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    Os verbetes "Sonata" e "Forma sonata" no Grove:1956, 1980 e 2001

    Cristina C. Gerling (UFRGS)e-mai l : cger l ing@vor tex .uf rgs .brJoana C. de Holanda (UFRGS)

    e-mai l : j oanaho /anda@hotma i l . com

    A irnportancia da sonata na historia da muslca ocidental 8 inquestionavel: alern de constituirferramenta pedaqoqica util, tanto para 0 instrumentista quanto para 0 compositor, desde 0seculo XVIII estabeleceu-se como um dos veiculos preferenciais na expressao de obras primasda rnusica europeia, Oesta forma os "grandes mestres" da pratica tonal e a cultivo da formatornaram-se conceitos indissociaveis. Enquanto 0 genero tem tido presence assegurada emprogramas de concerto, mais recentemente, 0 numero de estudos teoricos dedicados a formatornou-se tao numeroso quanto diversificado na sua abordagem. Um exame dos verbetes dasedicdes de 1956, 1980 e 2001 do Grove Dictionary of Music and Musicians reflete a valorizacaoda analise musical como disciplina acadernica e seu desenvolvimento exponencial nas ultirnasdecadas.Grove 1956o verbete "Sonata" da edlcao de 19561 define 0 termo segundo a sua utilizacao no final doseculo XVI, contrapondo sonare (soar, rnusica instrumental) a cantare (cantar, rnuslca vocal) eapresentando um apanhado hlstorico da producao de sonatas no periodo Barroco, divididasem sonata da camara e sonata da chiesa. Quanto ao denominando perfodo Classico (final doseculo XVIII e infcio do XIX), a forma sonata 8 definida como uma estrutura tripartite, organizadaem exposicao, desenvolvimento e recapitulacao e, eventualmente, apresentando uma quartasessao, a coda (vide PARRY, 1956b, p.888).Ao contra rio das edicoes subsequentes, a de 1956 nao dedica um verbete exclusive a "Formasonata", mas 0 verbete "Forma" (PARRY, 1956a, p.430) discute diversos t ipos de estruturas, entreas quais a sonata. A forma sonata aparece definida com referencia ao grupo tematico: "se are l acao entre importantes figuras damelodia e as c ir cuns tanc ia s especi a is em que elas seencontramsao observadas, torna-se perceptivel a def ln icao de forma a partir dos temas" (id., ibid.)."Tema" e a palavra chave para 0 estudo da forma e, neste contexto, concorre para conotar umaperspectiva progressista. Jufzos de valor diminuem compositores como Bach e Handel, parnao se conformarem a linha "evolutiva", que cu lminara nas sonatas para piano de Beethoven,com seus temas bem diferencfados. Hugh Parry escreve:

    Outros contemporaneos de Bach e Handel contribuiram mais do que eles para a desenvoivimentada forma sonata; mas e Scarlatti que, apesar de figura menor e criador mais limitado, alcancournais lange aqui e fez a Iiga

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    GERLING. Cristina C. e HOLANOA. Joana C. de. Os verbetes "Sonata" e "Forma sonata" no Grov e . .. P e r Mu si . Belo Horizonte, v.I, 2003. p, 85-91

    Sobre as sonatas de Corel li, 0 autor emite curiosa opiniao: "ambos os exemplos sao inferioresa giga supracitada no tocante a conclusao da primeira parte ser na tonalidade principal"(PARRY, 1956a, p.433).o revisor do artigo "Forma", chama a atencao para 0 fato de que a abordagem "evolucionista"nao e universalmente aceita. Salienta, no entanto, a lrnportancia e seriedade da pesquisa deParry, a justificar sua publicacao. Um aspecto positive e que 0 verbete"Forma" leva emconslderacao a figura do ouvlnte, contribuinte direto no desenvolvimento da forma (vide PARRY,1956a, p.439). Por outro lade, pouco espaco e dedicado a producao dos te6ricos do seculo XVIII,perlodo definitive para 0 estabelecimento da forma sonata como vefculo de expressao instrumental.No verbete "Sonata", a edlcao de 1956 aborda claramente 0 perlodo Barroco. Um trecho ededicado ao estilo de Corelli (PARRY, 1956b, p.892), outro as escolas de violino barroco (PARRY,1956b, p.893), outro a uma analise minuciosa de diferentes tipos de esquema blnarlo (PARRY,1956b, p.894). De acordo com Parry, e na obra de Corelli que surgem os primeiros tipos deforma sonata, nos ultlrnos movimentos das obras. 0 conceito e , no entanto, empregado aposteriori, num olhar retrospectivo, que pode nao se conformar a nocao de forma sonata comoesquema cristalizado no perfodo classico.Alnda segundo Parry, "com Mozart e Haydn 0 apice da regularidade na construcao dos temase alcancado" (PARRY, 1956b, p.899). A cornparacao dos dois compositores diz respeito maisaos distintos tratamentos da forma rond6 do que a forma sonata propriamente dita, Parryconsiderando os rondos de Mozart os mais interessantes. 0 artigo destaca a inovacao deMozart na manipulacao de elementos estruturais tarnbern na forma blnarla em algumas desuas obras e a importancia das sinfonias e quartetos de Haydn para a historia da forma sonata.Parry ressalta a maestria, humor e simplicidade com que Haydn manipula seus temas. Ascondic;:6eshlstoricas sao descritas, como urn fio condutor, em vista das consideracoes de estilo.Por exemplo, 0 trecho dedicado a contribuicao das construcoes rnelcolcas de Haydn chama aatencao para 0 fa to de que quase todos os compositores deste periodo estavam, de algummodo, relacionados a producao de operas.E relevante observar que, em 1949, no artigo "Harmonic Aspects of Form", Leonard Ratner jase preocupara em analisar como os te6ricos do seculo XVIII e infcio do XIX compreendiam aforma sonata (RATNER, 1949). Ratner mostra que eles a concebem em termos harmonlcos,como um movimento da tonica em dlrecao a dominante, com 0 retorno subseqUente a tonica.o uso de descricoes do movimento harmonica de fongo alcance, que alicerca a sonata na suaestrutura bipartite, nao coincide porern com a concepcao tematica tripartite da forma, que 0verbete em questao apresenta. 0autor postula 0 entendimento harmonica como mais consoantecom 0 entendimento dos teorlcos conternporaneos aos compositores.Grove 1980 e 2001Os verbetes das edicoes de 1980 e 2001 apresentam formato semelhante entre si. Ha, emambos, uma lntroducao onde se discute 0 termo "sonata", seguida de uma abordagem dosdiferentes perfodos: Barroco, Classico, Rornantico e Seculo XX. Mas se a orqanizacao segundoestas categorias traz vantagens, ela leva tambern a slrnplificacoes.

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    GERLING, Crlstina C. e HOLANOA, Joana C. de. Os verbetes "Sonata" e "Forma sonata" no Grove ....Per Musi. Belo HoriZont",. v_7. 2003. p, 8591

    A sistematlzacao da pratlca artfstica, seja nas artes plasttcas, muslca ou literatura, resultou naperiodizacao das producoes por autores e escolas. Em seu artigo "Historiografia", Hans HeinrichEGGEBRECHT (1980, p.S95) indica que, ja no seculo XVIII, Charles Burney organizava ahistoria "de acordo com periodos, escolas e problemas musicals especificos, sempre procurandoentender a musica como parte de um todo cultural". No seculo XIX, ocorre uma proliferacao deestudos dedicados a rnusica, com enfase no estabelecimento de escolas nacionais e naelaboracao de monografias sabre a vida e a obra de compositores. Os estudos de Kiesewettere Fetis sabre rnusicos da Halanda estao entre os primeiros a seguir esta sistematica, destacando-se ainda 0 tra balho de Wi nte rfeld, Johannes Gebtieli und sein Zeitalter (1834). Com apreocupacao de conferir uma orqanizacao ordenada e previsfvel ao passado, Fetis, Ambros eRiemann esmeram-se na producao de estudos historioqraficos. Entre 1918 e 1919, Guri itt, umaluno de Riemann, sugeriu que

    considerar a fen6meno musical em conjunto com as caracteristicas especiais individuais,nacionais e de atmosfera cultural prornovera um entendimento mais profundo da naturezaintrfnseca de qualquer documento pertinente ao pensar musical, invencao e percepcao, e umaconscisncia mais aguda do seu lugar na hist6ria (EGGEBRECHT 1980, p.598).

    Para Gurlitt, a cornpreensao da historla da rnusica estava centrada na observancia daindividualidade estilfstica dos compositores.Ao comentar a rnultiplicidade de significados que "estilo' pode assumir no contexto musical, RubertPascali ressalta que "0 termo pode ser usado para definir as caracterlsticas de urn compositorindividual, de um perfodo, de uma area ou centra geograflco, ou ainda de uma sociedade oufuncao social" (PASCALL 2001, p.638). Pascali discorre brevemente sobre como historiadoresutilizaram 0 conceito de "estilo de uma epoca" para determinar a divisao da Historia da Muslca emperfodos e suas interpretacoes diferenciadas (vide Pascali 2001, p.640). Preocupada em dividir ahlstoria da rnuslca ocidental a partir do ana 1000, Guido Adler apresentou argumentos a favor daadocao de normas esWfsticas em Der s m in der Musik (1911) e Methode der Musikgeschichte(1919). A palavra "estllo", contudo, surgiu no vocabulario musical ja no perfodo Barraco, junto comas primeiras discussoes sobre 0 assunto em producoes te6ricas (vide PASCALL 2001, p.641).Comentando as producoes mais recentes, Pascali escreve: "outros escritores - G. Reese(Music in the Middle Ages, 1940, e Music in the Renaissance, 1954), M. Bukofzer (Music in theBaroque Era, 1947) e F. Blume (Die Formung der Musikgeschichte, 1940) - continuaram aperiodizar a hlstoria da rnusica desde a seculo XI. Os termos Arte Antiga, Arte Nova, Renascenca,Barroco, Classicismo e Romantismo tornaram-se conceitos familiares. F. Blume argumentouconvincentemente sobre a coerencia em assumir-se que 0Classicismo e a Romantismo formamum so perfodo estilfstico" (PASCALL 2001, p.640). Contra-argumentamos que cateqorizacoesestanques da producao musical podem gerar equfvocos, uma vez que muitos compositores eobras nao se conformam a seus limites estreitos. As escolas, os perfodos e as estilos devemser entendidos como uma ferramenta, e nao uma norma.Esta tendencia ja se detecta no verbete "Sonata", de 1980. Apoiando-se em estudos numerosose significativos das decades de sessenta e setenta, ele refuta a tentativa de compreender atermo sob uma perspectiva hist6rica linear, afirmando que "a questao surge se 0 termo 'sonata'

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    tern sido usado numa constancia que justifique uma discussao em urn contfnuo historico"(NEWMAN, TILMOUTH e GRIFFITHS, 1980, pA97). 0 artigo discute 0 termo "sonata" emdiversos perfodos, sem linearidade ou teleologia. Citando reflexoes de compositores sobre 0termo, as autores argumentam que a abordagem "semantica" tern a vantagem de refletir asideias dos proprlos compositores sobre a "sonata" em diferentes epocas,Esta presente a discussao teorica da sonata e sua forma ao Iongo da historia, com exemplosde estudos e tratadas dos diferentes periodos, a refletir uma nova preocupacao: a estudosistematico dos escritos sabre forma sonata do proprio seculo XVIII e inicio do XIX. Esta poslcaorecente da musicologia pode ser examinada na producao dos proprios Ratner, Newman, Feil,Webster e Churgin,2 entre outros surgidos apes a segunda guerra mundial. 0 artigo apresentauma discussao da funcao social da sonata em cada periodo, de sua instrurnentacao e de seusestilos distintos. E visfvel a preocupacao com as bases socials e historicas da pratica musical.o artigo de 2001 soma-se as discussoes anteriores na preocupacao com a intercarnblo decompositores nas diversas reqioes da Europa, as condicces de publicacao e de circulacao demanuscritos e as pratlcas de performance. Ele contern uma secao dedicada a diversidadeestilfstica do perfodo Classico (1735-1820).0 estilo chamado "galante", com 0 seu apice entre1750 e 1760, e descrito em detalhe, e 0 apogeu do estilo classlco fartamente exemplificadonas obras de Haydn, Mozart e Beethoven.No verbete "Forma sonata" (WEBSTER, 1980 e 2001), comum as edicoes de 1980 e 2001, hauma secao dedicada a teoria, isto e , a tratados sobre a cornposicao de sonatas, sublinhandoassim a preocupacao em discutir como 0 conceito teorico foi apresentado e entendido nosdiferentes perfodos. Webster salienta a lrnportancia de Heinrich Christoph Koch como 0 autorda descricao mais completa de forma sonata no seculo XVIII, ao lado de nomes como os deMattheson, Niedts, Scheibe, Quantz, Riepel, GaJeazzi, Kollmann e Gervasoni. Para Webster,estes teoricos compreendiam a forma sonata como uma estrutura blnaria, em termos da estruturatonal da exposicao, do ritmo das frases e do plano de cadencies. Este debate reflete a lmportanciados trabalhos precursores de Ratner e Newman, acima mencionados.No que diz respeito ao seculo XIX, Webster mostra a ernerqencia do livro-texto "prescritivo",onde a "doutrina" descreve a forma nos termos do material ternatico e seu desenvolvimento. 0modelo "surgiu em parte como uma tentativa de explicar as dificuldades das abras de Beethoven,em parte como uma receita para usa em aulas de cornposicao e de analise" (WEBSTER, 2001,p.697). Os principais estudiosos do perlodo foram Hoffman, Birnbach, Momigny, Reich, Czernye Marx, ressaltando-se 0 abjetivo didatico explicito dos dois ultirnos.Mais recentemente, dois autores, pelo menos, defendem a concepcao que Marx desenvolveuna primeira metade do seculo XIX e cujos pressupostos formais apontam para uma divisaotripartite da forma sonata. No artigo "The Role of Sonata Form in A. B. Marx's Theory of Form",Scott Burnham escreve: "a ldela formal que Marx tern em mente e uma onde 0 maior pesoestrutural conferido a uma forma tripartite, estrutura essa que vem se desenvolvendo atravssde estaqios da famflia dos rondos, seria equivalente a obtencao de um tipo de unidade mais2 Vide a bibliografia do verbete em questao.

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    satisfat6rio, explicitada na primeira e quarta secao dos rond6s de quarta e quinta especies"(BURNHAM, 1989, p.256).

    Burnham apresenta uma descricao dos tipos de rond6s segundo a classlficacao de Marx.Tambern Newman, em The Sonata since Beethoven, afirma que "Marx dedicou muita atencaoaos detalhes de frase e perfodo, ele preferia uma concepcao tripartite a uma concepcao bipartiteda forma sonata" (NEWMAN, 1969, p.31). A controversia justifica-se: 0 artigo de Burnhamrealca como Marx desenvolve a nocao de forma sonata a partir da nocao de perfodoharmonicamente concebido. Sua concepcao harmonica da forma esta incorporada na elaboracaoternatlca, e as duas nocoes nao sao excludentes mas complementares. Explicacoes maisdetalhadas sobre as publicacoes desses te6ricos encontram-se na secao "Romantismo:deflnlcoes e atitudes conternporaneas" do verbete "Sonata" da edicao de 1980 (NEWMAN,T1LMOUTH e GRIFFITHS, 1980, p.491) e na secao "Teoria", subsecao "seculos XIX e XX", daedlcao de 2001 (WEBSTER, 2001, p.697).Em 1840 Carl Czerny atribui-se a primazia na sisternatlzacao da forma e de seus multiplesmovimentos, no estabelecimento de relacoes de proximidade da sonata com a sinfonia, quartetoe outros clclos instrumentais, bem como no fornecimento de detalhes da forma propriamente dita(NEWMAN, Tl LMOUTH e GRI FFITHS, 1980, p.492). E oportuno ressaltar que, em 1837, Marx jahavia concebido a forma como tripartite e tocado em pontos que Czerny iria desenvolverposteriormente. 0 fato e que ambos exerceram profunda influencia durante todo 0 seculo XIX,tendo contribufdo para a vlsao segundo a qual, com Beethoven, a sonata atinge seu apogeuabsoluto e - 0que e mais grave, pols perdura ate os nossos dias - os compositores anterioresa Beethoven sao como organismos menos desenvolvidos a procura de uma forma mais satisfat6ria.o estudo da sonata enquanto forma sonata exerceu 0 seu fascfnio tarnbern no seculo XX. Aspubllcacoes de Dahlhaus, Newmann e Rosen sao alguns exemplos dos varies estudos dedicadosao tema. Em sintonia com este interesse, metodos de analise musical da sonata tambem forampropostos no seculo XX. No verbete "Forma", de 1980 e 2001, James Webster divide os rnetodosanaliticos em seis linhas principais.Nesta classjficacao, Donald Francis Tovey foi 0 primeiro a desmistificar 0 modele acadernicoproposto no seculo XIX, reinterpretando-o como "estilo sonata". Tendo priorizado sobretudo arnusica alema, de Bach a Brahms, 0 eminente rnuslco ingles escreveu com refinada sensibilidadee raro discernimento alguns dos ensaios mais relevantes da primeira metade do seculo. Toveyelevou a escrita do texto sobre rnuslca a um novo patamar, s6 retomado no final do seculo XXpelo norte-americano Charles Rosen.Para Heinrich Schenker, a forma sonata e uma estrutura binarla de larga escala, na qual aprolonqacao da dominante no desenvolvimento da cornposicao desempenha papeldeterminante. Seus argumentos ressoam ainda, sobretudo porque este estudioso resgatou osescritos do seculo XVIII sobre a forma, cujo entendimento restaurou, tendo por base 0entrelacarnento do contra ponto com a harmonia. Ao faze-to, submeteu todo 0 processo deanalise a uma revlsao radical, principalmente ao relegar as transformacoes tematicas e rnotlvicas,e mesmo as quest6es formais, a um plano mais discreto, oferecendo uma teoria estruturalunificada da tonalidade. A partir da decada de cinqusnta, um interesse renovado por essa

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    alternativa analltica passou a dominar a America do Norte, num crescendo sem precedentes.Entre seus principais defensores, Burkhart reintegra estudos motfvicos ao canons schenkeriano,Rothgeb investe no aspecto contrapontfstico e Rothstein e Schachter integram 0 pararnetrorltrnico ao movimento tonal.No que diz respeito ao estudo do ritmo, abordado na forma de reacao a esta corrente dominantedo pensamento analftico, ja na decada de cinquenta surgem propostas marcantes de LeonardMeyere, pouco depois, sua forrnallzacao, com Grosvenor Cooper. Outros trabalhos que seguema tendencla de valorizacao do parametro ritmo, em maier au menor grau, sao as de Cogan,Cone, Epstein e Kramer, entre outros.Se 0 estudo da retorica e das dimens6es referenciais produziu os trabalhos serniotlcos deRatner e Agawu, 0 interesse pela sonata em termos de analise narratol6gica ocupa boa parteda prcducao mais recente, como se pode verificar em periodlcos especiaHzados. Kramerdesenvolveu uma proposta narrativa, relacionando a sonata a seu entorno social e cultural.A abordagem final relaciona-se a posicao denominada pos-rnodernlsta, segundo a qual a valorda sonata como forma e como genero tern. side exagerado e necessita reavallacao, Estaabordagem rnlnlrnlzante contrasta com 0nurnero crescente deinvestigac;:6es sabre a sua hist6rianos seculos XVIII e XIX. Webster constata que, desde a p6s-guerra, a sonata - genera eforma .- tern side objeto sistematico de estudo e, mesmo que urnafundamentacao teoricahlstorlca e analltica consistente se tenha estabelecido, 0 campo ainda carece de estudos malsabrangentes e de maior elstematlzacao.Griffiths (MANGSEN, IRVING, RINK e GRIFFITHS, 2001, p.683) cementa, com referencla aogenero composicional, que a dlssoclacao entre procedimento e conteudo tipifica 0seculo XX, umasltuacao que caracteriza a producao musical do perfodo e cuja solucao os compositores seesforcaram por encontrar. Esta dissociacao teve consequenc ias rad lca is, exem piificadas na Segu ndaSonata para piano de Boulez, que aquele autor consi.dera 0 ultimo compositor da forma. Websteracredita que as diferentes abordageris mencionadas iluminaram a compreensao da sonata nosecu lo XX , e s tabe le cendo , "pela primeira vez, os alicerces para uma hist6ria analftica e diferenciadada forma sonata, a qual , admitamos, ainda permanece por se r e scr lta " (WEBSTER, 2001, p.698).Observacoes finaisOs artigos dlstinquem-se tanto pela abordagem que fazem do tema (por exemplo, ao ressaltaro aspecto da utllizacao social da sonata e de sua lnstrurnentacao, em 1980, ou as tentativas deretorno as praticas de performance anteriores ao seculo XX, no ana 2001) quanto palo maierdestaque dado a urn determinado periodo ou compositor. Os estudos e as preocupacoesmusicol6gicas das ultlrnas decadas refletem-se nas edlcoes sucesslvas dos verbetes. Asreferenclas bibliograficas, ainda que contendo varlos tltulos em comum, sao distintas econstituem fontes delnformacao conf.avels.Digna de nota e a ausenc la de referencias a toda e qualquer sonata escrita na America Latina ..Apesar da l rnportancla e do nurnero significativo de sonatas compostas no continente durante 0socu lo p receden te , essa p roducao nao recebe mencao , Carlos Palornbln l tece cons ideracoes sobreas provave is causas desta orntssao: "0desenvolvimento da sonata e da forma sonata sao construcoes

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    hlstorloqraflcas, de autoria, na maior parte das vezes, de rnuslcoloqos europeus ou anglo-sax6es.Por outro lado, a rnusica brasileira aparece no Grove (1980 e 2001) como do dorntnioetnornusicoloqlco, 0 que se comprova pelo fato de praticamente todas as contribuicoes sobre 0Brasil serem de autonade umetnomusic6logo estrangeiro, um tanto desatualizado."3Os responsavelspelos verbetes continuam entrincheirados no etnocentrismo musical e sao omissos no que se referea producao musical de sonatas e conqeneres naAmerica do Sui ou em outras partes do planeta.Feitas essas ressalvas e consideracoes, recomendamos a leitura. Alern das discussoes sobrerepertorio, estilo e escolas, os artigos procuram situar as obras em seu contexto social, abordando,em seu espaco restrito, urn born nurnero de aspectos estruturais, anaHticos e formais, e curnprindoassim a funcao do verbete de dicionarlo: informar e guiar leitor em pesquisas futuras.Resta, portanto, empreender um estudo sistematico do repertorio de sonatas (quartetos, concertos,sinfonias e conqeneres) latino-arnericanas. Urn levantamento incipiente revela urna producaorica e extensa. Seu conhecimento pode trazer reflexos positivos nos rneios acaderntcos e artfsticos:o pensar-se a si mesrno e condicao essencial para 0 crescimento e contribui, em rnusica, para 0estabelecimento de urna identidade propria. E necessaria admitir que, ern seu estaqio atual, apesquisa sabre nosso repertorlo e bastante incompleta ainda. Como paderfarnos integrar estecorpus a urn patrimonio maior sem urna nOC8omais clara de sua real extensao e valor?Referenclas bibliograticas:AGAWU, K. Playing with Signs: A Semiotic Interpretetation of Classic Music. Princeton: Princeton University Press, 1991.BURNHAM, S. "The Role of Sonata Fonn inA. B. Marx's Theory of Fonn". JournaiofMusic Theory 33 (2): 27-271, 1989.COOPER, G. e MEYER, L. The Rhythmic Structure of Music. Chicago;University of Chicago Press, 1956.EGGEBREC HT, H. H. "Historiography". New Grove Dictionary of Music and Musicians. Org. Stanley Sad ie. Londres:Macmillan, 1980, v. 8, pp 592-600.MANGSEN, S., IRVING, J., RINK, J. e GRIFFITHS: "Sonata". New Grove Dictionary of Music and Musicians. Org.Stanley Sadie. Londres: Macmillan, v. 23, pp 671-87,2001.NEWMAN, W. S. The Sonata since Beethoven. Chapel Hill: University of North Carolina Press, 1969, rev. 2/1972.NEWMAN, W. S., TILMOUTH, M. e GRIFFITHS: "Sonata". New Grove Dictionary of Music and Musicians. Org.Stanley Sadie. Londres: Macmillan, 1980, v.17, pp 479-97.PARRY, C. H. H. "Form". New Grove Dictionary of Music and Musicians. Org. Eric Blom. Nova lorque: St. MartinPress" v. 3, pp 429-45, 1956a.--. "Sonata". New Grove Dictionary of Music and Musicians. Org. Eric Blom. Nova lorque: St. Marlin Press, v.7 , pp 887-908, 1956b.PASCALL, R. "Style". New Grove Dictionary of Music and Musicians. Org. Stanley Sadie. Londres: Macmillan, v.24, pp 638-42, 2001.RATNER, L. Classic Music: Expression, Form and Style. Nova torque:' Schirmer BOOKS,1980.--. "Harmonic Aspects of Classic Form". Journal of the American Musicological Society, v. 2, pp 159-68, 1949.--. Classic Music: Expression, Form and Style. Nova lorque: Schirmer, 1980.ROSEN, C. Sonata Forms. Nova lorque: Norton, 1988.--. The Classical Style: Haydn, Mozart and Beethoven. Nova lorque: Norton, 1972.TOVEY, D. F . A Companion to Beethoven's Pianoforte Sonatas. Nova lorque: AMS Press, 1935.WEBSTER, J. "Sonata Form". New Grove Dictionary of Music and Musicians. O~g. Stanley Sadie. Londres:Macmillan, v. 23, pp 687-701,2001.--. "Sonata Form". New Grove Dictionary of Music and Musicians. Org. Stanley Sadie. Londres: Macmillan,1980, v.17, pp498-508.

    J Este cornentario foi expresso em comunicacao de correlo eletronlco para a primeira autora desta resenha;nosso agradecimento ao autor pela permlssao de citacao,

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