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RODRIGO DANIEL LEVOTI PORTARI
O DESTINO DO FOTOJORNALISTA NOS
JORNAIS DE PEQUENO E MÉDIO PORTE NA
REGIÃO DE FRUTAL
BACHARELADO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL
UNIRP/SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
2004
1
RODRIGO DANIEL LEVOTI PORTARI
O DESTINO DO FOTOJORNALISTA NOS
JORNAIS DE PEQUENO E MÉDIO PORTE NA
REGIÃO DE FRUTAL
Orientadora: Prof. Dra. Dinamara Garcia Rodrigues
BACHARELADO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL
UNIRP/SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
2004
2
RODRIGO DANIEL LEVOTI PORTARI
O DESTINO DO FOTOJORNALISTA NOS JORNAIS DE
PEQUENO E MÉDIO PORTE DA REGIÃO DE FRUTAL
Monografia apresentada à banca examinadora do Centro Universitário de Rio Preto –
UNIRP-, como exigência parcial para obtenção do grau de bacharel em comunicação
social, sob a orientação da Professora Doutora Dinamara Garcia Rodrigues.
SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
2004
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BANCA EXAMINADORA
____________________________________
____________________________________
____________________________________
____________________________________
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A realidade e a Imagem
O arranha céu sobe no ar puro lavado pela chuva
e desce refletido na poça de lama do pátio.
Entre a realidade e a imagem, no chão seco que as separa,
quatro pombas passeiam.
Manuel Bandeira
5
AGRADECIMENTOS
Esta monografia só foi possível graças ao apoio de amigos e companheiros como
João Cândido Carvalho Júnior e Josylene Nozima, que me deram ajuda para conseguir
concretizar a pesquisa de campo.
Agradeço em especial à minha mãe, Lília Maria Levoti Portari, por ter me dado
forças para prosseguir com meus estudos e pela enorme paciência dispensada a mim
durante estes quatro anos de viagens, amores, dissabores e, principalmente, muito suor. Ela
é a grande responsável por estarmos aqui, hoje, prestigiando o fruto de um ano de
pesquisas desenvolvidas nas cidades de Frutal, São José do Rio Preto, Uberaba e São
Paulo.
Também estendo meus agradecimentos a todos os entrevistados pela atenção
dispensada a este estudo. Com muita paciência e disposição, eles me atenderam à medida
do possível e deram todo apoio para que pudesse levantar informações sobre o assunto e
compilá-las na forma deste trabalho.
Para finalizar, agradeço, de forma especial, à minha orientadora, Professora
Doutora Dinamara Garcia Rodrigues, que, desde o primeiro semestre do curso, tem sido o
meu norte nos estudos da Comunicação Social. Sua paciência e sabedoria foram de
extrema importância para o desenvolvimento deste trabalho de conclusão de curso. Sem
essa ajuda da Dra. Dinamara, não conseguiria atingir o meu objetivo.
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SUMÁRIO
Introdução...............................................................................................7
1 – A História da Fotografia..................................................................9
2 – A História do Fotojornalismo..........................................................15
3 – A História da Fotografia no Brasil..................................................28
4 – O Destino dos Fotojornalistas nos Jornais de Pequeno e Médio
Porte na Região de Frutal...............................................................31
5 – Conclusão..........................................................................................42
6 – Anexos...............................................................................................45
7 – Bibliografia.......................................................................................65
8 – Linkografia.......................................................................................66
7
INTRODUÇÃO
Ao realizar este trabalho temos a intenção de identificar se as máquinas fotográficas
digitais estão mesmo presentes nas redações de pequeno e médio porte e até que ponto isso
colocará a profissão de fotojornalista, ou repórter fotográfico, em risco.
Para isso, selecionamos seis jornais, sendo cinco da região de Frutal, sendo dois do
município em questão, um de Uberaba, dois de São José do Rio Preto, e outro de São
Paulo, capital, que é considerado como um dos grandes jornais: Jornal de Frutal, Jornal
Pontal do Triângulo, Diário da Região, Dhoje, Jornal de Uberaba, Jornal da Manhã e O
Estado de São Paulo.
Todos estes órgãos de imprensa trabalham com equipamentos digitais para
captação de imagens. Estas máquinas começaram a serem utilizadas há pouco tempo se
comparados com os microcomputadores. Limitações técnicas no início da onda digital e o
alto custo desses equipamentos no começo fizeram com que a chegada do equipamento
digital na fotografia de jornal fosse retardada.
Ao contrário da grande imprensa, que conta com vários fotojornalistas para cobrir
os fatos, entre os jornais de médio porte, o Diário da Região é o que mais tem profissionais
a seu serviço, sendo seguido pelo DHoje. O Jornal de Uberaba tem apenas um repórter
fotográfico trabalhando. Caso aconteçam dois fatos de extrema importância no mesmo
momento, como um acidente e um homicídio, um dos repórteres terá que executar as duas
funções.
Já os jornais de pequeno porte apresentam um quadro mais grave. Por terem menos
condições financeiras do que as outras organizações, eles não contam com nenhum
fotojornalista. Em todas as redações, os repórteres se desdobram nas funções para tentar
levantar o máximo de informações para seus leitores. Porém, a qualidade do que é levado
ao público, sem dúvida, é muito inferior e deixa a desejar do que se espera do bom
jornalismo.
Esta situação nos levou a levantar o questionamento sobre qual seria o destino dos
fotojornalistas nos jornais da região de Frutal. Partindo desta inquietação, fizemos um
levantamento sobre a história da fotografia, história do fotojornalismo e, por fim, a história
da fotografia no Brasil. Esbarramos na carência de material especialmente no que tange à
história do fotojornalismo. Do pouco que se encontra em livros editados, extraímos grande
parte do trabalho do livro História Crítica do Fotojornalismo Ocidental, do professor
Jorge Pedro Sousa, da Universidade do Porto, de Portugal.
8
Ao analisarmos os princípios que regem o fotojornalismo e os ensinamentos de
mestres como Henry Cartier-Bresson (1908-2004), percebemos que as imagens publicadas
nos jornais de pequeno porte analisados neste trabalho não se comportam em sua totalidade
como imagens jornalísticas. E a justificativa para esta questão está justamente na ausência
do fotojornalista.
Com o aumento da incidência das máquinas fotográficas digitais, que exigem cada
vez menos dos fotógrafos, o cargo de repórter fotográfico poderá permanecer vago ou
sequer ser criado nos jornais pequenos, por um longo tempo. A presença de máquinas
fotográficas digitais na totalidade dos jornais pesquisados nos motivou ainda mais a
prosseguir com nosso estudo, porém, ao nos questionarmos se os fotojornalistas verão suas
profissões ameaçadas no futuro pela tecnologia digital, percebemos que as organizações
maiores primam pela qualidade do serviço prestado à comunidade e, assim sendo, a
máquina digital veio para somar na velocidade e facilidade de produção.
Por serem econômicas e dispensarem a revelação, as máquinas fotográficas digitais
continuam pipocando pelas redações e as imagens registradas, quando apresentam algum
defeito, são tratadas em computador, numa espécie de manipulação benéfica.
O intuito deste trabalho não é o de avaliar a qualidade das imagens digitais nem o
serviço dos fotojornalistas, e sim traçar uma hipótese ou tendência que poderá ou não ser
confirmada nos próximos anos. Ao final deste estudo, apontamos o que o futuro reserva
para os repórteres fotográficos.
9
1 – A HISTÓRIA DA FOTOGRAFIA
A fotografia surgiu aproximadamente na década de 1830, quando Louis Jacques
Mande Daguerre (1787-1851) espantou o mundo com o seu daguerreótipo que, baseado na
câmara obscura, que era utilizada pelos pintores para se ter uma noção mais exata da
realidade na hora de realizarem seus quadros, encontrou uma maneira de gravar as imagens
obtidas através delas, o que até então não era possível.
Começando suas pesquisas em parceria com Nicéphore Niépce (1765-1833),
Daguerre assumiu o comando depois da morte deste. Assim que conseguiu fixar a primeira
imagem em uma placa de metal, fez questão de apresentá-lo à Academia Francesa de
Ciências e, posteriormente, doar a sua invenção “para a humanidade”. A partir daí,
começou a perseguição do homem ao registro de imagens e momentos. Primeiro, de
objetos. Depois, de si próprio.
A primeira foto registrada no mundo é o quintal de Niépce. O inventor só não
escolheu a si mesmo por questões técnicas. Antes, era necessário um longo tempo de
exposição para se conseguir “gravar” a luz e, por isso, objetos inanimados foram os
primeiros alvos. Outro dado interessante é que as primeiras ruas daguerreotipadas sempre
apareciam vazias. Isso porque ninguém ficava parado tanto tempo no mesmo local a ponto
de conseguir ser registrado com perfeição na placa de metal.
Curiosamente, o primeiro ser humano a aparecer numa fotografia não teve
consciência de que entraria para a história desta invenção. Mesmo para o fotógrafo deve ter
sido motivo de espanto ao revelar a chapa e perceber a presença de um homem em sua
imagem. A figura em questão é um homem que estava engraxando seu sapato sem saber
que a rua estava sob a mira de um daguerreótipo. Na imagem, pode-se ver o homem com o
pé apoiado numa caixa “invisível”.
Em 1841 as pesquisas progrediram e surgiram as primeiras chapas mais sensíveis
à luz e as objetivas mais luminosas. Somando isso a um procedimento químico mais
aprimorado, passou a ser possível retratar pessoas, aparecendo assim, os primeiros
estúdios. Mesmo assim, ser fotografado era uma aventura. Aparelhos de aparência
assustadora faziam com que a pessoa permanecesse com a cabeça imóvel pelo tempo
suficiente. Por isso, as imagens de pessoas oitocentistas mostram seres austeros e com
grande ar de preocupação, provavelmente fruto da incômoda dor de ser obrigado a ficar
10
parado apoiado por um equipamento. Mesmo assim, o retrato se tornou uma espécie de
mania entre a burguesia.
A partir daí a busca foi pelo instantâneo, o registro de um momento único numa
fração de segundo, que só foi conseguido em 1861, permitindo o registro de pessoas
andando ou cavalos galopando. Seria impossível pensar em fotojornalismo sem o
instantâneo. Carros de Fórmula 1, o chute para o gol, a arma disparando contra uma vítima
num crime ou ainda o simples fato de pessoas atravessando a rua jamais poderiam ser
registrados e, conseqüentemente, a fotografia não ganharia o destaque nas mídias
impressas. E, mesmo que ganhasse, as imagens pareceriam mais com colunas sociais ou
cidades fantasmas, prejudicando o compromisso de complementar a informação escrita em
forma de texto. A partir de então, qualquer pessoa poderia ser flagrada em qualquer
situação, tendo sua imagem registrada sem que fosse necessário posar ou até mesmo ter
consciência da existência do fotógrafo. O constrangimento natural que aparece no
momento em que se tem consciência de que será fotografado é relatado também por
Roland Barthes em A Câmara Clara, quando ele afirma que, ao avistar o fotógrafo, passa a
posar e a construir uma imagem e também sua natureza. Infelizmente, o próprio autor
confessa não ter tido muito sucesso nestas empreitadas.
O primeiro avanço da fotografia apareceu com o inglês William Henry Fox
Talbot (1800-1877), que conseguiu obter imagens de melhor qualidade através de um
papel que antes de ser exposto era banhado em nitrato e cloreto de prata e, posteriormente,
mergulhado numa solução de sal amoníaco. Colocando objetos contra o papel, ele
conseguiu gravar uma imagem escura, chamada de negativo. Pressionando o negativo
contra outro papel sensível, ele conseguia a imagem em positivo, conseguindo quantas
cópias da imagem desejasse.
Devido à forma como o processo fotográfico era feito e também a maneira como
as imagens eram reproduzidas, foram utilizados os termos fotografia (gravar a luz que
emanava dos objetos num papel especialmente preparado), negativo (modo como as
imagens eram gravadas, ficando escuras) e positivo (as imagens finalmente reveladas, ou
seja, o oposto do que se tem no negativo). O sucesso na reprodução de imagens permitiu
que o inglês lançasse o primeiro livro ilustrado do mundo, o The Pencil of Nature.
O próximo passo da fotografia foi dado por Frederick Scott Archer, que
conseguia a impressão de imagens em placas de vidro preparadas com produtos químicos.
O tempo de exposição era de apenas 30 segundos, mas a placa tinha que ser revelada
imediatamente após o registro da imagem, obrigando os fotógrafos a carregarem grandes
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bagagens em suas viagens, contendo o equipamento de fotografar e o de revelar. O
processo era chamado de colódio úmido. Uma adaptação barata do colódio úmido,
chamado ambrotipo, foi lançada posteriormente, permitindo às classes mais baixas o
acesso à fotografia.
Na busca pela melhoria da qualidade das imagens, o também inglês Richard
Learch Maddox (1816-1902) contribuiu com o mundo da fotografia ao aprimorar o colódio
úmido, utilizando uma emulsão gelatinosa na placa de vidro. Mesmo sendo obrigado a
expor a imagem por um tempo maior, a grande vantagem eram imagens de qualidade
insuperável para a época e a manipulação das placas depois de prontas, que podiam ser
guardadas por um tempo maior do que o de sua antecessora, desde que não fossem
expostas à luz. Em 1880 essas placas com emulsão gelatinosa começaram a ser fabricadas
industrialmente e vendidas ao público em geral. Elas eram chamadas de “Placas Secas”.
Este processo só foi encerrado em 1883.
Apesar de muitos pesquisadores sempre buscarem de todas as formas
aprimoramentos técnicos e melhoria na qualidade de imagem, as câmaras fotográficas
ainda não eram acessíveis a todas camadas da população. Equipamentos pesados e a
necessidade de aprender a manipular a câmara eram empecilhos onde a grande maioria da
população se esbarrava.
Mas esta situação foi modificada graças a uma pessoa: George Eastman “Kodak”,
que criou a primeira câmara compacta e o filme de rolo tal como conhecemos hoje. Sua
descoberta começou quando ele decidiu inventar um processo pelo qual as placas poderiam
ser preparadas previamente para depois serem vendidas a quem se interessasse. Para isso,
dedicava suas noites de sono de segunda a sexta para pesquisar na cozinha de sua mãe.
Com o sucesso de seu experimento, abriu uma loja para vender as placas preparadas.
Mesmo assim, continuou trabalhando para descobrir uma forma de preparar um material
mais flexível para registrar imagens, o que proporcionaria mais comodidade tanto para o
fotógrafo como para os vendedores. Assim que teve sucesso com mais esta tentativa,
descobriu que se cobrisse o papel sensível inventado por ele com uma camada de gelatina,
as irregularidades não apareceriam na hora da revelação.
Sua invenção caiu nas graças da população e ele inventou uma câmara compacta
que trazia em seu interior um rolo capaz de registrar 100 exposições. As máquinas eram
vendidas a US$25, sendo que, após o término do rolo, a pessoa enviava por correio a
câmara para a fábrica, onde a foto era revelada e o equipamento reabastecido, recebendo,
em seguida, tudo de volta em casa. Tudo isso ao custo de US$10. O aperfeiçoamento do
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filme de rolo permitiu que o sistema fosse atualizado e as máquinas carregadas em plena
luz do dia graças a um carretel que protegia o material. Além disso, George fez com que a
imagem do negativo não desaparecesse na revelação, permitindo sua reprodução infinita. A
partir daí, teve início a campanha “Você aperta o botão e nós fazemos o resto”.
Eastman ainda foi o precursor do filme colorido, com o Kodakolor, tendo um
resultado satisfatório na reprodução das cores. As pesquisas neste sentido se tornaram
constantes até fazer com que o filme colorido fosse tão facilmente gravado pela luz como o
preto e branco. A fotografia, enfim, começou a conquistar o mundo.
Se a fotografia se tornou popular graças a Kodak, os avanços que houve nesta
área podem ser atribuídos à Sony, empresa japonesa que foi a pioneira na criação da
fotografia digital, tão difundida neste início de século e que tem tudo para ganhar mais
espaço graças ao desenvolvimento de aparelhos e técnicas que permitem imagens com
qualidades até superiores à gravada nas películas.
No dia 24 de agosto de 1981, a exatos 142 anos e cinco dias depois da sessão da
Academia de Paris que tornou público o processo do daguerreótipo e apresentou ao planeta
Terra a fotografia, o presidente da multinacional prometeu que, em 1983, seria lançado de
forma comercial um sistema fotográfico baseado em tecnologia radicalmente diferente do
que existia até àquela época, “obrigando a uma revisão profunda dos conceitos e hábitos
atuais, inclusive a própria definição do verbete ‘Fotografia’ nos dicionários”.¹
O sistema apresentado no ano prometido ficou conhecido como Mavica, que é
abreviação do Magnetic Video Camera, que passou a substituir o filme tradicional por um
disco magnético capaz de gravar 50 fotos e, em seguida, projetá-las numa televisão ou
vídeo comum e, ainda por cima, caso fosse o desejo, copiar as imagens em papel. O disco
magnético podia ser apagado e utilizado novamente como uma fita cassete.
A aparição do sistema Mavica proporcionou uma intensa revolução no campo da
fotografia. Apesar de que as câmeras digitais começaram a se popularizar a partir dos cinco
últimos anos do século XX, a Sony conseguiu trazer ao mundo uma nova forma de
registrar imagens que, apesar de não ter uma qualidade tão boa no início, era, de certa
forma, econômica, já que somente as imagens escolhidas poderiam ser reveladas ou
guardadas em micro-computadores.
¹ KRUBUSLY, Cláudio A. O que é fotografia. São Paulo: Editora Brasiliense, 1991, Página
13
O processo digital de obtenção de imagens se assemelha e muito ao
funcionamento de uma máquina fotográfica comum, porém, ao invés de sensibilizar a
película com luz, um software transforma toda a imagem registrada em dados binários (ou
seja, em “0” e “1”), de modo que elas possam ser gravadas em discos magnéticos como
disquetes, cartões de memória e até mesmo CD, como o encontrado na Sony Mavica MVC-
CD500, uma das “filhas” do sistema apresentado há mais de 20 anos. Some-se a isso a
possibilidade de se transmitir imagens instantaneamente por satélite ou pela Internet.
Da mesma forma que a fotografia comum diferia da pintura, a fotografia digital
difere da fotografia comum quanto à realidade física de cada uma delas. Quanto à
fotografia tradicional, a tirada em máquinas analógicas, o suporte da imagem está no filme
que, não raro, suporta mais informações do que podemos ver no momento do “click”,
enquanto na imagem digital o espaço e os tons de cores são limitados e contém uma taxa
fixa de informações a serem gravadas. Se forem demasiadamente ampliadas, percebe-se a
sua micro-estrutura, ou os chamados “pixels”.
Porém, o aparecimento e conseqüentes desenvolvimento e popularização das
câmeras digitais trouxeram inúmeros questionamentos quanto ao seu uso. Por serem
imagens geradas através de impulsos eletromagnéticos e, posteriormente, visualizadas em
computadores, passou-se a ficar cada vez mais difícil perceber as montagens ou trucagens
feitas pelos fotógrafos antes de publicar as imagens.
As manipulações de fotos apresentadas a pessoas que não conhecem a realidade
de onde elas foram tiradas passa a ter a mesma verdade que fotos originais, aguçando ainda
mais a polêmica sobre as imagens digitais.
Para se ter uma idéia do que é possível fazer com uma imagem digital, podemos
relacionar alguns itens encontrados em softwares como o Adobe Photoshop ou o Corel
Draw, que nos permitem, hoje, entre outras coisas, mudar o enquadramento da foto, ajustar
os contrastes e tons de cores, destacar figuras ao fundo da imagem, correções e alterações
cromáticas, realçar detalhes, fazer efeitos especiais, mascarar, colocar ou substituir pessoas
e objetos na imagem original, cortar e colar, combinar imagens, mudar o sombreamento,
entre outra gama de opções que estão facilmente acessíveis ao clique do mouse.
Devido às suas vantagens técnicas e econômicas, é impossível hoje se pensar num
meio de comunicação que não trabalhe com máquinas digitais. E mais impossível ainda é
crer que a fotografia digital um dia será abolida. Pelo contrário, ela tende a ganhar mais
espaço não só na grande imprensa, mas nos órgãos de médio e pequeno porte também.
14
O aparecimento da fotografia digital é o último capítulo da história da fotografia,
já que, do daguerreótipo às modernas máquinas digitais, percebemos que a busca do ser
humano é uma só: eternizar o momento que se vive através das lentes das câmeras, seja
numa placa de metal, numa placa de vidro úmida ou através de impulsos eletromagnéticos
gravados em disquetes ou CDs.
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2- A HISTÓRIA DO FOTOJORNALISMO
A história do fotojornalismo no mundo é marcada por altos e baixos, porém,
podemos afirmar que este ramo de atividade só foi impulsionado por causa das evoluções
tecnológicas implementadas nas máquinas fotográficas. Graças à invenção de Eastman
Kodak, que conseguiu reduzir o tamanho do equipamento e tornar a fotografia acessível a
qualquer pessoa, fotojornalistas começaram a pipocar em todas as partes, cobrindo os
eventos importantes que marcaram a história da humanidade. Profissionais ou não, o
número de pessoas tirando fotos para a imprensa aumentou consideravelmente.
O fotojornalismo foi impulsionado, principalmente, pelas guerras. Foi nos campos
de batalha que a imprensa descobriu um grande filão para as imagens, que mostram o fato
como ele é, melhor do que qualquer palavra pode descrever. Desde os conflitos do século
XIX e XX, as vítimas, os soldados, aparatos tecnológicos e os horrores são temas
privilegiados especialmente por jornais. Mais recentemente, podemos citar a cobertura das
guerras do Afeganistão e do Iraque, as duas primeiras do século XXI, onde os meios de
comunicação se valeram de muitas fotos para contar a história.
Surgidos num ambiente positivista, a fotografia e o fotojornalismo vieram para
sanar a sede de imagens da população, sendo considerados um retrato da “verdade”.
Posteriormente, graças à manipulação, este conceito passou para credível, devendo indicar
algo em que se pudesse acreditar, mas que nem sempre é a pura verdade. A imagem
reforçava a visão do repórter e trazia para dentro da casa da população o momento em que
o fato ocorria. Desde então, muito se pode saber sobre a época e a vida das pessoas do
momento em que a foto foi tirada. Provavelmente, daqui a 50 anos, as fotos que vemos
hoje serão compreendidas de maneira totalmente diferente, mostrando uma parte da
história que, quem está dentro do processo, quase nunca consegue perceber.
Atualmente, além de servir como informação, o fotojornalismo se mescla à
publicidade. Exemplo disso aconteceu nas campanhas de Olivieri Toscani desenvolvidas
para a Benetton. Estampando em outdoors fotos que trouxeram questionamentos e
desafiavam alguns costumes e regras, como o celibato, ou colocando em xeque as guerras,
ele conseguiu ver sua campanha estampada nas primeiras páginas dos principais jornais do
mundo. E sem pagar nada.
No livro Uma História Crítica do Fotojornalismo Ocidental, o autor Jorge Pedro
Sousa divide o fotojornalismo em duas áreas: lato sensu e stricto sensu, definindo-as da
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seguinte maneira: “lato sensu: atividade de realização de fotografias informativas,
interpretativas, documentais ou ilustrativas para a imprensa ou projetos editoriais ligados à
produção de informação da atualidade. Abrange tanto o spot news quanto as feature
photos”. “Stricto sensu: atividade que pode visar informar, contextualizar, oferecer
conhecimentos, formar, esclarecer, opinar através de fatos de interesse jornalístico”¹. Vale
ressaltar que entende-se por “spot news” as fotos tiradas com a intenção de fazer a
cobertura jornalística do fato e “feature photos” as fotos tiradas ao acaso ou as que são
utilizadas em colunas sociais”.
A reprodução da realidade foi aperfeiçoada com a evolução das máquinas
fotográficas. Desde o daguerreótipo, que gravava fotos em placas de metal, às máquinas
digitais, que convertem as imagens em bits, os fotógrafos conseguiram uma fidelidade nas
cores e momento nunca visto antes, contribuindo para o aumento da importância do
fotojornalismo. Porém, com os equipamentos digitais, está cada vez mais fácil a
manipulação das imagens, colocando em risco a credibilidade deste equipamento. Mesmo
assim, sua presença em redações, sejam grandes ou pequenas, é cada vez mais notória e
incontestável.
Não é raro confundir o fotojornalista com o fotodocumentarista. O primeiro é
aquele que sai para tirar fotos de um fato sem saber o que vai encontrar, quais as condições
climáticas, de luz ou espaço, enquanto o outro trabalha, geralmente, com um projeto pré-
elaborado e já tem em mente quais tipos de fotos pretende fazer. O fotodocumentarista
também não sofre a pressão do tempo, podendo gastar meses para elaborar um
documentário ou ensaio sobre o assunto desejado. Além disso, o fotojornalismo tem uma
importância temporal. Assim que o jornal de hoje foi publicado a foto já perdeu seu valor,
não tendo o mesmo valor na edição de amanhã. O fotodocumentarismo é intemporal e
sobrevive por décadas e gerações.
Porém, os ambos têm profunda importância histórica e o fotodocumentarismo está
intimamente ligado ao fotojornalismo, de modo que fotos de documentaristas como
Sebastião Salgado são freqüentemente publicadas em jornais impressos considerados “de
qualidade”.
As primeiras fotos em jornais apareceram em 1904, num tablóide fotográfico. Ele
marcou uma profunda mudança na visão que se tinha da fotografia na imprensa. Deixando
¹SOUSA, Jorge Pedro. Uma História Crítica do Fotojornalismo Ocidental. Porto: Universidade do
Porto/Grifos Editora, 2002, Página 31
17
de ter uma importância secundária, ela passou a ser elemento de primeira importância. É
inegável que uma notícia sem uma foto, hoje, quase não tem validade. Prova disso está nos
serviços de agências de fotografias que espalham fotógrafos no mundo inteiro com
equipamentos digitais para garantir agilidade na transmissão de imagens para redações dos
quatro cantos do planeta. Como grande parte da população não tem tempo disponível para
ler grandes reportagens, apela-se para as fotos como forma estratégica de contar a história.
Um título bem elaborado e uma imagem com uma legenda são o suficiente para se contar
uma notícia. Sem a imagem, o texto se perde.
O uso da foto em impressos fez aparecer a filosofia da velocidade nas redações.
Quanto mais cedo a foto do fato chegar, melhor. Ela será publicada, com destaque, na
edição do dia seguinte. Foi por isso que os primeiros jornais que utilizavam fotos se
baseavam numa única foto, que tinha obrigação de ilustrar o maior número de detalhes
narrados no texto. A inversão de valor dado à foto nos jornais também colaborou para que
os equipamentos fossem aprimorados, fazendo com que a humanidade ganhasse máquinas
novas, mais fáceis de serem carregadas, de fácil manuseio, lentes mais claras o que
permitia uma entrada maior de luz e conseqüente melhora na qualidade da imagem e,
principalmente, filmes mais sensíveis, que também garantiram fotos mais nítidas e com
maior riqueza de detalhes. A foto passou a ser usada como meio de informação.
Outra mudança se deu no modo de trabalho dos fotógrafos e fotografados. A
formalidade foi deixada de lado para se reforçar a espontaneidade. Conforme Roland
Barthes em A Câmara Clara, atualmente, toda vez que uma pessoa se vê alvo de uma
lente, faz o que pode para parecer “o mais natural possível”, tentando revelar, desta forma,
a imagem que gostaria de transparecer para o fotógrafo. Apesar do próprio autor afirmar
que não consegue fazer isso com grande sucesso, ele aponta uma grande realidade: o de
que até as pessoas comuns acabam dominando (ou sabendo) como funciona a fotografia de
jornal.
A introdução da fotografia na imprensa abriu uma janela midiática para o mundo,
que começou a ficar menor à medida que rostos começaram a ficar conhecidos graças às
imagens. Foi aí que tivemos o início da caminhada para o que Marshall McLuhan chama
de “aldeia global”.
A forma de uma cobertura fotojornalística dita a forma do fotojornalismo. Em
coberturas tumultuadas, dificilmente se verá a foto principal de uma pessoa sozinha,
enquanto que se a cobertura for de uma reunião ministerial, sempre se verão pessoas
sentadas ao redor da mesa e, ao centro, o “chefe” da reunião. Geralmente os fotojornalistas
18
seguem algumas regras básicas no exercício de sua profissão: seleção do que há de mais
importante no evento a ser fotografado, ordem de planos em que as fotos serão tiradas e
correção de distorções que podem ocorrer tanto por causa da máquina, como do fotógrafo
ou do fotografado.
As condições básicas para que o fotojornalismo começasse a existir apareceram no
final do século XIX. Até então, quando queria se ilustrar alguma matéria, recorria-se a
desenhistas. As fotos eram transformadas num desenho e posteriormente repassadas a um
gravurista. Este o reproduzia em madeira para finalmente ser publicado. Na virada do
século descobriu-se a zincogravura (clichê), permitindo que as imagens fotográficas
finalmente pudessem ser reproduzidas se a interferência de terceiros.
As fotos de acontecimentos começaram a aparecer na década de 1840, nos Estados
Unidos, sendo que entre 1846 e 1850 duas guerras foram registradas através de
daguerreótipos, tornando-se assim os primeiros conflitos a terem suas imagens registradas
para a história. Tem-se aí um indício de que as guerras seriam assuntos que teriam grande
atenção do fotojornalismo. Não se sabe quem foram os autores das fotos, mas é de
consenso que eles contribuíram para que a humanidade escrevesse sua história.
Algumas publicações também ajudaram para que o fotojornalismo se
desenvolvesse, como os casos da The Ilustrated London News, primeira revista de imagens
surgida na Terra em 1842 e a Paris Ilustrated, surgida em 1843 que trazia mais imagens do
que texto, tornando-se, posteriormente, a segunda maior revista do gênero. Ainda em 1843,
um daguerreotipista registrou a assinatura do tratado de paz entre França e China.
Um fato importante a ser observado é que, mesmo não sendo considerados
fotojornalistas, o daguerreotipistas procuravam ter objetividade em relação ao assunto
registrado. Os esforços deles nem sempre surtiam os efeitos desejados, porque entre a
imagem registrada e sua publicação existia a figura do gravurista. Com a competição entre
fotógrafos acirrada pelas publicações periódicas que pediam cada vez mais imagens,
avanços tecnológicos tiveram que ser buscados a fim de propiciar mais qualidade e
agilidade para o registro da imagem. Assim, conquistas como menor tempo de exposição e
mais qualidade das imagens registradas pelo colódio úmido vieram a contribuir com as
necessidades destes profissionais.
De todas evoluções a mais importante para o fotojornalismo foi a conquista do
movimento, que passou a poder ser congelado em pleno ato. Com a imagem congelada
tinha-se a idéia de verdade inconteste, buscando na fotografia a verossimilhança com o
real. O movimento tornou-se tão importante para o fotojornalismo que não raro aparecem
19
estampadas nas primeiras páginas de jornais fotos de ações congeladas como jogos de
futebol, corridas de automóveis, o arremesso de algum objeto ou até mesmo um gesto
impróprio feito pelo presidente da República durante uma solenidade. O fato de se poder
eternizar numa fração de segundo um movimento que às vezes nem mesmo o olho humano
percebe tornou-se ferramenta essencial para a prática da profissão.
A primeira grande foto-reportagem sobre guerras aconteceu em 1855, quando o
fotógrafo do museu britânico, Roger Fenton (1819-1869), a convite do editor Thomas
Agnew, partiu para a Guerra da Criméia (1854-1855) para registrar suas imagens e,
posteriormente, publicá-las. A sede humana pelas tragédias começava a ser suprida com
fotos de campos de batalha e soldados. Curiosamente, o lado negro da briga (corpos,
mutilados, sangue) acabou ficando de fora dos registros fotográficos. O trabalho de Roger
Fenton lhe rendeu, por convenção, o título de primeiro fotojornalista do mundo.
As imagens registradas por Fenton nos campos de batalha chegaram ao público
através de gravuras ainda naquele ano através das revistas The Ilustrated London e Il
Fotografo. A rudimentaridade do equipamento levado por ele foi decisiva na qualidade e
conteúdo das imagens registradas. Dentre as fotografias recuperadas estão fotos de
soldados sorrindo em campos de guerra, com uniformes limpos e longe do front. Este fato
também foi fundamental para o aparecimento de uma censura prévia do fotojornalismo.
Todas imagens foram cuidadosamente estudadas antes de serem publicadas ou registradas.
Foi a partir dos registros de Roger Fenton que todos grandes acontecimentos começaram a
ser cobertos pelos fotojornalistas, como a colonização da Argélia (1856-1857), a Rebelião
na Índia (1857-1858), Guerra de Secessão (1861-1865), entre outras.
O primeiro grande evento que teve cobertura fotográfica massiva foi a Guerra de
Secessão, onde também apareceram as primeiras manipulações das imagens feitas nas
batalhas. Por não existir uma censura rígida quanto ao controle do material fotografado ou
publicado, surge aí o que Jorge Pedro Sousa chama de “estética do horror”, com imagens
de corpos, mutilações e outros fatos marcantes sendo livremente distribuídos pelo mundo.
Foi nesta guerra que os fotojornalistas correram, pela primeira vez, o perigo de morrer
durante os conflitos.
A primeira foto-reportagem colorida data de 1907 e foi publicada pela National
Geographic, enquanto que a primeira revista de fotomontagem é datada de 1898 e era
conhecida como La Vie au Grand Air. Esta última inaugurou uma nova fase das
fotografias, trabalhando com planos detalhados sobrepostos a planos gerais e ao
rompimento da mancha gráfica.
20
No final do século XIX, com o fortalecimento da imprensa popular, surgiram os
primeiro fotojornalistas empregados para trabalhar em tempo integral nas publicações. Este
feito é atribuído a Pulitzer e Hearst e, por conseqüência das contratações, grande parte das
fotos produzidas naquela época tinha como destino a imprensa. Foi neste meio que também
surgiram os famosos papparazi, fotógrafos que ganham a vida para espionar e registrar
flagrantes da intimidade da vida de pessoas famosas e célebres. Esta categoria de
fotógrafos sofreu uma grande retaliação na morte da princesa Diana. Na época, os
noticiários atribuíram a eles a culpa do motorista ter capotado o carro e causado a morte de
Diana e seu noivo.
A publicação de imagem e texto numa mesma página, simultaneamente, só foi
possível por causa da descoberta do halftone, desenvolvido por Carl Carleman (1821-1911)
e utilizado até a década de 1910, quando surgiu o sistema rotogravado. Coube ao jornal
Nordisk Boktryckery-tinding, em 1871, realizar o feito de imprimir os dois corpos de uma
só vez.
O processo de impressão em linhas teve certa resistência por parte da imprensa,
mas o crescimento do interesse dos leitores pelas imagens forçou, pouco mais tarde, todos
órgãos impressos adotarem o sistema. Com as fotografias sendo publicadas ao lado dos
textos, os leitores passaram a ter a informação de forma mais direta, dispensando descrição
de cenário e detalhes que podiam ser muitos bem visto nas imagens. Em 1910 surge o
primeiro processo de impressão rotogravado, permitindo que as heliogravuras pudessem
ser utilizadas pelas rotativas. Esse sistema foi utilizado até a década de 1960, quando
surgiram os off-sets.
A fotografia demorou a ganhar espaço no jornalismo diário. Resistência à
incorporação da imagem nas publicações fez com que os investimentos não fossem
imediatos nesta área. Isso porque era mais difícil controlar o serviço fora da redação,
contrariando a idéia de imediatismo vigente na época. Em contrapartida, publicações
semanais e mensais apareciam recheadas de fotografias.
Percebendo a cobrança por imagens cada vez mais intensa dos leitores, o primeiro
jornal diário a publicar fotos foi o Daily Mirror, em 1904. As imagens, neste jornal,
chegavam a ocupar até uma página inteira.
A atividade de fotojornalista só passou a ser reconhecida como profissão nos anos
20 do século passado, sendo impulsionada pela 1ª Guerra Mundial, que produziu um fluxo
muito grande de imagens graças a meios de comunicação de países como Alemanha,
França, Estados Unidos, entre outros. Até a guerra, nunca tinha se visto tanta imagem
21
sendo produzida. Porém, elas foram feitas desordenadamente e eram publicadas sem ritmo
ou seqüência, o que ainda não as caracterizava como fotos-reportagem de fato. Também
nesse período percebe-se a presença de censores, que retocavam muitas imagens antes de
colocá-las no papel, a fim de não chocar a população. Preocupação essa que hoje não
existe com tanta freqüência.
Entre os anos 20 e 30, a Alemanha se tornou o país com o maior número de
publicações ilustradas. Foi lá que nasceram os fotojornalistas modernos como Erich
Soloman e Felix H. Mann (1893-1985). A forma como se articulavam os textos e a
imagem naquele país já permite se falar em fotojornalismo de fato.
Avanços técnicos foram fundamentais para o desenvolvimento do fotojornalismo.
O primeiro avanço a ser registrado foi a invenção da película feita por George Eastman
Kodak, em 1884. Ela facilitou a vida dos fotojornalistas, uma vez que era fácil de
manipular, muito mais cômoda para guardar do que as placas de vidro do colódio e, ao
mesmo tempo, mais resistente. Após essa descoberta, somente as câmeras portáteis,
inventadas pelo mesmo Kodak em 1889, foram consideradas como revolução na área.
Outras descobertas também permitiram maior domínio sobre a fotografia. Em 1925,
Paul Vierköter inventa o flash de lâmpada, sendo que em 1929 o flash foi aperfeiçoado por
Ostermeier, que introduziu um metal refletor na lâmpada. Em pouco tempo os modelos de
magnésio, antigos e mal-cheirosos, começaram a ser gradualmente substituídos pelos
fotógrafos. Em 1930 a Leica também colabora com o desenvolvimento da atividade,
lançando pela primeira vez uma câmera portátil com lentes cambiáveis e com filme de 36
poses, permitindo maior mobilidade aos fotojornalistas, que passaram a explorar de
diversos pontos de vista um mesmo evento. A invenção do fotômetro no começo dos anos
de 1940 também foi fundamental para melhoria na qualidade da produção fotográfica.
Em 1935 surge o aparelho de tele-foto, que permite a transmissão da imagem a
longas distâncias e lhe reforça o status de meio de comunicação. Fotos de crimes,
conflitos, desastres, acidentes, atos de figuras públicas, cerimônias e esportes eram (e ainda
são) os assuntos prediletos da imprensa. Graças à transmissão de longa distância, o
problema de tempo entre a elaboração da foto, revelação, chegada na redação e impressão
foi solucionado, permitindo que fatos que aconteciam a centenas de quilômetros fossem
divulgados com foto no dia seguinte, sendo um grande salto para a imprensa
fotojornalística.
Os avanços tecnológicos foram mais sentidos no dia 28 de janeiro de 1996, quando
a Associated Press fotografou o Super Bowl XXX, grande evento nos Estados Unidos,
22
utilizando apenas máquinas digitais. Esse ato marcou o começo de uma era que está se
estendendo pelos quatro cantos do mundo e que poderia colocar em risco a profissão de
fotógrafos em órgãos de imprensa de pequeno e médio porte, com uma ênfase maior nos
jornais de pequeno porte. Como a preocupação quanto à qualidade das imagens às vezes
não existe em certas publicações, que optam por trabalhar com fotos lisas, protocolares, a
máquina digital começou a se transformar numa grande inimiga dos profissionais. Não é
preciso saber mais do que apertar um botão para se ter a imagem para que, parafraseando a
campanha publicitária da Kodak, “a máquina faça o resto”. A vantagem de poder conferir
na hora se a qualidade técnica da foto (leia-se aí brilho, cor, nitidez, enquadramento e
outros) fez com que qualquer pessoa se tornasse um fotojornalista na segunda metade da
década de 1990 e início do século XXI.
O computador começou a ser utilizado largamente nesta década para reenquadrar,
ressaltar cores, brilho, nitidez, escurecer ou clarear uma imagem, corrigindo falhas técnicas
que até então deveriam ser feitas pelo próprio fotógrafo na hora de registrar a imagem. As
imagens manipuladas também se tornam mais fáceis de serem criadas, o que desqualifica
um pouco da contribuição das tecnologias para este campo.
Erich Soloman é considerado o fundador do fotojornalismo moderno porque é
principalmente com ele que surge a fotografia espontânea (“candid photography”), não
posada, não protocolar, onde o fotografado não consegue se preparar para a foto. Os
resultados de seu trabalho podem ser sentidos ao se olhara para uma foto dele, que
mostram imagens vivas, muitas vezes bem-humoradas, que surpreendiam principalmente
figuras públicas em instantes em que abrandavam a vigilância com os fotógrafos e
abandonavam os ritos sociais, assumindo posições naturais.
Foi a partir de Soloman que os fotojornalistas tiveram consciência de que não lhes
cabia apenas fazer fotos agradáveis, e sim que tinham uma função importante dentro de um
jornal na cobertura de uma notícia. Desde Soloman, os fotojornalistas saíram do anonimato
e passaram a assinar todas suas fotos, o que, às vezes, cria uma intimidade maior do leitor
com a imagem, já que o autor tem um nome e pode ser reconhecido nas ruas.
O fotojornalismo moderno foi expandido para o mundo por causa da chegada de
Adolf Hittler ao poder na Alemanha. Como muitos fotógrafos eram judeus, acabaram se
espalhando pelo mundo para fugir da perseguição e, em conseqüência disso, países como a
França e os Estados Unidos assistiram a uma revolução na área.
Conforme pudemos apurar em nossa bibliografia, a década de 1930 é considerada
uma geração mítica no fotojornalismo. Com o aumento da demanda de imagens,
23
aumentaram os profissionais na área, resultando no aparecimento de figuras como Carl
Mydans, Capa, Kartesz, Munkascsi, Doisneau, David Douglas Duncan, Cartier Bresson,
entre outros. Essa geração entrou em contato com os fotojornalistas alemães que fugiam da
Alemanha e foi a responsável pelas mudanças de conceito de foto nos quatro cantos do
mundo.
Foi a partir de Capa que surgiu uma máxima no fotojornalismo que diz que para
uma foto ficar boa, o fotógrafo deve estar próximo o bastante do assunto a ser regsistrado.
Também foi dessa geração que saiu Cartier Bresson, que se tornou conhecido com um
ensaio sobre o México. A foto dele se tornou exemplo perfeito entre a arte e o elemento
informativo imagético baseado na autoria da imagem. Dizia-se que ele usava a lente e a
câmera como uma extensão do olho. Seu olhar era vago e até metafórico, mas
ambiciosamente centrado no real. Suas imagens sempre foram famosas por onde quer que
elas fossem exibidas ou publicadas. Infelizmente, Bresson veio a falecer em 2004,
deixando, para trás, uma história de amor com a fotografia.
A guerra sempre foi um assunto de destaque no fotojornalismo. A Segunda Guerra
Mundial não foi diferente e teve uma ampla cobertura de jornais e agências de notícias.
Estas últimas procuravam colocar profissionais nas duas frentes de guerra para ter uma
visão dos dois lados da história.
Durante a Segunda Guerra também se assistiu a uma manipulação das fotografias,
que eram usadas em caráter desinformativo e propagandístico. As imagens publicadas
procuravam ressaltar o heroísmo da batalha e, a censura, mais uma vez se fazendo
presente, impediu a divulgação da verdadeira face das batalhas: mortos e mutilados
espalhados pelos campos. Foi nesta guerra que a imprensa percebeu o poder das imagens,
que muitas vezes superam os textos. Através de fotos publicadas os jornais passaram a
vender mais e a demanda por mais e mais imagens cresceu.
Após a segunda e última grande guerra mundial, o fotojornalismo começou a
apontar suas tendências, que perduram até o século XXI. Elas surgiram com base em três
movimentos: a fotografia humanista, a fotografia de “livre expressão” e a fotografia como
“verdade interior” do fotógrafo. Neste último movimento é comum haver o debate entre o
que é “foto testemunho” e o que é “foto subjetiva” assumida, enquanto a “livre expressão”
é notada principalmente na Bauhaus que traz à tona as dúvidas entre os valores da foto
como expressão da verdade, como interpretação da realidade ou como pura criação do
fotógrafo. A fotografia humanista encontra seu expoente na exposição “The Family Of
Man”, realizada em 1955 por Edward Steichen, que mostrava, através de fotos tiradas em
24
diversos países, que as situações das vidas são idênticas e que, portanto, toda a população
fazia parte de uma imensa família. Foi a partir das reações desta exposição que o
fotojornalismo se abriu para novas áreas como as drogas, o ambiente ou a família. As fotos
de Edward trouxeram um novo olhar que não agradou a muitas pessoas, mas, conforme
Susan Sontag (em Sobre Fotografia, 2004), esta nova forma de olhar para a fotografia se
deve do fato de que toda foto é acaba sendo, mesmo que minimamente, surrealista, presa
em convenções , tornando-as uma entidade bizarra, tal como foi encarada a foto da “The
Family of Man”.
A nova revolução do fotojornalismo aconteceu na guerra do Vietnã, onde os
profissionais já apontavam o que seria o documentarismo moderno. Entre eles está Eugene
Smith, que até hoje tem sua vida e obra como um dos modelos do fotojornalismo moderno
desde quando ingressou na agência Black Star e, posteriormente, em 1955, na mítica
Magnum, onde trabalhou por três anos e depois se demitiu para trabalhar como freelance.
Seu último grande trabalho foi o projeto chamado Minamata, onde registrou a vida de uma
aldeia que vive da pesca no Japão e que foi vítima da poluição por mercúrio. Este é um dos
grandes marcos do fotojornalismo e do fotodocumentarismo mundial.
A evolução da foto como um novo meio de comunicação foi ganhando força na
segunda metade da década de 1950, culminando com uma segunda revolução na área em
1960. Em 1955, Robert Frank publica sua obra “Lês Américains”, contando a vida de um
europeu nos Estados Unidos. Foi a partir deste livro que a herança ideológica da
objetividade começou a perder força no mundo fotodocumental e fotojornalístico. Foi
depois de Frank e do jornalismo nos anos sessenta que diversos estudiosos de semiótica
procuraram provar que qualquer imagem fotográfica é, por sua natureza, subjetiva, ou pelo
menos traz algum ponto de subjetividade. A americana Susan Sontag, em seu livro “Sobre
a fotografia” aponta que esta subjetividade do fotógrafo pode ser sentida até mesmo em
variáveis como ângulo e o plano escolhido, que faz com que o observador enxergue apenas
aquilo que ele achou mais interessante a ser retratado no momento. Neste caso, a
objetividade, mesmo que exista, está relevada a um segundo plano na imagem.
Na década de 1990 o fotojornalismo sofreu outra revolução, que, em síntese, são: as
possibilidades de manipulação e geração de imagens através de computadores, que
levantaram questionamento sobre a relação da foto com a realidade, além da possibilidade
de transmissão digital de telefotos por satélite; nova tentativa de controle sobre os
fotojornalistas, em especial nas guerras (no Golfo Pérsico, onde os militares adotaram
estratégias de censura, guiando os jornalistas por trilhas pré-estabelecidas a fim de mostrar
25
mais a tecnologia militar do que o aspecto humano), que colocaram em xeque o discurso
do “direito de ver”; novos aspectos de diagramação inaugurados pelo “USA Today”, onde
se privilegiam as fotos com um caráter quase que totalmente ilustrativo, perdendo seu valor
e conteúdo jornalístico; industrialização crescente da produção fotográfica, centrada no
imediato e esquecendo o desenvolvimento global dos assuntos, com as fotografias
jornalísticas servindo de material para os jornais “de qualidade”, edição de livros e
exposições, mas não para a imprensa em geral; transporte dos reality shows da televisão
para o jornal impresso, com a recriação de situações através de computador, especialmente
por tablóides; e a perda do lugar da foto-choque para a foto de glamour, celebridades,
ilustração institucional, fotos de colunismo social, entre outros. Esta situação se arrasta até
hoje. Porém, ela deve terminar em breve com o aumento da foto digital nas redações de
impressos. Mudança de conceitos de adaptação aos novos olhares do mundo também
apontam que não só a tecnologia fez com que a fotografia fosse evoluindo. A aparição de
novos conceitos, a construção do olhar na hora do clique e a exigência de um público cada
vez mais sedento por imagens para que se sintam como parte da história da humanidade,
obrigaram os fotojornalistas a mudarem idéias, conceitos e aproveitarem as tendências
mundiais para fazer com que seu meio sobrevivesse à televisão, tal como a pintura
sobreviveu à fotografia.
A história do fotojornalismo também está ligada a agências fotográficas. Surgidas
logo no início do século XX, estas empresas são especialistas em cobertura de fatos de
grande vulto, repassando as imagens obtidas a órgãos de imprensa que pagam pela
utilização da foto em suas páginas. No início, as agências podiam ser divididas em
agências fotográficas e agências de notícia, mas, na década de 1970, agências como a
Reuters - que era especializada em notícias - passaram a implantar e oferecer serviços
fotográficos. Isso gerou aumento de concorrência entre os profissionais, trazendo
inovações tecnológicas e múltiplos pontos de vista sobre um mesmo assunto. De todas
agências atuais e que já existiram, uma das mais conhecidas e que pode ser considerada
como um patrimônio para os meios de comunicação, é a lendária Magnum. Dedicamos,
neste trabalho, um espaço para falar especificamente desta agência, fundada por quatro
lendas do fotojornalismo: Roger Capa, Henri Cartier-Bresson, David Seymour (Chim) e
George Rodger.
Após a Segunda Guerra, os quatro legendários fotógrafos se reuniram e formaram
a agência Magnum Photos, agência de fotografia que até hoje está no mercado, sendo
considerada uma das mais importantes do mundo. Ela também surgiu como uma espécie de
26
reação quanto à subalternização dos fotojornalistas naquele momento e, para isso, uma
difícil tarefa de reunir quatro fotojornalistas consagrados, mas, de personalidades tão
diferentes foi encampada por Capa e Bresson. A agência existe até hoje e conta em seu
banco de dados com mais de um milhão de fotos registradas, sendo cerca de 250 mil
reveladas. Sua organização segue o padrão de fundação: a de cooperativa de fotógrafos.
Imagens deslumbrantes publicadas nos mais variados jornais do mundo vieram de
fotógrafos da Magnum, como a foto da afegã de olhos verdes registrada há mais de 30 anos
e que encantou o mundo pela beleza da mulher que vivia com o rosto escondido
(recentemente, após a guerra do Afeganistão, a foto voltou a ocupar espaço na mídia,
sendo que a afegã foi localizada e fotografada, novamente, pelo mesmo fotógrafo). Entrar
para a Magnum é como ser reconhecido como integrante da elite do fotojornalismo
mundial, e esta tarefa nem sempre é fácil. Além de seu staff de profissionais, a agência
também compra fotos de desconhecidos e, sem dúvida, é a mais lendária das agências
desde que seus quatro fundadores se reuniram. Foi lá que a fotografia de autor ganhou
importância e os autores das imagens passaram a assinar suas obras. Porém, mesmo com
todo um passado e um presente de glórias, a agência ainda enfrenta problemas na
atualidade.
Foi no pós-guerra que houve a massificação do produto fotojornalístico. A
incorporação deste tipo de serviço pelas agências de notícias, como a Reuters, reforçou
este quadro. As fotos de autor começaram a ter uma existência quase que marginal neste
campo. Os crescimentos das agências fotográficas ou destes serviços oferecidos pelas
agências de notícia vieram para sanar a necessidade de imagens dos jornais diários,
acentuando a noção da foto-velocidade. Quanto mais rápido se conseguia a imagem,
revelando-a e a enviando-a para os órgãos de imprensa, mais valiosa se tornava a agência.
Foi na década de 80 do século XX que as agências de notícias France Press e
Reuter começaram com o serviço de foto. Isso aconteceu em 1985, ano em que também foi
fundada a agência Vu. A concorrência entre AFP, AP e Reuter fez com que avanços
tecnológicos fossem alcançados para a melhoria de transmissão e edição de imagens,
surgindo, aí, a tecnologia digital, que veio para ficar. A qualidade das fotos foi reforçada
com lançamentos feitos na década de 70, quando a Pentax lançou a primeira máquina com
fotômetro incorporado e a Konica começou a fabricar máquinas com autofoco, além do
surgimento de objetivas olho de peixe, conversores e os flashes estroboscópicos. Mas a
principal inovação surgida na década de 80 foi as câmeras fotográficas digitais, que
armazenam as imagens em disquetes ou cartões de memória e permitem uma maior
27
velocidade na transmissão, uma vez que não é necessário revelar o filme para se ter a foto.
Também surgiram as digitalizadoras de imagens, capazes de obter a imagem através do
negativo, permitindo assim uma maior velocidade também nas fotografias feitas em
películas. A difusão dos computadores portáteis permitiu aos fotógrafos mais agilidade na
edição da imagem, sendo que, para transmitir seu produto, bastava chegar ao telefone mais
próximo. Após o aparecimento do celular, de qualquer lugar em que se esteja, desde que se
tenha sinal de celular, o fotógrafo pode enviar imediatamente as fotos para dentro do banco
de dados da empresa, tal como acontece em jornais como a Folha de S.Paulo, Estado de
S.Paulo, Estado de Minas, O Tempo, entre outros. Essa tecnologia também foi amplamente
utilizada na guerra do Iraque, onde as imagens do fotojornalista Juca Varella eram
transmitidas para a redação da Folha de S.Paulo através de um telefone via satélite,
mostrando a importância desta inovação para os órgãos de imprensa.
Os fatos apontados pelo autor mostram que o fotojornalismo contemporâneo perdeu
um pouco de seu propósito inicial. Ao invés de se preocupar em trazer à tona discussões,
questionamentos, inquietação, os leitores passam a conviver com fotos lisas, superficiais,
sem margem para interpretações além daquela que se vê. Não se enxerga ou não se
conhece o verdadeiro propósito do profissional ao registrar a imagem em suas câmeras,
seja ela de película ou digital. A perda da qualidade das imagens fotojornalísticas vem de
uma série de fatores até mesmo externos ao fotojornalismo. Mas, deste quadro se pode
extrair uma esperança: de que como as revoluções acontecem de tempos em tempos, o
conceito atual do fotojornalismo seja revisto e que a qualidade, o conteúdo, a essência do
verdadeiro fotojornalismo voltem a ser praticadas, revivendo aventuras semelhantes a de
Capa ou Cartier-Bresson.
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3-0 A FOTOGRAFIA NO BRASIL
A chegada da fotografia no Brasil não demorou muito desde o anúncio da
descoberta da daguerreotipia, feita em 19 de agosto de 1839. Já em janeiro de 1840, mais
precisamente em 17 de janeiro, “o abade francês Louis Compte, capelão da fragata
L´Orientale, tirou os primeiros daguerreótipos brasileiros”.¹
O primeiro daguerreótipo adquirido no país foi vendido em março daquele ano a
um jovem de apenas 14 anos, chamado Pedro de Alcântra João Carlos Leopoldo Salvador
Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Bragança
e Hasburgo, ou, como é mais conhecido Dom Pedro II. Adorador de novas invenções por
natureza, ele não tardou em comprar o aparelho. Entretanto os afazeres reais o afastaram da
prática de fotografar, sem o afastar da paixão. Por isso, ele foi um grande incentivador da
introdução e desenvolvimento de técnicas fotográficas no país, sendo que no ano de 1851
atribuiu o título de Photographos da Casa Imperial à dupla Buvelot e Prat. Sua paixão por
imagens rendeu um acervo com milhares de fotografias que foram doadas à Biblioteca
Nacional quando de seu banimento.
No início, a fotografia esteve mais centrada no Rio de Janeiro, já que esta era a
capital do império. Mas isso não impediu que o interior do país também conhecesse a
novidade através de exposições realizadas em Minas Gerais (1861), Pernambuco (1861,
1866 e 1872), Paraná (1886), Bahia (1872 e 1875), Rio Grande do Sul (1875 e 1881) e São
Paulo (1885).
Justamente pelo fato de os fotógrafos estarem concentrados na capital do império,
especialmente na Rua do Ouvidor, há uma carência muito grande de imagens do interior do
país daquela época. Somada a isso, temos uma proibição do governo português da pintura e
retratos da paisagem do país, sob a alegação de que poderiam incentivar invasores
estrangeiros a chegar aqui. Além disso, os altos custos de pintura no interior desanimavam
os pintores. Foi aí que a fotografia encontrou um excelente espaço na década de 1860, com
a grande vinda de navios do exterior para cá, trazendo pessoas interessadas nas imagens
que se tinha das paisagens brasileiras.
_________________________________________________________________________
¹ KARP VASQUEZ, Pedro. A fotografia no Império. Rio de Janeiro:Jorge Zahar Editor, 2002, Página 8
29
A fotografia foi centrada nos retratos até meados de 1850 por razões pura e
estritamente comerciais. Só a partir de 1855 foi que os fotógrafos começaram a
documentar a cidade do Rio de Janeiro de outra forma, sendo os dois primeiros Revert
Henrique Klumb, alemão, e o francês Victor Frond. “...Klumb foi o fotógrafo predileto da
imperatriz Thereza Christina e professor de fotografia da princesa Isabel, sendo agraciado
com o título de Photographo da Casa Imperial a 24 de agosto de 1861. Foi também – como
se verá mais adiante – um dos precursores do uso da fotografia no campo editorial”.²
Seu uso da fotografia editorial se deu com as imagens feitas da inauguração da
estrada União e Indústria, que ligava Petrópolis (RJ) a Juiz de Fora (MG). Ele percorreu os
144 quilômetros da estrada, resultando em uma série de fotos célebres que posteriormente
foram editadas em livros, alguns com a ajuda da litografia e outros com as fotos originais,
feitas pelo próprio fotógrafo. Já Victor Frond foi o responsável pelo primeiro livro de
fotografia da América Latina, editado no ano de 1861.
No que podemos chamar de primórdios do fotojornalismo brasileiro, temos o
alemão Augusto Stahl, que documentou a construção da segunda ferrovia brasileira, que
ligava as cidades do Recife e do Cabo.
O carioca Marc Ferrez registrou todas embarcações que participaram da Revolta
Armada e, em conseqüência de seu trabalho, foi o único profissional a receber o título de
Photographo da Marinha Imperial. Ele também documentou, na então província de Minas
Gerais, os trabalhos de extração de metais preciosos, acompanhando todos procedimentos
dos garimpeiros desde o início do trabalho até à descoberta de ouro, prata ou diamante, que
tinham grande valor na época e eram excelentes moedas de troca. Ferrez também foi
pioneiro na utilização de novas tecnologias como as placas secas de brometo de prata e o
flash de magnésio e “...tornou-se o primeiro profissional a fotografar os trabalhos de
siderurgia na usina de Boa Esperança, bem como de extração aurífera no interior de mina
fechada”3. Uma das últimas contribuições deixadas por este brasileiro é o fim da
construção da estrada de ferro Paranaguá-Curitiba, em 1879.
Quem também brilhou nos primórdios da fotografia no Brasil foi Insley Pacheco,
segundo fotógrafo agraciado com o título de Photographo da Casa Imperial que ficou
conhecido por causa de seus retratos.
² KARP VASQUEZ, Pedro. A fotografia no Império. Rio de Janeiro:Jorge Zahar Editor, 2002, Página 15
³ KARP VASQUEZ, Pedro. A fotografia no Império. Rio de Janeiro:Jorge Zahar Editor, 2002, Página 20
30
Diz-se que as imagens de Insley não eram meras fotografias, mas sim pinturas
feitas ao ar livre com a ajuda de uma máquina fotográfica. Pacheco também foi o
introdutor do processo de platinotipia no país, que era considerado a mais fiel reprodução
da verdade até então.
Na contra-mão dos grandes centros europeus de fotografia, a Guerra do Paraguai
não rendeu à fotografia brasileira boas imagens, pelo contrário, mostrou uma grande
timidez da nação quanto à foto de guerra. Apenas algumas imagens mostrando soldados e
oficiais foram encontradas até hoje, mas nada que alcance a Guerra de Secessão ou a
Guerra da Criméia, mesmo com mais de 50 mil pessoas foram mortas na guerra paraguaia.
O primeiro uso da fotografia-denúncia no Brasil aconteceu na edição de 20 de julho
de 1878 do jornal O Besouro, que mostrou as graves conseqüências da seca no Ceará
através de fotos, denunciando o descaso do Império com a população do nordeste.
A campanha de Canudos, contada magistralmente pelo escritor Euclides da Cunha
no livro Os Sertões, foi documentada pelo fotógrafo Flávio de Barros, que presenciou o
último mês do conflito com imagens de soldados em pleno campo de batalha contra os
revoltosos. Ao término do conflito, os militares fizeram questão de desenterrar o corpo de
Antônio Vicente Mendes Maciel, conhecido como Antônio Conselheiro, para que fosse
fotografado, provando, desta forma, sua morte. Outro acontecimento histórico que passou
pela lente de uma câmera fotográfica foi a assinatura da abolição da escravatura (Lei
Áurea), realizada em 13 de Maio de 1888 pela princesa Isabel. Registrada pelo até então
desconhecido Luís Ferreira, a foto mostra a multidão aclamando a princesa por sua
decisão. Quatro dias depois, o mesmo fotógrafo documentou a missa campal
comemorativa.
Com a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, o imperador Dom
Pedro II, o patrono da fotografia brasileira, foi obrigado a sair para o exílio. Porém, em
dezembro de 1891, antes de partir, decidiu doar toda sua biblioteca à população brasileira,
sendo que o material foi dividido entre a Biblioteca Nacional, Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro e o Museu Nacional. Coube à biblioteca abrigar as 20 mil imagens
de seu acervo que conta o começo da fotografia no Brasil. Na visão de Pedro Karp
Vasquez, Pedro II foi “o primeiro brasileiro a perceber, ainda infante, que o advento da
fotografia era o marco inaugural de uma nova fase na história da humanidade”.4
_________________________________________________________________________
4KARP VASQUEZ, Pedro. A fotografia no Império. Rio de Janeiro:Jorge Zahar Editor, 2002, Página 42
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4-0 O DESTINO DOS FOTOJORNALISTAS NOS JORNAIS DE PEQUENO E
MÉDIO PORTE NA REGIÃO DE FRUTAL
A tecnologia digital demorou a “engolir” as máquinas fotográficas, já que os
computadores se desenvolveram com uma velocidade superior à das câmeras e fizeram as
velhas máquinas de escrever serem aposentadas rapidamente. Mas, desde a invenção do
sistema Mavica, da Sony Corporation, em 1984, a realidade de fotografias, fotógrafos e
fotografados mudou consideravelmente. No fotojornalismo não poderia ser diferente.
Mesmo com 20 anos de existência, a substituição das máquinas fotográficas
mecânicas pelo sistema digital demorou a chegar às redações. Somente na última metade
da década de 1990 é que foi possível notar a disseminação destes equipamentos nas
redações de médio e grande porte. Os jornais de pequeno porte aceleram o uso destes
equipamentos por medidas econômicas, já que despesas com revelação de negativos e
fotos puderam ser eliminadas pelos equipamentos.
Tendo qualidade inferior aos filmes de película em seus primórdios, houve uma
piora no material impresso nas pequenas redações por causa da economia. Menos
preocupados em levar um produto que corresponda às expectativas dos leitores e sim
atendam a seus interesses econômicos, estes órgãos, que sobrevivem muitas vezes com
verbas de convênios com órgãos públicos, acabam também por optar pela não contratação
de fotojornalistas. Assim, o repórter, responsável por ir às ruas em buscas de notícias,
acaba exercendo as duas funções: a de levantar dados sobre o assunto pautado e de
registrar imagens. Desta forma não é errado afirmar que se perde qualidade naquilo que é
publicado. Por serem duas atividades onde empenho e tempo são necessários, seja para
apuração de uma informação ou para saber o momento certo de apertar o disparador da
máquina, uma destas funções vai ficar comprometida.
A máquina fotográfica digital foi uma conquista que permitiu a introdução total do
conceito de “imediatismo” dentro das redações. Não sendo obrigados a esperar todo o
processo de revelação de negativo e da fotografia propriamente dita - as imagens são
armazenadas em cartões de memória, CDs, disquetes ou qualquer outro tipo de mídia
digital -, é possível conferir se a foto ficou como o desejado em poucos segundos após seu
registro. Com a tecnologia de transmissão de dados via satélite, através de aparelhos
celulares, as imagens de uma tragédia na Austrália chegam ao editor de fotografia de um
jornal no Brasil quase de maneira simultânea.
32
Apesar da necessidade de preparo para a profissão de fotojornalista (os
profissionais dizem ser necessário ter olho clínico para esse fim), o fato de poder
simplesmente apertar o botão e deixar que a máquina faça o resto, tal como previu George
Eastman “Kodak”, faz com que qualquer cidadão se torne um fotógrafo e, por
conseqüência, fotojornalista.
Esta última figura tem visto sua profissão cada vez mais ameaçada nos pequenos
órgãos de imprensa desde a implantação de máquinas fotográficas digitais nestas redações.
Em cidades como Frutal, na região do Triângulo Mineiro, no estado de Minas Gerais,
nenhum dos jornais impressos conta com fotojornalista em seu quadro de funcionários. Até
mesmo a presença de profissionais formados e com registro no Ministério do Trabalho é
rara. Isso mostra a realidade econômica dos órgãos pequenos do interior.
As fotografias publicadas em todas edições, seja na capa ou nas páginas internas,
são feitas, na maioria das vezes, pelo próprio repórter. Fotos posadas do entrevistado
também figuram constantemente nestas publicações, contrariando os conceitos do
fotojornalismo moderno, onde a espontaneidade e a ação são presenças garantidas e geram
credibilidade nas imagens de qualquer assunto. Por ter fotografias “protocolares”, a
imagem passa a servir apenas como uma ilustração do texto e não como complemento, tal
como verificamos nos jornais de pequeno porte.
Mesmo as matérias onde há ação, como uma rebelião ou tentativa de fuga da
Cadeia Pública de Frutal, apresentam fotos ou dos personagens ou de locais que
identifiquem o que está sendo falado, mas não com as características que as tornem
jornalísticas de fato. Essas práticas, comuns aos primórdios do uso da fotografia em jornais
impressos, mostram a falta de um profissional dedicado ao fotojornalismo nestas redações.
As máquinas fotográficas digitais são realidades nas redações de três dos quatros
jornais do município. O pioneiro nesta tecnologia foi o Jornal Pontal do Triângulo, que já
em 1998 iniciou o uso de fotografias de máquinas digitais. Posteriormente, apenas em
2003, o Jornal de Frutal, que ao lado do Jornal Pontal do Triângulo compõe os dois
maiores jornais da cidade, investiu na compra de uma máquina fotográfica digital. Dos
jornais mais recentes, com pouco mais de um ano de existência, apenas o Jornal Diário
(que apesar do nome circula semanalmente às quartas) conta com máquinas fotográficas
digitais. O jornal Correio do Vale, que fecha o número de publicações impressas na cidade,
não conta com este aparato tecnológico.
Ao se analisarem os créditos das fotos publicadas nestes jornais, é fácil constatar
que os repórteres acabam sendo os responsáveis pela fotografia. Raramente se observam
33
situações onde um repórter fica exclusivamente em busca de informações enquanto outro
repórter (não fotográfico) se responsabiliza pela captação de imagens.
A explicação para a ausência de fotojornalistas nestas redações de pequeno porte se
limita ao aspecto econômico: é melhor pagar o salário de uma pessoa que fará as duas
funções do que dobrar a folha de pagamento para ter um fotojornalista em seu staff. Em
contrapartida, os leitores destas publicações perdem tanto na qualidade das publicações
como na qualidade das imagens e do texto. Este último exerce a função de contar toda a
história sem a ajuda da foto como complemento. Os redatores, neste caso, têm trabalho
dobrado e, os leitores nem sempre se dispõem a ler o texto todo.
O fotojornalismo nestas publicações fica relegado ao segundo plano e, havendo
imagens apenas como ilustrações, não há uma preocupação técnica quanto à sua
composição. Como as máquinas fotográficas utilizadas por estes órgãos de imprensa são
dos modelos mais simples e automáticos, o foco, a velocidade e a profundidade de campo,
por exemplo, são selecionados pelo equipamento, sem a participação do autor da
fotografia, que passa a ser apenas um coadjuvante no processo de captação da imagem.
Nestes jornais de pequeno porte já é possível perceber a extinção total do
fotojornalista que, aliás, nunca chegou a existir nos jornais em questão. A grande pergunta
do momento, no entanto, é a seguinte: Esta será a realidade dos jornais de médio e grande
porte nos próximos anos ou haverá um processo inverso, com os pequenos investindo em
qualidade e contratando fotojornalistas? Ao que se pode perceber, por enquanto, no
município de Frutal, a contratação de um fotojornalista por alguma destas redações está
totalmente fora de cogitação. Pelo menos é o que afirma os proprietários dos dois
principais jornais da cidade: o Jornal Pontal do Triângulo e o Jornal de Frutal.
Dentre as diferenças entre o fotojornalista e os repórteres, a principal está no fato
de que o segundo não precisa estar presente no momento em que os fatos ocorrem. Pode
chegar ao local de um acidente, por exemplo, várias horas ou até mesmo dias depois do
ocorrido e ouvir de terceiros as versões para o caso. Com este material em mão, ele cruza
informações de modo a tentar traçar da maneira mais exata a reprodução do fato.
Enquanto isso, o fotojornalista, por força da profissão, precisa estar presente no
momento dos acontecimentos. Ele não pode se dar ao luxo de chegar lá no outro dia para
registrar a imagem. O momento é único e não há como repeti-lo, por mais que a história
mostre que manipulações neste sentido já ocorreram. De qualquer forma, seria impossível
registrar a queda das torres gêmeas do World Trade Center um dia após o atentado. Quem
não esteve lá e não aproveitou o momento jamais poderá ser autor de uma foto daquele
34
segundo único, quando o mundo todo acompanhou as torres desabando e virando um
amontoado de concreto e ferro no chão.
O fotojornalismo também pode ser tido como um meio de modificação social.
Através das imagens é possível fazer com que realidades de famílias e municípios se
transformem pelo impacto causado através da visão, algumas vezes, muito superior ao das
palavras escritas, ainda mais se considerarmos que a contemporaneidade é marcada,
principalmente, pelo superestímulo da visão através de imagens. Nos jornais onde não se
nota a presença deste profissional, a comunidade e os leitores acabam por perder mais uma
vez. Sem conhecimento de causa ou preparo suficiente para captar o momento decisivo, os
repórteres-fotógrafos deixam passar despercebidos grandes lances que, às vezes,
transformariam a sua vida e a de terceiros.
Ao se ter uma fotografia, seja ela tirada por um profissional ou um amador ou ainda
com qualidade ou não, a única certeza que se pode ter é que algo existe ou existiu à frente
da lente da máquina, ainda mesmo que com distorções. Partindo deste princípio, podemos
pensar que, ao escolher determinado ângulo para fotografar o tema, estamos sujeito a um
gosto pessoal do fotógrafo. Mesmo acreditando que a imparcialidade exista nas fotos,
enxergamos somente aquilo que o autor da imagem quis que enxergássemos, de seu ponto
de vista, com seu enquadramento e com suas escolhas de foco ou plano. Diz Susan Sontag
que “mesmo quando os fotógrafos estão muito mais preocupados em espelhar a realidade,
ainda são assediados por imperativos de gosto e de consciência (...) Ao decidir que aspecto
deveria ter uma imagem, ao preferir uma exposição a outra, os fotógrafos sempre impõem
padrões a seus temas”. ¹
Ao passar a utilizar fotografias em suas páginas, os jornais de todo o mundo
começaram a mostrar a seus leitores que seus repórteres teriam vivido a experiência
relatada na matéria em si e que, assim, participaram ativamente dos acontecimentos
enquanto esses se desenrolavam. Desta forma, foi possível aumentar sua credibilidade
sobre o que se estava falando, uma vez que o repórter e o fotógrafo estiveram lá e viram
tudo o que aconteceu. A foto, para os leitores, é a prova inconteste de que aquilo de que se
ouviu falar e não se pode ver foi verdade.
Um dos estigmas dos fotojornalistas é o fato de que, ao optar por tirar uma foto,
eles também escolhem por não intervir no evento. Daí, ao se ver uma imagem de um
soldado espancando uma pessoa ou um soldado chinês com a arma encostada na nuca de
______________________________________________________________________
¹SONTAG, Susan. Sobre Fotografia. Companhia das Letras, São Paulo:2004, Página 17
35
um prisioneiro, pronto para matá-lo, temos a consciência de que ao invés de tentar ajudar
ou interferir na situação, o profissional optou por registrar aquilo através de sua máquina
fotográfica. Dentre fotos memoráveis que circularam pelo mundo e até hoje são símbolos
do bom fotojornalismo está a imagem de uma menina nua correndo em direção ao
fotógrafo após ter sido atingida por uma bomba de napalme, no Vietnã. Ao se olhar para
esta tradicional imagem, sabemos que o fotógrafo não a socorreu. Que não tentou apagar as
chamas de seu corpo ou socorrer aquela criança que chorava copiosamente. Ele preferiu a
boa imagem à boa ação, pois como lembra Susan Sontag, “A pessoa que interfere não pode
registrar; a pessoa que registra não pode interferir”.²
Após o advento e popularização da televisão, as fotos e os repórteres fotográficos
passaram a ser mais valorizados pela imprensa. Isso porque, como é praticamente
impossível competir com a agilidade da televisão, as fotos tiveram que passar a ter uma
qualidade superior e, para isso, o olhar clínico para recheá-las de informações passou a ser
cada vez mais indispensável. Ao ver uma notícia num telejornal durante a noite, é grande a
possibilidade do telespectador procurar, no dia seguinte, um jornal impresso para conseguir
mais informações sobre o fato. Porém, a grande vantagem do jornal em relação à televisão
está no fato de que a foto, apesar de ser apenas um quadro, é estática e pode ser
armazenada em qualquer lugar. É comum lembrarmos de fotos memoráveis, porém,
dificilmente se ouve falar em imagens televisionadas memoráveis.
O congelamento da imagem é a prova de uma fatia de tempo que existiu, não um
fluxo de tempo como nas imagens de televisão. Esse fracionamento do tempo, contudo, é
também uma das desgraças do fotojornalismo. Através da foto, temos a prova incontestável
de que o tempo não pára. Basta olharmos para as nossas fotos na carteira de identidade ou
na carteira de trabalho para termos consciência de que os anos se sucedem sem nem dar, ao
menos, uma pausa para beber um café.
Imagens nos prendem e nos chamam a atenção à medida que nos trazem informações
novas. Estas informações são importantes devido ao momento histórico e cultural pelo qual
passamos e, por estarmos vivendo em plena era das imagens, quanto mais informações
conseguirmos numa fotografia, mais ela nos prenderá a atenção. Se não fosse assim, de
nada adiantariam as imagens impressas em jornais. Elas poderiam ser meras ilustrações tal
como eram antes da invenção das zincogravuras, por exemplo. Hoje temos a consciência
que todo e qualquer cidadão tem direito à notícia. Ela é a base de todo conhecimento da era
________________________________________________________________________ 2SONTAG, Susan. Sobre Fotografia. Companhia das Letras, São Paulo:2004, Página 22
36
moderna e não há dúvidas de que, sem ela, o desenvolvimento sócio-cultural de um
cidadão é praticamente impensável. As fotos são as responsáveis por dar a informação
àquelas pessoas que não sabem ou que tenham dificuldade em ler, lhes trazendo a
informação de uma maneira nova, diferente, moderna. “Um novo significado de idéia de
informação construiu-se em torno da imagem fotográfica. A foto é uma fina fatia de espaço
bem como de tempo. Num mundo regido por imagens fotográficas, todas as margens
(“enquadramento”) parecem arbitrárias. Tudo pode ser separado, pode ser desconexo de
qualquer coisa: basta enquadrar o tempo de um modo diverso”. ³
Voltando a falar sobre os jornais do município de Frutal, o Jornal de Frutal tem
características mais sociais, apresentando um volume maior de matérias voltadas aos
problemas da comunidade do que notícias em si. Ao se observarem as fotos que
acompanham o texto, vemos que reforçam a tese de serem mais uma mera ilustração, uma
fotografia protocolar, de caráter formal, captada a pedidos do repórter para que o
entrevistado aparecesse, do que uma imagem com valor jornalístico. Nos impressos que
contam com a presença de um profissional da imagem, mesmo as matérias de cunho social
apresentam fotos com informação, complementando o assunto tratado ao longo do texto.
Ao seguir um dos ensinamentos de Henri Cartier-Bresson, o de “fotografar é
colocar na mesma linha de mira, a cabeça, o olho e o coração”, os fotojornalistas
profissionais captam, num instante decisivo, a foto que resume toda a notícia, o que não
acontece com a mesma freqüência nas imagens captadas por amadores. Como já era de se
esperar, a presença de máquinas fotográficas digitais em redações de pequeno e médio
porte na região de Frutal, abrangida por este estudo, é fato concreto. Todos os jornais
pesquisados afirmaram utilizar equipamentos digitais em seu cotidiano. Porém, em quase
todos, foram encontrados repórteres fotográficos e as equipes de reportagem ainda
continuam sendo compostas por duas pessoas.
É o caso do jornal DHoje, fundado neste ano no município de São José do Rio
Preto. Utilizando um modelo digital da empresa Sony, o órgão de imprensa tem em seu
quadro de funcionários o repórter fotográfico Marcio da Silva Corrêa, que tem mais de 10
anos de experiência na área. Neste período, ele assistiu à evolução e aparecimento das
máquinas digitais nas redações e é enfático em dizer que as máquinas modernas não
colocarão em risco sua profissão. Para se ter uma foto de caráter jornalístico, para ele, são
necessários vivência, experiência e, acima de tudo, uma linguagem fotográfica. Os
amadores não contam com esta sensibilidade e por isso não conseguiriam alcançar o
_____________________________________________________________________________________________________________
3SONTAG, Susan. Sobre Fotografia. Companhia das Letras, São Paulo:2004, Página 33
37
patamar de um fotojornalista profissional. “Embora haja uma sofisticação do
equipamento, ainda existe uma linguagem a ser dominada, uma técnica a ser aprendida,
nem que seja para derrubá-la depois. As únicas pessoas que podem derrubar regras são
aquelas que as dominam, porque aí há uma superação da regra e se estabelece uma nova
abordagem. Para que isso ocorra, é preciso vivenciar esta linguagem, este alfabeto não só
das artes visuais, mas da própria fotografia, onde cada coisa tem seu significado. Na
verdade, o que fazemos, é escrever com luz. Isso, jamais a máquina vai fazer sozinha, não
importa qual seja ela”, afirmou Corrêa, em entrevista realizada no dia 14 de abril deste ano,
na redação do jornal.
A necessidade daquilo que ele chamou de “programação anterior”, feita pelo
profissional, faz com que as empresas de médio e grande porte primem pela qualidade das
imagens publicadas e, para isso, a presença do repórter fotográfico é imprescindível.
Mesmo percebendo que há uma preocupação maior dos jornais de médio porte em
seguir os padrões da grande imprensa, estes veículos de comunicação também se valem de
repórteres que exercem a função de fotógrafos. Antes que alguém alegue que até nos
grandes órgãos isso ocorre, podemos fazer uma ressalva de que estes casos são raros e
podem acontecer principalmente em matérias mais frias (onde há uma pauta pré-definida e
mais tempo para se trabalhar, ao contrário das matérias “quentes”, ou seja, aquelas em que
não se há previsões, como acidentes, rebeliões, fenômenos naturais, entre outros), onde há
tempo para elaboração de texto e imagem e não há a necessidade de preparo para perceber
a “alma” da matéria.
Os jornais médios pesquisados, Jornal da Manhã e o Jornal de Uberaba, que são
diários, garantiram ter somente um fotojornalista em seu quadro de funcionários. Esta
pessoa é responsável pela captação de praticamente todas as imagens publicadas, restando
ainda a alguns repórteres assumirem este papel também. O Diário da Região e o DHoje,
ambos de São José do Rio Preto, foram os que apresentaram um número maior de
repórteres fotográficos a seu serviço.
De acordo com Marilu Teixeira, editora do 2º Caderno do Jornal da Manhã, apesar
de haver uma perda de qualidade nas imagens digitais em relação à película (a empresa só
adotou a tecnologia em 2002), quando ocorre uma situação adversa, a foto é tratada em
computador através de softwares para que fique nítida ou reenquadrada, conseguindo-se,
assim, bons resultados. Reconhecendo que o jornal não sobrevive sem imagens, sejam elas
de qualidade ou não, a editora acredita que os profissionais da área não estão com seus
empregos arriscados.
38
Podemos perceber, nas entrevistas, que um dos principais motivos que levou os
jornais de médio porte a atualizarem seus equipamentos fotográficos está na economia na
hora da compra de filmes e na revelação. Em função da constante crise financeira que o
país está atravessando, “apertar os cintos” nunca é demais. O tempo, grande senhor
inimigo das redações, é o segundo “culpado” pela adoção de máquinas digitais por causa
da facilidade de transmissão de dados de qualquer lugar do planeta.
É desnecessário dizer que quando apenas uma pessoa executa tanto o serviço de
apurar informações como o de registrar imagens, a qualidade do material é prejudicada.
Isso porque é praticamente impossível conseguir captar boas imagens ao mesmo tempo em
que se preocupa em checar o que está acontecendo, conversar com fontes, buscar detalhes
responsáveis por transformar a matéria em chamada de primeira página. A presença do
fotógrafo é indispensável, enquanto o repórter pode até buscar dados por telefone ou em
escuta de rádio.
Isso é o que ocorre constantemente nos jornais do município de Frutal e, raramente,
em grandes redações. Por não ter fotojornalistas em seus quadros de funcionários, os dois
jornais pesquisados, o Pontal do Triângulo e o Jornal de Frutal equiparam seus repórteres
com máquinas fotográficas digitais a fim de que façam as coberturas jornalísticas no
município, sejam elas uma simples entrevista ou a visita do governador do estado.
Medidas econômicas são a primeira causa da ausência de repórteres fotográficos
nestas redações. A escassez de material humano é outro fator que poderia ser debatido,
porém, será deixado de lado neste estudo já que não conseguiríamos expô-lo da maneira
que merece. Sendo órgãos de pequeno porte e voltados totalmente para a cidade e região
que abrangem, estas empresas têm como maior fonte de renda os convênios com órgãos
públicos como Prefeituras e Câmaras Municipais. A parcela de anúncios e assinaturas
representam o mínimo no orçamento destes veículos. Em cidades pequenas não é possível
se fazer tabela de preços que representem os custos reais da publicação e os preços acabam
defasados e abaixo do valor de mercado. A falta de recursos também impossibilita a
circulação diária destes jornais, que são semanais. Essa é a opinião das proprietárias dos
dois jornais, Lília Maria Levoti Portari e Mônica Alves.
Para contornar esta situação, os repórteres atuam nas duas áreas e, vez ou outra,
acertam em cheio numa foto. Esta situação é vivida diariamente pelo repórter Samir
Alouan, que há cinco anos trabalha em jornais do município.
Equipado com uma máquina digital e um gravador, ele é responsável por grande
parte das fotos publicadas no semanário Jornal de Frutal e assume que existe uma perda
39
de qualidade muito grande no resultado de seus trabalhos. Apesar da chegada de máquinas
digitais à redação de seu jornal ter acontecido há menos de dois anos, ao contrário de
Márcio Corrêa, ele acredita que esta poderá ser uma tendência seguida por grandes
organismos de imprensa. Porém, faz ressalvas quanto a esta possível realidade prevista.
Jornais como a Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo ou O Globo aparentam ter
preocupação na qualidade do que é levado a seus leitores e, por isso, acredita-se que eles
jamais deixariam de ter em sua equipe de reportagens os dois profissionais, a fim de que
mantenham o padrão de qualidade.
Outro entrevistado que vive este dilema em sua profissão é Alberto Herktor El-
Khouri, do Jornal Pontal do Triângulo. Reconhecendo que ele próprio acaba sendo
prejudicado por esta situação, a necessidade de uma pessoa especializada no assunto na
redação onde trabalha é ressaltada no sentido de que se deve trazer o máximo de
informação de qualidade para os leitores, alegando que ao executar as duas funções o
profissional pode perder momentos interessantes e importantes do fato no qual está
trabalhando. Mas ele ressalva que em acontecimentos taxados como “previsíveis”, como
coletivas ou apresentações, o trabalho duplo não prejudica o repórter nem o que será
levado a público. “Apesar da câmera digital ter um visor mais moderno e ser mais fácil de
manusear, as técnicas e critérios do fotojornalismo continuam os mesmos, o que significa
que não é só ligar a máquina e apertar o botão a esmo. Uma boa foto jornalística depende
do profissional e não da máquina e muito menos da maneira que ela vai para o
computador, se é via digitalizador ou via disquete”, alerta. Em sua afirmação, ele deixa
claro que, sem conhecimento, seja ele empírico ou acadêmico, dificilmente bons resultados
em captura de imagens serão gerados. Trabalhando com uma máquina digital, Alberto crê
que seu trabalho não seja prejudicado pelas limitações dos modelos mais simples,
atribuindo a preferência de alguns fotógrafos profissionais pelas máquinas mecânicas a um
“romantismo” em relação à história da fotografia.
No caso de jornais considerados “grandes”, como o Estado de S.Paulo, a utilização
de máquinas digitais é fato concreto. Porém, por ter mais recursos financeiros à disposição,
o veículo dispõe de 40 máquinas digitais da marca Cânon capazes de registrar até nove
fotos em apenas um segundo com uma qualidade de oito megapixel, capacidade
considerada uma das melhores do mercado atualmente.
Dentre as diferenças entre os jornais de médio e pequeno porte pesquisados e
organizações de “grande” porte podemos listar o número de repórteres e repórteres
fotográficos trabalhando por lá e a preocupação pela qualidade jornalística da imagem
40
publicada. Os fotojornalistas que trabalham para o Estado de S.Paulo são orientados a
condensar numa imagem o maior número de informações possíveis, de preferência, que
resuma o fato em si. Isso porque, segundo o fotojornalista Hélvio Romero Lopes, é a
fotografia que vende o jornal. Ao passar na banca ou receber o exemplar do dia em casa,
de acordo com Hélvio, a primeira reação do leitor é olhar a foto, ler a legenda para saber se
ele entendeu realmente o que estava retratado e, finalmente, ler a manchete. Se estes três
itens provocarem interesse suficiente, a matéria completa será lida. Porém, para que isso
aconteça, é necessário um amplo trabalho de equipe que vai desde o fotojornalista,
responsável pela captação da imagem, e passa pelo editor de fotografia, repórter e,
finalmente, pelo editor geral, que vai dar o parecer final de qual imagem será utilizada,
qual legenda será escrita e, principalmente, como deverá ser composta a manchete. Não
raro é possível observar uma foto estampada na parte alta da primeira página que não tenha
nada a ver com a manchete em si. Isso acontece por causa da informação contida na
imagem, e isso não pode ser desperdiçado.
Fotos tremidas ou até mesmo desfocadas, muitas vezes, são escolhidas no lugar de
imagens claras por causa de seu conteúdo. Mesmo com a preocupação constante do
fotojornalista profissional em analisar a quantidade de luz, o ambiente e objetos do cenário
onde está fotografando, às vezes é impossível se compor uma foto tecnicamente perfeita.
Mas, se o conteúdo for perfeito, a imagem não está perdida. A mudança da mentalidade
tanto dos foto-repórteres como dos editores nos últimos cinco anos propiciou à grande
imprensa criar uma quase homogeneidade nas imagens e assuntos retratados em primeira
página. Apesar de ainda existirem editores que não valorizam como deveriam os
profissionais fotojornalistas como o caso do editor do Diário de S.Paulo, Paulo Moreira
Leite, que acha que a fotografia é mais um mero setor do jornal como o departamento de
recursos humanos ou o financeiro, a maior parte dos organismos considerados respeitáveis
que se preocupam com o quê estará sendo repassado ao leitor, têm grande zelo tanto pelos
seus profissionais quanto pelas imagens produzidas por eles.
Ao que tudo indica, pelos resultados da pesquisa de campo realizada durante 2004,
as máquinas digitais não vieram para prejudicar mais uma profissão, e sim para somar e
fazer com que a qualidade do material apresentado aos leitores tenha significativo ganho
de qualidade. O curto tempo entre registrar uma imagem e enviá-la, via satélite ou Internet,
até à redação foi um ganho excepcional para os jornais pesquisados. As noções de
imediatismo foram aprofundadas com a tecnologia digital nas máquinas fotográficas e é
certo que a experiência, conhecimento de linguagem e composição de imagens garantem
41
aos repórteres fotográficos estabilidade em suas profissões por um bom período de anos,
apesar desta profissão ainda não existir nos jornais de pequeno porte tratados neste estudo.
Enquanto a economia não se aquece e a situação financeira de pequenas e médias empresas
não se estabiliza, os leitores, por hora, terão que se contentar com o trabalho às vezes
precários dos repórteres destas publicações. Nos jornais em que apesar de existir o
profissional da fotografia seu número é limitado ao mínimo, esta situação se repete,
indicando que as grandes publicações, em sua maioria sediadas em capitais, ainda estão
muito à frente do tempo em que se encontra o interior dos estados. Enquanto isso, não se
pode dizer que exista um fotojornalismo de fato nas publicações pesquisadas à exceção do
Diário da Região, que tem uma estrutura financeira melhor e pode contar com diversos
repórteres fotográficos à sua disposição. Isso gerou um aumento na qualidade do que é
levado às ruas, seguindo os moldes da grande imprensa, e lhe valeu o status de segundo
maior jornal do interior do estado de São Paulo.
42
5 – CONCLUSÃO
Ao iniciar este trabalho, tínhamos uma visão de que a profissão de foto-repórter ou
fotojornalista estaria sendo ameaçada pela grande difusão das máquinas fotográficas
digitais nas redações. Ao vivermos esta realidade em nosso município e dentro de uma
redação pequena, pensávamos que os órgãos de imprensa de médio porte da região também
adotariam o modelo do profissional que executa tanto a função de repórter no sentido de
apuração de dados para matérias, como também de fotógrafo, registrando as imagens das
coberturas para as quais fosse designado.
Porém, ao entrarmos na pesquisa de campo, conversando com editores e foto-
repórteres de São José do Rio Preto e Uberaba, percebemos que esta visão estava errada e
que, ao contrário do que se pensa, os jornais que não são considerados grandes também se
preocupam com a qualidade do produto que é levado a seus leitores. Em conversas com
editores de fotografia, percebemos que eles primam mais pela qualidade do que pela
quantidade de imagens de determinado assunto e, assim, a profissão de fotojornalista não
está sendo ameaçada nestas redações. A máquina digital, ao invés de tirar o lugar deste
profissional, chegou como uma grande aliada que permite mais agilidade nas coberturas.
Apesar de nem todos órgãos de imprensa abrangidos por este estudo contarem com
máquinas fotográficas profissionais, predominando modelos semiprofissionais ou
totalmente automáticos, nos jornais onde há fotojornalistas fica evidente a diferença de
qualidade. O olhar clínico no momento de registrar os fatos é totalmente imprescindível
para se ter uma boa cobertura jornalística e, por conseguinte, para levar algo que realmente
contribua com o texto escrito ao invés de simplesmente ilustrá-lo.
A importância da fotografia no jornalismo impresso é incontestável. Além de
ajudar a vender mais jornal, a foto é material que se pode olhar por diversas vezes, a
qualquer tempo e hora, o que permite até mesmo uma interpretação mais aprofundada do
assunto. A presença de fotos nos jornais passou a ser como uma espécie de concorrência
direta com a televisão, com a grande vantagem de que fica mais difícil analisar a fundo a
imagem em fluxo do que um pedaço da realidade estático, parado, à disposição do leitor
para que ele use e abuse de seus atributos. Na atualidade, é muito difícil encontrar jornais
que não tenham fotos em suas páginas. Exceções como o Le Monde Diplomatique, da
França, que acredita que as análises de seus textos não podem ser estragadas com imagens,
são casos únicos que quase não se tem precedentes. Em contraposição à esta idéia do jornal
43
francês, o Daily Mirror, publicado nos Estados Unidos, usa e abusa de imagens em suas
capas, respaldado pelo fato de ter sido a primeira publicação impressa a utilizar imagens no
mundo.
Diz Susan Sontag, em seu livro “Sobre Fotografia” (2004) que “Mallarmé, o mais
lógico dos estetas do século XIX, disse que tudo no mundo existe para terminar num livro.
Hoje, tudo existe para terminar numa foto”. Isso demonstra claramente a era em que
vivemos: a modernidade, onde tudo o que se tem, desde prédios, postes, esculturas,
quadros e fatos, termina numa imagem que é gravada com a luz sobre uma emulsão de
prata altamente flexível ou transformado em bits de computador para que possamos
reproduzir a nosso bel prazer.
Ao longo deste ano, durante o período de desenvolvimento deste estudo, tentamos
por diversas vezes fazer contatos com os jornais que acreditamos representar da melhor
forma possível a realidade dos órgãos de pequeno e médio porte da região de Frutal.
Porém, nem sempre fomos bem recebidos. Uma de nossas maiores decepções foi o de
tentar por diversas vezes contatar o jornal Diário da Região, considerado o segundo maior
do interior do estado de São Paulo. Em nossa primeira tentativa não fomos bem recebidos
e, nas tentativas posteriores, não tivemos sucesso em encaminhar nosso questionário para
que pudéssemos saber um pouco mais da realidade deste jornal. Em contrapartida, o
fotógrafo Márcio Corrêa do jornal Dhoje não só nos recebeu bem como se colocou à
disposição para eventuais dúvidas, deixando-nos seus telefones de contato à disposição.
Nos jornais do estado de Minas Gerais, tivemos as portas abertas sem dificuldades.
No Jornal da Manhã, a editora Marilu Teixeira se mostrou receptiva e nos atendeu
prontamente. No Jornal de Uberaba, até o momento, não conseguimos com sucesso a
resposta do editor e fotógrafo Sérgio Teixeira. Nas publicações de Frutal, não tivemos
problemas. Junto ao jornal Pontal do Triângulo bastou uma conversa rápida com nossos
companheiros de trabalho para que eles nos respondessem. No Jornal de Frutal, o repórter
Samir Alouan Bernardes também foi solícito ao nosso apelo, enquanto a editora Mônica
Alves teve certa demora em nos atender. Curiosamente, o repórter fotográfico Hélvio
Romero, que presta serviços para a Agência Estado e com inúmeras fotos publicadas no
Estado de São Paulo também foi gentil e, à medida em que o tempo entre uma cobertura e
outra lhe permitia, respondeu o nosso questionário com grande presteza.
A experiência de sair a campo em busca de se tentar comprovar uma hipótese
levantada em caráter científico nos mostrou o quanto é dura a vida de um pesquisador.
Apesar de se trabalhar arduamente em busca de algo que possa contribuir para as futuras
44
gerações, nem sempre as fontes de pesquisa entendem o posicionamento. Algumas vezes,
nem mesmo a atenção devida, mesmo que por polidez, é encontrada. Porém, de qualquer
forma, não desistimos de nosso intento e, ao concluir este estudo, percebemos que o
mundo pode ser construído de uma forma diferente para as futuras gerações e, para isso,
contamos com os pesquisadores e com aqueles que dedicam seus esforços em prol de
melhorias, seja nas ciências exatas, biológicas ou nas ciências humanas, sobretudo na área
de comunicação, onde o lado humanista da sociedade está extremamente presente.
Perceber que a tecnologia está ajudando na construção de meios de comunicação
mais eficazes e melhores nos deixou plenamente gratos. Apesar de grande parte das
invenções tecnológicas contribuírem para o aumento do desemprego, com máquinas
assumindo funções antes exclusivamente de humanos, a evolução das máquinas digitais
não desbancou os profissionais da fotografia. Isso porque, para operar a máquina, é
necessário que haja um agente e cabe a esse agente mostrar ao equipamento o que ele vai
enxergar, como vai registrar e como o equipamento irá executar suas ordens.
A realidade, hoje, é enxergada através das imagens. Toda imagem nos dá a
sensação de que o que está retratado, ou pelo menos algo parecido com aquilo, esteve
presente à frente da lente em determinado momento de sua história. E, entre os dois
mundos que separam a realidade da imagem, estamos nós, os humanos, a passear pela
existência.
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6 – ANEXOS
ENTREVISTA COM LÍLIA MARIA LEVOTI PORTARI - PROPRIETÁRIA DO
JORNAL PONTAL DO TRIÂNGULO – FRUTAL (MG)
1) Este jornal trabalha com máquinas fotográficas digitais? Quantas?
Sim. Apesar de contarmos com três máquinas digitais, atualmente só estamos
trabalhando com duas porque uma delas apresentou defeito e foi enviada à assistência
técnica.
2) Quantos fotojornalistas compõem o quadro de funcionários atualmente?
Não contamos com nenhum fotojornalista em nosso quadro de funcionários. Por
sermos uma empresa de pequeno porte e estarmos no interior de Minas Gerais, não
temos recursos suficientes para manter um profissional especificamente para trabalhar
como fotojornalista. Apesar de sabermos que perdemos na qualidade técnica das
imagens publicadas em nosso semanário, infelizmente as condições financeiras não nos
dão oportunidade de ter um profissional específico para este fim.
3) Há algum repórter que exerça também a função de fotógrafo durante as
coberturas?
Todos nossos repórteres acabam se desdobrando para este fim. Como não contamos
com fotojornalistas no nosso quadro de funcionários, compramos máquinas digitais
para nossos repórteres registrarem as imagens dos eventos de que participarem. Desta
forma, eles podem avaliar se a imagem ficou boa e se ela poderá ser utilizada sem
problemas no jornal, ao contrário das máquinas convencionais, que nos obrigam a
esperar até a revelação do negativo para saber se conseguimos a foto ou não.
Independentemente do tamanho da cobertura, todos nossos repórteres saem às ruas com
máquinas digitais em punho. Outro detalhe importante é que o trabalho de apuração de
informações não precisa ser feito instantaneamente, mesmo porque somos um jornal
semanal. Assim, ao cobrir um evento, ele pode perfeitamente registrar as imagens
primeiro para depois partir para as entrevistas. Não podemos esquecer que, em
conseqüência do trabalho de registrar imagens, acontece um acompanhamento do fato
também, o que facilita o trabalho de compreensão do assunto tratado.
46
4) Desde quando a máquina digital foi implantada nessa redação? Ela trouxe
economias? Em que sentido?
Começamos a utilizar máquinas digitais em 1999, mais precisamente durante a
campanha política, quando adquirimos o primeiro equipamento. Alguns meses depois
compramos outro modelo de máquina digital e começamos a trabalhar com este tipo de
foto. Apesar da resistência de algumas pessoas, no início, foi um investimento acertado
no sentido de que trouxe economias para nossa empresa. Antes, tínhamos gastos com
pilhas, filmes, revelação de negativo e revelação da fotografia. No final do mês,
gastávamos com o laboratório o preço de uma máquina fotográfica digital e ainda
corríamos o risco da foto sair desfocada e não ter condições de ser publicada. Com a
chegada da máquina digital às nossas redações também economizamos em tempo.
Desta forma, hoje o gasto que temos com o laboratório é mínimo, foi reduzido em
cerca de 80%. Mesmo sendo um equipamento caro há alguns anos, o investimento
valeu a pena.
5) A senhora acredita que há possibilidade da extinção dos fotojornalistas com o
advento da máquina digital?
Não sei ao certo se esta profissão vai desaparecer. É fato que, em nossa cidade, ele
jamais existiu. Somos o jornal com mais anos de circulação atualmente e nunca
tivemos nenhum profissional específico desta área trabalhando por aqui. Acredito que
outros jornais de pequeno porte também enfrentem as mesmas dificuldades que nós e
não tenham fotojornalistas contratados. Agora, quando se trata de grande imprensa,
como Folha de S.Paulo, O Globo ou até mesmo o Diário da Região, creio que estes
profissionais não estejam com seus empregos arriscados.
6) A economia compensa a perda de qualidades nas imagens?
Não sei se podemos falar em perda de qualidade por nunca termos tido um
fotojornalista trabalhando para nós. É fato que os profissionais específicos desta área
tenham um olho clínico que os leigos ou mesmo os jornalistas formados não tenham.
Apesar disso, no nosso caso, a economia veio contribuir para a sobrevivência da
empresa.
7) Existe a possibilidade de mais investimentos em equipamento digital?
47
Sim. Temos a pretensão de melhorar nosso equipamento em breve e, se possível,
comprarmos pelo menos mais uma máquina digital, já que o número que temos hoje
não está sendo suficiente para nossa demanda. A expectativa é de que até janeiro de
2005 tenhamos comprado uma máquina mais moderna para nossa redação.
8) A senhora acredita que a profissão de fotojornalista está arriscada a
desaparecer mesmo na grande imprensa?
Como disse anteriormente, creio que não. Por serem empresas que contam com
faturamento bem maior do que os de jornais pequenos e por existir até mesmo uma
competição mais acirrada entre os jornais de grande circulação, acredito que eles não
abrirão mão dos fotojornalistas. Isso só irá acontecer, creio eu, se houver uma grande
crise no país ou no setor que atingir até mesmo as grandes potências. Se isso acontecer
não há dúvidas de que órgãos pequenos, como o nosso, estarão arriscados a fechar suas
portas por falta de recursos.
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6 – ANEXO
ENTREVISTA COM ALBERTO HEKTOR EL-KHOURI – JORNAL PONTAL DO
TRIÂNGULO – FRUTAL (MG)
1) Para o senhor, o que é uma foto jornalística? O que ela deve conter?
A foto jornalística é o registro de uma realidade. Ela deve conter um fato que se
caracterize como notícia. Não pode ser encenada e nem ter a influência do fotografo.
2) Como o senhor avalia o fotojornalismo atual?
Se você se refere ao fotojornalismo brasileiro, eu o considero como um dos melhores
do mundo. Temos inúmeros profissionais que se destacam no cenário nacional e
mundial como Sebastião Salgado e Evandro Teixeira, do Jornal do Brasil.
3) Qual deve ser a principal busca do fotojornalista na hora de registrar um
fato?
Isso é relativo. Sempre se deve buscar o real, o fato em si, mas esse critério está ligado
mais à ética jornalística. Acredito que o repórter fotográfico busque sempre o
inesperado, o acontecimento.
4) O fotojornalismo praticado hoje tem cumprido seu papel na produção
jornalística? De que forma (satisfatória ou não)?
Pelo que vejo nos jornais, sim. Há fotos bem comuns, tradicionais, mas sempre aparece
alguma interessante, não acredito que seja comum nas redações dos jornais a
manipulação de imagens fotográficas.
5) Qual a importância da foto para um jornal?
A princípio, a fotografia ganhou mais espaço nos jornais brasileiros após o
aparecimento da TV. Muitos temiam que o jornal impresso acabasse, ao se defrontar
com um veículo que trazia a imagem em movimento. Os principais jornais brasileiros,
para competir com esse veículo, fizeram grandes reformas gráficas valorizando o
espaço para fotos, o que atrai mais o leitor. O texto jornalístico é uma construção do
49
real através de palavras. A foto também é uma construção do real, mas incorporada em
outra forma de linguagem, isto é, a linguagem imagética, que se diga de passagem, é a
linguagem mais usada no mundo contemporâneo.
6) Como compor uma foto que tenha caráter jornalístico?
A foto jornalística tem que registrar um fato real que seja de interesse público. A foto,
como o texto, depende muito do contexto do fato. Por exemplo, a foto de um homem
qualquer nu na praia de nudismo pode não ser considerada como notícia, mas se este
homem for o Papa João Paulo II, com certeza ela terá um teor jornalístico, pois é de
interesse público. O que devemos lembrar é que é impossível registrar o real em sua
plenitude, por isso, dizemos que a foto e o texto jornalístico trazem uma versão da
realidade.
7) Como o senhor avalia as pessoas que desenvolvem o trabalho de repórter e
fotógrafo ao mesmo tempo, a exemplo dos vídeo-repórteres?
Eu não acho muito legal, pois, executando as duas funções, o repórter pode perder
momentos interessantes e importantes de um fato. Em algumas reportagens poderia ser
útil, como o chamado fato previsto (coletivas e eventos). Mas em acontecimentos não
previstos ou reportagens especiais sou a favor de que se tenha um profissional para
cada função.
8) Esse acúmulo de função de fotógrafo e repórter seria uma tendência que os
grandes jornais poderiam assumir como medida de economia de custos?
De certa forma se ganha na economia, mas, por outro lado, se perde na qualidade da
notícia e na agilidade do repórter.
9) A foto digital atrapalha o trabalho do fotógrafo profissional? Ela "prende" o
profissional na hora do trabalho?
Não, pelo contrário. Apesar de haver um certo romantismo dos fotógrafos pela
máquina fotográfica mecânica e a revelação em papel, a modernização do aparelho lhes
possibilitou ter uma visão instantânea da foto e um corte nos gastos com revelação.
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10) A fotografia digital colocará em risco a profissão de fotojornalista?
Acredito que não. Pelo que vejo, os repórteres fotográficos dos principais jornais do
país estão usando máquinas digitais. Apesar da câmera digital ter um visor mais
moderno e ser mais fácil de manusear, as técnicas e critérios do fotojornalismo
continuam, o que significa que não é só ligar a máquina e apertar o botão a esmo. Uma
boa foto jornalística depende do profissional e não da máquina e muito menos da
maneira que ela vai para o computador, se é via digitalizador ou via disquete.
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6 - ANEXOS
ENTREVISTA COM HÉLVIO ROMERO LOPES – FOTOJORNALISTA DO
ESTADO DE SÃO PAULO – 1/05/2004
1) Para o senhor, o que é uma foto jornalística? O que ela deve conter?
No fotojornalismo, devemos nos preocupar, acima de tudo, com informação. Não adianta
ser um ótimo fotógrafo, dominar completamente seu equipamento, luz, composição, etc.,
se na imagem não houver informação. A fotografia de jornal ou revista “hard-news” ou de
reportagens especiais tem que falar por si só. O leitor vê a imagem (é o que primeiro lhe
chama a atenção numa capa de jornal) e já sabe o que aconteceu. Depois ele vai ler a
legenda da foto (para confirmar o que viu), depois a manchete, e, se sentiu interesse pelo
assunto, vai ler a matéria completa. Quando produzimos uma foto para uma reportagem
temos sempre que pensar em fazer o possível para colocar na imagem tudo aquilo que está
no texto, acrescido de uma boa luz, enquadramento, sensibilidade e tesão.
2) Como o senhor avalia a qualidade do fotojornalismo atual?
De uns 5 anos para cá algumas coisas mudaram no fotojornalismo. Alguns editores se
preocuparam mais com a imagem do que faziam. O fotojornalismo, a meu ver, teve um
momento importante na década de 70 com o Jornal da Tarde e o Jornal do Brasil (Rio de
Janeiro). Eles mudaram completamente a cara dos jornais. O JT abria uma foto na capa
inteira do jornal. O JB também. Depois alguns jornais seguiram a tendência. Na década de
90 a coisa foi ficando mais conservadora e quase voltou a ser como antes. Nos anos 98, 99
e 2000 houve uma grande troca de Editores de Fotografia nos grandes Jornais do país e
isso mudou consideravelmente as capas. Hoje temos uma maior preocupação com a
imagem no fechamento. Mas eu estou falando da grande imprensa. Nos pequenos jornais
de cidades do interior do país ou de jornais de bairros ou entidades, o fotojornalista é
desprezado, não se atribui nenhum valor a esse profissional e às vezes o próprio dono do
jornal fotografa ou ele pede para seu filho, vizinho ou amigo que fotografe. O leitor, por
sua vez, não exige qualidade. De outro lado, há editores que não gostam de fotografia. O
Editor do Diário de São Paulo, Paulo Moreira Leite, acha que fotografia é um mero setor
52
do jornal como RH, Serviços Gerais, etc. Ele despreza tanto a fotografia que, para ele,
repórter-fotográfico é “vagabundo” e não se intimida em alterar uma imagem digitalmente.
3) Qual deve ser a principal busca de um fotojornalista na hora de registrar um fato?
Quando você está numa cobertura a primeira coisa que tem de fazer é se inteirar
completamente do assunto. Quem vai chegar, sair ou falar? Porque, quando, onde, como,
etc. O fotojornalista deve estar, sempre que possível, informado sobre aquele assunto
(somos jornalistas). São essas informações que farão você realizar melhor o seu trabalho.
Sem contar a parte técnica. Na hora em que chegamos à pauta, devemos analisar a luz, o
fundo, o espaço, aquele quadro, aquele vaso, aquela parede, etc. No final a coisa é sempre
a mesma: colocar na imagem o máximo de informação possível. Sem esquecer do seu
concorrente. Nunca esqueça que seu concorrente pode ter uma idéia melhor que a sua.
Numa foto mais produzida (uma reportagem especial) você terá mais tempo para analisar
as condições de campo e também de compor uma foto sensacional.
4) O fotojornalismo praticado hoje tem cumprido seu papel na produção jornalística?
De que forma (satisfatória ou não)?
Como falei antes, acho que na maior parte da imprensa sim. Temos que pensar nas
pequenas empresas jornalísticas que não têm recursos e às vezes profissionais de gabarito
para executar um bom fotojornalismo. Se você pensar nos grandes jornais das capitais e
das grandes cidades, você verá um fotojornalismo perto da homogeneidade (não podemos
esquecer que hoje todo mundo lê todo mundo. A internet está aí). Nos pequenos jornais
isso não acontece porque também não há cobrança por parte do leitor.
5) Qual a importância da foto para um jornal?
O que vende jornal são as fotos. Isso não sou eu quem está falando. Já li sobre isso, já ouvi
isso do Albero Dines no seu programa Observatório da Imprensa. O que chama a atenção
do leitor do jornal na banca ou quando ele recebe o jornal na porta de casa é a foto. Ele vê
a foto e já sabe ou imagina o que aconteceu. A segunda coisa é a legenda da foto. Ele vai
confirmar o que viu. Depois, vai ler a manchete. Se tudo isso interessar, lerá a matéria
completa. Muitas vezes (acho que na maioria) a foto não tem nada a ver com a manchete
do jornal. A foto é estampada na primeira página, pela sua beleza, frieza, informação etc.
Ela ajuda a vender o jornal.
53
6) Como compor uma foto que tenha caráter jornalístico?
A fotografia de jornal deve conter informação acima de tudo. Numa reportagem especial
temos tempo para compor a imagem. Analisamos a luz do ambiente, o fundo, o detalhe, o
personagem da matéria, qual a melhor lente, filme etc. Depois fazemos a foto com toda a
informação possível. No dia-a-dia a coisa é diferente. Às vezes chegamos ao lugar onde vai
acontecer a notícia ou onde está acontecendo e temos que ser rápidos para tentar colocar na
foto tudo de que precisamos. Às vezes a qualidade é um detalhe. Muitas vezes temos uma
foto escura ou sem foco ou tremida e com a informação precisa. Nenhuma irá substituí-la.
7) Como o senhor avalia as pessoas que desenvolvem o trabalho de repórter e
fotógrafo ao mesmo tempo, a exemplo dos vídeo-repórteres?
Acho isso muito preocupante. E vejo também que ninguém (Sindicatos, Fenaj, etc) está
conseguindo brecar ou regulamentar isso. No boom da Internet havia muitos sites de
informação. Todos os repórteres chegavam em uma cobertura com sua “Mavica” e faziam
as duas coisas. Há uns 3 ou 4 anos as equipes de TV eram compostas de 1 repórter, 1
repórter-cinematográfico, 1 iluminador, 1 assistente e 1 motorista. Hoje o repórter-
cinematográfico é cinegrafista. Ele ilumina, dirige o carro e grava as imagens. Isso acaba
com a profissionalização da categoria. Você sabe que muitas pessoas acham que se
souberem fazer um texto ou uma foto já podem trabalhar em jornal, revista, internet, etc.
Até podem, mas e a qualidade? Primeiro temos que educar o leitor a exigir qualidade. Se o
jornal da “esquina” encalhou na banca porque não tem qualidade, na próxima edição talvez
o dono contrate profissionais.
8) Esse acúmulo de função de fotógrafo e repórter seria uma tendência que os jornais
de grande porte poderiam assumir como medida de economia de custos?
Acho que os grandes jornais nunca irão partir para esse lado. Talvez uma ou outra editoria.
Na Editoria de Turismo do Estadão, da Folha e de outros grandes jornais o repórter de
texto também fotografa. Isso, segundo eles, se deve ao fato de todas as matérias serem
feitas por convite. Alguém convida o repórter para conhecer a Patagônia e fazer uma
matéria. Só que há apenas um convite. Vai o repórter de texto e ele fotografa. Às vezes o
organizador da viagem contrata um repórter-fotográfico que servirá a todos repórteres de
texto, cedendo suas imagens. Quanto aos pequenos jornais isso vai acontecer com uma
certa freqüência, pelo menos em tempos de economia desaquecida.
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9) A foto digital atrapalha o trabalho do fotógrafo profissional? Ela “prende” o
profissional na hora do trabalho?
A foto digital veio para facilitar o trabalho do repórter-fotográfico. Ela dá mais agilidade
no dia-a-dia. Você produz a imagem e em alguns minutos ela já está na redação. Mais
alguns minutos e ela já está à disposição de uma Agência de Imagens e mais outros
minutos ela está no mundo todo. Nós temos que tomar cuidado para não ficarmos
totalmente dependentes da foto digital a ponto de não conseguirmos usar mais o negativo.
Nem de ficar escravo de um “visorzinho” atrás da câmara. A criatividade na luz,
enquadramento e principalmente a nossa sensibilidade devem estar acima de qualquer tipo,
marca, modelo, formato ou origem dos equipamentos. Eles são nossos instrumentos. Não
pode ser o contrário.
10) A fotografia digital vai colocar em risco a profissão de fotojornalista?
Como disse antes, a fotografia digital no fotojornalismo é irreversível. Os avanços
tecnológicos nos levam a isso. O Estadão comprou 40 equipamentos Canon de última
geração. Agora nossas fotos estarão no jornal no máximo quinze minutos após serem
feitas. A qualidade da foto é surpreendente (8 megapixel). A velocidade de transmissão
também. A parte ótica do equipamento melhorou sensivelmente. Podemos fazer até 9 fotos
por segundo gerando um arquivo com qualidade para fazer uma ampliação enorme. Tudo
isso nos leva a crer que num período bem curto quase todos os órgãos de imprensa estarão
digitalizados. E isso vai melhorar sensivelmente a qualidade das publicações.
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6 - ANEXOS
ENTREVISTA COM MARCIO DA SILVA CORRÊA – REPÓRTER
FOTOGRÁFICO DO JORNAL DHOJE – 14/04/2004
1) Para o senhor, o que é uma foto jornalística? O que ela deve conter?
Numa foto jornalística, em princípio, procuramos a informação. Temos o jornal, que tem
uma linha editoral e, dentro dela, você tem o assunto que aborda com mais veemência. A
gente separa por segmentos. Os segmentos A e B, por exemplo, são o pessoal que se
interessa mais por economia e política. Depois temos problemas da comunidade, assuntos
em geral, e daí por diante. A partir daí, você começa a fazer as abordagens. Seja qual for o
segmento, nós priorizamos as informações. Em fotojornalismo, vamos mostrar, através da
fotografia, uma cena que possa resumir o significado daquela situação. Às vezes você pode
dar as informações triviais, como num acidente onde se fotografa a placa do carro ou o
outro veículo envolvido. Mas, pode acontecer de, ao invés de fotografar o carro, fotografar
o motorista sentado, chorando, desolado. É um sentimento, uma impressão. Priorizamos
este tipo de informação, que vai levar as pessoas a refletirem sobre o acontecimento.
2) Como o senhor avalia o fotojornalismo atual?
No fotojornalismo, temos várias pressões. Por exemplo, temos a rivalidade entre as
empresas de comunicação. Também temos a pressão, não só do fotojornalista, mas do
repórter, que é a de não levar um “furo” do outro jornal. Isso, segundo os critérios das
empresas, prejudica a credibilidade do órgão de comunicação. Também temos a pressão do
tempo. Num jornal de ritmo diário você tem um tempo muito pequeno para elaborar as
coisas. A gente precisa constantemente treinar o olhar para chegar e detectar o que vai
resumir aquele acontecimento. Em relação ao fotojornalismo internacional, o
fotojornalismo brasileiro vai muito bem, mas ainda acho que falta alguma sofisticação
cultural em nossas abordagens. Acho que ainda temos falhas de percepção no Brasil.
3) Qual deve ser a principal busca do fotojornalista na hora de registrar um fato?
Você tem que procurar ter uma visão do conjunto ou, pelo menos, refletir naqueles poucos
instantes que você tem para fazer a fotografia, sobre o significado daquele acontecimento
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que você está abordando. Somos obrigados a organizar no visor da câmera uma cena, um
recorte que dê idéia de conjunto, tanto da situação como dos sentimentos envolvidos. Uma
coisa que acontece pouco é o fato dos fotógrafos se informarem bem sobre aquilo que
estão fotografando. A gente também deve fazer uma abordagem histórica para
contextualizar a situação e, no contexto, procurar os elos que façam a ponte entre o leitor e
o acontecimento. A principal característica da imagem é sintetizar todos elementos de
forma que você olhe e, de imediato, já saiba o que está acontecendo. A fotografia que você
olha e tem que ficar pensando para decifrar, ou não é uma boa foto ou você tem uma
deficiência como leitor de imagens ou, ainda, o fotógrafo não soube se expressar. A
etimologia da palavra fotografia é escrever com luz. Você precisa escrever bem e isso
significa tornar bem clara as coisas que você viu e passar isso para seu leitor.
4) O fotojornalismo praticado hoje tem cumprido seu papel na produção jornalística?
De que forma(satisfatória ou não)?
Acho que o fotojornalismo tem trabalhado bem em geral, mas acho que ainda falta muito.
Os fotógrafos têm o estigma de que eles não falam, não lêem, não escrevem e que vivem
só da imagem. Esta é uma deficiência cultural também. Acredito que os fotógrafos devem
ler e pesquisar muito. Fotografia, como tudo relacionado a ela, tem os dois lados que
aparentemente se opõem. O fotógrafo que só registra imagens acha que não deve perder
tempo lendo ou vendo fotografias de outras pessoas ou pesquisando materiais. É
justamente o contrário, eles devem aprofundar seu olhar. Mas eu vejo que, por causa da
rivalidade e concorrência acirrada entre as empresas de comunicação, um fotógrafo se
escuda para averiguar o que o outro fotógrafo anda vendo e não procura desenvolver uma
linguagem própria, pessoal. Muitos fotógrafos se vigiam uns aos outros e não
simplesmente chegando e fazendo seu trabalho de forma mais simples e consciente. De
forma geral, acho que está satisfatória, mas poderia ser muito melhor. Falta algo a mais
que, em outros países, o pessoal já andou encontrando.
5) Qual a importância da foto para um jornal?
A foto é o olho do jornal. Ela simboliza a presença do jornal no local do acontecimento.
Um repórter pode levantar uma matéria por telefone, mas o fotógrafo não pode fazer da
mesma forma. Ele é a presença do jornal ali e tem a responsabilidade de simbolizar o poder
que o órgão de comunicação tem de estar no lugar certo e na hora certa, transmitindo as
informações de que seus leitores precisam.
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6) Como compor uma foto que tenha caráter jornalístico?
Fora a responsabilidade que citei, o fotógrafo também tem a responsabilidade de sintetizar,
da forma mais rápida possível, o que aconteceu. Para isso, ele precisa compor a imagem,
reorganizá-la, alinhá-la de forma que o leitor chegue e, simplesmente, sem que precise
entrar no texto, onde vai ver os detalhes, entenda a matéria. A imagem está lá para
enriquecer e complementar a reportagem e, às vezes, superando o texto. Há fotos que
falam por si só. A regra mais básica de fotografia é a chamada “regra dos terços”, onde
você vai compondo os elementos e, dependendo do lugar onde você encaixa as coisas
dentro de uma fotografia, ela vai ser enfatizada ou não.
7) Como o senhor avalia as pessoas que desenvolvem o trabalho de repórter e
fotógrafo ao mesmo tempo, a exemplo dos vídeo-repórteres?
Às vezes é muito difícil você manter o foco quando se divide entre duas linguagens.
Algumas pessoas, naturalmente talentosas, fazem isso com facilidade. Se você for um
profissional apenas competente, irá ter dificuldades. É possível fazer as duas coisas, mas é
muito mais difícil. Quando está só fotografando, você faz um outro tipo de calibragem
mas, se você for um profissional sereno e consciente de suas capacidades, pode se
acostumar a usar as linguagens conforme elas forem sendo necessárias. Para elaborar um
texto, você elabora de uma forma, para a fotografia, é outra abordagem. No texto você vai
usar mais informação e reflexão. Na fotografia, você vai usar mais o olhar e o ponto de
vista e, aí, é preciso ter uma cultura que permita ter a percepção necessária para isso. Acho
possível, mas não seria o ideal.
8) O acúmulo de funções poderia ser uma tendência que os grandes jornais adotariam
como medida de economia de custos?
Isso pode acontecer mas, se os órgãos de comunicação perceberem a queda substancial na
qualidade da informação, talvez isso não seja adotado. Vejo isso acontecendo com muita
freqüência, nos jornais do interior isto também é muito freqüente. Informalmente, acontece
também nos grandes jornais. Já trabalhei na Folha de S.Paulo e, embora houvesse um
repórter na cobertura, o fotógrafo também tem o caderninho dele, onde anota dados sobre a
fotografia para fazer as legendas e faz anotações que depois são repassadas ao repórter
responsável. Em tese, já fazemos um pouco disso. Mas é óbvio que assim estaria deixando
de aparecer um outro profissional. Se você pega para fazer as duas coisas e, realmente,
58
repito, isso acontece no interior com muita freqüência, você está economizando por um
lado, mas está sucateando a qualidade do trabalho por outro.
9) A foto digital atrapalha o trabalho do fotógrafo profissional? Ela “prende” o
profissional na hora do trabalho?
Depende da qualidade do equipamento digital. Se você tiver um equipamento de primeira
linha, que custa de R$20 mil a R$30 mil, não haverá diferença nenhuma na qualidade e
abordagem da fotografia porque as máquinas são rápidas e a qualidade é excelente. Já para
as máquinas digitais mais baratas, a resposta é sim. Embora você tenha acesso ao resultado
final imediatamente, no momento do clique, em que você bate a fotografia, há um tempo
de processamento que pode prejudicar a abordagem de determinado assunto. Por exemplo:
uma vez fotografei com uma máquina que demorava oito segundos entre uma foto e outra.
Isso é uma eternidade. É o mesmo que fotografar um cara com a mão no coldre de uma
arma e, na segunda foto, já ter a vítima estendida no chão. Não tenho o tiro, a arma e nada.
Oito segundos é uma eternidade quando se faz fotojornalismo. O problema está
relacionado diretamente com a qualidade do material fotográfico. É necessária uma
máquina de porte razoável para que ela não te deixe na mão literalmente. O lance do
futebol com a fotografia digital ainda é um problema. Para se fotografar dentro de quadras
onde é preciso utilizar flash é outro problema, porque as máquinas não acompanham a
velocidade dos lances que ocorrem no jogo. E os jornais não vão comprar máquinas de
R$30 mil para que se faça uma foto melhor. Daí, vemos fotógrafos tendo que produzir
fotos, pedindo para pessoas fazerem poses, ficarem juntas, andarem mais devagar ou olhar
para este ou aquele lado. Você tem uma queda sensível do material jornalístico, que não
está sendo jornalismo, se tornando uma foto para editorial e não uma foto do assunto
acontecendo.
10) A fotografia digital colocará em risco a profissão de fotojornalista?
Acredito que não. O fotógrafo ainda continua imprescindível. Embora haja uma
sofisticação do equipamento, ainda existe uma linguagem a ser dominada, uma técnica a
ser aprendida, nem que seja para derrubá-la depois. As únicas pessoas que podem derrubar
regras são aquelas que as dominam, porque aí há uma superação da regra e se estabelece
uma nova abordagem. Para que isso ocorra, é preciso vivenciar esta linguagem, este
alfabeto não só das artes visuais, mas da própria fotografia, onde cada coisa tem seu
significado. Na verdade, o que fazemos, é escrever com luz. Isso jamais a máquina vai
59
fazer sozinha, não importa qual seja ela. Sempre há a necessidade de uma programação
anterior que, nesse caso, quem dá, é o repórter fotográfico.
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6-ANEXOS
ENTREVISTA COM MARILÚ TEIXEIRA – EDITORA DO 2º CADERNO DO
JORNAL DA MANHÃ – UBERABA/MG
1) Este jornal trabalha com máquinas fotográficas digitais? Quantas?
Sim. Três.
2) Quantos fotojornalistas compõem o quadro de funcionários atualmente?
Temos apenas um fotojornalista.
3) Todos trabalham com máquinas fotográficas digitais?
Sim.
4) Há algum repórter que exerça também a função de fotógrafo durante as
coberturas?
Sim.
5) Desde quando a máquina digital foi implantada nesta redação? Ela trouxe
economias? Em que sentido?
Trabalhamos com máquinas digitais desde 2002. Com a instituição da tecnologia
digital, economizamos na compra de filmes e na revelação das fotos, sem contar a
economia de tempo que ela proporciona, uma vez que, do local onde se fez a
fotografia, é possível ir direto para o jornal, sem passar pela casa de revelação.
6) A senhora acredita que há possibilidade da extinção dos fotojornalistas com o
advento da máquina digital?
Não, de forma alguma.
7) A economia compensa a perda de qualidades nas imagens?
Temos conseguido bons trabalhos. Mesmo quando a foto não está muito boa,
conseguimos compensar essa perda de qualidade tratando a foto no computador.
8) Existe a possibilidade de mais investimentos em equipamento digital?
61
Sim.
9) A senhora acredita que a profissão de fotojornalista está arriscada a
desaparecer mesmo na grande imprensa?
Não. Um jornal não sobrevive sem imagens.
62
6-ANEXOS
ENTREVISTA COM SAMIR ALOUAN BERNARDES – REPÓRTER E
FOTÓGRAFO DO JORNAL DE FRUTAL – 17/04/2004
1) Para o senhor, o que é uma foto jornalística? O que ela deve conter?
Acredito que uma foto jornalística é aquela que saiba mostrar para o leitor o que
aconteceu de fato quando aquela foto foi batida. Por exemplo, se for uma cena de violência
de um policial militar agredindo alguma pessoa acusada de cometer um crime, a foto, se
possível, deve mostrar o momento da agressão. É a foto em que se consegue mostrar tudo o
que aconteceu e está relatado na matéria, refletindo uma situação bem clara do que
aconteceu. No caso em questão seria a pessoa sendo jogada na viatura ou levada algemada
pelo policial. Ou, então, no caso de uma foto de política, a imagem jornalística, na minha
opinião, não deve ser posada. Os políticos gostam de se colocar à frente da obra. A foto
deve ser mais espontânea. Isso seria uma foto jornalística, onde há espontaneidade e o
imediatismo e realismo estejam presentes.
2) Como o senhor avalia a qualidade do fotojornalismo atual?
Muito boa. Acredito que o fotojornalismo brasileiro seja um dos melhores do mundo.
Vi, certa vez, uma foto de um fato que aconteceu na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro,
onde a maioria dos repórteres fotográficos conseguiu registrar o momento em que a polícia
tirava um corpo dentro de uma carriola. Aquela é um exemplo real do que é fotojornalismo
e também de que os fotógrafos brasileiros têm melhorado cada vez mais. Também
podemos falar de casos onde a imprensa é impedida de fotografar alguma pessoa e os
repórteres fotográficos conseguem se posicionar de forma a obterem a imagem. Os
fotógrafos brasileiros têm feito um bom trabalho e ajudado os repórteres a mostrarem ao
leitor o que aconteceu e o que pode acontecer a partir daquela imagem.
3) Qual deve ser a principal busca de um fotojornalista na hora de registrar um
fato?
A principal busca no momento de uma cobertura é justamente o que relatei a pouco.
Ele deve conseguir mostrar pontos importantes. Por exemplo, enquanto o repórter está
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levantando informações sobre a matéria, o fotógrafo deve estar observando todos ângulos
possíveis. Cito de novo o exemplo da favela da Rocinha. Enquanto os militares armados
subiam o morro, várias crianças passavam com ovos de páscoa no mesmo instante. Ou
seja, a violência estava acontecendo naquele momento e era real e fatídica mas, nem por
isso a vida da comunidade da favela da Rocinha parou. Enquanto o repórter prepara e
produz a matéria, o fotógrafo tem que buscar o momento para poder colocar isso no jornal
de forma que, as pessoas, ao lerem o jornal, poderão ter certeza de que, apesar de terem
acontecido situações como aquela, a comunidade local trata aquilo de forma normal, como
se nada tivesse acontecido. Isso é chocante.
4) O fotojornalismo praticado hoje tem cumprido seu papel na produção
jornalística? De que forma (satisfatória ou não)?
Acredito que o fotojornalismo cumpre sua função na atualidade. Sem o editor de
fotografia, e muitas vezes o próprio repórter fotográfico participa da edição, algumas fotos
não ficariam tão boas como acompanhamos em alguns jornais. A legenda é muito
importante também. Com isso, acredito que os fotógrafos passaram a ser um pouco
repórteres também. A legenda dá uma idéia do que está acontecendo no momento em que a
foto foi batida e cabe aos editores melhorar aquela imagem ou a forma como ela é
colocada. Por isso, acredito que eles tenham desempenhado satisfatoriamente o papel
deles, à altura do trabalho que os jornalistas do país estão fazendo.
5) Qual a importância da foto para um jornal?
Total. O jornal sem foto praticamente não é um jornal. Acho que a foto é
necessária, principalmente quando ela conta o que de fato aconteceu no momento em que o
repórter e o fotógrafo estavam no local dos fatos. A foto ajuda você, como leitor, a criar
uma história dentro da sua cabeça. Você lê a matéria e vai transformando uma única
fotografia em várias imagens, criando uma seqüência de imagens por meio dela. Neste
momento podemos ver que a foto é de total importância para o jornal para retratar e
também para que o jornal tenha subsídios para mostrar ao leitor o que aconteceu e de que
forma aconteceu.
6) Como compor uma foto que tenha caráter jornalístico?
Primeiro devem-se evitar fotos posadas ou armadas. Temos que procurar tirar fotos
espontâneas e que retratem de fato o que aconteceu. Jamais devemos pedir para que um
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policial puxe o cabelo do acusado para mostrar uma situação de superioridade do policial.
A foto deve ser feita no momento para retratar o que de fato aconteceu. Se o fotógrafo
perder este instante, acabou, o furo não é mais dele, e a montagem deve ser evitada.
7) Como o senhor avalia as pessoas que desenvolvem o trabalho de repórter e
fotógrafo ao mesmo tempo, a exemplo dos vídeo-repórteres?
Essa é uma situação muito difícil porque às vezes não se consegue coletar
informações e retratar, ao mesmo tempo, o que acontece no local onde se está presente. O
repórter que consegue fazer as duas coisas merece aplauso e deve ser reconhecido pelo
trabalho dele. Sozinho, ele consegue fazer o trabalho que deveria ser feito por um repórter
e um fotógrafo. Quando o repórter assume estas duas funções, o jornal perde. Acho que
deve existir o repórter e o fotógrafo, principalmente naqueles casos em que o leitor vai
exigir do jornal uma cobertura maior. Nestas situações, a equipe deve ser de duas pessoas.
Porém, em situações corriqueiras, como entrevistas com médicos, é normal o repórter
também tirar as fotos. Também temos de pensar que, apesar de dificultar o trabalho do
repórter ou até mesmo prejudicar a matéria, quando uma só pessoa faz as duas coisas,
consegue retratar na imagem aquilo que ele buscou também na informação. Sabemos que
há casos de fotojornalistas que, mesmo não conversando com o repórter, sabem como o
jornalista irá se posicionar em relação a uma matéria. Sou contra o repórter ter que fazer as
duas funções, principalmente quando a cobertura é extensa e exige um trabalho maior.
8) Esse acúmulo de funções seria uma tendência que os jornais de grande porte
poderiam assumir como medida de economia de custos?
Isso já vem acontecendo, não só em grandes jornais como também em jornais do
interior. Isso é fato, já acontece e continuará a acontecer. Acredito que os repórteres
também vão ter que ser fotógrafos e se desdobrar. Eles vão ter que saber fazer fotografias e
ao mesmo tempo retratar, na redação, tudo que aconteceu na cobertura que fizeram. Mas as
direções de jornais, que prezam pelo jornalismo de qualidade, não irão, mesmo em
dificuldades, optar por este acúmulo de funções. Acredito que alguns jornais, mesmo a
duras penas, vão continuar mantendo um repórter e um fotógrafo fazendo a cobertura, e
não tendo uma só pessoa para as duas funções.
9) A foto digital atrapalha o trabalho do fotógrafo profissional? Ela “prende” o
profissional na hora do trabalho?
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Acho que não. O fotógrafo profissional tira uma seqüência de fotos e não se
preocupa em ficar observando a foto, se ela ficou legal ou não. Se aquela pessoa que vai
tirar uma foto ficar olhando, a todo o momento, no visor para saber se a foto ficou boa, vai
perder a melhor imagem. Os bons profissionais vão trabalhar muito melhor com a
fotografia digital, até porque ela é mais rápida. Pode-se tirar uma foto no meio do mato e
envia-la para a redação dentro de poucos minutos com um notebook e um telefone celular.
10) A fotografia digital vai colocar em risco a profissão de fotojornalista?
Acredito que não. Os grandes jornais e mesmo aqueles de interior que prezam pelo
bom jornalismo vão sempre manter pelo menos duas pessoas na equipe de reportagens.
Mesmo que não haja mais fotógrafos e que o repórter faça as duas funções, o jornal que
prega o bom jornalismo vai enviar dois repórteres para fazer a cobertura ao invés de um,
dependendo do grau de intensidade do fato. Agora, acredito que isso não irá atrapalhar,
podendo até mesmo ajudar. Com a foto digital, muitos jornalistas que nem sabiam tirar
fotografias, passaram a fazer este serviço. Eles vão perder boas imagens, mas podem tirar a
foto e ver no mesmo instante se ficou boa. Quando se trabalhava com máquinas mecânicas,
não se sabia como a foto havia ficado. Às vezes o filme estava com um problema e, ao
chegar à redação, descobria-se que haviam se perdido todas as fotos. Ao se trabalhar com
equipamentos digitais de qualidade, esse risco é menor. Por isso, acho que os
fotojornalistas não vão desaparecer com a chegada das máquinas digitais às redações.
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7-BIBLIOGRAFIA
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2002.
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1988.
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do Porto, Editora Grifos: 2002.
8 - LINKOGRAFIA
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