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SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
IMAGINÁRIO SOCIAL E FIGURAS IMAGÉTICAS: A BUSCA DE UMA IDENTIDADE COLETIVA PARANAENSE
PROFESSOR PDE: SANDRA REGINA FRANCHI RUBIM
MARINGÁ
Dezembro/2008
SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
IMAGINÁRIO SOCIAL E FIGURAS IMAGÉTICAS: A BUSCA DE UMA IDENTIDADE COLETIVA PARANAENSE
Artigo apresentado como requisito do Programa de Desenvolvimento Educacional elaborado pela Secretaria de Estado da Educação.
Professora orientadora:
Ms Rosana Steinke.
MARINGÁ Dezembro/2008
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IMAGINÁRIO SOCIAL E FIGURAS IMAGÉTICAS: A BUSCA DE UMA IDENTIDADE COLETIVA PARANAENSE
Sandra Regina Franchi Rubim1 Rosana Steinke2
RESUMO Esse artigo busca discutir o imaginário social veiculado na comemoração do Centenário da Emancipação do Paraná e o papel da arte e da arquitetura, nesse contexto, reforçado no momento de redefinição de uma identidade coletiva paranaense. Dentro desse cenário, que define a capital como palco privilegiado para a instalação dos símbolos do progresso, da modernidade e da identidade da sociedade paranaense será apresentada e discutida a produção paranista de Napoleon Potyguara Lazzarotto, um dos líderes da Integração Nacional do Paraná e, também, a arquitetura moderna representada por Rubens Meister e outros. Tal temática, eleita enquanto objeto de estudo, teve como produto de sua reflexão uma proposta didática, através da criação de textos de apoio e de um CD�Room para ser utilizado pelos professores da rede pública paranaense. Ao pesquisar e disponibilizar uma análise dos exemplos da arquitetura e escultura modernas no Paraná, como meio formadores de identidades, proporcionam aos professores, que se utilizarão desse material didático, trabalhar questões como a identificação de imagens como um documento portador de autonomia, com significação social, despertando a sensibilidade estética e possibilitando uma discussão sobre a influência das figuras imagéticas na formação de idéias e valores. Palavras�chave: Ensino de História. Identidade. Uso de Iconografia. ABSTRACT
IMAGINARY SOCIAL AND VISUAL PICTURES: THE SEARCH OF A PARANAENSE COLLECTIVE IDENTITY
This article aims to discuss the imaginary social transmitted in the commemoration of the Centenário da Emancipação do Paraná (100 years of Parana State Emancipation) and the function of the art and the architecture, in this context reinforced in the moment of redefinition of an paranaense collective identity. Inside of that scenery, that defines the capital a privileged stage for the installation of the symbols of the progress, modernity and identity of the paranaense, it will be presented and discussed a Napoleon Potyguara Lazzarotto production paranista, one of the leaders of the National Integration of Parana and, also, the modern architecture represented by Rubens Meister and others. Such theme, elected while object of study had as product its reflection a didactic proposal, through the creation of support texts and a CD-Room to be used by the teachers of public schools in the state of Parana. Researching and make available an analysis of the examples of the architecture and modern sculpture in state of Parana, as formation of identity provide to the teachers, that will use this didactic material, to work subjects as the
1 RUBIM, Sandra Regina Franchi (Orientanda), Graduada em Estudos Sociais/História (UNOESTE), mestranda em Educação (Fundamentos da Educação) e Professora participante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), turma2007/2008- Universidade Estadual de Maringá (UEM). 2 STEINKE, Rosana (Orientadora), Graduada em História (UEM), Mestre em Arquitetura e Urbanismo (USP) e doutoranda em História (UFPR). Professora do Departamento de História (DHI) – Universidade Estadual de Maringá (UEM)
3
identification of images as a document autonomy bearer, with social significance, waking up the aesthetic sensibility and making possible a discussion on the influence of the illustrations imagéticas in the formation of ideas and values. Word-Key: History Teaching. Identity. Iconography Use. Introdução
A sociedade atual convive, de forma cada vez mais intensa, com um cenário
pelo qual circulam pessoas, produtos, informações e principalmente imagens. E, se
temos que conviver, diariamente, com essa produção infinita, melhor será
aprendermos a avaliar essa cultura visual, sua função, sua forma e seu conteúdo, o
que exige o uso de nossa sensibilidade estética e uma formação capaz de perceber
o que essas imagens representam. Só assim, poderemos deixar de ser
observadores passivos para nos tornarmos expectadores críticos, participantes e
exigentes, diante da leitura de textos, imagens, cidades, rostos, gestos, cenas,
pinturas, entre outros.
Essa economia, da informação e da imagem, integra diferentes universos
simbólicos num sistema discursivo global que coloniza existências e identidades
políticas e culturais. Em uma interpretação, valores culturais são disseminados e
estruturas sociais ganham vida a partir de espaços, movimentos, olhares, silêncios e
vozes que interage (MARTINS, 2007). O mundo contemporâneo coloca o homem
perante múltiplas informações, por isso, é necessário um olhar crítico sobre essas
novas linguagens e, também, é indispensável uma reflexão em relação a sua
importância para o ensino e a pesquisa.
Estabelecer contato com diferentes produções de épocas passadas e
presente, mergulhando no universo da ciência, observando e identificando
informações nas mais diversas formas de linguagem, que nos é apresentado pelo
avanço tecnológico (imagens, textos, mapas, fotografias, objetos, jornais), amplia o
olhar do historiador, questiona as fronteiras disciplinares, articulando os saberes e
buscando a inteligibilidade dos fatos (FONSECA, 2003).
Durante muito tempo, debateu-se na História, em diversas escolas teóricas,
principalmente a Escola de Annales, a preocupação com o que se pode aceitar
como documento histórico, quais suas interligações com a realidade e com o
conhecimento histórico que ele proporciona. Outra questão que, também, é alvo de
discussão, está relacionada ao fato de que somos herdeiros de uma tradição textual
4
e partidários do entendimento de que, em Ciências Humanas, a pesquisa “se faz
com textos” (PELEGRINI; ZANIRATO, 2005).
Tanto a História como a Sociologia compartilharam, durante longo tempo, da
valorização do documento escrito em detrimento do documento não-escrito ou não-
verbal; nesse sentido, concordamos que a leitura do documento plástico é menos
difundida. A arte, atualmente, constitui um vasto campo de investigação, pois é muito
ingênuo conceber a idéia de que os valores históricos foram criados somente pelos
testemunhos escritos; a arte é indispensável às sociedades, tanto quanto a
linguagem discursiva e escrita. Assim, como existe um pensamento matemático, há
também o pensamento plástico, pelo qual o homem informa o seu universo, tornando
a comunicação possível. O artista cria e produz significados. Hoje é possível
conceber a arte um papel relevante como documento histórico, não apenas acessório
na vida dos homens, mas como testemunhos das formas da sensibilidade coletiva.
Decifrar a obra figurativa é fundamental para se conhecer uma sociedade.
Acreditamos, assim, que um quadro equivale a um texto (FRANCASTEL, 19?).
O uso da imagem, por alguns historiadores, como evidência para a História
Social, remonta há muito tempo. Podemos citar o medievalista David Douglas, que
afirmou, há quase meio século, que as Tapeçarias de Bayeux se traduziam em uma
rica fonte para a História da Inglaterra. Atualmente, os historiadores têm ampliado
seus interesses para incluir eventos políticos, tendências econômicas e estruturas
sociais, história das mentalidades, história da vida cotidiana, história da cultura
material e outros; nessa gama de evidências as imagens ocupam o seu lugar ao lado
de textos literários e testemunhos orais. Em 1985, alguns historiadores americanos,
como William Mitchell, Raphael Samuel, Simon Schama, realizaram uma conferência
voltada para “a arte como evidência”, comprovando que os anos 80 significaram uma
virada nesse assunto. Entretanto, no Brasil, já na década de 30, Gilberto Freire
sugeria que, as imagens, tradições orais e anúncio de jornal, fossem considerados
como fontes históricas. A “iconografia” ou “iconologia”, que interpreta imagens por
meio de uma análise de detalhes, foi lançada no mundo da arte durante as décadas
de l920 e1930 (BURKE, 2004).
Como toda linguagem, a arte tem códigos, pertencendo a um sistema
estruturado de signos. Assim, o artista, em seu fazer artístico, opera com elementos
da gramática da linguagem da arte, mesmo mantendo a liberdade de criação. A
imagem integra diferentes universos simbólicos, num sistema discursivo global que
5
evidencia existências e identidades políticas e culturais. Numa interpretação, valores
culturais são disseminados e estruturas sociais ganham vida a partir de espaços,
movimentos, olhares, silêncios e vozes que interagem (MARTINS, 2007).
Podemos afirmar, todavia, que os símbolos e mitos, pela sua linguagem
menos codificada, tornam-se elementos significativos na construção de justificativas,
na projeção de interesses e objetivos coletivos, na criação de necessidades e na
modelagem de valores e condutas. Nesse sentido, entendemos que, para
investigarmos a estrutura social em diferentes momentos, precisamos entender,
também, o imaginário presente nesse contexto. Os símbolos e mitos, na medida em
que encontrem um terreno social e cultural no qual se alimentam, criam raízes, se
consolidam no imaginário. E quando esse imaginário é alcançado com êxito, por
meio dessa educação informal, podem também, plasmar visões de mundo e modelar
condutas nesse social (CARVALHO, 1990).
Segundo Martins (2007), as imagens, como produto social e histórico,
traduzem noções, crenças e valores, registram informações culturais e práticas de
diferentes períodos. Elas influenciam a formação -identidade- do sujeito articulando
representações visuais derivadas de visões e versões de mundo que estão presentes
em modelos sociais vigentes em numa determinada época ou cultura. Desta forma,
subjetividade e identidade caminham juntas e constituem a consciência de ser
sujeito, com um processo dinâmico e múltiplo. As imagens são tratadas como espaço
de interação com os indivíduos, criando possibilidades de diálogo e interpretação.
Assim, a cultura visual busca compreender o papel social da imagem na vida
da cultura, colocando em perspectiva diferentes contextos culturais como espaços
povoados pelas silhuetas de nossas presenças e identidades. Elas nos constroem
como sujeitos num labirinto de teias de significado que se interconectam nas
dimensões sociais e simbólicas da cultura. Por tudo isso, é possível dizer que o
conteúdo das imagens é a cultura:
A arte em geral e a obra em particular jamais serão neutras, porque sua própria constituição está comprometida com a realidade social e histórica; estão implicados nela um conhecimento relativo e uma tomada de posição do autor frente a esse determinado contexto concreto de vida, ou seja, uma atitude ética e um posicionamento político do indivíduo criador em face das lutas históricas do presente no qual vive, como aprovação ou negação, que são as formas de ele se relacionar com o mundo. Sem esse conjunto de determinações, a obra de arte não terá sostanza para existir (...) (PEIXOTO, 2001, p.137).
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Contudo, torna-se importante salientar que há uma tendência em ver essa
estrutura simbólica, enquanto elementos de dominação social, pois, é visto como
uma forma de conduzir a ação dos homens conforme uma intenção explícita. Não
negamos esse aspecto, pois, o documento não é um registro neutro do passado,
como afirma o historiador francês Jacques Le Goff (1989, p. 103), o documento não
é inócuo. É antes de tudo o resultado de uma montagem, consciente ou
inconsciente, da história, da época, da sociedade que o produziu [...]; portanto, os
documentos são sempre produtos da sociedade que os forjou, expressando, assim,
as relações sociais dos homens, desse momento histórico; porém, aceitamos que os
símbolos e mitos são indispensáveis para a construção da sociedade, seus
conteúdos indicam as necessidades e possibilidades de refletir o mundo.
Acompanham o caminhar da humanidade efetuando um papel estabilizador do
imaginário, rumo aos novos direcionamentos que o movimento social vai
estabelecendo na história dos homens. Por conseguinte, as linguagens escrita, oral,
imagética, são inerentes à existência do homem como sujeito histórico e o discurso
como instrumento aglutinador de momentos datados historicamente.
A produção de imagens e idéias, valendo-se da arte e da literatura, entre
outras formas de expressão, formam um imaginário social, um conjunto de
representações sobre a sociedade. Nesse processo, membros da classe dominante
trabalham na produção de uma representação da realidade, sob a sua ótica,
servindo a uma necessidade posta no momento: manutenção do poder ou a sua
justificação perante as massas (CARVALHO, 1990).
A partir desses pressupostos, nesse texto, nos interessa discutir o imaginário
social veiculado na comemoração do Centenário da Emancipação do Paraná e o
papel da arte e da arquitetura, nesse contexto, reforçado no momento de redefinição
de uma identidade coletiva paranaense. Dentro desse cenário, que define a capital
como palco privilegiado para a instalação dos símbolos do progresso, da
modernidade e da identidade da sociedade paranaense será apresentada e
discutida a produção paranista de Napoleon Potyguara Lazzarotto, um dos líderes
da Integração Nacional do Paraná e, também, a arquitetura moderna representada
por Rubens Meister e outros.
Tal temática, eleita enquanto objeto de estudo, foi idealizada a partir dos
estudos realizados no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) do
Governo do Estado do Paraná que se iniciou no ano de 2007. Esse escrito teórico
7
vai ao encontro da necessidade de atenuar a defasagem de material didático sobre
a História do Paraná no Ensino Fundamental e Médio das Escolas Públicas.
Acreditamos que essa proposta principiará um importante instrumento de reflexão no
ensino da História.
O presente objeto de estudo teve como produto de sua reflexão uma proposta
didática, por meio da criação de textos de apoio e de um CD�Room para ser
utilizado pelos professores da rede pública paranaense. Essa proposta de
intervenção pedagógica aconteceu no período de março a julho do ano de 2008, por
meio de reuniões de estudo durante a disponibilidade dos professores de História,
Geografia e Arte. Nessas reuniões, por disciplinas, foi disponibilizada a aula temática
para uma leitura prévia, bem como alguns subsídios teóricos utilizados para o
desenvolvimento do objeto de estudo do material didático. Após a apreciação e a
revisão do material houve a socialização, a exploração e o enriquecimento do
mesmo em sala de aula, em turmas de 6ª e 7ª séries do Ensino fundamental, com a
mediação do professor. Posteriormente, foi realizado um Tour City em Maringá
visitando os monumentos históricos e os painéis de Poty Lazzarotto.
A aula temática intitulada Memória e Iconografia na Construção de uma
Identidade Coletiva Paranaense que, em grande parte, está presente nesse artigo,
teve como objetivo fundamentar as discussões dos professores sobre a identificação
de imagens como um documento portador de autonomia, com significação social,
despertando a sensibilidade estética e possibilitando uma discussão sobre a
influência das figuras imagéticas na formação de idéias e valores.
Sintetizando, a proposta de intervenção na escola objetivou oportunizar, aos
professores de História, novos materiais para a pesquisa, bem como aguçar uma
discussão da possibilidade das abordagens dos conteúdos de História, propostas a
partir da fundamentação teórico-metodológica que norteiam as Diretrizes
Curriculares para a Educação Básica, da Secretaria de Estado da Educação
(SEED).
Representações iconográficas como meio de preservar a memória da
construção da identidade coletiva paranaense, na dé cada de 50
O Movimento Paranista consolidou-se nas décadas de 1920 e 1930, no qual
se buscava a construção de uma identidade que se identificasse com o novo regime,
a República; idéia de um Estado, com identidade própria, além de, apenas, o
8
caminho de passagem entre São Paulo e Rio Grande do Sul. Esse movimento
valorizava alguns elementos constituintes da identidade paranaense: o clima, a terra
e o homem do Paraná. Nesse período, poetas e artistas plásticos e, principalmente,
o escritor e historiador Romário Martins, produziram idéias coletivas de identidade
regional, impregnadas de imagens de progresso e de desenvolvimento social,
criando padrões de comportamento para a sociedade da época, estruturando
princípios para a formação do bom paranista, o paranaense do futuro,
sensibilizando, assim, os corações dos paranaenses à causa paranista.
Representações de grupos étnicos, o pinheiro, a pinha, a mate, a paisagem, eram as
temáticas das manifestações artísticas, que ganhavam as ruas de Curitiba, que,
também, construía sua imagem como uma cidade especial, se misturando com o
imaginário popular por meio de comemorações cívicas, regional ou nacional
(PEREIRA, 1998).
O Paranismo, a partir da década de 40 perdeu forças, pois, o governo
centralizador de Getúlio Vargas, não via com bons olhos o regionalismo. Com a
propagação cultural, o interesse pelo conhecimento científico e artístico e o aumento
de publicações em revistas, jornais, almanaques etc., nas primeiras décadas do
século XX, foi se delineando um novo Paraná, um novo perfil do homem
paranaense, uma nova forma de identidade, dentro do discurso da modernidade
(TRINDADE; ANDREAZZA, 2001).
Os anos 1930 e a presença de Vargas, na presidência da República,
inauguraram, para todo o Brasil, um período de centralização e nacionalização que
tentava controlar a influência das forças regionais. Economicamente, a
industrialização era o alvo a ser perseguido para se chegar ao desenvolvimento,
opondo-se à atividade agro-exportadora, como base da economia brasileira.
Nesse período, a economia paranaense ainda se baseava na extração da
erva-mate e madeira, com crescente comércio interno e externo; em marcha para o
oeste, como um grande desbravador, apontava o café. Segundo Wachowicz (1972),
o crescimento da cafeicultura transformou essa região, em centro de atração de
pessoas: brasileiros e estrangeiros, em direção ao Paraná, transformando-o em
ponto de encontro de todas as gentes, atraídos pela riqueza do ouro verde, o qual
comandava o desenvolvimento do Estado, criando cidades, abrindo estradas,
expandindo ferrovias.
9
Essa prosperidade, com raízes na economia paulista, organizou-se a partir
dos excedentes de um sistema de produção adaptável aos férteis terrenos
paranaenses, da construção de uma rede de estradas de ferro que ampliou as
fronteiras de ocupação e da organização das companhias particulares que
exploraram a colonização da região (TRINDADE; ANDREAZZA, 2001).
Motivado pelo surto de progresso e pelo novo papel que o estado do Paraná
estava conquistando na economia nacional, o discurso de modernidade se
materializava nas ações do governo, a partir de l940. Neste período, Manoel Ribas,
interventor (l932-35 e 1937-45) e governador (1935-37), ficou conhecido como “o
formulador de uma política econômica e social de modernização do Paraná”. Sua
política teve continuidade nos governos de seus sucessores Moysés Lupion e Bento
Munhoz da Rocha Netto. Nesse momento, as políticas públicas do Estado voltaram-
se, cada vez mais, para a “noção de um governo científico e racional, quer na
construção de uma praça, quer na manutenção de um espaço de poder” (IPARDES,
l989).
Bento Munhoz da Rocha Netto (1950-55) e Moysés Lupion (1956-60), ainda
que opositores, regeram o espetáculo do progresso nos anos 50. Ambos se
encontram na certeza de que o Paraná, nessa década, contribuiu, decisivamente,
para a civilização brasileira. Sociólogos e historiadores reconheceram o papel
fundamental de Bento Munhoz, no processo de modernização e a integração física e
psicológica do Paraná.
A ampliação do mosaico cultural, em função da expansão do sistema de
comunicação, deslocando camponeses imigrantes, mineiros, paulistas em direção
ao Norte do Paraná, levou ao projeto dos governos estaduais, na primeira metade
do século XX, a construção de uma identidade paranaense: o Estado clama a
necessidade de criar a consciência da unidade, da organização dos meios de
produção e transformação, adquirindo maturidade política necessária nas relações
com o resto do país. Para que o Paraná conquiste respeito que lhe é devido no
contexto nacional, a “integração” deve ser a palavra de ordem (ROLLO
GONÇALVES, l998).
Munhoz da Rocha sempre acreditou no futuro do Paraná, principalmente com
o avanço do café, o nosso “ouro verde”. Era necessário divulgar e promover o
Paraná como “terra das oportunidades presentes e futuras”, para atrair
investimentos de capital privado e técnicas das nações industrializadas. A
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propaganda romperia o imobilismo, anunciando o “alvorecer de um Paraná
Moderno”. As riquezas naturais e o potencial econômico das cidades paranaenses
eram enaltecidos. O progresso, também, dependia de uma política voltada à
construção de estradas para escoamento agrícola e produzir energia elétrica para
atrair indústrias. Munhoz da Rocha acreditava que, por meio de rodovias, ocorreria a
integração física, psicológica e cultural dos três paranás: Paraná Tradicional, o
Paraná do Norte e o Paraná do Oeste/Sudoeste. Preocupava-se em consolidar a
imagem de um governo realizador (REBELO, 2005).
Cabia ao Estado assegurar a prosperidade moral, cultural e política. Para
garantir o cumprimento dessa função, durante o governo de Bento Munhoz, foi
implementado, em 1953, uma política chamada de Código de Posturas e Obras do
Município, apresentando um conjunto de normas morais e éticas voltadas ao projeto
modernizante e para a construção de um espírito de urbanidade, com o intuito de
levar a população a padrões de comportamento inspirado na “civilidade norte-
americana” (TRINDADE; ANDREAZZA, 2001).
Várias medidas foram tomadas para melhorar a saúde e saneamento
públicos, assim como, para melhorar a estética urbana. Foi desenvolvido um
programa de educação sanitária, objetivando a conquista de um padrão ideal de
saúde pública. Era preciso erradicar a influência da medicina popular, substituindo-a
pela científica: multiplicaram-se hospitais, ampliação dos serviços de saneamento
básico, lançamento de grandes campanhas de vacinação e dedetização, entre
outros (IPARDES, l989).
O fluxo migratório trouxe consigo elementos e efeitos indesejáveis:
desajustados sociais, mendigos, criminosos comuns, jogadores, prostitutas. Por isso,
cabia ao Estado controlar os desajustados física ou moralmente e eliminar as
infrações que comprometiam a ordem social e o surto do progresso. Essas
preocupações levaram o governo a investir numa segurança planejada, racional e
científica (TRINDADE; ANDREAZZA, 2001).
O desenvolvimento econômico, a rápida urbanização e a ocupação de novas
áreas são evidências apontadas pelo discurso da indiscutível “nova era” do Paraná,
que se faz acompanhar de uma política de integração territorial, voltando-o ao centro
administrativo.
Durante o governo de Bento Munhoz Netto, foi lançado um programa
sintetizado no slogan O Brasil marcou encontro no Paraná. Parte da dotação
11
orçamentária, destinada à construção de estradas, foi orientada à construção de
obras comemorativas ao Centenário de Emancipação Política do Paraná, sendo
que, as principais obras foram a criação do Centro Cívico Estadual, as construções
de um grande teatro, uma ampla biblioteca pública e a Praça Dezenove de
dezembro, ícone do Centenário. Essas obras se colocavam como marcos das
potencialidades locais, das ações modernizadoras do governo, que investe sobre a
construção de um “lugar de poder”, no qual se tenta ratificar Curitiba como capital
política, econômica, militar, estudantil e cultural do Estado. Os monumentos
apresentavam-se como um dos aparatos mais eficientes para conservar na memória
da coletividade, os cem anos do Paraná. Paralelamente, a essas obras, foram
programados muitos eventos técnicos e científicos, tais como, jornadas, congressos
e encontros nacionais e internacionais (IPARDES, l989).
Nesse contexto, de realização dos eventos comemorativos do Centenário do
Paraná, em 1953, o Governo Federal voltou-se para a realização de algumas obras
contidas no Plano Agache3, formando, assim, um cenário apropriado para que novas
versões do Paraná e do homem paranaense fossem veiculados. Também, as
comemorações fortaleceram Curitiba como centro político-administrativo do Estado,
onde a arquitetura moderna será a linguagem escolhida, pelo poder público, para
materializar sua imagem de Estado moderno a partir da década de 1930. Munhoz da
Rocha via, nesse evento, a oportunidade de consolidar a unidade paranaense. A
preocupação do governo do Estado era associar as obras do centenário de
emancipação do Paraná a um benefício para toda a população. Assim, percebemos
que, espelhando-se em Juscelino Kubitschek, que remodelara Belo Horizonte, em
1944, Bento Munhoz idealizou as obras de modernização da capital do Paraná.
Dentro desse cenário nacional, que define Curitiba como palco privilegiado
para a instalação dos símbolos do progresso, da modernidade e da identidade da
sociedade paranaense, criou-se um imaginário social, por meio de figuras
imagéticas, como instrumento de legitimação dos interesses políticos da elite, tais
como a produção paranista de Napoleon Potyguara Lazzarotto, o Poty, um dos
líderes da Integração Nacional do Paraná, os escultores Erbo Stenzel e Humberto
3Esse plano, idealizado pelo urbanista e arquiteto francês Alfredo Agache (fundador da Sociedade Francesa de Urbanismo), representou uma nova ordenação à cidade de Curitiba. Esse plano urbanístico estabelecia como prioridades o saneamento, descongestionamento de vias e a estruturação de centros para permitir o desenvolvimento da vida social e comercial.
12
Cozzo e, também, a arquitetura moderna representada por Rubens Meister e outros
(GONÇALVES, 2001).
Para administrar as obras, que seriam inauguradas em 19 de dezembro de
1953, o governo criou, em 1951, a Comissão Especial de Obras do Centenário
(CEOC). Foram previstas edições festivas de diversas publicações enfatizando
estudos históricos, etnológicos, biográficos e geográficos sobre o Paraná. Em maio
de 1952, a imprensa de Curitiba, divulgou o empréstimo de vinte milhões de
cruzeiros, do governo federal, para serem investidos nas festividades do centenário
(BAHLS, 2006).
De acordo com Rebelo (2005), no Centro Cívico, seriam erguidas, as sedes
dos três poderes e os prédios dos tribunais de contas e do Júri, idealizados por
vários arquitetos, tais como, David Xavier Azambuja, Olavo Redig de campos, Sérgio
Roberto Rodrigues, entre outros. O projeto da Praça Dezenove de Dezembro foi
assinado pelos escultores, Erbo Stenzel e Humberto Cozzo. A praça é dominada por
um obelisco de 40 metros de altura, ao seu lado foi erguida a estátua do homem nu,
com 8 metros de altura (figuras 1 e 2), representando o trabalhador paranaense,
dando um passo para frente, rumo ao progresso; sendo este alvo de muitas críticas
pelos curitibanos, de ordem morais e estéticas. No entanto, a polêmica maior ficou
para o monumento da Mulher Nua, de 4 metros de altura, idealizada por Stenzel,
como representação da Justiça, a qual foi escondida num pátio nos fundos do
Palácio Iguaçu. Esta só voltaria a ser colocada na Praça Dezenove de Dezembro no
meio da década de 1970.
(figuras 1 e 2)
Para maior conhecimento, consultar: AGACHE, A. Plano de urbanização de Curitiba. Boletim Prefeitura Municipal de Curitiba, 1943.
13
No centro da praça foi instalado um painel de granito de baixo-relevo (figura
3), executado por Stenzel e Cozzo. O tema era, de um lado, a evolução social e
industrial do Paraná, dividido em quatro partes, que representavam os sucessivos
ciclos econômicos: índios, bandeirantes, tropeiros, trabalhadores da erva-mate e
pinho, ouro, café etc. Na outra face, pintados em azulejos, por Poty, estão os vultos
políticos e os ciclos históricos e econômicos paranaenses: descoberta do ouro;
evangelização; bandeirantes desmatando florestas; povoamento de cidades;
comércio dos tropeiros; índios descendo o rio em suas embarcações; lavradores e
ação de líderes que iriam promover a emancipação política do estado, (figura 4).
(figura 3)
(figura 4)
No dia 19 de dezembro, a praça foi inaugurada pelo presidente Getúlio
Vargas, onde apenas o obelisco estava concluído. Os monumentos da Praça 19 de
14
Dezembro, instalados entre 1953 e 1955, representam um passado histórico, e
ainda hoje atuam na memória da população, contribuindo para eternizar as
comemorações do centenário do Paraná. Os monumentos necessitam ser
ritualizados, contribuindo assim, para sua permanência na memória coletiva, mesmo
que o indivíduo não tenha vivenciado o acontecimento, advém daí, a importância
das comemorações nacionais e seu valor simbólico. Percebemos uma relação de
temporalidade entre o passado da história e o presente da memória (BAHLS, 2006).
O Teatro Guaíra (figura 5), projetado pelo engenheiro Rubens Meister, um
dos precursores da arquitetura moderna, também, não foi concluído para os festejos
do centenário. Em dezembro de1954, Munhoz da Rocha e o presidente Café Filho
inauguraram o Guairinha, que abriga o auditório menor. Somente em 19 de
dezembro de 1974, no governo de Emílio Gomes, o teatro foi finalmente inaugurado,
com um concerto da Orquestra Sinfônica Brasileira. A Biblioteca Pública do Estado,
projetada pelo engenheiro curitibano Romeu Paulo Costa, também, inaugurada em
dezembro de 1954, pelo presidente Café Filho, tornando-se ponto de referência
intelectual para todo o Estado.
(figura 5)
A administração pública do Paraná comemorava os esforços modernizantes,
representados por suntuosos edifícios. Essa verticalização chegou às cidades, por
todo o Paraná, como sinal incontestável do progresso.
Simultaneamente, a essas inaugurações e honrarias dedicadas às
personalidades da história política paranaense, ocorreram, por sete dias, diversas
comemorações populares, tais como: apresentação, na Praça Tiradentes, de artistas
de rádio de São Paulo e do Rio de Janeiro, orquestras, corais, grupos folclóricos e
15
teatrais, banda da Polícia Militar; desfile de representantes dos municípios pela Rua
15 de Novembro; desfile militar do Exército Nacional e da Aeronáutica; apresentação
da Banda Marcial e de Música do Corpo de Fuzileiros; danças de grupos étnicos etc.
Paralelamente aos banquetes oficiais ocorriam os bailes populares (BAHLS, 2006).
Na série de festividades do Centenário, destacou-se a Exposição
Internacional do Café e Feira de Curitiba, inaugurada em l9 de dezembro de l953,
indo até 29 de março de 1954. O I Congresso Mundial de Café realizou-se de 14 a
21 de janeiro de 1954. O evento teve a participação de 35 países, entre produtores,
vendedores, compradores e operadores.
Diante de todo esse cenário, podemos considerar que o ano de 1953 ficou
registrado na memória dos indivíduos que participaram das festividades do
centenário, ainda que Munhoz da Rocha tenha sido alvo de muitas críticas, devido
aos gastos excessivos na construção das obras culturais e arquitetônicas. É notório
que as vultosas obras e comemorações marcaram o imaginário paranaense,
buscando criar uma identidade para o estado. Tal identidade foi ressaltada com a
criação do Centro Cívico, como marco da administração centralizadora do estado.
Dentro do considerado conjunto arquitetônico moderno da cidade de Curitiba,
contemporâneas às ações estatais, podemos nomear como obra inaugural a Casa
Modernista, construída por Kirchgässner, em 1930, considerada a primeira casa
modernista desta cidade. O conjunto do Centro Cívico de Curitiba, por sua vez, tem
uma concepção que parte de uma grande praça, destinada ao uso exclusivo de
pedestres, com edifícios dispostos nas suas laterais. É bem perceptível a
monumentalidade, ressaltada pela avenida que dá acesso a esse conjunto, ligando-
o ao centro tradicional da cidade (GONÇALVES, 2001).
A arquitetura moderna figurou, nesse sentido, como grande promotora da
idéia de que a modernidade finalmente tinha chegado ao Paraná. Em tal arquitetura,
se percebe o prestígio dos arquitetos modernistas junto à esfera política brasileira.
Não só em Curitiba, mas em outras cidades brasileiras, se percebe que o projeto de
modernização está associado ao nacionalismo, sempre buscando um caráter
hegemônico, na construção de uma identidade nacional (GORELIK, 2005). Vale
destacar que, no caso da comemoração do centenário paranaense, buscou-se
reforçar um tipo de homem paranaense que pudesse significar a unidade do Estado.
Diante de um povoamento de nacionalidades diversas, não havia como não
contemplar diferentes grupos, sempre valorizando o trabalho, inclusive do imigrante,
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o progresso na agricultura conduzindo o paranaense à industrialização e à
modernidade.
Atrelada a arquitetura e ao urbanismo, os painéis e as inúmeras esculturas
descritas acima, colaboraram para o fortalecimento dessa idéia, ao contemplar
figuras como vultos históricos e ciclos econômicos. Também é importante assinalar o
papel representado pelas realizações das exposições (a Exposição Internacional do
Café e Feira de Curitiba e o I Congresso Mundial de Café), tornadas veículos de
divulgação que ressaltavam a importância econômica paranaense, promovendo a
economia privada e a atuação do Estado.
Os aspectos acima foram trabalhados em sala de aula com os alunos, com
exibição de imagens dos principais edifícios, o conjunto do centro cívico, esculturas
e painéis, procurando perceber a simbologia neles expressa, a partir do contexto
histórico em que foram criados.
A importância do tema enquanto material didático
Atualmente, com as demandas na educação, faz-se necessário articular teoria
e práxis, na busca de objetivos arrojados e na ação concreta, para a transformação
dos homens e do mundo, dialeticamente imbricados. Diante disso, Kuenzer (1999),
em relação à prática docente, assinala que é imprescindível o professor ter
conhecimento, de forma ampla, da sociedade na qual está inserido, do seu tempo
histórico. O professor deve se inteirar sobre as relações entre educação, economia e
sociedade; das diferentes formas de ensino; das disciplinas especificas e, sobretudo,
ter conhecimento do seu aluno, o qual se constitui como o objeto essencial da sua
prática pedagógica. Portanto, para pais, professores, escola e Estado, restam a
grande responsabilidade em cumprir os princípios e fins da Educação Nacional
contemplados na Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB):
A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da Liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o cidadania e sua qualificação para o trabalho. (SAVIANI, 1998, Art. 2º, p. 163).
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Saviani (2001) afirma que, para se falar de cidadania, a liberdade é a
condição essencial. O cidadão é o indivíduo que está inserido na categoria de
homem livre e que tem ao seu alcance um conjunto de direitos. E estes direitos são
adquiridos através da informação (educação).
É a educação que se encarrega de manter viva na memória de um povo
todos os saberes até então acumulados e mantê-los vivos, para que as próximas
gerações, com base em tais conhecimentos, possam produzir outros.
Assim sendo, de acordo com as novas Diretrizes Curriculares, a escolha
metodológica representa a possibilidade de orientar trabalhos com a realidade
presente, relacionando-a e comparando-a com momentos significativos do passado.
Didaticamente, as relações e as comparações entre o presente e o passado
permitem uma compreensão da realidade em uma dimensão histórica que
transcende as explicações sustentadas no passado ou só no presente imediato.
Nesse sentido, citamos Marc Bloch (2001), que destaca que a incompreensão
do presente nasce da ignorância do passado. Para ele, de nada adianta
conhecermos o passado se nada soubermos do presente. Em outras palavras, não
se pode perder de vista o compromisso com os problemas e indagações do tempo
presente. Por essa razão, o historiador, em seu trabalho de investigação, deve
utilizar o método do duplo movimento: conhecer o passado através do presente e
conhecer o presente através do passado.
Diante de tais argumentos, acreditamos que o estudo da linguagem imagética
é um recurso valioso para observar e investigar o espaço que nos cerca, facilitando
o atendimento das relações de vida e de trabalho construídas pelas pessoas em sua
realidade, ao longo de um processo que é histórico, social, geográfico, político e
econômico. Quando explorado com dinamismo na disciplina de História, o estudo do
meio estará contribuindo para a formação da cidadania ao possibilitar a percepção
de problemas, o desenvolvimento do senso de responsabilidade e de participação
nos processos de mudança.
O presente trabalho aborda algumas reflexões sobre a utilização das figuras
imagéticas no ensino da História, como documento histórico produzido pela
sociedade, ressaltando sua importância para o ensino e a pesquisa. Todo o cuidado
é pouco com a introdução das novas linguagens, principalmente num momento
histórico, o da sociedade pós-moderna, de desvalorização do conteúdo socialmente
acumulado pelo conhecimento científico.
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Essa abordagem fundamenta o trabalho crítico com o documento imagético,
que é indispensável para proporcionar o diálogo entre os sujeitos históricos do
passado com os sujeitos contemporâneos. Visto isso, percebe-se a importância de
analisar a história local e sua relação com o universo histórico mais amplo, bem
como a importância de tratar tais temas, como a produção de imagens, seja
através da arquitetura e do urbanismo, através das artes que a permeiam,
dotando-as de sentidos.
Segundo Hobsbawm (1995, p.13):
[...] a destruição do passado, ou melhor, dos mecanismos que vinculam nossa experiência pessoal à das gerações passadas, é um dos fenômenos mais característicos e lúgubres do final do século XX. Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem. Por isso, os historiadores, cujo ofício é lembrar o que os outros esqueceram, tornam-se mais importantes que nunca no final do segundo milênio.
Concluímos que o ensino de História na Educação Básica tendo como base
os referenciais das Diretrizes Curriculares deve possibilitar aos alunos a formação da
consciência histórica, por meio da intervenção do professor como mediador, abordar
os conteúdos sob a exploração de novos métodos de produção do conhecimento
histórico, resgatando a função social da escola como processo de humanização do
ser humano, por meio da apropriação dos conteúdos historicamente acumulados,
encaminhando os alunos a real prática da cidadania, que não assume a busca do
cidadão ideal como mero participante de um determinado grupo ou segmento, mas,
sim, na posição de participantes do processo de construção do conhecimento
histórico, nos conscientizando de nossa própria história e de nosso lugar no mundo.
Assim, acreditamos que o passado ensina-nos sermos homens e sujeitos de nossas
ações.
Considerações finais
Enfim, o cenário da comemoração do Centenário de Emancipação Política do
Paraná representou um momento propício para salientar a auto-afirmação
paranaense, projetando, assim, a imagem do espetáculo do progresso do Paraná,
uma nova era, acompanhada de uma política de integração territorial, bem como
definindo Curitiba como centro de instalação dos símbolos do progresso, da
modernidade e da identidade da sociedade paranaense.
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Acreditamos que os monumentos da Praça 19 de Dezembro, instalados entre
1953 e 1955, assim como, todas as festividades, representam um passado histórico
que, ainda hoje, atuam na memória da população, contribuindo para eternizar as
comemorações do centenário do Paraná, e que não podem ser desprezado na
formação das características culturais do nosso estado.
Ao pesquisar e disponibilizar uma análise dos exemplos da arquitetura e
escultura modernas no Paraná, como meio formadores de identidades,
proporcionam aos professores, que se utilizarão desse material didático, trabalhar
questões como a identificação de imagens como um documento portador de
autonomia, com significação social, despertando a sensibilidade estética e
possibilitando uma discussão sobre a influência das figuras imagéticas na formação
de idéias e valores.
Assim, consideramos que a utilização das imagens, no ensino da história,
representam um importante elemento da atividade sócio-cultural humana,
principalmente, por constituir um sistema de significações específicas que possibilita
a reflexão, ação e expressão do homem em relação a si próprio, aos demais
indivíduos e ao meio em que vive. Estas, as imagens, sempre pensadas como
formas de expressão do homem, não desvinculadas do seu contexto histórico e
social.
Diante disso, é evidente a análise da influência das figuras imagéticas do
nosso cotidiano, na formação de valores e nas versões da História, mudando a
compreensão dela e criando um imaginário social que justifica ou produz mitos e
verdades sobre figuras empíricas individuais, regimes políticos e ideologias.
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