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TATIANE ROSA DA CUNHA AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS NUTRICIONAIS DOS PACIENTES COM DOENÇA DE GAUCHER CANOAS, 2011

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TATIANE ROSA DA CUNHA

AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS NUTRICIONAIS DOS PACIENTES COM

DOENÇA DE GAUCHER

CANOAS, 2011

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TATIANE ROSA DA CUNHA

AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS NUTRICIONAIS DOS PACIENTES COM

DOENÇA DE GAUCHER

Trabalho de conclusão apresentado à banca examinadora do curso de Nutrição do Centro Universitário La Salle – Unilasalle, como exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Nutrição.

Orientação: Profª Me. Rosana Maria Carolo da Costa e Silva

Coorientação: Dra. Divair Doneda

CANOAS, 2011

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TATIANE ROSA DA CUNHA

AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS NUTRICIONAIS DOS PACIENTES COM

DOENÇA DE GAUCHER

Trabalho de conclusão apresentado à banca examinadora do curso de Nutrição do Centro Universitário La Salle – Unilasalle, como exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Nutrição.

Aprovado pela banca examinadora em 6 de dezembro de 2011.

BANCA EXAMINADORA:

___________________________________________

Profª Me. Rosana Maria Carolo da Costa e Silva Unilasalle

___________________________________________

Profª Me. Carmem Kieling Franco Unilasalle

___________________________________________

Profº Dr. Alexandre Ramos Lazzarotto Unilasalle

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por me ouvir sempre.

Aos meus pais Adair e Eva por todo amor, carinho e dedicação em toda a

minha vida, principalmente no período em que desenvolvi este trabalho, além de

pensar sempre positivamente e com confiança em mim. Amo vocês.

Ao grande amor da minha vida, Samuel, pelo amor, carinho, paciência e

compreensão, pelos momentos que estivemos longe, mas não em pensamento,

sempre acreditando em mim, mais do que eu mesma muitas vezes. Te amo.

Aos meus irmãos Marcelo, Márcio e Thiago por terem sido meus “paizões” no

momento em que mais precisei de carinho e atenção para poder seguir em frente e

entrar para a graduação com uma estrutura familiar completa e feliz. Amo vocês.

A todos os familiares que acreditam em mim, principalmente minha vó Helena,

prima Ângela, tia Jura e dindos Enilda e Thadeu, que estão sempre presentes em

minhas conquistas, me incentivando e torcendo por mim, e às minhas cunhadas pelo

apoio e torcida. Obrigada.

À Angela, que inicialmente me proporcionou a oportunidade de realizar esta

pesquisa e pela confiança.

À minha amiga e colega Fabiana, que junto comigo progrediu durante a

graduação, dividindo angústias, medos e superações. Obrigada pela parceria.

Ao Prof. Dr. Alexandre Lazzarotto pela excelente aula de Pesquisa em Saúde,

a qual despertou o interesse pela pesquisa e à Prof. Mª. Rosana Carolo pela

orientação de meu trabalho, além do carinho e motivação dada.

A todos os professores do Unilasalle que sempre motivaram o estudo e a

busca de novos conhecimentos dentro e fora da sala de aula, além de estimular o

bom desenvolvimento do aluno, o que contribuiu para minha evolução acadêmica, a

qual foi gradativa e próspera, e hoje posso dizer que meu crescimento profissional

foi construído inicialmente a partir destes excelentes profissionais.

À equipe do Centro de Referência Estadual para Diagnóstico,

Acompanhamento e Tratamento da Doença de Gaucher, principalmente a Dra.

Divair Doneda, Dra. Ida Schwartz, Dra. Cristina Netto e Suzana Mittelstadt, por

contribuirem diretamente com o meu trabalho. Todos disponibilizando orientações,

espaço para aplicação dos métodos, e oportunidades para crescer como

pesquisadora.

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“...Às vezes a vida bate com um tijolo na

sua cabeça. Não perca a fé. Você tem

que descobrir o que você ama...Seu

trabalho vai preencher uma parte grande

da sua vida, e a única maneira de ficar

realmente satisfeito é fazer o que você

acredita ser um ótimo trabalho. E a única

maneira de fazer um excelente trabalho é

amar o que você faz...”

(Steve Jobes)

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RESUMO

A doença de Gaucher (DG) é um erro inato do metabolismo com deficiência na

enzima beta-glicosidase. É uma doença genética autossômica recessiva. As

complicações incluem megalias, alterações hematológicas e ósseas, além de

neuropatia e comprometimento pulmonar quando mais grave. O tratamento funda-se

em terapia de reposição enzimática (TRE) para a melhora clínica. Este estudo do

tipo transversal e retrospectivo tem como objetivo avaliar os parâmetros nutricionais

dos pacientes com DG do Centro de Referência Estadual do Rio Grande do Sul.

Foram incluídos na pesquisa 30 pacientes com DG, sendo 27 do tipo I (sexo

masculino=15) e 3 do tipo III (sexo masculino=2), estes foram avaliados de acordo

com o tipo da doença e a faixa etária, onde compreendeu massa corporal total

(MCT), estatura e índice de massa corporal (IMC). Para adolescentes foi utilizado

escore-z para IMC e estatura, calculado no AnthoPlus (WHO, 2007). Outro

parâmetro avaliado foi o histórico dietético habitual, calculado pelo software Nutwin e

tabelas de composição de alimentos. Houve prevalência de adultos, do sexo

masculino, com DG tipo I e mediana de idade de 27,7 anos. A avaliação do estado

nutricional dos pacientes com DG tipo I demonstrou que 14 eram eutróficos, e em

pacientes com DG tipo III (n=3), todos estavam com eutrofia e adolescentes com

muito baixa estatura segundo escore-z de estatura. O histórico dietético habitual foi

realizado com 13 pacientes com DG tipo I (sexo masculino=7), sendo 1 adolescente,

10 adultos e 2 idosos. Observou-se que na maioria dos pacientes o valor energético

total, carboidratos, vitaminas e minerais estavam abaixo do recomendado pela RDA

(1989) e FAO/OMS (2001), e apenas lipídio estava dentro dos valores permitidos. A

classificação do estado nutricional foi entre eutrofia com maior tempo de TRE e

sobrepeso com tempo menor. Os adultos estavam com o diagnóstico nutricional

mais variável, sobrepeso esteve presente apenas em pacientes com DG tipo I. Os

resultados mostram que há elevação da MCT, sem considerar as megalias, em

adultos e idosos, e o atraso de crescimento em adolescentes com DG tipo III.

Verificou-se que a maioria dos pacientes estava com a ingestão de nutrientes

inadequada, talvez associada à evolução do quadro de complicações da doença.

Palavras-chave: Doença de Gaucher. Estado nutricional. Terapia de reposição

enzimática.

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ABSTRACT

Gaucher disease (GD) is an inborn error of metabolism with disabilities the enzyme

beta-glucosidase. It is an autosomal recessive genetic disease. The Complications

include Megale, hematological and bone modifications, besides neuropathy and

pulmonary damage when more severe. The treatment is based in enzyme

replacement therapy (ERT) for the clinical improvement. This study of the type cross-

sectional and retrospective aims to evaluate the nutritional parameters of patients

with GD from Centro de Referência Estadual do Rio Grande do Sul. The study

included 30 patients with GD, 27 type I (male=15) and 3 type III (male=2), these were

evaluated according with the type of disease and age, which comprised total body

mass (TBM), height and body mass index (BMI). For adolescents was used z-score

for BMI and height, calculated in AnthoPlus (WHO, 2007). Other parameter

evaluated was the usual dietary historic, calculated by the software Nutwin and

tables of food composition. There was a prevalence of adult, male, DG type I and

median age of 27,7 years. The evaluation of the nutritional status of patients with GD

type I showed that 14 were eutrophic, and patients with GD type III (n=3), all had

eutrophy and adolescents who has a very short according to stature z-score. The

usual dietary history was conducted with 13 patients with GD type I (male=7), being 1

teenager, 10 adults and 2 seniors. It was observed that in most patients the total

energy value carbohydrates, vitamins and minerals were below than the

recommended by RDA (1989) and FAO/WHO (2001), and only lipid was within the

allowable values. The nutritional status classification was between eutrophy with

longer ERT time and overweight in less time. Adults were with more variable

nutritional diagnosis, overweight was present only in patients with GD type I. The

results shows that there is an increase of MCT, without considering Megalis in adults

and elderly people, and growth retardation in adolescents with type III GD. It was

found that most patients had the intake of inadequate nutrients, perhaps associated

with the progression of the disease’s complications.

Key words: Gaucher Disease. Nutritional status. Replacement therapy enzyme.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Valores para a classificação do estado nutricional segundo o índice de

massa corporal de acordo com a faixa etária ................................................... 22

Tabela 2 – Classificação da relação estatura para idade em adolescentes .............. 23

Tabela 3 – Distribuição dos pacientes por tipo da doença, sexo e idade .................. 24

Tabela 4 – Distribuição das megalias em pacientes com doença de Gaucher

conforme o estado nutricional ........................................................................... 25

Tabela 5 – Ingestão diária de micronutrientes dos pacientes com doença de Gaucher

tipo I .................................................................................................................. 26

Tabela 6 – Classificação do estado nutricional dos pacientes adolescentes com

doença de Gaucher tipo I conforme o sexo e os dados de terapia de reposição

enzimática ......................................................................................................... 27

Tabela 7 – Classificação da relação estatura para idade dos pacientes adolescentes

com doença de Gaucher tipo I e III ................................................................... 27

Tabela 8 – Quantidade de micronutrientes provenientes da dieta do paciente

adolescente com doença de Gaucher tipo I ...................................................... 28

Tabela 9 – Dados de terapia de reposição enzimática distribuídos conforme o estado

nutricional dos pacientes com doença de Gaucher tipo I .................................. 29

Tabela 10 – Dose de enzima administrada em pacientes adultos com doença de

Gaucher tipo I conforme o estado nutricional ................................................... 30

Tabela 11 – Valor energético total diário dos pacientes adultos com doença de

Gaucher tipo I ................................................................................................... 30

Tabela 12 – Ingestão calórica diária dos pacientes adultos com doença de Gaucher

tipo I .................................................................................................................. 31

Tabela 13 – Ingestão diária de micronutrientes dos pacientes adultos com doença de

Gaucher tipo I conforme o sexo ........................................................................ 32

Tabela 14 – Ingestão calórica diária dos pacientes idosos com doença de Gaucher

tipo I conforme o sexo. ...................................................................................... 33

Tabela 15 – Ingestão diária de micronutrientes dos pacientes idosos com doença de

Gaucher tipo I ................................................................................................... 33

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LISTA DE ABREVIATURAS

ADA – Associação Dietética Norte-Americana

AIQ – Amplitude Inter Quartil

Ca/P – Relação cálcio e fósforo

CRDG – Centro de Referência Estadual para Diagnóstico, Acompanhamento e

Tratamento da Doença de Gaucher

DG – Doença de Gaucher

DG-I – Doença de Gaucher tipo I

DG-II – Doença de Gaucher tipo II

DG-III – Doença de Gaucher tipo III

DM 2 – Diabetes Mellitus tipo 2

DMO – Densidade Mineral Óssea

E/I – Índice Estatura para Idade

FAO – Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação

GEB – Gasto Energético Basal

HDL – Lipoproteína de Alta Densidade

ICGG – Internacional Collaborative Gaucher Registry Grupo Gaucher

IMC – Índice de Massa Corporal

LDL – Lipoproteína de Baixa Densidade

MCT – Massa Corporal Total

MS – Ministério da Saúde

OMS – Organização Mundial da Saúde

Protocolo DG do MS – Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Doença de

Gaucher do Ministério da Saúde

RDA – Recommended Dietary Allowances

RUV – Raios Ultravioleta

SISVAN – Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional

SNC – Sistema Nervoso Central

TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TRE – Terapia de Reposição Enzimática

TRS – Terapia de Redução de Substrato

VET – Valor Energético Total

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11

2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................. ........................................................ 12

2.1 Doença de Gaucher ............................. .............................................................. 12

2.1.1 Incidência ......................................................................................................... 12

2.1.2 Diagnóstico ....................................................................................................... 12

2.1.3 Manifestações clínicas ..................................................................................... 13

2.1.4 Tratamento ....................................................................................................... 14

2.1.5 Centro de Referência para Diagnóstico, Acompanhamento e Tratamento da

Doença de Gaucher do Rio Grande do Sul ............................................................... 14

2.2 Aspectos Nutricionais.......................... ............................................................. 15

2.2.1 Gasto energético basal e Diabetes Mellitus tipo 2 ............................................ 15

2.2.2 Metabolismo lipídico ......................................................................................... 15

2.2.3 Nutrientes e complicações da doença .............................................................. 16

2.2.3.1 Papel do ferro e das vitaminas B12 e C ........................................................ 16

2.2.3.2 Papel do cálcio, fósforo e vitamina D ............................................................ 17

3 OBJETIVOS ....................................... .................................................................... 18

3.1 Objetivo Geral ................................ .................................................................... 18

3.2 Objetivos Específicos ......................... .............................................................. 18

4 JUSTIFICATIVA ................................... .................................................................. 19

5 METODOLOGIA ..................................... ............................................................... 20

5.1 População ..................................... ..................................................................... 20

5.2 Critérios de seleção da amostra ............... ....................................................... 20

5.3 Aspectos éticos ............................... .................................................................. 20

5.4 Procedimentos e fases ......................... ............................................................ 21

5.4.1 Contato inicial ................................................................................................... 21

5.4.2 Coleta de dados antropométricos ..................................................................... 21

5.4.3 Realização do inquérito alimentar .................................................................... 23

5.5 Análise Estatística ........................... .................................................................. 23

6 RESULTADOS ...................................... ................................................................. 24

6.1 Relação entre o estado nutricional e o tempo de terapia de reposição

enzimática dos pacientes adolescentes com doença de Gaucher tipo I ... 26

6.2 Interpretação do quadro de crescimento dos paci entes adolescentes com

doença de Gaucher tipo I e III .................... .................................................... 27

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6.3 Avaliação do histórico dietético habitual relac ionada com as complicações

referentes à doença de Gaucher tipo I dos pacientes adolescentes ......... 28

6.4 Relação entre o estado nutricional e o tempo de terapia de reposição

enzimática dos pacientes adultos com doença de Gauc her tipo I ............. 28

6.5 Avaliação do histórico dietético habitual relac ionada com as complicações

referentes à doença de Gaucher tipo I dos pacientes adultos ................... 30

6.6 Relação entre os resultados obtidos em paciente s idosos com doença de

Gaucher tipo I .................................... .............................................................. 32

6.7 Relação entre o estado nutricional e o tempo de terapia de reposição

enzimática dos pacientes com doença de Gaucher tipo III ......................... 33

7 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 35

8 CONCLUSÃO ....................................... ................................................................. 39

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 40

APÊNDICE A – Dados dos pacientes com doença de gauc her do centro de

referência estadual do Rio Grande do Sul .......... .................................................. 43

APÊNDICE B – Histórico dietético habitual ......... ................................................. 44

ANEXO A – Termo de consentimento livre e esclarecid o.................................... 45

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11

1 INTRODUÇÃO

A doença de Gaucher (DG) é um distúrbio metabólico devido à redução ou

baixa atividade de uma enzima. É uma doença genética autossômica recessiva, a

mais comum das doenças lisossômicas de depósito, causa sintomas e complicações

em órgãos e sistemas. O tratamento era voltado apenas para diminuir os sintomas, e

atualmente é realizado pela terapia de reposição enzimática (TRE) para a melhora

clínica diminuindo a gravidade da DG do tipo I (DG-I) e III (DG-III), porém pode

interferir no metabolismo energético. Outro tratamento, que se classificaria como

complementar para a melhora da qualidade de vida dos indivíduos com DG, seria o

dietoterápico, com a quantidade suficiente de energia e nutrientes reguladores como

vitaminas e minerais de acordo com as complicações de cada paciente.

Há poucos estudos sobre os parâmetros nutricionais dos indivíduos com a

doença, não apenas em relação à terapia enzimática interferindo no estado

nutricional, mas também entre a ingestão alimentar e as complicações da doença. A

presente pesquisa avaliou o estado nutricional e o consumo alimentar habitual dos

pacientes com DG assistidos no Centro de Referência Estadual para Diagnóstico,

Acompanhamento e Tratamento da Doença de Gaucher (CRDG).

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12

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Os erros inatos do metabolismo são doenças genéticas raras e herdadas de

forma autossômica recessiva, com deficiência enzimática que atinge o metabolismo

acumulando substratos ou formando outros. Os sintomas aparecem no decorrer dos

anos de vida, dependendo do tipo, apesar da doença ser herdada geneticamente.

Por isso, o diagnóstico deve ser precoce a fim de trazer benefícios ao tratamento

(ARAÚJO, 2004). A DG encontra-se entre estas doenças e é abordada neste

capítulo.

2.1 Doença de Gaucher

A DG foi descrita originalmente por Philippe Gaucher em 1882, ao diagnosticar

uma paciente jovem com esplenomegalia (MICHELIN-TIRELLI, 2005). É a mais

prevalente das doenças lisossômicas, autossômica recessiva, causada por

mutações no gene localizado no cromossomo 1 (GBA), responsável pela codificação

da enzima beta-glicosidase, essencial na hidrólise da glicosilceramida em glicose e

ceramida. O acúmulo do substrato nos lisossomos do sistema retículo-endotelial

produz um quadro clínico variável com ou sem envolvimento neurológico, megalias,

distúrbios hematológicos e problemas ósseos (TORLONI; FRANCO; SASS, 2002).

2.1.1 Incidência

A DG afeta 1 a cada 50.000 a 100.000 indivíduos no mundo, sendo a doença

genética mais frequente entre os judeus Ashkenazi (OLIVEIRA et al, 2002). No

Brasil, existem aproximadamente 600 pacientes diagnosticados com a doença. No

Rio Grande do Sul são acompanhados 33 pacientes com a doença no CRDG.

2.1.2 Diagnóstico

O acúmulo da glicosilceramida nos tecidos hepáticos e esplênicos, e na medula

óssea, é tipicamente chamado de células de Gaucher. Porém, estas células podem

ser encontradas em outros tipos de doença, o que não confirma o diagnóstico, por

isso a comprovação deve ser feita pelo teste de baixa atividade da enzima - menor

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13

que 30% do valor de referência (FERREIRA, J.; FERREIRA, V.; FERREIRA, D.,

2008). No Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Doença de Gaucher do

Ministério da Saúde (Protocolo DG do MS), a redução da atividade da enzima beta-

glicosidase nos leucócitos preconizada é que esteja abaixo de 10%.

Cerca de 90% de todos os pacientes com a doença carregam um de apenas

três alelos principais. Conforme Martins et al (2003), apesar do genótipo não estar

relacionado perfeitamente com o fenótipo, o tipo de alelo demonstra se a doença é

ou não neuropática. O alelo N370S, que associa-se com doença não neuropática, é

encontrado em indivíduos com DG-I, já o alelo L444P em DG tipo II (DG-II) e DG-III,

forma neuropática.

2.1.3 Manifestações clínicas

As manifestações clínicas ou fenotípicas da DG são variáveis, incluindo

megalias (hepatoesplenomegalia, esplenomegalia, hepatomegalia), alterações

hematológicas (anemia, trombocitopenia, plaquetopenia, etc), e lesões ósseas

(osteoporose, osteopenia e dores ósseas), podendo ocorrer o comprometimento do

sistema nervoso central (SNC) (TORLONI; FRANCO; SASS, 2002).

Em geral, a primeira manifestação da doença é a esplenomegalia – cujo baço

pode chegar a pesar até 20% do peso corporal em casos extremos –, seguida da

hepatomegalia – o fígado pode até duplicar o tamanho. As alterações hematológicas

ocorrem devido à hiperatividade do baço e pela infiltração medular das células de

Gaucher. Estas células ainda podem estar localizadas em neurônios

comprometendo o SNC. As crianças podem apresentar atraso no crescimento, na

maturação esquelética e puberdade (SOBREIRA; BRUNIERA, 2008). A classificação

da doença é de acordo com a presença ou ausência de comprometimento

neurológico e sua gravidade. A DG-I, forma não neuropática, afeta crianças até a

idade adulta, com sinais e sintomas como megalias, alterações hematológicas e

problemas ósseos devido ao acúmulo de células de Gaucher, podendo associar à

fadiga, cansaço, distensão abdominal e o atraso do crescimento em crianças. A DG-

II, forma neuropática aguda, afeta crianças com 4-5 meses de idade, com quadro

neurológico grave e comprometimento do baço, fígado e pulmão. As crianças vão a

óbito nos primeiros dois anos de vida, na maioria dos casos por comprometimento

pulmonar. A DG-III, forma neuropática crônica, afeta crianças e adolescentes até o

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14

início da idade adulta, com quadro neurológico menos grave que DG-II, envolvendo

complicações no baço, fígado e ossos (GREGORY, 2004) (MARTINS et al, 2003).

2.1.4 Tratamento

O tratamento inicialmente envolvia o uso de analgésicos, transfusões

sanguíneas e esplenectomia, todos voltados para a redução dos sintomas

(FERREIRA, J.; FERREIRA, V.; FERREIRA, D., 2008). Atualmente o tratamento se

dá por meio da terapia de reposição enzimática (TRE).

A TRE surgiu na década de 90, como imiglucerase (Cerezyme®), sendo

comercializada no Brasil em 1992, é um tratamento caro, porém seguro, reduz as

complicações da doença e melhora a qualidade de vida dos pacientes,

principalmente combinada com outros fármacos e equipe multidisciplinar. A

administração é por via intravenosa, há a catalisação da hidrólise do glicosilceramida

em lisossomos de células monocíticas. Não há eficácia em sintomas neurológicos e

não possibilita a cura da doença, porém em DG-III há uma boa resposta ao

tratamento (GRABOWSKI, 2004) (MICHELIN-TIRELLI, 2005).

Em indivíduos com DG-I, os adultos devem receber a dose inicial de

administração da enzima de 15UI/kg a cada 15 dias, caso os sintomas agravem

depois de 6 meses, esta dose pode aumentar para 30UI/kg a cada 15 dias; em

crianças e adolescentes a dose é de 30UI/kg. Os indivíduos com DG-III devem

receber a dose de 60UI/kg devido à gravidade da doença (SAS/MS, 2002).

O tratamento enzimático futuramente pode incluir a intervenção na terapia

gênica, para corrigir o defeito genético ou estimular respostas imunes. Atualmente

tem-se a ingestão por via oral com a terapia de redução de substrato (TRS),

reduzindo a glicosilceramida e possibilitando a capacidade de tratar a neuropatia

presente em DG-II e III (MICHELIN-TIRELLI, 2005) (CHEN; WANG, 2008).

2.1.5 Centro de Referência para Diagnóstico, Acompanhamento e Tratamento da

Doença de Gaucher do Rio Grande do Sul

O CRDG foi criado em julho de 2003, no estado do Rio Grande do Sul, pelo

Ministério da Saúde (MS) junto com a Secretaria Estadual da Saúde e o Hospital de

Clínicas de Porto Alegre, para a implementação do Protocolo DG do MS, objetivando

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15

avaliar, acompanhar e tratar todos os pacientes com a doença no estado (KRUG,

2007).

2.2 Aspectos Nutricionais

A terapia nutricional pode contribuir para a manutenção do equilíbrio do

metabolismo atingido, garantindo nutrientes adequados para o crescimento e

desenvolvimento (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2002). Algumas considerações para

auxiliar na avaliação dos parâmetros nutricionais estão descritas neste capítulo.

2.2.1 Gasto energético basal e Diabetes Mellitus tipo 2

Os pacientes com DG têm o gasto energético basal (GEB) aumentado, já com

a utilização de TRE, o catabolismo é diminuído, e associando-se com a inadequada

ingestão calórica, pode ocorrer o aumento de peso. Em um estudo com pacientes

com DG-I – onde foram verificados o IMC, a prevalência de resistência à insulina,

sobrepeso e Diabetes Melittus tipo 2 (DM 2) com e sem uso de TRE – observou-se

que em pacientes não tratados, a prevalência de excesso de peso é menor, e com o

tratamento a longo prazo é maior. No mesmo estudo, a prevalência de DM 2

aumentou significativamente durante o tratamento com TRE, devido a baixos níveis

de adinopectina no plasma – a qual é responsável pela regulação da glicose –

aumentando a resistência à insulina. O paciente com sobrepeso e resistência

insulínica tem maior risco de desenvolver DM 2 (LANGEVELD et al, 2008).

Os pacientes que iniciam a TRE devem ser informados sobre o potencial ganho

de peso e serem aconselhados a ajustar sua dieta para que não haja alteração no

peso e que DM 2 seja prevenido (LANGEVELD et al, 2008).

2.2.2 Metabolismo lipídico

Há a possível relação entre complicações do baço e o metabolismo dos

lipídios. Em pacientes com DG-I, e que se encontram com esplenomegalia, há o

decréscimo nos níveis séricos de colesterol total e suas frações de lipoproteína de

baixa densidade (LDL) e de alta densidade (HDL). Todavia com a esplenectomia há

a elevação do colesterol e da fração LDL. Por isso, o tecido esplênico deve ser

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16

conservado para não haver necessidade de cirurgia e prevenir os distúrbios

lipídicos, como a aterosclerose (PETROIANU et al, 2006).

2.2.3 Nutrientes e complicações da doença

O quadro da DG evolui independente do tratamento dietoterápico, porém pode

retardar as complicações com a absorção adequada de nutrientes, principalmente

com o consumo de alimentos fontes de minerais como ferro, fósforo e cálcio, e

vitaminas B12, D e C.

2.2.3.1 Papel do ferro e das vitaminas B12 e C

A ingestão adequada de ferro e vitamina B12 é indispensável em todas as

faixas etárias, em especial na adolescência, período em que ocorre maior

crescimento e maturação de órgãos e sistemas. O volume sanguíneo também está

aumentado nesta fase, principalmente em adolescentes do sexo feminino pelo

evento de menarca, por isso as recomendações devem ser maiores que nos demais

ciclos da vida (BARON et al, 2003) (VITOLO, 2008). Além disso, as mulheres em

geral, exigem mais ferro, pois há maior gravidade quando este mineral é deficiente,

devido a características hormonais e exigências relacionadas à reprodução, como

gravidez e lactação, inclusive no climatério, pois ocorrem perdas e sobrecargas

fisiológicas (RÉSIO, 2003). A quantidade de ferro sérico pode ficar comprometida

em indivíduos com doenças como DG, que tem como uma das complicações a

esplenomegalia, a qual interfere na produção de células sanguíneas (PETROIANU

et al, 2006). A vitamina B12 é essencial para a síntese de hemoglobina, além de

participar no funcionamento neurológico (PEREDA et al, 2006). O quadro de anemia

é caracterizado quando há anormalidade na quantidade de hemoglobina, limitando a

troca de oxigênio e dióxido de carbono entre as células sanguíneas e do tecido.

Pode ocorrer tanto por deficiência de nutrientes quanto por anormalidades genéticas

(CARVALHO; BARACAT; SGARBIERI, 2006).

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17

2.2.3.2 Papel do cálcio, fósforo e vitamina D

A massa óssea é o conteúdo mineral ósseo acumulado antes de cessar o

crescimento, já densidade mineral óssea (DMO), após a estabilidade do crescimento

(MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2002). O cálcio quando ingerido é depositado

rapidamente no tecido ósseo e quando este encontra-se insuficiente, é mobilizado

quando diminuído na corrente sanguínea (HENN, 2010). O cálcio tem papel

fundamental na formação óssea e sua retenção deve ser adequada desde a infância

e adolescência devido ao predomínio da formação sobre a reabsorção, e para evitar

o quadro raquitismo, e não comprometer o desenvolvimento e crescimento, até o

envelhecimento para a prevenção de lesões ósseas. A adolescência é a fase que

mais requer ingestão deste micronutriente pelo acelerado desenvolvimento

muscular, esquelético e endócrino, e crescimento puberal. A partir dos 20 anos de

idade, há estabilidade entre a formação e a reabsorção do cálcio, e este tem o papel

de prevenir complicações ósseas como a osteopenia e a osteoporose, se mantida a

adequada ingestão e fatores que aumentem sua biodisponibilidade. Na pós-

menopausa as necessidades se elevam devido a uma absorção intestinal diminuída

e reabsorção óssea aumentada, pois há a redução dos níveis de estrogênio, e em

idades de 45 a 50 anos há maior reabsorção óssea (BUENO; CZEPIELEWSKI,

2008) (PEREIRA et al, 2009) (SILVA, 2004). A ingestão de vitamina D tem relação

importante com a massa óssea, é sintetizada não apenas pela dieta, mas também

pela pele quando o indivíduo expõe-se aos raios ultravioleta (RUV) do sol, sob a

forma de vitamina D3, sendo responsáveis por 80 a 90% da absorção do mineral. Se

a ingestão é deficiente e a exposição solar for baixa, há interferência na homeostase

do cálcio e do fósforo e a mesma estará comprometida (BUENO; CZEPIELEWSKI,

2008) (VILLARES, 2011). O excesso de fósforo pode diminuir os benefícios do

cálcio, sendo fator adverso à preservação da saúde óssea, por isso, a relação entre

cálcio e fósforo (Ca/P) deve ser igual a 1 ou superior, e pode ser afetada pelo baixo

consumo de cálcio (TUERO et al, 2004). Segundo Junqueira e Fonseca (2004), o

excesso de proteína na alimentação pode afetar o balanço do cálcio, devido ao

aumento da excreção renal, causando uma desproporção entre cálcio e proteína, e

assim a biodisponibilidade do mineral mais uma vez pode ser comprometida.

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18

3 OBJETIVOS

Para o desenvolvimento da pesquisa, foram traçados os objetivos citados a

seguir.

3.1 Objetivo Geral

Avaliar os parâmetros nutricionais dos pacientes com doença de Gaucher do

Centro de Referência Estadual do Rio Grande do Sul.

3.2 Objetivos Específicos

a) avaliar o estado nutricional dos pacientes, de ambos os sexos, considerando

a faixa etária e os dados de terapia de reposição enzimática;

b) verificar se há associação entre o estado nutricional e a dieta habitual;

c) comparar a quantidade de nutrientes ingeridos com o que é preconizado, de

acordo com a idade e o sexo;

d) verificar se há associação entre o consumo alimentar e as complicações da

doença.

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19

4 JUSTIFICATIVA

O conjunto de manifestações clínicas da DG pode ser agravado por uma dieta

alimentar inadequada. Na literatura são escassos os estudos sobre a dietoterapia

específica à doença, justificando a realização de avaliações da ingestão alimentar

que esclareçam sobre as quantidades de nutrientes nos alimentos, suas

recomendações em cada faixa etária e de acordo com as manifestações clínicas da

doença. O resultado desta pesquisa vai identificar qual a necessidade de

acompanhamento nutricional dos pacientes.

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20

5 METODOLOGIA

O delineamento deste estudo é do tipo transversal e retrospectivo.

5.1 População

Esta pesquisa teve como critérios de inclusão os pacientes com DG-I e III

assistidos no CRDG, de ambos os sexos, avaliados conforme a faixa etária, o tipo

de doença e tratamento, com disponibilidade para a avaliação antropométrica e

nutricional nos dias de consulta ou de administração da TRE. Segundo a

Organização Mundial da Saúde (OMS, 2006), a adolescência compreende

indivíduos entre 10 e 20 anos incompletos, o público adulto entre 20 e 60 anos

incompletos e os idosos a partir de 60 anos (SISVAN, 2008). Os pacientes maiores

de 18 anos que aceitaram participar do estudo e assinaram o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e os menores de 18 anos que

concordaram em participar do estudo, com a assinatura do TCLE de seus

representantes legais.

Foram excluídos os pacientes sem dados atualizados no banco de dados do

CRDG.

5.2 Critérios de seleção da amostra

Processo consecutivo. Dos 33 pacientes assistidos no CRDG, foram avaliados

30 pacientes com DG-I e III. Não havia informações atuais no banco de dados do

CRDG sobre 3 pacientes, os quais foram excluídos do estudo.

5.3 Aspectos éticos

Este trabalho está baseado eticamente nos termos da Resolução 196/96 do

Conselho Nacional de Saúde – MS.

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21

5.4 Procedimentos e fases

O estudo teve 3 etapas: a) contato inicial com pacientes e representantes

legais; b) coleta de dados antropométricos; c) realização de inquérito alimentar

(histórico dietético habitual).

5.4.1 Contato inicial

O contato inicial com os pacientes e representantes legais foi no mês de

setembro de 2011, durante as consultas no ambulatório do CRDG, para o convite a

participar da pesquisa, e com o aceite verbal, a assinatura do TCLE.

5.4.2 Coleta de dados antropométricos

As medidas antropométricas foram coletadas durante as consultas no

ambulatório do CRDG, no mês de outubro e novembro de 2011, onde compreendeu

massa corporal total (MCT) e estatura, indicadores diretos do estado nutricional e

realizados com os métodos convencionais. Para tais medidas foram utilizados:

balança mecânica Filizola®, e estadiômetro Tonelli e Gomes.

Para a aferição da MCT atual, o paciente posicionou-se em pé, no centro da

base da balança, descalço e com roupas leves, e para medir a estatura, além de

seguir os mesmos protocolos citados para MCT, os pacientes juntaram os

calcanhares, deixaram as costas retas e os braços estendidos ao longo do corpo,

segundo Cuppari (2005).

A classificação do estado nutricional foi feita pelo índice de massa corporal

(IMC), calculado pela seguinte fórmula: IMC = peso(kg)/estatura2(m) e interpretado

segundo Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN), onde para

adolescentes a classificação proposta é de acordo com OMS (2007); para adultos,

OMS (1995); e para idosos, Associação Dietética Norte-americana (ADA, 1994). Os

valores para classificar o IMC de acordo com a faixa etária encontram-se na tabela

1.

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22

Tabela 1 – Valores para a classificação do estado nutricional segundo o índice de

massa corporal de acordo com a faixa etária

Faixa etária IMC Classificação

Adolescentes Escore-z < -3 Magreza acentuada

(OMS, 2007) Escore-z ≥ -3 e < -2 Magreza

Escore-z ≥ -2 e ≤ +1 Eutrofia

Escore-z > +1 e ≤ +2 Sobrepeso

Escore-z > +2 e ≤ +3 Obesidade

Escore-z > +3 Obesidade grave

Adultos < 18,50 kg/m2 Baixo peso

(OMS, 1995) ≥ 18,50 e < 25,00 kg/m2 Eutrófico

≥ 25,00 e < 30,00 kg/m2 Sobrepeso

≥ 30,00 kg/m2 Obesidade

Idosos < 22,00 Baixo peso

(ADA, 1994) ≥ 22,00 e < 27,00 Eutrófico

≥ 27,00 Sobrepeso

IMC=índice de massa corporal; OMS=Organização Mundial da Saúde; ADA=Associação Dietética Norte-Americana. Fonte: SISVAN, 2008.

O diagnóstico do estado nutricional do adolescente será composto por outro

tipo de parâmetro, o índice estatura para idade (E/I), o qual é um indicador do

histórico de crescimento. Para calcular o escore-z de estatura foi utilizado o software

OMS AnthroPlus (WHO, 2007) para crianças e adolescentes de 5 a 19 anos

incompletos de idade, e interpretado de acordo com os critérios da OMS (2007), que

considera níveis adequados quando escore-z for maior ou igual a -2. Os valores

para classificação de estatura estão demonstrados na tabela 2.

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Tabela 2 – Classificação da relação estatura para idade em adolescentes

Faixa etária IMC Classificação estatura

Adolescentes Escore-z < -3 Muito baixa

(OMS, 2007) Escore-z ≥ -3 e < -2 Baixa

Escore-z ≥ -2 Adequada

IMC=índice de massa corporal. Fonte: SISVAN, 2008.

5.4.3 Realização do inquérito alimentar

A avaliação da ingestão de alimentos foi feita através do histórico dietético

habitual, o qual é um instrumento de questionamento quanto aos alimentos mais

comumente consumidos e que fazem parte da rotina diária. É feita uma entrevista

com o paciente no momento da consulta, com a quantificação dos alimentos

ingeridos em medidas caseiras. É mais indicado em caso de primeira consulta

(VITOLO, 2008).

O Inquérito alimentar foi aplicado e calculado no software Nutwin, computado e

analisado em planilha de excel 2007, no período de outubro a novembro de 2011. A

ingestão de vitamina D foi calculada por Tabelas de Composição de Alimentos.

Para análise de ingestão calórica foi utilizada a recomendação diária segundo a

Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO/OMS, 2001).

A quantidade de micronutrientes ingerida foi calculada e comparada segundo

Recommended Dietary Allowances (RDA, 1989).

5.5 Análise Estatística

Os dados serão computados, calculados e analisados em planilhas de Excel

2007.

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6 RESULTADOS

Foram avaliados 30 pacientes, prevalecendo a faixa etária de adulto (n=21), do

sexo masculino (n=17) e com DG-I (n=27). A mediana de idade foi de 27,7 anos

(AIQ=17,2 anos), sendo a mínima de 13,6 anos e a máxima de 64,1 anos, conforme

a tabela 3.

Tabela 3 – Distribuição dos pacientes por tipo da doença, sexo e idade

Dados Amostra Total (n=30)

Amostra por faixa etária Adolescente

(n=7) Adulto (n=21)

Idoso (n=2)

Tipo da doença

Tipo I (n=27)

Tipo III (n=3)

Tipo I (n=5)

Tipo III (n=2)

Tipo I (n=20)

Tipo III (n=1)

Tipo I (n=2)

Sexo Feminino:Masculino

13:15

1:2

3:2

0:2

8:12

1:0

1:1

Mediana Idade em anos (AIQ)

27,7(17,2) 16,7(2,2) 29,7(15,9) 63,3(0,0)

AIQ=amplitude inter quartil. Fonte: Banco de dados do CRDG.

Em pacientes com DG-I foram diagnosticadas complicações como

esplenomegalia (n=15); hepatoesplenomegalia (n=11); anemia (n=1); leucopenia

(n=5); trombocitopenia (n=12); osteopenia (n=16); osteoporose (n=5); e 5 pacientes

esplenectomizados. Todos os pacientes com DG-III estavam leucopênicos e com

alterações ósseas, outras alterações hematológicas estavam presentes em apenas

1 paciente, 2 eram esplenectomizados e 1 com esplenomegalia, além de

comprometimento do SNC em todos estes citados.

A classificação do estado nutricional dos pacientes com DG-I foi a mais

variável, sendo 14 pacientes com eutrofia (sexo feminino=8), e 13 com sobrepeso

(sexo masculino=9). Aqueles pacientes que estavam com sobrepeso, 10 estavam

com megalias e 1 foi esplenectomizado. Já os pacientes com DG-III (sexo

masculino=2) estavam diagnosticados como eutróficos, conforme mostra a tabela 4.

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Tabela 4 – Distribuição das megalias em pacientes com doença de Gaucher

conforme o estado nutricional

Dados* Amostra de acordo com o estado nutricional

Eutróficos (n=17) Sobrepeso (n=13)

Tipo da doença I (n=14) III (n=3) I (n=13)

Sexo feminino:masculino 8:6 2:1 4:9

Esplenomegalia 3 - 4

Hepatomegalia 3** - 1

Hepatoesplenomegalia 3 1 5

Sem megalias 4 2*** 3

Esplenectomizados 4** 2*** 1

*Banco de dados do CRDG. **2 pacientes esplenectomizados com hepatomegalia. ***Os 2 pacientes incluem-se no grupo de eutróficos esplenectomizados e sem megalias. Fonte: Autoria própria, 2011.

O histórico dietético habitual foi realizado em 13 pacientes com DG-I (sexo

masculino=7), predominando a faixa etária adulto (n=10). Todos os idosos (n=2)

participaram do inquérito, e apenas 1 adolescente participou. A média de ingestão

diária de carboidrato foi de 49,2±7,9%, abaixo da recomendação, sendo 55,0% do

valor energético total (VET) o mínimo preconizado. A ingestão de proteína estava

acima de 15,0% do VET, com média de 20,9±6,4%. O macronutriente que estava

dentro do indicado foi o lipídio, com a média de 29,3±6,7% do VET. A ingestão de

cálcio, fósforo, ferro, vitamina B12 e D foram abaixo da recomendação. Apenas a

ingestão de vitamina C foi acima, com mediana de 62,1mg/dia (AIQ=46,8mg/dia). Os

melhores resultados foram obtidos em pacientes do sexo masculino, exceto de

vitamina B12, demonstrados na tabela 5.

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Tabela 5 – Ingestão diária de micronutrientes dos pacientes com doença de Gaucher

tipo I

Nutriente Mediana(AIQ) por sexo Mediana

Total (AIQ) (n=13) Feminino (n=7) Masculino (n=6)

Cálcio (mg) 317,5(384,4) 649,3(241,5) 588,7(496,7) Fósforo (mg) 541,1(330,1) 691,4(235,8) 562,7(273,2) Ferro (mg) 8,5(5,7) 9,0(3,6) 9,0(4,50) Vitamina C (mg) 42,7(27,6) 73,0(142,0) 62,1(46,8) Vitamina B12 (µg) 2,3(4,8) 0,8(3,5) 0,8(3,9) Vitamina D (µg) 0,4(0,6) 0,4(0,4) 0,4(0,4)

AIQ=amplitude inter quartil; mg = miligrama; µg = micrograma. Fonte: Autoria própria, 2011.

6.1 Relação entre o estado nutricional e o tempo de terapia de reposição

enzimática dos pacientes adolescentes com doença de Gaucher tipo I

A mediana do escore-z de IMC dos 5 pacientes adolescentes foi de 0,2

(AIQ=0,7), o que caracteriza eutrofia, segundo os critérios propostos pela OMS

(2007). A maioria estava, por conseguinte, com este diagnóstico nutricional (n=4),

com mediana de 8,9 anos (AIQ=3,2 anos) de TRE.

Entre os 4 pacientes eutróficos (sexo feminino=3), 2 estavam com

esplenomegalia, 1 com hepatoesplenomegalia e 1 com normalização das

complicações da doença. Os pacientes com megalias estavam recebendo a dose de

30UI/kg, já o sem megalia, recebendo a dose de 20UI/kg.

O paciente que encontrava-se com sobrepeso e com hepatoesplenomegalia,

do sexo masculino, recebia TRE de 30UI/kg, há 6,4 anos, tempo inferior em relação

aos pacientes com eutrofia, como mostra a tabela 6.

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27

Tabela 6 – Classificação do estado nutricional dos pacientes adolescentes com

doença de Gaucher tipo I conforme o sexo e os dados de terapia de reposição

enzimática

Dados Amostra total

(n=5)

Amostra por sexo Feminino

(n=3) Masculino

(n=2) Estado Nutricional

Eutrofia (n=4)

Sobrepeso (n=1)

Eutrofia (n=3)

Eutrofia (n=1)

Sobrepeso (n=1)

Mediana(AIQ) escore-z IMC

0,2(0,7) 0,2(0,4) 0,2(0,9)

Mediana(AIQ) Idade TRE*

8,2(3,7) 8,6(0,0) 8,4(4,4) 3,3(0,0) 8,6(0,0)

Mediana(AIQ) tempo TRE*

8,9(3,2) 6,4(0,0) 8,6(3,6) 13,4(0,0) 6,4(0,0)

IMC=índice de massa corporal; AIQ=amplitude inter quartil; TRE=terapia de reposição enzimática. *Banco de dados do CRDG. Fonte: Autoria própria, 2011.

6.2 Interpretação do quadro de crescimento dos paci entes adolescentes com

doença de Gaucher tipo I e III

A relação E/I calculada demonstrou que apenas 2 pacientes adolescentes

tinham muito baixa estatura em relação à idade, sendo todos com DG-III. A mediana

de escore-z foi de -0,7 (AIQ=2,6), classificada como estatura adequada, segundo

critérios da OMS (2007). Todos os pacientes com DG-I estavam com estatura

adequada e com tempo de TRE variável entre 1,8 e 13,4 anos. A descrição da

relação E/I dos pacientes adolescentes está na tabela 7.

Tabela 7 – Classificação da relação estatura para idade dos pacientes adolescentes

com doença de Gaucher tipo I e III

Classificação Mediana(AIQ)

Amostra Total (n=7) Mediana(AIQ) por tipo da doença tipo I (n=5) tipo III (n=2)

Muito baixa 0,0(0,0) 0,0(0,0) -3,4(0,3)

Adequada -0,7(2,6) -0,6(1,5) 0,0(0,0)

AIQ=amplitude inter quartil. Fonte: Autoria própria, 2011.

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28

6.3 Avaliação do histórico dietético habitual relaciona da com as complicações

referentes à doença de Gaucher tipo I dos pacientes adolescentes

Verificou-se que o único paciente adolescente com 16,6 anos de idade,

participante do inquérito alimentar, teve ingestão calórica de 1424,8kcal/dia, abaixo

do indicado de 2200,0kcal/dia. A percentagem de carboidrato foi de 41,4%, de

proteína 21,9%, e de lipídio 36,8%. Apenas lipídio estava dentro da recomendação

preconizada.

A ingestão de micronutrientes foi abaixo do recomendado para cálcio, fósforo e

vitamina D, o que pode justificar a presença de osteopenia no corpo total, associado

ao excesso de proteína. Outro quadro diagnosticado foi de anemia, o qual pode ser

explicado pela quantidade insuficiente ingerida de ferro e vitamina B12, apesar de

valores de vitamina C estarem acima do preconizado, como demonstra a tabela 8.

Tabela 8 – Quantidade de micronutrientes provenientes da dieta do paciente

adolescente com doença de Gaucher tipo I

Nutriente Ingestão Recomendação*

Cálcio (mg) 588,7 1200,0

Fósforo (mg) 525,0 1200,0

Ferro (mg) 12,9 15,0

Vitamina C (mg) 62,1 60,0

Vitamina B12 (µg) 0,3 2,0

Vitamina D (µg) 0,6 10,0

mg=miligrama; µg=micrograma. *Recomendação diária segundo Recommended Dietary Allowances (RDA, 1989). Fonte: Autoria própria, 2011.

6.4 Relação entre o estado nutricional e o tempo de terapia de reposição

enzimática dos pacientes adultos com doença de Gauc her tipo I

Dos 20 pacientes com DG-I (sexo masculino=12), 10 estavam classificados

com eutrofia (sexo masculino=5), com média de IMC de 24,4±2,5kg/m2 e mediana

de 8,4 anos (AIQ=9,8 anos) de TRE, tempo superior em relação aos 10 pacientes

com sobrepeso (sexo masculino=7) com 2,9 anos (AIQ=9,1 anos) de tratamento.

Houve leve predomínio de pacientes do sexo masculino com sobrepeso (n=7), os

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29

quais obtiveram a menor mediana de tempo de TRE em relação aos demais

pacientes adultos estudados, com 1,3 anos (AIQ=6,7 anos). Já do sexo feminino

(n=8), em sua maioria encontravam-se com eutrofia (n=5), e mediana de 2,5 anos

(AIQ=7,1 anos), inferior aos com sobrepeso de mediana de 6,2 anos (AIQ=9,3 anos)

de TRE. Os dados de TRE distribuídos conforme o estado nutricional encontram-se

na tabela 9.

Tabela 9 – Dados de terapia de reposição enzimática distribuídos conforme o estado

nutricional dos pacientes com doença de Gaucher tipo I

Dados Amostra total (n=20) Amostra por sexo

Feminino (n=8) Masculino (n=12) EN Eutrofia

(n=10) Sobrepeso

(n=10) Eutrofia (n=5)

Sobrepeso (n=3)

Eutrofia (n=5)

Sobrepeso (n=7)

Mediana (AIQ) idade TRE*

25,5(19,3) 29,8(29,2) 27,3(3,5) 14,2(9,9) 11,0(20,2) 37,4(15,8)

Mediana (AIQ) tempo TRE*

8,4(9,8) 2,9(9,1) 2,5(7,1) 6,2(9,3) 7,3(8,5) 1,3(6,7)

EN=estado nutricional; AIQ=amplitude inter quartil; TRE=terapia de reposição enzimática. *Banco de dados do CRDG. Fonte: Autoria própria, 2011.

A maioria dos pacientes adultos recebe a dose 15UI/kg de TRE, o preconizado

pelo Protocolo DG do MS em início de tratamento. Ressaltando que a mediana

referente ao período de TRE foi de 8,4 anos (AIQ=9,8 anos) para eutróficos e de 2,9

anos (AIQ=9,1 anos) para pacientes com sobrepeso. As doses administradas em

pacientes adultos com DG-I, conforme o estado nutricional, estão distribuídas na

tabela 10.

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30

Tabela 10 – Dose de enzima administrada em pacientes adultos com doença de

Gaucher tipo I conforme o estado nutricional

Dose de TRE Amostra Total (n=20) Amostra por estado nutricional

Eutrofia (n=10) Sobrepeso (n=10) 15UI/kg n=13 n=5 n=8

20UI/kg n=2 n=2 n=0

30UI/kg n=3 n=2 n=1

45UI/kg n=1 n=1 n=0

Sem TRE n=1 n=0 n=1

TRE=terapia de reposição enzimática. Fonte: Banco de dados do CRDG.

6.5 Avaliação do histórico dietético habitual relaciona da com as complicações

referentes à doença de Gaucher tipo I dos pacientes adultos

Dos 10 pacientes adultos (sexo masculino=6) que responderam ao histórico

dietético habitual, todos estavam com VET menor que o preconizado, apenas 3

pacientes (2, 6 e 8) tinham consumo próximo ao recomendado, conforme tabela 11.

Os pacientes 2 e 6 eram eutróficos, e o 8 com sobrepeso, considerando que estava

com hepatomegalia, podendo interferir na aferição da MCT e do IMC.

Tabela 11 – Valor energético total diário dos pacientes adultos com doença de

Gaucher tipo I

Paciente Idade (anos) Sexo Ingestão Recomendação*

1 20,6 Masculino 1763,9 2900,0

2 29,6 Feminino 2051,4 2200,0

3 24,6 Masculino 2146, 0 2900,0

4 55,9 Masculino 1411,4 2300,0

5 46,2 Masculino 1543,1 2900,0

6 26,3 Feminino 2131,0 2200,0

7 31,1 Masculino 1886,9 2900,0

8 32,7 Feminino 1976,9 2200,0

9 57,5 Masculino 1372,6 1900,0

10 29,7 Feminino 936,5 2200,0

* Recomendação diária segundo Recommended Dietary Allowances (RDA, 1989). Fonte: Autoria própria, 2011.

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31

A maioria dos pacientes (n=7) estava com baixa ingestão de carboidrato,

afirmando a média encontrada de 50,7±8,5%, inadequada tanto para pacientes do

sexo feminino quanto masculino. A quantidade de lipídios provindos da dieta

resultou em uma média de 28,8±6,9%, interpretada como adequada ingestão diária

para ambos os sexos, porém 4 pacientes estavam com ingestão acima, sendo em

sua maioria do sexo feminino. A percentagem de proteína foi diferente, a média

encontrada foi de 20,0±6,3%, sendo acima da recomendação, podendo ser mais um

determinante de casos de lesões ósseas. Apenas um paciente do sexo feminino

estava com a ingestão protéica dentro do preconizado. Na tabela 12 é demonstrada

a ingestão calórica dos pacientes adultos com DG-I.

Tabela 12 – Ingestão calórica diária dos pacientes adultos com doença de Gaucher

tipo I

Dados Mediana(AIQ) por sexo Mediana(AIQ)

Amostra Total (n=20) Feminino (n=8) Masculino (n=12) VET 2014,2(354,5) 1653,5(411,9) 1825,4(588,5) % Carboidrato 49,5(5,2) 54,6(14,9) 51,3(12,4) % Proteína 19,1(3,9) 20,2(6,2) 19,6(4,7) % Lipídio 33,2(7,4) 26,4(6,9) 27,8(8,3)

VET=valor energético total (kcal/dia); AIQ=amplitude inter quartil. Fonte: Autoria própria, 2011.

Em relação ao consumo de vitaminas e minerais, a mediana estava apenas

acima do recomendado para vitamina B12 com 3,9µg (AIQ=4,4µg). Os demais

nutrientes encontraram-se abaixo. Não houve relação da ingestão insuficiente de

ferro e vitamina C, com o quadro de anemia, pois nenhum paciente adulto

encontrava-se com tal complicação, apenas outras alterações hematológicas. Em

contrapartida, 60% dos adultos estavam com osteopenia, podendo estar associada à

baixa ingestão de cálcio, fósforo e vitamina D. Os 2 pacientes (sexo feminino=1) sem

alterações ósseas, estavam consumindo quantidades adequadas de cálcio, e destes

apenas 1 com fósforo irregular, mas a relação Ca/P estava adequada para contribuir

com a biodisponibilidade do mineral. Outros 2 pacientes com consumo satisfatório

de fósforo não tiveram cálcio adequado, e a relação Ca/P, por conseguinte, foi

menor que 1, ambos estavam com osteopenia e 1 com osteoporose.

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32

Os pacientes do sexo masculino obtiveram melhores resultados comparados

ao feminino em cálcio e vitamina C, apenas em relação à vitamina B12 ocorreu o

contrário. Apenas 2 pacientes (sexo feminino=1) consumiam quantidades

adequadas de cálcio, e de ferro 3 pacientes do sexo masculino. Apenas 3 ingeriam

fósforo acima do recomendado (sexo feminino=2). A ingestão de vitamina D, fósforo

e ferro não tiveram diferenças significativas em relação ao sexo, conforme tabela 13.

Tabela 13 – Ingestão diária de micronutrientes dos pacientes adultos com doença de

Gaucher tipo I conforme o sexo

Nutriente Mediana(AIQ) por sexo Mediana(AIQ)

Amostra total (n=10) Feminino (n=4) Masculino (n=6)

Cálcio (mg) 290,0(546,9) 681,9(82,4) 649,3(283,2) Fósforo (mg) 693,5(532,6) 718,0(155,2) 718,0(369,4) Ferro (mg) 8,5(3,9) 9,8(2,8) 9,4(3,6) Vitamina C (mg) 32,7(22,4) 129,8(149,6) 58,7(130,2) Vitamina B12 (µg) 4,7(3,2) 2,3(3,4) 3,9(4,4) Vitamina D (µg) 0,6(0,8) 0,5(0,4) 0,5(0,5)

VET=valor energético total (kcal/dia); AIQ=amplitude inter quartil; mg=miligrama; µg=micrograma. Fonte: Autoria própria, 2011.

6.6 Relação entre os resultados obtidos em paciente s idosos com doença de

Gaucher tipo I

O paciente idoso do sexo masculino estava, durante o período estudado, com

esplenomegalia, leucopenia, trombocitopenia e osteopenia com tempo de TRE de

2,6 anos com dose de 45UI/kg. Já o paciente do sexo feminino com leucopenia e

osteopenia, além de ter sido esplenectomizada no ano de 2011, sem demais

complicações, com tempo de TRE de 0,9 anos. Apesar de ambos estarem com

sobrepeso, ao participarem do inquérito alimentar, pode-se observar que a ingestão

calórica e de carboidrato foi abaixo do preconizado, de proteína acima e de lipídio

dentro da recomendação. A ingestão calórica diária encontra-se na tabela 14.

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Tabela 14 – Ingestão calórica diária dos pacientes idosos com doença de Gaucher

tipo I conforme o sexo.

Dados Sexo feminino (n=1) Sexo masculino (n=1)

Ingestão Recomendação Ingestão Recomendação

VET 1148,7 1900,00** 1283,69 2300,00**

% Carboidrato 44,4 55 a 75* 47,3 55 a 75*

% Proteína 31,5 10 a 15* 18,3 10 a 15*

% Lipídio 22,8 15 a 30* 33,0 15 a 30*

VET=valor energético total (kcal/dia). *FAO/OMS, 2001. **Recomendação diária segundo Recommended Dietary Allowances (RDA, 1989). Fonte: Autoria própria, 2011.

No que se refere a micronutrientes, a ingestão de vitamina C foi acima do

recomendado apenas para o paciente do sexo masculino, sendo maior de 60mg/dia.

Os demais minerais e vitaminas encontram-se abaixo do preconizado para ambos

os sexos, como é demonstrado na tabela 15.

Tabela 15 – Ingestão diária de micronutrientes dos pacientes idosos com doença de

Gaucher tipo I

Nutriente Sexo feminino

(n=1) Sexo Masculino

(n=1) Recomendação*

Cálcio (mg) 205,6 122,2 800,0

Fósforo (mg) 557,2 451,4 800,0

Ferro (mg) 6,2 6,7 10,0

Vitamina C (mg) 50,2 73,0 60,0

Vitamina B12 (µg) 0,7 0,4 2,0

Vitamina D (µg) 0,0 0,4 5,0

mg=miligrama; µg=micrograma. *Recomendação diária segundo Recommended Dietary Allowances (RDA, 1989). Fonte: Autoria própria, 2011.

6.7 Relação entre o estado nutricional e o tempo de terapia de reposição

enzimática dos pacientes com doença de Gaucher tipo III

Os pacientes com DG-III (n=3) estavam classificados como eutróficos, sendo 2

adolescentes do sexo masculino e 1 adulto do sexo feminino. A média de escore-z

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de IMC dos pacientes adolescentes foi de -1,4±0,1, o que caracteriza eutrofia,

apenas 1 estava recebendo a TRE, desde os 2,9 anos de idade, totalizando até o

momento da consulta 15,4 anos, com a dose atual de 60UI/kg. Este paciente foi

esplenectomizado em 2004, e como complicações apenas leucopenia. Já o paciente

não tratado estava com alterações hematológicas, além de hepatoesplenomegalia.

O único paciente adulto com DG-III, do sexo feminino, estava eutrófico, e recebia a

administração de TRE há 16,4 anos com a dose atual de 30UI/kg. Ambos não

participaram do inquérito alimentar.

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7 DISCUSSÃO

Entre os pacientes com DG acompanhados por este estudo, a maioria era da

faixa etária adulto, com DG-I e leve predomínio do sexo masculino, com

complicações no fígado, no baço, e consequentes alterações hematológicas, além

de alterações ósseas. Outras pesquisas revelam os mesmos achados do presente

trabalho, ou seja, pacientes com DG-I são acometidos em sua maioria adultos, com

complicações no baço, no fígado e nos ossos (FERREIRA, J.; FERREIRA, V.;

FERREIRA, D., 2008) (CHEN; WANG, 2008).

Ao descrever as características clínicas dos pacientes com DG, KAPLAN et al

(2006) verificou com auxílio do banco de dados do Internacional Collaborative

Gaucher Registry Grupo Gaucher (ICGG) que dos 887 pacientes com doença não

neuropática registrados, 95% tinham volumes do baço superiores ao normal e 87%

com fígado aumentado; 40% tinham anemia; e 50% estavam com plaquetopenia. No

ano de 2001, houve a análise de radiografia do esqueleto de 32 pacientes com DG,

onde verificou-se em todos os casos o quadro de osteopenia (MENDONÇA et al,

2001). Pode ser constatada, na população em geral com DG, grande percentagem

de complicações características de DG-I, porém, na amostra deste estudo, apesar

de pequena, comparada aos estudos citados, a incidência foi menor, em

contrapartida, é válido considerar que se tratando de 30 pacientes estudados, todas

as complicações foram evidenciadas. Não houve casos de DM 2, nem em pacientes

com sobrepeso. Não havia dados atualizados sobre o perfil lipídico para relacionar

com as complicações no baço e esplenectomia.

Há poucos trabalhos que abordam o estado nutricional de indivíduos com DG,

por isso não há achados significativos para comparações. A relação entre o estado

nutricional e o tempo de TRE em pacientes incluídos nesta pesquisa, mostrou que

em eutróficos o tempo era maior comparado aos que estavam com sobrepeso. Este

resultado seria adverso à literatura quando diz que o gasto energético basal é

aumentado em pacientes com DG, e com o tratamento enzimático haveria

diminuição deste gasto podendo aumentar o peso dos pacientes, já que no presente

estudo, os dados revelam que aqueles com maior tempo de TRE não excederam o

peso. Entretanto, eles devem ser vistos com alguma reserva, pois apenas avaliou-se

o IMC, o qual não deve ser utilizado como único parâmetro para definir os riscos de

excesso de peso e até mesmo obesidade, além de doenças associadas como DM 2.

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Os mesmos pacientes tiveram seu consumo energético abaixo do recomendado

para a idade, podendo explicar que apesar do tempo de TRE, não houve

modificação do estado nutricional. Por exemplo, o paciente adolescente com DG-III

incluído neste estudo estava, segundo IMC, com eutrofia, mas além de estar

próximo ao estado nutricional de magreza, havia complicações como a

hepatoesplenomegalia. Será que este paciente pode ser classificado como

eutrófico? A alternativa seria ter aferição de dobras cutâneas e circunferências, com

acompanhamento contínuo devido às megalias.

Todos os pacientes adolescentes com DG-III desta pesquisa estavam com

estatura muito baixa, talvez associada pelo tipo da doença e não pelo tratamento,

pois o tempo de TRE para um dos pacientes era de aproximadamente 15 anos.

Todos os pacientes com DG-I estavam com estatura adequada e com tempo de

TRE variável, não havendo associação. Existem poucas pesquisas que abordam

sobre este resultado, entre elas há duas, realizadas em 2008 com pacientes com

DG-I, as quais evidenciaram: a) no mesmo Centro, em 2008, a maioria dos

pacientes adolescentes com DG-I estava com estatura adequada para a idade e

pacientes com DG-III classificados como desnutridos para estatura e IMC

(DONEDA, 2008); b) com 18 meses de TRE houve progressivo aumento de estatura

em crianças e adolescentes com DG no estado de São Paulo (SOBREIRA;

BRUNIERA, 2008).

O histórico dietético habitual foi realizado com apenas 13 pacientes, todos com

DG-I, devido às datas das consultas no ambulatório serem marcadas a cada 3

meses, mesmo período da pesquisa, o que não possibilitou uma amostra maior.

Pode-se observar que na maioria dos pacientes, independente da faixa etária, o

valor energético total diário encontrava-se abaixo do recomendado para a idade,

assim como de carboidrato, tanto em pacientes eutróficos quanto com sobrepeso.

Porém há uma limitação, apesar do inquérito utilizado ser o melhor indicado neste

estudo, deve haver melhor investigação, seja por equívocos em relação aos relatos

dos pacientes, seja por conta da dificuldade de cálculo das medidas caseiras

referidas e compreendidas, interferindo nos resultados de ingestão alimentar,

principalmente em pacientes diagnosticados com sobrepeso.

A quantidade de proteína provinda da dieta estava acima do preconizado e de

lipídio dentro do indicado, apenas 4 pacientes estavam consumindo acima, segundo

FAO/OMS (2001). O excesso de proteína está associado com o aumento da

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37

excreção do cálcio podendo evoluir o quadro de osteopenia até osteoporose, além

de estar ligada ao aumento do peso (JUNQUEIRA; FONSECA, 2004).

Verificou-se que os pacientes com DG-I não consumiam adequadamente a

quantidade de micronutrientes. Em uma monografia realizada por Ávila (2008) com

26 pacientes do CRDG, observou que antes de aproximadamente 7 anos de TRE,

40,9% dos pacientes eram anêmicos, e após o tratamento, apenas 10%. A ingestão

de ferro e de vitamina B12 era adequada e de vitamina C inadequada em pacientes

com DG-I. Na atual pesquisa, com 30 pacientes, permanece a percentagem baixa

de anêmicos, apenas 1 adolescente do sexo feminino com DG-I. A ingestão de ferro

e vitamina B12 foi inadequada pela maioria dos pacientes com este tipo da doença,

que responderam ao histórico dietético habitual, podendo justificar o quadro de

anemia em 2 pacientes, um com tempo de TRE há aproximadamente 8 anos e outra

há apenas 2 anos. Apesar de a ingestão de ferro e vitamina B12 ser um importante

precursor para prevenir a anemia nutricional, há indícios de o paciente obter esta

complicação devido à atividade irregular do baço, causando alterações

hematológicas (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2003).

A recomendação diária de cálcio é de 1200mg para indivíduos de 11 a 24 anos

de idade, e 800mg para maiores de 25 anos, em ambos os sexos, segundo RDA

(1989). No presente estudo, apenas 2 pacientes com DG-I consumiam quantidades

adequadas de cálcio, e nestes, não houve quadro de osteopenia ou de osteoporose,

um número pequeno de controle, frente aos possíveis agravos à saúde óssea, que

foram evidenciados em grande percentagem naqueles pacientes com ingestão

insuficiente, incluindo todas as faixas etárias. Segundo US Department of Agriculture

(USDA) Household Food Consumption Survey (USDA, 1994), homens consomem

mais cálcio que mulheres, ambos não preenchendo os níveis recomendados

(MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2003), o que é similar ao constatado neste estudo, os

pacientes do sexo masculino obtiveram melhores resultados comparados ao

feminino em relação ao cálcio, porém irregulares.

Segundo Tuero et al (2004), a razão Ca/P pode estar relacionada com a

presença de lesões ósseas, especialmente se o consumo de cálcio for baixo. Em

pacientes com DG-I desta pesquisa, houve consumo de fósforo acima do

preconizado, podendo alterar a proporção Ca/P, principalmente em alguns casos de

osteopenia e osteoporose.

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38

Todos os pacientes com DG-I que participaram do inquérito alimentar obtinham

pouca vitamina D proveniente da dieta. O que não foi diferente em Londres, onde a

pesquisa realizada com o objetivo de determinar a prevalência de deficiência de

vitamina D em 60 pacientes com DG-I do Hospital Royal Free, comparando com os

dados de osteopenia e osteoporose, foram constatados vários graus de deficiência

da vitamina D, tanto em relação ao consumo alimentar quanto à exposição solar,

mesmo nas estações do ano em que esta não é comprometida (MIKOSCH et al,

2009). Não houve relatos dos pacientes do presente estudo de exposição ao sol ou

não, por isso, neste quesito não há comparações, não pode-se ter apenas a relação

entre deficiência de vitamina D e ingestão insuficiente deste micronutriente

considerando que a maior parte da biodisponibilidade é através da exposição dos

RUV.

Entre a maioria dos casos estudados, mesmo sem a comprovação de a dieta

habitual ter interferido nos quadros de anemia, osteopenia e osteoporose, houve

associação considerável entre o consumo inadequado e estas complicações. Porém,

não se têm resultados significativos, devendo haver o acompanhamento de uma

equipe multidisciplinar para que haja maior investigação entre a associação entre

ingestão alimentar, exames bioquímicos, e as manifestações clínicas da doença, e

assim, a existência de um acompanhamento integral mais efetivo.

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39

8 CONCLUSÃO

A promoção do estado nutricional tem como um de seus vínculos o adequado

hábito alimentar, e se torna existente com uma conduta que una as características e

necessidades de cada indivíduo, principalmente aquele que encontra-se com

alguma doença. As relações feitas neste estudo mostraram que a intervenção

nutricional pode desempenhar um papel importante na melhora da resposta à TRE,

considerando que os pacientes com DG que obtinham uma alimentação equilibrada

em alguns nutrientes, não estavam com as complicações associadas à possível

deficiência destes.

Os indicadores utilizados para a avaliação nutricional dos pacientes com DG

embora importantes para uma primeira avaliação, não foram suficientes frente aos

diversos parâmetros que podem contribuir para um diagnóstico mais preciso. A

presença de megalias e possíveis relatos de maneira errônea referente à ingestão

alimentar podem ter influenciado no resultado, não só em relação ao estado

nutricional e consumo energético, mas também, na presença de algumas

complicações como a anemia.

Novos estudos devem ser realizados para o esclarecimento da possível relação

entre alimentação e agravos clínicos da DG, pois não foram identificados resultados

significativos, desde a classificação do estado nutricional até a ingestão alimentar

habitual encontrada, ambos com dificuldades para uma avaliação com veracidade.

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APÊNDICE A – Dados dos pacientes com doença de gau cher do centro de

referência estadual do Rio Grande do Sul

Nome do paciente: ___________________________________________________

Data de nascimento: ___/___/______

Sexo: ( ) F ( ) M

Tipo da doença: ( ) I ( ) III

TRE (dose): _______UI/kg

Dados Antropométricos:

Data: ___/___/______

Peso: _________kg

Altura: ____________cm

IMC: __________________kg/m2

Classificação: ______________________, segundo ________________________

Dados Laboratoriais:

Hematócrito (Ht): __________%

Hemoglobina (Hb): _________g/dL

Complicações:

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

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APÊNDICE B – Histórico dietético habitual

Nome do paciente: ___________________________________________________

Data: ___/___/_____

Café da manhã – horário: ___h___min ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Almoço – horário:___h___min __________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________ Lanche – horário: ___h___min _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Jantar – horário: ___h___min __________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________________________________________________________ Ceia – horário: ___h___min _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Outras refeições _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________

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ANEXO A – Termo de consentimento livre e esclarecid o

AVALIAÇÃO DO IMPACTO DO TRATAMENTO COM TERAPIA DE REPOSIÇÃO

ENZIMÁTICA NO ESTADO NUTRICIONAL DE PACIENTES COM DOENÇA DE

GAUCHER DO CENTRO DE REFERÊNCIA ESTADUAL DO RIO GRANDE DO SUL

Investigador Responsável: Dra. Ida Vanessa D. Schwa rtz. Serviço de Genética

Médica, Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande

do Sul, que está à disposição para esclarecimentos pelo telefone (51) 21018011.

Paciente: __________________________________________________________

Prezado paciente ou responsável,

A doença de Gaucher é uma doença genética que ocorre devido à deficiência

ou a baixa atividade da enzima glicocerebrosidase. Divide-se em três tipos: o I, no

qual o paciente não apresenta sintomas de envolvimento do sistema nervoso central

e os tipos II e III, nos quais estes estão presentes.

Os sintomas são variáveis para cada indivíduo, mas as queixas mais comuns

em pacientes não tratados são:

• palidez, cansaço e fraqueza, devido à anemia;

• sangramento e manchas roxas, por diminuição do número de plaquetas;

• dores nas pernas e nos ossos, por osteopenia e osteoporose;

• dor e distensão abdominal, por aumento do baço e do fígado.

O tratamento é feito através da terapia de reposição enzimática (TRE),

realizada em infusões quinzenais. Esta terapia tem permitido a reversão de diversos

sintomas e a melhoria da qualidade de vida dos portadores desta doença.

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O objetivo deste trabalho é avaliar o estado nutricional, o gasto energético em

repouso e a ingestão alimentar dos portadores da doença de Gaucher, que estão em

tratamento e são atendidos no ambulatório de genética do HCPA.

Serão convidados a participar todos os pacientes com doença de Gaucher atendidos

no Centro de Referência Estadual para Diagnóstico, Acompanhamento e Tratamento

da Doença de Gaucher do Serviço de Genética Médica do Hospital de Clínicas Porto

Alegre (SGM-HCPA). O paciente que aceitar participar dessa pesquisa:

1) terá seus dados antropométricos históricos copiados dos prontuários;

2) passará por uma avaliação antropométrica: durante consultas ou infusões terão

suas medidas (peso, altura, circunferência abdominal, circunferência do quadril,

circunferência do braço, dobra cutânea tricipital e dobra cutânea subescapular)

aferidas com tempo de duração prevista de 5 minutos. A aferição das dobras

cutâneas se constitui num procedimento não-invasivo e indolor para medir a

quantidade de gordura subcutânea. Ela será feita com um adipômetro, no braço

direito e na região subescapular.

3) responderá ao Inquérito Recordatório de 24 horas durante as suas consultas ou

infusões, com tempo de duração prevista de 25 minutos para cada recordatório.

O paciente ou seu responsável responderá sobre a ingestão alimentar no dia

anterior a consulta.

4) fará um teste de calorimetria indireta seguindo orientações prévias (repouso e

jejum), para avaliar o gasto energético em repouso. A calorimetria indireta é um

método não-invasivo que determina as necessidades nutricionais e a taxa de

utilização dos alimentos a partir do consumo de oxigênio e do gás carbônico

obtidos por análise do ar inspirado e expirado pelos pulmões.

Você tem o pleno direito de se recusar a participar do estudo e esta recusa

não afetará de nenhuma maneira a assistência recebida no Hospital de Clínicas

Porto Alegre.

Você ou seu familiar podem não ter algum benefício direto com esta pesquisa.

Porém, os procedimentos aos quais os participantes do estudo serão submetidos

poderão gerar novos conhecimentos científicos com consequente melhoria do

tratamento aos pacientes. As informações desta pesquisa serão mantidas em sigilo,

sendo apenas utilizadas de forma científica e anônima, em relatos especializados.

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Caso alguma informação derivada desse estudo seja importante para você, todo o

esforço será realizado para informá-lo.

O estudo será desenvolvido durante o ano de 2007, 2008 e 2009.

ESCLARECIMENTO DE DÚVIDAS

Os pesquisadores responsáveis por esse projeto são Dra. Ida Schwartz que

está à disposição no Serviço de Genética Médica do Hospital de Clínicas Porto

Alegre para esclarecimentos pelo telefone (51) 21018011.

AUTORIZAÇÃO PARA PERMITIR PESQUISA DOS REGISTROS MÉ DICOS

Você tem direito à privacidade. Os resultados deste estudo poderão ser

publicados, mas o seu nome não será revelado e todo esforço será feito que a sua

identidade não seja revelada. Por meio deste termo, você autoriza que os

pesquisadores envolvidos neste estudo pesquisem os seus registros médicos a fim

de obter as informações necessárias para a realização desta pesquisa.

RECUSA OU DESCONTINUAÇÃO NA PARTICIPAÇÃO DO ESTUDO

Sua participação no estudo é voluntária. Se você decidir não participar do

estudo, isto não afetará em nada o seu tratamento no seu hospital. A sua

participação pode também ser interrompida a qualquer momento por você mesmo

(a). Em qualquer caso, você não será penalizado (a).

Pelo presente termo, você declara que foi informado (a), de forma clara e

detalhada sobre a presente pesquisa, e que teve suas dúvidas esclarecidas por

______________________________________________________. Declara ter sido

esclarecido que não receberá nenhuma remuneração financeira pela participação no

estudo. Declara que foi informado da garantia de receber resposta ou

esclarecimento sobre a pesquisa a ser realizada, bem como da liberdade de não

participar do estudo e da possibilidade de desistir, em qualquer momento, da

participação. Além disso, declara que recebeu cópia deste termo de consentimento.

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Data: ___/___/_____

Nome do Paciente: ____________________________________________________

Assinatura: __________________________________________________________

Responsável legal: ____________________________________________________

Assinatura: __________________________________________________________

Eu expliquei a _____________________________________________ os objetivos,

riscos, benefícios e procedimentos necessários para esta pesquisa, e entreguei

cópia deste termo de consentimento para o mesmo.

Data: ____/_____/_____

Nome: ______________________________________________________________

Assinatura: __________________________________________________________