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Lua Cheia .:. Outubro de 2017 .:. nº 225 Uma publicação do Círculo de Mulheres da Teia de C elebramos no dia 5 de outubro a Serpente do Arco‐íris, Deusa aborígene criadora da vida, nativa da Austrália. Também conhecida como Julunggul, ela rege as chuvas, os rios e a água do mar. Suas bênçãos fluem na vida das pessoas trazendo filhos, alegria de viver, saúde, conhecimento das artes de cura mágicas e a renovação dos ciclos da natureza e da vida humana. Sua mitologia está intimamente ligada à abundância da terra, à água, às relações sociais, à fertilidade e sexualidade. Seus principais símbolos são a serpente, o arco‐íris, as flores, a chuva e as pérolas. O cristal de quartzo e as conchas marinhas também estão associados a ela e são utilizados em rituais para invocá‐la. Segundo registros, a identificação com essa pedra pode estar ligada ao círculo de luz que às vezes aparece ao redor da Lua, o que, segundo a tradição, seria um sinal da chuva chegando. N a c i d a d e d e Queensland, Austrália, ocorre em torno desta época do ano o “Carnaval das Flores”, comemoração que honra a alegria de viver, cuja tradição celebra o princípio da vida simbolizado pela Serpente do Arco‐ Serpente do Arco-íris, a Deusa aborígene criadora da vida Por Shirley de Histórias associadas à Deusa são encontradas em diversas tribos aborígenes e variam de acordo com a influência do meio‐ambiente de cada região. Na maioria dos contos, sua identidade é feminina, mas às vezes relatada como masculina e até andrógina, neste caso representada por uma serpente com seios. Porém, os ciclos da natureza e a importância da água na vida humana são pontos comuns entre os contos. Algumas lendas contam que, no momento da criação, a Terra era plana, nua, sem cor e fria. Foi a Serpente do Arco‐íris que desceu do céu e se moveu sobre a face do planeta criando vales e rios profundos, alimentando‐o e dando forma. Ela povoou o mundo com os seres humanos, as plantas e os animais. Em outra versão popular, a Deusa dormia debaixo do chão com todas as tribos de animais na barriga esperando para nascer. Quando chegou a hora, os empurrou para cima, jogou a terra, fazendo montanhas, colinas, e derramou água, fazendo rios e lagos. Criou ainda o sol, o fogo e todas as cores. Também foi a sábia Serpente que ensinou aos homens as leis da comunidade, organização, ética e do respeito.

Serpente do Arco-íris, a Deusa aborígene criadora da vida · da terra, à água, às relações sociais, à fertilidade e ... bissexuais e transgêneros.A lenda da Grande Serpente

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Lua Cheia .:. Outubro de 2017 .:. nº 225

Uma publicação do Círculo de Mulheres da Teia de

Celebramos no dia 5 de outubro a Serpente doArco‐íris, Deusa aborígene criadora da vida,nativa da Austrália. Também conhecida como

Julunggul, ela rege as chuvas, os rios e a água do mar.Suas bênçãos fluem na vida das pessoas trazendofilhos, alegria de viver, saúde, conhecimento das artesde cura mágicas e a renovação dos ciclos da naturezae da vida humana.

Sua mitologia está intimamente ligada à abundânciada terra, à água, às relações sociais, à fertilidade esexualidade. Seus principais símbolos são a serpente,o arco‐íris, as flores, a chuva e as pérolas. O cristal dequartzo e as conchas marinhas também estãoassociados a ela e são utilizados em rituais parainvocá‐la. Segundo registros, a identificação com essapedra pode estar ligada ao círculo de luz que às vezesaparece ao redor da Lua, o que, segundo a tradição,

seria um sinal da chuvachegando.

N a c i d a d e d eQueensland, Austrália,ocorre em torno destaé p o c a d o a n o o“Carnaval das Flores”,c o m e m o r a ç ã o q u ehonra a alegria de viver,cuja tradição celebra o

princípio da vida simbolizado pela Serpente do Arco‐

Serpente do Arco-íris, a Deusaaborígene criadora da vida

Por Shirley de

Histórias associadas à Deusasão encontradas em diversastribos aborígenes e variamde acordo com a influênciado meio‐ambiente de cadaregião. Na maioria doscontos, sua identidade éfeminina, mas às vezesrelatada como masculina eaté andrógina, neste casorepresentada por umaserpente com seios. Porém, os ciclos da natureza e aimportância da água na vida humana são pontoscomuns entre os contos.

Algumas lendas contam que, no momento da criação,a Terra era plana, nua, sem cor e fria. Foi a Serpente doArco‐íris que desceu do céu e se moveu sobre a facedo planeta criando vales e rios profundos,alimentando‐o e dando forma. Ela povoou o mundocom os seres humanos, as plantas e os animais. Emoutra versão popular, a Deusa dormia debaixo dochão com todas as tribos de animais na barrigaesperando para nascer. Quando chegou a hora, osempurrou para cima, jogou a terra, fazendomontanhas, colinas, e derramou água, fazendo rios elagos. Criou ainda o sol, o fogo e todas as cores.Também foi a sábia Serpente que ensinou aoshomens as leis da comunidade, organização, ética edo respeito.

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Para o historiador de arte Georges Petitjean, osrecortes do mito que identificam a Serpente do Arco‐íris com vários gêneros e a sua bissexualidade pode terservido de base para inspirar a bandeira do arco‐ íriscomo símbolo das comunidades lésbicas, gays,bissexuais e transgêneros.A lenda da GrandeSerpente também foi adotada inclusive em umepisódio político, como tema de uma campanhacontra a extração de urânio na Austrália. Utilizando aforça do mito, a mensagem lembrava que a mineraçãoe suas consequências poderiam perturbar a Serpentee despertar sua ira, utilizando a reação da Deusa comouma metáfora para a destruição ambiental.O poderdo sangue menstrual?Um dos principais símbolos daSerpente do Arco‐íris é sua associação ao sanguehumano ‐ o da circulação e o menstrual ‐, consideradoum elemento da perpetuação da vida e de cura. Oscontos mais populares relativos a esta simbologiatrazem versões da história das irmãs Wawalag ouWagilag.Um deles narra uma viagem das irmãs juntaspor aquelas terras, quando a mais velha entra emtrabalho de parto. Ao dar a luz perto de um rio, osangue pós‐natal flui para um poço de água onde aSerpente do Arco‐íris vive e a desperta. Em outrorecorte, é o sangue menstrual que atrai a atenção dacobra. Seguindo o cheiro dele, ela entra na cabanaonde as irmãs descansam (lembrando uma metáforafálica de penetração ao útero), engole seus filhos edepois os regurgita, agora como homens. Algunsaborígenes nas regiões de Kimberley acreditam que aSerpente do Arco‐íris depositou crianças espirituaisnos rios e no mar, fertilizando as mulheres quemergulham nas águas.A menstruação é sagrada emmuitas culturas indígenas australianas por marcar opoder da mulher de trazer a vida ao mundo,representando o mesmo dom da criação manifestadopela Serpente do Arco‐íris. Histórias sobre as irmãsWawalag são contadas em vários clãs dos aborígenesaustralianos, e influenciam rituais de fertilidade e deiniciações masculinas realizadas até hoje. Em algumastribos eles recriam a representação da Serpenteengolindo as irmãs por meio de dança e dapantomima.Em outras cerimônias os homens tentamimitar o sangramento menstrual, consideradosagrado, cortando os braços e/ou os próprios pênis eescorrendo o sangue por seus corpos. Há relatos ondese misturam esse sangue ao sangue menstrual,deixando‐os fluir juntos, simbolizando a uniãocerimonial do casal, das polaridades masculina efeminina, o vínculo entre o sangue e a vida entre amenstruação e o nascimento.Existem registros dedesenhos rupestres da Serpente do Arco-írisdatados há mais de 6 mil anos atrás. Devido à sua

estação úmida todos os anos, pintando o Céu com seuarco‐íris e permitindo que todas as formas de vida semultipliquem. Outro mito do Território do Norte contaque como uma grande mãe ela chegou do mar,viajando pela Austrália e dando a luz a várias tribosaborígenes.

Os contos relatam ainda que, diferente do Sol que éestável, a Deusa Serpente é imprevisível. Seu podertambém pode ser destrutivo se não for devidamenterespeitado. Com sua força, pune qualquer um quetenha quebrado uma lei, afogando‐o em inundações.O trovão, o relâmpago, as tempestades e os ciclonessão manifestações de sua ira.

A força da cultura ancestral?

Estudiosos acreditam que o mito da grande Serpenteé herança das extintas cobras pré‐históricas quehabitaram a Terra. Fósseis gigantescos dessasespécies ‐ entre elas a wonambi naracoortensis ‐foram encontrados em diversos locais do mundo,datados de até 55 milhões atrás. Já a cultura dosaborígenes australianos é considerada a mais longa epreservada da história. As estimativas marcam suaorigem há cerca de 50 a 65 mil anos.

Antes da colonização europeia da Austrália, haviamais de 600 países aborígenes diferentes,identificados de acordo com a língua. Para essesnativos, ao abraçar o passado mítico e lembrar asabedoria de seus ancestrais, eles recriam a sagradaconfiança entre o Céu e a Terra e asseguram um futuropara a humanidade. Seus mitos contêm protocolosde comportamento ocial, valores culturais, sistemasde crenças e de cura, incluindo castigos e formas dedisciplina, passados de geração em geração.

Suas práticas tradicionais também se fundem aosconceitos econômicos e ecológicos, e no cuidado como meio ambiente. Muitas histórias trazem mensagensseparadas para homens e mulheres. Além disso, oconhecimento sobre a lei ancestral é transmitidoprogressivamente à nova geração, na medida em queos nativos avançam pela vida, em cerimônias como asde iniciação.

Além da perpetuação dos mitos e dos rituais, aimportância da continuidade desse legado éreferenciada na cultura moderna da região. Ascrenças tradicionais podem ser identificadas na arte,literatura, música e nos movimentos sociais. Porexemplo, o “The Rainbow Serpent Festival”, umfestival de música anual que ocorre na Austrália e estáem sua 20ª edição. Já o “Rainbow Serpent Project” éuma série de filmes que documentam a jornada docineasta em vários locais sagrados em torno da Terra.Ambos inspirados no mito da Serpente Arco‐íris.

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conexão com a vida!

*Texto com referências dos livros “Anuário daGrande Mãe” e “Faces Escuras da Grande Mãe” deMirella Faur, site do governo da Austrália eadaptações da Internet

As sombras de um Círculo de MulheresPor Shirley de Medeiros

Blog: asabida.wordpress.com

Estamos reaprendendo a nos relacionar comoutras mulheres sem a energia daconcorrência, da rivalidade e desconfiança.

Integrar um Círculo de Mulheres é algo poderoso,que nos traz uma sensação de “retorno ao lar”, nosfortalece e empodera, na medida em queencontramos aceitação, sol idar iedade ereciprocidade. Porém, como em nós e em nossosrelacionamentos com os outros e nos grupos, osCírculos de Mulheres também têm sombras e,muitas vezes, depois daquele período de“enamoramento” inicial, os conflitos aparecem.E aí,aquela roda tão mágica, de apoio, empoderamentoe cura começa a ruir, e com ela nossos sonhos deuma nova realidade. É muito triste e frustrantequando um círculo se desfaz… Além da decepção,muitas se sentem órfãs da energia de suporte queele gerou. Sim, pois ela é real e poderosa. Mas aroda se desfez sozinha ou foram nossas ilusõesacerca uma das outras que caíram? Ou será aempolgação da nossa face Donzela que se frustrouquando a intimidade e as diferenças seapresentaram?É necessário estarmos atentas àsnossas projeções, aquilo que, na verdade, é tãonosso que nos cutuca e incomoda refletido nasoutras mulheres: contro le, preconcei to,expectativas, inflexibilidade, imaturidade, hipocrisia,vitimismo… É grande a lista do que precisamos ficarde olho. Podemos nos perguntar: qual o meu papele influência na “sombra” que se apresenta nessecírculo? Nosso trabalho de autoconhecimentoreverbera na roda, cuja energia é a confluência daemanação de todas as integrantes. A ideia aqui nãoé reprimir a “sombra” mas sim trabalhá-la. Deixaremergir, acolher e resolverjuntas!“Dentro do círculoveremos nossa sombra refletidae projetada de volta para nós. Se

Conecte-se!

A serpente é dos principais símbolos arcaicos daDeusa. Ela representa a sabedoria feminina, suacapacidade de cura e regeneração, devido a suapermanente troca de pele e constantetransformação. Presente em várias culturas, exprimeconceitos dos ciclos da vida, do mundo subterrâneoe do oceano primordial, bem como a imortalidade, aenergia vital e a cura nas simbologias do Ouroboros,

da Kundalini e doC a d u c e u ,respectivamente. Poroutro lado, ela estál i g a d a a c r e n ç a snegativas impostasdurante a perseguiçãoe degradação do cultoà Deusa e ao poderfeminino. Histór iascomo a expulsão deEva do paraíso poraceitar o al imentooferecido pela DeusaSerpente e a difamaçãode Medusa - Deusa

Anciã da Lua Negra, magia e sexualidade, que tevesua cabeça “decapitada” pelo patriarcado e seuculto totalmente desacreditado -, deixaram marcasprofundas e preconceituosas em nossoinconsciente. O que pode dificultar a ligação com aforça energética e transformadora desse símboloem nossa psique. Segundo Mirella Faur, em seulivro as Faces Escuras da Grande Mãe, “as mulheresque pertencem ao caminho do sagrado femininodevem trabalhar o arquétipo da serpente,dissociando-o dos seus medos atávicos eanalisando os bloqueios pessoais relacionados àsexualidade, criatividade, assertividade, sabedoria epoder”.Aproveite o dia em que celebramos a DeusaSerpente do Arco-íris para se conectar com o podere a força desse símbolo: como você estávivenciando sua sexualidade, com nutrição, prazer econexão ao seu sagrado feminino? Ou a partir daslimitações e crenças negativas impostas pelopatriarcado? A forma como se sente após estasvivências é um bom sinal para responder a estasperguntas. Você tem respeitado e fluído nosmovimentos de expansão, plenitude e quietude queos ciclos do seu corpo feminino necessitam? Suarelação com o sangue menstrual e os incômodosantes e durante a menstruação podem indicar umcaminho para melhorar essa compreensão.Peça aDeusa Serpente que fortaleça sua energia vital,aguce sua fertilidade, capacidade de criar e de se

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quando a própria natureza entrava em declínio.Festejavam-se ao mesmo tempo a última colheita, oabate dos animais para garantir a sobrevivênciahumana durante os meses de inverno e a lembrançadaqueles que tinham passado para o mundo dosespíritos, ao longo do ano.Os nomes dascomemorações dos ancestrais variavam de um paíspara outro – “Pitra Visarjana Amavasya”, na Índia; “ODia das almas errantes”, no Tibet; “Festival Obon”, noJapão; e “A festa dos fantasmas famintos”, na China.Na África, em Daomé (atual Benim), celebrava-se“colocar a mesa”; na Sicília, na festa dos “I Morti” asmesas eram postas com “armuzzi” – “as mãos domorto” modeladas em massa de pão, enquanto noresto da Itália os doces de clara de ovo com amêndoase açúcar eram chamados de “ossi di morti”. NoMéxico, até hoje, os familiares fazem piquenique noscemitérios, levando para os túmulos, enfeitados comguirlandas de calêndulas, os pratos e as bebidaspreferidas dos falecidos.O dia de Los Muertosmexicanos não é uma comemoração macabra ougrotesca, mas uma maneira alegre, divertida eespontânea de reconhecer a inevitabilidade da morte.Ela aparece nos brinquedos das crianças(representada como soldado, herói, policial, médico,dentista, jogador de bola, professor, noivo ou noiva),nos enfeites de açúcar e nos doces, modelada comocaveira ou esqueleto e nas “calaveras” – cartões eimagens de caveiras coloridas com dizeresengraçados trocados entre os amigos. Todos têm umesqueleto, todos vão acabar no cemitério, portanto, émelhor se acostumar desde criança com estarealidade.

As datas dos festivais dos mortos também diferiam deuma cultura para outra. No Egito, a baixa do Rio Nilo,em novembro, marcava o início de “Isia”, a celebraçãode seis dias que lembrava a morte do deus Osíris.Procissões, drama sagrado, cânticos e dançasreencenavam a sua morte e ressurreição, bem como acelebração do retorno das almas para visitar seusfamiliares. Lamparinas iluminavam suas antigasmoradias e os caminhos para orientá-las, os templos eas casas eram enfeitados com flores e oferendas decomidas e bebidas. Do Egito, este costume seespalhou pela Europa e foi preservado e adaptadopelos povos celtas. Por serem povos pastoris, osceltas dividiam o ano em duas estações – o verão,quando o gado era levado para os pastos, e o inverno,quando era trazido de volta.“Samhain” (pronunciado“souen”) era o festival celta dos mortos celebrado nodia 31 de outubro, considerado o primeiro dia deinverno e o início do Novo Ano. Neste dia, os véus entreos mundos se tornavam mais tênues, as almastransitavam mais facilmente de um lado para outro.Além dos familiares mortos, outros seres semanifestavam nesta noite – fadas escuras, elfos,

grupo. A maior parte das pessoas nãoparticipa de um círculo pensando na existênciada sombra, elas buscam luz, proteção eforça.” (Mirella Faur)Os verdadeiros laços deirmandade e crescimento serão seladosapenas após o círculo encarar os desafioscom verdade e maturidade, o que implica àsmulheres do grupo olharem para si e suasquestões pessoais e analisarem que sombraestão deixando crescer ali. Somos todasresponsáveis!“O arquétipo do círculo pode serperfeito. Um círculo de mulheres nunca o é.Mas, se seu centro for mantido quando surgeum problema, ele poderá ser resolvido seexistir sabedoria, amor, honestidade eespaços para erros”. (Jean Shinoda Bolen)

O culto aos ancestrais e o Sabbat Samhain, o

festival celta dos mortos

Por Mirella Faur

A morte faz parte dociclo da vida, assimcomo o dia alterna-

se com a noite, a luz com asombra. A sombra daproximidade da morte nospermite compreender erespe i ta r o de l i cadoequilíbrio da vida. Assim,seremos capazes deaceitar a continuidade dav i d a n o s n o s s o sdescendentes, pois nóst a m b é m s o m o s acontinuação da linhagem

ancestral. As gerações nascem, crescem, florescem,amadurecem e decaem, feito frutos de uma mesmaárvore, transformando-se no adubo rico necessáriopara a próxima colheita. Venerar os ancestrais mantémviva a conexão entre as gerações, os vivosreconhecendo e agradecendo àqueles que trilharamantes os caminhos, abrindo portas e deixando olegado das suas experiências e realizações.De umaforma ou de outra, todas as antigas culturas dohemisfério Norte reverenciavam os mortos, comcelebrações e oferendas realizadas no final do outono,

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encorajados para voltar para a “Terra dos Mortos” eenormes fogueiras são acesas para lhes iluminar oretorno. Deste amálgama de informações ecostumes, cada pessoa pode criar uma homenagempessoal para seus antepassados, seja criando umpequeno altar na sua casa (colocando fotos, objetos,lembranças no canto especificado pela sabedoriaFeng Shui), seja preparando um pequeno altarexterno (como na Tailândia), usando uma miniaturade casa (como uma gaiola de pássaros), pintadacom símbolos que propiciem o renascimento para“recepcionar” os visitantes do Além. Uma alternativaé seguir o costume vigente, levando flores para seustúmulos, encomendar um culto ou visualizá-losenvoltos pela Luz Maior.O importante é reconhecer oseu legado, reverenciar a linhagem ancestral,preservar as tradições antigas e honrar suasabedoria lembrando a frase de Kahlil Gibran:“Todos os que viveram no passado vivem em nósagora. Que possamos honrá-los como hóspedesvaliosos”.

tegerem deles, os celtas usavam máscarasde animais e acendiam fogueiras nas colinaspara guiarem os espíritos dos seusancestrais de volta para suas antigas casas,enfeitadas com lamparinas de abóbora ounabo colocadas nas janelas e nas portas.Durante séculos, o cristianismo tentou, emvão, suprimir os festejos de três dias doSabbat Samhain. Por não conseguir, apeloupara o sincretismo religioso, criando o Dia deTodos os Santos e o Dia de Finados,sobrepondo a data cristã ao antigo festivalpagão.Os milhões de emigrantes europeus(principalmente irlandeses que estavam semmeios de sobrevivência após a grande fomede 1846) levaram para sua nova pátria – osEUA – seus costumes e práticas ancestrais.Surgiu, assim, a festa profana de Halloween,pela metamorfose dos significados antigos(máscaras, fantasmas, lanternas, comidas),disfarçados em apresentações caricaturais(bruxas, chapéus pontudos, perucascoloridas, vassouras, lanternas de abóboras,caça aos doces – este costume sendo umareminiscência do hábito antigo de daresmolas aos pobres e comida para asalmas). ??O comércio e Hollywoodcontribuíram, em muito, para tornar o antigofestival Samhain em festa folclórica, infantil ouem um simples baile de máscaras. Mesmoassim, alguns povos ainda preservam deforma autêntica as tradições dos seusancestrais. Os nativos norte-americanoscelebram até hoje, na primeira lua cheia apóso solstício de inverno, o retorno dos Kachinas– os espíritos dos seus antepassados, com oFestival Soyal, que inclui danças commáscaras, fogueiras e oferendas.

No Japão, o Festival Obon é celebrado durante 18dias, requerendo uma esmerada preparação préviados templos, jardins, casas para a recepção dos“shugoray” – os espíritos dos ancestrais. As famíliasse reúnem e invocam os espíritos com dançascirculares que induzem a um estado de transe,f a c i l i t a n d o p e r c e p ç õ e s p a r a n o r m a i s emanifestações de ectoplasmia e telecinésia. Antesde Obon, os familiares vão em peregrinação para oscemitérios, limpam a área, plantam flores e deixam

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Templo dasMusas

Por Amandara Yin

Tabu

Expediente Jornal Deusa Viva

Edição:

Shirley de Medeiros

Diagramação:

Cláudia Baumgaertner

Textos:

Mirella Faur, Shirley de Medeiros e Amandara Yin

Imagens:

Rede mundial de computadores

Informações: www.teiadethea.orgContatos: Telefone (61) 98233‐7949E‐mail: [email protected]

Envie suas sugestões, críticasou elogios para:

[email protected]

Celebração de SamhainDia 31 de outubro

(terça‐feira) às 20h

.:. Somente para Mulheres .:.

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Próximos Rituais

Os rituais acontecem na Unipaz - Brasília/DF

# Não indicado para crianças# Usar agasalhos, local ao ar livre e frio.

Energia de troca R$ 20,00Informações: +55 61 98233-7949

Pedimos a gentileza de não fotografar, filmar, gravar ourealizar qualquer outra forma de registro antes, durante

ou após os rituais, sem autorização da Teia de Thea.

Plenilúnio: Celebração deTe Thea e Tephi

Dia 04 de novembro

(Sábado) às 20h

.:. Somente para Mulheres .:.

Plenilúnio: Celebração daDeusa Iansã

Dia 03 de dezembro (domingo)

às 20h

.:. Somente para Mulheres .:.

Olha que horror!!!O fluído universal

Que desce pelas tuas pernas.É sangue impuro, imundo

Emoções oprimidas a fundo...O segredo escancarado

O teu útero, tua secreçãoQue dá vida a esse mundoÉ um estigma de vergonha

Preferem o conto da cegonhaPara remontar a história do Ser

Humano? Não sei...Ensanguentada em minha dor

O vermelho, o meu corpo, minha corÉ a escuridão do teu pudor.

Não nasci da costela de AdãoSou da linhagem de Lilith

Metade? Não!Inteira em mim.Completa, assim.

Não sou ninho de pecadosApenas guardo o portal da vida,

A jornada existencial minha e suaSou filha, irmã da lua

A serpente encantada que faz moradaNo centro do meu Ser, em meu coração;

Por isso, podes até me condenar,Mas sentada na terra a honrar

De cabeça erguidaEu continuo na terra a sangrar.