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ROMANTISMO ROMANTISMO POESIA POESIA LITERATURA BRASILEIRA

ROMANTISMO POESIA LITERATURA BRASILEIRA. FloresFlores Floresta Brasileira, gravura de Comte de Clarac, de 1817-19, mostrando o homem pequeno diante da

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ROMANTISMOROMANTISMOPOESIAPOESIA

LITERATURA BRASILEIRA

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Flores

Floresta Brasileira, gravura de Comte de Clarac, de 1817-19, mostrando o

homem pequeno diante da grandiosidade e da exuberância da

natureza.

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Na Europa, a partir da metade do século XVIII, surgem

autores que, libertando-se parcialmente dos limites traçados pela poética neoclássica, apresentam novas concepções literárias. Em suas obras, eles expressam

sentimentos inspirados nas tradições nacionais, falam de amor e saudade num tom pessoal, realizando uma poesia

mais comunicativa e espontânea do que a neoclássica. Era o nascimento do Romantismo que foi desenvolvendo-se e

enriquecendo-se à medida que se expandia. Assim, acabou adquirindo características tão variadas que se torna

impossível descrevê-lo em todas as suas dimensões.

No Brasil, percebe-se o desejo de criação de uma literatura nacional. Assim representou a primeira tentativa consciente de se produzir literatura verdadeiramente brasileira. Abandonou aos poucos o tom lusitano, a fim de dar lugar a um estilo mais próximo da fala brasileira.

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Características gerais do Romantismo:

1. Liberdade de criação;

2. Sentimentalismo;

3. Supervalorização do amor;

4. Idealização da mulher;

5. Mal- do- século:

a. pessimismo em relação à sociedade e a si mesmo;b. prazer em sentir-se melancólico e sofrido;c. busca do isolamento, da solidão.

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6. Evasão:

6.1. evasão no tempo:a. recuperação da cultura medieval (Europa);b. exaltação da nacionalidade, com a idealização do povo, dos

heróis nacionais, da paisagem física;c. religiosidade.

6.2. Evasão (plano individual):a. saudade e valorização da infância;b. supervalorização do homem em estado selvagem.

6.3. Evasão no espaço:a. exaltação da natureza;b. Valorização da natureza como refúgio seguro e sereno;

6.4. Evasão na morte (escapismo).

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7.Escolha de heróis grandiosos:

a. exaltação de personagens históricos;b. piratas,proscritos e bandidos como heróis;c. incorporação de lendas.

8. Aceitação do mistério.

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Romantismo no Brasil – Literatura:

•1836 – Publica-se o livro de poemas Suspiros

poéticos e saudades, de Gonçalves de

Magalhães, considerado como nosso primeiro

livro romântico.

•1831 – Publicam-se as obras que marcam o

início do Realismo/Naturalismo no Brasil: O

mulato e Memórias póstumas de Brás Cubas.

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Gerações

NomesPrincipais poetas Principais temas

1ª GeraçãoNacionalista ou Indianista

Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias e Araújo Porto-Alegre

Exaltação da natureza, excesso de sentimentalismo, amor indianista, ufanismo (exaltação da pátria)

2ª GeraçãoUltrarromântica ou Mal do Século

Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Junqueira Freire e Fagundes Varela

Egocentrismo, sentimentalismo exagerado, morte, tristeza, solidão, tédio, melancolia, subjetivismo, idealização da mulher.

3ª GeraçãoCondoreira ou Social

Castro Alves, Sousândrade, Tobias Barreto

Sentimentos liberais e abolicionistas

Na poesia,distinguem-se três fases, as chamadas Gerações Românticas:

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•Indianismo - uma das formas mais significativas do nacionalismo romântico. O índio é um ser idealizado (nobre, valoroso, fiel), apesardisso demonstra a valorização das origens da nacionalidade.

•Mal do Século - voltando-se inteiramente para dentro de si mesmos, esses poetas expressaram em seus versos pessimistas um profundo desencanto pela vida. Muitos marcados pela tuberculose,mal que deu nome à fase.

•Condoreirismo - poesia social e libertária que reflete as lutas internas da Segunda metade do reinado de D. Pedro II.

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Canção do exílio

Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer eu encontro lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá.

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Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar –sozinho, à noite– Mais prazer eu encontro lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu'inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá.

De Primeiros cantos (1847)

Gonçalves Dias

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IX

Oh! ter vinte anos sem gozar de leveA ventura de uma alma de donzela!E sem na vida ter sentido nuncaNa suave atração de um róseo corpoMeus olhos turvos se fechar de gozo!Oh! nos meus sonhos, pelas noites minhasPassam tantas visões sobre meu peito!Palor de febre meu semblante cobre,Bate meu coração com tanto fogo!Um doce nome os lábios meus suspiram,Um nome de mulher... e vejo lânguidaNo véu suave de amorosas sombrasSeminua, abatida, a mão no seio,Perfumada visão romper a nuvem,Sentar-se junto a mim, nas minhas pálpebrasO alento fresco e leve como a vidaPassar delicioso... Que delírios!

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Acordo palpitante... inda a procuro:Embalde a chamo, embalde as minhas lágrimasBanham meus olhos, e suspiro e gemo...Imploro uma ilusão... tudo é silêncio!Só o leito deserto, a sala muda!Amorosa visão, mulher dos sonhos,Eu sou tão infeliz, eu sofro tanto!Nunca virás iluminar meu peitoCom um raio de luz desses teus olhos?

Ideias íntimas – Álvares de Azevedo

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Casimiro de Abreu(Meus oito anos)

Oh! que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais! Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias Do despontar da existência! - Respira a alma inocência Como perfumes a flor; O mar - é lago sereno, O céu - um manto azulado, O mundo - um sonho dourado, A vida - um hino d'amor!

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Que aurora, que sol, que vida, Que noites de melodia Naquela doce alegria, Naquele ingênuo folgar! O céu bordado d'estrelas, A terra de aromas cheia As ondas beijando a areia E a lua beijando o mar!

Oh! dias da minha infância! Oh! meu céu de primavera! Que doce a vida não era Nessa risonha manhã! Em vez das mágoas de agora, Eu tinha nessas delícias De minha mãe as carícias E beijos de minha irmã!

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Livre filho das montanhas, Eu ia bem satisfeito, Da camisa aberta o peito, - Pés descalços, braços nus - Correndo pelas campinas A roda das cachoeiras, Atrás das asas ligeiras Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos Ia colher as pitangas, Trepava a tirar as mangas, Brincava à beira do mar; Rezava às Ave-Marias, Achava o céu sempre lindo. Adormecia sorrindo E despertava a cantar!

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Oh! que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais! - Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras A sombra das bananeiras Debaixo dos laranjais!

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Navio Negreiro Castro Alves I 'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço Brinca o luar — dourada borboleta; E as vagas após ele correm... cansam Como turba de infantes inquieta. III Desce do espaço imenso, ó águia do oceano! Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano Como o teu mergulhar no brigue voador! Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras! É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ... Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!

IV Era um sonho dantesco... o tombadilho Que das luzernas avermelha o brilho. Em sangue a se banhar. Tinir de ferros... estalar de açoite... Legiões de homens negros como a noite, Horrendos a dançar...

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Negras mulheres, suspendendo às tetas Magras crianças, cujas bocas pretas Rega o sangue das mães: Outras moças, mas nuas e espantadas, No turbilhão de espectros arrastadas, Em ânsia e mágoa vãs!

E ri-se a orquestra irônica, estridente... E da ronda fantástica a serpente Faz doudas espirais ... Se o velho arqueja, se no chão resvala, Ouvem-se gritos... o chicote estala. E voam mais e mais...

Presa nos elos de uma só cadeia, A multidão faminta cambaleia, E chora e dança ali! Um de raiva delira, outro enlouquece, Outro, que martírios embrutece, Cantando, geme e ri!

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No entanto o capitão manda a manobra, E após fitando o céu que se desdobra, Tão puro sobre o mar, Diz do fumo entre os densos nevoeiros: "Vibrai rijo o chicote, marinheiros! Fazei-os mais dançar!..."

V Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura... se é verdadeTanto horror perante os céus?!Ó mar, por que não apagas Co'a esponja de tuas vagas De teu manto este borrão?... Astros! noites! tempestades! Rolai das imensidades! Varrei os mares, tufão! 

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Quem são estes desgraçados Que não encontram em vós 

Mais que o rir calmo da turba Que excita a fúria do algoz? 

Quem são?   Se a estrela se cala, Se a vaga à pressa resvala Como um cúmplice fugaz, Perante a noite confusa... Dize-o tu, severa Musa, 

Musa libérrima, audaz!... 

São os filhos do deserto, Onde a terra esposa a luz.

Onde vive em campo aberto A tribo dos homens nus...

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São os guerreiros ousados Que com os tigres mosqueados Combatem na solidão. Ontem simples, fortes, bravos. Hoje míseros escravos, Sem luz, sem ar, sem razão. . .

[...]

Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus, Se eu deliro... ou se é verdade Tanto horror perante os céus?!... Ó mar, por que não apagas Co'a esponja de tuas vagas Do teu manto este borrão? Astros! noites! tempestades! Rolai das imensidades! Varrei os mares, tufão! ...

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O adeus de TeresaCastro Alves

A vez primeira que eu fitei Teresa,Como as plantas que arrastaa correnteza,A valsa nos levou nos girosseus...E amamos juntos... E depoisna sala"Adeus" eu disse-lhea tremer co'a fala...

E ela, corando, murmurou-me: "adeus."

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Uma noite... entreabriu-se um reposteiro...E da alcova saía um cavaleiroInda beijando uma mulher sem véus...Era eu... Era a pálida Teresa!"Adeus" lhe disse conservando-a presa...

E ela entre beijos murmurou-me: "adeus!“

Passaram tempos... sec'los de delírioPrazeres divinais... gozos do Empíreo...... Mas um dia volvi aos lares meus.Partindo eu disse — "Voltarei!... descansa!...Ela, chorando mais que uma criança,

Ela em soluços murmurou-me: "adeus!"

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Quando voltei... era o palácio em festa!...E a voz d'Ela e de um homem lá na orquestaPreenchiam de amor o azul dos céus.Entrei!... Ela me olhou branca... surpresa!Foi a última vez que eu vi Teresa!...

E ela arquejando murmurou-me: "adeus!"

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Professora Katia ZandomingoLiteratura Brasileira IUniversidade Castelo Branco