51

SacerdoteS 03

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Convocação Elementar

Citation preview

Page 1: SacerdoteS 03
Page 2: SacerdoteS 03

S a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e S

2

Page 3: SacerdoteS 03

C o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a r

3

Capítulo 3 – Convocação Elementar

Meithel subiu com satisfação os últimos degraus. Finalmente chegara ao topo da Torre Espiral, exatamente no centro dos Domínios da Ma-gia. Magia. O Elemento mais jovem. É o poder que cada um pode domi-nar; é o poder que nasce em cada um de nós e em cada coisa que existe sobre a superfície de Gardwen. Por ser o mais jovem, a Magia é o mais fácil de ser corrompido pelas sombras, mas em compensação conta com a defesa mais poderosa entre os três Elementos da Vida. Foi a Magia que permitiu ao homem dominar os Elementos, surgindo assim os len-dários protetores. Na Torre Espiral é onde habitam todos os protetores da Magia, um prédio gigantesco construído e mantido por magia. Um prédio que de-safia as leis da natureza, que em cuja estrutura, em cada centímetro de sua estrutura, a magia corre como o sangue corre nas veias. E lá es-tava Meithel, no ápice da torre, lugar que sempre foi destinado ao Guardião daquele Elemento. Impossibilitado de usar magia para se locomover com facilidade dentro da torre, Meithel teve de correr por seus milhares de degraus, circundando sempre em espiral, subindo sempre, cada vez mais. Mas agora estava ali, olhando para as pesadas portas que no momento o separavam de Zander. Correu até a porta mas, antes que tocasse a maçaneta, ouviu um forte estrondo vindo do outro lado. A porta foi feita em pedaços e Meithel foi atirado de costas de volta aos degraus. Os destroços da pesada por-ta de mármore caíram ao seu lado. Sem compreender o que estava acontecendo, se levantou e olhou para os aposentos do Guardião, po-dendo ver agora além da porta que já não existia.

Page 4: SacerdoteS 03

S a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e S

4

Lá estava Zander, o Guardião, mas não estava sozinho. Defronte a ele estava Shiron, um dos Cavaleiros da Magia, um dos nove Cavalei-ros encarregados de seguir todas as ordens de Zander, e comprometido com seu maior objetivo: proteger o Guardião. Mas alguma coisa esta-va tremendamente errada e Meithel logo compreendeu. Shiron conjurou uma poderosa esfera de energia, completamente alva. Ele estava usando um feitiço de ataque, e estava canalizando muita magia para ele. Meithel não tardou em compreender que foi uma da-quelas esferas que explodiu a porta segundos antes. Shiron estava atacando Zander! Cavaleiro atacando Guardião! Aquilo não podia ser real. Não podia estar acontecendo… Mas era real. Estava acontecendo. Assustado e muito confuso, Meithel assistiu Shiron disparar seu feitiço contra Zander. Tocando levemente seu colar, Zander fez um escudo alvo aparecer diante dele, protegendo-o do novo ataque. Ileso do ataque do Cavaleiro, Zander levantou uma das mãos num movimento rápido. O corpo de Shiron le-vantou-se no ar, acompanhando o movimento da mão do Guardião. A habilidade da telecinese. Meithel permanecia imóvel, congelado, completamente aterrorizado com o que presenciava. Nem Guardião nem Cavaleiro pareciam notar o Sacerdote que acabara de subir pelas escadas. Tendo Shiron preso por sua técnica, Zander conjurou uma enorme lança de luz alva e apontou-a para o peito do Cavaleiro. — Você será punido por sua rebeldia, Shiron – disse o Guardião cheio de ódio. No segundo seguinte disparou a lança contra o Cavaleiro ainda imóvel no ar. Quando a lança estava a meio caminho de encontrar seu coração e atravessá-lo, Shiron conseguiu tocar seu colar com uma das mãos e a lança desintegrou-se antes de atingi-lo, como se jamais tivesse existi-

Page 5: SacerdoteS 03

C o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a r

5

do, deixando para trás apenas flocos de luz, vestígios da magia que não se dissolveu por completo. — Nem mesmo você poderá me deter, Zander – disse o Cavaleiro rin-do. Meithel captou uma repentina manifestação de magia e percebeu que a batalha ainda não acabara. Shiron estava acumulando uma grande quantidade de magia na superfície de seu corpo. Meithel sabia o que ele iria fazer. Ainda concentrado no feitiço, todo o corpo de Shi-ron brilhou por um segundo. Logo depois toda a magia ali acumulada explodiu. Meithel não teve tempo de fazer nada. A facilidade e velocidade com que os combatentes manipulavam e acumulavam magia era surpreen-dente. Houve apenas um forte clarão no ar onde estava o Cavaleiro, logo depois Meithel estava novamente no chão, de costas. Só então ouviu o barulho da explosão, muito mais forte que a anterior. A esta altura alguém lá embaixo já deveria ter percebido a batalha. Alguém já deveria estar vindo acudir, Meithel torcia para que alguém estivesse vindo capturar o Cavaleiro rebelde, o Cavaleiro que ousara enfrentar o Guardião. Mais uma vez em pé, mas ainda sem se dar conta das queimaduras que surgiram em seu corpo, Meithel voltou sua atenção para a cena. Parte do teto havia cedido e seus escombros estavam espalhados pelo recinto. Guardião e Cavaleiro continuavam se encarando com um ódio mortal. Com a explosão, Shiron conseguiu escapar da telecinese de Zander, e estava novamente no chão. — Desta vez eu te mato. Ao ouvir essas palavras da boca de Shiron, Meithel despertou. Ainda continuava aterrorizado com o que presenciava, mas sabia que era ho-ra de agir. O Cavaleiro disparou um jato de luz contra Zander, que o bloqueou facilmente. Mas era uma armadilha e inclusive Meithel per-

Page 6: SacerdoteS 03

S a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e S

6

cebeu isso. Enquanto o Guardião se defendia do feitiço, Shiron ata-cou o que sobrara do teto. Mais uma explosão e o restante do teto abobado desabou sobre o Guardião, que não teria tempo para se pro-teger. Nesse instante Meithel resolveu entrar na luta. Tocou seu colar e con-jurou uma barreira formada por luz alva, na horizontal, ficando entre o Guardião e os escombros que, com certeza, iriam esmagá-lo. Meithel o salvou! Nesse momento as atenções se voltaram para o Sacerdote. Zander o encarou com surpresa, diferente de Shiron, que demonstrou já ter per-cebido que ele estava ali. — Aconselho que saia daqui meu caro Sacerdote. Meithel sentiu-se enojado ao perceber que Shiron lhe dirigia a palavra. Com os dentes cerrados de raiva, Meithel disse: — Seu traidor… Por que está fazendo isso, Shiron?Por que está ata-cando o Guardião da Magia? Shiron encarou Meithel, olhou bem fundo em seus olhos, então sussur-rou com uma sinceridade aterrorizante: — Eu ataquei o Guardião… porque quero matá-lo! As mãos de Meithel tremiam. De medo. De raiva. Mas principalmente por decepção. Decepção por um dia ter idolatrado Shiron como um verdadeiro Cavaleiro, um dos melhores, mais justo e sábio que qual-quer um dos nove. O que Shiron estava fazendo parecia irracional. Era irracional. Não tinha o menor sentido. Shiron o encarava, quase como se ansiasse pelo que Meithel faria, mas o Sacerdote se sentia in-capacitado de fazer qualquer coisa. Apenas encarou seu adversário, tentando compreender a verdade por trás de seus olhos, mas não teve sucesso algum. Sentiu-se frustrado, mas também sentiu-se capacitado

Page 7: SacerdoteS 03

C o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a r

7

para fazer o que queria. Tocou seu colar e conjurou uma espada, tam-bém formada por luz alva. Uma espada de luz sólida. — Eu vou matá-lo! Por algum estranho e desconhecido motivo, Shiron pareceu aliviado ao ver a atitude de Meithel. Logo a seguir tirou a mão de seu colar e não fez mais nada para atacar, nem ao Guardião, nem a Meithel. A luta parecia ter chegado ao fim. Shiron parecia prestes a se render, mas nunca chegou a fazer isso. Tirou de dentro de suas vestes um perga-minho e, habilmente, desenrolou-o no chão a sua frente. Meithel não teve tempo de tentar reconhecer os símbolos nele gravados. O Cavalei-ro colocou um dos pés sobre o pergaminho e, fazendo um rápido gesto com as mãos, ele explodiu; Meithel levantou instintivamente os bra-ços para proteger o rosto, mas não foi preciso. Na verdade sequer foi uma explosão de verdade. Folhas de samambaia voaram para todos os lados, conjuradas do pergaminho no chão, tingindo o escritório de Zander com um verde muito vivo. Meithel não compreendeu o motivo do feitiço; esperou que algo acontecesse, mas as folhas de samambaia nada fizeram. Por uma última vez Shiron conjurou uma nova esfera de energia e desta vez houve uma explosão real. A parede atrás do Cavaleiro foi reduzida a pó com a explosão. Zander e Meithel assisti-am a cena sem nada compreenderem. Havia um sorriso no rosto do Cavaleiro quando ele fez um novo gesto com suas mãos. As folhas de samambaia finalmente reagiram; levan-taram-se todas no ar e voaram contra Shiron, envolvendo e enroscan-do-se em seu corpo. Quando o feitiço se concretizou, Meithel ficou fascinado com o que via. As samambaias formaram duas enormes asas nas costas do Cavaleiro, asas tão grandes quanto de uma águia. Olhando uma última vez para o Guardião, Shiron correu para a pare-de que havia acabado de explodir e pulou do topo da Torre Espiral.

Page 8: SacerdoteS 03

S a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e S

8

Surpreso, Meithel correu para a borda do aposento. Viu Shiron ba-tendo suas novas e enormes asas, asas formadas por folhas de samam-baia, voando para longe do alcance de qualquer um deles. Shiron ha-via fugido, deixando o Sacerdote maravilhado com sua última exibi-ção de magia. A mente rápida de Meithel logo formulou uma pergunta: Por que Shi-ron fugiu? Se ele realmente estava disposto a matar Zander, Meithel não representava qualquer obstáculo para ele. Que chances tinha o Sacerdote contra um dos nove Cavaleiros do Guardião? Mas não foi capaz de responder sua própria pergunta. A espada conjurada por Meithel já havia desaparecido. Os únicos ves-tígios da batalha eram os escombros espalhados pelo recinto destruído. Meithel desviou os olhos de Shiron que continuava voando ao longe, então encarou o Guardião. Estava pensativo e preocupado. Meithel se esqueceu das boas maneiras e se dirigiu a ele: — O que aconteceu, senhor? Por que Shiron tentou matá-lo? Zander deu um profundo suspiro. Meithel ficou em dúvida se ele ha-via ouvido o que disse ou não, mas resolveu não tornar a perguntar. A passos largos, Zander caminhou até a parede destruída e de lá obser-vou o céu dos Domínios da Magia. Shiron não estava mais visível em parte alguma. — Não sei por que ele fez isso – o Guardião respondeu após uma lon-ga pausa. – Temo que ele esteja corrompido. Acredito que pode estar seguindo ordens de Mon… — Quem é Mon? — Você o conhece – o Guardião forçou um leve sorriso, um sorriso sem emoção. – Você o conhece apenas por O inimigo. Temo que os ou-tros Cavaleiros também estejam ajudando Shiron, talvez todos os no-ve tenham sido corrompidos.

Page 9: SacerdoteS 03

C o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a r

9

— Eu vou atrás dele… – disse Meithel precipitando-se para a esca-daria que o conduziria para os andares abaixo e também para a saída da torre. — NÃO! – Zander o deteve. – Isso não é tarefa para um Sacerdote. Eu cuidarei disso. Mas o chamei até aqui para tratar de um assunto e é isso que farei. Eu te chamei aqui, Meithel, para perguntar sobre o seu tutor. Onde está o Sábio Lakar? Zander estava prosseguindo numa calma impressionante, como se não tivesse acontecido nada. Mas o coração de Meithel ainda batia acele-rado em seu peito; suas mãos ainda tremiam. Levou segundos até ab-sorver a pergunta que o Guardião lhe fez. — Meu tutor? Eu não… não vejo o senhor Lakar há dois dias. A preocupação voltou ao rosto de Zander ao ouvir isso, e Meithel per-cebeu: — Não sei onde ele está, mas se for urgente eu posso procurá-lo… — Temo que seu tutor esteja correndo perigo também – Zander reve-lou. – Se encontrá-lo me avise imediatamente. Agora pode ir. Preciso resolver outros assuntos. E não conte a ninguém sobre o que viu. Ain-da não quero alertar a todos para uma possível guerra…

Meithel não disse mais nada. Fez uma rápida, mas exagerada reve-rência, deu às costas ao Guardião e saiu do aposento destruído. Des-ceu por incontáveis degraus, sem sequer reparar no que fazia. Estava concentrado, imaginando onde seu tutor estaria. Precisava encontrar o Sábio da Magia Lakar o mais rápido possível; não por causa do que Zander lhe disse, que ele corria perigo, mas para lhe contar tudo o que viu (mesmo desobedecendo as ordens do Guardião) e tentar obter res-

Page 10: SacerdoteS 03

S a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e S

10

postas dele. Encontrou muitos protetores da Magia enquanto descia pela Torre Espiral, todos aparentemente agindo como se nada estives-se acontecendo. Meithel se deu conta de que era um dos poucos que sabia o quanto a Magia estava comprometida. Uma guerra dentro dos Domínios da Magia poderia resultar, no pior dos casos, o rompimento do Elemento. — Meithel! O Sacerdote despertou de seus devaneios e parou de descer pela esca-da. Virou-se e viu quem o chamava. Era Mudriack, Feiticeiro da Ma-gia, e seu grande amigo. A não ser pela diferença no sangue, eram ir-mãos. Meithel e Mudriack tinham a mesma idade e se tornaram prote-tores praticamente na mesma época. Desde a época em que eram meros Aprendizes, uma forte amizade nasceu entre eles e se fortaleceu cada dia mais. Mas apesar de tudo, sempre foram muito diferentes. Um sempre foi o oposto do outro. Tanto que um se tornou um Feiticeiro, enquanto o outro um Sacerdote. — Agora não tenho tempo Mudriack – Meithel respondeu, retoman-do sua descida pela escada sem dar muita atenção ao amigo. Achava que ele apenas o convidaria para treinarem juntos ao anoitecer, como faziam freqüentemente, mas hoje o dia não era próprio para isso. – Preciso encontrar meu tutor. Mudriack sorriu às costas de Meithel sem que ele visse. — É justamente sobre isso que quero conversar. Meithel interrompeu sua descida bruscamente. Olhou para trás, ob-servando o amigo com um olhar intrigado. Mudriack desceu lenta-mente até o degrau em que Meithel se encontrava, então sussurrou com o devido cuidado de não olhar para o amigo enquanto procurava descobrir se alguém estava ouvindo.

Page 11: SacerdoteS 03

C o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a r

11

— O Sábio Lakar lhe enviou uma mensagem – o Feiticeiro fez uma pausa e se certificou mais uma vez de que ninguém estava ouvindo. Logo após prosseguiu com o mesmo sussurro: – Ele quer te ver… — Onde ele está? – perguntou Meithel sobressaltado. Mudriack fez sinal para que ficasse em silêncio. — Acalme-se. Seu tutor está bem. Não sei direito o que está aconte-cendo, mas ele me aconselhou a não tentar descobrir. Pediu-me que fi-casse neutro, e me pediu para te dizer que fizesse o mesmo. Não sei onde ele está. Acho que está escondido fora dos Domínios da Magia, e aposto um pingente do meu colar como ele está com problemas. Meithel e Mudriack ficaram lado a lado, sem ousarem se encarar. — Precisamos descobrir, Mudriack – sussurrou o Sacerdote quase numa súplica. – Como nos velhos tempos… — Não. Desta vez a coisa é realmente muito séria. Lakar quer que você aja normalmente e que não faça nada sem o consentimento dele. Ele vai procurá-lo em breve, é tudo o que sei. Meithel percebeu a hesitação na voz do amigo, a preocupação crescen-te. Mudriack sempre foi melhor em esconder seus sentimentos, mas desta vez não estava tendo tanto sucesso. Embora quisesse parecer confiante, Meithel sabia que ele estava com medo. Muito medo. — As coisas estão erradas, Mudriack. Acabei de presenciar uma luta entre o Guardião e um dos seus Cavaleiros. — Como? — Eu não sei – Meithel respondeu com seu tom de voz cada vez mais preocupado. – Não entendi direito o que aconteceu, mas acho que os Cavaleiros estão planejando alguma coisa contra o Guardião da Ma-gia. Acho que querem derrubá-lo! Ele está correndo perigo, assim como o meu tutor… — MUDRIACK!

Page 12: SacerdoteS 03

S a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e S

12

Os dois amigos se sobressaltaram com o susto que levaram. Meithel ignorou e retomou sua descida, como se jamais tivesse sido interrompi-da, fingindo não estar parado no meio da escadaria, conversando com seu melhor amigo. Ele disfarçou e olhou para trás. Quem chamara por seu amigo era Gauton, um Mensageiro da Magia. — O que quer? – Meithel ouviu Mudriack perguntando secamente ao Mensageiro. — O Guardião quer te ver – respondeu Gauton. O coração de Meithel deu um pulo. Não olhou para trás, mas havia algo na ponta da língua de Meithel, algo que queria dizer ao amigo: Não se envolva. Mas não disse nada. Mudriack era esperto, não pre-cisava desse aviso. Meithel continuou descendo pela escadaria, enquanto Mudriack co-meçou a subir em direção ao andar mais alto. Assim que chegasse lá encontraria o aposento do Guardião destruído e Zander teria de lhe contar alguma coisa. Meithel temeu por seu amigo, temeu que ele fosse envolvido demais naquela guerra que estava prestes a estourar. Des-ceu oito ou nove degraus, então olhou momentaneamente para cima. Mudriack também olhou para baixo e os olhares preocupados dos dois amigos se encontraram por um breve momento. Mas então voltaram a se virar e cada um seguiu o seu caminho, o seu destino… Meithel esperou durante horas no local em que ele e Mudriack sempre se encontravam, no andar térreo da Torre Espiral, mas não voltou a ver seu amigo desde que se separaram. Cansado, seguiu para seus apo-sentos alguns andares acima, mas Mudriack não apareceu por lá du-rante a noite. Meithel suspeitou de que ele não tivesse dormido. Coisas estranhas estavam acontecendo, mas Meithel não conseguia compreender o que realmente estava se passando. Pensou em procurar

Page 13: SacerdoteS 03

C o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a r

13

algum Cavaleiro da Magia e vigiá-lo, mas não era a coisa mais sábia a se fazer no momento. Meithel precisava encontrar Lakar o quanto antes para poder obter respostas e conselhos, mas não sabia como en-contrar seu tutor. Tentou chamá-lo telepaticamente, mas onde quer que estivesse, Lakar o bloqueou. Não queria ser encontrado. Não ha-via nada que pudesse fazer, apenas deitar e tentar dormir, apesar de todas as preocupações. Só podia esperar que seu tutor viesse encontrá-lo. Segundo a mensagem de Mudriack, seria em breve. Dois dias se passaram e as preocupações de Meithel aumentaram cada vez mais. Lakar ainda não fizera contato e Mudriack havia desapa-recido. Meithel procurou por Gauton, o Mensageiro, para obter notí-cias de seu amigo, mas Gauton não sabia o que Zander havia pedido para Mudriack fazer. Talvez fosse alguma missão secreta, ou algo do tipo, uma missão secreta que, pela primeira vez, foi inteiramente se-creta. Diferente das outras vezes, Mudriack guardou segredo do ami-go, segredo absoluto. Meithel estava completamente no escuro. Mas durante esses dois dias ninguém parecia estar sabendo de nada. Os protetores da Magia continuavam normalmente com suas vidas. Treinando, cumprindo missões e zelando pelo bem estar de Gardwen. Ninguém parecia saber nada sobre uma possível revolta dos Cavalei-ros. Nada sobre o Guardião estar ameaçado ou qualquer tipo de peri-go. Shiron, o Cavaleiro que tentou matar o Guardião, não voltou a aparecer, mas ninguém parecia sentir sua falta. Ninguém parecia estar procurando por ele. Meithel chegou a ver dois Cavaleiros perambulan-do pela torre, Zephir e Káfka, e os seguiu secretamente até o topo da Torre Espiral, onde eles entraram nos aposentos do Guardião. Meithel não soube o que fizeram lá, pois fecharam a porta (agora completa-mente restaurada por magia) e lá ficaram por quase uma hora. Meithel

Page 14: SacerdoteS 03

S a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e S

14

estava preparado para entrar assim que pressentisse qualquer sinal de uma batalha estar acontecendo lá dentro, mas os Cavaleiros saíram normalmente, sem nenhum sinal de terem sequer discutido com Zan-der. Isso era um sinal de que nem todos os Cavaleiros estavam contra o Guardião, talvez Shiron fosse o único a se rebelar. E ainda havia Kam, um Cavaleiro de quem Meithel sempre fora muito amigo e al-guém em quem o Sacerdote tinha plena confiança. Kam jamais se jun-taria a Shiron numa tentativa de derrubar o Guardião. Kam era uma pessoa extremamente justa e jamais seria capaz de tal atrocidade. No final do dia (de mais um dia em que as coisas pareciam estar bem, embora não estivessem) Meithel seguiu para seus aposentos. Após se banhar, Meithel deitou-se em seu leito, mas levou horas para dormir. Pensou em tudo o que estava acontecendo e, após adormecer, acordou assustado quando alguém o cutucou no ombro. — Sábio Lakar? – ele se sobressaltou, levantando-se da cama de um pulo. – Preciso avisar o Guardião que você está aqui… — Agora não, Meithel – disse seu tutor com a conhecida voz de ve-lho. Lakar é um dos quatro Sábios da Magia, um velho extremamente inteligente e poderoso. Seus olhos transmitiram sua preocupação ao pupilo e Meithel compreendeu que a coisa era muito mais séria do que jamais imaginara. – Eu irei atrás do Guardião mais tarde. Agora pre-ciso que você saia dos Domínios da Magia. — Não irei deixá-lo! O senhor está correndo perigo… — Todos nós estamos, Meithel. Mas estou te dando uma ordem – em um segundo sua voz passara do tom preocupado para o autoritário, embora a preocupação continuasse em segundo plano. Quero que você saia dos Domínios da Magia agora e pegue algo para mim. Isso é mui-to importante. — O que é? – perguntou Meithel não contendo sua curiosidade.

Page 15: SacerdoteS 03

C o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a r

15

— Não importa o que é – respondeu o velho – e sim onde está. Quando sair dos Domínios da Magia, ande para o lado oposto a mon-tanha Monaltag. Está escondido nas margens do lago Lushizar, sob uma pedra branca. Vá agora Meithel. O Sacerdote ficou olhando intrigado para seu tutor. Havia coisas mais importantes a serem feitas agora. Meithel precisava contar sobre a luta que vira entre Zander e Shiron, precisava contar sobre o sumiço de Mudriack, e acima de tudo precisava fazer perguntas. Precisava ter respostas. Mas assim que abriu a boca para dizer algo, Lakar o in-terrompeu: — Vá agora, Meithel – disse ele irritado. – Não há tempo a perder. Eles estão vindo. Meithel hesitou apenas mais um segundo, mas o olhar de seu tutor o obrigou a acatar suas ordens. Vestiu-se, saiu correndo dos aposentos e seguiu para a escadaria, por onde desceu e saiu da Torre Espiral. Em frente a torre ficava o portal para fora dos Domínios da Magia, de-marcado por uma pedra circular sobre o chão contendo o símbolo da Magia. Meithel pisou sobre a pedra circular; estava no território de-marcado de onde poderia usar o feitiço. Então tocou seu colar e execu-tou o feitiço para sair dos Domínios da Magia. Agora encontrava-se em uma pequena ilha, cercada pelas águas do la-go Lushizar. O lago é circundado por enormes montanhas, mas a mai-or delas é Monaltag, que estava exatamente a frente dele. Seguindo as ordens de Lakar, Meithel ficou de costas para Monaltag, então cami-nhou em direção as margens do lago Lushizar. Assim como seu tutor disse, ali havia uma pedra branca. Meithel aproximou-se lentamente, imaginando o que poderia estar escondido sob a pedra. Ele se abaixou e ergueu a pedra com uma das mãos. Teve uma grande decepção quan-

Page 16: SacerdoteS 03

S a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e S

16

do viu o que estava ali: um simples pedaço de pergaminho dobrado. Um bilhete! Ele desdobrou o pergaminho cuidadosamente e reconhe-ceu a caligrafia caprichosa de Lakar, seu tutor. Ele leu: “Perdoe-me por enganá-lo desta maneira Meithel, mas era necessário. Espero que aceite o que foi planejado para você. Não fui eu quem pla-nejou isso tudo, mas aceitei e coloquei esse fardo em seus ombros. Es-pero que um dia você compreenda e me perdoe. Acredito em você, sei

que não irá nos decepcionar. Sei que não está entendendo nada, pois o único que tem todas as respostas é Morton. Procure pelo Mestre da

Alma Nai-Kalimuns, ele saberá o que fazer. Adeus”. Lágrimas encheram seus olhos assim que terminou de ler, escorreram por seu rosto e pingaram sobre o bilhete de seu tutor, borrando a tinta. Não sabia por que estava chorando, mas sentia uma terrível dor em seu coração. Estava com um mau pressentimento; alguma coisa estava acontecendo com seu tutor. Meithel fechou a mão com força, amas-sando o pergaminho. Correu o mais rápido que pôde até o centro da ilha, de onde poderia voltar para os Domínios da Magia. Meithel to-cou seu colar e concentrou-se no feitiço para voltar, mas o feitiço fa-lhou. Tentou mais uma vez, mas novamente não conseguiu voltar. Seu tutor estava em perigo. Lembrou-se do adeus no bilhete e pensou no pior. Isso não poderia acontecer. Em seu crescente desespero as lágri-mas continuavam brotando de seus olhos. Mais uma vez tocou seu co-lar e executou o feitiço, mas não conseguiu. Por algum motivo estava preso do lado de fora. O portal fora trancado! Com raiva, Meithel arrancou o colar de seu peito e jogou-o longe. En-tão caiu de joelhos e chorou desesperadamente. — Não. Não…

Page 17: SacerdoteS 03

C o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a r

17

Mas não havia nada que pudesse fazer. De alguma forma o portal foi trancado. Meithel estava preso do lado de fora e seu tutor lá den-tro. Lakar deveria saber que algo estava prestes a acontecer, por isso acordou Meithel no meio da noite e tomou providências para que ele ficasse fora de perigo. Tomou providências para que ele se salvasse. Lakar acabara de salvar sua vida e ele sabia disso, sentia isso, mas também sentia que se tutor estava morrendo e ele não podia fazer na-da para ajudar. Absolutamente nada. Jogou o bilhete amassado no chão, mas sob a luz do luar conseguiu ler uma única palavra que par-tiu seu coração: adeus… — NÃÃÃÃO!

Elkens mexeu-se preguiçosamente. Não precisou abrir os olhos para saber que já havia amanhecido nos Domínios da Alma. Iria ficar ali mais alguns minutos. O sono estava tão bom. Procurou se lembrar o que iria fazer aquele dia; tentou se lembrar se havia alguma missão, ou se teria mais um dia normal de treinamento. Mas seu dia não seria normal hoje. Assim que as lembranças voltaram, Elkens abriu os olhos e saltou de sua cama. Iria viajar. Iria com Kalimuns para os Domí-nios do Tempo. O aposento em que Elkens ficava no Santuário Rubi não era muito grande, mas tinha uma privilegiada visão do Bosque da Alma. Repar-tia o espaço com outros dois Sacerdotes, ambos ainda dormindo. Sua bolsa de viagem já estava preparada desde a noite anterior. Elkens se despiu, vestiu suas vestes rubras de Sacerdote da Alma e partiu para o local combinado com sua bolsa pendurada ao ombro.

Page 18: SacerdoteS 03

S a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e S

18

Elkens comeu uns pães no caminho. Quando chegou ao centro do Santuário, onde ficava a fonte, o Mestre Kalimuns e o Mensageiro do Tempo Arkas já estavam esperando por ele. — Está pronto para partir? – perguntou seu tutor sorrindo. — Sim – Elkens respondeu ficando ao lado da fonte. – O portal para os Domínios do Tempo fica longe? — Fica – Arkas respondeu com sinceridade. – Mas não vamos para lá. Utilizaremos um portal paralelo que fica há menos de duas horas de caminhada daqui. Juntos, os três tocaram seus colares e saíram dos Domínios da Alma. Estavam novamente em Gardwen, à beira do precipício, entre os qua-tro pilares de pedra, sobre a pedra circular com o símbolo da Alma. Arkas caminhou lentamente até a beira do precipício e olhou para baixo. Elkens o acompanhou. — Está vendo o vale lá embaixo? Lá fica o portal paralelo para os Domínios do Tempo. Kalimuns ficou ao lado de Elkens e disse: — Quando qualquer ser morre em nosso mundo, sua alma abandona o corpo e voa para cá, para os Domínios da Alma. Mas algumas almas se perdem no caminho e vão parar lá embaixo. Por isso aquele lugar se chama Vale das Almas perdidas. Todo dia uma equipe de Sacerdotes deve descer lá embaixo e verificar se não há nenhuma alma perdida por lá. Elkens olhou para o vale por alguns segundos, mas então os três de-ram as costas para o precipício e entraram na floresta no lado oposto, começando a descer pela montanha na qual estavam. Mas desta vez foram por um caminho diferente do qual Elkens fora no dia anterior e ele aproveitou a caminhada para conhecer coisas novas do mundo de

Page 19: SacerdoteS 03

C o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a r

19

fora. A descida ficava cada vez mais íngreme, mas escadas de pedra foram esculpidas para facilitar o caminho. Os três desceram sem nenhuma pausa, somente para beber água, e quase não disseram nada durante todo o caminho. Elkens percebia al-go estranho em Kalimuns; ele continuava com aquele ar de que sabia coisas que ninguém mais sabia. Ele podia enganar Arkas, mas Elkens o conhecia bem o bastante para reparar nisso. Kalimuns sabia mais do que dizia, muito mais, embora tentasse esconder. Ele sabia por que es-tava indo aos Domínios do Tempo, sabia o que iria acontecer lá. Sabia o que já estava acontecendo. Pouco mais de uma hora depois que saíram dos Domínios da Alma, os três finalmente chegaram ao sopé da montanha, então passaram a ca-minhar por entre as árvores do vale. Havia vários caminhos por entre as árvores que supostamente foram feitos pelos Sacerdotes que passa-vam por ali todos os dias procurando por almas perdidas. Arkas ia sempre à frente, indicando o caminho, embora Elkens duvidasse de que Kalimuns o desconhecesse. Com a amizade que Kalimuns teve com Morton, Elkens suspeitava que inúmeras vezes os dois fizeram aquele caminho para ir de encontro ao outro. A caminhada pelo vale era ainda mais difícil que a descida da monta-nha, pois pequenos arbustos e plantas rasteiras dificultavam a passa-gem e freqüentemente o caminho passava por fendas no chão abertas pela água da chuva que descia da montanha. Quase uma hora depois de chegarem ao vale, os três finalmente puderam ouvir o som de água correndo. Poucos minutos depois chegaram a uma pequena lagoa de águas cristalinas. Vários riachos vinham de todos os lados, trazendo águas das vertentes da montanha. A frente havia um riacho maior, por onde a água da lagoa vazava e ia embora, para onde Elkens não

Page 20: SacerdoteS 03

S a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e S

20

sabia. Talvez houvesse uma lagoa ainda maior mais à frente, mas is-so não tinha a menor importância no momento. Arkas aproximou-se lentamente da lagoa e agachou-se, colocando uma das mãos no colar e com a outra tocando levemente a água. — Somente um Mensageiro pode abrir um portal paralelo – Ka-limuns explicou, embora Elkens já soubesse disso. Ele observou Arkas por alguns segundos, então o Mensageiro do Tempo disse: — Aproximem-se. Os dois protetores da Alma, professor e aluno, obedeceram. Elkens se-guiu o exemplo de Kalimuns e colocou uma das mãos no ombro de Ar-kas. O contato físico era necessário, uma vez que seria Arkas quem os levaria para dentro dos Domínios do Tempo. Ele sentiu uma leve ma-gia se manifestar no corpo do Mensageiro e chegar ao seu corpo, então tudo a volta foi desaparecendo e Elkens sentiu o chão sumir sob seus pés. Essa era a sensação que descobriu há menos de um dia, mas que já aprendera a gostar. A sensação de sair e entrar em um Domínio, de sa-ir para uma aventura e também a de voltar para casa. Ou de conhecer lugares novos, como novamente era o caso. Logo voltou a tocar o chão, mas não estava mais no Vale das Almas perdidas. Estava nos Domínios do Tempo. A primeira visão que Elkens teve foi um paredão de pedra incrustado na base de uma montanha. O paredão estava cheio de símbolos e figu-ras desconhecidos, e no meio dele havia uma fenda por onde brotava água. A água corria pelo chão em sua direção, formando um riacho de águas cristalinas. — Esta é a Nascente Brilhante – disse Kalimuns contente, abrindo um largo e prazeroso sorriso. – Faz quinze anos que não vejo este lu-gar. Estamos no lado de trás da montanha Arguelse. Lá em cima fica

Page 21: SacerdoteS 03

C o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a r

21

o Templo das esferas e, exatamente acima de nós, fica o precipício do qual Morton se jogou para morrer. Elkens olhou assustado para cima. Era uma queda muito grande. — Mas Morton não morreu nesta nascente, pois enquanto caía ele es-tava sem seu colar e foi expulso dos Domínios do Tempo, então caiu em algum lugar do mundo de fora. Procuraram seu corpo por semanas, mas ele nunca foi encontrado, então acredita-se que o seu corpo ficou perdido entre os Domínios do Tempo e Gardwen. É impossível saber ao certo… — Mestre da Alma Nai-Kalimuns! – exclamou uma voz às costas de-les, dando-lhes as boas vindas. Um homem vinha caminhando até eles, e pelas suas vestes e seu colar Elkens soube que devia ser um dos quatro Sábios do Tempo. – É um prazer tê-lo novamente em nossos Domínios. Kalimuns cumprimentou o homem, tocando seu colar e curvando-se em sinal de respeito, então disse: — Também é um prazer para mim, Cronos, estar aqui mais uma vez. Kalimuns sempre falou muito sobre Cronos para Elkens e disse que era o mais respeitado dos quatro Sábios do Tempo. Elkens sabia que ele também havia lutado contra os kenrauers para defender o Templo das esferas quinze anos atrás. — Este é meu discípulo, o Sacerdote Nai-Elkens – seu Mestre o apre-sentou. – Tomei a liberdade de trazê-lo para esta Convocação Ele-mentar; talvez ele possa nos ajudar. Cronos olhou com certa dúvida sobre a ajuda que Elkens poderia ofe-recer, mas ainda assim o cumprimentou e Elkens fez o mesmo, tocando seu colar e curvando-se. — Então vamos – disse Cronos, dando às costas e seguindo por um caminho de pedra que levaria até o outro lado da montanha Arguelse.

Page 22: SacerdoteS 03

S a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e S

22

– Você também está convocado, Arkas – ele continuou sem olhar pa-ra o Mensageiro. – Quero que todos os que eram mais próximos de Morton participem desta convocação, talvez possamos descobrir algo juntos. Do outro lado da montanha, eles seguiram lentamente acompanhando Cronos. Logo chegaram ao Pátio da Antúnia. O pátio ficava numa pequena depressão, e no centro havia uma bela árvore. Elkens ficou encantado com sua beleza e surpreendeu-se com a quantidade de ma-gia que havia naquela árvore. Ela devia realmente ser importante pa-ra o Tempo. Era magnífica… Quando se aproximaram mais, Elkens viu que havia um colar pendu-rado no tronco da Antúnia, mas não era um simples colar, era um co-lar-Guardião. Aquele colar era o mesmo que pertencera ao Guardião do Tempo Mirundil antes de ele ser punido pelo seu próprio Elemento. — É assim que a força dos nossos colares vem sendo regenerada desde que o Tempo ficou sem um Guardião – disse Cronos indicando o colar. – O Tempo sentia-se desprotegido depois que Morton morreu, mas agora que sua alma reencarnou, ele irá eleger um novo Guardião do Tempo em breve. É o que esperamos. Cronos estendeu as mãos e pegou o colar, então fez sinal para todos o seguirem novamente. — O colar nos permitirá entrar no Palácio do Guardião – ele explicou enquanto seguia liderando o pequeno grupo. Kalimuns vinha logo atrás de Cronos, e Elkens ia logo atrás, ao lado do Mensageiro Arkas. Os quatro atravessaram as Ruínas Milenares, onde ficavam os apo-sentos dos protetores do Tempo, então seguiram em frente até chega-rem a uma grande ponte de pedra. Em volta da ponte havia apenas

Page 23: SacerdoteS 03

C o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a r

23

água, nada mais, e além havia muita névoa que impedia Elkens de ver o que tinha a frente. A ponte de pedra era muito comprida e eles andaram um bom tempo, até que Cronos finalmente parou. O colar-Guardião brilhou momenta-neamente em suas mãos, então toda a névoa se dissipou. À frente de-les havia um enorme paredão de pedra, uma gigantesca muralha de pedra, que se estendia para os dois lados até onde Elkens não podia ver (ele chegou a supor que aquela muralha circundasse todos os Do-mínios do Tempo). Sua altura também era surpreendente. A ponte terminava bem abaixo de uma queda d’água que vinha do paredão. A cachoeira abriu-se ao meio de repente, revelando grandes portas de carvalho atrás dela. As portas se abriram, e Cronos e os outros entra-ram no Palácio do Guardião. Ao atravessar as portas, Elkens viu-se em um grande e belo palácio de pedra, todo decorado com esculturas cristalinas. No teto havia algu-ma abertura por onde se entrava luz, e a luz incidia diretamente sobre um pequeno espaço de terra, onde havia um minúsculo broto de algu-ma planta. — A Antúnia brotou novamente – Cronos constatou com um tom es-perançoso, olhando para o pequeno broto no espaço de terra. – Signi-fica que os tempos de um novo Guardião estão nascendo. Atravessando-se aquele salão onde estavam, havia mais três portas fechadas, mas eles permaneceram ali, sentando-se em confortáveis ca-deiras que ficavam em volta do broto da Antúnia, formando um círcu-lo. As cadeiras, assim como todo o resto, continham camadas de poeira decorrentes dos quinze anos em que ninguém entrou ali. Kalimuns e Cronos sentaram-se lado a lado, discutindo algo que El-kens não conseguia ouvir. Arkas, o Mensageiro, estava ao seu lado

Page 24: SacerdoteS 03

S a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e S

24

enquanto ele olhava admirado para as esculturas cristalinas que ha-viam por todo o salão. — O Palácio do Guardião foi novamente aberto – ouviu Arkas sus-surrando, obviamente sentindo-se lisonjeado por ter sido convidado a entrar ali. – Novos tempos estão vindo, com certeza, só não sabemos se para o bem ou para o mal. Assim que parou de falar ele olhou para Elkens; o Sacerdote não disse nada, apenas assentindo com um sorriso amarelo, e voltou a olhar pa-ra as três portas ao fundo do salão. Arkas reparou no que o deixava curioso e recitou: — Passado, Presente e Futuro. A primeira porta relata toda a nossa história, tudo o que aconteceu antes e depois da Guerra Elementar. A porta do meio mostra o nosso presente, exatamente como ele é agora, e a última porta nos revela nosso futuro, tudo o que acontecerá daqui em diante. Elkens ficou ainda mais admirado. As portas eram singularmente be-las, mas diferentes entre si. Cada uma era decorada de uma maneira diferente, com figuras e símbolos diferentes, e feitas de materiais dife-rentes. — Podemos entrar? – Elkens resolveu arriscar. Arkas apenas sorriu e respondeu: — Não, não mesmo. As três portas estão trancadas e somente quem tem a chave pode entrar. – Elkens iria perguntar quem tinha as cha-ves, mas Arkas percebeu isso antes e disse: – A primeira chave, que abre a porta do passado, está sob os cuidados de Tarandil, Protetor das esferas; por isso ele também é conhecido como Senhor do Passado. A terceira chave, que abre a porta do futuro, é guardada por Tumbar, o Vidente do Tempo. Atrás daquela porta está todo o nosso futuro, e é lá também que está o Livro do Destino, onde está escrito tudo o que

Page 25: SacerdoteS 03

C o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a r

25

irá acontecer, mas somente Tumbar pode entrar lá para lê-lo. Segun-do Tumbar, não há mais muita coisa para se ver lá. Pelo que ele diz estamos no fim dos tempos… Elkens olhou assustado para Arkas, mas este apenas sorriu mais uma vez. — Não se preocupe com isso. Tumbar é muito misterioso e nunca ex-plica nada direito. Ele é o Senhor do Futuro, mas nós nunca entende-remos o futuro. Segundo Tumbar, nós só temos a capacidade de enten-der o presente e o passado. Mas pessoalmente – Arkas baixando a voz – acho que Tumbar está velho demais e está pirando… — E a chave da porta do meio? – perguntou Elkens ainda curioso. – Com quem está? — Nesse momento ninguém tem a chave do Presente. Esta chave é dada apenas ao Guardião do Tempo, pois são as decisões dele no pre-sente que moldarão nosso futuro. Não sei o que tem exatamente atrás daquela porta, mas ela só será aberta novamente quando surgir um novo Guardião do Tempo, o que parece que acontecerá em breve. Pelo menos é o que dizem. Mas nesse momento Arkas se calou, pois mais pessoas entraram no Palácio do Guardião. Entre as pessoas, Elkens reconheceu três delas apenas por suas vestes: Taiglin, Linus e Morpheus, os outros três Sá-bios do Tempo, que formavam o quarteto juntos a Cronos. Quando os quatro Sábios estão juntos e de acordo, eles têm os mesmos poderes e direitos que o Guardião, mas como o Tempo estava sem um Guardião desde que Mirundil foi punido, eram os quatro Sábios que tomavam as decisões. Atrás dos três Sábios entraram mais duas pessoas. Uma delas era um homem muito alto e magro, e quando o viu, Arkas disse:

Page 26: SacerdoteS 03

S a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e S

26

— Aquele é o homem que tem a primeira chave. Ele é Tarandil, Pro-tetor das esferas e Senhor do Passado. Ele também lutou na batalha contra os kenrauers quinze anos atrás. É o responsável pelo Templo das esferas onde aconteceu toda a ação… Ao lado de Tarandil vinha uma mulher. A mulher tinha feições sérias e olhos penetrantes, intensamente azuis. Seu modo de andar e suas vestes (armaduras!) indicavam que ela devia ser uma Guerreira do Tempo. Mas também havia beleza na mulher, e Elkens ficou encanta-do com isso. — Quem é ela? – perguntou à Arkas. — Aquela – disse Arkas sorrindo – é uma das pessoas que mais admi-ro aqui dentro. Duvido que você encontre alguém mais determinado que ela em toda Gardwen. Ela foi o último discípulo do Mago Mor-ton. Seu nome é Mifitrin… E foi assim que Elkens conheceu Mifitrin. Elkens não sabia disso, mas já nasceu com o propósito de encontrá-la, e durante toda a sua vida não encontraria ninguém mais importante que ela. Ele não sabia disso, mas sentiu isso assim que a viu. Ela não olhou para ele. Anda-va com um ar de superioridade, característica que Elkens reconheceu como sendo comum entre qualquer Guerreiro. Mifitrin prendeu a aten-ção de Elkens mais do que as três portas conseguiram fazer, muito mais. O Mensageiro Arkas, ainda ao seu lado, disse alguma coisa, mas Elkens não ouviu. Talvez fosse por causa do seu coração. Estava ba-tendo tão acelerado que não ouvia nada além de suas fortes batidas… — Mifitrin! – exclamou Kalimuns contente ao vê-la, abraçando-a fortemente. Abraço não era uma forma comum de cumprimento entre protetores, ainda mais em uma reunião tão formal como aquela, mas era constantemente usada entre amigos. – Como você está?

Page 27: SacerdoteS 03

C o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a r

27

— Estou bem, Kalimuns – respondeu Mifitrin alegremente. Elkens viu o sorriso em seu rosto sério e o achou belo. Soube que o sorriso de-veria ser algo raro naquele rosto (nem precisava conhecer a história de Mifitrin para julgar isso), mas de qualquer forma era belo. – Estava com saudades… Kalimuns sempre falou de Mifitrin para Elkens, mas era a primeira vez que olhava para ela. Depois da morte de Morton os Domínios do Tempo foram selados, por isso Kalimuns não podia ir até lá para vê-la. Mas mesmo assim se encontravam com certa freqüência. Elkens nunca presenciou um encontro entre Mifitrin e seu tutor, por isso sus-peitava que eles se encontravam fora dos Domínios da Alma também. Mifitrin tinha apenas quinze anos quando Morton morreu, porém mais quinze anos se passaram desde então, tornando-a uma verdadei-ra mulher. Mifitrin estava três ciclos de tempo mais velha e mais ex-periente, e transformou-se numa excelente Guerreira do Tempo. — Agora podemos dar inicio a nossa Convocação Elementar – Cronos anunciou, levantando-se de sua cadeira, mas sentando-se logo em se-guida. Ao lado direito dele sentaram-se os outros Sábios do Tempo, Taiglin, Linus e Morpheus, e do seu lado esquerdo sentaram-se Ka-limuns, Elkens, Tarandil, Arkas e Mifitrin. Elkens percebeu que nor-malmente participavam mais pessoas da Convocação Elementar, pois nem um quarto das cadeiras foram utilizadas. Cronos fez um sinal pa-ra Arkas, então este se levantou e correu para as portas do palácio. Poucos segundos depois o Mensageiro do Tempo voltou a entrar, mas estava acompanhado de alguém. Suas vestes brancas indicaram ime-diatamente que ele era um protetor da Magia e, pelas vestes e seu co-lar, devia ser um Sacerdote da Magia. Ele acompanhou Arkas e olhou para todos os presentes, sentando-se numa cadeira vazia ao lado de

Page 28: SacerdoteS 03

S a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e S

28

Mifitrin sem nada dizer. Seu rosto estava marcado por um recente, mas profundo sofrimento. — Mas participará apenas um Sacerdote da Magia? – perguntou Ta-randil intrigado, olhando para o Sacerdote recém-chegado. — Em condições normais isso não seria permitido – disse Cronos. – Seria necessário pelo menos mais um protetor da Magia de nível acima de Sacerdote, mas isso não é possível agora. Irei explicar o motivo, mas antes disso, este é Meithel, Sacerdote da Magia. Novamente todos olharam para Meithel. Todos pareciam confusos, menos Kalimuns, como Elkens reparou. Já esperava por isso também, não é Kalimuns?, pensou Elkens que irritava-se com o seu modo de es-conder as coisas que sabia. Cronos voltou a falar: — Há quinze anos o Mago Morton entregou sua vida para poder se-lar os Domínios do Tempo para impedir que os kenrauers entrassem. Isso aconteceu porque a alma de Morton é a alma-guardiã do Tempo e desde então os Domínios ficaram selados. Mas ontem aconteceu algo surpreendente: os Domínios do Tempo voltaram a se abrir e isso signi-fica que a alma de Morton finalmente reencarnou… — Isso não é novidade para nenhum de nós – disse Morpheus inter-rompendo Cronos. Parecia mal-humorado – Conte-nos apenas o que realmente tem importância. Cronos olhou fixamente para Morpheus e respondeu: — Nada do que eu disse é fútil, pois tudo o que contei tem a ver com a nossa Convocação Elementar – Cronos olhou para Meithel e usou um tom de voz mais delicado: – Por favor, Meithel, conte a todos a história que me contou há dois dias, quando chegou aqui. O Sacerdote Meithel obedeceu ao pedido de Cronos, então começou a contar sua história:

Page 29: SacerdoteS 03

C o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a r

29

— Tudo começou alguns dias atrás, quando fui chamado pelo Guar-Guardião da Magia. Eu subi até o topo da Torre Espiral, mas quando cheguei lá presenciei uma luta entre Zander e Shiron, um dos Cavalei-ros da Magia. — Mas isto é impossível! – exclamou Tarandil, Protetor das Esferas. – Um colar não permite que seu dono ataque seu próprio Guardião. Houve poucos murmúrios de concordância antes que Cronos tomasse a palavra: — Mas lembre-se Tarandil, que Morton enfrentou o Guardião do Tempo no dia em que morreu… — Sim, mas Morton não utilizou seu colar para atacar, então não havia como ser impedido. Mas pelo o que Meithel nos contou, Shiron atacou o Guardião da Magia com o poder de seu colar… Todos voltaram a olhar para Meithel que apenas confirmou com um aceno de cabeça. Ninguém disse nada por alguns segundos, até que um dos Sábios quebrou o silêncio: — Isso é praticamente inacreditável – disse Morpheus olhando para seus companheiros – mas há trechos nos pergaminhos ancestrais que dizem que em algumas situações não esclarecidas, um colar pode sim enfrentar um colar Guardião. — E quais são essas situações? – perguntou Tarandil descrente. — Não sabemos – reafirmou Morpheus. – Não há nada escrito nos pergaminhos sobre isso, mas Cronos, Linus e Taiglin devem concordar comigo que isso realmente está previsto. Os outros três Sábios resmungaram em concordância. Tarandil não parecia ter se convencido, por isso Cronos entrou com um novo argu-mento: — Isso não vem ao caso agora. Eu conheci Shiron e posso afirmar que ele é muito inteligente e astuto. É perito quando o assunto se trata de

Page 30: SacerdoteS 03

S a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e S

30

leis. Alguns anos atrás ficou famoso por encontrar meios de burlar várias leis dos pergaminhos ancestrais. Não duvido que tenha encon-trado um modo de quebrar mais uma regra. Tarandil abriu a boca para protestar, mas Mifitrin percebeu em tempo de cortá-lo, impedindo que a discussão inútil fosse levada adiante: — Continue sua história, Meithel, por favor. Todas as atenções se voltaram para o Sacerdote da Magia mais uma vez. Ele fez um discreto gesto de agradecimento para Mifitrin e con-tinuou: — Shiron conseguiu escapar do Guardião, e depois disso não o vi mais. Zander me disse que temia que todos os Cavaleiros estivessem corrompidos e que todos estavam do lado de Shiron, mas eu os observei durante dias e não vi nada de estranho. Acredito que Shiron seja nos-so único problema. “Zander me pediu para encontrar meu tutor, o Sábio da Magia Lakar, mas já fazia dias que eu não o via. Zander disse que eu precisava en-contrar meu tutor porque ele também estava correndo perigo. Um amigo, o Feiticeiro Mudriack, me contou que ele estava escondido fora dos Domínios da Magia e que iria me procurar em breve. Alguns dias se passaram, e finalmente meu tutor reapareceu. Ele ordenou que eu saísse dos Domínios e buscasse algo no lago Lushizar. Eu segui suas ordens, mas ele me enganou. O que encontrei foi isso…”. Todos observaram Meithel mexer em suas vestes e retirar um pequeno pedaço de pergaminho amassado. Cronos, que supostamente já havia lido o pergaminho, fez sinal para que Meithel entregasse o papel para alguém, então Meithel caminhou até Kalimuns e lhe entregou o papel. Kalimuns desdobrou o pedaço de pergaminho cuidadosamente, e El-kens aproximou sua cabeça para ler:

Page 31: SacerdoteS 03

C o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a r

31

“Perdoe-me por enganá-lo desta maneira Meithel, mas era necessá-rio. Espero que aceite o que foi planejado para você. Não fui eu quem planejou isso tudo, mas aceitei e coloquei esse fardo em seus ombros.

Espero que um dia você compreenda e me perdoe. Acredito em você, sei que não irá nos decepcionar. Sei que não está entendendo nada, pois o

único que tem todas as respostas é Morton. Procure pelo Mestre da Alma Nai-Kalimuns, ele saberá o que fazer. Adeus”.

Elkens terminou de ler e olhou para Kalimuns, que não parecia nem um pouco surpreso, como ele bem esperava. — E é por isso Kalimuns – disse Cronos ao perceber que ele terminara a leitura – que você foi chamado para esta Convocação Elementar. Todos os presentes agora olhavam para Kalimuns, mas ele permaneceu em silêncio, mirando o pedaço de pergaminho em suas mãos. — Mas ainda não entendo – disse Morpheus. – O que a morte de Morton tem a ver com tudo isso? Kalimuns estendeu sua mão e fez o pergaminho voar delicadamente através de magia até as mãos de Morpheus, que então começou a ler. Antes que ele terminasse a leitura, Cronos disse: — Por favor, Meithel, termine sua história para que todos possam compreender melhor onde pretendo chegar ao comparar isso com a morte de Morton. Meithel fez um gesto de concordância e continuou sua história: — Depois que achei este pergaminho, percebi que fui enganado, então tentei voltar para os Domínios da Magia. Não sei o que aconteceu, mas o portal está trancado e não há como entrar. Eu senti que meu tutor estava correndo perigo, mas por mais que eu tentasse, não havia como voltar. O portal estava definitivamente trancado!

Page 32: SacerdoteS 03

S a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e S

32

Morpheus havia terminado de ler o pergaminho, então o passou para os outros Sábios. — E o seu tutor? –Mifitrin perguntou dirigindo-se à Meithel com seus olhos penetrantes, azuis assim como foram os de Morton. – O que aconteceu com o Sábio Lakar? Meithel deu um doloroso suspiro. Como ficou preso do lado de fora, obviamente que não sabia o que havia acontecido lá. Mas a expressão no rosto de Meithel não deixou ninguém em dúvida sobre o fim do Sá-bio Lakar. Meithel não conseguiu dizer em palavras, mas seu rosto contou que seu tutor estava morto. De uma forma ou de outra Lakar fora assassinado. Meithel não sabia como, mas seu tutor fora assassi-nado e isso era um fato. Todos olhavam assustados para ele. Taiglin, que estava lendo o per-gaminho, deixou-o cair no chão, mas continuou olhando para Meithel sem se importar em recuperar o bilhete. Sentia pena do Sacerdote, mas não era por isso que olhava para ele. Meithel era a prova viva de que as coisas não iam nada bem, ele era a prova de que a Magia fora o primeiro Elemento a sofrer com uma nova investida do inimigo. O primeiro Elemento que, possivelmente, estava sendo corrompido. Pas-sado uma longa pausa, Meithel disse: — Não sei o que está acontecendo lá dentro, mas sei que não há como entrar e que meu tutor está morto. Ninguém disse nada por um bom tempo. Cronos esperou que todos les-sem o pergaminho, então continuou com a Convocação Elementar: — Arkas encontrou Meithel há dois dias e o trouxe imediatamente para mim. Como os Domínios do Tempo ainda estavam selados, não pude trazer Meithel para dentro, por isso encontrei um lugar lá fora para que ele ficasse e foi então que me contou tudo o que aconteceu. Eu mandei Arkas verificar o portal, e ele realmente está trancado. E

Page 33: SacerdoteS 03

C o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a r

33

também os quatro portais paralelos estão trancados. Todos eles. Não há como entrar nos Domínios da Magia. “Eu pretendia procurar o Guardião da Alma e fazer esta convocação nos Domínios da Alma, mas convenientemente a alma de Morton re-encarnou um dia depois, e graças a isso podemos estar todos aqui den-tro. Mas agora creio que todos vocês entendam o motivo de eu ter fa-lado sobre a morte de Morton. Quando os Domínios do Tempo esta-vam selados, não podíamos trazer ninguém para dentro, mas nós, os protetores do Tempo, podíamos entrar e sair a vontade. Mas agora os Domínios da Magia também estão selados, mas Meithel não consegue entrar, mesmo sendo um legítimo protetor da Magia. Os Domínios fo-ram selados de outra forma, com um selo diferente. Eles nãos estão trancados por que a alma-guardiã da Magia possa ter morrido, assim como aconteceu com o Tempo após a morte de Morton; estão tranca-dos porque alguém fez isso; porque não querem que entremos!”. Ninguém disse nada, pois ninguém compreendia realmente o motivo de Meithel não poder entrar nos seus próprios Domínios. Todos, com uma única exceção: Kalimuns. Elkens não tirava os olhos de seu tu-tor. Diga o que você sabe, senhor Kalimuns. Diga a eles tudo o que es-tá escondendo e acabe logo com isso. Mas ele não diria e Elkens já sa-bia disso. Kalimuns percebia que Elkens estava olhando para ele, mas evitou o olhar do pupilo, o que fez Elkens desistir. Kalimuns sabia o que estava acontecendo, mas Elkens estava convencido de que ele não diria nada. Os Domínios da Magia foram selados de uma maneira diferente e ninguém pode entrar. Todos meditaram por um longo tempo, mas El-kens, que não sabia em que pensar, passou a voltar seu olhar com cer-ta freqüência para Mifitrin. Havia algo nela, algo que ele não sabia explicar, mas parecia atrair seu olhar e seu pensamento. De repente

Page 34: SacerdoteS 03

S a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e S

34

Mifitrin olhou para ele, mas desviou seu olhar imediatamente, como se Elkens fosse alguém sem importância. Ela era apenas uma Guerrei-ra, não era superior a um Sacerdote, mas ainda assim parecia ser. Sen-tava-se com os Sábios, Kalimuns e Tarandil, e parecia ser igual a eles. Opinava como se fosse igual a eles. Elkens suspeitou que Mifitrin fos-se assim sempre, não importava se estava sentada de frente para um Guardião ou mesmo de frente para o pior dos inimigos. Aquela era a Mifitrin que fora discípulo de Morton e a pessoa que Kalimuns tanto respeitava. Vários minutos se passaram, até que finalmente o silêncio foi quebra-do: — O que sugere Kalimuns? – perguntou Cronos olhando para o Mes-tre da Alma. – O que devemos fazer? Kalimuns olhou surpreso para Cronos, como se não tivesse entendido a pergunta. Mas Cronos apenas manteve seu olhar, sem nem ao menos piscar. Neste momento Elkens percebeu que não era o único que sabia que Kalimuns sabia coisas que todos ignoravam. Cronos também sabia que Kalimuns estava escondendo algo, por isso refez sua pergunta: — O que devemos fazer Kalimuns? Você sabe o que está acontecendo, não sabe? Você tem as respostas… — O que o leva a pensar isso? – perguntou Kalimuns levantando uma das sobrancelhas. Cronos riu ao ouvir a pergunta do Mestre da Alma. — Não seja ridículo, Kalimuns – disse Cronos ainda rindo. – Está no pergaminho: “Procure pelo Mestre da Alma Nai-Kalimuns, ele saberá o que fazer”. Realmente Meithel estava indo procurá-lo, mas Arkas o encontrou antes e o trouxe para cá. Você sempre foi muito próximo de Morton e juntos planejaram muitas coisas. De alguma forma o tutor de Meithel, o Sábio Lakar, estava envolvido com vocês e ele nos deu

Page 35: SacerdoteS 03

C o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a r

35

uma boa pista para descobrir as respostas de todas as coisas que es-tão acontecendo. Sabemos que você tem as respostas… Dessa vez foi Kalimuns quem riu. Da parte de Cronos, aquilo se transformaria em uma discussão, mas não do que dependesse de Ka-limuns. Ele mantinha a calma, rindo da situação. O tom de voz que usou ao responder o Sábio do Tempo era o mesmo que usaria em uma discussão sem importância durante o chá da tarde. — Perdoe-me, Cronos, mas quem está sendo ridículo é você. Lakar não disse que eu tinha as respostas, o que ele disse é que eu saberia o que fazer. Segundo Lakar, quem tem as respostas é Morton… — Mas então você admite que sabe o que fazer! – exclamou Cronos alteando a voz. – Muito bem, Kalimuns, diga-nos: o que devemos fa-zer? — Eu não faço idéia – respondeu Kalimuns com uma falsa sincerida-de. – Supostamente Lakar queria que eu participasse desta convoca-ção, por isso escreveu aquilo, mas não sei o que fazer. Na verdade, acredito que ele nos deu a dica do que fazer: “o único que tem as res-postas é Morton…”. Então devemos procurar Morton!

Olhares sobressaltados e assustados recaíram sobre Kalimuns. Todos traziam suas perguntas na ponta da língua, mas foi Mifitrin quem fez sua pergunta primeiro: — Quer dizer que devemos procurar a reencarnação do meu tutor…? — NÃO! – exclamou Kalimuns seriamente, despedaçando as espe-ranças de Mifitrin da mesma forma como fizera com o Mensageiro Arkas. – Não podemos fazer isso, não é a coisa mais certa a se fazer.

Page 36: SacerdoteS 03

S a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e S

36

O que quero dizer é que devemos voltar no tempo e procurar por Morton… — Isso é um absurdo! – exclamou Morpheus. – Creio que isso já foi feito centenas de vezes. Não há nada lá. Morton morreu há quinze anos, como terá respostas para as coisas que estão acontecendo agora. — O bilhete dizia que eu saberia o que fazer – disse Kalimuns enca-rando Morpheus. – É o meu único palpite e se vocês não quiserem fa-zer isso, não sei o que mais possa ser feito. — Tudo bem! – exclamou Cronos levantando-se. – Eu irei com você, Kalimuns… Kalimuns também se levantou e olhou de Mifitrin para Cronos, então disse: — Se me permite Cronos, creio que não sejamos as pessoas indicadas para isso. Acredito que a pessoa certa é Mifitrin e, se ela aceitar, sugi-ro que leve meu discípulo junto. Mifitrin levantou-se decidida e concordou com Kalimuns, mas Elkens permaneceu sentado, sem entender o que seu tutor estava pretenden-do. — Tarandil – chamou Cronos. – Entregue a esfera para Mifitrin, por favor. Tarandil, o Protetor das esferas, levantou-se e estendeu sua mão direi-ta no ar. Imediatamente uma pequena esfera de vidro apareceu na palma de sua mão, brilhando com uma luz interior azul. Tarandil ca-minhou até Mifitrin e colocou a esfera em suas mãos. Elkens viu seus olhos brilharem. Aquela esfera correspondia ao ciclo de tempo em que Morton morreu. Mifitrin já havia voltado inúmeras vezes para aquele dia, mas isso era sempre doloroso.

Page 37: SacerdoteS 03

C o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a r

37

Sob um olhar de Kalimuns, Elkens levantou-se e se aproximou de Mifitrin sem saber o que fazer. Apenas ficou em silêncio e esperou que alguém fizesse ou dissesse algo. A Guerreira do Tempo tocou seu colar e segurou a esfera a sua frente, sobre a palma da mão aberta entre ela e Elkens. Um segundo depois ele viu a esfera explodir nas mãos de Mifitrin, e os dois foram engoli-dos pela sua luz azul, que tomou conta de tudo à volta deles… Elkens se assustou quando a esfera explodiu. Ele fechou os olhos, po-rém, não antes de ver tudo sendo tomado pela luz azul da esfera. Tu-do foi engolido pela luz. Tudo desapareceu. No segundo em que ficou com os olhos fechados, sentiu o chão sob seus pés rodopiando, como se todo o mundo estivesse rodando. Quando reabriu os olhos, estava num lugar completamente novo para ele. Estava muito escuro. Era noite. Percebeu que estava cercado por grandes e frondosas árvores, mas ainda não sabia onde estava. Olhou ao redor e encontrou Mifitrin logo atrás dele. O olhar da Guerreira es-tava focado em algum lugar adiante. Elkens olhou para a mesma dire-ção em que ela olhava e localizou uma grande parede de pedra entre as árvores. Parecia ser a parte traseira de um grande templo.

Page 38: SacerdoteS 03

S a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e S

38

— Este é o Templo das esferas – disse Mifitrin sem mover seu olhar para ele. Foi a primeira vez que lhe dirigiu a palavra – Atrás de nós está o precipício do qual Morton se jogou. Elkens olhou a sua volta. Quando olhou para atrás, se assustou em ver a borda do precipício há pouco mais de um metro. Realmente esta-va muito escuro. E se aquele era o Templo das esferas, significava que estavam no alto da montanha Arguelse. As luzes dos Domínios do Tempo estavam centenas de metros abaixo. As únicas luzes que devi-am haver sobre a montanha estavam dentro do templo, mas as paredes a bloqueavam completamente. Elkens não entendia como foram parar ali, nem o que estavam esperando acontecer; e compreendia muito me-nos por que era noite, sendo que deviam estar na metade do dia. En-quanto Mifitrin continuava com seu olhar vidrado na parede traseira do templo, Elkens olhou a sua volta. Ao olhar para a esquerda levou um susto. Um grito quase lhe escapou pela garganta ao ver algo que a escuridão lhe havia escondido de inicio, mas que estivera ali desde an-tes de eles chegarem. Não estavam sozinhos! — Esta sou eu – Mifitrin explicou sem olhar para o lado – quinze anos mais nova. Elkens olhou espantado por alguns segundos, mas era impossível dizer que Mifitrin estava mentindo. A garota tinha os mesmos traços e o mesmo olhar determinado da Mifitrin que estava atrás dele. A garota estava sentada numa pedra, brincando com uma pequena esfera de vi-dro nas mãos, semelhante à esfera que Mifitrin pegou de Tarandil, mas aquela era verde. A garota ficou brincando distraidamente com a esfera nas mãos, sem perceber que eles estavam ali. Foi então que uma idéia surgiu na mente de Elkens: — Ela não pode nos ver?

Page 39: SacerdoteS 03

C o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a r

39

— Não – respondeu Mifitrin forçando um sorriso sem emoção. – Não pode nos ver nem nos ouvir. Isso aconteceu há quinze anos e não podemos alterar o passado. Mas olhe! A qualquer momento meu tutor virá correndo dali. Agora Elkens compreendeu onde estava e o que iria acontecer. Aquela esfera os fez voltar quinze anos no tempo. Estavam revivendo a cena que, com toda certeza, ainda tirava o sono de Mifitrin em algumas noites. O coração de Elkens estava acelerando-se. Sabia o que iria acontecer e, por mais que desejasse não estar ali, por mais que não de-sejasse ver aquilo, nem piscava para não perder nada. Apesar de não querer ver, sabia que precisava ver. Ficou ali, ao lado da Guerreira e da Aprendiz que um dia ela fora, olhando para a escuridão à frente esperando que algo acontecesse. — Agora! – disse Mifitrin. Elkens apertou os olhos para poder en-xergar no escuro. Não tardou para que visse alguém se aproximando. Alguém vinha correndo na direção deles. O coração de Elkens deu um salto. A jovem Mifitrin também viu, então se levantou da pedra onde estava sentada e olhou para Morton, que continuava correndo em di-reção a eles. Em direção a ela. Somente ela estava ali e era para ela que Morton corria. Morton já estava próximo, mas não reduziu a velocidade. Quando es-tava perto o suficiente, agarrou a jovem Mifitrin pelo braço e atirou-se no precipício logo atrás deles. — NÃO! – gritou Elkens. Em seu desespero por ajudar, correu e se atirou no precipício. Sabia que não poderia salvá-los, mas aquele era seu instinto de sempre querer ajudar. Mifitrin não deu atenção, pois estava pensando em algo que vira. Quando Morton passou ao seu lado, menos de um segundo antes de se atirar para a morte, ela reparou em algo diferente, algo que não estava

Page 40: SacerdoteS 03

S a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e S

40

ali em todas as vezes em que ela voltara no tempo. Algo que defini-tivamente não estivera ali quinze anos atrás. Ou ao menos ela não ti-nha visto. Ela nem ninguém. Um pequeno brilho dourado na testa de Morton chamou sua atenção, algo que ela tinha certeza de que não es-tava ali antes. Desta vez estava diferente!

No Palácio do Guardião, todos aguardavam ansiosos o retorno do Sa-cerdote e da Guerreira. Quando a esfera explodiu na mão de Mifitrin, a luz azul escapou de seu interior e se expandiu para os lados. Mas assim que Elkens e Mifitrin foram engolidos pela luz, tudo parou. Os fragmentos da esfera de vidro estavam espalhados no ar, imóveis. A luz, que se espalhara numa grande confusão, também parara. Num raio de dois ou três metros ao redor de onde a esfera explodiu, tudo es-tava completamente imóvel. Ali era o campo de ação do feitiço e tudo estava preso no tempo. Mas passados apenas alguns minutos, a magia reversa começou. Os fragmentos da esfera de vidro, que continuavam no ar, passaram a fa-zer o movimento reverso, assim como toda a luz que dali escapara, que também estava regredindo de volta para seu recipiente. Quando toda a luz voltou para o interior da esfera, os cacos se fundiram como se ela jamais tivesse explodido. A esfera estava intacta e no exato momento que ela se regenerou, Mifitrin estava novamente com a mão sob ela, segurando a esfera como estivera minutos atrás. Como se jamais tives-se saído dali. Elkens também reapareceu, mas não da forma como estivera antes de desaparecer. Elkens surgiu do ar, continuando o mesmo movimento que fazia ao ter se atirado do precipício atrás de Morton e sua pupila.

Page 41: SacerdoteS 03

C o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a r

41

Ele surgiu dois ou três metros no ar, caindo de barriga sobre o maci-ço chão do palácio. — O que aconteceu? – perguntou Cronos ansioso e assustado. Olhava de Mifitrin para o Sacerdote da Alma, que mal tivera tempo de se le-vantar do chão. — Elkens tentou salvar a mim e ao meu tutor – disse ela rindo. Des-sa vez não era um riso forçado, como Elkens bem percebeu. — O que aconteceu? – ele perguntou assim que se levantou. – Eu es-tava caindo e… — Felizmente você não pode morrer no passado, Elkens – disse Ka-limuns sorrindo para seu pupilo. – Por isso você voltou. O que você viu foi o que aconteceu quinze anos atrás. Mifitrin sobreviveu, tanto que está conosco hoje, mas Morton morreu e esse foi o motivo de os Domínios do Tempo ficarem selados até o dia de ontem. Mifitrin esperou que Kalimuns se aquietasse, então disse em um tom de voz alto e claro, para que todos os presentes a ouvissem: — Algo estava diferente! – houve um murmúrio geral, mas ela os ig-norou. – Não sei o que significa, mas Morton estava usando uma tia-ra de ouro. Tenho total certeza de que ele não estava usando aquela tiara no dia em que morreu, e em todas as vezes que eu voltei no tem-po nunca vi a tiara. Os murmúrios que foram ouvidos segundos atrás desapareceram de forma abrupta. O silêncio tomou conta do Palácio do Guardião do Tempo. Um silêncio que, para Elkens, foi quase insuportável. Era um protetor da Alma; não conhecia direito as coisas que tinham relação com o Tempo, mas o fato de algo estar diferente no passado o deixou intrigado. Seus olhos não demoraram a se voltarem instintivamente para Kalimuns. Como esperava que aconteceria, não encontrou em seu tutor qualquer sinal de surpresa.

Page 42: SacerdoteS 03

S a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e S

42

— Faz sentido… – disse Kalimuns pensativo, quebrando o silêncio que se espalhara ao final da frase de Mifitrin. – É a tiara Abnuncu-nam. Uma das relíquias da Alma. — O que tem essa tiara? – perguntou Cronos. — A tiara Abnuncunam é capaz de guardar lembranças da alma. Morton deve ter deixado lembranças suas na tiara para que elas não se perdessem com a sua morte. — E como foi que ele conseguiu essa tiara? – Cronos estava desconfi-ado. Kalimuns ficou em silêncio, mas então sorriu misteriosamente e res-pondeu: — A tiara sumiu dos Domínios da Alma faz muitos anos. Desapare-ceu algum tempo antes de Morton morrer. Ele já devia estar com tudo planejado… — Eu vou voltar – disse Mifitrin decidida, interrompendo-os. Sua última experiência no passado despertou nela um sentimento que há muito tempo não sentia. Algo que nem ela sabia descrever em pala-vras, nem era capaz de dizer se era próximo à felicidade ou ao seu ex-tremo oposto. Mas não importava o que estava sentindo. Ela queria (precisava) voltar. – Não sei o que fizemos, mas tem algo diferente no passado. Não sei por que Morton estava com a tiara desta vez, mas preciso descobrir onde ela foi parar. Será possível que a alma de Mor-ton tenha levado a tiara, Kalimuns? — Dificilmente – respondeu Kalimuns. – Com certeza ela se perdeu junto com o corpo de Morton entre Gardwen e os Domínios do Tempo. Mifitrin novamente estendeu a mão com a esfera azul, e Elkens ficou de frente para ela sem ninguém dizer nada. Ele queria voltar mais uma vez e não precisou que Kalimuns ordenasse isso. Novamente a esfera explodiu nas mãos de Mifitrin e em questão de segundos tudo

Page 43: SacerdoteS 03

C o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a r

43

escureceu. Novamente era noite. Mais uma vez os dois estavam à beira do precipício, onde Morton se jogaria em poucos instantes. A jovem Mifitrin estava ao lado deles, brincando com a esfera verde nas mãos. Parecia distraída, mas no fundo estava muito preocupada e até mesmo com medo. Logo Morton veio correndo. Enquanto corria, Elkens viu a tiara dourada em sua testa, então percebeu quando Mor-ton encarou seu olhar por um segundo. Seu coração dera mais um sal-to. — Ele me viu… – Elkens sussurrou enquanto sentia sua barriga ge-lar. – Como é possível? Ele me viu… Ele olhou pra mim! Mifitrin não respondeu, pois olhava atentamente para seu tutor, sem nem ao menos piscar. Elkens admirou a beleza da tiara Abnuncunam na testa de Morton. Ele nunca vira a tiara, mas estudou sobre ela. Morton aproximou-se correndo, e fez a mesma coisa que fazia em to-das as vezes que Mifitrin voltava ali. Segurou o braço da jovem Mifi-trin e atirou-se do precipício. Agora Elkens sabia que não deveria fa-zer nada, mas assustou-se quando Mifitrin agarrou suas vestes e gri-tou: — VAMOS! – então ela mesma atirou-se do precipício junto com o Sacerdote da Alma. – Sei que meu tutor realizou mais de um feitiço enquanto caia. Se tivermos sorte podemos descobrir um deles agora. O ar frio da noite batia no rosto de Elkens, fazendo seus olhos lacri-mejarem. Os dois caiam lado a lado, e viram quando Morton utilizou um feitiço que fez a jovem Mifitrin parar no ar. Imediatamente ela começou a subir de volta à borda do precipício, e por um instante as duas Mifitrin se encontraram no ar, mas a jovem continuou a subir e a outra continuou a cair ao lado de Elkens. Então eles finalmente vi-ram. Duas luzes surgiram, uma anil e outra branca, mas um segundo depois uma terceira luz se juntou a elas, mas era de cor rubra. Na épo-

Page 44: SacerdoteS 03

S a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e S

44

ca Mifitrin acreditava que foi Morton quem realizou os três feitiços, da Magia, do Tempo e da Alma, mas agora sabia que Morton não po-deria ter realizado um feitiço da Alma. Ela não contou nada à El-kens, mas suspeitava que aquele feitiço da Alma fora realizado por Kalimuns, quinze anos atrás. Eles continuaram a cair, então se cho-caram com as luzes e tudo mudou… Não estavam mais caindo. Estavam novamente na beira do precipício lá em cima, e a jovem Mifitrin brincava com a esfera verde em suas mãos mais uma vez. Mas enquanto brincava, Elkens sentiu alguma forma de magia se manifestar e a jovem Mifitrin ficou completamente imóvel. Não havia mais vento e as folhas das árvores não balança-vam. Elkens ficou confuso, mas Mifitrin esclareceu sua dúvida: — O tempo foi travado! — Foi você? – Elkens lhe perguntou, mas ela apenas balançou a ca-beça negativamente sem olhar para ele. Ela estava olhando para fren-te, para o local do qual Morton viria correndo a qualquer momento… E veio. Mas não estava correndo. Não desta vez. Andava tranqüila-mente e sorria para Elkens e Mifitrin. Ele os via! Definitivamente es-tava olhando para eles. Quando se aproximou, Morton parou e conti-nuou olhando para eles, especialmente para Mifitrin: — Senhor…? – ela exclamou com a voz falhando. Ela estendeu a mão e caminhou lentamente até ele, mas Morton se afastou e disse: — Não pode me tocar, Mifitrin. Na verdade não estou aqui, sou ape-nas um reflexo, um fantasma… Mas é muito bom vê-la. A voz de Morton tocou fundo em Elkens. Jamais a esqueceria, tinha certeza disso. Mifitrin recuperou-se da emoção de ver Morton falando com eles, en-tão lembrou-se do motivo de estar ali e falou:

Page 45: SacerdoteS 03

C o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a r

45

— Senhor Morton – ela começou, escolhendo as palavras. – Estão acontecendo algumas coisas no nosso presente… — Eu sei, Mifitrin. Sei muito mais do que vocês imaginam, mas antes que me peça, não vou lhe revelar nada. — Mas senhor… – ela insistiu. – Precisamos de respostas para saber o que fazer. — Eu revelarei algumas coisas, Mifitrin, e vocês descobrirão o res-tante, mas tudo em seu tempo – quando Morton disse isso Elkens per-cebeu com quem seu tutor aprendera aquela frase. Tudo em seu tempo; era uma frase que Kalimuns usava freqüentemente. Uma frase que, Elkens sabia agora, aprendeu com Morton. “Dar-lhes-ei apenas um conselho. Acredito que vocês estejam com um Sacerdote da Magia, não estão Mifitrin? Você, Elkens e Meithel de-vem seguir para o vilarejo Rismã. Lá encontrarão um cristal. Este cristal funciona como uma chave para os Domínios da Magia e com ele vocês poderão destrancar o portal para lá”. — Mas o que iremos encontrar nos Domínios da Magia? – Mifitrin insistiu. – Ninguém sabe o que está havendo lá dentro e Meithel nos contou que um dos Cavaleiros atacou o próprio Guardião da Magia. — Como já disse antes, Mifitrin, não vou lhes revelar mais nada. — Mas senhor… O senhor morreu para impedir que o inimigo se apossasse da espada Kentairen. Temo que tudo o que está acontecendo nos Domínios da Magia possa estar ligado com Kentairen. Morton olhou carinhosamente para Mifitrin, então disse: — Kentairen sempre será o nosso problema. Ela trará tragédias, mas também será muito importante para nós, pois irá nos ajudar em algum ponto do futuro, mas isso até mesmo o Vidente Tumbar desconhece.

Page 46: SacerdoteS 03

S a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e S

46

Mifitrin virou-se e mirou a si mesma sentada na pedra, quinze anos atrás. Elkens olhou para ela e quase foi capaz de sentir todo o sofri-mento que ela lutava para ocultar dentro de si. — Eu não compreendo senhor. Tudo o que diz é através de enigmas, como se soubesse tudo o que está acontecendo e que vai acontecer, mas não entendo… — E não deve entender ainda, Mifitrin. Tudo em seu tempo. Pode parecer que sei tudo, mas não sei Mifitrin. Está tudo traçado pelo destino o que irá acontecer, mas um simples acontecimento imprevisto por ele, e as coisas são traçadas novamente. A minha morte não esta-va prevista, mas ela aconteceu e isso te garantiu um futuro. Sei muita coisa do que vai acontecer, mas tudo isso pode mudar a qualquer ins-tante. O Tempo é previsível e imprevisível ao mesmo tempo. Não pro-curem entender nada ainda. Sigam para um dos portais para os Do-mínios da Magia e levem o cristal que pegarem no vilarejo Rismã. Mifitrin ficou tão calada quanto Elkens. Morton a deixara comple-tamente sem palavras. Ela tinha tantas perguntas para fazer e tão poucos argumentos para fazê-las. — Você não se tornou uma Sacerdotisa como lhe pedi – disse Morton calmamente à Mifitrin, reparando em seu colar de Guerreira e sem ocultar um certo tom de desapontamento na voz. — Desculpe senhor Morton, mas segui um de seus conselhos: não se-gui uma ordem com a qual não concordei. No dia em que morreu, pro-meti que iria lutar para vingar sua morte, mas isso seria muito difícil sendo uma Sacerdotisa. Treinei com o Mestre Kantus até o meu quar-to pingente de Sacerdotisa, mas então eu o abandonei e procurei pelo General Manjourus, que me tornou uma Guerreira do Tempo. É isso que sou agora, uma Guerreira, e não uma Sacerdotisa.

Page 47: SacerdoteS 03

C o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a r

47

Morton não disse nada, mas após algum tempo meditando, final-mente falou: — Mesmo sem perceber, você seguiu a minha ordem. Tornou-se uma Sacerdotisa do Tempo. Pode ser que você seja uma Guerreira agora, mas ainda assim pode voltar a ser uma Sacerdotisa quando quiser. Não está tudo perdido, quatro pingentes serão o suficiente. Mifitrin não entendeu o que Morton quis dizer com aquilo. Por que ela colocaria tudo a perder se não tivesse se tornado uma Sacerdotisa? E para que quatro pingentes seriam o suficiente? Mas antes que ela pudesse perguntar, novamente Morton voltou a falar: — Você ainda tem o meu colar, não tem? Leve-o consigo, ele poderá ser útil. Mas agora ouça bem: sob a Nascente Brilhante eu escondi al-go que é extremamente importante na viagem de vocês. É uma das re-líquias do Tempo, mas você não deve mostrá-la para ninguém. Se Cro-nos ver a relíquia não permitirá que você a leve, então seja discreta. A relíquia está selada sob a nascente e somente o meu colar pode tirá-la de lá. E quanto a você Elkens, diga à Kalimuns que tudo vai indo como o planejado. Diga que ele pode te confiar o que ele guarda e agradeça por ter feito tudo o que combinamos. Diga também que ele fez melhor do que eu jamais esperei. Elkens confirmou com a cabeça, mas não soube o que dizer. Poupou a si mesmo de fazer as perguntas, porque sabia que ficaria sem respostas assim como Mifitrin. Percebia que Morton era muito semelhante a Kalimuns. Sabia que fazer perguntas agora seria inútil. — Agora podem ir – o fantasma de Morton os dispensou. – Não vol-tem mais aqui e digam a todos que não adianta voltarem, pois a única coisa que irão ver é a minha morte, não importa quantas vezes tentem. Adeus Mifitrin e Elkens. Façam o que eu disse e tudo ficará bem no final. Confiamos em vocês.

Page 48: SacerdoteS 03

S a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e S

48

Então Morton desapareceu e o tempo voltou a correr normalmente. O vento voltou a bater em seus rostos e balançar as folhas das árvo-res, e a jovem Mifitrin continuou brincando distraidamente com a es-fera verde nas mãos, sentada numa pedra. Logo Morton reapareceu, e veio correndo em direção a eles. Desta vez Mifitrin reparou que ele não estava mais com a tiara e ele também não olhou para Elkens como antes. Ele se aproximou da jovem Mifitrin e segurou-a pelo braço, en-tão jogou-se no precipício junto com a garota. Elkens e Mifitrin apro-ximaram-se do precipício e olharam para a escuridão lá em baixo, ven-do Morton e Mifitrin caindo. Um clarão azul apareceu e eles volta-ram ao Palácio do Guardião. Elkens e Mifitrin ficaram imóveis no meio de todos, assustados e res-pirando rápido. Todos perceberam que alguma coisa diferente realmen-te aconteceu. A esfera azul que havia explodido novamente estava in-tacta na mão da Guerreira. — E então? – perguntou Cronos apreensivo. Elkens e Mifitrin contaram tudo o que aconteceu, exceto sobre a relí-quia que Morton deixou escondida sob a Nascente Brilhante. E El-kens também não disse nada à Kalimuns sobre o que Morton pediu para ele dizer. Preferiu deixar aquilo para contar quando estivessem a sós. — Todos sabemos que Morton realizou feitiços dos três Elementos antes de morrer. Do Tempo e da Magia ele poderia ter realizado sozi-nho, mas agora eu sou obrigado a perguntar – Cronos virou-se para Kalimuns como já fizera mais de uma vez naquela convocação. – Vo-cê tem alguma coisa a ver com o feitiço da Alma que Morton realizou? Foi você quem realizou o feitiço, não foi Kalimuns? Cronos perguntou seriamente, mas Kalimuns apenas sorriu. Isso irri-tou o Sábio e o induziu a refazer sua pergunta:

Page 49: SacerdoteS 03

C o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a r

49

— Foi você quem realizou o feitiço da Alma, Kalimuns? — Fiz de tudo para ajudar Morton. Graças a ele estamos aqui hoje e temos esperanças de vencer o inimigo. Se até mesmo Morton preferiu não lhes revelar que feitiços realizou antes de morrer, não serei eu quem irá contar. Tudo em seu tempo… Cronos fez uma expressão severa, mas não voltou a repetir a pergunta. Sabia que seria inútil, pois certamente não obteria respostas. — Se me permitem dizer – começou o Sacerdote Meithel – acho que tenho uma noção sobre o feitiço da Magia que Morton pode ter reali-zado. — Por favor – pediu Cronos. – Conte-nos, Meithel. — Ele pode ter usado uma espécie de feitiço pós-vida. Ele fez algo para que pudesse conversar com Elkens e Mifitrin depois de morto, mas não sei o motivo de o feitiço só ter sido ativado agora. Creio que ele combinou os três Elementos em um feitiço muito complexo… — Realmente faz sentido… – disse Taiglin, um dos quatro Sábios. — Precisamos fazer o que Morton ordenou – disse Mifitrin encer-rando o assunto. – Amanhã deveremos partir em direção ao vilarejo Rismã. — Muito bem – disse Cronos. – Eu estarei me preparando e amanhã pela manhã partiremos… — Não! – ela exclamou com determinação, contrariando-o. – Preci-samos fazer exatamente o que Morton nos pediu. Ele disse que apenas Elkens, Meithel e eu deveríamos ir nessa jornada. Então somente nós três partiremos amanhã. Cronos pareceu decepcionado. — Mifitrin está certa – Kalimuns concordou. – Devemos seguir rigo-rosamente o que Morton disse.

Page 50: SacerdoteS 03

S a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e SS a c e r d o t e S

50

— Está bem – disse Cronos levantando-se, parecendo decepcionado e contrariado, mas conformado. – Então creio que esta Convocação Elementar esteja encerrada. Ninguém voltou a contrariá-lo. Todos se retiraram do Palácio do Guardião e novamente ele foi tran-cado pelo colar.

Page 51: SacerdoteS 03

C o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a rC o n v o c a ç ã o E l e m e n t a r

51