28
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ CAMPUS CORNÉLIO PROCÓPIO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL CIRENE DA SILVA RICHTER CONSELHO DE CLASSE: UM MOMENTO DE REFLEXÃO DAS PRÁTICAS AVALIATIVAS CORNÉLIO PROCOPIO – PARANÁ 2008 CIRENE DA SILVA RICHTER 3

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ … · de articular os diversos segmentos da escola e tem por objeto de estudo a avaliação da aprendizagem e do ensino, eixos centrais

Embed Size (px)

Citation preview

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ

CAMPUS CORNÉLIO PROCÓPIO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

CIRENE DA SILVA RICHTER

CONSELHO DE CLASSE: UM MOMENTO DE REFLEXÃO DAS PRÁTICAS AVALIATIVAS

CORNÉLIO PROCOPIO – PARANÁ

2008

CIRENE DA SILVA RICHTER

3

CADERNO TEMÁTICO: UM MOMENTO DE REFLEXÃO DAS PRÁTICAS AVALIATIVAS

Material Pedagógico apresentado à Secretaria de Estado de Educação do Paraná, como requisito parcial do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, sob a orientação da Professora Mestre Luzia Rodrigues Cardoso.

CORNÉLIO PROCÓPIO , PARANÁ

2008

4

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO............................................................................................ 06

1 ORIGEM DO CONSELHO DE CLASSE: HISTÓRICO..............................................................................................

07

2 AS PRÁTICAS AVALIATIVAS................................................................. 11

3 AVALIAÇÃO NO CONTEXTO ESCOLAR: ARTICULAÇÃO COM GESTÃO DEMOCRÁTICA.......................................................................

16

4 AVALIAÇÃO EMANCIPATÓRIA E CONSELHO DE CLASSE ...................................................................................................

21

5 ORGANIZAÇÃO DO CONSELHO DE CLASSE: UMA PROPOSTA DE REESTRUTURAÇÃO.............................................................................

25

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................... 29

REFERÊNCIAS................................................................................................ 30

5

APRESENTAÇÃO

O conselho de classe é uma instância colegiada que visa o

acompanhamento do processo ensino e aprendizagem, os participantes são

educadores de uma determinada turma, Pedagogos, Diretor e um representante da

secretaria. O conselho de classe acontece a cada bimestre, onde os professores

farão em conjunto uma avaliação do rendimento escolar e de suas práticas

avaliativas, adequando dessa forma suas práticas pedagógicas de acordo com as

necessidades de cada turma.

É durante o conselho de classe que os educadores têm a oportunidade de

discutir e refletir o processo de ensino, os conflitos e as tensões são absorvidos.

Cabe a cada envolvido no processo, participar de maneira a contribuir para

transformar e redirecionar a prática pedagógica, visando romper com a

fragmentação do conhecimento.

No entanto, a prática tem revelado que o papel democrático do conselho de

classe não tem se concretizado, há uma ausência de auto-avaliação e autocrítica do

processo pedagógico pelo próprio professor e pela escola como um todo. Percebe-

se um distanciamento entre teoria e prática dos professores quanto à avaliação dos

alunos. Os instrumentos e critérios de avaliação são na maioria das vezes,

descontextualizados da prática da sala de aula. As práticas avaliativas ainda têm

sido classificatórias e excludentes.

Segundo Dalben (2006), a importância do conselho de classe e dos

processos avaliativos da escola para a gestão pedagógica está na capacidade de

leitura coletiva da prática e, diante do reconhecimento compartilhado das

necessidades pedagógicas, o coletivo pode alterar as relações nos diversos espaços

da instituição.

Assim, a realização do presente trabalho parte da necessidade de

desenvolver uma reflexão crítica das práticas avaliativas como ponto inicial para o

resgate do real sentido do conselho de classe, como mecanismo de gestão

colegiada promotor da melhoria do processo ensino – aprendizagem.

6

1 ORIGEM DO CONSELHO DE CLASSE: HISTÓRICO

A história do conselho de classe no Brasil, desde a sua origem, como

elemento integrante do processo educacional, bem como a evolução de suas

concepções e de seus conceitos, vem sendo objeto de estudo nas últimas

decadas. Antes de apresentar o desenvolvimento histórico, faz-se necessário

compreender a definição de conselho de classe.

Alguns dicionários trazem definições de conselho como: reunião de

professores, presidida pelo reitor ou diretor da Universidade ou escola onde

lecionam, para tratar assuntos de ensino ou de ordem (AURÉLIO); advertência;

aviso; corpo consultivo (LUFT).

A literatura especializada traz várias definições, que se complementam.

Para Dalben (2004, pg. 16), “o conselho de classe guarda em si a responsabilidade

de articular os diversos segmentos da escola e tem por objeto de estudo a avaliação

da aprendizagem e do ensino, eixos centrais do trabalho escolar.”

Rocha (1982, pg. 9) aponta que “o conselho de classe é uma reunião dos

professores de uma turma com múltiplos objetivos; entre outros destacamos: avaliar

o aproveitamento dos alunos e da turma como um todo; chega a um conhecimento

mais profundo do aluno e promover a interação dos professores e de outros

elementos da equipe da escola.”

“Um espaço mais rico de transformação da prática pedagógica e, talvez, dos

mais mal aproveitado nas escolas é o conselho de classe....Queremos repensar a

estrutura do conselho de classe, para dar mais sentido e coerência ao processo de

avaliação que a escola desenvolve e ajudar a mudar-se a prática educativa.” (CRUZ,

2005, pag. 11).

Pelos conceitos citados, o conselho de classe é um momento onde o

educador tem oportunidade de discutir, refletir e auto-avaliar as práticas

pedagógicas e avaliativas do processo ensino e aprendizagem de forma situada e

integrada, tornado-o como espaço interdisciplinar de estudo e tomada de decisão do

trabalho pedagógico da instituição como um todo.

7

Entretanto, o conselho de classe pode apresentar outras contradições: se, por

um lado, pode permitir uma série de possibilidade e inovação, podendo redirecionar

as práticas pedagógicas e romper com a fragmentação do conhecimento, por outro

lado, também pode servir para absorver tensões e conflitos, mantendo a estrutura

vigente.

Cruz (2005), alerta que a prática tem revelado que as reuniões dos conselhos

de classes se tornaram meros momentos onde as notas/conceitos que os alunos

obtiveram durante o bimestre ou período são apresentadas e se discutem as

questões de disciplinas da turma ou do aluno.

Deve-se destacar que existem escolas que avançaram nos

encaminhamentos dados ao processo ensino e aprendizagem, mesmo que de forma

bastante lenta e conflituosa.

Segundo Rocha (1982), o conselho de classe teve origem na França em

1945, surgindo em classes experimentais, para orientar o acesso dos alunos ao

ensino clássico ou técnico, conforme aptidão, acontecendo de forma espontânea

nas escolas que consideravam a sua importância pedagógica e pela necessidade de

um trabalho disciplinar.

Em 1959, com a reforma de ensino francesa, foram instituídos três tipos de

conselhos: o conselho de classe – no âmbito turma; o conselho de orientação, no

âmbito do estabelecimento; e o conselho Departamental de Orientação, em esfera

mais ampla. O objetivo da reforma do ensino francesa foi democratizar um sistema

escolar com base na observação sistemática e contínua dos alunos, oferecendo a

cada um orientações para o acesso as diversas modalidades de ensino na época,

de acordo com os gostos e aptidões de cada um. (ROCHA, 1982).

Foi a partir de visitas e estágios de educadores do Estado do Rio de Janeiro

ao Instituto de Pesquisas Educacionais de Sévres, França, que se deu a introdução

da idéia dos conselhos de classe em nossos meios educacionais. (ROCHA, 1982).

O modelo de conselho de classe trazido pelos educadores cariocas teve

grande aceitação no meio educacional. Em 1959, as classes experimentais foram

implantadas. Sua implementação ocorreu de forma indireta por intermédio do

8

modelo de escola proposto pelo PREMEM (Programa de expansão e Melhoria do

ensino), que já apresenta o conselho como órgão constituinte da escola. Inclusive o

MEC financiou a nova proposta e foi aceita com grande receptividade por parte do

corpo docente. Com o sucesso das salas experimentais, foram estendidas as

demais turmas do colégio.

Mas é a partir da Lei 5.692/71, que os Conselhos Estaduais de Educação

traçam diretrizes de sua operacionalização. As orientações apresentavam

“aberturas” às escolas, no entanto havia muitas dúvidas quanto à forma de

execução.

A resolução 159/72 do CEE-MG estabelece normas para a verificação do

rendimento escolar e estudos de recuperação nas escolas de 1º e 2º Graus. O

parecer propõe liberdade aos educadores quanto à definição, ao critério, formas e

instrumentos, para utilizar na avaliação, como proposta de trabalho coletivo,

oportunizando aos educadores de participarem na organização do trabalho coletivo

em busca de novas alternativas para o processo ensino e aprendizagem, ficando

desta forma, a cargo dos especialistas o assessoramento no processo de avaliação,

no entanto, não inibindo os professores na liberdade de decisões no seu papel de

educador, “... papel de pedra angular, definindo objetivos, orientando atividades,

observando e interpretando os resultados”. (DALBEN, 2004, pag.28).

O parecer 320/72 do CEE-MG aponta também as normas do rendimento

escolar, à “capacidade criadora das escolas na busca de seus próprios caminhos”

(DALBEN, 1994, pag.40). Esse momento de implementação do conselho de classe

foi um momento que oportunizou aos educadores desenvolverem sua capacidade

crítica.

Com o passar do tempo, as instituições educacionais de outros Estados

também acataram a idéia do conselho de classe. No início, sua implementação era

assessorada pela Orientação Educacional, mais tarde passou a ter assessoria

Pedagógica ou Serviços de Orientação Pedagógica, que até nos dias atuais são

responsáveis pela organização e os encaminhamentos e direção dos conselhos de

classe, de acordo com a Lei vigente.

9

Anteriormente à Lei 5.692/71, o conselho de classe não era instituído na

escola como instância colegiada, acontecendo como afirma Rocha (1986), de forma

livre em escolas que consideravam sua importância pedagógica.

“A influência que a Lei 5.692/71 exerceu sobre a criação dos conselhos de

classe e exerce sobre seu funcionamento é, portanto indireta, e pode ser constatada

através da preocupação com a avaliação global, diagnóstica, formativa e somativa”

(ROCHA, 1982; p.26). O conselho de classe é visto como uma etapa no processo

avaliativo da escola, caracterizando-se como atividade de natureza psicopedagógica

e interdisciplinar.

O parecer 1.367 instituiu a obrigatoriedade dos conselhos de classe no

Estado do Rio de Janeiro. Porém, um dos grandes entraves encontrados para sua

implementação foi conciliar o horário das reuniões com a carga horária disponível

dos docentes, “o que acontece na prática, é que os professores acabam por ter o

seu período de trabalho aumentado, embora não a sua remuneração” (ROCHA,

1982, pag.31).

Hoje em dia os conselhos de classe são previstos em calendário, muitas

escolas conciliam o horário de acordo com a disponibilidade do professor, sem, no

entanto prejudicar sua carga horária e a aprendizagem do aluno.

10

2 PRÁTICAS AVALIATIVAS

As Instituições escolares são permeadas pelo currículo e o

Projeto Político Pedagógico, ambos trazem a avaliação como

mediadora dos saberes escolares, pode-se afirmar que existe um certo

clima de controle no dia-a-dia escolar, onde os alunos reconhecem que

são avaliados nas tarefas que realizam.

De acordo com Sacristán:

“A avaliação atua como uma pressão modeladora da prática curricular, ligada a outros agentes, como a política curricular, o tipo de tarefas nos quais se expressa o currículo e o professorado escolhendo conteúdos ou planejando atividades” (2000, pag. 322).

Os professores realizam constantemente avaliações, formal ou

informalmente, mesmo considerando-as com fins diagnósticos para

aprendizagem dos alunos, tornam-nas instrumentos para classificar e

promover os alunos. Desta forma, a avaliação passa a ser instrumento

controlador na mão do professor, tornando-o detentores e

controladores dos saberes da instituição.

Sacristán destaca:

“A avaliação para o diagnóstico e o controle democrático da qualidade de ensino e do currículo distribuído pode ser visto como uma ameaça para a autonomia das partes, especialmente dos professores, mas também é o recurso para evitar a padronização de uma atividade e é necessário para o funcionamento de uma sociedade democrática. À medida que não há mais informação sobre o sistema do que a que os professores dão com a avaliação dos alunos, as disfunções que esses dados possam detectar poderiam repercutir numa imputação aos professores do sistema e não a outros condicionamentos do mesmo, além de reproduzir as condições nas quais se obtêm e o critérios que lhes servem de base.” (2000, pag. 313).

Muitos autores como Simons, 1987; Apple, 1974; Hause,

1980, tem ressaltado a dimensão social e política dos procedimentos

da avaliação sobre o funcionamento qualitativo dos sistemas escolar e

11

curricular. Através da avaliação diagnóstica é possível acompanhar o

funcionamento e a qualidade de ensino ofertada pelas instituições

podendo desta forma fazer as mediações pedagógicas. A avaliação do

sistema Educacional ameniza o fracasso escolar que está posto

unicamente na avaliação do professor.

Gestores, pedagogos, professores e alunos sonham como uma

escola ideal. Uma escola onde todos aprendem, são promovidos, que

uns respeitem ao outro.

Segundo Izabel Alarcão, a escola ideal seria:

Quero uma escola comunidade, dotada de pensamento e vida própria, contextualizada na cultura local e integrada no contexto Nacional e global mais abrangente. Não quero, pois, uma escola burocratizada que seja uma mera delegação ministerial. Desejo assim uma escola que conceba, projecte, actue e reflicta em vez de uma escola que apenas execute o que outros pensaram para ela. Uma escola que tenha uma ambição estratégica por oposição a uma escola que não uma visão e não sabe olhar-se no futuro. Não quero uma escola que se lamente dos insucesso como um pesado e frustrante fardo a carregar, mas uma escola que questione o insucesso nas suas causas para, relativamente a elas, traçar planos de ação. Uma escola que reflita sobre os seus próprios processos e as suas formas de actuar e funcionar. Uma escola que analise, desconstrua e refaça as suas opções e a sua acção curricular. Uma escola que saiba criar suas próprias regras. Mas que, ciente da sua autonomia responsável, saiba prestar contas da sua actuação, justificar o seus resultados e auto-avaliar-se para definir o desenvolvimento. Em vez de uma escola que apenas cumpre as regras emanadas de outrem em que ninguém avalie nada nem ninguém. Uma escola que se alimente do saber, da produção e da reflexão dos seus profissionais, os professores que, por isso mesmo, não se sentem meros assalariados. Uma escola à qual não é necessário ditar a formação requerida porque ela própria conhece as suas necessidades, cria os seus contextos de formação nos seu desenvolvimento institucional. Uma escola onde tudo gira à volta da sua missão: educar as novas gerações. Em suma, uma escola com cara, como diria Paulo Freire, e não apenas uma escola...... anônima .(2005, pag. 82).

A autora retrata a escola Ideal, a qual todos educadores sonham,

mas não podemos viver “sonhando” a espera dessa escola, a escola real

está muito distante da escola Ideal, o que podemos enquanto educadores

fazer para que possamos chegar o máximo possível a partir do Real e o

Ideal? Ouvimos tanto sobre a escola reflexiva, professores reflexivos,

não é hora de fazermos a práxis acontecer no nosso dia-a-dia, em nossas

12

escolas, nas nossas salas de aulas? Não podemos deixar de ter como

foco o ser Humano. Uma frase de Walt Disney ilustra bem essa idéia:

“Você pode sonhar, criar, desenhar e construir o lugar mais maravilhoso

do mundo... Mas é necessário TER PESSOAS para transformar seu

sonho em realidade”. Estamos envolvidos com pessoas em nosso dia-a-

dia: alunos, professores, pais, coordenadores e diretores e, por isso,

precisamos aprender a trabalhar em equipe para obter uma Instituição

forte, competente e coesa. A qualidade deve contrapor ao quantitativo,

cada profissional deve ser visto como um ser importante e cada aluno

com igual valor. O coletivo deve-se unir manter-se organizado para que

juntos possam somar esforços para um propósito educativo comum.

Na escola, o Conselho de Classe é o momento onde o coletivo se

reúne para tratar dos assuntos pedagógicos referentes aos alunos, os

profissionais envolvidos no processo ensino e aprendizagem não

admitem ser avaliados em seu trabalho, eles avaliam seus alunos e

alguns pares, é um eixo unidirecional. Existe um processo não- explícito

de julgamento, onde todos se sentem ameaçados, a relação dos sujeitos

com o conselho de classe transforma-os em um jogo de poder, nesse

contexto as práticas demonstram a fragilidade e uma rede de participação

interativa e solidária. (DALBEN, 1994).

Diante do que foi exposto Dalben afirma:

É que o papel do conselho do conselho de classe no cotidiano escolar tem sido mais o de reforçar e legitimar os resultados dos alunos, já fornecidos pelos professores e registrados em sues diários, e não de propiciar a articulação coletiva desses profissionais num processo de análise dialética, considerando a totalidade. (1994, pag.114).

A autora deixa claro como é difícil instituir um trabalho coletivo,

mas aponta que não é impossível. Cabe a cada escola e a cada profissional

“fazer o coletivo”, fazê-lo com qualidade e comprometimento. O conselho de

classe como instância coletiva presente na escola, deve propiciar esse

momento de reflexão avaliativa, onde os educadores devem se auto-avaliar,

refletirem suas práticas avaliativas, para que possam coletivamente

redirecionar suas práticas visando dessa forma um ensino de qualidade,

13

onde todos os alunos terão as mesmas oportunidades de aprenderem, onde

o professor ensina e o aluno aprende.

A Lei 9394/96 deixa bem claro que avaliação qualitativa deve

prevalecer sobre a quantitativa, onde o aluno é avaliado como um todo, a

percepção de seu crescimento, suas habilidades, atitudes, interesses e

suas necessidades de aluno. A avaliação diagnóstica e contínua é a mais

conveniente e adequada no processo pedagógico, oferecendo subsídios

aos professores de acompanhar a aprendizagem do aluno como um todo.

Dalben acrescenta:

Torna-se fundamental ampliar o conceito de avaliação escolar, porque a construção desse processo envolve muito mais do que pensar em novas formas de avaliação, em novos instrumentos de verificação de aprendizagem do aluno ou em alteração dos conteúdos escolares, das provas ou dos formatos de exercícios. A transformação da prática pedagógica liga-se estruturalmente á alteração da concepção avaliação porque a construção do processo avaliativo expresso o conhecimento da e sobre a escola que é produzido na própria relação da avaliação. (2004, pag. 70).

A articulação do coletivo, num processo de análise dialética,

quando se discute a transformação das práticas avaliativas da escola, com

um olhar crítico sobre a avaliação de modo a ajudar o aluno a aprender e o

professor ensinar mais, fica expresso nitidamente o conhecimento que a

escola quer produzir e como produzi-lo. “O objetivo da avaliação não é mais

de obter um produto pronto e fechado, mas o de buscar conhecer cada vez

mais o aluno e a realidade que o integra”. (Dalben, 2004, pag. 72). Esse tipo

de avaliação acaba tornando uma situação desafiadora para o professor,

pois a partir desses dados coletados sobre a aprendizagem do aluno, o

professor conseqüentemente dará outros encaminhamentos pedagógicos,

reorganizando o ensino, o uso dos recursos didáticos, as possibilidades e

dificuldades metodológicas e as condições de trabalho.

É percebido que há uma necessidade de reestruturar os conselhos

de classe, de resgatar sua concepção original como espaço de diálogo,

auto-avaliação, autocrítica sobre as práticas avaliativas e o fazer

pedagógicos, dessa forma, os erros de avaliação diminuindo, que tanto tem

prejudicado o aluno, inclusive aqueles menos favorecidos

14

socioculturalmente, permitindo dessa forma FAZER o POSSÍVEL à

construção do conhecimento mais próximo do REAL. O conselho de classe

visto desta forma torna-se um espaço onde os profissionais da educação

possam repensar a ação/reflexão/ação, possibilitando a produção de

propostas de intervenção inovadoras e a construção de projetos

pedagógicos coletivos das escolas, possibilitando ainda, uma reflexão

coletiva do fazer pedagógico perante a realidade social, esta postura

coletiva que irá ressignificar as práticas dos conselhos de classe.

[...] a consciência da prática faz os docentes perceberem que são integrantes de um coletivo, enxergando a impossibilidade de um trabalho solidário quando se deseja encontrar e garantir um ensino de qualidade, mais significativo para o aluno e professor. (GARCIA,1986 apud DALBEN, 1996, PAG.215)

15

3 AVALIAÇÃO NO CONTEXTO ESCOLAR: ARTICULAÇÃO COM A GESTÃO DEMOCRÁTICA

A escola sofre influência da sociedade a qual pertence, o processo dialético

de construção e reconstrução da cultura escolar está presente nas instituições, onde

as reformulações vão acontecendo para ressignificá-las.

O processo de ressignificação da cultura escolar vai acontecendo

paulatinamente, pois os sujeitos envolvidos no processo estão em constante

reflexão crítica das práticas existentes.

As tecnologias estão muito presentes em nossa sociedade e as mudanças

estão acontecendo em rítmo acelerado. Acompanhar todas essas mudanças exige

em esforço fenomenal. O aceleramento de informações interfere diretamente no

senso crítico, nas práticas reflexivas e avaliativas do sujeito, deixando-o impotente

diante de tantas cobranças da sociedade.

Diante deste contexto, os profissionais da educação devem estar atentos no

direcionamento do trabalho pedagógico, para que os mesmos possam atingir seus

objetivos com eficácia.

Os gestores e a equipe pedagógica devem conduzir o trabalho pedagógico de

forma que o coletivo possa refletir sobre as práticas pedagógicas de maneira crítica,

democrática e participativa. Segundo Dalben:

Na gestão democrática, todos são chamados a pensar, a avaliar e agir coletivamente, diante das necessidades apontadas pelas ralações educativas, percorrendo um caminho que se estrutura com base no diagnóstico das dificuldades e necessidades e do conhecimento das possibilidades do contexto. Nesse trajeto, a equipe de profissionais vai traçando os objetivos que nortearão a construção das ações cotidiana, encontrando sua forma original de trabalho. Essa travessia permite a cada escola a construção coletiva de sua identidade (DALBEN, 2004, pg. 56).

A autora deixa claro que a gestão democrática deve-se fazer presente no dia-

a-dia da escola. A gestão democrática faz-se presente “principalmente” na pessoa

do Gestor, sendo este o “carro chefe” que orientará os colegiados na gestão

democrática, proporcionando ambiente coletivo, cordial juntos na participação efetiva

16

na construção do Projeto Político Pedagógico da escola. Se a instituição não estiver

aberta para um ensino democrático proporcionando a participação efetiva dos

colegiados, ela permanecerá estática, reproduzindo a exclusão social, o

autoritarismo, os as “mazelas” da educação vai estar sempre presente.

O conselho de classe como instância colegiada, está contemplado no

Projeto Político Pedagógico com regimento próprio, mas infelizmente seus membros

desconhecem seus reais objetivos. Dalben coloca “a relação dos sujeitos com os

conselhos de classe transforma-os em jogo de poder”. (2004, pág.64). Esse

desconhecimento criou um paradigma pedagógico onde o professor e alunos estão

em campos opostos, onde um educa o outro é educado. Essa dicotomia no

processo ensino e aprendizagem revela-se como um dos grandes entraves no

processo ensino e aprendizagem. Sendo o aluno a peça fundamental no processo

avaliativo, este é alheio ao que se passa no conselho de classe, não conhece os

critérios utilizados em sua avaliação, é um elemento passivo onde “não tem voz

ativa”, o professor mantém a mesma postura apresentada em sala de aula. Luckesi

coloca:

Um educador, que se preocupe com que a sua prática educacional esteja voltada para a transformação, não poderá agir inconsciente e irrefletidamente. Cada passo de sua ação deverá estar marcado por uma decisão clara e explícita de que esta fazendo e para onde possivelmente está caminhando os resultados de sua ação. (2005, pág. 46).

O autor aponta que a avaliação deve ser um instrumento de resgate da

função diagnóstica, identificando os caminhos percorridos e reorientando os

caminhos a serem perseguidos. É sabido que avaliação como instrumento de

classificação, não serve em nada para a transformação e emancipação, pelo

contrário, reafirma cada vez mais a conservação da sociedade, pela passividade dos

educandos. A avaliação diagnóstica não diminuirá o professor em sua função de

educar, pelo contrário, auxiliará cada aluno no seu crescimento para autonomia,

garantindo uma relação de cooperação entre professor e aluno.

Uma educação democrática prisma pela reciprocidade, não pela submissão.

A escola na pessoa do gestor deve promover esse ambiente de cooperação,

garantindo dessa forma, uma educação mais eficiente e transformadora.

17

Para Luckesi, o aluno deve freqüentar a escola e lá permanecer, até que

alcance um nível de escolaridade significativo para exercer seu papel de cidadão,

nesta sociedade capitalista e excludente, que cada vez mais exige a qualificação do

sujeito. A questão da permanência e terminalidade nos estudos têm sido um dos

grandes entraves contra a democratização do ensino, os que alcançam a

terminalidade muitas das vezes não se apropriam dos conhecimentos necessários

para atuar como cidadão críticos e reflexivos, tornando-os analfabetos funcionais.

“Um ensino e uma aprendizagem de má qualidade são antidemocrático, uma vez

que não possibilitarão aos educandos nenhum processo de emancipação”

(LUCKESI, 2005, pg.65).

O autor deixa evidente a importância da avaliação na democratização do

ensino, pois da forma como tem sido realizada na atual conjuntura, está favorecendo

um ensino “contra a democratização”, apresenta-se de forma não colaborativa para

a permanência do aluno na escola e sua promoção qualitativa, tornado-a

antidemocrática. O papel da avaliação escolar deve ser refletido e reavaliado para

que não seja simplesmente voltado para aprovação ou reprovação do aluno, deve

ser direcionado para a aprendizagem e conseqüentemente seu desenvolvimento.

Vasconcellos defende:

... Assim, quem trabalha com a formação acadêmica dos novos professores, tem também um compromisso de mudar a prática de avaliação dos mesmos” (Vasconcellos, 2005, pag. 100). Sendo assim, para que as práticas avaliativas sejam transformadoras é necessário que a formação dos docentes seja reavaliada, para que os mesmos possam estar revendo suas práticas, em termos de avaliação.

Para Zélia Pavão, “a avaliação Educacional não é disciplina obrigatória no

currículo mínimo de formação dos professores, portanto, as maiorias dos

educadores sabem muito pouco sobre as técnicas para a criação de métodos para a

avaliação” (1998, pag. 20).

A avaliação não é direcionada somente ao aluno, todo o processo

educacional deve também ser avaliado (professor, livro didático, currículo, direção,

escola, família, sociedade, etc), a avaliação deve ocorrer em todas as instâncias,

proporcionando desta forma as mudanças necessárias para que haja uma política

educacional séria e comprometida com o processo de transformação da realidade

da escola e sociedade. As insatisfações estão presentes no âmbito escolar, tanto

18

educadores como educando, almejam por mudanças onde todos possam viver num

ambiente de cooperação e reciprocidade.

Vasconcellos (2005, pag. 128) completa: “mais do que nunca, a sociedade

clama por solidariedade: nunca a distância entre homens e nações foi tão grande

como hoje. A avaliação pode dar sua parcela de contribuição, superando no âmbito

escolar o paradigma da seleção em direção ao da qualificação e inclusão” .

O papel da avaliação é primordial na transformação da educação e da

sociedade, cabe aos educadores, alunos, enfim, a todos envolvidos no processo

educacional fazer a diferença, transformar a educação. Segundo Cardinet:

A avaliação é reconhecida atualmente como um dos pontos privilegiados para estudar o processo de ensino-aprendizagem. Abordar o problema da avaliação supõe necessariamente questionar todos os problemas fundamentais da pedagogia. Quanto mais se penetra no domínio da avaliação, mas consciência se adquire do caráter encicoplédico de nossa ignorância e mais se põe, cada interrogação colocada leva a outras. Cada árvore se enlaça com outra e a floresta aparece como imensa. (CARDINET 1986, apud SACRISTÁN,1998, pag. 295).

A gestão de uma escola democrática, crítica, reflexiva e participativa faz-se

diante de um Projeto Político-Pedagógico consistente, onde o fazer pedagógico é

construído coletivamente.

O conselho de classe, retrata as concepções de avaliação escolar,

presentes nas práticas dos educadores, assim como a cultura escolar. É o momento

em que o coletivo se encontra reunido para avaliar as práticas avaliativas utilizadas

na instituição, a fim de proporcionar uma auto-avaliação e autocrítica do processo

educacional como um todo, redirecionando as práticas pedagógicas que se fizerem

necessárias. O fazer pedagógico deve ser reflexivo, pois deste dependem o sucesso

do processo de ensino e aprendizagem, uma vez que este está intimamente ligado à

concepção de avaliação. Dalben coloca,

O que busca, quando se discute a transformação da escola, é um novo posicionamento diante do conhecimento produzido no decorrer dos processos de avaliação de modo a ajudar o aluno a aprender mais. Busca-se um novo espaço escolar, com novas relações estabelecidas entre gestores, professores, alunos e comunidade em geral, que favoreçam um processo de formação coletiva, construído com base na interação e no diálogo entre o sujeito e o conhecimento da própria dinâmica escola. (2008, pag. 70).

19

Infelizmente, na maioria das escolas, a prática revela que essa relação

dialógica e de reciprocidade, colocada pela autora, não está presente entre os

docentes nos conselhos de classe. Cabe à escola, através de ação democrática

intervir nesta realidade, promovendo esta reciprocidade.

Dalben (2004, pg. 74) lembra que “a LDEBEN nº 9.394, de 24 de dezembro

de 1996, em seu artigo 3º, inciso VIII, afirma que o ensino será ministrado com base

no princípio da gestão democrática”. Complementando, Paro (2005, pag.25), afirma

que “a democracia, enquanto valor universal e prática de colaboração recíproca

entre grupos e pessoas, é um processo globalizante que, tendencialmente, deve

envolver cada indivíduo, na sua plenitude de sua personalidade. Não pode haver

democracia plena sem pessoas democráticas para exercê-la.”

Os autores citados colocam a ação coletiva como premissa para que a

democracia seja realmente estabelecida. A escola deve estar aberta para o diálogo,

para a reflexão e principalmente para a participação da comunidade.

Assim, o conselho de classe deve ser repensado e reestruturado,

estabelecendo uma contínua ação/reflexão/ação sobre as práticas avaliativas e

pedagógicas, fundamentada pelo diálogo, participação e cooperação entre seus

pares, alunos e comunidade escolar, tornando-o assim um espaço privilegiado na

organização do trabalho escolar e conseqüentemente promotora do sucesso

escolar.

20

4 AVALIAÇÃO EMANCIPATÓRIA E CONSELHO DE CLASSE

A avaliação vem assumindo uma perspectiva cada vez mais classificatória e

hierarquizadora tornam-se necessário reavaliar o seu real “papel” numa visão

emancipatória e transformadora. Segundo Saul,

“A avaliação emancipatória caracteriza-se como um processo de descrição, análise de uma da realidade, visando transformá-la [...] O compromisso principal desta avaliação é o fazer com que as pessoas direta ou indiretamente envolvidas em uma ação educacional escrevam a sua “própria história” e gerem as suas próprias alternativas de ação”. (2006, pag. 61).

A avaliação emancipatória está voltada para transformação, a partir do auto-

conhecimento crítico do conceito, do real, que possibilita dessa forma um

direcionamento de suas ações nos contextos em que se situa, de acordo com sua

historicidade. De acordo com Luckesi,

[...] a avaliação da aprendizagem escolar será autoritária estando a serviço de uma pedagogia conservadora e, querendo estar atenta à transformação, terá de ser democrática e a serviço de uma pedagogia que esteja preocupada com a transformação da sociedade a favor do ser humano, de todos os seres humanos, igualmente. (2005, pag. 32).

Neste contexto o autor coloca que a avaliação deverá apresentar-se como

diagnóstico da realidade, buscando o avanço e o desenvolvimento e não a

estagnação disciplinadora. “A avaliação é um julgamento de valor sobre

manifestações relevantes da realidade, tendo em vista uma tomada de decisão.”

(LUCKESI, 2005, pg. 33).

O papel da avaliação é verificar a aprendizagem a partir dos mínimos

necessários e não verificar a aprendizagem a partir dos mínimos possíveis, realizada

desta forma a avaliação oportunizará ao professor e aluno, participarem

democraticamente da vida social. Para que ocorram mudanças significativas das

práticas avaliativas são necessárias mudanças na metodologia de trabalho em sala

de aula.

Segundo Vasconcellos:

21

O que se espera de uma avaliação numa perspectiva transformadora é que os seus resultados constituam parte de um diagnóstico e que, a partir dessa análise da realidade, sejam tomadas decisões sobre o que fazer para superar os problemas constatados: perceber a necessidade do aluno e intervir na realidade para ajudar a superá-la (2005, pag. 89).

O papel da avaliação nessa perspectiva é avaliar para mudar o que é

necessário mudar. Tanto o professor mudar suas metodologias, sua forma de

conduzir as aulas de modo que o aluno compreenda o conteúdo, como o aluno deve

rever seu método de estudo para que possa compreender o conteúdo ministrado. À

escola cabe oferecer subsídios físicos, materiais e humanos para que o processo

ensino e aprendizagem ocorra satisfatoriamente. Desta forma o professor tem

condições de avaliar a si mesmo, o aluno, e ainda, o processo ensino e

aprendizagem. “É preciso, para realizar uma avaliação coerente com os objetivos

educacionais, levar em consideração a necessidade de uma ação cooperativa entre

os participantes do processo, uma ação coletiva consensual, uma consciência crítica

e responsável de todos.” ( SANT’ANA,1995, pg. 28).

A autora considera a ação coletiva, a reflexão e a criticidade, fatores

fundamentais para que a avaliação atinja seus objetivos. A seguir alguns conceitos

de avaliação citados pela autora.

“A avaliação educativa é um complexo, que começa com a formulação de objetivos e requer a elaboração de meios para obter evidência de resultados, para saber em que medida foram os objetivos alcançados e formulação de um juízo de valor.” (SARABBI, 1971, apud SANT”ANA, 1995, pag. 28).

“A avaliação é essencialmente um processo centralizado em valores.” (PENNA FIRME, 1976, pag. 17, apud SANT”ANA, 1995, pag.28).

“O crescimento profissional do professor depende de sua habilidade em garantir evidências de avaliação, informações e materiais, a fim de constantemente melhorar seu ensino e aprendizagem do aluno. Ainda, a avaliação pode servir como meio de controle de qualidade, para assegurar que cada ciclo novo de ensino-aprendizagem alcance resultados tão bons ou melhores que os anteriores.” (BLOOM, HASTING, MADAUS apud SANT”ANA, 1995, pag. 29).

“A avaliação em educação significa descrever algo em termo de atributos selecionados e julgar o grau de aceitabilidade do que foi descrito. O algo, que deve ser descrito e julgado, pode ser qualquer aspecto educacional, mas é tipicamente: (a) um programa escolar, (b) um procedimento curricular ou (c) o comportamento de um indivíduo ou grupo.” (THORNDIKE e HAGEN,1960 apud SANT”ANA 1995, pag. 29).

“Avaliação significa atribuir um valor a uma dimensão mensurável do comportamento em relação a um padrão de natureza social ou científica.” (BRADFIELD E MOREDOCK,1963 apud SANT’ANA, 1995, pag. 29).

22

“Avaliação é o processo de delinear, obter e fornecer informações úteis para julgar decisões alternativas.” (SILVA, 1977 apud SANT”ANA, 1995, pag. 29).

“É um processo contínuo, sistemático, compreensivo, comparativo, cumulativo, informativo e global, que permite avaliar o conhecimento do aluno.” (MARQUES 1976 apud SANT”ANA, 1995, pag. 29).

“Avaliação é coleta sistemática de dados, por meio do qual se determinam as mudanças de comportamento do aluno e em que medida estas mudanças ocorrem.” (BLOON et al apud SANT”ANA, 1995, pag. 29).

Nas definições apresentadas, percebe-se que a ênfase está voltada na

avaliação do aluno, em seu desempenho. Algumas décadas se passaram e pode-se

afirmar que ainda hoje, em pleno século XXI, a avaliação contínua priorizando o

desempenho do aluno. O sistema educacional, a própria escola, professores,

comunidade, precisam estar inseridos nesse contexto da avaliação, caso contrário a

qualidade de ensino continuará comprometida.

Diante dessa realidade, questiona-se, como o conselho de classe pode ser

um instrumento de uma avaliação emancipatória e democrática?

Compreende-se que a avaliação deve fazer parte no processo de ensino e

aprendizagem, acompanhar os objetivos propostos e reorientar as práticas

pedagógicas, fazendo as intervenções que se fizeram necessárias. No entanto,

deve-se ressaltar que a avaliação fornece dados que devem ser submetidos a uma

compreensão qualitativa. Essa nova concepção de saber não se preocupa apenas

com os conteúdos transmitidos e assimilados, mas com a práxis e o

desenvolvimento da consciência crítica. De acordo com Dalben,

Dessa maneira, a relação professor X aluno é concebida como horizontal, desenvolvendo-se de maneira democrática, baseada na participação coletiva, no compromisso com o processo histórico social, localizando-se, tanto o professor como os alunos, de forma contextualizada e carregando caca um deles, sua história e suas determinações sociais. (1994 pag. 140).

O professor diante desta nova perspectiva crítica deve ser um professor

reflexivo, que valoriza o aluno como ser humano criativo e não como mero

reprodutor de idéias e práticas que são exteriores, possibilitando seu agir de forma

consciente em busca de uma nova sociedade. Sua metodologia deve problematizar

a realidade, considerando o aluno o elemento central da ação educativa, tendo como

ponto de partida o conhecimento do aluno e da suas características,

compreendendo seu passado e o seu presente, a sua história e aprendizagem, o

23

seu nível de desenvolvimento e levando-o à superação do senso tácito por meio da

busca de novos conhecimentos. Neste sentido, Dalben destaca,

“A nova avaliação, nessa nova concepção, ficará centrada na análise da capacidade de leitura da prática vivenciada dos alunos, na tentativa de superação do senso comum orientado para essa consciência crítica, utilizando-se, para isso, dos conteúdos acumulados pela humanidade e sistematizados pela escola, os quais serão também analisados criticamente com o objetivo de constituir instrumentos úteis para as explicação das contradições postas por essa prática.” (1994, pag. 140).

Diante desta concepção crítica, o educador precisa ficar atento com o

processo de aprendizagem e com questões do dia-a-dia em sala de aula, para não

cair na rotina, agindo de forma autoritária e tradicional. Os instrumentos e critérios

de avaliação devem estar em constante “avaliação”, questões como “para que”

avaliar, e “quem” avaliar devem ser refletido constantemente, com o intuito de obter

subsídios para o professor reorientar e reorganizar suas práticas avaliativas,

possibilitando dessa forma uma nova perspectiva crítica do “fazer pedagógico”.

Para Vasconcellos (2005, pg. 92), “Os conselhos de classe podem ser

importantes estratégias na busca de alternativa parra a superação dos problemas

pedagógicos, comunitários e administrativos da escola.”

É muito importante que o conselho de classe seja um espaço democrático e

de construção de alternativas onde estão presentes os seguintes elementos: prática-

reflexão-transformação da prática. É dever da escola democrática proporcionar o

saber, para isso ela deve ter coragem de ousar, investigar, procurar caminhos para

garantir efetivamente a aprendizagem.

24

5 ORGANIZAÇÃO DO CONSELHO DE CLASSE: UMA PROPOSTA DE REESTRUTURAÇÃO

A necessidade de uma proposta para reestruturação do conselho de classe

se faz necessária, visando dar mais sentido e coerência ao processo avaliativo.

O conselho de classe deve ser um momento alegre e prazeroso, e ao

mesmo tempo um órgão colegiado de discussão, articulação das mudanças

pedagógicas. Em busca de alternativas para propor a reestruturação do conselho de

classe, alguns autores como: Cruz (2005), Dalben (2004), Vasconcellos (2005),

Dalben (1994), Sant’Ana (1995), foram consultados, para que desta forma, esta

proposta seja teoricamente fundamentada.

Acredita-se que para o resgate do real papel do conselho de classe, deve-

se pensar numa nova estrutura para seu funcionamento que leve em consideração,

conforme apontado por Cruz (1994; 2005): a auto-avaliação crítica e reflexiva do

professor quanto à sua ação pedagógica no bimestre; a discussão sobre o perfil da

turma; o levantamento de estratégias coletivas para a realização da intervenção

pedagógica; e por última a discussão sobre os casos críticos da turma.

A auto-avaliação crítica e reflexiva do professor quanto à sua ação

pedagógica no bimestre, irá auxiliá-lo no redirecionamento de suas práticas

avaliativas e pedagógicas, proporcionando desta forma a aprendizagem mais

eficiente do aluno. A auto – avaliação possibilita ao professor: refletir sobre o próprio

trabalho; tornar-se um avaliador de si mesmo e autônomo de suas decisões; quebrar

com o preconceito de que só aluno é avaliado; conscientizar que o coletivo sobrepõe

à ação individual; criar condições de aproximação com o aluno, favorecendo

relacionamento de companheirismo; olhar os erros como parte do processo, para

que haja construção conjunta do saber.

A auto – avaliação permite ainda que o professor avalie se a prática proposta

anteriormente está sendo atingida; em que ações podem avançar; quais foram

dificuldades encontradas e de que forma foram enfrentadas; se as inovações

25

metodológicas, ou avaliação estão sendo satisfatórias; que aspectos precisam ser

retomados, para que aprendizagem seja assimilada.

É importante destacar que os resultados dessa auto – avaliação deve ser

discutido no coletivo, para que todos juntos possam descobrir os possíveis caminhos

de superação. Desta forma, os professores estarão desempenhando de maneira

democrática e construtiva seu trabalho.

Na seqüência da reunião do conselho de classe, deve-se discutir sobre o

perfil da turma. Neste momento, o coletivo fará um diagnóstico da turma levantando

suas necessidades, para que juntos possam propor ações concretas de atitudes que

possam produzir as modificações desejadas. Para obter informações do despenho

da turma, faz-se necessário alguns questionamentos como: Os alunos participam da

aula? como eles participam? Como identificar se o aluno está participando da aula?

Em relação à participação dos alunos, é importante observar se os alunos:

fazem questionamentos dos conteúdos trabalhados em sala? Realizam as

atividades propostas? São compromissados com o material? Trabalham em grupo?

Cooperam com os colegas e professor?

Um ponto fundamental que irá nortear essa nova estrutura de conselho de

classe é o que está definido no Projeto- Político Pedagógico quanto ao que se

deseja avaliar, tanto em relação à escola como à turma.

Após o diagnóstico da turma, o coletivo vai propor ações para sanar as

dificuldades levantadas, tornando a ação pedagógica conjunta e transformadora do

processo ensino e aprendizagem.

O levantamento de estratégias coletivas para realização da intervenção

pedagógica, deve considerar que as práticas pedagógicas podem ter natureza de: a)

ação concreta; b) de atitude; e c) de prática.

As práticas pedagógicas de ação concreta, podem ser definidas de acordo

com as necessidades apontadas pelo coletivo, como exemplo por exemplo: excursão,

passeio, vista a museu. Neste caso ao realizar a atividade, é importante registrar os

problemas ocorridos; fazer um contrato de trabalho, a cada início de bimestre;

diversificar os instrumentos e critérios de avaliação; deixar claros os objetivos

26

pretendidos em cada atividade; e por último, revisar os grupos de trabalho, que

devem ser alternados, evitando que se formem “panelinhas” entre os alunos.

Já as práticas de atitude implicam na realização de uma auto – avaliação com

os alunos, buscando dialogar, incentivar e motivar os alunos na realização das

atividades. É importante deixar claros os direitos e deveres.

E finalmente, a prática pedagógica de natureza prática, envolve realizar ao

final de cada mês uma auto – avaliação com a turma, para verificar se os objetivos

do processo ensino e aprendizagem foram atingidos e reorientar a prática dos

alunos e professor. A equipe pedagógica fará assessoramento às turmas, uma vez

por mês. Esse procedimento deve ser continuo, pois a cada conselho o professor

tem como dar continuidade no processo de avaliação.

O último momento da reunião do conselho de classe deve ser destinado à

discussão dos casos críticos da turma. O aluno é avaliado como um todo, diante das

dificuldades que o conselho levantou na avaliação diagnóstica. Encaminha-se o

aluno para equipe pedagógica, para que este possa ter acompanhamento por

profissionais especializados.

Os professores diante desta proposta de conselho trabalham com relatórios

de avaliação ou pareceres descritivos, não se fala em notas ou conceitos dos

alunos. O aluno é analisado como um todo, em seus vários aspectos, não é

simplesmente reduzido ao um número.

Outra proposta, defendida por alguns autores, pode ser agregada à estrutura

de conselho de classe exposta acima. Trata-se do conselho participativo, que

propõe a participação do aluno nas reuniões de conselho de classe. A forma que

muitas escolas têm utilizado, é a participação do aluno representante de turma com

mais um colega da sala. Estes levam suas reivindicações para o conselho,

assessorados pela equipe pedagógica.

O aluno tem pouca representatividade neste tipo de conselho, uma vez que o

coletivo dos professores, tem uma representatividade muito mais significativa.

O conselho participativo é realizado em período de aula, no início ou final do

horário, para facilitar a organização e a participação de todos (alunos e professores).

27

Entretanto deve ser observado que embora o conselho participativo revele um

avanço em termos de gestão democrática, um problema que ainda persiste, é a

falta alguns professores, pois muitos trabalham em mais de uma escola. Outro fator

é que muitos alunos ainda não valorizam esse espaço que lhes é oportunizado a

participar.

Como sugestão de encaminhamento, nos primeiros conselhos os alunos

devem registrar suas observações por escrito, sem se identificarem, colocando-as

numa caixa. A não identificação é justificada pelo fato de eliminar qualquer tipo de

conflito por parte do professores. Cada aluno retira um papel da caixa e vai lendo o

que foi escrito. Quando o professor e aluno tiverem familiarizado com esse tipo de

conselho, as observações passam a serem feitas verbalmente.

O aluno sempre inicia a fala, para evitar qualquer tipo de inibição, pois o

professor geralmente tem mais argumento do que o aluno. Quando o aluno termina

as suas colocações é dada a palavra aos professores.

Neste momento, o professor deve esclarecer os pontos que foram levantados

pelos alunos. Às vezes esse diálogo torna-se bastante conflituoso. Quando o

professor é consciente e aberto acaba tendo retorno positivo. Os alunos também

têm demonstrado satisfação e melhoria no processo ensino e aprendizagem.

Se alguma questão levantada, referir a professores que estavam ausentes, a

equipe pedagógica fica responsável em repassá-la ao professor junto com a turma

em sala de aula.

Geralmente, são realizados três conselhos no ano, este é desvinculado de

notas e conceitos, o que interessa e o processo ensino aprendizagem. Segundo

Cruz, “o conselho participativo ou outro nome que se dê a esta prática, é uma

experiência sujeita a crítica e aperfeiçoamento, mas que se tem mostrado positiva

como instrumento de realização dos referenciais pedagógico que defendemos”.

(2005, pag. 57).

28

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Democracia parece ser uma palavra bastante utilizada no contexto

educacional atual. Será que na prática escolar, a democracia, a igualdade, a

liberdade e as oportunidades estão sendo garantidas para todos?

No decorrer deste caderno temático, discutiu-se as práticas avaliativas, o

sujeito reflexivo e crítico, o papel do conselho de classe na avaliação, assim como a

necessidade de sua reestruturação, visando a construção de uma nova sociedade e

de uma nova cultura escolar.

Enquanto sujeito crítico, o professor deve pensar, escutar antes de decidir,

avaliar e deixar-se avaliar, ser conseqüente e capaz de ultrapassar dicotomias

paralisantes e finalmente tomar uma decisão respaldada na crença de que todos os

atores da escola se encontram num processo de desenvolvimento e aprendizagem.

Desta forma, o conselho de classe entendido como um momento de reflexão

das práticas avaliativas pode ser o começo possível do real para se chegar ao ideal

de uma escola democrática.

29

REFERÊNCIAS

ALARCÃO, Isabel. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. 4.ed. – São Paulo, Cortez, 2005.

CRUZ, Carlos Henrique Carrilho. Conselho de classe e participação. Revista da Educação AEC. Ano24. n.94, janeiro/março, 1995. p.111-136.

CRUZ, Carlos Henrique Carrilho. Conselho de Classe: espaço de diagnóstico da prática educativa escolar. Ed. Loyola, São Paulo, 2005. (coleção fazer e transformar).

DALBEN, Ângela I. de Freitas. Conselho de Classe e Avaliação: perspectivas na gestão pedagógica da escola. Campinas, SP: Papirus, 2004.

DALBEN, Angela I. De Freitas. Trabalho escolar e conselho de classe. 4 ed. Campinas, 1994. (coleção magistério: formação e trabalho pedagógico).

LUCKESI, C. Carlos. Avaliação da Aprendizagem escolar: estudos e proposiões. 17. Ed. – São Paulo: Cortez, 2005. PARO, H. Vitor. Escritos sobre educação. São Paulo: Xamã, 2001.

PARO, H. Vitor. Escritos sobre educação. São Paulo: Xamã, 2001.

PARO, H.Vitor. Gestão da escola pública. 3. ed. ática. 2005. Série educação em ação.

PAVÃO, Zélia Milléo. Avaliação da Aprendizagem: concepções e teoria da prática. Curitiba: champagnat, 1998.

ROCHA, Any Dutra Coelho da. Conselho de classe: burocratização ou participação? – Rio de Janeiro: F. Alves , 1982. (coleção Educação Prática).

SACRISTÁN, J. Gimeno. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Trad. Ernani f. da F. Rosa – 3. ed. – Porto Alegre: ASrtMed, 200.

SACRISTÁN, J. Gimeno.e A. I. Pérez Gómez. trad. Ernani f. da Fonseca Rosa – 4. ed. – ArtMed, 1998. Compreender e transformar o ensino.

SAN’T ANNA, Ilza Martins. Por quê avaliar : Como avaliar : critérios e instrumentos. Petropólis, RJ, Vozes, 1995.

SAUL, Ana Maria. Avaliação Emancipatória: desafios à teoria e à prática de avaliação e reformulação de currículo. 7. Ed. – São Paulo, Cortez, 2006.

VASCONCELLOS, Celso dos S. Avaliação: concepção dialética-libertadora do processo de avaliação escolar. São Paulo: Libertad 2005. (Cadernos Pedagógicos do Libertad; v. 3).

30