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Motriviancia
SUJEITO FINGE-DOR*
Mauricio Roberto da Silva**
Niio sou ingénuo,sou apenas romOntico.Sou ao mesmo tempoum sujeito brincante e fingidor:
finjo que minto e finjo dizera verdade;finjo que ndo vejo, vendo...finjo que nao canto, contatzdoestrelas...Niio sou tonto,sei a dor de perder a bola-de- nzeianum mundo de acrilico e plastic°.Sou contista de histOrias drattuiticas
e contador de estOrias exuberantes.Nilo sou ingénuo,
sou apenas quimerico,nä° sou numeric°,sou esoteric°.Sou um cientista que sofre
e goza, chora e ri no mesmotempo do tempo em que viveAlen, de tudo sou um poeta desvai-rado,
alegre e desesperado.Sou orvalhado de lagrimas esorrisos.
Niio sou ingenuo, sou quebrado,sou verdadeiro e sou inteiroA minha sabedoria e exalamentenao sabermuito embora saiba da dorda hitnina das decadase dos seculos...Na verdade sou um sujeitonunto falante, sou errante,sou metafOrico.
Adoro acender as luzes
da casa quando toda
a familia donne,quando todos Os ladriiesestao .soltos pelas ruas geladase as casas cerradas.
Adoro apagar as estrelasquando todos os mendigosmorrem de frio.
Adoro dormir em camas !tiros
* SILVA, Nlauricio. Infancia e Barbaric: tratos e mans-tratos coin a crianca brasileira. FE/Departamentode Ciencias Sociais Aplicadas Educactio/UNICAMP, I 996, mimeo.
** Professor do Departamento de Recreacao e Prat ica Desportiva/Centro de Desportos/UFSC.Doutorando em Educacno/Departainento de Ciacias Sociais A pl icadas a Educac5o/FE/UNICAMP.Bolsista do P1CD/CAPES.
Dezembro, 1996
odeio o conforto das caixasde papelao corn propaganda estam-pada.
O que eu mas sinto prazer
escrever corn uma das moos
cheia de bolinhas de gude
corn a outra empinar
a borboleta dos meus sonhosOh! Minhas pipas, minhaspandorgas,
meus sexos violados sem violas...
Oh! Minhas pipas, minhas prithes
liberdades,
todas voando nas noites de papelbronco,
nas quais revelo todos as gozosnas manilas escuras de meu pals,
nas quais revelo todas as dores.
Sou capaz de fazer de tudocom minhas pernas-de-pau gigantes
corn os meus bravos de elastico
Sou capaz de reinventar o sujeito,de reinventar tintas e horizontes.
Para mim o horizonte a azul
o ceu a escarlate...
Nilo sou capaz de motor,
sou capaz de nascer.
Sou um poeta e um fingidorum sujeito agudo e obtuso
sem ser de todo falso.
Escrevo corn as visceras vitoriosas
dos sobreviventes e a coracao dostombados em
praca pablica;
escrevo com o calo do labor e orocar
do meu sexo
a ausencia do sabor;
escrevo com o riso do brinquedo,
medo da assombrocao
o terremoto do coracao.
Quero sempre poder escreversobre este tempo maravilhoso ehediondo em que vivo.Escrevo como vivo e como morto,como morto-vivo...Ainda you escrever sabre beijosprecocemente roubados
sobre coitos e bacanais a luz
do sol da noire.Escrevo sempre sobre bofetoes
caricias torpes, sobre Unguascortantes, minguas dilacerantes
dedos penetrantes.
Quero lhes con tar hoje dos ruas
desertas e das casas cheias
das lambidas de gatos pretosanzordacados.
Quero lhes colour dos orgasmos e
das facas me partindo ern pedacos
temperados.
Query lhes falar da tnordida
tatuada no pescoco e do
liquid() preto escorrendo pela boca.
Quero tambem lhes Mar de
ninhos e assobios,
de cafunes e pontapes,
de jardins desertos
desertos floridos.
Gostaria mais e tnais de escreversobre o
tempo de achado.s e perdidos,
encontrados e abandonados.
Este tempo que e um tempo de
resgate das pequenas e grandes
vaimas da explostio da
Quero dos beijos todas as violencias
e dos abracos todas as reminiscen-cias.Escrevo hoje ainda com o rosto decientistae o coractio de artista;
escrevo hoje corn alegria, tropecos,recomecos, indignacdo e indagaciiosobre o tempo barbaro que construt.Sou um poeta, um cientista, umsujeito:um poeta que senteum cientista que menteum sujeito que finge
Sou um sujeito fingidordisposto a representar os papeis deanjo e demOnio,vaima e algoz que habitam nointerior do coraciiodo pais barbaro de cada um denos...
Para acabar coat essa histOria
mando um recado para todos os
adultos do mundo, paw todos os
donos de plantactio, bancos,edtficios,
fabricas e boatels:
voces que idium-am meus desejos,
voces que cuspiram nos meus beijos,
voces que enterraram tninhasbonecas,
Mofririticia
voces que viajaram milhOes dequilOmetros
na boleia do meu camedozinho delata,
voces que palmearam os meus
lampejos e fizeram nascer meus
ais, meus pelos e apelos...Voces que deratn de presenceum calo e um prato de comidapodre,voces que me fizeram carregar
fardos de fibres para os meus entesvoces que fizeram carregar tonela-dasde algoddo e cimento bruto...Voces que me fizeram cortar acana para beber o fel.Voces que apagaram todas asvelas acesas em minha homenagem
deixaram o mundo no escuro...A Voces que me obrigaratn a marchar
comp soldados impiedosos por entreas moitasbelicas do meu bairro,A Voces que arrancaram dagarganta o "samba-lele-ta-doente"
dos meus ouvidos o "boi-da-cara-preta",A Voces que me fizeram de escravo-de-B, escutem bent:ainda you brincar de roda,
ainda you contar estrelas,ainda you ensinar voces a
semear plantaciies e construircasas,
ainda you ensinar voces a mentir
a fingir de verdade...