2
C M Y K C M Y K Editor: José Carlos Vieira [email protected] [email protected] 3214 1178 • 3214 1179 Diversão Arte & CORREIO BRAZILIENSE Brasília, domingo, 25 de outubro de 2009 Integrantes da Bagagem Companhia de Bonecos fazem a festa no teatro de bolso: único teatro do Gama » Leia mais sobre teatro de bolso na página 3 de bolso Espalhados pelo Distrito Federal, pequenos teatros cumprem o duplo papel de inserir a comunidade e realizar o sonho de artistas em ter o próprio palco 60 pessoas, o espetáculo se torna extremamente intimista. Ainda mais quando voltado para crian- ças, que desconhecem o limite do palco”, destaca. No andar térreo, funcionam a oficina de bonecos e a recepção ao público ocasional, que passa pelo local em busca de bate- papo e descontração. A atividade junto aos moradores locais rendeu frutos em Taguatinga e chegou a extrapolar a capacidade do Ponto de Cultura Invenção Brasilei- ra, fundado por Chico Simões, em 2005, com patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC). A sede esco- lhida fica em loja no Mercado Sul de Taguatinga, comprada com as eco- nomias do artista. A partir dos recur- sos públicos para fomentar progra- mação, Chico fortaleceu o trabalho desenvolvido com a companhia Mamulengo Presepada. “Foi possí- vel desenvolver cursos regulares, produzir revistas e vídeos. A vizi- nhança, altamente marginalizada, transformou-se com o trabalho co- letivo”, conta Chico Simôes. Com o fim do convênio com o governo, a companhia se mudou mais uma vez de sede para voltar a atuar junto à comunidade de Ta- guatinga. O teatro de bolso, entre- tanto, continua mais que vivo e no mesmo local. » MARINA SEVERINO G randes temporadas, casa cheia, sucesso de público. Quando essas expressões são ouvidas, logo se imagina um teatro com centenas de pessoas a aplaudir de pé o fim do espetáculo. Essa, no entanto, é a realidade de ca- sas com menos de 100 m², situadas, em geral, nos subsolos de comer- ciais, desconhecidas do grande pú- blico brasiliense. Os teatros de bol- so, com capacidade para até 100 pessoas, têm pipocado pelo Distrito Federal nos últimos cinco anos. Ofe- recem uma experiência diferencia- da: contato do público com a cria- ção teatral, em espetáculos das com- panhias locais e envolvimento em atividades culturais. “Os espaços mantidos por grupos pequenos são muito interessantes”, acredita o dra- maturgo Plinio Mósca, que adminis- trou um teatro de bolso por sete anos e hoje procura parceria para estabelecer outro projeto. Com 25 anos de carreira, Plínio Mósca acredita na força da geração de cultura por meio da programa- ção variada e com longas tempora- das proporcionadas pelo formato. “Quando se mantém um teatro de bolso com ensaios, oficinas e espe- táculos, proporciona-se uma agen- da maleável. Você pode ter uma pe- ça infantil pela manhã e uma mais adulta e audaciosa no fim da noite”, complementa. Negócio rentável? Nem tanto. Grande parte dos grupos que abriu o próprio teatro oferece ingresso gra- tuito e busca sustentação por meio de políticas públicas ou aulas de atuação, figurino, cenografia. Em grande parte, os teatros de bolso do DF estão ligados às associações de artistas, com objetivo de desenvol- ver atividades junto à comunidade. “É uma forma de incentivar a parti- cipação e promover a inclusão cul- tural por meio do teatro”, explica o bonequeiro Aírton Maciano. Após 23 anos de teatro popular, ele deci- diu montar o Espaço Cultural Baga- gem, em 2004, por exigência do pú- blico infantil que acompanhava o seu trabalho no Gama e cobrava apresentações frequentes. Desde então, o Bagagem recebe pessoas de todo o DF no pequeno espaço no subsolo, que serve como escritório, teatro e camarim. “O ator tem de se vestir, maquiar e con- centrar antes da entrada do público. Quando a sala atinge a lotação, com www.correiobraziliense.com.br Ouça entrevista com Chico Simões e Plínio Mósca Fotos: Bruno Peres/CB/D.A Press

Teatro de bolso

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Reportagem de duas páginas sobre teatro de grupo em Brasília. Publicada em 25 de outubro de 2009 na capa do caderno Diversão & Arte, do jornal Correio Braziliense.

Citation preview

Page 1: Teatro de bolso

C M Y K C M YK

EEddiittoorr:: José Carlos Vieira [email protected]

[email protected] 3214 1178 • 3214 1179Diversão Arte&CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, domingo, 25 de outubro de 2009

Integrantes da Bagagem Companhia de Bonecos fazem a festa no teatro de bolso:único teatro do Gama

» Leia mais sobre teatro de bolso na página 3

debolso Espalhados pelo Distrito Federal, pequenos teatros cumprem o duplo papel de inserir a comunidade e realizar osonho de artistas em ter o próprio palco

60 pessoas, o espetáculo se tornaextremamente intimista. Aindamais quando voltado para crian-ças, que desconhecem o limite dopalco”, destaca. No andar térreo,funcionam a oficina de bonecos e arecepção ao público ocasional, quepassa pelo local em busca de bate-papo e descontração.

A atividade junto aos moradoreslocais rendeu frutos em Taguatinga echegou a extrapolar a capacidade doPonto de Cultura Invenção Brasilei-ra, fundado por Chico Simões, em2005, com patrocínio do Fundo deApoio à Cultura (FAC). A sede esco-lhida fica em loja no Mercado Sul deTaguatinga, comprada com as eco-nomias do artista. A partir dos recur-sos públicos para fomentar progra-mação, Chico fortaleceu o trabalhodesenvolvido com a companhiaMamulengo Presepada. “Foi possí-vel desenvolver cursos regulares,produzir revistas e vídeos. A vizi-nhança, altamente marginalizada,transformou-se com o trabalho co-letivo”, conta Chico Simôes.

Com o fim do convênio com ogoverno, a companhia se mudoumais uma vez de sede para voltar aatuar junto à comunidade de Ta-guatinga. O teatro de bolso, entre-tanto, continua mais que vivo e nomesmo local.

» MARINA SEVERINO

Grandes temporadas, casacheia, sucesso de público.Quando essas expressõessão ouvidas, logo se imagina

um teatro com centenas de pessoasa aplaudir de pé o fim do espetáculo.Essa, no entanto, é a realidade de ca-sas com menos de 100 m², situadas,em geral, nos subsolos de comer-ciais, desconhecidas do grande pú-blico brasiliense. Os teatros de bol-so, com capacidade para até 100pessoas, têm pipocado pelo DistritoFederal nos últimos cinco anos. Ofe-recem uma experiência diferencia-da: contato do público com a cria-ção teatral, em espetáculos das com-panhias locais e envolvimento ematividades culturais. “Os espaçosmantidos por grupos pequenos sãomuito interessantes”, acredita o dra-maturgo Plinio Mósca, que adminis-trou um teatro de bolso por seteanos e hoje procura parceria paraestabelecer outro projeto.

Com 25 anos de carreira, PlínioMósca acredita na força da geraçãode cultura por meio da programa-ção variada e com longas tempora-das proporcionadas pelo formato.“Quando se mantém um teatro debolso com ensaios, oficinas e espe-táculos, proporciona-se uma agen-da maleável. Você pode ter uma pe-ça infantil pela manhã e uma maisadulta e audaciosa no fim da noite”,complementa.

Negócio rentável? Nem tanto.Grande parte dos grupos que abriu opróprio teatro oferece ingresso gra-tuito e busca sustentação por meiode políticas públicas ou aulas deatuação, figurino, cenografia. Emgrande parte, os teatros de bolso doDF estão ligados às associações deartistas, com objetivo de desenvol-ver atividades junto à comunidade.“É uma forma de incentivar a parti-cipação e promover a inclusão cul-tural por meio do teatro”, explica obonequeiro Aírton Maciano. Após23 anos de teatro popular, ele deci-diu montar o Espaço Cultural Baga-gem, em 2004, por exigência do pú-blico infantil que acompanhava oseu trabalho no Gama e cobravaapresentações frequentes.

Desde então, o Bagagem recebepessoas de todo o DF no pequenoespaço no subsolo, que serve comoescritório, teatro e camarim. “Oator tem de se vestir, maquiar e con-centrar antes da entrada do público.Quando a sala atinge a lotação, com

www.correiobraziliense.com.br

Ouça entrevista com Chico Simões e Plínio Mósca

Foto

s:Br

uno

Pere

s/CB

/D.A

Pre

ss

Page 2: Teatro de bolso

C M Y K C M YK

Onde assistir

www.correiobraziliense.com.br

Ouça entrevista com Guilherme Reis e Tereza Padilha

Diversão&arte • Brasília, domingo, 25 de outubro de 2009 • CORREIO BRAZILIENSE • 3

» MARINA SEVERINO

F inanceiramente estáveisna Europa, onde os teatrosde bolso são reconhecidospelo governo como cen-

tros de pesquisa e, por isso, subsi-diados, o formato é recente noBrasil e não possui políticas pú-blicas asseguradas. Em Brasília,eles começam a ser vistos pelanova geração como uma formade vivência cênica. Aberta no iní-cio deste ano em uma comercialda W4 Norte, a Escola TeatralConfins-Artísticos (Etca) garantea manutenção do espaço própriocom aulas de teatro e o alugueldo local, composto por salas deaula, lanchonete, estúdio paragravação musical e um pequenoteatro de 30 lugares, com ilumi-nação e sistema de som. “Come-çamos a trabalhar na Universida-de de Brasília (UnB),em 2002, evimos que seria vantajoso ter se-de para dar continuidade aosprojetos autorais”, conta o pro-prietário, Gustavo Rainecken.

A programação do teatro debolso ainda é tímida, com apre-sentações dos alunos a cada trêsmeses e algumas montagens de-senvolvidas pela equipe espalha-das ao longo do ano. “Apesar daboa recepção, ainda não existeuma tradição consolidada entreo público. É insustentável deixaruma temporada em cartaz pormuito tempo”, afirma Rainecken.Para atrair audiência, os espetá-culos da companhia têm aborda-gem diferenciada — são apre-sentados em encontros com mú-sica e degustação.

Conquistar público tambémrepresenta um desafio para o di-retor Cláudio Chinaski, queabriu o Espaço Cultural Mosaicoem 2008. “Costumo brincar queBrasília tem 500 pessoas interes-sadas em teatro. O restante dapopulação não busca esse tipode entretenimento, apenasquando há divulgação pesada.

Apesar disso, a casa enche emfunção do público que acompa-nha o nosso trabalho.” Além daadministração, Cláudio atua co-mo produtor cultural e convidagrupos de outras cidades a seapresentarem no local, como opaulistano Club Noir, que estáem cartaz hoje com a peça Co-municação a uma academia.

CursosApesar das dificuldades, al-

guns grupos mais antigos provamque manter teatro de bolso e es-cola é uma realidade possível erentável. A Companhia da Ilusão,instalada há 15 anos na 510 Sul,mantém um curso de formaçãocom duração de dois anos queatende a 14 turmas por semestre,todas agendadas com montagensde comédia, tragédia grega, teatro

do absurdo e drama realista. Umaárea específica da companhia seresponsabiliza pela produção epesquisa para novos espetáculos.

No Mapati, os 20 anos de tea-tro de bolso mostram uma traje-tória de adaptações — antes, o lu-gar fazia parte da residência daproprietária, Tereza Padilha, até atransferência, em 1995, para a 707Norte. “É muito difícil manter umespaço pequeno porque tudocusta caro. Há demanda com lim-peza de cortina, segurança, venti-lação. Quando a coisa apertava,fazíamos festas para levantar fun-dos”, lembra Tereza, que amplioua atuação do Mapati para abrigarcolônia de férias e projetos so-ciais, mas continua as aulas deteatro, com 10 turmas.

Criado em 2005 como umaextensão do Cena Contemporâ-nea, o Espaço Cena é um caso à

parte entre os teatros do bolso.Sem cursos na programação,parte dos recursos de escritório émantida pelo projeto permanen-te do festival junto ao Fundo deApoio à Cultura (FAC). O orça-mento se complementa com oaluguel do espaço, a R$ 180 porapresentação. “Dessa forma, po-demos manter o Cena aberto aopúblico durante todo o ano parapesquisas em nosso material dearquivo, ciclos de leitura e exibi-ção em vídeo de espetáculos detodo o mundo”, detalha o ideali-zador do projeto, Guilherme Reis.

Grandesempreendedores CONTINUAÇÃO DA CAPACientes das dificuldades financeiras, grupos mesclam aulas, apresentações e projetos sociais para manter o teatro de portas abertas

Escola Teatral Confins-Artísticos tem teatro de bolso

de 30 lugares na Asa Norte

Há 15 anos na 510 Sul, Companhia da Ilusão coordena 14 turmas de teatro por semestre

Caleidoscópio

((CCLLSSWW 110022 BBll.. CC,, GGaalleerriiaa;; 33334444--00444444))A partir de 30 de outubro, Estação Felicidade, direção de TúlioGuimarães. Não recomendado para menores de 14 anos.

Companhia da Ilusão

((SSCCRRSS 551100,, BBll.. CC,, EEnnttrraaddaa 1188;; 33224422--33554444))Espetáculos a partir de 17 de novembro.

Espaço Cena

((220055 NNoorrttee,, BBll.. CC,, LLjj.. 2255;;33334499--33993377))Hoje, às 20h, Presoentre ferragens, direçãode João Antônio.Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia). Nãorecomendado paramenores de 14 anos.

Espaço Cultural Mosaico

((771144//771155 NNoorrttee,, BBll.. DD,, LLjj.. 1166;; 33003322--11333300))Hoje, às 20h, Comunicação a uma academia, adaptação detexto de Franz Kafka com direção de Roberto Alvim. Entradafranca. Não recomendado para menores de 14 anos.

Escola Teatral Confins-Artísticos

((SSCCLLRRNN 771111,, BBll.. CC,, LLjj.. 55;; 33227744--88116600))Programação aberta.

Mapati

((770077 NNoorrttee,, BBllooccoo KK,, LLjj.. 55;; 33334477--33992200))Espetáculos a partir de 20 novembro.

Invenção Brasileira

((MMeerrccaaddoo SSuull ddee TTaagguuaattiinnggaa,, QQSSBB 1133,, BBll.. BB;; 33335522--55005544))Programação aberta.

Espaço Cultural Bagagem

((SSeettoorr CCeennttrraall ddoo GGaammaa,, QQdd 4400,, LLtt.. 1166;; 33555566--66660055))Dias 30 e 31, às 20h, El titiriteiro de Banfield, com o bonequeiroargentino Sergio Mercurio. Entrada franca e classificaçãoindicativa livre.

Bruno Peres/CB/D.A Press

Zuleika de Souza/CB/D.A Press - 17/5/05

Ales

sand

ro G

uerr

a/Di

vulg

ação