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Sola Scriptura, por William R. Downing

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Sola Scriptura O GRANDE DISTINTIVO BATISTA

WILLIAM R. DOWNING

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Traduzido do original em Inglês

Sola Scriptura: The Great Baptist Distinctive

By William R. Downing

Via SGBCSV.org • Copyright © William R. Downing

(Sovereign Grace Baptist Church of Silicon Valley)

Tradução e Capa por William Teixeira

Revisão por Camila Almeida

1ª Edição: Julho de 2015

As citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida Corrigida Fiel | ACF

Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.

Traduzido e publicado em Português pelo website oEstandarteDeCristo.com, com a graciosa

permissão do Dr. William R. Downing, sob a licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-

NoDerivatives 4.0 International Public License.

Você está autorizado e incentivado a reproduzir e/ou distribuir este material em qualquer formato,

desde que informe o autor, as fontes originais e o tradutor, e que também não altere o seu conteúdo

nem o utilize para quaisquer fins comerciais.

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Sola Scriptura: O Grande Distintivo Batista Por William R. Downing

Textos: Mateus 4:4; Romanos 4:3; 2 Timóteo 3:16-17.

O objetivo deste estudo é fazer algumas observações gerais sobre o tema Sola Scriptura.

Ele não lidará em profundidade com as questões específicas da lógica e irracionalismo na

teologia moderna, e apenas apresentará o tema “boa e necessária consequência”.

ESBOÇO:

O esboço deste estudo discute as três questões mais básicas sobre Sola Scriptura:

I. Sola Scriptura: A Essência da Doutrina e Prática Batista. Qual é o significado deste essen-

cial e singular distintivo Batista?

II. Sola Scriptura e o uso de boa e necessária consequência. É legítimo deduzir logicamente

aspectos da verdade doutrinal e prática das Escrituras?

III. Sola Scriptura e uma hermenêutica bíblica consistente. Qual é o significado de uma

hermenêutica bíblica que seja coerente com o difundido princípio da revelação progressiva?

INTRODUÇÃO

Existem vários grandes distintivos Batistas que caracterizam a Bíblica e histórica posição

Batista. Estas importantes distinções incluem:

Primeiramente, a Bíblia como a única e toda-suficiente regra de fé e prática. Isso permanece

em contraste com outros critérios históricos, como tradição religiosa, a autoridade eclesiás-

tica, credos, concílios da Igreja, o racionalismo e moderno irracionalismo religioso que

enfatiza a experiência e o emocionalismo.

Em segundo lugar, o Batismo de Crentes por imersão1. Este distintivo Batista deriva da

__________

[1] Há um termo usado no Novo Testamento para o Batismo: ῖ, que denota a mergulhar, submergir,

imergir, ou lavar por imersão. Ela deriva da raiz βαϕ, que conota profundidade. Se os escritores inspirados do

Novo Testamento desejassem transmitir a ideia de aspersão, eles teriam usado o termo comum no Novo

Testamento para aspergir, ῥεῖ. Para uma discussão mais extensa, veja a nota 31.

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verdade do Novo Testamento quanto a ambos: modo, imersão e sujeitos, crentes. Não há

nenhum registro de imersão ou aspersão de bebês, ou batismo intencional de descrentes

no Novo Testamento. Neste distintivo Neotestamentário, os Batistas estão em oposição ao

Protestantismo Ocidental e Oriental do Catolicismo, e Protestantismo tradicional.

Em terceiro lugar, uma membresia eclesiástica regenerada (ou uma membresia regenerada

da igreja). Este é o distintivo de uma igreja verdadeira do Novo Testamento ou Evangélica,

e necessariamente implica:

• Que a membresia da igreja é voluntária. Uma igreja que pratica a imersão ou aspersão de

crianças e considera que a igreja seja composta tanto de crentes e seus filhos é em grande

parte involuntária na membresia e estranha ao Novo Testamento.

• Que a adesão está vinculada a uma fé pessoal comum e interesse salvífico no Senhor

Jesus Cristo como Senhor e Salvador (Atos 2:41-42, 47).

Em quarto lugar, o sacerdócio do crente individual. No contexto da Nova Aliança ou Testa-

mento, não há nenhum sacerdote cerimonial ou mediador eclesiástico entre o crente e seu

Senhor. Cada crente é “rei e sacerdote”, e tem acesso imediato a Deus por meio do Senhor

Jesus Cristo (Romanos 5:1-3; 1 Timóteo 2:5; Hebreus 4:13-10:18; 1 Pedro 2:5,9; Apo-

calipse 1:6)2. O sacerdócio do crente está na relação mais estreita com a liberdade da alma

ou liberdade de consciência.

Em quinto lugar, a autonomia da igreja local sob o senhorio de Jesus Cristo. A natureza

autônoma ou de autogoverno de cada corpo [igreja] local de Cristo, pressupõe quatro

realidades:

• Os termos Pastor, Ancião e Bispo todos designam o mesmo cargo na assembleia local3.

__________

[2] Cf. Hebreus 5:5-6; 6:20; 7:1-25 para a perenidade ou a natureza eterna do sacerdócio do Senhor Jesus

Cristo. Cf. especialmente 7:23-25. “Imutável” é ἀπαράβατον, lit.: “inviolável, intransponível”. Nenhum sacerdote

Romanista, Mórmon, Judeu ou Protestante pode transpassar o sacerdócio em que nosso Senhor se mantém.

[3] “Pastor” (ποιμήν – poimén – pastor) e “Bispo” (ἐπίσκοπος – episkopos – supervisor, quem exerce a

supervisão) ambos se referem ao trabalho do ministério do Evangelho — aquele de pastorear ou supervisionar

a assembleia local ou rebanho de Cristo. “Ancião” (πρεσβύτερος – presbuteros –, tem a conotação primária

de “envelhecido”, depois da maturidade, categoria de senioridade, ou uma posição de responsabilidade).

“Servo” (διάκονος – diakonos – mais utilizado em relação a pastores do que para diáconos no Novo

Testamento). (ὑπηρέτης, huperetes, ministro). (οἰκονόμος – oikonomos –, administrador, mordomo). Esses

termos são usados como sinônimos no Novo Testamento para o ofício ministerial dentro da igreja local (Atos

20:17, 28; 1 Timóteo 3:1-7; Tito 1:5-9).

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Não há hierarquia eclesiástica, ou ofício da igreja que exista separado de ou para além da

assembleia local.

• O Novo Testamento não ensina uma “sucessão apostólica”, portanto os Batistas não

reconhecem nenhuma autoridade acima da assembleia local, exceto a do Senhorio de

Jesus Cristo e de Sua Palavra escrita. Matias substituiu Judas para cumprir a Escritura

profética (Atos 1:15-26), mas ninguém nunca jamais sucedeu os Apóstolos originais da era

do Novo Testamento neste ofício.

• Não há nenhuma autoridade extra-bíblica que governa além da assembleia local, tais

como presbitérios, conselhos, sínodos, convenções denominacionais ou igrejas nacionais.

• O chamado “Concílio da Primeira Igreja”, realizado em Jerusalém em Atos 15, embora

com a presença dos Apóstolos inspirados, foi na verdade uma conferência entre duas

igrejas e não possuía nenhuma autoridade além do acordo dos Apóstolos que participaram.

Em sexto lugar, a liberdade da alma ou a liberdade de consciência. Somente a Palavra de

Deus pode governar a consciência do crente. É estranho ao ensinamento do Novo Testa-

mento prender a consciência pela tradição religiosa, decreto eclesiástico ou padrões deno-

minacionais; ou tentar impor convicções religiosas por meio de autoridades civis. A disci-

plina da igreja, ou a exclusão da membresia e de seus privilégios, é a extremidade da ação

da igreja.

Todos os distintivos Batistas derivam-se da Escrituras, predominantemente do Novo Testa-

mento. Qualquer dada igreja é, portanto, uma igreja do Novo Testamento ou Evangélica na

medida em que ela está de acordo com o Novo Testamento; por outro lado, na medida em

que qualquer igreja se afasta do Novo Testamento, nessa medida ela deixa de ser uma

igreja do Novo Testamento ou Evangélica.

I. SOLA SCRIPTURA: A ESSÊNCIA DA DOUTRINA E PRÁTICA BATISTA

O SIGNIFICADO E A IMPORTÂNCIA DO SOLA SCRIPTURA

O termo latino Sola Scriptura foi uma das características distintivas da Reforma Protestante.

Significa “As Escrituras Somente”, e sinalizou o abandono Reformado da alegada infalibili-

dade papal e da autoridade da tradição Romana contidas nos escritos dos Pais da Igreja e

da tradição oral. Tanto a Teologia Reformada e Batista reivindicam o princípio do Sola

Scriptura ou a todo-suficiência das Escrituras como a única regra de fé e prática.

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ESTA VERDADE É FUNDAMENTAL PARA

TODOS OS DEMAIS DISTINTIVOS BATISTAS

Como Batistas, nós derivamos nossa distintividade das Escrituras, e especialmente do

Novo Testamento, em consonância com o princípio da progressividade da revelação Divina.

Este princípio sustenta a necessária peremptoriedade do Novo Testamento sobre o Antigo

(Hebreus 10:1). A todo-suficiência das Escrituras é o fundamento ou contexto inspirado e

autoritativo para todos os demais distintivos que caracterizam a nossa posição. C. H.

Spurgeon declarou:

Tornei-me um Batista através da leitura do Novo Testamento... especialmente em

grego... Se eu achasse errado ser um Batista, eu desistiria disso, e tornar-me-ia o que

eu cria ser certo. A particular doutrina sustentada pelos Batistas é que eles não reco-

nhecem nenhuma autoridade a menos que ela derive da Palavra de Deus4.

A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS

A autoridade das Escrituras deve, necessariamente, ser discutida no contexto de sua

suficiência e de nossos distintivos Batistas. Se nós mantivermos a autossuficiência das

Escrituras como a única regra de fé e prática, então devemos fazê-lo de forma inteligente

e consistente, compreendendo a natureza e significado da autoridade bíblica.

Primeiramente, a Fonte da Autoridade Bíblica. A Bíblia não deriva a sua autoridade de seu

conteúdo, da validade ou precisão de seus dados históricos, da singularidade do seu

caráter, ou mesmo do testemunho interno do Espírito Santo (embora, todos os quais sejam

vitais ou necessários). A autoridade da Escritura provém do próprio Deus. Ele é o Deus

Autossuficiente, Auto-revelado que falou (Gênesis 1:1-3; Hebreus 1:1-3). A Bíblia é, por

conseguinte, a própria Palavra de Deus escrita.

Em segundo lugar, o Significado Bíblico de Autoridade. A palavra autoridade deriva da latina

auctor, que significa autor, originador, mestre. Ela conota o poder de comandar, exigir e

receber submissão e obediência. Este termo carrega o status de supremacia e finalidade.

A Bíblia como a Palavra de Deus escrita é a autoridade imutável e final tanto quanto a

Palavra de Deus falada. Observe a frase: “Está escrito ... γέγραπται, perf. “Isso está escrito

[com imutável autoridade e força]...”. Como a própria Palavra de Deus, a autoridade das

Escrituras é:

__________

[4] C. H. Spurgeon, Autobiografia. Banner of Truth. Ed. I, pp. 148, 152.

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• Necessária. A revelação natural (Deus revelado na criação, história e na natureza racional

e moral do homem) é insuficiente, tanto para a humanidade não-caída e caída. Mesmo

Adão não-caído, no estado de justiça primitiva, precisou da revelação especial ou da

palavra de Deus falada diretamente a ele por um adequado conceito de realidade e dever

(Cf. o mandato da criação, as ordens relativas à árvore do conhecimento do bem e do mal,

e seu dever de cuidar do jardim do Éden, Cf. Gênesis 1:26-28; 2:15-25).

• Abrangente. Ela engloba necessariamente toda a vida e realidade. Não há nenhuma

esfera da vida ou ação onde a Palavra de Deus não deva ser o nosso guia (Mateus 4:4; 1

Coríntios 10:31).

• Suprema. Porque esta Palavra deriva do próprio Deus, não há nenhuma autoridade

superior, através da qual ela pode ser julgada ou padrão ao qual ela pode ser submetida!

Ela é auto-autenticada, inteligente e absoluta. Todos os outros critérios ou autoridades são

subordinadas às (dependentes das) Escrituras. (Salmos 138:2; Isaías 46:9-11; Mateus

24:35; Hebreus 1:1-3).

Em terceiro lugar, há cinco termos essenciais necessariamente associados com a autori-

dade das Escrituras:

• Revelação. Deus somente pode ser conhecido conforme Ele tem o prazer de revelar-Se.

Ele Se revelou na criação, ou seja, revelação natural (Salmos 19:1-6; Romanos 1:18-20), e

em Sua Palavra, ou seja, revelação especial (Salmos 19:7-14; Hebreus 1:1-3; 2 Timóteo

3:16-17; 2 Pedro 1:20-21). Esta Palavra ou auto-revelação de Deus foi escrita, ou estabele-

cida em forma escrita. Deus é inteligente, não-contraditório e absoluto; assim é a Sua

revelação, falada e escrita.

• Inspiração. (2 Timóteo 3:16, θεόπνευστος, literalmente, soprada por Deus). A autoridade

bíblica repousa sobre a inspiração na medida em que a inspiração Divina nos deu a própria

Palavra de Deus em forma escrita. Cf. também 2 Pedro 1:20-21.

• Infalibilidade. “Incapaz de erro ou engano”. A Bíblia é auto-consistente e não-contraditória.

Ela reflete a inteligência ou a mente, bem como a natureza e o caráter do próprio Deus.

Porque a Bíblia é a Palavra inspirada de Deus, ela é autoritativa, e assim necessariamente

infalível.

• Inerrância. “Livre de erro resultante quer de erro ou fraude”. Porque a Bíblia é a Palavra

inspirada e definitiva de Deus, é infalível e inerrante.

• Canonicidade. Os termos cânon, canonicidade, são derivadas de κανών, e significam uma

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regra, medida ou padrão. Secundariamente, esses termos denotam o corpo da Verdade

Divinamente inspirada — a Palavra de Deus escrita — as Escrituras.

O Cristianismo primitivo possuía as Escrituras judaicas, os escritos dos apóstolos e

evangelistas, um grande corpo de tradição oral, e vários escritos de distinguidos como

apócrifo e pseudográficos. A partir destes escritos do Cristianismo primitivo, com grande

cuidado e por um padrão rigoroso (ou cânon), reconheceram [Eles não estabeleceram ou

formaram] um determinado corpo de escritos como as Sagradas Escrituras ou a Palavra de

Deus escrita. A Canonicidade, então, reconhece o corpo da verdade revelada escrita e

distingue o falso do verdadeiro, o autoritativo do não-autoritativo.

CONCLUSÃO

A doutrina da Escritura somente — Sola Scriptura — como a única e suficiente regra de fé

e prática é o grande distintivo Batista a partir do qual derivam todos os outros. Esta grande

verdade se destaca como fundamental para todos os outros aspectos da verdade.

II. SOLA SCRIPTURA E O USO DE BOAS E NECESSÁRIAS CONSEQUÊNCIAS5

LÓGICA E TEOLOGIA

O uso da lógica para deduzir a verdade proposicional das Escrituras é tão antigo quanto a

Teologia Cristã em si. A maioria dos estudiosos e teólogos Cristãos primitivos haviam sido

educados como filósofos e assimilaram os seus princípios de raciocínio formal em sua me-

todologia teológica.

Alguns têm, ocasionalmente, protestado contra o uso da lógica dedutiva formal, convenci-

__________

[5] Há alguns anos, ministrei uma palestra sobre o assunto que se tornou o catalisador para um estudo mais

aprofundado e um artigo por nosso irmão, Michael Czapkay, um membro de nossa assembleia e um Mestrado

em Filosofia na Universidade de Oxford, e agora (1995) um tutor lá e trabalhando em direção a seu Doutorado

em Filosofia. Devo muito ao irmão Czapkay por suas pesquisas e conclusões adicionais sobre a lógica e o

irracionalismo ou misologia [ódio à lógica] que geralmente caracterizam a teologia moderna e o uso de

necessárias consequências. Para mais referências veja a monografia de Michael Czapkay: “Are Baptists

Irrational? An Examination and Defense of the Role of Logic in Calvinistic Baptist Theology” [São os Batistas

Irracionais? Um Exame e Defesa da Função da Lógica na Teologia Calvinista Batista]. Uma resposta à

rejeição da teoria Reformada da “necessária consequência” no livro, “Are Baptists Reformed?” [São os

Batistas Reformados?], pelo Dr. Kenneth Good. Esta monografia de 140 pp. ganhou o prêmio Clark e, está

disponível através da Fundação Trinity, PO Box 1666, Hobbs, Novo México 88240.

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dos de que isso resulta em uma forma de eisagesis, ou antes, illegitimate exegesis, ou seja,

tanto lendo no ou derivando do texto da Escritura um significado que lhe é estranho ou

forçado em sua conclusão. Esta atitude é conhecida como misologia, literalmente, uma

aversão à lógica.

Esta misologia é particularmente evidente em alguns aspectos da teologia moderna e sua

tendência em direção ao irracionalismo. A ênfase moderna é em grande parte existencial,

ou orientada para a experiência. Isto não é verdade apenas quanto aos Carismáticos,

Fundamentalistas e Neo-ortodoxos; isso tem feito a sua intrusão mesmo no pensamento

Reformado moderno. Uma discussão sobre Sola Scriptura seria incompleta sem alguma

referência ao pensamento lógico a partir das Escrituras.

UMA DISTINÇÃO HISTÓRICA ENTRE A TRADIÇÃO REFORMADA

E BATISTA NA DECLARAÇÃO E PRÁTICA

AS CONFISSÕES DE FÉ DE WESTMINSTER E BATISTA

A Primeira Confissão de Fé Batista de Londres foi escrita em 1644 e publicada em 1646. A

Confissão de Fé de Westminster dos Presbiterianos foi impressa pela primeira vez em 7 de

dezembro de 1646 e, posteriormente, publicada em 1647. A Primeira Confissão Batista de

Londres, então, antecedeu a Confissão de Westminster e não foi, portanto, afetada por ela.

A Segunda Confissão de Fé Batista de Londres foi escrita em 1677 e publicada em 1689.

Ela é uma versão “Batista” da Confissão de Westminster. As maiores e mais conhecidas

confissões Batistas subsequentes — a Confissão Batista de Filadélfia (1742) e a Confissão

Batista de New Hampshire (1833) — foram influenciadas de forma significativa pela

Confissão de Westminster6.

Embora as duas principais confissões Batistas posteriores a 1677 reflitam significativa-

mente a Confissão de Westminster, elas não incluem a sua linguagem no que se refere à

“boa e necessária consequência”, como indicado abaixo:

__________

[6] Cf. As seguintes obras para as Confissões, suas diferenças doutrinárias, sua interdependência, e as datas

de suas respectivas publicações, etc.: William L. Lumpkin, Baptist Confessions of Faith [Confissões de Fé

Batista]. Filadélfia: The Judson Press, 1959; W. J. McGlothlin, Baptist Confessions of Faith [Confissões de Fé

Batista]. Filadélfia: American Baptist Publication Society, 1912; Alexander Mitchell, The Westminster

Assembly: Its History and Standards [A Assembleia de Westminster: Sua História e Padrões]. Edmonton, Alb:

Still Waters Revival Books, 1992; Philip Schaff, The Creeds of Christendom [Os Credos da Cristandade].

Grand Rapids: Baker Book House, 3 vols.; B. B. Warfield, The Westminster Assembly and Its Work [A

Assembléia de Westminster e Seus Trabalhos]. Grand Rapids: Baker Book House, 1981.

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A Confissão de Westminster, Capítulo I, Artigo VI:

“Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a Sua

própria glória, a salvação do homem, fé e vida, ou é expressamente declarado na

Escritura, ou por boa e necessária consequência pode ser deduzido a partir dela”.

Compare isso com a Segunda Confissão Batista de Londres de 1689, Capítulo I, Artigo 6:

“Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a Sua

própria glória, a salvação do homem, fé e vida, ou é expressamente declarado ou

necessariamente contido nas Sagradas Escrituras”.

Note a alegada diferença entre a visão Reformada da “boa e necessária consequência” e

a perspectiva Batista de “expressamente declarado ou necessariamente contido nas

Escrituras”.

A APLICAÇÃO DESTE PRINCÍPIO NA CONTROVÉRSIA

Esta alegada diferença surgiu imediatamente na última parte do século XVII, o mesmo

século quando estas Confissões foram formuladas. Observe as palavras do Dr. Kenneth

Good7, que cita o historiador Batista Thomas Crosby:

Que a distinção acima tem validade histórica é corroborada por uma importante pas-

sagem de Thomas Crosby. Muitos debates públicos foram realizados na Inglaterra

entre Batistas e Pedobatistas na última parte do século XVII, e Crosby registra alguns

deles em detalhes. Em uma ocasião (22 de fevereiro de 1699) tal disputa foi realizada

em Portsmouth, como ele diz: “entre os Presbiterianos e Batistas sobre o Batismo. No

decurso do debate, as palavras deste são registradas, os Pedobatistas referem com

repetição monótona as “consequências extraídas das Escrituras”, “boas consequên-

cias das Escrituras”, “por boa consequência”, “por consequência”, “a principal conse-

quência”, “no mínimo, consequencial, é suficiente”, “Estas são as boas consequên-

cias, eu insisto”, “as boas consequências da comissão são suficientes”, “Sou a favor

das consequências”, e “os sujeitos devem ser trazidos por consequências”.

Enquanto isso, os Batistas continuaram a insistir simplesmente sobre as Escrituras espe-

__________

[7] Apesar de discordarmos do falecido Dr. Kenneth Good nesta questão da “boa e necessária consequência”,

nós o estimamos como um bom amigo e querido Irmão em Cristo com quem tivemos comunhão e o maior

acordo nas áreas da soteriologia e eclesiologia.

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cíficas, para as quais eles faziam o seu apelo e as quais eles frequentemente citaram8.

Esta situação parece apontar para uma grande diferença de abordagem da Escritura entre

os Batistas e a tradição Reformada na área de “boas e necessárias consequências”, e im-

plica que os Batistas eram mais bíblicos, neste ponto, sustentando a toda-suficiência da

Escritura, enquanto a abordagem Reformada implicitamente negou isso pela adição da ló-

gica humana. Dr. Good escreve: “Os Reformados falam sobre a suficiência, mas eles

acrescentaram a teoria da ‘necessária consequência’” (Itálicos dele)9.

A TRADICIONAL ABORDAGEM REFORMADA

PARA A “BOA E NECESSÁRIA CONSEQUÊNCIA”

O que os teólogos Reformados intencionam com “boa e necessária consequência”? Ao

comentar estas palavras na Confissão de Westminster, os seguintes autores Reformados

revelam a essência da “boa e necessária consequência”.

William Cunningham: “...inferências ou deduções das declarações escriturísticas para além

do que está contido nas meras palavras da Escritura...”10.

A. A. Hodge: “...nada deve ser considerado como um artigo de fé ...que não seja explícita

ou implicitamente ensinado nas Escrituras”11.

B. B. Warfield: “...seja por afirmação literal ou por implicação necessária...”12.

A LEGITIMIDADE DA “BOA E NECESSÁRIA CONSEQUÊNCIA”

E O PONTO DE DISCÓRDIA

QUATRO CONSIDERAÇÕES

Primeiramente, o uso do consistente pensamento lógica ou formal para deduzir declarações

distintas da verdade das Escrituras é absolutamente essencial para qualquer abordagem

__________

[8] Dr. Kenneth H. Good, Are Baptists Reformed? p. 109. Dr. Good citado a partir de Thomas Crosby, The

History of the Baptists, III, pp. 314-353.

[9] Ibid., p. 105.

[10] William Cunningham, The Reformers and the Theology of the Reformation, p. 526.

[11] A. A. Hodge, The Confession of Faith, p. 39.

[12] B. B. Warfield, The Westminster Assembly and Its Work, p. 226.

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consistente e sistemática de teologia, pregação ou aplicação da Escritura para as situações

variadas de experiência Cristã.

Em segundo lugar, Abraão fundamentou-se a partir da Palavra falada de Deus e agiu com

base neste raciocínio-pela-fé quando ele ofereceu Isaque sobre o altar (Hebreus 11:17-

19)13. Observe como o nosso Senhor utilizou as ”boas e necessárias consequências” e de-

duções da Escritura para estabelecer o princípio de fazer o bem no dia de Sabath (Mateus

12:9-13; Marcos 3:1-5). Note a mesma abordagem inspirada do apóstolo Paulo ao referir-

se à questão do apoio financeiro aos ministros do Evangelho no uso do boi que era utilizado

para debulhar o trigo e o agricultor que participava de sua colheita (1 Coríntios 9:6-14).

Assim, temos exemplos inspirados de “boas e necessárias consequências”.

Em terceiro lugar, o uso de “boas e necessárias consequências” não é exclusivo da tradição

Reformada. Os Batistas têm historicamente reconhecido o uso da lógica dedutiva a partir

das Escrituras. Observe o teólogo e erudito Batista do século XVIII John Gill sobre a clareza

da Escritura:

Nem está toda doutrina das Escrituras expressa em tantas palavras; como a doutrina

da Trindade das pessoas na Divindade; a geração eterna do Filho de Deus; Sua encar-

nação, etc., mas, então, as próprias coisas significadas por elas são claras e simples;

e existem termos e frases que respondem a estes; ou estes devem ser deduzidos a

partir daí, por correta e necessária consequência14.

J. P. Boyce, teólogo Batista e fundador do primeiro seminário teológico Batista do Sul afirmou:

Estas constituem as fontes de nosso conhecimento de Teologia, as quais são duas:

Razão e Revelação... A razão é este poder no homem que o habilita a ter percepções

mentais, exercitar o pensamento e reflexão, conhecer fatos, investigar suas relações

mútuas, e deduzir logicamente as conclusões que podem ser extraídas deles... A

razão pode ser usada tanto com referência aos meios naturais ou sobrenaturais de

conhecimento conferidos por Deus15.

__________

[13] Cf. Hebreus 11:17-19. Deus disse a Abraão que sua posteridade e o cumprimento da promessa da aliança

viria através de Isaque (Gênesis 17:5-7, 15-19). Posteriormente, Deus ordenou que Abraão sacrificasse

Isaque (Gênesis 22:1-18). Hebreus 11:17-19 afirma que Abraão fundamentou (logicamente, de forma

inteligente) que Deus ressuscitaria Isaque dentre os mortos para cumprir a promessa (λογισάμενος ὅτι καὶ ἐκ

νεκρῶν ἐγείρειν δυνατὸς ὁ θεός [Hebreus 11:19]).

[14] John Gill, Body of Divinity, p. 21.

[15] J. P. Boyce, Abstract of Systematic Theology, p. 46.

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A. H. Strong, outro teólogo Batista cuja Teologia Sistemática continua a ser uma obra de

referência, escreveu:

As Escrituras [e]... seus ensinamentos, quando tomados em conjunto, de modo algum

contradizem uma razão condicionada em sua atividade por afeições santas e ilumi-

nadas pelo Espírito de Deus (O ofício adequado da razão, neste grande sentido é esti-

mar e reduzir a um sistema os fatos da revelação, quando estes têm sido encontrados

devidamente atestados. Para deduzir a partir destes fatos as suas conclusões naturais

e lógicas...”16.

Em quarto lugar, a posição Batista: “expressamente declarado ou necessariamente contido

nas Sagradas Escrituras”, necessária e inescapavelmente implica a dedução de “conse-

quências necessárias” à medida que a verdade da Escritura é examinada na teologia e

aplicada à experiência.

A QUESTÃO BÁSICA

Alguns se opuseram ao princípio da “boa e necessária consequência” porque isso tem sido

proeminente nas polêmicas entre as posições Reformada e Batista sobre o Batismo. A

questão é verdadeiramente hermenêutica e relaciona-se a uma abordagem fundamental da

Escritura.

O verdadeiro ponto de discórdia não é especificamente a “boa e necessária consequência”,

mas a abordagem hermenêutica geral da tradição Reformada. As objeções de Batistas e

outros contra a perseguição dos Batistas e outros Independentes pelas autoridades religio-

sas e civis, e a aspersão de bebês não são nem “boas” nem “necessárias” consequências

deduzidas a partir da Escritura. Elas são, antes, as deduções de uma “mentalidade do Anti-

go Testamento”, que em grande parte vê o Novo Testamento como uma mera continuação

do Antigo. Esta questão será analisada na próxima seção.

CONCLUSÃO

O raciocínio consistente a partir das Escrituras é essencial para toda a aplicação coerente.

O uso adequado da “boa e necessária consequência” não é uma característica Reformada

que milita contra a posição Batista da Sola Scriptura, mas é uma necessidade para a

aplicação da verdade bíblica em teologia, pregação e experiência Cristã. A questão básica

__________

[16] A. H. Strong, Systematic Theology, p. 29.

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não é “a boa e necessária consequência”, mas uma “mentalidade do Antigo Testamento”,

que, enquanto buscar manter a unidade da Escritura, não reconhece plenamente a sua

natureza progressiva e a peremptoriedade do Novo Testamento.

III. SOLA SCRIPTURA E UMA HERMENÊUTICA BÍBLICA CONSISTENTE

O SIGNIFICADO E A IMPORTÂNCIA DA HERMENÊUTICA BÍBLICA

Hermenêutica ἑρμηνεύτικος, a partir de ἑρμηνευεῖν, “interpretar”17, é a ciência da inter-

pretação e é o culminar da Teologia Exegética. Há duas questões básicas que a Teologia

Exegética busca responder:

Primeiramente: “O que a Bíblia diz?” — Uma questão de leitura do texto. Esta questão está

preocupada com questões como a crítica textual, passagens paralelas, o contexto maior e

mais imediato. Esta leva em consideração uma exegese do texto no idioma original, o que

inclui o significado lexical, histórico, cultural, e sintático das palavras e suas relações.

Em segundo lugar: “O que a Bíblia quer dizer?” — uma questão de interpretação. A herme-

nêutica é baseada na primeira pergunta e lida com esta segunda questão. Existe apenas

uma interpretação possível e consistente, embora possa haver várias vias de aplicação18.

ABORDAGENS À INTERPRETAÇÃO BÍBLICA

Deve haver um esforço para formular uma hermenêutica consistente, ou seja, um sistema

de interpretação19. A história do Cristianismo revela as seguintes tentativas:

__________

[17] Ἑρμενεύτικος é derivado de Hermes, o deus da mitologia grega que servia como um arauto e mensageiro

para os outros deuses.

[18] Parece antes ser uma falha comum do púlpito que seja feita pouca ou nenhuma distinção entre

interpretação e aplicação. Assim, muitos amiúde são levados a pensar que a aplicação é a interpretação.

[19] Para uma discussão completa sobre a história da interpretação e as várias abordagens, cf. As seguintes

obras: Louis Berkhof, Principles of Biblical Interpretation [Princípios de Interpretação Bíblica]. Grand Rapids:

Baker Book House, 1969, pp 19-39.; F. W. Farrar, History of Interpretation [História da Interpretação]. Grand

Rapids: Baker Book House, 1961. 553 pp.; A. Berkley Mickelsen, Interpreting the Bible [Interpretando a Bíblia].

Grand Rapids: Eerdmans Publishing Company, 1966, pp 20-53; Bernard Ramm. Protestant Biblical

Interpretation [A Intrepretação Bíblica Protestante]. Grand Rapids: Baker Book House, 1969. pp 23-84; Milton

S. Terry, Biblical Hermeneutics [Hermenêutica Bíblica]. Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1964. pp

163-174.

Page 16: Sola Scriptura, por William R. Downing

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Em primeiro lugar, o Alegórico ou Espiritual. Esta abordagem procura um significado mais

profundo do que o uso literal ou comum e ordinário da língua (o usus loquendi). Qualquer

método ou sistema está apenas na mente do intérprete. Tal alegorização da Escritura é

necessariamente arbitrária, fantástica e muitas vezes irracional.

Esta abordagem começou com os gregos e seus escritos antigos. Entrou no Cristianismo

primitivo através do judaísmo alexandrino, e especialmente pelos escritos de Philo, o judeu,

que procurou sintetizar a filosofia grega e a religião hebraica alegorizando as Escrituras do

Antigo Testamento. Esta abordagem tornou-se o método predominante de interpretação

até à Reforma Protestante. Foi em grande parte uma tentativa dos primeiros Pais da Igreja

para fazer do Antigo Testamento um “Livro Cristão” pela espiritualização, e assim confun-

diram a tipologia do Antigo Testamento com alegoria.

Farrar aponta a primeira instância nos escritos Patrísticos:

...Clemente de Roma [c. 90-100]. Este bispo antigo... é o primeiro... que dota Raabe

com o dom da profecia, porque pelo cordão vermelho pendurado fora de sua janela,

ela manifestou que a redenção deveria fluir pelo sangue do Senhor para todos os que

creem e esperam em Deus. Como a fantasia pictórica de um pregador, tal ilustração

seria inofensiva; mas quando isso é oferecido como a explicação de uma profecia real,

esta é a primeira instância de alegoria forçada que, posteriormente, afetaria toda a

vida da exegese Cristã20.

O desenvolvimento da abordagem alegórica pode ser observado em exemplos retirados

dos Pais da Igreja, que, finalmente, a aplicaram ao Novo Testamento, bem como:

Clemente de Alexandria (c. 155-220) ensinou pelo menos cinco possíveis significados

em qualquer dada passagem: (1) O sentido histórico, ou real e literal. (2) O sentido

doutrinal ou moral, religioso e teológico. (3) O sentido profético, ou profético e

tipológico. (4) O sentido filosófico, ou significado encontrado em objetos naturais e

pessoas históricas, seguindo o método psicológico dos Estoicos. (5) O sentido místico,

ou o simbolismo das verdades mais profundas. Um exemplo da abordagem da Escri-

tura por Clemente é observado no seguinte:

...[Clemente] comentando sobre a proibição Mosaica de comer porco, gavião, águia e

corvo, observa: “O porco é o emblema de desejo voluptuoso e impuro por comida... O

gavião indica roubo; o falcão, a injustiça; e o corvo, a ganância.” ...Clemente de Ale-

__________

[20] F. W. Farrar, Op. Cit., p. 166.

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xandria sustentou que as leis de Moisés continham um significado quádruplo: o na-

tural, o místico, o moral e o profético21.

Orígenes (c. 155-254) declarou que, assim como a natureza do homem é composta de

corpo, alma e espírito, deste modo as Escrituras possuem um correspondente sentido triplo:

o literal, o moral e o espiritual.

Agostinho (354-430) “justificou a interpretação alegórica por uma ‘interpretação grosseira'

de 2 Coríntios 3:6. Ele fez isso significar que a interpretação espiritual ou alegórica era o

verdadeiro significado da Bíblia; a interpretação literal mata”22. Ele foi forçado a tal abor-

dagem por seus encontros polêmicos com os Maniqueístas e os Donatistas. Assim, ele

justificou o uso da força por parte das autoridades civis para “obrigar” os dissidentes a

retornarem à Igreja Católica por interpretar a parábola da grande ceia como a “Igreja” (cf.

Lucas 14:16-24, esp. v. 23).

Tomás de Aquino (1224-1274) tipifica a abordagem Medieval:

O autor da Sagrada Escritura é Deus, em cujo poder está o significar o seu sentido,

não apenas por palavras (como o homem também pode fazer), mas também pelas

próprias coisas. Assim... que as coisas significadas pelas palavras têm, elas mesmas,

também uma significação. Por isso, que a primeira significação pelas quais as pala-

vras significam coisas pertence ao primeiro sentido, o histórico ou literal. Aquela signi-

ficação em que as coisas significadas pelas palavras têm, elas mesmas, também uma

significação é chamada de sentido espiritual, que é baseado no literal, e o pressupõe.

Agora, este sentido espiritual tem uma tríplice divisão... o sentido alegórico... o sentido

moral... o sentido anagógico. Uma vez que o sentido literal é o que o autor pretende,

e posto que o autor da Sagrada Escritura é Deus, Quem por um ato compreende todas

as coisas por Seu intelecto, não é impróprio, como diz Agostinho (Confissões XII), se,

mesmo de acordo com o sentido literal, uma palavra na Sagrada Escritura deve ter

vários sentidos23.

Em segundo lugar, o Místico. “Profundidades e tons variados de significado são procurados

em cada palavra de Escritura”24. Esta abordagem não apenas caracterizou a maioria dos

alegoristas, mas incluiu os místicos Medievais e tais posteriores escritores heréticos como

__________

[21] Milton S. Terry, Op. Cit., pp. 163-164.

[22] Bernard Ramm, Op. cit., p. 35.

[23] Tomás de Aquino, Summa Theologica, Parte 1, Questão 1, Artigo 10.

[24] Milton S. Terry, Loc. cit.

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Jakob Boehme (1575-1624) e Immanuel Swedenborg (1688-1772), com seu sentido triplo

da Escritura: o natural ou literal, o espiritual e o celeste.

Em terceiro lugar, o Pietista ou Devocional. O Pietismo foi uma reação contra o Neo-escola-

ticismo e o frio dogmatismo teológico que seguiu a Reforma Protestante. Ele aproximou-se

da Escritura de uma forma muito prática e subjetiva para a edificação pessoal. Tal abor-

dagem caracterizou o ministério e os escritos de homens como James Philip Spener, A. H.

Francke de Halle, e grupos como os Morávios e Quakers. Alguns Pietistas e os Quakers

alegavam ser guiados por uma “luz interior”, em sua interpretação das Escrituras — uma

visão extrema de 1 João 2:20. Tal abordagem tendia à confusão, ao irracionalismo e a uma

abordagem mística da Escritura.

Muito do assim chamado uso “devocional” moderno das Escrituras viola os princípios

hermenêuticos básicos e consistentes, como um completo desrespeito da gramática ou do

contexto das Escrituras. Por exemplo, Gênesis 31:49 é usado como uma bênção, quando

na verdade foi um pacto entre dois enganadores que não confiavam um no outro, e assim

chamaram a Deus para vigiar o outro! Outro exemplo, no Salmo 118:24 o indicativo

“alegremo-nos” é alterado para o modo imperativo e dado como uma exortação. Se alguém

muda a gramática da Escritura, ele necessariamente muda o significado, e assim fala ou

escreve sem autoridade bíblica! Por exemplo, o Salmo 2:8 tem sido usado como um texto

missionário, mas o contexto (vv. 6-9) refere-se ao reinado do Rei-Messias, que julgará as

nações! Cuidado deve ser atenção para fazer a distinção absolutamente necessária entre

interpretação e aplicação!

Em quarto lugar, o Liberal ou Modernista. Esta abordagem, que nega a inspiração das

Escrituras, e reconstrói os conteúdos e ensinamentos da Bíblia sobre uma mera fundação

naturalista, inclui o Racionalismo (As Escrituras abordadas pela razão humana sem

necessidade quaisquer ajudas, com uma negação do sobrenatural. Isso é visto destrutivo

e racionalista criticismo de tais homens como F. C. Baur e da escola Tübingen, Julius

Wellhausen, e K. H. Graf, et. al.), Moral (A abordagem de Immanuel Kant, que considerou

que as Escrituras foram dadas apenas por seu valor prático e moral), Místico (A verdade

histórica da Escritura deve ser libertada dos alegados mitos e lendas, ou seja, de seu

elemento sobrenatural. Esta é uma característica de tais estudiosos e racionalistas críticos

como David Friedrich Strauss e Rudolf Bultmann) e a Teoria da Acomodação (o elemento

sobrenatural era na verdade uma acomodação à natureza primitiva ou supersticiosa dos

povos e as culturas da época. O autor deste tipo de abordagem racionalista era J. S.

Semler)25.

__________

[25] Para uma discussão sobre o assunto de Crítica Bíblica, a influência e os princípios do assim chamado...

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Em quinto lugar, o Apologético, Polêmico ou Dogmático. Este é geralmente sinônimo do

método “texto-prova” de interpretação, pelo qual várias passagens são afirmadas ensinar

ou reforçar uma determinada opinião ou posição teológica. Tal abordagem pode ser facil -

mente observada em qualquer disputa religiosa a respeito do Cristianismo. É historicamente

proeminente em tais controvérsias como os debates “heréticos” Romanistas da Idade

Média, as disputas Romanistas-Protestantes do século XVI, os debates Calvinistas-Armini-

anos, as polêmicas controvérsias entre Pedobatistas e Batistas sobre o modo e sujeitos do

Batismo, e as disputas entre evangélicos sobre o sistema de “apelo” ou de “chamada ao

altar”, reavivamento e revivalismo, etc.

Em sexto lugar, o Neo-ortodoxo. As Escrituras são vistas como um registro ou uma teste-

munha da revelação Divina e não a própria revelação ou Palavra de Deus. Deus é encon-

trado em ou através das Escrituras em uma experiência de crise. De acordo com esta

abordagem, as Escrituras não são nem a Palavra inspirada de Deus nem existe revelação

proposicional na Escritura; Deus alegadamente revela de uma forma existencial26.

Em sétimo lugar, o Histórico-Gramático. Este é o único método válido, consistente e razo-

ável de interpretação bíblica. É esta interpretação que é necessária por e em conformidade

com as regras da gramática e os fatos da história. Esta é a interpretação de senso comum

(ou seja, que adere ao princípio de usus loquendi). Ela não procura nenhum significado

espiritual ou oculto a menos que isso se faça necessário na expressão figurativa, simbólica,

idiomática ou típica de certa língua, cultura ou contexto histórico de certa passagem. Isso

pressupõe que Deus nos deu a Sua revelação de uma forma inteligente e compreensível.

QUESTÕES HERMENÊUTICAS GERAIS

__________

...racionalismo ou “Crítica Destrutiva Superior”, veja: Wick Broomall, Biblical Criticism [Criticismo Bíblico].

Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1957; Jerry Wayne Brown, The Rise of Biblical Criticism in

America 1800–1870: The New England Scholars [A Ascensão do Criticismo Bíblico na América 1800–1870:

Os Estudiosos da Nova Inglaterra]. Middletown, CN: Wesleyan University Press, 1969; Louis Gaussen,

Theopneustia, or The Divine Inspiration of the Scriptures [Theopneustia, ou A Divina Inspiração das

Escrituras]. Grand Rapids: Kregel reimpresso da ed. de 1841; R. Laird Harris, Inspiration and Canonicity of

the Bible [Inpiração e Canonicidade da Bíblia]. Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1957; Carl. F. H.

Henry, Ed., Revelation and the Bible [Revelação e a Bíblia]. Grand Rapids: Baker Book House, 1958. Um

estudo mais aprofundado pode ser feito nas várias introduções gerais à Bíblia, como as obras de H. S. Miller,

Geisler e Nix, e a obra em vários volumes por Thomas Hartwell Horne. Muita informação valiosa também

pode ser obtida a partir das muitas introduções críticas ao Antigo e Novo Testamentos. Cf. Introduções ao

Antigo Testamento por estudiosos como Gleason L. Archer, Jr., William Henry Green, R. K. Harrison, Merrill

F. Unger e Edward J. Young; e as introduções ao Novo Testamento por estudiosos como Everett F. Harrison,

Donald Guthrie, J. Gresham Machen, Henry C. Thiessen and Theodor Zahn.

[26] Cf. as obras de R. Laird Harris e Carl F. H. Henry na nota 25.

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Dentro da abordagem adequada, consistente, gramatical e histórica há princípios gerais de

interpretação:

• A clareza da Escritura ou a analogia da fé, ou seja, a Escritura interpreta a Escritura. As

passagens mais obscuras são compreendidas por passagens mais claras, pressupondo

que as Escrituras, visto que são a própria Palavra de Deus escrita, não são auto-contradi-

tórias, mas complementares.

• O contexto textual, histórico, teológico, cultural e psicológico deve ser determinado para

uma interpretação precisa de qualquer passagem.

• Dentro de qualquer passagem, as palavras devem ser estudadas tanto lexicalmente

(quanto aos seus significados básicos e significados posteriormente derivados) e sintática-

mente (ou seja, à medida que ocorrem em um determinado contexto). As palavras devem

ser tomadas em seu sentido literal ou senso e uso comum (usus loquendi) a menos que

elas tenham alguma conotação figurativa ou idiomática.

• O uso de linguagem figurada — tipos, símbolos, figuras de linguagem, referências poéti-

cas, parabólicas, e proféticas — deve ser considerado no contexto imediato e no contexto

mais amplo de toda a Escritura, cultura e história.

Mesmo no método histórico-gramatical, existem certas tendências a serem evitadas: Por

exemplo, aquele da tradicional Teologia Pactual [Pedobatista] Reformada, que tende a obli-

terar as distinções entre o Antigo Testamento, ou Aliança e o Novo; e aquele da herme-

nêutica Dispensacionalista que tende a divorciar o Antigo Testamento ou Aliança do Novo

sem a devida consideração de sua unidade. Nossa hermenêutica, portanto, determina toda

a nossa abordagem para a compreensão da Bíblia27.

A HERMENÊUTICA DO CATOLICISMO ROMANO E DA IGREJA ORTODOXA28

___________

[27] Os Batistas têm feito historicamente o que nós acreditamos ser necessárias distinções tanto da unidade

e diversidade das alianças bíblicas (plural). Teológica e historicamente, temos sustentado o Pacto Eterno da

redenção e da graça ou o propósito redentor Divino na eleição e predestinação. A Teologia Pactual Reformada

sustenta a unidade da aliança Abraâmica (singular) de tal forma que ela nega, em grande medida, a

diversidade. O Dispensacionalismo, por divorciar completamente o Novo Testamento ou Aliança do Antigo, é

caracterizado por um antinomianismo inerente à sua negação da relevância da lei de Deus como expressão

de Sua Auto-consistência moral.

[28] A declaração de 2 Pedro 1:20-21 que “nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação” não

significa que o indivíduo não tem o direito de interpretar as Escrituras para si mesmo, como o Católico Romano

e Ortodoxo supõe. A força do texto e contexto é que a Palavra de Deus não se originou dentro da personali-

dade ou da vontade do profeta, mas veio do Espírito Santo. 20 τοῦτο πρῶτον γινώσκοντες, ὅτι πᾶσα προφητεία

γραφῆς ἰδίας ἐπιλύσεως οὐ γίνεται. 21 οὐ γὰρ θελήματι ἀνθρώπου ἠνέχθη προφητεία ποτέ, ἀλλὰ ὑπὸ Πνεύματος Ἁγίου

φερόμενοι ἐλάλησαν ἀπὸ Θεοῦ ἄνθρωποι.

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CATOLICISMO ROMANO

A Igreja de Roma tem três fontes de autoridade, em vez de uma clara posição Sola

Scriptura: as Escrituras, a Tradição e a Igreja. O Catolicismo considera os livros apócrifos

(O Antigo Testamento Apócrifo contém 14 a 15 livros) como sendo parte do cânon inspirado

das Escrituras, descansando em algumas passagens neles que reforçam os seus ensina-

mentos peculiares. A Tradição é constituída pelos escritos dos Pais da Igreja, Concílios da

Igreja, e vários decretos papais. A autoridade da Igreja descansa em sua reivindicação da

infalibilidade papal em todos os assuntos de fé e prática. É a Igreja somente que reserva a

si o direito exclusivo de interpretar as Escrituras no contexto de seus próprios dogmas

peculiares e tradição29.

A IGREJA ORTODOXA

Isso refere-se à Igreja Católica Oriental ou Igreja Ortodoxa Grega. Não há uma posição

clara de Sola Scriptura. Enquanto as Escrituras são tidas em alta consideração, elas são

necessariamente interpretadas no contexto da mente da Igreja, em vez da adesão individual.

Grande autoridade é dada para os Pais da Igreja grega e Pais Espirituais, ou padres e bispos, para

a interpretação da Escritura e sua aplicação à vida30.

A TRADIÇÃO REFORMADA PROTESTANTE

E UMA “MENTALIDADE DO ANTIGO TESTAMENTO”

Existem duas perspectivas ou abordagens básicas para as Escrituras dentro do Cristianis-

mo Evangélico e Reformado: Uma “perspectiva do Antigo Testamento” que se posiciona no

Antigo Testamento como a norma e vê o Novo Testamento através dos “olhos do Antigo

Testamento”. Há, semelhantemente, uma “perspectiva do Novo testamento” que se posici-

ona no Novo Testamento como a norma e vê o Antigo Testamento através dos “olhos do

Novo Testamento”. A especificidade da perspectiva determina em grande parte a interpreta-

ção da Escritura e sua subsequente aplicação à vida; a natureza e o caráter da igreja quanto

ao seu governo, o seu papel na sociedade, membresia, Ordenanças, disciplina, culto e até

mesmo a arquitetura; chegando até mesmo à própria natureza da salvação e da experiência

Cristã.

__________

[29] Cf. Loraine Boettner, Roman Catholicism [Catolicismo Romano]: Philadelphia: Presbyterian & Reformed

Publishing Company, 1962., pp. 75–103; 235–253; Ludwig Ott, Fundamentals of Catholic Dogma

[Fundamentos do Dogma Católico]. Rockford, IL.: Tan Books and Publishers, 1974, 544 pp.

[30] Bispo Kallistos Ware, The Orthodox Way [O Caminho Ortodoxo], Crestwood, NJ.: St. Valdimir Seminary

Press, 1993, pp 130, 146-149, 162.

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A tradição Reformada possui uma perspectiva Verotestamentária, ou uma “mentalidade do

Antigo Testamento” em sua abordagem da Escritura. A unidade da aliança é sustentada de

tal forma que o Novo Testamento é amplamente visto como uma mera continuação do

Antigo Testamento.

O conceito Reformado de igreja é amplamente aquele do povo de Israel da aliança do

Antigo Testamento. A tendência tem sido para as igrejas estaduais ou nacionais. Tem havi-

do historicamente uma dependência das autoridades civis imporem a disciplina da igreja

com punição corporal e capital. Foi essa “mentalidade do Antigo Testamento” que formou

a base dos infames “Julgamentos das Bruxas de Salem” (1691-1692) em que trinta e duas

pessoas foram executadas por serem “bruxas”, conforme Êxodo 22:18. As congregações

são compostas de crentes e de seus filhos. Os ritos e rituais do Antigo Testamento são sim-

plesmente substituídos pelos ritos e rituais do Novo, por exemplo, a circuncisão é substi-

tuída pela aspersão infantil, e a Páscoa pela Ceia do Senhor.

Esta “mentalidade do Antigo Testamento” é a fonte do argumento para aspersão infantil e

questões semelhantes, não a “necessária consequência”, pois aspersão infantil não é nem

uma “boa” nem uma “necessária consequência” deduzida a partir das Escrituras! Isso é ma-

is uma ideia tradicional importada para a Escritura a partir da Tradição Romana e um pro-

cesso de discussão “da aliança” no contexto de uma “mentalidade do Antigo Testamento”.

A ABORDAGEM BATISTA BÍBLICA E HISTÓRICA DAS ESCRITURAS

A posição Batista é aquela de uma perspectiva do Novo Testamento ou uma “mentalidade

do Novo Testamento”. Nós permanecemos no Novo Testamento e consideramos o Antigo

Testamento através dos “olhos do Novo Testamento”, dando o lugar adequado para o

princípio progressivo da revelação Divina e fazendo as necessárias distinções entre a

natureza preparatória da Antiga Aliança e a peremptoriedade da Nova. Nós sustentamos

tanto a necessária unidade quanto diversidade das alianças, nem obliterando distinções

necessárias, e nem desnecessariamente separando o Novo Testamento do Antigo.

Nós vemos a salvação como estritamente pessoal, totalmente pela livre e soberana graça

somente, como a obra em que Deus manifesta Seu propósito redentor eterno (Romanos

8:28-31; Efésios 1:3-14). A salvação não está relacionada a qualquer descendência natural,

ou igreja e relação de aliança estabelecida por relação natural ou aspersão infantil. A

salvação é uma questão individual em que há uma convicção de pecado operada pelo

Espírito; uma fé, dada por Deus, consciente e pessoal em Jesus Cristo como Senhor e

Salvador, e uma consciente conversão do pecado em arrependimento (João 1:12-13; 3:16;

Atos 2:36-42; 17:30-31; Romanos 3:21-26; Efésios 2:1-10).

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A circuncisão como sinal da aliança foi substituída, não pelo “batismo” de qualquer tipo,

mas por um ato soberano de Deus, uma espiritual “circuncisão do coração”, ou seja, a rege-

neração (Romanos 2:28-29; Colossenses 2:10-13). Assim como a circuncisão era o sinal

pactual da Antiga aliança para o Israel físico ou nacional, deste modo, a “circuncisão espi-

ritual”, ou regeneração é o sinal pactual da Nova ou Evangélica Aliança para os crentes, ou

“Israel espiritual”. O Batismo é claramente uma Ordenança do Novo Testamento. Seu modo

é a imersão e seus sujeitos são os que manifestam uma profissão de fé credível, segundo

o padrão do Novo Testamento31.

A Ceia do Senhor não é o cumprimento da Páscoa. A Festa da Páscoa encontrou seu cum-

primento no Senhor Jesus Cristo (1 Coríntios 5:7). A Ceia do Senhor é uma Ordenança dis-

tintamente Neotestamentária centrada na pessoa e obra do Senhor Jesus Cristo. Ela deve

ser observada “em memória” dEle. Os elementos são pão ázimo e vinho. O vinho é um

símbolo de alegria (Salmo 104:15). As “ervas amargas” da Páscoa, que deveriam fazer com

que os israelitas lembrassem de seu amargo cativeiro no Egito não têm lugar na lembrança

de nosso Redentor e Sua gloriosa realização!

Nós vemos a Igreja como uma nova entidade distintamente estabelecida como a instituição

ordenada por Deus para a Nova ou Evangélica Aliança, não uma instituição do Antigo

Testamento transferida para o Novo (Efésios 3:5-10). A igreja do Novo Testamento é uma

assembleia local, independente e autônoma sob o senhorio de Jesus Cristo, um corpo de-

claradamente regenerado no meio de uma sociedade composta, não uma instituição mono-

__________

[31] O argumento Reformado tradicional a partir de Romanos 4:9-12 de que, como a circuncisão era um “sinal

ou selo do pacto”, assim é a aspersão infantil, na verdade ignora tanto a declaração de Romanos 4:9-12 e o

contexto de Gênesis 17, que descreve a instituição da circuncisão como um símbolo ou sinal da aliança. Em

Romanos 4:9-12, o sujeito é Abraão, que foi circuncidado como um crente. A circuncisão era para ele, e

somente para ele, o “selo da justiça da fé quando estava na incircuncisão”. Em Gênesis 17 Abraão é ordenado

a circuncidar todos os homens como um “sinal” da aliança. Essa aliança teve relação com a posse da terra

de Canaã, e não com as promessas eternas da salvação (cf. vv. 7-10). Além disso, Abraão circuncidou Ismael

(vv. 25-27), a quem ele já sabia que não estava incluído no pacto da promessa (vv. 15-21). O pacto da

promessa (Gênesis 12:1-3), como ampliado em Romanos 4:13-25, 9:1–11:32 e Gálatas 3:1-29 foi feita para

filhos espirituais de Abraão (τέκνα Ἀβραάμ — João 8:39). O pacto da circuncisão, tendo relação com a terra

de Canaã, foi feito à descendência física de Abraão (σπέρμα Ἀβραάμ — João 8:33, 37).

Toda a questão da imersão ou aspersão, lactentes ou crentes, pode ser mais estudada nas seguintes obras:

Alexander Carson, Baptism: Its Mode and Its Subjects [Batismo: Seu modo e Sujeitos]. Evansville, IN: The

Sovereign Grace Book Club, n.d., 237 pp.; T. J. Conant, The Meaning and Use of Baptizein [O signifixado e o

Uso de Baptizein]. Grand Rapids: Kregel Publications, 1977. 192 pp.; R. B. C. Howell, The Evils of Infant

Baptism [Os Males do Batismo Infantil]. Watertown, WI: Baptist Heritage Press, 1988. 310 pp.; W. A. Jarrell,

Baptizo–Dip–Only [Baptizo-Imersão-Somente]. Splendora, TX: V. C. Mayes, 1978. 113 pp.; Paul K. Jewett,

Infant Baptism and the Covenant of Grace [O Batismo Infantil e o Pacto da Graça]. Grand Rapids: Eerdmans

Publishing Company, 1980. 254 pp.

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lítica em que há uma religião para a comunidade. Além disso, a igreja exerce a sua própria

disciplina à parte da autoridade civil, e a máxima extensão de tal disciplina é a remoção da

membresia, não a punição corporal ou capital infligida pelas autoridades civis.

É a partir dessa perspectiva do Novo Testamento, que a “boa e necessária consequência”

ou o que é “necessariamente contido na Sagrada Escritura” pode ser deduzido consistente-

mente.

CONCLUSÃO

O único método adequado de interpretação bíblica é aquele único que lida de forma con-

sistente com as regras comuns da gramática e com os fatos da história. Em um sentido

inclusivo, a única abordagem coerente é aquela que considera o princípio da revelação

progressiva, compreendendo corretamente a natureza preparatória do Antigo Testamento

e a finalidade do Novo.

A bíblica e histórica posição Batista pode ser caracterizada como uma “mentalidade do

Novo Testamento” que correta e consistentemente compreende o princípio da revelação

progressiva.

Enquanto nós estamos dispostos a manter as nossas convicções bíblicas e defender os

nossos distintivos Neotestamentários como Batistas, reconhecemos os nossos irmãos

Reformados como crentes e coerdeiros das alianças da promessa. Nós buscamos possuir

uma catolicidade de espírito para com todos os verdadeiros crentes no vínculo comum do

Evangelho e da redenção gloriosa que há em Cristo Jesus, mas as nossas convicções

derivam das Escrituras segundo o padrão do Novo Testamento de nosso Senhor e dos

Apóstolos inspirados, e entendemos que a comunhão mais próxima floresce no contexto

da verdade.

Sola Scriptura • Scriptura Mensura

Sola Scriptura!

Sola Gratia!

Sola Fide!

Solus Christus!

Soli Deo Gloria!

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10 Sermões — R. M. M’Cheyne

Adoração — A. W. Pink

Agonia de Cristo — J. Edwards

Batismo, O — John Gill

Batismo de Crentes por Imersão, Um Distintivo

Neotestamentário e Batista — William R. Downing

Bênçãos do Pacto — C. H. Spurgeon

Biografia de A. W. Pink, Uma — Erroll Hulse

Carta de George Whitefield a John Wesley Sobre a

Doutrina da Eleição

Cessacionismo, Provando que os Dons Carismáticos

Cessaram — Peter Masters

Como Saber se Sou um Eleito? ou A Percepção da

Eleição — A. W. Pink

Como Ser uma Mulher de Deus? — Paul Washer

Como Toda a Doutrina da Predestinação é corrompida

pelos Arminianos — J. Owen

Confissão de Fé Batista de 1689

Conversão — John Gill

Cristo É Tudo Em Todos — Jeremiah Burroughs

Cristo, Totalmente Desejável — John Flavel

Defesa do Calvinismo, Uma — C. H. Spurgeon

Deus Salva Quem Ele Quer! — J. Edwards

Discipulado no T empo dos Puritanos, O — W. Bevins

Doutrina da Eleição, A — A. W. Pink

Eleição & Vocação — R. M. M’Cheyne

Eleição Particular — C. H. Spurgeon

Especial Origem da Instituição da Igreja Evangélica, A —

J. Owen

Evangelismo Moderno — A. W. Pink

Excelência de Cristo, A — J. Edwards

Gloriosa Predestinação, A — C. H. Spurgeon

Guia Para a Oração Fervorosa, Um — A. W. Pink

Igrejas do Novo Testamento — A. W. Pink

In Memoriam, a Canção dos Suspiros — Susannah

Spurgeon

Incomparável Excelência e Santidade de Deus, A —

Jeremiah Burroughs

Infinita Sabedoria de Deus Demonstrada na Salvação

dos Pecadores, A — A. W. Pink

Jesus! – C. H. Spurgeon

Justificação, Propiciação e Declaração — C. H. Spurgeon

Livre Graça, A — C. H. Spurgeon

Marcas de Uma Verdadeira Conversão — G. Whitefield

Mito do Livre-Arbítrio, O — Walter J. Chantry

Natureza da Igreja Evangélica, A — John Gill

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Natureza e a Necessidade da Nova Criatura, Sobre a —

John Flavel

Necessário Vos é Nascer de Novo — Thomas Boston

Necessidade de Decidir-se Pela Verdade, A — C. H.

Spurgeon

Objeções à Soberania de Deus Respondidas — A. W.

Pink

Oração — Thomas Watson

Pacto da Graça, O — Mike Renihan

Paixão de Cristo, A — Thomas Adams

Pecadores nas Mãos de Um Deus Irado — J. Edwards

Pecaminosidade do Homem em Seu Estado Natural —

Thomas Boston

Plenitude do Mediador, A — John Gill

Porção do Ímpios, A — J. Edwards

Pregação Chocante — Paul Washer

Prerrogativa Real, A — C. H. Spurgeon

Queda, a Depravação Total do Homem em seu Estado

Natural..., A, Edição Comemorativa de Nº 200

Quem Deve Ser Batizado? — C. H. Spurgeon

Quem São Os Eleitos? — C. H. Spurgeon

Reformação Pessoal & na Oração Secreta — R. M.

M'Cheyne

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Salvação Pertence Ao Senhor, A — C. H. Spurgeon

Sangue, O — C. H. Spurgeon

Semper Idem — Thomas Adams

Sermões de Páscoa — Adams, Pink, Spurgeon, Gill,

Owen e Charnock

Sermões Graciosos (15 Sermões sobre a Graça de

Deus) — C. H. Spurgeon

Soberania da Deus na Salvação dos Homens, A — J.

Edwards

Sobre a Nossa Conversão a Deus e Como Essa Doutrina

é Totalmente Corrompida Pelos Arminianos — J. Owen

Somente as Igrejas Congregacionais se Adequam aos

Propósitos de Cristo na Instituição de Sua Igreja — J.

Owen

Supremacia e o Poder de Deus, A — A. W. Pink

Teologia Pactual e Dispensacionalismo — William R.

Downing

Tratado Sobre a Oração, Um — John Bunyan

Tratado Sobre o Amor de Deus, Um — Bernardo de

Claraval

Um Cordão de Pérolas Soltas, Uma Jornada Teológica

no Batismo de Crentes — Fred Malone

Page 26: Sola Scriptura, por William R. Downing

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2 Coríntios 4

1 Por isso, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos;

2 Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem

falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem,

na presença de Deus, pela manifestação da verdade. 3 Mas, se ainda o nosso evangelho está

encoberto, para os que se perdem está encoberto. 4 Nos quais o deus deste século cegou os

entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória

de Cristo, que é a imagem de Deus. 5 Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo

Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. 6 Porque Deus,

que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações,

para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. 7 Temos, porém,

este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. 8 Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.

9 Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos;

10 Trazendo sempre

por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus

se manifeste também nos nossos corpos; 11

E assim nós, que vivemos, estamos sempre

entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na

nossa carne mortal. 12

De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida. 13

E temos

portanto o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também,

por isso também falamos. 14

Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará

também por Jesus, e nos apresentará convosco. 15

Porque tudo isto é por amor de vós, para

que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de

Deus. 16

Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o

interior, contudo, se renova de dia em dia. 17

Porque a nossa leve e momentânea tribulação

produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; 18

Não atentando nós nas coisas

que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se

não veem são eternas.