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Livro 201 com cheiro de café Tânia C.N.Berti 1ª edição Rio de Janeiro - Brasil Ano 2013

T nia C.N - perse.com.br · um prazer tão agradável, que não há nada com que se compare; e só o sabe avaliar quem chegar a ter a ... onde, do alto, fazem um piquenique e são

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Livro 201 com cheiro de café

Tânia C.N.Berti

1ª edição

Rio de Janeiro ­ Brasil

Ano 2013

Agradecimentos

Agradeço a uma incrível mulher que escolhi para ser minhamãe e que amo.Ao Universo que “conspirou ao meu favor” colocando emmeu caminho o meu amado e amigo marido.Ao presidente da doutrina filosófica e espiritualistaRacionalismo Cristão, sr. Gilberto Silva e ao radialista daRádio a Razão, sr. Roberto Cid que, sem perceberem, muitome incentivaram.E, por fim, muito tenho a agradecer ao Padre Antônio Vieirapor nos ter deixado neste mundo seu brilhante acervo literário.

“São os livros uns mestres mudos que ensinam semfastio, falam a verdade sem despeito, repreendem sempejo, amigos verdadeiros, conselheiros singelos; eassim como à força de tratar com pessoas honestas evirtuosas se adquirem insensivelmente os seus hábitose costumes, também à força de ler os livros se aprendea doutrina que eles ensinam.Forma-se o espírito, nutre-se a alma com os bonspensamentos; e o coração vem por fim a experimentarum prazer tão agradável, que não há nada com que secompare; e só o sabe avaliar quem chegar a ter afortuna de o possuir.”

Padre Antônio Vieira

Roberto Cid, obrigada por sempre proferir esta citação poética.

Livro 201 com cheiro de café

Capítulo 1

– Que brilho é aquele? Que luzes são aquelas sobre aponte e sobre o mar?

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Capítulo 2

Temos hoje uma linda manhã de domingo, com osraios de sol aquecendo nossa pele, e nosso solo, e deixando aágua do mar mais brilhante e energizada.

Minha mulher carinhosamente me chama na cozinha epergunta se eu poderia comprar umas coisas para ela, euprontamente respondi que “sim, agora mesmo”. De posse dasrecomendações, peguei o carro e parti em direção ao mercado.

Sempre morei no interior dos Estados Unidos, massem motivo aparente, desde pequeno, eu tinha uma atraçãoarrebatadora por uma cidade da costa oeste. Então quando mecasei fui morar a 27 km desta cidade em uma bela econfortável casa na rua dr. Gilmartino, na cidade deBelvedere. Eu tenho uma vida muito tranquila com minhaesposa, nos entendemos muito bem, somos felizes. Contudoeu vivo atormentado por uma visão inexplicavelmenteimaterial.

De volta pra casa, passando pelo canteiro central, paroe penso: eu entro na rua que me levará à minha vida real ousigo em frente e saio na estrada? Estrada que levará meucorpo a sobrevoar através da ponte laranja e depositará meuspés apenas no chão, frente às casas vitorianas.

Não sei explicar! Mas quando eu olho em direçãoàquela cidade, meu sangue agitado dilata minhas veias equando eu piso naquelas terras meus batimentos cardíacos,abruptamente, tentam me convencer que há algo acontecendoe, claro, eu preciso descobrir o que é.

Eu já conhecia quase todas as casas vitorianas daquelelugar. Neste instante, estou eu, de frente a uma simples,graciosa e, ao mesmo tempo, estonteante residência de dois

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pavimentos, pintada de bege, cuja pintura é tão perfeita quenem um cisco se arriscaria a pousar naquelas paredes. Norádio do carro toca: Rapsódia sobre um Tema de Paganini(18ª Variação) do compositor russo Sergei Rachmaninoff.Trata-se da melodia que fez parte da trilha sonora do filme“Em algum lugar do passado” de 1980, com ChetSwiatkowsky ao piano, num arranjo do compositor britânicoJohn Barry, que faleceu ano passado (jan-2011).

O som triste do violino fez meu tempo cronológicoparar. Creio que não respirei por alguns segundos; meusouvidos ensurdeceram; minhas pernas não mais se moviam;meu corpo estava ali sozinho, sem mim.

Fui à busca de minha mente que partiu para outradimensão. Eu sentia que aquela casa tinha vida... a minhavida!

O som do celular me sacudiu, e fez com que meucoração bombeasse novamente o sangue para todo meu corpoe voltei do surreal.

O que havia de especial neste lugar que sempre mechama para sua companhia? E esta casa, que eu nunca tinhavisto, como eu podia senti-la tão familiar? Minha vida passoua ter outro sentido. Fiquei confuso!

Lembrei-me que tinha uma tarefa: levar as compras.

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Capítulo 3

Ele ama a sua vida. Sente-se realizado com o seutrabalho. Adora sua casa e a cidade na qual mora, e éperdidamente fascinado por sua mulher. Ela o conquistava, àsvezes pelo seu jeito moleca, outras vezes, pelo jeito de mulherséria e eloquente. E, ele não sabia qual das duas gostava mais.

Se existem almas gêmeas, podemos dizer que aquelecasal tinha uma alma acoplada a outra, formando apenas uma.

Sophie sai, praticamente todos os dias, pelas ruas àprocura de animais a fim de cuidar deles, alimentá-los e,quando possível, resgatá-los. Foi por esse amorincomensurável pelos animais que Greg deu a ela, comopresente de aniversário, uma loja especializada em oferecerserviços para animais, como banho e tosa, além decomercializar alimentos, acessórios e perfumaria. Assim, elateria um lugar mais apropriado para cuidar melhor dosbichinhos até encontrar um lar apropriado para eles. E, ainda,com o lucro da “Meus Amigos Fiéis”, poderia aumentar onúmero de beneficiados. Enfim, poderia dedicar-se maisàqueles que tanto ama. Sophie ficou tão maravilhada com asurpresa que no dia da inauguração colocou um aviso naporta: “Hoje o banho é obrigatório e por conta da casa”. Nasprimeiras horas do dia, com ajuda de um dos doisfuncionários, ela saiu às ruas a procura de mais cães e gatospara dar-lhes um bom tratamento e conseguir-lhes um lar.Cortou, lavou, secou, penteou, ganhou rosnados, mordidas,arranhões e muitas lambidas.

Sophie divide bem suas tarefas, sempre conseguehorário para tudo, e não deixa de fora as ricas leiturasliterárias.

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Nos finais de semana, quando o casal, não sai de carropara passear em alguma cidade vizinha, eles fazem agradáveispasseios matinais.

Geralmente aos sábados, quando o dia está propício,eles pedalam até Sausalito, com algumas paradas na pontepara descansar e aproveitar a paisagem, almoçam por lá, ouvão de carro até Marin Headlands, onde, do alto, fazem umpiquenique e são agraciados pela estonteante vista panorâmicada cidade de São Francisco e da baía, e da esplendorosaGolden Gate.

Sophie fecha seus olhos, enche o peito e respira o maisiluminado e puro ar daquele pequeno pedaço do paraíso.

Os domingos são especialmente reservados àscaminhadas. Entre outros lugares, eles gostam muito de ir atéa velha guarda costeira, onde ficam abraçados admirando asondulações das águas da baía; a ponte Golden Gate que é amenina dos olhos de Sophie; e mais toda aquela paisagem quecomo eles dizem: “é de tirar o fôlego!” Depois, andam até aoCampo Crissy, onde ficam mais algum tempo até a hora dealmoçar em um simpático restaurante nas localidades.

Greg adora a comida que Sophie prepara, mas aosfinais de semana ele diz: “nada de cozinha!”. Ele a quer sópara ele.

Quando retornam a casa, antes de se sentarem em suasconfortáveis poltronas, Greg prepara o suco predileto deSophie: abacaxi com menta.

Hoje ele começou a ler: “O Sétimo Papiro” deWilbur Smith, e ela está relendo a “A Vida Fora daMatéria” de uma doutrina espiritualista. Este livro lhe foiindicado de maneira muito intrigante: em uma das tardes,como de costume, Sophie estava alimentando um gatinho noFisherman's Wharf, quando surgiu um senhor muitosimpático e gentil que se aproximou dela e puxou conversa

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sobre o felino, enquanto, o acariciava.

“Vejo que o jovenzinho ganhou uma mãe adotiva”. E,acrescentou: “A pessoa que tem amor pelos animais e pelanatureza, se conhece como partícula da Força Criadora econhece a importância de cuidar bem deles”.

Os olhos de Sophie se encheram de lágrimas, pois elasentiu naquela voz uma força incomensuravelmente pura.Aquele senhor parecia um anjo, com olhar iluminado deamor fraterno. Por alguns segundos, Sophie permaneceufitando a energia vibratória daquele ser. Ficaramconversando tempo suficiente para que ele a indicasse aleitura do livro (o qual ela está relendo).

Ele deu alguns passos e virou as costas para seguirseu caminho.

– Espere, por favor, não sei o seu nome! – Sophiedisse ansiosa.

Ele apenas a olhou carinhosamente, e sorriu!A imagem e as palavras daquele velho homem não lhe

saíram mais da memória, e Sophie quando saiu do parque foidireto a uma livraria.

À noite, Greg, ao chegar em casa, foi recebido pelaesposa que estava aflita. Ela tinha nas mãos o livro, cujomarcador já se encontrava a um terço das páginas iniciais.

– Venha, sente-se aqui, preciso te contar algo muitointeressante e estranho – e contou sobre o misterioso homem.

No dia seguinte, no refeitório onde Greg estavaalmoçando, seus colegas o chamaram para que ele olhasse aTV. – Greg olha lá... é a Sophie! – disse Eduard.

Tratava-se de uma reportagem no Fisherman's Wharfem que dois turistas, abordados por um repórter, apareciamfrentes às câmaras, e ao fundo, um pouco mais distante,

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estava Sophie sentada próxima às cercas que separam o deckdos barcos.

Greg ficou parado, se esticando e resmungou – Comquem que ela estava falando?

– Com ninguém – respondeu o Eduard.– Mas, ela está conversando e gesticulando, não está

vendo?– Ahhh, meu amigo, só se for com alguma formiga.Aflito, Greg pegou o celular e ligou para mulher que

estava também almoçando em casa – Querida, liga rápido aTV.

Sophie ligou. Ficou estarrecida! O celular caiu desuas mãos.

– Alô, Sophie você está aí? Meu bem? O que houve?Depois de uns minutos, ela retornou a ligação do

marido e com a voz abafada e trêmula, disse: – Você viuaquilo? Aquele senhor não apareceu nas câmaras... Euestava conversando com ele, mas por que ele não apareceuna TV ao meu lado? Como isso aconteceu?

Ela ficou emudecida por alguns segundos, depoisdisse: – A Vida fora da Matéria! Vou desligar, tenho queterminar de ler o livro, à noite conversaremos.

Assim à noite, enquanto jantavam, ela novamentefalou que nunca tinha visto um olhar tão puro, tão humano etão iluminado como o daquele senhor.

– O fato dele não ter aparecido diante das câmaras,comprova, e este livro explica, que ele não tinha um corpofísico, e sim um corpo fluídico. Entendo agora, o porquê deletransmitir tanta energia vibratória e uma bondade infinita.Ele estava ali como espírito.

– Estou me sentindo muito feliz, envolta em grandeharmonia. Eu sei que isto tudo não aconteceu por umadádiva, mas certamente, tem um motivo.

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– Em que você está pensando? Por qual motivo oespírito daquele senhor teria aparecido para você?

– Para me dizer que existe vida fora da matéria,justamente o título deste livro – E, esticou o livro para Greg.– Com certeza para nos fazer pensar sobre a existência dealgo muito superior à nossa vida terrena.

– Isto tudo é bastante estranho para mim, não consigodigerir tão fácil como você.

Sophie pergunta: “Meu bem, você está gostando dolivro?”.

– Sim, é muito interessante! Quanto ao seu, nãopreciso nem perguntar, pois você o está relendo, não émesmo?

– Estou, é maravilhoso, você também deveria começara ler.

– Conforme você diz: tudo tem seu tempo.Greg levantou-se e serviu mais suco para Sophie.

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Capítulo 4

– Ahhh…. Sonhos...São oito e meia de uma cinzenta manhã de segunda-

feira. Novamente passei por uma noite agradável.Eu estava, com uma amiga, andando pelas ruas do

centro da cidade em que moro, em direção a algumacondução para nos levar para casa, quando a energiaelétrica faltou em pleno carnaval e um breu se fechou à nossafrente. Vimos pequenas luzes de lanternas conduzidas pelopessoal da segurança das ruas. Paramos e aguardamos asluzes se aproximarem. Um homem de cerca de trinta anos,armado, veio até nós dizendo que iria nos encaminhar a umlugar seguro. E nos levou até uma grande e aberta scâniavermelha. Nos deu um chicote e nos aconselhou a ficarmosali e, caso algum estranho se aproximasse, eu deveria lançá-lo ao chão com bastante pressão. “Este chicote tem o poderde cortar a garganta de um homem, seja ele de que tamanhofor”. Assim, ele disse e saiu.

Naquele caminhão, eles preparavam cachorro quentee sopa, para o pessoal da corporação que trabalhavamvirando noites nas ruas. Aceitamos o cachorro quente àbrasileira, com linguiça e molho de pimentão e tomate.Tomamos guaraná. Muito bom! Depois de uns quarentaminutos, o corpo físico de 1m e 75cm, de pele bronzeada ecabelos castanhos, retornou.

Em meio a tantos assuntos sobre carnaval esegurança, ele se dirigiu a mim e chegou bem perto como sefosse falar baixinho, como se fosse contar alguma gafe deseus colegas. Entretanto de sua boca não saiu uma palavra.Aproximou seu rosto do meu e pude sentir o calor de sua

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respiração e, devagarinho, seguindo em direção do meuouvido, senti o ar que saía da sua boca e, da mesma forma, opelo do seu rosto acariciou as penugens de minha face e seuslábios quase tocaram pela esquerda os meus.

Acordei com o som das sirenes altas de algum carro debombeiros.

Levantei-me ainda atordoada, lavei meu rosto com aágua fresca da serra, passei um hidratante e fui preparar ocafé, que os especialistas dizem ser o mais importante: “nocafé da manhã: coma como um rei, almoce como um príncipee jante como um plebeu".

Portanto, dois ovos fritos em um pouco de margarinalight, duas fatias torradas de pão integral, um pedacinho dequeijo minas e um café deliciosamente quente.

Há algum tempo eu sentia, não a vontade, mas anecessidade de adquirir uma máquina caseira de caféexpresso. E, ontem, a transportadora me entregou uma dessas,tipo italiana.

Coloquei os grãos e a liguei. Enquanto preparava astorradas, fui apreciando o aroma irresistível que proliferavadaquela máquina mágica.

Eu a nomeei de “mágica” porque aquela máquina, aotriturar os grãos de café, produziu um efeito que me fez,incrivelmente, sentir o aroma da alma daquele ser que semconvites sempre adentra em meus sonhos. Este perfume medeixou convicta de que existe, de fato, tal alma iluminada, sónão sei se ocupando um corpo físico ou não.

Neutralizada fui tirando meu café expresso! E, agoraseu aroma foi evocando em mim cenas, como se fossem deum filme, de um homem que abastecia de grãos de café umamáquina industrial.

O curioso é que tal efeito emotivo do aroma foipropulsor de uma poderosa alegria e bem-estar. Não me

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recordo de ter passado por situação semelhante ao sentir estecheiro do café, portanto tenho consciência de que não se tratade uma faceta da minha memória involuntária, aquela que nostraz à tona, de maneira repentina, nosso passado vivo, e quepode ser causada por algo que ative um dos nossos sentidos,como, por exemplo, o olfato e este pode até estar maisdiretamente associado às emoções do que a visão e audição.

Bom! Tomei um café forte para voltar ao meu mundoreal, que é quase ótimo!

Começo a enfrentar as tarefas do dia. Preciso sair, poistenho duas entrevistas em jornais, nos quais, quero apresentaros meus artigos para publicação.

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