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UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE PSICOLOGIA
"Ser mãe é ser tudo": Significações, vivências e percepções
parentais em contextos de vulnerabilidade económica.
Mónica Ramalho Tonelo
MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA
(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde /Núcleo de Psicologia Clínica Sistémica)
2015
UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE PSICOLOGIA
Parentalidade nas famílias em contexto de vulnerabilidade
económica: vivência a percepção das mães.
Mónica Ramalho Tonelo
MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA
(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde /Núcleo de Psicologia Clínica Sistémica)
2015
UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE PSICOLOGIA
"Ser mãe é ser tudo": Significações, vivências e percepções
parentais em contextos de vulnerabilidade económica.
Mónica Ramalho Tonelo
Dissertação orientada pela Professora Doutora Isabel de Santa Bárbara Narciso e co-
orientada pela Doutora Luana Cunha Ferreira
MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA
(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde /Núcleo de Psicologia Clínica Sistémica)
2015
AGRADECIMENTOS
À Professora Isabel, pela motivação para fazer mais e melhor, pela disponibilidade e
pela possibilidade de integrar este projecto. Obrigada por tudo o que me permitiu
aprender, enquanto professora e orientadora, nestes dois anos!
À Doutora Luana, pela disponibilidade, pela empatia e pelo apoio ao longo destes
meses. Obrigada pelas palavras de incentivo nos momentos mais difíceis, foram o
conforto para continuar!
A todas as mães que aceitaram colaborar e partilhar a sua experiência.
Aos meus companheiros de luta, Inês, João André, João Carlos, Pê, Sara, Sílvia e
Tânia, essenciais neste último ano, foram a companhia das noites de trabalho e o
consolo nos momentos de pausa. Obrigada por me motivarem e acreditarem em mim!
Aos meus amigos da faculdade, que estiveram comigo ao longo deste percurso, foi
muito trabalho, muita diversão mas sobretudo muito companheirismo. Crescemos
juntos e saímos daqui, com certeza, pessoas melhores. Os amigos da faculdade são
para a vida, obrigada!
Aos meus amigos de sempre por terem sido o aconchego dos fins-de-semana em casa,
por compreenderem as minhas ausências e por estarem ao meu lado ao longo destes
cinco anos, incondicionalmente. Obrigada por tornarem a minha vida melhor há tanto
tempo!
À minha família, pelo apoio e amor incondicional, assim é possível tornar os sonhos
realidade.
Em especial ao meu irmão, por me levar a ver o mar e estar sempre ao meu lado para
fazer de mim uma pessoa melhor. Obrigada por seres quem és!
Ao meu pai que sempre acreditou que o meu caminho seria este e cá estou eu. Obrigada
por estares sempre de braços abertos (literalmente) para mim!
À minha mãe que me mostrou o outro lado da vida e, mesmo sem querer, me trouxe até
aqui. Obrigada por estares sempre presente, com a tua paciência inesgotável, pronta
para me ouvir e ajudar!
Amo-vos com todo o meu coração!
Agradeço a todas as pessoas que de alguma forma contribuíram para o meu percurso!
“Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de
si, levam um pouco de nós.”
Antoine de Saint-Exupéry
RESUMO
A parentalidade é uma das tarefas mais complexas que o ser humano pode
desempenhar, e depende de cada pessoa, da sua história e experiência de vida. Este
estudo procura compreender de que forma a parentalidade é vivenciada e percepcionada
por mães em contexto de vulnerabilidade económica. De acordo com uma abordagem
qualitativa exploratória, foram realizadas entrevistas a mães (n=18) de famílias em
contextos de vulnerabilidade económica, divididas em três grupos: famílias com
vulnerabilidade económica sem história de sinalização; famílias com vulnerabilidade
económica com menores sinalizados; e famílias com vulnerabilidade económica com
processos de sinalização encerrados. Considerando os resultados deste estudo, as
participantes apresentam significações de “parentalidade adequada” ao encontro das
funções nutriente e educativa, apresentadas na literatura como tarefas básicas da
parentalidade, revelam uma vivência positiva da parentalidade e fazem uma avaliação
positiva do seu desempenho parental. Assim, os resultados sugerem a existência de uma
relação de circularidade entre a vivência da parentalidade e auto-percepção avaliativa da
mesma, assim como a influência das significações de “parentalidade adequada” nesta
interacção. De um modo geral, a condição económica das famílias e a história de
sinalização, factores potencialmente negativos, não se revelaram uma influência
negativa na forma como estas mães vivenciam e percepcionam a parentalidade. Foram
ainda discutidas as limitações e contributos do estudo, assim como sugestões para novas
investigações.
Palavras-chave: parentalidade; vulnerabilidade económica; significações parentais;
expectativas parentais; satisfação parental.
ABSTRACT
”Being a mother is everything”: Meanings, experiences and parental perceptions in
an economically vulnerable context.
Parenthood is one of the most complex tasks the human being can performs, depending
on each person, their history and life experience. This study tries to understand how
parenthood is lived, experienced and perceived by mothers in an economically
vulnerable context. Following a qualitative exploratory approach, interviews were
conducted to mothers (n=18) of families in an economically vulnerable context, divided
in 3 groups: families with economic vulnerability without previous identification within
the child and youth protection system; families with economic vulnerability with current
identified youngsters within the system; and families with economic vulnerability with
closed processes of previous identification in the child and youth protection system.
The study suggests that, participants attribute meanings of “adequate maternity” to
nutrition and educational functions, presented in literature as basic parenthood tasks,
reveal a positive parenthood experience, and make a positive evaluation of their
parenthood according. Thus, results suggest the existence of a circular relation between
the parenthood experience and its evaluative auto-perception; as well as the influence of
the “adequate motherhood” meanings in this interaction. In general, the economic
condition of families and the protection system, both potentially negative factors, do not
emerge as a negative influence in the way mothers live and perceive parenthood. The
study‟s limitations and contributions we are also discussed as well as suggestions for
further research.
Key-words: parenthood; economic vulnerability; parental meanings; parental
expectations; parental satisfaction.
ÍNDICE
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1
I. ENQUADRAMENTO TEÓRICO ............................................................................ 2
Parentalidade em Contextos de Vulnerabilidade Económica ....................................... 3
Factores influentes no desempenho e na satisfação parental ........................................ 6
II. PROCESSO METODOLÓGICO ........................................................................ 13
Desenho do Estudo ..................................................................................................... 13
Questão inicial, Objectivos e Mapa Conceptual ..................................................... 13
Estratégia Metodológica ............................................................................................. 14
Selecção e caracterização da amostra...................................................................... 14
Instrumentos ............................................................................................................ 15
Questionário Sociodemográfico .......................................................................... 15
Entrevista Semi-Estruturada ................................................................................ 15
Questionário de Satisfação e Expectativas Parentais .......................................... 16
Questionário de Afecto-Hostilidade Parental ...................................................... 17
Procedimento ........................................................................................................... 17
Análise de Dados ..................................................................................................... 18
III. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS .......................................................... 20
Significações de “Boa mãe” ....................................................................................... 20
Auto-caracterização Parental ...................................................................................... 22
Caracterização da Coparentalidade ............................................................................. 24
Caracterização dos Filhos ........................................................................................... 26
Gratificações da Parentalidade .................................................................................... 26
Percepção de Eficácia ................................................................................................. 28
Auto-avaliação das Expectativas ................................................................................ 28
Nível de Satisfação Parental ....................................................................................... 29
IV. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................................................... 30
Análise da Descrição .................................................................................................. 30
Significações de “Parentalidade Adequada” ........................................................... 31
Vivência da Parentalidade ....................................................................................... 32
Auto-percepção Avaliativa da Parentalidade .......................................................... 33
Análise articulada ....................................................................................................... 34
V. REFLEXÕES FINAIS ............................................................................................ 37
Limitações do Estudo .................................................................................................. 37
Contributos do estudo ................................................................................................. 38
Futuras investigações .................................................................................................. 38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 40
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1. Mapa conceptual da investigação.
Figura 2. Sub-categorias das significação de “boa mãe”.
Figura 3. Sub-categorias da auto-caracterização positiva.
Figura 4. Sub-categorias das gratificações da parentalidade.
Figura 5. Mapa conceptual das categorias principais e categorias temáticas.
Figura 6. Esquema representativo das hipóteses propostas.
ÍNDICE DE APÊNDICES
Apêndice I. Esquema representativo da árvore de categorias de análise.
ÍNDICE DE ANEXOS
Anexo A. Consentimento informado.
1
INTRODUÇÃO
Numa perspectiva ecológica, indo ao encontro da relevância do contexto no
desenvolvimento humano (Bronfenbrener, 1999), este estudo centra-se no sistema
familiar, e, mais particularmente, na parentalidade em contextos de vulnerabilidade
económica. Pretende-se, assim, contribuir para uma maior compreensão sobre a forma
como mães em contextos de vulnerabilidade económica vivenciam e percepcionam a
parentalidade. De acordo com uma metodologia qualitativa, com base em entrevistas
semi-estruturadas, este estudo procura conhecer as significações de parentalidade
adequada, e compreender e analisar a vivência da parentalidade e a auto-percepção
avaliativa do desempenho do papel de mãe em contextos de vulnerabilidade económica.
A presente dissertação encontra-se organizada em diferentes capítulos:
primeiramente o enquadramento teórico, onde se apresenta uma revisão de literatura
sobre a parentalidade em contextos de vulnerabilidade económica e factores de
influência no desempenho e satisfação parental; de seguida, o processo metodológico,
que pretende ilustrar detalhadamente a forma como o estudo foi desenvolvido; a
apresentação dos dados, em que se expõe os dados relevantes que surgiram de acordo
com os objectivos do estudo; a discussão dos dados, momento em que se procura
reflectir integradamente sobre os dados observados e gerar hipóteses explicativas; e por
último, as reflexões finais, onde se apresentam as principais conclusões do estudo, as
limitações e contributos do mesmo, bem como propostas para futuras investigações.
2
I. ENQUADRAMENTO TEÓRICO
Segundo o contributo da perspectiva sistémica, a família é entendida como um
todo, ou seja, mais do que a soma das partes, é um conjunto de pessoas que, através das
suas relações cria um sentido que lhe é único e, assim, uma identidade enquanto grupo.
Cada elemento da família ocupa diferentes papéis em diversos contextos, integrando
vários sistemas. Considerando diferentes papéis e estatutos, distinguem-se quatro
subsistemas: individual, parental, conjugal e fraternal (Relvas, 1996; Alarcão, 2006).
Compreender o funcionamento e dinâmica familiar de sistemas familiares, e do
subsistema parental em particular, também implica entender como o ambiente e a
pessoa se influenciam mutuamente, uma vez que família e todos os outros contextos em
que um indivíduo se insere são determinantes no seu desenvolvimento. O Modelo
Bioecológico de Bronfenbrener (1999) pretende explicar os factores que influenciam o
desenvolvimento do ser humano, considerando quatro componentes: processos
proximais, pessoa, contexto e tempo. Assim, é possível integrar a importância do
contexto para o desenvolvimento individual através da interacção de diferentes
ambientes: microssistema (padrão de actividades, papéis, relações interpessoais
experienciadas pelo indivíduo, por exemplo, na família), mesossistema (interacção entre
dois ou mais contextos em que a pessoa participa activamente), exossistema (contextos
em que a pessoa não participa activamente, por exemplo, influência do trabalho dos pais
na vida familiar) e macrossistema (e.g. crenças religiosas ou ideologias políticas)
(Bronfenbrenner, 1999). De acordo com este modelo, é possível compreender como a
parentalidade afecta o desenvolvimento do indivíduo, não só nos participantes activos
desse subsistema como no agregado familiar e, consequentemente, em cada membro.
A parentalidade pode definir-se pelo conjunto de acções desempenhadas pelas
figuras parentais, quer sejam os pais ou substitutos, no sentido de promover o
desenvolvimento dos seus filhos através dos recursos que a família possui, internos e
externos, na comunidade (Cruz, 2005). Em consonância com o Modelo Bioecológico de
Bronfenbrenner (1999), compreende-se, pois, que seja afectada por diversos factores,
sendo considerados três eixos de influência fundamental no desenvolvimento das
funções parentais: as características da criança, as características dos pais e o contexto
social. Esta tríade (pais/filhos/contexto) tem sido o mote de estudo da parentalidade,
uma vez que implica compreender que diferentes características individuais e, factores
3
culturais, ou factores socioeconómicos condicionam os padrões de comportamento dos
pais. (Belsky, 1984; Coutinho, Seabra-Santos & Gaspar, 2012).
Considerando o papel relevante do subsistema parental na família, este estudo
pretende focar-se na forma como a parentalidade é vivenciada e percepcionada nas
famílias em contextos de vulnerabilidade económica.
Parentalidade em Contextos de Vulnerabilidade Económica
A utilização do termo “famílias multiproblemáticas” iniciou-se nos anos 50,
sendo uma denominação inicialmente atribuída a famílias em contextos
socioeconómicos desfavorecidos. Posteriormente, surgiu a preocupação em caracterizar
as famílias multiproblemáticas em função da relação interpessoal e social entre os
membros do sistema familiar e não exclusivamente em função do contexto
socioeconómico (Cancrini, Gregorio, & Nocerino, 2010).
A associação das famílias multiproblemáticas a famílias pobres e de baixo nível
socioeconómico nem sempre se adequa, uma vez que estas são apenas a parte mais
visível do conjunto de famílias consideradas multiproblemáticas. Importa sublinhar que
embora vulnerabilidade económica não signifique necessariamente disfuncionalidade,
tal pode ser um factor de risco, dada a sua frequente associação a uma maior escassez de
recursos individuais, familiares, sociais e materiais, os quais constituem “instrumentos
de defesa” centrais para sistemas e indivíduos lidarem eficazmente com a adversidade
(Sousa, 2005).
Todas as famílias estão expostas a situações de stress, mesmo que o que seja
considerado stressante dependa de cada família, assim como a forma de reagir será
diferente de acordo com o modo como percepcionam e gerem os momentos de pressão
em que o funcionamento familiar fica perturbado (Boss, 2002). O Modelo Contextual
do Stress Familiar (Boss, 2002) apresenta uma perspectiva focada na percepção de
controlo relativa a dois contextos – o interno, no qual a família exerce controlo, e o
externo, referente ao tempo e espaço em que a família se situa, sobre os quais não tem
controlo, embora influenciem a forma como percepciona as situações. Segundo Boss
(2002), a adaptação familiar é condicionada pelo significado atribuído a um
acontecimento, sendo, pois, a percepção da família face ao momento e a respectiva
resposta, determinantes para a compreensão do stress familiar e da resiliência. A família
enquanto unidade funcional tem a capacidade de recuperar face à adversidade,
promovendo a resiliência em cada um dos seus membros, através de padrões de
4
organização e comunicação, processos de resolução de problemas, recursos da
comunidade e sistemas de crenças, e, assim, desenvolver a resiliência familiar (Walsh,
1996). Num estudo com famílias em contexto de vulnerabilidade económica que
procurava compreender as suas potencialidades, estas revelaram capacidade para
identificar o seu funcionamento, objectivos de vida e estratégias para os alcançar (Sousa
& Ribeiro, 2005), ou seja, com competências e capacidade para ser resilientes. Ainda
neste estudo, foi possível compreender como a percepção familiar pode influenciar a
compreensão do stress, uma vez que as famílias indicaram a união familiar e o forte
vínculo filial como os factores mais positivos do seu funcionamento, enquanto a
literatura refere estas características como potenciais factores de risco (Sousa & Ribeiro,
2005).
A existência de recursos nas famílias multiproblemáticas não invalida uma
perspectiva negativa na sua definição (Linares, 2010). Caracterizam-se pela prevalência
de problemas no desempenho de papéis (e.g. conjugais, parentais), escassa delimitação
de fronteiras entre os vários subsistemas, tendência para instabilidade psicossocial nos
seus membros e nos subsistemas devido a desorganização estrutural, e ainda, uma
elevada taxa de comportamentos problemáticos estáveis no tempo (Linares, 2010;
Cancrini et al., 2010). Tais disfuncionalidades parecem constituir uma predisposição
desintegradora que dificulta o comportamento de cada membro e, consequentemente, do
sistema familiar, como um todo (Cancrini et al, 2010; Sousa, 2005).
Assim, as famílias multiproblemáticas em contexto de vulnerabilidade económica
são consideradas sistemas de elevado risco para os seus membros, podendo caracterizar-
se segundo quatro parâmetros: polisintomatologia e crises recorrentes; desorganização;
abandono das funções parentais; e isolamento. Encontram-se, na sua maioria, em
contextos caracterizados por factores de risco psicossocial e privação sociocultural, o
que pode reforçar os padrões de marginalidade, disfuncionalidade, crise e desesperança,
que habitualmente caracterizam estas famílias. Muitas vezes, estes múltiplos problemas
reflectem um padrão de transmissão geracional disfuncional que se espelha nas
crianças, nas famílias e no meio em que são intervenientes (Gomez, Muños & Haz,
2007).
Importa agora compreender as especificidades da parentalidade nas famílias
acima mencionadas. Segundo Barudy (2009), as acções desempenhadas pelas figuras
parentais, podem distinguir-se em três funções parentais básicas: nutriente – relativa às
necessidades básicas ao desenvolvimento da criança (e.g. emocional); socializadora –
5
referente ao processo de desenvolvimento do auto-conceito e identidade da criança; e
educativa que compreende transmissão de modelos de conduta que permitam à criança
conviver em sociedade. Linares (2010) procurou através de um programa de
intervenção sistémica com famílias multiproblemáticas enriquecer os serviços sociais
que as apoiam. Este programa durou cerca de três anos e permitiu um contacto
privilegiado com tais famílias. Através desta experiência, Linares (2010) caracterizou a
parentalidade nas famílias multiproblemáticas como deteriorada, quando as funções
educativa e nutriente estão debilitadas.
O não cumprimento da função educativa compromete a capacidade de inserção e
adaptação social das crianças, uma vez que não são transmitidas normas e valores
culturais e, dessa forma, o desenvolvimento da noção de sociedade por parte da criança
fica inibido, o que a deixa em conflito com o seu meio (Barudy, 2009; Linares, 2010). O
desempenho inadequado da função nutriente afecta a vertente emocional, isto é, a
criança não se sente desejada e valorizada pelos pais, podendo mesmo sentir-se rejeitada
e/ou instrumentalizada (Linares, 2010). Uma quebra nas funções relativas ao afecto
torna, por si só, vulneráveis as funções parentais e as dinâmicas de interacção familiar e,
dessa forma, promove a emergência de múltiplos problemas que caracterizam estes
agregados.
Em situações em que a parentalidade é considerada abusiva, esta pode manifestar-
se de diferentes formas: mau trato (físico e psicológico), negligência (física e
psicológica) e/ou abuso sexual – em que se distingue o mau trato por implicar uma
acção e a negligência pela omissão (Starr, Dobowitz & Bush, 1990; cit. por Calheiros,
2006). De acordo com esta distinção, um estudo realizado com mães sinalizadas em
instituições de protecção de crianças e jovens, devido a comportamentos maltratantes e
negligentes, permitiu, observar uma correlação significativa entre o contexto
socioeconómico e a negligência, e não significativa face ao mau trato (Calheiros &
Monteiro, 2007).
A literatura também demonstra a relação existente entre o não cumprimento das
funções parentais e a sua delegação, isto é, quando os progenitores deixam os filhos
repetidamente, ou definitivamente, ao cuidado de terceiros, sejam vizinhos, familiares
ou profissionais (Gomez et al., 2007). Já o domínio que os indivíduos experimentam
sobre a parentalidade aumenta a satisfação parental que, por sua vez, assume um papel
central no estilo de vida e na satisfação geral com a vida (Guidubaldi & Cleminshaw,
6
1985), sendo evidente a associação entre a satisfação pessoal e o desempenho do papel
parental (Goetting, 1986; Cruz, 2005).
Factores influentes no desempenho e na satisfação parental
Segundo Mercer (1986), a satisfação parental pode ser definida pela percepção de
prazer e gratificação face ao papel de pai/mãe, enquanto Sabatelli e Waldron (1995) se
referem à satisfação parental como forma de caracterizar a atitude dos pais em relação
aos filhos e às responsabilidades do papel parental. White e Rogers (1998) definem a
satisfação parental como sendo a gratificação percepcionada pelos pais no desempenho
do seu papel. O principal objectivo do estudo de White e Rogers (1998) era desenvolver
um modelo de satisfação parental, identificando variáveis preditoras da satisfação
parental. Os autores destacaram três factores centrais: a satisfação conjugal, a estrutura
familiar, e o género dos pais. No entanto, reconhecendo a dificuldade em conceptualizar
a satisfação parental, outros estudos têm procurado compreender os factores que a
influenciam.
A percepção que os pais têm da eficácia do seu desempenho (positiva ou
negativa), em função da interacção entre cognições, afectos e comportamentos
integrados na parentalidade, poderá reflectir a satisfação (ou insatisfação) parental
(Cruz, 2005). Segundo Goodnow e Collins (1990; cit. por Cruz, 2005), os sentimentos
dos pais relativamente aos filhos são fruto de uma avaliação cognitiva que pode surgir
em três situações (em simultâneo ou isoladamente): quando os pais sentem que estão a
actuar de acordo com os seus valores e princípios; quando os pais têm a percepção de
que as expectativas que tinham em relação aos filhos são concordantes com o
comportamento dos mesmos; e quando os pais se sentem competentes em relação ao
desempenho do seu papel.
Assim, considerando que a satisfação parental pode relacionar-se directamente
com o envolvimento dos pais no seu papel, é possível compreender que influencie o
desenvolvimento da criança nos diferentes níveis, incluindo o seu processo de
socialização. Neste sentido, as práticas parentais parecem influenciar a satisfação
parental (Guidubaldi & Cleminshaw, 1985).
De acordo com Coleman e Karraker (1997), a percepção que os pais têm das suas
capacidades para interferir no comportamento e desenvolvimento dos filhos, constitui a
auto-eficácia parental. Os autores concluíram, através da sua revisão de literatura sobre
“Self-Efficacy and Parenting Quality”, que a percepção de competência no desempenho
7
do papel parental também influencia a satisfação parental. O sentimento de competência
dos pais interfere na sua satisfação parental o que, por sua vez, promove a
funcionalidade familiar, enquanto pais que se percepcionam como pouco competentes,
sentem-se sobrecarregados com as responsabilidades parentais, o que pode resultar num
desinvestimento no papel parental. O sentimento de competência pode associar-se a
maior auto-confiança e, consequentemente, com o sentimento de ser capaz de lidar com
as tarefas associadas ao desempenho do papel parental. Assim, pais com uma auto-
eficácia elevada estão mais predispostos para os desafios da parentalidade, e podem
retirar maior satisfação desse esforço; por outro lado, os pais que se sintam mais
impotentes podem sentir-se menos satisfeitos na interacção com os seus filhos
(Coleman & Karraker, 1997).
Um estudo de Hudson, Elek e Flek (2001) realizado com casais heterossexuais
durante os primeiros 4 meses após o nascimento do bebé, encontrou diferenças no que
respeita à auto-eficácia entre homens e mulheres. As mulheres podem vivenciar um
maior incentivo e oportunidades para os cuidados do bebé, e durante os primeiros meses
de vida da criança revelam um aumento do seu sentimento de auto-eficácia.
Compreende-se, então, que pais que se percepcionam como competentes, eficazes
e satisfeitos com a parentalidade, têm mais confiança nas suas capacidades. Esse
sentimento de que são capazes potencia a relação com os filhos, as tarefas mais
desgastantes têm um menor impacto e a parentalidade, tal como as tarefas inerentes, são
vividas de forma positiva (Cruz, 2005).
No que respeita ao estudo da relação entre a conjugalidade e a parentalidade, o
suporte emocional e instrumental dado pelo parceiro(a) no desempenho do papel de
mãe/pai, influencia a satisfação parental. Neste sentido, pais que estão satisfeitos na sua
relação conjugal, apresentam níveis mais elevados de satisfação parental (Belsky,
1984). O facto de casais satisfeitos com a sua relação e concordantes com os estilos
parentais de cada um, estarem mais predispostos a dar um suporte adequado ao outro,
promove uma coparentalidade positiva (Caldera & Lindsey, 2006; Feinberg, 2003) que
poderá influenciar os níveis de satisfação parental. No entanto, Kurdek (1998) sugere
que a satisfação parental depende essencialmente das características individuais e da
história de desenvolvimento de cada um, e não das características do cônjuge ou da
interacção entre essas variáveis.
Para além do suporte conjugal, alguns autores também procuraram compreender o
impacto do suporte social. Segundo Bonds, Gondoli, Sturge-Apple e Salem (2002),
8
existe uma relação positiva entre satisfação parental e suporte social, isto é, factores que
possam ser facilitadores das tarefas parentais aumentam a satisfação parental. De acordo
com o modelo de Belsky (1984), é possível enquadrar a importância dos factores
contextuais para o desempenho da parentalidade, fazendo a distinção entre suporte
social geral (e.g. percepção de ter alguém próximo com quem pode partilhar as suas
frustrações) e suporte parental (e.g. percepção de que pessoas próximas estão
disponíveis para aconselhar as suas práticas parentais).
No que respeita ao género dos pais e à sua influência na satisfação parental, de
uma forma genérica, as mulheres apresentam níveis mais elevados de satisfação
parental que os homens, o que pode ser explicado pela diferenciação de papéis no
envolvimento nas tarefas parentais entre pais e mães (Canavarro & Pedrosa, 2005).
Elek, Hudson e Bouffard (2003) num estudo com casais heterossexuais após o
nascimento do primeiro filho, avaliaram a satisfação parental em dois momentos
distintos (quando a criança completou 4 e 12 meses) e concluíram que as mulheres
apresentam sempre níveis mais elevados de satisfação parental.
Segundo o estudo de White e Rogers (1998), a satisfação parental não é
influenciada pelo número de filhos, a idade dos filhos ou a classe social dos pais. No
entanto, diversos estudos têm procurado encontrar a influência de factores como, o nível
de educação dos pais, situação laboral, idade em que têm os filhos, número de filhos,
idade dos filhos, género da criança, entre outros, na satisfação parental.
No que respeita ao nível educacional dos pais, Goetting (1986) concluiu que pais
com baixo nível educacional valorizam mais a experiência da parentalidade e sentem
um maior preenchimento no desempenho desses papéis face a pais com níveis de
educação mais elevados. No entanto, pais com níveis educacionais superiores
apresentam um maior envolvimento nas tarefas relacionadas com a educação dos filhos,
maior motivação para o desempenho das tarefas relacionas com a parentalidade e maior
consciência das necessidades dos filhos (Cabrera, Shannon, & Tamis-LeMonda, 2007).
A satisfação laboral pode influenciar as percepções, atitudes e comportamentos
relativos às tarefas parentais. O emprego pode funcionar como potenciador do
sentimento de auto-eficácia e competência face às exigências familiares (Pires, 1990).
Assim, a satisfação laboral pode influenciar a satisfação parental, como observaram
Gottfried e Gottfried (2006) num estudo longitudinal em que, mães com horários
flexíveis e que trabalhavam menos horas, apresentavam níveis mais elevados de
satisfação no desempenho das tarefas parentais.
9
A idade em que se tem os filhos também pode relacionar-se com a satisfação
parental. Actualmente, a opção de adiar ser mãe/pai em prole de outras prioridades
como a carreira profissional, proporcionou uma nova realidade da parentalidade tardia
em que estes pais se sentem mais gratificados quanto ao seu desempenho parental
(Shelton & Johnson, 2006).
No que se refere ao número de filhos, alguns estudos mostram que mães com um
filho e com mais de quatro filhos apresentam maiores níveis de satisfação em relação a
mães com dois, três e quatro filhos (Nye, Ivan, Carlson & Garret, 1970; cit. por,
Goetting, 1986). Por sua vez, Marini (1980), identificou uma diminuição da satisfação
parental consoante o aumento do número de filhos, uma vez que um maior número de
filhos implica mais exigências (e.g. financeiras) e responsabilidade no desempenho
parental.
A satisfação parental pode ainda relacionar-se com a idade dos filhos, ou seja,
pode alterar-se ao longo do ciclo de vida familiar. Pode concluir-se que os pais
apresentam níveis elevados de satisfação durante as primeiras etapas da parentalidade
(Hudson, Elek & Flek, 2001), e identificam a adolescência como sendo a fase mais
difícil da parentalidade, o que se sugere uma diminuição da satisfação parental (Pasley
& Gecas, 1984).
De acordo com o modelo de Belsky (1984), as características das crianças podem
influenciar o comportamento parental. Por norma, os pais procuram adaptar-se aos
filhos em função das suas características, pelo que quando consideram que o bebé tem
um temperamento difícil (e.g. dificuldades na alimentação e chorar muito) poderá
existir uma maior tendência para uma interacção aversiva com os filhos, pelo contrário
um temperamento considerado fácil poderá ser facilitador de uma maior responsividade
parental (Pires, 1990). Campbell (1979; cit. por Pires, 1990), num estudo longitudinal,
verificou que mães que consideravam os seus filhos como tendo um temperamento
difícil aos 3 meses interagiam menos com os mesmos quer aos 3 meses quer aos 8
meses A influência das características das crianças na satisfação parental é expectável
segundo o modelo de Belsky (1983), mas as evidências empíricas são reduzidas. Num
estudo realizado com mães e pais adolescentes, não foi possível observar relação entre
as características das crianças e a satisfação parental (Thompson & Walker, 2004).
Como refere Pires (1990), estudar a influência das características da personalidade das
crianças torna-se uma limitação em si mesma, uma vez que o temperamento dos bebés é
avaliado de acordo com as respostas dos pais, tratando-se da percepção dos pais.
10
Neste sentido, é possível concluir que a satisfação parental é influenciada por
diversos factores, como o suporte conjugal, o sentimento de competência e de auto-
eficácia, o suporte social, a idade dos filhos e até mesmo o género dos pais. Também a
concordância entre o comportamento da criança e as expectativas dos pais em relação à
mesma, pode ser um factor influente na satisfação parental (Cruz, 2005). Assim,
pretende-se compreender a relação das expectativas parentais com as tarefas inerentes à
parentalidade.
Importa considerar as expectativas dos pais face ao seu próprio comportamento e
dos pais face aos filhos, dada a influência no desempenho e satisfação do papel parental
(Goetting, 1986). As expectativas criadas pelos pais influenciam as práticas e o
envolvimento parental, e, dessa forma, o comportamento parental pode definir-se pela
relação que os pais estabelecem com os filhos ao longo do seu crescimento (Kobarg,
Sachetti, & Vieira, 2006). Os pais podem criar expectativas acerca do desenvolvimento
dos filhos, a nível comportamental, cognitivo e emocional, as quais são, em grande
parte, influenciadas pelo contexto em que as famílias estão inseridas (Freire, Silva,
Moura, Pontes, & Araújo, 2014).
As expectativas parentais estão fortemente relacionadas com o desempenho
académico dos filhos, isto é, quando os pais têm níveis de expectativas mais elevados,
os filhos têm tendência para ser estudantes mais motivados e resilientes em relação a
estudantes cujos pais têm níveis de expectativas mais baixos (Pearce, 2006; cit. por
Freire, et al., 2014). Pais com níveis elevados de expectativas positivas face aos filhos,
tendem a promover o seu desempenho académico, assim como a proporcionar um maior
envolvimento nas tarefas em casa quando os filhos são mais novos (Froiland, Peterson
& Davison, 2013)
Relativamente às expectativas que os pais têm face ao seu desempenho,
indivíduos com expectativas pré-natais mais complexas sobre a parentalidade,
demonstram maior ajustamento ao papel parental após o nascimento do bebé, ao
contrário de indivíduos com expectativas mais simplificadas. No processo de transição
para a parentalidade, expectativas mais complexas têm em conta diferentes dimensões
sobre a parentalidade e integram várias perspectivas (e.g. factores de impacto positivo e
negativo), beneficiando a adaptação dos pais e reduzindo o efeito negativo quando as
suas expectativas não se concretizam (Pancer, Pratt, Hunsberger & Gallant, 2000). A
predisposição das pessoas para criarem expectativas positivas e fazerem avaliações
positivas sobre si, sugere que desenvolvam expectativas positivas face à sua capacidade
11
de adaptação à parentalidade (Lawrence, Nyle & Cobb, 2007). Os autores supracitados
verificaram essa tendência através de um estudo longitudinal com casais heterossexuais,
com um primeiro filho, já que homens e mulheres, face às suas expectativas pré-natais,
revelaram uma percepção mais positiva da transição para a parentalidade após o
nascimento do bebé.
As expectativas pré-natais também influenciam a satisfação conjugal, de acordo
com as situações em que não se confirmam, se verificam ou são superadas (Lawrence et
al., 2007), verificando-se que expectativas pré-natais frustradas associam-se a baixos
níveis de satisfação conjugal (Belsky, 1985). Se, por um lado, as expectativas são
adaptativas, por outro, quando são fundadas com base em dados inconsistentes podem
conduzir a comportamentos desadaptativos, a nível individual e interpessoal (Lawrence
et al., 2007). Por exemplo, no estudo de Lawrence et al. (2007), as pessoas que
apresentavam expectativas pré-natais mais elevadas nos diferentes domínios foram
também as que revelaram maior diminuição na satisfação conjugal após o nascimento
do bebé, o que pode sugerir que expectativas muitas elevadas não sejam consistentes.
Neste sentido, pode ser necessária uma maior preparação na transição para a
parentalidade, durante a gravidez – promovendo mais informação e mais diálogo entre o
casal sobre as expectativas de cada um.
A experiência de criar uma criança pode diferir daquilo que os pais expectaram
antes do seu nascimento. As possíveis discrepâncias que possam surgir, principalmente
após o nascimento do primeiro filho, entre aquilo que eram as expectativas dos pais e
aquilo que está a ser a sua experiência no desempenho desse papel, são essenciais na
adaptação à parentalidade. Quando a experiência é mais negativa face às expectativas
criadas, provavelmente haverá uma maior dificuldade de ajustamento à parentalidade; já
se a experiência é mais positiva em relação às expectativas criadas, tal promove um
melhor ajustamento ao papel parental (Kalmuss, Davidson, & Cushman, 1992). Por
exemplo, antes do nascimento do primeiro filho os pais criam expectativas acerca da
divisão e partilha de tarefas que, ao não se verificarem, podem conduzir a baixos níveis
de satisfação na transição para a parentalidade (Belsky, 1985).
As mudanças culturais sobre o papel dos pais-homens alteraram as expectativas
acerca do seu envolvimento no desenvolvimento dos filhos. Actualmente, um bom pai é
entendido como o homem que partilha o papel de cuidador, protector e prestador de
cuidados com a mãe, ou seja, numa óptica de coparentalidade (Pleck & Pleck, 1997; cit.
por Fox, Bruce & Combs-Orme, 2000). Segundo o estudo destes últimos autores, os
12
pais-homens revelam elevados níveis de expectativas face à sua participação nas rotinas
e apoio ao filho recém-nascido.
Os pais são, pois, agentes activos na organização dos contextos físicos e sociais
em que a criança se desenvolve, seleccionam os ambientes (e.g., escola e família
alargada) e atribuem uma interpretação e valorização a cada um desses contextos. As
significações parentais exercem uma influência contínua e dinâmica, podem funcionar
como factor de risco ou de protecção, actuando de forma a dar significado a outras
variáveis. Assim, as significações podem interferir na adaptação da criança, interagindo
com variáveis pessoais e de contexto. (Barros, 2006), podendo também constituir um
indicador de satisfação parental.
Como referem Sabatelli e Waldron (1995), a avaliação das relações sociais e da
experiência pessoal na relação (e.g. satisfação parental) é influenciada pela forma como
os resultados dessa relação vão ao encontro das expectativas de cada pessoa. Nesse
sentido, no contexto familiar, a forma como são vividos e representados os diferentes
papéis, depende de cada elemento, ou seja, o significado atribuído corresponde à sua
percepção individual (Oliveira & Costa, 2005).
Cruz (2005) procurou definir ideias parentais com base na literatura existente,
concluindo que existem diversos conteúdos de ideias parentais e poucos estudos que
relacionem as diferentes ideias entre si. De acordo com a autora supracitada, ideias
parentais também podem ser processos atribucionais elaborados pelos pais. Uma
atribuição assume o processamento de informação, dependente da avaliação continuada
da pessoa, permite que os pais façam inferências sobre a causalidade de acontecimentos,
as características das pessoas e sobre factores determinantes de situações sociais. Neste
sentido, as ideias parentais podem ser determinadas pelas características das crianças
(e.g. idade e temperamento) e pelas características dos pais (e.g. nível educacional e
género), influenciando as atribuições que os pais fazem do comportamento das crianças
(Cruz, 2005). A relação existente entre a satisfação parental, as expectativas parentais e
o significado atribuído ao desempenho do papel parental, conduz à compreensão das
respectivas significações da parentalidade.
13
II. PROCESSO METODOLÓGICO
Desenho do Estudo
O presente estudo tem como temática central a parentalidade vivenciada por mães
em contextos de vulnerabilidade económica1. Devido à complexidade inerente ao estudo
da parentalidade, optou-se por uma análise temática da abordagem qualitativa
exploratória, uma vez que possibilita uma maior compreensão das significações e
processos envolvidos através do discurso dos indivíduos (Guba & Lincoln, 1994). A
análise temática pode ser considerada um método para identificar, analisar e relatar
temas que emergem dos dados, e assim organizá-los e descrevê-los, considerando
também a literatura existente (Boyatzis, 1998, cit. por Braun & Clarke, 2006).
Segundo Guba e Lincoln (1994) a selecção do método qualitativo deve ter como
base um paradigma (sistema de crenças que orienta o investigador) e, neste sentido, este
estudo enquadra-se no paradigma de investigação construcionista. O paradigma
construcionista assenta em três princípios (Guba & Lincoln, 1994): 1) cada indivíduo
constrói a sua visão do mundo com base na sua experiência, ou seja, a realidade é
construída; 2) a interacção entre o investigador e o objecto de estudo proporciona uma
influência recíproca e a construção de uma realidade resultante dessa interacção,
assumindo um carácter subjectivo; 3) a metodologia implica um carácter interpretativo
por parte do investigador face aos dados recolhidos. Esta abordagem permite analisar as
narrativas das participantes utilizando uma análise temática, de acordo com os
objectivos do estudo expostos de seguida.
Questão inicial, Objectivos e Mapa Conceptual
Este estudo tem como ponto de partida a seguinte questão: “Como é vivenciada e
percepcionada a parentalidade por mães em contextos de vulnerabilidade
económica?”. Com base nesta questão foi possível definir objectivos específicos aos
quais se pretende responder, sendo eles: 1) explorar as significações de parentalidade
adequada; 2) compreender e analisar a vivência da parentalidade de mães em contexto
1 Este estudo inclui-se numa investigação mais ampla sobre parentalidades em contextos de
vulnerabilidade, presentemente a ser desenvolvida na FPUL, coordenada pela Professora Isabel Narciso.
Tal investigação foi aprovação pela da Comissão Especializada de Deontologia do Conselho Científico da
Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa.
14
de vulnerabilidade económica; 3) compreender como mães em contexto de
vulnerabilidade económica avaliam a sua própria parentalidade.
De acordo com os objectivos estabelecidos foi desenvolvido um mapa conceptual
que pretende representar, de forma gráfica, a estrutura da investigação.
Figura 1. Mapa conceptual da investigação.
Estratégia Metodológica
Selecção e caracterização da amostra
A amostra é constituída por mães em contexto de vulnerabilidade económica com
ou sem história (passada ou actual) de sinalização à Comissão de Protecção de Crianças
e Jovens. Os participantes foram seleccionados através da Santa Casa da Misericórdia
de Almada, do CAFAP-NOS do Barreiro e do Projecto SolSal de Lisboa. A condição de
vulnerabilidade económica foi definida pelas instituições que colaboraram no processo
de recolha, pelo facto de beneficiarem do Rendimento Social de Inserção e/ou de as
figuras parentais (ambas, no caso de se tratar de casais parentais) se encontrarem em
situação de desemprego ou emprego precário. A situação de sinalização foi igualmente
definida pelas instituições colaborantes, pelo facto de haver registo actual ou passado,
nos processos dos seus utentes, de sinalização à Comissão de Protecção de Crianças e
Jovens, por maus-tratos, negligência, exposição a violência conjugal ou absentismo
escolar.
Participaram neste estudo, mães (n = 18) num contexto de vulnerabilidade
económica que coabitam com pelo menos um filho menor de 18 anos. A amostra foi
organizada em três grupos: famílias sem história de sinalização (n = 6), famílias com
Famílias com vulnerabilidade económica
Significações de
parentalidade adequada
Vivência da
parentalidade
Auto-percepção avaliativa
da parentalidade
Parentalidade
15
menores sinalizados (n = 7) e famílias com processos de sinalização já encerrados (n =
5).
As participantes tinham idades compreendidas entre os 19 e os 46 anos, com uma
média de 31,8 anos. A maioria mantinha uma relação conjugal (n = 14), das quais seis
estavam casadas e oito numa união facto, sendo as restantes solteiras (n = 2) e separadas
(n = 2). Relativamente à situação laboral, a maioria das participantes encontrava-se
desempregada (n = 13), e no que respeita às habitações literárias, oito mães referiram ter
concluído o ensino secundário, seis concluíram o 3º ciclo, duas terminaram o 2º ciclo e
duas concluíram o 1º ciclo. No que respeita à etnia, distinguiram-se: caucasiana (n = 9),
africana (n = 6), cigana (n = 2) e afro-caucasiana (n = 1). A maioria das participantes
afirmou ser religiosa (n = 13). Quanto ao número de filhos, a maioria das participantes
tinha entre 1 a 3 filhos (n = 15). Relativamente à idade dos filhos, três mães tinham
filhos adolescentes (entre os 14 e os 16 anos), três tinham filhos pré-adolescentes,
quatro mães tinham filhos em idade escolar, quinze mães tinham filhos em idade pré-
escolar e quatro mães tinham filhos menores de 2 anos. Quatro das participantes
apresentavam história de filhos retirados, das quais três pertencem ao grupo de famílias
com menores sinalizados, e uma inclui-se nas famílias com processos de sinalização
encerrados.
Instrumentos
Questionário Sociodemográfico
O questionário aplicado teve como objectivo recolher informação sobre os
participantes, relativamente a aspectos sociodemográficos dos pais (sexo, idade, origem
étnica/racial, escolaridade, profissão, zona de residência habitual, estado civil, agregado
familiar, situação relacional, acompanhamento psicológico ou psiquiátrico e
religiosidade) e dos filhos (sexo, data de nascimento, escolaridade e apoio técnico
recebido). Este questionário foi respondido oralmente pelos participantes e preenchido
pelo entrevistador.
Entrevista Semi-Estruturada
Neste estudo, foi utilizada uma entrevista semi-estruturada com dois blocos
temáticos centrais2, sobre os filhos e sobre os pais, na qual foi integrada o Questionário
de Satisfação e Expectativas Parentais (Narciso & Santos, 2011).
2 Não se apresenta o guião da entrevista em Anexo, dado que a investigação ainda está a decorrer.
16
O bloco temático sobre os filhos tinha como objectivo compreender a percepção
dos pais sobre as características, competências e dificuldades dos filhos nos diferentes
níveis (individual, relacional-familiar e relacional-social). De forma a abordar estas
temáticas foram colocadas diferentes questões, como por exemplo: “Se tivesse uma
varinha mágica o que mudaria no seu filho?” ou “Gostaria que me contasse uma
situação neste último mês em que tenha ficado muito contente com o seu filho”.
O bloco temático sobre os pais pretendia conhecer as significações atribuídas à
parentalidade adequada e inadequada, forças e fragilidades da sua parentalidade,
percepções positivas e negativas da sua parentalidade, auto-percepção da competência
parental. De forma a abordar estas temáticas, foram colocadas diferentes questões,
como por exemplo: “Se pedisse a cada um dos seus filhos para escreverem um texto
sobre si, o que acha que eles diriam?” ou “Se um pai ou uma mãe lhe pudessem pedir
emprestadas algumas das suas melhores qualidade como mãe, que qualidades
emprestava?”. A satisfação parental e o confronto com a realidade da parentalidade em
função das suas expectativas (face ao comportamento do(s) filho(s), da relação com o(s)
filho(s) e ao desempenho do papel parental) foi abordada através das respostas
quantitativas justificadas às questões do Questionário de Satisfação e Expectativas
Parentais (Narciso & Santos, 2011).
Questionário de Satisfação e Expectativas Parentais (Narciso & Santos, 2011)
Consiste em seis itens relativos à satisfação e às expectativas parentais, de acordo
com três aspectos: a relação com o filho, o desempenho do papel parental e o
comportamento do filho. Um grupo de três itens pretende avaliar a satisfação parental,
enquanto outro grupo de três itens pretende avaliar o confronto entre as expectativas e a
realidade. As respostas são dadas através de duas escalas de Likert entre 1 e 5 (uma para
cada grupo de itens: grupo de itens Satisfação – de muito insatisfeito(a) a muito
satisfeito(a) – e.g. “Relativamente à relação com o(a) meu(minha) filho(a), sinto-
me…”; grupo de itens Expectativas – de muito pior do que esperava a muito melhor do
que esperava – e.g. “O desempenho do meu papel de pai(mãe) é…”). Devido à baixa
literacia das participantes, as escalas de Likert foram apresentadas em formato de
réguas, uma para cada grupo de itens, as quais incluíam, para cada grau de Likert,
imagens que pretendiam tornar mais explícita a valência qualitativa de cada número.
17
Dado que este instrumento se encontra actualmente em estudo3, com aplicações a
diversas amostras, não existem ainda dados psicométricos do mesmo.
Questionário de Afecto-Hostilidade Parental (Narciso & Santos, 2011)4
Este instrumento, composto por 26 itens, foi respondido oralmente a seguir à
aplicação do questionário sócio-demográfico e antes do início da entrevista. Pretende
avaliar o comportamento parental nas dimensões de afecto e hostilidade. As respostas
são dadas numa escala de Likert entre 1 e 4 (nunca; raramente; às vezes; muitas vezes).
Este instrumento encontra-se igualmente em estudo, com aplicações a diversas
amostras, não existindo, por isso, dados psicométricos do mesmo.
Procedimento
Após aprovação do projecto mais vasto, coordenado pela Professora Isabel
Narciso, pela Comissão Deontológica do Conselho Científico da FPUL, as instituições
supramencionadas foram contactadas, no sentido de se explicar a contextualização,
objectivos e procedimentos inerentes à investigação, e verificar a sua disponibilidade
para colaborarem na recolha de dados.
Os participantes foram previamente contactados e informados, pelas instituições
que colaboraram na recolha da amostra, sobre a contextualização e objectivos da
investigação. Foi solicitada a sua participação voluntária e gratuita na sessão de recolha
de dados, explicado o formato de entrevista e resposta a questionários, bem como a
duração aproximada da mesma (cerca de 90 minutos) e a necessidade de gravação
áudio, sendo assegurada a confidencialidade dos dados. Quando os participantes
aceitavam colaborar, as instituições marcavam um dia e hora de acordo com a
disponibilidade daqueles.
Imediatamente antes do início da sessão de recolha de dados, os investigadores
que conduziam as sessões de recolha5 esclareciam novamente os participantes
relativamente à contextualização, objectivos, procedimentos, condição de gravação
áudio e duração da sessão, assegurando o anonimato e confidencialidade na análise e
divulgação dos dados. Era, também, prestada informação sobre o Serviço à Comunidade
3 Por esta razão, o instrumento não é apresentado em anexo.
4 No presente estudo, e em coerência com os objectivos, não são utilizados os dados deste instrumento.
5 As sessões de recolha foram, na sua maioria, conduzidas pela Professora Isabel Narciso, acompanhada,
nalgumas sessões, pela Dra. Mariana Fernandes e pela Dra. Inês Machado, investigadoras da equipa.
Algumas sessões foram unicamente conduzidas por estas investigadoras, sendo a Dra. Mariana
Fernandes, nalguns casos, acompanhada pela aluna de mestrado que realiza o presente estudo.
18
da FPUL, e a possibilidade de a ele recorrerem, caso sentissem necessidade.
Finalmente, pedia-se às participantes para assinarem o documento de consentimento
informado6 antes do início da entrevista, e agradecia-se a sua colaboração.
Seguia-se, então, tal como acima referido, a aplicação oral do Questionário Sócio-
Demográfico, Questionário de Afecto-Hostilidade Parental, e a entrevista com inclusão
do Questionário de Satisfação e Expectativas Parentais.
Análise de Dados
De acordo com Braun e Clarke (2006), a análise temática pode ser considerada em
seis fases – no entanto, importa compreender que estas são apenas linhas de orientação,
uma vez que este é um processo flexível, não sendo necessariamente linear onde se
passa sucessivamente de uma fase para a seguinte: 1) Familiarizar-se com os próprios
dados – nesta fase realizam-se as transcrições das entrevistas, primeiras leituras dos
dados e anotações de ideias iniciais; 2) Gerar categorias rótulo – este é o momento da
criação de códigos iniciais a partir dos dados, códigos para identificar características nos
dados; 3) Procurar temas – começa quando os dados já estão codificados, aqui o
objectivo é classificar os diferentes códigos em temas mais amplos, podendo diferentes
códigos abranger um mesmo tema nesta análise; 4) Rever os temas – envolve dois
níveis de revisão, o primeiro implica ler todos os excertos encontrados para cada tema e
considerar a existência de um padrão coerente. Quando se verifica esse padrão, no
segundo nível avalia-se a validade dos temas face ao conjunto de dados; 5) Definir e
nomear os temas – definição e aperfeiçoamentos dos temas para identificar a “essência”
de cada tema, de forma a apresentar a análise geral dos dados; 6) Elaborar o relatório –
integração final da análise utilizando excertos que comprovem a existência dos temas
dentro dos dados. Esta análise implica mais do que a descrição dos dados, envolve a
questão de investigação e a pesquisa de literatura, de forma a produzir uma análise
crítica dos dados. Importa compreender, como já mencionado, que estas são apenas
linhas de orientação da análise, este processo é flexível, não tem de existir uma
passagem linear para cada fase.
Tornando mais claro o processo de codificação acima referido, este foi
desenvolvido de três formas: codificação aberta, codificação axial e codificação
selectiva. A codificação aberta consiste essencialmente em fazer questões aos dados e
comparações, de forma a gerar conceitos dos quais emergem categorias (com base na
6 Ver Anexo A.
19
similaridade entre conceitos). A codificação axial ocorre quando os dados já
conceptualizados são reorganizados considerando ligações entre as categorias, o que
implica a especificação das mesmas. Embora a codificação aberta e axial sejam análises
distintas, ao longo do processo de análise dos dados é possível alternar entre estes dois
tipos de procedimentos. A codificação selectiva pode considerar-se a fase em que é
elaborada a narrativa descritiva do fenómeno central do estudo, uma vez que consiste no
processo de selecção das categorias centrais que integram os restantes fenómenos
(Fernandes & Maia, 2001).
20
III. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
A partir da análise de dados, descrita no capítulo anterior, e em consonância com
os objectivos do presente estudo – analisar e compreender, numa amostra de mães em
situação de vulnerabilidade económica, significações de parentalidade adequada;
vivências da parentalidade; e auto-percepção avaliativa da parentalidade –, foi possível
identificar, nos dados recolhidos, oito categorias principais: significações de “boa mãe”;
auto-caracterização parental; caracterização da coparentalidade; caracterização dos
filhos; gratificações da parentalidade; percepção de eficácia; auto-avaliação de
expectativas; e nível de satisfação.
No processo de interpretação, foram definidos critérios de relevância
relativamente à frequência com que alguns temas eram referidos pelas participantes.
Assim, sempre que uma categoria foi referida por um terço a dois terços das
participantes (ou seja, entre 6 a 12 participantes, num total de 18), foi considerada
relevante; sempre que uma categoria foi referida por mais de dois terços (ou seja, mais
de 12 participantes), foi considerada muito relevante. Sempre que for considerado
pertinente, serão referidos resultados específicos relativos aos três grupos em que a
amostra foi organizada: famílias sem história de sinalização (n = 6), famílias com
menores sinalizados (n = 7) e famílias com processos de sinalização já encerrados (n =
5). Em seguida, apresenta-se a descrição dos resultados relativos a cada uma das
categorias temáticas com as respectivas sub-categorias7.
Significações de “Boa mãe”
Quando questionadas sobre o que consideram ser uma “boa mãe”, as participantes
destacam a capacidade de amar/dar afecto (13), e ainda a disponibilidade (7), cuidar
(6), educar (6), disciplinar (5) e estar atenta (4) – “Para mim boa mãe boa mãe não é
só para parir, é quem cria, quem cuida, é quem mostra o caminho.” (A21;SE)8. As
mães focam o seu discurso no carinho e no afecto – “Principalmente afecto, eu acho
que é o mais importante. [E. Porquê?] O carinho, acho que a criança cresce feliz com
7 As categorias apresentadas serão seguidas de um número entre parêntesis que assinalará o número de
fontes (participantes) que as referiram, determinando o seu nível de relevância. 8 As citações das participantes estão identificadas, entre parêntesis, pela letra correspondente ao nome da
participante, seguida pela sua idade e pelo subgrupo a que pertence, ou seja CVE (famílias sem história de
sinalização), S (famílias com menores sinalizados) e SE (famílias com processos de sinalização
encerrados), originando, por exemplo, (T27; SE).
21
carinho.” (J31;CVE) –, relatando a sua importância para o desenvolvimento das
crianças. Consideram relevante ter disponibilidade para os filhos – “é estar sempre
presente pronto, seja no bom, seja no mau, estar sempre no dia-a-dia.” (V46;CVE) –,
ou seja, participar nas suas vidas, ser próxima, acompanhá-los nos bons e maus
momentos e passar tempo de qualidade com os mesmos. Relativamente ao cuidar, as
mães referem sobretudo os cuidados de higiene, de alimentação e vestuário, a
necessidade de dar atenção e tratar dos filhos nos bons e nos maus momentos – “ter
horas para lhes dar almoço, pronto as refeições, dar-lhes banho, dar-lhes pequeno-
almoço, deitá-los, essas coisas todas.” (T35;S). As participantes mencionam a
assistência aos filhos no quotidiano de acordo com as necessidades básicas, não só no
que respeita ao afecto, como nas rotinas de alimentação e higiene.
No que respeita à educação – “Boa educação é como eu digo ao meu filho „o
professor está lá é para te ensinar, não é para te educar, para te educar é em casa‟.
Chega ao professor, diz a ele „obrigada‟ e „se faz favor‟.” (J31;CVE) – e à disciplina –
“Temos de ter regras. [E. Impor regras?] Meter regras e limites também.” (C30;CVE)
–, estas distinguem-se na medida em que educar parece assumir um significado mais
próximo de ensinar a comportar-se e a respeitar os outros, enquanto disciplinar surge
mais no sentido restrito de impor regras e limites. Quanto ao estar atenta – “dar atenção
quando ele precisa.” (M19;CVE) – as mães pontuaram no sentido de estarem atentas no
quotidiano de forma a reconhecer os sinais dos filhos, face aos seus sentimentos e
necessidades.
(13) (7) (6) (6) (5) (4)
Figura 2. Sub-categorias das significações de “boa mãe”.
22
Auto-caracterização Parental
Quando foi perguntado às participantes que características suas colocariam, caso
existisse, no bilhete de identidade de mãe, todas se auto-caracterizaram de forma
positiva, indo ao encontro das características que identificaram inicialmente como
pertencentes a uma “boa mãe”. Destaca-se o amor/suporte emocional (16), a
disciplina (13), e as necessidades básicas dos filhos (10). Referente ao amor/suporte
emocional, as participantes salientam as características: afectuosa (14) – “sou muito
carinhosa no sentido que se eu estiver sentada ao pé dele estou sempre a fazer-lhe
festinhas” (T27;SE), disponível (11) – “Porque eu quero que eles saibam que eu estou
sempre ali para eles… independentemente da situação” (A38;S), amor pelos filhos (7)
– “dou amor e gosto muito deles.” (F28;SE), brincalhona (6) – “brincarmos em casa,
a principal brincadeira que eles gostam de ter são as cócegas, estamos deitados na
cama os três na brincadeira” (C26;CVE), atenta (6) – “eu estou sempre atenta a todos
os sinaizinhos de qualquer coisa que se passa” (V46;CVE), preocupada com o bem-
estar (4) e compreensiva (4). Em suma, as participantes destacam as demonstrações de
afecto, o estarem disponíveis na medida em que procuram apoiar os filhos nos
diferentes momentos e passar tempo de qualidade com os mesmos, a importância de
demonstrar o amor que mencionam sentir pelos filhos, o estarem atentas às necessidades
dos filhos bem como aos seus sentimentos, como formas de amor/suporte emocional.
Relativamente à disciplina – “Eu tenho de saber ralhar e dizer que não” (L40;CVE) –,
esta é essencialmente considerada, pelas mães, como ter controlo (5), orientar (4) e
estabelecer regras (4). A preocupação com as necessidades básicas revelada pelas
participantes – “sou eu quem preocupa, sou eu quem faz tudo, quem dá medicamento,
quem vê se está doente, quem se preocupa se ele está a comer, se ele está a vestir.”
(F28;SE) – incidiu na alimentação (5), nas doenças (5), no vestuário (4), e na higiene
(4).
Na sua auto-caracterização positiva, as mães referem também a importância do
diálogo (6) – “Consigo explicar ao meu filho o que é certo e o que é errado e quando
ele faz algo de mal, falar com ele e demonstrar que não é certo e porquê” (T27;SE) –
indicando o diálogo essencialmente como relevante na educação e na disciplina a
transmitir aos filhos, num sentido unidireccional; no entanto, mães que têm filhos com
mais de 12 anos também mencionam a importância do diálogo para promover a sua
relação através da partilha diária. Outro factor apresentado como positivo na sua auto-
caracterização é a relação com os filhos (6) – “Sempre os deixei à vontade porque nós
23
para além de sermos mães ou pais, somos amigos e eu quero ser sempre a primeira
pessoa a quem eles pedem ajuda” (F33;S) – no sentido de manter uma boa relação,
baseada na premissa de que a mãe também é uma amiga, em que existe proximidade e
abertura para o diálogo.
Mencionam, ainda, as suas características pessoais (16), considerando positivas
o esforço (4), protecção (4), ser paciente (5), preocupação com os filhos (6) – “me
preocupo com os meus filhos, preocupo com o bem-estar dos meus filhos, procuro dar a
melhor educação possível porque ninguém é perfeito, a melhor educação possível para
os meus filhos, procuro não ter tristeza dentro de casa, trazer mais alegria para dentro
de casa” (J31;CVE) e ser mãe galinha (6). A expressão “mãe galinha” foi utilizada
com diferentes significados mas sobretudo no sentido de preocupação excessiva –
“Ando sempre preocupada com eles, até com o mais velho, estou-lhe sempre a
telefonar. O outro está sempre comigo mas se ele sai, ligo.” (A43;S) –, sendo que
quatro das mães que a referiram pertencem ao grupo de famílias com menores
sinalizados. Os dados parecem indiciar que, na perspectiva das mães, ser “mãe galinha”
passa por uma preocupação constante com os filhos.
Quando questionadas sobre que característica sua considerariam positiva para
emprestar a outras mães, as participantes mencionam sobretudo o amor parental (6) –
“Eu podia dar muita coisa mas eu acho que eu só consigo dar isso aos meus. Podia-
lhes dar um bocadinho do meu amor por eles, podia dar um bocadinho de afecto”
(F43;S) e paciência (5) – “Isso depende muito dos pais que precisassem, não sei.
Alguns pais precisam de muita paciência. [E. E a C tem?] Tenho. Acho que é com calma
é que agente consegue alguma coisa deles.” (C26;CVE). Consideram uma qualidade ser
paciente, na medida em que procuram calmamente ouvir e ser ouvidas pelos filhos, sem
recorrer a punições físicas. É relevante referir que, quatro das participantes que
indicaram a paciência como algo que poderiam emprestar a outros pais pertencem ao
grupo de famílias sem história de sinalização. As participantes valorizam
essencialmente o amor que sentem pelos filhos e ser pacientes, na medida em que essas
seriam características que poderiam enriquecer outras mulheres no desempenho do
papel parental.
As características apresentadas como sendo negativas ou ambivalentes ao
desempenho do seu papel de mães não foram relevantes. Quando perguntado que
características poderiam pedir emprestadas a outras mães, 8 das participantes não
24
identificaram necessidade de adquirir qualquer característica que pudesse melhorar o
seu desempenho.
Figura 3. Sub-categorias da auto-caracterização positiva.
(16)
(6)
(6) (4)
(4)
(11) (7)
(14)
(13)
(5) (4)
(4)
(10)
(5)
(5)
(4) (4)
(6)
(6)
(16)
(5)
(4)
(4)
(6)
(6)
25
Caracterização da Coparentalidade
Entre as 14 participantes que se encontram casadas ou em união de facto, 10
mostram ter uma imagem positiva do desempenho do parceiro enquanto pai – “ele é um
excelente pai… é um óptimo amigo dos filhos… ele faz exactamente o mesmo que eu,
ele troca a fralda, ele dá banho, ele fala com ele, é amigo dele, ele sai para jogar á
bola com o filho se for necessário… tudo, tudo, tudo.” (A38;S) – e 6 mães, das quais 5
pertencem a famílias com história de sinalização, revelam sentir apoio coparental – “[E.
E se tivesse que dar um prémio à pessoa que mais a ajuda a ser mãe, a quem é que
dava o prémio?] Ao meu marido. [E. Ao seu marido e porquê?] Porque ele é um
marido muito presente, é amigo dos filhos (…).” (F43;S). Identificaram sobretudo o
apoio do pais-homens na regulação do comportamento dos filhos, enquanto figura de
autoridade e detentores de uma postura mais calma. Assim, embora não refiram uma
divisão igualitária das tarefas, as participantes identificam uma coparentalidade positiva,
na medida em que os seus parceiros estão igualmente presentes na vida dos filhos.
Quando perguntado se os papéis de mãe e pai são distintos, os resultados revelam
que 12 participantes consideram existir diferenças de género no desempenho do papel
parental, referindo essencialmente que as mães são mais próximas dos filhos
comparativamente com os pais-homens (7) – “Eu acho que uma mãe sempre está mais
perto do filho do que um pai, eu acho que a mãe compreende um filho mais do que o
pai, eu acho também que a mãe dá mais carinho, mais afecto, a um filho do que um pai,
não estou a dizer que o pai não dá mas a mãe está sempre ciente de um filho, mais ao
pé de um filho do que o pai.” (E27;SE). Assim, referem que os papéis de pai e mãe são
diferentes mesmo quando ambos estão presentes no quotidiano dos filhos, e mencionam
que as mães estabelecem uma relação de maior proximidade com os filhos. Sugerem,
ainda, no que respeita à distinção de género no papel parental, que as mães são mais
responsáveis por cuidar dos filhos embora os pais-homens também sejam capazes de o
fazer, que as mães são mais firmes na imposição de castigos, e que as mães são mais
carinhosas. As restantes participantes consideram equivalentes os papéis de pai e mãe
(6) – “[E. Não é diferente ser pai e ser mãe?] Acho que não, pelo menos para mim, não
vejo diferenças entre mim e o meu marido.” (C26;CVE) – das quais, duas pertencem a
famílias monoparentais.
26
Caracterização dos Filhos
Relativamente à questão sobre qual a característica negativa dos filhos que
consideravam mais incomodativa, constatou-se que 9 mães não identificam nenhuma
característica especialmente incomodativa nos filhos. Das característica negativas
referidas (e.g. teimosia e imaturidade) nenhumas se destacou, sendo que as birras (2)
foi a única mencionada por mais do que uma mãe. Quando questionadas sobre a
característica positiva preferida nos filhos, destacam carinhoso (7) – “São todos
afectuosos uns com os outros. (…) há alturas que eu de repente estou a olhar e vejo
está abraçado a outro, por tudo e por nada.” (L40;CVE) – tanto em relação aos pais,
como aos irmãos. Referem também tudo (6) – “Tudo bom não é mas pronto, não sei,
gosto de tudo nele.” (M19;CVE), não elegendo nenhuma característica em particular.
Na reflexão sobre o que mudariam nos seus filhos se pudessem mudar alguma coisa, 9
das mães dizem que não modificariam nada – “porque gosto deles como são (…)
porque têm muitas qualidades! Também têm alguns defeitos, o mais velho… Mas eu
acho que com os defeitos é que ele vai aprender a formar-se e ser homem… com os
defeitos que tem! É a vida, tem de ser assim!” (A38;S). As mães salientam as
características que consideram positivas nos filhos e descrevem-nos, no global, de
forma positiva. Quando identificavam alguma característica que mudariam nos seus
filhos, tendiam a desvalorizá-la, afirmando serem comportamentos que se alteram
naturalmente ao longo do crescimento.
Gratificações da Parentalidade
As alterações associadas à transição para a parentalidade, podem ser um processo
gratificante. Neste sentido, face ao momento de transição para a parentalidade, as
participantes referem sobretudo o aumento da responsabilidade (8) – “quando tens um
filho, tens uma responsabilidade para a vida toda porque uma mãe pensa no filho até
mesmo quando o filho já tem 40 anos e o mudar é isso, é tu deixares sonhos por vezes
aparte, vontades, porque sabes que não podes porque tens um filho e é nele que tens de
pensar.” (T27;SE) e ter mudado tudo (8) – “quando recebes aquela notícia que estás
grávida, já mudou tudo na tua vida, todos os teus sonhos, todas as tuas vontades e só
por passar por cima de tudo isso já é muito gratificante.” (T27;SE). As mães
consideram que a responsabilidade acresce após o nascimento do primeiro filho e
embora associem a sacrifícios pessoais (e.g. momentos de lazer), referem essa mudança
como positiva. Segundo as participantes, a vida transforma-se globalmente aquando a
27
transição para a parentalidade, explicando que as rotinas ficam condicionadas em
função das necessidades do filho mas sentindo como positiva a irreversibilidade da
maternidade, ou seja, a capacidade de serem responsáveis por outra pessoa e de
estabelecer um vínculo emocional a partir daquele momento.
Relativamente ao que consideram o melhor de ser mãe, o que entendem como
mais gratificante na parentalidade, 8 participantes salientam o afecto, das quais 6
pertencem a famílias com história de sinalização – “eu gosto quando eles vêm todos a
mim, vêm dar beijinhos e miminhos, gosto quando vêm me pedir para brincar com eles,
isso faz-me feliz, faz-me sentir feliz.” (S21;SE). Destacam o vínculo emocional que se
estabelece entre mãe e filho, focando essencialmente a expressão de afecto dos filhos
dirigida às mães. Referem também realização (5) – “o eu saber que tenho uma
capacidade de amar infinita, de poder dar a outras pessoas, dois seres humanos que
são meus não é… só isso então, acho que compensa tudo!” (A38;S), a realização
pessoal através do papel parental, na medida em que sentem capacidade para amar
incondicionalmente e suportar todas as exigências inerentes à maternidade. Mencionam
gosto em ser mãe (4) – “ser mãe é ser tudo, ser mãe é como tudo de bom, eu gosto de
ser mãe.” (F28;SE), ser feliz (4) – “tudo neles me faz feliz” (S21;SE), dar sentido à
vida (4) – “são a minha razão, o meu esforço de tentar ser uma mãe e uma melhor
pessoa também e tentar também que eles sejam os dois cidadãos válidos.” (C39;S), o
melhor da vida (4) – “acho que é a melhor coisa que a gente tem na vida é os nossos
filhos.” (F43;S). Ser mãe, na narrativa das participantes, revela-se como gratificante na
medida em que vem atribuir um novo significado à vida destas mulheres, assim como
um papel prazeroso e promove a sua felicidade. Neste sentido, as referências das
participantes face ao que consideram gratificante na parentalidade são essencialmente
auto-centradas, numa óptica de que o melhor de ser mãe passa pelo que os filhos vêm
acrescentar às suas vidas e das emoções positivas que estes despertam em si mesmas.
No entanto, também identificaram como gratificante no desempenho do papel parental o
bem-estar dos filhos de acordo com um desenvolvimento saudável e a capacidade de
orientar o crescimento dos mesmos para futuros adultos responsáveis e independentes.
28
Percepção de Eficácia
Neste estudo, 17 mães consideram-se eficazes no desempenho das suas funções
parentais – “acho que cumpro bem o meu papel de educar o meu filho para a sociedade,
porque educamos os filhos não para nós mas sim para a sociedade que infelizmente
nem sempre é justa mas acho que estou a fazer como deve ser.” (T27;SE). No entanto,
cinco participantes, das quais quatro de famílias com história de sinalização, também
identificam momentos de ineficácia parental – “[E. E como é que ele reage quando
ralha com eles?] Das duas uma, ou começa a chorar, pronto ele agora usa muito o
choro, ou então não liga nenhuma e faz trejeitos como se fosse uma grande seca eu
estar ali a falar com ele e nem olha para mim.” (C39;S). As mães avaliaram-se como
eficazes no desempenho do papel parental, mesmo apesar de momentos em que se
sentiam ineficazes, o que indicia uma percepção global positiva da sua eficácia. Tal
eficácia foi sobretudo associada: ao facto de conhecerem bem os seus filhos, as suas
características, permitindo-lhes identificar os sinais de fragilidade e prestar auxílio; aos
momentos de sucesso dos filhos (e.g. resultados escolares); ao desempenho do papel
parental da melhor forma que sabem; à capacidade de transmitirem e explicarem aos
filhos como devem comportar-se e estes apreenderem; ao facto do seu desempenho
parental ser mais positivo face às suas expectativas pré-natais.
Auto-avaliação das Expectativas
Através da aplicação do Questionário de Satisfação e Expectativas Parentais,
avaliou-se o confronto com a realidade face às expectativas que tinham em três
aspectos: desempenho do papel parental, relação com o(s) filho(s) e o comportamento
(8) (5) (4) (4) (4) (4)
Figura 4. Sub-categorias das gratificações da parentalidade.
29
do(s) filho(s). No que respeita ao desempenho do papel parental e à relação com os
filhos, verifica-se que 16 das mães se situam nos níveis 4 (“melhor do que esperava”) e
5 (“muito melhor do que esperava”)9; e face ao comportamento dos filhos, 14 das mães
situam-se nos níveis 4 (“melhor do que esperava”) e 5 (“muito melhor do que
esperava”).
Nível de Satisfação Parental
Através da aplicação do Questionário de Satisfação e Expectativas Parentais,
avaliou-se a satisfação face às expectativas que tinham em três aspectos: desempenho
do papel parental, relação com o(s) filho(s) e o comportamento do(s) filho(s). Verificou-
se que 17 das mães se situam nos níveis 4 (“satisfeita”) e 5 (“muito satisfeita”) em todos
os âmbitos, ou seja, praticamente todas as participantes apresentam níveis elevados de
satisfação parental.
9 Por vezes as respostas das mães revelavam alguma hesitação, situando-se entre os dois níveis.
30
IV. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A discussão dos resultados é aqui apresentada de acordo com dois níveis de
análise: primeiramente a análise da descrição, em que as oito categorias (expostas no
capítulo anterior) são organizadas em três categorias temáticas; concluindo com a
análise articulada, que procura uma reflexão integrada e holística entre as três categorias
temáticas.
Análise da Descrição
Tal como referidas no capítulo anterior, identificaram-se oito categorias:
significações de “boa mãe”; auto-caracterização parental, caracterização da
coparentalidade; caracterização dos filhos; gratificações da parentalidade; percepção de
eficácia; auto-avaliação de expectativas e nível de satisfação parental. Através destas
categorias, de acordo com os objectivos deste estudo, foi possível estruturar três
categorias temáticas: significações de “parentalidade adequada”; vivência da
parentalidade; e percepção avaliativa da parentalidade.
A categoria relativa às significações de “parentalidade adequada” baseou-se nas
significações atribuídas pelas participantes a “boa mãe”. A vivência da parentalidade foi
organizada com base na auto-caracterização parental, na caracterização da
coparentalidade, dos filhos e nas gratificações da parentalidade. Enquanto a percepção
avaliativa da parentalidade, foi composta de acordo com a percepção de eficácia, a auto-
avaliação de expectativas e o nível de satisfação parental. Estas categorias temáticas,
descritas de seguida, permitiram compreender de que forma é vivenciada e
percepcionada a parentalidade pelas mães participantes.
31
Significações de “Parentalidade Adequada”
Neste estudo, pretendeu-se compreender o que é a “parentalidade adequada” na
perspectiva de mães em situação de vulnerabilidade económica. De acordo com as
significações atribuídas a “boa mãe” – amar/dar afecto, disponibilidade, cuidar, educar,
disciplinar e estar atenta –, é possível estabelecer relação com as funções parentais,
nutriente e educativa, referidas por Barudy (2009). Os resultados deste estudo sugerem
que as mães se revelaram conscientes de que as funções parentais estão para além da
capacidade de procriar, e que uma parentalidade adequada implica um vínculo
emocional, cuidados e educar de forma a promover a autonomia e a vivência em
comunidade, dados que vão ao encontro de Barudy (2009). De acordo com Linares
(2010), a parentalidade está deteriorada nas famílias multiproblemáticas quando as
Vivência da
parentalidade
Significações de
“parentalidade adequada” Auto-percepção avaliativa
da parentalidade
Vivência e Percepção da
Parentalidade
Significações de “boa
mãe”
Auto-caracterização
parental
Caracterização da
coparentalidade
Caracterização dos
filhos
Gratificações da
parentalidade
Percepção de eficácia
Auto-avaliação das
expectativas
Nível de satisfação
parental
Figura 5. Mapa conceptual das categorias principais e categorias temáticas.
32
funções nutritiva e educativa estão debilitadas, o que parece não se verificar nas
famílias das participantes face às significações de “parentalidade adequada” referidas.
No entanto, não se encontra nenhuma referência à função socializadora proposta
por Barudy (2009), podendo sugerir ausência de reflexividade no que respeita à
influência parental no desenvolvimento do auto-conceito e identidade da criança. O
facto de as participantes não terem identificado referências explícitas ou implícitas a
função socializadora, que pertence às tarefas básicas da parentalidade (Barudy, 2009),
poderá significar que não reconheçam a existência deste processo de desenvolvimento
individual ou que não o sintam ser da sua competência. Linares (2010) também não
refere a função socializadora, enquanto factor determinante de uma parentalidade
deteriorada, o que sugere uma dificuldade acrescida em observar dados relativos a esta
dimensão.
Vivência da Parentalidade
Neste estudo foi possível observar uma auto-caracterização positiva e uma
caracterização positiva dos filhos, o que de acordo com Cruz (2005) deverá influenciar
positivamente o desempenho do papel parental. A parentalidade é uma tarefa complexa
e, por isso, o desempenho do papel parental depende das características de cada pessoa
e também da criança, bem como do contexto em que se inserem (Cruz, 2005). As
características dos pais e dos filhos são factores de análise da parentalidade, na medida
em que podem influenciar o comportamento parental (Belsky, 1984; Cruz, 2005). No
que respeita à caracterização da coparentalidade, esta foi igualmente positiva, segundo
Pleck e Pleck (1997; cit. por Fox, Bruce & Combs-Orme, 2000), é considerado bom pai
aquele que partilha o papel de cuidador, protector e prestador de cuidados com a mãe,
sendo essa a experiência relatada pelas participantes.
Relativamente às gratificações da parentalidade, os resultados demonstram que ser
mãe ocupa um papel de destaque na vida das participantes ao qual atribuem uma
conotação positiva. Referiram que a condição de irreversibilidade vem atribuir um novo
significado às suas vidas, sendo que as suas vidas se alteram a partir do momento em
que são mães pela primeira vez, expondo uma narrativa positiva da maternidade. As
participantes consideraram que ser mãe as transformou, e transformou as suas vidas,
para melhor. A relação que estabelecem com os seus filhos, o significado que os filhos
atribuem à sua vida, assim como a realização pessoal promovida pelo papel parental,
foram os factores referidos pelas mães como gratificantes na parentalidade. Apesar de
33
identificarem algumas alterações da transição para a parentalidade como negativas,
nomeadamente no que respeita às rotinas e aos momentos de lazer, consideram essa
transição como positiva. Tratando-se de mães de famílias em contexto de
vulnerabilidade económica, essa limitação financeira poderia apresentar-se como uma
condicionante à vivência da parentalidade, o que parece não se verificar uma vez que as
participantes identificam como positiva a sua caracterização, a dos filhos e da
coparentalidade, e referem diferentes gratificações do papel parental.
Auto-percepção Avaliativa da Parentalidade
As participantes revelaram sentir-se eficazes no desempenho do seu papel
parental, o que se relaciona com o sentimento de competência e de auto-confiança,
podendo, assim, promover a funcionalidade familiar (Coleman & Karraker, 1997). No
que respeita à auto-avaliação das expectativas face à realidade, as participantes
encontram-se nos níveis mais elevados, tal como se verifica no estudo de Lawrence et
al. (2007), em que homens e mulheres revelaram uma percepção mais positiva da
transição para a parentalidade, após o nascimento do bebé, em relação às suas
expectativas pré-natais. Neste sentido, a percepção de eficácia e a auto-avaliação
positiva das expectativas aparentam ser influentes nos níveis elevados de satisfação
parental que as mães revelaram (Coleman & Karraker, 1997). Os resultados parecem
indicar que tal ocorre não só relativamente às expectativas parentais face ao seu
desempenho, mas também às expectativas relativas ao comportamento dos filhos (Cruz,
2005) e à relação que com eles desenvolvem (Kobarg, Sachetti & Vieiras, 2006). Os
resultados permitem, ainda, sugerir que a satisfação parental é influenciada pelas
características dos filhos, como refere Belsky (1984) no seu modelo; pelo suporte
emocional e instrumental do parceiro (Belsky, 1984), assim como pelo entendimento de
uma coparentalidade positiva (Caldera & Lindsey, 2006). A percepção de eficácia das
participantes parece ser influenciada pela auto-avaliação positiva do confronto com a
realidade face às expectativas pré-natais, e pela satisfação relativa ao seu desempenho,
ao comportamento dos filhos, e à relação com os mesmos – assim como os elevados
níveis de satisfação parental, referidos pelas mães, sugerem uma associação ao
sentimento de eficácia.
A avaliação das mães relativamente à sua experiência da parentalidade, de acordo
com a auto-percepção, é positiva. Atendendo às especificidades da população,
concretamente famílias com história de sinalização, estes resultados sugerem que a
34
sinalização dos menores não influencia a percepção que a mães têm do seu desempenho
e assim, mantenham uma avaliação positiva da sua experiência da parentalidade. Ainda
de acordo com a especificidade da amostra, atendendo ao facto de serem famílias em
contexto de vulnerabilidade económica, os resultados parecem indicar que essa
condição não influencia a percepção avaliativa da parentalidade das participantes – uma
vez que as dificuldades financeiras podem constituir-se um obstáculo ao desempenho do
papel parental e a avaliação que fazem é positiva.
Análise articulada
As participantes revelaram uma vivência positiva da parentalidade, que se traduziu
na sua auto-caracterização positiva relativa ao desempenho do papel parental,
consideraram-se boas mães; na caracterização positiva dos filhos; na perspectiva
positiva da coparentalidade, em que ambos os progenitores participam activamente no
quotidiano dos filhos (excepto em famílias monoparentais); e nas gratificações da
parentalidade, identificaram o papel parental como uma mais-valia nas suas vidas. As
participantes demonstraram uma auto-percepção positiva do seu desempenho do papel
parental, relatando sentirem-se eficazes no mesmo, colocaram-se em elevados níveis de
satisfação parental e consideraram que as suas expectativas pré-natais foram superadas.
Assim, a experiência da parentalidade foi compreendida como positiva e gratificante, tal
como a percepção da parentalidade foi avaliada de forma positiva. Atendendo à
especificidade da amostra, a vulnerabilidade económica e a história de sinalização,
enquanto potenciais factores de risco, não se revelaram como uma influência negativa
na forma como a parentalidade é vivenciada e percepcionada pelas mães participantes.
De acordo com os resultados deste estudo, a vivência da parentalidade e a auto-
percepção avaliativa da parentalidade, parecem influenciar-se numa relação de
circularidade e retroalimentação – uma vivência positiva será um factor de influência na
auto-percepção e consequentemente, na avaliação; da mesma forma que uma auto-
percepção positiva, se reflectirá na vivência da parentalidade. Esta relação de
circularidade aparenta ser influenciada pelas significações de “parentalidade adequada”,
na medida em que a vivência da parentalidade e a auto-percepção avaliativa da mesma,
são processos idiossincráticos de acordo com o que cada pessoa considera adequado.
Assim, também as significações de “parentalidade adequada” parecem ser influenciadas
pela vivência da parentalidade e pela forma como esta é percepcionada. Desta reflexão,
que procurou integrar as três categorias temáticas, emergiram duas hipóteses:
35
1. A vivência da parentalidade constitui indicadores de percepção da
parentalidade, que reforçam a vivência da parentalidade, existindo uma
relação de circularidade e retroalimentação;
2. As significações de “parentalidade adequada” influenciam o ciclo vivência
da parentalidade/percepção da parentalidade que, por sua vez, reforça as
significações.
As hipóteses apresentadas, com base nos resultados obtidos neste estudo,
pretendem compreender como a parentalidade é vivida e percepcionada. Através do
discurso das participantes procurou-se estruturar a vivência da parentalidade, a auto-
percepção avaliativa, as significações de “parentalidade adequada” e, essencialmente, de
que forma todos estes factores se conciliam e influenciam. Os resultados sugerem que,
as significações sobre “parentalidade adequada” orientam o desempenho das mães, que
procuram vivenciar a parentalidade de forma coerente com as suas significações. A sua
percepção avaliativa da parentalidade é igualmente guiada pelas significações de
“parentalidade adequada”. Tal como a auto-percepção pode influenciar a vivência da
parentalidade, na medida em que uma auto-percepção positiva do papel parental pode
funcionar como factor potenciador do seu desempenho, também a forma como a
parentalidade é vivenciada aparenta ser influenciada pela auto-percepção avaliativa, ou
seja, a vivência da parentalidade referida como positiva aponta para uma auto-percepção
positiva do desempenho. De acordo com os níveis elevados de satisfação parental
demonstrados, as mães referiram como positiva a sua vivência e percepção da
parentalidade – quando satisfeitas com a forma como experienciam o seu desempenho
parental, a auto-percepção avaliativa indicará essa mesma satisfação.
A forma como são vividos e representados os papéis familiares, depende de cada
elemento, isto é, do significado atribuído, correspondendo à sua percepção individual
(Oliveira e Costa, 2005). Nesse sentido, a forma como a parentalidade é vivenciada e
percepcionada vai ao encontro das significações das mães acerca do papel parental. Os
resultados do estudo indicam que o sentimento de eficácia aumenta a confiança nas
capacidades individuais e assim, afecta o modo como a pessoa se envolve e desempenha
as tarefas parentais (Cruz, 2005), que se reflecte na satisfação parental.
Este estudo não revelou diferenças de relevo entre os três grupos (famílias com
vulnerabilidade económica sem história de sinalização, famílias com vulnerabilidade
económica com menores sinalizados e famílias com vulnerabilidade económica com
processos de sinalização encerrados), possivelmente devido à amostra reduzida. Assim,
36
as hipóteses expostas procuram um caminho, de acordo com as narrativas de mães em
contextos de vulnerabilidade económica, para uma melhor compreensão da forma como
é vivenciada e percepcionada a parentalidade, através da interacção de diferentes
factores.
Significações de
“parentalidade
adequada”
Vivência da
parentalidade
Auto-percepção
avaliativa da
parentalidade
Figura 6. Esquema representativo das hipóteses propostas.
37
V. REFLEXÕES FINAIS
O presente estudo teve como objectivos principais, explorar as significações de
parentalidade adequada, e compreender e analisar a vivência da parentalidade e a auto-
percepção avaliativa do desempenho do papel de mãe em contextos de vulnerabilidade
económica. Os resultados deste estudo demonstraram que, as mães em contextos de
vulnerabilidade económica apresentam significações de “parentalidade adequada”, de
acordo com as funções nutritiva e educativa propostas por Barudy (2009), assim como
demonstram uma vivência positiva da parentalidade, e revelam uma avaliação positiva
da sua parentalidade. Com base nestes resultados, foi possível sugerir a existência de
uma relação de circularidade entre a vivência da parentalidade e auto-percepção
avaliativa da mesma, e a influência das significações de “parentalidade adequada” neste
ciclo.
Limitações do Estudo
As limitações deste estudo são essencialmente relativas à dimensão da amostra,
que, por ser reduzida, impossibilitou uma comparação entre os diferentes grupos de
famílias em contextos de vulnerabilidade económica (sem história de sinalização, com
menores sinalizados e famílias com processos de sinalização encerrados). Por outro
lado, os objectivos desta investigação implicam a percepção das participantes o que, por
sua vez, se torna uma limitação à investigação atendendo à desiderabilidade social.
A baixa escolaridade das participantes também se revelou uma limitação.
Relativamente à compreensão das perguntas, foi necessário, por vezes, reformular as
questões de forma a simplificá-las. No que respeita aos instrumentos com escala de
Likert, apesar da utilização da régua com imagens que procurava fazer face a esta
eventual limitação, foi necessário oralizar as questões e respostas dos questionários. No
que refere às respostas, em perguntas abertas, a baixa escolaridade pode influenciar a
dificuldade de elaboração das participantes.
Relativamente às especificidades da população, concretamente nas famílias com
história de sinalização, uma limitação pode prender-se com o facto de o entrevistador
ser entendido como um avaliador. Ao longo dos processos nas comissões de protecção
de crianças e jovens, as famílias ficam expostas a diversos técnicos dos serviços e, nesse
sentido, podem procurar corresponder ao que consideram ser adequado para o
38
entrevistador, com base nas avaliações que lhe foram transmitidas da sua vivência da
parentalidade.
Contributos do estudo
O presente estudo pretende contribuir para uma maior compreensão da
parentalidade em famílias em contextos de vulnerabilidade económica, através da lente
das mães, num olhar a partir da própria família. Pode, assim, ajudar os técnicos dos
serviços que intervém com esta população, ao facultar um melhor conhecimento da
parentalidade, tal como é vivida e significada por mães em contextos de vulnerabilidade
económica, uma vez que o sucesso de uma intervenção também passa por conhecer
aqueles com quem e para quem se trabalha.
Embora a literatura destaque os factores de risco nas famílias em contextos de
vulnerabilidade económica, também existem evidências das suas competências (Sousa
& Ribeiro, 2005; Linares, 2010). Este estudo permitiu identificar as significações de
“parentalidade adequada”, a vivência da parentalidade e a auto-percepção da
parentalidade, como factores de protecção nas famílias em contexto de vulnerabilidade
económica. Os resultados permitem encontrar recursos nestas famílias, e compreender a
existência de potencialidades no desempenho do papel parental segundo a percepção
das participantes.
De acordo com as abordagens narrativas, a construção de uma narrativa não
permite recriar exactamente a experiência, mas sim a atribuição de significado à
experiência de cada pessoa. Em contexto clínico, a narrativa pode actuar no sentido de
encontrar novas perspectivas e novas significações, de forma a promover a mudança.
(Ribeiro, Gonçalves, & Ribeiro, 2009). Assim, este estudo pretende contribuir para
compreender a forma como as pessoas constroem a narrativa da sua experiência e lhe
atribuem um significado.
Futuras investigações
Com base nos resultados deste estudo, seria relevante analisar as diferenças
culturais, uma vez que a parentalidade é entendida de diferentes formas à luz de cada
cultura. Neste estudo, devido ao tamanho limitado da amostra torna-se pouco
significativa essa distinção, mas em futuras investigações com mais participantes seria
enriquecedor.
39
Numa futura investigação, com uma amostra maior de famílias com história de
sinalização, também seria relevante identificar possíveis diferenças na forma como a
parentalidade é vivenciada e percepcionada de acordo com os diferentes motivos de
sinalização dos menores (e.g. absentismo escolar e suspeita de violência doméstica).
Este estudo baseou-se apenas nas significações parentais, pelo que seria
interessante realizar uma investigação que considerasse também as significações dos
filhos sobre o desempenho do papel parental e compreender de que forma se
influenciam.
De acordo com as hipóteses propostas neste estudo, seria igualmente útil, numa
investigação com uma amostra maior, contrastar famílias em contexto de
vulnerabilidade económica com famílias normativas e, assim, permitir uma
compreensão mais pormenorizada das especificidades das famílias em contextos de
vulnerabilidade económica. Uma investigação com uma amostra maior, permitiria
também compreender se existem diferenças de destaque entre famílias com e sem
história de sinalização.
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Apêndice I. Esquema representativo da árvore de categorias de análise.
Significação de “Boa Mãe” (18)
Respeitar (1)
Boa Relação (1)
Envolvimento escolar (1)
Responsável (1)
Dificuldade em responder (1)
Tentar ser uma boa mãe (1)
Saber ouvir (1)
Ser paciente (1)
Capacidade de perdoar (1)
Regular comportamento (1)
Ensinar a dar valor ao que têm (1)
Ser verdadeira (1)
Esforço (2)
Diálogo (2)
Dar tudo de bom (2)
Ajudar (2)
Preocupação com o bem-estar (2)
Ser um modelo (2)
Disponível (2)
Proteger (3)
Compreender (3)
Dar tudo o que precisam (3)
Apoiar (3)
Atenta (4)
Disciplinar (5)
Educar (6)
Cuidar (6)
Disponibilidade (7)
Amar/dar afectar (13)
Cuidados de sono (1)
Cuidados de higiene (3)
Horários regulares (1)
Estar presente (1)
Ensinar a respeitar (1)
Disciplinar (1)
Cuidados de vestuário (2)
Cuidados de alimentação (2)
Tratar nos bons e nos maus momentos (2)
Dar atenção (2)
Auto-caracterização positiva (18)
Foco na auto-estima (1)
Foco na responsabilidade (1)
Foco na autonomia (2)
Dar espaço aos filhos (2)
Valorização da autonomia (2)
Foco na aquisição de competências (3)
Procurar ajuda para ajudar (1)
Investimento escolar (1)
Foco na segurança (3)
Diálogo (6)
Necessidades básicas (10)
Controlo dos esfíncteres (1)
Horários (1)
Higiene (4)
Vestuário (4)
Doença (5)
Alimentação (5)
Disciplina (13)
Exigente (1)
Feedback imediato sobre limites (2)
Não bater nos filhos (2)
Dar educação (3)
Estabelecer regras (4)
Orientar (4)
Ter controlo (5)
Amor/suporte emocional (16)
Saber ouvir (1)
Filhos prioritários (1)
Ajudar quando precisam (3)
Ser amiga (3)
Compreensiva (4)
Preocupada com o bem-estar (4)
Atenta (6)
Brincalhona (6)
Amor pelos filhos (7)
Disponível (11)
Afectuosa (14)
Características pessoais (16)
Feliz (1)
Intuitiva (1)
Inteligência (1)
Optimista (1)
Orgulhosa dos filhos (1)
Realizada (1)
Responsável (1)
Sabedoria (1)
Simples (1)
Filhos em primeiro lugar (1)
Alegre (1)
Apaixonada pelo filho (1)
Exigente (1)
Não querer falhar em nada (1)
Esforço (4)
Ser pai e mãe (2)
Dar o que pode (2)
Brincalhona (2)
Verdadeira (3)
Aberta (3)
Mãe-galinha (6)
Protecção (4)
Paciente (5)
Preocupação (6)
Preocupação com doenças (1)
Preocupação com higiene (1)
Preocupação controlo dos esfíncteres (1)
Carinhosa (1)
Sempre disponível (1)
Excessivamente preocupada (3)
Empréstimos de categorias (18)
Emprestar qualidades (17)
Estabelecer regras (1)
Saber lidar com os filhos (1)
Felicidade com os filhos (1)
Sabedoria (1)
Inteligência (1)
Cuidado com os filhos (1)
Cuidar (1)
Felicidade com os filhos (1)
Não querer falhar em nada (1)
Orientar (1)
Empenho (1)
Saber educar (1)
Lutadora (1)
Capacidade de ouvir (1)
Disponível (2)
Filhos em primeiro lugar (1)
Brincar com os filhos (1)
Compreensiva (2)
Paciência (5)
Não bater (2)
Amor parental (6)
Pedir emprestadas (18)
Lidar com birras (1)
Castigos melhores (1)
Auto-confiança (1)
Não sei (1)
Mais controlo dos filhos (1)
Descontracção (1)
Tolerância (1)
Paciência (1)
Contacto físico (1)
Boa disposição (1)
Tempo (2)
Dinheiro (2)
Não precisa (8)
Coparentalidade (17)
Imagem positiva (10)
Afecto compensatório (1)
Eficácia coparental (1)
Capacidades parentais iguais (2)
Apoio coparental (6)
Imagem positiva do parceiro (9)
Equivalência pai-mãe (6)
Diferenças pai-mãe (12)
Filhos preferem mãe (1)
Mãe tem mais experiência (1)
Não sabe (1)
Mãe mais paciente (1)
Mãe mais flexível (1)
Mãe amor mais incondicional (1)
Mãe tem maior pressão social (1)
Mãe mais mãe-galinha (1)
Mãe mais exigente (1)
Pais mais frios (1)
Mãe menos desculpada nas falhas (1)
Mãe mais protectora (1)
Mãe cuida mais (2)
Pai brincadeiras mais de homem (2)
Mãe mais compreensiva (2)
Mãe melhor desempenho (3)
Mãe conhece melhor os filhos (3)
Pai mais firme (3)
Mãe mais carinhosa (3)
Mãe mais próxima (7)
Caracterização dos filhos (18)
Característica incomodativa (18)
Reservada (1)
Refilão (1)
Autonomia excessiva (1)
Abrutalhado (1)
Perfeccionismo/ansiedade (1)
Atraso no desenvolvimento cognitivo (1)
Brigas entre irmãos (1)
Desobediência (1)
Isolamento social (1)
Dependência da mãe (1)
Não falar bem (1)
Teimosia (1)
Défice de valores morais (1)
Imaturidade (1)
Baixa auto-confiança (1)
Influenciável (1)
Não avaliar as consequências (1)
Não saber o que quer (1)
Visão centrada no momento (1)
Não cumprir horários (1)
Nenhuma (9)
Birras (2)
Característica preferida (17)
Franqueza (1)
Persistência (1)
Simpatia (1)
Calma (1)
Malandrice (1)
Sorriso (1)
Brincadeiras (1)
Alegria (1)
Dança (1)
Conversa com a mãe (1)
Garra (1)
Bonito (1)
Nada de específico (1)
Não mentirem (1)
Tudo (6)
Brincadeiras (1)
Gratificações da parentalidade (18)
Ver os filhos crescer (1)
Todos os dias é uma aventura (1)
Estar com os filhos (1)
Ver filhos alegres (1)
Dependência mútua (1)
Apaixonante (1)
Conseguir desempenhar papel de mãe (1)
Filhos cuidarem dos pais velhos (1)
Dificuldade em responder (1)
Educar para serem cidadãos válidos (1)
Gravidez (1)
Riso dos filhos (1)
Capacidade de amar infinita (1)
Poder dar tudo aos filhos (1)
Ver os filhos bem (1)
Levar filhos para um bom caminho (1)
Brincar com os filhos (2)
Papel de mãe (2)
Ser tudo de bom (2)
Sentir filhos felizes (2)
Fazer tudo pelos filhos (2)
Melhorar enquanto pessoa (2)
Tudo o que tenho na vida (3)
Orientar/educar (3)
Alegrias (3)
O melhor da vida (4)
Dar sentido à vida (4)
Ser feliz (4)
Gosto em ser mãe (4)
Realização (5)
Afecto (8)
Percepção de eficácia (18)
Eficácia parental (17)
Ineficácia parental (5)
Satisfação parental (18)
Satisfação desempenho parental (18)
Nível 5 com filho único (5)
Nível 4 com todos os filhos (7)
Nível 5 com todos os filhos (3)
Nível 4 com filho mais velho (1)
Nível 4 com filho único (1)
Nível 5 com filho mais novo (1)
Nível 4 com filho mais novo (1)
Nível 2 com filho mais velho (1)
Satisfação relação com o filho (18)
Nível 5 com filho único (6)
Nível 5 com todos os filhos (7)
Nível 5 com filho mais velho (3)
Nível 4 com filho mais novo (3)
Nível 5 com filho do meio (2)
Nível 4 com filho mais velho (2)
Nível 5 com filho mais novo (2)
Nível 2 com filho mais velho (1)
Satisfação comportamento do filho (17)
Nível 5 com todos os filhos (4)
Nível 4 com todos os filhos (5)
Nível 4 com filho único (2)
Nível 5 com filho único (4)
Nível 5 com filho mais velho (1)
Nível 4 com filho mais novo (1)
Nível 5 com filho mais novo (1)
Nível 4 com filho mais velho (1)
Nível 3 com filho mais novo (1)
Nível 2 com filho mais velho (1)
Confronto expectativas/realidade (18)
Expectativas desempenho parental (18)
parental (18)
Nível 4 com todos os filhos (5)
Nível 5 com todos os filhos (7)
Nível 5 com filho único (3)
Nível 3 com todos os filhos (1)
Nível 3 com filho único (1)
Nível 4 com filho único (1)
Expectativas/realidade relação com o filho (18)
Nível 5 com filho único (5)
Nível 4 com todos os filhos (5)
Nível 5 com filho mais novo (3)
Nível 5 com todos os filhos (3)
Nível 3 com todos os filhos (1)
Nível 4 com filho mais velho (2)
Nível 5 com filho do meio (1)
Nível 4 com filho único (1)
Nível 2 com filho mais velho (1)
Expectativas/realidade comportamento filho (18)
Nível 5 com filho único (4)
Nível 4 com todos os filhos (7)
Nível 4 com filho único (2)
Nível 3 com todos os filhos (3)
Nível 4 com filho mais velho (1)
Nível 5 com filho mais novo (1)
Nível 4 com filho mais velho (1)
Nível 2 com filho mais velho (1)
Anexo A. Consentimento informado
Consentimento Informado
A investigação para a qual pedimos a sua colaboração, está a ser realizada por
Isabel Narciso, Professora Associada da Faculdade de Psicologia da
Universidade de Lisboa.
Com este estudo, pretende-se compreender o modo como os pais vivenciam a
sua relação com os filhos. A sua participação na investigação é de extrema
importância, constituindo um contributo fundamental para aprofundar o conhecimento sobre a temática parentalidade.
A sua participação é voluntária e a decisão de não participar não tem qualquer
consequência para si ou para os seus filhos, podendo desistir a qualquer
momento se assim o desejar. Os dados recolhidos são confidenciais e anónimos, sendo tratados de forma global e não individualizada.
A participação nesta investigação implica a realização de uma entrevista
individual e o preenchimento de um questionário sobre dados
sociodemográficos e de um questionário sobre práticas parentais relativamente a cada um dos filhos.
Os participantes poderão ter acesso aos resultados gerais da investigação ou
outros esclarecimentos acerca da mesma, solicitando informação através do endereço eletrónico: [email protected]
Ao aceitar realizar a entrevista, declara ter tomado conhecimento dos
objectivos do estudo e do que lhe é pedido, participando voluntariamente, e
concorda que os dados sejam trabalhados anonimamente pelos investigadores
envolvidos no estudo, não restringindo o uso dos resultados para os quais o estudo se dirige.
Grata pela sua participação!
Os participantes