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119 Solos e paisagem Parte II Parte II Comunidade de Plantas Comunidade de Plantas Comunidade de Plantas Comunidade de Plantas Comunidade de Plantas FOTO: JANINE FELFILI Comunidade de Plantas Comunidade de Plantas Comunidade de Plantas Comunidade de Plantas Comunidade de Plantas

Solos e paisagem Parte II - mma.gov.br 6.pdf · destaca-se a Depressão do Tocantins, que se estende de norte a sul da bacia, entre o Planalto Divisor São Francisco-Tocantins a leste,

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Solos e paisagem

Parte IIParte II

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Comunidade de PlantasComunidade de PlantasComunidade de PlantasComunidade de PlantasComunidade de Plantas

Capítulo 6Capítulo 6Capítulo 6Capítulo 6Capítulo 6

Biodiversidade,estrutura e

conservação deflorestas estacionais

deciduais no Cerrado.

Biodiversidade,estrutura e

conservação deflorestas estacionais

deciduais no Cerrado.

Capítulo 6Capítulo 6Capítulo 6Capítulo 6Capítulo 6

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Aldicir ScariotEmbrapa Recursos Genéticos e

BiotecnologiaPrograma das Nações Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD)Brasília, DF

Anderson C. SevilhaEmbrapa Recursos Genéticos e

BiotecnologiaBrasília, DF

Aldicir ScariotEmbrapa Recursos Genéticos e

BiotecnologiaPrograma das Nações Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD)Brasília, DF

Anderson C. SevilhaEmbrapa Recursos Genéticos e

BiotecnologiaBrasília, DF

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Reatto & Martins

Solos e paisagem

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INTRODUÇÃO

Um dos pontos mais controversosrelacionado às florestas cuja ocorrênciae distribuição estão condicionadas àestacionalidade climática (pluviosidadee(ou) temperatura) é a definição daterminologia adotada para a suaclassificação, sendo englobada sob adenominação genérica de Florestas ouMatas Secas as mais variadasfitofisionomias.

Nessa designação estão agrupadastanto as Florestas Estacionais Deciduais,quanto as Semideciduais, que no Brasilsão subdivididas por Veloso (IBGE1992), em função de sua localização emdiferentes faixas altimétricas egeográficas, nas formações Aluvial, dasTerras Baixas, Submontana e Montana.Embora utilizada com a finalidadeexclusiva de propiciar o mapeamentocontínuo de grandes áreas, taisformações parecem apresentarcorrespondência com as diferenciaçõesencontradas na composição e na

estrutura dessas florestas ( Fernandes &Bezerra 1990; Rizzini 1997; Fernandes2000; Ferraz 2002), reflexos docomponente histórico e dos processosecológicos diferenciados quecondicionam a dinâmica de cada sistema.

A falta de conhecimento sobre avegetação das florestas secas nas regiõesNeotropicais, apontada por Penningtonet al. (2000), é resultado da poucaatenção dada a esse tipo de formação(Murphy & Lugo 1986; Janzen 1988).Essa ausência de informações, começaser modificada para a região dosCerrados, com o aparecimento detrabalhos de composição, estrutura,dinâmica e processos ecológicos dasFlorestas Estacionais Deciduais (verScariot & Sevilha 2000; Sampaio 2001;Bueno et al. 2002, Vieira 2002). Porém,a falta da caracterização do tipo devegetação e de informações climáticas,principalmente temperatura epluviosidade, muitas vezes inviabilizacomparações entre as diferentesformações classificadas genericamentecomo florestas ou matas secas.

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Scariot & Sevilha

CARACTERIZAÇÃO E DISTRIBUIÇÃODAS FLORESTAS ESTACIONAISDECIDUAIS

As Florestas Estacionais Deciduaiscaracterizam-se pelo elevado grau dedeciduidade foliar do componentearbóreo e estão distribuídas pelas maisdiversas regiões tropicais do planeta, soba forma de um continuum florestal, ouainda, de fragmentos naturais isoladospor outros tipos de vegetação. Essasflorestas têm altura e área basal menoresque as florestas úmidas e o crescimentoocorre principalmente na estaçãochuvosa, período em que a camada defolhiço, que se acumulou sobre o solono período seco, se decompõe. Nohemisfério norte, a maioria das espéciesé anemocórica e muitas florescem natransição entre as estações seca e úmida,quando as plantas estão despidas defolhas (Bullock 1995). Porém, nohemisfério sul, o florescimento ocorrepredominantemente no período detransição da estação chuvosa para a secae a dispersão dos propágulos, que éprincipalmente anemocórica, no final daestação seca.

Como o que ocorre em relação àclassificação das florestas secas, tambémnão existe consenso na literatura quantoaos descritores e seus valores, quedeveriam ser utilizados para determinara classificação de um tipo defitofisionomia como decidual, ou não.São consideradas deciduais aquelasflorestas onde os indivíduos desprovidosde folhas, durante a estação seca,representam mais de 50%, para IBGE(1992); mais de 60%, para Fernandes(2000); e acima de 90%, para Eiten(1983). Embora empíricos tais valoresestão de acordo com aquelesencontrados para a Floresta EstacionalDecidual Submontana da bacia do rioParanã, Goiás. Em oito amostras de

1,0ha, num gradiente de perturbação deflorestas intactas até intensamenteperturbadas por exploração madeireira,98,6% dos indivíduos perdemtotalmente as folhas na estação seca. Aúnica espécie que as mantém é Talisiaesculenta (St. Hil.) Radik. Em áreasintactas, o percentual de cobertura dodossel varia de 90%, no período daschuvas, a 35%, na estação seca (Vieira2002), quando a cobertura do dossel érepresentada, principalmente, por galhose troncos.

Inicialmente, acreditava-se que adistribuição de espécies e aheterogeneidade espacial encontrada emflorestas secas eram limitadasexclusivamente pela disponibilidade deágua (Mooney et al. 1995).Posteriormente, passou-se a considerartambém as variáveis ambientais quelimitariam essa disponibilidade, taiscomo topografia e características físicasdos solos (Medina 1995; Mooney et al.1995; Martijena 1998). Revisões sobre adistribuição e estrutura desses sistemasflorestais nas Américas Central e do Sul(Murphy & Lugo 1995; Sampaio 1995),África (Menaut et al. 1995) e Ásia(Rundel & Boonpragob 1995) indicamque a única característica climáticamarcante comum a esse tipo de formaçãoé a forte sazonalidade na distribuição dechuvas. Essa sazonalidade, juntamentecom as diferenças no volume deprecipitação e a duração da estaçãochuvosa, seriam responsáveis pelasdiferenças entre florestas na altura dedossel, biomassa total e produtividade(Mooney et al. 1995), assim como naintensidade da queda de folhas, cujavariação interanual dependerá daseveridade da estação seca.

No Brasil, as Florestas EstacionaisDeciduais distribuem-se tanto pelasformações savânicas de Cerrado e

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Floresta estacional decidual

Caatinga, das regiões Centro-Oeste eNordeste, quanto pelas formaçõesflorestais sempre verdes da florestaAmazônica, na região Norte, e daAtlântica, na região Sul do país (Figura1), estando, portanto, associadas adiferentes tipos fitofisionômicos eregimes de estacionalidade em volumede precipitação e temperatura (Tabela 1),topografia e características físicas equímicas dos solos.

Na região dos Cerrados, essasflorestas estão distribuídas em um eixonordeste-sudoeste (Figura 1), ligando asProvíncias da Caatinga ao Chaco (Prado& Gibbs 1993; Oliveira Filho & Ratter1995), sendo comuns nos estados daBahia, Minas Gerais, Goiás, Mato Grossoe Mato Grosso do Sul, onde os teores deCálcio e Magnésio são elevados e os deAlumínio, baixos. Exemplos são asflorestas sobre afloramentos calcários

Figura 1

Localização geográficada bacia do rio Paranã

(GO e TO) edistribuição das

Florestas EstacionaisDeciduais no Brasil(IBGE 1983) e suas

respectivas classes desolos de ocorrência(EMBRAPA 1981) na

escala de1:5.000.000, segundo

o novo SistemaBrasileiro de

Classificação de Solos(EMBRAPA 1999).

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Scariot & Sevilha

(Ratter et al. 1973, 1988), em solosprofundos, geralmente Nitossolos(Podzólicos Vermelho Escuro eutróficos(IBGE 1995; Scariot & Sevilha 2000) eTerra-Roxa Estrutural similar eutrófica(Brasil 1982), em solos litólicos quecontenham traços ou influência calcária,sobre depósitos aluviais ricos emnutrientes, tais como na região dopantanal mato-grossense (Ratter et al.1988) e da bacia do rio Paranã (GO), esobre solos originários do derramamentobasáltico do sul do Goiás e TriânguloMineiro (Oliveira-Filho et al. 1998).

Dessa forma, um importante fatordeterminante da ocorrência das FlorestasEstacionais Deciduais do Brasil, seria osolo relativamente mais fértil emminerais (Ratter et al. 1973; Prado &Gibbs 1993; Oliveira Filho & Ratter1995), onde a capacidade competitivadas populações desses sistemasflorestais, parece ser maior. No entanto,quando confrontados os mapas dedistribuição das Florestas EstacionaisDeciduais do Brasil (IBGE 1983) com ode solos, confeccionados sobre o antigoSistema Brasileiro de Classificação deSolos (EMBRAPA 1981), observa-se queessa formação florestal distribui-se, porpelo menos, 40 classes de solosdiferentes, o equivalente a 13 classes do

novo sistema (EMBRAPA 1999),inclusive os distróficos, e não apenassobre aqueles relativamente mais férteis(Figura 1). Embora a escala deabordagem de ambos os mapeamentosseja muito ampla (1:5.000.000), a faltade estudos detalhados acerca dadistribuição e da caracterização dosfatores abióticos determinantes daocorrência dessas formações ficamevidentes quando são apontadas, porexemplo, as ocorrências dessas florestassobre Neossolos Quartzarênicos (areiasquartzosas distróficas), que, para JamesA. Ratter (comunicação pessoal), sóseriam possíveis se os teores de cálciofossem elevados, como aquelesencontrados na região do Jaíba, MG(Alexandre F. da Silva, comunicaçãopessoal).

O CASO DA BACIA DO RIOPARANÃ

Localização e ambientefísico

Na bacia do rio Paranã ocorre umdos mais significativos encraves deFlorestas Estacionais Deciduais do Brasil.Essa bacia, com 59.403 km2, é umadepressão entre os relevos do Planalto

Tabela 1. Distribuição do volume de precipitação e da temperatura médiapor Estado de ocorrência das Florestas Estacionais Deciduais noBrasil.

Dados obtidos a partir da comparação dos mapas de vegetação (IBGE 1983) com os de precipitação (IBGE 1978a)e temperatura (IBGE 1978b).

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Floresta estacional decidual

do Divisor São Francisco-Tocantins e doPlanalto Central Goiano e se estende donordeste do Estado de Goiás ao sudestedo Estado do Tocantins, por 33municípios. Ela está inserida na baciahidrográfica do rio Tocantins e situa-seno centro do território nacional, naconfluência da divisão política regionaldo Brasil, entre as regiões Norte, Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste (Figura 1).

Nela estão contidas as áreas deimportância biológica extremamente alta“Vale e Serra do Paranã, Grande SertãoGoiás-Bahia e Cavernas de São Domingose Florestas Semidecíduas do Sudeste doTocantins” e, a área “Sul do Tocantins –Região Conceição/Manuel Alves”, cujasinformações biológicas são insuficientes(Brasil 2002).

A bacia do rio Paranã está em umazona de transição, entre os domínios dosclimas úmidos da região amazônica e osdomínios dos climas semi-áridos daregião da Caatinga, sendo seu climaclassificado, segundo Köppen, em AW(Clima Tropical, com duas estações bemdefinidas), com variações para o CWa(Clima Tropical de altitude) (IBGE 1995).

As variações altitudinais entre osplanaltos acima de 1.000m e asdepressões abaixo de 500m presentes aolongo da bacia, resultam emdiferenciações climáticas relacionadas àsmédias anuais de pluviosidade etemperatura registradas na região. Sobreos relevos mais altos das serras e dosplanaltos residuais, o volume de chuvaé superior a 1.500mm/ano, enquanto,que nas zonas de depressão, nãoultrapassa 1.300mm/ano. A distribuiçãodas chuvas, ao longo do ano, caracteriza-se por se concentrar num período de 5meses entre as estações da primavera edo verão. A temperatura nas regiõesserranas chega a ser, em média, 5 0Cinferior às médias de 21 0C registradasnas regiões de depressões (IBGE 1995).

A bacia do rio Paranã apresenta umacomposição com unidadeslitoestratigráficas que refletem processosdiversos ao longo de diferentes ciclos,como o Transamazônico, Uruaçuano eBrasiliano. Predominam os terrenos quecorrespondem ao Complexo Goiano e aoGrupo Bambuí-Paraopebas, intercaladospor uma vasta ocorrência do Grupo Araí,na parte central da região (Fernandes etal. 1982).

Dentre os grandes DomíniosGeomorfológicos presentes na bacia dorio Paranã, são reconhecidas asDepressões Pediplanadas, os Planaltosem Estruturas SedimentaresConcordantes e os Planaltos emEstruturas Sedimentares Dobradas. Aszonas de depressões totalizam3.470.621ha (63%) da região, ecaracterizam-se por vãosinterplanálticos, balizados por saliênciasdestacadas pela erosão e feiçõesresultantes de processos de dissolução(Mauro et al. 1982).

Correspondendo ao Domínio dasDepressões Pediplanadas, das RegiõesGeomorfológicas da bacia do rio Paranã,destaca-se a Depressão do Tocantins, quese estende de norte a sul da bacia, entreo Planalto Divisor São Francisco-Tocantins a leste, e o Planalto CentralGoiano, a oeste. As altitudes nessadepressão variam de 300 a 800m, sendoque as altitudes maiores correspondemao contato com o Complexo MontanhosoVeadeiros-Araí, próximo de Teresina deGoiás e Cavalcante, e as mais baixas aolongo dos rios Paranã e tributários(Mauro et al. 1982).

Nessa região de tensão ecológicaentre grandes biomas em contatogeográfico (Cerrado, Caatinga e FlorestaTropical Úmida), reflexo do contato de

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Scariot & Sevilha

domínios climáticos, ocorrem solos comaltas taxas de fertilidade onde sãoencontradas as Florestas EstacionaisDeciduais. Dentre esses, destacam-se osNitossolos (Podzólicos Vermelho-Escuros eutróficos (IBGE 1995) e a Terra-Roxa Estruturada Similar eutrófica (Krejciet al. 1982). Estes solos se localizam,principalmente, em áreas de precipitaçãomédia anual entre 800 e 1.100 mm, sobrerelevo plano a suavemente ondulado,com predominância das áreas aplainadas(Krejci et al. 1982), onde a declividadevaria de 0-3% (IBGE 1995). Estes aindapodem apresentar uma fase rochosacomposta pelos afloramentos calcáriosamplamente distribuídos pela região. Sãodestacadas as ocorrências nosmunicípios de Iaciara, São Domingos eCampos Belos (Krejci et al. 1982).

Dentro das classes de solosidentificados pelo antigo sistema declassificação de solos do Brasil, oPodzólico Vermelho-Escuro eutróficodifere da Terra-Roxa Estruturada pelomaterial de origem. A primeira classeestá relacionada a litologias calcáriascom possíveis influências de materialcoluvionar (IBGE 1995), enquanto quea segunda, desenvolvida a partir derochas calcárias e ardósias do GrupoBambuí, tem altos teores de cálcio emagnésio, caracterizando-o como umdos solos mais férteis da região (Krejciet al. 1982).

A ocupação da paisagem

Geograficamente, a bacia do rioParanã engloba a divisão administrativada microrregião do Vão do Paranã, tidacomo a última área disponível paraexpansão da fronteira agrícola no Estadode Goiás, sendo já ocupada desde oséculo 18, com a criação de gado emapoio à atividade aurífera. Posterior-

mente, a região foi negligenciada paraatividades econômicas convencionais, oque contribuiu para a relativapreservação dos recursos naturais (Luíz1998) e manutenção de parte das últimasreservas florestais nativas de Goiás (IBGE1995). Atualmente são raras as áreasintactas, e quase sempre estãolocalizadas em locais de difícil acesso,geralmente sobre afloramentos de rochascalcárias.

A ocupação intensa a partir dos anos70, e principalmente nos anos 80,resultado da imigração do sul e sudestedo País, culminou com intensa extraçãomadeireira para suprir os mercadospaulista, goiano e paranaense (IBGE1995) e para subsidiar a implantação depastagens. As condições naturaisfavoráveis e terras disponíveis, sem usoagropecuário e, portanto, de baixo valoreconômico, resultaram na remoçãoquase que total da cobertura vegetal paraimplementação de fazendas de gado decorte. A extração de madeiras foiconduzida sem critérios técnicos e demaneira espontânea e empírica,executada por empreiteiros ou pelopróprio fazendeiro, procurando omáximo rendimento econômico, sempreocupação de reposição do estoque oua manutenção sustentada da atividade(IBGE 1995).

A escassez de árvores de espéciesde interesse econômico com diâmetroscomerciais reduziu as taxas deexploração das décadas de 1980 e 1990,sendo que a maioria das serrarias,paulatinamente, deixou de operar naúltima década (IBGE, 1995). Partesignificativa da vegetação já foiremovida, porém ainda hoje ocorre aextração comercial de madeira, tanto dasformações florestais, utilizadas paraserrarias e produção de carvão, quantodas savânicas, utilizadas principalmente

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Floresta estacional decidual

para carvão (IBGE, 1995). Em 1999, porexemplo, foi registrada a retirada de36.377 toneladas de madeira paraprodução de carvão, 189.160 m3 paraprodução de lenha e 21.769 m3 paraprodução de tora (IBGE, 2000).

As espécies mais utilizadas sãoMyracrodruon urundeuva Fr. All.(aroeira), Schinopsis brasiliensis Engl.(braúna) e Tabebuia impetiginosa(Mart.) Standl. (ipê-roxo), paraconfecção de cercas e currais, Cedrelafissilis Vell. (cedro), Machaeriumscleroxylon Tull. (pau-ferro),Enterolobium contortsiliquum (Vell.)Morong (tamboril), Hymenaea courbarilvar. stilbocarpa (H.) Lee. & L. (jatobá),Aspidosperma spp. (perobas) eAmburana cearensis (Fr. All.) A. C. Smith(cerejeira), dentre outras, para atendera construção civil e a indústria de móveisda região. Outras espécies são utilizadasindiscriminadamente para a produção decarvão vegetal.

Atualmente, cerca de 45% do totaldas propriedades existentes na bacia dorio Paranã têm entre 10 e 100ha (IBGE2000), estabelecidas, principalmente, nosmunicípios de relevo mais acidentado,enquanto que as grandes fazendas, comtamanhos superiores a 500ha, estão nasáreas de terras planas e de elevadafertilidade natural, especialmente no Vãodo Paranã.

A pecuária é a principal atividadeeconômica e a maior fonte de impactonegativo no meio ambiente, representadapor mais de 1.300.000 cabeças de gado.Essa atividade responde por 69,4% daeconomia de todos os estabelecimentosagropecuários presentes na bacia doParanã, enquanto que as áreas deprodução mista (lavoura e pecuária),respondem por 15,47% e as lavourastemporárias por 11,59%. As demais

atividades econômicas desenvolvidas nocampo são representadas por lavouraspermanentes (1,64%), silvicultura eexploração florestal (1,14%), produçãode carvão vegetal (0,52%), horticulturae produtos de viveiro (0,21%), pesca eaqüicultura (0,01%) (IBGE, 2000).

Além da pecuária, a construção dehidrelétricas, representa um forteimpacto, tanto para a fauna quanto paraa flora das áreas de influência direta eindireta, por modificar definitivamentea dinâmica das bacias onde sãoinstaladas. A interrupção do fluxo naturaldos organismos, provocado pelasbarragens, pode ainda reduzir o tamanhodas populações de animais e plantas eprovocar extinções locais. Com isso, acrescente ocupação de áreas naturais naregião do vale do Paranã, desvinculadado prévio conhecimento do potencial doambiente, resultou em uma paisagemantropizada, onde estão imersos osfragmentos de Florestas EstacionaisDeciduais e de Cerrado, principalmente.

Composição, diversidade eestrutura das Florestas Esta-cionais Deciduais Submon-tanas

Na região da bacia do rio Paranã, avegetação é constituída, basicamente,por duas classes de formações, asflorestais e as savânicas. Além destas,áreas de tensão ecológica estãoamplamente distribuídas ao longo docontato entre essas formações,principalmente entre as FlorestasEstacionais Deciduais e Semideciduais eas formações savânicas de Cerrado eCaatinga. Áreas de formaçõessecundárias em diferentes estádios deregeneração estão também amplamentedistribuídas por essa bacia, resultado doabandono ou mau uso da terra.

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Scariot & Sevilha

Nessa região, encontram-sedispersas as maiores disjunções dasformações de Floresta EstacionalDecidual Submontana do país (IBGE1992). Originariamente, essas florestaspredominavam nas áreas de afloramentocalcário e nas áreas planas de soloseutróficos que cobrem grandes extensõesda bacia. As áreas de afloramentoscalcários estão mais preservadas devidoà dificuldade na extração de madeira,enquanto que a ocupação desordenadadas áreas planas resultou nafragmentação e na redução do tamanhodas populações de espécies arbóreas deinteresse madeireiro e outras associadas,que somente são encontradas em algunsfragmentos, pouco ou nada explorados,que remanescem em meio às pastagens(Scariot & Sevilha 2000).

Segundo Oliveira Filho & Ratter(1995) a maioria das espécies dasflorestas do Brasil Central parecemajustar-se a dois padrões de distribuição:(1) espécies de floresta com diferentesníveis de caducifolia, que dependemessencialmente da ocorrência demanchas de solos férteis dentro dodomínio do Cerrado e tendem adistribuir-se, principalmente, dentro deum arco nordeste-sudoeste, conectandoa Caatinga às fronteiras do Chaco.Pennington et al. (2000), sugerem aexistência de uma antiga formaçãocontínua das florestas secas do BrasilCentral, que hoje, fragmentada, teriamformado corredores interligando estesbiomas; (2) grande parte das espéciesdependente da alta umidade no solo, quese distribuem das Florestas PluviaisAmazônica à Atlântica, cruzando aregião dos cerrados no arco noroeste-sudeste pela rede dendrítica de florestasassociadas a sistemas ripários.

Em aspectos florísticos e fisio-nômicos, as Florestas EstacionaisDeciduais estão mais associadas com as

Caatingas arbóreas (Ratter et al. 1988;Fernandes & Bezerra 1990), com espéciestidas como típicas dessa formação, taiscomo M. urundeuva, S. brasiliensis,Cavanillesia arborea K Schum., A.cearensis, T. impetiginosa, dentre outras.Contudo, essas florestas podemapresentar semelhança também comoutros tipos vegetacionais adjacentes,dada a interpenetração de espéciesdessas outras formações. Tal fato tornaas Florestas Estacionais Deciduaisparticularmente singulares (Pedrali 1997;Brina 1998), uma vez que estascongregam uma associação de espéciesque é única para cada região.

Da mesma forma, florística eestruturalmente, o componente arbóreodas Florestas Estacionais Deciduais deáreas planas e de afloramentos calcáriosde uma mesma região, como é o casoda bacia do rio Paranã, pode formarassociações distintas. Nos levantamentosflorísticos realizados nessa região combase em amostragens fitossociológicasde 11 fragmentos (três em afloramentoscalcários e oito em áreas planas, sendoque destes, três estão em áreas intactase cinco em áreas com diferentes níveisde exploração) (Scariot & Sevilha 2000;Silva & Scariot 2003, 2004a, b),complementadas por caminhadasaleatórias, foram encontradas 128espécies arbóreas, de 90 gêneros e 41famílias. A família mais representativafoi Leguminosae (subfamíliasMimosoideae - 11 gêneros e 14 espécies,Faboideae - 10 gêneros e 18 espécies - eCaesalpinoideae - 7 gêneros e 8 espécies)que contribuiu com 31% do total degêneros e de espécies de árvoresamostradas. Em vários estudosrealizados no Brasil, essa família tem sedestacado como a mais importantedentre as diferentes fisionomias (Prance1990; Lima & Guedes-Bruni 1994), sendoainda considerada como a mais

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Floresta estacional decidual

importante nas florestas neotropicais(Richards 1952; Gentry 1990).

Embora algumas áreas sobreafloramento calcário possam ter em umhectare um número maior de espéciesarbóreas do que o encontrado em umhectare sobre áreas planas (Tabela 2),no total, áreas de afloramento calcáriopossuem menor riqueza de espécies queáreas planas. Das 128 espéciesamostradas, 51 (40%) foram comuns àsflorestas de áreas de planaltos e deafloramentos calcários, enquanto que 57(44,5%) foram amostradas exclu-sivamente nas áreas planas e 20 (15,5%)nas áreas sobre afloramento calcário.

Em áreas de floresta intacta, adensidade média de árvores estimadascom diâmetro acima de 5cm é de 650indivíduos.ha-1 nas áreas planas e, de 770indivíduos.ha-1 nas áreas de afloramento

calcário (Tabela 2). Embora as florestassobre afloramentos calcários tenhamvalores médios de densidade superioresaos das áreas planas, os valores de áreabasal são mais próximos aos amostradosnas áreas mais perturbadas de florestasobre relevo plano, o que denota o menorporte dos indivíduos que compõem asassociações sobre esses afloramentoscalcários.

Os valores de diversidade estimadosestão, em geral, próximos entre si, masabaixo daqueles estimados para outrasflorestas tropicais. Já os valores deequitabilidade não indicam dominânciade espécies nos fragmentos amostrados.Das 102 espécies amostradas nosinventários, 31 perfazem as 10 espéciesmais importantes em valor de impor-tância (VI) para cada levantamento esomam, pelo menos, 60% do total do VIestimado para cada localidade (Tabela 3).

Tabela 2. Estrutura da comunidade de árvores de Floresta Estacional DecidualSubmontana de fragmentos intactos (i) e explorados (e) emplanaltos (p) e afloramentos calcários (ac) no município de SãoDomingos, Vale do Paranã (GO), em áreas amostradas nas fazendasSão Domingos (SD), Flor do Ermo (FE), Traçadal (FT), Olho d’Água(OA), Manguinha (FM), Cruzeiro do Sul (CS), São Vicente (SV), Canadá(FC) e São José (SJ).

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Scariot & Sevilha

Diferenciações na composição e naestrutura entre as formações florestaisdeciduais em áreas planas e deafloramentos calcários são encontradasquando as amostras originadas dosestudos fitossociológicos sãoclassificadas por TWINSPAN (Two-wayindicator species analysis, Hill 1979,Figura 2). Esta análise resultou embasicamente dois grupos distintos quesepararam as amostras das áreas planas

daquelas sobre afloramentos calcários,com elevado autovalor (0,469), o queindica uma forte divisão (Gauch 1982).Das 102 espécies amostradas noslevantamentos fitossociológicos, 29foram apontadas como de ocorrênciapreferencial nos afloramentos calcários,dentre as quais se destacaram, peloselevados valores de densidade efreqüência: Acacia glomerosa Benth.,Cabralea canjerana (Vell.) Mart.,

Tabela 3. Rol e posição das 10 espécies arbóreas mais importantes em valorde importância (VI) amostradas em fragmentos de FlorestaEstacional Decidual Submontana, São Domingos, Vale do Paranã,GO, em áreas amostradas nas fazendas São Domingos (SD), Flordo Ermo (FE), Traçadal (FT), Olho d’Água (OA), Manguinha (FM),Cruzeiro do Sul (CS), São Vicente (SV), Canadá (FC) e São José (SJ).

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Floresta estacional decidual

Cecropia saxatilis Snethlage,Commiphora leptophloeos (Mart.) Gillet,Cordia glabrata (Mart.) DC., Ficusinsipida Willd., Ficus pertusa L. f.,Jacaranda brasiliana (Lam.) Pers.,Luehea divaricata Mart., Piranheasecurinega A. Radcliffe-Smith & J. A.Ratter, Pseudobombax longiflorum(Mart. & Zucc.) A. Robyns, Simaroubaversicolor St. Hil., Commiphora sp. (esta,espécie nova para a ciência e em fase dedescrição), Jatropha sp. e Luetzelburgiasp. Destas, C. canjerana, C. saxatilis, F.insipida, F. pertusa, P. securinega,Commiphora sp. e Jatropha sp. não sãoencontradas nas florestas de planaltos.

Os demais grupos formados pelasdicotomias estão presentes apenas entreas amostras de áreas planas e agrupamos fragmentos geograficamente maispróximos entre si. Porém, as divisõesforam pouco sensíveis, com autovalores(0,147 e 0,176) baixos (Gauch 1982)(Figura 2).

Dentre as espécies que sedestacaram pelos elevados valores decobertura com que foram amostradas,Eugenia dysenterica DC., Machaeriumbrasiliense Vog., Randia armata (Sw.)DC., Senna speciosa (DC.) Irwin & Barn.,

Swartzia multijuga Vog., Sweetiafruticosa Spreng., Talisia esculenta eCombretum sp., estão entre as 30 queocorreram exclusivamente nas áreasplanas, enquanto Cedrela fissilis Vell.,Enterolobium contortisiliquum (Vell.)Morong, Lonchocarpus montanus Tozzi,Platypodium elegans Vog., Pouteriagardnerii (Mart. e Miq.) Baehni. eSpondias mombin L., emboraamostradas sobre afloramentos, sãoapontadas como de ocorrênciapreferencial de áreas de planaltos. JáAnadenanthera colubrina (Vell.) Brenan,Aspidosperma pyrifolium Mart.,Aspidosperma subincanum Mart.,Astronium fraxinifolium Schott,Bauhinia brevipes Vog., Cavanillesiaarborea, Chorisia pubiflora (A. St. Hil.)Dawson., Combretum duarteanumCamb., Dilodendron bipinnatum Radlk.,Guazuma ulmifolia Lam., Machaeriumscleroxylon, Machaerium stipitatum(DC.) Vog., Machaerium villosum Vog.,Myracrodruon urundeuva, Pseudo-bombax tomentosum (Mart. & Zucc.) A.Robins, Sterculia striata A. St. Hil. &Naud., Tabebuia impetiginosa e T. roseo-alba (Ridley) Sand., estão entre as 40espécies indiferentes que foramamostradas em ambas as formações.

Figura 2

Classificação pelométodo de TWINSPAN

de 11 fragmentos deFloresta Estacional

Decidual Submontanaintactos (i) e

explorados (e) emáreas de planaltos (p)

e afloramentoscalcários (ac) no

município de SãoDomingos, Vale do

Paranã (GO), emáreas amostradas nas

fazendas SãoDomingos (SD), Flor

do Ermo (FE), Traçadal(FT), Olho d’Àgua(OA), Manguinha

(FM), Cruzeiro do Sul(CS), São Vicente (SV),

Canadá (FC) e SãoJosé (SJ). Números

entre parêntesesindicam os

autovalores.

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Scariot & Sevilha

Estas podem ser consideradas como asmais importantes na estruturação dascomunidades de Florestas Deciduais daregião da bacia do rio Paranã.

Essa diferenciação implica naadoção de manejo diferenciado dasformações florestais de fragmentos sobreplanaltos e fragmentos sobre afloramentocalcário. As populações das espécies deelevado valor econômico persistem emáreas de afloramento devido àsdificuldades impostas pela topografia àexploração madeireira. Porém, nas áreasplanas, essas populações estãoameaçadas de extinção local devido aodesmatamento e à exploração seletiva,que remove as árvores maiores, comcaracterísticas de fuste mais adequadasao aproveitamento madeireiro, causandodanos ecológicos e genéticos àspopulações dessas espécies. A remoçãodos indivíduos reprodutivos, além depotencialmente afetar a reprodução dasárvores remanescentes, modifica aestrutura da comunidade e, assim, afetao estabelecimento, crescimento ereprodução de outras espécies,exploradas ou não. Já a remoção dedeterminados indivíduos comcaracterísticas mais adequadas àcomercialização madeireira pode resultarna seleção negativa desses genótipos nanatureza.

Desmatamento, fragmen-tação e plantas invasoras

Embora grande parte da região dovale do rio Paranã tenha sido desmatadana década de 1980, ainda nos anos de1990, proporção significativa davegetação continuou a ser removida. Emuma área de 180.877ha estudada, ondepredominavam as Florestas EstacionaisDeciduais, estimou-se que a perda devegetação nativa, que em 1991, cobria

15,4% da superfície havia sido reduzidaa somente 5,4% em 1999 (Andahur2002). A maior perda de vegetaçãoocorreu nas áreas mais planas e comsolos mais aptos ao aproveitamentopecuário.

O desmatamento na região resultouna fragmentação do habitat , queimplicou na descontinuidade dadistribuição da vegetação original,reduziu o habitat disponível aosorganismos silvestres e acrescentoubordas a uma paisagem até entãocontínua. Isto resulta em mudanças nadistribuição e abundância dosorganismos, afetando a demografia egenética das populações e, con-seqüentemente, a biodiversidade(Wilcove 1986). A maioria (65%) dosfragmentos remanescentes da área acimaamostrada tem menos de 1 hectare, e88% estão abaixo de 5,0ha, sendo raras(menos de 1%) as áreas acima de 100ha(Andahur 2002).

A drástica modificação da paisagemnatural e o aumento da populaçãohumana ocorridos nas últimas décadascriaram as condições para a introduçãode espécies exóticas nas áreasremanescentes de Florestas EstacionaisDeciduais da bacia do rio Paranã.Algumas dessas espécies foramdeliberadamente introduzidas pelohomem, com objetivo de incrementar aprodução agropecuária, destacando-seprincipalmente as gramíneas, comoHyparrhenia rufa (Nees) Stapf., Panicummaximum Jacq., Pennisetum purpureumSchum., entre outras. Já Acaciafarnesiana (L.) Willd., conhecida nabacia do rio Paranã como esponjinha,também de origem africana, é umaárvore invasora das pastagens, ondepode formar agrupamentos fechados.Embora os legumes sejam ingeridos pelogado, que eventualmente dispersa assementes nas pastagens e nas florestasremanescentes, as plantas raramente se

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Floresta estacional decidual

estabelecem no interior das florestas,sendo mais comum nas bordas destacom a pastagem.

Conservação de um ecossis-tema ameaçado de extinção

Não obstante a singularidade dasFlorestas Estacionais Deciduais, ariqueza em espécies de importânciamadeireira, a alta taxa de desmatamentoe o impacto da perturbação antrópica nosremanescentes, poucas unidades deconservação contemplam essafitofisionomia. Na região do Vale do rioParanã, somente o Parque Estadual deTerra Ronca, com cerca de 57 mil ha,tem porções significativas de FlorestaEstacional Decidual Submontana, masapenas sobre afloramentos calcários,faltando as florestas sobre planaltos, amais ameaçada de todas asfitofisionomias do bioma Cerrado. Alémdisso, esse parque ainda não foiimplementado e a maior parte davegetação de sua área é constituída depastagens e formações secundárias, quenecessitam de medidas de facilitaçãopara acelerar a sua recuperação.

Essencial nessa extensa região dovale do rio Paranã é a imediataimplantação de novas unidades deconservação, que permitam aconservação e a preservação de amostrassignificativas da biodiversidade, da ricavariedade de fitofisionomias e dasnascentes dos cursos de água e queassegurem ainda, o fluxo gênico entrepopulações isoladas. Neste contexto aimplementação de corredores ecológicosé um objetivo maior a ser perseguido.

Corredores ecológicos podemaumentar a conectividade entrepopulações isoladas pela fragmentação,pois podem assegurar rotas para o fluxode genes, recolonização de fragmentos,aumento efetivo do tamanho de

populações nativas e equilíbrio nonúmero de espécies (Bentley & Catterral1997). As principais razões para amanutenção de corredores ecológicossão a possibilidade de aumentar as taxasde imigração (Harris e Scheck 1991);assegurar rotas de movimento paraespécies de ampla distribuição geográfica(Harris 1984); diminuir a depressãoendogâmica (Harris 1984); e reduzir aestocasticidade demográfica (Merriam1991). Para isso é necessária aimplementação de medidas que resultena (1) criação de unidades deconservação, e (2) implantação demecanismos que assegurem apersistência e recuperação daspopulações de espécies nativas nas áreasremanescentes que estão sob pressãoantrópica.

A criação de unidades deconservação deve necessariamenteatender a critérios técnicos, porémoportunidades políticas e sociais nãodevem ser desperdiçadas. Nessecontexto, grandes unidades deconservação de uso restrito devem sercriadas, assim como incentivada acriação de unidades menores, ao alcancedas condições dos municípios. Especialatenção deve ser dada à criação dereservas particulares do patrimônionatural (RPPNs), o que demandará umtrabalho criterioso junto aosproprietários rurais da região. As RPPNspodem desempenhar um papelfundamental no funcionamento decorredores ecológicos, exatamente pelapossibilidade de serem implementadasde forma a distribuírem-se espacialmentepor toda a bacia do rio Paranã, o quecontribuiria para a preservação de umagrande diversidade de fitofisionomias eaumentaria a possibilidade de fluxogênico entre populações.

A implantação de medidas demanejo pode contribuir para que áreas,tanto em unidades de conservação como

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Scariot & Sevilha

em propriedades privadas, possam serpartícipes efetivos dos corredoresecológicos. A recomendação eimplementação de medidas de manejodevem, necessariamente, seremprecedidas de pesquisas que constatema viabilidade ecológica e econômica dasmesmas. Exemplo disso é a utilizaçãodos remanescentes florestais pelo gado,que além de pisotear e consumirplântulas, preda as sementes de diversasespécies de árvores (Vieira 2002),podendo também dispersar sementes deespécies exóticas no interior das áreasremanescentes de floresta. A exploraçãoseletiva de madeira causa modificaçõesna estrutura dos remanescentes, taiscomo aumento da abertura do dossel,criação de clareiras e oportunidades parao aumento de emaranhados de cipós,que podem afetar diferencialmente aregeneração de árvores (Vieira 2002) e,eventualmente, modificar a estrutura ecomposição da comunidade de plantas(Webb 1997). A compreensão da direçãoe intensidade dos efeitos do uso das áreasremanescentes e do manejo da matrizna biodiversidade é de fundamentalimportância para o manejo econservação da biodiversidade da região.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não há duvidas de que FlorestasEstacionais Deciduais estão sendodestruídas em velocidade e intensidadealarmantes e que não estão sendoadequadamente contempladas emunidades de conservação, o que colocaem perigo a persistência dessafitofisionomia em um futuro próximo.Ademais, a exploração de espécies dealto valor comercial pode extinguirpopulações, selecionar negativamentegenótipos de algumas espécies e reduziro fluxo gênico, sendo os exemplos maismarcantes Amburana cearensis e Cedrelafissilis, que são listadas como ameaçadasde extinção (IUCN 1997). É crucial que

medidas que possam vir a contribuirpara reverter essa tendência, sejamimplementadas, dentre as quais:

1. Implantação de unidades deconservação de uso restrito etamanho adequado, inclusive amultiplicação de RPPNs naregião;

2. Implementação de medidas demanejo que contribuam parafacilitar a recuperação dascaracterísticas primárias dasáreas exploradas;

3. Modificação no uso das áreasremanescentes de forma adiminuir o impacto sobre abiodiversidade; e

4. Coleta de germoplasma paraassegurar a conservação ex situ esubsidiar programas dereintrodução de populaçõesextintas ou ameaçadas.

O conhecimento científico sobre abiodiversidade da região, necessa-riamente, inclui:

1. Inventários quantitativos equalitativos da biodiversidade;

2. Desenvolvimento de técnicas demanejo de espécies deimportância local (ameaçadas,economicamente importantes einvasoras);

3. Desenvolvimento de técnicaspara a reintrodução de genótipose populações localmente extintas;

4. Desenvolvimento de técnicaspara facilitação e recuperação deáreas degradadas; e

5. Valorização das espécies da florae fauna dessas florestas.

Portanto, ao menos que a tendênciade negligência com que esse ecossistematem sido tratado seja revertida, poucorestará dos remanescentes pleistocênicosde floresta tropical estacional seca nodomínio do Cerrado.

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