Upload
paulo-sousa
View
252
Download
0
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Sebenta Algarve
Citation preview
ESPAA, 2012/13 — Área de Integração, Tema 4.1: A identidade regional — Professor Paulo Sousa p. 1
Neste tema estudaremos a região. A primeira parte será teórica, a segunda será prática. Sugere-se ao alunos que alunos observem bem o que se passa à sua volta e aproveitem para dar alguns passeios, falar com os mais velhos e prestar atenção às pessoas ao lado de quem viajam nos autocarros.
I – Factores físicos ou naturais 1. Geologia e morfologia
1.1. História geológica do Algarve
A geologia é a ciência que estuda a constituição, a formação e a evolução das rochas e o movimento das
placas tectónicas. O estudo geológico de uma região permite-nos compreender algumas das condições e
potencialidades que ela tem, por exemplo, para as actividades económicas, os recursos hídricos, o
planeamento urbano ou as normas a ter em
conta na construção de edifícios e obras
públicas, por exemplo.
O Algarve é uma zona sensível aos riscos
sísmicos, devido: 1) à proximidade do banco de
Gorringe (E-SW de Sagres) e de outras
importantes falhas tectónicas ativas. A
actividade sísmica pode ser observada e em
http://www.meteo.pt/pt/sismologia/actividade/. Ao longo
da serra algarvia, em especial na Serra de
Monchique, ocorrem semanalmente vários
pequenos sismos que não são sentidos pelas
pessoas (círculos brancos na imagem). Os
sismos registados ao longo da costa
acompanham a falha que separa as placas
europeia e africana, que se deslocam a velocidades e em direcções diferentes, criando linhas de tensão. As
regras de construção e os planos da Protecção Civil, por exemplo, têm de ter em conta a possibilidade de
ocorrência de um grande sismo. Tendo em conta a regularidade de, aprox., 200 anos entre grandes sismos e
o facto de o último ter ocorrido há 260 anos, há cerca de 50 anos que se espera o próximo.
Rochas do Algarve
Existem na região três grandes tipos de rochas: plutónicas, sedimentares e metamórficas. Correspondem a
diferentes períodos da história geológica da região. Os processos através dos quais se formaram essas
rochas e os solos da região são igualmente diferentes.
Rochas plutónicas:Algumas das rochas do Algarve testemunham os movimentos das placas e alguma
atividade vulcância ocorrida no passado: na Serra de Monchique encontramos uma grande massa de rocha
plutónica (sienito) que se formou a grande profundidade, arrefecendo lentamente, caracterizada por grandes
critais (quanto mais rápido é o arrefecimento, menores são os cristais). O sienito é uma rocha de aspecto (e
origem) semelhante ao granito, mas de diferente composição química. Junto à localidade da Nave existe uma
pedreira, da qual se extrai sienito para a produção de rochas ornamentais e outros fins. As fontes termais
(fontes de água quente) das Caldas de Monchique indicam a presença de falhas geológicas activas: são
zonas onde o calor do interior do planeta chega mais perto da superfície.
15/10/2012
ESPAA, 2012/13 — Área de Integração, Tema 4.1: A identidade regional — Professor Paulo Sousa p. 2
Na praia da Luz existe um conjunto de chaminés vulcânicas, uma das quais se pode visitar durante a maré
vazia.
No talude da estrada IC4, imediatamente abaixo do hospital do Barlavento, é visível um tufo de basalto, uma
rocha vulcânica: uma “bolha” de rocha líquida subiu quase até à superfície e aí se solidificou. O calor da rocha
líquida “cozeu” e alterou as rochas sedimentares que já aí existiam, alterando a sua cor e a sua composição
química. Isto significa que antes de se formar o referido tufo basáltico já se tinham formado as rochas
sedimentares que o rodeiam.
O vulcanismo da região é muito antigo e já não há vulcões propriamente ditos. No entanto, é de notar que
actividade tectónica da região é muito intensa, havendo diversas falhas activas. A superfície do planeta Terra,
em particular a dos continentes, está dividida em grandes placas que se deslocam constantemente, mais ou
menos à velocidade a que crescem as unhas das mãos (se imaginarmos que as unhas crescem três cm por
ano, em duzentos anos teremos um crescimento de 6m). As falhas geológicas são fracturas nas placas
continentais ou entre as placas continentais. Quando as placas se empurram umas às outras, a tensão
acumula-se até atingir um ponto de ruptura. Nesses momentos, como aconteceu nos terramotos de 1755 ou
de 1969, as placas ou os dois lados de uma falha podem deslocar-se vários metros. Estima-se que em 1755,
ano em que o Algarve foi arrasado pelo grande terramoto de 1 de Novembro, as placas se tenham deslocado
ca. 4m.
Rochas sedimentares: estas rochas formam-se através da deposição de materiais arrastados de outros
locais, por acção do vento ou de águas correntes (rios, enxurradas), ou precipitados em ambientes de águas
calmas, como lagos e lagunas. Podem consistir em brechas (conglomerados de seixos, areias e lama que
depois se petrificam), arenitos (areias cimentadas – coladas – com calcário), margas, argilas, grés ou calcário.
De entre estas, o grés de Silves é uma rocha que sobressai, devido à sua invulgar cor vermelha.
Na fotografia acima (http://www.dct.uminho.pt/pogp/telheiro/telheiro_p.html), de uma excepcional formação rochosa da em
Ponta do Telheiro, Vila do Bispo, observamos várias camadas de épocas geológicas diferentes: a) cascalhos
de uma antiga praia do quaternário (até 2 MA = 2 milhões de anos), que entretanto se elevou 30 m acima no
nível do mar devido a movimentos tectónicos; b) arenito do Triásico (grés de Silves – 250 a 205 MA) sobre d)
camadas pregueadas do Carbónico marinho (360-268 MA). O ponto c) corrsponde a um movimento tectónico
ocorrido há ca. 55 MA, na sequência do qual terão sido arrastados para o mar entre 3 e 5 Km da faixa
costeira. e) Superfície actual da plataforma de abrasão marinha, predominantemente rochosa devido à forte
acção erosiva do mar.
As rochas calcárias formam-se em ambientes aquáticos. Algumas podem resultar de antigos recifes de coral
fossilizados, formando um tipo de pedra de alto valor decorativo chamada lioz (a pedra usada para decoração
nesta escola, sendo que em algumas delas são bem visíveis os cortes dos braços de antigos corais ou a
ESPAA, 2012/13 — Área de Integração, Tema 4.1: A identidade regional — Professor Paulo Sousa p. 3
forma de esponjas e de bivalves). Todavia, as rochas calcárias mais frequentes, formaram-se por deposição
dos esqueletos calcários de organismos microscópicos, ao longo de milhões de anos.
As rochas sedimentares são típicas do barrocal e do litoral,
ocorrendo também em algumas zonas de serra, como pode Têm
outros aproveitamentos, conforme as suas características:
construção, produção de cal e cimento (Loulé), gravilha, blocos
para calçadas, cantarias, etc.
A oxidação/transformação das rochas calcárias produz terra
rossa, que está na origem de solos de boa aptidão agrícola. Por
outro lado, tanto as rochas calcárias como os grandes depósitos
subterrâneos de areias e arenitos funcionam como grandes
esponjas que retêm as águas e permitem a formação de lençóis
de água subterrâneos. São elas que permitem a existência dos
grandes aquíferos (depósitos subterrâneos de água doce) da
região.
(Fotografias: em cima, ponta João d’Arens, Portimão, por P.
Sousa; em baixo, Algar Seco, Lagoa – fonte: alovelyworld.com)
As cavidades onde a água se armazena formam-se por
alteração química: são rochas alcalinas que a água da chuva,
ligeiramente mais ácida, vai dissolvendo lentamente. Aliás, é de
notar que geralmente as rochas sedimentares são muito susceptíveis de erosão. As arribas da costa sul da
região, formadas por rochas pouco duras, sofrem um constante e rápido processo de erosão, formando-se
algares que abatem sucessivamente. Apesar de ser muito apetecível construir habitações ou hotéis na orla
das arribas, devido à vista, isso é muito perigoso, devido à constante erosão, podendo até acelerar esse
processo. (em baixo: Mapa geológico do Algarve (simplificado), retirado de http://rochadapena.no.sapo.pt/pages/enquadr_geolog.htm)
ESPAA, 2012/13 — Área de Integração, Tema 4.1: A identidade regional — Professor Paulo Sousa p. 4
Areias, cascalheiras e outros aluviões: correspondem a antigos depósitos fluviais ou marinhos. Reagra geral,
são do quaternário, ou seja, formaram-se nos últimos 2 MA.
(Uma curiosidade: Na imagem acima, “Mapa morfológico…”, repare- e que a falha que percorre o Algarve no sentido W-E foi
cortada, perto de Portimão, por uma outra falha mais recente cujos lados deslizaram ca. 3 Km.)
Rochas metamórficas: metamorfose significa transformação. As rochas metamórficas formam-se por
transformação de rochas mais antigas, através do calor, da pressão e ou de alterações químicas. Surgem no
interior e na costa vicentina, sobretudo sob a forma de xistos e argilas. São geralmente rochas muito antigas.
Regra geral, os xistos estão associadas a solos pobres e sem aptidão agrícola. Por serem antigas, perderam
muitos dos minerais que poderiam ter interesse para o crescimento das plantas. Quando apodrecem, por
degradação química, dão origem a cascalhos e barros estéreis, densos e pouco permeáveis: as raízes das
plantas não os penetram facilmente; absorvem pouca água das chuvas e facilitam a formação de enxurradas,
que arrastam a camada superficial do solo e são agravadas pela escassa cobertura vegetal, em parte
resultante da intensa desflorestação a que algumas áreas foram sujeitas.
1.2. Relevo e sua formação
O relevo da região divide-se em três grandes sectores: serra, barrocal e litoral. A serra é, em geral, formada
pelos relevos e rochas mais antigos, encontrando-se muito erodidos e suavizados. O litoral caracteriza-se
pelas camadas geológicas mais recentes. As características de cada um destes sectores condicionam a
ocupação humana e as actividades que podem ser desenvolvidas:
1.2.1. Litoral: consiste na faixa costeira e caracteriza-se por terras mais ou menos planas, com poucos
relevos, quer a costa costa seja alta (arribas) ou baixa (praias e estuários), exceptuando-se a costa ocidental.
O facto de a faixa litoral ser constituída por terras mais ou menos planas torna-a propícia para a agricultura,
quando os solos e a disponibilidade de água o permitem, e para a construção. A existência de praias extensas
e acessíveis levou, nas últimas décadas, a uma urbanização intensiva (e, muitas das vezes, descuidada e
sem planos de ordenamento).
O litoral tem áreas bastante diferentes, conforme os tipos de costas e com o ambiente envolvente. Algumas
dessas áreas foram desde cedo muito atractivas, ao passo que outras só há pouco tempo deixaram de ser
repulsivas. As áreas mais atractivas são aquelas em que foi possível a construção de portos (quase todos
piscatórios), sobretudo se na orla costeira existissem terras aráveis e mais ou menos férteis. Onde os solos
têm pouca aptidão agrícola, ou nos locais mais remotos, as comunidades cresceram menos e mais
tardiamente.
Neste momento estão atribuídas concessões para prospecção e exploração de petróleo e gás natural ao largo
da costa, podendo haver novas oportunidades económicas.
Devido à proximidade do mar, as temperaturas são amenas ao longo do ano, por comparação com o interior e
com o resto de Portugal Continental.
1.2.2. O barrocal caracteriza-se por relevos suaves e pouco elevados, predominando as margas e os
calcários (jurássico e cretácico). Foi razoavelmente povoada até meados do Séc. XX, por ter algum potencial
agrícola. Predominam os solos alcalinos (Ph >6), associados a rochas sedimentares carbonatadas do
Jurássico e do Cretácico (calcários e margas). Porém, o relevo, mais acentuado que no litoral, dificulta
algumas culturas. O seu povoamento é mais ou menos disperso, marcado por alguns centros urbanos.
Coincide com grande parte dos aquíferos subterrâneos da região. Permite a exploração agrícola, sobretudo
ESPAA, 2012/13 — Área de Integração, Tema 4.1: A identidade regional — Professor Paulo Sousa p. 5
se houver disponibilidade de água. É nesta faixa que se encontra a maior parte dos vestígios arquológicos de
povos antigos (como em Alcalr) e as antigas cidades importantes do Algarve, como Silves ou Loulé.
Em cima: Principais características geomorfológicas do Algarve, com a localização da Serra, Barrocal e Litoral (Litoral Ocidental e Litoral
Meridional: Barlavento e Sotavento) e as pricipais falhas geológicas (adaptado de Feio, 1952 e Dias, 2001 pelo site
http://rochadapena.no.sapo.pt/pages/enquad_geog_geomorf_rp.htm).
Em baixo: relevo do Algarve. A castanho, as áreas mais elevadas; a verde, as de menor altitude
1.2.3. A serra ocupa 50% do território do Algarve. Divide-se em três conjuntos distintos: Espinhaço de
Cão, Monchique e Caldeirão. Sendo verdade que as elevações não atingem grandes altitudes, com a
excepção da Fóia e da Picota, a verdade é que são relevos íngremes e de solos pobres e que não permitem o
cultivo de grandes áreas e dificultam a mecanização. Os solos são, em regra, magros (muito pouco
profundos) e ácidos. Daí, neste sector são poucas e más as condições para a prática da agricultura, estando
ESPAA, 2012/13 — Área de Integração, Tema 4.1: A identidade regional — Professor Paulo Sousa p. 6
esta limitada a pequenas várzeas (terrenos planos, de aluvião, junto aos leitos dos rios e ribeiros) e a
socalcos/terraços.
O principal recurso disponível nas serras é a floresta, a qual permite algumas actividades: apicultura,
pastorícia e indústrias madeireiras.
A serra é a parte do território que se situa mais para o interior e ocupa uma grande parte do território. É
composta por grandes elevações e por inclinações acentuadas. Tem pouco potencial agrícola e não facilita a
fixação de pessoas ou de actividades económicas. A zona da serra está dividida em três grandes sistemas:
Monchique, Espinhaço de Cão e Caldeirão. Estes dois não atingem altitudes muito elevadas, mas os seus
relevos acentuados fazem deles áreas repulsivas.
A flora das serras foi muito alterada devido à acção humana ao longo de séculos. As antigas florestas
mediterrâneas, supostamente semelhantes àquela que encontramos na Mata do Solitário, na Serra da
Arrábida (Setúbal-Sesimbra), desapareceram há muito. Os antigos sobreiros e azinheiras também
desapareceram de muitas áreas. Na sua maior parte as encostas encontram-se cobertas por plantas de
pequeno porte, de espécies adaptadas à secura: medronheiro, aroeira, rosmaninho, carrasco, urze, alecrim,
rosmaninho e esteva. Nas encostas mais degradadas, subsiste apenas a esteva, o que representa um sinal
de risco de erosão e de desertificação iminente.
As serras do Algarve influenciam o clima da região (embora não sejam os únicos factores), funcionando como
barreiras à circulação das massas de ar e acumulando ar quente nas encostas viradas para Sul. A norte das
serras e na costa ocidental predominam os ventos de NW; no sul do território, os ventos de NW dão lugar
muitas vezes a ventos de SE (Levante), de E e de SW (geralmente associado a mau tempo). As serras
protegem a costa sul dos ventos fortes do quadrante Norte
Para além de tenderem a dificultar a passagem de algumas massas de ar, as serras obrigam outras a passar-
lhes por cima. Iso faz com que o ar arrefeça e facilite a precipitação. Quanto maior for a altitude que as
massas de ar têm de superar, maior será a tendência para ocorrer precipitação.
O povoamento destas áreas é muito diferenciado, devido às características físicas e ao potencial económico
de cada uma delas.
1.3. Tipos de solos
Na sua maior parte, os solos da região são pobres e pouco aptos à agricultura. A faixa mais fértil é a do
barrocal, com solos que por vezes são ricos, que permitem culturas mais ou menos produtivas. Os solos mais
ricos estão localizados junto às localidades mais antigas. Estas foram aí fundadas exactamente devido à sua
aptidão para a agricultura.
No Sotavento, os solos da orla costeira são formados essencialmente por areias e o teor de sal é muito
elevado, dificultando o crescimento das plantas cultiváveis. Quando estes solos arenosos e salgados
terminam começam os solos esqueléticos (muito finos, sem húmus e sem nutrientes), barrentos e pedregosos
da serra. Estes solos deterioraram-se em grande parte por acção humana, nomeadamente devido à
desflorestação. Em muitos deles já só crescem estevas, plantas que correspondem à última etapa antes do
início da desertificação.
ESPAA, 2012/13 — Área de Integração, Tema 4.1: A identidade regional — Professor Paulo Sousa p. 7
2. Recursos hídricos
A importância de se falar das bacias hidrográficas é a de conhecer quais são os recursos hídricos da região e
a forma como as águas circulam. Deste conhecimento depende o ordenamento do território, com destaque
para o planeamento urbano e para o licenciamento de actividades económicas:
Quais são os recursos hídricos existentes?
Como se pode captar água para uso doméstico e industrial/agrícola?
Quais sãos as reservas necessárias para fazer frente a eventuais situações de crise?
quais são as culturas mais rentáveis e quais são as suas necessidades de água?
quanta água consome um campo de golf?
como se devem tratar e reaproveitar, ou não, as águas residuais produzidas pelas actividades
económicas (incluindo a agricultura e os campos de golf) ou pela população?
...etc.
Fig.3: Principais aquíferos do Algarve.
Os principais aquíferos da região situam-se nas zonas de rochas calcárias e aluviões quaternários (barrocal e
litoral). Dos vários sistemas apresentados na figura acima, o mais importante é o de Querença-Silves. Estes
diferentes lençóis de água subterrâneos têm sido explorados ao longo das últimas décadas. No entanto, a
reposição das suas águas é muito demorada, podendo eles esgotar-se se não se obtiver água por outras vias.
Por outro lado, a extracção de águas subterrâneas e a consequente descida dos níveis dos lençóis de água
faz com que haja intrusão de água salgada no subsolo, contaminando os depósitos naturais de água doce.
Daí a necessidade de construção de barragens.
Esta necessidade torna-se mais urgente devido à irregularidade e à escassez das chuvas que caiem na
região, sendo muitas as partes do território onde não caem mais de 500 mm de chuva por ano (o que é
considerado um valor baixo). Assim, a chuva que cai durante o semestre húmido pode ser guardada para ser
utilizada durante o semestre seco; e aquela que cai durante os anos em que chove pode ser usada nos anos
em que há seca. O ideal é haver reservas que garantam pelo menso dois anos de consumo.
ESPAA, 2012/13 — Área de Integração, Tema 4.1: A identidade regional — Professor Paulo Sousa p. 8
As principais albufeiras são, de W para E, as das barragens da Bravura, de Odelouca (em construção), do
Arade, do Funcho e do Beliche. Elas encontram-se interligadas para que em caso de necessidade se possa
transferir águas de umas para outras. Essa possibilidade é fundamental em caso de seca.
A necessidade de garantir água não só para abastecimento doméstico como para garantir e requalificar a
actividade turística (em especial com a aposta na abertura de novos campos de golf destinados aos turistas
mais endinheirados do N da Europa que se deslocam para passar o Inverno na região) levou à decisão de se
construir a barragem de Odelouca, entre Portimão e Silves. Leva também a pensar em recuperar e
reaproveitar águas residuais, de maneira a não desperdiçar um recurso precioso.
A agricultura é outro sector para o qual a disponibilidade de água é vital, sendo de aproveitar o potencial da
região para a produção de primores ou de culturas que amadurecem muito antes das de outros países da
Europa.
Fig. 4: Pricipais cursos de água e albufeiras do Algarve. Nesta imagem ainda não está representada a
abarragem de Odelouca.
(http://www.cvrm.ualg.pt/projectos/malgar/publ_archive/10_LNEC-2007-jpm_ok.pdf
http://www.ccdr-alg.pt/ccdr/parameters/ccdr-alg/files/File/upload//Ambiente/RecHid_Rel/Recursos_Hidricos_200805.pd)
3. Clima
O Algarve apresenta um clima do tipo mediterrâneo, caracterizado pela existência de um semestre chuvoso
que coincide com a estação fria e um semestre seco na época quente.
Precipitação: As zonas com maiores valores da precipitação anual são as montanhosas: a serra do Caldeirão,
com um máximo de 1 621 mm, em Barranco do Velho, a 475 m de altitude, e a serra de Monchique com um
máximo de 2 081 mm, em Monchique, a 465 m de altitude. A zona com valores mais baixos da precipitação
anual é o litoral, com o mínimo de 230 mm, em Vila Real de Santo António, a 7 m de altitude.
Em termos médios, a precipitação anual varia entre 1 277 mm e 406 mm, com o valor médio ponderado de
653 mm para todo o Algarve. No que respeita à variação mensal, cerca de 80% da precipitação ocorre no
semestre húmido e 20% no semestre seco. Em termos médios o mês mais chuvoso é o de Dezembro, com
ESPAA, 2012/13 — Área de Integração, Tema 4.1: A identidade regional — Professor Paulo Sousa p. 9
cerca de 17% da precipitação anual, seguido dos meses de Novembro e de Janeiro, com cerca de 15%
daquela precipitação. Os meses menos chuvosos são os de Julho e Agosto, com menos de 1% da
precipitação anual média, seguindo-se Junho e Setembro com, respectivamente, 2 e 3% daquela
precipitação.
Temperatura: No Algarve, a temperatura média anual situa-se entre 17 ºC, em Faro, e 15 ºC, em
Monchique,apresentando uma variação regular ao longo do ano, atingindo os valores menores em Janeiro e
os máximos em Agosto. A amplitude térmica anual, que não é muito importante na região comparativamente a
outras regiões do país, varia desde um mínimo de 6,3 ºC, no Cabo de S. Vicente, até um máximo de 16,5 ºC,
em Ameixial.
Fonte: http://www.meteopt.com/forum/climatologia/clima-no-algarve-1405.html
O Algarve desfruta, ao longo de todo o ano, das melhores condições climatéricas da Europa. O seu clima é
ameno, com temperaturas menos extremas do que as do resto de Portugal Continental: invernos menos frios
e verões menos quentes. Estas características devem-se à influência do mar e ao facto de as massas de ar
que afectam o Algarve serem muitas vezes diferentes daquelas que afectam o resto do continente.
A precipitação concentra-se sobretudo entre Novembro e Março e não é, em geral, abundante. No entanto, é
frequente ocorrerem chuvas torrenciais, podendo em poucas horas cair um quinto da precipitação de um ano
inteiro. Estas chuvas torrenciais são destrutivas e não chegam a ser absorvidas pelo solo.
O número de horas de sol por ano é muito elevado.
No conjunto, a região apresenta óptimas condições meteorológicas para o desenvolvimento da actividade
turística.
A distribuição irregular da precipitação condicionou desde sempre a agricultura. Este obstáculo foi desde cedo
ultrapassado pelas técnicas introduzidas pelos povos árabes, os quais introduziram plantas e técnicas de
irrigação e de cultivo que lhes permitiam optimizar o rendimento das terras.
Os verões secos e quentes propiciam a ocorrência de fogos florestais. A escassez de precipitação torna a
região muito sensível a secas.
ESPAA, 2012/13 — Área de Integração, Tema 4.1: A identidade regional — Professor Paulo Sousa p. 10
I –Factores físicos (continuação)
As características físicas da região são importantes para podermos compreender a forma como se
desenvolveram e se desenvolvem ainda as actividades e a ocupação humanas: o relevo, os solos, o clima e a
localização do território dependem directamente desses factores, os quais condicionam, por outro lado, muitas
das oportunidades de desenvolvimento da região.
2. Recursos naturais
A região não é rica em recursos que possibilitem actividades económicas muito lucrativas nos dias de hoje.
No entanto, os recursos existentes na região tinham, no passado, alguma importância, uma vez que a base
da economia (da produção de bens e riqueza) era o sector primário: agricultura e pescas.
As condições para a agricultura não são/eram muito favoráveis, excepto em algumas áreas relativamente
pequenas. As terras aráveis situam-se sobretudo nos vales dos rios e em alguma áreas do barrocal. O regime
de chuvas limitou o tipo de culturas praticáveis até ao período árabe, durante o qual se
desenvolveram/introduziram técnicas de irrigação e de cultivo, bem como novas plantas, que possibilitaram
um aproveitamento mais intensivo e diversificado dos solos. A ocupação dos solos e o desenvolvimento de
povoações desde a proto-história (neolítico e idade do cobre – a época em que foram construídos os
monumentos de Alcalar) fez-se quase sempre junto daquelas terras aráveis. Durante o século XX e já no
século XXI, o crescimento urbano tem sido feito à custa da destruição de algumas das melhores terras de
cultivo, à beira das quais se situavam os povoamentos mais antigos. No final do Séc. XX tentou-se atenuar
este problema através da criação da Reserva Agrícola Nacional (REN) e dos planos directores municipais
(PDMs)...
Fig 1: Área artificializada por Unidade de Paisagem, entre 1985 e 2000
As pescas têm tido grande
importância desde pelo menos o
período romano. Nesta época era
muito procurado o atum, o qual era
exportado (os árabes também o
procuravam – foram eles que
introduziam o termo almadrava, que
designa uma armação de pesca do
atum que remonta à época romana.
A almadrava é/era uma gigantesca
armadilha para a qual os atuns
eram/são conduzidos para depois
serem chacinados). Outra das
exportações de pescado eram as
conservas (salgadas) de peixe e o
garum, um molho que se obtinha por fermentação do pescado em tanques próprios. Alguns destes tanques,
chamados cetárias, ainda são visíveis no sítio arqueológico de Cerro da Vila, em Vilamoura.
Fig. 2: Praia do Barril: âncoras utilizadas nas armações de pesca do atum (almadrava)
ESPAA, 2012/13 — Área de Integração, Tema 4.1: A identidade regional — Professor Paulo Sousa p. 11
Os recursos minerais não são abundantes, se exceptuarmos a
pedra. Desde a antiguidade foram sendo explorados alguns filões
de minério de cobre, como o do Parque da Mina (Monchique?) e
o da Cova dos Mouros (Alcoutim), mas trata-se de explorações
pouco importantes para os padrões actuais. Em Loulé existem
minas de sal-gema, cuja utilização é sobretudo industrial: o sal-
gema, ou halite, é cloreto de sódio, ou seja, o mesmo que o sal
de cozinha, mas é extraído em minas, não a partir da água do
mar. Destacam-se ainda, em Monchique, a exploração de água
termal e de rochas ornamentais (sienito).
As florestas da região são escassas e pobres. A intensa exploração ao longo dos séculos empobreceu-a e
levou a que em algumas áreas ela não se renovasse. Das principais árvores nativas destacam-se o sobreiro e
a azinheira, o medronheiro (que pode ter o porte de árvore se o solo e a humidade disponível o permitirem), o
zambujeiro (oliveira selvagem). Essas árvores cobriam praticamente toda a serra, mas o seu abate e a
consequente perda de solo (arrastado pela chuva e não renovado pelos restos de folhas e ramos caídos e
apodrecidos) fizeram com que algumas áreas da serra se transformassem em desertos onde apenas crescem
estevas (as últimas plantas a resistir à desertificação).
Fig 3: Índice de susceptibilidade à desertificação
Mais tarde foram introduzidas espécies cultivadas, como o pinheiro manso e o eucalipto. No entanto, estas
espécies, em especial o eucalipto, quando são cultivadas de forma extensiva e exclusiva, são pouco
favoráveis à fixação de outras espécies vegetais e, consequentemente, à vida animal; além disso, consomem
grandes quantidades de águas subterrâneas e empobrecem os solos. Por outro lado, constituem um dos
poucos recursos económicos disponíveis na serra.
ESPAA, 2012/13 — Área de Integração, Tema 4.1: A identidade regional — Professor Paulo Sousa p. 12
Recentemente foi lançado um projecto de produção de energia eléctrica a partir de biomassa, ou melhor, de
restos florestais. Esta forma de produção de energia incentiva a limpeza das florestas, diminuindo os riscos de
fogos florestais. Nas zonas de serra, especialmente em Vila do Bispo e em Monchique, foram recentemente
instalados parques eólicos que ajudam a regularizar o abastecimento de energia eléctrica à região.
Fig 4: Áreas ardidas,
por anos (2003-2005) – em
cima
Fig. 5: Uso do solo em 2000 –em baixo
ESPAA, 2012/13 — Área de Integração, Tema 4.1: A identidade regional — Professor Paulo Sousa p. 13
3. Ambiente: zonas de especial interesse, zonas protegidas, rede natura 2000
Segue-se um texto retirado de: http://www.ccdr-alg.pt/ccdr/index.php?module=ContentExpress&func=display&ceid=382
Fig. 6: Localização das áreas protegias do Algarve
A Rede Nacional de Áreas Protegidas é constituída pelas áreas protegidas especificadas ao abrigo do Decreto-Lei
n.º19/93, de 23 de Janeiro, classificadas nas seguintes categorias: Parque
Nacional, Reserva Natural, Parque Natural e Monumento Natural.
No Algarve esta Rede é constituída pelo(a):
Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina
(PNSACV): O Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa
Vicentina, criado pelo Decreto Regulamentar n.º26/95, de 21 de
Setembro, é uma zona costeira que se estende desde a Ribeira da
Junqueira, a norte de Porto Covo (concelho de Sines – Alentejo, até
ao Burgau (concelho de Vila do Bispo - Algarve).
Parque Natural da Ria Formosa (PNRF): O Parque Natural da
Ria Formosa, criado pelo Decreto-Lei n.º373/87, de 9 de
Dezembro, abrange uma área de cerca de 18 400 há, distribuídos
ao longo de 60 km de costa, compreendida entre o Ancão
(concelho de Loulé) e a Manta Rota (concelho de Vila Real de Santo
António).
Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de
Santo António (RNSCMVRSA): A Reserva Natural do Sapal de
Castro Marim e Vila Real de Santo António, criada pelo Decreto-Lei
n.º162/75, de 27 de Março, está situada junto à foz do Rio
Guadiana e ocupa uma área de 2 153 hectares ao longo dos
concelhos de Castro Marim e Vila Real de Santo António.
ESPAA, 2012/13 — Área de Integração, Tema 4.1: A identidade regional — Professor Paulo Sousa p. 14
Outras áreas com estatuto de protecção:
4. Rocha da Pena: O Sítio Classificado da Rocha da Pena, criado pelo Decreto-Lei n.º392/91 de 10 de
Outubro, localiza-se nas freguesias de Salir e Benafim (concelho de Loulé), numa zona de transição entre
o Barrocal e a Serra Algarvia, ocupando uma área de 637 ha.
5. Fonte Benémola: O Sítio Classificado da Fonte Benémola, criado pelo Decreto-Lei n.º 392/91 de 10 de
Outubro, localiza-se nas freguesias de Querença e Tôr (concelho de Loulé), ocupando uma área de 392
ha. [Fim de citação]
A delimitação de áreas protegidas é feita para preservar sistemas ecológicos e habitats onde existem
espécies animais e vegetais ameaçadas, ou para preservar áreas de grande interesse económico. São de
especial importância os ambientes húmidos, ou seja, os estuários e sapais, bem como a orla costeira. Os
sapais são de extrema importância por serem zonas de desova de muitas espécies de peixes com interesse
económico. Por outro lado, são áreas sensíveis, devido à proximidade de cidades e grandes aglomerações
urbanas e a, por isso, estarem sujeitos a serem espezinhados, aterrados ou contaminados com esgotos e lixo.
Em algumas áreas podem existir ambientes muito bem preservados (como algumas áreas de floresta na
Serra de Monchique) ou ambientes em que as actividades humanas atingiram um ponto de equilíbrio com a
natureza. Esses ambientes são reservas genéticas para um futuro incerto, no qual podemos necessitar das
plantas selvagens para melhorar o nosso conhecimento acerca da resistência a pragas ou a secas, por
exemplo. Por outro lado, trata-se de ambientes/paisagens de grande valor turístico, com especial importância
num momento, como este, em que se procura diversificar, melhorar e reformar a oferta turística, de maneira a
compensar a perda de alguns dos turistas mais tradicionais e a atrair os mais ricos.
Imagem: Pego do Inferno, Tavira
ESPAA, 2012/13 — Área de Integração, Tema 4.1: A identidade regional — Professor Paulo Sousa p. 15
II – Factores humanos
1. História da ocupação do Algarve: principais momentos da ocupação humana
Fig. 7: Monumento funerário (mamoa) de Alcalar (~5000 anos). Fonte:
ahistorianacidade.wordpress.com
1.1. Pré-história e proto-história
A região do Algarve é habitada por povos sedentários há alguns
milhares de anos. Na zona de Alcalar, perto de Portimão,
encontram-se diversos vestígios de povoamentos pré-históricos,
das épocas neolítica e calcolítica (idade do cobre). No caso de
Alcalar, temos um povoamento situado num monte, para defesa, e junto a terras férteis, propícias à cultura de
cereais. Este povoamento foi suficientemente importante para permitir a construção das necrópoles que ainda
podem ser visitadas: significa que que havia pessoas suficientes para mobilizar para a construção dos
edifícios e monumentos, uma economia que permitia sustentá-las, a existência de uma elite (porque apenas
os indivíduos mais importantes eram sepultados nos edifícios importantes) e uma povoação que era o centro
de uma grande área e fazia trocas comerciais com o exterior.
Estes povos antigos forma sendo contactados pelos povos mercantis do Mediterrâneo e forma por ele
influenciados – pelos fenícios/cartagineses, os gregos e os romanos. Pouco se sabe dos povos nativos dessa
época, mas essa influência dos povos mediterrâneos é visível nos bens importados (cerâmicas, joalharia) e
nas primeiras formas de escrita peninsular, escritas em caracteres já decifrados, mas numa língua entretanto
perdida (no Museu de Silves pode ser observada um exemplar desta escrita).
1.2. Idade do Ferro: Fenícios, gregos e romanos
Os fenícios/cartagineses instalaram feitorias ao longo da
costa sul da Península, sendo-lhes atribuída a fundação do
povoado que viria a ser Portimão. (As feitorias são centros de
importação e exportação de bens instalados no território de
outros povos.)
Imagens: mosaico romano e banheira de Milreu, Faro -
pt.wikipedia.org; algarvivo.com
Os romanos instalaram-se no sul da Península, incluindo o
Algarve, a partir do Séc. III a.C., e aí permaneceram até
aproximadamente ao séc. V d.C. No caso deste povo, tratou-
se de uma verdadeira conquista e ocupação do território, que
pouco tempo depois passou a ser um conjunto de províncias
romanas (Bética, Lusitânia e Terragonensis). O Algarve
pertencia à província da Lusitânia, que ocupava então partes
dos actuais territórios de Portugal e Espanha. A economia
romana baseava-se na exploração directa dos produtos da
terra: a agricultura e a extracção de metais (a pesca também
ESPAA, 2012/13 — Área de Integração, Tema 4.1: A identidade regional — Professor Paulo Sousa p. 16
tinha alguma importância, sobretudo para o mercado de exportação). Por isso, instalaram-se em quintas e
estabeleceram cidades ao longo de todo o território. No Algarve existem vestígios importantes da ocupação
romana em Milreu (Estói), no Cerro da Vila (Vila Moura) e na Abicada (Mexilhoeira Grande).
A importância da ocupação romana é enorme, tanto pelo desenvolvimento de alguns povoados e pelo
arroteamento de terras para a agricultura, como pela integração do território no mundo cosmopolita do
mediterrâneo, como ainda pela introdução da língua, das leis e de outros costumes.
1.3. Período árabe e integração na coroa de Portugal.
A fase seguinte da história do Algarve é a da cultura árabe, que
decorreu entre os séculos VIII e XIII – um longuíssimo período
que deixou marcas profundas na paisagem, na ocupação do
território e na cultura da região. Os povos árabes continuaram a
desenvolver uma economia baseada na agricultura, mas foram
responsáveis pela introdução de novas culturas (como as dos
citrinos, originários da Ásia) e, sobretudo, pela introdução de
novas técnicas agrícolas.
Imagens desta página: Nora e picota, engenhos de rega introduzido pelos
árabes; açoteias (terraços) de Olhão; castelo de Paderne (em taipa)
De entre estas destacam-se as técnicas de irrigação, que
permitiram aumentar a produtividades das hortas e uma
intensificação da exploração das parcelas de terra onde havia
água disponível para a irrigação. Além disso, introduziram a co-
plantação, ou seja, a existência de culturas diferentes, em
simultâneo, nos mesmos terrenos (como a combinação de
culturas arbóreas, como a do olival, com produtos hortícolas,
cereais de sequeiro ou leguminosas). Estas inovações foram tão
importantes que ainda hoje caracterizam a agricultura de
subsistência de grande parte do país. Graças a uma agricultura
mais produtiva, a população da região cresceu durante este
período.
Durante o período árabe, a cidade mais importante do Algarve
veio a ser Silves, dada a sua importância económica e
estratégica: permitia a construção de uma cidade fortificada junto
ao limite das marés, no curso do Rio Arade, permitindo o
embarque e a descarga de mercadorias do comércio marítimo e
um porto abrigado e seguro para as embarcações (os ataques de
piratas ao longo da costa foram frequentes até ao séc. XVIII).
ESPAA, 2012/13 — Área de Integração, Tema 4.1: A identidade regional — Professor Paulo Sousa p. 17
Há na língua portuguesa cerca de 600 palavras de origem árabe. Algumas delas são fáceis de identificar porque começam por al. O nome de muitas terras portuguesas é também de origem árabe, como por exemplo: Silves, Loulé, Tavira, Évora, etc.
ALGUMAS PALAVRAS PORTUGUESAS DE ORIGEM ÁRABE
Algarve azeite alambique algarismo limão açude almotolia
azenha alcatifa alguidar almotolia arsenal alcachofra tapete
alface alfama laranja picota almirante abóbora albarda
oxalá almocreve algodão gato alcaide açorda nora
http://www.prof2000.pt/users/forma.tic/constinternet/cfpvnp/2003/grupo07/mu%C3%A7ulmanos.htm
O período árabe terminou durante o Sec. XIII, passando a integrar o Reino de Portugal e dos Algarves.
Durante a primeira fase desse período, a região continuou a ter uma forte presença muçulmana, se bem que
os muçulmanos, ou ladinos, fossem cidadãos de terceira categoria (depois dos aristocratas e de outros
cristãos), formando uma identidade muito peculiar. Aliás, essa identidade peculiar, que misturava as culturas
árabe e cristã (e um pouco de judaísmo), designada como cultura moçárabe, vinha-se formando desde há
séculos e continuou a desenvolver-se sob o domínio dos reis cristãos.
Imagem: Pesca de cerco a bordo de uma traineira
Fonte: http://fototecalagos.blogspot.pt/
1.4. Da revolução industrial ao turismo de massas
A grande mudança seguinte que ocorreu na região aconteceu durante o final
do Séc. XIX e início do século XX, com a criação das indústrias do pescado e
com a chegada do caminho de ferro. Este foi um momento decisivo porque
trouxe dinheiro para a região e dinamizou a economia local, graças a
exportação dos enlatados de peixe e ao envio de mercadorias para
outros pontos do país, por via férrea;
aproximou a região do resto do país, na medida em que as
deslocações passaram a ser mais fáceis, baratas, rápidas e fiáveis;
fez crescer e desenvolver as cidades do litoral;
fez surgir uma nova classe social: o operariado que trabalhava nas
fábricas e, em geral, para os grandes patrões;
levou à formação de uma classe capitalista-burguesa, que passou a
competir com a aristocracia e a concorrer aos cargos públicos;
gerou na mente das pessoas novos objectivos de vida e novas expectativas relativas à qualidade que
deveriam ter as suas vidas;
facilitou/estimulou o êxodo rural e a migração de famílias de trabalhadores para outras regiões, em
particular para Lisboa e para o Barreiro (onde havia procura crescente de mão-de-obra para a
indústria pesada).
Por outras palavras, a par do tradicional Algarve rural, rústico e pouco desenvolvido, começou a emergir um
Algarve urbano, cosmopolita e semi-industrializado; mas também de um Algarve cujo povoamento era mais
ou menos equilibrado e centrado no interior para um Algarve progressivamente desequilibrado.
ESPAA, 2012/13 — Área de Integração, Tema 4.1: A identidade regional — Professor Paulo Sousa p. 18
Esse desequilíbrio demográfico e económico acentuou-se a partir da segunda metade do séc. XX, com o
crescimento da importância do turismo. O turismo levou à criação de inúmeros empregos directos e indirectos
(por exemplo, na construção civil e na distribuição de mercadorias). Daí resultaram:
o crescente abandono das povoações rurais e da serra;
o envelhecimento das populações que permaneceram nesses locais;
o quase abandono dos campos e a queda acentuada da produção agrícola, especialmente de
produtos hortícolas ou de outros que exijam cuidados mais frequentes;
crescimento e rejuvenescimento da população do litoral;
chegada de trabalhadores de outros pontos do país e de outros países, muitos dos quais são
residentes permanentes, e outros que são trabalhadores sazonais;
estabelecimento de cidadãos estrangeiros na região, atraídos por um custo de vida menor, por
habitações a preços atractivos ou simplesmente pelo clima ameno – e formação de comunidades de
cidadãos estrangeiros, por nacionalidades, que por vezes funcionam como comunidades semi-
fechadas.
O turismo tem sido o grande motor de desenvolvimento e o sustento do Algarve.
No entanto, o seu peso na economia (66%) é tão grande que torna a
sobrevivência da região muito sensível a qualquer variação da procura por parte
dos turistas. As indústrias e outras actividades económicas da região são
relativamente poucas e muitas delas existem em função da actividade turística:
a construção civil, as serralharias de alumínio, a distribuição de produtos
alimentares, o comércio a retalho…
Esta dependência poderá, porventura, ser excessiva e seria conveniente
a) diversificar e melhorar a oferta turística, de maneira a atrair mais turistas endinheirados ao longo de
todo o ano;
b) qualificar a mão-de-obra;
c) diversificar as actividades económicas e encontrar mercados fora da região para as mercadorias
que esta produz.
Um dos problemas para pensar em outras actividades económicas é a escassez de recursos.
A agricultura continua a ser um sector promissor, apesar de não permitir absorver grandes quantidades de
mão-de-obra. No entanto, podem ser cultivadas espécies de elevado valor, aproveitando o facto de
amadurecerem mais cedo do que no resto da Europa.
Os produtos da serra podem atingir valores elevados, mas a capacidade de os produzir é limitada.
Os recursos piscícolas têm de ser explorados cuidadosamente, para se evitar a pesca excessiva e assegurar
a manutenção de stocks; no entanto pode ser desenvolvida a aquicultura.
Outras indústrias podem ser implantadas no Algarve como em qualquer outra parte. Para isso, é preciso
estudar os mercados e apostar na formação profissional e no conhecimento, usando a Universidade como
foco de dinamização e a proximidade do aeroporto de Faro e do porto de Sines (ou talvez de outros) como
vias de escoamento de produtos e de comunicação com o exterior.