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SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA TAUROMAQUIA EM SALVATERRA DEMAGOS
Séc. XIX, XX, XXI
************** ******
Autor: Gameiro, JoséEditor: Gameiro, José Rodrigues
Morada: Bairro Pinhal da VilaRua Padre Cruz, Lote 42120-059 Salvaterra de [email protected]ção: Onlinehttp://www.historiadesalvaterra,blogs.sapo.pt
Janeiro 2011
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Para os meus sobrinhos:
Cláudio José, Rogério,
Diogo, Mariana, Rui, e
Cláudio Nuno, Cujo grande apoio não devo esquecer, sempre atento na colaboração, nesta e nas anteriores edições online já publicadas
Com um carinho especial, para o meu cunhado, Manuel Fernandes Travessa, um apaixonado,destas “coisas” dos toiros.
Por último, para o meu cunhado: Ma Travessa, Um apaixonado, O MEU CONTRIBUTO
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Sou descendente de gente simples do campo, meu avô paterno, foi campino, como foram todos os seus irmãos.
A minha passagem pelo mundo da festa brava, cingiu-se apenas na escrita
de uma ou outra notícia, ou artigo de alguma efeméride, como: “Os 76 anos sobre a morte do famoso toureiro ribatejano, natural de Salvaterra de Magos; Vicente Roberto”, que foi publicada no “Diário do Ribatejo”, ou as entrevistas sobre: “Os 50 anos da inauguração da praça de toiros de Salvaterra” e, a entrevista ao antigo forcado, “José Hipólito – Figura Típica da Terra” que foram publicados no jornal “Aurora do Ribatejo”.
Em 1976, fiz notícia jornalística, de uma jornada reivindicativa de toiros de morte em Portugal, que teve lugar no salão nobre do Clube Desportivo Salvaterrense, e, na sua sequência, meses depois levou à morte de toiros na praça de Salvaterra. Um outro artigo fiz sair no já desaparecido jornal Vale do Tejo, quando do falecimento do aficionado António Cadório. De vez enquanto lá me aparecem pedindo a minha ajuda, entusiastas destas coisas dos toiros, ou estudantes interessados em saber algo sobre a morte do Conde dos Arcos, ocorrida num brinco de toiros, aqui em Salvaterra. Esta morte, para muitos é ainda uma incógnita e motivo de grandes discussões entre aficionados, e não só, também os que gostam de “contos e lendas” ligados à terra, tentam desvendar o que apenas se sabe pelo que está escrito.
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O meu espólio sobre a temática taurina em Salvaterra, sendo guardado ao longo de muitas décadas, não é coisa que valha, são documentos recolhidos por carolice, que cruzam dados sobre lavradores/ganadeiros que aqui tinham terras, desde o séc. XIX, e faziam criação de toiros. O campino tinha lugar de destaque naquelas importantes casas agrícolas, como guardador das manadas de gado bravo. Os cavaleiros, toureiros e moços de forcados, são outros componentes que enriqueceram a festa brava nos séc. XX e XXI, desta vila ribatejana. Com tais documentos, pensei se não valeria a pena agrupar todo este material e, com ele fazer um livro, para não se perder tanta informação, que muito valerá aos interessados em aprofundar Sendo uma tradição de séculos, não só ribatejana, aqui está esta edição – “Subsídios para a História da Tauromaquia em Salvaterra de Magos- séc. XIX, XX e XXI” . É um pequeno trabalho que ficará ao dispor de quem um dia queira fazer um estudo profundo da história da tauromaquia em Salvaterra de Magos.
Se isso vier a acontecer, já me sinto contente !!
Janeiro de 2011 JOSE GAMEIRO (José Rodrigues Gameiro)
I
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A Última corrida de Touros em Salvaterra Nota Prévia
A trágica morte do jovem fidalgo, Manuel José de Noronha e Menezes, 7º Conde dos Arcos, filho do Marquês de Marialva, numa corrida de touros, em Salvaterra de Magos, tem servido para muita transcrição ao longo dos tempos, levou a que Luiz Augusto Rebello da Silva, numa das suas obras marcantes, e um marco de referencia do romantismo português, no séc. XIX.
Ao longo dos tempos, em tudo quanto é editado sobre Salvaterra, não deixa de aparecer,” A Morte do Conde dos Arcos”. Conto que sendo romanceado, segundo alguns autores, foi escrito cerca de 70 anos depois do acontecimento.
A MORTE DO CONDE DOS ARCOS
“O sr. D. José, primeiro do nome, era em Salvaterra um rei em férias. –A verdade é que os maldizentes notavam, em segredo, que Sua Majestade, estava sempre ao torno e o Marquês no trono. O prolóquio fundava-se na habilidade mecânica do monarca como torneiro, e no carácter dominador do marquês como ministro.
Vicejavam os campos em plena primavera. A amendoeira cobria-se de flores, os bosques esfolhavam-se, as veigas vestiam-se e matizavam-se, e a brisa doidejava indiscreta arregaçando o lenço à
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donzela que passava, ou roubando um beijo à rosa perfumada. Tudo eram alegrias e cânticos… os rouxinóis nas moitas, o coração nos amores, e a natureza nos sorrisos ao sol esplêndido que a dourava.
O Rei estava em férias em Salvaterra e, uma tourada real chamara a corte a restante fidalguia do país a esta vila. Os fidalgos respiravam nestas ocasiões menos oprimidos. Não os assombrava tão de perto a privança do ministro. Os touros eram bravos, os cavaleiros destros, o anfiteatro pomposo, e o cortejo das damas adorável. O prazer na boca de todos. Por cúmulo de venturas o Marquês de Pombal ficara em Lisboa, retido pelo conflito com o embaixador de Espanha.
Contava-se em segredo nos recantos do palácio o diálogo entre o enviado castelhano e o secretário de estado português, louvando-o uns em voz alta, para os ecos daquelas paredes repetirem os elogios, crucificando-o outros sem piedade, para saciarem os ódios.
As devotas e os fidalgos puritanos eram pelo espanhol, e pediam a Deus que os rebates da guerra próxima despenhassem o plebeu nobilitado do seu pedestal político. Os magistrados e os homens de capa e volta, defendiam o marquês e respondiam com meios sorrisos às fogosas jaculatórias dos zelosos do trono e do altar.
O Marquês de Pombal, tinha-se negado com firmeza às concessões exigidas imperiosamente pelo governo castelhano:
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– Muito bem, - atalhou o embaixador – um exército de sessenta mil homens entrará em Portugal e fará … - O quê ? – Perguntara o marquês, sorrindo-se com a tremenda luneta assentada e no tom mais indiferente.
- Fará entender a razão e a justiça de el-rei, meu amo, a Sua Majestade, e a vossa excelência! – Redarguiu meia oitava acima o espanhol, supondo o ministro fulminado.
Sebastião José de Carvalho franziu as sobrancelhas, carregou a viseira, e cravando a vista e a luneta no diplomata, retorquiu-lhe friamente: - Sessenta mil homens muita gente é para casa tão pequena; mas querendo Deus, el-rei meu amo e senhor, sempre há-de achar onde possa hospedá-la. Mais pequena era Aljubarrota e lá couberam os que D. João de Castela trouxe.
Vossa excelência pode responder isto ao seu governo. E, levantando-se para despedir o embaixador, acrescentou: - Bem sabe vossa excelência que pode tanto cada um em sua casa, que mesmo depois de morto é precisos quatro homens para o tirarem!
O embaixador saiu jurando por Dyos y la Virgem Santíssima, e o marquês preparou-se para a guerra. O caso é, como dizia o nosso Zeferino na Sobrinha do Marquês, que Sebastião José de Carvalho foi um grande ministro e que fez muito pela nação. Hoje há menos quem responda assim à letra às ameaças dos estrangeiros.
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Berra-se muito, dorme-se a sono solto ao som dos hinos patrióticos e depois salva o castelo de madrugada e está salva a pátria.
O marquês de Pombal prezava as artes e protegia e animava as classes médias. Esse pouco que o reino progrediu deveu-se a ele. Se a indústria nunca acabou de sair da infância, a culpa quase toda foi dos maus governos que sucederam ao seu, e também do povo que não quis trabalhar deveras…
Mas vamos aos touros reais. Desses é que o ministro não gostava nada. Queria-os ao arado e não à farpa, e parecia-lhe melhor, que os toureadores, sendo fidalgos, servissem o Estado com a pena ou com a espada, e, sendo mecânicos, que lavrassem, tecessem e
ganhassem honradamente a vida, enriquecendo-se a si e à nação.
Mas el-rei D. José, cedendo em tudo ao marquês, quanto aos touros não admitia reflexões. Nisto era rei a valer e Bragança legitimo. Os fidalgos sabiam-no e por isso desfrutavam doces prazeres – a satisfação do gosto nacional e a contradição da vontade do ministro.
Desatendê-la sem perigo e pela mão do soberano era para eles um deleite e um triunfo. Nestas funções não vigorava a severidade das últimas pragmáticas. Outro motivo de júbilo. Quem queria podia arruinar-se em luxuosos vestidos, enfeites e toucados.
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As bordaduras e os recamos de ouro, os veludos e sedas de fora, talhados à francesa, resplandeciam constelados de pérolas e diamantes. Por cima dos mais ricos trajos e das mais vistosas cores desenrolavam-se os anéis ondeados das empoadas cabeleiras. As damas ostentavam as graças de seus donaires e tufados, e emoldurando o belo oval dos rostos nos penteados caprichosos, sorriam-se para os gentis campeadores, e seus olhos cheios de luz e de promessas estimulavam até os tímidos.
Correram-se as cortinas da tribuna real. Rompem as músicas. Chegou el-rei, e logo depois entra pelos camarotes o vistoso cortejo, e vê-se ondear um oceano de cabeças e de plumas. Na praça ressoam brava alegria as trombetas, as charamelas e os timbales.
Aparecem os cavaleiros, fidalgos distintos todos, com o conto das lanças nos estribos e os brasões bordados no veludo das gualdrapas dos cavalos. As plumas dos chapéus debruçam-se em matizados cocares, e as espadas em bainhas lavradas pendem de soberbas talins.
Os capinhas e forcados, vestem com garbo à castelhana antiga. No semblante de todos brilha o ardor e o entusiasmo.
O Conde de Arcos, entre os cavaleiros, era quem dava mais na vista. O seu trajo, cortado à moda da corte de Luiz XV, de veludo preto, fazia realçar a elegância do corpo.
Na gola da capa e no corpete sobressaiam as finas rendas da gravata e dos punhos. Nos joelhos as ligas
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bordadas deixavam escapar com artificio os tufos de cambraieta alvíssima.
O conde não excedia a estatura ordinária; mas, esbelto e proporcionado todos os seus movimentos eram graciosos. As faces eram talvez pálidas de mais, porém animadas de grande expressão, e o fulgor das pupilas negras fuzilava tão vivo e por vezes tão recobrado, que se tornava irresistível.
Filho do marquês de Marialva e discípulo querido de seu pai, do melhor cavaleiro de Portugal, e talvez da Europa, a cavalo, a nobreza e a naturalidade do seu porte enlevavam os olhos.
Ele e o corcel, como que ajustados em uma só peça, realizavam a imagem do centauro antigo. A bizarria com que percorreu a praça, domando sem esforço o fogoso corcel, arrancou prolongados e repetidos aplausos.
Na terceira volta, obrigando o cavalo quase a ajoelhar-se diante de um camarote, fez que uma dama escondesse turvada no lenço as rosas vivíssimas do rosto, que decerto descobririam o melindroso segredo da sua alma, se em momentos rápidos como o faiscar do relâmpago pudesse alguém adivinhar o que só dois sabiam.
El-rei, quando o mancebo o cumprimentou pela última vez, sorriu-se, e disse voltando-se: - Porque virá o conde quase de luto à festa ? Principiou o combate.
Não é propósito nosso descrever uma corrida de touros. Todos teem assistido a elas e sabem de
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memória o que o espectáculo oferece de notável. Diremos só que a raça dos bois era apurada, e que os touros se corriam desembolados, à espanhola.
Nada diminuía, portanto, as probabilidades do perigo e a poesia da luta. Tinham-se picado alguns bois. Abriu-se de novo a porte do curro, e um touro preto investiu com a praça. Era um verdadeiro boi de circo. Armas compridas e reviradas nas pontas, pernas delgadas e nervosas, indício de grande ligeireza, sinal de força prodigiosa.
Apenas tocara o centro da praça, estancou como deslumbrado, sacudiu a fronte e, escavando a terra impaciente, soltou um mugido feroz no meio do silêncio, que sucedera às palmas e gritos dos espectadores.
Dentro em pouco as capinhas, saltando a pulos as trincheiras, fugiam à velocidade espantosa do animal, e dois ou três cavalos expirantes, denunciavam a sua fúria.
Nenhum dos cavaleiros se atreveu a sair contra ele. Fez uma pausa. O touro pisava a arena ameaçador e parecia desafiar em vão um contendor. De repente viu-se o Conde dos Arcos firme na sela provocar o ímpeto da fera e a haste flexível do rojão ranger e estalar, embebendo o ferro no pescoço musculoso do boi.
Um rugido tremendo, uma aclamação imensa do anfiteatro inteiro, e as vozes triunfais das trombetas a charamelas encerraram esta sorte brilhante. Quando o nobre mancebo passou a galope por baixo do
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camarote, diante do qual pouco antes fizera ajoelhar o cavalo, a mão alva e breve de uma dama deixou cair
uma rosa, e o conde, curvando-se com donaire sobre os arções, apanhou a flor do chão sem afrouxar a carreira, levou-a aos lábios e meteu-a no peito. Investindo depois com o touro, tornado imóvel com a raiva concentrada, rodeou-o estreitando em volta dele os círculos até chegar quase a pôr-lhe a mão na nuca.
O mancebo desprezava o perigo e pago até da morte pelos sorrisos, que seus olhos furtavam de longe, levou o arrojo a arrepiar a testa do touro com a ponta da lança. Precipitou-se então o animal com fúria cega e irresistível. O cavalo baqueou trespassado e o cavaleiro, ferido na perna, não pôde levantar-se. Voltando sobre ele o boi enraivecido arremessou-o aos ares, esperou-lhe a queda nas armas, e não se arredou senão quando, assentando-lhe as patas sobre o peito, conheceu que o seu inimigo era um cadáver.
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Este doloroso lance ocorreu com a velocidade do raio. Estava já consumada a tragédia e não havia expirado ainda o eco dos últimos aplausos.
De repente um silêncio, em que se conglobam milhares de agonias, emudeceu o circo. Rei, vassalos e damas, meio corpo fora dos camarotes, fitavam a praça sem respirar e erguiam logo a vista ao céu como para seguir a alma que para lá voava envolta em sangue.
Quando mancebo, dobrado no ar, exalava a vida antes de tocar no chão, um gemido agudo, composto de soluços e choro, caiu sobre o cadáver como uma lágrima de fogo. Uma dama desmaiada nos braços de outras senhoras soltara aquele grito estridente, derradeiro ai do coração ao rebentar do peito. El-Rei D. José com as mãos no rosto, parecia petrificado. A corte desta vez acompanhava-o na sua dor. Mas o drama ainda não tinha concluído. Quem sabe!?
O terror e a piedade iam cortar de novas mágoas o peito a todos. O Marquês de Marialva assistira a tudo do seu lugar. Revendo-se na gentileza do filho, seus olhos seguiam-lhe os movimentos brilhando a cada sorte feliz.
Logo que entrou o touro preto, carregou-se de uma nuvem o semblante do ancião. Quando o Conde dos Arcos saiu a farpeá-lo, as feições do pai contraíram-se e a sua vista não se despregou mais da arriscada luta.
De repente o velho saltou um grito sufocado e cobriu os olhos, apertando depois as mãos na cabeça. Os
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seus receios haviam-se realizado. Cavalo e cavaleiro rolavam na arena, e a esperança pendia de fio ténue !
Cortou-lhe rapidamente a morte, e o marquês perdido o filho, luz da sua alma e ufania de suas cãs, não preferiu uma palavra, não derramou uma palavra; mas os joelhos fugiam-lhe trémulos, e a elevada estatura elevou-se vergando ao peso da mágoa excruciante.
Volveu, porém, em si, decorridos momentos alivia palidez do rosto tingiu-se de vermelhidão febril subitamente. Os cabelos desgrenhados e hirtos revolveram-se-lhe na fronte inundada de suor frio como as sedas da juba de leão irritado.
Nos olhos amortecidos faiscou instantâneo, mas terrível, o sombrio clarão de uma cólera, em que todas as ânsias insofridas da vingança se acumulavam.
Em um ímpeto a presença reassumiu as proporções majestosas e erectas como se lhe corresse nas veias o sangue do mancebo que perdera.
Levando por acto instintivo a mão ao lado, para arrancar da espada, meneou tristemente a cabeça. A sua boa espada, cingira-a ele próprio ao filho neste dia que se convertera para sua casa em dia de eterno luto.
Sem querer ouvir nada, desceu os degraus do anfiteatro, seguro e resoluto como se as neves de setenta anos lhe não branqueassem a cabeça. – Sua majestade ordenou ao marquês de Marialva, que aguarde as suas ordens! – disse um camarista, detendo-o pelo braço.
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O velho estremeceu como se acordasse sobressaltado, e cravou no interlocutor os olhos desvairados, em que reluzia o fulgor concentrado dum pensamento imutável .
Desviando depois a mão que o suspendia, baixou mais dois degraus.- Sua majestade entende foi já bastante desgraçado e não quer perder nele dois vassalos…- El-rei manda nos vivos e eu vou morrer! – atalhou o ancião, em voz áspera, mas sumida – Aquele é o corpo do meu filho! – e apontava para o cadáver – Está ali!
Sua majestade pode tudo menos desarmar o braço do pai, menos desonrar os cabelos brancos do criado que o serve há tantos anos. Deixe-me passar, e diga isto.
D. José vira o marquês levantar-se e percebera a sua resolução. Amava no estribeiro-mor as virtudes e a lealdade nunca desmentidas. Sabia que da sua boca não ouvira senão a verdade, e a ideia de o perder assim era-lhe insuportável.
Apenas lhe constou que ele não acedia à sua vontade, fez-se branco, cerrou os dentes convulsos e, debruçado para fora da tribuna, aguardou em ansioso silêncio o desfecho da catástrofe.
A esse tempo já o marquês pisava a praça, firme e intrépida como os antigos romanos diante da morte. Dentro do peito o seu coração chorava, mas os olhos áridos queimavam as lágrimas quando subiam a rebentar por eles. Primeiro do que tudo queria a vingança.
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Por impulso instantâneo, todo o ajuntamento se pôs de pé. Os semblantes consternados e os olhos arrasados água, exprimiam, aquela dolorosa contenção de espírito, em que um sentido parece concentrar todos.
- Deixai-o ir ao velho fidalgo! A mágoa, que o trespassa, não tem igual. O fogo, que lhe presta vida e forças, é a desesperação. Deixai-o ir, e de joelhos! Saudai a majestade do infortúnio. O pai angustiado ajoelhou junto do corpo do filho e pousou-lhe depois um ósculo na fonte. Desabrochou-lhe o talim e cingiu-o, levantou-lhe do chão a espada e correu-lhe a vista pelo fio e pela ponta de dois gumes.
Passou depois a capa no braço e cobriu-se. Decorridos instantes estava no meio da praça e devorava o touro com a vista chamejante, provocando-o para o combate.
Cortado de comoções tão cruéis, não lhe tremia o braço e os pés arreigavam-se na arena como se um puder oculto e superior lhos tivesse ligado repentinamente à terra.
Fez no circo um silêncio gélido, tremendo e tão profundo, que poderiam ouvir-se até as pulsações do coração do marquês, se naquela alma de bronze o coração valesse mais do que a vontade.
O touro arremete contra ele. Uma e muitas vezes o investe ego e irado, mas a destreza do marquês esquiva sempre a pancada. Os ilhais da fera urfam de fadiga, a espuma franja-lhe a boca, as pernas vergam e resvalam, e os olhos amortecem de cansaço. O ancião zomba da sua fúria. Calculando as distâncias,
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frustra-lhe todos os golpes sem recuar um passo. O combate demora-se.
A vida dos espectadores resume-se nos olhos. Nenhum usa desviar a vista de cima da praça. A imensidade da catástrofe imobiliza todos. De súbito solta el-rei um grito e recolhe-se para dentro da tribuna. O velho aparava a peito descoberto a marrada do touro, e quase todos ajoelharam para rezarem por alma do último marquês de Marialva.
A aflitiva pausa apenas durou momentos. Por entre as névoas, de que a pupila trémula se embaciava, viu-se o homem crescer para a fera, a espada fuzilar nos ares e logo após sumir-se até aos copos entre a nuca do animal.
Um bramido, que atroou o circo, e o baque do corpo agigantado na arena, encerraram o estremo acto do funesto drama. Clamores uníssonos saudaram a vitória.
O marquês, que tinha dobrado o joelho com a força do golpe, levantava-se mais branco do que um cadáver. Sem fazer caso dos que o rodeavam, tornou a abraçar-se com o corpo do filho, banhando-o de lágrimas e cobrindo-o de beijos.
O touro ergueu-se, e, cambaleando com a sezão da morte, veio apalpar o sitio onde queria expirar. Ajuntou ali os membros e deixou-se cair sem vida ao lado do cavalo do conde dos Arcos.
Nesse momento os espectadores olhando para a tribuna real estremeceram. El-rei, de pé e muito
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pálido, tinha junto de si o marquês de Pombal, coberto de pó e com sinais de ter viajado depressa.
Sebastião José de Carvalho voltava de propósito as costas à praça falando com o monarca. Punia assim a barbaridade do circo. – Temos guerra com a Espanha, senhor.
E inevitável. Vossa majestade não pode consentir que os touros lhe matem o tempo e os vassalos. Se continuássemos nesse caminho … cedo iria Portugal à vela.
- Foi a última corrida marquês. A morte do conde dos Arcos acabou os touros reais enquanto eu reinar– Assim o espero da sabedoria de vossa majestade. Não há tanta gente nos seus reinos, que possa dar-se um homem por um touro.
- El-rei consente que vá em seu nome consolar o marquês de Marialva ? - Vá ! É pai. Sabe o que há-de dizer-lhe…!
- O mesmo que ele me diria a mim, se Henrique estivesse como está o conde. El-rei saiu da tribuna, e o marquês de Pombal, entrando na praça em toda a majestade da sua elevada estatura, levantou nos braços o velho fidalgo, dizendo-lhe com voz meiga e triste:
- Sr. Marquês! Os portugueses, como V. exª., são para darem exemplos de grandeza de alma e não para os receberem. Tinha um filho e Deus levou-lho. Altos juízos seus!
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A Espanha declara-nos a guerra e el-rei, meu amo e senhor, precisa do conselho e da espada de v.exª. e travando-lhe da mão, levou-o quase nos braços até o meterem na carruagem.
D. José I, cumpriu a palavra dada ao seu ministro. No seu reinado não mais se picaram touros reais em Salvaterra.”
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II
O CONDE DOS ARCOS - A SUA ORIGEM E
MORTE
NOTA PREVIA
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É pela carta real de 2 de Fevereiro de 1620 que,
pela primeira vez se fala deste título; Conde dos Arcos.
É um título atribuído com conotação à povoação de
Arcos de Valdevez.
Segundo alguns historiadores, o nascimento do 7º
Conde dos Arcos; D. Manuel José de Noronha e
Menezes, terá acontecido em Marvila, no ano de 1740.
Em 1989, quando pesquisava o local onde teria
existido o “Teatro Régio de Salvaterra”, pessoas que
agora teriam 115 anos de idade, disseram-me que na
meninice deles, o povo falava que o sítio onde teria
acontecido a corrida, era num terreno aberto, por
detrás do Paço das Damas. Lembravam-se, que no
primeiro quartel do séc. XX, aquela zona foi urbanizado
com algumas casas. E que alguns lhe chamavam
“Canto da Ferrugenta”, outros o “Páteo do Pardalada”.
Quanto ao registo da morte sabe-se foi feito nos serviços da secretaria do paço real de Salvaterra e, do mesmo, fez notícia a “ Gazeta de Lisboa”, jornal da época.
A POLÉMICA
A curiosidade em conhecer melhor o que foi escrito por Rebello da Silva, sobre a “Última corrida de toiros em Salvaterra e a morte do Conde dos Arcos” tem levada à realização de vários colóquios, onde as
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inúmeras intervenções, causam sempre alguma polémica. Também em 2003, Vitor Escudero, considerado um investigador no mundo dos toiros, em Portugal, Arraigadamente disse numa reunião de aficionados, realizada em Salvaterra, “É uma das maiores mentiras da nossa História”, o Conde dos Arcos morreu, na Murteira (Samora Correia).
**********
De acordo com o registo cronológico dos titulares “Conde dos
Arcos”, regista-se a sua morte em 1779, mas em documentos
usados posteriormente, como: “certidão de óbito”, a sua morte
ocorreu em 10 de Fevereiro de 1778.
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Já antes, Pizarro Monteiro, falecido em 1991, deixou
escrito em 1982, que a morte do Conde dos Arcos,
nunca aconteceu de maneira trágica em Salvaterra,
mas sim de morte natural, conforme uma oração
fúnebre deixada escrita em 1778.
Também quando das obras, realizadas na Igreja
Matriz da vila, em 1958, o padre José Rodrigues Diogo,
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pároco da freguesia, em presença de três pedras
tumulares em frente ao altar daquele templo, disse:
Uma delas é do Bispo João Soalhães, fundador da
Igreja, em 1296, cujo orago é S. Paulo. Uma outra é, do
Conde dos Arcos, veio do convento de Jericó, quando
do sismo de 1858.
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III
TOIROS DE MORTE EM SALVATERRA
Depois do acontecido em 1762, com a morte do
Conde dos Arcos, vários abusos com mortes de toiros
aconteceram em praças portuguesas.
Em 1921, Joaquim Mella, na praça de toiros das
Caldas da Rainha, estoqueou um toiro e, logo de
seguia em Salvaterra de Magos, o toureiro
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“Faculdades”, que muitas vezes fez parelha com os
irmãos Roberto(s), abateu toiros o que deu origem à
publicação de uma nova lei que revogava as anteriores
proibições, que vinham de 1837 e 1838.
Novamente e apesar das proibições, em 1927,
foram mortos toiros em praças de Portugal. Novo
decreto-lei, foi publicado no Diário do Governo, de 11
de Abril de 1928, estabelecendo pesadas sanções para
os prevaricadores, bem como aos proprietários das
praças.
Em 1952, Manuel dos Santos, estoqueou um toiro no
Campo Pequeno e, mais tarde coube a vez ao matador
António dos Santos. Os anos decorriam e os
aficionados, toureiros e ganadeiros pugnavam, mesmo
em surdina, pela morte dos toiros na arena, das praças
portuguesas,
Aproveitando as incertezas políticas que pairavam
em Portugal, depois da revolução dos cravos, em 1974,
novamente o “mundo” ligado a festa tauromáquica,
realiza em Salvaterra de Magos, no dia 18 de
Dezembro de 1976, no salão do Clube Desportivo local,
um colóquio, Da reunião, fiz noticia que foi publicada
no jornal “Diário do Ribatejo” em 18 de Dezembro de
1976, que aqui transcrevo:
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“Sim, toiros de morte em Salvaterra de Magos foi a palavra de
ordem, no colóquio realizado no passado dia 18, no Salão do
Clube Desportivo Salvaterrense. Promovido pela Comissão
Pró-Toiros de Morte em Portugal e apoiada pela Comissão da
Praça de Toiros de Salvaterra, e na sequência de outras
sessões sobre o mesmo tema, foi levada a efeito uma sessão
e esclarecimento sobre a situação da tauromaquia em
Portugal e dar a conhecer o ponto da situação sobre o
movimento que se está a desenvolver para as corridas na
próxima temporada, sejam integrais. Compunham a mesa do
colóquio: Dr. Queirós (advogado), José Júlio, Parrreirita
Cigano, António Portugal, Ludovino Bacatume Mestre Batista
(toureiros). Rogério Amaro (critico e pegador de toiros), João
Ramalho(ganadeiro) João Mascarenhas, Chony, Francisco
Rocha (aficionados), e ainda as senhoras; Isabel Cadencio e
Carolina Bacatum. Foram ainda convidado e, estiveram
presentes; forcados, campinos e alguns elementos da
Comissão que tinham em seu poder a gerência da praça de
toiros da misericórdia local.
Abriu o colóquio, o sr, Chony que fez algumas
considerações sobre as perspectivas e a sua viabilidade dos
toiros de morte em Portugal. Seguidamente foi dada a palavra
ao ganadeiro João Ramalho, que fez uma síntese dos toiros
de lide e as dificuldades na sua criação. O dr. José Queiró,
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começou a sua intervenção, por fazer algumas considerações
ao processo judicial, onde estão envolvidos os matadores e
cavaleiros, que intervieram na já célebre corrida de 31 de
Outubro do corrente ano, em Vila Franca de Xira. Depois fez
algumas análises ao Decreto-Lei, que proíbe os toiros de
morte em Portugal e que data de 1836,e que foi confirmado
pelo Decreto de 1919, que prevê para as infracções nalguns
pontos multas de 2$00 e 15$00, mais tarde em 1921 saiu a
Portaria que vem de igual modo regulamentar as corridas de
toiros e suas implicações, ainda em 1928, saiu outro Decreto-
Lei sobre igual matéria e que na opinião jurista, tal matéria
publicada, está desde há muito ultrapassada, e que urge
modificar. Pela sua intervenção recebeu grandes aplausos.
O crítico de toiros do “jornal de noticias” e forcado, Rogério
Amaro, iniciou a sua intervenção sobre o papel dos moços de
forcados e a necessidade de os agrupamentos serem
reduzidos, se os toiros de morte for uma realidade, foi muito
aplaudido. José Júlio, António Portugal e Parreirita Cigano
descreveram cada uma à sua maneira o papel do matador de
toiros, em Portugal e em Espanha, Por todos foi condenado o
obsoleto Decreto, que ainda regula as corridas com toiros de
morte em Portugal. As senhoras, Isabel Cadencio e Carolina
Bacatum, referiram-se ao papel das senhoras no ambiente
tauromáquico, aplaudiram e incentivaram os elementos da
28
Comissão Pró-Toiros de Morte a prosseguir a sua luta, que
era aliás a luta de todos os aficionados.
O sr. João Mascarenhas, que na sua intervenção, empregou
grande entusiasmo e bastante aficion, começou por exortar os
presentes a apoiar a Comissão, que está a trabalhar no
projecto, que se espera dentro de algum tempo venha a ser
entregue ao governo. Fez uma critica, às ausências dos
aficionados, que servem nos meios da comunicação social, e
manifestou a sua grande alegria, por naquela sala encontrar
grande número de jovens e que se estava em presença de
novos aficionados. Loduvino Bacatum, também deu uma
achega, focando os aspectos dos toureiros, que sendo
reconhecidos como trabalhadores na sua profissão, nalguns
Ministérios, inclusive o do Trabalho, não podiam ser
matadores de toiros, em Portugal, também deu a conhecer
pormenores ao público presente de como tem sido o
“mister”de empresário neste país, e que num futuro muito
próximo, tal condição, terá que ser mais humana.
Ao entrar-se no período de perguntas aos elementos que
compunham a mesa, assistiu-se a um dialogo, muito vivo e
entusiasta, com perguntas que pelo seu conteúdo, verificava-
se que os aficionados Salvaterrianos, estavam deveras
preocupados com o futuro das corridas de toiros, muito
especialmente com as de toiros de morte, sendo muito
29
frequente ouvir-se “a petição para a frente”, começar com os
toiros de morte em Portugal, ela se efective, mas terminaram,
com a morte do Conde de Arcos, na Primavera de 1762.
Por último foram exibidos filmes, dando conta à assistência de
como são frias e sem motivação, as corridas de toiros em
Portugal, em paralelo com as realizadas em Espanha, onde o
público vê o espectáculo, cheio de vibração quando o matador
remata a faena, com o estoque final. A assistência, cerca de
três centenas e meia de pessoas, saiu deveras entusiasmada,
assinando por fim as listas, para a respectiva petição de toiros
de morte em Portugal. 18-12-76 * JOSE GAMEIRO
**************
Uns meses depois, num ambiente, então descrito de
provocar a lei, na praça de toiros de Salvaterra, em 15 de
Maio de 1977, os toureiros Armando Soares e o espanhol “El
Macareño”, estoquearam 4 toiros. Do acontecido, o jornal
“Aurora do Ribatejo”, publicou notícia, em 25 de Maio de 1977.
30
I
V CRIADORES DE TOIROS EM SALVATERRA
Nota Prévia
No séc. XIX, existem registos de lavradores de
Salvaterra de Magos, para além de terem, a sua
31
actividade agrícola, desenvolviam a criação de gado
bravo. Havia as pequenas e grandes ganadarias.
Nas pequenas, trabalhavam um restrito grupo que
não passavam do Moiral, Contra Moral e Campinos.
Nos meses da Primavera e Verão, o gado pastava
nas terras frescas da bacia do rio Tejo. Como no
campo de Salvaterra e Lezíria Grande (Vila Franca de
Xira).
No tempo de Outono e Inverno, alimentavam-se do
pasto da charneca, lá para os lados do Chaparral e
Coelhos, pastando algumas vezes nas terras frescas,
que viriam a pertencer anos depois à Barragem de
Magos.
RODRIGO FERREIRA DA COSTA (Dr.)
Natural de Salvaterra de Magos, foi médico e criador
de gado bravo, por volta de 1873, forneceu vários
curros de toiros para a praça do Campo de Sant`Ana.
Falecer em 1878, na sua terra-natal.
ANTONIO FERREIRA ROQUETTE
Natural de Salvaterra de Magos, teve casa agrícola
nesta vila, foi criador de toiros, com divisa: turquesa e
branco. Os seus toiros gozavam de grande fama.
32
Enviou alguns curros para a praça de Sant`Ana, em
Lisboa e chegou a fornecer curros para Madrid. O
lavrador de Alpiarça, João Ignácio da Costa, comprou-
lhe alguns toiros, para apurar as suas rezes. Tal como
seu irmão, José Ferreira Roquette, foi toureiro e
cavaleiro amador, conseguindo grande popularidade.
JOSE LUIZ DE BRITO SEABRA
Nasceu em Salvaterra de Magos, em 30 de Agosto
de 1845, foi dono com sua mãe do palacete construído
nesta vila, que mais tarde passou a propriedade da
família Monte Real. Foi lavrador e ganadeiro,
presidente da câmara municipal de Salvaterra de
Magos, membro da Junta Geral do Distrito de
Santarém. Foi sócio fundador do Real Club
Tauromachico Portuguez, fundado em 23 de Fevereiro
de 1892. Faleceu em Valada, no dia 27 de Julho de
1893.
ANTONIO JOSE FERREIRA DA SILVA
Nasceu a 19 de Setembro de 1889, filho do ganadeiro
com o mesmo nome, forneceu toiros para serem
corridos em várias praças dos pais, a sua divisão era
33
Azul, e as manadas pastavam nos campos de
Salvaterra.
ROBERTO DA FONSECA JUNIOR
Nasceu em Salvaterra de Magos, filho reconhecido
do antigo bandarilheiro, Roberto da Fonseca, quando
da abertura do seu testamento * Nos últimos anos do
séc. XIX, pretendeu ser toureiro, convencido de que
não tinha aptidões artísticas, dedicou-se à criação de
toiros de lide.
JOSE FERREIRA ROQUETTE
JFR
Nasceu em Salvaterra de Magos, era irmão de
António Roquette, teve uma manada de toiros bravos,
com a divisa verde.
JOÃO ANTÓNIO FERNANDES
Pequeno lavrador, natural de Salvaterra de Magos,
tinha uma vacada e, alguns toiros de selecção, que
pastavam nos campos da vila, junto ao Tejo. Forneceu
curros para várias praças dos pais.
ROBERTO & ROBERTO
34
(Vicente Roberto e Roberto da Fonseca),
RR
Nasceram em Salvaterra de Magos, como
bandarilheiros ganharam fama e proveito, dedicaram-
se à agricultura e tiveram uma ganadaria de toiros de
lide, que pastavam nos seus campos de Salvaterra. Um
curro de toiros desta ganadaria, foi corrido na arena do
Campo de Sant`Ana, em Dezembro de 1987, onde teve
lugar a última corrida nesta praça. Actuaram os
cavaleiros Casimiro Monteiro, Alfredo Tinoco, José
Bento de Araújo e D. Luiz do Rego.
Estes ganadeiros integraram em Portugal, o primeiro
lote, que construíram “Tentaderos” para testarem as
suas vacas e, para tal construíram um, na sua Herdade
dos Coelhos.
FRANCISCO FERREIRA LINO
FFL
* Nasceu em Salvaterra de Magos, filho de João Francisco
Lino, iniciou a actividade agrícola, aos 18 anos, depois
35
de passar pelo comércio em Lisboa. De pequeno
lavrador, foi comprando propriedades e, por volta de
1915, acabou de construir o seu Palacete, cujo começo
vinha antes do terramoto de 1909, na sua Quinta da
Ómnia. A sua ganadaria, teve início naquela época,
sendo os seus animais oriundos de António Ferreira
Roquette.
JOSE VICENTE DA COSTA RAMALHO
Filho do lavrador e benemérito, Gaspar da Costa
Ramalho, em 1936, era detentor de casa agrícola, com
criação de toiros, que pela fama adquirida nas praças
portuguesas, começaram a ser solicitados para as
arenas de Espanha.
IRMÃOS ROBERTO
(Vicente Roberto Ferreira da Fonseca, Roberto Ferreira da
Fonseca (Dr.) e,
João Roberto Ferreira da Fonseca)
36
IR
Receberam por herança casa agrícola e ganadaria, de
seu pai João Roberto, que por sua vez recebeu da firma
Roberto & Roberto. A Ganadaria, na primeira metade
do séc. XX, muita fama lhes deu.
JOÃO RAMALHO
(JOÃO JOSE DE MORAES SARMENTO COSTA RAMALHO)
Nasceu em Salvaterra de Magos, filho do lavrador e
ganadeiro; José Vicente da Costa Ramalho * Sede:
Quinta da Gatinheira (Salvaterra de Magos) * Divisa:
Lilás e Branco
* Historial: Em 1961 compra 30 vacas Toiros a José
Pedrosa e 1 toiro e 4 vacas “Chamaco”, vindas de
Pinto Barreiros, com ferro de irmãos Roberto
(Salvaterra de Magos) * Em 1963, compra 8 vacas
Urquijo x Alves do Rio, a Dr. José Manuel Andrade
(linha toda dada ás filhas: Thereza e Helena Ramalho)
37
JOSE LUIS PEREIRA DIAS
Natural da Malveira (Oeste), na década de 70 do séc.
XX, veio para Salvaterra de Magos, onde tem morada *
Divisa: Azul e Preto * Toiros oriundos: José Manuel
Andrade, Engº Ruy Gonçalves e Cabral de Ascensão *
Antiguidade: 1976
FELICIDADE DIAS
(Felicidade da Conceição Filipe Pereira Dias)
38
* Nos anos 70 do séc. XX, fixou residência em
Salvaterra de Magos * esposa do ganadeiro José Dias
e, mãe dos Irmãos Dias * Divisa: Encarnado e Amarelo
* Toiros oriundos: Andrade Salgueiro e Manuel César
Rodrigues * Ganadaria conhecida desde 1984.
IRMÃOS DIAS
José Luís Pereira Dias e Felicidade da Conceição Filipe
Pereira Dias
Filhos de José Dias e Felicidade Dias,
* Ganadaria desde 1976 * Tem sede em Salvaterra de
Magos (Ribatejo) * Toiros oriundos de Norberto
Pedroso, que iniciou uma ganadaria em 1910, com
vacas portuguesas de Manuel Duarte Oliveira e
Condessa da Junqueira. De Emílio Infante da Câmara,
também adquiriu algumas vacas e sementais.
THEREZA E HELENA RAMALHO
(Thereza Margarida e Helena Rita Bastos de Moraes
Sarmento Ramalho)
39
*Morada na Quinta da Gatinheira (Salvaterra de
Magos) * Divisa: Laranja e Verde Musgo
* A sua ganadaria é oriunda de seu pai João
Ramalho. Antiguidade já conhecida em 1976, nos
últimos anos deixaram de ter registo, passando os
seus animais a integrar a ganadaria de seu pai, com o
fim de serem corridos em Espanha.
V
CRIADORES DE CAVALOS EM SALVATERRA
Nota Prévia
As terras de Salvaterra de Magos, junto ao rio Tejo,
férteis em aluvião, onde a erva fresca era muito
convidativa para a criação de gado cavalarem.
40
Nas Estatísticas de Portugal, dos últimos anos do
séc. XIX, constam que a produção animal, de gado
bovino, cavalar e asno, criada neste concelho, tinha
grande peso na economia do pais, quer em quantidade
e qualidade. O burro, era aproveitado em grande
quantidade para os cruzamentos com (égua/cavalo),
dando origem ao Macho/Mula, para os trabalhos mais
exigentes da lavoura.
Entre os vários criadores do gado da raça cavalar,
constava a casa agrícola, Cadaval, de Muge.
PORFIRIO NEVES DA SILVA
Natural de Salvaterra de Magos, foi grande lavrador
com terras no concelho onde nasceu e, nos concelhos
vizinhos. Era respeitado por todo o Ribatejo
(anteriormente Estremadura), pela dedicação a que se
entregou à criação do gado cavalar. Nos registos
antigos do Ministério do Exército, verifica-se que foi
muito pretendido, pela qualidade do seu gado, que
apresentava na remonta, todos os anos.
41
Em 1907, foi Administrador-Interino da Câmara
Municipal da sua terra-natal, o que lhe valeu o seu
toponímico à rua que mais tarde passou a Gen.
Humberto Delgado.
JOÃO OLIVEIRA E SOUSA
Oliveira e Sousa, sendo engenheiro,
pertenceu aos quadros do exército, com
o posto de Capitão.
Era abastado lavrador, com residência
em Salvaterra de Magos, contava em
1935, com propriedade nos concelhos de Salvaterra de
Magos, Coruche, Benavente, Vila Franca e Azambuja.
Também possuía propriedades no norte do pais, pois
era oriundo da zona da Guarda.
Na sua actividade agro-pecuária, dedicava grande
apreço pela criação do gado cavalar, onde incluía bons
exemplares nascidos de uma éguada da raça lusitana,
que pastava por vezes na Lezíria Grande (Vila Franca
de Xira). A sua coudelaria, proveio de António José da
Silva, que em 1893, já cuidava de criar bons
exemplares de cavalos, destinados à remonta,
realizada pelo exercito português. Com a sua morte, os
filhos, continuaram a casa agrícola (Oliveira e Sousa,
42
Herdeiros), tendo os netos o cuidado de continuarem a
administram a Casa Agrícola. As instalações da
Coudelaria, são na Quinta do Massapez, em Salvaterra
de Magos
IRMÃOS ROBERTO
(João Roberto da Fonseca, em 1939, com 78 anos de
idade, pai de Vicente Roberto da Fonseca; de Roberto
da Fonseca (Dr.) e de João Roberto Ferreira da
Fonseca), tendo a sua casa agrícola, dedicava especial
atenção à criação do gado bravo e do gado cavalar.
Teve exemplares em várias exposições em
Salvaterra.
Em 1928 recebeu um diploma, pela presença de 10
poldros, considerados de grande qualidade, numa
exposição do então Ministério da Guerra.
ANTONIO DA SILVA LAPA
Natural de Salvaterra de Magos, desde jovem, como
agricultor interessou-se pela criação de gado cavalar.
Depressa, escolheu e veio a manter uma raça de
cavalos que destinava à cavalaria militar e desportiva.
43
Para esse tipo de exemplares, usava o cruzamento
do Português “Alter” com “Zapota”, animal das terras
da Andaluzia (Espanha). Aos 76 anos de idade, ainda
era um credenciado criador de cavalos.
MENEZES & IRMÃO, LDª
Os irmãos José Eugénio de Menezes e António
Eugénio de Menezes, fundaram uma Sociedade
Agrícola. Por falecimento deste último, passou a
pertencer à firma, seu filho, António de Menezes.
Foram criadores de cavalos raça Lusitano, em terras
de Salvaterra e do Pombalinho (Santarém).
JOSE LOPES FERREIRA LINO
Nasceu em Salvaterra de Magos, em 1914, na
década de 60, sendo funcionário da câmara municipal
de Salvaterra de Magos, fazia uma pequena agricultura
e, tinha gosto pela criação de cavalos e éguas, que
pastavam nas terras de Alcamé (Vila Franca),
apresentando-os depois à venda na Remonta Anual,
que o exército fazia em Salvaterra de Magos.
44
Sendo um grande aficionado da festa brava, possuía
um jogo de cabrestos, que fazia exibir nas Festas da
terra.
***********************
******* *******
45
VI
A DINASTIA ROBERTO
Nota Prévia
Desde menino de escola, ouvia falar dos Roberto(s).
Diziam que foram toureiros. Nesse tempo, talvez em
1955, passando eu, na rua Cândido dos Reis (Antiga
Rua S. António), dei comigo envolvido entre uma
multidão, que em grande alegria descerravam uma
placa de homenagem aos irmãos toureiros. Esse
grande número de pessoas, estavam ali com os
representantes da Casa do Ribatejo, deixando uma
lápide na parede, por cima da porta de um prédio da
família, o seu preito de gratidão, aos homens que um
46
dia honraram Salvaterra e o Ribatejo, com as suas
belas actuações em praças de toiros de Portugal e
Espanha.
O tempo passou…! Nunca mais, os seus conterrâneos
se lembraram deles, nem uma rua com o seu
topónimo.
Foram simplesmente esquecidos. Os autarcas,
aqueles que decidem, nunca tiveram em conta, o seu
valor artístico que levou a todos os cantos, o nome de
Salvaterra, nem a lembrança da sua benemerência.
A ORIGEM
O nome Roberto referenciado em Salvaterra de Magos, nos meados do séc. XVIII, segundo alguns estudos genealógicos, estará ligado aos falcoeiros, vindos da Holanda, como mestres daquela arte. Henrique Jacob (1744-1829), um deles, casou com Ana Josefa de Vasconcellos, desta vila, e daí o início da dinastia – Os Jacob (s). António Roberto da Fonseca, tal como os seus irmãos Luís Roberto da Fonseca, Tito da Fonseca e Antão José da Fonseca, nasceram em Angra do Heroísmo (Açores), vindo ainda crianças para Lisboa. Estando instalados em Salvaterra de Magos, segundo algumas crónicas da época, tropas da última das três invasões francesas, Um outro grupo de militares, estava aquartelado no lado norte do Tejo, num palacete de Valada. Aqui em Salvaterra de Magos, houve forte confronto com o exército português, tendo o povo local muito ajudado nesse combate militar.
47
Muitos residentes da vila foram foragidos. António Roberto da Fonseca, recebeu a protecção dos Conde de Almada, que tinham á época um palacete na vila. (1). Aos 12 anos de idade, mostrou algumas aptidões para enfrentar toiros de lide. Seus irmãos, Tito, Luís e, o Antão, também exprimiam este gosto e, tourearam alguns anos.
********
(1) – Palacete, que tendo brasão de pedra dos Almadas, nos anos 50 do séc. XX, era propriedade da família Roquette *
ANTÓNIO ROBERTO DA FONSECA,
Nele foi encontrada muita aficion, foi bandarilheiro profissional, a sua apresentação pública, foi na então pequena povoação da Glória (Glória do Ribatejo), depois de receber lições de: Manuel Faria, António Cordeiro e Vicente Tinoco, afamados lidadores da época. Toureou na antiga praça de toiros existente no Salitre (Lisboa), com seus irmãos; Antão e Luís Roberto, que faleceu em 1862.
* Retirou-se da profissão de picar toiros, em 1859, bastante velho e arruinado de saúde. Veio a falecer em Salvaterra de Magos, a 21 de Março de 1882. Os seus três filhos; Vicente Roberto, Roberto Jacob da Fonseca e João Roberto, também
enveredaram pela arte do toureio.
Algumas crónicas da época, da especialidade taurina, conservam textos, das actuações destes “monstros” da tauromaquia portuguesa, que foram
48
Vicente e Roberto da Fonseca. A tourear, ganharam fama e proveito, mas foram humildes na vida cívica.
Depois de retirados das arenas, recolheram-se à vida da agricultura, na sua terra natal, Salvaterra de Magos.
A agricultura, e a criação de gado bravo, foram caminhos bem aproveitados, que deixaram a seus descendentes. Em relação ao filho, João Roberto da Fonseca, atingiu um plano pouco lisonjeiro nesta arte dos toiros.
VICENTE ROBERTO
Nasceu na vila de Salvaterra de Magos, em 1836.
Foram seus pais, António Roberto da Fonseca e D.
Maria Gertrudes da Fonseca. Seu pai, foi também um
toureiro distinto. Vicente Roberto, chegou a aprender o
ofício de alfaiate; manifestando, porém decidida
vocação para o toureio, principiou a aplicar-se à arte
tauromáquica, toureando em Almada com 13 anos de
idade.
O Conde de Vimioso, que assistia à corrida ao ver a
maneira como Vicente Roberto acabava de evidenciar
a sua aptidão para as lides
taurinas, depois da corrida
desceu à arena, abraçou-o,
incentivando-o ao estudo, e
49
ofereceu-lhe um trajo de “luces” de bandarilheiro. Fato
de azul e oiro, que seria o primeiro, que vestiu de uma
brilhante carreira.
Quando aprendia o ofício de alfaiate, em Vila Franca
de Xira, fez parte da filarmónica da terra, no intuito de
aproveitar o denominado “BOI PARA A MUSICA”, o que
se costumava tocar nas corridas no Ribatejo. Aos 18
anos, começou a apresentar-se como toureiro de
profissão, juntamente com seu pai e seu irmão João
Roberto, que era igualmente um excelente executante,
entre outros artistas.
Em 1858, estreou-se na praça de toiros do Campo
de Sant`Ana, e estão bem vivas na memória de todos
as ovações que ali alcançou. A sua reputação firmou-
se cada vez mais, e em 1861, entrou para o quadro de
artistas contratados pelo empresário Domingos
Alegria. Os críticos da época, não se fartavam de o
elogiar, sempre que actuava, os jornais chegavam a
fazer segunda edição, só para venda em Lisboa.
O seu primeiro benefício realizou-se em 1862,
apresentando-se nele também seu irmão, Roberto da
Fonseca, que sendo convidado a tomar parte se
recusara, dizia: não ter grande habilidade, grande era
a sua grande modéstia.
50
A insistência foi muita, actuou e brilhou na arena de
tal sorte que depois veio a tornar-se um dos mais
notáveis mestres do toureio nacional. É impossível dar
nota de todos os triunfos, ovações e festas artísticas
de Vicente Roberto; o público correia sempre
pressuroso a saudá-lo freneticamente e os bilhetes
atingiam um preço elevadíssimo, com praças sempre
cheias. Toureou em todas as praças de Portugal, e pela
primeira vez, em 1865, na de Badajoz, correndo touros
desembolados e com sorte inovadoras, como a
“Cadeira”, alcançando um legítimo sucesso.
Em 1892, foi convidado pela nova sociedade
“Empresa Tauromáquica Lisbonense”, para actuar com
seu irmão Roberto da Fonseca, no dia 18 de Agosto, na
corrida à portuguesa, na inauguração da praça de
touros do Campo Pequeno, em Lisboa. Na Figueira da
Foz, toureou a 10 de Setembro de 1888, numa sorte de
cadeira, ficou gravemente ferido e teve de recorrer a
uma enfermaria da misericórdia local. Debatendo-se
entre a vida e a morte, recebeu inúmeras provas de
simpatia e dedicação, tanto do digno provedor
comendador Afonso Ernesto de Barros, que havia
pouco tempo tinha sido agraciado com o titulo de
visconde da Marinha Grande, como de Frederico
51
Nogueira de Carvalho, Fernando de Mello, José Jardim,
que pertenciam ao pessoal médico e enfermagem do
hospital.
Apenas se restabeleceu do lamentável desastre,
contemplou aquela instituição, com um importante
donativo, e no seu testamento deixou-lhe mais um
legado. Com tal colhida, a sua saúde agravou-se, ficou
débil cada vez mais, e a medicina usando todos os
recursos declarou-se impotente, e após um doloroso e
prolongado martírio, faleceu às 11 horas da manhã, do
dia 1de Junho de 1896, rodeado de toda a família que
durante tanto tempo disputou à morte aquela preciosa
existência. Pessoa dedicada ao bem e ao útil, e que
mais uma vez deu eloquentes provas de grande
amizade e solidariedade que havia entre os irmãos
Roberto, o seu sobrinho, o nosso prezadíssimo amigo e
distinto bandarilheiro João Roberto, que algum dia será
o digno representante dessa raça de artistas(1).
PRIMEIRO ANO APÓS A SUA MORTE
O jornal semanário “ PRETO E BRANCO” publicado
em 1867, faz o elogio fúnebre a Vicente Roberto,
quando da passagem do primeiro aniversário após a
sua morte.
52
************
(1) - Foi testamenteiro do tio; Roberto Jacob da Fonseca e continuou com a casa agrícola, deixando depois a seus filhos, que passaram a usar o ferro Irmãos Roberto
“Vimos hoje, com a alma alanceada por uma profunda
saudade, registar o primeiro aniversário do falecimento
dessa simpática individualidade que se chamou Vicente,
prestando a devida homenagem a esse incomparável
amigo que soube conquistar um nome imorredoiro no
toureiro português, onde é contado entre os seus
grandes mestres, nobilitar-se por actos
de filantropia em que reflectiu a bondade da sua alma.
Na mais grato para nós do que evocar esse vulto saudoso, que sempre nos distinguiu com uma imerecida simpatia; o que
sentimos é não podermos dizer com profundos traços de verdade o que Vicente Roberto valeu como homem e como
artista; mas a palidez da nossa linguagem será animada
pela afectuosa lembrança que das brilhantes qualidades
deste ilustre morto, todos conservam arreigadas na
alma. Graças à extrema lhaneza e afabilidade do seu
trato, à honradez imaculada do seu carácter e ao seu
53
coração sempre aberto às emoções do bem, Vicente
Roberto viu criar-se e desenvolver-se em volta de si uma
enorme simpatia e consideração, o que sem dúvida
devia contribuir para suavizar a vida, límpida como o
cristal, mas torturada pela doença que se agravara
enormemente nos últimos anos. Amigo delicado,
galgava por cima das maiores dificuldades e sacrifícios
para servir os seus amigos, fazendo um perfeito
contraste com a sociedade actual, tão degenerada;
filantropo benemérito, via na felicidade dos outros a sua
própria felicidade; era assim que despendia uma grande
parte da sua fortuna, adquirida já nos trabalhos da
arena, já na agricultura e criação de gado bravo, em
proteger hospitais, montepios e outras casas de
beneficência, e em socorrer muita pobreza ignorada,
enxugando muitas lágrimas e fazendo renascer a
esperança no peito dos desgraçados.
Como bandarilheiro, Vicente Roberto, ocupou desde
muito novo um dos primeiros lugares entre os mais
ilustres artistas tauromáquicos de Portugal.
Ágil, audacioso e infatigável, a sua vida de toureiro foi
uma série ininterrupta de calorosos triunfos; só seu
54
irmão Roberto Jacob da Fonseca, o podia igualar no
trabalho de bandarilhas, nos recortes à cabeça do toiro
sem o auxilio da capa e em outras sortes que executava
com graça e arte inexcedíveis e que faziam bramir de
entusiasmo os aficionados.
A sua fama de lidador exímio estendeu-se até à
própria Espanha, chegando a tourear em Badajoz, com
seu irmão Roberto da Fonseca, touros desembolados.
Ali, as espanholas que se deliciavam com essas lutas
titânicas entre o homem e o animal, e que aplaudem
com frenesim o pouco edificante espectáculo do toiro
que ajoelha agonizante aos pés do matador, as
espanholas, delirantes de entusiasmo ao ver o grande
artista endoidecer, subjugar e dominar o toiro com voltas
e mais voltas garbosas da sua capa vermelha,
prorromperem na mais veemente manifestação,
cobrindo o distintíssimo artista com uma nuvem de flores
e palmas. Dessas ovações delirantes que lhe
embriagaram a alma, conservava Vicente Roberto as
mais saudosas recordações. E nos últimos anos de sua
vida como não lhe seria doloroso ver-se impossibilitado
55
para o toureio que tanto amava por causa da cruciante
doença que dia a dia lhe vinha minando a existência!
De vez em quando, a pedido dos amigos, lá descia à
arena para colocar um magistral par de ferros em que se
revelava sempre o primoroso e distinto artista de outros
tempos.
Nessas ocasiões que bem raras eram, divisava-se-lhe
na fisionomia, cheia de bondade, uma passageira
alegria, e Vicente Roberto saia sempre da praça coberto
das mais ruidosas ovações de apreço e simpatia.
O nosso semanário, não comporta longas biografias,
razão porque nos limitamos a condensar uns traços
biográficos que resumem em síntese luminosa, o alto
valor desse homem que a par dum grande artista foi um
honrado e infatigável trabalhador, chegando a adquirir
uma opulenta fortuna, e um coração de oiro que
espalhou tantos benefícios pelos pobrezinhos da sua
terra natal, e por diversos estabelecimentos de caridade
do nosso país; uns e outros ainda pranteiam a perda
irreparável que sofreram e delas sobram as bênçãos e
flores, o mármore frio do seu túmulo.
56
Hoje, dia do primeiro aniversário da sua morte,
depomos sobre o túmulo do nosso querido amigo um
“BUQUET” de sinceras saudades, ate porque
recordamos o povo da sua terra, desfilando reverente e
comovido perante o féretro e espargindo mil bênções
sobre aquele que foi um dos seus filhos mais dilectos e
um dos seus mais devotados protectores. Assim,
Vicente Roberto, que durante a vida se viu rodeado dos
maiores afectos e admirações, depois de morto teve
todas as honrarias a que tinha direito, sendo conduzido
à sua última morada por entre alas compactas dos
amigos. Vicente Roberto, evidenciando mais uma vez os
seus sentimentos piedosos, deixou em testamento
vários legados às Misericórdias; de Salvaterra de
Magos, Figueira da Foz, Coruche, Santarém e ao
Montepio de Salvaterra.
O grande artista reviverá na memória da família
amantíssima, no coração da qual deixou um imenso
vácuo, e na lembrança dos que tiveram a felicidade de
privar com ele, e conhecer as qualidades do seu
belíssimo carácter.
57
(Coimbra, 1 de Junho de 1897 – António Júlio (Vale de
Sousa)
ROBERTO JACOB DA FONSECA
“ Um amigo aficionado de Salvaterra, pede-me duas
linhas sobre o ex-bandarilheiro, que foi Roberto Jacob
da Fonseca.
Artista de um valor tão extraordinário, que é das
tarefas mais difíceis falar dessa glória da tauromachia
portugueza, que foi a maior figura do toureio antigo, e
a nossa maior relíquia, que hoje possuímos, vivendo na
sua linda Salvaterra, de tão grandes e históricas
tradições taurinas.
Inaugura-se hoje ali, a sua
nova praça de touros, que a
aficion do Ribatejo, aguardava
58
com impaciência, e a ela vae assistir, dirigindo a sua
primeira corrida de touros o bom velhinho, Roberto da
Fonseca, que foi um toureiro tão extraordinário, que a
sua grande fama não só foi conhecida em Portugal,
chegando até às praças de Hespanha, onde tanto se
exige dos seus artistas, e ali Roberto da Fonseca, fez a
mais brilhante das figuras, honrando a arte
portugueza, de lidar rezes bravas. Recorda-me ainda
com saudade, a tarde que o vi pela primeira vez, em
uma festa artística, dos Irmãos Robertos, na extinta
praça do Campo de Sant`Ana, onde o querido
bandarilheiro, tantas tardes de glória teve em
companhia do seu irmão Vicente, outro grande artista
já falecido, e do seu sobrinho o nosso amigo João
Roberto da Fonseca, actualmente retirado das lides
taurinas, mas ainda um verdadeiro aficionado, e um
dos mais reputados ganaderos portuguezes. Roberto
da Fonseca, que ainda hoje não teve quem o
egualasse, reuniu à sua esbelta figura, grandes
conhecimentos, grande hagilidade, de que era
possuidor, tornando-se o primeiro bandarilheiro
portuguez, saindo das sortes com elegância e frescura,
pisando sempre os verdadeiros terrenos, e assim
cravava no morilho dos touros excelentes pares de
59
bandarilhas, que os velhos aficionados ainda hoje
recordam com grande saudade.
Com a moleta, foi dos artistas portuguezes o primeiro,
que se dedicou a este toureio do vizinho reino, para o
que tinha muita habilidade, tendo tardes em que
estava primoroso.
Ainda inaugurou a praça do Campo Pequeno a 18 de
Agosto de 1892, em companhia dos seus colegas; ALFREDO
TINOCO, MINUTO, FERNANDO OLIVEIRA, VICENTE ROBERTO,
JOSÉ PEIXINHO, JOÃO CALABAÇA e RIO SANCHO, todos eles
já falecidos. Dos onze artistas, que há 28 anos
inauguraram a nova praça de Lisboa, apenas existem
ROBERTO JACOB DA FONSECA, JOÃO ROBERTO, RAFAEL
PEIXINHO e PESCADEIRO, este ausente em Hespanha, e
hoje retirado do toureio
. Depois da inauguração do Campo Pequeno, em
poucas corridas Roberto da Fonseca tomou parte,
despediu-se ao público aficionado, na festa artística
que seu sobrinho, João Roberto ali realizou, estando
magistral.
Dedicou-se depois à sua lavoura em Salvaterra,
encontrando-se ainda hoje à frente da sua casa
agrícola, o que foi um dos melhores ornamentos das
touradas em Portugal. Um grupo de amigos de
60
Coruche, pediu-lhe a sua presença na praça da terra e,
em 18 de Agosto de 1899, toureou pela última vez.
Já muito velhinho, apareceu em 17 de Novembro de
1921,a presidir a corrida organizada pela Associação
dos Toureiros Portugueses, no campo pequeno,
amparado por José Bento Araújo, desceu à arena e aí
recebeu do público que esgotava a praça, a maior
ovação da sua vida, pois a aficion não o havia
esquecido.
Hoje, dia 1 de Agosto de 1920, vae inaugurar como
director da corrida, a nova praça, onde estará presente
o distinto e apreciado cavaleiro tauromáquico JOSE
CASIMIRO, outra glória da nova geração, e estamos
certos que a sua primeira sorte, será oferecida ao
respeitável toureiro, que com a sua presença, ali se
vão iniciar de novo as corridas de touros em
Salvaterra.”
O SEU TESTAMENTO
Roberto Jacob da Fonseca, que na sua juventude foi
bandarilheiro, tal como seu irmão Vicente, granjeou
fama e fortuna, nas arenas de Portugal e Espanha. No
seu último testamento, deixou expresso toda a sua
61
vontade, várias vezes modificada, antes de falecer.
Este último desejo, foi fechado no dia 24 Agosto de
1920, tendo o seu falecimento ocorrido no dia 8 de
Maio de 1923, com 79 anos de idade.
. Uma certidão foi passada, por António Emiliano
Garrido da Silva, há época secretário da administração
do concelho de Salvaterra de Magos, a pedido do seu
testamenteiro, o sobrinho João Roberto da Fonseca.
“Eu, Roberto Jacob da Fonseca, solteiro, de setenta e nove
anos de edade, natural da freguesia da vila e concelho de
Salvaterra de Magos, onde resido, filho legitimo de António
Roberto da Fonseca e de Maria Gertrudes Roberto, já
falecidos, faço o meu testamento pela forma seguinte:
Seguinte: - Em primeiro lugar declaro que de mulher ser livre,
com quem podia casar: houve um filho que é Roberto da
Fonseca Júnior, casado, natural e morador em Salvaterra de
Magos e a quem pelo presente testamento eu reconheço e
perfilho, para que ele tenha e gose todos os direitos, que a lei
concede aos filhos perfilhados. – Pelas forças da metade livre
aliás, da metade, cuja livre desposição a lei me permite, deixo:
- A Dona Vitalina Pasehoa (da Fonseca), solteira, de Salvaterra
de Magos, o seu uso fructo, de todas as minhas terras, para que
62
o gose enquanto viva for, ficando a propriedade das mesmas
terras a seus filhos, se, casando, e do matrimónio os vier a ter;
e os não tendo, ficará do, aliás, ficará por sua morte a
propriedade dita a meu sobrinho João Roberto da Fonseca; no
caso de este ser falecido, ficará tal propriedade a seus filhos,
dele meu sobrinho. Ao dicto meu sobrinho João Roberto da
Fonseca deixo em plena propriedade todos os meus celeiros,
abegoarias e palheiros, incluindo o terreno das cavalariças, que
está por vedar, bem como a chamada casa da capela e da
machina.
Com o ónus de ser meu primeiro testamenteiro. Como
especial demoustração da minha amizade, deixou-lhe todos os
meus brindes e objectos artísticos, que passarão para a sua
posse nas trez victrines
que estão encerrados com os que pertenceram a meu irmão
Vicente Roberto, e a meu sobrinho já pertencem, segundo
63
disposição testamentaria do dito meu irmão. Se á data da
minha morte meu sobrinho fôr falecido ficarão estes legados a
seus filhos. – A cada um dos filhos de meu sobrinho João
Roberto da Fonseca, deixo a minha corrente e relógio de ouro.
– Aos filhos de Roberto Anica, deixo duzentos escudos. – A
Vicente Anica deixo cento e cincoenta escudos. – Deixo mais:
- cento e cincoenta escudos a cada um dos seguintes: António
Anica- A João Carvalho Anica duzentos e cincoenta escudos,
aos filhos do falecido Doutor Gregorio Fernandes, um conto de
reis para todos, e á Excelentíssima Senhora Dona Sofia
Rodrigues Fernandes trezentos escudos, pedindo desculpa a
todos da singela lembrança, que lhes deixo, signal apenas da
muito veneração em que tenho a memoria do Doutor Gregorio
Fernandes; a cada um dos meus afilhados: Dona Amélia
Garcia de Carvalho, Vicente Roberto Garcia de Carvalho, e
Roberto Isaac da Nazareth, cento e cincoenta escudos; - A
Vitalina Isaac, duzentos escudos; ao meu amigo Joaquim
Paulino Duarte, ou caso seja falecido, a sua esposa, duzentos
escudos, ao meu afilhado Armando Santos ficará pertencendo
o meu anel de brilhantes, que está em uma caixinha de metal
dentro da montra. A Manuel Aleixo de Carvalho, se á data do
meu falecimento estiver ao serviço da Sociedade Roberto &
64
Roberto, cento e cincoenta escudos; - aos meus velhos creados
Manoel Bernardino, Francisco Feijão, Miguel Galricho,
Roberto Gil e Francisco Morcego, se á data do meu
falecimento estiverem ao serviço da Sociedade Roberto &
Roberto, cem escudos a cada um; se alguns deles tiver falecido
no dito serviço,
revertará a importância
do seu legado para seus
legítimos herdeiros; - A
cada creado que na
minha casa, ou na
sociedade Roberto &
Roberto, tiver mais de
cinco anos de serviço, cincoenta escudos; - ao abegão Lino da
Silva duzentos escudos, se estiver de Roberto & Roberto, e,
caso tenha falecido nesse serviço, fica a mesma importância
cabendo a seus filhos; aos meus servidores Manoel Ribeiro e
Joaquim Almeida, se ainda o forem á data da minha morte,
cem escudos a cada; a Justa Pereira Lérias, duzentos escudos, e
a sua filha mais velha cincoenta escudos, a Maria das Dores
Carcereira, cem escudos; a Urbina Conceição e Rosa Pirralha,
se estiverem ao meu serviço, cem escudos a cada uma; deixo
65
ainda ao Hospital da Santa casa da Misericórdia de Salvaterra
de Magos, mil e quinhentos escudos; ao Hospital da Santa
Casa da Misericórdia de Coruche, mil escudos, ao Hospital de
Jesus Christo da Santa casa da Misericórdia de Santarém,
Santarém, quinhentos escudos, ao Hospital da Misericórdia da
Figueira da Foz quinhentos escudos; Quero que aos pobres de
Salvaterra sejam distribuídos cento e cincoenta escudos em
esmolas; e que por alma de meus paes e irmãos, se apliquem
trinta missas, e por minha alma vinte, todas de esmola não
inferior a um escudo; Se á data da morte existir Instituição que
destribua habitualmente sopa aos pobres de Salvaterra, quero
lhe sejam entregues duzentos escudos. Se por enfelecidade
dos que precisam, tal instituição não existir, será esta quantia
devidida por quinze jornaes, sendo nove de Lisboa, á escolha
do meu testamenteiro, e seis do Porto á escolha do meu amigo
velho amigo Júlio Gama, Redactor das Gasetas das Aldeias, a
esses jornaes espero dever a fineza da distribuição pelos seus
pobres, das quantias que lhes forem entregues, deixando eu
aqui á Imprensa do meu paiz o meu agradecimento, pelo
carinho, com que sempre se referiu á minha família,
apreciando-nos como artistas.
66
As contribuições a pagar pelo usofructo das propriedades que
fica a Dona Vitalina Paschoa da Fonseca, e a devida pelos
legados em dinheiro a particulares, ficam a cargo da minha
testamentaria. Todos os legados em dinheiro serão pagos em
moeda corrente no paiz e cumpridos dentro do ano posterior á
minha morte. Quero que por sua morte sejam depositados no
meu jazigo a já referida Dona Vitalina Paschoa da Fonseca e
meu sobrinho João Roberto da Fonseca, sua mulher e filhos, a
não ser que, por sua vontade ou de seus herdeiros hajam de o
ser em outro local. Nomeio meus testamenteiros: em primeiro
lugar meu sobrinho João Roberto da Fonseca, e em segundo
lugar o meu amigo Joaquim Ferreira Pedroza, a quem peço
aceite este encargo e a lembrança de trezentos escudos. Quero
que dos benefícios deste testamento seja excluído quem, sob
qualquer protesto, ou com qualquer intuito que não seja o de
fazer cumprir extremamente as suas, suas cláusulas. Tomar a
iniciativa de sobre ele levantar, aliás levantar letigio ou pleito.
E, no caso por mim não esperado, que tal se dê, se considedará
como não excripto tudo o que a esse referi. Quero que o meu
funeral, modesto, mas decente seja ordenado pelo meu
testamenteiro. E assim tenho feito o meu testamento, que quero
revogue qualquer outro que em data anterior, tenha feito.
67
E declaro que o mandei escrever, e que depois de o ter bem
lido e conferido e achado em tudo, conforme com a minha
ultima vontade, rubriquei as folhas e assigno no final,
conscientemente e livre de qualquer coacção ou imposição.
Em tempo declaro que os legados a Urbina Conceição e Rosa
Piralho serão de duzentos escudos, e não de cem, como por
lapso se escreveu. E tendo novamente lido todo o meu
testamento, achei em tudo conforme com a minha ultima
vontade e conscientemente e livremente o vou assignar depois
de ter rubricado as folhas, tendo tudo sido encripto a meu rogo.
Salvaterra de Magos, vinte e quatro de agosto de mil
novecentos e vinte. ainda em tempo uma declaração:
a meu sobrinho João Roberto da Fonseca, e na sua falta a seus
filhos, deixo como atrás digo todos os objectos artísticos e
brindes, com as vitrines em que estão guardados, tanto os
meus, como os que foram de meu irmão Vicente, quer sobre
este haja ou não disposição testamentária em favor do dito meu
sobrinho; porem quero que, comquanto se faça arrolamento e
avaliação desses objectos em qualquer tempo, para efeitos
convenientes, nunca a sua entrega possa ser exigida sem que
passe um ano sobre a minha morte. Uma vez mais li todo o
meu testamento, e parecendo-me nele deixar bem expresso o
68
meu pensamento o declaro a expressão da minha ultima
vontade, pelo que muito livre e espontaneamente o vou
assignar, depois de rubricar as folhas. Salvaterra de Magos,
vinte e quatro de Agosto de mil novecentos e vinte aliás
Salvaterra de Magos, vinte e quatro de Agosto de mil
novecentos e vinte (assignado) Roberto Jacob da Fonseca”
- Saibam quantos virem este auto de aprovação de testamento
cerrado, que aos vinte e quatro dias do mez de agosto do ano
de mil novecentos e vinte, nesta vila de Salvaterra de Magos e
escriptório da Firma Comercial Roberto & Roberto, na rua
denominada do almirante candido dos reis, onde vim eu
Notário Francisco César Gonçalves. O chamado do testador;
aqui estava pessoalmente presente Roberto Jacob da Fonseca,
solteiro, proprietário, de maior edade; Sui guris, anarador nesta
mesma vila de Salvaterra, e as trez testemunhas edoneas,
adeante nomeadas e no fim assignadas; e tanto eu notario
como as ditas testemunhas conhecemos aquele testador
Roberto Jacob da Fonseca pelo próprio e nos certificamos de
que ele está em seu perfeito juízo e de livre de toda e qualquer
coação. E por ele testador Roberto Jacob da Fonseca me foi
apresentado neste acto, em presença das mesmas testemunhas,
este testamento e disposição, declarando como ela é a sua
69
ultima vontade, o qual testamento, que eu vi, sem o ler está
escripto por pessoa diversa do testador , está rubricado e
assignado pelo mesmo testador, contem cinco laudas e mais
trez linhas de outra lauda e não tem borrão algum, entrelinhas,
emenda, ou nota marginal. E por verdade lavrei este auto, que
principiei em logo em seguida á assignatura do testamento e o
continuei sem interrupção, sendo testemunhas a tudo presentes
desde o principio até ao fim. Carlos de Novaes Barreiros,
Chefe da Secretaria da Câmara Municipal deste concelho –
Manoel da Silva Robeiro, Chefe da Repartição de Finanças
deste mesmo concelho – e José de Vasconcelos, Thesoureiro
da Fazenda Publica deste concelho. Todos trez casados, de
maior edade, cidadãos portuguezes, hábeis para testemunhas,
residentes nesta vila de Salvaterra de Magos, os quaes todos
assignam, com os seus nomes a dita primeira testemunha
Carlos de Novaes Barreiros, o qual efectivamente o leu neste
acto, em voz alta pelo testador em lugar deste e vão agora
todos assignar, como fica dito. E eu referido Notário Francisco
César Gonçalves o escrevi e assigno em raso depois de
egualmente lida em voz alta esta declaração por mim Notário e
pela dita primeira testemunha para esse fim indicado pelo
testador. Declaro que li este auto de aprovação do meu
70
testamenteiro e o reconheci conforme a minha vontade – (ass)
Roberto Jacob da Fonseca. (assignados sobre duas estampilhas
fiscaes no valor total de um escudo e cincoenta centavos, e
devidamente inutilizadas) Roberto Jacob da Fonseca - Carda
Silva Ribeiro – José de Vasconcelos – O Notário Francisco
César Gonçalves. Emolumentos seis escudos e cincoenta
centavos. Tem mais coladas duas estampilhas de contribuição
industrial no valor total de oitenta e dois centavos e uma
estampilha fiscal de um centavo e meio todas devidamente
inutilisadas e assignadas pelo Notário Francisco César
Gonçalves . (Na capa do testamento) Testamento de Roberto
Jacob da Fonseca, aprovado nesta vila de Salvaterra de Magos
aos vinte e quatro de Agosto de mil novecentos e vinte perante
mim Notário (ass) Francisco César Gonçalves. E nada mais
constava do dito testamento cerrado que bem e fielmente para
aqui fiz copiar em mão e poder do apresentante a quem o
entreguei do que dou fé . Foi lavrado nesta Administração o
respectivo auto de abertura apresentação e publicação deste
mesmo testamento, como consta do livro numero dois de autos
de abertura ou publicação de testamentos cerrados de folhas
um a folhas dois sob numero um. Administração do Concelho
de Salvaterra de Magos, oito de Maio de mil novecentos e
71
vinte e trez. António Emiliano Garrido da Silva. E por ser
verdade fiz passar a presente cópia de certidão que assigno e
vae autenticada com o selo branco desta secretaria”
JOÃO ROBERTO DA FONSECA
Nasceu em Salvaterra de Magos, no
dia 19 de Março de 1860, sendo
neto, de António Roberto da
Fonseca, foi-lhe dado o nome do
pai. Por ter ficado órfão muito
cedo, foram seus tios; Vicente e
Roberto, que o protegeram e foram seus mestres na
vida artística. Toureou pela primeira vez em Alcácer do
Sal, a pedido do avô de João Núncio. A partir daí os
convites não mais pararam. Toureou depois em Vila
Franca de Xira, Santarém e Coruche. Em 1878,
apresentou-se no Campo Sant`Ana, num espectáculo
taurino, em benefício de uma creche. Um ano depois,
esteve na Barquinha, alternou com seus tios e Marcel
Botas, os toiros eram do dr. Máximo da Silva Falcão.
Esteve brilhante a tourear, nas sortes de saída do
curro e junto às trincheiras.
72
Os cartazes de algumas praças de Portugal
anunciavam-no em destaque e, em 1982, actuou em
Lisboa, com João Costa, afamado bandarilheiro. João
Roberto, nesta corrida esteve de tal sorte que deu um
brilharete a bandarilhar. Com a doença de seu tio
Vicente, começou a ser mais solicitado em Lisboa,
fazendo um contrato de seis épocas. Demolida a praça
de Sant`Ana, João Roberto passou a ser visto, na arena
do Campo Pequeno. Pelos êxitos alcançados, a sua
presença era muito solicitada em vários pontos do
país, pois deliciava os espectadores no capear na sorte
de “cadeira”, e na sorte de bandarilhar. Em Portalegre,
no ano de 1895, fez a sua despedida das arenas..
Um tempo depois, ainda pisou o recinto da praça da
sua terra - Salvaterra de Magos, num festival de
beneficência. Com a morte de João Roberto, terminou
a mais notável geração de toureiros, da mesma
família, em Portugal.
Foram seus filhos: Vicente Roberto da Fonseca,
nasceu em 2 de Dezembro de 1891, Dr. Roberto
Ferreira da Fonseca e João Roberto Fonseca
73
**************************
VII
BANDARILHEIROS
Nota Prévia
Muitos nomes dos salvatorianos ilustres que pelo
seu destemido valor, actuaram em praças do país,
quer como cavaleiros, quer como bandarilheiros, não
tiveram grande espaço nas crónicas taurinas, dos
jornais da época. Da nobre família Costa Freire, sabe-
se Joaquim Pedro da Costa Freire, foi um grande
equitador, com fama em todo o Ribatejo toureiro.
Outros dos seus membros, ainda no séc. XIX, foram
amadores tauromáquicos, disso atesta as recordações
de ramalhetes de flores, bem guardados no palacete
da família.
ROGÉRIO AMARO
Rogério Amaro, nasceu em Salvaterra de Magos,
em 1943, conseguiu a alternativa de bandarilheiro.
Durante muitos anos foi peão de brega, dos
cavaleiros; Simão da Veiga Júnior e João Branco
74
Núncio e, dos matadores de toiros; Manuel dos Santos
e Diamantino Viseu, entres outros. Terminou a sua
longa carreira ligada aos toiros, como director de
corridas.
JOAQUIM DA CONCEIÇÃO
Em 10 de Maio de 1953,
numa
corrida realizada, em
Salvaterra de Magos, sua terra
natal,
fez prova de alternativa de
Aspirante a Bandarilheiro.
Na comissão de apreciação
esteve presente o matador de
toiros Diamantino Viseu.
FRANCISCO FAZ-CORDAS
“El-Palhota”, nasceu em Salvaterra de Magos, foi
viver para Vila Franca de Xira, onde esperava
encontrar, espaço para a sua aficion, pois os toiros
eram a sua paixão. Entrou no mundo da tauromaquia,
como Bandarilheiro. A sorte não lhe sorriu, para
sobreviver, com um pouco de habilidade, lá foi
75
vivendo, fazendo os seus pequenos trabalhos
artísticos, em ferro e arame, com motivos taurinos.
ANTÓNIO CADÓRIO
Nasceu em 27 de Dezembro de 1921, ainda jovem,
na aprendizagem da arte de sapateiro, ficou a ser
conhecido pelo “Mestiço” . Foi
aprendiz do mestre daquela arte,
João Ferreira, conhecido por João
Coxinho, por ter uma perna
amputada.
Como as muitas tertúlias que existiam dos 52
sapateiros existentes na vila de Salvaterra de Magos, a
do mestre João Coxinho, torcia pelo matador de toiros;
Diamantino Viseu. Cadório, grande aficionado,
sempre viveu para a tauromaquia, queria ser
bandarilheiro. Desejando ter lugar e brilhar nas arenas,
sonhando abalou até Vila Franca de Xira.
Ali, viveu toda a sua vida com a profissão de
sapateiro. Dos seus sonhos, mais não fez que ensinar a
arte de tourear, numa escola que montou. De lá
saíram toureiros de fama, como José Júlio e José
Falcão, pois queria que eles brilhassem mais nas
76
arenas, que os seus conterrâneos; Irmãos Vicente e
Roberto da Fonseca.
Já entrado na idade, António Cadório, regressou à
sua Salvaterra. Comigo falou algumas vezes das suas
frustrações e, até da maneira como era ignorado pelas
gentes da sua geração, pois dos novos já o esperava.
Ia fazendo os seus “biscates” de sapateiro. Viajava
muitas vezes na carreira, pois ia levar/buscar calçado,
aos seus antigos fregueses (Vila Franca, Alhandra e
arredores).
Era na estação das carreiras, que me falava da bela
arte de tourear a pé, como que tentando convencer-
me: “há muitos anos que não se toureia com sortes de
“gaiola” e de “navalha”, como ouvia dizer na nossa
terra, quando era miúdo, que aqueles brilharam e
tiveram glória, fama e proveito.
”António Cadório, faleceu no dia 20 de Outubro de
1979. Um dia a sua prima Conceição, que lhe dera
albergue, deu-me o seu BI, para aproveitar a
fotografia, afim de ilustrar um artigo que mais tarde
publiquei no já extinto jornal Vale do Tejo. Maurício do
Vale, tendo por Cadório, grande respeito e afeição,
escreveu no jornal “Vida Ribatejana”, um artigo que
aqui registamos.
77
ANTÓNIO CADÓRIO, MUITO COLHIDO PELA VIDA
MORREU NOS CORNOS DA DOENÇA!
“Estou arrumado”, dizia-me há tempos no Campo
Pequeno, quando à hora do sorteio por ali apareceu,
conforme combinara com Mário Coelho. António
Cadório, toda uma face abalada, era a imagem da
amargura pelo que o destino lhe guardara. O bilhete que
o toureiro lhe ofereceu, apertou-o ele, Cadório com a
força de quem se agarra a algo querido pela última vez.
E quase o foi!...
Morreu António Cadório! Morreu um Ribatejano!
Morreu um coração aficionado! Morreu um simples-
grande Homem dos Toiros!!!
Um Homem do Ribatejo!
Desde o sonho que teve em ser toureiro ao não
consegui-lo, a vida pregou-lhe várias colhidas. A
incompreensão dos homens condena muitos
Homens!...Mas essa condenação é uma medalha com
outra face – a da nobreza de carácter e sentimento que,
tarde ou cedo (e, quase sempre, mais tarde…), lhes é
78
reconhecida e devidamente cantada! Muitos foram os
toureiros que passaram pelas suas mãos, pelos seus
olhos! Uns lograram voar para o êxito (José Falcão,
Vítor Mendes, Palhota, Boleiro e outros); uns
conseguiram sair da penumbra, mas não puderam ir
além: outros, nem uma coisa nem outra. Com uma vida
repartida por Vila Franca de Xira, Alhandra e Salvaterra
de Magos, António Cadório nunca soube fechar as portas
para quem quer que fosse! Moços pobres, sem
“padrinhos”, batiam-lhe à porta, e ele aí estava com as
suas ganas e o seu saber.
Uma vida que valia a pena historiar e que, só por si,
seria um romance, um drama. Vivendo pobremente,
arranjava sempre aquele tempo e aquele mínimo de
cifrões para andar com os seus “maletillas”, de tenta em
tenta, daqui para ali.
79
A
“Palha Blanco” viu-o muitas vezes encostado à
trincheira a ver seus pupilos treinar. E pedia aos
toureiros que aconselhassem os seus rapazes, dizendo a
estes que ouvissem aqueles. Tinha bom sentido toureiro,
pelo que também opinava quando observava treinos de
“maestro”, como acontecia, às vezes, com Mário Coelho.
Este, aliás confessou sensibilizado que era de Cadório a
primeira muleta com que citou um bezerro (numa ferra,
já lá vai um bom par de anos!), bem como o escutava
quando trocavam impressões sobre toureio.
Morreu António Cadório! Muito colhido pela vida,
morreu nos cornos da doença! Morreu um dos poucos
poetas do toureio! Sonhador que era diante dos seus
“maletillas”, sonhando neles os êxitos que em si não
viveram, António Cadório merece o respeito de todos
80
nós, da Festa! Porque viveu, sonhando! Porque amou a
Festa, sonhando! Porque, talvez morresse nos cornos da
doença, sonhando que um toiro o matara na mais
imponente Monumental ou… na sua linda “Palha
Blanco”
Sepultado, no cemitério de Salvaterra de Magos,
sua terra-natal, o “Mestiço” como era conhecido, tem
na sua pedra tumular, uma poucas palavras; “uma
lembrança dos aficionados de Vila Franca de Xira”. Os
aficionados da sua terra, continuaram a tê-lo no
esquecimento.
*****************
************
*****
81
VIII
CAVALEIROS TAUROMÁQUICOS
TRAVESSA FERNANDES
(Rogério Manuel Silva
Travessa Fernandes),tal
como seu irmão Cláudio
José, entrou como
cavaleiro tauromáquico,
depois de actuar em
praças de Portugal, Espanha e, nos EUA (Califórnia).
82
Fez a sua prova de cavaleiro praticante, em
Santarém, conforme noticiou o Jornal o Ribatejo, na
sua edição de 15 de Março de 1990.
Recebeu a alternativa, na monumental de Cascais,
no dia 24 de Julho de 1994, apadrinhado por José
Manuel Cortes. Daqui em diante, foram poucas as
corridas em que esteve presente. Com seu irmão,
associou-se na exploração de uma escola de ensino de
cavalos e cavaleiros.
CLAUDIO JOSÉ
(Cláudio José Silva Fernandes
Travessa). Tal como seu irmão
Rogério, desde muito novo teve o
sonho ser cavaleiro tauromáquico
e chegar à alternativa!
Depois de actuar, em Espanha,
durante alguns anos como
Rojenedor, foi até aos EUA, onde toureou na Califórnia.
Em Salvaterra, no dia 30 de Agosto de 1998, aos 23
anos de idade, obteve a alternativa, sendo seu
padrinho Joaquim Bastinhas. Nos anos seguinte, ainda
esteve presente nos cartazes de corridas em Portugal
e Espanha. Um Acidente, levou-o a ficar ausente dos
83
redondéis. Com seu irmão Rogério montou, uma
escola de ensinamento de cavalos e cavaleiros.
ANA BATISTA
(Ana Cristina Marramaque Batista), natural de Salvaterra de Magos, nasceu no dia 16 de Junho de 1978.
Ana Batista, desde muito nova quis ser cavaleira tauromáquica. A sua apresentação pública, vestindo de fato curto, foi na praça de toiros da sua terra-natal, em 1988, onde lhe foi destinado um novilho, toureando com o Praticante Cláudio José.
A sua alternativa, ocorreu dois anos depois, na praça de toiros de Coruche, em 8 de Julho de 2000, sendo seu padrinho; Joaquim Bastinhas. A sua carreira tem sido de grandes êxitos, tem estado presente em todas as arenas de Portugal.
Como figura do toureio a cavalo, também é muito apreciada em Espanha, onde se desloca todas as temporadas taurinas.
OUTROS CAVALEIROS AMADORES
Depois da praça de toiros de Salvaterra, ser
inaugurada, em 1920, alguns amadores, pelo gosto de
tourear a cavalo, não deixaram de ser solicitados a
actuar em arena, pois tinham angariado alguma
84
experiência. Passaram a constar em cartazes de
festivais taurinos em várias localidades do Ribatejo,
MÁRIO MARQUES
Mário Monteiro Marques, nascido a 17 de Maio de
1925, desde muito novo mostrou aptidões para a arte
equestre, era um artista na forma de ensinar os
animais.
Um acidente de viação, ocorrido em 25 de Março de
1858, tirou-lhe a vida e com ele foi o seu grande
sonho.
MONICA MONTEIRO
Mónica Monteiro, ainda menina, já manifestava o
gosto de andar a cavalo, pouco depois mostrava
grande tendência para a aficion, o toureio equestre era
a sua paixão. O Jornal o Ribatejo, na sua edição de 18
de Outubro de 1990, dava
a noticia que ela actuava,
com Cláudio Travessa,
entre outros amadores,
num espectáculo em
Santarém.
85
A sua apresentação pública, em Salvaterra de
Magos, sua terra-natal, foi em 1992. Os empresários
depressa viram nela uma cavaleira tauromáquica com
arte, que podia empolgar o público aficionado, nas
praças de toiros portuguesas. Treinava afincadamente,
esperando a sua oportunidade, foi convidada num
programa especial da Rádio Ribatejo, coordenado pelo
crítico, Paulo Beja, esteve ao lado de Ana Batista e
Sónia Matias. Em 1993, na Nazaré, num festival
taurino, em dia de carnaval, Mónica caiu do cavalo e,
foi internada de urgência em Leiria, tinha fractura de
crâneo. O estado de coma durou alguns dias, já estava
internada no hospital de Santa Maria. Recuperada, na
época seguinte, foi a Lagos tourear fazendo a prova de
cavaleira praticante, apareceu vestida com uma casa
de cor bordeaux filada a oiro. O sonho de ser cavaleira
tauromáquica, era uma meta, treinava diariamente.
Um dia quando regressava a casa pela estrada, o
movimento de carros era imenso, um pesado, apitou
por detrás, o animal teve medo, a Mónica caiu, ficou
paraplégica. Andou de cadeira de rodas, depois com
duas canadianas, depois ainda, só apoiada numa
canadiana.
86
Não ficou esquecida, em 1997, o grande aficionado
salvaterrense; Manuel Fernandes Travessa, em
conjunto com um grupo de amigos, onde a família
Telles esteve presente, foi homenageado em
Salvaterra de Magos.
*************
******
IX
CRITICOS TAUROMÁQUICOS
D. PACO
(ROBERTO FERNANDES)
Num dia de Agosto de 1959, com a tarde a despedir-
se do calor, a brisa já se sentia convidando os clientes
do Café Ribatejano, a aproveitarem as sombras
daquelas árvores em frente,
iguais a tantas outras em todo o
jardim do Largo dos
Combatentes. Na esplanada,
debaixo de uma dessas sombras,
87
sentado numa cadeira de ferro, um homem já entrado
na idade, refrescava-se com uma água fresca,
daquelas engarrafadas.
Andava eu, por ali pois esperava a chegada da
carreira das 17,00 horas, que tinha paragem em frente
ao edifício da escola. O homem, viu-me vestido a
preceito, fardado com boné (era a farda de empregado
da camionagem), dirigiu-me a palavra: Então moço,
esperas alguma coisa!
Lá respondi ao que estava e, porque estava, enfim a
conversa foi ao ponto de saber de quem eu era e, filho.
Enfim, todos aqueles pormenores de quem tem
alguma curiosidade. Lá respondi, chamo-me:
José Rodrigues Gameiro !!
Convidou-me para me sentar, e beber uma água,
fazer-lhe companhia. De chofre, disse-me; eu conheço
o teu pai, é o “Zé Pataco” (1), é jardineiro na câmara,
somo velhos amigos de juventude. Quando cá venho,
conversamos muito sobre a nossa terra. Também ouvi
falar e conhecia grande parte da tua família, o teu
bisavô, o teu avô e os irmãos dele, foram grandes
campinos. Naqueles meus 14 anos de idade, fiquei
algo confuso. Agora o curioso era eu! Então o senhor
é de cá de Salvaterra! Sou, venho cá passar uma
88
semana de férias todos os anos. Um ano de ausência,
as saudades é muitas da família, da minha terra e dos
amigos. Olha,
********
(1) – A alcunha de Pataco, vinha de meu bisavô que a deixou a alguns
descendentes.
já perguntei ao meu amigo Zé Pataco, que me
confirmasse quem era aquele José Gameiro, que
escreve no jornal “Aurora do Ribatejo”, jornal que leio
todas as semanas. Afinal és tu…!
Estava eu, pronto para continuar a conversa, mas
com a chegada da carreira, lá me despedi, com um
aperto de mão.
O homem, ainda me disse, volto cá para o ano e,
temos muito que conversar….! À noite, em casa, lá fiz
a conversa sobre tal encontro, meu pai informou-me: É
o Roberto da Ferradora, é neto do Roberto que foi
toureiro. Olha, ele é muito apaixonado por toiros, julgo
que faz criticas das corridas.
Um ano se tinha passado !
89
Um dia estava eu, na Central das Carreiras, na rua
Heróis de Chaves, a preparar os volumes das
encomendas, para seguirem para Marinhais e Glória do
Ribatejo, quando do lado do Jardim do Lopes, vinha um
homem vestido a preceito, com chapéu preto na
cabeça, acercou-se de mim, cumprimentou-me e num
instante: “Já não se lembra de mim!...” Apresentou-se,
recordou o nosso encontro, no ano anterior. “Olhe,
trago-lhe aqui um livro que lhe quero oferecer, são os “
Anais de Salvaterra de Magos”. O ano passado, ainda
soube pelo seu pai e, por outras pessoas amigas, que
tem gosto em saber coisas da nossa terra!
De imediato, abriu o livro e nele fez uma pequena
dedicatória. Nessa noite e nas seguintes, o livro foi
todo lido página por página e agora faz parte do meu
espólio. Quanto ao Roberto Fernandes (D. Paco), nunca
mais o vi, nem soube quem era um tal RUI DE
90
SALVATERRA, que em 1935, fazia crónicas
tauromáquicas.
**********************
****************
X MOÇOS DE FORCADO
Nota Prévia
O rei D. José, determinou em 1762, que no seu
reinado não haveria mais corridas reais, em Salvaterra
foi a última. Mais tarde, em 1836, a rainha D. Maria II,
assinou o decreto que seríamos proibidos os toiros de
morte, em praças de Portugal. O palácio real de
Salvaterra, há muito tinha desaparecido após alguns
incêndios e, da derrocada provinda do sismo, de 1858.
O espaço onde tinha ocorrido, a morte do Conde dos
Arcos, estava agora rodeado de construções, era
conhecido pelo Canto da Ferrugenta (1). Os toiros
passaram a ser pegados. Os monteiros da choça,
foram convertidos em
91
*******
(1) - Joaquina Mendes, José Caleiro, Rosa Mendonça e Francisco
Costa(pessoas que viveram em dois séculos) – Foram por mim
entrevistados em 1989, para um trabalho “Em busca do Teatro Real
da Ópera de Salvaterra de Magos”.
moços de forcados. O povo fornecia os seus
elementos, aqueles mais destemidos, estavam sempre
na primeira fila
Quando da inauguração da praça de toiros de
Salvaterra de Magos, em 1 de Agosto de 1920, o grupo
de forcados, foi chefiado pelo capataz; Manuel Burrico,
de Vila Franca de Xira. Bastava haver um festival
tauromáquico em Salvaterra de Magos, ou em vilas
dos arredores, logo se formava um grupo de forcados,
como foi o caso de um que foi actuar a Leiria, em
1966, num festival a favor do União de Leiria, entre
outros figurou António Santos Paulo, conhecido por
António Béu.
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1942 - Grupo de Forcados de Salvaterra numa corrida após o ciclone
Manuel Fróis Marques
(Manuel Lazão); morreu,
em 1948, num acidente,
num circo, na Feira de
Setembro de Benavente,
quando agradecia ao
público depois de ter
pegado um bezerro, uma
marrada, pelas costas,
fracturou-lhe a coluna
grupo de forcados
profissional de Manuel
Faia, Manuel dos Reis
(Manuel Ferrador),
primeiro lado direito
93
1956 - Grupo de
Forcados de
Salvaterra
1969 – Grupo de Forcados de Salvaterra
ANTÓNIO LAPA
Nasceu em Salvaterra de Magos, desde jovem
manifestou o gosto pela pega dos toiros. Seu pai,
também já tinha pegado toiros nas arenas. Um dia veio
ter às minhas mãos uma página do já desaparecido
jornal “O Diabo”, era do dia 22 de Outubro de 1985 e,
tinha um artigo assinado por Miguel Alvarenga, que
pela sua importância e significado aqui o
transcrevemos:
94
ADEUS DE ANTÓNIO LAPA
“ Dizem-me que te fostes embora, António Lapa.
Que entregaste a jaqueta ao Francisco Costa e te
despediste das arenas em Alcácer. Não pude lá estar.
Mas não quis deixar passar
o momento de aqui te prestar a
minha homenagem.
Ao teu valor, António Lapa.
Ao forcado completo que tu
foste. A mais que isso, António:
à amizade que se fez forte no
México e se foi prolongando
por estes tempos fora. Lembro-
me desse mês inesquecível .
Dessa camaradagem sem fim que fui encontrar entre
vocês todos, nesse México que não esquecemos mais.
Comigo, com todos os outros. O Hilário, o Costa, o
Silvino, o Fazé, o António Santos. Todos. Agora; dizem-
me que te foste embora. Que disseste adeus a uma
carreira que abraçaras de alma e coração, durante o
qual nunca, mas nunca, esqueceste tudo o que devias
ao mestre Nuno Salvação Barreto. Dizia-lo com
respeito. Com admiração. Com a firmeza e a justiça
95
que caracterizam os homens de bom carácter. Como
tu, António Lapa. Recordar-te, daqui te enviar o maior
dos abraços que houver na terra, é a minha
homenagem na hora da tua partida. Simples, António
Lapa. Mas sentida.
Adeus António Lapa! “
JOSE CARLOS HIPOLITO
Conhecia-o das brincadeiras das épocas carnavalescas
e, da fama que espalhava enquanto moço de forcado
Um dia pedi-lhe uma entrevista para eu publicar no
jornal “Aurora do Ribatejo”. Os dados que me
concedeu, foram publicados assim:
JOSÉ CARLOS HIPÓLITO
(O Timpanas)
- FIGURA TIPICA DA NOSSA TERRA –
Homem pequeno, com 53 anos de idade, dotado de
uma traquinice que o faz estar constantemente
sempre bem disposto.
Pelo Carnaval, desde há muitos anos, é o grande
animador das festas do nosso burgo, sendo tal a
imaginação e o talento nas figuras
por si encarnadas , que deixam sempre saudades.
No entanto o seu semelhante pode contar com ele nas
horas difíceis, estando sempre atento e vigilante no
96
seu posto de bombeiro voluntário, pois dá o seu
contributo à Associação de Bombeiros desta vila. Mas o
seu grande “martírio”, onde as saudades o vão
corroendo, é a festa brava. Quando fala de
tauromaquia todo o seu pequeno corpo se modifica, as
contracções notam-se na sua face, os seus nervos de
aço com que ainda há poucos anos empolgava
multidões nas Praças de Toiros, ficam fluidos – É um
homem vencido, cheio de saudades!... . Na esperança
que nos identificasse uma fotografia de foi publicada,
em 1957, na edição especial do Jornal – Vila
Ribatejana. Logo que poisou os olhos no retrato
mostrou-se nervoso, a sua calma desapareceu e nos
seus olhos algo bulia, o que não evitou que mesmo
disfarçadamente tentasse limpar uma lágrima rebelde
que já o incomodava. E enquanto me ia informando
dos nomes dos componentes do Grupo, Disse-nos;
“Olhe, foi neste grupo que peguei toiros pela primeira
vez e, foi em Coruche, já lá vão cerca de 30 anos”.
Uma das suas salas está repleta de quadros, onde se
podem apreciar várias sequências de pegas de caras,
por si efectuadas em centenas de actuações nas
Praças de Toiros, tanto no País como no Estrangeiro.
Hoje, exercendo a profissão de metalúrgico, foi na sua
97
vida do campo que começou os seus primeiros
contactos com os toiros. Naquele tempo, ainda havia
a grade – uma forma de trabalhar a terra – onde os
bois, alguns bravos, depois de “bruxados”, tornavam-
se dóceis. Voltando à tauromaquia, vai-nos dizendo: “
Tenho muita estima pelo Sebastião Nabiço e, também
pelo Manuel Faia. Olhe! já me ia esquecendo do Albino
Fróis Marques e do seu irmão, o Manuel Lazão. A eles
devo muito do que sei da difícil arte de pegar toiros”.
“ No entanto não me posso
esquecer do Manuel dos Reis, o
Manuel Ferrador, pois com ele tive
tardes inesquecíveis. Bom
companheiro!...
Ao ver-mos uma foto, num
daqueles imensos quadros
pregados na parede, onde José C.
Hipólito esteve na cabeça de um possante toiro (510
Kgs), diz-nos que esta pega foi na Nazaré. Apontando
para umas outras, informa-nos “Aqui foi no Campo
Pequeno, a critica da época, por esta pega me chamou
o Pegador de Toiros mais pequeno de Portugal – O
Pigmeu com braços de aço. Esta aqui, foi em
Salvaterra com um “bicho” dos Robertos, também com
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cerca de 600 Kgs. Foi tão grande o delírio do público
que um espectador, nas barreiras me levantou em
peso, tal era o seu entusiasmo.
A um canto, num pequeno móvel, está a sua
jaqueta, o barrete, calção e os sapatos. Mostra-nos um
álbum com características orientais e, diz-nos: “ Aqui
guardo imensas recordações de algumas celebridades
do nosso mundo tauromáquico”, e mostra-nos
actuações com o mestre João Branco Núncio, mestre
David Ribeiro Telles, Manuel dos Santos, Diamantino
Viseu, Ricardo Chibanga, José Rosa Rodrigues e outros.
“Olhe, aqui nesta foto, foi quando o Manuel dos Santos
fez a sua festa de despedida, no Campo Pequeno.
Neste grupo (o de Adelino de Carvalho) estou eu e o
Manuel Ferrador. Esta fotografia, tem uma dedicatória
do Manuel dos santos, a mim”
“Numa digressão que fiz à China, onde o Manuel
dos Santos, nos levou – éramos três forcados – pois ele
organizou várias corridas em Hong-Kong, a praça foi
construída em canas de Bambu e, comportava cerce
de 8.000 espectadores. O Chibanga também foi.
“Olhe, em cerca de 5 meses que lá estivemos, peguei
36 toiros e, numa das corridas actuei com uma costela
partida, como pode ver por esta fotografia”. “ No
99
entanto por causa dos toiros, estive duas vezes em
Roma, uma no México e outra na Venezuela”.
Enquanto decorria a nossa conversa e nos mostrava
centenas e centenas de fotografias, vai-nos dizendo
que, no entanto depois destes anos todos a pegar
toiros e de muita “porrada” ter levado, não pode
esquecer tardes memoráveis que, viveu !
Um pequeno desgosto o acompanha e, diz-nos
“Ainda não fiz a minha festa de despedida !” “À cerca
de 5 anos, tentei organizar uma corrida. A então
Comissão da nossa Praça, depois de concordar, vai
criando dificuldades, e eu, já tinha a oferta de toiros,
cavaleiros e forcados e, se fosse necessário, alguns
toureiros também se me ofereceram. Tive de desistir,
pois a Comissão por ter começado a arrepiar caminho,
dificultou, dizendo que não poderia emprestar a Praça.
Olhe, que eu oferecia a receita para o Hospital. Não
chego a compreender como me puderam fazer aquilo.
E num tom magoado diz-nos, actuei em tantos
festivais graciosamente para a Misericórdia. No
entanto não perdi ainda a esperança de fazer a minha
festa de despedida e na minha terra, vou começar os
meus contactos novamente e espero que a actual
Comissão da Praça de Toiros me ajude, emprestando-
100
me a praça, pois em contrapartida, a receita será para
o Hospital”.
E assim deixamos o José Carlos Hipólito – O
Timpanas de Salvaterra – entregue às suas
recordações e tristezas. O Pigmeu, com braços de aço,
com alguém um dia lhe chamou!
Que a sua ambição se realize, é o nosso grande
desejo.
******
Muitos outros nomes perderam-se, porque
envergaram a jaqueta poucas vezes e, outros
enveredaram por outros grupos, como: António
Rogério Amaro
XI
CAMPINOS
Nota Prévia
Moço Nogeiro, Roupeiro Novo, Roupeiro Velho, Contra-Moiral, Moiral e Campino-Mor, era a hierarquia do homem que guardava toiros no Ribatejo, ainda conhecida por volta de 1930.
O Campino, era uma figura de grande respeito entre os seus pares e, muito estimados pelos patrões. No trabalhar os cabrestos para a recolha dos toiros em praça. Na condução do gado nas pastagem e, a
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caminho das localidades onde os curros de toiros iam ser corridos, o povo respeitava-os por “grandes varas”.
No dobrar do séc. XX, os terrenos de pastagem encurtaram. As ganadarias, passaram por uma lenta mudança, notava-se mais naquelas alicerçadas em hábitos que vinham de séculos anteriores. O Feitor, Campino e Moiral, as três grandes figuras da Lezíria ribatejana, estavam em desaparecimento.
UMA FAMILIA DE CAMPINOS
António da Silva Cantante, meu avô paterno, tinha uma irmandade de cinco rapazes e uma rapariga. Uns tinham no apelido; Silva e outros, Galricho.
A alcunha de “Pataco”, veio de meu bisavô, Miguel Galricho, por ter recebido a oferta de mais um pataco, para trabalhar na Casa do Barão de Salvaterra.
A notícia do pagamento de mais dois vinténs, correu em toda a Lezíria, o que reconhecia no meio da campinagem, o seu valor de grande vara. A inveja foi tal, que não o livrou da alcunha de “Pataco” que deixou à descendência.
Já o meu Trisavô, foi um respeitável Campino-Mor, nas vacadas do rei D. Miguel, que pastavam em terras de Salvaterra e Pancas.
O antigo bandarilheiro Roberto Jacob da Fonseca, mais tarde lavrador e ganadeiro, contemplou o filho deste no seu Testamento, entre muitos trabalhadores da sua casa agrícola.
ALGUMAS HISTÓRIAS
Andava eu, pelos 14 anos de idade já escrevia para o jornal “Aurora do Ribatejo”. Do meu avô ouvi relatos
102
da sua antiga vida de campino. Dessas recordações, guardei alguns apontamentos,
Agora para este trabalho, lá fui “rebuscar” aquelas informações, Meu avô, António da Silva Cantante, conhecido por António Pataco, viveu toda a sua vida de campino, no campo junto das manadas de toiros.
Um dia já entrado na idade, deixou a campinagem e foi guardar uma éguada afilhada, com 50 cabeças, da casa agrícola Menezes & Irmão, Ldª. No mês de S. Tiago, de 1944, deixou de todo aquela actividade, mas os seus dois irmãos, Éramos quatro rapazes, sendo todos filhos do mesmo pai e mãe, mas tínhamos nomes diferentes, O Manuel, morreu cedo.
O João e o José, continuaram na ganadaria Irmãos Roberto.
Os anos tinham passado, a idade e as forças, já não o deixavam “dar conta do recado”, como ele um dia me disse: “Os toiros bravos que conhecia como a palma das suas mãos, já não lhe obedeciam, aos gritos…É toiro lindo…!
“Já não era aquela “vara” de outros tempos…”
“Estava farto de tanta canseira, tantos foram frios dos invernos e os calores de muitos verões, anos a fio, em que esteve sentado na sela, com a manta aos ombros - a manta lombeira, quer cai-se geada, quer chovesse, guardando tantas cabeças de gado, que lhe perdeu o conto…”
A “velhice” tinha chegado !
Deixou na vila, a casa onde vivia, na rua d` água e, recolheu-se, com minha avó Emília e, meus tios; Manuel e Luís, numa pequena barraca de caniço, que construiu, nos terrenos do Rego, que alugou ao Dr.
103
José de Menezes, seu antigo patrão. Ali vivia, do sustento de algumas vacas leiteiras, com a venda de leite, pois criava vitelos. Nos valados, perto dos poços onde as mulheres lavavam roupa (1), eram o local onde apascentava o gado, a erva fresca abundava.
Um dia sentado num pequeno banco, com fundo de “sumaúma” por ele entrançada, como bem sabiam fazer os campinos, além de esteiras e, fechar garrafões de vidro com cordel - disse-me: “Quando fores grande nunca queiras ser campino, aquilo é um trabalho dos Diabos; ama-se mais os animais do que a família.
Teu pai, não quis ser campino, também não quis aprender a endireitar a “Espinhela” (2) e fez bem!
*******
(1) – Pequenos tanques de cerca de um metro de fundo, onde a água era constante, as mulheres esgotavam-no, na lavagem da roupa. No fundo tinham pedra para assento dos pés, em cima no terreno, uma laje para a lavagem da roupa. Estendiam a roupa branca pela erva, para corar.
*********
(2) – Endireitar a Espinhela; era endireitar a coluna vertebral, que ele aprendeu com os campinos mais antigos – Os bezerros ficavam com as costas tortas porque o parto, algumas vezes acontecida com as vacas em pé e, os bezerros nestas condições tinham dificuldade em começar a andar. Depois da mãe, comer a placenta e limpar o animal com a língua, os campinos tapavam o pequeno animal e puxavam-no com uma corda (para evitar as marradas da vaca). O mais dextro, punha a cabeça do vitelo entre as pernas e, com as mãos fazia massagens ao longo das suas costas. Minutos depois o pequeno animal já andava para junto da mãe. Cheguei a ver avô fazer isto a alguns homens que o procuravam com dores nas costas.
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Dizia-me, eu, comecei aos 10 anos a guardar os bois da tralhoada, depois passei para as manadas de toiros bravos.
Ao entrar nos 25 anos de idade, um dia cheguei a campino-mor, numa casa agrícola da vila, de Salvaterra de Magos. Ainda, trabalhei com meu pai e, os meus irmãos João e o José, nos Roberto & Roberto, aqueles irmãos que, ganharam uma fortuna a tourearem em Espanha. As suas lembranças, eram sempre uma “lengalenga” do seu tempo de campinagem.
“Aquela dos toiros que iam ser corridos em Santarém!
Saíram da Herdade dos Coelhos, atravessaram a vila, ao cair da tarde de sexta-feira, foram toda a noite pela estrada do meio, pelos campos de Muge e Benfica, saíram para lá de Almeirim, quando o sol dava os primeiros sinais de vida, estavam a atravessar a ponte do Tejo, com todo aquele mar de gente, viam-se os barretes, os chapéus, coletes e casacos, voavam no ar, a querer tirarem os toiros que a gente mantinha entre os cabrestos. Aquela malandragem não nos dava descanso e, éramos para aí uns 30 campinos. O curro, tinha de estar em Santarém, na tarde de sábado para a corrida de domingo à tarde.
Eram dias de grande trabalheira, mas também a gente se vingava, era cá cada varada naqueles costados.
Também me contou, uma outra de um curro de toiros, que tinha de ser corrido em Vila Franca e, como era costume, saiam dos Coelhos, ao inicio da tarde, para aproveitar a maré do Tejo e, atravessar para
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Valada, através dos mouchões, ia-mos pelos campos da Azambuja e, a chegada a Vila Franca, a meio da tarde de sábado, para serem corridos no domingo às cinco da tarde. “A trabalheira começava logo depois do Maçapez, ia-mos por Trás-Monturos, a rapaziada não deixava os toiros descansados, alguém tinha passado o segredo, queriam tirá-los do meio dos cabrestos, ao passar da ponte da vala.
A gente percebia daquilo, já estávamos habituados e, a vara trabalhava logo nos “costados” deles. Depois em Valada e na Azambuja, era de ver gente a escorrer sangue, aqueles diabos não deixavam os animais sossegados e, davam-nos muito trabalho, para manter o gado no meio dos cabrestos.
Varada neles..! Era a ordem do campino-mor. Lino Garoto. Os nossos cavalos, os toiros e cabrestos, babavam-se por todo o lado.
Meu avô, gostava de beber o seu copito e, quando ficava um pouco “enxergado” como ele dizia, lá se lembrava de tocar um vira do campo ou o fandango, numa pequena gaita-de-beiços, já muito velhinha e desafinada.
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1936 – Quatro irmãos campinos
Com a música do fandango, ficava empolgado de tal maneira, que não resistia a tentar fazer o jogo de pernas. Era de ver e ouvir…!
Nunca se esquecia dos campinos, seus camaradas de outros tempos. Hó, que grande gente!
Grandes varas….!
Os seus três irmãos; João da Silva Galricho, José da Silva Galricho e Manuel da Silva, conhecido por (Manuel Pataco), o seu primo João Vitorino, o Lino da Silva, alcunhado por Lino Garoto, o Joaquim Quartilho, o Francisco Almeida e o Fernando Nobre.
Muitos outros que vieram mais tarde como: Manuel Luís, José Duarte Cantador, conhecido por “José da Moira” e, o Manuel Bernardo, estes últimos acabaram no José Lino.
TRAJE DO CAMPINO
No dobrar do século XX, os campinos, aquela gente que lidava com o gado bravo em plena Lezíria ribatejana, ainda mostrava a pele curtida por mil sóis. Os mais novos, já usavam o boné na cabeça, colete e
calça de ganga ou cotim, em dias de trabalho e, lá se via, muito poucos, com a cara ornamentada com uma pequena e larga patilha na
107
cara, um pouco abaixo da orelha. As grandes suíças que por vezes “beijavam” os bigodes, com duas pontas bem finas e enroladas, foram caindo em desuso por volta dos anos 30, época da última geração de antigos campinos, muitos deles conhecidos e respeitados por grandes“Varas”.
O Campino, homem de têmpera rija, hábitos muito antigos, ainda tinha e tem vaidade em mostrar o seu vestuário. A jaqueta brincheta, barrete preto e cinta da mesma cor, era vestuário em tempo de trabalho. Em dias de festa, era substituído por um outro mais sobranceiro e luzidio, como: Barrete verde, com cercadura vermelha. Colete vermelho, ou azul, atado com cordões na frente enfeitados com botões metálicos, mostrando nas costas, desenhos genuínos, feitos muitas vezes por familiares. O ferro da casa agrícola (de que era trabalhador) é usado, no peito (lado esquerdo), em ferragem latão/cobre, em forma de brasão ou emblema.
A cinta vermelha, de lã com franjas, tem a função de apertar o corpo do campino. A camisa branca justa de colarinho redondo, pode ter efeitos desenhados, de uma fina linha.
O calção, de fazenda rapada azul-escuro, ou preto, enfeitado com botões metálicos do lado de fora da perna. A meia branca é usada por cima do joelho, arrendada, feita à mão. Os sapatos de salto de prateleira, usados com fivelas e espora.
OS RANCHOS FOLCLÓRICOS
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E A CONSERVAÇÃO DOS USOS E COSTUMES
Quando do aparecimento do rancho da Casa do Povo de Salvaterra de Magos, em 1980, sendo o garante da preservação e divulgação desta forma de vestir do nosso povo, usa nas suas actuações, o vestuário de campino e camponesa em dia de festa.
Para a confecção das roupas, recorreu-se a uma das últimas
costureira, que ainda sabia confeccionar este tipo de roupa, na vila, a artesã, Elvira Santana. Do vestuário do início do século XX e, muito usado ainda em 1920, a saia da mulher tinha uma roda (4 panos), franzida na cintura por um cós. A saia de castor, de cor vermelha, era usada por debaixo, na segunda posição.
Nos anos seguintes já no início da década de 50 passou a usar-se nos dias festivos a saia de castor (hoje, conhecido como feltro de 15) e, foi reduzido para três panos, como foi mostrado pelo Rancho dos Trabalhadores do Núncio Costa.
No rodado da saia, mais tarde, já em 1960, era usual ver-se o tecido de nome “riscado”, na confecção das blusas (camisas), das
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mulheres e camisas dos homens, entrava a “populine”. sendo o garante da preservação e divulgação desta forma de vestir do nosso povo, usa nas suas actuações, o vestuário de campino e camponesa em dia de festa.
Agora por tudo quanto é recinto de feira, exposições e corridas de toiros, o campino deixou o copo de vinho, adaptou-se ao seu tempo, o copo de cerveja.
*********************
***************
XII
A ORIGEM DA PRAÇA DE TOIROS
Segundo algumas publicações dos últimos anos do séc.
XIX, em Salvaterra de Magos, foi inaugurada no dia 2
de Agosto de 1891, uma praça de toiros construída em
madeira, com capacidade para cinco mil lugares,
sendo propriedade do hospital de Portalegre.
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Se não fora uma reportagem, feita a José Luís das
Neves, para o jornal “Aurora do Ribatejo” quando da
passagem do meio século da inauguração da praça de
toiros, não estariam disponíveis ao conhecimento
público, alguns documentos sobre esta importante
obra. “A praça de toiros é devida à acção de um grupo
de beneméritos; FRANCISCO MARIA GONÇALVES,
AUGUSTO DA SILVA, MANUEL LOPES GONÇALVES, LUIZ
GONÇALVES DA LUZ, ANTÓNIO HENRIQUES
ALEXRANDRE, AUGUSTO GONÇALVES DA LUZ, CARLOS
ALBERTO REBELO, PEDRO DE SOUSA MARQUES e JOSÉ
LUIS DAS NEVES, que se constituíram em Comissão
Construtora da Praça de Toiros”.
A obra ficou concluída em 1920, mas só foi entregue à
Santa Casa da Misericórdia de Salvaterra de Magos, no
dia 16 de Março de 1924, conforme consta da acta que
faz referência ao ofício da “Comissão” que entregava a
chave da praça.
Num estudo editado em livro sobre a Misericórdia
de Salvaterra de Magos, levado a cabo pelo Dr. José
Asseiceira Cardador, em 1968, podemos ler algumas
cópias de actas e ofícios.
111
Naquela edição de José Cardador, ele referencia que
se serviu de documentos, que estavam na posse de
Fernando de Sousa Marques, filho de Pedro de Sousa
Marques, membro da comissão, onde transcreveu uma
Circular:
“De há muito que os salvaterrenses, e outros mais,
cuja longa permanência aqui os leva a considerar esta
também sua terra natal, vêm mostrando desejos, de
voltarem a possuir novamente uma PRAÇA DE
TOUROS, nesta localidade. E, para essa ideia se torne
um facto, combinaram os abaixo-assinados reunirem-
se quanto antes, o que fizeram ontem, em casa dum
dos signatários, deliberando o seguinte: Procurar levar
a efeito a construção, desse dito edifício e, uma vez
concluído, oferecê-lo ao Hospital da Misericórdia
desata vila; - Diligenciar falar e escrever a todos, sem
excepção, afim de angariar os donativos precisos para
a construção imediata do referido edifício, ficando todo
e qualquer desses donativos à responsabilidade dos
mesmos signatários, que prestarão contas a seu
devido tempo, ou antes mesmo, se lhes for exigido.
Inútil seria dizer que a construção de tal edifício de
espectáculos representará mais um engrandecimento
para a nossa terra e uma dádiva, cremos, de
112
importante valor para o nosso hospital, casa de
caridade, esta que tão digna e merecedora é que a
ajudem. Assim, pois espera a Comissão que todos a
coadjuvem, por toda e qualquer forma, procurando
vencer sempre dificuldades que apareçam, afim de se
conseguir principiar e chegar à conclusão de tão útil e
desejado edifício. Nesta esperança, e agradecendo,
antecipadamente se subscreve com toda a
consideração e respeito.
Salvaterra de Magos, 18 de Setembro de 1919
* A Comissão *
Um oficio, com data de 18 de Setembro, dirigido ao
presidente da câmara Municipal de Salvaterra de
Magos, pedindo a cedência gratuita de terreno com
sessenta metros de diâmetro, no largo dos moinhos,
para nele se construir a praça de touros. Um outro
com a mesma data, enviado ao Ministro das Finanças,
são referidos no livro do Dr. Cardador, onde se pede
que sejam concedidos pinheiros, do Pinhal do
Escaroupim. Um outro documento do espólio de Sousa
Marques, é o original da ultima folha de férias
semanal.”
113
O ofício, com o número 9 reza assim: A Associação de
Benemerência – Misericórdia de Salvaterra de Magos;
À Excelentíssima Comissão Construtora da Praça de
Touros desta Vila – Tendo chegado às minhas mãos o
ofício de V.Exª, que acompanhava a chave da Praça de
Touros, eu, em nome da Comissão Administrativa
tenho a honra de lhes agradecer a sua benemérita
intenção, e bem assim a todos os senhores que
concorreram para a construção, daquela propriedade,
que quiseram ser de grande humildade, colocando
apenas na sua frente, por cima da porta grande “
PRAÇA DE TOUROS DE SALVATERRA”
E, de lhes notificar que a acta da sessão de hoje lhes
fica exarado um voto de louvor pela sua bela intenção.
Saúde e Fraternidade.
Salvaterra de Magos, 16 de Março de 1924
(a) – O Presidente José Eugénio de Menezes
114
PRAÇA DE TOUROS DE SALVATERRA DE MAGOS
Folha de Férias - 14 de Agosto de 1920
Operários que trabalharam na praça de touros
Augusto da Silva …… 7 dias 19,000 réis 133,000 réis
Bernardino Silva ……..7 dias 17,000 réis 119,000 réis
Jozé Torroais ………. 7 dias 17,000 réis 119,000 réis
Jozé Vedigal ……….. 7 dias 17,000 réis 119,000 réis
Francisco Remundo 7 dias 17,000 réis 119,000 réis
Libório Netto ………. 7 dias 16,000 réis 112,000 réis
Francisco Almeida… 7 dias 16,000 réis 112,000 réis
Justiniano Valente… 7 dias 16,000 réis 112,000 réis
Manuel Faz-Cordas .. 4 e ¼ 16,000 réis 68,000 réis
Manoel Montoia …. 2 e ½ 17,000 réis 37,000 réis
Constantino……… 6 dias 17,000 réis 102,000 réis
Jozé Miguel …….. 2 e ¾ 17,000 réis 46,600 réis
Jozé Traveça …….. 7 dias 15,000 réis 105,000 réis
Beijamim Baranda 7 dias 11,000 réis 77,000 réis
Francisco Santana .. 1 dia 13,000 réis 13,000 réis
Manoel Borrego … 1 e ½ 6,000 réis 9,000 réis
115
Francisco Vitorino .. 6 dias 4,000 réis 24,000 réis
António Ferreira … 4 e ½ 4,000 réis 18,000 réis
António Baía ….. 7 dias 5,000 réis 35,000 réis
Manoel Boneco … 7 dias 5,000 réis 35,000 réis
António Remundo 7 dias 4,000 réis 35,000 réis
Manoel Figaredo .. 7 dias 13,000 réis 91,000 réis
O CICLONE DESTRUIU A PRAÇA DE TOIROS
Seis meses tinham passado, da comemoração dos
20 anos, da inauguração, quando no dia 15 de
Fevereiro de 1941, um forte ciclone que fustigou todo
o país, arruinou quase todo o edifício da praça de
toiros. A sua reconstrução ficou a dever-se aos
beneméritos; Gaspar da Costa Ramalho e Jorge de
Melo e Faro (Conde de Monte Real) e sua esposa D.
Teresa Castro Pereira Guimarães de Melo e Faro.
O primeiro, arcou com as despesas das bancadas,
que foram construídas em cimento, substituindo as de
madeira. O casal Monte Real, custeou as paredes
interiores, com seus pilares em tijolo e entre várias
divisões, os curros.
Para festejar a sua reconstrução, foram organizados
alguns festejos, onde se incluiu uma brilhante corrida,
116
com a participação graciosa dos toureiros espanhóis;
Domingos Ortega e Luís Miguel Dominguim. A este
espectáculo, assistiu o presidente da república, Óscar
Carmona.
Com a receita dos espectáculos, foi entregue ao
Hospital da Santa Casa, um valor de 13.851$50 e um
outro de 115.176$65.
A CONSERVAÇÃO DA PRAÇA
A praça de toiros, tem tido ao longo dos anos altos e
baixos no campo da sua conservação. Em 1939, A
Revista Ilustrada “A Hora”, numa reportagem sobre o
concelho, dava conta que o edifício dava mostras de
um estado de ruínas. Em 1976, uma comissão que
tomou conta do seu funcionamento, além de efectuar
obras nas bancadas, aproveitando o seu espaço para
mais 900 lugares de espectadores, apetrechou-a de
iluminação de grande potencia, dando origem à
realização de espectáculos nocturnos.
Em 1986, a Provedoria da Misericórdia, custeou a
instalação de coberturas, para o sector “Sombra”, e
nos lugares destinados às entidades oficiais. O Mesmo
117
aconteceu no espaço destinado à presença da banda
de música, por cima da zona dos curros.
Também, com uma série de homenagens que
ficaram registadas no interior da praça.
Na frente, no espaço, onde se encontrava a palavra
“DE”, foi colocada uma placa em mármore, com os
nomes dos seus obreiros. Daí para cá a provedoria sob
a presidência de Armando Rafael Oliveira, tem
destinado alguns cuidados na conservação de todo o
edifício da Praça de Toiros de Salvaterra de Magos.
A PRAÇA DE TOIROS FEZ 50 AN0S !
A Reportagem
“A convite de José Gameiro, colaborador, do
semanário “Aurora do Ribatejo”, com redacção em
Benavente, assumi há pouco tempo a direcção do
“Jornal de Salvaterra” uma página dedicada aos
assuntos do concelho.
A praça de toiros de Salvaterra, está prestes a fazer
meio século de inaugurada, justo é que dê aos seus
leitores alguns dados históricos da obra. O único
118
membro da Comissão Construtora, felizmente ainda
vivo e de boa saúde, encontra-se entre nós, é
empregado no Grémio da Lavoura local, José Luiz das
Neves.
Contactado uns dias antes, ficou à nossa disposição
para uma entrevista. Eu, e o colaborador deste jornal,
José Gameiro, fomos encontrá-lo à sua mesa de
trabalho numa sala do rés-do-chão, do edifício, entre
guias de entrega de sementes e, lá se dispôs a
transmitir-nos as suas recordações. “A ideia da
construção da Praça surgiu no meu estabelecimento
de mercearia e vinhos, situado na rua Direita, onde
mais tarde veio a estabelecer-se Manuel Xavier da
Silva,
ali mesmo junto ao cruzamento com a Trav. do
Martins”
- “Pensamos na sua construção por inveja da que
havia em Benavente. Quando em 1918, depois de
assistir à inauguração desta, alguns aficionados de
Salvaterra, se juntaram na minha loja e mostraram
“ferro” por estarmos tão atrasados em relação aos
nossos vizinhos.
119
Ali mesmo foi decidido que teríamos dentro de
pouco tempo uma praça melhor que a “deles”. O soco
na mesa, que frisou as últimas palavras, deu-nos a
medida certa da
120
vibração que ainda produz no nosso entrevistado a
recordação da cena passada em 1918.
-“E olhem, que ficou realmente melhor”, continuou o
Sr. José Luís das Neves, que não tivemos coragem para
interromper. Construída em alvenaria, enquanto que a
de Benavente era de adobes e desapareceu uns meses
depois, pelo tremor de terra, enquanto a nossa está aí
que se pode ver !”
121
“O grande problema como devem calcular”, continuou
o nosso entrevistado em resposta a nova pergunta,
“foram aonde arranjar dinheiro”.
“Depois de se conseguir por intermédio do então
Ministro do Comércio, Jorge Nunes, que a madeira
necessária fosse oferecida pelo estado e cortada no
Escaroupim, o dinheiro para o resto foi conseguido
com ofertas: dois tostões deste, três tostões daquele,
um cruzado do outro, foram as migalhas que juntas a
ofertas maiores formaram 74 contos de réis e picos
que custou a nossa praça”.
Quais foram as maiores e menor oferta em dinheiro
que conseguiram para a construção? Perguntámos !
“Olhem, se não me falha a memória, a maior foi do
sr. Porfírio Neves da Silva, que ofereceu um conto de
réis, que na altura era uma quantia choruda e a
menor… “O sorriso do nosso entrevistado faz-nos
antever uma revelação sensacional. “Foi do sr. José de
Menezes, que ofereceu 500 mil réis para não
pensarem mais nisso! “.
122
Pessoa amiga tinha feito chegar à mão, do José
Gameiro, incansável nesta pesquisas, que supúnhamos
serem da inauguração da praça e, pedimos ao sr. José
das Neves que as identificasse; Eram realmente da
corrida inaugural e com uma lágrima teimosa a querer
fazer das suas, lá nos indicou o sr. Roberto Jacob da
Fonseca, inteligente da corrida; os srs. Henrique Avelar
da Costa Freire; Porfírio Neves da Silva; João Oliveira e
Sousa; João Vasco, Sílvio Moiro, Administrador; Manuel
Caetano Doutor, Corneteiro; Henrique José Ferreira
Martins, farmacêutico e animador do “Grupo do Ti
Martins” que se dedicava a patuscadas, Fernando Luís
das Neves, pai do nosso entrevistado, enfim um nunca
acabar de recordações. “Olhe, este aqui de chapéu,
sou eu!”.
José das Neves, mais à vontade e visivelmente
emocionado abre por sua vez o seu rosário de
recordações e mostra-nos jornais da época, programas
das corridas, e como curiosidade uma folha de férias;
Vimos, revimos tudo, e de repente “Olhem, tudo isto
ofereço ao Zé Gameiro, pelo interesse que tem nestas
coisas da nossa terra”
“Reparámos que na folha de férias, sendo a última
da semana na obra; os pedreiros ganhavam entre 15 e
123
17 tostões e os serventes, entre um cruzado e oito
tostões e, 36 trabalhadores em 7 dias receberam
234.710 réis (dois dias de ordenado dum pedreiro de
1970).
Um exemplar do jornal “A Elite”, chama-nos a
atenção por na página 2, numa lista de 11 nomes, 10
terem à frente uma cruz. “É que todos esses já
morreram, só falto eu, ainda cá estou” explica o nosso
entrevistado, dizendo serem os componentes da
Comissão Construtora da Praça. “Neste último, já não
serei eu a pôr a cruz…!
- Eram o Pedro Sousa Marques, Luiz Gonçalves da
Luz, Augusto da Luz, Carlos Alberto Rebelo, Francisco
Maria Gonçalves, Augusto da Silva, Manuel Lopes
Gonçalves, Francisco Morais, António Henriques
Alexandre, Augusto de Almeida e José Luiz das Neves:
Um grupo que continha 5 operários, 4 comerciantes, 1
proprietário e 1 industrial de barbearia. A Comissão
organizadora das corridas era composta por: António
de Sousa Vinagre, Dr. Armando de Sousa Calado, Dr.
Roberto Ferreira da Fonseca, José Rebelo Andrade e
Henrique Costa Freire.
- Apontando para os programas que tínhamos entre
mãos, actuaram nesta 1ª corrida: Cavaleiros; José
124
Casimiro e Adolfo Macebeiro Tomé, Vital Francisco
Rocha, Mateus Falcão e Manuel doa Santos, da Golegã.
- O grupo de Forcados; comandados por Manuel
Burrico.
Os 10 touros foram generosamente oferecidos pela
ganadaria Roberto & Roberto. - Não entregamos logo a
Praça à “Misericórdia”, afirma em resposta a uma
nossa nova pergunta.
- Durante um ano e tal, organizamos toiradas e
vacadas para arranjar dinheiro, para pagar as dividas
que ainda havia”.
- Nesse tempo era fácil organizar corridas, como
fumar um cigarro… Não havia tantos papéis e tantas
coisas a tratar e quando pensávamos fazer, fazíamos”.
- “Além de mais, não queríamos que aparecessem
no hospital contas para pagar
por despesas que nós
fizemos. A Praça foi
entregue livre de todos os
encargos”. - Sabendo o que
lhe custou colaborar na obra,
se voltasse ao ano de 1918,
125
faria parte da Comissão Construtora da Praça?
Perguntámos.
“Apesar das muitas canseiras e do trabalho que tive,
se voltasse atrás fazia exactamente o mesmo, juntava-
se as mesmas pessoas e construíamos a Praça que
está ao cimo da Avenida. Não dou por mal empregado
o tempo que me ocupou”.- O nosso entrevistado é
interrompido e chamado à realidade pelo “interfone”
(um tubo metido na parede que liga a sala onde
estamos, com o 1º andar, em cada terminal tem um
bocal, com tampa), perguntavam-lhe assuntos de
serviço.
Faziam-no voltar a 1970. Já na mesa do seu serviço,
observava mais uma vez as fotografias que lhe
trouxemos.
Abre a gaveta e pega numa lupa; “ Este esteve
muitos anos em Lisboa… Estoutro foi para Muge… A
mulher do Luiz Caleiro, tem ainda a mesma cara…
dizia, revivendo os 27 anos que tinha em 1920.
José António Teodoro Amaro (Tamaro) – José Gameiro
*****
Nota: Original da entrevista, entregue na redacção do Jornal “Aurora do
Ribatejo”, mas por motivos de paginação e outros, foi publicada, com algumas
alterações como se encontra publicada na edição de 1 de Agosto de 1970.
126
***********
Quando a praça de toiros fazia 72 anos de inaugurada, fiz sair no
dia 22 de Julho de 1992, no Jornal Vale do Tejo, uma artigo sobre a
efeméride, soube que José Luiz das Neves, depois de reformado, foi
de abalada com sua esposa, até Leiria, para casa de seu filho José
Luís. Aí faleceu e ali foi sepultado.
A CORRIDA INAUGURAL
Da edição do jornal “A Manhã” de 6 de Agosto de
1920, que já usamos anteriormente, transcrevemos as
crónicas do jornalista Batista Duarte, das corridas
inaugurais do Taurodromo que se encontra à entrada
da vila de Salvaterra de Magos.
“Com o cadáver do Conde dos Arcos estatelado na arena,
ensopado do seu sangue Marialva as almas opressas ainda
ante a figura romana, vestida de lenda, do velho fidalgo,
estribeiro-mor da corte, que de um golpe afundara a sua
espada, até aos copos, na nuca do toiro negro, nervoso e
brusco, que lhe estripara o filho, na própria tribuna onde
assistira ao espectáculo, “de toiros” ante a corte deslumbrante,
trapos à francesa constelados de pérolas, cabeleiras em
anéis, recamos de oiro e toucados milagrosos, o senhor rei D.
José prometeu a Sebastião de Carvalho e Melo:
127
-Foi a ultima corrida, Marquês. A morte do Conde dos
Arcos, acabou os touros reais em Salvaterra, enquanto eu for
rei…. O ministro, que vinha de levantar a luva que lhe lançara
D. José Torrero, embaixador espanhol, fitou o soberano e
retorquiu: -Assim o espero da sabedoria de vossa majestade.
Sucedeu isto no Verão de 1762. Estamos em 1920.
O Marquês de Pombal morreu há muito. Os reis passaram.
A promessa dos toiros passou também. O Ribatejano tem a
fidalguia, do sangue quente, o ar livre, criador: possue a
nobreza do trabalho, das searas e a visão sadia da Lezíria,
onde as terras frescas que orlam o rio Tejo, estão mescladas
de rebanhos e manadios pastando em sossego.
Salvaterra, ostenta pergaminhos; tem um Hospital da
Misericórdia, que é pobre como todos os hospitais, tem uma
mocidade destra e portuguesíssima, tem os homens feitos de
coração forte e mãos amigas, tem o respeito das suas
velhices e um grande amor às coisas tradicionais.
E Salvaterra, fez uma praça de toiros, imponente, hoje uma
das melhores da província, que custou cinquenta contos!
Inaugurou-a há três dias. A promessa do senhor D. José, está
absolutamente perdida para a história local. As duas touradas
de Domingo e Segunda-Feira passada foram duas “toiradas
reais!”…. “A praça é alegre, tem uma ordem de camarotes,
dois sectores sombra e dois sol e, comporta cinco mil
128
pessoas. A comissão organizadora das corridas era composta
por; António Sousa Vinagre, incansável trabalhador para a
organização das festas, Dr. Roberto Ferreira da Fonseca, Dr.
Armando dos Santos Calado, José Rebelo de Andrade e
Henrique da Costa Freire. A primeira corrida por profissionais,
foi brilhantíssima. Tudo quanto há conhecido de bons
aficionados, caiu em peso em Salvaterra de Magos.
À frente desses aficionados vimos o bom “velhote” e antigo
lavrador ribatejano; António Roberto Casaleiro, vulgo o
“Compadre Casaleiro”, decano dos aficionados, que apesar
dos seus 75 anos ainda corre lesto, com o seu grande
entusiasmo, a uma boa corrida de toiros. Dos Camarotes
pendiam lindas colchas, tudo numa decoração deslumbrante,
que juntamente com as toilettes das senhoras, davam um
conjunto encantador. A populaça que mostrava ter vindo dos
campos da lezíria, davam uma riqueza de cores garridas no
seu vestuário, que sombreava as casacas e chapéu alto de
muitos presentes. Mas eis que principia a função, a música dá
brilho ao espectáculo, na presidência está a veneranda
relíquia da tauromaquia portugueza, o grande bandarilheiro,
que o Campo de Sant`Ana aplaudiu freneticamente; Roberto
da Fonseca, com os seus 84 anos, mostra uma figura esbelta
vencendo a idade. Com um sorriso compassivo à rapaziada,
129
a praça a ir abaixo de tantas palmas, lenços e manifestações,
enquanto a banda executa o Hino Roberto da Fonseca.
Como o lindo circo ribatejano, fervia de entusiasmo febril.
De repente e a um sinal do director da corrida, o silêncio
trespassa os aficionados; sai dos curros o toiro com o nome
“Padeiro”. É um bicho de linda estampa, nobre e bravo, que
arranca de largo a largo, fino sangue. José Casimiro, que
brindara a Roberto da Fonseca, faz um toureio magistral, à
maneira Marialva, elegante e viril, inaugurando assim a praça
de Salvaterra, outrora corte de folguedos. Foram quatro ferros
cumpridos, dois à meia volta e dois à tira, e dois curtos a
fechar. O último dos quais de uma sorte digna de respeito.
O grupo de forcados entra no meio do redondel, e o seu
cabo Manuel Burrico, com o seu barrete oferece a pega a todo
o público.
De imediato perfila-se e vai para a cara do bicho, com uma
valente pega, que leva os espectadores ao rubro. E com este
começo foi a corrida por ali fora, como vamos descrever.
Se bravo e nobre foi o primeiro touro de cavalo, não
sabemos que dizer do sexto, “Cochicho” de seu nome, e que
lhe chama o moiral, touro de bravura, metendo a cabeça ao
estribo, do cavaleiro mal via o cite. José Casimiro, toureia
com alegria e arte, crava ferros com febril entusiasmo.
130
131
Grande ovação recebe do público, da qual compartilha com
lavrador, João Roberto, sobrinho dos ex-bandarilheiros;
Vicente e Roberto da Fonseca. O forcado, de seguida voltou a
fazer uma rija pega. O outro cavaleiro, foi o simpático artista,
Adolfo Macedo, que também teve dois touros muito bravos; o
“Casquinha” e o “Gavião”. Pena foi que o artista lhes tivesse
dado uma lide muito precipitada, quase sempre à meia volta.
Se toureia com mais calma e tem saído mais vezes à tira,
como lhe indicaram os seus amigos, tinha feito um figurão.
Os toiros-reais! Há muito que se não vê nas nossas
arenas, quatro toiros de cavalo tão bravos!....
Os nossos parabéns à firma Roberto & Roberto, por tão
bravo curro oferecido. Dos nossos bandarilheiros; Teodoro e
Tomé, muito bem em quites, e com bandarilhas tiveram bons
pares. – Rocha, Falcão, Vital e Manuel dos Santos, da
Golegã. O último toiro, de nome “Criminoso”, foi o mais bravo
touro de pé.Teodoro Gonçalves, dedicou a sua faena ao seu
colega e ex-bandarilheiro, João Roberto, que saiu magnifica.
A direcção do velho Roberto da Fonseca, foi uma grande
licção!...Ainda lá tem a ralé do toureador o bom velhote !
A arrelia dele, se os animais eram mal corridos!....
132
SEGUNDA CORRIDA
A segunda corrida, foi na Segunda – Feira, dia 2 de Agosto de 1920.
Logo pela madrugada, houve espera de gado. Os toiros saíram do
campo, cercados por cerca de 50 cavaleiros, bem montados, todos
de pampilho. À frente do gado, que vinha na ponta da unha, viam-se
o lavrador Francisco Ferreira Lino e o cavaleiro José Casimiro.
À entrada da vila, eram perseguidos por gente a pé, numa algazarra,
tentando acompanhar o cortejo. O povo que enchia o largo da
entrada da praça, logo vibrou, aos gritos de lá vêm eles!!
Os barretes e jaquetas no ar, tentavam tresmalhar algum toiro do
curro, que vinha entre os cabrestos.
Entrada de toiros no 2º dia da inauguração
A arte dos campinos, em conservar os animais bem juntos aos
cabrestos, era comentada aqui e ali. Que grandes homens, que
grandes varas !!
133
As várias facetas de uma entrada de toiros, por ser um espectáculo
esplêndido e cheio de alegria, onde o homem ribatejano, ali mostra a
sua galhardia nas esperas, são de uma descrição sempre
mesquinha. A condução do gado, desfez-se com a entrada pela
porta grande da praça, não houve problemas com os animais que
estavam seleccionados para a corrida que teria lugar pelas 5 horas
da tarde.
À hora marcada, a praça estava à cunha. Os cavaleiros amadores;
Adolfo Macedo e José Casimiro, apresentaram-se em arena, trajando
de curto, sendo acompanhados pelos bandarilheiros amadores:
D. Carlos Mascarenhas, D. Pedro de Bragança, Patrício Cecilio,
Francisco d`Oliveira, João Malhou da Costa e Rafael Gonçalves.
Os campinos de serviço eram; António Eugénio de Menezes
(Abegão), Joaquim Coimbra, Manuel Coimbra, Francisco Souto
Barreiros. Careca; António José Rebelo de Andrade. Papagaio; D.
Baltazar de Freitas Lino e ainda o Grupo Moços de Forcados de
Santarém. A corrida foi animada, os toiros que couberam a Adolfo
Macedo, não sendo bravos, não complicaram a lide, nem às pegas
dos forcados. José Casimiro, lidou com saber o primeiro bicho, que
saiu manso perdido e no qual cravou dois bons ferros compridos e
um curto. No segundo, ofereceu a sorte a Roberto da Fonseca que
era bravíssimo, e em seguida toureou bem, cravando dois soberbos
ferros compridos e três curtos magistrais. No sexto toiro, dedicou um
par dos ferros curtos aos seus amigos de Salvaterra, especialmente
ao grupo do “Ti Martins”. Os amadores; D. Carlos Mascarenhas, D.
Pedro de Bragança, Patrício Cecilio, Francisco d` Oliveira, João
Malhou da Costa e Rafael Gonçalves., todos tourearam e farpearam
134
bem. Foi ainda lidado um novilho, pelo filho mais novo do
bandarilheiro Teodoro, tendo dois pares de João Malhou, sido pouco
feliz. Os forcados amadores; tendo como capataz Jaime Godinho,
portaram-se á altura da sua fama; de caras e á cernelha.
A pega de cara do primeiro touro efectuada de recurso e feita pelo
cabo, Jaime Godinho, foi magistral.
Palmas e voltas ao redondel, do qual compartilharam; Moura,
Barreno e Matos, assim como os irmãos Coimbra. A Direcção da
corrida, esteve a cargo do amador da velha guarda, o salvaterriano,
Rui Rebelo de Andrade, executada, com maestria. Foi um primor ….!
Enfim assistimos a duas touradas famosas, que não sendo reais,
não tentaram desfazer a lenda que conta Rebelo da Silva, mas
ficaram nos anais da tauromaquia salvaterrense. O curro foi oferecido
pelo novo ganadero; Francisco Ferreira Lino, com toiros oriundos da
antiga ganadaria; António Ferreira Roquette. O fotógrafo “Gambeta” e
outros, tiraram a diversos grupos e, a vários aspectos da assistência,
algumas fotografias, que ficarão para a história local.”
**************************
***************
************
135
XIII
UMA VIAGEM DE VILA FRANCA DE XIRA,
ATÉ SALVATERRA
Foi um dia para não esquecer pelos seus
participantes.
Realizava-se a segunda corrida da inauguração da
praça de toiros de Salvaterra de Magos. Uma comitiva
de Vila Franca de Xira, foi convidada. Cerca de 50
rapazes, que vieram a
Grupo visitante, à chegada no cais da vala real
Salvaterra, deram o nome Vila Clube Taurino ao
agrupamento. Os simpáticos rapazes alugaram duas
136
grandes fragatas, que navegou através do rio Tejo e,
da vala real da vila.
Numa fragata, foi organizada uma casa de jantar, com
um grande toldo e, ali nada faltava; mesas cadeiras;
casa de banho ao fundo; relógio de parede – tudo
decorado com muito gosto. Um guarda-vento, servia
de guichet para a entrada das comidas, pois durante a
Desfile dos visitantes – Largo dos Combatentes
viagem de ida foi servido o almoço e lanche. As
refeições eram feitas numa cozinha e entravam para a
casa de jantar, pelo dito guichet. A despensa era um
encanto..!
137
Estava guarnecida, de cestos de verga com galinhas
e coelhos, além de um carneiro vivo, também para
matar e comer a bordo. O peixe para se conservar
fresco, estava metido em canastras, forradas a erva de
espadanas. A fruta era em grande quantidade.
Algumas caixas de cerveja estavam juntas a barris de
vinho (branco e preto). Para refrescar estes líquidos
também se preveniram de caixas com gelo. Uma
cozinheira e duas ajudantes, confeccionaram seis
pratos em cada refeição. Tendo a cozinha começado a
laborar pelas 5 da manhã. A primeira refeição, foi
servida pelas 10,00 horas e chegou até às 13,00 horas.
A outra um pouco mais frugal, começou pelas 15,00
horas e, havia quem estivesse acabar pelas 17,00
horas, quando o cais da vala de Salvaterra estava à
vista e, uma multidão acenava e gritava, sons ainda
não percebíveis, pelos visitantes.
A outra fragata, foi destinada a camarata, com uma
cama para cada passageiro, pois estava destinado
passar a noite na vila vizinha. Havia lavatório, espaço
de WC e guarda fato.
Chegados a Salvaterra e, com as embarcações já
atracadas, delas saiu o som da estudantina, sob a
direcção de Sabino Gomes, tocando a pandeireta, com
138
alegria e salero o dr. Genso. Iniciaram a caminhada
pela rua da Capela da Misericórdia, rodeados de muita
gente, passaram pela Igreja Matriz e do jardim do
edifício municipal.
A multidão acompanhante fez crescer o cortejo, até à
praça de toiros. Um tempo depois, com a praça
esgotada e em delírio, decorreu a corrida. A noite já
chegava, foram levantados muitos brindes pelos
nossos amigos de Vila Franca, não esquecendo o jornal
“A Manhã”, a quem todos os visitados dedicaram uma
estima. Endoidecido de alegria, perguntava Sabino
Gomes, com muita graça: - Gostaram do nosso lugre
de recreio?!... A noite foi passada em diversas casas
agrícolas, cujas famílias se empenharam em bem
receber.
Pela meia manhã de terça-feira, com a maré a
convidar o regresso, Carlos Gonçalves, lavrador de Vila
Franca e presidente do grupo e o “maitre d`hotel”, de
quem todos recebiam ordens, com grande prazer,
elogiando até os seus apetitosos menús. Despediu-se
das entidades e do povo de Salvaterra, com comovidos
abraços, dizendo: Até nisto foi à portuguesa antiga, a
festa de Salvaterra de Magos.”
* B. Duarte *
139
Os periódicos da época, deram destaque ao
acontecimento, especialmente o jornal “A Época” que
ilustrou as suas páginas, com fotografias, dos barcos a
navegarem na vala real de Salvaterra e, o grupo de
visitantes no cais e em frente ao edifício da escola, no
Largo dos Combatentes, a caminho da praça de
toiros.”
********************
****************
XIV
TOIROS EM DIA DE FEIRA
140
NO DOBRAR DO SÉC. XX
No dobrar do século XX, o espectáculo taurino,
tinha na sua raiz emoções que vinham de tempos
imemoriais. Leis e mais leis, vieram condicioná-lo, a
última foi com o Decreto-Lei 306/91 de 7 de Agosto,
completado com o Decreto Regulamentar Nº 62/91 de
29 de Novembro, que queria harmonizar o espectáculo
taurino aos tempos que corriam.
Um novo “espartilho”, para a festa taurina, pois tudo
mudou e nada passaria a ser como dantes!
A tauromaquia vinha deixando de ter aquele
encanto, mesmo para os aficionados. Para os outros
ainda era uma festa ver todo aquele aparato, fora da
praça de toiros. Em 1950, a feira franca de Salvaterra,
ocorria como todos os anos em Maio e, nesse dia,
realizava-se uma das muitas corridas que tinham lugar
anualmente na praça de toiros da vila. No mês de
Setembro, realizava-se a feira da vizinha vila de
Benavente e, uma semana depois, a de Salvaterra.
Este dia festivo, contava sempre com uma corrida
de toiros. Há já algum tempo, o cartaz estava na rua
onde anunciava que vinham actuar os mestres
cavaleiros; João Branco Núncio e Simão da Veiga. Os
141
espadas, eram os matadores de toiros; Diamantino
Viseu e Manuel dos Santos. Abrilhantava a corrida a
banda de música dos bombeiros da vila. Os toiros
eram da ganadaria Irmãos Roberto e, os forcados,
eram do grupo de Manuel Faia, onde pegavam O
Timpanas e Manuel Ferrador, homens da terra. As
“claques de aficionados” que aqui existiam, tinham
agora mais uma vez oportunidade de ver actuar os
seus ídolos, pois ao longo do ano, dividiam-se em
acérrima discussão. Um grupo; apoiava João Núncio,
um outro Simão da Veiga. Quanto aos matadores de
toiros; era de ouvir qual o grupo de aficionados, que
sobrepunha o seu toureiro, em relação aos outros.
As discussões tinham lugar, nas oficinas dos
mestres sapateiros, nas oficinas dos barbeiros e,
continuava na sede do Clube Desportivo local, pois aí à
noite nos jogos das cartas, lá vinha à baila a aficion.
Naquele domingo de Setembro, os aficionados
visitantes que enchiam por completo as “tascas” da
feira e, as tabernas na procura dos bons “petiscos” da
terra, na hora da entrada param a corrida perdiam-se
entre a multidão.
O muro da Horta do Sopas, estava repleto de
curiosos vendo os cavaleiros “passeando” os cavalos..
142
Nas janelas da praça, os espectadores, empoleirados
no gradeamento, tinham os olhos postos no mar de
gente que enchia a avenida, na esperança de verem
chegar os toureiros. De repente, gritam, lá vêm eles !!
Eram os matadores, entre o seu stafe, que vinham
à “paisana”, com os trajes de luces por baixo. Vinham
da Pensão do Café Ribatejano, onde estavam alojados.
De imediato foram rodeados por aquele multidão de
aficionados, até entrarem na praça. A corrida, estava
esgotada de espectadores e, durou cerca de três
horas. No final o matador, Manuel dos Santos, que foi
o triunfador, saiu pela porta grande, levado em
ombros, entre o delírio da multidão, que percorreu a
avenida, a rua Marquês de Pombal, a rua Heróis de
Chaves e, por fim chegou à Pensão. De imediato,
numa das janelas, agradeceu os aplausos daqueles
aficionados que delirantemente lhe batiam palmas.
*************
EMBOLADORES /FARPEADORES
143
José Venscelau, já no início do século XX,
esmerava-se na feitura, de farpas/ ou bandarilhas,
embolando também os toiros em dias de corria. As
embolas, construídas à base de couro e que servem
para cobrir os cornos dos toiros, pois as pegas,
aconselhavam o seu uso. Este trabalho artesanal,
transmitiu a seu filho António, com quem trabalhou
durante muitas dezenas de anos a difícil maneira de
ornamentar os ferros (farpas),que são acessórios
necessários nos espectáculos taurinos, Tal artesanato,
foi continuado na família, por João Aleluia (João
Venscelau), sendo as farpas, muito procuradas
especialmente por emigrantes, para decoração das
suas tertúlias.
XV
A ORIGEM DO TOIRO DE LIDE
Da pena de António Relvado, colaborador que foi do
extinto Jornal Vale do Tejo, JVT, transcrevemos com a
devida vénia, o seu artigo.
144
“O toiro de lide constitui a maior inovação
Espanhola na criação de animais. Antes que os
Ingleses começassem a formar importantes raças
Vacuns e Porcinas, durante os séculos XVII e XVIII,
inclusive antes de 1791, criou-se o LIVRO
GENEALOGICO DO CAVALO, de puro sangue Inglês, ia-
se seleccionar em Espanha o toiro de lide, pois os
primeiros ganadeiros espanhóis controlavam e
anotavam a sua genealogia, comportamento e
características nos primeiros livros de ganadarias.
Das civilizações do passado chegou-nos alguns
enigmas difíceis de decifrar. Em torno do toiro existem
pinturas rupestres e representando o toiro desde o V
ao III milénio antes de Cristo.
Segundo numerosos arqueólogos, estas figuras
foram realizadas com a finalidade de indicar a
existência de caça abundante.
A fauna predominante ma Península Ibérica, durante
o Paleolítico era composta por cavalos, toiros, veados,
javalis e outras espécies de menor porte. O toiro
selvagem da Pré-História tinha como finalidade
alimentar o homem, caçá-lo, e usá-lo como elemento
de trabalho. O uro ou toiro selvagem, estava
domesticado no oriente desde épocas mais remotas.
145
Assim, chegou à Europa Central e Nórdica formaram-se
muitas raças alpinas e centro europeias actuais.
As sucessivas variações climatéricas determinaram as
trocas de flora e fauna, eliminando numerosas
espécies.
Na Península Ibérica o clima nunca foi demasiado
rigoroso não alterando a flora e a fauna originando
migrações de gado vacum da Europa Central e Norte
de África, pois a Península estava unida ao Norte de
África.
A ERA DO TAURO
A era do Tauro corresponde aos anos 4513 a 2353
antes de Cristo, caracteriza-se pelas diversas
civilizações históricas por culto a divindades taurinas.
Em todas as culturas Mediterrâneas e no mundo Celta
a crença mágica das virtudes genéticas do toiro e a
sua transmissão ao homem fizeram dele figura sacra e
objecto de culto e de numerosos ritos religiosos e
celebrações festivas. Assim, na Mitologia Grega
aparece em forma de Minitauro. No Egipto, o Boi Ápis
e o deus da fecundação e da abundância, os Hebreus
adoravam o bezerro de ouro, na Babilónia são os toiros
alados e ainda temos o Celta Tamos e o toiro Irlandês
146
Cualungé. O mundo romano adoptou o culto de origem
Persa Mitra, o jovem deus que sacrifica o toiro
primordial para fazer surgir o mundo. Há 2000 anos
Júlio César descrevia o Uro que habitava na selva
Hercínia na Alemanha, junto ao rio Danúbio de
carácter indómito, enorme bravura e ligeireza assim
como o divertimento que constitua a sua caça pelos
jovens. Era um animal enorme e perigosíssimo que
povoava os bosques da Europa Central e Nórdica. Os
Alemães chamavam-lhe Auerochs ou toiro selvagem.
Foi Júlio César que introduziu o vocábulo uros na língua
latina. O uro foi extinto na Europa na Idade Média, é o
antepassado selvagem de todas as raças bovinas
existentes.
O toiro de lide actual é de todos os descendentes
directos o que melhor conserva as suas
características.
147
O TOIRO NA HISPÃNIA
O toiro bravo descendente do uro ou toiro selvagem
da idade média, que abundava em toda a Europa,
trazido pelos Celtas. Situou-se no Norte de Espanha e
Portugal, tendo-se juntado com o gado procedente do
Norte de África durante o período glaciar.
Como na cultura Greco-Romana, o toiro está muito
ligado às raízes culturais Hispânicas. É o animal mais
emblemático, ao ponto de simbolizar a festa popular, e
a sua figura traduz todas as artes, desde as pinturas
rupestres aos toscos verracos ibéricos, as tendências
modernas da cultura Espanhola e Portuguesa,
representado em desenhos, gravados, pinturas,
esculturas e por pressuposto na nossa literatura. O
toiro representa um papel fundamental na economia
da península ibérica, pois modifica a paisagem devido
à necessidade das grandes vacadas, e propicia à
criação de feiras de gado que tanta importância tem
para o desenvolvimento dos povos e cidades.
O toiro de lide teve como, origem e solar em
Espanha, e desde aqui se estendeu e exportou a
Portugal, a França e numerosos países do Continente
Americano, principalmente durante o no séc. XX.
148
Graças à concorrência de interesses de uma cultura
popular com profunda raiz taurina, as práticas
equestres dos nobres e cavaleiros da Idade Média. A
destreza para o jogo com toiros do pessoal
encarregado do seu manejo nas herdades e nos
matadouros, assim como a inteligente arte de criar e
seleccionar dos ganaderos, criou-se um belo animal,
uma das maiores jóias da zootécnica mundial.”
**************************
P.S. - Muitos anos já passaram, as tertúlias nas pequenas
oficinas de Sapateiros e Barbeiros desapareceram. Agora em
Salvaterra de Magos existe a Tertúlia do Clube Taurino
Salvaterrense, com sede na rua do Rossio
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
- Revista” Branco e Negro” ………………….. 1897
- Jornal “A Elite” ……………. 1 de Agosto de 1920
- Jornal “A Manhã” ……… 6 de Agosto de 1920
- Revista ”Touros e Toureiros” ………………. 1932
- Revista “A HORA” …………………………… 1939
- Jornal “Aurora do Ribatejo” ………………… 1970
149
* Reportagem dos 50 anos da inauguração
da Praça de Toiros)
- Livro “Contos e Lendas” edição “Colecção Civilização”
Última Corrida de Touros em Salvaterra * Rebello da Silva
- Livro “A Misericórdia de Salvaterra” – Dr. José Asseiceira
Cardador * Edição: 1968
* Associação Portuguesa de Criadores de Toiros de Lide –
Edições: 1986 e 1990
* A Origem do Toiro de Lide *Jornal Vale do Tejo, 1999
23.03.2000 – Pág. 15
* Jornal Vale do Tejo (António Cadorio) ……. Ano 1999
- Artigo de José Gameiro
CAPITULOS:
Pág. 3 – I Última Corrida de Toiros em Salvaterra
Pág. 21 - II O Conde dos Arcos – Sua Origem
Pág. 20 – III Toiros de Morte em Salvaterra
Pág .32 – IV Criadores de Toiros de Salvaterra
Pág. 41 – V Criadores de Cavalos em Salvaterra
Pág. 47 – VI A Dinastia Roberto
Pág. 75 – VII Bandarilheiros
Pág. 83 - VIII Cavaleiros Tauromáquicos
150
Pág. 88 - IX Críticos Tauromáquicos
Pág. 92 - X Moços de Forcado
Pág. 103 - XI Campinos
Pág. 112 -XII A Origem da Praça de Toiros
Pág. 138- - XIII Uma viagem de Vila Franca de Xira
Até Salvaterra
Pág.142 - XIV Toiros em dia feira, no dobrar do séc. XX
Pág.147 - XV A Origem do Toiro de Lide
Fotos:
Pág. 9 – Escritor Rebello da Silva – Foto a/dPág. 13 – Painel em Azulejo – Morte do Conde dos Arcos * Foto do AutorPág. 23 – 1950, Pintura, embalagem da caixa de bolos “Marialvas” Produto fabricado por Francisco Fonseca - Pintura de Martin MaquedaPág. 25 – Certidão de Óbito Conde dos ArcosPág. 31 - Noticia da Morte de Toiros em Salvaterra, com bilhete de entrada na corridaPág. 45 – Jogo de Cabrestos, da Casa Agrícola José
151
Lino, trabalhados pelos campinos num jogo de Perícia, na Avenida da vila, pelas “Festas dos Toiros e do Fandango” – 1966 * O Lavrador, José Lino acompanha o desenrolar do trabalho dos campinos José da Moira e Manuel Bernardo - Foto Autor- 1988 Pág. 49 –António Roberto da Fonseca * a/dPág. 50 – Vicente Roberto da Fonseca * a/dPág. 59 – Vicente Roberto da Fonseca * a/dPág. 64 –Jarras de Porcelana, com Baquetes de Flores, Troféus conquistados pelos toureiros Irmãos Roberto - AutorPág. 66 – Um dos três Armários dos Troféus dos Bandarilheiros – Irmãos Roberto (s) – AutorPág. 73 – João Roberto da Fonseca (Lavrador) – a/dPág. 74 - Irmãos; Vicente Roberto da Fonseca, Roberto Ferreira da Fonseca (Dr.) e João Roberto da Fonseca ª a/d
Pág. 76 – Joaquim da Conceição, Bandarilheiro ª a/dPág. 77 – António Cadório * a/dPág. 80 – António Cadório e seus alunos; José Julio e José Falcão * Foto Jornal …..Pág. 83 - Rogério Travessa, Cavaleiro Tauromáquico, no dia da sua alternativa, em Cascais ª a/dPág. 84 - Cláudio José, no dia da sua alternativa, em Salvaterra de Magos * a/dPág. 85 – Ana Batista, Cavaleira Tauromáquica, no dia da sua alternativa, em Coruche * a/dPág. 86 - Mónica Monteiro, Aprendiz de Cavaleira
152
Tauromáquica * a/dPág. 96 - António Lapa, Pegador de Toiros * a/dPág. 99 – José Carlos Hipólito, Pegador de Toiros ª a/dPág. 112 – José Luiz das Neves – Membro da Comissão que construiu a Praça de Toiros em SalvaterraPág. 122 – 1ª Roberto da Fonseca, Director da Corrida Inaugural da Praça de Toiros de Salvaterra – 1 de Agosto de 1920 * a/d 2ª Público assistindo à corrida inaugural da Praça de Toiros de Salvaterra * a/d - Entrada de Toiros para a Corrida Inaugural da Praça de Toiros de Salvaterra * a/dPág. 123 - 1970 - Página de Salvaterra, no Jornal “Aurora do Ribatejo –Benavente, publicando a reportagem dos 50 anos da inauguração da Praça de Toiros de Salvaterra * José Amaro e José GameiroPág. 127 – Manuel Burrico, Forcado que chefiou o grupo
na inauguração da Praça de Toiros de SalvaterraPág. 133 – Cartaz da 1ª Corrida inaugural da Praça de Toiros de Salvaterra * a/d Pág. 109 - Campino do Ribatejo, em traje de trabalho * a/d Pág. 111 - Campino* “A Tradição já não é o que era”?
* mgomes,blogspot.com/…/campino-doribatejohtml
***********************
153
EDIÇÕES PUBLICADAS PELO AUTOR:
*Salvaterra de Magos, “Vila Histórica no coração
do Ribatejo” – Monografia
1ª Edição 1985 – 2ª Edição 1992 Esgotadas)
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” RECORDAR, TAMBÉM É RECONSTRUIR “
Colecção de Apontamentos Nº 0 – Nº 45
Online:
http://www.historiadesalvaterra.blogs.sa
po.pt
* História do Clube Desportivo Salvaterrrense
* Os Bombeiros Voluntários de Salvaterra de Magos,
e a sua Banda de Música
* Subsídios para História da Freguesia dos Foros de
Salvaterra
*Subsídios para a História de Salvaterra de Magos
Séc. XIII – Séc. XXI * Primeira Parte
(Colectânea Incompleta)
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