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1 UNIVERSIDADE - Revista da Ufes - Jan/Abr 2013 De volta à Antártica Revista da Universidade Federal do Espírito Santo UFES Jan/Abr 2013 • Ano 1 • Nº 1 Equipe de pesquisadores da Ufes, a única na América Latina a desenvolver estudos em tecnologia de edificações no Continente, trabalha para que a nova estação do Brasil na Antártica seja referência mundial UNIVERSIDADE

Revista Universidade | n° 01

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Revista de Jornalismo Científico, Cultura, Variedades produzida pela Superintendênica de Cultura e Comunicação da Universidade Federal do Espírito Santo

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1UNIVERSIDADE - Revista da Ufes - Jan/Abr 2013

De volta à Antártica

Revista da Universidade Federal do Espírito Santo • UFESJan/Abr 2013 • Ano 1 • Nº 1

Equipe de pesquisadores da Ufes, a única na América Latina a desenvolver estudos em

tecnologia de edificações no Continente, trabalha para que a nova estação do Brasil na Antártica

seja referência mundial

Universidade

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Ufes | Qualidade de Ensino

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A divulgação científica em pauta

A busca pelo saber é a essência da universidade e a produção de ciência e tecnologia, um de seus pilares. A Universidade Federal do Espírito Santo alcançou, ao longo de quase seis décadas, uma real e avançada dimensão na pesquisa científica e tecnológica. Essa elevada produção, em diferentes áreas, a aproxima das melhores e mais con-ceituadas universidades do País; sendo, inclusive, referência nacional e mesmo internacional quando se trata de pesquisa. Por essa consistente realidade acadêmica é que a Ufes lança esta nova publicação, em sua primeira edição, com foco na divulgação da sua produção de ciência, tecnologia e inovação.

Assim, e por meio de um grande esforço da Administração Uni-versitária, estamos nos alinhando às principais instituições de ensino e pesquisa que já possuem, consolidados, os seus instrumentos de divul-gação científica. Isto prestigia e reconhece o valoroso trabalho desen-volvido pelos pesquisadores, bem como publiciza e informa a sociedade sobre o que uma universidade pública, como a nossa, está produzindo. O projeto editorial e gráfico desta publicação, bem como a elaboração de pautas, textos, imagens e arte, foram idealizados e produzidos, com criatividade e empenho, pelos nossos profissionais da Superintendên-cia de Cultura e Comunicação (Supecc). Nossa revista será, certamente, mais uma importante ferramenta de informação da Ufes para a comuni-dade acadêmica e a sociedade.

O conceito de universidade, fundamentalmente, pressupõe am-bientes de geração do saber, de modo universalizado, contemplando a multiplicidade do conhecimento. Um espaço onde o pensamento se potencialize e onde o ensino, a pesquisa e a extensão se interajam e se multipliquem. Nesse contexto, uma revista de divulgação científica – como é o propósito desta publicação – vem se inserir neste rico e fértil espaço da pesquisa em todas as áreas e em todos os campi da Ufes. E já nesta primeira edição é possível ter uma clara noção da qualidade da nossa produção de ciência e tecnologia. Seu conteúdo editorial de-monstra a elevada capacidade dos nossos pesquisadores e o significa-tivo potencial da nossa Universidade. Que a nossa revista seja muito bem-vinda, e que tenha vida longa.

Reinaldo CentoducatteReitor

Apresentação

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Universidade Federal do Espírito Santo • Ufes

ReitorReinaldo CentoducatteVice-ReitoraMaria Aparecida Correa BarretoPró-Reitor de AdministraçãoAmarílio Ferreira NetoPró-Reitor de ExtensãoAparecido José CirilloPró-Reitora de GraduaçãoMaria Auxiliadora de Carvalho CorassaPró-Reitora de Gestão de Pessoas e Assistência EstudantilMaria Lucia CasatePró-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento InstitucionalMaximilian Serguei MesquitaPró-Reitor de Pesquisa e Pós-GraduaçãoNeyval Costa Reis JuniorSuperintendente de Cultura e ComunicaçãoRuth Reis

UNIVERSIDADERevista de Jornalismo Científico • Cultura • Variedades produzida pela Superintendênica de Cultura e Comunicação da Universidade Federal do Espírito Santo

Secretária de Comunicação Thereza MarinhoCoordenadora do Núcleo de Divulgação Científica Emília ManenteCoordenador do Núcleo de Comunicação InstitucionalLuiz Vital

Conselho editorial Maria Aparecida Correa Barreto • José Gerado Mill • Alberto Ferreira • Alberto Fernandes • José Antonio Martinuzzo • Ruth Reis • Emília Manente

Coordenação geralRuth ReisEditoraEmília Manente ReportagemAna Paula Vieira • Betânia Cordeiro • Emília Manente • Luiz Vital • Maíra Mendonça • Valesca de MonteiroBolsistaMaíra MendonçaFotografiaDavid Protti • Fernanda Bayer • Arquivo Supecc DesignJuliana BragaRevisãoMárcia RochaFoto da CapaProfessora Cristina Engel de Alvarez

Distribuição • gratuitaImpressão • Gráfica UniversitáriaTiragem • 8.000 exemplares

Universidade Federal do Espírito SantoSuperintendência de Cultura e Comunicação - SupeccAv. Fernando Ferrari, nº 514, Campus de GoiabeirasPrédio da Reitoria, 1º andar, CEP: 29075-910,Vitória/ES - BrasilTelefone: (27) 4009-7835

A revista Universidade agradece a Juliana Colli Tonini que iniciou a elaboração do projeto gráfico desta publicação.

O conteúdo desta revista pode ser reproduzido para fins didáticos, desde que citada a fonte.

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32 Movimento dos barcos

Pesca no litoral capixaba é monitorada por

pesquisadores da Ufes

Sumário

Apresentação

Tempos de glamour

Atenção aos pomeranos

Carro autônomo

Fronteira do agrotóxico

Morte

Educação especial

3ª idade

Vinho certificado

Práticas inovadoras

Nutrição e atividade física de crianças

Sono revelador

Pós-graduação em doenças infecciosas

Artigo: Que desenvolvimento queremos?

Caminho da inovação

Meninas em risco

Meta da Ufes é ampliar a qualidade

A revista Universidade nasce com o de-safio de constituir-se como mais uma li-gação da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) com a sociedade, oferecendo assim condições para ampliar o conheci-mento público de suas atividades e con-tribuindo para promover o debate sobre questões contemporâneas.

Imersa num ambiente em que a pes-quisa e o pensamento são a matéria-pri-ma do seu fazer cotidiano, a Universidade contribui para a construção de um futuro melhor, por meio da produção do conhe-cimento científico, tecnológico, filosófico, artístico e cultural. Não faria sentido, en-tretanto, manter descobertas e reflexões no interior da própria Instituição. Por isso, a Ufes vem aperfeiçoando suas formas e meios de comunicação e, agora, acrescen-ta a revista Universidade ao conjunto de ferramentas que já utiliza.

Universidade inicia apresentando um leque variado da produção cientí-fica, tecnológica e cultural da Univer-sidade Federal do Espírito Santo reali-zada no âmbito dos grupos de pesqui-sa, projetos de extensão, programas de pós-graduação e cursos de graduação.

Ao mesmo tempo que ambiciona pro-vocar debates e reflexões que permeiam a produção acadêmica, Universidade procu-ra concretizar o projeto de oferecer ao lei-tor, de forma agradável, uma amostra re-presentativa da diversidade, importância e abrangência das questões que motivam o empenho criativo de professores, estu-dantes e técnico-administrativos da Ufes.

Ruth ReisSuperintendente de Cultura e Comunicação da Ufes

Editorial20 Antártica

Pesquisadores da Ufes desenvolvem parâmetros para nova base brasileira

na Antártica

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V ocê sabia que há tempos era costu-me os homens frequentarem os cine-mas usando terno e gravata? Ou que as inaugurações das antigas salas de

exibição contavam com a presença de políticos e artistas importantes? Ou, ainda, que esses es-paços eram utilizados também para a realização de formaturas escolares? Resgatar essas minúcias da história, muitas vezes perdidas no tempo, é o objetivo do grupo de pesquisa História das Salas de Exibição Cinematográficas do Espírito Santo, que busca organizar um acervo fotográfico das salas de exibição, seus entornos, interiores e inaugurações,

Tempos de glamourTempos de glamourCinema capixaba: pesquisadores da Ufes fazem resgate do acervo fotográfico das salas do Estado

P E S Q U I S A

Maíra Mendonça

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remontando, assim, a história do cinema capixaba.O grupo é composto pelos professores André

Malverdes, do Departamento de Arquivologia, e Sônia Maria da Costa Ribeiro, do Departamento de História, além dos pesquisadores Ana Cláudia Bor-ges Campos (Biblioteconomia), Anderson Gomes Barbosa (Arquivologia) e Amarildo Mendes (His-tória) e das graduandas em Arquivologia Heloíza Guerze e Renata Bessa. A pesquisa, que se restrin-gia inicialmente a Vitória, hoje abrange todo o Es-

tado do Espírito Santo, incluindo os municípios de Baixo Guandu, Cachoeiro de Itapemirim, Cariacica, Castelo, Colatina, João Neiva, Linhares e Vila Velha. Ela é feita por meio da coleta de documentos da imprensa local, cartazes, textos e entrevistas com familiares e ex-proprietários de cinemas, funcio-nários e antigos frequentadores dessas salas.

Atualmente, o acervo conta com 176 fotos e um catálogo de 170 cinemas que existiram en-tre 1907 e 2008. O ano de 1907 marca a inau-

 Público aguardando a sessão de inauguração do Cine São Luiz, Centro, Vitória. A sala tinha capacidade para 586 pessoas. 1951 

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guração das salas de cinema no Espírito Santo, com a exibição do primeiro filme mudo em solo capixaba, no Cine Teatro Melpômene, que fica-va na esquina das ruas Graciano Neves e Sete de Setembro, na Praça da Independência, hoje cha-mada de Costa Pereira, centro da Capital, Vitória. O recorte da pesquisa, que se encerra em 2008, re-gistra os tempos da “cinelândia capixaba” entre as décadas de 1950 e 1970, que representa o auge do cinema no Estado, até o período de 1979 a 1985, época de especial interesse do grupo, em que hou-ve uma drástica queda do número de salas de exi-bição, devido à popularização da televisão e à am-pliação de seus conteúdos, além da recessão eco-nômica, caracterizada por altas taxas inflacionárias.

A tentativa de resgatar a memória cinema-tográfica do Estado teve início em 2000, quando o atual coordenador do grupo e professor do De-partamento de Arquivologia, André Malverdes, se interessou e começou a mapear os antigos pro-prietários de cinema, ainda em seu período de es-pecialização. Por falta de bibliografias acerca do assunto, a pesquisa se estendeu para o mestrado,

que teve como resultado o livro No Escurinho dos Cinemas: A História das Salas de Exibição na Grande Vitória. Em 2008, após tornar-se professor da Ufes, André criou o grupo de pesquisa na área a fim de dar continuidade ao trabalho.

O professor explica que o resgate dessa his-tória é importante para a compreensão de ques-tões econômicas, culturais e políticas do Espírito Santo, uma vez que, além de atuar como um agen-te de sociabilização, influenciando os costumes das pessoas, o cinema faz parte também de uma vasta indústria de comercialização de bens cultu-rais, capaz de movimentar a economia das regiões onde se insere e despertar o interesse dos gover-nos. “As pessoas se vestiam de acordo com as atri-zes de cinema; o hábito de fumar aumentou, pois as pessoas viam os personagens principais fuman-do; o modo de chamar os garçons com apenas um estalar de dedos ou o jeito de piscar, de namorar as moças, tudo isso era influenciado pelo cinema. Então, entender esse processo é compreender o papel do cinema para a sociabilidade e para as transformações urbanas”, afirma Malverdes.

Avenida Jerônimo Monteiro: pessoas se aglomeram em

frente ao Cineteatro Central. 1921

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ResultadosAlém do livro No Escurinho dos Cinemas: A

História das Salas de Exibição na Grande Vitória, que debate as dimensões políticas, econômicas e cul-turais do cinema e traz um panorama dos motivos que levaram ao fim das atividades cinematográ-ficas nas salas capixabas durante o século XX, o material coletado pelo grupo de pesquisa resultou também no livro Memórias Fotográficas das Salas de Cinema do Espírito Santo. Este, por sua vez, apre-senta 110 imagens das salas de cinema do Estado, de 1901 a 1990, e é dividido entre as salas dos municípios do interior, dos bairros e de Vitória.

O grupo também participa de palestras e congressos da área e já realizou exposições que recontam a história dos cinemas no Cine Me-trópolis, na Ufes, e nas bibliotecas municipais da Serra e do bairro Nova Valverde, em Cariaci-ca. O blog Salas de Cinema do Espírito Santo: http://salasdecinemadoes.blogspot.com.br/ dispo-nibiliza informações ao público, e é também um meio pelo qual as pessoas podem contribuir para o enriquecimento da pesquisa enviando fotos e contando curiosidades e histórias de vida que se cruzem com os cinemas dos lugares onde vivem.

Interior do Teatro Melpômene em dia de espetáculo. 1921

Acervos Pessoais e Memória Coletiva

A necessidade de organizar um ban-co de dados que permita a realização de futuras pesquisas sobre o cinema capixaba fez com que o professor André Malverdes desse início a mais um grupo de pesquisa: o Acervos Pessoais e Memória Coletiva. Esse grupo, composto por cinco pessoas, entre professores, pesquisadores e alunos, foi contemplado por um edital do Fundo de Cultura do Espírito Santo (Funcultura), da Secretaria Estadual de Cultura, e é respon-sável pela produção do Inventário Analítico do Acervo Fotográfico Sobre as Salas de Ci-nema do ES, cujo lançamento está previsto para março de 2013. Ele reunirá documen-tos e fotografias das salas de exibição ci-nematográficas, retirados de arquivos pú-blicos, jornais e acervos pessoais que serão tratados para que sejam conservados ao longo dos anos. O inventário será dispo-nibilizado no acervo público estadual, nas versões impressa e digital.

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Lavradores do interior do Espírito Santo são atendidos por equipe multidisciplinar do Hospital Universitário

pomeranos

E X T E N S ã o

Noite de sexta-feira. Enquanto muitas pessoas se preparam para um breve descanso no fim de se-mana, uma equipe do Hospital Universitário, em Vi-tória, entra no transporte em direção ao interior do Espírito Santo para atender pacientes com proble-mas de pele. Há 25 anos, coordenada pelo médico Carlos Cley Coelho, teve início essa rotina mensal de trabalho intenso, que deu origem a um dos grupos de extensão mais antigos da Ufes: o Programa de

Assistência Dermatológica aos Lavradores Pomeranos do Espírito Santo. O atual coordenador do projeto é o cirurgião plástico e professor Luiz Fernando Soares de Barros. Ele calcula que ao longo dos anos foram realizados mais de 100 mil atendimentos médicos e cerca de 20 mil pequenas cirurgias.

Iniciado em 1987, o programa de atendimento dermatológico conta atualmente com uma equipe de 30 pessoas, incluindo cirurgiões plásticos, dermato-

Atenção aos

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logistas, acadêmicos de Medicina, enfermeiros, agen-tes de saúde, membros de igrejas locais e motoristas, entre outros. Eles visitam, mensalmente, comunida-des de 15 municípios, principalmente os de coloniza-ção germânica, como Itaguaçu, Afonso Cláudio, Santa Maria de Jetibá, Baixo Guandu, São Gabriel da Palha e Domingos Martins, chegando a atender de 300 a 500 pacientes e a fazer até 70 cirurgias em uma só viagem. Os casos mais graves são encaminhados ao Hospital Universitário, conhecido como Hospital das Clínicas, no campus de Maruípe, em Vitória.

O projeto surgiu em função da grande quan-tidade de lavradores pomeranos (descendentes de colonizadores germânicos) que procuravam o Hos-pital Universitário em busca de tratamentos para problemas de pele, uma vez que o fato de serem muito brancos, aliado aos longos períodos de ex-posição ao sol e ao contato com agrotóxicos, torna essas pessoas mais suscetíveis de adquirir câncer de pele. Como muitas vezes os tratamentos eram demorados, eles eram obrigados a passar dias fora de suas casas e ficavam hospedados no Albergue Martim Lutero, criado em 1984 por membros de comunidades luteranas da região serrana do Espí-rito Santo e da Grande Vitória e que existe até hoje.

Segundo o médico Luiz Fernando, muitos la-vradores não falavam português e precisavam de um tradutor para conversar com os médicos que atendiam os moradores. Esse tradutor se chama-va Arlindo Vilaça, um morador do município de Vila Pavão, que se encarregou dessa função. Foi

ele quem incentivou o médico Carlos Cley a fazer as primeiras visitas às comunidades do interior.

No início, as condições de infraestrutura e de transporte para os atendimentos eram precárias, pois o projeto era mantido apenas pelo Hospital das Clínicas, da Ufes. Os médicos e estudantes fica-vam alojados nas casas dos lavradores e de pasto-res das regiões e as consultas eram feitas nas resi-dências e até em igrejas. “Eu lembro que, às vezes, eles puxavam uma lona e em um fogareiro faziam arroz, feijão e um frango. E nós comíamos sentados ali, com o prato na mão mesmo, mas era muito inte-ressante”, conta o médico Luiz Fernando.

Outra prática do grupo era a apresentação de slides assim que chegavam aos locais, com o obje-tivo de conscientizar os lavradores em relação aos riscos provocados pela exposição ao sol. “Hoje os meios de comunicação já chegaram ao interior e as pessoas sabem que a exposição ao sol é perigosa, mas naquela época não. Então, era preciso orientá- las e por isso as palestras eram importantes”, explica o professor Luiz Fernando.

Parcerias

Cerca de dez anos após o início do programa, foi feito um convênio com a Se-cretaria de Estado da Saúde, que passou a conceder o transporte e possibilitou o au-mento da equipe. Após a aposentadoria do médico Carlos Cley Coelho, a coordenação do Programa de Assistência Dermatológica aos Lavradores do Estado foi assumida pelo professor Luiz Fernando, período que coinci-diu com a realização de mais uma parceria, dessa vez com as prefeituras locais.

Os atendimentos são feitos em escolas e postos de saúde das comunidades durante todo o sábado, das 8 às 17 horas, e no domin-go até o meio-dia. As principais medidas de prevenção indicadas aos lavradores pomera-nos são o uso de chapéus e de roupas compri-das que cobrissem todo o corpo para o traba-lho na lavoura, além da utilização de protetor solar, e evitar o contato direto com produtos, como os agrotóxicos.Moradores aguardam atendimento médico

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A partir de estudos sobre o funcionamento do cérebro humano, o grupo de pesquisa Ciências da Cognição, do Laboratório de Computação de Alto Desempenho (LCAD), ligado ao Centro Tec-nológico, desenvolveu um sistema capaz de fazer com que, através de lasers, câmeras, sensores iner-ciais e GPS, um carro se movimente sem o auxílio de um condutor, respeitando até mesmo as regras de trânsito. O grupo, formado por 15 pesquisado-res, incluindo doutorandos, mestrandos e alunos

de iniciação científica dos cursos de Engenharia e Ciências da Computação, é o mais avançado do País nesta área e possui os melhores equipamen-tos. O projeto custou cerca de R$ 1 milhão.

De acordo com o coordenador do grupo de pesquisa e professor do Departamento de In-formática, Alberto Ferreira De Souza, no futuro, essa tecnologia poderá ser utilizada tanto para dinamizar e baratear o processo industrial – au-xiliando no transporte de equipamentos dentro de empresas de grande porte –, quanto para so-lucionar questões práticas do cotidiano das pes-soas. “Vejo que podemos usar isso para melhorar a qualidade de vida de pessoas com necessidades especiais, como aquelas com dificuldades de lo-comoção. Para elas, o carro ainda é difícil de diri-

Carro autônomoPesquisadores da Ufes desenvolvem carro que trafega sem motorista

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Maíra Mendonça

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gir. Então, uma primeira aplicação seria fazer um carro com esses sensores, que seja mais seguro”, afirma o professor. Ele destaca também que em alguns anos será possível produzir carros ainda mais independentes, capazes de andar de acordo com comandos de voz, por exemplo, e que pos-sam ser conduzidos por deficientes visuais.

Para se chegar aos resultados recentes, po-rém, foram necessários anos de estudo. O grupo Ciências da Cognição surgiu em 1996 com o ob-jetivo de compreender como o cérebro humano é capaz de interpretar o mundo e as ideias. Como o tema é muito complexo, o objeto de estudo pas-sou a ser a visão estática, ou seja, a capacidade do cérebro de identificar imagens paradas. Dessa pesquisa, surgiu o Sistema de Reconhecimento de Faces, que implementa uma arquitetura neural que permite distinguir diferentes rostos e atual-mente é considerado o melhor sistema de reco-nhecimento de faces frontais em todo o mundo. E é essa mesma estrutura neural que está sendo aprimorada para que o carro identifique placas de trânsito e semáforos.

Outra análise importante foi sobre a capacida-de que o ser humano tem de medir distâncias, que só é possível através dos dois olhos. A arquitetura cerebral identificada foi reproduzida em compu-tadores e, a partir da instalação de duas câmeras estereoscópicas, que funcionam como os olhos hu-manos, deu-se às máquinas esse mesmo potencial. Após esse período, iniciaram-se as pesquisas com imagens em movimento. Dessa vez, os pesquisa-dores pretendiam desenvolver nos computadores a capacidade de compreender as imagens no tempo.

RobôsEm 2009, o grupo construiu seu próprio robô

para ampliar a pesquisa. Já em 2010 foi comprado o segundo robô. O Pioneer é o mais avançado e, junto com a utilização de uma nova plataforma de desen-volvimento – o Carmen Robot Navigation Toolkit –, ajudou no progresso da pesquisa.

A ideia de utilizar um carro como robô móvel foi inspirada na competição de veículos autônomos promovida pela Defense Advanced Research Projects Agency (DARPA) dos Estados Unidos, a DARPA Grand Challenge. O Ford Escape, um veículo híbrido (com motor elétrico e a combustão), demorou cerca de um ano e meio para chegar ao Brasil, aportando na Ufes no dia 31 de setembro de 2012. Ele foi adap-tado pela empresa norte-americana Torc. O profes-sor Alberto explica que não era interessante para o

Próximos passos

O projeto do grupo Ciências da Cogni-ção termina no final de 2013 e até agora quase todos os objetivos da pesquisa foram alcançados. Já existem cinco artigos cientí-ficos produzidos. Desses cinco, dois foram submetidos à International Swaps and De-rivatives Association, que aconteceu em no-vembro de 2012, na Índia, e um à Conferên-cia Internacional em Robótica e Automação”, que será realizada na Alemanha, neste ano. Até o fim do projeto deverão ser produzi-dos, no mínimo, mais oito artigos.

Um dos principais desafios dos pesqui-sadores é substituir os lasers utilizados para o processamento de imagens do carro por apenas três câmeras de vídeo – que ficarão na frente, atrás e do lado do carro –, a fim de diminuir os custos de produção e melhorar a estética do veículo. Para se ter uma ideia, o laser usado atualmente é o Velodyne, que possui 32 lasers e capacidade de girar 360°. Entretanto, o valor desse equipamento é de 50 mil dólares, sendo que as câmeras cus-tam em torno de R$ 4 mil cada uma.

grupo adaptar o próprio carro, visto que esses estu-dos já existem em outros lugares e o importante é gerar novos conhecimentos. Por isso, os pesquisa-dores se concentraram na produção dos softwares, que foram instalados no carro.

A doutoranda em Ciências da Computação e integrante do grupo Mariella Berger ressalta que, embora o desenvolvimento de softwares a partir da estrutura cerebral seja muito importante, o prin-cipal objetivo da pesquisa é compreender como o cérebro humano funciona, analisando, inclusive, coisas que parecem simples para as pessoas, como o ato de distinguir rostos ou de parar diante de um obstáculo, mas que na realidade são muito comple-xas para um sistema computacional. “Todos estão muito motivados. Acho que o carro pode ser útil não só para a minha pesquisa ou para a de qualquer um aqui, mas para a sociedade”, diz Mariella.

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U ma equipe de pesquisadores do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da Ufes está criando uma fronteira científica e tecno-lógica para os produtos usados na elimi-

nação de pragas e doenças nas culturas agrícolas, conhecidos como agrotóxicos. O desafio é reduzir ao máximo a presença desses produtos nas cultu-ras agrícolas e, consequentemente, nos alimentos, com o uso adequado de novas técnicas. Os primei-ros experimentos demonstram que as pesquisas al-cançam sucesso. Os estudos são coordenados pelo professor Dirceu Pratissoli e realizados no Núcleo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Manejo Fitossanitário de Pragas e Doenças (Nudemafi).

A pesquisa, de acordo com Pratissoli, abran-ge diferentes produtos com elevada exposição e sensibilidade aos agrotóxicos, como morango,

café, repolho, mamão, entre ou-tros. O tomate, porém, é o

carro-chefe da pesqui-

sa, por receber uma carga muito elevada de agro-tóxicos. “É a cultura com maior número de aplica-ções de agrotóxicos”, ressalta o pesquisador. Em 100% das áreas plantadas, o tomate recebe gran-de quantidade de agroquímicos, porque a cultura está exposta a grande número de pragas e doen-ças. Os levantamentos mais recentes demonstram que, anualmente, no Espírito Santo, cerca de 80 mil toneladas de ingredientes ativos são despeja-das na agricultura de um modo geral.

Pratissoli diz que, atualmente, sem uma grande quantidade de agrotóxicos não se con-segue produzir tomates em proporção suficiente para atender ao mercado. Mesmo assim, segundo o pesquisador, a Europa já não consegue mais pro-duzir tomate de qualidade, devido a uma poderosa praga que devastou os cultivos do continente. O Brasil, então, surge como importante alternativa para abastecer o mercado internacional. É nesse aspecto que os estudos dos pesquisadores da Ufes abrem uma nova porta para as exportações brasi-leiras, com um tomate mais limpo e mais saudável.

TécnicasComo reduzir tamanha presença de agrotó-

xicos no tomate? As pesquisas do Nudemafi de-monstram que existem alternativas, com novas práticas de manejo que permitam o controle das pragas nas culturas, em substituição ao controle químico. Tudo isso sem perder a produtividade. Pratissoli explica que, em geral, o tomate recebe de 28 a 32 aplicações de agrotóxicos durante o

Fronteira do agrotóxicoPesquisas realizadas na Ufes mostram que é possível produzir vegetais com baixa carga de agrotóxicos ou mesmo sem a presença deles, por meio do controle biológico nas culturas agrícolas e do uso de técnicas alternativas de manejo

P E S Q U I S A

Luiz Vital

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seu ciclo produtivo, que é de seis semanas, em média. Em experimentos recentes, os pesquisa-dores conseguiram baixar para seis o número de aplicações. “Uma vitória”, comemora Pratissoli. “Na safra atual já conseguimos realizar somente duas aplicações nas lavouras”, salienta. “A meta é esta, baixar ao máximo o uso de pesticidas”, completa.

Dirceu Pratissoli e sua equipe de pesqui-sadores usam métodos alternativos, de modo a se evitar ao máximo o uso dos agrotóxicos. Eles promovem o manejo das pragas utilizando o con-trole biológico com o uso de inimigos naturais produzidos em laboratórios, bem como de bioin-seticidas que são preparados em laboratórios e levados para o campo. O Nudemafi também utili-za barreiras físicas e mecânicas, como as armadi-lhas de cor e as luminosas.

ManejoOs métodos empregados são em função do

tipo de pragas que podem ocorrer, levando em con-sideração o comportamento delas. “Temos o em-prego da barreira física, com a instalação de placas de cor amarela impregnada com uma cola especial que não seca, para onde os vetores de viroses são atraídos e ficam grudados, evitando que eles alcan-cem os tomateiros”, exemplifica Pratissoli.

Como barreira mecânica também é utiliza-do o ensacolamento de cachos dos frutos, que os protege das brocas. “Desenvolvemos, também, pesquisas com armadilhas que utilizam lâmpa-das especiais do tipo ultravioletas, para atrair e capturar mariposas, denominadas brocas, que atacam os frutos”, acrescenta. Outro método de manejo utilizado em larga escala é o biológico, por meio da liberação inundativa de vespas do gênero Trichogramma. Pratissoli resume os resul-tados obtidos pela pesquisa: “Ela preserva o meio ambiente; melhora consideravelmente o sabor do fruto, bem como a sua durabilidade e qualidade; reduz os custos ao produtor; mantém ou aumenta a produtividade; e preserva a fertilidade da terra plantada”, enfatiza.

Pratissoli explica que ainda não é possível eliminar totalmente o uso dos agrotóxicos. “So-mente fazemos a aplicação quando esgotados to-dos os nossos métodos alternativos de manejo das pragas”, salienta. Para dar mais opções ao produ-tor, Pratissoli e sua equipe já trabalham em outra ponta importante da pesquisa, na área de química, que é a caracterização e síntese de bioinseticidas, que são agrotóxicos naturais retirados de plantas e subprodutos de biodiesel, cujos primeiros testes indicam processos de patentes.

As armadilhas luminosas capturam as pragas que infestam as lavouras

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O pesquisador

Dirceu Pratissoli é professor do Departamento de Produção Vegetal do CCA, coordenador adjunto do Programa de Pós-Graduação em Produção Vege-tal, e chefia o Núcleo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Manejo Fitossanitário de Pragas e Doenças (Nudemafi), criado em 2002. O núcleo fun-ciona num prédio de 700m², no campus do CCA em Alegre, Sul do Espírito Santo. São 350m2 destina-dos somente para as pesquisas realizadas em 19 laboratórios. Atualmente estão se especializando no núcleo 11 doutorandos, 10 mestrandos, e 20 alunos de iniciação científica. Pratissoli se formou em Agronomia na Ufes, onde também trabalhou como engenheiro agrônomo. É mestre e doutor em Fitossanidade e leciona na Ufes desde 1985.

Tomate, fim da linha de um vilão

A pesquisa realizada no CCA da Ufes é uma das garantias de que, a partir de 2013, o Brasil possa produzir o tomate certificado. A certificação permi-tirá que o consumidor tenha um produto sem re-síduos de agrotóxicos, e o País tenha condições de exportar o tomate para a Europa e outros países, que exigem esta garantia de qualidade, como ocor-re com a carne bovina e a suína. “É a Ufes fazendo transferência de tecnologia”, sustenta Dirceu Pratis-soli. A Instituição, inclusive, participa do comitê na-cional integrado do Programa Brasil Certificado, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

O pesquisador, que representa a Ufes no Programa, observa que cada cultura agrícola terá projetos específicos de certificação. As pesquisas desenvolvidas no CCA, porém, fizeram o tomate sair na frente e já envolvem produtores da Região Serrana do Espírito Santo. Um dos laboratórios de campo funciona em Alto Caxixe, em Venda Nova do Imigrante, em áreas da empresa Plantec, que anualmente produz um milhão de pés de tomate. “O tomate, enfim, vai deixar de ser o grande vilão na mesa do brasileiro”, avisa.

A proposta do Brasil Certificado é que o co-mércio varejista mantenha gôndolas específicas

com os produtos certificados. Se-gundo Pratissoli, a meta é que o tomate tenha códigos de barra, cuja leitura em computador faça o rastreamento de toda a cadeia produtiva. “Com isso, se ocorrer algum problema com um lote do produto, por exemplo, o varejista e os órgãos de controle sanitário saberão a sua ori-gem exata”, diz. “Alguns supermercados já pedem o tomate rastreado, porque a clientela já está exigin-do”, aponta o pesquisador, indicando uma mudança de comportamento do consumidor.

Veneno invisívelA doutoranda em entomologia agrícola Lu-

ziani Rezende Bestete compõe a equipe do profes-sor Dirceu Pratissoli. Ela explica que não é possí-vel, visualmente, identificar o tomate com elevado grau de resíduos. “Todos os tipos de tomate – e são muitas as variedades – estão sujeitos à presença de agrotóxicos”, alerta. Segundo ela, somente uma fiscalização especializada pode comprovar isso por meio de análise de substâncias tóxicas.

Segundo a doutoranda, o importante é a

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A equipe

A equipe do professor Pratissoli é multidisci-plinar e interinstitucional, e composta pelos dou-tores Waldir Cintra de Jesus Júnior, Fábio Ramos Alves, Celson Rodrigues, especialistas em Fitopa-tologia do CCA/Ufes; Hugo Bolsoni Zago, Hugo José Gonçalves dos Santos Junior, especialistas em Entomologia do CCA; Ulysses Vianna Rodri-gues, Leandro Pin Dalvi, especialistas em Produ-ção Vegetal do CCA; Daniel Rinaldo, Adilson Vidal Costa, Patrícia Fontes Pinheiro, Vagner Tebaldi de Queiroz, especialistas em Química do CCA; Edval-do Fialho dos Reis, especialista em Recursos hí-dricos do CCA; José Vargas de Oliveira, Jorge Braz Torres, especialistas em Entomologia da UFRPE; Hélcio Costa, Maurício José Fornazier, Davi dos

O Nudemafi possui o maior laboratório da América Latina de criação viva da vespa parasita de ovos (Trichogramma) que, ao matar o ovo da praga, ajuda no controle biológico dos tomateiros. Quem coordena o laboratório é a doutoranda Débora Fer-reira Mello. No laboratório, o professor Dirceu Pratis-soli descobriu uma espécie nova de vespa, que leva o seu nome, a Trichogramma Pratissoli.

A doutoranda tem como estudo principal a seleção de espécies e linhagens da coleção de Tri-chogramma do laboratório para o uso no manejo da broca pequena do tomateiro. Essa praga, atual-mente, é combatida somente com o uso de elevadas dosagens de agrotóxicos. “A grande vantagem dessa vespa é que, ao parasitar os ovos, ela evita a eclosão das larvas da broca que perfuram o tomate”, ensina a pesquisadora. No Brasil, a broca é responsável por uma perda média de 45% nos tomateiros.

Maior laboratório do continenterastreabilidade dos produtos, também chamada de cadernos de campo, que permite saber a pro-cedência e se está em área de rigoroso controle. Luziani Bestete estuda pragas como a traça do to-mateiro (Tuta absoluta) que deposita uma lagarta que se alimenta do tomate.

Doenças ficam na terraVinícius Pereira dos Santos é mestrando em

Fitossanidade e também integra o grupo do Nu-demafi. Santos estuda e seleciona os agrotóxicos menos agressivos que podem ser usados. Ele ex-plica que uma área com tomateiros somente pode ser usada por dois anos, no máximo, podendo ser utilizada por menos tempo. Depois desse período, é recomendado que as áreas sejam utilizadas para o plantio de outras culturas, pois se intensificam a proliferação de pragas e doenças, que nem mesmo os agrotóxicos têm a capacidade de controle.

Nos tomateiros é preciso saber usar adequada-mente os agrotóxicos. “Esgotados os métodos susten-táveis, entramos com as aplicações de agrotóxicos”, explica. “É preciso saber o tempo certo de uso, a ca-rência ideal e o número de aplicações”, acrescenta.

Santos Martins, José Salazar Zanuncio Junior, es-pecialistas em Entomologia do Incaper; e Ander-son Mathias Holtz, especialista em Entomologia do Ifes de Colatina.

O Nudemafi é local de pesquisa para alunos como Vinícius Pereira dos Santos, mestrando em Fitossanidade

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U m grupo de 20 de pesquisadores da Ufes é o único na América Latina a realizar pesquisas científicas na área de tecno-logia de edificações na Estação Antártica

Comandante Ferraz (EAFC), base brasileira, localiza-da na Antártica. A equipe, composta por professores e alunos de iniciação científica, mestrandos e dou-torandos das áreas de Arquitetura, Desenho Indus-trial, Engenharia Elétrica, Civil e Ambiental, forma uma rede de estudos ligada ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Antártica (INCT-APA) e ao Programa Antártico Brasileiro, o Proantar.

Os cerca de dez anos de conhecimentos acu-mulados em pesquisas habilitaram a Ufes como a instituição responsável por estabelecer os prin-

Equipe de pesquisadores da Ufes é a única na América Latina a desenvolver estudos em tecnologia de edificações no Continente. A nova base brasileira na Antártica será construída a partir de parâmetros definidos por pesquisadores da Universidade

ANTÁRTICA

P E S Q U I S A

Maíra Mendonça

De volta à

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cipais parâmetros técnicos do concurso “Estação Antártica Comandante Ferraz”, que selecionará um projeto para a reconstrução da Estação Científica Brasileira na Antártica, destruída por um incêndio em fevereiro de 2012.

Liderados pela professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo Cristina Engel de Al-varez, professores da Ufes elaboraram o termo de referência do edital publicado no dia 28 de janeiro, contando também com a participação de outras ins-tituições como a Marinha do Brasil, a Petrobras e a Universidade Federal de Santa Catarina. O edital foi divulgado no dia 28 de janeiro deste ano e está dis-ponível no site concursoestacaoantartica.iab.org.br.

O concurso é realizado pelo Instituto dos Ar-quitetos do Brasil (IAB) e pela Marinha do Brasil, e oferece como prêmio a assinatura de um contrato de cerca de R$ 5 milhões, para que o arquiteto ven-cedor desenvolva o trabalho até a etapa de proje-to executivo da nova estação. Professores da Ufes acompanharão todas as fases do concurso e farão três avaliações do trabalho vencedor ao longo do seu desenvolvimento.

Pesquisadores no Continente Antártico, e, acima à direita, a professora da Ufes Cristina Engel Alvarez

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P E S Q U I S A

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Cristina ressalta que os conceitos fundamentais a serem leva-dos em conta no projeto são o mínimo impacto ambiental, a segu-rança, o conforto e eficiência da estação e a inovação tecnológica. “O que se espera é que a Estação seja cada vez mais eficiente, do pronto de vista tecnológico e ambiental”, explica Cristina.

A expectativa é que a equipe contemplada desenvolva o projeto executivo até o final deste ano, quando deve ser lançada a licitação para a obra, que deve começar no verão de 2014/2015.

História e recomeço O início da história do grupo de pesquisa pode ser datado de

1984, quando a professora Cristina ainda cursava Arquitetura na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), no Rio Grande do Sul, e se preparava para fazer um intercâmbio em Moçambique, na África. Motivada por uma discussão entre alunos, a então estudante decidiu realizar um seu trabalho final de graduação sobre edifica-ções para a Antártica.

Com esse trabalho ela ganhou, em 1986, o concurso nacio-nal do Projeto Rondon e em fevereiro de 1987, já graduada, foi à Antártica pela primeira vez. A partir daí foi contratada como pes-quisadora, desligando-se do projeto em 1993, quando fez concurso público e passou a atuar como professora e pesquisadora na Ufes, onde começou a desenvolver trabalhos em outras áreas inóspitas: as ilhas oceânicas brasileiras. Em 2001, ela retomou o projeto da Antártica, e a equipe começou a se consolidar até reunir toda a ex-periência que tem hoje.

Apesar do incêndio ocorrido na Estação Antártica Comandante Ferraz, a maior parte das pesquisas não foram perdidas e agora os esforços se concentram na elaboração de projetos para a reconstru-ção da base brasileira. Enquanto isso, passa a funcionar uma estação provisória, uma espécie de acampamento avançado, com previsão para durar cinco anos, que servirá de alojamento e apoio logístico para até 65 pessoas, entre militares e pesquisadores, visando princi-palmente garantir a continuidade dos experimentos científicos.

FormaçãoEmbora os resultados das pesquisas na Antártica sejam de gran-

de utilidade para a sociedade e sirvam também como base para novas pesquisas, a professora Cristina destaca que o principal objetivo do grupo é o de cumprir o papel para o qual a Universidade se propõe: o de formar profissionais. “O que eu formei de pessoas, que vão formar outras pessoas e que vão multiplicar uma ideia tem muito mais valor do que qualquer outra coisa”, afirma ela.

Mariana Roldi de Oliveira cursa o sexto período de Arquitetura e Urbanismo e há um ano e meio é bolsista de iniciação científica do Arquiantar. “O projeto de pesquisas antárticas abre horizontes. Por ser um lugar incomum, o profissional que souber projetar para a Antártica estará preparado para projetar em qualquer lugar. Além disso, o traba-lho permite estabelecer contato e relações com pessoas de diferentes instituições e formações, ampliando ainda mais o leque de conheci-mento e relações interpessoais, destaca a bolsista.

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A Estação A Estação Antártica Comandante Ferraz foi

criada em 1984 e está localizada na Ilha Rei Geor-ge, a 130 km da Península Antártica. Hoje está fun-cionando em instalações provisórias, uma vez que a edificação principal danificada pelo incêndio foi desmontada. A Estação funciona como um centro de pesquisa científica para técnicos, militares, civis e pesquisadores. Seu nome é uma homenagem a Luís Antônio de Carvalho Ferraz, comandante da Marinha, hidrógrafo e oceanógrafo que incentivou o desen-volvimento do Proantar.

Mas, afinal, qual a importância de realizar es-tudos nesse lugar? De acordo com os dados do Pro-antar, esse Continente exerce um papel fundamental sobre a regulação dos sistemas naturais globais, atu-ando como o principal regulador térmico do planeta e controlando as circulações atmosféricas e oceâ-nicas. A região detém as maiores reservas de gelo (90%), água doce (70%) e recursos minerais, como gás e petróleo. Portanto, a realização de pesquisas na Antártica serve para entender o próprio funciona-mento da Terra, uma vez que as mudanças lá ocorri-das se refletem em todo o mundo.

Em 1975, o Brasil aderiu ao Tratado da Antár-tica, que busca dividir o Continente entre os países para a realização de pesquisas científicas, e, em 1982, surgiu o Proantar. Desde então, o País vem realizando estudos na região austral do Continente.

P E S Q U I S A

A Estação Antártica Comandante Ferraz, atingida por um incêndio em 2012, está localizada na Ilha Rei George, a 130 km

da Península Antártica

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Outras pesquisas

As pesquisas e projetos realizados pela pro-fessora Cristina Engel de Alvarez na Antártica per-mitiram o desenvolvimento de trabalhos em ilhas oceânicas brasileiras pelos alunos e professores que integram o Laboratório de Planejamento e Projetos do Centro de Artes da Ufes. O grupo já promoveu in-tervenções em lugares como o Atol das Rocas, Ilha da Trindade, Fernando de Noronha e o Arquipélago de São Pedro e São Paulo. Nesses lugares as edificações construídas pela equipe da Ufes agregam um requi-sito fundamental: a preocupação com a segurança e com a diminuição dos impactos ambientais.

Além disso, o Laboratório, que reúne cerca de 30 pesquisadores entre alunos e professores, tam-

bém realiza projetos de extensão, como a constru-ção de um parque municipal no Morro Marista, em Vila Velha-ES, e a elaboração do Plano Diretor-Físico da Ufes, que disciplina a ocupação física dos quatro campi, além de desenvolver alguns projetos de edi-ficações nos campi de Goiabeiras, Maruípe, Alegre e São Mateus, os dois primeiros localizados em Vi-tória e os dois últimos no sul e no norte do Espírito Santo respectivamente. Também são desenvolvidos estudos individuais por oito mestrandos e três dou-torandos. Parte dos recursos arrecadados com os projetos de pesquisa e de extensão são utilizados para custear o trabalho sobre e na Antártica.

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“A companheira que me convida a viver”

Por que estudar Heidegger?Eu acho que não há como fazer Filosofia

hoje em dia sem estudar Heidegger, pois ele faz uma ruptura com toda a tradição filosófica. A Fi-losofia era uma coisa antes dele e passou a ser outra coisa depois dele. Você pode nem concordar com a crítica que ele faz, mas tem de compreen-der essa crítica até para discordar dela.

A Filosofia queria ser uma ciência. Na mo-

O poeta português Fernando Pessoa escreveu: “a morte é a curva da estrada. Morrer é só não ser visto”. Para entendermos um pouco sobre “essa curva da estrada” de que fala Pessoa, conversamos

com um seu quase homônimo, o professor de Filosofia da Ufes Fernando Mendes Pessoa.O Fernando daqui nasceu no Rio de Janeiro e começou a vida acadêmica estudando Psicologia, curso que abandonou no segundo ano, graduando-se em Ciências Sociais. Fez dois mestrados,

em Comunicação e Filosofia, doutorado e pós-doutorado em Filosofia, e, desde 1993, é professor do Departamento de Filosofia da Ufes. Do mestrado até o pós-doutorado os seus estudos se concentram em Martin Heidegger, o filósofo alemão que se tornou mais conhecido após a

publicação, em 1927, do livro “Ser e tempo”, obra na qual analisa a morte humana como um caminho para a descoberta do ser. E foi sobre Heidegger e a morte, passando pela finitude humana e infinitude divina, e, principalmente, sobre a vida, que Fernando Mendes Pessoa

conversou com a revista Universidade. Uma síntese do que pensa o filósofo você confere a seguir.

dernidade ela veio se constituindo como um sis-tema que visa à compreensão objetiva do real. E com isso ela foi se tornando cada vez mais acadêmica, mais teórica, mais conceitual. Mas a Filosofia não é uma doutrina, ela é sempre uma tarefa. E Heidegger vai fazer uma crítica a todo esse procedimento filosófico, trazendo a questão filosófica para a existência, para a questão da morte, da angústia.

Emília Manente

E N T R E V I S T A

mortE

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O pensamento de Heidegger conduz o ho-mem não para um âmbito teórico, mas para um desafio existencial. Por isso, sempre falo para os meus alunos: nós vamos estudar Heidegger, por-tanto a nossa questão não é acadêmica, fazer pro-va, passar de ano. Nossa questão é existencial. O objetivo desse curso é promover com este estudo uma transformação de nossa compreensão de ser.

O ser Heidegger é um pensador que faz uma críti-

ca a toda tradição filosófica, que, segundo ele, subs-tancializou o ser. Ao pensar o ser como essência, ele acabou sendo concebido como aquilo que é eterno, a substância; o que não nasce nem perece, sendo sempre idêntico a si mesmo. Mas, ao contrário de um ente eterno, Heidegger quer mostrar que o ser não é, pois tudo o que é, é ente. Tudo o que é, é coisa, uma realidade. O ser não é coisa nenhuma. O ser se dá em tudo o que é, mas ele enquanto tal é uma vigência, é um aberto, é a possibilidade dos entes serem. Então o ser é a pura manifestação da realidade, sua tem-poralização. O ser não é um ente pela condição de finitude temporal da existência, pela morte.

Hoje em dia nós homens modernos vivemos numa crise, numa decadência, que é não compreen-der mais o sentido de ser. Por que nós somos? Qual é o sentido do mundo? Por que estamos vivos? Qual o sentido do casamento? Qual o sentido do filho, do pai, do amigo? Heidegger diz que essa descompreensão é o produto do esquecimento do ser. Por isso, é ne-cessário, nesse império de esquecimento, recolocar a questão do ser, mas em um novo horizonte: para que o homem deixe de se compreender como sujeito, con-forme ele veio a se compreender a partir da moderni-dade, e se compreenda como finitude, existência.

A morte e a finitudeA morte é minha companheira que me convida

a viver, ela exige que eu não adie meus planos. Ela é a nossa instância ao mesmo tempo intransponível, intransferível e certa, porém indeterminada. Para Heidegger, a morte é o fundamento da finitude. A infinitude seria o eterno, o que é para sempre, o que não morre, o que permanece sempre igual a si mes-mo: Deus. O contrário disso é o finito, que é marcado pelo tempo e não tem eternidade. E Heidegger diz que essa é a nossa condição. Não querer ser finito,

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não aceitar a nossa condição mortal, é rebeldia. O que estabelece a finitude e o que dá essa constitui-ção ao homem é o fato de ele ser mortal: ao con-trário dos Deuses, que são eternos, o homem morre.

Assim como a vida não é o que acontece quan-do nascemos, a morte também não é o que acontece quando falecemos. Vida e morte são uma tensão de ser e não ser entre nascimento e falecimento. Mor-te não é falecimento. A morte é o assumir a nossa condição finita. E assumindo a nossa condição finita, saber que a gente precisa se esforçar para vir a ser, de novo, o que somos. Beethoven compôs a Quinta Sinfonia. Depois disso, ele poderia achar que não precisava fazer mais nada, como se o seu ser esti-vesse pronto, acabado. Mas não, ele sabia que, para tornar-se músico, o músico que ele foi, precisava ainda compor a sexta, a sétima, a oitava e a nona sinfonias, pois a vida só termina quando acaba.

Heidegger fala o seguinte: só o homem mor-re. Os animais fenecem, chegam ao fim. Por isso só os homens são mortais. Mas nós homens somos mortais não porque morremos e sim porque sabe-mos que vamos morrer antes de morrermos. Essa é a angústia do homem, o que o impõe ter que vir a ser o seu próprio ser.

A angústia como libertaçãoPara Heidegger, a angústia é uma relação com

o nada da existência. Ele faz uma distinção entre angústia e medo e fala que o medo possui sem-pre um referencial a algo. Já a angústia não tem referencial determinado. Ela nos restitui uma tarefa própria, que precisamos cumprir para sermos o que somos. Geralmente a gente não quer saber dela, pois essa tarefa nos promove angústia. Mas, para Heidegger, a angústia liberta, ela possibilita a apro-priação existencial do homem.

Como a vida não está dada, pronta, o homem tem que construir a sua vida assumindo-a. Para Hei-degger, assumir significa: “ser para a morte”. E assu-mir essa condição existencial é assumir a finitude, é assumir, em última instância, não o falecimento, mas a morte. “A morte é a possibilidade da impos-sibilidade de toda a possibilidade”.

A imortalidade é a grande ilusão do homem moderno. Mas ele sabe que isso é uma fantasia, que ele adia a apropriação de seu ser para justificar o esquecimento. Com isso, ele posterga tanto a mor-te, quanto a responsabilidade pela sua vida. O que

Heidegger diz é que a morte nos clama à vida. A compreensão da morte é um fator que nos exige uma responsabilidade para com a existência, pois sabemos, diante da morte, que, se nós não fizermos o que precisamos fazer para sermos o que somos, ninguém vai fazer, não vamos ser. Assim, a angústia é uma disposição que nos retira dessa lida impes-soal com nosso ser.

LiberdadeHeidegger tem uma compreensão de que a

liberdade é um movimento duplo, um negativo e outro positivo. A liberdade negativa é a indepen-dência, o “ser livre de”, necessário mas não suficien-te para a total liberdade do homem, pois quando temos somente independência, apenas o horizon-te aberto do possível, a gente não vem a ser nada; aquele que pode tudo, ainda não realizou nada. Sendo “livre de”, eu preciso agora ser “livre para”, e essa é a liberdade positiva, que engendra destino. Cada um precisa focar o horizonte existencial do possível na realização do que é necessário: ser mú-sico, professor, cientista, jogador de futebol... A pos-sibilidade da existência precisa ser realizada pela necessidade do destino.

A existênciaPara o pensamento de Heidegger, essas

questões que hoje em dia são vistas como tão bo-bas, como caráter, verdade, dignidade, ética, tudo isso se torna importante. Não em um sentido mo-ralista, careta, mas num sentido de consumar a existência. A existência é esse presente que a gen-te não pode ficar bobeando, adiando – precisamos nos apropriar do que somos.

A arteUma frase famosa de Heidegger é: “A lingua-

gem é a casa do ser”. E os poetas são os guardiões dessa casa do ser. É muito importante que o mun-do contemporâneo, marcado fundamentalmente pela tecnologia, estabeleça um diálogo com a arte, para que o homem possa retomar o sentido exis-tencial de seu ser.

O real é afetoNietzsche vai ser o primeiro pensador a fazer

uma crítica ao pensamento tradicional, retomando o afeto como uma questão fundamental do pensa-

E N T R E V I S T A

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mento. E Heidegger vai ser o herdeiro dessa crítica. Para eles, afeto não é essa coisa psicológica, subje-tiva, individual. A mesma realidade se manifesta de um jeito para quem ama e de outro jeito para quem odeia. Então, não existe a realidade em si e depois a interpretação pelo amor ou pelo ódio. A realidade já se manifesta sempre no amor, no ódio, na angústia, no medo, no tédio, porque o real é afeto.

O cuidadoNão é o homem quem domina, quem tem

a posse e é senhor da natureza, da realidade, tal como propõe o projeto moderno. Mas, pelo contrá-rio, o homem tem que cuidar da realidade. Heideg-ger diz que o homem não é o “Senhor da Terra”, mas “o pastor do ser”, aquele que precisa reunir aquilo cuja tendência é se dispersar. Ele fala que nós não temos o controle sobre nós mesmos, sobre a rea-lidade. Por isso, precisamos cuidar do que somos. Heidegger caracteriza essa nossa essência existen-cial como cura (Sorge), mas não no sentido de reme-diar, sarar. Pelo fato de sermos mortais, precisamos cuidar o tempo todo de nossa existência, essa con-dição perfaz a nossa essência como cura.

A modernidade e as tecnologiasA modernidade tem uma compreensão indi-

vidualizante do homem, de que a liberdade de um termina onde a do outro começa. Pois, se é assim, nós não temos uma vivência comum de liberdade. Nós estamos confinados a um isolamento, pois, se a minha liberdade termina onde a do outro começa, só podemos ser livres individualmente. A liberdade passa a ser o se dar bem, obter poder individual. Essa é uma ideia equivocada de homem. O homem está decaído nos entes, por isso ele só quer ter. Pois acha que com esse domínio material ele tem um controle existencial, o que é um grande engodo. A finitude, que é a morte, gera uma angústia. E o homem não suporta angústia. Então, ele quer tam-ponar essa angústia, esse buraco, essa falta, criando tecnologias, novos produtos. E Heidegger faz uma crítica a essa pretensão de eternidade do homem, a essa necessidade de domínio, de asseguramento, tentando reconduzi-lo para a finitude.

Heidegger fala uma coisa muito interessante: a gente acha que a tecnologia é um meio para fins utilitários do homem. E ele diz que isso é balela. O homem não é senhor da técnica. Pelo contrário.

A técnica é quem assenhora o homem. Os desen-volvimentos tecnológicos não são orientados por uma necessidade existencial, vital do homem e da terra. Eles são ditados por necessidades tecnológi-cas. Heidegger diz que a técnica, enquanto tecno-logia, disponibiliza o real como matéria-prima e o homem como mão-de-obra. Ou seja, ela já coloca o real na perspectiva da produção. Isso para ele é produzido por um esquecimento de ser.

O lutoO luto é um sentimento de perda. Tudo na

vida, por mais que as coisas estejam equivocadas, sempre tem uma forma de você cuidar, dar um jei-to. Mas, como a morte é “a possibilidade da impos-sibilidade de toda a possibilidade”, quando ela se realiza, cessa a possibilidade da cura, a vida acaba. Fica então o sentimento de perda: não há mais a possibilidade de ser, a existência: “eu nunca mais verei aquela pessoa”. Portanto, há a morte para o outro e a morte para si, que são diferentes. A gente lida muito com a morte do outro e tende a esque-cer a nossa morte.

Suicídio e ansiolíticosAcho que o suicídio é análogo ao ansiolítico.

Ambos provêm do não suportar a condição de an-gústia, a finitude e aí apelar ou para a alienação anestésica ou para a desistência existencial. Eu acho que é covardia, tanto um quanto o outro, no sentido de buscarem facilitar a tarefa da vida, uma fuga existencial. Como Sartre diz: nós somos con-denados à liberdade. Sim, a existência é esse ser fora de quem foi expulso do paraíso. Comer o pão com o suor de nossa testa é a nossa liberdade e a nossa miséria. Depende se a gente assume essa ta-refa, vindo a ser com gosto o que somos, ou se não suportamos essa nossa condição.

O convite à vidaO destino, para Heidegger, é um chamado para

você vir a ser o que o plenifica. E a morte, para ele, tem o sentido de vida. Ela é a plenificação da exis-tência, a sua consumação. Existencialmente, morrer é se entregar para o que você é e ser todo, sem que-rer se poupar, sem querer se guardar para amanhã. A finitude não está relacionada à idade. A qualquer momento a gente pode deixar de ser, por isso deve-mos ser sempre plenamente o que somos.

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Observatório Estadual contribui para a melhoria do ensino a crianças com necessidades especiais

Educaçãoespecial

Garantir a inclusão social e cultural de crianças com necessidades especiais a partir de pesquisas que auxiliem na construção e no aper-feiçoamento de políticas públicas voltadas para esse público. Essa é a principal função do obser-vatório Estadual de Educação Especial, coordenado pelas professoras do Departamento de Pedagogia do Centro de Educação da Ufes Denise Meyrelles de Jesus e Sônia Lopes Victor, e por Águida Gonçal-ves, do Centro Universitário Norte do Espírito Santo (Ceunes). Desde 2011, o grupo de pesquisa realiza um trabalho com 125 professores de escolas mu-nicipais e estaduais no Estado, a fim de verificar o desenvolvimento das atividades voltadas para a educação especial em escolas comuns, auxiliando, inclusive, na formação desses profissionais.

Esse grupo de pesquisa, composto também por quatro alunos de graduação e 12 de pós-gra-duação em Pedagogia, faz parte do observatório Na-cional de Educação Especial criado em 2010, que re-úne 23 programas de pós-graduação de 17 Estados brasileiros. Seus estudos se concentram na análise do funcionamento das Salas de Recursos Multifun-cionais, que fornecem o apoio necessário às crian-ças com necessidades especiais, a fim de aumentar

E D u C A ç ã o

o seu potencial de aprendizado dentro das salas de aula. O objetivo é conhecer o que acontece nessas salas a partir da discussão e da troca de experiên-cias entre os professores que nelas atuam, fomen-tando os debates de questões que eles observam em seu próprio cotidiano de trabalho.

Para tanto, a pesquisa tem dois focos de aná-lise: um na Região Metropolitana – formada por Vitória, Vila Velha, Cariacica, Serra, Fundão, Viana e Guarapari –, que possui 80 professores trabalhando em salas multifuncionais; e outro na região Norte do Estado, que inclui os municípios de Linhares, São Mateus, Nova Venécia, Sooretama e Alto Rio Novo, e possui 45 professores.

DesafiosAs discussões são feitas em torno de quatro

pontos principais: a forma com que a política nacio-nal de atendimento especializado é implantada nos municípios; a formação de professores especializa-dos; a definição do público-alvo do atendimento es-pecializado; e a dinâmica dessas salas, incluindo sua relação com a sala de aula comum, visto que ambas devem atuar de modo articulado. “Um dos principais desafios do projeto é definir como o aluno é avalia-

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e do interior enfrentem problemas para utilizá-las.Entretanto, Denise afirma que, embora haja

uma vontade dos professores especialistas na área de ampliar os espaços de diálogo em torno do tema, o principal desafio do observatório Estadual de Edu-cação Especial é contribuir para levar essa discussão para todo o espaço escolar, que inclui os demais pro-fessores, os pais e os alunos, criando assim uma ati-tude de aceitação, que possibilite a real inclusão de crianças especiais. “Isso é parte de um processo de inclusão social muito maior, do qual um dos aspectos é a inserção escolar, responsável por garantir a esses alunos o direito ao acesso, à permanência e à apren-dizagem com qualidade”, pontua a professora.

do, não só para se constituir como público-alvo da educação especial, mas também como garantir que o atendimento especializado seja realmente uma forma de apoio ao aprendizado em sala de aula”, afirma a coordenadora do projeto, a professora De-nise Meyrelles de Jesus.

As crianças que necessitam de atendimento especializado são aquelas com deficiências físicas, intelectuais ou sensoriais; transtornos globais do desenvolvimento, como autismo e psicoses ou alu-nos com altas habilidades, os superdotados. Cada uma delas possui diferentes necessidades cogniti-vas, intelectuais e de convivência. Em função disso, as Salas de Recursos Multifuncionais surgiram como uma política nacional de atendimento especializado em 2007, e já são 51 mil em todo o País. Segundo a professora Denise, embora esse seja um número significativo, há um problema de desigualdade na distribuição, pois elas se concentram mais nos cen-tros, fazendo com que crianças de regiões periféricas

Acima, sala de recursos multifuncionais do Cmei Jacyntha Ferreira de Souza Simões, em

Goiabeiras, Vitória. Ao lado, as coordenadoras do Observatório no Espírito Santo

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movimentodos barcos

P E S Q U I S A

Luiz Vital

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O litoral do Espírito Santo – com suas rochas e falé-sias ao sul; enseadas, ilhas e baías ao centro; du-nas e vegetação nativa ao norte – se estende por 411 quilômetros e percorre 15 municípios. Fonte

de inspiração de artistas e povoado por diferentes etnias, o litoral capixaba também concentra uma importante ativida-de econômica – a pesca. São cerca de três mil embarcações e 16,5 mil pescadores profissionais, com uma produção anu-al em torno de 21 mil toneladas de peixes. E é nesta faixa do Atlântico, que corresponde a 5% do litoral brasileiro, que pesquisadores da Ufes estão desenvolvendo uma pesquisa inédita por meio do Programa de Estatística Pesqueira do Es-pírito Santo. Trata-se de uma cooperação entre a Ufes e o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA).

A pesquisa objetiva mapear as potencialidades pes-queiras no Estado e disponibilizar um rico banco de infor-mações a partir do monitoramento de 22 dos 43 portos de desembarque de pescado; de Marobá, em Presidente Kennedy, extremo sul do Estado, a Conceição da Barra, ao norte. Atuam no Laboratório de Estatística Pesqueira do Centro Universitário Norte do Espírito Santo (Ceunes), da Ufes, no campus de São Mateus, 35 pessoas, entre pesqui-sadores, coletores de informações, digitadores e técnicos. O coordenador da pesquisa, o professor Maurício Hostim Silva, adianta que no início de 2013 será publicado o rela-tório estatístico com os primeiros dados do programa.

Técnicas genuínasO supervisor técnico da pesquisa, o oceanógrafo Gui-

lherme Scheidt, explica que ela possui uma metodologia específica desenvolvida em parceria com o Instituto Brasi-leiro de Geografia e Estatística (IBGE), cujo formato poderá ser replicado para todo o País. Ele observa que o programa vai apresentar um valioso conjunto de informações sobre a atividade pesqueira no Estado. “Fazemos uma média de três mil entrevistas por mês com os pescadores, assim que eles chegam ao desembarque”, assinala. “Temos um volume sig-nificativo de informações que nos permite o acesso a dados sobre a pesca, com mapas especializados e detalhados so-bre a produção”, completa. “Nossa meta é gerar informações para diferentes públicos”, acrescenta.

Por meio da pesquisa, o Espírito Santo poderá ter uma participação maior no mapa nacional e internacional da pesca. A produção pesqueira em Itaipava, no sul do Esta-do, por exemplo, eleva o litoral capixaba ao posto de maior produtor de atum do Brasil. “A frota de Itaipava é conheci-da internacionalmente”, observa. Segundo Scheidt, o Estado exporta espécies como dourado, badejo e cioba, além do atum, que são peixes de elevado valor agregado e muito apreciados pelos consumidores. O pesquisador ressalta que, no Espírito Santo, os profissionais do ramo desenvolveram técnicas genuínas de pesca por meio de linha e anzol.

Pesquisa desenvolvida no Ceunes/Ufes monitora a pesca no litoral capixaba e prepara o primeiro relatório estatístico com o objetivo de ordenar o setor para o aumento da produtividade com equilíbrio ambiental

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O Programa de Estatística Pesqueira vai apontar soluções para o setor?

A proposta é subsidiar o desenvolvimento de tecnologias de captura para que o Estado aumente a sua produção. Em relação ao atum, já estamos mais avançados, mas podemos crescer em produ-tividade. Por exemplo, hoje são usadas iscas na-turais como manjubas e sardinhas, que às vezes faltam. Então, um desafio é ter iscas alternativas para melhorar o rendimento, além da formação de recursos humanos para atuar no setor, que é ou-tra necessidade. Precisamos avançar na direção de um ordenamento da pesca no Estado, dada a sua relevância para a economia local.

A pesquisa tem importância para o desenvolvi-mento do Estado?

É importante sim, porque a Ufes vai gerar informações que poderão ser utilizadas de modo estratégico no desenvolvimento do Espírito San-to, oferecendo subsídios sobre a área marinha e costeira, visando a diretrizes de investimentos em diferentes setores. O complexo portuário do Esta-do, por exemplo, poderá receber dados relevantes

maurício Hostim da Silva“Desenvolvimento econômico com equilíbrio ambiental”

para que esta atividade reduza os impactos em comunidades pesqueiras, e se estabeleça uma re-lação sustentável.

Petróleo e portos afetam a pesca? Sim, e existe uma preocupação nestes dois

setores sobre como reduzir essa influência. E, nes-te aspecto, poderemos orientar, por exemplo, so-bre as áreas vulneráveis e contribuir para o desen-volvimento econômico com equilíbrio ambiental.

Então a questão ambiental está associada à pesquisa?

O monitoramento nos permite enfrentar de-safios ambientais com mais segurança, como em relação às espécies ameaçadas e sobre os ciclos re-produtivos da lagosta e do camarão, por exemplo. Poderemos em breve subsidiar a elaboração de po-líticas públicas voltadas para a proteção e conserva-ção dos recursos vivos, orientando sobre o tamanho mínimo de captura e os instrumentos mais adequa-dos de pesca. O nosso primeiro relatório será o pon-to de partida para um histórico da área, para então trabalharmos com perspectivas de longo prazo.

P E S Q U I S A

35UNIVERSIDADE - Revista da Ufes - Jan/Abr 2013

Quais espécies importantes povoam o mar do Es-pírito Santo?

O camarão é muito importante, principal-mente no norte. Mas temos peixes como o cherne, badejo, garoupa, dentão, vermelho, cioba, entre outros, todos de alto valor agregado e de ótima receptividade no mercado.

O Estado terá um mapa detalhado da pesca?O nosso objetivo maior é identificar o que

se está pescando em nosso litoral, e onde se está pescando. A nossa proposta é o Estado ter um mapa de toda a cadeia produtiva e quanto isto está gerando.

O programa é resultado somente do convênio com o MPA?

A meta é transformar o programa em patri-mônio do Espírito Santo, sendo um núcleo impor-tante de desenvolvimento de pesquisa científica e tecnológica na área da pesca. Queremos ser uma referência nacional, mantido pelo Estado, como ocorre em Santa Catarina e São Paulo. Além da parceria com o MPA, estamos dialogando com ou-tros setores como a Petrobras. Também já apre-sentamos o programa à Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia, que ficou sensibilizada quan-to à importância do programa.

No início, a pesquisa estava direcionada somente para o monitoramento do atum.

Sim. Itaipava, maior produtor, foi o nosso carro-chefe. Começamos o programa levantando informações científicas para a Comissão Internacio-nal para a Conservação do Atum Atlântico (ICCAT),

para o manejo sustentável e economicamente efi-ciente da produção de diferentes espécies de atum, em que o Estado está entre os principais produto-res do País. Inevitavelmente, porém, passamos a ter contato com a diversidade de espécies de peixe no litoral capixaba, o que nos fez ampliar o programa. Com essa abrangência maior, poderemos saber do que as diferentes espécies se alimentam, o período de reprodução, a densidade por metro quadrado; enfim, estamos com uma proposta maior.

Com essa abrangência maior é possível ter infor-mações que não estavam no plano inicial?

Sim. Descobrimos, por exemplo, que o Estado é um grande produtor de peixes ornamentais. É um mercado muito interessante e que gera divisas para o Espírito Santo. Para se ter ideia, um único peixe de uma espécie pode custar em torno de R$ 300,00. A aquariofilia desperta a paixão por pei-xes de um público muito grande no mercado inter-nacional, e somos grandes produtores, com muito potencial, embora ainda não tenhamos estudos consistentes nessa área.

O programa caminha para ser uma referência na-cional nessa área?

O nosso programa já pode ser considerado uma das três referências do País em termos de estudo e análise da pesca. As principais referên-cias são a Universidade do Vale do Itajaí (Univa-li), em Santa Catarina; e o Instituto de Pesca de São Paulo, que são duas importantes instituições de pesquisa nesta área. Mas o nosso programa na Ufes está caminhando para assumir uma po-sição de destaque.

36 UNIVERSIDADE - Revista da Ufes - Jan/Abr 2013

O Programa da Ufes de Monitoramento Pes-queiro objetiva o levantamento de dados, busca o conhecimento dos padrões de distribuição espacial e temporal, do esforço de pesca, das espécies captu-radas e dos rendimentos, para se avaliar o impacto da pesca sobre os recursos, e estabelece diretrizes que resultem no ordenamento adequado à atividade.

São 22 portos de desembarque de pescados monitorados pelo programa. Na região Norte, estão os portos de Conceição da Barra, Barra Nova, Barra Seca e Regência; na região Sul, os portos de Pero-cão, Itaipava, Pontal do Itapemirim, Barra do Itape-mirim, Marobá, Anchieta, Piúma e Guarapari; e, na região central, os de Barra do Riacho, Barra do Sahy, Santa Cruz, Nova Almeida, Jacaraípe, Manguinhos, Carapebus, Praia do Canto, Praia do Suá e Prainha.

No Laboratório de Estatística Pesqueira do Ceunes/Ufes, os pesquisadores acompanham, dia-riamente, os levantamentos realizados em toda a costa capixaba. A oceanógrafa Damiane Silvestre Coelho explica que os 22 coletores utilizam pla-nilhas em todos os desembarques, onde somente os mestres das embarcações repassam as infor-mações. Eles registram o peso do pescado, as es-pécies capturadas, os tipos de artefatos utilizados na pesca, a quantidade de combustível usada na embarcação, a área navegada, o tempo de pesca, o número de pescadores, entre outras.

Inseridos na comunidadeSão informações bem detalhadas que poste-

riormente são organizadas, digitadas e armazena-das no banco de dados do programa, que é de-senvolvido pelos coordenadores de tecnologia da informação, os estudantes Hédrich Colona e Camila Calazans, do Ceunes. O biólogo Joelson Musiello

Pesquisa busca ordenamento da atividade

Fernandes relata que os coletores do programa são escolhidos pela comunidade de pescadores onde eles vão atuar, e que são remunerados e têm cartei-ra de trabalho assinada. “O coletor de dados precisa ser alguém que já esteja inserido na comunidade e que tenha a confiança dela”, ressalta Fernandes.

A oceanógrafa Andréia Schwingel estuda as espécies, as formas e os períodos de captura. “Para o dourado, por exemplo, a frota é dirigida entre os meses de novembro e dezembro”, explica. “Neste período, os pescadores se dedicam exclusivamente à pesca do dourado”, completa. Ela conta que exis-tem as pescas associadas. Ou seja, o pescador sai para capturar determinada espécie e acaba pescan-do outras também. Segundo ela, na pesca da vaqua-ra (atum pequeno), captura-se grande quantidade do peixe bonito, de alto valor comercial.

A pesquisa já revela aspectos importantes para o ordenamento da pesca local. Por exemplo, no sul e na região central, os pescadores realizam pescas de vários dias; enquanto no norte predo-mina a pesca de um dia. Outro aspecto constatado é que no sul o setor é mais profissionalizado, en-quanto no norte ainda há maior atividade artesa-nal. No Espírito Santo existem dezenas de portos, muitos dos quais sem capacidade de armazena-mento. “Tanto assim que a maior parte dos conge-lados vem de fora do Estado”, observa.

“Em Santa Catarina, por exemplo, existem dois ou três grandes portos com boas condições de infraestrutura, enquanto no Estado são dezenas de pequenos portos sem a necessária capacidade operacional”, destaca a pesquisadora. As estudan-tes de Biologia Gabriela Cesquine e Flora Zauli também participam do programa. Elas se dedicam aos estudos sobre o camarão.

P E S Q U I S A

37UNIVERSIDADE - Revista da Ufes - Jan/Abr 2013

Claudinéia Sacramento Ramos, 37 anos, é co-letora de informações no porto de desembarque de Conceição da Barra, norte do Estado. Membro da comunidade de pescadores local, Claudinéia é determinada e entusiasmada com o trabalho. Dia-riamente ela vai para o porto acompanhar o desem-barque e entrevistar os mestres. Os pesquisadores elogiam o seu desempenho e dizem que, muitas ve-zes, ela coleta informações adicionais importantes que nem sequer constam da planilha de entrevista.

“Eu tenho muita esperança que este trabalho traga resultados muito positivos para a pesca, e prin-cipalmente para a melhoria da qualidade vida e de trabalho dos pescadores”, comenta. Claudinéia sabe o que diz; afinal, ela mesma era pescadora antes de entrar para o programa. “Toda a minha família vive da pesca, os pais, os irmãos, todos os nossos amigos. Neste trabalho me sinto em casa”, salienta a coletora.

Benedito Porto, presidente da Associação dos Camaroeiros e Maricultores de Conceição da Barra, reforça o que diz Claudinéia e vai além. “As empre-sas não vão profissionalizar e investir no setor sem dispor de informações precisas sobre onde estão entrando; e, para isto, o programa da Ufes pode-rá ajudar muito”, observa, com simplicidade. “Falta incentivo do poder público”, arremata. “A pesquisa também vai ajudar muito a conscientizar os pesca-dores quanto à preservação do meio ambiente, para que o peixe nunca falte”, destaca.

“Para que o peixe nunca falte”

A pesca do dourado também é monitorada pelos pesquisadores

Claudinéia Sacramento é uma das coletoras de dados da pesquisa

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Os dados do último censo do Instituto Brasi-leiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que em 2010 havia 20,5 milhões de idosos no Brasil, que representavam 10,8% da população do País. O crescimento contínuo do número de idosos traz cada vez mais à tona uma questão: como garantir maior qualidade de vida e inclusão social a terceira idade? Pensando nisso, há 16 anos a Universidade Aberta da Terceira Idade (Unati) reúne, semanalmente, cerca de 150 pessoas, que participam de um curso de exten-são que inclui a realização de aulas socioculturais.

A Unati é coordenada pelo Núcleo de Estudos sobre Envelhecimento e Assessoramento à Pessoa Ido-sa, do Departamento de Serviço Social da Ufes. Ela oferece aulas nas áreas de educação para o envelhe-cimento; saúde; corpo e movimento; organização e participação social; dança sênior; atividades de mo-bilização e oficinas temáticas. Embora o curso tenha duração de dois anos, a coordenadora do programa e professora do Departamento de Serviço Social, Maria das Graças Cunha Gomes, afirma que muitos idosos não deixam de frequentar as aulas mesmo após esse tempo. Por isso, hoje existem pessoas com mais de 90 anos que continuam participando do projeto.

Por outro lado, além do auxílio prestado aos idosos, a Unati também é importante para os estu-dantes de graduação e pós-graduação de Serviço Social, pois possibilita o desenvolvimento de pes-quisas científicas nessa área. “No núcleo, a partir das possibilidades de pesquisa, os alunos encontram substâncias, elementos para refletir sobre determi-nadas questões, de acordo com seu interesse”, diz a professora Maria das Graças. Atualmente, os estudan-

tes e professores envolvidos no projeto trabalham na construção do perfil dos idosos que procuram a Unati, visando identificar quem eles são e quais as suas necessidades, a fim de complementar, inclusive, a programação do próprio curso.

“Às vezes, o profissional que trabalha muito cotidianamente não se atenta para a parte da pes-quisa, que é muito importante. E eu levava minha experiência como pesquisadora para ajudar os par-ticipantes”, afirma Laiz dos Santos Rodrigues, aluna do 6º período de Serviço Social, que durante um ano foi estagiária da Unati.

O grupo de pesquisao Núcleo de Estudos sobre Envelhecimento

e Assessoramento à Pessoa Idosa é composto por 11 estudantes e professores do Departamento de Serviço Social e já publicou 15 artigos de iniciação científica, cinco monografias e cinco dissertações de mestrado publicados. Para a coordenadora do núcleo, Maria das Graças Cunha Gomes, o aumento da população idosa – condicionado, entre outros fatores, pelo aumento da expectativa de vida – é uma tendência no País e exigirá, em um futuro não tão distante, muito mais cuidado por parte dos go-vernos e da sociedade em questões como a me-lhoria dos sistemas de saúde e de habitação.

Nesse sentido, além do trabalho realizado dire-tamente com os idosos por meio da Unati, a principal função do grupo de pesquisa é sua contribuição para a elaboração de políticas públicas voltadas para os idosos e o estímulo à reflexão por parte da sociedade diante de seu papel de acolher essa população. Para tanto, o grupo participa de fóruns de discussões e mi-nistra reuniões junto ao Conselho do Idoso no Estado.

Uma das pesquisas mais relevantes do Núcleo foi o Diagnóstico de Assistência Social para a Pessoa Idosa no Espírito Santo, realizado desde 2010 e con-cluído no início de 2012, que, a partir de um ques-

Universidade oferece curso de extensão para cerca de 150 pessoas

E X T E N S ã o

3ªidadePortas abertas para a

3ªidade

39UNIVERSIDADE - Revista da Ufes - Jan/Abr 2013

tionário aplicado em 30 municípios, visava verificar a aplicação da Política Nacional de Assistência So-cial no Estado, em especial a relacionada aos idosos.

Segundo a professora Maria das Graças, ainda há problemas como falta de treinamento e de espe-cialização de profissionais. “Um dos principais resul-tados é uma mudança quanto à visão da assistência social, que deixou de ser encarada apenas como um benefício, para ser vista como um direito pertinente a todos os cidadãos e que, por isso, tem ganhado bas-tante visibilidade nos últimos governos”, esclarece ela.

O núcleo está realizando atualmente duas pes-quisas: o levantamento de reportagens relacionadas à velhice que saem no jornal A Gazeta, a fim de veri-ficar quais os assuntos são mais discutidos, e A Confi-guração do Estado da Arte na Área do Envelhecimento, que busca mapear a produção científica nacional so-bre o tema nos cursos de Serviço Social através de bancos de dados da Capes, do CNPq e do Encontro Nacional de Pesquisadores de Serviço Social.

Os frequentadoresTanto tempo de convivência faz com que

estudantes e professores que participam da Una-ti estabeleçam vínculos que vão além da troca de experiências. Os abraços, apertos de mãos ou as conversas informais que surgem na hora do lanche revelam um ambiente saudável, onde todos estão dispostos a dar e a receber atenção.

Ana Maria Puppin, 64, é aposentada há mais de 20 anos e há 15 frequenta as aulas da Unati. Mesmo após a aposentadoria, ela não deixou de trabalhar e agora se dedica a participar de dois grupos: o “Amor”, que busca promover melhores condições de saúde e qualidade de vida para as pessoas por meio de visi-

tas e arrecadação de fundos para a manutenção de instituições como asilos e creches, e o “Grupo Vida”, dos aposentados do banco Banestes, onde ela tra-balhou. “Minha missão é ajudar as pessoas. Às vezes você chega para dar carinho e acaba recebendo ca-rinho”, conta ela. No momento, Ana Maria participa da oficina de memória e diz que as experiências ad-quiridas nos cursos da Universidade a ajudam a lidar com os trabalhos que ela realiza com os grupos.

Já Joana Sebastiana tem 93 anos e participa do projeto desde o seu início graças ao incentivo da filha. Nascida no interior de Minas Gerais, ela não teve, quando jovem, a oportunidade de ser alfabeti-zada e conta que só aprendeu a escrever o próprio nome para assinar os papéis de seu casamento. “Aqui na Unati eu aprendi a ler e a escrever um pou-co. Agora eu vou para um monte de lugares, conhe-ço um monte de coisas. Já fui até para Jerusalém e fiquei lá durante 22 dias”, lembra ela, sorrindo.

Martha Riva Manola, 91, participa da Unati há dez anos e afirma ter feito muitas amizades durante esse tempo. “Aqui a gente conhece tantas pessoas, eu amo isso aqui. Em casa a gente só fica bordan-do e tricotando”, ela diz. Assim como Joana, Martha conta que, por ser mulher, os pais não permitiram que ela estudasse na infância e que através da Una-ti, ela pôde desenvolver o hábito de ler.

Por outro lado, Martha explica que com o avan-ço da idade ela não tem a mesma saúde e as habili-dades que tinha antes e, por isso, atividades como os exercícios de memória que a Unati oferece são muito importantes para retardar o processo de envelheci-mento. “Já não sou mais a mesma que eu era no ano passado. Então esses exercícios são muito bons, eles ajudam muito”, afirma a aluna dedicada.

Apresentação do grupo de Dança Sênior no encerramento do semestre letivo –2012/1

Visita dos alunos da Unati ao Museu Solar Monjardim

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Laboratório da Ufes é o primeiro do Brasil credenciado para certificar a qualidade de vinhos e vinagres importados

certificadoVinhocertificado

L A b o R A T ó R I o

Maíra Mendonça

Equipe de pesquisadores do Labeves

Dados da Superintendência Federal de Agri-cultura do Espírito Santo indicam que cerca de 40% dos vinhos importados pelo Brasil chegam através do Porto de Vitória. Para garantir a qualidade das bebidas que entram no País, o Ministério da Agri-cultura exige dos fabricantes um certificado que ateste as boas condições de consumo dos produtos. Por esse motivo, em 2006 o Laboratório de Análi-se de Bebidas de Origem Vegetal do Espírito Santo (Labeves) tornou-se o primeiro laboratório do Bra-sil credenciado pelo Ministério da Agricultura para a realização de tais análises em vinhos e vinagres. Criado inicialmente para atender às demandas do Espírito Santo, atualmente o laboratório atende re-giões de todo o País, como, por exemplo, os estados de Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Pernambuco e Rio de Janeiro.

O Labeves faz parte do projeto Ensaios e Análi-ses Laboratoriais, do Instituto de Tecnologia da Ufes, o Itufes. Seu processo de criação teve início em 2004 por meio da Fundação Ceciliano Abel de Almeida, após o Ministério da Agricultura ter buscado o auxílio

da Ufes para a montagem de um laboratório de aná-lises, visto que ele não possuía materiais e técnicos suficientes para emitir os certificados por conta pró-pria. O treinamento para que os técnicos se adequas-sem aos padrões de análise exigidos pelo Ministério durou até o final de 2005 e, em janeiro de 2006, o Labeves foi credenciado.

Os técnicos do Labeves fazem em média 200 análises por mês, chegando a dobrar esse núme-ro em certos períodos. O resultado é um total de mais de 15 mil análises realizadas em seis anos. No laboratório são feitos 15 diferentes tipos de

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Testes de qualidade

Desde 2008 a qualidade das aná-lises realizadas pelo Labeves vem sendo testada através de sua participação em programas interlaboratoriais, cujo líder é a Rede Metrológica do Rio Grande do Sul, responsável por enviar amostras de bebi-das para os laboratórios e avaliar as análi-ses feitas por cada um. Segundo o profes-sor Angelo Gil, os testes feitos até agora comprovam a eficiência do Labeves, visto que todas as análises foram aprovadas.

O Labeves também foi um dos pri-meiros laboratórios a se associar à Rede Capixaba de Metrologia – criada em 2002 sendo que um dos fundadores é o profes-sor Angelo Gil–, participando de ativida-des de treinamento e programas de quali-ficação laboratorial liderados por ela.

análises, entre elas a verificação dos teores alco-ólicos, de açúcar, acidez e densidade dos produtos. De acordo com o diretor superintendente do Itufes e coordenador geral do Labeves, professor Angelo Gil Pezzino Rangel, esses testes, feitos em no máxi-mo sete dias, são realizados para comprovar se as informações dadas pelos produtores em relação às bebidas são verdadeiras. Caso elas estejam corre-tas, são emitidos os certificados de qualidade.

Segundo o professor, é papel das universidades promover esse tipo de serviço não só como uma for-ma de retribuir os investimentos que recebe da socie-dade, mas também como um modo de elevar o nível de conhecimento social. “Quando não há na região um órgão que seja capaz de suprir esse tipo de servi-ço para a sociedade, é função da universidade realizar o que nós chamamos de serviços tecnológicos, que não são uma simples prestação de serviços, mas sim serviços especializados”, explica o coordenador.

Ao todo, nove funcionários trabalham no La-beves: três técnicos em Química e dois estagiários do curso de Farmácia, além do coordenador geral, professor Angelo Gil; o coordenador do laboratório, professor Wolfgang Enrico Riegert; o coordenador administrativo do projeto Ensaios e Análises Labora-toriais, José Sirkis Gottlieb; e a coordenadora de de-senvolvimento de projetos, professora Ana Cristina Nascimento Chiaradia. Este último cargo foi criado em setembro do ano passado devido ao aumento do número de consultas e à necessidade de organizar o processo de desenvolvimento do próprio laboratório, uma vez que, a partir do segundo semestre de 2013, o grupo pretende obter a creditação junto ao Inmetro para fazer análises e emitir certificados de destilados alcoólicos, como cachaça, whisky e vodka.

PesquisasO Laboratório de Análise de Bebidas de Origem

Vegetal do Espírito Santo possui equipamentos so-fisticados, avaliados em aproximadamente 700 mil reais. E, para que toda essa estrutura seja mais bem aproveitada, ele também é utilizado para a realização de pesquisas de alunos de iniciação científica e mes-trado dos cursos de Farmácia, Química e Odontologia.

O estudo sobre a Aplicação de métodos quimio-métricos para a caracterização de vinhos do estado do Espírito Santo, coordenado pela professora do Depar-tamento de Química da Ufes, Rosângela Barthus, é um exemplo de pesquisas desenvolvidas no Labeves desde 2011 com a colaboração do Núcleo de Compe-tências em Química do Petróleo (Labpetro) e do La-boratório de Química Analítica, ambos do Centro de

Ciências Exatas da Ufes. De acordo com a professora Rosângela, o objetivo da pesquisa é a caracterização dos vinhos do Estado a partir de análises que deter-minam, por exemplo, o índice de metais presentes nas bebidas. Os primeiros resultados foram apresentados este ano na Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, em São Paulo, e no 12th Rio Symposium on Atomic Spectrometry, no Paraná. 

Desde de maio de 2012, a equipe do Labeves conta tam-bém com a contribuição da enóloga Sônia Aiello, respon-sável por fazer a análise orga-noléptica dos vinhos, que está relacionada aos aspectos sen-soriais como a cor, o cheiro e o sabor das bebidas. O enólogo é o responsável por estudar todos os aspectos relativos ao vinho, desde o plantio e a colheita das uvas, até a pro-dução, o envelhecimento e a comercializa-ção da bebida. Por isso, segundo o professor Angelo Gil, a partir deste ano, o grupo pre-tende realizar treinamentos com duração de dois ou três dias para pessoas que desejarem aprender mais sobre análise técnica e pala-dar dos vinhos.

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Estimular o desenvolvimento de novas práticas pedagógicas para o ensino da Educação Física nas escolas do Estado. Esse é o principal objetivo do La-boratório de Estudos em Educação Física (Lesef), do Centro de Educação Física e Desportos da Ufes, que reúne cerca de 30 pesquisadores, entre professores do Centro, alunos de iniciação científica, mestran-dos, doutorandos e professores de Educação Física já graduados, que desenvolvem estudos em cinco linhas de pesquisa: Educação Física e Saúde; Epis-temologia da Educação Física; História da Educação Física e do Esporte; Sociologia das Práticas Corpo-rais; e Teorias Pedagógicas em Educação Física.

De acordo com o coordenador do Lesef, pro-fessor Valter Bracht, a principal responsabilidade do professor de Educação Física é ensinar seus alunos a se relacionarem de forma crítica com o fenôme-no da Cultura Corporal de Movimento, que engloba vários aspectos, entre eles o consumo de produtos voltados para o corpo. “É preciso ensinar as crianças e os adolescentes como consumir produtos para o corpo e a compreender criticamente esse fenôme-no para que eles entendam, por exemplo, por que frequentam uma academia”, diz o professor.

O Diagnóstico da Educação Física Escolar do Es-pírito Santo, realizado pelo Lesef em 1998 buscava identificar as principais atividades e o modelo pe-dagógico utilizado para a implementação da disci-plina através do acompanhamento de aulas, de en-

trevistas com os docentes e da aplicação de ques-tionários para os alunos. Ficou evidenciado nesse estudo que além da prática da Educação Física ainda estar atrelada a um modelo esportivo, vol-tado somente para os esportes, era possível tam-bém observar o fenômeno da “não-aula”, em que muitos professores, em vez de ministrar suas aulas, as deixavam sob o controle dos próprios alunos. A partir do diagnóstico, chegou-se à conclusão que o modelo de educação continuada oferecido pela universidade não estimulava a criação de novas formas de ensino por parte dos professores. Des-de então, um dos principais focos de análise dos pesquisadores tem sido a elaboração de um corpo de estudos destinado a fomentar práticas pedagó-gicas de Educação Física inovadoras.

HistóriaO Lesef foi criado em 1996 quando as pes-

quisas no campo da Educação Física começavam a se desenvolver na Ufes. A ideia era produzir um conjunto de conhecimentos que permitissem a elaboração de uma teoria nessa área. Para tanto, buscou-se alicerces em várias áreas de conheci-mento, como história e epistemologia da Educação Física, e história do esporte. A criação do laborató-rio foi estimulada por um movimento denominado Pensamento Pedagógico Renovador da Educação Física, que surgiu na década de 1980 em função

inovadorasPráticas

Laboratório de Estudos em Educação Física promove práticas diferenciadas de ensino

P E S Q U I S A

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da necessidade de integrar a Educação Física aos discursos e aos projetos de educação voltados para uma perspectiva de ensino mais humana e mais democrática, já que, naquele momento, o País passava por um período de transição entre o regime militar e a redemocratização.

Para um dos orientadores do Lesef, o pro-fessor Felipe Quintão, a principal função do laboratório é desenvolver pesquisas no âmbito das ciências sociais para interferir positivamen-te no modo como a Educação Física é aplicada nas escolas. “Alguém da Sociologia, por exem-plo, poderia propor um trabalho semelhante a esse. Mas ele não está preocupado com as prá-ticas de Educação Física. A nossa preocupação é ir a essas teorias de base e voltar para nossas especificidades”, salienta.

Ueberson Ribeiro Almeida (doutorando em Educação), Tacia Ramos Varnier (mestranda em Educação Física) e Renan da Rocha (graduando em Educação Física) são integrantes do Lesef. Para eles, além de permitir a ampliação dos conheci-mentos adquiridos na sala de aula, por tratar-se de um ambiente heterogêneo, composto por dife-rentes indivíduos e diferentes grupos de pesquisa, o laboratório estimula os pesquisadores e profes-sores a conviverem com as diferenças e a trocar experiências, fatores que, quando bem aplicados, culminam em um aprendizado para toda a vida.

Pesquisas

O Laboratório de Estudos em Edu-cação Física mantém nove projetos de pesquisa em andamento. Entre eles está o Educação Física Escolar: entre a inovação e o desinvestimento pedagógico, em que, por meio de estudos de casos, o grupo busca identificar práticas de inovação e de aban-dono pedagógico realizadas por professo-res de Educação Física nas escolas. Para isso, é feito um acompanhamento sema-nal das aulas e do funcionamento das ins-tituições de ensino ao longo de um ano.

Iniciada em 2007, a pesquisa forma hoje uma rede de investigação, compos-ta pela Ufes, pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí), pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e pela Univer-sidade Federal de Santa Maria (UFSM). Na Argentina, o projeto possui ligações com a universidad Nacional de La Pampa, universidad Nacional Del Córdoba e Uni-versidad Nacional Del Comahue.

Outros dois projetos importantes são o Políticas de formação em Educação Física e Saúde Coletiva e o Educação do corpo em diferentes instituições, artefatos midiáticos e práticas culturais. O primei-ro é financiado pelo Ministério da Saúde e feito em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS) e a Universidade de São Paulo (USP). Nele, os pesquisadores analisam o processo de implementação do professor de Edu-cação Física nos programas nacionais Saúde da Família e Saúde na Escola, bem como quais as atividades são desenvolvi-das por esses profissionais. Já o segundo projeto investiga os cuidados com o cor-po vinculados aos diversos discursos de promoção de saúde a partir dos diferen-tes artefatos e práticas culturais.

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O grupo Nutrição e Saúde de Populações da Ufes é o primeiro no Brasil a realizar pesquisas po-pulacionais com crianças de escolas públicas e par-ticulares de áreas rurais e urbanas do Espírito Santo.As crianças que participam da pesquisa se subme-tem a avaliação cardiovascular, que inclui a medição de aspectos como rigidez e pressão arterial. Entre os resultados obtidos até agora está a elaboração de um questionário capaz de identificar o nível de ativi-dade física e o Índice de Alimentação do Escolar, que avalia se a dieta das crianças pode ser considerada boa ou de baixa qualidade.

O objetivo do grupo de pesquisa, criado em 2006, é estudar questões relacionadas à alimen-tação e à atividade física e seus determinantes biológicos, sociais e econômicos, a fim de subsi-diar a criação de políticas voltadas para a área de nutrição e saúde – que ainda são inexistentes – de acordo com as características dos habitantes de

Nutriçãoe nível de atividade física de crianças

cada região, gerando assim um impacto positivo sobre a qualidade de vida das pessoas.

Segundo a coordenadora do projeto e professo-ra do Departamento de Educação Integrada em Saú-de, do Centro de Ciências da Saúde, Maria Del Car-men Bisi Molina, o grupo tem duas grandes questões a resolver. “A primeira são as lacunas relacionadas à produção do conhecimento científico, e a segunda é o quanto isso pode gerar de informação útil para o planejamento de ações de intervenção”, afirma a professora. Hoje, o grupo é formado por 20 pessoas, incluindo estudantes, mestrandos e profissionais das áreas de nutrição, educação física e enfermagem.

O estudo realizado com crianças na faixa de 7 a 10 anos começou em 2007, com o projeto Saúde Vitória, que avaliou 1.882 crianças da Capital, Vitó-ria. Em 2009, foram retomadas as pesquisas, dessa vez na área rural, com 901 crianças do município de Santa Maria de Jetibá. O objetivo é estabelecer

P E S Q U I S A

Pesquisadores da Ufes inovam ao estudar o nível de atividade física e o índice de alimentação dos alunos de escolas do Espírito

Santo para obter indicadores brasileiros

45UNIVERSIDADE - Revista da Ufes - Jan/Abr 2013

comparações entre aspectos da saúde de crianças que vivem em meios diferentes, tais como sobrepe-so, pressão arterial, nível de atividade física e se-dentarismo, levando em consideração aspectos so-ciais, familiares e individuais. Além da avaliação das crianças, foi realizado também um estudo com as mães, a fim de verificar o modo como elas avaliam as condições nutricionais de seus filhos e ver se essa avaliação corresponde aos resultados obtidos.

Embora os dados ainda estejam sendo analisa-dos, é possível concluir que, apesar de as caracterís-ticas alimentares serem semelhantes, as crianças da área rural apresentam um índice de sobrepeso menor (11,2%) do que as de áreas urbanas (19,5%). Isso se deve ao fato de que o nível de atividade física das crianças do interior é maior do que o das crianças de áreas urbanas – onde o sedentarismo é grande e está relacionado principalmente ao tempo de exposição à televisão e a outros aparelhos tecnológicos –, além de o hábito do desjejum ao amanhecer praticado em regiões interioranas apresentar-se como um fator de proteção contra o excesso de peso.

Dentro dessa linha, o grupo ainda faz pesquisas comparativas entre as condições de nascimento de crianças, como prematuridade, peso e amamentação, e sua relação com problemas cardiovasculares. Esse estudo baseia-se na teoria da programação fetal, que afirma que as condições de nascimento e o tempo de amamentação podem interferir nessas questões.

ElsaDe acordo com a professora Maria Del Carmen,

grande parte das pesquisas em nutrição se baseia em populações de outros países, que possuem há-bitos de vida e de alimentação diferentes dos bra-sileiros. Por isso, com o intuito de elaborar estudos nessa área voltados para a população local, o grupo Nutrição e Saúde de Populações também participa do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto, o Elsa.

Nesse projeto, que acompanha a saúde de 15mil trabalhadores de instituições públicas de ensino em seis capitais (Vitória/ES, Rio de Janeiro/RJ, Salvador/BA, São Paulo/SP, Belo Horizonte/MG e Porto Alegre/RS), os participantes atuam na ela-boração de métodos para a coleta de dados, como o questionário de frequência alimentar, além de realizarem estudos como a verificação do consu-mo de sódio e potássio a partir da urina e a análise da relação entre o consumo de alimentos antio-xidantes e a diminuição de problemas cardiovas-culares. Por tratar-se de um estudo realizado ao longo de anos, ainda não existem resultados.

Pesquisa sem fronteiras

Raiane Pereira da Silva é aluna do 5º período do curso de Nutrição da Ufes e, através de sua participação no grupo Nu-trição e Saúde de Populações, foi selecio-nada em 2012 pelo edital do programa Ciências Sem Fronteiras, que disponibiliza vagas para estudantes em universidades de todo o mundo. Atualmente, Raiane es-tuda na Universidad Autónoma de Madrid e realiza uma pesquisa na área de Nutri-ção e Dieta das Populações Humanas inti-tulada Estado nutricional en la gestación y su relación com riesgo cardiovascular em la descendência. Trata-se de um estudo que investiga se o estado nutricional das mães é capaz de influenciar o risco de doenças cardiovasculares em seus filhos. Posterior-mente, será feita uma comparação com os dados coletados em Vitória a fim de dis-cutir o estado nutricional de crianças do Espírito Santo e da Espanha.

“O grupo de pesquisa de que participo me ajudou muito. Obtive bastante amadu-recimento, pois nele eu posso estudar as-suntos diversos que não se limitam apenas àqueles estudados na  graduação,  e isso eleva meus conhecimentos. Minha expec-tativa para esse estudo na Espanha é muito grande, eu espero poder levar de volta ao Brasil resultados positivos dessa experiên-cia”, ressalta Raiane, que ficará durante 11 meses na Espanha.

46 UNIVERSIDADE - Revista da Ufes - Jan/Abr 2013

A apneia é um dos principais distúrbios do sono provocados pela dificuldade de respiração e já é considerado um problema de saúde públi-ca. Visando reduzir a incidência desse distúrbio, o primeiro Estudo Epidemiológico e de Diagnose Inter-disciplinar das Disfunções Respiratórias do Sono em Escolares do Espírito Santo busca identificar crianças que respiram pela boca e que, portanto, são poten-ciais desenvolvedoras da doença, criando formas de prevenção contra o agravamento desse quadro. De acordo com os resultados, 22% das crianças exami-nadas respiram de forma inadequada.

O grupo de pesquisa da Ufes responsável pelo estudo surgiu em 2009 e conta com 19 integrantes, entre alunos e professores das áreas de Fisioterapia, Odontologia e Medicina, que avaliam crianças de 7 a 12 anos em 15 escolas do Estado. Até agora o traba-lho já resultou na conclusão de dois projetos de ini-ciação científica e em uma dissertação de mestrado.

A professora do Núcleo de Ciências Fisiológi-cas da Ufes e coordenadora do projeto Maria Teresa Martins de Araújo ressalta que, ao longo do tempo, o ato de respirar pela boca pode causar apneia do sono, em que a pessoa para de respirar por alguns momentos enquanto dorme. Essa doença já atinge cerca de 5% da população mundial, podendo causar problemas como irritação, dificuldade de aprender e aumento do risco de infartos, já que a falta de res-piração dificulta a oxigenação do sangue. “A verifica-

Pesquisa identifica crianças que respiram de forma inadequada para prevenir apneia do sono

P E S Q U I S A

ção de crianças com respiração bucal é importante para a prevenção desses distúrbios, pois por ainda serem jovens elas podem ser tratadas, evitando que esse quadro evolua”, diz a professora.

Já a respiração bucal está relacionada a pro-blemas anatômicos e funcionais, como alterações na articulação da mandíbula com o crânio e na pos-tura, além de problemas como rinite e adenoide. “Se a criança é muito asmática, tem rinite, adenoide ou amídalas grandes, ela acaba respirando pela boca. Por isso, temos de identificar também se esses pro-blemas são causas ou consequências da respiração bucal para tratá-los”, explica Maria Teresa.

Identificação Nas escolas, a equipe se divide em dois gru-

pos. O primeiro é composto por alunos de Medici-na e Odontologia, que identificam as crianças que respiram pela boca e as encaminham para o segun-do grupo, formado por alunos de Fisioterapia. Eles elaboram um questionário de qualidade de vida das crianças e em seguida analisam sua função respira-tória, sua articulação temporomandibular e postura. Os casos mais graves são encaminhados para o Hos-pital Universitário ou outros hospitais.

Após a primeira fase de identificação dos res-piradores bucais, que está quase concluída, serão investigadas também as consequências da respi-ração inadequada sobre a qualidade do sono das crianças através de um exame chamado Polisso-nografia. Para tanto, está sendo construído um la-boratório dentro do Núcleo de Ciências Fisiológi-cas. O grupo também pretende elaborar cartilhas de prevenção, que serão distribuídas nas escolas, como forma de alertar os pais em relação aos ris-cos da respiração bucal e como identificá-la.

reveladorSono revelador

47UNIVERSIDADE - Revista da Ufes - Jan/Abr 2013

Criado em 1996 e inicialmente voltado para profissionais graduados em Medicina, o Progra-ma de Pós-Graduação em Doenças Infecciosas (PPGDI) da Ufes foi o primeiro a abrir, em 2004, ofertas de cursos de mestrado em doenças in-fecciosas para profissionais não médicos, con-templando, assim, alunos de outras áreas, como farmacêuticos, enfermeiros, veterinários e biólo-gos. Além disso, o programa passou a oferecer 20 vagas por ano, sendo que até 2003 eram ape-nas seis. O doutorado, iniciado em 2009, já conta com 18 alunos e duas teses defendidas.

De acordo com os dados da secretaria do pro-grama de pós-graduação, de 2004 até o ano de

Pós-Graduação em Doenças Infecciosas oferece cursos de mestrado e doutorado para alunos de diversas áreas

2012, 30 médicos e 63 profissionais de outras áre-as já passaram pelo mestrado em doenças infec-ciosas, atuando em diferentes linhas de pesquisa.

O atual coordenador do programa, professor Moisés Palaci, explica que no início o mestrado surgiu para atender a uma demanda de médicos interessados em aperfeiçoar sua formação, mas que pela inexistência do programa não tinham essa oportunidade. Passado o tempo, o número de médicos que procuravam o curso diminuiu, visto que a maioria, ao sair da universidade, vai para o mercado de trabalho. A partir disso, viu-se a pos-sibilidade de expandir o curso para outras áreas. “A pós-graduação é um elemento de preparação, capaz de aperfeiçoar o aluno para o desenvolvi-mento de pesquisas e capacitá-lo também a lecio-nar para alunos de graduação”, afirma o professor.

MultidisciplinarUm dos pontos positivos de um programa

multidisciplinar é o aumento da qualidade da produção científica, pelo fato de envolver profes-sores com diversas formações, capazes de aten-der às diferentes necessidades de seus alunos e possibilitar-lhes uma formação mais completa, cujas consequências positivas se refletem sobre a própria sociedade. Para o professor Moisés, tais programas são responsáveis por “levar ao mer-cado de trabalho profissionais mais qualificados para atender não só a si mesmos, mas também às demandas da sociedade e do próprio País”, diz ele.

Só em 2011 foram publicados 56 artigos científicos produzidos por professores e alunos da Pós-Graduação em Doenças Infecciosas em revis-tas internacionais, como a Journal Infeccious De-sersts e a Journal of Clinical Micro Biology, além de 27 artigos inscritos em anais de congressos.

O Núcleo de Doenças Infecciosas (NDI), situado no campus de Maruípe, é responsável por dar suporte ao programa de pós-graduação. Além de auxiliar na formação de alunos de gra-duação – fornecendo estágios e programas de iniciação científica – e pós-graduação, o NDI tra-balha com linhas de pesquisa em doenças como tuberculose, HIV, leshmaniose, dengue, infec-ções hospitalares, entre outras, além de prestar serviços diretos à população, realizando exames diagnósticos dessas doenças a partir da monta-gem de testes rápidos.

PioNEiriSmo

P ó S - G R A D u A ç ã o

48 UNIVERSIDADE - Revista da Ufes - Jan/Abr 2013

A sempre necessária discussão: que desenvolvimento queremos?

eliminação do analfabetismo entre os capixabas. Segundo o IBGE, em 2011 o Espírito Santo tinha como analfabeta 2,1% de sua população entre 10 e 14 anos, e 8,2% das pessoas com mais de 15 anos;

enfrentamento de questões que esgarçam o nosso tecido social, dentre os quais aquelas referentes à violência. Esse esgarçamento pode ser sentido no dia a dia dos capixabas, mas podem ser ilustrados pelo mapa da violência encontrado em Waiselfisz (2011). A contundência dessas evidências deve le-var à mobilização política e social no sentido de desenharmos e operacionalizarmos políticas de co-esão social compatíveis com nossas taxas de cres-cimento econômico;

diminuição da concentração social, espacial e setorial da renda econômica. As decantadas taxas de cres-cimento da economia capixaba ainda estão muito concentradas em poucos setores (majoritariamente naqueles intensivos em recursos naturais, sendo que alguns não renováveis); e em um pequeno número de municípios ao longo da costa. Há que se construir políticas públicas que busquem corrigir (ainda que parcialmente) essas distorções que se avolumam à medida que a economia progride, guiada apenas por uma lógica do mercado.

Um segundo objetivo no gasto do fluxo previsível para os erários estadual e municipais do Espírito San-to nos próximos anos deve ser o de construir ativos que deem sustentação ao progresso social e econômico do Estado quando o herdado do passado (recursos naturais não renováveis) deixar de existir. Dentre áreas priori-

A R T I G o

Arlindo Villaschi*Ednilson Felipe*

* Os autores coordenam o Grupo de Pesquisa em Inovação e Desenvolvimento Capixaba (GPIDECA), Departamento de Economica/CCJE-Ufes (http://economiacapixaba.weebly.com, http://economiacapixaba.wordpress.com/o-gpideca/

Durante algum tempo, o Espírito Santo se viu como o ‘patinho feio’ da Região Sudeste e/ou como o rejeitado pelos irmãos da Região Nordeste. Isso mu-dou nos últimos cinquenta anos: de ‘Nordeste sem Sudene’ no final dos anos 1960, passamos a ‘Sudeste com incentivos’ já no final do século passado. En-tretanto, apesar do bom desempenho da economia como um todo, por razões estruturais, as finanças pú-blicas estaduais ainda assim mantinham-se defasa-das em termos de receitas. Com a exploração de gás e de petróleo na costa capixaba e o correspondente recebimento de royalties também essa situação de escassez de recursos nos cofres públicos do Estado e dos municípios mudou.

Graças a um legado da natureza, dessa explo-ração de gás e petróleo é possível projetar (mesmo levando-se em conta o que deixará de ser recebido em função de alterações nas regras de distribuição de royalties entre estados/municípios produtores e não produtores de gás e petróleo) considerável fluxo de renda para os erários estadual e municipais nos próximos anos.

Esse fluxo de receita, quando comparado com tudo o que o Espírito Santo viveu no passado, coloca--o em situação ímpar em termos de recursos públi-cos disponíveis que podem ser direcionados para mudanças estruturais na formação socioeconômica capixaba. Como eles são fruto de recursos não re-nováveis (ou seja, mais cedo ou mais tarde, o gás e o petróleo acabarão), vale a pena um exercício de como gastá-los de maneira a gerarmos novas fontes de riqueza para o futuro.

Na construção de uma agenda voltada para a discussão política de como gastar receitas do presen-te e do futuro próximo com o objetivo de gerar essas novas fontes de riqueza, seria conveniente dividir os objetivos em duas grande áreas. Na primeira, haveria concentração de aplicação de recursos para o resgate de dívidas sociais acumuladas ao longo de décadas.

Dentre essas, alguns destaques:

49UNIVERSIDADE - Revista da Ufes - Jan/Abr 2013

tárias nessa construção de ativos sociais, econômicos e políticos, ênfase para:

estabelecimento de competências em educação semipresencial principalmente em áreas nas quais é grande a defasagem do Espírito Santo. Além do analfabetismo mencionado acima, há que se bus-car formas e conteúdos alternativos ao que hoje se faz em termos de educação de jovens e adultos, inclusive aquela voltada para a aprendizagem con-tinuada, contemporânea da sociedade do conheci-mento e do aprendizado;

criação/ampliação de conhecimento e sua difusão voltados para setores estratégicos da formação socio-econômica capixaba. Dentre esses, destaques para a:

agricultura familiar – para além do que já é feito para a cafeicultura e voltada para a maior diver-sificação da base produtiva, inclusive com ex-pansão da produção de orgânicos e recuperação de fauna e flora com espécies nativas;

logística – que precisa ser pesquisada, estudada e operacionalizada para além das reivindicações de ampliação da infraestrutura multimodal;

mobilização para a inclusão na agenda política estadual de prioridades para temas que têm sido tratadas como algo distantes das prioridades ca-pixabas. Dentre essas:

energias alternativas – que precisam ser pensa-das em termos contemporâneos de biomassa, eó-lica e fotovoltaica;

vida marinha – maior conhecimento da diversida-de da flora e fauna existente em nossa costa de forma a torná-la fonte permanente de riqueza para os capixabas;

qualidade de vida urbana – que precisa ser recu-perada na agenda de prioridades políticas, sociais e econômicas e que necessita ser pensada para além dos objetivos da construção civil e da maior mobilidade de automóveis por nossas cidades;

design, marketing para Arranjos Produtivos Lo-cais (APLs) – a competitividade sistêmica em segmentos como moveleiro e vestuário está cres-centemente associada a esses serviços intensivos em conhecimento. Por isso, é preciso enraizar ca-pacitações inovativas e tecnológicas neles;

capacitações para diálogos transversais – áreas como mudanças climáticas, biotecnologia, nano-tecnologia são portadoras de futuro. Por isso, é fundamental capacitar-se para melhor entendê--las e identificar janelas de oportunidades sociais, econômicas e políticas que delas podem advir; e

cultura, empreendedorismo e inovação – que pre-cisam ser transversalisadas em todos os níveis de educação e descentralizadas por todo o território capixaba como forma de incrementar tanto a com-petitividade empresarial quanto a capacitação so-cial no Espírito Santo.

Essa agenda preliminar para o debate sobre no-vas formas e novos conteúdos para os dispêndios go-vernamentais no Espírito Santo se faz necessária para que possamos usar a singular fase de estarmos ricos para nos capacitarmos para a construção de um pro-cesso de desenvolvimento sustentável para o Espírito Santo. Afinal, em crescimento sustentado em recursos naturais não renováveis somos especialistas.

Transformar, no entanto, esse processo de cres-cimento em desenvolvimento sustentável (economi-camente viável, socialmente justo, ambientalmente correto e centrado no cuidar de si, do outro e da Mãe Terra) requer a construção de visões compartilhadas sobre o futuro cujos desafios são qualitativa e quan-titativamente bem distintos de tudo o que já vivemos em nossa história política, social e econômica. Por isso, é imprescindível a ampliação dos canais, das formas e dos conteúdos de interações entre o público e o pri-vado; entre o governamental e o não governamental; entre o econômico, o político e o social.

Por isso, o diálogo precisa ser plural, rico e abundante. Coisa de quem está rico e que passa a ficar atento para riquezas outras além daquelas de ordem financeira.

REFERÊNCIA

WAISELFISZ, J. J. Mapa da violência 2011: os jovens no

Brasil. Disponível em http://www.sangari.com/mapada-

violencia/pdf2011/MapaViolencia2011.pdf. Acesso em

12 nov. 2012

50 UNIVERSIDADE - Revista da Ufes - Jan/Abr 2013

E m 2010, a Universidade Federal do Espí-rito Santo (Ufes) contava com um único pedido de patente no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), órgão

responsável pela concessão das proteções no País.Em três anos o número de depósito de patentes

subiu para 13 e ainda há outros 11 pedidos em tra-mitação. Neste período, a Ufes também registrou três marcas e dois programas de computadores.

Os números são tímidos em relação à estru-tura organizacional da Universidade e à sua produ-ção científica, uma vez que a Ufes conta atualmen-te com 1 mil professores doutores e 450 mestres, com 2,2 mil servidores técnicos, mais de 22,3 mil alunos entre graduandos e pós-graduandos, além de 203 grupos de pesquisa registrados em órgãos oficiais. Apesar disso, os números são indicadores do crescimento e da consolidação de uma cultura de inovação que o Espírito Santo – assim como o Brasil, de maneira geral – tenta galgar.

O desafio de consolidar resultados no campo da inovação tem levado o poder público e o setor empresarial a um esforço coletivo em âmbito na-cional. No Espírito Santo, a Ufes tem se proposto compartilhar a liderança de um movimento que

estimule o desenvolvimento de tecnologia e a integração das pesquisas ao anseio da sociedade capixaba. “Temos trabalhado no sentido de dia-logar com os diversos setores da sociedade para conseguirmos relacionar o nosso conhecimento potencial às necessidades do Estado. Internamen-te temos desenvolvido nossos campi e investi-do em pesquisa. Também criamos o Instituto de Inovação Tecnológica (Init) para dar sustentação a nossa política de inovação”, explica o reitor da Ufes, Reinaldo Centoducatte.

Vale ressaltar que a cultura de inovação é re-cente no Brasil. A Lei de Inovação (Nº 10.973), que é de 2004, dispõe sobre incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente pro-dutivo e define as chamadas Instituições Científicas e Tecnológicas (ICTs): “órgão ou entidade da admi-nistração pública que tenha por missão institucio-nal, dentre outras, executar atividades de pesquisa básica ou aplicada de caráter científico ou tecnoló-gico”. Podemos citar ainda a chamada Lei do Bem (Nº 11.196), de 2005, que trata, entre outras coisas, de incentivos fiscais para inovação tecnológica.

De acordo com levantamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), apesar de

Caminho dainovação

Em três anos, o número de depósitos de patentes da Ufes junto ao Inpi passou de um para 13. A Universidade registrou, nesse

período, três marcas e dois programas de computadores

P A T E N T E S

Betânia Cordeiro e Valesca de Monteiro

51UNIVERSIDADE - Revista da Ufes - Jan/Abr 2013

A proteção da propriedade intelectual, como o depósito de uma patente ou o registro de um programa de computador, é estimulada pela Lei da Inovação como forma de incentivar a produção tecnológica e aumentar o controle e o retorno de benefícios que podem ser conquistados pela insti-tuição a partir de negociações com terceiros.

Dirigindo o Init há quatro anos, o professor de física Antonio Alberto Fernandes aponta que a rea-lização do processo de proteção e sua manutenção é apenas uma das atividades essenciais que a Lei atribui a núcleos de inovação como o Init. “Mas não é a única. Há uma série de outras atividades que devem e precisam ser implementadas pelos núcle-os”, comenta, dimensionando o desafio do órgão.

Trata-se de atividades como a implantação de uma política de confidencialidade, a avaliação de

Para além das patentesconveniência de divulgação das criações desenvolvi-das na instituição, o desenvolvimento de projetos de cooperação com terceiros e de contratos de transfe-rência, orientação a pesquisadores, relacionamento com empresas e entes públicos, entre outros.

Ao se propor dar conta dessas atividades, o Init, ao lado de outras 176 instituições que responderam ao Formict deste ano, compõe o cenário nacional de agentes indutores e organizadores do desenvolvi-mento da política de inovação no País. Os dados do MCTI indicam que ações como “o desenvolvimento de projetos de cooperação com terceiros” e “Confi-dencialidade” são os itens da política de inovação implementada pelos núcleos que tiveram maior in-cidência, em 2011. No gráfico abaixo, é possível ter um panorama da implementação das ações dos nú-cleos, em nível nacional e da performance da Ufes.

Gráfico I - Universo total de 126 instituições que informaram possuir política de inovação implementada.

Fonte: FORMICT 2012/MCTI

71,6% das ICTs do País, que responderam ao For-mulário para Informações sobre a Política de Pro-priedade Intelectual das Instituições Científicas e Tecnológicas do Brasil (Formict/2012), possuírem políticas de inovação implantadas, 65,9% delas contam com núcleos de inovação tecnológica (NITs), órgãos responsáveis pela gestão dessas políticas.

Na Ufes, o Instituto de Inovação Tecnológica

(Init/Ufes) foi criado em 2008, pela Resolução Nº 25, com o intuito de gerir a política de inovação da Universidade. O Instituto trabalha focado, principal-mente, em três frentes: desenvolvimento de meca-nismos de integração da rede de inovação tecnoló-gica do Espírito Santo, proteção e comercialização dos bens intelectuais da comunidade acadêmica e promoção da cultura de inovação dentro da Ufes.

Atividades da Política de Inovação

Implementado Não Implementado Init faz

Desenvolvimento de projetos de cooperação com terceirosConfidencialidade

Acordos de parceriasAlianças estratégicas

Contrato prevendo titularidade da PI e participação nos resultadosAtividade de ensino em temas correlacionados à inovação

Prestação de serviçosCompartilhamento de instalações, permissão de utilização

Participação do pesquisador em resultados econômicosContratos de transferência e licenciamento

Bolsa estímulo a inovaçãoRetribuição pecuniária aos pesquisadores

Estímulo ao inventor independenteCessão de direitos sobre a criação para que o criador os exerça

Afastamento para prestar colaboração com outra ICTLicença sem remuneração para pesquisador constituir pesquisa

Outros

91,30%

91,30%

82,50%

77,80%

74,60%

74,60%

72,20%

68,30%

62,70%

61,10%

54,80%

53,20%

50,80%

41,30%

23,00%

18,30%

20,60%

8,70%

8,70%

17,50%

22,20%

25,40%

25,40%

27,80%

31,80%

37,30%

38,90%

45,20%

46,80%

49,20%

58,70%

77,00%

81,80%

79,40%

52 UNIVERSIDADE - Revista da Ufes - Jan/Abr 2013

A Universidade possui depositadas no Inpi 13 patentes desenvolvidas em diversas áreas do conhe-cimento. Conheça um pouco sobre cada uma delas:

Casca do camarãoO invento possibilita a obtenção de uma

substância muito usada na indústria cosmética e alimentícia a partir do exoesqueleto do camarão existente do litoral do Espírito Santo.

Biocombustível A invenção propõe um novo sistema que utiliza

resíduos da casca de coco verde para incrementar a produção de bioetanol celulósico. O sistema pode ser utilizado em indústrias de biocombustível.

“Aço ecológico” Nova tecnologia para produção de aços com

melhores propriedades mecânicas, resistência à corrosão e custo reduzido. Pode ser aplicada em estruturas soldadas, parafusadas ou rebitadas e expostas à corrosão atmosférica ou marinha, sem necessidade de pintura.

Resíduos do abacaxiEnzima abundante no abacaxi, a bromelina é

muito usada nas indústrias farmacêutica, cosmética e alimentícia. A nova tecnologia utiliza as sobras das plantações, otimizando recursos e diminuindo os resíduos no campo. O processo depura a bro-melina a um grau de 90% de pureza, o que agrega mais valor ao produto.

Energético à base de caféA invenção fornece uma bebida alcoólica fer-

mentada à base de polpa de café. Seu processo de produção utiliza resíduos do processamento dos frutos de café, com a finalidade de gerar maior rentabilidade e proporcionar fonte de renda alter-nativa para os cafeicultores.

Água de coco O invento permite que a água de coco tenha

maior tempo de prateleira, mantendo seu sabor característico e suas propriedades nutricionais.

Trata-se de um processo de descontaminação de água de coco por pressão hidrostática.

Cadeira de rodas robótica Trata-se de uma cadeira de rodas robótica,

dotada de sensores, sistema de acionamento e con-trole, saída acústica e interface visual que pode ser comandada por piscadas de olhos, movimento do globo ocular e sinais cerebrais. A cadeira pode ser utilizada por pessoas com deficiência motora severa.

Tratamento de água e esgoto A invenção utiliza material orgânico (como

bagaço de cana e bucha vegetal) como agente de absorção de contaminantes sólidos de efluentes. O sistema filtrante pode ser aplicado em estações de tratamento de esgoto, tratamento de água ou filtros biológicos percoladores.

Produção de petróleoTrês das patentes depositadas pela Ufes es-

tão relacionadas à área de produção de petróleo. Uma delas consiste num processo e sistema para extração de sais de petróleos leves e pesados, a outra num processo para extração de sais de pe-tróleos leves e a terceira num processo e sistema para dessalgação de óleos. As soluções desenvol-vidas em parceria com a Petrobras apresentam vantagens de custo e maior segurança quando comparadas às tecnologias importadas.

Resíduos da indústria têxtilA invenção consiste num processo para tra-

tamentos de águas residuais da indústria têxtil. A tecnologia também pode ser aplicada por qual-quer empresa do segmento de tratamento de efluentes ou chorume.

Testes de impactoOs experimentos de fratura são intrinseca-

mente destrutivos, havendo, em geral, dificuldades para sua reprodução, principalmente nos sólidos frágeis. A invenção consiste em um aparelho para simulação de experimentos não destrutivos de cli-vagem e de fratura frágil.

Patentes depositadas pela Ufes

P A T E N T E S

53UNIVERSIDADE - Revista da Ufes - Jan/Abr 2013

Uma equipe do Departamento de Quí-mica conquistou uma premiação inédita na Ufes: o Prêmio Inventor da Petrobras. A edi-ção 2012 contemplou pesquisadores que depositaram pedidos de patente no ano passado. A Ufes teve três invenções premia-das, destacando-se como a Universidade com o maior número de troféus no evento que reuniu instituições brasileiras como USP, Unicamp e UFRJ.

O Prêmio Inventor 2012 foi concedido aos professores Eustáquio de Castro, Milton Morigaki e Edna Medeiros e aos servidores técnico-administrativos Cristina Sad, Carlos Fraga e Roberta Chimin. As invenções pre-miadas estão relacionadas à área de produ-ção de petróleo. Denominadas “Processo e sistema para extração de sais de petróleos leves e pesados”, “Processo para extração

invenções ganham prêmio

nacional da Petrobras

de sais de petróleos leves” e “Processo e sis-tema para dessalgação de óleos utilizando uma dessalgadora manual”, as soluções de-senvolvidas na Ufes apresentam vantagens de custo e maior segurança quando compa-radas às tecnologias importadas.

As novas tecnologias são o resultado de quatro anos de pesquisas desenvolvidas numa parceria do Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento de Metodologias para Análises de Petróleos (LabPetro) com a Pe-trobras. Com soluções inovadoras para a indústria petrolífera, as invenções estão em processo de patente conjunta.

Criado pela Petrobras em 2001, o Prêmio Inventor envolve todas as áreas de pesquisa e desenvolvimento nas quais a empresa depo-sita patentes: exploração e produção, gás e energia, biocombustível e abastecimento.

I D E I A P R E M I A D A

54 UNIVERSIDADE - Revista da Ufes - Jan/Abr 2013

A Secretaria Especial de Direitos Humanos, órgão ligado à Presidência da República, no Le-vantamento Nacional do Atendimento Socioedu-cativo ao Adolescente em Conflito com a Lei, de 2002 a 2006, apontou que o número de ado-lescentes do sexo feminino envolvidas em atos infracionais aumentou, naquele período, 350% no Espírito Santo.

A tese de doutorado o Envolvimento de Meni-nas e Mulheres Jovens em Atos Infracionais, do pro-fessor Alexandre Cardoso, teve o objetivo de inves-tigar os processos e as condições sociais e econô-micas que levam essas adolescentes a se inserirem na criminalidade. Os resultados apontam para uma trajetória de vida marcada por conflitos familiares e vivências em ambientes violentos, além de mos-trar que, na maioria dos casos, o envolvimento com crimes passa pelo tráfico de drogas.

O trabalho apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Ufes em 2012 ba-seou-se no depoimento de 20 meninas entre 13 e 19 anos – 10 da Unidade de Internação Feminina (UFI) da Unidade de Internação Socioeducativa (Unis) e 10 frequentadoras do Centro de Refe-rência Especializada de Assistência Social (Creas) – que vieram dos municípios de Vitória, Cachoeiro

T E S E

Tese de doutorado analisa o envolvimento de meninas e adolescentes em atos infracionais

de Itapemirim, Castelo, Alegre, Linhares e Aracruz. Elas cumpriam pena por infrações como tráfico de drogas, assalto, furto e lesão corporal.

Foi entregue a essas meninas um roteiro de entrevistas semiestruturado, com perguntas re-lacionadas às suas trajetórias, delitos praticados, experiências dentro da medida socioeducativa e perspectivas de futuro.

Há tempos, as meninas costumam colecio-nar papéis de carta e folhas de caderno. Pen-sando nisso, o professor Alexandre elaborou um método que consistia na entrega de papéis de carta a cada menina, contendo termos referen-tes a aspectos de suas vidas, como uma espécie de título das folhas. “Eram 15 termos, entre eles minha vida, ser mulher, relações afetivas, famí-lia e violência. Foi um método que se mostrou bastante eficaz, pois era um momento em que as meninas ficavam a sós e podiam escrever o que quisessem”, afirma o professor.

Das 20 adolescentes entrevistadas, 16 ti-nham algum tipo de envolvimento com o tráfico de drogas. O fato de serem mulheres, e, portanto, vis-tas como menos suspeitas, facilita sua participação nesse tipo de delito, em que atuam no transporte, na venda e no gerenciamento de bocas de fumo. Segundo o professor Alexandre, para a maioria de-las o tráfico está associado a fatores como poder, fama e dinheiro. Mesmo os riscos de morte ou de prisão não inibem a busca constante por visibilida-de social e aventuras, em que, pela própria falta de outros referenciais de vida, a figura do traficante é vista com uma roupagem de herói.

No entanto, a convivência com novos am-

Maíra Mendonça

Meninasem riscoem risco

55UNIVERSIDADE - Revista da Ufes - Jan/Abr 2013

bientes e exemplos de vida e a participação em espaços de diálogo através das medidas socioeducativas se refletem sobre o comportamen-to das jovens, que em grande parte passam a se reaproximar de suas famílias e assumem uma visão próxima ao comportamento socialmente esperado de uma mulher. “Observa-se que há um conflito en-tre o passado e o futuro dessas meninas. Agora elas pensam em outra forma de ser mulher, em traba-lhar e em serem honestas, fato que se contrapõe ao seu passado, em que em algum momento o envol-vimento com crimes foi uma opção”, diz Alexandre.

A partir dos depoimentos recolhidos, cons-tatou-se uma maior eficácia das medidas socioe-ducativas – em que as meninas têm sua liberdade restringida e têm a oportunidade de passar por tratamentos psicológicos e outros acompanha-mentos – do que da prisão em unidades de in-ternação diante da recuperação das adolescentes infratoras. Esse dado comprova a necessidade de investir na criação de espaços de diálogo como forma de prevenir a inserção de jovens no crime e não somente como forma de punição, aplicada após a prática dos delitos.

Preconceito

Outro desafio a ser vencido e desta vez não só por essas adolescentes, mas por todos, é o pre-conceito, responsável por reduzir as possibilidades de reinserção de ex-infratores no meio social e no trabalho, pois, além da vontade necessária para voltar a conviver com pessoas e ambientes que viabilizam sua reinserção no crime sem ter uma recaída, essas pessoas ainda precisam lutar contra as atitudes desconfiadas da sociedade.

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“A Ufes está pronta para dar novos saltos em direção ao futuro”. A afirmação é do reitor, profes-sor Reinaldo Centoducatte, para quem a Universi-dade deve estar em permanente processo de aper-feiçoamento. O reitor mostra-se confiante com a sólida evolução registrada pela Ufes nos últimos anos e ressalta que ainda existem muitas ações a serem desenvolvidas. Segundo o reitor, os avan-ços ocorreram nas mais diferentes áreas, seja no ensino, na pesquisa, na extensão, na assistência, seja na modernização da gestão, com a construção de projetos consistentes que possibilitaram inves-timentos significativos.

Prestes a completar 59 anos de importante trajetória na educação superior brasileira, com cer-ca de 1.600 professores, 2.200 servidores técnicos

e 20 mil estudantes de graduação, a Ufes apresen-ta indicadores relevantes que sinalizam boas pers-pectivas para o futuro, conforme enfatiza o reitor.

“Na pós-graduação crescemos acima da média nacional entre as universidades federais”, sustenta o reitor. De acordo com Centoducatte, a Ufes instalou, nos últimos oito anos, programas de pós-graduação em todos os seus 10 centros de ensino. No período, a Universidade saltou de 19 mestrados para 47; e de cinco doutorados para 16. “Um crescimento muito significativo que re-percute positivamente na Universidade e no Esta-do, pois promove elevada qualificação de recursos humanos para atuação em inúmeras áreas, além de acelerar a pesquisa científica e tecnológica, e a inovação”, assinala.

Meta da Ufes é ampliar a

qualidade

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Na extensão universitária, o reitor aponta ou-tro crescimento, pois a Ufes saiu de pouco mais de 200 projetos e programas, em 2004, para atingir a marca de 700, contemplando cerca de 1,2 mi-lhão de capixabas em diferentes áreas de atuação, nos 78 municípios do Espírito Santo. Centoducatte também observou o fortalecimento da produção cultural, cuja meta é ampliá-la nos próximos anos.

Esse salto considerável também ocorreu em relação à área construída nos quatro campi e em todos os centros de ensino da Universidade. Em 2008, a área construída era de 225 mil metros quadrados, e atualmente já está com 280 mil, in-cluindo a construção de salas de aula, laboratórios e áreas com finalidade administrativa.

“A Ufes já está efetivamente consolidada como uma instituição de ensino de elevado nível”, pondera o reitor. Ele diz que a Universidade está caminhando para alcançar um padrão de excelên-cia acadêmica em diferentes áreas do conhecimen-to. “A Universidade soube estabelecer metas para alcançar êxitos. Agora, o nosso objetivo primordial é buscar a qualidade de nossas ações”, arremata.

Relações InternacionaisCom a finalidade de formular políticas de in-

ternacionalização da Ufes e expandir a atuação da instituição no exterior, o reitor Reinaldo Centodu-catte criou, em abril deste ano, a Secretaria de Re-lações Internacionais (SRI). E os primeiros resulta-dos já começam a surgir. Antes denominada Asses-soria de Relações Internacionais, a Administração Central decidiu transformá-la em secretaria, para que, com mais estrutura, viesse a atuar de modo mais dinâmico. A secretária do setor é a professora Jane Méri Santos, do Departamento de Engenharia Ambiental, do Centro Tecnológico da Ufes.

  O balanço inicial revela que somente de 2011 para cá, 88 estudantes de graduação dos mais diferentes cursos da Ufes realizaram inter-câmbio em dezenas de universidades da Europa, América do Norte e Ásia. Outros 56 estudantes estrangeiros, sobretudo da África e América do Sul, por meio de convênios de graduação, estão estudando na Ufes. A Universidade também es-tabeleceu convênios, nos últimos dois anos, com 28 instituições de ensino e pesquisa do exterior, incluindo universidades da Alemanha, Argentina, China, Equador, Espanha, Estados Unidos, França, Itália, México, Noruega, Portugal e Rússia.

O ano de 2013 será marcante para o aperfeiçoamento dos cursos de graduação da Ufes, com a adoção de inovadoras ações em diferentes níveis. “O objetivo da Administra-ção Central é realizar um grande esforço, con-siderando o aumento significativo do número de cursos, nos quatro campi universitários, a partir de 2005”, afirma a vice-reitora Maria Aparecida Barreto, que coordena diretamente o conjunto de ações a serem desenvolvidas. A pró-reitora de Graduação Maria Auxiliadora Corassa ressalta que, em 2005, a Ufes oferta-va 45 cursos e 2.785 vagas; em 2013, a Insti-tuição mantém 94 cursos e 4.985 vagas.

“O projeto do reitor Reinaldo Centodu-catte, em sintonia com os conselhos superio-res, e considerando esta significativa evolu-ção, é resgatar o foco da qualidade dos nossos cursos”, afirma. Ela observa que diversas ações estão sendo planejadas, e menciona o progra-ma de acompanhamento aos estudantes com dificuldade acadêmica. “São estudantes que, por diferentes razões, encontram limitações para trabalhar os conteúdos de determinadas disciplinas, e necessitam de suporte”, diz.

Em outra ação, um grupo de mestrandos está pesquisando os níveis de retenção e de evasão em todos os cursos presenciais. “Este é um grande desafio para a Universidade, por-que precisamos definir ações objetivas visan-do reduzir ao máximo a evasão e corrigir as distorções que levam os estudantes a ficarem desperiodizados”, arremata Maria Auxiliadora.

De acordo com a pró-reitora, a Adminis-tração Central da Ufes pretende direcionar outras ações por meio de investimentos em equipamentos, espaços físicos, ampliação da acessibilidade, sobretudo nos cursos criados mais recentemente, além da formação conti-nuada de professores e servidores técnicos. “Nossa meta é fechar 2013 com a graduação muito mais qualificada”, conclui.

Excelência na graduação

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Projeto é dobrar produção em pesquisa e pós-graduação

A pós-graduação na Ufes tem experimen-tado uma evolução muito significativa nos úl-timos anos, com considerável potencial para crescer ainda mais. O desenvolvimento foi pla-nejado, o que fez a Ufes crescer em número de cursos acima da média nacional, segundo pon-dera o reitor Reinaldo Centoducatte. O execu-tor desse processo de aceleração foi o profes-sor Francisco Guilherme Emmerich, pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação até 2011. O atual pró-reitor, professor Neyval Costa Reis Junior, adianta que, com base nessa evolução, a meta da Ufes é, no mínimo, dobrar a sua produção nos próximos três anos.

A base para esta projeção está nos indica-dores atuais. Se em 2004 a Ufes mantinha 19 cursos de mestrado, em 2012 chega aos 48; além de sair de cinco doutorados para 19, com 48 pro-

gramas de pós-graduação em todos os centros de ensino. Na esteira desse crescimento veio a evolução na pesquisa científica e tecnológica. De acordo com o pró-reitor Neyval Reis, atualmente a Ufes possui cerca de 2.200 projetos de pesqui-sa em andamento e mais de 200 grupos de pes-quisa cadastrados no Conselho Nacional de De-senvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Na avaliação do pró-reitor, a Ufes está entre as universidades de porte médio do País. Entretan-to, segundo ele, a Instituição tem metas ambiciosas de crescimento e indicadores que aproximam o seu desempenho acadêmico a algumas das maiores universidades. Ele entende que o desenvolvimen-to econômico e social do Espírito Santo apresenta novas demandas que exigem a formação de mais recursos humanos capacitados. “É estratégico que a Ufes avance mais nesta área”, define.

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Dados mostram o crescimento das ações de extensão na Ufes nos últimos anos. Entre 2008 e 2011 o número de pessoas atendidas pelos proje-tos e programas triplicou, saltando de aproximada-mente 500 mil para cerca de 1,5 milhão. Os últi-mos números mostram que foram cadastradas 753 ações entre projetos e programas, que se desenvol-vem em todo o Espírito Santo e que também vão além das fronteiras do Estado, chegando a locais como São Paulo, Alagoas e Rio Grande do Norte.

Para o pró-reitor de Extensão, professor Aparecido José Cirillo, um dos motivos é a profis-sionalização do setor. Segundo ele, a equipe tem se empenhado em ações que visam consolidar e dar mais visibilidade ao trabalho. Desde maio de 2012, por exemplo, é possível consultar online todas as ações de extensão por meio do Sistema de Informações de Extensão (Siex), um aplicati-vo da web aberto à comunidade, que não exige cadastro prévio, senhas ou login.

Outra inovação está relacionada à concepção de extensão universitária. Cirillo acredita que a ideia de que não há recursos para a área está ul-trapassada: “Em 2010, por exemplo, a Ufes captou R$ 9 milhões para as ações”, destacou. De acordo com ele, o fortalecimento da participação da Uni-versidade nos editais de fomento se deve, em par-te, à criação de uma assessoria para elaboração de projetos, que desde 2009 auxilia os extensionistas a adequarem as suas ideias aos perfis dos editais.

O pró-reitor ressalta que é preciso consoli-dar o lugar da extensão na Universidade: “A ex-tensão é uma das ligações mais importantes entre a universidade e a sociedade. Por meio dela os

Extensão cresce e se moderniza

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nossos alunos têm contato com a vida real, fora da academia, e podem até antever a realidade da profissão”, explica Cirillo.

MetasPara 2013, a Pró-Reitoria de Extensão tem

como meta consolidar e qualificar a Revista Guará, que é a publicação de extensão da Ufes; além de preparar o seu catálogo das ações de extensão, pro-mover uma oficina de blog para cada projeto dar publicidade às suas iniciativas, e revisar a resolução sobre extensão universitária na Ufes, no sentido de desburocratizar os procedimentos.

Cirillo ressalta que conscientizar sobre a ne-cessidade do registro das ações e dar mais visibi-lidade a elas são expedientes fundamentais para a pasta. “Quanto mais os números aparecerem, maiores as chances da Ufes obter os recursos ne-cessários às demandas”, avalia o pró-reitor.

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EdufesEdufes

A Editora da Universidade Federal do Espírito Santo - Edufes – é um órgão suplementar da Instituição e está vinculada à Superintendência de Cultura e Comunicacão - Supecc. Entre os seus objetivos estão: difundir o conhecimento gerado na Ufes ou por sua interferência no contexto regional, nacional ou internacional; promover a divulgação e distribuição de obras publicadas, mantendo intercâmbio com outras editoras universitárias, com vistas à coedição de títulos de interesse comum; e viabilizar recursos junto a órgãos de natureza pública ou privada para publicação e divulgação das obras aprovadas pelo seu Conselho Editorial.

Publicizando o conhecimento

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Hélio Coelho - Acrílica s/ tela, de 94 x 75 cm. Nº de tombamento 205.1.47

Acervo da Universidade Federal do Espírito Santo na Galeria de Arte Espaço Universitário