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Saúde: entre Ciência, Doença e Mercado Reflexões epistemológico-críticas Prof. Dr. Marcelo L. Pelizzoli 1 Resumo Neste capítulo, destacam-se pontos críticos essenciais, sob olhar epistemológico, para avaliar a relação entre saúde, ciência e mercado. Busca-se contribuir para a superação da ingenuidade diante do discurso dito científico presente na área da saúde. Com isto, alarga-se o potencial compreensivo sobre o paradigma dominante no modelo biomédico que rege a visão de doença, na medida em que se traz à tona a dimensão do reducionismo disciplinar-epistêmico, tanto quanto a influência político-econômica na manutenção do modelo. Propõe-se, por fim, validar a saúde integrativa e de base, partindo da reflexão e análise do conhecimento pautada no “tripé epistemológico-político-ético”. Ciência: necessidade de epistemologia e reflexão crítica Cabe perguntar antes de tudo se não estamos sob a influência de um grande e utópico imaginário quando entramos no discurso da ciência. Que conjunto de fenômenos é este sob o qual pretendemos nos abrigar ou falar em nome dele ? A que responde ? Quais “pre-conceitos”, “pre-juízos” e pressupostos não propriamente científicos podem estar habitando este fazer humano, dado ao tempo e aos contextos, mas que prega a validade universal ? O aporte da filosofia nos ajuda a não nos deixar enganar por discursos fechados, validados sob determinadas condições e paradigmas, e que se querem totalizantes, e que então adquirem uma aura idealizada para além da realidade vivida. Para o renomado filósofo da ciência T. Kuhn, na quase totalidade das pesquisas, não fazemos ciência como tal, mas repetição de procedimentos aceitos e resultados semelhantes, dentro de um paradigma adotado não bem conscientemente, que condiciona as possibilidades dos novos resultados (Kuhn, 2003). Mesmo a chamada “inovação tecnológica”, pode estar dentro da reprodução de um modelo de ciência que se reproduz no interior de direcionamentos socioeconômicos, ligados a interesses e poderes que podem não servir ao bem comum. Quase 100% das vezes, repetimos o que nossos mentores, nosso professores orientadores, ou mesmo pesquisadores de sucesso, ou pesquisas dentro de uma área econômica prévia determinam. Por isso, o que se faz em geral não é propriamente ciência no sentido forte da palavra - uma ciência aberta à verdade, tanto quanto às revoluções científicas e aos limites do conhecimento humano (Kuhn, 2003). Uma discussão fundamental pergunta até que ponto a Ciência atual, presente na área de saúde, responde aos grandes ideais que orientam a idéia de uma Ciência verdadeira, aberta e razoavelmente livre de interesses de mercado dominantes. Uma idéia de Ciência verdadeira não quer dizer aquela que tem acesso ao real como tal, ou um modelo positivista baseado em fatos chamados evidentes para além da interpretação, e que progressivamente conhecerá mais e melhor um mundo de objetos a serem 100% decifrados, mas antes, a que está aberta aos vários modos de validação, métodos e formas de abordagem do conhecimento da chamada realidade e alteridade, e ao que esta realidade em sua alteridade impõe dentro e além do recorte reduzido pelo pesquisador ou por uma teoria dentro de um paradigma. Uma ciência verdadeira encarna o aspecto crítico e histórico; portanto, vai junto a uma discussão epistemológica (filosófico-crítica) contínua: faz constantemente uma teoria ampliada e crítica do conhecimento a ser aceito. Investiga, assim, seus pressupostos científicos e institucionais, seu contexto de validação; reconhece a historicidade e a finitude do conhecimento humano e leva em conta a tradição que lhe precede, e como se relacionar com ela (Gadamer, 2006; Santos (Boaventura), 2002). Fundamentalmente, necessita fortemente do diálogo de saberes e reconhece os limites do conhecimento diante da complexidade e infinitude da natureza, da vida (Leff, 2001). A ciência no sentido forte do termo, no século XX, chegou a princípios epistemológicos muito importantes, indicados nos 1 Prof. do Mestrado em Saúde Coletiva, do Mestrado PRODEMA e do Doutorado em Filosofia da UFPE. Coord. Especialização Bioética e Saúde integral da UFPE. [email protected] / www.curadores.com.br

Saúde Integral, Ciência (epistemologia) e Mercado

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Artigo mostrando os reducionismos do modelo biomédico da doença, e apontando o novo paradigma da complementariedade, sistema, integral e natural em Saúde. (CC) Prof. Dr. M.L. Pelizzoli

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  • Sade: entre Cincia, Doena e MercadoReflexes epistemolgico-crticas

    Prof. Dr. Marcelo L. Pelizzoli1

    ResumoNeste captulo, destacam-se pontos crticos essenciais, sob olhar epistemolgico,

    para avaliar a relao entre sade, cincia e mercado. Busca-se contribuir para a superaoda ingenuidade diante do discurso dito cientfico presente na rea da sade. Com isto,alarga-se o potencial compreensivo sobre o paradigma dominante no modelo biomdico querege a viso de doena, na medida em que se traz tona a dimenso do reducionismodisciplinar-epistmico, tanto quanto a influncia poltico-econmica na manuteno domodelo. Prope-se, por fim, validar a sade integrativa e de base, partindo da reflexo eanlise do conhecimento pautada no trip epistemolgico-poltico-tico.

    Cincia: necessidade de epistemologia e reflexo crtica

    Cabe perguntar antes de tudo se no estamos sob a influncia de um grande eutpico imaginrio quando entramos no discurso da cincia. Que conjunto de fenmenos este sob o qual pretendemos nos abrigar ou falar em nome dele ? A que responde ? Quaispre-conceitos, pre-juzos e pressupostos no propriamente cientficos podem estarhabitando este fazer humano, dado ao tempo e aos contextos, mas que prega a validadeuniversal ? O aporte da filosofia nos ajuda a no nos deixar enganar por discursos fechados,validados sob determinadas condies e paradigmas, e que se querem totalizantes, e queento adquirem uma aura idealizada para alm da realidade vivida.

    Para o renomado filsofo da cincia T. Kuhn, na quase totalidade das pesquisas, nofazemos cincia como tal, mas repetio de procedimentos aceitos e resultadossemelhantes, dentro de um paradigma adotado no bem conscientemente, que condicionaas possibilidades dos novos resultados (Kuhn, 2003). Mesmo a chamada inovaotecnolgica, pode estar dentro da reproduo de um modelo de cincia que se reproduz nointerior de direcionamentos socioeconmicos, ligados a interesses e poderes que podemno servir ao bem comum. Quase 100% das vezes, repetimos o que nossos mentores,nosso professores orientadores, ou mesmo pesquisadores de sucesso, ou pesquisas dentrode uma rea econmica prvia determinam. Por isso, o que se faz em geral no propriamente cincia no sentido forte da palavra - uma cincia aberta verdade, tantoquanto s revolues cientficas e aos limites do conhecimento humano (Kuhn, 2003).

    Uma discusso fundamental pergunta at que ponto a Cincia atual, presente narea de sade, responde aos grandes ideais que orientam a idia de uma Cinciaverdadeira, aberta e razoavelmente livre de interesses de mercado dominantes. Uma idiade Cincia verdadeira no quer dizer aquela que tem acesso ao real como tal, ou ummodelo positivista baseado em fatos chamados evidentes para alm da interpretao, e queprogressivamente conhecer mais e melhor um mundo de objetos a serem 100%decifrados, mas antes, a que est aberta aos vrios modos de validao, mtodos e formasde abordagem do conhecimento da chamada realidade e alteridade, e ao que esta realidadeem sua alteridade impe dentro e alm do recorte reduzido pelo pesquisador ou por umateoria dentro de um paradigma.

    Uma cincia verdadeira encarna o aspecto crtico e histrico; portanto, vai junto auma discusso epistemolgica (filosfico-crtica) contnua: faz constantemente uma teoriaampliada e crtica do conhecimento a ser aceito. Investiga, assim, seus pressupostoscientficos e institucionais, seu contexto de validao; reconhece a historicidade e a finitudedo conhecimento humano e leva em conta a tradio que lhe precede, e como se relacionarcom ela (Gadamer, 2006; Santos (Boaventura), 2002). Fundamentalmente, necessitafortemente do dilogo de saberes e reconhece os limites do conhecimento diante dacomplexidade e infinitude da natureza, da vida (Leff, 2001). A cincia no sentido forte dotermo, no sculo XX, chegou a princpios epistemolgicos muito importantes, indicados nos1 Prof. do Mestrado em Sade Coletiva, do Mestrado PRODEMA e do Doutorado em Filosofia da UFPE.

    Coord. Especializao Biotica e Sade integral da UFPE. [email protected] / www.curadores.com.br

  • conceitos de incerteza, complexidade, interdependncia de fatores, lgicas diversas esistmicas, interdisciplinaridade, dilogo de saberes, paradoxos qunticos - como adualidade partcula-onda e outros (Heisenberg, 1996). Isto no significa, contudo, que asreas da (tecno)cincia apliquem na prtica tais princpios hoje.

    Tecnocincia, como conceituamos, no significa necessariamente cincia no sentidoacima, e, muitas vezes, se afasta destes pressupostos ltimos. A cincia tornou-se muitomais uma funo da tecnocincia-mercado do que cincia verdadeira. Isto explica por que acomplexidade e o dilogo de saberes, bem como a epistemologia, so muitas vezesexpulsos do cenrio. Isto explica por que muitas descobertas so arquivadas, por quemuitas tecnologias brandas, sustentveis, antigas, so ofuscadas por no se coadunaremaos modelos e interesses vigentes. Isto explica, muitas vezes, por que solues simples ede base so sufocadas e as escolhas dobram-se em torno de grandes volumes de recursos,pequisas e procedimentos extremamente dispendiosos ou seja, a lgica das corporaes2.

    a partir da percepo crescente destes obstculos que criamos um trip crtico deanlise relativo s vises de cincia e do papel dos campos do conhecimento. Tal trip tilpara analisar tanto os discursos e prticas no modelo biomdico quanto na rea ambiental,ou em biotica. Somente a anlise ampliada referida aos paradigmas e s prticas sociais- pode abrir caminhos para a viso integrativa nestas reas, bem como validar a busca pormodelos complementares ou alternativos.

    A proposta de um trip epistemolgico-crtico de anlise

    Uma cincia no sentido forte, ou cincia com conscincia, como diziam E. Husserl ouE. Morin (2000), deve levar em conta o que chamamos de trip epistemolgico-crtico, asaber: primeiramente, sua dimenso epistemolgica subjacente, em que ela se assenta,suas bases para olhar o mundo como objeto, sob certo modelo de conhecimento, a posiodo investigador, os contextos de pesquisa, os paradigmas vigentes, a dimenso histrica, ea episteme reinante - o grande clima do fazer cincia de um tempo (Foucault, 2004); emsegundo lugar, a sua dimenso poltico-econmica e institucional, extremamentedeterminante dos rumos das pesquisas hoje, a relao de foras/influncias institucionais; epor ltimo, a dimenso tica, que determina a possibilidade de um sentido de bem comum,de sensibilidade social, de busca da cura, de busca de abertura ao diferente, ao resgate dosvalores humanos como essncia de todo fazer, quando a techne encontra-se com o ethos:resumindo, a dimenso do cuidado como motivao maior da cincia, que serve vida eno o inverso. No campo de sade, a noo de cuidado o centro, o sentido ltimo, o qualcarrega as noes correlatas de justia, beneficncia, cidadania, autonomia, to caras biotica e tica biomdica hoje. Desde os gregos, a justia sempre esteve ligada verdade. E o saber popular enuncia: quem ama cuida.

    Uma cincia verdadeira precisa apoiar-se ou recuperar a tica devido ao fato de queos direcionamentos da pesquisa so, h muito tempo, altamente influenciveis porinteresses de quem detm poder e capital na rea. Na rea da Sade (doena), um bom (oumau) exemplo a escolha pela abordagem teraputica da lcera de estmago e deduodeno atravs da causalidade viral (Helicobacter pylori). O discurso cientfico-miditicodesemboca em um prmio Nobel em medicina para dois pesquisadores. Mas materialmente,o fato gera um campo econmico de venda de drogas para lcera como doena pautada naaposta em um agente patognico isolado, o qual pode ser combatido com drogas3. J apreveno e os tratamentos naturais (como por exemplo a associao entre hidroterapia,jejum teraputico, crudismo/alimentao natural e fitoterapia) que respondem de modo maiscurativo, profundo e persistente, so poucas vezes utilizados e difundidos.

    2 Sobre isto assista ao rico filme The Corporation.3 Em geral se prescreve um anti-secretor e dois antibiticos contra o H. Pylori. Em 80% dos casos o

    tratamento no traz efeitos benficos e duradouros; nos 20% com efeito, trata-se de perguntar se foi escamoteado e transferido o sintoma ou houve uma cura real ? A cura aqui pode ser sintomtica pelo simples fato de que no se altera substancialmente o Campo em que os agentes patognicos criam seu habitat. Havendo apenas uma abordagem em termos de doena fragmentria, no se alcana uma dimenso real de sade, portanto de equilbrio orgnico e entode cura.

  • Trata-se de uma discusso que devemos levar em trs nveis de entendimentoconjugados - o trip epistemolgico-crtico: 1- nvel epistemolgico stricto: a escolha de ummodelo de procedimento e validao cientfica no caso do H. pylori h o pressupostoreducionista-mecanicista na abordagem fisiopatolgica presente mesmo dentro da MBE(Medicina Baseada em Evidncia); 2- nvel poltico: toda abordagem elaborada dentro deinstituies, de polticas de doena, interesses econmicos privados, jogo de foras, lobbyfarmacutico, portanto, h uma luta poltico-corporativa em jogo; e 3- nvel tico, qual o nvelde conscincia-sensibilidade e valores, de cuidado presente: quando este elemento humanofundante no est presente, os pontos 1 e 2 ficam extremamente vulnerveis, ou soelididos, e nem entram em discusso. Este terceiro nvel revela a (in)capacidade para asensibilidade humana, socialidade bsica, e a solidariedade, ou para o cuidado incorporado,que (ou deveria ser) a base primeira e ltima da Sade e da vida como um todo (Pelizzoli,2003 e 2007).

    A histria da civilizao repleta de experincias em que a sensibilidade humana(tica) o motor para toda realizao social e at cientfica de sucesso, pois sucesso querdizer realizao otimizada, satisfatria, e que responda s demandas da sociedade de formaefetiva e sustentvel, e no o aumento de demandas e drogas, equipamentos caros eprocedimentos artificiais com alto custo, impacto ambiental, e com efeitos colateraissistmicos e persistentes. Precisamos colocar os conceitos em seus devidos lugares.

    Os conceitos crticos de racionalidade dos procedimentos (Luhmann, 1986), o deRazo Instrumental (Adorno e Horkheimer, 1994) o de colonizao do Mundo da Vida(Habermas, 1987), bem como os de objetificao e cartesianismo (Gadamer, 1996; Pelizzoli,2007 e 2011) so muito teis para uma anlise crtica e no ingnua da relao cincia esociedade, no foco da institucionalidade permeada por obstculos nesta trplice dimenso:epistemolgico-poltico-tica. A racionalidade vigente deve ser criticada fortemente porqueela tem justificado violaes verdade, natureza, ao excludo, e ao bem comum devidoaos interesses privados, corrupo, cartis e mfias presentes no capitalismo e, portanto, nocampo da Doena (Sade).

    Tal racionalidade no como pensamento crtico, lgico, argumentativo, mas comoforma organizativa e determinante do sentido de todo fazer humano - sinnimo de umagrande Matrix em que se devem forosamente encaixar o logos, o ethos e a polis; trata-sede um sistema de incluso e excluso, aparentemente aberto, mas que na verdade semantm como processo de fechamento e excluso constante. Geopoliticamente, isto podeser traduzido no processo de globalizao econmica do Capital transnacional. Somente seentender a questo da Sade hoje remontando-se a certas regras do jogo a vigentes e, apartir da, buscar entender as relaes entre: subjetividade-identidade humana consumo,mdia e desejo relaes objetais e objetificadoras mercado, tecnocincia ecorporaes destruio da sade natural e do meio ambiente equilibrado crisesocioambiental resgate da tica, sabedoria, valores humanos, novos paradigmas, sadeintegrativa e natural, luta poltica e cidadania.

    O uso do trip epistemolgico proporciona com que nossas anlises no campo dasade no caiam em um reducionismo do tipo que condiciona unilateralmente a abordagemdos problemas e das solues. Por exemplo: o campo hoje chamado de humanizao, edentro dele a Biotica e a tica biomdica, tem pregado como ponto central a recuperaode uma relao mdico-paciente humanizada, baseada nos princpios bioticos bsicos como prega o principialismo (Beauchamp & Childress, 1994). Contudo, esta abordagem temesquecido da discusso epistemolgica, que uma das causas fundantes de se tomar ocorpo humano ou suas partes como objeto, e adotar um olhar cartesiano que no questionao paradigma reducionista ligado s tecnologias invasivas, hospitalocntricas, medicalizantese com grandes custos e grandes ganhos econmicos - para alguns (Barros, 2004; Pelizzoli,2010 e 2011a).

    De outro lado, vemos uma tradio crtica, ou de esquerda, ou do neo-marxismo, quetem boas anlises das polticas de sade, das dimenses econmicas, da necessidade doempoderamento do usurio como cidado e no como paciente passivo, etc., mas que notem apresentado um conhecimento claro das alternativas a serem adotadas comocomplementares de sade ou mesmo substitutas ao modelo dominante, e que inclua asmedicinas populares, tradicionais, naturalistas ou as chamadas alternativas. Por outro lado,

  • alguns que se dizem praticantes de medicinas alternativas, como a acupuntura ou mesmoa homeopatia suponhamos por vezes no tm uma viso integrativa da sade, a qualolha desde a alimentao at a dimenso emocional do sujeito, bem como as dimensescomunitrias, sanitrias e de relaes polticas da cidadania.

    Fala-se muito, hoje, em interdisciplinaridade. Num olhar inicial para o campo dapesquisa em sade veem-se avanos neste sentido, quando campos da cincia se unem demodo a resolverem uma questo, e nas dimenses tecnocientficas que se entrelaam ecomplexificam. Isto se d cada vez mais na produo de equipamentos de ltima geraona rea mdica, bem como em medicamentos, diagnsticos, cirurgias. As interfaces entreinformtica e gentica so um bom exemplo. Constituem passos considerveis no avanotecnolgico. No obstante, em termos de sade bsica, e quando o sujeito chega para umainterveno em sade, o que se tem so alguns poucos procedimentos multidisciplinares.

    No se chegou ainda a uma verdadeira prtica interdisciplinar, menos aindatransdisciplinar, e menos ainda a incluso de elementos meta-disciplinares quando oconhecimento buscado est fora das disciplinas institudas, como por exemplo o saberpopular em sade, ou modelos no-metdicos, ou os energtico-intuitivos (Martins, 2003;Fontes, 1999). A predominncia do modelo disciplinar e especializador na sade, carreadapela medicina tecnolgica cartesiana pautada hoje na MEB, ainda no conseguiu abrir-sesuficientemente para os novos paradigmas a ponto de considerar a medicina no apenascomo uma cincia mecnico-fsico-qumica, mas complexa - social, histrica e humana, bemcomo ambiental.

    Um modelo epistemolgico-crtico como estamos propondo - na esteira de grandescientistas sociais e epistemlogos aqui citados (Kuhn, Maturana, Varela, Heisenberg, Morin,Gadamer, Foucault), permite reflexes mais profundas sobre a (tecno)cincia em sade quese est adotando, para alm da superposio de disciplinas. Por exemplo, quando se dizque a medicina pautada no conhecimento verdadeiro do corpo fisiolgico do sujeito, e apsicologia pautada no conhecimento da vida emocional ou psquica; ou que,complementar a abordagem biomdica incluir aspectos psquicos aos corpo-materiais, istopode ser um falso trusmo. A biologia abordada no modelo cartesiano, mecanicista, emgeral reducionista, pois foca em aspectos de medio qumico-fsicos, eltrico-fisiolgicos emetablicos fragmentrios, sob olhar analtico isolador da o fato de a abordagemaloptica e cirrgica ter se tornado muito limitada e com grau relevante de periculosidade.

    Igualmente, uma viso psquica que no contempla a complexidade biolgica, podeser redutora, pois acusa a causalidade das doenas de modo metafsico, apenas invisvel,prescindindo da base ambiental-biolgica interacional, que determinante em todoorganismo (Maturana & Varela, 1995).

    atravs de uma reflexo epistemolgica profunda que vai episteme como raizdo conhecimento e da verdade como prtica social (Foucault, 2004) que se deve analisaras conquistas e os obstculos dos modelos adotados nas Cincias da Sade, em primeirolugar, certamente, o quanto as prticas em sade podem estar afastadas da atualizao empesquisa no campo das cincias da sade, no apenas dentro da especialidade, masatravs da sade bsica, coletiva, preventiva e integrativa.

    Medicina Baseada em Evidncia (MEB): possibilidades e limites

    A MEB (Medicina Baseada em Evidncia), como o nome diz, aposta na evidnciadentro de um modelo aprimorado de validao e reproduo da pesquisa. Contm umsistema intrincado e aparentemente bastante denso de conduo de pesquisa para quepossa ser chamada de cientfica. Aposta em revises sistemticas de literatura jconsagrada, e em certo conjunto de revistas, indexadores e stios tidos como autoridades eoficiais. Deste modo, busca compartilhar um grande sistema de pesquisas mundiais; aomesmo tempo, tende a desvalorizar estudos que no entram nestes campos. Igualmente, vcomo baixa a evidncia de modelos narrativos de pesquisa, assim como considera oelemento qualitativo, subjetivo e de outros mtodos mais abertos como inferiores ou atprodutores de erros e obstculos (vis) nos resultado esperados.

    Em geral, tal modelo dominante invalida o resultado quando a metodologia no

  • condizente com os procedimentos do modelo. Ou seja, uma teraputica pode estarfuncionando bem dentro de uma comunidade mas ser descartada por no preencher osquesitos formais exigidos (Sackett, 2000).

    Muitos pesquisadores tm se dado conta de que a utilizao do modelo da MEBpode engessar as prticas em sade e a prtica mdica, elidir as formas que somente ainterao de um histrico prprio de cada paciente, as condies ambientais, aspeculiaridades da relao mdico-paciente podem dar, em cada momento. Da teoria para aprtica h um conjunto ineliminvel de obstculos. E h obstculos e pontos cegosproduzidos pelo prprio mtodo.

    Systematic reviews can be misleading, unhelpful, or even harmful when data are inappropriately handled; meta-analyses can be misused when the difference betweena patient seen in the clinic and those included in the meta-analysis is not considered. Furthermore, systematic reviews cannot answer all clinically relevant questions, and their conclusions may be difficult to incorporate into practice (Yuan & Hunt, 2009, p.1)

    Um bom exemplo so os protocolos de pesquisa com estudos duplo-cegorandomizados, que ocultam ao paciente e ao mdico o que e como est sendoadministrado. Se por um lado parece fornecer neutralidade e objetividade maior, tal modelofaz prescindir da relao mdico-paciente e do aspecto simblico e emocional da sade;portanto, faz perder parte importante no processo de cura, aspecto acentuado muito hojepela dimenso psicossomtica (Pelizzoli, 2010). Igualmente, se o medicamento ministradofor um nutracutico natural alimentos-remdios - ou hidroterapia, por exemplo, comoescond-lo do paciente e do mdico ? Em todo caso, tal procedimento tem uma srie decondies delicadas e restritivas a considerar.

    Randomized trial information is also seldom available for issues in etiology, diagnosis, and prognosis, and for clinical decisions that depend on pathophysiologic changes, psychosocial factors and support, personal preferences of patients, and strategies for giving comfort and reassurance (Feinstein & Horwitz, 2000, p.1)

    Devemos perguntar sempre se a evidncia alcanvel e neutra por si, ecompleta; pois na (tecno)cincia atual ela se coloca dentro de paradigmas - enquantopadres impermeveis que tendem a se reproduzir e cooptar os inputs e outputs; so eleitosdeterminados mtodos em detrimento de outros; fazem-se recortes num todo complexo e deincerteza por princpio; ofuscam-se outras validaes que no a eleita. Uma evidncia, umateoria e toda explicao sempre fruto de interpretaes de um grupo, mesmo que no seadmita; so adotadas determinadas escolhas prvias que vo moldar a abordagem doobjeto/resultado esperado; a pesquisa conduzida por um vis ou conjunto de intenes mesmo aquele que se pretender isento de vis e inteno j contm vis e inteno - asquais esto moldadas nas perguntas e crenas iniciais da pesquisa. Exemplo: pesquisaspara tratar de doenas respiratrias feitas no modelo causal excludente (ou/ou), comtestagem de dois medicamentos em procedimento duplo cego randomizado, e todos oscnones exigidos.

    No entanto, se na escolha inicial, os medicamentos esto dentro da mesma lgicaaloptica (e ou da lgica de algumas corporaes que patrocinam a pesquisa), j temos umconjunto de limitantes e de intenes ou perguntas geradoras restritivas. O modelomedicamento Y versus X tem sido limitado; a incluso de outras possibilidades seria: A-medicamento Y aloptico; B medicamento fitoterpico; C psicoterapia + medicamentos Ae B; D- Desintoxicao natural + Corte de alimentos prejudiciais (como o leite e alergnicosem especial aqui) + B; E- Oraes + Fitoterpicos tradicionais + nutracuticos para o caso;F- Dieta vegetal crua + exerccios respiratrios de Yoga + terapia comunitria. G- seguemoutras possibilidades e interaes.

    Fica claro que este procedimento mais abrangente do que ficar com a opo A oumesmo com a A e B. Por que elas em geral no ocorrem? Pelos motivos pr-cientficos epolticos institucionais que j falamos. Epistemologicamente, tem-se uma dificuldade devido

  • ao modelo disciplinar especializador para pesquisar de modo MIT (multi-inter-transdisciplinar), e mais ainda de modo meta-disciplinar incluindo saberes no-metdicosdas tradies a exemplo das abordagens energticas, simblicas e psquicas (Martins,1996).

    Outro ponto a considerar : aquilo mesmo que busca manter a segurana e aeficcia, e evitar o chamado vis na pesquisa, e a apostar sobremaneira na revisosistemtica em torno de um tipo de literatura padro pr-aceita, o mesmo fator que contmos limitantes que podem afastar o procedimento-validao da realidade da sade e,portanto, da doena (Frana, 2005).

    Ento, nesta discusso preciso considerar tais possibilidades, que so osobstculos para se promover de fato a sade e a cura no sentido amplo e profundo: omdico (ou outro cuidador) no est acompanhando as inovaes em medicina com aleitura de artigos importantes na sua rea e reas afins; o mdico reproduz apenas asorientaes de determinado modelo hospitalar de especializao e a financiadores depesquisa privados; o mdico acompanha razoavelmente a MBE em sua rea, mas no estpreparado para ser pesquisador ou entender a rea ampliadamente, dominando o modelo esuas nuances. O mdico tem capacidade de acompanhar o modelo razoavelmente, mas notem capacidade de reflexo epistemolgica para ir alm dos limites do modelo; o mdicotem todas estas capacidades mas no as exerce pois no um promotor de sade e cura,mas um profissional em funo meramente cirrgica e aloptica; o mdico tem todas ascondies mas a poltica de sade adotada no abre portas para as novas ou integrativasabordagens; o mdico e o contexto no esto interessados em primeiro lugar na cura e napreveno (na sade), mas em ganhar dinheiro. So muitas possibilidades negativas eobstculos. O campo da sade mostra-se portanto um campo complexo, com portas aserem abertas continuamente no mbito epistemolgico, poltico e tico. Acima de tudo, ocampo da sade espao de luta contnua pela promoo da parte mais vulnervel destatrama: o usurio, o chamado paciente, ou, em termos atuais, o consumidor.

    Reflexes de base integrativa para o campo da Sade

    A sada para a sade que proporemos aqui, muito abertamente sugerida, a sadeintegrativa (no caso da medicina, a medicina integrativa), ou prticas integrativas acopladasa uma educao para a sade tanto popular e de massa quanto acadmica, com oinstrumento investigativo do trip epistemolgico-crtico - o qual abre o olhar para asmedicinas naturais, holsticas e energticas4. Ou seja, um bom agente da sade (mdico,enfermeira, gestores, professores, profissionais de sade em geral, pesquisadores na rea) aquele que promove a sade e no apenas o que combate aspectos da doena dentro domodelo biomdico cartesiano centrado no mercado.

    Promover sade pesquisar a sade de base: sade popular, resgatar as tradiesem sade, conhecer algo das medicinas histricas, estudar a cura pela alimentao viva enatural, integrar a dimenso afetiva e de valorizao do outro, apoiar e divulgar as prticasintegrativas, integrar a medicina na vida das comunidades e incluir a dimenso das relaespolticas abertas aos procedimentos do modelo biomdico dominante quando necessrio.Ser cuidador ser um intrprete da condio vital-social-ambiental e emocional do sujeitoem cada momento; significa ser um cuidador hermeneuta (Nunes & Pelizzoli; in: Pelizzoli,2011a). No obstante, este promotor de sade vai se defrontar cedo ou tarde com oscondicionamentos e poderes institudos do modelo dominante, pois est a favor (tomaposio) da sade e no do mercado da doena. So coisas que devem ser distinguidas. Amotivao determinante. Se a motivao de um pesquisador ou professor apenas

    4 Cabe aqui citar os Princpios da medicina integrativa: 1-Estabelecimento de uma relao de parceria entre opaciente e o praticante no processo de cura. 2-Uso apropriado de mtodos convencionais e alternativos parafacilitar a resposta inata de cura do corpo. 3-Considerao de todos os fatores que influenciam a sade, o bem-estar e a doena, incluindo a mente, o esprito e a comunidade, assim como o corpo. 4-Uma filosofia de trabalhoque no rejeita a medicina convencional, nem aceita a medicina alternativa sem uma viso crtica. 5-Reconhecimento de que a prtica mdica apropriada deve ser baseada em boa cincia, dirigida e aberta a novosparadigmas. 6-Uso preferencial de intervenes naturais e pouco invasivas. 7-Conceito, mais amplo possvel, napromoo de sade, preveno e tratamento de doenas. 8-O praticante deve ser modelo de sade e cura,compromissado com o processo de auto-explorao e autodesenvolvimento (apud Gonzales, 2006).

  • cumprir sua pesquisa cooptada por uma Corporao e dentro do modelo j aceitoinstitucionalmente e economicamente, ele dificilmente se abrir para a dimenso dainterdisciplinaridade e da integrao dos saberes, resgatando a promoo da sade e asformas naturais de cura. Igualmente, dificilmente vai se interessar pela dimensocomunitria, afetiva ou psicossomtica da sade. Promover a sade, com uma cincia comconscincia, aberta, lcida, cidad uma exigncia que vai muito alm de lidar comdimenses parciais e fragmentrias de abordagem do corpo humano fsico-qumico-mecnico.

    Sob a lgica da estrutura especializadora do campo mdico, compreende-se que sonecessrios muitos especialistas, pois trata-se de um campo muito amplo e complexo e,quanto mais partes especializadas, melhor, e mais efetivo o resultado. Esta lgica plausvel, e ela que est em funcionamento, ao mesmo tempo que alavancada peloavano tecnolgico crescente em cada subrea, ou mesmo a combinao de reas, como abioqumica e a oncologia, por exemplo. Ao mesmo tempo, esta lgica tem umacomplexidade entrpica, negativa, ao lado da positiva, quando, por exemplo, fragmentademais e no consegue mais unir as partes suficientemente, e obter um entendimentobsico em termos de organismo e, portanto, de sistema e processo (Heisenberg, 1996).

    No obstante, o fundo do problema continua sendo aquilo que orienta o fazer e oaplicar cincia em cada poca, a episteme vigente: a abordagem fsico-qumica (e aloptica)e cirrgica interventora no molde cartesiano como o grande condutor paradigmtico dosprocedimentos. Se assim o , mesmo que haja conexo entre os saberes especializados(veja-se que s vezes o paciente tem que ir a vrios mdicos de reas diversas ou damesma rea para entender melhor o seu distrbio ou disfuno), no se deslocar de umalgica que apresenta grandes limitaes (limitaes mais procedimentais do que causais,pois as causas muitas vezes esto no campo da complexidade indescritvel do todo, e dadaao contexto e aos ambientes de cada sujeito vivente).

    No obstante, este modelo chamado de avanado tecnologicamente, pois aprimoraseus procedimentos, equipamentos, medicamentos e centros de pesquisa mdica - naordem de custos imensos - e o mesmo que precisa sanar os obstculos aqui apontadosque pem em xeque a sua segurana, viabilidade e eficcia. A famosa crise na sade, aavalanche de doenas degenerativas em pases ocidentais - EUA em especial - epidemiasde cncer e doenas da civilizao, os efeitos iatrognicos, o inchao de hospitais eclnicas, a dependncia a um modelo de sade cada vez mais caro, o efeito complexoentrpico das drogas receitadas, a poluio produzida tanto no ambiente quanto nos corpos,o abandono da sade das populaes pobres, faz com que o imaginrio da sade e dalongevidade aumentada pela tecnocincia caia por terra5.

    A longevidade conquistada bem como muitas avaliaes epidemiolgicas positivas- citada muitas vezes com comparativos de anos de extrema carncia e de condiessanitrias deletrias. A longevidade urbana atual precisa passar por crivos reais esquecidos,que muitas vezes so afastados das estatsticas, tais como: tal longevidade longeva osuficiente, considerando as possibilidades da vida humana? Se muitas comunidades epocas histricas sob certas condies chegavam naturalmente a um sculo de vida,porque considerar 70 ou 75 anos um bom ideal?6 Tal longevidade feita s custas de queem termos de sade? Ou seja, uma longevidade s ou de doenas crnicas, de estilo devida doentio, dependncia de remdios, hospitais, exames contnuos, ou uma vida comautonomia de sade? Longevidade para quais camadas sociais da populao? Longevidadepara viver uma vida com sentido ou uma vida meramente de consumidor, sobrevivente,dependente, adicto?

    Neste contexto, mais do que o avano de medicamentos alopticos (como apenicilina, deveras importante), foi o avano de condies sanitrias que promoveram maissade; foi a oferta de alimentos naturais e de condies de conscincia e cultivo do corpo edo ambiente que trouxeram e trazem sade. A longevidade atual deve ser comparada em

    5 Cf. Pelizzoli, 2007, 2011; Tenner, 1997. Sobre isto vale muito a pena assistir ao filme Sicko: SOS sade.6 Sobre isto cf. Hayflick L. The future of ageing. Nature. 2000; 408(6809): 267-269. Estudos como este apontam para uma longevidade razovel pelo menos em 85 anos; e o alcance mximo 125 anosde vida.

  • estudos com a longevidade das populaes de ambientes mais naturais e saudveis, onde aentrada de alimentos e produtos artificiais e o estilo de vida urbano doentio quase noocorreu (Tenner, 1996; Yum, 1987; Andreani, 2008). Muitas comunidades onde se observauma longevidade alm da mdia possuem uma muito boa qualidade de vida e os fatores desade antes citados, alm da vida social e afetiva mais tranquila, uma cultura mais saudvele prxima terra e ao uso do corpo. As condies ambientais so determinantes, so naverdade a extenso do corpo, portanto so a sade no sentido largo. H uma ligao diretae imediata entre IDH sustentvel-saudvel e sade-doena pblica (Gonzales, in Pelizzoli,2011a; Helman, 2003).

    J para um habitante do Tibet, que tinha uma vida tranquila e espiritual, e ausnciade alimentos artificiais, chegar aos 70 anos uma beno, pois naquelas condies morreraos 55 no anormal. Por qu? Basicamente, deve-se ao consumo de gorduras e cerealcozido, a falta de alimentos vegetais crus e de frutas (a refeio bsica gordura animal,carne, leite e alguns cereais, num ambiente frio e inspito). Isto significa que no basta sernatural no sentido geral, mas deve contemplar tambm o natural no sentido daquilo quevem in natura vegetais crus, frutas, cereais e brotos, folhas, alm de gua pura, ar econdies corporais e biticas adequadas e favorveis (Gonzales, 2006; Andreani, 2008;Yum, 1987). H outros fatores envolvidos na longevidade, como a hereditariedade e fatoresgenticos, os quais no cabem agora abordarem-se.

    A amplitude e os conflitos no complexo campo que se chama de cincias da sadepodem ser vistos, por um lado, na avalanche de medicamentos alopticos avanados, aomesmo tempo que a comprovao de que as plantas e os nutracuticos tm poder depreveno e de cura de doenas; ou ainda, que o consumo de frutas e verduras, numaalimentao natural como indicada pela naturopatia, por exemplo acoplada a um estilode vida bom com o cultivo do corpo, so no apenas um complemento da sade mas so asua prpria manuteno e o combate s doenas; ou seja, so tanto base para evitar asdoenas quanto teraputicas para elas.

    As pesquisas, nos ltimos anos, neste sentido so inmeras, alm dos autores quetrazemos aqui. Isto no deixa de revelar a riqueza de possibilidades das cincias sempremelhor falar no plural mas tambm as suas contradies, pois as alternativas de educaoem sade e de curas preventivas e curas naturais tm sido relegadas a complementos nocampo de investimento econmico que hoje domina o modelo biomdico. No obstante,note-se a diferena entre modelos de sade de pases como EUA, Itlia, Frana, ou Brasil,por exemplo; apesar de serem pases onde predomina o modelo biomdico pautado naMBE, os EUA apresentam ndices de doenas e sade extremamente mais deletrios queos europeus. A qualidade de vida Italiana urbana melhor que a norte-americana urbana,tanto quanto o consumo e o ambiente vital. Isto se reflete diretamente na sade e na boalongevidade (Tenner, 1997; Luz, 1988). Uma das concluses a : sade no sinnimo decomplexificao de equipamentos e processo crescente de medicalizao, e aumento dehospitais, mas ambiente e corpo saudveis (Alma-Ata, 2001; Servan-Schreiber, 2004).

    Outro ponto a repensar que vrias crticas ao modelo biomdico e medicalizadorapontam que abordar sade no igual a abordar doena, como se o modelo citadotratasse bem de doenas, mas fosse falho no aspecto de promoo e condies de sade,alm de aspectos de cidadania e sade. A falha deve ser percebida mais profundamente,com a anlise epistemolgica acurada. Um modelo que enfatiza a doena como disfunofsico-qumica e mecanicista, que apaga as abordagens no-metdicas e no-cartesianas,que abre mo dos modelos de abordagem tradicionais, sistmicos, integrativos, energticos,intuitivos, psicolgicos, no pode ser considerado um modelo com sucesso cientfico nosentido contemporneo, pois est operando dentro de uma episteme moderna (nocontempornea) com seus paradigmas em estado de tendncia ao fechamento. Portanto, aabordagem complexa e integrativa, que considera as tradies e os saberes locais, culturaise do prprio sujeito em seu lidar com o fenmeno doena-sade, faz-se necessria noapenas como complemento, mas como base para lidar com a doena (Pelizzoli, 2011a;Caprara, 2003; Servan-Schreiber, 2008; Fontes, 1999).

    Se no podemos dizer que h uma cincia apenas, muito menos podemos dizer queh uma cincia mdica como tal; um objeto que extrapola a idia de unidade, e queextrapola a idia de um corpo cerrado e exato de procedimentos, mesmo que se busque

  • esta unidade, com o modelo metodolgico da BEM, por exemplo, isto , feito s custas deuma diversidade de teraputicas e contextos possveis, modos paralelos de validao doconhecimento, contextos culturais de sade, e um grande ocultamento do ambiente natural.O mdico e pesquisador ingls Vernon Coleman chega a afirmar provocativamente que amedicina moderna no uma cincia, ttulo de um de seus textos famosos (apud Pelizzoli,2011a). E ele tem suas razes; na prtica, preciso reconhecer fracassos constantes domodelo (doenas iatrognicas, erro mdico, intervenes excessivas e caras, formasinvasivas e pouco naturais de interveno, medicalizao, viso reducionista da doena;ignorar as causas e etiologias de doenas, intoxicaes da sade do doente commedicamentos, etc.). Os fracassos podem ser explicados por falta de uma acurciaacadmica e cientfica, e tambm por falta de um fazer cincia verdadeiro, ampliado e ticoou, ainda, pela aposta excessiva na abordagem fsico-qumica objetificadora e nainterveno tecnolgica baseada numa medicina aloptica e hospitalocntrica sob olharreducionista-cartesiano do que seja doena - ao mesmo tempo que de grande impacto erisco para a sade (Pelizzoli, 2007, 2010 e 2011a; Botsaris, 2001).

    evidente que os rumos que a medicina atual tem tomado so o da tecnocinciaacoplada s expanses de mercado, portanto, uma perspectiva extremamente utilitaristadentro do modus de produo capitalista (Martins, 1996). reas como a doena e aalimentao so vistas no contexto poltico atual como fatias imensas e disputadas demercado e enriquecimento. A lgica a mesma do aumento das taxas de PIB, quando seprega o crescimento da produo e do consumo em escalas crescentes, com a abertura denovos mercados e suas possibilidades de explorao econmica. Na lgica do PIB j odenunciavam autores da dcada de 60, como o grande economista Georgescu-Roegen, ouno Brasil com P. Singer, A. Brum, J. Lutzemberger (com seu famoso Manifesto EcolgicoBrasileiro, de 1974) toda atividade econmica contabilizvel positivamente, tal comogastos com despoluio de rios, desmatamentos, acidentes, uso de pesticidas, uso deprodutos qumicos de toda ordem, destruio e reconstruo contnua de ambientesurbanos, e para o nosso caso, doenas, muitas doenas e seus grandes custos. J no omesmo caso para a previdncia social (Estado e Sociedade), a qual precisa sanar osresultados (externalidades) disso na sade pblica com altos custos.

    Doenas so geradores econmicos disputados hoje (portanto, sade bsica eambiental torna-se um obstculo econmico ao lucro); desde equipamentos hospitalaresdispendiosos, drogas de todo tipo, peas de reposio, empresas tcnicas especializadas,servios laboratoriais, importaes, prdios e infra-estruturas. H cada vez mais cursos,inclusive acadmicos, especializados em cada momento deste processo. a chamadaIndstria da Doena. Ela conta tambm com o chamado lobby poltico, com grande fora.Conta com um investimento em propagandas na ordem de bilhes de dlares anuais(Barros, 2004; Fitzgerald, 2008). Quando se forma uma estrutura deste peso, ela no maisapenas segue as demandas de uma sociedade, mas precisa se perpetuar; ainda mais:precisa aumentar, pois opera sob a lgica do crescimento econmico. Num contexto deste,pode-se entender por que uma cincia eficiente e aberta um risco poltico, bem como porque certo tipo de paradigma cientfico reducionista adotado; ou, ainda maisprofundamente, porque se faz pouca cincia e muita tecnocincia reprodutora voltada aomercado da doena (Fitzgerald, 2008; Coleman, in Pelizzoli, 2011a).

    A crtica ao modelo biomdico hoje, com a consequente adico alopticamedicalizante (penetrao e dependncia de medicamentos) e da poltica e econmicahospitalocntrica, apesar de ser crescente e cada vez mais evidenciadora dos problemas edo reducionismo aqui apontados, precisa enfrentar e adotar uma perspectiva ampla deanlise, como apontamos acima com o trip crtico do saber. preciso diferenciar umapesquisa que visa cura de uma doena daquela que visa descoberta de um novomedicamento ou uma variante sua. A primeira est aberta a considerar a doena comofenmeno sistmico, complexo e de base, e investigar as formas de sabedoria criadas nastradies mdicas de outros tempos e lugares bem como a vida do sujeito, enquanto asegunda visa atender a uma demanda de pesquisa com interesses primordialmenteeconmicos, ou de reproduo do prprio paradigma acadmico em que se inserem opesquisador, suas bolsas, congressos e carreiras7.

    7 E. Tenner relata como se deu o processo de cooptao das universidades e centros de pesquisa

  • No momento em que se considera a questo da sade como combate biomdico emedicalizante s doenas que compem um catlogo prvio, adota-se uma postura deignorar o que seja sade. Apenas ignorando-se o que seja sade, indicadores sociais,contextos comunitrios, condies ambientais-alimentares, promoo de sade, apenasexcluindo-se a base socioambiental, pode-se colocar em evidncia a superfcie e contentar-se com ela. Combater doenas na superfcie a base predominante do modelo biomdicoatual e das polticas de sade no Brasil, ainda.

    Temos exemplos gritantes de contradio neste sentido. Um deles so aspropagandas e o apoio viso de sade ditada pelos laboratrios na mdia. A Editora Abril(com sua revista Veja, sob influncia da poltica de direita conservadora e empresariadonorte-americano) e a Editora Globo so um exemplo clssico deste alinhamento com asnovas tecnologias e medicamentos das corporaes econmicas biomdicas, de modo que,ao lado de uma srie de recomendaes sobre sade no olhar natural, inserem nos textosas descobertas de medicamentos ou procedimentos medicalizantes, e buscam tambmdissimular a perniciosidade ambiental e de certos alimentos sabidamente artificiais eprejudiciais sade e ao meio ambiente, como carnes, adoantes, leite industrial,chocolates, refrigerantes, vinhos, cosmticos, e uma srie de aditivos qumicos alimentaresque no so postos em questo.

    Refrigerantes como a Coca-Cola tm adotado estratgia socioambiental epacificadora, inclusive naturalista para suas vendas, para um produto que sabidamentedanoso em termos de sade e de economias concentradoras/monoplios. Tais veculos demdia noticiam de tempos em tempos avanos mdicos e aumento da longevidade atravsde novas tcnicas biomdicas e medicamentos. O uso dos transgnicos apoiado; o usointensivo de (bio)tecnologias patenteadas e caras tido como sucesso. Por outro lado, ascondies de sade no pas so precrias, alarmantes, at mesmo por vezes para asclasses abastadas. Quando no se trata da incidncia de doena de ordem fsica, aguda oucrnica, o de ordem psicolgica e mental. O consumo de psicotrpicos e medicamentos deordem psiquitrica gigantesco no pas (Barros, 2004).

    No Brasil, as contradies so gritantes e tm explicaes em interesseseconmicos escusos, alm de uma falta de conscincia e educao. Por exemplo, apropaganda intensiva para crianas. Uma gerao de consumistas e doentes formada diaa dia. A revista inglesa The Lancet de maio de 2011 traz estudos e alertas srios nestesentido, recomendando ao governo brasileiro controlar urgentemente o consumo de doces eacar, refrigerantes, lcool, cigarros e carne no pas. H uma epidemia de doenas deorigem alimentar e de estilo de vida, mas as campanhas contra isto so extremamentefracas. Por outro lado, o poder das corporaes entra nos ministrios, nos cinemas,programas de TV, e nas mentes das crianas e adultos despreparados. A tomada deconscincia e sensibilidade faz-se urgente, se tivermos o mnimo de tica e cuidadohumanos, muito mais ainda para os cuidadores em sade.

    Para concluir: Sade, ambiente e tica para alm do mercado da doena

    Degenerao e equilbrio ambiental no so apenas retirada de reas verdes eanimais, ou produo de poluio visvel, mas essencialmente desequilbrio de interaes enichos, portanto, perda de homeostase dos organismos, corpos e processos vitais,traduzidos basicamente durante a civilizao com a palavra doena. Doena - ambiental eorganicamente considerada - aqui a reao sistmica e processo de desequilbrio que visaao novo equilbrio a partir das condies construdas no histrico da interao-ambiente,organismo ou corpo e sua readaptao (Maturana & Varela, 1995; Helman, 2003). Emdeterminado ponto, manifesta-se por externalidade ambientais ou sintomas que revelamalgo mais profundo pelo qual o organismo passa, no processo complexo entre equilbrio edesequilbrio.

    Uma interveno de ordem fsico-qumica aloptica ou cirrgica sobre um organismo,em geral, representa uma ao remediadora sintomtica, numa base patolgica redutorapara os procedimentos, no tocando necessariamente nas condies do campo gerador dadoena e da etiologia real e complexa do fenmeno sade-doena e organismo-ambiente.

    em direo aos laboratrios privados na rea da doena nos EUA. Ver Tenner, 1997.

  • Como exemplo, um combate antibitico a agentes patognicos no representa em geraluma recuperao da condio de sade, mas uma alterao pontual e momentnea no jogode interaes biolgicas. Em palavras simples: uma pequena batalha parece ter sido ganha,mas a guerra est sendo perdida; alm do que, as baixas de guerra e as retaliaesdevero ser computadas mais cedo ou mais tarde, como expressam os conceitos de efeitoscolaterais ou mesmo os efeitos iatrognicos.

    O combate doena num modelo biomdico de tal tipo, por mais quereconheamos sua importncia e tenhamos de dizer o que temos, uma luta que temobstculos e perdas j no ponto de partida, a no ser quando se enfatizam seriamente asabordagens que unem ao combate de doenas no modelo reducionista o combate acoplado ampliao de paradigmas (trip epistemolgico), e fundamentalmente a promoo efetivada Sade em todos os nveis aqui citados, com base na integralidade e na recuperao dadimenso ambiental-natural.

    O termo Sade ambiental muitas vezes um eufemismo redundante, ingnuo edespotencializado - isto quando no se percebe que se trata de um mesmo aspecto, de umamesma lgica de compreenso da vida a ser mantida, e de uma mesma frente de ao.Portanto, no h sade sem ser ambiental, pois corpo e ambiente so absolutamentecorrelatos e participam de uma mesma dimenso, compreendida na palavra organismo,orgnico, sistmico ou ecossistmico. Pensar a sade, mais que interveno fisiopatolgica, pensar o ambiente dos organismos e das populaes e o ambiente no a rea verde egeogrfica apenas, mas todas as condies vitais essenciais, como a alimentaoadequada, a respirao adequada, as relaes afetivas e culturais, familiares, a absoro deimpactos do clima, e tambm a cidadania, a vivncia dos ambientes naturais conjugadosaos ambientes construdos sustentavelmente (Alma-Ata, 2001).

    Se sade for eminentemente resoluo biofsico-qumica no modelo da cinciamoderna tomada pelo positivismo, pelo mecanicismo, pelo cartesianismo, no mais sadeno sentido pleno (Gadamer, 2006); igualmente isto vale para a abordagem da doena, poissade e doena esto em um mesmo processo organsmico ambiental sistmico, uma gamade processos complexos sobrepostos, sistemas dentro de sistemas em auto-organizao einterao, com reaes no-lineares (Matura & Varela, 1994), que exigem uma abordagemcomplexa, multifatorial, interdisciplinar, que resgata as sabedorias em sade, as tradiesmedicinais, colhendo aquilo que percebido pela comunidade dos pesquisadores e pelasociedade como til, verdadeiro, efetivo e sustentvel com isso se modifica e se enriqueceo modelo biomdico.

    Uma palavra final cabe ainda quanto ao nosso futuro prximo, a partir da incidnciade epidemias nas ltimas dcadas e do incremento de doenas ambientais e degenerativas.Ao passo da degradao de ambientes urbanos e rurais e de reas antes com baixoimpacto antrpico, ou seja, no ritmo do aumento da poluio, toxidade, alterao artificial daalimentao e de nosso ambiente pessoal e familiar, acompanham passos de aumento daao de agentes patognicos, de doenas degenerativas, de novos vrus, retrovirus,superbactrias, de alergias de vrias ordens, de retorno de doenas adormecidas, enfim, deuma resposta sistmica ao impacto antrpico desequilibrado, ao nosso estilo de vida.

    A presena cada vez maior de metais pesados, de resduos de agrotxicos, aditivosqumicos em higiene, cosmticos, alimentos de toda ordem e em maior quantidade, volumede partculas eletrnicas, plsticas, metlicas e qumicas no ar, no solo e nas guas e,portanto, nos corpos, determinam silenciosa e complexamente nossos destinos junto a umambiente doentio e que precisa de tempo para se reequilibrar8.

    Antes tarde do que nunca. Este o grande desafio para um sistema de sade, parauma educao em sade, para a sade coletiva e bsica ampla que precisa urgentementelidar com sua crise e criar possibilidades de reconstruo poltico-institucional, cientfica,integrativa e, acima de tudo, (bio)tica.

    8 Cabe aqui apontar trs frentes integrativas: 1- Reconexo com a natureza: alimentao funcional, gua estruturada, luz solar, ar fresco, atividade fsica e ldica, sono e descanso, harmonia emocional e mental. 2- Reconexo espiritual: leitura de textos de sabedoria, abertura para o amor, reencontro do poder superior, exerccio da paz, reabilitao profissional e vocacional, percepo do eterno. 3-Resgate de relaes pacficas: com o prprio corpo, com a mente, com a famlia, com a comunidade, com a natureza. (apud Gonzales, 2006.)

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