REVISTA XIKELELA-NOV2011

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A revista Xikelela é resultado de um longo trabalho realizado pela Coordenadoria da Igualdade Racial desde a criação do Xikelela, o primeiro Centro de Referência deGuarulhos destinado a combater o racismo e promover as culturas negra, indígena, cigana e de outros grupos discriminados.Foi viabilizada com recursos de convênio com a SEPPIR (Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República), por meio de emenda parlamentar da deputadafederal Janete Rocha Pietá, pioneira das políticas de igualdade racial no município de Guarulhos.Esta publicação apresenta textos produzidos por jovens e adultos, educandos e educandas, que participaram das Oficinas de Comunicação do Projeto Xikelela. Em sua grande maioria tiveram contato pela primeira vez com a discussãodas relações raciais. A revista apresenta também textos elaborados por profissionais, estudiosos, militantes do Movimento Negro e especialistas na temática de promoção da Igualdade Racial e combate ao racismo. A Revista Xikelela contou também com o trabalho de jovens profissionais militantes do Movimento Negro.Junto com o aprendizado das técnicas de comunicação, a oficina buscou realizar diálogos para a construção de conhecimento acerca da presença negra e indígena no município de Guarulhos,resgatar a história da população negra no Brasil assim como desconstruir estereótipos que permeiam o imaginário popular sobre negros e indígenas.A publicação do material produzido pelos alunos da oficina tem o objetivo de dar visibilidade à produção de conhecimentodaqueles que vivem cotidianamente a discriminação e o racismo.Escrever a sua própria história, deixando de ser apenas o objeto da história escrita pelo outro é ocupar um lugar de saber. Acreditamos que o protagonismo juvenil é também fundamental para a formação de cidadãos e cidadãs mais conscientes e críti cos para enfrentar todas as formas de manifestação de preconceitos e discriminações.A Revista Xikelela tem seis (6) editorias: Novembro Negro, Saúde, Cultura, Educação, História e Memória, Racismo Xenofobia Intolerância e Discriminação Racial. Tomou o seu nome emprestadodo Centro de Referência no qual nasceu. Xikelela é uma palavra em quimbundo, a língua mais falada em Angola, região de onde teriam vindo muitos dos primeiros africanos para a região de Guarulhosno século 16, e quer dizer Negro.Sob a forma de entrevistas, crônicas, reportagens, as matérias abordam temas como a anemia falciforme, a cultura hip-hop, a capoeira, a culinária afrobrasileira, o cabelo crespo, a presença dos povos indígenas em Guarulhos, a história do bairro do Pimentas, o mais povoado de Guarulhos, as religiões de matriz africana,patrimônio histórico e outros.Com este número um (1), comemoramos o Ano Internacional dos Afrodescendentes, proclamado pela Organização das NaçõesUnidas no décimo aniversário da III Conferência Mundial contra o Racismo.Esperamos que você aprecie a leitura e nos diga o que achou! Edna RolandCoordenadora da Igualdade [email protected]

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Revista Xikelela. Ano 1 - Edio 1.

Centro da de Referncia de Cultura Negra e Igualdade Racial Xikelela

ExpedienteAlexandra Alves Nascimento, Amanda de Souza Arajo, Brbara Aparecida Lins, Bruna Mariano Silva, Caique Mota Cavalcante, Caique Lu de Freitas da Cunha, Daylane de Almeida, Daniela Silva, Fabiana Batista, Filipe Luiz Almerindo, Janeclcia Barros Silva, Jaqueline Batista, Jaqueline Soares Vieira, Jennifer Felisbino Leiguez, Jhennifer Miranda Fonseca, Juliana de Almeida, Juliana Freires (Fresant), Larissa Teixeira Prescinotto, Letcia Fritacia Bazan, Letcia Santos de Oliveira, Leuri Laine de Oliveira, Luiz Felipe Mendes, Mayara Silva, Margareth Augusta dos Santos, Melinda Almeida, Michelle S. Reis, Miquelina Rodrigues Mendes, Miriam Teixeira de Souza, Miriam Oliveira de Souza, Natlia Cristina Alves de Brito, Nathan Figueiredo Arruda, Paz Benita Vallejos Flores, Rita de Ftima Rodrigues, Solange Cristina de Morais, Tas S. Oliveira, Talita Nascimento, Thaysa Marques Pereira, Terezinha Aparecida Souza Dias,Valdemir da Silva, Wesley Santos da Silva.

Conselho Editorial:Ailton Pinheiro, Edna Roland, Greice Oliveira, Tatiane Eigenmann Justo, Vilma Neres.

Equipe Pedaggica:Tatiane Eigenmann Justo Vera Lcia de Oliveira

Direo de Arte:Ailton Pinheiro

Jornalista Responsavl:Vilma Neres - DRT/BA 3.382

Revisor de Texto:Franscisco Soares

Diagramao:Ailton Pinheiro Ana Paula Marques

Capa:Marcos Santos Ferraz

Colaboradores: Alex Godoi Pinheiro, Cladia S. Ferreira Lucena, Deivison Nkosi, Elmi El Hage Omar, Jaqueline Lima Santos, Maria Arlete Bastos Pereira. Agradecimento:Nosso agradecimento especial artista plstica Goya Lopes pela autorizao do uso das estampas Ex Votos e Afro Africana na Revista Xikelela.

Editorial

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Revista Xikelela resultado de um longo trabalho realizado pela Coordenadoria da Igualdade Racial desde a criao do Xikelela, o primeiro Centro de Referncia de Guarulhos destinado a combater o racismo e promover as culturas negra, indgena, cigana e de outros grupos discriminados. Foi viabilizada com recursos de convnio com a SEPPIR (Secretaria de Polticas de Promoo da Igualdade Racial da Presidncia da Repblica), por meio de emenda parlamentar da deputada federal Janete Rocha Piet, pioneira das polticas de igualdade racial no municpio de Guarulhos. A Revista Xikelela apresenta textos produzidos pelos alunos e alunas das ocinas de comunicao do Projeto Xikelela. Em sua grande maioria tive ram contato pela primeira vez com a discusso das relaes raciais. A revista apresenta tambm textos elaborados por prossionais, estudiosos, militantes do Movimento Negro e especialistas na temtica de promoo da Igualdade Racial e combate ao racismo. A Revista Xikelela contou tambm com o trabalho de jovens prossionais militantes do Movimento Negro. Junto com o aprendizado das tcnicas de comunicao, a ocina buscou realizar dilogos para a construo de conhecimento acerca da presena negra e indgena no municpio de Guarulhos, resgatar a histria da populao negra no Brasil assim como desconstruir esteretipos que permeiam o imaginrio popular sobre negros e indgenas. A publicao do material produzido pelos alunos da ocina tem o objetivo de dar visibilidade produo de conhecimento daqueles que vivem cotidianamente a discriminao e o racismo. Escrever a sua prpria histria, deixando de ser apenas o objeto da histria escrita pelo outro ocupar um lugar de saber. Acreditamos que o protagonismo juvenil tambm fundamental para a formao de cidados e cidads mais conscientes e crticos para enfrentar todas as formas de manifestao de preconceitos e discriminaes. A Revista Xikelela tem 6 editorias : Novembro Negro, Sade, Cultura, Educao, Histria e Memria, Racismo Xenofobia Intolerncia e Discriminao Racial. Tomou o seu nome emprestado do Centro de Referncia no qual nasceu. Xikelela uma palavra em quimbundo, a lngua mais falada em Angola, regio de onde teriam vindo muitos dos primeiros africanos para a regio de Guarulhos no sculo 16, e quer dizer Negro. Sob a forma de entrevistas, crnicas, reportagens, as matrias abordam temas como a anemia falciforme, a cultura hip-hop, a capoeira, a culinria afro-brasileira, o cabelo crespo, a presena dos povos indgenas em Guarulhos, a histria do bairro do Pimentas, o mais povoado de Guarulhos, as religies de matriz africana, patrimnio histrico e outros. Com este nmero 1, comemoramos o Ano Internacional dos Afro-descendentes, proclamado pela Organizao das Naes Unidas no dcimo aniversrio da III Conferncia Mundial contra o Racismo. Esperamos que voc aprecie a leitura e nos diga o que achou! Edna Roland Coordenadora da Igualdade Racial [email protected]

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NDICE

Projeto XikelelaLinguagens e aes de valorizao da cultura negra e indigena.

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Novembro Negro Ms da Conscincia Negra Manisfesto Novembro Negro Ensaio fotogrco dos alunos

Sade Vamos Conversar sobre Sade da Populao Negra. Vamos driblar a Anemia falciforme com diagnstico e cuidado.

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Cultura Maria da Resistncia Cabelo enrolado e crespo Hip Hop 450 em Homenagem a Cidade de Guarulhos Rap realidade contada atravs da msica Gurulhos Hip Hop 450 Capoeira arte, dana e poisa, camar Culinria africana degustada em guarulhos

Educao Sobre a Lei. 10.639 / 2003 Dica de Leitura Palmas e Vaias

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Histria e Memria Povos Indgenas em Gurulhos (Entrevista com Aw Kuray Wera) Curiosidade em gurulhos Historia Bairro dos Pimentas A presena da populao indgena em Gurulhos Casa da caninha - Porpectivo patrimnio Cultural e Ambiental.

Racismo, Xenofobia, Intolerncia, Discriminao Racismo? Pra qu ? Candombl religiosidade matriz africana. Racismo e desigualdade social no dia a dia Discriminao e intolerncia religiosa Xenofobia

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Quem SomosA Coordenadoria da Igualdade Racial foi criada em 2009 a partir do desmembramento da Coordenadoria da Mulher e da Igualdade Racial criada em 2006. Cabe Coordenadoria formular, propor, articular e executar polticas pblicas que protejam os direitos dos negros, indgenas e outros grupos discriminados. O trabalho desenvolvido a partir de trs eixos: Enfrentamento do racismo, desconstruo de esteretipos e preconceitos; valorizao das culturas negras e indgenas e capacitao para o trabalho e gerao de renda. O Centro de Referncia da Cultura Negra e Igualdade

Racial-Xikelela, o rgo executivo da Coordenadoria que realiza cursos, ocinas e exposies sobre as culturas negras e indgenas, alm de oferecer atendimento social e psicolgico s vtimas do racismo e da discriminao racial. A Revista Xikelela resultado das ocinas de comunicao realizadas no ano de 2010, fruto do convnio da Prefeitura de Guarulhos e do Governo Federal atravs da SEPPIR- Secretaria de Polticas de Promoo da Igualdade Racial.Coordenadoria da Igualdade Racial Rua Lus Turri, 75 Jd. Zaira - Guarulhos/SP CEP: 07095-060 Telefone: 2408-5597 e 2409-6843 Centro de Referncia da Cultura Negra e Igualdade Racial - XIKELELA Av. Dr. Timteo Penteado, 4114 Vila Galvo - Guarulhos/SP CEP: 07061-003 - Telefone: 2304-7464 e 2304-7189

Projeto XikelelaLinguagens e aes de valorizao da cultura negra e indgenaPor Vilma Neres*

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ertamente voc j soube que a Coordenadoria da Igualdade Racial no incio de sua criao se constitua de dois rgos pblicos administrados apenas por uma coordenadoria. Criada em 2006 como Coordenadoria da Mulher e da Igualdade Racial. Mas em 2009, a m de atender a uma demanda de governo, a Coordenadoria da Mulher e da Igualdade Racial foi desmembrada, criando-se ento duas coordenadorias: uma voltada para as questes da Mulher e outra para as da Igualdade Racial. Inaugurado em 2008, o Centro de Referncia de Cultura Negra e da Igualdade Racial Xikelela, administrado pela Coordenadoria da Igualdade Racial, o mentor das atividades em benefcio da diversidade etnicorracial, de combate e enfrentamento do racismo. S em 2010 a Coordenadoria realizou atividades para cerca de 29.838 pessoas atravs de aes realizadas direta e indiretamente. Um dado importante se levarmos em considerao que a cidade de Guarulhos abriga cerca de 1.222.357 pessoas, de acordo com censo 2010. As aes desenvolvidas pela Coordenadoria da Igualdade Racial se concretizam a partir de seminrios, de workshop, publicao, encontros, ocinas e cursos de formao para jovens ingressarem no mercado de trabalho. Foi possvel implementar o Projeto Xikelela a partir de recursos de emenda parlamentar da deputada federal Janete Piet e da parceria com o Governo Federal, atravs da SEPPIR- Secretaria de Polticas de Promoo da Igualdade Racial. O foco do Projeto Xikelela promover ocinas culturais e em paralelo fomentar discusses sobre diversidade etnicorracial, empreendedorismo, mdia, racismo e valorizao da

autoestima da populao negra e indgena, especicamente, e entre outros povos como a populao cigana. Durante o ano de 2010 o Projeto Xikelela ofereceu 11 modalidades de ocinas, sendo estas: Cultura dos povos indgenas; Africanidades para crianas; Colares e brincos; Bonecas em miniaturas; Biscuit; Comunicao; hiphop itinerante; Penteado afro; Bonecas negras; Arte em tela; Dana afro. A realizao dessas ocinas permite reexes diante do racismo e valorizao da cultura desses povos, alm de possibilitar gerao de renda, como o caso das ocinas de biscuit, penteado afro, confeco de colares, brincos e bonecas negras. De acordo com Vera Lcia de Oliveira, da Equipe Pedaggica do Projeto Xikelela, em 2010 as ocinas j beneciaram cerca de 2.341 pessoas, entre crianas, jovens e adultos. A educadora Cristianne Lopes, da Ocina de Biscuit, durante a realizao da ocina ensinou aos participantes a criar e modelar acessrios em biscuit, alm de provocar discusses acerca da autoestima das pessoas a partir da confeco de bonecas negras. Cristianne Lopes nos conta que cada pessoa inscrita reagiu de forma diferente da outra, algumas caram surpresas com o fato de as bonecas de biscuit serem negras. Outras gostaram por no ser um produto fcil de encontrar em lojas desse segmento, avalia. Em muitos casos, os/as educandos/as identicaram ser

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a primeira vez que discutiam o assunto, o que evidencia como o mito da democracia racial ainda impera na nossa sociedade. Assim como a educadora Cristianne Lopes, o restante da equipe de educadores/as do Projeto Xikelela promoveu discusses referentes desconstruo de esteretipos racistas de modo interdisciplinar. Essa metodologia permitiu assegurar para os participantes uma discusso mais educativa, pois sabe-se que os crimes de racismo no um problema das minorias polticas, mas de todos/ as ns, cidados brasileiros/as. Como resultado avalia-se que o problema do racismo no ser resolvido em apenas quatro meses de ocinas, mas ainda assim possvel garantir a reexo e sensibilizar cada participante. Um exemplo desse resultado a reexo que uma das educandas escreveu, na escola, por exemplo, estamos fazendo palestras sobre preconceito e em casa aviso e ensino aos meus irmos menores, conta Brbara Aparecida Lins Silva, 17 anos. Em 2011 a Coordenadoria da Igualdade Racial atravs do Projeto Xikelela ir oferecer ocinas de Dana afro; Africanidades para criana; Penteado afro; Escola de hiphop itinerante; Biscuit; Colares e Brincos; Cultura dos povos indgenas. Espera-se que mais aes como estas sejam promovidas pelo poder pblico e privado, pois quem ganha a sociedade.*Jornalista (DRT/BA 3.382), foi educadora da Ocina de Comunicao do Projeto Xikelela entre agosto e dezembro de 2010.

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Novembro NegroMs da Conscincia NegraAs aes institucionais voltadas para o Dia da Conscincia Negra iniciaram-se em Guarulhos no ano de 2001. No dia 20 de novembro celebra-se o grande heri brasileiro, Zumbi dos Palmares smbolo da resistncia negra. A partir de 2009 as aes realizadas ganharam proporo, de modo que a Semana da Conscincia Negra deu lugar ao Novembro Negro. O Novembro Negro uma ao poltica que visa desconstruo de esteretipos e preconceitos, ao resgate e valorizao da cultura negra, recuperao da memria negra na cidade e promoo da igualdade racial. No ano de 2010 a Coordenadoria da Igualdade Racial (CIR) apresentou cidade uma programao de 54 atividades de msica, dana, cultura, formao poltica, teatro, exposies, lanamento de revista, dentre outras. A realizao do Novembro Negro que celebrou os 450 anos da cidade contou com a parceria de 31 entidades da Sociedade Civil e empresas apoiadoras e 21 rgos de Governo e Autarquias. Nesse ano, o Novembro Negro estabelece como eixo central os 10 Anos da Conferncia Mundial Contra o Racismo e a resoluo 64/169 da ONU que declara o ano de 2011, como Ano Internacional dos Afrodescendentes, reforando os compromissos dos pases na defesa dos direitos da populao negra. Conra abaixo, o SELO criado pela la SEPPIR que ser adotado pela a Prefeitura de Guarulhos.

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MANIFESTO Novembro Negro 2010

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esde que o primeiro africano pisou em solo brasileiro, no cessou nossa luta por liberdade. A resistncia negra iniciou-se desde os navios negreiros. A gura de Zumbi, lder do Quilombo dos Palmares smbolo dessa resistncia. em sua homenagem que neste 20 de novembro celebramos o Dia Nacional da Conscincia Negra. Relembramos nesta Marcha um dos marcos de nossa resistncia, a Revolta da Chibata, que completa cem anos em 2010. A revolta foi protagonizada por , Joo Cndido Felisberto, o Almirante Negro, que lutou pela extino dos castigos fsicos na Marinha Brasileira, que eram aplicados aos marinheiros de baixo escalo, mesmo aps 22 anos da abolio da escravatura. Joo Cndido foi inscrito no Livro dos Heris da Ptria, apenas depois que um operrio chegou Presidncia da Repblica. Nos 450 Anos de Guarulhos, queremos tambm reverenciar Lus Gama, que d nome a uma rua do Centro da cidade. Filho de Lusa Mahin, nasceu livre em 1830 e foi vendido como escravo pelo prprio pai, um dalgo de origem portuguesa. Aprendeu a ler com 17 anos de idade, tornou-se escritor, poeta e foi precursor da luta abolicionista. Sonhava com um Brasil sem rei e sem escravos. Sua liberdade foi conquistada aps ter conseguido provar que nascera livre e, segundo as leis da poca, um brasileiro lho de pessoas livres, no poderia ser vendido como escravo. Autodidata, exerceu a funo de rbula, ou seja, tornou-se advogado sem ter concludo o curso de Direito. Ao longo de sua vida, libertou mais de 500 escravos, seja atravs de sua defesa nos tribunais ou arrecadando dinheiro para comprar-lhes a alforria. A herana escravagista de ontem e a cultura racista camuada de hoje nos negam a memria de nossos heris e de nossos antepassados que lutaram pela liberdade.Ocupamos as ruas de nossa cidade neste 20 de Novembro para reverenciar os grandes

lderes negros e negras que nos inspiram a assumir nossa negritude e a lutar para transformar a realidade em que vivemos. Nos 450 Anos, Guarulhos recupera simbolicamente uma parte da memria de seu povo negro; demolida na dcada de 20 e reconstruda com seu nome mutilado a Igreja Nossa Senhora do Rosrio, tornase novamente a Igreja Nossa Senhora do Rosrio dos Homens Pretos.

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Ensaio FotogrfIco dos AlunosFotograa informaoFotograr um tipo de linguagem visual porque informa, educa, nos permite observar e apreciar paisagens, entender os processos histricos, conhecer lugares, etc. Partindo deste princpio e por entendermos que a fotograa uma ferramenta de comunicao, durante a realizao da Ocina de Comunicao, do Projeto Xikelela, introduzimos conceitos e elementos de composio fotogrca e como atividade produzimos um pequeno ensaio. Sabemos que todo ensaio fotogrco produzido a partir de um assunto. Para esse ensaio fotogrco decidimos traba- lhar com o tema Novembro Negro, realizado em Guarulhos no dia 20 de novembro (2010) durante a macha em homenagem ao Dia da Conscincia Negra. Conra abaixo algumas destas fotograas produzidas por educandas/os da Ocina de Comunicao:

Foto : Janeclcia Barros

Foto : Valdemir Silva

Foto : Valdemir Silva

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Foto : Terezinha Souza

Foto : Valdemir Silva

Foto : Valdemir Silva

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Foto : Valdemir Silva

Foto : Valdemir Silva

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Foto : Margareth Augusta dos Santos Foto : Alexandra Alves

Foto : Janeclcia Barros ecl

Foto : Valdemir Silva

Foto : Caique Mota Cavalcante

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. SaudeVamos conversar sobre sade da populao negra?Por Deivison Nkosi*

Porque sade da populao negra?

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urante muitos anos a sociedade ocidental tratou a sade como ausncia de doena. As doenas por sua vez eram vistas de forma individual e isolada. Esta noo de doena nos faz comprar remdios para dor no estmago, por exemplo, sem nos questionar sobre o contexto social e psicolgico que criou a dor: estresse, preocupaes, correria da vida urbana, etc. Por outro lado, quando observamos os dados estatsticos de como as doenas se espalham (epidemiologia) entre a populao brasileira podemos observar que elas esto intimamente relacionadas s desigualdades econmicas, raciais e de gnero. Um exemplo desta complexa associao a sade da populao negra brasileira. Ao analisarmos importantes agravos sade, observa-se que o nascer, crescer, adoecer e morrer da populao negra est intimamente ligado s desigualdades raciais. Vejamos alguns estudos:

Segundo o IBGE, os critrios de autoclassicao segundo a cor so: Preto, Pardo, Branco, Amarelo e Indgena22,77 para cada 100 mil para os homens brancos e 41,75 para cada 100 mil para os homens negros; - a expectativa de vida ao nascer dos brasileiros de 73,99 anos para os brancos e 67,87 anos para os negros; - a reduo das taxas de mortalidade infantil foi menor entre os pretos (25%) do que entre os brancos (43%). Em vinte anos (1980 a 2000) a diferena relativa entre os nveis de mortalidade infantil dos dois grupos praticamente dobrou. - a taxa de mortalidade por Aids no Brasil 2000 foi de aproximadamente 10,61 para cada 100 mil para mulheres brancas, 21,49 para cada 100 mil para as pretas, - a taxa de mortalidade materna de mulheres pretas (245,54) supera 6,3 vezes a mortalidade das mulheres brancas (37,90) em todo o estado de So Paulo; - para as crianas negras com menos de um (1) ano de idade, o risco de morte por doenas infecciosas foi 43% maior que de crianas brancas; - o risco de um homem negro de 15 a 49 anos ser vtima de homicdio 2,18 vezes superior a um homem branco na mesma faixa etria.

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. SaudeO que estes dados nos mostram? Ser que os negros so biologicamente mais fracos que os brancos, j que morrem mais?Os negros no so biologicamente mais fracos que os brancos. Alis, as diferenas biolgicas entre brancos e negros so quase inexistentes. A verdadeira explicao no est na biologia, mas sim em nossa sociedade racista e desigual. O racismo relaciona-se a outros fatores como pobreza, machismo e desigualdades geogrcas inuenciando drasticamente o contexto de vida da populao negra. Por outro lado, estas desigualdades atravessam os muros do sistema de sade produzindo um pior atendimento e acesso populao negra. O Sistema nico de Sade (SUS) brasileiro um dos melhores sistemas pblicos de sade do mundo, mas enfrenta grandes desaos para existir de fato como foi planejado. Entre estes desaos est a superao da invisibilidade s desigualdades raciais em sade. Ao

Fotograa de Luis Alberto-UNESCO

mesmo tempo em que o sistema de sade nge que todo mundo igual, as desigualdades se perpetuam de diversas formas.

Mas e o quico? (O que voc tem a ver com isto?)Em primeiro lugar temos que dar visibilidade s desigualdades raciais em sade (racismo institucional). Fique ligado(a) como a populao negra tratada nos servio de sade: acompanhar, informar, propor e denunciar quando notar algum descaso. Em segundo lugar importante saber que depois de muita presso do Movimento Negro, o Ministrio da Sade lanou em 2008 a Poltica Nacional de Sade da Populao Negra. Esta poltica foi um grande avano porque o Governo brasileiro, atravs do Ministrio da Sade, reconhece que o racismo exerce inuncia sobre a sade da populao negra e que precisa ser combatido pelo servio de sade. No entanto, a Poltica Nacional de Sade Integral da Populao Negra muito pouco conhecida pelos prossionais e gestores de sade, militantes do movimento social e sociedade em geral. Precisamos conhecer melhor essa poltica e questionar as Unidades Bsica de Sade mais prximas, bem como o Conselho Municipal de Sade e a Secretaria de Sade sobre o que est sendo feito, para que esta no seja mais um importante instrumento que no sai do papel. Para saber mais, consulte o blog da Rede Nacional de Sade da Populao Negra atravs do link a seguir: http://redesaudedapopulacaonegra.blogspot.com/FAUSTINO. D.M (Deivison Nkosi) Mestre em Cincias da Sade pela Fa) culdade de Medicina do ABC e Professor de Histria da frica da Faculdade So Bernardo e representante da Rede Nacional de Sade da Populao Negra. Bibliograa consultada: AYRES, J.R.C. e Col. Risco vulnerabilidades e prticas de preveno e promoo da sade, p.375-417 in Tratado de Sade Coletiva. AKERMAN, M. et al (orgs.).Editora Hucitec, So Paulo, 2006. BATISTA, L. E.; KALCKMANN, S. (org.). Seminrio da populao negra de So Paulo 2004. Temas em Sade Coletiva 3. So Paulo: Instituto de Sade. 2005. LOPES, F. Experincias desiguais ao nascer, viver, adoecer e morrer: tpicos em sade da populao negra no Brasil. In: BRASIL. Ministrio da Sade. Secretaria Especial de Polticas de Promoo da Igualdade Racial. Caderno de textos bsicos do seminrio nacional de sade da populao negra. Braslia, DF, 2004. p. 39-100.

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Vamos driblar a anemia falciforme com diagnstico e cuidadoPor JULIANA DE ALMEIDA, DANIELA SILVA E TALITA NASCIMENTO

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tualmente, os resultados de algumas pesquisas e dados estatsticos tm mostrado as desvantagens em diversos parmetros sociais em que se encontram os homens e as mulheres negras. No quesito sade, ainda que o estado brasileiro promova polticas pblicas em prol da sade de todas e todos, atravs do Sistema nico de Sade (SUS), no h garantia de preveno e diagnstico das doenas que mais atingem a populao negra, a exemplo da anemia falciforme. De acordo com a Pesquisa Nacional de Domiclios do Instituto Brasileiro de Geograa e Estatsticas (IBGE/2006), a realizao de exames clnicos de mama durante uma consulta ginecolgica menos frequente para mulheres negras que para as brancas. O Brasil possui cerca de 72.632.421 habitantes, sendo 45% desse contingente formado pela populao negra. Desse modo este pas no pode desconhecer as necessidades de sade da populao, a exemplo da anemia falciforme anemia crnica e que mais afeta a populao negra. (DADOS DEFASADOS) Segundo Censo 2010, a populao do Brasil de 185.712.713 habitantes, no localizei os dados referente o quesito raa/cor. Aqui no municpio de Guarulhos h muitas pessoas que possuem a anemia falciforme ou anemia crnica. Se o diagnstico for realizado precocemente possvel conviver de forma saudvel, como relata a biloga Andrea Vasconcellos, 39 anos: Uma das coisas que eu aprendi com o tempo interpretar o meu corpo. Se eu estou mais cansada, hora de diminuir o ritmo e descansar. Se o clima mudou, hora de me agasalhar ou tomar mais lquido. Aprendi a lidar com o preconceito em relao a essa doena, e com a d que as pessoas tendem a ter de voc, por ter uma doena como a anemia falciforme, conta. Sintomas da anemia falciforme De acordo com Andrea, em seu caso alguns sintomas foram identicados logo na infncia com a ajuda de um mdico pediatra,

pois ela sofria com infeces na garganta e fez cirurgia para retirar as amgdalas. Depois da cirurgia tive uma hemorragia e entrei em coma por 18 dias. Eu tinha quatro anos, e foi a que, atravs do exame de sangue, o pediatra diagnosticou que havia algo de estranho e encaminhou para um hematologista, conta. A anemia falciforme ou anemia crnica uma doena herdada de me para lho(a) ou de pai para lho(a). Vamos ler outro depoimento da professora Beatriz Santos, 23 anos, que relata como cou sabendo que tinha anemia falciforme. O meu pediatra comeou a suspeitar quando eu tinha oito meses, mas como eu morava numa cidade no interior da Bahia e no tinha como fazer todos os exames para conrmar, ele solicitou que meus pais procurassem um lugar com mais recursos. Da os meus pais me levaram para Marlia, aqui em So Paulo, e os mdicos de l diagnosticaram, relata. Beatriz Santos diz ainda que basicamente normal, mas claro que tento evitar situaes que podem desencadear uma crise, tais como excesso de esforo fsico, estresse, tento me manter sempre bem hidratada, coisas do tipo, explica. Para a estudante de Direito, Fernanda Loureno, 28 anos, que tambm tem anemia falciforme ainda ruim saber que muitas pessoas no tm conscincia da existncia da anemia falciforme ou o que sabem muito precrio. Mas na rotina tambm entra a explicao ao prximo, no importa se a faxineira da escola em que dou aula ou aos auxiliares de enfermagem que me atendem, conclui. Aqui em Guarulhos, na rea mdica, a nica especialista em doenas hematolgicas a dra. Cristiane Maria da Silva Pinto, que trabalha no Hospital Municipal da Criana HMC. Como podemos perceber, ainda h muito que se fazer em termos de polticas pblicas em prol da sade da populao negra.

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ultura

Maria da ResistnciaPor Margareth Augusta Dos Santos, 43 anos, mora no Jd. Presidente Dutra, ma e educadora atravs do Movimento de Alfabetizao de Jovens e Adultos ( MOVA) e Caique Mota Cavalcante, 15 anos, cursa o ensino mdo na E.E. Francisco Antunes Filho, gosta de ser reconhecido como intelectual, pretende ser jornaltista, empresrio e gastrnomo.

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aria da Resistncia, 40 anos bem vividos, me de seis lhos, crioula forte, nascida no interior de Minas Gerais, migrou para So Paulo pelos idos de 1980. Como o prprio nome diz, Maria era rep sistente e resistiu, com bravura at os sisten 23 a anos, sua verdadeira cor. Um fato interessante aconteceu, desfat cobriu que no era morena escuco ra... Babado! Foi numa consulta ra de pr-natal que ao olhar o pronturio estava l... Era fato... Cor tu NEGRA! Sua decepo foi to grande NEG que ao chegar em casa foi logo contar ao c seu m marido: - Voc acredita que colocaram no V meu p pronturio que sou negra? - Mas meu bem, que cor voc acha que ? Pergun Perguntou o marido. Foi a que a crioula desesperada saiu do corpo passou a viver em funo de corpo, criar os lhos. Teve infncia difcil, para a sua sobrevivncia comeou a trabalhar aos breviv oito an de idade como empregada anos domstica. Auto-estima ela nem sabia o signicado, que amor por si, o poder se olhar no espelho e se reconhecer. Ao ligar a TV ou ao ver alguma revista nunca se viu representada, com muita vergonha e culpa por ser quem era: Uma mancha escura na sociedade... Vivia como que pedindo desculpas por sua existncia. Com muito medo de ser estereotipada, na adoles-

cncia, perdeu a alegria e a ousadia que inerente a todas as crianas. Mas a negra teve um lapso de lucidez, volta ao corpo, termina o ensino mdio e aos 36 anos teve seu primeiro e nico registro na carteira de trabalho. A negra ainda era muito frgil, e se deparou com uma chefe hostil, irm de cor que na sua vida foi como um capito do mato. Saiu do corpo mais uma vez, diante de tantas idas e vindas o corpo de Maria comeou a dar sinais de cansao e pegou o rgo reprodutor, onde est o auto amor. Ela passou a ter perdas urinrias e de Maria Resistente passou a Maria sem resistncia. Vagando fora do corpo, Maria no tinha trabalho, precisou de ajuda pblica para se locomover at ao hospital. E o Estado lhe disse: -Voc problema do Municpio. Em resposta o Municpio diz: -Ti vira negra o problema seu. Ento, ela retorna ao corpo, toma posse de si e descobre que ela a sua maior misso. Olhou no espelho e viu o que ela procurou por toda vida, ela mesma. E fez algumas aes para o seu fortalecimento: curso de bonecas e se viu representada; curso de penteados afro e se sentiu bonita; participou do programa Sade da Mulher e acordou para a sua sensualidade; viu na comunicao a grande oportunidade de ser ouvida. Babado! A negra decidiu que daqui pra frente ia viver e no ter vergonha de ser feliz... E cantar a beleza de ser um eterno aprendiz....

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Cabelo enrolado e crespoEntrevista com a tranadeira Ana Lcia de Jesus Mendes Por Luis Felipe Mendes, participou da primeira Turma da Ocina de Comunicao.

Ana Lcia Santos de Jesus Mendes, 31 anos, nascida no municpio de Guarulhos/SP, especia- lista em tranar cabelos enrolados e crespos, a seguir Ana Lcia conta para ns algumas dicas de como pentear e cuidar do cabelo crespo. Luiz Felipe Mendes: Quando comeou essa cultura de tranar os cabelos? Ana Lcia: Ah! Foi h muito tempo, muito antes da escravido e vem se aperfeioando cada vez mais. Desde muito tempo, a gente pode ver isso nos lmes antigos, o uso das tranas no cabelo era muito chique e no era s mulheres que usavam, os homens tambm tranavam seus cabelos. Hoje em dia o penteado com tranas uma caracterstica das mulheres negras, que tm cabelo encaracolado ou crespo. Mas o uso das tranas combina em qualquer pessoa, seja homem ou mulher, e em diversos tipos de cabelo, seja liso, crespo, encaracolado ou enrolado. Luiz Felipe Mendes: Quando voc se interessou em tranar cabelos crespo e enrolado? Ana Lcia: Eu estava num supermercado quando vi uma moa, com o cabelo diferente, bonito. Foi a partir da que comeou o meu interesse de tranar cabelos.

Luiz Felipe Mendes: difcil aprender a tranar cabelo? Ana Lcia: Sim! um trabalho demorado, mas no m se tem uma bela obra de arte. Luiz Felipe Mendes: Qual a sensao de contribuir com valorizar da esttica negra? Ana Lcia: uma alegria e tanto, pois, eu tambm sou negra, e s de saber que estou contribuindo com a valorizao da nossa auto- estima me deixa muito alegre e conante. Luiz Felipe Mendes: Qual mensagem voc deixar para todos e todas ns? Ana Lcia: Que levantem a cabea, que nunca se deixem levar pela descriminao, continuem lutando pelos objetivos e que nunca deixem de sonhar.

Hip Hop 450 em homenagem a cidade de Guarulhos

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ttulo desta matria faz aluso aos 450 anos da cidade de Guarulhos, comemorado no dia 8 de dezembro do ano passado. Hip - hop 450 graus aborda alguns ngulos de armao de que, apesar das diculdades, o movimento mostra-se cada dia mais resistente. O hip - hop se popularizou nas dcadas de 60 e 70 pelos guetos e periferias da Jamaica, Estados Unidos e em pases da Amrica latina. Os jovens

Por LARISSA TEIXEIRA PRESCINOTTO, 18 anos, vestibulanda em Sociologia, reside no Jardim Presidente Dutra, Guarulhos; e VALDEMIR DA SILVA, 33 anos, Conselheiro do COMPIR- Conselho Municipal de Promoo da Igualdade Racial Militante do Hip Hop Guarulhense, reside em Cumbica.

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ulturade l sofriam diariamente preconceitos, discriminao, pobreza, falta de infraestrutura educacional, problemas com drogas e violncia. Com isso, em 1973 foi criada a Zulu Nation, uma ONG fundada pelo DJ Afrika Bambaataa que tem como princpios as bases do hip - hop: paz, amor, unio e diverso, alm de organizar palestras sobre diversos conhecimentos. Alm de msica, dana e arte, os militantes e apreciadores(as) desse movimento tm um modo particular de se vestir e de falar. Os elementos de articulao do movimento hip - hop so: Break; DJ; MC (mestre de cerimnia); Gratte. Como se v abaixo a denio de cada elemento:Gratte desenhos, com forte apelo exuberncia das cores, produzidos com o uso de tinha spray, muitas das vezes, retratados em espaos pblicos, como muro e viaduto. O gratte uma arte plstica que busca retratar o cotidiano da sociedade, fazendo crticas sociais que nem tudo est em ordem e que muitos comportamentos no podem ser considerados normais, muitas das vezes reproduzidos pela televiso. Como a prtica de crimes sexista, racista, homofbico, lesbofbico, entre outras questes problemticas e temas poltico-sociais que so expressados em forma de desenho; MCs (mestre de cerimnia) so rappers (homem e mulher) responsveis por entoar e cantar as letras de rap; Djs - os animadores de festas, pessoas que mixavam as msicas tocadas por meio de instrumentos como a pick-up; Break - dana artstica de rua com movimentos peculiares e prprios do Hip Hop. Os(as) danarinos de break so conhecidos(as) por B.Boy (quando homem) e B.Girl (quando mulher). Os movimentos do break surgiram para criticar contra a guerra do Vietn, que atravs do corpo fazem movimentos que lembram hlices de helicptero, e s pessoas mutiladas, movimentos conhecidos dentro do Hip Hop como: moinho de vento e robozinho.

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m Guarulhos o hip - hop existe desde a dcada de 80, teve sua presena garantida nos bailes das grandes equipes de som da poca, a exemplo do Cash Box, Cash Money, Zimbabwe, Dinamite, Cascatas, Black Mad, Bleckout Geral, entre outras. Como conta o DJ Bonne Dee, que produtor fonogrco, responsvel pela assessoria artstica de algumas

DJ Bonne Dee

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bandas dos seguimentos do samba e rap, mas continuo no rap e, paralelamente, exerce a funo de DJ: o movimento Hip Hop me inuenciou a tomar gosto pela leitura e preservo esse habito at o dia de hoje. No incio dos anos 90, quando o rap nacional, em especial paulista, conquistou um espao considervel, os temas abordados em sua grande maioria eram os seguintes: racismo, violncia policial, alta valorizao do homem preto. Como os rappers geralmente escreviam as suas prprias letras, para que as letras cassem mais fortes e com mais contedo, boa parte da cena paulista de hip - hop recorreriam aos livros, que no eram muitos expostos nas livrarias, com muita diculdade algum conseguia um exemplar e esse livros eram passados de mo em mo. Eu, Bonne Dee, fui um desses rappers que recorreu aos livros para obter conhecimento, que tambm apliquei na poca ou melhor aplico at o dia de hoje em minhas letras e na minha vida. Na verdade sou um de-

nominado autodidata graas a um amigo chamado Ari ou skema que escreveu inmeras msicas para o rapper Thaide da dupla Thaide e DJ Hum, ambos zeram muito sucesso e ganharam visibilidade nacional cantando rap. Fui abenoado com a oportunidade de ter em minhas mos livros como: Histria Geral da Africa, Nelson Mandela, Steve Biko, Malcon X, DR Martin Luther King, Black Panthers, Maquiavel e o Prncipe, coletneas que tentavam explicar algo sobre Zumbi dos Palmares e a resistncia quilombola no Brasil, contextualiza DJ Bonne Dee. O movimento hip hop guarulhense foi consolidado apenas em 1993, quando diversos grupos comearam a surgir nas periferias. Excludos e marginalizados em todas as aes de grande porte, artisticamente falando. O boicote se desmascara aps o rompimento de alianas com polticos locais, empossados em secretarias de interesses comuns, como Cultura e Educao. Um dos grandes nomes e mestre de cerimnia (MC) da poca era o MC Cool, hoje chamado de Bonne Dee Band Bom, alm de exportar grandes nomes de grupos como Gang Master 90, Calibre Urbano, Aliados do Gueto, Memria DMC`s, SNJ, entre outros. Tivemos tambm a presena marcante dos Breikers Grateiros e DJ`s na histria da cidade de Guarulhos. O hip hop guarulhense tomou projeo em meados de 1990, quando comeou a participar das antigas coletneas de disco de vinil. Realizadas por equipes de som ou organizadores de eventos grandes da poca, sempre na grande metrpole, no ABC e no Interior paulista. O grati pintura com objetivo de ser visto e apreciado sempre por um nmero maior de pessoas, e mais alm arte plstica. De acordo com Amilton Jlio que usa codinome Mister Peu, o grati atual comeou entre 1970 e 1975, em Nova York, quando os caras de l, desenham nas estaes de trem seus nomes, ou nome do seu bairro, ou rua e iam colocando em vrios lugares. Desde ento, comeou a crescer e se espalhou pelo mundo. Em So Paulo

um dos maiores precursores do grati foram Os Gmeos e o Binho. Os Gmeos mais Internacional e o Binho mais nacional. Binho foi uma das pessoas que ajudou muito o grati a crescer no Brasil e em So Paulo, e Os Gmeos levaram o nome do Brasil para fora, relata Mister Peu. Mister Peu acredita que hoje as pessoas reconhecem o grate como arte, como uma forma de expresso. O grati hoje em dia est mais tranquilo, a mdia tem ajudado bastante a mudar o grati e mostrar que o grati no mais como antigamente, vandalismo. Para Mister Peu o grati enquando arte expressa estilo e a viso de mundo de muitos jovens, que tentam atravs do grate mostrar o que sentem e pensam para poder mudar o contexto de muitas pessoas, porque DJ Bonne Dee s vezes um desenho ou uma escrita na parede, hoje em dia garante mais ateno e acaba pensando, reetindo a partir daquele mensagem expressada com tintas de spray, desenho e muita cor. O trnsito de So Paulo terrvel, ento uma maneira de as pessoas se distrarem e pensar sobre o tema que est na parede, no caso, racismo, violncia, droga , etc.conta o grateiro Mister Peu. O grande marco do hip hop em Guarulhos foi no perodo de 1997 a 1999, quando a Rdio Costa Norte difundia os trabalhos dos grupos de Guarulhos e de toda grande So Paulo. . Parabns Guarulhos pelos seus 450 anos, parabns ao Movimento hip - hop pela resistncia.

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Rap realidade contada atravs da msicaPor Bruna Mariano Silva, 19 anos, moradora do bairro Pimentas - Vila Any, vestibulanda para seguir a carreira de Produtora de TV . e Nathan Figueiredo Arruda, 19 anos, morador do bairro Pimentas - Vila Any , vestibulando para seguir a carreira de Produtor de Tv.

Foto de leo.eloy (http://www.ickr.com/photos/leoeloy

poltico. Normalmente o rap expressa a desigualdade social, a violncia das ruas, preconceito, pobreza, denuncia injustias vividas pelas pessoas que vivem em perferias, muitas vezes como protesto e at mesmo histrias verdicas, que so cantadas e contadas pelos mestre de cerimnia (MCs). Leandro Roque de Oliveira, mais conhecido como Emicida, 25 anos, nascido em So Paulo, um dos rappers mais conhecido da atual gerao. Alm de rapper, Emicida reprter e produtor musical, abaixo zemos transcrio do trecho de uma de suas produes, que identica uma caracterstica marcante do rap, a criao de uma letra inspirada em uma realidade mais subjetiva: Nosso sofrimento d prmio pra quem se esconde em bairro nobre. T cheio disso, igual as cadeias cheias de pobre (...) Cidadania onde? Ns cuspiu na lei de Gandhi quente memo, cidado uma cidade grande. E como dica, para os guarulhenses, indicamos o grupo de rap Interna Mente, que produz um rap mais moderno, com a apropriao do violo e batida eletrnica. Para ouvir e conhecer mais sobre o grupo. Acesse:http://myspace.com/internamente.

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rap uma abreviao para rhythm and poety, na traduo signica ritmo e poesia, e foi criado nas comunidades negras dos Estados Unidos, no nal do sculo 20. Uma caracterstica marcante desse gnero musical o ritmo acelerado e tambm sua melodia singular. Teve destaque maior aqui no Brasil, principalmente dentro das periferias. Aqui no estado de So Paulo, os primeiros grupos de Rap comearam a se reunir na Estao de Metr So Bento, na capital. Os compositores desse gnero musical trazem em suas letras poesia, losoa de vida, e posicionamento

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Guarulhos Hip Hop 450Por Larissa Teixeira Prescinotto, 18 anos, vestibulanda em Sociologia, reside no Jardim Presidente Dutra, Guarulhos; e Valdemir Da Silva, 33 anos, Conselheiro do COMPIR- Conselho Municipal de Promoo da Igualdade Racial, reside em Cumbica.

aqueline Lima Santos, conhecida como Jaque, iniciou a sua militncia aos 12 anos de idade no movimento hip - hop de Sorocaba, participando de ocinas de MCs e de eventos de mobilizao social nas periferias da cidade. O contato com o hip hop transformou a sua vida, e lhe deu instrumentos para uma atuao poltica e social. Comeou no hiphop como rapper, hoje escreve letras e atua no quinto elemento do movimento atravs de pesquisa, formao e difuso do conhecimento. Participa do Frum de hip hop do interior, e militante do Movimento Negro Unicado (MNU). O hip hop fez com que desse grande valor aos estudos. Hoje formada em Cincias Sociais, e estudante de Mestrado em Cincias Sociais/Antropologia pela Universidade Estudal Paulista (UNESP), onde atua como pesquisadora no NUPE (Ncleo Negro da UNESP para Pesquisa e Extenso). Suas linhas de pesquisa so: Patrimnio Cultural, Dispora Africana, Etnomusicologia, Identidade, Memria, Relaes Raciais, Gnero e Juventude. Seu tema de mestrado sobre o hip hop de Sorocaba. Participou da construo do Frum Paulista de hip hop em 2002, uma rede estadual de organizaes e militantes do movimento hip hop, e do Frum de hip hop do interior nos anos de 2002, 2003 e 2004. Um dos seus objetivos ocupar o espao acadmico e levar as contribuies do movimento negro e hip hop para o campo de construo do conhecimento. Em 2007 ganhou o prmio Kabengele Munanga de melhor trabalho cientco apresentado no Frum frica com o ttulo: Resignicando a Negritude nas Batidas de hip hop: Do Quilombo para a Periferia. Conra abaixo a entrevista completa com Jaqueline Lima Santos:

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Larissa Prescinotto e Valdemir Silva: Quais so as caractersticas mais marcantes do movimento? Jaqueline Lima: O que tem de mais marcante no hiphop, que ele d elementos para transformao social. Seus elementos, a discotecagem, o canto, as artes plsticas e a dana se apresentam como instrumento de transformao social, no s arte pela arte, mas uma relao destes elementos com o cotidiano que faz com que os jovens que tm contato com o movimento passem a ter um olhar crtico sobre a sociedade e criem um potencial de transformao social, seja local, nas suas comunidades, ou seja, uma transformao social mais ampla. Outro fator marcante no hip hop a construo da identidade negra, que uma identidade que foi historicamente negada no Brasil, e o hip - hop leva para as comunidades e periferias essa necessidade de armao, a histria do negro no Brasil, a importncia de se rmar essa identidade, esse orgulho do que a gente ; ele conta a histria no contada. Como exemplo disso, estudei em uma escola chamada Zumbi dos Palmares, mas nunca os professores falaram sobre quem foi Zumbi, eu s descobri quem ele era graas a uma letra de Rap.

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Larissa Prescinotto e Valdemir Silva: Qual a inuncia do hip hop na juventude da periferia e como ele pode ser usado na luta a favor de igualdade racial e social? Jaqueline Lima: Bom, o hip hop surge como instrumento de arregimentao poltica da sociedade negra e perifrica. Quando ele surge l em Nova York ele surge no s como uma ferramenta de diverso, mas como uma ferramenta poltica, por exemplo, os guetos de Nova York, onde surge ocialmente o hip hop era habitado por jovens negros e caribenhos, na sua maioria afro caribenhos. Existia em Nova York conitos entre comunidades e a dana, o breaking, serviu para acabar com as brigas, com as guerras nas comunidades, ou seja, invs desses jovens sarem nos tapas eles disputavam na dana, uma forma saudvel. O breaking mostra um pouco da realidade que os jovens viviam naquele momento, por exemplo, a questo da guerra do Vietn, a maioria dos enviados eram os jovens negros e eles temiam muito a isso, ento quando o B-Boy ou a B-Girl esto danando quebrado, aqueles passos quebrados esto representando um soldado voltando mutilado da guerra, ou quando coloca as pernas para cima e gira, a hlice do helicptero na guerra do Vietn, o corpo expressa um pouco da realidade que eles viviam,e eles danavam na batida do soul e do funk da msica negra que pregava a identidade e o orgulho negro. A maioria desses jovens que iniciaram o movimento hip hop era irmos mais novos dos Black Phanters, que foi um movimento importante na luta para um lugar do negro na sociedade norte americana. Nos guetos de Nova York aconteciam as festas de rua que eram os Sound Systens e ai que surge a gura do DJ ( Disk Jockey). As festas de rua comearam na

Jamaica. Os afros caribenhos migravam para os Estados Unidos em busca de melhores condies, mas quando chegavam l eles no encontraram condies de vida melhores. Ao contrrio, encontram racismo, preconceito, discriminao, excluso do negro na sociedade e, ento, eles levam essas festas de rua para l. Os DJS tocavam as msicas que era a msica negras norte - americana: soul, jazz, funk, e na intro e a deixa, que so os espaos da msica que cam sem fala, do acesso ao surgimento do MC ( Mestre de Cerimnia). Ele subia no palco para animar a festa, para falar de diverso, em geral e alm de falar de diverso falavam de sua realidade. Uma coisa muito particular era o grati, linguagem muito prpria dos integrantes das comunidades de falar de sua identidade, da sua histria, de seu orgulho e falar das coisas que iriam acontecer entre eles. Como eram muito perseguidos pela polcia, pela sociedade, ento atravs do grati eles conseguiam se comunicar. Aqui no Brasil tambm existia uma juventude negra, perifrica que estava excluda, marginalizada, que sofria violncia policial, reprimida pela sociedade. Esses jovens, atravs dos bailes Black dos anos 70 comeam a ser informados deste movimento e comeam a se identicar com coisas que, por exemplo, na escola eles nunca tiveram sua identidade valorizada, sempre foram marginalizados, aquele menino, que vai para a escola e chamado de todos os nomes pejorativos possveis pois ele negro, se bate em algum por causa disso expulso, ningum escuta que

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tipo de violncia ele sofreu, pois ningum esteve do lado dele, ningum falou nada diferente para ele, a professora no falou nada diferente e ele simplesmente deixa a escola, e isso existe ainda hoje, questes do tipo: por que aquela pessoa foi violenta e agrediu a outra pessoa? A gente no tinha um impacto de armao na sociedade, ento um cara vai ao baile e ouve a msica do James Brown: Grite bem alto sou negro e tenho orgulho disso, ou outras msicas, ou v os clipes e v os negros se movimentando, ele se identica, pois ele tambm vive uma realidade de excluso social no Brasil... Ento a maior inuncia do hip - hop aqui no Brasil na juventude foi essa questo da construo da identidade negra e estimular esses jovens a buscar transformao social atravs destes elementos. Larissa Prescinotto e Valdemir Silva: Voc acha que se houvesse mais oportunidades para esses jovens da periferia envolvidos com o hip - hop mudaria a temtica protestante de suas poesias? Jaqueline Lima: Sim. O hip hop em geral expresso de uma realidade, se essa juventude no vivesse a excluso, a marginalidade, a violncia policial, a represso, a falta dos direitos bsicos, eles poderiam falar s de diverso e alegria. Larissa Prescinotto e Valdemir Silva: Voc v obstculos dentro do movimento?

Jaqueline Lima: Pra mim o obstculo maior que tem dentro do movimento foi superado, era o discurso de vtima. Somos sim vtimas da sociedade, temos que assumir isso, mas se s zermos discurso de vtima a gente no muda nossa realidade, pois ningum vai dar nada pra gente, esse discurso que era um obstculo foi transformado, no ca s na vitimizao, mas sim o desejo de mudar nossa realidade . E o obstculo, que existe at dentro da prpria cultura, que vivemos em uma sociedade machista e o hip hop a expresso dessa sociedade. H uma contradio muito grande no hip hop, pois a maioria dos homens foi criado por suas mes solteiras, a maioria no conheceu a gura do pai e quando conheceu no teve o pai presente, ento eles exaltam a gura da me, e eles criticam totalmente a gura do pai, pois quem foi a guerreira na vida deles, quem cuidou deles, estimulou eles a mudarem de vida foi a me. Mas ao mesmo tempo toda mulher que no a me tratada no sentido pejorativo, ento eles acabam repetindo o que os pais deles zeram com as mes, por exemplo, os lhos deles talvez sejam criados s pelas mes, talvez os lhos deles faam o mesmo discurso que eles fazem sobre os pais, isso uma contradio e um obstculo no hip hop, que ainda um movimento machista, mas ele expresso de uma sociedade assim. Larissa Prescinotto e Valdemir Silva: Na sociedade h muitos mitos, por exemplo, dizer que no hip hop h muita violncia, h muita marginalizao, como voc v isso?

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Jaqueline Lima: O obstculo da sociedade : tudo o que da juventude negra estigmatizado. Historicamente a juventude negra foi tratada como marginal. A maioria das pessoas que esto na marginalidade so pessoas que moram nas periferias, a maioria destas pessoas so jovens negros, ento tudo que de negros, e principalmente de jovens negros, vai ser marginalizado nesta sociedade. E outra, o hip hop tem um discurso agressivo, a agressividade que esses jovens vivem que eles expressam atravs do gratti, da dana e da msica, ento as pessoas se incomodam de ouvir isso. O hip hop tem o objetivo tambm de resgatar. A eu olho para mim e para vrios outros amigos e vejo que nossa vida foi transformada e resgatada pelo movimento. Mas com este objetivo de resgatar, ele vai resgatar quem? Quem est na marginalidade. Ento ele atrai essas pessoas para perto de si, s que a sociedade no compreende o papel que este movimento tem cumprido nas comunidades, e a comea a ter este olhar do marginal, do agressivo. Eu acho que uma coisa que vai ser difcil de ser superada, a capoeira foi perseguida, proibida, prendiam pessoas em praa pblica. No candombl, os policiais invadiam terreiros, fechavam, era proibido. E o hip-hop uma manifestao mais contempornea da cultura negra, ento hoje ele perseguido pela polcia, reprimido. Se voc contesta a postura de um policial ele vai te perseguir, a gente vive numa sociedade onde, por exemplo, se eu estou aqui falando que a polcia violenta, a corporao policial no pode repensar e deixar de ser violenta? No, as pessoas levam para o lado pessoal e tentam agredir aquela pessoa que est fazendo o discurso. Por exemplo, a nossa sociedade racista, a sociedade brasileira racista, os dados mostram isso, mas enquanto a sociedade brasileira no admitir que raacista e no escutar os negros que esto falando que ela racista, ela no muda. Larissa Prescinotto e Valdemir Silva: O que voc v de promissor nessa cultura que ao mesmo tempo muito boa e persistente e tambm muito reprimida pela cultura brasileira?

Jaqueline Lima: O que vejo de promissor que o hip hop um instrumento de transformao social, ele transformou a vida de muitas pessoas, o rap deu uma potencialidade para mim e deu uma potencialidade para vrios amigos meus. Tem uma coisa que o Kl Jay que o DJ dos Racionais falava no programa dele: Nem sempre no hip- hop vai ter um rapper, um DJ, grateiro, danador de Breaking famoso, mas o hip hop est na nossa vida, tem um papel de transformao, ele cumpre um papel na nossa vida, ele traz novas expectativas, assim como eu houve vrias pessoas que saram do crime, da marginalidade, pessoas que tiveram o hip- hop como instrumento de transformao, que desenvolveram sua inteligncia atravs dele, seja nas artes plsticas, na escrita, na leitura, na msica, na discotecagem, seja o que for o hip - hop d elementos para desenvolver diversas habilidades.

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Capoeira art , dana a ra arte, e poesia, camar!Por Fabiana Batista, 17 anos, estudante curso ensino mdio, pretendo ser arquiteta, e moro no Continental II; e JAQUELINE BATISTA, 16 anos, estudante do ensino fundamental, pretendo ser sioterapeuta,e moro no Continental II

oje a presena da capoeira na sociedade brasileira contribui com a memria histrica e cultural do nosso pas. Mas, foram os negros, que aqui chegaram por voltam do sculo 16, que desenvolveram movimentos com a necessidade de lutar contra a opresso dos capatazes e senhor de engenho. Ao longo dos anos esses movimentos de pernas e braos caram conhecidos por capoeira angola e/ou regional. De acordo com o praticante de capoeira, Renato dos Santos, a diferena entre capoeira angola e regional que capoeira angola mais lenta e mais agachada, e a capoeira regional tem movimentos mais rpidos e feita em p. Ambos os tipos de capoeira tm em comum a roda, as ladainhas cantadas e musicadas com o som do berimbau, atabaque e do pandeiro. A capoeira alm de ser um elemento tpico da cultura brasileira, informao, arte marcial, jogo, luta e poesia.

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Informao til: Liga Regional Guarulhense de Capoeira Presidente Jos Lapa Filho A liga foi criada h 19 anos e reune 28 associaes e academias de capoeira

Culinria africana degustada em GuarulhosPor JAQUELINE SOARES VIEIRA, 16 anos, cursa o segundo ano do ensino mdio, mora no bairro Jardim Nova Cidade Guarulhos.

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frica por ser um continente muito grande, com 53 pases, inuencia na alimentao de outros povos e culturas espalhados por todo o globo terrestre. Podemos citar alguns exemplos de pratos da culinria africana que podem ser encontrados aqui em Guarulhos, como o cuscuz, o vatap, o tutu, a feijoada, o acaraj, os caldos, etc.

O inhame faz parte do cardpio de quase toda a populao de Guarulhos, e muito consumido em dias de frio. Para quem no sabe, o inhame cultivado em diferentes regies do continente africano e foi inserido na culinria brasileira por homens e mulheres de origem africana, que de acordo com o historiador Ubiratan

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Castro Arajo, chegaram em terras brasileiras por volta dos anos de 1541 (sculo 16), quando se estabelecia a rota atlntica do trco de pessoas para a Europa e, depois, para as Amricas (Brasil, Estados Unidos, Cuba, etc.), conduzido por espanhis e portugueses. Agora vamos falar de um prato tipicamente afro - brasileiro e que , provavelmente, consumido de norte a sul deste pas, os caldos. Abaixo segue a receita do caldo de inhame Abaixo segue a receita do Caldo de inhame: Ingredientes necessrios: 8 inhames pequenos 1 cenoura mdia 100 g de bacon 400 g de carne moda (patinho ou acm) 3 cebolas mdias 1 colher (sopa) de leo 1 colher rasa (caf) de colorau 1 colher (ch) de alho picado 1/2 litro de gua fervente Sal a gosto 1 laranja doce Cheiro verde a gosto 1 cubo de caldo de carne 12 azeitonas verdes sem caroo Passo a passo para o preparo do delicioso caldo de inhame 1- Coloque o inhame para cozinhar no vapor, deixe at o ponto de amassar com um garfo. 2- Tempere a carne moda com sal, cebola e pimentado-reino. 3 - Corte a cenoura em cubinhos e deixe de molho com o suco de laranja. 4 - Coloque a gua para ferver. 5 - Pique medtade de uma cebolas e a outra metade corte em rodelas grossas.

6 - Corte o bacon em pedacinhos e coloque em uma panela para fritar. 7 - Acrescente a carne e deixe refogar, acrescente colorau. 8 - Assim que a carne estiver pronta, com um caldo escuro, reserve em outra vasilha. 9 - Na mesma panela coloque o alho para fritar. 10 - Depois acrescente um pouco da gua fervente e dissolva o caldo de carne. 11 - Coloque um pouco mais da cebola picada e o inhame amassado, desmanche at que que todo homogneo. 12 Verique o sal e a quantidade de gua, deixe engrossar para no car ralo. 13 - Acrescente a cenoura e a carne e desligue o fogo aps trs minutos. 14 - Adicione o tempero verde, a cebola e as azeitonas. 15 - Arrume levemente com uma colher e sirva na prpria panela ou coloque em uma sopeira.

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uca

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Sobre a Lei 10.639/2003Ensino da Histria e Cultura Afro-Brasileira e Africana... Para alm da obrigatoriedade!Por Claudia S. Ferreira Lucena e Maria Arlete Bastos PereiraEstou convicto de que a nalidade da nossa educao reside no somente em educar um homem de esprito criador, um homem-cidado capacitado para participar com a mxima ecincia na edicao do Estado. Ns devemos educar, tambm, uma pessoa para que seja obrigatoriamente feliz. Anton Makarenko

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ste texto tem como proposta trazer algumas reexes sobre o processo de implementao da Lei 10.639/2003 - Obrigatoriedade do Ensino da Histria e Cultura Afro-Brasileira e Africana, e apresentar algumas nuances da histria de um grupo de prossionais da educao municipal de Guarulhos, intitulado GTPIR Grupo de Trabalho de Promoo da Igualdade Racial, o que iniciou sua trajetria no ano de 2002, na ocasio como Comisso Organizadora da Semana da Conscincia Negra. Constitudo por prossionais da Secretaria Municipal de Educao, este grupo desejava transcender as aes de promoo da igualdade racial para alm deste evento. Ao enfocarmos o processo de implementao da Lei 10.639/2003 evidenciamos tambm as experincias do GTPIR, posto que esta imbricado e permeado por muitos desaos, caminhos tortuosos, mas tambm xitos! Para compreendermos a dimenso destas armaes necessrio nos reportar a uma questo essencial: Qual a educao que buscamos? Acreditamos que traduzir uma educao a partir de princpios democrticos pens-la na perspectiva de construir uma sociedade capaz de assegurar direitos sociais, econmicos, polticos e culturais a todos e todas. Como arma Wallon, todos os educandos, quaisquer

que sejam as suas origens familiares, sociais tnicas, tm igual direito ao desenvolvimento, mximo que a sua personalidade implica (1977, p.178). Diante disto, a urgncia pela busca de uma poltica educacional que vislumbre um processo de transformao, o qual atue contra toda e qualquer forma de discriminao e excluso. Neste sentido, tnhamos a clareza de que traba lhar com a temtica da promoo da igualdade etnico racial no seria nada fcil, uma vez que envolve questes complexas

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e implica mudanas, tanto de discursos como de posturas reprodutoras de uma mentalidade racista e discriminatria, ainda to cristalizados no mbito da escola. No entanto compreendamos a importncia e a necessidade de seguirmos adiante, se buscvamos, de fato, uma educao igualitria. Na luta contra o racismo no temos receio em fazer uma armao: A educao tem um papel imprescindvel na reconstruo das imagens do povo negro, a m de superar as vises distorcidas instaladas h quatro sculos em nossa sociedade. Reconhecemos que, muito embora, o processo educativo no seja a nica via de acesso ao resgate da auto estima da criana, jovem e adulto negro, sem dvida uma das principais. Portanto, trabalhar identidade racial implica, o respeito diversidade cultural to presente na sociedade brasileira e que por vezes passa despercebida no espao da escola e da sala de aula. O primeiro passo nesta direo pressupe a desconstruo da crena de que vivemos em uma sociedade no racista - Mito da Democracia Racial- fundamentada na ideologia de que no vivemos em uma realidade de preconceitos e discriminaes de ordem racial, mas apenas de ordem social! Este processo ao invs de deagrar um contexto histrico cultural de desigualdades acaba por refor-lo. Precisamos olhar de frente para estas questes, compreendendo que o preconceito racial vem historicamente assumindo diferentes formas de manifestao. Atualmente lidamos com sua congurao mais desaadora: o racismo velado. Este no se traduz em cenas explcitas de racismo, uma vez que para reconhec-lo preciso apurar o olhar, s assim perceberemos como

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este est inserido, de forma naturalizada nas relaes do cotidiano. Na trajetria das aes de promoo da igualdade racial, uma das mais signicativas diz respeito incluso da temtica sobre o estudo da histria e cultura afro-brasileira (Lei 10.639/03) no currculo da escola. Acreditamos que esta Lei caracteriza-se como um divisor de guas na histria de nosso pas, no reconhecimento da diversidade etnicorracial que nos constitui, uma vez que busca dar visibilidade populao negra, do ponto de vista do direito ao autoco- nhecimento (identidade e diversidade), ao reconhecimento (humanidade e dignidade) e ao conhecimento (igualdade de oportunidades). Passados oito anos da promulgao da Lei, ainda encontramos diculdades em trabalhar com o tema. Como justicativa para tal diculdade so recorrentes queixas por parte dos educadores(as) sobre a falta de formao de recursos pedaggicos. No entanto, necessrio considerar que outros aspectos tambm interferem no processo de implementao da Lei, relembrando que somos produto de uma educao eurocntrica e, em funo desta, acabamos por reproduzir consciente ou inconscientemente os preconceitos que permeiam nossa sociedade, o que rearma a necessidade de polticas de formao docente com foco na reexo sobre as desigualdades raciais que permeiam o espao escolar. Em relao a este aspecto podemos classic-lo como o ncleo duro das aes de promoo da igualdade tnicorracial, como nos lembra Kabengele Munanga: As chances da escola ser um ncleo de resistncia e de abrigo contra violncia racial dependem de uma completa virada de jogo... Na verdade, uma obra sobre a superao do racismo na escola ser sempre um libelo contra uma das mais perversas formas de violncia perpetradas cotidianamente na sociedade brasileira. A violncia racial

o o a a c c Edu Eduescolar atenta contra o presente, deforma o passado e corri o futuro (2005, p.204). Diante deste cenrio, a Secretaria Municipal de Educao de Guarulhos, fundamenta-se em uma poltica de educao que rearma a importncia de ampliar a discusso do respeito diversidade etnicorracial, de gnero, de classe social e regional. Desde 2001, promove aes e discusses procurando ampliar esta temtica em todos os nveis de ensino da Rede Municipal (Educao Infantil, Ensino Fundamental e de Jovens e Adultos), inclusive antecipando-se `a Lei 10.639/03 `a Lei 11.645/08. Neste percurso foram alcanados avanos signicativos das Polticas de Promoo da Igualdade etnicorracial na educao municipal. Ilustraremos estes avanos por meio de algumas aes desenvolvidas, mais recentemente, como a Proposta Curricular da Rede Municipal Quadro de Saberes Necessrios (QSN), elaborada coletivamente no ano de 2009, na qual a temtica sobre o estudo da histria e cultura afro-brasileira e dos povos indgenas brasileiros abordada luz da concepo de uma educao humanizadora e libertadora. Alm desta ao, destacamos a Poltica de Formao Permanente aos Educadores (as) da Rede; o Prmio Akoni de Promoo da Igualdade Racial que tem como objetivo por meio das produes dos(as) educandos(as) reconhecer e estimular prticas pedaggicas sobre esta temtica; a criao na estrutura organizacional da Secretaria de Educao de uma Seo com enfoque em aes educativas para igualdade racial e de gnero e a publicao da Revista Ashanti de Promoo da Igualdade Racial. No temos dvida de que muitos passos foram dados, contudo temos conscincia de que muitos desaos ainda permanecem... E tambm, a esperana de que a promoo da igualdade etnico racial no seja um tema restrito aos negros militantes, mas de todos e todas (brancos, amarelos e indgenas) que lutam pela melhoria das condies sociais, econmicas e psquicas da populao negra, na busca de uma sociedade pautada em princpios de equidade e alteridade. Uma sociedade na qual todas as vozes possam ser ouvidas!

Claudia S. F. Lucena - psicloga escolar, coordena a Seo Tcnica de Aes Educativas para Igualdade Racial e de Gnero da Secretaria Municipal de Educao e o Grupo de Trabalho de Promoo da Igualdade Racial da Secretaria de Educao de Guarulhos GTPIR. *Maria Arlete Bastos Pereira - psicloga escolar, mestranda do Programa Educao e Sade na Infncia e Adolescncia da Universidade Federal de So Paulo UNIFESP, atua na Diviso Tcnica de Polticas para Diversidade e Incluso Educacional e membro do Grupo de Trabalho de Promoo da Igualdade Racial da Secretaria de Educao de Guarulhos GTPIR.

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REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS MAYER, Bel Santos Coerncia necessria para a Promoo da igualdade Racial. Revista Ashanti, n.01, Guarulhos-SP: Secretaria de Educao, nov.2010. MUNANGA, Kabengele - Superando o Racismo na Escola, SECAD/MEC, Editora SECAD, 2 ed, 2005. WALLON, Henri et al. Plano de Reforma Langevin-Wallon. In: MERANI, Alberto L. Psicologia e Pedagogia: as idias pedaggicas de Henri Wallon. Lisboa: Editorial Notcias, 1977.

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DICA DE LEITURAPor Rita De Ftima Rodrigues, tenho 44 anos casada me de trs lhos, atualmente fao trabalho social na comunidade So Rafael, Guarulhos.

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ste livro o resultado de uma pesquisa desenvolvida entre 2003 e 2007 no centro de Pesquisa e Documentao de Histria Contempornea do Brasil (CPDOC), da Fundao Getlio Vargas. Inicialmente com o objetivo de formar um banco de entrevista com lideranas do Movimento negro no Brasil, a partir das dcadas de 1970 e 1980 em todas as regies do pas. Histrias como a da criao do Grupo Palmares no Rio Grande do Sul, em 1971, a da fundao do primeiro bloco afro na Bahia, o Il Aiy em 1974, assim como a formao do centro de estudos e defesa do negro no Par, em 1980, por exemplo, esto pela primeira vez, lado a lado com histrias de organizaes criadas no Rio de Janeiro e So Paulo. O livro no aborda, somente, as primeiras organizaes de movimento negro da histria do pas, como mostra as inmeras notas e a cronologia que completa o livro, mas daquelas que surgiram em pleno regime militar e se proliferaram a partir do lento processo de abertura poltica, e numa conjuntura interna- cional na qual ganharam fora as lutas pela libertao das colnias portuguesas na frica e a repercusso dos movimentos pelos direitos civis nos EUA. Alm da trajetria do movimento e das experincias de algumas de suas principais lide- ranas, o livro discute temas com grande visibilidade, como a implementao de polticas de ao armativa, incluindo as cotas raciais nas universidades, o reconhecimento de propriedades de terras das populaes quilombolas e da participao de militantes em diferentes instncias do poder pblico. Como disse acima o livro de leitura fcil ,nele temos a chance de conhecer nosso passado para entender nosso presente e futuro.

Servio: Alberti, Verena. Histrias do movimento negro no Brasil. Editora: Pallas. Ano 2008 - pginas: 528. Preo sugerido: R$ 44,90

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uca

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pALMAS E VAIASPor Natlia Cristina Alves De Brito, participou da primeira turma da Ocina de Comunicao.

Uma dica de leitura para o pblico jovem

Servio: O livro Palmas e vais da Editora Pallas, tem 28 pgina e pode ser encontrado em qualquer livraria, custa em torno de R$ 30,00.

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livro Palmas e vais aborda os desaos de uma jovem que vivencia diversas transformaes. Neste livro temos a narrao de uma histria muito interessante, que conta para ns a vida da personagem Florpedes. Essa personagem comea a viver diversas experincias quando descobre que deixou de ser criana para se tornar adolescente. Florpedes experimenta as mudanas da adolescncia. Comea a modicar o corte de cabelo, inicia as dores de dentes, os seios comeam a crescer e comea a sentir e ver que o corpinho tambm sofreu mudanas. Alm

disso, Florpedes enfrenta mais reviravoltas: ela muda de bairro e muda de escola. Ela precisa ento fazer novos amigos e conhecer os novos professores, mas se depara com as diferenas e, para super-las, decide optar pelo amor, pelo carinho e pela ateno de sua me. A autora do livro Palmas e vaias a Professora e escritora Snia Rosa. Esse livro a dcima oitava publicao dessa educadora. Vale a pena ler, convide as suas irms, amigas e/ ou os seus irmos e amigos para embarcar nesta leitura prazerosa.

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Histria Povos indgenas em GuarulhosEntrevista com Aw Kuaray WeraPor ALEX GODOI PINHEIRO, da Secretaria de Comunicao da Prefeitura de Guarulhos

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m 1500, os portugueses chegaram ao litoral brasileiro, dando incio a um processo de explorao de suas riquezas que se estenderia at nal do sculo 19. Aos poucos foram migrando e se estabelecendo nas terras que eram ocupadas pelos povos indgenas. Primeiro tentaram escraviz-los na

extrao do pau-brasil. Como eles resistiam e fugiam para o interior do Pas, foram em busca dos africanos para a explorao do ouro, do cultivo da cana de acar e do caf. Situao que perdurou at 1888, quando ento novo surto migratrio veio a ocorrer com o ingresso de europeus de vrias naes. O processo de colonizao levou extino de muitas sociedades indgenas que viviam no territrio, seja pela ao das armas, seja em decorrncia do contgio por doenas trazidas pelos brancos, ou, ainda, pela aplicao de polticas visando assimilao dos ndios nova sociedade de forte inuncia europeia. Hoje, no Brasil, vivem cerca de 519 mil ndios, distribudos entre 225 sociedades indgenas, que perfazem cerca de 0,4% da populao brasileira. Este dado populacional considera to-somente aqueles indgenas que vivem em aldeias, havendo estimativas de que, alm destes, h entre 100 e 190 mil vivendo fora das terras indgenas, inclusive em reas urbanas. H tambm 63 referncias de ndios ainda nocontatados, alm de existirem grupos que esto requerendo o reconhecimento de sua condio indgena junto Fundao Nacional do Indio ( FUNAI), orgo federal que estabelece e desenvolve politicas publica em favor das populaes indgenas no Brasil.

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Indgenas de Guarulhos lutam pelos seus direitos

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m Guarulhos, os cerca de 300 ndios remanescentes das etnias Pankarar, Pankarar, Xucur, Cariri Xoc, Cariri, Terena, Patax, Tupi-Guarani, Guarani, Xavante e Wassu Cocal, em parceria com a Coordenadoria da Igualdade Racial (CIR), por meio do Projeto Xikelela e da Associao Arte Nativa Indgena, realizam ocinas de cultura dos povos indgenas nas escolas municipais, disseminando conhecimento de costumes, rituais e crenas por meio da tradio oral, proporcionando aos alunos vivncias de canto e dana, e explorando toda a arte do artesanato indgena. A Associao Arte Nativa Indgena de Guarulhos visa lutar pelos direitos dos po- vos indgenas urbanos, alm de participar de conferncias de promoo da igualdade racial. Nosso entrevistado Aw Kuaray Wera presidente da Associao Arte Nativa e tambm integrante do Grupo de Trabalho Permanente pelas Populaes Indgenas da Prefeitura Municipal de Guarulhos. A atribuio principal Grupo de Trabalho elaborar estratgias e propor diretrizes e planos de ao para atender demanda dos povos indgenas do municpio. Nesta entrevista Aw Wera conta um pouco de sua trajetria na cidade, sua relao com as aldeias existentes no estado de So Paulo, alm das atividades e atribuies desenvolvidas pela associao no municpio. Revista H quanto tempo voc est em Guaru- lhos e qual a sua origem? Aw Moro em Guarulhos desde 2004, no bairro Inocoop. Sou casado com Cida (a esposa de Aw descendente da aldeia Kaingang, do Rio Grande do Sul) e no tenho lhos. Antes de vir para Guarulhos, morava na cidade de Perube (SP), onde nasci e fui criado, junta-

mente com outros integrantes da aldeia Bananal, a mais antiga do Estado de So Paulo, com mais de 300 anos de existncia. Revista Quais eram suas atividades antes da criao da Associao Arte Nativa Indgena? Aw Quando morava em Perube, minhas atividades eram a confeco de artesanatos, apresentao em palestras, alm da prtica de danas tpicas e outras atribuies que pudessem gerar algum tipo de renda para a aldeia. Revista Conte um pouco sobre a atuao da Associao Arte Nativa Indgena na cidade de Guarulhos. Como e quando surgiu a ideia de cri-la? Aw Antes da criao da Arte Nativa, os integrantes das aldeias do Estado de So Paulo sempre se reuniam em diversas regies, na forma de cooperativas, com o intuito de criar opes para melhorar a condio de vida do

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Histria

povo indgena. No meu caso, j atuava juntamente com outros parceiros da aldeia na busca de atrativos para a sobrevivncia de nossos irmos, porm faltava algo mais organizado. Em 2004, surgiu a ideia de criarmos uma associao que pudesse participar mais da vida poltica da cidade, sugerindo, debatendo e discutindo assuntos que fossem de interesse da populao indgena. No incio, a Arte Nativa desenvolvia apenas projetos culturais, como artesanato, danas, ocinas, entre outros. Aps esse perodo, as atividades passaram a ser desempenhadas em parcerias, primeiramente com a Secretaria do Trabalho e, em seguida, com a Secretaria de Assistncia Social. Revista Na sua viso, quais so os principais obstculos enfrentados pelos indgenas na cidade de Guarulhos? Aw A comunidade indgena necessita de um espao para poder exibir seus trabalhos, apresentar sua cultura populao, enm, mostrar que existe algo de bom dentro das aldeias e que, ns ndios, tambm somos

capazes de realizar muitas coisas. Ns recebemos a ajuda da Funasa (Fundao Nacional de Sade), que presta todo atendimento mdico nas aldeias, alm da Secretaria Municipal de Sade, que tambm tem ajudado no apoio aos necessitados. No ltimo ano, a Prefeitura de Guarulhos passou a olhar a questo do ndio de forma diferente, ouvindo nossas necessidades e analisando as propostas apresentadas pela associao. Sabemos das diculdades encontradas em apoiar uma comunidade indgena, porm temos esperana de conseguir bons resultados e melhores condies num futuro prximo. Revista Existe alguma programao voltada para a comunidade indgena para o prximo ano? Aw Em 2011 teremos a 4 edio do Encontro dos Povos Indgenas, a Semana de Educao Indgena, alm do 1 Encontro das Mulheres Indgenas. Outras atividades devem surgir ao longo do ano, porm ainda no esto conrmadas.

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Curiosidades em GuarulhosPor Letcia Santos de Oliveira

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ixiguentos - Guarulhos uma cidade cheia de encantos, diversidade tnicorracial representada por diversos grupos, como os povos ciganos, negros, indgenas e brancos. Guarulhos tem uma populao imensa que no pra de crescer. Para termos ideia, esta a segunda maior cidade do estado de So Paulo, com 1.299.283 habitantes. De acordo com o jornal Independente, aproximadamente, h 140 anos existia um cemitrio onde, hoje, situa-se a Escola Estadual Capistrano de Abreu, na Rua Capito Gabriel, esquina com a Rua Telo - Centro. Na poca, as pessoas que morriam pela manh, por conta do nmero de incidncia de pessoas que contraram a varola, eram enterradas apenas noite. Pois, acreditava-se que pela manh a doena se alastraria com facili-

dade, por conta do calor e do ar quente, e por esse fato, essa regio co, e conhecida como Bixiguentos. Ervas que curam - Atravs de dados obtidos por uma moradora do bairro Continental III, Dona Maria Vilani Santos, de 51 anos, conclui-se que 75% da populao, tem ervas em suas casas que servem para curar diversas doenas, porm muitas dessas pessoas no sabem como utiliz-la. Mas atravs de Dona Maria, que carrega consigo alguns conhecimentos herdados por suas avs, conseguimos saber quais os benefcios do poejo, espcie de hortel mida. Ento anote esta dica: beba ch de poejo com hortel grada para combater gripe e resfriado, tambm descongestiona o nariz, alivia dores pelo corpo e elimina a febre.

Histria Bairro dos PimentasPor: Jenifer Felisbino Leiguez, Letcia Fritacia Bazan, Miquelina Rodrigues Mendes E Daylane De Almeida, todas participaram da primeira turma da Ocina de Comunicao.

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ntigamente, o bairro Pimentas, assim como vrios bairros guarulhenses, j havia dado lugar para pequenas chcaras e fazendas. Passados os anos foram sendo transformadas em bairros. Hoje o Pimentas considerado um Distrito do municpio de Guarulhos, ocupando uma rea de 318,014 quilmetros quadrados, com milhares de moradores. Vim morar no bairro Pimentas no ano de 1978, poca da ditadura militar (1964-1985), pois queria o meu terreno prprio. E como o bairro estava comeando, se-

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Histriaria mais fcil comprar, conta a dona de casa aposentada Lindaura Panta da Silva, 63 anos, nascida em Serra Talhada, interior do estado de Pernambuco. O relato de Dona Lindaura remete a um passado no to longe, mas esta facilidade de comprar um terreno no faz parte da realidade atual. De acordo com moradores que moram nessas regies h mais de trs dcadas, alguns dos proprietrios das terras batizaram esses locais com os nomes de seus lhos e lhas, como exemplo: Jurema, Anglica e Stella. Dona Lindaura diz ainda que o bairro Pimentas no tinha muitas ruas formadas, s tinha uma escola pequena de madeira que se chama E.E. Professora Mario Nakata. At os postes de luz eltrica passavam bem longe da minha casa, morei um ano sem luz . O orelho de telefone era bem distante e s tinha um,tinha muito mato no bairro, alguns barracos, um mais distante que o outro, no tinha padaria nem supermercado, a nica venda que tinha era a do Seu Antnio, que tambm era longe. De pouco em pouco foram abrindo as ruas, foi aumentando a populao e foram construindo mais escolas. E agora est assim, um bairro bom, com muitas coisas, mais perto de nossas casas e bem desenvolvido, relata Dona Lindaura. Andando pelas ruelas do bairro Pimentas, sem o cheiro das pimentas porque no h mais plantaes de pimentas, percebe-se que houve uma evoluo imensa, bem como armou Dona Lindaura, entre o ano de 1978 at hoje (2011), pois atualmente o bairro est cada vez mais desenvolvido. Hoje h escolas pblicas e privadas, hospitais, unidades de sade, farmcias, padarias, ruas asfaltadas, shopping, praas, entre outros espaos pblicos. Ainda assim Dona Lindaura gostaria que tivesse mais escolas tcnicas perto e mais espao de lazer, tanto para os jovens, quanto para as pessoas adultas e idosas, disse Dona Lindaura. mentas) citado na histria de Guarulhos como cenrio de explorao dos povos indgenas e africanos, que aqui chegaram na condio de escravizados. Antigamente, o bairro Pimentas, como vrios outros bairros guarulhenses, era formado por chcaras e fazendas. O bairro Pimentas um distrito de Guarulhos formado por mais de 40 comunidades e est localizado na regio leste deste municpio.

Origem do nome bairro das Pimentas O bairro So Miguel, mais conhecido atualmente como bairro dos Pimentas. Esse nome foi dado a essa regio devido a antiga plantao de pimentas, cultivada por povos indgenas. Em 1817 o bairro So Miguel (Pi-

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A presena da populao indgena em GarulhosPor Leuri Laine De Oliveira, 16 anos, mora no bairro de Jardim Cumbica, estudante do primeiro ano do ensino mdio.

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inda no sculo 16 o municpio que conhecemos por Guarulhos j foi chamado de Aldeia de Nossa Se- nhora da Conceio, provavelmente denominada pelos padres Joo lvares, Manuel de Paiva ou Manuel Viegas. De acordo com dados histricos, teve seu nome mudado e abreviado para Conceio de Guaru- lhos, emancipada em 24 de maro de 1880. Antes dessa data o municpio de Guarulhos era admi-nistrado pela capital do estado de So Paulo. As primeiras pessoas a habitarem este municpio foram os indgenas do grupo tnico maromomi. De acordo com os pesquisadores Elton Soares de Oliveira e Maria Cludia Viera Fernandes, as primeiras manifestaes de resistncia fsica e cultural vieram dos ndios que no aceitaram docilmente a tentativa de aldeamento imposto pelos colonizadores portugueses, em seguida pelos negros sequestrados na frica e escravizados no territrio guarulhense. Em 2008 aconteceu o primeiro Encontro Indgena no municpio de Guarulhos, realizado no dia 22 de julho, nesse encontro estiveram presentes cerca de 800 pessoas. Esse encontro contou com a participao de dife-

rentes povos indgenas, como os povos da etnia Pankararu, Tupi-Guarani, Pankarar, Wassu Cocal, Tupinamb, Xavante e Kariri Xoko. De acordo com informaes encontradas na pgina virtual do Conselho Indigenista Missionrio (CIMI), a lder do grupo tnico Wassu Cocal, Diva da Silva, disse que o objetivo do Encontro lutar pelos nossos direitos, pois s unidos venceremos. Nossos pais morreram, mas o sangue deles corre nas nossas veias. Estou muito feliz por ser indgena e no tenho vergonha por dizer que sou ndia, enfatiza. A Associao Indgena de Guarulhos trabalha com vrios grupos tnicos indgenas, essa associao os atua desde o ano de 2004. Hoje, a associao participa de eventos, realiza apresentaes artsticas e culturais em escolas, realiza palestras, exposies e atende de modo geral toda a populao indgena presente no municpio de Guarulhos.

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Histria

Casa da Candinha - ProspectivoPatrimnio Cultural e AmbientalPor Elmi E. H. Omar. Escritor, professor, pesquisador em histria e correlatas. Conselheiro do Compir e do Comtur; [email protected].

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e voc leitor guarulhense, j deve ter ouvido falar na Casa da Candinha, a antiga casa sede da Fazenda Bananal. Inicialmente smbolo de um poder voraz escravocrata, hoje se encontra num perodo embrionrio que produzir um Centro de Histria e Memria das Culturas Negras, um local com potencialidade de preservao ambiental e produo da igualdade humana. Localizada numa regio que ainda preserva o bioma natural, passa por um perodo de transio; parte de um estmulo ao aprofundamento de estudos e aes igualitrias e ambientais, para responder perguntas inquietantes como: Quem eram os escravos que trabalharam compulsoriamente em Conceio dos Guarulhos? Como eram as relaes sociais envolvidas no processo escravista e ps-abolio? Quais foram os agentes sociais que participaram na metamorfose e ruptura da mentalidade escravista ocorridas neste territrio? E nalmente, quais as pretenses em relao implantao desse centro de estudos? H alguns anos elaboro essa pesquisa, e com apoio da CIR (Coordenadoria da Igualdade Racial) produzimos um primeiro ensaio, a ser lanado em forma de livro em maro de 2011 (CASA DA CANDINHA RUPTURA E METAMORFOSE - De Casa Grande a Centro de Histria e Memria das Culturas Negras, DDR Editora, 2011), que servir como fomento a identicao e historicidade dos autores negros e seus descendentes da histria paulista e guarulhense, sem o vcio comum de estigmatiz-los como submissos e ideais escravos. Rebelies dos escravizados, inclusive do ndio, foram identicadas, alm da considerao de um possvel plo de resistncia quilombola em Guarulhos. Porm, para realizao plena desse

projeto, muitas coisas ainda tero de ser discutidas e realizadas tendo em vista a concretizao desse centro de estudos; constatamos ainda que o estudado at esse momento apenas uma base para essas consecues. Um dos pontos mais importantes a discusso sobre o trajeto e forma do Rodoanel. Antes de considerarmos esse tema, importante abordar a esperana de a Casa da Can dinha, constituda em unidade de conservao, associe atributos histricos e culturais aos ambientais, possibilitando assim a criao de uma zona de amortecimento do avano urbano. O resultado esperado da incluso do Centro de Histria e Memria das Culturas Negras (Casa da Candinha), o fortalecimento e formao de um corredor ecolgico, com a criao da APA (rea de Proteo Ambiental) Cabu-Tanque Grande fazendo a ligao com a APA Paraba do Sul e APA Federal do Jaguari, preservando importantes reas de mananciais no Estado de So Paulo. Retornando a questo do Rodoanel, esbarramos em outro interesse que a especulao imobiliria advinda da construo dessa via de ligao que prioriza o transporte rodovirio, j saturado. Inmeros especialistas renomados armam que a construo do trecho Norte do Rodoanel poder acentuar o problema de ocupao em reas de mananciais importantes na Serra da Cantareira, que de certa forma, resistiram urbanizao. Destacamos tambm que dependendo do traado e nvel em relao ao solo, do trecho Norte, o Rodoanel poder isolar ou incrementar o Parque Natural Municipal da Cultura Negra Stio da Candinha e o Centro de Histria e Memria das Culturas Negras (Casa da Candinha), onde foram investidos mais

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de um milho de reais, provenientes dos cofres pblicos. No momento da escrita desse artigo (1 quinzena de janeiro de 2011), h grande ansiedade de como sero discutidas essas questes nas audincias pblicas programadas. Esperamos e contribuiremos para que os lados antagnicos tenham bom senso, modstia e humildade. Destacamos essas qualidades, pois observamos

com as chuvas desse incio de janeiro de 2011 grandes tragdias anunciadas, resultado de ocupaes urbanas que comumente chamamos de desordenadas. Na verdade, nada tem de desordenado e muito tem de descuidado e arrogante. A histria tem mostrado que o homem no o dominante sobre a natureza e, quando tem essa atitude, muito lhe cobrado.

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Racismo , Xenofobia, Intolerncia, Discriminao

Racismo? Pra qu?!Por Miriam Teixeira De Souza, negra, residente na Vila Barros, graduada e licenciada em literatura e lngua portuguesa e estudante da lngua inglesa.

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racismo um problema que atravessa os sculos e, infelizmente, permeia todos os mbitos da nossa sociedade. Mas, anal o que racismo? Antes de mais nada, a prtica do racismo crime, aqui no Brasil e em todo o globo terrestre. Agora denindo racismo: quando um grupo tnicorracial se julga superior a outro num dado contexto social. O racismo tem sido visto de diversos modos ao longo da histria. Mas para a realidade do Brasil o racismo do qual falamos refere-se ao branco contra o negro. O perodo da escravizao de pessoas negras oriundas de diversos pases do continente africano uma marca negativa na construo de identidade do negro na trajetria da sociedade brasileira. Hoje, ouvem-se relatos de pessoas que so maltratadas e discriminadas em escolas, bancos e outros lugares pelo simples fato de serem negras. Em questo do racismo contra o negro, paira uma pergunta no ar: por que a cor da pele de um ser humano sinaliza que esse inferior a outro com tonalidade da cor da pele diferente, se a questo tem a ver to-somente com mais ou menos melanina?

Sabemos que a origem da raiz deste preconceito no de hoje, no! Desde quando os europeus comearam a tracar pessoas de diversos pases do continente africano, a escravatura, com certeza, tornou-se uma arma para que se disseminasse no subconsciente do mundo inteiro que o negro inferior a todos os outros seres humanos. Esta a razo por que o ser humano que tem a cor de pele negra so- freu e sofre preconceitos na sociedade de hoje, que o menospreza e o exclui. Todos nascem, vivem, sofrem, choram, alegram-se e um dia todos morrem... A pergunta que no quer calar: De que serve esta prtica desumana de alguns que se sentem melhores devido a sua cor de pele?. Para que serve isto? Qual a utilidade deste preconceito que est impregnado nas mentes de outros seres humanos?! Destaque-se aqui o feliz slogan criado pelo geneticista francs Andr Longaney: Hoje em dia sabemos que somos todos parentes e todos diferentes. Anal podemos sim viver em igualdade racial! Ningum melhor que ningum! Acredite!

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Racismo , Xenofobia, Intolerncia, Discriminao

Candombl: religiosidade de matriz africanaPor Brbara Aparecida Lins Silva, participou da primeira turma da Ocina de Comunicao.

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o perodo em que era permitida a escravizao, pessoas de diversos pases da frica (Angola, Nigria, Congo, etc). foram aprisionadas e trazidas aqui para o Brasil para trabalhar como escravas(os). Elas eram transportadas em navios lotados de crianas, homens e mulheres em condies to precrias que boa parte morria na travessia do Atlntico. Essas pessoas trouxeram consigo costumes culturais de diferentes regies da frica. O smbolo cultural dos povos africanos que vieram para o Brasil que mais resistiu e que est presente at os dias atuais a religio. Segundo alguns pesquisadores, o Candombl nasce no Brasil, mas tem muitas semelhanas com outras religies seguidas em pases africanos, como na Nigria entre os povos iorubs. Aqui no Brasil, a escravido foi abolida em 1888, nal do sculo 19, e a partir de ento os antigos escravos e seus descendentes foram se integrando sociedade brasileira como cidados. Para os povos yorubs, Olorun o deus supremo, esse foi quem criou outras divindades ou semideuses. Os riss, que cultuamos atravs do Candombl, so foras elementares, oriundas da gua, da terra, do ar e do fogo. Candombl Os Terreiros de Candombl da nao Ketu representam a maior e a mais popular religio de matriz africana, aqui no Brasil. O Candombl nasceu da necessidade dos negros de poderem realizar ri tuais religiosos, que por muitas dcadas foram proibidos pelos senhores de escravos e pelo catolicismo. E para driblar essa proibio, os negros faziam seus

assentamentos e escondiam os elementos referentes a cada riss, preferencialmente fazendo um buraco no cho que depois era coberto e por cima colocavam um santo catlico; cantavam e danavam em homenagem quele(a) Santo(a) catlico, surgindo assim o sincretismo religioso. Mais tarde o culto aos riss foi sendo permitido, graas `as lutas de resistncia da populao negra. O Candombl passou a ser uma das religies de matriz africana que mais representou a resistncia do povo negro. E hoje tem garantido seu direito de expresso pela Constituio Federal do Brasil de 1988 que declarou livre toda e quaisquer prticas e/ou rituais religiosos.

Vocabulrio do Candombl riss= Orixs = Divindades elementares que simbolizam a vida atravs do fogo, das plantas, dos rios, do mar, do ar e da terra. Ialorix = Me de Santo. Babalorix = Pai de Santo. Iakeker = Me pequena. Babakeker = Pai pequeno. Agibon = Me criadeira. Ebomi = Pessoas que cumpriram o perodo de sete (7) anos da iniciao. Ibass =Mulher responsvel pela preparao das comidas. Ogans = Tocadores de atabaques. Ekedi = Camareira de Orix. Alab = Responsvel pelos atabaques e toques. Ia = Filho de santo que entra em transe.

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Racismo e desigualdade social no dia a diaPor Filipe Luiz Almerindo, tenho 16 anos, sou estudante do 1 colegial (E.E. Therezinha Closa Eleutrio), moro no bairro dos Pimentas e me considero descendente indgena.

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racismo existente em toda parte, nas cidades, casas de shows, mercados, lojas, etc... Muitas pessoas brancas discriminam os negros por serem negros, alguns negros tambm tem preconceito com pessoas de pele branca. De toda forma o preconceito existente de ambas as partes. No dia a dia o preconceito existe, pois muitas pessoas no entendem que ambos somos iguais, negros, brancos, indgenas, ambos somos iguais todos somos seres humanos! A cultura negra inuencia em toda a cultura do Brasil. Essa inuncia pode ser percebida atravs da msica, danas, comidas entre outros elementos presentes em nossa sociedade. Mas, esta sociedade, na maioria das vezes, no enxerga essas contribuies do negro. Hoje em dia no existe muito preconceito racial como

antigamente, mas muitas pessoas so preconceituosas com pessoas negras que tem forte inuncia na sociedade ou que tem um cargo na empresa elevado. Muitas pessoas brancas no aceitam ter uma pessoa negra como seu superior ou algum que lhe d ordens. Pois, hoje em dia, o negro tem mais oport