7
74 www.backstage.com.br ILUMINAÇÃO As empresas e profissionais do segmento têm a consciência da necessidade e da importância de melhorar os procedimentos de segurança por meio de treinamentos e qualificação de seus funcionários? Qual a postura dos órgãos de fiscalização? Com o próprio mercado exigindo qualidade e segurança no projeto e montagens das estruturas, a tendência é que as empresas melhorem os procedimentos com segurança, capacitação e qualificação. Karyne Lins [email protected] A Segurança na montagem de iluminação s normas de segurança que devem ser adotadas são basi- camente estas: o uso obrigatório do EPI (Cinto de segu- rança, capacetes, botas, luvas elétricas, etc), todo o siste- ma de energia aterrado e obrigatoriamente a ART (Anotação de Responsabilidade Técnica), que é o atestado de um engenheiro que garante a segurança na montagem de palco. É esta anotação que vai determinar a carga por segmento de estrutura e a sua ca- pacidade por metro de cada estrutura determinada e outros pro- cedimentos em relação à essa mesma estrutura. O papel do engenheiro eletricista no projeto do sistema segu- ro para iluminação de palco é muito importante, pois são eles que projetam e desenvolvem os equipamentos que serão utiliza- dos pelo mercado. Cabe às empresas entender o sistema para usá-los corretamente. Sua atuação é a mesma de um eletricista de instalação elétrica predial ou industrial, que seria dimen- sionar condutores e proteção, adequar e compatibilizar sistemas de aterramento e pára-raios. As normas para instalações elétricas são a NBR 5410 e a NBR 13570 da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). As empresas que fornecem materiais e serviços de iluminação cênica são, de fato, instaladoras de materiais elétricos e para tanto devem seguir a risca o que dizem as normas técnicas. Se- gundo Tato Corbett, diretor da Stage Luz & Magia Ltda., a empresa atende integralmente o que é exigido na NBR 13570, da ABNT, que discorre sobre instalações elétricas em locais de afluência de público. A NBR 13570 diz que “todos os conec- tores a serem utilizados devem ser escolhidos e instalados de modo a prevenir danos ou a separação involuntária entre ambos e devem possuir terminal de aterramento”. A Luzbel Iluminação da Bahia, a exemplo das empresas de iluminação entrevistadas, declarou que existe um eletrotécnico responsável para avaliar a parte elétrica. Tato reclama que no Brasil não existe a preocupação com a rede elétrica, já que em cada região do Brasil a voltagem varia e nada é providenciado para que não haja queima de equipamento ou até transtornos com sistema de eletricidade. “Se nosso mercado fosse levado ao panorama europeu ou americano, somente duas ou três empre- sas trabalhariam. Isso é muito pouco”, disse Tato. As empresas e as normas “Em mesa redonda sobre segurança, organizada pela ABRIC (Associação Brasileira de Iluminação Cênica) em agosto passa- do, chegaram à brilhante conclusão que a não observância e adequação às normas técnicas “não são um caso de polícia, mas um caso para ações culturais”. Isto é totalmente ridículo. É caso para polícia sim. É atentar contra a vida e o patrimônio de forma premeditada e consciente”, reclama Tato Corbett. Os responsáveis pelas empresas e companhias de iluminação enfatizaram que há investimento em segurança, tanto com pes- “Se nosso mercado fosse levado ao panorama europeu ou americano, somente duas ou três empresas trabalhariam. Isso é muito pouco” (Tato)

Segurança - Revista Backstage€¦ · empresa atende integralmente o que é exigido na NBR 13570, da ABNT, que discorre sobre instalações elétricas em locais de afluência de

Embed Size (px)

Citation preview

74 www.backstage.com.br

ILUMINAÇÃO

As empresas e profissionais do segmento têm a consciência danecessidade e da importância de melhorar os procedimentos desegurança por meio de treinamentos e qualificação de seus funcionários?Qual a postura dos órgãos de fiscalização? Com o próprio mercadoexigindo qualidade e segurança no projeto e montagens das estruturas, atendência é que as empresas melhorem os procedimentos comsegurança, capacitação e qualificação.

Karyne Lins

[email protected]

A

Segurançana montagem de iluminação

s normas de segurança que devem ser adotadas são basi-camente estas: o uso obrigatório do EPI (Cinto de segu-rança, capacetes, botas, luvas elétricas, etc), todo o siste-

ma de energia aterrado e obrigatoriamente a ART (Anotação deResponsabilidade Técnica), que é o atestado de um engenheiroque garante a segurança na montagem de palco. É esta anotaçãoque vai determinar a carga por segmento de estrutura e a sua ca-pacidade por metro de cada estrutura determinada e outros pro-cedimentos em relação à essa mesma estrutura.

O papel do engenheiro eletricista no projeto do sistema segu-ro para iluminação de palco é muito importante, pois são elesque projetam e desenvolvem os equipamentos que serão utiliza-dos pelo mercado. Cabe às empresas entender o sistema parausá-los corretamente. Sua atuação é a mesma de um eletricistade instalação elétrica predial ou industrial, que seria dimen-sionar condutores e proteção, adequar e compatibilizar sistemasde aterramento e pára-raios.

As normas para instalações elétricas são a NBR 5410 e a NBR13570 da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).As empresas que fornecem materiais e serviços de iluminação

cênica são, de fato, instaladoras de materiais elétricos e paratanto devem seguir a risca o que dizem as normas técnicas. Se-gundo Tato Corbett, diretor da Stage Luz & Magia Ltda., aempresa atende integralmente o que é exigido na NBR 13570,da ABNT, que discorre sobre instalações elétricas em locais deafluência de público. A NBR 13570 diz que “todos os conec-tores a serem utilizados devem ser escolhidos e instalados demodo a prevenir danos ou a separação involuntária entre ambose devem possuir terminal de aterramento”.

A Luzbel Iluminação da Bahia, a exemplo das empresas deiluminação entrevistadas, declarou que existe um eletrotécnicoresponsável para avaliar a parte elétrica. Tato reclama que noBrasil não existe a preocupação com a rede elétrica, já que emcada região do Brasil a voltagem varia e nada é providenciadopara que não haja queima de equipamento ou até transtornoscom sistema de eletricidade. “Se nosso mercado fosse levado aopanorama europeu ou americano, somente duas ou três empre-sas trabalhariam. Isso é muito pouco”, disse Tato.

As empresas e as normas“Em mesa redonda sobre segurança, organizada pela ABRIC

(Associação Brasileira de Iluminação Cênica) em agosto passa-do, chegaram à brilhante conclusão que a não observância eadequação às normas técnicas “não são um caso de polícia, masum caso para ações culturais”. Isto é totalmente ridículo. É casopara polícia sim. É atentar contra a vida e o patrimônio de formapremeditada e consciente”, reclama Tato Corbett.

Os responsáveis pelas empresas e companhias de iluminaçãoenfatizaram que há investimento em segurança, tanto com pes-

“Se nosso mercado fosse levado ao panorama europeu

ou americano, somente duasou três empresas trabalhariam. Isso

é muito pouco” (Tato)

76 www.backstage.com.br

ILUMINAÇÃO

soal quanto material. Na parte humanacom os EPIs (botas, luvas, cordas, cortinaantiderrapante e cinto de segurançapara alturas superiores a 1,80m). Quantoaos equipamentos, sistemas com prote-ção como main power com chave rever-sora, cabos adequados, disjuntores deproteção e sistema de backup.

“Nos países de Primeiro Mundo o assun-to é tratado com mais seriedade e responsa-bilidade. Muitas empresas ainda trabalhamsem cuidados elementares. Aí deveriamentrar os órgãos fiscalizadores inibindo eforçando estas empresas a se adequarem àsnormas”, disse Júnior Luzbel, lightingdesigner da Luzbel Iluminação.

Preocupaçãodas empresas deiluminaçãoOs entrevistados mostraram preocupa-

ção em relação à infra-estrutura de fia-ção, plugs, conectores e o sistema elétrico.Apesar de serem elementos de pouca visi-bilidade, se comparados a outros equipa-mentos utilizados nos eventos, são desuma importância.

Segundo Jorge André, responsáveltécnico do CREA, empresário e diretor daLumeaudio Eventos e Serviços TécnicosLtda., no geral, o índice de acidentes temdiminuído, mas acha que falta ainda umaconscientização de todas as empresas en-volvidas nos eventos com relação ao usoobrigatório do EPI (Equipamento de Pro-teção Individual) e as especificações deuso de cada equipamento.

“Não basta somente que uma das em-presas contratadas tome as devidas pre-cauções para garantir a segurança nopalco durante a montagem de toda a es-trutura. Afinal, se todos estiverem devi-

damente ‘organizados’ quanto a isso, orisco de acidentes será cada vez menor”,disse Jorge André.

Cláudio Piovesan, diretor-presidentedo Conselho Fiscal do SATED/RJ eiluminador há 45 anos, diz que não existeessa conscientização. “Essa preocupação

é que só agora os técnicos procuram oSATED/RJ para obter o registro profissio-nal em dia. Até o ano passado (2005),nenhum deles, nem os produtores, sepreocuparam em regulamentar atravésdo SATED o registro profissional emitidopelo DRT”, disse Cláudio Piovesan.

Ao perguntar se as empresas de ilumi-nação hoje já estão mais organizadas emrelação a esses cuidados, Tato Corbettdisse que não vê isso acontecendo naprática. “Podemos contar na mão quaissão as empresas que têm este cuidado noBrasil. Escondidos atrás da arte e dosubjetivismo da iluminação, empresasfornecem materiais e serviços inadequa-dos ao uso. Desde sua fundação, a Stageestá de acordo com as mais rigorosas leis”,disse Tato.

Jorge André disse que a empresa teminvestido em segurança. “Nos preocupa-mos muito com estruturas de alumínio e,por esse motivo, temos investido no trei-namento do nosso pessoal para que te-nham todas as informações sobre capa-cidade de carga concentrada, carga dis-tribuída e vão livre máximo de acordocom as especificações do fabricante daestrutura”, explicou.

“Ainda tem precedentes por parte dealguns. Eles não querem ter o trabalho desaber se a contratada tem ou não segu-rança, e sim resultado final”, disse Cu-nha, iluminador da cantora Pitty. Toco,iluminador da cantora Daniela Mercury,disse que tanto as empresas como os téc-nicos não têm dado a devida importân-

Funcionários de empresa de iluminação utilizam o equipamento obrigatório na hora da montagem Cinto de segurança para o rigger

Tato Coubett: no Brasil, voltagem é variada

“Nos países de PrimeiroMundo o assunto étratado com mais

seriedade eresponsabilidade. Muitas

empresas aindatrabalham sem cuidadoselementares” (Junior)

Fo

tos: D

ivu

lgação

78 www.backstage.com.br

ILUMINAÇÃO

cia ao assunto. “Algumas empresas sepreocupam de forma superficial. Aque-las que possuem um quadro permanentede técnicos fazem algum treinamento,mas não como deveriam”, reclamou.

FiscalizaçãoEla é importante não só pelo aspecto

de segurança, como também para re-gular o mercado. As ações do Ministé-rio do Trabalho e Emprego, realizadaspor cada estado pela DRT, são fisca-lizadoras em atendimento às deman-das sociais e às metas estabelecidaspelo MTE, com lavratura de autos deinfração, embargos de obras, interdi-ções de setores ou frentes de trabalho,denúncias ao Ministério Público, den-tre outras ações.

“Em todos os estados da União, as De-legacias Regionais do Trabalho (DRT)têm a competência do controle da segu-rança e saúde dos trabalhadores e estabe-leceu como uma das metas prioritáriasa fiscalização dessas questões em todas asempresas, incluindo-se as de montagens eiluminação. Devemos comentar que doisitens da Norma ainda estão no prazo e,portanto, impedidos de ações fiscais”, dis-se Joaquim Gomes Pereira. Essas altera-ções na Norma de Segurança em instala-ções e serviços com eletricidade, é umaresposta do Ministério do Trabalho e Em-

prego à necessidade de controle dos riscosenvolvendo eletricidade.

José Roberto Fontelles, geólogo e ge-rente de fiscalização do CREA-RJ, disseque a fiscalização do CREA sempre com-

parece aos grandes eventos e montagensde palco verificando a regularização dosserviços ligados a iluminação e som equais as empresas que estão a cargo desses

serviços. O fiscal verifica se essas empresasestão registradas, quais os profissionaistécnicos responsáveis por essas empresas,se eles registraram a responsabilidade pe-los serviços (ART) e tudo o mais que sejaprevisto como obrigação legal.

“O fiscal fala com a direção da empre-sa responsável pelo evento, que nos for-nece toda a documentação. A nossa fis-calização não estará conversando com origger (montador de equipamentos deiluminação) ou o iluminador. É comum oempreendedor mostrar os documentos eARTs solicitadas pela nossa fiscalização.Hoje, as empresas com tradição no mer-cado já estão regularizadas conosco. Nocaso de um fiscal encontrar irregularida-des, o que ainda acontece, a empresa re-cebe uma notificação e tem dez dias apartir do comparecimento do fiscal ao lo-cal para que ela regularize esse serviço”,explicou José Roberto Fontelles.

Tato Corbett disse que não vê essa fis-calização. “Hoje, empresas que investemem segurança concorrem com outrasque não se importam com isso e traba-lham com custos menores e no fim o queimporta é o menor preço. Em 14 anos dehistória, a Stage nunca viu um fiscal emlocal de trabalho, portanto imagino queela não exista. Órgãos públicos adotamprocedimentos burocráticos como a exi-gência de ARTs, que são fornecidas semcritérios por engenheiros que sequer sa-bem o que estão assinando”, opinou.

“O CREA não vai para fiscalizar, vaipara multar, essa é a minha visão. Achoque eles desconhecem o segmento deshow business e assim não têm como atu-ar, pois quem vai é um engenheiro predi-al. Na minha opinião, precisam se atuali-zar mais nesses segmentos”, reclamouNaldo Bueno, da Oficina de Luz.

“Acredito que os órgãos fiscalizadoresdeveriam estar mais atentos, mais pre-sentes aos eventos e exigindo dos respon-sáveis o compromisso com a responsabili-

Equipamentos sempre em condições de trabalho

A qualidade dos cabos de aço,

conectores e acessórios utilizados em

amarrações, juntamente com a manu-

tenção periódica, é primordial. O bási-

co é conferir sempre o aperto dos

conectores com os cabos, porque o fa-

moso mau-contato acarreta em aqueci-

mento, perda de potência e de resis-

tência e até o derretimento do cabo e

do conector. Outro cuidado importante

é nunca enrolar a sobra do cabo de

uma ligação elétrica formando uma bo-

bina. Dimensionamento correto de todo

o sistema elétrico, calculando correta-

mente a bitola do cabo e a proteção do

circuito para a corrente que está sendo

usada levando em consideração as

perdas pela distância. Saber a determi-

nação de centro de gravidade, pesos,

capacidade bruta e carga líquida. Se-

gurança e fatores que afetam a capaci-

dade de cada estrutura. Cálculo das

capacidades e içamentos simples e

múltiplos, etc, contribuem para manter

o equipamento sempre em condições

de segurança.

Naldo Bueno é diretor da Oficina de Luz

“Empresas queinvestem em segurançaconcorrem com outrasque não se importamcom isso e trabalhamcom custos menores eno fim o que importa éo menor preço” (Tato)

www.backstage.com.br 79

ILUMINAÇÃO

dade técnica. Isso, com certeza, contri-buiria para a diminuição dos acidentes”,disse Junior Luzbel.

Zé Carlos, coordenador de ilumina-ção há 20 anos na Companhia da Luz,disse que essa fiscalização não existe.“Em nosso campo de trabalho, durante odesenvolvimento da montagem de palcoe luz, nunca vi um fiscal. Recentemente,em um evento no Riocentro, o Ministériodo Trabalho instalou um escritório paraque todas as empresas envolvidas noevento fossem fiscalizadas; e envolvia se-gurança e contratos. Essa é a fiscalizaçãoque a gente quer ver”, disse Zé Carlos.“Tenho visto alguma fiscalização, quan-do o evento é grande. Hoje, a maioria dostrabalhos em iluminação é feita por free

lance e acaba sendo um motivo para queas empresas não tenham responsabilida-de com o individuo, gerando este ciclo

vicioso. As empresas não investem, por-que o técnico não é seu funcionário dire-to. E o técnico não vai atrás de seus direi-tos, porque isso não lhe é cobrado quan-do se dá a sua contratação. Conclusão:basta o trabalho sair perfeito que as coisascontinuam como sempre foram. Vamos

começar a trabalhar sério. O que faltapara todos nós é conscientização. As nor-mas estão aí. Vamos aprendê-las e exe-cutá-las”, observou Toco.

Estruturas de iluminaçãoEm relação à segurança de estruturas

de palco, quando se trata de fiscalização,não se deve limitar somente em montagemdas estruturas. Inicialmente é necessáriodispor de um projeto de qualidade e princi-palmente que atenda as normas brasileirase internacionais, tanto no que se refere àconcepção do projeto quanto à qualidadedo material. Atualmente, para se viabilizaruma montagem de estruturas no Brasil, énecessário a emissão de uma ART (Anota-ção de Responsabilidade Técnica) por umEngenheiro Civil ou Arquiteto.

“Se comparado há dez anos, é possívelafirmar que melhorou a atuação da fisca-

“Tenho vistoalguma fiscalização,quando o evento é

grande. Hoje, amaioria dos trabalhos

em iluminaçãoé feita por

free lance” (Toco)

80 www.backstage.com.br

ILUMINAÇÃO

lização na regulamentação e legalizaçãopara a viabilização de montagens de es-truturas, principalmente nos grandes cen-tros como São Paulo e Rio de Janeiro. Noentanto, a maioria dos estados brasileiros

ainda apresenta deficiência no processode fiscalização em geral”, disse Eduardo,engenheiro da Feeling Structures.

Walter, da Trusst, ressalta a importânciada segurança nas estruturas e adota pa-

drões internacionais acompanhando o quedetermina a nossa legislação. “A Trusst sepreocupa com a liga do alumínio e por issoas fabricamos com resistência maior paraserem utilizadas como estruturas de palco.A Trusst criou escadas antiderrapantes,porque é comum a pessoa escorregar nessastreliças e cair. Criamos cubos que interli-gam as treliças com faces rentes, para quenão haja impedimento do levantamentoda estrutura. Sistema de roldanas que evi-tam que a corrente saia do trilho na horaque o rigger está levantando uma estrutu-ra e impeça sua subida ou descida. Osconectores já possuem um pino determi-nado que é usado como via de aterra-mento. São detalhes que prezam pela se-gurança”, relata Walter.

De acordo com Cláudio Piovesan, aparticipação do SATED/RJ na monta-gem de iluminação de shows é relativa.Os produtores geralmente não compare-cem ao SATED/RJ para solicitar autori-zação para a realização do espetáculo. Sóé solicitada a devida documentaçãoquando a produção é estrangeira.

Quanto à fiscalização, Cláudio Pio-vesan explicou que o SATED não tem‘poder de polícia administrativa’ para fis-calizar as montagens e realizações deshows em recintos abertos e fechados.“Quando alguém denuncia ou informaao SATED algumas irregularidades, es-sas informações são checadas e encami-nhadas ao Delegado Regional do Minis-tério do Trabalho, no Rio de Janeiro, queé o único que tem poder para tomar asprovidências necessárias ao cumprimen-to das normas que a Lei nº 6.533/78 es-tabelece e disciplina toda a atuação artís-tica e cultural”, enfatizou.

“Acho que o CREA, como órgão respon-sável pela emissão da ART, deveria manterum quadro efetivo para a fiscalização doseventos em que são exigidas as ARTs e tam-bém deveriam fiscalizar eventos e casas no-turnas que funcionam normalmente sem o

Aplicação da NR10 na Iluminação

“A Norma Regulamentadora nº10,que trata da segurança em instala-ções e serviços com eletricidade, alte-rada pela Portaria 598/2004, dispõe so-bre as diretrizes básicas para a imple-mentação de medidas de controle esistemas preventivos, destinados a ga-rantir a segurança e a saúde dos traba-lhadores que direta ou indiretamenteinterajam em instalações elétricas eserviços com eletricidade. A Normafoi alterada em função da necessida-de de controle da situação aciden-tária no país envolvendo esse agentede elevadíssimo risco ‘energia elétri-ca’. Dessa forma ela impõe esses regu-lamentos, também, aos trabalhadorescom atividades em iluminação artifi-cial proveniente da energia elétrica.As principais diretrizes regulamenta-das são: a necessidade de trabalhocom as instalações desenergizadas;Sistemas de travamento de fontes pe-rigosas (dispositivos de bloqueio paraos equipamentos de manobra elétri-ca); Criação de prontuário envolven-do a organização de documentos dasinstalações elétricas, incluídas as des-tinadas à iluminação (diagramasunifilares, aterramento elétrico, certi-ficação de EPI); Treinamento de 40horas para os trabalhadores envolvi-dos com as instalações; Vestimentasespeciais para os trabalhadores, cujacapacidade de potência elétrica en-volvida o coloca sob risco; Obriga-toriedade de realização de análise derisco para as atividades, incluindo-se a

construção, operação e manutençãodas instalações elétricas de iluminação;Procedimentos operacionais de traba-lho com as instruções de segurança,descritas passo a passo às tarefas opera-cionais; Trabalho não individualizado(acompanhado por outro profissional)para atividades com alta tensão e noSEP; Direito de recusa ao trabalhoquando em situações de risco, etc.

No Brasil, o controle acidentárioe de segurança no trabalho envol-vendo as questões elétricas vem me-lhorando de forma acentuada desdea publicação da Norma. Só nas em-presas do setor elétrico de potência(concessionárias de energia elétri-ca) a redução de mortes foi de 20%,devendo aumentar sensivelmentenos próximos anos.

Acreditamos que com a nova regu-lamentação, o número de acidentes emortes nas atividades com energiaelétrica serão reduzidos aos padrõesexistentes nos países de PrimeiroMundo, mediante a conscientizaçãode toda a sociedade sobre o risco re-presentado pela cada vez mais utiliza-da ‘energia elétrica’, pela ação dos re-presentantes dos trabalhadores (sindi-catos) e, principalmente, pela açãodos empresários”.

Joaquim Gomes Pereira, Engenheiro

Eletricista e de Segurança no Trabalho,

Auditor Fiscal do Ministério do Trabalho

e Emprego e Coordenador do GTT10 da

NR10. Professor nos cursos de Engenha-

ria de Segurança (FEI / PECE-USP).

82 www.backstage.com.br

ILUMINAÇÃO

menor controle de segurança”, opinou JorgeAndré. Já José Roberto Fontelle admite nãoter nenhum acidente significativo nos últi-mos tempos ligados a eventos.

Cuidados detécnicos iluminadoresNa opinião de Jorge André, os técni-

cos iluminadores que trabalham dentrodas empresas de iluminação estão maisatentos e responsáveis quanto à seguran-ça e qualidade na prestação de serviços.“O mercado está muito competitivo e oque pode diferenciar uma empresa daoutra na hora do contratante fechar oevento é a qualidade da prestação doserviço, o que depende diretamente daqualificação e responsabilidade da equi-pe técnica”, disse Jorge André.

Naldo Bueno, diretor da Oficina deLuz, disse que investe em segurança euma das prioridades é o treinamento dostécnicos para sistema de elevação, elétri-ca e uso do aterramento, além de tam-bém adotar a NBR. “Felizmente, SãoPaulo está na frente por ter uma situaçãofinanceira melhor e tem evento quepaga por isso. As outras regiões são muitolentas no processo de profissionalização”,lamentou Naldo Bueno.

“Segurança no trabalho não é só subir nopalco e saber que ele não vai cair, é fazer umótimo aterramento de energia e, se você érigger, usar todos os acessórios. Poucos sabema responsabilidade destas pessoas. Vejo pes-soas subindo em alturas sem equipamento,alguns até sem camisa e sem luvas para me-

xer com as luzes ligadas. Espero que um diatodos possam trabalhar de maneira justa edigna, não oferecendo perigo a ninguém enem a si próprio”, disse Cunha.

Naldo Bueno esclareceu que quandoo rigger contratado não possui equipa-mento, a Stage cede o material, mas hojeos técnicos responsáveis já estão mais pre-parados e geralmente levam seu próprioequipamento. “Na Companhia da Luz, origger recebe todo o equipamento de se-gurança. Como coordenador, prezo poresse cuidado, principalmente com os free

lances”, lembra Zé Carlos.

Seguindo os padrõesEmbora algumas empresas reivindiquem

por mais profissionalização, as empresas quetrabalham com estruturas para palco (issoinclui estruturas para iluminação) seguemos padrões e as normas de segurança. A es-trutura de alumínio tem um tempo determi-nado para ser utilizada em palcos e Waltermostra preocupação. “Essa vida útil das es-truturas de alumínio ainda não está norma-tizada aqui no Brasil. Acredito que com 10anos já não está mais apropriada para umamontagem de palco. A Trusst está se organi-zando para agendar workshops voltadospara segurança de estruturas que abordarátodos esses temas”, disse Walter.

A Feeling Eventos, empresa que atuano mercado há dez anos, possui um qua-dro de treinamento freqüente com ferra-mentas e máquinas apropriadas e o usoadequado dos equipamentos de seguran-ça individual (EPI). “Realizamos periodi-

Técnico trabalha conforme normas de segurança Toco é iluminador da cantora Daniela Mercury

www.backstage.com.br 83

ILUMINAÇÃO

não passar segurança para as pessoas no de-senvolvimento do projeto, elas não contratamseus serviços. A tendência é esta: ambos têmque se adequar, senão ficam sem trabalhar. Acada dia tem um tipo de estrutura nova a sermontada e equipamento novo também,nada mais justo acompanhar a demanda”,opinou Cunha, iluminador da banda Pitty.

camente treinamentos práticos e teóricossobre instalações elétricas, sinalização desegurança, segurança no trabalho e outrosassuntos pertinentes ao nosso negócio”,disse Eduardo, engenheiro da Feeling.

Em relação aos contratantes (empresasde eventos), os entrevistados acreditam quea exigência do mercado tende a levar essesegmento do show business a se preocuparmais com mão-de-obra qualificada. “O quese percebe no mercado atual é que ainda épequena a importância que os profissionaisdessa área dão à segurança, representadapela mão-de-obra pouco qualificada. Entre-tanto, com a renovação dessa mão-de-obra,esse quadro tende a uma mudança positiva,com todos trabalhando com segurança”,opinou o engenheiro Eduardo.

“Uma grande maioria atende às normas,empresas e técnicos sérios que realmente sa-bem o que fazem. Sabem o quanto é difícilganhar o mercado, e também porque se você

“Nossas ações indicam que vários setorese atividades econômicas estão implantandoas medidas regulamentadas, mas necessita-mos efetivamente da participação e envol-vimento de todos, trabalhadores, entidadesde classe, empresários no sentido de reduziras desigualdades sociais através da constru-ção de ambientes de trabalho que preser-vem a vida e a saúde dos trabalhadores”,enfatizou Joaquim Gomes Pereira.

O diretor-presidente do Conselho Fis-cal do SATED/RJ também acredita quea conscientização ainda é o melhor in-vestimento para os profissionais do setor.“Esta atitude tem que fazer parte do coti-diano da profissão. Gostaria também deinformar aos leitores que o SATED estáapto a atender as solicitações de registrosprofissionais nas áreas técnicas e artísti-cas. É só trazer as documentações com-provadas das atividades artísticas e técni-cas”, finalizou Cláudio Piovesan.

“O CREA, como órgãoresponsável pelaemissão da ART,

deveria manter umquadro efetivo

para a fiscalizaçãodos eventos”(Jorge André)