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Ano Letivo: 2013/2014
Curso de Animador Sociocultural – 3º Ano
Área de Estudo da Comunidade
Módulo IX: Representação Social da Diferença e Intervenção Sociocultural
30 Horas
3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade
Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social
Índice
Proposta de calendarização do Módulo..........................................................................3
Planificação do módulo...................................................................................................4
1. Definição de Conceitos.............................................................................................8
1.1. A teoria das representações sociais (Serge Moscovici).....................................8
1.2. Ser Normal vs. Ser Diferente...........................................................................10
Mas afinal o que é ser normal? O que é ser Diferente?.........................................10
1.3. A origem da Diferença.....................................................................................12
2. Cultura e Identidades Pessoais...............................................................................15
2.1. Multiculturalidade e Interculturalidade..............................................................15
2.1.1. Definição de Cultura.................................................................................15
2.2. Minorias Étnicas em Portugal..............................................................................21
2.2.1. A comunidade cigana (um exemplo)............................................................21
2.3. Deficiência e Desigualdades Sociais....................................................................23
2.3.1. A Escola Inclusiva..........................................................................................24
2.4. A representação social da velhice...................................................................26
2.4.1. A O processo de envelhecimento.................................................................28
2.5. Pobreza e Exclusão Social....................................................................................31
100 Razões – 100 Abrigo........................................................................................32
2.6. Desigualdades entre géneros..............................................................................34
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Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social
Proposta de calendarização do Módulo1
30 Horas
1 Suscetível a alterações.
Início: 16-09-2013 Fim: 5-11-2013
Entrega do Trabalho de Grupo:
Entrega do Trabalho Individual:
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Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social
Planificação do módulo
Ano/Turma: 3º Ano do Curso de Animador Sociocultural
Disciplina: Área de Estudo da Comunidade Módulo nº 9: Representação Social da Diferença Ano Letivo: 2013/2014
Nome do Formador: Início: 16-09-2013 Fim: 5-11-2013
Objetivos Globais da Disciplina
Refletir sobre as questões de desigualdade e de diferença em relação ao género, à idade, à etnia, à cultura, aos aspetos físicos, às necessidades educativas especiais, à pobreza, entre outros.
Reconhecer a diferença como um fenómeno positivo e que deve ser valorizado não reprimido. Analisar a intervenção e integração sociocultural em casos de representação social negativa da diferença.
Objetivos Específicos Conteúdos Teórico/PráticosAtividades/
MetodologiasRecursos Forma de Avaliação
Duração (Horas)
Definir os conceitos de normalidade
desvio e diferença;
Ser diferente versus normal; Representação Social da diferença; A origem da Desigualdade.
Método Expositivo:- Exposição de conteúdos por parte do docente.
Método Interrogativo:
Papel, lápis, caneta;
Sebenta; Quadro de
Cortiça; Post-its; Textos de
análise; Computador;
Domínios:
Cognitivo /Procedimental –85%
- Desenvolvimento intelectual;- Desenvolvimento metodológico;
30 Horas
Referir a importância da
multiculturalidade e interculturalidade
nas sociedades atuais;
Cultura e Identidades Pessoais; Multiculturalidade e
Interculturalidade; Fenómeno das migrações.
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Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social
- Formulação de questões para debate;
Método Ativo: - Brainstorming;- Construção de um quadro de reflexão da aprendizagem e exposição de conteúdos aprendidos;
- Debates partilhados;
- Análise de textos e imagens associadas;
Projetor; Partilha de
Testemunhos;
- Desenvolvimento da comunicação;
Através de:Trabalho de grupo (3 a 5
elementos)50%
Relatório individual35%
Autorregulador – 15%
- Responsabilidade;- Autonomia;- Sociabilidade;- Grau de empenho nas atividades desenvolvidas na escola;- Grau de desenvolvimento metacognitivo (capacidade critica e argumentativa)
15%
Analisar as implicações no ser
“normal” decorrentes de saúde mental
Como é encarada a deficiência atualmente?
Escola inclusiva – paradigma da educação para todos.
Analisar o processo de envelhecimento e
os fenómenos associados
Formas de exclusão do idoso; Estratégias de intervenção social
para a inclusão dos mais velhos – geração de novos papéis.
Analisar as questões quotidianas da
diferença de género
Diferenças representativas entre homem e mulher – a evolução dos papéis sociais;
A mulher e o homem no mercado de trabalho – formas de exclusão.
Debater sobre a relação com o outro
e o respeito pela diversidade;
O papel do Animador Sociocultural na promoção da integração social e minimização da exclusão;
O papel da escola na promoção da igualdade.
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Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social
Método Demonstrativo;- Visionamento de pequenos vídeos.
Identificar formas de intervenção e
integração sociocultural de
grupos de risco e/ou em situações de
exclusão;
Bibliografia Proposta ACIDI. (s.d.). Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural - ACIDI. Consultado em setembro 17, 2013, em
http://www.acidi.gov.pt/ ANDRADE, Ana Bela & Moinhos, Rosa. 2009. Cursos Profissionais - Sociologia, Lisboa, Plátano Editora FERNANDES, A. T. 2000. Desigualdades e representações sociais. Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, pp. série I, VOL. 10,
203-214.
VIEIRA, Ricardo. 2011. Ser Igual Ser Diferente. ed. 3, 1 vol., ISBN: 972-8562-01-2. Porto: Profedições.
VIEIRA, Ricardo. ed. 2009. Diferenças, Desigualdades, Exclusões e Inclusões ed. 1, 1 vol., ISBN: 978-972-36-1041-3. Porto: Edições Afrontamento, Lda.
VIEIRA, Ricardo. 1999. "Da Multiculturalidade à Educação Intercultural: a Antropologia da Educação na Formação de Professores", Educação, Sociedade e Culturas, Revista da Associação de Sociologia e Antropologia da Educação, 12: 123 - 162.
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Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social
Actividade 1 – Exploração de conceitos e perceções sobre os conteúdos do módulo
Para ti…
O que é ser Diferente?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
O que é ser Normal?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
O que é uma Representação Social?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
Na tua opinião, qual a razão de estudar a “Representação Social da Diferença” no
curso de Animador Sociocultural?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
Recorrendo à imaginação e criatividade, desenha um símbolo, uma figura, que possa, na tua opinião, retratar o módulo a lecionar.
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Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social
1. Definição de Conceitos
1.1. A teoria das representações sociais (Serge Moscovici)2
O conceito de representação social situa-se nas fronteiras entre a sociologia e a
psicologia. A origem provém do termo “representação coletiva”, desenvolvido por
Durkheim. Este sociólogo teorizou que as categorias básicas do pensamento teriam
origem na sociedade, e que o conhecimento só poderia ser encontrado na experiência
social, ou seja, a vida social seria a condição de todo pensamento organizado e vice-
versa. As representações coletivas designavam um conjunto de conhecimentos e
crenças (mitos, religião, ciência...)
Durkheim propôs, como condição essencial na elaboração do conhecimento, a formação
de conceitos que são repartidos pelos membros do grupo, com origem nas
características da vida na comunidade. Para o sociólogo, a individualidade humana se
constitui a partir da sociedade.
A “representação coletiva”, segundo Durkheim, não se reduz à soma das representações
dos indivíduos que compõem a sociedade, mas são, mais do que isso, um novo
conhecimento é formado, que supera a soma dos indivíduos e favorece uma recriação do
coletivo.
Uma função primordial da “representação coletiva” seria a transmissão da herança
coletiva dos antepassados, que acrescentariam às experiências individuais tudo que a
sociedade acumulou de sabedoria e ciência ao passar dos anos. É justamente nessa
questão que Moscovici diverge de Durkheim e acrescenta novos elementos à elaboração
do conceito de representação social.
2 Serge Moscovici, professor emérito da École des Hautes Etudes en Sciences Sociales, é detentor de uma carreira ímpar no âmbito das ciências sociais, tendo contribuído para o desenvolvimento da disciplina Psicologia Social, com a introdução de novos modelos e paradigmas, como a teoria das representações sociais, a teoria das minorias ativas e do seu papel nos processos de influência e mudança social..
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Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social
Para ele, não é apenas uma herança coletiva dos antepassados, que é transmitida de
maneira determinista e estática. O indivíduo tem papel ativo e autónomo no processo
de construção da sociedade, da mesma forma que é criado por ela. Ele também
participa na sua construção. Somos produtos e produtores de cultura, de novos ideais e
costumes. Através da relação com “o outro” recebemos e filtramos informação que se
irá refletir nos nossos comportamentos e maneiras de estar. Desta forma a nossa
identidade é uma identidade em construção, que se dá através de todas as trocas de
sociabilidade. Logo, não somos os mesmos desde um momento em particular, mas sim,
somos vários momentos, várias experiências e o resultado da interpretação de cada
uma delas. Logo o nosso comportamento é influenciado e a maneira como nos
relacionamos com os outros vai variando. (Crescer, Viver é isto mesmo!)
As representações sociais são “um conjunto de conceitos, frases e explicações
originadas na vida diária durante o curso das comunicações interpessoais”
São modalidades de conhecimento prático orientadas para a comunicação e para a
compreensão do contexto social, material e ideológico em que vivemos.
São formas de conhecimento que se manifestam como elementos cognitivos (imagens,
conceitos, categorias, teorias), mas que não se reduzem apenas aos conhecimentos
cognitivos. Sendo socialmente elaboradas e compartilhadas, contribuem para a
construção de uma realidade comum, possibilitando a comunicação entre os
indivíduos. Dessa maneira, as representações são fenómenos sociais que têm de ser
entendidos a partir do seu contexto de produção, isto é, a partir das funções simbólicas
e ideológicas a que servem e das formas de comunicação onde circulam.
“São uma forma de conhecimento socialmente elaborada e compartilhada, com um
objetivo prático, que contribuem para a construção de uma realidade comum a um
grupo social. Não são assimiladas de forma acabada, resultam de um lento processo de
construção em que os indivíduos reinterpretam as representações existentes de acordo
com as suas experiências e aspirações.” (Moinhos & Andrade: 2009:76)
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Completa os espaços com as palavras que te parecem mais corretas, segundo o que acabaste de ler.
As representações sociais são assim construções ______________________ que, uma vez interiorizadas pelos indivíduos através do seu processo de ____________________, vão constituir-se como instrumentos que lhes permitem dar __________________ à informação que lhes chega da realidade social, contribuindo desta forma para orientar as suas práticas sociais. (Moinhos & Andrade: 2009:76)
Definido o conceito de representação social, o que é então a representação social da diferença?
1.2. Ser Normal vs. Ser Diferente.
Mas afinal o que é ser normal? O que é ser Diferente?
De acordo com a Declaração Universal dos Direitos do Homem, todos os seres humanos
nascem livres e iguais em dignidade e cm direitos, e que cada um pode prevalecer-se de
todos os direitos e de todas as liberdades nela enunciados, sem distinção alguma,
nomeadamente de raça, de cor ou de origem nacional; todos os homens são iguais
perante a lei e têm direito a uma igual proteção da lei contra toda a discriminação e
contra todo o incitamento à discriminação.
Ao procurarmos num dicionário o significado de diferença, deparamo-nos com a
seguinte definição: "Qualidade ou estado de diferente; Propriedade ou característica
pela qual pessoas ou coisas diferem". Neste sentido, a diferença é aquilo que nos torna,
de certa forma, semelhantes: afinal, somos todos diferentes, cada pessoa tem
características que são apenas dela e que a identificam e formam a sua identidade.
O Homem é um ser social e tem necessidade de se relacionar com os outros, formando
grupos, bairros, comunidades todas elas pertencentes a uma sociedade global, a uma
nação, ao Mundo. Nesta troca de relações, como já vimos, são formadas representações
sociais, ou seja construções simbólicas de determinados objetos, situações…
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Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social
Ora, o Homem é um ser de hábitos, de regras, normas, costumes e tradições e que
orienta o seu comportamento tendo em conta o pensamento e a evolução das
sociedades. Contudo o peso da norma, do que é comum, igual, prevalece como sendo
um comportamento, ou acontecimento normal pois, representa uma maioria. Por
exemplo: considera-se normal casar com um individuo do sexo oposto e “anormal”
casar com um individuo do mesmo sexo. Embora que os paradigmas culturais tenham
evoluído, nas sociedades contemporâneas, os casais homossexuais, continuam a ser
uma minoria, logo conotados, representados socialmente como diferentes. A esta
representação vêm simbologias, ideias, sobre os casais homossexuais, neste caso, que
normalmente são preconceitos, estigmas que podem gerar casos de exclusão social.
Logo tudo o que foge à norma, ao socialmente aceite pela maioria é visto como um
comportamento desviante e assim diferente, não normal.
Mas, seremos assim tão possuidores da verdade absoluta para julgarmos o que é
normal e o que é diferente?!
Igualdade é uma palavra do nosso vocabulário e claramente nos remente para a
semelhança que contrasta com a diferença e a desigualdade. Conceitos que,
normalmente têm associados, sentidos de distinção, estigma, vulnerabilidade,
exclusão… Pois, somos seres sociais e se nos relacionamos uns com os outros e se a
nossa identidade se vai construindo tendo em conta o nosso processo de socialização,
somos todos diferentes. Apesar de sermos Homens, rapazes ou raparigas, somos seres
individuais com capacidades próprias que nos distinguem entre si, fruto da nossa cultura
e das trocas de sociabilidade. Somos cidadãos do Mundo, todos ligados entre si, pela
interdependência das relações interpessoais e pela necessidade da existência das
mesmas.
Desta forma, podemos concluir que ser diferente é normal e que assim o tem de ser.
Não há outra maneira de viver se não segundo normas e regras, para garantir a coesão
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social, e desta forma vivemos sobre padrões de comportamento iguais, mas somos
seres únicos, em construção identitária, que é o resultado da vida em sociedade.
Mas se somos cidadãos do mundo, porque é que muitas vezes assistimos a situações
como estas?
1.3. A origem da Diferença
Para Leite (2002, p.134) “[…]o fato de os conteúdos das representações sociais trazerem
em si atributos do sujeito é de suma importância. Demonstra com toda a nitidez, que
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elas não são meros reflexos passivos do exterior na mente desse sujeito.” Isso ocorre
porque, quando os sujeitos constroem representações de aspetos da realidade em que
vivem, fazem-no a partir de seu ser social, dos paradigmas prévios que trazem consigo: a
posição que ocupam na sociedade, seus valores culturais e ideológicos, suas histórias de
vida, seus conhecimentos anteriores sobre diferentes facetas da vida em sociedade,
seus afetos em relação aos diversos elementos da realidade etc. Na verdade, as
representações sociais respondem à necessidade que temos de transformar o
estranho (aquilo que é novo para nós) em familiar (Sá, 1995; Moscovici, 1978; Leite,
2002).
Reflete sobre a origem das representações sociais a partir do excerto dado.________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Atividade 2 – Leitura e análise do texto Fernandes, A. T. (2000).
Desigualdades e representações sociais. Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, pp. série I, vol. 10, 203-214.
Como já vimos, fala-se em desigualdade social quando, numa determinada sociedade,
alguns grupos sociais se encontram em situações que se julgam mais vantajosas do que
outras. Portanto, a desigualdade é uma diferença que os indivíduos e grupos sociais
julgam segundo escalas de valor.
Rousseau e Marx viram na propriedade a origem da desigualdade, enquanto que, para
Durkheim, é a divisão do trabalho que a origina. Na obra Discours sur l'origine de
l'inégalité de Rousseau, "os homens no estado natural são livres e iguais e não possuem
propriedade; cada um contenta-se com as dádivas da Natureza [...].“ A partir do
momento em que os homens começam a cooperar e a acumular bens, este estado
primitivo vai alterar-se irremediavelmente: desaparece a igualdade, cria-se a
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propriedade e daí resulta a divisão do trabalho. (1995, Cherkaoui - "Estratificação". In
Tratado de Sociologia (org. R. Boudon). Porto: Edições ASA).
À medida que se expande a divisão do trabalho as pessoas tornam-se cada vez mais
dependentes umas das outras, pois cada um precisa dos bens e serviços dos outros. No
entanto, os agentes económicos usufruem de diferente modo desses bens e serviços,
pois estes não estão de igual modo acessíveis a todos: os seus rendimentos são
diferentes e as suas situações sociais também.
No mal-estar contemporâneo (que se caracteriza pela crise do Estado-providência, pela
crise do trabalho e pela crise do sujeito ou crise de identidade), a desigualdade mais
visível é a que procede das alterações económicas. Fala-se então, da desigualdade de
rendimentos, na medida em que uns têm uma parte maior do que outros. As
desigualdades são essencialmente sociais, não se referem apenas à estratificação
económica (relativa à repartição dos rendimentos, consumo, património...), mas
também estão ligadas à existência de desigualdades de carácter mais qualitativo:
políticas, de prestígio, etc. Por exemplo, em muitas sociedades, brancos e negros gozam
de estatutos diferentes que, por esse facto, lhes conferem vantagens ou desvantagens.
Estas desigualdades "tradicionais" ou estruturais subsistem ou tendem a acentuar-se,
mas, atualmente acrescem a estas outras formas de desigualdade: "desigualdade
perante o trabalho e o salário, ou ainda perante o endividamento, as incivilidades, as
consequências da implosão do modelo familiar, as novas formas de violência.
Instauradas pela dinâmica do desemprego ou pela da evolução das condições de vida",
são vividas de forma dolorosa e silenciosa. Entraram assim em cena desigualdades
novas. Procedem da requalificação de diferenças no interior de categorias consideradas
anteriormente homogéneas" (1997, Fitoussi e Rosanvallon - A nova era das
desigualdades. Oeiras: Celta Editora). Estas desigualdades "novas" são, antes de tudo,
"intracategoriais" e podem passar a ser mais importantes e tão persistentes como as
desigualdades intercategorias. No exemplo de uma situação de desemprego de longa
duração (com todas as consequências que isso implica) dentro de uma mesma
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categoria, pode levar o indivíduo a questionar-se: "Porque é que a sorte daquele que me
é próximo é tão diferente da minha?" (Fitoussi e Rosanvallon). Sente-se excluído, pondo
em causa a sua identidade, pois continua a ter como referência a categoria a que
pertencia antes.
"São assim os princípios de igualdade, que a intuição faz pensar serem essenciais à
coesão social e que são postos em causa pela multiplicação das desigualdades
complexas. [...] Estas desigualdades são precisamente sintoma da transformação social e
de uma modificação da relação do indivíduo com outrem" (Fitoussi e Rosanvallon).
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Atividade 3 – Análise do Poema: “Lágrima de Preta” de António Gedeão
Mandei vir os ácidos,as bases e os sais,as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,experimentei ao lume,
de todas as vezesdeu-me o que é costume:
nem sinais de negro,nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)e cloreto de sódio.
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Encontrei uma pretaque estava a chorarpedi-lhe uma lágrimapara a analisar.
Recolhi a lágrimacom todo o cuidadonum tubo de ensaiobem esterilizado.
Olhei-a de um lado,do outro e de frente:tinha um ar de gotamuito transparente.
2. Cultura e Identidades Pessoais
2.1. Multiculturalidade e Interculturalidade.
As sociedades modernas, numa época frequentemente designada como a era da
globalização, “transportam” mudanças a vários níveis. A abertura das fronteiras
económicas e financeiras, o crescimento das trocas comerciais, a intensificação dos
fluxos de pessoas e bens e o desenvolvimento das redes de comunicação, facultam o
conhecimento da diversidade existente no globo e promovem a aproximação dos
indivíduos. O mundo é, atualmente, uma miscelânea de identidades, culturas, religiões e
línguas. Estamos, assim, perante uma diversidade cultural. Mas o que é a cultura?
2.1.1. Definição de Cultura
O conceito de cultura, tal como o de sociedade, é uma das noções mais
amplamente usadas em Sociologia. A cultura consiste nos valores de um
dado grupo de pessoas, nas normas que seguem e nos bens materiais que
criam. Os valores são ideias abstratas, enquanto as normas são princípios
definidos ou regras que se espera que o povo cumpra.
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Quando usamos o termo, na conversa quotidiana comum, pensamos muitas
vezes na «cultura» como equivalente às «coisas mais elevadas do espírito» –
arte, literatura, música e pintura. Os sociólogos incluem no conceito, estas
atividades, mas também muito mais.
A cultura refere-se aos modos de vida dos membros de uma sociedade, ou de
grupos dessa sociedade. Inclui a forma como se vestem, os costumes de
casamento e de vida familiar, as formas de trabalho, as cerimónias religiosas
e as ocupações dos tempos livres. Abrange também os bens que criam e que
se tornam portadores de sentido para eles – arcos e flechas, arados, fábricas
e máquinas, computadores, livros, habitações.
A “cultura” pode ser distinguida conceptualmente da “sociedade”, mas há
conexões muito estreitas entre estas noções. Uma sociedade é um sistema
de inter-relações que ligam os indivíduos em conjunto. Nenhuma cultura
pode existir sem uma sociedade. Mas, igualmente, nenhuma sociedade
existe sem cultura.
Sendo a diversidade a constatação da presença de várias culturas, é importante
definir dois conceitos relevantes para a discussão da diversidade e desta forma, as
diferenças culturais: multiculturalidade e interculturalidade.
Multiculturalidade
As sociedades multiculturais ocidentais foram constituídas especialmente a
partir do fim da Idade Média com o tráfico da escravatura, mas também com
os fluxos de comércio que levavam à deslocação de bens e pessoas. Mais
tarde, a procura de riqueza provocou os fenómenos de colonização, o que
levou a que muitas pessoas procurassem, sobretudo no chamado Novo
Mundo do continente americano, novas oportunidades de trabalho.
A industrialização criou a necessidade e a oportunidade da migração de
muitos povos da África e da Ásia que procuravam trabalho e melhores
condições de vida tanto no Novo Mundo como na Europa.
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O processo de globalização, patente na disseminação das novas tecnologias,
na circulação de capitais, bens, serviços, informações e ideias entre países e
entre continentes, tem tido um impacto desigual e provocadas acentuadas
disparidades, em termos de distribuição da riqueza nas diferentes partes do
mundo. O aumento da magnitude e âmbito das migrações internacionais é
um reflexo deste processo, havendo atualmente, segundo a Organização das
Nações Unidas, cerca de 200 milhões de migrantes internacionais em todo o
mundo. Muitas sociedades desenvolvidas contemporâneas, designadamente a norte-
americana e as europeias, vivem em situação de multiculturalidade por razões históricas
mais ou menos recentes.
Se considerarmos a Europa Central como um conjunto de países e de culturas caracterizados por uma interpenetração fértil de nacionalidades e uma história partilhada, vemos surgir as suas “cidades multiculturais” como uma das suas especificidades mais marcantes. E elas declinam-se em diversos modos, trate-se de metrópoles de impérios, de capitais regionais ou provinciais, porque são ao mesmo tempo avenidas de passagem, lugares de mestiçagens entre culturas, de rivalidades sociais e de conflitos inter-étnicos.
Os EUA são geneticamente multiculturais, dada a diversidade das populações que os
formaram, o que não significa que a integração dessas populações não tenha sido
problemática, e fonte de uma conflitualidade permanente (recorde-se o genocídio dos
índios autóctones ao longo do séc. XIX, e a luta pelos direitos cívicos das populações
afro-americanas, que chegou ao seu clímax na década de 60 do séc. XX). Apesar, porém,
do racismo e das tensões inter-étnicas, negros e hispânicos são, ali, hoje, minorias cada
vez mais importantes, a par de outras que nunca adquiriram a sua dimensão, como a
chinesa e a italiana.
Na Europa ocidental, há países que desde há décadas absorvem populações oriundas de
outros, e que se tornaram recetores tradicionais de grandes fluxos migratórios: a
Alemanha recebe tradicionalmente turcos, a França argelinos, magrebinos (e
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portugueses, até há pouco tempo atrás), a Inglaterra muçulmanos e hindus
provenientes do seu antigo império ou área de influência: Índia, Paquistão.
Com o alargamento da União Europeia, a abertura interna das respetivas fronteiras
internacionais e a nova pressão migratória Sul>Norte e Leste>Oeste, a Europa recebe
hoje migrantes de outras origens: ucranianos e russos, polacos e romenos, mas também
novas gerações de africanos que tentam a passagem para o Norte desenvolvido através
do Mediterrâneo espanhol.
Esta movimentação massiva de migrantes tem, hoje como ontem, motivações
sobretudo socioeconómicas: por um lado, milhões de pessoas continuam e continuarão
a procurar trabalho fora dos seus países de origem; por outro, a Europa precisa e vai
continuar a precisar de trabalhadores migrantes para reconstituir a sua força de
trabalho, ameaçada por uma demografia estagnada ou em regressão. Assim, nos países
de destino, as zonas empregadoras de mão-de-obra migrantes, sobretudo as suas
principais áreas metropolitanas e respetivas periferias, tornaram-se zonas de interface
étnico, rácico, linguístico, religioso, cultural. A fixação de populações migrantes em
territórios urbanos tradicionais gerou historicamente fenómenos como as Chinatowns e
Little-Italies nos EUA, fomentadas por políticas de receção - comunitaristas‖, que
favoreceram a perpetuação de bairros étnicos.
Desta forma, a situação de multiculturalidade não implica necessariamente a existência
de contactos e interações significativas entre as culturas copresentes, que podem
coexistir no mesmo território ou em territórios contíguos em mera posição de face-a-
face. Mas tende a evoluir para interfaces ora colaborativos, ora conflituais, ora de
ambas as espécies.
Em Portugal viveram, desde sempre, diversas minorias étnicas e religiosas ao
lado da população cristã dominante, ou com elas misturadas. Portadoras de
uma história, cultura e identidade próprias, todas elas contribuíram não só
para o enriquecimento e vitalidade da sociedade portuguesa nos mais
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diversos aspetos, mas também com as suas energias e capacidades para o
desenvolvimento económico do nosso país.
Interculturalidade
A que chamamos, então, interculturalidade? Segundo a UNESCO interculturalidade
remete para a existência e para a interação equitativa de diversas culturas, bem como
para a possibilidade de gerar expressões culturais partilhadas pelo diálogo e pelo
respeito mútuo.
Quando a interculturalidade não se torna o cenário real, por vezes os conflitos
multiculturais dão lugar a fenómenos como os preconceitos sociais, a exclusão social, a
xenofobia e o racismo.
Preconceito
Preconceito, como o próprio nome indica é um conceito formado antecipadamente e
sem fundamento concreto ou razoável; designa uma atitude que deriva de julgamentos
prévios e que leva os sujeitos a avaliar pessoas ou grupos sociais, geralmente de forma
negativa. Este tipo de comportamentos tem como objetivo uma diferenciação social e
conduz à discriminação. O preconceito pode ser definido como uma atitude
desagradável para com um indivíduo, simplesmente porque ele pertence a um grupo
desvalorizado socialmente.
Racismo
O racismo, por sua vez, ao contrário do preconceito, é muito mais do que uma atitude.
O racismo constitui-se num processo de hierarquização, exclusão e discriminação contra
um indivíduo ou toda uma categoria social que é definida como diferente, com base
nalguma marca física externa (real ou imaginada), a qual é identificada em termos de
marca cultural interna que define padrões de comportamento. Por exemplo, a cor da
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pele sendo negra (marca física externa) pode implicar que na perceção do sujeito
(indivíduo ou grupo) seja perspetivado como preguiçoso, agressivo e alegre (marca
cultural interna).
Deste modo, o racismo distingue-se do preconceito por várias características:
O racismo assenta sobre uma crença natural das diferenças entre os grupos,
visto estes possuírem elementos essenciais que os fazem diferentes e o
preconceito não implica a naturalização das diferenças, ou seja, não implica
conhecimento concreto sobre as diferenças que podem existir face a um
determinada etnia, ou grupo cultural.
O racismo, ao contrário do preconceito, não existe apenas a um nível individual,
mas também a nível institucional e cultural, isto porque é uma consequência do
racismo englobar os processos de discriminação e de exclusão social, enquanto o
preconceito permanece normalmente como uma atitude.
Xenofobia
O termo xenofobia provém do conceito grego composto por xenos (“estrangeiro”) e
phóbos (“medo”). A xenofobia faz, deste modo, referência à desconfiança, receio,
hostilidade e medo em relação aos estrangeiros. A palavra também é frequentemente
utilizada em sentido lato como a fobia em relação a grupos étnicos diferentes ou face a
pessoas cuja caracterização social, cultural e política se desconhece.
Curiosidades!
Meios jurídicos de combate à xenofobia: http://www.acidi.gov.pt/_cf/155801
Comissão para a igualdade e contra a discriminação racial: www.cicdr.pt
Alto comissariado para a imigração e o Diálogo Intercultural: www.acidi.gov.pt
Atividade 4 – Explica quais as diferenças entre multiculturalidade e interculturalidade
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2.2. Minorias Étnicas em Portugal
2.2.1. A comunidade cigana (um exemplo)
Atividade 5 – Explica quais as diferenças entre multiculturalidade e interculturalidade
O que pensas sobre as comunidades ciganas em Portugal?
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Durante muito tempo, as comunidades ciganas apenas mantiveram relações
com não ciganos em contextos de trocas comerciais ou de prestação de
serviços, sobretudo nas zonas rurais, onde os ciganos ainda hoje trabalham
em tarefas sazonais. Só recentemente houve a compreensão de que esta
população era alvo de exclusão social e se entendeu ser necessário alterar as
políticas e promover ativamente a sua inclusão.
Quando a ACIDI foi criada, tornou-se claro que os ciganos são uma população
especial, quer pelas suas características culturais, quer pela ausência de
participação na sociedade maioritária. Vivem uma dupla realidade: por um
lado, uma certa “invisibilidade” social no que toca à participação e, por outro,
uma excessiva visibilidade negativa.
Nunca houve propriamente uma política específica para as comunidades
ciganas. Os ciganos podem ser uma “minoria étnica” mas, para todos os
efeitos, são cidadãos portugueses de pleno direito, embora, na prática,
tenham dificuldade na vivência desse estatuto de cidadania e no acesso às
instituições do Estado. Este, por seu lado, tem sempre a tentação de não ter
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em conta particularidades culturais, numa postura que o cigano vê como
uma ameaça à sua especificidade e uma tentativa de assimilação.
A população cigana é a principal minoria étnica europeia. Estima-se que, na
atualidade, vivem na Europa entre sete e nove mil milhões de pessoas
ciganas, das quais, cerca de 2/3 habitam nos países centrais e de leste. A
maioria desta população concentra-se nos países candidatos à adesão e nos
membros mais recentes da União Europeia, tais como Roménia (cerca de dois
milhões e meio), Hungria (600.000), Bulgária (perto de 500.000), República
Eslovaca (cerca de 400.000) e República Checa (cerca de 300.000).
Com a criação da ACIDI, numa primeira abordagem traçaram-se linhas de
intervenção para estudo das comunidades ciganas, procurando elevar-se as
áreas mais sensíveis. Foram criados grupos de trabalho que ajudaram a
encontrar possíveis soluções em vários domínios: a venda ambulante, a
educação, a mediação, a habitação.
A promoção social dos ciganos passa também pelo conhecimento que a
sociedade maioritária tem da sua cultura. Assim, o ACIDI abriu a coleção
“Olhares” que integra estudos sociológicos em torno das temáticas que
envolvem as comunidades ciganas em Portugal, havendo neste momento
sete títulos já publicados.
Curiosidades!
Os livros encontram-se todos online em:
Comunidades ciganas - Alto comissariado para a
imigração e o Diálogo Intercultural: www.acidi.gov.pt
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O tema da diversidade cultural é pertinente não só no âmbito das políticas
sociais, mas também nas filosofias de educação. Uma educação multicultural
ou multiétnica tem vindo a ser defendida, sobretudo nas sociedades
ocidentais, para implementar uma evolução positiva da convivência entre as
diferentes culturas, não de assimilação ou subjugação por parte das culturas
minoritárias da cultura numérica e economicamente dominante, mas de
respeito mútuo pela diferença e defesa da diversidade. Nesse sentido,
quando se fala de educação multicultural pretende-se abranger não só a
educação no seio das minorias étnicas como também a educação de todas as
crianças ou indivíduos, quer estejam inseridos em sociedades multiculturais
ou uni-culturais. Esta educação no respeito pela diversidade cultural pretende
tornar legítima a pluralidade social e étnica, eliminando os preconceitos e os
ideais racistas.
2.3. Deficiência e Desigualdades Sociais
Ao longo da história social da deficiência constata-se que as pessoas assim definidas,
isto é, com deficiências e doença mental, foram objeto de perseguição, segregação,
exclusão, e discriminação, só para mencionar, de uma forma mais ou menos sequencial,
algumas das categorias que caracterizam essa história ao longo dos séculos.
Uma em cada 10 pessoas, ou seja, 650 milhões em todo o Mundo, tem alguma
deficiência. Estudos comparativos sobre Legislação e Deficiência mostram que apenas
em 45 países existem leis anti discriminação e outras leis específicas sobre deficiência
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(ONU). Em alguns países mais de ¼ das deficiências resultam de ofensas corporais
graves e violência (OMS).
Este valor, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, tende a aumentar com o
crescimento populacional, avanços médicos e envelhecimento das comunidades. 80%
das pessoas com deficiência estão em países em desenvolvimento, sendo que a maioria
habita em zonas rurais .
Em países com esperança de vida acima dos 70 anos, as pessoas vivem cerca de 8 anos,
ou 11,5% do seu tempo de vida, com deficiência ou incapacidades.
Estimativas apontam para que ao nível mundial 20% das pessoas mais pobres são
deficientes e que tendem a ser vistas pelas suas próprias comunidades como as mais
discriminadas e desfavorecidas.
Estas pessoas estão entre as mais estigmatizadas, mais pobres, com menor acesso aos
cuidados de saúde, incluindo a sexual e reprodutiva, e que têm os níveis de escolaridade
mais baixos de todo o Mundo, o que só por si constitui um desafio à boa consecução dos
objetivos do Milénio na sua dimensão de responsabilidade dos países.
“Estamos todos cientes que as pessoas com deficiência, as estimativas apontam para 650 milhões de pessoas em todo o mundo, ainda enfrentam limitações específicas e
absolutamente intoleráveis à sua igualdade de participação na sociedade. Consequentemente, é tempo de mudar as legislações, os comportamentos e as
atitudes.”
Directora Executiva de UNFPA,Thoraya Ahmed Obaid, 15/12/2006Idália Moniz, Secretária de Estado Adjunta e da Reabilitação, cerimónia de
assinatura da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, na sededas Nações Unidas, Nova Iorque, 30/03/2007
Atividade 6 – Análise do excerto do texto: “Mais qualidade de Vida para pessoas com deficiência e incapacidades – Uma estratégia para Portugal” Em: http://www.crpg.pt/estudosProjectos/Projectos/modelizacao/Documents/Mais_qualidade_de_vida.pdf
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2.3.1. A Escola Inclusiva
A escola a inclusiva é uma escola onde se celebra a diversidade, encarando-a como uma riqueza e não como algo a evitar, em que as complementaridades das características de
cada um permitem avançar, em vez de serem vistas como ameaçadoras, como um perigo que põe em risco a nossa própria integridade, apenas porque ela é culturalmente
diversa da do outro, que temos como parceiro social.” (César, 2003: 119).
A escola inclusiva, a escola de qualidade para todos os alunos (Ainscow, 1991) faz-se, por um lado por aqueles que se encontram em situações problemáticas e, por outro, por todos os que no momento não vivenciam essas situações. Os primeiros têm de desejar e
querer ultrapassar, até quanto for possível, a situação em que se encontram e os segundos obrigam-se a ter a abertura e a disponibilidade necessárias para os deixar ir,
até onde for possível, e a ajudar a criar as condições necessárias a essa realização. Uns e outros têm a ganhar e a perder na trajetória a percorrer, mas o resultado final será
decerto positivo para ambas as partes, uma vez que, «se, como dizia João dos Santos17 (…) só construímos a nossa identidade por contraponto à existência de outros que se
distinguem de nós, então a inclusividade faz todo o sentido» (César, 2003:119).
Atividade 7 – Análise do excerto do texto: “Da integração à inclusão escolar:cruzando perspectivas e conceitos” de Isabel Sanches & António Teodoro em: http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/rle/n8/n8a05.pdf
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2.4. A representação social da velhice
O envelhecimento da população revela-se como uma tendência positiva, que está
intimamente ligada à maior eficácia das medidas preventivas em saúde, ao progresso da
ciência no combate à doença, a uma melhor intervenção no meio ambiente e,
sobretudo, à consciencialização progressiva de que somos os principais agentes da
nossa própria saúde.
Portugal não foge a este fenómeno mas o envelhecimento da população não se
manifesta de forma homogénea em todo o território. Os fortes movimentos
migratórios, externos e internos, têm deixado mais envelhecido o interior, com a
migração das gerações mais jovens para o estrangeiro e, no território nacional, para os
grandes centros urbanos do litoral.
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As sociedades industrializadas e informatizadas de hoje constroem também o seu
próprio isolamento futuro: não há tempo para conviver, para comer corretamente, para
fazer novos amigos; faz-se uma vida profundamente sedentária, porque não há tempo,
ou meios económicos, para a prática regular de exercício físico.
Somos, pois, agentes ativos do nosso isolamento futuro. No mundo do trabalho,
passamos uma parte da vida a estudar, outra a trabalhar e outra, muito importante, em
tempo de reforma. Esta significa, em muitos casos, viver vinte anos fora de um contexto
social normal. Perde-se estatuto social e diminui-se a capacidade económica. Quer isto
dizer que todos os ganhos de aprendizagem, de conhecimento, de experiência, de
capacidades, não têm lugar, de repente, no contexto social. A sociedade propõe-nos,
pois, vinte anos de lazer ou de vida sem importância social. A injustiça desta forma de
abandono traduz-se em grandes perdas de interesse pela vida, com manifestações
depressivas e de agravamento de estados de doença já existentes.
A sociedade contemporânea rege-se por valores materiais o que implica ter como
principal objetivo a rentabilização da produção em que se privilegiam apenas os
indivíduos ativos. Este especto pode exercer efeitos depressivos nas pessoas o que leva
a situações “stressantes”, geradoras de doenças e que de algum modo poderão diminuir
a capacidade produtiva da pessoa mais fragilizada.
Como o idoso se encontra retirado da esfera do trabalho produtivo, deixando de exercer
funções que inativam a reciclagem e a aquisição de novos conhecimentos, não é difícil
prever que nestas circunstâncias ele tenda ao isolamento, e ao isolar-se assuma cada
vez mais uma situação de dependência. É importante mudar esta perspetiva e
consciencializar a sociedade que os idosos poderão ser muito úteis se soubermos
aproveitar as suas capacidades. Este afastamento do idoso do trabalho encontra
explicação no contexto da cultura ocidental, onde é dominante um modelo de
desenvolvimento, assente fundamentalmente sobre os mitos do crescimento
económico e do produtivismo, do qual resulta uma visão redutora do homem e da
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sociedade, que se encontra dividido entre membros ativos e membros inativos. Por
outras palavras, toda a população que já não é economicamente ativa, que apenas
produz despesa é, de certo modo, posta de parte pois já não contribui de forma positiva
para o desenvolvimento do país. Esta perspetiva é negativa e desmotivante, na medida
em que os próprios idosos interiorizam que já não têm capacidade para serem
socialmente úteis, nem para adquirir novos conhecimentos, e quando são confrontados
com novas situações não estão motivados para as enfrentar.
Esses desafios fazem apelo, nomeadamente, a novas formas de organização e
interajuda, de apoio e prestação de cuidados, particularmente nos casos em que, por
isolamento social ou doença, os recursos estabelecidos não são suficientes nem eficazes
para prevenir a dependência, o abandono e a solidão. É importante criar condições para
que toda a população idosa possa usufruir dos apoios mínimos necessários, espaços
físicos, alimentação, saúde, atividades, para que deste modo possam viver de uma
forma digna até ao fim das suas vidas.
2.4.1. A O processo de envelhecimento
Todos os seres vivos possuem um tempo de vida limitado e sofrem mudanças
fisiológicas com o passar do tempo. A vida de um ser vivo divide-se em 3 fases: fase de
crescimento e desenvolvimento, a fase reprodutiva e a senescência ou envelhecimento.
A fase da senescência caracteriza-se pelo declínio da capacidade funcional do
organismo. A senescência é o processo natural do envelhecimento, o qual compromete
progressivamente aspetos físicos e cognitivos. Segundo a OMS (Organização Mundial de
Saúde), a 3ª idade tem início entre os 60 e os 65 anos.
Fala-se do envelhecimento como um fenómeno exclusivo da 3ª idade. No entanto, o
envelhecimento não é um estado, mas um processo de degradação progressiva e
diferencial. Envelhecer é algo normal e natural, é universal, afeta todos os seres vivos e
o seu termo natural é a morte do organismo. O envelhecimento é um processo
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individual: ninguém envelhece ao mesmo ritmo e da mesma forma, no entanto, O
envelhecimento é um processo inevitável, mas é impossível determinar o seu começo
pois a sua velocidade e gravidade variam de indivíduo para indivíduo.
Infelizmente, muitos de nós quando falamos de pessoas idosas, temos imagens menos
bonitas desta faixa etária, e facilmente confundimos a demência, que algumas pessoas
idosas doentes apresentam, como uma sintomatologia inerente ao envelhecimento. Tal,
no entanto, não corresponde à verdade. Mas se existe um envelhecimento físico,
inevitável, será que existe um envelhecimento psicológico, cognitivo e social?
A sociedade atribui-nos muitas idades: a idade cronológica, a idade biológica, a idade
para andar, para tirar a carta de condução ou para a renovar, a idade da reforma.
Temos também a idade que sentimos que temos e a idade que os outros veem em
nós.
Sempre se acreditou que a velhice se traduzia por uma notável diminuição dos
processos cognitivos. Nos últimos vinte anos, diversas investigações têm permitido
matizar estas afirmações. Hoje podemos afirmar que é possível conservar a saúde
mental até ao fim da vida, e que a maior parte das pessoas o conseguem. A manutenção
da saúde mental na pessoa idosa é, em parte, devida a um envelhecimento bem-
sucedido, que a torna apta a controlar as tensões geradas pelo avançar da idade e pelas
perdas que acompanham essa realidade. Se envelhecer é tornar-se numa pessoa
madura, conservar a maturidade adquirida no decorrer dos anos nem sempre é fácil. Os
problemas psicológicos ligados ao envelhecimento raramente são causados pela
diminuição das capacidades cognitivas.
São sobretudo as perdas do papel social (ex.: reforma), as crises, as múltiplas situações
de stress, a doença, a fadiga, o desenraizamento (ex.: colocação num lar), que diminuem
a capacidade de concentração e de reflexão das pessoas idosas.
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Envelhecer é também aceitar o inevitável, isto é, a perda gradual das funções orgânicas,
a mutilação, a separação, o sofrimento, o confronto com o desconhecido e a morte.
Adaptar-se ao envelhecimento, não é resignar-se, mas antes ter a inteligência de
aproveitar tudo o que ainda se possui, para continuar em atividade e com um papel
importante na família e na comunidade. Envelhecer bem é aceitar a velhice e continuar
a viver recorrendo a estratégias para conservar a auto estima é atingir a sabedoria e a
serenidade para inventar uma nova maneira de viver. O funcionamento mental do ser
humano liga-se às emoções e ao ambiente que o rodeia. Diversos fatores podem então
influenciar de diferentes maneiras, o aparecimento de problemas emotivos nas pessoas
idosas.
A mudança de papel
A passagem de um papel tradicional e utilitário tanto para a família como para a
sociedade, para um papel mais passivo traz habitualmente problemas psicológicos. Para
se ultrapassar esta fase é necessário que a pessoa idosa adquira novos papéis,
mantendo-se ativa e útil. A falta de ocupação tem efeitos nefastos sobre a perceção de
si, e pode conduzir à depressão.
O estatuto familiar e conjugal
A família e os amigos constituem muitas vezes a principal rede de suporte das pessoas
idosas. A sua separação da família ou dos amigos, qualquer que seja a causa, leva à
solidão, que por sua vez vai aumentar a insegurança e bloquear seriamente a
capacidade de adaptação.
Sentimento de impotência
As pessoas idosas deprimidas que têm uma diminuição da sua autoestima, sentem
dificuldade em se motivar para aprender e para fazerem um esforço de memorização.
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2.5. Pobreza e Exclusão Social
Produzem-se situações de exclusão social porque a sociedade não oferece a todos os
seus membros a possibilidade de todos esses direitos nem de cumprir alguns deveres
que lhes estão associados. O resultado é o das pessoas desfavorecidas perderem o
estatuto de cidadania plena, quer dizer, se verem impedidos de participar nos padrões
de vida tidos por aceitáveis na sociedade em que vivem.
Na definição de exclusão social está implícita a ideia do seu oposto, designado por
integração social ou inserção social. O trabalho exerce um papel integrador na
sociedade, daí que um emprego, mesmo que precário e mal pago, é preferível ao
desemprego, mesmo que o este corresponda um subsídio de desemprego razoável. A
fase extrema da exclusão social é caracterizada, não só pela rutura com o mercado de
trabalho, mas por ruturas familiares, afetivas e de amizade.
A exclusão social abrange formas de privação não material, ultrapassando a falta de
recursos económicos (que caracteriza a pobreza). A falta de recursos sociais, políticos,
culturais e psicológicos são considerados pelo conceito de exclusão social e são
importantes enquanto dimensões estratégicas de análise.
A exclusão configura-se como um fenómeno multidimensional, na medida em que
coexistem, dentro da exclusão, fenómenos sociais diferenciados, tais como o
desemprego, a marginalidade, a discriminação, a pobreza, o estigma, etc. As sociedades
europeias debatem-se, presentemente, com alguns tipos de problemas sociais que têm
vindo a preocupar cada vez mais os poderes públicos e os cidadãos em geral.
Nomeadamente os respeitantes à pobreza, às minorias culturais, aos idosos, ao
desemprego e aos sem-abrigo.
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100 Razões – 100 Abrigo
António Bento e Elias Barreto, na obra “Sem-Amor, Sem-Abrigo”, exploram esta
questão, reunindo uma série de situações comuns ao sem-abrigo, a saber:
Aqueles que vivem na rua;
Aqueles que ocupam, legal ou ilegalmente, casas abandonadas, barracas, etc;
Aqueles que se encontram alojados em refúgios ou centros de acolhimento
para sem-abrigo, quer do sector público, quer do privado;
Aqueles que vivem em pensões, camaratas ou outros refúgios privados;
Aqueles que vivem com amigos ou familiares, com os quais podem ver-se
forçados a coabitarem;
Aqueles que residem em instituições, estabelecimentos de cuidados infantis,
hospitais, prisões e hospitais psiquiátricos, e que não têm domicílio ao sair
destas instituições,
Aqueles que possuem uma casa, que, não se pode considerar adequada ou
socialmente aceitável, convertendo-se por isso em pessoas ou famílias mal
alojadas.
(Adaptado de Munoz e Vásquez, 1998, cit in: Bento, A. e Barreto, E. 2002:26)
As taxas de pobreza, os baixos salários, a crescente precarização do emprego e
desemprego, são dos maiores fatores que aumentam a população sem-abrigo em
Portugal. Além disso a impossibilidade, muitas vezes, de retomar um novo emprego em
caso de situação de emprego. “Vivemos nós, num mercado de trabalho cada vez mais
competitivo, exigente e precário, aqueles com menos educação e qualificação,
encontram-se facilmente vulneráveis neste campo.” (Bento, A. e Barreto, E. 2002:33)
A segurança de um emprego para toda a vida perdeu-se, embora a sociedade viva nessa
ilusão e otimismo, ou indiferença face à realidade, não criando novas formas, e
adaptações contras as dificuldades.
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Acrescentando ao fator económico, as perturbações psiquiátricas são uma evidente
causa de desintegração da sociedade, pois a existência de graves problemas mentais,
nesta população, condiciona fortemente as suas possibilidades de inserção.
A nível da desafiliação, que é outro dos fatores em ter em conta, quando se estuda este
fenómeno, são vários estudos têm evidenciado as relações interpessoais, fator de
inclusão na sociedade e inexistência ou fracas relações, exclusão social. A falta de poder
económico e o desemprego, atrás referido, muitas das vezes favorece “(…) a quebra dos
laços familiares e de amizade, caminhando-se lentamente para um processo de
isolamento e solidão, passando-se a contar apenas com outros indivíduos em condições
semelhantes, com quem se estabelecem, frequentemente relações meramente
funcionais, longe de se poderem constituir enquanto elementos efectivos de suporte.
(Baptista, I. 2004, cit in: Colectânea de ensaios CAIS, 2004:36)
Bento e Barreto (2002), descrevem-nos os Sem-Abrigo, da seguinte forma:
“No seu mundo interno, predominando a angústia de abandono; na sua vida afectiva, predominando as vinculações inseguras; na sua vida relacional, predomina o isolamento. A ruptura emocional, a ausência de um sentimento de pertença familiar, o empobrecimento da sua rede de relações sociais primárias; socialmente a sua desafiliação, a frouxidão dos laços com as instituições, a sua situação de exclusão social, mas também de auto marginalização” (Bento, A. eBarreto, E. 2002: 244).
A auto marginalização, aparece aqui descrita, como também um problema social,
relacionado com alguns casos de sem-abrigo que se autoexcluem, pelas constantes
tentativa de falhadas de integração e reinserção social na sociedade. O indivíduo, perde
a vontade de se integrar e aceita a sua condição social, fazendo a rua o seu lar. Alguns
dos técnicos que trabalham diretamente esta problemática, têm já nesta fase de
autoexclusão, problema em levar a pessoa a acreditar, mais uma vez, nela própria, para
sair da condição em que se encontra. A autoexclusão é dos problemas que aumenta a
condição de fraca autoestima, atentando, a um nível interno, contra a dignidade do ser
humano implicado.
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2.6. Desigualdades entre géneros
Espera-se das mulheres obediência, submissão, alguma beleza e sobretudo muito
trabalho. Dos Homens espera-se força, competitividade, autoridade e pouco
sentimentalismo. Estas diferenças acreditam-se como inevitáveis, um dado da
“natureza”, realidades baseadas no sexo da pessoa. Mas prova-se, no dia-a-dia não
serem senão construções sociais e culturais enraizadas numa forma de ser biológica,
mas que dela se diferencia. Chamamos-lhe género e são as identidades passíveis de
modificação. Por isso se procura chegar à igualdade de género, ou seja, igualdade de ser
e estar para todas as pessoas, e não igualdade entre os sexos, o que não é desejável,
nem possível.
A igualdade de género, mais do que um princípio abstrato, mais do que uma compilação
de dados ou leis que raramente são cumpridas, deveria ser olhada como uma forma de
vida. (Alves, 2009)
Atividade 8 – Comente as imagens anteriores
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