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UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE IACS – INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO SOCIAL GCI – DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
ANA BEATRIZ SVENSON CASTELLO
LIVROS DE ARTISTA: TRATAMENTO E ORGANIZAÇÃO DE UMA COLEÇÃO
ESPECIAL EM BIBLIOTECAS
Niterói 2016
UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE IACS – INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO SOCIAL GCI – DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
LIVROS DE ARTISTA: TRATAMENTO E ORGANIZAÇÃO DE UMA COLEÇÃO
ESPECIAL EM BIBLIOTECAS
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a obtenção do grau Bacharel em Biblioteconomia e Documentação.
ORIENTADORA: Prof.ª Dr. ª Elisabete Gonçalves de Souza.
Niterói 2016
ANA BEATRIZ SVENSON CASTELLO
ANA BEATRIZ SVENSON CASTELLO
C348 Castello, Ana Beatriz Svenson, 1992-
Livros de artista: tratamento e organização de uma coleção especial em bibliotecas / Ana Beatriz Svenson Castello. – 2016
62 f. : il. color. ; 30 cm
Orientador: Profª. Drª. Elisabete Gonçalves de Souza.
Trabalho de conclusão de curso (graduação) – Departamento de Ciência da Informação, Curso de Biblioteconomia e Documentação, 2016.
1. Livro de artista. 2. Catalogação. 3. Indexação (documentação). 4. Acondicionamento. 5. Preservação e conservação. I. Título.
ANA BEATRIZ SVENSON CASTELLO
LIVROS DE ARTISTA: TRATAMENTO E ORGANIZAÇÃO DE UMA COLEÇÃO
ESPECIAL EM BIBLIOTECAS
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a obtenção do grau Bacharel em Biblioteconomia e Documentação.
Aprovada em 21 de julho de 2016.
BANCA EXAMINADORA
Prof.ª Dr.ª Elisabete Gonçalves de Souza (Orientadora) UFF – Universidade Federal Fluminense
Prof.ª Dr.ª Joice Cleide Cardoso Ennes de Souza UFF – Universidade Federal Fluminense
Prof. Dr. Carlos Henrique Marcondes UFF – Universidade Federal Fluminense
Niterói 2016
À minha família e amigos que me proporcionaram todo o apoio para realizar esse trabalho.
Aos meus docentes que me garantiram o conhecimento necessário para elaborar a seguinte pesquisa.
AGRADECIMENTOS
Agradeço minha família e amigos pelo total apoio durante a produção deste
trabalho, proporcionando todas medidas necessárias para tonar a redação deste o
mais sereno e natural possível.
Meus agradecimentos aos colegas do Museu de Arte do Rio que
possibilitaram a realização desta pesquisa, e possibilitaram a oportunidade de
estágio que motivou essa pesquisa. Em especial à Andrea Barboza, bibliotecária
chefe da instituição na maior parte da minha experiência, motivadora e auxiliar do
trabalho. E às amigas de biblioteca Andrea Oliveira e Crislane Rocha, que até hoje
ajudam como podem a realização desse trabalho.
À Universidade Federal Fluminense, e seus docentes, pela oportunidade de
aprender e conviver em um âmbito acadêmico.
Agradeço à Prof.ª Dr. ª Elisabete Gonçalves de Souza, pelo suporte em um
curto período, pelas suas correções e interesse em uma pesquisa diferente.
Aos professores Joice Cleide Cardoso Ennes de Souza e Carlos Henrique
Marcondes por fazerem parte da banca desse trabalho.
Agradeço minha mãe Ingrid Svenson Castello, minha maior incentivadora
em momentos difíceis, de desânimo e cansaço.
E a todos que direta e ou indiretamente fizerem parte da minha formação
acadêmica e de caráter, o meu muito obrigada.
“Eu faço arte só para sustentar o meu hábito, que é
escrever e publicar livros.”
(Dieter Roth, tradução nossa)
RESUMO
Esta pesquisa apresenta uma abordagem qualitativa do tipo exploratória, pautada em levantamento bibliográfico e estudo de caso, sobre as práticas biblioteconômicas em relação à organização de coleções de livros de artistas, com foco na catalogação descritiva, indexação de assuntos, acondicionamento, preservação e conservação dessas obras. Discute como as áreas de biblioteconomia e museologia abordando o conceito de documento tendo em vista ser o livro de artista um documento peculiar. Evidencia os conceitos de catalogação, indexação, acondicionamento e preservação, para em seguida apontar os metadados essenciais na descrição catalográfica de livros de artistas. Finaliza analisando a política de descrição adotada por dois grandes museus: o Museu de Arte Moderna de Nova York e o Museu de Arte do Rio. Traz como resultado a necessidade de se estabelecer uma política para organização de coleções de livros de artista que estão sob a curadoria das bibliotecas de museus, com vista ao estabelecimento de normas e práticas especiais para o tratamento, organização e recuperação da informação desse tipo especial de coleção.
Palavras-chave: Livro de artista. Catalogação. Indexação (documentação). Acondicionamento. Preservação e conservação.
ABSTRACT
This research presents an exploratory qualitative approach about library practices regarding the organization of artists’ books collections, with a focus on the descriptive cataloging, subject indexing, storage, preservation and conservation of these works. Discusses the concepts of documents for library science and museology, presenting their significant parts to the treatment of artists’ books by libraries. Introduces various concepts for artist book, given its absence of definition. Highlights the concepts of cataloging, indexing, storage and preservation, to then point the essentials metadata’s elements in the cataloging os artist books. It ends by analyzing the cataloging policies by two museums: The Museum of Modern Art, New York, and the Art Museum of Rio. It brings as a result the need for policies for organizing artist book collections that are in guardianship of museum libraries, with a view of establishing special rules and practices for treatment, organization and information retrieval of this special type of collection.
Keywords: Artist book. Cataloging. Subject cataloging. Storage. Preservation and conservation.
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 – NOÇÃO DE DOCUMENTOS NAS TRÊS ÁREAS..............................22
QUADRO 2 – EXEMPLO DE CATALOGAÇÃO DA ÁREA DE DESCRIÇÃO FÍSICA E ÁREA DE NOTAS DE LIVRO DE ARTISTA..............................................................34
QUADRO 3 – EXEMPLO DE CATALOGAÇÃO DA ÁREA DE DESCRIÇÃO FÍSICA E ÁREA DE NOTAS DE LIVRO DE ARTISTA..............................................................34
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 – LIVRO OBRA, LYGIA CLARK (1983)....................................................12
FIGURA 2 – O LIVRO DE ARTISTA – ESQUEMA CLIVE PHILLPOT (2013)...........25
FIGURA 3 – LIVRO DA ARQUITETURA, LÍGIA PAPE (1959-1960).........................27
FIGURA 4 – FLUX YEAR BOX 2, COLETIVO FLUXUS (1965-1968).......................28
FIGURA 5 – AN UNREADABLE QUADRAT-PRINT, BRUNO MUNARI (1953)........36
FIGURA 6 – EYE DROPPER BOTTLES, COLETIVO FLUXUS (1991).....................40
FIGURA 7 – ESTANTE DE LIVROS DE ARTISTA DA BIBLIOTECA MAR...............41
FIGURA 8 – CAIXA PARA PRESERVAÇÃO DE LIVROS E OBRAS DE ARTE.......42
FIGURA 9 – BOUNDLESS, DAVID STAIRS (1983)..................................................46
FIGURA 10 – VISUALIZAÇÃO REGISTRO MARC 21 – BIBLIOTECA DO MOMA – BOUNDLESS, DAVID STAIRS (1983).......................................................................46
FIGURA 11 – THE XEROXED BOOK, ERIC DOERINGER (2010)...........................47
FIGURA 12 – VISUALIZAÇÃO REGISTRO MARC 21 - BIBLIOTECA DO MOMA – THE XEROXED BOOK, ERIC DOERINGER (2010)..................................................48
FIGURA 13 – POEMOBILES, JULIO PLAZA E AUGUSTO DE CAMPOS (1966)....51
FIGURA 14 – VISUALIZAÇÃO REGISTRO MARC 21 – BIBLIOTECA DO MAR – POEMOBILES, 2. ED., AUGUSTO DE CAMPOS E JULIO PLAZA (1984)...............53
LISTA DE SIGLAS
AACR2 Código de Catalogação Anglo Americano
AAT Art & Architecture Thesaurus
A.B.C. Artist’s Book Collection
CDU Classificação Decimal Universal
EBA Escola de Belas Artes
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
MAR Museu de Arte do Rio
MARC Machine Readable Cataloging
MoMA Museum of Modern Art
RDA Resource Description and Access
SNBU Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................12
2. O CONCEITO DE DOCUMENTO: PARA A BIBLIOTECA E O MUSEU..............20
2.1 A OBRA DE ARTE COMO DOCUMENTO...........................................................20
2.2 LIVROS DE ARTISTA COMO OBRA DE ARTE: APROXIMAÇÕES
CONCEITUAIS.....................................................................................................22
3. TRATAMENTO E ORGANIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO EM ARTES...................29
3.2 REPESENTAÇÃO DESCRITIVA EM ARTES......................................................29
3.3 INDEXAÇÃO EM ARTES.....................................................................................35
3.4 ACONDICIONAMENTO, PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO.........................38
4. A BIBLIOTECA E O LIVRO DE ARTISTA............................................................43
4.1 A EXPERIÊNCIA DO MoMa.................................................................................43
4.2 O CASO DA BILBIOTECA DO MAR....................................................................49
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................56
REFERÊNCIAS..........................................................................................................59
12
1. INTRODUÇÃO
“Produção emblemática de tal contexto, o livro de
artista é a coisificação maior do livro enquanto
médium de arte.”
(Sérgio Cabral Bento)
Artistas consagrados, e inéditos, internacionais e nacionais, produzem livros
como obras de arte. Muitos deles o fazem, para disseminar os seus trabalhos a um
público estranho ao âmbito da arte. Lygia Clark (1920-1988), artista brasileira do
movimento concretista do século 20, foi uma das mestras da arte nacional que
trabalhou com esse gênero. Outros artistas nacionais importantes para o gênero
foram Ligia Pape, Waldemir Dias-Pino, Rosangela Rennó, Almandrade, Ana Maria
Maiolino, Waltercio Caldas, e etc. Internacionalmente podemos mencionar Dieter
Roth, Ed Ruscha, Lawrence Weiner, Andy Warhol, entre outros.
FIGURA 1: Livro obra, Lygia Clark (1983).
Fonte: Instituto Ihnotim. In: http://doobjetoparaomundo.org.br/artista/lygia-clark/.
13
Livros de artista são na maior parte das vezes colecionados em bibliotecas
de arte e tendem a ser uma problemática para bibliotecários ao redor do mundo,
primeiramente, e essencialmente, porque não é possível definir e delimitar o que
essas obras constituem. Para ser possível que um bibliotecário seja responsável por
uma coleção de livro de artista, esse precisa familiarizar-se com essas obras e
entender que apesar de ser praticamente impossível a delimitação do conceito livro
de artista, é bastante plausível que uma biblioteca, e o seu bibliotecário, tenham
manuais e normas internas para a identificação, catalogação, acondicionamento e
manuseio desses trabalhos singulares.
Neste trabalho usaremos as definições de Clive Phillpot (2013), pesquisador
e antigo bibliotecário e diretor da biblioteca do Museum of Modern Art (MoMA) de
Nova York, para apresentarmos o conceito livro de artista. Phillpot possui uma
mestria e experiência no tema e já publicou diversos artigos sobre o mesmo nos
últimos trinta anos.
É importante apresentarmos um autor específico, tendo em vista as
dificuldades de delimitar o objeto, para que assim o trabalho tenha um objetivo que
seja claro para os leitores. Ademais, Phillpot diferencia os diversos termos usados
na descrição de livros de artista, como “livres d’artistes”, “artists books”,
“bookworks”e “book objects”. Esses termos são importantes para este trabalho já
que, na maior parte das coleções de livros de artista de bibliotecas, estes são os
termos usados na indexação de assuntos da obra.
De acordo com Phillpot o termo “artists books” ou livros de artista era usado
como sinônimo para a tradução do termo “livres d’artistes”, no entanto esse último é
usado para identificar livros de luxo, ilustrados por artistas renomados. Trata-se de
edições de luxo, numeradas e assinadas pelos artistas, e aqui já encontramos um
problema na definição do objeto, pois muitas instituições consideram hoje este tipo
de obra um livro de artista, apesar de Phillpot fazer essa diferenciação.
De acordo com Phillpot, existe:
[...] uma distinção entre livros de artistas, livros e livretos de autoria de artistas, e livros-obra, que são obras de arte em forma de livro. Livros de artistas são distintos pelo fato deles estarem provocativamente na junção onde a arte, a documentação e a
14
literatura se encontram em uma só. (PHILLPOT, 2013, p.185, tradução nossa).
Paulo Silveira ajuda-nos a fazer essa delimitação acerca do objeto “livro de
artista” ao ressaltar que:
O livro de artista stricto sensu pode ser tanto uma obra complexa como singela na sua produção formal. Mas sua fabricação será sempre finalizada com participação intensa da razão, tendo estrutura amparada por algum grau ou tipo de desenvolvimento narrativo. […] Um envolvimento tão intenso do processo no seu resultado parece induzir à proposição: o livro de artista seria uma obra em que as expressões da narrativa se apresentariam numa condição de múltipla existência, ou seja, de existência em planos além do esperado. (SILVEIRA, 2008, p. 12).
Já Julio Plaza aproxima o livro de artista do conceito de obra múltipla,
também explorado por Phillpot, visto que para o autor esse tipo de obra preocupa-se
tanto com o conteúdo quanto com a forma, preocupações que não existem na
criação do livro tradicional.
O “livro de artista” é criado como um objeto de design, visto que o autor se preocupa tanto com o “conteúdo” quanto com a forma e faz desta uma forma-significante. Enquanto o autor de textos tem uma atitude passiva em relação ao livro, o artista de livros tem uma atitude ativa, já que ele é responsável pelo processo total de produção, porque não cria dicotomia “continente-conteúdo”, “significante-significado”. (PLAZA, 1982, não paginado).
Da mesma forma, não podemos entender os livros de artista como livros de
arte, ou catálogos de arte. A melhor maneira de diferenciar os dois, conforme
Phillpot (2013, p. 48-49, tradução nossa), é entender o livro de artista como livros
nos quais “[...] o artista assumi papel de autor, seja no sentido literário tradicional, ou
no sentido em que o artista é o autor do livro como obra de arte.” Ou seja, o livro de
artista não é somente um espaço para escrever sobre artistas ou apresentar suas
obras via imagens, o livro de artista é por essência a obra de arte.
A partir desse contexto, temos a percepção de que estas obras são
excepcionais seja pela sua idealização, forma física ou pela intenção do artista ao
conceder este trabalho. presente trabalho procura, a partir desta constatação,
apresentar porque essas características incomuns devem estar presentes na
representação descritiva e temática realizadas pelas bibliotecas que guardam e
preservam essas obras, para que os pesquisadores e curiosos desse assunto
15
consigam recuperar essas peculiaridades, que tornam os livros de artista tão
especiais. Assim como investigar as práticas e modelos de acondicionamento
utilizados para esses trabalhos.
Phillpot (2013, p. 50-55) aponta como deve ser feita a seleção e aquisição,
organização, acondicionamento e preservação, e exploração dessas obras no seu
ponto de vista, e são essas questões que abordaremos nesse trabalho.
A discussão sobre o tratamento de livros de artistas em bibliotecas não é
algo que seja discutido nacionalmente, apesar de algumas instituições, como o
Museu de Arte do Rio (MAR) e a Biblioteca da Escola de Belas Artes (EBA) da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), já estarem pesquisando sobre o
tema visando o desenvolvimento de uma política para as suas coleções.
A partir dessas pesquisas foi formada a primeira coleção de livros de artista
de uma biblioteca pública do país. A catalogação dessa coleção foi feita por
bibliotecárias com a ajuda do professor Amir Britto, o qual foi decisivo também na
identificação das obras. Foi percebido na época as dificuldades que podem surgir na
representação da informação de obras dessa natureza.
Durante o processo de catalogação, em muitos livros, tais informações não constavam em obras de referência, nem em sites comerciais, nem em outras bibliotecas nacionais e internacionais, nem em folhetos. Poucas vezes, encontram as informações em blogs de artistas e editores independentes. Evidenciamos que nem sempre haviam informações para descrição do livro de artista nas estruturas textuais e paratextuais que compõem um livro tradicional. (ARAUJO; SANTOS, 2014, p. 12).
Conforme afirma Phillpot (2013, p. 53, tradução nossa), “livros de artista
apresentam alguns problemas na catalogação.” Para o autor esse tipo de obra pode
conter poucos detalhes sobre a publicação, além dos problemas mais claros de
identificação se o livro em mãos é, ou não, livro de artista. Phillpot aponta que ele
não compreende muitos problemas na catalogação dessa espécie, porém é preciso
registrar que ele sendo o antigo diretor bibliotecário do MoMA, sugeriu que a
catalogação dessa instituição tendesse, na maior parte das vezes, a ser simplificada.
Outros autores, no entanto, entendem que a catalogação de livros de artista
por bibliotecários, precisa ser melhor estudada e fundamentada. Assim sendo, Maria
16
White, Patrick Perratt e Liz Lawes publicaram em 2012, o “Artist’s Books: a
cataloguers’ manual”, um manual que por meio de exemplos, demonstra a
catalogação que os autores consideram ideal para essas obras de arte,
conceituados livros de artista.
Livros de artista são colecionados por muitas bibliotecas e coleções ao redor do mundo. Eles são um gênero complexo, com grande potencial para criar dificuldades em muitas áreas: definição, acondicionamento e preservação, para indicar alguns. Eles podem ser considerados obras de arte por direito próprio, porem são comumente encontrados em coleções de bibliotecas e são documentados de acordo com este contexto. (WHITE; PERRATT; LAWES, 2012, p. vii, tradução nossa).
Fica claro na leitura da bibliografia que o maior problema para os
profissionais na informação, frente a coleções de livros de artista, é a definição
desse tipo de obra. No entanto, a maior parte dos pesquisadores do tema concorda
que definir o que é um livro de artista seria quase que irresponsável, haja vista que
ao fazê-lo delimitaríamos a sua matriz, e em consequência, excluiríamos muitas
obras que são sim livros de artista.
Bibliotecários têm receio de tentar definir livros de artista. Eles sentem que o termo será sempre indefinido, porque liquidaria a essência do termo ao fixá-lo. No medo que eles excluiriam uma obra critica, eles preferem ser totalmente inclusivos, mas restrições orçamentarias evitam a inclusão abrangente. (STOVER, 2005, p. 11, tradução nossa).
Após identificar a singularidade das obras conhecidas como livro de artista a
partir da experiência de um estágio, no qual foi necessário a identificação,
catalogação, indexação e acondicionamento destes trabalhos, foi reconhecido que
devido as suas características incomuns seriam necessários cuidados peculiares no
tratamento e acondicionamento dessas obras. Nessa direção foram pensadas as
seguintes questões: Como é feita a catalogação desse acervo em bibliotecas de
museus? Como as bibliotecas vêm usando as normas do Código de catalogação
AACR2r na descrição dos livros de artista. Quais são os termos de indexação mais
adequados na representação temática do livro de artista? Como deve ser feita o
acondicionamento do livro de artista, visando a sua preservação?
Os objetivos gerais são: a) Conhecer as especificidades que cercam o
conceito de livro de artista; b) Elencar elementos essenciais na catalogação deste
17
tipo de documento; c) Avaliar como deve ser feita a indexação de um livro de artista;
d) Investigar as melhores formas de acondicionamento e manuseio dessas obras,
visando a sua preservação.
Para atingi-los foram traçados os seguintes objetivos específicos: a)
Estabelecer o que diferencia um livro de artista de um livro de arte, tendo em vista
as características especiais que devem estar presentes na catalogação, indexação e
acondicionamento dessas obras; b) Comparar como duas bibliotecas de museus,
uma internacional e outra nacional, descrevem, representam e organizam suas
coleções de livros de artista; c) Apontar as áreas de catalogação mais utilizadas na
descrição de livros de artista.
A presente pesquisa se justifica, haja vista que as coleções de livros de artista
são geralmente formadas por obras com características especificas e diferenciadas,
fato que exemplifica a necessidade de acréscimos singulares ao tratamento e
organização dessas obras em bibliotecas. O tratamento desse acervo deve ser
pensado e estruturado para que seja possível a recuperação de toda informação que
um livro de artista possui, já que estes são na maioria das vezes exemplares únicos
de artistas célebres e renomados, o que torna uma coleção de livro de artista
preciosa para a cultura e o conhecimento. Além de ser imprescendível que a sua
organização seja realizada visando a sua preservação. Em vista do exposto, o
presente trabalho procura identificar como deve ser feita a catalogação, a indexação,
e o acondicionamento dessas obras, a partir de um exemplo nacional, a coleção do
MAR, e internacional, do MoMA.
A intenção deste estudo é apresentar que o livro de artista é uma obra de
arte e um livro ao mesmo tempo, e possui diversos conceitos publicados por
pesquisadores da área. E, assim sendo, exemplificar que bibliotecas colecionadoras
dessas obras precisam compreender a particularidade do livro de artista e estruturar
práticas e normas de representação descritiva e temática, acondicionamento e
preservação adequadas a esse gênero.
Quanto ao referencial teórico, trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo
exploratória. Segundo Cervo, Bervian e Da Silva (2007, p. 63) entendemos a
pesquisa exploratória como aquela que “[...] é normalmente o passo inicial no
18
processo de pesquisa pela experiência e um auxilio que traz a formulação de
hipóteses significativas para posteriores pesquisas. ” Os autores acrescentam que a
pesquisa exploratória “[...] não requer a elaboração de hipóteses a serem testadas
no trabalho, restringindo-se a definir objetivos e buscar mais informações sobre
determinado assunto de estudo.” Desse modo, a pesquisa exploratória consiste no
conhecimento do objeto, no entendimento do assunto para perceber-se novas
ideias.
Para completar a investigação será feito um trabalho de campo, de modo a
identificarmos como as bibliotecas de museus vêm tratando os livros de artista, para
que possamos identificar os elementos essenciais para descrição representativa e
temática deste tipo de obra, caracterizada como singular cujo conceito de
documento transita entre o objeto bibliográfico o museológico, e o seu
acondicionamento e preservação.
A ida a campo objetivou identificar como é feito o tratamento técnico, o
acondicionamento e preservação dessas obras em instituições museológicas
célebres que possuem bibliotecas com coleções de livro de artista. Conhecer as
diretrizes que essas adotam para catalogar, indexar e acondicionar essas obras, e
as distinções que estabelecem para diferenciar estas coleções e outras coleções
especiais.
Dentre as bibliotecas de museus escolhidas para a realização de estudos de
caso comparado escolhemos no Brasil a biblioteca do Museu de Arte do Rio (MAR)
e no âmbito internacional tomaremos como referência a biblioteca do Museu de Arte
Moderna de Nova York (MoMA).
De acordo com Cervo, Bervian e Da Silva (2007, p. 61) “estudo de caso é a
pesquisa sobre determinado individuo, família, grupo ou comunidade que seja
representativo de seu universo, para examinar aspectos variados de sua vida.” Ou
seja, as instituições escolhidas representam experiências pertinentes a essa
pesquisa exploratória.
No que diz respeito à organização, este trabalho inicia-se com uma breve
explicação do conceito de documento para o museu e uma introdução do conceito
livro de artista, tendo em vista o desconhecimento dos profissionais bibliotecários
19
sobre tais obras. É entendido que para que seja possível um bibliotecário trabalhar
com uma coleção dessa categoria, esse precisa conhecer um pouco da história
desse gênero. Evidente que a ideia deste trabalho não é de definir o livro de artista,
o que são e de onde vieram. Pela sua pluralidade de características, conceitos e
concepções, é uma tarefa quase impossível encaixar essas obras em uma única
definição e a partir dessa dar um prosseguimento ao trabalho de desenvolvimento
de coleções, tratamento técnico e acondicionamento.
A partir então da contextualização do conceito, podemos começar a
identificar como deve ser feita a catalogação, a indexação e o acondicionamento, e
em consequência a preservação, dessas obras. Portanto, o trabalho tenta apontar
os maiores problemas que um bibliotecário pode encontrar quando se depara com
um livro de artista. E como bibliotecas notáveis com coleções do gênero, tratam e
acondicionam os livros de artista.
Finalmente são apresentados dois exemplos de coleções de livro de artista
em bibliotecas de modo a conhecermos como cada uma dessas instituições (o
MoMA e o MAR) descreve o conteúdo informacional dessas obras e as organiza.
20
2. O CONCEITO DE DOCUMENTO: PARA A BIBLIOTECA E O MUSEU
“Livros são o melhor médium para muitos artistas trabalhando hoje.”
(Sol Lewitt, tradução nossa)
O capítulo adiante tem como objetivo conceituar o que é documento para o
museu, e o que é documento para a biblioteca, para depois ser apresentado
algumas conceituações possíveis para livro de artista.
Haja vista a caraterização mista do livro de artista, o qual é tanto livro como
obra de arte, será exemplificado o que a disciplina da museologia entende como
documento, e as distinções entre esse conceito com os conceitos da
biblioteconomia.
Em seguida serão apresentados alguns conceitos para a definição de livro
de artista, assim como alguns termos utilizados para distingui-los pelos seus
formatos e/ou concepções.
2.1 A OBRA DE ARTE COMO DOCUMENTO
Para entendermos o conceito de livro de artista primeiramente vamos
apontar a conceituação da obra de arte como documento, haja vista a conexão clara
entre os dois conceitos. Paul Otlet (1937, não paginado) entende o conceito de
documento como: “[…]o livro, a revista, o jornal; a peça de arquivo, a estampa, a
fotografia, a medalha, a música; é, também, atualmente, o filme, o disco e toda a
parte documental que precede ou sucede a emissão radiofônica.” (OTLET, 1937,
não paginado).
Para Otlet o documento não é um conceito restrito ao um âmbito só, ele está
presente em diversas áreas, como a museologia que trabalha com os objetos de
arte. Para dar conta dessa diversidade cria-se uma nova ciência: a Documentação.
21
Em suma, a Documentação propôs extrapolar a dimensão do suporte em direção à informação contida nos variados documentos localizados em diferentes instituições. Dessa forma, os documentos abrem caminho para a formação da memória da humanidade, independente dos formatos e suportes em que são registrados pelo homem. Esse entendimento aponta para a multiplicidade de suportes e cria os contornos de totalidade e universalidade propostos por Otlet. (TANUS; RENAU; ARAUJO, 2012, p. 160).
Mário Chagas (1994, p. 34) aponta que o documento pode ser
compreendido como “[...] aquilo que pode ser utilizado para ensinar alguma coisa ou
alguém”, ou como “[...] suporte de informações [...]”, e exemplifica que esse também
está relacionado com o conceito de memória.
O conceito de documento nos leva também ao conceito de MEMÓRIA. Para que possamos pensar o documento como "aquilo que ensina" ou "como suporte de informação", não podemos abrir mão da memória. Não há aprendizagem e não há informação sem a presença da memória. (CHAGAS, 1994, p. 37).
Autores como Chagas (1994), entendem que a memória é uma caracteristica
imprescendível para o objeto, o documento, museológico, tendo em vista que alguns
deles não nascem como objeto de museu. Uma moeda, objeto muito presente em
coleções museológicas, não foi criada com o intuito artístico, mas com o contexto
histórico que possui ela é considerada como tal.
A memória também é imprescindível para pensarmos a discussão de
monumento, conceito muito utilizado na museologia, o qual entende o documento
como uma herança do passado que se configuram em monumentos. “Considera-se,
dessa forma, os objetos de museus, como vestígios da cultura material, os quais
servem igualmente para a (re)constituição de uma memória coletiva.” (TANUS;
RENAU; ARAUJO, 2012, p. 169).
Gabrielle Tanus, Leonardo Renau e Carlos Araújo, (2012, p. 170) após
identificarem que o conceito de documento é interdisciplinar para as áreas de
Arquivologia, Biblioteconomia e Museologia, apresentaram um quadro que ilustra o
que cada área entende como documento, porém apontam que essa observação não
é definitiva.
22
QUADRO 1: Noção de documentos nas três áreas.
Problema
Biblioteconomia Arquivologia Museologia
Análise da literatura
científica
Comprovação da origem Sentido histórico e
estético
Método
Ênfase no
conteúdo/assunto
Ênfase na
autenticidade/função
Ênfase no
objeto/informações
intrínsecas e
extrínsecas
Desenvolvimento Técnico-científico Jurídico-administrativo Artístico-cultural
Fonte: (TANUS; RENAU; ARAUJO, 2012, p. 170).
Neste quadro fica claro que a museologia possui um problema, um método e
uma linha de desenvolvimento distinta da biblioteconomia, o que torna o trabalho do
bibliotecário com o livro de artista único. Um livro de artista é um documento
bibliográfico e museológico simultaneamente, à vista disso a necessidade de ter
uma forma específica para tratar e organizar em bibliotecas essas obras.
2.2 LIVROS DE ARTISTA COMO OBRA DE ARTE: APROXIMAÇÕES
CONCEITUAIS
Como já indicamos na introdução, a maior dificuldade que um bibliotecário
pode encontrar quando trabalha com livros de artista é primeiramente a definição do
que estas obras podem ser, já que o formato que elas têm e o conteúdo que
possuem são singulares. No entanto, é preciso compreender que estamos lidando
com obras de arte e não literárias, e no espaço artístico tudo pode ser contestado,
mexido ou mudado, especialmente na arte contemporânea, período atual que foi de
extrema importância no desenvolvimento do conceito “livro de artista”.
Bernadette Panek (2005, p. 1) exemplifica que livros de artista foram
concebidos, em sua grande maioria, para representar o rompimento da arte com o
seu espaço tradicional, como museus e galerias. Esse rompimento da arte
contemporânea, que aconteceu no começo da década de sessenta, tinha como
propósito difundir a arte em novos espaços que não fossem tão particulares, e tendo
23
em vista a grande disseminação de informação que um livro propicia, o livro de
artista tornou-se um meio de comunicação entre o artista e o público que esse quer
atingir.
Os anos 60 e 70 assinalam a preocupação do meio artístico em relação aos locais tradicionais de exposição – museus, salões e galerias. Vários questionamentos a essas instituições e respectivas super estruturas são levantadas. O interesse do artista em sair do espaço institucionalizado leva-o a pensar no espaço “além do cubo branco”. Ele irá buscar esse espaço em outros locais como o das publicações eventuais ou periódicas, e principalmente, no livro de artista. O livro vai desempenhar o papel de lugar que substitui as paredes da galeria, como espaço de “apresentação pública” e disseminador de arte para um público mais abrangente (PANEK, 2005, p. 1).
Como vimos na introdução desta pesquisa, há diferentes definições sobre
livro de artista, mas a predominante é aquela que o define como uma obra de arte,
surgida na segunda metade do século 20 como expressão de:
“[...] um tipo de produção que hibridizava as funções de leitura e visualização do livro
tradicional, e transgredia seu emprego de suporte de escrita para transformar-se, per
se, em uma obra de arte.” (BENTO, 2005, não paginado).
Nesse conjunto de expressões, num primeiro momento, estavam:
Livros de luxo em edições limitadas; Livros ilustrados por pintores/as; Ilustrações; Livros de Fotografia; Livros de Historia da Arte com reproduções de obras; Livros de Design; Livros sobre Tipografia e Diagramação; Livros sobre técnicas de fabricação de materiais; Livros sobre encadernação; e toda a chamada ‘arte do livro’ estará presente no bojo daquilo que consideramos como sendo o contexto do Livro de Artista. (LUNA, 2012, p. 580).
Do ponto de vista estético, a proposta era, através das intermitentes páginas
da arte provocar e:
[...] romper fronteiras e dessacralizar o próprio estatuto da obra de arte, estetiza o objeto livro desconstruindo o corpo físico e imaginário para além dele, agora no campo da arte, funda-se no jogo da decifração e significação, de metáforas. (HOLZ, 2005, p. 16).
Phillpot, em um de seus artigos tentou apresentar os vários tipos de livros de
artista pelo seu gênero de documento, e não pelas suas características visuais e
físicas, ou do seu processo de impressão, como de costume.
24
Ao invés de discutir os livros em termos de, digamos as suas costuras ou processos de impressão, nós podemos usar a prisma de gênero para diferenciar algumas das grandes variedades de livros de artista. Dentro das grandes categorias desse espectro estão: edições de revistas e magazineworks, assemblings e antologias; escritos, diários, declarações, manifestos; poesia visual e wordworks; partituras; documentação; reproduções e sketchbooks; álbuns e inventários; obras gráficas; comic books; livros ilustrados; page art, pageworks, e arte postal; e livro arte e livro-obra. (PHILLPOT, 2013, p. 193-194, tradução nossa)1.
No entanto essas dificuldades de definição não comprometem a importância
da disseminação dessas obras, que possuem informações de valor inquestionável.
Apesar de diferentes das obras raras, elas são tão relevantes quantas essas, seja
para os pesquisadores das artes como para os leigos. Assim sendo, é necessário a
preparação dos espaços das bibliotecas para que coleções de livros de artista sejam
devidamente armazenadas e suas informações catalogadas. A biblioteca de artes da
UFMG, por exemplo, criou diversas políticas de acervo, para que as singularidades
dessas obras sejam respeitadas.
Clive Phillpot (2013, p. 148), responsável pela a coleção de livro de artista do
MoMA e precursor dos estudos da ciência da informação junto a essas obras,
também pesquisa as diferenças entre um livro de artista e um livro raro. Essas
diferenças podem ser determinantes quando pensarmos todo o tratamento técnico
dessas obras. Em 1982, Phillpot apresentou um diagrama feito por ele mesmo, que
demonstra o âmbito do tema representado:
1Alguns conceitos não possuem tradução.
25
FIGURA 2: O Livro de artista – Esquema Clive Phillpot.
Fonte: (PHILLPOT, 2013, p. 148).
Este diagrama é muito representativo para entendermos o livro de artista no
campo documental. Phillpot (2013, p. 148) aponta que existem três áreas que
envolvem a temática. A primeira, a maça da ilustração, representa a arte visual; a
segunda a pera, representa o livro literário, e na interseção das duas temos a lima, a
qual simboliza os livros de artista. Quando juntas, as três frutas retratam o universo
desse campo empírico, ilustrando que livros de artista podem ser livros literários,
livros-obra e livros objeto, além de poderem ser obras com múltiplos exemplares ou
obras únicas2. Tendo em vista este contexto, Phillpot define que prefere trabalhar
com os livros múltiplos.
Eu vou fazer só mais um comentário sobre esse diagrama no momento. Ele é dividido horizontalmente em obras ‘únicas’ e ‘múltiplas’. Eu vou direcionar a maior parte da minha atenção para os livros-obras múltiplos, já que obras únicas normalmente encarnam uma negação do potencial de replicabilidade de conteúdo e valor comunicativo inerente do livro impresso. (PHILLPOT, 2013, p. 149, tradução nossa).
2 O conceito de obra múltipla para Phillpot, se relaciona tanto ao aspecto físico da obra (número de exemplares) quanto ao aspecto estético. Ou seja, esteticamente é múltipla uma obra que apresenta aspectos da arte visual e de livro literário, simultaneamente. Nessa categoria estão os livros-objeto, geralmente obras únicas, que no MoMA, são acondicionadas separadamente da coleção de livros de artista. Essas formas de acondicionamento serão exemplificadas mais adiante neste trabalho.
26
Silveira (2008, p. 58-59) também aponta a significância da produção
múltipla: “O livro de artista, no sentido restrito do termo, é um produto quase sempre
múltiplo e que põe em ação o gesto artístico de publicar. Como tal, não abre mão de
atingir seu público onde ele estiver. Ele agrega à arte o conceito de mídia.”
A partir do diagrama fica claro que para, Clive Phillpot, existem três termos
normalmente usados para a compreensão de livros de artista, “artists books”, “book
art” e “book objects”. No Brasil chamamos esses de livro de artista, livro-obra, e livro
objeto. Os “livres d’artistes”, apesar de algumas instituições os considerarem livros
de artista, neste trabalho não o serão. Pois como já foi apontado, de acordo com
Phillpot, estas são obras separadas da caracterização do livro de artista.
Podemos identificar que apesar de os autores e pesquisadores na área
terem receio em conceituar o livro de artista com um limite, a maior parte deles
entendem que existem diversos tipos de livros de artista e isso determina que o
conceito precisa ser amplo o suficiente para abordar todos eles. Phillpot apresenta
nos seus artigos que os livros múltiplos são mais favoráveis a concepção dessas
obras, mas não deixa de reconhecer os livros objetos e livros-obra que costumam
ser exemplares únicos. Mesmo que esses dois tenham uma tipificação mais de
obras de arte do que de livros, são colecionados por bibliotecas de arte como livros
de artista ao redor do mundo.
No livro-objeto, não há a preocupação com os padrões de forma e encadernação de um livro comum, e nem com um público em específico. Por isso mesmo, ele parece mais um objeto de percepção do que com um livro de leitura, pois possui uma característica fortemente plástica, indo além dos padrões de uma narrativa literária. Para isso, explora não apenas o sentido da visão, na leitura linear do início ao fim da página, como também o prazer proporcionado pelo estímulo dos outros sentidos: tato, olfato, audição e paladar. No livro-objeto, o leitor passa a ser um articulador, um ser manipulador e co-autor da obra, pois ele pode dialogar e interferir, modificando e experimentando. Além disso, não existe começo, meio e fim na narrativa, podendo-se começar e terminar de "ler" o livro-objeto aleatoriamente, como em um livro de poesias. (AMANTINI; UENO; CASTRO; SILVA, 2007, não paginado).
O movimento neoconcreto brasileiro, (Amantini; Ueno; Castro; Silva, 2007,
não paginado), partilhou dos livros-objetos durante as décadas de cinquenta e
sessenta. A artista Lygia Pape produziu diversas obras dessa espécie, como o Livro
da Arquitetura, Livro da Criação e Livros-Poema (1959-1960).
27
FIGURA 3: Livro da Arquitetura, Lígia Pape (1959-1960).
Fonte: Pape, Lygia. In: http://www.lygiapape.org.br/pt/obra50.php?i=15.
Aqui também podemos mencionar as obras do coletivo Fluxus que produziu
objetos os quais em nada lembram livros, mas que por algum motivo especial são
considerados livros de artista.
Fluxus foi um coletivo de artistas de âmbito internacional formado por
poetas, compositores e designers na década de sessenta com o pretexto de,
segundo um de seus integrantes, o artista George Maciunas, “fundir os quadros de
revolucionários culturais, sociais e políticas em [uma] frente e ação unida.”3
(MACIUNAS, 1963, p. 1, tradução nossa).
O coletivo Fluxus foi um dos precursores mais importantes do livro de artista,
visto que com a aspiração de difundir e expandir a arte o grupo promoveu concertos
e festivais, e criou uma editora na qual publicavam os conhecidos Fluxus Year Box.
A intenção do grupo, conforme Panek (2005, p. 1) era romper com as barreiras dos
museus e galerias para revelar a sua arte. As obras do Fluxus são sempre
consideradas livros de artista, não pela sua forma, mas pela sua intenção.
3MACIUAS, George. “FUSE the cadres of cultural, social & political revolutionaries into [a] united front & action.” 1963, p. 1.
28
Não poderíamos falar de Fluxus sem falar das publicações que lhe deram renome e a forma de distribuição desse material publicado. Várias das primeiras edições Fluxus, como WaterYam (1963), de George Brecht, constavam de textos e partituras impressos em cartões individuais, colocados em caixas, ao invés de encadernados em formato de publicações mais tradicionais. (PANEK, 2005, p. 6).
FIGURA 4: Flux Year Box 2, Coletivo Fluxus (1965-1968).
Fonte: MoMA. In: https://www.moma.org/interactives/exhibitions/2011/fluxus_editions/index.html.
Tendo em vista todas as possibilidades das obras conceituadas livro de
artista, é imprescindível que bibliotecas que possuem coleções dessa espécie,
tenham bibliotecários que entendam que elas possuem características singulares e
percebam que é fundamental formar normas e procedimentos específicos para o seu
tratamento e organização. Seja enquanto catalogação, indexação de assuntos ou
acondicionamento.
29
3. TRATAMENTO E ORGANIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO EM ARTES
“Esses livros são meus filhos.”
(Ed Ruscha, tradução nossa)
Neste capítulo será exemplificado como podem ser feitas as práticas de
representação descritiva, indexação, e acondicionamento dos livros de artista, a
partir das técnicas utilizadas pela a museologia com obras de arte. Em cada parte,
será primeiramente explicado os conceitos devidos, para em seguida poder ser
apontada as melhores formas de executar tais práticas frente a coleções de livro de
artista.
Além de explicar cada atividade, o objetivo dessa seção é demonstrar o
porque de uma coleção de livro de artista precisar de ponderação nas realizações
dessas atividades, tendo em vista as suas características especiais e muitas vezes
específicas a esse gênero.
3.1 REPRESENTAÇÃO DESCRITIVA EM ARTES
Além da dificuldade de identificação do que são livros de artista, precisamos
entender que essas obras possuem todos os tipos de formato, conteúdo e material,
e que muitas vezes são compostas de configurações mais semelhantes às obras de
arte do que a livros. Por isso,
Livros de artista apresentam dificuldades particulares para o catalogador de coleções especiais, o qual está inicialmente treinado na catalogação de obras raras, e não na catalogação de obras de arte. Mesmo que a descrição de obras raras, que possui uma ênfase no livro como objeto, o prepare um pouco para lidar com livros de artista, livros de artista apresentam um número de termos e técnicas que não são vistas nas obras raras. (MYERS A.; MYERS W., 2014, p. 56, tradução nossa).
De acordo com Eliane Serrão Alves Mey e Naira Christofoletti Silveira a
catalogação tange:
30
[...] o estudo, a preparação e a organização de mensagens, com base em registros do conhecimento, reais ou ciberespaciais, existentes ou passiveis de inclusão em um ou vários acervos, visando a criar conteúdos comunicativos que permitam a interseção entre as mensagens contidas nestes registros do conhecimento e as mensagens internas dos usuários. (MEY; SILVEIRA, 2010, p. 126).
O objetivo da catalogação é que o registro descrito através de instrumentos
de pesquisa, os quais são resultados da catalogação, seja recuperado pelo usuário
que o procura. Assim sendo existem códigos de catalogação que são formados a
partir da “conveniência do usuário”. (MEY; SILVEIRA, 2010, p. 126).
Consequentemente, vê-se o catálogo, produto da catalogação, como meio comunicativo para interação entre criador, usuário e documento, em seu sentido amplo. Pode-se afirmar que o criador (autor, artista, ou qualquer outro responsável pelo conteúdo intelectual de uma obra) espera que o fruto de seu trabalho seja conhecido ou descoberto por um usuário (MEY; SILVEIRA, 2010, p. 127).
A catalogação faz uso de uma linguagem específica, catalográfica, a qual
“[...] possui semântica e sintaxe próprias [...]” (MEY; SILVEIRA, 2010, p. 128), que
tencionando a normatização da técnica é internacional.
Mey e Silveira (2010, p. 129) também ressaltam que na construção de um
catálogo, é necessário um estudo sobre o público que esse catálogo irá atender.
Aqui podemos prever que o público de uma coleção de livro de artista muito
provavelmente terá uma necessidade informacional diferente de outros tipos de
usuários, e que para um profissional acostumado a trabalhar com a catalogação
bibliográfica usual, é necessário alguns acréscimos na descrição dessas obras que
muitas vezes convergem com a documentação museológica, hajam vista as suas
características de obras de arte.
Por razões históricas, e outras circunstanciais, entende-se a documentação de museus como uma série de procedimentos técnicos para salvaguardar e gerenciar as coleções sob guarda dos museus. Há concepções metodológicas que envolvem a documentação de museus e subordinam-se a duas perspectivas que respondem por duas formas de gestão da informação que são distintas entre si. São elas a perspectiva tecnicista, bastante apoiada na abordagem norte-americana, e a reflexiva, mais interpretativa, cunhada por europeus. (CERAVOLO; TÁLAMO, 2000, apud CERAVOLO; TÁLAMO, 2007, não paginado).
De acordo com Suely Moraes Ceravolo e Maria de Fátima Tálamo (2007,
31
não paginado) “para a concepção tecnicista, a função primordial da documentação é
responder as organizações mantenedoras”, ou seja, o usuário para essa concepção
é a própria instituição. Já para a concepção reflexiva a documentação museológica é
pensada também para os usuários externos ao museu, assim como sua biblioteca.
Para essa última o museu faz uso dos instrumentos de pesquisa baseados nos
processos biblioteconômicos.
Tais procedimentos também são seguidos por Dina Marques Pereira Araujo
e Magna Lucia dos Santos, bibliotecárias da UFMG, responsáveis pela coleção de
livro de artista da instituição, e foram relatados no trabalho “Coleção Livro de Artista
da Universidade Federal de Minas Gerais: processos biblioteconômicos em um
acervo especial”, apresentado no XVIII Seminário Nacional de Bibliotecas
Universitárias (SNBU) em 2014. De acordo com as autoras, os processos
biblioteconômicos utilizados na formação da coleção foram separados nas seguintes
categorias (2014, p. 6-7):
• Aquisição: critérios de seleção, doações, carta-convites, compra;
• Inventario;
• Conservação;
a) Higienização (quando necessário);
b) Acondicionamento;
c) Definição de localização na estante por tipologia de material,
formato e dimensões do livro;
d) Definições das modalidades de consulta (suporte de leitura,
controle de obras).
• Catalogação.
Ceravolo e Tálamo (2007, não paginado) apontam que os objetos de museu
muitas vezes não possuem distinção entre suporte e conteúdo da obra “[...] já que o
próprio suporte se constitui, por vezes, em parte do conteúdo.” Os livros de artista
possuem essa característica na sua essência, haja vista o objeto ser uma obra de
arte e livro ao mesmo tempo, e terem como informação primordial a sua forma física
e o seu conteúdo.
32
Para atender esse dilema a documentação museológica propõe o conceito
de matriz da informação. Nela tanto os traços físicos quanto os de conteúdo são
considerados de modo que “[...] os traços dos diferentes planos estejam associados
para que se possa conduzir a análise. Sendo assim, a análise de um objeto/suporte
é simultaneamente uma análise dessa matriz de informação.” (CERAVOLO;
TÁLAMO, 2007, não paginado).
Tendo em vista as características do livro de artista, que muito se
assemelham aos objetos museológicos, a problemática é percebida na catalogação
dessas obras, no momento em que um trabalho não apresenta um formato de
códex, ou não possui título, local, editora, data de publicação, ou simplesmente não
apresentam qualquer informação ou marcas significativas.
Livros de artista também não são identificados por esse nome no Código de
Catalogação Anglo Americano (AACR2), e nem no Resource Description and
Access (RDA). Porém pode-se utilizar o capítulo dez do código, o qual apresenta as
normas para catalogação descritiva de artefatos tridimensionais e realia.
Timothy Shipe (1991) exemplifica o dilema de livro versus obra de arte e
ainda discorre sobre a necessidade ou não de uma documentação museológica
dessas obras.
A pergunta é: deve a descrição de uma obra em um catálogo de biblioteca ser tão completo quanto uma descrição museológica? Lembre que é diferentemente de um visitante de um museu, um usuário de bibliotecas vai provavelmente encontrar uma obra pela sua descrição no catálogo. Existe um perigo que uma descrição física muito completa de um livro de artista possa reduzir o impacto estético e artístico inicial para o usuário? (SHIPE, 1991, p. 24, tradução nossa).
Muitos autores apontam que pesquisadores e usuários de coleções de livros
de artista, estão à procura de materiais específicos ou formatos e designs diferentes,
o que nos faz retomar ao estudo de usuário, conforme apontaram Mey e Silveira
(2010, p. 129). Esse fato é especialmente verdade em bibliotecas universitárias que
são depositarias dessas obras que podem ser produzidas por alunos de artes,
produção cultural, entre outros cursos. Stover (2005, p. 19) aponta que docentes
pedem aos seus alunos que criem livros de artista como parte das suas
metodologias de avaliação, e esses precisam produzir obras com alguma
33
característica singular. Assim sendo, é interessante as características físicas do livro
serem representadas na catalogação, para que essas informações possam ser
recuperadas. Ressaltamos também que curadores de museus e galerias costumam
pesquisar o livro de artista da mesma forma, já que esses estão acostumados em
evidenciar formatos, imagens e materiais e não conteúdos.
Esse contexto torna a catalogação física do livro de artista, ou, a
documentação do suporte como denomina a museologia, de extrema importância,
apesar de bibliotecários estarem acostumados a analisar mais detalhadamente o
conteúdo das obras. Alguns autores, como Ann K.D. Myers e William Andrew Myers
(2014), atentam que a catalogação do aspecto físico dessas obras deve ser
realizada na área de notas. Ressaltam que, os catalogadores precisam ser flexíveis
ao aplicar as normas de catalogação na descrição de material gráfico e relia, pois a
natureza visual e física das obras de arte, incluindo aqui os livros de artista, “[...] não
combina com uma descrição estritamente bibliográfica, e catalogadores devem
contar com as notas para descrever as características visuais e físicas do item.”
(MYERS A.; MYERS W., 2014, p. 57, tradução nossa).
O manual “Artist’s Books: a cataloguers’ manual”, de Maria White, Patrick
Perratt e Liz Lawes (2012, p. 28), também aponta o uso da área de notas para a
descrição das particularidades físicas e visuais do livro de artista. O manual propõe
que seja feita na área de descrição física a melhor descrição possível da forma física
do item, seguindo o AACR2 e depois essas informações devem ser detalhadas nas
notas.
A regra 10.5C do AACR2r, ao especificar os detalhes físicos do material
recomenda que se registre os materiais de que são feitos os objetos na área de
descrição física, mas caso esta informação não possa ser descrita sucintamente
seja feita a especificação em notas.
Por exemplo: uma obra que seja publicada em caixa, como as obras de
Fluxus, é preciso apontar essa informação na área de descrição física, porém o
manual de Maria White, Patrick Perratt e Liz Lawes (2012, p. 29) ressalta que
descrever mais detalhadamente a caixa na área de notas é primordial, tendo em
vista que a caixa é parte integral a obra.
34
QUADRO 2: Descrição física e notas - catalogação livro de artista.
Exemplo
1 v. ; em caixa de 25 x 25 x 5 cm Nota: Caixa feita de madeira, pintada nas cores vermelha e preta, com ilustrações nas margens
Fonte: Elaborada pela própia.
O uso da área de notas é pertinente, pois muitas dessas obras vêm
acompanhadas de materiais adicionais. É importante ressaltar que apesar desses
materiais serem muitas vezes catalogados como peças extras, eles são partes
absolutas do livro de artista. Diferentemente de um livro tradicional que pode
acompanhar um cartão-postal, o qual caso se perca não afeta a integridade da obra,
essas peças do livro de artista são constituintes da obra. Descrevê-las como um
documento à parte compromete a intencionalidade estética do trabalho.
A regra 10.5E1 do Código aponta para fazer-se o registro de materiais
adicionais seguindo as instruções da regra 1.5E, a qual aponta que esse registro
pode ser feito em uma entrada separada, o que não é interessante na catalogação
de livro de artista porque como já foi exemplificado, esses materiais são integrais à
obra. Ou ele pode ser feito a partir de descrições em vários níveis, como explicado
na regra 13.6, ou utilizando-se as notas, ou registrando os números das unidades
físicas e os nomes dos materiais adicionais no final da descrição física. Esse último
é o meio mais utilizado para a descrição de livro de artista.
QUADRO 3: descrição física e notas - catalogação livro de artista.
Exemplo
50 p., [10] folhas de placas : il. color. ; em caixa de 30 x 20 x 5 cm + 1 frasco + 1 pôster Nota: Caixa feita de madeira, ilustrada nas cores azul e branco. Nota: Contem 1 frasco com terra e 1 pôster da ação realizada pelo artista.
Fonte: Elaborada pela própia.
Podemos apontar que, tendo em vista a catalogação do livro de artista, a
maior necessidade é uma descrição atenta e detalhada da forma física da obra. Não
35
só pela a necessidade do usuário, mas também pela representação do artista, o qual
criou tal obra com aquela forma com motivação e objetivo específicos.
Finalmente, após identificar necessidades particulares da catalogação de
livros de artista, podemos também verificar que devido a todo esse contexto,
problemas e dificuldades surgem na normatização da catalogação internacional, já
que a forma de descrição costuma variar de coleção para coleção, como aponta
Michelle A. Stover. “[...] por enquanto não há padrões estipulados para bibliotecas
seguirem, a formas de acesso podem variar de coleção a coleção, o que cria
desafios para bibliotecários e diretores.” (STOVER, 2005, p. 17, tradução nossa).
Esse fato é mais um motivo para a criação de normas e práticas de
catalogação descritivas específicas ao livro de artista, para que esse trabalho possa
começar a tornar-se normatizado e mais fácil.
3.2 INDEXAÇÃO EM ARTES
F. W. Lancaster defini a indexação como:
[...] a preparação de representação do conteúdo temático dos documentos [...] o indexador descreve seu conteúdo ao empregar um ou vários termos de indexação, comumente selecionados de algum tipo de vocabulário controlado. (LANCASTER, 2004, p. 6).
Para compreendermos a indexação dos livros de artista também podemos
retomar a indexação museológica para a compreensão.
A indexação de objetos museológicos tem muito haver com a indexação de material textual, mas existem muitas diferenças também, e essas apresentam alguns problemas interessantes e desafiadores. O principal é que enquanto a maioria das indexações feitas começam com um agrupado de textos, a catalogação e indexação museológica começa com um agrupado de objetos. Esses podem ter palavras, mas usualmente essas palavras precisam ser fornecidas. O catalogador precisa decidir se o objeto é um copo, ou uma taça, ou uma caneca ou simplesmente um objeto para beber. (WILL, 1993, p. 157, tradução nossa).
Quando trabalhando com o livro de artista também é claro a problemática de
definição do que aquela obra representa, muitos deles não possuem textos ou
títulos, e fica a cargo do indexador entender o que aquela obra representa.
36
Mesmo que tenhamos apresentado anteriormente diversos exemplos que
possam ilustrar essa questão, o artista italiano Bruno Munari (1907-1998) pode
representar essa problemática muito bem, haja vista que os seus livros de artista
têm a intenção de serem “un-readeble”, ou seja, livros que não são possíveis a
leitura. Essa intenção é tão clara nas suas obras que Munari intitulou suas obras
com esse nome, e vale ressaltar que apesar das suas características de livro objeto,
as obras de Munari são livros com números de exemplares publicados muito grande,
uma informação importante quando pensamos a conceituação de Phillpot.
FIGURA 5: An unreadable quadrat-print, Bruno Munari (1953).
Fonte: Artists’ Books and Multiples In:
http://artistsbooksandmultiples.blogspot.com.br/2015/04/bruno-munari-unreadable-quadrat-print.html.
Como vimos, livros de artista podem possuir qualquer tipo de formato e/ou
conteúdo, e por esse motivo muitos autores e instituições preferem usar da
indexação de assuntos para identificar e, consequentemente, agrupar as obras
produzindo por certos termos, como livro objeto e livro-obra. Isso é feito em
bibliotecas estrangeiras usando o campo “655 – Index Term-Genre/Form”, do
37
formato Machine Readable Cataloging4 21 (MARC 21), onde se registra como
assunto forma e gênero. A biblioteca do MoMA e a Biblioteca do Congresso
Americano utilizam esse campo para indexar o termo livro de artista e alguns outros
termos relacionados ao género e forma da obra, assim como a Fundação Biblioteca
Nacional brasileira.
Na maior parte das vezes a descrição física da obra é feita nos campos de
notas, apesar da vontade de alguns bibliotecários de tornar as características da
obra em pontos de acesso a partir dos assuntos.
Michelle A. Stover (2014, p. 15) aponta que haja vista a necessidade dos
usuários dessas coleções, os quais pesquisam frequentemente pelos materiais ou
tipos de encadernação usados na obra, é necessário registrar essas informações
nos assuntos, e pensando nisso usa-se o campo 655, para fazer a indexação da
forma física e dos materiais, e tornar a pesquisa mais fácil.
Mary Anne Dyer e Yuki Hibben (2011, p. 60) apontam que é ideal que a
instituição crie uma listagem de todos os termos que podem ser utilizados na
indexação da estrutura física da obra.
Entretanto, esse tipo descrição temática pode ser complicada de se fazer
para um profissional que não é da área das artes, já que este provavelmente
desconhece os termos que seriam utilizados. Stover (2014, p. 58) também
reconheceu essa dificuldade ao tentar listar potenciais categorias dos formatos e
materiais do livro.
Para descrever eficientemente os livros de artista, nós tivemos que nos familiarizar com a terminologias descritivas de críticos da arte para usá-las na descrição da costura, da fabricação de papel, do processo de imprensa, e a esfera conceitual de cada livro. [...] No decorrer do tratamento dos itens, algumas categorias ficaram mais claras, enquanto outras mais complexas. A grande quantidade de variedades de forma, método, e assunto, tornou quase impossível unir categoria de descrição. (STOVER, 2005, p. 19, tradução nossa).
Assim sendo a maior parte das instituições indexam os itens das suas
coleções com os termos mais genéricos possíveis, pois receiam fazerem atribuições
4 A Machine Readable Cataloging 21 é a vigésima primeira versão do “conjunto de códigos e designações de conteúdos definido para codificar registros que serão interpretados por máquina.” (PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA, In: http://www.dbd.puc-rio.br/MARC21/conteudo.html).
38
erradas. A não ser que o termo esteja claro, ou seja, possível uma comunicação
com o artista para tirar dúvidas, esse fato é muito comum na Biblioteca do MoMA
porque a coleção de livro de artista da instituição é muito conhecida e renomada.
3.3 ACONDICIONAMENTO, PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO
Já determinamos que as características distintas e especiais do livro de
artista, livro-obra e livro objeto, são determinantes nos aspectos da catalogação e
indexação de assuntos de uma biblioteca que dispõe de uma coleção dessa
espécie. Assim sendo, o armazenamento, a preservação e conservação dos livros
de artista, também são diferenciadas.
Livros de artista são obras que surgem em um grande número de obras grandes demais, pequenas demais, e com formatos estranhos, o que pode causar sérios problemas para a sua segurança e proteção (como também dos livros vizinhos) se os formatos não são considerados quando armazenando-os. (HERLOCKER, 2012, p. 68, tradução nossa).
Annie Herlocker (2012, p. 68) aponta que uma coleção de objetos – como a
de livro de artista – com diferenças em conteúdo e formato, mas produzida com o
propósito de manuseio recorrente, deve ser acondicionada em locais com
preocupações de preservação e com atenção na recuperação da informação.
Por isso, manter essas coleções acessíveis é um projeto complicado para as
bibliotecas. “Se não fosse pela parte integral única de manuseio, uma coleção como
essa pareceria mais apropriada para um museu ou galeria de arte.” (HERLOCKER,
2012, p. 68, tradução nossa).
Fica claro que é preciso pensar normas e práticas específicas para o
acondicionamento e preservação dessas obras, de uma forma que o acesso não
seja prejudicado. Pois, lembrem-se: umas das mais importantes intenções do livro
de artista é disseminação da arte, tarefa esta com a qual o bibliotecário é
acostumado.
O próprio uso do termo acondicionamento, ao invés de armazenamento,
mostra que o livro de artista tem necessidade de uma solicitude maior no quesito
39
preservação e conservação. Muitos livros de artista são obras únicas, como já
apontamos, e esse fato implica diretamente no trabalho do bibliotecário, o qual
precisa preservar aquelas obras para um futuro longínquo.
Por esse motivo a maior parte das bibliotecas com coleções de livro de
artista utilizam os modelos de obras raras para o acondicionamento e acesso à
essas obras, ou seja, armazenam esses separados das obras gerais, com acesso
restrito, em locais com padrões de preservação como temperatura, umidade e
exposição a luz controlados (HERLOCKER, 2012, p. 68). Podemos citar a Biblioteca
do MAR como um exemplo dessa prática.
Essas rotinas também são utilizadas para diminuir o manuseio das obras já
que “é importante destacar que as politicas de acervo, no âmbito do acesso e do
manuseio do livro raro, recomendam “conservar para não restaurar”, na medida em
que a restauração atinge, apenas, o suporte e não a informação.” (PINHEIRO, 2009,
p. 41).
Os livros de artista quando possível são acondicionados em pé, porém
alguns deles são ou muito pequenos, ou muito grandes para permanecer em pé,
então são acondicionados em prateleiras separadas, sendo que para os pequenos é
mais aconselhável o acondicionamento em caixas de Ph neutro.
Como já foi apontado, tendo em vista a variação dos livros de artista, o maior
problema na prática de acondicionamento são aquelas obras que não possuem
forma de livro códex. Obras do grupo Fluxus, por exemplo, têm estruturas e
condições completamente diferentes, as quais de nenhum jeito lembram livros.
Porém, como já definimos que elas são livros de artista, e é necessário considerar
as suas diferenças e estabelecer normas e práticas de acondicionamento
específicas para obras desse feitio.
40
FIGURA 6 - Eye dropper bottles (Livros de artista), Coletivo Fluxus (1991).
Fonte: In: http://artistsbooksandmultiples.blogspot.com.br/2012/09/chieko-shiomi-water-music.html.
Herlocker (2012, p. 72) também aponta que existe uma possibilidade muito
grande de perda dessas obras com formatos peculiares. Portanto, na organização
das obras é mais oportuno fazer uso de localização fixa, com cada item tendo o seu
devido identificador e local, do que utilizar a classificação por assunto, haja vista que
muito provavelmente obras pequenas e com formatos distintos seriam
acondicionados ao lado de livros grandes e pesados, os quais afetariam a
integridade (física e estética) obra.
Localização fixa enumera de modo primário ou alternativo todos os itens da biblioteca, a partir de uma notação-base – uma sequencia lógica, com números, letras ou outros sinais, separados por vírgulas e/ou travessões, sem espaços, que identifica o ponto de acomodação do item na área de armazenamento. (PINHEIRO, 2007, p. 38).
Tipos de encadernação dissemelhantes precisam ser separados para
manter a preservação das obras, já que a química dos materiais diverge e mantê-los
juntos pode acelerar a deterioração. (ARQUIVO NACIONAL, 2001, p. 7).
Um procedimento muito utilizado nessas coleções é a etiquetagem dos itens
com papel de Ph neutro. A etiqueta que fica localizada no topo do livro e na maior
parte das vezes é nela que escreve-se, à lápis, o número de chamada.
41
FIGURA 7 – Estante de livros de artista da Biblioteca MAR.
Fonte: Biblioteca MAR (2016).
Algumas bibliotecas, como a da Universidade Harvard, utilizam caixas de
preservação para as coleções de livro de artista. De acordo com Herlocker (2012, p.
74) a coleção da Universidade Harvard em Boston, acondiciona os seus livros de
artista junto aos livros raros de Imprensa e Artes Gráficas, empregando uma
classificação específica para essa coleção e caixas de preservação.
42
FIGURA 8 – Caixa para preservação de livros e obras de arte.
Fonte: Spring Leaf Press, In: https://www.springleafpress.com/move-over-horse-its-the-year-of-the-sheep/.
Outras instituições preferem acondicionar os livros de artista de acordo com
o tamanho e forma do objeto.
Um método por tamanho similar é usado na Wellesley College. Livros de artista são armazenados de acordo com o tamanho de livros em oitavo, in-quarto, e fólio, depois de acordo com cada tipo de tamanho. E os livros são organizados pelo nome do artista ou editor com o número de chamada da Library of Congress (LC). (HERLOCKER, 2012, p. 74, tradução nossa).
A coleção da UFMG também utiliza práticas desse tipo para acondicionar as
suas obras: O armazenamento é feito em estante de aço e obedece a ordenação por tamanho. A guarda de livros de tamanhos distintos, lado à lado, contribui para a degradação do acervo, sobretudo, pela pressão que um livro exerce sobre o outro. Do mesmo modo, livros muito pequenos tendem a “desperecer” dentre os maiores. Livros com encadernação em espiral causam marcas nos demais. Caixas frágeis são amassadas e/ou quebradas se ordenadas ao lado de livros pesados. (ARAUJO; SANTOS, 2014, p. 10).
Essas condutas e normas são utilizadas para preservar obras que são
elementares nas suas condições especiais. Apesar de livros de artista
proporcionarem muitas dificuldades e empenho dos bibliotecários, que precisam se
adaptar e estudar para conseguirem tratar essas obras, eles também propiciam
oportunidades inéditas para bibliotecas, seus profissionais e seus usuários. No
somatório o esforço realizado é gratificante a julgar pelo valor de possuir uma
coleção de livro de artista.
43
4. A BIBLIOTECA E O LIVRO DE ARTISTA
“Utilizo livros para fazer outros livros; trato o espaço
gráfico como se fosse uma espécie de abismo.”
(Waltercio Caldas)
Nesta seção serão apresentadas duas experiências de bibliotecas que
possuem coleções de livro de artista, uma no âmbito internacional e a outra no
âmbito nacional. A primeira, do MoMA, é considerada a coleção mais prestigiada do
mundo e foi formado por Clive Phillpot, pesquisador e autor que foi considerado
neste trabalho. Já a segunda, a do MAR, é hoje uma das maiores coleções na
América Latina e continua a crescer constantemente.
Estabelecemos as historias de formação das respectivas coleções, para em
seguida ser exemplificado como são os seus procedimentos de catalogação e
indexação das obras, e as suas normas e práticas de acondicionamento e
manuseio.
O objetivo desse capitulo é destacar experiências entre o trabalho
biblioteconômico e o livro de artista, ao relatar como duas bibliotecas formaram as
suas devidas coleções e como cada uma é tratada frente as práticas da
biblioteconomia.
4.1 A EXPERIÊNCIA DO MoMa
A biblioteca do Museum of Modern Art (MoMA), ou Museu de Arte Moderna
de Nova York, possui atualmente mais de dez mil exemplares de livros de artista na
sua coleção. Essa foi iniciada por Clive Phillpot na década de setenta, após o autor
ter tido uma experiência com as obras em uma outra coleção, a da Chelsea School
44
of Art Library, Biblioteca da Escola de Artes de Chelsea, uma biblioteca universitária
especializada em artes.
Ao ver-se em um contexto onde a biblioteca precisava se tornar mais
atraente para os estudantes de artes da universidade, Phillpot (2013, p. 12) teve seu
primeiro contato com obras que, na época, nem ele intitulava livro de artista. Eram
pequenos panfletos que não se encaixavam como catálogos de exposição ou livros.
De qualquer maneira, como com qualquer nova publicação, eu, como bibliotecário, tinha que pensar: “Aonde isso encaixa, para onde isso vai?” Parecia óbvio que aquilo não era exatamente um catálogo de exposição, mas também não era um livro. Era literalmente um pequeno portfolio com mais ou menos 60 folhas soltas em uma pilha, cada folha com uma fotografia de uma pilha de obras. (PHILLPOT, 2013, p. 12, tradução nossa).
Após começar a estudar e tentar localizar outras obras parecidas, o autor
(2013, p. 13) percebeu que os alunos da faculdade poderiam visitar a biblioteca para
ver e tocar a arte, e não somente publicações com reproduções de arte. Nesse
momento Phillpot teve a percepção do livro como obra de arte, obra essa que pode
ser disseminada por bibliotecas.
Assim sendo, Phillpot tornou-se um pesquisador e colecionador de livros de
artista, o que lhe proporcionou a possibilidade de presidir a diretoria da biblioteca do
MoMA. Ao começar o trabalho em 1977, ele programou parâmetros para uma tarefa
que chamou de Artist Book Collection (A.B.C.). Localizou e transferiu obras que
estavam na coleção geral da biblioteca e começou o desenvolvimento da coleção de
livros de artista ao adquirir obras na livraria Printed Matter, montada em 1976 por
Lucy Lippard e Sol LeWitt, a qual especializou-se em livros produzidos por artistas.
Foi decidido por Phillpot (2013, p. 16) que a A.B.C. seria acondicionada em
um local separado, junto às obras raras na coleção especial para que essa tivesse
uma preservação e manuseio mais cuidadoso. E naquele momento ele também
decidiu por não criar o termo ‘livro de artista’ na indexação de assuntos visando à
recuperação dessas obras pelo catálogo da biblioteca. O autor aponta dois motivos
para esta decisão:
Primeiro, parecia para mim que existia um grau de subjetividade envolvidas na designação de uma obra como livro de artista, e eu não queria que usuários tivessem que negociar a minha
45
categorização; e segundo, eu não queria que usuários julgassem se uma obra designada livro de artista seria relevante ou não, quando eles estivessem buscando um artista em particular. (PHILLPOT, 2013, p. 16, tradução nossa).
Porém acrescentado ao número de chamada um prefixo que identifica os
livros de artista, de modo a auxiliar os funcionários da biblioteca na localização das
obras.
Mesmo Phillpot, na época, observou complexidades para decidir o que faria
parte da A.B.C., sendo este trabalho considerado por vários autores o mais
complicado. Phillpot (2013, p. 17) descreve que primeiramente colecionavam-se
livros em forma de códex, que continham elementos verbais/visuais, mas não
revistas, ou baralhos, ou catálogos de exposição, ou livros objetos, ou aquelas obras
numeradas e assinadas de edições de luxo.
A A.B.C. foi tão significativa na proliferação de livros de artista que
influenciou diversas bibliotecas de arte no mundo em formar coleções parecidas,
digamos parecidas tendo em vista que os critérios de avaliação e aquisição se
diferem de caso a caso.
Coleções de livro como obra de arte foram montadas em diversas instituições com divergências nos critérios, ou em ambientes diversos, o que acarretou em diferenças no escopo das coleções de livros de artista. Quase se tornou moda, e, talvez tão importante, uma fonte de prazer para bibliotecários de arte e outros, que eficientemente tornaram-se curadores. (PHILLPOT, 2013, p. 20, tradução nossa).
Assim sendo, é preciso apontar que na A.B.C. os livros de artista
colecionados são aqueles considerados múltiplos por Phillpot (2013, p. 148), haja
vista que ele prefere separar as obras únicas das obras dessa coleção. Podemos
entender que isso se deve ao fato de Phillpot ser primeiramente um bibliotecário, o
que o torna um profissional da disseminação da informação. Essa definição não é
utilizada na Biblioteca MAR, por exemplo, que coleciona os livros de artista
múltiplos, edições de luxo e também obras únicas.
O MoMA cataloga a A.B.C. detalhando as suas especificações físicas e
visuais, quando julgado necessário, na área de notas e indexa o nome do artista,
que também é descrito na autoridade, e se possível o tipo de livro de artista, mas
46
sempre é usado o termo “Artist book”, livro de artista, na indexação dos livros da
coleção. Isso foi acrescido no decorrer do tempo, apesar de Phillpot inicialmente
preferir não indexar os livros de artista com o seu conceito.
A seguir veremos como foi feita a catalogação descritiva do livro Boundless,
de David Stairs (1983), no formato MARC 21.
FIGURA 9 – Boundless, de David Stairs (1983).
Fonte: Printed Matter, In: https://www.printedmatter.org/catalog.
FIGURA 10: Visualização registro MARC 21 – Biblioteca do MoMA –
Boundless, de David Stairs (1983). LEADER 00000cam a2200277ua 450 001 9032722 003 OCoLC 005 19990628140142.0 008 850501s1983 xx 000 0 eng d 035 |9NYMX85-B1677 040 NN|cNN|dNNMoMA 043 n-us--- 090 S761 A12b|t6 ̃50|i02/01/94 N|h05/01/85 C 090 N200|bSt1235 B66|p1|i04/14/98 N|h08/14/92 C 100 1 Stairs, David. 245 10 Boundless /|cDavid Stairs. 260 [S.l.] :|bD. Stairs,|c1983.
300 1 circular object ;|c8 cm. in radius x 1 cm. thick. 500 With spiral binding completely surrounding circumference and making only the covers accessible.
47
655 7 Artists' books|y1983.|2aat 655 7 Bookworks.|2aat 655 7 Shaped books.|2aat 655 7 Artists' books|zUnited States.|2aat
510 3 Drucker, Johanna. The century of artists' books,|b1995. 600 10 Stairs, David.
906 |3Brooklyn:|a2005 Updates 935 7844 (NNMoMA) 935 4511 (NBB) 948 LTI 11/14/2008 950 |3MoMA:|lAB|uAB per CP|h05/01/85 C 950 |3Brooklyn:|h08/14/92 C |50:|l1MAIN 955 |3Brooklyn:|s04/86 Printed Matter $3.50|qBrooklyn|h08/14/ 92 C|l1MAIN 998 |3MoMA:|a02/01/94|tc|s9114|nNNMoMA|wNYPG84B65955|d05/01/85 |cDAS|bDF|lNYMX 998 |3Brooklyn:|a04/14/98|tc|s9114|nNBB|wNYPG84B65955|d08/14/
92|cLHW|lNYBA
Fonte: MoMA, In: http://arcade.nyarc.org/search~S1?/XBoundless&searchscope=1&SORT=D/XBoundless&searchscope=1&SORT=D&SUBKEY=Boundless/1%2C28%2C28%2CB/frameset&FF=XBoundless&searchscope=1&SORT=D&5%2C5%2C.
Como pode-se observar, a descrição dos detalhes físicos do material
registrada no campo 300, foi acrescida da nota no campo 500, detalhando o formato
do livro. O termo “livro de artista”, artists’ books, conforme recomendado por Phillpot,
foi usado na indexação no campo 655, assim como o termo “livro-obra”, bookworks,
e o termo “shaped books”, que poderia ser traduzido para “livros com formatos
diferenciados”.
FIGURA 11: The xeroxed book, de Eric Doeringer (2010).
Fonte: Printed Matter. In: https://www.printedmatter.org/catalog/43031.
48
FIGURA 12: Visualização registro MARC 21 - Biblioteca do MoMA - The xeroxed book, de Eric Doeringer (2010).
LEADER 00000nam 2200313Ia 4500 001 731190686 003 OCoLC 005 20120525032933.0 008 110617s2010 nyua 000 0 eng d 040 AMH|cAMH|dBRZ 043 n-us--- 049 BRZA 100 1 Doeringer, Eric. 245 14 The xeroxed book /|cEric Doeringer. 250 1st ed. 260 New York :|bCopycat,|cc2010. 300 [185] leaves :|ball ill. ;|c28 cm 500 Cover title. 500 Edition of 250. 505 0 Carl Andre -- Robert Barry -- Douglas Huebler -- Joseph Kosuth -- Sol Lewitt -- Robert Morris -- Lawrence Weiner. 520 "The Xeroxed Book is based on Carl Andre, Robert Barry, Douglas Huebler, Joseph Kosuth, Sol LeWitt, Robert Morris, Lawrence Weiner - an artists book published by Seth Siegelaub and John Wendler in 1969 that is more commonly known as The Xerox Book. The Xerox Book was conceived as an exhibition in book form: Siegelaub invited the seven titular artists to submit 25-page projects designed to be reproduced by the then-new technology of the photocopy. However, photocopying proved too expensive at the time, and the book was printed on a traditional offset press. The Xeroxed Book is a photocopied edition of the Xerox Book. Being photocopied, The Xeroxed Book is perhaps closer to Siegelaub's intent than the original book. However, as a second-generation copy, The Xeroxed Book displays the limitations of photocopying as a reproductive technology. Dust, page edges, distortions, and other familiar Xerox artifacts appear on every page, becoming as much a part of the reading experience as the original artists' projects." --Artist's website. 563 Plastic comb binding. 583 |3MoMA:|aHoused|c20130827|iPlaced in four-flap enclosure |2local|5NNMoMa 600 10 Doeringer, Eric. 600 10 Siegelaub, Seth,|d1941-|tCarl Andre, Robert Barry, Douglas Huebler, Joseph Kosuth, Sol Lewitt, Robert Morris, Lawrence Weiner|vParodies, imitations, etc. 600 10 Siegelaub, Seth,|d1941-|xInfluence. 655 7 Artists' books|y2010.|2aat 655 7 Artists' books|zBrooklyn (New York, N.Y.)|2aat|5NBB 655 7 Photocopies.|2aat 700 1 Andre, Carl,|d1935- 700 1 Barry, Robert,|d1936- 700 1 Huebler, Douglas. 700 1 Kosuth, Joseph. 700 1 LeWitt, Sol,|d1928-2007. 700 1 Morris, Robert,|d1931- 700 1 Weiner, Lawrence. 852 NNMoMA|xPRES2013vw
49
852 0 NBB|hN200|iD67096 X2|xBK 852 8 NNMoMA|hD6295|iA12x|xMO20121103re 948 LTI 08/06/2012 Fonte: MoMA. In: http://arcade.nyarc.org/search~S1?/XThe+xeroxed+book&searchscope=1&SORT=DZ/XThe+xeroxed+book&searchscope=1&SORT=DZ&extended=0&SUBKEY=The+xeroxed+book/1%2C8%2C8%2CB/frameset&FF=XThe+xeroxed+book&searchscope=1&SORT=DZ&1%2C1%2C.
Já a catalogação feita para a obra The xeroxed book de Eric Doeringer
(2010) da Biblioteca do MoMA, registra no campo 500 a quantidade de exemplares
publicadas da obra, e no campo 505 as autoridades adicionais do livro, o qual
entende-se como uma exposição em forma de livro que teve como participantes os
artistas nomeados nesse campo. O campo 520 exemplifica a concepção e a
inspiração do livro e o campo 563 foi utilizado para registrar o tipo de encadernação
que ele possui. Já os campos 6XX de indexação, registram o autor, os artistas, o
termo “Livro de artista” e “Cópias”, haja vista a caracterização do trabalho como uma
exposição copiada e divulgada para todos.
A A.B.C. é a coleção de livro de artista mais prestigiosa e considerável
atualmente, não só pelos itens que abriga, mas também pelo tratamento que ela
possui da biblioteca. O Museu de Arte do Rio, que também abriga uma coleção
grande de livro de artista, tem a A.B.C. como exemplar, apesar de possuir algumas
diferenças na conceituação do gênero. O MoMA é um museu de referência para as
artes e a sua coleção de livro de artista também o é.
4.2 O CASO DA BILBIOTECA DO MAR
A Coleção de Livros de Artista do Museu de Arte do Rio (MAR) possui hoje
mais de 1000 exemplares, sendo a maior parte dos títulos doadas pelo diretor
cultural do museu, Paulo Herkenhoff. Ela é tratada e mantida sob a custódia da
Biblioteca MAR, e apesar de estar acondicionada separadamente, é aberta ao
público, sendo a consulta ao acervo feita com hora marcada.
A coleção foi iniciada com a doação da coleção particular de Paulo
Herkenhoff, referência nacional e internacional na área de artes, curador, critico e
autor. Foi também diretor do Museu Nacional de Belas Artes (2003-2005), curador
50
adjunto no MoMA (1999-2002), entre diversos outros trabalhos em instituições
renomadas até chagar ao MAR em 2013.
Herkenhoff, em uma entrevista concedida à Folha de São Paulo em 2013,
aponta que a primeira missão de um museu é colecionar, talvez seja por isso que a
Biblioteca do MAR tenha uma coleção de livros de artista tão abrangente e diversa.
Diferentemente do MoMA, o MAR prefere abordar todo tipo de livro de artista na sua
coleção. Sejam esses múltiplos ou únicos; livro-obra ou livro objeto; edições de luxo
de livros comuns com intervenções de artistas renomados, ou aqueles livros
produzidos por artistas publicados em larga escala.
A Coleção abrange obras nacionais e internacionais, e cresce
continuamente por doações diretas dos artistas, doações por terceiros ou aquisições
em leilões. O tratamento é feito de acordo com as normas AACR2 e foi elaborado
primeiramente um manual de catalogação voltado somente para os livros de artista,
tendo em vista as especificidades das obras. Campos MARC 21 foram escolhidos
para sustentar algumas características específicas, como o campo 508 –
Creation/Production Credits Note (R), o qual é utilizado para a descrição dos livros
assinados e numerados pelo artista.
No MAR utiliza-se um sistema de informação integrado para todas as
coleções – bibliográfica, museológica e arquivística – o que acarretou na escolha de
um tesauro que atendesse todas as áreas do museu, e esse foi o Art & Architecture
Thesaurus (AAT) do Instituto Getty.
The Getty Research Institute é considerada a maior organização filantrópica
do mundo dedicada às artes visuais. O AAT começou a ser formulado em 1970 com
o intuito de atender a necessidade expressada por bibliotecas de arte e jornais de
arte, e posteriormente por museus, para melhorar o acesso a informação as artes,
arquitetura e cultura material. Esse compreende os livros de artista da mesma forma
que Phillpot, e aponta:
Bookworks (livro-obra) - livros de artistas que exploram a forma de livro ou alteram a sua estrutura física como parte do conteúdo do trabalho. Também inclui obras onde a ênfase é sobre a delicada elaboração do livro. Para ‘esculturas’ que parecem ou incorporam livros, mas não se comunicam na característica normal de livros, usar "livro objeto."
51
Book objects (livro objeto) - arte que faz uso do formato do livro ou a estrutura do livro; normalmente o uso é limitado a obras escultóricas únicas que tomam a forma de, ou incorporam, livros, mas que não se comunicam do jeito característicos de um livro convencional, como sendo experimentado sequencialmente. Para livros feitos ou concebidos por artistas visuais, use "livros de artistas" ou "livro-obra."
Artist books (livro de artista) - Livros, seja itens únicos ou múltiplos, feitos ou concebidos por artistas, incluindo publicações comerciais (geralmente em edições limitadas), bem como itens exclusivos formados ou dispostos pelo artista. Para textos escritos por artistas por causa de seu conteúdo informacional, use "escritos". Para livros de artistas que enfatizam o livro físico, como uma obra de arte e não o conteúdo, use "livro-obra”. Para as obras que parecem ou incorporam livros, mas não se comunicam na característica comum de livros, ver "livro objeto." (THE GETTY RESEARCH INSTITUTE5, tradução nossa).
Partindo desses termos é possível definir e separar os livros de artista da
coleção. No MAR o termo “livro de artista” é usado como assunto geral e em
seguida, se concebível, é determinado se a obra em questão é um livro objeto, ou
livro-obra. No entanto, quando a obra é nacional, às vezes são utilizadas as
definições de Julio Plaza, artista espanhol radicado no Brasil que produziu diversos
livros de artista, como Poemobiles, trabalho feito pelo próprio com o poeta Augusto
de Campos em 1966.
FIGURA 13 – Poemobiles, Julio Plaza e Augusto de Campos (1966).
5 THE GETTY RESEARCH INSTITUTE. Art & architecture thesaurus online. Disponível em: http://www.getty.edu/research/tools/vocabularies/aat/.
52
Fonte: Bonvicino, Régis. In: http://sibila.com.br/critica/relendo-poemobiles-de-augusto-e-plaza/4536.
Plaza (1982, não paginado), definiu no que chamou de “Quadro Sinóptico
dos Livros de Artista”, vários tipos de livro de artista, que apesar de genial, é muitas
vezes muito complexo para um profissional que não é de arte compreender. Nele
Plaza identifica e apresenta os seguintes termos:
• Livro ilustrado;
• Poema-livro/Pintura-livro/Desenho-livro;
• Livro-poema, Livro-objeto, Livro-obra/Livro-trabalho
• Livro conceitual;
• Livro-documento;
• Livro intermedia e;
• Antilivro.
Cada um desses termos possui uma conceituação, estrutura e linguagem
diferente, e foram tomados como referência para o tratamento informacional da
Coleção de Livro de Artista do MAR. Esses termos são usados para indexar as
obras além dos do tesauro, sendo as informações registradas no campo 697 do
MARC como palavras-chaves. No entanto foi rapidamente percebido que este
53
trabalho é quase que impossível de ser feito por alguém que não é da área. À vista
disso atualmente os conceitos de Julio Plaza só são usados se estiver claro na obra
a designação que ele atende.
FIGURA 14: Visualização registro MARC 21 – Biblioteca do MAR – Poemobiles, 2. ed., Augusto de Campos e Julio Plaza (1984).
Fonte: Biblioteca MAR (2016).
Analisando a descrição de Poemobiles, Augusto de Campos e Julio Plaza,
obra publicada em 1984, pode-se perceber que a Coleção MAR de Livro de Artista
compreende uma catalogação diferenciada, quando comparada a de outros livros, já
que são necessárias mais informações quanto ao formato físico, detalhes do
material, etc. As responsabilidades são geralmente são mistas6. Algumas obras
contêm simultaneamente artista, autores de texto, curadores etc., pessoas que
precisam ser descritas, pois são pontos de acesso para a recuperação dessas
obras. No que diz respeito à descrição, o conteúdo pode ser artístico ou não. Assim
sendo, foi elaborado pela Biblioteca do MAR o Manual de Catalogação de Livro de
Artista que apresenta os campos MARC 21 e a forma indica como o registro dessas
informações deve ser feito no sistema pelo catalogador.
6 Obras com responsabilidade mista são aquelas que possuem contribuições, intelectuais ou artísticas, de mais de uma pessoa ou entidade, as quais podem desempenhar funções de “escritor, adaptador, ilustrador, coordenador, arranjador, tradutor.” (AACR2, 2002, p. 21-24).
54
Esse Manual apresenta alguns campos que são necessários à descrição de
livros de artista, tais como:
• 508 $a – Nota de Créditos de Criação/Produção;
• 541 $f – Nota de Fonte Imediata de Aquisição;
• 590 $a – Campo de Notas Locais;
• 697 $a – Campo de Palavras-Chave Local.
O campo 508 $a é usado para descrever as informações de obras assinadas
e numeradas pelos artistas/autores. Muitos livros de artista possuem esta
característica. Já o 541 $f é utilizado para apontar o doador da obra, tendo em vista
que esta informação é extremamente relevante para um museu. O 590 $a é
aproveitado como campo de descrição de estado de conservação e o 697 $a é
usado tanto como campo para indexar as coleções especiais, como para indexar os
assuntos que não possuem registro no tesauro Getty, como os conceitos de Julio
Plaza, por exemplo. No entanto, cabe ressaltar que esse campo deve ser evitado ao
máximo já que é preferível usar o vocabulário controlado.
Os livros de artista no MAR são classificados de acordo com a Classificação
Decimal Universal (CDU) e são identificados pela sigla LA no subcampo $d do
campo 90 que representa o complemento do número de chamada, assim como é
feito no MoMA.
Além disso, na Biblioteca MAR foi criado no sistema de base de dados um
novo “tipo de obra” para os livros de artista, o que proporciona uma planilha de
catalogação descritiva própria, diferente da usada na catalogação de outros
documentos bibliográficos, como livros, periódicos, guias e catálogos de arte, etc.
Essa especificidade facilita a busca do usuário porque permite que este filtre os seus
resultados, escolhendo o tipo de obra que quer consultar. Ou seja, se um usuário
quiser pesquisar a artista Lygia Clark na base de dados, mas estiver pesquisando
um livro de artista específico, ele pode filtrar as suas respostas para tornar a sua
pesquisa mais rápida e eficiente.
O manuseio só pode ser feito com o uso de luvas e o acondicionamento das
obras é feito intencionando a preservação dos livros. As obras são acondicionadas
em um deslizante separado do resto da coleção com acesso restrito e é necessária
55
visita marcada para pesquisa na coleção, a qual é feita via e-mail. As obras são
acondicionadas primeiramente de acordo com o tipo de material e em segundo de
acordo com o tamanho. Obras muito pequenas são organizadas em caixas de
preservação em outras prateleiras e são utilizadas etiquetas especiais para
identificar as obras com o número de acervo, ou tombo; número de exemplar, e a
localização fixa do item. Ambas as caixas e as etiquetas são produzidas pela
biblioteca a partir de folhas de Ph neutro.
Apesar de as obras serem classificadas de acordo com a CDU no sistema no
momento da catalogação, fisicamente os livros de artista são acondicionados pelo
sistema de localização fixa com a finalidade de preservar a coleção. “O Sistema de
Localização Fixa aplica-se à bibliotecas onde a conservação do livro é condição para
a salvaguarda de seu conteúdo, porque os livros são organizados segundo sua
materialidade.” (PINHEIRO, 2007, p. 33).
Considerando a volumosa coleção do museu foi imprescindível a criação de
normas de catalogação particulares, acondicionamento próprio e acesso e manuseio
zeloso, para não só atender o público interno e externo, como também garantir a
preservação da coleção para que essa prevaleça por muito tempo.
56
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
“Eu sempre disse que livros de artista se refusam em se comportarem como livros. Páginas, texto, encadernação, informações da folha de rosto, são todas provavelmente arremessados pela janela enquanto o artista tenta transmitir a sua mensagem.”
(Rosemary Furtak, tradução nossa)
Esta pesquisa exploratória qualitativa apresentou alguns conceitos de livro
de artista, e apontou que obras dessa tipo são simultaneamente obras de arte e
livros. Haja vista as suas características peculiares ressaltadas no trabalho, foi
exposto que as práticas biblioteconômicas de representação descritiva, através da
catalogação, representação temática, através da indexação de assuntos, e o
acondicionamento e preservação dessas obras, necessitam de estudos por parte
dos bibliotecários que trabalham com elas, visto que as peculiaridades dos livros de
artista precisam ser consideradas durante tais processos.
Para conseguimos compreender essas práticas, apresentamos os conceitos
pesquisados para a área da museologia, considerando que o livro de artista possui
natureza artística, portanto as técnicas museólogas podem ser pertinentes no
tratamento de uma coleção de tal gênero.
Durante este estudo foi constatado a ausência de pesquisas e bibliografia
acerca do tema no Brasil e, também ficou bastante claro que existe uma carência de
pesquisa sobre a organização da “informação em artes”, a qual interessava muito ao
trabalho.
Livros de artistas são muito pesquisados pela a área das artes visuais no
Brasil, porém poucos trabalhos são relacionados com a biblioteconomia, fato que
pode influenciar na organização adequada dessas coleções em bibliotecas no país.
57
Assim sendo, foi necessário buscarmos fontes em bibliografia estrangeira para a
redação do trabalho.
Mesmo com esse problema, o trabalho conseguiu apontar as peculiaridades
do livro de artista e que a sua conceituação não é definitiva, tendo em conta a sua
essência de obra de arte. Porém foram apontados diversos conceitos para uma
melhor compreensão do objeto estudado.
Verificamos que para a catalogação do livro de artista é imprescendível uma
atenção adicional a forma física da obra, em razão das necessidades dos usuários
que pesquisam coleções desse tipo. Além de identificarmos que esses trabalhos
demandam certas regras do Código AACR2, e alguns campos do MARC 21, para o
registro de informações inerentes a ele que não são usuais na catalogação
descritiva de livros comuns.
Da mesma forma foi explicitado que a indexação de assuntos de um livro de
artista pode ser exaustiva, se o indexador considerar todas as possibilidades de
conceitos existentes para a definição do livro de artista, assim como os diversos
materiais e formatos que eles podem conter, os quais podem ser indexados para
facilitar a busca do usuário. No entanto, uma indexação exaustiva desse tipo é, na
maior parte das vezes, complexa demais para um bibliotecário que não é da área de
arte ou design. Consequentemente, muitas bibliotecas que abrigam coleções de livro
de artista, preferem executar uma indexação mais simples para que erros não sejam
cometidos.
Em termos de descrição bibliográfica, foi confusa a observação da
inexistência do uso do campo 655 do MARC, na indexação de assuntos de coleções
brasileiras de livros de artista. Esse campo poderia facilitar muito a pesquisa do
usuário, podendo separar os títulos que são livros de artista daqueles que falam
sobre livro de artista. O primeiro é gênero e o segundo é assunto, uma distinção
fundamental que auxiliará o usuário na busca e na recuperação da informação
relativas a essas obras.
Essa questão foi percebida como mais um motivo para estudos mais
profundos por parte do bibliotecário, na definição de normas visando à organização
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e a indexação das coleções de livro de artista, tendo em vista que em bibliotecas
internacionais, com a do MoMA, o campo 655 já faz parte do escopo descritivo.
Também foi exemplificado que o livro de artista exige um acondicionamento
visando a sua preservação e conservação, e não o armazenamento típico de livros
em bibliotecas. Especialmente porque muitos livros de artista não possuem o
formato códex de livro e, em consequência, precisam de uma organização separada
e diferenciada das outras obras. Igualmente à catalogação e à indexação, livros de
artista, por serem obras de arte e por tantas vezes únicos, precisam de normas e
práticas especiais de acondicionamento e manuseio, para que possam ser
preservados para futuras gerações.
Para ilustrar essas ideias, foram apresentadas duas experiências de
bibliotecas com coleções de livro de artista. A primeira do âmbito internacional e a
segunda nacional, para melhor demonstrar diferentes circunstâncias de bibliotecas
que colecionam livros de artista. E apesar de a Biblioteca do MAR ter a A.B.C. como
exemplo, devido a diversidade do gênero, percebemos diferenças na seleção, no
tratamento e na organização das suas coleções.
Isso ocorre porque é quase impossível definir uma só forma de uma
biblioteca tratar e organizar obras que por sua essência não seguem regras na sua
formação. O livro de artista é tanto livro como obra de arte, mesmo que ele não
lembre em nada um livro, e antes que de quaisquer práticas e normas sejam
estabelecidas é fundamental que o profissional responsável pela a coleção entenda
isso. Normas e padrões para a representação da informação são definidas a partir
da formação da coleção, levando em consideração a necessidade dos usuários da
mesma. Por isso, o trabalho apresentou algumas formas possíveis de tratamento e
organização dessas obras, as quais foram relevantes para as suas instituições,
porém podem ser adequadas e/ou modificadas em outros casos, mas com o cuidado
de ter como referência os padrões internacionais, pois estes têm regras e estas são
essenciais para garantirmos sistemas de informação consistentes.
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