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Subúrbios 2025. Que estratégia para as periferias metropolitanas? Telma Cordeiro Fróis Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Urbanismo e Ordenamento do Território Orientador: Professor Doutor Jorge Manuel Gonçalves Júri Presidente: Professora Doutora Maria Beatriz Marques Condessa Orientador: Professor Doutor Jorge Manuel Gonçalves Vogal: Professor Doutor Luís Alberto Torres Sanchez Marques de Carvalho Outubro de 2015

Subúrbios 2025. Que estratégia para as periferias metropolitanas? · Grata ao meu avô que me mostrou ao longo da vida o que é a ambição. ... 18 Figura 7. O surgimento de anéis

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Subúrbios 2025.

Que estratégia para as periferias metropolitanas?

Telma Cordeiro Fróis

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Urbanismo e Ordenamento do Território

Orientador: Professor Doutor Jorge Manuel Gonçalves

Júri

Presidente: Professora Doutora Maria Beatriz Marques Condessa

Orientador: Professor Doutor Jorge Manuel Gonçalves

Vogal: Professor Doutor Luís Alberto Torres Sanchez Marques de Carvalho

Outubro de 2015

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Agradecimentos

Agradeço ao meu orientador, professor Jorge Gonçalves, pela creditação, pela perseverança e

sobretudo pelo estímulo transmitidos ao longo do processo conducente à versão final da

dissertação.

Obrigada aos meus amigos pela falta de intransigência, pelo carinho, pela sinceridade e também

pela energia positiva. As saudades foram uma inspiração para alcançar um resultado do qual

não me deixaram desacreditar. Um reconhecimento distinto ao Rossano pelo pleno apoio.

Grata ao meu avô que me mostrou ao longo da vida o que é a ambição.

Aos meus pais agradeço por me ensinarem o que é a humildade, desejo profundamente que se

orgulhem de mim.

Um agradecimento especial à minha irmã, a minha verdadeira amiga de todas as horas.

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Resumo

O crescimento populacional mundial apesar das oscilações e assimetrias tende a estabilizar.

Nesta transição populacional serão os subúrbios o território com maior capacidade de atração.

O território periférico é uma questão-chave na monitorização da qualidade de vida da população,

constituindo-se como um problema e um desafio em termos de ordenamento do território e de

planeamento estratégico.

A revisão documental, auscultando as caraterísticas consideradas da Área Metropolitana de

Lisboa (AML) por organismos independentes - CCDR-LVT, INE, DGT, AML - permite aferir a

realidade considerada no planeamento do território em observação. Constata-se que esta

realidade necessita de aprofundamento.

A análise retrospetiva dos programas de requalificação socio-urbanística implementados -

POLIS, PROQUAL, IBC - permite verificar as principais transformações ocorridas recentemente

nos territórios críticos da área metropolitana derivadas de políticas públicas encetadas por

instrumentos territoriais.

A síntese prospetiva das linhas estratégicas em vigor - PROT AML, Lisboa 2020, POR Lisboa,

PAR Lisboa, PDCT - AML - equaciona as considerações do território que se ambiciona.

A compilação da informação permite verificar a existência de várias estratégias definidas para a

AML ao nível da requalificação urbanística. Verifica-se um efeito indireto das políticas existentes.

Não se constata a operacionalidade, a adequabilidade e a eficiência das estratégias delineadas,

devido sobretudo à redução do investimento comunitário.

Os territórios marginalizados na AML estão devidamente sinalizados, contudo devido à crise

económica não há uma estratégia concertada e equacionada para a reversão problemática

verificada no horizonte temporal hipotético estipulado de 2025.

PALAVRAS-CHAVE: Subúrbios; Retrospetiva; Prospetiva; Planeamento estratégico; Políticas

públicas; Instrumentos territoriais

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Abstract

The global population growth despite fluctuating asymmetries and tends to stabilize. In this

population´s transition the suburbs are the territory with greater capacity for attraction. The

peripheral territory is a key issue in monitoring the population's quality of life, establishing itself

as a problem and a challenge in terms of spatial planning and strategic planning.

The documental review with consultation on the considered characteristics of the Lisbon

Metropolitan Area (AML) by independent agencies - CCDR-LVT, INE, DGT, AML - allows

assessing the reality considered in the planning of the territory under observation. It appears that

this reality requires deepening.

The retrospective analysis of implemented social and urban redevelopment programs - POLIS,

PROQUAL, IBC - allows verifying the main changes which have occurred recently in the critical

areas of the metropolitan area derived from public policies initiated by territorial instruments.

The prospective overview of the strategic guidelines in force - PROT AML, Lisboa 2020, POR

Lisboa, PAR Lisboa, PDCT - AML - equates the considerations of territory that aims.

The compilation of information allows verifying the existence of a number of strategies defined for

AML in terms of urban requalification. There is an indirect effect of existing policies. Don´t is

possible see the operation, the adequacy and effectiveness of the strategies outlined, mainly due

to a reduction in community investment.

Marginalized territories in AML are properly marked, however due to the economic crisis there

isn´t a concerted strategy and equated to reversal the problem seen in the hypothetical time frame

stipulated 2025.

KEYWORDS: Suburbs; Retrospective; Prospective; Strategic planning; Public policy; Territorial

instruments

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Índice remissivo

1. Introdução .................................................................................................................... 1

1.1. Motivação/justificação ............................................................................................... 1

1.2. Metodologia utilizada ................................................................................................. 1

1.3. Estrutura e objetivos da dissertação ......................................................................... 2

2. Abordagem sistematizada dos subúrbios ................................................................ 4

2.1. Tipologias e morfologias influenciadoras da condição suburbana ................................ 4

2.2. Conceito de subúrbio e as suas abordagens recentes ................................................ 12

3. Problemática dos subúrbios na Área Metropolitana de Lisboa ............................... 21

3.1. Génese e evolução da condição suburbana de Lisboa na Área Metropolitana de

Lisboa ……………………………………………………………………………………………...21

3.2. Desafios e problemas: governação e intervenções ..................................................... 30

4. Retrospetiva e prospetiva suburbana da Área Metropolitana de Lisboa ................ 42

4.1. Abordagem metodológica utilizada .............................................................................. 42

4.2. AML – história de uma metrópole ................................................................................ 45

4.3. Passado e presente suburbano através dos Instrumentos de Gestão Territorial e

Instrumentos Territoriais ...................................................................................................... 49

4.3.1. Caraterização e estudo da Área Metropolitana de Lisboa ........................................ 51

4.3.2. Políticas, propostas e programas da Área Metropolitana de Lisboa ........................ 54

4.4. Prospetivar os espaços suburbanos ....................................................................... 61

4.4.1. Desafios que persistem ............................................................................................. 61

4.4.2. Estratégias em vigor na Área Metropolitana de Lisboa ............................................ 62

5. Conclusões .................................................................................................................... 76

5.1. Tendências e dinâmicas na Área Metropolitana de Lisboa ......................................... 76

5.2. Considerações finais .................................................................................................... 77

6. Referências .................................................................................................................... 82

ANEXOS .............................................................................................................................. 90

I. Inquérito ....................................................................................................................... 90

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Índice de figuras, tabelas e gráficos

Figuras

Figura 1. Ring de Viena (Áustria) .................................................................................................. 5

Figura 2. “Rail houses” (1850); “Dumbell houses” (1879-1887); e projeto de vivendas (1889) em

Gallion (Nova Iorque) .................................................................................................................... 5

Figura 3. Letchworth (Inglaterra) ................................................................................................... 7

Figura 4. Esboço de Boston (Massachusetts) ............................................................................ 11

Figura 5. Esboço de Midtown (Nova Iorque) ............................................................................... 11

Figura 6. Ciclo de Vida das Cidades ........................................................................................... 18

Figura 7. O surgimento de anéis suburbanos e sub-centros dentro de áreas metropolitanas ... 19

Figura 8. Enquadramento da AML no país, e respetivos municípios ......................................... 23

Figura 9. Processo de reconversão da propriedade imobiliária no final da década de ́ 60 do século

XX ................................................................................................................................................ 27

Figura 10. Primeiros exemplos de suburbanização programada na AML .................................. 27

Figura 11. Dinâmicas de crescimento suburbano em Lisboa no final da década de ´60 ........... 28

Figura 12. Estrutura ecológica-social de Madrid ......................................................................... 31

Figura 13. Fotografia aérea do Bairro dos Atores, 2012 ............................................................. 37

Figura 14. Fotografia aérea da Urbanização da Portela, Loures, 2010 ...................................... 37

Figura 15. Fotografia aérea do Lumiar, 2012 .............................................................................. 37

Figura 16. Crescimento da periferia nas margens da CRIL, Loures, 2010 ................................ 37

Figura 17. Colares, Sintra, 2014 ................................................................................................. 37

Figura 18. Área Urbana de Génese Ilegal, Loures, 2012 ........................................................... 37

Figura 19. Zona norte da EXPO, Lisboa, 2012 ........................................................................... 38

Figura 20. Póvoa de Santa Iria, Vila Franca de Xira, 2012 ......................................................... 39

Figura 21. Encarnação, Lisboa, 2007 ......................................................................................... 39

Figura 22. Olivais Sul, Lisboa, 2012............................................................................................ 39

Figura 23. Brandoa (sul), Amadora, 2012 ................................................................................... 40

Figura 24. Brandoa (norte), Amadora, 2012 ............................................................................... 40

Figura 25. Cova da Moura, 2007 ................................................................................................. 40

Figura 26. Metodologia utilizada ................................................................................................. 43

Figura 27. Duas lógicas de organização da região de polarização metropolitana de Lisboa .... 47

Figura 28. Mapa de uso e ocupação do solo na margem norte e sul (respetivamente) da AML 47

Figura 29. Nova narrativa das formas de suburbanização ......................................................... 48

Figura 30. Construções ilegais na Cova da Moura (Amadora) ................................................... 62

Figura 31. AUGI na Cova da Moura (Amadora) .......................................................................... 62

Figura 32. Construção ilegal na Cova da Moura (Amadora) ...................................................... 62

Figura 33. Construções inacabadas no Bairro da Jamaica (Seixal) ........................................... 62

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Tabelas

Tabela 1. Contributos dos modelos provenientes de Ernest Burgess .......................................... 7

Tabela 2. Síntese de legislação com influência na expansão urbana ........................................ 34

Tabela 3. Classes do espaço urbano na AML ............................................................................ 37

Tabela 4. Análise de tipologias de urbanização reconhecidas formalmente na AML ................ 38

Tabela 5. Análise de tipologias de urbanização de génese ilegal e não reconhecidas na AML 40

Tabela 6. Principais respostas de políticas urbanas na UE ........................................................ 50

Tabela 7. Lista dos organismos independentes produtores da documentação analisada ......... 51

Tabela 8. SWOT da revisão documental produzida pela CCDR-LVT ........................................ 52

Tabela 9. SWOT da revisão documental produzida pelo INE .................................................... 52

Tabela 10. SWOT da revisão documental produzida pela DGT ................................................. 53

Tabela 11. SWOT da revisão documental produzida pela AML ................................................. 53

Tabela 12. Programas e projetos de cooperação de requalificação sócio urbanística na AML

(1974- 2015) ................................................................................................................................ 54

Tabela 13. Ficha-síntese do Programa de Requalificação Urbana e Valorização Ambiental de

Cidades (POLIS) ......................................................................................................................... 55

Tabela 14. Ficha-síntese do Programa Integrado de Qualificação das Áreas Suburbanas da Área

Metropolitana de Lisboa (PROQUAL) ......................................................................................... 57

Tabela 15. Ficha-síntese da Iniciativa Bairros Críticos (IBC) ..................................................... 59

Tabela 16. Ficha-síntese do Plano Regional de Ordenamento do Território da Área Metropolitana

de Lisboa (PROT AML) ............................................................................................................... 63

Tabela 17. Ficha-síntese de “Lisboa 2020 – Uma estratégia de Lisboa para a Região de Lisboa”

..................................................................................................................................................... 66

Tabela 18. Ficha-síntese do Programa Operacional Regional de Lisboa 2014-2020 (POR Lisboa)

..................................................................................................................................................... 68

Tabela 19. Ficha-síntese do Plano de Ação Regional de Lisboa 2014 - 2020 (PAR Lisboa) .... 70

Tabela 20. Ficha-síntese do Pacto para o Desenvolvimento e Coesão Territorial da Área

Metropolitana de Lisboa 2014-2020 (PDCT - AML) .................................................................... 73

Tabela 21. Síntese do Quadro de Investimentos comunitários aprovados na AML (2014-2020)

..................................................................................................................................................... 75

Gráficos

Gráfico 1. Evolução da utilização dos conceitos em livros entre 1800 e 2008 ........................... 13

Gráfico 2. Movimentos pendulares na AML em 2011 ................................................................. 24

Gráfico 3. População residente na Grande Lisboa (1940-2011) ................................................ 24

Gráfico 4. População residente na Península de Setúbal (1940-2011) ...................................... 25

Gráfico 5. Número de Fogos na Grande Lisboa (1940-2011) .................................................... 29

Gráfico 6. Número de Fogos na Península de Setúbal (1940-2011) .......................................... 29

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Lista de abreviaturas e acrónimos

AML - Área Metropolitana de Lisboa

AMP - Área Metropolitana do Porto

AUGI - Área Urbana de Génese Ilegal

CAOP - Carta Administrativa Oficial de Portugal

CCDR-LVT - Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo

CEE - Comunidade Económica Europeia

CREL - Circular Regional Exterior de Lisboa

CRIL - Circular Regional Interior de Lisboa

COS - Carta de ocupação do solo

DGT - Direção-Geral do Território

DPP - Departamento de Prospetiva e Planeamento e Relações Internacionais

FEDER - Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional

HLM - Habitation à Loyer Modéré

IBC - Iniciativa Bairros Críticos

IGT - Instrumentos de Gestão Territorial

INE - Instituto Nacional de Estatística

IT - Instrumentos Territoriais

LBPOTU - Lei de bases da política de ordenamento do território e de urbanismo

M€ - Milhões de euros

NUT - Nomenclatura das Unidades Territoriais

ORLVT - Observatório Regional de Lisboa e Vale do Tejo

PAR - Plano de Ação Regional

PDCT- AML - Pacto para o Desenvolvimento e Coesão Territorial da Área Metropolitana de Lisboa

PDM - Plano Diretor Municipal

PERLVT - Plano Estratégico da Região de Lisboa e Vale do Tejo

PIB - Produto Interno Bruto

PMOT - Planos Municipais de Ordenamento do Território

PNPOT - Programa Nacional da Politica de Ordenamento do Território

POLIS - Programa de Requalificação Urbana e Valorização Ambiental de Cidades

POR - Programa Operacional Regional

PP - Plano de Pormenor

PROQUAL - Programa Integrado de Qualificação das Áreas Suburbanas da Área Metropolitana de Lisboa

PU - Plano de Urbanização

QCA - Quadro Comunitário de Apoio

QREN - Quadro de Referência Estratégica Nacional

RJIGT - Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial

SMA - Standard Metropolitan Area

SMSA - Standard Metropolitan Statistical Area

UE - União Europeia

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1. Introdução

1.1. Motivação/justificação

A escolha do tema deve-se à perceção de necessidade de clarificação da problemática

suburbana. No que respeita à evolução da população mundial até 1750 (800 000 000 habitantes)

verificou-se um regime demográfico primitivo, a partir de então até 1950 (2 500 000 000 hab.)

ocorreu uma revolução demográfica, mas só após 1950 se viveu uma explosão demográfica

(2000 - 6 080 000 000 hab.; 2015 - 7 300 000 000 hab.), perspetivando-se um crescimento

moderado para 2050 (9 300 000 000 hab.) (U.S. Bureau of the Census, 2015). É evidente que o

crescimento populacional mundial apesar das oscilações e assimetrias tende a estabilizar, sendo

que se continuará a notar a ampliação de algumas áreas e o declínio noutras, evidenciando

contudo que os problemas do urbanismo em expansão acontecem da periferia para o centro

(Goitia, 2008).

Nesta transição populacional serão os subúrbios os territórios com maior capacidade de atração,

na medida em que, quer a sua tipologia quer a sua morfologia, os dotam de características

vantajosas para os que procuram um território que concilie da forma mais eficiente possível

vetores como a qualidade de vida ou o preço do alojamento. Sendo “missão de urbanistas, os

subúrbios germinaram com a consagração do urbanismo e a fixação de uma base doutrinária

legal a anunciar novos tempos e a alentar esperanças no desenvolvimento futuro das nossas

cidades” (Cavaco, 2009: 471). Os subúrbios são, por isso, uma questão-chave para definir a

melhor gestão de uma panóplia de problemas e desafios iminentes, como por exemplo, o

envelhecimento populacional, as questões ambientais, as assimetrias sociais, e as especulações

próprias do território. A diversidade suburbana reflete-se em diferentes tipologias e morfologias

que necessitam de diferentes respostas e estratégias (Forsyth, 2013).

1.2. Metodologia utilizada

As regiões metropolitanas constituem-se na atualidade como espaços singulares de inovação

para onde convergem pessoas e bens. Uma das abordagens recorrentes na discussão da

constituição e organização do espaço metropolitano reside na tensão entre as perspetivas

económica, demográfica e social, corporalizada na concorrência pelo espaço desocupado (Silva

e Vala, 2001).

No contexto das políticas públicas urbanas é fundamental avaliar quais os impactes que os

programas de requalificação sócio urbanística têm tido no contexto suburbano da AML.

Utilizando a AML como estudo de caso verificar-se-ão as caraterísticas do território verificando

possíveis diferenças entre a realidade existente e os problemas, questões, e estratégias

considerados em relatórios e estudos de caraterização territorial efetuados por instituições e

organismos independentes, através de uma análise retrospetiva. Também se visa percecionar a

consonância entre a realidade atual preconizada pela implementação de programas de

requalificação sócio urbanística e as diretrizes estipuladas em Instrumentos Territoriais multinível

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operacionais, setoriais e estratégicos visando uma análise prospetiva. As abordagens

mencionadas permitem verificar a adequação da estratégia do planeamento territorial atual na

AML, percecionando eventuais desigualdades suburbanas desagregadoras de uma considerada

agregação metropolitana.

Se numa fase inicial ocorre a pretensão de síntese e evolução da composição urbana e

consequente clarificação do conceito de subúrbio, numa fase posterior pretende-se a análise

sistematizada da interpolação do planeamento das áreas periféricas e respetiva realidade, com

equacionamento das necessidades circunscritas ao território, tendo em conta as potencialidades

e as condicionantes do passado, mas também as derivações especuladas de desafios e

ameaças de um futuro próximo (2025). Este suporte metodológico norteia todo o trabalho de

pesquisa, síntese e compilação de ilações patente na presente dissertação.

1.3. Estrutura e objetivos da dissertação

O objetivo geral da dissertação é perceber se existe uma estratégia definida para a periferia

metropolitana ao nível da requalificação sócio urbanística, verificando o efeito direto e indireto

das políticas existentes, assim como a operacionalidade, adequabilidade e eficiência dos planos

e programas afetos à Área Metropolitana de Lisboa (AML). No início procede-se a um momento

reflexivo da temática suburbana através de uma breve auscultação a vinte indivíduos e depois

são selecionadas palavras-chave derivadas do latente entendimento da temática que orientam

os primórdios da revisão bibliográfica. Torna-se essencial numa primeira análise fazer uma

abordagem sistematizada das cidades, o todo urbano, com abrangência transversal histórica,

geográfica e ideológica, procurando observar a lição do passado, “porque a vivemos e utilizamos,

a cidade do passado enriquece a memória e a cultura, aferindo e testando o pensamento

urbanístico atual” (Lamas, 2010: 133). Em primeira instância a cidade e os subúrbios são

analisados enquanto fenómenos e depois enquanto procedimentos atendendo à constatação de

necessidade de uma nova metodologia conciliadora do utópico e do real, dotando o planeamento

do conceito de estratégia (Cavaco, 2009). Neste seguimento a análise transversal do

entendimento da composição urbana será sedimentada com a constatação de tipologias e

morfologias distintas dos subúrbios nacionais e internacionais. A síntese conseguida permite

uma visão holística de uma problemática que apresenta diferentes características e abordagens

no tempo e no espaço. A revisão bibliográfica procura também perceber a origem e a

consequente utilização de uma parte específica do todo urbano, o conceito de subúrbio,

contextualizando na história a adequação do termo às diferentes realidades e necessidades

propensas ao ambiente urbano. Nesta etapa as ilações conseguidas serão fortuitas para o

processo seguinte de análise da problemática dos subúrbios, sendo crucial identificar e analisar

questões e soluções do passado e do presente, para melhor adequar os objetivos e as

estratégias para o futuro. Na fase de problematização é discutida a génese do subúrbio na AML,

são expressos os desafios dos subúrbios, e a posteriori identificados problemas a nível de

governação e intervenções subjacentes. Todo este processo será direcionado para a

compreensão do desenvolvimento da condição urbana metropolitana e da relevância e

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consideração da realidade suburbana numa área metropolitana. Na análise metodológica a

temática do subúrbio será observada a nível da AML, apresentando características e

disponibilidade de informação relevante para o estudo de caso. A compilação de informação

retrospetiva e prospetiva em matrizes permitirá concretizar o objetivo de perceção da existência

de coerência entre a realidade e o planeamento decorrido e em vigor. As caraterísticas atuais do

espaço suburbano confrontadas com os objetivos teorizados em planos, programas e estudos,

assim como com as estratégias contemporâneas de planeamento permitem também a síntese

de ilações, tendo em conta o que se quer feito, o que não foi feito, e o que pode ser feito, tendo

como horizonte temporal hipotético o ano de 2025.

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2. Abordagem sistematizada dos subúrbios

Numa fase preliminar de reflexão introdutória à execução da dissertação é a nível estatístico

auscultada uma amostra. Esta observação não conferindo caráter científico permite fundamentar

a posteriori a revisão bibliográfica referente ao objeto de estudo, o subúrbio. Perante um inquérito

(Anexos I) cuja pretensão é perceber qual a associação de termos mais notória, numa amostra

de vinte indivíduos, com repartição igualitária de membros entre especialistas de urbanismo e

não especialistas, os termos associados à temática de subúrbio são classificados. Enquanto para

os especialistas os termos mais reflexivos da temática suburbana são dormitório, construção

excessiva, desordem e distanciamento; para os não especialistas de temáticas urbanísticas os

termos dormitório e marginalidade são os mais significativos aquando da perceção do subúrbio.

Os termos evidenciados, assim como os termos sugeridos (conurbação e áreas metropolitanas)

orientam a pesquisa bibliográfica inicial de introdução à temática e facilitam a síntese de um tema

vasto e abrangente.

2.1. Tipologias e morfologias influenciadoras da condição suburbana

O estudo da temática suburbana tem de apelativo o tanto que tem de generalista e ambíguo.

Subentende-se a necessidade de extrapolar as dinâmicas e interações dos agrupamentos

populacionais causadores de mudança na composição urbana. A análise urbana consiste numa

abordagem histórica, descodificando o desenvolvimento de um território consoante as distintas

estratégias seguidas. Tendo em conta que “para os desígnios da história do urbanismo é

importante caminhar no sentido da mais correta compreensão do espaço urbano, na forma como

ele era entendido no momento da sua conformação” (Rossa, 2002: 17), e obstante o

aprofundamento da análise das cidades nos diferentes períodos históricos são compiladas as

principais características e críticas da composição urbana e suburbana dos últimos séculos,

através de um passado delineador de um presente urbano que se pretende eficiente no futuro.

A cidade-estado ou a polis grega tal como a civitas romana, aglutinadoras de territórios limítrofes

são cidades políticas que explicam o conceito estratégico primordial de cidade (Lefebvre, 1968),

sendo evidente que a “Antiguidade partiu da cidade” (Marx e Engels, 1968: 48). As trocas

comercias intensificadas na Roma Antiga e de igual modo as comunicações são respostas a

outras ambições estratégicas numa cidade plana que através da sistematização procurava

proteger-se mas também proliferar (Goitia, 2008). Na Idade Média, a cidade medieval

“desenvolve-se a partir do campo” (Marx e Engels, 1968: 48), as muralhas são o elemento de

defesa e delimitação territorial, circundantes de uma malha orgânica. Verifica-se contudo que as

cidades antigas com um caráter militar vão de forma gradual dando lugar a uma cidade que

responde sobretudo a interesses económicos. A expansão da cidade medieval deve-se à

expansão de mercado alicerçado num excedente económico derivado do setor agrícola, surgindo

a cidade mercantil. Henri Pirenne (1972: 51) refere que até então “não se conheciam cidades no

sentido social, económico e jurídico desta expressão”, considerando que “as cités e os burgos

não foram mais do que fortalezas e centros administrativos”. Através da abordagem histórico-

tipológica proposta por Raymond Ledrut (1968) perceciona-se o efetivo e progressivo processo

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social resultante da conversão da dominação rural em dominação urbana, consolidando a

dicotomia sincrónica entre o campo e a cidade. A cidade do Renascimento subdivide-se entre

cidade clássica e mediterrânica que permite, entre outras análises, a introdução do conceito de

cidade política/civil “onde os contactos primários predominam sobre os secundários” (Goitia,

2008: 11), em contraponto à cidade doméstica, característica da civilização anglo-saxónica

(Delfante, 2000).

Fazendo um interregno na evolução histórica e um paralelismo desta com a respetiva

composição suburbana, observa-se que ocorre a destruição das muralhas das cidades e é

conhecida uma alteração dos limites das mesmas, “a compressão das construções no interior

dos perímetros fortificados torna-se desnecessária e permite alterar o entendimento da cidade.

Devido às necessidades de consumo de solo pela industrialização e aumento demográfico, a

cidade invade o campo e alastra indiscriminadamente para fora das muralhas e fortificações”

(Lamas, 2010: 204), é com este processo que se inicia a construção de anéis viários envolventes.

José I em Viena impulsiona entre 1860 e 1870 um programa urbanístico inovador no império

austro-húngaro, reconhecido como o ring de Viena (Figura 1), envolvendo a cidade medieval

com um anel suburbano, dotando a pré-existência urbana com equipamentos e infraestruturas

que dão outra vivência à cidade como escolas e jardins (Tostões, 2012).

As classes de cidades apresentadas a partir da Revolução Industrial (1760) conjugam uma

resposta sociológica a problemas específicos que procuram uma rutura histórica radical, i.e.

cidade moderna e a cidade-jardim. Contudo esta transformação fica também expressa na

progressiva compressão do território (Figura 2), gerando as cidades compactas, transformadoras

inigualáveis do território, numa fase inicial implementadas nos Estados Unidos e reproduzidas

consoante a necessidade de expansão urbana, a partir de então conseguida em altura (Goitia,

2008).

Após o fenómeno social, económico e político gerado a partir de 1789 com a Revolução Francesa

e alavancado no motor gerador da Revolução Industrial há uma indução à crença no progresso

social e urbano no século subsequente. Contudo só no século XIX a noção de cidade começa a

Figura 1. Ring de Viena (Áustria) Fonte: Delfante, 2000

Figura 2. “Rail houses” (1850); “Dumbell houses” (1879-1887); e projeto de vivendas (1889) em

Gallion (Nova Iorque) Fonte: Goitia, 2008

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ser debatida, fazendo face a uma cidade inoperante que busca novas soluções através de

diferentes estratégias (Hall, 2011). Constata-se a evolução das cidades consoante ideologias

sociológicas apresentadas por distintos pensadores, expressando teorias de ordenamento

territorial reflexivas de correntes de pensamentos políticos. O século XIX é bastante complexo e

isso influencia a composição urbana (Lamas, 2010), sendo notória uma transformação

urbanística também devida à aparição de novos materiais como a fundição, o ferro, o betão

armado, e o vidro, alavancada num desenvolvimento fugaz das cidades que proporciona um

novo ritmo de construção (Pelletier e Delfante, 2000).

A conciliação da cidade com o campo sugere os primórdios teóricos do Modernismo,

concretizando-se no modelo de cidade-jardim, um dos primeiros momentos de planeamento

específico do subúrbio de uma cidade (Choay, 2010). Antes da disseminação do conceito de

cidade-jardim, em Inglaterra já haviam surgido algumas iniciativas percursoras, definidas como

“comunidades suburbanas de trabalhadores, com alta qualidade ambiental” (Rowe, 1995: 92),

i.e. Port Sunlight e de Bournville Village (Hall, 2011).

Em 1902, Ebenezer Howard publica a segunda edição do seu livro “Tomorrow, a peaceful path

to social reform” (1898), com o título alterado para “Garden-Cities of Tomorrow”, onde a cidade-

jardim constituía um modelo de organização social económica e territorial. Perifraseando José

Lamas (2010: 311) “a sua concretização implicaria um novo ambiente residencial de baixa

densidade com predominância de espaços verdes”, o que se revelou possível com a ocupação

dos subúrbios da cidade. A edificação suburbana esbate, deste modo, a distância territorial entre

a cidade e o campo. Os arrabaldes e os subúrbios foram assim transformados pelo conceito de

cidade-jardim de Howard, o qual preconizava um lugar de síntese, a simbiose entre duas

realidades, “ (de) todas as vantagens a vida mais ativa e enérgica da cidade, e toda a beleza e

encanto do país podem ser fixados em combinação” (Rowe, 1995:93).

Howard concretiza as suas ideias na edificação de Letchworth (1904) (Figura 3), de Hampstead

(1909) e de Welwyn (1919), cidades-jardim localizadas nos arredores de Londres, que

pretendiam envolver a cidade como pólos alternativos de desenvolvimento e fixação habitacional.

Os primeiros subúrbios-jardim descritos, que tiveram na sua génese as cidades-jardim, são os

arquivos mais notórios de um planeamento efetivo com preocupações ambientais e de qualidade

de vida para a população que habitaria na área periférica do núcleo central de uma cidade

(Pacheco, 2013).

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Figura 3. Letchworth (Inglaterra)

Fonte: Delfante, 2000

Nos Estados Unidos da América (EUA) na década de ´20 do século XX o crescimento urbano

começa a ser estudado sistematicamente. Nesta rutura do pensamento urbanístico surgem

estudos urbanos que tentam aplicar a ecologia à organização social urbana, liderados pela

Escola de Chicago (Miller, 2015). Interessa explanar os principais contributos de análise de um

dos autores desta escola, Ernest Burgess, que percebeu a génese de desenvolvimento urbano

em anéis suburbanos após a Revolução Industrial (Tabela 1).

Tabela 1. Contributos dos modelos provenientes de Ernest Burgess

Modelo concêntrico Chicago, 1920

Teoria do urbanismo e da organização social:

aperfeiçoamento do modelo da cidade, a cidade

desenvolve-se em círculos concêntricos;

Ecologia humana: a ordem ecológica da cidade

apresenta-se como o resultado de uma série de

processos de interação, como sendo a competição, o

conflito, a adaptação e a assimilação;

I – C.B.D; II – Zona de transição; III - Zona Industrial;

IV - Zona Residencial; V – Zona de mobilidade

pendular

Chicago (1840 - 5.000 habitantes; 1920 -

3.000.000 habitantes);

Teoria do urbanismo: a urbanização consiste no

desenvolvimento e na expansão do modo de

vida urbano;

Fenómenos: intenso processo de

industrialização, sucessivas vagas migratórias;

Pressupostos: valor do solo, transportes,

competição pelo espaço e invasão e sucessão

de populações.

Fonte: Hannerz, 1986

O Movimento Moderno readapta-se e adiciona o fator vontade para além da carência urbana. É

a partir de então que a escolha individual relacionada com interesses económicos legitima

também as intervenções urbanísticas (Ferreira, 2012). O urbanismo moderno tem como um dos

elementos basilares a Carta de Atenas (1933) e como percursor Le Corbusier. O progresso social

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assim como o progresso civilizacional pretendidos são a revelação da constatação de

necessidade de uma nova cidade para um novo Homem. Havendo por isso a necessidade

proeminente de redesenhar a cidade (Ascher, 2010).

Outro elemento basilar do modernismo é o contributo de Frank Lloyd Wright (1932), tendo

impulsionado a arquitetura modernista na cidade de Chicago e também nos Estados Unidos. A

proposta de Broadacre City consiste num modelo de desenvolvimento suburbano, onde é

antecipado o contexto suburbano vigente de fragmentação territorial dos subúrbios da cidade

(Ibidem). Assiste-se de forma gradual à transformação das cidades-modelo em cidades-

mercadoria (Teobaldo, 2010).

Depois da Segunda Guerra Mundial a necessidade de distribuição da população gerou um

significativo aumento do ritmo de ocupação dos arredores das principais cidades europeias. Em

França e em Inglaterra este processo surgiu associado à reconstrução, à planificação urbana e

territorial e às políticas criadas pelo Estado-providência. Os resultados a nível de alojamento

constituíram-se nos grands ensembles e nas news towns, sendo as novas formas de crescimento

urbano surgidas face à carência de alojamentos que se perpetuava no fim da guerra (Nunes,

2011). O grand esemble é uma das manifestações geográficas dominantes da exclusão mais

notória na temática dos subúrbios. Para esta teoria de exclusão territorial também contribuiu o

modelo de política de habitação social francesa posto em prática em 1950 - a proliferação da

construção da Habitation à Loyer Modéré (HLM). No território francês os HLM consistiram na

construção de “habitação de renda controlada, como resposta à necessidade de construção e

reorganização no pós-guerra, constitui-se como bairros destinados a acolher as classes

populares” (Queirós, 2009: 5).

A massificação do subúrbio deve-se à necessidade, geradora de uma exclusão preconizada pela

economia e pela sociedade na Europa. Em oposição observa-se uma vontade e interesse

enorme no processo de construção dos subúrbios americanos. Estes preconizam o American

Dream das classes mais abastadas, que aí encontravam um considerável aumento da qualidade

de vida, enquanto a segregação étnica, a exclusão, e a insegurança proliferavam nas áreas

centrais das cidades (Hall e Lee, 2010).

Neste período comprova-se que o ideal suburbano teve diferentes graus de expressão,

verificando-se a sua aceitação após a Revolução Industrial, sobretudo em países como Inglaterra

e nos E.U.A., derivando os subúrbios associados a fatores de atração (pull factors). Analisando

o exemplo de Naperville (Illinois) constata-se a possibilidade de um efetivo boom suburbano

através da existência de pull factors. Tal como sucedeu com outros subúrbios do pós Segunda

Guerra Mundial a periferia de Naperville proliferou através de ligações ferroviárias de ligação à

cidade limítrofe, Chicago. Excedendo a ocupação territorial planeada na fase inicial de expansão

urbana, denota ainda um centro em expansão onde a qualidade de vida não é descurada (Miller,

2015). Desta vertente são também exemplos alguns subúrbios na América do Sul, atendendo à

análise do modelo do Rio de Janeiro, a segunda maior metrópole do Brasil. A tendência de pull

factors cumulativamente gerou uma nova tendência suburbana do século XXI, o subúrbio global.

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Estes subúrbios assumem a forma de condomínio fechado compostos por residentes com

elevadas possibilidades económicas, sendo enclaves de segurança perante o caos e a incerteza

das cidades invadidas por favelas (Herzog, 2013).

Assiste-se à negação da condição suburbana numa segunda fase do processo de

industrialização, sobretudo na Europa, depois da descoberta do carvão e com o desenvolvimento

dos transportes e acessos, devido à forçada exclusão territorial destinada aos que não

conseguiam financiar a especulação do solo nas zonas centrais da cidade, denotando os fatores

de retração (push factors) associados aos subúrbios (Pacheco, 2013). Esta tendência de push

factors denota-se na atualidade em países de desenvolvimento económico acelerado com uma

especulação do solo elevada, como sendo nas potências económicas mundiais recentes, i.e.

China, Japão, Índia, mas também nos subúrbios do sul da Europa.

A estandardização preconizada nas duas vertentes afetas ao território suburbano denota

“ambiguidade, caracterizada por princípios de dissemelhança (remetendo) o subúrbio para um

interstício onde cidade e campo se cruzam numa tensão simultaneamente social, cultural e

espacial” (Pacheco, 2013: 2). O problema implícito na estandardização suburbana latente

consiste no facto do crescimento habitacional ser sobretudo desregulado, sem acompanhamento

recíproco adequado de equipamentos e infraestruturas, necessários a uma cidade que vem

ficando mais fragilizada socialmente.

A disseminação do conceito e a derivação das tipologias e morfologias dos subúrbios conhecem

o seu auge no fim da Segunda Guerra Mundial. A análise e caracterização suburbana torna-se

tema corrente, sendo utilizado o termo de forma exponencial na década de 90 do século XX.

Analisando a evolução deste processo, Jean Gottmann (1961: 5) extrapola o conceito de

megapolis, nesta “nova ordem urbana reconhece o subúrbio como um anel residencial regulado

pela dinâmica de um centro que já não se ajusta a este conceito/processo feito de coalescências

urbanas, onde o espaço relacional e o tempo se sobrepuseram a uma ordem urbana anterior

estruturada pela proximidade física, pela contiguidade do tecido construído, pela cidade

compacta e pela oposição centro/periferia”.

A cidade como génese do espaço urbano tem sempre como contraponto o campo, esta dicotomia

de discussão não só deixou de ser a única, como passou a ter associadas transformações, que

apelam a outras análises. As cidades ultrapassam os limites conhecidos, surgem as metrópoles

que contém conjuntos de cidades e as respetivas periferias. A distância física entre a cidade e o

campo é cada vez menor. O tamanho da população, a densidade populacional em áreas

urbanizadas, as características de infraestrutura, os limites administrativos e as atividades

económicas são as principais variáveis utilizadas para distinguir a área rural da área urbana

(Allen, 2003).

De fato, o problema do limite geográfico da cidade adquire uma nova dimensão e ocorre a

necessidade de reformular as bases de contagem da população urbana, sobretudo devido à

progressiva independência entre o modo de vida urbano e residência em concentrações urbanas.

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Nesse âmbito, como resposta “à tendência de desenvolvimento das grandes aglomerações, o

departamento de Estatística norte-americano adotou no Censo de 1910 o distrito metropolitano

como unidade territorial para a recolha dos dados sobre população urbana. No Censo de 1950

foi introduzida a Standard Metropolitan Area (S.M.A.) e a partir de 1960 a Standard Metropolitan

Statistical Area (S.M.S.A.). Também em França se delimitaram aglomerações urbanas para o

mesmo fim, desde o Censo de 1954” (Salgueiro, 1992: 37).

A urbanização extensiva efetiva-se como uma nova escala para o planeamento (Domingues,

2008 a), e novos conceitos surgem no vocabulário da análise urbana, de forma progressiva e

“como resultado da sua expansão territorial, as grandes áreas urbanas, também chamadas

metrópoles, podem induzir o crescimento de núcleos periféricos, subúrbios ou satélites, que

atingem uma dimensão demográfica apreciável. Por vezes, as áreas suburbanas de entidades

urbanas individualizadas tocam-se e interpenetram-se, constituindo-se então o que se chama de

conurbação” (Salgueiro, 1992: 36). Cidades-região são descritas como sendo um “novo espaço

relacional alargado menos reconhecível na forma, porque descontínuo, de escala territorial

extensa e fragmentado, as infraestruturas de circulação, as grandes artérias de transporte

apresentam-se como traços mais evidentes deste sistema urbano-territorial complexo”

(Domingues, 1994: 12).

O modelo de metrópole dualista por seu torno dá lugar à conurbação e à cidade-região, surgindo

novos conceitos: o pós-subúrbio (subúrbio residencial transformado numa área de localização

de atividades diversas que estruturam a nova centralidade da periferia da cidade - edge city); e

a metrópole policêntrica (mosaico urbano descontínuo e fragmentado onde surgem centralidades

diferenciadas e às vezes especializadas, ditas periféricas, num contexto de forte coesão

territorial) (Ibidem).

Nesta nova metamorfose urbana são requeridas condições básicas, como um nível elevado de

rendimento e de motorização, contextualizadas nas diretrizes da Carta de Atenas, que

preconizam uma cidade funcionalista, cujas principais funções são isolar, separar e organizar. O

zonamento funcionalista distribuído entre a habitação, o trabalho, o recreio e a circulação tira à

cidade tradicional a sua complexidade formal. Esta monotonia funcional e visual gera uma falta

de significação dos espaços e, consequentemente, uma crise de identidade (Ascher, 2010;

Lamas, 2010). O surgimento desta nova forma da cidade cria o conceito de cidade-metrópole,

evidenciando uma resposta “a novas exigências produtivas, do sistema económico e, do

processo de reprodução social, dependente, por sua vez, de uma nova estruturação do capital e

da força de trabalho” (Ferreira, 1987: 48).

Friedrich Engels (1975) reflete sobre esta nova condição urbana, na qual o urbano fica

abandonado à especulação imobiliária, que criará uma condição metropolitana a que se ajustará

uma determinada configuração territorial, mas cuja lógica de estruturação se circunscreve no

exterior daquele espaço metropolitano (Ibidem).

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Uma das novas realidades globais é o crescimento demográfico nas cidades verificado no século

XX. Os investimentos em infraestruturas rodoviárias e de transporte ferroviário difundem a

desconcentração urbana de um centro sobrecarregado e caro. O crescimento urbano resultante

aliviou o problema do aumento da distância espacial entre a casa e o trabalho e justificou a

conceção de grandes zonas comerciais e de deslocalizações industriais para a periferia, gerando

uma malha urbana com características múltiplas e desconexas (Gonçalves et al., 2015).

O intenso e rápido crescimento urbano verificado sobretudo nos subúrbios do sul da Europa

determina um grau significativo de ilegalidade/informalidade que em certos períodos beneficiou

de negligência ou aquiescência por parte dos governos locais e autoridades nacionais, derivando

em cidades informais (Rubió, 1997). Estas transformações são um reflexo da cidade fordista que

pode ser datada entre 1920 e 1960 (Audirac et al, 2012). Na década de ´70 do século XX vive-

se um período pós-fordista, no qual a dimensão financeira é protagonista devido à reestruturação

do sistema de produção, surgindo a cidade capitalista (Figura 4 e 5). Nas duas últimas décadas

do século passado e no início deste século ainda se presenciou uma onda de expansão

urbana/metropolitana, contudo não aumentaram as contradições internas resultantes da

fragmentação dos espaços suburbanos marcados por diferentes géneros, características e

tendências (Gonçalves et al, 2015).

Figura 4. Esboço de Boston (Massachusetts)

Fonte: Goitia, 2008

Figura 5. Esboço de Midtown (Nova Iorque)

Fonte: Goitia, 2008

Comprova-se que a urbanização é um “processo que consiste na concentração de construção,

embora o crescimento urbano provoque difusão gradual em torno dos núcleos iniciais”

(Gottmann, 1978: 7). Não havendo realidades unas aplicáveis ao território, o planeamento de

uma urbanização para além de responder a um crescimento urbano, deve analisar a realidade

do território afeto. O processo de caraterização conseguido com a análise histórica preconizada

em períodos civilizacionais distintos, apesar de variável consoante a localização encontra nas

novas formas urbanas uma dificuldade acrescida, sendo comprometedor e irreal padronizar

realidades tão distintas. Contudo a análise da tipologia e morfologia urbana demonstra que tem

ocorrido uma perda da forma, uma perda do limite e uma perda da noção de centro (Martinotti,

1993).

No que diz respeito ao desenho urbano as experiências dos distintos predicados das cidades

mostram que as cidades ideais são as que resultam de planos estratégicos sucessivos

coerentes, garantindo uma lenta sedimentação. As criações contemporâneas raras vezes são

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entendidas como extensões e alienam as populações (Pelletier e Delfante, 2000). Para isto

contribui a inexistência da ideia de complexidade na composição urbana, na medida em que os

conjuntos de edifícios residenciais estabelecidos nas cidades contemporâneas não estabelecem

relações com os restantes espaços construídos, e também não têm capacidade de promoção

intrínseca de coesão interna e multifuncionalidade, predicados dos espaços urbanos de sucesso

(Gonçalves e Elias, 2015).

Os períodos históricos apresentados revelam sempre as preocupações dos pensadores e

projetistas da época, sendo fácil perceber a génese dos problemas e consequente

racionalização. Contudo, na atualidade o espaço urbano parece ser uma questão um pouco

esquecida na prática da construção da cidade (Costa, 2008).

Decorre da revisão bibliográfica a delimitação de três derivas causais distintas da formatação da

urbanização nas décadas recentes:

1. Deriva da especulação;

2. Deriva da globalização;

3. Deriva da crise económica.

As fragmentações territoriais atuais notórias sobretudo pela constituição de subúrbios nas

periferias revelam um planeamento desestruturado que perdeu a conceção estratégica de

conjunto urbano patente nas géneses das cidades históricas evidenciadas no presente capítulo.

Fica subjacente a necessidade de reanimar a cidade enquanto procedimento utopista, encarando

a cidade como uma teoria normativa, mas interpretando “a cidade que queremos e desejamos,

a boa forma da cidade, não como um cânone instituído, mas antes como valor procurado e

visionado” (Cavaco, 2009: 478).

2.2. Conceito de subúrbio e as suas abordagens recentes

Na atualidade estima-se que 54% da população mundial vive em áreas urbanas, uma proporção

que se prospetiva aumentada para 66% em 2050 (U.N., 2014). Nas últimas décadas milhões de

pessoas deslocaram-se para as áreas urbanas, muitos destes novos moradores urbanos

estabeleceram-se em áreas suburbanas. Apesar do distanciamento do acontecimento e da

consolidação do fenómeno, a definição de subúrbio não abarca ainda a realidade pretendida.

Torna-se importante definir subúrbios, na medida em que é necessário conhecer a realidade na

qual se pretende atuar; também porque se trata de um problema de pesquisa e teoria, a

realização de pesquisa empírica requer definições adequadas das características e dos

conceitos que estão a ser mensurados; e adindo ao fato que mesmo não se considerando as

definições claras importantes para a teoria e para a prática, é urgente rever a variedade de

definições para ajudar a reduzir a confusão sobre a temática (Forsyth, 2012). A incompreensão

do fenómeno urbano, com recorrente utilização de designações genéricas como periferia e

subúrbio, reflete-se no desajuste entre as estratégias e práticas projetais e a realidade in loco

(Ferreira, 2012).

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A palavra suburbĭum na sua origem latina é o resultado da conjugação entre o prefixo sub (por

baixo, perto) e a palavra primitiva urbs (espaço edificado, cidade), designando assim a parte

afastada de uma cidade (Gaffiot, 1934). O subúrbio é retratado na maior parte das considerações

como “um lugar em condição de inferioridade no sentido em que, estando na proximidade de

uma cidade se encontrava em estrita dependência desta, carecendo das suas qualidades”

(Pacheco, 2013:1).

A análise do prefixo latim, sub (sob, debaixo de), permite explanar a sua génese e o objetivo de

interpretação evidenciado aquando da geração do termo subúrbio (Porto Editora, 2000). O

prefixo continua a ser utilizado sobretudo para atribuir um valor negativo, ou um carácter

insuficiente. Aplicando esta teoria ao planeamento e ao ordenamento do território é notório tanto

no vetor funcional como no vetor qualitativo, quer quando se trata de infraestruturação e/ou

equipamentos incompletos e/ou insuficientes (subinfraestruturado, subequipado), quer quando a

qualidade de um plano ou de um projeto se encontra abaixo do que é desejável (subqualificado).

Esta discriminação facilita a compreensão do termo subúrbio, mas também dos termos análogos

como suburbano e suburbanização.

O termo suburbe é adotado pela língua francesa no final do século XIII (Godefroy, 1880-1895,

vol 7), e pela língua inglesa, suburb (Whitney, 1889 – 1991), no final do século XIV (Lourido,

2012). A palavra francesa “suburbe tinha no séc. XV outra equivalente – faubourg – uma

transformação da expressão faux bourg, designando uma falsa cidade, o que significa que os

subúrbios eram vistos como sendo inautênticos” (Pacheco, 2013:1). Um termo inglês equivalente

a suburb foi underburg, que significava “perto das multidões mas fora do alcance da jurisdição

municipal” (Harper, 2001-2012).

Utilizando a ferramenta Google Books Ngram Viewer, é possível observar a evolução da

utilização dos conceitos suburbs (subúrbio), suburban (suburbano), fringe (franja), e outskirts

(periferia) em livros entre 1800 e 2008, o ano limite que a pesquisa permite (Gráfico 1).

Gráfico 1. Evolução da utilização dos conceitos em livros entre 1800 e 2008

Fonte: https://books.google.com/ngrams/graph

Enquanto os termos suburban, fringe e suburbs são utilizados com frequência, o termo outskirts

tem uma utilização constante mas inferior. De realçar que o termo periferia talvez por ser tão

abrangente e consensual, ao longo dos anos tem tido uma utilização constante e reduzida. A

limitação e a ambiguidade dos termos suburbano, franja e subúrbio torna-os alvo de discussão

ao longo do período temporal apresentado. Observa-se uma significativa influência das duas

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Guerras Mundiais (1914-1918 e 1939-1945) no debate sobre a temática do subúrbio. No pós

Segunda Guerra Mundial o termo reflete uma projeção inigualável, sendo que o pico da utilização

do adjetivo suburbano se inicia por volta de 1950 e conhece o seu auge na década de 70 do

século XX, que é o período da crise petrolífera. A utilização é mais notória no período de queda

do preço do petróleo que culmina em 2000. O debate sobre o subúrbio revela-se mais apelativo

em alturas de abundância energética e esquecido durante as fases menos fortuitas desta

matéria-prima, deixando subjacente a oportunidade económica de investimento refletida na

expansão do território (Lourido, 2012).

Analisando a evolução do significado do termo, em Roma antiga o subúrbio distava um raio de

cinco a dez quilómetros da cidade, revestindo-se de uma natureza ambígua, sendo considerado

“cidade e não-cidade” (Witcher, 2005: 120). De fato comprova-se que os subúrbios “não são um

fenómeno exclusivo da era moderna, há registos que confirmam que as cidades antigas e

medievais possuíam também subúrbios, situados após as muralhas da cidade” (Fischer, 1976:

206). Na atualidade predomina o entendimento do termo subúrbio como um espaço cujas

“características não são suficientes para que se constitua como urbano, a sub-urbe, no sentido

de inferioridade qualitativa, por oposição à urbe” (Lourido, 2012: 2).

Suburbanização deve ser entendida em termos gerais como o processo de expansão das

cidades para o exterior dos seus limites através de várias transformações e configurações de

crescimento urbano (Solà-Morales, 2002). O processo de suburbanização é apreendido através

de duas medidas (Champion, 2001: 144):

1. A primeira incide nas taxas de crescimento demográfico evidenciadas tanto pelos

subúrbios como pela cidade e, por seu intermédio, se assinalam os momentos em que

o povoamento dos territórios periféricos regista crescimento superior ao verificado na

cidade central;

2. A segunda obtém-se pela comparação entre as grandezas demográficas da população

residente na periferia e na cidade central face ao total da população da região urbana ou

da aglomeração.

São identificadas quatro formas de suburbanização por Ildefonso Cerdà na Teoria Geral da

Urbanização (Nunes, 2011):

1. A que se dá pela atração exercida pela via de acesso à cidade;

2. A que se dá por deslocalização de indústrias;

3. A que tem origem em causas administrativas relativas às taxas alfandegárias de entrada de

mercadorias nas cidades;

4. A que consiste num meio de expansão da urbe.

Nem o centro nem a periferia são noções de localização absoluta, mas sim relativa, nenhum

lugar ou espaço está constrangido ao carácter suburbano ou assegurado na sua condição central

(Gonçalves e Elias, 2015). Esta relatividade de distinção espacial e social reporta para a

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diferença entre um centro e uma periferia dependente da interação de uma determinada

população circunscrita a um determinado território com esse mesmo território, defende Edward

Shils (1974). Esta teoria de âmbito sociológico e caráter socio espacial revela premissas que

devem ser tidas em conta, sendo o centro um fenómeno que pertence à esfera dos valores e das

crenças, mas sobretudo à esfera da ação, revelando-se fundamental e irredutível em contraponto

a uma periferia alienada do domínio da decisão.

Como foi exposto o conceito de subúrbio não tem uma definição una aceite, quer seja teórica ou

empiricamente comprovada. Numa abordagem física consensual os subúrbios são um reflexo

das dinâmicas urbanas e metropolitanas que resultam de processos económicos e financeiros

privados e públicos que manipulam e são manipulados pelo comportamento das famílias e das

empresas (Gonçalves et al., 2015). Contudo surgem outras abordagens com caráter social, tal

como a de Stahl (2008) que propõe o subúrbio como um habitat natural para as famílias

estruturadas e um retiro rústico para a família imunda, imoral e perigosa da cidade, sobretudo no

contexto norte-americano; enquanto Phelps (2010) considera sobretudo os subúrbios como

dormitórios no contexto europeu. Apesar das distintas localizações e interpretações associadas

são as semelhanças entre as imagens produzidas de forma individual que consequentemente

geram a imagem coletiva que temos do fenómeno, representando-se na forma de uma categoria.

A categoria de subúrbio remete para algo que está longe da cidade, longínquo porém contíguo.

Trata-se de um “espaço ambíguo que não é cidade nem campo, iniciando-se após o limite da

cidade, remetendo para a ideia de não-cidade” (Lourido, 2012: 2).

Constata-se a diferença entre o afastamento do urbano e o afastamento do efeito urbano, sendo

que o limite da cidade é administrativo, mas também social (Baptista, 2008). Defende-se que a

distância geométrica é igual à distância social, pelo menos na Europa (Ibidem). Segundo esta

ordem de ideias para além do real afastamento físico dos subúrbios à área central de uma cidade,

também o afastamento social é uma condicionante, esta compilação contribui assim para a

conceção de uma imagem negativa do território afastado/esquecido (Ibidem). Ressalva-se que

esta teoria não se aplica à Área Metropolitana de Lisboa, onde a distância geométrica e a

distância social varia, não se apresentando linear.

O grau de afastamento a um centro clarifica a posição periférica, sendo o subúrbio uma das

variantes da condição periférica (Domingues, 1994). A identificação de um subúrbio implica a

ideia de fragmentação do espaço urbano. Sendo identificados dois tipos de processos na

conceção de subúrbios: planeamento extremamente regulado, e processos espontâneos de

urbanização (Ibidem). Com a evolução dos tempos, das necessidades e sobretudo das vontades

a racionalidade do planeamento foi substituída pela dinâmica do investimento privado e pela

variabilidade do mercado. A forma urbana resultante tornou-se mais “desestruturada, caótica,

incompleta, labiríntica e instável” (Ibidem: 5). Do ponto de vista financeiro o processo de

suburbanização consiste numa transação positiva para alguns particulares, outrora uma

economia centralizada e planeada pelo governo central dá lugar a uma economia de mercado,

Page 24: Subúrbios 2025. Que estratégia para as periferias metropolitanas? · Grata ao meu avô que me mostrou ao longo da vida o que é a ambição. ... 18 Figura 7. O surgimento de anéis

16

em que promotores e bancos passam a ser os atores chave do processo de planeamento

territorial, ou da falta dele (Kȁhrik et al., 2011).

Atendendo à distinção entre periferias geradas por sistemas económicos distintos, Álvaro

Domingues (1994) defende o surgimento de dois modelos opostos de periferia, a periferia

planificada e a periferia espontânea. A periferia planificada inicia como um instrumento de

regulação urbana do Estado-Providência e do planeamento racionalista (Ibidem). Adversamente

a periferia espontânea apresenta como características: um perfil sobretudo residencial; a

ausência ou défice de espaço público; um crescimento por adições sucessivas, envolvendo

tipologias construtivas diversas e usando uma malha viária pré-existente; um espaço construído

não consolidado, intercalando índices de densificação elevados com vazios intersticiais; a

ausência de plano; a subinfraestruturação; um défice de serviços e de equipamentos públicos e

privados, em quantidade e em qualidade; a falta de legibilidade e de identidade urbana; e a má

qualidade ambiental (Ibidem). Derivando estes fatores de dois processos: sobreposição de uma

malha urbana rodoviária de alta capacidade àquela colagem de fragmentos que se iniciaram e

evoluíram segundo outras lógicas e outras temporalidades; e numa nova lógica espacial dos

sistemas de produção, i.e. com as dinâmicas de transformação da base económica metropolitana

(Ibidem).

A imagem conceptual e pessoal de subúrbio é diferente consoante “o indivíduo, o conhecimento

que tem do território, a cultura em que está inserido e a época em que se reflete acerca desse

fenómeno” (Lourido, 2012: 4). Contudo Kevin Lynch (1999) “demonstra a existência de uma

imagem coletiva – denominador comum das inúmeras imagens pessoais de cada habitante”

(Lamas, 2010: 398). Analisando como os subúrbios são definidos perceciona-se as semelhanças

e as diferenças comuns desta categoria do espaço urbano a todos os seus intervenientes,

revelando o que constitui um subúrbio positivo e o que falta num subúrbio negativo, sendo que

as diferentes abordagens utilizadas para definir subúrbios atendendo à essência intrínseca

permitem uma diferenciação, em contraposição analisando os seus tipos e características

consegue-se um agrupamento, gerando clusters (Forsyth, 2012).

Planear é conhecer, classificar, nomear e decidir em função de categorias (categorias

operacionais), mas nem sempre a associação das categorias corresponde à realidade (Lourido,

2012). A complexidade do subúrbio no território periférico de uma qualquer cidade é um dado

adquirido na teorização apresentada. A análise dos subúrbios pode no entanto ser facilitada pela

utilização de cinco dimensões essenciais para a sua definição, sendo elas as dimensões: física,

funcional, social, processual, analítica (Forsyth, 2012). Para se conseguir uma interpretação

fidedigna da realidade e seguindo o caminho menos complicado para analisar esta situação

deve-se olhar para cada dimensão de forma individual (Ibidem).

Ann Forsyth (2012) constata que devido à confusão gerada pelo termo, uma opção pertinente é

abandonar a palavra subúrbio, sendo identificados dois processos conducentes à transformação:

a área metropolitana não será mais composta por uma cidade central e subúrbios, mas por uma

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17

variedade de ambientes (parque de escritórios, limites da cidade, subdivisão do pós – guerra); e

sustentar o termo, fazendo a distinção entre tipos de subúrbios, todas as referências são

qualificadas por um adjetivo, isto faz sentido porque diferentes tipos de subúrbios terão diferentes

problemas e diferentes necessidades de planeamento.

O termo subúrbio representa uma posição antiga e viável para descrever o desenvolvimento em

redor da cidade central, no entanto alternativas como periurbano não estão melhor definidas.

Todavia os subúrbios têm importantes características em comum, devido à sua localização e

relativa novidade (Harris, 2010). Localizações específicas têm uma particular panóplia de

funções, modos de transporte, traços sociais, e características físicas que as distinguem e

permitem uma categorização. Sendo comummente aceite que a “distinção mais clara de

subúrbios perante outras formas de desenvolvimento, e diferentes tipos de ambientes

suburbanos, consegue ajudar quem precisa entender a temática dos subúrbios e influenciar o

desenvolvimento/redesenvolvimento deles” (Forsyth, 2012: 279).

Finda a constatação da aplicabilidade do conceito de subúrbio, o foco teórico recai sobre a

síntese da origem do termo na incidência territorial a posteriori analisada, a área metropolitana.

Sabendo que a maioria das regiões metropolitanas experimentou um significativo aumento de

suburbanização durante o último quarto de século, a sua origem pretende-se descodificada. Em

relação à teorização da formação do território periférico circunscrito às áreas metropolitanas

ocorre a compilação das principais causas de suburbanização e respetivas teorias para

compreensão da suburbanização e declínio urbano. São identificados “o aumento do preço do

solo, a utilização frequente de veículos ligeiros e pesados, o desejo de viver em urbanizações

relativamente novas e de baixa densidade, e as vantagens económicas associadas a uma

habitação própria, como tendências fortemente consolidadas, por pessoas a segregar-se

socioeconomicamente e racialmente por bairros” (Bradbury, Downs e Small, 1982: 12). Perante

estas tendências seis teorias para compreensão da suburbanização e declínio urbano são

formuladas: a deslocação perante o desconforto, a procura da evasão fiscal, a atração positiva

do território limítrofe, a evolução económica, a política tendenciosa, e as tendências

demográficas (Lee, 2005).

Mieszkowski e Mills (1993) discutiram duas teorias contrastantes de suburbanização: a teoria da

evolução urbana natural e a teoria “flight-from-blight”. Segundo a teoria da evolução urbana

natural a suburbanização é o resultado do aumento dos preços do solo. As famílias com maior

poder de compra vão procurar habitações maiores e mais recentes que são construídas na

periferia da região metropolitana, o que conduz à forçosa procura das habitações menores e

menos qualificadas pelas famílias com menos condições económicas. Em contraste é

apresentada a teoria “flight-from-blight” que justifica a deslocação de grupos populacionais com

poder de compra médio e superior para áreas suburbanas com o intuito de evitar os problemas

das cidades centrais como as tensões raciais, crime, impostos altos e baixa qualidade ambiental

(Lee, 2005). A causa do processo de suburbanização também tem sido atribuída a políticas

governamentais associadas aos controlos de uso da terra, à habitação e ao transporte

Page 26: Subúrbios 2025. Que estratégia para as periferias metropolitanas? · Grata ao meu avô que me mostrou ao longo da vida o que é a ambição. ... 18 Figura 7. O surgimento de anéis

18

(Bergstrom et al., 1999; Duany et al., 2000; Katz, 2002). Robert Fishman (2000) identifica como

as três maiores influências modeladoras das metrópoles norte-americanas: a utilização

rodoviária, com o claro domínio do automóvel; o financiamento de empréstimos; e a

desindustrialização das cidades centrais. No que diz respeito às políticas de habitação, a

suburbanização foi mais acelerada por subsídios estatais e pelo prestígio generalizado da

habitação unifamiliar facilitada pelos empréstimos bancários (Arigoni, 2001).

Para uma melhor compreensão da suburbanização, esta deve ser entendida como uma fase

típica do modelo de Ciclo de Vida das Cidades (Figura 6). A teoria do Ciclo de Vida das Cidades

(urbanização; suburbanização; desurbanização; reurbanização) é um modelo formal de tipo

histórico-descritivo utilizado para caracterizar as dinâmicas de crescimento urbano.

Figura 6. Ciclo de Vida das Cidades

Fonte: Domingues, 1994

O modelo baseia-se apenas nos valores de população residente e define a cidade como uma

aglomeração dividida em duas subáreas: o centro e a área periférica (contígua ao centro e lugar

de origem de movimentos pendulares). Apesar da tradução real de transformação cíclica das

cidades e da efetividade de movimentos pendulares dependentes do centro da cidade, uma

crítica ao modelo deve ser tida em conta, o excessivo reducionismo do modelo territorial de

crescimento urbano (Domingues, 1994).

Durante as últimas décadas, a significativa suburbanização das áreas metropolitanas

americanas transformou a estrutura espacial metropolitana. A sua forma monocêntrica

transformou-se em policêntrica (Garreau, 1991; Giuliano e Small, 1991; Mcmillen, 1998). Esta

transformação merece um reparo em relação à observação da estrutura metropolitana mundial.

Sabendo que as áreas suburbanas foram diferenciadas ao longo do tempo e variáveis

geograficamente, deve ser confrontada e reformulada a reconhecida estrutura metropolitana

tradicional (a forma dicotómica da cidade central e dos subúrbios representada no diagrama A

da figura 7) perante a atual estrutura policêntrica com anéis e sub-centros suburbanos patente

no diagrama B (Figura 7). Esta constatação responde à crítica do modelo de Ciclo das Cidades

(Figura 6), que reflete sobre a dinâmica de centro e periferia segundo o modelo tradicional

(diagrama A). Atendendo que esta diversidade de áreas suburbanas e a emergência de anéis

suburbanos são atribuídas à evolução de sistemas de transporte nos Estados Unidos da América

(E.U.A.), o mesmo processo é aplicável a todas as cidades metropolitanas onde o uso massivo

do automóvel transforma o uso do território depois da Segunda Guerra Mundial (Lee, 2005).

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Figura 7. O surgimento de anéis suburbanos e sub-centros dentro de áreas metropolitanas

Fonte: Leigh e Lee, 2004

A principal limitação da pesquisa existente é a sua dependência analítica sobre uma estrutura

dicotómica dos subúrbios e da cidade central. Esta abordagem tradicional baseou-se numa

região metropolitana com uma estrutura monocêntrica (representada no diagrama A da Figura

7). Contudo as regiões metropolitanas evoluíram em diversas áreas, que incluem o centro da

cidade, área urbana, subúrbios do anel interno, subúrbios do anel externo, e sub centros

suburbanos (Leigh e Lee, 2004). Esta evolução não se reflete na definição oficial da cidade

central e dos subúrbios, deste modo os dados produzidos a partir destas definições não são

apropriados para analisar a estrutura metropolitana e os seus anéis suburbanos e sub centros

(Lee, 2005). Perante esta constatação é apresentada uma nova abordagem que tem em conta a

diferenciação suburbana, bem como a forma policêntrica (figurada no diagrama B da Figura 7).

Nesta abordagem a região metropolitana é tratada como um sistema interativo da cidade,

identificando entidades distintas no contexto de todo o sistema de uma região metropolitana,

considerando a necessidade de desenvolver diferentes estratégias em prole do crescimento

inteligente para cada subárea bem como a região metropolitana como um todo (Lee, 2005).

A profunda alteração da escala e da natureza dos processos de desenvolvimento evidenciada,

analisada através da evolução e da génese urbana, descodificada pela interpretação da tipologia

e da morfologia, permite percecionar um aumento da consciência metropolitana ao nível das

políticas de planeamento (Jassen-Jansen e Hutton, 2012). Há o reconhecimento generalizado

da emergência de novas dinâmicas sociais, económicas e ambientais de âmbito metropolitano

que exigem soluções inovadoras de intervenção pública, de coordenação de atores e de

articulação de políticas (Ferrão, 2013). O princípio subjacente de governança consiste em

“associações de entidades públicas, semi-públicas e/ou privadas que estabelecem

voluntariamente entre si relações horizontais de cooperação e parceria” (Ibidem: 259), as formas

de governança baseiam-se em modalidades muito distintas, quer em termos de natureza jurídica,

quer em duração no tempo (Ibidem).

Num cenário de globalização ocorre a emergência da abordagem teórica e prática da governança

metropolitana, cuja compreensão é essencial ao capítulo subsequente da problematização dos

subúrbios no contexto da AML. Esta tendência “é geralmente interpretada à luz da tendência

mais geral da passagem, verificada a partir dos anos 80 do século passado nos países

capitalistas mais desenvolvidos, de uma ótica de governo a uma ótica de governança no quadro

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de uma profunda reestruturação do estado moderno” (Ibidem: 258), é reconhecida a sua

interpretação como um desafio associado a mudanças estruturais, urgindo a conciliação, a

comunicação e a interação entre pessoas e espaços urbanos.

Outra abordagem recente da problemática suburbana está associada ao fenómeno recente de

shrinking cities, algumas cidades têm vindo a perder população, iniciando uma recessão

económica local e gerando problemas sociais e de segregação, degenerando o tecido urbano

(Gonçalves e Elias, 2015). Este encolhimento de cidades densas que sofrem uma perda

assinalável de população deve-se sobretudo a processos de emigração sentidos em momentos

de transformação económica (Sousa, 2010). Tendo sido a sua infraestrutura construída para

suportar uma dimensão superior de população, na falta dela a sua manutenção pode-se tornar

uma preocupação séria (Ibidem). Por seu turno o envelhecimento destas áreas suburbanas

também é uma preocupação, pois na ausência de monitorização constituem-se territórios

degradados e obsoletos (Ibidem).

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3. Problemática dos subúrbios na Área Metropolitana de Lisboa

Numa primeira análise da composição urbana é sintetizada a evolução histórica influenciadora

do território lisboeta derivada sobretudo da transformação da mobilidade. O enfoque na capital

tem como objetivo em última análise conseguir uma apreciação crítica da evolução do objeto de

estudo, a Área Metropolitana de Lisboa. São apresentadas as diferentes conjunturas da cidade

de Lisboa e do território limítrofe permitindo equacionar os motivos e as estratégias de

desenvolvimento do objeto de estudo nos principais momentos de evolução urbanística. A

análise da evolução da AML consiste na explanação de dois vetores essenciais de pesquisa: a

centralidade urbana e a exterioridade metropolitana (Ferreira, 1987). São constatados também

nesta fase de problematização da temática os desafios e os problemas inerentes subjacentes na

governação e nas intervenções dos subúrbios.

3.1. Génese e evolução da condição suburbana de Lisboa na Área

Metropolitana de Lisboa

Lisboa, intitulada por Orlando Ribeiro (1993) como a última das cidades mediterrâneas, tem como

caraterísticas históricas de destaque a constituição de um importante entreposto de formação e

de trocas de bens, de culturas e de ideias, contudo constata-se que ao longo da história “a sua

macrocefalia processa-se sem ordem” (Ribeiro, 1993).

Em termos demográficos a região em torno da cidade de Lisboa aumentou significativamente

aquando da romanização e islamização, proliferando a cidade ao longo dos séculos sobretudo

na faixa Norte do Tejo, por numerosas aldeias e lugares (G.E.O., 1968). A importância

demográfica da cidade de Lisboa no século XIII aumentou, consequência da mudança da

administração central para a capital, sempre demarcada das demais, a cidade passa a ser

oficialmente a sede governativa (Ferreira, 1987). Através da análise bibliográfica é possível

verificar o carácter outrora rural do território que viria a constituir os primeiros subúrbios da capital

portuguesa no século XX (Pereira, 1910). Enquanto o aumento populacional ritmou o

crescimento contínuo da cidade de Lisboa, delineado pelas artérias viárias, “o comportamento

demográfico das várias localidades em torno de Lisboa foi diferente, nem sempre se identificando

com qualquer crescimento de vulto” (Marques, 2003: 18).

Nos finais do século XIX a ideologia de modernização e desenvolvimento da cidade fica latente

na abertura das primeiras alavancas de crescimento da cidade para norte de forma muito

coerente e consistente, através da Avenida da Liberdade e da Avenida Rainha Dona Amélia

(atual Avenida Almirante Reis), os dois eixos importantes do final do século XIX. É também

importante neste período de Regeneração (1851-1868) liderado por Fontes Pereira de Melo a

transformação da mobilidade em território nacional - a política do Fontismo - assistindo-se ao

reforço da troca de bens e de serviços, com o aumento do caminho-de-ferro, das vias de

comunicação, da indústria e das telecomunicações, i.e. inauguração do primeiro troço de

caminho-de-ferro em Portugal, entre Lisboa e o Carregado, em 1855 (Ferreira, 1987). Sendo

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notória a facilidade que a rodovia e a ferrovia forneciam num território transformado, especulado

e ocupado.

Verifica-se que não existem as respostas adequadas às necessidades efetivas de alojamento,

surgindo então iniciativas privadas de alojamento do proletariado, i.e. pátios e vilas industrias em

São Bento, Santa Isabel, Lapa, Alcântara e Xabregas, que vão dando resposta às necessidades

das camadas sociais mais desfavorecidas (Marques, 2003). De fato nem todas as questões tem

resposta eficiente, questões estas surgidas devido ao lento processo de industrialização que se

inicia em meados do século XIX, provocando a concentração de mão-de-obra operária em

Lisboa, forçada a localizar-se em bairros antigos e na periferia da capital (Pereira, 1994). O

problema da desigualdade social refletida no território só tem uma abordagem fortuita com a

visão integradora de Duarte Pacheco, que efetiva a construção dos primeiros bairros sociais, i.e.

Bairro Social da Ajuda e do Arco do Cego, projetados durante a I República (1910-1926) e então

finalizados, planeados com empenho e grandiosidade, introduzindo uma tipologia nova no tecido

da cidade (Ferreira, 1987; Tostões, 2012).

Enquanto o planeamento e as práticas de ordenamento regional foram tidos em consideração

nas sociedades europeias no período pós Guerra, em Portugal não se fizeram sentir de forma

tão eficaz, sendo que foram implementadas ao longo dos anos ´60, num “contexto político

ditatorial de matriz corporativa que modelava a orientação das políticas de habitação” (Nunes,

2011: 31). A suburbanização de Lisboa consistiu sobretudo na preponderância de práticas

construtivas fundadas na designação privada de alojamento e intervalada pela ilegalidade de

loteamento e de edificação. As zonas de mudança entre a área urbana consolidada e os campos

foram edificadas, surgindo áreas quase exclusivas de ocupação residencial pautadas por um

povoamento intenso (Ibidem).

A cidade de Lisboa começa assim a crescer de forma aparentemente ordenada segundo as vias

de comunicação construídas e os respetivos fluxos populacionais inerentes a processos de

trocas comercias históricos, contudo respondendo a um processo de especulação fundiária sem

desenho urbano, “por via da planificação económico-social, surgiria também a ideologia do

planeamento flexível que conduziria ainda mais à anulação da forma, que assim poderia mudar

constantemente” (Lamas, 2010: 376).

O conceito de área metropolitana surge em Portugal em 1991 (Lei nº 44/91). Elementos

municipais distintos pertencentes outrora à Grande Lisboa passam a constituir a Área

Metropolitana de Lisboa, sendo compilados num sistema único e indivisível (Figura 8).

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Figura 8. Enquadramento da AML no país, e respetivos municípios

A análise dos fluxos populacionais necessária à interpretação e compreensão do território

confinante à A.M.L. depende de uma dependência antiga entre a cidade de Lisboa no seu todo

e a uma das suas partes, o centro. A definição dos limites administrativos da cidade de Lisboa

no século XIX foi o início da oficialização dessa dependência, intensificada a partir do século XX,

aquando do desenvolvimento acelerado do país e consequente concentração na capital dos

setores secundário e terciário, convertendo as zonas próximas da cidade em extensos

dormitórios (Marques, 2003).

Várias são as inter-relações estabelecidas e constatadas entre a capital e o território limítrofe

(Ibidem). A mobilidade é responsável pelas relações estabelecidas entre a margem norte e a

margem sul do rio Tejo, que se intensificaram no século XIX, sendo que em 1820 surgem os

“primeiros barcos a vapor com carreiras regulares” (Ibidem: 17), em 1861 é criada a “linha

ferroviária de Sul e Sueste, com término no Barreiro, contribuindo para o desenvolvimento da

“Outra Banda”” (Ibidem: 17), sobretudo da região do Barreiro. Estas relações modais ficaram

consolidadas com a construção das duas pontes sobre o rio Tejo, a conhecida Ponte 25 de Abril,

cuja designação oficial é Ponte sobre o Tejo, inaugurada em 1966, ligando Lisboa a Almada, e a

Ponte Vasco da Gama inaugurada em 1998, possibilitando a mobilidade rodoviária entre

Alcochete, Montijo, Barreiro e Lisboa, bem como o tráfego entre o norte e o sul do país. A análise

da evolução da AML permite extrapolar uma dinâmica de evolução entre lugares muito

dependente da cidade central, Lisboa. A importância da capital é evidenciada pelos dados de

movimentos pendulares dos Censos de 2011, verificando-se que apenas 10% da população de

Lisboa tem necessidade de sair da cidade para trabalhar ou estudar (Gráfico 2).

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Gráfico 2. Movimentos pendulares na AML em 2011

Fonte: I.M.T., 2011

O crescimento assinalado da cidade de Lisboa perpetuou-se no desenvolvimento das áreas

limítrofes, em primeiro lugar as confinantes ao mar ou ao rio, pelas características naturais que

lhes conferiam proteção e mobilidade, como sendo Oeiras, Cascais, Sintra e Vila Franca. Na

margem sul do rio Tejo, Almada, Barreiro, Sesimbra, e Setúbal crescem rapidamente, enquanto

a periferia, nomeadamente Alcochete e Montijo crescem demoradamente (Ibidem: 19). Sendo

evidente a evolução gradual de população residente na adjacência da capital (Gráficos 3 e 4).

Gráfico 3. População residente na Grande Lisboa (1940-2011)

Fonte: I.N.E., Recenseamentos Gerais da População, 1940, 1960, 1981, 1991, 2001, 2011

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Alcochete

Almada

Amadora

Barreiro

Cascais

Lisboa

Loures

Mafra

Moita

Montijo

Odivelas

Oeiras

Palmela

Seixal

Sesimbra

Setúbal

Sintra

Vila Franca de Xira

População que entra no município para trabalhar ou estudar

População que sai do município para trabalhar ou estudar

0

200000

400000

600000

800000

1000000

1940 1960 1981 1991 2001 2011

Amadora Cascais Loures

Lisboa Mafra Odivelas

Oeiras Sintra Vila Franca de Xira

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Para simplificação de dados na análise estatística os municípios constituintes da AML são

observados segundo a divisão em Nomenclatura das Unidades Territoriais para fins Estatísticos

(NUT´s).

Consoante os dados dos Censos de 2011 numa das NUT III da AML - Grande Lisboa - destacam-

se os municípios de Lisboa e Sintra com o maior número de habitantes e na outra NUT III

constituinte da AML - Península de Setúbal - os municípios de Almada e Seixal. Com um menor

número de habitantes está o município de Mafra na Grande Lisboa e Alcochete e Montijo na

Península de Setúbal (Gráficos 3 e 4).

Gráfico 4. População residente na Península de Setúbal (1940-2011)

Fonte: I.N.E., Recenseamentos Gerais da População, 1940, 1960, 1981, 1991, 2001, 2011

A análise do gráfico permite verificar que a partir da década de ´60 a população residente

aumenta significativamente nos municípios adjacentes. Constata-se que na transição censitária

entre 1981 e 1991 a população residente no município de Lisboa reduz substancialmente,

situação que permanece inalterada até 2011. Verificando o peso da população residente no

município de Lisboa e nos municípios limítrofes sobre a população total do continente entre 1940

e 2011 conclui-se que o peso demográfico da metrópole face ao país cresce entre 1960 e 1981,

mantendo-se entre 1981 e 2001, e aumenta ligeiramente até 2011, sendo que esta

predominância no contexto nacional se deve ao crescimento suburbano na AML, reforçado pela

estabilização do modelo metropolitano revelada pelos dados dos censos de 2011 (Pereira, 2013).

Genericamente denota-se a intensificação gradual do processo de suburbanização da cidade de

Lisboa cuja génese deriva da década de ´30 do século XX quando o ritmo de crescimento dos

subúrbios ultrapassou o do centro (Nunes, 2011).

Entre as décadas de ´50 e ´70 o desenvolvimento das atividades terciárias no centro de Lisboa

é intenso (Pereira, 2004). A dicotomia inerente entre a cidade e o campo remete para a ideia de

existência e inexistência de limites respetivamente. Esta diferenciação ainda está presente na

memória urbana portuguesa, tendo ocorrido o pico da ruralidade nos anos ´60 do século XX

Portugal foi um dos últimos países rurais da Europa (Domingues, 2015). Demonstrada a evolução

tardia da suburbanização em território nacional a temática suburbana ficou mais clarificada com

a perceção da ocorrência suburbana em outros países. O êxodo rural proclamado pela população

0

50 000

100 000

150 000

200 000

1940 1960 1981 1991 2001 2011

Alcochete Almada Barreiro Moita Montijo

Palmela Seixal Sesimbra Setúbal

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que ambiciona encontrar na capital melhores condições de vida é o resultado da fuga ao

problema da pressão demográfica que decorria da modernização do sector agrícola que

dispensava mão-de-obra humana, iniciando-se massivamente o processo de suburbanização da

capital (Ferreira, 2012). O período político do Estado Novo (1933-1974) refletiu um crescimento

económico generalizado, conferindo confiança aos empresários e proclamando o crescimento

da poupança pública e privada, conduzindo ao desenvolvimento do sistema bancário. Este clima

favorável de expansão urbana foi ainda assimilado pelo aumento da qualificação da mão-de-

obra, influenciado pela expansão substancial da escolarização (Ibidem).

O processo de expansão da malha urbana de Lisboa tem como marco inaugural o Plano Diretor

da Região de Lisboa (1964) que nunca foi aprovado. Este Instrumento de Gestão Territorial (IGT)

preconizava uma reorganização de todo o processo de crescimento urbano autenticando um

descongestionamento da mancha urbana central, sustentado numa rede rodoviária completa

posteriormente (CRIL, CREL, e A5), assim como no desenvolvimento de ligações ferroviárias,

incitando também à criação de algumas cidades novas. Apesar de não ser aprovado constitui

um marco de mudança efetiva do planeamento e ordenamento do território na medida em que o

território suburbano é associado diretamente com a evolução do espaço urbano (Ferreira, 2012).

O crescimento suburbano precedente foi um crescimento otimista, pautado por uma alienação

coletiva de planeamento que se repercutiu numa área metropolitana carente de ordenamento

territorial. Genericamente a construção do subúrbio lisboeta perpetuou-se mediante duas

originalidades ligadas aos grandes complexos habitacionais: “a sua geração em espaços que

tiveram apenas de acolher infraestruturas e que correspondiam integralmente a propriedades

que ficaram perpetuadas na toponímia dessas urbanizações (ou complexos habitacionais), i.e.

Quinta da Piedade, Alto da Eira; a sua organização e estrutura interna onde se destaca a aridez

funcional e a ausência de centralidades formais, i.e. insuficiência de espaços públicos,

referências identitárias para as comunidades residentes” (Gonçalves e Elias, 2015: 1).

Entre 1950 e 1969, a população residente na AML aumentou cerca de meio milhão de habitantes

o que se repercutiu na intensificação do crescimento urbano e na consolidação do tecido urbano.

Em sintonia se denotava um clima favorável quer no setor económico, quer no setor social nos

finais da década de ´60, este estímulo à expansão urbana, aliado do afastamento da

administração central é o principal impulso da génese suburbana da capital (Ferreira, 2012).

Contudo esta dinâmica de produção de espaços no centro urbano estagnou rapidamente, a

necessidade de espaços centrais por parte da terciarização levou ao afastamento de funções

residenciais e industriais num movimento centrífugo a partir da década de ´70 (Pereira, 2004),

transformando-se o processo de densificação terciária do centro num processo de

suburbanização demográfica (Gonçalves e Elias, 2015). Devido à industrialização e ao enorme

afluxo populacional para as cidades devido ao êxodo rural e posteriormente à descolonização

(1974-1975), a propriedade imobiliária transforma-se num novo e importante objeto de negócio

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(Ferreira, 2012), como está explícito na figura 9 que sintetiza o processo de transformação

territorial.

Fonte: Ferreira, 2012

Respondendo às novas exigências habitacionais em Portugal assinalam-se os primeiros

exemplos de suburbanização programada, representados na figura 10.

Figura 10. Primeiros exemplos de suburbanização programada na AML

Fonte: Nunes, 2011

O processo de expansão urbana associa-se às consequências do êxodo rural nacional no

ordenamento do território. A industrialização foi acompanhada de grandes movimentos de

população do campo para os pólos industriais. Este desenvolvimento industrial muito

concentrado levou à concentração em poucos pontos terminais, nomeadamente as grandes

Transformação do solo sem coerência territorial

Inexistência de preocupações de planemento aliada de atitude passiva das autarquias

Criação de estratos urbanos específicos

Empresas especializadas na produção de empreendimentos

Marketing imobiliário Preocupação primordial com a geração de lucro

Propriedade imobiliária como um negócio

Boom imobiliário Entrada de capital financeiro

Figura 9. Processo de reconversão da propriedade imobiliária no final da década de ´60 do

século XX

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metrópoles, com um crescimento muito rápido (Salgueiro, 1977). A industrialização revela-se um

motor de arranque do crescimento urbano, tendo encontrado como aliado perfeito um mercado

controlado pelos promotores privados, num contexto de especulação em que o Estado intervém

insignificantemente na monitorização residencial (Figura 11).

Figura 11. Dinâmicas de crescimento suburbano em Lisboa no final da década de ´60

Fonte: Ferreira, 2012

A urbanização na A.M.L. vai-se perpetuando por dois fenómenos paralelos: a construção de

urbanizações por promotores imobiliários privados; e a construção ilegal por particulares. Estes

fenómenos consistem respetivamente na causa e na consequência da especulação imobiliária.

De fato a partir de 1970, o crescimento da cidade depende de entidades de promoção privadas,

responsáveis por 90% da construção realizada entre 1971 e 1980, tendo a administração

delegado funções e adotado um papel meramente de aprovação (Ferreira, 2012). Não sendo

“novidade para ninguém o fato de a cidade ser o principal objeto do exercício do poder” (Rossa,

2002: 35), torna-se indissociável a relação entre poder económico e poder social com efeitos no

território. O fenómeno dos subúrbios deve-se primordialmente à inexistência de oferta de

habitação para as classes médias urbanas, num período em que a cidade histórica não tem

resposta a nível de habitação coletiva para o excessivo populacional, este momento é intervalado

entre 1968 com a delegação de poder de Salazar em Marcello Caetano e 1986 com a adesão

de Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE) (Ferreira, 2012). A nível morfológico no

final do século XX o território suburbano da AML apresenta-se com uma grande dispersão, sem

comunicações satisfatórias, com uma grande área de construções ilegais, e com espaços

monofuncionais sem identidade (Gonçalves e Elias, 2015).

Face a este contexto, a desregulamentação do planeamento territorial aliada a novas mudanças

na rede rodoviária e nos caminhos-de-ferro, que proporcionaram uma aproximação às periferias,

consubstanciou novas frentes de urbanização, instigadas por agentes particulares em locais

cada vez mais distantes do centro urbano (Pereira, 2004). Esta operação de expansão reconhece

Ideais de liberalismo Pressão demográficaCompactação territorial

com diferentes agentes espaciais

Relações metropolitanas num

território limitado

Processo de crescimento urbano

otimista

Estímulo da banca

Grandes promotores privados com controlo

imobiliário

Tradicional produção lote a lote

Grandes pacotes urbanos

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o setor bancário como um forte interveniente no negócio imobiliário, conseguindo a associação

entre várias construtoras e empresas. Este poder imobiliário gere estratégias de bloqueio e

especulação imobiliária que forçosamente dirige um forte crescimento demográfico para a

procura de alojamento com caráter marginal. O mercado clandestino acompanha o movimento

centrífugo da expansão urbana, redirecionando também a expansão urbana ilegal (Ferreira,

2012).

O crescimento urbano vai apresentando diferentes contornos a nível quantitativo e qualitativo

(Gráfico 5 e 6), mas apresenta uma padronização de localização específica: Lisboa – o epicentro

da expansão urbana; concelhos a norte de Lisboa – os mais beneficiados do desenvolvimento

da rede viária e da rede dos caminhos-de-ferro; concelhos a sul de Lisboa – com as travessias

sobre o Tejo adquirem uma posição importante na expansão urbana (Gonçalves e Elias, 2015).

Gráfico 5. Número de Fogos na Grande Lisboa (1940-2011)

Fonte: I.N.E., Recenseamentos Gerais da População, 1940, 1960, 1981, 1991, 2001, 2011

Gráfico 6. Número de Fogos na Península de Setúbal (1940-2011)

Fonte: I.N.E., Recenseamentos Gerais da População, 1940, 1960, 1981, 1991, 2001, 2011

0 50000 100000 150000 200000 250000 300000 350000

Amadora

Cascais

Loures

Lisboa

Mafra

Odivelas

Oeiras

Sintra

Vila Franca de Xira

2011 2001 1991 1981 1960 1940

0 20 000 40 000 60 000 80 000 100 000 120 000

Alcochete

Almada

Barreiro

Moita

Montijo

Palmela

Seixal

Sesimbra

Setúbal

2011 2001 1991 1981 1960 1940

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As assimetrias verificadas na expansão urbana são verificáveis nos gráficos 5 e 6, a

representação do número de fogos na AML permite verificar um crescimento urbano mais notório

nos municípios pertencentes à margem norte da AML, representada pela NUT III da Grande

Lisboa.

O forte crescimento residencial suburbano evidenciado teve como base a rede urbana pré-

metropolitana e a ocupação dispersa do espaço rural (C.C.D.R.-L.V.T., 2007). Apresentando

ainda hoje como principais consequências: grande dispersão das implantações residenciais e

das atividades; forte consumo de solo rural; crescimento não licenciado; acentuada diversidade

morfológica e tipológica das áreas urbanizadas, nem todas de qualidade mínima; deficiente

infraestruturação e equipamento; forte interpenetração dos espaços urbanos com os espaços

rurais; dispersão e fragilidade do sistema de transporte público; e concentração e densificação

habitacional sobre os eixos radiais de transportes em relação a Lisboa (Ibidem).

3.2. Desafios e problemas: governação e intervenções

Recorrendo numa primeira fase à análise de um caso de estudo é possível perceber quais os

pull factors e os push factors dos subúrbios a ter em conta numa fase posterior de governação e

intervenção. Num caso de estudo são determinados os fatores que influenciam a decisão da

escolha de subúrbios em Tallinn (Estónia). Esta análise de micro nível recorre a um inquérito à

população residente nos novos subúrbios, extrapolando os motivos de mudança urbana (Kȁhrik

et al., 2011). Os fatores que mais atraem a população para os subúrbios de Tallinn são: a

proximidade ao centro; o ambiente natural agradável; e a disponibilidade de infraestruturas, como

o abastecimento de água e a rede de esgotos. Como fatores de retração de outras áreas são

indicados: o desejo de viver em casa própria; o desejo de possuir terra (uma horta); e a ambição

de um melhor ambiente para as crianças. Os fatores primordiais de satisfação residencial nas

áreas suburbanas de Tallinn são: a oportunidade de caminhar nas redondezas; a disponibilidade

de ar condicionado na habitação; e a dimensão do alojamento (Ibidem). A evidência de

necessidade de aumento da qualidade de vida na pretensão suburbana esclarece a necessidade

de reorientação de governação e intervenção da problemática dos subúrbios segundo uma

auscultação da população que a reivindica.

De fato depois da dificuldade inicial que existe em delinear e caracterizar o subúrbio, acresce a

panóplia de problemáticas intrínsecas que se revelam um desafio aquando do processo de

planear e monitorizar o território. Tal como a cidade, o subúrbio tem uma diversidade de

interesses antinómicos e inconciliáveis, atenuados pelo crescimento desigual de áreas urbanas,

pelo aumento da esperança média de vida, pelo ambiente natural danificado, pela continuidade

da pobreza e pelo aumento da especulação (Forsyth, 2012).

Genericamente alguns subúrbios nos países anglo-saxónicos, sobretudo nos Estados Unidos,

albergam uma classe média que reconhece uma casa isolada com jardim numa área de baixa

densidade como um estilo de vida distintivo, tranquilo, seguro e de qualidade, características que

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o centro urbano da cidade tradicional não pode oferecer (Jackson, 1987; Duany et al, 2001;

Vinicio, 2008). Os subúrbios surgem nos E.U.A. como potenciadores da qualidade de vida.

A Europa continental reflete uma paisagem suburbana distinta tendo sido o subúrbio inicialmente

uma solução para o problema habitacional da população estabelecida durante o período do pós-

guerra (Gonçalves et al. 2015), maioritariamente identificado como um sinónimo de pobreza e

miséria (Goitia, 2008). Consoante a regulamentação preconizada pelos distintos instrumentos de

planeamento e pelas leis concebidas, os espaços suburbanos compilam áreas específicas como

sendo industriais, logísticas e residenciais (Figura 12). Os subúrbios têm vindo gradualmente a

desvalorizar as práticas da vida quotidiana (Prior, 2012), não sendo claramente espaços de

primeira escolha para viver dependendo sempre de uma cidade que emprega, absorve e atrai

(Gonçalves et al., 2015), os subúrbios são considerados como uma configuração inferior de

cidade (Kirby e Modarres, 2010).

Figura 12. Estrutura ecológica-social de Madrid

Fonte: Goitia, 2008

Legenda: 1. Centro Comercial; 2. Classe alta; 3. Classe média; 4. Classe alta; 5. Classe média; 6. Habitações humildes; R. Retiro; S. Puerta del Sol; P. Palácio Real

Denota-se que o espaço urbano é per si um “palco de desigualdades e tensões próprias das

sociedades capitalistas, que se apropriam do espaço urbano consoante os seus interesses, dos

quais resultam desequilíbrios estruturais, resultantes da organização social” (Queirós, 2007: 91).

Observa-se a relação exponencial entre os interesses dominantes e as desigualdades sociais,

que crescem na mesma medida de ocorrência. Para tal têm contribuído as tendências recentes

de back-to-the-city e de gentrificação, consequência das externalidades negativas associadas à

expansão extrema verificada, que se repercute na deslocação das populações tradicionais in

loco e também das recém-chegadas populações imigrantes da cidade central, reveladoras da

pobreza. A periferia torna-se um espaço de vulnerabilidade económica (Lee, 2005). Ressalvando

o caráter iminente de marginalização associada a este espaço urbano, “a marginalização

voluntária territorial nos Estados Unidos, a marginalização territorial involuntária na Europa, e

marginalização académica em ambas as regiões” (Gonçalves et al., 2015: 2), considerando a

definição espacial e a definição humana de marginalização.

A incoerente ou insuficiente aplicação de políticas urbanas nos subúrbios tem que ser alvo de

discussão para atenuar a marginalização das áreas suburbanas das cidades. No debate reside

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a evolução, que passa obrigatoriamente pela transformação e assimilação de ideias e soluções

para um território circunscrito ao desajuste e esquecimento camarário ao longo dos anos

transatos. Torna-se um fato remediável através de uma conciliação entre as políticas sociais com

as políticas urbanas, harmonizando a intervenção no plano social com os principais objetivos do

urbanismo competitivo. A dualização social e urbana preconizada por Peter Marcuse (1985)

reporta a necessidade de conciliação e monitorização do espaço urbano, sendo que se existem

duas cidades, uma preferida e outra esquecida, a maioria das pessoas tenderá a rever-se na

melhor das duas, o que homogenesia artificialmente os interesses de várias classes e frações

de classes, opondo-os aos de uma underclass de contornos indefinidos e da qual ninguém quer

fazer parte.

Acontece frequentemente a observação de um território suburbano como um todo, efetivada pelo

papel do governo no planeamento. Contudo a análise conseguida só pode ser real e abrangente

se se tiver em conta as diferentes partes do território, instituídas pela governança, caso contrário

pode-se correr o risco de serem geradas generalizações, indefinições e desadequações a uma

realidade específica e distinta. Em termos práticos “a relação governo-governança em contexto

metropolitano tem-se revelado complexa, dinâmica e tensa” (Ferrão, 2013: 270). De fato para

além da sua eficiente aplicação, os diferentes e necessários novos modos de governança têm

um desafio acrescido, devendo considerar a formulação de políticas fora do tradicional perímetro

governamental (Héritier e Lehmkuhl, 2011).

A forma de interação entre as cidades e os subúrbios contempla diversas disposições pluralistas,

associativas e macropolíticas (Ferrão, 2013). Preconiza-se que soluções abrangentes possam

superar alguns dos problemas de coordenação enfrentados pelos governos locais em contextos

metropolitanos, evitando a visão elitista da política local (Hamel e Kiel, 2015). A preocupação

intensifica-se devido à correlação positiva entre a temática da periferia e o défice de cidadania,

considerando o subúrbio como uma existência precária enquanto espaço político e de

participação cívica (Levy, 1994; Rusk, 2003).

Os subúrbios estão quase sempre desajustados, a dinâmica urbana é sempre mais rápida do

que os ajustamentos político-administrativos e institucionais (Domingues, 1994). Esta

problematização remete para aspetos desafiantes já mencionados de marginalização, de âmbito

territorial (marginalização geográfica) e de âmbito social (marginalização social equivalente). A

elasticidade territorial é a única forma de evitar a excessiva fragmentação das áreas

administrativas dentro de uma metrópole funcionalmente cada vez mais coesa e territorialmente

mais vasta, sendo necessária uma estratégia territorial abrangente ao todo (Ibidem). Há a

destacar a conversão que ocorre, no novo contexto de desregulação, as políticas públicas têm

um papel crucial no processo de manutenção deste fenómeno que deve ser reconvertido, ou

minimizado.

As reabilitações dos centros históricos constituíram-se uma realidade como resposta a uma

necessidade. No entanto esta metodologia de reconversão tem consequências notórias, um

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processo de gentrificação subjacente. Empiricamente está demonstrado que ocorre um aumento

da população com maior poder económico nos centros das cidades e um afastamento da

população com menor poder de compra para as periferias. Constata-se a remoção das classes

populares do seu habitat tradicional, em contraponto à necessidade premente de gestão e

monitorização do seu novo habitat nos subúrbios, devido à massificação de utilização do

território, com necessidades de adequação de equipamentos e infraestruturas afetas,

manuseadoras da qualidade de vida (Queirós, 2007).

O crescimento das cidades revelou-se rápido no século XX, sobretudo com a aceleração

verificada a partir de 1950. A questão pertinente do urbanismo para Jean Gottmann (1978) era a

existência de um limite para o crescimento urbano. De fato a contenção evidenciada como

solução para o problema de crescimento urbano está reivindicada em alguns instrumentos de

gestão territorial, começando a efetivar-se com a crise económica mundial perpetuada a partir

de 2008, que retira poder de compra fundiária e desestimula a especulação imobiliária. Contudo

o crescimento é uma parte essencial dos processos biológicos e económicos (Gottmann, 1978:

3), e a dificuldade associada ao crescimento urbano consiste na medição e contenção do mesmo.

Torna-se necessária uma estratégia de intervenção para solucionar este problema, medindo e

contendo a expansão urbana perpetuada sobretudo através da construção nos subúrbios.

A solução para o problema da expansão urbana a longo prazo passa pela alteração de carácter

simplificado do Plano Diretor Municipal (PDM), “para que a norma dos PDM existentes se torne

mais flexível, a programação da urbanização deverá depender da elaboração de PU e PP ou da

delimitação de Unidades de Execução, que podem ser de iniciativa privada, mas a localização e

programação deve corresponder a escolhas estratégicas da Câmara Municipal” (Condessa,

2014: 37).

Considera-se que “a estrutura monocêntrica tradicional condena historicamente a periferia à

marginalidade (e só) a multipolaridade assegurar-lhe-á a sua legitimidade urbana” (Burgel, 1993:

155). Os subúrbios diluídos no quadro complexo das formações metropolitanas tornaram-se o

lugar estratégico dos novos processos de transformação urbana. A solução estratégica passa

por trabalhar pelo menos a duas escalas para dar sentido às novas políticas urbanas necessárias

(Domingues, 1994: 15):

1. Micro territorial - gerindo programas de qualificação e de revitalização de áreas

urbanas degradadas, passando pela integração de instrumentos e de políticas, o que

requer fórmulas participativas e parcerias entre atores públicos e não públicos, e

políticas locais com políticas não locais;

2. Macro territorial – uma questão fundamental, percebendo cada um dos fragmentos

do mosaico urbano alargado a partir das variáveis estruturantes do sistema, no seu

conjunto, contextualizando as pequenas intervenções fragmentárias.

Especificando a problemática de análise e planeamento dos subúrbios, Adriana Allen (2003)

evidenciando os principais desafios que enfrentam o planeamento ambiental e a monitorização

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periurbana revela a oportunidade adequada de reorientação e intervenção governamental.

Considerando que “uma parte significativa das populações urbanas modestas habita e trabalha

na periferia das cidades e as suas necessidades são mal transmitidas e mal consideradas pelos

poderes políticos, (…) o desafio não é lutar contra a periurbanização, a suburbanização ou a

rurbanização como tais, mas organizar da forma mais urbana possível este modo de habitat e

de trabalho” (Ascher, 2010: 159). Acrescentando que o traçado da cidade como é verificável na

história das cidades, “quer dê origem a uma composição ou não, traz sempre imagens consigo,

que os poderes sabem bem utilizar” (Delfante, 2000: 385), esta manipulação e distorção da

pretensão política tem que dar lugar à razão adaptada à realidade defensora do interesse público.

A mudança de governo em ciclos de quatro anos, com orientações e pretensões institucionais

inerentes, também perturba estratégias delineadas com horizontes temporais extensos, como se

verifica a nível nacional no instrumento de desenvolvimento territorial de natureza estratégica, o

Programa Nacional da Politica de Ordenamento do Território (PNPOT). A continuidade de

estratégias prorrogada pelo interregno entre partidos políticos no poder é um problema para a

necessária concertação de sinergias para um planeamento eficaz e eficiente do território, mas

também a morosidade de elaboração de instrumentos de gestão territorial e subsequente

aplicação são um entrave. Pela observação sintética desta morosidade verifica-se que com

anuência do diagnóstico feito pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de

Lisboa e Vale do Tejo (CCDR- LVT), um plano de urbanização demora em média cinco anos a

ser concluído, enquanto um plano de pormenor leva menos um ano, em relação aos P.D.M.

constata-se que os de primeira geração demoraram uma média de nove anos a ser concluídos

(Boaventura, 2005). Este fato em consonância com a falta de concertação entre ideias e

estratégias políticas dificulta a gestão e planeamento do território nacional.

Sintetizando, a legislação que de forma assinalável direta ou indiretamente, e espacialmente,

interfere com as questões desta expansão urbana, explicita o desligamento do dever municipal

e redireccionamento de poderes para particulares, o que não é necessariamente negativo se

devidamente acompanhado pelas entidades públicas, o que não se tem efetivado. Primeiro é

assim evidenciado um relativo recuo das políticas de planeamento territorial quando há a

desregulamentação do processo de loteamento, acautelado anos mais tarde por uma rígida

contenção do perímetro urbano (Tabela 2).

Tabela 2. Síntese de legislação com influência na expansão urbana

Legislação analisada Transformações consideradas

Decreto- lei nº 46673/65, de 29 de Novembro “Se o loteamento for requerido para zonas de construção urbana previstas em plano ou anteplano de urbanização aprovado e obedecer às condições exigidas nos seus traçados e regulamentos, será dispensado o parecer da Direcção-Geral dos Serviços de Urbanização, quando o serviço municipal de obras e urbanização tenha sido ouvido”

Regula a intervenção das autoridades administrativas responsáveis nas operações de loteamento. A administração central atribui poder de construção, com menos regulamentação, aos particulares. No domínio da vigência do Decreto-lei a falta de licença de loteamento não determina a nulidade dos contratos-promessa de compra e venda de terrenos, com ou sem construção, compreendidos no loteamento.

Decreto- lei nº 73/73, de 28 de Fevereiro “Os projetos de loteamentos abrangidos por estudos de urbanização já aprovados ou de loteamentos de reduzida dimensão em zonas rurais podem ser

Revê o regime aprovado pelo Decreto-lei n.º 46673. A publicação do Decreto-lei nº 73/73 veio introduzir facilidade no processo de construção, que se fez sentir sobretudo nos subúrbios. No que diz respeito às intervenções camarárias

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elaborados e subscritos, isoladamente, por arquitetos, engenheiros civis ou agentes técnicos de engenharia civil e de minas”, acontecendo o mesmo aos “projetos de edifícios correntes e sem exigências especiais”

ficou estipulado que “as resoluções das câmaras municipais em matéria de qualificação, tendo em conta o disposto neste decreto, serão fundamentadas em parecer dos respetivos serviços técnicos, se os houver, e deverão mencionar concretamente as razões justificativas da decisão tomada”. Consequentemente, a partir deste período, o cuidado com o desenho dos espaços públicos e com a sua qualificação passou também a não merecer tanto apreço. A construção dos subúrbios em Portugal efetuou-se num período relativamente curto, tornando o edificado esteticamente homogéneo, conotando-o como enfadonho e amorfo. Significativamente o sentimento percursor de descaracterização do subúrbio por parte do cidadão comum prende-se com questões relacionadas com a manutenção dos espaços públicos ou de ordem estética, indiretamente incitadas pelo decreto referido (Lourido, 2012).

Decreto-lei nº 11/2009, de 29 de Maio “Nova regulação da classificação e qualificação do solo”

A contenção da expansão urbana tardiamente começa a ser assumida como uma solução a nível jurídico. O decreto estabelece os critérios de classificação e reclassificação do solo, bem como os critérios e as categorias de qualificação do solo rural e urbano, há claramente uma procura iminente de combate ao aumento indiscriminado dos perímetros urbanos, bem como o evitamento de criação de bolsas de terrenos puramente especulativos. O dimensionamento das áreas de expansão deve começar a responder a critérios específicos como as carências pré-existentes de habitação, ou outro tipo de atividade, assim como de equipamentos e infraestruturas; o crescimento populacional previsto; o aumento da mobilidade; o rendimento médio das famílias; e as alterações da estrutura familiar (Condessa, 2014).

Decreto Regulamentar n.º 15/2015, de 19 de Agosto “O solo urbano corresponde ao que está total ou parcialmente urbanizado ou edificado e, como tal, afeto em plano territorial à urbanização ou edificação. Por sua vez, o solo rústico corresponde àquele que, pela sua reconhecida aptidão, se destine, nomeadamente ao aproveitamento agrícola, pecuário, florestal, à conservação e valorização de recursos naturais, à exploração de recursos geológicos ou de recursos energéticos, assim como o que se destina a espaços naturais, culturais, de turismo e recreio, e aquele que não seja classificado como urbano. Para a reclassificação do solo rústico em solo urbano exige -se a demonstração da sustentabilidade económica e financeira da transformação do solo rústico em urbano, através de indicadores demográficos e dos níveis de oferta e procura do solo urbano”

Recentemente o problema da especulação imobiliária encontra resposta na contenção urbana estipulada no decreto que estabelece os critérios a observar na classificação do solo, assente na diferenciação entre as classes de solo rústico e de solo urbano. Progressivamente assiste-se a um processo de retrocesso da desregulamentação, incrementado pela aprovação da lei de bases da política pública de solos, de ordenamento do território e de urbanismo, através da Lei n.º 31/2014, de 30 de maio e, na sua sequência, pela revisão do RJIGT, aprovada pelo Decreto-Lei n.º 80/2015, de 14 de maio que operou uma profunda reforma no modelo de classificação do solo, eliminando a categoria operativa de solo urbanizável.

Denota-se atualmente uma sobrelegalização da forma urbana, sendo evidente que esta não

corresponde ao maior nem melhor ordenamento do território. A abundância e a acumulação de

regras com caráter restritivo e imperativo desvia o procedimento operatório do espaço para uma

vertente mais normativa e legislativa do que lógica e generativa (Cavaco, 2009). No entanto

continua subjacente a necessidade de retomar a ordem executiva da regra enquanto dispositivo

de legalidade, ou seja numa perspetiva menos restritiva, mais estratégica e operacional (Ibidem),

para tal são necessárias formas de atuação mais flexíveis e menos estereotipadas (Ascher,

2010).

Urge a adoção de uma estratégia aplicável às áreas metropolitanas urbanizadas, que deve se

cingir à necessidade de reutilização dos recursos existentes (Lee, 2005). Uma estratégia coesa

e coerente tem igualmente que ter incorporada a possibilidade de participação dos intervenientes

locais na definição de prioridades e na tomada de decisões. O planeamento ambiental e a gestão

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de abordagens para o planeamento urbano, rural, regional, e nacional já apresentam muitos dos

métodos que necessitam de ser aplicados no planeamento e gestão da interface periurbana,

contudo é necessária uma consolidação e aplicação de uma abordagem específica que ligue

estes métodos e os compile num sistema coerente (Allen, 2003).

Em síntese são apresentadas duas hipóteses para alcançar o consenso desejado para as áreas

suburbanas: trabalhar a duas escalas (micro e macro territorial), ou procurar uma concertação

entre o planeamento nacional, regional, urbano e rural. Tal como todas as estratégias que visam

a melhoria da qualidade de vida de uma população, qualquer que seja a aposta de intervenção

deve ter como base um sistema sólido de governação que ausculte sempre os principais

intervenientes nesse mesmo território. Torna-se claro que se pretende um crescimento

inteligente dos territórios suburbanos através de uma estratégia concertada e eficiente,

atendendo ao facto que tal como a definição de subúrbio também a definição de crescimento

inteligente é variável (Lee, 2005), a solução passa por adequar o planeamento estratégico que

se pretende à realidade existente in loco, traduzida por um sistema dual eficiente de governação-

governança.

Em termos práticos “os planos das cidades antigas ensinam-nos que a cidade deve ser

compreendida como um instrumento didático” (Delfante, 2000: 386). Constata-se que “o

ordenamento real do território há muito deixou de ser exclusivo dos agentes nacionais. A

liberalização dos mercados, a abolição das fronteiras no seio da União Europeia e as tendências

gerais de globalização dos mais distintos fenómenos tornam o território de cada região e de cada

país crescentemente vulnerável a atores e fatores externos, independentemente das

competências formalmente atribuídas às diferentes instâncias do poder político-administrativo”

(Ferrão, 2004: 58). Este cenário global necessita de uma organização estruturada do território,

incutindo a opinião pública no planeamento urbano e precavendo que qualquer ação pública

contemple o modo como cada área se integra em múltiplas redes de interação (Ibidem).

O conteúdo da cidade engloba várias funções urbanas, tais como: as funções do habitat, as

funções de produção, e as funções terciárias (Pelletier e Delfante, 2000). Esta miscelânea de

funções sobrepõe-se numa diversidade de usos do solo, que se reparte numa multiplicidade de

morfologias e tipologias urbanas. Figurativamente “a cidade partida em pedaços tornou-se uma

cidade-puzzle que os urbanistas tentam colar de novo, ou organizar os pedaços dispersos”

(Ibidem: 84).

Torna-se necessário especificar e analisar as várias classes de uso do solo, onde se implantam

diferentes tipologias de subúrbios. Independentemente da sua tipologia e morfologia urbana, da

intensidade de dependência ao centro, e da dinâmica de evolução circunscrita, as situações

urbanas em estudo têm todas em comum o fato de representarem tipos de espaço suburbano.

Como ficou verificado o crescimento suburbano torna-se o processo urbano dominante do século

XXI, sendo a sua monitorização um processo cada vez mais premente dos desafios globais

(Hamel e Kiel, 2015). Uma análise dos tecidos suburbanos na AML encetada por Cristina Cavaco

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(2009) revela que a regra e o modelo afiguram-se como ferramentas seguras na leitura e análise

do fato urbano contemporâneo, na sua descodificação.

O Instituto Nacional de Estatística (2004), tendo em conta dados socioeconómicos, identifica na

Área Metropolitana de Lisboa seis classes espaciais (Tabela 3).

Tabela 3. Classes do espaço urbano na AML

Classes espaciais

1) Urbano consolidado

2) (Sub) urbano qualificado

3) Suburbano novo

Imagem exemplificativa

Figura 13. Fotografia aérea do Bairro dos Atores, 2012 Fonte: Google Earth, 2015

Figura 14. Fotografia aérea da Urbanização da Portela, Loures,

2010 Fonte: http://www.bing.com/maps

Figura 15. Fotografia aérea do Lumiar, 2012

Fonte: Google Earth, 2015

Classes espaciais

4) (Sub) urbano desqualificado

5) Rural 6) Precário

Imagem exemplificativa

Figura 16. Crescimento da periferia nas margens da CRIL, Loures, 2010

Fonte: Ferreira, 2012

Figura 17. Colares,

Sintra, 2014 Fonte:

http://upmagazine-tap.com/pt_artigos,

2015

Figura 18. Área Urbana de Génese Ilegal,

Loures, 2012 Fonte: Google Earth, 2015

O crescimento dos subúrbios de Lisboa produz um conjunto de aglomerados urbanos

disseminados, distanciados de constituintes rurais (Classe 5) e muito dependentes da metrópole,

compostos por construções legais na sua maioria (Classe 1 a 4), e por bairros de génese ilegal

não planeados, construídos em parcelas rústicas sem fracionamento legal e sem a integração

infraestrutural adequada (Classe 6). Esta simbiose é consequência duma gestão desajustada

por parte do poder político. Obstante o caráter qualitativo e quantitativo das formações urbanas

legais é direcionada a atenção para o desafio persistente das formações ilegais cuja legislação

e o planeamento territorial devem futuramente acautelar.

Apontada como uma realidade estratégica da posição passiva da administração central na

década de ´70, a construção à multa evidenciava a falta de resposta eficiente da administração

à descolonização, sendo aplicada uma coima ao proprietário que construísse sem alvará.

Progressivamente ocorre a tomada de consciência dos bairros clandestinos como um problema

na AML, iniciando-se ainda na década de ´70 as primeiras operações de reconversão e

legalização das Áreas Urbanas de Génese Ilegal (AUGI´s) (Gonçalves et al., 2010). Em 2008 a

construção ilegal representava cerca de 3% do total da AML e nitidamente tende a seguir a

expansão urbana nos eixos criados pelas infraestruturas rodo e ferroviária (Costa, 2008). Está

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latente um dos principais problemas dos subúrbios na AML, constituindo um desafio a considerar

até à ambicionada solução urbanística.

Ressalva-se que a desregulamentação preconizada nos IGT tem gerado uma panóplia de

processos de urbanização distintos com tipologias reconhecidas a nível formal e informal. Para

sistematizar esta diversidade com o objetivo último de analisar as diferentes tipologias formais

da composição urbana, é adotada a metodologia de Solà-Morales que tem como base as

operações básicas de urbanização. Solà-Morales (1997) considera que a caracterização da

cidade não pode basear-se somente na morfologia e na tipologia, devendo considerar-se em

simultâneo aspetos organizadores da cidade como infraestruturas, traçado viário, evolução, entre

outros. De fato a ideia de cidade está associada à ideia de composição urbana, entendida num

sentido amplo de organização de funções urbanas que levam a uma expressão formal que

permite a identificação da sociedade (Delfante, 2000). Verifica-se pela história das cidades que

“mesmo que tenham algum grau de semelhança ou de parentesco, as cidades são todas

diferentes umas das outras, uma vez que se podem distinguir vários tipos” (Pelletier e Delfante,

2000: 19), contudo há categorias de cidades que quer pela sua tipologia quer pela sua morfologia

constituíram uma mudança no entendimento urbano. A morfologia urbana e a tipologia de

crescimento da cidade são analisadas como uma combinação no tempo e no espaço. Sendo

consideradas como operações base do processo de expansão urbana:

1. Loteamento do terreno (L),

2. Infraestruturação do espaço (I),

3. Edificação dos lotes (E).

A metodologia consiste na observação do território, tendo em conta o processo de criação dos

espaços e enquadrando-os nas diversas tipologias, caracterizando a urbanização reconhecida

formalmente (Tabela 4) e a urbanização de génese ilegal e não reconhecida (Tabela 5).

Considerando o território da AML alguns exemplos são explorados:

Tabela 4. Análise de tipologias de urbanização reconhecidas formalmente na AML

Identificação Processo de Urbanização

Caraterísticas Exemplo de contextualização

1. Expansão

Programada L I E

Forma convencional

Aprovação de plano prévio

Maior iniciativa privada

Figura 19. Zona norte da EXPO, Lisboa, 2012

Fonte: Google Earth, 2015

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2.

Crescimento segundo

eixos suburbanos

I L E

Alargamento lento e progressivo

maioritariamente seguindo artérias viárias

ou ferroviárias

Infraestruturação, loteamento e edificação em momentos e a ritmos

distintos

Figura 20. Póvoa de Santa Iria, Vila Franca de Xira, 2012

Fonte: Google Earth, 2015

3. Modelo da

cidade-jardim

I L E

Crescimento extensivo

Construção unifamiliar integrada

Figura 21. Encarnação, Lisboa, 2007

Fonte: Google Earth, 2015

4. Polígonos-

Bairros Residenciais

L I E

Crescimento intensivo

Processo unitário

Loteamento, infraestruturação e

edificação quase em simultâneo

Figura 22. Olivais Sul, Lisboa, 2012

Fonte: Google Earth, 2015

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Tabela 5. Análise de tipologias de urbanização de génese ilegal e não reconhecidas na AML

Identificação Processo de Urbanização

Caraterísticas Exemplo de contextualização

5. Urbanização

Marginal L E

Modalidade específica consoante

disponibilidade do solo

Loteamento informal

Edificação faseada

Responsabilidade exclusiva do proprietário

Volumes autónomos do processo de

crescimento urbano

Figura 23. Brandoa (sul), Amadora, 2012

Fonte: Google Earth, 2015

6. Urbanização

Precária E

Falta de estrutura do tecido urbano

Falta de coordenação entre

urbanizações

Edificação provisória

Edificação notória em áreas protegidas

Figura 24. Brandoa (norte), Amadora, 2012

Fonte: Google Earth, 2015

7. Invasão por

terrenos expetantes

L

Crescente loteamento de solo

rural até então

Lotes vazios

Perspetiva de intervenção futura

Figura 25. Cova da Moura, 2007

Fonte: Google Earth, 2015

Assinalando que muitas vezes estas realidades coexistem lado a lado, criando uma verdadeira

manta de retalhos, uma confusão entre classes do espaço urbano e tipologias de urbanização.

Quer a aplicação metodológica do INE (2004) com consequente reconhecimento cartográfico

específico de classes espaciais, quer a metodologia de Solà-Morales (1997) com estratificação

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de processos de urbanização, demonstram as dinâmicas e necessidades próprias de uma malha

urbana espacialmente complexa, formalmente desestruturada, e com diferentes tipologias de

subúrbios que não constituem uma composição urbana coesa e coerente. A observação de todas

as situações urbanas apresentadas permite verificar a consonância de distintas morfologias,

diligências e carências dos subúrbios da AML e obter ilações sobre a sua contextualização no

espaço urbano: o desenvolvimento destas áreas revela um difícil controlo ou previsão, díspar

consoante a sua génese; as respostas de planeamento territorial têm-se mostrado ineficazes

perante a realidade; a comunicação e a interação entre áreas distintas por vezes torna-se

impossível.

Perante esta problematização urge responder a duas questões: quem tem o dever e o direito de

conciliar a disfuncionalidade do espaço urbano; e como solucionar este problema?

O modo de intervenção perante a problemática dever-se-á efetivar através da utilização dos

instrumentos de gestão territorial e também de instrumentos territoriais que devem adotar

medidas estratégicas que procurem uma abordagem integrada da macro escala com a micro

escala com a devida concertação dos diferentes atores do território. Uma das soluções para

coser esta malha urbana com caraterísticas múltiplas, resultado de géneses e dinâmicas distintas

ao longo da evolução urbana, passa por adotar a abordagem de governança territorial

estratégica, sendo que a introdução desta componente teórica inovadora no contexto prático

urbanístico reflete resultados efetivos no planeamento territorial (Ferrão, 2013).O tempo,

considerado um dos motores ou agentes da disrupção, consiste também no grande veículo de

esperança para os territórios que apesar de problemáticos e ininteligíveis ainda aguardam uma

hipótese para se regenerarem (Cavaco, 2009).

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4. Retrospetiva e prospetiva suburbana da Área Metropolitana de Lisboa

Na Constituição da República Portuguesa o artigo 9º, alínea e) estabelece o ordenamento do

território como uma função pública. O artigo 66º com a revisão de 1989 constitui-se como o

primeiro artigo ambiental no panorama constitucional português e no nº2, na alínea b) consagra

o ordenamento do território como tarefa fundamental do Estado. Apesar de fundamentado e

legislado o ordenamento do território, no contexto das políticas públicas, corresponde no território

nacional a uma política duplamente fraca: devido à falta de concertação entre os objetivos

visados e as condições efetivas para os atingir; e devido à vulnerabilidade face aos efeitos

indesejados decorrentes de outras políticas assim como em relação aos impactos negativos dos

objetivos e princípios do ordenamento do território. Ficando subjacente com esta constatação de

João Ferrão (2011) um processo simultâneo de falta de eficiência e de falta de resiliência no que

concerne a políticas públicas no ordenamento do território em Portugal.

Ficou provado que de fato as transformações profundas em território nacional nas últimas

décadas refletiram-se com elevada intensidade no ordenamento do território, em particular na

estrutura urbana (Queirós e Vale, 2005). O urbanismo é reflexivo (Portas, 2012), torna-se

importante investir numa capacidade de reação pró-ativa, para além da compilação do espírito

de iniciativa, reunindo múltiplas iniciativas públicas e privadas enumeradas, mas também

procurar uma reflexividade crítica, questionando, analisando e agindo sobre o real, cujo objetivo

seja “a conciliação entre regras e modelos (que) deverá ser uma conciliação crítica e reflexiva,

uma articulação de reciprocidade temporalizada” (Cavaco, 2009: 483).

Uma questão pertinente que se impõe é como garantir o direito à cidade (defendido por Henri

Lefebvre (1968)) nas metrópoles contemporâneas? A resposta fundamenta-se numa hipótese

provisória equacionada por João Ferrão (2015: 209), “reforçando-se as relações de coevolução

dialética entre novas formas de regulação pós-burocrática por parte do Estado à escala

metropolitana e novos modos de microprodução de cidade, resultantes de processos de ação

coletiva capazes de criar espaços de respiração e emancipação democrática”.

Neste âmbito é apresentada uma metodologia que visa a análise das especificidades da escala

suburbana dentro da multiplicidade da escala metropolitana. Objetiva-se a perceção e crítica de

existência ou inexistência de articulação entre a realidade urbana e suburbana efetiva e o

planeamento estratégico subjacente à AML.

4.1. Abordagem metodológica utilizada

O conceito de subúrbio é estranho à cidade de escala reduzida, sendo paradoxalmente

associado a formações urbanas complexas e territorialmente centrífugas (Domingues, 1994). A

compressão territorial tornou-se necessária face às exigências mundiais de sobrepovoamento

em áreas com forte dinâmica económica e social. As áreas metropolitanas surgem como uma

“resposta a este acontecimento, no entanto os fatores macro nível não conseguem per si explicar

a distribuição de grupos sociais em áreas metropolitanas” (Peach, 1998: 1667), sendo obrigatória

uma análise fundamentada dos fatores de micro nível territorial conciliados com os fatores de

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macro nível para orientar as decisões que interferem com a temática. A periferia urbana é um

local estratégico das novas políticas urbanas, contudo pelos capítulos anteriores é reconhecida

a falta de homogeneidade dos subúrbios na periferia das grandes aglomerações. Urge deste

modo o tratamento dos subúrbios como casos únicos e não como um problema com solução

única.

Ressalva-se a importância que a requalificação urbana, física e social, ainda representa para a

AML, contribuindo para o reforço da competitividade, em particular da sua dimensão territorial,

fazendo face às bolsas de pobreza e de exclusão predominantes em determinadas áreas da

AML, onde se concentra uma população pouco qualificada e com uma forte dimensão étnica,

que colocam em causa a coesão social. Vários são os Instrumentos de Gestão Territorial (IGT)

e Instrumentos Territoriais (IT) que condicionam e orientam o desenvolvimento urbano dos

subúrbios, perante os desafios territoriais que persistem insta analisar a adequação dos objetivos

e das estratégias preconizados nos planos estratégicos à realidade efetiva da Área Metropolitana

de Lisboa.

Neste contexto depois de uma análise de caraterização, onde ficam subjacentes pontos fracos,

pontos fortes, oportunidades e ameaças do território em estudo proceder-se-á a um confronto

entre os objetivos e as estratégias delineados em todos os estudos, políticas e planos e

programas estratégicos com influência na AML. Sabendo de antemão os indicadores e

parâmetros de avaliação delineados para alcançar uma estratégia torna-se possível verificar até

que ponto estão as fragilidades e as ameaças de um território acauteladas através dos objetivos

estipulados, e conjuntamente compreender os estímulos possíveis às potencialidades e as

oportunidades. Em suma o confronto entre as estratégias delineadas em todos os estudos,

políticas, planos e programas estratégicos afetos à AML conduzem à concretização do objetivo

da metodologia, percecionando como os IGT e os IT consideram o território na sua estratégia de

desenvolvimento e planeamento, com especificação para os subúrbios. Pretende-se com este

exercício percecionar a adequabilidade e coerência entre o planeamento idealizado tendo em

prospetiva um horizonte temporal hipotético (2025) e a realidade efetiva na AML (Figura 26).

Figura 26. Metodologia utilizada

Revisão bibliográfica

Análise retrospetiva com consequente síntese

prospetiva

Caraterísticas específicas influenciadoras do espaço

suburbano

PASSADO

Compilação de problemas, questões, e estratégias

preconizadas em IGT e IT

PRESENTE

Confronto entre as caraterísticas existentes e os objetivos e estratégias

estipulados

FUTURO

Síntese de diretrizes afetas à AML decorridas e em vigor

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Devido à abrangência temática, à extensão documental existente e à limitação temporal de

execução da dissertação, a metodologia segue algumas linhas de análise e seleção bibliográfica,

conseguidas tendo em conta o resultado final esperado. Os critérios considerados na revisão

documental e subsequente síntese apresentada em matrizes são cumulativamente:

1. Abordagem com valor científico de análise de dados agregados e adequação territorial

e contemporânea da temática observada com disponibilidade de consulta pública;

2. Consideração de problemas/questões e estratégias repercutidas no planeamento e

ordenamento territorial da AML pela instituição e/ou organismo do estudo publicado;

3. Importância do assunto apresentado no contexto atual da AML face à análise

preconizada de verificação de assimetrias territoriais na AML;

4. Predominância e operacionalidade de IGT e IT influenciadores das dinâmicas internas e

externas da AML.

As tabelas síntese de excertos de informação conseguidas através dos critérios identificados

(referência de caraterização e estudo da AML; referência de políticas, propostas e programas da

AML; e referência de caráter estratégico e operacional da AML) apresentam:

1. Objetivos do estudo/plano ou programa em análise;

2. Metodologia de elaboração do estudo/plano ou programa;

3. Linhas de diagnóstico identificadas;

4. Propostas/visões/conclusões identificadas;

5. Observações a considerar da análise efetuada.

Ressalvando que dado o caráter de abordagem distinto das referências são evidenciados os

documentos analisados e é feita a sua descrição sumária.

De fato várias são as diretrizes afetas à AML. Em primeiro lugar é realizada a estratificação, em

matrizes SWOT, de estudos e caraterizações decorrentes de dados estatísticos, programas e

planos volvidos, para facilitar a análise são considerados os desígnios e considerações de

planeamento territorial estipulados por organismos independentes (CCDR, DGT, INE e AML).

Depois são considerados os objetivos estipulados cumulativamente nos IT transformadores da

realidade suburbana afetos à AML com caráter distinto dos IGT, nomeadamente com as

propostas POLIS, PROQUAL, e IBC. Esta análise retrospetiva será compilada com a análise

prospetiva proporcionada pela análise dos Planos Estratégicos e Planos Operacionais em vigor,

com especial enfoque nas estratégias dos Planos Estratégicos Portugal 2020, e em confronto

com a informação sintetizada das matrizes SWOT serão conseguidas algumas ilações da

coerência de ordenamento suburbano da AML e indicadas algumas possíveis soluções passíveis

de minimizar as questões iminentes.

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4.2. AML – história de uma metrópole

A expansão da cidade histórica analisada anteriormente criou uma nova cidade para além dos

seus limites formais, com um caráter mais genérico, produzindo uma nova cultura metropolitana

proporcionada pela urbe contemporânea (Ferreira, 2012). Desde o início deste século, chamam-

se metrópoles às mais dinâmicas e importantes aglomerações urbanas. A globalização é o

produto do fortalecimento de todos os movimentos, de capitais, de mercadorias, de pessoas, de

informação e de referências culturais que propendem a unificação do espaço como um mercado

único que regula cada lugar, mas transmuta-se e reformula-se nesse condicionamento, sendo

que quer o local quer o global se constroem permanentemente nesse jogo dialético (Salgueiro,

2001). O desenvolvimento territorial sustentável contemplando os recursos dos territórios não

ocorre per si, sendo que a perda de influência e capacidade de intervenção do Estado-nação no

mundo global determinou as soluções de governabilidade. Estas soluções objetivam uma

integração das ideias dos atores-chave que representam as necessidades do espaço urbano e

confluem nas dinâmicas territoriais. Justificando a necessidade de afirmação conceptual e

metodológica/operativa do conceito de governança (Ferrão, 2002, 2013; Pereira, 2013). Em

Portugal, o conceito foi estimulado pela aplicação dos fundos comunitários (Pereira, 2013), mas

até que ponto são coerentes os princípios do planeamento territorial e as necessidades efetivas

do território?

Portugal é um país moderadamente urbanizado, embora esta afirmação dependa dos critérios

usados para medir este fenómeno, explicita Teresa Barata Salgueiro (2001: 8), o território

nacional é “caracterizado pela forte litoralização do povoamento e da urbanização, a maioria das

cidades tem uma origem antiga e são relativamente pequenas à escala internacional, contudo

nos últimos anos notam-se fortes tendências para a urbanização in situ ou difusa e para o

crescimento de cidades médias, mas a rede urbana apresenta sinais de macrocefalia bicéfala.

Recentemente as áreas metropolitanas vêm sendo sujeitas a importantes processos de

reorganização”.

Lisboa é uma capital com 547 773 habitantes (2011), sendo o centro de uma área metropolitana

com cerca de 3 000 000 000 residentes (C.A.O.P., 2014). Esta dimensão contêm uma massa

crítica que justifica serviços de nível alto, colocando-a a par de outras cidades internacionais,

continuando paradoxalmente com uma dimensão modesta que permite viver à escala humana

(Salgueiro, 2001), cabe ao planeamento e ao ordenamento do território tirar partido destas

qualidades intrínsecas, não permitindo que se anulem.

Em 1989 ocorreu o lançamento dos trabalhos de elaboração do Plano Regional de Ordenamento

da Área Metropolitana de Lisboa, tendo sido o primeiro sinal da necessidade de equacionar esse

território numa perspetiva intermunicipal, funcionalmente integrada (Ferreira, 2007). De fato a

contiguidade da cidade de Lisboa com o território limítrofe foi gradual e sedimentada com base

numa dinâmica de dependência da adjacência com a área central, e em 1991 a Área

Metropolitana de Lisboa foi criada no âmbito da Lei nº 44/91, de 2 de agosto e incluía o município

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da Azambuja. Este diploma foi revogado pela Lei nº 10/2003, de 13 de maio que institui as duas

áreas metropolitanas portuguesas: Lisboa e Porto.

Tendo sido a passagem dos anos ´80 para os anos ´90 do século passado um período “profícuo

para a assunção da realidade metropolitana aos níveis concetual, político e administrativo”

(Ferreira, 2007: 2003). Exemplo disso é o Plano Estratégico da Região de Lisboa e Vale do Tejo

(PERLVT) de 1999 que nas linhas estratégicas evidencia que a AML deverá constituir-se como

um espaço de excelência para viver, trabalhar e visitar, projetando-se ao nível internacional

(PERLVT, 1999).

O regime jurídico das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, aprovado pela Lei nº 46/2008, de

27 de agosto redefiniu a A.M.L. tendo como constituintes os municípios de Alcochete, Almada,

Amadora, Barreiro, Cascais, Lisboa, Loures, Mafra, Moita, Montijo, Odivelas (entretanto criado),

Oeiras, Palmela, Seixal, Sesimbra, Setúbal, Sintra e Vila Franca de Xira, e excluindo a Azambuja.

A Área Metropolitana de Lisboa é constituída pelos 18 municípios perfazendo 3128 km², que

representam 3,3% do território nacional. No território circunscrito residem quase 3 milhões de

habitantes, cerca de ¼ da população portuguesa. Ao nível económico concentra cerca de 25%

da população ativa, 30% das empresas nacionais, 33% do emprego e contribui com mais de 36%

do Produto Interno (P.D.C.T. - A.M.L., 2015).

A AML reflete a mudança política, social e económica constante do país, e ao longo do século

XX a paisagem urbana foi redesenhada pelas dinâmicas sectoriais convertidas num conjunto de

transformações do território (Gonçalves, 2015). A formação metropolitana de Lisboa foi

concebida sobretudo nos anos ´60 e ´70 do século XX através de caraterísticas específicas:

crescimento periférico; integração funcional; intensidade dos movimentos pendulares;

densificação urbanística; e internacionalização (Ferreira, 2007). Sendo efetivas duas lógicas de

organização espacial da região de polarização metropolitana reflexivas das dinâmicas da AML

através de forças internas e externas (Figura 27).

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Figura 27. Duas lógicas de organização da região de polarização metropolitana de Lisboa

Fonte: Ferreira, 2007

Extrapolando a informação cartográfica em formato vetorial contida na carta de ocupação do solo

(COS) verifica-se uma ocupação predominantemente urbana num mosaico de usos variáveis

(Figura 28). Obstantes as diferenças pormenorizadas da expansão urbana fica subjacente que

“a área metropolitana de Lisboa era, e continua a ser, um mosaico de usos fragmentados onde

coexistem retalhos de áreas edificadas - umas vezes densas e contínuas, outras menos densas

e descontínuas – com parcelas de culturas anuais ou permanentes e extensas áreas de coberto

arbóreo e arbustivo com graus de intervenção humana muito variável. A estrutura do uso e

ocupação do solo na área metropolitana de Lisboa revela uma repartição muito desigual

considerando as grandes classes de uso do solo: Áreas Edificadas, Áreas Agrícolas e Áreas

Florestais (incluindo os meios naturais e seminaturais) e uma distribuição assimétrica entre a

margem Norte (Figura 28 - esquerda) e a margem Sul (Figura 28 - direita) ” (Tenedório, 2003:

93).

Figura 28. Mapa de uso e ocupação do solo na margem norte e sul (respetivamente) da AML

Fonte: Tenedório, 2003

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A análise preconizada da estrutura de uso e ocupação do solo na AML evidencia quatro clusters

do território afeto: centro da metrópole; periferia de franja urbana fragmentada; periferia florestal;

e periferia agrícola (Ibidem).

As paisagens e tecidos urbanizados de Lisboa enquanto território extensivo e periférico revelam

“por um lado esquemas e modelos de referência que se encontravam esquecidos, ou

permaneciam adormecidos sob a manta de retalhos e a cacofonia visível dos padrões de

assentamento; por outro patenteou-se uma cidade normativa que seja pelo lado regulador e

condicionador da regulamentação, mastigado amiúde nos canais de burocracia, seja pelo lado

transgressor na manipulação e desvio das regras instituídas, contribui igualmente para reafirmar

as periferias como os territórios por excelência onde se testa, constrói e transforma a cidade

contemporânea, onde se experimenta, assimila e reformula, em regras e modelos, o espaço

urbano da modernidade” (Cavaco, 2009: 470), extrapolando a nova narrativa das formas de

suburbanização (Figura 29).

Figura 29. Nova narrativa das formas de suburbanização

Fonte: Cavaco, 2009

A progressão, o desenvolvimento e a mudança da realidade urbanizada na A.M.L. revela-se uma

conjugação entre a institucionalização e a uniformização das regras e dos padrões mas também

uma formulação experimental do espaço edificado da modernidade (Cavaco, 2009). Esta

dinâmica do sistema suburbano permite distinguir diversos momentos no processo de

suburbanização da A.M.L., colocando em evidência um dos grandes e principais argumentos da

modernidade, o espaçamento (Ibidem). Constatando que efetivamente o “espaçamento é a

fórmula do futuro” (Gröer, 1946: 50), na medida em que a suburbanização da A.M.L. se inicia

com as dicotomias de expansão e desconcentração, e de ordem e racionalização, contendo

contudo a agravante do “divórcio procedimental entre regras e modelos (…) (e do) afilar de atritos

entre urbanismo e urbanização” (Cavaco, 2009: 471).

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4.3. Passado e presente suburbano através dos Instrumentos de Gestão

Territorial e Instrumentos Territoriais

As transformações da estrutura económica repercutiram-se na organização do território, sendo

que as alterações na paisagem provocadas pela expansão suburbana são significativas. As

implicações nos elementos existentes é notório, não só nos meios de vida e qualidade de vida

daqueles que vivem nessas áreas, mas também na sustentabilidade do desenvolvimento urbano

e rural. O desajuste entre o planeamento transato e a realidade preconizada numa área

suburbana leva a que Adriana Allen (2003) reivindique que o planeamento e a gestão territorial

periurbana requerem uma abordagem específica que reúna uma seleção de métodos e

ferramentas dos campos de análise numa simbiose que se constituirá num novo processo. Para

além desta constatação de ambivalência urgente no planeamento é notória a necessidade de

uma abordagem micro em consonância com a abordagem macro territorial (Domingues, 1994)

que se deve pautar pela inclusão da tendência de governança (Ferrão, 2013), adequando os IGT

e os IT aos desafios persistentes num território abrangente, dinâmico e mutante, que se pretende

o mais resiliente possível.

Os IGT subdividem-se em programas, que vinculam as entidades públicas, e em planos

territoriais, que vinculam as entidades públicas, mas também os particulares. Enquanto os

programas estabelecem o quadro estratégico de desenvolvimento territorial e as suas diretrizes

programáticas, definindo também a incidência espacial das políticas nacionais em cada nível de

planeamento; os planos territoriais estabelecem opções e ações concretas em matéria de

planeamento e organização do território, definindo o uso do solo.

Relativamente ao âmbito nacional são três tipologias de programas que orientam

estrategicamente o território, sendo eles: o Programa Nacional da Política de Ordenamento do

Território (PNPOT); os Programas Sectoriais; e os Programas Especiais (Programas das Áreas

Protegidas, Programas de Albufeiras da Águas Públicas, Programas da Orla Costeira,

Programas dos Estuários). A nível regional o ordenamento do território é proclamado através de

Programas Regionais. No que diz respeito ao âmbito intermunicipal são os Programas

Intermunicipais e os Planos Territoriais de âmbito intermunicipal (Plano Diretor Intermunicipal,

Plano de Urbanização Intermunicipal, e Plano de Pormenor Intermunicipal) que regem as

diretivas aplicáveis às áreas abrangentes a mais que um município. No âmbito municipal são

reconhecidos os planos territoriais de âmbito municipal, como sendo o Plano Diretor Municipal

(PDM), o Plano de Urbanização (PU), e o Plano de Pormenor (PP).

Para além dos IGT coexistiam vários IT personificados em políticas, propostas e programas com

ambivalência territorial que derivam sobretudo de iniciativas comunitárias acatadas como

instrumentos de política pública pelo governo central e também pelas autarquias que promulgam

uma divisão territorial mais coesa quer através da afetação de habitação social quer através de

uma coerente distribuição de equipamentos e infraestruturas em áreas urbanas fragilizadas, i.e.

PROQUAL, POLIS, IBC.

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De fato estando inserido no espaço comunitário desde 1986, o território nacional tem que

respeitar as diretivas da União Europeia (UE). Estão compiladas na tabela 6 as principais

respostas de políticas urbanas consoante as condicionantes verificadas da sustentabilidade

urbana na UE.

Tabela 6. Principais respostas de políticas urbanas na UE

Ano Documento/ iniciativa Transformação preconizada

1990 Livro Verde sobre o Ambiente Urbano

Inicia uma panóplia de iniciativas subsequentes de política urbana a nível comunitário, é promulgada a necessidade de revisão dos princípios que devem orientar a prática de planeamento da cidade, sendo também sugerida a contenção da expansão urbana

1991 Grupo de Peritos sobre Ambiente Urbano

Refletindo a necessidade de discussão da temática urbana

1993 Projeto Cidades Sustentáveis Ocorre a promoção, o estímulo e a discussão de soluções de sustentabilidade urbana no contexto comunitário

1994

Carta das Cidades Europeias para um Ambiente Sustentável – Carta de Aalborg Campanha das Cidades Europeias Sustentáveis

Criação de condições para aumentar a qualidade de vida nas cidades

2000 Estratégia de Lisboa Introduz nas orientações comunitárias o conceito de competitividade das regiões que pressupõe alcançar um importante fator de sustentabilidade, a coesão social

2000 Princípios Orientadores para o Desenvolvimento Territorial Sustentável do Continente Europeu

Documento aprovado pela Conferência Europeia dos Ministros do Ordenamento do Território (CEMAT). Adota o Esquema de Desenvolvimento do Espaço Comunitário (EDEC) para todo o espaço europeu. Consagração de um referencial estratégico para o desenvolvimento urbano integrado da U.E.

2000 Iniciativas comunitárias: URBAN, LEADER + e INTERREG

URBAN (para áreas urbanas), o LEADER + (para áreas rurais) e o INTERREG (para áreas fronteiriças), apoiaram em todos os Estados membros ações experimentais baseadas nos princípios da parceria e da contratualização e em intervenções integradas de base territorial

2002

Sexto Programa de Ação em matéria de Ambiente (2001- 2010), Ambiente 2010: o nosso futuro, a nossa escolha

As questões urbanas surgem equacionadas de uma forma muito limitada, descurando a complexidade da dimensão urbana relativamente aos diversos setores

2004 Estratégia Temática sobre o Ambiente Urbano

Procura a concertação entre as autoridades locais, regionais, nacionais e europeias. Assume como temas com prioridade estratégica: gestão urbana, transportes urbanos, construção e conceção das cidades

2005

Política de coesão e cidades: o contributo urbano para o crescimento e para o emprego nas regiões

Estabelecimento de comunidades sustentáveis que preconizem um modelo de coesão territorial através da competitividade regional e do emprego

2006 Programa ESPON (European Spatial Planning Observatory Network)

Circunscrito à comunidade académica e a especialistas, afirmou-se como uma relevante plataforma transnacional de produção e difusão de informação e conhecimento sobre o conjunto do território da UE

2007

Agenda Territorial da UE - Em direção a uma Europa mais competitiva e sustentável nas diversas regiões

Prossecução de medidas inovadoras de financiamento e novos modelos de gestão e de governação territorial

Fonte: Partidário e Correia, 2004; Queirós e Vale, 2005; Ferrão e Mourato, 2010

Ficando patente a crescente preocupação com questões urbanas no espaço comunitário, com

uma especificação de localização considerada pontualmente, mas sendo maioritária a

consideração a nível regional. Constata-se que a dimensão urbana tem assumido evidente

centralidade na Politica de Coesão. Após duas gerações de programas de Iniciativas

Comunitárias URBAN, esta prioridade transitou com carácter obrigatório para os programas

operacionais apoiados pelo FEDER no período 2007-2013. No período 2014-2020 esta

dimensão vê a sua importância reforçada, propondo a UE o fomento de políticas urbanas

integradas que melhorem o desenvolvimento urbano sustentável, tendo em vista fortalecer o

papel das cidades no contexto da política de coesão (C.C.D.R.-L.V.T., 2014 b).

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4.3.1. Caraterização e estudo da Área Metropolitana de Lisboa

Com o objetivo de conseguir uma visão holística do território confinante à AML torna-se

pertinente analisar os principais pontos fortes, pontos fracos, oportunidades e ameaças, através

da análise SWOT. Contextualizando esta análise consiste num procedimento analítico que

pretende auxiliar no diagnóstico de um dado grupo, organização, situação ou território, por meio

da explicitação dos indicadores apresentados. A designação SWOT é uma sigla anglo-saxónica

da expressão “strengths, weaknesses, opportunities, threats” (Schiefer, 2006: 268).

São sintetizadas todas as informações consideradas de referência para o estudo e a

caraterização da AML produzidas por organismos independentes de produção documental e

estatística com disponibilidade de consulta pública (Tabela 7). Apresenta-se a síntese da análise

da Área Metropolitana de Lisboa com as quatro componentes mencionadas, conseguindo a

análise intrínseca da AML com a síntese dos pontos fortes e dos pontos fracos, e a análise

externa através da compilação das principais oportunidades e ameaças do território confinante.

Tabela 7. Lista dos organismos independentes produtores da documentação analisada

Organismo Enquadramento institucional

Comissão de Coordenação e

Desenvolvimento Regional

de Lisboa e Vale do Tejo

(CCDR-LVT)

(Tabela 8)

Responsável pelo acompanhamento das dinâmicas regionais, efetuado pelo

Observatório Regional de Lisboa e Vale do Tejo (ORLVT), sendo este monitorizado

por um sistema de informação próprio, e preconizado nos estudos temáticos.

Instituto Nacional de

Estatística (INE)

(Tabela 9)

Criado em 1935, tem como missão produzir e divulgar informação estatística oficial

de qualidade, promovendo a coordenação, o desenvolvimento e a divulgação da

atividade estatística em território nacional.

Direção-Geral do Território

(DGT)

(Tabela 10)

É um serviço central integrado na administração direta do Estado, no âmbito do

Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia, dotado de autonomia

administrativa.

Área Metropolitana de

Lisboa (AML)

(Tabela 11)

No sentido de dotar a Área Metropolitana de Lisboa de uma estrutura de base

metropolitana, que possibilitasse olhar atentamente para os aspetos mais críticos

da região, conhecendo as suas dinâmicas, e dando uma visão integrada e coerente

sobre o modelo de desenvolvimento a adotar é criado o Observatório de

Desenvolvimento Económico e Social da Área Metropolitana de Lisboa (ODES-

AML), através de uma candidatura ao Programa Operacional Regional (POR)

Lisboa. Posteriormente foi criado o Centro para a Sustentabilidade Metropolitana

(CSM) da Área Metropolitana de Lisboa. O CSM tem por objetivos a recolha,

compilação, tratamento, produção e difusão de informação e conhecimento, no

domínio do desenvolvimento sustentável da AML.

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Tabela 8. SWOT da revisão documental produzida pela CCDR-LVT

Fonte: C.C.D.R.-L.V.T., 2010; C.C.D.R.-L.V.T., 2012; C.C.D.R.-L.V.T., 2015 a; C.C.D.R.-L.V.T., 2015

Tabela 9. SWOT da revisão documental produzida pelo INE

Fonte: Silva, Vala, 2001; Silva, 2002; I.N.E., 2003; Malheiros, Vala, 2004; Nogueira, 2008; Nogueira, 2009; I.N.E., 2014

Pontos fortes

Crescimento demográfico positivo na AML

Bons níveis de escolaridade

Diversidade de acessibilidades

Aumento da esperança média de vida

Diminuição significativa da mortalidade infantil

Apoio comunitário visa sobretudo o aumento de oferta do ensino pré-escolar e básico e a melhoria dos equipamentos

escolares existentes

Pontos fracos

Taxa muito elevada de desemprego

Elevado índice de pobreza, condições de vida precárias e agravamento das condições de acesso a alguns dos

serviços básicos

Estrutura metropolitana distendida com tendência para a nucleação

Crescimento urbano extensivo, com consequências ambientais pesadas

Crescimento negativo em algumas freguesias da cidade de Lisboa, especialmente as do centro histórico

Discrepância entre a dinâmica demográfica e a residencial

Assimetrias de equipamentos e infraestruturas, onde os concelhos da Grande Lisboa apresentam melhores

coberturas que a Península de Setúbal

Oportunidades

Capacidade de atratividade populacional

Envelhecimento ativo

Crescimento do turismo e consolidação como uma das grandes fontes de riqueza

Reforço do nível de investigação, de desenvolvimento tecnológico, e de competitividade

Identificação e sinalização de áreas consideradas de reabilitação urbana (Bairros Criticos) sobretudo na Grande

Lisboa

Ameaças

Redução significativa dos fundos estruturais

Intensa e desregulada urbanização nas áreas periurbanas

Diminuição acentuada da fecundidade

Sistema energético regional sem autonomia e sustentabilidade

Redução da criação de riqueza e especialização económica em setores de elevada produtividade do trabalho

Estagnação do nível de especialização económica em atividades mais intensas em conhecimento

Problemas de inclusão e de coesão social muito presentes

Fragilidades identificadas no sistema de ensino

Pontos fortes

Consolidação de um centro metropolitano alargado

Concentração de recursos humanos, financeiros e tecnológicos relevantes para a economia do conhecimento

Pontos fracos

Presença de lugares subinfraestruturados, com défice de equipamentos e de recursos promotores de saúde

Existência de territórios fragmentados e segregados, fracamente conectados e com deficientes condições de

mobilidade e acessibilidade

Áreas caraterizadas pela falta de fatores distintitivos e identitários

Insuficiência de transportes públicos em algumas áreas mais periféricas

População estrangeira localizada sobretudo na periferia

Influência da rede viária na estruturação da AML, constituindo-se como eixo de pressão construtiva

Composição social e económica muito heterogénea

Utilização excessiva do transporte individual

Oportunidades

Capacidade de atratividade populacional

Ameaças

Tendência de expansão urbana segundo um modelo de suburbanização desregulado

Perda de características identitárias ditam a aparição de territórios de vulnerabilidade

Crise económica, financeira e social com impatos significativos na qualidade de vida da população

Escassa participação cívica da população

Deficiente articulação entre vias e modos de transporte

Áreas de habitação social onde se reproduzem problemas existentes antes do realojamento

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Tabela 10. SWOT da revisão documental produzida pela DGT

Fonte: D.G.T., 1996; D.G.T. 2008; D.G.T., 2014

Tabela 11. SWOT da revisão documental produzida pela AML

Fonte: A.M.L., 2010 a; A.M.L., 2010 b; A.M.L., 2010 c; A.M.L., 2010 d; A.M.L., 2010 e; A.M.L., 2015

Pontos fortes

Predominância de um sentimento de segurança urbana

Aumento da mobilidade e melhoria das acessibilidades

Melhorias significativas dos mecanismos de participação cívica e institucional

Forte investimento na modernização da rede escolar

Melhoria relevante das condições de habitação

Melhoria da qualidade de vida após aplicação de políticas de habitação e de integração de comunidades imigrantes

Descentralização de competências para os municípios

Pontos fracos

Excessiva e tradicional dependência de Lisboa

Desordenamento urbanístico e territorial

Carências em equipamentos e serviços de natureza social

Esquecimento de áreas urbanas marginalizadas

Fracos desenvolvimentos nas perspetivas metropolitanas e intermunicipais dos transportes

Surgimento de novos núcleos de barracas com o agudizar da crise

Oportunidades

Dinamização de espaços públicos

Capacidade de atratividade populacional

Efeitos de uma boa governança territorial

Existência de abordagens integradas para a inclusão social

Descentralização de poderes nas políticas de habitação

Intervenções sócio urbanísiticas integradas em territórios críticos

Ameaças

Grande vulnerabilidade aos fenómenos climáticos extremos

Inexistência de competitividade entre os centros urbanos

Desarticulação entre modos de transporte, acessibilidades e mobilidade

Tendência de desenvolvimento de núcleos de alojamento precário na periferia dos grandes centros urbanos

Incipiente articulação intermunicipal

Insuficiente acompanhamento de aplicação de políticas urbanas

Esgotamento do modelo de política de habitação

Obstáculos financeiros à execuçaõ de políticas de habitação

Pontos fortes

Nível de vida elevado

Especialização produtiva

Importância/dinamismo demográfico, natural e migratório

Biodiversidade

Condições climáticas e ambientais

Escolaridade e qualificação da população ativa

Dinamismo do setor turístico

Mobilidade pedonal

Policentrismo do sistema urbano

Disponibilidade de equipamentos e infraestruturas

Pontos fracos

Redução da natalidade

Desajuste entre a produção e a procura de competências

Declínio dos centros históricos e das áreas urbanas centrais

Existência de áreas urbanas desqualificadas

Passivos ambientais

Dependência e cultura energética e ambiental

Recursos humanos desqualificados

Assimetria da rede de equipamentos e infraestruturas

Sistema urbano assimétrico

Agravamento das desigualdades nos rendimentos e precariedades sociais

Oportunidades

Localização estratégica

Crescimento do turismo internacional

Desenvolvimento sustentável da economia do mar e do seu potencial exportador

Envelhecimento ativo

Desenvolvimento de novas soluções e respostas de combate à pobreza

Áreas industriais obsoletas

Efeitos de arrastamento da reabilitação urbana

Promoção da eficiência energética e da produção e utilização de energias renováveis

Ameaças

Envelhecimento da população

Incapacidade de renovação geracional

Sobreocupação e aumento de construções precárias

Degradação do edificado habitacional

Fuga de recursos humanos qualificados

Incapacidade de resposta das infraestruturas de ligação internacional

Crise económica, financeira e social

Conflitualidade das ocupações e usos do solo

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Fazendo uma síntese da análise e do diagnóstico da situação atual territorial da AML constata-

se que a área metropolitana constitui um importante pólo de concentração populacional, com

problemas socio urbanísticos, que são potenciados pela crise económica e financeira.

Os documentos analisados apresentam sobretudo uma visão macro territorial. A análise efetuada

demonstra a preocupação de comparação entre as duas NUT III que compõem a AML. A NUT

III da Península de Setúbal evidencia nos domínios urbanos analisados mais fragilidades, quer

nas apostas de requalificação urbana efetuadas no passado, quer na qualidade de vida da

população no presente. A NUT III da Grande Lisboa apresenta melhores resultados em termos

de qualificação socio urbanística que a Península de Setúbal.

Na caraterização da AML procede-se na maioria das referências documentais a uma

generalização territorial. Há o destaque das zonas marginalizadas, que se encontram

sinalizadas. Contudo não há um destaque efetivo para os subúrbios, o território onde ocorrem

mais fenómenos de marginalidade territorial e social. A generalização da AML deve ser

equacionada, são necessárias intervenções pontuais e específicas na parte suburbana para

potenciar a qualidade metropolitana. O esquecimento da periferia é reversível com o

aprofundamento da caraterização particular dos subúrbios aliada de uma atuação governativa

multinível, setorial e flexível. Um planeamento integrado e eficiente depende também do estímulo

da participação cívica. O conhecimento da população é uma mais-valia, sendo que a concertação

de interesses em causa neste processo é facilitada com o ensino prévio das temáticas afetas ao

território. O envolvimento político e populacional dita o sucesso de cada intervenção desde a

fase inicial do processo de caraterização dos recursos endógenos e exógenos que se pretendem

monitorizar e utilizar da forma mais eficiente possível.

4.3.2. Políticas, propostas e programas da Área Metropolitana de Lisboa

A constatação de qualidade de vida urbana é conseguida quer pela observação de atributos dos

espaços públicos quer pela análise de capacidade de valorização dos elementos urbanos

(Queirós e Vale, 2005). Verifica-se que o ideal de sustentabilidade urbana, de requalificação

urbanística e de valorização ambiental são fatores chave de diferenciação e competitividade

urbana considerados na AML (Tabela 12).

Tabela 12. Programas e projetos de cooperação de requalificação sócio urbanística na AML (1974- 2015)

Designação

Período de

vigência Âmbito/abrangência

Pro

gra

mas

Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL)

1974 - 1976

Preconiza uma fusão entre a arquitetura e a participação direta, procura atender às necessidades de populações desfavorecidas

Programa de Reabilitação Urbana (PRU) 1985 O programa visa o financiamento de operações de reabilitação ou renovação de áreas urbanas degradadas identificadas

Programa de Recuperação de Áreas Urbanas Degradadas (PRAUD)

1988 Traduz-se no apoio aos municípios em operações de reabilitação ou renovação de áreas de vocação urbana

Programa Especial de Realojamento das Áreas Metropolitanas de Lisboa e do

Porto (PER)

1993 - 2015

Visa proporcionar aos municípios das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto condições para provir à erradicação das barracas existentes e ao consequente realojamento dos seus ocupantes em habitações de custos controlados

Programa de Consolidação do Sistema Urbano Nacional e Apoio à Execução dos Planos Diretores Municipais (PROSIURB)

1994 - 1999

Considerado um instrumento de política regional ambiciona a redução das assimetrias urbanas de desenvolvimento através do crescimento de uma rede urbana policêntrica, constituída por centros de grande, média e pequena dimensão complementares

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Programa de Iniciativa Comunitária URBAN I

1994 - 1999

Visa colmatar problemas económicos, sociais e ambientais existentes nas zonas identificadas como URBAN

Programa de Iniciativa Comunitária URBAN II

2000 - 2006

Tendo por base a informação apresentada da Iniciativa URBAN I, verifica-se que existe uma tendência acentuada para que os desafios (desemprego elevado, altas taxas de criminalidade, grandes percentagens de minorias étnicas e falta de espaços verdes) se concentrem em certas zonas de periferia, incindindo o URBAN II nas áreas identificadas (i.e. PROQUAL)

Programa Operacional URBACT I 2000 - 2006

Visa promover a constituição de redes de cidades que se empenhem na procura de soluções comuns para os desafios urbanos contemporâneos, reafirmando a sua posição chave face à complexidade crescente dos problemas e na prossecução de objetivos de desenvolvimento urbano sustentável

Programa de Requalificação Urbana e Valorização Ambiental de Cidades

(POLIS)

2000 - 2013

Associa o reforço da atratividade e da competitividade das cidades à melhoria da qualidade dos espaços públicos e de utilização coletiva e à sustentabilidade ambiental

Programa Operacional URBACT II 2007 - 2013

O Programa apoia as cidades no desenvolvimento de soluções pragmáticas, inovadoras e sustentáveis que integrem as dimensões económicas, sociais e ambientais. É promovida a partilha de boas práticas e aprendizagem entre todos os profissionais envolvidos nas políticas urbanas através da Europa

Pro

jeto

s d

e

coo

pera

çã

o

Iniciativa Operações de Qualificação e Reinserção Urbana de Bairros Críticos

2005 - 2012

Tem como objetivo o desenvolvimento de soluções de qualificação de territórios urbanos que apresentam fatores de vulnerabilidade crítica, através de intervenções sócio - territoriais integradas

Joint European Support for Sustainable Investment in city areas (JESSICA)

2008 - 2015

É uma iniciativa desenvolvida pela Comissão Europeia que procura dar resposta à necessidade de renovar e/ou regenerar determinadas áreas urbanas colmatando a falta de recursos de investimento em projetos integrados de renovação e regeneração urbana, suscetíveis de reforçar a sustentabilidade das áreas urbanas

Fonte: Costa, 1999; D.G.T., 2013

Nas tabelas apresentadas seguidamente são sumariadas as informações consideradas de

referência de políticas, propostas e programas com natureza e abrangência distintas com

disponibilidade de consulta pública. Sendo que cumulativamente incidiram recentemente na

manutenção das assimetrias verificadas da AML, e tratam-se de experiências ensaiadas de

forma top-down no passado que devem ser consideradas, interpretadas e devidamente criticadas

à luz da análise da qualidade de vida suburbana.

Os instrumentos de política pública orientados para a qualidade de vida nas cidades e

sustentabilidade urbana aproveitaram as disponibilidades do III Quadro Comunitário de Apoio

(QCA), mobilizando as iniciativas que tinham por objetivo a qualificação do ambiente urbano

entre diferentes níveis institucionais (UE, governo e autarquias locais). Vários investimentos

significativos na melhoria da qualidade do ambiente urbano foram efetuados, quer pelo Programa

Operacional do Ambiente (POA), quer por Programas Operacionais Regionais (POR). O

Programa de Requalificação Urbana e Valorização Ambiental de Cidades (POLIS) encontrou

articulação com o Programa Operacional Regional (C.C.D.R. – L.V.T., 2008). O POLIS (Tabela

13) teve início formal em 15 de Maio de 2000 (RCM n.º 26/2000), após a preparação do programa

por um Grupo de Trabalho, criado em 18 de Novembro de 1999, por iniciativa e na dependência

direta do Ministro do Ambiente e do Ordenamento do Território (Queirós e Vale, 2005).

Tabela 13. Ficha-síntese do Programa de Requalificação Urbana e Valorização Ambiental de Cidades (POLIS)

Ob

jeti

vo

s

Procura promover intervenções nas vertentes urbanística e ambiental, por forma a promover a

qualidade de vida nas cidades, melhorando a atratividade e competitividade dos polos urbanos, com

base em parcerias entre as Câmaras Municipais e o Estado. O POLIS foi concebido para ter um efeito

demonstrativo daquilo que é necessário alterar no panorama ambiental e urbanístico das cidades e,

simultaneamente, constituir um motor de desenvolvimento local e regional, consolidando e reforçando

o Sistema Urbano Nacional.

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O POLIS tem como objetivos específicos: desenvolver grandes operações integradas de requalificação

urbana com uma forte componente de valorização ambiental; desenvolver ações que contribuam para

a requalificação e revitalização de centros urbanos e que promovam a multifuncionalidade desses

centros; apoiar outras ações de requalificação que permitam melhorar a qualidade do ambiente urbano

e valorizar a presença de elementos ambientais estruturantes tais como frentes de rio ou de costa;

apoiar iniciativas que visem aumentar as zonas verdes, promover áreas pedonais e condicionar o

trânsito automóvel em centros urbanos.

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tod

olo

gia

O enquadramento institucional é inovador pelo facto de assentar no estabelecimento de parcerias entre

o Estado e as Autarquias Locais, concretizadas pela criação das Sociedades POLIS. Constituindo-se

como importantes fontes de financiamento para a concretização do programa POLIS, que

complementam o financiamento maioritário com origem nos Fundos Estruturais (PO Ambiente, PO

Regionais). A receção e análise das candidaturas, bem como a celebração dos contratos – programa

com os municípios era da responsabilidade da DGOTDU (atual DGT), sob a coordenação do Gabinete

Coordenador do Programa POLIS. A CCDR-LVT assegurava o acompanhamento da execução física e

financeira destes contratos-programa celebrados com os municípios da Região de Lisboa e Vale do

Tejo.

O programa foi desenhando de acordo com as tendências da política ambiental para as cidades na UE,

procurando resolver problemas ligados à saúde pública e às disfunções ambientais urbanas. Trata-se

de um programa fechado, no sentido de que todas as ações suscetíveis de serem contempladas no

âmbito do Programa já estão selecionadas, em curso ou finalizadas.

Numa fase inicial foram selecionadas 18 cidades e, numa segunda fase, mais 10 foram escolhidas com

base num concurso nacional. O número total de projetos da principal componente do POLIS passou a

abranger 28 cidades, a que se juntaram outras intervenções de menor dimensão: em cidades património

Mundial da UNESCO e em áreas de realojamento.

Lin

ha

s d

e d

iag

sti

co

As transformações profundas de Portugal nas últimas décadas refletem-se com grande intensidade no

ordenamento do território, em particular na estrutura urbana. Como a qualidade de vida urbana e a

capacidade de atracão das cidades de investimentos e de ativos qualificados estão muito associadas,

justifica-se a necessidade de uma intervenção pública como o POLIS.

São identificados como princípios orientadores do POLIS: necessidade de esforço de afirmação através

de um número limitado (10 a 15) de intervenções exemplares (requalificação de zonas industriais

deprimidas, criação de novas polaridades em áreas metropolitanas, valorização de frentes de mar ou

zonas ribeirinhas, valorização do património histórico ou natural e sua reintegração na cidade,

requalificação de cidades de média dimensão com pujança económica, mas com uma vida urbana de

pouca qualidade, valorização de cidades do interior ou raianas que podem constituir pólos de

desenvolvimento regional); necessidade de ancorar os projetos de requalificação urbana em torno de

um elemento ambiental marcante e específico de cada cidade; necessidade de recentrar as cidades

promovendo a revitalização dos centros históricos e das suas múltiplas valências; necessidade de

promoção de uma dinâmica de conhecimento, de cultura e de lazer; necessidade de aposta em

intervenções já em condições de concretização, tirando partido dos agentes locais motivados e da

existência de projeto e fazer o próprio Programa incentivar novos projetos; necessidade de dar especial

valor às cidades com estatuto de património mundial; necessidade de contribuir para cidades equitativas

e interclassistas (realojamento, bairros sociais); assim como a necessidade de outras ações de menor

dimensão destinadas a melhorar ou valorizar projetos já realizados com vista a melhorar aspetos

específicos (i.e. desviar o trânsito das cidades, instalação de redes de monitorização ambiental).

Pro

po

sta

s/V

isõ

es/

Co

nc

lus

ões

A prioridade do POLIS é promover operações integradas de requalificação urbana e de melhoria

ambiental. São identificadas quatro componentes prioritárias de intervenção: operações integradas de

requalificação urbana e valorização ambiental, com natureza exemplar; intervenção em cidades com

áreas classificadas como Património Ambiental; valorização urbanística e ambiental em áreas de

realojamento; e medidas complementares para melhorar as condições urbanísticas e ambientais das

cidades.

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No que diz respeito à componente de valorização urbanística e ambiental em áreas de realojamento

estão alocados os únicos projetos avulsos restritos unicamente às Áreas Metropolitanas e consistem

em intervenções nos espaços públicos envolventes de habitações construídas no âmbito de processos

de realojamento realizados com o apoio da Administração Central. Esta componente foi desenvolvida

em articulação com o Instituto Nacional da Habitação.

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Clara preferência pelo investimento em infraestruturas.

O Programa revela-se demasiado ambicioso pela não execução de todos os projetos estipulados. A

estratégia de manutenção urbanística e ambiental é adequada, no entanto o fato dos projetos serem

decididos sem qualquer consulta pública fragiliza a possibilidade de concertação entre a realidade

vivenciada pela população e o planeamento aprovado por técnicos.

As parcerias entre distintos organismos públicos revelam-se como uma mais-valia. As parcerias entre

o setor público e o setor privado devem neste tipo de programa de requalificação socio urbanística ser

uma aposta real.

Fonte: M.A.O.T., 2000; M.A.O.T., 2002; Queirós e Vale, 2005; C.C.D.R.-L.V.T., 2008; D.G.T., 2013

O Programa Integrado de Qualificação das Áreas Suburbanas da Área Metropolitana de Lisboa

(PROQUAL) enquadrava-se na Política de Requalificação Sócio Urbanística desenvolvida pelo

Ministério do Planeamento que teve como instrumentos essenciais a Iniciativa Comunitária

URBAN II e o Programa de Valorização das Pequenas Cidades (C.C.D.R.-L.V.T., 2002). Tendo

sido sete municípios suburbanos abrangidos pelo PROQUAL - Amadora, Loures, Odivelas,

Oeiras, Moita, Setúbal e Vila Franca de Xira. A execução do PROQUAL (Tabela 14) em áreas

críticas identificadas procurou dar resposta às penalizantes condições de suburbanidade

relegadas a uma fração da população da AML (Câncio, 2008).

Tabela 14. Ficha-síntese do Programa Integrado de Qualificação das Áreas Suburbanas da Área

Metropolitana de Lisboa (PROQUAL)

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As medidas preconizadas no PROQUAL têm como objetivo global valorizar o caráter integrado das

intervenções que promovam o equilíbrio dos sistemas e subsistemas urbano-regional, que conduzam

à atração de novas atividades, à geração de eventos de dimensão supramunicipal, à criação de novas

centralidades e a efeitos polarizadores que sirvam de âncora aos espaços envolventes.

O objetivo central é promover a requalificação de áreas suburbanas degradadas, através da reabilitação

do espaço público, do apoio à educação, formação e inserção profissional, da ação social, do aumento

da rede de equipamentos sociais e da dinamização de iniciativas económicas locais. Procura combater

os fenómenos de degradação urbana, exclusão social, e marginalização, colmatando uma tendência

verificada de assimetrias territoriais, dando ênfase à estabilização da área metropolitana de Lisboa e

contribuindo para uma maior coesão do território.

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O PROQUAL foi desenvolvido pela CCDR- LVT. O programa propôs-se a curto e médio prazo intervir

nas zonas mais problemáticas dos territórios suburbanos.

Tendo por base as Áreas Críticas Urbanas identificadas no âmbito do PROTAML, foram selecionadas

sete áreas de intervenção PROQUAL - Baixa da Banheira/Vale da Amoreira (Moita), Belavista (Setúbal),

Brandoa (Amadora), Bom Sucesso-Arcena (Vila Franca de Xira), Odivelas, Outurela-Portela/Algés

(Oeiras) e Sacavém-Prior Velho (Loures).

A medida do PROQUAL tem como princípios orientadores: a multi setorialidade (integração de diversas

intervenções setoriais em territórios pertinentes); a seletividade (investimento premeia a melhor

resposta aos critérios estabelecidos); a adicionalidade (efeito de alavanca sobre intervenções

correlacionadas); a participação (estimulando parcerias e a participação dos principais intervenientes.

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Territorialmente verifica-se o incremento do processo de concentração metropolitana e uma tímida

afirmação dos aglomerados urbanos de média dimensão. A melhoria das condições de acessibilidade

assim como a localização de empresas de serviços e de grandes superfícies comerciais nos concelhos

periféricos de Lisboa conduziu à redução da polarização da capital da AML e também ao reforço de

novas centralidades metropolitanas e a novas dinâmicas territoriais (i.e. eixos Oeiras/Cascais,

Almada/Seixal, Palmela/Setúbal e no arco estruturado pela CRIL).

Os espaços urbanos limítrofes têm que ser repensados porque concentram importantes recursos e

porque constituem-se como um elemento impulsionador e catalisador do desenvolvimento futuro. O

desenvolvimento da AML depende da necessária afirmação de todos os tipos de espaços identificados

numa lógica de real complementaridade.

Ocorre a necessidade de humanizar os subúrbios, em cujos bairros se alojam centenas de milhares de

indivíduos com grandes dificuldades económicas e níveis de escolaridade e qualificação profissional

reduzidos. Uma população na sua maioria formada por pessoas oriundas dos fortes movimentos

migratórios internos das décadas de 60 e 70, do processo de descolonização do pós-25 de Abril, da

emigração africana e brasileira dos anos 80 e 90 e, mais recentemente, da emigração proveniente dos

países da Europa de Leste. Fluxos migratórios que desencadearam um processo de crescimento

macrocéfalo e desordenado, dando lugar ao surgimento de uma realidade suburbana degradada,

dominada pelos alojamentos precários, as urbanizações clandestinas e bairros sociais, que

maioritariamente se pautam por deficientes condições de habitabilidade e de vivência social, muitas das

vezes sem infraestruturas e equipamentos básicos de apoio às populações aí residentes.

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A intervenção estratégica integra duas componentes: consolidação e valorização do sistema urbano

regional; e qualificação das áreas suburbanas da AML.

O PROQUAL preconiza: reduzir os desequilíbrios territoriais e as tendências de despovoamento que

se refletem a nível social e urbanístico; introduzir dinâmicas de reequilíbrio urbanístico e reforçar os

mecanismos de coesão social; assegurar condições de habitabilidade, de sociabilidade e de integração

comunitária das populações; assegurar condições de formação profissional, de emprego e de

empregabilidade; criar novas centralidades, dinamizar atividades económicas e reforçar a iniciativa

empresarial (microempresas e pequenas e médias empresas); melhorar as condições de acessibilidade

e de mobilidade; aumentar a capacidade de participação cívica nos processos que conduzam à

melhoria do ambiente urbano.

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A abordagem em áreas com graves problemas sócios urbanísticos conseguida pelo PROQUAL revelou-

se integrada e coerente.

Ocorreu uma melhoria da qualidade de vida urbana, pois as áreas identificadas com várias carências

(equipamentos e espaços públicos) foram intervencionadas segundo projetos que constituíram-se como

uma mais-valia para a população afeta a esse território, potenciada pela efetiva apropriação do espaço

com o envolvimento dos habitantes no processo de requalificação.

Os constrangimentos orçamentais inviabilizaram a concretização de projetos ao ritmo inicialmente

estipulado. O inexistente envolvimento de outros setores fundamentais em ações de requalificação

sócio urbanística (saúde, ensino e ação social) ditaram o reduzido impacte de algumas operações.

Apesar de ter sido criada sempre uma equipa técnica local, raras foram as situações que optaram pela

sua instalação in loco. Estes aspetos ditaram a insuficiente concretização do PROQUAL.

Fonte: C.C.D.R.-L.V.T., 2001; C.C.D.R.-L.V.T., 2002 a; Antunes, 2014

A Iniciativa Operações de Qualificação e Reinserção Urbana de Bairros Críticos, designada de

forma abreviada como Iniciativa Bairros Críticos (IBC) foi um Programa Nacional coordenado

pelo Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU) e um instrumento da Política de

Cidades focalizado na temática áreas urbanas críticas (Tabela 15). Criado em 2005 emerge no

âmbito da experimentação de um dos eixos da Política de Cidades preconizada com a RCM n.º

143/2005 e posteriormente com a Polis XXI, visando dar corpo à mudança de paradigma

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metodológico -como fazer (C.M.L., 2012 b). Inicialmente desenhada para vigorar durante 2 anos,

foi objeto de prorrogação até 2013 (RCM nº 189/2007). Incorpora o reconhecimento de que a

tradição tecnocrática do ordenamento do território ou do planeamento urbanístico tem de dar

lugar a processos de cooperação, de compatibilização, de auscultação e mediação, de assunção

da incerteza e consequente aceitação da adaptabilidade, ou seja, de graus variáveis de

regulação adequados aos níveis de conhecimento e consenso (C.M.L., 2012 a).

Tabela 15. Ficha-síntese da Iniciativa Bairros Críticos (IBC)

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É um IT que tem como objetivo primordial a integração social e urbana de territórios que apresentam

fatores de vulnerabilidade críticos. Consiste numa abordagem territorial integrada que preconiza o

desenvolvimento de uma intervenção experimental em torno de modelos organizacionais alternativos

de reabilitação urbana. Visa a requalificação urbana de três territórios de intervenção (Lagarteiro, no

Porto; Cova da Moura, na Amadora, e Vale da Amoreira, na Moita) e a sua dinamização ao nível social.

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A IBC foi uma iniciativa pública de natureza experimental. O modo como a política pública,

nomeadamente a Politica de Cidades aqui experimentada, foi concebida e se operacionalizou visa

responder ao conceito de governança.

A proposta foi regida pelo IHRU. A iniciativa destaca-se por ter uma forte coordenação estratégica, com

uma cooperação interministerial (Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do

Desenvolvimento Regional; Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social; Ministério da Cultura;

Ministério da Educação; Ministério da Saúde; Ministério da Administração Interna; Presidência de

Conselho de Ministros; Ministério da Justiça) e a elaboração de planos de intervenção focalizados nos

diagnósticos dos territórios e delineados a nível local pelo conjunto de parceiros locais.

Evidencia uma complexa estrutura de gestão, tendo sido o modelo organizacional definido para a fase

de implementação da iniciativa composto por uma Comissão de Acompanhamento, uma Comissão

Executiva, Equipas Locais de Projeto, em articulação com um Grupo de Apoio Técnico e um Grupo de

Trabalho Interministerial.

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Procura capitalizar a experiência de programas nacionais e comunitários antecedentes (como o Urban,

o Polis ou Programa de Reabilitação Urbana), mas ambiciona ser um modelo de intervenção inovador

reforçando as dinâmicas locais para o desenvolvimento e estímulo de fortes parcerias entre a

administração central, regional e local, mas também entre organizações governamentais e não-

governamentais. Esta transformação deve-se ao reconhecimento da necessidade de melhorar os

mecanismos para a cooperação entre as diferentes partes envolvidas nos processos de

desenvolvimento urbano. A questão da política da cidade exige uma abordagem a várias escalas e o

desenvolvimento de instrumentos estratégicos a nível central flexíveis.

Em termos práticos, os três territórios de intervenção apresentam fatores de vulnerabilidade crítica e

têm alguma estrutura organizacional preexistente, contudo constituem realidades com diferentes

especificidades.

Analisando as caraterísticas dos territórios de intervenção da A.M.L. aquando da iniciativa, verifica-se

que a Cova da Moura (Amadora) tem uma dimensão média, constituindo-se como um bairro urbano da

periferia que se pauta pela existência da construção de génese ilegal e habitação própria ou alugada,

cujo tipo de problema identificado é o impasse na definição da solução. No Vale da Amoreira (Moita) o

território de intervenção apresenta uma grande dimensão, constituindo-se como uma freguesia da

periferia, coexistem construções privadas, Contratos de Desenvolvimento de Habitação (C.D.H.) –

financiados pelo Estado, habitação social estatal e habitação própria e alugada, sendo a falta de

desenvolvimento e consolidação de dinâmicas o entrave verificado.

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O programa de intervenção tem como princípios fundamentais: intervenções orientadas para a

inovação; desenvolvimento de projetos mobilizadores com capacidade de impacte estrutural;

intervenções integradas e de base socio territorial; mobilização de novas formas de financiamento;

sustentabilidade e durabilidade dos efeitos e dos resultados; coordenação estratégica e participação

dos atores locais.

Assume como finalidades: a integração dos diferentes níveis de decisão com impacte no território, com

o objetivo de testar e desenvolver novos modelos de regulação e organização dos diferentes atores

envolvidos (ou seja, a experimentação de modelos alternativos de governança); a experimentação de

um novo quadro de regulação e organização em três áreas urbanas distintas, com perfis diferenciados

ao nível da dimensão do território, do tecido organizacional, do tipo e natureza dos problemas existentes

e do processo de intervenção a desenvolver, devendo os territórios da Iniciativa ser encarados como

experimentais, no sentido em que eles se traduzem em diferentes tipos de desafios de intervenção e

de desafio à montagem deste tipo de operações, com o objetivo de reforçar a dimensão de

aprendizagem inerente a uma Iniciativa experimental; a análise em termos procedimentais da

implementação dos princípios orientadores da Iniciativa e identificação de competências e regras que

determinam a implementação da participação, parceria, abordagem territorial e concertação dos

diferentes atores e sectores envolvidos; a aprendizagem para a definição de linhas orientadoras e

princípios para futuras intervenções; e a contribuição efetiva para a mudança nos territórios

identificados, através da identificação dos eixos estruturantes suscetíveis de alavancarem dinâmicas,

processos e intervenções inovadoras e criativas conducentes à sua transformação.

Sumariamente ambicionar uma comunidade sustentável e um novo modelo de governança implica:

assumir a facilitação, mediação e monitorização como aspetos chave no desenvolvimento da Iniciativa;

a participação e trabalho em parceria como fatores críticos para o sucesso da intervenção; o

envolvimento dos vários departamentos governamentais e organizações locais (públicas, privadas, da

administração central ou local), tanto na preparação como na implementação dos projetos locais; a

assunção de que para o desenvolvimento de novos modelos organizacionais é importante a

aprendizagem coletiva dos atores envolvidos, que implica o apoio de peritos na reflexividade sobre a

ação; a permanente troca de informação e transparência dos processos de decisão e a permanente

monitorização e reificação das regras e do locus de decisão; o reconhecimento de que as competências

dos atores envolvidos são fatores importantes para o sucesso da iniciativa, e que estas competências

mais do que competências técnicas e conhecimento académico se traduzem em competências de

negociação, de tomada de decisão, de adaptabilidade, de flexibilidade e de envolvimento da

comunidade; e ainda o reconhecimento da importância da construção da confiança que se caracteriza

pela existência de rostos e compromissos associados às instituições.

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Como um bom exemplo há a considerar a intervenção desenvolvida no Vale da Amoreira pela Câmara

Municipal da Moita. Desde a sua conceção à sua prática, ocorreu a definição de uma estratégia

continuada, executada eficientemente por uma equipa técnica local com a devida alocação de fundos

estruturais. Denotando a importância da implementação, acompanhamento e monitorização do

programa.

Verifica-se o envolvimento fortuito na IBC, quer de diferentes instituições, quer da população local.

Tendo por base a experiência da IBC sugere-se o aprofundamento da lógica integrada de intervenção

urbana, visando uma resposta mais eficaz e eficiente aos desafios da qualificação ambiental, da criação

de emprego e da coesão social verificados sobretudo em periferias marginalizadas.

A proposta devia ter vigorado até ao final de 2013, o seu final antecipado (2012) deveu-se à falta de

verbas.

Fonte: Sousa, 2008; C.M.L., 2012 a; C.M.L., 2012 b; I.H.R.U., 2013

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4.4. Prospetivar os espaços suburbanos

O crescimento populacional na AML teve consequências assinaláveis na morfologia e tipologia

da composição urbana. Os subúrbios lisboetas desenvolveram-se em dois anéis periféricos em

torno da cidade central, sendo eles a margem a norte do Rio Tejo e a margem a sul do rio. A

expansão urbana não se tem revelado controlada nem planeada, efetivando-se através de forças

externas que desenvolvem o sistema de produção (Gonçalves et al., 2015).

Para a integração dos múltiplos complexos residenciais enumerados surge a necessidade duma

rede de transportes mais abrangente, e uma rede de proximidade de serviços e equipamentos

que não está ainda efetiva no território afeto à AML. Na falta de condições económicas os

subúrbios tornam-se muito atrativos face a uma cidade central e especulada, contudo a

maximização do crescimento económico não se efetiva, e consequentemente preconiza a falta

de investimento para manutenção e qualificação dos equipamentos e infraestruturas suburbanas

(Gonçalves et al., 2015). No atual contexto de crise financeira e económica a nível mundial é

crucial analisar a adaptação das políticas públicas às instigações que as áreas suburbanas

enfrentam e enfrentarão nos próximos anos e avaliar como as intervenções públicas conseguem

defrontar esses desafios.

Os IGT assim como outros instrumentos territoriais são os instrumentos de planeamento e

ordenamento com o direito legal e o dever moral de intervenção no território, interessa também

verificar os desafios que ainda persistem na suburbanização da AML, e percecionar a

consonância entre os Planos Estratégicos Portugal 2020, devido à sua abrangência e

contemporaneidade. Esta compilação permitirá uma análise das soluções propostas e

consequente constatação do atual nível de marginalização dos subúrbios metropolitanos perante

as mutações globais e incessantes que dificultam a obtenção de um território resiliente.

4.4.1. Desafios que persistem

As cidades são feitas de contradições e ruturas sociais, políticas e culturais, este fato deve-se à

sua conceção por distintos atores de interesses desiguais cuja confrontação se faz sob a

mediação do Estado e das autarquias (Guerra, 2013). Contudo apesar da comprovação de

carência e insuficiência do planeamento urbanístico, maioritariamente atribuída ao poder

camarário, a administração pública desempenhou um papel relevante com resultados positivos

no processo de expansão (Gonçalves e Elias, 2015), começando a ser consideradas novas

estratégias para os problemas urbanos existentes.

No entanto as assimetrias no território suburbano verificam-se a vários níveis, numa primeira

análise a principal carência verifica-se na temática residencial, tendo sido a sua falta a génese

dos subúrbios, e o seu excesso e desordem algumas das consequências problemáticas em

discussão. No que diz respeito ao espaço público as principais tomadas de decisão também não

incluem o território de forma coesa e coerente. Transversalmente ao vetor da habitação e dos

espaços públicos encontra-se o vetor dos equipamentos e das infraestruturas, e o planeamento

destes nem sempre acompanhou eficazmente a expansão urbana, tendo sido maioritariamente

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remediado, tornando-se outro dos principais desafios que ainda persiste, sendo estas

assimetrias reveladoras de uma segregação socio espacial (Guerra, 2013).

A realidade atual consiste numa segmentação social do espaço, que a médio prazo se poderá

constituir como um fator determinante na fracturação da sociedade. Constate-se que apesar das

contribuições de planeamento territorial sintetizadas há desafios que ainda persistem, não sendo

todas as deliberações preconizadas suficientes para “responder” a um território suburbano com

caraterísticas específicas e versáteis como a AML. Exemplos disso são a predominância de

Áreas Urbanas de Génese Ilegal (AUGI) e Bairros Críticos contemporâneos sobretudo nos

subúrbios da AML:

Figura 30. Construções ilegais na Cova da Moura (Amadora)

Fonte: http://jornaldaregiao.blogspot.pt/2012/05/cova-da-moura-reabilitacao-adiada-por.html

Figura 31. AUGI na Cova da Moura (Amadora)

Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=34941

1&page=104

Figura 32. Construção ilegal na Cova da Moura (Amadora)

Fonte: http://www.revistainvi.uchile.cl/index.php/INVI/rt/printerFr

iendly/777/1156

Figura 33. Construções inacabadas no Bairro da Jamaica (Seixal)

Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=34941

1&page=104

Face a estas desigualdades sociais com repercussões territoriais torna-se pertinente analisar as

linhas estratégicas afetas à AML, refletidas atualmente sobretudo no programa comunitário

estratégico, percecionando como o planeamento estratégico efetivo visa colmatar esta falta de

coesão e coerência evidenciada, com uma índole ainda muito marcada no território.

4.4.2. Estratégias em vigor na Área Metropolitana de Lisboa

O reforço do planeamento estratégico na AML é equivalente às necessidades preconizadas

através de uma análise sumária contemporânea pela realidade suburbana da AML que permite

verificar a existência de desigualdades económicas e sociais que se repercutem em assimetrias

territoriais. Uma hipótese considerada é a inexistência de articulação entre a realidade e a

estratégia preconizada nos IGT e IT, que adotam quer uma perspetiva macro territorial sem

especificação micro territorial, quer uma abordagem micro nível sem abrangência maximizada

do território, o confronto entre as linhas de diagnóstico e as conclusões indicadas respetivamente

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permitirá posteriormente percecionar a consonância entre os distintos níveis de análise e

estratégia territorial.

O Governo determinou, pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 21/89 (I Série), de 15 de

maio, a elaboração do Plano Regional de Ordenamento do Território da Área Metropolitana de

Lisboa (PROT AML) (Tabela 16). A resolução anteriormente referida, assim como a nº 27/99 (II

Série), de 16 de março, definem o âmbito territorial do PROT-AML. O documento inclui

indicações que não sendo vinculativas procuram uma articulação da AML com a região de Vale

do Tejo e com a região do Oeste. O PROT AML em vigor foi aprovado pela Resolução do

Conselho de Ministros n.º 68/2002, de 8 de abril, e foi deliberada a sua alteração pela Resolução

do Conselho de Ministros n.º 92/2008, de 5 de junho. O Governo deliberou alterar o PROT AML

pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 92/2008, de 5 de junho, encontrando-se ainda em

processo de alteração (C.C.D.R. – L.V.T., 2014 b).

Tabela 16. Ficha-síntese do Plano Regional de Ordenamento do Território da Área Metropolitana de

Lisboa (PROT AML)

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Procura definir as opções estratégicas para o desenvolvimento da AML e a sua tradução espacial:

estabelece um modelo territorial, identificando os principais sistemas, redes e articulações de nível

regional; sistematiza as normas que devem orientar as decisões e os planos da Administração Central

e a Local que constituem o quadro de referência para a elaboração dos IGT; e estabelece o programa

de realizações para a sua execução através da identificação das ações e investimentos, nos diversos

domínios.

O desafio fundamental expresso na proposta do PROT consiste na estruturação e qualificação da AML,

fazendo contraponto ao urbanismo expansivo e depredador de recursos verificado na Região nos

últimos anos, tendo em conta as orientações da política nacional, as necessidades da competitividade

externa, mas também as condicionantes demográficas, ambientais e socioeconómicas.

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O PROT foi elaborado segundo o então conceito de Plano, consagrado na Lei de Bases da Política de

Ordenamento do Território e de Urbanismo. A formatação do PROT-AML disponibiliza o seguinte

conteúdo material: opções estratégicas; esquema do modelo territorial (unidades territoriais, estrutura

metropolitana de proteção e valorização ambiental, transportes e logística); normas orientadoras (que

vinculam os serviços da Administração Central e Local e enquadram e orientam os IGT, a elaborar ou

a rever, com incidência na AML, designadamente a nível municipal); e relatório (Programa de Execução

e Quadro de Meios, Estudos de Fundamentação Técnica e Estudos Setoriais).

A proposta de PROT-AML fundamenta-se em quatro prioridades essenciais: sustentabilidade

ambiental, qualificação metropolitana, coesão sócio territorial e organização do sistema metropolitano

de transportes.

A estratégia territorial proposta para a AML procura traduzir a incidência das estratégias de

desenvolvimento, configurando uma ideia de organização dinâmica baseada nas pré-existências e nos

processos de transformação instalados e emergentes.

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As grandes infraestruturas e equipamentos são os fatores mais poderosos de estruturação do território.

O modelo de povoamento e urbanização metropolitano está a evoluir duma estrutura urbana compacta,

de uma estrutura radial organizada sobre eixos ferroviários na margem norte e um conjunto de centros

ribeirinhos na margem sul do Tejo, para uma rede progressivamente radio-concêntrica e polinucleada,

ainda mantendo a grande predominância do seu centro – a cidade de Lisboa – quanto a emprego,

serviços e equipamentos especializados.

A AML ocupa uma posição singular quer na Região quer a nível nacional, integrando grande parte das

componentes estruturantes e estratégicas do desenvolvimento do país e da sua internacionalização.

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Concentra os principais recursos nacionais em investigação, desenvolvimento científico e tecnológico,

bem como os serviços avançados às empresas e as infraestruturas de transportes, culturais e

desportivas. Denota um papel crucial no reforço da competitividade externa do país e no processo de

integração europeia, na melhoria de padrões de vida e na coesão social e territorial ao nível nacional.

No que concerne especificamente ao diagnóstico de coesão socio-territorial são identificados

fenómenos duais pautados ora pela riqueza económica, ora pela pobreza. As formas urbanas refletem

situações de precarização social, através da disseminação de zonas urbanisticamente degradadas e

subequipadas, onde vivem sobretudo grupos de risco. A precarização socioeconómica associa-se

também a fenómenos de marginalização e de insegurança urbana, que influenciam negativamente a

qualidade de vida urbana.

A AML acumula todos os fatores sociais e urbanísticos geradores de exclusão social, de fortes

assimetrias e de fragmentação territorial: um processo histórico que permitiu a urbanização

desordenada e desqualificada, aos níveis social e espacial (políticas de planeamento ineficazes,

ausência de requalificação da habitação e do espaço público, bem como de infraestruturas e

equipamentos adequados às necessidades, aos hábitos e às expetativas legítimas das populações);

tendência para o despovoamento das áreas centrais com reforço cumulativo do processo de

suburbanização; envelhecimento da população; concentração de comunidades imigrantes e minorias

étnicas de grande heterogeneidade cultural; insuficiência das estruturas e dinâmicas educacionais e de

capacitação profissional; desigualdades nas condições de mobilidade e insuficiência ao nível dos

equipamentos sociais e cívicos.

São identificados sete tipos de espaços que decorrem de novas dinâmicas territoriais verificadas na

AML: espaços motores, com capacidade para atraírem e fixarem novas atividades e funções de nível

superior; espaços emergentes, que correspondem a áreas com potencialidades para protagonizarem

transformações positivas na AML, tanto em novos usos e funções especializadas como na

reestruturação e qualificação urbana; áreas dinâmicas periféricas, que se caracterizam por possuir uma

boa capacidade de atracão de atividades e de residência, constituindo núcleos com alguma autonomia

funcional em relação ao espaço central da AML; espaços naturais protegidos, áreas classificadas e

integradas em Parques ou Reservas Naturais, a Rede Natura e as áreas definidas em legislação

específica de âmbito nacional, que se procuram proteger das dinâmicas urbanas metropolitanas;

espaços problema correspondem a áreas periféricas fragmentadas e desestruturadas com tendência

para a desqualificação urbana e ambiental, mas também correspondem a áreas centrais da AML que

registam um declínio urbano e fortes processos de degradação; áreas com potencialidades de

reconversão/renovação, concentram ocupações obsoletas ou em desativação, essencialmente

associadas a antigas ocupações industriais; áreas críticas urbanas, caracterizadas por apresentarem

uma elevada desqualificação urbanística e social, registam ainda carências em infraestruturas e

equipamentos, e uma elevada concentração residencial.

Ressalva-se que a transformação das áreas críticas se tem efetivado de forma casuística e

desintegrada, privilegiando a intervenção física e negligenciando a dimensão social, não contribuindo

para a sua resolução, mas antes para uma minimização esporádica dos mesmos de acordo com as

intervenções pontuais desenvolvidas.

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Visão estratégica: dar dimensão e centralidade europeia e ibérica à AML, espaço privilegiado e

qualificado de relações euro-atlânticas, com recursos produtivos, científicos e tecnológicos avançados,

um património natural, histórico, urbanístico e cultural singular, terra de intercâmbio e solidariedade,

especialmente atrativa para residir, trabalhar e visitar.

Propostas estratégicas de desenvolvimento para a AML: afirmar Lisboa como região de excelência para

residir, trabalhar e visitar, apostando na qualificação social, territorial, urbana e ambiental da AML;

potenciar as inter-relações regionais da AML; inserir a AML nas redes globais de cidades e regiões

europeias atrativas e competitivas; desenvolver e consolidar as atividades económicas com capacidade

de valorização e diferenciação funcional, ao nível nacional e internacional; promover a coesão social,

através do incremento da equidade territorial, da empregabilidade, do aprofundamento da cidadania e

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do desenvolvimento dos fatores da igualdade de oportunidades; potenciar as condições ambientais da

AML.

Medidas para a concretização das propostas estratégicas: qualificação do território, elegendo o

ambiente e o património como fatores de competitividade; requalificação socio-urbanística de áreas

degradadas; reforço das acessibilidades internas e externas (portos, aeroportos, redes transeuropeias);

qualificação dos serviços de saúde; promoção habitacional enquadrada em planos de ordenamento e

padrões construtivos qualificados, estimulando o repovoamento das áreas urbanas centrais; integração

urbana e social de grupos social e economicamente desfavorecidos (combate à pobreza e à exclusão

social); qualificação dos sistemas de educação, formação e inserção profissional; incremento do lazer

e do turismo; realização e promoção de eventos multiculturais e desportivos; reforço do sistema de

produção e difusão científica e tecnológica; desenvolvimento de serviços avançados de nível

internacional; desenvolvimento das indústrias de conteúdos.

No que diz respeito à estratégia de coesão socio-territorial há a promover a requalificação sócio

urbanística de áreas degradadas (através do Programa Especial de Realojamento – PER, da iniciativa

“Dar vida aos subúrbios”, revitalizando as áreas históricas, e qualificando os bairros sociais

subequipados e degradados); implementando políticas de valorização dos recursos humanos, de

emprego e empregabilidade; e implementando uma política urbana e habitacional de equidade

territorial.

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As áreas críticas urbanas localizadas sobretudo nos subúrbios da AML têm registado uma evolução

quantitativa significativa ao nível das condições de habitação, sobretudo devido à sua integração numa

estratégia notória de política pública afeta aos programas de requalificação socio-urbanística

evidenciados. Deve ser acautelada a influência da crise económica a médio prazo e longo prazo neste

território marginalizado.

Apesar do correto delinear geográfico destas áreas e consequente idealização de soluções de

mitigação, a desadequação das soluções urbanísticas revela-se preeminente pelas atuais caraterísticas

de uma fração desconsiderada da população, pela desqualificação do espaço público limítrofe e pelo

ainda escasso envolvimento da população nas operações de requalificação urbana.

Ressalvando que nestas áreas críticas evidenciadas em 2002 e ainda sem solução efetiva (2015) estão

patentes dinâmicas que a médio prazo (2025) podem vir-se a revelar preocupantes, quer pela

descontrolada e excessiva concentração habitacional e populacional, quer pelas tensões derivadas de

transformações do tecido social em curso.

Fonte: C.C.D.R. – L.V.T., 2002 b

Desde a adesão de Portugal em 1986, vários foram os financiamentos da União Europeia ao

território nacional, derivando as orientações em estratégias e objetivos estipulados no Quadro

Comunitário de Apoio (QCA) e posteriormente no Quadro de Referência Estratégica Nacional

(QREN). A estratégia comunitária em vigor, Europa 2020, iniciada em 2010 “visa não só a saída

da crise, da qual as nossas economias estão a recuperar gradualmente, mas também colmatar

as deficiências do nosso modelo de crescimento e criar condições para um crescimento

inteligente, sustentável e inclusivo” (C.E., 2010: 5).

Os desafios da estratégia Europa 2020 colocam-se não só aos Estados-Membros como às suas

Regiões, pelo que a definição da forma de responder à sua concretização sugere-se

equacionada e refletida também a esta escala, com os atores dos territórios. Esta preocupação

é pertinente perante o reconhecido de um dos fatores explicativos do insucesso da Estratégia de

Lisboa, definida pela Comissão Europeia para o período 2007-2013, a fraca governação

multinível, “dado ter sido insuficiente o envolvimento das autoridades regionais e locais, bem

como da sociedade civil, na conceção, implementação, comunicação e avaliação da estratégia”.

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Considerando esta experiência, o Parlamento Europeu recomendou “uma maior integração

futura desses atores, em todas as fases” (P.A.R. Lisboa, 2014: 9).

João Ferrão (2004: 43) evidencia que “o ordenamento do território não integra as competências

formais da Comissão Europeia” apesar das múltiplas iniciativas conducentes à implantação de

estratégias transnacionais de desenvolvimento do espaço comunitário. O ordenamento do

território continua sem fazer parte dos eixos principais da Comissão Europeia, no entanto é no

ordenamento do território que efetivamente se traduz a exclusão social, as assimetrias territoriais

são o espelho das desigualdades que se procuram combater com a estratégia Europa 2020.

Ao nível nacional, o Governo Português determinou em novembro de 2012 as prioridades

estratégicas para o ciclo 2014-2020 (RCM n.º 98/2012, de 26 de novembro) e em maio de 2013

os pressupostos do Acordo de Parceria (RCM n.º 33/2013, de 20 de maio) no âmbito da

Estratégia Europa 2020. Respeitando as orientações da União Europeia, a estratégia Portugal

2020 a nível nacional é operacionalizada através de dezasseis Programas Operacionais a que

acrescem os Programas de Cooperação Territorial nos quais Portugal participa a par com outros

Estados membros. O modelo de governação do Acordo de Parceria e dos Programas

Operacionais 2014-2020 está organizado em dois níveis de coordenação: política e técnica. O

primeiro documento oficial referente à estratégia data de 2007 e preconiza as linhas orientadoras

da estratégia Lisboa 2020 (Tabela 17).

Tabela 17. Ficha-síntese de “Lisboa 2020 – Uma estratégia de Lisboa para a Região de Lisboa”

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s São estabelecidas as metas que se pretendem atingir no horizonte temporal de 2020 para a AML.

Pretende-se a compilação de informação e demonstração da necessidade e oportunidade de

desenvolvimento e afirmação da AML na Europa e no mundo.

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O documento foi elaborado pela CCDR-LVT com alargada e intensa participação dos principais atores

regionais.

Primeiro é feito um diagnóstico da região de Lisboa e equacionados cenários de desenvolvimento. São

apresentados a visão e os eixos estratégicos delineados para atingir o objetivo de desenvolvimento

sustentável da AML. Neste seguimento são evidenciados os programas estruturantes, assim como a

gestão do plano (que passa pela implementação de um modelo de governação e de monitorização).

Numa última análise são discriminados os projetos e as ações a realizar.

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São reconhecidas as potencialidades da AML: recursos naturais, ambientais, climatéricos e patrimoniais

singulares. As debilidades consistem no desordenamento do território, nos constrangimentos da

mobilidade, na insuficiente qualificação dos recursos humanos e nas precariedades sócio urbanísticas

de exclusão social.

A AML é um território muito atrativo, contudo ainda são necessárias intervenções para aumentar a

qualidade de vida urbana que se revela assimétrica. Ressalva-se a necessidade de mudança na AML,

evidenciando que a qualidade de vida de cada um depende da qualidade de vida da comunidade.

A AML pauta-se por uma anacrónica centralização político-administrativa e pela excessiva

concentração de recursos na cidade de Lisboa, interessando reequilibrar esta situação de assimetria

territorial.

São identificadas três realidades distintas na AML: a área metropolitana central (composta por

contínuos urbanos que envolvem as duas margens do Tejo e pelos espaços mais diretamente

dependentes e articulados com o núcleo central metropolitano); a periferia metropolitana (uma estrutura

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urbana com tendência e bases para a polinucleação, descontínua, fortemente interdependente, com

uma estreita relação entre espaços urbanos e rurais); e a região de polarização metropolitana (um vasto

espaço do território nacional, palco de relações económicas, sociais e culturais em grande parte

induzidas e polarizadas pela área metropolitana central).

As formas sócio urbanísticas problemáticas são associadas à degradação dos espaços urbanos, ao

desemprego, às carências e deterioração da habitação, ao insucesso escolar, ao baixo nível de

habilitações da população residente e à marginalização infantil.

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O eixo primordial apontado é a internacionalização da região de Lisboa, com a devida articulação dos

domínios: ambiental, cultural, desportivo, educacional, tecnológico e sócio urbanístico. Para tal é

necessária uma visão integrada e coerente sobre o modelo de desenvolvimento a adotar.

No horizonte temporal de 2020 pretende-se atingir como metas de desenvolvimento económico e social

da AML: a sustentabilidade social e ambiental, o reforço da coesão socio territorial, a valorização da

diversidade étnica e cultural e a eficiência da governação.

Um novo período de desenvolvimento deve regular o crescimento extensivo e disperso, adotando um

modelo territorial baseado nos princípios da cidade compacta (com maior importância atribuída à

reabilitação e qualificação dos espaços construídos existentes, centrais e periféricos) e da

polinucleação (complementaridade interna qualificando as relações entre espaços urbanos e rurais,

emergência de novas centralidades, garantia de uma organização territorialmente mais sistémica),

afirmando-se Lisboa como uma região metropolitana polinucleada (uma região metapolitana) em

substituição do atual modelo radiocêntrico e fragmentado. Face ao cenário de acumulação dos fatores

sociais e urbanísticos geradores de exclusão social, de fortes assimetrias e de fragmentação territorial

importa construir um novo percurso assente em estratégias de desenvolvimento que coloquem nas

prioridades as pessoas e a coesão socio territorial.

O desenvolvimento regional depende sobretudo da mudança de atitudes e de governabilidade. Há a

necessidade de elucidar a população dos problemas urbanos e auscultar opiniões para proceder a uma

intervenção conjunta no território. É necessária também uma redução da burocracia e uma

monitorização eficaz dos processos de implementação e execução de planos, políticas e propostas de

ordenamento do território. A melhoria da governabilidade da AML passa por três mudanças

fundamentais: concretização de uma reforma da administração pública, um novo modelo de governo

metropolitano, e novas modalidades de governança.

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Torna-se evidente que a falta de coesão territorial depende da manutenção de um grupo vulnerável

populacional. No entanto a questão crucial prende-se com a dificuldade de obtenção de uma estratégia

que garanta a igualdade de oportunidades num território tão diversificado e com uma composição

populacional tão heterogénea.

A implementação e eficiência das políticas públicas urbanas depende de um modelo de governação

ainda em adaptação e de um modelo de monitorização em desenvolvimento cuja fragilidade passa pela

avaliação do processo (que deve ser equacionado quer para reconhecimento do mérito de cada etapa

quer para referenciação futura de aplicação de políticas semelhantes).

Fonte: C.C.D.R.- L.V.T., 2007

No que respeita à estratégia Portugal 2020 circunscrita à AML o Programa Operacional Regional

(POR) afeto é o POR Lisboa 2020. A Estratégia Regional Lisboa 2020 incita como principal

ambição para o período 2014-2020 dar continuidade à trajetória de desenvolvimento que tem

vindo a seguir desde 1986, superando os atuais estrangulamentos sociais e económicos e

aproveitando de forma mais inteligente, inclusiva e sustentável as potencialidades geradas pelo

território e pelo seu capital humano, cultural e ambiental. Surgiram novos desafios na Política de

Coesão com uma redução significativa de fundos estruturais e com uma nova realidade territorial,

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em que a Região de Lisboa (NUTS II) passa a ser constituída apenas por duas NUTS III – Grande

Lisboa e Península de Setúbal.

O Programa Operacional Regional de Lisboa 2014-2020 (POR Lisboa) (Tabela 18) consolida e

reforça a lógica de definição estratégica e operacionalização intermunicipal, estabelecendo a

NUTS III como referência territorial para a concretização dos Investimentos Territoriais

Integrados (ITI), nomeadamente através do Pacto para o Desenvolvimento e Coesão Territorial

da Área Metropolitana de Lisboa. O Programa é elegível de 1 de Janeiro de 2014 até 31 de

Dezembro de 2023.

Tabela 18. Ficha-síntese do Programa Operacional Regional de Lisboa 2014-2020 (POR Lisboa)

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Visa apresentar propostas para reforçar a competitividade regional, intensificando as apostas na

inovação, na I&D e na diversificação e fortalecimento das PME, com vista à sua internacionalização e

participação nos processos de crescimento e inovação. A sustentabilidade deste processo de

transformação regional está dependente, contudo, de uma ação concertada a outros dois níveis: a

valorização da dimensão ambiental, onde pesa a transição para uma economia de baixo teor de carbono

e a proteção e valorização dos recursos naturais, reforçando a resiliência territorial às alterações

climáticas; a promoção do emprego e da inclusão social, especialmente relevantes em resultado dos

efeitos sociais do processo de ajustamento económico-financeiro do país.

O POR Lisboa tem como principal ambição contribuir de forma efetiva para a concretização dos

objetivos da estratégia “Europa 2020”.

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O POR apresenta um alinhamento entre a programação regional e os objetivos temáticos (OT) comuns

definidos para a UE. As apostas/prioridades estabelecidas no PO refletem uma intenção de

concentração temática e orientação para os resultados, incindindo fortemente em tipologias de apoio

que visam ajudar a Região a tornar-se ainda mais competitiva na economia global, mais inclusiva no

acesso ao mercado de trabalho por parte dos jovens, dos menos qualificados e dos mais desfavorecidos

e mais sustentável a médio-longo prazo, no quadro de uma economia de baixo carbono e de uma

utilização mais eficiente dos recursos. A concentração de fundos é reforçada sobretudo em três

objetivos temáticos: sustentabilidade e qualidade do emprego e apoio à mobilidade dos trabalhadores;

inclusão social e combate à pobreza e a discriminação; ensino, competências e aprendizagem ao longo

da vida). Para contextualizar cada objetivo temático são descritos objetivos específicos conducentes à

monitorização e execução do objetivo afeto.

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No que concerne especificamente ao objetivo de aumento do número de estratégias de

desenvolvimento socioeconómico de base local em territórios rurais e costeiros e em territórios urbanos

desfavorecidos o diagnóstico antecedente preconiza que o resultado do modelo de crescimento urbano

verificado na Região de Lisboa caracteriza-se pela existência de fraturas sócio urbanísticas

significativas. Esta situação é evidenciada por territórios urbanos onde se concentram com elevada

expressão problemas socioeconómicos (pobreza, exclusão social, desemprego, abandono escolar e

estigmatização social) e onde se verifica, igualmente, uma menor disponibilidade de meios para

responder às desvantagens sociais e económicas.

No diagnóstico de fenómenos como a pobreza, a exclusão social e o desemprego em territórios urbanos

problemáticos considera-se que a crise económica que afeta o país regista um forte impacto social

patente no aumento da pobreza e na exclusão social, em resultado da diminuição dos rendimentos e,

especialmente, da perda de emprego. A territorialização da pobreza e da exclusão evidencia a

persistência de territórios urbanos problemáticos, onde se concentram grupos vulneráveis (imigrantes,

minorias étnicas, desempregados de longa duração, crianças e idosos em situação de pobreza

material). A complexidade e a gravidade dos fenómenos associados à pobreza e à exclusão social

(reduzidas competências sociais, educativas e profissionais, baixos níveis de atividade, baixos

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rendimentos do trabalho, elevado abandono escolar) nestas áreas urbanas problemáticas exige que a

par das abordagens setoriais, igualmente apoiadas pelo Programa Operacional, sejam promovidas

abordagens integradas de base territorial que potenciem a interação entre vários instrumentos e

promovam mudanças efetivas e duradouras.

Apesar das diversas medidas que têm sido adotadas continuam-se a verificar importantes problemas

de integração social e económica, por parte dos imigrantes e das minorias étnicas na região,

nomeadamente no acesso ao emprego (agravado com a atual crise económica), na precariedade

laboral, nas débeis condições habitacionais a que acedem, na segregação urbana, no maior insucesso

escolar (ainda que diferenciado, entre os principais grupos de imigrantes), na

estigmatização/discriminação e no acesso aos serviços e equipamentos públicos.

Verifica-se também que o crescimento urbano rápido e extensivo verificado na Região de Lisboa gerou

fraturas e desequilíbrios socio-urbanísticos e funcionais que tendem a persistir, pese embora os

esforços de qualificação territorial seguidos pela administração local e central. A desintegração de

tecidos urbanos, a prevalência de extensas áreas habitacionais com baixos níveis de qualificação,

algumas de génese ilegal, a emergência de grandes conjuntos de habitação social e a acentuada perda

de vitalidade social e funcional de áreas consolidadas e históricas, originaram espaços urbanos com

elevados níveis de desqualificação física. Consequentemente a estrutura urbana regional é atualmente

pontuada por áreas urbanas críticas, especialmente desqualificadas ao nível social e urbanístico, onde

a pobreza e a exclusão social assumem grande expressão onde se torna prioritário intervir na ótica do

crescimento inteligente, sustentável e inclusivo.

São identificadas áreas geográficas mais afetadas pela pobreza/grupos-alvo expostos a um maior risco

de discriminação ou exclusão social. Persistem espaços com diferentes naturezas e morfologias, mas

todos marcados pela coexistência de problemas urbanísticos e pela concentração de problemas sociais.

A estes territórios associaram-se, nas últimas duas décadas, as áreas centrais e históricas que

perderam vitalidade económica e social a par da sua degradação física. O padrão concentrado da

pobreza e da exclusão social tem motivado diferentes ciclos de territorialização das abordagens

públicas, tanto na ótica da política urbana, como na ótica da política social.

A AML caracteriza-se por três tipologias de territórios urbanos desfavorecidos, ou seja por áreas onde

é possível identificar a coexistência de múltiplas problemáticas socio urbanísticas. Estas três tipologias

de situações cobrem as essenciais as áreas que serão objeto da estratégia territorial de combate à

pobreza e à exclusão social: Centros Históricos e Áreas Centrais Envelhecidas; Bairros Sociais;

urbanizações periféricas em contextos desqualificados.

Sendo que os bairros sociais têm como génese os diversos programas de realojamento de população

que residia em barracas, sendo globalmente caracterizados pela existência de múltiplas e graves

vulnerabilidades sociais.

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No que diz respeito à panorâmica da estratégia de investimento do programa operacional são

estipulados prioridades de investimento consoante a relevância dos objetivos temáticos,

nomeadamente: o reforço da investigação, do desenvolvimento tecnológico e da inovação; o reforço da

competitividade das pequenas e médias empresas e dos setores agrícola assim como das pescas e da

aquicultura; o apoio da transição para uma economia de baixo teor de carbono em todos os setores; a

preservação e proteção do ambiente e a promoção da utilização eficiente dos recursos; a promoção da

sustentabilidade e a qualidade do emprego e apoiar a mobilidade dos trabalhadores; a promoção da

inclusão social e o combate da pobreza e qualquer tipo de discriminação; o investimento na educação,

na formação, nomeadamente profissional, nas competências e na aprendizagem ao longo da vida; o

apoio da transição para uma economia de baixo teor de carbono em todos os setores.

O Programa Operacional irá apoiar a realização de Contratos Locais de Desenvolvimento Social nos

territórios urbanos problemáticos, especialmente afetados pelo desemprego e por situações críticas de

pobreza. Estes Contratos irão promover a inclusão social dos indivíduos de forma multissetorial e

integrada, através de ações que visam aumentar a empregabilidade e combater situações críticas de

pobreza. Por outro lado, o Programa irá apoiar ações inovadoras de dinamização económica local e de

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apoio à empregabilidade de grupos vulneráveis, focalizadas no empreendedorismo, promovidas por

redes locais para a empregabilidade, que gerem soluções de superação do desemprego e da exclusão

persistente do mercado de trabalho. Com a implementação dos Contratos Locais de Desenvolvimento

Social e de soluções inovadoras para a empregabilidade em territórios urbanos especialmente afetados

pela pobreza.

Outro objetivo específico passa pelo apoio à regeneração física, económica e social das comunidades

desfavorecidas em zonas urbanas e rurais. Os planos de ação integrados devem estar situados em

áreas selecionadas para a implementação das estratégias urbanas integradas. A delimitação territorial

da intervenção é definida no plano integrado local, correspondendo a pequenas áreas inframunicipais,

de acordo com as caraterísticas socio-funcionais do espaço. Serão estabelecidos mecanismos de

articulação que permitam uma monitorização da sua aplicação de forma coerente e complementar.

Serão valorizadas positivamente as operações que apresentem soluções inovadoras e/ou que

favoreçam o aproveitamento dos recursos endógenos da Região.

Depreende-se a necessidade de uma estratégia para abordar as necessidades específicas das áreas

geográficas mais afetadas pela pobreza/dos grupos-alvo expostos a um maior risco de discriminação

ou exclusão social. O diagnóstico social da Região de Lisboa tornou evidente, não só a emergência de

novos problemas, com uma expressão geográfica difusa, como os principais domínios problemáticos

que exigem prioridade de atuação no combate à exclusão e à pobreza na Região, designadamente ao

nível de: desemprego; abandono e insucesso escolar; envelhecimento; integração de imigrantes e

minorias étnicas.

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O apoio da União irá permitir obter resultados ao nível da inclusão da população marginalizada,

nomeadamente no reforço da sua empregabilidade, na redução das taxas de abandono e de insucesso

escolar e na facilitação do acesso aos serviços públicos de proximidade, contribuindo para a

concretização dos objetivos da Estratégia Europa 2020.

Fonte: C.C.D.R.- L.V.T., 2014 c

A versão final do Plano de Ação Regional de Lisboa 2014-2020 (Tabela 19) obteve a validação

do Conselho Regional em 7 de fevereiro de 2014 (CCDR-LVT, 2014 a). O documento preconiza

uma ambição estratégica que ultrapassa o Programa Operacional Regional ou o quadro de

investimentos públicos financiados com fundos estruturais até 2020, constitui-se como a base

estratégica de apoio à elaboração do POR preparado em paralelo (C.C.D.R.- L.V.T., 2014 b).

Tabela 19. Ficha-síntese do Plano de Ação Regional de Lisboa 2014 - 2020 (PAR Lisboa)

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Tendo como referência as prioridades e as metas da Estratégia Europa 2020 e do Programa Nacional

de Reformas, e tal como acordado com o Conselho Regional, o PAR Lisboa 2014-2020 incidiu em

quatro dimensões estratégicas: crescimento inteligente, crescimento sustentável, crescimento inclusivo

e capacitação regional.

O PAR Lisboa ambiciona incorporar e disseminar o conhecimento sobre a estratégia “Europa 2020” e

o Quadro Estratégico Comum da União Europeia; diagnosticar e debater a situação de desenvolvimento

da Região de Lisboa e identificar prioridades estratégicas, domínios/projetos de investimento relevantes

e abordagens territoriais no horizonte 2014-2020; articular a elaboração do Plano de Ação da Região

de Lisboa com a do Programa Territorial Integrado para a AML; assegurar uma ampla participação

institucional (conselho regional, parceiros económicos e sociais, entidades do sistema científico e

tecnológico e organismos que representem a sociedade civil) e empresarial, bem como uma

mobilização pública em torno da preparação do período de programação 2014-2020; assegurar a

existência de um quadro estratégico, regulamentar e institucional capaz de garantir uma utilização

eficiente dos recursos previstos para o período de programação.

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O Plano de Ação Regional 2014- 2020 tem como referencial a Estratégia Regional de Lisboa 2020,

elaborada em 2007, assim como as opções estratégicas de base territorial que emanam do Programa

Nacional da Política de Ordenamento do Território e do Plano Regional de Ordenamento do Território

da Área Metropolitana de Lisboa. No contexto de preparação do Quadro Financeiro Plurianual 2014-

2020 e do Acordo de Parceria, a CCDR-LVT foi incumbida pelo Governo de preparar o Plano de Ação

Regional de Lisboa 2014-2020, que conforma a estratégia da Região (NUTS II Lisboa) no âmbito do

novo período de programação de fundos comunitários e enquadra o Programa Operacional Regional

de Lisboa 2014-2020. Os trabalhos foram desenvolvidos com o envolvimento e a colaboração dos

atores regionais, nomeadamente autarquias, parceiros económicos e sociais, entidades do sistema

científico e tecnológico e outras entidades da sociedade civil. A CCDR LVT divulgou e disponibilizou

através do seu site um conjunto de informação relevante para enquadrar e acompanhar a preparação

do Plano de Ação Regional de Lisboa 2014-2020 e apelou a uma participação pública alargada na sua

construção, um intenso e longo programa de auscultação e envolvimento de atores locais e regionais,

realizado entre Abril e Outubro de 2013.

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O ajustamento dos desequilíbrios macroeconómicos da economia portuguesa tem envolvido custos

significativos ao nível da atividade e do emprego. Estes efeitos têm-se repercutido de forma severa ao

nível social acentuando as fraturas sócio urbanísticas existentes na Região e que representam

dinâmicas de exclusão social que podem tornar-se numa ameaça real se não forem compensadas por

mecanismos de inclusão mais poderosos. De resto, uma sociedade coesa contribui favoravelmente

para a competitividade das regiões, razão também pela qual estas questões têm de ser equacionadas.

A debilidade das estruturas e dinâmicas de educação e de formação profissional, o enfraquecimento

dos laços familiares, a fragilidade dos tecidos associativos locais e a escassez de respostas ativas de

inclusão fazem das áreas urbanas críticas da Região espaços de grande vulnerabilidade social e

económica, que se tornam mais evidentes com o agravamento significativo do desemprego, o aumento

da pobreza e a persistência do insucesso escolar nestes territórios. A resposta a este quadro agravado

de debilidades sociais é essencial para reforçar a coesão económica, social e territorial na Região.

Em termos de qualificação urbana foi identificada a prevalência na Região de Lisboa de inúmeras áreas

onde se conjugam diversos problemas de natureza urbanística, social e económica e, usualmente, a

presença de importantes comunidades estrangeiras e de diferentes grupos étnicos. Estes territórios,

embora assumindo diferentes morfologias e naturezas (i.e. centros históricos, bairros de barracas,

bairros sociais e urbanizações periféricas), destacam-se no contexto regional pelas elevadas taxas de

desemprego, abandono e insucesso escolar, e de pobreza, constituindo, por isso, áreas de intervenção

prioritária à luz dos objetivos e das metas definidas pela estratégia Europa 2020. O crescimento urbano

verificado na Região de Lisboa e a inexistência de uma gestão urbanística eficaz geraram assimetrias

e desequilíbrios sócio urbanísticos e funcionais. Para além de áreas de construção tradicional

degradada, áreas urbanas de origem clandestina e bairros de realojamento guetizados, ressurgiram

nos últimos anos fenómenos de habitação precária devido à crise económica. Subsistem assim áreas

críticas especialmente desqualificadas - social e urbanisticamente - caracterizada pela pobreza,

exclusão social e desqualificação urbanística. Para além da perda de vitalidade dos centros urbanos

consolidados, nomeadamente de Lisboa (decréscimo populacional de 3,4%, entre 2001-2011; aumento

do número de alojamentos familiares clássicos localizados em edifícios com necessidades de grandes

reparações ou muito degradados), emergem como fenómenos preocupantes a existência de áreas

urbanas fragmentadas resultantes do alastramento não programado, espacialmente descontínuo e

fortemente desarticulado da habitação (1200 aglomerados habitacionais integrados em Áreas Urbanas

de Génese Ilegal), bem como a degradação do parque habitacional construído entre as décadas de

1950 e de 1970. A Região de Lisboa possui um número significativo de edifícios com necessidade de

grandes reparações ou muito degradados (11.118 edifícios).

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Em matéria de crescimento inteligente objetiva-se: uma Região que dinamiza os sistemas produtivos

locais, aposta no S.C.T., e reforça a sua competitividade internacional a partir da sua especialização

inteligente; uma Região que investe na qualificação do capital humano, na promoção do emprego e na

dinamização do empreendedorismo; e uma Região que valoriza os meios criativos e as indústrias

culturais, utilizando a cultura e a criatividade como catalisadores da internacionalização da economia

regional. Em termos de crescimento sustentável preconiza-se no futuro: uma Região que protege os

seus recursos, que promove a qualidade ambiental e que promove a resiliência; uma Região que aposta

na transição para uma economia de baixo carbono suportada na eficiência energética e na mobilidade

inteligente e inclusiva; e uma Região que promove a qualificação dos espaços urbanos, que valoriza o

património comum e promove a coesão territorial. Como resposta aos desafios do crescimento inclusivo

pretende-se: uma Região que promove a solidariedade entre gerações, a conciliação da vida

profissional e familiar, a igualdade de oportunidades para todos e a qualidade vida das pessoas; e uma

Região aberta à participação e inovação social, comprometida com a inclusão, que cria oportunidades

e que dinamiza os diálogos.

No âmbito do Eixo Estratégico da Qualificação Urbana as propostas consistem em: fortalecer o sistema

urbano regional, nomeadamente a rede de aglomerações estruturantes da AML, promovendo um

desenvolvimento urbano sustentável que privilegie a reabilitação urbana e a revitalização económica

das áreas centrais, contrariando a extensificação urbana e o subaproveitamento dos ativos construídos;

qualificar as áreas urbanas críticas caracterizadas pela coexistência de graves problemas sociais e

urbanísticos, contribuindo para a inclusão social, combate à pobreza e para a coesão socio-territorial

da Área Metropolitana de Lisboa; qualificar as áreas industriais obsoletas e em declínio, eliminando os

passivos ambientais existentes e criando condições para o acolhimento de novas atividades produtivas

estruturantes da Área Metropolitana; e assegurar uma qualificação integrada dos espaços urbanos, que

contemple as várias dimensões da vida urbana – ambientais, económicas, sociais e culturais –

suportada em parcerias sólidas entre residentes, organizações da sociedade civil, economia local e os

vários níveis de governação.

Ob

serv

açõ

es

Numa perspetiva de desenvolvimento sustentado, a Região de Lisboa procura potenciar a sua posição

geoestratégica.

Os territórios debilitados socio-urbanisticamente são considerados como áreas de intervenção

prioritária pela estratégia Europa 2020.

São derivadas estratégias muito genéricas, sobressaindo apenas a vontade e necessidade de colmatar

assimetrias territoriais.

Fonte: C.C.D.R.- L.V.T., 2014 b

O Conselho Metropolitano de Lisboa aprovou, em 18 de maio de 2015 por proposta da Comissão

Executiva, o Pacto para o Desenvolvimento e Coesão Territorial da Área Metropolitana de Lisboa

(PDCT - AML) (Tabela 20). Regido pelas diretrizes da estratégia comunitária Europa 2020,

disseminadas a nível nacional pela proposta Portugal 2020, o documento finaliza a submissão

da respetiva candidatura ao Programa Operacional Estratégias Integradas de Desenvolvimento

Territorial. O PDCT - AML é entendido pela AML como um dos vários instrumentos de natureza

mais programática e operacional que se pretende vir a mobilizar na região com vista a concretizar

a Estratégia Integrada de Desenvolvimento Territorial adotada para este território. O Pacto não

constitui uma nova estratégia e deve ser entendido como um instrumento complementar de

outras iniciativas de natureza contratual que se perspetiva virem a ser ativadas no âmbito das

abordagens integradas de desenvolvimento territorial previstas no Acordo de Parceria Portugal

2020 (A.M.L., 2015).

Page 81: Subúrbios 2025. Que estratégia para as periferias metropolitanas? · Grata ao meu avô que me mostrou ao longo da vida o que é a ambição. ... 18 Figura 7. O surgimento de anéis

73

Tabela 20. Ficha-síntese do Pacto para o Desenvolvimento e Coesão Territorial da Área Metropolitana de Lisboa 2014-2020 (PDCT - AML)

Ob

jeti

vo

s

Pretende colmatar fraquezas, ultrapassar ameaças e potenciar forças e oportunidades identificadas no

diagnóstico. Os eixos e medidas foram concebidos para mobilizar os diversos Fundos Europeus

Estruturais e de Investimento disponíveis nas Prioridades de Investimento identificadas, numa lógica

sistémica de potenciamento mútuo e tendo em vista a valorização económica e social do território

metropolitano.

O Programa de Ação do Pacto para o Desenvolvimento e Coesão Territorial da Área Metropolitana de

Lisboa apresenta como metas específicas para 2023: redução do consumo de energia primária em

edifícios públicos e em sistemas de iluminação pública de 49,2 milhões de kWh/ano; desenvolvimento

de 41 ações de animação, valorização e promoção de elementos patrimoniais com interesse turístico;

aumento de 155 mil visitantes/ano a sítios de património cultural e natural e a atrações beneficiárias de

apoio; concretização de 13 intervenções em creches; concretização de 210 intervenções em

estabelecimentos de Educação Pré-Escolar e do 1º Ciclo do Ensino Básico; concretização de 32 ações

de apoio ao empreendedorismo e dinamização da atividade económica; concretização de 28 projetos

de inovação e experimentação social; concretização de 39 projetos de diversificação da oferta de

serviços sociais e de saúde e/ou aumento da qualidade das respostas sociais e de saúde disponíveis;

concretização de 29 planos de combate ao abandono e insucesso escolar; concretização de planos de

identificação de vulnerabilidades e riscos em 4 Municípios; concretização de 50 projetos de gestão de

risco e resistência a catástrofes.

Me

tod

olo

gia

A estrutura do PDCT-AML traduz a assumida importância da Estratégia Integrada de Desenvolvimento

Territorial da Área Metropolitana de Lisboa (EIDT-AML) enquanto documento norteador das ações que

o PDCT-AML se propõe desenvolver. O Plano de Ação do PDCT-AML organiza-se em três eixos

estruturantes que se pretende que se reforcem mutuamente na prossecução de um desígnio geral

unificador: contribuir para um processo favorável de desenvolvimento e coesão territorial na AML. Estes

eixos são: valorização territorial e resiliência comunitária; reforço da coesão e inclusão social; promoção

do sucesso educativo.

O processo de preparação do Pacto foi marcado por um intenso esforço de auscultação e concertação

com entidades não-municipais, designadamente organismos da Administração Central, associações de

desenvolvimento local, associações empresariais, entidades do sistema científico e tecnológico regional

e organizações da designada economia social, aprofundando o processo de planeamento colaborativo

e integrado. O modelo de governação do Pacto prevê expressamente a existência de mecanismos de

acompanhamento e monitorização da sua implementação por parte dos stakeholders regionais,

integrando-se aí a divulgação e discussão do Relatório Anual de Monitorização do Pacto, a

criação/dinamização de Grupos de Trabalho Metropolitanos de matriz interinstitucional em temas-chave

de interesse comum e, desejavelmente, a articulação e promoção de iniciativas conjuntas emblemáticas

e/ou com forte potencial de complementaridade e sinergia entre os diferentes agentes. É preconizado

um processo constante de monitorização, sendo estipulados para cada investimento dois indicadores

de realização, com metas intercaladas entre 2018 e 2013.

Lin

ha

s d

e d

iag

sti

co

O processo de ocupação urbana na Área Metropolitana de Lisboa ocorreu de forma muito acelerada,

expansiva e fragmentada, estruturando-se em função de uma bacia de emprego muito marcada por

Lisboa-cidade e quase sempre estruturada em corredores de acessibilidade e transporte que, não

obstante o seu adensamento, sempre se revelaram insuficientes e anacrónicos. Este vasto território

caracteriza-se pela coexistência de grandes espaços com funções urbanas que têm diferentes

morfologias, formas e intensidades de ocupação/edificação e conectividade: Áreas urbanas

consolidadas – na Margem Norte, a cidade de Lisboa e os desenvolvimentos urbanísticos polarizados

na capital e, na Margem Sul, aos diversos agregados urbanos na frente ribeirinha e aos cíclicos ímpetos

urbanísticos focados da cidade de Setúbal; Áreas de edificação dispersa – a urbanização e edificação

dispersa e de baixa densidade em contextos rústicos constitui um dos principais fenómenos de

urbanização da AML nas últimas décadas, constituindo-se como um dos problemas mais desafiantes

Page 82: Subúrbios 2025. Que estratégia para as periferias metropolitanas? · Grata ao meu avô que me mostrou ao longo da vida o que é a ambição. ... 18 Figura 7. O surgimento de anéis

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em termos de ordenamento do território, este ordenamento desordenado e de carater espontâneo,

muito baseado no transporte individual, atinge particular expressão no interior da Península de Setúbal;

Áreas urbanas fragmentadas – trata-se de uma extensa coroa resultante de um crescimento

oportunista, ou, pelo menos, não programado, na área norte, nordeste e noroeste da cidade de Lisboa,

espacialmente descontínuo e fortemente desarticulado; Núcleos rurais – localizados

predominantemente no sector Norte da AML, embora também ocorram na margem Sul, constituem os

espaços com maior densidade construtiva e demográfica, em contexto agroflorestal, carecendo de

intervenções infraestruturais e de valorização paisagística; Áreas agroflorestais em contexto urbano –

Para além da importância económica específica destes espaços, tanto ao nível agrícola como florestal,

desempenham um papel fundamental em termos sociais, ambientais e paisagísticos para a qualidade

do sistema urbano metropolitano, constituindo a sua preservação e valorização funcional uma

prioridade estratégica.

A Área Metropolitana de Lisboa é um território com uma grande diversidade morfológica e funcional,

onde persistem áreas problemáticas do ponto de vista da qualidade ambiental, associadas à perda de

vitalidade económica e ao decréscimo populacional de áreas centrais, ao abandono de áreas industriais

e à ocorrência de fenómenos de contaminação do solo e de poluição do ar.

Pro

po

sta

s/V

isõ

es/C

on

clu

es

É atribuído um valor estratégico fundamental ao desenvolvimento urbano sustentável do espaço

metropolitano, designadamente por via: do apoio à revitalização física, económica e social das

comunidades desfavorecidas em zonas urbanas, costeiras e rurais; da adoção de medidas destinadas

a melhorar o ambiente urbano, a regenerar/requalificar/revitalizar partes vitais das cidades, recuperar e

descontaminar zonas industriais abandonadas, incluindo zonas industriais e portuárias em reconversão,

a reduzir a poluição do ar e a promover medidas de redução de ruído; da promoção de estratégias de

baixo teor de carbono nos diversos territórios, nomeadamente nas zonas urbanas, incluindo-se nessa

direção a promoção de mobilidade urbana multimodal sustentável; da dinamização da fileira de

construção/ reabilitação do edificado e espaços envolventes como motor da inovação, sustentabilidade

e inclusão.

Os principais resultados visados com o Eixo 2 – Reforço da Coesão e Inclusão Social são: fomentar

iniciativas estruturadas de promoção do empreendedorismo; incrementar a taxa de cobertura de

creches na região; aumentar a capacidade de resposta a situações de pobreza e exclusão social; e

disponibilizar uma oferta mais diversificada de serviços sociais e de saúde. Em concreto o Eixo 2 visa

não só potenciar o aumento do emprego, mas também desenvolver projetos de luta contra a pobreza e

a exclusão social numa região tão diversa nas suas dinâmicas socioculturais. Com efeito, coexistem

diferentes realidades na região de Lisboa, pelo que se perspetivam intervenções socio territoriais

integradas que visam o desenvolvimento de soluções ao nível do empreendedorismo e da inclusão

ativa e permitem a qualificação de territórios urbanos e grupos específicos, com especial enfoque nos

que se encontram em situação de maior vulnerabilidade económica e social. A diversidade

metropolitana, elemento estruturante da identidade da região, a par da coesão social e territorial virão

potenciar a dinamização de outros setores económicos. Acresce que este Eixo é vital na valorização de

uma região com visão cosmopolita.

A temática de Regeneração Urbana, Infraestruturação do Território, Mobilidade e Transportes assume

maior relevância na Área Metropolitana de Lisboa no que diz respeito à distribuição dos fundos

comunitários, sendo que 46% do total de fundo aprovado na Península de Setúbal está alocado a esta

temática, enquanto na Grande Lisboa, e apesar de não ultrapassar os 43%, o peso desta temática é

muito significativo, com 309 M€ de fundo aprovado. No que diz respeito à Coesão Social e

Equipamentos a Área Metropolitana de Lisboa apresenta um financiamento comunitário que ronda os

65%, enquanto nas outras sub-regiões esse financiamento atinge valores acima dos 80%.

Observ

açõe

s

A AML ultrapassa um período marcado pela redução dos fundos comunitários, perante estes dados

torna-se necessária a adoção de uma estratégia de desenvolvimento sustentável, na qual são

obrigatórias parcerias dos setores públicos e privados nos projetos de intervenção urbanística que se

procuram executados num futuro próximo. Em termos genéricos e estratégicos em 2025 preconiza-se

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a obtenção de um território com sustentabilidade sócio urbanística onde se torna essencial o reforço

dos desafios persistentes da coesão social e da qualificação territorial.

Está estipulada a elaboração de um Plano de Comunicação Metropolitano, com o intuito de informar as

populações do trabalho desenvolvido e da existência de externalidades positivas das intervenções

programadas e de disseminar as boas práticas pelos diversos stakeholders.

Fonte: A.M.L., 2015

O Pacto para o Desenvolvimento e Coesão Territorial da Área Metropolitana de Lisboa deriva

das diretrizes da Estratégia Europa 2020, interessando numa visão micro a análise dos

investimentos comunitários na AML no período de concretização afeto às metas preconizadas

no Pacto sintetizados na tabela 21.

Tabela 21. Síntese do Quadro de Investimentos comunitários aprovados na AML (2014-2020)

Projetos (nº) Fundos

comunitários

(€)

Custo total (€) Financiamento

total per capita

(€/hab)

Alcochete 20 2 148 028 4 221 323 227,76

Almada 30 4 584 765 8 399 530 49,28

Amadora 19 4 549 373 8 888 746 50,60

Barreiro 28 4 781 484 8 010 615 104,04

Cascais 16 5 139 956 10 279 912 49,20

Lisboa 28 12 493 623 23 692 246 46,18

Loures 37 6 055 526 11 720 151 57,47

Mafra 17 3 862 475 7 642 771 94,68

Moita 15 2 183 783 4 367 565 66,82

Montijo 19 4 244 487 8 358 947 154,03

Odivelas 25 5 146 097 8 770 500 57,73

Oeiras 10 3 408 619 6 747 237 39,06

Palmela 19 5 346 300 9 005 600 140,96

Seixal 22 6 223 949 10 977 898 67,42

Sesimbra 14 3 488 965 6 846 750 135,66

Setúbal 19 6 424 926 11 319 324 95,58

Sintra 24 7 791 190 14 760 125 38,81

V.F.X. 19 5 316 099 10 523 698 75,43

A.M.L. 6 199 750 329 500 0,11

A.M.L. (total) 387 93 389 395 174 862 438 62,27

Fonte: A.M.L., 2015

Analisando os dados disponibilizados oficialmente referentes aos investimentos comunitários,

aprovados na atualidade, constata-se que o município que contempla mais projetos é Loures

(37), continuamente Almada (30), e seguidamente Barreiro e Lisboa (ambos com 28). No que

respeita a custos dos projetos os valores superiores apresentam-se em Lisboa (23 692 246 €),

em Sintra (14 760 125 €), e em Loures (11 720 151 €). Em termos de fundos comunitários o

suporte será mais avultado em Lisboa (12 493 623 €), em Sintra (7 791 190 €), e em Setúbal (6

424 926 €). Uma análise do financiamento total per capita permite perceber que os municípios

que dotam mais fundos estruturais tendo em conta o seu total de população residente são

Alcochete (227,76 €/hab), Montijo (154,03 €/hab), e Palmela (140,96 €/hab).

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5. Conclusões

5.1. Tendências e dinâmicas na Área Metropolitana de Lisboa

A valorização do território da AML depende da superação do dualismo centro/periferia. Em linhas

gerais a AML é caraterizada por um forte dinamismo socioeconómico e por uma pródiga oferta

em equipamentos e serviços. No entanto, na prática, são os fatores sociais e urbanísticos

geradores de assimetrias e de exclusão social que espelham a dinâmica mais preocupante do

território em análise. O crescimento urbano em mancha associado ao processo de

suburbanização da cidade de Lisboa foi potenciado pela inexistência de um planeamento

urbanístico eficaz. Esta tendência desregulamentar com origem nos anos 60 do século passado

iniciou um processo de transformação de dinâmicas territoriais na AML pautado por assimetrias

e desequilíbrios sócio urbanísticos e funcionais, i.e. bairros degradados e clandestinos, mas não

só.

Verifica-se uma mutação da estrutura metropolitana traduzida na perda de importância do centro

tradicional e evolução para uma situação policêntrica e de fragmentação dos territórios. É

necessário verificar o impacto social da reconfiguração da vida urbana e da estrutura espacial e

económica da AML no futuro (2025) atendendo a novas assimetrias e desigualdades intra-

metropolitanas. O reforço dos eixos rodoviários à volta de Lisboa foi acompanhado por uma

consolidação do parque habitacional, expetando-se que as freguesias periféricas vejam as suas

densidades aumentar segundo um tipo de urbanização extensiva.

Uma fragilidade a ser reconsiderada prende-se com a inexistência de um diagnóstico muito

pormenorizado no que diz respeito ao nível geográfico com que é retratada a realidade da coesão

territorial na AML. Atendendo ao que acaba de ser exposto, recomenda-se a capitalização de

estudos já realizados que exponham diagnósticos mais aprofundados sobre a evolução recente

das assimetrias territoriais, económicas e sociais na AML. Sendo visto como uma mais-valia a

constituição de um Observatório do Ordenamento do Território e do Urbanismo da AML.

Não obstante as críticas subjacentes (indefinição estratégica e organizacional, falta de

coordenação coerente e articulada, e interpretação de ação pontual como pequenas

intervenções de estética urbana), o POLIS elucidou para a possibilidade de introdução de

alterações no tecido urbano das cidades portuguesas, e de forma cumulativa para a necessidade

de reversão do desordenamento e desqualificação dos subúrbios.

A IBC constituiu o programa emblemático de intervenção de base territorial da Administração

Central nos territórios urbanos desfavorecidos com carências multidimensionais que evidenciou

a importância da cidadania participativa. Verificou-se o valor dos Gabinetes de Apoio Técnico no

desenvolvimento do processo, dada a proximidade que tiveram com os atores locais.

Dos programas analisados em comum revelam um obstáculo que deverá ser equacionado, a

inexistência de um efetivo modelo de gestão. Constata-se ainda a falta de elegibilidade no QREN

em vigor aquando da implementação dos programas mencionados e da ausência de

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enquadramento legal para a execução de algumas ações. Tendo em conta a redução de fundos

afetos a esta temática, a eficiência de intervenções de requalificação sócio urbanística

dependerá do desenvolvimento de parcerias público-privadas.

A contemplação das áreas críticas identificadas no PROT AML pelas políticas públicas é uma

realidade evidente. Ressalva-se a sua sensibilidade social que se repercute em territórios

fragilizados, identificando-os como cenários de risco, mas também como potenciais modeladores

da qualidade de vida suburbana e influenciadores da competitividade da área metropolitana. As

intervenções evidenciadas nestas áreas patentearam diversas dificuldades no passado, no

entanto há estratégias a adotar para se alcançar um território mais coeso, que passa sobretudo

pela examinação das caraterísticas dos territórios desqualificados, sinalizados na AML, mas a

necessitar de uma caraterização mais aprofundada.

Tendo em conta a atuação do poder político é explícito que num futuro próximo (2025) devem

ser assumidas de uma forma continuada as opções estratégicas a fim de mitigar as áreas críticas

na AML, que se localizam sobretudo nas periferias. No que diz respeito ao modelo de

financiamento deverá estabelecer-se segundo parcerias entre o setor público e o setor privado

com a devida monitorização de alocação de fundos consoante as metas cumpridas e

consequente apresentação pública orçamental.

Não sendo a coesão territorial a principal prioridade para Portugal, nem para a AML, no novo

ciclo de programação de fundos comunitários, esta temática não deixa de ter um papel de forte

relevo nas orientações estratégias, quer no equacionamento de abordagens integradas de

desenvolvimento territorial, quer na discriminação positiva em termos de dotações financeiras

afetas aos territórios menos desenvolvidos.

Como explicar o agravamento do desordenamento do território perante a legislação revista e

ajustada nos domínios do urbanismo, do ordenamento do território e do ambiente? Não tendo

sido suficientes os IGT e IT, nem tão pouco os recursos técnicos e financeiros disponibilizados

para combater as assimetrias socio urbanísticas evidenciadas e ainda predominantes na AML.

Uma das hipotéticas respostas revela a dissipação de recursos e oportunidades como a principal

causa, maximizada sobretudo pelo desconhecimento e desinteresse dos responsáveis políticos

e institucionais, mas também da população no geral. A reversão desta situação através de uma

estratégia efetiva deverá a médio e longo prazo alterar a dinâmica sócio urbanística assimétrica

verificada sobretudo na periferia na AML.

5.2. Considerações finais

A abordagem sistematizada dos subúrbios recorre numa primeira fase à evolução e génese

urbana no mundo a fim de explicar continuidades e ruturas, percecionando a evolução da noção

do todo, enquanto conjunto urbano, com o devido equacionamento da noção inerente de

estratégia na conceção do mesmo. De fato a história das cidades permite demonstrar diferentes

entendimentos do território, corporalizados na urbanização consoante estratégias definidas. O

problema atual, derivado da análise histórica preconizada, consiste na falta de conceção teórica

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do território. Torna-se necessário um enquadramento, conseguido sobretudo através do ajuste

das diferentes realidades do espaço urbano e procurando uma concertação entre as

especificidades inerentes.

A explanação das distintas categorias de cidades demonstra que se torna difícil uma definição

una de elementos urbanos tão diferentes, variáveis consoante o período histórico e a localização,

incumbindo a cada observador urbano a conceção de perspetivas predominantes consoante o

campo problemático e a consequente adaptação teórico-metodológica circunscrita.

O subúrbio assumiu um sentido evolutivo dificilmente quantificável e qualificável. Vem-se

verificado uma incapacidade de distanciamento crítico necessário ao seu total entendimento. A

abordagem de planeamento deve ser baseada em respostas adequadas às especificidades

ambientais, sociais, económicas e aspetos institucionais da área suburbana.

Um futuro promissor do planeamento e da gestão urbanística depende sobretudo do diálogo e

do consenso entre os diferentes intervenientes do território, não sendo explícita ainda a

possibilidade de aplicabilidade efetiva de uma lógica de equilíbrio entre a realidade atual de

governação e a intervenção dos agentes do território, a forma irracional do modelo de conexão

metropolitano atual persiste (Ferreira, 2012; Ferrão, 2013).

O papel importante da política no planeamento fica comprovado, o papel de decisão. Os

decisores políticos têm sido os responsáveis pela possibilidade gradual de perda de “valores” do

todo urbano enquanto espaço de todos. Torna-se óbvia a necessária concertação neste vetor de

atuação urbana. Acrescentando a falta de conhecimento de sítio, a falta de concertação de

diferentes níveis de abordagem entre IGT e o excesso de regulamentação que descarateriza

realidades é extrapolada a discutível representação suburbana. Enquanto ocorre um

pensamento normativo em demasia, o pensamento analítico apresenta-se em falta. Em que

consiste então o planeamento estratégico do território? No aparente desordenamento do espaço

urbano. Apresenta-se uma coexistência de realidades sem consonância aparente, interroga-se

a predominância de desordem como uma nova ordem do território urbano e o excesso de regras

como uma génese da desregulamentação suburbana.

Em síntese a história das cidades permitiu perceber a visão de conjunto preconizada na evolução

da composição urbana que de forma gradual se minimiza nas práticas no planeamento e

ordenamento do território. Fica demonstrando que diferentes géneses culminam em diferentes

formas e tipologias, que refletem diferentes realidades e necessitam de diferentes respostas. As

abordagens teóricas do planeamento urbano evidenciam a necessidade de uma consonância

ainda não concretizada entre a abordagem micro e macro territorial, conciliando áreas tão

específicas como os subúrbios dentro de uma abrangente e multifacetada área metropolitana.

Devendo esta abordagem procurar uma concertação entre o planeamento regional, urbano e

rural, tendo como princípio base a governança. A problemática dos subúrbios resume-se a uma

panóplia sintetizada de distintas dinâmicas territoriais que necessitam de um planeamento

diferenciado permissivo à coesão e coerência do espaço circunscrito e limítrofe, respeitando a

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evolução histórica, mas com a preocupação subjacente da estratégia territorial vindoura. Uma

análise da prospetiva suburbana, com o devido equacionamento dos problemas e dos desafios

inerentes ao espaço suburbano, permite verificar que as características mutantes da AML estão

equacionadas nos IT e IGT, mas ainda sem uma estratégia concertada. A estratégia deve ter

uma abordagem de planeamento e gestão holística suficiente para incluir preocupações ao nível

de uma cidade ou de uma região, e em simultâneo ter em consideração os problemas

circunscritos que afetam minorias especificas de moradores suburbanos.

É necessária uma conceção-crítica fundamentada do território, uma articulação real do

conhecimento que procure perceber o lado sensível do território. Apenas a pretensão de ideia

de todo com aceitação de todas os elementos compositivos posiciona e justifica a conceção do

território (Domingues, 2015).

A dimensão metropolitana assume cada vez maior relevância nas políticas e instituições

europeias, sendo ainda escassa a informação estatística produzida e disponibilizada a esta

escala (C.C.D.R.- L.V.T, 2014 a), equaciona-se que esta aposta concerne dados mais fidedignos

para a comparação UE, mas será que os dados agregados não manipulam diferentes realidades,

fragilizando as minorias representadas de forma indevida aquando da alocação de medidas de

planeamento estratégico?

A complexidade da AML torna-se um constrangimento inerente à concentração de recursos

humanos e físicos; à falta de coordenação de meios públicos e privados; às falhas de

programação, execução e monitorização de projetos e resultados pretendidos; e à fraca cultura

participativa e colaborativa.

Os objetivos estratégicos da AML deverão considerar: a qualificação de áreas críticas urbanas;

a contenção da expansão em mancha; e criação de um modelo de gestão integrado, envolvendo

o setor público e o sector privado.

A AML tem sido alvo nas últimas décadas de um conjunto de intervenções que lhe permitiu

reforçar a competitividade no quadro do sistema urbano europeu. Contudo existem desafios em

termos de coesão territorial sobretudo nos subúrbios da AML, onde persistem bolsas de exclusão

sociais e urbanísticas.

Na AML já não existe um défice habitacional, mas antes dificuldades no acesso à habitação que

devem ser minimizadas (RCM nº 48/2015). Para reverter esta dificuldade foi estipulada a

Estratégia Nacional para a Habitação pela Resolução do Conselho de Ministros nº 48/2015.

Neste domínio é na atualidade a única proposta que apresenta medidas concretas e específicas.

Tem como principal motivação a criação de condições que facilitem o acesso das famílias à

habitação. Perspetiva-se que as medidas estipuladas a médio e longo prazo ajudem a retroceder

as assimetrias verificadas na periferia da AML.

De fato a dinâmica urbana verificada nos subúrbios enfrenta desafios que devem ser

considerados a fim de não aumentar as assimetrias socio-urbanísticas verificadas. São

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80

necessários ajustamentos políticos, administrativos e institucionais a fim de pôr em prática uma

estratégia única, eficiente, concertada e abrangente (que ainda não existe) a um território vasto

com especificidades que se encontram sinalizadas em estudos de caraterização de organismos

independentes com tutelas territoriais, mas que necessitam de aprofundamento científico.

As políticas públicas que consideraram as transformações socio-urbanísticas na AML

demonstram fragilidades que devem ser acauteladas na prossecução de estratégias em vigor.

Torna-se necessária uma concertação estratégica, na medida em que a redução de fundos

comunitários exige não só o estabelecimento de prioridades territoriais, como a determinação de

parcerias público-privadas.

O sucesso da aplicação de políticas públicas depende da participação cívica da população no

processo de decisão. Todos os programas de requalificação sócio urbanística apresentados são

fechados, com uma abordagem top-down. Considera-se uma fragilidade, na medida em que a

auscultação da população permite a posteriori um maior envolvimento com o projeto.

A principal fragilidade identificada dos programas analisados depreende-se com a redução de

investimentos comunitários, que ditou em todos os casos a não execução dos objetivos

estipulados no início do projeto. Outra fragilidade verifica-se ao nível da monitorização, uma vez

que não existiram medidas de avaliação parcial para os objetivos e estratégias estipulados numa

fase inicial dos programas.

Coexistem estratégias na AML que direta ou indiretamente visam colmatar as assimetrias sócio

urbanísticas verificadas sobretudo nas periferias. A primeira potencialidade apontada é a

existência de um modelo de monitorização da aplicação das estratégias. Caso a sua

implementação se efetive de forma correta a alocação de fundos comunitários será orientada

para as concretizações estratégicas definidas. Esta ponderação aliada ao estabelecimento de

parcerias público-privadas será crucial face à crise económica atual que fragiliza e potencia a

realidade territorial assimétrica constatada.

Estas auscultações demonstram a necessidade de adoção de uma política pública articulada e

integrada que preconizem um desenvolvimento coerente de uma área tão vasta e diversificada,

mas que permite uma identificação pormenorizada de problemas. A requalificação urbana tem

como desafio o alcançar de uma estratégia tão abrangente que consiga responder o mais

eficientemente possível à diversidade de dinâmicas territoriais, com clara prioridade para as

fragilidades verificadas nos territórios mais humanamente desqualificados da AML. Apesar de

não estarem na atualidade criadas as condições adequadas, verifica-se que há oportunidade de

atingir os objetivos alavancados num desenvolvimento sustentável, atingindo a meta preconizada

de melhoria da qualidade de vida dos residentes, que se sustentará sempre pelo planeamento

qualificado, coeso e coerente do território.

Conclui-se que há a necessidade de afirmação de uma política de inclusão social. Atendendo a

este fato sugere-se a definição de uma estratégia comum de âmbito metropolitano de

requalificação sócio urbanística, que através de um único programa se operacionalize segundo

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um sistema de gestão articulado e integrado, que efetive uma monitorização e um ajustamento

constante à realidade. Esta solução deverá apresentar especificidades a nível local que

preconizem uma estratégia articulada, coerente e concertada que respeite um projeto, e que

inclua e desenvolva um modelo de governança, de monitorização e avaliação.

Existem várias estratégias em vigor na AML que visam a redução de assimetrias territoriais,

através de políticas de inclusão e coesão social, defendendo também um modelo de governação

estratégica. Contudo os objetivos específicos preconizados na atualidade na AML para o

horizonte 2020 pautam-se por intervenções em equipamentos, sobretudo ao nível da educação

e da saúde. Indiretamente as medidas específicas estipuladas visam a dotação da população de

igualdade de oportunidades, colmatando a marginalização do território periférico onde se localiza

sobretudo uma fração da população com menor nível de qualidade de vida.

No contexto atual de crise financeira e orçamental é necessário assegurar as condições

essenciais para a adoção de modelos de governança. Sendo apontados como uma das soluções

para uma estratégia integrada de planeamento territorial. O organismo da AML tem um papel

preponderante, deve desempenhar um papel ativo, dinamizando e divulgando quer as

estratégias definidas quer os programas que possam vir a ser considerados no futuro, que

prosseguem um ordenamento do território suburbano equilibrado e inclusivo. Ficando subjacente

a necessidade de adoção de modelos de governança multinível.

Em suma constata-se que há coerência entre a realidade e o planeamento decorrido e em vigor.

Contudo é necessário um aprofundamento do conhecimento da realidade, fundamentando uma

análise micro territorial. O devido equacionamento da realidade da AML depende também da

manutenção estratégica em vigor, através da reformulação do modelo de gestão que a sustenta.

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ANEXOS

I. Inquérito

Observação refletiva para a Dissertação

“Subúrbios 2025.

Que estratégia para as periferias metropolitanas?”

Considerando o conceito de subúrbio, quais os termos que lhe associa?

De entre a lista de termos apresentados, selecione os 5 mais relevantes, atribuindo-lhes uma classificação de 1 (menos

característico) a 5 (mais característico), comentando sempre que seja oportuno esclarecer a sua posição:

Caso o conceito subúrbio lhe remeta para outros termos, identifique-os:

Termos associados Classificação Observações

Bem-estar

Fragmentação territorial

Organização espacial

Industrialização

Qualidade de vida

Construção excessiva

Recreio e lazer

Desordem

Cidadania

Exclusão

Planeamento urbano

Marginalidade

Resiliência

Segregação social

Valorização do território

Distanciamento

Diversidade

Discriminação social

Desenvolvimento

económico

Dormitório