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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA UNEB DEPARTAMENTO DE CINCIAS HUMANAS CAMPUS V MESTRADO PROFISSIONAL EM LETRAS PROFLETRAS
SNIA CRISTINA SANTOS SCAVELLO GUIMARES
FILME VIDA MARIA COMO ESTMULO PARA NARRATIVAS ORAIS DE
EXPERINCIAS PESSOAIS
Santo Antnio de Jesus - BA
2015
SNIA CRISTINA SANTOS SCAVELLO GUIMARES
FILME VIDA MARIA COMO ESTMULO PARA NARRATIVAS ORAIS DE
EXPERINCIAS PESSOAIS
Dissertao apresentada ao Programa de
Mestrado Profissional em Letras
PROFLETRAS do Departamento de Cincias
Humanas - Campus V da Universidade do
Estado da Bahia UNEB, sob a orientao da
Prof Dr Priscila Peixinho Fiorindo.
Santo Antnio de Jesus - BA 2015
FICHA CATALOGRFICA
Sistema de Bibliotecas da UNEB
Guimares, Snia Cristina Santos Scavello
Filme Vida Maria como estmulo para narrativas orais de experincias pessoais / Snia Cristina Santos Scavello Guimares .
Santo Antnio de Jesus, 2015.
100f.
Orientador: Prof. Dr. Priscila Peixinho Fiorindo
Dissertao (Mestrado Profissional em Letras - PROFLETRAS) Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Cincias
Humanas. Campus V. 2015.
Contm referncias.
1.Leitura 2. Narrativa oral. 3. EJA Educao de Jovens e Adultos. I. Fiorindo, Priscila Peixinho. II. Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Cincias Humanas.
CDD: 808.3
Contm referncias.
1. Leitura 2. Narrativa oral. 3. EJA Educao de Jovens e Adultos. I. Fiorindo, Priscila Peixinho. II. Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Cincias Humanas.
CDD: 808.3
SNIA CRISTINA SANTOS SCAVELLO GUIMARES
FILME VIDA MARIA COMO ESTMULO PARA NARRATIVAS ORAIS DE
EXPERINCIAS PESSOAIS
Dissertao apresentada Banca Examinadora, como requisito para obteno de
Ttulo de Mestre em Letras, Mestrado Profissional PROFLETRAS.
Aprovado(a) em 30/ 07 /2015
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________________
Prof Dra. Palmira Virgnia Bahia Heine
Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS
_______________________________________________________
Prof Dr. Paulo de Assis de Almeida Guerreiro
Universidade do Estado da Bahia - UNEB
_________________________________________________________
Prof Dra. Priscila Peixinho Fiorindo - Orientadora
Universidade do Estado da Bahia - UNEB
Dedico este trabalho minha famlia, especificamente minha me, Maria Bernadete Scavello, que tanto me estimulou nos estudos e no meu sucesso profissional. Ao meu esposo, Robson Guimares, maior incentivador dessa minha conquista; minha orientadora, Prof Dr Priscila Peixinho, pelo auxlio e disposio nessa rdua tarefa. A todos que direta e indiretamente me ajudaram nessa caminhada. Muito Obrigada!
AGRADECIMENTOS
O caminho foi longo... mas a caminhada no foi solitria, pois, nesse
percurso da minha vida, tive a ajuda de muita gente. Por isso no poderia deixar
de agradecer a todos por esta conquista.
Em primeiro lugar, quero agradecer de todo meu corao a DEUS por tudo
que tem feito na minha vida. Essa grande conquista, com certeza, foi ELE que me
proporcionou. Posso dizer que, at aqui, ELE me ajudou.
minha orientadora, Prof Dr Priscila Peixinho Fiorindo, pela seriedade,
comprometimento e disponibilidade neste trabalho. Obrigada por todos os
ensinamentos e as valiosas contribuies durante a construo desta dissertao.
Ao Coordenador do Profletras, Prof Dr Adelino Pereira dos Santos, por
estar sempre disposio para atender as dvidas do grupo, bem como suas
oportunas palavras de incentivo e estmulo durante suas aulas.
Aos professores do Mestrado pela seriedade e competncia nas aulas
ministradas, iluminando meus pensamentos pelos caminhos da teoria e cincia.
banca examinadora, Prof Dr Palmira Bahia Virgnia Heine e Prof Dr
Paulo de Assis de Almeida Guerreiro, pelos novos direcionamentos apresentados
no Exame de Qualificao.
Aos meus inesquecveis colegas do Mestrado pela agradvel companhia e
cumplicidade. A alegria e a amizade de vocs tornaram mais leve este desafio.
Direo, professores e alunos da Escola Municipal onde foi realizada a
proposta de interveno. Muito obrigada pela disposio em ajudar, pelo apoio
dispensado e, principalmente, pela seriedade que apresentaram no perodo de
aplicao das atividades.
minha me que sempre me estimulou na concluso dos meus estudos,
incentivando-me para sempre galgar conquistas na minha vida acadmica e
profissional.
Ao meu esposo que, nesse desafio de estudar e, ao mesmo tempo,
trabalhar, me encorajou tornando essa peleja mais suave. Sempre na torcida para
que tudo ocorresse da melhor maneira possvel.
minha tia Eulina pelo carinho e zelo na afetividade maternal, contida em
um corao cheio de amor que me acalenta.
minha sobrinha amada, Ana Paula, com seus 3 aninhos, que me
acalentava com seu afeto e carinho e transformava os momentos de tenso e
cansao dessa caminhada em alegria e diverso.
minha coordenadora, Nadja Amado, que com sua notria generosidade
sempre se mostrou solcita quanto mudana de horrios no trabalho, facilitando
a compatibilidade nos dias das aulas do Mestrado.
minha colega de Mestrado, Gabriela Oliveira Vieira, a quem admiro pela
vivacidade e pelos momentos em que sempre se mostrou disponvel na troca de
informaes e experincias.
O narrador conta o que ele extrai da
experincia sua prpria ou aquela
contada por outros. E de volta, ele a
torna experincia daqueles que ouvem
sua histria.
Walter Benjamin
RESUMO
A fim de desenvolver a oralidade, bem como a capacidade de articulao das
ideias por meio da narrao oral coerente e compreensvel dos alunos do 6 e 7
anos de Educao de Jovens e Adultos (EJA), solicitamos aos referidos alunos a
produo de histrias orais de experincias vividas, a partir da leitura de imagens
do filme Vida Maria. A escolha desse filme ocorreu devido semelhana de
acontecimentos vividos pelos alunos do turno noturno que relatam, muitas vezes,
suas experincias da infncia sofrida e a dificuldade de no ter tido a
oportunidade de continuar os estudos, na idade adequada, e que se assemelha
histria da personagem principal do filme. Objetivamos com isso promover a
oralidade, verificando se as imagens do filme, um curta-metragem em animao
grfica 3D, Vida Maria, estimulam a produo de narrativa oral. Como respaldo
terico nos apoiamos em autores como Labov (1972), que apresenta uma
definio de narrativa de experincia pessoal, em que indispensvel o
acontecimento singular e indito, digno de ser narrado; Marcuschi (2005), que
defende a modalidade oral e escrita como duas prticas sociais, sendo
trabalhadas conjuntamente. Alm de Adam (1997), Aumont (1995), Fiorindo
(2005), Heine (2012), que tratam da narrativa e de prticas de oralidade, entre
outros. A metodologia aplicada baseou-se na apresentao do filme Vida Maria
para a turma do segmento EJA, e, a partir das imagens em movimento, esses
alunos foram provocados a produzirem, individualmente, a narrativa oral de
experincias vividas. As histrias produzidas foram gravadas em udio e
transcritas com base nas normas do Projeto NURC/USP, propostas por Preti e
Urbano (1990). Na anlise dos dados tratamos sobre alguns aspectos lingusticos
e mais com intensidade os aspectos extralingusticos, prprios do fenmeno
discursivo da linguagem oral, inerentes aos relatos de experincia pessoal.
Podemos verificar, assim, que a apresentao do filme Vida Maria estimulou os
alunos a produzirem suas narrativas orais de experincias pessoais. Outrossim,
as imagens em movimento contriburam efetivamente para enriquecer as histrias
narradas pelos alunos da EJA.
Palavras-chave: EJA. Experincias pessoais. Narrativa oral. Imagens em
movimento.
RESUMEN
Con el fin de desarrollar la comunicacin oral y la capacidad de articular las ideas
de una narracin oral, coherente y comprensible de los estudiantes de sexto y
sptimo ao de la serie de sesiones de Educacin de Jvenes y Adultos (EJA), se
requiere que estos estudiantes para producir historias orales de experiencias de
lectura de imgenes de la pelcula "Mara la Vida." La eleccin de esta pelcula
fue debido a la similitud de los eventos experimentados por los estudiantes de la
presentacin de informes turno de la noche, a menudo sus experiencias de la
infancia el sufrimiento y la dificultad de haber continuado sus estudios y que se
asemeja a la historia del personaje en la pelcula. Nuestro objetivo es promover
esta oralidad, asegurndose de que las imgenes de la pelcula "Mara Vida"
estimulan la produccin de la narrativa oral. Como apoyo terico en apoyo de
autores como Labov (1972) tienen una definicin conocida de la experiencia
narrativa personal donde el evento singular y sin precedentes, digna de ser
narrada es indispensable. Marcuschi (2005) sostiene que el mtodo oral y escrita
como dos prcticas sociales se est trabajando en forma conjunta. En Adan
(1997), Aumont (1995), Fiorindo (2005), Heine (2012), que trata de la narracin y
las prcticas orales, entre otros. La metodologa utilizada se basa en la
presentacin de la pelcula "Mara la Vida" a la clase de segmento de la
educacin de adultos, y, a partir de las imgenes en movimiento, estos
estudiantes fueron provocados para producir individualmente la narracin oral de
experiencias. Las historias fueron producidas audio grabado y la grabacin se
transcriben bajo las reglas de la NURC Proyecto / USP propuestas por Preti y
Urbano (1990). En el anlisis de las grabaciones nos ocupamos de algunos
aspectos lingsticos y ms intensamente aspectos extralingsticos poseemos
fenmeno discursivo de la lengua oral y la inherente a los informes de la
experiencia personal. Podemos ver, por tanto, que la presentacin de la pelcula
"La vida de Mara", anim a los estudiantes a producir sus relatos orales de
experiencias personales. Por otra parte, las imgenes en movimiento
contribuyeron eficazmente a enriquecer las historias contadas por los alumnos de
EJA.
Palabras clave: Educacin para adultos. Experincias personales. La narracin
oral. Las imgenes en movimento.
LISTA DE IMAGENS
Imagem 1: Imagem em movimento ..................................................................... 33
Imagem 2: Imagem em movimento...................................................................... 33
Imagem 3: Imagem em movimento...................................................................... 34
Imagem 4: Fotograma ......................................................................................... 37
Imagem 5: Fotograma.......................................................................................... 37
Imagem 6: Fotografia do Colgio Municipal Santo Incio.................................... 42
Imagem 7: Desenhando letras ............................................................................ 48
Imagem 8: Desenhando letras ............................................................................ 49
Imagem 9: A repreenso ..................................................................................... 49
Imagem 10: A infncia perdida ............................................................................ 50
Imagem 11: Trabalho domstico ......................................................................... 50
Imagem 12: O encontro ....................................................................................... 51
Imagem 13: O namoro ......................................................................................... 51
Imagem 14: A gravidez ........................................................................................ 52
Imagem 15: O ciclo .............................................................................................. 52
Imagem 16: Escrevendo o nome ......................................................................... 54
SUMRIO
INTRODUO .................................................................................................... 11 1 REFLEXES SOBRE ORALIDADE E NARRATIVA ....................................... 19
1.1 Oralidade ......................................................................................... 19
1.2 A narrativa oral ................................................................................ 25
1.3 Imagem ........................................................................................... 31
1.4 A narrativa flmica ........................................................................... 35
2 PROPOSTA DE INTERVENO..................................................................... 40
2.1 Conhecendo o espao .................................................................. 41
2.2 Seleo dos sujeitos ..................................................................... 42
2.3 Escolha do material ...................................................................... 48
2.4 Etapas da proposta de interveno .............................................. 54
3 ANLISE DAS NARRATIVAS DOS ALUNOS ............................................... 58
3.1 Produes de narrativas orais ...................................................... 59
3.2 Caractersticas das narrativas produzidas ................................... 74 4 CONSIDERAES FINAIS ............................................................................ 78 REFERNCIAS .................................................................................................. 80
APNDICES ................................................................................. ..................... 83
APNDICE A TERMO DE AUTORIZAO ................................................... 84
APNDICE B TERMO DE CONFIDENCIALIDADE........................................ 85
APNDICE C TRANSCRIO DOS DADOS................................................. 86
ANEXOS ............................................................................................................ 92
ANEXO A NORMAS PARA TRANSCRIO .............................................. 93
ANEXO B IMAGENS DO FILME VIDA MARIA .......................................... 95
11
INTRODUO
A escolha do presente trabalho, Filme Vida Maria como estmulo para
narrativas orais de experincias pessoais, surgiu da dificuldade e necessidade
desde o perodo escolar, especificamente, na fase da adolescncia, de expressar
oralmente meus pensamentos diante dos colegas e professores.
Essa situao se agravava nos momentos de apresentao em grupo em
que abalava meu sistema nervoso e muitas vezes prejudicava o grupo de colegas
pela recusa em apresentar a minha parte no trabalho. A referida dificuldade
causada pela insegurana, me acompanhou na fase adulta e me impulsionou a
trabalhar sempre com o tema da oralidade em minha vida profissional.
Diante do contexto apresentado resolvi fazer o magistrio e a graduao
em Letras e, mais tarde, especializao em Metodologia do Ensino da Lngua
Portuguesa. A partir de ento, foi evidente a necessidade de adentrar nesse
campo da oralidade para entender o processo de aquisio e desenvolvimento
dessa modalidade da lngua, principalmente no trabalho com os alunos que
apresentavam essas dificuldades. Com a carga horria de 40 horas na Rede
Estadual de Ensino, trabalhando com implantao e implementao de projetos e
programas, observei a necessidade de desenvolver a oralidade em pblico devido
as demandas do meu trabalho.
A outra carga horria de 20 horas de trabalho destinadaa rede
municipal de ensino em que trabalho com as turmas da EJA Educao de
Jovens e Adultos. Estes alunos, embora sejam falantes proficientes da nossa
lngua materna, apresentam dificuldade para organizar a fala e para se expressar
de maneira formal em certas situaes. Neste sentido, cabe ao professor auxiliar
esses jovens e adultos no aprimoramento dessa habilidade discursiva.
Com dezesseis anos trabalhando nesse segmento, j ouvi aluno contar de
sua dificuldade para falar em vrias situaes, como fazer perguntas quando est
em grupo; falar em pblico; solicitar algo ao patro ou explicar seus sintomas a
um mdico, entre outros exemplos. Portanto, a busca em trabalhar e desenvolver
12
a oralidade, na sala de aula, pode ajudar esses alunos a enfrentar muitas
situaes cotidianas, alm de contribuir na aprendizagem.
Ento surgiu a possibilidade de cursar o Mestrado Profissional em
Letras/Profletras e a oportunidade de enveredar nessa linha de pesquisa da qual
a minha orientadora, Prof Dr Priscila Peixinho Fiorindo, na rea da
Psicolingustica, tambm considera relevante as prticas de oralidade, em sala de
aula, a fim de oportunizar aos educandos o desenvolvimento do intelecto e da
criticidade por meio da manifestao verbal.
Com base nas conversas com a orientadora, levando em conta a minha
experincia como professora de Lngua Portuguesa no Ensino Fundamental no
segmento da EJA, surgiram novas perspectivas em relao compreenso e
produo de narrativas orais por esses estudantes. Nesta perspectiva, aumentou
o interesse em investigar de maneira mais profunda as peculiaridades no
desenrolar narrativo, segundo o modelo laboviano de narrativa oral enquanto uma
proposta de interveno didtica.
A importncia desta proposta de interveno, utilizando-se do filme de
curta-metragem Vida Maria como estmulo para narrativas orais de experincias
pessoais, foi bastante significativo, tendo em vista a relevncia que o domnio da
palavra pblica tem no exerccio da cidadania. Nesta perspectiva, salientamos, na
turma da Educao de Jovens e Adultos, a prtica da oralidade, com o objetivo de
contribuir para identificao das histrias de vida dos referidos alunos.
Esta experincia de pesquisa me fez refletir sobre a importncia de dar voz
a esses alunos que fazem parte e que so muitas vezes ignorados pela
sociedade. Ouvindo suas narrativas de vida me supreendi com a riqueza de suas
experincias, pois mostram a potica social do cotidiano, que mesmo estando to
prxima de ns, passa, geralmente, despercebida do nosso olhar.
Neste sentido, busquei contribuir com o direcionamento de novos estudos e
pesquisas que visem abordar a modalidade oral, provocando nos estudantes da
EJA uma maior reflexo em relao ao desenvolvimento tpico da habilidade de
narrar
15
Nesta perspectiva a modalidade oral como contedo a ser trabalhado na
escola j vem sendo enfatizada por diversos estudiosos da linguagem, como
Marcuschi (2001; 2005), Neves (2004), Fiorindo (2005; 2012), Heine (2012), entre
outros. Os prprios Parmetros Curriculares Nacionais - PCNs pem oralidade ao
lado da modalidade escrita, ressaltando a importncia desse estudo no
desenvolvimento discursivo dos alunos. As reflexes sobre o lugar da linguagem
oral no ensino de lngua intensificam-se, cada vez mais, apontando para uma
grande mudana no tratamento dado a esta modalidade, conforme obervamos a
seguir:
As reformas educacionais investem na discusso do fazer pedaggico no sentido de mudar a ideia de que o papel central da escola ensinar o aluno a escrever. A formao de eficientes produtores de textos orais necessita do redimensionamento, reorganizao das aes e objetivos pedaggicos priorizados pela escola (CASTILHO, 2000, p. 13).
Em vista disso, acreditamos que para desenvolver este tipo de
abordagem no ensino de lngua materna, o professor precisa preocupar-se em
prever e avaliar suas concepes, objetivos, procedimentos e resultados de seu
trabalho com o intuito de conseguir ampliar a comunicao dos alunos.
A proposta de interveno, utilizando-se do curta-metragem Vida Maria,
animao grfica em 3D, se faz relevante devido necessidade do aluno de
responder a diferentes exigncias de fala e de adequao s caractersticas
prprias de diversos gneros do oral tais como: conversas espontneas,
seminrios, debates, entrevistas, exposio em pblico e outros. Nesta
perspectiva, no podemos deixar de considerar que foi com a oralidade que a
linguagem humana, tal como a conhecemos hoje, teve a sua origem.
O trabalho de pesquisa, no Ensino Fundamental II da Educao de Jovens e
Adultos (EJA) pretendeu ampliar a capacidade de articulao das ideias, na
produo da narrativa oral coerente e compreensvel, considerando o
desenvolvimento lingustico e discursivo dos referidos sujeitos.
A proposta de interveno, enquanto prtica da oralidade, em sala de aula,
foi trabalhar com a produo de narrativas orais de experincias vividas, com os
alunos do turno noturno, a partir da leitura de imagens do curta-metragem Vida
Maria. O referido filme mostra uma histria observada no interior do nordeste,
16
onde as crianas tm sua infncia interrompida, muitas vezes, para ajudar a
famlia a sobreviver; infncia essa resumida a poucos recursos e a ms condies
de vida. A escolha desse filme ocorreu devido semelhana de acontecimentos
vividos pelos alunos da EJA que relatam muitas vezes, nas aulas, as experincias
da infncia sofrida pela labuta dos pais e da dificuldade de ter continuado seus
estudos. Esses indivduos que retornam para a escola, ou que demoram um
tempo dentro dela, so sujeitos de direito, de voz, de ao e que devem ser assim
considerados. Parte desses alunos dizem que, no perodo da infncia e da
adolescncia, estavam atrelados a alguma forma de trabalho para ajudar nas
despesas de casa. Isso na verdade corroborava para o atraso escolar dos
referidos alunos.
Paralelamente labuta da vida desses alunos e falta de oportunidade de
engajamento nos estudos na idade apropriada, pretendemos, com as imagens do
filme, verificar o desenvolvimento interacional, lingustico e discursivo peculiares
dos sujeitos, a partir da narrao produzida por eles. Esse carter interacional da
linguagem nos coloca diante da colaborao entre os interlocutores como
condio para a efetivao dos atos de fala, que estabelecem compromissos
entre os participantes em torno dos objetivos dessas atividades de comunicao.
Diante do exposto, temos como respaldo terico o modelo laboviano de
narrativa oral, que nos conduzir anlise dos dados, ressaltando o momento
indito do discurso narrativo, que o autor denomina de avaliao, Labov (1972).
No entanto, vale lembrar que procedemos de forma diferente do referido autor,
pois o mesmo coletou narrativas de risco de morte com sujeitos moradores dos
guetos nos EUA, aqui adaptamos o modelo proposto pelo sociolinguista s
narrativas produzidas pelos estudantes da pesquisa. Alm de Labov (1972), nos
apoiamos em Marcuschi (2005), Heine (2012) e outros que nos do subsdios
para anlise das produes.
Nesta vertente, consideramos as narrativas orais como objeto privilegiado
de anlise, a fim de observarmos as sensibilidades, as percepes, as leituras de
mundo e os sentimentos daqueles que narram. Afinal, estas narrativas so
contadas combinando-se gestos, expresses, repeties, rimas, entonao,
olhares, musicalidade e outros dispositivos mnemnicos.
17
Neste sentido, abordar a narrativa oral enquanto prtica pedaggica, na
perspectiva do interacionismo sociodiscursivo, provocar nos estudantes uma
maior reflexo em relao ao desenvolvimento tpico da habilidade de narrar.
Desse modo, procuraremos contribuir com o direcionamento de novos estudos e
pesquisas que visem reformulao de atividades, proporcionando uma
conscincia dos papis interacionais que permeiam a modalidade da fala.
Assim, levantamos as seguintes hipteses, que procuraremos confirmar na
presente pesquisa:
1) O apoio visual das imagens, em movimento, pode auxiliar na construo de
narrativas orais de experincias vividas;
2) O envolvimento dos alunos com o filme selecionado possibilita a produo de
histrias orais.
Partindo dessas suposies, surgiram duas questes:
1) As imagens do filme contribuem para o desenvolvimento da narrativa oral?
2) O que sustenta a narrativa dos alunos que elemento(s) o narrador utiliza para
torn-la digna de ser narrada?
Tendo em vista essas questes, o objetivo desta pesquisa verificar se as
imagens do filme Vida Maria estimulam a produo da narrativa oral. E, para
tanto, delineamos trs objetivos especficos:
a) Contar fatos e experincias cotidianas, a partir de leitura de imagens;
b) Elaborar histrias orais a partir da leitura de imagens do filme Vida Maria;
c) Estimular prticas de oralidade por meio da narrativa em sala de aula.
Para se conseguir trazer uma discusso envolvendo a temtica da
oralidade e da narrativa, partindo do estmulo de imagens para a produo da
narrao, selecionamos autores como Ong (1998), Aumont (1993,1995), Adam
(1997), Labov (1972) Marcuschi (2003, 2005) Fiorindo (2005, 2012) e outros, que
abordam sobre conceitos de oralidade, de imagem e de narrativa.
18
Assim, no Captulo 1, Reflexes sobre Oralidade e Narrativa, abordamos a
importncia da oralidade na estrutura da narrativa luz de Labov, Marcuschi,
Adam, Barthes e outros, considerando o sentido da imagem e do filme como
estmulo para produo de narrativas orais.
No Captulo 2, apresentamos a Proposta de interveno, com a definio
do espao, sujeitos e material alm dos aspectos metodolgicos que
possibilitaram a coleta das narrativas orais e os passos da proposta de
interveno.
No terceiro Captulo descrevemos e discutimos sobre as Produes das
narrativas orais, considerando as caractersticas da oralidade nas narrativas,
ressaltando a avaliao como elemento principal para que a narrativa seja digna
de ser contada.
Por fim, nas Consideraes Finais, retomamos os principais pontos da
anlise das produes das narrativas dos alunos com base no modelo laboviano
de narrativa oral.
19
1 REFLEXES SOBRE ORALIDADE E NARRATIVA
Neste captulo daremos enfoque a uma abordagem terica que permitir
uma compreenso sobre a presente dissertao. Inicialmente, apresentamos a
oralidade e suas definies luz de vrios tericos da rea, bem como as
estratgias de processamento do texto oral. Em seguida, tratamos da narrativa
oral como instrumento de significado e transmisso de saberes, ressaltando o
modelo laboviano de narrativa oral, com suas etapas de compreenso das
narrativas. Abordamos, tambm, a leitura de imagens em movimento e da
narrao numa perspectiva de representao e narratividade, e por fim,
apresentamos o filme e seus efeitos narrativos e dramatrgicos na construo da
narrativa.
1.1 Oralidade
A oralidade um fenmeno peculiar ao homem, sendo o discurso oral
dinmico para adaptar-se aos diferentes momentos da enunciao como
determinante na transmisso de aspectos culturais e de valores, segundo Ong
(1988).
Conforme o autor, h a distino entre oralidade primria e oralidade
secundria. A primeira refere-se cultura que nunca reconheceu a escrita, ou
seja, uma cultura transmitida apenas por meio da fala, tendo o som como fonte de
evento manifestado e como forma fsica da palavra. Esse tipo de oralidade,
segundo o autor, tinha ainda um grande poder sobre as coisas, um poder
relacionado magia. Quanto oralidade secundria, o estudioso refere-se
cultura da tecnologia que depende da escrita e da imprensa, sendo essa
modalidade hoje, no entanto, privilegiada pela sociedade e valorizada pela escola.
Podemos dizer que a oralidade uma das mais expressivas formas de
interao social manifestada pela lngua. Diariamente, comunicamo-nos por meio
da fala, expondo pensamentos, ideias, argumentando, contando piadas, casos de
famlias, biografias. Continuamos sempre como povos orais, mesmo
20
considerando a enorme e inegvel importncia que a escrita tem nas sociedades
de civilizaes letradas.
Segundo Marcuschi (2005), a oralidade jamais desaparecer e sempre
estar ao lado da escrita como meio de expresso e de atividade comunicativa.
Enfim, a comunicao oral faz parte do nosso cotidiano de forma muito peculiar.
Neste sentido,
a oralidade como prtica social inerente ao ser humano e no ser substituda por nenhuma outra tecnologia. Ela ser sempre a porta de iniciao racionalidade e fator de identidade social, regional, grupal dos indivduos (MARCUSCHI, 2005, p. 36).
Heine (2012), refletindo sobre a oralidade, enfatiza que no Brasil, os
estudos sobre a linguagem oral, pautada na produo lingustica efetiva teve
incio no sculo XX, conforme verificamos a seguir:
[...] na histria da Lingustica, a lngua falada s veio a se constituir objeto de reflexo, principalmente no Brasil, a partir dos anos 70 do sculo XX, por ocasio da instaurao do Projeto da Norma Lingustica Urbana NURC. Contudo, a sua implementao, nos cursos de Letras no Brasil, s se efetivou a partir dos meados da dcada de 80 do sculo XX (HEINE, 2012, p. 196-197).
Segundo Heine (2012), foi a partir dos PCNs que a modalidade oral no
ensino da lngua ganhou especial ateno e destaque dados por um documento
oficial. O que se busca ento, na verdade, que o aluno seja um usurio
competente da linguagem. Neste sentido, cabe escola ensinar ao aluno a utilizar
a linguagem oral no planejamento e realizao de apresentaes pblicas. As
propostas de situaes didticas nesse espao devem fazer sentido de fato. Em
vista disso, ensinar a produzir textos orais significa organizar situaes que
possibilitem o desenvolvimento de procedimentos de preparao prvia e
monitoramento.
Os Parmetros Curriculares Nacionais (PCNs) tm no seu bojo o propsito
de criar condies, na escola, que permitam aos jovens terem acesso ao conjunto
de conhecimentos socialmente elaborados e reconhecidos, como necessrios ao
exerccio da cidadania. No tocante oralidade, o documento afirma a grande
necessidade do desenvolvimento da modalidade oral, na medida em que os
21
alunos sero avaliados na hora de responder s diferentes exigncias da fala. O
referido parmetro, na pgina 20, tambm deixa claro que no se trata de
ensinar a falar ou a fala correta, mas sim as falas adequadas ao contexto de
uso.
Assim,
[...] ensinar lngua oral deve significar para escola possibilitar acesso a usos da linguagem mais formalizados e convencionais, que exijam controle mais consciente e voluntrio da enunciao, tendo em vista a importncia que o domnio da palavra pblica tem no exerccio da cidadania. Ensinar lngua oral no significa a capacidade de falar em geral. Significa desenvolver os gneros que apoiam a aprendizagem escolar de Lngua Portuguesa e de outras reas e, tambm, os gneros da vida pblica no sentido mais amplo do termo (BRASIL, 1998, p. 67).
Podemos afirmar que a partir das orientaes feitas pelos Parmetros
Curriculares Nacionais, possvel perceber o aumento das pesquisas sobre a
lngua oral, em uma sociedade em que a modalidade oral da lngua vem
ganhando um espao importantssimo.
no contexto escolar, no entanto, que se torna necessrio abordar a
questo da referida modalidade da lngua, cujo objetivo propiciar ao aluno a
possibilidade de conviver na sociedade na qual est inserido, sendo capaz de
utilizar a lngua, de acordo com os diferentes usos sociais. Ao se comunicar
oralmente, j tendo na escola algumas orientaes do seu funcionamento, o aluno
comea a se apropriar das estruturas e funes dos gneros orais que fazem
parte da sociedade.
Segundo Marcuschi (2005), oralidade e escrita so duas prticas sociais e
no duas propriedades de sociedades diversas. O cerne das confuses, na
identificao e avaliao das semelhanas e diferenas entre fala e escrita,
conforme o autor, encontra-se, em parte, no enfoque preconceituoso em que a
questo foi geralmente submetida e na metodologia inadequada que resultou em
vises bastante contraditrias. Ainda segundo o autor, postular algum tipo de
supremacia ou superioridade de algumas das duas modalidades uma viso
equivocada (op. cit., p. 134).
Sendo assim, ao tratarmos da fala e da escrita, no devemos levar em
conta que uma superior a outra ou que a escrita derivada e a fala primria.
22
Consideramos que so duas formas de realizao de um mesmo sistema
lingustico. Dizer que a escrita formal, complexa, enquanto a fala informal e
simples no o suficiente, pois, como afirma Koch (1995, p. 68-9), h uma
escrita informal que se aproxima da fala e uma fala formal que se aproxima da
escrita, dependendo da situao comunicativa. Exemplo disso so as cartas
informais, bilhetes, letra de msicas, os chats na internet, que so textos escritos,
mas apresentam repeties, grias, marcadores conversacionais/discursivos, ou
seja, elementos da lngua falada. Tambm h debates, programas de TV que
apresentam uma fala prxima da linguagem formal. Como afirma Marcuschi
(2005, p. 62-63), a informalidade, a repetio e a fragmentao [...] no so
exclusivos da fala, mas nela se evidenciam com mais nfase.
Segundo Heine (2012), a relao fala-escrita, na perspectiva dos gneros
textuais, determina alguns posicionamentos, um deles se refere contestao da
abordagem dicotmica da linguagem, cujas pesquisas confinam-se apenas nos
gneros textuais prototpicos de cada modalidade. Como exemplo, temos o texto
cientfico para a lngua escrita, e a conversao em sua verso face a face, para
lngua falada. Nesse caso, proposto pela autora que a fala-escrita sejam
tratadas a partir do continuum tipolgico de gneros textuais em que considera
esses gneros no seio social, ou seja, nas suas efetivas prticas sociais.
Vale ressaltar que a fala e a escrita, como j foi dito, so duas modalidades
da lngua que pertencem a um mesmo sistema lingustico e esto colocadas no
mbito das prticas sociais, de acordo com Marcuschi (2005). No entanto, para
Heine (2012), essa posio defendida pelo autor determinada apenas pelas
efetivas prticas sociais e so essas que determinam o lugar e a funo das
referidas modalidades. A preferncia de uma ou outra modalidade da lngua tem a
ver com aspectos funcionais, determinados dentro de uma dada sociedade.
Conforme a autora, as definies de Marcuschi (2005) se apoiam na
perspectiva baktiniana da lngustica textual no que diz respeito s reflexes sobre
a lngua falada como produo lingustica. Entretanto, a autora, sugere a
substituio da expresso produo lingustica pelo termo produo lingustico-
semitica, pois, segundo ela, essa sugesto objetiva evitar a dicotomia entre
elementos paralingusticos em que predomina os elementos no verbais de
23
comunicao, como, por exemplo, os meneios da cabea, os gestos e as
variaes prosdicas; e os elementos lingusticos denominados cdigo lingustico,
na medida em que os seus mentores e princpios contemplem apenas o referido
cdigo, prprio da lingustica formal.
Conforme Marcuschi (2003, p.17), sob o ponto de vista mais central da
realidade humana, seria possvel definir o homem como um ser que fala e no
como um ser que escreve. Porm, no podemos considerar a fala como superior,
pois tanto escrita como oralidade so prticas importantes da lngua, cada uma
com suas prprias caractersticas. A oralidade adquirida nas relaes sociais do
nosso dia a dia, desde o nosso nascimento. O contexto que determina o tipo de
linguagem que devemos utilizar. Por isso, a prtica da oralidade uma forma de
incluso cultural e de socializao.
No contexto da oralidade, observamos a gestualidade, bem como
movimento do corpo e dos olhos. Nesta perspectiva, Fvero (2005, p. 21) afirma
que o texto conversacional criao coletiva e se produz no s
interacionalmente, mas tambm de forma organizada. necessrio que o texto
tenha uma organizao para que possa existir uma compreenso dos
participantes para que, assim, o ato seja concretizado. J a escrita fruto de um
aprendizado escolar, num contexto mais formal da lngua, por isso que ela
considerada, pela sociedade, um bem cultural de prestgio.
tambm na modalidade oral que os falantes esto em presena e o
enunciado se constri ao mesmo tempo em que h interao dos interlocutores e
pode haver negociaes entre os interlocutores do processo de produo,
planejamento e execuo do que est sendo dito. O falante monitora a prpria
fala, utilizando-se de entonao, gestos, expresses para acrescentar sentido ao
que est sendo dito.
Na sintaxe da lngua falada, ao contrrio da escrita, o interlocutor se
preocupa sempre em preencher vazios, o que resulta na presena de correes,
parfrases, truncamentos, repeties, elipses, pausas, anacolutos, marcadores
conversacionais, digresses, hesitaes, parnteses, interrupes. Segundo
Marcuschi (2005), esses traos no devem ser avaliados negativamente, como
por exemplo, defeitos, disfluncia, disfuno do falante ou perda do fio condutor,
24
mas sim, como estratgias inerentes ao texto oral que monitora a fala dando
qualidade ao processo de interatividade.
Ainda segundo o autor, a correo, a parfrase, a repetio so
mecanismos de reativao, ou seja, aqueles que nos permitem voltar atrs,
retomando e repetindo o que foi dito. A repetio um trao caracterstico da
lngua falada e assume funes diferenciadas. Na fala, onde nada se apaga, a
repetio faz parte da construo do texto falado, sendo, tambm, uma forma de
evidenciar, enfatizar o que se disse, no anulando o que foi dito. A parfrase a
retomada do contedo com algumas alteraes na forma, por outro lado, a
correo uma reformulao que, ao contrrio da repetio e parfrase, anula o
contedo falado e indica a busca por uma melhor formulao do enunciado.
Os outros traos da fala, como as digresses, inseres, elipses,
anacolutos, as pausas, parnteses, hesitaes, interrupes so chamados pelo
mesmo autor de processo de desativao, os quais resultam no abandono,
rompimento, do que est sendo dito. As digresses, por exemplo, ocorrem
quando o falante abandona o tpico conversacional, em andamento, e passa a
falar de outra coisa.
As pausas normalmente indicam um apagamento da fala que facilita o
incio de um novo assunto. A insero surge no ato da fala com comentrios e
observaes mais longas, acontecendo, por um tempo, uma
suspenso/interrupo do que est sendo dito. J a hesitao, anacolutos levam
a compreender que h um esgotamento do tpico conversacional em andamento.
Ressaltamos que todos esses traos da fala atuam como estratgias no
planejamento do texto falado.
Quanto aos marcadores conversacionais ou discursivos so chamados
elementos de constituio bastante diversificada, envolvendo, no plano verbal,
sons no lexicalizados, palavras e locues verbais. Esses marcadores atuam
como conectivos textuais para que o falante possa verificar se est sendo
entendido ou para simplesmente tornar a interlocuo mais participativa. Segundo
Marcuschi (2005), os marcadores conversacionais podem ser divididos em trs
tipos: verbais, no verbais e suprassegmentais.
25
Os chamados marcadores verbais formam uma classe de palavras ou
expresses bastante estereotipadas, de grande ocorrncia e recorrncia, eles
situam-se no contexto sem contribuir com novas informaes, por exemplo,
ento, n, a, entende. Os marcadores no verbais referem-se expresso
facial, gesticulao, meneios da cabea, ou seja, posturas fsicas imprescindveis
em todo e qualquer ato comunicativo, em tempo real. Quanto aos recursos
suprassegmentais so aqueles relativos s pausas (registradas atravs de
reticncias), entonaes e ao tom de voz.
O estudo da lngua portuguesa em sua modalidade oral requer srias
reflexes por parte dos professores de lngua materna e educadores em geral, e
tambm uma nova viso do trabalho com a lngua na modalidade escrita e oral no
dia a dia escolar. Partindo desta reflexo, o professor conseguir mostrar que
entre a fala e a escrita no h superioridade ou inferioridade, mas uma adaptao
s prticas sociais.
Diante das prticas escolares vigentes, podemos afirmar que elas
privilegiam o discurso escrito, pois, afinal, vivemos numa cultura letrada e a
escola esteve associada escrita desde sua origem. Contudo, observamos que
as atividades de contao de histrias devem estar presentes no dia a dia
escolar, uma vez que a oralidade faz parte da experincia humana. Assim, a
referida modalidade da lngua contribui para documentar o mundo, suas
mensagens, suas experincias de vivncias, por exemplo, atravs de narrativas
repetidas e mnemonicamente apreendidas.
1.2 Narrativa oral
A narrativa est presente em todos os tempos, em todos os lugares, em todas as sociedades; a narrativa comea com a prpria histria da humanidade; no h em parte alguma povo algum sem narrativa; todas as classes todos os grupos humanos tm suas narrativas e frequentemente estas narrativas so apreciadas em comum por homens de culturas diferentes e mesmo opostas (BARTHES, 2011, p. 19).
26
Mas, afinal, o que narrativa? Mais do que a simples imitao ou cpia de
aes preexistentes, trata-se de uma transposio da ao humana no e pelo
texto narrativo. Neste sentido, todo texto narrativo deve ser considerado o
produto de uma atividade criativa que opera uma redescrio da ao humana.
Conforme Adam (1997), a narrativa que organiza a estrutura da experincia
humana.
De acordo com Bruner (1997), por meio da histria possvel analisar a
capacidade que as pessoas tm de transmitir experincia atravs da narrativa; ele
defende a ideia de que para a produo do sentido, que domina grande parte da
vida do homem, a narrativa funciona como um poderoso instrumento. Segundo o
autor, sem a habilidade de narrar, os indivduos jamais poderiam suportar os
conflitos e contradies da vida social. Para o estudioso, a narrativa um veculo
natural, pois ela pode ser lida desde a primeira fala da criana e ser vista como
um material da ao e intencionalidade humana.
Ainda se tratando da definio sobre narrativa, conforme Bruner (1997), ela
um veculo natural para a psicologia popular, pois assimilada juntamente com
as aes e intenes humanas, tendo desse modo o poder de ensinar, conservar
a memria ou alterar o passado.
Nesta perspectiva, o referido autor definiu a narrativa como uma forma
convencional, transmitida culturalmente, que trata das intenes humanas, e,
mais tarde, como um instrumento mental e discursivo de construo da realidade.
As convenes narrativas, segundo o estudioso, so padres aos quais as
histrias devem ajustar-se, a fim de serem reconhecidas em uma cultura. Bruner
ainda acredita que existe uma predisposio para organizar as experincias em
forma narrativa, e que no h outra maneira de descrever o tempo vivido (op. cit,
1997b).
Segundo Ferreira e Amado (2001), as narrativas, especificamente orais,
revelam a capacidade dos seres humanos de pensar simbolicamente seus
problemas complexos. Estes autores ainda entendem que o mundo est repleto
de contradies e os mitos oferecem uma forma de lidar com tais questes.
Ainda nesse vis, Costa e Botelho (2001) definem a narrativa como modos de
traduzir o social, em que os registros orais ou escritos so caraterizados pelo
27
movimento prprio arte de contar, de traduzir em palavras ou registros da
memria e da conscincia a partir das narrativas.
Diante do exposto, vale mencionar, de maneira potica e delicada a
relevncia do processo de contar algo: O que eu quero contar to delicado
quanto a prpria vida. E eu queria poder usar a delicadeza que tambm tenho em
mim, ao longo da grossura de camponesa que o que me salva (LISPECTOR,
1999. p. 115).
A narrativa contm em si fora mpar, visto ser tambm instrumento de
reteno do passado e, por consequncia, suporte do poder do olhar e das vozes
da memria. Podemos inferir que os melhores narradores so aqueles que
deixam fluir as palavras na tessitura de um enredo que inclui lembranas,
registros, observaes, silncios, anlises, emoes, reflexes, testemunhos. So
esses narradores sujeitos de viso nica, singular e integrada s referncias
sociais da memria e da complexa trama da vida.
O discurso narrativo, por conseguinte, constitui-se em processo
compartilhado, que inclui em si as seguintes dimenses: estmulo ao narrar, ato
de contar e relembrar e disponibilidade para escutar. Fala, escuta e troca de
olhares compem a dinmica desse processo nico e essencial vida humana, j
que no se vive em plenitude sem a possibilidade de escutar, de contar histrias e
de se apreender sob a forma de conhecimento, ou melhor, de sabedoria, o
contedo narrado. Nas palavras do seguinte autor:
Vivemos no mar de histrias, e como peixes que (que de acordo com o provrbio) so os ltimos a enxergar a gua, temos nossas prprias dificuldades em compreender o que significa nadar em histrias. No que no tenhamos competncia em criar nossos relatos narrativos da realidade - longe disso - somos, isso sim, demasiadamente versados. Nosso problema, ao contrrio, atingir uma conscincia do que fazemos facilmente e de forma to automtica [... BRUNER, 2001, p. 140].
Nesta vertente, as mensagens so divulgadas por aqueles que detm os
fatos da memria e os propagaram, recorrendo voz e ao corpo, numa
performance que exige do pblico leitor da cena uma atenta audio e viso. A
mensagem apreendida, gerando novos saberes. dessa forma que a narrao
transforma a memria em experincia.
28
Bosi (2003), destacado no meio acadmico pela relevncia em que
teorizou sobre a memria e sociedade, especificamente sobre a populao adulta
de baixa renda, afirma que a memria oral um instrumento valioso para
constituir a crnica do cotidiano. A autora comenta que Os velhos, as mulheres,
os negros, os trabalhadores manuais, camadas da populao excludas da
histria ensinada na escola, tomam a palavra (BOSI, 2003, p.15). Ainda segundo
a autora, as hesitaes, silncios e rupturas dos discursos desses sujeitos no
so vazios, mas podem representar fatos que o narrador prefere esquecer ou que
so considerados difceis de ser entendidos, pois podem ainda no ser
compreendidos pelas prprias pessoas que vivenciaram a situao.
Assim, a forma como encaramos certas situaes e objetos est
impregnada por nossas experincias passadas. Segundo Bosi (2003), atravs da
memria, no s o passado emerge, misturando-se com as percepes sobre o
presente, como tambm desloca esse conjunto de impresses construdas pela
interao do presente com o passado que passam a ocupar todo o espao da
conscincia. A estudiosa enfatiza tambm, que no existe presente sem passado,
ou seja, nossas vises e comportamentos esto marcados pela memria, por
eventos e situaes vividas. De acordo ainda com essa autora, o passado atua no
presente de diversas formas. Uma delas, chamada de mmoria-hbito est
relacionada com o fato de construirmos e guardarmos esquemas de
comportamento dos quais nos valemos muitas vezes da nossa ao cotidiana.
Nesta perspectiva, a memria pode-se traduzir como as reminiscncias do
passado, que afloram no pensamento de cada um, no momento presente; ou
ainda, como a capacidade de armazenar dados ou informaes referentes a fatos
vividos no passado. As memrias individuais alimentam-se da memria coletiva e
histrica e incluem elementos mais amplos do que a memria construda pelo
indivduo e seu grupo. Um dos elementos mais importantes, que afirma o carter
social da memria, a linguagem. As trocas entre os membros de um grupo se
fazem por meio de linguagem. Lembrar e narrar se constituem da linguagem.
Como afirma Bosi (2003), a linguagem o instrumento socializador da memria,
pois reduz, unifica e aproxima no mesmo espao histrico e cultural vivncias to
diversas como os sonhos, as lembranas e as experincias recentes.
29
A narrao oral sobre o passado faz parte de um contexto maior, que a
representao coletiva da memria. Pois, para fazer parte da tradio oral
preciso antes fazer parte das memrias, das lembranas. E a memria coletiva
fundamental para compor a identidade e a historicidade de algum. Falamos,
assim, das narrativas envolvidas por sentimentos de angstia, medo, nostalgia e
esperana que conferem sentido s experincias vividas e por meio dos quais as
pessoas elaboram significados sobre si.
Labov (1972) destacado como um dos primeiros tericos a se interessar
pela narrativa oral. Seus estudos lingusticos, baseados nas narrativas orais de
experincia pessoal, ganharam importncia, especialmente, pela narrativa
conversacional. No desenrolar de suas pesquisas, o autor enveredou-se pelas
narrativas coletadas em entrevistas sociolingusticas, que posteriormente
denominou de narrativas orais de experincia pessoal. O sociolinguista salienta
que para existir a narrativa indispensvel o acontecimento, singular e indito,
digno de ser narrado. Para ele, a avaliao um dos elementos estruturais da
narrativa, que tem por finalidade comunicar ao ouvinte o ponto de vista do
narrador em relao histria narrada. Este estudo torna-se bastante relevante,
ou seja, por meio dele possvel caracterizar a importncia da oralidade e da
imagem na estrutura narrativa.
Nesta perspectiva, Labov (1972) apresenta uma definio de narrativa de
experincia pessoal como uma tcnica de construo de fatos que ocorreram na
mesma ordem que os eventos originais. A partir da observao de um corpus
homogneo de narrativas de experincia de perigo/risco de morte, o estudioso
concluiu que a narrao completa apresenta seis elementos recorrentes ou partes
da narrao: 1) Resumo: uma sntese do que se trata a narrativa, a natureza do
seu contedo; 2) Orientao: apresenta referncias ao local, tempo e pessoas
envolvidas; 3) Complicao: sequncia de acontecimentos e aes que formam o
corpo da narrao, ou seja o evento inesperado; 4) Avaliao: o narrador
apresenta suas emoes, indica o propsito de sua histria, sua razo de ser; 5)
Resoluo: uma soluo, o resultado; como isso acabou; 6) Coda: uma
sentena final que retorna a narrativa ao tempo do falante, em que o narrador
informa que sua narrativa acabou.
30
Assim, quando uma narrativa apresenta a avaliao, segundo o terico, o
interlocutor se prende mais a sua histria, pois o narrador utiliza certos
mecanismos que vo identificar a subjetividade e o seu posicionamento diante do
fato narrado.
De acordo com Fiorindo (2005), ainda se tratando da avaliao, Labov
distingue quatro tipos: avaliao externa; avaliao encaixada; ao avaliativa e
avaliao por suspenso da ao. Esta ltima no vamos levar em conta, uma
vez que o autor afirma que todos os procedimentos de avaliao tem como fim
suspender a ao. A seguir descrevemos os trs primeiros tipos:
a) Avaliao externa: esse procedimento consiste em interromper a narrativa a fim
de explicar ao ouvinte onde est precisamente o interesse;
b) Avaliao encaixada: ela se encontra no prprio desenvolvimento da narrativa
e corresponde utilizao dos discursos reportados diretos, sobretudo, ou
indiretos, marcados ou no na narrativa;
c) Ao avaliativa: nesse procedimento, a avaliao nos informa o que os
personagens disseram. Do mesmo modo o narrador se revela capaz de encaixar
seu comentrio inesperado.
Assim,
Se um ator de uma narrativa estiver disposto a falar, no importa qual o assunto ou para que tipo de destinatrio; isso por si s o capacita para a avaliao e o uso que fizer de negativas, comparativas, modais ou futuros devem ser entendidos como uma forma de avaliao (LABOV, 1972, p.07).
Alm dessas estruturas narrativas de Labov (1972), nos apoiamos tambm
nas estratgias de formulao especficas do texto oral, a partir da definio de
Marcuschi (2005). Esses elementos da estutura narrativa se referem aos traos
da oralidade: elementos no verbais de comunicao a exemplos de marcadores
discursivos, repetio, hesitaes, elementos suprassegmentais, os meneios da
cabea, e gestos.
31
Nas histrias dos sujeitos desta pesquisa, nos ocupamos das narrativas de
experincias pessoais, em que os narradores se preocupam em reconstruir, at
em reviver, fatos do seu passado. Mas procedemos, conforme mencionado,
diferentemente de Labov (1972), ou seja, adaptamos o modelo s narrativas de
experincias produzidas pelos sujeitos da pesquisa em questo.
Neste contexto, trazemos a discusso a respeito da construo do
conhecimento por meio de relatos orais de experincias vividas dos estudantes, a
partir da leitura de imagens do filme Vida Maria. Alm disso, acreditamos que tal
interveno pedaggica possa contribuir para a partilha de saberes e
conhecimentos sociais dos sujeitos da pesquisa.
1.3 Imagem
O que imagem? A fim de conceituarmos a referida expresso,
inicialmente, nos apoiamos em Aumont (1993), o qual afirma que banal falar de
civilizao da imagem, mas essa expresso revela bem o sentimento
generalizado de se viver em um mundo onde as imagens so cada vez mais
numerosas e tambm diversificadas. Sobre os aspectos relativos s imagens,
percepo do movimento, h vrias teorias que visam explicar a percepo em
dois fenmenos: o primeiro a presena no sistema visual de detectores de
movimento capazes de codificar os sinais, que afetam pontos vizinhos na retina; o
segundo uma informao sobre nossos prprios movimentos, que permite no
atribuir, aos objetos percebidos, um movimento aparente, decorrente de nossos
deslocamentos ou de nossos movimentos oculares.
No que se refere ao visual e ao imaginrio, numa perspectiva psicanaltica,
o olhar o que define a intencionalidade e a finalidade da viso. Assim,
Quanto ateno visual, distingue-se a ateno central e a ateno perifrica. Esta, considerada mais vaga, refere-se em especial ateno aos fenmenos novos na periferia do campo e aquela, concebida como uma espcie de focalizao sobre os aspectos importantes do campo visual (AUMONT, 1993, p.85).
32
clara a posio que a imagem se encontra, entre o espectador e a
realidade. nessa situao de mediao que o autor traz a ao da imagem
sobre o espectador, apresentando abordagens cognitivas e pragmticas. Ele
aborda a recepo da imagem pelo espectador, o que pressupe um processo
construtivista da percepo, levando em conta fatores sociolgicos ou
semiolgicos, que influenciam sua compreenso, interpretao e aceitao. A
constituio do sentido individual, original, feita com base em diferentes
indicadores e contextos, por isso varia para um mesmo sujeito-leitor e de um
sujeito-leitor para outro.
Segundo Bitar (2002), na comunicao por imagens encontramos,
portanto, dois nveis de leitura, que compreendem o que mostrado, no sentido
literal e estrito, e o que significa, ou evoca, no sentido largo e implcito. A
imagem no apenas reflexo do mundo, mas ela remete tambm histria
individual e social de cada leitor, libera discursos diferentes tantos quantos so os
leitores (BITAR, 2002, p. 26).
Por exemplo, a mesma imagem pode conter elementos que a caracterizam
de forma simblica e tambm de elementos informativos e estticos,
principalmente com o avano da tecnologia na publicidade, que mescla
informao e visual esttico para conquistar seus consumidores. Assim, segundo
a autora, uma mensagem visual para ser correta e completamente recebida,
supe uma aprendizagem social e cultural, alm de aquisies intelectuais.
A complexidade da imagem ainda maior por sua relao com a palavra, o
que pe em jogo no somente o saber, mas tambm a personalidade do
observador. Sendo assim, devemos ter em mente que a imagem s tem
dimenso simblica to importante porque capaz de significar - sempre em
relao com a linguagem verbal. Entende-se que o problema do sentido da
imagem , pois, o da relao entre imagens e palavras, entre imagem e
linguagem. Se a imagem contm sentido, este tem de ser lido por seu
destinatrio, por seu espectador.
O processo de reconhecer na imagem algo que existe, seja de forma
concreta ou idealizada, um trabalho que se apoia na memria coletiva e
individual. na memria que est a base de nossa apreenso visual, bem como
33
a percepo de imagens. a partir da memria que podemos atribuir qualidades
constantes aos objetos e ao espao utilizando a noo de constncia perceptiva
que nos permite comparar o que vemos e o que j vimos (AUMONT, 1993, p.
82).
Dentro do contexto do estudo das narrativas orais, a partir do trabalho com
imagens, reforamos a importncia do papel da representao icnica na
aprendizagem e no interesse dos alunos. Somos indivduos imersos em um
mundo de imagens. A cena visual passa pelo olhar do observador que busca
explor-la em detalhes, por meio de fixaes sucessivas, as quais so mais
demoradas nos locais onde h maior informao visual. Conforme Aumont (1993),
nesta perspectiva, a imagem estudada tanto como esttica como em
movimento, delineando casos como o cinema e o estmulo que as imagens
luminosas descontnuas exercem nos espectadores.
A ttulo de ilustrao, visualizamos algumas imagens para tecermos breves
comentrios:
Imagem 1
Fonte: https://www.google.com.br/search?q=foto+de+imagens+em+movimento
Imagem 2
Fonte: https://www.google.com.br/search?q=foto+de+imagens+em+movimento
https://www.google.com.br/search?q=foto+de+imagens+em+movimentohttps://www.google.com.br/search?q=foto+de+imagens+em+movimento
34
Imagem 3
Fonte: https://www.google.com.br/search?q=foto+de+imagens+em+movimento
As imagens apresentadas esto paradas ou em movimento? Para
responder questo, temos que seguir a seguinte afirmao: depende do ponto
de vista do observador. Da mesma forma, as interpretaes que cada uma delas
carregam tambm, iro depender do leitor-observador. Portanto os smbolos
presentes em cada uma transmitem sentidos e sensaes diferentes. Nesta
perspectiva, as interpretaes so mltiplas.
Para Bresson (2000, p. 200), ler ou compreender uma imagem implica
utilizar diversas operaes, as quais determinaro diferentes nveis de
compreenso. De acordo com o autor, falar sobre leitura de imagens, segundo
uma concepo de leitura de mundo, no o bastante. H que considerar a
acepo mais ampla de leitura, que envolve o seu carter polissmico e que, de
acordo com uma perspectiva discursiva, aponta para alguns aspectos de suma
importncia.
Observamos, no entanto, que a prtica pedaggica docente ainda est
muito longe de considerar a utilizao de imagens de diferentes tipos, enquanto
estratgia de leitura de mundo dos educandos. muito forte, ainda, a viso de
que podemos ler apenas o cdigo escrito, desconsiderando o texto icnico. Assim
sendo, a escola deixa de possibilitar ao aluno o aprendizado da leitura da
imagem, desenvolvendo uma postura crtica em meio ao turbilho de imagens
que os rodeia. De acordo com Rossi (2003, p. 34), hoje vivemos na chamada
civilizao da imagem. Portanto, faz-se necessrio, que estejamos sensveis e
atentos para sermos capazes de analis-la. Desse modo, ao se refletir a respeito
https://www.google.com.br/search?q=foto+de+imagens+em+movimento
35
das implicaes do aprendizado da modalidade oral, por meio da narrao
verbalizada, a partir da leitura de imagens em movimento, podemos dizer que a
escola, enquanto instituio responsvel na formao do sujeito falante, capaz de
compreender e estabelecer relaes entre texto e contexto, deve ter como desafio
criar um ambiente propcio para o trabalho com as diferentes linguagens,
valorizando todas as formas de expresses, inclusive, a imagtica e a oral.
1.4 A narrativa flmica
O cinema um meio de extensos alcances, atingindo a todos os povos,
dialogando com todas as raas, encantando todas as idades. Desde sua inveno
o cinema diverte, entretm, instiga, provoca, questiona, infere, comove, envolve e
estende o olhar do homem para muitas realidades a seu redor, assim sendo, ele
tambm educa.
Inserido no campo educacional, ele ocupa um espao de grandes
oportunidades para o ensino, assumindo uma funo bem mais abrangente do
que a sua costumeira qualificao como entretenimento, ao propor reflexes
sobre situaes extradas da realidade e enriquecidas pela fora da imagem.
Como mdia, possui certa tendncia a sugerir comportamentos e, por isso,
influencia na forma como as pessoas concebem certos valores e os internalizam
como referncia, discutveis no campo da tica e da moral.
Neste processo, a narrativa cinematogrfica torna-se um meio motivador
de reflexo, torna-se um elemento novo a ser considerado no universo
educacional e prope novos olhares e possibilidades para o ensino. A partir da,
perceptvel a consistncia da fora dos argumentos legitimadores do cinema
como recurso de aprendizagem, na medida em que estes integram a proposta
pedaggica no respaldo ao trabalho com a oralidade.
Assistir a um filme uma oportunidade para que outros filmes passem pela
cabea dos alunos, por exemplo, o filme de sua prpria vida, ou da vida de
algum conhecido, que lhe traz uma certa experincia j vivida. Por isso, deixar o
aluno livre para fazer comentrios, perguntas, reflexes uma parte tocante
36
desse trabalho que deve ser cultivada sempre. Por isso, ao se propor o filme
como apoio didtico, deve-se enxerg-lo como tal e, por isso, um meio de
aprendizagem, passvel de organizao, sistematizao de contedos e
verificao avaliativa. Pensar, pois, em alternativas pedaggicas, significa pensar,
ordenadamente, em um encaminhamento metodolgico que respalde o trabalho
do docente.
O conceito de significado do filme apenas faz sentido se tivermos em
considerao a interao existente entre o prprio filme e as interpretaes
individuais dos espectadores que o veem. Para Bresson (2000), no existe um
significado do filme, mas sim aquilo que cada espectador interpreta aps ter
estado sujeito s imagens e aos sons na composio da cena, criando-se assim
inmeros significados. Ver ao mesmo filme, em ocasies diferentes, pode ter
tambm efeitos diferentes no espectador. As pessoas podem mudar de opinio a
respeito de um filme com o passar do tempo, porque a interpretao dos filmes
depende sempre da circunstncia e do contexto apresentado e, se este se altera,
as opinies tambm podem ser modificadas.
Ainda de acordo com o terico, as imagens e os sons do cinema apenas
adquirem valor pelo uso que lhes dado. O autor sublinha que o significado de
um filme no est dependente das intenes de quem o faz, mas depende do
enquadramento do espectador. Este enquadramento engloba as crenas,
conhecimentos, cultura e valores do espectador, bem como o momento de
visionamento do filme.
As intenes dos realizadores ao fazerem um filme no passam disso
mesmo, intenes; pois a interpretao apenas um dos muitos elementos que o
espectador tem ao seu dispor para criar o sentido. Assim,
a imagem de um ator a sorrir pode ser considerada ternurenta se surgir aps ter feito um carinho a uma criana e pode ser considerada irnica e maliciosa se ocorrer aps ter sido cometida alguma maldade (RODRIGUES, 2008, p. 51).
Deste modo, e embora a imagem do ator seja sempre a mesma, a
interpretao vai depender da relao causa/efeito que o espectador estabelecer
entre as imagens antecedentes, a atual e as imagens futuras e aquilo que as
pessoas pensam e sentem, perante situaes semelhantes quelas que
37
visualizam. As imagens so muito importantes para a interpretao, mas sozinhas
no tm qualquer valor interpretativo. A interpretao existe porque as imagens
so integradas num processo interpretativo, em que procuram conhecimentos
anteriores que permitam a descodificao das mensagens transmitidas.
Apesar de cada espectador poder interpretar o filme, de acordo com os
seus conhecimentos, como j foi referido, o significado do filme no dota de
arbitrariedade. Ainda conforme a autora, as crenas comuns e os valores
partilhados pelos indivduos de uma mesma sociedade apresentam, muitas vezes,
opinies semelhantes sobre um dado assunto. Sendo assim, o significado
atingido por um grupo de pessoas que vivem em sociedade ser relativamente
similar.
Um fator importante, segundo a estudiosa, reside no fato de o cinema ter
criado um sentimento de pertena para com o mundo. Ao assistir ao filme, o
homem deixa de ser um indivduo isolado e passa a ser parte integrante de uma
comunidade com quem partilha algo. Sendo assim, consideramos que o pblico
que o cinema prefere composto por pessoas que leem, que pensam e que
desejam ver, na grande tela, representaes da vida real.
Conforme Aumont (1995), todo filme constitudo de fotogramas e a
imagem de tela, tais caractersticas materiais da imagem esto entre laos
fundamentais dos quais decorre nossa apreenso da representao flmica.
Logo, o fotograma so imagens fixas, dispostas em sequncia em uma
pelcula transparente, que se origina em uma imagem aumentada e que se move.
A narrativa flmica reside na formao dessa imagem, na criao e na
composio de seus planos, cenas e sequncias. A ttulo de ilustrao seguem
dois exemplos de fotogramas:
Imagem 4 Imagem 5
https://www.google.com.br/fotogramas https://www.google.com.br/fotogramas
38
Os planos so todas as tomadas estabelecidas por enquadramentos e
cortes especficos que possuem uma unidade de tempo predeterminado e uma
ao contnua sem interrupo. Sempre que a cmera interrompe sua atividade
para captar outro plano, haver um corte, determinando, assim, que um plano
est sempre compreendido entre dois cortes. As cenas so determinadas por um
conjunto de planos dentro de uma ao especfica, segundo Rodrigues (2008), e
as sequncias constituem-se em uma srie de cenas que acontecem em um
mesmo ambiente (local) e perfazem uma unidade de ao completa.
A impresso de analogia com espao real produzido pela cena do filme ,
portanto, poderosa o suficiente para chegar normalmente a fazer esquecer no
apenas o achatamento da imagem, mas a ausncia de cores quando se tratar de
um filme preto e branco, ou da falta de som se o filme for mudo. No chamado
espao flmico ou cena flmica, considera-se que o campo e fora de campo
pertencem ambos, de direito, a um imaginrio perfeitamente homogneo. As
consideraes sobre o espao flmico, conforme o autor, s tm sentido na
medida em que est diante daquilo que chamamos cinema narrativo
representativo (AUMONT, 1995, p. 24).
Esse movimento cria uma iluso de continuidade que se apodera de uma
das caractersticas inatas ao nosso sistema tico. Se olharmos fixamente para
uma imagem e, depois, fecharmos nossos olhos, tal imagem ainda nos
permanecer visvel, e essa a noo de persistncia retiniana utilizada para
transmitir o movimento no cinema em pelcula, a ideia de que um fotograma
anterior fixa-se em nossa retina por um tempo a mais alm de sua projeo, se
encontrando com o fotograma seguinte e assim por diante, transmitindo a ideia
de continuidade na ao.
Definidas as bases das tomadas cinematogrficas, uma obra composta
pelas montagens desses planos, cenas e sequncias, efetuando recortes do
tempo. Assim sendo, o cinema explora no somente a imagem em movimento,
mas principalmente o tempo dessa imagem ou o que poderamos chamar imagem
tempo. Esse tempo no o tempo de exibio de um filme. o seu tempo
narrativo - o passado, o presente e o futuro que compem qualquer narrativa
cinematogrfica.
39
Segundo Aumont (1995), fundamental para o espectador, de uma
narrativa cinematogrfica perceber, que a estria contada e a sucesso de suas
imagens suprimem o tempo real atravs de suas cenas e sequncias. Que a
proposta bsica de um filme passar o seu recado em um determinado perodo
de tempo, com linearidade, continuidade e agilidade que permitam a
compreenso total de seu enredo, mesmo com todas as compresses feitas em
seu tempo flmico quando da montagem de suas cenas e sequncias.
O filme selecionado para pesquisa, Vida Maria, apresenta recursos
oferecidos pela computao grfica, em que efeitos de luz e de movimentos de
cmera, riqueza de detalhes na composio visual de personagens e cenrios
so algumas das estratgias utilizadas para criar o mundo ficcional do cinema de
animao, em diferentes formatos e gneros. Diante disso, podemos caracterizar
o cinema de animao como um procedimento ldico, devido possibilidade de
criao decorrente das diferentes tcnicas empregadas e das possibilidades de
realizao infinitas das histrias narradas.
Como se trata de um curta-metragem, h uma concentrao de efeitos
narrativos e dramatrgicos resultantes da visualizao das imagens, composio
dos cenrios, modelagem de personagens e da trilha sonora, alm de efeitos
sonoros, sendo que tudo converge para a criao de um efeito nico, com a
finalidade de provocar a reao imediata do espectador. A vantagem de se
trabalhar com o filme de curta durao, consiste na sua autenticidade, dada a sua
natureza de obra cinematogrfica que pretende motivar e envolver o espectador.
Em vista disso, o aspecto da construo da narrativa prontamente identificado,
no entanto, os modos de contar aps assistir ao filme, so especficos, a cada
sujeito.
40
2 PROPOSTA DE INTERVENO
Aqui, apresentamos a metodologia aplicada leitura de imagens em
movimento, por meio do filme, Vida Maria, a fim de estimular a produo da
narrativa oral de experincias vividas, pelos estudantes do 6 e 7 anos EJA
Segmento de Educao de Jovens e Adultos.
Essa prtica pedaggica com a oralidade, a partir de narrativas, foi
realizada no segundo semestre do ano de 2014. Para o desenvolvimento dessa
atividade foram necessrias quatro aulas de 50 minutos em cada turma da EJA.
Salientamos, no entanto, que antes dessa proposta de interveno, foram
realizadas atividades de sensibilizao sobre a modalidade oral e sobre as
caractersticas de alguns gneros, que abordam a oralidade, bem como os
elementos que constituem a narrativa.
Para aplicao da referida atividade foram feitos, inicialmente, alguns
questionamentos aos alunos a respeito do que sabem sobre narrativas e do que
conhecem sobre a leitura de imagens.
Ento, levantamos questes relativas a leituras de textos narrativos; quais
os elementos que os constituem; se gostam de ler textos imagticos e quais as
impresses sobre esses textos; alm de levantar perguntas sobre filmes e
imagens interessantes que j assistiram. Foi preciso tambm explorar a noo de
oralidade e estabelecer, logo no incio, que o trabalho era sobre a produo de
uma narrativa oral e que a turma iria contar fatos da sua vida pessoal: como foi a
infncia; por que deixaram de estudar na fase regular de escolarizao; o que os
motivaram a voltar a estudar, entre outros relatos. Essa mobilizao inicial
objetivou o entendimento pelos alunos das especificidades que envolvem a
narrativa oral e a multiplicidade de formas que a oralidade assume.
Em seguida, foi apresentado o filme Vida Maria para uma das turmas e
nos dias subsequentes s outras duas. Cada turma era composta por 25 alunos
do 6 e 7 anos EJA do Segmento de Educao de Jovens e Adultos. Com base
nas imagens do filme, esses alunos foram solicitados a produzirem,
individualmente, a narrativa oral de experincias vividas, ressaltando as vivncias
de cada um. O trabalho foi realizado, inicialmente, com todos os alunos de cada
41
turma; posteriormente, para gravao e anlise com vistas ao trabalho de
concluso, selecionamos seis alunos que narraram suas histrias.
2.1. Conhecendo o espao
A Escola Municipal Jardim Santo Incio est localizada na Praa e no
Bairro com o mesmo nome da instituio de ensino, situada na periferia de
Salvador-BA. A escola tem apenas cinco anos de criao e conta com o nmero
de vinte e cinco salas de aulas, distribudas nos turnos matutino, vespertino e
noturno. Nos referidos turnos so atendidos seiscentos e setenta e oito alunos,
sendo duzentos e quatro no turno matutino, que conta com o quadro de dez
professores; duzentos e vinte e sete no turno vespertino, com onze professores e
duzentos e quarenta e sete no noturno, com doze professores.
No turno matutino so atendidos os alunos da Educao Infantil e do
Ensino Fundamental I. No vespertino a escola atende tambm a Educao Infantil
e Ensino Fundamental I. O corpo docente formado por alguns professores que
tm o ttulo de mestre e a maioria tem especializao nas suas respectivas reas
de ensino. No turno noturno, so atendidos os alunos da EJA I e da EJA II, que
constituem o Segmento de Educao de Jovens e Adultos. Neste turno funcionam
oito salas, sendo uma turma do 1TAP II (2 e 3 anos); duas turmas do TAP III (4
e 5 anos); trs turmas do TAP IV (6 e 7 anos) e duas turmas do TAP V (8 e 9
anos).
A unidade escolar conta com uma gestora, que atende todos os turnos de
ensino e trs vice-diretoras, sendo uma para cada turno. So quatro
coordenadoras pedaggicas que trabalham, respectivamente, uma no turno
matutino, uma no turno vespertino e duas no turno noturno, sendo uma para a
EJA I e outra para a EJA II. A instituio de ensino tem no total vinte funcionrios,
entre secretrias, merendeiras, pessoal de limpeza, agente de portaria, sendo que
trs fazem parte do quadro efetivo da rede e os demais so da categoria de
terceirizados. Quanto ao espao fsico, h uma secretaria, uma sala dos
professores, uma cantina com trs profissionais responsveis pela merenda, nos 1 TAP I, TAP II, TAP III, TAP IV, TAP V Tempos de Aprendizagem (Cdigo utilizado pela
Secretaria Municipal de Educao - SMED).
42
trs turnos, respectivamente. Existe, tambm, uma sala de informtica com seis
computadores para atender todo alunado.
Imagem 6
Fotografia do Colgio Municipal Jardim Santo Incio
2.2 Seleo dos sujeitos
Os sujeitos selecionados para este trabalho esto matriculados na
modalidade educacional da Educao de Jovens e Adultos que abrange,
especificamente, a Educao Bsica do Ensino Fundamental.
A EJA a modalidade de educao nas etapas dos Ensinos Fundamental
e Mdio da rede escolar pblica brasileira e adotada, tambm, pela rede
particular, que recebe os jovens e adultos que no completaram os anos da
Educao Bsica, em idade apropriada, por qualquer motivo, entre os quais
frequente a meno da necessidade de trabalho e participao na renda familiar
na infncia.
Esse segmento tem uma proposta diferenciada do ensino regular
tradicional, tanto pela trajetria pessoal e profissional quanto pelas demandas
43
pessoais e sociais dos sujeitos. Nesta perspectiva, a EJA deve ser assegurada
como direito educao escolar aos jovens e adultos que, pelas razes mais
diversas, no tiveram a oportunidade de frequentar ou concluir a Educao
Bsica.
Falar dos sujeitos da EJA falar sobre diferentes sonhos, ideais e utopias.
No caso dos sujeitos do Seja-Salvador temos educandos com trajetrias
individuais construdas em diferentes tempos.
Os referidos educandos so caracterizados como sujeitos que falam pouco,
so tmidos e relatam, muitas vezes, a dificuldade de falar em pblico. Por conta
disso, como professora de Lngua Portuguesa, percebo a grande
responsabilidade de apresentar a esses alunos atividades e situaes didticas
que venham desenvolver e estimular a produo verbal, pois poucos so os que
possuem desenvoltura no momento de expresso da fala.
Ento, selecionamos para pesquisa seis alunos dessas respectivas turmas,
sendo dois da turma A um do sexo masculino e um do sexo feminino; dois
alunos da turma B um do sexo masculino e um do sexo feminino; e dois alunos
da turma C, tambm um homem e uma mulher, para o trabalho de anlise das
produes orais. Esses sujeitos esto na faixa etria de 38 a 58 anos de idade,
cursando a EJA II (6 ao 7 ano), pertencentes ao nvel socioeconmico e cultural
baixo, residentes, prximo da escola, localizada na periferia da cidade de
Salvador, todos eles vivem na labuta de trabalhar nos dois turnos e estudar
noite. Poucos so aqueles que desejam continuar os estudos, concluir o terceiro
ano e ingressar na faculdade.
Com base nas caractersticas desses sujeitos, o segmento da EJA precisa
ter presena e voz nas polticas pblicas de ensino. A incluso das suas vozes
torna-se necessria para se instalar um modelo equitativo de educao popular.
Portanto, a oralidade representa, para esses alunos adultos, a possibilidade de
falar e a garantia de que suas opinies sero ouvidas pelo outro, na perspectiva
de promover um dilogo de natureza democrtica entre os sujeitos
frequentadores dessa modalidade de ensino, estimulando-os ao exerccio de
cidadania.
44
Contexto de ensino da EJA
Na rede municipal de ensino de Salvador so destacados os saberes da EJA
que constituem a base para o planejamento e a avaliao do processo formativo.
Eles esto organizados de acordo com os seguintes componentes curriculares:
EJA I: Lngua Portuguesa, Matemtica e Estudos da Sociedade e da
Natureza (Histria, Geografia e Cincias).
EJA II: Lngua Portuguesa, Lngua Estrangeira, Histria, Geografia,
Educao Fsica, Arte, Cincias e Matemtica.
Ressaltamos que esses saberes so indicadores da avaliao e referncia
pedaggica para o planejamento do professor; esto distribudos por reas do
conhecimento onde o educador poder articular na construo do planejamento:
objetivos, contedos, estratgias e situaes didticas; foram construdos
considerando uma sequncia lgica e gradativa de expectativas de
aprendizagens.
Segundo as orientaes da Secretaria Municipal de Educao - SMED, o
professor dever definir o quantitativo de saberes para a construo do
planejamento do bimestre e, consequentemente, do processo avaliativo dos
educandos.
Os professores da EJA II trabalham, especificamente, com os saberes de
Lngua Portuguesa que envolvem os indicadores do processo de aprendizagem,
conforme quadro abaixo:
45
Quadro 1
INDICADORES DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM TEMPO DE APRENDIZAGEM IV
SABERES LNGUA PORTUGUESA
CDIGO SABERES LNGUA
PORTUGUESA
1 BIMESTRE 2 BIMESTRE 3 BIMESTRE 4 BIMESTRE
2AC 0,0 a
2,5
EP 2,5 a
5,0
C 5,0 a
10
AC 0,0 a
2,5
EP 2,5 a
5,0
C 5,0 a
10
AC 0,0 a
2,5
EP 2,5 a
5,0
C
5,0 a
10
AC 0,0 a
2,5
EP 2,5 a
5,0
C
5,0 a
10
TAP4-
LP1
Expe suas ideias oralmente de modo a atender as mltiplas demandas sociais e diferentes propsitos comunicativos.
TAP4-LP2
Relaciona a presena de uma variedade lingustica em um texto de acordo com o contexto de interlocuo.
TAP4-LP 3
Emprega diferentes estratgias de leitura reconhecendo forma e contedo do texto, em funo das caractersticas do gnero, do suporte, do autor etc.
TAP4-LP 4
Reconhece em textos os procedimentos de persuaso utilizados pelo autor, defendendo com argumentos coerentes seus pontos de vista.
TAP4-LP 5
Produz textos do gnero oral amparado-se em registros escritos.
TAP4-LP 6
Compara e interpreta informaes de um mesmo fato em diferentes gneros textuais, identificando semelhanas e diferenas.
2 AC - A Construir /EP Em Processo/ C Construdo
46
TAP4-LP 7
Relaciona textos com outros textos e/ou recursos de natureza suplementar que o acompanham (grficos, tabelas, desenhos, fotos, boxes) no processo de compreenso e interpretao do texto.
TAP4-LP 8
Seleciona marcas de segmentao em funo do texto: ttulo e subttulo; paragrafao; periodizao; pontuao (ponto, vrgula, ponto e vrgula, dois-pontos, ponto de exclamao, ponto de interrogao, reticncias) e outros sinais grficos (aspas, travesso, parnteses).
TAP4-LP 9
Estrutura textos, em funo das marcas: mudana de captulo ou de pargrafo, ttulos e subttulos, para textos em prosa; colocao em estrofes e versos, para textos em versos.
TAP4-LP10
Articula conhecimentos da ortografia e morfologia na produo de textos, empregando os elementos gramaticais prprios da linguagem escrita.
NDICE PARCIAL
NDICE TOTAL
Quadro 2
Parecer Escala
AC A CONSTRUIR 0 a 2,5
EP EM
PROCESSO 2,5 a 5,0
C CONSTRUDO 5,0 a 10
Fonte:3
3 Coordenadoria de Ensino e Apoio Pedaggico CENAP (Salvador BA)
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Assim, o clculo da mdia bimestral ocorre com base na soma dos valores
atribudos ao saberes por rea de conhecimento, assinalados pelo professor de
acordo com o desempenho do educando, dividido pela quantidade de saberes
trabalhados ao longo do bimestre. Nesta perspectiva, os saberes assinalados, Em
Processo em um bimestre, podero ser retomados no planejamento da avaliao
do bimestre posterior.
Dentro desse vis, a escola que trabalha com jovens e adultos deve atentar
para a superao da escola fragmentada, dividida em disciplinas e grades
curriculares, distante da vida dos educandos. A cidade de Salvador considerada a
cidade mais negra fora da frica, se constitui num municpio que se destaca pela
identidade plural do seu povo. O reconhecimento dos saberes intrnsecos
diversidade cultural e social dos sujeitos da EJA constitui os fundamentos terico-
metodolgicos, postos para Educao de Jovens e Adultos na Rede Municipal de
Ensino que esto respaldados pelos documentos oficiais do MEC, no que tange a
esse segmento de ensino.
O desafio da escola que atende o Segmento de Jovens e Adultos
reco