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PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL
Presidente da RepblicaLuiz Incio Lula da Silva
Ministro da EducaoFernando Hadad
Secretrio de Educao Continuada, Alfabetizao e DiversidadeRicardo Henriques (?) . Andr Luiz Figueiredo Lzaro
Diretor do Departamento de Educao de Jovens e AdultosTimothy Ireland
Coordenadora TcnicaFernanda Teixeira Frade Almeida
ColaboradorTancredo Maia Filho
Ministrio da Educao
Esplanada dos MinistriosBloco L 7 andar Sala [email protected]
te mandeium passarinho...
OrganizaoIra MacielJose Ribamar Bessa FreireNietta MonteNbia Melhem Santos
Coordenao pedaggica e de produoIra Maciel
Coordenao temticaJos Ribamar Bessa Freire
PesquisaNietta MonteJos Ribamar Bessa Freire
Edio e seleo iconogrficaNbia Melhem Santos
Reprodues fotogrficasBernardo Santos Cox
Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Ano 2007
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro poder ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrnicos, mecnicos, fotogrficos, gravao ou quaisquer outros sem autorizao prvia por escrito do Ministrio da Educao ou dos autores.
Nohghgsdhgsd, Cwtrwetrw. Te mandei um passarinho... / Nofgsfgsgs. Braslia :Ministrio da Educao, 2007.
80 p. : il. ; 33 cm. -- (Literatura para todos ; v. 1)
ISBN: 00-000-0000-0
1. Nogfsgfsgfdhg. 2. Literatura brasileira. I. Ttulo.
CDD B000.0 CDU 000.000.0(00)-00
D000
Imagem da CapaColar, pente e pingente Krah
Acervo Museu de Arqueologia e Etnologia da USP. Fotografia de Wagner Souza e Silva.
Braslia2007
1a edio
te mandeium passarinho...
importante saber que no
s a escrita em papel que vlida.
Sabe por qu?
Porque nosso povo j viveu muitos
anos sem participar da escrita e
diretamente comunicaram
uns com os outros atravs da voz,
dos gestos ou dos desenhos.
Nelson Xacriab
O Igap, de Jos Custdio Marques Memc
7>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL
Pssaros namorando. Escultura em pedra encontrada em Joinville, Santa Catarina. Coleo Museu Arqueolgico de Sambaqui de Joinville.
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14 >> PARTE 1 Histrias moram dentro da gente 42 >> PARTE 2 Esta terra tem vida50 >> PARTE 3 Por que isso se passa comigo?
64 Veja aqui quem te mandou um passarinho
70 Bibliografi a: os pesquisadores que estudaram esses grupos
75 Autores, fontes e referncias bibliogrfi cas das imagens
77 Autores, fontes e referncias bibliogrfi cas dos textos por ordem de apario
81 Glossrio
>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL 9
Caras leitoras e caros leitores,
Trillum in et dolore vendreet ullum et aliquat, vel dolor ipit wis ex el ut alis augait nos-
tie do consent irit, sum nostincilis dunt wissim dolendi onulput incillamcon ut aliquat ut
eum dolorer augiamcommy niam, sustie doloborem do duipisi.
Secte facipit luptatum ipit augait et prat ver adigna acin hent lum zzriure commy nisit ea
facip ex eugait praestis augait nulpute dignis exercing ex er am, quisit nummy num vel
iuscilit adip et ulput alis adionsed del ullaoreet praestrud dit digna feu feumsandre modo
ea feugiamet verat.
Delent at lut vel utatio ex eugait pratum at, sequat. Ing el utpat. Ut luptat illute mo-
digna consent augue veniam, quipit nullan heniam, quamcom modiat, venit, quatie vulla
conum duis augiam in hendre vero odolore minibh et nulputate dit accum iusciduisl enis
adit aute con venim duis er alismodip eui tat, quat wisisis ad dipsum quipis.
Dip ea feuguer aliquismolum vulla feugiatie do dolum elessed eu feui ex eugait, volo-
reet wisi tionsed modolum doloreraesto eummod tionull uptat, voluptat lor inibh eum
iriure modolorer augiam dolor irit ad te diam init vendiam quatuercilla feuguero del ut
alisiscil ing et, sequissit incin ut nos dolore facidui psusci te do esed doloreet. Pat nullup-
tatum dolor sisit etuercidunt in ullandignibh eugiat, con voluptat dignit ulput luptat. Sum
Carta ao leitor
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zzril duipisi blandip ero dolorperat, quatet elit in velit, susci blan henit nummy
nis amcon vulla feui tetum augait lummodo lorero core magna conullamcore
feu feu faccum eugueriustie faci blam, vullam zzrilis doluptat wisim autpatu
mmodole. Am nonsed te consed minis ectet alis dolor si. At. Dui bla feugue
modolum modiam, quat praessis dignim ad tin henim num venibh et ipit adi-
pisi el ea con enis ation vullaor autet at. Delesed tis nostis augiam zzriliquip
enim nit vullut ad magnit dolor am am, quat laorercilit la feugait vulputp atue-
rat. Ut nulput lutate min ut amet lutpat lam, cons eu faccummy nim incipis ci-
pit, sum ilismod tio ex er sequipit in vercilla aliscipisi eugueros elis nullut nibh
ero odoless iscillamet alit eu facincilla facilisim ip er iriure doloreet luptat ad
ero et ulput vullandrem volortionse corper in velesenim duis dolenim eugait
digna facipsum zzriureet ulput laorper iliquat. Ommy niatie tionsed min velis
aut ex exer aliqui blamet lum dolor amcorem quatet.
Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade
Ministrio da Educao
Rplica de cermica Marajoara
11>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL
Irillum in et dolore vendreet ullum et aliquat, vel dolor ipit wis ex el ut alis augait nos-
tie do consent irit, sum nostincilis dunt wissim dolendi onulput incillamcon ut aliquat ut
eum dolorer augiamcommy niam, sustie doloborem do duipisi.
Secte facipit luptatum ipit augait et prat ver adigna acin hent lum zzriure commy nisit
ea facip ex eugait praestis augait nulpute dignis exercing ex er am, quisit nummy num
vel iuscilit adip et ulput alis adionsed del ullaoreet praestrud dit digna feu feumsandre
modo ea feugiamet verat. Delent at lut vel utatio ex eugait pratum at, sequat. Ing el utpat.
Ut luptat illute modigna consent augue veniam, quipit nullan heniam, quamcom modiat,
venit, quatie vulla conum duis augiam in hendre vero odolore minibh et nulputate dit ac-
cum iusciduisl enis adit aute con venim duis er alismodip eui tat, quat wisisis ad dipsum
quipis. Dip ea feuguer aliquismolum vulla feugiatie do dolum elessed eu feui ex eugait,
voloreet wisi tionsed modolum doloreraesto eummod tionull uptat, voluptat lor inibh
eum iriure modolorer augiam dolor irit ad te diam init vendiam quatuercilla feuguero
del ut alisiscil ing et, sequissit incin ut nos dolore facidui psusci te do esed doloreet.
Ira Maciel
Consultora Pedaggica
Prefcio
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Iyana Pital, de Amatiwan Trumai
13>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL
Escultura em pedra em forma de pssaro, encontrada em Cubatozinho, Joinville, Santa Catarina.Coleo Museu Arqueolgico de Sambaqui de Joinville.
>> PARTE 1
Histrias moram dentro da gente
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Para mim e para meu povo, ler e escrever uma tcnica, da mesma maneira que algum pode aprender a dirigir um carro ou a operar uma mquina. Ento a gente opera essas coisas, mas ns damos a elas a exata dimenso que tm. Escrever e ler para mim no uma virtude maior do que andar, nadar, subir em rvores, correr, caar, fazer um balaio, um arco, uma fl echa ou uma canoa.
Quando aceitei aprender a ler e escrever, encarei a alfabetizao como quem compra um peixe que tem espinha. Tirei as espinhas e escolhi o que eu queria.
Na nossa tradio, um menino bebe o conhecimento do seu povo nas prticas de convivn-cia, nos cantos, nas narrativas. Os cantos narram a criao do mundo, sua fundao e seus eventos. Ento, a criana est ali crescendo, aprendendo os cantos e ouvindo as narrativas. Quando ela cresce mais um pouquinho, quando j est aproximadamente com seis ou oito anos, a ento ela separada para um processo de formao especial, orientado, em que os velhos, os guerreiros, vo iniciar essa criana na tradio.
Airton Krenak
>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL 15
Menino se prepara para o Jawari, de Amatiwan Trumai
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Histrias moram dentro da gente, l no fundo do corao. Elas fi cam quietinhas num canto. Parecem um pouco com areia no fundo do rio: esto l, bem tranqilas, e s dei-xam sua tranqilidade quando algum as revolve. A elas se mostram.
Daniel Munduruku
Ns, os povos indgenas, hoje estamos comeando a sonhar do fundo dos mais de 500 anos que passamos mergulhados no tnel do tempo. Du-rante esse longo tnel foram exterminadas muitas culturas como as ln-guas indgenas. Ofi cialmente, hoje so faladas 180 lnguas, mas sabemos que existem muitas mais ainda pelas fronteiras dos rios. O que quero di-zer que os 500 anos para ns comearam ontem. S agora nos ltimos anos que estamos com os direitos de ter uma comunicao atravs da escrita na nossa lngua prpria. Como um processo novo para os ndios e para os educadores, encontram-se vrias interrogaes no ar. Como as andorinhas voando para pegar moscas em sua alimentao numa tarde de temporal. Mas o tnel do futuro mostra que somos capazes de realizar os sonhos que sempre tivemos, como povos diferentes e valorizados dentro de ns mesmos e espiritualmente...
Joaquim Mana Kaxinaw
Os brancos desenham suas palavras, porque seu pensamento cheio de esquecimento. H muito tempo guardamos as palavras de nossos antepassa-dos dentro de ns, e as continuamos passando para nossos fi lhos.
Davi Kopenawa Yanomami
A canoa dotempo
17>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL
A histria vem de um tempo longo,mdio,
recente.
De ontem, hoje, amanh.
Histria passado, histria presente.A histria como o mundo, porque no tem fi m.
um caminho muito longo.Enquanto o tempo vai passando, mais histrias vamos construindo.Histria passado, histria presente.
A histria no s do ser humano. Tambm dos encantados, dos animais, da fl oresta, dos rios e dos legumes.
Histria est em todo lugar do mundo.
Adalberto Maru Kaxinaw e Joaquim Mana Kaxinaw
Kwarup, de Amatiwan Trumai >>
Histria passado, presente
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histria presentepresente
19>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL
Quando no existia nada,era assim que comeou o incio.
S havia escurido.O espao, onde no existiam
os materiais para formar gentes.
Existia o espao frio,o espao vazio,o espao triste,
Existia o espao sem idias.
Na escurido, existia uma VOZ que soava.Esta voz a presena de Miio,
que a Yep-Bahuri-MahsAs msicas andavam danando,
fazendo carinho.
Primeiro, ela tinha um corpo em forma de vento, invisvel.
Ela possua a Vida da Almaem forma de vento,
estava sentada.
Dentro desta voz,dentro do vento
vivia por si mesma uma Mulher, chamada Yep.
Ela era chamada Yep-Bahuri-Mahs, Gente (femin.) Terra,
Gente que apareceu por si mesma.Ela apareceu no meio de sons musicais.
No meio de nuvem branca brilhosa.Ela Gente (femin.) Msica Sagrada.
Primeiro, surgiu um estrondo grande.De cor de jenipapo.
No meio de cor rsea, grande raio formava um crculo.
Quando se formou a luz, o raio fi cou no horizonte,
perto onde estava sentada uma Mulherno banco dela.
Assim era a origem da Yep-Bahuri-Mahs.
Msicas andavam em forma de redemoinhos de vento,andavam em volta dela.
Fazendo-lhe carinho,entrando-lhe no corpo dela,
atravs dos ossos e dos pensamentos.
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Vivia sozinha no espao vazio.No incio, no criou nada,nem a terra, nem gentes.
A Yep-Bahuri-Mahs no tinha Caminho Delicado de Passagem,
nem Nihsma, nem Nihsohpe.
Tinha um corpo invisvel,de Pedra-quartzo,
em forma de osso de bacia.
Assim ela vivia, fazia a sua prpria Vida.Depois, a Yep-Bahuri-Mahs
pensou de descer para a Casa de Yep-wii.
Antes de descer, a Yep fez a Cerimnia de Mo- puhtiro.
Assoprou nesta Terra,defumando para baixo.
Estava para vir na Casa da Terra,para criar a Terra e as humanidades
com as Cerimnias delae pensou para criar a Terra e formar a Vida.
Trocou o nome, antes de criar a terra,
fi cou chamada Yep-Bhko.
Yep-Bhko pensou em Bahses,criou Cerimnias fortes,
e fez assim a Cerimnia de soprochamada Dit-bahser, Cerimnia da Terra,
chamada tambm Dit-h-amsoko bahser.
Ela vinha da Casa de Ventodentro do Osso,
no Cigarro da Formao da Gente.Para chegar na Casa de Terra,
desceu e trouxe a vida.
Desceu para casa de Yep-wii. assim que comeou, no princpio,
antes de criar a Terra e o Dia.
Fim do Primeiro Tempo
Gabriel dos Santos GentilTawaran, mito que fala do namoro entre a moa e um peixe.De Amatiwan Trumai
21>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL
No princpioeram as guas
Peixe azul, de Jos Custdio Marques Memc
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No princpio s existiam as guas. Toda vastido do mundo era recoberta de gua. Foi quando
apareceu o Girador, o equilbrio de todo o movimento, trazendo Au e seu povo. O Girador semelhava-se a uma grande
igaaba, um imenso pote que pairou sobre as guas. Dele desceu Au, um ser altivo e luminoso, e ergueu abrigos
para seu povo. Trabalhou duro, construiu sobre as guas imensos tneis transparentes que se confundiam com elas. Ergueu sete cidades e fez seu povo habit-las.
O povo de Au eram seres transparentes com ps palmiformes e nadadeiras sobre o dorso. Deixaram o Girador e habitaram as sete cidades. Durante muito e muito tempo ali viveram tranqilos, sem que nada os perturbasse. Au tomava conta de seu povo e zelava
para que houvesse completa harmonia entre eles e a Natureza. Contudo, um dia, Au, que se acostumara
a contemplar o nascer do sol e a saud-lo, viu as guas que se moviam em intensas correntes e faziam
remoinhos, fruto da ao de Anhang. Desde que chegara, Au tinha respeitado todas as
regras ditadas pelo Girador, fazendo seu povo tambm cumpri-las. E dentre essas regras estava a de que ele e seu
povo no deveriam se aproximar de stios em que houvesse desequilbrios naturais. Desatento a essa regra, Au se aproximou do movimento das guas. Acercou-se do remoinho e percebeu que podia enxergar o fundo das guas, constitudo do mesmo material de que era feito o Girador, o barro.
Au foi tragado pelo remoinho, desceu e tocou o fundo. Ao faz-lo, a terra levantou-se e afl orou acima das guas, fazendo a terra fi rme. (...) Au e seu povo, depois da violao, sofreram grandes transformaes. As sete cidades foram cobertas pelas guas encantadas. O povo de Au passou a ser o povo encantado,
que habita o fundo das guas. Perderam sua aparncia fsica e transformaram-se em energias. So essas, os caruanas.
Zeneida Lima, neta de paj Sacaca
23>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL
Origem efundamento da
palavra segundo os Guarani
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palavra Quando a terra no era,
no meio das trevas originais,
quando no havia o conhecimento das coisas,
o nosso Primeiro Pai Nhamandu
fez fl orescer em si o fundamento da palavra,
convertendo-a na prpria sabedoria divina.
Mito Guarani recolhido por Leon Cadogan
25>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL
As serpentes queAs serpentes que roubaram aroubaram a
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As serpentes que roubaram a noite
Fazia pouco tempo que o mundo era mundo e que as garras da ona ainda no haviam crescido e j reinava a insatisfao. E isso porque a noite nunca chegava ela, que iria permitir que pessoas e animais repousassem um pouco.
O sol brilhava sem parar nos cus e nenhum daqueles infelizes conseguia sequer tirar uma pequena soneca! Os raios ardentes do sol queimavam tanto e durante tanto tempo que todos preferiam levantar. Apenas o papagaio continuava a protestar, mas to alto, que toda a fl oresta o ouvia, porm o sol pouco se importava com toda aquela gritaria e seguia brilhando to alegremente como antes.
Aps um certo tempo, o papagaio fi cou rouco, e os outros seres arrastavam-se como sombras. No leito dos rios quase no se via uma gota dgua a correr. Felizmente, um belo dia, os ndios descobriram quem havia escondido a noite: as serpentes!
Ento, os lderes da aldeia organizaram uma reunio para indicar aquele que deveria ir
falar com as serpentes para que elas libertassem a noite. A escolha caiu sobre o jovem Karu Bemp, por ser guerreiro valente e excelente corredor.
Karu Bemp foi falar com Surucucu, a grande chefe das serpentes.
A morada de Surucucu fi cava escondida no fundo da fl oresta virgem, embaixo das folhas espalhadas pelo cho, e nem os macacos gostavam de se aproximar daquele lugar misterioso. Quem se atreve a me incomodar? gritou a serpente, erguendo a cabea. Sou eu, Karu Bemp, o grande guerreiro respondeu. Dizem que as serpentes esconderam a noite. Se me devolverem a noite, darei arco e fl echas como presente do meu povo. De que me serviriam o arco e as fl echas? riu Surucucu. No tenho mos para manej-los. Meu rapaz, tens de me trazer outra coisa.
Aps dizer essas palavras, ela deslizou por entre as folhas e desapareceu, e Karu Bemp se viu sozinho.
Voltou aldeia de mos vazias, e todos fi cavam quebrando a cabea para descobrir o que dar serpente.
Finalmente, depois de muito pensarem, imaginaram que uma matraca contentaria a serpente, pois um objeto que agrada a todos, e nenhum animal possui um objeto desses.
Fizeram ento uma matraca, cujo som era ouvido para alm das plancies e das
>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL 27
montanhas. E Karu Bemp ps-se novamente a caminho.
Dessa vez, Surucucu estava esperando-o. Sei que me trazes uma matraca disse ela. Evidentemente, no coisa que se despreze, mas como vou us-la? No tenho nem mos nem ps... Vou prend-la em tua cauda disse Karu Bemp, e imediatamente ps mo obra.
Mas que aconteceu? Ou a matraca tinha perdido a voz ou a cauda da serpente no era sufi cientemente forte para balan-la. Quando ela tentou chacoalhar sozinha, ouviu-se apenas um ch-ch-ch-ch parecido com o rudo que as folhas secas fazem quando se espalham pelo cho. No, isso eu no quero. Mas, para que no digam que sou insensvel, te darei uma breve noite declarou afi nal a serpente. Deslizou para dentro do ninho e retornou trazendo um saquinho de couro, que entregou a Karu Bemp. Deves saber que uma noite longa custa muito caro: nem por dez matracas eu poderia te dar uma disse a serpente. Nesse caso, o que queres em troca? Conversei com as outras serpentes a esse respeito e decidimos que trocaremos uma noite longa por uma jarra cheia daquele veneno que teu povo coloca nas fl echas. Mas que ireis fazer com esse veneno? recomeou Karu Bemp.
Sua pergunta no recebeu resposta. Surucucu deslizou sob as folhas. A matraca presa cauda fez-se ouvir por um momento, e depois a serpente desapareceu.
Caminhando lentamente, Karu Bemp retornou aldeia com o saquinho de couro. Tinha esperana de que a noite curta seria sufi ciente para todos,
mas em seu esprito permanecia o receio de um novo encontro com a serpente.
Assim que os ndios abriram o saquinho, o mundo foi invadido pelas trevas e todos caram num sono profundo, mas no por muito tempo. Passados alguns instantes, o sol voltou a brilhar, expulsou a escurido para trs das montanhas e despertou sem piedade os adormecidos.
Todo dia acontecia a mesma coisa, e logo ocorreu aquilo que Karu Bemp temia: perceberam que uma noite to curta no bastava para descansar e todos comearam a juntar veneno s vezes uma gota para encher a jarra.
O jovem retornou fl oresta pela terceira vez. Dessa vez caminhava com cuidado, pois tinha receio de tropear e deixar cair a jarra. Surucucu estava enfi ada em seu ninho, e via-se apenas sua cabea. Ao lado dela havia um enorme saco, bem cheio. Eu sabia que voltarias disse ela ao recm-chegado. V, preparei um saco que contm uma noite longa.
Karu Bemp entregou-lhe a jarra e perguntou, curioso:
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Escuta, por que as serpentes precisam de veneno? Porque somos pequenas e fracas respondeu Surucucu e precisamos ter presas venenosas para nos defender... mas no tenhas medo: darei a cada serpente apenas uma pequena quantidade de veneno, a fi m de que no possamos realmente fazer mal a ningum... Mas que... estranhou o guerreiro, preocupado. Bem, j est com o saco. Deves lev-lo para a tua aldeia e s abri-lo quando chegares l. Se soltares a noite cedo demais, a escurido vai impedir-me de distribuir o veneno a cada serpente como pretendo, e as conseqncias recairiam sobre todo o mundo...
Com essas palavras, ela se despediu e, sem tardar, convocou todo o povo das serpentes e comeou a distribuir o veneno. Surucucu foi a primeira a se servir...
Karu Bemp voltou para a aldeia, carregando a bolsa com todo o cuidado. Pensava no que a serpente havia lhe dito e por isso no percebeu que o papagaio, excitadssimo, voava acima dele, gritando: Venham ver, ele est trazendo
a noite, Karu Bemp est trazendo a noite longa!
Evidentemente, todos os que l estavam podiam v-lo com os prprios olhos. Os macacos, loucos de alegria, saltavam no topo das rvores; o jacar fazia ondas com o pouco de gua que ainda restava. A ona, impaciente, arranhou-se. Solta a noite agora mesmo, o que ests esperando? gritou ela, atirando-se sobre Karu Bemp.
Antes que Karu entendesse o que estava acontecendo, a ona arrancou a bolsa de suas mos e abriu-a.
Uma densa escurido caiu sobre a selva, surpreendendo a todos. Animais e pessoas procuravam caminhos para voltar a suas casas e esbarravam uns com os outros. Mas o pior foi o que aconteceu com as serpentes da chefe Surucucu: elas se atiraram sobre a jarra, empurrando-as umas s outras, e cada uma passou nas presas tanto veneno quanto podia. Em vo Surucucu tentava acalm-las, dizendo que havia veneno sufi ciente para todas. Por fi m, acabaram derrubando a jarra.
Mas quando, ao fi nal de uma longa noite, voltou o dia, todos puderam perceber as conseqncias do que a ona havia feito: as serpentes tinham se tornado inimigas poderosas e audaciosas que, com suas presas envenenadas, matavam todos aqueles que se aproximavam. Apenas o povo das Jibias no foi atingido, e sempre avisava os ndios com sua matraca.
Depois desse episdio, as serpente nunca mais foram amigas cada uma procura viver sua vida sem se preocupar com a dos outros.
Os Munduruku e os animais adoraram ter conseguido a noite de volta. Assim, podem descansar durante a noite para iniciar um novo dia mais dispostos e alegres.
Daniel Munduruku
29>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL
CuruCuru
30
Curupira
CURUPIRA o dono da mata e
mora nas sapopemas da sumaumeira.
Ele gosta de silncio e est
sempre andando para cima e
para baixo na fl oresta.
Quando cansa, senta-se sobre
um jabuti, que lhe serve de banco.
Dizem os velhos que ele tem os
cabelos compridos, corpo peludo,
olhos pretos e ps virados.
Existem vrios tipos de Curupira:
o pai da sumaumeira, o dono do
jabuti, o dono dos outros
animais, o Curupira macho e
o Curupira fmea.
O Curupira faz medo aos caadores
batendo nas razes das rvores.
Ele atrai e encanta as pessoas.
Quando o Curupira ataca, o nico
jeito de mat-lo batendo no seu
corpo com um pedao de pau podre.
Mas antes de morrer ele sempre diz:
Professores Ticuna
Se um dia eu me acabar,fi ca outro no meu lugarguardando tudo o que meu.
>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL
Macunama e
Crdito da obra
32
Waimesa-Podole
Mayuluapu, ndio Taurepang, narrou essa histria para o pesquisador alemo Theodor Koch-Grnberg, em 1912. (verso da edio em espanhol para o portugus de Jos R. Bessa Freire).
Um dia Macunama e seu irmo Manpe saram e encontraram Waimesa-Podole, o pai dos lagartos. Ningum podia se aproximar dele, porque sua lngua era muito comprida e com ela agarrava todos os animais. Macunama disse: Vou ver o bicho.
Manpe aconselhou: No vai no. Ele vai te pegar e te engolir.
Macunama respondeu: Que nada! Eu vou sim.
Manpe voltou a dizer: Cuidado, meu irmozinho. O bicho vai te pegar.
Mas Macunama no escutou o conselho. Assim, Manpe o deixou ir. Macunama foi conferir. Aproximou-se do bicho. Ento, Waimesa-podole prendeu Macunama com sua lngua e o engoliu.
Manpe voltou pra sua casa e contou pra todo mundo que o pai dos lagartos havia devorado Macunama. Ento, todos os irmos se uniram, querendo matar Waimesa-Podole com fl echadas. Manpe disse: No vamos fl echar na barriga, mas somente na cabea. E a, todos foram pra l.
De p, parado diante do bicho, Manpe bateu no cho com um basto e disse: Vem agora, vem, Waimesa-Podole e me devora, como fi zeste com meu irmo.
Os outros irmos se aproximaram pelos dois lados para fl echar. Quando o lagarto botou a grande lngua pra fora para agarrar Manpe, os irmos dele dispararam suas fl echas bem na cabea do animal, matando-o. Depois, abriram suas tripas. Ali estava Macunama. Saiu vivinho e disse:
Vocs viram s como lutei com esse bicho! Depois disso, voltaram para sua casa.
33>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL
Z Bernab era um ndio da Serra Grande muito trabalhador, gostava de caar e de andar amontado: o seu cavalo era um bode muito forte.
Bernab sentiu falta de uma vaca e saiu pela mata em seu bode.Foi encontrar sua vaca em cima de uma serra, correu atrs, desceram o barranco,
embaixo ele derrubou a vaca, mas quebrou um quarto. Ele viu que no tinha jeito, l mesmo no mato, ele matou a vaca e a esquartejou.
Amarrou dois quartos nas correias da cela, montou no bode e saiu rasgando caatinga. Chegando adiante, viu o bode se torcendo. No que olhou para trs, viu uma ona pintada montada na garupa do bode, comendo a carne.
Largou o seu chicote na cara da ona, que pulou no cho e saiu correndo. Bernab botou o bode atrs dela. Chegando na frente, a ona pulou numa trincheira de pedra. Quando a ona pulou, Bernab agarrou o rabo da ona. A ona pulou e Bernab fi cou com o couro da ona na mo.
Alguns dias depois, ele voltou para buscar o resto da carne. No caminho encontrou com a ona j encabelada. A ona tinha comido o resto da carne. Mais na frente percebeu seu gibo melado. No que experimentou, viu que era mel. Seguiu caminho, encontrou um enxu s o buraco. que na carreira atrs da ona, ele passou dentro de enxu e no viu.
Severino Bandeira AtikunHistria coletada pela Professora Maia Joslia Atikum
Histria Bernab
Karuat, de Matari Kaiabi34
Papagaio catlico
O homem tinha um Papagaio e o Papagaio andava solto. Quando ele queria botar na corrente botava; ele pedia para soltar: Me solte, que eu vou andar. A disse que ele soltava o Papagaio e dizia:
Cuidado louro, seno o Gavio te pega. O Gavio pega Papagaio.
Ele: S num eu.A comeou a andar: Quando foi um dia,
disse que ele j estava no quintal da cozinha, o Gavio chegou, paco! E o Papagaio gritou:
Me acuda Joo! Chega que o Gavio vai me levando.
Com aqueles gritos penosos... Reza a o tero, Joo! Reza a o
santofcio, Joo, que o Gavio vai me comer! Valei-me, Nossa Senhora!
O Papagaio e o Gavio subindo... A disse que Joo correu:
Lembre-se do..., lembre-se da espingardinha, meu Papagaio.
Ele fez:, pu!De surpresa, o Gavio amoleceu a perna
e soltou. Soltou, ele caiu no cho, saiu correndo, conversando e Joo atrs, e o Gavio foi-se embora. E ele entrou. Quando chegou dentro de casa, Joo disse:
Olhe, louro, o que era que eu lhe dizia? Quase que voc morre!
A ele disse: Foi, foi. Mas eu te batizo Simo, essa
e outra mais no.Pronto acabou a histria do Papagaio.
Margarida Maria de Jesus Kiriri
O buritizal e os animais, de Cidberght Custdio Marques Nupaweec
No meu pensamento de antigamente,
quando eu era menino,
o mundo, eu pensava
que era que nem tocaia,
a terra remendava com o cu.
O sol,eu pensava que eram muitos,
passava dias e dias. A noite, eu pensava que era
que nem fumaa,
porque quando o sol ia embora,
a noite vinha cobrir o mundo.
O cu,eu pensava que era que nem ferro,
nunca acaba.
A chuva, eu pensava que era alguma pessoa,
que morava no meu cu e derramava gua.
A gua,eu pensava que eram alguns bichos grandes,
esturrando em cima do cu.
Eu pensava que a terra remendava
com o cu
36
O homem,eu pensava que s ns mesmos vivamos,
s ns mesmos, o povo Kaxinaw.
A lngua, eu pensava que todo mundo falava
na nossa lngua mesmo, o Kaxinaw.
Um dia, eu vi um branco chegando na nossa casa, falando diferente. Mas eu pensava que quando
eu fosse casa dele, ele ia falar em Kaxinaw. Um dia, eu fui viajar com meu pai, para ver onde
estava a terra remendada com o cu. Ns amos descendo o rio e quando passaram alguns dias
perguntei ao meu pai onde estava a terra remendada com o cu. Meu pai me disse que no estava
remendada a terra com o cu. Que o mundo muito grande e no tem fi m...
Noberto Sales Tene Kaxinaw
Cu, terra e gua, de Maiu Ikpeng
37>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL
My mam mapy ga ep to t pra to xp p ky ep. Kanay ixap p ky waye toxawaba pg towa kany iya owe waye
totra xahwip tem wk tem ike owe et towya my mam xo kany iyat taburabe
ixp p mabitt tem towa kany pe: Toto nw waye mapy ga t mapra
ikug peten kanay peitet to wya wk tem ten te et tabet.
My ye: yet ike towa Toto nw et tabet.
MAPY(MULHER)
38
ANTIGAMENTE A MULHER ENGRAVIDAVA NA BATATA DA PERNA.
QUANDO CHEGAVA NO DIA DE NASCER, O BEB ABRIA A PERNA DA ME.
DA O BEB J NASCIA ANDANDO, MAS AS MULHERES NO GOSTAVAM
DE ENGRAVIDAR NA PERNA, ELAS ACHAVAM MUITO PESADO CARREGAR
O BEB NA PERNA. POR ISSO QUE O TOTONEW CASTIGOU AS MULHERES.
TOTONEW FALOU PARA ELAS:
AGORA VOCS VO CARREGAR OS BEBS DE VOCS NA BARRIGA,
S QUE VOCS MULHERES VO SOFRER MUITA DOR NA HORA DOS PARTOS,
PARA VOCS APRENDEREM A ME OBEDECER.
POR ISSO A MULHER SENTE MUITA DOR NA HORA DO PARTO.
Pem Marli Arara Escrito nas duas lnguas pela autora
MULHER(MAPY)
39>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL
Nitio x potar cunhangSetuma sacai wa
Curum ce mama-mamaneBaia sacai majau
Nitio x potar cunhangSakiva-au
Curum monto-montoqueTiririca-tyva majau.
No gosto de mulherde perna muito fi naPorque pode me enroscarcomo cobra viperinaNo gosto de mulherde cabelo alongadoPorque pode me cortarcomo tiririca no roado
40
As mulheres com a mandioca, de Amatiwan Trumai
41>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL
42
Acutipuru ipur nerupec
Cimitanga-miri uquer uaruma.
Acutipuru, me empresta o teu sonopara minha criana tambm dormir.
Cano de ninar em Nheengaturecolhida por Francisco Bernardino de Souza
Rede com fi os de algodo
e tucum dos ndios Kuikuro
43>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL
>> PARTE 2
Esta terra tem vida
44
Eu sou a gua que mata a sedeOnde eu no estiver
Voc se lembra de mim.Aturi Kaiabi
Os pescadores, de Amatiwan Trumai
45>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL
46
Correr das pedras
Rio da vida, gua claraCorrer das pedrasPeixes grandes, peixe pequenoO sol nasceuNa curva dos rios, guade novo correu, dentro do riogua linda, friazinha,fi ca entrando no meu corpoamando, beijando e bebendodevagarSempre mata coraoNo meu entrandoNo peito sozinha deixandoEmbora amor choreCorrer.
Perank Panar
Qualquer vida muitadentro da fl oresta
Se a gente olha de cima, parece tudo parado.Mas por dentro diferente.A fl oresta est sempre em movimento.H uma vida dentro dela que se transformasem parar.Vem o vento.Vem a chuva.Caem as folhas.E nascem novas folhas.Das fl ores saem os frutos.E os frutos so alimentos.Os pssaros deixam cair as sementes.Das sementes nascem novas rvores.E vem a noite.Vem a lua.E vm as sombrasque multiplicam as rvores.As luzes dos vaga-lumesso estrelas na terra.E com o sol vem o dia.Esquenta a mata.Ilumina as folhas.Tudo tem cor e movimento.
Professores Ticuna
>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL
Esta terra que pisamos o nosso irmo. Por isso que a terra tem algumas condies e por isso que o Guarani respeita a terra, que tambm um Guarani. O Guarani no polui a gua, pois o sangue de um Kara. Esta terra tem vida, s que ns no sabemos. uma pessoa, tem alma o Kara. A mata, por exemplo, quando um Guarani vai cortar uma rvore pede licena, pois sabe que uma pessoa que se transformou neste mundo. Esta terra aqui nosso parente, mas uma pessoa acima de ns. Por isso falamos para as crianas no brincarem com a terra, porque ela foi um Kara e at hoje ela se movimenta, s que ns no percebemos. Por isso quando os parentes morrem, a carne e o corpo se misturam com a terra. Por isso que temos que respeitar esta terra e este mundo que a gente vive.
Alexandre Acosta GuaraniHistria coletada por Marcos Moreira Guarani
Floresta e manejo, de Aldemir Bina Kaxinaw
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O que no tem mdicotem mata
Antigamente no tinha mdico, num tinha nada nem doutor.Eram s as razes onde eu falo: nossa tradio
e nosso povoso o povo da raize da terra.
Que a terra nossa carne e nossa vidae a gua nosso sangue e nossos nervos.
A raiz os nervose a gua o sangue.
Emlio Gomes de Oliveira Xacriab,
Floresta e manejo, de Benki Asheninka
>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL 49
Geografi a o que Geografi a onde o rio est.Onde o municpio est. para onde vem o sol. para onde vai o sol.Este rio para onde vai? diviso das guas. igarap, igap, lago, aude, mar. a medio da terra, a demarcao. fotografi a, desenho, cor, um mapa.Geografi a o entendimento da aldeia e do mundo.Do nosso mundo e do mundo do branco. a cidade, o Brasil e os outros pases. a histria do mundo.O mundo a terra, a terra a aldeia.O rio que cai num outro rio.Que cai num outro rio.Que cai no mar.Geografi a o depois do mar...
Professores Indgenas do Acre
Grafi smo Wajpi, desenhado por Jawarua
Os Wajpi usam seus grafi smos para pintar o corpo e na decorao de objetos, como cestos, vasos e tecidos.
50
Sonhou um canto e cantouE seu canto era belo e bom sol lua mata rioBrasil nem era BrasilMuito antes de ColomboMuito antes de CabralAqui vivia uma genteFalando lngua de vidaVivendo uma vidaTal que at parece cinema.At parece um sonhoO que era natural.
Jonado Saban Nambikwara
Pssaro vermelho
Akaikuni, de Amatiwan Trumai
51>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL
>> PARTE 3
Por que isso se passa comigo?
Quando voc forQuando voc for,me chama em voz baixa.Da eu fi co contigo.Mas a tua voz no chega de verdade.Como sentircheiro de fl or na bocada minha fl or?
Edson Ix Kaxinaw
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... o amor uma sensao atraente, que deixa muitas vidas em pnico. Portanto, o amor um produto que deve ser usado com cuidado, quando for com bastante freqncia. O amor como voc correr desesperadamente. De repente, pode se chocar com alguma coisa que estiver na sua frente e ser atropelado.
Ento, no caso do amor, devemos prestar bem ateno: para onde correr, a distncia que vamos correr, se podemos correr
Joaquim Mana Kaxinaw
>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL 53
Te mandei em passarinhoPatu miri pupPintadinho de amareloIporanga ne iau
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Te mandei um passarinhodentro de uma cestinhaPintadinho de amarelo,
e bonito como voc.
55>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL
Eu vou contar para voc como que o namoro e o casamento do povo Patax. Quando um rapaz e uma moa Patax comeam a se gostar, um dos dois toma a iniciativa, jogando em direo ao outro uma pedrinha bem de mansinho, sem que ningum possa perceber. Naquele momento, os dois trocam olhares e sorrisos.
A partir da, comea, ou melhor, passam a se jogar pedrinhas e a se encontrar s escondidas. Quando querem se casar, o rapaz joga na moa, na jovem ndia, uma fl or. Se ela pegar a fl or, porque aceita se casar com o rapaz, mas, se ela no pegar, por-que no aceita o casamento. Depois que a moa pegar a fl or eles vo conversar com os pais e os caciques. A partir dessa conversa, toda a comunidade fi ca sabendo que vai haver casamento na aldeia.
Desse dia em diante, os pais comeam a se preparar para a cerimnia matrimonial de seus fi lhos. O noivo comea a preparar sua casa e seu roado e, diariamente, pega uma pedra com o peso equivalente ao da noiva.
No dia do casamento, os pais dos noivos, juntamente com os caciques, marcam o lugar de onde o noivo comear a carregar a pedra. O rapaz carrega a pedra at o local onde ser realizado o casamento. Chegando l, ele pe a pedra no cho e, ali mesmo, os noivos trocam de cocar e, naquele momento, realizada a cerimnia.
Depois da realizao do casamento, todos os membros da comunidade vo para a casa dos noivos beber cauim e festejar at o raiar do novo dia. Geralmente, os Patax se casam bem novos, entre doze e treze anos, mas hoje isso j est mudando e esto casando entre quatorze, dezesseis e at dezoito anos.
Kantio Patax e outros
O casamentotradicional
56
Casamento Patax, de Kantyio Patax
>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL 57
Passam os anos, passa a vida,Passa o tempo, passam as coisas,Passam perto de mim as pessoas,Passa dentro de mim o amor.
Por que isso comigo se passa,Se j nem sei mais quem sou?
Miguel Panemaxeron Surui
Tudo passa
Grafi smo Wajpi, de Muruti
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Eu no tenho minha aldeia
Eu no tenho minha aldeia
Mas tenho o fogo interno
Da ancestralidade que queima
Que no deixa mentir
Que mostra o caminho
Porque a fora interior
mais forte que a fortaleza dos preconceitos.
Ah! J tenho minha aldeia
Minha aldeia Meu Corao Ardente
a casa de meus antepassados
E do topo dela eu vejo o mundo
Com o olhar mais solidrio que nunca
Onde eu possa jorrar
Milhares de luzes
Que brotaro mentes
Despossudas de racismo e preconceito.
Eliane Potiguara
59>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL
O contraditrio
Quem aquele que se diz civilizado.
Que criou o antdoto, que elimina a vida.
Que destri o mundo num toque de dedo.
Que se engrandece porque detm a morte.
Que envenena a terra, a gua e o ar que geram vida.
Que sufocou sabedoria milenares.
Que massacrou as verdadeiras civilizaes.
Que hoje parece estar arrependido.
Que hoje nos quer como quando nos encontrou
Andila Incio Belfort Kaingng
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gua namora com a pedraA pedra sempre feliz vai fi car
A gua corre no rio e esse rio cai no mar
O ar segura o mundoE o mundo segura o mar de novo
Os dois seguram os homens, e os homens,ser que vo segurar?
Yanin Kaiabi
Quem vai segurar?
Arakuni, de Amatiwan Trumai
* Esse mito muito bonito porque fala do incesto de Arakuni com sua irm, que foi desoberto pela me porque sua pintura corporal era diferente da dos outros homens e ela fi cou impressa no corpo da irm.
>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL 61
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Veja aqui quem te mandou um passarinho
Arara (RO) No Brasil, quatro povos diferentes so denominados Arara. A histria aqui narrada dos
Arara de Rondnia, que sempre habitaram o Igarap de Lourdes e falam a lngua Karo, nome
pelo qual so tambm conhecidos. Karo, na lngua deles, significa arara. Eles se pintavam com
jenipapo, faziam furo no nariz, onde penduravam uma pena de arara. Nos anos 1920, o contato
com o branco provocou doenas e muitas mortes. Os sobreviventes trabalharam como serin-
gueiros. Hoje, so 170 ndios em duas aldeias, onde a escola alfabetiza na lngua karo e ensina o
portugus. A palavra towa nas narrativas uma marca para prevenir que no viram o que esto
contando, apenas ouviram.
Atikum Conhecidos no sculo XVIII como Um, os Atikum, em 2006, somavam 5.852 indivduos
vivendo em 16 aldeias localizadas na Reserva da Serra do Um, no municpio de Carnaubeira da
Penha (PE). L so identificados como os caboclos da Serra do Um. possvel chegar a cinco
dessas aldeias por estrada, as demais s a cavalo ou a p. So bons agricultores. Em plena caa-
tinga, plantam milho, mandioca, feijo, mamona e frutas como goiaba, laranja, pinha e banana.
No falam mais a lngua Atikum, s mencionada no tor, que uma dana com cnticos rituais,
que expressam a religiosidade do grupo e contm em suas letras o registro, entre outros, das
plantas e razes medicinais.
Guarani Em 1.500, os Guarani eram os senhores da costa atlntica, desde a Barra da Canania (SP)
ao Rio Grande do Sul. Hoje, vivem em aldeias localizadas em dez estados brasileiros, com uma
populao de 47.692 indivduos. Ocupam ainda territrios na Argentina, Paraguai, Uruguai e
Bolvia. Esto divididos em trs grupos: Mby, andva e Kaiow. A maioria da populao bi-
lnge e fala, alm do guarani, o portugus ou o espanhol. Mas na lngua guarani que circulam
as narrativas, a poesia, o canto, as rezas e os rituais religiosos. Vivem da agricultura e da venda
do artesanato: cestaria, colares, pulseiras, adornos, chocalhos e figuras de animais, esculpidas em
madeira.
Ikpeng Eles se chamam Ikpeng, mas eram conhecidos como Txico. Viviam no rio Jatob (MT), fora
do Parque Indgena do Xingu (PIX). Contataram com os brancos em 1964, quando doenas re-
duziram a populao a menos da metade. Foram, ento, transferidos, em 1967, para dentro do
PIX. Hoje so 342 pessoas, que protegem a rea da ao dos madeireiros. Lutam para recuperar
63>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL
o antigo territrio. Falam e escrevem uma lngua Karib, usada na escola, onde aprendem tambm
o portugus. Aprenderam a filmar com a ONG Vdeo nas aldeias. Produziram vdeo de rara bele-
za: Das crianas Ikpeng para o mundo, onde mostram a aldeia, as famlias, brincadeiras, festas e
modo de vida.
Kaiabi Narrativas mticas, cantos e histrias de guerra mostram que os Kaiabi eram um povo tradi-
cionalmente guerreiro, que morava em grandes casas no norte de Mato Grosso e no sul do Par.
Suas terras foram invadidas por seringueiros, madeireiros e fazendeiros. Em 1966, muitos deles
aceitaram ser transferidos de avio para o Parque do Xingu, mas alguns ficaram l. Em 2006, ha-
via um total de 1.619 ndios kaiabi, divididos em trs grupos. Eles vivem hoje em casas pequenas e
cultivam dezenas de plantas. Os homens fabricam cestos ornamentados, redes, tipias e peneiras
com desenhos sofisticados. As mulheres tecem algodo. Cantam e fazem poesia em sua lngua
materna e em portugus.
Kaingng Eles so 28.875 ndios em trinta terras indgenas (SP, PR, SC, RS), mas somam mais de 30
mil se forem contadas as famlias que vivem hoje nas cidades. Ocupavam um vasto territrio que
chegava at a atual Argentina. Os primeiros contatos de alguns kaingang com os portugueses da-
tam do sc. XVI. Mas s no final do sc. XVIII que comea a invaso de suas terras, processo que
se estendeu aos dias de hoje. Suas narrativas mticas foram recolhidas por vrios estudiosos desde
1882, quando foi registrado o mito da origem do povo Kaingang, no qual aparecem os heris
Kam e Kairu, dois irmos que criaram o mundo e as regras de comportamento para os homens.
Karaj De onde vieram os Karaj? Do fundo do rio, onde viviam. Eram os Berahatxi Mahadu, o povo
do fundo das guas. Um dia, descobriram a passagem para a superfcie e boiaram no rio Araguaia.
L, encontraram doenas e morte. Tentaram voltar, mas a passagem estava fechada. assim que
o mito conta a origem deles. Tiveram contato com jesutas (1658) e com bandeirantes (1718).
Hoje, 2.593 karaj moram em 29 aldeias na ilha do Bananal (TO). Fazem roas, pescam, fabricam
bonecas, artesanato de palha, madeira e barro. Antes, tatuavam na face dois crculos, que agora
so apenas desenhados durante as festas. Cinco escolas bilnges funcionam para 425 alunos.
Kaxinaw Eles se chamam Huni Kuin (gente verdadeira), falam o htxa kuin (lngua verdadeira) e
so o maior povo indgena do Acre: 5.820 pessoas.No Peru vivem mais 1.500. Suas terras foram
invadidas no perodo da borracha (1870-1914), quando cem mil nordestinos entraram no Juru
e Purus. Alguns ndios ainda hoje trazem o brao gravado com as iniciais FC (Felizardo Cerqueira),
nome do patro que os submeteu ao trabalho forado. Junto com outras etnias, criaram associa-
es, construram escolas, formaram professores, pesquisaram e ilustraram os livros que escreve-
ram com o Kene Kuin (desenho verdadeiro) usado na pintura corporal, na cermica, na tecelagem
e na cestaria.
64
Kiriri O nome dado pelos tupis do litoral do Nordeste a um outro povo que vivia no serto foi kiriri,
que significa calado. Os Kiriri, catequizados pelos jesutas no sc. XVIII, esqueceram sua lngua,
mas o portugus que falam hoje tem marcas dialetais do Kipe. Perseguidos pelos diretores de
ndios no sc. XIX, perderam suas melhores terras, que haviam sido reconhecidas pelo rei de
Portugal, em documento de doao. Hoje, 1.612 Kiriri vivem em terras na boca da caatinga, no
norte da Bahia, recuperadas depois de muita luta. Vivem da agricultura, da coleta de frutos e do
artesanato. Reaprenderam a danar o tor, ritual que um smbolo de identidade e de unio dos
ndios do nordeste.
Krah Timbira o outro nome mais genrico pelo qual so conhecidos os Krah, que vivem no Tocan-
tins, em aldeias onde as casas ocupam um espao circular e se ligam por uma via ao ptio central.
A histria do contato comea no sculo XIX, quando fazendas de gado invadem suas terras. Eram
mais de 4 mil e foram reduzidos a 400 em 1940. Hoje so 2.184 ndios. So bilnges. Falam a
lngua Krah, na qual narram a origem do mundo, a visita ao cu e ao fundo das guas, a cura das
doenas, como obtiveram as plantas da mulher-estrela, como tiraram o fogo da ona e com quem
aprenderam a corrida de toras. Gostam muito de msica, que um dos aspectos importantes da
sua vida ritual.
Krenak Eles se chamam Borun, nome de sua lngua. Foram apelidados de Aimor pelos tupi, e de Bo-
tocudo pelos portugueses, devido ao botoque usado nos lbios. Mas hoje so conhecidos como
Krenak, nome de um cacique. O seu territrio era a Mata Atlntica (BA) e o vale do rio Doce (MG
e ES). D. Joo VI, em 1808, declarou guerra aos Botocudos, confiscou suas terras, distribudas
como sesmarias, permitindo a escravido dos prisioneiros de guerra por at vinte anos. Os ltimos
Botocudo so hoje 204 ndios que recuperaram no Supremo Tribunal Federal pequena parte das
terras. Os mais velhos falam Borun e contam histrias de Mart-Khamaknian, o heri civilizador
da humanidade.
Kuikuro Hoje 509 kuikuro vivem em grandes malocas ovais de trs aldeias do Parque do Xingu (PIX).
Entre eles, no esto mais os donos das narrativas Agatsip e Nahu dois velhos sbios enterra-
dos recentemente com a cerimnia dos mortos: o Kuarup. Sabiam tudo: cantos, rituais, histrias.
Para eles, o cu, com as estrelas e constelaes, era um livro aberto, onde liam acontecimentos
mticos e a origem das coisas. Os Kuikuro falam sua lngua e o portugus, dependendo da idade
e do sexo. Produzem os famosos colares e cintos de caramujo. Danam o Yamaricum, que conta
a revolta das mulheres. Aprenderam a filmar, ganhando prmios com o vdeo O dia em que a lua
menstruou.
Macuxi Eles falam uma lngua da famlia Karib. So 32.933 indivduos, dos quais 23.433 vivem no
Brasil, em Roraima, e 9.500 na Venezuela. Depois do contato, substituram as grandes malocas
65>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL
circulares por casas retangulares, cobertas com folhas de buritizeiro, cho batido e paredes de
barro seco e at mesmo por casas de alvenaria. Na luta pela terra, suas aldeias foram invadidas
em 2004 por fazendeiros, que destruram e incendiaram dezenas de casas, postos de sade e
escolas, alm de ferir um ndio bala. Apresentam variaes das narrativas comuns com os Tau-
repang sobre Macunama, o heri mtico, astuto e sagaz, que converte homens, animais e peixes
em pedras.
Marajoara No existiu um povo Marajoara. Os arquelogos chamam de cultura marajoara o estilo
de antigos povos ceramistas que viveram na ilha do Maraj (PA) entre os anos 400 e 1300 d.C.
Sua cermica bonita e refinada - urnas, vasos, tigelas, pratos, tangas, adornos - representa seres
mitolgicos da floresta: cobra, jacar, tartaruga, lagarto, coruja, macaco. A arte marajoara
uma linguagem, s que em vez de falada ou escrita, visual. Cria narrativas grficas que contam
histrias, expressam crenas, emoes e idias. Os estudiosos acham que servia para registrar,
armazenar e divulgar o conhecimento. Esse estilo de vida desapareceu muito antes da chegada
dos portugueses ao Par.
Munduruku Documentos portugueses falam que o Munduruku, dono do vale do rio Tapajs, era um
povo guerreiro, conhecido por mumificar as cabeas dos inimigos mortos. Desde o final do sculo
XVII, resistiu s tropas de guerra que queriam escraviz-lo. Depois, foi aldeado por missionrios. O
sarampo dizimou parte da populao. Hoje so 10.065 pessoas cujas terras esto ameaadas pelo
garimpo de ouro e grandes projetos hidreltricos. Tocam nas flautas parasuy canes tradicionais
que contam seus mitos e sua histria. Criaram escolas, uma associao, e organizaram a assem-
blia geral do povo Munduruku. Mantm rede de radiofonia de comunicao entre as dez aldeias
(PA, AM e MT).
Nambikwara Rondon calculou que em 1915 havia 20 mil falantes de da lngua Nambikwara em
seus vrios dialetos. Foram reduzidos a 990, devido ao contato, s epidemias e produo da
borracha. Eles se recuperaram e hoje j so 1.715. Procuram usar a tecnologia moderna para for-
talecer suas tradies. Vivem em dez terras indgenas (RO e MT), algumas delas ameaadas pelo
garimpo e pela febre da soja, inclusive a rea sagrada onde habitam os espritos dos antepassa-
dos, com os rios contaminados por agrotxicos, as nascentes destrudas e a formao de crateras
encharcadas de mercrio. Tcnicos garantem que nem todo o ouro retirado da rea paga um
projeto de recuperao.
Nheengatu Nheengatu no um povo, mas uma lngua, conhecida nos documentos coloniais como
lngua geral. Existiram dois idiomas que permitiam a ndios de etnias diferentes se comunicarem en-
tre si e com os portugueses: Lngua Geral Paulista (LGP) e Lngua Geral Amaznica (LGA). Essa lti-
ma, falada pela maioria dos amazonenses at o sculo XIX, registrou narrativas, poesias e canes.
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Sua base era o tupinamb, usado pelos jesutas como lngua de catequese. Recebeu influncia de
outras lnguas indgenas e africanas e do portugus. Hoje, o Nheengatu, que significa lingua boa,
falado no rio Negro. Foi declarado lngua co-oficial no municpio de So Gabriel da Cachoeira
(AM) em 2002.
Panar Conhecido como Krenakore ou ndios gigantes por causa de suas enormes bordunas, o Pa-
nar, povo agricultor, ocupava um territrio no rio Peixoto Azevedo, sudeste do Par. Contatado
em 1973 na abertura da estrada Cuiab-Santarm, a populao de 400 pessoas diminuiu em dois
teros por doenas e massacres. Os sobreviventes, levados em avio para o Parque do Xingu, vive-
ram l mais de vinte anos. Em 2001, ganharam indenizao na Justia e recuperaram as terras de
onde foram retiradas 30 fazendas. A populao de 303 indivduos criou associao para gerenciar
a indenizao e desenvolver projetos de educao, capacitao e manejo de recursos naturais.
Patax Existem dois povos com esse nome: um o Patax H-h-he, o outro o Patax, os ndios
do descobrimento, que resistiu a cinco sculos de invaso de seu territrio e hoje vive em nove
terras indgenas (BA e MG), parte delas no Parque Nacional do Monte Pascoal, recuperadas em
1997. So 10.897 indivduos, 40 deles capacitados como monitores de turismo. O contato per-
manente com turistas muda o modo de vida, mas reafirma o orgulho tnico, como registrou o I
Encontro de Pesquisadores Patax, em 2007. A ltima falante de Patax ainda vivia em 1983. Dei-
xaram de falar a lngua, mas suas narrativas, canes e poesias sobrevivem em portugus, como
o mito fundador Txopai Itoh.
Potiguara Eles se misturaram com os brancos. No so mais ndios. Perderam a lngua e esto
vestidos. So sertanejos. Esse foi o argumento do governo da Paraba, em 1919, para vender as
terras dos Potiguara, no vale do Mamanguape, reconhecidas antes pelo rei de Portugal (1599)
e por D. Pedro II (1850). Hoje, 11.424 Potiguara de 33 aldeias plantam, criam animais, pescam,
fazem artesanato. Continuam a luta pela terra, mantendo o vigor de sua identidade. Danam o
tor, celebram as figuras mticas dos tapuios coronga e canind, aprendem noes bsicas de tupi
ministrado pela USP e se organizam. Em 2004, elegeram um prefeito, dois vice-prefeitos e onze
vereadores Potiguara.
Sacaca Quando os portugueses chegaram ao Par (1616), chamaram os povos da ilha do Maraj, es-
timados em cem mil habitantes, pelo nome genrico de Nheengaiba (lngua ruim), porque falavam
lnguas diferentes da usada na catequese. Um desses povos, hoje extinto, era o Sacaca, que resistiu
s tropas de guerra e escravido at o acordo de paz assinado com o padre Vieira (1659). Foram
aldeados e explorados como remeiros e vaqueiros. Seus pajs conheciam tanto as plantas medicinais
que sacaca passou a significar curandeiro em Nheengatu. Em algumas geraes, adotaram a Lngua
Geral e depois o portugus, lnguas que registraram suas narrativas mticas e seus conhecimentos.
67>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL
Surui (RO) H dois povos Surui: Aikewara (PA) e Paiter (RO). Trata-se aqui do Surui Paiter (gente de verda-
de), contatado em 1969, cujas terras foram invadidas por estrada, garimpeiro, madeireira e grileiros,
quando o Programa Polonoreste investiu em Rondnia 1,55 bilhes de dlares. Hoje, 1.007 surui de
onze aldeias tm luz eltrica, casa de zinco, roa, escola bilnge e igrejas crists que reprimem os
pajs, numa tenso entre o tradicional e o novo. Festejam o Mapima (criao do mundo) e celebram
o natal. Seus cantos exaltam a luta do heri Waii. Fazem cermica, cestos, colares, cintos e redes em
pequenos teares com roda de barro. Criaram o Frum Surui para defender o meioambiente.
Taurepang Eles so 22.935 ndios, dos quais 22.353 esto na Venezuela, onde so conhecidos como
Pemn, e 582, no Brasil. Moram em Roraima, na rea Indgena Raposa/Serra do Sol com os Maku-
xi e os Wapixana. Seu jeito de viver foi estudado em 1911-1913 pelo pesquisador alemo Koch-
Grnberg, que registrou muitas narrativas Taurepang, entre as quais as histrias de Macunama,
que deram origem a um dos livros mais importantes da literatura brasileira. Com as demais etnias,
organizaram o Conselho Indgena de Roraima (CIR), que lutou para demarcar suas terras invadidas
por fazendeiros. Depois de batalhas jurdicas, a rea foi, enfim, homologada, em abril de 2005.
Ticuna A lngua Ticuna no parece com qualquer outra e por isso considerada isolada. nessa
lngua, dita tonal porque usa diferentes alturas na voz, que o povo Ticuna, autodenominado Ma-
guta, registrou a memria da floresta, celebrando os protetores da mata. Organizou associaes,
formou professores, escreveu livros, abriu museu, biblioteca e 93 escolas bilnges em aldeias do
rio Solimes, que tm luz eltrica, rdio e televiso. Eles so no Brasil 32.613 pessoas; no Peru,
4.200 e na Colmbia 4.535. Seus livros contm suas cincias, com inventrio dos animais e mapas
da vegetao: plantas medicinais, ervas, frutas, resinas, arte, festas, mscaras, danas, contando
tudo com palavras e imagens.
Trumai Eles vivem no Parque Indgena do Xingu (PIX), junto com 5 mil ndios de 14 etnias distribudos
em 49 aldeias, em rea de 27.974 km, todas com lnguas prprias, mas com muitas coisas em co-
mum. Esses povos ficaram conhecidos depois de duas expedies (1884-1887) do etnlogo alemo
Von den Steinen. O Trumai ficou reduzido a 27 pessoas em 1947 devido a guerras intertribais e do-
enas causadas pelo contato. Hoje so 147 indivduos, que falam uma lngua isolada e o portugus
em diferentes graus de bilingismo. Vivem em trs aldeias e na cidade de Canarana. So agricultores
e artesos. Ensinaram aos demais o ritual do Jawari, celebrado hoje por todos os povos do Xingu.
Tukano A cobra grande entrou no universo pela porta da gua, subiu os rios Negro e Uaups, levando
dentro dela todos os povos. Foi deixando cada um em seu lugar. assim que narrada a origem
de 16 povos que falam lnguas diferentes, mas pertencem a mesma famlia lingstica. Um deles
o Tukano, que no Brasil so 6.241 pessoas e na Colmbia, 6.330. Moram nos rios Uaups e Tiqui
(AM), so exogmicos, isto , s casam com algum que fala outra lngua, e patrilineares, ou seja,
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os filhos e a me moram na comunidade do pai. Esto organizado na FOIRN Federao das Orga-
nizaes Indgenas, que est publicando as histrias na srie Narradores do Rio Negro.
Tupinamb Esse era o nome de povos do tronco lingstico tupi, que ocupavam o litoral, de So
Paulo at Belm. Foram os primeiros que tiveram contato permanente com os colonizadores.
Cultivavam roas comunitrias, plantavam e teciam algodo. Sua arte plumria, registrada na
Bahia pela carta de Caminha, encantou os europeus, como o manto que hoje est no Museu da
Dinamarca. Considerados extintos, desapareceram do mapa do Brasil. Ressurgiram em 1997, em
Ilhus (BA). Hoje so 2590 ndios, que falam o portugus e mantm uma Associao que realizou
o Seminrio da Juventude Tupinamb (2005). A memria oral lembra ainda o ltimo massacre
que sofreram (1937).
Wajpi Esse povo vivia no baixo Xingu at o sculo XVII. Cruzou depois o rio Amazonas e foi morar no
Oiapoque. Hoje eles so 756 pessoas no Amap e 412 na Guiana Francesa. Vivem em 40 pequenas
aldeias e registram seus saberes e suas narrativas na lngua que falam da famlia Tupi-Guarani, com-
binando a palavra com a arte grfica da pintura, conhecida como kusiwa. Usam tintura de urucum,
gordura de macaco, sumo de jenipapo e resinas perfumadas para pintar o corpo, a cermica, as cuias,
os tecidos e a cestaria. Agora usam tambm caneta e papel. A arte wajpi de desenhos coloridos foi
declarada pela Unesco, em 2002, obra prima do patrimnio oral e imaterial da humanidade.
Xacriab Hoje so 7.450 pessoas que vivem em 25 aldeias no vale do Peruau (MG) e representam 70%
dos eleitores do municpio de So Joo das Misses. Criaram escolas, formaram professores, se alfa-
betizaram, editaram quatro livros de literatura com suas narrativas e um CD com vozes dos velhos
que ainda falam xacriab, a maioria s fala portugus. Elegeram o atual prefeito e trs vereadores
indgenas. Mas tiveram que lutar muito desde 1728 quando obtiveram o registro de posse da terra, o
que no impediu que fosse invadida por fazendeiros (1969-1987), com assassinato de trs lderes. Em
2003, uma barragem construda pela Codevasf inundou terras da aldeia Barra do Sumar.
Yanomami A populao total de 30.875 pessoas. A metade vive no lado venezuelano e a outra metade
mora em 255 aldeias em Roraima e no nordeste do Amazonas. Seu territrio, que abriga o Pico da
Neblina, foi invadido por 40 mil garimpeiros, responsveis pela morte de 1.500 ndios entre 1987 e
1992, quando foi finalmente demarcado. Eles falam quatro lnguas aparentadas entre si. A histria do
contato recente, pode ser contada atravs da vida de Davi Kopenawa, que hoje o principal porta-
voz de seu povo. Seu grupo foi aniquilado por epidemias aps contatos com o Servio de Proteo ao
ndio e a misso evanglica Novas Tribos do Brasil. Davi conta que quando viu o primeiro branco, feio,
esbranquiado e peludo, achava que era um canibal que ia com-lo.
Jos Ribamar Bessa Freire - Autor da pesquisa e do texto
69>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL
Autores, fontes e referncias bibliogrfi cas das imagens
Capa, colar, pente e pingente Krah. Acervo Museu de Arqueologia e Etnologia da USP. Foto-
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Alex Chacon, Jussara Gruber. Rio de Janeiro: CCBB, 2004.
Pgina 8, escultura em pedra do acervo do Museu Arqueolgico de Sambaqui de Joinville, in An-
tes, histrias da pr-histria. Rio de Janeiro: CCBB, 2004.
Pgina 11, rplica de cermica Marajoara, www.arteindigena.com.br
Pgina 13, padro grfico muito caracterstico do Alto Xingu, de Amatiwan Trumai. Foi assinalado
pelo autor pelo nome de Iyana Pital. Tcnica: nanquim sobre papel 1988. Assinado Amati.
Pgina 14, escultura em pedra do acervo do Museu Arqueolgico de Sambaqui de Joinville. In
Antes, histrias da pr-histria. Rio de Janeiro: CCBB, 2004.
Pgina 16, Menino se prepara para o Jawari, de Amatiwan Trumai. O Jawari o mais impor-
tante ritual da cultura Trumai. Tcnica mista sobre carto 1977. Assinado Amati.
Pgina 19, Kwarup, de Amatiwan Trumai. O Kwarup o ritual funeral cone do Alto Xingu. Tcnica:
nanquim sobre papel 1978. Assinado Amati.
Pgina 21, Tawaran, de Amatiwan Trumai. Tcnica mista sobre carto 1977. Assinado Amati.
Pgina 22, Peixe azul, de Jos Custdio Marques Memc, in Ticuna Pinturas da Floresta.
Pgina 26, detalhe de painel de autoria da equipe da OGPTB Organizao dos Professores Ticuna
do Brasil, in Ticuna Pinturas da Floresta.
Pgina 30, Buritizal, de Joo Clemente Gaspar Metchiic, tcnica: gouache, in Ticuna Pinturas da
Floresta.
Pgina 31, Karuat, de Matari Kaiabi, desenho, in Livro das guas. Professores Indgenas do Parque
do Xingu, Maria Cristina Troncarelli (orgs) So Paulo: ISA, ATIX, 2002.
70
Pgina 35, O Buritizal e os Animais, de Cidberght Custdio Marques Nupaweec, tcnica: gua-
che, in Ticuna Pinturas da Floresta.
Pgina 37, Cu, terra e gua, de Maiu Ikpeng, in Livro da guas.
Pgina 41, As mulheres com a mandioca. Amatiwan Trumai.
Pginas 42 e 43, redes Kuikuro, www.arteindigena.com.br
Pginas 44 e 45, Os pescadores. Pintura, tcnica: leo sobre tela 1997. Assinado Amatiwan
Trumai.
Pgina 46, Piracema, guache de Joo Otaviano do Carmo Filho Teracic, in Ticuna Pinturas da
Floresta.
Pginas 48 e 49, desenhos dos agentes agroflorestais Aldemir Bina Kaxinaw e Benki Asheninka, in
Calendrio Floresta e Manejo, editado pela Comisso Pr-Indio do Acre e a Secretaria de Coordenao
da Amazonia, Ministrio do Meio Ambiente, Brasilia, 2002.
Pgina 50, grafismo Wajpi, de Jawarua, in Kusiwa: pintura corporal e arte grfica Wajpi. Domini-
que Gallois e ndios Wajpi. Museu do ndio Funai. Centro de Trabalho Indigenista, Ncleo de Histria
Indgena e do Indigenismo. RJ. 2002.
Pgina 51, Akaikuni, de Amatiwan Trumai, leo sobre tela, 2000.
Pgina 53, Brinco Karaj in A Plumria indgena brasileira. Sonia Ferraro Dorta e Marlia Xavier Cury.
So Paulo: Edusp. 2000.
Pgina 57, Casamento Patax, de Kantyio Patax, in O povo Patax e sua histria. Angthichav,
Arariby, Jassan, Manguad e Kantyio. Minas Gerais: MEC/Unesco/SEE-MG, 1997.
Pgina 58, grafismo Wajpi, de Muruti, in Kusiwa: pintura corporal e arte grfica Wajpi.
Pgina 61, Arakuni, de Amatiwan Trumai, tcnica mista sobre carto, 1977.
Pgina 62, Manto xamnico confeccionado pelos ndios Tupinamb no sculo XVII e levado para
a Europa por Maurcio de Nassau. Acervo do Museu de Histria Natural da Dinamarca. (SUBSTITUIDO
TEMPORARIAMENTE PELO COCAR)
71>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL
Autores, fontes e referncias bibliogrfi cas dos textos por ordem de apario
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In ALMEIDA, Maria Ins (org). Literatura Xacriab em lngua portuguesa. OEIY, UFMG, MEC, 2006.
Ailton Krenak. Ler e Escrever uma tcnica.
In BESSA FREIRE, Jos R. La presencia de la literatura oral en el proceso de creacin de bibliotecas ind-
genas en Brasil. Mxico. Conaculta. 2004. (Memria del Segundo Encuentro Internacional sobre Biblio-
tecas Pblicas. Puerto Vallarta, Jalisco.Mexico)
Davi Kopenawa Yanomami (com Bruce Albert). Descobrindo os brancos.
In NOVAES, Adauto (organizao.) A Outra margem do Ocidente. So Paulo. Cia. Das Letras. 1999.
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www.danielmunduruku.com.br
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In SHENIPABU Miyui. Histria dos antigos. Organizao dos professores indgenas do Acre e Comisso
Pr-ndio do Acre. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2000.
Adalberto Maru Kaxinaw e Joaquim Man Kaxinaw. Histria passado, histria
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In MATOS, Claudia; MONTE, Nietta (orgs). Antologia da Floresta. Professores ndios do Acre, Rio de
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In GENTIL, Gabriel dos Santos. Mito Tukano. Quatro Tempos de Antiguidades. Histrias proibidas do
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In CADOGAN, Leon. Ayvu rapyta: textos mticos de los Mby-Guaran del Guair. So Paulo: USP, 1959.
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In BESSA FREIRE, Jos Ribamar. Rio Babel: a histria das lnguas na Amaznia. Rio de Janeiro, Ed. UERJ
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In BESSA FREIRE, Jos Ribamar. Rio Babel: a histria das lnguas na Amaznia. Rio de Janeiro, Ed. UERJ
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Perank Panar. Correr das Pedras.
In TRONCARELLI, Maria Cristina; Professores Indgenas do Parque do Xingu. Livro das guas. So Paulo:
ISA, ATIX, 2002
Autoria coletiva: professores Ticuna. Qualquer vida muita dentro da floresta.
In GRUBER, Jussara Gomes (org.). O livro das rvores. Professores e ilustradores Ticuna. So Paulo: Glo-
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Depoimento indito do Sr. Alexandre Acosta (60 anos), em lngua guarani, recolhido e traduzido pelo
professor guarani Marcos Moreira em 2004 na Aldeia Jataty, Canta Galo-RS. Curso de Formao de
Professores Guarani do Sul e Sudeste. Mdulo de Histria ministrado pelo professor Jos R. Bessa
Emlio Gomes de Oliveira Xacriab. O que no tem mdico tem mata.
In ALMEIDA, Maria Ins (org). Com os mais velhos. OEIY, UFMG, MEC, 2006.
Autoria coletiva: professores indgena do Acre. Geografia, o que .
In GAVAZZI, Renato (org). Geografia Indgena. Professores do Parque do Xingu, Instituto Socioambien-
tal, ISA, MEC, 1998
Jonado Saban Nambikwara. Pssaro Vermelho.
In Prticas pedaggicas e Linguagem - 3 grau indgena. Seduc-MT/Unemat/Funai/MEC. Barra do Bu-
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Edson Ix Kaxinaw. Quando voc for.
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Joaquim Man Kaxinaw. O amor.
In MATOS, Claudia; MONTE, Nietta (orgs). Antologia da Floresta. Professores ndios do Acre, Rio de
Janeiro: CPI/AC, 1998.
Annimo. Te mandei um passarinho.
Cano recolhida em 1874 no Par por Couto de Magalhes.
In BESSA FREIRE, Jos Ribamar. Rio Babel: a histria das lnguas na Amaznia. Rio de Janeiro, Ed. UERJ
e Atlntica Editora. 2004
Kanatyo Patax e outros. Casamento Tradicional.
In ANGTHICHAV; ARARIBY; JASSAN; MANGUAD E KANTYIO. O povo Patax e sua histria. Minas
Gerais: MEC/Unesco/SEE-MG, 1997.
74
Miguel Panemaxern Surui. Tudo passa.
In MATOS, Claudia; MONTE, Nietta (orgs). Antologia da Floresta. Professores ndios do Acre, Rio de
Janeiro: CPI/AC, 1998.
Eliane Potiguara. Eu no tenho minha aldeia.
In POTIGUARA, Eliane. Metade cara, metade mscara. So Paulo: Global, 2004.
Andila Incio Belfort Kaingng. O contraditrio.
In Prticas pedaggicas e Linguagem - 3 grau indgena. Seduc-MT/Unemat/Funai/MEC. Barra do Bu-
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Yanin Kaiabi. Quem vai segurar.
In TRONCARELLI, Maria Cristina; Professores Indgenas do Parque do Xingu. Livro das guas. So Paulo:
ISA, ATIX, 2002.
Avaju Poty. Borboleta Amarela.
In Guata Por. Opora O canto sagrado guarani. CD. Curitiba. Fundao Cultural. 2000
75>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL
Glossrio
A criadora do mundo
O autor, Gabriel Gentil, do povo tukano, falecido recentemente, era kumu, ou seja, curador e conhe-
cedor das plantas medicinais, mestre de cerimnias e de cantos. Falava portugus e tukano. Escreveu
esses mitos que foram publicados na Sua (2000) em edio bilnge.
Miio As msicas eram gente. Esse personagem mtico gente-msica, ou Yep, a Primeira Mulher, que tocava por si mesma.
Yep a primeira personagem feminina do Mito da Criao da Terra. A palavra Yep do idioma antigo, usada em cerimnias religiosas. Forma outras palavras compostas como Yep-r, ou
Tambor da Terra, o primeiro nome do Trovo, Yep-Bahuri-Mahs, gente-terra que apareceu
por si mesma.
Nihsma e Nihsohpe significam o Caminho Delicado de Passagem, que une o Outro Mundo ao Nosso Mundo, nessa Terra. Na linguagem corrente conhecido como Yahp (vagina).
Yep-wii nome de uma Casa do Mito da Criao, que ficava abaixo do nvel da nossa Terra. um lugar provisrio, para passar o tempo, um lugar de transformao de vida de gentes que so
mandadas de volta para a Terra, depois de terem existido com outras formas de vida. L no existe
morte, nem velhice, nem nascimento, nem doenas.
Mo- puhtiro cerimnia sagrada realizada na Casa do Vento antes da criao da Terra
Yep-Bhko nome de uma das esposas do Yep-r, ou Tambor da Terra, o primeiro nome do Trovo
Bahses cerimnia sagrada. Buhtyr-bahses: cerimnia para que o rapaz no seja preguioso e seja trabalhador.
Dit-bahser cerimnia do sopro, uma das cerimnias sagradas do Mito da Criao.
Dit-h-amsoko bahser cerimnia da terra, outra cerimnia sagrada.
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No princpio eram as guas
Au ser altivo e luminoso, personagem mtico do mundo dos Encantados, que vive no fundo das guas, de onde nasceram todas as coisas.
Igaaba palavra do Nheengatu, lngua de base tupi, plenamente incorporada ao portugus regional da Amaznia. Significa vaso de barro, pote para gua, urna funerria.
Palmiformes que tm a forma de palma, com os dedos dos ps unidos por uma membrana.
Anhang ou ananga duende da floresta, protetor dos animais selvagens. Castiga os caadores pre-dadores que matam a caa sem critrios. Anda montado num veado branco com olhos de fogo e
quem o v tem febre e alucinao. Os missionrios o identificaram, de forma equivocada, como
o diabo.
Caruanas na pajelana cabocla da Ilha do Maraj, so as energias liberadas pelas guas, que orien-tam os pajs para curar os doentes e so chamadas atravs de cantos. Carus so as energias de
pessoas que desaparecem nas guas.
Origem e fundamento da palavra, segundo os Guarani
Nhamandu Nos textos mticos dos Mby-Guarani, Nhamandu Nosso Primeiro Pai, criador do mundo.
Curupira
Sapopema tipo de raiz das grandes rvores, com uma base chata, de feitio triangular. Em Nheengatu, sapu raiz e pema achatada. Sumaumeira uma rvore das florestas inundveis, com um tron-
co enorme, flores brancas e frutos contendo uma fibra parecida com o algodo.
Historia Bernab
Encabelando significa que o pelo est crescendo novamente.
Enxu uma grande colmia.
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Mulher
Totonew um dos deuses dos ndios Arara.
Acutipuru
Acutipuru animal mamfero, roedor, de cauda comprida e enfeitada, que dorme o dia todo, depois de passar a noite em plena atividade. Segundo o estudioso italiano que viveu no Rio Negro (AM),
vrias etnias acreditam que sob a forma de acutipuru que a alma das pessoas sobe ao cu, logo
que o corpo acaba de apodrecer.
Esta terra que pisamos
Karai Hoje o termo karai, para os guarani, se refere ao sbio, ao velho portador de sabedoria.
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Outros livros desta coleo
At wis ex el ut alis augait nostie do
consent irit, sum nostincilis dunt
wissim dolendi onulput incillamcon ut
aliquat ut eum dolorer augiamcommy
niam, sustie doloborem.
Secte facipit luptatum ipit augait et
prat ver adigna acin hent lum zzriure
commy nisit ea facip ex eugait praestis
augait nulpute dignis exercing ex er
am, quisit nummy num vel iuscilit adip
et ulput alis adionsed del ullaoreet
praestrud dit digna feu feumsandre
modo ea feugiamet verat.
At wis ex el ut alis augait nostie do
consent irit, sum nostincilis dunt
wissim dolendi onulput incillamcon ut
aliquat ut eum dolorer augiamcommy
niam, sustie doloborem.
Secte facipit luptatum ipit augait et
prat ver adigna acin hent lum zzriure
commy nisit ea facip ex eugait praestis
augait nulpute dignis exercing ex er
am, quisit nummy num vel iuscilit adip
et ulput alis adionsed del ullaoreet
praestrud dit digna feu feumsandre
modo ea feugiamet verat.
Chico e a cidadeO encontrodo cordelcom o Rap
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SUPERNOVA PROJETOS EDITORIAIS
Coordenao de produoCristina Guimares
Projeto grfico e capaRibamar Fonseca
Reviso do textoAlessandro Mendes
Auxiliar de produoAdriana Mattos
A fonte de texto a Versailles, corpo 11,5, projetada por Adrian Frutiger em 1984, serifada, baseada nos tipos franceses desenhados no sculo 19.
Impresso para o Ministrio da Educao em ... de 2007.
Produo grfi ca e editorial
>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE NDIOS NO BRASIL 81
POPO YJU
Popo YjuAra OwyOpawaer hey Por
EjapoWaiemeandekwerupe
Avaju Poty Guarani
BORBOLETA AMARELA
Borboleta amarelaNo cu azulInfinita beleza
No fazer mala ningumInfinita beleza