Upload
tranliem
View
216
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
i
Universidade Estadual de Campinas
Instituto de Qumica
Departamento de Qumica Orgnica
Sntese e Atividade Citotxica, Leishmanicida e Sobre o Sntese e Atividade Citotxica, Leishmanicida e Sobre o Sntese e Atividade Citotxica, Leishmanicida e Sobre o Sntese e Atividade Citotxica, Leishmanicida e Sobre o
Sistema Nervoso Central de Compostos Sistema Nervoso Central de Compostos Sistema Nervoso Central de Compostos Sistema Nervoso Central de Compostos ----CarbolnicosCarbolnicosCarbolnicosCarbolnicos
Tese de Doutorado
Manoel Trindade Rodrigues Junior
Orientador: Prof. Dr. Ronaldo Aloise Pilli
Campinas-SP, 30 de outubro de 2009
ii
iv
v
"O que sabemos uma gota, o que ignoramos um oceano."
Isaac Newton
A curiosidade mais importante que o conhecimento. Albert Einstein
Dedico esta tese:
Aos meus pais e irmos.
A minha namorada Cilene.
Aos meus amigos e professores.
vi
vii
Agradecimentos
Primeiramente, agradeo a Deus.
Ao professor Pilli, pela orientao, confiana e incentivo.
Aos meus pais, Manoel Trindade Rodrigues in memorian e Sebastiana de
Oliveira Trindade, aos meus irmos Cristovo, Bethnia, Sunia, Jairo e Marcio in
memorian, agradeo todo amor, confiana, incentivo e respeito.
Aos meus amigos e colegas do laboratrio da nova e da velha gerao, Iltoviski,
Rosimeire, Lucas, Valqurio, Tiago, Vanessa Caixeta, Gilmar, Roberta, Aline, Z
Gustavo, Betinho, Galtico, Niltoviski, Leilita, Andria, Mayra, Diogo, Vanessa
Gonalves e em especial ao meu IC Caio, que tanto me ajudou nas inmeras
colunas regada a clorofrmio/metanol 20%.
Aos meus amigos e colegas do andar, Rodriguete, Brunosviski, Gigi, Julioviski,
Marlinha, Marcelo, Ju, Pati Resende, Kristeeeerson, Tas, Anglica, Pati
Prediger, Tonho, Jailton, Chiquito, Pablo, Svio, Dimas, Tati, Vandinha, Carla
Peres, pela convivncia e aprendizado.
minha amada, namorada, vida, meu grande amor Cilene (M) pelo apoio,
carinho, dedicao e amor. Um mega BJAAAAAAAAAAAOOOOOOOOOO.
Ao prof. Dr. Joo Ernesto, Dbora e Humberto (CPQBA) pelos ensaios de
atividade antiproliferativa, ensaios toxicolgicos e discusses.
Ao Prof. Dr. Srgio de Albuquerque (FCF-USP-Ribeiro) pelos ensaios de
atividade leishmanicida.
Ao prof. Dr. Fbio Gozzo e ao Alexandre pelas anlises de EMAR.
Ao Instituto de Qumica da Unicamp, por ter proporcionado excelentes condies
de estudo e trabalho.
viii
Aos professores, Carlos Roque, Fernando Coelho, Luiz, Anita, Lcia Baptistela,
Sebastio, Ritner, Tormena, agradeo por terem contribudo para minha formao.
Aos tcnicos (Dona Gilda, Rinaldo, Edson, Valquria, Soninha, Paula, Anderson
Tiago, Claudinha, Jose) e funcionrios do Instituto de Qumica.
Ao CNPq, pela bolsa concedida nos dois primeiros meses.
Fapesp, pela bolsa concedida (05/52974-2) e auxlio financeiro.
ix
Manoel Trindade Rodrigues Junior
Smula Curricular
1. Formao acadmica
Doutorado em Cincias
Ago/2005 Out/2009- Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Ttulo: Sntese e Atividade Citotxica, Leishmanicida e Sobre o Sistema Nervoso
Central de Compostos -Carbolnicos.
Orientador: Dr. Ronaldo Aloise Pilli
Bolsista: Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo (FAPESP).
Processo: 05/52974-2
Mestrado em Qumica Orgnica
Mar/2003 Mai/2005 Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Ttulo: Sntese de Guanidinas a partir de Tiourias Utilizando como Promotores
Sais de Bismuto.
Orientador: Dr. Silvio de Desterro Cunha.
Bolsista: Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico
Bacharelado em Qumica
Mar/1999- Dez/2002- Universidade Federal de Gois (UFG)
Iniciao Cientfica: Sntese e Reaes de Guanilao Usando Sais de Bismuto.
x
Orientador: Dr. Silvio de Desterro Cunha.
Bolsista: Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico
2. Atuao profissional
Professor substituto (Mai/2004-Jul/2005)
Instituto de Qumica -Universidade Federal da Bahia
Carga horria semanal: 20 horas
3. Publicaes em peridicos indexados
1. Rodrigues Jr, M. T.; Pilli, R. A. The asymmetric total synthesis of (+) and (-)
trypargine via Noyori asymmetric transfer. Journal of the Brazilian Chemical
Society 2009. , 20, 1438-1440.
2. Rodrigues Jr, M. T.; Pilli R. A.; Santos, L. S.; Shankaraiah, N.; Andrade, C. K.
A.; Ferreira, R. B.; Silva, W. A novel supramolecular palladium catalyst for the
asymmetric reduction o imines in aqueous media. Organic Letters 2009, 11, 3238-
3241.
3. Cunha, S.; Macedo, F. C.; Costa, G. A. N.; Rodrigues Jr, M. T.; Verde, R. B. V.;
de Souza Neta, L. C.; Vencato, I.; Lariucci, C.; S, F. P. Antimicrobial Activity and
Structural Study of Disubstituted Thiourea Derivatives. Monatshefte fr Chemie
2007, 138, 511-516.
xi
4. Cunha, S.; Rodrigues Jr, M. T. The first bismuth(III)-catalyzed guanylation of
thioureas. Tetrahedron Letters 2006, 47, 6955-6956.
5. Cunha, S.; Vencato, I.; Rodrigues Jr, M. T.; Macedo Jr, F. C.; Sabino, J. R.
Polyfunctionalized pyridinium-benzoylguanidine: -benzoyl-4-methylphenyl)-
pyridinioguanidin-3-ide. Acta Crystallographica. Section E, 2006, 62, 1408-1410.
6. Cunha, S.; Beretta, M.; Fascio, M.; Santos, A. O.; Rodrigues Jr, M. T.; Bastos,
R. M. Craqueamento trmico de alcanos: uma aula prtica de qumica orgnica
para a graduao. Qumica Nova 2005, 28, 364.
7. Cunha, S.; Oliveira, S. M.; Rodrigues Jr., M. T.; Bastos, R. M.; Ferrari, J.; de
Oliveira, C. M. A.; Kato, L.; Napolitano, H.; Vencato, I.; Lauriucci, C. Structural
studies of 4-aminoantipyrine derivatives. Journal of Molecular Structure, 2005,752,
32-39.
8. Cunha, S.; Rodrigues Jr, M. T.; da Silva, C. C.; Napolitano, H. B.; Vencato, I.;
Lariucci, C. The first synthesis of pyridinium N-benzoylguanidines by bismuth- and
mercury-promoted guanylation of N-iminopyridinium ylide with thioureas.
Tetrahedron 2005, 61, 10536-10540.
xii
4. Trabalhos em eventos/congressos (5 ltimos)
1. Rodrigues Jr, Manoel T.; Pilli R. A. Sntese do alcalide beta-carbolnico (+)-
harmicina. In: 31a RASBQ, 2008, guas de Lindia-SP.
2. Rodrigues Jr, Manoel T.; Pilli R. A. Enantioselective Total Synthesis of (R)-(+)-
Tripargine. In: 4th Brazilian Symposium on Medicinal Chemistry, 2008, Porto de
Galinhas-PE.
3. Rodrigues Jr, Manoel T.; Pilli R. A. Sntese de indol [2,3-a]quinolizina a partir da
triptamina. In: 30a RASBQ, 2007, guas de Lindia- SP.
4. Rodrigues Jr, Manoel T.; Pilli R. A. Synthesis of (+/-)-deplancheine. In: 12th
Brazilian Meeting on Organic Synthesis, 2007, Itapema- SC.
5. Cunha, S.; Rodrigues Jr, Manoel T.; Oliveira, S. Sntese de Bisguanidinas
atravs de guanilao de bistiourias. In: 28a RASBQ, 2005, Poos de Caldas-
MG.
5. Prmio
Prmio de Painel- QO-148 MANOEL TRINDADE RODRIGUES JR (Sntese formal
da cantin-6-ona), 32aRASBQ, 2009, Fortaleza-CE.
xiii
Resumo
O ncleo -carbolina encontra-se amplamente distribudo entre os produtos
naturais, incluindo alcalides ioimbina (ioimbina e aloioimbina), corinanteidina
(corinanteidina), rauwolfia (reserpina) e vinca (vincamina). Alm disso, essas
substncias tambm tm demonstrado um amplo espectro de propriedades
farmacolgicas, incluindo atividade antitumoral, ansioltica, hipntica,
anticonvulsivante, antiviral, antiparasitria e antimicrobiana. Snteses totais
eficientes da (+)-tripargina (59), em 6 etapas e 46% de rendimento global, (-)-
tripargina (59), em 6 etapas e 38% de rendimento global, (+)-deplancheina (60),
em 11 etapas e 47% de rendimento global, (+)-debromoarborescidina A (61), em 5
etapas e 73% de rendimento global, (+)-harmicina (62), em 5 etapas e 56% de
rendimento global, (-)-harmicina (62), em 5 etapas e 52% de rendimento global,
cantin-6-ona (64), em 8 etapas e 45% de rendimento global e 10-metoxi-cantin-6-
ona (65), em 8 etapas e 35% de rendimento global, foram realizadas com base na
construo do sistema -carbolnico via reao de Bischler-Napieralski e reduo
enantiosseletiva do intermedirio diidro--carbolnico via reao de transferncia
de hidrognio assimtrica usando o protocolo de Noyori. Estes compostos foram
avaliados como agentes antiproliferativos contra um painel de clulas
cancergenas. Apenas cantin-6-ona (64) mostrou atividade contra a linhagem de
clula 786-0 (clula de cncer renal). Estes compostos foram avaliados em
bioensaios in vitro contra Leishmania brasiliensis, Leishmania amazonesis e
Leishmania major e novamente apenas a cantin-6-ona (64) apresentou atividade
contra Leishmania major (IC50=16,9 M) e um ndice de segurana altamente
promissor (Si=94,7). Testes preliminares de toxicidade in vivo mostraram que a
harmicina (62) e a tripargina (59) so substncias com potencial efeito sobre o
sistema nervoso central.
xiv
xv
Abstract
The -carboline skeleton is widely distributed among natural products
incluiding yohimbine (yohimbine and alloyohimbine), corynantheidine
(corynantheidine), rauwolfia (reserpine) and vinca (vincamine) alkaloids.
Furthermore, these coumpounds have also demonstrated a broad spectrum of
pharmacological properties including ansiolytic, hypnotic, anticonvulsant,
antitumor, antiviral, antiparasitic as well as antimicrobial activities. Concise and
efficient total syntheses of (+)-trypargine (59), in 6 steps and 46% overall yield, (-)-
trypargine (59), in 6 steps and 38% overall yield, (+)-deplancheine (60), in 11 steps
and 47% overall yield, (+)-debromoarborescidine A (61), in 5 steps and 73%
overall yield, (+)-harmicine (62), in 5 steps and 56% overall yield, (-)-harmicine
(62), in 5 steps and 52% overall yield, canthin-6-one (64), in 8 steps and 45%
overall yield and 10-methoxy-canthin-6-one (65), in 8 steps and 35% overall yield,
were developed based on the construction of the -carboline moiety via Bischler-
Napieralski reaction and the enantioselective reduction of the dihydro--carboline
intermediate via an asymmetric transfer hydrogenation reaction using Noyoris
protocol. These compounds were evaluated as antiproliferative agents against a
panel of cancer cell lines. Only canthin-6-one (64) has shown promising activity
against cell line 786-0 (renal cell carcinoma). These compounds were evaluated in
vitro bioassays against Leishmania major, Leishmania brasiliensis and Leishmania
amazonesis and again canthin-6-one (64) displayed promising activity against
Leishmania major (IC50=16,9 M) and a highly promising safety index (Si=94,7).
Preliminary tests of in vivo toxicity showed that harmicine (62) and trypargine (59)
are substances with potential effect on the central nervous system.
xvi
xvii
ndice
Lista de Figuras xxi
Lista de Tabelas xxiii
Lista de Esquemas xxv
Abreviaes, Smbolos e Estruturas xxxi
1 Introduo...................................................................................... 01
1.1 Aspectos gerais............................................................................. 01
1.2 Principais mtodos de obteno de carbolinas........................... 03
1.2.1 Pictet-Spengler.............................................................................. 03
1.2.2 Bischler-Napieralski...................................................................... 06
1.3 Breve comentrio sobre preparao enantiosseletiva de -carbolina.........................................................................................
08
1.4 Sntese assimtrica carbolinas via hidrogenao assimtrica de Noyori.........................................................................................
11
2 Objetivos.......................................................................................... 16
3 Resultados e Discusses: tripargina (59)........................................ 17
3.1 Consideraes gerais: introduo................................................... 17
xviii
3.2 Estudos visando sntese da ()-tripargina (59)............................. 19
3.3 Otimizao das condies reacionais da sntese da diamina 73.... 41
3.4 Sntese da (+) e (-)-tripargina (59)................................................... 47
3.5 (R)-(+)-Deplancheina (60): introduo............................................. 59
3.5.1 Sntese total da (R)-(+)-deplancheina (60) e da (R)-(+)-
debroarborescidina........................................................................
63
3.6 Harmicina (62): introduo.............................................................. 71
3.6.1 Sntese total da (+) e (-)-harmicina (62)
73
3.7 Otimizao da rota sinttica da (+)-harmicina (62).......................... 76
3.8 Sntese de derivados da harmicina (62).......................................... 77
3.9 Sntese da cantin-6-ona (64) e da 10-metoxi-cantin-6-ona (65)......
80
3.10 Atividade citotxica de carbolinas............................................... 89
3.11 Atividade leishmanicida................................................................... 97
3.12 Atividade sobre o sistema nervoso: teste hipocrtico..................... 105
3.13 Efeitos farmacolgicos gerais.......................................................... 107
xix
3.13.1 Animais............................................................................................ 107
3.13.2 Avaliao hipocrtica: toxicidade aguda......................................... 107
3.13.3 Concluses dos testes de toxicidade aguda................................... 112
4 Concluses...................................................................................... 113
5 Parte Experimental.......................................................................... 116
6 Anexo.............................................................................................. 173
7 Referncias.................................................................................... 234
xx
xxi
Lista de Figuras
Figura 1 Exemplos de alcalides verdadeiros, protoalcalides e pseudoalcalide................................................................
01
Figura 2 Exemplos de alcalides indlicos..................................... 02
Figura 3 Fotos das espcies Banisteriopsis caapi (esquerda) e Peganum harmala (direita)..............................................
03
Figura 4 R da espcie Kassina senegalensis e estrutura da (S)-(-)-tripargina (59)...............................................................
17
Figura 5 Espectro de IV (filme) do derivado acilazida 102 (esquerda) e isocianato 103 (direita)................................
34
Figura 6 Arbusto de uma Alstonia e estruturas da deplancheina (60)...................................................................................
59
Figura 7 Ilustrao da Kopsia griffithii (esquerda) e estrutura da harmicina (62) (direita).....................................................
71
Figura 8 Determinao do excesso enantiomrico de 167............. 75
Figura 9 Tipos de cncer mais incidentes, estimados para 2008, na populao brasileira.....................................................
89
Figura 10 Relao de estrutura-atividade de derivados de -carbolinas frente a clulas tumorais.................................
90
Figura 11 Porcentagem de crescimento de clulas de cncer humano aps 48h na presena de diferentes concentraes de 59 e 73................................................
92
Figura 12 Porcentagem de crescimento de clulas de cncer humano aps 48h na presena de diferentes concentraes de 62 e 60................................................
93
Figura 13 Porcentagem de crescimento de clulas de cncer humano aps 48h na presena de diferentes concentraes de 64 e 65................................................
94
xxii
Figura 14 Porcentagem de crescimento de clulas de cncer humano aps 48h na presena de diferentes concentraes de 7..........................................................
95 Figura 15 Distribuio de espcies Leishmania pelo Brasil (ano:
2005).................................................................................
98
Figura 16 Densidade de casos de Leishmania no Brasil.................. 98
Figura 17 Os tipos de leishmaniose: cutnea, muco-cutnea e visceral..............................................................................
99
Figura 18 Ciclo de vida do gnero Leishmania................................. 102
Figura 19 Tratamento via intraperitoneal em camundongo.............. 108
Figura 20 Aps administrao intraperioneal da (R)-harmicina (62): cauda em Straub......................................................
110
xxiii
Lista de Tabelas
Tabela 1 Hidrogenao assimtrica de iminas com catalisador de Noyori...............................................................................
12
Tabela 2 Otimizao das condies reacionais para a sntese do 4-nitroster 78.................................................................
21
Tabela 3 Otimizao das condies reacionais de hidrlise do nitroster 78......................................................................
24
Tabela 4 Verificao das condies reacionais da reao de Bischler-Napieralski..........................................................
27
Tabela 5 Otimizao das condies reacional da reduo do
grupo nitro de 77...............................................................
28
Tabela 6 Formao da imina 90 via reao de Bischler-Napieralski........................................................................
31
Tabela 7 Desproteo do grupo carbometoxi do composto 108..... 37
Tabela 8 Desproteo do grupo Cbz de 118................................... 45
Tabela 9 Deslocamento qumico de RMN de 13C da tripargina (59): literatura e experimental ..........................................
53
Tabela 10 Dados espectroscpicos de RMN de 1H e RMN de 13C da deplancheina (60)........................................................
67
Tabela 11 Dados espectroscpicos de RMN de 1H e RMN de 13C da desbromoarborescidina A (61)....................................
70
Tabela 12 Dados comparativos de 1H-RMN e 13C-RMN da harmicina (62)...................................................................
75
Tabela 13 Efeito citotxico da cantin-6-ona (64) e de derivados frente a clulas de cncer...............................................
81
Tabela 14 Dados espectroscpicos de RMN de 1H e RMN de 13C
xxiv
da cantin-6-ona (64)......................................................... 87
Tabela 15 Valores de TGI em mol/L para -carbolinas 59, 73, 63, 60, 62, 64, 65, 7................................................................
96
Tabela 16 Classificao das espcies de Leishmania e suas manifestaes clnicas......................................................
100
Tabela 17 ndice de segurana, citotoxicidade e atividade Leishmanicida de 59, 60, 61, 62, 64, 65 ..........................
104
xxv
Lista de Esquemas
Esquema 1 Sntese de tetraisoquinolinas via Pictet-Spengler............ 04
Esquema 2 Mecanismo proposto para reao de Pictet-Spengler...... 05
Esquema 3 Mecanismo alternativo para a reao de Pictet-Spengler...........................................................................
06
Esquema 4 Mecanismo proposto para a reao de Bischler-Napieralski........................................................................
07
Esquema 5 Mecanismo proposto para a reao de Bischler-Napieralsk via intermedirio espiroindolenina..................
07
Esquema 6 Pictet-Spengler assimtrica com utilizao de auxiliar quiral.................................................................................
09
Esquema 7 Verso assimtrica da reao de Pictet-Spengler por Waldmann.........................................................................
10
Esquema 8 Sntese da Geissoschizina (43) por Martin e colaboradores...................................................................
11
Esquema 9 Reao de transferncia de hidrognio em meio aquoso..............................................................................
13
Esquema 10 Sntese das arborescidinas A, B e C................................ 14
Esquema 11 Quadro Geral dos compostos sintetizados....................... 16
Esquema 12 Primeira abordagem sinttica para a tripargina (59) por Nakajima...........................................................................
18
Esquema 13 Sntese da (-)-tripargina (59) por Nakajima...................... 19
Esquema 14 Primeira abordagem sinttica para tripargina (59)........... 20
xxvi
Esquema 15 Mecanismo proposto para a formao do nitroster 78.. 22
Esquema 16 Sntese do amida 77......................................................... 23
Esquema 17 Rotas alternativas para sntese da amida 77................... 23
Esquema 18 Mtodos de obteno da amida 77.................................. 25
Esquema 19 Proposta de mecanismo de formao de amida 77
mediada por SOCl2...........................................................
26
Esquema 20 Tentativa de formao de 88 via reao de Bischler-Napieralski........................................................................
29
Esquema 21 Formao do carbamato 89.............................................. 30
Esquema 22 Mtodos para rearranjo de Curtius................................... 32
Esquema 23 Formao do derivado carbamato 89 via rearranjo de Curtius..............................................................................
34
Esquema 24 Mecanismo alternativo para formao de 107.................. 35
Esquema 25 Reduo da imina 108 com NaBH4.................................. 36
Esquema 26 Mecanismo de reduo com NaBH4................................ 36
Esquema 27 Tentativa de guanilao da diamina 73............................ 39
Esquema 28 Sintese de bis-Boc-tripargina 111..................................... 40
xxvii
Esquema 29 Mecanismo proposto para guanilao da amina 73 com tiouria 110.......................................................................
40
Esquema 30 Desproteo de 111 com TFA.......................................... 41
Esquema 31 Formao do derivado carbamato 113 via rearranjo de Curtius..............................................................................
42
Esquema 32 Esquema geral de formao de amida 113 na presena de HOBt e EDCI...............................................................
43
Esquema 33 Formao do derivado composto 118.............................. 44
Esquema 34 Formao do composto 123............................................. 46
Esquema 35 Formao da diamina 73 a partir de 123.......................... 47
Esquema 36 Formao do derivado carbamato 127 via rearranjo de Curtius..............................................................................
48
Esquema 37 Sntese do composto 129................................................. 49
Esquema 38 Desproteo do derivado de leucina 130 com Et3SiH e Pd-C..................................................................................
50
Esquema 39 Desproteo do composto 129 com Et3SiH e Pd-C......... 50
Esquema 40 Mecanismo para a desproteo de N-alil aminas 132 catalisada por Pd..............................................................
51
Esquema 41 Etapa de guanilao na sntese da (-)-batzeladina D (137).................................................................................
52
Esquema 42 Etapa de guanilao da sntese da tripargina (59)........... 53
Esquema 43 Sntese assimtrica do composto 129.............................. 54
xxviii
Esquema 44 Mecanismo proposto para hidrogenao assimtrica de Noyori..............................................................................
55
Esquema 45 Derivatizao do composto 129 com MTPA..................... 56
Esquema 46 Finalizao da sntese da (+)-tripargina (59).................... 57
Esquema 47 Sntese da (+)-tripargina (59) por Drabowicz................... 58
Esquema 48 Sntese da deplancheina (60) por Meyers........................ 61
Esquema 49 Sntese da deplancheina (60) por Allin e colaboradores.. 62
Esquema 50 Sntese da lactama 148.................................................... 64
Esquema 51 Sntese do intermedirio 157............................................ 65
Esquema 52 Formao do intermedirio 150........................................ 66
Esquema 53 Sntese da (+)-deplancheina (60)..................................... 67
Esquema 54 Alternativa de sntese de 150..................................... 68
Esquema 55 Sntese da (+)-debromoarborescidina A (61) a partir de 148....................................................................................
69
Esquema 56 Sntese da harmicina (62) por Allin e colaboradores........ 72
Esquema 57 Sntese da harmicina (62) por Jacobsen e colaboradores...................................................................
73
Esquema 58 Sntese da harmicina (62)................................................. 74
xxix
Esquema 59 Otimizao da rota............................................................ 77
Esquema 60 Sntese de derivados da harmicina (62)........................... 77
Esquema 61 Condies......................................................................... 79
Esquema 62 Sntese da cantin-6-ona (64) por Poupon......................... 82
Esquema 63 Sntese do composto 194................................................. 83
Esquema 64 Sntese do composto 198................................................. 84
Esquema 65 Ciclizao intramolecular de 198...................................... 85
Esquema 66 Desproteo do grupo benzila de 199.............................. 85
Esquema 67 Formao da cantin-6-ona (64)........................................ 86
Esquema 68 Sntese da 10-metoxi-cantin-6-ona (65)........................... 88
Esquema 69 Exemplos de compostos com atividade citotxica........... 91
Esquema 70 Estruturas de frmacos utilizados na terapia da leishmaniose.....................................................................
103
Esquema 71 Compostos avaliados nos ensaios de toxicidade aguda.. 106
xxx
xxxi
Abreviaes, Smbolos e Estruturas
[] D25: rotao ptica especfica;
: deslocamento qumico;
: freqncia de estiramento;
Aloc: aliloxicarbonila;
Boc: t-butiloxicarbonila;
Cbz: carbobenziloxi (BnOC=O);
CCD: cromatografia em camada delgada;
CG: cromatografia gasosa;
DBN: 1,5-diazobiciclo[4.3.0]non-5-eno;
DBU: 1,5-diazobiciclo[5.4.0]undec-7-eno;
DIBAL-H: hidreto de diisobutilalumnio;
DIPEA: diisopropiletilamina;
DMANE: 1-dimetilamino-2-nitroetileno;
DMAP: N,N-dimetil-4-aminopiridina;
DMF: N,N-dimetilformamida;
DMSO: dimetil sulfxido;
DOX: doxorrubicina;
EDCI: 1-[3-(dimetilamino)propil]-3-etilcarbodiimida;
e.e.: excesso enantiomrico;
EMAR: espectrometria de massas de alta resoluo;
ESI: ionizao por eletrospray
Fmoc: 9-fluorenilmetoxicarbonil;
GI50: concentrao responsvel por 50% de inibio de crescimento celular
HOBt: 1-hidroxibenzotriazol;
HPLC: cromatografia lquida de alta eficincia;
HT-29: linhagem tumoral de clula de clon;
OO
Boc
O
O
Aloc
N
N
DMAP
AlH
Dibal-H
NN
N
OHHOBt
O
O
Fmoc
NO2
NH3CCH3
DMANE
xxxii
IC50: concentrao responsvel por 50% de inibio de crescimento celular;
IV: infravermelho;
J: constante de acoplamento;
K562: linhagem tumoral de clula de leucemia;
LC50: concentrao necessria para matar 50% das clulas;
LDA: diisopropilamideto de ltio;
LLM-MK2: clulas de rim de macaco;
Ms: metanossulfonila;
MTPA: cido -metoxi--trifluorometilfenilactico;
NCI: National Cancer Institute;
NCI-486: linhagem tumoral de clula de pulmo;
NCI-ADR: linhagem tumoral de clula de ovrio resistente;
OMS: Organizao Mundial de Sade;
OVCAR: linhagem tumoral de clula de ovrio;
PCO-3: linhagem tumoral de clula de prstata;
Pd-C: paldio sobre carvo ativo;
RMN: ressonncia magntica nuclear;
SI: ndice de segurana para ensaios biolgicos;
t.a.: temperatura ambiente;
TBAF: fluoreto de tetrabutil amnio;
TFA: cido trifluoroactico;
TFAA: anidrido trifluoroactico;
THF: tetraidrofurana;
TMS: tetrametilsilano;
TGI: concentrao mnima que causa a inibio total do crescimento;
Ts: p-toluenossulfonila
UACC-62: linhagem tumoral de clula de melanona;
xxxiii
UV254nm: luz ultravioleta 254 nm.
xxxiv
Introduo Geral
1
1. Introduo
1.1. Aspectos gerais
Os alcalides so metablitos secundrios provenientes de aminocidos
contendo pelo menos um nitrognio bsico em sua estrutura. Essencialmente,
podemos distinguir trs classes de alcalides: 1
Alcalides verdadeiros: so substncias que contm um nitrognio em anel
heterocclico, sendo derivadas de amino cidos.
Protoalcalides: so aminas simples, tambm derivadas de amino cido, porm o
nitrognio no se encontra no anel heterocclico.
Pseudoalcalides: no derivam de amino cidos e so geralmente bsicos.
Alcalides
NH
HO
Serotonina (3)(protoalcalide)
Figura 1. Exemplo de alcalides verdadeiros,protoalcalides e pseudoalcalide.
NH2
ON
Me
HO
HOH
Morfina (1)(alcal. verdadeiro)
N
Me
OH
Pumiliotoxina 251D (2)(alcal. verdadeiro)
Me
N
NH
N
N
O
O
MeMe
Cafena (5)(pseudoalcalide)
MeO OMe
MeO
NH2Mescalina (4)
(protoalcalide)
1 a) Hesse, M. Alkaloids: Nature Curse Or Blessing; Ed. Wiley-VCH; Weinheim, 2002. b) Cordell, G. A. Introduction To Alkaloids: A Biogenetic Approch; Ed. Wiley Interscience Publication, 1981.
Introduo Geral
2
Dentro da classe dos alcalides heterocclicos, encontramos os alcalides
indlicos. Os alcalides indlicos compreendem um grande grupo de produtos
naturais de ocorrncia freqente (j foram identificados mais de 1500) e
considervel diversidade estrutural. O ncleo carbolnico (ver o ncleo em azul
da estrutura 7 da Figura 2) encontra-se presente no esqueleto de vrios alcalides
indlicos apresentando um sistema tricclico pirido[3,4-b]indlico, com diferentes
padres de hidrogenao e substituio. Dentre os efeitos farmacolgicos
atribudos as -carbolinas podemos destacar: atividade anti-HIV, atividade
citotxica, atividade antimicrobiana, atividade sobre o sistema nervoso central,
entre outras.2
Harmina (7)
NH
Indol (6)
Figura 2. Exemplos de alcalides indlicos.
N S
N
SMe
Sinalbina B (8)
OMe
NH
OMe
CHO
Murraianina (9)
NH
NHN
OH
HO
CO2H
Hirtiazepina (12)
NH
N
Et
Quebrachamina (11)NH
N
OH
H Me
Alina (10)
NH
NH3CO
2 Para revises sobre alcalides -carbolnicos, ver: a) Morales-Rios, M. S.; Suarez-Castillo, O. R. Nat. Prod. Commun. 2008, 3, 629. b) Ishikura, M.; Yamada, K. Nat. Prod. Rep. 2009, 26, 803. c) Allen, J. R. F.; Holmstedt, B. R. Phytochemistry 1980, 19, 1573. d) Husson, H. P. In The Alkaloids, Brossi, A., Ed., Vol. 26, Academic Press, 1985.
Introduo Geral
3
A planta Banisteriopsis caapi encontrada na Amrica do Sul e a Peganum
harmala encontrada da regio do mar Mediterrneo so exemplos de espcies
que apresentam carbolinas em sua composio. Alm de sua ocorrncia em
plantas, a presena de compostos carbolnicos foi observada tambm em
tecidos de mamferos, insetos, frutas e em extratos de ervas preparados por
algumas tribos de ndios sul-americanos. 3
Figura 3. Fotos das espcies Banisteriopsis caapi (esquerda) e Peganum
harmala (direita).
1.2. Principais mtodos de obteno de carbolinas
1.2.1. Pictet-Spengler
Em 1911, A. Pictet e T. Spengler reportaram que a condensao de 2-
feniletilamina (13) e dimetoximetano (14), na presena de cido clordrico
concentrado, resultou na formao do sistema 1,2,3,4-tetraidroisoquinolnico 15,
3 Mosquera, J. T. Avances en Enfermeria 2005, XXIII, 92.
Introduo Geral
4
em rendimento moderado.4 Embora os estudos iniciais de Pictet e Spengler5
tenham sido desenvolvidos visando a sntese de tetraidroisoquinolinas 15
(Esquema 1), a metodologia foi logo aplicada sntese de carbolinas.
NH2H3COCH2OCH3 NH
H+
Esquema 1. Sntese de tetraisoquinolinas via reao Pictet-Spengler.
13 14 15
O mecanismo aceito4 para a reao de Pictet-Spengler, quando analisado
no contexto da sntese de -carbolinas, envolve inicialmente a formao de uma
base de Schiff pela desidratao de um aminal 18 em condies cidas. A imina
20 protonada resultando em um on imnio 21. A formao da -carbolina 23
finalizada pelo ataque nucleoflico de C-2 do anel indlico ao on imnio 21
(Esquema 2).
4 Kurti, L.; Czak, B. Strategic Aplications of Named Reaction in Organic Synthesis; Ed. Elsevier Academic Press, 2005. 5 Pictet, A.; Spengler, T. Berichte 1911, 2030 (conforme ref. 4).
Introduo Geral
5
NH
NH2
NH
NH
R
OR
HNH
HN
R H
OH
+H+
NH
HN
R H
OH2
-H2O
-H+ NH
N
R
+H+
NH
N
R
H
6-endo-trig
HNH
NH
R
-H+
aminal
imina on imnio
-carbolina
Esquema 2. Mecanismo proposto para reao de Pictet-Spengler.
16 17 18
19 20 21
22 23B
Posteriormente, estudos de Jackson e Smith6 sugeriram um mecanismo
alternativo que envolve o ataque da posio mais nucleoflica do anel indlico (C-
3) ao on imnio 21, seguido de um rearranjo [1,2]-C para fornecer o sistema
carbolnico (Esquema 3).
6 a) Jackson, A. H.; Smith, A. E. Tetrahedron 1968, 24, 403. b) Jackson, A. H.; Smith, A. E. Tetrahedron 1968, 24, 2227. c) Jackson, A. H.; Naidoo, B.; Smith, P. Tetrahedron 1968, 24, 6119. d) Biswas, K. M.; Jackson, A. H. Tetrahedron 1969, 25, 227.
Introduo Geral
6
NH
NH
R
NH
N
R
H
H
NH
NH
R
-H+
NH
[1,2]-CNH
R
on imnio
-carbolina 23
Esquema 3. Mecanismo alternativo para a reao de Pictet-Spengler.
21 24 22
1.2.2. Bischler-Napieralski
Outra abordagem sinttica bastante empregada para a sntese de sistemas
-carbolnicos est baseada no emprego da reao de Bischler-Napieralski. A
reao de Bischler-Napieralski consiste na ciclodesitratao de feniletilamina
fornecendo 3,4-diidroisoquinolinas atravs do aquecimento a altas temperaturas
com agentes desidratantes (P2O5, POCl3, PPA, TFAA, Tf2O).7 A reao de
Bischler-Napieralski tambm usada para a converso de derivados de triptamina
(16) em -carbolinas.8
Estudos mecansticos feitos por Fodor9 demonstraram que a formao de
ambos os intermedirios (cloreto de imidoila e sal nitrlio) promovida por agentes
desidratantes. Por exemplo, uma amida indlica 25 pode reagir com POCl3
formando o cloreto de imidoila 29 que mediante aquecimento transforma-se no sal
de nitrlio 30. Aps uma substituio eletroflica aromtica intramolecular leva a
formao da -carbolina 32 correspondente (Esquema 4). 7 Bischler, A.; Napieralski, B. Berichte 1893, 26, 1903 (conforme ref. 4). 8 a) Whaley, W. M.; Govindachari, T. R. Organic Reaction 1951, 6, 74. b) Li, J. J.; Corey, E. J., Name Reactions in Heterocyclic Chemistry; Ed John Wiley & Sons, Inc., Hoboken, New Jersey, 2005. 9 a) Fodor, G.; Nagubandi, S. Tetrahedron 1980, 36, 1279. b) Fodor, G.; Gal, J.; Phillips, A. Angew. Chem. Int. Ed. 1972, 26, 919.
Introduo Geral
7
Esquema 4. Mecanismo proposto para a reao de Bischler-Napieralski.
NH
HN
R
O ClP
O
ClCl
NH
N
R
OPOCl2
Cl
H NH
N
R
OPOCl2H Cl
NH
NH
R
Cl NH
NR
Cl NH
N
R
Cl
NH
N
RH
NH
N
R
-H
25 26 27
28 29 30
31 32
6-endo-dig
B
Do mesmo modo que para a reao de Pictet-Spengler, alguns autores
propem que o mecanismo da reao de Bischler-Napieralski envolva um
intermedirio espiroindolenina 33 (Esquema 5).10
BEsquema 5. Mecanismo proposto para a reao de Bischler-Napieralski
via intermedirio espiroindolenina.
NH
NHO
R
POCl3
NH
N
R
ClNH
N
R
NH
N
R
NH
N
Indolenina
R NH
N
R
NH
N
R
No-observado
NH
N
RH
-HCl
1,2-C
1,2-C
25
32
3029
33
31
30
34
-H+
H
10 a) Doi, S.; Shirai, N.; Sato, Y. J. Chem. Soc. Perkin Trans. 1, 1997, 2217. b) Liu, J.; Nakagawa, M.; Ogata, K.; Hino, T. Chem. Pharm. Bull. 1991, 39, 1672.
Introduo Geral
8
As propostas de mecanismos para as reaes de Bischler-Napieralski e de
Pictet-Spengler que passam por um intermedirio espiro foram contestadas por
clculos tericos que mostraram que para a formao do intermedirio espiro
haveria altas barreiras de energia. Outro fator que contribui para o questionamento
que no se teve o isolamento de produtos do tipo carbolnicos.11
1.3. Breve comentrio sobre preparao enantiosseletiva de -carbolina
A crescente demanda por substncias enantiomericamente puras levou a
sntese assimtrica a ocupar um lugar de destaque dentro do panorama
cientfico.12 Vrias metodologias para a sntese assimtrica de carbolinas foram
desenvolvidas, dentre elas podemos citar: uso de blocos de construo quirais;
uso de auxiliares quirais; uso de cido de Brnsted quiral, adio de nuclefilo e
hidrogenao assimtrica, entre outras.13
Em 1995, Waldmann e colaboradores exploraram a reao de Pictet-
Spengler na verso assimtrica, empregando derivados de ftaloimido-cidos 36
como auxiliares quirais.14 A seletividade foi explicada pela coordenao do tomo
de titnio carbonila (Esquema 6). Essa coordenao levou a formao de
derivados 38 em rendimentos moderados a excelentes e em bons excessos
diastereoisomricos (64-98%).
11 a) Kowalski, P.; Mokrosz, J. L. Bull. Soc. Chem. Belg. 1997, 106, 147. b) Kowalski, P.; Bojarski, A. J.; Mokrosz, J. L. Tetrahedron 1995, 51, 2737. 12 a) Seayad, J.; List, B. Org. Biomol. Chem. 2005, 3, 719. b) Gladiali, S.; Alberico, E. Chem. Rev. 2006, 35, 226. c) Feringa, B. L.; Delden, R. A. Angew. Chem. Int. Ed. 1999, 38, 3418. d) Enders, D.; Huttl, M. R. M.; Grondal, C.; Raabe, G. Nature, 2006, 441, 861. 13 a) Tietze, L. F.; Zhou, Y.; Topken, E. Eur. J. Org. Chem. 2000, 2247. b) Wanner, M. J.; van der Hass, R. N. S.; de Cuba, K. R.; van Maarseveen, J. H.; Hiemstra, H. Angew. Chem. Int. Ed. 2007, 46, 1. c) Gremmen, C.; Willemse, B.; Wanner, M. J.; Koomen, G. J. Tetrahedron Lett. 2001, 42, 8885. d) Waldmann, H.; Schimit, G.; Jasen, M.; Geb, J. Tetrahedron 1994, 50, 11865. e) Waldmann, H.; Schimit, G.; Jasen, M.; Geb, J. Tetrahedron Lett. 1993, 34, 5867. f) Wee, A. G. H.; Yu, Q. J. Org. Chem. 2001, 66, 8935. g) Zhou, H.; Lio, X.; Yin, W.; Ma, J.; Cook, J. M. J. Org. Chem. 2006, 71, 251. h) Bandini, M.; Melloni, A.; Piccinelli, F.; Sinisi, R.; Tommasi, S.; Umani-Ronchi, A. J. Am. Chem. Soc. 2006, 128, 1424. i) Yamada, H.; Kawate, T.; Matsumizu, M.; Nishida, A.; Yamaguchi, K.; Nakagawa, M. J. Org. Chem. 1998, 63, 6348. 14 Waldmann, H.; Schimit, G.; Henke, H.; Burkard, M. Angew. Chem. Int. Ed. Engl. 1995, 34, 2402.
Introduo Geral
9
NH
N
O
OO
ClR1
N
R2
36: R2= Me, Et, iPr, Ph,4-NO2-Ph, 4-Cl-Ph
Ti(OiPr)4CH2Cl2, t.a.
NOO
OR1H
NR2
H
NH
TiL
LL
L
NH
NO
NR1
R2
O
O
Esquema 6. Reao de Pictet-Spengler assimtrica com utilizao de auxiliar quiral.
35: R1= Me, iPr, t -Bu+
37 38
L=OiPr
Recentemente, List e colaboradores desenvolveram uma metodologia para a sntese assimtrica de carbolinas via reao de Pictet-Spengler utilizando
derivado do cido fosfrico quiral A como catalisador. Essa metodologia levou a
formao de sistemas carbolnicos em altos rendimentos (94-98%) e bons
excessos enatiomricos (86-90%). A presena do ster geminal foi essencial para
o processo de ciclizao (Esquema 7).15
15 Seayad, J.; Seayad, A. M.; List, B. J. Am. Chem. Soc. 2006, 128, 1086.
Introduo Geral
10
NH
R1 CO2EtCO2Et
NH2NH
R1
NH
CO2EtCO2Et
R2
A (20mol%)Na2SO4
tolueno, t.a.
39: R1 = H, OMe, OBn 40:R2 = Et, n-Pr, n-Bu,i -Pr, i-Bu, Bn, Cy, Ph
POO
O
OH
R
R
i-Pr
i -Pr
i -Pr
R =
A
R2CHO
Esquema 7. Verso assimtrica da reao de Pictet-Spengler proposta por List.
Em 2003, Martin e colaboradores relataram um elegante trabalho de adio
assimtrica do nuclefilo B a imina 41 para a sntese da (+)-geissoschizina. O
ataque do nuclefilo acetal B ao intermedirio 41 ocorreu pelo lado trans ao grupo
carboxila, levando a um nico enantimero atravs de uma reao de Mannich
vinloga (Esquema 8).16
16 Deiters, A.; Chen, K.; Eary, C. T.; Martin, S. J. Am. Chem. Soc. 2003, 125, 4541.
Introduo Geral
11
Esquema 8. Sntese da Geissoschizina (43) por Martin e colaboradores.
NH
N.HCl
CO2H OCH3
OTBDMS
NH
NH
CO2t -Bu
CO2CH3
(CH3)2C=CH2, H2SO459% (2 etapas)
R=H
R=t -Bu
NH
N
MeO2C CHOH
(+)-Geissoschizina (43)
41 42
B
H
H
H1)
2)
1.4. Sntese assimtrica de carbolinas via hidrogenao assimtrica de
Noyori
Na natureza, as oxirredutases catalisam a transferncia de hidrognio a
compostos carbonlicos levando aos seus respectivos lcoois, usando co-fatores
como NADH e NADPH.17 Noyori e colaboradores mostraram que complexos de p-
cimeno-Ru(II), possuindo uma 1,2-diamina quiral adequada, catalisa de forma
eficiente as redues assimtricas de iminas quando se emprega uma mistura
azeotrpica de cido frmico-trietilamina como fonte de hidrognio. Essa
17 a) Jones, J. B. Tetrahedron 1986, 42, 3351. b) Leninger, A. L.; Nelson, D. L.; Cox, M. M.; Principles of Biochemistry, Worth Publishers, New York, NY, USA, 1997.
Introduo Geral
12
metodologia particulamente til e conveniente como uma rota geral para a
sntese assimtrica de alcalides carbolnicos naturais (Tabela 1).13a,18,19
Tabela 1. Hidrogenao assimtrica de iminas com catalisador de Noyori
NH
N
R
46 (S,S ou R,R),
HCO2H:Et3N (5:2) NH
NH
R
44: a: R=Me; b: R=Ph; c: R=Et;d: R=-(CH2)2CH3; e:-(CH2)7CH3;f: -(CH2)16CH3; g: -CH2CO2Et
N
NH2
RuCl
Tos
N
NH2
RuCl
Tos
46a: (S,S)
46b: (R,R)
Rn
Rn
46a: 6666-areno= p-cimeno46b: 6666-areno= benzeno
imina 44 cat. rend (%) ee (%) Conf.
a
b
c
d
e
f
g
(S,S)-
(S,S)-
(S,S)-
(S,S)-
(R,R)-
(R,R)-
(R,R)-
86
83
84
88
81
77
93
97
96
98
98
98
98
97
R
R
R
S
S
S
S
45
A primeira reao de transferncia de hidrognio assimtrica de iminas 44
cclicas e ons iminios em meio aquoso foi desenvolvida por Zhu e colaboradores.
20 A reao ocorreu na presena de um surfactante, formiato de sdio e de um
derivado do catalisador de Ru 47 solvel em gua. Essa metodologia fornece
isoquinolinas e -carbolinas em bons rendimentos e excessos enantiomricos
18 a) Uematsu, N.; Fujii, A.; Hashiguchi, S.; Ikariya, T.; Noyori, R. J. Am. Chem. Soc 1996, 118, 4916. b) Kobayashi, S.; Ishitani., H.; Chem. Rev. 1999, 99, 1069. c) Roszkowski, P.; Wojtasiewicz, K.; Leniewski, A.; Maurin, J. K.; Lis, T.; Czarnocki, Z. J. Mol. Cat. 2005, 143. 19 Noyori, R.; Hashiguchi, S. Acc. Chem. Res. 1997, 30, 97. 20 Wu, J.; Wang, F.; Yaping, M.; Cui, X.; Cun, L.; Zhu, J.; Deng, J.; Yu., B. Chem. Commun. 2006, 1766.
Introduo Geral
13
(Esquema 9). Esse resultado foi de certa forma surpreendente, uma vez que j se
tinha relatado na literatura o insucesso da aplicao desse tipo de catalisador para
a reduo de cetonas a alcois em meio prtico.18a
cat., HCOONasurfactante, H2O, 28
oC
N
NH2
RuCl
Tos
NaO3S
NaO3S
NH
N
RNH
NH
R
H
44: R= Me, Et, iPr, Cy, Ph.rend = 83-97%ee = 98-99%
Esquema 9. Reao de transferncia de hidrognio em meio aquoso.
45
47
Em 2004, nosso grupo de pesquisa desenvolveu a primeira sntese
assimtrica dos alcalides -carbolnicos arborescidina A21 (51) em 5 etapas e
50% de rendimento global, arborescidina B (58) em 8 etapas e 61% de rendimento
global e arborescidina C (57) em 9 etapas e 51% de rendimento global (Esquema
10). 22
A estratgia de sntese empregada encontra-se ilustrada no Esquema 10
onde descrevemos as etapas envolvidas desde a converso da 6-bromotriptamina
nas respectivas arborescidinas, tendo como etapa chave de introduo de
quiralidade a reduo enantiosseletiva da imina formada na etapa de Bischeler-
Napieralski utilizando-se a metodologia de transferncia de hidrognio introduzida
por Noyori e colaboradores. Neste processo, a fonte de hidrognio o cido
frmico que empregado na forma de uma mistura azeotrpica de cido frmico-
trietilamina e a espcie cataliticamente ativa gerada a partir de RuCl2(6-p-
21 Chbani, M.; Pas, M. J. Nat. Prod. 1993, 56, 99. 22 Santos, L. S. Tese de doutorado, Instituto de Qumica, Unicamp, 2003; b) Santos, L. S.; Pilli, R. A.; Rawal, V. J. Org. Chem. 2004, 69, 1283.
Introduo Geral
14
cimeno) e (S,S)-N-tosil-1,2-difeniletilenodiamina [(S,S)-TsDPEN], disponveis
comercialmente.
NH
NBrH
NNMe
BrH
(-)-Arborescidina A (51)
NNMe
BrH
(+)-Arborescidina B (58)
NH
BrNH2N
HBr
NH
NH
BrN
MeO2C
NH
BrN
HO
O
H3COO
NH
BrNH
O
NH
BrN
NH
BrNCO2Me
H
NH
BrNCO2Me
O
H
H
(+)-Arborescidina C (57)
NNCO2MeBr
H
HO
a
b
c d
e
f
g, hi, j
l
m n
HO
Esquema 10. Sntese das arborescidinas A, B e C por Pilli e colaboradores: a) i: anidridoglutrico, CH2Cl2, 0
oC, 10 min; ii: SOCl2, MeOH, 0oC a t.a., 3h, (83%); b) POCl3, benzeno,
refluxo, (83%); c) (S,S)-TsDPEN-RuII, HCO2H-Et3N (5:2), DMF, t.a., 12h, (89%); d) AlH3, THF,10 min., (78%); e) cido 5-hexenico, HOBt, EDCI, CH2Cl2, t.a., 10h, (99%); f ) POCl3, MeCN,refluxo, 3 h, (90%) ou POCl3, benzeno, ref luxo, 2,5h, (75%); g) (S,S)-TsDPEN-Ru
II, HCO2H-Et3N(5:2), DMF, t.a., 12h, (89%); h) MeOCOCl, Et3N, CH2Cl2, (99%); i) OsO4, tBuOH, NMO, THF:H2O,0oC a t.a., 10h, (88%); j) NaIO4, THF:H2O (1:2), (90%); l) TFA, 1h, (95%); m) AlH3,THF, t.a., 15 min., (96%); n) MeO2CNSO2NEt3, 8h, (84%).
48
49 50
52
535455
56
Introduo Geral
15
Pelo nosso conhecimento, esta foi a primeira oportunidade em que a
aplicao do protocolo de Noyori foi empregada na sntese enantiosseletiva de um
produto natural e, considerando-se os excelentes resultados alcanados na
sntese assimtrica dos alcalides -carbolnicos arborecidinas pelo nosso grupo
de pesquisa, de interesse estender o emprego desta metodologia para outros
compostos alvos. Naquela oportunidade, nosso foco principal encontrava-se no
desenvolvimento de metodologias sintticas e no nos ocupamos de avaliar a
atividade farmacolgica das tetraidro--carbolinas preparadas.
Objetivos
16
2. Objetivos
Em funo da pronunciada atividade biolgica relatada para os compostos -
carbolnicos e considerando-se os excelentes resultados anteriores obtidos pelo
nosso grupo de pesquisa, de interesse estender o emprego desta metodologia
para outros compostos dessa mesma famlia. Como um conjunto representativo
de substncias elegemos as estruturas mostradas abaixo por apresentarem a
possibilidade de contribuirmos com uma metodologia cataltica e enantiosseletiva
para sua preparao e apresentarem potencial de atividade farmacolgica em
funo de precedentes descritos em literatura. Os objetivos deste trabalho so:
2.1. Desenvolver novas rotas sintticas para um conjunto de -carbolinas naturais
e no naturais, dentre as quais se incluem a tripargina (59), deplanchena (60),
debromo-arborescidina (61), harmicina (62), 5-metoxi-harmicina (63a), 5-bromo-
harmicina (63b), cantin-6-ona (64), 10-metoxi-cantin-6-ona (65) (Esquema 11).
NH
NH
NH
NH2HNtripargina (59) harmicina (62)
NH
N
deplancheina (60)
NH
N
debromo-arborescidina A (61)
NN
O
cantin-6-ona (64)
NN
O
10-metoxi-cantin-6-ona (65)
MeO
Esquema 11. Quadro geral dos compostos a serem sintetizados.
R=OMe (5-metoxi-harmicina) (63a)R=Br (5-bromo-harmicina) (63b)
NH
N
NH
N
R
2.2. Avaliar in vitro a atividade citotxica das -carbolinas sintetizadas contra
clulas tumorais humanas.
2.3. Avaliar in vitro a atividade anti-Leishmania das -carbolinas sintetizadas
contra a forma promastigota de Leishmania major, Leishmania brasiliensis e
Leishmania amazonesis.
2.4. Avaliar a toxicidade aguda das -carbolinas sintetizadas em camundogos
Swiss e realizar testes preliminares de ao sobre o sistema nervoso central.
Resultados e discusses
17
3. Tripargina (59)
3.1. Consideraes gerais: introduo.
A (S)-(-)-tripargina (59) um alcalide tetraidro--carbolnico isolado pela
primeira vez em 1982, por Akizawa e colaboradores, da pele de rs da espcie
Kassina senegalensis (Figura 4) e, posteriormente, da ascidia Eudistoma sp por
Ireland e colaboradores.23 Apesar de alguns relatos sobre a toxicidade da (-)-
tripargina (59) em experimentos com camundongos (LD50=16,9 mg/kg,
administrao intravenosa)24 e de seu efeito sobre o bloqueio de canais de sdio
em membranas de axnios de lulas,25 a relevncia fisiolgica da (-)-tripargina (59)
permanece virtualmente inexplorada. Ireland e colaboradores no observaram
atividade citotxica significativa em fraes contendo o alcalide (S)-(-)-tripargina
(59) em clulas de tumor de clon humano.
Figura 4. R da espcie Kassina senegalensis e estrutura da (S)-(-)-tripargina (59)
(59).
23 a) Akizawa, T.; Yamazaki, T.; Yasuhara, T.; Nakajima, M.; Rosegline, G. F.; Ersparmer, G. F.; Ersparmer, V. Biomed Res. 1982, 3, 232. b) Van Wagoner, R. M.; Jompa, J.; Tahir, A.; Ireland, C. M. J. Nat. Prod 1999, 62, 794. 24 Shimizu, M.; Ishikawa, M.; Komoda, Y.; Nakijima, T.; Tamaguchi, K.; Sakai, S. Chem. Pharm. Bull 1984, 32, 1313. 25 Seyama, L.; Yakehiro, M.; Nakajima, T. Japan J. Phisiol 1985, 35, 367.
NH
NH
NH
NH2HN
H
Resultados e discusses
18
Na literatura existem apenas cinco trabalhos sobre a sntese da tripargina
(59), sendo que quatro destes trabalhos so do grupo do professor Terume
Nakajima. A primeira abordagem para sntese da tripargina (59) foi realizada via
reao de Pictet-Spengler, entre o aminoacetal 66 e a triptamina (16) (Esquema
12) levando a formao da tripargina (59) na sua forma racmica.26
O
O
HNNH2
NH
NH
NH2
NH
NH
HN
H2N NH
AcOH, 50C
Esquema 12. Primeira abordagem sinttica para a tripargina (59)desenvolvida por Nakajima.
66
16
5978,5%
A configurao absoluta do produto natural foi estabelecida posteriormente
por Nakajima e colaboradores24, atravs de sntese em dez etapas e
aproximadamente 13% rendimento global a partir do derivado de (S)-triptofano 67
e utilizando uma reao de Pictet-Spengler para construo do anel -carbolnico.
Uma mistura racmica de configurao R e S (proporo de 1:1) em C-1 do
sistema -carbolnico foi obtida aps separao e descarboxilao do epmero de
configurao 1S forneceu amostra sinttica da (S)-(-)-tripargina (59) (Esquema
12).
26 Shimizu, M.; Ishikawa, M.; Komoda, Y.; Nakajima, T. Chem. Pharm. Bull. 1982, 30, 909.
Resultados e discusses
19
NH
CO2Me
NCH2Ph
CO2H
NH
CO2Me
NCH2Ph
CO2MeNH
CN
NCH2Ph
CN
H
H
HNH
NCH2Ph
CH2NH2
H
NH
NHH
c
d e
Esquema 13. Sntese da (-)-tripargina (59) por Nakajima: a) 10% Pd-C/H2; PhCHO/EtOH;
b) ac. -cetoglutrico, benzeno; c) CH2N2, NH3, MeOH; d) POCl3; DMF-Piridina; e) ii:
NaBH4/EtOH; ii: LiAlH4/Et2O; f) 10% Pd-C/H2.
NH
CO2Me
NH2 NH
CO2Me
NHCH2Phba
NHMeS
NH2
H2Of
67 68 69
70 71 72
73
7459
NH2
NH
NHH
NH
NH2HN
Considerando-se a relativa simplicidade estrutural da tripargina e os
mtodos sintticos hoje disponveis, possvel almejar uma rota de sntese mais
simples e eficiente para a obteno das duas formas enantiomricas da tripargina
(59) em quantidades apreciveis para estudos de atividade biolgica.
3.2. Estudos visando sntese total da ()-tripargina (59)
A primeira estratgia de sntese proposta para a tripargina (59) foi orientada
pelo conhecimento prvio de nosso grupo de pesquisa na sntese do ncleo -
carbolnico, via reao de Bischler-Napieralski e tambm na construo do centro
em C1, via hidrogenao assimtrica de Noyori.22
Resultados e discusses
20
Sob tal perspectiva, planejamos uma rota sinttica para tripargina (59) a
partir da diamina 73 poderia ser preparada a partir da reduo do intermedirio 75.
Este, por vez, poderia ser obtido por hidrogenao assimtrica de Noyori da imina
76. A imina 76 poderia ser proveniente de uma reao de Bischler-Napieralski. A
nitroamida 77 poderia ser obtida a partir da reao entre a triptamina (16) e
nitroster 78 (Esquema 14).
NH
NH2NH
HN ONH
N
O2NMeONO2
O
O2N
NH
NHH
H2N
NH
NHH
NH
H2N
NH
+
NH
NHH
O2N
formao da amida
Bischler-Napieralski
hidrogenao assimtricade Noyori
reduoguanilao
Esquema 14. Primeira abordagem sinttica para (R)-(+)-tripargina (59) .
59 73 75
16
78
7677
OMe
O+ CH3NO2
79
A primeira etapa da rota sinttica planejada consistiu na preparao do 4-
nitroster 7827 que foi obtido atravs da reao entre o acrilato de metila (79) e o
nitrometano, sob condies de Michael empregando-se quantidades catalticas de
27 Rosso, G. B., Tese de Doutorado, Instituto de Qumica, Unicamp, 2005.
Resultados e discusses
21
DBU (1,8-diazobiciclo[5.4.0]undec-7-eno). A Tabela 2, ilustra as condies de
otimizao para a sntese do nitro-ster 78.
Tabela 2. Otimizao das condies reacionais para a sntese do 4-nitro-ster 78
OMe
O
OMe
ONO2
CH3NO2DBU, 0 C
79 78
Entrada Tempo reacional
(h)
DBU
(mol%)
Purificao 78 (%)
1 12 3 Dest. a vcuo 42
2 12 5 Dest. a vcuo 51
3 2h 10 Dest. a vcuo 58
4 2h 10 Coluna filtrante 89
5 3h 10 Coluna filtrante 73
6 2h 20 Coluna filtrante 76
As variaes em algumas condies experimentais foram, de certa forma,
vantajosa tendo em vista que alcanou-se um aumento considervel no
rendimento do 4-nitroster 78 (Entrada 4; rend.: 89%) em relao a literatura27
(60%).
O 4-nitroster 78 foi caracterizado por RMN de 1H, RMN de 13C e
espectroscopia na regio do infravermelho (IV). A anlise do espectro de IV do 4-
nitroster 78, apresentou bandas a 1737 cm-1, correspondente carbonila do ster
e a 1550 cm-1 referente ao grupo nitro. A anlise do espectro de RMN de 1H
apresentou sinais correspondentes aos hidrognios metilnicos -nitro a 4,49
Resultados e discusses
22
como tripleto e a 3,70 como um singleto correspondente aos hidrognios da
metila.
O mecanismo proposto para a formao do 4-nitroster 78 est
representado no Esquema 15. A primeira etapa consiste na desprotonao do
nitrometano pela base (DBU), formao do nion nitronato, adio ao sistema
acrilato de metila, seguida da reprotonao para formao do nitroster.
CH3NO2DBU
DBU-H +CH2NO2 H2C N
O
O OMe
O
NO2
NOMe
O OH+
O2N OMe
ON
N
DBU (81)
Esquema 15. Mecanismo proposto para a formao do nitro-ster.
80
79
78 O
O
OMe
Com o 4-nitroster 78 em mos, partimos para a sntese da nitroamida 77.
As condies descritas na literatura para formao de amidas a partir de steres,
geralmente so drsticas, com utilizao de temperaturas elevadas.28 Mesmo
tendo esses precedentes nada animadores, resolvemos investigar a formao da
nitroamida 77 a partir do nitroster 78.
A primeira condio investigada foi submeter a mistura de triptamina (16) e
nitroster 78 ao refluxo em tolueno. A reao foi acompanhada por CCD e mesmo
aps cinco dias sob refluxo no foi detectado a formao de produto. Com isso,
partimos para utilizao de uma condio mais drstica, com utilizao de
clorobenzeno como solvente que possui ponto de ebulio superior do tolueno. O
28 Allen, C. F. H.; Humphlett, W. J. Org. Syn. 1963, 80.
Resultados e discusses
23
curso da reao foi acompanhado por CCD durante sete dias e, alm de no
observar a formao da nitroamida 77, verificamos decomposio parcial do
substrato (Esquema 16).
NH
NH2NH
HN O
O2N
MeONO2
O+
Esquema 16. Sntese do amida 77. Condio: a) tolueno, refluxo, 5dias; condio b) cloro-benzeno, refluxo, 7 dias.
a ou b
16 78 77
Weinreb e colaboradores desenvolveram uma metodologia para a sntese
de amidas a partir de steres utilizando trimetilalumnio, sob condies suaves e
em altos rendimentos.29 Tendo como base as inmeras aplicaes da metodologia
de Weinreb, resolvemos investig-la na sntese da nitroamida 77.
No primeiro momento, a reao foi feita em CH2Cl2 0C (Esquema 15)
obtendo-se, contudo somente traos da nitroamida 77 (condio A). Entendemos
que o baixo rendimento seria consequncia da baixa solubilidade da triptamina
(16) em CH2Cl2 e empregamos ento um solvente mais polar (CH3CN) 0C.
Novamente obtivemos baixo rendimento da amida 77 (3%) (Esquema 17).
NH
NH2NH
HN O
O2N
Esquema 17. Rotas alternativas para sntese da amida 77. Condio A: i-AlMe3, CH2Cl2; -78
oC; ii- nitroster 78, 0oC, 24h, traos; condio B: i-AlMe3, CH3CN; -78
oC; ii- nitroster 78, 0oC, 24h, traos, 3%.
condies
16 77
29 a) Basha, A.; Lipton, M.; Weinreb, S. M. Tetrahedron Letters 1977, 18, 4171. b) Lipton, M. F.; Basha, A.; Weinreb, S. M. Org. Syn. 1988, 49, 492.
Resultados e discusses
24
Diante desses resultados, passamos a investigar alternativas para a
obteno da nitroamida 77. A metodologia que se mostrou mais promissora foi
transformar o 4-nitroster 78 no cido carboxlico 83 correspondente e,
posteriormente, formar a nitroamida 77.
As condies empregadas para a hidrlise do nitroster 78 esto
apresentadas na Tabela 3 e, a melhor condio alcanada envolveu a utilizao
de KOH em metanol a 50C, por 12 h (Entrada 7).
Tabela 3. Otimizao das condies reacionais de hidrlise do nitroster 78.
MeO2C NO2 NaO2C NO2A, solvente
temperaturatempo reacional
HCl 1M HO2C NO2
78 82 83
Entrada A Solvente Temp.(C) T (h) 83 (%)
1 KOH (2 eq.) H2O/EtOH (1:1) 80 3,5 55
2 HCl(1M) ______ 80 6 60
3 HCl (2M) ______ 80 24 45
4 NaOH (2eq.) EtOH 70 24 57
5 KOH (2 eq.) EtOH 70 24 75
6 KOH (3 eq.) MeOH t.a. 24 65
7 KOH (4 eq.) MeOH 50 12 92
8 KOH (4 eq.) MeOH Refluxo 6 83
Resultados e discusses
25
O cido carboxlico 83 foi caracterizado por RMN de 1H, apresentando trs
sinais correspondentes aos hidrognios metilnicos a 2,27; 2,50 e 4,46,
enquanto no espectro de RMN de 13C foram observados trs sinais ( 21,9; 30,2 e
74,0) correspondentes aos carbonos metilnicos e um sinal correspondente ao
carbono da carboxila ( 177,7). A anlise de IV indicou a banda da carboxila a
1719 cm-1 e uma banda larga entre 3600 a 2930 cm-1 correspondente ao grupo
OH da carboxila.
Tendo alcanado a sntese do cido carboxlico 83 em excelente
rendimento, iniciamos a investigao de formao da nitroamida 77. Para tal,
foram investigadas duas metodologias que envolvem a transformao o cido
carboxlico em uma espcie mais eletroflica (cloreto de acila 84 ou anidrido
85)30para, posteriormente, submet-la as condies de formao de amida. A
sntese da nitroamida 77 foi alcanada em bom rendimento (Esquema 18).
HO2C NO2NO2SOCl2
NO2
O
OO
MeO
NH
HN O
O2N
Cl
O
triptamina,Et3NCH2Cl2, t.a.12h, 56%
triptamina,CH2Cl2,N-metil morfolina,
t.a. 12h, 72%
Esquema 18. Mtodos de obteno da amida 77.
O
OMeCl
84 83 85
77
A anlise de IV da nitroamida 77 mostrou uma banda em 1655 cm -1
correspondente carbonila e duas bandas a 3400 e 3290 cm-1 correspondentes
30 a) Braga, A. L.; Ldtke, D. S.; Paixo, M. W.; Alberto, E. E.; Stefani, H. A.; Juliano, L. Eur. J. Org. Chem. 2005, 4260. b) Anderson, G. W.; Zirmmerman, J. E.; Callehan, F. M. J. Am. Chem. Soc. 1967, 89, 5012. c) Angelastro, M. R.; Peet, N. P.; Bey, P. J. Org. Chem. 1989, 54, 3913.
Resultados e discusses
26
s deformaes axiais N-H. A anlise de RMN de 1H da nitroamida 77 revelou 4
sinais ( 2,29; 3,13; 3,74 e 4,50) correspondentes aos hidrognios metilnicos e 5
sinais ( 7,16; 7,29; 7,38; 7,53; 7,53 e 7,75) correspondentes aos hidrognios
aromticos. O espectro de RMN 13C apresentou 14 sinais com os sinais dos
carbonos metilnicos a 22,9; 25,1; 32,1; 39,8 e 74,5.
O mecanismo proposto para a esterificao promovida por cloreto de tionila
baseado no ataque nucleoflico da carboxila ao tomo de enxofre do cloreto de
tionila, levando a formao de uma espcie eletroflica (intermedirio C). Este
intermedirio sofre ataque nucleoflico de um on cloreto que, aps regenerao
da carbonila, conduz a formao do cloreto de acila 84. Esta espcie reage com a
triptamina fornecendo assim a nitroamida 77 correspondente (Esquema 19).
O2N
NH
HN O
O2N
O
OH
SO
ClCl
O2NO
O
SCl
OCl
H
-HCl O2NO
O
SCl
O
intermedirio C
Cl
O2NO
SCl
O
ClO-SO2, -Cl
O2NO
Cl
NH
NH2
Esquema 19. Proposta de mecanismo de formao de amida 77 mediada por SOCl2.
16
84
83
77
C
O2N
O
ClNH
H2N
-HCl
Resultados e discusses
27
Aps a preparao da nitroamida 77, voltamos nossa ateno para a
sntese da imina 86 atravs da reao de Bischler-Napieralski. 6, 7, 8 Nesta etapa,
avaliamos algumas condies reacionais como mudana de solvente, de agente
desidratante e de tempo reacional (ver Tabela 4). Em princpio, realizamos a
reao com POCl3 em diclorometano porm, mesmo aps 24horas, no se
detectou a formao do produto de ciclizao desejado e o substrato foi
parcialmente recuperado (Entrada 1). O mesmo comportamento foi verificado
quando se utilizou PCl5 em benzeno (Entrada 6). Nos demais casos, os mtodos
empregados levaram invariavelmente formao de misturas complexas de
produtos, ainda que traos do produto desejado pudessem ser detectados.
Tabela 4. Verificao das condies reacionais da reao de Bischler-Napieralski
77 86
NH
HN O
O2N
NH
N
O2N
agente desidratante
solvente, tempo reacional
Entrada Ag. desidratante Solvente Tempo (h)
1 POCl3 CH2Cl2 24
2 POCl3 CH3CN 6
3 POCl3 MeOH 6
4
5
POCl3
POCl3
Benzeno
CH3CN
6
6
6
7
PCl5
PCl5
Benzeno
CH3CN
24
6
8 POCl3/P2O5 Benzeno 6
Resultados e discusses
28
Diante desses resultados, reavaliamos a rota sinttica considerando a
utilizao da nitroamida 77. Para tal, recorremos reduo do grupo nitro amina
e posterior proteo.31
A Tabela 5 apresenta todas as condies investigadas para essa
transformao, destacando-se a condio da entrada 6 que forneceu o composto
87 em 95% de rendimento (Entrada 6).
Tabela 5. Otimizao das condies reacional da reduo do grupo nitro de 77.
NH
HN O
77 87
O2N
NH
HN O
H2N
condies
[H]
Entrada Solvente Condio Tempo (h) Rend (%)
1 MeOH NaBH4/Pd/C (10 mol) 24 35
2 AcOH Pd/C (10 mol%) 48 54
3 AcOH Pd/C (10 mol%),CuSO4
(10 mol %)
48 *RMP
4 EtOH NaBH4, CuSO4 (10 mol %) 48 56
5 MeOH Pd/C (10 mol%), pH=2 48 42
6 MeOH Pd/C (10 mol%) 24 95
*RMP: recuperao do material de partida.
31 a) Petrini, M.; Ballini, R.; Rosini, G. Synthesis 1987, 713. b) Andraszkicwicz, R.; Silverman, R. B.; Synthesis 1989, 953. c) Yoo, S.; Lee, S. Synlett 1990, 419. d) Kieb, F. M.; Poggendorf, P.; Picasso, S.; Janger, V. Chem. Comm. 1998, 119. e) Welner, V.; Jager, V. Angew. Chem. Int. Ed. Engh. 1990, 29, 1169.
Resultados e discusses
29
O espectro de IV do produto 87 apresentou bandas a 3398 e 3275 cm-1
correspondente deformao axial N-H. O espectro de RMN de 1H apresentou
um deslocamento de 1 ppm correspondente ao hidrognio metilnico -amino de
4,30 (CH2NO2) para 3,33 (CH2NH2). O mesmo ocorreu com o sinal no espectro
de RMN de 13C [de 74,5 (CH2NO2) para 39,0 (CH2NH2].
Com o sucesso na reduo do amida 77, voltamos nossa ateno para o
uso da metodologia de Bischler-Napieralski. Embora ciente da incompatibilidade
do grupo amino frente a essa metodologia, decidimos investigar o comportamento
do intermedirio 87 frente as condies da reao de Bischler-Napieralski, porm
sem sucesso (Esquema 20).
NH
HN O
87 88
H2N
NH
N
H2N
POCl3CH3CN
Esquema 20. Tentativa de formao de 88 via reao de Bischler-Napieralski.
Aps busca criteriosa na literatura sobre grupos protetores de aminas,
verificamos que a forma mais promissora de se proteger o intermedirio 87 seria
na forma de carbamato32 alqulico (metila ou etila). Carbamatos alqulicos so
vastamente utilizados como grupos de proteo devido a sua estabilidade frente a
vrias condies, como meio cido, meio oxidante ou meio levemente bsico. Em
condies fortemente bsicas, pode ocorrer a hidrlise do carbamato como, por
exemplo, em soluo aquosa de KOH em etileno glicol a 100C ou com Ba(OH)2
em gua e metanol, sob refluxo. Sob tal perspectiva, a amina 87 foi protegida na
32 a) Carato, P.; Yous, S.; Sellier, D.; Poupaert, J. H.; Lebegue, N.; Berthelot, P. Tetrahedron 2004, 60, 10321. b) Dumont-Hornebeck, B.; Strube, Y. N.; Vasilescu, D.; Jean-Claude, B. J. Bioorg. Med. Chem. Lett. 2000, 10, 2325.
Resultados e discusses
30
forma do respectivo carbamato metlico 89 utilizando a metodologia descrita no
Esquema 21.33.
NH
HN O
87
H2N
Esquema 21. Formao do carbamato 89.
1) ClCO2Me, CH2Cl2Et3N, 2h. NH
HN O
89
MeO2CHN
80%
Na primeira tentativa de promover a reao de Bischler-Napieralski com o
carbamato 89, obteve-se a imina 90 em 72% na forma de um slido amarelo.
Buscando otimizar essa reao, foram investigadas algumas condies reacionais
para sntese da imina 90 avaliando-se o solvente, a estequiometria e o tempo
reacional. A Tabela 6 mostra as condies investigadas e, dentre elas, o melhor
rendimento foi alcanado quando utilizou-se 3 equivalentes de POCl3 em uma
mistura de acetonitrila e tolueno.
33 a) Kocienski, P. J. Protecting Groups: Thieme Foundations of Organic Chemistry, New York, 1994, p. 191-192. b) Greene, T. W.; Wuts, P. G. M. Protective Groups in Organic Synthesis-3rd ed.; Jonh Wiley & Sons, Inc, New York, 1999.
Resultados e discusses
31
Tabela 6. Formao da imina 90 via reao de Bischler-Napieralski.
NH
HN O
89 90
MeO2CHN
NH
N
MeO2CHN
condies
refluxo
Entrada POCl3 Solvente Tempo (h) Rend (%)
1 15 equiv. CH3CN 3 72
2 15 equiv Benzeno 12 *RMP
3 15equiv CH2Cl2 12 *RMP
4 15 equiv Tolueno 12 61
5 3 equiv CH3CN 4 73
6 3 equiv CH3CN 4 77
7 3 equiv CH3CN/tolueno
(3:7)
3 80
8 3 equiv CH3CN/tolueno
(1:9)
3 61
9 POCl3 POCl3 3 69
*RMP- recuperao do material de partida.
A imina 90 foi caracterizada por IV onde observou-se as bandas a 1699 cm-
1, referente C=O do carbamato, e a 1621 cm-1, correspondente deformao
axial da ligao C=N. A anlise de RMN de 1H revelou um sinal em 3,57
correspondente metila e sinais nas regies 1,93-1,97, 2,86-2,92, 3,21-3,23 e
Resultados e discusses
32
3,77-3,83, correspondentes aos hidrognios metilnicos. O espectro de RMN de 13C apresentou o sinal correspondente metila em 52,0, 5 sinais
correspondentes aos carbonos metilnicos ( 27,1; 28,1; 35,1; 42,1 e 42,2) e
somente um sinal referente a C0 de carbonila em 163,8.
Alternativamente, foi investigado outro mtodo para a obteno do
carbamato 89 via rearranjo de Curtius, visando melhorar o rendimento global da
rota sinttica.
A decomposio trmica (pirlise) de acilazidas ao isocianato
correspondente conhecida como rearranjo de Curtius.34 O rearranjo de Curtius
pode ser catalisado por cidos prticos ou de Lewis. A acilazida pode ser
preparada por vrias metodologias: a) reao de um cloreto de acila ou anidrido
misto com azida alcalina ou trimetilsililazida; b) pelo tratamento de derivado de
cido carboxlico com DPPA (difenil fosforilazida). O isocianato formado pode ser
isolado ou interceptado por nuclefilos (Esquema 22).14
R' OH
O
R' O OEt
SOCl2
ClCO2Et
(PhO)2PON3
O O
R' Cl
O
R' N3
OR'N
CO
R'NH2
R'NH
NHR"
O
R'NH
OR"
O
H2O
R"NH2
R"OH
aquec.
-N2
NaN3 ou
TMSN3
NaN3
91
92
93 94
95
96
97
98
Esquema 22. Mtodos para rearranjo de Curtius.
34 Para reviso: a) Smith, P. A. S. Org. React. 1946, 3, 337. b) Scriven, E. F. V.; Turnbull, K. Chem. Rev. 1988, 88, 297.
Resultados e discusses
33
Para iniciarmos as investigaes das condies reacionais para a sntese
do composto 89 via rearranjo de Curtius, foi preparado o composto 100 pela
reao entre triptamina e anidrido glutrico (99) em acetona, em rendimento
quantitativo. Com o composto 100 devidamente caracterizado, partimos para
sntese do composto 89 via rearranjo de Curtius.35.
Do ponto de vista experimental este mtodo bastante interessante, pois o
curso da reao pode ser acompanhado por IV. O mecanismo concertado e
estereoespecfico no alterando a configurao do carbono -carboxlico (em caso
de presena de centro assimtrico nesse carbono). O composto 100 foi
transformado no seu correspondente anidrido misto 101 pela reao com
cloroformiato de metila, sendo o curso da reao acompanhado por CCD. Aps a
completa converso do derivado cido em anidrido houve a adio de uma
soluo aquosa de NaN3, que levou a formao da acilazida 102. A acilazida 102
foi caracterizada por espectroscopia na regio do infravermelho, apresentando
uma banda em 2148 cm-1 (Figura 5, esquerda). Na etapa seguinte, a acilazida 102
foi submetida a refluxo para promover o rearranjo trmico e formao do
isocianato 103. Este intermedirio foi caracterizado por IV e o espectro apresentou
banda de absoro referente ao grupo isocianato em 2280 cm-1 (Figura 5, direita).
Na ltima etapa, foram adicionados 3 equivalentes de metanol e, aps refluxo,
obteve-se o carbamato metlico 89, em 73% de rendimento a partir da triptamina
(16) (Esquema 23).
35 a) Ninomiya, K.; Shioiri, T.; Yamada, S. Tetrahedron 1974, 30, 2151. b) Ninomiya, K.; Shioiri, T.; Yamada, S. J. Am. Chem. Soc. 1972, 94, 6203.
Resultados e discusses
34
Figura 5. Espectro de IV (filme) do derivado acilazida 102 (esquerda) e isocianato
103 (direita).
89
NH
HN O
100
HO2C
NH2
NH2
OO O
+
aNH
HN O
101
NH
HN O
N
O
O
O
O
O
b
Esquema 23. Formao do carbamato 89 via rearranjo deCurtius: a) acetona, t.a. 30 min; b) cloroformato de metila,CH2Cl2, Et3N, t.a., 45 min; c) NaN3, H2O, t.a., 2h; d) refluxo; e)metanol, ref luxo, 3h (73% para todas as etapas). Lado direitoinferior: Ilustrao do rearranjo de Curtius.
NH
HN ONH
HN O
NC
O
NH
HN O
O
N
N
NN
cd
HN
MeO O
N
99
16
102
102
103
de
rearranjo de Curtius
Resultados e discusses
35
Outro mecanismo proposto, porm contestado, envolve um intermedirio
nitreno, antes da formao do isocianato 107. A justificativa para a contestao
est no fato de nunca terem sido obtidos evidncias experimentais da formao
desse intermedirio. Pelo fato de os nitrenos serem espcies muito reativas e
sensveis presena de gua, esperava-se a formao de cidos hidroxmicos
106. Contudo, no foi observada a formao desses cidos quando essas reaes
foram conduzidas em meio aquoso (Esquema 24).36
R N
ON
N
R N
ON
N
R N
O
R NH
OOH
R N C O
Nitrenode acila
Ac. hidroxmico
IsocianatoAcilazida H2O
104
106
107
Esquema 24. Mecanismo alternativo para formao de 107.
Do ponto de vista estratgico, a formao do composto 89 via rearranjo de
Curtius mais conveniente, pois envolve menor nmero de etapas (2 etapas) e
maior rendimento global (73%) quando comparado com a primeira estratgia (3
etapas e 55% de rendimento).
Aps a preparao da imina 90, iniciamos a investigao de sua reduo ao
composto 108. Visando obter uma amostra racmica da tripargina (59) utilizamos
NaBH4 em metanol para a reduo da imina 90. Essa metodologia foi bastante
eficiente fornecendo o composto 108 em excelente rendimento (86%) (Esquema
25).
36 Hauser, C. R.; Kantor, S. W. J. Am. Chem. Soc. 1950, 72, 4284.
Resultados e discusses
36
NH
N
NH
O
MeO
90
NaBH4, MeOH,
t.a., 2h
NH
NH
NH
O
MeO
108
86%
Esquema 25. Reduo da imina 90 com NaBH4.
O mecanismo proposto de reduo de imina amina com boroidreto de
sdio (NaBH4) est representado no Esquema 26. A complexao com o ction
Na+ aumenta a eletrofilicidade do carbono. A transferncia leva formao da
espcie X, seguida da formao do intermedirio Y. Esse intermedirio tambm
um agente redutor podendo reduzir outra iminas at formar o intermedirio Z, que
hidrolisado pela adio de gua ou soluo saturada de NH4Cl, liberando a
amina.37
N + Na B
H
HHH
complexao NNa
B
H
HHH
ataque nucleof lico
etapa lenta
N Na
H
+ BH3 N
HBH3 Na
N3
N
HB Na
4
+ 4H2O NH
H
4 + B(OH)3 + NaOH
Esquema 26. Mecanismo proposto para reduo de imina.
X Y
Z
37 Adaptado de Pilli, R. A.; Costa, P. R. R.; Pinheiro, S.; Vasconcelos, M. L. A. A. Substncias Carboniladas, Artmed Editora AS, 2003.
Resultados e discusses
37
Na penltima etapa da rota, foram investigadas algumas condies de
desproteo do grupo carbometoxi e, apesar de exaustivas tentativas geralmente
utilizando condies drsticas, encontramos apenas uma nica condio que
levou a formao da diamina 73, porm em baixo rendimento (Entrada 6-Tabela
7).
Tabela 7. Desproteo do grupo carbometoxi do composto 108.
NH
NH
NH
O
MeO
NH
NH
H2N
condies
108 73refluxo
Entrada Condies Tempo (h) Rend. (%)
1 HCl (2M) 96 *DS
2 H2SO4 (2M) 96 *DS
3 NaOH (1M) 96 **RMP
4 NaOH (3M) 48 ** RMP
5 NaOH (3M)/MeOH 48 ** RMP
6 KOH, MeOH, H2O 20 10
7 LiOH, MeOH, H2O 48 ** RMP
8 ***TMSI, CH3CN 20 ** RMP
*DS-decomposio do substrato; **RMP-recuperao do material de
partida; ***reao feita temperatura ambiente.
Resultados e discusses
38
A anlise de IV da diamina 73 mostrou as bandas a 3453 e 3245 cm-1,
correspondentes deformao da ligao N-H, e tambm a ausncia da banda de
deformao C=O de carbamato (1700 cm-1). O espectro de RMN de 1H
apresentou cinco sinais nas regies ( 1,60-1,76; 1,96-2,07; 2,65-2,78; 2,90-2,98 e
4,01-4,05) correspondentes aos hidrognios metilnicos, e dois sinais nas regies
( 6,95-7,10 e 7,29-7,41) correspondentes aos 4 hidrognios aromticos. O
espectro de RMN de 13C apresentou 14 sinais sendo cinco sinais correspondentes
aos carbonos metilnicos ( 22,4; 25,6; 32,9; 40,9 e 43,2), um sinal
correspondente ao carbono metnico ( 53,5) e oito sinais correspondentes aos
carbonos aromticos ( 109,2; 112,7; 118,8; 120,0; 122,5; 128,5; 135,0 e 138,0).
Com a diamina 73 em mos, ainda que em baixo rendimento, partimos para
a concluso da sntese racmica da tripargina 59 por uma reao de guanilao.
Na literatura h registros de vrios trabalhos que descrevem a transformao de
amina em guanidina, empregando-se reagentes como: urias38, cianourias39,
imidazis40, pirazis41, carbodiimidas42 e tiourias43.
Inicialmente foi utilizado o protocolo de Nakajima 45-48 (Esquema 27) para a
guanilao da diamina 73, mediante reao com o sulfato de S-metil-tiournio D.
Devido dificuldade nas etapas de purificao e de transformao do sal sulfato
em amina livre, no foi possvel isolar a tripargina (59) (Esquema 27).
38 Treenstein, J. J. Org. Chem. 1937, 2, 480. 39 Atwal, K. S.; Ferrara, F. N.; Ahmed, S. Z. Tetrahedron Lett. 1994, 34, 8085. 40 Wu, Y. K.; Hamilton, S. K.; Wilkinson, D. E.; Hamilton, G. S. J. Org. Chem. 2002, 67, 7553. 41 Bannard, R. A. B.; Casselman, A. A.; Cockburn, W. F.; Brow, G. M. Can. J. Chem. 1958, 36, 1541. 42 Mikolajzyk, M.; Kielbasinski, P. Tetrahedron 1981, 37, 233. 43 Atwal, K. S.; Ahmed, S. Z.; OReilly, B. C. Tetrahedron Lett. 1989, 30, 7313.
Resultados e discusses
39
NH
NH
H2N73
H3CS NH2
NH2
2
DMF
NH
NH
HN59
H2N NH2 2
SO42-
SO42-
Esquema 27. Tentativa de guanilao da diamina 73segundo protocolo de Nakajima.
D
Como alternativa, uma segunda proposta para a preparao da forma
racmica da tripargina (59) foi avaliada atravs do emprego de tiouria como
agente guanilante. As tiourias44 so os materiais de partida mais versteis para a
sntese de guanidina pois podem ser facilmente obtidas em bons rendimentos. O
primeiro registro de transformao direta de tiourias em guanidinas foi descrito
por Atwal e colaboradores, em 1989.43 Nesse trabalho foi relatada a converso de
cianourias em cianoguanidinas, tratando-se a tiouria com derivado de
carbodiimida. Em 1993, Poss e colaboradores45 demonstraram que o mecanismo
para guanilao de tiourias protegidas com Boc passa por um intermedirio
carbodiimida. No mesmo ano, Kim e Qian46 estabeleceram uma metodologia na
qual utilizaram HgCl2 como tifilo inorgnico na guanilao de bis-Boc-tiourias,
em condies suaves e com um tempo reacional relativamente curto.
Com base nesses precedentes, decidimos utilizar a bis-Boc-tiouria 110
como agente guanilante do intermedirio 73 que pode ser preparada atravs de
reao entre a tiouria 109 e (Boc)2O, na presena de NaH. Seguindo o
procedimento, a bis-Boc-tiouria 110 foi tratada juntamente com a diamina 73,
HgCl2 e Et3N em DMF (Esquema 28) para fornecer a bis-Boc-tripargina 111 em
56% de rendimento que foi caracteriza por espectrometria de massas [HRMS
(ESI): obtido: 472,2912; calculado a partir de C25H38N5O4 (M+H)+: 472,2924].
44 Lammin, S. G.; Pedgrift, B. L.; Ratcliffe, A. J. Tetrahedron Lett. 1996, 37, 6815. 45 Poss, M. A.; Iwenowicz, E.; Reid, J. A.; Lin, I.; Gu, Z. Tetrahedron Lett. 1992, 33, 5933. 46 Kim, K. S.; Qian, L. G. Tetrahedron Lett. 1993, 34, 7677.
Resultados e discusses
40
NH
NH
H2N
73
NH
NH
HN111
BocHN NBoc
H2N NH2
S
HgCl2, Et3N
DMF, 56%
(Boc)2O, NaH
THF109
110
90%
BocHN NHBoc
S
Esquema 28. Sintese de bis-Boc-tripargina 111.
O mecanismo proposto para essa reao tem como ponto chave a
formao in situ da bis-Boc-carbodiimida mediada pelo HgCl2 que interceptada
pela diamina 73, formando-se a bis-Boc-tripargina 111 (Esquema 29).47
111
110
NBoc
NBoc
S
H H
BocN C NBoc
RNH2
NR
NBocBocN
Esquema 29. Mecanismo proposto para guanilao da amina 73 com tiouria 110.
73
NBoc
NBoc
S
H H
Hg2+
+ Hg2+
Et3N
Et3N
BocN NBoc
S
H
Hg+
-HgS
HBocN N
Boc
S
H
Hg+
BocN C NBoc
H
Et3N
47 Levalett, C.; Lerpiniere, J.; Ko, S. Y. Tetrahedron 1997, 53, 5291.
Resultados e discusses
41
Para finalizar a sntese da ()-tripargina (59), foi investigada a desproteo
dos grupos Boc de 111. Em uma nica tentativa, utilizamos o protocolo com cido
trifluoroactico em diclorometano, porm no foi possvel isolar o produto aps
etapa de purificao em coluna cromatogrfica em alumina bsica. (Esquema 30).
111
NH
NH
HN
BocHN NBoc
NH
NH
HN
H2N NH
TFA, CH2Cl2t.a., 3h
Esquema 30. Desproteo de 111 com TFA.
59
Em razo das dificuldades encontradas na etapa de hidrlise do carbamato
metlico e na insero do grupo guanidnico, resolvemos propor pequenas
modificaes na rota sinttica original.
3.3. Otimizao das condies reacionais para a sntese da diamina 73
Nesta nova proposta, avaliamos o comportamento de grupos de proteo
que fossem resistentes condio cida (etapa de Bischler-Napieralski) e de fcil
remoo, bem como outras condies para a reao de guanilao.
Aps uma anlise criteriosa da literatura, verificamos que o grupo
carbobenziloxila (Cbz) apresenta-se como excelente candidato para substituir o
grupo carbometoxila na sntese da tripargina (59) pois, alm de ser resistente