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Robson da Silva Dias Metodologia de Previsão de Carga de Longo Prazo de Energia Elétrica Monografia apresentada como requisito para obtenção do grau de Graduado pelo Programa de Graduação em Engenharia Elétrica do Departamento de Engenharia Elétrica da UFC. Orientador: Prof. Tomaz Nunes Cavalcante Neto. Fortaleza, 5 de Julho de 2010

Robson Dias

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Page 1: Robson Dias

Robson da Silva Dias

Metodologia de Previsão de Carga de Longo Prazo de Energia Elétrica

Monografia apresentada como requisito para obtenção do grau de Graduado pelo Programa de Graduação em Engenharia Elétrica do Departamento de Engenharia Elétrica da UFC.

Orientador:

Prof. Tomaz Nunes Cavalcante Neto.

Fortaleza, 5 de Julho de 2010

Page 2: Robson Dias

RESUMO

O presente estudo propõe uma metodologia para a previsão de carga em

uma distribuidora de energia elétrica através do consumo de energia da área que

abrange a sua concessão. Para as previsões de carga de energia de longo prazo,

são utilizados indicadores do desempenho da economia, como o PIB (produto

interno bruto) nacional e estadual, densidade populacional, os dois racionamentos

de energia dos anos de 1987 e de 2001, além da base de dados da variável em

análise. O histórico dos valores de consumo de energia é a variável mais importante

para modelar a carga em um horizonte de longo prazo (5 anos).

Na modelagem da previsão, é utilizado um software chamado EVIES 5.1.

Esse programa proporciona gerenciamento de dados, realização de análises

estatísticas e econométricas, também gera previsões ou modelos de simulações,

além de produzir gráficos e tabelas de alta qualidade.

PALAVRAS-CHAVE: carga, consumo e previsões.

Page 3: Robson Dias

ABSTRACT

This study proposes a methodology for load forecasting in an electricity

distribution network the power consumption of the area covering the grant. For the

projected energy charge of long term, are used as indicators of economic performance

such as GDP (gross domestic product) national and state population density, the two

rationing of energy the years of 1987 and 2001, and the database of the variable in

question. The historical values of energy consumption is the most important variable for

modeling the load on a long-term horizon (5 years).

In modeling the prediction is used a software called EVIES 5.1. This program

provides data management, analysis and econometric statistics also generate forecasts

or model simulations, and produce graphs and tables of high quality.

Keywords: charge, consumption and forecasts.

Page 4: Robson Dias

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Etapas do Modelo de Previsão da Demanda ............................................. 30

Figura 2: Tipos de Variáveis para Análise Estrutural ................................................ 32

Figura 3: Fluxograma de Previsão ............................................................................ 49

Figura 4: Consumo por Classe desde 1973 .............................................................. 50

Figura 5: Consumo Total do Ceará desde 1973 ....................................................... 50

Figura 6: Carga Própria desde 1973 ......................................................................... 53

Figura 7: PIB Brasil 106 R$ desde 1973 .................................................................... 54

Figura 8: Crescimentos do PIB Brasil........................................................................ 54

Figura 9: PIB Ceará 103 R$ desde 1973 ................................................................... 55

Figura 10: Crescimentos do PIB Brasil ...................................................................... 55

Figura 11: População do Ceará em Milhões desde 1973 .......................................... 56

Figura 12: População do Brasil em Milhões desde 1973 .......................................... 56

Figura 13: Domicílios do Ceará desde 1973 ............................................................. 57

Figura 14: Curvas de Carga Realizada x Estimada desde 1973 ............................... 59

Figura 15: Carga Própria com Previsão dos 5 anos .................................................. 61

Figura 16: Possibilidades de Demanda e de Contratos da Distribuidora .................. 66

Page 5: Robson Dias

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Matriz de Análise Estrutural ....................................................................... 41

Tabela 2: Resultados do Modelo E-Views ................................................................. 52

Tabela 3: Quadro de Resultados da Regressão ....................................................... 58

Tabela 4: Coeficientes dos Parâmetros da Previsão ................................................ 58

Tabela 5: Carga Própria Estimada dos 5 anos .......................................................... 60

Tabela 6: Novas Cargas Projetadas para os 5 anos ................................................. 60

Tabela 7: Carga Própria Total no Horizonte Estimado .............................................. 61

Tabela 8: Perdas de Distribuição em % .................................................................... 62

Tabela 9: Mercado Projetado (GWh)......................................................................... 62

Tabela 10: Projeção da Carga Própria (GWh) .......................................................... 64

Tabela 11: Projeção da Carga Própria (MW médios) ................................................ 64

Tabela 12: Taxas de Crescimento da Demanda ....................................................... 65

Tabela 13: Montante de Energia (MW médios) ......................................................... 65

Page 6: Robson Dias

SUMÁRIO

RESUMO ............................................................................................................ ii

ABSTRACT ......................................................................................................... iii

LISTA DE FIGURAS ........................................................................................... iv

LISTA DE TABELAS ........................................................................................... v

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 9

1.1 Previsão de Carga ........................................................................................... 9

1.2 Apresentação do Problema ........................................................................... 12

1.3 Motivações, Justificativas e Importância do Trabalho ..................................... 12

1.4 Objetivos do Trabalho ..................................................................................... 13

1.5 Metodologia e Estrutura do Trabalho .............................................................. 13

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA SOBRE PREVISÃO DE DEMANDA .. .......... 15

2.1 Conceito de Previsão ...................................................................................... 15

2.2 Histórico do Surgimento da Previsão .............................................................. 15

2.3 Séries Temporais .......................................................................................... 16

2.4 Análise de Séries Temporais ........................................................................ 18

2.5 Redes Neurais Artificiais....................................................................................19

2.6 Classificação dos Métodos de Previsão de Demanda .................................. 20

2.6.1 Métodos Qualitativos ............................................................................. 22

2.6.2 Métodos Quantitativos ........................................................................... 24

3 PREVISÃO DE DEMANDA ........................... .................................................. 28

3.1 Características da Previsão de Demanda ...................................................... 28

3.2 Etapas de um Modelo de Previsão .................................................................. 30

Page 7: Robson Dias

3.3 Caracterização da Demanda ........................................................................... 31

3.3.1 Análise Estrutural .................................................................................. 31

3.3.2 Demanda Residencial ........................................................................... 33

3.3.2.1 Influência da População ................................................................ 33

3.3.2.2 Influência da Quantidade de Domicílios ........................................ 33

3.3.2.3 Influência do Consumo Médio por Residência .............................. 34

3.3.3 Demanda Industrial ............................................................................... 34

3.3.3.1 O Nível de Produção Industrial ....................................................... 35

3.3.3.2 A Intensidade Energética ............................................................... 35

3.3.3.3 Os Consumidores Eletrointensivos ............................................... 35

3.3.4 Demanda Total de Energia Elétrica ....................................................... 36

3.4 Metodologia de Previsão de Carga das Distribuidoras de Energia Elétrica .... 36

3.4.1 Cenários de Previsão ............................................................................ 37

3.4.2 Acompanhamento da Evolução da Demanda ....................................... 38

3.4.2.1 Identificação das Categorias Relevantes ....................................... 38

3.4.2.2 Identificação das Variáveis Explicativas ......................................... 40

3.4.2.3 O Tratamento das Séries Históricas ............................................... 41

3.4.3 Aplicação de Modelos Estatísticos de Previsão .................................... 42

4 RISCOS DEVIDO ÀS INCERTEZAS NA PREVISÃO ........ .............................. 44

4.1 Riscos na Previsão de Demanda ................................................................... 44

4.1.1 Impacto das Previsões de Demanda ..................................................... 44

4.1.2 Motivos de Desvios nas Previsões ........................................................ 45

4.2 Erros Originados do Modelo de Previsão ....................................................... 46

4.2.1 Modelos de Previsão ............................................................................. 46

4.3 A Natureza do Erro de Previsão ...................................................................... 47

5 ESTUDO DE CASO ........................................................................................... 48

5.1 Critérios Metodológicos ................................................................................... 48

5.2 Previsão Adotada pela Distribuidora ............................................................... 49

5.3 Ferramenta Computacional ............................................................................. 51

Page 8: Robson Dias

5.4 Análise das Variáveis Explicativas .................................................................. 53

5.5 Descrição dos Passos da Previsão ................................................................. 57

5.6 Resultados da Previsão .................................................................................. 58

6 GESTÃO DE RISCOS DAS PREVISÕES E SUA APLICAÇÃO .. ..................... 63

6.1 Introdução ....................................................................................................... 63

6.2 Uso dos Meios Regulatórios ........................................................................... 63

6.2.1 Repasse às Tarifas ............................................................................... 63

6.3 Aplicação da Gestão de Riscos ...................................................................... 64

6.3.1 Previsão de Mercado ............................................................................ 64

6.3.2 Carga Própria Prevista .......................................................................... 64

6.3.3 Estratégia de Contratação ..................................................................... 65

6.3.4 Contratação Máxima ............................................................................. 65

6.3.4.1 Análise Gráfica dos Resultados ..................................................... 66

6.3.5 Penalidades ........................................................................................... 66

6.3.5.1 Subcontratação .............................................................................. 66

6.3.5.2 Sobrecontratação ........................................................................... 67

7 CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE TRABALHOS FUTUROS ..... ................... 68

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................... ............................................ 70

Page 9: Robson Dias

9

1 INTRODUÇÃO 1.1 Previsão de Carga

Em uma distribuidora de energia elétrica, a previsão do consumo é uma

ferramenta de suporte essencial para a tomada de decisões e funções de controle do

sistema elétrico de potência. Ela é também um recurso bastante utilizado na

programação da geração, avaliação da segurança do sistema, planejamento para

transações de energia, entre outros.

A previsão pode ser desmembrada em quatro tipos: curtíssimo prazo, curto

prazo, médio prazo e longo prazo. A diferença de uma para outra está na classificação

do período de previsão. Para a previsão a curtíssimo prazo, o horizonte projetado de

interesse é de alguns minutos até uma hora à frente. Para a previsão a curto prazo,

estima-se uma faixa de 24 horas até uma semana à frente. Já na previsão a médio

prazo, a faixa se estende a alguns meses. Finalmente, a previsão a longo prazo, de

interesse para o trabalho, se refere a períodos superiores a um ano.

A importância da previsão de consumo de energia elétrica transformou-se

numa questão muito discutida recentemente. Depois de enfrentar o racionamento, em

2001, as empresas de energia elétrica se depararam com o desafio de se realizar uma

previsão de carga mais exata possível. Um dos pilares desse desenho são as regras

para a compra de energia pelas distribuidoras, que exigem altíssimo nível de exatidão

nas previsões de carga.

Em maior ou menor grau, todas as distribuidoras brasileiras precisaram

aperfeiçoar o processo de elaboração das previsões, tendo em vista o novo modelo

para o setor elétrico.

O setor elétrico sempre trabalhou com dois grandes horizontes de previsão:

o de longo prazo, necessário para viabilizar o planejamento da construção de usinas

geradoras, e o de curtíssimo prazo, dependente de variáveis sobre as quais não é

possível ter controle, como mudanças súbitas de temperatura.

O novo modelo para o setor elétrico projetou um ambiente mais competitivo,

em que a previsão de carga se tornou fator absolutamente crítico para as

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10

distribuidoras. Isto porque a compra de energia passou a ser feita exclusivamente por

meio de leilões, com base no critério do menor preço.

Antes da realização de cada leilão, as distribuidoras têm de enviar ao

Ministério de Minas e Energia (MME) as previsões de cargas para três cenários: início

de fornecimento após cinco anos da contratação (A-5) , três anos(A-3) e um ano(A-1).

Os ajustes na demanda e no consumo de energia são definidos pelas regras do

mercado spot, cujos preços são mais altos do que os dos leilões regulares.

As previsões de carga com cinco anos de antecedência têm por objetivo

permitir ao governo o planejamento para licitações de novas usinas geradoras. Esses

empreendimentos necessitam de um horizonte de planejamento bastante amplo, que

se estende a até 20 anos.

A busca da exatidão das previsões é vital porque a lei prevê que a

distribuidora utilize 100% da energia que contratou, e as margens de variação

permitidas são bem pequenas. Na prestação de contas anual à Agência Nacional de

Energia Elétrica (ANEEL), caso a empresa tenha feito uma compra inferior em mais de

3% à energia distribuída, poderá incorrer em penalidades. O objetivo do governo,

nesse quesito, foi estabelecer regras para assegurar que não falte energia.

Em caso inverso, ou seja, se a distribuidora comprar energia a mais, ela

somente pode repassar esse custo às tarifas se a margem de erro for de até 3%. Se

tiver adquirido energia em um percentual acima deste, a distribuidora deve arcar com

os custos sem transferi-los ao consumidor. Com essa regra, o governo quis garantir a

menor tarifa possível.

Em relação à estimação, a evolução das técnicas de modelagem de

consumo de energia elétrica é marcante. No passado, extrapolações em linha reta de

tendências históricas do consumo de energia serviram muito bem. Entretanto, com a

introdução de mercados cada vez mais competitivos, com o surgimento de novas

tecnologias e combustíveis alternativos (na oferta de energia e no uso-final), a partir

das mudanças nos estilos de vida, tornou-se fundamental utilizar técnicas de

modelagem que capturem o efeito de fatores tais como preços, renda, população,

tecnologia e outras variáveis econômicas, demográficas, políticas e tecnológicas.

Page 11: Robson Dias

11

No caso do Brasil, após o processo de privatização da infra-estrutura iniciada

na década de 90, nota-se uma grande preocupação atual em expandir e modernizar

todos os segmentos ligados à energia elétrica, de forma a sustentar as projeções de

crescimento do país.

Ainda a partir do novo modelo, o planejamento da expansão do sistema

realizado pelo MME, que tinha caráter indicativo passa a ser determinativo. Como a

energia elétrica é um bem não estocável, este planejamento deve visar a uma

antecedência de pelo menos dois anos em relação ao crescimento de consumo, tempo

mínimo de maturação de uma usina termelétrica. Desta forma, previsões de

crescimento de carga também darão subsídio a este planejamento estratégico. Ainda

neste contexto, a separação dos modelos em classes de consumo (residencial,

industrial, comercial e outras) se torna muito útil, uma vez que determinadas políticas

podem atingi essas classes de maneira diferenciada, já que cada tipo de consumidor

tem um comportamento específico e uma tarifa própria.

De forma mais detalhada, o planejamento determinativo da expansão (PDE):

o Definirá a estratégia para a expansão da geração e da transmissão,

identificando os projetos (hidráulicas, térmicas e linhas de interconexão);

o Definirá o montante de energia que deverá ser objeto de licitação, em

complementação aos projetos individualizados;

o Indicará o programa de expansão de referência, inclusive com o

estabelecimento dos custos de referência dessa expansão que orientarão

a licitação pelo mercado (montante de energia);

o Indicará o elenco de usinas que poderão compor a licitação pelo

mercado (montante de energia);

o Indicará, a partir da consolidação dos mercados previstos pelas

distribuidoras, a necessidade de contratos adicionais de suprimento, caso

a demanda projetada seja superior às previsões de carga contratadas

pelas concessionárias de distribuição.

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12

1.2 Apresentação do Problema

Os principais métodos de previsão de séries temporais mais utilizados

requerem para sua aplicação o cumprimento de uma série de critérios que devem ser

atendidos para que o método possa dar previsões aceitáveis para um determinado

produto. Contudo, na prática os resultados obtidos são considerados aceitáveis e não

ótimos. Sob este ponto de vista, a aplicação de qualquer método de previsão pode se

tornar ainda mais inadequada e, com isso, grandes discrepâncias tendem a ser

inevitáveis.

A finalidade da realização de uma previsão pode desencadear em um

problema com erros ainda maiores, pois geralmente a previsão é realizada e utilizada

para fins de planejamento, na tentativa de prever o que vai acontecer e assim poder se

preparar. São inúmeras as áreas que necessitam de planejamento, e com isso,

previsão. Então, se a previsão for mal processada, os riscos são amplificados. A

previsão ou forecast, nome comumente utilizado neste meio, incide diretamente na

programação e planejamento dos recursos necessários (tais como matéria-prima e

mão de obra, por exemplo). Quando se faz a previsão, e se esta não for aceitável, uma

série de problemas pode ocorrer, desde uma falha na alocação dos recursos, tal como

matéria-prima, a qual pode provocar a falta ou excesso de produção.

Diante do exposto, encontrou-se o interesse para o desenvolvimento desta

pesquisa, que se concentra basicamente no aperfeiçoamento das técnicas existentes

para obtenção de previsões de carga.

1.3 Motivações, Justificativas e Importância do Trabalho

A área de aplicações que envolvem previsões já justifica a importância em se

estimar uma variável com maior precisão. Este foi um dos focos de interesse para o

desenvolvimento deste trabalho, que abordou uma proposta de aliar uma combinação

de previsões de séries temporais através de programas computacionais.

Outro ponto importante na busca de aperfeiçoar novas técnicas de previsão

que sejam mais robustas está relacionado ao fato da previsão ser uma ferramenta

estratégica utilizada para fins de planejamento em diversos segmentos, os quais

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13

requerem a construção de cenários futuros, seja para prever consumos, vendas,

índices econômicos, etc. Neste projeto de pesquisa, por exemplo, o estudo de previsão

está centrado na previsão de consumo de energia elétrica.

1.4 Objetivos do Trabalho

Os principais objetivos deste trabalho são:

• Desenvolver uma ferramenta que seja fundamental para a previsão

de carga e que também seja simples e de fácil utilização por um

usuário pouco familiarizado com os dados de carga em estudo.

• Subsidiar na definição da estratégia de reforço e expansão do setor

elétrico, de forma harmônica e integrada com o planejamento

energético de longo prazo.

• Definir os montantes de energia a contratar, para atendimento ao

mercado da área de concessão.

• Sinalizar a receita empresarial com a comercialização de energia

para os consumidores cativos e disponibilização da rede de

distribuição para os consumidores livres.

1.5 Metodologia e Estrutura do Trabalho

Neste tópico é feito uma breve descrição sobre a metodologia e a estrutura

do trabalho. Começando pela metodologia, este trabalho propõe o desenvolvimento de

uma combinação linear de previsões obtidas a partir da resposta computacional,

através do programa EVIEWS. Este programa agrupa diversas variáveis explicativas

que ajudam na previsão da variável em que se quer estimar.

Para promover o desenvolvimento nesta linha de pesquisa, são a seguir

relatadas as etapas que foram seguidas para conclusão do projeto.

Page 14: Robson Dias

14

A etapa inicial deste trabalho foi o estudo de conceitos teóricos,

acompanhado de uma revisão da literatura acerca da previsão, suas técnicas e

aplicações, bem como questões voltadas à análise de séries temporais e os

respectivos métodos existentes para previsão das mesmas. Este estudo foi resumido

no Capítulo 2.

Já no Capítulo 3 é apresentada a caracterização da demanda, uma

descrição das principais classes de consumo e as principais variáveis que infuenciam

nessas classes, assim como no consumo global.

No Capítulo 4 são relatados os riscos associados à previsão e os principais

motivos dos desvios.

No Capítulo 5 é apresentado o estudo de caso para a previsão de carga.

Também nesse tópico é comentado sobre o EVIEWS, suas funcionalidades.

No Capítulo 6 é comentado sobre os riscos inerentes às previsões de

demanda e seus impactos na distribuidora de energia elétrica, assim como a aplicação

das ferramentas de gestão de riscos associados à previsão de demanda da

concessionária no novo contexto regulatório brasileiro.

Finalmente, o Capítulo 7 apresenta as conclusões obtidas através da

previsão.

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15

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA SOBRE PREVISÃO DE DEMANDA

2.1 Conceito de Previsão

A previsão pode ser definida de várias maneiras. De acordo com Lima

(2004), a previsão de uma série temporal é a determinação dos prováveis valores que

serão assumidos pela variável de estudo, dentro de um horizonte máximo de tempo.

Já Morettin e Toloi (2006) definem previsão como sendo alguma coisa que

se quer ver antes que ela exista. Segundo eles, alguns autores acham melhor a

palavra predição, como forma de indicar algo que deverá existir no futuro. Existem

outros ainda que utilizam o nome projeção, já que o processo de previsão, segundo

define Lima (2004), nada mais é do que uma extrapolação feita além do modelo

temporal conhecido (neste caso a série temporal).

Neste trabalho, o nome previsão foi o termo escolhido para tratar o assunto

relacionado a previsões de séries temporais.

2.2 Histórico do Surgimento da Previsão

As técnicas utilizadas para realização de previsões tiveram sua origem no

século XIX, quando no meio científico utilizava o Determinismo Científico.

Os adeptos do Determinismo Científico postulavam que, se em um

determinado momento, fosse possível conhecer as posições e velocidades exatas de

cada partícula do Universo, as Leis da Física deveriam ser capazes de fornecer o

estado do Universo em qualquer momento do passado ou do futuro.

O que seria possível através da criação de Modelos Matemáticos

Determinísticos, que nada mais são que um conjunto de equações e inequações

matemáticas, organizadas de forma que, ao serem inseridas as condições iniciais do

sistema sob análise, seja possível obter as condições em um momento desejado.

Os Modelos Determinísticos são úteis para certas situações, como pequenos

sistemas físicos do nosso cotidiano. Entretanto, apresentam limitações. Demonstra-se

que pequenas variações nas condições iniciais podem causar grandes perturbações na

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16

condição final. Por isso, os Modelos Determinísticos são inadequados quando não é

possível definir as condições iniciais com boa precisão.

O golpe final nos Modelos Determinísticos ocorreu no início do século XX,

com o avanço da Física Quântica.

Para compensar as limitações das técnicas determinísticas, foram

desenvolvidos Modelos Probabilísticos. Através desses Modelos, conhecendo a

velocidade exata de uma partícula, é possível definir suas posições mais prováveis ou

a probabilidade de uma determinada posição ocorrer.

Os Modelos Probabilísticos mostraram-se úteis em outros setores do

conhecimento humano. Por exemplo, atualmente um Modelo Probabilístico auxiliou na

definição das metas e consumo de energia elétrica estabelecidas pelo Plano de

Contingenciamento do Governo Federal, afetando diretamente a vida de boa parte da

população brasileira. (Rodrigues, 2007)

2.3 Séries Temporais

De acordo com Morettin e Toloi (2006), uma série temporal pode ser definida

como um conjunto de variáveis estocásticas (probabilísticas) equiespaçadas e

ordenadas no tempo. Já segundo Klein (1997), um sinal que depende do tempo e é

medido em pontos particulares no tempo é sinônimo de uma série temporal.

Do ponto de vista da previsão, Newbold (1995) definiu que uma série

temporal seria uma seqüência cronológica de observações, de uma variável de

interesse particular, que quando analisadas poderiam ajudar a previsão a partir das

características passadas desta série.

Sendo assim, tendo disponíveis os dados passados é possível iniciar o

estudo de uma série temporal, levando em consideração uma abordagem matemática

e estatística capaz de modelar equações que traduzam os mecanismos responsáveis

pela geração desta série. Desta forma, pode-se investigar sua evolução e

comportamento.

Page 17: Robson Dias

17

Também segundo Morettin e Toloi (2006), os principais objetivos da análise

e estudo de séries temporais são:

• Investigação do mecanismo gerador da série;

• Realização de previsões de valores futuros a curto/longo prazo;

• Descrição do comportamento da série através da verificação

gráfica de características tais como: tendência, ciclo, sazonalidade e

periodicidade.

De acordo com Corrar (2004), os dados que constituem uma série temporal

de demanda de energia elétrica podem sofrer a influência de diversos fatores, como:

• Alterações macroeconômicas, como uma crise financeira

internacional;

• Mudanças no padrão tecnológico vigente;

• Variações nas condições da natureza;

• Fenômenos imprevisíveis.

Os fatores acima citados determinam os componentes das séries temporais,

que são:

a) Tendência: É considerado o componente mais importante de uma

série temporal. Consiste no movimento de direção geral que cobre um

longo período de tempo e reflete as mudanças ocorridas nos dados de

modo bastante consistente e gradual. Pode ser visualizado pela linha em

torno da qual os dados flutuam.

A tendência pode ser linear ou curvilínea (exponencial, polinomial,

logística, etc.). Diz-se que existe tendência linear quando o movimento

(crescente ou decrescente) é constante ao longo do tempo. Já a

tendência exponencial, por sua vez, ocorre quando o movimento está

associado a um expoente verificável ao longo do tempo.

Page 18: Robson Dias

18

b) Variações cíclicas: São conhecidas como variações que representam

movimentos regulares em torno da reta ou da curva de tendência e

referem-se às oscilações ao longo prazo. Os ciclos podem ser ou não

periódicos, isto é, podem ou não seguir padrões análogos, depois de

intervalos de tempos iguais.

De modo geral, as variações cíclicas são difíceis de determinar,

uma vez que tanto o período considerado, quanto à causa do ciclo,

podem não ser conhecidos.

c) Variações sazonais: São variações cíclicas de curto prazo (menos de

um ano). Referem-se a movimentos de padrões regulares ou repetidos

em torno da linha de tendência, em que os dados de uma série temporal

parecem obedecer a períodos como meses, semanas, dias, etc.

d) Variações irregulares: Referem-se aos deslocamentos esporádicos

das séries temporais. Decorrem, normalmente, de causas naturais ou

sociais, provocadas por eventos imprevisíveis e não periódicos chamados

de ruídos, como: enchentes, greves, eleições, etc.

2.4 Análise de Séries Temporais

Os principais itens analisados segundo Ferreira (2005) e Morettin e Toloi

(2006) na análise de séries temporais são:

• Investigar o mecanismo gerador da série temporal;

• Realizar previsões de valores futuros da série: estas podem ser de

curto prazo, como para série de vendas, produção ou estoque, ou

a longo prazo, como para séries populacionais, de produtividade e

de consumo;

• Descrever o comportamento da série. Dessa forma, a construção

do gráfico, a verificação da existência de tendências, ciclos e

variações sazonais, a construção de histogramas e diagramas de

Page 19: Robson Dias

19

dispersão etc., podem ser ferramentas úteis para a análise das

séries;

Pelo exposto acima, fica nítido que, para começar a análise de uma série

temporal, o ideal é realizar uma decomposição da série em componentes com

características peculiares, como: tendência, ciclo e sazonalidade.

A tendência de uma série mostra seu comportamento a longo prazo, já que

através da extrapolação deste movimento, que pode ser crescente, decrescente ou de

natureza estável, é possível estimar qual será a continuidade desta série.

Já os ciclos podem ser revelados através das oscilações existentes na série.

São intervalos periódicos não constantes e superiores à variação sazonal. Tais

oscilações que podem ser de queda ou subida, de maneira suave ou brusca,

acompanham a série ao longo da componente tendência.

Por fim, a sazonalidade se evidencia de maneira semelhante ao ciclo,

caracterizando-se também pelas variações positiva e negativa, porém ocorre de forma

periódica. Assim, tem-se a diferença entre a sazonalidade e o ciclo, já que enquanto a

sazonalidade é previsível pelo fato de ser periódica, o ciclo é imprevisível, pois se

manifesta de modo inconstante.

2.5 Redes Neurais Artificiais

Em termos intuitivos, redes neurais artificiais (RNAs) são unidades de

processamento numérico, cuja arquitetura em camada produz um fluxo de informações

com ou sem realimentação, possuindo uma estrutura de processamento de sinais com

grande poder de adaptação e capacidade de representação de processos não lineares

[Silva, 2003].

Entre as aplicacoes usuais das RNAs tem-se: reconhecimento e

classificação de padrões, clustering ou agrupamento, previsao de series temporais,

aproximação de funções, otimização, processamento de sinais, analise de imagens e

controle de processos.

Page 20: Robson Dias

20

Uma rede neural se assemelha ao cérebro em dois aspectos [Haykin, 2001]:

• O conhecimento é adquirido pela rede a partir de seu ambiente

através de um processo de aprendizagem;

• Forças de conexão entre neurônios, conhecidas como pesos

sinápticos, são utilizados para armazenar o conhecimento adquirido.

No processo de aprendizagem, generalização significa que a rede neural

produzira uma saída desejada para valores de entrada não utilizados durante tal

processo, sendo este constituído, geralmente, por meio de exemplos.

O elemento básico de construção de uma RNA e o neurônio artificial, cuja

descrição é o estagio inicial para o entendimento dos conceitos associados as

estruturas de redes existentes.

2.6 Classificação dos Métodos de Previsão de Demanda

Segundo Moreira (1998), é possível classificar os métodos de previsão

segundo critérios variados, mas a classificação mais simples provavelmente é aquela

que leva em conta o tipo de abordagem usado, ou seja, o tipo de instrumentos e

conceitos que formam a base da previsão. Por esse critério, os métodos podem ser:

a) Qualitativos - são métodos que se baseiam no julgamento de

pessoas que, de forma direta ou indireta, tenham condições de opinar

sobre a demanda futura, tais como gerentes, vendedores, clientes,

etc. Este julgamento é feito com base em pesquisas de opinião,

painéis e reuniões entre especialistas. Desse modo, não se apoiam

em nenhum modelo específico, embora possam ser conduzidos de

maneira sistemática. Sua aplicação é indicada em situações onde não

há disponibilidade de dados históricos consistentes.

b) Quantitativos - são aqueles que utilizam modelos matemáticos e

estatísticos para que se cheguem aos valores previstos. Permitem

Page 21: Robson Dias

21

controle do erro, mas exigem informações quantitativas preliminares.

A subjetividade dos analistas está na escolha do método que será

utilizado, no qual são divididos em:

� Métodos causais - nos quais a demanda de um item ou

conjunto de itens é relacionada a uma ou mais variáveis

internas ou externas à empresa. Tais variáveis são chamadas

de variáveis causais . A população, o PIB (Produto Interno

Bruto), o consumo de certos produtos, etc. são alguns

exemplos de variáveis causais. O que determina a escolha de

uma determinada variável causal para a previsão da demanda

é a sua ligação lógica com esta última. Caso se tenha uma boa

estimativa desse valor, será possível obter a projeção desejada

para um produto ou grupo de produtos em estudo.

� Séries temporais - a análise destas séries não exige além do

conhecimento de dados passados da demanda ou de qualquer

variável que se queira prever. A expressão série temporal

indica apenas uma gama de valores da demanda tomados em

instantes específicos de tempo, geralmente com igual

espaçamento. A expectativa é a de que o padrão observado

nos valores passados forneça informação adequada para a

previsão de valores futuros da demanda.

Ainda analisando as duas subdivisões dos modelos matemáticos

quantitativos, têm-se algumas peculiaridades. Para os métodos causais, o

predominantemente encontrado é a regressão da demanda sobre a(s) variável(eis)

causal(is). Nela, tenta-se descobrir, utilizando pares de valores da demanda e da(s)

variável(eis) causal(is), alguma relação que possa se expressa por uma equação

matemática. De acordo com Moreira (1998), pode-se ter:

Page 22: Robson Dias

22

a) Regressão simples. É o caso em que se considera a demanda

relacionada a apenas uma variável causal.

b) Regressão múltipla. Quando consideradas duas ou mais variáveis

causais supostamente ligadas à demanda.

Já para as séries temporais, são usadas algumas classes de médias que

podem ser tiradas de valores passados da demanda. Igualmente são muito úteis os

modelos de decomposição das séries temporais, envolvendo a determinação da linha

de tendência obtida por meio de uma regressão que considera o tempo como variável

ligada à demanda. Valores previstos pela linha de tendência podem, então, ser

corrigidos para responder por outras características da demanda.

2.6.1 Métodos Qualitativos

Os métodos qualitativos são muito subjetivos e dependem da sensibilidade e

da experiência do analista. São técnicas normalmente mais onerosas e que exigem

maior trabalho e dedicação que os métodos quantitativos de previsão. Podem-se citar

algumas técnicas qualitativas:

a) Opinião de Executivos: Quando não há histórico do passado, como

é o caso em novos produtos, a opinião de especialistas pode ser a

única fonte de informações para preparar a Previsão de Demanda. A

abordagem consiste em combinar sistematicamente a opinião de

especialistas para derivar uma previsão. Combinar previsões

individuais pode ser feito de diferentes formas. Uma pessoa pode

ser responsável pela preparação das entrevistas com os executivos

e diretamente desenvolver um modelo único baseado nos resultados

das pesquisas (Nahmias, 1993).

b) Opinião da Força de Vendas: Desenvolver previsões com base na

opinião do pessoal envolvido diretamente com as vendas pode ser

uma alternativa atraente. Afinal, esses indivíduos mantêm contato

Page 23: Robson Dias

23

diário tanto com os produtos da companhia quanto com os

consumidores, conhecem o desenvolvimento histórico dos produtos

e percebem as evoluções do mercado (Moreira, 1998).

c) Indicadores Econômicos: Essa técnica baseia-se em indicadores

econômicos, os quais definem condições vigentes durante um

determinado período de tempo. As empresas podem descobrir a

existência de uma relação direta, ou correlação, entre as vendas de

alguns ou de todos seus produtos e essas condições. Quando isso

for verdade, a disponibilidade de indicadores apropriados

proporcionará à companhia meios de estimar quais serão suas

vendas. Segundo Mayer (1990), são usados freqüentemente alguns

indicadores:

• renda per capita;

• nível de emprego;

• Produto Interno Bruto;

• preços ao consumidor;

• depósitos bancários;

• produção industrial.

d) Pesquisas com Clientes: A lógica de se tomar a opinião dos

consumidores liga-se ao fato de que, na realidade, são eles que

determinam a demanda. Com freqüência, o número de

consumidores potenciais é excessivo para que seja realizada

pesquisa de opinião particular. Nesses casos, procede-se por

amostragem, conduzindo-se o que se denominam pesquisas de

mercado, as quais requerem conhecimentos técnicos especializados

e exigem cuidado no seu planejamento. Organizar a estrutura da

pesquisa, os instrumentos de coleta dos dados, o plano de execução

e interpretar os resultados exige a presença de especialistas no

assunto. Tomados os devidos cuidados, entretanto, e possuindo a

Page 24: Robson Dias

24

empresa os recursos financeiros e/ou humanos para realizar uma

pesquisa de mercado, o método pode dar resultados

compensadores (Moreira, 1998).

2.6.2 Métodos Quantitativos

Já os métodos quantitativos de previsão utilizam modelos estatísticos

baseados em dados históricos e são agrupados em análise de séries temporais e

modelos causais. A análise de séries temporais baseia-se na idéia de que dados

relacionados com a demanda do passado podem ser úteis para prever a demanda

futura, isto é, a tendência que gerou a demanda no passado permanecerá gerando a

demanda no futuro.

Os modelos causais admitem que a demanda esteja relacionada com algum

fator fundamental ou fatores no meio ambiente, e que ocorrem relacionamentos de

causa e efeito.

a) Métodos causais: Segundo Ballou (2006) as premissas básicas das

técnicas causais sustentam que o nível da variável de previsão é

derivado do nível de outras variáveis relacionadas.

Brito, Campos e Leonardo (2006) descrevem que as técnicas

causais têm o objetivo de explicar as variações de demanda a partir

de fatores externos. Geralmente, a técnica causal é indicada para

previsões de longo prazo, sendo os métodos de regressões lineares

e múltiplos os mais conhecidos.

b) Séries temporais: Segundo Bowersox e Closs (2006), essas técnicas

se concentram inteiramente em padrões e eventos históricos e

alterações desses padrões para gerar previsões.

São métodos estatísticos que utilizam dados históricos para

“prever” o futuro, ou seja, utilizam a premissa que os padrões de

demanda existentes continuem no futuro.

Page 25: Robson Dias

25

A equação de demanda pode ser representada como a relação entre a

quantidade demandada (a variável dependente) e diversas variáveis independentes.

Segundo Hill (2003), a análise das relações quantitativas entre variáveis

econômicas é objeto da Econometria, ramo da Economia que reúne um conjunto de

técnicas estatísticas para testar as teorias econômicas.

A aproximação de uma equação de demanda usando os modelos causais

envolve as seguintes etapas:

a) Identificação das variáveis;

b) Coleta de dados;

c) Especificação do modelo de demanda;

d) Estimação dos parâmetros do modelo e sua interpretação;

e) Desenvolvimento de previsões (estimativas) baseadas no modelo.

Para desenvolver um modelo estatístico de demanda, deve-se inicialmente

identificar as variáveis independentes que possivelmente influenciam a quantidade

demandada. Essas variáveis podem ser população, renda per capita, PIB. Poucas

vezes se obtém uma equação de demanda empírica que contenha mais de seis ou

sete variáveis independentes.

A variável que estamos tentando prever é chamada de variável dependente

(designada por Y). As variáveis utilizadas para prever o valor da variável dependente

são conhecidas como variáveis independentes (tais como: X1, X2 e X3).

Após a identificação das variáveis, a próxima etapa consiste em coletar

dados sobre elas. Algumas vezes, os dados não estão disponíveis na forma desejada

e isso pode exigir que algumas variáveis do modelo sejam novamente especificadas,

ou que transformações sejam feitas para alterar os dados para a forma requerida.

Em seguida, o próximo passo consiste em especificar a forma da equação

ou do modelo, o qual indica a relação entre as variáveis independente e a variável

dependente. A forma funcional especificada da relação da regressão a ser estimada

normalmente é escolhida para refletir com o máximo de precisão as verdadeiras

relações de demanda. Muitas alternativas e variações podem ser testadas. Em função

de muitas vezes não existir uma razão a priori para se esperar que uma forma indique

Page 26: Robson Dias

26

a verdadeira relação melhor que outra, inúmeras variações geralmente são estimadas

para se saber a melhor adequação entre os dados para as variáveis independentes

com a dependente.

Uma maneira para descobrir qual forma funcional deve inicialmente ser

testada pode ser conseguida colocando-se em um gráfico tais relações, como a

variável dependente ao longo do tempo (caso seja uma série temporal) e cada variável

independente em relação à variável dependente. Os resultados dessa análise

preliminar indicarão se uma equação linear é mais apropriada ou se curvas

logarítmicas, exponenciais ou outras transformações são mais adequadas.

Segundo Davis (2001), normalmente a análise de séries temporais é

utilizada em situações de curto prazo, enquanto que a previsão causal é geralmente

aplicada em planejamento de longo prazo. Os modelos de previsão que uma empresa

deve adotar dependem de uma série de fatores, incluindo:

1. Horizonte de previsão;

2. Disponibilidade de dados;

3. Precisão necessária;

4. Disponibilidade de pessoal qualificado.

Outra técnica que se enquadra no método quantitativo é a rede neural . As

redes neurais representam uma área relativamente nova e crescente de previsão.

Trata-se de uma técnica de inteligência computacional, inspirada no funcionamento

dos neurônios dos seres humanos. Diferentemente das técnicas de previsão

estatísticas mais comuns, como a análise de séries temporais e a análise de

regressão, as redes neurais simulam o aprendizado humano.

Desta forma, com o passar do tempo e com o uso repetido, as redes

neurais podem desenvolver um entendimento dos relacionamentos complexos que

existem entre as entradas e saídas de um modelo de previsão. Por exemplo, em uma

operação de serviço, estas entradas devem incluir fatores tais como histórico de

vendas, condições meteorológicas, horário do dia, dia da semana e o mês. As saídas

seriam o número de clientes esperados em determinado dia e em determinado

Page 27: Robson Dias

27

período. Além disso, as redes neurais realizam cálculos muito mais rapidamente do

que as técnicas de previsão tradicionais.

Davis (2001) cita o caso de uma distribuidora de eletricidade americana que

já utiliza redes neurais para prever, no curto prazo, as necessidades de energia com

sete ou até dez dias de antecedência. Anteriormente, apenas previsões de médio

prazo, ou seja, três meses à frente, eram possíveis de se obter com as técnicas

tradicionais.

As redes neurais podem ser divididas em duas categorias gerais: as

supervisionadas e as não-supervisionadas. Nos modelos supervisionados, dados

históricos são utilizados para “treinar” o software. Nos modelos não supervisionados,

nenhum treinamento ocorre. Em vez disso, o software pesquisa e identifica padrões

que existem em um determinado conjunto de dados.

Como desvantagens apresentadas pelas redes neurais, até o momento,

citam-se a impossibilidade de fornecer um intervalo de confiança para as previsões e o

fato de não conseguirem prever com um horizonte maior que o mensal, em função da

necessidade de grande quantidade de dados de entrada.

Page 28: Robson Dias

28

3 PREVISÃO DE DEMANDA

3.1 Características da Previsão de Demanda

A Previsão de Demanda é utilizada com vários objetivos em empresas com

ou sem fins lucrativos. Por ser usada no controle e no planejamento de operações,

seus dados devem estar disponíveis de uma maneira passível de tradução para itens

específicos de matéria-prima, tempo em equipamentos e habilidade de mão-de-obra

específica.

Segundo Nahmias (1993), existem algumas características da Previsão de

Demanda, tais como:

a) Previsões são, em geral erradas . Por mais estranho que possa

parecer, provavelmente esta é a mais ignorada e importante

propriedade de quase todos os métodos de previsão. Via de regra,

as previsões são feitas com bases em informações conhecidas. As

necessidades de recurso para a programação de produção e

compras requer modificações se a Previsão de Demanda estiver

imprecisa. O sistema de planejamento deveria ser suficientemente

robusto para ter capacidade de antecipar erros de previsão.

b) Uma boa previsão é mais que um simples número . Já que as

previsões são usualmente erradas, uma boa previsão também

inclui alguma medida para antecipar o erro da previsão.

c) Previsões agregadas são mais exatas . De acordo com a

estatística, a variação da média de um conjunto de valores é

menor que a variação de cada variável isolada. Este fenômeno

também se aplica na Previsão de Demanda. O erro em uma

previsão de uma linha inteira de produtos é menor que o erro da

previsão de um item individualmente.

d) Quanto mais longo for o horizonte da previsão, meno s exata

ela será. Trata-se de uma propriedade quase intuitiva. Pode-se

Page 29: Robson Dias

29

prever o dia de amanhã com mais exatidão do que um dia no

próximo ano.

Existem vários métodos disponíveis para se obter uma previsão, tendo como

premissa alguns fatores, entre os principais:

a) Disponibilidade de dados e recursos. Há certos métodos, mais

sofisticados, normalmente envolvendo modelos matemáticos, que

exigem, além de dados numéricos com certa abundância, a

presença de profissionais com conhecimento necessário para

trabalhar com os modelos. Também a existência de computadores,

dependendo do número e variedade dos produtos, será

imprescindível.

b) Horizonte de previsão . Certos métodos mostram-se melhores

para previsões de longo prazo (vários anos no futuro), enquanto

outros são normalmente aplicados às previsões para períodos

mais curtos, como meses, semanas ou até dias.

Os métodos de previsão possuem algumas características semelhantes

entre si, destacando-se:

a) Métodos de previsão de um modo geral assumem que as mesmas

causas que estiveram presentes modelando a demanda,

permanecerão no futuro, ou seja, o comportamento do passado é

a base para inferências sobre o comportamento do futuro.

b) Métodos não direcionam a resultados perfeitos, sendo a chance de

erro tanto maior quanto maior for o horizonte de previsão. Isso

acontece porque os fatores aleatórios, que nenhuma previsão

consegue incorporar, passam a exercer cada vez mais influência.

Page 30: Robson Dias

30

Apesar disso, muitos métodos disponibilizam recursos para prever dentro de

um intervalo de valores com certa precisão. Além do mais que há possibilidade de se

controlar o erro da previsão de forma que, se ele aumentar expressivamente, se tenha

a oportunidade de mudar para outro método mais adequado.

3.2 Etapas de um Modelo de Previsão

De acordo com Dalvio F. Tubino (2006), o modelo de previsão da demanda

pode ser dividido em cinco passos conforme mostra a figura abaixo.

Figura 1: Etapas do Modelo de Previsão da Demanda

A primeira etapa serve para definir a razão pela qual será necessário prever;

o produto que será previsto e o grau de confiabilidade desta previsão. A etapa seguinte

consiste em coletar e analisar os dados históricos do produto, no sentido de identificar

e desenvolver a técnica de previsão que melhor se adapte.

Depois disso, define-se a melhor técnica de previsão que podem ser

qualitativas, baseadas na opinião de especialistas e as quantitativas que consiste na

análise de dados históricos através de modelos matemáticos.

Objetivo do Modelo

Coleta e Análise dos Dados

Seleção da Técnica de Previsão

Obtenção das Previsões

Monitoração do Modelo

Page 31: Robson Dias

31

Com a escolha da técnica de previsão, podem-se obter as projeções de

demanda ou vendas futuras e, à medida que estas previsões forem sendo calculadas,

deve-se comparar com as demandas reais alcançadas para que se possa efetuar um

monitoramento do modelo, calculando o erro obtido.

3.3 Caracterização da Demanda

3.3.1 Análise Estrutural

Segundo Buarque (2003), a análise estrutural é uma técnica utilizada no

apoio aos estudos de elaboração de cenários e tem por objetivo mapear as variáveis

que concorrem para a definição final da variável objeto de prospecção, fazendo a

separação daquelas com maior poder de influência no sistema com as menos

influentes. Essa técnica é bastante apropriada para a simulação prospectiva de

variáveis complexas como é o caso da demanda de energia elétrica.

Observando a técnica da análise estrutural, podemos estabelecer as

seguintes definições para as variáveis envolvidas na formação da demanda de energia

elétrica:

a) Variáveis de resultados: É formado pelo conjunto de variáveis mais

importantes por que dizem respeito ao objeto final dos cenários.

Destacam-se as seguintes variáveis de resultados:

- Demanda de energia elétrica: refere-se ao total de energia

elétrica requisitada pelo mercado, que se desagrega

principalmente em três grandes grupos: demandas residencial,

industrial e comercial;

- Demanda residencial de energia elétrica: está relacionada às

necessidades de energia elétrica expressas ao mercado pelo

conjunto de residências ligadas às redes de distribuição;

- Demanda industrial de energia elétrica: por sua vez está ligada

às necessidades de energia elétrica expressas ao mercado

pelo conjunto de indústrias que compõem o setor produtivo;

Page 32: Robson Dias

32

- Demanda comercial de energia elétrica: está relacionada às

necessidades de energia elétrica expressas ao mercado pelo

conjunto de unidades comerciais e fornecedoras de serviços.

b) Variáveis de ligação: Essas variáveis são conhecidas por

influenciarem diretamente no comportamento das variáveis de

resultados, mas que são ao mesmo tempo determinadas por

outras. Essas variáveis medem os impactos das variáveis

determinantes sobre as de resultados, por isso, são chamadas de

ligação. Um exemplo bem claro é a variável consumo médio

residencial. É uma variável de definição da demanda residencial e,

ao mesmo tempo, mostra os efeitos da evolução da renda das

famílias, da tecnologia dos equipamentos, dos hábitos de

consumo.

c) Variáveis determinantes: São definidas por exercerem grande

influência sobre o comportamento das variáveis de ligação ou

mesmo diretamente sobre a variável de resultado. São exemplos:

os investimentos sociais em educação e saúde, a evolução das

tarifas que deve expressar, no longo prazo, a evolução dos custos

marginais. A Figura abaixo representa os três tipos de variáveis de

forma esquemática.

Figura 2: Tipos de Variáveis para Análise Estrutural

Page 33: Robson Dias

33

De acordo com o fluxograma acima, a demanda de energia elétrica é uma

variável de resultado que depende de uma ampla gama de fatores que, na maioria dos

casos, estão fora do controle dos agentes envolvidos, sejam eles consumidores ou

supridores. Esta dependência assume contornos de grande complexidade, pois

envolve variáveis interdependentes e com efeitos cruzados entre si, cobrindo desde

variações climáticas até decisões de política energética, tecnológica, industrial.

3.3.2 Demanda Residencial

A demanda de energia da classe residencial apresenta um universo de

variáveis determinantes muito distintas das outras classes de consumo, sendo que

algumas variáveis se mostram como resultantes do comportamento de outras. Sendo

assim, configura-se numa rede de causalidade à semelhança de uma árvore com

vários pontos de convergência e afunilamento de efeitos, gerando as variáveis de

ligação, que se combinam mais à frente para produzir novas sínteses até o resultado

final.

3.3.2.1 Influência da População

A variável de grande importância no desempenho da demanda residencial de

energia elétrica é a população. Esta variável possui relativo grau de autonomia, porém

se comporta como função do ritmo de evolução das migrações determinadas pelos

fatores de expulsão e atração, e das taxas de natalidade e mortalidade.

As taxas de natalidade e mortalidade estão condicionadas pela evolução do

grau de educação e renda das famílias, além da cobertura à saúde e das condições

gerais relativas à qualidade de vida.

3.3.2.2 Influência da Quantidade de Domicílios

Outra variável relevante na análise da demanda de energia elétrica

residencial é a evolução do comportamento do número de domicílios ligados à rede de

Page 34: Robson Dias

34

distribuição. A variável número de domicílios com energia elétrica depende de outras

duas, a evolução do estoque de domicílios (urbanos e rurais) e da taxa de

atendimento, ou seja, do ritmo de ligação desses domicílios à rede de distribuição

tornado-os unidades consumidoras.

3.3.2.3 Influência do Consumo Médio por Residência

Finalizando, outra variável determinante do comportamento da demanda

residencial de energia elétrica está relacionada ao consumo médio das residências

ligadas à rede de distribuição. Esta variável reflete o nível de posse de equipamentos

elétricos, por parte das famílias, assim como da intensidade de uso dos mesmos.

Uma das variáveis relevantes que influenciam no consumo médio residencial

é a evolução da renda. Quando este parâmetro se encontra em crescimento, gera

reflexos positivos sobre o nível de aquisição de equipamentos, já a evolução das tarifas

e dos preços em geral gera efeito contrário.

A temperatura também tem uma grande influência no consumo médio

residencial. Quando se tem altas temperaturas, há um aumento considerável no nível

de consumo por consumidor devido ao maior uso de equipamentos eletrodomésticos,

já temperaturas mais amenas refletem em um consumo médio mais baixo.

O processo contínuo de avanço tecnológico, refletido na eficiência energética

dos equipamentos, a implementação de campanhas de estímulo à economia e

racionalização do uso, entre outras, diminuem a intensidade de uso dos equipamentos

elétricos no interior das residências, reduzindo assim, a taxa de consumo médio

residencial.

3.3.3 Demanda Industrial

O comportamento da demanda de energia elétrica da classe industrial pode

ser analisado em dois grupos bastante distintos do ponto de vista do consumo: o dos

consumidores não intensivos em energia elétrica, que são a maioria e recebem a

designação de tradicionais, e os consumidores intensivos em energia elétrica,

Page 35: Robson Dias

35

denominados especiais. Também apresenta uma gama de variáveis determinantes

para a classe de consumo.

3.3.3.1 O Nível de Produção Industrial

O desempenho do produto industrial é bastante influenciado pela própria

dinâmica da economia nacional e, mais especificamente, pelas mudanças estruturais

na formação do produto nacional. Desse modo, importa definir, em conformidade com

as condições de contorno estabelecidas em cada cenário, a contribuição do produto

industrial na formação do produto interno bruto. Todavia, vale registrar que a evolução

da distribuição setorial de longo prazo do PIB brasileiro segue os padrões observados

em todos os países em desenvolvimento.

3.3.3.2 A Intensidade Energética

Outra variável de ligação, mais complexa e com uma extensa rede de

relacionamentos, refere-se à intensidade de uso da energia elétrica na geração do

produto industrial. Neste caso, esta variável agrega os efeitos de várias outras, com

principal destaque para a evolução da eficiência energética dos processos de

produção, a qual depende do ritmo de inovações tecnológicas.

3.3.3.3 Os Consumidores Eletrointensivos

Entre os consumidores industriais de energia elétrica, um de grande peso é

composto pelas grandes cargas, que são caracterizados por possuírem níveis de

consumos de energia bem acentuados e os eletrointensivos, onde a energia elétrica é

fundamental para o processo de produção.

Alguns dos segmentos que fazem parte desse conjunto de consumidores,

para efeito de estudos de comportamento da demanda futura de energia elétrica, são

os seguintes gêneros indústrias: Cimento, Alumínio, Siderurgia (Aço e Gusa), Ferro-

ligas, Papel, Celulose, Petroquímica, Soda-cloro, Pelotização e Cobre.

Page 36: Robson Dias

36

3.3.4 Demanda Total de Energia Elétrica

A definição da dinâmica da demanda futura total de energia elétrica é

analisada a partir da intensidade energética, isto é, da relação consumo de energia

elétrica por unidade de PIB agregado.

As principais classes que impactam na demanda total de energia são:

residencial, industrial e comercial.

3.4 Metodologia de Previsão de Carga das Distribuidoras de Energia Elétrica

Os principais objetivos das previsões de demanda das distribuidoras são:

a) Definir os montantes de energia e potência elétricas a contratar,

para atendimento ao mercado da área de concessão;

b) Sinalizar a receita empresarial com a comercialização de energia

para os consumidores cativos e disponibilização da rede de

distribuição para os consumidores livres;

c) Subsidiar os programas de investimento para reforço e expansão

do sistema elétrico, bem como os de operação e manutenção;

d) Apoiar as ações para redução das perdas de energia.

A metodologia tradicional de previsão de carga das distribuidoras de energia

elétrica brasileiras considera três atividades básicas:

a) A elaboração de cenários da atividade econômica e do

comportamento demográfico;

b) O acompanhamento do desempenho histórico do mercado da área

de concessão;

c) A utilização de modelos estatísticos de previsão, associados com

algum tipo de pesquisa direta, aplicada a grandes consumidores.

Page 37: Robson Dias

37

No estudo em análise, será apresentada a técnica para a previsão de carga

utilizando dados da Companhia Energética do Estado do Ceará (COELCE).

Será utilizada uma ferramenta computacional, Eviews 5.1, para realizar a

estimativa de carga em um horizonte de 5 anos. Após a obtenção desses dados, são

incorporadas as novas cargas, que se enquadram os Projetos do Governo do Estado e

de iniciativa privada.

3.4.1 Cenários de Previsão

No ponto anterior, na caracterização da demanda, ficou claro que o consumo

de energia elétrica é influenciado por inúmeras variáveis interdependentes e com

efeitos cruzados entre si, que podem ser desde variações climáticas até decisões de

política energética, tecnológica, industrial.

Com isso, é fundamental que seja elaborado diversos cenários da evolução

do consumo de energia, tendo como ponto de partida um conjunto de condições

básicas, com o intuito de facilitar as previsões de demanda.

As análises e os estudos de cenários têm sido a cada dia uma forma

crescente disseminada na área de planejamento estratégico, seja de grandes

empresas ou de governos, por mostrar um referencial de futuros alternativos em face

dos quais decisões serão tomadas. À proporção que aumentam as incertezas em

quase todas as áreas, cresce também a necessidade de análise sobre as perspectivas

futuras da realidade em que se vive e diante da qual se planeja.

O método de cenários é uma tecnologia que incorpora vários instrumentos,

várias técnicas de organização e sistematização de dados que se utiliza do

conhecimento científico para lidar com eventos e processos e para construir tendências

lógicas e consistentes.

Entretanto, os estudos de futuro não estão limitados ao sentimento das

pessoas. O estudo de cenário é uma arte que precisa de um grande empenho técnico

para organizar, analisar e avaliar a probabilidade dos eventos e das alternativas e, ao

mesmo tempo, simular, de forma racional, a consistência das suposições e das

percepções de eventos futuros, segundo Schwartz (2003).

Page 38: Robson Dias

38

3.4.2 Acompanhamento da Evolução da Demanda

O acompanhamento da evolução da demanda de uma distribuidora de

energia elétrica corresponde ao conjunto de avaliações quantitativas e qualitativas de

dados e informações de mercado. Assim, os analistas devem ter sempre condições de

criar mecanismos para:

a) Enumerar os fatos relacionados a desvios no comportamento do

mercado;

b) Verificar a regularidade ou não dos fenômenos observados;

c) Apresentar uma explicação para as regularidades e seus desvios;

d) Interpretar esses fatos;

e) Identificar associações, determinações e causalidades verificadas

entre as regularidades.

A metodologia de análise de mercado deve permitir:

• A identificação das categorias relevantes;

• A identificação das variáveis explicativas do comportamento de

cada categoria relevante;

• O tratamento das séries históricas.

3.4.2.1 Identificação das Categorias Relevantes

Esta fase tem como finalidade principal identificar as classes de consumo

com maior importância para fins de energia consumida, ou seja, aquelas que têm uma

parcela representativa tanto no consumo total como na receita da distribuidora.

A apuração das categorias relevantes deve considerar os seguintes aspectos:

a) Faixa de incerteza nas previsões, que indica a “probabilidade” de

desvios significativos;

Page 39: Robson Dias

39

b) Impacto econômico esperado dos desvios, caso venham a ocorrer,

em termos dos seguintes parâmetros:

- Volumes comercializados, ou seja, compra e venda de

energia no ambiente de contratação regulada e no de

contratação livre;

- Impactos tarifários, em função do repasse autorizado de

custos de aquisição de energia às tarifas de suprimento.

A fim de um melhor entendimento e estudo de cada classe de consumo,

cujos desvios de projeção apresentem impactos econômicos significativos, deve-se

identificar e analisar seus padrões de comportamento histórico. Esses padrões serão

úteis como referencial para a análise de possíveis desvios que venham a ocorrer no

futuro.

A condição necessária para a identificação das classes relevantes requer

vários mecanismos de análise de dados quantitativos. Um dos mecanismos utilizados

são os Índices, que são parâmetros que possibilitam mensurar a importância de uma

determinada classe no resultado da soma de todas as categorias que formam o

montante de energia elétrica.

Sabendo que o mercado de qualquer distribuidora é composto por diversas

classes de consumo, é fundamental conhecer a representatividade de cada classe

para diversos itens relativos à estrutura do mercado como, por exemplo:

• Índice de participação do número de consumidores por classe no

total;

• Índice de participação de cada classe nas receitas;

• Índice de participação de consumo de cada classe no total.

Page 40: Robson Dias

40

3.4.2.2 Identificação das Variáveis Explicativas

Realizada a primeira etapa de definição das categorias relevantes, o próximo

passo é estabelecer o grau de importância ou influência de cada classe no

comportamento da demanda total, segundo a metodologia descrita a seguir.

Esta etapa tem como objetivo identificar os fatores setoriais e sistêmicos que

influenciam o comportamento de cada classe de consumo relevante.

A confecção deste passo se dá pela montagem de uma matriz de classe

onde são inclusos os fatores determinantes. A finalidade é de levantar uma lista

homogênea de variáveis que explicam o comportamento da demanda.

Essas variáveis facilitarão na análise e possibilitarão construir um banco de

dados para apoiar nas reflexões e no acompanhamento quantitativo do mercado de

energia.

Sintetizando, a matriz de análise busca estabelecer dependências, tanto

qualitativas quanto quantitativas, entre variáveis explicativas e dependentes e sua

montagem se dá através de alguns pontos:

• Análise da lista de variáveis para a seleção das que sejam

consideradas mais relevantes pelas classes envolvidas no estudo;

• Aplicação da ponderação das variáveis, ou seja, para cada

incógnita deverá atribuir pesos de acordo com o nível de impacto

esperado sobre o comportamento de cada classe de consumo.

Page 41: Robson Dias

41

A matriz pode ser elaborada de acordo com o modelo abaixo:

Tabela 1: Matriz de Análise Estrutural

Residencial Industrial Comercial

PIB NacionalPIB EstadualPopulação

Número de DomicíliosTarifa de Energia

EficientizaçãoEstímulo ao Consumo

Renda DisponívelTaxa de Câmbio

Perdas Comerciais

Classe de consumoFatores

3.4.2.3 O Tratamento das Séries Históricas

Uma determinada série histórica deve apresentar consistência nos seus

dados e também permitir uma análise do que se passou. Quando o analista se depara

com séries temporais monetárias, o primeiro passo é depurá-la para que todos os seus

valores fiquem em uma mesma base. Essa condição é indispensável para realizar

comparação de dados.

No caso do mercado de energia elétrica, para contornar as oscilações, as

séries históricas passaram por um filtro. Um exemplo clássico de oscilação aconteceu

no período de maio de 2001 a fevereiro de 2002, devido ao racionamento de energia,

com isso, as séries do consumo das distribuidoras brasileiras foram consideravelmente

afetadas.

De uma forma geral, as séries permitem na montagem de tabelas e de

gráficos, pelos quais permitirão ao analista encontrar relações entre as variáveis,

possibilitando o estudo de:

• Comportamento mensal dos consumos e comparativos entre

inúmeros anos;

Page 42: Robson Dias

42

• Comportamento de toda a série histórica, tentando verificar se

ocorreu alguma oscilação na trajetória de crescimento do consumo;

• Consumo típico mensal;

• Homogeneização de uma série, auxiliando em melhores

comparações, devido a uma mesma base de análise;

• Dados previstos e realizados;

• Estrutura do consumo por classe;

• Taxas de expansão anuais;

• Taxas de crescimento mês a mês, doze meses sobre doze meses

e mês de um ano de referência sobre os demais.

A variável de controle, consumo total, pode obter um comportamento de

expansão a taxas altas e estáveis, de modo a facilitar na estimação dos dados quando

as outras incógnitas permanecem constantes.

A segunda hipótese é ter um crescimento com variações acentuadas e sem

padrão de comportamento, requerendo assim, um estudo mais minucioso das causas

das perturbações.

Outra possibilidade é ter um crescimento com variações cíclicas ao longo do

tempo, tendo como exigência por parte do analista, a descoberta do fator cíclico para

avaliar e prever se tal distúrbio permanecerá no futuro.

3.4.3 Aplicação de Modelos Estatísticos de Previsão

A técnica de previsão adotada pelas distribuidoras é normalmente aplicar os

modelos de regressão. Esta técnica possui uma vantagem de combinar, ao mesmo

tempo, as séries temporais com as variáveis causais e tem como finalidade montar

uma série como função do próprio dado histórico e também de outras variáveis

explicativas.

Em econometria, os modelos geralmente têm uma estrutura definida, em

função de considerações teóricas. Uma das dificuldades do modelo está na estimação

dos parâmetros.

Page 43: Robson Dias

43

A estratégia empregada para construir um modelo de regressão se dá

inicialmente por um mais simples para, em seguida, serem incorporadas novas

variáveis até que seja encontrado um modelo adequado e de menor erro. O principal

desafio na elaboração não está tanto na escolha das variáveis a serem inseridas no

modelo, mas sim nas defasagens temporais destas variáveis.

Deve-se levar em consideração na definição do modelo adequado não

apenas a significância dos parâmetros, mas também uma seqüência lógica entre as

variáveis. Um exemplo bem claro está na demanda por um produto, que geralmente é

afetado por seu preço. Aumentando o preço, espera-se uma redução na demanda, e

vice-versa. Então, se o modelo de regressão de vendas em preço apresenta um

coeficiente positivo para a variável preço, logo fica bem definido uma inconsistência no

modelo. Resumindo, a escolha de um modelo de regressão não é satisfeita apenas no

ajuste dos parâmetros adequado, e sim verificando se os coeficientes estimados estão

coerentes.

Page 44: Robson Dias

44

4 RISCOS DEVIDO ÀS INCERTEZAS NA PREVISÃO

4.1 Riscos na Previsão de Demanda

Toda previsão qualquer que seja ela, traz consigo um risco. Do ponto de

vista operacional, o risco de modelo é o que se apresenta com maior importância,

levando-se em conta o grau de incerteza envolvido no processo de previsão da

demanda.

Os impactos das previsões de demanda, assim como as possíveis causas

dos desvios de previsão podem ser vistos com maiores detalhes abaixo.

4.1.1 Impacto das Previsões de Demanda

Cada previsão de demanda de uma distribuidora de energia elétrica está

associada a um risco que pode ser inicialmente avaliado a partir dos impactos que tais

previsões provocam sobre algumas de suas principais operações:

a) Vendas: A receita de uma distribuidora é alcançada a partir do

mercado de vendas de energia previsto para o período tarifário assim

como pela tarifa média da empresa.

b) Expansão do sistema elétrico: Todo processo de planejamento da

expansão da rede de distribuição começa com a previsão da

demanda do seu mercado. As previsões sinalizam cenários do

sistema elétrico que determinarão um programa de obras para a área

de concessão. A tomada de decisão de por em prática esses

programas de obras reflete os futuros custos financeiros, que, por sua

vez, o nível tarifário da distribuidora.

Analisando apenas a previsão do mercado de energia elétrica e o

reflexo na tarifa, sabe-se que para uma previsão superior ao valor

realizado, implicará em um grande volume ou antecipação de obras,

indicando em um maior nível tarifário. Agora, se a previsão for inferior

ao valor ocorrido, desencadeará em uma série de obras emergenciais,

Page 45: Robson Dias

45

de maior custo que a anterior, tendo assim, investimento e tarifas

superiores ao que seria necessário.

c) Aquisição do insumo energia elétrica: Analisando as regras de

contrato de energia previstas para a nova sistematização do setor

elétrico no Brasil, as distribuidoras tiveram um maior cuidado em obter

previsões coerentes, assim como atingir a minimização do erro,

devido às sanções.

Essas penalidades estão em não reconhecer integralmente, por

parte do regulador, os diversos custos de aquisição no repasse às

tarifas, tendo como reflexo uma tarifa mais barata.

d) Dimensionamento do insumo potência elétrica: Toda distribuidora

precisa dimensionar a potência elétrica ou demanda máxima

coincidente. Isso serve para que o seu sistema esteja capacitado para

atender tantos os clientes cativos como os livres. Este último é um

cliente que compra energia de fora, porém usa a rede de distribuição

da empresa para ser atendido.

4.1.2 Motivos de Desvios nas Previsões

Os inevitáveis desvios nas previsões de demanda têm origem nas inúmeras

fontes de incertezas pertencentes ao modelo, onde se pode destacar:

• Dados apurados: Probabilidade de erros de medição em variáveis;

• Modelo: Inadequação na função, na defasagem e na distribuição

dos erros;

• Insumo: Oscilações anômalas na oferta de energia elétrica.

Na visão da distribuidora, esses desvios nas previsões podem ser reduzidos

através de um maior controle em relação aos dados históricos de consumo e de mais

variáveis relevantes, assim como pelo processo de modelagem da previsão de

demanda.

Page 46: Robson Dias

46

Os parâmetros básicos na montagem da previsão são os dados históricos de

consumo, assim como as outras variáveis relevantes que interferem na demanda. Com

isso, é de fundamental importância que as distribuidoras preservem pela qualidade dos

dados de mercado e que promovam medidas no intuito de obter qualidade e

disponibilização das outras séries relevantes.

4.2 Erros Originados do Modelo de Previsão

Para cada modelo de previsão, tem-se um erro característico. A seguir

detalharemos alguns tipos de previsão com as peculiaridades dos possíveis erros.

4.2.1 Modelos de Previsão

a) Previsões de pontos e de intervalos: São previsões que prevêem

apenas um número em cada período de previsão, enquanto as

previsões de intervalos sinalizam uma faixa dentro do qual se espera

que se situe o valor que se realizará. Geralmente essas 2 previsões

fornecem uma mesma margem de erro.

b) Previsões incondicionais e condicionais: Em previsão incondicional,

os valores de todas as variáveis explicativas de previsão são

conhecidos. Um exemplo disso é uma indústria cuja produção mensal

P(t) esteja relacionada linearmente com duas variáveis Y1 e Y2, porém

com atrasos de 2 e de 3 meses, respectivamente.

P(t) = b0 + b1 Y1 (t-2) + b2 Y2(t-3) + ε(t)

Essa equação pode ser utilizada para gerar previsões

incondicionais de P(t) em tempos futuros de 1 e 2 meses. Para se

prever o resultado de P(t) em 2 meses, será usado o valor corrente de

Y1 e o valor do mês passado de Y2, sendo que esses 2 valores já são

conhecidos.

Page 47: Robson Dias

47

Outro modelo de previsão é a condicional. Nele, os valores de

uma ou mais variáveis explicativas não são conhecidas pelo analista,

de tal forma que é necessário utilizar também previsões para gerar a

estimativa de uma variável dependente. Pelo fato de estimar variáveis

relevantes na modelagem da previsão, é incorporado incerteza no

processo de previsão, gerando assim, uma margem de erro.

Utilizando a equação anterior para estimar o valor de P(t) em 3

meses, seria necessário também fazer a previsão de Y1(t) um mês

futuro, tornando a previsão de P(t) condicional em relação a variável

Y1(t).

4.3 A Natureza do Erro de Previsão

As previsões quando são oriundas de um modelo de regressão de uma só

equação, estão sujeitas a alguns erros:

a) A forma aleatória do processo da soma dos erros na modelagem

de regressão linear faz com que as previsões tenham desvios dos

valores corretos da série mesmo que toda a estrutura do modelo

esteja perfeitamente especificada;

b) A sistematização de previsão dos parâmetros do modelo gera um

erro por serem dados aleatórios, sendo assim, podem oscilar em

relação aos reais valores dos parâmetros;

c) A previsão condicional através de sua metodologia traz consigo

erros oriundos da estimação dos valores das variáveis explicativas em

um intervalo em que está sendo realizada a previsão condicional;

d) A própria equação mal elaborada, ou seja, a função não está

coerente com a dinâmica das variáveis em análise.

Page 48: Robson Dias

48

5 ESTUDO DE CASO

5.1 Critérios Metodológicos

Para a obtenção das previsões do mercado de energia da COELCE são

considerados os seguintes pressupostos:

1. Análise histórica do mercado de energia lida (medida) a nível de

classe e subclasse e tensão de fornecimento de 1973 até 2009;

2. Análise histórica dos requisitos totais (mercado + perdas) de

energia elétrica;

3. Implantação e ampliação de cargas significativas;

4. Variáveis exógenas ao setor elétrico tais como: PIB Brasil,

População, etc;

5. Programas do Governo Federal e Estadual;

6. Projetos habitacionais e de irrigação.

A previsão do mercado de energia elétrica é calculada com base em

modelos econométricos, utilizando o software Eviews 5.1, combinando a teoria

econômica com técnicas estatísticas.

Este método se baseia em uma estimação de relações causais entre as

variáveis dependentes e fatores que afetam as variáveis independentes.

Uma das vantagens do método utilizado é que permite conhecer os impactos

separados de variáveis independentes - PIB, População, etc, sobre as variáveis

dependentes.

A previsão agregada das vendas físicas é obtida a partir da previsão da

carga própria (requisito) retirando-se as perdas, que é determinada de acordo com a

política da distribuidora.

Na previsão, devem-se agregar eventos conhecidos que possam influenciar

no comportamento de cada classe como, racionamento, implantação / ampliação de

carga e saída de grandes clientes.

Page 49: Robson Dias

49

A seguir, é ilustrado o fluxograma da previsão de demanda. Foi adotada a

previsão a partir da carga própria por ter uma melhor resposta de previsão e também

por possuir um erro mínimo.

Figura 3: Fluxograma de Previsão

5.2 Previsão Adotada pela Distribuidora Coelce

No estudo em análise, serão avaliadas as previsões de consumo da

distribuidora do Estado do Ceará no horizonte de 2010 a 2014.

Os dados anuais de consumo serão medidos e abrangerá uma série

histórica desde 1973 até 2009. Para a implementação prática foi utilizado um pacote de

software denominado EVIEWS 5.1. O principal objetivo deste pacote será analisar as

séries temporais de forma rápida, eficiente e com qualidade.

A figura 4 mostra o consumo para as principais classes, onde pode ser

verificado o efeito redutor decorrente do racionamento nos anos de 1987 e 2001, assim

como a recuperação do consumo a partir de 2003.

Page 50: Robson Dias

50

Consumo por Classe - GWh

-

1.000

2.000

3.000

1973

1975

1977

1979

1981

1983

1985

1987

1989

1991

1993

1995

1997

1999

2001

2003

2005

2007

2009

GW

h

Residencial Industrial Comercial

Consumo Total - Gwh

-

3.000

6.000

9.000

1973

1975

1977

1979

1981

1983

1985

1987

1989

1991

1993

1995

1997

1999

2001

2003

2005

2007

2009

GW

h

Figura 4: Consumo por classe desde 1973

Outra constatação que pode ser feita é no consumo industrial. A crise

financeira internacional contribuiu para a redução de consumo no final do ano de 2008

e tendo uma repercussão ao longo do primeiro semestre de 2009, tendo como

conseqüência, uma curva com consumo mais constante nos últimos 3 anos.

Pode-se analisar também o comportamento do consumo total da

distribuidora ao longo da série histórica. A figura a seguir descreve a dinâmica do

consumo do Estado do Ceará.

Figura 5: Consumo Total do Ceará desde 1973

Page 51: Robson Dias

51

Na figura 5, fica bem nítida a mudança na curva do consumo devido ao efeito

do racionamento, provocando uma considerável redução no consumo de energia

elétrica.

5.3 Ferramenta Computacional

O software Econometric Views, também chamado de E-Views, é um pacote

estatístico desenvolvido por economistas e com a maioria de aplicações na Economia,

mas pode ser usado em outras áreas. Ele é um programa comercial utilizado pela

Coelce em que produz regressões e previsões, desenvolve relações estatísticas entre

os dados e usa estas relações para prever valores futuros da série. As áreas onde o E-

Views pode ser útil são: previsão de vendas, análise de custos, previsões em análises

financeiras, simulação e previsão macroeconômica, análise científica e avaliação de

dados. A estimação de regressão do E-Views é feita utilizando a técnica de mínimos

quadrados residual.

Após a estimação da regressão linear utilizando os mínimos quadrados,

pode-se fazer a análise dos resultados da previsão, porém devem ser detalhadas

algumas estatísticas de ajuste para uma melhor compreensão do estudo:

Os resultados gerados mostrados na tabela 2 são os seguintes:

1. Na parte superior aparecem algumas informações referentes ao

tipo de método usado, o tamanho da amostra, data e hora em que foi

gerado o modelo e quem é a variável dependente em questão.

2. O meio da tabela mostra informações a respeito dos coeficientes

estimados na regressão: Valor do coeficiente, desvio padrão,

estatística t e p-valor.

3. No final da tabela, aparecem as estatísticas de ajuste calculadas

pelo E-Views.

Page 52: Robson Dias

52

As estatísticas de ajuste calculadas pelo E-Views são:

• R2 - É a fração da variabilidade da variável dependente explicada pelas variáveis independentes. • R2 Ajustado - É a fração da variabilidade da variável dependente explicada pelas variáveis independentes ajustadas de acordo com o tamanho da amostra e número de parâmetros. • S.E. of regression - O erro padrão da regressão é uma medida resumo baseada na variância estimada dos resíduos. • Sum of Squares Residual - A soma de quadrados residual pode ser usada em uma variedade de cálculos estatísticos, e é apresentada separadamente por conveniência. • Log Likelihood - E-Views reporta o valor da função de log-verossimilhança (assumindo erros normalmente distribuídos) avaliada nos valores estimados dos coeficientes. • Durbin-Watson Statistic - A estatística de Durbin-Watson (DW) mede a correlação serial nos resíduos. Como regra, DW deve estar perto de 2 para indicar ausência de autocorrelação ou ausência de correlação serial. • Akaike Information Criteria (AIC) - O AIC é freqüentemente usado na seleção de modelos. Modelos que apresentam os menores valores de AIC são os preferidos. • Schwarz Criterion (SC) - O Critério de Schwarz é uma alternativa ao AIC que impõe uma penalidade alta para coeficientes adicionais. • Prob(F-Statistic) e Prob - A estatística-F testa a hipótese de que todos os coeficientes de inclinação (excluindo a constante, ou o intercepto) são nulos.

Tabela 2: Resultados do Modelo E-Views

Page 53: Robson Dias

53

Carga Própria - GWh

0

2.500

5.000

7.500

10.000

1973

1975

1977

1979

1981

1983

1985

1987

1989

1991

1993

1995

1997

1999

2001

2003

2005

2007

2009

GW

h

5.4 Análise das Variáveis Explicativas

A previsão da demanda total é obtida a partir de um modelo estatístico

causal. Além de apresentar menor erro de previsão, o modelo reúne algumas variáveis

explicativas como o próprio histórico de consumo, o PIB Brasil, além dos dois

racionamentos. O fato do PIB Ceará não está presente no modelo é explicado pelo

aumento no erro da previsão. A variável população também se enquadra no mesmo

problema.

O Produto Interno Bruto (PIB) é a soma de todos os serviços e bens

produzidos num período (mês, semestre, ano) numa determinada região (país, estado,

cidade, continente). O PIB é expresso em valores monetários (no caso do Brasil em

Reais). Ele é um importante indicador da atividade econômica de uma região,

representando o crescimento econômico. Vale dizer que no cálculo do PIB não são

considerados os insumos de produção (matérias-primas, mão-de-obra, impostos e

energia).

Carga Própria é definida como sendo a energia necessária para atender o

mercado incluindo as perdas de distribuição. Sendo assim, o método de previsão será

realizar a estimativa da carga própria para os próximos 5 anos e, em seguida, subtrai-

se as perdas inerentes ao processo de distribuição de energia.

Após a resposta da simulação do programa, deve-se adicionar o consumo

das grandes cargas contidas no planejamento da concessionária. Para análise, segue

abaixo gráfico da carga própria do Estado do Ceará.

Figura 6: Carga Própria desde 1973

Page 54: Robson Dias

54

PIB Brasil 106 R$

600.000

1.600.000

2.600.000

3.600.000

1973

1975

1977

1979

1981

1983

1985

1987

1989

1991

1993

1995

1997

1999

2001

2003

2005

2007

2009

2011

2013

106

R$

Variação do PIB Brasil (%)

1,1%

5,7%

3,2%4,0%

5,7%5,1%

3,5%4,1% 4,3% 4,2% 4,0%

-0,2%

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Outro parâmetro relevante utilizado no modelo de previsão é o PIB Brasil.

Na figura 7, tem-se os valores desde 1973 até 2009 realizado e, para os próximos 5

anos, foi feita uma estimação dos dados de acordo com os relatórios do Banco Central.

Figura 7: PIB Brasil 106 R$ desde 1973

Observando o gráfico anterior, nota-se uma queda no PIB nacional no ano

de 2009. Isso se deve a crise financeira internacional que atingiu vários países no

mundo.

A evolução do Produto Interno Bruto (PIB) do país nos últimos anos foi

marcada por um comportamento cíclico, de acordo com figura 8, alternando

crescimentos anuais de 5,7% (2004 e em 2007) e de -0,2% (2009), sendo este ano

impactado pela crise internacional. Para os próximos 5 anos foi projetado um

crescimento tendo como base estudos de previsão do banco central.

Figura 8: Crescimentos do PIB Brasil

Page 55: Robson Dias

55

PIB Ceará 103 R$

10.000

40.000

70.000

100.000

1973

1975

1977

1979

1981

1983

1985

1987

1989

1991

1993

1995

1997

1999

2001

2003

2005

2007

2009

2011

2013

103

R$

Variação do PIB Ceará (%)

0,6%

4,3%3,6%

4,8%4,1%

6,5%

3,1%

8,2%9,7% 9,7%

7,0% 7,5%

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

A variação do crescimento do PIB brasileiro é atribuída basicamente aos

reflexos das crises internacionais, uma vez que nosso país é fortemente dependente

de capitais externos e de produtos do exterior.

Mesmo não utilizando o PIB Ceará, as populações estadual e nacional,

assim como o número de domicílios do estado, seguem os gráficos para

conhecimento.

Figura 9: PIB Ceará 103 R$ desde 1973

Pode-se concluir que o PIB Ceará está em plena ascensão. A inclinação da

curva fica bem acentuada a partir de 2005.

A seguir, são mostradas as taxas de crescimento do PIB do Estado do

Ceará. Para o ano de 2009, enquanto que o PIB Brasil recuou 0,2%, o PIB do Ceará

apresentou um avanço de 3,1%. Para os outros anos, são projetadas expansões acima

do avanço do PIB nacional.

Figura 10: Crescimentos do PIB Brasil

Page 56: Robson Dias

56

População Brasil em Milhões

100

120

140

160

180

200

220

1973

1975

1977

1979

1981

1983

1985

1987

1989

1991

1993

1995

1997

1999

2001

2003

2005

2007

2009

2011

2013

Milh

ões

População Ceará em Milhões

4

6

8

10

1973

1975

1977

1979

1981

1983

1985

1987

1989

1991

1993

1995

1997

1999

2001

2003

2005

2007

2009

2011

2013

Milh

ões

Em seguida, tem-se o perfil da população tanto estadual quanto nacional.

Ambas têm um crescimento médio anual de 1,1%.

Figura 11: População do Ceará em Milhões desde 1973

Na projeção da população estadual para os 5 anos, tem-se uma suavização

no crescimento da população, ou seja, a curva apresenta um avanço mais contido.

Figura 12: População do Brasil em Milhões desde 1973

Na projeção da população nacional para os 5 anos, também observa-se uma

suavização no crescimento da população.

Page 57: Robson Dias

57

Número de Domicílios Ceará

500.000

1.000.000

1.500.000

2.000.000

2.500.000

3.000.000

1973

1975

1977

1979

1981

1983

1985

1987

1989

1991

1993

1995

1997

1999

2001

2003

2005

2007

2009

2011

2013

Outro comportamento para análise é o número de domicílios do Estado do

Ceará. A taxa média de crescimento anual é de 2,4%.

Figura 13: Domicílios do Ceará desde 1973

5.5 Descrição dos Passos da Previsão

Após a descrição das variáveis explicativas, procedeu-se a simulação da

carga própria para os anos de 2010 até 2014.

Usando o programa, criou-se 4 séries de dados, chamados:

• CREQ – Representa a série histórica da carga própria desde o ano

de 1973 até 2009;

• PIBNOVO – Representa os dados do PIB Brasil realizados para os

anos de 1973 até 2009 e estimados para os outros 5 anos;

• RAC87 – Simboliza o racionamento ocorrido no ano de 1987;

• RAC01 – Indica o outro racionamento que se deu no ano de 2001.

Depois de criadas e atualizadas todas essas séries, fez-se a estimação de

uma equação que leva em conta esses parâmetros citados acima.

Page 58: Robson Dias

58

Durante a simulação, os resultados ficaram mais ajustados quando se

utilizou a defasagem para as variáveis CREQ e PIBNOVO. Também o erro padrão da

regressão apresentou-se menor.

5.6 Resultados da Previsão

Na tabela abaixo, têm-se os resultados gerados pela regressão linear:

Tabela 3: Quadro de Resultados da Regressão

Dependent Variable: LOG(CREQ)Method: Least SquaresDate: 23/05/10 Time: 11:15Sample (adjusted): 1974 2009Included observations: 36 after adjustments

Variable Coefficient Std. Error t-Statistic Prob. LOG(CREQ(-1)) 0.931610 0.013555 6.872.896 0.0000LOG(PIBNOVO(-1)) 0.076917 0.014096 5.456.530 0.0000RAC87 -0.131910 0.040320 -3.271.553 0.0026RAC01 -0.142045 0.041022 -3.462.635 0.0015R-squared 0.997553 1.500.396Adjusted R-squared 0.997324 0.767787S.E. of regression 0.039719 -3.509.539Sum squared resid 0.050483 -3.333.593Log likelihood 6.717.171 1.893.574 Durbin-Watson stat

Mean dependent var S.D. dependent var Akaike info criterion Schwarz criterion

Os principais pontos para a confecção da equação são os coeficientes das

variáveis explicativas.

Tabela 4: Coeficientes dos parâmetros da Previsão

Variável CoeficienteLOG(CREQ(-1)) 0.931610LOG(PIBNOVO(-1)) 0.076917RAC87 -0.131910RAC01 -0.142045

Page 59: Robson Dias

59

Na modelagem utilizada, a série histórica da carga própria participa com o

maior coeficiente, sinalizando ser a variável mais importante na previsão de demanda.

Outra variável com peso no modelo é o PIB Brasil. Já o racionamento entra no modelo

com um fator redutor de consumo, sendo explicitado através do coeficiente negativo.

Outro ponto importante é S.E. of regression (erro padrão da regressão).

O desvio do modelo de previsão adotado está em torno de 4%.

Assim, a equação estimada para a carga própria será dada pela seguinte

função:

LOG(CREQ) = 0.931610*LOG(CREQ(-1)) + 0.076917*LOG(P IBNOVO(-1)) -

0.131910*RAC87 - 0.142045*RAC01

Em seguida é gerado um gráfico com a série histórica da carga realizada até

2009 e outra aplicando, para o mesmo período, a equação estimada pela simulação.

Figura 14: Curvas de carga realizada x estimada desde 1973

-.10

-.05

.00

.05

.10

.15

13

14

15

16

17

1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005

Residual Actual Fitted

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60

Carga Própria - GWh2010 9.330 2011 9.815 2012 10.322 2013 10.855 2014 11.414

Novas Cargas - GWh2010 30 2011 91 2012 192 2013 271 2014 356

Nota-se uma boa estimação da equação, visto que a curva da carga própria

simulada pela função (Fitted) está bem aderente à carga realizada (Actual), pois a reta

de regressão estimada se ajusta aos dados realizados em 99,73%. Dessa forma,

espera-se que a previsão para os próximos 5 anos esteja também muito próxima da

carga realmente consumida.

Após a simulação, a série de dados CREQ, onde se encontra a série

histórica da carga própria desde o ano de 1973 até 2009, disponibilizará os dados

previstos para os anos de 2010 até 2014. Segue a seguir os valores estimados pelo

programa.

Tabela 5: Carga Própria Estimada dos 5 anos

O próximo passo para previsão de carga é incorporar as novas cargas. Essa

etapa faz parte do planejamento da distribuidora, tendo em um horizonte de 5 anos, o

montante de consumo que será atendido pelo incremento de grandes cargas, como

indústrias, comércios e projetos do governo estadual.

De acordo com o planejamento da distribuidora em estudo, segue consumo

para o horizonte de 5 anos.

Tabela 6: Novas Cargas Projetadas para os 5 anos

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61

Carga Própria Novas Cargas Total 2010 9.330 30 9.361 2011 9.815 91 9.905 2012 10.322 192 10.514 2013 10.855 271 11.125 2014 11.414 356 11.770

Unidade: GWh

Carga Própria Prevista - GWh

0

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

1973

1975

1977

1979

1981

1983

1985

1987

1989

1991

1993

1995

1997

1999

2001

2003

2005

2007

2009

2011

2013

GW

h

Somando a carga própria estimada pelo programa às novas cargas, tem-se a

carga própria total. Abaixo, tem um resumo de cada segmentação e a carga própria

total.

Tabela 7: Carga Própria Total no Horizonte Estimado

A seguir, apresentaremos a curva da carga própria já com os dados

estimados para o horizonte de 2010 até 2014.

Figura 15: Carga Própria com Previsão dos 5 anos

Observa-se uma tendência de ascensão no consumo, fato que se iniciou

logo após o racionamento de 2001.

Com a carga própria já estimada, deve-se agora retirar as perdas, resultando

no mercado de vendas de energia elétrica.

Page 62: Robson Dias

62

Perdas de Distribuição (%)2010 12,072011 12,052012 12,022013 12,002014 11,95

Carga Própria (GWh) Perdas de Distribuição (%) Mercado Total (GWh)2010 9361 12,07 82312011 9905 12,05 87122012 10514 12,02 92502013 11125 12,00 97902014 11770 11,95 10364

Abaixo, tem-se a meta das perdas para os próximos 5 anos.

Tabela 8: Perdas de Distribuição em %

Já estimada tanto a carga própria quanto as perdas, o mercado será a carga

própria desconsiderando-se as perdas de distribuição, ou seja:

Mercado = Carga Própria x [1- Perdas(%)]

Tabela 9: Mercado Projetado (GWh)

Para título de informação, o consumo estimado por classe é feito através da

sazonalidade de cada atividade de consumo. Com o mercado projetado para cada ano,

é calculada a participação anual de cada classe através de uma média dos últimos 5

anos, com isso, é encontrado o montante de consumo anual para cada classe.

Após isso, é feita uma nova sazonalidade agora dentro de cada classe. O

objetivo agora é encontrar a participação de consumo para cada mês. Também pega-

se uma amostra dos últimos 5 anos para se ter uma boa aproximação do perfil de

consumo para os 12 meses do ano. Após isso, é encontrado o consumo mensal de

cada classe.

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63

6 GESTÃO DE RISCOS DAS PREVISÕES E SUA APLICAÇÃO

6.1 Introdução

Um dos pilares do novo modelo do setor elétrico no Brasil é o tipo de

contratação de energia para os consumidores através de leilões de mínimo custo, de

modo a separar a compra de energia nova, objetivando a expansão da oferta, assim

como a compra de energia existente, visando à renovação dos contratos que estão se

encerrando.

Além disso, ainda existem dois tipos de leilões de energia nova, o A-5 e A-3

(para suprimento de 5 e 3 anos após a compra, respectivamente), que incentiva o

menor período de construção de determinadas usinas termoelétricas, mesmo a um

preço maior que o de usinas que precisam de um prazo maior de construção, que são

as hidrelétricas.

6.2 Uso dos Meios Regulatórios

Através do Decreto 5.163, de 30 de julho de 2004, são apresentados alguns

instrumentos regulatórios que as distribuidoras de energia elétrica são obrigadas a

cumprir no gerenciamento de riscos referentes ao mercado de energia, destacando o

principal:

• Todo agente de consumo está obrigado a contratar 100% de sua

carga.

Este Decreto propõe diretrizes para a contratação de 100% de toda a carga

que está na área de concessão estabelecida pela União.

6.2.1 Repasse às tarifas

Tendo como meta induzir a contratação eficiente, a principal limitação ao

repasse às tarifas é que:

• A distribuidora pode repassar os montantes contratados até 103%

de sua carga própria. Este limite visa aumentar a segurança do

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ANO 2010 2011 2012 2013 2014Cenário de Referência (GWh) 9361 9905 10514 11125 11770

ANO 2010 2011 2012 2013 2014Cenário de Referência (MW médios) 1069 1131 1197 1270 1344

sistema de distribuição, já que reconhece a incapacidade de uma

previsão perfeita da demanda, estabelecendo assim, o limite aceitável

para erros nesta projeção, de modo a garantir que os contratos sejam

no mínimo iguais à carga.

6.3 Aplicação da Gestão de Riscos

Nesse estudo, são avaliadas as previsões de demanda da distribuidora e a

estratégia desenvolvida para a declaração de suas necessidades de energia elétrica no

horizonte de 2010 a 2014 no novo contexto regulatório brasileiro.

6.3.1 Previsão de Mercado

As previsões do mercado de energia foram auferidas usando como

referência o consumo medido histórico, o software de previsão EVIEWS 5.1 e

informações relevantes da conjuntura econômica da área de concessão, assim como

do país.

6.3.2 Carga Própria Prevista

Considerando o mercado total e as perdas inerentes, a carga própria para a

distribuidora, no cenário de referência, é apresentada na tabela abaixo.

Tabela 10: Projeção da Carga Própria (GWh)

Transformando a carga própria (GWh) em MW médios, ou seja,

multiplicando o consumo por 1000 e, em seguida, dividindo pela quantidade de horas

do ano, tem-se:

Tabela 11: Projeção da Carga Própria (MW médios)

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65

Ano Demanda Prevista Demanda Contratada % Carga2010 1069 1101 103%2011 1131 1165 103%2012 1197 1233 103%2013 1270 1308 103%2014 1344 1384 103%

Ano 2010 2011 2012 2013 2014

Cenário alto 9,8% 10,0% 10,1% 10,3% 10,0%

Cenário de referência 5,6% 5,8% 5,9% 6,1% 5,8%

Cenário baixo 1,4% 1,6% 1,6% 1,9% 1,6%

6.3.3 Estratégia de Contratação

Estabelecendo a árvore de cenários, adotou-se o erro médio percentual,

obtido no modelo de previsão da distribuidora (4%), de modo que foram definidas as

trajetórias de taxas de crescimento.

Tabela 12: Taxas de Crescimento da Demanda

O cenário de referência foi obtido pelo MW médio projetado para o horizonte

de 5 anos na tabela 11. O cenário alto foi utilizando o erro de +4%, enquanto que o

cenário baixo foi usando o erro de -4% na previsão de carga.

6.3.4 Contratação Máxima

As possibilidades de contratação adicional futura, sem risco de penalidade,

por sobrecontratação de 3% ficará:

Tabela 13: Montante de Energia (MW médios)

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Cenários de Previsão de Demanda (MW médios)

1000

1100

1200

1300

1400

1500

1600

2010 2011 2012 2013 2014

MW

méd

ios

Demanda Prevista Demanda Contratada

6.3.4.1 Análise Gráfica dos Resultados

Para os resultados encontrados, foram traçadas curvas-limite de

contratação:

Figura 16: Possibilidades de Demanda e de Contratos da Distribuidora

6.3.5 Penalidades

6.3.5.1 Subcontratação

Se a distribuidora não estiver contratada na totalidade da demanda, então

deverá solicitar o montante necessário no mercado de curto prazo da CCEE (Câmara

de Comercialização de Energia Elétrica) pelo preço de liquidação das diferenças

(PLD), sendo repassado aos clientes, através das tarifas, o menor valor entre o PLD e

o valor de referência da energia comprada pela distribuidora (VR). Dessa forma, a

distribuidora terá uma penalidade por ficar com os custos da compra de energia, não

podendo passar para os consumidores finais. Também é aplicada uma penalidade no

maior valor entre o VR e o PLD.

Dessa forma, para cada MW médio abaixo de 100% da demanda, é cobrado

um custo pela diferença da compra (PLD) e o repasse (menos valor entre o VR e o

PLD), somando a multa, que é o maior valor entre o PLD e o VR.

Penalidade Subcontratação (para cada MW médio) = PLD – Min [VR, PLD] +

Max [VR, PLD].

Page 67: Robson Dias

67

6.3.5.2 Sobrecontratação

Já a contratação acima de 103% da demanda tem como conseqüência que a

distribuidora ficará completamente com os custos de compra, também sem poder

repassar à tarifa.

Para cada MW médio acima de 103% da demanda, é incidido um custo pela

diferença entre o preço de compra (VR) e de liquidação no mercado de curto prazo

(PLD), caso este último seja inferior ao VR.

Penalidade Sobrecontratação (para cada MW médio) = VR – PLD

Page 68: Robson Dias

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7 CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE TRABALHOS FUTUROS

Neste trabalho apresentou-se uma metodologia para obtenção de previsões

de demanda de energia elétrica. O método foi desenvolvido motivado pela atual

sistemática de contratação de energia imposta às concessionárias. Nela,

concessionárias são solicitadas a pré-contratar a demanda por energia em um período

de três anos, dos quais o mais recente está sujeito a revisões e ajustes.

Utilizando dados de 1973 a 2009, foram estimados modelos de demanda por

energia elétrica, obtendo a previsão de demanda para o horizonte de 5 anos. Apesar

da utilização no modelo, optou-se por não utilizar os dados de 2001 e 2002 na

sazonalidade do mercado, uma vez que o racionamento de energia elétrica, iniciado

em 01 de junho de 2001 e encerrado em 01 de março de 2002, alterou o

comportamento dos consumidores, que tiveram de se adaptar às metas estipuladas

pelo governo. Desta forma, a inclusão de tais dados comprometeria os resultados de

estimação, devido à mudança no padrão de consumo das classes.

O modelo matemático proposto no método, baseado em modelos

matemáticos de regressão, combinado a informações subjetivas obtidas, gerou

previsões consistentes subsidiando na tomada de decisão.

A obrigatoriedade de se contratar energia por longo prazo com antecedência

de 3 anos, de modo a atender 100% da sua demanda, impôs às distribuidoras de

energia elétrica do Brasil o aperfeiçoamento de sua metodologia de previsão de

demanda, assim como incorporar à tomada de decisão a análise dos riscos envolvidos.

De um modo geral, cumpre ressaltar que o desenvolvimento de modelos de

previsão é de interesse fundamental por parte dos diversos agentes do setor elétrico.

As empresas de distribuição necessitam de maior precisão em suas previsões de

demanda, a fim de reduzirem seus riscos. Para fins de planejamento, também

necessitam desses estudos, como ferramentas de tomadas de decisão referentes à

alocação de investimentos.

Em suma, previsões de crescimento de demanda, como as realizadas neste

estudo, poderão servir de subsídio ao planejamento estratégico do setor elétrico, e a

metodologia aqui construída permite que tais previsões levem em consideração os

efeitos do racionamento de 2001/2002 sobre a carga própria. As previsões para o

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69

período em questão, por sua vez, corroboram a constatação recente de que após o

racionamento os consumidores de todas as classes estão, aos poucos, retomando os

seus antigos hábitos de consumo.

É recomendável um aperfeiçoamento da análise de variabilidade das

previsões de demanda para dar maior consistência ao método empregado. Também

deve-se fazer uma melhor avaliação como ferramenta de mitigação de riscos do

mecanismo de compensação de sobras e déficits (MCSD), complementando o

conjunto de instrumentos à disposição das distribuidoras.

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70

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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