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História Brazil Revista Seiva Comunismo Ativista Utopia Revolucionária

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  • 30/05/13 Revista Histrica

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    ISSN 1808-6284

    Periodicidade Trimestral

    Ano 09

    N 58 Maio de 2013

    03 EXPEDIENTE

    04 COLABORADORES

    A ORGANIZAO DA GUARDA NACIONAL

    NA PROVNCIA DA PARABA (1831-1850):

    INSTITUIO DA ORDEM E DAS MERCS

    POLTICAS

    Lidiana Justo da Costa[*1]

    A AO CATLICA: A RESISTNCIA

    PIEMONTESA AO FASCISMO (1933-1944)

    Francisco Fagundes de Paiva Neto[*1]

    CAMINHOS E DESCAMINHOS DA REVISTA

    SEIVA (1938-1943)

    Daniela de Jesus Ferreira[*1]

    OS JORNAIS CARIOCAS DA REDE DA

    DEMOCRACIA NA QUEDA DO GOVERNO

    GOULART[*1]

    Aloysio Castelo de Carvalho[*2]

    ASPECTOS DA HISTRIA DO TRABALHO:

    CONTROLE, REPRESSO E

    CONTRADIES

    Jaime Figueiroa Seplveda[*1]

    Antonio Ivan Cesso[*2]

    45 IMAGENS DE UMAPOCA

    05 ARTIGOS

    Lutas e Formasde Represso

    CAMINHOS E DESCAMINHOS DA REVISTA SEIVA

    (1938-1943)

    Daniela de Jesus Ferreira[*1]

    A Revoluo Russa de 1917, e seus efeitos ao longo dos anos, foi um dos fatores que motivaram

    um maior interesse dos brasileiros pelo comunismo e por estudos associados dinmica da

    sociedade brasileira em grande efervescncia. Na dcada de 1930, houve o apogeu tanto das

    lutas sociais quanto da produo de materiais tericos e de propaganda pelos comunistas.

    Nesse processo, os baianos estiveram envolvidos em aes individuais e coletivas, atuando tanto

    no mbito regional quanto nacional. Por isso, relevante conhecer os comunistas baianos por

    meio de suas produes, pelas reflexes que f izeram do seu tempo e que f icaram guardadas em

    materiais impressos, como as revistas. Assim, o estudo da revista, enquanto mecanismo de

    produo cultural, aglutinadora de intelectuais, facilitadora da circulao das ideias polticas,

    torna-se uma importante fonte para o conhecimento dos homens, de suas trajetrias e dos grupos

    sociais. Principalmente por acreditar que uma histria preocupada com as ideias no pode perder

    de vista sua interlocuo com a trajetria dos homens e das mulheres, as relaes sociais devem

    ser levadas em considerao. Essa histria deve ainda se preocupar com a intertextualidade, com

    as diversas leituras realizadas do texto relacionadas ao contexto do sujeito que a produziu. Em

    sntese, deve preocupar-se com a recepo do material exposto, divulgado e propagado.

    A concepo formulada pelo italiano Antonio Gramsci torna-se relevante nos nossos estudos

    sobre os intelectuais, j que podemos entender os articulistas da Seiva como tais. Gramsci

    concebe todos os homens como intelectuais, conquanto com caractersticas de classe. Isto , no

    existe a possibilidade de qualquer atividade humana sem atividade intelectual. Para Gramsci, todo

    ser humano desenvolve uma atividade intelectual qualquer, ou seja, um filsofo, um artista, um

    homem de gosto, participa de uma concepo de mundo, possui uma linha consciente de conduta

    moral. (GRAMSCI, 1982, p. 7).

    Essa forma de perceber o intelectual auxilia na anlise dos integrantes do Partido Comunista do

    Brasil (PCB) e de suas ideias, j que o debate de ideias foi fundamental para o desenvolvimento

    do PCB, o qual desde sua formao teve dif iculdades em afirmar-se ideologicamente, fosse por

    sua herana anarquista, fosse pelo seu envolvimento com o marxismo. O relacionamento com

    a teoria foi motivao para vrios estudos e muitas polmicas entre os integrantes do Partido e

    aqueles que se preocuparam em conhec-lo, estud-lo, reconhecer e compreender seus influxos

    tericos que moldaram as formas de pensar e agir dos comunistas.

    Essas ideias que os comunistas brasileiros produziram no estavam isoladas ou surgiram do

    nada; elas eram adequadas a uma poca, sua temporalidade. Dessa forma, os textos que

    chegavam s suas mos, at os que eles mesmos produziam, no estavam isentos de intenes

    e motivaes. A divulgao e a leitura f izeram com que os materiais produzidos por sujeitos como

    os alemes Karl Marx e F. Engels, os russos V. Lnin, e L. Trotsky pudessem atrair muitas

    mentes, com suas publicaes e o conhecimento de suas aes, formando milhares de

    seguidores. Um dos articulistas da revista baiana Seiva, Joo Falco, comentou como a leitura de

    V. Lnin foi importante para sua formao e proposio da revista ao informar que

    Concorreu bastante para essa ideia a leitura sobre a vida e a ao de Lnin na Rssia.

    Sob a mais difcil clandestinidade e perseguio do regime czarista, ele jamais deixou de

    debater e levantar os problemas tericos da revoluo Russa, mesmo no exlio, valendo-

    se para isso, de revistas e jornais clandestinos. O exemplo do Classe Operria, jornal

    ilegal do PCB que circulava a 13 anos, enfrentando todos os percalos, estimulava o

    projeto fascinante. (FALCO, 2008, p. 7).

    Por isso, ao tratar dessa problemtica Chartier faz um alerta para que no caiamos no erro de

    separar as ideias das vivncias:

    Por isolar as ideias ou os sistemas de pensamento das condies que autorizavam sua

    produo, por separ-las radicalmente das formas da vida social, esta histria

    desencarnada instituiu um universo de abstraes onde o pensamento parece no ter

    limites j que no tem dependncias. (CHARTIER, 2002, p. 28).

    A repercusso das ideias sempre foi fundamental para a sua manuteno e reproduo. Elas s

    passam a ser instigantes a partir do momento em que se espalham e se proliferam; sozinhas elas

    no se reproduzem. As palavras voam e pousam, pedem passagem, propagando ideias

    concretas e abstratas com difcil imparcialidade, mesmo que nem todos confirmem objetividade.

    Seria inocncia acreditar que as ideias so neutras, e que no oferecem diversos mecanismos de

    apropriao dependendo da forma que so divulgadas. Elas estimulam atitudes e anseios,

    despertam mentes adormecidas.

    A sobrevivncia do Comit Regional do Partido Comunista na Bahia aps a forte represso do

    Estado no governo Getlio Vargas, em 1935, contribuiu para que alguns comunistas baianos

    enveredassem pelo caminho das letras atravs da articulao e produo de uma revista ainda

    pouco estudada, mas que foi de grande relevncia para a afirmao dos comunistas baianos e

    como meio de divulgao de uma literatura considerada subversiva.

    Nesse contexto esto inseridos os comunistas, que investiram na criao de uma revista em

    pleno perodo da ditadura do Estado Novo (1937), de represso e censura s ideias e textos

    comunistas. Homens e mulheres refletiram sobre a necessidade de uma melhor atuao,

    posicionando-se em meio s truculncias do perodo, tomando todas as precaues e

    despistando, obviamente, os censores. Essa preocupao era justif icada, pois, desde 1923, o

    Departamento Estadual de Ordem Poltica e Social (DEOPS), criado pelo governo brasileiro,

    impunha seu poder aos agentes considerados subversivos: ao penetrarmos neste universo,

    nos deparamos com os limites impostos pelos homens da Repblica preocupados com a

    circulao de ideias ditas revolucionrias. (CARNEIRO, 1997, p. 15). Dezenas de escritoras e

    escritores, operrias e operrios e intelectuais foram perseguidos por suas ideias nesse perodo.

    Na Bahia, a censura se manifestava em espetculos pblicos. Em 1937, uma fogueira que

    lembrava a Inquisio foi acesa durante o governo do interino Antnio Fernandes Dantas. Foram

    queimados vrios livros dos escritores Jorge Amado e Jos Lins do Rgo em Salvador, nas

    proximidades da Escola de Aprendizes Marinheiros:

    [...] os livros apreendidos e julgados como simpatizantes do credo comunista, a saber:

    oitocentos e oito exemplares de Capites de Areia, duzentos e vinte e trs exemplares de

    Mar Morto, oitenta e nove exemplares de Cacau, noventa e trs exemplares de Suor,

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    duzentos e setenta exemplares de Jubiab, duzentos e catorze exemplares de Pas do

    Carnaval, quinze exemplares de Doidinho, vinte e seis exemplares de Pureza, treze

    exemplares de Bangu, quatro exemplares de Moleque Ricardo, quatorze exemplares de

    Menino de Engenho, vinte e trs exemplares de Educao para a Democracia, seis

    exemplares de dolos Tombados, Ideias, Homens e Fatos, vinte e cinco exemplares de Dr.

    Geraldo, quatro exemplares do Nacional Socialismo Germano, um exemplar de Misria

    atravs da Policia. (JORNAL ESTADO DA BAHIA, 1937, p. 3).

    Surge a revista Seiva: um mensrio de luta

    A criao da revista Seiva foi motivada por Joo Falco, natural de Feira de Santana-BA e

    precursor da ideia, depois levada para os demais integrantes do grupo na Bahia. Dentre eles, os

    comunistas Rui Fac (cearense), os estudantes de Direito, Armnio Guedes (baiano) e Digenes

    Arruda Cmara (pernambucano). O projeto foi aprovado e colocado em prtica e houve todo um

    empenho e estratgia para sua realizao. Os comunistas, durante as efervescncias da dcada

    de 1930, no poderiam ficar omissos, pois essa seria uma boa oportunidade para intervirem de

    alguma forma e sem muitas suspeitas em meio situao catica do cenrio brasileiro. Por isso, o

    efeito criado pela possibilidade e efetividade real da revista revigorou nimos e motivou paixes. A

    discusso dentro do Comit Regional baiano foi produtiva em torno do desenvolvimento e enfoque

    da revista; foi um projeto coletivo, nascido do seio de uma juventude vida por mudanas sociais

    e que atuava em clulas comunistas existentes no Estado. A clula da Faculdade de Cincias

    Jurdicas e Sociais da Bahia foi o centro irradiador do peridico.

    O nome da revista foi sugerido por Armnio Guedes. A Seiva tornou-se a primeira revista

    antifascista a circular no cenrio do Estado Novo em 1938. Para driblar a censura que proibia e

    vistoriava toda e qualquer ao tida como contrria s posies do governo, o peridico teve, a

    princpio, aspectos literrios. Foi escrito por articulistas comunistas e no comunistas, o que

    favoreceu a sua circulao e condio para sua existncia, e que prevaleceu at o f im. Segundo

    Joo Falco,

    A primeira edio da Seiva esgotou-se, tendo alcanado grande repercusso nos meios

    intelectuais e literrios de Salvador e maior ainda nos crculos oficiais. O chefe da

    censura local, que aprovara toda a matria a ele submetida previamente, depois de v-la

    impressa em letra de forma levou um susto. A revista apresentava-se forte e livre demais

    para o gosto do regime. Mas, como os escritores baianos que nela f iguravam eram

    bastante conhecidos, o Dr. Enas Torreo Costa, censor do DIP, nos aconselhou,

    recomendando que tivssemos mais cuidado no prximo nmero, para no criar

    problemas para ele e, pior, para ns. (FALCO, 2000, p. 47).

    Ao longo das 18 edies, seus articuladores utilizaram textos e reprodues de autores como

    Michael Golde, Upton Sinclair e Mximo Gorki, j que os russos eram apreciados principalmente

    por conta da luta dos bolcheviques. Autores como Victor Hugo, Pablo Neruda, Castro Alves, Lima

    Barreto, Euclides da Cunha tiveram seu espao garantido na revista. Comunistas baianos como

    Jacob Gorender, Joo Falco e Jorge Amado apropriaram-se da imagem e dos poemas de Castro

    Alves para entender o Brasil e para ganhar flego nas lutas.

    O mensrio[*2] contou com a colaborao de escritores dos seguintes estados: Sergipe,

    Pernambuco, Alagoas, So Paulo, Rio de Janeiro, Cear, Paran, Paraba, Par e Rio Grande do

    Norte, mas a predominncia era de escritores baianos. Muitos dos textos de autores estrangeiros

    eram reprodues. Em suma, os artigos provinham de escritores, militantes comunistas e

    jornalistas que se interessavam em publicar ou eram convidados a redigir para a Seiva. Vrios

    artigos foram escritos diretamente para o peridico, alguns textos no foram assinados, outros

    foram escritos e assinados por pseudnimos; alm disso, contou com artigos escritos diretamente

    para Seiva, por latino-americanos, em uma espcie de intercmbio cultural.

    A revista reverberou, mesmo que no abertamente, o sentido de luta, a defesa do nacionalismo e

    o combate ao imperialismo. Convocou os intelectuais para cumprirem o papel de libertadores da

    Amrica. O primeiro nmero lanado em 1938 chamava a ateno para isso, com a Mensagem

    aos intelectuais da Amrica. A unidade americana e o coletivismo do seu povo libertariam o

    continente de todos os seus males. Um excerto do editorial:

    Quando do outro lado do Atlntico o dio e a discrdia cavam barreiras profundas entre

    os povos, Seiva surge com o propsito de unir a inteligncia de toda a America em um

    largo abrao de amizade e compreenso. A mesma disposio de defender a dignidade

    do pensamento e a civilizao contra a onda avassaladora do barbarismo solidariza todos

    os intelectuais honestos do universo, especialmente os da Amrica, reduto invencvel da

    paz, mas que se levantar como um s homem contra o que ouse desrespeitar o solo de

    qualquer das suas livres naes. Para essa tarefa de tornar cada vez mais real a

    cordialidade entre os povos e resguardar o pensamento humanos que conta eles se vo

    preparando, numa proporo assustadora, urge a unio de todos os homens da America,

    para onde se volve a cobia dos imperialistas expansionistas, unio que deve ser

    comeada pelos seus intelectuais, defensores natos da cultura e do progresso da

    humanidade. SEIVA tem, portanto, as suas colunas abertas a todos os escritores da

    Amrica que simpatizem com essa orientao e queiram contribuir com a sua inteligncia

    e a sua boa vontade para a aproximao de todas as naes americanas, pelo trabalho

    sincero e desinteressado de seus homens de pensamento. animada desse esprito que

    SEIVA dirige sua mensagem de simpatia, de admirao e de fraternidade a todos os

    escritores da America, at onde possa chegar, mensagem que um reflexo de simpatia,

    da admirao e da fraternidade com que olha e deseja sempre olhar os povos a que eles

    pertencem. (REVISTA SEIVA, 1938, p. 18).

    Atravs da diversidade dos seus textos, a revista Seiva discutiu o negro na Bahia e no Brasil, o

    preconceito racial, o materialismo dialtico, a situao operria, a situao feminina, a cultura e os

    conflitos internacionais de seu tempo. Na Seiva, vrias revistas foram divulgadas, tanto

    estrangeiras quanto nacionais. Alguns desses peridicos eram influenciados por comunistas.

    Dentre as anunciadas na Seiva, estavam as revistas

    Democrticas e antifascistas que circulavam no pas como Problemas, dirigida por

    Arnaldo Pedroso d`Horta e Arnaldo Serroni, de So Paulo; Diretrizes, dirigida por Samuel

    Wainer e por sua mulher Bluma Wainer; e a Revista Acadmica, por Murilo Miranda e

    Moacyr Werneck de Castro, Rodrigues de Miranda e Alf io Ponzi, de Pernambuco; Cultura,

    dirigida por Afonso Schmidt, de So Paulo; Esfera, por Maria Jacintha Silva de Len

    Chalreo, Aureo Ottoni e Frederico R. Coutinho; Alagoas, por Afrnio Melo; e Dom

    Casmurro, Hebdomadrio pelo que eram responsveis Brcio de Abreu, Marques Rablo,

    Joel Silveira e Danilo Basto, do Rio de Janeiro. (FALCO, 2008, p. 14).

    Em meio s conturbaes polticas e sociais, a juventude era um dos alvos da Seiva. Investiram

    nela, conclamaram uma participao mais ativa. Publicavam sempre textos provocativos,

    instigando a juventude a intervir na realidade. Segundo as fontes, a juventude baiana era

    dinmica, atuando nas escolas ou nas faculdades. No perodo da luta antifascista foi um

    instrumento pujante. Considerada o futuro da nao. A juventude , antes de tudo, uma fora de

    paz. Esta a concluso que se pode retirar da observao cuidadosa de toda a sua luta no

    mundo [...]. (REVISTA SEIVA, 1940, p. 11).

    Em seus aspectos gerais, a revista signif icou um importante instrumento na estrutura do

    movimento comunista baiano. Promoveu e demonstrou certo grau de organizao desse grupo ao

    realizar um empreendimento to perigoso. Planejaram e colocaram em prtica a revista Seiva, a

    qual ultrapassou as fronteiras do territrio nacional, sendo conhecida em outros pases da

    Amrica Latina. Houve todo um investimento para que o peridico no s existisse, mas se

    consolidasse, mesmo com as dif iculdades e obstculos polticos da represso do governo

    Vargas.

    s vezes os nmeros demoravam meses para sair, mas eram publicados. As prises e a falta de

    dinheiro foram fatores que atrasavam a sada dos exemplares. A escolha dos textos, as matrias

    redacionais, os artigos literrios, a tipografia, tudo isso demandava tempo e dinheiro que os

    comunistas nem sempre possuam. Sem contar que deveriam ainda se preocupar com a censura.

    O contedo da revista no sofreu perceptveis modif icaes por conta desse evento. A

    desigualdade social continuou cantada na Seiva, como no poema Agonia do Artista, de Manoel

  • 30/05/13 Revista Histrica

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    Caetano Filho:

    Quis matar a fome de uma criana, mas milhares de crianas abriram para mim as suas

    bocas pequeninas/ Quis enxugar as lagrimas de uma mulher, mas milhares de mulheres

    estavam chorando/ Quis erguer um homem que tombara vencido e milhares de homens

    encontrei mergulhados no pntano da vida/ Quis aos opressores que deixassem de

    esmagar as multides, gritei que estava crescendo, crescendo, cada vez mais, a fora

    das massas represadas/ Cantei bem alto para todos os seres da terra, a desoladora

    tristeza das almas esmagadas e as maravilhosas belezas da humana redeno. Mas

    estava morto no peito o corao dos homens! (REVISTA SEIVA, 1941, p. 26).

    Com todas as dif iculdades, a revista resistiu e publicou 18 edies em sua primeira fase, de 1938

    a 1943. As letras, o entretenimento, os debates suscitados foram selados apenas parcialmente.

    Em julho de 1943, ela foi censurada pelo Estado Novo. Teve como motivao principal para o

    empastelamento a entrevista realizada pelo comunista baiano Jacob Gorender com o general

    Manoel Rabelo, crtico das aes praticadas pelo governo Vargas em relao atuao brasileira

    na Segunda Guerra Mundial. O general culpava Vargas de iseno e despreocupao com a

    Guerra, convocando os soldados para tarefas inteis. O posicionamento da Seiva comungava

    com o pensamento do general. O Brasil tinha que atuar na Segunda Guerra Mundial, e no apenas

    observar.

    Aps a circulao da Seiva contendo a entrevista do lder da Sociedade Amigos da Amrica,

    general Manoel Rabelo, esta parou de circular: assim, Jacob Gorender, Wilson Falco e eu fomos

    presos e levados para o quartel da Guarda Civil no dia 15 de julho, ao mesmo tempo em que

    ramos denunciados ao Tribunal de Segurana Nacional. (FALCO, 2008, p. 10). A priso dos

    integrantes da Seiva no repercutiu apenas na Bahia. No Rio de Janeiro acontecia o 6 Congresso

    Nacional dos Estudantes, e alguns se mobilizaram contra as prises [...] e, incorporados,

    representantes de quase todos os Estados foram ao presidente da Repblica, Sr. Getlio Vargas,

    solicitar a libertao dos diretores da revista. (CARONE, 1982, p. 228).

    No cenrio baiano, a revista apareceu como contraponto s polticas e ideais conservadores

    reinantes. Proibiu-se a reproduo e circulao dos textos, mas os ideais permaneceram

    propagados, agora por outros veculos que no excluam o textual. Dessa forma conturbada

    terminou o primeiro ciclo da revista Seiva. O mensrio reapareceu em novembro de 1950, com a

    participao de Luis Henrique Dias Tavares, Wladimir Guimares e Clvis Moura. Sobreviveu a

    cinco edies (1950/51/52) e teve como subttulo Mensrio de cultura nacional e popular,

    encerrando a segunda fase da revista.

    Inseridos em um processo histrico que demandava interveno e conhecimento, os baianos que

    produziam a Seiva investiram em um aprofundamento da luta nas condies objetivas que

    possuam, e no refutaram as influncias que receberam e as dif iculdades que encontraram.

    Transformaram as leituras de Castro Alves, Lima Barreto e Euclides da Cunha em literatura

    subversiva e completa de incentivos e exemplos para a continuidade da luta. Atravs deles,

    enxergaram um Brasil dependente e explorado que poucos souberam cant-lo e interpret-lo

    como deveria, e como realmente existia. Os Sertes de Cunha, os poemas de Alves, os textos

    atraentes e fortes do funcionrio pblico Lima Barreto, tido como louco pelas autoridades, foram

    leituras que proporcionaram e contriburam para a formao poltica e intelectual dos comunistas.

    A Seiva e sua dinmica foram responsveis pelo amadurecimento e f lorescimento de um viver e

    ser comunista nas Terras de Todos os Santos, em um momento de fechamento poltico. Um

    mostrar-se, um fazer-se, um refazer-se constante, em que as aspiraes e o sonho de um mundo

    justo eram as nicas coisas que no mudavam, s cresciam, e o envolvimento com o socialismo,

    que parecia distante, passou a ter mais crdito e, possivelmente, ser mais provvel de ser

    realizado.

    Referncias

    Bibliografia

    CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. Livros proibidos, ideias malditas: o Deops e as minorias

    silenciadas. So Paulo: Estao Liberdade; Arquivo do Estado/SEC,1997.

    CARONE, Edgard. O P.C.B (1922-1943). So Paulo: Difel, 1982.

    CHARTIER, Roger. beira da falsia: a histria entre incertezas e inquietude. Porto Alegre:

    UFRGS, 2002.

    FALCO, Joo. A histria da revista Seiva: primeira revista do Partido Comunista do Brasil.

    Salvador: Ponto e Vrgula, 2008.

    ______. O Partido Comunista que eu conheci: 20 anos de clandestinidade. 2. ed. Salvador:

    Contexto & Arte Editorial, 2000.

    GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organizao da cultura. 4. ed. Rio de Janeiro: Civilizao

    Brasileira, 1982.

    Peridicos

    REVISTA SEIVA. Salvador, n. 1, dez. 1938.

    ______. Salvador, n. 7, set. 1940.

    ______. Salvador, n. 9, jun. 1941.

    JORNAL ESTADO DA BAHIA, 17/12/1937.

    Arquivo Pblico do Estado de So Paulo