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Edição #2 Anno Mythi 2012
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SaudaçÔes do lado de cĂĄ! ApĂłs gestar por um longo tempo, eis que Ă© expelida a segunda edição de Sitra Ahra, publicação eletrĂŽnica de filosofia oculta, filosofia draconiana, LHP (Caminho da MĂŁo Esquerda) e afins, indo longe e alĂ©m das correntes da new age e do modismo pseudoesotĂ©rico e pseudoespiritualista mercenĂĄrio de massa. Sitra Ahra tambĂ©m Ă© isenta de sectarismos, fundamentalismos e esquisoterismos misticoides, primando pela liberdade de expressĂŁo, de pensamento e de difusĂŁo de conhecimentos âdanadosâ. Nossos leitores, inteligentes e com discernimento, jĂĄ conhecem a tĂŽnica da revista. Sabem que aqui irĂŁo encontrar o âoutro ladoâ das coisas, a âoutra versĂŁo da histĂłriaâ, o interessante e excitante lado âocultoâ, o âtabuâ, aquilo sobre o que ninguĂ©m talvez queira falar, aquilo que Ă© âproibidoâ, que causa desgosto ou temor Ă s condicionadas ovelhas de algum senhor. Em suas 11 matĂ©rias, Sitra Ahra apresenta temas abordados por diversas mentes, com diferentes ideias, nenhuma mais certa do que outra nem mais errada, mas apenas visĂ”es do âoutro ladoâ. Aqui, nossos colaboradores mostram o seu âladoâ do universo, que pode ressoar e se afinar com o âladoâ de outros seres pensantes ou entrar em vibrante dissonĂąncia, compartilhando assim conhecimentos embasados pela experiĂȘncia, observação e estudo. Cada colaboração Ă© de grande importĂąncia e valor para este trabalho e para os leitores realmente interessados em aprender mais e conhecer diferentes lados de diferentes assuntos, podendo assim expandir a visĂŁo e a consciĂȘncia. Portanto, caro leitor, absorva, como um buraco negro, todo o conhecimento âdanadoâ expelido do outro lado que ora apresentamos nesta segunda edição.
O Edi tor
Sitra Ahra Editor: Adriano Camargo Monteiro RevisĂŁo: Adriano Camargo Monteiro Simone Fernandes Diagramação e arte: Adriano Camargo Monteiro Colaboradores nesta edição: Anderson Luciferu Carlos Raposo Felipe GalvĂŁo Marcelo Del Debbio Marie-HĂ©lĂšne Catherine Torres Morbitvs Vividvs Nicholaj de Mattos Frisvold Rafael Bittencourt Simone Fernandes Colaboradores do exterior: Alberto Brandi Brom Diamanda GalĂĄs Mark Alan Smith Michelle Belanger Colaboradores do âoutro ladoâ: Charles Baudelaire Cruz e Sousa Distribuição: A mĂdia caĂłtica chamada internet. Todas as matĂ©rias sĂŁo de responsabilidade de seus respectivos autores. Sitra Ahra agradece sinceramente a todos os colaboradores e parceiros. Se Ă© permtida a propagação gratuita?
Contate o âoutro ladoâ:
[email protected] http://www.geocities.ws/sitraahra http://sitraahrazine.blogspot.com http://twitter.com/sitraahrazine http://twitter.com/viadraconiana
O QUE HĂ DO OUTRO LADO:
05 SEM âDEUS, SEM MULETA? Eremita, Esfinge, Deus e Muletas Por Carlos Raposo
07 MUITO ANTES DOS VAMPIROS DE PĂ DE ARROZ
Set, o Deus dos Vampiros Por Michelle Belanger 11 A VOZ DO POVO Ă A VOZ DE NINGUĂM Satanista: Inimigo do Povo Por Morbitvs Vividvs
16 APRENDA ESSA ARTE DOS INFERNOS
A Arte Primal de HĂ©cate Por Mark Alan Smith
18 LEVANDO VOCĂ PARA O ALĂM...
TĂąnatos Por Marcelo Del Debbio
26 DEIXE A âLOUCURAâ CORRER SOLTA Esquizofrenia LucifĂ©rica Por Rafael Bittencourt
34 PACTO SATĂNICO DE POETAS? Da Teoria SatĂąnica Por Marie-HĂ©lĂšne Catherine Torres
38 âMENTIRASâ E DĂVIDAS ENVENENAM? NĂO DUVIDE
Samael: DĂșvida e Descrença Por Alberto Brandi
44 APOSTE COM O DIABO. NĂO FUJA
O Diabo SĂĄbio Por Nicholaj de Mattos Frisvold
48 A PRATA E O OURO VERMELHO DA âBESTAâ
Lua de Sangue Por Simone Fernandes
54 CUIDADO! OS CRETINOS SERĂO EMPALADOS!
A Vampira Grega Por Diamanda GalĂĄs
Sitra Ahra
SEĂĂES:
UMA VISĂO DO OUTRO LADO 04
ENTRE âĂSPERASâ 15
UMA VISĂO DO OUTRO LADO 31
MALDITAS ALMAS 32
AVESSO DO VĂCIO 43 COISAS DE DANADOS 57
UMA VISĂO DO OUTRO LADO 59 OUIJA 60
Sitra Ahra Edição #2 2012
UMA VISĂO DO OUTRO LADO
Autumn 1, Brom www.bromart.com
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Sitra Ahra Edição #2 2012
SEM âDEUSâ, SEM MULETA?
Eremita, Esfinge, Deus e Muletas Por Carlos Raposo
AAAAlgumas pessoas afirmam que a
ideia da existĂȘncia de uma inteligĂȘncia suprema, Deus, nĂŁo passa de uma muleta. Eu atĂ© que concordo. TambĂ©m creio que Deus seja uma grande muleta, necessĂĄria para dar conforto a muitos, sobremodo em momentos crĂticos da vida. Contudo, certamente que existem perspectivas diversas dessa. Falar em muleta faz duas determinadas imagens despontarem em meu pensamento. Primeiro, trata-se daquela ilustração representativa do Arcano IX, O Eremita: sua figura traz em uma das mĂŁos uma espĂ©cie de arrimo, bengala ou muleta. Depois, o assunto tambĂ©m me remete ao jĂĄ muito especulado enigma da esfinge, hoje transformado em mera charada a ser proposta nas rodas infantis. Relembrando-o, havia a seguinte questĂŁo lançada pelo monstro grego: qual Ă© o animal que pela manhĂŁ caminha com quatro pernas, ao meio-dia usa duas, porĂ©m, quando do crepĂșsculo vespertino, passa entĂŁo a caminhar com trĂȘs pernas? O enigma, segundo a lenda que lhe deu origem, consumiu muitas almas. Todas elas, mesmo que ĂĄvidas por solucionĂĄ-lo, nĂŁo foram sĂĄbias o suficiente para decifrar o tĂŁo fadado mistĂ©rio, falha essa que as levou a sucumbirem perante a esfinge. Isso atĂ© que Ădipo, o trĂĄgico herĂłi, finalmente entendesse a parĂĄbola: ââO Homemâ Ă© a respostaâ, disse. Ele engatinha quando criança, caminha normalmente com duas pernas quando adulto e, quando de sua velhice, faz uso de um bastĂŁo, a muleta, caminhando com trĂȘs pernas. Buscando algum significado noutros sĂmbolos, chega-se atĂ© mesmo ao que nos dizem os nĂșmeros 4, 2 e 3. Assim, outras interpretaçÔes do enigma (por vezes pejorativas, mas Ă s
O Eremita do TarĂŽ
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Sitra Ahra Edição #2 2012
vezes agradĂĄveis) tĂȘm lugar. Numa delas, vemos o nĂșmero 4 associado Ă matĂ©ria, uma representação das paixĂ”es, da imaturidade. Isso Ă© refletido pela citada lenda como o conceito de âcriançaâ, ou mesmo da juventude, significando um estado inicial de vida, seu amanhecer. Seguindo pela mesma via interpretativa, o nĂșmero 2 desponta como o vigor das decisĂ”es, a escolha entre fazer as coisas de um modo ou de outro, a vitalidade varonil. Sua representação Ă© a âdĂ©cima casaâ (no dizer astrolĂłgico), o meio-dia, o zĂȘnite da vida e o auge da vitalidade solar. Na lenda, Ă© o ser maduro, representado pelo caminhar seguro feito com duas pernas, emblema do ser racional e lĂłgico, sempre medido a partir de dicotomias, como o âcertoâ e o âerradoâ, a direita e a esquerda, por exemplo. Por sua vez, frequentemente o nĂșmero 3 aparece como um Ăcone relacionado ao equilĂbrio. Na resposta da charada da esfinge, esse nĂșmero estarĂĄ relacionado ao entardecer, Ă chegada da velhice, quando o homem entĂŁo na condição de SĂĄbio, pĂ”e-se a caminhar em trĂȘs pernas, fazendo uso de uma muleta ou cajado, como muitos preferirĂŁo dizer. Desse modo, o nĂșmero 3 aqui tambĂ©m desponta como representante das coisas ditas espirituais. Por fim, retorno Ă afirmação: âDeus Ă© uma muletaâ. Ăs vezes, por certo que a muleta pode existir. No entanto, em certo sentido â como na imagem dâO Eremita e como no enigma proposto pela esfinge â ela seria a consequĂȘncia de um certo âestado de sabedoriaâ. Em outras palavras, pontos de vista que diferem: muleta como sinal de fraqueza ou muleta como sinal de sabedoria. NĂŁo sei ao certo com qual deles estarei identificado quando estiver velhinho, embora tenha uma certa predileção pelo segundo momento. De todo modo, imaginemos um velhinho bem debilitado, cujo apoio Ășnico seja a sua surrada muleta: quem seria a pessoa a privĂĄ-lo de seu sustento?
SSSS _______________ Carlos Raposo é historiador, pesquisador e maçom (MI e grau 33 do REAA). carlosraposo.wordpress.com
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Por fim, retorno Ă
afirmação:âDeus Ă©
uma muletaâ.
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MUITO ANTES DOS VAMPIROS DE PĂ DE ARROZ
Set, o Deus dos Vampiros Por Michelle Belanger Tradução: Adriano C. Monteiro
MMMMuitos grupos buscam colocar as
origens do vampirismo na antiguidade do Egito. Mesmo o uso do ankh â um sĂmbolo inerentemente egĂpcio â para representar o âtipoâ vampiro, parece implicar alguma conexĂŁo egĂpcia. O que segue aqui sĂŁo meus comentĂĄrios e uma nova versĂŁo de uma das muitas estĂłrias da origem do vampiro relacionadas ao Egito. Detratores dessas estĂłrias se referem a Anne Rice, sugerindo que os contos de Akasha e seu consorte tĂȘm influenciado fortemente as crenças da cena vampĂrica atual. Certamente, houve alguma influĂȘncia do trabalho de Rice nas poucas dĂ©cadas passadas. Entretanto, muitos dos grupos que colocam sua origem no Egito ou em uma sociedade
prĂ©-egĂpcia pretendem prĂ©-datar as novelas da autora. Minha ideia Ă© que Anne Rice teve um papel em pelo menos algumas interpretaçÔes de suas origens nesses grupos. Contudo, a mitologia do Antigo Egito Ă© terreno fĂ©rtil para os mitos do vampiro, e, portanto, hĂĄ uma probabilidade de que muitas interpretaçÔes desses grupos tenham se desenvolvido independentemente da escritora. O Livro EgĂpcio dos Mortos, um extenso documento que de fato Ă© uma coleção de muitos textos menores, incluindo os Textos da PirĂąmide1 e os Textos dos SarcĂłfagos2, fornece amplo material para as crenças em alguma ____________ 1NT: Textos mĂĄgico-âreligiososâ que datam de cerca de 4500 anos atrĂĄs.
2NT: Textos funerĂĄrios.
Set
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(...) a
mitologiado Antigo
Egito é terreno fértil para os mitos
do vampiro
(...)
Sitra Ahra Edição #2 2012
forma de imortalidade, assim como em seres poderosos que se alimentam da vida e bebem sangue humano. Um grupo de entidades demonĂacas que atormentam os mortos, no reino crepuscular do pĂłs-vida, conhecidos como Devoradores, sĂŁo Ăłtimos exemplos disso. Os Devoradores, ou Amam3, alimentam-se de vĂĄrias partes do corpo e do espĂrito, e dizem que se banqueteiam especificamente de sangue. Muitos dos grupos que encontrei pretendem ter alguma influĂȘncia do Livro dos Mortos. Mas, em vez de focar em seres excessivamente vampĂricos como os Amam, esses grupos focam suas estĂłrias em deidades egĂpcias especĂficas. OsĂris, um deus moribundo e ressurrecto que foi assassinado por seu irmĂŁo Set, Ă© um candidato a se tornar um precursor do vampiro moderno. Mas, talvez como um resultado de seu papel no conto de Anne Rice, ele muitas vezes Ă© evitado pelas reais famĂlias de vampiros. Muitos grupos, em vez disso, tĂȘm seu foco em Set, o deus egĂpcio do caos e da escuridĂŁo, que Ă© o irmĂŁo assassino de OsĂris. A conexĂŁo mĂtica entre Set e Caim Ă© aparente, e em algumas tradiçÔes hĂĄ um evidente cruzamento entre essas duas figuras. O mais amplamente conhecido grupo de vampiros que conecta sua origem a Set Ă© o Templo de Set, um ramo vampĂrico da igreja satanista laveyana que se desenvolveu em um corpo oculto significante por direito prĂłprio. A seguir, uma versĂŁo da origem do vampirismo ligada a Set. Antigamente, Set era visto pelos egĂpcios como um deus e um grande sacerdote. Isso foi nos dias em que os deuses caminhavam sobre a Terra, e esses âdeusesâ eram reis-sacerdotes que presidiam nos grandes templos. Set regia o sul, sendo ainda associado a essa direção nos escritos egĂpcios nos dias de hoje. Ele estĂĄ ligado ao deserto, Ă s montanhas vermelhas da Terra da Morte. Simultaneamente, ele Ă© um deus da escuridĂŁo (Akhekhu4) e um deus do calor mortal do sol do meio-dia. Ă um deus de muitas contradiçÔes, porque foi tambĂ©m conhecido por causar tempestades, mas, ao mesmo tempo, tinha o poder de acalmĂĄ-las â se assim o quisesse. ____________ 3NT: TambĂ©m chamado de Ammit e Ammut (âO Devoradorâ).
4NT: Monstro egĂpcio draco-ofidiano do deserto e da escuridĂŁo, mas tambĂ©m do calor implacĂĄvel do
meio-dia, associado ao deus Set.
Amam - Papiro de Ani (det.)
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Set era visto pelos
egĂpcios como um deus e um
grande sacerdote.
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O templo que Set regia era visto por muitos estrangeiros como um templo sombrio, porque ele foi alguĂ©m que desafiou a morte para voltar do outro lado desperto e transformado. Assim, ele talvez tenha sido o primeiro xamĂŁ, iniciando toda uma tradição de morte e renascimento. Set trouxe outros para seu sacerdĂłcio secreto, e, consequentemente, eles se apossaram do templo. Em tempo, o templo estendeu sua influĂȘncia atravĂ©s de toda uma sociedade.
Muitos sacerdotes foram iniciados nos MistĂ©rios, e o processo de morte/renascimento os transformou em vampiros. Isso tambĂ©m deu a eles grandes poderes â projeção astral, comunicação com os espĂritos, habilidade de influenciar outros com seu carisma e vontade. O aspecto negativo Ă© que sua sensibilidade aumentada com o mundo dos espĂritos tambĂ©m os fez sensitivos demais para outras coisas. O calor do sol do meio-dia era um terrĂvel veneno para eles, e eles se tornaram muito sensĂveis Ă luz. EntĂŁo, o sacerdĂłcio manteve os templos, muitas vezes vivendo em complexos subterrĂąneos profundos, escuros e frios. Eles correram para as sombras,
detendo grande poder. Sua prĂłpria presença se tornou uma coisa sobre a qual era sussurrada, e os mitos surgiram em torno deles. Eles eram os neteru5, os Vigilantes, que detinham o poder sobre a vida e a morte, cujo hierĂłglifo era o machado mortĂfero. Eles foram os misteriosos habitantes de Ro-se-tau6, os guardiĂŁes dos estĂĄgios de Duat7.
Mas, como em todas as coisas, a idade do templo chegou a um fim. Entretanto, apesar de sua força sobre a sociedade ter se enfraquecido, os sacerdotes preservaram seu poder sobre a vida e a morte. E, assim, embora tivessem finalmente se libertado de seus corpos fĂsicos, mantiveram o poder de controlar seu renascimento.
____________ 5NT: Atributos divinos tipificados por formas-deuses. Palavra muitas vezes traduzida como âdeusesâ.
6NT: Rosetau, o planalto de Gizé, no Egito.
7NT: Duat, para os antigos egĂpcios, era o submundo, o mundo dos mortos, o alĂ©m, o âoutro ladoâ,
chamado também de Tuat e Amenthes, com portais/estågios guardados por seres perigosos.
Os sacerdotes
preservaram seu poder
sobre a vida e a morte.
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Eles eram os neretu,
os Vigilantes
(...), cujo
hierĂłglifo era o
machado mortĂfero.
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Por fim, a cultura que conhecemos como Antigo Egito se apoderou da terra sobre a qual Set reinava do sul como um rei-sacerdote sombrio. E muito de seu sacerdĂłcio escolheu renascer nessa antiga sociedade. Eles trouxeram de volta muito de seus conhecimentos e foram lembrados na tradição egĂpcia como akhu, seres imortais da primeva era de ouro do Sep-Tepy, que retornou para ensinar Ă nova cultura sua sabedoria.
SSSS _______________ Michelle Belanger Ă© ocultista, psĂquica, cantora e escritora estudiosa de vampirismo psĂquico, vampirologia, paranormalidade e ocultismo. www.michellebelanger.com
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A VOZ DO POVO Ă A VOZ DE NINGUĂM
Satanista: Inimigo do Povo Por Morbitvs Vividvs VĂłs sois contra o povo, Ăł meus escolhidos! Livro da Lei (II AL, 25)
âAAAA voz do povo Ă© a voz de Deusâ.
Se esse adĂĄgio popular tem alguma verdade, entĂŁo o satanista deveria pensar nove vezes antes de concordar com qualquer coisa que o povo fala. Na verdade, esse provĂ©rbio faz bastante sentido, uma vez que âpovoâ Ă© justamente a palavra que usamos para falar de agrupamentos de pessoas sem identidade ou sem qualquer força individual. Povo Ă© o antĂŽnimo de indivĂduo. E se SatĂŁ Ă© nosso sĂmbolo de força individual, o povo Ă©, por tabela, o Deus que escolhemos combater. Essa nĂŁo Ă© uma defesa da abolição das regras sociais da boa convivĂȘncia, atĂ© porque a convivĂȘncia Ă© algo que acontece justamente entre indivĂduos.
Mas observe o comportamento de uma pessoa inteligente dentro de um grupo. Ao mesmo tempo em que ela desaparece em meio Ă multidĂŁo, passa a ser, por ela, condicionada. A coletividade tem a estranha propriedade de aumentar a autoconfiança de seus membros ao mesmo tempo em que lhes tolhe a criatividade e a responsabilidade. Ao ser obliterado em uma sociedade, os vĂcios do indivĂduo se intensificam, ao passo que suas virtudes se diluem. Seus erros sĂŁo ocultos e seus acertos perdem qualquer relevĂąncia; criamos uma polĂtica de nivelamento por baixo. A vontade e as prioridades do grupo ganham, e assim grupos rivais começam a surgir. Por isso, nĂŁo existe nenhuma classe de pessoas que nĂŁo
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(...) se SatĂŁ Ă©
nosso sĂmbolo de
força individual, o povo é,
por tabela, o Deus que escolhemos combater.
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seja detestada por alguma outra classe. Como cantou Marilyn Manson, em seu Anticristo Superstar: "Todo mundo Ă© o negro de alguĂ©m". Mas nĂŁo Ă© uma questĂŁo de cor: favelados, maconheiros, polĂticos, pagodeiros, crentes, maçons, judeus, vegetarianos, bichas,
nazistas e adoradores de cachorros. NĂŁo Ă© possĂvel achar nenhum grupo que nĂŁo tenha seu prĂłprio "inimigo natural". Por isso, socialismo significa guerra; capitalismo significa guerra; cristianismo significa guerra. NĂŁo porque essas ideologias sejam especialmente beligerantes, mas porque sĂŁo especialmente populares. As pĂĄginas de nossos livros de histĂłria sĂŁo contos de guerra, e cada uma dessas guerras sĂł foi para frente porque indivĂduos passaram a agir como multidĂ”es. Citando Aleister Crowley, em Magick sem LĂĄgrimas: "Ă peculiarmente notĂĄvel que quando uma classe Ă© uma minoria governante, ela ganha ainda o desprezo e a agressividade de toda a multidĂŁo ao redor. No norte dos Estados Unidos, onde os brancos sĂŁo a maioria, os negros podem viver na medida do possĂvel como "pessoas normais". JĂĄ no sul, onde o medo Ă© um fator importante, a lei de linchamento prevalece (Deveria? A razĂŁo para o "nĂŁo" Ă© que esta Ă© uma confissĂŁo de fraqueza). Mas no norte, existe um forte sentimento contra outras classes: irlandeses, italianos e judeus. Por quĂȘ? Medo, novamente. Os irlandeses dominam a polĂtica, os italianos o crime organizado e os judeus as finanças. Mas nenhuma dessas fobias impede a amizade entre indivĂduos das vĂĄrias classes hostis. [...] E por que as classes deveriam agir como classes? Ă Ăłbvio: "uniĂŁo faz a força". Os quinze piores jogadores de futebol dĂŁo um baile em um time adversĂĄrio composto apenas pelo melhor jogador do mundo.â Por isso, os lĂderes de todos os tempos sempre souberam lidar com seus sĂșditos ou eleitores da maneira certa: tratando-os como gado, e entĂŁo se colocando como o boiadeiro que sabe o que Ă© melhor para a manada. A partir do momento em que as pessoas se escondem por trĂĄs da mĂĄscara da coletividade, qualquer apelo Ă inteligĂȘncia serĂĄ fĂștil. A Ășnica forma de comunicação com as multidĂ”es Ă© pelos instintos e qualidades animalescas. Um bom lĂder nĂŁo precisa de bons argumentos, precisa saber rugir como um leĂŁo. Escute os discursos de Hitler, por exemplo. NĂŁo Ă©
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A Ășnica forma de
comunicação com as
multidÔes é pelos
instintos e qualidades
animalescas.
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preciso saber uma palavra em alemĂŁo para entender como ele encantou toda a Alemanha. Da mesma forma, Ă© mais fĂĄcil incitar uma massa a um linchamento do que pedir para que ela analise um fato e tome uma decisĂŁo sadia. Um grupo se torna um organismo e, como tal, acaba obedecendo a algumas regras e leis. Grupos dominantes obviamente explorarĂŁo os grupos menores, mas isso nĂŁo tem a ver com o tamanho ou força do grupo. Um governo Ă© composto de muito menos pessoas do que a sociedade que governa. O clero tem muito menos gente do que o grupo de fiĂ©is. Em uma fazenda antiga o nĂșmero de escravos era muito menor do que o nĂșmero de gente que vivia na casa-grande. Tem sido assim desde a aurora do homem. Mas atualmente vivemos uma Ă©poca de defesa das minorias, uma Ă©poca em que quotas e polĂticas afirmativas tentam amenizar os problemas causados pela coletividade. Mas a voz do povo acaba, como sempre o faz, enfiando os pĂ©s pelas mĂŁos; acabam reforçando-os. Isso Ă© o equivalente a dar um pirulito para a criança que acabou de sair do dentista â Ă© tĂŁo gentil quanto inĂștil. Mais do que isso, trata-se de uma atitude danosa, pois reafirma a posição de dominados das classes minoritĂĄrias ao mesmo tempo em que reforça a ilusĂŁo de que elas existem enquanto grupos e nĂŁo como indivĂduos. Pense que vocĂȘ tem um filho que precisa de uma operação sĂ©ria e descobre que em determinado hospital quem farĂĄ a cirurgia acabou de se formar, e, melhor ainda, formou-se nĂŁo porque tirou boas notas, mas porque conseguiu uma vaga por causa do nosso sistema de cotas. Como ficaria sua confiança no cirurgiĂŁo? Os defensores dessa causa farĂŁo um considerĂĄvel bem a si mesmos quando perceberem que dentro de todo grupo explorado existem indivĂduos explorados pelo grupo. E nĂŁo Ă© o indivĂduo a menor de todas as minorias? Quem nĂŁo quiser ser controlado deve garantir a sobrevivĂȘncia da prĂłpria individualidade e negar o direito de existĂȘncia em seu microcosmo de qualquer rĂłtulo, consciĂȘncia de classe ou identidade de massas. HĂĄ uma diferença sutil, mas poderosa entre dizer que "concorda com as teorias de Marx" e dizer ser um "marxista"; entre dizer que torce pelo Corinthians e ser um "corinthiano"; entre dizer que o nazismo tinha pontos positivos e ser um "nazista"; vocĂȘ pode ouvir heavy metal sem ser um âmetaleiroâ. RĂłtulos passam a ilusĂŁo de estabilidade, mas qualquer grupo de ideias que nĂŁo passa constantemente pelo crivo do questionamento Ă© uma grande ofensa ao nosso Eu Superior e uma enorme barreira contra a Verdadeira Vontade. O satanista Ă©, portanto, o grande inimigo do povo. Ele sabe que existe uma diferença entre 200 macacos que dormem juntos para se aque-
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Quem nĂŁo quiser ser
controlado deve garantir a sobrevivĂȘncia
da prĂłpria individualidade
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cer e um Ășnico macaco que sabe fazer fogo. De fato, a uniĂŁo faz a força, mas uma força que nĂŁo tem um objetivo alĂ©m da prĂłpria sobrevivĂȘncia; Ă© como a força do vento: poderosa, talvez invencĂvel, mas implorando para ser aproveitada por quem sabe velejar. Crowley nĂŁo estava errado quando afirmou que os servos servirĂŁo, mas nĂŁo porque algumas pessoas tĂȘm uma natureza escrava e sim porque todo
grupo precisa ser direcionado. E isso apenas pode ocorrer com um indivĂduo no controle. Mas onde estĂĄ o indivĂduo dentro de um grupo? Essa grande ironia Ă© tratada com o humor que merece pelo lema original da Church of Satan: "It's an organization for non-joinersâ. Claro que vivemos em um mundo em que o povo Ă© astucioso. A propaganda Ă© a arma do negĂłcio, e uma das grandes artimanhas do mundo atual Ă© mostrar que nĂŁo importa o tamanho do grupo que vocĂȘ faça parte, vocĂȘ ainda pode gastar como indivĂduo. Assim, cada propaganda Ă© feita para mostrar que mesmo que vocĂȘ seja apenas mais um dentre um milhĂŁo, vocĂȘ Ă© Ășnico, desde que consuma o que vendem para o grupo que vocĂȘ faz parte. Dessa forma, para ser âjovemâ vocĂȘ deve consumir as mĂșsicas X e beber o refrigerante Y; para ser um homem âbem-sucedidoâ, deve dirigir o carro X e vestir a roupa Y.
Assim, mesmo que o tĂtulo de "satanista" possa ser visto apenas como mais um rĂłtulo, ele Ă© a melhor forma de se desvincular de outras imagens que podem ser capitalizadas em prol do Grande Todo. O satanismo Ă© a melhor forma que encontrei para descrever essa posição, mas, por favor, nĂŁo se prenda Ă minha semĂąntica pessoal. A partir do momento em que suas definiçÔes começam a feder a certeza, elas merecem ser jogadas no lixo da vala comum da ignorĂąncia. O satanista Ă© o inimigo pĂșblico nĂșmero 1; Ă© o inimigo do povo, pois o povo quer que ele sacrifique sua vida individual no altar da coletividade e assuma para si os medos e preconceitos do grupo. Ouça a voz de Deus: ele quer que vocĂȘ morra. Satanistas nĂŁo pertencem a grupo algum â especialmente nĂŁo pertencem a grupo algum de satanistas. Se todos os homens se derem as mĂŁos, Ă© como se todos vivessem algemados.
SSSS _______________ Morbitvs Vividvs foi aluno direto de Lord Ahriman, na Igreja de LĂșcifer, durante o primeiro levante satĂąnico nacional. Escreveu Lex Satanicus: Manual do Satanista e a peça de teatro O Anticristo. Fundou o Templo de SatĂŁ em SĂŁo Paulo e colabora com a iniciativa Morte SĂșbita inc. www.mortesubita.org
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Satanistas nĂŁo
pertencem a grupo algum â especialmente
nĂŁo pertencem a
grupo algum de satanistas.
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ENTRE âĂSPERASâ
Diabo: (...) dono de todas as coisas boas deste mundo. Ambrose Bierce
Eu passava muito bem sem Deus, e se usava o seu nome era para designar um vazio que tinha, a meus olhos, o clarĂŁo da plenitude.
Simone de Beauvoir
Se a morte fosse um bem, os deuses nĂŁo seriam imortais.
Safo
NĂŁo tenha medo da perfeição, pois vocĂȘ jamais irĂĄ atingi-la.
Salvador DalĂ
A literatura e a arte devem ser totalmente livres; nĂŁo podem ser boicotadas por idiossincrasias sociorreligiosas.
Adriano Camargo Monteiro
A palavra âDeusâ, para mim, Ă© nada mais que a expressĂŁo
e produto da fraqueza humana. Albert Einstein
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Sitra Ahra Edição #2 2012
APRENDA ESSA ARTE DOS INFERNOS
A Arte Primal de Hécate Por Mark Alan Smith Tradução: Adriano C. Monteiro
AAAA Arte1 Primal encarna a corrente da Rainha do Inferno â o CĂ©u e a
Terra. Os ensinamentos internos incorporam os rituais de dedicação e iniciação, evocação de espĂritos e auxĂlio de guias e familiares2. Muita ĂȘnfase Ă© colocada nas viagens nos planos interiores para o SabĂĄ, que conduzem atravĂ©s dos caminhos do Lado Noturno para a subsequente exploração de passagens exteriores e aquisição de conhecimento e poder que estĂŁo dentro e fora desses mundos dimensionais. A Feitiçaria nĂŁo deveria tolerar a condição humana do falso ego em seus ensinamentos â um problema que tem se manifestado frequentemente em tantas ordens e grupos organizados, sejam modernos ou histĂłricos. Enquanto o contato humano e a tutoria possam inicialmente ser necessĂĄrios para guiar e auxiliar o estudante da Arte nos primeiros passos de sua senda, as maiores e mais profundas liçÔes sĂŁo dadas nos planos interiores; ou, no mĂnimo, em contato direto por meio da manifestação no plano fĂsico dos âparentesâ de HĂ©cate, os Deuses da Feitiçaria. Todo professor de Feitiçaria deveria saber que estudantes genuĂnos e dedicados que sĂŁo guiados a eles pelos espĂritos da Arte deveriam sempre transcender, ir alĂ©m de seu prĂłprio nĂvel de sucesso e capacidades. Por meio de ritos de dedicação e iniciação, a conexĂŁo com a corrente primal de HĂ©cate pode ser feita no nĂvel da alma. Esse Ă© o Fogo MĂĄgicko que inflama a semente do Sangue-bruxo, liberando um poder que jaz dormente e selado na alma imortal. ____________ 1NT: Aqui, âarteâ significa feitiçaria, artes ocultas.
2NT: EspĂritos familiares.
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A Feitiçaria não
deveria tolerar a condição
humana do falso ego em seus
ensinamentos (...)
Sitra Ahra Edição #2 2012
Uma vez que a conexĂŁo tenha sido atingida, o poder de HĂ©cate pode ser âpuxadoâ, integrando internamente os novos ensinamentos dessa antiga Arte. Por meio dessa infusĂŁo de energia mĂĄgicka nas prĂĄticas â algumas das quais incluem pedir a aparição dos Deuses da Feitiçaria em manifestação fĂsica e a intensa fusĂŁo do corpo, mente e espĂrito com esses seres nos trabalhos de possessĂŁo completa â, o elo com a corrente primal de HĂ©cate Ă© forjado e reforçado.
Muitas das maiores liçÔes da Antiga Arte, tais como os ritos de magia sexual, são ensinadas pelos próprios Deuses-bruxos. Ensinamentos como esses conduzem a uma poderosa sublimação da alma, muitas vezes presidida por
HĂ©cate; seu poder flui inicialmente em sua vibração lunar inferior atravĂ©s do Portal da Lua antes de crescer em sua vibração estelar. Esta Ă© a abertura dos Portais da Senda Draconiana, onde começa uma jornada que levarĂĄ a alma Ă transmutação atravĂ©s dos mundos do Lado Noturno dos Deuses-bruxos. Estes sĂŁo as crianças de HĂ©cate lideradas por seu Filho, IrmĂŁo e Consorte, o Deus Chifrudo LĂșcifer. O contato direto com esses seres traz o poder e a gnose que estĂŁo alĂ©m dos ensinamentos do homem mortal. Esse Ă© o Verdadeiro Caminho de HĂ©cate, que conduz, na alma, a transição e a transmutação espiritual atravĂ©s dos antigos e ocultos portais de volta para o Trono da Sombria Rainha Bruxa.
SSSS _______________ Mark Alan Smith é escritor e praticante de Bruxaria Tradicional dedicado especialmente ao culto da deusa Hécate. Escreveu a coleção The Trident Trilogy, que inclui as obras Queen of Hell, The Red King e The Scorpion God. www.primalcraft.com
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LEVANDO VOCĂ PARA O ALĂM...
TĂąnatos Por Marcelo Del Debbio
âI see dead people.â
EEEE m todas as mitologias de todos os povos do planeta â sem exceção â
existem contos e textos descrevendo o encontro de seres do Plano Material com seres do Plano Astral. Chamados pelos profanos de fantasmas, assombraçÔes, espĂritos, encostos, poltergeists, kamis, venerĂĄveis, ancestrais e outros infindĂĄveis nomes, esses seres sĂŁo pessoas exatamente como nĂłs â apenas estĂŁo em outra faixa de vibração, indetectĂĄvel para a maioria das pessoas. Entendendo esse princĂpio simples, fica muito fĂĄcil explicar todos os fenĂŽmenos ditos âparanormaisâ ou âsobrenaturaisâ. Para entender como todo esse processo de diferentes vibraçÔes funciona, vamos fazer uma analogia simples, analisando nossos cinco sentidos: em nossa visĂŁo detectamos uma faixa de vibraçÔes do espectro que vai do vermelho ao violeta. Abaixo dessa faixa temos o infravermelho e acima, o ultravioleta, cores que existem, mas somos incapazes de detectar. O primeiro aparelho capaz de detectar infravermelho foi construĂdo hĂĄ menos de dois sĂ©culos. Mas, graças Ă s telecomunicaçÔes, essa Ă© uma das ĂĄreas da ciĂȘncia ortodoxa em que mais avançamos nas Ășltimas dĂ©cadas.
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(...) esses seres sĂŁo pessoas exatamente
como nĂłs (...)
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Nos sons, temos uma faixa audĂvel para o ser humano, entre 20Hz e 20kHz. Abaixo desse valor, temos infrassons e acima, os ultrassons, que os humanos nĂŁo sĂŁo capazes de detectar. Nos gostos, alĂ©m dos quatro sabores tradicionais (salgado, doce, azedo e amargo), os cientistas descobriram um quinto sabor, jĂĄ conhecido hĂĄ muito tempo pelos orientais com o nome de umami. Recentemente, cientistas descobriram que alguns ratos sĂŁo capazes de sentir um sexto tipo de sabor. Ainda hĂĄ muito debate sobre isso e os cientistas nĂŁo chegaram a nenhum acordo, mas sabe-se que existem sabores que nĂŁo sĂŁo detectados pelo paladar humano, apenas por alguns animais. Nos cheiros, existem odores que o ser humano consegue captar e outros nĂŁo (chamados feromĂŽnios). O estudo nessa ĂĄrea ainda estĂĄ engatinhando e mal se projetam aparelhos capazes de detectar odores para uso prĂĄtico, tais como para detectar explosivos, drogas entre outros. Nos dias de hoje, o melhor aparelho que detecta explosivos continua sendo um cachorro. Ou seja, a ciĂȘncia ortodoxa nĂŁo Ă© capaz de detectar com precisĂŁo odores ou gostos, quanto mais matĂ©ria sutil como a Luz Astral e o Pensamento. Finalmente, chegamos ao tato. Sabemos atravĂ©s de Einstein que a matĂ©ria Ă© energia, coisa que os antigos ocultistas conheciam hĂĄ milĂȘnios (apenas usavam palavras diferentes para expressar a mesma ideia). Todos os objetos considerados âsĂłlidosâ sĂŁo, na verdade, grandes vazios eletromagnĂ©ticos compostos de cargas positivas e negativas, cujos campos eletromagnĂ©ticos as repelem, por estarem no mesmo plano de vibração, causando a sensação de âfĂsicoâ que temos ao tocar em um objeto âsĂłlidoâ. Mesmo assim, existem partĂculas que sĂŁo tĂŁo pequenas que nossos instrumentos nĂŁo sĂŁo capazes de pesar, como os neutrinos (e somos bombardeados o tempo todo por milhĂ”es deles a cada segundo vindos do Sol). Os sete corpos. Para os ocultistas, os seres humanos tĂȘm sete corpos, a saber: o corpo fĂsico (de carne e osso), o duplo etĂ©rico (que tem uma infi-
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Sabemos através de
Einstein que a matéria é
energia, coisa que os
antigos ocultistas
conheciam hĂĄ milĂȘnios.
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nidade de nomes, de acordo com a tradição estudada: perispĂrito, campo etĂ©rico, corpo vital, biossoma, corpo Ăłdico, corpo bioplasmĂĄtico, prĂąnamĂąyakosha, veĂculo de prana, etc). O duplo etĂ©rico faz a ligação entre nossos corpos mais sutis e o nosso corpo fĂsico, adotando a mesma forma de nosso corpo fĂsico. Estudar o duplo etĂ©rico Ă© extremamente importante para compreendermos a maioria das lendas a respeito de fantasmas e assombraçÔes. Depois dele vem o corpo astral propriamente dito; aquele que se desdobra nas projeçÔes astrais e que permanece ligado ao fĂsico pelo cordĂŁo de prata. Os espĂritas chamam esse corpo de âalmaâ; os gregos o chamavam de psique. O quarto corpo Ă© chamado de corpo mental. Aqueles que supĂ”em que a mente seja o cĂ©rebro estĂŁo totalmente equivocados. A mente Ă© energĂ©tica e pode permanecer independente da matĂ©ria densa, pois Ă© um corpo Ă parte, constituĂdo de matĂ©ria mental. A mente elabora os pensamentos que se expressam por meio do cĂ©rebro. Pensamentos, mente e cĂ©rebro sĂŁo trĂȘs coisas totalmente distintas. Como Kentaro demonstrou, entre o ato de se desejar um movimento e o movimento do corpo fĂsico efetivamente hĂĄ um pequeno intervalo de tempo, necessĂĄrio para se passar a informação da mente para o corpo astral, para o duplo etĂ©rico e, finalmente, para o corpo fĂsico. O cientista Benjamin Libet chamou isso de âpotencial prĂ©-motorâ. Dessa maneira, a razĂŁo converte a mente em um campo de batalha. O processo de racionalização extremada acaba rompendo as delicadas membranas do corpo mental, aprisionando-os no corpo fĂsico. Segundo a filosofia oriental e gnĂłstica, o pensamento deve fluir silencioso, sereno e integralmente, sem o batalhar das antĂteses. O corpo mental pode viajar atravĂ©s do tempo e do espaço, independentemente do cĂ©rebro fĂsico. Em um determinado processo do estudo esotĂ©rico, o discĂpulo aprende a se desdobrar em corpo astral. JĂĄ em corpo astral, ele aprende a abandonar esse corpo e a ficar no corpo mental. De acordo com a Teosofia, o corpo mental da raça humana se encontra no inĂcio de sua evolução, estando quase que completamente desorganizado (chamado de corpo mental lunar). O corpo causal (ou da vontade) Ă© o quinto corpo e vem a ser o veĂculo da alma humana. No ser humano comum, esse corpo ainda nĂŁo estĂĄ formado, tendo encarnado dentro de si mesmo apenas uma fração da alma humana. Tal fração Ă© denominada âessĂȘnciaâ, e, no zen-budismo japonĂȘs, budhata.
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Pensamentos, mente e
cĂ©rebro sĂŁo trĂȘs coisas totalmente distintas.
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Ă a Lua dos Alquimistas, a princesa dos contos de fadas, que precisa ser libertada dos castelos do mundo material. Podemos e devemos estabelecer diferenças entre o corpo da vontade de seres humanos comuns e correntes, do tipo lunar, e o corpo da vontade consciente de um Mestre. O legĂtimo corpo da vontade permite ao adepto realizar açÔes nascidas da vontade consciente e determinar as circunstĂąncias. O corpo causal Ă© a tal âforça de vontadeâ que os leigos tanto apregoaram em filmes com O Segredo. Ă atravĂ©s desse corpo que materializamos nossas âtelas mentaisâ para a realização de desejos. O sexto corpo Ă© chamado de budhi ou Alma Divina. Ă um corpo totalmente radiante que todo ser humano tem, porĂ©m ao qual ainda nĂŁo estĂĄ intimamente ligado. Ă Tiferet, na Kabbalah; o âEspĂrito CrĂsticoâ, de Jesus; o deus solar dos antigos; o Sol, do casamento alquĂmico dos hermetistas; o cavaleiro de armadura brilhante dos contos de fadas. Quando desenvolvido plenamente, faz com que nos tornemos verdadeiramente iluminados. O sĂ©timo corpo Ă© chamado ĂĄtmico, atman ou atmĂŁ. Chamado tambĂ©m de âDeus internoâ, o Real Ser, o Ăntimo de cada um, o âEu Souâ. Atman, em si mesmo, Ă© o Ser inefĂĄvel, o que estĂĄ alĂ©m do tempo e da eternidade. NĂŁo morre nem reencarna; Ă© absolutamente perfeito. Atman se desdobra na alma espiritual, que, por sua vez, se desdobra na alma humana; a alma humana se desdobra na essĂȘncia, e esta se encarna em seus quatro veĂculos (corpo fĂsico, etĂ©rico, astral e mental), vestindo-se deles. Isso posto, podemos entender o primeiro deus psicopompo: TĂąnatos, o Deus dos Mortos. O Plano Astral Ă© a morada daqueles que ainda nĂŁo encarnaram, ou que estĂŁo em fase intermediĂĄria entre duas encarnaçÔes. Quando uma pessoa morre (ou âdesencarnaâ, ou âpassa para o oriente eternoâ, como preferir), ela abandona seu corpo material e permanece no Astral com seus seis corpos sutis, na forma em que seu duplo etĂ©rico (perispĂrito) tinha quando faleceu. Nesse ponto de nossa trama existem muitas histĂłrias e possibilidades. Essas pessoas sĂŁo chamadas de âespĂritosâ pelos kardecistas, e sĂŁo eles que se comunicam na maioria das vezes em sessĂ”es mediĂșnicas. Eles tambĂ©m formam os âencostosâ, âassombraçÔesâ, âfantasmasâ e outros. ApĂłs algum tempo no Astral, os mortos abandonam seu duplo etĂ©rico, que se dissolve, e permanecem apenas com seu corpo astral, que vai para planos de consciĂȘncia mais sutis, onde recebe outro duplo etĂ©rico na ocasiĂŁo de um novo nascimento. Quanto mais evoluĂdo Ă© o espĂrito, menos tempo ele passa na forma de seu perispĂrito. CascĂ”es Astrais. Quando o duplo etĂ©rico Ă© abandonado, ele pode resultar em cascĂ”es astrais, que sĂŁo formas vazias com a imagem de alguĂ©m que faleceu recentemente. Muitas vezes esses cascĂ”es astrais podem ser habitados temporariamente por elementais (por vezes, as imagens projetadas em centros espĂritas nĂŁo sĂŁo, na realidade, as pessoas falecidas, mas apenas o cascĂŁo astral delas animado por um elemental). Os ocultistas chamam esses seres de doppelgangers.
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O legĂtimo corpo da Vontade
permite ao adepto
realizar açÔes nascidas da
vontade consciente e
determinar as circunstĂąncias.
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No Plano Astral, o duplo etĂ©rico funciona exatamente como nosso corpo fĂsico, limitado apenas pelo nosso subconsciente. Se uma pessoa acredita que a parede Ă© sĂłlida, entĂŁo ela se torna sĂłlida para ele. Se Ă© um iniciado e sabe que pode atravessar uma parede, entĂŁo ele assim o farĂĄ (mas, como veremos a seguir, a imensa maioria dos habitantes do Astral Ă© tĂŁo ignorante quanto suas contrapartes do Plano FĂsico). A Vontade (Thelema) Ă© o que realmente comanda nos planos sutis. As pessoas que sabem como Yesod1 funciona se tornam rapidamente âchefesâ das massas ignorantes de espĂritos.
No Astral as pessoas enxergarĂŁo aquilo que estiver na mesma frequĂȘncia de vibração delas; muitas vezes, nĂŁo saberĂŁo sequer que estĂŁo mortas. JĂĄ tive experiĂȘncias de resgate em que as pessoas simplesmente nĂŁo acreditavam que haviam morrido. Uma senhora havia falecido durante o sono e achava que seus netos e filhos apenas nĂŁo prestavam mais atenção a ela⊠Alguns animais (gatos, especialmente) sĂŁo capazes de sentir essas vibraçÔes. Crianças e sensitivos tambĂ©m enxergam dentro de algumas faixas do Astral. O nome que se dĂĄ para as pessoas que tĂȘm essas faculdades Ă© clarividente (antigamente chamados de mĂ©diuns-videntes), embora existam tambĂ©m clariaudientes (que escutam), olfativos (que sentem cheiros) e
tĂĄteis (que sentem impressĂ”es). Hoje em dia, termos como âvidentesâ nĂŁo sĂŁo muito utilizados, pois acabaram se tornando associados a charlatĂ”es e vigaristas. Importante ressaltar que essas faculdades nĂŁo estĂŁo necessariamente conectadas entre si: um mĂ©dium pode incorporar (usando a psicografia, psicofonia, etc.) e nĂŁo ter clarividĂȘncia alguma, por exemplo. Problemas de esquizofrenia sĂŁo frequentes em mĂ©diuns ostensivos, que tĂȘm a capacidade fĂsica da mediunidade. A glĂąndula pineal manda toda essa carga de informaçÔes para o hipotĂĄlamo e afins, fazendo surgir assim vĂĄrios problemas. âO mĂ©dium treinado recebe essas informaçÔes pelo lobo prĂ©-frontal, a parte cerebral que lida com a Ă©tica humanaâ (Dr. SĂ©rgio Felipe de Oliveira). Enxergar o Astral exige um misto de habilidade inata e treino. HĂĄ pessoas que nascem com esse dom (assim como pessoas nascem daltĂŽnicas, ou seja, enxergam menos cores no espectro, outras nascem clarividentes e enxergam uma gama maior de frequĂȘncias vibratĂłrias), enquanto outras precisam treinar por anos a fio para desenvolver essas faculdades. Existem alguns facilitadores para despertar esses processos. Um deles Ă© o vegetarianismo: limpar o corpo das impurezas energĂ©ticas contidas na carne facilita o despertar desses sentidos; nĂŁo beber, nĂŁo fumar e manter o corpo sem relaçÔes sexuais por alguns dias tambĂ©m vai facilitar o processo (nĂŁo apenas disso, mas de projeçÔes astrais tambĂ©m). ___________ 1NE: Esfera cabalĂstica da Ărvore da Vida associada Ă Lua.
Ărvore da Vida cabalĂstica
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A Vontade (Thelema)
Ă© o que realmente comanda
nos planos sutis.
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Fantasmas, vampiros e apariçÔes. Antigamente, as pessoas se alimentavam de comidas mais limpas, sem toxinas, agrotĂłxicos, venenos, sabores artificiais e conservantes quĂmicos e tinham mais propensĂŁo ao contato mediĂșnico. A explicação ridĂcula que se ouve Ă© que as pessoas de antigamente eram mais burras ou supersticiosas, ou esquizofrĂȘnicas, por isso acreditavam em fantasmas. Como jĂĄ foi demonstrado e provado inĂșmeras vezes, a maioria dos casos de âloucuraâ nada mais Ă© do que mediunidade exacerbada somada Ă ignorĂąncia cĂ©tica. Os astrĂłlogos de antigamente chamavam a casa 12 no Mapa Astral de âCasa dos Loucosâ, porque constatavam que a grande maioria dos internos dos institutos de psiquiatria tinham muitos planetas no signo de Peixes nessa casa. No campo, onde a alimentação e o ar eram mais saudĂĄveis, esses efeitos de contato entre o Material e o Astral eram mais frequentes, e algumas pessoas conseguiam enxergar os espĂritos obsessores agindo. Desses contatos surgiram as lendas dos vampiros, lobisomens e bruxas voadoras. Vamos explicar algumas das caracterĂsticas dos vampiros de maneira cientĂfica: 1) Obsessores sĂŁo entidades astrais que se conectam Ă pessoas vivas com o objetivo de sugar fluidos sutis. Um corpo astral nĂŁo Ă© capaz de fumar nem de obter prazer a partir da ingestĂŁo de nicotina, mas pode se âencostarâ em uma pessoa e, atravĂ©s do chacra umeral (um chacra que fica na parte detrĂĄs da nuca), absorver as sensaçÔes de prazer que o fumante tem quando traga um cigarro. Esse processo de fluidificação Ă© o mesmo usado pelos quimbas (espĂritos trevosos) para absorver o sangue de um sacrifĂcio ou a comida de um despacho de macumba. Obsessores tambĂ©m se âalimentamâ de sensaçÔes: alegria, tristeza, dor, saudade, raiva, etc. Boa parte dos casos de depressĂŁo nada mais Ă© do que obsessores que incitam essas sensaçÔes na pessoa para depois se alimentarem delas. Por precisarem estar literalmente acoplados energeticamente a suas vĂtimas, os kardecistas os chamaram de âespĂritos obsessoresâ; espiritualistas os chamam de âespĂritos encostadosâ; e os toscos dos evangĂ©licos adaptaram a expressĂŁo para âencostosâ. Da posição de âsugar o pescoçoâ surgiu a lenda sobre vampiros que mordem o pescoço de suas vĂtimas. 2) Essas entidades existem apenas no Plano Astral. Quando um vidente as enxergava diante do espelho, via apenas a criatura, mas nĂŁo seu reflexo
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Desses contatos
surgiram as lendas dos vampiros,
lobisomens e bruxas
voadoras.
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(pois o espelho reflete apenas o Plano Material). Disso vem a lenda sobre os vampiros que nĂŁo tĂȘm reflexo em espelhos.
3) As entidades mais baixas sĂŁo constituĂdas de miasmas astrais (restos energĂ©ticos que compĂ”em os cascĂ”es usados por esses seres para se manifestarem no Astral, de maneira semelhante ao duplo etĂ©rico), e a luz solar dissolve esses miasmas. Disso surgiu a lenda sobre vampiros que queimam no sol, pois seus cascĂ”es astrais sĂŁo literalmente dissolvidos pela luz solar (vocĂȘ jĂĄ reparou que pessoas depressivas evitam ao mĂĄximo a luz do sol?). 4) Ăgua lustral tambĂ©m afeta o Plano Astral. Ăgua lustral Ă© feita a partir de sal marinho e
ĂĄgua (ĂĄgua do mar tambĂ©m serve). Ă o motivo pelo qual os orixĂĄs recomendam banhos de mar para ajudar em problemas espirituais, alĂ©m de ser um dos locais mais fortes para despachos. Surfistas, nadadores, mergulhadores e pessoas que trabalham com o mar tambĂ©m concordam com a sensação de limpeza que o mar traz. A Igreja CatĂłlica, que tudo copia, tambĂ©m se apoderou da ĂĄgua lustral, sĂł que a chama de âĂĄgua bentaâ. Ao utilizarmos ĂĄgua lustral em nossos rituais, dissolvemos os miasmas astrais. Disso resultou a lenda sobre vampiros que sĂŁo afetados por ĂĄgua benta. Ela literalmente corrĂłi a âpeleâ dos obsessores e cascĂ”es astrais. Isso tambĂ©m explica a lenda sobre vampiros que nĂŁo podem cruzar ĂĄgua corrente. 5) SĂmbolos religiosos, assim como a baqueta ou âvarinha mĂĄgicaâ, sĂŁo canalizadores da Vontade (Thelema) do ocultista. AtravĂ©s dele, podemos exercer nossa Vontade e dissolver o miasma dos cascĂ”es astrais e forçar a entidade para fora do cascĂŁo que estĂĄ acoplado na pessoa (essa Ă© uma das bases do exorcismo). JĂĄ sabendo disso, essas entidades se afastam da presença do mago. Por isso Ă© que se diz nas lendas que âa cruz sĂł funciona com quem acredita nelaâ. A baqueta, quando atravessada no cascĂŁo astral, tambĂ©m dissolve completamente o miasma. Por isso dizem que vampiros tem medo do crucifixo. A baqueta de madeira atravessando o corpo do obsessor tambĂ©m Ă© a origem da âestacaâ que mata vampiros. 6) Igrejas e templos (rosacruzes, maçÎnicos, thelemitas) normalmente tĂȘm egrĂ©goras e rituais especiais que impedem a presença desse tipo de criatura. Dizemos que o templo âestĂĄ cobertoâ contra a presença dessas entidades. Por essa razĂŁo, as lendas dizem que demĂŽnios, assombraçÔes e vampiros nĂŁo podem pisar em âsolo sagradoâ. 7) Obsessores e obsediados mantĂȘm uma relação de harmonia vibratĂłria entre si. Um espĂrito obsessor sĂł consegue permanecer em um local onde haja uma afinidade emocional ou vibracional, caso contrĂĄrio eles nĂŁo serĂŁo
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A Igreja CatĂłlica, que tudo
copia, também se apoderou da ågua lustral
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capazes de acoplar, ou serĂŁo mantidos afastados. Disso surgiu a lenda sobre vampiros que sĂł podem entrar em um local se forem convidados. Uma das coisas mais interessantes sobre as lendas dos vampiros Ă© que Bram Stoker, o escritor que imortalizou o DrĂĄcula, era membro da Golden Dawn, uma ordem iniciĂĄtica muito conhecida no começo do sĂ©culo 19. Quando ele colocou essas caracterĂsticas em seu romance, ele sabia muito bem sobre o que estava escrevendo. Mas ainda existem muitas coisas a serem ditas a respeito do Plano Astral...
SSSS _______________ Marcelo Del Debbio Ă© escritor, editor, pesquisador de sociedades iniciĂĄticas e de ocultismo e membro de diversas Ordens. www.deldebbio.com.br
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DEIXE A âLOUCURAâ CORRER SOLTA
Esquizofrenia Luciférica Por Rafael Bittencourt
PPPPrimeiramente, Ă© provĂĄvel que algum especialista discorde das minhas
apropriaçÔes nominativas. A eles, peço desculpas e aproveito para pedir emprestados esses nomes, pois desconheço quais seriam os mais apropriados para o assunto. A todos que leem este artigo, peço que procurem utilidade no conteĂșdo, independentemente dos termos utilizados. Uso o termo âesquizofreniaâ para descrever um fenĂŽmeno que me acompanha desde muito cedo â o excesso de criatividade que, por muitas vezes, manifesta-se de maneira descontrolada. Acredito que a mente criativa âsuperativadaâ pode gerar sintomas da esquizofrenia patolĂłgica como as alucinaçÔes auditivas, visuais, a paranoia etc. Sempre gostei de sonhar acordado e nunca tive medo de nĂŁo encontrar o caminho de volta. Apesar de assustado com as vozes e de ter uma sensação de estar sendo observado, sempre me fascinei com esse aspecto misterioso do meio ambiente ao meu redor. Perceber a realidade com a mente criativa ativada pode ser muito Ăștil para se ampliar a percepção do meio em que estamos e de nĂłs mesmos. Mas sempre Ă© preciso ter cuidado. Nessa esquizofrenia, noto que âsoltar a pipaâ nĂŁo incomodarĂĄ os outros nem me prejudicarĂĄ socialmente. Manifesto isso com maior intensidade no meio do mato, descalço, mas com menos intensidade entre as pessoas. Por milhares de anos uma Ășnica palavra descreveu âfĂ©â e âcriatividadeâ. Apenas algumas centenas de anos atrĂĄs Ă© que as duas foram divididas. Quando nascemos, as pessoas jĂĄ atribuĂram muitos significados aos vĂĄrios detalhes da realidade compartilhada. Quando crianças, enquanto percebemos essa realidade Ă nossa maneira, sĂŁo trazidas a nĂłs explicaçÔes e convençÔes bastante definitivas sobre o que Ă© a realidade e como devemos percebĂȘ-la. Isso gera um conflito entre sua âvisĂŁo naturalâ e as convençÔes sociais que sĂŁo rapidamente trazidas a vocĂȘ. Os sentidos e a
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Nessa esquizofrenia,
noto que âsoltar a
pipaâ nĂŁo incomodarĂĄ
os outros nem me
prejudicarĂĄ socialmente.
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cognição sĂŁo os recursos que temos para perceber essa realidade. Ao se criar uma realidade paralela, corremos o risco de nĂŁo conseguir interagir, comunicar e nos relacionar com os outros, jĂĄ que a maioria acredita realmente no mundo descrito por aqueles que estavam aqui antes de nascermos. Aos poucos, somos âcivilizadosâ, e a realidade Ă© afunilada numa viciosa e simplista visĂŁo maniqueĂsta. Assim, nossa percepção Ă© limitada e treinada para se adaptar Ă civilização jĂĄ instituĂda. Seus infinitos talentos transformadores começam, entĂŁo, a ser decepados. Na medida em que entendemos as interpretaçÔes da realidade da maneira que nos Ă© ensinada e explicada, vamos criando um universo criativo com nossas prĂłprias explicaçÔes. As fortes conexĂ”es entre o universo criativo de um indivĂduo e a realidade compartilhada pela humanidade tĂȘm proporcionado soluçÔes geniais. Existem duas maneiras principais de se trilhar caminhos para dentro da mente criativo-transformadora: 1) Como um balĂŁo Ă deriva; 2) Como uma pipa. Ao perceber a realidade no modo âbalĂŁo Ă derivaâ, a sensação Ă© muito intensa e sedutora.
Modo âbalĂŁo Ă derivaâ: Nesse modo, ou situação, criamos um mundo de significados exclusivamente nosso e negamos os significados que sĂŁo trazidos para nĂłs atravĂ©s dos âoutrosâ (vĂĄrios grupos que ajudam a formar nossa impressĂŁo e opiniĂŁo sobre as coisas). Perdemos a conexĂŁo com a realidade compartilhada (aquilo que Ă© explicado e aceito por um grupo de pessoas, por exemplo: pais, famĂlia, educadores, leis, valores, ciĂȘncia, religiĂŁo etc.) e vagamos Ă deriva. Como consequĂȘncia, os canais de comunicação começam a ser fechados.
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Aos poucos, somos
âcivilizadosâ, e a realidade Ă© afunilada
numa viciosa e simplista
visĂŁo maniqueĂsta.
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AtribuĂmos significados singulares para nossa prĂłpria existĂȘncia, mas corremos o risco de esquecer o caminho para o entendimento do mundo convencionado como as outras pessoas âcivilizadasâ o veem. Nesse caso, vocĂȘ acessa o seu potencial transformador, mas nĂŁo consegue comunicĂĄ-lo aos outros. No modo âpipaâ, vocĂȘ âviajaâ para dentro da mente sem perder a conexĂŁo com a realidade compartilhada com os outros, conhecendo significados teoricamente impossĂveis para sua existĂȘncia e para o mundo ao seu redor e se utilizando de canais extrassensoriais (alĂ©m dos sentidos bĂĄsicos). A grande diferença estĂĄ no que se busca. No modo âbalĂŁoâ, o vento Ă© o ego, e a procura Ă© por um significado especial para a prĂłpria existĂȘncia. No modo âpipaâ, buscamos o fio que nos liga com o mundo fĂsico e seus paradigmas. Esse fio reside na aceitação e na comunicação com este mundo. No inĂcio dessa prĂĄtica, a paranoia predomina e nos faz encontrar conexĂ”es e teorias de conspiração. Mas, ao controlar o efeito paranoico desse estado de espĂrito, encontramos realidades paralelas que complementam e se harmonizam com a realidade instituĂda sem destruĂ-la.
Modo âpipaâ: Nesse modo, mergulhamos no universo criativo sem perder o fio que nos liga Ă realidade compartilhada. Comunicamo-nos com os outros, trazendo experiĂȘncias pessoais e aceitando as experiĂȘncias alheias. Podemos nos imaginar como sendo uma esfera em constante expansĂŁo e contração, em que a energia flui do centro para fora por todas as direçÔes do centro e esbarra, em certo momento, com a periferia da existĂȘncia dos outros.
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(...) ao controlar
o efeito paranoico
desse estado de espĂrito,
encontramos realidades paralelas
(...)
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O desenho ao lado Ă© uma representação do equilĂbrio ideal entre trĂȘs tipos de força ou perspectiva:
1. O indivĂduo: Ă© a nossa prĂłpria perspectiva diante do mundo. Ă a visĂŁo de quem estĂĄ vivendo ou observando uma situação. O indivĂduo percebe os acontecimentos estando inserido neles e os converte em impressĂ”es pessoais que passam pelos conceitos, experiĂȘncias, medos, anseios etc. Recebemos a informação de tudo que vem de fora (os outros) atravĂ©s dos sentidos, entĂŁo pensamos e agimos dentro dos limites da nossa compreensĂŁo.
2. Os outros: o mundo externo e os outros indivĂduos. Tudo que vem de fora e percebemos. Os outros tambĂ©m tĂȘm pontos de vista sobre as coisas. A ciĂȘncia, a religiĂŁo, os pais, a cultura, a moral e a educação sĂŁo perspectivas que vĂȘm de fora para serem combinadas Ă sua, seja pela sua identificação ou pela negação de um conceito ou ponto de vista.
3. O mistĂ©rio: o mistĂ©rio engloba tudo, vocĂȘ, os outros e tudo o que desconhecemos.
0. O nada: zero Ă© o nada de onde tudo veio e para onde tudo voltarĂĄ. O 1 Ă© a representação de cada coisa que existe e tambĂ©m o todo, que engloba cada uma das coisas. O todo tambĂ©m voltarĂĄ ao nada. Uma energia emana do nada querendo existir e outra nos atrai de volta, querendo desconstruir â essa Ă© a grande dualidade das coisas. Ao chegarmos ao ponto evolutivo em que estamos, percebemos a existĂȘncia dessas coisas e dos outros. DaĂ o nĂșmero 3. Com os nĂșmeros 0, 1, 2, 3 podemos construir e decifrar todos os universos e dimensĂ”es. Compartilhamos uma realidade, numa dimensĂŁo espaço-tempo. O 2 nĂŁo Ă© espelhado; nada Ă© igual, nem as duas metades de uma laranja sĂŁo exatamente iguais. Em uma metade do quadrante estĂĄ a dualidade simplista e maniqueĂsta; da outra, a visĂŁo tridimensional. A divisĂŁo do 2 pelo 3 Ă© 0,666, que Ă© incompreensĂvel, intangĂvel. Ă a representação do mistĂ©rio. O Apocalipse Ă© a vinda da nova dimensĂŁo, da nova visĂŁo, do novo Aeon. As pessoas negam e temem a chegada dessa nova etapa evolutiva por um instinto de autoproteção contra o novo, o desconhecido. Nossas vidas jĂĄ estĂŁo explicadas antes de nascermos. NĂŁo queremos deixar de ser apenas indivĂduos que comem e procriam. Ă doloroso repensar nossa prĂłpria existĂȘncia jĂĄ rotulada, porque para isso teremos que entregar nossos nomes, nossa individualidade, que colocamos sempre acima de todas as outras prioridades. Com a aceitação da nossa âdesimportĂąnciaâ, abrimos o canal para nos igualar aos outros e ao mistĂ©rio. As religiĂ”es e a ciĂȘncia explicam o universo, mas nĂŁo nos reconectam a ele de fato. Ainda nos separam em grupos e crenças. A nova era Ă© a chegada de ideias incontestĂĄveis e unificadoras; une a fĂsica quĂąntica e os livros sagrados. Einstein foi uma grande avatar da razĂŁo, amante da vida e da ciĂȘncia. Estamos neste momento de transição, em que os valores, conceitos, teorias e crenças estĂŁo sendo revistos. Ă difĂcil habitar o planeta neste momento de intensa instabilidade. A pequena bĂșssola me ajuda a visualizar o momento em que estaremos daqui a uns cem anos: um planeta menos supersticioso e mĂstico e mais unido por meio da energia universal.
NĂŁo Ă© possĂvel saber ainda a finalidade das manifestaçÔes esquizofrĂȘnicas; nĂŁo sei nem mesmo qual a finalidade da existĂȘncia de coisa alguma. Procuro apenas encontrar uma utilidade nos recursos que tenho disponĂveis. Desses recursos, que chamei presunçosamente de manifestaçÔes esquizofrĂȘnicas, faço o uso que descrevi. NĂŁo quero que pareça que funcionarĂĄ para todos da maneira que funciona para mim, porque o arsenal de recursos que cada um tem Ă© diferente. Essas manifestaçÔes esquizofrĂȘnicas lucifĂ©ricas e o luciferianismo, na minha concepção, propĂ”em uma desconstrução de paradigmas atravĂ©s do desenvolvimento de canais extrassensoriais. As consequĂȘncias desse tipo de pensamento sĂŁo mais importantes, a meu ver, do que o nome e sua origem histĂłrica. O que valorizo nisso sĂŁo os benefĂcios que essa visĂŁo pode trazer
SĂmbolo âbĂșssolaâ
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A divisĂŁo do 2
pelo 3 Ă© 0,666 (...)
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para a humanidade e para o universo. A psicologia se utiliza dessa tĂ©cnica hĂĄ um sĂ©culo e jĂĄ obteve bons resultados. Esse mesmo caminho recebe outros nomes em outras culturas e religiĂ”es. Acho importante para a civilização o abandono do medo, que Ă© um mecanismo de defesa natural; nada de errado com a existĂȘncia dele. Mas, da maneira institucionalizada como Ă© apresentada, o medo desarmoniza a vida na sociedade em grande escala. Ă muito interessante trilhar um caminho que leva ao controle dos nossos medos por meio de arquĂ©tipos que comumente, e erroneamente, personificam esses medos. Para mim, tem funcionado utilizar esses signos para a desconstrução dos meus medos. NĂŁo sei se o mesmo caminho funcionarĂĄ para todos; as pessoas se igualam ou se diferem no que buscam e nĂŁo no caminho que percorrem. Essa lĂłgica Ă© mais importante do que o nome que se dĂĄ. Entre esta realidade e as outras existem encruzilhadas que facilitam os acessos. A capacidade de abstração dos nomes e personificaçÔes facilita a chegada a esses acessos, e interpretaçÔes muito literais sobre os caminhos dificultam. Aconselho que todos busquem um caminho para a derrubada de seus medos da maneira que acharem melhor.
SSSS _______________ Rafael Bittencourt Ă© mĂșsico, compositor, guitarrista, vocalista, letrista e fundador da banda Angra e do Bittencourt Project. www.angra.net www.rafaelbittencourt.com
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Aconselho que todos
busquem um caminho
para a derrubada
de seus medos da
maneira que acharem melhor.
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UMA VISĂO DO OUTRO LADO
Rompimento do VĂ©u, Felipe GalvĂŁo
www.realgravuras.com.br
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Sitra Ahra Edição #2 2012
MALDITAS ALMAS
ANJOS REBELADOS Ă Deus sem piedade, Ă Deus sem religiĂŁo e compaixĂŁo, Maldito sejas! Que SatĂŁ, o Vencido por ti, Vingue todas as MĂŁes, vencendo-te, Conquistando todo o teu poder, Triunfando eternamente de ti Nas masmorras negras do Inferno! Cruz e Sousa
A GIGANTA No tempo em que, com a verve que nos espanta A Natureza concebia o monstro mais fabuloso, Teria eu gostado de viver com uma jovem giganta, Como aos pĂ©s de uma rainha um gato voluptuoso. Teria eu gostado de ver seu corpo e alma em botĂŁo E crescer livremente com seus jogos terrĂveis; Adivinhar se alguma chama arde em seu coração Sob as Ășmidas nĂ©voas de seus olhos sensĂveis; Percorrer-lhe Ă vontade suas formas belas; Rastejar as encostas de suas grandes pernas, E, Ă s vezes, no verĂŁo, quando o sol tĂłrrido, Deixa-a estendida atravĂ©s da campina, Dormir languidamente em seu colo mĂłrbido, Como uma aldeia plĂĄcida ao pĂ© de uma colina. Charles Baudelaire
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Sitra Ahra Edição #2 2012
MALDITAS ALMAS
A DESTRUIĂĂO Sem cessar, ao meu lado o DemĂŽnio se agita; Nada em torno de mim como um ar impalpĂĄvel; Eu o engulo, e nos pulmĂ”es ele arde e crepita, Enchendo-os de um desejo eterno e condenĂĄvel. Ăs vezes, ao saber do amor que a arte inspira, Toma a forma da mulher que mais eu ame, E, afeito aos pretextos da mentira, Acostuma-me os lĂĄbios ao filtro infame. Ele me leva dos olhos de Deus distante, De fadiga, assim, exausto e ofegante, Ăs planĂcies do TĂ©dio, profundas, desertas, E atira-me ao olhar cheio de confusĂŁo, Roupas imundas e feridas abertas, E o aparato sangrento da Destruição! Charles Baudelaire
SATĂ Capro e revel1, com os fabulosos cornos Na fronte real de rei dos reis vetustos2, Com bizarros e lĂșbricos contornos, Ei-lo SatĂŁ dentre os SatĂŁs augustos. Por verdes e por bĂĄquicos3 adornos Vai câroado de pĂąmpanos4 venustos O deus pagĂŁo dos Vinhos acres, mornos, Deus triunfador dos triunfadores justos. ArcangĂ©lico e audaz, nos sĂłis radiantes, Ă pĂșrpura das glĂłrias flamejantes, Alarga as asas de relevos bravos⊠O Sonho agita-lhe a imortal cabeça⊠E solta aos sĂłis e estranha e ondeada e espessa Canta-lhe a juba dos cabelos flavos5... Cruz e Sousa ___________ 1NE: Rebelde.
2NE: Antigos, muito velhos.
3NE: Relativo ao deus romano Baco (Dioniso, para os gregos).
4NE: Ramos de videira.
5NE: Louros.
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PACTO SATĂNICO DE POETAS?
Da Teoria SatĂąnica Por Marie-HĂ©lĂšne Catherine Torres *
CCCChegando ao fim da viagem simbólico-poética ao mundo infernal de
Cruz e Sousa e Baudelaire, tentaremos verificar o fundamento da nossa hipĂłtese, ou seja, a comprovação do fato de que Cruz e Sousa e Baudelaire se basearam em princĂpios satĂąnicos que participaram do ato da criação, o que nos leva a afirmar a existĂȘncia de uma teoria satĂąnica subjacente na poesia de ambos, marcando o inĂcio da poesia moderna. [...] Em primeiro lugar, constata- se a consolidação de um pacto satĂąnico pelo beijo simbĂłlico que une o espĂrito poĂ©tico ao espĂrito satĂąnico. Isso nos leva a concluir que SatĂŁ, apreendido como matĂ©ria poĂ©tica e simbolizando o conhecimento e a inspiração interior, Ă© o elo entre o poeta e sua arte, ou em outras palavras, entre o poeta e Deus, ponto culminante da arte. Logo, o ato de criação poĂ©tica depende inteiramente do pacto satĂąnico. Em segundo lugar, observamos que SatĂŁ se metamorfoseia numa figura feminina, o eterno feminino, que denominamos de musa satĂąnica, esta poeticamente simbolizada pela VĂȘnus negra. A influĂȘncia da VĂȘnus negra Ă© primordial no sentido de que ela provoca o impulso do ato de criação poĂ©tica. Caracterizada por seu lado carnal, isto Ă©, satĂąnico, a VĂȘnus negra
___________ *Texto cedido gentilmente pela autora, de sua obra Cruz e Sousa e Baudelaire â Satanismo PoĂ©tico.
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(...) o ato de criação poética
depende inteiramente
do pacto
satĂąnico.
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inspira o poeta de tal forma que erotiza seus versos. Assim, a erotização da voz poĂ©tica, que esvazia a palavra para lhe dar novo sentido, representa nĂŁo sĂł um meio de conhecimento, mas tambĂ©m o centro unificador, fonte de progresso em direção ao divino. A seguir, distinguimos caracterĂsticas inerentes Ă criação poĂ©tica de ambos os poetas, ou seja, a presença da morte, da dor e do sofrimento que os fascinaram. Ă nesse clima de tĂ©dio, de morbidez estĂ©tica e de desgosto que o poeta recebe o impulso do ato de criação, atravĂ©s de sua revolta como ser isolado e mesmo incompreendido.
Depois, notamos a analogia entre o poeta e o ex-anjo da luz, ou seja, a queda no abismo, passagem obrigatĂłria ao poeta iniciado para poder alcançar o divino. Com efeito, o poeta, Ă procura do novo e do desconhecido, atravĂ©s duma descida interior animada pela sua imaginação, mergulha no medo e na morte â abismo de evasĂŁo â que torna a arte acabada. Em seguida, percebemos que o uso da religiĂŁo (prece, blasfĂȘmio) Ă© um artifĂcio (ars + facio) poĂ©tico, a religiĂŁo sendo para o poeta a prĂłpria poesia, ou seja, o poeta Ă© devoto ao culto da poesia. Talvez seja oportuno agora, numa tentativa de conceituação, dizer que, para Cruz e Sousa e Baudelaire, a poesia tem como objetivo ela mesma. Ela representa, de fato, o prazer de escrever. SĂł um poeta com princĂpios satĂąnicos, assim denominados porque sĂŁo provocados pela imaginação cuja fluidez criativa se origina no inferno, poderia apreender a questĂŁo da religiĂŁo de tal forma, com tanta liberdade. Na verdade, a premissa, segundo a qual o poeta precisa da ĂĄrvore do Mal que carrega os frutos da Imaginação para criar, Ă© prĂ©-requisito a todos os requisitos citados anteriormente, necessĂĄrios Ă reconstrução do processo de impulso satĂąnico do ato de criação poĂ©tica.
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Depois, notamos a
analogia entre o poeta e o
ex-anjo da luz, ou seja,
a queda no abismo,
passagem obrigatĂłria ao poeta iniciado
para poder alcançar o
divino.
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Enfim, podemos sintetizar, conforme o que foi abordado neste estudo, a simbologia do Mal. O Mal Ă© ao mesmo tempo, e isto para Cruz e Sousa e Baudelaire, desejo, erotismo, transgressĂŁo do interdito, sedução e tentação, noite e mistĂ©rio. O Mal Ă© a revolta contra as regras normativas do comportamento social e estĂ©tico. Cruz e Sousa rebelou-se tantas e tantas vezes contra o âcĂrculo systhematico das FĂłrmulas preestabelecidasâ1 reivindicando:
O que eu quero, o que eu aspiro, tudo por quanto anceio, obedecendo ao systhema arterial das IntuiçÔes, é a Amplidão livre e luminosa, todo o Infinito, para cantar o meu Sonho, para sonhar, para sentir, para soffrer, para vagar, para dormir, para morrer.2 (sic)
O poeta, segundo Baudelaire, não é um simples mortal! Ele segue leis próprias. Aliås, Baudelaire, revoltando-se contra a censura de algumas peças de Les fleurs du mal, estabelece sem contorno a diferença entre o poeta, o artista e os outros:
A literatura tem uma liberdade que se quer punir de repente em mim. Existem vĂĄrias morais. Tem a moral positiva e prĂĄtica Ă qual todo mundo deve obedecer. Mas tambĂ©m tem a moral das artes. Existem tambĂ©m vĂĄrios tipos de liberdade. Tem a liberdade para o GĂȘnio, e tem uma liberdade muito restrita para os sapecas.3 (Trad. da autora)
Eis o mal do qual se deliciam os poetas e que transparece nas suas poesias atravĂ©s da figura simbĂłlica do SatĂŁ moderno, a cidade e a solidĂŁo nos seus diversos significados. SĂŁo esses os princĂpios que sustentam o que chamamos de teoria satĂąnica, entendida como teoria do autoconhecimento, pois âthĂ©oria, ação de ver e contemplar, nasce de âthĂ©orienâ , contemplar, examinar, observar, meditarâ4. PoderĂamos tambĂ©m falar de tĂ©cnica satĂąnica, conforme as palavras de Huxley, em vez de teoria satĂąnica, pois nem uma nem outra tĂȘm a pretensĂŁo de solucionar tudo. Trata-se apenas de uma escolha, de uma proposta que concerne Ă poesia de Cruz e Sousa e de Baudelaire que talvez possa se estender, provavelmente com variantes a outros poetas. O que Ă© importante ressaltar Ă© que a teoria satĂąnica proporciona uma certa sabedoria ao poeta, a do Mal, o Mal sendo humano. Assim, o belo, objeto por excelĂȘncia da poesia, se transforma, com a teoria satĂąnica subjacente ao ato de criação, em beleza do Mal. Rompendo com a poesia tradicional,
___________ 1âEmparedadoâ, EvocaçÔes. p.387.
2Ibidem. p.376.
3Notes et documents pour mon avocat. p.240.
4CHAUI, Marilena. Janela da alma, espelho do mundo. In: NOVAES, A. (org.) O olhar. SĂŁo Paulo:
Companhia das Letras, 1988. p.34.
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ambos os poetas iniciaram a poesia moderna que perturba ou choca porque, mesmo emparedados e marginalizados, eles saborearam a liberdade, a liberdade de escolher princĂpios satĂąnicos, os Ășnicos capazes de divinizar a poesia e de oferecer salvação ao poeta. Dessa forma, graças Ă descida ao inferno, o poeta se redime e atinge Deus, ideal de perfeição artĂstica. E, com ele, LĂșcifer tambĂ©m Ă© redimido, como na obra pĂłstuma de Victor Hugo, graças ao Anjo â Liberdade que obteve de SatĂŁ, detentor de poder de libertação humana, a autorização de salvar os homens. Basta citar os Ășltimos versos pronunciados por Deus:
O Arcanjo ressuscita e o demĂŽnio acaba, E apago a noite infame, nada resta SatĂŁ morreu, renasce, Ăł LĂșcifer celeste.5 (Trad. da autora)
SSSS _______________ Marie-HĂ©lĂšne Catherine Torres Ă© Professora Doutora de LĂngua e Literatura Francesa na UFSC, pesquisadora e autora do livro Cruz e Sousa e Baudelaire â Satanismo PoĂ©tico.
___________ 5HUGO, Victor. La fin de Satan. Org. Evelyn Blewer & Jean Gaudon. Paris: Gallimard, 1984. p.277.
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Sitra Ahra Edição #2 2012
âMENTIRASâ E DĂVIDAS ENVENENAM? NĂO DUVIDE
Samael: DĂșvida e Descrença no Caminho da MĂŁo Esquerda Por Alberto Brandi Tradução: Adriano C. Monteiro
EEEEste artigo trata sobre o processo de duvidar, questionar e desacreditar,
um processo que Ă© ao mesmo tempo uma ferramenta poderosa e terrĂvel nas mĂŁos de magistas iniciados que vĂŁo pelo Caminho da MĂŁo Esquerda. Esses aspectos do lado escuro do intelecto serĂŁo, no curso deste artigo, especialmente analisados a partir de uma perspectiva iniciĂĄtica samaelita. Fazemos a nĂłs mesmos algumas importantes questĂ”es com relação a essa esfera1. As conclusĂ”es aqui apresentadas, ainda que pessoais, podem ser de interesse para todos aqueles praticantes do Vamamarga2 que, em sua busca pelo Diamante ao longo da vida, irĂŁo se encontrar presos Ă perigosa, porĂ©m fascinante, teia da dĂșvida e da descrença.
Por que o iniciado encontra Samael, o Veneno de Deus, a qlipha que questiona Deus e sua criação, em um estĂĄgio3 tĂŁo inicial? Se o veneno Ă© o que destrĂłi as velhas estruturas e extingue as fronteiras da moralidade, por que nĂŁo Ă© um objetivo final, mas sim um portal? O que esconde as profundezas do elixir escuro da dĂșvida e do veneno que estĂŁo na taça de Samael? O que Ă© a dĂșvida? Como podemos definir a natureza do ato de duvidar? Aparentemente, a dĂșvida nĂŁo pode subsistir por si mesma e tambĂ©m
___________ 1NT: Esfera qliphĂłtica (Samael) da Ărvore do Conhecimento, ou seja, o outro lado da esfera sephirĂłtica
(Hod) da Ărvore das Vidas da Cabala, relacionada a MercĂșrio. 2NT: âCaminho da MĂŁo Esquerdaâ.
3NT: Esse estĂĄgio se refere a um dos nĂveis da Ărvore cabalĂstica; Samael estĂĄ em um nĂvel quase
mediano no diagrama da Ărvore.
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O que esconde as
profundezas do elixir
escuro da dĂșvida e do veneno que
estão na taça de
Samael?
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nĂŁo pode se alimentar de sua essĂȘncia. Para existir, a dĂșvida deve contar com um objeto, assim como o observador nĂŁo pode existir sem aquilo que Ă© observado. Ă por isso que duvidar e questionar tem sido sempre uma das principais ferramentas do Caminho da MĂŁo Esquerda. SatĂŁ Ă© o adversĂĄrio; Set Ă© o oponente de HĂłrus; Loke Ă© o trapaceiro. Nenhuma dessas forças segue ou obedece a estruturas existentes, mas sim buscam destruĂ-las, mudĂĄ-las e tornar o estĂĄtico dinĂąmico. Assim, o magista das sombras pode usar a descrença e a dĂșvida para eliminar as estruturas existentes das quais ele se alimentou desde seu nascimento. A magia traz consigo a necessidade de fazer cada ação consciente, levando os adeptos a questionarem tudo ao seu redor. A dĂșvida pode, desse modo, ajudar a superar os valores e as superstiçÔes da religiĂŁo e da sociedade materialista e desalmada de hoje, dando ao indivĂduo uma maneira alternativa de pensar e agir, longe do materialismo e da espiritualidade monoteĂsta/dogmĂĄtica. Sua essĂȘncia jaz no nĂșcleo dos ensinamentos do Vamamarga, o esquerdo, o invertido, o jeito âerradoâ que estĂĄ fora do caminho ordenado da luz, longe das estruturas ordinĂĄrias espirituais e mundanas. Por outro lado, obviamente, a dĂșvida sozinha nĂŁo pode ser a base do caminho mĂĄgico; Ă© somente um acessĂłrio mĂĄgico Ăștil. Porque aĂ estĂĄ a principal diferença entre magia e religiĂŁo: a fĂ© Ă© a aceitação do conhecimento dado por um dogma, ao passo que a magia Ă© o conhecimento que se origina da experiĂȘncia e da exploração ativa e pessoal dos MistĂ©rios. Ă aqui que a espada de dois gumes da descrença pode atingir com seu golpe mais forte. Isso especialmente pode acontecer quando o adepto tem eliminado e desconstruĂdo as velhas estruturas com sucesso. O momento em que o magista cruza os portais de Lilith Ă© muito delicado; ele deu um passo alĂ©m do limiar do mundano, rejeitando o antigo para abraçar a escuridĂŁo, e os escombros das velhas certezas formando a base para novas concepçÔes surgidas da prĂĄtica mĂĄgica e da especulação sobre os MistĂ©rios sombrios.
Ărvore do Conhecimento (com as esferas qliphĂłticas)
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Assim, o magista das
sombras pode usar a descrença e
a dĂșvida para
eliminar as estruturas existentes
(...)
Sitra Ahra Edição #2 2012
Ă nesse ponto que a dĂșvida pode agir, funcionando como um ĂĄcido: uma vez que a pesada carga da moralidade e espiritualidade antiquadas tenha sido consumida, as novas âverdadesâ e estruturas sĂŁo atacadas e corroĂdas. O magista pode enfrentar um forte e profundo questionamento das prĂłprias habilidades, da ârealidadeâ da magia â especialmente durante perĂodos sombrios e na falta normal de resultados â, do foco na longa jornada e na dedicação requerida no Caminho.
O que acontece agora? Esse Ă© o ponto fundamental para toda a magia sombria. Muitos indivĂduos e organizaçÔes ficam presos aqui. A dĂșvida e a descrença podem se tornar o foco principal, o nĂșcleo da prĂłpria visĂŁo da existĂȘncia e do cosmos; e quando a dĂșvida tem se tornado o sistema de crença dominante, ela se transforma em pessimismo metafĂsico. Muitas organizaçÔes mĂĄgicas antagĂŽnicas ou âsombriasâ, predominantemente no Ăąmbito satĂąnico, caĂram nesse tipo de pensamento niilista-duvidoso, em que a ferramenta se tornou a meta e tudo Ă© questionado em seu Ăąmago. Consequentemente, a direção da prĂłpria organização mudou-se para um materialismo
extremo muito prĂłximo ao que Ă© estabelecido pela âsociedade mundanaâ. Nesse nĂvel, nĂŁo hĂĄ uma busca real pela alquimia espiritual, mas apenas uma inversĂŁo de valores materialistas que se tornaram o foco central das atividades e dos sistemas de crença de tais grupos. Podemos tentar explicar essa interpretação demente de um jeito antinomiano saudĂĄvel em um nĂvel filosĂłfico e espiritual. Este que escreve tem notado, no curso dos anos, uma postura peculiar comum a muitos indivĂduos e organizaçÔes que defendem esse tipo de âmaterialismo da mĂŁo esquerdaâ ou solipsismo4, ou seja, eles parecem jamais ter de fato abandonado aquelas estruturas que alegam combater (cristianismo, moralidade de escravo, etc.): muitas vezes escutamos algo como âdestruir a criação de Deusâ ou ârevoltar-se contra Deus e as hostes celestes, pois o que Deus tem feito por nĂłs?â Este Ă© um elemento comum no pensamento satanista: se Deus nos abandonou, por que deverĂamos segui-lo ou louvĂĄ-lo? Melhor revoltar-se e ter indulgĂȘncia em tudo o que Ele nega (prazer, sexo, etc.). Isso soa mais como um apelo doloroso de uma criança abandonada e transtornada do que o hino de guerra orgulhoso de um satanista revolucionĂĄrio. AlĂ©m disso, mostra que esse suposto âpensamento ___________ 4NT: Conceito filosĂłfico segundo o qual nada existe alĂ©m do prĂłprio eu, da prĂłpria individualidade e sua
experiĂȘncia (sendo as Ășnicas realidades), considerando-se todo o mundo exterior como ilusĂŁo.
40
(...) eles
parecem jamais ter de
fato abandonado
aquelas estruturas
que alegam combater
(...)
Sitra Ahra Edição #2 2012
opositorâ Ă© nada mais do que um âpensamento invertidoâ, apenas uma visĂŁo da moralidade comum virada de cabeça para baixo, mas de fato nĂŁo superada, transgredida ou destruĂda. Magicamente, o veneno nĂŁo abriu caminho para o novo, apenas intoxicou o velho. Se fĂŽssemos ver Maya5, Lila6, as estruturas da luz mundana como uma cela da qual precisĂĄssemos nos libertar, poderĂamos considerar o acima mencionado como uma atitude pessimista com relação Ă dĂșvida como uma rota de fuga jĂĄ preexistente, talvez feita atĂ© mesmo por nossos carcereiros. Ă mais fĂĄcil quando a encontramos pronta, mas ela conduz para onde o criador da rota tem intenção de nos levar. O adepto do genuĂno Caminho da MĂŁo Esquerda, em vez disso, liberta-se cavando o tĂșnel com as prĂłprias mĂŁos, ajudado por outros que estĂŁo se libertando com ele e aqueles que fizeram isso no passado.
Ă um modo mais duro, mais doloroso, um processo longo e difĂcil, mas que leva para onde o adepto quer ir, e Ă© permanente, porque se consegue entender o processo de se libertar e criar ao mesmo tempo. O veneno da dĂșvida Ă©, portanto, uma das ferramentas fundamentais do Caminho Draconiano. NĂŁo Ă© um limite, mas sim o oposto: uma porta se abrindo para a liberdade metafĂsica. Lilith7 Ă© o portal para novos mundos de beleza e trevas; Gamaliel8 Ă© o cĂĄlice que contĂ©m o veneno; e Samael Ă© o veneno ingerido completamente. E esse veneno nĂŁo serve apenas para eliminar o antigo que restou do magista, mas principalmente para eliminar as estruturas dentro dele: esse Ă© o teste verdadeiro. Quando o adepto se tornou vazio de suas verdades e certezas, como acreditava, seu verdadeiro Ăąmago Ă© exposto. Nessa etapa, o indivĂduo, por meio de uma reflexĂŁo e prĂĄtica mĂĄgica perseverante, poderĂĄ encontrar conceitos e valores que realmente serĂŁo importantes para ele. Se a perseverança e o foco profundo nĂŁo sĂŁo exercitados adequadamente, alto Ă© o risco da queda, jĂĄ mencionada, na cova do niilismo e do materialismo, vagando desse modo no mar negro que a incerteza filosĂłfica pode causar. ___________ 5NT: âIlusĂŁoâ, em sĂąnscrito.
6NT: Do sĂąnscrito, o cosmos como uma âdiversĂŁoâ, um âpassatempoâ, dos deuses.
7NT: Esfera qliphĂłtica da Ărvore do Conhecimento correspondente ao planeta Terra.
8NT: Esfera qliphĂłtica da Ărvore do Conhecimento correspondente Ă Lua.
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O veneno da dĂșvida Ă©, portanto, uma das
ferramentas fundamentais do Caminho Draconiano.
Sitra Ahra Edição #2 2012
Uma vez vazio e limpo dos restos podres dos velhos sistemas de crença, o adepto nĂŁo precisa inverter ou perverter antigos valores: ele tem de recriar a si prĂłprio, e nesse processo ele pode mesmo encontrar de novo todas as crenças e valores que ele tinha anteriormente. Dessa vez, eles serĂŁo seus valores recriados na forja draconiana. Esses sĂŁo agora independentes de dogmas ou fatores impostos e, consequentemente, mais fortes e âverdadeirosâ em um sentido iniciĂĄtico e mais profundo do termo. A Ă©tica foi eliminada para deixar o magista livre para construir sua prĂłpria visĂŁo de mundo flexĂvel, sabendo que ela poderia mudar mais adiante no curso da evolução mĂĄgica dinĂąmica. Samael Ă© a fornalha que testa a integridade mĂĄgica do indivĂduo: Ă© a preparação para a completa e absoluta aniquilação dos limites da consciĂȘncia. Esse processo continua mais profundamente em AâArab Zaraq9 â onde os Corvos da DispersĂŁo10 limpam os ossos do magista â, aprofundando-se ainda mais o nĂvel dessa fase em Thagirion11, completando a experiĂȘncia do Daimon12.
Os ensinamentos de Samael mostram ao adepto que a dĂșvida e a risada sĂŁo grandes armas, ao mesmo tempo inofensivas; ele ensina que a Ășltima fronteira Ă© duvidar da prĂłpria dĂșvida. A Ășnica coisa que conta no Caminho Draconiano Ă© a ação â o resto Ă© conversa fiada que se dispersa ao vento. A palavra âpoderâ tem sua raiz etimolĂłgica no verbo latino âpossumâ, que nĂŁo somente demonstra a força para fazer algo, mas tambĂ©m a possibilidade e a potencialidade para atingi-lo. Esse Ă© o segredo da ação mĂĄgica e do diamante afiado, para que a Obra da magia possa derrotar a tagarelice da mente consciente.
SSSS _______________ Alberto Brandi Ă© estudioso acadĂȘmico de ocultismo, bruxaria e magia de MĂŁo Esquerda (LHP - Left Hand Path). Ă membro da ordem Dragon Rouge na ItĂĄlia e autor da obra La Via Oscura: Introduzione al Sentiero di Mano Sinistra. sothis.dragonrouge.net
___________ 9NT: Esfera qliphĂłtica associada ao planeta VĂȘnus, situada apĂłs a esfera de Samael, no sentido
ascendente, no diagrama da Ărvore do Conhecimento. 10
NT: Significado de âAâArab Zaraqâ. 11
NT: Esfera qliphĂłtica associada ao Sol, situada apĂłs a esfera de AâArab Zaraq, no sentido ascendente, no diagrama da Ărvore do Conhecimento. 12
NT: O Eu Superior, o GĂȘnio individual antes oculto e desconhecido.
42
(...) ele ensina
que a Ășltima
fronteira Ă© duvidar da
prĂłpria dĂșvida.
Sitra Ahra Edição #2 2012
AVESSO DO VĂCIO
LĂșcifer nĂŁo se orgulha de ter criado coisa alguma
segundo sua imagem e semelhança. Imagem Ă© muitas vezes um reflexo distorcido do original, algo defeituoso, imperfeito. E vocĂȘ sabe quem realmente âpecaâ por ficar todo envaidecido por ter âcriadoâ algo presunçosamente assim. LĂșcifer nĂŁo quer saber de nada disso, pois hĂĄ coisas mais importantes, interessantes e prazerosas para se ocupar. LĂșcifer se orgulha â e muito bem orgulhoso â de sua prĂłpria inteligĂȘncia, de sua autoconsciĂȘncia, de sua liberdade. Esse orgulho pode parecer âpecadoâ aos olhos de muitos. NĂŁo sabem que o orgulho pode ser uma verdadeira dĂĄdiva para a autoestima e para o autoaprimoramento. Essas marionetes no espelho lamentavelmente nĂŁo enxergam que sua vaidade Ă© exatamente a mesma do âsenhorâ que as âcriouâ e que as manipula com tanta arrogĂąncia. Portanto, deixe de tolices e use o orgulho em seu benefĂcio. Vire o vĂcio do avesso. Dr. Adicto
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APOSTE COM O DIABO. NĂO FUJA
O Diabo Såbio Por Nicholaj de Mattos Frisvold Tradução: Adriano C. Monteiro
OOOOpapel do Diabo na Bruxaria pode ser um
mistĂ©rio confuso para alguns. Afinal de contas, toda imagem do Diabo estĂĄ mascarada pelo mal e pela misantropia, e muitas igrejas e denominaçÔes cristĂŁs tĂȘm dependido dele para apoiar seus evangelhos. VocĂȘ se volta para Deus porque precisa odiar o mal, traduzido no Diabo. O mal, assim como o pecado, Ă© nĂŁo compreender, e por isso todas as boas intençÔes conduzidas por uma mente desalinhada com o coração podem ser um ninho do mal que evoca vibraçÔes negativas para a prĂłpria vida e para a de outros. O Diabo Ă© conhecido por seus chifres e cascos fendidos, cauda pontuda e tridente; Ă© conhecido
por muitos nomes e como o arquiteto dos detalhes. NĂłs o encontramos em encruzilhadas e cavernas, na taberna e na pista, na dança e em cada escolha da vida. Ele Ă© alguĂ©m de quem nĂŁo podemos escapar, porque ele aparecerĂĄ em qualquer cruzamento como sendo aquele que desafia vocĂȘ a trilhar o caminho do destino. Seu tridente nos diz que ele tem o conhecimento de todos os trĂȘs estados, e seus cascos fendidos mostram que ele fica no ponto onde o dia vira noite e que ele tem o conhecimento da dĂade â que Ă© muitas vezes traduzida como âbem e malâ. Bem conhecido Ă© a expressĂŁo âadvogado do diaboâ, que de fato Ă© uma lembrança dos seus mais antigos papĂ©is. Culturas mesopotĂąmicas convidavam para os seus julgamentos espĂritos escondidos em pele e velados no ar â e os acusadores espirituais eram chamados de âha-satanâ. Ă daĂ que encontramos a equivalĂȘncia entre SatĂŁ e o âacusadorâ, que se tornaram os sinĂŽnimos comumente conhecidos, especialmente com a Septuaginta1 em que o adversĂĄrio, o Diabo (âdiabolosâ) e SatĂŁ se tornaram
___________ 1NT: Tradução da bĂblia hebraica para o grego, traduzida por 72 rabinos, entre os sĂ©culos III e I aC.
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(...) os
acusadores espirituais
eram chamados
de âha-satanâ.
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referĂȘncias para um e outro. Essa força tripla Ă© muito evidente na estĂłria de JĂł, em que o Diabo estĂĄ fazendo claramente o papel de desafiador da fĂ©, autorizado pelo prĂłprio Deus. O Livro de JĂł Ă© interessante como um discurso sobre o porquĂȘ de as coisas ruins acontecerem para as pessoas boas. Mas, nesse Ăąmbito, deverĂamos nos focar somente no papel do prĂłprio Diabo como um desafiador divinamente autorizado. Suas outras conotaçÔes, tais como DragĂŁo, Belial, PrĂncipe das Trevas e Senhor do Mundo sĂŁo epitĂĄfios (sic) melhor abordados de uma perspectiva metafĂsica, mas deveria ser suficiente questionar como o espĂrito da oportunidade se relaciona a esses epitĂĄfios (sic), isto Ă©, como aquele que desafia.
Para aqueles de coração sĂĄbio isso Ă© uma coisa boa, porque o Diabo Ă© o Ășnico que faz sentido no fluxo da vida. Ele estĂĄ sempre lĂĄ no grande plano, atraindo-nos para fora de nossas cavernas de tal modo que possamos ver a glĂłria de estar no fluxo do mundo. Pessoalmente, encontro o Diabo na runa Peorth2, tanto na encruzilhada da escolha como da oportunidade, nas cavernas e nas raĂzes de cada planta. Ă isso que dĂĄ a ele uma reputação misantrĂłpica. Ele sabe, ele dĂĄ â
mas a escolha nĂŁo Ă© dele, Ă© sua. Ao contrĂĄrio de nossos colegas aprendizes, ele nĂŁo interfere em nossa escolha, nĂŁo julga. Na Idade MĂ©dia, ele ganhou popularidade devido a muitos fatores. Era a Ă©poca das pragas, da guerra, das revoltas e revoluçÔes, e o Vaticano teve sua Ă©poca de papas, a maior parte variando em qualidade â sem falar das diferenças entre o clero e os camponeses em termos de qualidade de vida. O Diabo, o acusador superficial, era tambĂ©m o Ășnico a levar a culpa. Ele foi culpado pelas mĂĄs escolhas dos outros, sobre as quais nĂŁo foram faladas, mas sim projetadas â uma herança que encontramos ainda hoje quando fazemos alguĂ©m de bode expiatĂłrio e tentamos encontrar culpados em nosso prĂłprio plano de vida mal dirigido. Eu vejo o Diabo como aquela rocha na caverna descansando no mastro do mundo, lĂĄ em suas raĂzes. Ele Ă© as ĂĄguas ctĂŽnicas3, cinzas e brasas que se infiltram e protegem as raĂzes.
___________ 2NT: Runa que expressa revelação, segredo, conhecimento oculto, bom pressågio, sorte, jogos,
dependendo do contexto e das outras runas. 3NT: Da terra, do subterrĂąneo, do submundo.
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Ele foi culpado pelas mĂĄs escolhas
dos outros, sobre as
quais nĂŁo foram
faladas, mas sim
projetadas (...)
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EntĂŁo como isso se encaixa na ideia do âsatanismoâ? Encontramos aqui vĂĄrias nuanças e nĂveis, indo do juvenil ao misantrĂłpico para as mais sofisticadas avenidas que apelam para algo parecido com Epicuro. Aqui, encontramos o Diabo entrando em um detalhado jogo de oportunidade e escolha. Acho toda essa conversa sobre poder, força, o que Ă© certo, etc., comparados ao poder e Ă escuridĂŁo, um reflexo de um ethos4 guerreiro, nĂŁo encontrando base ou ressonĂąncia alguma. Posso apreciar as correntes mais hedonistas, pois elas exaltam a vida; e eu exalto a vida. NĂŁo vejo como o fato de exaltar a vida pode levar ao Ăłdio por outras formas de vida ou a um desprezo pela posição em que outros buscadores se encontram. Quero dizer, se eu condeno sua escolha de vida com base em minha vida, estou somente forçando um julgamento vindo do mundo da matĂ©ria. Essas reprovaçÔes sĂŁo muitas vezes um resultado de eu estar em desequilĂbrio e anulando aquilo que desafia o meu desequilĂbrio. Com certeza, o Diabo estĂĄ lĂĄ. E na Arte do SĂĄbio, o Diabo Ă© um companheiro constante como o mestre de dados e de cerimĂŽnia. Ele se mostra como a sempre presente luz da memĂłria ancestral e telĂșrica; ele Ă© a luz que dĂĄ voz Ă natureza, o sangue que corre nas encruzilhadas. Sendo a memĂłria da sabedoria, ele tambĂ©m Ă© o conhecimento â Ă© essa a sua maldição. E entre seus cornos, onde jazem os ciclos de mudanças, encontramos a sabedoria do fluxo e refluxo da vida. O mistĂ©rio Ă© que o sangue Ă© como o oceano que, das profundezas, flui para as praias; Ă© a onda da vida. Os sĂĄbios eram tradicionalmente aqueles que tinham alguma noção dessa corrente, e seu trabalho estava relacionado a esse fluxo de sangue e mudanças. O Diabo, como o Homem Negro, Ă© o Ășnico que porta o bastĂŁo da possibilidade e os dados da oportunidade. Sua voz Ă© sentida somente por meio do verbo da natureza e no sopro que acompanha as escolhas. Se ele Ă© um adversĂĄrio ou um amigo, isso tambĂ©m Ă© uma escolha nossa â feita na encruzilhada. Ele Ă© as sombras dos pensamentos que inspiram decisĂ”es, assim como Ă© a força que desafia vocĂȘ para as mudanças, para que vocĂȘ possa encontrar o seu caminho e obter abundĂąncia. O Diabo Ă© a pedra e a sujeira em seu caminho, a permanĂȘncia temporĂĄria e a fonte fresca, assim como o veneno e o perigo que vocĂȘ pode encontrar. Como o poder em sua ___________ 4CaracterĂsticas bĂĄsicas de um grupo social, com sua cultura, costumes e Ă©tica.
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E na Arte dos SĂĄbios, o
Diabo Ă© um companheiro
constante como o
mestre de dados e de cerimĂŽnia.
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raiz, ele tambĂ©m Ă© a fronteira, o limite de sua paisagem e a marca da aceitação ou negação. Ele Ă© tudo isso e muito mais... Ele Ă© o inimigo do homem somente se vocĂȘ fizer essa escolha, porque ele pode ser a brasa ardente em seu coração, que toma forma na intuição, tanto como seu prĂłprio e pior inimigo...
SSSS _______________ Nicholaj de Mattos Frisvold é psicólogo, antropólogo, astrólogo tradicional e estudioso de ocultismo, bruxaria tradicional e matérias correlatas. à autor de diversos livros, entre eles Arts of the Night, Craft of the Untamed, Palo Mayombe: The Garden of Blood and Bones. www.starrycave.com
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A PRATA E O OURO VERMELHO DA âBESTAâ
Lua de Sangue Por Simone Fernandes
EEEEsperei para escrever
este texto durante a TPM e o perĂodo menstrual. Aqui nĂŁo hĂĄ intenção de glamourizar a menstruação ou de dizer que as mulheres estĂŁo cobertas do direito de se tornarem insuportĂĄveis na TPM, mas sim de esclarecer e tentar elencar um conjunto de fatores que justifiquem ou façam homens e outras mulheres desenvolverem um pensamento prĂĄtico sobre o assunto. Na Gnose, Samael Aun Weor1 fala da importĂąncia e das inconveniĂȘncias do
perĂodo menstrual. A tensĂŁo prĂ©-menstrual Ă© reconhecida por ele tambĂ©m como um perĂodo altamente desgastante em que a mulher perde nutrientes necessĂĄrios para seu desempenho mental. Ao mesmo tempo em que ele diz que a mulher perde eletrĂłlitos e sais minerais importantes que podem âprejudicarâ seu desempenho mental, ele diz tambĂ©m que nĂŁo Ă© nada que torne as mulheres menos inteligentes do que os homens. Na verdade, soa como aquela coisa de querer agraciar com uma mĂŁo e esbofetear com a outra. JĂĄ que a perda de selĂȘnio, fosfato e outras substĂąncias na menstruação Ă© tĂŁo insignificante para o desempenho intelectual da mulher, por que entrar no mĂ©rito da questĂŁo, nĂŁo Ă© mesmo? Ele ainda detalhou alguns tipos de tensĂŁo prĂ©-menstrual em quatro tipos. Samael diz tambĂ©m que a mulher nĂŁo deve se banhar em demasia nesse perĂodo. Entendo o empenho em explicar a situação, mas sĂł sendo mulher mesmo para sentir
___________ 1WEOR, Samael Aun. O Enigma da Mulher. SĂŁo Paulo: Agni Sol Nascente, 1999.
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Aqui nĂŁo hĂĄ
intenção de glamourizar
a menstruação
(...)
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o que significa um fluxo interminĂĄvel vindo de trĂȘs dias a uma semana (para algumas mulheres). Isso Ă© bem irritante. NĂŁo temos como reter esse fluxo como se fosse uma excreção qualquer de nosso corpo, pois nĂŁo hĂĄ esfĂncteres que possam parar a menstruação. Ă bem incĂŽmodo, acredite; e nos dias de calor, muito pior. Se o senhor Samael tivesse experimentado essa sensação, provavelmente entenderia a nossa necessidade de que seja redobrada a higiene pessoal nesse perĂodo. Fora o desconforto do uso de absorventes (muito quentes, normalmente feitos de uma fibra de algodĂŁo, plĂĄstico e cola), esquecer esse apetrecho indispensĂĄvel ao sair de casa Ă© a condenação da mulher ao ridĂculo andar por aĂ manchada, ou implorar para outra mulher a gentileza de âcederâ um absorvente em caso de emergĂȘncia. O fluxo menstrual, para os homens que aqui possam saber, nĂŁo tem a textura de sangue, Ă© bem mais viscoso. Ainda que incĂŽmodo, nĂŁo Ă© sujo e sim muito nutritivo, pois sabemos que Ă© parte do endomĂ©trio que se desprende quando nĂŁo hĂĄ fecundação do Ăłvulo. No endomĂ©trio, o feto acomoda-se e nutre-se durante a gestação, assim como muitas espĂ©cies desenvolvem-se nas ĂĄguas escuras dos mangues antes de alcançar o mar. Ă um ambiente fĂ©rtil como o ventre da terra. EntĂŁo imagine como Ă© bestial ser fĂȘmea. A gestação â apesar da parte bela que Ă© gerar um filho e do amor maternal manifesto â Ă© um perĂodo em que, de certo modo, a mulher Ă© parasitada por outro ser que se alimenta de seu corpo. Comuns sĂŁo as hipovitaminoses e a falta de outros elementos e nutrientes na gravidez. O magnĂ©sio Ă© um dos metais que se perdem em maior quantidade e que Ă© importante para o equilĂbrio emocional e alĂvio do estresse. DaĂ, talvez, a maior causa fisiolĂłgica da irritação na TPM. Mas o magnĂ©sio Ă© de fĂĄcil reposição. Falam-se ainda da deficiĂȘncia na produção de substĂąncias como serotonina e triptofano, essenciais para o bem-estar e disposição. Assim, as mulheres mais depressivas tĂȘm predisposição para sentirem-se piores nessa fase.
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EntĂŁo imagine como Ă© bestial
ser fĂȘmea.
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A mulher dĂĄ de si para gerar outra vida, e isso Ă© tĂŁo altruĂstico quanto grotesco, pois esse ser nĂŁo irĂĄ devolver Ă mĂŁe todos os nutrientes que tirou dela. A mĂŁe Ă© consensualmente vampirizada por toda sua gestação; Ă© como se a mulher fosse um vetor. E essa relação de sangue pode ser vista tambĂ©m entre os insetos hematĂłfagos. Por exemplo, Ă© a fĂȘmea que nos pica para alimentar seus filhotes com sangue; o pernilongo macho se alimenta de nĂ©ctar de flores e frutas (bem mais apetitoso, nĂŁo Ă©?). HĂĄ referĂȘncia sobre a menstruação nos Eddas, da mitologia nĂłrdica, sobre Freya cavalgando o mundo em busca de seu amado Ottar2, derramando suas lĂĄgrimas vermelhas sobre o mar e a terra. Essas lĂĄgrimas tambĂ©m foram chamadas de ouro vermelho, o qual faz referĂȘncia ao Elixir Rubeus. O Elixir Rubeus tambĂ©m Ă© mencionado em Thelema, em que Babalon Ă© a expressĂŁo do feminino primitivo, do impulso e da natureza sexuais. Ela teria um aspecto mais terreno, saturnino, voltado para a fecundidade. A Mulher Escarlate, como tambĂ©m era conhecida, poderia ser perfeitamente as mulheres devotadas Ă s prĂĄticas de magia sexual, o que nĂŁo causa nenhum estranhamento aos praticantes do Caminho da MĂŁo Esquerda ou Ă s suvanis3 que praticam o Sahaja Maithuna, no tantrismo. O fato Ă© que a menstruação Ă© um kala poderoso, como outros fluĂdos corpĂłreos que sĂŁo utilizados em magia (o que nĂŁo cabe detalhar aqui).
De uma forma ou de outra, a menstruação nĂŁo Ă© um reles sangramento ou uma ferida na natureza feminina. Certamente, muitos de nĂłs jĂĄ fizemos questionamentos sobre o porquĂȘ de a menstruação ser tĂŁo desagradĂĄvel. Se nĂŁo bastasse a perda de sangue, temos sintomas muito incĂŽmodos que nos acompanham durante esse perĂodo. Ou antes. Ă a tal TPM (TensĂŁo PrĂ©-Menstrual). Algumas mulheres nĂŁo tĂȘm sintomas desagradĂĄveis na menstruação, mas pelo menos oitenta por cento de nĂłs sente-se muito mal nesse perĂodo ou tem algum desconforto â normalmente,
muito desconforto mesmo, atĂ© mesmo de natureza emocional. Se fĂŽssemos mais afeiçoadas aos deuses e deusas lunares, Ă s deusas ligadas ao ventre da terra, sĂșcubas e outros tipos de espĂritos (os demĂŽnios estĂŁo ao nosso serviço â nĂłs, da MĂŁo Esquerda, sabemos bem), a coisa poderia ser mais simples ou menos dolorosa. Mas sabemos que a vida nĂŁo nos espera. Vivemos num mundo pasteurizado e mal nos percebemos, pois nĂŁo temos ___________ 2Amante e protegido de Freya.
3Do sĂąnscrito: âdama de cheiro adocicadoâ, mulher que pratica magia sexual.
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(...) a
menstruação não é um
reles sangramento
ou uma ferida na natureza feminina.
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mais tempo para sentir o chamado da natureza. O ciclo menstrual estĂĄ ligado aos ciclos da lua; nĂŁo Ă© perfumaria nem ilusionismo. HĂĄ certos perĂodos lunares, os quais conhecemos, em que nĂŁo nascem os bebĂȘs. Em magia, o norte Ă© o azimute das sombras, onde se encontra a sephira Daath4, a qual Ă© considerada um portal para o subconsciente. Durante o perĂodo menstrual, quando nos referimos Ă s sombras, estamos tambĂ©m imergindo nossa mente nas implicaçÔes da geração da vida e seus mistĂ©rios, do ventre da Terra, e tambĂ©m imergindo no comportamento sombrio que acompanha a mulher durante seu perĂodo reprodutivo. Vale dizer que a mulher em si Ă© um ser complexo e que temos um humor esporadicamente oscilante, muitas vezes com um comportamento explosivo. Temos uma tendĂȘncia inexplicĂĄvel a nos defendermos de outras fĂȘmeas, pois nem sempre somos gentis o suficiente umas com as outras. Essa competitividade animalesca nĂŁo tem sido muito agradĂĄvel nem muito sĂĄbia. AlĂ©m do instinto de preservação da espĂ©cie, a dominação das religiĂ”es patriarcais, em que se valoriza a mulher submissa, casada e parida, deixou o mundo feminino encerrado em dogmas estĂșpidos e grilhĂ”es. Ainda vivemos num mundo onde mulher critica mulher pela pouca vaidade (que Ă© confundida com pouca feminilidade), critica aquela que nĂŁo deseja ter filhos e discrimina aquela que opta pela carreira profissional em vez de se dedicar aos afazeres domĂ©sticos. Os homens nĂŁo parecem perder esse tempo inĂștil criticando uns aos outros. Menos distraçÔes fĂșteis nos levariam mais longe.
A delicadeza de alma passa longe de criaturas agressivas que somos, com instintos bestiais que nĂŁo nos diferem das leoas nas savanas, se nĂŁo tomamos o controle de nosso comportamento de grupo. Mulher nĂŁo Ă© sexo frĂĄgil, e quem proferiu essas palavras nunca conheceu uma mulher bem de perto. A forma delicada tem sua função atrativa e adequada aos seus instintos de perpetuação da espĂ©cie. Podemos atĂ© ostentar uma aparĂȘncia frĂĄgil, mas a resistĂȘncia Ă© uma poderosa e Ăștil autodefesa.
O ato da criação envolve muito mais do que simples cĂłpula e fecundação. Segundo Kenneth Grant5, dos portais surgiu a vida, a entrada deu passagem ____________ 4Do hebraico: âConhecimentoâ. Ă a esfera cabalĂstica da Ărvore do Conhecimento.
5GRANT, Kenneth. Nightside of Eden. London: Skoob Books, 1994.
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Mulher nĂŁo Ă©
sexo frĂĄgil, e quem proferiu
essas palavras
nunca conheceu
uma mulher bem de perto.
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Ă s formas desconhecidas (teratomas tifonianos) atravĂ©s de Choronzon (o Portal do Abismo), rumo ao reino da existĂȘncia manifesta por meio da Mulher Escarlate e de seu Elixir Rubro que nutre a vida quando nĂŁo Ă© eliminado como menstruação.
O fluxo menstrual, com seu aspecto sanguinolento, brotando do interior do corpo da mulher, era fruto de medo e repulsa para a humanidade atĂ© a ciĂȘncia colocar um fim na superstição e romper com os tabus. Como sabemos, a mulher, pela legislação brasileira, tem uma atenuante ao cometer crimes no perĂodo menstrual ou no perĂodo que o precede (TPM). Durante a TPM e a menstruação vocĂȘ comumente
irĂĄ presenciar manifestaçÔes grosseiras de humor do tipo âque vontade de matarâ, nos arroubos de fĂșria frustrada. Ă claro que se trata de uma força de expressĂŁo em vez da realidade dos fatos, atĂ© porque o autocontrole Ă© quesito indispensĂĄvel em questĂ”es de saĂșde mental. A oscilação de humor nesse perĂodo Ă© algo muito ruim de lidar; depende somente da disposição da mulher para evitar que o humor explosivo cause grandes estragos. O universo onĂrico feminino pode se tornar muito sombrio e tambĂ©m confuso. Ă possĂvel que demĂŽnios lunares nos visitem nesse perĂodo (ou quaisquer outros habitantes do baixo plano astral). Os Ăncubos podem aproveitar a vulnerabilidade do humor e a presença iminente da menstruação como kala, que Ă© um facilitador desses contatos ruins para as mulheres em geral e Ășteis para as praticantes de magia de MĂŁo Esquerda. Conversando com muitas mulheres sobre seus sonhos, pode-se perceber que as narrativas sĂŁo muito similares: traição ou morte do parceiro; brigas furiosas com alguĂ©m; ou que ainda tĂȘm sonhos com transformaçÔes, em que o sonho começa com vocĂȘ conversando com alguĂ©m de sua convivĂȘncia e essa pessoa se transforma em outra no decorrer do sonho, atĂ© mesmo na aparĂȘncia. Os sintomas fĂsicos e as oscilaçÔes de humor e de apetite sĂŁo os mais conhecidos. Quando menstruamos, segundo alguns especialistas, perdemos uma quantidade considerĂĄvel de sais minerais e vitaminas, e uma alimentação pobre desses nutrientes pode agravar o quadro. O estresse diĂĄrio da mulher de hoje tambĂ©m nĂŁo Ă© uma boa combinação para a TPM. As mulheres ganharam o mercado de trabalho, mas nĂŁo conseguiram ainda se livrar da ordĂĄlia das tarefas domĂ©sticas, desgraçadamente cansativas e enfadonhas. NĂŁo Ă©, portanto, permitida a elas sequer a oportunidade de
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Ă possĂvel que
demĂŽnios lunares
nos visitem nesse
perĂodo.
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ficarem cansadas e se regalarem com atividades mais prazerosas e interessantes enquanto um âfio de sangueâ incessante que dura alguns dias escorre-lhes as pernas, todo mĂȘs, por aproximadamente 35 a 40 anos de sua vida. Ainda que a mulher se arrume, o inchaço ajuda a estragar a silhueta nesses perĂodos. Mas a mulher do Caminho da MĂŁo Esquerda estĂĄ ciente de seu papel social e psicomental e sabe quais sĂŁo suas atribuiçÔes nas prĂĄticas mĂĄgicas nesse perĂodo. A religiĂŁo patriarcal jamais estenderĂĄ a mĂŁo a uma mulher na TPM que estĂĄ furiosa e reclamando de sua sorte, e ainda serĂĄ hostilizada e tomada por histĂ©rica. As escrituras machistas talhadas por misĂłginos ainda dirĂŁo que a mulher nesse perĂodo Ă© impura, perniciosa e pecadora, pois Ă mulher nĂŁo pode haver outro sentimento que nĂŁo seja amar e entristecer-se, pois todo o resto nĂŁo lhe serĂĄ permitido sentir. Ă surpreendente que as mulheres ainda consigam unir suas mĂŁos em prece aos deuses que as abominam. AlĂ©m disso, hĂĄ muitas piadas sobre a TPM que os machos grosseiros gostam de contar; mas raramente eles mantĂȘm o bom humor depois de colher os frutos de suas palavras incautas.
Os arquĂ©tipos Lilith, Sekhmet, HĂ©cate, Kali, a Negra, etc., mostram bem o que representa ser mulher nesse perĂodo, pois elas personificam o lado obscuro do endomĂ©trio que recebe a vida e ali a contĂ©m durante meses. O Ăștero e o endomĂ©trio composto de sangue e outras substĂąncias nutritivas estĂĄ longe de ser algo impuro ou imundo; sĂł mesmo as religiĂ”es e uma legiĂŁo de pessoas ignorantes acreditam nisso. NĂŁo se pode categorizar a menstruação como algo imundo e maldito quando se tem a certeza de que ali na escuridĂŁo do mundo, a mulher gera dentro de si a delicadeza da criação.
SSSS _______________ αÏÎčÏÏΔÏÎŹ twitter.com/femmequeditnon
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Ă surpreendente
que as mulheres
ainda consigam unir
as mĂŁos em prece aos
deuses que as abominam.
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CUIDADO! OS CRETINOS SERĂO EMPALADOS!
A Vampira Grega Uma Ameaça aos Inimigos dos Artistas Por Diamanda Galås Tradução: Adriano C. Monteiro
NNNNos Ășltimos anos, tem chamado a
minha atenção o fato de as crĂticas com relação a muitos de meus colegas serem precedidas pelas palavras: âEmbora tenha 45 anos, ele ainda Ă© um artista de pesoâ ou âParecendo mais velho do que a Ășltima vez em que o vimos, ele ainda convenceâ. Agora Ă© o momento de dizer as seguintes palavras aos cretinos anĂȘmicos que escrevem esses comentĂĄrios de virtuosos: âApeguem-se Ă s resenhas da vida vegetal e deixem as bruxas em paz.â
Verdadeiros artistas, como Liszt, Horowitz1, Birgit Nilsson2, muitas vezes tem uma carreira extremamente longa â e ainda continuarĂĄ se apresentando depois que sua3 vida seja diminuĂda por tropeçar na bicicleta de seu filho e ser empalado na ĂĄrvore de natal de sua esposa. Um grande artista Ă© um vampiro. NĂłs treinamos para ser assim; treinamos para entrar no PanteĂŁo. Ă claro que somos punidos por isso, mas nĂŁo mais pelos deuses, que tĂȘm se retirado para sempre em desespero â tĂŁo tĂȘnue Ă© seu reflexo sobre os humanos que uma vez os desafiaram â, e sim pelas mentes minĂșsculas de voyeurs paralisados que sĂŁo incapazes de discutir nosso trabalho em qualquer nĂvel, jamais literal, e agora nem figurativo. ___________ 1NT: Vladimir Samoylovych Horowitz (1903-1989), pianista erudito virtuose ucraniano, conhecido por
sua maestria em interpretar Rachmaninoff. 2NT: MĂ€rta Birgit Nilsson (1918-2005), cantora soprano sueca, famosa por atuar especialmente em
Ăłperas de Richard Wagner, Richard Strauss, Giuseppe Verdi e Giacomo Puccini. 3NT: A vida dos cretinos anĂȘmicos referidos anteriormente.
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Um grande artista Ă© um
vampiro.
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Se um artista aparece calvo ou de cabelos brancos no palco, depois de vocĂȘ nĂŁo tĂȘ-lo visto por dez anos, isso nĂŁo Ă© comentĂĄrio para uma resenha musical. Citarei Gregory Sandow4, que escreveu que se Charlie Parker5 se apresentasse somente de cueca ou nĂŁo, seria irrelevante como ele toca. Liszt, o mestre do piano, apresentava-se com longos cabelos brancos e nĂŁo menos por sua idade. Vladimir Horowitz, Arthur Rubinstein6 e Mary Lou Williams7 foram mestres apenas poucos dias antes de morrer. Sonny Rollins8 nĂŁo pode ser condenado ao tĂșmulo, que Ă© habitado por mentes pequenas que espreitam como vermes esperando por carne fresca. E para escapar desses vermes, escolhemos ser cremados. VocĂȘ nĂŁo pode executar mortais superiores sĂł porque vocĂȘ deseja substituĂ-los por modelos baratos, nĂŁo importa o quĂŁo rentĂĄvel isso possa parecer. The Young Lions9, um grupo de jovens talentosos, foi imposto por Wynton Marsalis10 sobre seu prĂłprio povo, para excluir inovadores negros que foram seus professores. Mas um dia os âJovens LeĂ”esâ ficarĂŁo velhos, sem dentes, sem tom, sem uma mĂșsica para cantar â sem distinção pela inovação. Eles nĂŁo serĂŁo exibidos entre os mestres porque sĂŁo e foram todos imitadores, lutando por um trono na EtiĂłpia, que nĂŁo os reconhece como cidadĂŁos. O foco da bruxa estĂĄ na produção de um novo jogo de palavras, de uma nova virada na mĂșsica, de uma nova luta, na imolação de uma mentira, se isso for preciso para a criação de uma obra-prima. A grande bruxa Maryanne Amacher11 (1938-2009), que foi derrubada somente por um estranho acidente, tinha a casa cheia atĂ© o teto de trabalhos incomparĂĄveis e dormia no chĂŁo de cada estĂșdio para o qual ela foi convidada em todo o mundo â e criou os mais bizarros trabalhos com o passar dos anos. ___________ 4NT: CrĂtico musical norte-americano.
5NT: Charles Parker Jr (1920-1955), compositor e saxofonista norte-americano de jazz.
6NT: Arthur Rubinstein (1887-1982), pianista polono-americano, famoso especialmente por suas
interpretaçÔes de Chopin. 7NT: Mary Lou Williams (1910-1981), compositora e pianista de jazz norte-americana.
8NT: Theodore Walter Rollins (1930-), saxofonista-tenor norte-americano de jazz.
9NT: Movimento musical conservador norte-americano liderado por Wynton Marsalis.
10NT: Wynton Learson Marsalis (1961-), compositor e trompetista de jazz de Nova Orleans.
11NT: Maryanne Amacher (1938-2009), compositora norte-americana e artista de instalação multimĂdia,
criadora de ilusĂ”es psicoacĂșsticas de formas sonoras.
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VocĂȘ nĂŁo pode
executar mortais
superiores sĂł porque vocĂȘ
deseja substituĂ-los por modelos
baratos.
Sitra Ahra Edição #2 2012
A vampira sabe que somente sangue novo irĂĄ sustentĂĄ-la. Sangue novo, novas pesquisas, o estudo de uma nova lĂngua, a desconstrução e reconstrução propositais, novas medidas, novos arranjos, novos escritos, atuaçÔes difĂceis â que mais tarde se tornam grandes pela perseverança.
VocĂȘ, que espera pelo tique-taque do relĂłgio para que possa, entĂŁo, um dia proclamar que um de nĂłs estĂĄ se aproximando da senilidade, deveria imaginar em vez disso a sua prĂłpria vida, que estĂĄ se desvanecendo atrĂĄs de vocĂȘ, como um reflexo de suas partes pudendas, desprezĂveis, penduradas, como os flancos de um animal amarrado por muito tempo sem alimento, sozinho e sem amor. Cuidado com a vampira, que Ă© escrava somente de sua imaginação e nĂŁo de uma nova geração de borboletas de alfinetes12 que pintam a sua vida13. A vampira vĂȘ diretamente atravĂ©s de vocĂȘ, seu assassino! Ela sabe que vocĂȘ quer substituĂ-la, que vocĂȘ nĂŁo pode esperĂĄ-la morrer. Salve o novo CĂ©sar! Citando meu irmĂŁo: âAh! Mas nĂŁo!â Para o gĂȘnio, Ă© uma doença que nĂŁo pode ser encomendada a prestação ou eliminada. Enquanto vocĂȘ estĂĄ acorrentado Ă sua cerca, rezo para que um dia um vampiro nĂŁo se torne muito faminto em seu paĂs14, agarre seu rabo15 com os dentes e esfole vocĂȘ vivo.
SSSS _______________ Diamanda GalĂĄs Ă© artista greco-americana, compositora, pianista e cantora, tendo lançado seu primeiro ĂĄlbum de estĂșdio, The Litanies of Satan (âAs Litanias de SatĂŁâ), em 1982. Entre muitos trabalhos, fez participaçÔes na trilha sonora de Bram Stokerâs Dracula, de Coppola. www.diamandagalas.com
___________ 12
NT: ReferĂȘncia Ă quelas coloridas borboletas mortas espetadas em alfinetes e expostas em molduras. Aqui, a autora faz uma metĂĄfora para que o leitor reflita. 13
NT: A vida daqueles a quem essas âameaçasâ sĂŁo dirigidas, ou seja, aos cretinos anĂȘmicos. 14
NT: O paĂs dos cretinos anĂȘmicos jĂĄ referidos. 15
NT: Aqui tambĂ©m hĂĄ uma referĂȘncia aos ĂłrgĂŁos genitais.
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A vampira vĂȘ
diretamente atravĂ©s de vocĂȘ,
seu assassino!
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COISAS DE DANADOS
âLivro novo Ă© aquele que vocĂȘ ainda nĂŁo leuâ AnĂŽnimo (vocĂȘ conhece?)
CRUZ E SOUSA E BAUDELAIRE
- SATANISMO POĂTICO - Marie-HĂ©lĂšne Catherine Torres Editora da UFSC
Esta Ă© uma obra sobre satanismo. Sim, mas nĂŁo o satanismo âconvencionalâ de ordens satanistas que surgiram bem depois deste satanismo literĂĄrio. Aqui a essĂȘncia da expressĂŁo satĂąnica em sua forma artĂstico-simbĂłlico-poĂ©tica Ă© mostrada nas obras de Cruz e Sousa e Baudelaire, dois autĂȘnticos satanistas do âprĂ©-satanismoâ. A autora mostra com maestria como os princĂpios satĂąnicos se tornam a inspiração para criar e para impulsionar a busca pelo conhecimento âproibidoâ, pelo prazer e pela libertação dos males da existĂȘncia. Tudo isso transformado em poesia transgressora, excitante e
libertadora que marca o inĂcio da poesia (satĂąnica) moderna, antes mesmo do aparecimento de satanistas religiosos modernos. ExpressĂ”es e ideias filosĂłfico-ocultas de Via Esquerda podem ser identificadas na obra por aqueles que tenham percepção e compreensĂŁo. Trabalho interessantĂssimo e realmente indispensĂĄvel. E, melhor ainda, publicado em lĂngua portuguesa.
THE PSYCHIC VAMPIRE CODEX Michelle Belanger Weiser Books
A autora apresenta um estudo sobre o vampirismo moderno a partir de uma visĂŁo vampĂrica (a dela prĂłpria na âcondiçãoâ de vampira) e busca desfazer preconceitos e desmistificar a imagem do vampiro moderno, procurando demonstrar que existe uma tradição embasada metafĂsica e espiritualmente. O livro oferece teoria e prĂĄtica do vampirismo psĂquico, com instruçÔes para se alimentar de energia e mĂ©todos de defesa psĂquica, alĂ©m de abordar questĂ”es Ă©ticas sobre tais prĂĄticas. A obra traz ainda um resumo biogrĂĄfico da autora como uma vampira psĂquica atuante, descrevendo experiĂȘncias pessoais e sua participação no movimento vampĂrico moderno. Se vocĂȘ acha que nasceu com a âcondição de vampiroâ, este livro pode lhe ensinar como aproveitar isso de maneira consciente e Ă©tica, ou nĂŁo. Mas cuidado! Porque outros tambĂ©m podem se âalimentarâ de vocĂȘ...
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COISAS DE DANADOS
LEX SATANICUS
- MANUAL DO SATANISTA - Morbitvs Vividvs Clube de Autores
Nesta obra, essencial sobre a matĂ©ria, o satanismo Ă© mostrado de um ponto de vista muito pessoal, porĂ©m livre de dogmas e de verdades absolutas. Segundo o autor, a obra Ă© o resultado da âtransferĂȘncia do demĂŽnio que vive em mimâ, pois âo Diabo escreveu por minhas mĂŁosâ. A obra Ă© composta de nove partes, subdivididas em capĂtulos, sendo cada uma dessas partes chamada de âcĂrculo infernalâ. Ao longo desses âcĂrculos infernaisâ, o autor aborda os diversos aspectos da filosofia e prĂĄtica satanista, com malĂcia, certo sarcasmo e, ao mesmo tempo, seriedade e
profundidade. O livro disponibiliza um conhecimento satĂąnico para a vida prĂĄtica e para o autoaprimoramento. PorĂ©m, o autor avisa que se âvocĂȘ concordar com tudo, entĂŁo vocĂȘ ainda nĂŁo o entendeuâ. E aĂ, vocĂȘ Ă© capaz de se aventurar na obra sem se perder no inferno? Ou prefere a submissĂŁo e a monotonia monoteĂsta do detestĂĄvel cĂ©u? MANDRAGORA Ruby Sara (Ed.) Scarlet Imprint
âObra ctĂŽnica e profundamente enraizadaâ, Ă© predominantemente poĂ©tica e inspirada pelas artes ocultas, magia, mitologia e filosofia metafĂsica de MĂŁo Esquerda. Mas, entremeado entre os poemas, hĂĄ tambĂ©m nove ensaios ocultistas muito interessantes e profundos sobre o transcendental, o insano, o estranho, o mĂtico e o real, alĂ©m de abordar aspectos da magia, filosofia e literatura. Entre os autores (as âmuitas vozesâ mandragorianas) dos trabalhos apresentados estĂŁo: Adriano Camargo Monteiro, Ruby Sara, Peter Grey, Adrienne J. Odasso, Peter DubĂ©, JosĂ© LeitĂŁo, Voxx Voltair, entre outros. Nas pĂĄginas finais, hĂĄ um resumo biogrĂĄfico de cada âvozâ. O livro em si Ă© uma obra de arte: edição luxuosa com capa dura em tecido acobreado. Feliz ou infelizmente, a obra jĂĄ Ă© rara, mesmo tendo sido recĂ©m-publicada, com uma tiragem limitadĂssima desta edição no Reino Unido. Sim, nĂŁo espere que seja traduzida e publicada por aqui, pois isso talvez jamais aconteça.
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UMA VISĂO DO OUTRO LADO
Malkuth-Lilith, Anderson Luciferu
corvosdamorte.blogspot.com.br
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B I T T E N C O U R T P R O J E C T http://www.rafaelbittencourt.com
B R O M http://www.bromart.com
D I A M A N D A G A L Ă S http://www.diamandagalas.com
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ADQUIRA TAMBĂM A PRIMEIRA EDIĂĂO DE SITRA AHRA
http://www.geocities.ws/sitraahra
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