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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSO EM ADMINISTRAÇÃO SHIRLE ROSÂNGELA MEIRA DE MIRANDA PRÁTICAS INOVADORAS E ESTILO DE LIDERANÇA NA GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL: EVIDÊNCIAS EM MUNICÍPIOS PARAENSES BELÉM PA 2013

SHIRLE ROSÂNGELA MEIRA DE MIRANDA€¦ · teorias sobre liderança, com ênfase na teoria da nova liderança; e a inovação na perspectiva da democracia e da eficiência da gestão

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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSO EM ADMINISTRAÇÃO

SHIRLE ROSÂNGELA MEIRA DE MIRANDA

PRÁTICAS INOVADORAS E ESTILO DE LIDERANÇA NA GESTÃO PÚBLICA

MUNICIPAL: EVIDÊNCIAS EM MUNICÍPIOS PARAENSES

BELÉM – PA

2013

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SHIRLE ROSÂNGELA MEIRA DE MIRANDA

PRÁTICAS INOVADORAS E ESTILO DE LIDERANÇA NA GESTÃO PÚBLICA

MUNICIPAL: EVIDÊNCIAS EM MUNICÍPIOS PARAENSES

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em

Administração da Universidade da Amazônia como

requisito para obtenção do título de Mestre em

Administração.

Orientador: Prof. Dr. Milton Cordeiro Farias Filho.

BELÉM – PA

2013

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

658.4092

M672p Miranda, Shirle Rosângela Meira de.

Práticas inovadoras e estilo de liderança na gestão pública municipal:

evidências em municípios paraenses / Shirle Rosângela Meira de Miranda. –

Belém, 2013.

129 f.; il.: 21 x 30 cm.

Dissertação (Mestrado) – Universidade da Amazônia, Programa de Pós

Graduação em Administração, 2013.

Orientador: Prof. Dr. Milton Cordeiro Farias Filho.

1. Políticas públicas – gestão. 2. Liderança – gestão. 3. Gestão pública

municipal. I. Farias Filho, Milton Cordeiro. II. Título.

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SHIRLE ROSÂNGELA MEIRA DE MIRANDA

PRÁTICAS INOVADORAS E ESTILO DE LIDERANÇA NA GESTÃO PÚBLICA

MUNICIPAL: EVIDÊNCIAS EM MUNICÍPIOS PARAENSES

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em

Administração da Universidade da Amazônia como

requisito para obtenção do título de Mestre em

Administração.

Orientador: Prof. Dr. Milton Cordeiro Farias Filho.

Banca Examinadora:

Apresentado em: 21/03/2014

______________________________________

Prof. Dr. Milton Cordeiro Farias Filho / Unama

Orientador

______________________________________

Profª Drª Ana Maria de Albuquerque Vasconcellos / Unama

______________________________________

Profª Drª. Maria Dolores Lima da Silva / UFPA

Conceito: 9,5

BELÉM – PA

2013

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Dedico este trabalho a vocês que sempre

acreditaram em mim e mesmo diante das

adversidades da vida, não mediram esforços

para que eu pudesse chegar aqui, meus

queridos pais, Maria Dalva e Eujacio Meira.

Ao meu esposo, amigo, companheiro e

cúmplice nos sonhos, nos projetos e na vida;

Aos meus queridos e amados filhos Juan,

Karina e Igor que souberam entender as

minhas ausências me apoiando nas horas

difíceis e compartilhando comigo as alegrias.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus que até aqui tem guiado todos os meus passos e tem cumprido suas

promessas em minha vida.

Em segundo lugar, ao meu dedicado Orientador Prof. Doutor Milton Cordeiro Farias Filho

pelos ensinamentos, pelas correções necessárias, pela disponibilidade em dividir seus

preciosos conhecimentos, por acreditar no meu potencial, mas principalmente, por me ajudar

a escolher os caminhos a percorrer no campo da pesquisa.

A todos os Mestres e a Coordenação do Mestrado, em especial a Profª Doutora Ana Maria

Vasconcelos pelo comprometimento e dedicação ao Programa de Mestrado e em particular

pela sabedoria e respeito com que trata as diferenças, compreendendo que o processo de

ensino e aprendizagem requer paciência e respeito aos limites de cada um.

A todos os gestores e servidores públicos municipais que se prontificaram a participar da

pesquisa e, que gentilmente responderam nossos questionários e foram por nós entrevistados.

Com eles tenho uma imensa dívida, sobretudo com a Silvane, Alice e Jaime Silva do

Município de Óbidos que não mediram esforços para que a pesquisa fosse realizada apesar

das dificuldades encontradas em função da distância.

Aos meus colegas de curso pelo carinho, incentivo e troca de experiências, em especial ao

Júlio, Rafael, Jamile, Sarah e Karla.

Ao meu “Chefe” e companheiro Edilson Moura pelo apoio e compreensão quanto as minhas

ausências no trabalho sempre que a pesquisa exigia.

Um agradecimento especial ao meu colega mestrando Cleberson Wiliams e a bolsista Camila

Guimarães, pelo fundamental auxílio na tabulação dos dados da pesquisa.

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“Não é o mais forte que sobrevive, nem

o mais inteligente, mas o que melhor se

adapta às mudanças.”

Charles Darwin

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Tendências de mudanças nas práticas inovadoras eixo 1. 33

Quadro 2 - Tendências e mudanças em práticas inovadoras eixo 2. 35

Quadro 3 - Liderança Transformacional e Liderança Transacional. 48

Quadro 4 - Diferenças entre gerentes e líderes. 52

Quadro 5 - Programa de Educação Ambiental – Paragominas/PA. 80

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Continuum de Tannenbaum e Schmidt. 42

Figura 2 - Desenvolvimento das teorias da liderança. 45

Figura 3 - Principais autores da Nova Liderança. 46

Figura 4 - Mapa das regiões do Estado do Pará. 65

Figura 5 - Fluxograma da Pesquisa. 71

Figura 6 - Prática Inovadora. 74

Figura 7 - Prática Inovadora. 82

Figura 8 - Prática Inovadora. 86

Figura 9 - Nível de escolaridade dos participantes da pesquisa. 90

Figura 10 - Castanhal – Perfil Autoritário. 91

Figura 11 - Castanhal – Perfil Democrático. 91

Figura 12 - Castanhal – Perfil Situacional. 91

Figura 13 - Castanhal – Perfil Transformacional. 91

Figura 14 - Perfis predominantes do líder – Castanhal. 92

Figura 15 - Prática inovodora atribuida ao Lider. 94

Figura 16 - Estilo de liderança decisivo na implantação da prática inovadora 94

Figura 17 - Inovação e esforços de terceiros. 94

Figura 18 - Participação do líder e existência da prática inovadora. 94

Figura 19 - Relação entre estilo de liderança e prática inovadora – Castanhal. 95

Figura 20 - Paragominas - Perfil Autoritário 96

Figura 21 - Paragominas – Perfil Democrático 96

Figura 22 - Paragominas - Perfil Situacional. 96

Figura 23 - Paragominas - Perfil Transformacional. 96

Figura 24 - Perfis predominantes do Líder. 97

Figura 25 - Práticas inovadoras atribuídas ao líder. 99

Figura 26 - Estilo de liderança decisivo na implantação de práticas inovadoras. 99

Figura 27 - Inovação e esforços de terceiros. 99

Figura 28 - Participação do líder e existência da prática inovadora. 99

Figura 29 - Óbidos - Perfil Autoritário 100

Figura 30 - Óbidos - Perfil Democrático. 100

Figura 31 - Óbidos – Perfil Situacional 100

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Figura 32 - Óbidos: Perfil Transformacional. 100

Figura 33 - Perfis Predominantes do Líder – Óbidos. 101

Figura 34 - Práticas inovadoras atribuídas ao líder. 103

Figura 35 - Estilo de liderança decisivo na implantação da prática inovadora. 103

Figura 36 - Inovação e esforços de terceiros. 104

Figura 37 - Participação do líder e existência da prática inovadora. 104

Figura 38 - Relação entre estilo de liderança e práticas inovadoras em Óbidos. 105

Figura 39 - Prefil geral predominante nos líderes dos municípios. 106

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RESUMO

O estudo teve como objetivo verificar de que forma as práticas inovadoras na gestão pública

municipal, implantadas em organizações de municípios paraenses, no período de 2005 a 2012,

tem relação com o estilo de liderança dos seus gestores e se a postura dos líderes influencia na

implantação das práticas. As abordagens teóricas que serviram de base para o estudo foram as

teorias sobre liderança, com ênfase na teoria da nova liderança; e a inovação na perspectiva da

democracia e da eficiência da gestão pública. Trata-se de um estudo qualitativo realizado por

meio de pesquisa bibliográfica, documental e pesquisa de campo nas secretarias municipais de

educação dos municípios de Castanhal, Paragominas e Óbidos-PA. A metodologia situa a

pesquisa quanto aos seus fins como exploratória e descritiva. O levantamento de campo foi

realizado em três etapas: uma primeira, cujo objetivo foi a identificação de práticas

inovadoras. Nesta, utilizou-se como instrumento de coleta de dados um questionário semi-

aberto e preenchido com informações dos coordenadores dos projetos com indicativos de

inovação. Na segunda e terceira etapa, cujo objetivo foi a identificação do estilo de liderança e

sua relação com as práticas inovadoras, utilizou-se questionário fechado com questões de

escala (Likert) de cinco pontos, com a participação de 69 servidores, entre coordenadores das

práticas inovadoras, servidores efetivos, por no mínimo oito anos, contratados ou temporários

que estiveram ou estavam diretamente envolvidos com a prática inovadora, desde a sua

implantação, além de entrevista estruturada com os gestores municipais (secretários

municipais de educação e ex-prefeitos). Os resultados revelam que o estilo de liderança

influencia na implantação de práticas inovadoras e que o estilo de liderança transformacional

e democrático tende a influenciar mais na implantação dessas práticas. A liderança foi

reconhecida como fator fundamental para enfrentar as dificuldades na implementação de

práticas inovadoras nas organizações públicas, incluindo aspectos relativos à busca de

maiores níveis de responsabilidade institucional para com os seus resultados, revelou-se como

uma variável essencial, para conduzir ao aperfeiçoamento da capacidade de gestão e do

desempenho organizacional.

Palavras-chave: Inovação. Liderança. Organizações Públicas. Municípios.

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ABSTRACT

The study aimed to research that measure innovative management practices, implemented in

public organizations paraenses midsize municipalities in the period 2005-2012, is related to

the leadership style of their managers and to what extent the attitude of leaders influence the

implementation of innovative management practices in these organizations. The theoretical

approaches that formed the basis for the study were theories about leadership, with emphasis

on the theory of New Leadership, and innovation from the perspective of democracy and

efficiency of public administration. This is a qualitative study through literature, documentary

research and fieldwork in the Municipal Education municipalities of Castlebay, Paragominas

and Obidos. The methodology was both quantitative and qualitative, about the purposes,

research is exploratory and descriptive nature. The field research was conducted in two

stages: the first, aimed at identifying innovative practices, was used as a collection of semi-

structured questionnaire data techniques applied to project coordinators with indicators of

innovation. In the second stage, whose purpose was to identify the leadership style and its

relation to innovative practices, we used a structured questionnaire based on Likert scale, 69

servers between coordinators participated in innovative practice, effective servers for at least

eight years, contract or temporary workers who were or were directly involved in innovative

practice since its implementation, as well as structured interviews with municipal managers,

ie the municipal Secretaries of Education and former mayors. The study confirmed the

hypothesis that leadership style influences the deployment of innovative practices and that the

style of transformational leadership and democratic tends to matter more in the

implementation of innovative practices, the results also revealed that as in private

organizations , it is possible to find good leaders in public organizations and not only

managers and their posture influence in making decisions that generate innovations in public

management of subnational governments. The leadership has been recognized as a key factor

to face difficulties in implementing innovative practices in public organizations, including

aspects relating to the search for higher levels of institutional responsibility for their results,

proved to be an essential variable to lead to improved management capacity and

organizational performance.

Keywords: Innovation. Public Leadership. Subnational Governments. Public Organizations.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 14

2 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA 18

2.1 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E QUESTÕES CULTURAIS 18

2.2 O PAPEL DAS REFORMAS E O GERENCIALISMO NA

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

22

3 INOVAÇÃO NO ÂMBITO DA GESTÃO PÚBLICA BRASILEIRA 26

3.1 A INOVAÇÃO NO CENTRO DA DISCUSSÃO NO SETOR PÚBLICO 26

3.2 INOVAÇÃO E TENDÊNCIAS EM GOVERNOS SUBNACIONAIS 31

3.3 A INOVAÇÃO E A EFICIÊNCIA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 36

4 CONCEITOS E ABORDAGENS GERAIS SOBRE LIDERANÇA 39

4.1 CONCEITOS E TEORIA DE LIDERANÇA 39

4.2 LIDERANÇA NA PERSPECTIVA DAS NOVAS ABORDAGENS 45

4.3 LIDERANÇA E GESTÃO 51

4.4 A INFLUÊNCIA DOS PROCESSOS PSICOSSOCIAIS NO EXERCÍCIO DA

LIDERANÇA

52

4.5 LIDERANÇA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 56

4.5.1 Novos líderes: a emergência de profissionais com conhecimento, habilidade

e atitudes

58

5 MODELO DE PESQUISA 63

5.1 UNIVERSO, AMOSTRA, POPULAÇÃO, FONTES E

OPERACIONALIZAÇÃO

64

5.2 CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO 65

5.3 FASES DA PESQUISA E INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS 67

5.4 ANÁLISE DOS DADOS 72

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO 73

6.1 PRÁTICAS INOVADORAS NAS SECRETARIAS MUNICIPAIS DE

EDUCAÇÃO DE MUNICÍPIOS PARAENSES

73

6.1.1 Município de Paragominas: Gestão Eficiente da Merenda Escolar 73

6.1.2 Município de Paragominas: Educação Ambiental no Município Verde 77

6.1.3 Município de Castanhal: Gestão Eficiente da Merenda Escolar 81

6.1.4 Município de Óbidos: Escola de Tempo Integral 85

6.2 ESTILO DE LIDERANÇA E SUA RELAÇÃO COM PRÁTICAS

INOVADORAS NAS SECRETARIAS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO DE

MUNICÍPIOS PARAENSES

89

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6.3 DISCUSSÃO DOS DADOS 106

7 CONCLUSÃO 111

REFERÊNCIAS 114

APÊNDICE A – Práticas Inovadoras 124

APÊNDICE B – Estilos de Liderança 126

APÊNDICE C - Entrevista 129

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14

1 INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, as organizações brasileiras foram atingidas por grandes

transformações nos mais diferentes segmentos. Práticas inovadoras e posturas

empreendedoras despontam como algo fundamental para a sobrevivência das organizações

(SECCHI, 2009). Historicamente, no entanto, a Administração Pública “carrega” o estigma

de burocrática e pouco produtiva, sendo entendida enquanto obstáculo para o

desenvolvimento socioeconômico nacional. Com o surgimento de novos paradigmas de

modelos de gestão, esta realidade vem apresentando mudanças (OSBORNE; GAEBLER,

1995). Inovação e liderança já não são temas de exclusividade do setor privado, na gestão

pública, paulatinamente os discursos e as práticas até então do mundo empresarial vão sendo

incorporadas no seu cotidiano (SECCHI, 2009).

No mundo acadêmico por sua vez o tema liderança sempre despertou interesse entre

os cientistas. Apesar das controvérsias e dos inquestionáveis problemas em torno do assunto,

começando pela própria dificuldade de conceituação, novas abordagens surgem e a liderança

continua a atrair pesquisadores, por que trazem para o debate assuntos importantes do dia-a-

dia da organização. Bryman (2009) aponta a dificuldade de conceituação do termo, porém,

afirma que há elementos comuns a várias definições encontradas na literatura como

influência, grupos e metas, sugerindo que uma boa liderança precisa ter capacidade para

influenciar pessoas com o objetivo de atingir as metas organizacionais. A inovação por outro

lado tem atraído além do interesse de pesquisadores e acadêmicos o de empresários e gestores

públicos, sendo avaliada como fator fundamental para a competitividade e sobrevivência das

organizações.

Inovações no contexto do serviço público diz respeito aos novos processos decisórios

e as novas formas de gestão com ampliação da participação nas decisões relativas à

formulação, à implementação e à fiscalização das políticas públicas (FARAH, 2007).

A inovação e a gestão, no setor público, tem sido motivo de interesse daqueles que

estão engajados em mudar a imagem e o desempenho do aparato governamental brasileiro.

Bresser Pereira (1996) discute sobre os novos rumos da Administração pública como a

superação dos velhos modelos de gestão tradicionais e da necessidade de solidificação do

modelo gerencial onde a inovação e posturas empreendedoras se apresentam como temas

importantes para o bom desempenho da gestão pública.

O interesse em estudar a relação entre práticas inovadoras e o estilo de liderança em

organizações públicas de municípios paraenses, surgiu da inquietação da pesquisadora em

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15

compreender alguns motivos que o conhecimento empírico não é capaz, por si só, de

responder. O primeiro deles é compreender porque algumas organizações públicas conseguem

desenvolver práticas consideradas inovadores e se destacam em nível local e nacional em

termos de pioneirismo e melhoria da qualidade de vida das pessoas e outras se quer

conseguem implementar as políticas institucionais obrigatórias. Sabe-se que posturas

empreendedoras são mais facilmente encontradas nas organizações privadas, pois na

Administração pública há uma carência de profissionais com este perfil.

Os resquícios de modelos de gestão tradicionais e arcaicos ainda são muito presente no

cotidiano destas organizações, como, a ausência de competição, estabilidade, rotatividade e

objetivos difusos, influenciam no bom desempenho dos líderes do setor público (OSBORNE;

GAEBLER, 1995), no entanto, há organizações que mesmo imersa a essa cultura institucional

limitadora conseguem empreender mudanças e inovações.

Importa então indagar o que há de diferente nestas organizações? Será possível

atribuir os resultados positivos relacionados à implantação de práticas inovadoras ao estilo de

liderança? E qual o estilo de liderança adotado por gestores que conseguem inovar em

organizações públicas de governos subnacionais? É possível comprovar o que a literatura vem

discutindo sobre a mudança do perfil do gestor da nova gestão pública? Para tanto, partiu-se

das seguintes hipóteses:

Primeira Hipótese: O estilo de liderança influencia na implantação de práticas

inovadoras. Em organizações públicas de municípios paraenses as práticas inovadoras estão

relacionadas ao estilo de liderança. As mudanças pelas quais vem passando a gestão pública

brasileira nas duas últimas décadas, justificaria a importância do estilo de seus líderes na

implantação de práticas inovadoras, considerando principalmente, que as competências

requeridas ao líder público inclui além do conhecimento da máquina pública, foco nos

resultados, capacidade de interação com seus liderados e com a sociedade e visão sistêmica da

organização.

Segunda Hipótese: O estilo de liderança democrático e transformacional tende a

influenciar mais a implantação de práticas inovadoras. No âmbito das organizações públicas

de municípios paraenses de médio porte os líderes democráticos e transformacionais são mais

inovadores. Isto se justifica por que os desafios e estímulos à criatividade produzidos por este

estilo de liderança são fatores que influenciam o comportamento dos liderados e demais

parceiros da organização em desenvolver práticas inovadoras.

Neste sentido, o objetivo geral deste estudo foi identificar o estilo de liderança adotado

pelos líderes de organizações públicas municipais e sua relação com a implantação de práticas

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inovadoras em organizações de municípios paraenses. Os objetivos específicos são: a)

analisar em que medida o comportamento dos líderes municipais influenciou na implantação

de práticas inovadoras em organizações de municípios paraenses; b) verificar se o perfil de

liderança dos gestores de organizações púbicas em municípios paraenses influenciou

diretamente no êxito das práticas inovadoras.

Para alcançar os objetivos pretendidos, esta dissertação foi organizada em cinco

seções. A primeira aborda as características das organizações públicas brasileiras com ênfase

aos desafios e as dificuldades para romper com uma cultura tradicional de gestão. A segunda

seção aborda a inovação no âmbito da gestão pública, especialmente, no âmbito dos governos

subnacionais brasileiros. A inovação é debatida sob a perspectiva de que é necessária para que

as organizações, sejam elas públicas ou privadas, enfrentem as exigências do mercado e da

sociedade. A terceira seção traz uma contextualização teórica a respeito da liderança

destacando as principais referências teóricas e os conceitos considerados importantes para a

compreensão do exercício da liderança além, de debater sobre os níveis de influência dos

processos psicossociais no exercício da liderança, o papel da liderança no contexto da gestão

pública, relacionando com as organizações privadas, a influência das reformas na

Administração pública e a emergência de novos líderes públicos. A quarta seção discute a

metodologia e a quinta seção apresenta os resultados e a discussão dos dados.

De um modo geral, o estilo de liderança foi reconhecido como fator fundamental para

enfrentar as dificuldades de implementação de processos de inovação nas organizações

públicas, incluindo aspectos relativos à busca de maiores níveis de responsabilidade

institucional para com os seus resultados. Revelou-se ainda como uma variável essencial para

conduzir o aperfeiçoamento da capacidade de gestão e do desempenho organizacional,

cabendo ao líder o papel de criar o clima propício à inovação, devendo ser capaz de mobilizar

as pessoas por meio de um ambiente organizacional motivador.

O novo papel do gestor público que se configura, conforme indica a literatura, como

impulsionador de mudanças e inovações institucionais torna o estudo ora proposto relevante e

se justifica em termos teóricos ao ampliar os estudos sobre a temática da inovação e sua

relação com o estilo de liderança no contexto da gestão pública municipal, considerando as

transformações ocorridas nas últimas décadas no modelo de gestão pública onde há uma

exigência à incorporação de políticas e práticas gerenciais inovadoras.

Justifica-se ainda, ao oferecer elementos a problematizações e nessa direção, ao

delineamento de temas novos e linhas de pesquisa sobre liderança e inovação em outras

esferas de governo. Em termos práticos, sua relevância assenta-se na possibilidade de

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17

apresentar dados que possam subsidiar análises futuras mais críticas, que considerem uma

amostra maior, realidades diferentes e resultadas em longo prazo das práticas e estilos de

liderança que vêm sendo incorporados, a partir dos pressupostos da nova gestão pública.

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18

2 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA

Esta seção tem como objetivo discutir sobre as características das organizações

públicas brasileiras com ênfase aos desafios e as dificuldades para romper com uma cultura

tradicional de gestão assentada nos modelos burocrático e patrimonialista de administração. A

cultura se apresenta como fator limitador dos processos criativos e das inovações no âmbito

da gestão pública.

Em seguida o debate se dará sobre as tentativas de modernização da Gestão Pública

por meio das reformas do aparelho de Estado, presente desde o advento da Nova República

em meados da década de 80 e acelerando a partir dos anos de 1990.

Os principais autores utilizados para a discussão sobre o assunto são brasileiros e

referências na área de conhecimento, possuem diversas pesquisas e trabalhos publicados.

Além do trabalho destes autores, foram consultados, livros técnicos e manuais do Governo

Federal, publicações impressas e em sítios nacionais e alguns internacionais sobre o tema,

além de artigos científicos.

2.1 ADMINISTRAÇÕES PÚBLICAS E QUESTÕES CULTURAIS

A administração pública brasileira, nas últimas décadas, tem passado por várias

transformações, sobretudo como parte do processo de transição para a democracia.

Implementou-se novas práticas e expectativas de modernização da gestão pública, todavia,

muitas de suas características tradicionais ainda estão muito presentes (MOTTA, 2007), isto

se deve em grande parte aos determinantes culturais, herança dos modelos de gestão

patrimonialista e burocrático que acompanha a administração pública.

A história da administração pública no Brasil ainda é muito recente, no entanto, é

suficiente para produzir um modus operandi próprio (CARBONE, 2000). Para Castor e José

(1998), a administração pública brasileira caracteriza-se pela luta entre uma burocracia

formalista, ritualista, centralizadora, avessa a modernização do Estado, aliada aos interesses

econômicos retrógados e conservadores e as correntes modernizantes também aliadas aos seus

interesses políticos e empresariais.

A primeira corrente luta para manter o controle sobre o Estado e suas políticas

públicas, garantindo a perpetuação dos seus interesses e privilégios, exerce o controle social

por meio da centralização burocrática e conservadora. No outro extremo estão às ideias

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19

modernizantes que defendem a expansão do mercado ao exterior, a globalização e o

liberalismo.

A cultura conservadora, hierarquizada e burocrática, originária dos modelos de gestões

tradicionais, em que o interesse político ainda prevalece sobre o interesse público, torna o

desafio para realizar inovações na administração pública ainda bastante complexo. Estudos

revelam que a cultura tende a se perpetuar e sua transformação necessita de tempo e de um

processo longo de construção social para de fato ocorrer (PIRES; MACÊDO, 2006). Este

processo pode ser mais bem compreendido a partir de uma breve discussão sobre os modelos

de administração – patrimonialista, burocrático e gerencial - predominantes no Brasil desde a

sua descoberta.

O modelo patrimonialista de administração surge com a formação do próprio Estado

Brasileiro. Neste modelo não havia limites entre o público e o privado, o aparelho do Estado é

a extensão do próprio poder do rei. O nepotismo, o empreguismo e a corrupção são

características deste tipo de administração. A administração pública burocrática que se baseia

na racionalidade para atuar com a máxima eficiência surge para substituir a administração

patrimonialista. Este modelo revelou-se inconciliável com o capitalismo industrial e o

surgimento da democracia (BRESSER PEREIRA, 1996).

A criação do modelo burocrático é atribuída à Max Weber, considerando que foi este

sociólogo alemão que avaliou e resumiu as suas principais características. “Weber identificou

o exercício da autoridade racional-legal como fonte de poder dentro das organizações

burocráticas, neste modelo o poder emana das normas institucionais formais e não do perfil

carismático ou da tradição.” (SECCHI, 2009, p.351).

As três características principais do modelo são a formalidade, a impessoalidade e o

profissionalismo. A formalidade confere deveres e responsabilidade aos componentes da

organização legitimando uma hierarquia administrativa; o trabalho é orientado pelas

documentações escritas dos procedimentos; os processos decisórios e as comunicações

internas e externas são formalizadas; e as tarefas dos empregados são estabelecidas de tal

modo que garanta a continuidade e a hierarquização dos serviços prestados para evitar

sobretudo qualquer discricionariedade individual no cotidiano do trabalho.

A impessoalidade prescreve como deve ser estabelecida a relação entre os membros da

organização e o ambiente externo, isto é, com linhas de autoridade bastante claras. Diretores e

outros ocupantes de cargos de direção tem autonomia para decidir e comunicar suas decisões

aos subordinados, estas pessoas é que representam formalmente a organização. O

profissionalismo diz respeito ao “valor positivo atribuído ao mérito como critério de justiça e

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diferenciação”, as funções são assumidas por pessoas que apresentam competências e

conhecimentos compatíveis com a nova função, mas principalmente, que tenham entrado no

serviço público por meio de competição justa e transparente (SECCHI, 2009).

A eficiência é o ponto central do modelo burocrático de gestão.

Os controles administrativos deveriam funcionar para combater a corrupção e o nepotismo

herdados do modelo patrimonialista. A racionalidade, no entanto, não garantiu a eficiência

pretendida e a administração pública revelou-se uma administração lenta, cara e pouco

orientada para o atendimento das demandas sociais (BRESSER PEREIRA, 1999).

As críticas a este modelo são muitas, mas a principal delas foi formulada por Robert

Merton citado por Secchi (2009), cuja ênfase é acerca dos efeitos negativos da burocracia

sobre a organização e sobre a vida das pessoas. Estes efeitos negativos foram chamados de

disfunções burocráticas.

A partir de 1980, com as reformas administrativas adotaram-se novos discursos e

práticas até então, percebidas somente no setor privado, o modelo burocrático passa a sofrer

severas críticas. Dois modelos organizacionais foram apresentados para contrapor ao

burocrático, são eles: a administração pública gerencial e o governo empreendedor, esses

novos modelos se fundamentam em princípios e diretrizes que visam à melhora da efetividade

da gestão das organizações públicas como eficiência, eficácia e competitividade (SECCHI,

2009). O desafio desta década era instalar sistemas administrativos que pudessem avançar

rumo ao desenvolvimento permitindo ao Brasil o uso efetivo de seus recursos

(MARCELINO, 2003).

Bresser Pereira (1996), afirma que os novos rumos que vêm sendo dado a

administração pública é o caminho para superação dos velhos modelos de gestão tradicionais

e a solidificação do modelo gerencial onde a inovação e posturas empreendedoras se

apresentam como temas importantes. Apesar das mudanças significativas ocorridas nos

últimos 20 anos, estas, ainda não têm sido suficientes para mudar a realidade do serviço

público brasileiro.

Secchi (2009, p.349), argumenta que em longo prazo os modelos propostos de reforma

possuem potencial para gerar bons resultados, no entanto, chama a atenção para o fato de que

muitas vezes na administração pública as reformas são “empunhadas com meros propósitos

retóricos” seus efeitos são mínimos e não raro fracassam.

Carbone (2000), nos apresenta uma lista de características das organizações públicas

que ainda se traduzem como barreiras para os processos de mudanças e inovações no setor

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público, são elas: burocratismo, autoritarismo/centralização, aversão às práticas

empreendedoras, paternalismo; levar vantagem e reformismo.

Carvalho (2005), também discute sobre dificuldades em nível econômico, social e

político da administração pública para realizar mudanças como lentidão quanto às respostas às

novas tecnologias e a competitividade; má qualidade no atendimento de demandas de saúde;

educação e segurança; morosidade na análise e aprovação de leis e outras medidas para

acompanhar as transformações do ambiente. Para este autor, as organizações públicas tem

apenas reagido às mudanças, revelando sua incapacidade para se antecipar aos problemas.

A cultura das organizações públicas é que as conduzem a burocracias tradicionais

tornando-as complexas, centralizadoras, com estruturas rígidas, pouco criativas e avessas às

mudanças, além de não ser orientadas para o atendimento das demandas dos cidadãos ou para

eficácia e efetividade do serviço (PIRES; MACÊDO, 2006). Os autores veem a cultura como

fator fundamental para análise organizacional.

O interesse pelo assunto é em razão da conexão estabelecida entre cultura e

desempenho organizacional, porém, muitos estudiosos não reconhecem esta realidade o que

implica numa análise isolada das organizações. Mintzberg (2006), afirma que a cultura é a

base da organização, considerando que a força de uma cultura legítima às crenças e os valores

compartilhados entre os seus membros. Para Morgan (1996), as organizações estão inseridas

em um espaço cultural e social e é este espaço que decide como estas serão geridas.

Nesta mesma linha de pensamento, Santos (1990), assegura que a cultura tem

assumido função de destaque no desempenho das organizações porque influencia no estilo de

vida e nos valores das pessoas que a compõem e a Administram. Mais do que um conjunto de

regras, de hábitos e de artefatos, a cultura é a construção de significados partilhados por um

conjunto de pessoas pertencentes ao mesmo grupo social (PIRES; MACEDO, 2006). Nesta

perspectiva, a cultura se apresenta como fator que afeta todos os aspectos da organização

como sua estrutura, estratégia, processos, sistemas de controle e estilo de liderança.

No contexto da administração pública têm atuado como um elemento limitador das

inovações à medida que ainda predomina o modelo de gestão burocrático tradicional e

conservador com forte influência do modelo patrimonialista, onde o interesse político

prevalece sobre o público.

Em que pesem os obstáculos enfrentados pela administração pública para mudar sua

realidade, romper com os velhos paradigmas, implementando novas formas de gestão sob o

pilar da mudança ainda é um desafio e ao que parece um caminho longo a ser percorrido.

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2.2 O PAPEL DAS REFORMAS E O GERENCIALISMO NA ADMINISTRAÇÃO

PÚBLICA

Nas últimas duas décadas a reforma do Estado entrou nas agendas políticas de

diversos países. No Brasil, visando modernizar a gestão pública, desde o advento da Nova

República, fez do tema uma prioridade dos anos de 1990. De lá até os dias atuais muitas

mudanças foram realizadas no modo de organizar o Estado e gerir a economia nacional, mas

ainda é um desafio o desenvolvimento de práticas administrativas voltadas para o interesse

público (PAES, 2007).

Para Abrucio (2007), o fim do período militar marca o início do processo de reforma

do Estado no Brasil. O autor aponta dois fenômenos que se combinavam e que caracterizaram

bem aquela conjuntura política: a crise do regime autoritário e principalmente o esgotamento

do modelo nacional desenvolvimentista. A proposta da reforma era atacar os erros históricos

da administração pública brasileira, muito deles estimulados pelos militares, bem como buscar

soluções para o reordenamento do Estado (ABRUCIO, 2007). Para o autor “a principal

preocupação dos atores políticos na redemocratização foi tentar corrigir os erros cometidos

pelos militares dando pouca importância a necessidade de se construir um modelo de Estado

capaz de enfrentar os novos desafios.” (ABRUCIO, 2007, p.68).

As mudanças mais profundas foram conquistadas pela Constituição de 1998, na qual

várias questões concernentes à administração pública foram modificadas. A primeira delas diz

respeito à democracia do Estado por meio do fortalecimento do controle externo da

administração pública; a segunda diz respeito à descentralização do poder de decisão, abrindo

oportunidade para a participação do cidadão e para inovações ao se considerar as realidades

locais e suas potencialidades; e a reforma do serviço civil por meio da profissionalização da

burocracia como por exemplo, com a incorporação do principio da “seleção meritocrática e

universal” por meio do concurso público (ABRUCIO, 2007).

Dasso Júnior (2002), identifica na literatura duas ondas de políticas de reforma do

Estado no Brasil, a primeira teve como objetivo a gestão da crise econômica que atingiu as

economias desenvolvidas e em desenvolvimento nos anos 80, que se caracterizou pelos

desajustes macroeconômicos que resultaram em taxas intoleráveis de inflação o que

inevitavelmente impedia o crescimento econômico de qualquer nação. Entre as estratégias

adotadas para enfrentar a crise estavam os ajustes fiscais, redução de gastos públicos,

reformas tributárias, privatizações e liberalização econômica.

A segunda ocorreu na década de 90, e tratou da estabilidade macroeconômica e da

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reforma das instituições públicas, envolvendo mudanças institucionais mais profundas como,

por exemplo, reformas do aparelho do Estado, administrativa, tributária, do legislativo, dos

organismos regulatórios e das relações trabalhistas. A reforma da gestão pública iniciada em

1995, foi uma resposta a grande crise do estado da década de 80, e a globalização da

economia com a redefinição das funções do Estado e da sua burocracia (BRESSER

PEREIRA, 1996).

Esta se constituiu em um dos temas de maior relevância na agenda contemporânea de

políticas públicas na década de 90, entre seus grandes desafios estava a mudança da relação

entre o Estado e a sociedade civil num mundo progressivamente democrático e globalizado

(DASSO JÚNIOR, 2002). Os desafios de se pensar políticas e programas objetivando

aumentar a eficiência e a melhoria da qualidade dos serviços públicos se tornou uma

tendência mundial ganhando a denominação genérica de gerencialismo na Administração

Pública (FERREIRA, 1996).

A reforma administrativa que culminou com a adoção do modelo de administração

gerencial teve como objetivo central “reforçar a governança, mediante transição programada,

de um tipo de administração pública burocrática, rígida e ineficiente, voltada para si própria e

para o controle interno, para uma administração pública gerencial, flexível e eficiente, voltada

para o atendimento do cidadão” (BRASIL, 1998b, p.5). Como consequência dos avanços

tecnológicos e da nova organização política e econômica mundial, a administração gerencial

visa tornar o Estado capaz de competir com outros países. Para que isso seja concretizado as

organizações públicas necessitam focar nos resultados que são seus principais objetivos, bem

como buscar a identificação com os usuários e aumentar sua eficiência com estruturas de

quase mercado ou concorrência administrada (BRASIL, 1997).

O modelo gerencial de administração é caracterizado pela existência de estratégias

modernas de gestão, alterando a forma de controle sobre os serviços públicos, as relações

entre o poder público e seus funcionários bem como, a própria atuação da administração, que

passa a priorizar a eficiência, a qualidade e a participação mais intensa dos cidadãos na esfera

pública, garantindo desta forma a concretização da democracia nos espaços públicos

(COELHO, 2000).

O paradigma gerencial se contrapõe ao modelo burocrático tradicional de gestão até

então predominante na administração pública brasileira. A administração pública gerencial

procura adequar-se a nova realidade da sociedade, em que estão sendo revistos os papéis e as

formas de atuação do Estado, bem como atender às reivindicações das democracias de massa

uma vez que a funcionalidade e o poder das burocracias estatais vinham sendo

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constantemente questionados (BRASIL, 1998b). Para Secchi (2009, p.354), “a administração

pública gerencial ou nova gestão pública é um modelo normativo pós burocrático para a

estruturação e a gestão da administração pública, baseado em valores como eficiência, eficácia e

competitividade.”

Segundo Ferreira (1996), entre os princípios que fundamentam o modelo de

administração gerencial estão à focalização da ação do Estado no cidadão caracterizado pelo

resgate da esfera pública como um espaço de exercício da cidadania; a reorientação dos

mecanismos de controle para resultados, isto é, avançar dos modelos estritamente burocráticos

de controle institucional para um enfoque baseado no alcance de objetivos e resultados e

controle social, pois se tornou necessário criar mecanismos de prestação de contas e avaliação

de desempenho das ações do Estado para a sociedade.

No bojo do processo de reforma iniciado na década de 90, a participação social vem

sendo construída como um dos princípios organizativos essenciais dos processos de

deliberação democrática no âmbito local. Possibilitar a participação do cidadão e das

organizações da sociedade civil no processo de planejamento das políticas públicas foi

transformado em modelo da gestão pública local contemporânea (MILLANI, 2008).

A crise dos modelos tradicionais de gestão implicou em mudanças no modo de pensar

e fazer a gestão pública (BRASIL, 1997). Temas até então comuns somente no mundo

corporativo como inovação gerencial, gestão por competência e foco no cidadão passaram a

fazer parte do novo paradigma da administração pública (BRESSER PEREIRA, 1996).

Práticas gerenciais inovadoras, posturas empreendedoras despontam como algo fundamental

para a sobrevivência das organizações (SECCHI, 2009).

Osborne e Gaebler (1995, p.24) apresentam a proposta de governo empreendedor,

apontando para um estilo de liderança muito mais pragmático. Os autores desenvolveram uma

lista com “dez mandamentos para transformar uma organização pública burocrática em uma

organização pública racional e eficaz”, são eles:

a) governo catalisador — A implementação de políticas públicas pelos governos

devem acontecer de forma harmônica por meio da ação de diferentes atores sociais na

resolução dos problemas coletivos, o governante não deve agir sozinho;

b) governo que pertence à comunidade — os governos devem fomentar à

participação dos cidadãos na tomada de decisão;

c) governo competitivo — os governos devem criar recursos que assegurem o

processo competitivo dentro das organizações públicas e entre organizações públicas e

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privadas, visando estimular a melhora da qualidade dos serviços prestados. Indo de encontro

aos monopólios governamentais na prestação de alguns serviços públicos;

d) governo orientado por missões — os governos precisam focar sua atenção na

verdadeira missão institucional e menos no seguimento de normas rígidas e formais;

e) governo de resultados — os governos devem mudar o foco do controle de inputs

para o controle de outputs e impactos de suas ações, adotando a administração por objetivos;

f) governo orientado ao cliente — os governos devem substituir a

autorreferencialidade passando a atender às necessidades dos clientes/cidadãos;

g) governo empreendedor — os governos devem esforçar-se a aumentar seus

ganhos por meio de aplicações financeiras e ampliação da prestação de serviços;

h) governo preventivo — os governos devem adotar comportamentos proativos em

substituição aos reativos, atuar com base em planejamento estratégico de modo a antecipar os

problemas;

i) governo descentralizado — os governos devem envolver os funcionários nas

tomadas de decisões, aproveitando o seu conhecimento e capacidade inovadora;

j) governo orientado para o mercado — os governos devem trabalhar na lógica

competitiva de mercado.

É possível afirmar que o Brasil esteja em um período considerado promissor no que

tange às reformas do Estado, as quais buscam a modernização do serviço público e ao que

parece estas reformas têm potencial para produzir mudanças e inovações na forma de gestão

das organizações públicas .

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3 INOVAÇÃO NO ÂMBITO DA GESTÃO PÚBLICA BRASILEIRA

Esta seção tem como objetivo discutir a inovação no âmbito da gestão pública

especialmente no âmbito dos governos subnacionais brasileiros. Além de situar o leitor sobre

tema, a inovação é debatida sob a perspectiva de que é necessária para que as organizações,

sejam elas públicas ou privadas, enfrentem as exigências do mercado e da sociedade.

Será abordado o novo cenário que vem se configurando nos últimos 30 anos onde os

municípios e os Estados passaram a ser as instâncias que possibilitam intervenções concretas

por parte do Estado em termos de implementação de políticas públicas.

O enfoque maior será dado às inovações e as tendências em governos subnacionais,

que apontam mudanças nas políticas e nos setores tradicionais da administração pública.

Mudança estas que implicam na alteração da relação entre Estado e Sociedade.

Os principais autores utilizados para a discussão sobre a inovação em governos

subnacionais são brasileiros e referências neste assunto, possuem diversas pesquisas e

trabalhos publicados nesta área que são Marta Farah e José Antonio Pinho. Além do trabalho

destes autores, foram consultadas publicações impressas e em sítios nacionais e alguns

internacionais sobre o tema, além de artigos científicos.

Foram consultadas as bases de livre acesso Scientific Eletronic on line (Scielo) e

Google acadêmico assim como teses e dissertações da Biblioteca Digital de Teses e

Dissertações (BDTD).

3.1 A INOVAÇÃO NO CENTRO DA DISCUSSÃO NO SETOR PÚBLICO

A palavra inovação no seu sentido mais amplo significa "tornar novo", "renovar",

"introduzir novidade" ou "fazer algo como não era feito antes" (SPINK, 2003, p.2). Para o

autor a inovação não é um conceito exclusivo da modernidade, o processo histórico de

evolução do homem nos revela que os modelos e práticas institucionais se caracterizam pela

mudança e não pela permanência das coisas, demonstrando que a introdução de novidades

permeia os diversos caminhos percorridos pela humanidade desde muito tempo atrás (SPINK,

2003).

Na década de 30, o economista Joseph Schumpeter colocou o tema da inovação no

centro das discussões do mundo moderno ao identificar cinco tipos de inovação: novos

produtos ou mudanças consideráveis em produtos existentes; novos mercados; novos

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processos ou métodos de produção; novas fontes de recursos e novas organizações

(TERZIOVSKI et al., 2001).

De lá até os dias atuais a compreensão sobre o sentido de inovação tem modificado,

indo para além das questões tecnológicas, incluindo principalmente a preocupação com as

necessidades dos clientes, tal conclusão se fundamenta nos estudos de Porter e Stern, citados

por Terziovski et al. (2001), ao confirmar a noção de inovação como a transformação de

conhecimento em novos produtos, processos e serviços. Para Motta (1979, p.176), a inovação

surge da “necessidade de sobrepor-se ou de adaptar-se aos obstáculos ambientais, ao

crescimento e ao desenvolvimento dos mesmos e da necessidade de lutar pela sobrevivência

das organizações.”

Essa celeridade nos processos de mudanças decorrente das inovações desafia as

estratégias das organizações a se adequarem as exigências do mercado e da sociedade

(STEFANO; GOMES FILHO, 2004). No âmbito da gestão pública mundial, governos e

serviços públicos vêm enfrentando muitos desafios em função da necessidade de governar e

prestar serviço simultaneamente, tornando-se imprescindível desenvolver políticas e

processos de trabalho inovadores, capazes de enfrentar essa realidade, em que se exige

estratégias e escolhas adequadas relacionadas à liderança (SCHWELLA, 2005). Pode-se, no

entanto, assegurar que vem ocorrendo mudanças no padrão das políticas públicas,

principalmente nos governos locais, tais mudanças fazem parte do processo de construção de

novas formas de gestão, constatadas através das práticas gerenciais inovadoras de governos

subnacionais do país (BARACHINI, 2002).

A inovação tem assumido uma importância cada vez maior e as razões, segundo Pinho

(2010), podem ser atribuídas a uma diversidade de fenômenos. O primeiro deles diz respeito à

crise do Estado capitalista consoante à própria crise pela redefinição dos modelos de produção

e acumulação de capital, o que resultou na redefinição do papel do Estado, implicando na

perda de seu papel centralizador e concentrador de funções (PINHO, 2008).

Apesar de muito se discutir sobre inovação na gestão pública na atualidade, ao que

parece os autores estão muito mais focados nas ações consideradas inovadoras do que na

própria concepção do termo. Sobre isso Pinho e Santana (1998), afirmam que a inovação e os

processos inovadores na gestão pública municipal vêm sendo tratados como tema de grande

importância, no entanto, no que se refere as bases teóricas ainda há muito o que avançar. Para

os autores, demonstram-se experiências inovadoras, discutem sobre dela, mas não se teoriza

sobre ela.

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Graça Rua (1999), numa tentativa de construção conceitual do termo no âmbito da

gestão pública, explica que o conceito de inovação em diversos países, em particular na

América Latina, possui uma dimensão muito ampla considerando que corresponde,

inicialmente, a alguma coisa que funciona efetivamente em um ambiente marcado por uma

funcionalidade reduzida, seja em função do modelo de administração burocrática, dos

vestígios do modelo patrimonialista e ou das combinações desses dois. Pinho e Santana

(1998), entendem que pelas condições de autoritarismo ainda muito presentes no Brasil, a

democracia, como um valor universal a ser perseguido, constante em muitos projetos da

gestão pública, pode ser considerado como uma inovação.

Os autores chamam a atenção ainda para o fato de que ao se discutir o conceito de

inovação no âmbito da gestão pública Brasileira, não se pode dissociar da conjuntura de

“miséria, pobreza, marginalidade, exclusão, clientelismo e paternalismo” (PINHO;

SANTANA, 1998, p.4), afirmando que o que rompe efetivamente com essa realidade deve ser

considerado como inovação.

Com base na compreensão de diversos autores sobre o tema, Queiróz e Ckagnazaroff

(2010), sistematizaram o conceito de inovação como “uma mudança de caráter radical que se

justifica pelos fins estratégicos, estrutural, humano, tecnológico, cultural, político e de

controle que se direciona tanto para a eficiência quanto para a dimensão mais democrática da

mudança.” (QUEIRÓZ; CKAGNAZAROFF, 2010, p.687).

Na administração pública brasileira o ciclo de inovações inicia na década de 1930, no

Governo do então presidente Getúlio Vargas (FARAH, 2006). Para a autora, isto ocorreu em

virtude da criação de bases para concretização de uma nova função para o Estado, o de

desenvolvimentista e articulador da constituição de uma identidade nacional. A década de 80

também é apontada como um período de grandes mudanças e inovações na gestão pública à

medida que novas instituições foram criadas e novas práticas incorporadas no cotidiano das

organizações públicas (FARAH, 2006).

O movimento de reformas da gestão pública, iniciado na década de 80, e que permeou

toda a década de 90, está assentado no modelo gerencial de administração, caracterizado pela

existência de estratégias modernas de gestão, alterando a forma de controle sobre os serviços

públicos, as relações entre o Poder Público e a sociedade bem como a própria atuação da

administração, que passa a priorizar a eficiência, a qualidade e a participação mais intensa dos

cidadãos na esfera pública, garantindo desta forma a concretização da democracia nos espaços

públicos (COELHO, 2000).

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O paradigma gerencial se contrapõe ao modelo burocrático tradicional de gestão até

então predominante na administração pública brasileira (BRASIL, 1998), a gestão assume o

status de prioridade. A inovação, que por muito tempo fora tema exclusivo das empresas

privadas passa a ser de interesse também das organizações públicas (BARACCHINI, 2002).

De acordo com Farah (2006), após este período de reformas, a inovação, adquire duas formas

de direcionamento distintas, porém complementares, uma voltada para a eficiência e a outra

para a democracia.

Para Bresser Pereira (1997b), as inovações começam a ser percebidas de forma mais

concreta a partir da reforma gerencial iniciada em 1995, com a proposta de superação dos

modelos tradicionais de gestão em que a burocracia e as práticas clientelistas ou

patrimonialistas ainda presente nas organizações públicas revelaram-se inconciliáveis com as

novas demandas sociais. A nova gestão pública inspirada nos avanços da administração de

empresa traz entre os seus princípios: a orientação para o cidadão e para a busca de

resultados; pressupõe que os funcionários públicos sejam merecedores de confiança, ainda

que de forma limitada; utiliza como estratégia a descentralização, o incentivo a criatividade e

a inovação (BRESSER PEREIRA, 1997b).

Nesta perspectiva, a inovação no âmbito da gestão pública estabelece novos processos

decisórios e novas formas de gestão com ampliação da participação nas decisões relativas à

formulação, à implementação e à fiscalização das políticas públicas (FARAH, 2007). Novas

posturas e atitudes são exigidas do gestor público para o exercício da liderança. Neste sentido

Schwella (2005), afirma que a inovação é um imperativo para lidar com o contexto atual de

mudanças e a liderança deve ser exercida de modo a incrementá-la.

A inovação nos processos de formulação e execução das políticas públicas tratam de

questões políticas e administrativas, refere-se ao como fazer, compreendendo todos os atores

que fazem parte da construção e implementação das políticas públicas, como e por meio de

quem se interagem e principalmente até que ponto estes processos são eficientes e flexíveis na

administração e aplicação dos recursos públicos (FARAH, 2007).

Para reforçar o debate, Souza (2004), afirma que a experiência brasileira de

governança em nível local é caracterizada por intensa inovação organizacional e por um

complexo arranjo de relações intergovernamentais, especialmente, entre a união e os

municipais. Estas inovações podem ser atribuídas inicialmente aos compromissos assumidos

pelos governos durante o processo de redemocratização do Estado, mas também por decisões

tomadas pelos próprios gestores tanto em nível federal e ou local (SOUZA, 2004). A despeito

das desigualdades dos municípios brasileiros em “tornarem parte desta nova

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institucionalidade” a autora assegura que há indícios que sinalizam para mudança no modo

como a governança local está ocorrendo (SOUZA, 2004, p.40).

Com o processo de descentralização a esfera municipal assume uma posição

fundamental em termos de competências e responsabilidades (PINHO, 2008). A inovação da

gestão pública em governos locais caracteriza-se pelas inovações nas políticas públicas,

compreendida como produto da atuação governamental e nos processos de formulação e

execução destas políticas (FARAH, 2007). Para a autora, as inovações nas políticas públicas

dizem respeito às mudanças no seu teor, em que os governos passam a questionar sobre que

políticas são essas, qual o público alvo e sob que abordagem se sustenta, surgindo assim

novas políticas públicas, tendo como fundamento a democratização do acesso e do direito aos

serviços públicos a novas parcelas da população.

Nas duas últimas décadas organizações governamentais e não governamentais tem

buscado colaborar na disseminação de inovações na gestão pública por meio de ações como

promoção de programas de premiação, como exemplo a criação do Programa de Gestão

Pública e Cidadania pela Fundação Ford e Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, em

parceria com o BNDES, cujo objetivo é a disseminação e premiação de inovações de

governos subnacionais brasileiros (FARAH, 2007). De acordo com os dados apresentados por

Farah (2007), em um período de 10 anos, o programa contabilizou 8.169 programas

inovadores de governos subnacionais, deste total 82,12% são experiências municipais.

Entre os motivos apontados pela autora para predominância do número de iniciativas

dos municípios em relação aos Estados, está o fato dos municípios serem muito mais

numerosos no país e ao fato da Constituição Federal de 1988 ter transferido aos municípios

novas competências e responsabilidades, afirmando um dos princípios básicos da

Administração gerencial que é a descentralização.

Para Pinho (2008), a maior vantagem da descentralização é a possibilidade de

implementar políticas públicas de caráter mais democrático, considerando que na esfera

municipal pode-se realizar, teoricamente, relações mais democráticas com usuários e outros

atores sociais. Entretanto, nesse novo cenário, as gestões municipais, não estão livres das

crises e dificuldades inerentes à gestão, por isso, têm buscado alternativas criativas e

inovadoras para fazer frente às novas e às antigas atribuições de governo (PINHO, 2008).

Em que pesem todos os desafios encontrados para desenvolver algo novo no âmbito da

gestão pública, os municípios apresentam as melhores condições para impulsionar mudanças

que resulte em práticas inovadoras efetivas e duradouras em organizações públicas.

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3.2 INOVAÇÃO E TENDÊNCIAS EM GOVERNOS SUBNACIONAIS

Na gestão pública em geral e especialmente, em governos subnacionais, o tema

inovação vem ganhando importância cada vez maior nas últimas décadas. As razões podem

ser atribuídas a vários fatores. A crise na década de 80, que impactou o Estado brasileiro

resultando na valorização da esfera subnacional à medida que o processo de descentralização

obrigou os municípios a assumir novas responsabilidades, o que implicou na busca por

inovações no processo de gestão (PINHO; SANTANA, 1998).

Este período, considerado de redemocratização do país, caracterizou-se pela

identificação de uma democracia com descentralização resultando no esvaziamento do Estado

maior para as esferas subnacionais de governo (PINHO; SANTANA, 1998). Neste novo

cenário que vem se configurando nos últimos 30 anos, os municípios e os Estados passaram a

ser as instâncias que possibilitam intervenções concretas por parte do Estado. Para Pinho e

Santana (1998), o processo de mudança obrigou as esferas subnacionais a assumir

responsabilidades e tarefas que até então, não conheciam nem estavam acostumados a

desempenhar, além de ter que fazê-las em meio há um contexto de crises constantes. Esta

realidade tem levado muitas administrações subnacionais à encontar soluções inovadoras para

gerir seus processos de gestão.

Salgado (1996, p.49), afirma que neste novo contexto, "desenvolver o município, é

gerenciar os problemas fazendo frente à complexidade e à incerteza, é melhorar a qualidade

dos serviços aos cidadãos e procurar o desenvolvimento humano, ao mesmo tempo em que o

econômico". Chama a atenção para o fato de que, o município não pode ter a pretensão de

realizar o desenvolvimento, este deve ser na verdade, um articulador que reconhece a

existência de uma sociedade preocupada com a melhoria da qualidade de vida.

A grande novidade para os municípios segundo Salgado (1996), foi a inclusão

permanente de um novo ator social regulador nos processos econômicos e políticos que é a

sociedade organizada civil. Para Mendes (2001), a inovação no contexto da esfera pública está

associada a uma política de governo e uma expectativa de comportamento dos sujeitos

implicados no processo, estando a inovação condicionada ao modelo de interação

estabelecido entre estado e sociedade. O êxito então de uma prática inovadora na esfera

pública dependeria da habilidade gerencial para adotá-la e implementá-la, considerando que é

no âmbito do Estado que os direitos são concretizados ou invalidados e dependeria ainda da

convergência entre expectativas sociais, valores e atitudes predominantes entre usuários e

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32

prestadores de serviço pois é no âmbito da sociedade civil que os direitos são legitimados e

decididos (MENDES, 2001).

Nesta mesma linha de pensamento, Bava (1996), afirma que com o fortalecimento da

descentralização, a participação popular e a disseminação de práticas inovadoras, as

administrações municipais deixaram a tradicional visão assistencialista e começaram a adotar

programas de geração de emprego e renda, ações de solidariedade no combate à fome,

investimentos em infra-estrutura urbana e outros. Para Salgado (1996), há uma abdicação do

Estado racionalista tecnocrático-autoritário e adoção de um Estado Democrático que foca no

exercício da participação popular. Nesta mesma direção, Farah (2005), discute a inovação na

esfera pública sob a perspectiva da descentralização e estímulo à participação com o objetivo

de democratizar as decisões e ampliar o acesso aos serviços públicos.

No entanto, ao analisar a gestão local a partir da reforma gerencial dos anos 90, é

possível identificar além do componente democrático como indicador de práticas inovadoras,

elementos que enfatizam a eficiência tanto em governos locais de caráter conservador quanto

em gestões progressistas (JACOB; PINHO, 2006). A descentralização enquanto transferência

de poder decisório aos municípios, entidades e órgãos locais revela por um lado intenções

democratizantes, participativas e de responsabilização e por outro, práticas de modernização

gerencial da gestão pública em que a questão da eficiência se torna o foco (MELO, 1996).

Segundo Farah (1997), no primeiro momento de reforma, impulsionado pelas forças

democratizantes para um Estado do Bem Estar, fundamentado na concepção universalista dos

direitos sociais, as propostas enfatizavam a descentralização e a participação dos cidadãos na

formulação e implementação das políticas. No momento seguinte, a realidade da gestão

pública desenhou novos cenários, a escassez de recursos tornou-se pauta principal ao limitar a

capacidade de investimento do Estado, refletindo também na sua capacidade de resposta às

crescentes demandas sociais. Surgiram então preocupações para além da democratização dos

processos e da equidade dos resultados, a eficiência da ação estatal, assim como a qualidade

dos serviços públicos passaram também a fazer parte da agenda de preocupações dos

governos.

Assim, ao final da década de 80 e durante os anos 90, as propostas foram sendo

redefinidas e além da descentralização como pauta principal estabeleceu-se outras prioridades

como:

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33

[...] a busca de novas formas de articulação com a sociedade civil, envolvendo a

participação de ONG, da comunidade organizada e do setor privado, na provisão de

serviços públicos e a introdução de novas formas de gestão nas organizações estatais

de forma a dotá-las de maior agilidade e eficiência (...). (FARAH, 1997, p.11).

Ao realizar estudo no banco de dados de programas e projetos governamentais

inscritos em 1996 no Programa Gestão Pública e Cidadania, iniciativa conjunta da Fundação

Getúlio Vargas de São Paulo e da Fundação Ford, Farah (1997), identificou-se algumas

tendências de mudanças na administração pública e subnacional referente às práticas

inovadoras.

Dos 629 projetos analisados foi possível identificar dois eixos principais: a) o tipo e o

conteúdo das políticas (novas políticas); b) o processo político e a gestão de políticas públicas

(novas formas de gestão, novos processos decisórios, novas formas de provisão de serviços).

No que se refere ao conteúdo das políticas relacionadas à ação do Estado nas áreas sociais e à

provisão e gestão de serviços públicos, as seguintes tendências de mudanças se destacam:

Quadro 1 - Tendências de mudanças nas práticas inovadoras eixo 1.

Eixo 1.

Tendência Mudanças

Novas políticas em

setores tradicionais

1. Esta é uma primeira tendência de inovação. Consiste em mudanças

na concepção sobre a natureza dos serviços prestados, com impacto sobre

a própria política. São exemplos deste tipo mudança ações na área da

saúde, em que medidas de caráter preventivo substituem o modelo

unicamente curativo de saúde pública como é o caso de programas de saúde

da família, em que se enfatiza a “formação” para a saúde, no próprio espaço

familiar, em oposição aos programas tradicionais voltados apenas ao

tratamento da doença.

2. As políticas que se caracterizam como novas respostas a novos desafios

também são incluídas nesta categoria. Nesta concepção emergem políticas

na área da educação com propostas de universalização do ensino assim

como o combate à repetência e evasão e melhoria da qualidade do ensino.

Políticas locais de

combate à pobreza e

de desenvolvimento

local

Nesta tendência estão projetos que visam à geração de emprego e renda, o

que pressupõe a formulação e implementação de políticas geradoras de

atividade econômica e de renda fundamentados em princípios de combate ao

clientelismo.

Ampliação do espaço

de cidadania

São programas que abrangem populações até então excluídas dos programas

governamentais, como idosos, comunidade negras, mulheres, crianças e

adolescentes, deficientes, indígenas.

Fonte: Farah (1997).

A autora nos alerta para o fato de que programas de geração de emprego e renda por si

sós não podem ser necessariamente considerados inovadores quando implementados numa

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perspectiva de curto prazo, para suprir uma situação emergencial, e ou quando revelam

intenções de cunho paternalista, reduzindo as atividades economicamente secundárias, com

poucas chances de resultar em autosustentatibilidade, em caso de retirado o apoio do Estado

(FARAH, 1997).

No que se refere ao processo político e a gestão de políticas públicas (novas formas de

gestão, novos processos decisórios, novas formas de provisão de serviços) a autora constatou

a presença de um movimento que busca a superação de algumas das características principais

da gestão pública no Brasil, como:

Centralização decisória e financeira na esfera federal, fragmentação institucional,

atuação setorial, clientelismo, padrão verticalizado de tomada de decisões e de

gestão, burocratização e padronização de procedimentos, exclusão da sociedade civil

dos processos decisórios, impermeabilidade das políticas e das agências estatais ao

cidadão e ao usuário e ausência de controle social e de avaliação das políticas

públicas. (FARAH, 1998, p.23).

Assim, as tendências de mudanças apontaram para os seguintes indicadores:

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35

Quadro 2 - Tendências e mudanças em práticas inovadoras eixo 2.

Eixo 2.

Tendência Mudanças

Mudanças nas

relações entre Estado

e cidadão

Nesta direção encontrou-se vários programas governamentais onde a

preocupação central era a participação do cidadão na formulação, na

implementação e no controle e avaliação das políticas públicas. A tendência

de inovação se caracteriza pela emergência de novos atores neste processo,

atores estes oriundos da sociedade civil organizada. Os programas que

estimulam a participação popular está profundamente presente visando

romper com o modo excludente e paternalista das políticas tradicionais.

Entretanto, para a autora “parte destas iniciativas governamentais pode não

envolver uma participação efetiva, mas apenas a inclusão formal dos

cidadãos em espaços específicos e limitados de gestão ou execução,

estabelecendo uma participação controlada, instituída de cima para baixo”

(FARAH, 1997, P.23). Todavia, há de fato, uma preocupação com a

inclusão de novos atores no âmbito das políticas públicas (idem).

Mudanças nas

relações entre esferas

de governo

Constatou-se a existência de programas desenvolvidos por diferentes níveis

de governo na modalidade de parceria com uma importante ampliação desta

participação incluindo diversos órgãos estaduais e federais dos diferentes

poderes, além de uma infinidade de entidades não-governamentais.

Mudanças nas

relações entre Estado

e Sociedade Civil

O envolvimento de outros atores como entidades da sociedade civil,

comunidade organizada, organizações não-governamentais e setor privado

empresarial com o próprio governo na formulação e implementação das

políticas Públicas se destacou entre muitos programas. Para a autora isto

revela “a tendência de inclusão de novos atores na provisão e gestão dos

serviços públicos, as políticas públicas na área social deixando de ser vistas

como responsabilidade exclusiva do setor público estatal” (FARAH,1998, p

32).

Integração de ações e

políticas públicas

Muitos programas demonstraram grande esforço para superação da

setorialização das políticas públicas, através da implementação de ações

integradas, procurou-se articular ações tradicionalmente fragmentadas em

diversos campos ou setores.

Mudanças na forma de

gestão de

organizações estatais

Há na administração pública de governos subnacionais iniciativas voltadas a

reforma da gestão pública. São programas que desenvolvem ações de grande

abrangência atingindo mudanças nos níveis estaduais e municipais.

São programas e projetos que buscam a modernização da gestão, entre as

iniciativas analisadas identificou-se os seguintes eixos de mudança: “a)

descentralização e democratização da gestão e do processo decisório, com

ênfase à participação do servidor público nestes processos; b)

descentralização das estruturas de decisão em direção à unidade prestadora

do serviço, buscando uma maior proximidade em relação ao cliente; c)

formação e qualificação de servidores; d) valorização do funcionalismo,

através de melhoria de condições de trabalho e de melhoria salarial; e)

reforço a sistemas de apoio a decisões - banco de dados, estatísticas

gerenciais etc.; f) introdução de sistemas de avaliação de desempenho; g)

adoção de programas de qualidade e produtividade; h) redução de custos.”

(FARAH,1997, p, 36-37).

Fonte: Farah (1997).

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36

Assim como Farah (1997), Pinho e Santana (1998), também realizaram análises

empíricas sobre o programa. Construíram categorias que pudessem classificar as intervenções

municipais inovadoras, são elas: a) gestão democrática cujo objetivo é impedir o clientelismo

predominante na gestão pública; a) descentralização e desburocratização dos serviços

públicos visando romper com o modelo tradicional de administração centralizadora; c)

inclusão dos marginalizados e das minorias; d) resgate de valores tradicionais que se

perderam na contemporaneidade; criação de novos valores para enfrentar o processo de

desenvolvimento atual.

Os resultados destas análises demonstram que há um movimento de mudança na

gestão das políticas públicas municipais, buscam-se novas alternativas visando romper com

uma cultura autoritária e tradicional que acompanha a história da administração pública

brasileira (PINHO, 2008).

Para Spink (2003), os projetos e atividades submetidas ao Programa gestão pública e

cidadania precisam apresentar resultados de inovação em organização e/ou estratégias

técnicas que consigam dar respostas a necessidades sociais e comunitárias que:

[...] representem mudança substantiva, qualitativamente ou quantitativamente em

relação à práticas anteriores; permitem ou apontam as maneiras como a experiência

pode ser repetida por outros e transferida a outras regiões e jurisdições; ampliam ou

consolidam formas de acesso e diálogo entre a sociedade e suas agências públicas;

utilizam recursos de maneira responsável e estimulam práticas autônomas que

podem vir a ser autossustentadas. (SPINK, 2003, p.2).

Discutiu-se até aqui, a inovação sob a perspectiva social onde as maiores

preocupações estão relacionadas aos seguintes indicadores: a) capacidade dos governos de

implementar políticas locais de combate à pobreza e desenvolvimento local; b) ampliação do

espaço de cidadania; Mudanças nas relações entre Estado e cidadão; c) mudanças nas relações

entre esfera de governos; d) mudanças nas relações entre Estado e sociedade civil; e)

integração das ações e políticas públicas e f) mudança na forma de gestão de organizações

estatais. Por outro lado, a inovação vista sob o princípio da eficiência traz como tema central

aspectos relacionados à qualidade do serviço público.

3.3 A INOVAÇÃO E A EFICIÊNCIA NO SERVIÇO PÚBLICO

A Constituição Federal (1988), assegurou alguns princípios para a Administração

Pública os quais se encontram fundamentados em normas de observância constante e

indispensável para o bom administrador. Estes princípios fundamentam todas as atividades

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administrativas e gerem os atos das organizações públicas e de seus administradores e

servidores. Originalmente, os princípios assegurados pelo texto constitucional eram: princípio

da legalidade, da impessoalidade, da moralidade e da publicidade. Com o advento da Reforma

Administrativa do Estado, instituída através da emenda constitucional nº 19 de quatro de

junho de 1998 incluiu-se o principio da eficiência a ser observado pela administração pública

brasileira como forma de garantir uma gestão pública menos burocrática, mais rápida e eficaz.

Para Di Pietro (2005), o princípio constitucional da eficiência é orientado a toda

Administração Pública, porém, possui duas formas diferentes de interpretação. Uma diz

respeito à organização e estruturação da máquina estatal com o objetivo de torná-la mais

racional com vistas à atender as necessidades da sociedade de forma satisfatória. A outra trata

do modo de atuação dos agentes públicos o que implica na melhoria de desempenho

profissional a fim de alcançarem os melhores resultados. Para Gasparini (2005, p.21), “o

princípio da eficiência impõe à Administração Pública direta e indireta a obrigação de realizar

suas atribuições com rapidez, perfeição e rendimento, além, por certo, de observar outras

regras, a exemplo do princípio da legalidade.”

Nesta perspectiva, o princípio da eficiência se tornou uma importante alavanca para a

mudança no comportamento funcional da Administração à medida que a Constituição Federal

de 1988, em seu artigo 39, § 7º, garantiu que a União, Distrito Federal, Estado e Municípios

destinassem recursos para investimento no desenvolvimento de programas de qualidade e

produtividade, modernização, treinamento e desenvolvimento, reaparelhamento e

racionalização do serviço público, até mesmo sob a forma de adicional ou prêmio de

produtividade (MORAIS, 2013).

Nesta direção, são muitas as iniciativas que indicam que os gestores públicos

gradativamente vêm se conscientizando da necessidade de apontar opções mais econômicas

de organização e funcionamento dos serviços públicos e principalmente que satisfaça o

contribuinte. Neste contexto de mudanças no relacionamento entre governo e cidadão o

ambiente se tornou favorável à participação ativa da sociedade civil nos processos de decisão,

cenário que contribui para implementação de novas práticas institucionais que buscam a

inovação (RASKIN, 2013).

Em que pesem os avanços na mudança de orientação da gestão pública, há muitos

obstáculos ainda quando o assunto é inovação. Van Gundy (apud ALENCAR, 1995),

classificou as barreiras encontradas pelos gestores públicos para realizar inovações em cinco

grupos: barreiras estruturais; sociais e políticas; processuais; de recursos; individuais e

atitudinais.

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38

As barreiras estruturais estão relacionadas o grau de formalização no cumprimento de

regras e procedimentos que se aplicam ao desempenho dos seus membros. Neste contexto, o

principio da legalidade pode se tornar desfavorável na busca de soluções inovadoras no

âmbito da gestão pública ao restringir a atuação dos seus agentes públicos à padrões de

comportamento previsto em lei. A concentração de poder e autoridade ainda presente nas

organizações públicas por meio de estruturas organizacionais hierarquizadas que dificultam a

comunicação e a participação de servidores nos processos decisórios também se configuram

como obstáculos.

Ao tratar das barreiras sociais e políticas Van Gundy (apud ALENCAR, 1995) refere-

se às normas e o poder existente nas organizações. Para ele a cultura organizacional ainda

presente no serviço público reforça o corporativismo, o desinteresse, o conformismo e o baixo

desempenho dos servidores. Soma-se a isto, uma ênfase acentuada nas relações de poder e

distinção de status que inevitavelmente inibe a criatividade organizacional.

As barreiras processuais são consequências da rigidez burocrática, característica ainda

muito presente no serviço público que fundamenta sua prática em relações de chefia e

subordinação. As atividades são executadas sistematicamente de forma precisa, com base em

normas e regulamentos pré-estabelecidos o que implica no controle de todas as ocorrências e

no enquadramento do comportamento dos servidores a estas normas e regulamentos.

As barreiras relacionadas aos parcos recursos fazem parte de um conjunto de

variáveis que englobam carência de profissionais, de recursos financeiros, de informações e

de tempo disponível. A contratação de profissionais por meio de concursos públicos que

garantem que o principio da impessoalidade seja assegurada, por exemplo, não são suficientes

para selecionar profissionais empreendedores e criativos. A contratação por meio de

indicação, por outro lado, parte de critérios onde prevalecem interesses particulares revelando

traços ainda muito presentes de um modelo de gestão patrimonialista.

A última e não menos importante, são as barreiras individuais e atitudinais que se

manifestam nos comportamentos dos agentes e servidores públicos e no clima organizacional.

O medo de correr riscos, a baixa tolerância às diferenças, o dogmatismo e a rigidez são alguns

exemplos segundo Van Gundy (apud ALENCAR, 1995), que se apresentam como obstáculos

a inovação.

Para fins deste estudo, a ênfase será sobre o estilo e as atitudes dos líderes sem, no

entanto, negar que outras variáveis tão ou mais importantes interferem na capacidade de

inovação das organizações públicas municipais.

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39

4 CONCEITOS E ABORDAGEM GERAL SOBRE LIDERANÇA

Esta seção tem como objetivo geral apresentar o tema da liderança, seus conceitos e

teorias com destaque para as abordagens contemporâneas e para a liderança no contexto das

organizações públicas. Traz como objetivos específicos:

a) Definir liderança com foco na capacidade de exercer influência sobre o individuo

ou grupo independente da organização;

b) Identificar e analisar as principais teorias sobre liderança;

c) Analisar os níveis de influências dos processos psicossociais no exercício da

liderança;

d) Discutir sobre a diferença entre liderança e gestão;

e) Analisar o papel da liderança no contexto da gestão pública relacionando com as

organizações privadas;

f) Debater sobre o papel das reformas na administração pública, o surgimento do

gerencialismo a partir dessas reformas e a emergência de novos líderes públicos no contexto

da gestão pública.

Na fase inicial a seleção da literatura foi direcionada principalmente para livros

técnicos das áreas de Psicologia Organizacional e de Administração. Foram consultadas

publicações impressas e em sítios nacionais e alguns internacionais. Em seguida foram

selecionados artigos científicos voltados para revisão da literatura sobre o assunto.

Foram consultadas as bases de livre acesso Scientific Eletronic on line ( Scielo) e

Google acadêmico, assim como teses e dissertações da Biblioteca Digital de Teses e

Dissertações (BDTD).

4.1 CONCEITOS E TEORIAS DE LIDERANÇA

A liderança é um assunto que sempre despertou interesse nas pessoas e nas

organizações, figura como uma das preocupações mais antigas da humanidade (TIRMIZI,

2002). No entanto, embora existam elementos comuns nas inúmeras definições encontradas

na literatura sobre o tema, este não é um conceito de fácil definição. Para Bryman (2009), o

uso costumeiro da terminologia no cotidiano afeta o modo como esta é definida tonando sua

conceituação mais difícil. De acordo com Stogdill (apud BRYMAN, 2009, p.1), pesquisador

cujo trabalho influenciou em grande parte o desenvolvimento da Teoria da Liderança, esta é

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definida como um processo de influenciar as atividades de um grupo, de modo a organizar

seus esforços para o estabelecimento e execução de metas.

Segundo Bergamini (1994), a definição de liderança quase sempre está ligada a um

fenômeno grupal que envolve duas ou mais pessoas em processo de influenciação exercido de

maneira intencional pelo líder sobre seus liderados. Nesta mesma direção, Hersey e Blanchard

(1986), ao analisar os conceitos definidos por diferentes autores que tratam da administração

observaram que a liderança é sempre definida como o processo de influenciar as atividades de

um indivíduo ou grupo para a consecução de um objetivo em uma dada situação, no entanto,

os autores chamam a atenção para o fato de que a liderança não faz menção a qualquer tipo

particular de organização, em toda e qualquer situação alguém procura influenciar o

comportamento de outra pessoa. Para Bryman (2009), elementos como influência, grupo e

metas são os mais presentes nas diversas definições.

A liderança em termos de influência, grupos e metas tendeu a manter-se embora

alterasse suas formas ao longo da história, da teoria e da pesquisa sobre liderança. Esta

trajetória pode ser dividida em quatro estágios principais, cada um deles associado a um

período: a) A abordagem do traço pessoal que predominou até o final dos anos 40; b) a

abordagem do estilo de liderança manteve-se forte até o final dos anos 60; c) a abordagem

contingencial que teve seu ápice entre o final da década de 60 e inicio da década de 80 e: c) a

abordagem da nova liderança que tem tido a maior influência desde os anos 80 (BRYMAN,

2009).

Os estudos e as pesquisas sobre liderança por muitos anos concentraram-se nos traços

da personalidade ou na suposição de que características como força física e amabilidade

fossem essenciais para se exercer liderança (HERSEY; BLANCHARD, 1986). Diferentes

traços pessoais foram investigados por pesquisadores, sendo divididos em três grupos

principais: traços físicos, altura e aparência; habilidades como inteligência e fluência de

discursos e características de personalidade como conservadorismo, introversão, extroversão e

autoconfiança (BRYMAN, 2009).

Segundo Bergamini (1994), o sucesso desta teoria pode ser atribuído as pesquisas

desenvolvidas nos anos de 1920 a 1950 com o incremento dos testes psicológicos. Stogdill e

Mann (apud BERGAMINI, 1994), utilizaram resultados de pesquisas acerca da liderança

realizadas no período de 1904 a 1948 para identificar 124 projetos com enfoque nos traços de

liderança, a análise destes estudos possibilitou aos pesquisadores elencar aproximadamente 34

traços de personalidade considerados como qualidades essenciais dos líderes eficazes, entre

estes traços estão sociabilidade, habilidades interpessoais, autoconfiança, ascendência e

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domínio, fluência verbal, participação das trocas sociais, busca de responsabilidade, equilíbrio

emocional e controle. Os resultados, no entanto, de cinquenta anos de pesquisa não foram

suficientes para provar que algum traço de personalidade ou conjunto de qualidades poderiam

ser usados para distinguir os líderes dos não líderes (HERSEY; BLANCHARD,1986).

A abordagem do estilo de liderança surgiu a partir dos anos 30, sinalizando uma

mudança no foco que até então vinha sendo estudado (BRYMAN, 2009). Segundo este

mesmo autor, enquanto a abordagem dos traços de personalidade chamou a atenção para os

tipos de pessoas que se tornaram líderes, a abordagem do estilo de liderança focou no

comportamento dos líderes, afirmando que estes poderiam ser modificados, dando ênfase no

treinamento e não mais na seleção dos líderes. Essa teoria avançou de forma significativa ao

negar o fator nato e inato para explicação do fenômeno na liderança passando a considerar a

possibilidade de desenvolvimento de líderes por meio de treinamento.

Os estudos realizados nesta direção analisaram a relação entre o estilo de liderança e suas

implicações no relacionamento do grupo com base no contínuo comportamento autocrático-

autoritário elaborado por Tannenbaum e Schmid (apud SOBRAL; PECI, 2008, p.218), onde

três estilos de liderança foram identificados (FIGURA 1):

a) Estilo Democrático - é o estilo de liderança cuja ênfase está na participação, no

envolvimento dos funcionários, nas tomadas de decisões, na delegação de autoridade, no

trabalho coletivo e na preocupação com as relações humanas no trabalho. O poder do líder

precisa ser legitimado pelo grupo.

b) Estilo autocrático - Estilo de liderança cuja ênfase é na figura de autoridade da

organização, na centralização do poder e na execução da tarefa. O poder do líder é delegado e

se fortalece pela posição assumida e pela capacidade de cumprimento destas tarefas.

c) Estilo Laissez-faire - estilo de liderança caracterizado pela ausência de

direcionamento, o líder deixa o grupo à vontade para agir de acordo com sua conveniência.

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Figura 1 - Continuum de Tannenbaum e Schmidt.

Fonte: Sobral e Peci (2008, p.218).

Segundo Hersey e Blanchard (1986), a partir destes resultados e visando identificar padrões de

comportamento que resultassem num desempenho ideal dos líderes, pesquisadores da Universidade

de Michigan identificaram dois estilos de comportamento de liderança: O primeiro deles

focado no funcionário e voltado para as relações humanas e o segundo focado na produção

com ênfase na tarefa. Com base nestes estudos passou-se a distinguir claramente duas

orientações de comportamento, o estilo de liderança autoritário e o democrático.

Com a evolução dos estudos, no inicio da década de sessenta, a abordagem sobre o

estilo de liderança que buscava identificar o comportamento ideal do líder começou a

demonstrar suas fragilidades e seu caráter pouco realista. As pesquisas começaram a mostrar

que fazer um prognóstico sobre o êxito da liderança podia ser tão ou mais complexo do que

identificar traços ou comportamentos, o contexto situacional precisava ser considerado

(MELO, 1996).

As pesquisas então passaram analisar além do comportamento dos líderes, as

situações que pudessem interferir na eficácia de um líder em comparação a outro sob as

mesmas circunstâncias (ROBBINS, 2005). Surge assim a abordagem contingencial que se

destacou a partir da década de 60, os fatores situacionais tornou o centro de qualquer

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entendimento de liderança, especificando as variáveis situacionais que moderarão a

efetividade das diferentes abordagens de liderança (BRYMAN, 2009).

Para Hersey e Blanchard (1986), o enfoque situacional estuda o comportamento tal

como é observado no ambiente, distanciando da compreensão da liderança enquanto uma

habilidade hipotética ou potencialidade inata ou adquirida acrescentam ainda que a ênfase no

comportamento e no ambiente torna possível, através do treinamento, adaptar os estilos de

liderança as mais variadas situações.

Dentre as diversas teorias contingenciais encontradas na literatura, as que tiveram mais

destaque e que são consideradas as mais importantes segundo Tirmizi (2002), são a teoria

contingencial de Fiedler construída na década de 60, o “Paths goal theory” de Evans; House e

Mitchell na década de 70 e o modelo de participação do líder de Vroom e Yetton nesta mesma

década. No entanto, um dos mais conhecidos exemplos do pensamento contingencial é o

modelo de efetividade de liderança de Fiedler (BRYMAN, 2009). Para Fiedler (1967 apud

NORTHOUSE, 1997), a grande importância desta abordagem está no fato de que a eficácia

da liderança depende tanto da situação em que o grupo se encontra quanto do comportamento

do líder.

A obra de Fred Fiedler (1967 apud NORTHOUSE, 1997) marca o início dos estudos

das Teorias das Contingências, surgindo assim o conceito do líder adaptativo, cuja análise

parte do principio que a eficácia do líder depende do desempenho do grupo, do ajuste entre o

estilo do líder e o nível de influência sobre a situação. Seus estudos apontaram que a mudança

do líder para se adequar às situações é condição essencial para a melhoria da eficácia no seu

desempenho.

Fiedler (1967 apud NORTHOUSE, 1997) identificou três dimensões contingenciais

determinantes da eficácia da liderança e relacionou com os estilos de liderança orientados

para tarefa e os estilos de liderança orientados para o relacionamento. As dimensões são: a) as

relações entre líder e liderado; b) a estrutura da tarefa e c) o poder de posição. A primeira

dimensão diz respeito ao nível de confiabilidade, respeito e credibilidade do grupo para com o

líder, a segunda, refere-se a estruturação das tarefas ou não e a última trata do nível de

influência do líder na tomada de decisões (ROBBINS, 2005).

Os estudos baseados nas abordagens contingências apontaram para o fato de que não

existe uma única forma melhor de liderar nem tampouco existe um único estilo de liderança

que será sempre eficaz, independentemente da situação. Resultados de pesquisas revelaram

que as ações do líder em determinadas situações tornam-se irrelevantes em virtude de

variáveis individuais de trabalho e organizações. Estas variáveis podem se apresentar como

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substitutos da liderança à medida que há uma reposição da influência do líder tornando-a

prescindível, entre elas estão a experiência, a capacidade, a capacitação, a orientação

profissional, o trabalho devidamente estruturado, a satisfação com o ambiente de trabalho e a

união do grupo (SCHERMERHORN; HUNT; OSBORN,1999; ROBBINS, 2002; YUKL,

2002).

Para Hersey e Blanchard (1986, p.117), “Os líderes eficazes são capazes de adaptar

seu estilo de comportamento as necessidades dos liderados e a situação, sendo estas não

constantes, o uso do estilo apropriado de comportamento do líder constitui um desafio para

cada líder eficaz.”

A partir da década de 80, os estudos sobre liderança foram influenciados pela

abordagem da nova liderança. A expressão tem sido utilizada segundo Bryman (2009), para

descrever e categorizar uma série de abordagens sobre o tema que despertou o interesse de

pesquisadores nos anos 80. São vários os termos utilizados para apresentar os novos tipos de

liderança como: liderança transformacional; liderança carismática, liderança visionária ou

somente liderança.

Esta abordagem baseia-se numa representação de líderes como gestores de

significados e não mais nos termos de processo de influência (BRYMAN, 2009). Nesta

concepção, amplia-se o conceito de liderança, esta passou a ser compreendida como a

capacidade de modificar o comportamento das pessoas pela interação que acontece entre o

líder e seus seguidores (BASS, 1985). Estes admitem a autoridade e a valida. A influência

exercida pelo líder vai além da aceitação mecânica de procedimentos normativos e rotineiras.

Wu (2009), identificou quatro épocas do desenvolvimento das teorias da liderança num

período de cem anos, retratadas na figura 2.

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45

Figura 2 – Desenvolvimento das teorias da liderança.

Fonte: Adaptado de Wu (2009, p.76).

Após tantos anos de pesquisas sobre o tema, os atributos de um líder eficaz, ao que

demonstram as pesquisas ainda não são consensuais. No entanto, A celeridade nos processos

de mudanças organizacionais que vem ocorrendo nas últimas décadas aumenta o desafio do

líder contemporâneo quanto a escolha do estilo mais desejável de liderar. Bennis (2000), no

entanto, acredita que os líderes mais adaptáveis buscam soluções criativas para problemas

difíceis. Para o autor, as principais qualidades exigidas dos novos líderes são: a direção e o

significado que se dá ao trabalho, o que compreende paixão e perspectiva; a confiança

fundamentada na ambição e impulso, competência, autenticidade e integridade; o otimismo

associado à perseverança e persistência.

4.2 LIDERANÇA NA PERSPECTIVA DAS NOVAS ABORDAGENS

O termo nova liderança compreende uma variedade de abordagens sobre liderança que

surgiram no iniciou na década de 80 e que em um primeiro momento pareceu tratar de temas

comuns ou talvez semelhantes, sendo posteriormente demonstradas diferenças entre elas, no

entanto, revelou-se uma nova forma de conceituar e pesquisar liderança (BRYMAN, 2009).

As novas teorias fazem referência aos líderes que conquistam a confiança e o respeito dos

seguidores, tornando a liderança um processo permanente e de constante adaptação, onde o

comportamento do líder altera à medida que se recebe o feedback dos seguidores

(ARMANDI; OPPEDISANO; SHERMAN, 2003).

•1980 • Início 1960

•Década 1940

• Início 1970

•Finais de 1800

•Meados 1940

Teoria dos traços de

personalidade

Teoria

Comportamental

Novas lideranças

Teoria Contigencial

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É desta nova lógica de compreensão de liderança que surgem as teorias da liderança

carismática de House em 1977, a teoria da liderança transformacional e transacional de Burns

em 1978 e Bass em 1985, a teoria atribucional da liderança carismática de Conger e Kanungo

em 1987 e as teorias da liderança visionária construída por diferentes grupos de autores

durante a década de 80 como Bennis e Nanus (1985), Kouzes e Posner (1987), Sashkin (1988)

(CRUZ, 2007).

Figura 3 - Principais autores da Nova Liderança.

Fonte: Da autora (2013).

O que há de semelhante entre essas novas teorias sobre liderança de acordo com Cruz

(2007, p.144) é “o interesse pelo estudo de líderes históricos e gestores de grandes

organizações que conseguiram obter excelentes resultados no seu trabalho, mesmo quando se

encontravam perante situações de crise e de grande concorrência externa”. Os estudos de

Burns (1978) foram pioneiros na popularização e legitimação das novas abordagens. Em seu

livro intitulado liderança, o sociólogo político James McGregor Burns (1978) conceituou a

liderança como a capacidade de algumas pessoas em explorarem as motivações dos

seguidores para alcançar melhor os objetivos de todos. Sugeriu em seu trabalho que políticos

poderiam ser distinguidos sob duas perspectivas a da liderança transacional e da liderança

transformadora.

A transacional trata-se de uma troca entre líderes e seguidores, que se caracteriza por

recompensas pessoais e materiais pelo esforço e pelos resultados alcançados. As recompensas

também podem ocorrer em forma de prestígio pela obediência as vontades do líder. Em caso

de ausência das recompensas, o líder corre o risco de perder sua influência junto aos

seguidores. Para Burns (1978), este estilo de liderança não é considerado impróprio, porém,

Liderança política

Dicotomia entre liderança

transacional e transformadora

Bass, 1995; Tichy e Deavanna, 1986

House, 1977, Conger, 1989

Liderança transformacional

Burns 1978

Liderança carismática

Sashkin,1988; Bennis e Nanus;

Westley e Mintizberg 1989; Kouzes e

Posner 1987

Liderança visionária

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sua eficácia é limitada, estando condicionada ao contrato tácito existente entre o líder e seus

seguidores, porém, este não está baseado na busca permanente por objetivos maiores.

Ao contrário da liderança transacional, Burns (1978) afirma que a liderança

transformadora eleva as aspirações de seus seguidores a um nível em que estas se fundem. Se

comportam de forma proativa, se esforçam para impulsionar o desenvolvimento e a inovação

das pessoas, do grupo e da organização; alcançam resultados acima do esperado e convencem

os ‘seguidores’ a alcançarem elevados níveis de desempenho profissional, ético e moral.

No processo de evolução dos estudos sobre liderança transformadora, Bryman (2009)

afirma que o elo entre liderança transformadora e visão sofreram importantes alterações a

partir dos estudos de Burns (1978), cita os estudos de Bass (1985), Bennin e Nannus (1985) e

Tchy e Devanna (1986) como exemplo de pesquisadores que contribuíram para esta mudança,

inclusive para a alteração da nomenclatura, passando a ser chamada de liderança

transformacional.

A abordagem transformacional se fundamenta nos estudos de Burns (1978), porém, ao

contrário de Burns a análise da liderança transacional e transformacional de Bass (1985) são

compreendidas como dimensões separadas e não como dimensões opostas. Para este autor, a

abordagem ideal precisa contemplar as duas formas de liderança. Para Bass e Riggio (2005), a

liderança transformacional se diferencia pelo forte componente pessoal, onde o líder estimula

os seus seguidores por meio de mudanças nas suas atitudes, servindo de inspiração para o

alcance de objetivos que se baseiam em valores e ideais morais e éticos.

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Quadro 3 - Liderança Transformacional e Liderança Transacional.

Liderança Transacional Liderança Transformacional

Desenvolve a necessidade de concluir a tarefa

visando ganhar dinheiro

Desenvolve a necessidade de gerar significado as

tarefas, tornando-a significativas e desafiadoras.

Estar focado no poder e posição, política a

vantagens

Esta focada nos propósitos, valores, princípios

éticos e morais

Dar importância aos estudos de dados e

resultados a curto prazo

Transcende as questões diárias

Confunde causa com sintomas e preocupa-se

mais com o tratamento do que com a prevenção

Separa causa e sintoma com o intuito de trabalhar

de forma preventiva

Dar valor os assuntos táticos Alinha estruturas internas e sistemas para

fortalecer os valores e objetivos principais

Acredita que as relações auxilia nas interações É proativa, catalizadora e resignada

Age de acordo com o comportamento esperado

dedicando-se ao trabalho dentro dos sistemas

atuais

Possui visão estratégica, focaliza principalmente

missões e estratégias para cumprir objetivos

atuais e futuros.

Apoia os sistemas e estruturas que reforçam os

resultados, maximiza a eficiência e garante

ganhos imediatos.

Utiliza integralmente os recursos, identifica e

desenvolve novos talentos; reconhece e

recompensa esforços importantes.

Fonte: Adaptado de Covey (1994, p.294).

Bass e Riggio (2005), identificaram quatro componentes considerados fundantes para

explicar a liderança transformacional além de diversos indicadores quantitativos para estes

componentes, são eles:

- Carisma: O líder carismático estimula a visão dos seus seguidores com base no

orgulho, na confiança e no respeito. Tornam-se modelos para os seguidores que se identificam

e passam a imitá-lo.

- Inspiração: Motivam os seguidores com base em altas expectativas, inspiram as

pessoas ao seu redor demonstrando o significado e o desafio do trabalho.

- Consideração individualizada: Os líderes transformacionais ficam atentos as

necessidades dos seus seguidores para realização e crescimento, atuando como mentores. A

equipe é estimulada continuamente a elevar seu potencial de desempenho. Há um respeito

genuíno pelas diferenças e incentivo a criatividade. As funções são delegadas visando

estimular a autonomia dos colaboradores e monitoradas para que as fragilidades sejam

identificadas e apoiadas no sentido de melhorar o desempenho.

- Estimulação Intelectual: Há um constante desafio por novas ideias e abordagens. Os

seguidores são estimulados a serem inovadores, criativos e questionadores diante de situações

novas e pensar novas soluções para problemas antigos.

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49

Para Bergamini (1997, 2002), a Liderança transformacional é a combinação destes

componentes, carisma, motivação, consideração individualizada e estimulação intelectual.

Para esta autora este modelo de liderança é um desafio para a área de gestão de pessoas e para

a revitalização das organizações.

Para Bass e Riggio (2005), o poder legítimo e o poder de recompensa do líder tende a

influenciar sua capacidade transformacional, pois se esta condição não estivesse presente se

estaria desenvolvendo uma gestão passiva. Estes mesmos autores acreditam que há alguma

evidência de que a liderança transformacional pode aumentar proporcionalmente à

qualificação e o estatuto do líder.

Bryman (2009), com base em resultados de pesquisas realizadas por Bennis e Nannus

e Tichy, chama a atenção para o elemento considerado central no processo de liderança

transformacional, que é a visão do líder sobre a organização. Enfatiza a necessidade da visão

ser inteligível e relevante para os seguidores.

A liderança carismática por outro lado, está literalmente associada ao carisma do líder.

A palavra carisma de origem grega significa inspiração divina, implica dizer que a pessoa

possui habilidade para realizar milagres e fazer prognósticos (FLEURY, 2002). Seus

pressupostos começam a ser formulados e se estruturar a partir dos estudos realizados por

House na segunda metade da década de 70 (CRUZ, 2007). De acordo com os dados deste

autor, o trabalho de House consistiu inicialmente em formular um conjunto de hipóteses sobre

as características e comportamentos dos líderes carismáticos que possibilitaram compreender

a adaptação a situações distintas consoante a avaliação da eficácia obtida na execução de suas

funções.

Nesta perspectiva, foram apresentados os comportamentos relacionados à liderança

carismática, traços de personalidade e variáveis situacionais que esclarecem como surgem as

pessoas carismáticas. Referente aos comportamentos, o autor definiu estratégias que visam

ampliar a percepção de carisma pelo grupo, sendo a primeira delas, a habilidade para assumir-

se como modelo a ser seguido tornando claros valores e princípios que refletem seu carisma e

que podem ser compartilhados por todos.

Outra estratégia é adotar ações que aumente a percepção do grupo quanto a confiança

e admiração pelas suas ideias gerando maior aceitação destas. Tão importante quanto este

comportamento é a expressão da visão da organização que convirjam com o pensamento do

grupo e a verbalizações das expectativas do líder sobre o que se espera da equipe mantendo

uma atitude positiva diante dos objetivos e metas planejadas e alcançadas, soma-se isso à

necessidade do líder apresentar bons motivos para a execução da tarefa.

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Alguns atributos de personalidade, também foram apontados como fatores importantes

para identificação destes líderes, são eles: elevados níveis de autoconfiança, tendência para

dominação na relação com o outro, necessidade de influenciar o pensamento das outras

pessoas e certeza quanto ao benefício das suas ideias e modelos éticos e morais (CRUZ,

2007).

Conger (1989), definiu quatro estágios para o desenvolvimento da liderança ao estudar

o comportamento de líderes carismáticos na área de negócios, com foco especial na visão da

organização. O primeiro estágio diz respeito à capacidade do líder em reconhecer

oportunidades, realizar mudanças e formular uma visão sobre essas mudanças. No segundo

estágio, o líder comunica a visão aos seus seguidores, por meio de uma retórica convincente,

esclarece que a visão atual da organização é inaceitável, gerando um entendimento e aceitação

da nova visão. No terceiro estágio constrói uma ideia confiável sobre a visão junto aos seus

seguidores.

No quarto e último estágio, se torna um facilitador ao auxiliar outras pessoas a

alcançarem a visão por meio da liderança e do exemplo, pois se torna um modelo a ser

seguido consoante a descentralização do poder para os seus seguidores. Para Bryman (2009),

os diversos estudos sobre a Nova Liderança sinalizam para mudança de orientação ao

considerar o líder como gestor de significado e por ter na visão o ponto crucial no processo de

liderança.

Para este mesmo autor, as pesquisas que vem sendo realizadas sobre os diferentes

níveis de liderança nos mais diversos contextos têm apontado o carisma e a inspiração como

os elementos do comportamento do líder que estão mais intimamente associados aos

resultados esperáveis como, por exemplo, da performance dos liderados.

Na perspectiva de algumas teorias da Nova Liderança a posição do líder “é entendida

como gestor de significado” (BRYMAN, 2004, p.258) cabendo ao líder indicar para os seus

liderados o que de fato é importante para a organização, criando um senso de direção e de

finalidades que articule uma visão de mundo convincente para os seus seguidores. Nesta

direção Smith e Peterson (1989), compreendem que a eficácia do líder se caracteriza pela sua

habilidade de tornar uma atividade significativa para todos os envolvidos, não de mudar

comportamentos, mas de dar as pessoas o senso de compreensão sobre o que estão fazendo.

Independente sob que enfoque a liderança é compreendida, parece haver consenso

quanto a sua importância para o desempenho efetivo das equipes.

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51

4.3 LIDERANÇA E GESTÃO

O processo de liderança e de gestão não raramente é confundido enquanto sinônimos.

Ballestero (2003), aponta que a principal diferença entre estes dois processos repousa no fato

de que o gerente leva as pessoas a realizarem as coisas enquanto que o líder produz o desejo

nas pessoas em querer realizar as coisas.

O processo de gestão ou supervisão ocorre quando no ambiente organizacional,

pessoas são indicadas ou nomeadas formalmente para liderar pessoas. A liderança caminha na

direção oposta, pois não necessita de organização para que aconteça, é um processo que

ocorre de forma natural e informalmente todas as vezes que uma pessoa é capaz de influenciar

outras, gerando mudanças em seus comportamentos e nas suas atitudes (GILMORE, 2006).

Outro fator que diferencia o gestor do líder além do caráter formal é o seu nível de

responsabilidade em desenvolver as condições necessárias para o desempenho das equipes,

em indicar a direção a ser seguida, em estimular o engajamento dos membros e criar um

ambiente favorável para que haja o compromisso de todos em prol dos objetivos

compartilhados além de promover o aperfeiçoamento continuado (LINS, 2011).

O poder do gerente está no seu cargo na estrutura formal, a do líder, na sua

competência, isto é na estrutura informal (WEBER, 1979). Os métodos do primeiro são

repetitivos e constantes; os do segundo mudam de acordo com a situação e suas exigências. O

processo decisório do gerente obedece à hierarquia e ao poder conferido a ela. O líder decide

para gerar ações e resultados, independentemente da hierarquia. Para o gerente, as pessoas

estão ali para obedecer e cumprir as normas. Para o líder, eles estão ali para se desenvolver e

se realizar. O trabalho para o gerente se traduz na troca econômica; para o líder, além da troca

econômica, é um processo de desenvolvimento cultural (BOTELHO, 1992).

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Quadro 4 - Diferenças entre gerentes e líderes.

Gerência (tradicional) Liderança

Elabora agendas com planos Desenvolvimento de visões e estratégias

Redes de relacionamentos por meio de

hierarquia formal

Redes de relacionamentos convergentes

Ação pelo comando Ação pela inspiração

Rigidez Flexibilidade

Controle Autonomia

Mantém o sistema vigente Gera mudanças úteis, desenvolve

Administra Inova

Focada nos sistemas e estruturas Focaliza as pessoas

Visão limitada Perspectiva ampla

Questiona como e quando Questiona o quê e o porquê

Aceita o status quo Desafia o status quo

Faz corretamente Faz a coisa certa

Fonte: Tolfo (2000 apud BITENCOURT, 2004, p.277).

Para fins desta pesquisa adotou-se a seguinte definição como referência para o que se

está compreendendo como liderança: liderança enquanto processo de interação entre gestor e

liderados, de forma ética, onde ambos são influenciados para o alcance de objetivos comuns.

Esta compreensão parte da concepção que a liderança é socialmente construída à medida que

tanto equipe quanto gestor são ativos no processo.

4.4 A INFLUÊNCIA DOS PROCESSOS PSICOSSOCIAIS NO EXERCÍCIO DA

LIDERANÇA

A partir do XX, com o advento da industrialização e a necessidade de maior

produtividade, o interesse pela compreensão dos processos psicossociais ganhou destaque no

meio acadêmico e organizacional. De lá para cá foram muito os pesquisadores que

escreveram sobre as mais diferentes formas de melhorar o desempenho organizacional

enfatizando a necessidade de adoção de estratégias eficientes e eficazes para alcançar os

melhores resultados (MAXIMIANO, 2000).

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Os estudos desenvolvidos sobre os processos psicossociais apontaram a liderança

como fator fundamental para o bom desempenho organizacional (VROOM; JAGO, 1998). O

tema ganhou destaque tornando foco de interesse de diversos pesquisadores. Enquanto

fenômeno social complexo, tradicionalmente buscou-se compreendê-la em termos de traços

de personalidade, estilos de comportamento e fatores situacionais (BERGAMINI, 1994).

O conjunto destas teorias que aprofundaram os estudos sobre liderança, gerando um

campo consolidado sobre o tema focaram, segundo Bryman (1996), nos seguintes aspectos:

a) o processo de influência do líder e seu impacto sobre os outros, levando-os a se

comportarem de uma maneira especifica; b) este processo de influência é incorporado a

dinâmica de um grupo; e c) o líder influencia o comportamento do grupo em direção aos

objetivos que este precisa alcançar.

A este conjunto de teorias mais tradicionais, nos últimos 30 anos, foram-se

acrescentando novas abordagens sobre o tema no qual, segundo Yukl (2002, p.253), se

focaliza aspectos culturais e identificatórios, onde a liderança passa a ser definida como

"influência nos objetivos e estratégias, influência no comprometimento e consentimento com

relação aos comportamentos necessários para alcançar estes objetivos, influência na

manutenção e identificação do grupo e influência na cultura de uma organização.”

Apesar de um corpo teórico já bastante consolidado sobre o tema, afirmando a

influência e importância da liderança no comportamento e desempenho de determinado

grupo, autores como Smircich e Morgan (1982) e Bryman (1996) têm demonstrado a

necessidade de repensar completamente o processo de desenvolvimento teórico acerca da

liderança, para estes autores é preciso que haja a integração entre as abordagens qualitativas

que concebe a liderança como processo psicossocial determinado pelas interações humanas.

Para Davel e Machado (2001), baseado nas teorias sobre liderança, é possível concluir

que esta, é acima de tudo “um relacionamento, um processo mútuo de ligação entre líder e

seguidor”. Enfatizam ainda que este processo “envolve um relacionamento de influência em

duplo sentido, orientado principalmente para o atendimento de objetivos e expectativas

mútuas”. Nesta perspectiva pode-se afirmar que o cargo de líder por si só, não garante o

exercício da liderança de forma eficaz, os fatores e variáveis internas e externas que

influenciam as interações entre um conjunto de pessoas precisam ser considerados.

Davel e Machado (2001, p.53), argumentam ainda que compreender a liderança sob a

perspectiva de um “fenômeno processual fundamentalmente psicossocial que requer interação

e relacionamento” implica na necessidade do constante exercício de repensá-la e de ajustá-la

às transformações organizacionais.

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54

As relações de influência e de identificação desempenham papel fundamental, à

medida que as organizações e o discurso gerencial difundem cada vez mais a

necessidade de trabalhar em equipe, de cooperar e de inovar continuamente no

desenvolvimento de projetos, serviços e produtos. (DAVEL; MACHADO, 2001, p.

54).

Nesta perspectiva França e Arrelano (2002) afirmam que Liderar é um processo social

em que se exerce influência entre pessoas e no centro deste processo de interação humana

encontra-se o líder e os liderados, um fato e um momento social. Psicólogos sociais afirmam

que o processo de liderança é um caso especial de influência recíproca e cooperativa que

implica uma interação complexa entre o líder, os seguidores e o grupo da qual fazem parte.

Nesta perspectiva pode se dizer que líderes e seguidores se influenciam mutuamente e trocam

recursos visando atingir objetivos pessoais e do grupo.

Depreende-se desta análise que o alcance dos resultados esperados pelas organizações

está condicionado principalmente à qualidade das interações no ambiente de trabalho, o tipo

de comunicação estabelecida entre as pessoas, às circunstâncias em que o as situações

ocorrem e a capacidade de se trabalhar em equipes. França e Arrelano (2002) observam que

na literatura contemporânea há um debate acentuado em torno da necessidade de formação de

equipe e grupos de trabalho com ênfase na alta performance, em que o líder é, sobretudo, um

catalisador de talentos na formação de novas competências assegurando resultados positivos

em ambientes globalizados e competitivos.

Albuquerque e Dutra (apud FRANÇA; ARRELANO, 2002) apresentam algumas

características da sociedade contemporânea que refletem as mudanças internas e externas

pelas quais as organizações vêm passando e que influenciam diretamente no modo de se

pensar a liderança: a) Poder organizacional bem mais diluído em função de novas arquiteturas

organizacionais; b) Processo de globalização que implica na influência de diferentes atores

sociais sobre as organizações; c) Organizações com maior nível de complexidade - Trouxe

como consequência mais exigência em termos de qualificação profissional, conhecimento e

formação do trabalhador e necessidade de líderes eficientes e eficazes.

Para Novo (2013) a eficácia do trabalho ocorre quando há confiança e respeito e

quando se é capaz de eliminar “bloqueios não intencionais” para isso o autoconhecimento é

condição essencial, em especial por parte da liderança. A despeito deste assunto França e

Arrelano (2002) chamam a atenção para o conceito de inteligência emocional tão difundido

pelo psicólogo Goleman na década de 1990. A inteligência emocional se tornou um conceito

bastante debatido e fundamental para compreensão das habilidades de convivência social,

para o autoconhecimento e para administração das próprias emoções. Sucintamente pode se

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55

afirmar que inteligência emocional diz respeito à “capacidade de uma pessoa intuir através de

sentimentos, emoções e sensibilidade social.” (FRANÇA; ARRELANO, 2002).

Conforme apontam essas autoras este processo intuitivo ocorre a partir de fatores

como: autoconhecimento, automotivação, gerência das próprias emoções e das relações com

outras pessoas, empatia e espontaneidade que resultam na “capacidade de compreensão do seu

próprio universo e da realidade em que vive, os valores que possui, o grau de motivação e o

tipo de comprometimento estabelecido com o trabalho e com a organização”. (FRANÇA;

ARRELANO, 2002).

A responsabilidade do líder contemporâneo ao que se observa é muito mais do que

gerir uma organização com sua estrutura de equipamentos de última geração e uma infinidade

de produtos e serviços modernos e de alta complexidade, sua maior responsabilidade é

entender de pessoas é criar estratégias para que os interesses individuais possam convergir

com os objetivos organizacionais e assim levar as pessoas a empreender energia suficiente

para o alcance dos objetivos que passarão a ser de todos.

Segundo Michael Ussem (apud FRANÇA; ARRELANO, 2002) o momento certo para

liderar exige atitudes como: a) visão clara dos objetivos da organização e principalmente

saber compartilha-los a fim de se criar um projeto comum; b) o líder deve orientar suas ações

fundamentadas em seus valores e nos valores da organização; c) deve ter capacidade para

estimular e criar condições concretas para o compartilhamento da informação, conhecimento

e experiências – valorizar a experiência da equipe; d) deve capacitar as pessoas e prepará-las

para situações adversas; e) ser capaz de esperar e cobrar alto desempenho da equipe nas

circunstâncias certas; f) fazer com que as pessoas mantenham foco naquilo que é essencial; g)

conquistar aliados que o apoiem em situações difíceis; e h) coragem para tomar as decisões

necessárias no momento certo.

O processo de liderança é complexo à medida que se lida com pessoas de culturas

diferentes onde comumente os interesses são conflitantes. Compreender a dinâmica do grupo

os papéis que cada membro desempenha dentro deste grupo, valorizando as experiências

individuais e respeitando as diferenças é provavelmente o caminho para desenvolver equipes

de trabalho eficientes.

Considerando que os estudos tem demonstrado que os liderados não são tão passivos

aos líderes como se podia pensar, as perspectivas contemporâneas para a compreensão da

complexa missão de liderar, envolve fundamentalmente a valorização da interação entre

líderes e seguidores e dos fatores psicossociais subjacentes as equipes de trabalho.

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56

4.5 LIDERANÇA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Os estudos de referência sobre a temática da liderança se estabeleceram basicamente

no contexto das organizações privadas, emergindo assim, dúvidas sobre a possibilidade de

aplicação de suas conclusões a realidade da administração pública dada à necessidade de se

considerar aspectos culturais e especificidades deste contexto. Os líderes do setor privado ao

que demonstram os estudos tem maior liberdade de ação do que os líderes do setor público,

apontado assim à necessidade de que as teorias tratem estas singularidades de forma

específica enfatizando suas características e suas medidas (LINS, 2011).

É fato que as organizações públicas são diferentes das organizações privadas, pois

estão submetidas a um campo político difuso e muitas vezes complexa, a uma legislação

rígida e a disponibilidade de recursos públicos (THOENIG, 2007). A diferença encontra-se

também na presença de inúmeros stakeholders que inclui cidadãos, grupos de interesses

variados, dirigentes eleitos pela sociedade, tribunais, mídias em todas as esferas de governo,

clientes imediatos dos serviços oferecidos, organizações dos mais diversos segmentos e

fronteiras políticas ao contrário da empresa privada que possui stakeholders mais bem

definidos (VAN SLYKE; ALEXANDER, 2006).

Sobre isso Hooijberg e Choi (2003), afirmam que enquanto líderes das organizações

públicas estão imersos em uma infinidade de objetivos, com diferentes racionalidades e

interesses, os líderes das organizações privadas trabalham sobre objetivos mais transparentes,

estão focados no lucro, este possui maior facilidade de mensuração ao contrário do

desempenho dos líderes do setor público. Os objetivos a serem alcançados na esfera pública

são mais ambíguos não podem ser avaliados em termos de resultados econômicos para a

organização, expondo o líder a uma multiplicidade de objetivos simultaneamente que deverão

ser alcançados (LINS, 2011).

A rotatividade nos cargos, em função de mudanças administrativas e interesses

políticos, também se apresentam como fatores limitadores do pleno exercício da liderança no

setor público. Para Lins (2011), mesmo com o fato dos líderes do setor público ter mais

segurança no trabalho, há uma alta rotatividade devido ao limite de tempo e as pressões

administrativas e políticas que estão submetidos e que não raro levam a renúncias de suas

funções (cargos de confiança).

Outra característica da Administração pública destacada por Hooijberg e Choi (2003),

que se apresenta de forma diferente das organizações privadas é o alto nível de

responsabilidade, de regras e restrições legais a que os líderes estão submetidos. Van Slyk e

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57

Alexander (2006) chama a atenção para a pouca flexibilidade que os líderes possuem para

lidar com subordinados, fazer correções e principalmente para admitir ou demitir quando

achar conveniente.

No setor público administra-se com base no princípio da legalidade, isto implica dizer

que cabe aos gestores agir de acordo com o que está previsto em lei. Este princípio associado

à burocracia produz um engessamento da maquina pública inibindo a criatividade dos seus

líderes e de suas equipes. Somam-se a isso os arranjos políticos e os interesses pessoais que

anulam a capacidade de líderes competentes. Neste contexto, as formas de contratação dos

trabalhadores, a estabilidade e os cargos políticos são condições que geralmente resultam em

baixa influência dos líderes sobre os seus liderados.

Segundo Lins (2011, p.33) os estudos sobre liderança no setor público centrou-se

basicamente sobre os aspectos da discricionariedade do líder. Em meados do século passado

ainda havia uma dicotomia entre as “decisões ou implementações técnicas atribuídas aos

lideres públicos e as decisões políticas esperadas de seus superiores” sendo praticamente

ignorado o papel discricionário do líder. Segundo a autora, foi somente entre as décadas de

quarenta e oitenta do século passado que se admitiu a interação entre o campo político e o

administrativo implicando numa modesta discricionariedade orientada para a responsabilidade

administrativa.

Van Wart (2003 apud LINS, 2001, p.33) aponta que foi somente na década de noventa

a partir das reformas implantadas no âmbito da administração pública de diversos países é que

ficou clara a necessidade de se discutir a questão da “discricionariedade dos líderes, distribuir

autoridade entre os vários stakeholders e mecanismos de controle.”

Diferenças existem entre a liderança do setor público e do setor privado, mas ao que

parece estas diferenças estão diminuindo. Em virtude dos impactos da economia em nível

mundial e das novas tecnologias, o setor público está constantemente sendo desafiado a rever

suas práticas e responder com maior rapidez as demandas de seus stakeholders o que implica

na mudança do perfil de seus líderes e no seu nível de importância para os avanços das

organizações públicas. No entanto, em que pesem a diminuição destas diferenças entre o líder

da organização privada e da organização pública há especificidades que sempre estarão

presentes na realidade da administração pública, considerado a função social que estas

desenvolvem junto à sociedade.

Lane (1993), ao tratar sobre a relação entre liderança, gestor público e inovação, com

base nos estudos de Blau (1995 apud LANE, 1993), faz uma comparação entre as lideranças

das organizações privadas com as das organizações públicas e ao contrário do que poderia se

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pensar, os resultados revelaram que a segurança, característica dos cargos públicos e a

burocracia podem ser fatores impulsionadores de mudanças organizacionais e sociais, apesar,

conclui o autor, de que a ênfase na inovação estar bem mais presente nas organizações

privadas.

No entanto, gestores públicos podem se interessar pelos problemas de usuários, podem

manter-se atualizados sobre novas tecnologias de programas e melhoria de performance

gerencial (CKAGNAZAROFF, 2002). O autor acrescenta que no âmbito da gestão pública, a

implementação de novos formatos organizacionais por si só podem ser considerados como

inovação, porém, a implementação e a manutenção necessita de posturas por parte dos líderes

que sejam capazes de avalia-los e aprimora-los continuamente.

Resultado de pesquisa realizada por Oliveira, Sant’Anna e Vaz (2010), com ocupantes

de posições estratégicas no setor público dos governos de Minas Gerais e Rio de Janeiro

revelou que a temática da liderança emerge como fator fundamental para a mudança pelas

quais vem passando a gestão pública brasileira. Os resultados permitiram identificar as

competências requeridas ao líder público da atualidade no contexto da nova gestão publica,

são elas: conhecimento da máquina pública; conhecimento jurídico; capacidade de promover

o envolvimento da sociedade; capacidade de lidar com o púbico; objetividade; orientação para

resultados; perspectiva global; relacionamento interpessoal e visão sistêmica. Esses achados

demonstram mudanças das competências requeridas as lideranças do setor que se consideram

ou são reconhecidas como “mais modernas” (OLIVEIRA; SANT’ANNA; VAZ, 2010).

No que tange a inovação na gestão pública e nas políticas públicas promovidas por

governos locais, incluem mudanças não somente no conteúdo das políticas mas

principalmente na maneira como se dá sua formulação e implementação incluindo a

participação de novos atores e novos arranjos institucionais que passam a fazer parte dos

espaços decisórios (FARAH, 2006). Esta realidade reforça os achados de Oliveira; Sant’Anna

e Vaz (2010), quanto a necessidade do líder ter visão sistêmica e perspectiva global da gestão

pública. Para Farah (2006), tais inovações traduzem as novas práticas nas esferas locais de

governo que abrange uma dimensão gerencial com foco na eficiência e na democracia.

4.5.1 Novos líderes públicos: a emergência de profissionais com conhecimento,

habilidades e atitudes

As décadas de 1980 e 1990 foram certamente palco de mudanças importantes na

gestão pública brasileira seja em virtude das crises econômica, social e política da América

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Latina ou da crise de caráter administrativo que obrigaram o Estado a rever seu papel. A nova

realidade, no entanto, revelou sérios problemas de gestão das organizações públicas,

principalmente quanto à má qualidade dos serviços considerados essenciais, oferecidos à

população, como saúde, educação, habitação e segurança, demonstrando a deficiência da

capacidade administrativa do Estado e a necessidade de ruptura com o já defasado modelo

administrativo tradicional (SOUZA, 2002).

Neste contexto de mudanças, a capacidade administrativa da gestão pública se tornou

imperativa. Capacidade esta que se caracteriza pela competência do agente público em

gerenciar a complexidade das novas demandas, originárias de um período de democratização

e desenvolver os processos reformistas estratégicos necessários ao novo cenário que se

apresentou (SOUZA, 2002). Para Ropé e Tanguy (1997), a capacidade administrativa

analisada sob a ótica da competência tem relação direta com a ação e implica conhecimentos,

capacidades, habilidades e atitudes voltadas para o alcance de resultados.

Para Bresser Pereira (1996), a gestão pública precisa de profissionais qualificados que

sejam capazes de pensar os problemas e as soluções como lideres. Fonseca (2002), acrescenta

que estes profissionais devem ser mais politizados e menos tecnocratas. A liderança tem sido

considerada como um atributo fundamental da boa governança pública. Líderes de

organizações públicas precisam saber mobilizar as pessoas com base em valores e visões;

convencê-las e fazer convergir seus esforços em torno de um interesse comum, dessas atitudes

depende o desenvolvimento de uma gestão pública eficiente, focada em resultados, bem

organizada e com prestação de serviços de qualidade (BRASIL, 2002). A liderança figura

entre as variáveis mais importantes para o aperfeiçoamento da capacidade de gestão e

desempenho organizacional, pois assume o papel de integrador dos demais componentes da

gestão.

A despeito da importância da liderança nos setores públicos, apesar das diferenças

claras no que se refere aos atributos exigidos à liderança na área pública e privada, a

administração pública brasileira passou a adotar a partir das reformas, modelos de gestão

muito semelhantes aos adotados por empresas privadas (OLIVEIRA; SANT’ANNA; VAZ,

2010).

Para estes autores na atualidade se registram modelos de gestão pública que focam nos

resultados e na adoção de instrumentos gerenciais. Bresser Pereira (1996), afirma que na

administração gerencial, a formação de profissionais que sejam lideranças capazes de

identificar problemas e soluções, buscar recursos que potencialize a gestão e que tenham

capacidade para criar e fortalecer redes sociais, é pressuposto fundamental. Capacidade

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criadora, atitude empreendedora, práticas gerenciais inovadoras, gestão por resultados e por

competência estão, gradativamente, sendo incorporados ao vocabulário de muitas

organizações da gestão pública brasileira (OLIVEIRA; SANT’ANNA; VAZ, 2010).

Bertero (1976), ao tratar de mudanças organizações no âmbito da gestão pública na

década de 70, já afirmava que estas estão associadas ao processo decisório e se desenvolve a

partir de duas perspectivas complementares que é a alteração da estrutura e a modificação de

cunho comportamental. Para Fonseca (2008), o perfil do novo gestor público mudou, hoje se

exige mais politização e menos tecnicismo distanciando-se da forma tradicional de

administrar no serviço público.

Um exemplo das mudanças que vem ocorrendo nesta direção na Administração

Pública foi a publicação do decreto nº 5.0707/2006 pelo Governo federal, instituindo a

Política e as Diretrizes para o desenvolvimento de pessoal da Administração Pública Federal,

direta, autarquia e fundacional, formulada com base no modelo de gestão por competência

cujo enfoque é o desenvolvimento de conhecimento, habilidade e atitudes compatíveis com os

novos rumos da administração pública (BRASIL, DECRETO Nº 5.0707/2006). Neste decreto

ficou estabelecido que nos programas de desenvolvimento de recursos humanos, as ações

voltadas à habilitação de servidores para atuar em cargos de direção e assessoramento são

prioritárias.

Há ainda outros programas específicos para o desenvolvimento de ocupantes de cargos

de direção em órgãos públicos, previstos em normas e regulamentos. Como exemplo pode-se

citar o Art. 5º da Lei nº 11.416/2006 que se aplica ao Pode Judiciário, onde se exige dos

candidatos a cargos de natureza gerencial a participação em curso de desenvolvimento

gerencial oferecido pelo órgão, estabelecendo inclusive prazo para obtenção da certificação

(BRASIL, LEI Nº 11.416/2006). Para os servidores de carreira do Ministério Público, a PGR

Nº 124/2005, em seu artigo 32 determina que os ocupantes de funções de direção e chefia,

participem, preferencialmente, de no mínimo um evento de capacitação por ano (BRASIL,

PORTARIA Nº 124/2005). No âmbito do Tribunal de Contas da União de acordo com o

anexo I da Portaria ISC nº 8/2008 o Programa de Desenvolvimento em Liderança e gestão

sustentável está voltado para o fortalecimento da gestão sustentável, principalmente aquelas

competências relacionadas à liderança e a gestão.

Resultado de pesquisa realizada pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão

em 2002 (BRASIL, 2002) sobre a temática da liderança no setor público a partir das

experiências práticas de países membros da Organização de Cooperação e Desenvolvimento

Econômico – OCDE revelou que muitos países tem conferido alta prioridade ao assunto ao

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longo dos últimos anos. A importância que vem sendo dada a esta variável foi atribuída a

quatro razões. Uma delas é a mutação do ambiente que requer um novo estilo de liderança.

Elementos como globalização, descentralização e novas tecnologias da informação (TI) se

tornaram básicos para a gestão de governos na contemporaneidade. Neste ambiente de

constantes mudanças, a ênfase maior é sobre a liderança em função da necessidade crescente

de que as pessoas pensem e ajam de modo global e local, exigindo que os líderes se tornem

mais atentos e coerentes em suas ações.

Outro fator que posiciona a liderança como essencial nesses países é o interesse

crescente da iniciativa privada e outros segmentos da sociedade pelo tema em detrimento do

setor público, emergindo a necessidade de reexaminar as estratégias para que surjam mais

líderes públicos, soma-se a isso a necessidade de ampliar a base de conhecimento de suas

atividades possibilitando as pessoas produzirem e compartilharem conhecimento, condição

essencial para as economias baseadas no conhecimento (BRASIL, 2002).

A segunda razão, é que o enfoque da liderança vem mudando ao longo dos tempos. A

eficácia dos líderes atuais se diferencia do estilo de liderança tradicional. Neste, a ênfase era

sobre o comando e o controle, com papeis bem distintos entre líderes e liderados, este modelo,

no entanto, não tem encontrado mais espaço para se manter em meio a uma sociedade

descentralizada, onde o conhecimento tem sido a mola propulsora do desenvolvimento assim

como a interligação presente nas relações. Entre líderes e liderados a relação mudou a

autoridade não é mais absoluta e unilateral, as hierarquias foram achatadas e os líderes

públicos atuais precisam buscar esse envolvimento, não apenas pela obediência ou pelo poder

do cargo mas pela capacidade de influenciar os liderados e torná-los seguidores e acreditar

nas organizações (BRASIL, 2002).

A terceira diz respeito à liderança como uma variável que difere da capacidade

administrativa. Há uma diferença entre os termos liderança e direção apesar de serem

comumente utilizadas como sinônimo. Isto se deve ao fato dos conceitos compartilharem

vários pontos comuns, ambos se assentam sobre estruturas e sistemas institucionais e são

orientados para um melhor desempenho da organização (BRASIL, 2002). A diferença, no

entanto, segundo Jo Brosnahan (apud BRASIL, 2002) é que a liderança está mais voltada aos

atributos relacionados à integridade, visão, capacidade de discernimento e de inspirar os

outros e coragem para inovar, a direção por outro lado foca nos sistemas, processos e

incentivos formais.

A quarta razão refere-se ao fato da nova liderança envolver todos os níveis da

organização. Nos modelos tradicionais de liderança, os líderes eram tratados como pessoas

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raras que gozavam de posições superiores privilegiadas. Os novos modelos de liderança

consideram e envolvem todos os níveis nos processos decisórios, independente do cargo e das

atribuições.

Pode-se extrair destes dados que dentre as mudanças ocorridas a partir das Reformas

do Estado, há a emergência de mudanças no estilo de liderança dos gestores públicos,

mudanças estas que sejam capazes de fazer frente aos desafios da nova gestão pública.

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5 MODELO DE PESQUISA

Desenvolver pesquisa onde o objeto de estudo é complexo sempre se corre o risco de

deixar lacunas quanto ao enfoque delineado e limitações no seu alcance dadas as propriedades

características do objeto de estudo, apesar dos esforços do pesquisador para evitar que isto

ocorra (FARIAS FILHO, 2005). A preocupação do autor diz respeito às pesquisas em que o

Estado é o objeto de estudo. A despeito dos governos subnacionais, há de haver também este

cuidado dada as complexidade inerente a gestão pública em nível local, em especial aos

aspectos legais que podem se apresentar como limitadores da análise quanto a autonomia e

criatividade dos gestores públicos. Soma-se a isto o fato de que são poucas as pesquisas que

abordam a relação entre as categorias conceituais inovação e liderança no contexto da gestão

pública, exigindo um exercício maior de análise.

Estava posto então três grandes desafios para este trabalho: O primeiro deles era

identificar em organizações de governos locais, objeto deste estudo, práticas inovadoras. Para

fins desta pesquisa adotou-se a perspectiva da inovação enquanto prática voltada para

eficiência da gestão pública e enquanto processo democrático (político e social) de ampliação

da cidadania (FARAH, 2006). Tanto as criações originais de um determinado município

quanto à adoção de inovações criadas originalmente em outras localidades foram consideradas

como inovações (FARAH, 2006).

Para a autora a inovação pode ser considerada ainda como uma resposta a um desafio

ou dificuldade, que pode ser benéfica a outras pessoas ou organizações (FARAH, 1997),

como parte de um conjunto de possibilidades a serem consideradas por quem possui

problemas semelhantes contrariando a ideia de que a inovação seja uma solução fechada que

encerra em si mesmo, esta é processual e está em constante transformação (FARAH, 2006).

O segundo desafio foi identificar o estilo de liderar dos gestores públicos, com base

nos modelos tradicionais de liderança e sob a perspectiva da nova liderança. E por fim avaliar

a relação entre o estilo de liderança dos gestores públicos locais e a inovação implantada

durante sua gestão.

As correntes teóricas que serviram de base para o estudo foram as teorias sobre

liderança, com ênfase na teoria da Nova Liderança e a inovação na perspectiva da democracia

e da eficiência da gestão pública.

A pesquisa é de natureza exploratória e descritiva considerando que os dados foram

obtidos mediante contato direto e interativo com a situação objeto de estudo. A pesquisa

qualitativa considera o mundo de significados, causas, anseios, crenças, valores e atitudes, o

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que caracteriza maior profundidade das relações, dos processos e dos fenômenos pesquisados

(MINAYO, 2001).

Godoy (1995), aponta algumas características, consideradas essenciais na identificação

de uma pesquisa qualitativa: a) o ambiente natural como fonte direta de obtenção de dados e o

pesquisador como instrumento basilar; b) estilo descritivo; c) a preocupação do pesquisador

com o sentido que as pessoas dão as coisas e as suas vidas; d) enfoque dedutivo e; e) Processo

como enfoque principal da abordagem.

5.1 UNIVERSO, AMOSTRA, POPULAÇÃO, FONTES E OPERACIONALIZAÇÃO

O primeiro passo foi identificar os municípios considerados mais importantes para o

estado do Pará, em termos econômicos, além de similaridades. Dois municípios foram

selecionados: Castanhal e Paragominas. Grandes disparidades neste segmento poderiam vir a

ser apontado como fator limitador de implantações de práticas e processos inovadores. Foram

considerados os indicadores de PIB, número de habilitantes e localização.

O terceiro critério diz respeito ao tempo em que os gestores permaneceram no cargo.

A pesquisa trabalhou somente com os municípios em que os gestores permaneceram no cargo

por dois mandatos consecutivos. A temporalidade na perspectiva do estudo qualitativo supõe

um corte temporal-espacial, delimitando o campo e a dimensão do trabalho, posicionando o

território a ser mapeado (MINAYO, 2001). Para este estudo o fator tempo é de extrema

importância para medir a eficiência e efetividade de uma prática ou processo considerado

inovador. O período de avaliação compreende então os anos de 2005 a 2012.

O quarto critério diz respeito às ações consideradas inovadoras. Identificar

antecipadamente, ainda que de forma empírica, que havia nestes municípios práticas ou

processos inovadores era fundamental para legitimar a sua seleção. Para obtenção destas

informações recorreu-se à fontes como jornais de grande circulação no Estado, site do

governo estadual e dos próprios municípios e relatos de pessoas que conhecem o Estado.

Após a definição destes critérios, foi selecionado um terceiro município, este por

adesão aos critérios primeiros e por acessibilidades aos dados. Neste caso, o município

selecionado foi Óbidos. Os três municípios estão situados em regiões bem diferentes em

termos de cultura, tempo de existência e relações com a capital (FIGURA 4).

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65

Figura 4 – Mapa das regiões do Estado do Pará.

1 Município

1 Município

1 Município

Fonte: Googlemaps adaptado pela autora (2013).

5.2 CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO

Os três municípios escolhidos para que suas organizações participassem da pesquisa

foram Paragominas, Castanhal e Óbidos.

Entre os municípios paraenses alguns se destacam por iniciativas consideradas

criativas e inovadoras. O Município de Paragominas, localizado na região nordeste do Estado

do Pará, com uma população em torno de 97.819 mil habitantes, sempre fora conhecido pelo

alto índice de desmatamento de suas florestas. Há aproximadamente cinco anos aparecia em

primeiro lugar entre os municípios que mais desmatavam no Brasil. Após criar o projeto

“Paragominas Município Verde” esta realidade ao que parece mudou ou estar mudando.

Passou do primeiro lugar do ranking de desmatamento para a 3ª posição, apresentando

resultados econômicos e ambientais positivos (PREFEITURA MUNICIPAL DE

PARAGOMINAS, 2013). Jornais de grande circulação do País escreveram o seguinte, sobre o

assunto:

Apenas um município da lista dos 43 maiores responsáveis pelo desmatamento da

Amazônia conseguiu deixar a lista em 2010. Paragominas, no nordeste do Pará, foi a

única cidade que conseguiu reduzir o desmatamento de forma significativa e

implementar o Cadastro Ambiental Rural (CAR) em pelo menos 80% das

propriedades. (LOURENÇO, 2010, p.20).

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66

O instituto Ethos de empresas e responsabilidade social publicou em seu site, matéria

sobre o assunto com o seguinte título Paragominas: de “capital do desmatamento” a “cidade

verde” (INSTITUTO ETHOS, 2013). Os dados apontam que o município nos últimos cinco

realizou uma série de mudanças que repercutiu positivamente em nível local, regional e

nacional.

Castanhal também está entre os municípios paraenses que ao que indica tem avançado

em termos de implementação de políticas públicas. O município possui uma localização

privilegiada fica há 65 quilômetros da capital, possui aproximadamente 173.149 mil

habitantes e está entre as cinco principais cidades do Pará, se posiciona como metrópole da

região Nordeste do Estado (PREFEITURA MUNICIPAL DE CASTANHAL, 2013). Segundo

dados colhidos informalmente de servidores e moradores da cidade, a gestão local nos últimos

dois anos investiu significativamente em políticas de saúde, educação, esporte e geração de

emprego e renda com a implantação do Polo Industrial de Castanhal.

O município de Óbidos encontra-se no outro extremo do Estado, localizado a margem

esquerda do Rio Amazonas, fica há 1.100 quilômetros da capital, Belém. Ao contrário de

Paragominas e Castanhal a principal via de acesso ao município é por meio fluvial. A

economia do município é basicamente a fibra de juta, a castanha do Pará e a pesca, a cidade

conta com um porto fluvial com capacidade para atracação de grandes navios para o

escoamento da produção. Suas principais atrações turísticas são as construções do século

XVII o que a tornou conhecida como a “mais portuguesa das cidades do Estado do Pará”.

Considerando que a proposta da pesquisa não é estudar a gestão pública dos governos

locais como um todo, mas práticas consideradas inovadoras de algumas organizações

específicas tornou-se necessário estabelecer prioridade também para escolha destas

organizações.

Inicialmente seriam prioritárias as organizações da área da saúde, considerando que no

Brasil, as políticas públicas de saúde de acordo com a Constituição Federal (1988) estão

fundamentadas nos princípios de universalidade e equidade no acesso aos serviços de saúde e

pelas diretrizes de descentralização da gestão, de integralidade do atendimento e de

participação popular, afirmando um dos requisitos básicos para inovação tratado neste estudo

que é a ampliação da cidadania. Além da saúde, a área da educação e assistência social

também teria prioridade, por gerir políticas públicas complexas e essenciais para

governabilidade dos municípios e para a sociedade. A premissa de que não bastava encontrar

práticas inovadoras qualquer, e sim interessava identificar práticas com grande potencial de

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mudanças nas outras áreas e as três áreas sociais foram consideradas as mais impactantes para

a sociedade.

No entanto, no processo de busca pelas inovações, as Secretarias Municipais de

Educação se destacaram por apresentar práticas mais estruturadas, politizadas e duradouras.

Nas outras duas áreas sociais, não foram identificadas tais práticas.

Definiu-se então que a pesquisa seria feita somente nas Secretarias Municipais de

Educação dos Municípios. Foram adotados dois indicadores para identificação de práticas

inovadoras, fundamentados nos princípios da democracia e da eficiência da gestão pública.

a) Integração das ações e políticas públicas. Este indicador apontará a mudança no

modo de atuação dos gestores públicos o que implica na melhoria de desempenho

organizacional e profissional a fim de alcançarem os melhores resultados. Desenvolver

práticas que superem a setorialização das políticas públicas, tradicionalmente fragmentadas,

através da implementação de ações integradas e transversais sinaliza para uma visão moderna

sobre o processo de gestão (FARAH,1997).

b) Gestão descentralizada e participativa: Este indicador demonstrará se houve a

participação de trabalhadores, sociedade civil e ou outros parceiros no planejamento e

implantação das práticas consideradas inovadoras. A presença dessas mudanças refletem

transformações no modelo de gestão tradicional, predominante na esfera pública e

consequentemente mudanças nas relações entre o Estado e o cidadão (FARAH,1997).

5.3 FASES DA PESQUISA E INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

A pesquisa foi realizada em três etapas, a primeira, de natureza exploratória, teve

como objetivo identificar quais organizações públicas (secretarias municipais, fundações e

autarquias) dos municípios escolhidos adotaram práticas consideradas inovadoras e exitosas

no período de 2005 a 2012. Após a identificação das organizações, somente uma ou no

máximo duas organizações por município seriam selecionadas para participar da pesquisa.

Para tanto foram realizadas visitas aos municípios de Castanhal e Paragominas, com

exceção do município de Óbidos onde a pesquisa foi realizada adotando outros procedimentos

que serão discriminados ao longo da metodologia. O contato e agendamento com aqueles

municípios foram feitos via telefone e e-mail, com antecedência mínima de uma semana antes

da visita ao município. O ofício com a solicitação de autorização para realizar a pesquisa era

entregue pessoalmente no momento da visita ao gabinete da prefeitura do município e aos

gestores das organizações. Para acessar os municípios e suas organizações de forma ágil e

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prática, a pesquisadora recorreu a contatos informais com servidores indicados por pessoas de

seu círculo de amizade.

Nesta fase foi utilizado como instrumento de coleta de dados, questionário semi

estruturado para ser preenchido pelos coordenadores dos projetos com indicativos de

inovação. Este instrumento continha vinte e uma questões, oito sobre dados gerais do

participante e da organização, três sobre a existência de alguma prática que considerava

inovadora e dez questões relacionadas às especificidades e atributos desta prática como:

processo de criação, planejamento e implantação; atores que participaram do processo; tipos

de mudanças e resultados significativos para a gestão e ou para a sociedade ocorridos após sua

implantação; premiações recebidas; existência de documentos como relatórios, vídeos ou

outros que comprovavam o êxito da prática (APÊNDICE A).

Após esta fase foi identificado que as secretarias municipais de educação foram as

organizações que apresentaram práticas que mais preencheram os requisitos estabelecidos

neste trabalho, com base nos indicadores definidos a priori, sendo, portanto, escolhidas para

participarem da pesquisa. Ainda nesta etapa, realizaram-se consultas e análise de projetos,

relatórios, vídeos e imagens sobre estas práticas bem como visitas aos locais de implantação

das práticas (escolas) das cidades de Paragominas e Castanhal, conversas informais com

servidores que atuavam diretamente nestas organizações, como professores e merendeiras.

Na cidade de Paragominas duas práticas inovadoras foram escolhidas, Gestão

Eficiente da Merenda Escolar e Gestão Ambiental no Município Verde. Em Castanhal foi

escolhido também a Gestão Eficiente da Merenda Escolar e em Óbidos a Escola de Tempo

Integral.

Após identificar a prática inovadora inicia a segunda etapa da pesquisa onde foi

utilizado questionário fechado, com base na escala de Likert, contendo 45 afirmações, com o

objetivo de aferir opiniões sobre o estilo de liderança adotado pelos gestores municipais das

secretarias municipais de educação e sua relação com as práticas e processos considerados

inovadores (APÊNDICE B).

As quarenta primeiras afirmações foram formuladas com base nos estilo de liderança

autoritária, democrática, situacional e transformacional consubstanciadas nos aportes teóricos

sobre liderança que fundamenta este trabalho. Faz-se necessário, no entanto, uma explicação

sobre a escolha destes quatro estilos em detrimento de vários outros. São muitas as teorias que

procuraram explicar o fenômeno da liderança, no entanto, algumas delas, dada a consistência

de suas pesquisas e a aplicabilidade de seus resultados, se legitimaram, ganhando

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credibilidade entre os estudiosos do assunto, o que as tornam sempre atuais na análise do

perfil de líderes.

Diante disto e dada à popularidade da teoria do estilo de liderança no meio

organizacional buscou-se por meio desta pesquisa identificar duas orientações de

comportamento bastante conhecidas e encontradas nas organizações que é a liderança

democrática e a autoritária. A primeira delas está focada no funcionário e voltada para as

relações humanas e a segunda focada na produção com ênfase na tarefa (HERSEY;

BLANCHARD, 1986).

Na mesma direção da teoria do estilo de liderança, a abordagem contingencial se

destacou ao colocar os fatores situacionais no centro de qualquer entendimento de liderança,

especificando as variáveis situacionais que moderarão a efetividade das diferentes abordagens

de liderança (BRYMAN, 2009). Acredita-se que um bom líder é capaz de adaptar seu estilo

de comportamento as necessidades dos liderados e a situação, portanto, considerando as

especificidades do serviço público, parece bastante provável que os líderes necessitem desta

habilidade para exercer sua liderança em organizações públicas o que justifica a escolha em

trabalhar também com a identificação do estilo situacional.

E por último, o estilo transformacional foi escolhido porque se fundamenta em teorias

mais contemporâneas sobre liderança se distanciando das concepções tradicionais, o conceito

de liderança é ampliado, passando a ser compreendido como a capacidade de modificar o

comportamento das pessoas pela interação que acontece entre o líder e seus seguidores

(BASS, 1985). As três teorias, apesar das diferentes abordagens, se complementam

possibilitando uma interpretação mais rica dos dados.

As afirmações foram feitas a partir das seguintes dimensões: a) imagem que os

liderados possuem do seu líder; b) estratégias utilizadas pelo líder para motivar sua equipe; c)

tomada de decisões; d) nível de consideração e confiança nos liderados visando elevar o

potencial de desempenho da equipe; e) nível de estimulação intelectual para autonomia dos

liderados diante de novos desafios e enfrentamento de problemas. As quatro últimas

afirmações tratavam da relação entre as práticas inovadoras e o estilo de liderança adotado

pelos gestores, analisando o nível de importância e influência do líder na implantação das

práticas inovadoras.

Foram utilizados cinco níveis de respostas com o seguinte formato: a) Discordo

totalmente; b) Discordo c) Nem concordo, nem discordo; d) Concordo e e) Concordo

totalmente. Os dados obtidos nos dois últimos níveis, isto é concordo e concordo totalmente é

que definiu o estilo predominante de liderança.

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Os participantes desta etapa da pesquisa foram os coordenadores dos projetos

considerados inovadores, servidores ocupantes de cargos efetivos, por no mínimo oito anos

consecutivos, e que desempenham suas funções na área de implantação da prática. Servidores

contratados ou temporários, só participaram da pesquisa, aqueles que estiveram ou estavam

diretamente envolvidos com a prática desde a sua implantação.

A terceira etapa da pesquisa de campo teve como sujeitos, os gestores municipais, isto

é, os próprios secretários municipais de educação e ex-prefeitos que estiveram no cargo no

período que compreende a pesquisa. O objetivo desta etapa era aferir suas opiniões sobre o

papel do líder e o nível de importância e influência do estilo de liderança na gestão pública

municipal para implantação de práticas consideradas inovadoras. Para garantir o anonimato

dos participantes, os gestores serão identificados como A, A1 (Castanhal), B, B1

(Paragominas) e C, C1 (Óbidos).

Para a coleta de dados junto a esses agentes públicos, foi utilizado como instrumento

de pesquisa a entrevista estruturada contendo cinco perguntas sobre o processo de liderar

permitindo identificar se o gestor se considera um líder e como percebe a influência do líder

no processo de criação, implantação e êxito das práticas inovadoras de seus municípios

(APÊNDICE C).

Dentre as várias modalidades de entrevista, foi utilizada a entrevista estruturada do

tipo focalizada porque aborda as questões relacionadas à temática de forma aberta, deixando o

entrevistado à vontade para discorrer sobre os temas, da maneira que considerar conveniente.

Essa modalidade de pesquisa aprofunda a investigação, pois o entrevistado possui liberdade

para tratar os temas o que contribui para que suas verbalizações sejam espontâneas e fluam

livremente (TRIVIÑOS, 1987).

Participaram desta fase da pesquisa dois secretários municipais de educação de

Paragominas e Óbidos, considerando que o secretário municipal de educação de Castanhal

faleceu no ano de 2011, além dos ex-prefeitos de Castanhal e Óbidos que governaram os

municípios no período de 2005 a 2012. O contato com o ex-prefeito de Paragominas não foi

possível em virtude de sua agenda de Secretário de Estado encontrar-se sempre muito lotada.

A coleta de dados junto ao Município de Óbidos, considerando o difícil acesso, foi

realizada em grande parte via email e telefone. A entrevista, no entanto, com o ex-prefeito da

cidade foi realizada pessoalmente na capital do Estado, onde reside atualmente.

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71

Figura 5 – Fluxograma da Pesquisa.

Fonte: Da autora (2013).

Objeto da Pesquisa e

Unidade de Análise

Coleta de dados oficiais e empíricos sobre os

municípios

Municípios Paraenses

Critérios

1. PIB e PIB Per capita

2. Nº /habitantes

3. Localização

4. Dois mandados consecutivos

2005-2012

Secretarias

Educação

FASE EXPLORATÓRIA

Identificação das práticas inovadoras

Técnicos e Coordenadores das práticas inovadoras

População Alvo

Preenchimento de questionário semi

aberto

FASE DESCRITIVA

Análise do estilo de liderança dos gestores

Seleção dos municípios (Castanhal , Paragominas e

Óbidos )

Contato oficial com os municípios

(ofícios, email’s, telefones e visitas)

Servidores efetivos (8 anos no cargo )

OBS: Temporários

Técnicos e Coordenadores das práticas inovadoras

Secretários Municipais e Ex prefeitos

Análise dos dados e seleção das organizações

para a próxima fase

Escala LIKERT – 45 afirmações

Realização entrevista semi dirigida

Análise e discussão dos dados

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72

5.4 ANÁLISE DOS DADOS

A análise e discussão dos dados foram feitas sob a perspectiva do método qualitativo,

permitindo evidenciar os elementos contextuais, percepções dos entrevistados acerca das

práticas inovadoras implantadas nos municípios e sua relação com o estilo de liderança.

As respostas objetivas foram aplicadas tratamentos estatísticos, cujos resultados

permitiram complementar e aprofundar as interpretações das tendências qualitativas

observadas na análise das entrevistas para o conjunto da amostra, confirmando-as ou

confrontando-as. As análises de todos os instrumentos de coleta de dados serão realizadas de

forma distinta para que seja possível comparar as opiniões dos gestores municipais e dos

servidores públicos.

As respostas ao problema de pesquisa serão obtidas por meio do cruzamento dos

dados deste conjunto de análise e dos vários elementos que compõem a teoria elaborada para

fundamentar esta pesquisa

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73

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Esta seção trata da análise dos resultados obtidos com a realização da pesquisa de

campo onde se utilizou três instrumentos para coleta de dados, conforme especificados na

seção 3 que discute sobre a metodologia. Complementando estas informações faz-se

necessário seguir uma explanação sobre as etapas da pesquisa e o tratamento dos dados.

Considerando que a pesquisa se deu em três etapas, onde a primeira buscou identificar

práticas consideradas inovadoras nas secretarias de educação de municípios Paraenses, a

segunda a identificação do estilo dos líderes que estiveram à frente destas organizações no

período de implantação destas práticas (2005 a 2012), e a terceira a percepção dos gestores

sobre o processo de liderar, sua importância e influência sobre a implantação de práticas

inovadoras, os dados também serão tratados seguindo esta mesma lógica de interpretação e

análise.

Serão analisadas primeiramente as práticas consideradas inovadoras por Secretaria de

Educação de cada município, com base nos indicadores de descentralização, participação e

integração das ações. No segundo momento serão apresentados os resultados da análise dos

dados sobre o estilo de liderança e sua relação com a implantação das práticas inovadoras e a

percepção dos gestores sobre o processo de liderar.

6.1 PRÁTICAS INOVADORAS NAS SECRETARIAS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO DE

MUNICÍPIOS PARAENSES

6.1.1 Município de Paragominas: Gestão Eficiente da Merenda Escolar

O município de Paragominas, no período de 2005 a 2012 foi governado por um gestor

pertencente ao PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro, A Secretaria de

Educação ficou sob a responsabilidade de uma mulher, formada em direito e que ainda

permanece no cargo na atual gestão, que não pertence ao PMDB mas um Partido da base

aliada local.

O governo Federal em âmbito nacional tem incentivado os governos subnacionais a

gerir de forma eficiente a merenda escolar em seus municípios. Para tanto, criou o Programa

Nacional de Alimentação Escolar – PNAE cujo objetivo é atender às necessidades

nutricionais de crianças e adolescentes durante sua permanência na escola, cooperando para o

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crescimento, o desenvolvimento e o rendimento escolar dos alunos, assim como para a

aquisição de hábitos alimentares mais saudáveis.

Incentivado por este programa e pelo concurso realizado em nível nacional pela ONG

“Ação Fome Zero”, uma organização não governamental que representa um conjunto de

organizações e empresários empenhados em contribuir para o desenvolvimento social

sustentável, que lançou em 2004 o Prêmio Gestor Eficiente da Merenda Escolar, diversos

municípios passaram a rever suas práticas relacionadas à qualidade da merenda oferecida nas

escolas. Desde então, a Secretaria de Educação de Paragominas passou a desenvolver uma

política voltada para a qualidade na alimentação escolar e atualmente o município se destaca

como o mais premiado nesta categoria em nível nacional.

Figura 6 - Prática Inovadora.

MERENDA ESCOLAR

Descentralização e Participação Ações integradas

Ação descentralizada do

Gabinete da Secretaria de

Educação para as

Coordenações de Alimentos e

Suprimentos e para as

Escolas

Participação de

trabalhadores como:

Professores, nutricionistas,

merendeiras, pais de alunos e

agricultores familiares

Ações integradas com a

Secretaria de Agricultura,

Saúde e Meio Ambiente

Parcerias com o SEBRAE

e EMATER

PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DA PRÁTICA INOVADORA

PREMIAÇÃO: Premiado por nove vezes consecutivas pelo Governo Federal

Gestão eficiente da merenda escolar Introdução de agricultura familiar na produção dealimentos para merenda escolar; Criação de hortas escolares Valorização dos trabalhadores

Fonte: Da autora (2013).

Até o ano de 2004 a base da alimentação nas escolas de Paragominas era de origem

industrializada e semipronta. No ano de 2004 o município inovou ao introduzir, independente

de Lei Federal, a agricultura familiar no processo de produção dos alimentos que seriam

consumidos pelos estudantes. Além do arroz, feijão, macarrão e outros alimentos obrigatórios

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do cardápio da merenda escolar, os estudantes passaram a consumir frutas, legumes e

verduras.

[...] Até o inicio do ano de 2004 a base da alimentação eram formulados (produtos

industrializados/semiprontos), após junho de 2004 atingimos a meta do FNE que é

introdução de 70% dos produtos básicos como arroz, feijão, macarrão entre outros

na merenda escolar [...]. (PREFEITURA..., [20--])

Com apoio do SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas

Empresas, Secretaria de Agricultura e da EMATER – Empresa de Assistência Técnica e

Extensão Rural pequenos agricultores da região receberam treinamento especializado e

educativo centrado na expansão e fortalecimento da agricultura familiar visando qualificá-los

e adequando suas produções a necessidade do município ao mesmo tempo, em que se

assegurava a melhoria da qualidade de vida e a construção do pleno exercício da cidadania

fortalecida na valorização no trabalho em cooperativas e associações.

Gradualmente, a prefeitura passou a comprar diretamente do pequeno produtor os

alimentos que seriam servidos nas cantinas das escolas de Paragominas. Com as premiações

vindas desde o primeiro ano do concurso, a relação com a agricultura familiar apontava que

este era o caminho para o sucesso na qualidade da merenda. Essa mudança de concepção

trouxe melhorias não somente para a qualidade da merenda servida nas escolas, mas também

para a economia do município, pois estes agricultores até o ano de 2004 não tinham para

quem vender sua produção, dependiam das feiras livres locais e quando não conseguiam

vender toda sua produção, esta ia parar no lixo.

Diante das novas perspectivas, os agricultores passaram a se organizar em Associações

e Cooperativas. São 63 famílias atualmente beneficiadas pelo novo sistema de produção e

comercialização da agricultura familiar. Com a parceria estabelecida com a Prefeitura, a

produção tem destino certo e retorno imediato. O impacto desta mudança na vida destas

famílias é refletido através do aumento e melhoramento da produção que vem ocorrendo

todos os anos e do seu poder aquisitivo.

[...] Com a introdução da agricultura familiar, os agricultores locais também foram

evoluindo [...] se organizaram em associações e cooperativas e se documentaram

com suas aptidões oficiais [...]. (PREFEITURA..., [20--])

[...] As pessoas melhoraram de vida, todos evoluíram na renda per capta, alguns já

conseguiram comprar seu próprio carro e ampliar sua produção, enfim, houve

mudanças significativas na vida destas famílias com certeza [...]. (Informação

verbal)1

1 Entrevista concedida pela Coordenadora do Programa em agosto de 2013.

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76

(...) Os agricultores agora possuem renda certa, sabem que podem vender para a

prefeitura e isso gera compromisso por parte dos agricultores e uma parceria

saudável, onde todos são beneficiados (...). (Informação verbal)2

No ano de 2004, somente 18 mil alunos eram atendidos com a merenda escolar,

atualmente são 32 mil estudantes contemplados, isto coresponde a todas as 84 escolas do

ensino regular da zona urbana e rural, 02 creches existentes no município, além de todas as 06

escolas indígenas, dos alunos do Programa de Jovens e Adultos – EJA, do Programa Mais

Educação e Alfabetização Paragominas.

Com a abrangência do programa da merenda escolar o número de manipuladores de

alimentos aumentou de 60 para 153 funcionárias. Estas funcionárias recebem anualmente

capacitação, participam de ações que visam o reconhecimento e a valorização do seu trabalho

como a inclusão de 15% a mais sobre o seu salário como forma de gratificação, participam

anualmente de jantar em homenagem a todas as funcionárias com distribuição de brindes e

prêmios.

Neste contexto, o trabalho dos nutricionistas é criterioso, controla todo o processo de

produção da merenda que vai desde o pré-preparo, preparo e distribuição. Estes profissionais

também são responsáveis pelas capacitações, trabalhos educativos, perfis nutricionais, higiene

dos alimentos, higiene pessoal e do ambiente, armazenamento e conservação dos alimentos.

Nesta perspectiva de melhoria da qualidade de vida de forma sustentável, a estrutura física das

escolas também vem sofrendo modificações para adequarem as normas de higiene e

manipulação dos alimentos, conforme estabelece o Fundo Nacional de Desenvolvimento

Escolar – FNDE e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA.

[...] Muitas escolas passaram por reformas visando oferecer um ambiente adequado

para o aprendizado do aluno. A preocupação não é somente com a merenda de

qualidade, mas com um ambiente escolar saudável e estimulante. Toda a equipe da

escola desde o porteiro a Diretora tem a responsabilidade de conservar este ambiente

e fazer o melhor pela escola. Na hora da merenda, vou para a cozinha para ter

certeza que tudo está ocorrendo dentro dos padrões e muitas vezes coloco a mão na

massa mesmo [...]. (Informação verbal)3

[...] Nossas escolas foram adaptadas, não foi somente a parte da cozinha que passou

por reformas, mas todos os espaços físicos. A preocupação vai desde a escolha da

pintura, aos espaços de lazer para as crianças [...]. (Informação verbal)4

[...] A preocupação com a higiene vem em primeiro lugar, para isso, investiu-se em

compra de equipamentos e em capacitação do pessoal que trabalha diretamente com

a merenda escolar [...]. (Informação verbal)5

2 Entrevista concedida por Técnico do Programa em agosto de 2013.

3 Entrevista concedida pela Diretora de Escola em agosto 2013.

4 Entrevista concedida pela Professora do 4º ano em agosto 2013.

5 Entrevista concedida pela Professora do 7º ano em agosto 2013.

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Realiza-se ainda anualmente ações de educação alimentar com os estudantes e

avaliação do perfil nutricional cujos resultados tem apresentado padrão de normalidade. Outra

iniciativa importante adotada pelo Município para melhoria da gestão da merenda escolar é o

Projeto da Horta Escolar que foi construído com a participação dos alunos e de suas famílias.

Esta iniciativa tem contribuído para o aumento do nível de conscientização da comunidade

local acerca da importância de uma alimentação saudável e autossustentável além da garantia

de hortaliças e leguminosas no cardápio da escola diariamente.

Ao longo de nove anos de criação do programa de melhoria da gestão da merenda

escolar, o município de Paragominas recebeu o Prêmio de Gestor Eficiente da Merenda

escolar nove vezes, isto é, desde a criação do concurso, o município foi premiado todos os

anos.

(...) As premiações do Prêmio Gestor Eficiente da Merenda escolar foi consequência

de todo esse trabalho que envolve valorização profissional das merendeiras,

eficiência, educação alimentar e nutricional, agregado a cultura local, participação

social, merenda indígena e quilombola, valorização da agricultura familiar entre

outros (...). (PREFEITURA..., [20--])

Os resultados encontrados acerca do Programa de melhoria da gestão da merenda

escolar permitiu classificá-lo como uma prática inovadora à medida que a Secretaria de

Educação criou alternativas criativas para enfrentar os desafios propostos pelo Prêmio Gestor

Eficiente da Merenda Escolar, não se limitando somente a mudança de cardápio nas escolas.

Ao contrário disso, a Secretaria de Educação viu no concurso a possibilidade de mudar

concepções de crianças, jovens, adultos, pais, professores e da comunidade em geral acerca da

importância dos hábitos alimentares para o desenvolvimento e crescimento saudável dos

estudantes, mas também mudar a realidade econômica e social de muitas famílias.

6.1.2 Município de Paragominas: Educação Ambiental no Município Verde

O município de Paragominas foi pioneiro em aderir ao Projeto “Município Verde”

lançado pelo governo federal para os municípios da Amazônia entre os anos de 2007 e 2008,

cujo objetivo era fomentar a geração de riqueza sem desmatamento utilizando os recursos

disponíveis de forma criativa, garantindo assim o desenvolvimento local sustentável. Para

alcançar os objetivos propostos o gestor municipal contou com o apoio de diversas

organizações locais e da sociedade civil para aderir ao pacto pelo desmatamento zero.

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Após cinco anos do inicio do projeto, os resultados tem apontado mudanças profundas

no modo de se pensar e gerir o meio ambiente no município, como: a) Paragominas foi o

primeiro município a ser retirado da lista do Ministério do Meio Ambiente dos municípios

que mais desmatam na Amazônia, b) a taxa percentual do desmatamento em relação a área

total do município foi reduzindo progressivamente anualmente: 0,30% em 2008; 0,15% em

2009; 0,17% em 2010 e 0,032% em 2012; c) o município conta atualmente com 66,45% de

todo seu território em floresta nativa que são consideradas áreas protegidas; foram instituídos

11 hectares como Parque Ambiental Municipal de Paragominas, uma área verde que tem

função ambiental e social para a comunidade local; d) A cidade conta com um programa de

reflorestamento que planta aproximadamente 10 mil árvores por ano, por meio de processos

de produção sustentável, isto é sem recursos originários do desmatamento. (PREFEITURA...,

[20--]). Nesta perspectiva tem se tornado exemplo de sustentabilidade na prática.

Para além da necessidade de acabar com o desmatamento, havia a necessidade de se

pensar na geração futura, pensar em como garantir que o município não retrocedesse e esta

garantia só seria possível através do investimento prioritário na educação. Implantou-se então

a educação ambiental para 30 mil alunos de suas escolas. É desta experiência que surgiu no

interior da Secretaria de Educação do Município que será tratada neste trabalho como uma

prática considerada inovadora.

A preocupação, no entanto, da gestão municipal com uma política educacional

permanente voltada à prática da educação ambiental na rede pública municipal de ensino

surgiu em momento anterior a este cenário de mudanças voltadas para o Município Verde. No

ano de 2005 foi criada a Coordenação de Educação Ambiental (CEA) no interior da Secretaria

Municipal de Educação (SEMEC) cujo objetivo era implementar, desenvolver e garantir

ações educativas voltadas para as questões ambientais em todos os níveis e modalidades de

ensino do Município.

As ações desenvolvidas neste período incluíam: implantação do paisagismo nas

escolas e entorno; promoção de palestras e culminâncias alusivas a datas comemorativas em

destaque no calendário ambiental (dia da árvore, dia da água, dia mundial do meio ambiente

etc.); realização anual da semana municipal de meio ambiente.

Essas ações, no entanto, revelaram-se insuficientes para trabalhar de forma transversal

e permanente a questão ambiental nas escolas. Diante da necessidade de ampliar e aprofundar

o debate sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável no cotidiano da sala de aula, em

meio as mudanças vivenciadas pelo município neste segmento, em 2007 foi firmado parcerias

com a Mineradora Vale e a Comunidade Educativa CEDAC para a formação de professores,

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79

com base no que é assegurado pela Política Nacional de Educação Ambiental (BRASIL, LEI

Nº. 9795/1999). No ano de 2008 inicia então à formação continuada em educação ambiental

no seguimento de 6º ao 9º ano.

(...) Uma formação ambiental deve ter como objetivo ir além do ensino de

conhecimentos sobre questões ambientais tanto no que se refere aos professores

quanto aos alunos. Para que seja efetiva, precisa buscar promover transformações no

modo de pensar o mundo, no modo de se inserir nele, de avaliar as próprias atitudes,

bem como despertar o agir de modo sustentável (...). (PREFEITURA..., 2009)

A educação ambiental nesta nova perspectiva se configura como um dos eixos

estratégicos do Projeto Município verde e tem como objetivo romper com os modelos

tradicionais de ensino que reduzem a educação ambiental a atividades eventuais dentro da

escola. Nesta direção, visa estimular progressivamente a incorporação de valores e atitudes

que alcance pais, familiares e toda a sociedade local, formando cidadãos ambientalmente

conscientes e ecologicamente sustentáveis.

O Município por meio destas ações tem buscado superar a concepção fragmentada e

setorizada do ambiente, compreendida apenas como área especifica do conhecimento

ecológico para uma concepção que reconhece as dinâmicas social, cultural e econômica.

[...] O modo de fazer educação é bem diferente. A educação ambiental passou a

dialogar com o cotidiano escolar, não está voltado apenas para os eventos fora da

dinâmica escolar. É um projeto integrado com as disciplinas pois discute o conteúdo

que o professor trabalha no cotidiano [...]. (Informação verbal)6

[...] Para além do cumprimento da Lei, nós inovamos com a metodologia pois

trabalhamos de forma transdisciplinar, com sequências didáticas, isto é, no

desenvolvimento da disciplina introduz o tema do meio ambiente [...]. (Informação

verbal)7

O projeto pedagógico trabalha com metodologias de ensino que favorece o

aprofundamento dos conhecimentos, a complexidade dos sistemas ambientais bem como a

aprendizagem de práticas diversificadas de intervenção, onde os conhecimentos e as

experiências dos alunos sejam considerados e reconhecidos, reforçando suas capacidades de

agir de forma responsável no ambiente.

Assim, o ponto de partida para se trabalhar nesta concepção, é o espaço das relações

didático-pedagógicas no dia a dia da sala de aula no qual os temas ecológicos estão

6 Entrevista concedida pelo Gestor B1 em agosto de 2013. 7 Entrevista concedida pela Professora de Matemática, 6º ano em agosto de 2013.

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intrinsecamente relacionados com os conteúdos curriculares das disciplinas envolvidas:

Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia e Artes.

(...) No campo pedagógico desenvolvemos metodologias que possibilitam tanto o

aprofundamento dos conhecimentos sobre a complexidade dos sistemas ambientais

como a aprendizagem de possíveis práticas de intervenção nas quais os alunos sejam

considerados em seus conhecimentos prévios e reconhecidos como cidadãos capazes

de agir positivamente sobre o ambiente (...). (PREFEITURA..., 2009).

O Programa de Educação Ambiental visa, portanto, desenvolver competências nos

educadores para que possam apresentar o ensino de sua área curricular transversalizado por

questões socioambientais a serem incorporadas no contexto da sala de aula através de

sequências didáticas. Propõe como principal objetivo ir além do ensino de conhecimentos

sobre questões ambientais, buscando promover transformações no modo de pensar o mundo e

de se inserir nele, de avaliar as próprias atitudes bem como despertar o desejo de agir de modo

sustentável.

Quadro 5 - Programa de Educação Ambiental – Paragominas/PA.

Público Alvo

(Zona Urbana)

Disciplinas

Modalidade

Organizativa

Parceiro

Financeiro

Parceiro

Formativo

Escolas 34 Língua

Portuguesa

História

Geografia

Artes

Sequência

Didática

Norsk Hydro

Paragominas

Comunidade

Educativa

CEDAC

Professores 154

Gestores 68

Coordenadores

Pedagógicos

34

Alunos 22.790 Fonte: Prefeitura Municipal de Paragominas (2013).

A implantação desta prática foi baseada na experiência exitosa de outro município

paraense que foi Canaã dos Carajás. Sua implantação mudou significativamente práticas

anteriores de desenvolvimento da educação ambiental nas escolas de Paragominas. Muitas

ações propostas neste novo modelo são intersetoriais, inclui a participação de diferentes

Secretarias como Meio Ambiente, Saúde e Assistência rompendo com a forma setorizada de

se conceber as políticas públicas.

Mudança de valores e atitudes, no entanto, é algo que necessita de tempo para medir

seus resultados e impactos na cultura de uma sociedade. Relatos, no entanto, dos gestores do

programa apontam, que nos sete anos de sua existência, o índice de depredação dos espaços

públicos como escolas, paradas de ônibus, parque ambiental, por exemplo, praticamente não

existe, assim como, aumentou o índice de responsabilidade das pessoas com a manutenção da

limpeza da cidade.

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[...] Não há mais caso de depredação na cidade e nem no parque ambiental.

Ninguém pesca no lago. Os estudantes estão ocupados com exposições em feiras

que discutem a temática, fruto de trabalhos realizados na escola. A cada dia você

percebe os reflexos destas mudanças no comportamento das pessoas e no nível de

conservação da cidade [...]. (Informação verbal)8

[...] As coisas mudaram bastante por aqui, os estudantes estão mais conscientes e

envolvidos com a preservação do meio ambiente e da cidade. Não somente os

estudantes mas seus pais também se envolvem com a preservação do meio ambiente.

[...]. (Informação verbal)9

6.1.3 Município de Castanhal: Gestão Eficiente da Merenda Escolar

O município de Castanhal no período que compreende esta pesquisa, isto é, 2005 a

2012 foi governado por um gestor pertencente ao PR – Partido da República. A Secretaria de

Educação ficou sob a responsabilidade de um professor da rede pública que permaneceu no

cargo por mais de dez anos. Sua saída se deu em virtude de seu falecimento no ano de 2011.

O município de Castanhal assim como o município de Paragominas é reconhecido

nacionalmente pelas suas ações criativas e responsáveis para aprimorar a aplicação dos

recursos do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). O município já foi premiado

quatro vezes com o prêmio Gestor Eficiente da Merenda escolar, este prêmio demonstra o

ponto alto da eficiência do programa e registram práticas inovadoras que deram resultados

positivos, para que sejam multiplicadas por outros municípios, potencializando as boas

práticas.

Entre as práticas desenvolvidas pela Secretaria Municipal de Educação do município

de Castanhal voltadas para eficiência da gestão da merenda escolar destacam-se o Projeto das

Hortas escolares, o incentivo a agricultura familiar, a valorização das merendeiras e o Café da

manhã na escola.

8 Entrevista concedida pelo Técnico do Projeto em agosto de 2013.

9 Entrevista concedida pela Professora de História, 7 ano em agosto de 2013.

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Figura 7 - Prática Inovadora.

MERENDA ESCOLAR

Descentralização e Participação Ações integradas

Ação descentralizada para

a Coordenação da Merenda

escolar e para a comunidade

escolar

Participação de pais de

alunos, professores,

nutricionistas, merendeiras,

agricultores familiares e de

assentamentos quilombolas

Ações integradas com a

Secretaria Municipal de

Agricultura e Conselho de

Alimentação Escolar - CAE

Parcerias com a EMATER

PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DA PRÁTICA INOVADORA

PREMIAÇÃO: Premiado por quatro vezes pelo Governo Federal

Gestão eficiente da merenda escolar

Agricultura familiar na produção de alimentos

Criação de hortas escolares

Valorização dos trabalhadores

Café da manhã

Cozinha experimental

Fonte: Da autora (2013).

O cardápio das escolas é variado e pelo menos 30% do total de frutas e legumes

servidos aos estudantes são cultivados pelos próprios alunos nas hortas escolares. O cultivo

das hortas foi uma iniciativa da Secretaria Municipal de Educação com a participação direta

da Secretaria de Agricultura e do Conselho de Alimentação Escolar – CAE, estimulando o

interesse dos alunos pelas hortaliças e da comunidade escolar, além de possibilitar a inclusão

de aulas práticas com as hortas no currículo da escola.

[...] O desejo de melhorar a qualidade de nossa merenda era comum a todos os

profissionais da nossa gestão. Foi feito um bom planejamento, estabelecido as ações

e metas a serem atingidas e assim o projeto deu certo [...]. (Informação verbal)10

[...] Iniciar o processo de mudança foi um desafio, mas com o tempo vimos à

realidade das nossas escolas irem mudando gradativamente [...]. (Informação

verbal)11

10

Entrevista concedida pelo Gestor A em setembro 2013. 11

Entrevista concedida pelo Gestor A1 em setembro 2013.

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83

Nas 104 escolas do município, nos programas de educação de jovens e adultos - EJA,

no programa mais educação e nas escolas quilombolas, a merenda formulada e industrializada

há tempos já não fazem mais parte do cardápio. As frutas e as verduras são compradas

semanalmente dos pequenos agricultores rurais da região que vendem de forma direta para a

Prefeitura. Alimentos regionais são prioridades na merenda escolar como açaí, farinha d’água,

tapioca e cupuaçu.

A inclusão dos pequenos produtores locais trouxe benefícios não somente para os

alunos, mas para os próprios produtores que passaram a ter alternativas de geração de renda.

Pode-se citar como exemplo, o mel que é produzido por um assentamento da região. O

sucesso desta experiência se deve ao apoio direto recebido da Secretaria Municipal de

Agricultura e do Programa de Incentivo a Comunidade Agrícola.

O Projeto do Café da manhã atinge 51 escolas que compreende todas as escolas da

periferia da cidade e da zona rural. A prática foi implantada ao constatar que grande parte dos

alunos das escolas de áreas periféricas e rurais oriundos de famílias de baixo poder aquisitivo

não tinha garantido nem a primeira alimentação do dia.

[...] Por reconhecer que o consumo regular de um café da manhã balanceado

melhora a capacidade de concentração e deixa as crianças mais dispostas para o

aprendizado é que nos motivou a introduzir além do lanche regular o café da manhã

no cardápio da escola das periferias [...]. (Informação verbal)12

[...] Nossa preocupação sempre foi com o bom rendimento escolar das crianças, por

isso não medimos esforços para introduzir o café da manhã nas escolas da periferia e

da zona rural do município. Era comum eu visitar as escolas na hora que o que café

era servido para ter certeza que tudo estava acontecendo conforme o planejado [...].

(Informação verbal)13

Crianças e adolescentes são recepcionadas todos os dias nas escolas com um café

balanceado e planejado por nutricionista. O desafio para manter o projeto segundo relato de

Coordenadores é grande, pois o investimento é alto e contínuo o que implica principalmente

em disposição e sensibilidade dos gestores para mantê-lo em pleno funcionamento.

[...] O Governo Federal investe somente R$ 0,30 centavos e o município contribui

com mais R$ 0,52 centavos por aluno. Assim, o café da manhã e o lanche de cada

estudante sai por R$ 0,82 centavos [...]. (Informação verbal)14

12

Entrevista concedida pelo Gestor A1 em setembro 2013. 13

Entrevista concedida pelo Gestor A em setembro 2013. 14

Entrevista concedida pelo Gestor A1 em setembro 2013.

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84

Neste contexto de melhoria da gestão da merenda escolar em Castanhal, outra ação

importante para o reconhecimento da eficiência da gestão foi à valorização das merendeiras

por meio de premiações e pelo reconhecimento da profissão com a distinção clara entre o

papel do servente e da merendeira já que até então ambos desempenhavam as mesmas

funções nas escolas. Implantou-se um programa de capacitação com ênfase na preparação de

receitas de baixo custo, com qualidade e com o máximo de aproveitamento do sabor dos

alimentos e dos seus nutrientes além de temas transversais como a importância da higiene

para a saúde.

[...] As merendeiras foram estimuladas por meio de um concurso interno da

Secretaria Municipal de Educação a criar suas próprias receitas com base nos

produtos da merenda escolar, a experiência foi tão exitosa que resultou na edição de

um livro com todas as receitas das merendeiras locais, receitas estas que passarão a

fazer parte do cardápio escolar [...]. (Informação verbal)15

Uma prática mais recente implantada pela Secretaria Municipal de Educação é a

cozinha experimental itinerante, trata-se de uma cozinha móvel adaptada com fogão, pia

armários, freezer diagonal e todos os utensílios de uma cozinha moderna.

Formada por uma equipe de cinco técnicos, uma nutricionista, uma tecnóloga de

alimentos, uma pedagoga, um chefe de cozinha e uma merendeira, a cozinha experimental

tem como objetivo capacitar de forma continuada os profissionais diretamente envolvidos

com a produção de merenda escolar que inclui merendeiras das unidades escolares municipais

e filantrópicas da zona urbana e rural do município de Castanhal, totalizando 300

merendeiras. Esta prática esta concorrendo ao Prêmio Gestor Eficiente da Merenda Escolar

neste ano de 2013.

Em que pesem o fato da proposta da gestão eficiente da merenda escolar ter sido

gestada pelo Governo Federal através do Programa Nacional de Alimentação Escolar

(PNAE), o nível de criatividade e comprometimento dos gestores em mudar a realidade do

município foi decisivo para a substituição de uma prática tradicional de gestão da merenda

escola, em que o foco era somente no consumo de produtos industrializados, para uma prática

moderna de gestão, no qual a preocupação passa a ser com a saúde, com a qualidade de vida e

com a geração de renda, soma-se a isso a abertura ao diálogo e o envolvimento da

comunidade escolar e da sociedade civil nos processos de gestão.

15

Entrevista concedida pelo Gestor A1 em setembro 2013.

Page 86: SHIRLE ROSÂNGELA MEIRA DE MIRANDA€¦ · teorias sobre liderança, com ênfase na teoria da nova liderança; e a inovação na perspectiva da democracia e da eficiência da gestão

85

O reconhecimento da necessidade de interfaces entre as políticas públicas municipais

também se destaca em temos de inovação ao se estabelecer ações diretas com a Secretaria

Municipal de Agricultura visando à melhoria da qualidade da merenda escolar servida nas

escolas o que automaticamente também influenciou na economia do município por meio da

geração de renda para pequenos agricultores. Este cenário revela à importância de se trabalhar

as políticas setoriais de forma integrada

6.1.4 Município de Óbidos: Escola de Tempo Integral - ETI

O município de Óbidos no período de 2005 a 2012 foi governado por um gestor

pertencente ao PTB – Partido Trabalhista Brasileiro. A Secretaria de Educação ficou sob a

responsabilidade de um professor da rede pública.

A Secretária de Educação do Município de Óbidos, no ano de 2010, implantou como

experiência na cidade, a escola de tempo integral em uma de suas unidades, a Escola

Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Frei Edmundo Bonckosch. O projeto é

destinado a atender crianças e adolescentes de baixo poder aquisitivo, oportunizando-lhes

uma maior qualidade de ensino, na medida em que são trabalhados em todas as áreas do

conhecimento, ampliando com metodologias diversificadas, os conteúdos da base curricular.

Page 87: SHIRLE ROSÂNGELA MEIRA DE MIRANDA€¦ · teorias sobre liderança, com ênfase na teoria da nova liderança; e a inovação na perspectiva da democracia e da eficiência da gestão

86

Figura 8 - Prática Inovadora.

ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL

Descentralização e Participação Ações integradas

Projeto desenvolvido com a

participação de diretores ,

professores, técnicos e

demais servidores da escola

Participação direta da

comunidade por meio de pais

e familiares de alunos

Ações integradas com a

Secretaria de Saúde e

Assistência

Parcerias com a

Universidade Estadual do

Oeste do Pará

PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DA PRÁTICA INOVADORA

A essência do projeto é a permanência da criança e do

adolescente na escola, assistindo-o integralmente em suas

necessidades básicas e educacional, ampliando o

aproveitamento escolar

Total de alunos beneficiados: 310 alunos

Fonte: Prefeitura Municipal de Óbidos ([20--]).

A escola fica localizada na periferia da cidade, seus alunos são oriundos de famílias de

baixo poder aquisitivo, cujos pais são trabalhadores da indústria de castanha, frigorífico,

domésticas, vendedores ambulantes, funcionalismo público, além das famílias que trabalham

em pequenas lavouras e carvoarias o dia inteiro. Realidade esta que obrigam estes pais a

deixarem seus filhos sozinhos em casa expondo-os a situação de vulnerabilidade social.

Sozinhos e sem ocupação em um dos turnos do dia, crianças e adolescentes utilizam a rua

como “passa tempo”.

Este cenário bastante comum na maioria das cidades brasileiras começou a ser

rompido em Óbidos quando o município aderiu ao projeto de Escola em Tempo Integral -

(ETI) cujo objetivo era ampliar o tempo de permanência do estudante na escola assistindo-o

integralmente em suas necessidades básicas e educacionais, ampliando o aproveitamento

escolar, resgatando a autoestima e capacitando-o para atingir efetivamente a aprendizagem,

sendo alternativa para redução dos índices de evasão, de repetência e de distorção idade/série.

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87

[...] A proposta da criação da ETI revelou-se como uma alternativa viável para

mudar a realidade de crianças e adolescentes da periferia da cidade. Seu processo de

implantação foi amplamente debatido junto à comunidade, professores, técnicos e

todo o quadro de funcionários da escola. Assim, a proposta teve uma aceitação

positiva tanto por parte de funcionários como pela comunidade local por entender os

benefícios que esta traria [...]. (Informação verbal)16

O projeto, considerado audacioso para a realidade do município do porte de Óbidos,

principalmente pelos poucos recursos investidos pelo Governo Federal para atender aos

inúmeros desafios que surgiam, exigiu da Secretaria Municipal de Educação ações conjuntas

com a Secretaria Municipal de Saúde e Assistência Social e muita persistência dos gestores

para que a ideia desse certo.

[...] Quebrar velhas tradições, mudar paradigmas e trabalhar com poucos recursos

são os grandes desafios para um gestor quando se quer implantar algo novo na

gestão pública. Fazer as pessoas compreenderem a importância e a necessidade do

projeto foi algo complicado mas não foi suficiente para desistirmos da ideia [...].

(Informação verbal)17

[...] Há um custo muito alto para manter uma escola de tempo integral e o trabalho

administrativo pedagógico é triplicado, porém, nada teria sido possível sem o

envolvimento dos servidores da escola, da SEMED, dos alunos, a compreensão dos

pais e da comunidade local, o apoio das secretarias municipais, dos amigos da escola

[...]. (Informação verbal)18

A escola possui um total de 310 alunos e o tempo de permanência destes estudantes

na escola passou de cinco para nove horas. Além de profissionais capacitados e materiais

didáticos, cada estudante recebe no mínimo três refeições diárias, garantindo melhores

condições para o seu aprendizado.

Diante das mudanças houve a necessidade de reestruturar as propostas voltadas para as

novas práticas educacionais. A primeira mudança foi no horário que passou a ser estabelecido

diariamente obedecendo a seguinte rotina: As 7h30m os estudantes são recebidos com um

café da manhã para em seguida serem conduzidos às salas de aula regulares que continuam

seguindo o currículo comum das demais escolas municipais; O horário de intervalo das

turmas é as 9h30m da manhã e tem duração de 15 minutos; as 11h inicia o processo de

higienização e as 11h30m o almoço começa a ser servido; após a refeição todos os estudantes,

sob a supervisão de professores e monitores, são conduzidos a ambientes de entretenimento

como salas de televisão, música, jogos educativos, leitura. A escola passou a oferecer, além

16

Entrevista concedida pelo Gestor C em outubro 2013. 17

Entrevista concedida pelo Gestor C em outubro 2013. 18

Entrevista concedida pelo Gestor C1 em outubro 2013.

Page 89: SHIRLE ROSÂNGELA MEIRA DE MIRANDA€¦ · teorias sobre liderança, com ênfase na teoria da nova liderança; e a inovação na perspectiva da democracia e da eficiência da gestão

88

de uma educação de qualidade no turno regular, cursos e oficinas pedagógicas no turno

inverso, atendendo os estudantes de forma completa.

A partir das 13h30m observa-se a diferença do atendimento no turno inverso onde é

desenvolvido práticas inovadoras e diferenciadas. Denominado macrocampos os alunos

participam das seguintes atividades complementares: oficinas de arte; saúde, alimentação e

prevenção; meio ambiente; direitos humanos e cidadania e inclusão digital.

Além das oficinas é disponibilizado aos estudantes atendimento educacional

especializado cujo objetivo é atender as necessidades específicas de crianças e adolescentes

que necessitam de acompanhamento diferenciado. A escola desenvolve ainda ações voltadas

para o enfrentamento da violência dentro e fora da escola, com a participação de forma

contínua da família. Para tanto foi criado o projeto Família na Escola, a Voz do Silêncio

Ecoa e o City Tour.

Dados da pesquisa demonstraram que a avaliação do processo aprendizado da Escola

de Tempo Integral acontece no cotidiano das atividades e a recuperação é feita de forma

paralela.

Esta prática foi considerada inovadora não pelo seu ineditismo, já que a Escola de

Tempo Integral é encontrada em diversas cidades do país, mas por quê mudou

significativamente práticas anteriores ampliando o acesso de crianças e adolescentes oriundos

de camadas sociais menos favorecidas a um processo educacional integral, abrangendo o

desenvolvimento biopsicossocial dos estudantes.

[...] A escola em tempo integral não é uma criação do município, mas ainda não é

uma realidade na maioria das escolas brasileiras. A implantação numa escola da

zona urbana nos mostra que é possível mantê-la, e que seus efeitos na consolidação

de uma educação de qualidade são evidentes no resultado dos alunos, na diminuição

dos índices de vulnerabilidade social, no trabalho pedagógico, na relação professor e

aluno, pais e servidores e comunidade [...]. (Informação verbal)19

Os resultados demonstraram avanços quanto seu método de atuação, pois rompe com

aquilo que efetivamente engessa as políticas públicas de educação do país que é a

fragmentação e a visão setorizada do processo ensino aprendizagem. O projeto é

essencialmente integralizado aos segmentos, da educação, assistência e a saúde, estabelecendo

um espaço de diálogo inter e multidisciplinar que possibilita o desenvolvimento de estratégias

eficientes para o enfretamento dos problemas da educação na Escola de Tempo Integral.

19

Entrevista concedida pelo Gestor C1 em outubro 2013.

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89

6.2 ESTILO DE LIDERANÇA E SUA RELAÇÃO COM PRÁTICAS INOVADORAS

NAS SECRETARIAS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO DE MUNICÍPIOS

PARAENSES

Esta fase da pesquisa, conforme já fora descrito na seção que trata da metodologia,

buscou-se analisar o estilo de liderança dos secretários municipais de educação que estavam

no cargo no período de implantação da prática inovadora, isto é, 2005-2012 e a relação entre

estes estilos e a implantação das práticas inovadoras.

Os Municípios de Castanhal e Paragominas tiveram 27 participantes cada um,

enquanto que Óbidos somente 14, isto se deve provavelmente, ao fato de que a prática

inovadora identificada neste município está restrita a uma única escola, ao contrário das

práticas dos outros municípios que possuem ações e inserções mais abrangentes, portanto, há

mais servidores envolvidos diretamente na sua execução, se deve ainda ao fato de que não foi

possível ir até este município sendo a pesquisa realizada com o apoio do ex-prefeito e de

funcionários da escola por meio de telefonemas e emails.

Entre os participantes da pesquisa a maioria era composta de servidores efetivos. A

participação dos servidores efetivos foi bem maior em relação aos contratados. A delimitação

do perfil do servidor, priorizando os efetivos, visou minimizar os riscos decorrentes de

avaliações de cunho puramente partidário, considerando que geralmente os servidores

contratados e ou temporário possui um maior comprometimento pessoal com o gestor que lhe

indicou para o cargo. Desta forma, as avaliações do perfil do seu líder poderiam ser

superestimadas em relação às qualidades. A média de tempo dos servidores no cargo variou

entre 10 e 14 anos e a idade média dos participantes foi de 38 anos.

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90

Figura 9 - Nível de escolaridade dos participantes da pesquisa.

Fonte: Da autora (2013).

A maioria dos participantes possui nível superior completo com pós-graduação

completa ou incompleta, isto se deve ao fato de que a maioria dos servidores que participaram

da pesquisa são professores, estão em cargos de coordenação e ou assessoria pedagógica o

que exige maior escolaridade.

O tempo médio de atuação do servidor na Unidade Organizacional em que a prática

foi implantada foi de oito anos o que compreende exatamente o período da gestão pesquisado.

Este tempo foi considerado uma variável importante porque quanto maior o tempo na mesma

função ou cargo, maior a possibilidade do servidor conhecer todo o processo de planejamento

e execução da prática inovadora bem como as pessoas envolvidas na sua implantação,

facilitando sua análise sobre o nível de influência da liderança na sua criação e êxito.

O estilo de liderança encontrado na secretaria municipal de Castanhal aponta para uma

combinação de estilos.

7% 3% 6%

9%

38%

10%

27%

Escolaridade

Não respondeu

Ensino fundamental

Ensino médio

Ensino superior

incompleto

Ensino superior

completo

Pós-graduação

incompleta

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91

Figura 10 - Castanhal – Perfil Autoritário. Figura 11 - Castanhal – Perfil Democrático.

Fonte: Da autora (2013). Fonte: Da autora (2013).

Os dados demonstram que não houve grandes disparidades entre o estilo de liderança

democrático, situacional e transformacional, o mesmo não aconteceu em relação ao estilo

autoritário que apresentou índice de concordância extremamente baixo (FIGURA 9). Com

apenas 6% das respostas, é possível afirmar que o estilo predominante de liderança não é

autoritário.

Afirmações como: o líder inspira medo, estimula a equipe por meio de ordens e regras

pré-estabelecidas, fiscaliza as atividades, aplica punições e cobra melhor desempenho, que

caracterizam muito bem o estilo de liderança autoritária, apresentou um alto nível de

discordância.

Os pesquisadores Tannenbaum e Schmidt (1958), através de um gráfico a que

chamaram continuum de padrões de liderança, sugerem um conjunto alargado de

comportamentos de liderança que o gestor tem a possibilidade de escolher na relação com os

liderados. Cada tipo de comportamento está relacionado com o grau de autoridade utilizado

pelo líder e o grau de liberdade disponível para os liderados na tomada de decisões. No caso

Fonte: Da autora (2013).

Figura 12 - Castanhal – Perfil Situacional.

Fonte: Da autora (2013).

Figura 13 - Castanhal – Perfil Transformacional.

26,6%

15,3% 7,4%

35,1%

14,6%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

1 2 3 4 5

Autoritário

0,0% 0,0% 1,6%

65,1%

33,3%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

1 2 3 4 5

Democrático

0,0% 0,2%

17,6%

50,6%

31,6%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

1 2 3 4 5

Situacional

0,0% 0,0% 2,0%

33,7%

64,4%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

1 2 3 4 5

Transformacional

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92

do lider autoritário há um reduzido grau de liberdade de ação dado aos seus liderados, a

ênfase é na figura de autoridade da organização, na centralização do poder e na execução da

tarefa. O poder do líder é delegado e se fortalece pela posição assumida e pela capacidade de

cumprimento destas tarefas.

O maior resultado para o estilo predominante de liderança em Castanhal foi o

Transformacional. Conforme demonstrou Covey (1994), este estilo de liderança desenvolve a

necessidade de gerar significado as tarefas, tornando-a significativas e desafiadoras,

transcendendo as questões diárias. Este tipo de liderança é proativa, catalizadora e resignada.

Figura 14 – Perfis predominantes do líder – Castanhal.

Fonte: Da autora (2013).

Na contra mão destes achados, observou-se comportamento diferente por parte de

outra liderança estratégica que sugere um comportamento mais próximo do autoritário.

Considero-me um líder sim, porque para comandar um Município é preciso ser uma

liderança. Eu acho que um líder tem que buscar realizar ações que consiga se

destacar, consiga comandar, passar aquilo que ele pensa de maneira decisiva e

consiga também ouvir das pessoas aquilo que ele considera importante. Tenho dito

sempre que um líder precisa ser diplomata e delegado, tem que saber cobrar o que

precisa cobrar e também usar da diplomacia quando necessário para poder atender,

reivindicar e até ouvir as pessoas. O líder é uma pessoa fundamental na gestão que

busca através de suas ações fazer aquilo que é determinante, que foi planejado e

idealizado acontecer. (Informação verbal)20

Suas atitudes estão voltadas para o planejamento e execução das tarefas, para o

comando das ações, não significando, no entanto, que não valorize as pessoas, que não as

20

Entrevista concedida pelo Gestor A em setembro de 2013.

7%

33%

26%

35%

Autoritário

Democrático

Situacional

Transformacional

0% 10% 20% 30% 40%

Perfis Predominantes do líder - Castanhal

Page 94: SHIRLE ROSÂNGELA MEIRA DE MIRANDA€¦ · teorias sobre liderança, com ênfase na teoria da nova liderança; e a inovação na perspectiva da democracia e da eficiência da gestão

93

incluam no processo de planejamento e execução destas ações, já que o estilo de liderança,

como vem apontando os resultados desta pesquisa, não é absoluto.

[...] O grande líder tem que saber planejar, estabelecer ações junto ao grupo e

cumprir com as obrigações de forma coerente, ter boas ideias e capacidade para

inovar. O diferencial de um líder é saber pensar, pensar o tempo inteiro em como

fazer o melhor na sua gestão, enxergar em experiências de outros municípios

oportunidades de investimento em sua cidade. No serviço público a população sabe

quando você é um bom líder e é esta que te aprova ou não, no meu caso fui reeleito,

demonstrando que a população aprovou, sentiu-se contemplada com as nossas ações.

(Informação verbal)21

Ao observar os resultados da figura 13, percebe-se claramente que padrões de

comportamento democrático assim como situacional estão presentes nas atitudes de gestores

do Município de Castanhal, de forma significativa, revelando um estilo misto de liderança

com uma pequena predominância do estilo transformacional, isto demonstra que o perfil do

novo gestor público está mudando, conforme apontou Fonseca (2008), ao afirmar que hoje se

exige mais politização e menos tecnicismo, distanciando-se da forma tradicional de

administrar no serviço público.

Ao relacionar o estilo de liderança do Secretario de Educação com a implantação da

prática inovadora Gestão Eficiente da Merenda Escolar pela Secretaria de Educação de

Castanhal, conforme mostram as figuras 14, 15, 16 e 17 a seguir, os resultados deixam claro a

influência e importância do estilo de liderança para implantação da prática inovadora. A

maioria absoluta dos entrevistados concorda ou concorda totalmente com as afirmações de

que a prática inovadora implantada na Secretaria de Educação de Castanhal pode ser atribuída

às atitudes do seu líder, que o estilo de liderança foi decisivo para o êxito desta prática e que

sem a participação do líder a prática inovadora não existiria.

21

Entrevista concedida pelo Gestor A em setembro de 2013.

Page 95: SHIRLE ROSÂNGELA MEIRA DE MIRANDA€¦ · teorias sobre liderança, com ênfase na teoria da nova liderança; e a inovação na perspectiva da democracia e da eficiência da gestão

94

Figura 15 - Prática inovodora atribuida ao Lider. Figura 16 - Estilo de liderança decisivo na

implantação da prática inovadora

Fonte: Da autora (2013).

Figura 17 - Inovação e esforços de terceiros.

Fonte: Da autora (2013).

Figura 18 - Participação do líder e existência

da prática inovadora.

Fonte: Da autora (2013). Fonte: Da autora (2013).

Sobre a importância da participação do líder na implantação de práticas inovadoras no

município de Castanhal, em especial na Secretaria Municipal de Educação, um dos gestores

do município pensa da seguinte forma:

[...] O líder é o grande responsável para motivar a equipe a se envolver com as ações

da prefeitura. Você como líder tem que mostrar o que tem para fazer e colocar na

prática o que é fundamental, as inovações precisam acontecer, mas esta atitude parte

das determinações do gestor, se este não tiver determinação não acontece nada, ele

precisa planejar e cobrar resultados das pessoas. Precisa verificar pessoalmente

como as coisas estão acontecendo. Muitas vezes fiz visitas surpresas nas escolas,

tomei café com as crianças para verificar de perto a qualidade da merenda.

(Informação verbal)22

22

Entrevista concedida pelo Gestor A em setembro de 2013.

0,0% 0,0% 0,0%

44,4%

55,6%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

1 2 3 4 5

Questão 1

0,0% 0,0% 3,7%

25,9%

70,4%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

1 2 3 4 5

Questão 2

14,8%

51,9%

22,2%

0,0% 7,4%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

1 2 3 4 5

Questão 4

0,0% 0,0% 3,7%

29,6%

66,7%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

1 2 3 4 5

Questão 6

Page 96: SHIRLE ROSÂNGELA MEIRA DE MIRANDA€¦ · teorias sobre liderança, com ênfase na teoria da nova liderança; e a inovação na perspectiva da democracia e da eficiência da gestão

95

Figura 19 - Relação entre estilo de liderança e prática inovadora – Castanhal.

Fonte: Da autora (2013).

A importância dada à liderança para a implantação de práticas consideradas

inovadoras nos municípios pesquisados confirma o que apontou a literatura, sobre a liderança

está sendo considerada um atributo fundamental da boa governança pública o que inclui

capacidade de inovação. Brasil (2002), afirma que líderes de organizações públicas precisam

saber mobilizar as pessoas com base em valores e visões; convencê-las e fazer convergir seus

esforços em torno de um interesse comum, dessas atitudes depende o desenvolvimento de

uma gestão pública eficiente e inovadora, focada em resultados, bem organizada e com

prestação de serviços de qualidade.

Os resultados encontrados na Secretaria Municipal de Educação de Paragominas

seguem a mesma lógica dos resultados encontrados em Castanhal. O estilo de liderança

autoritário apresentou o menor índice em relação aos demais, isto é, somente 15% dos

entrevistados considera seu líder autoritário, 24% o consideram situacional, 30%

transformacional e 31% democrático.

0,7% 5,0% 4,8%

23,5%

66,0%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

1 2 3 4 5

Relação entre estilo de liderança e práticas Inovadoras - Castanhal

Page 97: SHIRLE ROSÂNGELA MEIRA DE MIRANDA€¦ · teorias sobre liderança, com ênfase na teoria da nova liderança; e a inovação na perspectiva da democracia e da eficiência da gestão

96

Figura 20 - Paragominas: Perfil do Gestor. Figura 21 - Paragominas: Perfil do Gestor.

Fonte: Da autora (2013).

Figura 22- Paragominas: Perfil do Gestor.

Fonte: Da autora (2013).

Figura 23 - Paragominas: Perfil do Gestor.

Fonte: Da autora (2013). Fonte: Da autora (2013).

O resultado revela um estilo de liderança misto, onde o líder apresenta padrões de

comportamentos baseados no estilo de liderança situacional, transformacional, com uma

pequena prevalência do estilo democrático sobre o estilo transformacional e um baixo padrão

de comportamentos autoritários o que mais uma vez não caracteriza um estilo de liderança

absoluto.

4,3% 12,5% 11,5%

34,7% 37,0%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

1 2 3 4 5

Autoritário

0,0% 0,2% 6,1%

45,4% 48,4%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

1 2 3 4 5

Democrático

0,0% 3,0%

16,8%

47,9%

32,3%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

1 2 3 4 5

Situacional

0,0% 0,2% 9,5%

48,0% 42,3%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

1 2 3 4 5

Transformacional

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97

Figura 24 - Perfis predominantes do Líder.

Fonte: Da autora (2013).

A liderança democrática, que apresentou o maior índice, se caracteriza pela ênfase na

participação, no envolvimento dos funcionários nas tomadas de decisões, na delegação de

autoridade, no trabalho coletivo e na preocupação com as relações humanas no trabalho. O

poder do líder precisa ser legitimado pelo grupo conforme apontou Sobral e Peci (2008). Nesta

perspectiva, o processo de liderança é acima de tudo um relacionamento, um processo mútuo

de ligação entre líder e liderado (DAVEL; MACHADO, 2001). Sobre isso uma das lideranças

do Município disse o seguinte:

[...] Um bom líder precisa influenciar e confiar. Logo, deve haver uma gestão

participativa entre o líder e os liderados. Um funcionário insatisfeito é capaz de

contaminar negativamente toda a equipe. Ninguém ensina uma pessoa a ser líder.

Essa experiência é vivida através de problemas e soluções diárias, com a construção

de ações conjuntas [...]. (Informação verbal)23

[...] Ao assumir uma postura de liderança, participativa, motivadora, há um melhor

resultado na condução da equipe e das atividades. Esta postura reflete no

desempenho e crescimento da Instituição. Concluindo assim, que um líder

autoritário, fechado a opiniões, não desenvolve estímulos para busca de resultados

eficazes. Apenas conseguem, de maneira mecânica, a execução de uma missão.

(Informação verbal)24

23

Entrevista concedida pelo Gestor B em setembro de 2013. 24

Entrevista concedida pelo Gestor B em setembro de 2013.

15%

31%

25%

30%

Autoritário

Democrático

Situacional

Transformacional

0% 10% 20% 30% 40%

Perfis Predominantes do líder - Paragominas

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98

Nesta perspectiva pode se dizer que líderes e liderados se influenciam mutuamente e

trocam recursos visando atingir objetivos pessoais e do grupo, em relação a isto, França e

Arrelano (2002), apontaram que psicólogos sociais consideram o processo de liderança, um

caso especial de influência recíproca e cooperativa que implica uma interação complexa entre

o líder, os seguidores e o grupo da qual fazem parte.

Um estilo de liderança com base no autoritarismo, independente se em organizações

públicas ou privadas, parece estar na direção contrária ao que espera de uma liderança na

contemporaneidade, onde o relacionamento entre líderes e liderados se apresenta como fator

fundamental para o bom desempenho de ambos no âmbito organizacional.

Ao relacionar o estilo de liderança do secretário de educação com a implantação das

práticas inovadoras Gestão Eficiente da Merenda Escolar e Educação Ambiental no

Município Verde, os resultados revelaram, conforme podem ser vistos nas figuras 24, 25, 26 e

27 a seguir, que houve total influência e importância do estilo de liderança para implantação

das práticas inovadoras, considerando que a maioria absoluta dos entrevistados concordou ou

concordou totalmente com as afirmações de que a prática inovadora implantada na Secretaria

de Educação de Paragominas pode ser atribuída as atitudes do seu líder, que o estilo de

liderança foi decisivo para sua implantação e que sem a participação do líder a prática

inovadora não existiria.

Sobre a importância da participação do líder na implantação de práticas inovadoras na

Secretaria Municipal de Educação de Paragominas, uma das lideranças apresentou a seguinte

opinião: “[...] Todo líder é responsável pelo sucesso ou fracasso das práticas de uma equipe

[...].” (Informação verbal)25

Em relação há mudanças organizações no âmbito da gestão pública, conforme apontou

Bertero (1976), há 40 anos já se afirmava que estas estão associadas ao processo decisório e

se desenvolve a partir de duas perspectivas complementares que é a alteração da estrutura

organizacional e a modificação de cunho comportamental, com isto significa dizer que a

postura do líder influência significativamente na tomada de decisões que geram mudanças e

ou inovações.

25

Entrevista concedida pelo Gestor B em setembro de 2013.

Page 100: SHIRLE ROSÂNGELA MEIRA DE MIRANDA€¦ · teorias sobre liderança, com ênfase na teoria da nova liderança; e a inovação na perspectiva da democracia e da eficiência da gestão

99

Figura 25 – Práticas inovadoras atribuídas ao líder. Figura 26. Estilo de liderança decisivo na

implantação de práticas inovadoras

Fonte: Da autora (2013).

Figura 27 - Inovação e esforços de terceiros.

Fonte: Da autora (2013).

Figura 28 – Participação do líder e existência

da prática inovadora.

Fonte: Da autora (2013). Fonte: Da autora (2013).

No contexto da gestão pública conforme apontou Oliveira; Sant’Anna e Vaz (2010),

capacidade criadora, atitude empreendedora, práticas gerenciais inovadoras, gestão por

resultados e por competência estão, gradualmente, sendo incorporados ao vocabulário de

muitas organizações da gestão pública brasileira. Os autores chamaram atenção ainda para a

necessidade de o líder ter visão sistêmica e perspectiva global da gestão pública.

Na Secretaria Municipal de Educação de Óbidos os dados revelaram que o estilo de

liderança autoritária também apresentou o menor percentual de ocorrência em relação aos

demais estilos. Sendo que o estilo democrático e transformacional apresentaram os

percentuais mais altos e equivalentes, isto é, 29%. O estilo situacional, no entanto, se

aproximou bastante dos dois últimos estilos, com 26%.

0,0% 0,0%

11,1%

51,9%

37,0%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

1 2 3 4 5

Questão 1

0,0% 0,0%

11,5%

53,8%

34,6%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

1 2 3 4 5

Questão 2

3,7%

22,2%

40,7%

25,9%

7,4%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

1 2 3 4 5

Questão 4

0,0% 7,4%

18,5%

44,4%

29,6%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

1 2 3 4 5

Questão 5

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100

Figura 29 - Óbidos: Perfil do Gestor. Figura 30 - Óbidos: Perfil do Gestor.

Observa-se com este resultado que nos três municípios pesquisados não se encontrou

um estilo absoluto de liderança. As lideranças apresentaram padrões de comportamento

compatíveis com os diversos estilos de liderança, com sutil predominância de um ou outro

estilo.

Fonte: Da autora (2013).

Figura 31 - Óbidos: Perfil do Gestor.

Fonte: Da autora (2013).

Figura 32 - Óbidos: Perfil do Gestor.

Fonte: Da autora (2013). Fonte: Da autora (2013).

0,3%

13,7% 6,1%

59,7%

20,3%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

1 2 3 4 5

Autoritário

0,0% 0,7% 4,1%

61,2%

34,0%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

1 2 3 4 5

Democrático

0,0% 0,0%

11,6%

60,4%

28,1%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

1 2 3 4 5

Situacional

0,0% 0,7% 6,1%

53,5%

39,8%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

1 2 3 4 5

Transformacional

Page 102: SHIRLE ROSÂNGELA MEIRA DE MIRANDA€¦ · teorias sobre liderança, com ênfase na teoria da nova liderança; e a inovação na perspectiva da democracia e da eficiência da gestão

101

Figura 33 - Perfis Predominantes do Líder – Óbidos.

Fonte: Da autora (2013).

Mesmo não encontrando um estilo puro de liderança que reúna características que

permitam afirmar que este ou aquele estilo funciona melhor no contexto de implantação de

práticas inovadoras na gestão pública municipal, resultados de pesquisa realizada por

Oliveira, Sant’Anna e Vaz (2010), com ocupantes de posições estratégicas no setor público de

governos nacionais, permitiram aos pesquisadores identificar algumas competências que são

requeridas do líder público no contexto da nova gestão pública que são consideradas

essenciais, são elas: conhecimento da máquina pública; conhecimento jurídico; capacidade de

promover o envolvimento da sociedade; capacidade de lidar com o púbico; objetividade;

orientação para resultados; perspectiva global; relacionamento interpessoal e visão sistêmica.

Na concepção de um dos gestores do Município de Óbidos, o novo líder da nova

gestão pública tem que ter primordialmente compromisso com as pessoas, com a verdade e

seriedade no trato com a coisa pública.

(...) Me considero um líder do novo tempo, das novas demandas da sociedade e da

nova gestão pública (...). Liderar é acima de tudo o compromisso com as pessoas,

com a verdade e com a seriedade no trato com a coisa pública, o gestor só irar ter o

respeito e a consideração das pessoas se tiver este compromisso. Neste contexto me

considero um líder atual. Minha equipe sentia segurança na condução dos trabalhos,

pois sabia que eu estava por trás e ia assumir as decisões junto com eles (...).(...) Era

um gestor presente que sabia de tudo o que acontecia dentro da prefeitura. Quando

algum problema acontecia, ia pessoalmente aos órgãos cobrar atitudes e agilidade

das pessoas. Considero-me um visionário, alguém que vende sonhos e que consegue

ver aquilo que os outros não conseguem enxergar. (Informação verbal)26

26

Entrevista concedida pelo Gestor C em outubro de 2013.

16%

29%

26%

29%

0% 10% 20% 30% 40%

Autoritário

Democrático

Situacional

Transformacional

Perfis predominante do lider - Óbidos

Page 103: SHIRLE ROSÂNGELA MEIRA DE MIRANDA€¦ · teorias sobre liderança, com ênfase na teoria da nova liderança; e a inovação na perspectiva da democracia e da eficiência da gestão

102

Para outra liderança, características como administração e controle de emoções

figuram como uma das essenciais para o sucesso do líder.

[...] O líder tem que ter capacidade de vencer seus medos, superar limites, ter

simplicidade na simplicidade, ser autoconfiante, compreensivo, firme nas decisões

sem ser áspero, grosso, imprudente, desenvolver o autocontrole de suas emoções e

razões, ter flexibilidade, ser assertivo, seguir o planejamento avaliando sempre para

modificar quando necessário. Estas características me parecem essenciais.

(Informação verbal)27

A despeito deste assunto França e Arrelano (2002), apontam a inteligência emocional

como um fator importante e fundamental para compreensão das habilidades de convivência

social, para o autoconhecimento e para administração das próprias emoções, tão essencial

para o líder na contemporaneidade. Esta inteligência é desenvolvida a partir de fatores como:

autoconhecimento, automotivação, gerência das próprias emoções e das relações com as

outras pessoas, empatia e espontaneidade (FRANÇA; ARRELANO, 2002).

Atitudes autoritárias, individualistas e pautadas em regras, normas pré-estabelecidas e

fiscalizações demonstraram não ter sido o caminho escolhido pelas lideranças de Óbidos para

liderar suas equipes. Atitudes autoritárias existem, porém, não são padrões de comportamento

predominantes, atitudes democráticas e com base no modelo de liderança mais

transformacional e situacional prevaleceram na gestão.

O líder precisa ser propositivo, mas dentro de uma equipe. O tempo em que o líder

era dono da verdade acabou. O líder precisa passar confiança e vontade de fazer as

coisas acontecerem. Não se consegue governar hoje no sistema antigo, como rei, o

tempo do dono da verdade acabou, é preciso considerar as equipes de trabalho, suas

opiniões, mas principalmente passar confiança para as pessoas. (Informação

verbal)28

O líder tanto pode ajudar como atrapalhar. Ajuda quando é provocador, impõe

desafios aos seus liderados, estimula a caminhada para novos horizontes, e dá apoio,

acompanha, avalia, planeja junto, aceita as ideias, as limitações dos outros sem

desistir deles e reconhece suas próprias limitações. Atrapalha quando acha que sabe

tudo e quer fazer tudo sozinho. Não aceita opinião dos outros e se frustra quando

sente que alguém tem pensamentos ou ideias melhores. Geralmente, impõe barreiras

para o desenvolvimento com sucesso das ações. Do líder depende o sucesso e o/ou o

fracasso. (Informação verbal)29

A concepção destes líderes sobre o processo de liderança corrobora resultado de

pesquisa realizada pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão em 2002, sobre as

27

Entrevista concedida pelo Gestor C em outubro de 2013. 28

Entrevista concedida pelo Gestor C em outubro de 2013. 29

Entrevista concedida pelo Gestor C1 em outubro de 2013.

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103

razões que muitos países membros da Organização de Cooperação e Desenvolvimento

Econômico – OCDE tem conferido alta prioridade à liderança.

Entre estas razões está o fato do enfoque da liderança está mudando ao longo do

tempo, onde a eficácia dos líderes atuais se diferencia do estilo de liderança tradicional, cuja

ênfase era sobre o comando e o controle, com papeis bem distintos entre líderes e liderados,

este modelo, no entanto, não tem encontrado mais espaço para se manter em meio a uma

sociedade descentralizada, em que o conhecimento tem sido a mola propulsora do

desenvolvimento assim como a interligação presente nas relações (BRASIL, 2002).

Ao relacionar o estilo de liderança do secretário municipal de educação com a

implantação da prática inovadora Escola de Tempo Integral – ETI, os resultados

demonstraram, assim como nos Municípios de Paragominas e Castanhal que a maioria

absoluta dos entrevistados conferiu ao estilo de liderança a responsabilidade pela implantação

da prática inovadora na Secretaria de Educação em Óbidos afirmando que a participação do

líder foi decisiva, que sem a sua presença a prática inovadora não existiria, conforme pode ser

visto nas figuras 33, 34, 35 e 36, a seguir.

Figura 34 - Práticas inovadoras atribuídas ao líder. Figura 35 - Estilo de liderança decisivo na

implantação da prática inovadora.

Fonte: Da autora (2013).

Fonte: Da autora (2013).

0% 0% 0%

50% 50%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

1 2 3 4 5

Questão 1

0% 0% 7,1%

36%

57%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

1 2 3 4 5

Questão 2

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104

Figura 36 - Inovação e esforços de terceiros. Figura 37 - Participação do líder e existência

da prática inovadora.

Fonte: Da autora (2013). Fonte: Da autora (2013).

Sobre o nível de influência da liderança na implantação de práticas inovadoras em

organizações públicas, os gestores do Município emitiram as seguintes opiniões:

No caso de Óbidos, o estilo de liderança influenciou sim, no sentido de buscar o

novo, o pioneirismo, o desafio de trazer algo inovador para o município. Eu que tive

a ideia de criar a Escola de Tempo Integral e propus o debate junto à sociedade local

e os trabalhadores (...) sou uma pessoa inquieta quando vejo as coisas fora do lugar,

não aceito, isso me dá uma angustia, uma agonia, quero ver as coisas acontecerem,

se for preciso vou lá e coloco as coisas no lugar, gosto de cumprir com minha

palavra em função disso muitas vezes sou visto como um líder “muito duro”, mas no

fundo, no fundo tenho o coração mole, se souberem me levar, as pessoas fazem gato

e sapato de mim. (Informação verbal)30

O líder tanto pode ajudar como atrapalhar. Ajuda quando é provocador, impõe

desafios aos seus liderados, estimula a caminhada para novos horizontes, e dá apoio,

acompanha, avalia, planeja junto, aceita as ideias, as limitações dos outros sem

desistir deles e reconhece suas próprias limitações. Atrapalha quando acha que sabe

tudo e quer fazer tudo sozinho. Não aceita opinião dos outros e se frustra quando

sente que alguém tem pensamentos ou ideias melhores. Geralmente, impõe barreiras

para o desenvolvimento com sucesso das ações. Do líder depende o sucesso e o/ou o

fracasso. (Informação verbal)31

O gráfico a seguir demonstra o nível de influência e importância da participação do

líder na implantação de práticas inovadoras na Secretaria Municipal de Educação de Óbidos.

30

Entrevista concedida pelo Gestor C em outubro de 2013. 31

Entrevista concedida pelo Gestor C1 em outubro de 2013.

7%

50%

28,6%

14%

0% 0%

20%

40%

60%

80%

100%

1 2 3 4 5

Questão 4

0% 0%

14,3%

36%

50%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

1 2 3 4 5

Questão 5

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105

Figura 38- Relação entre estilo de liderança e práticas inovadoras em Óbidos.

Fonte: Da autora (2013).

Mesmo não encontrando um estilo puro de liderança, os dados demonstraram que as

atitudes do líder foram fundamentais para a implantação da prática inovadora na Secretaria

Municipal de Educação de Óbidos.

O resultado geral da pesquisa, sobre o estilo predominante de liderança nos três

municípios pesquisados, conforme pode ser visto na figura abaixo, revelou que os estilos

transformacionais e democráticos predominaram. Isto corrobora as afirmações de Brasil (2002)

sobre o processo de mudança na relação entre líderes e liderados, a autoridade não é mais

absoluta e unilateral, as hierarquias foram achatadas e os líderes públicos atuais precisam

buscar esse envolvimento, não apenas pela obediência ou pelo poder do cargo, mas pela

capacidade de influenciar os liderados e torna-los seguidores e acreditar nas organizações.

0,4% 4,9%

9,5%

33,9%

51,2%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%

1 2 3 4 5

Relação entre estilo de liderança e práticas Inovadoras - Obidos

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106

Figura 39 - Prefil geral predominante dos líderes dos municípios.

Fonte: Da autora (2013).

O estilo transformacional, ainda que com pequena diferença, prevaleceu entre os

gestores de um modo geral, demonstrando mais uma vez, conforme afirma Bresser Pereira

(1996), que os novos rumos que vem sendo dado a administração pública é o caminho para

superação dos velhos modelos de gestão tradicionais e a solidificação de um modelo de gestão

onde a inovação e posturas empreendedoras se apresentam como temas importantes. Neste

novo contexto, a liderança se apresenta sob um novo enfoque onde os desafios, engajamento e

influência sobrepõem às soluções, obediência e autoridade.

Na gestão pública dada a sua cultura conservadora, hierarquizada e burocrática, como

apontou Pires e Macedo (2006), o desafio para realizar inovações é bastante complexo, assim

como o processo de gestão, no entanto, mesmo diante dos desafios e de barreiras como o

burocratismo os gestores dos municípios pesquisados conseguiram implantar práticas

inovadoras adotando um estilo de liderança diferente do esperado de gestores das

organizações públicas que conforme aponta a literatura possuem posturas mais autoritárias,

centralizadoras e avessas às práticas empreendedoras (CARBONE, 2000).

6.3 DISCUSSÕES FINAIS

Discutir inovação e liderança no âmbito da gestão pública implica inevitavelmente

colocar no centro do debate a cultura institucional predominante na gestão pública brasileira.

Mesmo com as transformações pelas quais tem passado, especialmente, como parte do

12%

31%

25%

32%

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35%

Autoritário

Democrático

Situacional

Transformacional

Perfis geral predominantes dos líderes

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107

processo de transição para a democracia, muitas de suas características tradicionais

permanecem fortes e bem presentes no cotidiano das organizações, estas características

podem ser atribuídas aos determinantes culturais, herança dos modelos tradicionais de gestão

que acompanha a administração pública. Nesta perspectiva, é correto afirmar que a cultura das

organizações públicas é que as conduzem as burocracias tradicionais tornando-as complexas,

centralizadoras, com estruturas rígidas pouco criativas e avessas as inovações.

Ao contrário das organizações privadas, na administração pública, o líder está

submetido a altos níveis de responsabilidade, de regras e restrições legais que se apresentam

como barreiras para uma boa liderança, além de pouca flexibilidade para lidar com seus

liderados, fazer correções e principalmente para admitir ou demitir quando necessário. Inovar

e liderar neste contexto são desafiadores, requer posturas diferenciadas dos seus gestores para

implantar mudanças, sem ferir o princípio da legalidade, por exemplo.

Em que pesem todas as barreiras e desafios comuns na administração pública, para

realizar inovações, o resultado deste estudo, demonstrou que há um movimento de mudança

na gestão das políticas públicas municipais, conforme afirmou Pinho (2008) e Farah (1997,

1998). Buscam-se novas alternativas para melhorar o processo de gestão ao mesmo tempo em

que gradativamente se tenta romper com uma cultura autoritária e hierarquizada de se

formular e desenvolver políticas públicas, comum na trajetória da administração pública

brasileira. Neste contexto pode-se afirmar que é possível encontrar gestores com perfis de

liderança no setor público

As práticas identificadas nos três municípios revelam um cenário onde os governos

subnacionais buscaram a modernização da gestão por meio de iniciativas criativas,

duradouras, passiveis de replicação e que alteraram a realidade e a vida das pessoas. Nesta

perspectiva, é possível confirmar o que Spink (2003) considera, entre outros, essencial numa

prática inovadora, que é a sua capacidade de produzir mudança substantiva, qualitativamente

ou quantitativamente em relação às práticas anteriores bem como apontar os caminhos para

que esta possa ser repetida em outras realidades.

Retomando os indicadores apresentados neste trabalho, onde se considerou como

inovação o desenvolvimento de ações que procuram romper com a setorização das políticas

públicas e com a centralização dos processos de decisão, ampliando a participação de

trabalhadores e sociedade civil, a pesquisa demonstrou que:

a) os gestores procuraram desenvolver suas práticas por meio de ações intersetoriais,

por meio da articulação de saberes, experiências e relações sinérgicas as práticas foram sendo

implantadas e os objetivos estão sendo alcançados. O amadurecimento, no entanto, deste

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108

instrumento para realização de ações conjuntas requer pesquisa, planejamento e avaliação que

só o tempo e a experiência é que irar apontar, porém o esforço está sendo feito;

b) o processo de descentralização das estruturas de decisão buscando o envolvimento

dos trabalhadores de modo geral se mostra presente nas três organizações.

A distribuição de competências entre coordenadores, diretores das escolas,

professores e merendeiras revelou-se bastante claro, ao contrário da participação da

comunidade que ainda se faz de forma tímida quando o assunto é o planejamento de novas

práticas. A participação da comunidade interessada (cliente) é mais intensa durante o processo

de execução da prática, exceção apenas para a Escola de Tempo Integral do Município de

Óbidos onde a comunidade esteve presente em grande parte do processo de planejamento e

execução do projeto. Isto se deve provavelmente ao fato de que a presença da escola no bairro

impactava diretamente na vida das famílias e o engajamento da prefeitura em envolver a

comunidade.

Este cenário corrobora o ponto de vista de Farah (1997), quando ela afirma que muitas

iniciativas inovadoras dos governos de um modo geral não envolve uma participação ativa,

dos cidadãos, mas somente a sua inclusão formal em espaços específicos e limitados de gestão

ou execução, criando uma participação controlada, instituída de cima para baixo. No entanto,

não nega que existe, uma preocupação com a inclusão de novos atores no âmbito das políticas

públicas, sendo este um processo de aprendizado mais lento, que será incorporado

efetivamente na cultura institucional ao longo do tempo.

As práticas desenvolvidas se mostraram como espaço de ampliação da cidadania ao

propor ações que abrangem populações até então excluídas como é caso dos povos indígenas,

dos quilombolas, dos pequenos agricultores rurais e de crianças e adolescentes socialmente

vulneráveis. Este dado corrobora as afirmações de Pinho e Santana (1998), que ao construir

categorias para classificar as intervenções municipais como inovadoras apontou entre outras a

inclusão dos marginalizados e das minorias, o resgate de valores tradicionais que se perderam

na contemporaneidade e a criação de novos valores para enfrentar o processo de

desenvolvimento atual como prática inovadora.

Os gestores também investiram em qualificação dos trabalhadores diretamente

envolvidos com a prática inovadora, como as merendeiras e os professores. A Secretaria

Municipal de Educação de Paragominas ao que demonstrou a pesquisa foi a que mais investiu

no processo de valorização do funcionalismo (merendeiras) através da melhoria das condições

de trabalho e de salário e não somente na realização de homenagens e premiações ao

desempenho individual. Estes achados sugerem mudanças na forma de gestão de organizações

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109

estatais conforme afirmou Farah (1997), ao demonstrar que os governos investem na

formação e qualificação de servidores bem como na valorização do funcionalismo, através de

melhoria de condições de trabalho e de melhoria salarial.

Quanto às premiações, somente as duas práticas voltadas para a gestão eficiente da

merenda escolar receberam prêmios pelos resultados positivos. Destaque vai para o município

de Paragominas que ganhou todos os anos, desde a criação do concurso, o Prêmio Gestor

Eficiente da Merenda Escolar. As pesquisas apontaram, no entanto, em particular na

Secretaria Municipal de Educação de Castanhal, a necessidade de criar mecanismos como

(relatórios de gestão, vídeos, imagens) para registro dessas práticas, facilitando sua

disseminação para outros municípios, servindo ainda de base de dados para pesquisas, não

devendo ser armazenadas somente na memória dos funcionários mais antigos.

As demais práticas apresentadas neste trabalho não participaram de nenhum concurso

no segmento, porém, não as excluem da categoria inovação, haja vista, que na prática

contribuiu para mudar radicalmente e para melhorar práticas anteriores consideradas

tradicionais. A presença dessas mudanças na gestão de organizações públicas municipais de

municípios de médio porte refletem transformações no modelo de gestão tradicional,

predominante na esfera pública e consequentemente mudanças nas relações entre o Estado e o

cidadão.

Com base nas pesquisas de Farah (1997), no qual se identificou algumas tendências de

mudanças na administração pública subnacional referentes a práticas inovadoras, a realidade

dos municípios paraenses pesquisados parece seguir a mesma tendência nacional, isto

provavelmente ocorre dada a estruturação dos projetos federais que de algum modo já

apontam o caminho a ser seguido, cabendo, no entanto, a habilidade e disposição dos gestores

a adequação destes projetos as suas realidades, de forma criativa e inovadora, conforme

aconteceram nos Municípios de Castanhal, Óbidos e Paragominas.

Os achados desta pesquisa apontam para novos caminhos na gestão pública em nível

local, isto implica dizer que as inovações na gestão pública promovidas por governos

subnacionais, incluem mudanças não somente no conteúdo das políticas mas principalmente

na maneira como se dá sua formulação e implementação incluindo a postura do líder diante

dos seus liderados e da inclusão de novos atores que passam a fazer parte do processos

decisórios.

As práticas encontradas nos municípios pesquisados revelam uma gestão pública

engajada e comprometida com a qualidade dos serviços prestados à sociedade. Ainda que as

criações não tenham surgido nos próprios municípios, mas a sua implementação demonstrou

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110

postura diferenciada dos gestores no trato com a coisa pública, postura que por si só pode ser

considerada inovadora, pois ao romper com aquilo que efetivamente engessa a gestão pública

que é a burocracia e a centralização, os gestores conseguiram objetivos concretos mesmo

diante da multiplicidade de objetivos simultâneos que precisam ser alcançados.

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111

7 CONCLUSÃO

Nas três últimas décadas a administração pública vem passando por um intenso

movimento de mudanças, resultado de importantes reformas realizadas que buscam a

modernização da gestão pública. A introdução, no entanto, de novos modelos de gestão, não

é garantia de que todas as organizações públicas se tornem criativas e inovadoras, uma vez

que coexistem com os novos modelos, traços patrimonialista e burocrático de gestão que se

apresentam como barreiras para implementação de mudanças.

Para além das mudanças nos processos de gestão e na estrutura organizacional, a

inovação no serviço público é resultado de um processo coletivo que envolve crenças, valores,

conhecimento, habilidades e principalmente atitudes dos servidores de um modo geral e das

lideranças públicas. Assim, nem sempre a iniciativa de inovar se efetiva, haja vista que as

organizações tendem a repetir processos e padrões arraigados e a adotar comportamentos

conservadores. As disfunções da burocracia, aliada aos arranjos políticos e aos interesses

pessoais produz o “engessamento” da “máquina pública” limitando na maioria das vezes a

criatividade de seus líderes e de suas equipes de trabalho.

Há, porém, diversos programas e projetos no âmbito da gestão pública, que vem

procurando romper com esta cultura ao incentivar e apoiar iniciativas criativas e inovadoras

que produzem mudanças significativas na gestão por meio de campanhas de premiação e

reconhecimento de projetos inovadores. Registram-se inovações voltadas à participação do

cidadão na formulação, na implementação, no controle e avaliação das políticas públicas,

voltadas a busca de parcerias entre os diferentes órgãos, a integração de ações e políticas

públicas e voltadas para mudanças na forma de gestão, com ênfase a descentralização e

democratização da gestão e do processo decisório.

Todavia, mesmo diante desses incentivos, nem todas as gestões públicas se mostram

dispostas a realizar inovações. Paradoxalmente, em que pesem todas as dificuldades

encontradas para inovar no âmbito da gestão pública, algumas organizações conseguem fazer

diferente, em especial em governos subnacionais. Entre os motivos que levam as organizações

a adotarem atitudes diferenciadas no que tange a implantação de práticas inovadoras, pode

estar o estilo de liderança de cada gestor ou da forma como liderar equipes de trabalho.

Diante disto, o objetivo da pesquisa foi verificar de que forma as práticas inovadoras

na gestão pública municipal implantadas em organizações de municípios paraenses de

Castanhal, Paragominas e Óbidos, no período de 2005 a 2012, tem relação com o estilo de

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112

liderança dos seus gestores e se a postura dos líderes influenciaram na implantação destas

práticas.

O resultado da pesquisa revelou que o estilo de liderança, foi decisivo para a

implantação das práticas inovadoras demonstrando que assim como nas organizações

privadas, é possível encontrar líderes inovadores em organizações públicas.

O estilo de liderança foi reconhecido como fator fundamental para enfrentar as

dificuldades de implementação de processos de inovação nas organizações públicas, incluindo

aspectos relativos à busca de maiores níveis de responsabilidade institucional para com os

seus resultados. Revelou-se ainda como uma variável essencial para conduzir o

aperfeiçoamento da capacidade de gestão e do desempenho organizacional, cabendo ao líder o

papel de criar o clima propício à inovação, devendo ser capaz de mobilizar as pessoas por

meio de um ambiente organizacional motivador.

A pesquisa revelou também que não houve predominância de um estilo de liderança,

no entanto, os estilos de liderança transformacional e democrático se mostraram mais

presentes entre os líderes dos municípios pesquisados, confirmando a hipótese levantada no

inicio deste trabalho.

A predominância de líderes com perfis mais transformacionais e democráticos

demonstrou que o processo de liderança na gestão pública está mudando, mudanças que

ocorrem por meio do constante exercício de repensá-la e de ajustá-la às transformações pelas

quais vem passando a administração pública nas últimas três décadas. Para corroborar estas

afirmações, o estilo de liderança autoritária que em geral é apontado como o mais encontrado

em organizações públicas não predominou nos municípios pesquisados.

Os antigos “chefes” ou somente gestores parecem incompatíveis com a realidade da

nova gestão pública, a tendência é surgirem mais líderes com capacidade para tomar decisões

em grupos, para estimular a criatividade dos seus liderados e com credibilidade para fazer

convergir os interesses individuais em interesses coletivos.

Nesta perspectiva, a liderança transformacional tende a adotar comportamentos que

ativam fortes emoções nos liderados, gerando confiança e identificação com o líder. Estimula

a tomada de consciência dos problemas por meio do estímulo a criatividade e a inovação, ao

mesmo tempo em que atende a necessidade de desenvolvimento do potencial dos liderados. A

liderança democrática por outro lado estimula à participação dos liderados no processo

decisório, a equipe possui autonomia para debater o processo de trabalho e apontar soluções

para os problemas.

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113

O resultado da pesquisa de um modo geral revela que a nova gestão pública tem

buscado desenvolver lideranças politicamente responsáveis pelo aprimoramento da gestão,

capazes de interagir com grupos sociais diversos e intelectualmente preparadas para analisar

problemas difíceis e oferecer soluções criativas e inovadoras para questões de ordens

técnicas-administrativas e humanas. Concluo então que, as lideranças públicas possuem

compreensão política, social, econômica, legal, de negócios e de como gerenciar processo

com pessoas.

Mesmo havendo um reconhecimento, do ponto de vista teórico e prático, da

importância da liderança nos processos de mudanças na gestão pública, importa questionar e

aprofundar mais os estudos sobre que tipo de liderança, considerando o contexto cultural,

político e social da administração pública brasileira, é necessário para implantar inovações em

outras esferas de governo. Qual a relação existente entre estilo de liderança e os modelos de

gestão? Há possibilidade real para o exercício da liderança em um ambiente de pouca

autonomia? Também outras questões podem ser trabalhadas em outras pesquisas como a

participação da legislação como impedimento a criatividade e inovação na gestão pública.

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124

APÊNDICE A – Práticas Inovadoras

Prezado(a) Sr(a),

Estamos realizando uma pesquisa sobre o estilo de liderança dos gestores municipais e

sua relação com a implantação de práticas inovadoras neste município no período de 2005 a

2012. As perguntas deste questionário têm o objetivo de avaliar a percepção dos servidores

deste município sobre o assunto e servirá de base para nossa dissertação do Mestrado em

Administração da Universidade da Amazônia - UNAMA. Suas respostas são muito

importantes. Desde já agradecemos sua colaboração com nossa pesquisa.

Informações Gerais do Participante:

1. Tempo de Serviço Público Municipal: .....................Anos

2. Forma de vinculação no Serviço Público Municipal: [ ] Efetivo [ ]

Contratado [ ] Comissionado [ ] Outros

3. Qual sua idade:.........................

4. Qual salário? (Referência SM = R$ 680,00):.............................

5. Escolaridade: [ ] Ens. Fundamental [ ] Ens. Médio [ ] Ens. Sup.

Incompleto

[ ] Ens. Sup. Completo [ ] Pós-Graduação Incompleta [ ] Pós-Graduação

Completa

6. Em que Secretaria você trabalha? ...............................................................................

7. Em que Unidade da Secretaria você trabalha?.............................................................

8. Há quanto tempo atua nesta unidade?.........................................................................

9. Em sua opinião, este município implantou alguma prática que você considera inovadora, no

período de 2005 a 2012? [ ] Sim [ ] Não

10. Se sua resposta for “Sim”, cite nas linhas abaixo, no máximo, três práticas:

Prática 1: ....................................................................................................................................

Prática 2:.....................................................................................................................................

Prática 3:.....................................................................................................................................

11. Justifique abaixo os motivos pelos quais você considera, pelo menos, uma dessas práticas

inovadoras:

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125

12. Marque com um X respondendo SIM ou NÃO para cada questão que você citou sobre as

Práticas Inovadoras (Questão 10).

Prática Inovadora Indicada (Questão 10). Prática: 1 [ ] 2 [ ] 3 [ ] Sim Não

12. Esta prática foi idealizada no próprio município (Secretaria/Unidade)?

13. Esta prática foi baseada em outras experiências de fora do município?

14. Esta prática mudou para melhor outras práticas anteriores desenvolvidas no

município?

15. Esta prática trouxe algo que melhorou muito a qualidade de vida do município?

16. No processo de construção desta prática houve a participação de servidores desta

ou de outra Secretaria?

17. No processo de construção desta prática houve a participação de representações da

sociedade local?

18. Esta prática tem ações integradas entre diferentes áreas das secretarias municipais?

19. Esta prática tem resultados que você considera referência para o município e para

outros “copiarem”?

20. O município já foi premiado por organizações ( públicas ou privadas) pelo êxito

desta prática?

21. Há documentos disponíveis (relatórios, dados, imagens etc.) que comprovem o

êxito desta prática?

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APÊNDICE B – Estilo de Liderança

Prezado(a) Sr(a),

Estamos realizando uma pesquisa sobre o estilo de liderança dos gestores municipais e

sua relação com a implantação de práticas inovadoras neste município no período de 2005 a

2012. As perguntas deste questionário têm o objetivo de avaliar a percepção dos servidores

deste município sobre o assunto e servirá de base para nossa dissertação do Mestrado em

Administração da Universidade da Amazônia - UNAMA. Suas respostas são muito

importantes. Desde já agradecemos sua colaboração com nossa pesquisa.

Informações Gerais do Participante:

1. Tempo de Serviço Público Municipal: .....................Anos

2. Forma de vinculação no Serviço Público Municipal: [ ] Efetivo [ ]

Contratado [ ] Comissionado [ ] Outros

3. Qual sua idade:.........................

4. Qual salário? (Referência SM = R$ 680,00):.............................

5. Escolaridade: [ ] Ens. Fundamental [ ] Ens. Médio [ ] Ens. Sup.

Incompleto

[ ] Ens. Sup. Completo [ ] Pós-Graduação Incompleta [ ] Pós-Graduação

Completa

6. Em que Secretaria você trabalha? ...............................................................................

7. Em que Unidade da Secretaria você trabalha?.............................................................

8. Há quanto tempo atua nesta unidade?........................................................................

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A partir de agora, solicitamos sua colaboração, marcando com um X dentro dos quadrinhos que

considerar mais adequado a cada afirmativa. Lembrando que só é possível escolher uma das alternativas,

obedecendo a escala de resposta de 1 a 5, conforme explicação abaixo:

(1)

Discordo Totalmente

(2)

Discordo

(3)

Nem Concordo,

Nem Discordo

(4)

Concordo

(5)

Concordo

Totalmente

Atitudes e Comportamentos do Chefe/Líder 1 2 3 4 5

1. Ele (o Líder/Chefe) inspira medo e obediência.

2. Expõe seus pontos de vista e espera que os outros compartilhem das suas opiniões

3. Está sempre decidido a adotar a melhor estratégia para execução das tarefas

4. Sempre motivado a tomar decisões que ele considera correta para resolver os problemas

5. Ele acredita somente na sua capacidade para direcionar seu grupo

6. Gosta de trabalhar com planejamento e metas bem definidas

7. Estimula a equipe, por meio de ordens e regras pré-estabelecidas.

8. Fiscaliza as atividades, aplica punições e cobra melhor desempenho.

9. Concentra as funções e determina tarefas.

10. Desafia seus liderados ao cumprimento de Leis e regulamentos da organização.

Atitudes e Comportamentos do Chefe/Líder 1 2 3 4 5

1. É um bom exemplo de gestor eficiente.

2. Compartilha sua visão sobre a gestão, estimulando seus liderados a exporem as suas

ainda que sejam diferentes.

3. Demonstra tolerância e disposição para o debate na execução das tarefas.

4. Está sempre motivado a trabalhar de forma participativa.

5. Acredita no potencial de sua equipe e dá demonstrações disso.

6. Gosta de trabalhar com diretrizes debatidas e decididas pelo grupo.

7. Apoia seus liderados quando há necessidade de melhorar o desempenho profissional

8. Monitora as atividades visando correções para melhoria do desempenho

9. Delega funções e compartilha decisões

10. Estimula a participação do grupo na escolha de alternativas para atingir metas e

objetivos

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Atitudes e Comportamentos do Chefe/Líder 1 2 3 4 5

1. Meu líder é um modelo a ser seguido

2. Estimula a visão dos liderados com base no orgulho respeito e confiança

3. Possui visão estratégica, focaliza principalmente missões e estratégias para

cumprir objetivos atuais e futuros.

4. Gosta de trabalhar com desafios e contagia as pessoas com suas ideias

5. Acredita no potencial de seus liderados

6. Sugere, orienta e aconselha seus liderados.

7. Estimula seus liderados a elevar o potencial de desempenho

8. Monitora as atividades e apoia as fragilidades

9. Delega funções e estimula a autonomia dos liderados

10. Desafia os liderados com novas ideias e abordagens.

Associação entre Práticas Inovadoras e Chefia/Liderança 1 2 3 4 5

1. A(s) prática(s) inovadora(s) implantada(s) na minha unidade/secretaria pode(m) ser

atribuída(s) as atitudes do meu líder.

2. O estilo de liderança do meu líder foi decisivo na implantação dessa(s) prática (s)

3. O estilo de liderança foi decisivo para o êxito da (s) prática (s) inovadora (s)

4. A(s) inovação(s) se deve muito mais aos esforços de outras pessoas do que do meu

líder.

5. Sem a participação do meu líder a (s) prática (s) inovadora(s) não existiria

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APENDICE C - Entrevista

Roteiro Estruturado de Entrevista (Secretários Municipais)

1. O(a) senhor(a) se considera um líder? Por que?

2. Em sua opinião, quais as características que um líder necessita ter para desenvolver suas

atividades com êxito?

3. O(A) senhor(a) acredita que o estilo de liderança pode influenciar na implantação de

práticas inovadoras em organizações públicas?

4. Quais as principais dificuldades para que práticas inovadoras sejam implantadas na gestão

pública municipal?

5. Qual sua opinião sobre o nível de influência do líder na implantação de práticas

inovadoras?

6. A quem o senhor atribui a idealização e o êxito da(s) prática(s) inovadora(s) implantada(s)

nesta Unidade/Secretaria no período de 2005 a 2012?