizagem  do  processo  de  construção  de conhecimento por parte dos “leigos” envolvidos, de  forma que se a Universidade ou outra instituição envolvida no processo se retirar,  a  própria  população  será  capaz  de  desenvolver  suas soluções.  

b)  com  relação  à  crítica  que  afirma  que  a  TS  postula necessidades  sociais  irreais,  ela  é  produzida  a  partir  de  uma problemática trazida explicitamente pela população diretamente atingida por ela, sendo que essa mesma população participa na produção  de  conhecimento  e  formulação  da  tecnologia.  A problemática  não  é  identificada  por  um  pesquisador  externo àquela população e apresentada a ela, a postura assumida pelo pesquisador é de escuta das demandas em relação direta com as pessoas  atingidas.  Assim,  dificilmente  a  problemática  tratada pela TS é erroneamente postulada (FINEP, 2008).  

Essas críticas poderiam ser consideradas  ingênuas, uma vez analisadas  as  diretrizes  da  TS.  Outras  questões,  talvez  mais relevantes  do  que  se  a  TS  é  ou  não  assistencialista  ou paternalista,  poderiam  ser  levantadas,  tais  como:  Como  se relaciona o  envolvimento da TS  com  a  formulação de políticas públicas com a  liberdade da ciência em seu  livre‐pensar? Como se  dá  a  questão  da  propriedade  intelectual  da  TS,  de  forma  a garantir que o grupo que a desenvolveu não seja lesado devido à 

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apropriação de sua  tecnologia por outrem para  fins comerciais, garantindo  ao mesmo  tempo  sua  reaplicabilidade? Que  outras propostas  de  participação  social  na  C&T  e  de  transformação social por meio da C&T  já foram, estão sendo, ou poderiam ser propostas? 

Relacionada  a  segunda  questão,  uma  crítica  talvez  mais relevante  seja  o  fato das  iniciativas de TS  se  inserirem  em um contexto sócio‐político mais amplo que valoriza a competição e a TC, será que ela pode ser considerada uma efetiva solução social, enquanto  esses  pequenos  empreendimentos  são  mantidos pequenos? Não  estaria  a  TS  contribuindo,  com  a  participação social  e  a  visão  de  não‐neutralidade  da  ciência,  para  a manutenção dos  oprimidos no  lugar de  oprimidos,  tal  como  o fazia a TA? 

Da  mesma  forma  que  a  autogestão  está  imersa  em contradições,  tal  como  o  fato  de  que  os  empreendimentos autogestionários  precisam  competir  com  empreendimentos capitalistas no  contexto  social em que vivemos, a TS  sofre  com contradições  parecidas.  Tais  contradições  não  devem  ser consideradas  empecilhos  ao  desenvolvimento  de  possíveis estratégias  de  desenvolvimento  dessa  proposta,  mas oportunidades  de  aperfeiçoar  um  conceito  e  uma  prática  que continuam  em  constante  construção  e  que  possuem  potencial transformador,  tanto  dentro  quanto  fora  da  academia.  Dessa forma,  espera‐se  que  esta  breve  retomada  histórico‐conceitual, ainda  muito  resumida,  possa  servir  de  provocação  para  que novos  estudos  sejam  feitos no  sentido de  criticar,  aperfeiçoar  e promover  a  tecnologia  social  enquanto  parte  do  campo  da ciência, tecnologia e sociedade. 

   

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Referências  BOURDIEU,  P.  Os  usos  sociais  da  ciência.  Por  uma  sociologia  clínica  do  campo científico. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar. 1997. 86 p. 

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RODRIGUES, I.; BARBIERI, J. C. A emergência da tecnologia social: revisitando o movimento  da  tecnologia  apropriada  como  estratégia  de  desenvolvimento sustentável. Revista de Administração Pública. Rio de  Janeiro. V. 42  (6). p. 1069‐1094. nov/dez 2007. 

RTS. Disponível em: <http://www.rts.org.br>. Acesso em 06/10/2010. 

THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa‐ação. São Paulo: Cortez, 2003. 108 p. 

VELHO,  L.  Modos  de  produção  de  conhecimento  e  inovação:  estado  da  arte  e implicações para a política científica,  tecnológica e de  inovação. Brasília, DF: Centro de Gestão e Estudos Estratégicos. 2010. 25 p. Nota técnica. 

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Blogs como espaço discursivo:  para além da perspectiva tecnológica  

 Gustavo Grandini Bastos 

Lucília Maria Sousa Romão   Introdução  

Durante  a  história  humana,  tanto  a  ciência,  como  a tecnologia,  têm sido observada como relevantes estruturas para o  desenvolvimento  de  nossa  sociedade  em  diversos  setores, permitindo  a  alteração  dos  rumos  da  economia,  educação, política,  saúde  e  do  campo  social.  Nos  dias  atuais,  essa constatação é observada com grande força por diversos teóricos (SANTOS;  MORTIMER,  2002).  Uma  infinidade  de  produções científicas e tecnológicas afetam as formas de entender questões de  nossa  sociedade,  inclusive  desestabilizando  sentidos considerados imutáveis e tidos como estabelecidos. Acreditamos que o computador, a internet e os blogs são três exemplos dessas produções que afetaram de forma única e profunda a sociedade contemporânea,  produzindo  efeitos  que  configuram  outras relações com o espaço, tempo e com as formas de subjetivação. 

Acreditamos  que  os  estudos  de  Ciência,  Tecnologia  e Sociedade  (doravante CTS) podem  colaborar efetivamente para pensarmos tais questões, já que suas investidas teóricas avançam em  um  desejo  de  refletir  a  sociedade  afetada  pela  ciência  e tecnologia  (doravante C&T). Contribuindo para  essa discussão, mobilizamos  a  Análise  do  Discurso  de  tradição  francesa  para pensar os blogs como um espaço discursivo fecundo para pensar a  noção  de  sujeito,  fugindo  de  postulações  ingênuas  que  os espaços digitais são neutros e não seriam afetados nem afetariam a constituição de sujeitos. Consideramos que o sujeito discursivo 

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inscreve‐se  em  regiões  de  dizer  afetadas  pela  ciência  e  pela tecnologia, novas condições de produção dos discursos hoje.  

 O campo CTS: alguns conceitos em curso 

 O campo CTS é observado por Bazzo (2003) como um espaço 

de estudo e pesquisa acadêmica que trabalha com a reflexão dos aspectos sociais da ciência e da tecnologia Isso no âmbito relativo as necessidades sociais que acabam criadas com as pesquisas em busca  de  respostas  realizadas  por  ambas,  assim  como  no  que afeta  as  consequências  resultantes de  seus produtos  e  serviços. Destacamos  que  a  apresentação  de  C&T  como  detentora  do desenvolvimento  humano  como  a  chave  de  pleno  progresso, riqueza  e  bem  estar  social  permearam  o  discurso  técnico‐científico por muito tempo, como se ambas fossem neutras e não afetadas  por  questões  outras,  como  os  fatores  políticos  e ideológicos que afetam o sujeito cientista (BAZZO, 2003). Como se  a  ciência  e  a  tecnologia  por  si  só  assegurassem  o desenvolvimento  humano  ou  mesmo  detivessem  a  única verdade  existente:  tal  concepção  é  ingênua  no  nosso  entender (AULER; DELIZOICOV, 2001). 

De acordo com Auler e Bazzo (2001), no século XX, ocorreu a observação  de  que  o  desenvolvimento  científico,  econômico  e tecnológico  não  acompanhava  mais  a  ilusória  equação  que postulava que apenas a evolução da ciência e da tecnologia eram suficientes para alcançar o desenvolvimento social e econômico de  todos.  Corroborou  para  isso  a  observação  de  pontos relevantes  como  a  identificação  de  problemas  ambientais  e desenvolvimento  armamentista,  que  ocorreram  em decorrência do  pretenso  avanço  da Ciência  e  Tecnologia.  Iniciamos,  então, um  período  que  permitiu  uma  melhor  avaliação  e questionamento  acerca  dos  efeitos  sociais  da  C&T  e  produziu efeitos no sentido se refletir que as ações geradas não são sempre 

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positivas,  que  é  importante  a  participação  democrática  e  é necessário  pensar  todas  as  consequências  envolvidas  nos processos de C&T  (AULER; BAZZO, 2001). Relações  simplistas que  equacionam  o  desenvolvimento  científico  e  o  tecnológico levando  ao  desenvolvimento  econômico  e  finalmente  ao  bem estar de todos os membros da sociedade (GONZÁLEZ GARCÍA et  al.,  1996)  passaram  a  ser  colocadas  em  xeque,  furando  o modelo de precisão matemática  que passou  a  ser  questionado, indagado.  Vale  registrar  que  tal  movimento  permitiu  novos questionamentos que passaram a  inserir a C&T dentro de outro enquadre e outras perspectivas.  

Tal  movimento  de  abrir‐se  a  novos  contextos  eivado  de contradições é agigantado com o surgimento da  internet, criada por Vannevar  Bush  no  âmbito  da  valorização  da  ciência  e  de seus  avanços  para  as  conquistas militares  durante  a  Segunda Grande  Guerra  Mundial.  No  seu  relatório  Science:  the  Endless Frontie, redigido a pedido do presidente estadunidense Franklin Roosevelt,  o  criador  da  rede  fundamenta  que  ela  forneceria pontos de possibilidade para a consolidação da paz no mundo. Uma  falsa  noção  de  que  todos  os  problemas  poderiam  ser resolvidos com a criação de produtos de C&T passa a ser muito difundida,  embasada por uma pretensa neutralidade  e  suposta busca de progresso identificado como sempre positivo, ancorado em  decisões  cientificas  observadas  como  verdades  cientificas inquestionáveis  (AULER;  BAZZO,  2001),  como  se  essa completude fosse possível e certa. A partir de então, observamos duas  tendências  de  estudos  de  CTS  no  mundo,  nos  Estados Unidos  e  na  Europa.  A  perspectiva  de  estudos  americanos observa  as  influências que  a C&T  acabam por  resultar na vida dos  sujeitos,  considerando  muito  mais  as  consequências ambientais  e  éticas  resultantes  das  transformações  acarretadas pelos produtos gerados pela  ciência e  tecnologia  (LINSINGEN, 2007; CACHAPUZ,  et  al.,  2008).  Já  os  estudos  europeus  têm  o 

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interesse de observar como o contexto social afeta as mudanças cientificas e tecnológicas (BAZZO, 2003). Após essas colocações, discutiremos  traços  da  denominada  Sociedade  da  Informação para,  posteriormente,  adentrarmos  o  campo  de  discussão  da internet e seu histórico evolutivo. 

A Sociedade da Informação vem sendo nomeada de diversas formas, dentre as quais destacamos Sociedade do Conhecimento, Sociedade  da  Educação,  Sociedade  de  Informações (TAKAHASHI,  2000; MIRANDA,  2003)  e vem  sendo  objeto de estudo de uma  série de pesquisadores nas mais variadas  áreas do  conhecimento  científico.  Essas  denominações  colocam  em movimento conseqüências e impactos causados pelas tecnologias de  comunicação  e  informação  (TIC)  nas  sociedades contemporâneas,  afetadas  por  espaços  sociais  e  territoriais contrastantes  entre  si,  com  necessidades  sociais  e  práticas culturais igualmente distintas entre si (SORJ, 2003). Desse modo, A Sociedade da Informação 

 [...]  não  é  um  modismo.  Representa  uma  profunda  mudança  na organização da sociedade e da economia, havendo quem a considere um  novo  paradigma  técnico‐econômico.  É  um  fenômeno  global,  com elevado potencial transformador das atividades sociais e econômicas, uma  vez  que  a  estrutura  e  a  dinâmica  dessas  atividades inevitavelmente  serão,  em  alguma  medida,  afetadas  pela  infra‐estrutura  de  informações  disponível.  É  também  acentuada  sua dimensão  político‐econômica,  decorrente  da  contribuição  da  infra‐estrutura de  informações  para  que  as  regiões  sejam mais  ou menos atraentes  em  relação  aos  negócios  e  empreendimentos.  Sua importância  assemelha‐se  à de uma boa  estrada de  rodagem para o sucesso  econômico  das  localidades.  Tem  ainda  marcante  dimensão social, em virtude do seu elevado potencial de promover a integração, ao  reduzir  as  distâncias  entre  pessoas  e  aumentar  o  seu  nível  de informação (TAKAHASHI, 2000, p. 5). 

 O  termo  “Sociedade da  Informação”  já  foi muito  estudado, 

inclusive  com  a  busca  por  essa  origem  epistemológica,  sendo 

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incerta  a  sua  origem,  embora  existam  indícios  de  que  seu aparecimento  surgiu  em  documentos  científicos  de  trabalhos provenientes dos Estados Unidos e  Japão da década de 1960. O desenvolvimento  do  termo  ganha  força  na  década  seguinte, graças  ao  entendimento  das  transformações  que  passam  a ocorrer  no mundo,  discutindo  seu  papel  e  importância  numa sociedade  que  passava  por  grandes  mudanças  e  avanços  no campo  das  comunicações  e  tecnologia.  Nesses  termos,  a American Society  for  Information Science  (ASIS)  foi a primeira que  atuou  na  difusão  e  trabalho  do  termo  na  década  de  1970 através  da  Annual  Review  of  Information  Science  and Technology  (ARIST)  (FREITAS,  2002),  de  tal maneira  que  esse conceito se formaliza logo após a Segunda Guerra Mundial com o advento das inovações tecnológicas (MATTELART, 2002). 

Cresce nos anos da década de 1980 a  consciência acerca da importância social da informação, sua consistência e necessidade na nova constituição mundial, destaca‐se ainda a complexidade da discussão sobre o modo de as TICs adquirirem espaço e lugar, visto que  

 essas tecnologias permitem a coordenação de tarefas e a administração da complexidade.  Isso resulta numa combinação sem precedentes de flexibilidade  e  desempenho  de  tarefa,  de  tomada  de  decisão coordenada e execução descentralizada, de expressão individualizada e  comunicação  global,  horizontal,  que  fornece  uma  forma organizacional superior para a ação humana (CASTELLS, 2003a, p. 8).  

 Com  a  consolidação do  termo Sociedade da  Informação,  as 

TICs permitiram o desenvolvimento de uma série de tecnologias e a melhoria de da circulação de dados, sendo a rede eletrônica o ponto  alto  desse  processo.  Com  o  desenvolvimento  da  rede  e com a ampliação de sua velocidade e capacidade de compactar dados,  inicia‐se um  novo momento,  no  qual  a  internet  está  ao lado da evolução da engenharia eletrônica, desenvolvimento da fibra  óptica,  avanço  do  homem  no  espaço,  aprimoramento  do 

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conhecimento  acerca  do  mapeamento  genético  e  de  uma infinidade  de  conquistas  possíveis  e  auxiliadas  graças  as  TICs (GUERREIRO, 2006). 

 O  vertiginoso  desenvolvimento  das  tecnologias  de  informação  e comunicações  tem  sido um poderoso  instrumento para a  rotinização reorganização  e  automatização  do  trabalho  intelectual. O  fenômeno tecnológico  tem  operado  como  liberador  de  energia  cognitiva,  que será necessariamente  aplicada na  área de  conhecimento de  cada  ser humano, não importa seu nível de educação (MIRANDA, 2003, p. 62).  

 As  inovações  possibilitadas  pela  ciência  e  tecnologia 

facilitaram  o  acesso  e  transmissão  de  informações  na contemporaneidade num nível nunca antes pensado, e a Internet permitiu  uma  infra‐estrutura  de  circulação  de  grande quantidade  e variedade de  informações  (BRANSKY,  2004), por isso, ela apresenta  características únicas e  seu desenvolvimento consistiu  em  uma  “aventura  humana  extraordinária” (CASTELLS,  2003a,  p.  13).  A  rede  é  apresentada  por  Sawaya (1999)  de  uma  forma  muito  interessante,  já  que  marca  sua existência em uma atuação de forma descentralizada, oferecendo uma  série  de  serviços  e  recursos,  sendo  considerado  um fundamental  e  poderoso  instrumento  de  comunicação  e tecnologia  no  mundo  contemporâneo,  sendo  que  é  possível existir  através  das  conexões  via  telefone  (LÉON,  2004).  Tal dispositivo  funciona  interligando mais de uma  rede  local, para tanto,  é  necessário  um  roteador  nesse  processo  de  trocas  e intercâmbios,  permitindo  assim  um  fluxo  comunicacional  e informacional eficiente, permitindo o acesso a recursos locais ou remotos por parte dos sujeitos‐navegadores. 

O  histórico  de  desenvolvimento  da  Internet  teve  um incentivo muito grande vindo do medo proveniente dos anos de tensão da Guerra Fria, foi devido ao constante receio dos Estados Unidos de perder a corrida armamentista para a União Soviética, 

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que  motivou  a  liberação  de  uma  grande  quantia  em investimentos  por  parte  do  Departamento  de  Defesa  Norte‐Americano  e  executado  pela  ARPA,  que  visava  o desenvolvimento de um sistema de comunicação eletrônica entre os Centros de Conhecimento e Pesquisa daquele país de  forma que  pudesse  ocorrer  o  alerta  caso  ocorresse  algum  ataque  por parte  dos  soviéticos  oferecesse  perigo  para  os  americanos.  A denominada Guerra Fria permitiu a existência de 

 um contexto em que havia forte apoio popular e governamental para o investimento em ciência e tecnologia de ponta, particularmente depois que o desafio do programa espacial soviético tornou‐se uma ameaça à segurança nacional dos EUA (CASTELLS, 2003a, p. 22).  

 Ainda  marcando  algumas  passagens  importantes  para  a 

construção da  rede  eletrônica, no  ano de  1961,  foi publicado  o primeiro  artigo  sobre  comutação  de  pacotes  de  autoria  de Leonard  Kleinrock.  A  Arpanet  era  um  pequeno  projeto desenvolvido em um dos departamentos da ARPA, o Information Processing  Techniques  Office  (IPTO),  fundado  em  1962,  tendo como  objetivo  o  incentivo  a  pesquisa  na  área  de  computação interativa.  Na  década  seguinte,  no  ano  de  1971  o  primeiro programa  de  e‐mail  foi  desenvolvido  por  Ray  Tomlinson; exatamente  em  1972  houve  uma  Conferência  em Washington que  realizou‐se  a  primeira  demonstração  pública  e muito  bem sucedida da Arpanet, além da prática de uma  intensa pesquisa que foi realizada concebendo como um dos resultados o TCP/IP, um  conjunto  de  protocolos,  na  década  seguinte  uma  série  de outras instituições de ensino superior passaram a integrá‐la. Em 1973,  Robert  Kahn  e  Vint  Cerf  lançaram  um  artigo  com delineações  acerca  da  Internet,  ambos  eram  membros  de institutos  respeitáveis,  o  primeiro  da  ARPA  e  o  segundo vinculado  da  Universidade  de  Standford  (CASTELLS,  2003b; NOVAES; GREGORES, 2007). Em 1980, é  inscrito pela primeira 

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vez o  termo  Internet  e,  em  1985, que  tivemos por  iniciativa da National  Science  Foundation  (NSF)  a  interligação  dos computadores  de  seus  centros  de  pesquisa  e  que  em  1986  foi conectada a Arpanet, essa rede local da NSF recebeu o nome de National  Science  Foundation  Network  (NSFnet)  e  pode  ser considerada  a  espinha  dorsal  da  internet  que  conhecemos atualmente, quando  criada  fazia a  conexão entre  cinco grandes supercomputadores,  a  conexão  desses  computadores  a  essas duas  espinhas dorsais,  backbones, passou  a  ser  conhecido  como Internet (CASTELLS, 2003a), quatro anos depois, no caso 1990, a Internet  já  era  utilizada  por  mais  de  cinquenta  milhões  de pessoas,  oitenta  milhões  em  1996  e  em  1999  por  cento  e cinquenta  milhões  de  pessoas  (BARBOSA,  2005;  NOVAES; GREGORES,  2007)  a  maioria  esmagadora  vivia  em  países desenvolvidos. 

A World Wide Web  (WWW)  foi  criada por Tim Berners‐Lee, um  consultor  de  informática  e  físico  que  quando  desenvolveu essa ferramenta atuava profissionalmente no laboratório de física da  área de Altas Energias do European Organization  for Nuclear Research (CERN), situado em Genebra, Suíça. O projeto da World Wide Web surgiu devido a necessidade de existir uma ferramenta que permitisse a  realização de pesquisas  colaborativas  entre os físicos do mundo todo, já que o CERN é um importante pólo de estudos  do mundo  e  o  caráter  colaborativo  da  área  de  física exigia  tal  função auxiliar visando o desenvolvimento da ciência no  mundo.  O  projeto  apresentado  pelo  pesquisador  tinha  o seguinte  título World Wide Web: Proposal  for a Hyper Text Project (NOVAES; GREGORES, 2007). A importância da World Wide Web para  o  desenvolvimento  e  aprimoramento  da  Internet  é gigantesco visto que “tornava‐se possível gerar um conjunto de informação cujo conteúdo envolvia não só palavras mas também imagens,  sons  e movimentos”  (NOVAES; GREGORES,  2007, p. 24),  Berners‐Lee  criou  ainda  uma  série  de  outras  ferramentas, 

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tais  como o Hyper Text Transfer Protocol  (HTTP)  e o Hyper Text Markup Language (HTML). Essa gigantesca rede é ligada por uma infinidade de apetrechos tecnológicos  indo de cabos telefônicos, fibra óptica, rádio e satélite, a velocidade das operações depende muito  de  que  sistema  é  usado  para  essa  ligação,  por  isso variando  bastante.  Devido  à  existência  de  uma  infinidade  de computadores e sistemas de velocidade distinta fazendo uso da Internet  ocorre  por  isso  um  processo  que  visa  transmitir  os dados  todos na mesma velocidade, o protocolo  tem o nome de Transport Control Protocol/Internet Protocol (TCP/IP). 

A  rede  eletrônica  comporta  uma  discursividade  que muito nos  interessa, o blog, definido por Santaella (2004) como o  lugar que  é  aberto  quando  o  navegador  conecta‐se  à  rede  eletrônica através da Internet, um espaço que permite efetivas explorações por parte de quem puder inscrever‐se em suas redes. É do inglês a origem da palavra ciberespaço, tendo sido usada pela primeira vez pelo escritor estadunidense‐canadense William Gibson, nos romances  Neuromancer  (1984)  e  Count  Zero  (1987),  no  qual postulava  esse  espaço  como  um  local  de  encontros, desencontros,  trocas  e disputas  (BENEDIKT,  2002; BELL  et  al., 2004;  FERNANDES,  2000).  Ele  escapava  de  definições meramente técnicas para tratar da rede como um lugar em que a sociedade e o  sujeito eram  realmente  relevantes, Lévy  (2007, p. 104): 

 Existe no mundo, hoje, um  fervilhar de correntes  literárias, musicais, artísticas, quando não políticas, que falam em nome da ʺciberculturaʺ. O ciberespaço designa menos os novos suportes de informação do que os modos  originais de  criação, de  navegação  no  conhecimento  e de relação social por eles propiciado. 

 O  ciberespaço  é  compreendido  assim  como  ʺcamaleônico, 

elástico,  ubíquo  e  irreversívelʺ  (LEÃO,  2004,  p.  9),  englobando pessoas,  redes  de  computadores  e  sistemas,  em  uma  ʺinter‐

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relação homens‐documentos‐máquinasʺ. Existe uma observação do  ciberespaço  como  um  universo  que  existe  em  ‘paralelo’  ao mundo  ‘físico’,  com  uma  nova  noção  de  velocidade  e movimento, que vem ganhando  força em nível global, sem que haja uma ideia de centralização (SANTAELLA, 2004), abrigando opostos  na mesma  teia,  numa  rede  polissêmica  de  discursos  e sujeitos. O sujeito não possui uma rede segura em seu caminhar pelas  trilhas  ofertadas  pelo  ciberespaço,  inexiste  bússola  que assegure  o  caminho  a  ser  tomado  entre  conexões  de  links  e palavras, os furos que margeiam a rede existem e não permitem tal desejo de estabelecimento cartográfico. Essa ideia de fluidez e caminhos  movediços  que  caracterizam  a  rede  nos  remete  ao escrito “O livro de areia” do argentino Jorge Luis Borges, visto que o livro e a rede apresentam efeitos de mudança, de deslocamento em  uma  trama  aparentemente  infinita,  marcada  pela possibilidade  de  inexistir  o  que  antes  estava  ali,  presente,  aos olhos  do  leitor,  o  que  comparece  como  condição  para  que  os arquivos  eletrônicos  possam  esvair‐se  como  fumaça  e  não possam mais ser encontrados. No  livro de areia ou nas páginas de  silício que constituem a  rede a  instabilidade e a não  rigidez marcam o que é enunciado (ROMÃO, 2005). 

Com a rede eletrônica, hábitos se alteraram e novas maneiras de comunicação e de produção/ circulação de sentidos tornaram‐se possíveis,  incluindo novas possibilidades de escrita e  leitura, em  espaços  discursivos  como  os  blogs  e  outras  páginas eletrônicas diversas, tais como as de museus eletrônicos, sites de compras,  registros  pessoais,  listas  de  discussão  etc.  Temos, nesses  espaços,  um  ambiente  interativo,  permeado  pelos sentidos  que  lhe  atribuem  a  condição  de  um  lugar  de  livre enunciação,  em  que  se  tem  a  ilusão  de  tudo  poder  dizer  e contestar,  sem  interrupções  ou  mesmo  silenciamentos.  (DIAS, 2005).  

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O blog situa‐se nesse âmbito, trata‐se de uma abreviatura de Weblog, junção das palavras web (página da Internet) e log (diário de  bordo)  (SCHITTINE,  2004;  KOMESU,  2005;  SOUZA,  2009), que se popularizou muito no ciberespaço, sendo compreendido como um dos gêneros que emergiram com as novas tecnologias de  informação  e  comunicação  (MARCHUSCHI,  2004).  O  blog enquadra‐se como um produto da chamada Web 2.0, que buscou ampliar  as  maneiras  possíveis  de  disponibilizar  e  produzir informações  (PRIMO,  2006).  É  compreendido  como  uma ferramenta  que  permite  a  publicação  de  pequenos  blocos  de texto que  se apresentam, geralmente, organizados  em arquivos cronológicos, sendo de fácil utilização, devido a pouca exigência de conhecimentos técnicos de  informática para sua estruturação e  permanente  ‘alimentação’,  atualização  de  postagens.  Nele  é possível  disponibilizar,  além  de  textos,  uma  série  de  recursos como  imagens,  sons,  vídeos,  etc. Destacamos  que,  atualmente, vários autores  trabalham  com uma  série de  tipologias de  blogs, como,  por  exemplo,  os  empresariais,  jornalísticos,  políticos, educacionais,  científicos,  etc.  Em  nosso  texto,  dedicamo‐nos  a analisar, inicialmente, os blogs pessoais. 

De acordo com Amaral, Recuero e Montardo (2009), o termo weblog foi usado pela primeira vez em 1997 por John Barger para tratar  de  sites  que  realizavam  a  difusão  de  links  que consideravam  interessantes  para  um  determinado  grupo,  por conta  dessa  semelhança,  muitos  autores  “como  David  Winer considerem  como  o  primeiro  weblog  o  primeiro  site  da  web, mantido  por  Tim  Berners‐Lee,  no  CERN.  O  site  tinha  como função apontar  todos os novos sites que eram colocados no ar” (AMARAL,  RECUERO, MONTARDO,  2009,  p.  28). Altamente popular no mundo, o não reclama grandes conhecimentos acerca da  linguagem  especializada  da  informática  para  a  sua montagem,  construção  e postagem,  além da  rápida  atualização publicação  do material  que  é  postado  (AMARAL,  RECUERO, 

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MONTARDO,  2009),  abrindo  espaço  para  a  relação  interativa com outros navegadores. 

O Technorati é compreendido como um sistema que realiza a busca  e  indexação  de  blogs  e  outros  conteúdos  criados  e administrados  por  sujeitos  navegadores  do  ciberespaço,  assim são rastreados e monitorados links, comentários e promovendo a apresentação das temáticas mais populares e dos principais blogs da  internet  (SILVA,  2007).  De  acordo  com  o  último  relatório, publicado em 2010, nomeado State of the Blogosphere grande parte dos  blogueiros  demonstraram  que  tem  conseguido  estabelecer novas amizades e  relações com pessoas que nunca conheceram pessoalmente  (63%). Esse caráter de buscar outros  sujeitos, que tenham  proximidades  ou  concordâncias  com  suas  idéias, marcam a  internet. Foram entrevistados 7200 blogueiros, desses entrevistados 51% utilizam os blogs como espaços de exposição de suas ideias, ou seja, como diários eletrônicos (TECHNORATI, 2010). De acordo com Tapscott e Williams (2008, p. 19), milhões de pessoas partilham  informações e realizam postagens que são atualizadas  a  cada  segundo  e  interessam  a  uma  infinidade  de sujeitos  inseridos  nesse  espaço.  O  que  permite  concluir  que muitos  blogs  recebem  um  número  de  leitores  e  navegadores equivalente  a  grandes  espaços  tradicionais  de  circulação  de notícias e informações.   

Observamos  a  exposição  de  um  mosaico  de  várias  vozes emendadas de modo  contínuo  a  fazer  (des)enrolar  um  imenso pergaminho  eletrônico  onde  estão marcadas  a  voz  do  sujeito‐blogger  e  as  outras  tantas  vozes  de  sujeitos‐navegadores.  As marcas  do  privado  passam  a  funcionar  discursivamente  como algo  tecido no  âmbito da  coletividade, ou  seja, do público que acessa  o  blog  (SCHITTINE,  2004).  Temos,  assim,  pegadas diversas dos passos de sujeitos  implicados e afetados pelo tema ou autor do blog, pegadas estas que nos remetem ao conceito de um discurso permanentemente em construção sem outro fecho a 

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não  ser  a  postagem  de  cada  sujeito.  O  efeito  de  fim  é escamoteado  e  colocado  em pausa,  suspendendo  o  instante de acabamento e criando a  ilusão de um gerúndio contínuo, que é sustentada  pelo movimento  de  sujeitos  em  trânsito  (ROMÃO, 2005). 

Compreendemos o blog como um diário às avessas, no qual o sujeito não escreve para  si em um  caderno guardado em  lugar secreto, mas para um outro, que lhe é, no entanto, desconhecido. Marcamos que, de  acordo  com Komesu  (2005), os  três maiores sites  de  construção  de  blogs  brasileiros  atribuem  ao  blog  a definição de diário eletrônico, o que marca a ressonância de que ainda  é  comum  o  uso  desse  espaço  discursivo  como  diário eletrônico,  como  discursividade  marcada  pela  produção  e circulação  de  discursos  sobre  si  e  sobre  o mundo  a  partir  do estabelecimento de relações nos mais variados níveis, do afetivo ao espaço de confissão. 

 Um olhar discursivo sobre blogs 

 A Análise  do Discurso  de matriz  francesa  (doravante AD) 

surgiu em meados dos anos 60 e é marcada por fundamentar‐se em  três  áreas do  conhecimento:  a Linguística,  o Marxismo  e  a Psicanálise; de acordo  com Orlandi  (2005), a  teoria  surge  como fruto  de  um  contexto  marcado  por  rupturas,  assim  “com  o progresso  da  linguística,  era  possível  não  mais  considerar  o sentido apenas  como  conteúdo.  Isto permitia à AD não visar o que  o  texto  quer  dizer  (posição  tradicional  da  análise  de conteúdo  face  a  um  texto), mas  como  um  texto  funciona”.  O discurso pode ser entendido como um dos pilares de sustentação da Análise do Discurso de matriz  francesa, que  como  colocado por Ferreira (1998, p. 203) pode ser entendido como 

 [...] um objeto  teórico na AD.  Isto  significa que  ele  é  entendido,  em primeiro  lugar,  como  um  lugar de  reflexão.  Pêcheux define‐o  como 

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‘efeito de  sentido entre  interlocutores’. Mais do que um  resultado, o discurso  vai  definir  um  processo  de  significação  no  qual  estão presentes  a  língua  e  a  história,  em  usa materialidade,  e  o  sujeito, devidamente interpelados pela ideologia.  

 Para  a AD  a noção de discurso  tem um distanciamento da 

noção de  fala e da estrutura clássica proposta pelo esquema de comunicação,  que  é  constituída  da  seguinte maneira:  emissor (que fala baseando‐se em algum código) e receptor (que capta a mensagem e acaba por decodificá‐la). Por essas razões o discurso se  coloca  como  o  “objeto  teórico  da  AD  (objeto  histórico‐ideológico),  que  se  produz  socialmente  através  de  sua materialidade  específica  (a  língua);  prática  social  cuja regularidade  só  pode  ser  apreendida  a  partir  da  análise  dos processos  de  sua  produção,  não  de  seus  produtos” (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL, 2010). Assim, não existe um sentido pré‐existente e fixado (ORLANDI, 1997), de modo que a noção de evidência é ilusória, pois durante a leitura, os sentidos escapam e, não raro, caminham para outras direções, antes não pensadas pelo sujeito enunciador. 

Ao  inscrever‐se na  linguagem, o  sujeito assume‐se  em uma posição, sempre provisória dada pelo que lhe é possível dizer na posição em que está; assim, o sujeito não é controlável, tampouco pode  ser  categorizado  a  partir  de  parâmetros  sociológicos  ou psicológicos,  é  posição  no  discurso.  A  Análise  do  Discurso considera  que  o  sujeito  assume  uma  posição  dentre  outras, podendo movimentar‐se,  provocando  um  rompimento  com  os sentidos dominantes, conseguindo assim rompe‐los novamente, sustentando‐se  para  depois  rompê‐los  novamente,  enfim,  o sujeito movimenta‐se  em  processo  de  errâncias,  visto  que  ele funciona  pelo  inconsciente  e  pela  ideologia,  não  sendo  assim, dessa  forma,  a  fonte  transparente  de  seu  dizer.  O  sujeito  é  a posição  social  e  ideológica  que  ocupa  em  um  determinado momento  da  história  e  podendo  vir  a  não  ocupar  a  mesma 

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posição  em  outro momento. O  processo  discursivo,  que  acaba por apresentar sentidos como claros para o sujeito, não tem uma escolha  aleatória, mas  é  fruto  da  evidência  ideológica  daquilo que é aceito e imposto como natural pelo grupo dominante, que, por  sua vez, está em  constante  tensão  com o grupo dominado, que  deseja  aquela  posição  de  poder.  Isso  tem  relação fundamental  com a  ideologia, entendida não  como um  sistema que  oculta  um  ponto  de  vista,  mas  como  ponto  de  relação constitutiva  entre  sujeito  e  condições  sócio‐históricas, de modo que um dizer faça sentido para o sujeito.  

Assim, são as evidências que permitem que o sujeito consiga olhar a realidade através de sistemas de significação, permitindo que  seu  dizer  tenha  relação  com  o  contexto  sócio‐histórico  no qual está inserido (ORLANDI, 1997). Sobre a ideologia, podemos considerar  também que ela “se produz  justamente no ponto de encontro  da  materialidade  da  língua  com  a  materialidade  da história”  (ORLANDI, op.cit., p. 20). Entendemos, nos dizeres, a injunção  ideológica,  isto  é,  o  mecanismo  que  “torna  possível tanto à naturalização de alguns sentidos, pela força da repetição, quanto  os  seus deslocamentos,  rupturas,  através do  jogo  tenso das relações ideológicas de poder entre os sujeitos e, também, da história”  (FERRAREZI, 2007, p. 18). A evidência de um sentido dado como indiscutível e claro pela ideologia é o que permite ao sujeito  enunciar,  produzindo  retornos  e  deslocamentos, deslocando‐se pela  língua a partir de repetições e regularidades em  enunciados  produzidos  hoje  renegociam  sentidos  já‐postos em funcionamento em outros contextos. 

A memória para a AD não é aquela referente às  lembranças que possuimos, mas uma memória que os sujeitos se encontram inscritos, assim é condição da linguagem já que o sujeito sempre se move em dizeres alheios, re‐significando‐os e  inscrevendo‐se em lugares já ditos, promovendo manutenções ou deslocamentos nas formações discursivas. Entendemos, assim, o efeito de ‘fio do 

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discurso’ do sujeito que se aninha em uma formulação discursiva mobilizando “o eco de antigas palavras” como canta o trovador. Os movimentos observados no ciberespaço possibilitam grandes incursões da AD que pode  trabalhar com a  reflexão de como o sujeito é afetado pelos dizeres ali existentes e nos quais se filia ou rompe  sentidos  em movimento,  assim  como  rompe  o  que  se encontra  posto  como  permanente. Como  dito  anteriormente,  a rede  eletrônica  visa  a  transmissão de  uma  concepção de  lugar sem furos e que todos podem acessar, mas a realidade é outra, já que nem todos tem acesso a ela e o furo discursivo é inevitável. 

Para  investigar  como  se  dá  a  constituição  de  sujeitos  e sentidos  nos  blogs  e  na  Internet,  apresentamos  uma  análise discursiva de um recorte do  texto “Tornados da Minha Vida” e um  comentário  obtido  do  blog  “Confissões  de  um  Urso”  e postado  no  dia  3  de  janeiro  de  2011.  No  heterogêneo  espaço discursivo  do  blog,  o  constante  uso  da  primeira  pessoa  do discurso nesses diários contemporâneos é algo recorrente, sendo costumeira a escrita de caráter coloquial e confessional, marcada pela  oralidade  e pelo  questionamento de  si  e do(s)  outro(s). O sujeito  é  capturado  pela  ilusão  de  ser  o  dono  do  seu  dizer  e poder  enunciar  o  que  desejar  (PÊCHEUX,  1997),  instalando‐se como  livre  nas  páginas  de  seu  diário  eletrônico.  O  sujeito blogueiro  possui  condições  de  interditar,  apagar,  censurar comentários postados pelos leitores do blog e que eventualmente não concorde o que instala uma região de disputa nesse espaço. No primeiro recorte: 

 

  Fonte:  CONFISSÕES  DE  UM  JOVEM  URSO,  3  jan.  2011.  Disponível  em: <http://jovemurso.wordpress.com/tag/tornados‐2/>. Acesso em: 20 jun. 2011. 

 

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Flagramos  sentidos  que  rompem  com  o  dominante,  ao observarmos o espanto do sujeito blogger com o questionamento feito  por  uma  outra  voz  sobre  o  processo  de  exposição  na internet,  anotando  a  desfronteirização  do  privado  através  da exposição em um espaço público. O Outro é mais que apenas o leitor, ele  inter‐fere no  texto do dono do blog,  instalando ali um espaço polêmico de disputa por regiões de dizer, algo da ordem da  confrontação  tensa  de  reconhecer  a  exposição  pública  de detalhes  íntimos    em  contraponto  com o que  está naturalizado como  evidente,  como  prática  comum  atualmente. O  blogueiro promove uma ruptura no sentido de que a circulação de dados na rede é livre, questionando a difusão do que se escreve no on‐line,  fazendo  des‐crer  o  poder  de  alcance  que  sua  escrita realmente  teria,  visto  que  ele  não  sabe  exatamente  quantos sujeitos vão acessar aquele arquivo discursivo, opinar ou apenas ler. Emerge o sentido de que se pode dizer ali posto que é lugar seguro e secreto, disponibilizar o que se desejar ali, retomando a memória discursiva dos antigos diários que guardavam segredos e que era acessado somente por seu dono. Temos a circulação de sentidos que postulam o  espaço  eletrônico  como guardador de segredos e  intimidades, que não serão acessados, vasculhados e remexidos  por  outros  sujeitos. No  segundo  recorte,  temos  um comentário  postado  por  um  leitor  do mesmo  blog,  no  qual  se reforça a paráfrase discursiva. 

 

  Fonte:  CONFISSÕES  DE  UM  JOVEM  URSO,  3  jan.  2011.  Disponível  em: <http://jovemurso.wordpress.com/tag/tornados‐2/>. Acesso em: 20 jun. 2011. 

 

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A  intimidade e o efeito afetivo em relação ao diário na rede são  flagrados na marca querido, na qual  retomamos os  sentidos de  proximidade  e  confidência.  No  comentário,  o  sujeito‐leitor Foxx retoma sentidos que atestam que quem não possui um blog se  espanta  com  o  processo  de  desvelamento  de  segredos  no espaço ali. Os opostos unem‐se no blog, visto que a exposição e o segredo  caminham  lado  a  lado,  já  que  o  sujeito  blogueiro mantem  sua  identidade  em  segredo,  ocupando  outra  posição discursiva na  rede, no qual  tece uma  infinidade de  relatos que são  de  sua  intimidade,  mas  ao  mesmo  tempo  matem‐se resguardado, pois ocupa na rede outra identidade, possibilitada por  essa  tecnologia  que  afeta  sua  vida  e  possibilita  uma  nova forma de intimidade. Os segredos são abertos a todos, na maioria das  vezes  estranhos,  que  acabam  por  acessar  e  filiar‐se  às palavras expostas em dado diário e blog, estabelecendo relações e permitindo  uma  intimidade  entre  sujeitos  que  muitas  vezes nunca se encontraram na dita vida real, fora do espaço virtual.  Considerações finais 

 Com  os  avanços  científicos  e  tecnológicos,  impactos 

profundos  puderam  ser  observados  em  nossa  sociedade contemporânea,  também nomeada de sociedade da  informação. As  relações  alteraram‐se,  novos  padrões  e  possibilidades acabaram  possíveis  com  tais  desenvolvimentos,  entre  eles tivemos  a  Internet  e  as  ferramentas  interacionais possibilitadas por  ela,  como  os  blogs que permitiram uma  inscrição de  vozes outras na rede eletrônica e com  isso a chance de observação de sentidos outros  

O diário encontra no ciberespaço um espaço de inscrição, mas que  é  outra  ordem,  pois  sai  de  cena  do  campo  do  segredo reservado  e  guardado  permanente,  entrando  na  esfera  de exposição da intimidade no céu aberto da rede. A importância de 

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revelar para o mundo os detalhes mais íntimos, de observar o que os outros acham de tudo isso e de não ter certeza da aceitação ou mesmo da durabilidade do blog são muitos fatores que afetam sua existência e a injunção ideológica de dizer nesse lugar. Permanece a  busca  por  expressar,  pela  escrita,  sentimentos  e  questões tomadas  como  interessantes  e  fundamentais  não  apenas  para  o sujeito, mas também para um público ávido de leitores que busca ali um espaço de filiação e de uma pretensa certeza, mesmo que o leitor não saiba quem realmente escreve as  linhas ali postadas,  já que muitas vezes, como no caso do blog aqui estudado, não se sabe a  real  identidade  do  sujeito‐autor.  Aliás  isso  parece  o  menos importante,  o  que  favorece  a  (suposta)  liberdade  que  afeta  o blogger em suas exposições ao olhar do outro. 

Vimos  que  o  sujeito‐  navegador  da  Internet  enreda‐se  em palavras que não  são  suas,  entremeando‐se  a voláteis  redes de sentidos  e  de  sujeitos  que  produzem  um  efeito  de heterogeneidade  e  incompletude.  Historicamente,  os homossexuais  enfrentam  uma  série  de  preconceitos  (SOARES, 2006),  observamos  que  buscar  um  espaço  de  filiação  e  de inscrição da subjetividade dos gays na rede mantém relação com a  inscrição  de  outros  discursos  e  sentidos  não  estabilizados, abrindo  espaços  de  ruptura  e  deslizamento  nos  pergaminhos digitais  existentes.  São  novas  formas  de  dizer  e  simbolizar  o mundo que afetam o sujeito contemporâneo profundamente.    Referências  AMARAL,  Adriana;  MONTARDO,  Sandra;  RECUERO,  Raquel.  Blogs: mapeando  um  objeto.  In:  ______  (Org.).  Blogs.com:  estudos  sobre  blogs  e comunicação. São Paulo: Momento Editorial, 2009. p. 27‐54. 

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O planejamento sustentável do turismo  e sua interface com o campo CTS 

 Helton Gonçalves 

  Introdução  

O turismo se constitui em um importante fenômeno social, de grande  atratividade  econômica,  passível  de  proporcionar  uma série  de  benefícios  às  localidades  onde  se  desenvolve,  como: interação  social,  geração  de  divisas  e  empregos, desenvolvimento socioeconômico, entre outros.  

No  início  do  século  XXI,  o  turismo  surge  como  uma  força social,  cultural  e  econômica  capaz  de movimentar  centenas  de milhões  de  pessoas  pelo  mundo  todo.  É  uma  atividade relativamente nova, compreendida como fenômeno de massa há apenas meio século (ANSARAH, 2000). 

O  turismo está difundido no mundo  inteiro, pois a partir do processo  de  globalização  das  economias  e  da  cultura,  assim como,  a melhora  nos meios  de  comunicação  e  transporte,  são poucos os lugares que não são acessíveis aos turistas (BARRETO, 2004). 

No Brasil, observam‐se esforços no sentido de  implantar um conjunto  de  políticas  públicas  com  o  objetivo  de  fomentar  a atividade  turística no país,  tanto por parte do governo  federal, quanto nas esferas estaduais e municipais, com o argumento de que  o  turismo  pode  ajudar  a  alavancar  o  desenvolvimento econômico em diversas regiões brasileiras (SILVEIRA, 2002). 

Contudo,  não  é  viável  fomentar  o  desenvolvimento  do turismo  sem  planejamento.  Os  impactos  socioculturais  e ambientais provenientes da atividade turística muitas vezes não são levados em conta pelos articuladores do turismo. 

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Assim, quando surgiu o turismo de massa, caracterizado pelo deslocamento e pela permanência nos núcleos receptores de um grande  número  de  turistas,  acreditava‐se  que  os  recursos naturais  eram  inesgotáveis  e  por  isso,  estabelecia‐se  poucas restrições ao seu uso.  Porém, o  tempo e o número excessivo de  turistas em  locais 

específicos demonstraram que o turismo agride as características e a originalidade das atrações. A constatação de que os recursos turísticos  são  finitos  e  de  que  seu  uso  deve  ser  monitorado levaram especialistas e os responsáveis pelo desenvolvimento da atividade,  considerar  a  necessidade  de  planejamento  para regiões com potencialidade turística (RUSHMANN, 1997). 

O planejamento do turismo pressupõe o cuidado não somente com o meio ambiente natural, mas também com sustentabilidade social, política e econômica, fatores estes que não possuem fácil conciliação (BARRETO, 2005). 

O turismo, por sua vez, trata‐se de um campo científico multi e  interdisciplinar  que  abrange  diversas  áreas do  conhecimento como  a  biologia,  antropologia,  engenharia,  arquitetura, sociologia,  direito,  comunicação,  história,  entre  outros.  Assim, esses  campos  do  saber  podem  ajudar  na  elaboração  do planejamento sustentável do turismo. 

A  intersecção  disciplinar  que  origina  o  campo  científico  do turismo  e  que  também  dialoga  tanto  com  as  ciências  exatas quanto  as  ciências humanas  se  refere  a uma das  temáticas dos estudos sociais da ciência e tecnologia (BLOOR, 2010).  

A  proposta  deste  trabalho  é  analisar  como  a  ciência  pode auxiliar  no  planejamento  sustentável do  turismo  por meio das mais diferentes áreas do conhecimento. O saber científico ajuda o desenvolvimento da atividade  turística,  tornando‐a  sustentável, minimizando  seus  impactos  negativos  e maximizando  os  seus benefícios. 

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O  turismo  feito  sem  planejamento  pode  acarretar  impactos sociais,  culturais  e ambientais para as  comunidades  receptoras. O planejamento turístico vai ao encontro dos preceitos do campo da  Ciência,  Tecnologia  e  Sociedade  (CTS),  ao  promover  um turismo  sustentável,  com  responsabilidade  socioambiental, visando o bem‐estar da sociedade.   Ciência, tecnologia e o planejamento sustentável do turismo  

A  ciência,  uma  criação  do  ser  humano,  faz  parte  da  sua cultura  e  tem  como  um  dos  seus  compromissos  auxiliar  na solução  dos  problemas  enfrentados  pela  sociedade  no  seu cotidiano. De acordo com Salles e Kovaliczn (2007), a ciência não deve  caminhar  sozinha,  isto  é,  tem  que  evoluir  ao  lado  da sociedade  por  meio  de  uma  postura  holística,  contemplando aspectos históricos, éticos, ambientais, políticos e sociais. 

No  século  XX,  o  desenvolvimento  tecnológico  e  científico trouxe  inúmeros progressos, porém, havia  a necessidade de  se fazer  uma  reflexão  crítica  sobre  a  C&T,  visando  uma aproximação  desses  dois  conceitos  com  as  questões  sociais. A partir de então, os estudos sobre Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS)  estabelecem  que  a C&T  precisam  contribuir  de maneira efetiva para bem‐estar social e  ir ao encontro das demandas da sociedade, 

 A  Ciência  e  a  Tecnologia  evoluíram  eficazmente  a  partir  da segunda metade  do  século  XX,  fruto,  entre  outras  coisas,  da Guerra  Fria  ocorrida  entre  os  Estados  Unidos  e  a  União Soviética,  o  que  contribuiu  para  o  surgimento  de  um  novo campo  de  investigação  científica  associado  ao  domínio  da Sociologia denominado Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), amplo  movimento  de  repercussão  mundial  que  vem influenciando a metodologia do ensino de ciências há mais de três  décadas.  A  sua  finalidade  maior  é  instruir  o  cidadão, 

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visando a sua participação efetiva em assuntos correlacionados à  ciência  e  à  tecnologia  que  contribuam  efetivamente  para  a promoção do bem‐estar social (CRUZ et al., 2005, p.17). 

   Bazzo,  Linsingen  e  Pereira  (2000,  p.04),  destacam  que  as 

pesquisas  em  CTS  visam  entender  os  aspectos  sociais  do fenômeno  científico‐tecnológico,  tanto  nos  assuntos  que ressaltem  os  condicionantes  sociais  da  tecnologia,  quanto  nas temáticas relacionadas ao meio‐ambiente, 

 Esse  campo  de  estudo  trata  também  de  favorecer  o desenvolvimento  e  a  consolidação  de  atitudes  e  práticas igualitárias  com  relação  às  questões  de  importância  social relacionadas  com  a  inovação  tecnológica  ou  a  intervenção ambiental.  Propicia  o  compromisso  a  respeito  da  integração das  mulheres  e  minorias,  assim  como  o  estímulo  para  um desenvolvimento  socioeconômico  respeitoso  com  o  meio ambiente e equitativo com relação às futuras gerações.  

As  preocupações  do  campo  CTS  em  proporcionar  o desenvolvimento  econômico  da  sociedade  de  forma  que  se respeite  às  questões  socioambientais  também  se  referem  aos propósitos do planejamento sustentável do turismo. 

A  Organização  Mundial  de  Turismo  (2001,  p.36)  define turismo  como  “as  atividades  que  as  pessoas  realizam  durante suas  viagens  e  estadas  em  lugares  diferentes  ao  seu  entorno habitual,  por  um  período  consecutivo  inferior  a  um  ano,  com finalidade de lazer, negócios ou outros”. 

Para Trigo (2009, p.11), o turismo integra um universo maior, denominado  lazer.  Compreendem‐se  por  lazer  todas  as atividades desenvolvidas  fora do  sistema produtivo  (trabalho), das  obrigações  sociais,  religiosas  e  familiares.  “O  lazer  é  uma necessidade e um direito  tão  legítimo do  ser humano quanto a educação, a saúde, o transporte ou segurança”.   

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O  ser  humano  é  um  animal  extremamente  especial  e complexo,  que  não  se  contenta  com  o mínimo  indispensável  a sua sobrevivência. Sua vida envolve aspectos mais amplos, como os lúdicos, imaginativos e criativos, elementos esses, encontrados na atividade turística (TRIGO, 2009).   

Além  de  dialogar  com  elementos  eminentemente  humanos, vê‐se  que  turismo  surge  atualmente  como  um  importante fenômeno social, de grande atratividade econômica, ele é capaz de  proporcionar  desenvolvimento  sócio‐econômico,  com  a geração de renda e emprego, interação entre as pessoas, ocasiona a  difusão  cultural,  cria  uma  imagem  favorável  a  destinação turística, entre outros. 

Entretanto,  apesar  dos  inúmeros  benefícios,  o desenvolvimento do turismo pode trazer algumas desvantagens, como:  desenvolver  demanda  em  excesso;  gerar  perdas  tão grandes, que os benefícios econômicos não cobrem o custo; criar problemas sociais decorrentes de diferenças sociais e de renda e da introdução de prostituição, do jogo e do crime; pode degradar o  ambiente  físico  e  cultural,  entre  outros  (GOELDNER,  et.al, 2002). 

Rushmann  (1997,  p.10)  avalia  que  em  quase  todas  as destinações  turísticas  é  possível  perceber  a  falta  de  cultura turística  das  pessoas  que  viajam,  pois  elas  se  comportam  de forma  alienada  em  relação  ao meio  que  visitam,  “acreditando não  terem  nenhuma  responsabilidade  na  preservação  da natureza e na originalidade das destinações”. 

Ainda segundo a autora, os turistas entendem que seu tempo livre  é  “sagrado”,  que  têm  direito  ao  uso  daquilo  pelo  que pagaram  e,  por  permanecerem  pouco  tempo  na  destinação turística,  não  podem  ser  responsabilizados  pelas  agressões  ao meio ambiente (RUSHMANN, 1997).  

Os  impactos  do  turismo  no  meio  ambiente  podem  ser desastrosos, caso não sejam dimensionados. Os recursos naturais 

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são  limitados e atividade  turística  se  localiza preferencialmente em  regiões  onde  esses  recursos  apresentam  maior disponibilidade. Dado o risco que o uso massivo e desordenado pode  acarretar,  recomenda‐se  que  o  turismo  seja  realizado  de forma que  se  compatibilize o  seu uso  com  a proteção do meio ambiente (RABANY, 2003). 

Para  que  o  turismo  não  traga  impactos  negativos  é  preciso planejar. O planejamento faz parte de uma ação anterior, em que muitos fatores precisam ser coordenados para que o seu objetivo possa ser alcançado (BARRETO, 2005). 

A finalidade do planejamento turístico consiste em ordenar as ações do homem  sobre o  território,  também direciona o uso de tecnologias  de  forma  adequada,  evitando  assim,  os  efeitos negativos  que  podem  destruir  ou  reduzir  a  atratividade  do turismo (RUSHMANN, 1997). 

O  planejamento  sustentável  da  atividade  turística  induz  o desenvolvimento  do  turismo  sustentável,  isto  é,  o  equilíbrio harmônico entre três dimensões: a econômica, a sociocultural e a ambiental (DIAS, 2003). 

De  acordo  com Barreto  (2005),  o planejamento  turístico  tem sido objeto de muitas definições ao  longo do  tempo.  Isso não é uma  peculiaridade,  mas  algo  normal  dentro  das  ciências humanas  e  sociais,  nas  quais  as  definições  não  obedecem  aos mesmos critérios de elaboração seguidos pelas ciências exatas, 

 Quando  elaboramos  conceitos  que  se  referem  a  leis  da  física,  da química, da matemática ou da biologia, não há muita possibilidade de variações sob pena de perder‐se o sentido da definição. Mas quando os  conceitos  se  referem  às  leis  sociais, há uma maior  flexibilidade  e cada  pessoa  pode  elaborar  a  sua  própria  definição  de  fenômenos, desde que entenda os princípios básicos que os produzem (BARRETO, p.29, 2005). 

 Em meio a essa flexibilidade conceitual, pode‐se perceber que 

o  bom planejamento do  turismo  vai muito  além de metas  que 

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maximizem  os  lucros,  muito  embora  o  desenvolvimento lucrativo  traga  benefícios  econômicos  e  sociais  para  a comunidade, a atividade turística também pode trazer danos.  

Os  empreendedores  turismo  ao  estimular  essa  atividade devem  se  preocupar  em manter  a  qualidade  arquitetônica  das edificações que  são visitadas,  assim  como os  recursos naturais; escolher meios de transportes adequados, promover a educação turística, entre outros (GOELDNER, et.al, 2002). 

Dessa forma, o planejamento turístico se refere a um conceito holístico,  apropriando‐se do  conhecimento de diversos  campos científicos, pois eles auxiliam na sustentabilidade da atividade. 

A  diversidade  dos  tipos  de  estudos  referentes  ao  turismo denota  sua  interdisciplinaridade.  Na maioria  dos  trabalhos,  o turismo  é analisado “sob os  cânones da  especialização de  cada disciplina  que  o  constitui  ‐  economia,  antropologia,  geografia, planejamento,  administração,  marketing,  sociologia  e comunicação”, pois não  existe uma  teoria  turística  consolidada (MOESH, 2000, p.07). 

Primeiramente, pode‐se destacar  que  as  ciências  sociais dão suporte ao  campo  científico do  turismo pelo  fato do  turista  ser considerado um  agente  social. A  ciência do  turismo  ainda  está em  formação, mas  alguns  estudiosos  já  arriscam  a mencionar, principalmente  na  Europa,  como  a  “ciência  social  de  viagens” (ANSARAH, 2000).  Barreto  (2004)  acredita  que  o  turismo  é  um  fenômeno 

socioantropológico,  em que  a  antropologia  ajuda  a  averiguar o comportamento  das  populações  receptoras  e  emissoras, buscando  assim,  planejar  o  turismo  de  forma  que  não  gere grandes impactos sociais. 

A sociologia do lazer, temática que começou a ser difundida a partir da década de 1970,  tem no  turismo a sua referência. Esse campo abrange “todas às ocupações às quais o indivíduo pode se dedicar, após se desobrigar das tarefas familiares, profissionais e 

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sociais. A  condição  de  liberdade  de  optar  pelo  que  fazer  seria inerente ao lazer” (PAIVA, 2005, p.35). 

Em contrapartida, por meio da biologia é possível conhecer os biomas  existentes  e  que  podem  ser  apropriados  pelo  turismo, visando  sempre  à  implantação  de  projetos  de  educação ambiental  para  que  o  turista  além  de  apreciar  os  recursos naturais  possam  também  conservá‐los.  Quando  as  ações  são controladas  e  planejadas,  o  turismo  se  torna  uma  das  formas viáveis de se explorar economicamente os recursos da natureza, em  que  o  objetivo  maior  é  a  sua  preservação,  pois  são  os elementos naturais que  justamente dão atratividade ao  turismo (RABANY, 2003). 

A engenharia de  tráfego  juntamente com a arquitetura pode ajudar na elaboração do roteiro que deverá ser percorrido pelos ônibus  de  turismo  de modo  a  não  piorar  o  trânsito  urbano  e também não afetar edificações históricas, pois os ônibus causam certa  trepidação nesse  tipo de construção, que com o passar do tempo, causam  trincas e  rachaduras. Além disso, a  fumaça que exala  dos  escapamentos  danificam  a  pintura  desses  prédios históricos (DAMAS, 2007). 

Aliás,  o  campo  científico  da  história  possui  grande importância na atividade turística, pois por meio dela é possível ressaltar os aspectos culturais e artísticos de uma sociedade e que podem despertar o  interesse do  turista  em viajar,  fazendo  com que ele possa valorizar o passado e o  simbolismo histórico das localidades turísticas (CHOAY, 2001).  

Já  as  ciências  jurídicas  estudam  o  conjunto  de  relações  e fenômenos  que  se  originam  do  ato  ou  fato  jurídico  que  o indivíduo leva a efeito de compreender ou realizar uma viagem; permite ainda conhecer os direitos e deveres dos viajantes, bem como  o  código  de  ética  do  bacharel  de  turismo.  “O  turismo  é considerado  exercício  do  direito  à  liberdade  individual  de trânsito” (ANSARAH, 2000, p. 16). 

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No planejamento do  turismo, as  informações  são externadas por  meio  de  ações  de  marketing,  considerada  uma  área  da comunicação.  

Dessa  forma,  para  que  o  turista  tenha  conhecimento  sobre determinada  localidade, o marketing  turístico possui um papel mais do que decisivo, pois de acordo com RUSCHMANN (1990), um  plano  de  marketing  se  constrói  basicamente  com  uma profunda  análise  do  mercado  turístico,  tendo  como  metas principais:  aumentar  o  fluxo  turístico,  persuadindo  os  turistas potenciais  a  se  deslocarem  para  a  destinação  com  ações promocionais e publicitárias. 

Entretanto, a promoção de uma  localidade  tem que  ser  feita com  responsabilidade,  procurando  evidenciar  as  suas  reais características,  com  a  preocupação  de  que  determinada informação  pode  causar  algum  tipo  de  reação  nas  pessoas, buscando primar pelo real, evitando a veiculação de informações imprecisas  que  possam  confundir  o  turista,  sendo  que  tais informações devem  retratar com exatidão os aspectos culturais, sociais e ambientais do local a ser visitado (DAMAS, 2007). 

E  por  fim,  o  campo  científico  do  turismo  tem  a missão  de fazer  a  convergência  entre  diferentes  áreas  do  saber  e  buscar soluções  criativas  e  inovadoras  que  venham  suprir  as necessidades  do mercado,  preocupando‐se  não  só  com  o  lado econômico,  dando  a  devida  importância  aos  aspectos  sociais  e culturais  dessa  atividade,  além  de  avançar  nos  conhecimentos científicos  do  próprio  turismo,  para  que  se  possa  aumentar  a eficácia do planejamento da atividade turística (GUZELA, 2004) 

Segundo  Barreto  (2005,  p.32),  “O  planejamento  implica  a aplicação  de  políticas  preexistentes  ou  a  elaboração  de  novas, assim como de planos, programas, projetos (...)”. Dessa forma, o planejamento do turismo necessita de uma articulação das mais diferentes entidades públicas. 

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E  os  objetivos  governamentais  são  de  fundamental importância. As metas do governo não devem  ter  como  foco o desenvolvimento  turístico  somente  sob  o  ponto  de  vista econômico.  É  necessário  levar  em  conta  os  aspectos  sociais, culturais  e  ambientais  da  atividade,  pois  eles  não  devem  ser negligenciados  e  exigem  envolvimento  e  estudo  por  parte  das entidades governamentais. “Historicamente, o êxito do  turismo em uma destinação depende da ação do Estado” (RUSHMANN, p.155, 1997). 

Conforme  com  Barreto  (2005),  uma  das  propostas  mais recentes para propiciar o desenvolvimento do turismo realmente sustentável  é  a  do  planejamento  cooperativo,  que  vai  além  da proposta  das  parcerias  entre  os  setores  público  e  privado, incluindo a união entre os diferentes níveis de governo, entre as diversas  agências  governamentais  e  entre  estas  e  os  diferentes interessados do setor privado.  Considerações finais  Os  estudos  em  CTS  ajudam  a  averiguar  como  os  mais 

diferentes  campos  científicos  congregam  o  planejamento sustentável  do  turismo,  possibilita  constatar  que  a  ciência  e  a tecnologia  podem  auxiliar  no  desenvolvimento  do  turismo  de forma que ele não traga prejuízos à sociedade.  As  políticas  públicas  de  turismo,  por  sua  vez,  necessitam 

fomentar  o  turismo  com  planejamento,  observando  sempre  os impactos socioambientais que essa atividade pode causar. 

O  turismo  e  a  busca  por  um  tempo  livre  que  possa  ser dedicado às viagens despontam como um anseio do homem pós‐moderno, que lida com diversas pressões referentes ao cotidiano vivido nos grandes centros urbanos.  

Assim, pode‐se perceber que a expansão da atividade turística se refere a um processo natural da sociedade do lazer e a ciência 

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e tecnologia pode prover os sustentáculos desse fenômeno social, fazendo com que o turismo traga mais impactos positivos do que negativos.   

As discussões  levantadas nesse  trabalho se referem apenas a uma  apreciação  inicial  sobre  a  relação  existente  entre  o conhecimento  científico  e  o  planejamento  do  turismo,  sendo pertinente  a  realização  de  pesquisas  que  complementem  as explanações desse estudo. 

   

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Reflexões sobre a importância do conhecimento tradicional para a ciência e o desenvolvimento da sociedade  

 Lívia Coelho de Mello 

Camila Carneiro Dias Rigolin   

A  humanidade  desde  sempre  esteve  em  busca  do desenvolvimento  e  atualmente  uma  forma  de  alcançá‐lo  é  por meio da  informação e do conhecimento. A  informação segundo Scotti (2007) tem se constituído num instrumento imprescindível ao  desenvolvimento  social,  político  e  econômico  dos  países, devido  principalmente  ao  processo  de  globalização  e  aumento do uso das ferramentas tecnológicas. 

A  informação  e  o  conhecimento,  objetos  de  estudo  para  a Ciência  da  Informação,  são  termos  distintos,  porém, complementares. Setzer (1999) os diferencia da seguinte maneira: 

‐  Informação:  abstração  informal,  que  representa  algo significativo  para  alguém  através  de  textos,  imagens,  sons  ou animação  [...]  A  representação  da  informação  pode eventualmente ser feita por meio de dados. 

‐ Conhecimento: é uma abstração  interior, pessoal, de alguma coisa que foi experimentada por alguém. [...] o conhecimento não pode  ser  descrito  inteiramente,  não  depende  apenas  de  uma interpretação  pessoal,  como  a  informação,  pois  requer  uma vivência do objeto do conhecimento. [...] Associamos informação à semântica. Conhecimento está associado com pragmática. 

Uma  informação, quando  transmitida para um  receptor por meio de um processo de comunicação, pode se  transformar em conhecimento, e este pode gerar desenvolvimento, constituindo desta forma o ciclo citado por Barreto (1998):  

informação => conhecimento => desenvolvimento => informação 

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Davenport  e  Prusak  (1998  apud VALENTIM,  2002)  dão  ao conhecimento as seguintes características: 

•  Informação valiosa da mente humana •  Inclui reflexão, síntese, contexto •  De difícil estruturação  •  De difícil captura em máquinas  •  Freqüentemente tácito  •  De difícil transferência Foi após a Revolução Industrial que o papel do conhecimento 

passou por mudanças, pois os homens passaram a pensar mais sobre  o  controle  de  suas  relações  com  a  natureza,  sobre  as transformações  econômico‐sociais  que  estavam  ocorrendo  e sobre  a  veracidade  do  conhecimento.  (BERTELLI;  PALMEIRA; VELHO, 1967) 

Antes do surgimento das técnicas de impressão, para Wersig (1993)  o  conhecimento  era  pessoal  e  organizado  na  forma  oral tradicional,  tanto  é  que,  “por  um  longo  período  de  tempo provérbios  e  conhecimentos  dos  camponeses  formaram  um respeitável  corpo  de  conhecimento  baseado  na  experiência pessoal  a  na  tradição”.  Com  a  produção  escrita  à  mão  o conhecimento  era  divulgado  e  armazenado,  porém  era transmitido  a  uma  parcela  mínina  da  população,  pois  eram necessárias pessoas capazes de ler e depois transmitir oralmente para outras. 

Com a invenção de Gutemberg, houve uma grande evolução na  transmissão  do  conhecimento,  possibilitando  um  número maior de pessoas registrarem seus conhecimentos e mais pessoas terem  acesso  a  eles. No  século  XIX,  com  os  desenvolvimentos tecnológicos, as impressões passaram a serem feitas em grandes escalas,  aumentando  desta  forma  o  valor  do  conhecimento registrado. 

O registro do conhecimento feito por meio da publicação de documentos  impressos,  como  em  livros,  jornais  e  revistas,  se 

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tornou  a  principal  forma  de  divulgar  informações  científicas  e não  científicas para  a população. Mas, para Wersig  (1993)  este meio de documentação fez o conhecimento ficar despersonalizado, sem  a  dependência  de  um  indivíduo  para  transmiti‐lo, diferentemente  do  que  ocorria  quando  as  informações  eram divulgadas oralmente. 

Esta  forma  de  impessoalidade  existente  na  leitura  de documentos  impressos  faz  aumentar  a  utilização  das “tecnologias  de  comunicação  mais  personalizadas”  (WERSIG, 1993), como por exemplo, a televisão. Há também o aumento de eventos  que  promovem  a  interação  entre  as  pessoas,  como congressos,  seminários  e workshops; mantendo desta  forma os canais  informais  de  comunicação,  nos  quais  os  conhecimentos são transmitidos pessoalmente. 

  O conhecimento, independente dos diversos meios que o representam, de  acordo  com Morin  (2000, p.20)  “sob  forma de palavra,  de  idéia,  de  teoria,  é  o  fruto  de  uma tradução/reconstrução por meio da linguagem e do pensamento e,  por  conseguinte,  está  sujeito  ao  erro”.  Sendo  o desenvolvimento do conhecimento científico um poderoso meio de detecção dos erros. 

 O Conhecimento Científico  

 O conhecimento científico é a fonte para o desenvolvimento 

da  ciência  e  da  tecnologia  em  um  país.  Tem  início  com  as atividades de  pesquisa  científica,  caracterizadas  pela  utilização do  método  científico.  Este  conhecimento  é  sistemático, organizado,  objetivo,  está  sempre procurando  respostas para  o “como” e o “porque” dos  fatos, propõe  teorias e hipóteses, e é encontrado,  sobretudo,  dentro  das  instituições  de  ensino  e pesquisa  e  as  conclusões  científicas  geradas  por  esses 

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conhecimentos são consideradas verdadeiras até que se prove o contrário.  

  A  criação  do  conhecimento  por  um  pesquisador  “parte daquilo  que  foi  construído  anteriormente  por  outros pesquisadores”, utilizando “os canais de comunicação em todo o ciclo  do  conhecimento  –  desde  a  sua  criação  até  a  sua divulgação” (LEITE; COSTA, 2007). 

A  comunicação  científica  é  o  processo mais  importante  na construção do conhecimento científico, pois é por meio desta que o conhecimento de um indivíduo é transmitido para outro. Para isto ser possível, existem dois canais de comunicação: o  formal, que  é  representado  geralmente  pela  escrita,  é  de  fácil armazenamento  e  recuperação,  sendo os principais  exemplos o livro e o periódico; e o informal, difundido pela fala, presente na interação  direta  entre  as  pessoas,  ocorrida  durante  encontros, como por exemplo os que acontecem em congressos. 

Os canais informais são mais utilizados do que os formais na divulgação  do  conhecimento  científico,  mas  a  forma  mais abrangente  é  a  da  publicação  por meio  dos  canais  formais  de comunicação, devido sua capacidade de atingir um número mais elevado de pessoas. Atualmente o acesso às informações escritas está mais fácil, por causa das bases de dados que disponibilizam artigos pela internet.    

 Não basta adquirirmos o conhecimento pelo método científico e  adotarmos  uma  abordagem  científica  a  esse  conhecimento. Defendo  que  para  ser  considerado  conhecimento  científico deve  também  ser  aceito  por  parcela  significativa  da comunidade  científica  [...]  conhecimentos  científicos  não adequadamente  divulgados  não  serão  conhecimento  útil enquanto  permanecerem  fora  do  discurso  científico  corrente. (VOLPATO, 2004) 

 

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Quanto maior  for  a divulgação do  conhecimento  científico, maior  será  o  desenvolvimento  da  ciência  e  o  progresso tecnológico,  essenciais  para  o  bem  estar  da  sociedade,  quando utilizados de maneira  correta. Devido  a  importância deste  tipo de  conhecimento,  fica  claro  que  os  governos deveriam  investir mais nos sistemas de pesquisa e desenvolvimento, aumentando e incentivando  as  comunidades  científicas  e  os  fluxos  da informação científica. 

Atualmente  o valor  que  se dá  ao  conhecimento  científico  é muito maior  ao dado  a  outros  tipos de  conhecimento,  como  o conhecimento  tradicional e o  tácito, porém eles  são  também de extrema importância para a humanidade. 

 O Conhecimento Tradicional 

 O  conhecimento  tradicional  ao  contrário  do  conhecimento 

científico não é registrado e nem organizado, porém “é a forma mais  antiga  de  produção  de  teorias,  experiências,  regras  e conceitos,  isto  é,  a mais  ancestral  forma  de  produzir  ciência.” (MOREIRA, 2007). 

Caracterizado como sendo um conhecimento transmitido de geração  por  geração,  é  encontrado  principalmente  nas comunidades  locais,  que  englobam  os  povos  indígenas, ribeirinhos,  quilombolas,  pescadores  artesanais,  camponeses, entre outros. É um conhecimento que abrange as mais diversas áreas do saber, porém a que mais se destaca é a relacionada com a biodiversidade, devido  ao  fato das  comunidades  tradicionais possuírem uma ligação muito grande com a natureza. 

Este  conhecimento  relacionado  com  a  biodiversidade envolve desde técnicas de manejo de recursos naturais, métodos de caça e pesca, o conhecimento sobre os diversos ecossistemas, propriedades farmacêuticas, alimentícias e agrícolas e até mesmo as categorizações de espécies de flora e fauna. (SANTILLI, 2004).                   

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O desenvolvimento e o compartilhamento do conhecimento pelas comunidades  tradicionais ocorrem segundo Santilli  (2004) “a partir de pesquisas  e  observações minuciosas,  especulações, experimentações  e  ampla  troca  de  informações”  e  são “produzidos  a  partir  de  atividades  e  práticas  coletivamente desenvolvidas na floresta”. 

A preservação deste tipo de conhecimento é de fundamental importância para a sustentabilidade global e consequentemente para a sobrevivência da humanidade, sendo objeto de estudo de muitos pesquisadores e  temas de diversos  fóruns e convenções, os quais discutem sobre a proteção do conhecimento tradicional. 

Frequentemente as comunidades tradicionais são procuradas por  cientistas,  que  se  deslocam  até  elas  interessados  por informações  sobre  a biodiversidade  local. A  fim de diminuir  o tempo e os recursos gastos com pesquisas os cientistas utilizam essas  informações  em  experimentos  e  produtos,  como  por exemplo, na fabricação de medicamentos ou cosméticos, gerando lucros com a comercialização e com as patentes que possam ser criadas,  tornando‐se  contemporaneamente  um  ativo  para  o comercio internacional. 

 A  simples  transformação  dos  conhecimentos  tradicionais  em mercadorias ou commodities, a serem negociados no mercado, representa  a  subversão  da  lógica  que  preside  a  própria produção desses conhecimentos. (SANTILLI, 2004, p.14)  

 O problema é que os benefícios gerados com estas atividades 

comerciais na maior parte das vezes não são repassados para as comunidades que deram origem ao conhecimento. Esse assunto foi um dos destaques na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, que aconteceu no Rio de Janeiro  em  1992,  sendo  publicada  a  Convenção  sobre Diversidade  Biológica  (CDB),  com  os  seguintes  objetivos: conservação  da  diversidade  biológica;  uso  sustentável  de  suas 

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partes constitutivas e repartição justa e eqüitativa dos benefícios que advêm do uso dos recursos genéticos (CUNHA, 1999). 

A Convenção sobre Diversidade Biológica reconhece que:   é desejável repartir eqüitativamente os benefícios derivados da utilização  do  conhecimento  tradicional,  de  inovações  e  de práticas relevantes à conservação da diversidade biológica e à utilização sustentável de seus componentes. [...] Reconhecendo a  estreita  e  tradicional dependência de  recursos biológicos de muitas comunidades locais e populações indígenas com estilos de vida tradicionais. (CDB, 1992) 

 A  CDB  reconhece  a  importância  das  comunidades 

tradicionais na conservação e uso sustentável da biodiversidade, sendo  consciente  também  da  necessidade  do  desenvolvimento da capacitação científica, técnica e institucional que proporcione o  conhecimento  fundamental  necessário  ao  planejamento  e implementação de medidas  adequadas para prever, prevenir  e combater na origem as causas da sensível redução ou perda da diversidade biológica. 

Propondo no Artigo 12 (Pesquisa e Treinamento):  a) O estabelecimento, a manutenção e o apoio a programas 

de educação e treinamento científico e técnico; b)  O  estimulo  às  pesquisas  que  contribuam  para  a 

conservação e a utilização sustentável da diversidade biológica, especialmente nos países em desenvolvimento, 

c)  A  cooperação  na  utilização  de  avanços  científicos  da pesquisa  sobre diversidade biológica para elaborar métodos de conservação e utilização sustentável de recursos biológicos. 

Também na Conferência de 1992 foi publicado o documento intitulado  “Agenda  21”  que  propôs,  no  capítulo  26,  o “reconhecimento  e  o  fortalecimento  do  papel  das  populações indígenas  e  suas  comunidades”,  traçando  diversos  objetivos  a serem cumpridos pelos governos, sendo que o terceiro, objetiva: 

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“o  reconhecimento  de  seus  valores,  seus  conhecimentos tradicionais  e  suas  práticas  de manejo  de  recursos,  tendo  em vista promover um desenvolvimento ambientalmente saudável e sustentável”; é descrita  também algumas atividades que podem ser  atribuídas  aos  governos,  como  a  de  “adotar  ou  reforçar políticas e/ou instrumentos jurídicos apropriados que protejam a propriedade  intelectual  e  cultural  indígena  e  o  direito  de preservar  sistemas  e  práticas  consuetudinários  e administrativos”. Há  ainda  neste  documento  no  capítulo  40,  a proposta  de  fortalecimento  da  capacidade  de  difusão  da informação tradicional. 

Até este momento no Brasil o que  regulamenta o acesso ao patrimônio  genético,  a  proteção  e  o  acesso  ao  conhecimento tradicional  associado,  a  repartição  de  benefícios  e  o  acesso  à tecnologia e  transferência de  tecnologia para a  conservação e a utilização da diversidade biológica, é a medida provisória 2.186‐16  de  23  de  agosto  de  2001,  porém  muitas  discussões  estão acontecendo para que  seja criado um  sistema de proteção mais eficiente. 

Lentamente,  muitas  propostas  estão  surgindo,  mas  a efetivação  delas  não  é  fácil,  devido  às  controvérsias  sócio‐jurídicas  existentes  sobre  a  proteção  do  conhecimento tradicional. A Organização Mundial de Propriedade  Intelectual (OMPI)  defende  a  utilização  do  sistema  de  patentes,  mas segundo  Santilli  (2004)  esse  é  um  sistema  que  protege  as inovações  individuais,  com  aplicações  industriais  e  o conhecimento  tradicional  possui  a  titularidade  coletiva,  sendo impossível protegê‐lo com a lógica da patente. 

A  mesma  autora  sugere  a  construção  de  um  regime  sui generis, de proteção aos conhecimentos tradicionais associados à biodiversidade,  que  possui  como  elemento  fundamental  o “reconhecimento  e  fortalecimento  das  normas  internas  e  do direito costumeiro, não‐oficial, dos povos indígenas, quilombolas 

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e populações  tradicionais”,  reconhecendo  a  identidade  cultural coletiva,  os  costumes  e  tradições  coletivamente  desenvolvidos, reproduzidos e compartilhados. (SANTILLI, 2004). 

 Relações  entre  conhecimento  tradicional  e  conhecimento científico 

 O  conhecimento  científico  costuma  ser mais  valorizado  pela 

sociedade do que o  tradicional,  entretanto os dois  são  apontados como fundamentais para o desenvolvimento, principalmente se um estiver  ligado ao outro. O  conhecimento  tradicional não pode  ser esquecido,  nem  excluído,  pois  se  isso  ocorresse  haveria  muitas conseqüências negativas. Segundo Dhewa (2011), a ciência, sozinha, não conseguirá combater a pobreza, as doenças e os desequilíbrios ecológicos, ela precisará de outras vias de investigação. 

Os  conhecimentos  adquiridos  por  meio  da  ciência convencional, que normalmente é  fechado e  formal, podem  ser ampliados através de sistemas de conhecimentos tradicionais ou indígenas, que são abertos e informais (DHEWA, 2011). 

Rahman  diferencia  os  dois  sistemas  de  conhecimentos  de acordo com a tabela 1. 

 

Conhecimento científico  Conhecimento tradicional 

Conhecimento explícito (objetivo)  Conhecimento tácito (subjetivo) 

Conhecimento da racionalidade (mente) 

Conhecimento da experiência (corpo) 

Conhecimento seqüencial (lá e então) Conhecimento simultâneo (aqui e agora) 

Conhecimento Digital (teoria)  Conhecimento analógico (prática) 

 Tabela 1 – RAHMAN, 2000, p.4 

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Enquanto a ciência convencional formula princípios e teorias para  descrever  a  natureza,  as  comunidades  tradicionais,  com base na compreensão do universo, atribuem à natureza valores, crenças, costumes e cerimônias (DHEWA, 2011).  

As  novas  tecnologias  de  informação  e  comunicação  estão desempenhando  um  papel  importante  no  processo  de valorização  do  conhecimento  tradicional,  sendo  utilizadas  em pesquisas  científicas  ou  pelas  próprias  comunidades  como ferramentas  para  o  registro,  proteção  e  revitalização  do conhecimento. 

Estes  processos  de  transformação  de  um  saber  em  outro, mesmo sendo um caminho com diversos desafios, cumprindo‐se as  normas,  as  legislações  e  formas  de  proteção  intelectual, podem trazer muitos benefícios para a sociedade como um todo. Mas, para isso ser possível, o cientista precisaria pensar mais na situação do planeta e deixar um pouco de  lado a ambição pelo lucro,  acabando  de  vez  com  a  exploração  e  apropriação  dos conhecimentos  tradicionais  de  forma  desregrada  e  ilegal.  A legislação  deveria  ser  revista  e  atualizada  e  os  governos deveriam  assumir  e  por  em  prática  o  que  foi  declarado  na Conferência  das  Nações  Unidas  para  o  Meio  Ambiente  e  o Desenvolvimento de 1992.      Referências  CONFERÊNCIA  DAS  NAÇÕES  UNIDAS  SOBRE  MEIO  AMBIENTE  E DESENVOLVIMENTO  (1992,  Rio  de  Janeiro,  Brasil) Agenda 21. São  Paulo: Secretaria  de  Estado  do  Meio  Ambiente,  1997.  383  p.  ‐‐  (Documentos Ambientais) 

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Alfabetização científica e a participação pública  nas políticas de saúde 

 Luiz Henrique Chenchi 

Maria Lúcia Teixeira Machado   Introdução 

 Este  artigo  tem  por  objetivo  articular  as  consultas  públicas 

como meio  de  participação  da  sociedade  em  assuntos  de CTS que  afetam  a  saúde  das  pessoas,  haja  vista  a  pouca  literatura existente sobre o tema. Para tanto, será abordada a alfabetização científica  como  importante  característica  para  um  indivíduo consciente e atuante nas ações de CTS, seja no entendimento de questões  práticas  do  seu  dia‐a‐dia,  na  tomada  de  decisões  na sociedade e até na formulação de políticas públicas. Em seguida, uma  abordagem  das  consultas  públicas,  definição  e características,  e  seu  uso  administrativo  para  formulação  de políticas públicas, principalmente no campo da saúde.  

Existem  duas  tradições  fundamentais  dentro  do  enfoque Ciência, Tecnologia e Sociedade  (CTS): a  tradição européia, que centra  seu  estudo  na  análise  dos  antecedentes  ou  os condicionantes  da  ciência  e,  a  tradição  norte‐  americana,  que centra  seus  estudos  nas  conseqüências  sociais  e  ambientais  do conhecimento  científico.  Um  aspecto  interessante  a  ser considerado  é  que  ambas  consideram prioritária  a necessidade de  controle  público  da  ciência  e  da  tecnologia  e  promovem diversos mecanismos democráticos que facilitam a abertura dos processos  de  tomada  de  decisão  à  participação  dos  cidadãos (SANTOS & ICHIKAWA, 2004). 

Furnival  (2008)  ressalta  que,  no  Brasil,  tem  havido  uma crescente propagação do valor da participação da sociedade nos 

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processos  políticos,  como  forma  de  superar  o  “déficit democrático”.  Há  uma  preocupação  em  torno  da  não receptividade do público em  torno dos avanços C&T que se dá acerca  da  percepção  e  compreensão  sobre  C&T  que  estão presentes  na  sociedade.  A  educação  por  meio  da  divulgação científica é entendida como necessária para maiores chances de aceitar  avanços  científicos  e  tecnológicos,  visto  que  aversões  a algum avanço surgem apenas por falta de acesso e compreensão dos fatos científicos. 

De  acordo  com  os  pressupostos  do  movimento  CTS,  o aumento da participação da sociedade em assuntos de ciência e tecnologia seria desenvolvido a partir de mudanças no currículo de  ciências,  apresentando  uma  visão  diferente  de  ciência  e  de tecnologia,  que  passasse  a  explorar  suas  relações  com  a sociedade (FARES et al., 2007). 

Pfuetzenreiter  (2001)  destaca  que  o  desenvolvimento científico  e  tecnológico  tem  sido  considerado um marco para a sociedade  moderna.  O  aumento  do  conhecimento  em  ritmo acelerado,  com um  curto  intervalo desde  as novas descobertas até  a  sua  aplicação  em  grande  escala,  tem  afetado  a  vida  das pessoas. Entretanto, não há muita informação a respeito de como esses avanços estão sendo assimilados. 

No Brasil, canais adequados de debate e expressão devem ser criados  e  multiplicados  de  modo  a  garantir  a  participação popular  nas  grandes  decisões  que  orientam  o  progresso científico, e que a sociedade deve opinar antes da realização da pesquisa,  e  não  apenas  depois  de  sua  realização  (SANTOS  & ICHIKAWA, 2004). 

 Alfabetização científica em CTS  

  Os  estudos  CTS  têm  por  objetivo,  por  um  lado,  a contextualização  histórico‐social  do  conhecimento  científico‐

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tecnológico,  e  por  outro  lado,  a  promoção  da  participação pública. Ambos os objetivos exigem, como um dos processos, a alfabetização  dos  cidadãos  em  ciência  e  tecnologia,  para  que possam  tomar decisões  com  base  em  informações  (SANTOS & ICHIKAWA, 2004). 

Um dos problemas enfrentados pela sociedade moderna é o montante  de  informações  qualificadas  como  científicas  nos diversos  meios  de  comunicação,  principalmente  pela propaganda  de  produtos,  que  promete  prodígios  utilizando  a autoridade da ciência. Alerta deve‐se  ter para o problema de as pessoas  acreditarem  cegamente  em  informações  que  são veiculadas  pela mídia  e  que  são  classificadas  como  científicas. Essa dimensão poderia ser ampliada, complementando‐se que a alfabetização científica e tecnológica seria necessária não apenas para  participar  de  debates  e  tomada  de  decisões  em  nível coletivo, mas  também para  facilitar  a  compreensão de  fatos da vida  cotidiana  e  a  tomada  de  decisões  acertadas individualmente. Dentre eles está o emprego dos conhecimentos científicos  com  fins  utilitários,  exemplificado  pela  aplicação correta da  teoria microbiana na prevenção da  contaminação de alimentos  por  ocasião  de  sua  preparação  (PFUETZENREITER, 2001).  

A  globalização  e  a  sociedade do  conhecimento  exigem  que todo  cidadão  tenha  competências  básicas  (combinação  de conhecimentos,  capacidades  e  atitudes),  que  permita  sua realização  pessoal,  inclusão  social,  cidadania  ativa  e  emprego (ARRIBA, 2007). 

Uma pessoa alfabetizada  científica  e  tecnologicamente deve ser  capaz  de  saber  utilizar  os  conhecimentos  adequados  para tomar  uma  decisão.  Por  exemplo,  em  relação  à  prevenção  da AIDS, ele precisa decidir que medida de proteção adotará, além de sua participação no debate em sociedade sobre as medidas a serem  tomadas  coletivamente  em  relação  à  profilaxia  da 

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enfermidade.  Ainda,  deve  ser  capaz  de  desenvolver  algumas habilidades,  como  a  utilização  de  conceitos  científicos  para  a adoção  de  decisões  responsáveis  para  a  sua  vida (PFUETZENREITER, 2001).  

Segunda Arriba (2007), a alfabetização científica e tecnológica é  imprescindível para o cidadão do século XXI, visto o contexto atual  da  ciência  e  tecnologia  para  a  sociedade,  onde  novas tecnologias são implementadas (e, com elas, surge a inovação) e a  participação  pública  na  construção  das  políticas  é  cada  vez mais necessária (Figura 1). 

Sociedade do século XXI

Sociedade industrial e do conhecimento

Rápida incorporação da inovação

Aprendizagem permanente

necessitacaracterizada

Alfabetização científica

Divulgação científica

Aprendizagem informal

Desenvolvimento pessoal e capacidade crítica

Cidadãos adaptados e com escassa divisão social

  Figura 1: Caracterização da sociedade do século XXI frente aos novos contextos de ciência e tecnologia (ARRIBA, 2007). 

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Santos (2007, p. 480) afirma que:  o letramento científico1 dos cidadãos vai desde o letramento no sentido do entendimento de princípios básicos de fenômenos do cotidiano até a capacidade  de  tomada  de  decisão  em  questões  relativas  à  ciência  e tecnologia  em  que  estejam  diretamente  envolvidos,  sejam  decisões pessoais  ou  de  interesse  público. Assim,  uma  pessoa  funcionalmente letrada  em  ciência  e  tecnologia  saberia,  por  exemplo,  preparar adequadamente  diluições  de  produtos  domissanitários;  compreender satisfatoriamente  as  especificações de uma  bula de um medicamento; adotar  profilaxia  para  evitar  doenças  básicas  que  afetam  a  saúde pública;  exigir  que  as  mercadorias  atendam  às  exigências  legais  de comercialização, como especificação de sua data de validade, cuidados técnicos  de  manuseio,  indicação  dos  componentes  ativos;  operar produtos  eletroeletrônicos  etc.  Além  disso,  essa  pessoa  saberia posicionar‐se,  por  exemplo,  em  uma  assembléia  comunitária  para encaminhar  providências  junto  aos  órgãos  públicos  sobre  problemas que afetam a sua comunidade em termos de ciência e tecnologia. 

 Esse  letramento,  como prática  social,  implica na participação 

ativa  do  indivíduo  na  sociedade,  o  que  requer  também  o desenvolvimento  de  valores  vinculados  aos  interesses  coletivos relacionados às necessidades humanas e deveriam ser vistos como não  subordinados  aos  valores  econômicos.  Por  exemplo,  ao lidarem  diariamente  com  vários  produtos  químicos  as  pessoas têm  que  decidir  qual  devem  consumir  e  como  fazê‐lo.  Essa decisão poderia ser tomada  levando em conta não só a eficiência dos  produtos  para  os  fins  que  se  desejam,  mas  também  seus 

1  Santos  (2007)  adota  a  diferenciação  entre  alfabetização  e  letramento, justificando  que  na  tradição  escolar  a  alfabetização  científica  tem  sido considerada  na  acepção  do  domínio  da  linguagem  científica,  enquanto  o letramento científico, no sentido do uso da prática social, parece ser um mito distante da prática de sala de aula. Ao empregar o termo letramento, ele busca enfatizar  a  função  social  da  educação  científica  contrapondo‐se  ao  restrito significado de alfabetização escolar. Observa‐se que, enquanto a alfabetização pode  ser  considerada  o  processo  mais  simples  do  domínio  da  linguagem científica, o letramento, além desse domínio, exige o da prática social. 

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efeitos  sobre  a  saúde,  seus  efeitos  ambientais,  seu  valor econômico,  as  questões  éticas  relacionadas  à  sua  produção  e comercialização (SANTOS, 2007). 

A  educação  escolar  nem  sempre  prepara  o  indivíduo  para exercer o pensamento crítico. 

 Uma opção seria poder direcionar essas questões para a saúde fazendo algumas  indagações:  para  que  serve  a  alfabetização  científica  e tecnológica  em  saúde?  Quem  teria  essas  prerrogativas?  Como  as pessoas  que  não  tiveram  acesso  à  educação  formal,  ou  o  fizeram  há muito  tempo,  poderão  estar  alfabetizadas  científico‐tecnologicamente em saúde? Essas pessoas não poderão ter autonomia, capacidade de se comunicar com os demais e responsabilidades em relação à sua própria saúde e qualidade de vida? Como poderão participar dos debates e das decisões? No caso dos alimentos transgênicos, por exemplo, como essas pessoas poderão opinar e discutir sobre o tema se a linguagem utilizada pelos meios de comunicação está tão distante da linguagem do dia‐a‐dia da população em geral? (PFUETZENREITER, 2001, p.4). 

 Diversos  são  os  argumentos  para  justificar  a  alfabetização 

científica.  Millar  (1996)2  apud  Santos  (2007)  agrupa  esses argumentos  em  cinco  categorias:  a)  argumento  econômico,  que conecta  o  nível  de  conhecimento  público  da  ciência  com  o desenvolvimento econômico do país; b) utilitário, que  justifica o letramento por razões práticas e úteis; c) democrático, que ajuda os cidadãos a participar das discussões, do debate e da tomada de decisão sobre questões científicas; d) social, que vincula a ciência à cultura,  fazendo  com  que  as  pessoas  fiquem  mais  adeptas  à ciência e à  tecnologia; e e) cultural, que  tem como meta  fornecer aos alunos o conhecimento científico como produto cultural. 

    2 MILLAR, Robin. Towards a science curriculum for public understanding. School Science Review, v. 77, n. 280, p. 7‐18, 1996. 

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Participação pública e consultas públicas  Fares et al. (2007) destaca o modelo de participação pública na 

comunicação  da  ciência,  como  baseado  no  compromisso  de democratização da ciência e da tecnologia, onde a participação do público em assuntos de CT e na formulação de políticas científicas e tecnológicas se dá nas mesmas condições que para os cientistas e em espaços propícios para isso como foros, debates e conferencias de  consenso.  Pressupõe  como  condição  necessária  para  o desenvolvimento  dessas  atividades,  a  valorização  do  diálogo entre os cientistas e os não‐cientistas, ressaltando o envolvimento do público nos processos de  tomada de decisão  sobre CT  e nos processos de  formulação de políticas  científico‐tecnológicas,  seja por meio da valorização de  saberes  locais ou por meio da  ativa participação. 

Para  que  haja  envolvimento  do  público  nesses  processos decisórios, é preciso que ocorra o acesso à  informação adequada visando  à  formação da  opinião,  com pouca  influência de mitos, suposições  e  discursos  persuasivos  emitidos  por  grupos  de pressão.  A  apatia  dos  cidadãos,  o  grau  de  especialização  do conhecimento científico e tecnológico, a pouca cobertura da mídia, falta  de  oportunidade  e  a  crença  de  que  o  conhecimento necessário  para  participar  é  limitado  aos  cientistas  são  vistos como barreiras para o sucesso da participação pública (RESENDE & ROTHBERG, 2011). 

No Brasil,  as  consultas públicas  (ou  consultas  online)  têm  se mostrado  o  meio  mais  adotado  de  participação  pública, especialmente no  âmbito da  saúde. Destacam‐se  como meios de construção  compartilhada  de  diretrizes  de  políticas  públicas  e legislações. Um dado  setor  governamental  submete uma  versão inicial do  texto sob consulta pela  internet, e  indivíduos e setores podem  se  manifestar  sobre  cada  aspecto  proposto,  indicar  a necessidade  de  mudanças,  justificar  o  porquê  das  sugestões, 

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conhecer  as  contribuições  de  outros  participantes,  revisar  seus conceitos  após  descobrir  as  posições  alheias,  combinar‐se  com outros  para  conjuntamente  propor  alterações,  enfim  participar ativamente  da  política.  Para  se  legitimarem,  as  contribuições devem  ser  processadas  com  transparência,  de  modo  que  o participante perceba que sua colaboração foi efetivamente levada em conta no processo de formulação política. A exclusão digital e a falta de domínio do público em geral com as novas tecnologias são enormes, em países como o Brasil e outros da América Latina, e  têm se  tornado objeções para a efetiva participação  (RESENDE & ROTHBERG, 2011; ROTHBERG, 2010; ROTHBERG & BERBEL, 2010). 

 A  participação  em  consultas  públicas  requer  conhecimentos  e informações  que  sustentem  a  formulação  de  perspectivas  e  sugestões consistentes.  Indivíduos  e  setores  interessados  em  participar  devem buscar  diversas  fontes  de  informação  e  interpretação  (ROTHBERG & BERBEL, 2010, p. 456). 

 Consulta pública na saúde   

 A participação é um dos princípios do Sistema Único de Saúde  (SUS) que,  além  de  incorporar  aspectos  de  ordem  organizacional,  implica assumir um posicionamento ético‐político de caráter democrático para sua concretização (ACIOLI, 2005, p. 293). 

 A participação pública nas políticas organizacionais da saúde, 

especificamente no SUS, é uma expressão viva da participação da sociedade nas tomadas de decisões pelo Estado no interesse geral, caracterizando‐se  como  efetivo  exercício  do  poder  político popular (CARVALHO & SANTOS, 2006). 

O SUS utiliza o mecanismo de consultas públicas para colher contribuições, tanto de setores especializados quanto da sociedade em  geral,  sobre  as  políticas  e  os  instrumentos  legais  que  irão orientar  as  diversas  ações  no  campo  da  saúde  no  país.  Esta 

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ferramenta  abre  a  possibilidade  de  uma  ampla  discussão  sobre diversos  temas  na  área  da  saúde,  permitindo  a  participação  e contribuição  pública  na  construção  do  SUS.  Por  meio  dela,  o processo  de  elaboração  do  documento  é  democrático  e transparente para a sociedade (BRASIL, 2011a). 

No  site do Ministério da  Saúde  (BRASIL,  2011a)  foi possível verificar que  já foram encerradas 43 consultas no âmbito do SUS desde 2003, com destaque para o Programa de Avaliação para a Qualificação  do  SUS  (com  contribuições  encerradas  em  08  de junho de 2011) que  tem por meta avaliar o desempenho do SUS considerando as suas várias esferas de gestão.   Ainda no mesmo site,  encontra‐se  disponível  o  histórico  das  consultas  públicas referentes  à  revisão  e  elaboração  dos  Protocolos  Clínicos  e Diretrizes  Terapêuticas  do  Ministério  Saúde  para  as  doenças tratadas  no  Componente  Especializado  da  Assistência Farmacêutica,  sendo que no ano de 2010  foram disponibilizadas 45  consultas  a  esses  protocolos  de  alta  complexidade  e  apenas uma disponibilizada no  ano de  2003, notando‐se um  avanço no uso  desta  ferramenta  de  participação  popular,  por  parte  dos gestores públicos, na área da saúde. 

A  Agência  Nacional  de  Vigilância  Sanitária  (ANVISA) também  utiliza  desta  ferramenta  de  forma  crescente,  verificado em consulta à página da agência na internet, onde no ano de 2009 foram realizadas 101 consultas públicas, 120 em 2010 e até meados de abril de 2011, foram 25 (BRASIL, 2011b). Na própria página, é disponibilizado  o  formulário  para  contribuições,  onde  é interessante  destacar  o  item  segmento  do  participante (Consumidor  (pessoa  física); Associação ou entidade de defesa e proteção  do  consumidor;  Profissional  de  saúde  (pessoa  física); Entidade de classe ou categoria profissional de saúde; Empresário ou  proprietário  de  estabelecimento  empresarial;  Associação  ou entidade  representativa  do  setor  regulado;  Academia  ou instituição de ensino e pesquisa; Órgão ou entidade do Governo 

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(Federal,  Estadual  ou  Municipal);  Outro.  Especifique),  onde qualquer  cidadão  pode  contribuir,  destacando‐se  o  letramento científico como formador para que esta contribuição seja efetiva. 

 Considerações finais 

 Os  apontamentos  apresentados  visualizam  a  importância da 

participação  pública  nos  domínios  das  políticas  de  saúde  e destacam  como  ferramenta metodológica  as  consultas  online  e  a alfabetização científica como propulsor para que esta participação seja apropriada e efetiva. 

  O  campo  saúde  se  destaca  por  afetar  diretamente  a população  e  esta  sentir  os  efeitos  imediatos,  diferentemente  de quando  surgi  uma  inovação  tecnológica  e  esta  pode  levar  anos para que a sociedade perceba suas implicações.  

  Notam‐se  avanços  na  realização  de  consultas  públicas relacionadas  à  saúde,  mas  a  participação  ainda  é  deficiente. Resende  &  Rothberg  (2011)  argumentam  que  o  tipo  e  a insuficiência  de  informação  disponível  na  internet  para fundamentar  a  participação  geram  dificuldades,  o  que  seria contornado através do  interesse pessoal, capacidade de cada um em selecionar os dados disponíveis, do incentivo ao engajamento e da qualidade da informação.    Referências  ACIOLI,  S.  Participação  social  na  saúde:  revisitando  sentidos,  reafirmando propostas. In: Construção Social da Demanda: direito à saúde, trabalho em equipe, participação e espaços públicos. Rio de Janeiro: CEPESC/UERJ: ABRASCO, 2005, p. 293 – 303. 

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O processo de indexação como técnica de controle social  

Marco Donizete Paulino da Silva   Introdução 

 Este  trabalho  versa  sobre  a  situação  da  Ciência 

contemporânea  em  sua  relação  com  a produção de  tecnologias diversas  que  colaboram  na  construção  de  sentidos  discursivos relacionados a produtos culturais – mais especificamente o filme documentário – através de redes eletrônicas de  interação social. Seu pressuposto  é o de que  a possibilidade de  trocas  livres de informação ‐ na ordem de canais informais ou grupos e tradições estéticas  diversas  ‐  podem  gerar  maior  distinção  entre conceituações  sobre  o  que  são  os  objetos  documentais audiovisuais  e  suas diretrizes,  considerando os mecanismos da classificação e indexação como elementos técnicos que produzem e  cristalizam  definições,  proprietários  de  grande  poder  de caracterização pela simples ato de nomear e posicionar conceitos, idéias e objetos. 

Sua  base  teórica  reside  em  autores  das  áreas  da Biblioteconomia,  Ciência  da  Informação,  Cinema,  e  psicologia, objetivando  produzir  um  diálogo  caloroso  e  instrutivo  entre esses campos. A sigla CTS, ainda que seja utilizada poucas vezes durante esse percurso narrativo, encontra‐se embutida em cada elemento  considerado  relevante  nessa  discussão. Dessa  forma, expõe‐se  a  seguir  a  seguinte  correspondência  de  termos‐referência para a condução do debate: 

Ciência = conhecimento; Tecnologia = classificação e indexação; e Sociedade = objeto controlado. 

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Seguindo essa mesma ordem na argumentação apresentamos nos  próximos  tópicos  algumas  explanações  sobre  cada  uma dessas premissas. 

 I. Ciência & Conhecimento 

 Ao  tratar  da  questão  evolutiva  da  ciência  até  o  paradigma 

moderno París (2004) contrapõe as visões helênicas, operadas na Antiguidade  ‐ que viam o  conhecimento  científico derivado da observação da natureza ‐ definindo a concepção grega de ciência como “[...] contemplação de uma realidade exterior – seja esta o cosmos,  o  ser,  o  fluir,  as  idéias  [...]”  (p.  199),  objetivando conclusões  baseadas  na  percepção,  e  racionalização,  dos fenômenos  físicos,  promovendo  conhecimento  a  partir  desse entendimento.  Essa  atitude  de  observador  é  o  principal contraponto pelo  ideal da ciência moderna que passou a operar intervenções no mundo real, encarando essas intervenções como forma de conhecer o mundo físico. Ou seja, uma concepção pró‐ativa do pensador‐investigador, como apontado por París (2004), que tem como princípio a idéia de que só conhecemos realmente alguma  coisa  se  nós mesmos  a  produzirmos. Desse modo,  os instrumentos  produzidos  como  extensões  do  corpo  humano exemplificam o esforço de superação dos limites físicos impostos ao homem pela natureza. 

Essa  idéia  de  “produção”  como  equipamento  potencial  de conhecimento  científico  do  mundo  encontrou  ressonância  nas variações  posteriores  de  París  (2004)  sobre  o  mesmo  tema, tornando‐se  prática  plenamente  estabelecida  a  partir  da  visão mecanicista do universo, manifesta de maneira inquestionável na representação,  por  Galileu  Galilei,  do  funcionamento  desse universo num modelo tridimensional, produzido em laboratório. 

Essa  atitude  do  cientista  prenuncia  uma  ação  diferenciada em  relação  aos  fenômenos  observados,  transportando  a  ação 

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para o nível da produção, replicando‐o na  intenção de atingir a meta:  conhecer  cientificamente  o  mundo  concreto.  A  adoção dessa  postura  de  imitação  do macro  numa  versão  objetiva,  ao mesmo  tempo em que condiciona o mundo palpável à situação de objeto manipulável, outorga  ao  ego humano  – num  sentido lato  –  a  idéia  de  controle  da  índole  natural,  posicionando‐se como gerente de suas funções e fenômenos. 

O nascimento da CTS em fins da década de 1960  teve como motor  a  capacidade  deste  em  funcionar  autonomamente, repensando essa perspectiva egocrática, tendo em meta evitar os embaraços  e  riscos  observados  na  manipulação  de  técnicas  e tecnologias  então  vigentes.  A  Ciência  da  Informação  também ganha  impulso  sob  essa  demanda,  uma  vez  que  suas prerrogativas tinham por fundamento a preocupação ecológica e a formação de uma mentalidade mais consciente dos efeitos das escolhas feitas no domínio do desenvolvimento. 

Voltando  à  questão  de  um  modelo  de  Ciência  como fundamento para a ação produtiva, a expansão desse corolário – agora noutro momento, mais próximo de nossa realidade social ‐, aponta alterações que dilataram o pressuposto ao cristalizar a concepção  da  Ciência  em  duas  distinções:  Ciência  Básica  e Ciência  Aplicada.  A  base  dessas  distinções/contraposições encontra‐se,  segundo  Stokes  (2005),  na  formulação  de  duas máximas  creditadas  à  Vannevar  Bush,  pelas  quais  a  pesquisa básica era, em primeiro  lugar, realizada sem objetivar interesses práticos e, em segundo lugar, que a mesma age como precursora do progresso  tecnológico. A ciência aplicada, por sua vez, seria definida pela utilização dos conhecimentos gerados pela ciência básica na produção de atividades, métodos e produtos voltados para fins utilitários. 

O elemento mais contundente nesse pequeno preâmbulo, ao nosso ver, é a transferência da atenção da construção do homem através do  conhecimento para uma  condição de  construção do 

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homem  através  dos  produtos  gerados  na  aplicação  dos conhecimentos científicos em novas tecnologias. Ou seja, a partir da criação da imprensa, por exemplo, as tecnologias adentraram de maneira mais  incisiva  na dinâmica de  construção do  saber, sendo  que  com  a  revolução  industrial  esse movimento  foi  se tornando mais  acelerado  e novas  inclusões ofereceram maiores condições  de  desenvolvimento.  Hoje,  com  a  revolução tecnológica, a informação flui de maneira ostensiva, propiciando elucidações,  resoluções  e  diferenciações  que,  potencialmente, gerariam aprendizagens e melhorias do ser. No entanto, o  foco de  atenção  desviou‐se  da  formação  do  homem  como  ser instruído  para  a  produção/sofisticação  de  ferramentas tecnológicas, criadas na intenção de gerar maior dependência do seu operador que autonomia. Um ambiente que conduz, a nosso ver, a uma produção vazia de sentido. Essa forma de condução da  episteme  configura  o  que  París  veio  a  nomear  como “Tecnosfera”, conceito utilizado no próximo tópico. 

 II. Tecnologia = classificação e indexação 

A “Tecnosfera” é definida por París como “[...] o conjunto ou o  universo  dos  artefatos,  não  só  dos  instrumentos,  mas  das múltiplas  formas deles,  criadas pelos humanos.”  (2004, p. 206). Por essa definição  toda a série de  técnicas e  tecnologias em uso ou  desuso  no  cenário  social‐humano,  compõe  a  listagem  de elementos presentes como objetos contribuintes da manutenção desse ambiente. 

Pressupõe‐se  que  a  dinâmica  de  emergência  de  novo ferramental  inclua  sempre,  nessas  condições,  adaptações  ou encerramentos  de  outros  ferramentais  em  uso,  estabelecendo assim  as  regras  de  câmbio  entre  os  processos  e  objetos produzidos. Adiciona‐se  a  isso que  a  forma de vida  capitalista determina,  por  essa  ordem  de  raciocínio,  a  idéia  do  consumo como uma função renovadora e, num molde mais sedutor, capaz 

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de promover  a  sensação de  renascimento do  indivíduo  através do ato de atualização de si por meio do equipamento tecnológico que faz uso no seu cotidiano. 

Voltando  à  fala  de  París  (2004),  a  diferenciação  entre “Técnica”  e  “Tecnologia”  acontece  pela  aquiescência de  que:  a primeira supõe seu aperfeiçoamento numa linha estabelecida de energia  e materiais,  tendo  a  segunda  se  originado  dos  saltos qualitativos promovidos pela incursão de recursos energéticos e novos materiais  descobertos  no  avanço  da  ciência  posterior  à revolução  industrial.  Uma  vez  que  a  introdução  de  novas tecnologias depende,  no modelo  atual, dos  pactos  surgidos da percepção de necessidades políticas, econômicas e sociais, não é de se estranhar que a derive um nível de controle cada vez maior dessa  produção,  controle  objetivado  nas  ferramentas  que estabelecem definições quanto ao que são e a que correspondem tais inclusões. 

A Ciência,  seja  ela  aplicada  ou  básica  –  pela  concepção  de retorno social produtivo  ‐ concilia sua forma de atuação com as agendas políticas vigentes – sejam estas em nível global, nacional ou  regional  ‐,  exigindo  a  aplicação  de  estratégias  que possibilitem  a  negociação  entre  Estado  e  Sociedade  na implementação de novas tecnologias. 

A técnica, na perspectiva de París, apresenta uma história em que o desejo de poder “[...] adquire múltiplas formas, não só na violência, mas também [...] na produção de um novo mundo, no cuidado protetor e na ocupação.”  (2004, p. 176). Esse poder, no tocante à divulgação e comunicação científica, reside no uso dos processos de “Classificação” e “Indexação” sobre discursos que possam  vir  a  afetar  a  imagem  e  episteme  científicas  junto  à grande  massa  de  sujeitos  contemporâneos,  leigos  ou especialistas. 

O  documento,  elemento  essencial  na  dinâmica  da classificação, é caracterizado por Molina, García Marco e Agustín 

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Lacruz  (2002)  como uma  tecnologia  “[...]  que  permite  superar  las limitaciones  de  la  comunicación  presencial  [...]”  (p.  36),  prenhe  de valor mnemônico,  capaz  de  preservar  –  e  cristalizar  por meio dessa  preservação  –  leituras  do  mundo  através  de  idéias  e conceitos nele registrados. 

A  Classificação  é  entendida  como  um  dos  processos  pelos quais  um  documento  pode  ser  categorizado  e  classificado  em determinada ordem, conforme determinada orientação. Por essa via todo elemento classificado acaba por ocupar um lugar e uma posição, que, por meio de outro processo, o da Indexação de um conceito a ele relacionado, pode ser localizado e recuperado para pronta  utilização.  Langridge  (1977)  argumenta  que  a classificação, sob a perspectiva social, pode ser entendida como uma  ferramenta  de  gerenciamento,  ou  seja,  sua  aplicação promove ação mais produtiva e econômica. 

Para que isso se dê necessita‐se, no entanto, de um aparelho lingüístico  que  capacite  essa  operação  de  transferência:  uma linguagem.  Essa  linguagem,  por  sua  vez,  pode  ser  construída, em  duas  modalidades:  natural  ou  controlada.  Fujita  (2010) distingue  ambas  as modalidades  pela  ausência  do  controle  de um  vocabulário  na  primeira  em  detrimento  desse  controle  na segunda. Ou seja, grosso modo, as linguagens naturais acontecem espontaneamente,  sem  que  haja  intervenções  normativas, institucionais sobre seus conteúdos, já as controladas são regidas pela exigência de precisão, procurando eliminar de seu conteúdo elementos inviáveis ao princípio de funcionalidade. 

Um  dos  canais mais  promulgados  como  fórum  de  debates democráticos e libertários tem sido a Web, que se compõe de um grande emaranhado de redes sociais capaz de refletir um pouco da  efervescência  cultural  contemporânea.  Nesse  ambiente,  as linguagens  –  tanto  naturais  quanto  controladas  –  acontecem, produzindo  posicionamentos  e  movimentos  a  partir  das 

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interações  humanas  que  obedecem  a  critérios  próprios  de classificação e controle. 

No  próximo  tópico  será  dada  maior  elucidação  sobre  a questão  de  uso  da Web  como  canal  de  transformação  de  uma realidade tecnocrata. 

 III. Sociedade = objeto controlado e “Indexação Social” 

As bases da Ciência objetiva, no final do século XIX, sofreram um grande deslocamento ao se promoverem os pressupostos da psicologia  de  Sigmund  Freud  e  Carl  Gustav  Jung.  Em  seu prefácio  do  livro  O  Homem  e  seus  Símbolos,  de  Jung,  John Froeman  afirmava  que  a  psicologia  de  Jung  concebia  o inconsciente como “[...] um mundo que é parte tão vital e real da vida  de  um  indivíduo  quanto  o  é  o  mundo  consciente  e ‘meditativo’ do ego.“ (JUNG; von FRANZ, 1996, p. 12). 

A perspectiva da psicologia analítica é de que, ao passar pelo consciente,  as  ações  derivariam  escolhas  baseadas  em  valores construtivos  de  indivíduo  e  sociedade,  potencializados  pela análise  dos  estímulos  inconscientes,  com  o  fim  de,  ao decifrarmos  suas  origens,  os  tornássemos  positivos  em  nossa interação  com  o mundo.  O  valor  social  das  ações  individuais residiria  nisso:  a  somatória  de  escolhas  pessoais  conscientes  e individualizadas (maduras) que constituiriam os cenários sociais cabíveis àquelas realidades individuais. 

Nesse  tocante, a compreensão da “consciência” – no âmbito psicológico – é citada por París (2004) como vivenciada de forma tribal  pelas  culturas  primitivas  e  de  forma  individual  nas culturas  ditas  “avançadas”.  Nessa  segunda  situação,  viver  e pensar aspectos da realidade humana (natureza e sociedade que a  circunda)  é mais  diverso  na  forma,  consubstanciando‐se  na heterogeneidade de expressões  individuais. A técnica, agora em uso  pelo  sujeito,  surgiria  nesse  contexto  como  possibilidades variantes  do  indivíduo  em  expressar  opiniões,  sentimentos, 

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visões  do  mundo,  mesmo  que  essas  formulações “individualizadas”  carreguem  características  tradicionalmente defendidas por um grupo do qual seu emissor faz parte. 

Dos  elementos  utilizados  pelo  poder  dominante  como reguladores desse cenário, o autor cita o “princípio da ação” – tal como  definido  por Habermas  ‐  em  dois  níveis:  instrumental  e intrumentalizante.  Situa  a  primeira  ação  como  relacionada  ao uso de “instrumentos” e a segunda como, não só derivada desses usos, mas, condicionante do objeto ao qual se dirige – no caso, o indivíduo  –  como  instrumento  que  agirá  em  favor  da  fonte emissora. Essa prerrogativa abre espaço para especificação dessa ação  em  duas  vertentes:  de  ação  comunicante,  e  de  ação dramatúrgica. Ambas  constituídas de elementos  informativos e representacionais dirigidos por técnicas organizacionais que “[...] criando  imagens  interessantes, manipulam  os  sujeitos  a  quem ambas se dirigem.” (PARÍS, 2004, p. 188). 

Então,  o  fundamento  para  nossa  proposição  reside  na percepção  de  que,  contrapondo‐se  a  essa  ação  comunicante manipuladora  existe uma  ação  comunicante de  conscientização crítica,  tanto  na  ordem  dos  produtos  classificados  como midiáticos, quanto na ordem das atribuições de gênero e espécies pelos canais de comunicação. Tais ações possibilitam definições quanto  aos  conteúdos  desses  produtos  ou  seu  valor  enquanto conceito, conferindo‐lhe sentido discursivo. O pressuposto é de que  ações  de  caráter  controlador  ocorrem  em  ambientes corporativos  –  sejam  eles  uma  biblioteca  ou  uma  agência  de publicidade,  já,  as  ações  de  caráter mais  conscientizador,  tem maior chance de ocorrerem em ambientes informais, nos quais a informação  circula  de  maneira  livre,  integrando  sentidos interativos,  na  configuração  do  que  veio  a  se  nomear  de “Indexação Social”,  expressão que  justifica o uso da Web  como conceito promotor dessa incursão. 

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Voltando à questão da classificação, Langridge (1977) cria um personagem  e,  por  meio  da  descrição  de  seu  cotidiano, demonstra o uso  constante  e, quase  inconsciente, do  raciocínio classificatório  na  vida  do  homem.  Esta  premissa  estabelece  o valor do processo  classificatório  na  forma  como  o  ser  humano concebe  o  mundo  e,  por  essa  concepção,  potencializa  as atividades cotidianas, sejam elas no terreno de ações mundanas ou prioritárias da vida. Essa afirmação resgata a observação feita por J. D. Foskett (1980) de que o processo mental de construção do  conhecimento,  fundamentado  em  Vygotsky,  constrói  os conceitos  através  da  interação  da  consciência  humana  com  os estímulos externos que repercutem no cérebro e, sendo por este reconhecidos,  são  encaixados  em  categorias  hierarquizadas conforme os valores e  conhecimentos pré‐existentes no próprio indivíduo, receptor do estímulo. 

Um processo similar é descrito por París (2004) na construção da linguagem pelo pensamento: “O mais exato seria dizer que a linguagem ‘brota’ do pensamento, que não só trata de comunicá‐lo, mas de dar‐lhe  forma.”  (p. 319). À mercê desse postulado, o homem, como animal comunicante,  lançaria mão da  linguagem para expressar e receber  idéias/conceitos de outrem, utilizando‐se  do  processo  de  troca  de  mensagens  para  constituir‐se  na interação  com  o  outro  ou  dele  diferenciar‐se,  constituindo‐se outro  indivíduo, numa relação transacional, dialógica, pela qual seu mundo subjetivo procura integração com o mundo objetivo. 

A questão advinda dessa “construção” em duas vias, reside no  fato  de  defender‐se  certa  autonomia  do  indivíduo  –  e consequente  consciência/responsabilidade  –  dentro  de  um ambiente  em  que  seu  senso  crítico,  assim  como  a  noção  de elemento  reprodutor  de  um  discurso  representativo  de determinada classe ou tradição social‐profissional (uma vez que não  se  pode  alienar  o  ser  de  toda  série  de  influências  que construíram  sua  personalidade  durante  todo  período  de 

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interação social), encontra encorajamento ou refutação, conforme a  convergência  ou  divergência  de  suas  leituras  do mundo  e  o contexto favorável ou desfavorável às mesmas. 

Nesse  sentido,  as  técnicas  de  ação  comunicativa  e dramatúrgica  utilizadas  pelos  mecanismos  de  propaganda  e produtos  midiáticos  de  massa  operariam  suas  estratégias  de persuasão, baseando  suas atividades na  confecção de discursos aparentemente  integrados aos quesitos:  realidade e necessidade vital,  tentando  conseguir  a  adesão  dos  coletivos  aos  interesses que  defendem.  Essas  técnicas  a  nosso  ver  potencializam  ou esvaziam discursos, dependendo da conformidade dos mesmos ao que se  institui chamar como “produtivo”. Surge então outro questionamento:  o  pensamento  crítico  sofre  algum  prejuízo irreparável nesse ambiente? Acreditamos que não, ainda que não seja fácil expressá‐lo e exercê‐lo nessas circunstâncias. 

Algumas definições de documentário  e de  ficção no  campo do audiovisual levam em conta a vinculação maior ou menor do discurso cinematográfico com o real. Nichols (2005), ponderando sobre os pressupostos dessa divisão, diz que: “A sensação de que um filme é um documentário está tanto na mente do espectador quanto no contexto ou na estrutura do  filme.”  (p. 64).  Indo por essa via, existe a idéia de que o indivíduo, especialista ou não em alguma dessas tradições, mesmo sem a informação antecipada – a nomeação do gênero – seria capaz de reconhecer na experiência do objeto  sua  filiação numa ou noutra  categoria. A experiência direta  com  o  filme,  a percepção de  suas  tendências  ou  acentos estilísticos pelo indivíduo o categorizariam dentro de uma ou de outra  concepção,  conscientizando‐lhe  dos  pressupostos anunciados  e,  forçando‐lhe  uma  tomada  de  decisão  sobre  os fundamentos da proposição fílmica. 

A importância desse mecanismo e sua relação com o trabalho a  que  nos  propomos  residem  na  defesa  de  que  os  produtos culturais  de  teor  mais  aprofundado  enfraquecem  o  domínio 

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massificador, possibilitando uma visão mais abrangente e efetiva do mundo. 

Essa  percepção  é  vivenciada  nas  considerações  com  que  o âmbito  institucional‐científico  trata  o  produto  cultural  e  a informação estética que os mesmos contêm. A mesma defesa foi assumida por Silva e Gracioso  (2010) no  tocante ao “Fenômeno Teatral”  e  sua  representação  pela  Classificação  Decimal  de Dewey  (CDD). No  caso  do  objeto  “Filme Documentário”,  essa discussão  avança  ao  se  considerar  que,  nele,  a  imagem  que registra  o  fato  é  vivenciada  de  maneira  mais  intensa,  por possibilitar uma maior identificação dela com o objeto real, como afirma  Nichols  (2005),  ao  reconhecer  que  a  “[...]  dimensão indexadora da imagem refere‐se à maneira pela qual a aparência dela é moldada ou determinada por aquilo que ela registra [...]” (p. 65), ou seja, ela permite maior possibilidade de representação do objeto físico pelo objeto registrado na película. 

Não  se  quer  dizer  com  isso  que  o  registro  documentário apresente o  fato  (ou determinada realidade) com  isenção  ‐ uma vez  que  se  reconhece  a  precedência  de  um  pensamento idealizador  (o  realizador  do  filme)  na  sua  representação  do mundo  –  o  que  se  quer  dizer  é  que  nossa  expectativa  de encontrarmos  melhor  representação  do  mundo  real,  como observado por Nichols (2005), é reforçada por essa qualidade da imagem  em  estabelecer  relações  entre  as  leituras  subjetivas do mundo – feitas pelo documentarista ‐ com os objetos e situações do mundo real. 

O autor reconhece ainda a distinção do valor “científico” do filme documentário quando observa a exigência que faz a ciência no  processo  de  investigação  científica:  neutralidade  do pesquisador.  Exigência  que  o  “documentarista”  não  engajado num discurso  institucional  jamais poderá  cumprir, porque essa isenção,  esse  silêncio,  pressupõe  o  sufocamento  de  uma 

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subjetividade  necessária,  seja  ela  de  caráter  introspectivo  ou extrovertido. 

A indexação social como processo de veiculação do produto “filme  documentário”  é  mencionada  por  Ramos  (2008)  como resultante da  interação entre várias  forças sociais,  regidas  tanto pelos  produtores  do  documentário,  quanto  pelos  seus realizadores, alienando o espectador desse mecanismo, como se percebe  na  seguinte  afirmação:  “Em  geral,  a  narrativa Documentária  chega  já  classificada  ao  espectador,  seguindo  a intenção do autor.”  (p. 27). No entanto,  fica a pergunta  se essa questão  não  mereceria  um  melhor  aprofundamento  frente  às possibilidades de intercâmbio promovidas pelas redes sociais, tal qual se apregoa pelas teorias levantadas em torno do conceito de “indexação  social”  no  âmbito  da  Ciência  da  Informação  (CI), conhecido  também  como  “Folksonomia”  que  prevê  um desengessamento  dos  processos  de  classificação  e  indexação utilizados pelo poder institucional. 

Hassan‐Montero define “indexação social” como  

[…]  un  nuevo modelo  de  indización,  en  el  que  son  los  propios usuarios o consumidores de  los recursos  los que  llevan a cabo su descripción […] La descripción de cada recurso se obtendría por agregación, es decir, un mismo recurso sería  indizado por numerosos  usuarios,  dando  como  resultado  una  descripción intersubjetiva  y  por  tanto más  fiable  que  la  realizada  por  el autor del recurso, e incluso por un profesional. 

 Guedes  e  Dias  (2009),  por  sua  vez,  justificam  o  uso  da 

expressão ”indexação social” no contexto da Web  [...]  não  apenas  pelo  fato  da  ação  ser  concretizada  por indivíduos,  mas  também  por  ser  um  ato  colaborativo  e democrático,  onde  o  papel  de  todos  os  indivíduos  tem  o mesmo valor e peso dentro do sistema. 

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Conclusão  Partindo  das  duas  citações  anteriores  nos  encaminhamos 

para a finalização desse trabalho, propondo que: ‐  A  indexação  social,  tanto  no  âmbito  de  uma  defesa  de 

parâmetros  de  classes,  grupos  ou movimentos  –  configurados aqui  na  ordem  de  tradições  documentárias  e  suas  vozes,  ou objetos  culturais  de  outras  ordens  diversas  –  quanto  na proposição de ações  comunicantes  libertárias de grupos que  se manifestam  no  ambiente  das  redes  sociais,  atua  de maneira  a criar condições positivas para o desenvolvimento do indivíduo. 

‐  Que  tais  condições  possibilitam  aos  objetos  culturais desenvolve,  ainda  que  prenhes  de  valor  subjetivo,  a possibilidade  de  construção  de  sentidos  para  seus  grupos  de interesse. 

‐ Que  o  caráter  subjetivo  atribuído  ao  filme  documentário não o destitui do valor de “documento”, registro de um evento, fenômeno  ou  ponto  de  vista  sobre  determinado  assunto,  fato. Afirmando‐se  que,  pelo  contrário,  essa  característica  particular lhe  outorga um  valor  extra:  a  análise  humana de determinada ocorrência, sua forma plena de relacionar‐se criticamente com os eventos histórico‐sociais. 

‐  Que  a  exigência  de  neutralidade  científica, reconhecidamente necessária em alguns campos científicos, não deve  obstruir  o  interesse  da  ciência  pelos  registros  fílmico‐documentais  na  ordem  de  instrumentos  capazes  de  apontar visões do mundo histórico, pertinentes de cientificidade. 

O  que  se  espera  é  que  se  valorem  as  ações  de  leituras  do mundo social e histórico pelas óticas criativas e subjetivas, plenas de compromisso de representação de uma realidade pessoal ou impessoal, mas passível de ocorrência. 

Dessa perspectiva é que se propõe  ‐ contrapondo‐se à visão institucional  propalada  pelos  espaços  oficiais  ‐  os  discursos 

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disseminados  em  paralelo  pelos  espaços  democráticos,  sejam eles  coletivos  ou  individuais,  como  promocionais  de  uma construção mais equilibrada dos sensos críticos em  formação e, quem sabe, reabilitador dos em processo de deformação.    Referências 

 FOSKETT, D.  J.  Informática.  In: GOMES, H. E.(org). Ciência  da  informação  ou informática.  Rio  de  Janeiro:  Calunga,  1980.  p.  9‐51.  (Série  Ciência  da Informação). 

FROEMAN,  J. Prefácio.  In:  JUNG, C. G.;  von  FRANZ, M.‐L. O  homem  e  seus símbolos. 5 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira S.A. 1996. p. 9‐15. 

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GUEDES, R. M.; DIAS, E.  J. W.  Indexação  social: uma abordagem  conceitual. Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v. 15, n. 1, p. 39‐53, jan./jun. 2010 

HASSAN‐MONTERO, Y.  Indización social y recuperación de  información. No Solo Usabilidad, Granada, n.  5, nov.  2006. Disponível  em:  <http://www.nosolo usabilidad.com/articulos/indizacion_social.htm>. Acesso em: 28 jun. 2011. 

LANGRIDGE, D. Classificação: abordagem para estudantes de biblioteconomia. Rosali P. Fernandez (Trad.). Rio de Janeiro: Interciência, 1977. 120 p. 

MOLINA,  M.  P.;  GARCÍA  MARCO,  F.  J.;  AGUSTÍN  LACRUZ,  M.  D.  C. Indización  y  resumen  de  documentos  digitales  y  multimedia:  técnicas  y procedimientos. Asturias (Gijón): Ediciones Trea S. L. 2002. 350 p. 

NICHOLS, B. Introdução ao documentário. Campinas: Papirus, 2005. 270 p. (Coleção Campo Imagético) 

PARÍS, C. O animal cultural: biologia e cultura na realidade humana. São Carlos: EdUFSCar. 2004. 424 p. 

RAMOS,  F.  P. Mas  afinal...  o  que  é  mesmo  documentário?  São  Paulo:  Editora SENAC São Paulo, 2008. 447p. 

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SILVA,  M.  D.  P.;  GRACIOSO,  L.  S.  O  teatro  numa  perspectiva  de  re‐categorização  de  sua  representação  documentária.  In:  CONGRESSO  DE INICIAÇÃO  EM DESENVOLVIMENTO  TECNOLÓGICO  E  INOVAÇÃO,  3., CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA UFSCar, 18 out, 2010, São Carlos. Anais Congressos  de  Iniciação Científica  e  Tecnológica.  São Carlos: UFSCar, 2010. 1 CD‐ROM. [resumo]. 

STOKES, D. E. O quadrante de Pasteur: a ciência básica e a inovação tecnológica. Campinas: Editora UNICAMP. 2005. 246 p. 

 

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A Ciência Cívica e as Mudanças Climáticas:  construindo um diálogo.  

 Maria Luísa Nozawa Ribeiro 

Thales Haddad Novaes de Andrade  

 Introdução    

Este trabalho busca relacionar o campo de Estudos Sociais de Ciência e Tecnologia (CTS) com a área de Mudanças Climáticas, inserida  nas  Ciências  Sociais.  O  texto  “Civic  Science  for Sustainability: Reframing the Role of Experts, Policy‐Makers and Citizens  in  Environmental  Governance”  de  Karin  Bäckstrand será  utilizado  como  fio  condutor  desta  análise,  incorporando também  outro  autor  importante  para  a  o  campo  CTS, Walter Antônio Bazzo. 

O  texto  principal  deste  trabalho  discute  a  noção  de Ciência Cívica,  o  que  nos  remete  imediatamente  à  questão  ambiental, considerando que seus debates dentro da Sociologia e da Ciência Política se caracterizam por uma análise da contribuição de cada um individualmente ou em grupo para as Mudanças Climáticas. Essas  análises  se  fundamentam  no  princípio  de responsabilização de parte dos impactos ambientais ocorrido nos últimos  anos,  devido  a  industrialização  e  seu  processo  de desenvolvimento  humano  acelerado.  O  desenvolvimento apresenta‐se desprovido de  consciência  e  tentativa de previsão das possíveis consequências de seu processo. O nosso modelo de desenvolvimento extrai da natureza, mais  recursos do que esta teria  a  capacidade  de  repor,  segundo  pesquisas  atuais,  a liberação de poluição no ar, na terra e nas águas do planeta estão destruindo sua capacidade de suprir nossas necessidades vitais. 

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Neste contexto, um sociólogo surge com a noção de Sociedade de  Risco,  Ulrich  Beck.  Parte  deste  termo  se  refere  a  nossa sociedade moderna,  que  inicialmente  é  caracterizada  por  uma grande especialização profissional, o que ocasiona uma confiança necessária nos  técnicos. Contudo, esta confiança se  torna muito frágil quando, na segunda metade do século XX, se percebe que esses  conhecimentos  antes  confiados  a  uma  elite  científica  não geram necessariamente resultados positivos para a sociedade.       

Anteriormente,  acreditava‐se  em  uma  produção  científico‐tecnológica como positiva, como uma vantagem em si, que estava isenta  de  influências  ideológicas,  políticas,  sociais,  econômicas, entre outras. Segundo Bazzo  (2003), a partir das décadas de 60 e 70,  a  produção  científica‐tecnológica  passou  a  ser  reconhecida como provida de  influências morais, religiosas, econômicas e etc. dos pesquisadores, assim como passou‐se a notar a existência de possíveis  resultados negativos da  aplicação da mesma,  como  as armas atômicas, posteriormente os conhecimentos sobre produção alimentar, controle de doenças, etc.  

Com a consideração destas influências na produção científica‐tecnológica,  podemos  então  legitimar  o  questionamento  de elaboração de políticas públicas, já que estas são fundamentadas pelo princípio de que o Estado deve participar do processo de escolha  e  aplicação  da  produção  científica  (no  caso  através  de políticas públicas),  assim  como  a  comunidade  leiga,  através da participação  pública.  O  nosso  contexto  aponta  para consequências desastrosas para o meio ambiente advindas desta visão da “ciência autônoma”, de uma total entrega aos cientistas as  tomadas de decisões  relacionadas  as produções  científicas  e tecnológicas.  Portanto,  aponto  que  há  uma  necessidade  de avaliação deste novo contexto de produção científica‐tecnológica dentro  de  ações  de  governos,  compromissada  com  o  âmbito social  e  ambiental  destas  produções,  sendo  a  sua  efetividade passando por esse compromisso com as suas conseqüências.  

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“No  campo  da  política  pública,  os  estudos  CTS  têm  defendido  a regulação social da ciência e da  tecnologia, promovendo a criação de diversos  mecanismos  democráticos  que  facilitem  a  abertura  de processos de tomada de decisão em questões concernentes a políticas científico‐tecnológicas” (BAZZO, 2003:127). 

 Citando Garrafa e Berlinguer, Bazzo expõe que   

“(...) o empreendimento de formas de controle social da C&T constitui‐se, além de uma meta democrática, numa questão fundamentalmente ética.  Somente  a  construção  de  mecanismos  que  permitam  aos cidadãos  apropriar‐se  de  informações  sobre  C&T  e  inserir‐se  em contextos  de  tomada  de  decisões  políticas  poderá  impedir  novas formas de exclusão social e, até mesmo, de escravidão. Contudo, esse compromisso, em favor principalmente das futuras gerações, deve ser confiado, mais  do  que  às  leis,  à  necessidade  de  evolução moral  de nossa sociedade” (BAZZO, 2006:3). 

 A questão da Ciência Cívica dentro do campo CTS e Mudanças Climáticas    

Para  iniciarmos  a  discussão,  precisamos  passar  por  uma definição do que seria o campo de Estudos Sociais de Ciência e Tecnologia  (CTS). Este abrange estudos  sobre os  fatores  sociais influenciando  a  ciência  e  a  tecnologia,  assim  como  as consequências sociais e ambientais. Na visão clássica, a ciência e a  tecnologia eram consideradas modos neutros e autônomos de produção  de  conhecimento,  de  conquista  da  natureza  sempre voltado para o bem estar da sociedade,  restritos a um pequeno grupo de especialistas. A melhor avaliação deste  conhecimento seria a feita pelos seus pares, ou seja, pelos próprios especialistas. Durante  e  logo  após  a  Segunda Guerra Mundial,  acreditava‐se cegamente  na  legitimidade  dos  cientistas,  e  nas  vantagens incontestáveis do desenvolvimento de  tecnologias e  incentivo à ciência,  tirando  o  papel  da  política  neste  processo.  Isso 

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principalmente  por  causa  de  demanda  militar,  de  embate  de poder. 

Ainda  segundo  Bazzo,  podemos  citar  que  os  movimentos contra‐culturais, anti‐sistema surgidos no período da Guerra do Vietnã  incitaram uma visão crítica com  relação a  tecnologia e a tecnocracia, dando enfoque às suas conseqüências negativas para a relação entre estados e voltadas para a degradação ambiental. Então,  na  década  de  60  e  70,  surgiram  correntes  críticas  ao modelo linear, buscando uma política científico‐tecnológica.  

Esse  campo  surge  com  a  proposição  de  uma  forma  mais democrática  deste  processo,  em  todos  os  seus  âmbitos, enfatizando  a  interdependência  dessa  complexa  tríade.  O contexto social  interfere na elaboração, produção e aplicação de tecnologias,  as  quais  não  seriam  possíveis  sem  a  produção científica, que por  sua vez não existiria e  se desenvolveria  sem tecnologias  específicas,  e  por  ai  em  diante. Considerando  essa relação  e  a  interferência  de  questões  políticas,  ideológicas, econômicas e sociais na produção e aplicação da CT, passou‐se a dar mais  atenção  ao  âmbito  social,  propondo  uma  política  de ciência  e  tecnologia  mais  intervencionista,  lançando  mão  de técnicas para avaliar os impactos sociais e ambientais.  

“Ao colocar o processo tecnocientífico no contexto social e defender a necessidade  da  participação  democrática  na  orientação  de  seu desenvolvimento, os estudos CTS adquirem uma relevância pública de primeira magnitude” (BAZZO, 2003:9). 

 Neste  mesmo  período  que  surgem  os  movimentos 

ambientalistas, dando  enfoque  à dimensão das  ações  humanas sobre o planeta Terra,  assim  como os  estudos  sobre Mudanças Climáticas.  Apenas  para  contextualizar,  segundo  o Intergovernmental  Panel  of  Climate  Change  (IPCC), Mudança Climática abrange qualquer mudança no clima da Terra, causado pela variabilidade natural ou ação humana. Contudo, na Quarta 

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Convenção  das  Partes  –  COP  (1997),  quando  se  elaborou  o Protocolo de Kyoto,  se delimitou  essa mudança  como  causada exclusivamente por  ações  humanas,  e  que  geraria  impactos  na atmosfera  em  escala  global.  Dentro  da  discussão  ambiental, podemos  apontar  que  as  responsabilidades  pelas  mudanças climáticas  são  provocadas  pela  sociedade  que,  a  partir  de  seu sistema  econômico, utiliza os  recursos naturais  e gera  resíduos poluentes, sem considerar os limites da natureza. A nossa forma de  relacionamento  com  a  natureza  não  tinha  sido  posta  em questão até então, devido a nossa incapacidade de percepção do nível devastador de nossas ações sobre ela. 

As discussões sobre mudanças climáticas vêm ocorrendo nas últimas  4 décadas,  e  se  alarmaram devido  aos  sérios desastres causados  pelo  aquecimento  da  temperatura  da  Terra.  Jornais, centros  de  pesquisa  ambiental  e  programas  interdisciplinares foram  criados  em  diversos  países  da  América  Latina,  todos preocupados com o âmbito local, regional e nacional da questão climática  (GIDDENS,  2009). O  problema  em  questão  apresenta características  incomuns,  devido  ao  seu  alcance  em  escala planetária e às suas conseqüências se apresentarem, em geral, a longo  prazo  e  necessitarem  políticas  também  a  longo  prazo. Esses perigos  são abstratos,  irreais  e difíceis de  compreender  e definir, apesar da consciência de seu potencial devastador. 

Podemos,  então,  apontar  o  sociólogo  Ulrich  Beck  como importante na elaboração da noção de sociedade de risco. Dentro das  discussões  ambientais,  podemos  apontar  a  noção  de  risco como  norteadora. Os  riscos  podem  se  associar  à  utilização  da terra,  aos  modos  de  produção  e  utilização  dos  recursos ambientais  e  suas  conseqüências podem  afetar  o planeta  como um todo. O risco se refere a uma possibilidade de ocorrência de um  fenômeno, e as políticas sempre se voltam para esse  termo, na  intenção de desenvolver projetos e voltar seus  investimentos para gerir o futuro, que é incerto. Nas ultimas décadas do século 

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XX,  as  discussões  se  voltaram  para  os  perigos  de  desastres ambientais, a população passou a depositar a  sua  confiança de solução  dos  problemas  na  ciência,  o  que  gerou,  portanto,  a necessidade de um planejamento. 

Citando Cerezo e Luján,   

“A  caracterização da  sociedade de  risco  conta  também, por parte de seu  fundador, com um  importante questionamento dos princípios da ciência e da tecnologia moderna. Dessa ótica, vivemos numa sociedade de  risco  por  conta  de  nossa  cultura  industrializada  e  da  contínua inserção  de  inovações  científico/tecnológicas  em  nosso meio  social. Essas  inovações  têm criado, constantemente, novas  formas de risco e impõe uma periculosidade qualitativamente distinta da que vivemos no passado. Esses riscos seriam danos  (potenciais ou reais) aos quais estamos nos submetendo por conta de nossa relação com C&T, e que estão  sendo  democraticamente  distribuídos  já  que  não  respeitam fronteiras de países ou de classes” (BAZZO, 2006:4). 

 Partindo  então para  a  análise do  texto de Karin Bäckstrand 

(2003), sobre Ciência Cívica, podemos apontar que este se insere na  área da participação pública na  ciência, dentro dos Estudos Sociais  de  Ciência  e  Tecnologia.  Resumidamente,  a  autora defende uma maior participação na busca pela sustentabilidade por  parte  das  comunidades  científica  e  tecnológica  somada  a outros  atores  não  estatais.  Expõe  a  necessidade  de  uma  busca por  mudanças  no  sistema  de  expertise  científica  para  maior transparência,  maior  democracia  e  mais  responsabilidade, combatendo  a  cientifização  dos  políticos,  propondo  uma deliberação  democrática  contrariamente  ao  conhecimento técnico, para resolver problemas sociais e políticos.  

A  noção  de  Ciência  Cívica  passa  pela  defesa  do  papel  da participação  pública  no  uso  e  produção  do  conhecimento científico,  considerando  que  os  cidadãos  teriam  interesse  em política  científica,  área  que  não  deveria  ser  definida  como exclusiva  dos  especialistas  e  policy‐makers.  As  indagações  por 

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parte  dos  leigos  passam  pelas  questões  da  biotecnologia, tecnologia reprodutiva, o armazenamento de substâncias tóxicas e dos resíduos nucleares, mudanças climáticas e o projeto genoma. 

No âmbito das Mudanças Climáticas, biosegurança e recursos naturais,  o  conhecimento  especializado participativo  também  é demandado.  O  crescimento  de  regimes  ambientais  globais apresentou  a  necessidade  de  uma  extensão  dos  pareceres científicos  locais  para  uma  avaliação  científica  multilateral. Surgiu  então,  a  dúvida  de  como  conciliar  o  conhecimento especializado  e  a participação pública  na  ciência. A  autora  vai desenvolvendo uma análise ao longo do texto na busca por sanar esse questionamento. Partindo do modelo clássico, a Bäckstrand elabora  um modelo  baseado  na  tríade  entre  cientistas  experts, policy‐makers e cidadãos. O cidadão não seria um mero receptor de política, mas sim um ator dentro da relação política‐ciência, o conhecimento científico pode  ser concebido, portanto, como um bem público global no qual os cidadãos devem ter participação. 

A  Ciência  Cívica  adveio  dos  estudos  das  Relações Internacionais, e de início abordava os aspectos institucionais da consultoria  científica na política ambiental global, e atualmente são os órgãos consultivos científicos e técnicos internacionais que dão  a  entrada  para  negociações  ambientais  internacionais.  A Ascensão  da  “ciência  negociada”  é  uma  característica proeminente nos  esforços diplomáticos  em  curso  associados  às mudanças climáticas, a poluição atmosférica, a biodiversidade e desertificação. A assessoria científica exerce grande  importância sobre os projetos internacionais acerca da questão ambiental. Os estudos  das  Relações  Internacionais  excluiam  a  teoria  social assim  como  a  noção de política  excluia  o público,  construindo um contexto no qual a democracia não estaria sendo aplicada no processo  de  governança  no  que  diz  respeito  às  políticas ambientais,  dando  apenas  enfoque  para  o  conhecimento específico. 

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Construindo uma relação, Giddens (2009) põe em discussão a necessidade de decisões e estabelecimento de mudanças no nível da coletividade, de que temos sempre que levar em consideração a  dimensão  global  das  causas  e  conseqüências  das mudanças climáticas,  contudo,  não  desconsiderando  as  iniciativas individuais.  Podemos  apontar  a  relação  com  os  debates  sobre participação  pública,  já  que  ambas  linhas  defendem  uma participação coletiva, com sua bagagem sócio‐histórica, na busca por  soluções  mais  democráticas.  O  domínio  da  produção  e decisão  de  conhecimento  científico  por  parte  de  uma  elite  se transforma e se torna perceptível uma relação de poder, expresso na frase de Bäckstrand: “The top‐down model of environmental problem‐solving grants power  to networks of scientific experts, specialists,  and  bureaucrats  in  environmental  science” (BÄCKSTRAND; 2003:6). 

Fazendo um paralelo com a discussão sobre concentração de poder, Ladislau Dowbor (2007) analisou que no contexto atual, a mídia  se utiliza  e  explora  o  assunto do  aquecimento global de forma  mercadológica  e  não  no  intuito  de  conscientização popular.  O  autor  aponta  uma  necessidade  de  mudança  nas estruturas de poder, sendo este concentrado sob o comando dos países  desenvolvidos. Apresenta‐se  então,  uma  necessidade  de abertura  para  discussões  que  apresentem  pontos  de  vista diversos no cenário mundial (diferentes contextos em diálogo).  

Em  complemento, no  texto de Valério  e Bazzo  (2006),  citam Dorea  e  Segurado,  que  definem  os meios  de  comunicação  de massa  de  “quarto  poder”  na  sociedade,  sobretudo  por  sua capacidade de produzir modos de vida e dinâmicas sociais.   

“Segundo  essas  autoras,  a  mídia  destaca‐se  como  um  potente disparador  de  processos  de  subjetivação,  porque  investe  como ninguém  no  cotidiano  de  cada  indivíduo,  podendo  adequar comportamentos e maneiras de pensar de acordo com seus interesses. Assim, faz‐se necessário e premente que a divulgação científica passe 

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rapidamente  a  contemplar  tais  capacidades”  (VALÉRIO,  BAZZO; 2006:6). 

 A divulgação científica seria um campo de exposição pública 

de  conhecimentos, pressupostos,  valores,  atitudes,  e  o  que  nos interessa,  funcionamento  da  CT.  Essa  circulação  de  idéias juntamente com os resultados das pesquisas, servem para avaliar o  impacto  do  assunto  na  sociedade,  através  de  livre  debate  e confronto de opiniões. 

A  Ciência  Cívica  foi  definida  como  esforços  por  parte  dos cientistas  em  se  comunicar  com  o  público,  divulgando  os resultados  científicos  no  intuito  de  contribuir  para  a  literatura científica.  Existem  controvérsias  a  respeito  da  capacidade  dos cidadãos  leigos de deliberar em assuntos científicos, específicos. Dentro  desta  ciência,  os  autores  se  indagam  se  os  leigos deveriam  deliberar  sobre  a  aplicação  da  CT  ou  se  engajar  na formulação  de  problemas  científicos,  se  o  conhecimento  leigo deveria  se  limitar  ao  agenciamento  dos  riscos  ou  participar ativamente do processo de assessoria. 

Na década de 1990, a crença  indiscriminada na  legitimidade da produção de ciência por parte dos especialistas caiu por terra, havendo,  portanto,  uma  busca  pela  produção  científica  como fornecedora de bases  firmes para  justificar  e  construir decisões políticas  críveis. Mas  se  percebeu  que  em muitas  áreas,  esses conhecimentos  podem  ser  incertos,  incompletos  ou  apenas previsões. “When the public experiences that science can be both contested  and  uncertain,  the  policy‐process,  which  relies  on purportedly  objective  knowledge,  loses  credibility” (BÄCKSTRAND; 2003:7). 

Dando  continuidade,  a Ciência Cívica  se  caracteriza  através de  três premissas, a de que a disseminação da compreensão da ciência ao público pode diminuir o encantamento com relação à expertise  científica;  a  de  que  a  complexidade  dos  problemas 

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ambientais globais necessita uma reflexão que some a expertise científica  e  o  conhecimento  tradicional,  leigo  e  por  fim,  busca estender  os  princípios  da  democracia  para  a  produção  do conhecimento científico.  

A complexidade acelerada dos problemas ambientais globais gera uma indeterminação, que move a necessidade de uma nova ciência, o controle da natureza pelo cientista aumenta, contudo, as  incertezas  e  os  riscos  permanecem.  As  discussões  sobre  o ambiente  global  sempre  se  caracterizaram  como  incertas,  a política  surge,  portanto,  como  substituta  da  certeza,  sendo  o processo político aberto,  transparente e promotor de uma auto‐reflexão na busca por solucionar incertezas científicas e superar a vulnerabilidade ecológica. “However, due  to  the uncertainty of future  environmental  outcomes,  possible  surprises  and ecological  catastrophes,  a  multiplicity  of  perspectives  can prevent the narrowing of alternatives” (BÄCKSTRAND; 2003:9). 

Ao  fim  de  sua  análise,  a  autora  propõe  discutir  sobre  a Ciência da Sustentabilidade, a qual articula uma ciência proativa, transparente  e  interdisciplinar,  demanda  vinda  da  sociedade, sendo  a  chave  de  compreensão  da  interação  dinâmica  e interdependência  entre  natureza  e  sociedade.  Rompe  com  as lacunas do conhecimento presentes na relação entre os países do Norte  e  do  Sul,  e  promove  aos  países  em  desenvolvimento, estrutura  para  participar  do  debate  científico  com  maiores condições  de  igualdade.  A  relação  entre  o  global  e  o  local  é relevante  no  âmbito  da  ciência  da  sustentabilidade,  o conhecimento global sobre degradação ambiental deve dialogar com  o  conhecimento  local  para  a  produção  de  soluções sustentáveis.  O  conhecimento  universal,  juntamente  com  o conhecimento  local  formariam  uma  parceria  equitativa  e gerariam  aprendizado mútuo. Contudo,  o  foco maior  seria  na participação  e  não  nas  mudanças  do  sistema  e  de  regras  do 

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sistema de produção, utilização e comunicação do conhecimento científico.  Considerações finais  

A  partir  da  relação  estabelecida  no  desenvolver  do  texto, entre o campo CTS, mais especificamente com relação à noção de Ciência  Cívica,  entrando  na  discussão  acerca  da  participação pública,  e  as  discussões  ambientais  podemos  fazer  alguns apontamentos. 

A alta modernidade, como diria Giddens, nos apresenta como um contexto de alto desenvolvimento da ciência e da tecnologia, juntamente  com  uma  condição  de  incerteza.  Por  um  lado buscamos maior  investimento  em  CT  para melhorar  ao  nosso bem‐estar, por outro percebemos que os próprios podem  trazer consequências negativas para a nossa condição de ser humano, e num âmbito coletivo como sociedade, principalmente em relação com  a  natureza.  A  nossa  busca  por  desenvolvimento  trouxe desmedidas  consequências  ambientais,  as  quais  temos  que aprender  a  lidar.  E  a  política  como  promotora  de  formas  de enfrentamento  tem  se  apresentado  como  necessária  cada  vez mais. Contudo, a política estabelecida, principalmente em países em desenvolvimentos e/ou subdesenvolvidos não se apresentam totalmente democráticas.  

Surge  então,  a  necessidade  de  um  debate  coletivo, interdisciplinar,  inserindo  além  dos  “experts”,  os  leigos  e  os portadores  do  conhecimento  tradicional.  Isso,  principalmente pelo  fato de que os  leigos  estão  inseridos na mesma  sociedade dos especialistas, são afetados igualmente ou mais do que estes, pelas  tomadas  de  decisão,  pelas  políticas  públicas,  pelas assessorias,  entre  outras  ações.  Apesar  de  desprovidos  do discurso  legitimado,  do  domínio  do  conhecimento  específico, essa parcela majoritária, tem condições de participar dos debates 

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sobre os rumos de sua sociedade, de seu meio ambiente, de sua cultura, de  sua política  e principalmente políticas  ambientais  e de  CT.  O  conhecimento  tradicional  pode  também,  contribuir para  este  debate,  levando  em  consideração  o  princípio  de igualdade de relevância de conhecimentos.  

“Public  questioning  of  science  constitutes  a  healthy  feature  of democracy, and calls for transparency in science do not automatically represent  an  anti‐scientific  position.  A  democratic  model  of  civic science will enhance active citizenry, public engagement and scrutiny” (BÄCKSTRAND; 2003:12‐13). 

 Complementando,  

“Vivemos  mais  e  melhor  por  conseqüência  de  inovações científicas/tecnológicas,  cujos  aparatos  significam,  muitas  vezes, facilidades e benefícios para o sucesso de nossa existência. Porém, por conta  dessas mesmas  inovações,  vivemos  também  num  contexto  de incertezas  e  dúvidas:  os  benefícios  da  C&T  dificilmente  se  fazem democratizados  e,  assim,  ensejam  possibilidades  de  dominação econômica  e  cultural;  seus  riscos,  pelo  contrário,  atingem  a  todos  e associam‐se  a mazelas  sociais  insustentáveis”  (VALÉRIO  e  BAZZO; 2006:7). 

 A  citação  “Os  desafios  principais  do  planeta  não  consistem 

em  inventar  um  chip  mais  veloz  ou  uma  arma  eficiente: consistem em nos dotarmos de formas de organização social que permitam ao cidadão ter impacto sobre o que realmente importa, em  gerar  processos  de  decisões  mais  racionais”  (DOWBOR, 2007:107),  pode  ser  aplicada  no  contexto CT&S,  relacionado À necessidade  de  uma  organização  coletiva,  dos  especialistas cientistas, dos  tecnocratas, do Estado e dos  leigos na busca por soluções  objetivas  e  que  tenham  impacto  sobre  questões realmente relevantes. Sendo os afetados, participantes ativos nas decisões sobre suas próprias vidas diretamente. 

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Bäckstrand busca uma democratização da  ciência, abrindo o debate antes  concentrado em uma “elite  científica”. Busca uma ciência  mais  efetiva,  não  considerando  necessariamente  que exista  alguma  forma  de  conhecimento  mais  correta,  tanto  a científica, como a leiga.    Referências  BÄCKSTRAND, K. Civic science for sustainability: reframing the role of experts, policy‐makers, and citizens in environmental governance global environmental politics, v. 3, n. 4, p.24‐41, nov 2003. 

BAZZO, W. A. et al. Introdução aos estudos CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade). Cuadernos de Iberoamérica. Madrid: OEI, 2003. 

DOWBOR,  L.  Inovar  em  Organização  Social.  In:  Alternativas  ao  aquecimento global. São Paulo: Le Monde Diplomatique Brasil. 1ª Ed. p. 91 – 108, 2007. 

GIDDENS,  A.  Introduction;  A  return  to  planning?  In:  The  politics  of  climate change. Cambridge: Polity, 2009. 

VALÉRIO, M.; BAZZO, W. A. O papel da divulgação científica em nossa sociedade de  risco: em prol de uma nova ordem de  relações entre Ciência, Tecnologia e Sociedade. Revista de Ensino de Engenharia, v. 25, n. 1, p. 31‐39, 2006. 

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Logística humanitária:  conhecimentos e técnicas a serviço da comunidade 

 Martha Regina Bortolato Cardoso 

Wanda Aparecida Machado Hoffmann   

Introdução  O  ambiente  atual  em  que  vivemos,  segundo  Valencio  et  al 

(2004),  é  resultado  de  uma  produção  de  cunho modernizante quanto  à  expressão material  de  crescimento  e  conservador  em suas  práticas  políticas.  O  corpo  técnico  e  político,  que  são  os planejadores  das  cidades,  desconsiderou  os  processos ambientais,  subjugando  e  destruindo  os  sistemas  bióticos  e abióticos  em  que  a  população  se  assenta.  Se  concentrando  nas expressões materiais do  fazer,  relegou a necessidade de  refletir sobre  como  tais  projetos  de  ocupação  humana  se  tornariam ameaças a sua vulnerabilidade.  

A emergência da modernidade deveria nos levar a uma ordem mais segura, no entanto “O mundo em que vivemos hoje é um mundo carregado e perigoso” (GIDDENS, 1991, p. 19). Viver no universo da alta modernidade  proporcionada  pelos  avanços  da  ciência  e  da tecnologia é, segundo Giddens (2002, p. 104), “viver num ambiente de oportunidades e riscos”.   O autor atenta para o controle humano dos mundos  natural  e  social,  onde  o  universo  dos  eventos  que ocorrerão no  futuro  está  aberto no presente  a  ser moldado pelo homem, dentro de limites regulados pela aferição de riscos.  

Dentro  desse  contexto,  Ciência,  Tecnologia  e  Sociedade precisam caminhar  juntas a fim de proporcionar a  tal regulação adequada.     Segundo Dagnino  (2002), a razão de ser da política de Ciência e Tecnologia  (C&T) é estimular a capacidade de um 

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sistema para transformar conhecimento em produção que atenda as demandas socioeconômicas. 

O  modus  operandi  da  sociedade,  baseado  nas  expressões materiais  do  fazer,  revela  contradições  à  medida  que  um importante  conjunto  de  fenômenos  naturais  vem  ganhando  o status  de  ameaça.  As  severas  precipitações  pluviométricas obrigam os citadinos a repensar rapidamente seus fixos e fluxos diante  das  perspectivas  de  danos  humanos,  materiais  e ambientais passíveis de sofrer e assistir. (VALENCIO et al, 2004) 

De acordo com Kobiyama (2010)  fenômenos naturais passam a ser  vistos  como  desastres  naturais  quando  geram  danos  a sociedade. A magnitude desses eventos não  se eleva devido às mudanças no  clima, mas  sim, por  fatores antropogênicos  como os  inerentes  à  própria  urbanização  inadequada.    Segundo  o autor, se os desastres ocorressem apenas por  fatores climáticos, não haveria mais  solução. Felizmente  a maioria desses  eventos advém  de  causas  humanas  e  assim  é  passível  de  solução, corrigindo‐se as ações inadequadas do homem. 

É possível que a atual rota de colisão entre eventos adversos no  clima  e  nosso  modelo  de  urbanização,  continue  gerando desastres. Dentro dessa perspectiva,  a  logística vem  através de seus  conhecimentos  e  técnicas  oferecer  propostas  que  visem atender a sociedade de forma a mitigar os efeitos potencialmente danosos que um desastre ocasiona.  

Condicionantes da Logística Humanitária  

A Logística Humanitária se faz necessária quando a sociedade se encontra às voltas com a ocorrência de um desastre, envolve toda a comunidade,  tanto a população afetada pelos efeitos dos desastres  como  os  indivíduos,  entidades  e  instituições (governamentais  ou  não)  que  se  colocam  a  serviço,  prestando 

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assistência  às  vítimas,  visando  à  redução  dos  danos,  perdas  e prejuízos ocasionados.   a) Desastres  

Conforme Castro (2002) desastre é compreendido como o:   

Resultado  de  eventos  adversos,  naturais  ou  provocados  pelo homem,  sobre  um  ecossistema  (vulnerável),  causando  danos humanos, materiais  e/ou  ambientais  e  conseqüentes  prejuízos econômicos e sociais. 

 

É  proposta  pela  International  Federation  of  Red  Cross  and Red Crescent Societies a seguinte equação: 

 Vulnerabilidade + Perigo = Catástrofes 

                                 Capacidade    

Ou seja, toda vez que tivermos um ambiente onde se encontre uma  população  exposta  a  vulnerabilidades  e  nesse  ambiente ocorrerem  eventos  ambientais  extremados,  se  a  capacidade  de suportar a esses eventos não for adequada, ocorrerão catástrofes. 

De acordo com Castro (2002) catástrofes são:   

Grande desgraça, acontecimento  funesto e  lastimoso. Desastre de  grandes  proporções,  envolvendo  alto  número  de  vítimas e/ou danos severos.  

A Defesa Civil do Brasil  codifica os desastres  em  três  tipos: naturais aqueles que dependem exclusivamente da dinâmica do planeta como terremotos, vulcões entre outros; humanos aqueles de  natureza  tecnológica,  social  ou  mesmo  biológica  como acidentes, guerras e as epidemias; e ainda os mistos aqueles em 

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que a ação humana potencializa as causas naturais como chuvas ácidas e desertificação.  

b) Comunidade Afetada  

Compilando  dados  da  Secretaria  Nacional  de  Defesa  Civil para o ano de 2010 encontramos 893 municípios que notificaram a ocorrência de eventos. Com destaque para os estados de Santa Catarina, Rio Grande do  Sul, Rio de  Janeiro  e Piauí,  contando respectivamente  com  155,  136,  132  e  113 municípios  afetados. Apenas  Acre,  Amapá,  Roraima  e  Tocantins  não  apresentaram nenhum registro de ocorrências.  

O Quadro  1  apresenta  a  freqüência de mortos,  afetados  e  o número de municípios em cada estado onde ocorreu registro.  

  Quadro 1. Número de mortos, de afetados e de municípios por estado em 2010 Fonte: adaptado da Secretaria Nacional de Defesa Civil 

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Observa‐se  pelo Quadro  1  total  de  158 mortos  e  12.082.794 pessoas afetadas de alguma forma por algum tipo de desastre. A maior parte das ocorrências está relacionada a eventos climáticos como  chuvas  intensas,  tempestades,  vendavais,  enchentes, inundações,  deslizamentos,  erosões,  estiagens  e  seca  entre outros.  Houve  raros  registros  de  abalos  sísmicos,  incêndios florestais,  ocorrências  biológicas  como  a  Salmonelose,  ou desastre  propriamente  humano  como  incêndios  em  plantas industriais, por exemplo. 

Segundo  Guha‐Sapir;  Vos;  Below  (2011)  a  ocorrência  de catástrofes  a  nível  mundial  encontra‐se  dividida  da  seguinte forma: 34,8% das ocorrências na Ásia; 25,2% na América; 18,2 % na Europa; 17,9% na África; e 3,9% na Oceania. De acordo com o relatório,  em  toda  América  foram  observados  mais  eventos, vítimas e danos em relação à média anual da ultima década. O número  de  ocorrências  para  2010  foi  de  97  enquanto  a média anual de  2000‐2009  era de  92,  o  número de  vítimas passou de aproximadamente  7,09 milhões por  ano para  12,10 milhões  em 2010,  os  danos  estimados  em  43,69  bilhões  de  dólares  (2009) anuais chegaram a 56,84 bilhões de dólares (2010).   

c) Comunidade Envolvida  Em geral quando ocorre um desastre a entidade responsável 

na  maioria  dos  países  é  a  Defesa  Civil  e  no  Brasil  ela  está presente em todos os estados. A Defesa Civil é que coordena os esforços  de  todos  os  órgãos  governamentais  e  as  demais organizações públicas ou privadas, e a própria comunidade, para o planejamento e a execução de medidas desde a prevenção, o socorro às populações afetadas até o restabelecimento da ordem e bem estar social. 

Quando  a  intensidade da  ocorrência  extrapola  a  capacidade de  um  país  de  responder  adequadamente  às  necessidades 

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geradas,  diversos  órgãos  e  instituições  internacionais governamentais  ou  não,  podem  oferecer  auxilio  objetivando  a mitigação dos danos gerados pelo evento.  

A Organización Panamericana de La Salud através do Manual para el Manejo Logístico de Suministros Humanitários apresenta os  principais  organismos  internacionais  que  atuam  em ocorrências de desastres, que são: ‐ Órgãos vinculados a ONU: Programa das Nações Unidas para o  Desenvolvimento  (PNUD),  Departamento  de  Assuntos Humanitários (OCHA), Programa Mundial de Alimentos (PMA), Alto  Comissionado  das  Nações  Unidas  para  os  Refugiados (ACNUR), Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Organização Mundial da Saúde/Organização Pan‐Americana da Saúde (OMS/OPS). ‐  Outras  agências  multilaterais:  Organização  dos  Estados Americanos  (OEA),  Agência  do  Caribe  para  Assistência  a Desastres  (CDERA),  Centro  para  Prevenção  de  Desastres Naturais  na  América  Central  (CEPREDENAC),  Oficina  de Assistência Humanitária da Comunidade Européia (ECHO). ‐ Agências governamentais ou bilaterais: Oficina do Governo dos EUA Para Desastres no Exterior (OFDA‐AID), Agência Japonesa de  Cooperação  Internacional  (JICA),  Agência  Alemã  de Cooperação  (GTZ),  Agência  Sueca  de  Desenvolvimento Internacional (SIDA). ‐  Principais  organizações  não‐governamentais:  Movimento  da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (presente em diversos países),  Comitê  Internacional  da  Cruz  Vermelha  (federação internacional),  CARE  (organização  estadunidense),  CARITAS (braço social da  igreja católica), Médicos Sem Fronteiras – MSF, OXFAM  (organização  britânica),  Ação  Contra  a  Fome  – ACH (organização  européia),  Exército  de  Salvação  (organização religiosa), Conselho Mundial das Igrejas (envolve igrejas cristãs e ortodoxas).  

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Logística  

“A  logística  empresarial  associa  estudo  e  administração dos fluxos de bens e serviços e da  informação associada que os põe em movimento” (BALLOU, 1993, p. 23). Para o autor a missão da logística é disponibilizar o produto ou serviço certo, no  lugar e instante corretos, na condição desejada ao menor custo possível. 

Nogueira, Gonçalves e Novaes (2007) entendem o objetivo da logística  humanitária  como  o  de  vencer  tempo  e  distância  na movimentação de materiais e serviços de forma eficiente e eficaz a serviço da comunidade afetada.    a) Logística Empresarial versus Logística Humanitária  Para  Ballou  (1993)  as  atividades  primárias  da  logística  são: 

transporte, manutenção de estoque e processamento de pedidos. Bowesox  e  Closs  (2004)  complementam  considerando  como recursos  logísticos:  informação, previsões, estratégia de estoque, gerenciamento  de  estoques,  infra‐estrutura  de  transporte, gerenciamento  de  transporte,  gerenciamento  de  depósitos, movimentação de materiais e embalagem. 

Os  recursos  logísticos  apresentados  pelos  autores  para  a Logística  Empresarial  (LE)  podem  ser  aplicados  à  Logística Humanitária (LH) respeitando algumas especificidades inerentes a situações emergenciais.  Informação:  LE  –  pedidos  de  clientes  e  ressuprimento, 

necessidades  de  estoque,  programação  de  atividades  dos depósitos,  documentação  de  transporte  e  fatura.  LH  –  deve seguir  os  mesmos  padrões,  porém  pode  haver  dificuldades tecnológicas.  Previsões:  LE  –  projeção  de  valores  ou  quantidades  que 

provavelmente  serão  produzidas,  vendidas  ou  expedidas, 

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elaboradas por itens, clientes ou grupos de itens e clientes. LH – dificuldades de previsão ou mesmo diagnóstico de demanda.   Estratégia  de  estoque:  LE  –  nível  de  estoque  acarreta  várias 

atividades logísticas. Estoque baixo pode prejudicar o marketing ou  a produção,  estoque  alto  acarreta  aumento de  custos. LH  – suprimentos solicitados ou adquiridos, ou ainda doados, quando em  excesso  prejudicam  a  logística  e  quando  escassos  não atendem adequadamente as vítimas. Gerenciamento  de  estoque:  LE  –  considerações  de  natureza 

estratégica  requer  o  desenvolvimento  de  um  processo envolvendo vários produtos em mais de um local. LH – sistemas de  controle  e  monitoramento  dos  suprimentos  na  cadeia  de assistência. Infra‐estrutura  de  transporte:  LE  –  variedade  de  alternativas 

desde  a  contratação  de  um  serviço  eventual,  ter  seu  próprio transporte  ou  fechar  vários  contratos  com  diferentes transportadores  especializados.  LH  –  envolve  duas características  importantes:  as  características  do  que  será transportado  e  as  possibilidades  do  tipo  de  transporte disponível, custos e ainda condições de acesso. Gerenciamento  de  transporte:  LE  –  custo  e  valor  do  serviço, 

fretes  e  taxas  especiais,  responsabilidades,  atividades pertinentes,  avaliação das  transportadoras  e documentações de transporte.  LH – pode haver contratação de transporte comercial ou  disponibilização  de  transporte  por  organismos governamentais ou não‐governamentais. As responsabilidades e documentação é tal qual a LE. Gerenciamento  de  depósitos:  LE  –  engloba  sistemas  de 

processamento,  centros  de  distribuição,  terminais  de consolidação  e  instalações  break  bulk  e  cross‐dock.  LH  – processamentos  ocorrem  conforme  a  disponibilidade  da  infra‐estrutura  local  do  centro  de  distribuição  até  aos  postos  de atendimento às vítimas. 

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Movimentação  de materiais: LE  – o manuseio de produtos  é  a chave  da  produtividade  de  um  depósito,  envolve  grande quantidade de mão‐de‐obra, e ainda é pouco informatizado. LH – necessita ser administrado por apenas uma pessoa e é realizado basicamente com mão‐de‐obra voluntária. Embalagem:  LE  –  diz  respeito  à  proteção  contra  avarias, 

manuseio de materiais e transmissão de informação, além de sua utilização  como  dispositivo  de  unitização  de  cargas.  LH  –  os mesmos padrões requeridos pela LE são observados, destacando maior atenção as informações contidas na embalagem. 

Algumas  outras  características  da  logística  empresarial confrontadas  com  a  logística  humanitária  se  encontram  no Quadro 2.   

Temas  Logística Empresarial  Logística Humanitária Demanda  Estável,  locais  e 

quantidades pré‐fixadas. Só estimada após a ocorrência.  

Lead time  Determinado  pelas necessidades  do fornecedor  ao consumidor.  

Praticamente  zero  entre  a ocorrência  da  demanda  e  a necessidade da mesma. 

Centros  de distribuição 

Definidas  em  termos  de número e localização. 

Desafiadora  pela  necessidade desconhecida da demanda. 

Controle  de estoques 

Métodos  definidos  por lead  time,  demanda  e níveis de serviço. 

Desafiador  pela  grande  variação da  demanda  e  localização  da mesma. 

Sistemas  de informação 

Bem  definidos  e  de  alta tecnologia. 

Pouco confiáveis,  incompletas ou inexistentes.  

Objetivos  Qualidade  ao  menor custo  para  satisfazer  o cliente. 

Minimizar  perdas  de  vidas  e aliviar sofrimento. 

Foco  Produtos e serviços.  Pessoas e suprimentos.  Quadro  2.  Características  da  Logística  Empresarial  versus  Logística Humanitária Fonte: Adaptado de Nogueira, Gonçalves e Novaes (2007)  

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Alvarenga  e Novaes  (2000)  atentam  para  a  importância  da formação  de  uma  rede  logística,  ou  seja,  uma  representação físico‐espacial, dos pontos de origem e destino, um conjunto de nós dos aspectos mais relevantes e suas ligações, possibilitando a visualização dos fluxos necessários. A logística trabalha de forma sistêmica buscando soluções alternativas que cubram as diversas possibilidades inerentes as discussões da origem ao destino.  

Quando  ocorre  um  desastre  não  há  tempo  hábil  para  se montar  toda  a  rede  logística,  assim  é  preciso  dispor  de  um trabalho  prévio  de  análise  das  áreas  de  risco,  população  ali instalada e toda a infra‐estrutura ao redor que possa atender aos atributos  exigidos  para  a  esquematização  da  rede.  Uma  rede logística  previamente  delineada  auxilia  e  agiliza  a  tomada  de decisão  por  parte  dos  responsáveis, minimizando  o  tempo  de resposta ao evento.    Considerações Finais   A  Logística  põe  a  serviço  da  sociedade  conhecimentos  e 

técnicas  que  podem  agilizar  os  processos  de  socorro  e atendimento  as  vítimas  de  desastres.  Procedimentos  como gerenciamento  de  depósitos,  transporte  e  informação,  são aplicáveis  as  situações  emergenciais  adaptando‐os  é  claro  as especificidades  da  cadeia  de  assistência  e  a  urgência  que  ela exige. 

De  posse  de  instrumentos  como  mapas  de  áreas  de  risco, estimativas  de  população  local,  de  disponibilidade  de  infra‐estrutura  regional  e  fontes  prováveis  de  recursos  é  possível proceder  à  planificação  de  uma  rede  logística  que minimize  o tempo de resposta ao evento, garantindo melhor atendimento as possíveis vítimas de forma eficiente e eficaz. 

Assumindo o atual sistema urbano como fruto dos processos de  modernização  impostos  pelos  avanços  científicos  e 

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tecnológicos,  que  desconsidera  e  expôs  a  própria  sociedade  a vulnerabilidade, não  restando outro  caminho  a não  ser  “correr atrás  do  prejuízo”,  ou  seja,  oferecer  a  sociedade  o  suporte necessário  para  sua  segurança  e  bem  estar,  através  do equacionamento  de  problemas  infra‐estruturais  com planejamento para emergências que garanta uma boa capacidade de resposta e os menores danos possíveis.    

Referências  ALVARENGA,  A.  C.;  NOVAES,  A.  G.  Logística  Aplicada.  Suprimento  e Distribuição Física. 3ª Edição. São Paulo: Editora Edgar Blücher LTDA, 2000. 

BALLOU, R. H. Logística Empresarial. Transportes, administração de materiais e distribuição física. Tradução de Hugo T. Y, Yoshizaki. São Paulo: Atlas, 1993 

BOWERSOX, D. J.; CLOSS, D. J. Logística Empresarial. O processo de integração da  cadeia  de  suprimento.  Tradução  de  Adalberto  Ferreira  das  Neves.  São Paulo: Atlas, 2004. 

CASTRO, A. L. C. de. Glossário de Defesa Civil. Estudos de risco e medicina de desastres 3ª Edição. Ministério da Integração Nacional, Secretaria Nacional de Defesa  Civil,  2002.  Disponível  em  <  http://www.cepe  d.ufsc.br/biblioteca/ outros‐titulos/glossario‐de‐defesa‐civil‐estudos‐de‐riscos‐e‐medicina‐de‐desastres>, acessado em 10 de junho de 2011. 

DAGNINO, R. A Relação Pesquisa‐Produção: Em Busca de Um Enfoque Alternativo. In:  Revista  Iberoamericana  de  Ciencia,  Tecnología,  Sociedad  e  Innovación. Número  3,  2002.  Disponível  em  <http://www.oei.es/revistactsi/ numero3/art01.htm>, acessado em 23 de junho de 2011. 

GIDDENS, A. As Conseqüências  da Modernidade. Tradução de Raul  Fiker.  São Paulo: Editora UNESP, 1991. 

GIDDENS,  A. Modernidade  e  Identidade.Tradução  de  Plínio  Dentzien.  Rio  de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2002. 

GUHA‐SAPIR, D.; VOS, F.; BELOW, R. Annual Disaster Statistical Review 2010. The numbers and trens. Brussels: CRED, 2011. 

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INTERNATIONAL  FEDERATION  OF  RED  CROSS  AND  RED  CRESCENT SOCIETIES. What  is  a  disaster? Disponível  em  <http://www.ifrc.org/en/what‐we‐do/disaster‐management/about‐disas ters/what‐is‐a‐disaster/>, acessado em 10 de junho de 2011.  

KOBIYAMA, M. Aplicando a Hidrologia. In: Revista emergência, Fev/mar/2010. 

NOGUEIRA, C. W.; GONÇALVES, M. B.; NOVAES, A. G. Logística Humanitária e  Logística  Empresarial.  Relações,  conceitos  e  desafios,  2007.  Disponível  em <http://www.anpet.org.br/anpet /interface/content/publicacoes/index.php?subarea=anaisDeCongressos&id=1&part=2&IDCategoria=1>, acessado em 10 de junho de 2011. 

ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD. Oficina Regional de La Organización  Munidial  de  La  Salud.  Manual  para  el  Manejo  Logístico  de Suministros Humanitários. Borrador. Washington: OMS, 2000.  

SECRETARIA  NACIONAL  DE  DEFESA  CIVIL.  Defesa  Civil  do  Brasil. Disponível  em  <  http://www.defesacivil.gov.br/index.asp>,  acesso  em  20  de junho de 2011 

VALÊNCIO, N.  F. L. da  S.;  et  al. A Produção  Social  dos Desastres. Dimensões territoriais  e político  institucionais da vulnerabilidade das  cidades brasileiras frente  às  chuvas.  In:  Teoria  e  Pesquisa  44  e  45  Janeiro  e  Julho  de  2004. Disponível  em  <http://www.teoriaepesquisa.  ufscar.br/index.php/tp/article/ viewFile/73/63>, acessado em 20 de junho de 2011.  

   

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Considerações sobre divulgação científica  para crianças e adolescentes 

 Raquel Juliana Prado Leite de Sousa 

  Coisa de criança: assunto sério  Durante  todo  o  dia,  temas  de  Ciência  e  Tecnologia  (C&T) 

rodeiam  as  crianças  e  os  adolescentes  em  programas  de  tevê, livros,  cartazes,  jornais,  embalagens  de  produtos,  brinquedos, propagandas,  aparelhos  eletrônicos.  Assim,  não  é  apenas  nas atividades  das  apostilas  de  ciências  que  os  jovens  se  deparam com  questões  de  C&T;  a  educação  científica  desse  público acontece também fora da escola, em uma esfera informal que, de acordo  com  Massarani  (2008),  não  tem  sido  suficientemente explorada,  de  modo  a  contribuir  com  a  formação  de  uma verdadeira cultura científica. 

A  divulgação  da  ciência  feita  através  da  mídia  chega  ao público  infanto‐juvenil  não  somente  através  de  conteúdos produzidos  para  adultos,  mas  também  por  intermédio  de programas e publicações destinadas exclusivamente a essa faixa etária, o que influencia diretamente na educação científica de um público que já é cidadão no presente. 

De  acordo  com  Auler  e  Delizoicov  (2001),  a  Alfabetização Científica e Tecnológica (ACT) tem se valido tanto para ampliar a participação social democrática nas discussões sobre C&T – em uma  perspectiva  ampliada  –  como  para  legitimar  o  fazer científico perante a sociedade, a  favor da  tecnocracia – em uma perspectiva reducionista. 

Segundo Massarini  (2005),  o  conteúdo  científico  divulgado para crianças e adolescentes é de baixa qualidade, não apresenta clareza e não contextualiza os entornos da ciência; assim, a visão 

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de uma ciência neutra, postuladora de verdades e não ideológica pode estar sendo  transmitida aos nossos  jovens, em detrimento da  problematização  da  ciência  e  da  construção  de  um conhecimento socialmente relevante para esse público. 

Através de uma análise exploratória  inicial, o presente artigo traça  considerações  a  respeito  de  estudos  publicados  no  Brasil sobre  a  temática  divulgação  científica  para  crianças  e adolescentes, a  fim de discutir a  forma como  tem sido  levada a ciência para o público infanto‐juvenil através da mídia e verificar se os  temas  científicos  são  tratados  sob a perspectiva ampliada ou reducionista, à luz do estudo de Auler e Delizoicov (2001).  

Ciência na mídia: em busca de apoio?  A  perspectiva  reducionista  de  educação  científica  se 

assemelha ao modelo do ‘déficit cognitivo’, em que o educando é tido  como  não  conhecedor  da  ciência,  sendo  necessário transmitir  a  ele  conceitos  técnicos  que  ignoram  o  mito  de neutralidade  da  ciência  (mito  original),  não  favorecem  uma postura  crítica  e  ampliam  o  apoio  ao  universo  da  ciência (AULER; DELIZOICOV, 2001). 

Já a perspectiva ampliada parte de um modelo progressista de educação,  baseado  em  um  dialogismo  que  se  aproxima  do método  freireano, devido à problematização e à criticidade que buscam  aproximar  a C&T  das  questões  socialmente  relevantes (AULER; DELIZOICOV, 2001). 

Entretanto,  aproximar  a  educação  científica  de  questões sociais não deve se restringir a discutir as implicações sociais da ciência. É necessária uma abordagem mais radical que seja capaz de  promover  “[...]  uma  educação  política  que  busca  a transformação  do  modelo  racional  de  ciência  e  tecnologia excludente para um modelo voltado para  a  justiça  e  igualdade social.”  (SANTOS,  2008,  p.  111),  em  que  os  mitos  científicos, 

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como o de neutralidade e superioridade, por exemplo, poderão ser ultrapassados para dar  lugar ao pensamento crítico que seja capaz  de  questionar  as  interações  entre  ciência,  tecnologia  e sociedade. 

Partindo do pressuposto que a educação científica não ocorre apenas  no  ensino  formal,  podemos  pensar  a  mídia  como educadora informal e estender as perspectivas de ACT reduzida e  ampliada para  as publicações midiáticas,  tanto  as  que  visam intencionalmente  a  divulgar  ciência  para  o  público  infanto‐juvenil, como as o fazem de forma não propositada. 

Em  investigação  promovida  pela  Fundação  de Desenvolvimento da Pesquisa e Agência de Notícias dos Direitos da  Infância  (2009),  foi analisada a cobertura despendida por 50 jornais diários brasileiros de circulação nacional durante os anos de 2007 e 2008, sendo estudada uma amostragem de 2.599 textos, selecionados  pela  metodologia  de  ‘mês  composto’,  a  fim  de averiguar o agendamento da mídia em relação a assuntos ligados à  Ciência,  Tecnologia  e  Inovação  (CT&I).  Verificou‐se  que  a inclusão de temas científicos se deu, em sua maioria, através da repercussão de pesquisas científicas (31,0% em 2007 e 32,0% em 2008), e da repercussão de eventos científicos  (10,8% em 2007 e 12,8% em 2008), o que corrobora com a  ideia de que a ciência é divulgada para ampliar o apoio  social à  comunidade  científica, tal qual na perspectiva reduzida de ACT. 

Do total de textos analisados, 40% mencionaram a faixa‐etária do  público‐alvo,  sendo  que,  destes,  16%  se  voltaram  para crianças  e  adolescentes  (FUNDAÇÃO...; AGÊNCIA...,  2009). O referido estudo não analisou publicações destinadas ao público infanto‐juvenil,  entretanto,  deve‐se  atentar  para  o  fato  que  os jovens  leem  tais  publicações,  bem  como  seus  professores  e familiares. Além  disso,  a Agência  de Notícias  dos Direitos  da Infância  (ANDI)  parte  do  pressuposto  que  a  agenda  da mídia define  a  agenda da população  e dos  tomadores de decisão, ou 

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seja,  estabelece  quais  assuntos  são  mais  importantes, influenciando as tomadas de decisão, que afetam todas as faixas etárias. 

De acordo com Candotti (2002, p. 17)  [...] a divulgação não é apenas página de  literatura, na qual as imagens  encontram  as  palavras  (quando  as  encontram), mas exercício  de  reflexão  sobre  os  impactos  sociais  e  culturais  de nossas descobertas. 

 Portanto, estudar o quê e como se divulga a ciência em nossa 

sociedade, mais do que verificar qual importância tem se dado à comunidade  científica,  é  refletir  sobre  os  caminhos  e modelos que são traçados todos: cientistas e não cientistas.  

Animações: homens cientistas e magia  Na  televisão,  algumas  animações  infantis  (desenhos 

animados) brincam com o universo da ciência e com a  imagem do  cientista.  Em  O  Laboratório  de  Dexter  (Dexterʹs  Laboratory  – Cartoon Network), o personagem que dá nome à animação é um “[...]  menino  cientista,  convencido,  mal‐humorado  e constantemente  incomodado  por  Dee  Dee,  sua  irmã  maior, ‘ignorante’ do saber científico.” (SIQUEIRA, 2008, p. 46). Em seu laboratório secreto, Dexter utiliza de alta tecnologia em benefício próprio,  já  na  escola  o  garoto  é  visto  como  qualquer  outra criança, merecendo o descrédito de algumas pessoas (SIQUEIRA, 2005, 2008). 

Em As Aventuras  de  Jimmi Nêutron,  (The Adventures  of  Jimmy Neutron:  Boy  Genius  –  Nickelodeon),  o  pequeno  e  simpático cientista  Jimmi  se destaca de  seus  colegas  e  familiares por  sua genialidade; para ele, a escola e os professores são antiquados e suas  invenções  altamente  tecnológicas  são usadas  em benefício próprio. (SIQUEIRA, 2005, 2008). 

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A ciência, aqui, como em Dexter, se parece muito com a magia em  outros  programas  e  outras  narrativas.  É  um  escape  que privilegia os  fins  e a aplicação  imediata, por  isso, as  soluções não  se  dão  em  processo:  são  imediatas,  como  um  toque  de mágica. (SIQUEIRA, 2008, p. 46‐47). 

 Em  ambos  os  desenhos,  o  cientista  é  colocado  como  uma 

pessoa  diferente  das  demais,  superior,  capaz  de  coisas impossíveis para os demais personagens, dominadores de uma alta tecnologia quase mágica e parecem estar acima do bem e do mal: reforçam o mito da superioridade da ciência. 

Em As Meninas Superpoderosas  (The Powerpuff Girls  – Cartoon Network),  Docinho,  Lindinha  e  Florzinha  são  criações  do Professor  Utonium,  cientista  que  é  um  misto  de  chefe  e  pai (SIQUEIRA,  2005).  As  meninas  foram  criadas  em  laboratório para  possuírem  superpoderes  e  combater  o mal,  personificado no Macaco Loco (também é criação do Professor), a fim de ajudar o  prefeito  e  a  população da  cidade de Townsville. O desenho, apesar de  ter protagonistas do gênero  feminino,  reforça a  idéia da ciência masculina: Professor é o inventor que tudo consegue e as meninas, meras criações dele. As aventuras de Henry (Henry´s Would – Discovery Kids) é uma 

animação  de  bonecos  cujo  personagem  principal  (Henry)  é sobrinho  de  um  cientista, Netuno,  que,  com  o  auxílio  de  um robô,  explica  o  funcionamento  de  coisas  do  cotidiano (SIQUEIRA,  2005).  Aqui,  pode‐se  perceber  uma  concepção reduzida  de ACT,  uma  vez  que  o  cientista,  detentor  do  saber, transmite  unidirecionalmente  conhecimentos  técnicos  a  seu sobrinho e, por conseguinte, ao telespectador. 

Em O Divertido Mundo de Peep (Peep and the Big Wide World – Discovery Kids), não há a figura de um cientista: Peep, ave recém‐nascida, e mais dois amigos questionam o mundo à volta deles. O  universo  da  escola  não  é  retratado,  aparecem  situações  do cotidiano,  em  que  os processos  são desvelados  –  como  semear 

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uma semente de girassol, regá‐la e esperar que brote e cresça, por exemplo (SIQUEIRA, 2005, 2008). 

Em Timothy vai à escola (Timothy Goes to School – Nelvana), cujos personagens  são  animais,  também  não  aparece  a  figura  do cientista, o ambiente escolar é visto como espaço de socialização do conhecimento e a ciência não tem destaque de outras formas de saber (SIQUEIRA, 2008). 

Nas  duas  últimas  animações,  a  figura  do  cientista  não  é citada, a ciência é mais vista como um processo e o saber parece estar mais distribuído entre os personagens. 

De  acordo  com  Siqueira  (2005),  as  animações  veiculadas  no Brasil, tendo a intenção de educar ou não, reforçam uma imagem estereotipada de cientista. 

 O modelo de  cientista  apresentado  é  aquele dos  laboratórios, das  experiências,  tubos  de  ensaio,  pipetas  e  equipamentos eletrônicos.  Nunca  aparece  um  sociólogo,  antropólogo, psicólogo ou cientista político. No universo do desenho e das animações,  esses  não  parecem  ser  reconhecidos  como profissionais da ciência. (SIQUEIRA, 2005, p. 31). 

 Nas  animações  analisadas  por  Siqueira  (2005,  2008),  o 

cientista  é  representado  como  estudioso  da  área  de  exatas,  de gênero masculino, e aparece apoiado por aparatos  tecnológicos mágicos, com exceção de O Divertido Mundo de Peep e Timothy Vai à  Escola  (em  que  não  aparecem  cientistas.  Os  resultados  e aplicações  imediatas  são  sempre  o  objetivo  da  ciência,  não revelando os processos e limitações do trabalho científico.  

No papel...  A  revista  Ciência  Hoje  das  Crianças  (CHC),  publicação  da 

Sociedade  Brasileira  para  o  Progresso  da  Ciência  (SBPC),  é publicada  desde  1986.  Versão  infantil  da  revista  Ciência Hoje 

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(CH),  é  adotada  pelo MEC  e  distribuída  para  107 mil  escolas como  material  de  apoio  paradidático  (INSTITUTO  CIÊNCIA HOJE,  [200?]),  além  de  permitir  assinaturas  particulares.  Seus textos  são  escritos,  a  convite  ou  espontaneamente,  por especialistas,  e  passam  por  uma  edição,  para  adequação  da linguagem ao público infantil (MASSARANI, 2005). 

Zamboni  (2001)  realizou  um  estudo  na  área  de Análise  do Discurso em que comparou dois  textos do cientista Cléber  J. R. Alho,  um  divulgado  na  revista  CHC  e  outro  na  revista  CH, ambos sobre o mesmo assunto: a tartaruga da espécie Podocnemis expansa. A autora observou a organização  textual, a  sintaxe e o vocabulário,  verificando  que  na  CHC,  a  argumentação  cede espaço à narração, as frases são mais curtas e o uso constante de linguagem  conotativa,  por  intermédio  de  comparações  e analogias. 

A matéria analisada (O Mistério das Tartarugas Roubadas, CHC, n.  4,  1992),  longe  de  descrever  características  do  animal estudado,  mostra  parte  do  processo  do  cientista  no  estudo  e revela um problema social que interfere diretamente na pesquisa e no ecossistema: o roubo dos ovos para venda, indicando que o autor mostra uma visão mais ampliada da pesquisa. 

Massarani  (2005)  realizou  entrevistas  com  21  crianças assinantes  da  revista CHC,  a  fim  de  verificar  suas  práticas  de leitura.  As  entrevistas  indicaram  que  as  crianças  costumam folhear a revista, mantendo uma relação corporal com ela através dos cinco  sentidos “[...] acariciar; abraçar; percorrer as  imagens com os olhos, com os dedos; indicar traços preferidos; levar para a escola; mostrar para um amigo, ler para outro. (MASSARANI, 2005, p. 52). Só depois é feita a leitura, escolhendo o que vão ler: ou pela seção preferida ou pelo assunto. 

A autora constatou que as assinantes da  revista pertencem a um  ambiente  social que  estimula  a  leitura  e o  conhecimento,  e também  têm  acesso  a  materiais  culturais  orais  (rádio,  tevê, 

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cinema). Assim, em um primeiro nível de leitura (parafrásica), a criança procura o que deve ser o sentido expresso no texto pelo autor;  e  em um  segundo nível de  leitura  (polissêmica), o  leitor atribui  outro  sentido,  conforme  outras  leituras  feitas (MASSARANI, 2005). Isso atenta para o fato que a construção do conhecimento científico não se dá apenas por intermédio de um único conteúdo, um único texto, mas através de uma construção constante que nasce de todas as leituras da criança: sua leitura de mundo. “Na proposta de educação libertadora de Paulo Freire, a conscientização  do  indivíduo  ocorre  por  meio  do  diálogo mediado pelas suas condições de existência.”  (SANTOS, p.119), diólogo  esse  fundamental  para  a  formação  de  uma  plena Alfabetização Científica e Tecnológica. 

Em  análise das matérias de  capa de  31  edições da  Folhinha, suplemento  infantil  do  jornal  Folha  de  São  Paulo,  Jonh  (2005) verificou  que  o  consumo  é  o  elemento  central  do  discurso:  “este  consumo  incentivado  na  Folhinha,  nas  31  edições analisadas,  está  associado  a  outros  discursos  tais  como  o tecnológico, o científico ou o do sucesso.” (JOHN, 2005, online). Em uma matéria sobre coelhos, categorizada como pertencente à temática de Ciência  e Meio Ambiente, o  animal  foi  tratado  em seu  valor de mercado:  serve  como  alimento,  fornece  pele  para adorno  e  é  utilizado  em  laboratórios  de  teste  para  cosméticos (JOHN,  2005). O  estudo  traz  indicativos de que  a  ciência pode estar  sendo  representada  nesse  suplemento  como  um  meio destinado a um fim: o consumo.  Considerações finais  As idéias levantadas neste estudo não são conclusivas, tratam‐

se  de  considerações  iniciais  sobre  o  tema,  baseadas  em  outras considerações  traçadas  por  estudiosos  da  área. A  presença  de uma  perspectiva  reducionista  da  ciência  ainda  é marcante  na 

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mídia, mas não  é  a única,  e  essa  visão  tem  sido  superada por iniciativas na tevê e no jornalismo. 

Divulgar  ciência  para  crianças  e  adolescentes, mais  do  que mostrar a elas resultados de laboratório e transferir informações, à  imagem  de  uma  educação  bancária,  é  fazê‐las  resignificar  o mundo  que  estão  descobrindo  em  uma  fase  tão  intensa  de aprendizado.  Portanto,  chamar  a  atenção  de  um  jovem telespectador  e  leitor,  mais  do  que  convencê‐lo  a  consumir determinado  produto,  seguir  assistindo  a  programação  de determinada rede de tevê ou a continuar comprando as edições posteriores de um  jornal ou revista é  instigá‐lo pessoalmente ao conhecimento. 

Ruiz  (2004)  atenta  para  a  necessidade  desafiar  os  jovens, evitando  que  a  divulgação  se  resuma  a  trazer  definições  e descrições já prontas, mas que centrem a informação científica no processo: 

 [...]  apelar  à  curiosidade  de  nossos  leitores,  começando  por questionar  se  certas  idéias  surpreendentes  ou  insólitas poderiam ser levadas à prática [...]. Outra possibilidade é tomar um  corpo  de  conhecimento  bem  estabelecido  e  responder  à pergunta  sobre  como  os  cientistas  obtiveram  seus  resultados [...]. Melhor ainda, podemos escolher um problema científico e convidar  os  leitores  a  pensar  sobre  algumas  maneiras  de solucioná‐lo [...]. (RUIZ, 2004, p. 15). 

 Transpor  a  ideia  de  resultado  para  processo,  da  aplicação 

imediata para a investigação; fazendo que o jovem perceba que o resultado e a aplicação são sim  importantes para a ciência, mas são  apenas  parte  de  uma  prática  que  implica  também  em ambiguidades,  limitações  e  erros.  O  objetivo  não  é  fazer  de crianças e adolescentes cientistas, mas ajudá‐los a percebe que a ciência é uma das formas de investigação do mundo. 

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Divulgar ciência não é fazer propaganda nem de cientistas ou de  produtos,  nem  instrumentar  os  jovens  para  que  possam utilizar  determinadas  tecnologias,  mas  para  que  possam participar  como  cidadãos  através de um  aprendizado  que  lhes seja realmente significativo e que os permita ver que o futuro não está  preestabelecido,  determinado  pela  ciência,  mas  que  será uma construção baseada na posição de cada ser humano. 

Superar  esse modelo  não  será  fácil,  principalmente  porque mostrar  os  mitos  por  detrás  da  ciência  é  questioná‐la,  o  que implica  em  duvidar  de  saberes  e  métodos  já  há  muito preestabelecidos como verdadeiros, o que poderá mudar o apoio e  a  admiração  despendidas  pela  sociedade  à  comunidade científica.    Referências  ALBAGLI, Sarita. Divulgação científica: informação científica para a cidadania? Ci. Inf., Brasília, v. 25, n. 3, p. 396‐404, set./dez. 1996. 

CANDOTTI,  Ennio.  Ciência  na  educação  popular.  In: MASSARANI,  Luisa; MOREIRA,  Ildeu de Castro; BRITO, Fatima  (Org.). Ciência e público: caminhos da  divulgação  científica  no  Brasil. Rio  de  Janeiro: Casa  da Ciência  – Centro Cultural de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal do Rio de  Janeiro, 2002. p. 15‐23. 

FUNDAÇÃO  DE  DESENVOLVIMENTO  DA  PESQUISA;  AGÊNCIA  DE NOTÍCIAS DOS DIREITOS DA  INFÂNCIA. Ciência, Tecnologia &  Inovação na mídia  brasileira:  conhecimento  gera  desenvolvimento.  Fundep;  FAPEMIG; ANDI, 2009. Disponível em: <http://www.andi.org.br/inclusao‐e‐sustentabilida de/publicacao/ciencia‐tecnologia‐inovacao‐na‐midia‐brasileira>. Acesso  em:  10 jun. 2011. 

INSTITUTO  CIÊNCIA  HOJE.  Quem  somos.  [200?].  Disponível  em:  <http:// cienciahoje.uol.com.br/sobre/quem‐somos>. Acesso em: 06 out. 2009. 

JOHN, Valquíria Michela.  Formando  consumidores:  a  construção da  infância pelo  suplemento “Folhinha”.  In: Celacom, 2005. Anais  eletrônicos... Disponível 

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em:  <http://encipecom.metodista.br/mediawiki/images/e/e7/GT10_‐_013.pdf>. Acesso em: 10 out. 2010. 

MAIA, Kênia Beatriz Ferreira; GOMES, Ana Cecília Aragão. Para pensar o fazer e  a  pesquisa  em  divulgação  científica  e  jornalismo  científico.  In:  Intercom  – Congresso  Brasileiro  de  Ciências  da  Comunicação  Sociedade  Brasileira  de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, 29., 2006. Anais eletrônicos... – UnB – 6 a 9 de setembro de 2006. 

RAMOS, Marcos Gonçalves. Modelos de comunicação e divulgação científicas: uma  revisão de perspectivas. Ci.  Inf., Brasília, v. 23, n. 3, p. 340‐348,  set./dez. 1994. 

RUIZ, Estrella Burgos. Como  aproximar os  jovens da  ciência?  In: DICKSON, David; KEATING, Barbara; MASSARANI, Luisa. Guia de Divulgação Científica. Rio de Janeiro: SciDev.Net; Brasília, DF: Secretaria de Ciência e Tecnologia para a Inclusão Social, 2004. p. 15‐16. 

SANTOS, Wildson Luiz Pereira dos. Educação Científica Humanística em Uma Perspectiva Freireana: Resgatando a Função do Ensino de CTS. Alexandria Rev. Ed. Ciên. Tecn., v.1, n.1, p. 109‐131, mar. 2008. 

SIQUEIRA, Denise da Costa Oliveira. Superpoderosos, submissos: cientistas na animação televisiva. In: MASSARANI, Luisa (Org.). O pequeno cientista amador: a divulgação científica e o público infanto‐juvenil. Rio de Janeiro: Vieira & Lent; Casa da Ciência; Fiocruz, 2005. p. 23‐31. (Série Terra Incógnita). 

SIQUEIRA,  Denise  da  Costa  Oliveira.  Conhecimento,  ciência  e  escola: representações em desenhos animados. In: MASSARANI, Luisa (Ed.). Ciência & criança:  a divulgação  científica para o público  infanto‐juvenil. Rio de  Janeiro: Museu da Vida; Casa de Oswaldo Cruz; Fiocruz, 2008. p. 42‐48. 

ZAMBONI,  Lilian  Márcia  Simões.  Divulgação  cientifica  para  crianças.  In: ______  Cientistas,  jornalistas  e  a  divulgação  científica:  subjetividade  e heterogeneidade  no  discurso  da  divulgação  científica.  Campinas:  Autores Associados, 2001. p. 123‐127. 

 

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Os tesauros multilíngues pelas perspectivas da ciência, tecnologia e sociedade: possibilidades de construção e uso 

 Ricardo Biscalchin 

Vera Regina Casari Boccato   Introdução   

A  explosão  da  Ciência  e  da  Tecnologia  (C&T)  ocorrida durante  a  revolução  industrial  e  a  revolução  científica,  e amplificada pelas duas grandes guerras mundiais, conduziram à um  grande  desenvolvimento  de  “bens”  científico‐tecnológicos que  resultaram  em  mudanças  significativas  na  sociedade. Cotidianamente nos vemos dependentes e até obrigados a fazer uso  dessas  tecnologias  científicas  que  se  incorporaram  na sociedade,  de modo  a modificarem  nosso modo  de  vida  e  de comunicação,  nos  levando  hoje  a  questionarmos  como  era possível  a  sobrevivência  quando  tais  tecnologias  ainda  não existiam, e como seria essa sobrevivência nos dias atuais.  

Uma dessas  tecnologias que  se  introduziram  fortemente na sociedade,  modificando  o  modo  de  interação  e  comunicação entre  os  indivíduos,  foi  a  internet. A  internet  revolucionou  os meios de comunicação se tornando um veículo de informação de uso cotidiano de grande parte da população mundial. A internet (World Wide Web) é uma  rede mundial de dados onde milhares de  computadores  se  encontram  conectados  em  rede  e distribuídos  nos mais  distintos  pontos  do  globo,  permitindo  a comunicação  instantânea  entre  eles,  ultrapassando  fronteiras físicas  e  temporais, possibilitando, desse modo,  a  comunicação entre  indivíduos  de  diferentes  países,  em  diferentes  culturas  e idiomas de uso. 

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Há  pouco  tempo  atrás  não  imaginaríamos  que  teríamos  a dimensão “Ciência e Tecnologia” tão desenvolvidas, permitindo a interação e a comunicação por meio de dispositivos móveis que não  se  encontram  limitados  a um  espaço  físico. Hoje,  além da internet,  temos os aparelhos celulares, os pagers, os dispositivos de GPS (Global Positioning System) e vários outros dispositivos de comunicação,  que  nos  permitem  a  interação  instantânea  com indivíduos  de diferentes  pontos do  planeta  e,  particularmente, no caso do GPS, a comunicação e a  interação  instantânea com o satélite.  

Mediante  essa  contribuição  que  a  Ciência  e  a  Tecnologia trouxeram  para  a  Sociedade,  torna‐se  de  suma  importância avaliar o impacto que a tecnologia científica causou à sociedade, isto  é,  quais  são  os  seus  benefícios  e  as  suas  ameaças.  É necessário  pensar  e  refletir  sobre  a  C&T  produzidas  e disseminadas  à população,  e qual o  real benefício ou malefício gerado  à  sociedade.  Diante  desses  questionamentos  surge  o movimento  de  Ciência,  Tecnologia  e  Sociedade  (CTS),  que  de acordo com Leite e Ferraz (2011, p.40) 

 Nos  anos  1960  e  1970,  o  questionamento  dos  reais  benefícios  e malefícios da C&T embasou o surgimento do Movimento CTS, o qual, com  pesquisas  sobre  a  dimensão  social  da  C&T,  inclui  uma diversidade  de  campos  de  estudos  que  compartilham  a  crítica  à neutralidade da C&T e a promoção da participação pública na tomada de decisões como meios de instrumentalização da cidadania. 

 Notamos  que,  a  partir  da  década  de  60,  houve  um 

crescimento da preocupação sobre os benefícios e malefícios da C&T na sociedade. A C&T deixam de ser vistas como salvadoras e detentoras apenas de benefícios, e passam a ser questionadas, quanto  a  sua  real  potencialidade  em  ser  benéfica  e maléfica  à sociedade como um todo. A sociedade e um grupo de cientistas passam,  então,  a  se  preocupar  com  os  impactos  que  essas 

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tecnologias  estão  trazendo  à  sociedade  e  de  que  modo aprimoram  ou  dificultam  a  vida  dos  indivíduos.  O  impacto dessas transformações sociais impostas pela Ciência e Tecnologia afeta  não  só  o  campo  social,  mas  também  o  político  e  o econômico. Reforçando a necessidade de um olhar crítico sobre o desenvolvimento  científico‐tecnológico  recorremos  aos postulados  teóricos  de  Pinheiro,  Silveira  e  Bazzo  (2007,  p.  72) expondo que 

 [...]  pode  ser  perigoso  confiar  excessivamente  na  ciência  e  na tecnologia, pois isso supõe um distanciamento de ambas em relação às questões com as quais se envolvem. As finalidades e interesses sociais, políticos, militares e econômicos que resultam no impulso dos usos de novas  tecnologias  implicam  enormes  riscos,  porquanto  o desenvolvimento  científico‐tecnológico  e  seus  produtos  não  são independentes de seus interesses.  

 Muitos segmentos como os alimentos transgênicos e o uso de 

energia  nuclear  são  constantemente  debatidos  por  estudiosos como  Pinheiro,  Silveira  e  Bazzo  (2007)  e  também  pela  mídia televisiva, entre outras, que  se ocupam,  também, de discutir os aspectos  políticos  e  os  interesses  de  grupos  dominantes  que impõem  as  tecnologias.  Segundo  os  mesmos  autores (PINHEIRO,  SILVEIRA  e  BAZZO,  2007,  p.72)  as  ações  e  as tecnologias que envolvem  tais segmentos acabam “persuadindo as  classes menos  favorecidas,  impõem  seus  interesses,  fazendo com que as necessidades da grande maioria carente de benefícios não sejam amplamente satisfeitas.” 

Assim,  faz‐se  necessário  que  o  cidadão  conheça  e compreenda  as  tecnologias  desenvolvidas  que  virão  a  ser implantadas  na  sociedade,  devendo  ele  possuir  os  subsídios teóricos  e  os  conhecimentos  práticos  suficientes  sobre determinada tecnologia para que, diante disso, possa fazer uma “leitura”, uma análise dessa tecnologia e determinar sobre a sua adoção ou não em sua vida. Dessa maneira, devemos atuar não 

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apenas como  receptores dessas mudanças  tecnológicas, ou  seja, como  seres  pacíficos,  mas  também  como  atores  sociais, participantes  direta  e  indiretamente  dessas  inovações tecnológicas.  

Sobre isso, também Pinheiro, Silveira e Bazzo (2007, p.72‐73) relatam que  

 Precisamos constantemente considerar que somos atores sociais. Uns diretamente afetados pelas possíveis conseqüências da implantação de determinada  tecnologia e que não podem evitar seu  impacto; outros, os próprios consumidores de produtos tecnológicos, coletivo que pode protestar  pela  regulação  e  pelo  uso  das  tecnologias;  outros  mais, público interessado, pessoas conscientes que vêem nas tecnologias um ataque  a  seus  princípios  ideológicos,  como  os  ecologistas  e  várias ONGs; e, também, estudiosos de vários segmentos com condições de avaliar os riscos da área de conhecimento que dominam.  

 Nessa  perspectiva,  não  devemos  ser  passivos  diante  dessa 

avalanche  tecnológica,  antes,  devemos  medir,  avaliar  as vantagens  e  desvantagens  das  inovações  tecnológicas  que  nos são  apresentadas  diariamente  e  escolher  quais  devem  ou  não integrar o nosso cotidiano.  

Todavia,  para  que  isso  ocorra,  precisamos  que  os  cidadãos tenham  acesso  à  informação  sobre  essas  tecnologias  e  ciências, para  que  lhes  seja possível  avaliar  a  tecnologia  não  apenas da maneira  como  ela  será utilizada, mas  também do  impacto  que ela traz e pode provocar. Para isso, é necessário que as unidades de  informação ofertem, aos cidadãos,  informações precisas para que eles possam realizar tal avaliação.  

As  unidades  de  informação  são  organizações  que  coletam, tratam e disseminam o conhecimento científico a partir de teorias e  metodologias  que  permitem  aos  cidadãos  entenderem  as tecnologias  que  o  cercam,  podendo  elas  em  alguns  casos, contribuírem  tanto  para  o  entendimento,  quanto  para  a produção da ciência e da tecnologia.  

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Diante  do  exposto  e  no  contexto  deste  estudo,  dar‐se‐á enfoque  específico  para  a  biblioteca  universitária,  identificada como  unidades  de  informação  científica  especializada.  Sobre isso, Biscalchin e Boccato (2010, p. 4) relatam que ela 

 [...] disponibiliza o conhecimento já construído por meio de serviços e produtos  oferecidos  aos  docentes,  discentes  de  graduação,  pós‐graduação  e  demais  categorias  de  usuários,  possibilitando  o desenvolvimento  de  novos  conhecimentos  e  sua  divulgação  para  a sociedade. 

 A  biblioteca  universitária  vista  também  como  uma  agência 

do saber, propicia a disseminação do conhecimento a esse grupo da  sociedade  no  desenvolvimento,  a  partir  da  recuperação precisa da  informação  colaborativa na  construção de  inovações científico‐tecnológicas.  Ela,  portanto  não  só  armazena  o conhecimento  produzido  em  C&T, mas  também  dissemina  tal conhecimento para  o  entendimento desta C&T  já produzida  e, consequentemente,  no  desenvolvimento  de  novas  C&Ts.  Essa preocupação  com  a  disseminação  da  Ciência  e  da  Tecnologia para a sociedade é  foco de estudo da área de CTS, produzindo pesquisas de perspectivas críticas sobre a C&T, e avaliando qual o seu impacto na sociedade.  

O  campo CTS  é um  campo de  caráter  interdisciplinar  e no Brasil abrange diversas  temáticas, a  saber: “educação  científica; estudos  CTS;  comunicação  científica;  mudança  tecnológica  e desenvolvimento  sustentável; política  cientifica  e  tecnológica;  e gestão da inovação” (LEITE; FERRAZ, 2011, p. 40). 

Notamos assim, uma preocupação em realizar uma interação entre  a  ciência,  a  tecnologia  e  a  sociedade de modo  a  fazerem com  que  os  cidadãos,  caracterizados  pelos  cientistas, pesquisadores,  docentes,  discentes,  leigos,  enfim  a  sociedade como  um  todo,  possam  produzir,  de  modo  integrado,  o conhecimento em CTS. 

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Para  que  o  usuário  desse  sistema  de  informação  consiga recuperar/localizar a  informação que almeja, torna‐se necessário a realização de estratégias de busca, que para Lopes (2002, p. 61) “[...] pode[m]  ser definida[s]  como uma  técnica ou  conjunto de regras  para  tornar  possível  o  encontro  entre  uma  pergunta formulada e a informação armazenada em uma base de dados”. 

Entretanto,  uma  boa  estratégia  de  busca  por  si  só  não significa  eficiência  nos  resultados  obtidos,  pois  para  que  a informação  seja  acessível  de  maneira  satisfatória  ao usuário/cidadão é necessário uma  linguagem documentária que contemple  os  termos  dos  assuntos  dos  documentos  a  serem representados e que seja disponível em sistemas automatizados de  informação utilizáveis em diversas  localidades geográficas e em diferentes idiomas.  

Diante  do  exposto,  este  estudo  tem  por  objetivo  investigar sobre a construção de tesauros multilíngues, com destaque para o processo de tradução de termos, frente a dimensão cultural que as  áreas  científicas  especializadas devem possuir diante de um repertório terminológico consolidado, organizado e disseminado entre  diferentes  comunidades  científica  e  civil,  transpondo barreiras geográficas, culturais e linguísticas e pelas perspectivas da Ciência, Tecnologia e Sociedade. 

 Os tesauros como instrumentos colaborativos na representação para  a  recuperação  da  informação  científica,  tecnológica  e social  

 Os  sistemas  de  recuperação  da  informação  de  bibliotecas 

universitárias,  exemplificados  pelas  bases  de  dados,  catálogos on‐line,  repositórios,  entre  outras  fontes  de  informação, requerem  diferentes  e  complexos  processos,  procedimentos  de instrumentos de  tratamento da  informação para que esta possa ser acessível e útil ao usuário especialista.  

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O  tratamento  da  informação  envolve  dois  níveis  de organização e representação do conhecimento: 1) a representação descritiva, pautada no suporte documental (tratamento físico da informação);  2)  representação  temática,  centrada  no  conteúdo documentário,  a  partir  da  condensação  e  representação  do assunto  intrínseco  ou  extrínseco  tratado  em  um  determinado documento (GUIMARÃES, 2003). 

No que se refere ao tratamento temático da informação, com vistas  a  busca  por  assunto  e  recuperação  da  informação pertinente  aos  anseios  de  pesquisa  dos  usuários  em  CTS,  a linguagem  documentária  atua  como  instrumento  de representação temática e veículo de comunicação, promovendo a conexão  entre  a  informação,  o  sistema  de  recuperação  da informação e o usuário dessa informação.  

Sua  função,  portanto,  é  disponibilizar  a  informação viabilizando  a  sua  recuperação  pelo  usuário  ‐  cidadão  que  irá buscar informações para a construção de novas tecnologias para a  sociedade,  ou  ainda  o  cidadão  que  pretende  buscar informações científicas  (ou não) para entender as  tecnologias as quais  ele  já  possui  um  contato,  ou  aquelas  que  ele  terá  um possível  contato.  Boccato  e  Fujita  (2006,  p.  18)  definem  a linguagem documentária como  

 [...]  sendo  o  instrumento  de  comunicação  entre  a  informação,  o sistema de informação e o usuário [...]. [Ela] deve assegurar o acesso a essa  informação,  possibilitando  sua  adequada  recuperação  e, conseqüentemente,  a  criação  desse  conhecimento  científico,  para promover o bem‐estar da sociedade.  

 A  linguagem  documentária  possibilita  a  disseminação  do 

conhecimento, auxiliando no ensino CTS para a sociedade, visto que ela atua como um  instrumento que  faz a mediação entre o usuário e a informação científico‐tecnológica.  

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No  contexto  de  uma  biblioteca  universitária,  a  linguagem documentária é utilizada no  catálogo on‐line para  recuperar os registros  bibliográficos  por  assunto  que  compõem  o  acervo. O catálogo  pode  ser  caracterizado  como  “o  “espelho”  do  acervo, devendo refletir ao usuário tudo o que a biblioteca possui sobre determinado  assunto,  a partir da  busca,  seleção,  recuperação  e uso  da  informação”  (BISCALCHIN  e  BOCCATO,  2010,  p.4). Nesse sentido, o catálogo oferta ao usuário/pesquisador/cidadão o  conteúdo  informacional  dos  documentos  dessa  unidade  de informação, possibilitando a socialização da ciência por meio da disseminação e acesso ao conhecimento. 

As  linguagens  documentárias  são  constituídas  de  termos provenientes  da  linguagem  de  especialidade  e  da  linguagem natural  (do  discurso  comum,  linguagem  de  busca  do  usuário) relacionados entre si.  

Nesse  contexto, Guinchat  e Menou  (1994, p.  136)  apontam, também,  que  os  termos  da  linguagem  natural  “[...]  são relacionados  ao  descritor  correspondente  por  meio  de  uma remissiva”. Essas remissivas “[...] não podem ser utilizadas para descrever as  informações  [e] são chamadas de não‐descritores.” Tais  relações  são  identificadas  como  hierárquicas,  de equivalência  ou  associativas.  “Elas  permitem  reagrupar  as noções  sobre  um  único  termo,  aumentar  ou,  ao  contrário, precisar  uma  pesquisa.”  São  exemplos  de  linguagens documentárias as listas de cabeçalhos de assunto, os tesauros, as ontologias, entre outras.  

Especificamente  sobre  os  tesauros,  eles  são  compostos  por termos descritores de áreas científicas especializadas a partir das relações  sintático‐semânticas que mantêm entre os  conceitos de ordens  hierárquicas,  partitivas,  associativas  e  de  equivalência, permitindo  a  representação  para  a  recuperação  precisa  da informação documentária. 

Para Boccato, Ramalho e Fujita (2008, p. 201) os tesauros são 

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linguagens  de  estruturas  combinatórias  e  pós‐coordenadas, constituídas  de  termos  ‐  unidades  linguísticas  provenientes  da linguagem de  especialidade  e da  linguagem natural  ‐, denominados de descritores, providos de relações sintático‐semânticas, referentes a domínios  científicos  especializados,  possibilitando  a  representação temática do conteúdo de um documento, bem como a recuperação da informação. 

 Segundo  Currás  (2005)  os  tesauros  podem  ser  gerais  e 

especializados, multidisciplinares e monodisciplinares. Quanto a tipologia  são  caracterizados  como  macrotesauros  e microtesauros  e,  sob  a  classificação  idiomática,  eles podem  ser monolíngues, bilíngues, trilíngues ou multilíngues (mais de três línguas). 

Em  vista  disso,  notamos  o  papel  social  que  os  tesauros possuem  e  sua  importância  na  disseminação  e  interação  entre CTS,  visto  que  eles  atuam  diretamente  no  tratamento  e  na transferência e uso da informação e do conhecimento.  

Além disso,  na  contemporaneidade  em  que  vivemos  numa sociedade globalizada e interligada pela Rede Mundial de Dados (Internet), o acesso e a busca da  informação  faz‐se em diversas localidades  geográficas,  por  usuários  locais  e  remotos provenientes  de  vários  países,  falantes  de  diferentes  línguas  e possuidores de distintas culturas. Nessa perspectiva, os tesauros multilíngues  têm  importância  significativa  por  ampliar  as possibilidades  de  recuperação  dos  conteúdos  dos  documentos indexados  nos  mais  variados  sistemas  de  recuperação  da informação em todo mundo, a partir do uso de uma  linguagem documentária descrita em mais de uma língua, resultando numa visibilidade maior da produção  científica  e,  consequentemente, na geração de novos conhecimentos em CTS. 

  

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A  construção  de  tesauros  multilíngues  no  contexto  da dimensão  cultural  e pela perspectiva da  ciência,  tecnologia  e sociedade  

 As linguagens documentárias “pode[m] ser produzida[s] em 

uma  única  língua  natural;  em  uma  língua  natural  com equivalentes  em  uma  ou  em  várias  línguas  com  dicionário  de acesso  para  outras  línguas;  em  duas  ou  em  várias  línguas naturais,  como  no  caso  das  linguagens  multilíngues.” (GUINCHAT ; MENOU, 1994, p. 139‐140) 

Nessa  perspectiva,  as  linguagens  documentárias multilíngues podem ser elaboradas a partir da adaptação de uma linguagem fonte, elaborada em uma  língua, para outras  línguas ou  simultaneamente  em  outras  línguas,  sendo  esta  segunda opção a mais indicada por Guinchat e Menou (1994, p. 147).  

Recorrendo‐se as diretrizes estabelecidas pela IFLA (2009, p. 1), os  tesauros multilíngues podem ser desenvolvidos por meio de  três  abordagens:  1)  construção  de  um  novo  dicionário  de sinônimos  de  baixo  para  cima,  podendo,  começar  com  uma língua  e  adicionar outro  idioma ou  línguas, ou  ainda,  começar com mais  de  um  idioma  simultaneamente;  2)  realizando‐se  a combinação de tesauros existentes, por meio da fusão de dois ou mais  tesauros  existentes,  resultando  em  um  novo  tesauro (multilingue)  a  ser  utilizado  na  indexação  e  recuperação,  ou, ligando  tesauros  existentes  e  listas  de  cabeçalhos  de  assunto, utilizando‐os  tanto  na  indexação  como  na  recuperação;  3) traduzindo‐se  um  dicionário  de  sinônimos  em  uma  ou  mais outras línguas. (Tradução nossa). 

Independentemente da abordagem adotada, a construção de tesauros  multilíngues  requer  muitos  estudos,  descobertas  e inovações metodológicas e conhecimento de diferentes línguas e culturas  na  compatibilidade  terminológica  necessária  para  o alcance de tal proposta.  

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Pinho (2006. p. 99) relata que um tesauro multilíngue  

[...] deve proporcionar respeito às línguas envolvidas, mesmo porque seu desenvolvimento  reside em uma dimensão  cultural e política. O tratamento  ético  no  desenvolvimento  de  um  tesauro  multilíngüe envolve a resolução de problemas de natureza semântica, lingüística e administrativa,  e não  apenas na  localização de um  termo  adequado em outra língua. 

 Cabe,  portanto,  nesse  momento,  o  resgate  do  conceito  de 

CTS,  em  que  prioriza  o  respeito  à  sociedade  e  sua  cultura, necessitando,  desta  forma,  o  bibliotecário  participante  desse processo de construção,  ter a consciência sobre esses quesitos e possuir,  também  uma  educação  em CTS  para  ser  um  cidadão apto  a  avaliar  os  benefícios  e  danos  que  ele  poderá, involuntariamente,  causar  a  uma  sociedade  privilegiando,  por exemplo, uma cultura em detrimento da outra.  

De acordo com a norma técnica ANSI/NISO Z39.19:2005,   as questões  de  contexto  e  especificidade  culturais  desempenham um  papel  importante  na  seleção  dos  termos  e  na  criação  de vários  tipos  de  relacionamentos multilingues  em  vocabulários controlados. 

No  que  se  refere  a  garantia  cultural, Begthol  (2002, p.  511) relata que ela “significa que qualquer  tipo de  representação de conhecimento  e/ou  sistema  de  organização  pode  ser maximamente  adequado  e  útil  para  os  indivíduos  em  alguma cultura  só  se  for baseado nas  suposições, valores e preposições dessa mesma cultura”. 

Observamos  ser  importante  que  todas  as  línguas representadas por termos formadores de um tesauro multilíngue recebam o mesmo nível de tratamento e especificidade, de modo a  possibilitarem  a  busca  por  assunto  e  retornarem  resultados informacionais  igualmente  satisfatórios,  correspondentes  as características sócio‐histórico‐culturais desses distintos usuários.  

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Torna‐se, assim, fundamental e desafiador a compatibilização entre termos de diferentes línguas no momento da construção de um  tesauro multilíngue de maneira que  todos  eles  recebam um tratamento e uma valoração equivalentes, independentemente da complexidade  que  cada  vocabulário  das  línguas  em  estudo possuem.   O tesauro multilíngue deve promover a revocação e a precisão do  sistema  com  o uso de  tal  linguagem  e no  idioma  a escolha  do  usuário,  de  modo  a  estabelecer  um  padrão  de especialidade  e  especificidade  da  linguagem,  além  da  equidade entre os termos advindos das distintas línguas.  

Sob os olhares da Terminologia, a  tradução  terminológica é pautada  em  estudos  significativos.  Diante  disso,  Krieger  e Finatto  (2004)  expõem  que  “Os  tradutores  se  preocupam  em estruturar os textos da língua de trabalho [alvo] com os da língua original  [fonte],  se  preocupando  com  o  alcance  da  precisão semântico‐conceitual para um trabalho eficiente”.  

No  processo  de  tradução  de  um  tesauro,  seus  termos necessitam alcançar uma precisão semântico‐conceitual para que atendam  as  especificidades da  língua  alvo  em  relação  a  língua fonte.  Essa  tradução  de  linguagens  documentárias  possui  um importante  papel  social  visto  que  de  acordo  com  Krieger  e Finatto (2004, p. 68)  

 A  referência  elaborados  em  mais  de  um  idioma  consiste  em  um trabalho que cumpre um papel social maior, pois aproxima mundos, facilitando a comunicação e a recuperação da informação no campo do conhecimento especializado. 

 Revisitando  os  trabalhos  de Hudon  (1997),  a  autora  relata 

que  os  tesauros  multilingues  aparecem  como  instrumentos potencialmente poderosos para  transferência de  informação em distintas  línguas,  sendo  amplamente utilizadas  em  sistemas de informação mantidos pela Comunidade da União Européia, e em países  oficialmente  bilíngues,  como  o Canadá.  Estas  diferentes 

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linguagens não precisam, necessariamente,  serem  componentes de  um mesmo  sistema;  elas  podem  integrar  sistemas  diversos que permitem uma interação entre si, sendo esta interação entre diferentes  linguagens  em  diferentes  sistemas  nomeada  de interoperabilidade. 

Para  Boteram,  Gödert  e Hubrich  (2010)  a  interoperabilidade requer  a  compatibilidade  entre  os  níveis  técnico,  estrutural, linguístico  e  conceitual  característicos  das  funcionalidades  das linguagens  documentárias.  Todavia,  a  equivalência  linguística  ‐ terminológica  entre  os  termos  na  formação  de  um  tesauro multilíngue  conduz,  não  apenas  a  realização da  tradução de um termo da língua fonte para a língua alvo, mas sim deve‐se verificar o conceito que cada  termo expressa e a compatibilidade existente entre eles. As fichas terminológicas são utilizadas na organização de repertórios  terminológicos  visando  a  construção  de  produtos terminográficos  (dicionários,  glossários,  etc.).  São,  também, instrumentos  colaborativos  na  coleta,  síntese  e  organização  de termos, na definição de conceitos e auxiliares no estabelecimento de relações semânticas que constituirão o repertório terminológico de linguagens documentárias, tais como os tesauros.  

A língua fonte é caracterizada como a língua “mãe”, isto é, a que  servirá  como  ponto  de  partida  para  a  tradução  e estruturação  dos  termos/conceitos,  podendo  ser  considerada como  a  base  para  as  demais  línguas  na  constituição  de  um tesauro  traduzido/multilíngue.  As  línguas  alvo,  ou  seja,  as línguas  “filhas”  têm  como  referência  os  termos  da  língua fonte/língua “mãe”, sendo que esse processo pode ser realizado a partir de estruturas semânticas idênticas e estruturas semânticas simétricas não‐idênticas e assimétricas.  

Recorrendo‐se  aos  estudos  de Hudon  (1997),  vimos  que  as estruturas semânticas idênticas e simétricas são aquelas onde cada descritor deve  ter um e apenas um equivalente na  língua alvo, o que  acaba por  eliminar  equivalências verdadeiras  e  também  em 

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criar  equivalências  não  existentes  devido  a  essa  necessária simetria, além da produção de hierarquias  incorretas ou  ilógicas devido as diferenças conceituais existentes entre as línguas.  

As  estruturas  semânticas  não‐idênticas  e  assimétricas  são entendidas como aquelas onde os conceitos que existem em uma cultura  são  representados  em  sua  linguagem,  mas  se  esses conceitos  não  existem  em  outra  língua,  é  improvável  que  as representações equivalentes verbais estarão disponíveis. Quando dois  termos  principais  ou  termos  gerais  são  inexatos  ou parcialmente equivalentes linguísticos, eles podem ter uma visão diferente  de  extensão  e,  consequentemente,  diferentes  termos subordinados.  Assim  ao  contrário  da  estrutura  simétrica,  nas estruturas  assimétricas  não  existe  a  necessidade  de  estabelecer um  termo  equivalente  para  cada  descritor,  respeitando  as diferenças linguisticas e criando relações não idênticas.  

Pautado  por  Hudon  (1997),  elegemos  alguns  termos  que compõem  o  repertório  terminológico  da  área  de  CTS, focalizando  as  estruturas  semânticas  idênticas  e  simétricas  de correspondências  linguísticas  entre  termos  multilíngues, exemplificadas da seguinte forma: 

 Língua Fonte (Português) 

Língua Alvo 1 (Inglês) 

Língua Alvo 2 (Espanhol) 

Língua Alvo 3 (Francês) 

Ciência,  Tecnologia e Sociedade 

Science, Technology and Society 

Ciencia,  Tecnología y Sociedad 

Science, Technologie et Société 

Gestão  tecnológica 

Technology Management 

Gestión de la Tecnología 

Gestion de la technologie 

Sustentabilidade  Sustainability  Sostenibilidad  La durabilité Prospecção tecnológica 

Technological forecasting 

Previsión tecnológica 

Prévision technologique 

Organização do conhecimento 

Knowledge Organization 

Organización del Conocimiento 

Organisation des connaissances 

Fonte: Elaboração nossa. QUADRO 1: Tesauro de estruturas semânticas idênticas e simétricas. 

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Da mesma maneira e sob os pressupostos teóricos de Hudon (1997)  e  Boccato  e  Fujita  (2006)  as  Ciências  da  Saúde  nos permitem  demonstrar  estruturas  semânticas  não‐idênticas  e assimétricas em repertórios terminológicos multilíngues na área de Fonoaudiologia, a saber: 

 Língua Fonte (Português) 

Língua Alvo 1 (Inglês) 

Língua Alvo 2 (Espanhol) 

Língua Alvo 3 (Francês) 

Fonoaudiologia   Não há termo correspondente 

Logopedia   

Não  há  termo correspondente 

Linguagem  Language   Lenguaje   Language  

Voz  Voice  Voz  Voix  

Motricidade Oral  Não há termo correspondente 

Motricidad Oral 

Não  há  termo correspondente 

Audiologia  Audiology  Audiología  Audiologie Fonte: Elaboração nossa. QUADRO 2: Tesauro de estruturas semânticas não‐idênticas e assimétricas.  

A partir dos Quadros 1 e 2 podemos observar que na relação simétrica os termos sempre possuem um equivalente nas línguas alvo,  formando  uma  relação  idêntica  entre  elas,  conforme ilustrado  no  quadro  1.  No  quadro  2,  vimos  a  estrutura assimétrica,  em  que  os  termos,  não  necessariamente,  possuem descritores equivalentes em todas as línguas alvo, em que se cita o caso da Fonoaudiologia que possui um descritor em espanhol e nenhum  equivalente  em  inglês  e  em  francês,  o  que  resulta  em relações não‐idênticas e assimétricas entre os termos. 

  Considerações finais 

 A  Ciência,  a  Tecnologia  e  a  Sociedade  se  encontram 

relacionadas  intimamente,  e  desse  modo,  constantemente  a evolução  científica  e  tecnológica  impactam  e  refletem 

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diretamente na sociedade, o que não significa que as  inovações científicas  por  evoluírem  levam,  naturalmente  à  evolução  da sociedade. Muitas vezes, elas levam a sociedade a um retrocesso e não a melhorias, aumentando ainda mais as desigualdades, os impactos ambientais e outros problemas científico – tecnológico‐sociais. 

No  contexto  da  sociedade  da  informação  ao  qual  estamos inseridos  e  diante  da  produção  científico‐tecnológica  e, consequentemente,  da  grande  quantidade  de  informação  a  ser tratada  e  representada  para  acesso  e  uso  na  geração  de  novos conhecimentos,  este  artigo  propôs  discutir  possibilidades  de construção  de  tesauros multilíngues,  no  contexto  da  dimensão cultural de áreas científicas especializadas e pela perspectiva da CTS,  objetivando  a  disseminação  de  informação  para  a sociedade,  a  partir  do  uso  de  sistemas  automatizados  em bibliotecas universitárias. 

Para  tanto,  foi  possível  conhecer,  também  as  interações existentes entre a C&T e as  interações/impactos que ocorrem na sociedade,  ofertando  ao  cidadão  um  conjunto  de  informações que  lhe  dêem  subsídios  para  realizar  uma  análise  sobre  as tecnologias  impostas  à  sua  vida,  podendo,  por  meio  do conhecimento  adquirido,  aceitar  ou  não  as  mudanças ocasionadas pela C&T.  

Todavia,  não  pretendemos  resolver  problemas  e  propor soluções, mas  instigar  para  a  realização  de  outros  estudos  de construção  de  tesauros  multilíngues  pela  vertente  da  CTS, valorizando e consolidando essa importante área interdisciplinar a partir da formação de um repertório terminológico consistente e  consolidado  pela  comunidade  científica  e  civil  aplicável  em sistemas  automatizados  de  informação  em  vários  países  por usuários locais e remotos.  

A  tradução  do  vocabulário  de  uma  língua  fonte  para diferentes  línguas  alvo deve  considerar  o meio  sócio‐histórico‐

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cultural que o  tesauro, em formação, está  inserido, bem como o contexto  semântico‐conceitual de  cada  termo  em análise,  tendo em  vista  a  representação  para  recuperação  relevante  da informação, de acordo e respeitando as variações linguísticas que cada língua possui. 

O  tesauro  multilíngue  promove  a  interlocução  entre diferentes  sistemas  de  informação  e  usuários  –  cidadãos, eliminando barreiras linguísticas, possibilitando a elaboração de estratégias de busca para a recuperação por assunto em CTS na produção de conhecimentos contribuintes na melhoria do bem‐estar da sociedade.  

A  estrutura  assimétrica  e  não‐idêntica  utilizada  na construção  de  tesauros  multilíngües  demonstrou  ser  a  mais adequada,  visto  que  ela  considera  as  diferenças  linguísticas‐culturais  e  conceituais  existentes,  respectivamente,  entre  os povos  e  os  termos. Essa dimensão  teórico‐metodológica  vai  ao encontro  dos  preceitos  teóricos  da  CTS  em  preservar  a identidade  cultural  da  sociedade  e  dos  cidadãos,  estes  vistos como atores sociais possuidores de plenas condições em avaliar, com  seu  conhecimento  de mundo  e  com  os  subsídios  teóricos recuperados  e  utilizados,  os  impactos  que  a  Ciência  e  a Tecnologia vem acarretando na Sociedade.    Referências 

 ANSI/NISO  Z39.19:2005:  guidelines  for  the  construction,  format,  and management  of monolingual  controlled  vocabularies.  Bethesda: NISO,  2005. 184  p.  Disponível  em:  <http://www.niso.org/standards/resources/Z39‐19‐2005.pdf>. Acesso em: 30 mar. 2011. 

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BISCALCHIN, R.; BOCCATO, V. R. C. A Linguagem documentária vista pelo uso em catálogos coletivos de bibliotecas universitárias: avaliação qualitativa‐sociocognitiva pela perspectiva do usuário.  In: SEMINÁRIO NACIONAL DE BIBLIOTECAS  UNIVERSITÁRIAS  –  SNBU,  16.,  SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE BIBLIOTECAS DIGITAIS‐BRASIL    ‐  SIBD‐B,  2.,  2010, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: UFRJ, 2010. Disponível em: <http://www. sibi.ufrj.br/snbu/pdfs/posters//final_223.pdf>. Acesso em: 02 maio 2011. 

BOCCATO, V. R. C.; FUJITA, M. S. L. Avaliação da  linguagem documentária DeCS  na  área  de  Fonoaudiologia  na  perspectiva  do  usuário:  estudo  de observação da recuperação da informação com protocolo verbal. Encontros Bibli Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da  Informação, Florianópolis, n. 21, p.  16‐33,  2006.  Disponível  em:  <http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/eb Edicao_21/boccato.pdf>. Acesso em: 06 maio 2011. 

BOCCATO, V. R. C.; RAMALHO, R. A. S; FUJITA, M. S. L. A contribuição dos tesauros  na  construção  de  ontologias  como  instrumento  de  organização  e recuperação da  informação  em  ambientes digitais.  In: GARÍA MARCO,  F.  J. Avances y perspectivas en sistemas de información y documentación ‐ IBERSID 2008.   Zaragoza:  Universidad  de  Zaragoza,  2008.  p.  199‐209.  Disponível  em: <http://www.ibersid.org/>. Acesso em: 01 jun. 2011. 

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CURRÁS,  E. Ontologias,  taxonomia  y  tesauros: manual  de  construcción  y  uso. 3.ed.atual.ampl. Gijón: Ediciones TREA, 2005. 337 p.      

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HUDON, M. Multilingual  thesaurus  construction —  integrating  the views of different  cultures  in  one  gateway  to  knowledge  and  concepts.  Information Services & Use, Montréal, n. 17, p.111‐123, 1997. 

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Um pouco sobre o fundo documental  do sociólogo brasileiro Florestan Fernandes 

   Vera Lucia Cóscia 

   Luzia Sigoli Fernandes Costa  

Introdução  

Diz  o  ditado  popular  “Promessa  é  dívida!”.  Assim  sendo, vimos  cumprir  a  promessa  de  escrever  um  pouco  sobre  o histórico  e  a  estrutura  do  Fundo  documental  Florestan Fernandes, um dos mais importantes intelectuais brasileiros. Em 2009, quando escrevemos, sobre  tema semelhante, um primeiro artigo intitulado “Um pouco das Coleções Especiais da Biblioteca Comunitária da UFSCar”1. Desde então  tomamos o caminho da pesquisa2 tendo como base  a experiência vivida e aprendida em mais de  treze anos de dedicação  junto a esse  fundo. Este artigo resulta de relato de parte integrante da  Dissertação de Mestrado que  nos  propomos  a  desenvolver  uma  vez  que  o  corpus  de imagens a ser analisado pertence a esse fundo. Para facilitar uma melhor compreensão desse fundo documental apresentamos um breve histórico da trajetória desse fundo.   Histórico  

Incorporado em 1996 pela Biblioteca Comunitária da UFSCar e  instalado  junto  às  Coleções  Especiais,  no  quinto  piso,  a Biblioteca particular do Prof. Dr. Florestan Fernandes representa um  dos  acervos  mais  completos  nas  áreas  de  Sociologia, 

1 Publicado na Versão Beta, v.8, nº 53 – especial 2009 – I, p. 77-88. 2 Tornando-me aluna de Mestrado do mesmo Programa, na linha de Pesquisa 2 – Gestão Tecnológica e Sociedade Sustentável, sob a orientação da Profa. Dra. Luzia Sigoli Costa Fernandes.

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Educação  e  Política.  Esse  acervo  chegou  extremamente organizado. Florestan anotou, citou,  indexou e enumerou  todas as suas  leituras,  formando um conjunto documental   compacto, conservado, integro e todo referenciado, nas áreas citadas. 

Composta por mais de 12.000 itens, a Biblioteca de Florestan é  complementada  pelo  seu  arquivo  pessoal,  tecnicamente denominado  de  “Fundo  Florestan  Fernandes”  e  um  pequeno Museu, que também foi incorporado pela Biblioteca Comunitária da UFSCar, em 1996.  Metodologia  

Para  que  pudesse  ser  definido  um  Plano  de  Classificação segundo  a  Arquivologia  Moderna,  houve    a  necessidade  da universidade  investir em capacitação  técnica   em cursos  junto à USP  ‐ Universidade de São Paulo, em  seu  Instituto de Estudos Brasileiros  –  IEB,  especialmente  no  Curso  “Organização  de Arquivos” em 2000, entre outros. Esses cursos forneceram a base teórica  e metodológica para uma  estrutura do Fundo Florestan Fernandes. 

A  partir  de  então,  passamos  a  buscar  o  conhecimento necessário sobre a vida do sujeito ou detentor do Fundo, ou seja, sobre o próprio Florestan Fernandes. Isso se deu por intermédio de estudos das matérias publicadas sobre ele, tais como dossiês, entrevistas, números especiais de revistas, sites, etc. Baseados na literatura  existente,  definimos  a  trajetória  de  Florestan,  dos momentos marcantes   de  sua vida e a  sua  respectiva produção intelectual.  A  partir  desses  estudos  foi  possível  delinear  uma estrutura capaz de acolher a diversidade documental do Fundo Florestan Fernandes.     

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A estrutura do Fundo Florestan Fernandes  

Para descrever a vida de Florestan em todas as suas facetas e dimensões  desenvolvemos  estudos  aprofundados  sobre  a  vida do  detentor,  visando  a  inserção  de  todos  os  documentos pessoais, dos    testemunhos de  sua vida, desde  seu nascimento até  sua morte,  como  também  os  documentos  do  período  pós‐morte. 

Nesse  caso,  serviu  de  referência  a  estrutura montada  para outros  fundos documentais,  cujos detentores possuíam  funções semelhantes as de Florestan Fernandes, como nos casos do fundo que pertenceram a Carlos Lacerda (UnB) e a Sérgio Buarque de Hollanda (UNICAMP). 

Nessa  perspectiva,  foram  definidas  seis  séries  e  sub‐séries, apresentadas  no  Quadro  1,  a  seguir,  com  suas  respectivas notações e denominações convencionadas:   Quadro 1  ‐ Séries e sub‐séries, com suas respectivas notações e denominações convencionadas.    Série  Notação  Denominação 01  VP  Vida Pessoal 02  VA  Vida Acadêmica 03  PO  Vida Política 04  PI  Produção Intelectual 05  PIT  Produção Intelectual de Terceiros 06  HP  Homenagens Póstumas  

a) Os códigos utilizados:  

Para  facilitar  a  organização  e  localização  física  dos documentos,  que  compõem  todas  as  unidades  documentais  as mesmas contam com dois códigos. Esses códigos foram definidos 

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como  numérico  composto  pela  Série,  Sub‐série  e  Número sequencial para a classificação dentro do Plano de Classificação e como  Código  alfa‐numérico  composto  pelo  número  da  sala, equipamento onde  se encontra arquivado,  lado de armazenagem desse equipamento e caixa ou pasta onde se encontra fisicamente, conforme apresentado na figura 1, a seguir.             

 Figura 1 ‐ Exemplo do Código de Classificação 

 01.01.011                       011 Unidade documental                    01 Sub‐série Identificação 01 Série Vida Pessoal 

 Figura 2 ‐ Exemplo de Código de Localização 

 09.AD.01.001           Caixa 001                           Lado 01                                  AD Arquivo Deslizante 09 Sala 

 b) Normalização: 

 A Arquivologia, em si, exige o uso de padrões e normas para 

se fazer a descrição documental, a fim de possibilitar ou facilitar o  intercâmbio  informacional entre as  instituições e  seus  fundos documentais. Para  tal, aplicamos a norma  internacional ISAAR‐CPF que é específica para arquivos privados. 

A  Arquivologia  Nacional,  representada  pelo  Conselho Nacional de Arquivos (CONARQ) institui a Norma Brasileira de Descrição  (NOBRADE)  como  instrumento  para  a  descrição 

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arquivística, no Brasil.  No caso do fundo Florestan Fernandes foi adotada    a  NOBRADE  como  um  complemento  nacional  da ISAAR‐CPF.  Dentre  os  campos  descritivos,  cito  alguns, apresentados no  Quadro 2, para se ter uma melhor visualização, desses campos. 

 Quadro 2 – Campos descritivos  Ordem  Campo  Explicação do campo 01  Gênero  Iconográfico, Textual, etc. 02  Suporte  Papel, 03  Variante de autor  Quando  o  autor  tem  mais  de  uma 

denominação  ou  usa  abreviações, apelidos, etc. 

04  Remetente   05  Instituição do remetente  Quando o documento é timbrado ou há 

citação  da  instituição  de  onde  se escreveu. 

06  Condição de acesso  Definida  na  inserção  do  documento, podendo  ser  “livre,  sob  consulta, restrito, inacessível, etc.” 

07  Conjunto documental, etc. 

Dossiê;  fichas manuscritas;  fotografias, etc. 

Fonte: NOBRADE e ISAAR‐CPF  Modelo de planilha para inserção de dados  

A planilha completa, de entrada de dados, estabelece campos muito  diversos,  desde  a  identificação  do  documento,  até  as condições de  conservação  e preservação. Trata‐se de uma base  muito  detalhada,  preocupada  com  os  mais  variados  aspectos documentais.  A  seguir,  apresento  o Modelo  de  planilha  para inclusão  usada  na  UFSCar  –  Biblioteca  Comunitária  –  Fundo Florestan  Fernandes  (para  uso  e  acesso  interno),  conforme demonstra  a Figura 3 a seguir:  

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Figura 3 ‐ Modelo de planilha para inclusão usada na UFSCar  

 

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Tratamento técnico  

Todos os documentos receberam um  tratamento físico antes da  sua  inserção  no  Fundo.  Esse  tratamento  foi  baseado  nas orientações do Projeto Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos do Arquivo Nacional (CPBA). 

Foram  adotadas  práticas  para  preservar  os  originais, prolongando  a  vida  útil  dos  mesmos.  Para  esse  fim,  os documentos  passaram  unitariamente  pelos  procedimentos sintetizados no Quadro 3 a seguir:  

 Quadro 3 – Campos descritivos  Procedimento  Explicação do procedimento Higienização  Limpeza a seco, mecânica, com trincha/flanela/pó 

de borracha; remoção de grampos metálicos, fitas adesivas, etc. 

Planificação  Alisamento e desvincagem com espátula de osso, espátula térmica, ferro elétrico, etc. 

Reparos  Com adesivo a quente, papel japonês, adesivo CMC e outros. 

Técnico  Classificação e Tombo (gerando lista impressa) Digitalização  Usando Scanners Kodak Inserção na base  PHL adaptado Acondicionamento  Com o jaquetas de poliéster, especialmente 

desenvolvidas para fichas e documentos em formato A4 e pastas poliondas para formatos fora de padrão. 

 Condições de acesso 

 As  informações  sobre  as  condições  de  acesso  são, 

basicamente,  expressas  pelas  palavras  “Livre”,  “Sob  consulta”, “Restrito”,  “Inacessível”. 

 

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Estabelecidas,  segundo  esses  critérios,  no  momento  da inserção do documento na base, visando a preservação do nome do detentor e de sua família. 

 Acesso ao documento físico e regras internas 

 O acesso físico aos documentos pelo ao público externo pode 

se dar por diferentes maneiras, conforme explicitadas no Quadro 4 a seguir: 

 Quadro 4 – Tipo e condições de acesso aos documentos   Tipo de acesso  Explicação do acesso Acesso à consulta virtual 

Somente acesso virtual, já que não é permitido o manuseio do documento. 

Solicitação de cópias  Permitida a solicitação até 10 (dez) documentos. Anuência das normas  Assinatura de Termo de Responsabilidade pelo 

uso do material Forma de entrega  Fornecimento de CD com as imagens solicitadas  Segurança 

 a) Marca d’água 

A Marca d’água com perfil do Prof. Dr. Florestan Fernandes é uma das medidas de segurança, pois possibilita a identificação de  que  o  documento  pertence  ao  Fundo,  conforme  pode  ser visualizado na Figura 4. 

 Figura 4 – Marca d’água com perfil do Prof. Dr. Florestan Fernandes 

 

 

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b) Citação obrigatória  Por medida de créditos e reconhecimento da coleção são 

fornecidas  instruções  quanto  à  forma  de  citação  que  deve  ser feita quando do uso de itens documentais pertencentes ao Fundo Florestan Fernandes assim determinado:  UFSCar – Biblioteca Comunitária – Fundo Florestan Fernandes  c) Têrmo de Compromisso   Com o intuito de registrar a responsabilidade para uso dos documentos, o pesquisador assina um Têrmo de Compromisso onde consta o número do documento solicitado junto ao Fundo, local, data e sua utilização para fins de pesquisa ou acadêmicos.  Premiações e Reconhecimentos 

 O Fundo Florestan Fernandes tem sido objeto de premiações, 

recomendações e de muitas publicações, conforme listados a seguir: 

 • Nominação do FFF no Programa Memória do Mundo 

(MOW) pela UNESCO/ Arquivo Nacional – Seção em 17.12.2009 no Museu Naval – RJ;  

• Edição do  fascículo  intitulado Cientistas Brasileiros pela Editora Casa Amarela na segunda quinzena de outubro – Revista Caros Amigos; 

• Disponibilização  do  site  do  Fundo  Florestan  Fernandes na Internet em 12.03.2009;  

• Edição do  livro  intitulado  “Florestan Fernandes  leituras &  legados”  pela  Global  Editora  com  lançamento  em 12.03.2009. 

• Doação pelo Prof. Dr. Antonio Candido de Mello e Souza 

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da  correspondência  ativa  de  Florestan  Fernandes  (11 cartas) em 08 de outubro de 2009. 

• Capa e tema do periódico internacional LatinAmerican Perspectives,  com  o  subtítulo  Intellectual  social  theory and political practice in Brazil, maio de 2011. 

 Considerações finais  

Contando  com  a  inserção  de  mais  de  doze  mil  fichas  de pesquisa,  manuscritas,  entre  outros,  o  Fundo  Florestan Fernandes  conta  hoje  com  aproximadamente  7.000  registros, multiplicando pelos seus desdobramentos e compondo dezenas de milhares  de  folhas  inseridas. Dentre  os materiais  inseridos, podemos  destacar  os  mais  variados  suportes  e  suas  funções podem ser citadas as fitas cassete transcritas e reproduzidas em áudio  digital;  fotografias  analisadas  e  descritas;  cadernos  e cadernetas de pesquisa;  trabalhos de aproveitamento de alunos de Florestan, como Octávio  Ianni, Fernando Henrique Cardoso, entre  outros;  objetos  tridimensionais  que  compõem  o  Museu Florestan  Fernandes  e  outros  que  se  encontram  no  Arquivo Deslizante;  fichas  manuscritas  de  pesquisa  citadas  acima;  correspondência,  cartões  postais  e  belíssimos  cartões  de Natal; documentos pessoais e honrarias recebidas por Florestan; planos de aula;dossiês (conjunto de documentos sobre um mesmo tema) entre outros. 

Para nós, relatarmos as práticas adotadas para  tratamento e disponibilização desse fundo documental constituía um capítulo a ser concluído no nosso dia‐a‐dia. Deixar registrado e publicado dados  tão  simples, mas ao mesmo  tempo  tão  importantes para pesquisadores, estudantes e interessados em geral na vida e obra de Florestan deixam‐nos  a  impressão de uma  tarefa  cumprida. Todo o processo, desde o conhecimento da vida de Florestan até o  estabelecimento  das  séries  e  sub‐séries,  da  codificação  até  o 

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acondicionamento dos documentos nos fortaleceu, fazendo com que nos sentíssemos seguros em relação às práticas adotadas. O que  nos  torna  mais  orgulhosos  é  concluir  que  o  Plano  de Classificação estabelecido funciona e que os originais estão, com certeza, assegurados, conservados, preservados e acessíveis.      Referências  ARQUIVO NACIONAL. Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2005. p.97. (Publicações técnicas, 51).  ARQUIVO NACIONAL. NOBRADE: Norma Brasileira de Descrição Arquivística. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2006. 124p. ASSOCIAÇÃO  BRASILEIRA  DE  ENCADERNAÇÃO  E  RESTAURO. Conservação preventiva em bibliotecas e arquivos.  São Paulo: ABER, s.d.  Apostila. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENCADERNAÇÃO E RESTAURO. Curso de higienização de acervos. São Paulo: ABER, 2007.  Apostila. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENCADERNAÇÃO E RESTAURO. Curso de higienização  de  livros  com  ênfase  em  acervo molhado. São Carlos: SIBI‐USP, 2008.  Anotações. BECK,  I.  (coord.)  Caderno  técnico:  armazenagem  e  manuseio.    Rio  de  Janeiro: Projeto Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos: Arquivo Nacional, 1997.  48 p.il. BRITISH LIBRARY Preservação de documentos: métodos  e práticas de  salvaguarda. Trad. De Zeny Duarte de M. M. Santos. Salvador: EDUFBA, 2000. CAMARGO,  Ana  Maria  de  Almeida,  coord.;  Bellotto,  H.L.  Dicionário  de terminologia arquivística. São Paulo: ARQ/Secretaria de Estado da Cultura, 1996. p. 18. Conselho  Internacional  de  Arquivos.  ISAAR  (CPF):  norma  internacional  de registro de autoridade arquivística para entidades coletivas, pessoas e famílias. Vitor  Manoel  Marques  da  Fonseca  (Trad.).  2  ed.  Rio  de  Janeiro:  Arquivo Nacional, 2004. 99 p. ‐‐ (Publicações Técnicas; n.50) ISBN 85‐7009‐071‐4. CÓSCIA,  V.L.  Um  pouco  das  Coleções  Especiais  da  Biblioteca  Comunitária Comunitária da UFSCar.  Versão Beta, São Carlos, v.8, nº 53, p. 77‐88, 2009. CUNHA, Murilo Bastos da; CAVALCANTI, Cordélia Robalinho de Oliveira. Dicionário de Biblioteconomia e Arquivologia. Brasília: Briquet de Lemos, 2008. p.177. 

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FERNANDES,  Florestan.  Florestan  Fernandes:  leituras  e  legados.  São  Paulo: Global, 2010. 374p. LACOMBE, Michael. Um tesouro do saber ao alcance de todos. Kappa Magazine, São Carlos, nº4, p.30 – 31, Jul. 2010. MENGARDO,  Bárbara.  Florestan  Fernandes.  Caros  amigos:  grandes  cientistas brasileiros, São Paulo, nº 2, p.35 – 48, Nov. 2009. SEREZA, H. C. Florestan: a inteligência militante.  São Paulo: Boitempo, 2005.  SILVA FILHO, J.T. Curso de preservação e identificação de acervos.  Rio de Janeiro: UFRJ/SIBI, 1994.  Apostila. SPINELLI JÚNIOR, J. A conservação de acervos bibliográficos & documentais. Rio de Janeiro:  Fundação  Biblioteca Nacional, Departamento  de  Processos  Técnicos, 1997. 90p. UNIVERSIDADE  FEDERAL  DE  SÃO  CARLOS  –  Centro  de  Educação  e Ciências  Humanas  Curso  de  técnicas  de  higienização,  conservação  e preservação de fontes primárias.  São Carlos: UFSCar, 1999.  Anotações de aula.   Sites:  www.bco.ufscar/colesp 

http://www.bco.ufscar.br/a‐bco/programas‐especiais/colecoes‐especiais  ARQUIVO NACIONAL. Nominação  ao Registro Nacional  do Comitê Nacional  do Brasil  do  Programa  Memória  do  Mundo  da  UNESCO,  2009:  Fundo  Florestan Fernandes, da Biblioteca Comunitária da Universidade Federal de São Carlos. Disponível  em:  <http://www.arquivonacional.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/start. htm?infoid=461&sid=91>.   Acesso em: 13 jun. 2011. 

  

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SOBRE OS AUTORES   Allan Tadeu Pugliese  é mestrando pelo programa de pós graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade Pela UFSCar  ‐ PPGCTS/UFSCar e Membro  do  Grupo  de  Estudos  dos  Gêneros  do  Discurso  – GEGe/UFSCar – [email protected]  Valdemir Miotello é Professor Doutor do programa de pós graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade Pela UFSCar  ‐ PPGCTS/UFSCar e Líder do Grupo de Estudos dos Gêneros do Discurso – GEGe/UFSCar‐ [email protected]  Cláudia Daniele de Souza é Graduada em Biblioteconomia e Ciência da  Informação  (BCI) na Universidade Federal de São Carlos  (UFSCar) em  2010.  Mestranda  no  Programa  de  Pós  Graduação  em  Ciência, Tecnologia e Sociedade (PPGCTS). Bolsista da Fundação de Amparo á Pesquisa (FAPESP). Processo n. 2010/13128‐7. [email protected]  Leandro  Innocentini Lopes de  Faria  é Engenheiro de Materiais pela UFSCar (1994), Mestre em Engenharia de Materiais pela UFSCar (1997), Doutor  em  Ciência  e  Engenharia  de Materiais  pela  UFSCar/PPCEM (2001) e doutor em Sciences de Lʹinformation Et Communication pela UNIVERSITE DʹAIX‐MARSEILLE III, França (2001) [email protected]  Denise Rodrigues Vichiatto Bacharel em Engenharia de Produção pelas Faculdades  Integradas de São Carlos – FADISC – Mestranda em Ciência, Tecnologia e Sociedade pela  Universidade  Federal  de  São  Carlos.  Contato: [email protected]  Roberto Ferrari Junior Bacharel  e  mestre  em  ciência  da  computação  (UFSCar  1988,  1992), doutor  em  física  computacional  (USP,  1996).  Professor  e  chefe  do 

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Departamento  de  Computação  na  UFSCar.  Linha  de  pesquisa: empreendedorismo tecnológico  Gabriela G. Mezzacappa;  Mestranda do Programa de Pós‐Graduação  em Ciência, Tecnologia  e Sociedade – UFSCar. [email protected]. Formada em psicologia pela Universidade Federal de São Carlos, possui quatro anos de experiência com  o  coletivo  de  consumidores  ConsumoSol. Atuou  também  como coordenadora  executiva  de  projeto  da  Incubadora  Regional  de Cooperativas  Populares  da  UFSCar  (INCOOP/UFSCar).  Desenvolve projeto  de mestrado  na  área  de  tecnologia  social  e  educação  para  o consumo ético, solidário e responsável, com ênfase no público infantil.  Maria Zanin Professora  doutora  do  Programa  de  Pós‐Graduação  em  Ciência, Tecnologia e Sociedade – UFSCar; coordenadora da INCOOP/UFSCar.  Gustavo Grandini Bastos Mestrando do Programa de Pós‐Graduação  em Ciência, Tecnologia  e Sociedade  pela  Universidade  Federal  de  São  Carlos.  Bacharel  em Biblioteconomia, Ciências da Informação e da Documentação. Integra o Laboratório  Discursivo  E‐l@dis  –  FAPESP  2010‐510290.  E‐mail: [email protected]  Lucília Maria Sousa Romão Livre‐docente em Ciência da Informação, Professora da Graduação em Ciências  da  Informação  da  Documentação  e  do  Programa  da  Pós‐Graduação em Psicologia, ambos da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras  de  Ribeirão  Preto  da  Universidade  de  São  Paulo.  Professora colaboradora  do  Programa  de  Mestrado  em  Ciência,  Tecnologia  e Sociedade da Universidade Federal de São Carlos. Bolsista 2 do CNPq. Coordenadora do Grupo de Pesquisa Discurso e memória: movimentos do sujeito (CNPQ) e do E‐L@DIS, Laboratório Discursivo ‐ sujeito, rede eletrônica  e  sentidos  em  movimentos  (FAPESP).  E‐mail: [email protected]  

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Helton Luiz Gonçalves Damas.  Mestrando  em  Ciência,  Tecnologia  e  Sociedade  pela  Universidade Federal  de  São  Carlos.  Bacharel  em  Turismo  pela  Universidade Estadual Paulista – Campus de Rosana.  Maria Teresa Miceli Kerbauy Professora  Doutora  em  Ciências  Sociais.  Pesquisadora  do  CNPq. Colaboradora do Programa de Pós‐graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade Federal de São Carlos.  Lívia Coelho de Mello  Possui  graduação  em  Biblioteconomia  e Ciência  da  Informação  pela Universidade  Federal  de  São  Carlos  (2010).  Atualmente  é  aluna  do programa  de  pós‐graduação  em  Ciência,  Tecnologia  e  Sociedade (PPGCTS),  do  Departamento  de  Ciência  da  Informação  (DCI)  da Universidade Federal de São Carlos. E‐mail: [email protected]  Camila Carneiro Dias Rigolin Professor Adjunto  do Departamento  de Ciência  da  Informação  e  do Programa  de  Pós‐Graduação  em  Ciência,  Tecnologia  e  Sociedade (PPGCTS) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). Doutora em Política Científica e Tecnológica (UNICAMP, 2009), com estágio de doutorado‐sanduíche  no  Departamento  de  Antropologia,  Indiana University, EUA  (2007‐2008). Mestre em Administração  (UFBA, 2000), Bacharel em Administração (UFBA, 1997). E‐mail: [email protected]  Luiz Henrique Chenchi mestrando pelo Programa de Pós‐graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade (PPGCTS) da Universidade Federal de São Carlos ‐ UFSCar (2011);  especialista  em Farmácia Clínica  e Atenção Farmacêutica pelo Centro  Universitário  de  Rio  Preto  –  UNIRP  (2009);  graduado  em Farmácia‐bioquímica  (2006)  pela  mesma  instituição;  também  possui graduação em Ciências biológicas  (bacharelado  ‐ 2005  e  licenciatura  ‐ 2003) pela Universidade Estadual Paulista  (UNESP – São  José do Rio 

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Preto/SP).  É  farmacêutico  da  Divisão  de  Assistência  Farmacêutica (DAF)  do  município  de  São  Carlos/SP,  prestando  assistência farmacêutica  na  regional  de  saúde  Santa  Felícia.  E‐mail: [email protected]  Maria Lúcia Teixeira Machado  graduada  em  Nutrição  pelo  INJC‐UFRJ  e  especialista  o  em  Saúde Pública, em nível de Residência pela ENSP‐FIOCRUZ e em Educação na  Área  da  Saúde  pelo  NUTES‐UFRJ.  Possui  Mestrado  em Fundamentos da Educação pelo PPGE‐UFSCar  e Doutorado em Saúde Coletiva  pela  FCM‐UNICAMP.  É  professora  do  Departamento  de Enfermagem  da  Universidade  Federal  de  São  Carlos,  atuando  em administração, ensino, pesquisa e extensão principalmente na área de Saúde  Coletiva.  Integra  o  corpo  docente  dos  Programas  de  Pós‐Graduação  ‐  Mestrado  em  Ciência,  Tecnologia  e  Sociedade  e  do Mestrado  Profissional  em  Gestão  da  Clínica.  E‐mail: [email protected]  Marco Donizete Paulino da Silva Nascido em 13 de abril de 1965, na cidade de Araraquara, sétimo filho de  uma  família  simples.  Devotou  sua  juventude  e  parte  de  sua maturidade à representação cênica, atuando em teatro, cinema e vídeo. As  funções  exercidas  no  meio  teatral  foram  de  ator,  diretor  e dramaturgo.  Formou‐se  Bacharel  em  Biblioteconomia  e  Ciência  da Informação pela Universidade Federal de São Carlos, em 2011. Cursa, atualmente, mestrado  em Ciência, Tecnologia  e  Sociedade  na mesma universidade.  Martha Regina Bortolato Cardoso Tecnóloga em Logística e Transportes pela Faculdade de Tecnologia de Jahu – FATEC‐JAHU, Mestranda do Programa de Pós‐Graduação  em Ciência, Tecnologia  e  Sociedade  – PPGCTS, Universidade  Federal de São Carlos – UFSCar. Contato: <[email protected]>    

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Wanda Aparecida Machado Hoffmann Diretora  do Centro  de  Educação  e Ciências Humanas,  professora  da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, professora do programa de  Pós‐Graduação  em  Ciência,  Tecnologia  e  Sociedade  – PPGCTS/UFSCar, Pós‐Doutorado em Prospecção e Monitoramento de Informação  Tecnológica  pela  UFSCar/FAPESP,  Pós‐Doutorado  em Trabalhabilidade a Quente pela UFSCar/CNPq, Doutora em Ciência e Engenharia  dos  Materiais  pela  UFSCar/PPGCEM,  Mestre  em Engenharia  dos  Materiais  pela  UFSCar/PPGCEM,  Engenheira Metalúrgica  pela  UFOP/Escola  de  Minas.  Contato: <[email protected]>  Raquel Juliana Prado Leite de Sousa Possui  graduação  em Comunicação  Social  –  Jornalismo  pela UNESP, Biblioteconomia  e Ciência da  Informação pela UFSCar  e Licenciatura em Língua Portuguesa pela FIMI,  tendo atuado nas áreas de redação, reportagem, ensino de Língua Portugesa e normalização documentária. Aluna  do  Programa  de  Pós‐graduação  em  Ciência,  Tecnologia  e Sociedade da UFSCar. Bolsista CAPES/Reuni. [email protected]  Ricardo Biscalchin Mestrando  em  Ciência  Tecnologia  e  Sociedade  pela  Universidade Federal  de  São  Carlos  –  UFSCar,  campus  de  São  Carlos.  Bolsista CAPES/REUNI. Bacharel em Biblioteconomia e Ciência da Informação pela  Universidade  Federal  de  São  Carlos  –  UFSCar,  campus  de  São Carlos. E‐mail: [email protected]  Vera Regina Casari Boccato Doutora  em  Ciência  da  Informação  pela  Universidade  Estadual Paulista  “Júlio  de  Mesquita  Filho”  –  UNESP,  campus  de  Marília. Docente  do  Departamento  de  Ciência  da  Informação  no  curso  de Biblioteconomia  e  Ciência  da  Informação  e  na  Pós‐graduação  em Ciência,  Tecnologia  e  Sociedade  do  Centro  de  Educação  e  Ciências Humanas, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Tutora do Grupo PET Biblioteconomia e Ciência da Informação  da UFSCar. Líder 

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do  Grupo  de  Pesquisa  “Organização  do  Conhecimento  para Disseminação  da  Informação”  e  Membro  dos  Grupos  de  Pesquisa “Informação,  Conhecimento  e  Tecnologia”  e  Análise  Documentária, cadastrados  junto  ao Diretório  dos Grupos  de  Pesquisa  no  Brasil  do CNPq.  Atualmente  desenvolve  pesquisa  financiada  pelo  CNPq intitulada  “Bases  científicas  e  metodologias  inovadoras  para  a interoperabilidade  entre  linguagens documentárias: uma proposta de investigação para aplicação”. E‐mail: [email protected]  Vera Lucia Cóscia  Bibliotecária‐documentalista  das  Coleções  Especiais  da  Biblioteca Comunitária  da  UFSCar.  Especialista  em  Organização  de  Arquivos pelo  IEB‐USP.  Coordenadora  para  tratamento  e  disponibilização  do Fundo  Florestan  Fernandes.  Mestranda  do  Programa  de  Pós‐Graduação  em Ciência Tecnologia  e Sociedade da UFSCar  – Linha  2, sob orientação da Profª. Drª. Luzia Sigoli Fernandes Costa.  Luzia Sigoli Fernandes Costa  professora do Programa de Pós‐ Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade  da  UFSCar.  Possui  graduação  em  Biblioteconomia  pela Escola  de  Biblioteconomia  e  Documentação  de  São  Carlos  (1979), mestrado  em  Programa  de  Pós‐Graduação  Engenharia  de  Produção pela Universidade Federal de São Carlos (2001) e doutorado em Ciência da  Informação pela Universidade Estadual Paulista  Júlio de Mesquita Filho (2008).   Tem experiência na área de Ciência da  Informação, com ênfase  em  Teoria  da  Informação.  Principais  áreas  de  interesse:‐ Patrimônio, sociedade e sustentabilidade.