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SAÚDE DA FAMíLIA NA PÓS-GRADUAÇÃO: UM COMPROMISSO ÉTICO INTERDISCIPLINAR NA PÓS-MODERNIDADE COMEÇANDO A REFLETIR SOBRE A QUESTÃO Desde meados dos anos 80, a temática Saúde da Família tem sido foco de nossa atenção seja na assistência, ensino ou na pesquisa, traduzindo-se pela produção crescente de teses de doutorado, dissertações de mestrado, trabalhos de conclusão de curso de graduação e monografias de especialização, artigos em periódi cos, seja como fruto de uma prática assistencial, ou de execução de projetos de extensão junto à família onde ela se encontre: instituições de saúde, comunidade, no seu domicílio, entre outros. Deste mo do, percebe- se que, nestas duas décadas, a questão Saúde da Família tem se de senvolvido tanto na graduação, como na Pós-graduação de Enfer mage m, sendo neste último nível de modo mais expressivo. Uma década mais tarde, mais precisamente em 1 994, a partir do denominado Ano Internacional da Família, o tema Saúde da Fam ília tem estado Rosane Gonçalves Nitschkel Ingrid Else Apesar de alguns autores se voltarem exclusivamente para dent da famia para falar de saúde da fama e famia saudável, a prática tem nos mostrado que trabalhar com família é estar em trânsito entre o mic e o macsocial, entre o ser humano na sua individuali- dade e na sua coletividade, enfim é mer- gulhar infinitamente nas relações intra e extra-famil iais. É aprender a relativizar! E a Pós-Graduação precisa garantir isto! mais presente no nosso dia-a-dia, na medi da que os órgãos governamentais o colocaram inicia lmente como programa e, mais recentemente, como uma estratégia para reorientação do modelo assistencia l (MINISTÉRIO DA SA Ú DE, 1998) , sendo proposta sua integração tanto a nível de graduação , como de Pós-graduação, com indicações de cursos de especialização, residência , bem como mestrado e doutorado. Frente a esta situação e desenvolvendo atividades na Pós-graduação, ora como estu dante, ora como docentes, passamos a nos perguntar: afinal, por quê pensar saúde da família na pós-graduação? Assim, delineamos nosso objetivo aqui: despertar uma reflexão sobre saúde da família no âmbito da pós-graduação. Alguns autores ( Gil lis et aI. 1 989) já colocaram que, enquanto a graduação prepara profissionais para cuidar de famílias, a pós-graduação assume o papel de oferecer formação para terapia com famílias, no que se refere à especialização. Já a nível de mestrado e doutorado, a pós-graduação assume o desenvolvimento do conhecimento, destacan do-se, entre outras qu estões, as conc eituais, éticas, a partir de pesquisas. Para provocar o debate, colocamos que a importância da temática saúde da família na pós-graduação reside na questão de ser um co mpromisso ético dos profissionais da saúde, bem como das universidades e órgãos governamentais frente à 1 Enfermeira, Doutora em Filosofia de Enfermagem pela UFSC-SORBONNE, Professora Adjunto do Depaamento de Enfermagem da UFSC, Coordenadora do Núcleo de Pesquisa e Estudos sobre o Quotidiano e Saúde de Santa Catarina (NUPEQS-SC) e do Pjeto de Extensão NINHO: criando um espaço para assistir transdisciplinarmente a família; membro do Grupo de Assistência, Pesquisa e Educação em Saúde da Família (GAPEFAM). 2 Doutora em Enfermagem pela Universidade da Califóia ; Pfessora do Pgrama de Pós-Gradução em Enfermagem da UFSC; Coordenadora do Grupo de Assistência, Pesquisa e Educação em Saúde da Famia (GA PEFAM). R. Bras. Enferm. , Brasília, v. 53, n. especial, p. 35-48, dez. 2000 35

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SAÚDE DA FAMíLIA NA PÓS-GRADUAÇÃO: UM COMPROMISSO ÉTICO INTERDISCIPLINAR NA PÓS-MODERNIDADE

COMEÇANDO A REFLETIR SOBRE A QUESTÃO

Desde meados dos anos 80, a temática Saúde da Fam í l ia tem sido foco de nossa atenção sej a na ass i stênc ia , ens i no ou na pesq u isa , traduzindo-se pela produção crescente de teses de doutorado, d issertações de mestrado, trabalhos de conclusão de curso de graduação e monografias de especial ização, artigos em periódicos, seja como fruto de uma prática assistencial , ou de execução de projetos de extensão junto à fam íl ia onde ela se encontre : institu ições de saúde, comun idade , no seu dom icí l io , entre outros . Deste modo, percebe­se que, nestas duas décadas, a questão Saúde da Fam í l ia tem se desenvolvido tanto na graduação , como na Pós-g raduação de Enfermagem, sendo neste ú lt imo n ível de modo mais expressivo .

Uma década mais tarde, mais precisamente em 1 994, a part ir do denominado Ano I nternacional da Fam íl ia , o tema Saúde da Fam íl ia tem estado

Rosane Gonçalves Nitschkel Ingrid Elsefi!

Apesar de alguns autores se voltarem exclusivamente para dentro da família para falar de saúde da família e família saudável, a prática tem nos mostrado que trabalhar com família é estar em trânsito entre o micro e o macrosocial, entre o ser humano na sua individuali­dade e na sua coletividade, enfim é mer­gulhar infinitamente nas relações intra e extra-familiais. É aprender a relativizar! E a Pós-Graduação precisa garantir isto!

mais presente no nosso d ia-a-d ia, na medida que os órgãos governamentais o colocaram in icialmente como programa e, mais recentemente, como uma estratégia para reorientação do modelo assistencial (M IN ISTÉRIO DA SAÚDE, 1 998) , sendo proposta sua integração tanto a n ível de g raduação , como de Pós-graduação , com ind icações de cu rsos de especia l ização , residência , bem como mestrado e doutorado.

Frente a esta situação e desenvolvendo atividades na Pós-graduação, ora como estudante , ora como docentes, passamos a nos perguntar: afinal , por quê pensar saúde da famíl ia na pós-graduação? Ass im, del ineamos nosso objetivo aqu i : despertar uma reflexão sobre saúde da famíl ia no âmbito da pós-graduação.

Alguns autores ( Gillis et aI. 1 989) já colocaram que, enquanto a graduação prepara profissionais para cuidar de fam íl ias, a pós-graduação assume o papel de oferecer formação para terapia com fam íl ias, no que se refere à especia l ização . Já a n ível de mestrado e doutorado, a pós-graduação assume o desenvolvimento do conhecimento , destacando-se , entre outras questões, as conceituais , éticas, a part i r de pesqu isas . Para provocar o debate , colocamos que a importância da temática saúde da famíl ia na pós-graduação reside na questão de ser um compromisso ético dos profissionais da saúde, bem como das un iversidades e órgãos governamentais frente à

1 Enfermeira, Doutora em Filosofia de Enfermagem pela UFSC-SORBONNE, Professora Adjunto do Departamento de Enfermagem da UFSC, Coordenadora do Núcleo de Pesquisa e Estudos sobre o Quotidiano e Saúde de Santa Catarina (NUPEQS-SC) e do Projeto de Extensão NINHO: criando um espaço para assistir transdisciplinarmente a família; membro do Grupo de Assistência, Pesquisa e Educação em Saúde da Família (GAPEFAM).

2 Doutora em Enfermagem pela Universidade da Califórnia ; Professora do Programa de Pós-Gradução em Enfermagem da UFSC; Coordenadora do Grupo de Assistência, Pesquisa e Educação em Saúde da Família (GAPEFAM).

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NITSCHKE Rosane Gonçalves et aI.

população. Entretanto, antes é preciso reflet i r sobre a noção de saúde da fam íl ia ou saúde fami l iaP bem como sua relação com fam íl ia saudáve l .

SAÚDE DA FAMíLIA: UMA NOÇÃO EM QUESTÃO

Se a compreensão da famíl ia passa por d iferentes olhares , a saúde da fam íl ia também pode acolher d iferentes defin ições, dependendo da visão de mundo de cada um'. De acordo com Bomar ( 1 990) , embora exista d ificu ldade desenvolver uma noção de saúde da famíl ia, mu itas defin ições envolvem d iferentes d imensões podendo ser tanto bio lógicas, psicológicas e sociológicas como espirituais, dentro de um contexto cultural no qual a fam íl ia interage, ao experenciar bem-estar ou doença, destacando que saúde da fam íl ia é mais do que a ausência de doença.

Assim como há a saúde de ind ivíduos, também podemos falar em saúde da fam íl ia e fam íl ia saudáve l , conforme já se destacou em trabalhos anteriores (Nitschke, 1 99 1 e Nitschke, 1 995) . Deste modo, segundo Gillis ( 1 989) , apesar de os ind ivíduos (membros participantes e componentes da famíl ia) serem interativos , a saúde desses ind ivíduos d istingue-se da saúde da fam íl ia.

Entretanto, se esta d iferença é melhor acentuada entre a saúde do ind ivíduo e saúde da famíl ia , o mesmo já não se percebe quando os autores tratam de saúde da famíl ia e família saudável . Conforme Bomar ( 1 990) , as defin ições de saúde da fam íl ia e fam íl ia saudável derivam-se de uma variedade de marcos conceituais e teóricos.

Gillis (1989), citando o trabalho de Bawrnhill, também aborda as dimensões da saúde da família, referindo que são organizadas em quatro áreas: identidade de processos; mudanças; processamento de informação e estruturação de papéis.

Os terapeutas fami l iares definem a fam íl ia saudável como aquela que é l ivre de psicopatologias e que tem um ótimo funcionamento fami l iar. Portanto , considera-se como saudável a fam íl ia que tem um equ i l íbrio de coesão, flexib i l idade e uma comun icação funcional .

Por sua vez, os teoristas desenvolvimentistas, estabeleceram que as fam íl ias são saudáveis quando estão cumpri ndo tarefas de desenvolvimento no tempo apropriado. Ainda, segundo Bomar ( 1 990) , a fam íl ia saudável pode ser aquela que possu i como característica a habi l idade para enfrentar o stress.

Conforme Bomar ( 1 990) , numa pesqu isa real izada com 551 profissionais que trabalham com famíl ias, Curran observou que as características mais citadas de uma famíl ia saudável são: os membros comun icam-se (escutam um ao outro) , e dão suporte um ao outro; há o ensinamento de respeito de um pelo outro; desenvolve o senso de un idade; possui senso de humor e para brincar; exibe um senso de responsabil idades parti l hadas; ensina um senso de certo e errado; possu i um forte senso de fam íl ia rico em rituais e trad ições ; existe um equ i l íbrio de interação entre os membros; possui um centro re l ig ioso ; há o respeito pela privacidade do outro ; existem valores de ajudar o outro ; cria um tempo para fam íl ia à mesa para conversar; parti lha tempo de lazer; e admite sol icitar ajuda quando está com problemas.

Dentro da perspectiva interacion ista, segundo Delaney ( 1 986) , fam íl ia saudável é aquela que possu i canais abertos de comunicação, regras flexíveis, auto-valorização elevada, e negociações bem suced idas com elementos externos à fam íl ia .

Pratt ( 1 989) , segundo Gillis, caracteriza a fam íl ia saudável examinando seus laços com a comun idade, a i nteração entre os membros da fam íl ia , a estrutu ra de papéis , a l iberdade e as responsabi l idades . Estas duas ú ltimas autoras chamam nossa atenção para o aspecto de que quando a saúde envolve fam íl ia, não é possíve l , l im itá-Ia às suas interações internas , sendo essencial enfocar suas relações com o campo exterior , como seu ambiente , sua comun idade.

Para aquecer a reflexão, podemos resgatar a d iscussão, já levantada em tese (Nitschke, 1 999) , quanto à saúde e saudáve l , retomando o conceito proposto na VI I I Conferência Nacional de Saúde4, ocorrida em 1 986, tornando-se base ao sistema de saúde vigente . Deste modo, podemos dizer que os profissionais que trabalham na saúde da fam íl ia , tem a f inal idade de contribu i r para se ter o que nasce e se origina das « das condições de al imentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte , emprego, lazer, l iberdade, acesso à posse de terra e acesso a serviços de saúde. E,

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Saúde da Família na Pós-Graduação . . .

ass im , antes d e tudo, o resu ltado das formas d e organização social d e produção, a s quais podem gerar desigualdades nos n íveis de vida"5 . , fac i l itando-se o processo de ser famíl ia saudáve l . .

Penna ( 1 996)6 levantou a d iscussão sobre os aspectos resu ltantes e resu ltados trazidos pela VI I I Conferência Nacional de Saúde. Entretanto, se entendermos resu ltante , como o que emerge do verbo resu ltar7 , como algo nascente, proeminente , or ig inal , tornar-se e , não como uma conseqüência lógica, acredita-se que existe uma relação entre as condições para ser fam íl ia saudável e as condições para ter saúde. Todavia, ser fam íl ia saudáve l , exige algo mais : as nuanças do ser-estar junto com.

Retomando algumas fam íl ias, é possível concordar com Pennéf quando diz que «saúde é do ter, saudável do ser. . . para ter saúde é preciso adqu i ri r ; para ser saudável , é preciso senti r»9 . Entretanto, as fam íl ias não vêm o ser saudável como qualidade de saúde, como Meleis ( 1 992) , já que colocam a saúde como componente do seu ser saudáve l . Para elas, é preciso senti r-se bem, mas também ter . . . Vê-se que enfocar a saúde d a fam íl ia é mergu lhar n u m mar d e d iversidades, n o que s e refere à sua compreensão, mas é sobretudo, mergu lhar na sua rede de interações, tanto intra quanto extra-fami l ia is , o que vale dizer trazer à tona suas necessidades, suas potencial idades, suas forças , traçando sua rede e suporte social , envolvendo a sua comunidade, seu ambiente , seu território, seu planeta, situando­a num tempo e num espaço, enf im, contextual izando-a.

SAÚDE DA FAMíLIA NA PÓS-GRADUAÇÃO: UMA QUESTÃO DE COMPROMISSO ÉTICO

Dentro do nosso entendimento, um dos papéis da Pós-Graduação tem sido o de capacitar profiss ionais , comprometidos et icamente, para a produção , desenvolvi mento e d ivu lgação do conhecimento, em n ível avançado, que subsid ie a prática, o ensino e a pesqu isa na área da saúde.

Mas o que é estar comprometido eticamente? Para nos aproximar de nossa compreensão, podemos resgatar Savater ( 1 994) , quando afi rma

que a primei ra exigência ética é a de constru i r uma boa existência, uma boa vida humana que , para ser tal , só poderá ser vivida entre outros seres humanos. Ass im , temos entendido ética como aquele "compromisso social , profissional e científico que o pesqu isador tem com a melhoria da qual idade de vida da população" (Elsen; Nitschke, 1 994, p .9)

Em outros trabalhos ( Caponi; Elsen; Nitschke; 1 995, Nitschke, 1 999) , destacamos algumas d imensões do compromisso ético como: estar em sintonia com as necessidades, avanços, problemas, enfim a realidade das pessoas, dos grupos, da comunidade, da nação e do mundo; buscar respostas aos problemas e desejos, ou seja, criar, desenvolver e organizar conhecimentos e tecnologias para promover a melhoria da qualidade de vida e saúde; socializar conhecimento, ou seja, compartilhar saberes com as pessoas, os grupos, a comunidade e a nação; formar profissionais capazes de exercer uma profissão sem riscos para o outro; oferecer oportunidades para o desenvolvimento integral do ser humano, comprometido consigo próprio e com a comunidade. Destas, ressaltaremos três, para nos gu iar em nossa reflexão.

CAI N DO NA REAL E ENCONTRANDO FAM íLIAS NA PÓS-MODERN I DADE

A primei ra d imensão, estar em sintonia com as necessidades e avanços, problemas, enfim com a realidade das pessoas, dos grupos, da comunidade, da nação e do mundo, faz-nos ancorar numa perspectiva contextual e nos questionar: que tempo é este que vivenciamos? como estão as fam íl ias nesta contemporaneidade?

Vivemos num contexto de d iversidade , re latividade e de p lural idade de valores , que pode ser apresentado, segundo HartmanlO , como Pós-modern idade.

Falar em Pós-modernidade é mergu lhar num mundo de controvérsias, sendo ela foco de inúmeros e férteis debates por diversos estudiosos como LyotarcJ11 , Vatimd2 , Coelh013 , Maffesolt'4 , Santos1 5 . Há autores que a negam em sua essência, outros que preferem não uti l izar o termo, mas cr iam outra nomenclatura para falar de determinados traços destes outros tempos que estamos vivendo.

Todavia , como destaca Watier1 6 , o importante encontra-se no conteúdo, nos elementos de compreensão e de descrição deste período atual que aí está , de tal modo que nos permita apreender

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NITSCHKE Rosane Gonçalves et aI.

alguma coisa sobre as experiências e interações sociais dos indivíduos, a relação com as institu ições, bem como com as s ign ificações imaginárias que estas produzem , podendo inclusive gu iá-los. Está c �aro �ue estamos passando para outros modos de organização so�ial , mesmo que em algumas Sltuaçoes estas encontram-se apenas esboçadas .

Concordando, com este posicionamento é que trazemos a pós-modern idade, não só como pano de fundo, mas como expressão de todo um movimento que se vivencia ao longo de nossa h istória.

Num artigo sobre arte , segundo Vaistman17 , Oilnot expõe o pós-moderno como um processo de inter l igação de frontei ras entre tipos de práticas que convencionalmente são considerados como inte i ramente d iferentes. Também neste sentido de convivência de coisas percebidas como diferentes, o pós-moderno é considerado como um dominante cultural : uma concepção que perm ite a presença e a coexistência de um espectro de características mu ito d iferentes, ainda que interdependentes. Ass im, a inexistência de um padrão dominante , não importa a que campo social se esteja referindo, é um pr imeiro traço que nos remete às tendências pós-modernas.

Com a satu ração da modernidade, "o doméstico ou cotidiano" ressurgem, para MaffesolP s . Temos agora a lógica do doméstico, quer dizer, recentramento no mais próximo, trazendo a idé ia de 'proxemia ', ou seja, a ênfase na relação com o meio ambiente , e com o outro social » .

D e acordo com Silva, 1 9 a pós-modernidade é a supremacia da social idade , a sol idariedade de base , sobre a sociabi l idade, a sol idariedade mecân ica, reportando-nos ao sentido maffesol iano do term020 . Deste modo, para Silva21 , no caso da passagem do moderno ao pós-moderno, percebe-se que « não é o sistema econômico que muda radicalmente, mas a manei ra de os ind ivíduos e grupos sociais re lacionarem-se com ele » .

A tecnologia tem encolh ido o mundo físico, expandido e feito complexa a experiência cu ltu ral e social mundiais do ind ivíduo. Os ind ivíduos estão pessoalmente conectados com sign ificativamente mais gente e variadas formas de vida esticam-se sobre o largo espaço geográfico. Nesta mu lt ipl icidade de re lações, oferece-se uma excitante , mas assustadora mistu ra de visões , crenças e real idades mundiais.22

"Ligar o rádio, assist i r um f i lme, abrir um jorna l , receber um fax, corresponder-se pelo E-mai l , ou assisti r um jornal às altas horas da noite é tornar-se imerso no 'outro'23. Nós entendemos as opin iões, valores , medos, dúvidas , necessidades, aspi rações e personal idades de estre las de c inemas, sobreviventes de campos de concentração , atletas campeões , africanos vít imas a fome, vencedores do Prêmio Nobe l , at ivistas da A IDS, autores femin istas . . . Escutamos, empatizamos, e absorvemos: ganhamos o potencial para entender opin iões , apreciando as possib i l idades e experenciando os sentimentos de m i lhares de pessoas de cuja existência, raramente poderíamos imaginar. Em efeito , tornamo-nos habitados por outros, e adqu i rimos uma inf in idade de fragmentários e freqüentemente competitivos selfs. »24

É a tecnosocial idade da qual Maffesol i nos fala. Para ele, pode-se pensar num primeiro momento que a técnica é a lguma coisa que tende ao isolamento, mas vê-se um processo inverso, atuando como um laço social , man ifestando um "re l igare ; uma re-al iança" . 25

Retomando-se a questão da global ização , que já vem surg indo desde a modern idade, segundo Silva26 , ela agora s ign if ica mais a interdependência. «No campo da cu ltu ra , atre lado ao econômico, mas com suficiente margem de autonomia, tudo se interl iga e se inf luencia, o que não quer d izer necessariamente homogeneização. Ao contrário, o local conserva-se, a d iferença convive , o particular art icula-se ao un iversal . Mesmo dentro de uma reg ião, a d iversidade é regra. A internacional ização do cotidiano não impede o florescimento da particularidade" . A real idade é outra : o microscópico relativizou o macroscópico.

Na pós-modernidade o rigor fracassa . As regras não cessam de mu lt ip l icarem-se. Mas cada grupo pode estabelecer o seu contrato. Fundam-se éticas do instante. Entre a ortodoxia do dever-ser moderno e o supermercado ético pós-moderno, como refere Silva27 , a d istância é qu i lométrica .

Conforme MaffesolFs , existe ind ícios de que os grandes valores da modern idade chegaram a sua satu ração , sendo que um deles está no fato de que na vida cotidiana « não há mais aquela crença exacerbada no futuro» . Ass im, para este autor, j unto com o «s imbol ismo» , o « interesse no presente »

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é o outro elemento mais importante da pós-modernidade 29 . Vive-se , deste modo, o que se pode

chamar de presenteísmo.

E a real idade bras i le i ra? Segundo MaffesolPo , o "gênero pós-moderno congrega elementos de

vários est i los, com nuanças part icu lares , de acordo com a cor local de diversos países . Sua h ipótese

é de que há países como, por exemplo, o Bras i l , que podem ter saltado sobre a modernidad� . . �este

modo, refere-se à carta de Marx a Vera Zassoul itch , onde ele considera favoravelmente a possibi l idade

de um país saltar etapas" . Conforme Maffesoli, algumas l i nhas da pós-modernidade são perfeitamente d iscerníveis no

Bras i l , ta is como : o ecletismo (o pós-modernismo é p lu ra l , não é un id imensional ) ; a integração da

natureza na cultura e vice-versa; o patchwork, isto é , a construção de a lguma coisa nova a part i r de elementos d iversos; a predominância da ' ética da estética ', entendendo-se estética em sentido de percepção , sensação, emoção, etc . E deste modo que começamos a não nos su rpreender com a colocação de que nosso país , mesmo com suas estat ísticas chocantes de m iserabi l idade, vive a Pós­modernidade .

Silva3' também provoca in ic ia lmente : «ser ia mesmo legít imo referi r-se à pós-modern idade no Terce i ro Mundo? » , para posteriormente argumentar «a população primeiro-mundista foi arrastada para a i nt imidade com a tercei ro-mundista , a inda que escandalosos graus de desigualdade persistam". Ass im , o Brasi l i nsere-se no desigual e art icu lado un iverso da internacional ização pós-moderna.

Barretej32 reforça esta posição quando se refere à imagem da sociedade bras i le i ra sendo «constitu ída de p lural ismos, de contradições onde coabitam o arcaico e o moderno, a miséria absoluta e a opulência ostensiva. Não se trata de uma sociedade harmônica nem homogênea. Se pudermos falar em total idade , trata-se mu ito mais de uma total idade confl itual feita de confrontos e afrontamentos" .

Abrigam-se em nosso país , segundo Silva33 , a pré-modernidade, a modern idade e a pós­modern idade . Nosso país vivencia o s incretismo, a conjugação dos opostos, o casamento dos i nconci l iáveis à pr imei ra vista. Tudo isto mostrando-se no tráfico de i nf luências, na m iséria , no analfabetismo, na violência selvagem e na ind iferença, enf im nos aspectos relacionais da sociedade, onde «as am izades, as l igações g rupais e as éticas locais valem mais do que as normas un iversais e a le i » . Sem dúvida, « estamos dentro de um outro t ipo de espaço s imból ico d iferente daquele das sociedades tradicionais e com outro tipo de sujeito social » , parafraseando Akoun . Ass im, perguntamo­nos: como i remos encontrar a fam íl ia nestes tempos pós-modernos?

O predomín io da cons iderada fam í l ia ideal da modern idade, segundo Vaitsman34 , vem desaparecendo. Ou seja, a chamada fam ília tradicional , ou conjugal , como aquela formada pelo homem/ pai provedor f inance i ro e a mu lher/mãe dona-de-casa, un idos pelo casamento ( legal e ind issolúve l ) , e seus f i lhos, vivendo sob o mesmo teto , passa a coexisti r, cada vez mais, com uma rede de interações que inc luem outros «conteúdos» , chegando até a se i nstitucional izar sob novas formas .

Pode-se dizer que a famíl ia bras i le i ra vem se traduzindo há mu ito tempo em fam íl ias brasi le i ras, como afi rmou Kaloustian35 , não só pelos seus matizes étn ico-cu ltu ra is , mas também pelas suas n uanças sócio-econômicas, mostrando-se em sua d ivers idade , p l u ra l idade, hete rogene idade, flexibi l idade, instabil idade e fragmentação. Destacando-se que estes mesmos elementos são justamente os traços que vem del ineando a tendência pós-moderna.

De acordo com Vaitsman36 , as separações e os novos casamentos vêm aumentando o número de pessoas que vivem com parcei ros que não são os pais ou as mães de seus próprios f i lhos. Concomitantemente, aumenta o número de crianças que convivem com seus i rmãos, meio- i rmãos e «os f i l hos do marido/esposa de minha mãe/meu pai » . Vêm conqu istando seu espaço , os casais de homossexuais, «as pessoas que vivem sós, l ivres do estigma de soltei rões, as mães solte i ras e os descasados de ambos os sexos que , j untamente com o exercício s imu ltâneo de a lguma atividade remunerada, assumi ram a criação dos f i lhos sem a presença de um parce i ro» . Além d isto , tem-se os f i lhos, mu itas vezes ainda adolescentes , ou mesmo, crianças , como provedores econômicos da fam íl ia . Vários aspectos ainda passam a compor esta constelação fami l ia l , onde mais elementos, por serem o outro significativo, também passam a constitu i r o espaço fami l ia l , como um vizinho, um colega de pensão ou de trabalho, ou mesmo, os teleamigos e os an imais de estimação, por exemplo.

O estereótipo fami l iar da fam íl ia composta de um marido que é pr imariamente o provedor e uma

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esposa que fica em casa com suas crianças constitu i menor percentual das fam íl ias. Mu lheres estão trabalhando fora do lar em números recordes, pessoas são escolh idas através de agências telefônicas de casamento, fam íl ias estão crescendo menores, e tem havido um número crescente de fam íl ias de um ún ico pai , mais freqüentemente encabeçadas por mu lheresY

Isto não quer dizer que o padrão da fam íl ia conjugal predominante na modern idade tenha desaparecido, nem no Brasi l , nem em outras partes do mundo. Como chama nossa atenção Vaitsmarf38 , é preciso enfatizar que não se trata da substitu ição de um tipo de fam íl ia , «a conjugal moderna» , por outro t ipo, a pós-moderna, uma vez que a fam íl ia h ierárqu ica , marcada pela dicotomia de papéis , não desapareceu . « De maneira mais precisa, o que caracteriza a fam íl ia e o casamento numa situação pós-moderna é justamente a i nexistência de um modelo dominante , seja no que diz respeito às práticas, seja enquanto um discurso normatizador das práticas» .

U ma efervescência torna-se evidente neste outro jeito d e ser família, deixando-nos mais l ivres para afi rmá-Ia também como uma tr ibo, tomando-se a concepção maffesol iana39do termo, dentro de uma perspectiva proxêmica. Assim , tendo uma rede de comunicação que lhe é pecu l iar, apresenta necessidade de rituais e enfatiza aqu i lo que está próximo. I sto porque as fam íl ias vêm se constituindo em função de uma ética específica. Busca uma vida quotidiana mais hedonista, menos determinada pelo «dever-ser» , sendo mobi l izadas em profund idade pelo não-racional . É possível observar um sentimento de pertença que, todavia , não é absoluto , estabelecendo assim também uma instabi l idade, podendo, portanto, ser efêmero. Deste modo, aquele denominado «borboleteamento » que é pecul iar a estes outros tempos, também se man ifesta na famíl ia .

Realçando a ética da estética, uma das tonal idades da pós-modernidade, pode-se i lustrá-Ia com o que Vaistman40 nos traz, ao dizer que a « manutenção da fam íl ia subord inou-se ao emocional , pr incípio que passou a orientar comportamentos e estimu lar as pessoas a recusar relações íntimas sentidas como insatisfatórias".

Tudo isto nos reporta à fam íl ia na sua un icidade, e não na sua un idade, como já colocado em outros momentos. Isto porque a unidade nos traz a idéia de un iformidade, ou seja, de formas autoritárias e total izantes de atuar no mundo.41 Enquanto que a un icidade, como diz Maftesoli 42 , pressupõe uma união em pontilhado, ou seja, a fam íl ia se mostra num constante intercãmbio, com outras tribos inclusive, e, sendo assim, também expressando a ambigüidade que o afeto traz consigo: de amabil idade e agressividade; querer estar junto e afastar-se ; amar-se e odiar-se ; sendo que «tudo isso não ocorre sem d i laceramentos e confl itos de toda ordem » .

Alguns poderiam d izer: "mas estas fam íl ias na pós-modernidade são um caos ! ! ! Lembrando Si lva43 , pode-se d izer que «a pós-modernidade afasta-se da servidão e envolve os homens através dos recursos da paixão. Em vez da obrigação da sol idariedade mecân ica; o bem-estar da comunhão, traduzida na sol idariedade orgânica e na social idade. Em substitu ição à frieza da norma, o calor da exaltação . Deste modo, mu itas fam íl ias não pensam mais em convenções , mas sim em ser feliz.

Este aspecto deve ser subl inhado pelos profissionais da saúde em particular, pois, trabalhando com fam íl ias, buscando promover sua saúde, percebe-se que este ser saudáve l , passa por uma melhoria de sua qual idade de vida, fundindo-se , cada vez mais, a busca de ser saudável com a busca de ser fel iz. Busca que vem sendo bastante d iscutida em trabalhos recentes dentro da área da saúde, como por exemplo, o de Patrícid4• Dentro desta d iscussão, parece oportuno colocação da idéia de RezendEf+5, enfatizando que «a qual idade de vida, neste novo tempo, exige mais do que a sobrevivência f inal izada num futuro promissor. Passa , pensamos nós, pelo prazer e pelo júb i lo do presente , . . . Se antes era preciso ser saudável para o exercício produtivista , na pós-modern idade, mais do que ser saudáve l , é preciso ser fel iz , mesmo que esta fel icidade faça perigar a sanidade» .

A socia l idade pós-moderna, de acordo com Maffesol(+6 , é transfig u rada pelas imagens, entendendo-se por transf igu ração a passagem de uma figu ra a uma outra . Ass im, para o autor, a "sociedade da imagem" é a marca da pós-modernidade.

Vivemos num "emaranhado cada vez mais complexo de objetos , de signos, de imagens, entre sonho e real idade, pr is ioneiros sem cadeia de um un iverso s imból ico de s ign ificações misteriosas" , remetendo a um conjunto entendido enquanto mundo imaginaI . I sto tudo coloca em relevo todo um mundo imagina i , no qual as fam íl ias estão imersas .

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Maffesolf7, ao tratar o mundo imag inai , foca seu olhar na questão da imagem devido à sua importância contemporânea. Para e le a imagem é cu ltu ra e faz cu ltura. A imagem determina os comportamentos humanos em função de u m dado meio e , ao mesmo tempo, e la faz este meio em função destes comportamentos. A imagem é um concentrado do mundo: um tempo e uma h istória que se espacial izam . "Não há qualquer aspecto da vida social que não seja 'contaminado' pela imagem". E la é um vetor de comunhão com os outros; é um fenômeno que não pretende o absoluto ; e la coloca em re lação. Este relativismo é que não permite a segurança dogmática de uma razão abstrata. E la constata uma l igação vita l , uma estética emocional em todos os seu afetos.

A imagem, a aparência, não tem uma f inal idade precisa ou uma "racional idade i nstrumental" , exprim indo uma "h iperracional idade", feita de sonho, de lúd ico, de fantasmas, e que pa�ece mais pertinente para descrever o rea l , ou mesmo, o "h iperreal" que movimenta a vida social . E isto que podemos chamar de mundo imaginai que é como uma matriz na qual todos os elementos de um dado mundano entram em interação, correspondendo-se de maneiras mú lt ip las e em uma revers ib i l idade constante . É desta maneira , segundo Maffesol i , que "se pode dizer que o mundo imagina i , de uma maneira real ista, leva a sério cada um de seus elementos , não importando qua l , e vai deste modo, constitu i r o real contemporâneo ou pós-moderno.

A parti r dessas colocações é que vemos justificada a importância de buscarmos o mundo imaginai se qu isermos melhor compreender as famíl ias contemporâneas. A questão da força da imagem neste d ias é i l ustrada por Maffesoli e também outros autores, como 8audrillarcf8 e Durancf9 , Ecd'°, Lyndsay1 , Soggard, Fonebd'2 e Rezende53, quando trazem sua veicu lação através da m íd ia , mais precisamente a televisão.

Na área de estudos sobre fam íl ias, já podemos identificar a relevância de tal aspecto quando vemos abrir um amplo debate sobre a questão da televisão nas interações fami l iares, como ocorreu no 1 1 1 Conferência I bero-Americana sobre Fam íl ia54 , real izada no Bras i l , em 1 995. Não só houve uma mesa-redonda para o debate específico, como víamos emerg i r em todos os outros temas esta questão, havendo até quem afi rmasse que ela é um novo membro da fam íl ia , reforçando toda a potência da imagem, numa época em que vivemos a tecnosocial idade.

Voltando-se para a saúde especificamente também percebe-se a relevância de se penetrar o mundo imaginai se quisermos apreender o processo de viver e ser saudável das famíl ias. Cada um tem o seu mundo imag inai , que é comparti lhado, mas não é o mesmo do outro . Assim como o que é ser saudável para cada fam íl ia e cada profissional é d iferente.

Acredita-se que a imagem de ser famíl ia saudável e de saúde que as famíl ias desenvolveram ao longo de sua h istória vem sendo constru ída a partir de suas interações, de sua comunhão com os outros , envolvendo toda a sua rede de relações, da mesma maneira que seus comportamentos de saúde também são fundamentados nesta imagem. É pert inente lembrar relatividade desta imagem de ser saudáve l , quando vemos que a noção de ser saudável e de saúde passa, cada vez mais, por um estado de espíritd'5, pelo sentir-se bem, pelo bem-viver, pelo bem estar, e mesmo pelo ser feliz, como destacamos a pouco. Deste modo, busquemos a real deste sentir-se bem, do bem-viver, do bem estar, e do ser feliz, que emerge de cada um , de cada famíl ia, de seu mundo de crenças e de valores, de suas fantasias, suas imaginações, seus símbolos, de seus sonhos , de sua real idade . . . Ou melhor, busquemos o "h iperreal" . . .

Feito este resgate contextual , j á colocado em outros trabalhos (N itschke , 1 999) , vê-se q u e é no seio da Pós-modern idade que vemos nutrido o papel da pós-graduação, já que esta se mostra como o meio indicado para acolher controvérsias, integrando d iversidades, como as diferentes l inhas teóricas, as heterogêneas reflexões f i losóficas , a p lu ral idade ética (afinal vivemos tempos de supermercado ético ! ) , e, sobretudo, a mu lt ip l icidade de ser fam í l ia nos d ias de hoje .

BUSCANDO RESPOSTAS E DESCOBRINDO CAMINHOS

A segunda dimensão do compromisso ético destacada seria o de buscar respostas aos problemas e desejos, ou seja, criar, desenvolver e organ izar saberes e tecnologias para promover a melhoria da qual idade de vida e saúde das pessoas, dos grupos, das institu ições,

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da nação e do mundo, aponta-nos para reforçar o compromisso ético da Pós-graduação como espaço para construção do conhecimento sobre saúde fami l ia l .

Neste sentido, podemos citar os trabalhos l iderados por Elsen , a parti r de sua tese de doutorado, em 1 984, e de um grupo de enfermeiras que desenvolveu sua d issertação dentro do Curso de Mestrado em Enfermagem da U FSC, na área da fam íl ia, também defin indo em seus trabalhos a saúde da fam íl ia e/ou fam íl ia saudáve l , segundo d iferentes perspectivas.

Boehs ( 1 990) , dentro da l inha transcu ltu ral e também uti l izando a Teoria do Desenvolvimento considerou como fam íl ia sadia aquela que mantém um conjunto de reservas fís icas , psíqu icas, sócio� culturais e de ambiente f ísico que permitem normatizar sua vida e institu i r novas normas em situações novas (como o nascimento de um novo membro) .

Também seguindo a l inha transcultural , Patrício ( 1 990) defin iu saúde da família como a capacidade da fam íl ia de buscar e de normatizar seu bem viver, fundamentada na prática do cu idado, a partir dos recursos de cada membro e da fam íl ia como un idade, com suas crenças, valores e modos de cuidar, envolvendo as uti l ização de cu idados do sistema profissional de saúde, inclu i ndo o cuidado de enfermagem.

Em outro momento , Nitschke ( 1 99 1 ) , colocou-se que a fam íl ia está saudável quando "houver uma interação positiva caracterizada por um relacionamento d i reto ; de respeito; l iberdade e sem tensões; no qual os membros tentam se colocar um no l ugar do outro e expressam sentimentos de afeto, idéias, crenças, valores e conceitos, possibi l itando-os a crescerem, desenvolverem-se, defin i rem, ajustarem e desempenharem seus papéis".

Ainda nesta l inha , Ribeiro ( 1 990) , ao desenvolver seu trabalho junto à fam íl ias maltratadoras, refere-se à saúde fami l ia l como uma i nteração de aproximação entre os membros da fam íl ia, os quais interagem entre s i e com a sociedade.

Para o GAPEFAM (Grupo de Assistência, Pesqu isa e Educação na Área da Saúde da Fam íl ia) famíl ia saudável é entendida como "uma un idade que se auto-estima positivamente, onde os membros convivem e se percebem mutuamente como famíl ia . Tem uma estrutura e organ ização para defin i r objetivos e prover os meios para o crescimento, desenvolvimento, saúde e bem-estar de seus membros. A famíl ia saudável se une por laços de afetividade exteriorizados por amor e carinho. Tem l iberdade de expor sentimentos e duvidas, comparti lha crenças, valores e conhecimentos. Aceita a ind ividual idade de seus membros, possu i capacidade de conhecer e usufru i r de seus d i reitos , enfrenta crises, confl itos e contradições, pedindo e dando apoio a seus membros e as pessoas sign ificativas. A famíl ia saudável atua conscientemente no ambiente em que vive , i nteragindo d inamicamente com outras pessoas e famíl ias em diversos n íveis de aproximação, transformando e sendo transformada. Desenvolve-se com experiência, constru indo sua h istória de vida" ( Custódio; Henckemaier; Cana li, 1 992)

Junto com Morais, Pfeiffer ( 1 995) , buscamos chamar a atenção para o que é famíl ia saudáve l , identificando a lguns conceitos já desenvolvidos na área e sua apl icação a part i r de d iferentes autores, fazendo uma breve anál ise. Destacou-se a importância de se expl icitar o que é fam íl ia saudáve l , emergindo da prática e das crenças e valores das enfermei ras, recomendando que novas investigações fossem desenvolvidas, inc lusive à luz das próprias famílias quanto ao seu ser saudável, captando assim a sua realidade.

Cabe ressaltar o aspecto "estado de espírito", já abordado por Elsen ( 1 984) , visto que vem carregado de subjetividade, mostrando-nos bem a importância de conhecer o seu mundo imagina i , buscando sua compreensão, po is o estar bem e o estar feliz, enf im o ser saudável tem um sign ificado d iferente para cada um , como os trabalhos de Nascimento ( 1 993) e Penna ( 1 996) vêm reforçar. Nos desenhos de algumas crianças do Monte Cristo que, vale lembrar são também imagens, "quando com saúde, se representam sorrindo, dizendo estar alegres e felizes". (Elsen; Hense; Eckert, 1 992, p. 28. ) .

Pode-se perceber a satu ração s im dos valores da modernidade, mas não se sabe o que está para vir a tomar seu l ugar. Conforme Maffesolf'6 , «estamos numa época provisória: notamos o que não é mais, mas não conhecemos o que está por v ir" . Entretanto, para apreendermos este momento é preciso saber buscar no substrato sensível os dados sociais. A ciência, assim , se faz neste momento numa aceitação e convivência de uma p lu ral idade de métodos. Daí o papel da Pós-graduação em

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exercitar este mosaico d e métodos, na busca d e desenvolver tecnologias próprias para o trabalho com fam í l i as . Assim , é poss íve l criar espaços, como o Laboratório de Estudos I nterdiscip l inares sobre a Fam í l i a , organ izado pelo Grupo de Pesquisa, Educação na Área da Saúde da Famíl ia (GAPEFAM) , q u e se p ropõe a desenvolver e testar metodologias próprias para se trabalhar com fam íl ias, refletindo as mais d iferentes l i nhas teórico-metodológ icas, numa conjunção respeitando a s ingu laridade de cada uma.

É poss íve l perceber que a pós-modernidade não represente uma ruptura com a modern idade, ou mesmo com a pré-modernidade. E la integra. Talvez seja por isto que os estudiosos ao defender u rn a o u outra, acabam por mesclá-Ias, defin indo uma a parti r da outra e mu itas vezes, conceituando­as do mesmo modo . N a verdade, este movimento que vivenciamos, não ocorreu de um momento para o outro, ele vem processualmente acontecendo há mu ito tempo. Tempo este que é cícl ico, ou seja, l e m b rando a espi ral , como refere Maffesolf57 , a h istória se faz em ciclos, "há um retorno que , no entanto i nteg ra mudanças, os desenvolvimentos, as novidades, ou seja, um retorno com 'algo mais' , . . . há q u a l q u e r coisa já vista , já conhecida . »

Akouri'8 coloca que " não podemos resum i r a modern idade, . . . » . Assim como não podemos resu m i r a pós-modernidade. Sem dúvida, é preciso relativizar.

PLURAIS SABERES NA COMPREENSÃO DA SAÚDE FAMILlAL

A terce i ra dimensão ressaltada é o de oferecer oportunidades para o desenvolvimento integral do ser humano, comprometido consigo próprio e com a comunidade.

Segu ndo Leonardo Boft, não somente o homem "se constrói numa lógica complexa, mas também o próprio u n ive rso . . . É a teia de re lações pelas quais tudo tem a ver com tudo em todos os momentos e em todas as ci rcunstâncias. É o funcionamento art iculado de sistemas e subsistemas que tudo e a todos eng lobam" ( 1 998, p. 1 8) . Outros autores reforçam estes aspectos, como M ichel Maffesol i , Edgar Mori n , Fritjof Capra, e Leonardo Boft , quando d iscutem a s impl icidade-complexidade de nosso m u ndo. A pós-modernidade tem reforçado cada vez mais um trabalho interd iscipl inar, devido à conjunção q u e l h e é pec u l i a r.

Reflet indo sobre tal situação, percebe-se a conjunção, a complementaridade, a interdependência deste m u ndo, ao mesmo tempo s imples e complexo, que se mostra a part i r das suas i nterações, e como tal no ser fam í l i a , e ao se trabalhar com saúde da fam íl ia . Pode-se talvez ousar d izer que pressupõe um trabalho transdiscip l inar, dentro da visão trazida por Patrícid' ' ' , isto é, algo que vai além das d iscip l inas, sem desprezá- Ias ao mesmo tempo. Ao contrário, i ntegrando-as e transcendendo-as.

Esta situação também tem feito surg i r o profissional híbrido, que vemos dia após dia no momento em q u e pe rspectivas hol ísticas se afi rmam. Quando se lançou esta idéia (N itschke, 1 999) , referia-se aqueles p rofiss ionais q u e , não contentando-se com sua formação de base , que não lhes oferece poss i b i l i dades de responder a este mundo de conjunção, buscam outras discip l i nas tentando contemplar pelo menos um pouco mais da complexidade na qual está inserido. Deste modo, i lustrando, vemos e n g e n h e i ros que complementam sua formação, a n ível de pós-graduação , com estudos de psicolog ia ; psicólogos e assistentes sociais que procuram integrar seus saberes com a enfermagem; ad m i n istradores q u e merg u l ham na f i losofia ; médicos e enfermeiros que se voltam para a sociologia e antropolog i a , entre outros.

Ou seja, o profissional não abandona sua formação de base, mas vai , sucessivamente, integrando outros elementos no seu con hecimento e no seu agi r os quais, num primeiro olhar, seriam caracterizados como de outras p rof issões. I nvasão? Não! I nteg ração . Complementaridade, conjunção , pois o con hecimento é amplo e não conseg u e ser l im itado a determinados compart imentos . Entretanto, ao olharmos mais atentamente , vê-se que o trabalho real izado não pode ser incorporado por este ou aquele dom í n i o de conheci mento, mas s im pela complexidade do viver da social idade, expresso no ser fam í l ia .

Tem-se uma situação e m q u e poderíamos nos reportar a VaistmanB° para i lustrar, " Para não perder o sent ido da h istór ia nem o da poss ib i l idade de d ist intas formas de emancipação, estes

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desenvolvimentos recentes, por pós-modernos que sejam , evocam utopias, como aquela calcada» na visão modernista do paraíso, alcançado com o fim da d ivisão social do trabalho, quando n inguém mais se dedi?ará a uma só atividade e poderá plenamente d iversificar suas atividades - «caçar pela manhã, pescar a tarde, pastorear ao anoitecer, crit icar após o jantar, conforme minha vontade, mas jamais me tornar caçador, pescador, pastor ou crítico".

Isto tudo nos aponta que ao enfocarmos a saúde da famíl ia na Pós-graduação, é preciso garantir a interdiscip l inaridade, integrando inc lusive d iferentes profissionais e d iferentes especial idades . Isto demanda não só no seu corpo docente, na integração de d iscip l inas de diferentes áreas, mas na possibi l idade de desenvolver cursos destinados a profissionais de d iferentes domín ios de conhecimento, o mesmo ocorrendo com a formação de g rupos de pesqu isa. O trabalho e a formação profissional , seja a n ível de especial ização, residência, mestrado, doutorado, ou pós-doutorado, na área da saúde da fam íl ia foge do encolher l im ites para acolher integrações . Trabalhar com Saúde da Fam íl ia é uma questão de postura , na qua l , sobretudo, é preciso aprender a relativizar.

UM GRITO DE ALERTA

Dentro do que entendemos por compromisso ético, a part i r de Caponi et a I . ( 1 995) , para que uma boa existência possa ser constru ída é preciso que possamos assumir um compromisso inevitável : o de tratar as pessoas como pessoas e nunca como coisas ; da mesma forma, tratar as coisas como coisas e nunca como pessoas. Por isso , é preciso relativizar o próprio interesse , ter condições de adotar o ponto de vista do outro. Este é o ún ico compromisso ético ao qual não podemos nos privar. Dito "Kantianamente", poderíamos afi rmar que as pessoas nunca podem ser envolvidas como um meio para se conquistar outros f ins , mas somente como f ins em si mesmo. Isto porque só as pessoas tem um valor abso luto, não condicionado .

Todavia , se não aceitarmos este compromisso e, ao contrário, decid i rmos tratar as pessoas como coisas, isto é, como meios para consegu i rmos certos f ins , então nossas ações serão instrumentais ou estratégicas, mas não éticas. Este compromisso ético, por excelência, de tratar as pessoas como pessoas impl ica que deveremos reduzir, o máximo possíve l , o âmbito das ações estratégicas nas quais , através do engano, se manipula os seres humanos, submetendo-os a f ins que não são por eles escolh idos.

Deveremos anal isar criticamente estes espaços nos quais, os outros e nós, podemos nos converter em objetos de manipu lação. Da mesma forma, será preciso ampliar os espaços de autonomia e l iberdade aonde cada um , considerado como um f im em si, possa ingressar no âmbito de uma racional idade comunicativa.

As d ificu ldades se apresentam neste preciso momento em que nos defrontamos com situações concretas nas quais é evidente qual é o melhor modo de atuar e qual é a ação que de forma mais efetiva nos perm iti rá a concessão deste compromisso ético.

Deste modo, precisamos estar atentos para as ações que são propostas, refletindo toda uma base teórico-fi losófica, e as ações que são efetivamente desenvolvidas. Ao envolver a Saúde da Famíl ia, numa proposta de redi recionamento do modelo assistencial , faz-se necessário, portanto , estarmos atentos para que não seja apenas um nome, ou uma maqu iagem que refl ita uma tendência, mas uma genu ína atitude. Neste sentido, a Pós-G raduação desenvolve o papel instrumentalizador para uma aval iação crítica do que vem sendo proposto e do que efetivamente vem sendo real izado. Vale d izer, os cidadãos tem o d i re ito de serem cuidados numa perspectiva que os inc lua em suas relações, tanto intra quanto extra-fami l ia is , sendo considerados no seu ambiente , envolvendo sua comun idade, sua nação e , mesmo, o seu planeta.

Vivemos um tempo em que a expressão social tem se apresentado pela heterogeneidade, p lural idade, relatividade, nuanças do que alguns têm chamado de pós-modernidade, um tempo de conjunção, de complementaridade. Ass im, não precisamos exclu i r, mais saúde do ind ivíduo, a saúde da famíl ia, a saúde comunitária, ou privi legiar apenas uma. O ser humano acolhe todas estas dimensões no seu ser saudáve l , para poder ser acolh ido na sua própria human idade. Quando subl inhamos o ser humano, a demanda de integração é um movimento incessante , mesmo sendo harmonia confl itual .

Deste modo, enfocar saúde da fam íl ia é colocar foco na melhoria da qual idade de vida dos seres

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humanos com os quais i nteragimos ao cuidar. Mas como podemos fazer tal afi rmação? Apesar de alguns autores se voltarem exclus ivamente para dentro da famíl ia para falar de saúde da fam í l ia e fam íl ia saudáve l , a prática tem nos mostrado que trabalhar com fam íl ia é estar em trânsito entre o micro e o macrosocial , entre o ser humano na sua ind ividual idade e na sua coletividade, enfim é mergulhar infin itamente nas relações intra e extra-famil iais. É aprender a relativizar! E a Pós-Graduação precisa garanti r isto !

NOTAS

3 De acordo com o trazido por N itschke ( 1 991 ) , " ainda que as palavras fam i l ia l e fami l iar sejam sinônimas, conforme Fernandes(1 967) , o termo fami l ia l é e le ito por mim numa tentativa de l i m itá-lo ao que se refere propriamente à fam íl ia , buscando d istin g u i r do termo fami l iar que é mu ito ut i l izado popularmente também para designar aq u i lo que "é m u ito conhecido", "acostu mado" 4 Em sentido mais abrangente, a saúde é a resu ltante das condições de al imentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte , emprego, lazer, l iberdade, acesso à posse de terra e acesso a serviços de saúde. E , ass i m , antes de tudo, o resu ltado de formas de organ ização social de produção, as quais podem gerar desig ualdades nos n íveis de vida. 5 NASC I M E NTO, Paulo César. Democracia e saúde: uma perspectiva arendtiana. In : FLEU RY, Sônia. (Org) Saúde coletiva para todos ? questionando a onipotência do social . R io : Relume - Dumara. p . 1 89 . 6 P E N NA, C . M . M . O ser saudável n o quotidiano das favelas. Flor ianópol is : U FSC, 1 996. 1 5 1 p . Tese (Doutorado em Fi losofia da Enfermagem) - U n iversidade Federal de Santa Catarina, 1 996. p. 56. 7 FERNAN DES, Francisco. Dicionário brasileiro contemporâneo. 2. ed. Porto Alegre: G lobo, 1 967. p . 930. B P E N NA, C . M. M. O ser saudável no q uotid iano das fave las. Flor ianópol is : U FSC , 1 996. 1 5 1 p . Tese (Doutorado em Fi losofia da Enfermagem) - U n iversidade Federal de Santa Catarina, 1 996. P 1 26 9 P E N NA, C . M . M . O ser saudável no quotidiano das favelas. Flor ianópo l i s : U FS C , 1 996. 1 5 1 p . Tese ( Doutorado em Fi losofia da Enfermagem) - U n iversidade Federal de Santa Catarina. 1 996. P 1 26 1 °HARTMAN . S. Preparing modern n u rse for postmodern fami l ies . Holistic Nursing Practice, vol . 9, n A , J u ly 1 995. p. 1 1 1 LYOTARD, J . F. La condition postmoderne. Paris: Les Ed itions de M i nu it . 1 979. 1 09 p . 12VATIMO, G . La fin de la modernité: n i h i l ismo et herméneutique dans la cu ltu re post-moderne. Paris : Éd it ions du Seu i l , 1 985. 1 87 p. 13COELHO, T. Moderno pós-moderno. 2 ed. Porto Alegre: L & PM Editores . 1 986. 1 75 p . 1 4ROUAN ET, S . P . & MAFFESOLl , M . Moderno x pós-moderno. Rio de Janeiro : U E RJ , Departamento C u ltu ral , 1 994. p .21 . 15 SANTOS, B . S . Pela mão de Alice: o social e o pol ítico na pós-modern idade. São Paulo: Cortez, 1 995. p. 77. 1 6WAT I E R , P. op cit, 1 7VAISTMAN , Jen i . Flexíveis e p lurais : casamento e fam íl ia em c i rcunstâncias pós-modernas, Rio de Janeiro: Rocco, 1 994. 203 p . 1 BROUAN ET, S. P. & MAFFESOLl , M. op cito 1 9 S I LVA, J u remir Machado da. Anjos da perdição: futuro e presente na cultura brasi le i ra. Porto Alegre: Su l ina , 1 996. p .24-27; 246 2°A social idade, seg undo Maffesol i , é a potênc ia social q u e tenta se expri m i r, res i d i n d o n u m m i sto de sent imentos , paixão, i ma g e n s , d i ferenças q u e i n c itam a relativ izar as certezas estabelec idas a u m a m u lt ipl icidade de experiências coletivas . O autor , invertendo o s termos propostos p o r Du rkhe i m , propõe a sol idariedade orgânica como aquela que é calcada em laços sociais afetivos e nas ambigü idade básica da estrutu ração s imból ica, garantindo a coesão do g rupo, a part i lha sentimental de valores, lugares e idéias , enquanto a sol idariedade mecânica, seria da ordem do i nstitu ído. MAFFESOLl , M . A conquista do presente. Rio de Janeiro : Rocco, 1 984. e MAFFESOLl , M . O conhecimento do quotidiano. Lisboa: Vega. s/d o p . 1 73. 21 S I LVA, J u remir Machado da. Op. cito 22HARTMAN. S . op. cit. p. 1 - 1 0._ 23HARTMAN. S. op cito 24G E R G E N , K .J , apud op. cito 25MAFFESOLl , Michel . A tecnosocialidade como fator de laço social. Palestra no Curso de Pós-G raduação em Jornal ismo da PUC- Porto Alegre - RS, em 1 6 de outubro de 1 996. 26 S I LVA, J u remir Machado da. op cito 27S I LVA, J u remir Machado da. op cito

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