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    UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAPÁ

    LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

    SILVIA KARLA DA SILVA ROSA PELAES

    A IDEAÇÃO SUICIDA ENTRE JOVENS ESTUDANTES

    AMAPAENSES: FATORES DE RISCO E PREVENÇÃO NA ESCOLA

    MACAPÁ2011

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    SILVIA KARLA DA SILVA ROSA PELAES

    A IDEAÇÃO SUICIDA ENTRE JOVENS ESTUDANTES

    AMAPAENSES: FATORES DE RISCO E PREVENÇÃO NA ESCOLA

    Monografia apresentada como Trabalhode Conclusão de Curso à Universidadedo Estado do Amapá, como requisitofinal para obtenção do grau deLicenciado em Pedagogia.

    Orientador: Prof or  Msc. Claudio AfonsoSoares.

    MACAPÁ2011

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    FOLHA DE APROVAÇÃO

    SILVIA KARLA DA SILVA ROSA PELAES

    A IDEAÇÃO SUICIDA ENTRE JOVENS ESTUDANTES AMAPAENSES: FATORESDE RISCO E PREVENÇÃO NA ESCOLA

    Monografia apresentada como Trabalho de Conclusão de Curso à Universidade do

    Estado do Amapá, como requisito final para obtenção do grau de Licenciado em Pedagogia.

    BANCA AVALIADORA

    .............................................................................................

    Profº. Mestre Claudio Afonso Soares- UEAPOrientador

    ..............................................................................................

    Profª Esp. Terezinha de Jesus Brito - UEAPAvaliadora

    ..............................................................................................

    Profª. Esp. Neiva Lana de Almeida Guimarães - UEAPAvaliadora

     Nota:_________ Data:__________

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    A minha família e a todos que

    compartilharam desse sonho.

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    AGRADECIMENTOS

    Primeiramente a Deus, o qual nos fez resistir às dificuldades que se apresentaram no

    decorrer dessa caminhada e ter nos dado força e amparo, por essa luz divina que iluminou

    nossos caminhos para a conclusão de mais uma fase de nossas vidas.

    À Universidade do Estado do Amapá-UEAP, pela muitas possibilidades de

    crescimento profissional e pessoal por ela concedidas, como instituição séria e empenhada

     pelo bem maior de seus acadêmicos.

    Ao meu orientador, professor Mestre Cláudio Afonso Soares pelo encorajamento, pela

    orientação paciente e pontual e pelas cobranças tirando sempre o melhor de mim para um

    trabalho de melhor qualidade.

    À minha querida mãe Maria Amélia Rosa da Silva, em memória, que me encheu de

    amor e carinho, nunca desistindo de dar seu melhor para meus irmãos e eu e por seu exemplo

    deixou marcado em nossas vidas um modelo de vida de perseverança, superação e amor à

    família.

    Ao meu pai Antonio dos Santos Rosa, que sempre me encorajou pela admiração aos

    filhos, à vida e ao trabalho.

    Ao meu esposo, Juranildo Pelaes, meu grande companheiro nas alegrias, tristeza e

    desafios durante todo o período desta pesquisa.

    Ao meu filho querido Jômerson Pelaes, pela compreensão e apoio, mesmo quando eu

    me mostrava ausente durante nossas programações em família.

    Às amigas Angela Silva e Tereza Carmelo pelo companheirismo agradável durante as

    coletas de dados no Hospital de Emergência de Macapá e POLITEC-AP.

    Às professoras Dra. Silvia Gomes e Msc. Bianca Diniz pela empatia e disposição

    magnífica em me ajudar a desatar os nós pelo caminho, sempre encontrando tempo para tirar

    minhas dúvidas quanto ao rigor da Metodologia científica.

    Ao professor Dr. Makilin Baptista pelo interesse pessoal, pelas dicas e conselhos que

    com sua vasta experiência na área contribuiu de maneira significativa para a realização deste

    estudo.

    À professora Dra. Ane Braga e ao professor Esp. Frederico pela atitude humana de

    realizar o tratamento estatístico.

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    Aos queridos professores que tive contato durante todos os oito semestres do Curso

    que compartilharam conosco seus conhecimentos e experiências, empenhando-se em oferecer

    uma educação de excelência.

    Aos colegas de turma e a todos que presenciaram e apoiaram essa jornada, com

    companheirismo e respeito, contribuindo para a conquista de mais um sonho em nossas vidas.

    Sinto estar entrando em uma nova fase de minha vida e devo tudo a vocês e ao Dono

    da Vida. A todos minha eterna gratidão!

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    Quién tiene un porqué para

    vivir, encontrará casi siempre elcómo. Nietzsche

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    RESUMO

    Vários estudos nacionais e internacionais referem que o suicídio é um fenômeno complexo euniversal, que atinge todas as culturas, classes sociais e idades e possui uma etiologiamultifatorial, englobando fatores biológicos, psicológicos, sociais, culturais e ambientais. A

     presente pesquisa de natureza quali-quantitativa teve por objetivo identificar fatores de risco eações positivas de caráter preventivo em relação ao ideário suicida entre os jovens de 15 a 25anos em Macapá, bem como à sensibilização de profissionais da educação e gestores públicos

     para a problemática do fenômeno neste município. Foram participantes 164 alunos de escolas públicas do Ensino Médio. A amostra foi composta por conglomerado, sendo (66,46%) dogênero feminino e (33,53%) do masculino, com faixa etária variando de 15 a 25 anos. Quanto

    ao ano de escolaridade, participaram alunos do 1º (25,60%) 2º (61,58%), e 3º (12,80%) anoescolar, distribuídos entre os períodos matutino, vespertino e noturno.  Para a coleta de dadosfoi utilizado como instrumento um questionário de identificação auto-explicável com

     perguntas de cunho fechado e semi-aberto, que foi aplicado na própria sala de aula dos alunosno horário regular das aulas. Foram encontradas associações significativas de ideação suicidacom os seguintes fatores biopsicossociais: gênero, idade, estado civil, número de filhos, raça,atividade remunerada, com quem mora atualmente, renda familiar, consumo de bebida efrequência desse hábito, ingestão de bebidas alcoólicas a ponto de ficar bêbado, consumo de

     bebida e problemas de relacionamento social, experimentação inicial de drogas, amigos usamdrogas, consumo de drogas nos últimos doze meses, rendimento escolar, percepção detratamento amigável por parte dos colegas da escola, discriminação recebida no ambienteescolar, envolvimento em brigas com contato físico na escola, sofrimento de agressão físicaou verbal por colegas da escola, sentir-se só, preocupado e ansioso a ponto de não poderdormir á noite, pensar num método suicida, auto-imagem como pessoa fechada e arredia,auto-imagem de pessoa angustiada e deprimida e a não solicitação de apoio profissional.

    Palavras-chave: Ideário suicida. Jovens estudantes. Fatores de risco. Prevenção escolar.

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    ABSTRACT

    Several national and international studies indicate that suicide is a complex and universal phenomenon that affects all cultures, social classes and ages and has a multifactorial etiology,encompassing biological, psychological, social, cultural and environmental. This researchqualitative and quantitative in nature aimed at identifying risk factors and positive preventiveactions in relation to suicidal ideas among young people 15 to 25 years in Macapá, as well asraising awareness of education professionals and public administrators to problematic

     phenomenon in this county. The participants were 164 students from public schools in theschool. The sample was composed of conglomerate, of which (66.46%) and females (33.53%)were male, with ages ranging from 15 to 25 years. As the school year, students participated inthe 1st (25.60%) 2 (61.58%), and 3 (12.80%) school year, divided between the periods,

    morning, afternoon and evening. For the data collection instrument was used as aquestionnaire to identify self-explanatory with questions of nature closed and semi-open,which was applied in their own classroom of students in the regular schedule of classes.Significant associations were found for suicide ideation with the following psychosocialfactors, gender, age, marital status, number of children, race, paid work, with whom she nowlives, family income, consumption and frequency of drinking habits, intake of alcoholic

     beverages point of getting drunk, beverage consumption and problems in social relatedness,initial experimentation of drugs, friends use drugs, use of drugs in the last twelve months,school performance, perception of friendly treatment by fellow students, receiveddiscrimination in the school environment , getting in fights with physical contact in school,suffering from physical or verbal aggression by fellow students, feel lonely, worried and

    anxious about not being able to sleep at night thinking of a suicide method, self-image as a person and closed aloof, self-image of himself anxious and depressed and did not request professional support.

    Keywords: Ideals suicide. Young students. Risk factors. Preventing school.

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Suicídios registrados na POLITEC-AP comparativo entre município/métodousado, Amapá –  Período: 2006 a 2008 ................................................................. 24

    Tabela 2 - Demonstrativos das morbidades por causas externas segundo a intencionalidadeatestada no Boletim de Produtividade Ambulatorial/BPA, Amapá  –  Período: 2006a 2008 .................................................................................................................. 26

    Tabela 3 - Comparativo entre bairros mais representados pelo grupo “S” e  bairros commaiores taxas de suicídio em Macapá - Período 2006-2008 ................................ 55

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Fases envolvidas no comportamento suicida............................................................ 22Figura 2: Pareamento da variável "Série" entre os grupos S e N em relação à pergunta "Já

     pensou em cometer suicídio?"................................................................................. 51

    Figura 3: Pareamento da variável "Turno" entre os grupos S e N em relação à pergunta "Já pensou em cometer suicídio?"................................................................................. 52

    Figura 4: Pareamento da variável "Bairro" entre os grupos S e N em relação à pergunta "Já pensou em cometer suicídio?"............................................................................... 54

    Figura 5: Pareamento da variável "Gênero" entre os grupos S e N em relação à pergunta "Já pensou em cometer suicídio?"............................................................................... 56

    Figura 6: Pareamento da variável "Idade" entre os grupos S e N em relação à pergunta "Já pensou em cometer suicídio?"................................................................................ 58

    Figura 7: Pareamento da variável "Estado civil" entre os grupos S e N em relação à pergunta"Já pensou em cometer suicídio?".......................................................................... 59

    Figura 8: Pareamento da variável "Número de filhos" entre os grupos S e N em relação à pergunta "Já pensou em cometer suicídio?"........................................................... 60

    Figura 9: Pareamento da variável "Raça" entre os grupos S e N em relação à pergunta "Já pensou em cometer suicídio?"............................................................................... 62

    Figura 10: Pareamento da variável "Trabalho (atividade) exercida" entre os grupos S e N em

    relação à pergunta "Já pensou em cometer suicídio?"............................................ 64Figura 11: Pareamento da variável "Estrutura familiar" entre os grupos S e N em relação à

     pergunta "Já pensou em cometer suicídio?".......................................................... 65

    Figura 12: Pareamento da variável "Renda familiar" entre os grupos S e N em relação à pergunta "Já pensou em cometer suicídio?"......................................................... 67

    Figura 13: Pareamento da variável "Consumo de bebida e frequência deste hábito" entre osgrupos S e N em relação à pergunta "Já pensou em cometer suicídio?"................ 69

    Figura 14: Pareamento da variável "Ingestão de bebidas alcoólicas a ponto de ficar bêbado"entre os grupos S e N em relação à pergunta "Já pensou em cometer suicídio?"..... 70

    Figura 15: Pareamento da variável "Ingestão de bebidas alcoólicas e problemas derelacionamento social" entre os grupos S e N em relação à pergunta "Já pensou emcometer suicídio?"....................................................................................... 71

    Figura 16: Pareamento da variável "Experimentação inicial de drogas" entre os grupos S e Nem relação à pergunta "Já pensou em cometer suicídio?"........................................ 73

    Figura 17: Pareamento da variável "Amigos usam drogas" entre os grupos S e N em relação à pergunta "Já pensou em cometer suicídio?"......................................................... 74

    Figura 18: Pareamento da variável "Consumo de drogas durante os últimos doze meses" entreos grupos S e N em relação à pergunta "Já pensou em cometer suicídio?".... 75

    Figura 19: Pareamento da variável "Rendimento escolar" entre os grupos S e N em relação à pergunta "Já pensou em cometer suicídio?".......................................................... 77

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    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    BPA –  Boletim de Produtividade AmbulatorialGSHS/OMS  –   Global School-Based Student Health Survey da Organização Mundial da

    Saúde

    HE/AP –  Hospital de Emergências do Amapá

    IDB/SUS –  Indicadores de Dados Básicos do Sistema Único de Saúde

    MS –  Ministério da Saúde

    MANOVA –  Análise de Variância Multivariada

     NIMH/EUA –  Instituto nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos da AméricaOMS –  Organização Mundial da Saúde

    POLITEC/AP –  Polícia Técnica Científica do Amapá

    PROPEXP –  Pró-reitoria de Extensão e Pesquisas

    SUS –  Sistema Único de Saúde

    SUPRE-MISS –  Estudos de intervenção sobre o comportamento suicida em múltiplos locais

    (sigla em inglês)

    SPSS –  Statistical Package for Social SciencesTME –  Taxa de Mortalidade por causas Externas

    TCLE –  Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

    UEAP –  Universidade do Estado do Amapá

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    SUMÁRIO

    INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 16 

    1  SUICÍDIO: CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS, DEFINIÇÕES E DADOS

    EPIDEMIOLÓGICOS NO BRASIL E NO AMAPÁ....................................................... 19

    1.1 CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS................................................................................ 19 

    1.2 DEFINIÇÕES................................................................................................................... 21

    1.3 DADOS EPIDEMIOLÓGICOS NO BRASIL E NO AMAPÁ....................................... 23

    2 SUICÍDIO NA ADOLESCÊNCIA: FATORES DE RISCO E PREVENÇÃO........... 27 

    2.1 FATORES DE RISCO..................................................................................................... 27

    2.2 PREVENÇÃO.................................................................................................................. 30

    3 ESTUDOS NACIONAIS SOBRE IDEAÇÃO SUICIDA ENTRE JOVENS............... 34

    4 METODOLOGIA.............................................................................................................. 42 

    4.1 OBJETIVOS.................................................................................................................... 42

    4.1.1 Geral............................................................................................................................ 42 

    4.1.2 Específicos................................................................................................................... 42 

    4.2 TIPOS DE PESQUISA.................................................................................................... 42

    4.3 PARTICIPANTES........................................................................................................... 43

    4.4 INSTRUMENTOS........................................................................................................... 434.5 PROCEDIMENTO.......................................................................................................... 44

    4.5.1  Levantamento de dados quantitativos no Hospital de Emergências  –  

    Macapá/AP............................................................................................................................ 44 

    4.5.2 Pesquisa documental na Polícia Técnico-Científica/ POLITEC-AP..................... 45

    4.5.3 Coleta de dados nas Escolas de Ensino Médio em Macapá..................................... 46

    4.6 LOCAL DA PESQUISA.................................................................................................. 47

    4.7 TRATAMENTO ESTATÍSTICO DOS DADOS............................................................. 48

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    5 RESULTADOS E ANÁLISES.......................................................................................... 50

    6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 101 

    REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 104

    APÊNDICES.........................................................................................................................108

    ANEXOS............................................................................................................................... 112

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    INTRODUÇÃO

    A Organização Mundial da Saúde- OMS informa que em 2001 aconteceram 850.000

    suicídios no mundo, o que implica na ocorrência de um suicídio a cada 40 segundos (OMS,

    2001). Assim, com base no ritmo de crescimento dos números, projeta-se que em 2020 serão

    mais de 1,5 milhão de casos.

    Semelhantemente, o Sistema Único de Saúde- SUS (2008) ressalta que  a taxa de

    óbitos por suicídio no Brasil em 2006 foi de 4,6 por 100 mil habitantes. Enquanto que, em

    Macapá, no mesmo ano, a taxa de suicídio foi de 4,9 por 100 mil habitantes, de acordo com

    dados da Taxa de Mortalidade por Causas Externas  –   TME referente a 2006 (DATASUS,

    2008). Dados desta magnitude demonstram que o suicídio tornou-se um problema de saúde

     pública, não apenas devido às estatísticas, mas também pelos danos sociais causados a todos

    os envolvidos.

    Em geral, o comportamento suicida é caracterizado pela literatura como se

    apresentando num continuum  que vai desde a ideação suicida (incluindo pensamentos de

    autodestruição), passando pelo planejamento (escolha do método, data da morte) até as

    tentativas de suicídio em si, que podem resultar ou não em óbito prematuro. Por isso, não setrata de um fenômeno de fácil interpretação, tendo em vista sua natureza multifacetada.

    Em termos conceituais, para muitos especialistas, o fenômeno é motivado

     predominantemente pela mente doente da vítima, ou seja, seria um distúrbio potencialmente

    clínico, que comprometeria a estrutura mental do individuo. Para outras correntes, o ato de

    tirar a própria vida esconde em si motivos muito além do desequilíbrio químico cerebral.

    Envolve uma conjuntura de fatores internos e externos à vítima que cumprem o papel de

    indutores e/ou agravantes para o atentado contra sua própria vida. Na perspectiva de Émile Durkheim (2005, p.13), o suicídio é definido como: “todo

    caso de morte que resulta mediata ou imediatamente de um ato positivo ou negativo realizado

     pela própria vítima, ato que a vítima sabia dever produzir este resultado”, isto é, todo ato

    revestido de intencionalidade para autodestruição configura um “ato positivo” para o suicídio

    e toda exposição desnecessária ao perigo de morte, incluindo a recusa de um tratamento

    médico ou determinados estilos de vida estariam enquadrados no que Durkheim chamou de

    “ato negativo”.

    Já na visão de Corrêa e Barreiro (2006) a intencionalidade é o que define se o ato é

    suicida ou não e em parte esta intenção é apresentada pela escolha do método, isto é, o uso de

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    um método que o indivíduo acredita resultar em morte acusa a intencionalidade do ato, se a

    morte ou outro objetivo qualquer.

    Segundo a OMS (2000), os fatores de risco ao suicídio são vários, dentre os quais se

     podem citar: funcionamento familiar perturbado; experiências emocionais difíceis, incluindo

     perda recente ou acontecimento, traumático; ter vivenciado um suicídio na família ou em seu

    círculo de amizades; identificação com o morto, tê-lo como modelo; dificuldade de

    identificação sexual, homossexualidade; comportamento desviante, delinqüência, prostituição,

    consumo de drogas, álcool, medicamentos; fugas; deslocamentos repetidos em família ou

    centro de acolhimento, uma ou várias tentativas anteriores de suicídio.

     Neste ponto, convém ressaltar que, atribuir de imediato ao suicídio o conceito de

    atentado voluntário contra a vida, em certo sentido é considerada uma atitude precipitada, pois

    o que as pesquisas mostram é que, do ponto de vista da vítima, o suicídio é tido como uma

    solução plausível para a situação-problema na qual a pessoa se encontra. Com isso, o que se

    rotula de atentado “voluntário” contra a vida, na verdade foi uma escolha circunstancial, isto

    é, em outra circunstância a idéia de tirar a própria vida, talvez nem fosse cogitada.

    Especialmente entre os jovens, os fatores de risco mostram-se de caráter sobrepostos e

    cumulativos que remontam à infância. Por isso, muitos evitam tratar desse assunto, julgando

    ser restrito aos profissionais de psiquiatria. No entanto, visto tratar-se de um fenômenodecorrente de diversas dimensões, muito pode ser feito para preveni-lo em todos os ambientes

    associados aos jovens.

    Dados estatísticos sobre suicídios no Amapá, no período de 2006 a 2008, demonstram

    que a maioria das vítimas estava em idade escolar, o que significa que este fenômeno

     preocupante tem merecido maior atenção por parte dos profissionais da educação, porque o

    espaço escolar pode ser aliado na prevenção e combate ao comportamento suicida,

    especialmente por se tratar de um espaço de relações que exerce grande influência na vida dos jovens.

    Isto posto, percebe-se a profundeza da complexidade da temática e a riqueza de

     perspectivas em que se pode abordar sobre o comportamento suicida. Devido a isso, a escolha

    do foco deste estudo dá ênfase na ideação suicida como fase inicial da evolução mórbida.

    Assim, este estudo abordará o ponto de vista de diversos autores sobre o fenômeno do

    suicídio com ênfase na ideação suicida, como fase inicial de uma evolução mórbida que

    culmina na morte por autodestruição.

    Considerando o exposto, no capítulo I são abordadas as considerações históricas,

    assim como definições básicas elucidantes e dados epidemiológicos no Brasil, com ênfase em

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    dados sobre suicídios completos no Amapá coletados em documentos de domínio público na

    Polícia Técnica e Científica do Amapá- POLITEC-AP e a cerca da temática e dados sobre

    tentativas de suicídios em Macapá coletados nos arquivos estatísticos do Hospital de

    Emergência do Amapá. No capítulo II são apresentados sobre o fenômeno do suicídio na fase

    geracional da adolescência, incluindo fatores de risco e prevenção. No capítulo III são

    abordados estudos nacionais sobre ideação suicida entre jovens. A metodologia apresentada

    no capítulo IV esmiúça a cerca do tipo de estudo, método de procedimento, local de pesquisa,

    sujeitos, coleta de dados e tratamento estatístico. Já no capítulo V são considerados os

    resultados e análise, enquanto que no capítulo VI são esboçadas as considerações finais e

    finalmente as referências utilizadas são apresentadas no capítulo VII.

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    CAPÍTULO 1 SUICÍDIO: CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS; DEFINIÇÕES E

    DADOS EPIDEMIOLÓGICOS NO BRASIL E NO AMAPÁ

    1.1 CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS

    Levantamentos bibliográficos revelam que os povos antigos não faziam referência ao

    uso do verbete  suicídio, mas tratavam a morte por autoflagelo como  Kekousios thanatos 

    (gregos) e mors voluntarae  (romanos), ambos significando morte voluntária (CORRÊA;

    BARRERO, 2006). De acordo com os autores, a palavra suicídio foi usada pela primeira vez

     por Sir Thomas Browne, em 1643, em seu livro  Religio Medici. De acordo com José Outeiral

    (2008 apud ALVES, 2010, p.2) o que diferencia um caso do outro são os métodos utilizados

     para finalizar o ato. O autor sustenta que suicídio é uma atitude autônoma englobando uma

    série de ações em que “a pessoa atenta conscientemente contar si própria, mas os modos de se

    fazer isso variam de acordo com culturas, países, sociedades, gênero, classes sociais”. 

    Diante disso, sabe-se que o comportamento suicida em todas as suas nuances sempre

    fez parte da intricada dinâmica da existência humana, o que mudou foi o modo como ofenômeno é encarado a depender do período histórico ou da cultura no qual se apresenta.

    Correa e Barrero (2006, p.31) citam dois exemplos interessantes. Um deles ocorria no antigo

    Egito. Com a morte de um faraó ou o dono de escravos, seus servos “deixavam -se morrer

     junto ao cadáver de seu amo”. É o chamado, por Durkheim,  suicídio altruísta, conforme

    abordaremos mais adiante. Outro caso é o vivido pelos idosos da ilha grega de Ceos. Ali os

    habitantes que atingissem os 60 anos providenciavam meios para morrer por envenenamento

    a fim de pouparem os meios de subsistência para os mais jovens. Na esteira desta concepção, há os casos de suicídio no Japão, onde o fenômeno é

    encarado como escolha voluntária, um meio de aliviar a dor insuportável da perda da honra,

    confirmando o ponto de vista de alguns autores que defendem o suicídio como morte

    voluntária ligada a um ato de autonomia e não como crime ou ato de loucura (FAIRBAIRN,

    1999, apud ALVES, 2010).

    Ainda nessa mesma linha de pensamento em Roma, o escritor Sêneca expressa bem o

     ponto de vista de seus conterrâneos quando afirma: “Viver não é um bem, se não se vive bem.

    Para isso o homem vive o melhor que puder e não o mais que puder” (CORRÊA; BARRERO,

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    2006, p.32),  demonstrando uma postura de aceitação pela escolha de morte voluntária,

     porque, segundo ele, a vida só vale à pena se for bem vivida. 

    Séculos mais tarde, a literatura demonstra uma mudança de perspectiva sobre o

    assunto, pois após o início do imperialismo católico que a visão do ocidente sobre o suicídio

    mudou de heroísmo e escolha voluntária para ato condenável, chagando a tornar-se um tabu.

     No IV século da Era Comum, Santo Agostinho em sua obra Cidade de Deus, rechaça o ato

    suicida igualando-o à covardia e à incapacidade de resolver seus próprios assuntos de modo

    racional. No século XIV, na Inglaterra, os suicidas estavam sujeitos às penalidades da lei,

    visto que poderiam ter seus bens confiscados caso optassem pela morte voluntária. Com o

     passar dos anos e a chegada do Iluminismo, no século XVII, o ponto de vista mudou e passou

    a encarar o ato suicida com um olhar mais tolerante e flexível, chegando ao ponto de em 1918

    o Papa Bento XV, já admitindo a possibilidade de insanidade mental em alguns suicidas,

     permitir os procedimentos de um enterro cristão, caso o suicida tenha expressado

    arrependimento antes da morte (CORRÊA; BARRERO, 2006).

    Mais recentemente, a literatura aponta para o psiquiatra francês Jean-Étiene

    Dominique Esquirol, no século 19, como sendo o primeiro a defender o suicídio como doença

    mental (op cit, 2006). Anos mais tarde, ainda no século 19, o sociólogo francês Émile

    Durkheim em sua obra  Le Suicide, argumenta que a predisposição para auto-destruição “éresultado de uma sociedade que perdeu seus valores tradicionais, seus objetivos, sua

    identidade” (CHRISTANTE, 2010, p. 32). 

     Nesse sentido, historicamente percebe-se que o suicídio já foi interpretado pelo senso

    comum como um desvio de comportamento, uma ofensa contra Deus, do ponto de vista

    religioso, negando-se ao suicida um enterro com as formalidades cristãs. Atualmente, o

    fenômeno é tido predominantemente como resultado de uma doença mental, visto que em

    90% dos casos está ligado aos transtornos mentais e em outros casos como um ato de supremaliberdade (OMS, 2000; SOUZA, MINAYO e MALAQUIAS, 2002).

     Nessa perspectiva, ver-se que na atual configuração social o suicídio pode ser

    compreendido por meio de dois pontos de vista. O primeiro que esclarece o suicídio como ato

    humanamente legítimo e o segundo que se opõe ao comportamento suicida, postura esta que

    se reflete em desde não querer comentar o assunto até a inclinação empática de querer

    entender para estender ajuda. De qualquer forma, este apanhado geral do suicídio no decorrer

    da história deixa subtendido que os assuntos humanos estão muito ligados às circunstâncias

    culturais, biológicas, sociais, psicológicas, psiquiátricas, religiosas, econômicas dentre outras.

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    O suicídio como demonstração da intrincada natureza humano demanda diferentes

    frentes de pesquisas, a fim de entendê-lo melhor em todas as suas nuances. Algumas dessas

    concepções a partir da visão de diferentes autores, bem como da Organização Mundial da

    Saúde serão discutidas a seguir.

    1.2 DEFINIÇÕES

    De acordo com a OMS (2001, p.66), considera como suicídio apenas as mortes

    causadas por "... ato deliberado, iniciado e levado a cabo por uma pessoa com pleno

    conhecimento ou expectativa de um resultado fatal", isto é, aqueles casos que envolvem a

    intencionalidade focada exclusivamente para a autodestruição.

    Já o sociólogo francês Émile Durkheim (2005, p.13) define como suicídio “todo caso

    de morte que resulta mediata ou imediatamente de um ato positivo ou negativo realizado pela

     própria vítima, ato que a vítima sabia dever produzir este resultado”. Quando Durkheim inclui

    à pré-disposição do suicida os atos “negativos“, ele estende o conceito de suicídio à toda

    exposição desnecessária ao perigo de morte, incluindo a recusa de um tratamento médico oudeterminados estilos de vida.

    Werlang e Botega (2006) compartilham de certa forma com o conceito expandido de

    Durkheim ao defenderem que o suicida não age de modo aleatório, sem finalidade. O desejo

    final deste é encontrar alívio imediato de suas dores psíquicas, alívio de seus conflitos, fruto

    de profunda desesperança que o instiga à atitude ambivalente de tudo ou nada. Nesta

    conjuntura de emoções, os autores defendem que, neste momento, é o grau de letalidade (alto,

    médio ou baixo) que define se a morte se caracteriza como suicídio ou não. Em todos os trêsníveis, a letalidade inclui a contribuição da vítima para o desfecho fatal.

     No caso da letalidade alta, o indivíduo desempenhou um papel consciente direto em

    sua própria morte”, já na letalidade média a vítima desempenhou um papel importante em

    efetuar ou apressar sua própria morte”, e finalmente na letalidade baixa a ação suicida

    envolveu “um papel pequeno, mas não insignificante em efetuar ou apressar sua morte”. 

    Por outro lado, Smith (2007, p.73) citando Cassorla defende não haver uma causa

    específica para o suicídio. Trata-se de “um evento que ocorre como resultado de uma série de

    fatores que se acumulam na biografia do indivíduo que pensa em morrer, tenta se matar e se

    mata.” Por isso, a necessidade de uma análise que englobe os diversos aspectos da vida

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    cotidiana do indivíduo, visto que muitos dados relevantes vêm à tona quando se avaliam

    aspectos ontogenéticos, pois o que é suportável para um indivíduo, pode não o ser para outro.

    Sendo assim, em termos conceituais o comportamento suicida caracteriza-se com uma

    série de etapas sucessivas que aumentam em grau e intensidade num continuum  que inicia

    com pensamentos mórbidos e culmina no suicídio completo. Não existe um consenso quanto

    à subdivisão da evolução mórbida, mas em geral ela é subdividida em três categorias

     principais: ideação, tentativa e suicídio completo. Ampliado um pouco mais o conceito de

    ideação suicida Werlang, Borges e Fensterseifer (2005, p.1) defendem que ideação suicida

    seria o início do comportamento suicida, incluindo nesta os “pensamentos, ideias,

     planejamento e desejo de se matar”, culminando no “suicídio consumado, com a tentativa de

    suicídio entre eles”. 

     Na concepção de Aerts, Baggio e Palazzo (2009) o comportamento suicida inicia em

    ideias suicidas, avançando para o planejamento suicida que culmina na tentativa, que poderá

    ser bem sucedida ou não. Além disso, o Instituto Nacional de Saúde Mental (NIMH) dos

    Estados Unidos identificou estes níveis de gravidade progressiva como sendo ideação suicida

     pensamento, motivação, tentativa de suicídio e suicídio conforme ilustra a Fig. 1 (CORRÊA;

    BARRERO, 2006).

    Fonte: Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA (apud CORRÊA eBARRERO, 2006, p. 32)

    Figura1: Fases envolvidas no comportamento suicida.

    Ideação suicida:Pensamento motiva ão

    Tentativa de suicídio 

    Suicídio completo 

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     Nesse sentido, observa-se que, apesar das pequenas divergências aparentes, fica claro

    que o pensamento suicida é apenas o início de uma postura de autodestruição e seus indícios

    não devem ser tratados com descaso, visto configurar um problema de saúde pública

    conforme demonstram os dados estatísticos apresentados pela OMS para os casos de suicídio

    no Brasil, bem como o Ministério da Saúde- MS ao referenciar os dados de suicídio no

    Amapá, que serão melhor detalhados a seguir. 

    1.3 DADOS EPIDEMIOLÓGICOS NO BRASIL E NO AMAPÁ

    O suicídio configura-se como um importante problema de saúde pública, estando entre

    as dez principais causas de óbitos em todas as idades na população mundial. (OMS, 2001

    apud AERTS, BAGGIO e PALLAZZO, 2009) Segundo a OMS (2000) a média mundial que

    sucumbe à autodestruição é de cerca de um milhão de pessoas, sendo que a faixa etária dos

    suicidas, historicamente comum entre os idosos, tem crescido entre pessoas de 15 a 34 anos,

    apresentando-se entre as cinco maiores causas de óbitos entre a população de 15 a 19 anos no

    mundo. No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde - MS (2008) foram identificados

    8.506 mortes por suicídio no ano de 2006, isto é, 6,7% do montante de morte naquele ano, o

    equivalente a mais de 23 óbitos por suicídio por dia. Por isso, a Portaria nº 1.876 DE 14 DE

    AGOSTO DE 2006, que institui as Diretrizes Nacionais para Prevenção do Suicídio do MS,

    (2006), considera o fenômeno do suicídio como um grave problema de saúde pública, que

    afeta toda a sociedade brasileira. Tal documento enfatiza ainda, que o grupo de maior risco

    são os jovens propriamente ditos e os jovens adultos, na faixa etária de 15 a 25 anos.O SUS (2008), também informa que o Brasil apresenta taxas de suicídio relativamente

     baixas (4,6 por 100 mil habitantes em 2006) se comparado com países como a Lituânia e a

    Rússia que alcançam uma taxa excessiva com cerca de 40 suicídios anuais por 100 mil

    habitantes. Neste ponto, o Brasil ocupa a 73ª posição no ranking mundial em relação ao

    número de suicídios/população total e 60ª quando se trata de suicídios/população jovem. No

    entanto, em números absolutos, o Brasil fica entre os 10 primeiros países onde mais ocorrem

    suicídios (VALENCIA et al., 2009). Além disso, as mortes por autodestruição no Brasil,

    ultrapassam por exemplo “as mortes por tuberculose e quase tanto quanto [...] a infecção por

    HIV/Aids” (MINISTÉRIO DA SAÚDE , 2010). 

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    De acordo como o SUS (2008) a taxa de óbitos por suicídio no Brasil em 2006 foi de

    4,6 por 100 mil habitantes. Enquanto que em Macapá, no mesmo ano, a taxa de suicídio foi de

    4,9 por 100 mil habitantes, de acordo com dados da Taxa de Mortalidade por Causas Externas

     –  TME referente a 2006.

    Isso posto demonstra que no contexto amapaense, os casos de suicídios de jovens

    seguem a linha da problemática mundial. Analisando esse fato, Santos (2006), destacando

    dados estatísticos elevados, afirma que “O Estado do Amapá encontra-se em quarto lugar na

    taxa de suicídio nacional”. Uma comparação entre Indicadores e Dados Básicos (IDB, 2008) e

    dados estatísticos do SUS (2008) ambos referente ao ano de 2006 demonstram que o estado

    do Amapá apresenta uma taxa de suicídio (4,9 / 100 mil habitantes) superior à taxa nacional

    (4,6 / 100 mil habitantes).

     No Amapá, segundo dados estatísticos de domínio público da POLITEC-AP referente

    ao período de 2006 a 2008 ocorreram 80 casos de suicídios em todo o Estado, sendo que

    destes, 63 casos (78,75%) ocorreram em Macapá conforme segue demonstrado na Tabela - 1.

    Tabela 1 - Suicídios registrados na POLITEC-APcomparativo entre município/método usado, Amapá  –  Período: 2006 a 2008

    Método usado

    2006 2007 2008

    MacapáOutromun.

    MacapáOutromun.

    MacapáOutromun.

    Enforcamento 13 4 14 6 21 5

    Envenenamento 2 1 3 0 3 0

    Queda de Nível 1 0 - - - -

    Tiro 2 0 2 0 2 1

    Total por ano 18 5 19 6 26 6

    Fonte: Arquivos da Polícia Técnico-Científica –  AP 

    Percebe-se então que de acordo com registros públicos da POLITEC-AP para 2006

    referente aos suicídios em Macapá, em 2006, 45% das vítimas estavam na faixa etária de 15 a

    29 anos.

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    De acordo como SUS (2008) a taxa de óbitos por suicídio no Brasil em 2006 foi de 4,6

     por 100 mil habitantes. Enquanto que, em Macapá, no mesmo ano, a taxa de suicídio foi de

    4,9 por 100 mil habitantes, de acordo com dados da Taxa de Mortalidade por Causas Externas

     –   TME referente a 2006. Estes dados cumprem o papel de alarmar a sociedade para um

    fenômeno que, de acordo com Ministério da Saúde (MS, 2006) é um problema de saúde

     pública e não apenas uma situação particular da vítima.

     Nesse sentido, pode-se afirmar que o comportamento suicida engloba desde as ideias

    de autodestruição, passando pelas tentativas de suicídio, resultando ou não em óbito

     prematuro. Brent e Kolko (apud. GASPARI, 2002), citando defende que o suicídio completo

    é considerado como ato final de uma série de tentativas em quantidade que pode variar de 1 a

    mais de 20. O mesmo autor citando MORGAN (1990) também afirma que o risco de novas

    tentativas de suicídio no ano seguinte à última tentativa de suicídio é de 15 % a 25 %.

     No que tange às tentativas de suicídio no contexto macapaense, o quadro não é menos

     preocupante, que o quadro dos suicídios completos. De acordo com os Boletins de

    Produtividade Ambulatorial fornecidos pelo Hospital de Emergência de Macapá, no período

    de 2006 a 2008, foram registrados 361 casos morbidades por causas externas, somente neste

    município, incluindo intencionais ou não intencionais. Destas, 73 casos de morbidades são de

    intencionalidades ligadas à autodestruição, isto é, tentativas de suicídio confirmadas,conforme ilustra a Tabela - 2 abaixo.

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    Tabela 2- Demonstrativos das morbidades por causas externassegundo a intencionalidade atestada no Boletim deProdutividade Ambulatorial/BPA, Amapá  –   Período:2006 a 2008

    Morbidade quanto àintencionalidade

    MunicípioNúmero de casos

    por anoTotal

    decasos2006 2007 2008

    intencionalidade nãodeterminada no BPA

    MCP 95 115 78 288

    OUTROS 4 5 110

    intencionalidadeligada à

    autodestruição(TENTATIVAS DE

    SUICÍDIO)

    MCP 26 23 24 73

    OUTROS 2 0 0 1

    Fonte: Arquivo Médico e Estatístico do Hospital de Emergência de Macapá-AP

    Comparando os casos de suicídios completos com as tentativas de suicídio ocorridos

    em Macapá, quanto ao sexo, os dados demonstram que os suicídios completos são mais

    freqüentes no sexo masculino, visto que dos 63 óbitos registrados (2006-2008), 51 eram

    homens e apenas 12 mulheres, isto é mais de 80% dos casos. Em contrapartida os casos de

    tentativas de autodestruição são predominantemente cometidos por mulheres. Quanto à faixa

    etária prevalecente nos óbitos por suicídio em Macapá fica em torno de 15 a 29 anos (50,79%

    dos casos entre 2006-2008). Estes dados em si, corroboram para provocar preocupação emtodos os envolvidos com a proteção à vida dos jovens, visto estarem sendo os maiores

    vitimados neste assunto.

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    CAPÍTULO 2 SUICÍDIO NA ADOLESCÊNCIA: FATORES DE RISCO E

    PREVENÇÃO

    Erikson (1968), em sua obra Identidade, juventude e crise, defendeu que a

    adolescência é o ápice do processo de obtenção da identidade, o qual se inicia nas etapas

    anteriores da infância. Para o autor, desde que nasce o ser humano passa por diversas etapas,

    em cada uma das quais um tipo específico de conflito e uma crise nova vão ocorrer.

    Assim, tornam-se comuns nesta fase da vida conflitos, decorrentes da transição e

    transformações próprios da juventude. O mesmo autor também defende serem comuns na

    adolescência às ideias de autodestruição, e as atribui ao ápice de construção do indivíduo,

    época de muitos conflitos e incertezas, que remontam a fases anteriores, desde a infância. É

    nesta fase de transição e amadurecimento que muitos jovens desenvolvem comportamento

    suicida que se apresenta em três etapas de morbidade crescente: a ideação suicida, o

     planejamento suicida, incluindo a provável escolha de um método e finalmente a tentativa de

    suicídio, que poderá levar ou não ao desfecho (AERTS; BAGGIO; PALAZZO, 2009).

    2.1 FATORES DE RISCO

    Fatores ou situações de risco são variáveis de natureza demográfica, sociológica,

    familiares, biológica, econômica, psicológica, psiquiátrica, religiosa, dentre outros (OMS

    2000; RESMINI, 2004) Estes não são estanques, mas em muitos casos estas dimensões

    apresentam-se de forma sobreposta e cumulativa no comportamento suicida, aumentandoainda mais o desafio da prevenção. Além disso, não se sabe ao certo quais as combinações

    entre os fatores de risco individuais que culminarão numa circunstância desencadeante da

    ideação suicida (tido como início do comportamento suicida) (WERLANG; BORGES;

    FENSTERSEIFER, 2005).

    Independente da região na qual ocorra, o comportamento suicida em si é um objeto de

     pesquisa complexo, por se tratar de um atentado direto contra o bem considerado mais

     precioso: a vida, e por envolver a convergência de inúmeros fatores de ordem psicológica,

    econômica, social, médica, religiosa, dentre outros. Pesquisas comprovam que a intenção

    suicida é agravada pela existência de um ou mais destes fatores de risco, que podem ser

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    classificados, segundo Resmini (2004, p.45) como “fatores fixos e fatores potencialmente

    modificáveis”. Os fatores fixos incluem: sexo, idade, orientação sexual, tentativa prévia de

    suicídio. Enquanto que, nos potencialmente modificáveis estão inclusos: ansiedade, doenças

    físicas, acesso aos métodos, situação empregatícia.

    Pessoas expostas aos mesmos fatores de risco formam grupos de risco, como por

    exemplo: os jovens, os idosos, os usuários de psicoativos, os acometidos de transtornos

    mentais, etc. E apesar de pertencer ao mesmo grupo de risco, não se pode esperar um

    desdobramento do comportamento suicida de um indivíduo para outro, porque a evolução

    mórbida está muito ligada à ontogênese de cada pessoa. Aquilo que é natural e suportável

     para um, pode não o ser para outro. Esta natureza multifacetada do comportamento suicida é

    que o torna ainda mais intrigante e desafiador.

    Alguns fatores de risco são bem conhecidos e citados em literaturas afins conforme

    segue:

    - Fatores econômicos: A busca pela auto-suficiência leva o jovem a alargar seus contatos

    sociais, englobando outros grupos que não a sua família. Isso o leva muitas vezes à

    insegurança e a uma transferência da necessidade de apoio e aprovação da família para seu

    novo grupo social.

    - Fatores sóciofamiliares:  contexto familiar conturbado, marcado por constantes brigas edesentendimentos, onde os filhos não compartilham seus problemas e dificuldades em casa

     por desacreditarem da resposta dos pais ou temerem represálias após exporem seus assuntos

    íntimos, provoca um distanciamento entre as gerações, o que se manifesta no adolescente por

    meio de um sentimento profundo de solidão e de incompreensão.

    Esta falta de coesão no relacionamento familiar é tida como um fator de risco não

    apenas estressor como também precipitante ao suicídio entre jovens em todo o mundo, visto

    que o jovem busca na família sua referência emocional e um ponto de equilíbrio para oenfrentamento das intempéries da vida (ALVES; BAPTISTA; SANTOS, 2008).

    A falta de apoio e aprovação nos grupos sociais às quais o jovem pertence gera um

    efeito dominó, no caso, o aspecto afetivo do adolescente. Precisamente, ele tende a ficar

    dependente de relações extra-familiares para obter suporte. Segundo a opinião de Resmini

    (2004, p. 56), “Ao se alcançar por inteiro, por exemplo, numa relação amorosa, a outr a pessoa

     passa a ser vista como tendo o poder único de gerar estabilidade na sua vida”. Então, caso

    ocorra uma ruptura também nesta relação afetiva, muitos jovens passam a enxergar no

    suicídio uma saída confortadora. Nestes casos, os conflitos da juventude apresentam-se como

    combustível para o comportamento suicida.

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    - Fatores ligados à escola:  o espaço escolar oferece a facilidade de observação dos

    comportamentos dos jovens em decorrência do razoável período de tempo diário que passam

    no convívio social neste ambiente. A escola “não testa apenas o conhecimento, mas também a

    capacidade de tolerar frustrações e de conviver num sistema de regras comuns e diferentes

    daquelas da família” (RESMINI, 2004). Circunstâncias envolvendo as vivências no ambiente

    escolar podem fornecer indícios de um jovem desenvolvendo ideação suicida. Discriminação

    no ambiente escolar, baixo rendimento expressivo em escolares comumente medianos, uso ou

     parceria com usuários de drogas e álcool são alguns dos fatores apontados por Resmini (2004)

    como próprios do contexto escolar. É importante lembrar que o perigo é quando os fatores de

    risco em geral se apresentarem sobrepostos. No caso do baixo rendimento o mesmo autor

    estabelece uma diferenciação entre o mau rendimento escolar crônico e o mau rendimento

    escolar eventual.

    O primeiro, diz respeito ao resultado acadêmico habitualmente ruim, enquanto que no

    último, o aluno tem um desempenho escolar razoável, mas eventualmente, apresenta um

    resultado à baixo do esperado. Ele também ressalta que, é o baixo rendimento crônico que

    denota preocupação, visto está relacionado à baixa alto-estima e dificuldades de concentração,

    além da falta de interesse nas atividades habituais, próprio de jovens que desenvolvem

     pensamentos suicidas. Um detalhe importante sobre desempenho escolar é retratado nodocumento Prevenção do Suicídio: Manual para Professores e Educadores, da OMS (2000,

     p.17) quando afirma que uma sequência de baixo rendimento súbito injustificado em escolares

    que habitualmente têm bom desempenho escolar, conjugado a outros comportamentos que

    expressem “sofrimento mental e social” pode ser encarado pelos educadores como indício de

     jovem em conflito e com ideação suicida.

    Além disso, no ambiente escolar às vezes ocorre discriminação dos escolares por parte

    dos pares, por sua orientação sexual por exemplo. A deficiência das redes sociaisespecialmente para quem ainda está em fase de autoafirmação e amadurecimento da

    identidade pode provocar sofrimento psíquico que serve de combustível para ideação suicida.

    A socialização com os pares, na fase de construção de identidade é necessária e saudável para

    o amadurecimento social (CORRÊA; BARRERO, 2006). Esse convívio fortalece o

    sentimento de pertencimento social, tido como um dos maiores antídotos contra o pensamento

    suicida (DURKHEIM, 2005).

    Além desses citados por categorias, a OMS (2000) ressalta que também existem outros

    que merecem destaque devido sua relevância na identificação de jovens suicidas como por

    exemplo, experiências emocionais difíceis, incluindo perda recente ou acontecimento,

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    traumático; ter vivenciado um suicídio na família ou em seu círculo de amizades;

    identificação com o morto, tê-lo como modelo; dificuldade de identificação sexual,

    homossexualidade; comportamento desviante, delinqüência, prostituição, consumo de drogas,

    álcool, medicamentos; fugas; deslocamentos repetidos em família ou centro de acolhimento,

    uma ou várias tentativas anteriores de suicídio. 

    2.2 PREVENÇÃO

    Apesar dos casos de suicídio em sua maioria estar ligados a alguma morbidade mental,

    estes não são de preocupação apenas de profissionais da saúde, mas de toda a comunidade,

    visto ter atingido o patamar de problema de saúde pública, tanto por ter atingido taxas

    alarmantes em todo mundo como por envolver prejuízos sociais (CORRÊA; BARRERO,

    2006 ).

    Diversos estudos defendem que a morte por autodestruição é plenamente prevenível,

    apesar de não se tratar de tarefa fácil devido às causas multidimensionais envolvidas no ato.

    Além disso, conforme já mencionado no capítulo 2 deste estudo, muitos dos fatores de risco pertencem à categoria de fatores potencialmente “modificáveis” e mesmo os chamados fatores

    “ fixos” em muitos casos são circunstanciais (como idade, anomia em razão de guerra civil).

    Com isso infere-se a importância de duas medidas de natureza profilática: os fatores

     protetivos e os programas preventivos.

    Como fatores protetivos estão relacionados, o bom relacionamento e apoio recíproco

    com membros da família, também alguns cognitivos e de personalidade como, bom

    relaciomento interpessoal, autoconfiança, ter mente aberta para o novo, inclinação de procurarajuda/conselho mesmo para assuntos considerados pequenos (Ex: atividades escolares) e

    acima de tudo autoestima e resiliência (WERLANG; BORGES; FENSTERSEIFER, 2005;

    OMS, 2000).

     Neste sentido, Baptista (2004) e Teixeira (2004) destacam a importância do suporte

    social e familiar na prevenção de uma evolução suicida, visto que os vínculos familiares e

    sociais estão diretamente ligados ao desenvolvimento, manutenção e melhora de pacientes

    com transtornos afetivos e estes por sua vez representam perigo crescente às tentativas de

    suicídio. O relacionamento familiar saudável também é tido como facilitador de inter-relações

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    futuras que dêem continuidade ao sentimento de pertença social tão necessário como fator

     protetivo

    Isto posto, convém destacar que Rede Social é diferente de Coesão Social. Rede Social

    diz respeito ao número de grupos sociais cujo jovem faz parte ou pertence, enquanto que

    Coesão Social se refere ao quanto esta Rede Social é coesa, unida em prol de algo. O jovem

     pode pertencer a vários grupos sociais formando uma grande teia de Rede Social e, no entanto

    sentir-se só, caso suas inter-relações nos grupos não forem consistentes, ele pode ter muitos

    amigos, mas não poder contar realmente com nenhum deles em um momento de aflição ou

    conflito, comum da fase geracional à qual atravessa. Assim, como fator protetivo Baptista

    (2005) destaca a Coesão Social como suporte emocional de grande valia para o jovem com ou

    sem ideação suicida.

    É importante que a família supra a necessidade de suporte social dos jovens, como

    núcleo social ligado à formação do indivíduo, o que independe de sua estrutura. Baptista

    (2005, p.11) salienta que “o suporte social, mas especificamente o suporte familiar, pode ser

    considerado um dos mais relevantes dos amortecedores do efeito de diversos estressores na

    vida das pessoas, tornando-o fundamental nos estudos de resiliência psicológica”. No entanto,

    o mesmo autor ressalta que  suporte  familiar não tem relação direta com estrutura  familiar,

    isto é, independentemente da estrutura ser tradicional (pai, mãe, filhos) ou ser uma estruturaalternativa, o importante é que a carência de suporte afetivo seja suprida, com apoio, amor e

    acolhimento. Enfim, os fatores protetivos incluem o desenvolvimento de:

    uma série completa de atividades, abrangendo desde a provisão das melhorescondições possíveis para congregar nossas crianças e jovens através de umtratamento efetivo dos distúrbios mentais até um controle ambiental dos fatores derisco. (OMS, 2000, p.3).

    Analisando a acepção acima percebe-se que a sensibilização de específicos grupos

    sociais e profissionais, bem como a veiculação de informação adequada a cerca do suicídio,

    também são de grande ajuda no combate e prevenção do fenômeno.

    Como parte dos programas preventivos contra o comportamento suicida, a OMS

    lançou em 1999 o Estudo de Intervenção sobre o Comportamento Suicida em Múltiplos

    Locais, na sigla em inglês (SUPRE-MISS) isto é, uma série de esforços conjuntos incluindo a

    elaboração e publicação de documentos informativos para alcançar pessoas e grupos distintos,

    incluindo “profissionais de saúde, educadores, agentes sociais, governantes, legisladores,

    comunicadores sociais, forças da lei, famílias e comunidades.”  (op cit , p.3). Segundo Luiz

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    Alberto Hetem (2010), Barrero, Nicolato e Corrêa (2006) a identificação precoce e correto

    encaminhamento de casos de transtornos mentais, são de grande valia como medida

     profilática visto que 90% dos casos de comportamento suicida, desde a ideação, a tentativa até

    o suicídio consumado, estão ligados a esta morbidade.

    Reconhecendo que os profissionais de educação podem exercer uma força positiva na

     prevenção da morte prematura na população jovem, a OMS lançou em 2000 o documento

    “Prevenção do suicídio: manual para professores e educadores” que visa à melhor preparação

    destes profissionais na identificação e manejo de jovens que esbocem comportamento suicida.

    Sobre isso, Corrêa e Barrero (2006, p.106) comentam:

    A promoção de saúde para prevenir o comportamento suicida nos adolescentes deveincluir não apenas os profissionais de saúde mental, mas também outras pessoas quese relacionam a maior parte do tempo com eles, como familiares, os professores eos próprios adolescentes. (o grifo é nosso)

    Assim, ver-se que a escola é reconhecidamente um espaço privilegiado para se

    trabalhar a formação de valores, hábitos e posturas diante das vivências, próprias da existência

    humana em sociedade, com a intenção de reforçar as políticas preventivas contra o suicídio.

    Também faz parte dos Programas Preventivos da OMS a publicação do documento

    Prevenção do suicídio: um manual para conselheiros (OMS, 2006, p.21), ressaltando que:

    Os professores passam muito tempo com [...] adolescentes e, geralmente sãotambém boas fontes de informação sobre questões de saúde mental relativa aosestudantes. Além disso, quando adequadamente treinados, os funcionários da escola

     podem identificar fatores de risco entre os alunos.

    Isto significa que, o espaço escolar pode e deve ser aliado na prevenção e combate ao

    comportamento suicida, especialmente por se tratar de um espaço de relações que exerce

    grande influência na vida dos jovens. O mesmo documento também destaca que muitosfatores de risco podem ser minimizados por meio de um controle ambiental.

    Portanto, a importância da escola como espaço de prevenção é destacada pelo fato dos

    dados estatísticos revelarem a crescente tendência de jovens na faixa etária de 15 a 25 anos

    estarem entre as maiores vítimas do suicídio. Logo, muito pode ser feito por estes jovens no

    âmbito escolar a começar pelo desenvolvimento de discussões no contexto escolar sobre a

    temática, visando quebrar o tabu cultural que envolve o tema suicídio. Também podem ser

    desenvolvidos projetos de treinamento de educadores e profissionais em geral da educação

    que lidem diariamente com os jovens na escola, a fim de treiná-los para identificar nos jovens

    comportamentos associados a uma evolução mórbida, com o intuito de conduzí-lo à

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    avaliações com especialistas na área. Esta atitude de identificação e direcionamento para um

    especialista é muito importante, visto que 90% dos casos de suicídio estão ligados aos

    transtornos mentais e destes 10% se referem a casos de algum tipo de depressão, o que

    reafirma a importância de um profissional da saúde mental no âmbito escolar (SERFATY,

    1998; OMS 2000)

    Somando-se a isso, mostram-se necessárias as práticas preventivas nas vivências da

    escola, incluindo a criação e o fortalecimento de diversos tipos de redes sociais, a fim de

     prover aos jovens a convivência sadia com seus pares, tida como um dos maiores antídotos

    contra o comportamento suicida já desde a ideação.

    Assim, observando-se que o comportamento mórbido tem se manifestado de forma

    crescente entre os jovens ainda em idade escolar, urge a necessidade de se voltar um olhar

    mais atento para esta comunidade por parte de todos os interessados na saúde destes que são

    vítimas em potencial da ideação suicida. Buscando ampliar a discussão a sessão a seguir

    tratará de estudos nacionais sobre a ideação suicida entre jovens.

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    CAPÍTULO 3 ESTUDOS NACIONAIS SOBRE IDEAÇÃO SUICIDA ENTRE JOVENS

    Em todo o mundo, o fenômeno do suicídio entre os jovens, com sua natureza

    multifacetada, demanda diversas frentes de pesquisas no mundo todo buscando conhecer para

    compreendê-lo melhor. Neste respeito, os estudos sobre ideação suicida, tida como fase inicial

    do comportamento mórbido mostram-se relevante devido sua capacidade preditiva na

    avaliação dos riscos ao comportamento suicida entre os jovens.

    Gaspari (2002) em seu estudo sobre suicídio pesquisou sobre a relevância da rede

    social como preditora de comportamento suicida e protetora da saúde mental do indivíduo,

     buscando comparar a Rede de Apoio Social de pacientes que tentaram suicídio e que foram

    atendidos no pronto-socorro do Hospital das Clínicas da Unicamp, com a rede de apoio social

    de acompanhantes de outros pacientes pareados por sexo e faixa etária. O tamanho dessa

    amostra foi de 29 indivíduos (14 homens e 15 mulheres) em cada grupo, perfazendo um total

    de 58.

    Os instrumentos selecionados para esse estudo foram: Questionário de Tentativa de

    Suicídio para Pronto-Socorro  –   TS-PS, abrangendo informações sócio-demográficas e

    clínicas, e um questionário similar adaptado para os indivíduos do grupo controle; SSQ  – Questionário de Rede de Apoio Social; GAS - Escala de Avaliação Global do Funcionamento

    Psicossocial-Adulto; GARF - Escala de Avaliação Global do relacionamento Social e

    Familiar (Global Assessment of Relational Functionig  – DSM IV,1995); EAS/BB (Escala de

    Apoio Social de BILLEBRAHE ET AL., 1993).

    Os resultados demonstram que no grupo de Tentativas de Suicídio (T.S.) 10 (34,5%)

    eram oficialmente casados contra 15 (51,7%) no grupo controle. Além disso, para o grupo TS,

    em média, 1 indivíduo compunha a rede de apoio social dos respondentes, e no grupo SE, amédia foi de aproximadamente 3 indivíduos, o que permitiu à autora afirmar que a Rede de

    Apoio Social dos indivíduos que tentam suicídio é mais escassa que a dos indivíduos do

    grupo controle. Dado corroborado pela diferença no grau de satisfação com a rede de apoio

    social entre os dois grupos estudados, visto que a rede social do grupo que tentou suicídio, de

    acordo com a pesquisa, foi menos favorável que a do grupo controle. As escalas GAS e

    GARF também apontaram para um baixo desempenho no relacionamento social e familiar

    dos membros do grupo que tentaram suicídio em comparação com os que não o tentaram.

    Werlang, Borges e Fensterseifer (2005), em seu estudo quantitativo do tipo transversal

    sobre fatores de risco e protetivos ao suicídio, objetivaram identificar fatores de risco e de

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     proteção para a presença de ideação suicida da população geral. A amostra foi composta de

    526 adolescentes, entre 15 e 19 anos, de escolas públicas e privadas da cidade brasileira de

    Porto Alegre. Os instrumentos utilizados foram o Inventário de Depressão de Beck (BDI), a

    Escala de ideação Suicida de Beck (BSI) e uma ficha de dados pessoais para identificação de

    dados sócio-demográficos, incluindo idade do adolescente, estado civil, nível de escolaridade,

    existência de repetência de anos escolares, com quem ele reside, se os pais são vivos, se são

    separados, se o jovem trabalha e em que atividade, se tem alguma doença física ou

     psicológica, se faz uso de algum medicamento, se fez ou faz tratamento psicológico e,

    finalmente, se conhece alguém que tenha tentado o suicídio ou consumado.

    O s resultados indicaram que dos 526 jovens pesquisados, 188 (35,7%) apresentam

    ideação suicida. Das 295 mulheres da amostra, 127 (67,6%) apresentam ideação suicida,

    assim como 61 (32,4%) dos 231 homens. Dos adolescentes estudados, 513 residem com a

    família, e destes, 35,5% apresenta ideação suicida. Já os que moram sozinhos ou sem

    qualquer familiar, 46,2% apresenta ideação suicida. No estudo, também ficou demonstrado

    que dentre os adolescentes com repetência escolar, a maioria (62,9%) não apresenta

     pontuação para ideação suicida na BSI. Em relação a exercer alguma atividade, além de

    estudar, encontra-se que a maioria (62,3%) dos adolescentes que trabalha não apresenta

    ideação suicida. Também há presença de ideação suicida em 70,6% dos adolescentes do presente estudo, que julgam ter alguma doença psicológica, considerando principalmente que

    o que prevaleceu foi a referência à depressão. A presença de depressão aparece, então, como a

    variável de maior valor preditivo de ideação suicida.

    A partir de outro prisma, Ficher e Vansan (2008) realizaram uma pesquisa que teve

     por objetivo analisar, comparativamente, a distribuição temporal de todos os casos de

     pacientes adolescentes, com idade entre 10 e 24 anos, atendidos no setor de urgências

     psiquiátricas de um grande hospital geral universitário, após tentativas de suicídio e uso/abusode substâncias psicoativas, durante o período de 1988 a 2004 em Ribeirão Preto- São Paulo.

    Estudou-se, especificamente, os casos de tentativas de suicídio, considerando sua distribuição

    quanto à idade, sexo e método utilizado. Como metodologia optou-se por uma investigação

    levando em conta um levantamento retrospectivo de todos os casos de pacientes adolescentes

    atendidos no setor de urgências psiquiátricas do Hospital das Clínicas da Faculdade de

    Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, no período de 1988 a 2004, após

    tentativas de suicídio e uso/abuso de substâncias psicoativas, e de dez histórias clínicas

    obtidas por meio de entrevistas realizadas com pacientes adolescentes, selecionados ao acaso,

    atendidos no setor por tentativas de suicídio. Os resultados demonstram que há uma forte

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    correlação positiva entre os números de casos anualmente atendidos por tentativas de suicídio

    e os devidos ao uso/abuso de substâncias psicoativas, tanto para os adolescentes do sexo

    masculino, quanto para os do sexo feminino sendo que as tentativas de suicídio foram

    significativamente mais frequentes no sexo feminino. O resultado das entrevistas revelam que

    a maioria desses adolescentes era proveniente de lares desestruturados, predominantemente

     por separação dos pais, e que a tentativa ocorreu com mais freqüência após discussão com

     pessoas significativas do núcleo sócio-familiar, demonstrando que os atritos psicoafetivos de

    natureza sóciofamiliares ocupam uma posição expressiva como fator precipitante ao ato

    suicida.

    Já os estudos Suicidio em la adolescência, de Serfaty (1998) faz um rico levantamento

     bibliográfico a cerca da temática, destacando que os jovens que avançam no comportamento

    suicida em geral, anunciam de forma velada seu intento, para um amigo ou familiar pouco

    tempo antes da tentativa, como que solicitando uma oportunidade de ser salvo O pedido de

    ajuda pode vir em forma de algo escrito como uma poesia, cartas, relatos cujo conteúdo tem

    relação direta ou indireta com a morte. A autora destaca como fatores de risco ao suicídio:

    consumo de álcool, a influência do meio ambiente, no caso de comportamento suicida, abuso

    de psicoativos por pessoas próximas ao jovem, incluindo amigos e familiares. Além disso, a

    existência de um ambiente vivências hostis, com tensão ou violência torna-se um fator derisco na adolescência. Outros sintomas de probabilidade de suicídios incluem: a presença de

    ideias de suicídio, a depressão, a insônia e a redução da sociabilidade.

    Quanto às medidas preventivas mais eficazes, os estudos da autora revelam que as

    ações de prevenção e informação sobre a evolução mórbida devam ser disseminadas

    especialmente em ambiente escolar, a fim de propiciar aos jovens a possibilidade de

    esclarecimento, estímulo da autoestima e a tomada de decisão por parte dos adolescentes por

    meio da técnica de antecipação. Além disso, o espaço escolar oferece a oportunidade dedetectar e entrevistar as crianças e jovens que tenham reduzido bruscamente seu rendimento

    ou passem a manifestar alterações de conduta ou comecem a faltar às aulas com muita

    frequência. Tais informações mostram-se relevantes no treinamento dos profissionais de

    educação visando à prevenção ao comportamento suicida.

    De modo semelhante, Borges, Werlang e Copatti (2008) buscaram identificar a

     presença de ideação suicida e sua possível associação com a intensidade de depressão entre

    adolescentes na faixa-etária entre 13 e 17 anos, na cidade de Erichim, em Porto Alegre. Foram

    utilizados como instrumentos de coleta de dados uma Ficha com dados sócio-demográficos, a

    Escala de ideação Suicida de BECK (BSI) e o Inventário de Depressão de BECK (BDI). A

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    aplicação dos instrumentos foi coletiva com duração média de 30 minutos. A amostra foi

    composta por 204 adolescentes, sendo 123 mulheres (60,3%) e 81 homens (39,7%),

    devidamente matriculados em séries que iam da 7ª série do Ensino Fundamental ao 3° anos do

    Ensino Médio em instituições públicas.

    Os resultados demonstraram que dos 204 adolescentes pesquisados, 65 (31,9%)

    apresentaram ideação suicida. Destes 49 (75,4%) eram mulheres e 21 (32,3%) tinham 16

    anos. Também se constatou que depressão leve, moderada e grave estão associadas à ideação

    suicida em nível estatisticamente significativo.

     Neste respeito, Aerts, Baggio e Pallazzo (2009), buscando investigar a prevalência de

     planejamento suicida e fatores associados entre adolescentes escolares, realizaram uma

     pesquisa do tipo transversal com 1.170 estudantes na idade entre 12 e 18 anos, regularmente

    matriculados na 7ª série do Ensino Fundamental, da rede pública de ensino de um município

    de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Os instrumentos utilizados foram três questionários auto-

    aplicáveis: um contendo 46 indagações a cerca de uso de álcool, drogas, violência,

    sentimentos de solidão e tristeza, relacionamento familiar, planejamento suicida,

    comportamento na escola e com amigos, padronizado pela Organização Mundial da Saúde,

    um segundo questionário elaborado especialmente para o estudo que forneceu dados a

    respeito de sexo e a inserção sócio-econômica, baseada na proposta da Associação Brasileirade Pesquisa (ABEP) e o terceiro instrumento de coleta, o Body Shape Questionanaire

    utilizado para avaliar a preocupação com a imagem pessoal. Os dados foram coletados por

    uma equipe de acadêmicos previamente capacitados.

    Os resultados apontam para uma prevalência em planejamento suicida em 6,3% na

    amostra estudada. A análise multivariada utilizando a regressão de Cox mostrou que o

     planejamento suicida é mais prevalecente em meninas e jovens que referem problemas na

    relação com os pais. O uso de drogas pelos amigos e pequeno número de amigos próximosaumentaram em, respectivamente, 90% e 66% o planejamento suicida. Aqueles agredidos por

    colegas, os que referiram sentirem-se sozinhos e tristes apresentaram duas a três vezes mais

     prevalência de planejamento suicida. As variáveis: ocorrência de injúrias, participação em

     brigas, sentimento de discriminação e medo de ir à escola por insegurança também tiveram

    associação significativa ao desfecho. Na análise univariada, as variáveis beber/ficar

    embriagado, sentimento de solidão, dificuldade para dormir, sentimento de tristeza e imagem

    corporal, também apresentaram associação estatisticamente significativa com o planejamento

    suicida. Assim, relações familiares adversas, contatos agressivos com colegas e sintomas

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    depressivos aumentam a prevalência de planejamento suicida, necessitando de ações

     preventivas na escola, incluindo a família.

    Ainda sobre a fase inicial do comportamento suicida, Borges e Werlang (2006)

    desenvolveram um estudo de natureza quantitativa do tipo transversal, no qual buscaram

    identificar a presença de ideação suicida na população em geral, caracterizando os jovens com

    ideação quanto à intensidade de depressão/desesperança, também, qual a relação entre a

    ideação e a depressão/desesperança e quais das variáveis encontradas as que mais se associam

    à ideação suicida entre jovens. O estudo foi realizado com uma amostra de 526 adolescentes

    matriculados em instituições públicas e privadas de Porto Alegre, com idades entre 15 e 19

    anos de ambos os sexos.

    Como instrumento utilizou-se uma ficha contendo indagações a cerca de dados sócio-

    demográficos, também a Escala de Ideação Suicida de BECK, Inventário de Ideação de

    BECK e Escala de Desesperança de BECK. Os dados revelaram que na amostra estudada,

    36% dos jovens apresentaram ideação suicida. Destes 36% apresentaram sintomas de

    depressão e 28% de desesperança (moderada e/ou grave). As variáveis mais associadas à

    ideação suicida foram: sexo feminino, tentativa de suicídio de amigo, depressão e

    desesperança.

    Já os estudos de Araújo, Coutinho e Saraiva (s/ano) objetivaram investigar a problemática da ideação suicida em adolescentes do ensino médio inseridos no contexto

     público na cidade de João Pessoa-PB. O universo amostral foi composto de 90 adolescentes

    (57,7% do sexo feminino e 42,2% do masculino) com idades entre 14 e 22 anos, com maior

    frequência de 17 a 19 anos de idade. A maioria dos participantes era solteiro (93,3 %),

    moravam com os pais (74,4 %), não trabalhava (75,5 %). Os instrumentos de coleta utilizados

    foram o Teste de Associação de Palavras, o inventário de Ideação Suicida (BSI) com 21 itens

    indagatórios e um questionário sóciodemográfico. Os instrumentos foram aplicados em salade aula e mais tarde houve uma comparação entre os grupos que fizeram referência a ideação

    suicida com o grupo de pares que não o fez. Os resultados demonstraram que 22,2% dos

    adolescentes que apresentaram ideação se autorepresentaram como pessoas sozinhas,

    associando a ideação a sentimentos de desesperança e solidão, ao mesmo tempo em que

    expressaram um pedido de ajuda frente ao seu sofrimento. Um fator relevante foi o resultado

    de que o grupo que apresenta ideação suicida composto ainda dos adolescentes na faixa etária

    entre 14 e 16 anos, que se autorepresentaram como indivíduos sozinhos, se diferenciando do

    grupo sem ideação.

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     Na esteira do estudo acima, Araújo, Vieira e Coutinho (2010) desenvolveram uma

     pesquisa visando apreender as representações sociais da ideação suicida elaboradas por

    adolescentes do ensino médio, bem como investigar a presença deste fenômeno nesta

     população, visto ser a ideação suicida tem um importante valor preditivo para o ato suicida.

    Participaram do estudo 90 estudantes do ensino médio, de uma escola da rede pública de

    ensino do município de João Pessoa-PB, os quais responderam ao Teste de Associação de

    Palavras, ao Inventário de Ideação Suicida de Beck e a um questionário sociodemográfico. Os

     pesquisadores decidiram por agrupar os respondentes em dois grupos (respondentes com e

    sem ideação suicida) e realizar a análise tomando como ponto de partida a comparação entre

    estes dois grupos. Os resultados apontam para um índice de 22,2% de adolescentes com

    ideação suicida, havendo significativas diferenciações entre as representações elaboradas

     pelos grupos com e sem ideação suicida. Os adolescentes que apresentaram ideação se

    autorrepresentaram como pessoas sozinhas, associando a ideação a sentimentos de

    desesperança e solidão, ao mesmo tempo em que expressaram um pedido de ajuda diante de

    seu sofrimento.

    Souza, Ores e Oliveira et al. (2010) desenvolveram um estudo transversal sobre

    ideação suicida objetivando avaliar sua prevalência, bem como seus fatores associados numa

     população jovem. O instrumento utilizado foi um questionário autoaplicável. O universoamostral foi composto por 953 jovens, com idade entre 15 a 18 anos na cidade de Pelotas-RS.

    Os resultados revelaram que a prevalência suicida foi de 7,7% e que a ideação suicida está

     predominantemente associada ao sexo feminino. Destacam-se como fatores

    significativamente associados com o desfecho o sedentarismo, o uso de drogas no último mês,

     bem como ter tomado um porre no mesmo período e ter se envolvido em duas ou mais brigas

    com agressão nos últimos 12 meses. Os participantes considerados sedentários apresentaram

    risco 71% maior para ideação suicida do que os demais jovens. Já os adolescentes querelataram uso de álcool e ter tomado porre no último mês apresentaram risco cinco vezes

    maior de ideação suicida do que os não referiram tal comportamento Da mesma forma, o uso

    de drogas apresentou-se como variável significativamente associada ao desfecho estudado e

    ter se envolvido em duas ou mais brigas com agressão apresentou risco acrescido para ideação

    suicida

    Isto posto, ressalta-se a relevância de estudos relacionados à ideação suicida tendo em

    vista seu papel preditivo na avaliação do risco ao suicídio, ajudando a traçar um perfil dos

     jovens suicidas na fase inicial.

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    Como foi visto nos resultados das pesquisas supra citadas, o comportamento suicida,

    desde sua fase inicial, é muitas vezes mascarado por atitudes tidas como agressivas e

    desviantes ou os jovens suicidas demonstram atitudes apáticas com reflexos nas vivências na

    escola, como baixo rendimento escolar, faltas constantes e desinteresse injustificado. Também

    é observado em jovens em risco um comportamento que demonstra sofrimento psíquico,

    como conflitos emocionais de natureza insuportável para a vítima, muitas vezes advindas de

    casos de brigas, injúrias, discriminação, ou fortes desavenças no núcleo sócio-familiar que

    acarreta ao adolescente um transtorno emocional insuportável que o precipita a atentar contra

    sua vida.

    Também ficou evidente nos estudos que, esta atitude ambivalente, em alguns casos são

     potencializados pelo uso de substâncias psicoativas lícitas e não lícitas, como álcool e drogas

    ou mesmo apenas pela convivência com usuários. Isto destaca a importância do controle dos

    fatores ambientais que segundo as pesquisas exercem um papel de extressores (aqueles que já

    ocorrem por determinado tempo na vivência do jovem) ou como precipitante (aqueles que

    ocorrem momentos antes da tentativa), o que reforça a concepção de que o comportamento

    suicida é plenamente prevenível, visto que muitos fatores de risco são de natureza

    modificável.

    Hildebrandt, Zart e Leite (2011) desenvolveram uma pesquisa descritiva que visavaconhecer e analisar as razões que levaram adolescentes a tentar suicídio e os métodos por eles

    utilizados para concretizar este evento. A coleta de dados foi realizada em instituição

    hospitalar localizada em um município do Rio Grande do Sul, e para tal foi utilizado a

    entrevista semiestruturada. As questões que nortearam a entrevista foram: O que levou você a

    tentar o suicídio? Como você tentou o suicídio? Além disso, questionou-se sobre dados de

    identificação. Os sujeitos de pesquisa foram três indivíduos que tentaram o suicídio, com

    idade entre 13 e 18 anos.A análise dos dados revela que os conflitos familiares representaram a principal causa

    das tentativas de suicídio entre os participantes estudados, devido relatos de vida familiar

    conflituosa e desavenças familiares que desencadearam um estado mental de desequilíbrio,

    insegurança e angústia que levaram os jovens pesquisados a atentarem contra suas vidas. As

    autoras ressaltam a atitude ambivalente dos jovens diante de conflitos, desejando resolver seus

     problemas com soluções de caráter tudo ou nada, atitudes próprias de jovens em fase de

    construção de identidade. Além disso, os depoimentos permitem identificar a percepção de

    tristeza e insegurança, provenientes de uma situação de desamparo e desesperança e são

    comumente mascaradas por rebeldia e impulsividade na busca desastrosa de atenção e

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    carinho. Destaca-se que os relatos demonstram o desejo simultâneo de vida e morte dos

    adolescentes que apresentam-se em conflitos mental causado por dor psíquica devido seus

     problemas vivenciados.

    Outro aspecto importante apresentado neste estudo diz respeito ao uso de psicoativos

     por parte dos jovens suicidas. As autoras relatam que o abuso de psicoativos é apresentado

    como o segundo diagnóstico mais frequentes entre pessoas que tentam e cometem suicídio.

    Por isso, as medidas de prevenção do uso de substâncias psicoativas se fazem necessárias para

    os casos de comportamento suicida. A sessão a seguir tratará da medotologia adotada na

     pesquisa.

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    CAPÍTULO 4 METODOLOGIA

    4.1 OBJETIVOS

    4.1.1 Geral 

    Identificar fatores de risco e ações positivas de caráter preventivo em relação ao

    ideário suicida entre os jovens de 15 a 25 anos em Macapá, por meio de levantamento de

    dados entre escolares do Ensino Médio, visando à sensibilização de profissionais da educação

    e gestores públicos para a problemática do fenômeno neste município.

    4.1.2 Específicos:

    - Comparar um grupo de jovens que referem ter concebido pensamento suicida nos

    últimos doze meses com um grupo de pares que não o conceberam, pareando aspectos

    demográficos, sócio-econômicos e psicológicos;

    - Levantar dados à cerca das iniciativas educacionais, que direta ou indiretamente,

    surtem efeitos profiláticos em relação ao comportamento suicida entre os jovens escolares em

    Macapá.

    4.2 TIPOS DE PESQUISA

    O estudo foi de caráter descritivo, do tipo quanti-qualitativo visto que incluem tanto

     perguntas objetivas como também indagações que valorizam as vivências e percepção da

    realidade no âmbito escolar do sujeito pesquisado. De acordo com Terence e Filho (2006) as

     pesquisas qualitativas são aquelas que se ocupam em compreender as intenções e os

    significados dos atos humanos, enquanto que a quantitativa ocupa-se em entender a realidade

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    de modo objetivo, estabelecendo a relação de causa/efeito. Neste caso, este estudo envolve o

    levantamento e análise de dados na sua maioria objetivos, mas visto que os fatores de risco

    em última instância são de natureza ontogênica. Assim, como já foi dito anteriormente, a

     pesquisa também levou em conta a maneira como o indivíduo percebe sua realidade escolar.

    4.3 PARTICIPANTES

    Foram participantes 164 alunos de escolas públicas do Ensino Médio na cidade de

    Macapá. A amostra foi composta por conglomerado, sendo (66,46%) do gênero feminino e

    (33,53%) do masculino. Os participantes tinham idades variando de 15 a 25 anos. Quanto ao

    ano de escolaridade, participaram alunos do 1º (25,60%) 2º (61,58%), e 3º (12,80%) ano do

    Ensino Médio, distribuídos entre os períodos, matutino, vespertino e noturno. 

    4.4 INSTRUMENTOS

    A coleta de dados foi do tipo transversal, visto ter sido realizada em um único

    momento, retratando de modo pontual o estado de espírito e a realidade do sujeito da

     pesquisa. Para o estudo foi utilizado um instrumento de coleta denominado de Questionário

    de Identificação (apêndice A), auto-explicável, aplicado aos alunos em sala de aula. As

    questões são do tipo fechado e semi-aberto, conforme segue:

    - Questões de 1 a 12:  contendo indagações de natureza demográfica e sócio-econômica;- Questões de 13 a 19:  referem-se a comportamentos relacionados ao consumo de

    álcool e drogas;- Questões de 20 a 25:  indagam sobre algumas vivências próprias do contexto

     pesquisado, como: rendimento escolar e convívio com colegas;

    - Questões de 26 a 30:  referem-se à auto-imagem do respondente e seu estado

    emocional, incluindo sentimentos de tristeza, solidão e pensamentos suicidas;

    - Questões de 31 a 36:  indagam sobre percepção dos jovens em relação a fatores

     protetivos como realidade em sua escola.

  • 8/20/2019 Tcc Silvia Pelaes - Lpe23

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    O referido Questionário de Identificação retrata bem o caráter dedutivo deste estudo,

     pois em sua elaboração foram levadas em conta as conclusões de