92

Revista CFMV n26

  • Upload
    others

  • View
    11

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Revista CFMV n26
Page 2: Revista CFMV n26

A Revista CFMV é editada quadrimestralmente pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária

e destina-se à divulgação de trabalhos técnico-científicos (revisões, artigos de educação continuada, artigos originais)

e matérias de interesse da Medicina Veterinária e da Zootecnia.

A distribuição é gratuita aos inscritos no CFMV e CRMVs, empresas e órgãos públicos. Correspondência e solicitações de números avulsos

devem ser enviadas ao Conselho Federal de Medicina Veterináriano seguinte endereço:

SCS - Quadra 1 - Bloco “E” - nº 30 - Ed. Ceará - 14º andarBrasília - DF - CEP: 70.303-900

Fone: 55 (61) 322 7708 - Fax: 55 (61) 226 1326Site: www.cfmv.org.br - E-mail: [email protected]

Revista CFMV. - v. 1, n.1 (1995) -Brasília: Conselho Federal de Medicina Veterinária,1995 -

Quadrimestral

ISSN 1517 - 6959

1. Medicina Veterinária - Brasil - Periódicos. I. ConselhoFederal de Medicina Veterinária.

AGRIS L70CDU 619(81)(05)

A Revista CFMV é indexada na base de dados AGROBASE

Page 3: Revista CFMV n26

Ent rev is ta 3Prof. Jadyr Voguel: Um notável pioneiro da Medicina Veterinária brasileira

Academias 8A Academia Rio-Grandense de Medicina VeterináriaAcademia de Ciências do Piauí

Saúde An imal 11O componente social e sua importância na planificação em Saúde Animal

Inspeção Satár ia An imal 21 Inspeção de produtos de origem animal

Suplemento Técn ico 27Mortalidade embrionária em bovinos:Inter-relações embrião-patógenosVaccínia - Varíola Bovina e PseudovaríolaPatologia dos peixesAfecções do sistema respiratório relacionados a performance do cavalo atleta

His tor iograf ia 73A Medicina Veterinária não esquece seu Patrono

His tór ia 77Curso de Graduação em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Lavras - UFLA

Publicações 84Farmacologia Aplicada à Medicina VeterináriaPatologia VeterináriaManual de Procedimentos Veterinários & Tratamento EmergencialProdução de Novilhos Precoces – Nutrição, manejo e custos de produção

Agenda 86

Page 4: Revista CFMV n26

Um ano de eventos e aperfeiçoamentos

Este ano de 2002 tem sido particularmente rico para o CFMV no tocante àsquestões educacionais relacionadas com a qualidade do ensino e,principalmente, de aprimoramento e atualização. Em uma análise rápida,um retrospecto pontuando os grandes momentos, constata-se quevivenciamos um período de profícuo congraçamento e intercâmbios,sobretudo, de reciclagem e atualização profissional.

O realização do Exame Nacional de Certificação Profissional em MedicinaVeterinária, em sua primeira versão, foi, sem dúvida, um marco para o nossoConselho. Sabemos que o Exame é um divisor de águas na trajetória daMedicina Veterinária no Brasil e os frutos já começaram a ser colhidos, asrespostas positivas foram generosas. A aprovação dos seus formandos jáestá sendo, para muitos estabelecimentos de ensino, um elemento demarketing, atestando a qualidade do ensino ali praticada.

No campo dos eventos, o maior de todos estará acontecendo no continenteafricano. Referimo-nos ao Congresso Mundial de Veterinária, entre os dias25 a 29 de setembro próximo, em Tunis, capital da Tunísia e do qualaportaremos informação em uma de nossas próximas publicações. Mas emterritório brasileiro, em suas mais diversificadas gamas de conteúdostemáticos e variações dimensionais, a Medicina Veterinária e a Zootecniciaestão oportunizando momentos relevantes no correr deste 2002.

Já em março, o I Seminário de Meio Ambiente e Medicina Veterinária eZootecnia, ocorrido no Parque Nacional de Itatiaia (RJ) reuniu grandenúmero de especialistas e estudantes preocupados com suas áreas específicase as questões ecológicas. Em abril, o VI Encontro Nacional dos Serviços deInspeção Sanitária Estadual reunia, em Cuiabá, Médicos Veterináriosatuantes na área. Ainda em abril e no Centro-Oeste, o V Simpósio Goianode Avicultura foi destaque.

Um acontecimento marcante foi o XXIII Congresso Brasileiro de ClínicosVeterinários de Pequenos Animais, ocorrido em junho, em Brasília, reunindoum grupo de notáveis palestrantes nacionais e internacionais. Como era dese esperar, a XXXIX Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia,acontecida em julho, no Recife (PE), além da importância tradicional doevento, foi brindada com o lançamento do Perfil Estatístico da Graduação daZootecnia no Brasil, um esforço com apoio total do CFMV.

Não vamos aqui desfiar uma extensa lista de eventos, cursos, seminários,congressos e reuniões. Se citamos alguns deles foi justamente paraestabelecermos parâmetros e sinalizar que o Conselho Federal de MedicinaVeterinária tem plena consciência de que as questões educativas, deaperfeiçoamento e intercâmbio têm sido valorizadas continuamente, poisdelas depende a valorização dos profissionais de Medicina Veterinária e deZooctecnia em sua necessária busca de mais altos patamares de qualidade.

EDITORIAL

Ano VIII nº 26Junho/Julho/Agosto/

Setembro de 2002CONSELHO FEDERAL DEMEDICINA VETERINÁRIA

Endereço: SCS - Quadra 1Bloco “E” - Ed. Ceará - 14º andarBrasília (DF) - Cep: 70303-900

Fone: (61) 322 7708 Fax: (61) 226 1326www.cfmv.org.br

[email protected]: 47 mil exemplares

DIRETORIA EXECUTIVA

Benedito Fortes de ArrudaPresidente

Alberto Neves CostaVice-Presidente

José Euclides V. SeveroSecretário Geral

Zander Barreto MirandaTesoureiro

Conselheiros EfetivosGeraldo Marcelino C. P. do Rêgo

Wilson de Souza Vieira FilhoDorvalino Furtado Filho

José Carlos Landeiro FragaAdeilton Ricardo da Silva

Marcos José de Castro LimaConselheiros Suplentes

Hélio Pires GarciaEnio Gomes da SilvaEdson Nunes Lustosa

Dalmir México MartinsJosé Carlos Sedrim Parente

José Franklin de Paula da Silva

Os artigos assinados são de inteiraresponsabilidade dos autores, nãorepresentando, necessariamente, a

opinião do CFMV

Produção agência:

(61) 347 3501 - 9975 8350www.mmag.com.br

e-mail: [email protected] Jr. - MTb 4536/014/49v/DF

Page 5: Revista CFMV n26

3Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

O Prof. Jadyr Voguel é natural do Rio de Janeiro, onde fez seusestudos de primeiro e segundo graus. Na Escola Superior deAgricultura e Medicina Veterinária, também no Rio de Janeiro,onde iniciou os estudos universitários, transferindo-seautomaticamente para a Escola Nacional de Veterinária, ondeestudou entre 1933 e 1936. Cursou, também, entre os anos de1934 e 1939, a Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro.Em 1949, tornou-se Doutor em Veterinária, na Escola Nacionalde Veterinária.Ávido por conhecimentos e diversificando sempre, fez inúmeroscursos de Extensão Universitária, dentre os quais citamos:Médico Homeopata, Radiologia Clínica, Técnica de LaboratórioClínico, Apicultura, Cirurgia Veterinária, Higiene Alimentar,Traumatologia de Guerra, Nutrição e Doenças Metabólicas,Radiodiagnóstico, Neurocirurgia, Eletrocardiograma,Inseminação Artificial (em 1946), Endocrinologia Clínica,Zoonosese Técnica de Ensino. A relação de seus cursos segueaté 1981, em mais de duas dezenas deles, indo de Higiene eMedicina Veterinária a Imunodiagnóstico das Alergias, deCardiologia Canina a Problemas de Ornitopatologia.Sua atuação no Magistério Superior iniciou-se com o cargo deAssistente de Ensino de Fisiologia dos Animais Domésticos daUniversidade Rural, passando por Assistente de Ensino deFarmacologia, na Faculdade Fluminense de Medicina. Porconcurso, passou a Professor Catedrático de Patologia Geral eSemiologia na Escola Nacional de Veterinária da UniversidadeRural do Rio de Janeiro. Como professor, ensinou matérias diversas, como Anatomia eFisiologia, Fisiologia Aplicada à Nutrição e conteúdos comoTerapêutica, Farmacodinâmica, Toxicologia e Arte de Formular,Puericultura, Doenças Infecto-contagiosas e Parasitárias,Biologia Educacional etc. Mesmo em cursos de Pós-Graduaçãoem Medicina Veterinária, na área de Patologia Animal, o doutore professor Jadyr Voguel deu sua preciosa colaboração,aportando sua experiência e didática.Na área administrativa, foi Diretor da Escola Nacional deVeterinária, por três mandatos eletivos, Reitor Substituto daUniversidade Rural do Brasil e Vice-Reitor da UFRRJ,assumindo a reitoria em alguns momentos. Na seqüência, foiChefe do Departamento Hospitalar, do Instituto de Veterináriada UFRRJ, onde também foi Coordenador do Curso de Pós-Graduação, Chefe do Departamento de Medicina e Cirurgia,

Coordenador do Curso de Graduação em Medicina Veterinária,Decano de Graduação em Medicina Veterinária e Membro dosColegiados dos Cursos de Pós-Graduação em MedicinaVeterinária, nas áreas de Patologia Animal e Patologia Clínica,todas na UFRRJ.O vasto currículo do eminente Dr. Jadyr Voguel inclui 86participações em Comissões Examinadoras e provas para cargosou funções do magistério superior, em 6 unidades federativas doBrasil. Foi orientador em dissertações e teses de Mestrado eDoutorado.Como uma figura notável na área de Saúde, Jadyr Voguel foiparaninfo de inúmeras turmas e recebeu dezenas decondecorações. Seus estudos e sua experiência levaram-no a diversos países,como Estados Unidos, Uruguai, Argentina e França. Além deinúmeras conferências e palestras, o professor Jadyr Voguelpublicou mais de 70 artigos, em conceituadas revistas epublicações, tanto no Brasil quanto no exterior. O destaquemaior e atual fica por conta de sua condição de Presidente daAcademia Brasileira de Medicina Veterinária. Tudo isso, aquidito de forma reduzida, faz do nosso entrevistado uma pessoa aquem devemos reverenciar e homenagear. Mais do que tudo,aprender com suas palavras, testemunhos e pensamentoscontidos nesta entrevista.

ENTREVISTA

Um notável pioneiro daMedicina Veterinária brasileira

Prof. Jadyr Voguel:

Page 6: Revista CFMV n26

Revista do CFMV – Que motivos olevaram a estudar MedicinaVeterinária?

Professor JadyrVoguel – Puro casuismo.De pretendente à matrí-cula na Faculdade deMedicina, em 1933, alte-rei inopinadamente, osmeus planos, cedendo aosargumentos de ex-cole-gas dos cursos preparató-rios do Ginásio SãoBento, com destaque pa-ra Paulo Dacorso Filho,os quais cursavam aEscola Superior deAgricultura e Medicina Veterinária eme convenceram de que a profissãoera nova, porém de formação curta,pouco onerosa e muito promissora.Ciente, ainda mais, da possibilidade dereforçar os conhecimentos de Física,Química, Zoologia e Botânica para umafutura tentativa em Medicina, subme-ti-me logo ao exame vestibular naque-le mesmo estabelecimento, passandoa freqüentá-lo e encantando-me com aorganização didática, bem como com asperspectivas sócio-econômicas. Fuitransferido, automaticamente, para aEscola Nacional de Veterinária, criadaem 1934 pelo Decreto-Lei nº 23857,colando grau de Médico Veterinárioem 1936. Não obstante, mantive o pro-pósito anterior quanto ao aprendizadomédico e, em 1934, inscrevi-me noconcurso de habilitação à Escola deMedicina e Cirurgia do Rio de Janeiro,logrando aprovação e concluindo a 6ªsérie em 1939, quando colei grau deMédico.

Revista do CFMV – Quais foramos mestres que marcaram a sua for-mação universitária?

Professor Jadyr Voguel –Considero-me um privilegiado no tan-

gente aos docentes que participaramde minha formação, sendo difícil apon-

tar os melhores. Ainda naESAMV impressiona-ram-me os médicos:Mello Leitão, na Zoolo-gia; Freitas Machado, naQuímica; Arthur doPrado, na Física; Osóriode Almeida, na Fisiolo-gia; Lauro Travassos, naParasitologia; ParreirasNorta, na Microbiologia;César Pinto, na Higiene;Artidônio Pamplona, naTerapêutica; Violantinodos Santos, na Anatomia

Patológica; Maurício de Medeiros, naPatologia Geral e Flanklin de Almeida,na Inspeção de Produtos de OrigemAnimal. No grupo dos professores di-plomados em Veterinária foi inesquecí-vel a atuação de Rocha Lagoa eWerther Duque Estrada, na Anatomia;Barreiros Terra, na Bioquímica;Américo Braga e Octavio Dupont, nasClínicas Médicas; César D’Albrieux,na Clínica Cirúrgica e GuilhermeMermsdorff, na Zootecnia Especial.Destacaram-se no curso de médico osdesempenhos dos mestres VinelliBatista, na Anatomia; Alves Cerqueira,na Fisiologia; Abdon Lins, naMicrobiologia; Paulo de Carvalho, naFarmacologia; Custódio Martins, naPatologia Geral; Rubens de Siqueira,na Terapêutica; Monteiro de Carvalho,na Clínica; Vieira Romeiro, na Semio-logia; Augusto Paulino, na Cirurgia;Flávio Lombardi, na Pediatria;Deolindo Couto, na Psiquiatria; PauloFilho, na Oftalmologia e José Kós, naOtorrinolaringologia. Por dever de gra-tidão não pode ser olvidado o carinho-so acompanhamento manifestado, noinício da minha vida profissional pe-los amigos e professores AntônioBenjamim Barreiros Terra, Rubens

Siqueira e Octávio Dupont, verdadeirosmodelos de eficiência, moral e correçãode atitudes.

Revista do CFMV – O que repre-sentou para a sua vida profissional osomatório de conhecimentos obtidosna Medicina Veterinária e Medicina?

Professor Jadyr Voguel – Acreditoque a tranqüilidade com que exerci,cumulativamente, durante muitos anos,as duas modalidades profissionais, re-sidiu no fato de as ter encarado comgrande dose de responsabilidade e ciên-cia absoluta do que cabia a cada umadas áreas. Para tanto foi necessário es-tudar, estudar muito para manter atua-lizados os conhecimentos respectivos eaplicá-los, adequadamente, nas devi-das oportunidades. Foi indispensável,outrossim, recorrer ao apoio prestimo-so de especialistas de notória experiên-cia, como aconteceu no caso daNutrologia, subsidiada por Josué deCastro e Flanklin de Moura Campos, daPedriatria reciclada por Florêncio deAbreu, Martinho da Rocha, ÁlvaroAguiar e Rinaldo Delamare, além daClínica Veterinária redimensionada porEpaminondas Alves de Souza e Alfredoda Costa Monteiro. Mesmo com todacautela, ao ser nomeado para o cargo deDiretor da Escola Nacional deMedicina Veterinária, em 1956, prefe-ri optar pela Medicina Veterinária pa-ra não ferir o dispositivo legal da dedi-cação exclusiva, só praticando, excep-cional e gratuitamente, a Medicina, emcondições especialíssimas. Em suma, oacervo técnico-científico decorrente doaprendizado ambíguo é riquíssimo ede inexcedível valia para o possuidor,refletindo-se nas mais amplas disponi-bilidades em relação ao bem estar ge-ral. Coberto de razões estava o SenhorMinistro William Patterson, do TFRmquando sentenciou, em processo abor-dando divergências salariais entre as

4

ENTREVISTA

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Fui transferido,

automaticamente,

para a Escola

Nacional de

Veterinária,

criada em 1934

pelo Decreto-Lei

nº 23857

Page 7: Revista CFMV n26

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

funções de Médicos e Veterinários, quea Medicina é uma só “Medicina é o gê-nero, sendo espécies a MedicinaHumana e a Medicina Veterinária”.

Revista do CFMV – Gostaríamosque destacasse o papel da EscolaNacional de Veterinária e da Escola deVeterinária do Exército na formaçãode muitas gerações de MédicosVeterinários brasileiros.

Professor Jadyr Voguel – Comosucessora da pioneira Escola Superiorde Agricultura e Medicina Veterinária,do Ministério da Agricultura, que for-mava Agrônomos e Veterinários, sur-giu, em 1933, a Escola Nacional deVeterinária que, subordinada mais tar-de ao Ministério da Educação e incor-porada à Universidade Federal Ruraldo Rio de Janeiro – UFRRJ – foi re-formulada em sua estrutura educacio-nal, dando lugar, em 1968, ao Institutode Veterinária, com organicidade suigeneris e responsabilidade de ditar apolítica do ensino e da pesquisa em seuâmbito, dentro da esfera universitária.Nos 35 anos sob esse título, a EscolaNacional de Veterinária diplomou cer-ca de 1.000 novos Vete-rinários, que se distribuí-ram pelas várias unida-des federativas do terri-tório nacional, retribuin-do com valiosa produçãotécnica as eficientes aten-ções recebidas no períodoacadêmico. A Instituição,por sua vez, progrediu emodificou-se, ganhandocurrículo mais abrangen-te, novo tipo de avaliaçãodo aproveitamento, equi-pamento atualizado, ins-tituindo o sistema Departamental e aPós-Graduação, bem como expandin-do e agilizando o atendimento doHospital-Escola. Cumpriu, portanto,

com excepcional dignidade, a missãopara a qual foi criada. A Escola deVeterinária do Exército, inaugurada noRio de Janeiro em 1914,deve-se ao esforço e à te-nacidade do Médico Mi-litar João Muniz BarretoAragão, que sentiu a ne-cessidade imperiosa daexistência de tal estabele-cimento face à constanteaparição de epizootias nosanimais da tropa, especial-mente mormo nos eqüi-nos. Formou a primeiraturma de Veterinários em1917 e, após auspiciosoperíodo de contribuição àsaúde animal, interrompeu o funciona-mento em 1937, passando à categoriade Curso de Aplicação até ser extintaem 1975, para voltar à atividade em1991 e manter o quadro de OficiaisVeterinários, com ajuda da Escola Su-perior de Saúde do Exército. Além daparticipação fundamental no combateàs doenças de todas as ordens, o conti-gente militar foi e é intensamente uti-lizado na inspeção dos alimentos, na

sua preservação por meiode irradiações, no prepa-ro físico dos animais, nocontrole ambiental, na de-fesa química, biológica enuclear, além do ensino eda pesquisa na área de suaatuação.

Revista do CFMV –Onde e em que especiali-dades exerceu a CátedraUniversitária? Que fatosmarcaram sua atividadedocente?

Professor Jadyr Voguel –A carrei-ra do magistério foi iniciada em 1939,como Assistente de ensino de Fisiologiados Animais Domésticos, contratado da

Universidade Rural. Em 1946, median-te concurso de títulos e provas, fui no-meado Professor Catedrático pelo

Senhor Presidente EuricoGaspar Dutra, no mesmoestabelecimento, ocupan-do a Cadeira de Patolo-gia Geral e Semiologia,aposentando-me em l984.Indicado pelo ConselhoTécnico, lecionei aindana instituição, sem pre-juízo de minhas funçõesnormais, a Cadeira Tera-pêutica, Farmacodinâ-mica, Taxiologia e Artede Formular, nos anos del958 e l959. Na Escola

de Medicina e Cirurgia do Rio deJaneiro, funcionei como Assistente deEnsino de Fisiologia, de l944 a l946 ena Faculdade de Medicina daUniversidade Federal Fluminense fuiAssistente de Ensino de Farmacologia,de 1946 a l951. Participei do ensino,ainda, em outros educandários, a sa-ber: Assistente de Ensino de Anatomiae Fisiologia, do Curso de Dentistas e doCurso de Pós-Graduação de Nutricio-nistas, do Instituto de Nutrição, daUniversidade do Brasil; Assistente deEnsino de Higiene, da Escola deEnfermagem do Estado do Rio deJaneiro; Professor de Enfermagem ePuericultura, da Escola de EducaçãoFamiliar, da Universidade Rural doBrasil; Professor Titular de BiologiaEducacional da Faculdade de Filosofia,da Fundação Educacional Universitáriado Instituto de Medicina Campogran-dense; e Supervisor dos cursos deVeterinária Homeopática do InstitutoMunicipal de Medicina Veterinária, daPrefeitura do Distrito Federal. Em ní-vel de Pós-Graduação, atuei comoCoordenador e docente de Problemasde Patologia Clínica, no Curso deMestrado em Patologia Animal, da

ENTREVISTA

5

ENTREVISTA

A Escola deVeterinária doExército, inaugurada no Riode Janeiro em1914, deve-se aoesforço e àtenacidade doMédico MilitarJoão MunizBarreto Aragão

Em 1946, medianteconcurso de títulose provas, fui no-meado ProfessorCatedrático peloSenhor PresidenteEurico GasparDutra, no mesmoestabelecimento,ocupando a Cadeirade Patologia Gerale Semiologia, aposentando-me em l984.

Page 8: Revista CFMV n26

6

ENTREVISTA

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

UFRRJ; Coordenador e Regente deDoenças do Sangue e PatologiaAnimal, no curso deMestrado em PatologiaClínica, da UFRRJ.

Conquanto houvessemrepercutido de maneira al-tamente positiva as fun-ções técnicas desempe-nhadas por oito anos noJardim Zoológico do Riode Janeiro e as atividadesde assistência médica de-senvolvida em hospitaisde grande conceito comoa Santa Casa deMisericórdia, a Policlínicade Botafogo e o Hospital-Escola daEscola de Medicina e Cirurgia, foi nomagistério que ocorreu minha realiza-ção profissional plena, ao contato per-manente com a juventude ávida de sa-ber. Os acontecimentos máximos nessecontexto foram a obtenção do título deProfessor Catedrático em difícil con-curso e como corolário, o exercício por10 anos, da Diretoria da ENV, a isto seacrescentam, ainda, o convívio parti-lhado com colegas, funcionários e alu-nos durante as aulas teóricas, trabalhospráticos, excursões, avaliações de apren-dizagem, tanto quanto a vibração peloêxito no transcurso de eventos sociais,artísticos, culturais, técnicos e despor-tivos, constituindo-se em somatório defatos que tornam a consciência maistranqüila e a vida mais significativa.

Revista do CFMV – ComoPresidente da Academia Brasileira deMedicina Veterinária, comente acer-ca da importância da instituição paraa Classe e a cultura nacional.

Professor Jadyr Voguel – AAcademia Brasileira de MedicinaVeterinária é o cenáculo maior daMedicina Veterinária no País. Sua im-portância depreende-se do fato de ser

uma organização associativa sui gene-ris, destinada prioritariamente a esti-

mular a ciência, a tecno-logia e a cultura no âm-bito da profissão, bem co-mo preservar a sua me-mória histórica; constitui-se de número limitado departicipantes, seleciona-dos dentre os diplomadoshá mais de 15 anos, comdestacada folha de servi-ços prestados à Classe. AMedicina Veterinária sótem a lucrar com o fun-cionamento desse tipo deentidade que a representa

com nobreza e distinção perante os seg-mentos mais elevados da nação e doexterior. E tal é o conceito desfrutadoque, além da Academia Brasileira, jáse instalaram mais 5, regionalmente:no Ceará, no Paraná, em Pernambuco,na Bahia e no Rio Grande do Sul. Alémdisso, encontram-se em fase estruturalas de Mato Grosso do Sul, do Rio deJaneiro e a Militar. A propósito, reves-te-se de altíssimo significado cultural,a edição de duas importantes obras; eml995, a monografia de autoria doAcadêmico Milton Thiago de Mello,entitulada “Primatologia: uma frontei-ra em expansão na Veterinária mun-dial”, e, em 2002, a memória coordena-da pelo Acadêmico Miguel CionePardi, sob o título “História daMedicina Veterinária no Brasil”, pu-blicada com o apoio do CFMV.

Revista do CFMV – Qual o nível deintercâmbio que a AcademiaBrasileira de Medicina Veterináriatem mantido com entidades interna-cionais congêneres? Como tem par-ticipado na construção da história daprofissão, em nível mundial?

Professor Jadyr Voguel – AAcademia ainda luta com dificuldades

inerentes à sua condição peculiar e aocurto período de existência, salientan-do-se a ausência de sede social própriae a carência de aporte financeiro com-patível com a especificidade dos seusfins. É óbvio que não falta boa vonta-de de agremiações como o CFMV, oCRMV/RJ, a SBMV e a SOMVERJ,prestimosas nesse período ainda orga-nizacional. Sem a pretensão de excusa,vale dizer, contudo, que um esforço so-brehumano tem sido feito para condu-zir os destinos da Entidade, que estálegalmente estruturada e se apressa, nomomento, em cumprir o dispositivo re-gimental que, recentemente, lhe pres-creveu um novo modelo administrati-vo. Mesmo assim, um labor incessan-te procura intensificar as relações in-ternacionais, como prova a vultosa cor-respondência trocada com grande nú-mero de instituições do exterior. Não sedeve esquecer que desse esforço resul-tou a bela recepção feita pela AcademiaVeterinária Francesa à ABRAMVET,em Lyon, na França, no ano de 1999,em sessão solene dirigida peloPresidente Philippe de Wailly, na sededa primeira Escola de Veterinária cria-da no mundo. E, na mesma linha deraciocínio, é oportuno relembrar que,no mês de setembro do corrente ano, aABRAMVET será recebida pela dire-toria do Museu Vivo do Cavalo, no cas-telo de Chantilly, França, para a me-morável sessão na qual se descerraráuma placa de bronze alusiva à entregade peças de montaria do nordeste bra-sileiro, a serem expostas permanente-mente no estabelecimento. Acrescente-se que, poucos dias depois a ABRAM-VET figurará como hóspede da Tunísia,por ocasião do 27º Congresso Mundialde Veterinária. E assim, pouco a pouco,vão frutificando em marcha ascenden-te, as atividades que passarão a inte-grar a história da profissão, em cará-ter internacional.

A MedicinaVeterinária só tema lucrar com ofuncionamentodesse tipo deentidade que arepresenta comnobreza edistinção peranteos segmentos maiselevados da naçãoe do exterior

Page 9: Revista CFMV n26

7

ENTREVISTA

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Revista do CFMV – Na sua opi-nião, quais foram os avanços científi-cos e tecnológicos que mais marca-ram a Medicina Veterinária contem-porânea?

Professor Jadyr Voguel –Desdeque a Medicina Veterinária ultrapas-sou a fase de instauração, alcançandomassa crítica por meio da multiplicaçãodas escolas de formação e aumentoqualitativo e quantitativo dos profis-sionais diplomados, foi avultando acriatividade no tocante à metodologiade trabalho, com maior sucesso nas vá-rias aplicações concebidas. Melho-ramentos foram introduzidos, passo apasso, na dinâmica do en-sino, nas técnicas experi-mentais e na intensifica-ção do relacionamento in-terinstitucional, ensejan-do a formação de equipesmultidisciplinares no altopoder produtivo. Foramcontempladas, particular-mente, as áreas de produ-ção animal, reprodução,nutrição, inspeção de pro-dutos de origem animal,tecnologia de produtos deorigem animal, sanidadeanimal, farmacoterapia, clínicas e pato-logia animal. Vem ocorrendo grandeinteresse por tudo quanto diz respeito aanimais silvestres. Do ponto de vistaocupacional cabe registrar o novo rumoseguido pela Medicina Veterinária noslocais onde existe grande concentra-ção de pequenos animais, possibilitan-do a instação de “Pet Shops”, onde otrato clínico se consorcia a práticas deembelezamento e comércio de produ-tos correlacionados. Todos esses fatosconcorrem, evidentemente, para a ele-vação do conceito social da profissão.

Ao abordar os avanços científicosalcançados nos últimos tempos é for-çoso reconhecer o mérito das numero-

sas equipes de pesquisadores em ati-vidade, cuja expressão máxima é PeterDoherty, agraciado com o PrêmioNobel, em l997. Entre tantos, vale co-mentar por sua enorme divulgaçãonesta oportunidade, os resultados deexplorações bem sucedidas na áreada genética, a partir da clonagem deanimais, seja através do DNA deexemplares adultos, como no caso daovelha Dolly ou por transferência nu-clear de embriões, como se tenta noBrasil, em bovinos. Mais recentemen-te ainda, as investigações desaguamna obtenção de animais transgênicos,destinados a finalidades várias: me-

lhoria das característi-cas de espécies selecio-nadas para a alimenta-ção, humanização deanimais para maior se-gurança em transplan-tes cirúrgicos e terapiagênica, criando estirpesinfluentes no tratamen-to de doenças crônicasgraves como a diabetese o câncer.

Dos avanços tecno-lógicos de maior reper-cussão na atualidade é

justo ressaltar os que interferem napolítica econômica-financeira de paí-ses privilegiados com grandes reba-nhos e que, por conseguinte, aspiramàs vantagens do mercado exportador;o sucesso do empreendimento leva ainvestir pesadamente em precocida-de, condicionamento físico e bom es-tado sanitário dos produtos exportá-veis, exigindo constante aprimoramen-to dos métodos de criatório intensivo,alimentação, transporte, abate e con-trole das doenças suscetíveis a cadaespécie animal, só obtido mediantetecnologia sofisticada correspondenteaos lucros previstos. É bom lembrarque os avanços relacionados interes-

sam, inclusive, a mão de obra qualifi-cada que conduz em várias ativida-des, bastando exemplificar com a pro-gressão funcional dos MédicosVeterinários do Ministério da Agricul-tura, que passaram a constituir em épo-ca recente o quadro de Fiscais FederaisAgropecuários.

Revista do CFMV – Solicitamosque dirija uma mensagem à ClasseMédico-Veterinária brasileira.

Professor Jadyr Voguel – Con-gratulo-me com os Médicos Veteri-nários brasileiros pela modalidadeprofissional que tiveram a sabedoriade abraçar. A Medicina Veterinária,como ciência e profissão, demorou aser implantada no Brasil pois, enquan-to se institucionalizou na França eml872, só alcançou idêntico estágio apartir de 1900 em nosso País, decor-rendo, praticamente, dois séculos en-tre ambos os acontecimentos. Em con-trapartida, a cada turma diplomadacorrespondiam milagres de coragem,operosidade e determinação que su-peravam os contratempos e cons-truíam com tal galhardia o seu desti-no, a tal ponto de tornar-se, ao fim doséculo XX, um modelo de progressoe uma força viva da nacionalidade.Voltemos o nosso pensamento, comemoção e saudade, para que traba-lhem anos a fio, com recursos muitasvezes escassos, fazendo de suas con-vicções a principal arma para venceros obstáculos e conquistar desejadasmetas. E na fase atual, de vitórias eeuforia, prossigamos no esforço dospósteros e busquemos, com os olhosfixos no bem da nação, novas e maisarrojadas realizações. Sempre cientese vigilantes, cultivamos o justo orgu-lho pela nossa profissão e estejamossólidamente preparados para as conti-gências do porvir.

Avante, Medicina Veterinária!

Congratulo-me

com os Médicos

Veterinários

brasileiros pela

modalidade

profissional que

tiveram a

sabedoria de

abraçar

Page 10: Revista CFMV n26

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

CERTIFICAÇÃO PROFISSIONAL

8

ACADEMIA

O sonho era antigo, embalado háanos. Os Médicos Veterinários vinhamidealizando e estruturando sua Acade-mia com muito cuidado e zelo. Em 28de maio de 2002, cerca de 500 pes-soas estiveram presentes no Salão deAtos da Universidade Federal do RioGrande do Sul, em Porto Alegre, quan-do da instalação da Academia Rio-Grandense de Medicina Veterinária. Asolenidade deu posse aos os 10 primei-ros acadêmicos, a maioria com forma-ção acadêmica ainda na década de 40 eque escreveram a história e traçaramos rumos da Medicina Veterinária nãosó no Rio Grande do Sul, mas com re-flexos nos demais estados.

Este seleto grupo inicial está sendoresponsável pela escolha de mais 30notórios da medicina veterinária gaúchaque completarão o número de cadeirasda agremiação. Uma Academia repre-sentativa de todo o estado do Rio Gran-

de do Sul, com acadêmicos de PortoAlegre, Viamão, Pelotas, Santa Maria,Jaguarão etc. Destacam-se o Dr. Ar-mando Valandro, o único MédicoVeterinário gaúcho a galgar todos oscargos dentro de uma instituição de en-sino superior no Brasil, de professor,diretor, pró-reitor e finalmente reitor eque foi o orador da solenidade. Outrodestaque é a Médica-Veterinária eBióloga Dra. Elinor Fortes, primeiramulher formada em medicina veteri-nária no Estado.

Aliás, os primeiros acadêmicos sãorepresentativos professores, pesquisa-dores, homens públicos e batalhadorespelo engrandecimento da profissão emterras gaúchas.

A composição da mesa de instalaçãoda Academia Rio-Grandense deMedicina Veterinária teve o colegaWalter Leo Verbist, representando oGovernador do Estado; o Presidente do

A Academia Rio-Grandense de Medicina Veterinária

Page 11: Revista CFMV n26

9

CRMV-RS, Eduardo de Bastos Santos,que tanto sonhou e lutou por aquele mo-mento histórico; o Presidente daSociedade Brasileira de MedicinaVeterinária, René Dubois, que proferiuvibrante discurso na solenidade; o Vice-Presidente do Conselho Federal deMedicina Veterinária, Alberto NevesCosta, representando o CFMV; o repre-sentante oficial da Academia Brasileirade Medicina Veterinária, Sérgio Bogado,cujo discurso irmanou a todos os repre-sentantes das demais academias; ElianaKeidan, Mozart Pereira Soares e AlcyCheuiche, da Academia Brasileira; Brazde Freitas Fernandes e ClotildeGerminiani, da Academia Paranaense;Maria Emília Bavia, da Baiana, todosenvergando suas insígnias acadêmicas.A composição da mesa contou aindacom o enriquecimento do Vice-Reitorda UFRGS, Sérgio Heneman; do repre-

sentante do Ministro da Agricultura, LuísErnande Cardoso; do deputado médi-co-veterinário Onyx Lorenzoni, repre-sentante da Assembléia Legislativa doRio Grande do Sul, dentre outras auto-ridades que ocuparam as primeiras filasou se deixaram ficar pela platéia juntocom seus familiares e amigos.

Destaca-se a seleta platéia, com re-presentantes de inúmeras Academiasde Medicina Veterinária de diversos es-tados, políticos, amigos e familiaresdos novos acadêmicos, todos muitoemocionados com a significância da-quela solenidade para a vida de todos.

Na palavra do presidente do CRMV/RS, Dr. Eduardo de Bastos Santos, ainstalação da Academia refletiu a ma-turidade e a grandeza da MedicinaVeterinária no Rio Grande do Sul.

Inicialmente, as reuniões de estrutu-ração e trabalhos iniciais após a posse

transcorrerão nas dependências doConselho Regional de MedicinaVeterinária, presente em todas as fasesda Academia Rio-Grandense.

O evento de instalação da AcademiaRio-Grandense de Medicina Veterináriamereceu destaque no informativo doCRMV/RS, que estampou página cen-tral com fotos e comentários da soleni-dade, destacando o juramento dos aca-dêmicos, a apresentação do Coral daUFRGS, que abrilhantou a festa jun-tamente com a brilhante apresentaçãodo Quarteto de Cordas daquelaUniversidade Federal.

O Conselho Federal de MedicinaVeterinária, enfatiza seus votos de con-gratulações à mais nova irmã que é aAcademia Rio-Grandense, parabeni-zando a todos os acadêmicos e que ainstituição cumpra seu belo papel pe-rante toda a sociedade gaúcha.

ACADEMIA

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Ilmo.Sr.Armando Vallandro – 0011Rua Floriano Peixoto, nº1139/72 - Centro 97015 371 – Santa Maria/RS

Ilmo.Sr.Dr. Danilo Saraiva – 0062Av. Desembargador André da Rocha, nº20/102 90050 160 – Porto Alegre/RS

Ilma.Sra.Dra. Elinor Fortes - 0402Beco do Chapéu do Sol, nº741 91785 460 - Porto Alegre/RS

Ilmo.Sr. Dr. Hilton Machado Magalhães – 0320Rua Jorge Calil Flores, nº181 – Centro94410 230 – Viamão/RS

Ilmo.Sr.Dr. João Carlos Mascarenhas Alves Pereira – 0236Rua General Osório nº631/604 96020 000 - Pelotas/RS

Ilmo.Sr.Dr. José Carlos Coelho Nunes – 0414Rua Cristóvão Colombo, nº1527/22 – Floresta90560 004 – Porto Alegre/RS

Ilmo.Sr.Dr. Ory Antunez da Silveira – 0228Rua Alvaro Chaves, nº185296010 760 - Pelotas/RS

Ilmo.Sr.Dr. Pedro Cabral Gonçalves – 0162Av. Bento Gonçalves, nº8923 – Agronomia91540 000 - Porto Alegre/RS

Ilmo.Sr.Dr. Raul Annes Di Primio – 0147Praça Dr. Alcides Marques, nº3996300 000 - Jaguarão/RS

Ilmo.Sr.Dr. Virgínio Teixeira dos Santos – 0012Rua Passo das Tropas, S/Nº - Caixa Postal 62697100 970 - Santa Maria/RS

COMPOSIÇÃO DACOMPOSIÇÃO DA ACADEMIAACADEMIARIO-GRANDENSE DE MEDICINARIO-GRANDENSE DE MEDICINA VETERINÁRIAVETERINÁRIA

Page 12: Revista CFMV n26

10

ACADEMIA

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Objetivando preservar a memóriadas ciências em todo o Estado, foi ins-talada no dia 28 de agosto deste 2002a Academia de Ciências do Piauí, quetem como característica básica contarcom representantes de todas as áreasda ciência, uma abertura que abrangepara divulgar e fortalecer questões eavanços científicos e mesmo literáriose culturais.

A primeira Diretoria foi empossada emmeio à concorrida solenidade, passando aser presidida pelo acadêmico e médico ve-terinário Professor Doutor Rômulo JoséVieira, para um mandato de dois anos. Àocasião, os demais membros fundadoresocuparam suas cátedras. Cada cadeira temum patrono, escolhido pelos fundadores,dentre personalidades piauienses já faleci-das e entre os patronos já constam nomescomo os de Carlos Castelo Branco, FélixPacheco, Luíza Amélia e Mário Faustino.

Comporão a Academia de Ciênciasdo Piauí 48 membros efetivos, além dosacadêmicos correspondentes. A estru-turação da Academia contempla 6 nú-cleos que referem-se às seguintes áreas:ciências agrárias, educação, ciênciasexatas, ciências humanas, letras e saúde.

A princípio, a Academia conta com24 membros, sendo que está previsto opreenchimento das vagas, posterior-mente, por meio de eleições emAssembléias Gerais. Para ser membroefetivo da Academia tem que preen-cher alguns pré-requisitos: possuir cur-so superior ou excepcional conheci-mento na área, ter residência fixa emqualquer cidade do Piauí e possuir li-vros ou trabalhos científicos, de quali-dade compatível, publicados. Já osmembros correspondentes poderão re-sidir fora do Piauí e até terem nasci-dos em outros estados.

Dentre os atuais 24 membros funda-dores da Academia estão personalida-des locais como o Reitor daUniversidade Federal do Piauí, PedroLeopoldino Ferreira Filho, responsávelpelo discurso de saudação aos acadêmi-cos; o vice-reitor Luís de Sousa SantosJúnior; o Presidente do ConselhoEstadual de Educação do Piauí, Ivelinede Melo Prado; a ex- Pró-reitora de pes-quisa e pós-graduação da UniversidadeEstadual do Piauí, Valdira de CaldasBrito Vieira; o ex Presidente do Tribunalde Justiça do Piauí, Luiz Gonzaga

Brandão de Carvalho; o ex-Diretor doCNPq, José de Anchieta Moura Fé; oex-Reitor da UFPI, Charles Camilo daSilveira; o ex-Secretário de Comuni-cação do Governo do Estado, HerculanoMoraes da Silva Filho, entre outros.

Já nos primeiros momentos de tra-jetória a Academia anuncia que pre-tende divulgar todas as formas de ciên-cias por meio de pesquisas, publicaçãode livro, promoção de palestras e con-ferências, chegando mesmo ao lança-mento de concursos que valorizem asáreas científicas e culturais. Tudo issoobjetivando aproximar as ciências dasociedade, evidenciando a qualidadeintelectual dos que atuam no campocientífico no Piauí.

O CFMV lamentou muito não terpodido estar representado no evento,por motivos de força maior. Mas re-gistra sua saudação e afirma, em no-me da atual Diretoria, a convicçãode que a Academia de Ciências doPiauí, pelo naipe de seus membrose pelos propósitos que nortearam asua fundação, cumprirá um brilhan-te papel no cenário científico e cul-tural daquele Estado.

Academia de Ciências do Piauí

Page 13: Revista CFMV n26

11Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Introdução

Uma das conquistas do mundo mo-derno é o uso da tecnologia na genéti-ca, produção, diagnóstico e tratamentodas doenças. Estas conquistas ocasio-naram aumento na produtividade ani-mal, maior aporte de proteínas na ali-mentação humana e aliada às desco-bertas das vacinas e antibióticos contri-buíram para a diminuição das doençasinfecciosas, proporcionando o cresci-mento da população.

Os avanços geraram expectativasde que até o ano 2000, as doenças in-fecciosas estariam erradicadas das po-pulações humanas e animais.

Há 100 anos a tuberculose era aprincipal causa de óbito nos EUA sen-do responsável por cerca de 20% dasmortes. Hoje, esta doença não figuraentre as 10 principais causas de mortenaquele País onde o declínio de morta-lidade populacional foi significativo,porém, não beneficiou todos os seg-mentos da população da mesma ma-neira.

Hoje, vemos a manutenção da ocor-rência de doenças, como a tuberculosenos mais pobres, apesar dos conheci-mentos adquiridos no seu diagnósticoe tratamento. Samuel Pessoa já alerta-va desde a década de 50 para a impor-tância das estruturas sociais na determi-nação dos tipos de interações agente -hospedeiro em populações humanas eo conseqüente quadro de doença(Pessoa, 1978).

Nas sociedades ocidentais, a lógi-ca do lucro e do domínio da natureza,ocasionou o desenvolvimento tecnoló-gico utilizado para corrigir a crise nospadrões de produção e consumo viven-ciados pela civilização atual, conside-rada por muitos autores como insus-tentáveis (Sachs, 2000). Os diferentespadrões dos sistemas de produção ani-mal determinam o caráter diferenciadoda ocorrência de doenças nos rebanhosentre países e dentro de um mesmopaís, onde existem desigualdades so-ciais relevantes.

As diferenças sociais, econômicas eculturais presentes no processo de glo-

O componente social e sua importância na planificação em Saúde Animal

Tânia Maria de Paula LyraMédica Veterinária, CRMV-?? ?.???Mestre em Medicina Veterinária Preventiva eDoutoranda em Ciência Animal na UFMG.Diretora do Curso de Veterinária da AGRO-PLAC/UNIPLAC, Brasília-DF.

José Ailton da SilvaMédico Veterinário, CRMV-?? ?.???Doutor em Ciência Animal. Professor deEpidemiologia da Escola de Veterinária daUFMG, Belo Horizonte-MG.

SAÚDE ANIMAL

Page 14: Revista CFMV n26

12

RETRANCASAÚDE ANIMAL

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

balização se refletem na ocorrência de-sigual de doenças entre países de si-tuação econômica diferentes e na in-terdependência manifestada no riscode sua difusão entre países (Lyra,2001).

A busca de igualdade na situaçãosanitária mundial é umaprioridade, pois com oaumento do comércio in-ternacional, o risco de di-fusão de doenças é umarealidade recentementecomprovada no surto defebre aftosa ocorrido naInglaterra, com um vírusprocedente da Ásia.

Este fato é decorren-te das crescentes trocasinternacionais, previstaspor Marx, em 1848, “Aburguesia não pode exis-tir sem revolucionar continuamente osinstrumentos de produção. A necessida-de de mercados cada vez mais extensospara seus produtos, impele a burguesiapara todo o globo terrestre. Em lugardas velhas necessidades, satisfeitas pe-la produção nacional, surgem neces-sidades novas, que para serem satis-feitas exigem produtos de terras e cli-mas distantes” (Miranda, 2000).

A mesma situação é observadaquando um país desenvolvido, como aInglaterra, modifica seu sistema de pro-dução, desrespeitando a agro-ecologia,induzindo o aparecimento de uma no-va doença - a encefalopatia espongi-forme bovina e, disseminando-a paravários países, através do comércio in-discriminado da ração contaminada (-LYRA, 2001b).

As principais doenças infecciosasestão erradicadas dos rebanhos dos paí-ses desenvolvidos e mantidas nos paí-ses em desenvolvimento, transforman-do-se em causa da baixa produtividadedesses rebanhos, menor renda e, ocasio-

nando importantes barreiras à participa-ção desses países nos mercados inter-nacionais. Com isso, aumentam-se asdesigualdades diminuindo as possibili-dades dos países em desenvolvimentomelhorarem a situação econômica e,conseqüentemente, suas condições de

investir em saúde animal. Doenças como a tu-

berculose e brucelose bo-vina, apesar do conheci-mento das técnicas dediagnóstico e estratégiasde controle, continuampresentes em muitos re-banhos ao lado daquelasampliadas pela pressão deprodução, como a Rino-traqueíte Infecciosa Bo-*vina (IBR) e a doença deAujeszky nos suínos.Estes aspectos tornam im-

prescindível a prioridade absoluta naobservação das formas de produção edo componente social, como determi-nante epidemiológico de doenças e, nanecessidade dos veterinários implan-tarem no sistema de produção animal,as orientações para o desenvolvimentosustentável, aqui entendido, de acordocom Sachs (2001), como “a combina-ção do respeito ao meio ambiente, coma economia, mantendo-se o equilíbrioecológico”.

Embora os defensores do desenvol-vimento auto-sustentável tenham umapreocupação social, o foco tem sidomais para a ecologia do que para a aten-ção à miséria. Buarque (2001), sugereum conceito alternativo de “desenvol-vimento solitável”, que implica na ado-ção de uma atitude socialmente soli-dária e ecologicamente sustentável.

Estes conceitos devem ser incorpo-rados no delineamento diferenciadodas estratégias da planificação em saú-de animal, para os diferentes estratossociais.

O Conceito de Saúde Humana e de Saúde Animal

Contreras (2000), num estudo so-bre a evolução histórica do conceitosaúde-doença, relatou que a primeirainterpretação de doença era sobrena-tural sendo atribuída aos “maus espíri-tos”, tendo como terapêutica, as dan-ças, cantos, purgantes e eméticos, cor-rente que em determinados aspectosainda persiste nas terapias psicossomá-ticas. Em continuação o autor refere-seà teoria da doença como “castigo di-vino”, que prevaleceu desde a peste doantigo Egito até o Renascimento, sé-culo XVI, sendo esta conceituação ali-mentada pela religião, que induziu oaumento da riqueza e poder das castassacerdotais.

No final da Idade Média, entre osséculos XI e XVI, surge a teoria de“causantes humanos”, sendo as doen-ças atribuídas aos judeus, devido à suamelhor condição econômica e indepen-dência intelectual e, mulheres idosas(bruxas) que tinham o conhecimentoempírico do poder curativo das ervas.Em continuação surgiu a partir do sé-culo XVII, a “teoria miasmática”, quepassa a considerar como fatores dedoença, as causas telúricas e ambien-tais, ou seja, as impurezas, matériasmórbidas, surgidas do ambiente. Teminício, a teoria dos agentes de doença,sendo desta época o famoso experi-mento de Lord Snow, analisando umaepidemia de cólera na Inglaterra e con-cluindo sobre a presença do agente naágua contaminada, sendo então realiza-do um bem sucedido combate, com re-comendações simples, como a de fer-ver a água. Este fato representou a pri-meira tentativa de interpretação nãosobrenatural de doença, contribuindopara os fundamentos de higiene e saú-de pública.

A partir da metade do século XVIII

Em lugar das ve-lhas necessidades,satisfeitas pelaprodução nacio-nal, surgem neces-sidades novas,que para seremsatisfeitas exigemprodutos de terrase climas distantes

Page 15: Revista CFMV n26

13

e até praticamente o fim do século XIX,surge a “doutrina microbiológica”, odesenvolvimento dos laboratórios e adifusão do microscópio. Esta teoria éfortemente apoiada no positivismo co-mo sistema filosófico, defendido pelofrancês Auguste Comte, sustentandoque: “todo conhecimento- especialmen-te da ciência- para ser legítimo, válidoe verdadeiro deve partir de fatos; com-provar tais fatos e uni-los através daanálise” A maior expressão desta dou-trina na medicina humana e veterináriaé o denominado postulado de Koch, noqual a identificação do microorganis-mo, seu isolamento em meios de cultu-ra apropriados, sua inoculação (em ani-mais susceptíveis sadios), e a reprodu-ção dos sinais, sintomas e lesões típicasda doença, são os fundamentos paraexplicar o fenômeno. Esta teoria é im-portante, mas enfoca os aspectos mera-mente clínicos, considerando que “nãoexistem doentes, mas doenças” e, assimsubestima os fatores sociais na determi-nação da doença.

Em seguida surge na década de 30,“a teoria multicausal”, a doença é re-sultado de vários aspectos e da inter-re-lação entre eles. Em continuidade sur-ge a “teoria ecológica”, considerandoas relações e interações - agente, hos-pedeiro, meio ambiente. Neste concei-to a doença não pode ser separada doecossistema, na tríade ecológica deLeavell & Clark (1976).

Na década de 60-70, como a medi-cina com toda sua tecnologia reconhe-ce que não conseguiu resolver os pro-blemas de saúde das populações, teminício a integração das análises do pro-cesso saúde-doença, com a sociologia,a história, a economia e a psicologia,surgindo, a “teoria social”. Esta teoriaconsidera os aspectos microbiológicos,ecológicos e a tríade agente, hospedei-ro e meio ambiente e, num terceiro ní-vel, o aspecto social, considerando a

doença como um processo coletivo e,portanto social. A doença, passa a serconceituada como resultado da transfor-mação das relações hospedeiro, agen-te e ambiente, devida aos processos so-ciais e intimamente relacionada aosmodos de produção, o que explica nãosó a sua distribuição na população, bemcomo, as patologias próprias dos dife-rentes grupos sociais. Contreras (2000),após referir-se a estes variados aspec-tos do processo histórico do paradigmasaúde - doença, relata que o processonão se esgotou.

2.1. Saúde HumanaNa medicina humana, desde o final

dos anos sessenta, intensificou-se a po-lêmica sobre o caráter das doenças, seessencialmente biológica causada porum microorganismo específico, cujotratamento é a ele direcionado ou, so-cial determinada pelas diferentes con-dições de vida dos estratos econômi-cos. Ocorre assim, um questionamen-to profundo do paradigma dominanteda doença que a conceitua como umfenômeno biológico individual. As ra-zões da polêmica devem ser buscadastanto no desenvolvimento da medicina,como na sociedade com a qual ela searticula (Laurell, 1982). A autora rela-ta a crise na prática médica, especial-mente no cenário latino-americano, de-monstrando que a medicina clínica nãooferece solução satisfatória para a me-lhoria das condições de saúde da cole-tividade, o que fica demonstrado na es-tagnação dessas condições em grandesgrupos, ou na sua franca deterioraçãoem outros. Reconhece, que apesar daslimitações da concepção meramentebiológica da doença e da prática da me-dicalização apoiada na indústria far-macêutica que a sustenta, é inegável oconhecimento científico gerado.

A nova corrente da doença comoum processo social, deve comprovaresta conceituação e sua utilidade na

prática, demonstrando num primeiromomento, que a doença tem caráterhistórico e social e, a melhor formade conseguir esta comprovação é atra-vés da análise do que ocorre na cole-tividade. Para tanto é fundamental dis-cutir a forma de constituir os gruposa estudar, constatando-se as diferençasnos perfis patológicos3 das doençasverificados ao longo dos tempos comoresultante das transformações da so-ciedade. Dentro deste conceito, estu-dos realizados na Costa Rica, demons-traram que o risco de morrer nos pri-meiros anos de vida está diretamenterelacionado à ocupação do pai, ou se-ja, o modo como este se insere na pro-dução.

Assim, a possibilidade de umacriança proletária morrer antes dos doisanos de idade é quatro vezes maior doque a de uma criança da alta ou médiaburguesia; o risco da criança campo-nesa é cinco vezes maior (Behm, 1982).Disto se depreende, a necessidade deinvestigar os aspectos sociais da causa-lidade da doença, não em função deum conjunto de patologias, pois se te-mos o processo biológico da doença (ovírus ou outro microorganismo), o queirá determinar o processo saúde-doen-ça é o modo como o homem se apro-pria da natureza num determinado mo-mento. Ou seja, como citou Laurell(1982); “temos por um lado, o proces-so social e, por outro, o processo bio-lógico, sem que seja imediatamente vi-sível como um se transforma no outro.Temos na verdade “uma caixa preta”,na qual o social entra de um lado e obiológico aparece de outro, sem quese saiba exatamente, o que ocorre den-tro dela.”

2.1.1. Medicina CientíficaMendes (1984), relatou o surgimen-

to da medicina científica no períodoformativo do capitalismo monopolis-ta, no início do século XX. A consoli-

SAÚDE ANIMAL

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Page 16: Revista CFMV n26

14

SAÚDE ANIMAL

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

dação desse processo se deu atravésdas recomendações do relatórioFlexner, publicado em 1910. As reco-mendações foram apoiadas pelas fun-dações privadas e a classe médica, atra-vés da Associação Médica Americana-AMA, aprovada pelos médicos euro-peus. O novo sistema consolidou-seatravés de uma ligação orgânica entreo grande capital, a corporação médicae as universidades. Seus principais ele-mentos estruturais são:

O mecanicismo: o corpo passa aser concebido como uma máquina quepode ser dividida em partes para suamelhor compreensão. A essência domecanicismo foi descrita como; “Umorganismo vivo poderia ser visto co-mo uma máquina que pode ser des-montada e remontada se sua estruturae funções forem completamente enten-didas. O homem passa a ser visto, numhomem máquina”.

Biologismo: Os avanços da bacte-riologia conduziram a uma etiologiaespecífica das doenças, pressupondo oreconhecimento exclusivo e crescenteda sua natureza biológica, suas causase conseqüências. A história natural dasdoenças passou a excluir a história so-cial. Assim, “a saúde das pessoas, nãoserá a história dos tempos e ritmos deprodução, nem a história do processoe das condições de produção, mas ahistória da natureza biológica dasdoenças”.

Especialização: o conhecimento es-pecífico foi aprofundado em detrimen-to do holístico.Este fato determinou acompartimentação em tarefas restritas,o que impede uma visão global do pro-cesso de produção. A dependência en-tre os especialistas no sentido de tentarrestaurar a globalidade da atividademédica, aumentou os custos do trata-mento. Nas universidades, os cursosforam divididos em departamentos,sem interação, desprezando-se a im-

portância da interdisciplinaridade e dasólida formação generalista.

Exclusão das práticas alternati-vas: procurou-se anular ou restringiras formas populares (ervas) da medici-na mágica ou religiosa e mesmo a ho-meopatia.

Tecnificação do ato médico:Ocorreu uma elevação nas expectati-vas do público em relação às possibi-lidades curativas da medicina, em par-te devido à “difusão tecnológica selva-gem”, em que equipamentos caros esofisticados foram produzidos e ven-didos pela indústria. Alguns dessesaparelhos, como o da tomografia com-putadorizada, foram vendidos em mas-sa até para países e regiões subdesen-volvidas, criando um processo de in-vasão tecnológica que inibiu a capaci-dade de inovação e desenvolvimentodos países periféricos receptores. Ograu de densidade tecnológica da prá-tica médica passou a ser uma condiçãopara considerar as estruturas de saúdeavançadas, como um parâmetro dequalidade. Isto propiciou que a ava-liação das condições tecnológicas pre-valecesse em detrimento da promo-ção da saúde e da qualidade da atençãomédica.

Ênfase na medicina curativa: co-mo a medicina curativa é o setor maissusceptível de incorporar tecnologia,passou-se a prestigiar o diagnóstico e aterapêutica, ou seja, o processo fisiopa-tológico em detrimento da causa. Estefato ocasionou o abandono da medici-na preventiva, da promoção e da prote-ção da saúde. Almeida Filho (1999),relatou que a tensão entre a medicinaindividual e a coletiva, vem desde osprimórdios do pensamento ocidentalna Grécia Antiga, sendo descrito namitologia grega,“Esculápio, o Deus damedicina teve duas filhas: Panacéia,a deusa da cura ou da assistência mé-dica e, Higéia, a deusa da higiene ou

da medicina preventiva, acreditandoque as duas pudessem trabalhar juntas.Panacéia venceu, sendo preferida daopinião pública, dos governos e daclasse médica, sendo abandonados osconselhos de Higéia. Panacéia era apadroeira da medicina curativa, nas in-tervenções nos indivíduos e uso doPharmakon - medicamento. Higéiaconsiderava a saúde resultante da har-monia dos homens e dos ambientes, ebuscava promovê-la por meio de açõespreventivas, mantenedora do perfeitoequilíbrio entre os elementos da natu-reza.

O mesmo autor declarou que a altatecnologia hoje é utilizada inclusivenos países subdesenvolvidos, o que de-terminou uma dependência em relaçãoaos países capitalistas. A pesquisa mé-dica assume um papel mais ligado aoprocesso de acumulação de capital doque à melhoria das condições de saúdeda população, com o monopólio dasgrandes empresas transnacionais nosmedicamentos e equipamentos.

Refere ainda que a crise na medici-na científica ocorreu devido aos eleva-dos custos, com os crescentes investi-mentos no setor, que culminaram emretornos decrescentes nos resultados.Estima-se que enquanto aqueles au-mentam em 100%, as taxas de morta-lidade e morbidade, em países desen-volvidos, diminuem em apenas 5%.

Por outro lado, obtém cada vez maissucesso entre a população à “saúde ho-lística”, resgatando a unidade do pa-ciente através da integração, mente eespírito, com a utilização de práticasconsideradas alternativas (homeopatia,ioga, meditação, parapsicologia, etc.).

Do ponto de vista da teoria políti-ca, a crise da medicina científica, ma-nifesta-se, principalmente, no seu cará-ter centralizador e alta tecnificação,que ocasiona concentração do poderpolítico e administrativo.

Page 17: Revista CFMV n26

15

SAÚDE ANIMAL

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Medicina Coletiva OuComunitária

Mendes (1984 b), referindo-se àscaracterísticas estruturais da medicinacientífica, inalcançável pela maioriadas populações, relatou o surgimento damedicina comunitária, cuja função ésocial. Suas bases são o coletivismorestrito, tratando as unidades sociais,ou grupos populacionais. Os recursossão descentralizados, regionalizados ehierarquizadas à partir das unidadessimples e locais. Os seus princípiosfundamentais são:

Utilização de tecnologia apropria-da: tecnologias úteis e financeiramen-te acessíveis, sendo aceitável pelos quea utilizam.

Inclusão de técnicas alternativas:reconhece a riqueza da medicina po-pular, através do respeito, porém sem apreocupação de recriar e desenvolverestas técnicas.

Participação comunitária: busca aparticipação comunitária e a avaliaçãocontínua das ações para reprograma-ção das mesmas, com participação daslideranças locais.

Geração de emprego: ao propiciara participação da comunidade, o obje-tivo é que seja geradora de empregoslocais e, que propicie a participação dapopulação local, na seleção de alterna-tivas, entendidas, controladas e man-tidas pelo pessoal local, sob baixo ní-vel de supervisão central.

Saúde Animal

Consideramos que saúde animal éa otimização da produção com desen-volvimento sustentável e socialmenteético. Seguindo os princípios da práti-ca médica, os cursos de medicina vete-rinária deram ênfase excessiva ao ensi-no da clínica e terapêutica, incluindo-se a prioridade na construção de

Hospital Veterinário nas universidadese seu destaque das demais infraestrutu-ras dos cursos. A epidemiologia nemsequer fazia parte do currículo míni-mo, como a sociologia e a ecologia. Aformação humanística filosófica foiocupada pelo direcionamento de for-mar profissionais para exercerem tare-fas num mercado.

Nos anos 70, o conceito saúde-doen-ça começou a mudar, sendo basicamen-te relacionado com a tríade de Leavel eClark, ou teoria ecológica, na qual seconsideravam o agente, o hospedeiro eo meio ambiente. A partir dos anos 80,iniciam-se as observações sobre a epi-demiologia e a estrutura social.Rosenberg (1986), relatou que, “o obje-tivo da epidemiologia veterinária é de-finir, conhecer e resolver perfis especí-ficos de saúde animal, que por sua vezsão entendidos como a síntese num es-paço e tempo concretosentre os problemas pro-dutivos sanitários e asações organizadas pelasociedade para resolvê-los”. O marco de referên-cia é a estrutura econô-mica, política e social emque se desenvolve a pe-cuária. As formas de as-sociação e de interaçãoagente - hospedeiro emeio ambiente irão de-terminar os diferentesecossistemas, que são de-finidos pelo autor em relação à febreaftosa, como;

1. Endêmicos: o agente se encontrapermanentemente presente, mesmo quenão ocorram manifestações clínicas; oecossistema é auto-suficiente para man-ter o agente em atividade, os susceptí-veis, os mecanismos de transmissão eos reservatórios.

Estas regiões geralmente são a ori-gem da disseminação da doença para

outras áreas e se caracterizam por áreasde cria ou de ciclo completo, renovaçãolenta do plantel, pouca freqüência desurtos.

Epiendêmicosou endêmicas secundárias

Mantém o agente e sofrem constan-tes influências externas, ocorrem trocascíclicas em seus componentes.

Regiões de recria ou terminação,grande ingresso de animais jovens deprocedências diferentes. Alto risco desurtos epidêmicos.

Ecossistemas paraendêmicos ou esporádicos

O agente pode ou não estar presen-te, ocorrem ingressos ocasionais desusceptíveis ou do agente.

O aparecimento dadoença quase sempre temcaracterísticas epidêmicas,o normal é a ausência demanifestações clínicas.

Ecossistemas indenes(áreas livres)

O agente não está pre-sente.O aparecimento dadoença é de forma epidê-mica.

Pouco dependentes deinfluências externas, Ro-senberg e Olascoaga,(1991), relataram que o

conceito saúde-doença na veterináriatem sido determinado pelo paradigmada medicina, predominante nas ciên-cias veterinárias até mesmo na sua de-nominação (medicina veterinária).Desta forma, acompanhando as cor-rentes de pensamento predominantesem diversos momentos históricos, aveterinária conceituou a problemáticacausal da saúde animal, da mesma for-ma que os médicos na saúde humana.

Os veterináriosofertaram importan-te colaboração aopositivismo biológi-co, no campo daspesquisas médicas,sendo inclusive osdescobridores deagentes microbia-nos como causado-res de doenças hu-manas e animais

Page 18: Revista CFMV n26

16

SAÚDE ANIMAL

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Assim, após a revolução industrial, amedicina veterinária aplicava aos in-divíduos animais “doentes”, a mesmametodologia e instrumentais aplicadosem pessoas doentes “, concebidas co-mo parte exclusivamente mecânica(máquina) do binômio mental - físico.Os veterinários ofertaram importantecolaboração ao positivismo biológico,no campo das pesquisas médicas, sen-do inclusive os descobridores de agen-tes microbianos como causadores dedoenças humanas e animais. Estasações à semelhança com o ocorrido namedicina humana contribuíram de ma-neira significativa para o desenvolvi-mento da pecuária, porém mascararamas concepções estruturais da determina-ção da saúde nas populações”.

Os autores relataram ainda que aepidemiologia e a medicina preventivaforam incorporadas nos currículos doscursos somente após os anos 80 e, aconcepção da tríade ecológica teve di-ficuldades na sua aplicação no campode animais de interesse econômico, de-vido à uma aparente dificuldade dosprofissionais em entender e interpre-tar o sistema produtivo e seus diferen-tes componentes, como nutrição, ge-nética, desempenho produtivo e renta-bilidade. Como exemplo, a nutrição deanimais de importância econômicaconstitui o eixo fundamental de toda aatividade produtiva setorial, porém nãoé utilizada com o objetivo de manterum adequado “equilíbrio” de bem estare desenvolvimento, pelo contrário, bus-ca-se de forma rápida, a eficiência deconversão de alimentos vegetais emproteína animal apta para o consumohumano.

A seleção genética, considerandoos aspectos de elevada capacidade pro-dutiva, tem determinado a formaçãode populações genéticas e fisiologi-camente mais susceptíveis aos agentesinfecciosos e menos resistentes aos

problemas climáticos. As raças nati-vas mais rústicas e resistentes foramabandonadas em detrimento de raçaseuropéias ou de cruzamentos com ra-ças importadas, menos resistentes àsdoenças.

O paradigma médico-clínico levoua veterinária a definir o animal são, co-mo uma “máquina em silêncio”, comorelataramm, Rosenberg e Olascoaga(1991). Este silêncio orgânico ocorre-ria quando as condições fisiológicasestão normais e no qual os agentes mi-crobianos não causam transtornos ma-nifestos (equilíbrio agente e hospedei-ro). Neste conceito caberia ao médicoveterinário corrigir os “ruídos orgâni-cos”, quando esses ocorressem.

Os setores de produção e a área eco-nômica consideram o animal como má-quina produtora de bens, “commodi-ties” representadas pela carne, leite,ovos e produtos industriais derivados,e buscam alcançar o máximo de produ-ção no menor espaço de tempo. Estefato influenciou os médicos veterináriosa trabalharem com o animal mercado-ria, visando a produção de bens. Porém,se o econômico predomina sobre asquestões éticas, de respeito às condi-ções de bem estar animal e agroecoló-gicas, os problemas ocorrem, comoaconteceu recentemente com o episódioda encefalopatia espongiforme bovina- BSE, na Inglaterra, quando desres-peitando a ética e, devido a questõeseconômicas, os ruminantes foram ali-mentados com proteína de ruminante,determinando o surgimento de uma no-va doença.

A profissão de médico veterináriotem uma grande vinculação com obem estar físico, psíquico e social dohomem. O papel desempenhado pelaveterinária na saúde pública, vai des-de sua participação na produção; con-trole reprodutivo e sanitário do ani-mal para o aporte de proteína de ori-

gem animal, como alimentos impres-cindíveis em determinadas fases docrescimento humano; ao controle am-biental dos sistemas de produção e in-dústrias transformadoras; ao contro-le das doenças transmissíveis entrehomem e animais ( zoonoses); o con-trole do risco de doenças crônicastransmitidas por resíduos de substân-cias nos alimentos( hormônios, anti-bióticos e outros), como também aclínica de animais de companhia e dezoológicos, a conservação e a clínicade animais silvestres e a proteção dacapacidade atlética dos animais de es-porte, que também estão diretamenterelacionadas à satisfação das deman-das de bem estar psíquico e social dohomem.

Torres (1997), relatou que a separa-ção entre grupos sociais, baseada nosdiferentes níveis de renda, está indi-cando a necessidade dos veterináriosenfocarem o estudo e análise dos pro-blemas de saúde animal dentro de umnovo contexto, no qual deve existirmaior co-participação e co-responsa-bilidade de todos os “atores sociais”desde o nível local até atingir toda aestrutura social. O autor alerta aindapara a necessidade dos veterinários te-rem plena consciência de seu papel naproteção da saúde humana e, no contro-le de zoonoses ou das toxiinfecçõesalimentares.

Haddad (1999), relatou que o pro-cesso de crescimento de uma regiãopressupõe seu crescimento econômi-co e, dependerá de sua capacidade deorganização social, que se associa: a)ao aumento da autonomia regionalpara a tomada de decisões; b) ao au-mento da capacidade para reter e rein-vestir o excedente gerado pelo pro-cesso de crescimento local; c) a umcrescente processo de inclusão so-cial; e d) a um processo permanentede conservação e preservação do

Page 19: Revista CFMV n26

17

SAÚDE ANIMAL

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

ecossistema regional.Um dos fatoresfundamentais para a obtenção do cres-cimento regional é a criação deagroindústrias, aqui definida comouma empresa que processa materiaisde origem vegetal ou animal. O pro-cessamento envolve transformação epreservação através de alteração fí-sica ou química, estocagem, embala-gem, distribuição. O conjunto das di-ferentes organizações e estruturas dasagroindústrias configura o segmentodos agronegócios. A importância dosegmento como gerador de empregoe renda amplia-se pelo fato de cons-

tituírem cadeias, tais como a cadeiada carne bovina, a da carne suína eoutras, que envolve diferentes setoresda economia. De acordo com o au-tor, elas constituem um “cluster”, deindústrias e instituições que têm li-gações particularmente fortes entresi, tanto horizontal quanto vertical-mente e, usualmente, incluem: Em-presas de produção especializada;Empresas fornecedoras; Empresasprestadoras de serviços; Instituiçõesde pesquisa; Instituições públicas eprivadas de suporte. Um setor dinami-za o outro.

Programas de Saúde Animal

Estes aspectos tornam necessária aconcepção clara da importância dasagroindústrias para a região e da suaparticipação como agente de mudan-ças sociais. As estratégias de controlede doenças devem assim dirigir-se àcadeia de produção, vendo o processocomo um todo e, no caso do pequenoprodutor e trabalhadores rurais sem ter-ra, é importante a implantação deagroindústrias familiares, para a inser-ção desse segmento, hoje excluído, noprocesso socioeconômico.

Estrato Social-Demandas

Além do enfoque social, o trabalhodo médico veterinário envolve as ques-tões ambientais, num modelo de de-senvolvimento sustentável. Miranda(2000), alertou para a histórica falta decultura, de diálogo e de interação entreos três níveis de governo, assim comoentre seus diversos setores, que deter-minam as dificuldades existentes nabusca de políticas integradas e interse-toriais e, dificultam o produtor, que fi-ca sem entender as orientações dife-renciadas e muitas vezes conflitantesdos diferentes níveis do governo.

À semelhança da medicina coletivaou social desenvolvida na saúde hu-mana, os programas de saúde animal,devem voltar-se para a unidade local,com participação da comunidade.Porém, como reflexo das orientaçõesda “medicina científica”, de segmen-tação, especialização e fragmentação, asestruturas do Sistema de Defesa Animalforam fragmentadas na década de 70desmontando o trabalho articulado de-senvolvido até então, que consistia noatendimento às denúncias de campo,coleta de material, diagnóstico e indi-cação de pesquisa visando a soluçãodos problemas identificados.

Figura 1– Cadeia produtiva dapecuária de corte. Adaptada deHADDAD (1999).

Page 20: Revista CFMV n26

18

SAÚDE ANIMAL

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Hoje as estruturas de defesa, pes-quisa e extensão trabalham isolada-mente, com prioridades diferenciadas,faltando um elo entre suas ações e prio-ridades de atuação.

Conclusões

A condição de “saúde animal” é de-terminada pelas formas de organiza-ção da pecuária, e do acesso de seusatores sociais aos serviços e tecnolo-gias desenvolvidos pela sociedade.Ultimamente predomina o paradigmade que o processo saúde - doença é umproblema coletivo e, portanto social, oque explica os riscos diferenciados deocorrência de doenças nos diversos es-tratos sociais.

A caracterização da forma social eeconômica da organização pecuária co-mo determinante de seu perfil produti-vo sanitário permitirá estabelecer mo-delos preditivos de ocorrência e distri-buição de doenças, mas acima de tudoservirá para estabelecer uma planifica-ção diferenciada. Como as formas deorganização da produção são diferentesnos diversos estratos sociais, a planifi-cação em saúde animal, suas estraté-gias e planos de atuação devem ser di-ferenciados de acordo com as necessi-dades e interesses dos componentes so-ciais e econômicos envolvidos na pro-dução e comercialização.

Desta planificação faz parte umprograma contínuo de educação e sen-sibilização dos pequenos produtores,em cada estratégia dos programas sa-nitários, em suas diferentes fases, se-ja a vacinação ou o sacrifício sanitá-rio, quando couber. É preciso ter emconta que o sacrifício sanitário, quan-do adotado em pequenas proprieda-des, causa além do impacto econômi-co, um problema psicológico devidoao carinho e vínculo existente entreo homem e seus animais, sendo esses

animais designados por nomes. Assim,as ações sanitárias governamentaisdevem ser direcionadas prioritaria-mente a este segmento, para “evitar aocorrência de doenças” e, conscien-tizá-los da necessidade e importânciada atuação emergencial, no caso deocorrência de focos.

Para efetiva atuação, torna-se im-prescindível o estabelecimento de “uni-dades locais” de Defesa Sanitária, daqual deve constar uma equipe com par-ticipação de patologistas ao lado dosepidemiologistas, coordenando os tra-balhos de diagnóstico dos problemasocorrentes no campo, buscando sua so-lução e indicando as pesquisas, quan-do necessárias.

Sugere-se, como forma de obter aparticipação dos pequenos produto-res e dos assentados nas ações dosprogramas de saúde animal, como o

da febre aftosa, que além da prontaresposta e orientação dos problemasde seu interesse local, sejam realiza-das políticas conjuntas e articuladascom os programas de apoio ao peque-no produtor, como o PRONAF-Programa Nacional de AgriculturaFamiliar, (crédito diferenciado) ouprogramas de apoio às agroindústriasfamiliares semelhantes ao PROVE -Programa de Verticalização daProdução (dirigido aos excluídos),que teriam como um dos pilares desua implantação a orientação, preco-nização e exigências de adoção dasmedidas sanitárias recomendadas, taiscomo a realização das vacinações outestes de diagnóstico, até a notificaçãorápida de qualquer suspeita de doen-ça em seus animais. Com este proce-dimento é possível obter a proteçãodo capital desses produtores, repre-

Figura 2 – Demandas de Ações Sanitárias de acordo com o Estrato Social

Page 21: Revista CFMV n26

19

SAÚDE ANIMAL

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

sentada por seus animais de criação,a manutenção da situação sanitária daregião e do país e, se contribuirá pa-ra o desenvolvimento regional.

A prioridade federal ao desenvolvi-mento regional é imprescindível para aredução das desigualdades sociais oraexistentes, responsáveis pela constan-te migração e problemas ocasionadosnas grandes cidades.

É preciso que o estado assuma suaresponsabilidade social, seu compro-misso com o interesse público, nabusca da melhoria nas condições devida dos cidadãos, em substituição às

políticas comprometidas com o clien-telismo. Esses processos podem serobtidos com a criação de mecanis-mos de participação da sociedade nosprogramas oficiais. A sociedade deveser estimulada a elaborar diagnósticoscríticos, formulação de propostas eparticipação nas políticas públicas,não como coadjuvantes, mas comoatores principais. Desta forma, pode-se mudar a política centralizadora dogoverno federal, por outra resultantede propostas locais envolvendo a co-munidade.

As restrições ou barreiras inter-

nacionais definem as prioridades go-vernamentais de combate a determi-nadas doenças em detrimento de ou-tras de fundamental importância pa-ra a economia local. É preciso am-pliar o atendimento às demandas lo-cais, porém a importância das expor-tações brasileiras não pode ser des-cartada, e apoiar os setores econômi-cos com ela envolvidos é uma priori-dade de todos os segmentos da so-ciedade, pois os ingressos obtidos daexportação é que permitem o desen-volvimento de outras ações impres-cindíveis para o País.

ALMEIDA FILHO, N. Uma breve história da epidemiolo-gia. In: Rouquayrol, M. Z. & Almeida Filho,Epidemiologia & Saúde, 5ª Ed. p. 1-13, Rio de Janeiro:MEDSI, 1999.

BEHM, H. Sócio Economic determinants of mortality in LatinAmérica. Apresentado na Reunião da ONU/ OMS sobre“Economic and Social Determinants of Mortality and itsConsequences”; México, 1979. In: LAURELL, AsaCristina. A saúde - doença como processo social. RevistaLatino Americana de Salud, México, p. 7-25, 1982.

BUARQUE, C. Admirável Mundo Atual. Dicionário pes-soal dos horrores e esperanças do mundo globaliza-do.São Paulo: Geração Editorial, 2001.

CONTRERAS, R L. Evolução histórica do pensamento so-bre a dicotomia saúde doença. Caderno Técnico deVeterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, n. 31, p. 7-20,2000.

HADDAD, P. (Organizador). A competitividade do agro-negócio e o desenvolvimento regional no Brasil:Estudos de clusters.Brasília: CNPq/ Embrapa, 1999.

LAURELL, A C. A saúde - doença como processo social.Revista Latino americana de Salud, México, p. 7-25,1982,

LEAVEL,H.R., CLARK,E.G. Medicina preventiva. SãoPaulo: MacGraw-Hill, FENAME, 1976. 744p.

LYRA, T. M. P. A globalização de mercados e a dissemina-ção de doenças: O caso da vaca louca ( encefalopatia es-pongiforme bovina), Monografia, Vigilância Sanitária,118p. Brasília, Universidade de Brasília, UNB, 2001

LYRA, T. M. P. Barreiras sanitárias ao comércio O caso davaca louca. A Hora Veterinária, Ano 20, nº 120, mar-ço/ abril, 2001 b.

MARX, K.”Discurso pronunciado na festa de aniversário doPeople´s Paper, 19 abril de 1856, reproduzido por KarlMarx e Friederich Engels, Textos, São Paulo; EdiçõesSociais, vol III, 1977. In: MIRANDA, Z. B. Ambiente,Desenvolvimento e Saúde, Revista CFMV, Brasília,Ano VI, nº 21, set/out/nov/dez, 2000.

MENDES, E. V. III. O paradigma da Medicina Científica.In: A evolução histórica da prática médica; suas impli-cações no ensino, na pesquisa e na tecnologia médica.Belo Horizonte: PUC - MV/FINEP. P.27-44, 1984.

MENDES. E. V. IV. O paradigma da Medicina Comunitária.In: A evolução histórica da prática médica; suas impli-cações no ensino, na pesquisa e na tecnologia médica.Belo Horizonte: PUC -MV/FINEP. P. 45-63, 1984, b.

REFER^ENCIA BIBLIOGRAFICA

Page 22: Revista CFMV n26

20

SAÚDE ANIMAL

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

MIRANDA, Z B. Ambiente Desenvolvimento e Saúde,Revista CFMV, Brasília, Ano VI, nº 21, set/ out/ nov/dez, 2000.

PESSOA, S. Ensaios médico - sociais. São Paulo. CEBES- HUCITEC, 1978.

ROSENBERG, F, J. Estrutura social y epidemiologia vete-rinária en América Latina. Boletim CentroPanamericano Fiebre Aftosa 52: 3-23, 1986.

ROSENBERG, F. J e OLASCOAGA, R. C. Ciências vete-rinárias y sociedad: reflexiones sobre el paradigma pro-fesional. Educación Médica Salud, OPS, Vol. 25, nº3, p- 333-345, 1991.

SACHS, I. Estratégia de transição para o século XXI.Desenvolvimento e Meio Ambiente, Curitiba UF - PR /GRLD 1: 47-62, 1994. In: Z. B. MIRANDA. AmbienteDesenvolvimento e Saúde, Revista CFMV, Brasília,Ano VI, nº 21, set/out/nov/dez, 2000.

SACHS, I. In: BUARQUE, C. Admirável Mundo Atual:Dicionário pessoal dos horrores e esperanças do mun-do globalizado.São Paulo: Geração Editorial, p. 110,2001.

TORRES, J. G. R. Epidemiologia das zoonoses: importân-cia em saúde pública.Revista Brasileira de MedicinaVeterinária, vol.19, N. º 5- setembro/ outubro, Informetécnico, p-185-167, 1997.

Page 23: Revista CFMV n26

21

INSPEÇÃO SANITÁRIA ANIMAL

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

I – IntroduçãoApesar dos grandes progressos cien-

tíficos no campo da Saúde Pública comvista à proteção do homem contra en-fermidades transmissíveis de naturezainfecciosa e parasitária, bem como, osesforços governamentais de diversospaíses para erradicá-las, a realidade éque essas patologias continuam figu-rando com elevada prevalência em vá-rias espécies animais das quais depen-de o homem para sua alimentação enutrição.

Entre essas enfermidades figuramde forma predominante aquelas que sãocomuns aos homens e aos animais, asquais representam importantes fontesde infecção para o homem, seja pelaingestão da matéria prima e seus deri-vados ou por contato direto ou indireto.

A Organização Mundial de Saúdedefine “Saúde”, como estado de com-pleto bem estar físico, mental e sociale não somente a ausência de enfermi-dade e invalidez.

Existe, portanto, na atualidade, umconceito com dimensão totalizadoraque considera a saúde como um doscomponentes de bem estar de cada co-munidade, ou seja, a expressão de umdeterminado nível de qualidade de vi-da, ultrapassando os limites de enfermi-dade - não enfermidade.

A natureza dos problemas de saúdenão variam com o transcorrer do tem-po, variando somente a forma como seapresentam nas distintas sociedades eambientes, porque os fenômenos quecondicionam a saúde são biofísicos esociais.

Inspeção de produtos de origem animal

Zander Barreto MirandaMédico Veterinário, CRMV-RJ Nº 1807,PhD, Professor Adjunto da Falculdade deVeterinária da Universidade FederalFluminense - Nitoroi-RJ, Presidente daComissão de Saúde Publica e Tesoureiro doCFMV.

Page 24: Revista CFMV n26

22

INSPEÇÃO SANITÁRIA ANIMAL

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

A comparação da situação de saúdeno mundo, considerando os países de-senvolvidos e em desenvolvimento,permite comprovar que nas áreas maisadiantadas as populações, por se en-contrarem em melhores condições só-cio-econômicas, alcançam um nível desaúde mais elevado, ou pelo menos,não padecem os efeitos de condiçõessanitárias abaixo dos indicadores desaúde, considerados aceitáveis.

Nos países desenvolvidos a meta-de dos falecimentos écausada pelas doençascardiovasculares, umaquinta parte pelo câncer,uma décima parte pelosacidentes.

Nos países em desen-volvimento, além do au-mento de ocorrência demortes por estas mesmascausas, continuam sendoas mais importantes asdoenças carenciais, infec-ciosas e parasitárias,transmitidas pela conta-minação da água, solo, alimentos, inse-tos e vetores.

Neste contexto, o controle higiêni-co, sanitário e tecnológico, constitui-se em fator preponderante para evolu-ção técnica e social da indústria ali-mentar.

Sua importância abrange, por con-seguinte, certíssimas questões de na-tureza social, econômica, política e desaúde pública, chegando mesmo a re-presentar assunto de segurança nacio-nal pela significância dos alimentos nointricado mundo atual.

Apesar dos grandes progressos dasciências e das tecnologias na área dasaúde, com objetivo à proteção do ho-mem contra as enfermidades infeccio-sas e parasitárias, alinhados ao esforçodos profissionais da Saúde para con-trolá-las, ou erradicá-las, estas enfer-

midades, ainda continuam figurandonas estatísticas dos Países com elevadamorbidade, estando representadas comcerca de um terço do total das doençasregistradas nos países da AméricaLatina e do Caribe.

Entre as enfermidades infecciosase parasitárias, figuram de maneira pre-dominante as que são comuns ao ho-mem e aos animais.

As zoonoses, na atualidade consti-tuem os riscos mais freqüentes e mais

temíveis as quais a huma-nidade está exposta e rela-ciona-se neste contextomais de 250 doenças.

A demanda cada vezmaior de alimentos de ori-gem animal, provocandoimplicitamente o incre-mento das indústrias zoo-técnicas, através, princi-palmente, dos alimentossubstanciais dos rebanhos,constitui fator decisivopara aumentar os riscosde exposição as zoonoses.

Nos países em desenvolvimento acanalização de recursos está dirigidaem sua maior parcela para assistênciamédica, resultando em inversões mí-nimas para a medicina preventiva.

A ocorrência de doença na popula-ção acarreta a baixa produção de bense serviços, com a conseqüente reduçãode salários.

O baixo poder aquisitivo da popula-ção conduz a padrões deficientes dealimentação e moradia inadequada e adiminuição do nível de educação.

Este é o ciclo vicioso chamado“Ciclo Econômico da Doença”, fecha-se o ciclo com ocorrência de maisdoenças diminuindo ainda mais o po-tencial de trabalho da população(Gérmano, 1982).

As zoonoses são classificadas, se-gundo SCHWABE, em Diretas,

Ciclozoonoses e Metazoonoses; sendoas vias de transmissão em direta e indi-reta, sendo esta última transmitida atra-vés dos alimentos, secreções, fômites eartrópodes.

Enquadra-se no conceito didáticode zoonoses, um sem número significa-tivo de moléstias e agravos à integrida-de do homem, cujo volume tem cresci-do nos últimos tempos, à medida que oconhecimento científico avança.

Nos caso particular, em que estãoenvolvidos os animais e seus produ-tos, podemos destacar a Tuberculose,Cisticercose, Carbúnculo hemático,Listeriose, Estreptococose, Mormo,Yersinose, Intoxicações estafilocócica,Intoxicações alimentares clostridiana,Salmoneloses, entre outras.

As estatísticas mundiais nos dãoconta da grande importância das zoo-noses; seus agravos não se prendemsomente aos aspectos sociais, danosprovocados à economia de alguns paí-ses, especialmente os em desenvolvi-mento, onde a incidência é muito ex-pressiva, através da incapacitação físi-ca e ou mental em indivíduos em ida-de produtiva, é o aspecto econômicoque deve ser considerado na discus-são da matéria.

Apenas para ilustrar, a estimativada Organização Mundial de Saúde, aneuro-cisticercose (NCC) é responsávelpor 50.000 óbitos/ano, e também por ci-fra indeterminada, mas certamente mui-to maior, de indivíduos que sobrevi-vem apresentando grandes complica-ções ou seqüelas neurológicas.Segundo, TAKAYANAGUI, no Brasil,a NCC é endêmica principalmente nosEstados de São Paulo, Minas Gerais,Paraná e Goiás. Entretanto, os dadosepidemiológicos disponíveis são ba-seados fundamentalmente no levanta-mento de casos de serviços especializa-dos de neurologia, neurocirurgia ou detomografia computadorizada, não re-

Nos países em desenvolvimento acanalização de recursos está dirigida em suamaior parcela paraassistência médica, resultando em inversões mínimaspara a medicinapreventiva.

Page 25: Revista CFMV n26

23

fletindo a verdadeira prevalência po-pulacional.

Abate Clandestino e as Políticas deSaúde

O Brasil possui situação privilegia-da no cenário da bovinocultura, apre-sentando-se como detentor do maiorrebanho comercial do mundo, possuin-do todas as condições para o setor dasindústrias de carnes e derivados alcan-çar uma maior participação no merca-do internacional.

Porém, no cenário que deveria serpropício ao pleno desenvolvimento,encontramos alguns entraves que de-vem ser objeto de planejamento e açõespara sua solução, dentre elas pontua-mos: à existência de abates clandesti-nos, o contraste entre frigoríficos que semodernizam e os que se mantêm ab-solutos, ocorrência de epizotias, quesão fatores que interferem na consoli-dação do setor de carnes e derivadosno mercado interno e externo.

Estudos sobre a matéria foram rea-lizados pelo Conselho Regional deMedicina Veterinária do Estado do Riode Janeiro, em 1987 e registrou um per-centual de 68,27% do abate sem ins-peção veterinária no Estado.

Segundo ALVES (2001), apud FI-LHO, F et alii (1998), o abate clandes-tino é aquele que ocorre sem inspeçãosanitária e sem pagamento de impos-tos. Reportou ainda, a autora, que se-gundo MACHADO (2001), estima-seque cerca de 45% dos abates brasileirosnão são assistidos por nenhum serviçode inspeção federal ou estadual.

O Presidente da Federação deAgricultura do Estado do Rio Grandedo Sul, em entrevista a RevistaNacional de Carnes nº 291, de maio de2001, caracterizou que o motivo para aexistência do abate clandestino noBrasil é a estrutura tributária do país, e

que enquanto não houver uma refor-ma tributária existirá o abate clandes-tino.

Conforme afirmou MÜLLER,(1997), ao comparar produção do aba-te de gado com a produção de couros,revelou-se a existência de uma dispari-dade de quase 70%. Afirma ainda queestudo realizado por PESSANHA(1988) demonstrou que as defasagensestatísticas deviam-se à deficiência ca-dastral; a sonegação de informações eao abate clandestino.

A Revista da Carne (CRNC), repor-tou em seu número 201, de 1993, quede acordo com números oficiais, o aba-te de bovinos\anos correspondeu a l4milhões de cabeças, e que estes núme-ros segundo produtores podem seracrescidos de até 80% devido ao aba-te clandestino.

Na edição de número 230, de 1996,a RNC caracterizou: “Revista Nacionalda Carne há 20 anos denunciando a ile-galidade”. Ressalta o artigo, que é es-tarrecedora a situação da carne ilegalconsumida por cerca de60% da população bra-sileira, veiculando doen-ças de conseqüências ter-ríveis que já fora focali-zado na RNC por analis-tas de renome, como osMédicos VeterináriosVasco Pichi, Pedro E. deFelicio e José CezarPanetta, sob os aspectossanitários, legais, políti-cos e científicos, suge-rindo soluções que as au-toridades prometeramadotar.

A Folha de São Paulo de 31 de mar-ço de 1996, noticiou sobre a carne clan-destina retratando com muita proprie-dade a situação naquele momento noEstado de São Paulo.

Em sua reportagem a Folha discor-

re sobre a situação do abate clandesti-no no Estado, demonstrando à realida-de da situação. Refere-se a reportagem:“Uma nuvem de moscas sobrevoa oanimal logo que começa a esfola. Umahora e meia depois, o bicho está dividi-do em quartos traseiros e dianteiros,pronto para ir ao açougue. A distribui-ção tem de ser feita a jato. Não há fri-gorificação e a carne pode começar adeteriorar. Cerca de 60% da carne bo-vina consumida no Estado de São Paulopassa por esse ritual medieval. Não háinspeção sanitária - análise feita em 38pontos de boi, no mínimo, para detec-tar doenças que podem ser transmitidasao homem”. Segundo a reportagem, aDelegacia do Ministério da Agriculturaem São Paulo estimou, que no país amédia de carne “fora da lei” é um pou-co menor, em torno de 50%. A cisticer-cose principal doença do gado em SãoPaulo, atingiu 110.105 reses em 1995,representando 4,18% dos que passa-ram pelo Serviço de Inspeção Federal.No presente artigo da Folha, o eminen-

te Professor José Chris-tovam Santos, explicitouque a situação da carne évergonhosa, porque oBrasil já teve um serviçode Inspeção de PrimeiroMundo. Pontua ainda, “sea população soubesse oque está comendo ficariaestarrecida (RNC, 1996), eque a solução para a ques-tão da carne clandestina,não passa pela construçãode matadouros municipais,não devendo ser encarada

com uma solução política. A soluçãoque permitiria essa escala em carátereconômico é a regionalização dos aba-tes”, RNC (1996).

É altamente preocupante o quadrode clandestinidade que hoje se dese-nha, atingindo elevados percentuais co-

INSPEÇÃO SANITÁRIA ANIMAL

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

É altamente preocupante oquadro de clan-destinidade quehoje se desenha,atingindo elevadospercentuais como as própriasautoridades federais odeclaram.

Page 26: Revista CFMV n26

24

RETRANCAINSPEÇÃO SANITÁRIA ANIMAL

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

mo as próprias autoridades federais odeclaram, acarretando sério gravameà saúde pública e gravíssimos danos àindústria idônea e organizada.

Vale ressaltar que as principais causasdo abate clandestino estão diretamenteligadas à disponibilidade local de gru-pos de animais (geralmente animais dedescarte); sonegação de taxas e impostos;baixo investimento nas instalações e bai-xo custo de operação; deficiência da fis-calização (número reduzido de profis-sionais); facilidade de colocação do pro-duto no mercado varejista local, desinfor-mação do consumidor; falta de puniçãorígida aos infratores e o poder sócio-eco-nômico e político da carne.

Aplicação da LEI

A Lei nº 1.283, de 18.12.50, estabe-lece a obrigatoriedade da fiscalizaçãosob o ponto de vista industrial e sanitá-ria, de todos os produtos de origem ani-mal, comestíveis e não comestíveis,preparados, transformados, manipula-dos, recebidos, aconcidionados, depo-sitados e em trânsito.

Por sua vez, a Lei nº 5.517, de23.10.68, regulamentada pelo Decretonº 64.704, de 17.06.69, que dispõe so-bre o exercício da profissão de MédicoVeterinário, atribuindo a este profis-sional (art. 5º, alínea f), o exercício li-beral ou empregatício, em caráter pri-vativo: “a inspeção e fiscalização sob oponto de vista sanitário, higiênico etecnológico dos matadouros, frigorífi-cos, fábricas de conservas de carne e depescado, fábricas de conservas de car-ne e de pescado, fábricas de banha egorduras em que se empregam produ-tos de origem animal, usinas e fábri-cas de laticínios, entrepostos de carne,leite, peixe, ovos, mel, cera e demaisderivados da indústria pecuária, e deum modo geral, quando possível, detodos os produtos de origem animalnos locais de produção, manipulação,armazenagem e comercialização”.

Está é, pois, uma tarefa típica es-pecífica e privativa do MédicoVeterinário, indelegável, sob qualquerpretexto.

Não se pode prescindir, também, natarefa da inspeção industrial e sanitáriade produtos de origem animal dos in-dispensáveis conhecimentos e expe-riência em tecnologia industrial dessesprodutos, abrangendo: pa-dronização, classificaçãoe tipificação, beneficia-mento e manipulação dasmatérias primas; compo-sição, formulação e in-dustrialização dos deriva-dos; controle de qualida-de e sanidade; controle efiscalização dos aditivosquímicos e coadjuvantesintencionais e permitidosou fraudulentos; contro-le de contaminantes, dosresíduos biológicos e ra-dioativos; controle das fraudes, pes-quisas laboratoriais, etc...

Estas são atividades que, por sua na-tureza, importância e implicações téc-nicas, específicas e inerentes as fun-ções de inspeção e controle de produtosde origem animal, não podem, comonão devem, estar afetas a profissionaisnão qualificados e desvinculados dosórgãos públicos oficiais responsáveis.

Com a promulgação da Lei nº5.760, de 3.12.1971, conhecida como“Lei da Federalização”, num curto pra-zo de tempo (1971 a 1975), desenvol-veu-se uma verdadeira revolução, en-tendido este termo como a transforma-ção radical dos conceitos tecnológicoscom profunda repercussão social, de-monstrando um nítido panorama da so-ma de benefícios sociais e econômicosque adviriam do pleno cumprimentodaquela lei e de sua regulamentação.

Em 23.11.1989, foi promulgada aLei nº 7.889, que dispõe sobre a ins-peção sanitária e industrial, em que sãoinicialmente definidos os produtos de

origem animal abrangidos, para carac-terizar os estabelecimentos onde serãoexercidos os trabalhos de inspeção efiscalização.

Quando de competência, é expres-sa a ação do órgão próprio do Mi-nistério da Agricultura, Pecuária eAbastecimento, quanto aos estabeleci-mentos de sua direta e imediata res-

ponsabilidade, restritaàqueles que fazem o co-mércio interestadual e in-ternacional.

Autoriza os estados aresponderem pelos esta-belecimentos que façamo comércio municipal eintermunicipal.

Outorga aos órgãos desaúde pública dos Esta-dos, do Distrito Federal afaculdade de exercer afiscalização em nível dadistribuição.

Complementa a lei supracitada, acompetência aos órgãos municipais pa-ra exercerem a fiscalização nos esta-belecimentos que realizarem comércioapenas dentro do Município.

No que concerne ainda a legisla-ção, a Lei nº 8.080, de 19/9/1990, co-nhecida como “Lei do SUS”, dispõesobre condições para promoção, pro-teção e recuperação da saúde, a organi-zação e o funcionamento dos serviçoscorrespondentes, tendo entre seus ob-jetivos no seu art. 5º, item VIII, a fisca-lização e a inspeção de alimentos, águae bebidas, para o consumo humano. Oart. 2º define a saúde como direito fun-damental do ser humano devendo oEstado prover as condições indispensá-veis ao seu pleno exercício.

Não se pode perder de vista asRecomendações da Food and Agricul-tural Organization (FAO), sobre insta-lações de abate, a qual pontua:

em atenção aos superiores inte-resses da saúde das populações daAmérica Latina e do Caribe, recomen-

...desenvolveu-seuma verdadeira revolução,entendido estetermo como atransformaçãoradical dosconceitostecnológicos comprofundarepercussãosocial...

Page 27: Revista CFMV n26

25

da-se aos organismos internacionais defomento e desenvolvimento e aos go-vernos locais, não estimular, em ne-nhuma hipótese, a instalação de mata-douros sem inspeção sanitária oficialdas carnes neles produzidas, nem es-timular instalações anti-tecnológicas,anti-sanitárias ou anti-econômicas;

apoio governamental para me-lhorar e reativar, quando possível, osestabelecimentos já existentes que reú-nam condições para alcançar melhoresníveis tecnológicos; estimular a cons-trução de matadouros-frigoríficos re-gionais, de capacidade e de porte eco-nômico, capazes de realizar a indus-trialização completa das condenaçõessanitárias e das matérias-primas nãocomestíveis;

estabelecer estímulos e subsí-dios oficiais em favor dos pequenosprodutores unicamente nos casos emque resultem animais condenados porcausas não atribuíveis ao produtor, asquais deverão ser devidamente com-provadas, para que o estado estabelece-ça programas de publicação e divulga-ção a este respeito;

desativação dos estabelecimen-tos irrecuperáveis, devido a falta de hi-giene e sanidade ou localização ina-propriada, com explicações à opiniãopública;

estimular a construção de entre-postos-frigoríficos que permitam a con-servação das carnes necessárias aoabastecimento de localidades que nãodisponham de matadouros próprios.

O Código Penal Brasileiro, no seuCapítulo III que versa sobre crimescontra a Saúde Pública, estabelece emseus artigos 272 à 279 pena para alte-ração de substância alimentícia ou me-dicinal, emprego de processo proibidoou de substância não permitida, infra-ção de medicina sanitária preventiva(infligir determinação do poder públi-co a impedir ou propagação de doençascontagiosas), corrupção, adulteraçãoou falsificação de substância alimen-

tícia ou medicinal, invólucro ou reci-piente com falsa indicação, substânciadestinada a falsificação.

A Lei nº 9.712, de 20/11/98, conhe-cida como a “Lei do SUS Agropecuá-rio”, que altera a Lei 8.171, 17/01/91,estabelece em seu art. 27º, os objeti-vos da defesa agropecuária asseguramem seu item IV, a identidade e a segu-rança higiênico-sanitário e tecnológicados produtos agropecuários finais des-tinados aos consumidores..., estabele-ce ainda em seu parágrafo 1º “Na bus-ca do atingimento dos objetivos referi-dos no caput, o Poder Público desen-volverá permanentemente, as seguin-tes atividades:.. item IV - Classificaçãode produtos de origem animal, seus de-rivados subprodutos e resíduos de va-lor econômico.

Busca a lei supracitada em seu art.27, à promoção da saúde; ações de vi-gilância e defesa sanitária dos animaise dos vegetais serão organizados soba coordenação do Poder Público nasvárias instâncias federativas e no âmbi-to de sua competência, em um SistemaUnificado de Atenção à SanidadeAgropecuária, articulado, no que foratinente à saúde pública, com o SistemaÚnico de Saúde de que trata a Lei nº8.080, de 19/09/90, do qual participa-rão, serviços e instituições oficiais; ór-gãos de fiscalização das categorias pro-fissionais diretamente veiculados a sa-nidade agropecuária... (grifo nosso).

Estabelece ainda no art. 2º, item IV,a área municipal será considerada uni-dade geográfica para organização e ofuncionamento dos serviços oficiais desanidade agropecuária. Complementano art. 29º-A. A inspeção industrial esanitária de produtos de origem vege-tal e animal, bem como a dos insumosagropecuários, será gerida de maneiraque os procedimentos e a organizaçãose faça por métodos universalizados eaplicados equitativamente em todos osestabelecimentos inspecionados. (gri-fo nosso). No parágrafo 2º, como par-

te do Sistema Unificado de Atenção aSanidade Agropecuária, serão consti-tuídos um sistema brasileiro de inspe-ção de produtos de origem animal, bemcomo sistemas específicos de inspeçãopara insumos usados na agropecuária.

Um dos grandes avanços na área,com base na Constituição Federal, foia promulgação do Código de Defesado Consumidor, Lei 8.078, de 11/9/90;constituindo como direitos básicos doconsumidor a proteção da vida, saúdee segurança contra riscos provocadospor práticas no fornecimento de pro-dutos e serviços considerados perigososou nocivos (grifo nosso).

Um arcabouço Jurídico tão amplo éum estímulo aos usuários, aos profissio-nais da área, as entidades, as organi-zações populares para um trabalho in-tegrado objetivando o cumprimentodas leis de proteção à vida.

Entendemos a real necessidade dotrabalho em conjunto para que pos-samos suplantar as dificuldades e de-ficiências do Sistema; uma vez quetemos compromisso com a saúde co-letiva; como atores do sistema inte-grado, médicos veterinários e zootec-nistas, responsáveis pela qualidadede vida do cidadão brasileiro. Urge,portanto, definir a posição do nívelfederal, como planejador, coordena-dor e auditor do sistema, a responsa-bilidade de estados e municípios, co-mo integrantes do mesmo sistema enão autônomos; o interesse governa-mental pelo sistema; a política brasi-leira de proteção aos alimentos; a hie-rarquia da legislação e dos regulamen-tos que regem o sistema, a fim de evi-tar conflitos e ineficiência; a respon-sabilidade do segmento produtor e daindústria pelo controle da qualidadedos alimentos; a necessidade de in-formações científicas e tecnológicaspara a evolução do sistema; a valida-de econômica e social da saúde pú-blica do sistema, no sentido epide-miológico mais amplo.

INSPEÇÃO SANITÁRIA ANIMAL

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Page 28: Revista CFMV n26

26

INSPEÇÃO SANITÁRIA ANIMAL

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

ALVES, D. A. As dificuldades na Inspeção de frigoríficosbrasileiros no mercado internacional: Um estudo sobrecomercialização da carne bovina “in natura”. RevistaNacional da Carne. Ano XXV, nº 291, maio 2001, p. 96-114.

PICCHI, V. Situação dos abatedouros-frigoríficos no Brasil-Central. Revista Nacional da Carne. ANO XXIII, nº263, janeiro 1999, p. 58-6

MULLER. G - A ganância tributária favorece o abate clan-destino. Revista Nacional da Carnes. ANO XXI, nº240, fevereiro 1997, p. 6-10

Impeto, Imprensa diária dramatiza nossa “Síndrome doFrigomato”. Revista Nacional da Carne. ANO XX, nº230, abril 1996, p. 100-105.

BRASIL. Ministério da Agricultura - Regulamento daInspeção Industrial e Sanitária de Produtos de OrigemAnimal. RIISPOA. Brasília-DF. 1980. 116p.

RODRIGUES, R. R. “Acabar com a matança clandestina émeta prioritária. Revista Nacional da Carne. ANOXVIII, nº 200, outubro 1993, p.3-5.

Pecuaristas: “Abate Clandestino e Alarmante”. RevistaNacional da Carne. ANO XVIII, nº 201, novembro1993, p. 10

GERMANO, P.M.L. Zoonoses e Saúde Pública. HigieneAlimentar. Vol. 1. Nº 2, agosto 1982, p. 73-79.

CHIMELLI, L; LOVALHO, A. F. & TAKAYANAGUI. O.M. Neurocisticercose: Contribuição da Necropsia naconsolidação da notificação compulsória em RibeirãoPreto. Arquivos de Neuro Psiquiatria. v. 56. 1998, p.578-584.

BRASIL. Conselho Regional de Medicina Veterinária.Portaria nº 02, de 22 de abril de 1987.

BRASIL. Decreto nº 94.554, de 7 de julho de 1987. Dispõesobre estímulos à construção e reaparelhamento de pe-quenos e médios matadouros e a sua fiscalização. DiárioOficial (da República Federativa do Brasil), Brasília-DF, de 8 de julho de 1987.

BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõesobre as condições para promoção, proteção e recupera-ção de Saúde, e organização e o funcionamento dos ser-viços correspondentes e dá outras providências.

BRASIL. Lei nº 9.712, de 20 de novembro de 1998. Alteraa Lei nº 8.171, de 17 de janeiro de 1991, acrescentando-lhe dispositivos referentes à Defesa Agropecuária. DiárioOficial (da República Federativa do Brasil). Brasília-DF, de 21 de novembro de 1998.

BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõesobre a proteção do consumidor e dá outras providências.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

Page 29: Revista CFMV n26

CONSELHO FEDERAL DEMEDICINA VETERINÁRIA

SCS - Quadra 1 - Bloco “E” nº 30 - Ed. Ceará 14º andar

Brasília (DF) - Cep: 70303-900Fone: (61) 322 7708 Fax: (61) 226 1326www.cfmv.org.br

[email protected]

CONSELHO EDITORIAL

Benedito Fortes de Arruda

Alberto Neves Costa

José Euclides Vieira Severo

Zander Barreto Miranda

COMITÊ CIENTÍFICO

Elisabeth GonzalesPresidente

Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia UNESP - Botucatu

Said Pereira MundimEscola de Veterinária

UFG

Aurino Alves SimplícioEmbrapa Caprinos

Rômulo José Vieira Departamento de Clínica Veterinária

UFPI

Carlos Wilson Gomes LopesInstituto de Veterinária

UFRRJ

Márcio Ricardo Costa dos SantosFaculdade de Veterinária

UFF

Nilo Sergio Troncoso ChavesEscola de Veterinária

UFG

37

44

57

28

Revista CFMV – Brasília/DF –Ano VIII - Nº 26

Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Mortalidade embrionária em bovinos:Inter-relações embrião-patógenos

Tiago Luiz KunzMaria Lúcia Gambarini

Benedito Dias de Oliveira FilhoAngelita Dias Silva Galindo

Vaccínia - Varíola Bovina e Pseudovaríola Rudi Weiblen

Patologia dos peixesGlênio Cavalcanti de Barros

Emiko Shinozaki MendesFernando Leandro dos Santos

Afecções do sistema respiratório relacionados a performance do cavalo atleta

Gustavo Ferrer Carneiro

Page 30: Revista CFMV n26

28 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Mortalidade embrionária em bovinos: Inter-relações embrião-patógenos

Tiago Luiz Kunz Médico Veterinário, CRMV-GO nº 2653,Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária da Escola de Veterinária daUniversidade Federal de Goiás – Nível de Mestrado – Área de concentração: SanidadeAnimal. Coordenação de Pós-graduaçãoMaria Lúcia Gambarini Médica Veterinária – CRMV-GO nº 2373, Professora do Departamento de ProduçãoAnimal da Escola de Veterinária da UFG – Goiânia – GO;Benedito Dias de Oliveira FilhoMédico Veterinário – CRMV-GO nº 0438, Professora do Departamento de ProduçãoAnimal da Escola de Veterinária da UFG – Goiânia – GOAngelita Dias Silva Galindo,Médica Veterinária – CRMV-AL nº , Ministério da Agricultura – Maceió – AL

1. INTRODUÇÃO

A mortalidade pré-natal (mortali-dade embrionária e fetal) é uma dasmais importantes causas de perdas re-produtivas em animais domésticos etem impacto significativo na rentabi-lidade de qualquer sistema de produçãoanimal.

A maioria dessas perdas aconteceno período embrionário da gestação,que se estende desde a fertilização atéque se conclua a fase de diferenciação,ou seja, pode-se dizer que o embriãopassa a ser definido como feto quandoa mineralização do tecido ósseo se ini-cia. Além disso, a maioria das perdasembrionárias ocorre durante os primei-ros dias após a fertilização e durante oprocesso de implantação, que em vacasse inicia por volta dos 21-22 dias degestação (Wathes, 1992, Gandolfi,1992, Guillomot, 1995), podendo serestimada em torno de 20 a 40%(López-Gatius et al., 1996, Hanzen etal., 1999, conforme citação de Van-roose, Kruif, Van Soom, 2000).

A etiologia da mortalidade embrio-nária pode ser muito variada, incluin-do causas infecciosas e não infecciosas.Embora Christianson (1992) tenha afir-mado que as causas não infecciosas re-presentem 70% ou mais dos casos, fre-qüentemente os exames são direciona-dos para a pesquisa de agentes infeccio-sos, mesmo porque as causas não infec-ciosas de mortalidade embrionária sãomultifatoriais, o que dificulta muito odiagnóstico.

A mortalidade embrionária tem umimpacto significativo na fertilidade dosanimais domésticos. Causas infecciosassão, talvez, super estimadas, mas cer-tamente importantes em situações epi-dêmicas. Infecções podem causar mor-

A mortalidade embrionária e a mortalidade fetal têm um grande impacto na rentabilidadede qualquer sistema de produção animal. Na maioria dos casos, a morte embrionáriaacontece nos primeiros dias após a fertilização e durante o processo de implantação doembrião. As causas da mortalidade embrionária podem ser divididas em infecciosas enão infecciosas. Geralmente damos mais atenção às causas infecciosas, mas a origem nãoinfecciosa pode responder provavelmente por 70% ou mais dos casos de perdas embrio-nárias. Infecções no ambiente embrionário (útero e oviduto) podem ser causadas por umasérie de patógenos específicos ou não. Infecções uterinas específicas são causadas porum grande número de agentes, incluindo vírus, bactérias e protozoários, que chegam aoútero tanto pela via hematógena como vaginal. Na maioria das vezes, agentes não espe-cíficos são bactérias que entram no útero via ascendente. Os patógenos uterinos podemcausar morte embrionária por efeito direto sobre o embrião ou por provocar mudanças noambiente uterino, como é o caso das endometrites. As causas não infecciosas de morteembrionária precoce, como aberrações cromossômicas, originadas no momento da uniãodos cromossomos sexuais, fatores externos, como altas temperaturas ambientais, fatoresnutricionais, como deficiência de nutrientes específicos e fatores maternos, como idade edesequilíbrios hormonais, são multifatoriais e tornam o diagnóstico da morte embrionáriamuito difícil, necessitando de grande atenção dos Médicos Veterinários.

Palavras-chave: Morte embrionária, bovinos, BHV-1, micoplasmoses.

Embrionic nortality in cattle: Relationship embryo-pathogens

The impact of embryonic loss and fetal mortality in the profitability of production systemsis high. The embryonic death happens during the first days after fertilization or duringthe embryo implantation process. The embryonic loss causes can be divided in infec-tious and non-infectious problems. Probably the non-infectious causes stands for 70%or more of the embryonic loss cases. Infections in the embryonic environment (uterusand oviduct) can be caused by specific pathogens or not. The agents of the uterine in-fections can be virus, bacteria and protozoons, that arrive at the uterus through theblood or the vagina. Non-specific agents are bacteria, that enter in the uterus by ascen-ding way. Uterine pathogens can cause embryonic death because of their direct effecton the embryo or because of changes in the uterus environment. The causes of late embr-yonic loss are multifactorial, they can be due chromosomal aberrations, during the sin-gamy, high environmental temperatures, nutritional factors, age and hormonal imbalan-ces of the mother, in this case the diagnosis is very difficult.

Key words: Embryonic death, cattle, BHV-1, mycoplasmosis.

ABSTRACT

RESUMO

Page 31: Revista CFMV n26

29Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

talidade embrionária mudando o am-biente uterino, por inflamação do endo-métrio, por efeito direto no embrião eatravés de efeitos sistêmicos (febre eluteólise). Causas não infecciosas sãomuito comuns em situações endêmi-cas. Um dos maiores problemas é queas causas de perda embrionária são fre-qüentemente difíceis de averiguar.Porém, a compreensão acerca das inte-rações entre o embrião e os patógenosé importante para o diagnóstico de mor-te embrionária e para a determinaçãocorreta da fase de gestação na qual aperda acontece. Em ambos os casos, énecessário o desenvolvimento de medi-das preventivas.

Esta revisão tem por objetivo estu-dar as causas de mortalidade embrioná-ria em animais domésticos, como ci-tadas na literatura especializada, comatenção especial às interações entre oembrião e o patógeno presente.

2. Embrião: definição

A palavra embrião define os indiví-duos desde a fertilização até que a or-ganogênese esteja completa. Na em-briologia animal, usa-se este termo pa-ra definir o produto resultante da ferti-lização do óvulo pelo espermatozóide,até cerca de 45º dia de vida, quandoesta estrutura passa a ser denominadafeto, momento em que termina a fasede organogênese e inicia-se o períodode crescimento. Durante a fase de em-brião as estruturas sofrem múltiplas di-visões celulares e são transportadasdesde o oviduto, local onde ocorreu afertilização, até o útero, onde, depen-dendo da espécie animal, irão estabele-cer diferentes tipos de contato com asestruturas maternas, favorecendo o de-senvolvimento dos envoltórios fetais edas unidades placentárias (junção docórion com o endométrio) (Zerobin,1987). Em se tratando da técnica detransferência de embriões, o termo em-brião se refere ao indivíduo com seis a

oito dias de vida que é colhido do úte-ro para ser transferido a uma outra fê-mea, chamada de receptora.

Na Tabela 1 estão detalhados o pe-ríodo da implantação de embriões emdiferentes espécies animais, com esti-mativas da ocorrência de mortalidadeembrionária.

3. Causas infecciosas damortalidade embrionária

A literatura especializada mostraque infecções por microrganismos taiscomo vírus, bactérias e protozoáriospodem resultar em mortalidade em-brionária, diretamente, afetando o em-brião ou contaminando seu ambiente,ou indiretamente, por efeitos sistêmi-cos, via septicemias, viremias ou to-xemias.

Para Christianson (1992), a morta-lidade embrionária causada por patóge-nos sistêmicos geralmente está relacio-nada com hipertermia durante a infec-ção. Elevadas temperaturas corporais,nos primeiros estágios de gestação, po-dem conduzir à morte embrionária pre-coce, ou seja, aquela que ocorre antesdo reconhecimento materno da pre-nhez, como resultado da desnaturaçãodas proteínas embrionárias, e tambémda elevação dos níveis de prostaglandi-nas presente nos estados febris, cau-sando luteólise e perda subseqüente daprenhez. Além disso, a condição de es-

tresse, presente quando um animalapresenta-se febril, pode conduzir indi-retamente à perda da prenhez pela ele-vação na concentração de hormôniosesteróides, e por uma resposta imuneinsuficiente do organismo aos agentesinfecciosos. A infecção direta no am-biente do oviduto ou do útero, assimcomo no embrião também pode levar àmortalidade embrionária.

3.1. Infecção do oviduto eútero

Em geral, a infecção do ambienteocupado pelo embrião, ou seja, o ovi-duto, durante o período inicial de cliva-gem e posteriormente o útero, pode sercausada por patógenos uterinos especí-ficos ou inespecíficos. Infecções ute-rinas específicas podem ser causadaspor um grande número de vírus, bacté-rias e protozoários. Estes patógenospodem chegar ao útero via hematóge-na (como na infecção por Toxoplasmagondii) ou via vaginal, através da mon-ta natural (Campylobacter fetus) ou dainseminação artificial (sêmen conta-minado com o vírus da Diarréia ViralBovina). Dentre os patógenos inespe-cíficos pode-se citar principalmente asbactérias que infectam o útero via as-cendente ou através da inseminação ar-tificial e que algumas vezes podem cau-sar endometrite. A infecção e os produ-tos inflamatórios dela resultantes de-

Tabela 1. Período de implantação dos embriões dos animais domésticos em dias pósfecundação e mortalidade embrionária estimada por espécie

Espécie Implantação * Mortalidade embrionária**Bovinos 21-22 20-40Eqüinos 36-40 15-60Suínos 14 10-40Cães 16 -Cabras 18-20 10-30Ovinos 15-16 -* dias pós fecundação; ** estimada em porcentagemFonte: Gandolfi, 1992, Guillomot, 1995, López-Gatius et al. 1996, Hanzen et al., 1999, Lambert et al. 1991, Lambert et al., 1991

Page 32: Revista CFMV n26

30 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

vem ser eliminados antes da chegadado embrião ao útero (Vanroose, Kruif,Van Soom, 2000). Na Figura 1 estãorepresentadas esquematicamente as viasde infecção e o desencadeamento dosprocessos envolvidos no estabeleci-mento das endometrites.

Uma endometrite aguda, que podeocorrer após a cópula ou inseminaçãoartificial, produz um efeito direto noambiente uterino, e isto, em muitos ca-sos, é acompanhado da produção desubstâncias luteolíticas como as prosta-glandinas (De Winter et al. 1995).Infecções bacterianas no útero causam,na maioria das vezes, uma inflamaçãopurulenta difusa e severa. Infecções vi-rais geralmente se caracterizam peloaparecimento de endometrite necrosan-te, causando alterações linfocitárias eplasmocitárias difusas no endométrio.

A endometrite crônica, além de in-flamação, caracteriza-se por uma ga-ma de mudanças morfológicas e fun-cionais no útero, como a deposição decamadas de tecido fibroso ao redor dasglândulas endometriais, o que resultanuma deficiência funcional dessas glân-dulas, privando o embrião da secreçãoexócrina rica em proteína, responsávelpor sua nutrição, além de prejudicar omecanismo do reconhecimento mater-

no da prenhez (Thatcher et al., 1997,Vanroose, Kruif, Van Soom, 2000).

3.2. Infecções no embriãoAs infecções no embrião propria-

mente dito, podem acontecer em duasfases importantes do desenvolvimen-to embrionário: antes ou após a eclosão,ou seja, antes ou depois da perda dazona pelúcida.

3.2.1. Antes da eclosãoDe todos os patógenos, os vírus são

os agentes infecciosos mais insidiosose perigosos para o embrião. A infec-ção viral pode ocorrer antes da fertili-zação, até mesmo durante a maturaçãodo oócito. Vírus, como por exemplo,o Herpesvírus Bovino tipo 1 (BHV-1)e o Vírus da Diarréia Viral Bovina(BVDV), podem estar presentes no lí-quido folicular ou nas células da ca-mada granulosa dos folículos bovinos(Bielanski et al., 1993), podendo tam-bém contaminar o embrião por aderir-se à camada de glicoproteína que envol-ve o oócito, chamada zona pelúcida.

Segundo Brownlie et al. (1997), emanimais persistentemente infectados oantígeno do BVDV foi detectado den-tro do oócito. Este vírus, quando ade-rido à zona pelúcida ou ao espermato-

zóide, pode ser introduzido no interiordo oócito através do orifício aberto pe-lo espermatozóide no momento da pe-netração na zona pelúcida, durante oprocesso de fertilização (Bowen 1979,citado por Vanroose, Kruif, Van Soom,2000). A migração passiva do vírus pe-las estruturas da zona pelúcida é im-provável, porque partículas com diâ-metro de 40 a 200Bm (tamanho com-parável ao BVDV e BHV-1) permane-cem presas na camada periférica da-quela estrutura. Depois da fertilização,a zona pelúcida pode ser consideradacomo uma barreira efetiva contra a pe-netração de vírus no embrião (Vanrooseet al., 1999). Porém, nestas fases ini-ciais do desenvolvimento embrionário,a morte de um embrião que ainda pos-sui a zona pelúcida pode acontecer porcausa de um ambiente uterino hostil.

3.2.2. Depois da eclosãoOs embriões bovinos perdem a zo-

na pelúcida aos 8-9 dias. Após a perdada zona pelúcida, as células embrioná-rias são susceptíveis a vários agentes in-fecciosos (Wrathall, Sutmöller, 1998).O Herpesvírus Bovino tipo 1 (BHV-1)e o vírus da Diarréia Viral Bovina(BVDV) são os agentes virais mais fre-qüentemente envolvidos com a morta-lidade embrionária neste momento. Apartir de experimentos realizados comembriões produzidos in vivo, concluiu-se que a infecção por BHV-1 pode re-sultar em mortalidade embrionária, as-sim como a utilização de sêmen oriun-do de animais contaminados com BHV-1, em fêmeas soronegativas, pode redu-zir significativamente as taxas de con-cepção, causando, ainda, endometrite.O resultado da infecção depende daquantidade de vírus inoculada e da vi-rulência da cepa de campo. Em condi-ções de monta natural, touros elimi-nando BHV-1 no sêmen parecem nãoafetar a fertilidade do rebanho (VanOirschot, 1995). A infecção de em-briões produzidos in vitro que ainda

Figura 1. Representação esquemática das vias de infecção do útero e oviduto e suasconseqüências

Oviduto e Útero

Macanismo de Defesa Uterino

Hematógena Vaginal

Endometrite

Acúmulo de secreção

Ambiente desfavorável

Ambiente uterino saudável

Mecanismo de limpeza

Page 33: Revista CFMV n26

31Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

possuem a zona pelúcida parece nãocausar nenhum efeito no desenvolvi-mento embrionário. Contudo, a expo-sição de embriões livres da zona pelú-cida ao BHV-1 rapidamente causa amorte do embrião (Bielanski, Singh,Hare, 1987, Wrathall, Sutmöller, 1998).

Estudos recentes feitos in vivo mos-traram que infecções uterinas de origemviral podem resultar em intensa repli-cação destes nas células embrionárias,após a perda da zona pelúcida e no mo-mento da implantação. Além disso, cé-lulas que se dividem rapidamente, comoas células embrionárias, são mais sus-ceptíveis à replicação de certos vírus(Bowen, 1979, citado por Vanroose,Kruif, Van Soom, 2000). Embora o re-sultado de tal infecção possa ser citolí-tico ou não, em ambos os casos podehaver mortalidade embrionária. Já noscasos de infecção não citolítica há a pos-sibilidade de danos cromossomais queinduzem as células embrionárias a sedividirem mais lentamente, o que acon-tece durante a fase crítica da organogê-nese, que pode resultar no desenvolvi-mento de malformações congênitas.Depois da implantação, as infecçõesuterinas de origem hematógena assu-mem maior significado, visto que tantoa endometrite quanto os efeitos citolíti-cos diretos serão prejudiciais ao em-brião (Vanroose, Kruif, Van Soom,2000). Na Figura 2 são detalhados ospossíveis efeitos da infecção do BHV-1,tanto no embrião quanto no oviduto eútero, exemplificando a ação viral.

A infecção de novilhas soronegati-vas com o BVDV, resulta em baixastaxas de prenhez. Tanto a inseminaçãoartificial com sêmen contaminado comBVDV como a monta natural pode le-var a transtornos no processo de ferti-lização ou morte embrionária. A incu-bação de embriões produzidos in vivo,que ainda possuem a zona pelúcida,com o BVDV não afeta a sobrevivên-cia do embrião, mas a infecção de em-briões livres da zona pelúcida por

amostras citopáticas do vírus resultaem rápida mortalidade embrionária(Vanroose, Kruif, Van Soom, 2000).

Investigações recentes sobre as in-terações entre embriões produzidos invitro com o BHV-1 e o BVDV demons-traram que células embrionárias oriun-das de zigotos livres da zona pelúcidaeram refratárias à infecção com BHV-1 e BVDV (Vanroose et al., 1997,Vanroose et al., 1998). Por outro lado,em fases mais avançadas, como nosembriões de oito células e mórulas, li-vres da zona pelúcida, assim como nosblastocistos eclodidos, observou-se amultiplicação do BHV-1 ou do BVDV.A exposição de embriões livres de zo-na pelúcida ao BHV-1 e a uma amostracitopática do BVDV resultou em des-truição das células embrionárias. Alémdisso, ambos vírus poderiam se repro-duzir em células do oviduto, o que po-deria resultar em lise das células e eli-minação de suas funções biológicas,tais como a secreção de fatores em-briotróficos que auxiliam o desenvolvi-mento embrionário. Também foi de-monstrado que a zona pelúcida de em-briões produzidos in vitro é uma barrei-ra efetiva contra infecções virais, masos seus poros exteriores são grandes obastante para permitir a entrada doBHV-1 e BVDV nas camadas exterio-res da mesma (Vanroose et al., 1999b).

Por conseguinte, o embrião pode serinfectado quando perde a zona pelúci-da se ela estiver contaminada com umdestes vírus. A importância da zona pe-lúcida também foi demonstrada paraembriões colhidos diretamente de fê-meas bovinas (produção in vivo) (Singhet al., 1982b, Singh et al., 1982a, Potteret al. 1984, Bielanski, Hare, 1988,Gillespie et al., 1990, Stringfellow,Riddell, Zurovac, 1991, citados porVanroose, Kruif, Van Soom, 2000).

Algumas infecções bacterianas, co-mo as micoplasmoses, causadas princi-palmente por Ureaplasma diversum epor Mycoplasma bovigenitalium, alémde participarem da síndrome de vulvo-vaginite granular, também estão asso-ciados à infertilidade e à morte embrio-nária precoce. Quando estes agentescontaminam o ambiente uterino, podeocorrer a repetição de cios, regular ounão, seja por impedir a fertilização oupor provocar a morte do zigoto antes do14º dia do ciclo estral. Esta contamina-ção pode ter como conseqüência, tam-bém, a morte embrionária tardia ou fe-tal entre 40 e 90 dias de gestação. Aredução da fertilidade em rebanhos in-fectados pode chegar a 20% quando daapresentação aguda da doença, perma-necendo nesses níveis por até seis me-ses. A taxa de concepção vai aumen-tando gradualmente durante este pe-

Figura 2. Representação esquemática dos mecanismos pelos quais o BHV-1 pode cau-sar mortalidade embrionária

BHV-1

Quantidade de virus e amostra viral envolvida

Replicação nas células embrionárias

Morte embrionária precose Endometrite necrosante

Replicação nas células dooviduto e endométrio

Redução nas taxas de fertilidade

Page 34: Revista CFMV n26

ríodo, mas geralmente permanece porvolta de 10 a 15% inferior aos índicesnormais do rebanho (Mettifogo, 2000,Cardoso et al., 2000). A infecção por U.diversum ou por M. bovigenitalium,quando localizada na vulva pode re-presentar uma fonte constante dessesorganismos que podem ser carreadosaté o útero durante o estro. A presençados agentes por um período em tornode sete dias é suficiente para causartranstornos aos processos de fertiliza-ção e desenvolvimento inicial do em-brião (Mettifogo, 2000). Outro fato im-portante em relação a esses microor-ganismos é sua capacidade de perma-necerem viáveis no sêmen de touroscontaminados, mesmo após o conge-lamento em nitrogênio líquido à -196ºC(Mettifogo, 2000, Cardoso et al., 2000).Na Figura 3 observa-se um dos efeitosda infecção por micoplasmas, a repeti-ção de cio, e as conseqüências desseproblema.

Riddell, Stringfellow, Panagala(1989) procuraram estudar a capacida-de do M. bovis e M. bovigenitalium dese aderir à zona pelúcida de embriõesbovinos produzidos in vivo, bem co-mo avaliar a eficiência dos procedi-mentos convencionais de lavagem etratamento de embriões na remoção oueliminação desses agentes, concluin-do que nenhum dos procedimentos re-

comendados pelo Manual da SociedadeInternacional de Transferência deEmbriões (IETS, 1987), citado pelosautores, foram eficientes, não conse-guindo eliminar aqueles microrganis-mos da zona pelúcida.

A morte embrionária pode ocorrertambém na campilobacteriose, que éuma doença sexualmente transmissí-vel causada pelo Campylobacter fetus,caracterizada por endometrite que re-sulta em infertilidade. Outras doençascomo brucelose (Brucella abortus), in-fecção por Arcanobacter pyogenes,candidíase (Cândida albicans), leptos-pirose (Leptospira spp.), neosporose(Neospora caninum), listeriose (Listeriamonocitogenes), infecção por Haemo-philus somnus e infecções fúngicas es-tão mais associadas com morte embrio-nária tardia, morte fetal e aborto(Larsson, Niskanen, Alenius, 1994,Sekoni, 1994, Moen et al., 1998).

4. Causas não infecciosas

Dentre as causas não infecciosasque levam à mortalidade embrionária,algumas podem atuar tanto na mãequanto sobre os embriões, ou atingirapenas um dos lados implicados na pre-nhez, impossibilitando, no entanto, seucurso normal.

4.1. Alterações cromossômicas Alterações cromossômicas são a

maior causa de perda de prenhez preco-ce em animais (King, 1990 citado porVanroose, Kruif, Van Soom, 2000).Uma gama de alinhamentos pode acon-tecer durante o pareamento dos cro-mossomos paternos haplóides no mo-mento da fertilização e que são subse-qüentemente letais ao embrião.Anormalidades cromossômicas tam-bém podem se originar da penetraçãode mais de um espermatozóide no óvu-lo (poliespermia). Poliploidia e haploi-dia são alterações freqüentemente ob-servadas em embriões produzidos invitro (Kawarski et al., 1996, Viuff,1999), porém a literatura não mostraresultados de investigação, se esta po-deria ser uma das causas para o eleva-do índice de mortalidade embrionáriaobservado depois da transferência deembriões bovinos produzidos in vitro(Van Soom et al.,1994). Segundo King(1990) citado por Vanroose, Kruif, VanSoom, (2000), estas anormalidades cro-mossômicas podem responder poraproximadamente 20% do total de per-das embrionárias e fetais.

4.2. Fatores maternos

4.2.1. Desequilíbrio hormonalConcentrações séricas adequadas

de progesterona são necessárias paramanutenção da prenhez. A deficiênciade progesterona causada por uma in-suficiência luteal primária tem sido re-portada como causa de mortalidadeembrionária, mas provavelmente issonão ocorre com freqüência (Wathes,1992). Estudos demonstraram uma re-lação entre baixos níveis maternos deprogesterona e perda precoce de gesta-ção. Tanto a elevação tardia das con-centrações de progesterona após a ovu-lação como baixas concentrações des-te hormônio na fase lútea, estão asso-ciadas com pobre desenvolvimento em-brionário e com insuficiente produção

32 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Figura 3. Representação esquemática das conseqüências da infecção por micoplas-mas (Ureaplasma diversum e Myciplasma bovigenitaltum)

Micoplasmoses

Repetição de cio

Regular BHV-1

MEP*

MET*

Morte fetal

Impedimento da fertilização

*Mortalidade embrionária precoce**Mortalidade embrionária tardia

Page 35: Revista CFMV n26

33Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

de interferon para prevenir a regressãodo corpo lúteo. A elevação dos níveisde progesterona após ovulação é defundamental importância para manter asincronia entre o embrião e o útero.Uma análise global dos estudos relati-vos à suplementação de progesteronarevelou uma melhoria significante nataxa de prenhez de 5% (Mann,Lamming, Payne, 1998).

Aproximadamente 25% dos em-briões bovinos são perdidos durante asprimeiras três semanas de gestação(Peters, 1996). A manutenção da se-creção de progesterona por um corpolúteo viável é vital durante os estágiosiniciais da gestação e a luteólise pre-coce é provavelmente uma das princi-pais causas de perdas embrionárias.Em vacas não gestantes a PGF2α é se-cretada a partir das células endome-triais, que seguem a ativação de recep-tores específicos através da ocitocina,secretada no corpo lúteo. A concentra-ção dos receptores endometriais paraocitocina é aumentada depois de 10dias de exposição à progesterona e pos-sivelmente ao 17β-estradiol provenien-te das ondas de desenvolvimento foli-cular, que acontecem durante a fase deluteal do ciclo. Durante o período em-brionário inicial o trofoectoderma pro-duz a proteína interferon do trofoblas-to bovino. Esta proteína inibe a secre-ção de PGF2α e provavelmente consti-tui o principal sinal para reconheci-mento materno da prenhez. Numerosastentativas foram feitas para prevenir amortalidade embrionária com hormô-nios exógenos, inclusive usando pro-gesterona, interferon, GnRH e hCG,com resultados variáveis. Em rebanhosleiteiros comerciais há crescente inte-resse no uso de GnRH, 11 a13 diasapós a monta ou inseminação, o que,em algumas tentativas, aumentou a ta-xa de prenhez. Estudos experimentaismostraram que este tratamento suprimea secreção folicular de 17β-estradiol ePGF2α e representa, possivelmente, o

mecanismo fisiológico de efeito anti-lu-teolítico indireto do GnRH (Peters,1996).

4.2.2. Perturbação das interaçõesmaterno-embrionárias

Distúrbios nas interações materno-embrionárias podem resultar em per-da do concepto, já que após a implan-tação, uma sinalização do embrião énecessária para o reconhecimento ma-terno da prenhez. Isto se inicia com al-terações hormonais, que são necessáriaspara estimular as transformações uteri-nas para que ocorra a implantação doembrião (Gandolfi, et al., 1992,Hansen, 1997).

4.2.3. Idade da mãeFêmeas mais velhas possuem menor

atividade folicular e os oócitos produ-zidos são de pior qualidade, resultandonum decréscimo do desenvolvimentoembrionário. Além disso, a qualidadedo endométrio vai diminuindo com oaumento da idade (Vanroose, Kruif,Van Soom, 2000).

4.3. Fatores externosElevadas temperaturas ambientais

durante os primeiros meses de gestaçãotambém podem produzir efeitos deleté-rios no embrião (DelaSota et al., 1998).O seu mecanismo pode ser explicadopelo efeito danoso direto da alta tempe-ratura corporal que, conseqüentemente,aumentará a temperatura uterina, atuan-do sobre o embrião e pelo desvio de san-gue do útero para a circulação periféri-ca numa tentativa de manter a tempera-tura corporal, resultando na redução doaporte de nutrientes para o embrião(Vanroose, Kruif, Van Soom, 2000).

Deficiência específica de algum nu-triente ou má-nutrição podem causarum efeito negativo sobre o embrião.Severas deficiências de vitaminas (vit.A) ou outros nutrientes (Cu, Zn, I) queatuam na regulação do metabolismopodem causar mortalidade embrionária

(Graham et al., 1995). Desnutrição ousevero balanço energético negativo po-dem afetar o desenvolvimento folicular,a qualidade do oócito e a atividade se-cretora e motora do oviduto, que é olocal onde ocorre o processo de fertili-zação. Estes achados demonstram quea nutrição afeta os primeiros estágios dedesenvolvimento embrionário (Butler,Smith, 1989, Foxcroft, 1997).

Um severo balanço energético nega-tivo em vacas leiteiras de alta produção,no período pós-parto, pode afetar a qua-lidade do oócito, podendo aumentar ataxa de perda embrionária na próximacobertura (Butler, Smith, 1989).

O estresse causa sérios efeitos dele-térios na eficiência reprodutiva dos ani-mais domésticos. Situações estressan-tes, tais como transporte, isolamento,dor, confinamento, mudanças bruscasde alimentação, afetam a função repro-dutiva via ação no eixo hipotalâmico-hipofisário (GnRH) ou em nível deovários (progesterona).

Toxinas presentes no ambiente,compostos teratogênicos e micotoxi-nas como a zearalenona, presente naração, e a ocratoxina, além de algunsmedicamentos, como o DMSO, podemter efeitos severos na sobrevivência doembrião quando ingeridas em momen-tos críticos dos primeiros estágios degestação (Christianson, 1992, Bren-demuehl et al., 1994).

Traumas após o diagnóstico de ges-tação através de palpação retal ou usan-do aparelho de ultra-sonografia podemresultar em perda de prenhez. Em bo-vinos, o diagnóstico de gestação é rea-lizado geralmente entre 35 e 50 diasde gestação, período da conclusão dadiferenciação, existindo, então, o ris-co de que o embrião ou o feto seja da-nificado. Porém, Vaillancourt et al.,(1979) não encontraram indicação deperda embrionária elevada no momen-to ou logo após o diagnóstico de gesta-ção. Baxter e Ward (1997) informaramque o diagnóstico de gestação usando

Page 36: Revista CFMV n26

34 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

BAXTER, S. J., WARD, W. R. Incidence of fetal loss indairy cattle after pregnancy diagnosis using an ultra-sound scanner. The Veterinary Record. v.140, p. 287-288, 1997.

BIELANSKI, A., SINGH, E. L. HARE, W. C. D. The invitro exposure to bovine rhinotracheitis virus of zonapellucida-micromanipulated bovine embryos with zo-na pellucida damaged or removed. Theriogenology,v.28, p. 495¯501, 1987.

BIELANSKI, A. HARE, W. C. D. Effect of in vitro fertili-zation of bovine viral diarrhea virus on bovine embr-yos with the zona pellucida intact, damaged or remo-ved. Veterinary Research Communications, v.12,p. 19¯24, 1988. Abstract.

BIELANSKI, A., LOEWEN, K. K., DELCAMPO, M., et al.Isolation of bovine herpesvirus-1 (BHV-1) and bovine vi-ral diarrhea virus (BVDV) in association with the in vi-tro production of bovine embryos. Theriogenology.v.40, p. 531¯545, 1993.

BRENDEMUEHL, J. P., BOOSINGER, T. R., SHELBY,R. A. Influence of endophyte-infected tall fescue oncyclicity, pregnancy rate and early embryonic loss inthe mare. Theriogenology, v.42, p. 489¯500, 1994.

BROWNLIE, J., BOOTH, P. J., STEVENS, D. A., et al.Expression of non-cytopathogenic bovine viral diar-rhoea virus (BVDV) in oocytes and follicles of persis-tently infected cattle. The Veterinary Record, v.141, p.335¯337, 1997.

BUTLER, W. R., SMITH, R. D. Interrelationships betweenenergy balance and post partum reproductive function indairy cattle. Journal of Dairy Science, v.72, p. 767¯783,1989.

CARDOSO, M. V., SCARCELLI, E., GRASSO, L. M.,TEIXEIRA, S. R., GENOVEZ, M. E. Ureaplasma diver-sum and reproductive disorder in Brazilian cows andheifers: first report. Animal Reproduction Science,v. 63, p. 137-143, 2000.

CHRISTIANSON, W. T. Stillbirths, mummies, abortions,and early embryonic death. The Veterinary Clinics ofNorth America. Food Animal Practice, v.8, p. 623¯639,1992.

DELASOTA, R. L., BURKE, J. M., RISCO, C. A., et al.Evaluation of timed insemination during summer heatstress in lactating dairy cattle. Theriogenology, v.49,p. 761¯770, 1998.

De WINTER, P. J., VERDONCK, M., de KRUIF, A.,Bacterial endometritis and vaginal discharge in the sow:prevalence of different bacterial species and experimen-tal reproduction of the syndrome. Animal ReproductionScience, v.37, p. 325¯335, 1995.

FOXCROFT, G. R. Mechanisms mediating nutritional effectson embryonic survival in pigs. Journal of Reproductionand Fertility, Suppl, v.52, p. 47¯61, 1997.

GANDOLFI, F., BREVINI, T. A. L., MODINA, S., et al.Early embryonic signals: embryo¯maternal interactionsbefore implantation. Animal Reproduction Science,v. 28, p. 269¯276, 1992.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

aparelho de ultra-sonografia não temnenhum efeito prejudicial ao feto e quea palpação retal também é um procedi-mento seguro quando executado cor-retamente.

5. Considerações finais A mortalidade embrionária produz

um significativo impacto na fertilidadedos rebanhos. As causas infecciosas

são freqüentemente superestimadas,mas certamente são importantes em si-tuações epidêmicas. Os agentes infec-ciosos podem levar à morte embrioná-ria por causarem alterações no endo-métrio e oviduto, por efeitos diretos noembrião ou por efeitos sistêmicos, co-mo hipertermia e luteólise. As causasnão infecciosas são mais comuns emsituações endêmicas, e devido ao ca-

ráter multifatorial, é difícil de se esta-belecer um diagnóstico correto.Entretanto, o entendimento da interaçãoentre o embrião e os patógenos é degrande importância para o diagnósti-co das causas de morte embrionária epara a determinação da fase da gestaçãona qual ocorre, para que se possa desen-volver medidas para prevenir essesacontecimentos.

Page 37: Revista CFMV n26

35Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

GILLESPIE, J., SCHLAFER, D., FOOTE, R., et al.Comparison of persistence of seven bovine viruses on bo-vine embryos following in vitro exposure. DeutscheTierarztliche Wochenschrift, v.97, p. 65¯68, 1990.

GRAHAM, T.W., GIRI, S.N., DAELS, P.F., et al.Associations among prostaglandines F2alpha, plasmazinc, copper and iron concentrations and fetal loss incows and mares. Theriogenology, v.44, p. 379¯390,1995.

GUILLOMOT, M. Cellular interactions during implanta-tion in domestic ruminants. Journal of Reproductionand Fertility, Suppl, v.49, p. 39¯51, 1995.

HANSEN, P. J. Interactions between the immune systemand the bovine conceptus. Theriogenology, v.47, p.121¯130, 1997.

HANZEN, C. H., DRION, P. V., LOURTIE, O., et al. 1999. In:VANROOSE G., de KRUIF, A., Van SOOM, A. Embryonicmortality and embryo¯pathogen interactions. AnimalReproduction Science, v.60-61, p. 131-143, 2000.

KING, W. A., 1990. In: VANROOSE G., de KRUIF, A.,Van SOOM, A. Embryonic mortality and embryo¯patho-

gen interactions. Animal Reproduction Science, v.60-61, p. 131-143, 2000.

LARSSON, B., NISKANEN, R., ALENIUS, S. Natural in-fection with bovine virus diarrhoea virus in a dairy herd:a spectrum of symptoms including early reproductivefailure and retained placenta. Animal ReproductionScience, v.36, p. 37¯48, 1994.

LÓPEZ-GATIUS, F., LABÈRNIA, J., SANTOLARIA, P.,et al. Effect of reproductive disorders previous to con-ception on pregnancy attrition in dairy cows.Theriogenology, v.46, p. 643¯648, 1996.

MANN, G. E., LAMMING, G. E., PAYNE, J. H. Role ofearly luteal phase progesterone in control of the timingof he luteolytic signal in cows. Journal of Reproductionand Fertility, v.113, p. 47¯51, 1998.

METTIFOGO, E. Efeitos da infecção por micoplasmas notrato reprodutivo de bovinos: diagnóstico, controle e tra-tamento – Revisão. Revista Brasileira de ReproduçãoAnimal, Belo Horizonte, v. 24, p.83-89, 2000.

MOEN, A. R., WOUDA, W., MUL, M. F., et al. Increasedrisk of abortion following Neospora caninum abortionoutbreaks: a retrospective and prospective cohort studyin four dairy herds. Theriogenology, v.49, p. 1301¯1309,1998.

PETERS, A. R. Embryo mortality in the cow. AnimalBreeding Abstracts, v.64. 587-598, 1996.

POTTER, M. L., CORSTVET, R. E., LOONEY, C. C. R.,et al. Evaluation of bovine viral diarrhea virus uptake bypreimplantation embryos. American Journal ofVeterinary Research, v. 45, p. 1778¯1780, 1984.

RIDDELL, K. P., STRINGFELLOW, D. A., PANAGALA,V. S. Interaction of Mycoplasma bovis and Mycoplasmabovigenitalium with preimplantation bovine embryos.Theriogenology, v. 32, p.633-641, 1989.

SEKONI, V. O. Reproductive disorders caused by animaltrypanosomiases: a review. Theriogenology, v.42, p.557¯570, 1994.

SINGH, E.L., EAGLESOME, M. D., THOMAS, F.C., etal. Embryo transfer as a mean of controlling of viral in-fections: I. The in vitro exposure of preimplantation bo-vine embryos to akabane, bluetongue and bovine viraldiarrhea viruses. Theriogenology, v.17, p. 437¯444.1982a.

SINGH, E. L., THOMAS, F. C., PAPP-VID, G., et al.Embryo transfer as a means of controlling the transmis-sion of viral infections: II. The in vitro exposure ofpreimplantation bovine embryos to infectious bovinerhinotracheitis virus. Theriogenology, v.18, p. 133¯140,1982b.

STRINGFELLOW, D. A., RIDDELL, K. P., ZUROVAC, O.,1991. In: VANROOSE G., de KRUIF, A., Van SOOM,A. Embryonic mortality and embryo¯pathogen interac-tions. Animal Reproduction Science, v.60-61, p. 131-143, 2000.

THATCHER, W. W., BINELLI, M., BURKE, C., et al.Antiluteolytic signals between the conceptus and endo-metrium. Theriogenology, v.47, p. 131¯140, 1997.

Page 38: Revista CFMV n26

36 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

VAILLANCOURT, D., BIERSCHWAL, C. J., ELMORE, R.G., et al. Correlation between pregnancy diagnosis bymembrane slip and embryonic mortality. Journal of theAmerican Veterinary Medical Association, v.175, p.466-468, 1979.

Van OIRSCHOT, J. T. Bovine herpesvirus 1 in semen ofbulls and the risk of transmission: a brief review. TheVeterinary Record, v.17, p. 29¯33, 1995.

VANROOSE G., de KRUIF, A., Van SOOM, A. Embryonicmortality and embryo¯pathogen interactions. AnimalReproduction Science, v.60-61, p. 131-143, 2000.

VANROOSE, G., NAUWYNCK, H., Van SOOM, A., et al.Susceptibility of zona-intact and zona-free in vitro pro-duced bovine embryos at different stages of develop-ment to an infection with bovine herpesvirus-1.Theriogenology, v.47, p. 1389¯1402, 1997.

VANROOSE, G., NAUWYNCK, H., Van SOOM, A., et al.Replication of cytopathic and noncytopathic bovine vi-ral diarrhea virus in zona-free and zona-intact in vitro pro-duced bovine embryos and the effect on embryo quality.Biology of Reproduction, v.58, p. 857¯866, 1998.

VANROOSE, G., NAUWYNCK, H., Van SOOM, A., et al.Why is the zona pellucida of in vitro produced bovineembryos an efficient barrier for viral infection? A scan-ning electron and confocal laser microscopic study.Theriogenology, v.51, p. 276, 1999.

Van SOOM, A., MIJTEN, P., Van VLAENDEREN, I., etal. Birth of double-muscled Belgian Blue calves aftertransfer of in vitro produced embryos into dairy cattle.Theriogenology, v. 41, p. 855¯867, 1994.

VIUFF, D., RICKORDS, L., OFFENBERG, H., et al. Ahigh proportion of bovine blastocysts produced in vi-tro are mixoploid. Biology of Reproduction, v.60, p.1273¯1278, 1999.

WATHES, A. D. C. Embryonic mortality and the uterineenvironment. The Journal of Endocrinology, v.134,p. 321¯325, 1992.

WRATHALL, A. E., SUTMÖLLER, P. Potential ofembryo transfer to control transmission of disease. In:Stringfellow, D.A. and Seidel, S.M., Editors, 1998.Manual of the International Embryo Transfer Society,1998. p. 17¯44.

ZEROBIN, K. Physiologie der Fortpflanzung. In: SCHEU-NERT, A., TRAUTMANN, A. Lehrbuch derVeterinärphysiologie. 7ª Ed.. Berlin: Paul Parey, 1987.p.478-521.

Page 39: Revista CFMV n26

37Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Vaccínia - Varíola Bovina e Pseudovaríola

Rudi WeiblenMédico Veterinário, CRMV-RS nº 1574,Dr., Professor, Titular, Departamento de Medicina Veterinária PreventivaCentro de Ciências Rurais / Universidade Federal de Santa Maria.CEP: Santa Maria-RSe-mail: [email protected]

Os autores fazem uma revisão sobre as infecções pelos vírus vaccínia, vírus da varío-la bovina e pseudovaríola. São abordados os principais aspectos etiológicos, epidemio-lógicos, clínico-patológicos, diagnóstico, prevenção e controle dessas viroses. Descrevem-se também relatos de ocorrências dessas viroses encontrados na literatura brasileirae mundial.

Unitermos: vaccínia, varíola bovina, pseudovaríola.

RESUMO

Vaccinia - Cowpox and pseudocowpox

The infections by vaccinia virus, cowpox and pseudocowpox viruses are described.The main etiological, epidemiological, clinico-pathological, diagnostic and prevention as-pects of the diseases are reviewed. Reports of the occurrence of these diseases des-cribed in Brazil and worldwide literature are also reviewed.

Key Words: vaccinia, cowpox, pseudocowpox.

ABSTRACT

INTRODUÇÃO

As infecções pelo vírus vaccínia, ví-rus da varíola bovina e vírus da pseudo-varíola cursam com lesões nos tetos debovinos, também roedores, felinos, es-poradicamente em outros animais e nasmãos do homem. As lesões causadaspor esses poxvírus são geralmente espo-rádicas, mas podem ocorrer na formade epidemias e ocasionar prejuízos eco-nômicos importantes, devido à compli-cações como mastites e redução na pro-dução de leite. Essas infecções tem ca-ráter zoonótico, podendo ser transmiti-das ao homem, onde produzem lesõesdoloridas, porém autolimitantes.

Vaccínia - Varíola

Estes dois vírus são muito semelhan-tes. O vírus da vaccínia foi inicialmen-te utilizado para produzir vacinas contraa varíola humana. No começo as vacinaseram produzidas por inoculação em be-zerros lactantes e, posteriormente, emcultivo de ovos embrionados e culturascelulares. O vírus originou-se aparente-mente em um isolado do vírus da varío-la bovina. Estas infecções ocorrem deforma esporádica e se transmitem rapi-damente no rebanho. Humanos não va-cinados contra a varíola podem ser tam-bém afetados. A vaccínia é uma infecçãoque foi muito freqüente em bovinos emépocas anteriores à erradicação da va-ríola no mundo, quando a grande maio-ria das pessoas era vacinada contra essaenfermidade e pessoas recentemente va-cinadas transmitiam o vírus para os bo-vinos (Lemos & Riet-Correa, 2001).

Pseudovaríola

A pseudovaríola, conhecida, tam-bém, como nódulo do ordenhador é,

Page 40: Revista CFMV n26

38 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

aparentemente, mais freqüente que avaccínia e a varíola. A enfermidade éintroduzida no rebanho pela entrada deanimais infectados, e a infecção é trans-mitida entre os mesmos através do con-tato, ordenha ou picadas de insetos(Lemos & Riet-Correa, 2001). No en-tanto, casos diagnosticados clinicamen-te como pseudovaríola nem sempre sãoconfirmados posteriormente por méto-dos laboratoriais como sendo causadospor parapoxvírus no Brasil (Lemos &Riet-Correa, 2001). Assim a informa-ção de que a pseudovaríola e mais co-mum do que vaccínia - varíola bovinanem sempre é verdadeira, principal-mente no Brasil.

Epidemiologia

O conhecimento sobre a epidemio-logia e história natural dos poxvírus eas suas conseqüências clínicas em bo-vinos tem evoluído nos últimos anos,mas continua sendo objeto de especu-lações. Roedores, felinos e bovinos sãoos prováveis reservatórios desses agen-tes, servindo de fonte de infecção pa-ra outros animais e para o homem. Ovírus da varíola bovina é freqüente-mente detectado em gatos, achados quereforçam a hipótese de que os roedoresrepresentam a mais provável fonte deinfecção (Bennett et al., 1986). No pas-sado, vários surtos de varíola bovina(Orthopoxvírus) foram relacionados àinfecções adventícias pelo vírus vac-cínia utilizado para imunizar pessoascontra a varíola (Munz & Dumbell,1994). A transmissão geralmente ocor-re pelas mãos dos ordenhadores ou pe-los equipamentos de ordenha. A pe-netração do vírus ocorre em lesões pré-existentes nos tetos dos bovinos. Atransmissão pela ingestão de partícu-las de pó contaminadas também é pos-sível. Esses vírus são muito resisten-tes a desinfetantes, ao calor, a desse-cação e são capazes de manter sua in-fectividade em restos celulares por lon-

go tempo. O congelamento de mate-rial contaminado preserva o vírus porlongos períodos. O vírus, quando ino-culado em cultivo de células, induzefeito citopático e produz inclusões in-tracitoplasmáticas tanto em células decultivo como em tecidos de animais.O vírus vaccínia e o da varíola bovinasão similares entre si, e diferem do ví-rus da pseudovaríola. Esses vírus po-dem ser diferenciados com o uso deanticorpos monoclonais e por técnicasde restrição de DNA.

Sinais clínicos e lesões

As lesões associadas a essas infec-ções ocorrem principalmente nos tetosde bovinos. São várias as lesões queacometem os animais, principalmenteos bovinos, nos tetos. Estas apresen-tam-se principalmente nas formas pro-liferativa, ulcerativa e crostosa. Em re-banhos com boa higiene, essas infec-ções geralmente são benignas e não re-sultam em complicações mais sérias.Embora muitas vezes discretas, as le-sões podem ser muito doloridas e geral-mente não são facilmente diferenciá-veis de outras lesões de tetos de bovi-nos (Timms et al., 1998). Quando a en-fermidade excede esses parâmetros eatinge níveis de epidemia, inclusivecom o envolvimento de pessoas, osproprietários geralmente recorrem aMédicos Veterinários para o estabele-cimento do diagnóstico definitivo.

Vaccínia - varíola

O vírus vaccínia e o vírus da varío-la bovina pertencem a famíliaPoxviridae. Os poxvírus são vírus gran-des, com envelope, que contém DNAde fita dupla como genoma. Ao gêne-ro Orthopoxvírus pertencem os vírusvaccínia, da varíola bovina, poxvírusdos búfalos, poxvírus dos camelos epoxvírus dos eqüinos. O poxvírus dosbúfalos (BPV) que apresenta uma his-

tória natural desconhecida, é uma ou-tra subespécie de vírus vaccínia. Essevírus causa lesões localizadas em búfa-los, bovinos e no homem, podendo sertransmitido pela ingestão de leite nãopasteurizado, produzindo lesões na oro-faringe de pessoas (Dumbell &Richardson, 1993). Os vírions, na maio-ria dos gêneros, apresentam um forma-to de paralelepípedo, com tamanhoaproximado entre 250x200x200 nmcom os túbulos de superfície arranjadosde uma forma irregular. As lesões ocor-rem nos tetos e na parte contígua doúbere de vacas e o vírus é disseminadoentre os animais pela ordenha. A en-fermidade também é comum em gatos,podendo ser transmitida para os huma-nos. As lesões em pessoas podem sercaracterizadas por máculas ou pápulasque aparecem nas mãos ou no rosto.Geralmente acometem pessoas envol-vidas com o manejo de bovinos ou quetiveram contato com gatos. A infecçãopode ser acompanhada por reações sis-têmicas como náusea, febre e linfoa-denopatia. As crianças freqüentemen-te são hospitalizadas, porém não exis-tem relatos de mortalidade (Murphyet al., 1999). A infecção nos gatos émais grave quando comparada com ainfecção em bovinos e no homem. Ohistórico inicial descreve lesões sim-ples na cabeça ou nos membros anterio-res. No entanto, na maioria das vezes aslesões já estão disseminadas pelo cor-po por ocasião do exame clínico. A le-são primária apresenta característicasvariáveis e a presença de infecções se-cundárias é comum. As lesões disse-minadas quase sempre iniciam por pe-quenas máculas de cor avermelhadaque progridem para pápulas e poste-riormente para úlceras. Os animais ge-ralmente recuperam-se após seis a oi-to semanas. Lesões mais graves podemocorrer devido a contaminações bac-terianas, podendo resultar em pneumo-nias, devido a quadros de imunosupres-são, ou ocasionalmente pela presença

Page 41: Revista CFMV n26

39Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

do vírus da leucemia ou imunodefi-ciência felina. Em leopardos, a pneu-monia é comum e a infecção pelo vírusda varíola pode resultar em índices al-tos de mortalidade (Murphy et al.,1999). Casos de varíola bovina aindacontinuam sendo descritos. Um meni-no apresentando duas úlceras necróti-cas rodeadas por edema, cujo trata-mento não respondia a antibióticos ecom resultados negativos para outrosagentes etiológicos, teve identificaçãodo vírus. O gato do paciente não apre-sentava lesões de pele. No entanto, oexame sorológico do animal apresen-tou-se positivo, sugerindo que o gato te-nha transmitido o vírus para o menino(Shupp et al., 2001).

No Brasil a varíola bovina foi des-crita no Rio de Janeiro (Silva &Moraes, 1960/1961) e Minas Gerais(Reis et al., 1970). No Rio de Janeiro aenfermidade foi também relatada embovinos importados do Uruguai queestavam em período de premunição pa-ra tristeza parasitária bovina (MAA-RA, 1988). Sartori-Barraviera et al.(1997) descreveram dez casos de por-tadores de nódulos de ordenhadores,todos com atividade relacionada aocontato, manuseio de animais ou deprodutos animais. As lesões, em nú-mero de um a três, eram localizadasnas mãos, sobretudo nos dedos (Sartori-Barraviera et al., 1997). A enfermida-de já foi descrita também em São Paulo(Mendes et al., 1999) e Mato Grossodo Sul (Fagliari et al., 1999, Lemos etal., 1999a) onde ocorreram diversossurtos de doenças da pele dos tetos emvacas em lactação (Lemos & Riet-Correa, 2001). As perdas econômicasforam importantes, houve uma dimi-nuição de aproximadamente 50% naprodução de leite, uma vez que as va-cas não puderam ser ordenhadas porcerca de um mês devido a dor. A ocor-rência de mastites e, ocasionalmente,miíases secundárias às lesões de peleaumentam a importância econômica da

enfermidade (Lemos et al., 1999a,Lemos & Riet-Correa, 2001).

A morbidade nos surtos relatadosno Mato Grosso do Sul variou de 10 a100%, e o problema ocorria entre osmeses de abril a setembro (Lemos &Riet-Correa, 2001). Os sinais eram for-mação de vesículas que, após um dia,evoluíam para pústulas, rompendo eformando úlceras e posteriormentecrostas. Experimentalmente, o perío-do de incubação da doença é de 4-5dias (Lemos et al., 1999b). Nos surtosobservados no Mato Grosso do Sul0,3% dos animais afetados apresenta-vam lesões em todo o corpo e algunsbezerros tinham também lesões ao re-dor do focinho (Lemos et al., 1999a). Aenfermidade no Mato Grosso do Sul,normalmente iniciou sete dia após asvacas terem sido ordenhadas por pes-soas que haviam estado em contatocom rebanhos bovinos afetados e quetambém apresentavam lesões caracte-rísticas na mãos (Lemos & Riet-Correa,2001). Em todas as propriedades os or-denhadores adoeceram, com exceçãode dois que relataram ser vacinadoscontra varíola humana (Lemos & Riet-

Correa, 2001). O quadro clínico carac-terizou-se por febre intensa, linfadeni-te dos linfonodos axilares, formaçãode lesões semelhantes às descritas nosbovinos, extremamente dolorosas e res-tritas às mãos em 80% dos casos, nasmãos e nos braços em 10% e generali-zadas em 10% dos casos. As pessoasafetadas ficaram alguns dias sem traba-lhar, devido a um período febril e mo-tivado também pelas lesões dolorosasque duraram de 4-7 dias. Em algunscasos foi necessário a hospitalização. Acura ocorria em 10-30 dias (Lemos etal., 1999a , Lemos & Riet-Correa,2001).

A característica de um novo ortho-poxvírus foi descrita de casos clínicosem bovinos e pessoas, que apresenta-vam lesões de exantema, em váriaspropriedades da região de Cantagalo,no Estado do Rio de Janeiro (Damasoet al., 2000). O vírus isolado apresen-tou características mais similares às dovírus vaccínia do que as do vírus davaríola bovina. Durante os anos de2001–2002 casos clínicos de vaccínia- varíola bovina ou pseudovaríola fo-ram relatados no Estado do Rio de

Microscopia eletrônica de um poxvírus, com os túbulos de superfície arranjadosde forma irregular.

Page 42: Revista CFMV n26

40 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Janeiro e até o presente momento(4/08/02) ainda não foram confirma-dos laboratorialmente como causadospor um outro vírus.

Pseudovaríola

No gênero parapoxvírus, são classi-ficados os vírus da estomatite papular,ectima contagioso e pseudovaríola, de-nominado também de paravaccínia(Hirsch & Zee, 1999; Murphy et al.,1999). Os vírions do gênero parapoxví-rus apresentam uma forma ovóide, ta-manho aproximado de 260 x 160 nm,com um arranjo dos túbulos em formaespiral regular (Murphy et al., 1999).Infecções naturais pelo vírus da pseudo-varíola caracterizam-se por uma enfer-midade discreta que afeta principalmen-te animais em lactação. As lesões de-senvolvem-se inicialmente como pápu-las doloridas, edemaciadas, progredin-do para eritema. As lesões expandem-seradialmente, apresentando uma depres-são no centro (Hirsch & Zee, Kahrs,2001). Após alguns dias, aparecem pe-quenas cicatrizes que tem aparência ane-lar, de ferradura ou de círculo, quemuitas vezes são consideradas patog-nomônicas (Gibbs et al., 1970). Kahrs(2001) descreveu um surto de pseudova-ríola bovina complicada com papiloma-tose que ocorreu no Estado de NovaYork, EUA. O surto durou 18 meses emum rebanho com 40 animais. Duranteesse período, todos os animais apresen-taram pelo menos uma lesão em forma-to de pápula, pústula ou cicatrizes nostetos e algumas lesões discretas no úbe-re. Alguns bovinos apresentavam recor-rência após a cura das lesões iniciais.As lesões estavam geralmente presen-tes no mesmo teto. Alguns papilomasdo tipo filamentoso estavam quase sem-pre presentes junto as pústulas. Muitoscasos de mastite surgiram, provavel-mente em função de problemas com or-denhadeiras mal reguladas ou devido amanejo deficiente (Kahrs, 2001). Os

proprietários dos animais apresentaramlesões e cicatrizes nas mãos e braços.Essas lesões apresentavam um pruridointenso, não respondiam a tratamentomédico e estavam contaminadas comStaphilococcus aureus. As amostras co-lhidas dos tetos das vacas para examehistopatológico apresentaram-se posi-tivas para pseudovaríola, com aspectobalonoso das células da epiderme e/oua presença de inclusões intracitoplas-máticas de tamanhos variados. Outraslesões mais proliferativas resultaram emdiagnóstico positivo para fibropapilo-mavírus (Kahrs, 2001). Casos esporá-dicos de pseudovaríola também foramdescritos no Japão (Inoshima et al.,2000). Os veterinários descreveram apresença de pápulas que progrediam pa-ra úlceras e posteriormente para necro-se nos tetos de vacas. Os animais dessesrebanhos foram descartados, acarretan-do prejuízos sérios aos produtores(Inoshima et al., 2000). Esses relatosdemonstram a importância econômicada enfermidade. Surtos de pseudova-ríola foram descritos na Iugoslávia apósmuitos anos de ausência da enfermida-de. Os casos foram confirmados a par-tir de exames realizados em materialcolhido de pessoas e animais. Ini-cialmente suspeitou-se de vaccínia e so-mente a posteriori os casos foram con-firmados como sendo causados pelo ví-rus da paravaccínia (Maric et al., 2001).

Lemos & Riet-Correa (2001) rela-taram possíveis casos de pseudovarío-la no Brasil. No entanto, os mesmosautores relatam algumas evidênciasque sugerem que não seja esse o víruscausador da doença: a gravidade da en-fermidade em humanos; o fato de quepessoas vacinadas contra a varíola nãotenham sido afetadas; o caráter sazo-nal e a disseminação rápida da doença,podendo atingir 100% do rebanho empoucos dias; a imunidade duradoura,já que a enfermidade ocorre uma veznas propriedades, não havendo relatosem anos subseqüentes ou anteriores,

tanto em vacas como em humanos; e, aocorrência da doença em bezerros emvárias propriedades, o que é freqüentena pseudovaríola.

Diagnóstico

Quando o Médico Veterinário é cha-mado as lesões geralmente já estão bemavançadas, e são reconhecidas apenascomo cicatrizes ou como úlceras, difi-cultando o diagnóstico (Gibbs et al.,1970). Uma investigação epidemioló-gica retrospectiva detalhada deve serrealizada, e as mãos dos ordenhadoresdevem ser examinadas. O exame com-pleto dos tetos e úberes de vacas doen-tes e sadias deve ser realizado com opropósito de identificar lesões nas suasdiferentes fases. Os cascos dos bovi-nos também devem ser examinados,assim como possíveis lesões orais. Essaúltima verificação torna-se extrema-mente importante, quando bezerros jo-vens podem estar afetados pelo vírus daestomatite papular por terem mamadoem vacas doentes (Kahrs, 2001). Odiagnóstico diferencial deve considerartraumatismos, lesões provocadas pelofrio ou sol, picadas de insetos, infec-ções bacterianas, papilomas com trau-matismos, lesões causadas pelo vírusda mamilite herpética. A mamilite her-pética causada pelo herpesvírus bovinotipo (BHV-2), um Alphaherpesvirus,da família Herpesveridae, subfamíliaAlphaherpesvirinae, caracteriza-se cli-nicamente por lesões vesiculares e ul-cerativas na pele da glândula mamá-ria. A doença normalmente tem um iní-cio explosivo, verificando-se edema evesículas. A morbidade normalmenteé alta em vacas em lactação, podendochegar até 100%, quando a doença éenzoótica afeta somente as vacas deprimeira cria (Kahrs, 2001, Lemos &Riet-Correa, 2001). No caso de lesõesmoderadas causadas pelo vírus da pseu-dovaríola, geralmente o diagnósticoclínico é suficiente. No entanto, nos

Page 43: Revista CFMV n26

41

casos mais graves ou diante de um qua-dro clínico mais complicado, torna-senecessário estabelecer um diagnósticolaboratorial definitivo (Kahrs, 2001).

Diagnóstica laboratorial

Pode-se realizar o isolamento do ví-rus em cultivo de células, além de diag-nóstico sorológico. A microscopia ele-trônica é um instrumento utilizado nadiferenciação dos agentes, levando-seem conta o tamanho e morfologia.Através desse método pode-se diferen-ciar os Orthopoxvírus (vaccínia e va-ríola) do vírus da pseudovaríola, que éum Parapoxvírus. A histopatologia po-de diferenciar infecções causadas porpoxvírus daquelas provocadas pelo ví-rus da mamilite herpética (Al-phaherpesvírus), além de outras lesões.No entanto, esse método apresenta di-ficuldades para estabelecer uma dife-renciação entre aquelas lesões produ-zidas pelos diferentes poxvírus (Kahrs,2001). O material a ser enviado para olaboratório deve incluir tecidos de apa-rência normal da periferia das lesões,bem como fluído da vesícula. O quan-to antes essa coleta for realizada, au-menta-se a possibilidade de um diag-nóstico definitivo. O material deve seracondicionado em frasco ou embala-gem fechada, colocada em caixa de iso-por com gelo reciclável e enviado aolaboratório com urgência. Quando ne-cessário, pela dificuldade de envio, omaterial pode ser congelado até encon-trar-se uma melhor oportunidade oucondições para a remessa, motivadosmuitas vezes pela distância ou dificul-dade de conexão até o laboratório.Material que destina-se para a histopa-tologia, deve ser fixado em formol a10%. O diagnóstico por soro-neutrali-zação ou imunodifusão também podeser realizado mas são poucos os labora-tórios que executam esse serviço. Comogeralmente trata-se de um estudo re-

trospectivo, a possibilidade de uma ve-rificação de soroconversão é pouco pro-vável pela dificuldade de identificaçãoda fase aguda do surto. O diagnósticopor soro pareado é fácil de ser realiza-do, quando as amostras são colhidas nafase aguda e na convalescente. Em al-guns países, como a Índia, existem téc-nicas como o Dot-ELISA para o diag-nóstico sorológico da varíola bovina(Jana & Mehrotra, 2000). A técnica deReação de Polimerase em Cadeia (PCR)também é usada para o diagnóstico davaríola bovina na Europa (Schupp etal., 2001). A PCR também é descritapara o diagnóstico da pseudovaríola(Inoshima et al., 2000).

Prevenção e controle

Casos de pseudovaríola podem ocor-rer em rebanhos leiteiros e passaremdespercebidos. Complicações clínicaspodem ser evitadas pela adoção de me-didas como reduzir o número de lesõesde tetos e úbere, evitar-se contato comagentes irritantes e a ocorrência de so-luções de continuidade. O manejo cor-reto da ordenha e a desinfeção das or-denhadeiras é fundamental no controleda enfermidade. Animais com lesõesdevem ser ordenhados sempre no final.O exame dos tetos e da glândula ma-mária é também necessário previamen-te à aquisição de animais de reposição.Em rebanhos fechados, a introdução daenfermidade é menos provável. Até apresente data, nenhuma vacina foi de-senvolvida para o controle da enfermi-dade (Kahrs, 2001). Após a infecçãocom o vírus vaccínia e o da varíola bo-vina, os animais desenvolvem imuni-dade duradoura. No entanto, o vírus dapseudovaríola parece ser menos imu-nogênico, e reinfecções podem ocorrerapós alguns meses. Infecção prévia como vírus vaccínia ou da varíola parecenão proteger os animais da pseudovarío-la. O papel do colostro ou imunidade

passiva para a proteção contra esse gru-po de enfermidades é ainda desconhe-cido, (Kahrs, 2001).

Tratamento

Animais com a enfermidade clínicadevem sempre ser ordenhados no fi-nal. Após a ordenha, as lesões devemser tratadas com pomadas umectantesespeciais e desinfetantes. Antes da pró-xima ordenha, deve-se fazer uma lim-peza completa nas lesões para não ocor-rer a contaminação do leite com os pro-dutos utilizados no tratamento anterior.Leite de animais com lesões deveriapreferencialmente ser descartado.Tratadores devem ser alertados sobre apossibilidade de transmissão da enfer-midade ao homem. Preferencialmente,os ordenhadores devem usar luvas elavar as mãos cuidadosamente após omanejo com os animais. Esses procedi-mentos são mais críticos se os mesmosapresentarem lesões nas mãos ou al-gum tipo de imunodeficiência, AIDSou se estiverem sob tratamento de me-dicamentos rotineiramente imunosu-pressores. Os equipamentos de orde-nha devem ser aferidos e desinfetados.Os procedimentos de limpeza e desin-fecção devem ser avaliados para veri-ficar se não estão colaborando para a ir-ritação do teto, exacerbando a condiçãoou aumentando a disseminação. O usode toalhas comuns deve ser completa-mente eliminado. Os desinfetantes uti-lizados para imersão dos tetos após aordenha devem ser avaliados periodica-mente para verificar sua eficiência(Kahrs, 2001). Nettleton et al. (2001)recomendam estudos adicionais do usode Cidofovir para tratamentos de ca-sos de infecções por parapoxvírus empessoas e animais, tendo em vista a suaeficácia demonstrada em alguns trata-mentos preliminares.

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Page 44: Revista CFMV n26

42 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

BENNETT, M., GASKELL, C.J., GASKEL, R.M., BAXBY,D., GRUFFYDD-JONES, T.J. Poxvirus infection in thedomestic cat: some clinical and epidemiological obser-vations. Veterinary Record,. v. 118, p. 387-390, 1986.

DAMASO, C.R.A.A ., ESPOSITO, J.J., CONDIT, R.C.,MOUSSTCHÉ, N. An emergent poxvirus from humansand cattle in Rio de Janeiro State: Cantagalo virus mayderive from Brazilian smallpox vaccine. Virology,v. 277, p. 439-449, 2000.

DUMBELL, K., RICHARDSON, M. Virological investi-gation of specimens from buffaloes affected by buffalo-pox in Maharashtra state, India between 1985 and 1987.Archives of Virology, v. 128, p. 257-267, 1993.

FAGLIARI, JJ., PASSIPIERI, M., OKUDA, H.T.F. Relatosobre a ocorrência de pseudovaríola em vacas lactan-tes e ordenhadores do município de Aparecida doTabuado, MS. In: ANAIS CONGRESSO BRASILEI-RO DE BUIATRIA, 3, 1999. Arquivos do InstitutoBiológico, v. 66 (supl.). Anais, 1999, p. 128

GIBBS, E.P.J., JOHNSON, R.H., OSBORNE, A.D.Differential diagnosis of viral skin infections of the bo-vine teats. Veterinary Record, v. 87, p. 602-609, 1970.

HIRSH, D.C., ZEE, Y. C. Poxviridae. Veterinary micro-biology, Blackwell Science, 1999. p. 365-370.

INOSHIMA, Y MOOOKA, A., SENTSUI, H. Detectionand diagnosis of parapoxvirus by the polimerase chainreaction. Journal of Virological Methods, v. 84, p. 201-208, 2000.

JANA, D., MEHROTRA, M.L. Standardization of dot enzy-me linked immunosorbent assay for the serodiagnosis ofexperimental cowpox virus infection and humoral immu-nity in rabbits. Indian Veterinary Journal, v. 77, n.4,p 281-284, 2000.

KAHRS, R. F. Herpes mammillitis and pseudo lumpy skindisease. Poxvirus infections of the teats. Viral diseasesof cattle. 2nd edition. Iowa State University Press, p.151-157, 201- 208, 2001.

LEMOS, R. A. A, BRUM, K.B., LOMBARADO DE BAR-ROS, C.S., BARROS, S.S. Ocorrência da dermatite porpoxvírus em bovinos no Mato Grosso do Sul. In: CON-GRESSO ESTADUAL DE MEDICINA VETERINÁ-RIA, 14, 1999, Gramado, RS, Anais, 1999a, p. 186.

LEMOS, R. A. A, BRUM, K.B., NAKAZATO, L.Reprodução experimental da dermatite causada por pox-vírus em bovinos no Mato Grosso do Sul. In: CON-GRESSO ESTADUAL DE MEDICINA VETERINÁ-RIA, 14, 1999, Gramado, RS, Anais, 1999b, p. 184.

LEMOS, R. A. A, RIET-CORREA, F. Infecções víricas dapele do úbere em bovinos. In: RIET-CORREA, F.,SCHILD, A.L., MÉNDEZ, M. D. C., LEMOS, R.A.AEd. Doenças de ruminantes e eqüinos. São Paulo:2001, p. 113-120.

MAARA. Boletim de defesa sanitária animal. As doençasdos animais no Brasil. Histórico das primeiras obser-vações, Brasília, DF, número especial, p. 75-76, 1988.

MARIC, D., DURICIC, B., GLIGIC, A. Pox-viral infec-tions in humans and animals. Veterinarski-Glasnik, v.55, n.1-2, p. 3-8, 2001.

MENDES, L.C.N., PITUCO, E.M., BORGES, A.S., OKU-DA, L.H., PEIRÓ, J.R., CARTOXO, M.H.B.Pseudovaríola bovina em um rebanho leiteiro na regiãode Araçatuba, Estado de São Paulo, Brasil. In: CON-GRESSO BRASILEIRO DE BUIATRIA,3,1999.Arquivos do Instituto Biológico, v. 66 (supl.). Anais,1999, p. 127.

MUNZ E., DUMBELL K. Cowpox. In: COETZER, J.A.W.,THOMSON, G.R., TUSTIN, R.C. (Ed) Infectious disea-ses of livestock. Oxford: Oxford University Press, 1994,p. 630.

MURPHY, F.A.,GIBBS, E.P., HORZINECK, M C., STUD-DERT, MJ. Poxviridae. Veterinary Virology AcademicPress, 1999. p. 277-291.

NETTLETON, P.F., GILRAY, J.A, REID, H.W., MERCER,A.A. Parapoxviruses are strongly inhibited in vitro by ci-dofir. Antiviral Research, v. 48, p. 205-208, 2000.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Page 45: Revista CFMV n26

43Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

REIS, R., FIGUEIREDO, J.B., PACHECO, M. Varíola bo-vina, aspectos clínicos, características do vírus e obser-vações sobre vacinação. Arquivos da EscolaVeterinária, Universidade Federal de Minas Gerais,v. 22, p. 213-216, 1970.

SARTORI-BARRAVIERA, S., R., C., MARQUES, S. A.,STOLF, H. O., SILVARES, M. R.C., MARQUES, M. E.A. Nódulos dos ordenhadores: relato de dez casos. AnaisBrasileiros de Dermatologia, v. 72 , n.5 p. 477-480,1997.

SHUPP, P., PFEFFER, M. MEYER, H.,BURCK, G., KOL-MEL, K., NEUMANN, C. Cowpox virus in a 12-year-old boy: Rapid identification by an orthopoxvirus-spe-cific polymerase chain reaction. British Journal ofDermatology, v.145, n. 1, p 146-150, 2001.

SILVA, R. A. MORAES, L.T. Nota sobre a ocorrência de va-ríola bovina (Cow-pox) no Estado do Rio de Janeiro. I- Estudo da doença no município de Três Rios.Veterinária, v. 14, p. 31-35,1960/1961.

TIMMS, L. I.,VAN DER MAATEN, M.J., KEHRI, M.E.,Jr.,ACKERMAN, M.R. Histologic features and resultsof virus isolation tests tissues obtained from teat lesionsthat developed in dairy cattle during winter. Journal ofthe American Veterinary Medical Association, v. 213,p. 862-865, 1998.

Page 46: Revista CFMV n26

44 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Patologia dos peixes

1. INTRODUÇÃO

A patologia piscícola não tem evo-luído nos últimos 30 anos no mesmonível de desenvolvimento, conformetem ocorrido com outras espécies deanimais. A bibliografia especializadatem revelado ainda escassez de infor-mações.

As enfermidades oriundas das téc-nicas de cultivo intensivo tem repre-sentado a maior dificuldade no desen-volvimento econômico da aqüicultura,incentivando os pesquisadores a estu-dar os mecanismos básicos de defesados peixes frente aos patógenos.

Segundo Silva (1999), a maior par-cela da produção da aqüicultura vemde países em desenvolvimento, desta-cando-se o continente asiático. A pisci-cultura atualmente contribui com 50%do volume total da produção mundial,representando cerca de US$17,8 bi-lhões em 1992 (Rocha, 1995).

No Brasil, a aqüicultura, e dentrodela a piscicultura, estão se desenvol-vendo relativamente bem, criando em-pregos diretos e produzindo alimentosde elevado valor protéico. A regiãoNordeste do Brasil tem potencialidadepara explorar 1,0 a 1,5 milhões de hec-tares com faturamento da ordem de R$6 a 9 bilhões /ano (Igarashi, 1999).

O estudo das enfermidades piscíco-las, principalmente das 17.000 espé-cies de teleósteos, a identificação dosseus inúmeros agentes causadores deinfecções, o conhecimento das respos-tas que produzem no hospedeiro, são,atualmente, fator de maior importân-cia, para a economia de qualquer país,tendo em vista o pescado como alimen-to de excelente valor nutritivo, e a pes-ca, uma atividade significativa do setorprimário de produção.

Glênio Cavalcanti de Barros,Médico Veterinário, CRMV-PE nº 2378,PhD, e-mail: [email protected]

Emiko Shinozaki Mendes,Médica Veterinária, CRMV-PE nº 1001,Doutora, e-mail: [email protected]

Fernando Leandro dos Santos,Médico Veterinário, CRMV-PE nº 1492,Doutor, e-mail: [email protected]

Professores Adjunto do Departamento de Medicina Veterinária da UFRPE. Av. Dom Manoel de Medeiros, s/nDois Irmãos - CEP: 52171-900 Recife-PE

RESUMO

Pathology of the fishes

A review is presented on piscine diseases, mainly regarding to the 17,000 teleosteanspecies, the identification of their many infection-causative agents, as well as fisheriescontaminants, like medicament residue, heavy metals and pesticides. These are majorconcern factors to any country´s economy, having in mind that fisheries has anexcellent nutritional value and fishery is a significative activity in the productive primarysector.

Keywords: Fisheries, diseases ,medicament residues , heavy metals, pesticide.

ABSTRACT

É apresentada uma revisão sobre das enfermidades piscícolas, principalmente das17.000 espécies de teleósteos, a identificação dos seus inúmeros agentes causadoresde infecções, bem como, os contaminantes do pescado, mais especificamente resíduosmedicamentosos, metais pesados e pesticidas, fatores de maior importância para a eco-nomia de qualquer país, tendo em vista o pescado como alimento de excelente valornutritivo, e a pesca, uma atividade significativa do setor primário de produção.

Unitermos: Pescados, doenças, resíduos medicamentosos, metais pesados, pesticida.

Page 47: Revista CFMV n26

45Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

O conhecimento, para o efetivo con-trole do pescado na origem, é uma exi-gência das grandes entidades mundiaisque, através de normas legais, estabe-lecem o controle obrigatório dos produ-tos da pesca destinados ao consumo.

Na Europa, onde o consumo “percapita” anual do pescado atinge 19kg,desde 1991, segue procedimentos cha-mados de “Filiére Qualité Controleé”(Procedimento de Qualidade Con-trolada) que envolve: condições de cul-tivo, método de sacrifício, tipo(s) deprocedimento(s), atendendo assim, asexigências dos consumidores na buscade produtos de sanidade garantida.

O Código de RegulamentaçãoFederal dos Estados Unidos desde12.12.1998 não permite importação deprodutos da pesca que não sejam elabo-rados sob sistema BPF (Boas Práticasde Fabricação) e PPHO (ProcedimentosPadrões de Higiene Operacional) quena realidade são pré- requisitos do“Sistema de Análises de Perigos ePontos Críticos de Controle” (APPCC),garantindo em qualquer indústria dealimentos a qualidade sanitária e co-mercial de seus produtos.

A Argentina, país membro doMercosul, exporta 1.493 milhões deeuros por ano para a Europa, utilizan-do normas que controlam a origem dosprodutos da pesca, através dos profis-sionais Médicos Veterinários (Dec. nº4238 / 68 – Regulamento da Inspeçãode Produto de Origem Animal).

A grande maioria dos países queexportam produtos da pesca “in natu-ra”, ou processados, realizam o con-trole higiênico, sanitário e tecnológi-co buscando oferecer ao consumidorum produto de qualidade.

Com o desenvolvimento da aqüi-cultura, tornou-se mais que necessárioo efetivo conhecimento da patologiapiscícola, assim como, da toxicologiapiscícola que é o estudo da ação desubstâncias venenosas sobre o produtoda pesca, em especial sobre os peixes.

Nesse sentido, a Medicina Vete-rinária brasileira tem demonstrado emseus currículos plenos de graduaçãopouca atenção ao problema. Com oconfinamento desses animais, surgemos problemas que são da inteira res-ponsabilidade desses profissionais, emsua maioria despreparados para solucio-ná-los, ou seja, identificar o agente, aepizootiologia, verificar os sintomas,as lesões das diferentes enfermidades eas respostas desses organismos.

2. Importância da patologiapiscícola

Como todos os animais, os peixessofrem de bacterioses, viroses, parasi-toses, e podem ser portadores de bioto-xinas e, ao se transformarem em ali-mentos, não somente podem provocarno consumidor problemas sanitáriosde origem biológica, mas também abió-ticos, quando as causas envolvem con-taminação por metais pesados, resíduoselevados de praguicidas, contamina-ção por radioisótopos, etc.

Segundo Reichenback–Klinke(1981) o clima é um fator importantepara o desencadeamento de enfermi-dades infecciosas em peixes, atingindo15 a 20% da produção piscícola mun-dial.

De acordo com o clima e a magni-tude do consumo do pescado, neces-sário se faz conhecer a patologia e atoxicologia piscícola, tanto em peixesde clima temperado como tropical. Amaioria dos autores que tratam da pa-tologia piscícola, fazem referência aenfermidades de peixes de águas tem-peradas e de forma muito breve se re-ferem à patologia de peixes de zonastropicais e sub-tropicais.

No sentido de ordenar didaticamen-te o problema da patologia piscícola,necessário se faz, inicialmente, ressal-tar a importância do Meio AmbienteAquático (MAA) que, sem dúvida, en-volve ampla variedade de parâmetrosque direta ou indiretamente influen-ciam na homeostasis, sendo essenciaispara o crescimento e reprodução dospeixes.

Os fatores físicos como a tempera-tura, a intensidade e a periodicidade deluz, a composição química da água,seu conteúdo biológico, a disponibili-dade de espaço e a freqüência de estí-mulos influenciam no aparecimento deenfermidades. Para os peixes criadosem sistema extensivo, a produtividadedo ecossistema, entendendo como ecos-sistema todo sistema de interação dosorganismos com os fatores ambientaiscom os quais interagem.

Figura 1

Comercialização de pescado em supermercado

Page 48: Revista CFMV n26

46 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

O resultado total das atividades evida dos organismos aquáticos envol-ve três categorias de seres: os produto-res, os consumidores e os redutores.Os produtores sintetizam nova maté-ria orgânica a partir de substratos inor-gânicos, como o dióxido de carbono,água e sais solúveis (as plantas). Todoo resto de seres vivos dependem dire-ta ou indiretamente das plantas parasua alimentação e oxigenação. Os con-sumidores são organismos que inge-rem e absorvem diretamente a matériaorgânica, assimilando o que necessi-tam e eliminando o resto. Os reduto-res são em sua maioria, microorganis-mos, como as bactérias, fungos, actino-micetos, que não têm como realizar afotossíntese nem utilizar partículas dematéria orgânica. Atuam liberando en-zimas para reduzir complexas partícu-las em unidades mais simples que po-dem ser absorvidas e assimiladas.

Os elementos de contaminação quealteram a qualidade do meio aquáticotêm várias origens; contaminação tér-mica, metais pesados, ar, águas resi-duais (deságües, domestico ou indus-triais), óleos, etc.

Entre os fatores biológicos adver-sos à saúde dos peixes, se destacam asalgas produtoras de toxinas (tanto deágua doce como salgada), para o peixee indiretamente para o homem. Estasalgas pertencem a três grandes grupostaxonômicos: pirofitas, crisofitas e cia-nofitas.

A maior parte das pirofitas (dinofla-gelados) são de origem marinha, entreoutras as espécies: Goniaulax catenel-la, G. tamarensis, G. monilata, etc.Importante ressaltar que segundo Roberts(1981) todas estas algas só produzem to-xinas quando suas células morrem.

3. O peixe com suspeita deenfermidade

As alterações fisiológicas reconhe-cíveis pela observação e que não se

constituem necessariamente manifes-tações patológica são as modificaçõesda freqüência respiratória, dos bati-mentos cardíacos acelerados, veloci-dade de natação e capacidade de rea-ção. As alterações da freqüência res-piratória, inicialmente, pela falta deoxigênio, muito embora outros fatorespossam proporcioná-la (produtos quí-micos como ácido sulfídrico) valor depH, lesões nervosas e branquiais, etc.Os batimentos cardíacos também se al-teram por outras razões, inclusive emfunção da idade ou etapa da vida dopeixe. A velocidade de natação podeocorrer por vários motivos; fraquezamuscular, lesões no SNC, ação de subs-tâncias tranqüilizadoras, temperaturada água onde se encontra o peixe (mui-to fria ou quente).

As alterações de comportamentogeral transformam a conduta e podeocorrer por infestação de ectoparasitascomo a Chillodonella, Icthyobodo (=Costia), Trichodina, inclusive, devi-do a espécies das famíliasGirodactilidae e Dacttilogiridae.Intensa debilidade orgânica provoca-da por parasitas (Ichthyophomus(Ichthyosporidium) hexamita) propor-cionam movimentos natatórios camba-leantes nos peixes.

A comprovação de reflexos nospeixes é importante, por exemplo, oreflexo de fuga diminui considera-velmente no peixe enfermo. O refle-xo de giro dos olhos se altera com-pletamente no peixe enfermo, e o re-flexo da cauda que no peixe sadiomantém sempre a nadadeira caudalem vertical e no peixe enfermo seapresenta relaxada ou em posiçãotransversal.

As alterações morfológicas se re-velam na superfície corporal (pele,olhos), nas brânquias, cavidade abdo-minal, canal gastro-intestinal, fígado,pâncreas e vesícula biliar, baço, rins,órgãos urinários e bexiga natatória(Reinchenback–Klinke, 1981).

4. Problemas sanitários deorigem biológica

4.1 Bacteriologia dos teleósteosAs enfermidades de origem bac-

teriana produzem severas mortanda-des de peixes em qualquer sistema decriação.

O excesso de matéria orgânica pro-porciona o aumento do número de bac-térias, mas o tipo de bactérias dependede outros fatores, envolvendo a salini-dade, temperatura, oxigenação da água,pH, etc., de forma que podemos afirmara microbiota normal dos peixes é umreflexo da água em que vivem, exis-tindo aquelas que são incapazes de so-breviver fora do peixe hospedeiro(Roberts, 1981).

A primeira enfermidade bacterianadescrita foi a “peste vermelha das en-guias”, por Bonaveri em 1718, estu-dando enguias das lagoas deCammachio nas costas italianas do marAdriático, mas o isolamento e a iden-tificação da bactéria somente ocorreuem 1893 por Canestrini, complementa-da definitivamente em 1909 porBergman (citado por Roberts, 1981).

Hoje, muitas são as informações ba-seadas em trabalhos de autores reno-mados, caracterizando a flora bacteria-na dos peixes, tanto de água salgadacomo doce, permitindo que sejam dis-tinguidas a flora normal e a flora ictio-patogênica.

Segundo Bayard (1971), a tempera-tura da água permite separar bactériasde espécies diferentes, mas podemosafirmar que a flora normal de bacté-rias de água salgada envolve sempre:Pseudomonas fluorescens, Flexibactercolumnaris, Vibrio parahaemolyticus,V. anguilarum, V. vulnificus, V. mimicus,V. alginolyticus, Aeromonas salmonici-da, A. hidrophyla, Yersínia muckeri,Moraxella, etc.

Em águas doces, além de algumas jácitadas, encontramos espécies comoCorynebacterium salmonimis,

Page 49: Revista CFMV n26

47Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Mycobacterium marimum, M. fortui-tum, Nocardia asteroides, entre outras,com mais freqüência.

Necessário se faz separar a floraque normalmente ocorre no meio aquá-tico, daquelas que podem ocorrer nosprodutos da pesca, como resultado dacontaminação de origem humana ouanimal. Nesse caso podemos encontrarnos peixes: Salmonellas sp.,Escherichia coli, Shigellas sp.,Staphylococus sp., Streptococus, etc.

As patogênicas, que presente no pes-cado podem causar problemas de saúdepública, quando do seu consumo, sobdeterminadas condições, segundo Huss(1997) seriam: o Clostridium botulinum,Vibrio cholerae, V. parahaemolyticus,V. vulnificus, V. hollisae, V. furnsii, V.mimicus e V. fluvialis, Aeromonas hydro-phila, Plesiomonas shigelloides eListeria monocytogones. Como contami-nantes, originária do homem/animal, asSalmonella sp., Shigella sp., Escherichiacoli e Staphylococus aureus.

No que tange a influência da tempe-ratura no ambiente aquático, resumi-damente poderíamos afirmar que,Clostridium botulinum e Listeria mo-nocytogenes são psicotróficos e maispresentes no ártico (Huss, 1997) e nosclimas mais frios, enquanto que os me-sofílicos, ocorrem em águas tropicais.

Na prática, todos os peixes, depen-dendo das condições higiênico-sanitá-ria de processamento, possuem bacté-rias no muco, guelras, estômago e intes-tino. Entre elas as patogênicas, em de-terminados casos, é possível estabele-cer correlações com certas característi-cas e a patogenia, como é o caso doteste de Kanagawa para o Vibrio pa-rahaemolyticus, enquanto para outrosnão há esta possibilidade (por exem-plo, Aeromonas sp.)

Quantidades elevadas de bactériaspodem ser encontradas, como conta-minação inicial e proliferação comoconseqüência da aplicação de técnicasinadequadas, e sempre se constitui um

risco potencial. Em alguns casos, bac-térias específicas transformam a histi-dina na histamina, mediante reação dedescarboxilação. O tempo e a tempera-tura durante o processamento são fa-tores significativos, tornando o produ-to passível de provocar problemas nasaúde do consumidor, principalmentenaquele onde a DAO (diaminoxidase)e a N-metiltransferase não funcionambem. As bactérias mais implicadas per-tencem à família Enterobacteriaceae, eaos gêneros Vibrio, Clostridium eLactobacillus. Segundo Stratten eTaylor (1991), as espécies mais impli-cadas são Morganella morganii, Kle-bisiella pneumoniae e Hafnie alvei.

4.2 Virologia de teleósteosA incidência de gastriterites de ori-

gem viral devido ao consumo de pesca-do, vem sendo estudada, mas os mé-todos de confiança para detecção dotipo de vírus nos produtos alimentarestem sido, de um modo geral, um fracas-so (Huss, 1997). As técnicas baseadasna biologia molecular, tais como son-das de RNA/DNA, e mais recentemen-te, PCR (amplificação genética) vis-lumbram novo horizonte nas técnicasde diagnóstico.

Segundo Ross (1956), as doençasvirais adquiridas pelo homem, como

conseqüência do consumo de pescado,as viroses entéricas parecem ser a prin-cipal causa. Kilgen e Cole (1991) afir-mam que, apenas alguns vírus causamefetivamente problemas ao consumi-dor, entre outros, o vírus da hepatite,o (VHA), o norwalk, o calcivírus, e oastrovírus.

Na epidemiologia e avaliação de ris-co, verifica-se que as doses infecciosasmínimas de alguns vírus entéricos, apro-xima-se da dose mínima detectável emensaios laboratoriais, utilizando culturade células (Nard e Akin, 1983).

Segundo Huss (1997), as infecçõesvirais, via de regra são associadas aoconsumo de moluscos bivalves, crusou mal cozidos.

O consumo de “almejas” contami-nadas e mal cozidas, proporcionou umsurto na China em 1988, envolvendo290.000 pessoas (Tang et al., 1991).

A grande maioria dos pesquisadoresrecomendam, como medida de contro-le (prevenção das doenças virais prove-niente de alimentos de um modo geral)evitar a contaminação fecal direta ouindireta. No caso dos moluscos, a vigi-lância das áreas onde são capturados osmoluscos, utilizando os indicadores desanidade (bactéria), segundo Richards,1985; Cliver, 1988) e a autodepuração,utilizando água hiperclorada.

Figura 2

Comercialização de pescado em mercado público

Page 50: Revista CFMV n26

48 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

4.3 Parasitologia de teleósteos4.3.1 Nematóides

Os nematóides Anisakídeos, segun-do Barros e Lira, (1998), principalmen-te o A. simplex e o Pseudoterranovadecipiens, comuns em peixes e crustá-ceos, especialmente nos arenques e nobacalhau do Atlântico Norte, tem sidodesde 1951 (achados do M. Straub),objeto de estudo, considerando os pro-blemas que a larva infectante de ter-ceiro estadio (L3) podem provocar noestômago e no intestino do homemquando do consumo de peixes crus,mal cozidos ou industrializados defi-cientemente.

Estes nematóides são parasitas dotrato alimentar de mamíferos marinhos,anfíbios, répteis e aves. O ciclo evolu-tivo dos Anisakídeos varia de acordocom a espécie, mas podemos afirmarque os ovos expelidos com as fezes naágua são embrionados (larva de pri-meiro estádio- L1) após um período quedepende de fatores como temperatura esalinidade, eclodem liberando a L2,quando já é possível distinguir caracte-res morfológicos (ventrículo na por-ção anterior, esôfago e cecum. A L2 ati-va é ingerida por microcrustáceos(Euphausídeos no caso de A. simplex),realiza a muda passando a L3 que já éinfectante. Os peixes, ingerindo o mi-crocrustáceo, podem ser hospedeirosintermediário, secundário, paratênicoou definitivo. O homem ingerindo opeixe cru, mal cozido ou industrializa-do inadequadamente, pode adquirir aparasitose que evoluíndo no estôma-go, proporciona sintomas de úlceraduodenal, e encontrando-se no intesti-no (no íleo) provoca sintomas de apen-dicite aguda.

Outros parasitas nematóides são im-portantes sob o ponto de vista de saú-de pública. As Capillarias (hepatica,philippinensis e aerophila) produzemproblemas de saúde pública. ACapillaria hepatica proporciona umasaprozoonose no homem que se mani-

festa por hepatomegalia, febre alta ematinal, náusea, vômito, diarréia ouconstipação, distensão abdominal, ede-mas e dor nas extremidades. Revelandoos exames laboratoriais, hiperleucoci-tose, anemia hipocrômica e alteraçõesnas provas funcionais do fígado.

A C. philippinensis proporciona nohomem dores abdominais, diarréia in-termitente, expectoração mucóide e asvezes sanguinolenta, febre, perda depeso, podendo levar à morte em 1 ou 2meses se não houver o tratamento ade-quado.

A C. aerophyla é um parasita da tra-quéia de canídeos e/ou felinos que de-positam seus ovos nos pulmões, quan-do são levados pela tosse à faringe, de-glutidos e eliminados pelas fezes. Afonte de infecção tanto para o homemcomo para animais é o solo (saprozoo-nose) onde as larvas podem manter-seviáveis por um ano aproximadamente.

Dos metastrogilideos, o Angios-trogylus (Morerastrongylus) costari-censis e o A. cantonensis são agentesetiológicos de enfermidades no homem.O A. costaricensis tem como hospe-deiro definitivo roedores, que elimi-nam os ovos com as fezes, ingeridospor caracóis (de água doce ou mesmoterrestre) ou lesmas (babosas) onde pas-sa a L2 e L3 (larva, esta já infectante). Aparasitose no homem provoca dor ab-dominal, anorexia, diarréia e vômitos,leucocitose eosinofilia. As lesões nohomem são encontradas na região ileo-cecal, cólon ascendente, apêndice egânglios regionais, evoluindo para ainflamação granulomatosa tipo corpoestranho, que pode obstruir parcial outotalmente no intestino.

O A. cantonensis pode proporcio-nar ao homem a meningite ou menin-goencefalite eosinofílica, que se ma-nifesta por intensa dor de cabeça, vômi-tos e febre moderada e intermitente,verifica-se também anorexia, consti-pação e em 20% dos casos ocorridosem Taiwan ocorreu rigidez da nuca.

O caracol gigante africano, molus-co (Achatina fulica) confundido mui-tas vezes com escargot (Helix sp.) ver-dadeiro, proporcionou a 16 pescado-res na Samoa que consumiram os ca-racóis mal cozidos a enfermidade por10 semanas.

Outros nematóides, como oGnalhostoma spinigerum que na ida-de adulta se localiza na parede estoma-cal de cães, gatos, e felinos silvestres,eliminam os ovos com as fezes queeclodem na água liberando a L1, de-pois de uma semana, as L1 penetramem um copépode (Cyclops sp.) e atin-ge a hemocela em 10 a 15 dias ondepassa a L2. O peixe de água doce inge-rindo o copépode infectado, nele sedesenvolve passando a L3 e se enquis-tando. O homem após a ingestão dopeixe infectado e dependendo da loca-lização do parasita, apresenta sinto-matologia diversificada. A localiza-ção sub-cutânea, de preferência nopeito, abdômem, extremidades e nacabeça, provoca edema, onde perma-nece por longo período (até 16 anos).Semelhante à larva migrans cutâneaprovocada pela Ancilostoma caninum.

O Dioctophyme renale é um nema-tóide de grande dimensão (140 a 150mm) de cor vermelha que, em estadoadulto se localiza nos rins dos carnívo-ros, elimina os ovos pela urina e as lar-vas de primeiro estádio são ingeridaspelo primeiro hospedeiro, um anelídeooligoqueto aquático (Lombrix linicula)onde as larvas passam de L2 para L3 quejá é infectante. Peixes e rãs ingerindooligoquetos infectados, permitem o en-cistamento da L3 na submucosa gástri-ca onde realizam uma muda (L4), e daívão ao fígado, cavidade abdominal erins. O homem ingerindo o peixe ou arã infectados, permite a localização doparasita no rim, provocando cólicas re-nais, hematúria, podendo migrar parao ureter e uretra bloqueando o fluxo deurina. Em casos extremos, o parasitapode destruir o parênquima renal.

Page 51: Revista CFMV n26

49Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

4.3.2 TrematódeosOs trematódeos, parasitas de pei-

xes com importância sob o ponto devista zoonótico, apresentam caracterís-ticas interessantes, ou seja, via de regrasão provenientes de peixes de água do-ce e provocam no homem obstruçãonos ductos biliares.

Segundo Rim et al., (1982), cerca de500 milhões de pessoas estão infecta-das por trematódeos, principalmenteaqueles pertencentes ao gênero Clo-norchis, Opistorchis e Paragonimus,como conseqüência do consumo dopeixe de água doce crus ou mal cozi-dos. Na Tailândia, segundo Rim et al.(1994) somente a Opistochidose causoudespesas da ordem de US$ 8,3 milhões,envolvendo 4 milhões de pessoas.

O Programa de Analises de Perigose Pontos Críticos de Controle (AP-PCC), estabelece medidas de controlepara peixes provenientes de culturasenvolvendo monitoramento e medidascorretivas. Em pacientes diagnostica-dos, o tratamento adequando educaçãosanitária, medidas que evitem o desen-volvimento dos ovos dos parasitas, tra-tamento de cães e gatos e tratamentodos caramujos que estão sempre en-volvidos no ciclo evolutivo dos parasi-tas, se constituem elementos doAPPCC a serem observados.

Entre outros, o Clonorchis sinensis,o Opisthorchis felineus, O. viverrine,O. (Amphinerus) pseudofelineus, oMetagonimus yokogowai, o Hetero-phyes, o Paragonimus westermani, P.pulmonalis, P. miyazakii, P. skryjabin P.heterotrema, são os mais importantesna Ásia. Na áfrica o P. africanus, P. ute-robiliaris e na América latina o P. me-xicanus, o P. peruvianus e o P. emado-rientis, segundo Barros e Lira (1998).

Os trematódeos pertencentes à famí-lia Echinostomatiidae são mais importan-tes nas Filipinas, Ilha de Java e Célebesna Indonésia e em certas regiões da Í-ndia e da China. No Brasil, o hospedei-ro intermediário do parasita é o caracol

Bimphalaria glabata e os reservatóriossão roedores e aves anseriformes. Osechinostomas mais encontrados são: E.ilocanum, E. lindoense e E. revolutum.

O trematódeo Nanophietus (Tro-glutema) salminicola e o N. schikko-balowi são responsáveis por 98% dasinfecções humanas na Sibéria oriental(Norte da ilha Sajalin).

O trematódeo Phagicola longa seconstitui um dos parasitas de ocorrên-cia significativa, inclusive no Brasil,onde 11 casos humanos foram descri-tos (Chieffi et al., 1990).

O controle das parasitoses, segundoa FAO (1989) pode ocorrer em três ní-veis: a) selecionar a área de captura,evitando assim os peixes de determina-das espécies ou de grupos de idade es-pecífica; b) selecionar peixes infectadospor nematódeos, principalmente quan-do da filetagem, através da “candlingtable”; c) utilizar regras e técnicas quepermitam inviabilizar o parasita quan-do se utilizar os peixes em determina-dos processamentos.

4.3.3 CestódeosEntre as antropozoonoses causadas

por cestódeos, a Diphyllobothriosis seapresenta como a mais importante sobo ponto de vista de saúde pública, prin-cipalmente em países ou regiões ondeexiste o hábito de comer peixes crus.

O gênero Diphyllobothrium apre-senta várias espécies importantes quevariam de acordo com a região. NoAlasca, das seis espécies que são co-muns naquela região, cinco podem serencontradas parasitando o intestino dohomem.

A espécie tipo do gênero é oDiphyllobothrium latum, sendo o ho-mem seu principal hospedeiro, mas ou-tros mamíferos que se alimentam depeixe podem servir de hospedeiro, co-mo cães, gatos, suínos, caninos e feli-nos silvestres.

As áreas de maior prevalência seencontram na parte oriental e nororien-

tal da Finlândia, norte da Suécia e daNoruega, e principalmente onde exis-tem muitos lagos, como ocorre emLeningrado, Karelia e Estônia. NaSibéria, Europa e África também é al-ta a incidência.

Na Polônia, a incidência atinge 16%de plerocercóides em peixes , e noAlasca, verifica-se que 30% dos esqui-mós estão parasitados.

O ciclo evolutivo do parasita ocorrequando os proglotes grávidos expulsamos ovos pelo poro uterino, podendo umsó parasita eliminar até um milhão deovos por dia. A eliminação dos proglo-tes com as fezes do hospedeiro definiti-vo e a liberação dos ovos em ambienteaquático (rios, lagos, lagoas, etc) pro-picia em duas semanas a oncosfera cilia-da, denominada de coracídio que, den-tro de 12 horas, será ingerido por umcopépode, geralmente do gêneroCyclops (na América), Endiaptomus(Europa e Ásia), Acarethodiaptomus(nos Urais), Eurytemora (América doNorte) e Beckella (na Áustria), se de-senvolvem, atravessa o mesogástrio docopépode e se aloja na cavidade celômi-ca, onde se transforma em larva pro-bóscide. Os peixes de água doce, inge-rindo o copépode parasitado, permitemo alojamento da larva na musculatura,gônadas, celoma, fígado e outros órgãosonde se transformam em larva plero-procercóide ou espargano, que já apre-senta “bothria” na região cefálica.

A ingestão do peixe cru permite queo pleroprocercoide já encistado na mus-culatura do peixe produza dentro de 3a 6 semanas 31 a 32 proglotes por diae conseqüentemente a parasitose quepode conviver por mais de 20 anos.

No homem, um ou mais cestódeos,preso na mucosa do íleo, ou do jejuno(menos freqüente), não produzindo ne-cessariamente sintomas quando ocorrea obstrução do intestino, obviamenteprovoca transtornos digestivos, pro-porciona debilidade devido a vitami-na B12 (anemia perniciosa) e insensibi-

Page 52: Revista CFMV n26

50 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

lidade das extremidades. A anemia me-galoblástica ocorre aproximadamenteem 2% dos parasitados.

As medidas de controle, se pren-dem ao congelamento de peixes ( a –10ºC (24 a 48 horas), não consumirpeixes crus e impedir que dejetos hu-manos cheguem a rios, lagos, braçosde rios, etc.

4.4 Biotoxinas marinhas associadas aos produtos do marA pesquisa de novas substâncias, a

partir de recursos florestais e do mar,tem permitido detectar princípios ati-vos que podem ser úteis à medicina hu-mana e veterinária. Um outro aspecto éque, esses produtos quando presentesem animais, são danosos quando do seuconsumo por se constituírem venenossob ponto de vista de saúde pública.

Entre os produtos do mar capazesde provocar envenenamento, quando doseu consumo, estão as “toxinas”, termogenérico para as substâncias naturaispotencialmente nocivas a outros organis-mos vivos (Freyvogel &. Perret, 1993).

Apesar de conhecida desde épocasremotas (a.C.), essas toxinas começa-ram a ser estudadas do ponto de vistaquímico e farmacológico há apenas 5décadas. (Kao, 1966; Halstead, 1967).

São vários os grupos de toxinas deorigem marinha, as quais são encon-tradas em vários filos, distribuindo-seao longo da cadeia alimentar, podendoatingir, eventualmente, o homem(Gleibs & Mebs, 1999).

Taylor (1990) classificou esses en-venenamentos em: EnvenenamentoParalisante (Paralytic Shelfish Poiso-ning - PSP); Envenenamento Neurotó-xico (Neurotoxic Shelfish Poisoning -NSP); Envenenamento Diarréico(Diarrehetic Shelfish Poisoning - DSP)e Envenenamento Amnésico (AmnesicShelfish Poisoning - ASP).

Muitos casos de envenenamento sãoerroneamente diagnosticados por mé-dicos de regiões litorâneas, visto que

nem sempre esse assunto é tratado noscurrículos de graduação.

Os envenenamentos provocados pe-las toxinas não protéicas: tetrodotoxi-na (C11H17N3O8) e pela saxitoxina(C10H17N7O4) podem ser acumuladasem peixes e moluscos e tem sido estu-dado os mecanismos pelos quais atuam.Na realidade, são cátions orgânicos he-terocíclicos de baixos pesos molecu-lares (300 a 400 Da), termoestáveis,hidrossolúveis e com tropismo para oSNC ( Shimizu, 1987). Os valores mí-nimos dessa toxinas que provocam oenvenenamento paralisante (PSP) são:10MU/g para a tetrodotoxina, e 4MU/gpara a saxitoxina.

O envenenamento neurotóxico (-NSP), assim denominado em virtudedos estudos com as brevetoxinas (-BTX5) produzidas pelo dinoflageladoGymnodinium breve (= Phychodiscusbrevis), são toxinas (BTX5) que atuamdespolarizando as terminações nervo-sas, despolarizando nervos e múscu-los, alterando portanto as característi-cas sensoriais.

Os peixes são severamente afeta-dos e segundo Oliveira & Freitas(2001), mortalidades têm ocorrido nacosta da Flórida e no golfo do México.

O envenenamento diarréico (DSP),envolve o consumo de moluscos bivalvesque ao longo da cadeia alimentar tenhaacumulado o ácido okadáico (C44H71

NO13) e as dinofisistoxinas (DTX5) e emmenos escala a yessotoxina podem con-tribuir para a síndrome DSP.

Na ordem dos moluscos bivalves(ostras, mexilhões, vieiras), os dino-flagelados pertencentes aos gênerosDinophysis (D. acuminata, D. acuta,D. fortii, D. mitra, D. noruegica, D. ro-tundata) e Prorocentrum estão sempreenvolvidos na DSP.

O mecanismo de ação do ácido oka-daico, resulta da inibição das fosfatasesque regulam diversos processos meta-bólicos, o balanço iônico e o própriociclo celular.

Os sintomas podem ser iniciadoslogo após a ingestão e consiste de náu-seas, vômitos, diarréias e fortes doresabdominais. A literatura especializadaregistra que o ácido okadaico pode pro-porcionar tumores com a mesma in-tensidade que o éster de forbol, sendoportanto responsabilizado pela elevadaincidência de câncer no aparelho di-gestivo de japoneses.

O envenenamento amnésico (ASP)resulta da ação do ácido domóico(C15H2NO5) e também é provocado pe-lo consumo de moluscos bivalves quese alimentam de plantas diatomáceaspertencentes ao gênero Pseudonitzschia(P. sungens) e Nitzchia (N. pungens f.multiseries N. pseudodelicadissima, N.pseudoseriata). Certas macroalgas co-mo Chondria sp., C. camata, Amphoracaffaeiformes também produzem o áci-do domóico, que é um aminoácido tri-carboxílico solúvel em água (VauDolah, 2000).

Outras toxinas, como Ciguatera (-CTX) provocam envenenamento e sãocomuns em peixes tropicais e subtropi-cais que habitam recifes e possuem há-bitos semi-pelágicos. A CTX (C53H77

NO24) tem natureza lipídica e é comumentre moréias. Envolvem outras toxinascomo a maitotoxina dos peixes cirur-giões; a scaritoxina dos budiões, a pa-litoxina (C129H223N3O54) dos peixes por-cos. Vários peixes pertencente às fa-mílias Serranidae, Epinephilidae (ba-dejos), Lutjanidae, Carangidae ePomasidae também acumulam a toxi-na que são produzidas por dinoflagela-dos (Gambierdiscus toxicus).

Esses produtos do mar quando inge-ridos, produzem sintomas após 30 mi-nutos aproximadamente, que se asse-melham ao da gripe e persistem pormeses. A LD50 da CTX é de 0,45mg/Kgque corresponde a 2,5g de carne de pei-xe tóxico.

Os estudos sobre toxinas de origemmarinha, os trabalhos de Berlink (1995)e Kelemon (1997) são bastante esclare-

Page 53: Revista CFMV n26

51Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

cedores. A avaliação farmacológica dediversas substâncias, como a quitina ea quitosana dos crustáceos; as cartila-gens de tubarão que têm se mostradoeficaz no tratamento de alguns tiposde carcinomas, osteoporose, etc., se-rão em futuro breve bastante úteis àmedicina.

5. Contaminantes

Os contaminantes são substânciasindesejáveis normalmente presentesem pequenas quantidades, como re-sultado da atividade humana exerci-da sobre o meio ambiente. Podem es-tar presentes por excesso de aditivos,que são substâncias intencionalmenteincorporadas nos alimentos para me-lhorar as suas características senso-riais, devido ao processamento apli-cado ou ainda, resíduos de medica-mentos utilizados.

Os resíduos medicamentosos naspartes comestíveis do pescado são con-seqüências do problema enfrentado pe-lo aqüicultores, as enfermidades que oslevam a fazer uso de medicamentos,com a finalidade preventiva ou curati-va. Este tipo de problema também temocorrido com outras espécies cultiva-das ou em seus produtos, como o leite.

Esta problemática poderia ser di-minuída ou sanada, se os prazos esta-belecidos pelos fabricantes para a eli-minação das drogas fossem cumpridas.A excreção de determinados medica-mentos pelos peixes está na dependên-cia de parâmetros externos, como a sa-linidade, o pH e principalmente, a tem-peratura da água, que interfere no seumetabolismo.

Os medicamentos utilizados emaquicultura são: sulfamerazina, oxite-traciclina, cloranfenicol, flumequina,eritromicina, ampicilina, tetraciclina efurazolidona. Dentre estes, a furazoli-dona apresenta grande vantagem de sedegradar rapidamente nos peixes, po-rém outros medicamentos, como a oxi-

tetraciclina, requer longo período paraa sua eliminação (Ruiter, 1999).

5.1 Metais pesadosAlguns elementos, ainda que essen-

ciais para a vida, mesmo em pequenasquantidades, são tóxicos quando emconcentrações mais elevadas, comoocorre com o cobre e o flúor. Afortu-nadamente, nenhum destes elementoscontaminam tanto o nosso meio ambien-te como outros elementos químicos.

No caso dos metais pesados como ochumbo, o cádmio e o mercúrio, a si-tuação é diferente porque estes elemen-tos, de acordo com o que se sabe hoje,não parecem ter nenhuma função con-creta na vida. Não são essenciais e sãoconsiderados elementos perigosos, porsua toxicidade.

Por não serem essenciais, acredita-se que maiores concentrações de chum-bo, cádmio ou mercúrio em alimentosrepresentam grande perigo, principal-mente porque a existência de traços ...ao poder acumulativo desses elementosno organismo humano, muito emboraocorra .... muito na natureza, não impe-diu o desenvolvimento do humano,apesar das quantidades terem aumentodevido... sem causar danos ao homem.

A contaminação com metais pesa-dos ocorre através de águas superfi-ciais de áreas terrestres, das águas ma-rinhas e pelos efluentes. No caso domercúrio, existe uma outra importanterota de contaminação que é a atmos-férica (Ruiter, 1999).

É bem sabido que há uma granderelação entre a idade e o tamanho decertos organismos marinhos e seu con-teúdo em metais pesados. Estas rela-ções dependem dos hábitos alimentaresdo pescado e do lugar que ocupa (maiorou menor profundidade) na água.Como conseqüência, não são todos osorganismos marinhos que podem serempregados como indicadores de con-taminação da água marinha. Isto sig-nifica também que a contaminação da

água do mar com metais pesados nãorefletem claramente que todos os or-ganismos que vivem na água contami-nada. Não obstante, nos últimos anos setem estabelecido numerosas relaçõesdeste tipo.

Diversos autores pesquisaram ní-veis de contaminação por metais pesa-dos em diversas partes do mundo, en-tre eles, Bidone et al. (1997) que aoanalisarem 16 espécies de peixes car-nívoros e onívoros consumidos pelapopulação da área do rio Tartaru-galzinho (Amapá), detectaram concen-trações de mercúrio entre elas, oito es-pécies apresentaram concentraçõesmais elevadas do que 500 mm g/kg,nível máximo de mercúrio permitidopela Food Drug Administration.Yeardley et al. (1998) observaram ín-dices de metilmercúrio superiores aovalor considerado crítico em peixes(0,2 g/g) em 26% de um total de 167lagos monitorados no nordeste dosEstados Unidos. Barlas (1999) verifi-cou contaminação em água, sedimen-to e peixe da bacia de Sakarya(Turquia). O Departamento de Pesca eAqüicultura do Ministério da Agricul-tura, Pecuária e Abastecimento, deter-mina limites máximos de tolerânciapara contaminantes inorgânicos, co-mo se pode observar na Tabela 1.

5.1.1 Chumbo As reservas residuais, do uso de ga-

solina e tintas com chumbo, velhas ca-nalizações das casas, são apontadas co-mo causas da contaminação dos ali-mentos pelo chumbo, que ocorrem nascadeias tróficas aquáticas por deposiçãoatmosférica ou por descargas de chum-bo na água procedentes da indústria doferro e do aço.

Nos organismos aquáticos, a maiorconcentração de chumbo é encontradanos peixes carnívoros, grandes preda-dores, como por exemplo no bacalhaudo noroeste do Atlântico e no atum, osvalores encontrados no músculo do

Page 54: Revista CFMV n26

pescado foi de 0,01mg/kg-1 e valoressimilares tem sido constatado no ba-calhau e outros pescados da Europa(Hangel e Vos, 1989).

No humano, o chumbo, além de serteratogênico, provoca intoxicação crô-nica, denominado saturnismo, que éprovocado por alterações das enzimasque participam da síntese de compo-nentes da hemoglobina, resultando emanemia sideroblástica e alteração daforma dos eritrócitos. O sistema ner-voso é o mais atingido pela toxicidadedeste elemento, sendo este efeito maisintenso em crianças, nas quais, quan-tidades clinicamente infratóxicas po-dem ocasionar encefalopatia com com-prometimento do seu desenvolvimen-to intelectual, bem como pode ser ve-rificado neuropatia, a nível do sistemanervoso periférico.

Quando os níveis de magnésio, cál-cio, ferro e vitamina D se encontramem baixos valores na dieta, a absorçãode chumbo pode ser mais acentuada.

5.1.2 CádmioAntigamente, uma das causas mais

freqüentes de intoxicação aguda porcádmio era conseqüência do seu usona fabricação de utensílios de cozinhaou recipientes de cerâmica, esmalta-

dos, sendo atualmente proibido namaioria dos países.

Segundo Ruiter (1999), nos crustá-ceos e moluscos encontram-se altos ní-veis de cádmio e mesmo aqueles pro-cedentes de águas consideradas nãocontaminadas, pode-se encontrar con-centrações superiores a 1 mg/kg. Estesalimentos geralmente são consumidosde forma esporádica, e por isso, as do-ses toleráveis de cádmio provisoria-mente proposta pela OMS é de 400 a500 mg por semana para um adultonormal, não se ingere habitualmente eportanto, não existe um alto risco paraa saúde.

Os alimentos podem ser contami-nados com o cádmio por várias vias.Seguindo uma cadeia terrestre, o cád-mio pode passar desde o solo e águacontaminados aos vegetais, e destes,aos animais e ao homem. Esta cadeia éfreqüente em áreas de elevado teor deminério e o uso de fosfatos com altoconteúdo de cádmio como fertilizan-te, a deposição atmosférica de cádmiosobre as colheitas em lugares próxi-mos de fontes de emissão e a saída delodos contaminados sobre a terra e omar, contribuem na contaminação dosalimentos. Os sistemas aquáticos tam-bém se constituem uma cadeia de acu-mulação biológica do cádmio atravésdos crustáceos e moluscos, que ingeremplâncton que pode conter cádmio e oacumulam no seu organismo.

O conhecimento sobre a especiali-zação e distribuição de cádmio nos ali-mentos é bastante escasso. Nos ani-mais invertebrados uma grande partedo cádmio se une a metalotioneína ouproteínas similares, como no caso doscrustáceos e moluscos tem-se demons-trado que a maioria do cádmio se acu-mula no hepatopâncreas na forma decomplexos metalotioneína-cádmio.Quando se consome carne de caran-guejos enlatados na digestão gastrin-testinal “in vitro” , o cádmio aparece as-sociado a complexos solúveis de peso

molecular inferior a 1.000, indicandoque existe uma diferente resistência en-tre a metalotioneína de caranguejo e ametalotioneína dos rins de porco.

No humano, a absorção de cádmioocorre no trato intestinal, em cerca de5% do total ingerido, podendo variarde acordo com os fatores nutricionais efísio-patológico. Pessoas com baixasreservas de ferro ou com problemas deeliminação fecal, a proporção de cád-mio absorvido é maior. Em animais,foi observado que uma dieta baixa emcálcio e proteína aumenta a absorçãointestinal do cádmio.

A absorção do cádmio ocorre emduas etapas. Inicialmente, as células damucosa internalizam o cádmio presen-te na luz intestinal e posteriormente,uma parte do cádmio atravessa a mem-brana basolateral dos enterócitos parapassar para a circulação sanguínea.

Andres et al. (2000) verificaram quea concentração de cádmio em peixes émaior nos rins e, as brânquias e intes-tino apresentaram variações, por seremórgãos de trocas rápidas.

5.1.3 MercúrioDentre os efluentes químicos, o

mercúrio assume grande relevância emsaúde pública, considerando que é ummetal pesado de efeito cumulativo pa-ra o homem, Nos casos graves, provo-ca dificuldade de locomoção, a perdade cabelo e a cegueira. Geralmente, éeliminado nas águas pelos efluentes in-dustriais (Germano & Germano, 19..).

O mercúrio é um elemento normal-mente encontrado em toda a natureza,sendo a toxicidade da forma inorgâni-ca menor do que os compostos metil,dimetil e etil mercúrio, porque o pri-meiro é excretado nas fezes, suor, uri-na e através dos pulmões, enquanto osdemais compostos são excretados ape-nas pela urina (Zican et al., 1982).

A contaminação do pescado pelomercúrio é completamente diferentedo cádmio e do chumbo. Existe uma

52 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Tabela 1. Limites máximos de tolerância para contaminantes, estabelecidos pelo Departamentode Pesca e Aqüicultura doMinistério da Agricultura, Pecuáriae Abastecimento.

CONTAMINANTES ppmAntimônio 2,0Arsênio 1,0Cádmio 1,0Chumbo 2,0Cobre 30,0Cromo 0,1Estanho 250Mercúrio 0,5Níquel 5,0Fonte: Brasil (1965)

Page 55: Revista CFMV n26

53

forte tendência de acumular-se no meiomarinho pela peculiar propriedade dosíons de mercúrio serem metilados pe-las bactérias marinhas. Os íons de mer-cúrio são absorvidos no trato digestivohumano e dos animais em uma propor-ção de 5 a 10%, podendo chegar a100% quando é rapidamente transfor-mado em mercúrio inorgânico. O íonmetilmercúrio (CH3Hg+) possui a pro-priedade lipofílica, e por esta razão, émuito mais absorvido no intestino(Ruiter, 1999).

Lacerda (1997) relata que 65 a 83%das 200 toneladas de mercúrio lançadasna Amazônia entram na atmosfera, sen-do este mercúrio altamente reativo eprontamente disponível para metilaçãoe bioacumulação.

No pescado, os níveis de mercúriosão superiores aos de outros metaisbivalentes, apesar de concentraçõesrelativamente baixas que existem emáguas marinhas. Isto também é con-seqüência da alta absorção do metil-mercúrio, que foi a forma do mercúrioencontrada por Bidone et al. (1997)em 88% das amostras de cabelo dehabitantes de aldeias próximas ao rioTapajós (AM). Além disso, estes au-tores verificaram concentrações demercúrio semelhantes em peixes car-nívoros e não carnívoros, contrastan-do com os relatos de Boudou et al.(1980) ao observarem que a acumu-lação de mercúrio foi maior em tru-tas, elemento final da cadeia (algas,invertrabados, peixes). Mergler et al.(1997) afirma que a contaminação émaior em peixes predadores.

Souza Lima et al. (2000) tambémverificaram enorme diferença nas con-centrações de mercúrio entre peixescarnívoros (média de 222,1 ng/g) e her-bívoros (31,9 ng/g), da bacia do rioTapajós, município Santarém-PA.

Segundo Mergler et al. (1997), es-tima-se que cerca de um milhão de pes-soas estão na extração de ouro, quedespejam cerca de 130 toneladas de

mercúrio a cada ano no rio Tapajós(AM), contaminando o sedimento flu-vial, os peixes e as pessoas que moramnas proximidades do rio. Porém, a con-taminação observada no sedimento flu-vial, em todos os peixes capturados enas pessoas que moram nas proximida-des do citado rio, parece ser causadanão só pelo mercúrio utilizado na extra-ção, como também pelo mercúrio dosolo, devido a sua acumulação por mui-tos anos, sendo liberado nas águas pe-la erosão dos solos causada pelo desma-tamento.

Estes mesmos autores (Mergler etal., 1997) ao avaliarem o controle daatividade motora e da visão, associa-dos com as concentrações de mercú-rio nos cabelos dos habitantes das al-deias próximas ao rio Tapajós, verifica-ram alterações do sistema nervoso empessoas que apresentaram níveis de ex-posição relativamente baixos. Estes ní-veis foram inferiores ao limite de 50ppm estabelecido pela OrganizaçãoMundial da Saúde (OMS), com basenos estudos realizados nos residentes dabaía de Minamata expostos a altas con-centrações de mercúrio.

Bidone et al. (1997) ainda verifica-ram que a entrada diária de mercúrio norio Tapajós era de 48 ug, bem mais ele-vado do que o nível máximo tolerávelde 30 ug, de acordo com a OMS.

5.2 PesticidasO termo genérico pesticida inclui

inseticidas, herbicidas, fungicidas, ra-ticidas, vermicidas, moluscocidas, ame-bicidas, algicidas, fumigantes, anti-mo-fos, desfolhantes, anti-maturantes, es-terilizantes do solo e retardadores daevaporação da água.

Os pesticidas, provenientes das ati-vidades pecuárias, englobam uma gran-de diversidade de compostos quími-cos, todos eles, em maior ou menorgrau, prejudiciais ao homem e aos ani-mais, aí incluídos os próprios seresaquáticos (Germano et al., 2001).

Em numerosos trabalhos tem-se de-monstrado a produção de intoxicaçõesagudas por praguicidas em humanos.Este problema não afeta somente o tra-balhador agrícola, sujeito a maior expo-sição, como também o meio ambientee conseqüentemente a comunidade,com a contaminação de alimentos,águas, solos, ar e alteração de todo osistema ecológico (Garcia, 1998).

Segundo Halstead (1972), os pesti-cidas organoclorados, de distribuiçãoubíqua e incontrolável que hoje atingeáreas distantes daquelas em que seu usofoi intencional, são um problema graveem toxicologia ambiental pela sua per-sistência e bioacumulação, bem comopara a saúde pública, porque além desuas propriedades tóxicas, alguns apre-sentam propriedades cancerígenas.

Boer & Wester (1993) relatam que oshidrocarbonetos hidrogenados, como obifenil policlorados (PCB), naftalenospoliclorados, tetraclorobenziltoluenos,praguicidas como DDT, hexacloroben-zenos (HCB), hexaclorociclohexanos (-HCH), dibenzadioxinas policloradas (-PCDD), dibenzofuranos (PCDF), tem si-do detectados em pescados em todo omundo. Estes compostos chegam ao meioambiente através de descargas de águasresiduais, se acumulam nos sedimentos,devido a sua baixa solubilidade em água,com tendência a se aderir às partículas.De acordo com Suzuki (1992), compos-tos orgânicos de estanho fazem parte des-tes contaminantes, que a partir dos anos70 começaram a ser utilizados como bio-cida e nas pinturas de fundos de barcos eredes de cultivo, para evitar a incrusta-ção de organismos marinhos.

Nos últimos anos a preocupaçãocom os contaminantes tem aumenta-do, principalmente devido a falta dedados epidemiológicos que poderiamauxiliar no cálculo de risco para ocor-rência de câncer, de acordo com os ní-veis de contaminação (Reinert, 1994).Estes riscos são apresentados por di-versos autores, em várias partes do

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Page 56: Revista CFMV n26

54 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

ANDRES, S.; RIBEYRE, F.; TOURENCQ, J-N et al.Interspecific comparison of cadmium and zinc contami-nation in the organs of four fish species along a polyme-talic pollution gradient (Lot River, France). ScienceTotal Environmental, v.28, n.1, p.11-25, 2000.

BARLAS, N, A pilot study of heavy metal concentrationin various environments and fishes in the Upper SakaryaRiver Basin, Turkey. Environmental Toxicology, v.14,n.5, p.367-373, 1999.

BARROS, G.C. & LIRA, A.A. Ictiozoonoses parasitáriasimportantes para saúde pública. Recife: ImprensaUniversitária, 1998, p. 6-195.

BAYARD, H M.C. Introducción a la biología marina.Zaragoza: Acribia. p. 3-387, 1974.

BIDONE, E.D.; CASTILHOS, Z.C.; CID DE SOUZA, T.Met al. Fish contamination and human exposure to mer-cury in the Tapajós river basin, state Amazon, Brazil: ascreening approach. Bulletin EnvironmentalContamination Toxicology, v.59, n.2, p.194-201, 1997.

BIDONE, E.D.; CASTILHOS, Z.C.; SANTOS, T.J.S.; SOU-ZA, T.M.C et al. Fish contamination and human expo-sure to mercury in Tartarugalzinho River, Amapa State,Northern Amazon, Brasil. A screening approach. Water,Air & Soil Pollution, v. 97, n.1-2, p.9-15, 1997.

BOER, J. & WESTER, P. Determination of toxaphene in hu-man milk from Nicaragua and fish and marine mammalsfrom the Northeastern Atlantic and the North Sea.Chemosphere, v.27, p.1879-1890, 1993.

BRASÍLIA:DF. Ministério da Agricultura, Pecuária eAbastecimento. Departamento de Pesca e Aqüicultura.Decreto no 55.871 de 26 de março de 1965. Estabelecelimites máximos de tolerância para contaminantes inor-gânicos nos alimentos. Disponível em: < http://www.agricultura.gov.br/dpa/aquicola/aquicola03.htm>.Acesso em: 18 junho 2002.

CHIEFFI, P.P.; LEITE, O.H.; DIAS, R.M.D.A. et al. Human pa-rasitism by Phagicola sp. (Trematoda, Heterophydae) inCananéia, São Paulo State. Revista do Instituto de MedicinaTropical de São Paulo, v.32, n.4, p.285-288, 1990.

CHUMBO. Disponível em: http://www.deco.proteste.pt/sabordosaber/cap3/chumbo.htm. Acesso em: 16 julho2002.

CLIVER, D.O. Virus transmission via foods. FoodTechnology, v.42, p.241-248, 1988.

DE SOUZA LIMA, A.; SARKISMUNELLER, R.; SOUZASARKIS, J. et al. Mercury contamination in fish fromSantarém, Para, Brazil. Environmental Research, v.83,n.2, p.117-122, 2000.

COLOMBO, J.C.; BILOS, C.; LENICOV, M.R et al.Detritivorous fish contamination in the Rio de la PlataEstuary: A critical accumulation pathway in the cycle ofanthropogenic compounds. Canadian Journal FisheriesAquatic Science, v.57, n.6, p.1139-1150, 2000.

FAO. Food safety repetitions applied to fish by the ma-jor importing countries. FAO fisheries Circular n.825, FAO, Rome, 1989.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

mundo, em trabalhos sobre a determi-nação destes compostos em peixes, de-monstrando a contaminação em váriosambientes, como nos salmão e aren-que do Mar Báltico, que apresentaramaltos níveis de dibenzodioxinas de po-liclorinato e dibenzofuranos, sendo im-portante fonte de exposição, cujas con-seqüências clínicas permanecem incer-tas (Svensson et al., 1991).

Ao quantificarem hidrocarbonetoalifático, praguicidas clorados, bife-nóis de policloridratos (PCB), dioxi-nas e traços de metais pesados em pes-cados do rio Plata (Argentina),Colombo et al. (2000) verificaram ele-vados níveis destes contaminantes or-gânicos, principalmente hidrocarbone-to alifático e PCB. Os níveis de conta-minação variaram, refletindo as prefe-

rências alimentares dos peixes anali-sados e foram maiores nas proximida-des dos centros urbanos.

Apesar dos PCBs apresentarem bai-xa solubilidade em água, foi demons-trado por Zabik et al. (1992) que podemser extraídos do pescado pela cocção,sendo eliminado até 35% do músculodo caranguejo.

Page 57: Revista CFMV n26

55Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

FREYVOGEL, T.A. & PERRET, B.A. Notes on Toxicology.Experientia, v.29, n. 11, p. 1317 – 1319, 1973.

GARCIA, J.E. Intoxicaciones agudas con praguicidas: cos-tos humanos y económicos. Revista Human SaludPublica, p.383-386, 1998.

GERMANO, P.M.L.; GERMANO, M.I.S.; OLIVEIRA,C.A.F. Qualidade do pescado In: Higiene e vigilânciasanitária de alimentos. Germano, P.M.L. & Germano,M.I.S. São Paulo:Varela , p.120, parte 8, 2001.

GLEIBS, S. & MEBS, D. Distribution and sequestration ofpalytoxin in coral reef animals. Toxicon, v. 37, p. 1521– 1527, 1999.

HALSTEAD, D.W. Poisonous and venomous marine ani-mals. v. 2 U.S., Washington: Governamental PrintingOffice, p. 25-566, 1967.

HALSTEAD, D.W. Toxicity of marine organism caused bypollutants. In: Marine pollution an sea life. FishingNews, p. 39-78, 1972.

HUSS, H.H. Garantia de qualidade dos produtos da pes-ca. FAO, Documento Técnico no 334, 1997. 175 p.

IGARASHI, M.A.; ARAGÃO, P.L.; CARVALHO, C..Aspectos para o desenvolvimento da aqüicultura. In:Congresso Brasileiro de Engenharia de Pesca/ ICongresso Latino-Americano de Engenharia de Pesca,11., 1999, Recife. Anais...Recife-PE, AEP-FAEP/BR,1999. v.1 p. 127-136.

KAO, C.Y., Tetrodontoxina, saxitoxina and the significan-ce in the study of excitation. phenomena. PharmacologyMagazine, v.18, n.2, p. 997 – 1049, 1966.

LACERDA, L.D. Atmospheric mercury and fish contami-nation in the Amazon. Ciência e Cultura, v.49, n.1-2,p.54-57, 1997.

MERGLER, D. & LUCOTTE, M. Contaminación de mer-curio en el Amazonas. Disponível em: < http://www.-idrc.ca/ books/reports/1997/19-01s.html>. Acesso em:16 julho 2002.

REICHENBACH–KLINKE, H.H. Enfermidades de lospeces. Zaragoza:Acribia, p. 2-449, 1980.

RICHARDS, G.O. Outbreaks of shellfish associated ente-ric virus illness in the United States: requisit for deve-lopments. Applied Environmental Microbiology, 1985.54, 515- 823.

RIM, H.J. Clonochíasis. En: Hiller, G.V. y C.E. Hopla (sec-tion eds.) CRC- Handbook Series in Zoonoses. SectionC,v. 3. Boca Ratón, Florida:CRC Press, p. 47-87, 1982.

ROBERT, R.J. Patología de los peces., Madrid: Ed. Mundi-prensa, p. 1-366, 1981.

ROCHA, I.P.. Aqüicultura: Realidade mundial e perspecti-va para o Brasil. In: Congresso Brasileiro de Engenhariade Pesca, 9.,1995. São Luis-MA. Anais...São Luis –MA:AEP – MA, 1995. p 26-39.

ROSS, R. Hepatitis epidemic conveyed by osters. SevenskaLäkartidningen, p. 2- 889, 1956.

RUITER, A. El pescado y los productos derivados de lapesca. Composición, propiedades nutritivas y estabi-lidad. Zaragoza:Acribia, p. 277-303, 1999.

SHIMIZU, Y. Dinoflagellate toxins. In: the biology ofDinoflagellates, Oxford: Ed. By F.J.R. Taylor, BlackwellScientific Publications, p. 282 – 315, 1987.

STRATTEN, M.D. & S.L. Taylor. Scombroid psisoming.In: Microbiology of marine food products. Eds. D.R.Ward and C.R. HACHREY Van Mostrand Reinhold.1991. p. 333-351.

SVENSSON, B.G.; NILSSON, A.; HANSSON, M. et al.Exposure to dioxins and dibenzofurans through the con-sumption of fish. New England Journal Medicine,v.324, n.1, p.8-12, 1991.

SUZUKI, T.; MATSUDA, R.; SAITO, Y. Molecular spe-cies of tri-n-butyltin comppunds in marine products.Journal of Agricultural and Food Chemistry, v.40,p.1437-1443, 1992.

Page 58: Revista CFMV n26

56 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

TANG, Y.W.; WANG, J.X.; XU, Z.Y. et al. A serologicallyconfirmed case-control study of a large outbreak of he-patitis A in China, associated with consumption of clans-1991, Epidemiology Infection 107, 651-657.

TAYLOR, F.J.R. Red Tides, Brown tides and others harm-ful algal blooms. The view into 1990’s. In: Toxic ma-rine phytoplankton, Proceedinds 4th , Ed. By Granel,E.; Sindstrom, B.; Edier, L. & Anderson, D.M...

VALLESPIN, L. M.; SANCHEZ, L.; CALVO, M. Cadmioen leche y otros alimentos. Disponível em: < http://-www.medspain.com/n5_jun99/cadmio.htm>. Acessoem: 16 julho 2002.

VAN DOLAH, F.M. 2000. Diversity of marine and fres-hwater algal toxins. In: Seafood Toxicity. No prelo.

WARD, R.L. & E.W. AKIN. Munimum infective dose of ani-mal viruses- Critical Magazine EnvironmentalControl, 1983-310.

ZABIK, M.E.; HARTE, J.B.; ZABIK, M.J et al. Effect ofpreparation and cooking on contaminant distribution incrustaceans: PCBs in blue crab. Journal of AgricultureFood Chemistry, v.40, p.1197-1203, 1980.

ZICAN, C.A.; VIEIRA, L.H.C.; ALBINO, N. Dados sobrecontaminação de pescado por mercúrio. BSB18.02.82, SIPA/DIPE. Ministério da Agricultura. p. 4-11, 1982.

Page 59: Revista CFMV n26

57Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Afecções do sistema respiratório relacionadas aperformance do cavalo atleta

For a horse to reach a good performance as an athlete, all body system must beworking well. When one or more systems fail, the horse is no longer able to performto its potential, and a decline in performance during training or competition will benoticed. Respiratory abnormalities are the second cause of poor performance in theathlete horse after musculosketeletal problems. The objectives of this study is toreview the structure and function of airways in the equine, evaluating anatomy,pharmacology, management and treatment of some airway conditions providing anunderstanding of some diagnostic testing procedures available and how these testsare used to diagnose performance-related problems.

Key-words: equine, airway disease, low performance, bronchodilators.

INTRODUÇÃO

1. Aparelho respiratório

O aparelho respiratório compreen-de os pulmões e um sistema de tubosque comunicam o parênquima pulmo-nar com o meio exterior. Há uma dife-renciação clássica no aparelho respi-ratório entre parte condutora, que com-preende as fossas nasais, naso-faringe,laringe, traquéia, brônquios e bronquío-los, e parte respiratória, representadapelas porções terminais da arvore brôn-quica e que contém os alvéolos, úni-cos locais onde se dão as trocas gaso-sas (Junqueira & Carneiro, 1995).

A eficiência funcional do sistemarespiratório depende da sua habilida-de em oxigenar e remover dióxido decarbono do sangue, à medida que elepassa pela circulação respiratória. A in-terferência nessas funções pode ocorrerde vários modos, mas a falha subjacen-te em todos os casos é a perda ou dese-quilíbrio no fornecimento de oxigêniopara os tecidos (Radostits et al., 2002).Este fornecimento inadequado de oxi-gênio pode causar estresse respirató-rio profundo pela dificuldade da passa-gem do ar para os pulmões através dosistema brônquio-traqueal. O exercí-cio requer um aumento na taxa respira-tória e, conseqüentemente, qualquerafecção das vias aéreas pode levar aum desequilíbrio na distribuição deventilação, durante o exercício, e acar-retar em uma baixa de desempenho nocavalo atleta.

ABSTRACT

Para que o cavalo atinja um bom desempenho em pistas como um atleta, todos os sis-temas do corpo necessitam está funcionando a contento. Quando ocorre falha em umdesses sistemas, o cavalo não consegue atingir seu potencial máximo, levando a bai-xa ou queda de performance durante treinamento ou competição. Anormalidades as-sociadas ao sistema respiratório são descritas como a segunda maior causa de que-da de performance seguido de problemas relacionados ao sistema músculo-esquelé-tico. Este trabalho tem como objetivo realizar uma revisão sobre a estrutura e funçãodas vias respiratórias no eqüino, avaliando sua anatomia, farmacologia, manejo e tra-tamento de algumas afecções que acometem as vias respiratórias assim como exporalguns tipos de procedimentos diagnósticos disponíveis, analisando como estes testespodem ser utilizados no auxílio diagnóstico de problemas relacionados com queda deperformance.

Palavras-chaves: equino, vias respiratórias, baixa performance, broncodilatadores.

Gustavo Ferrer Carneiro,Médico Veterinário, CRMV-PE nº 1327,Ph.D, Bolsista CNPq do Programa de Desenvolvimento Científico Regional (DCR)Av. Bernardo Vieira de Melo 3119, Apto. 902 Piedade Jaboatão dos Guararapes – PECEP.: 54.420 – 010.E-mail: [email protected]

RESUMO

Page 60: Revista CFMV n26

58 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

2. Estrutura e funções dosistema brônquio-traqueal

O sistema brônquio-traqueal ini-cia-se na laringe distal terminando nosbronquíolos respiratórios. Este sistemarepassa ar para os ductos alveolares ealvéolos onde ocorrem as trocas ga-sosas. Afecções desse sistema são re-lativamente comuns. Doenças viraisem potros danificam o sistema muco-ciliar tendo conseqüência direta na se-creção do muco e na regulação damusculatura lisa. No cavalo atleta, in-flamação das vias respiratórias estáassociada clinicamente com baixa deperformance e muitas vezes é decor-rente de uma combinação de processosinfecciosos associados a contamina-ção do meio ambiente. Obstrução se-vera das vias respiratórias em animaisadultos ocorrem em decorrência de re-petidas exposições a poeira, bactérias,endotoxinas e outros contaminantes,tanto em estábulos como no pasto.Nestes animais, alterações na secre-ção de muco e na tensão da muscula-tura lisa estão claramente associadascom inflamação das via aéreas(Robinson, 1997).

Para obter oxigênio suficiente du-rante as competições, o cavalo atletaaspira e expira um volume considerá-vel de ar por minuto nos pulmões atra-vés do sistema brônquio-traqueal.Além disso, o sistema brônquio-tra-queal protege os pulmões de substân-cias irritantes (como poeira e gasespoluentes), de antígenos e de agentesinfecciosos. O mecanismo de defesadas vias aéreas superiores incluem tos-se, sistema muco-ciliar, fagócitos,musculatura lisa e circulação bron-quial. Estes mecanismos filtram a pas-sagem de materiais inalados para den-tro dos pulmões e ajudam na neutrali-zação e eliminação destes organismos.Os mecanismos de defesa são solicita-dos para auxiliar no tratamento das di-versas afecções do sistema brônquio-

traqueal e muito dos sintomas expos-tos que são reconhecidos como doen-ças, demonstram simplesmente umareação desses mecanismos de defesa.Dessa maneira, a passagem de ar ficaobstruída pelos brôncoespasmos, acú-mulo de muco e edema do epitélio daparede respiratória. Esta obstrução cau-sa dificuldades na respiração e impe-de as trocas gasosas reduzindo conse-qüentemente a performance (Martinet al., 2000).

3. Anatomia funcional dasvias respiratórias

As vias respiratórias são alinhadaspor uma membrana mucosa, que con-siste do epitélio e lâmina própria que érica em fibras elásticas. Segue-se à mu-cosa uma camada muscular lisa e car-tilagens. Na traquéia e brônquios, oepitélio é pseudoestratificado e colu-nar consistindo de células secretórias,células ciliadas e células com micro-vilas que participam nas trocas de ele-trólitos e fluídos (Fig.1). As células epi-teliais proporcionam os mecanismosde eliminação mucociliar dos resíduos.As glândulas submucosas também con-tribuem na secreção do muco das viasaéreas. Nos bronquíolos o epitélio écúbico simples. Abaixo do epitélio, a lâ-mina própria contém uma variedade desensores e nervos motores alem de va-sos sanguíneos. Estes vasos formamum plexo da circulação bronquial e pro-porcionam nutrientes para a parede res-piratória, ajudando no aquecimento eumidificação do ar, participando ain-da dos mecanismos de resposta infla-matória nas doenças das vias respirató-rias. As peças cartilaginosas propor-cionam suporte para a parede das viasaéreas. Na traquéia as cartilagens emforma de U fazem parte da parede dasvias aéreas e a musculatura lisa conec-ta dorsalmente o espaço entre as pon-tas dessas cartilagens (Junqueira &Carneiro, 1995).

4. Controle da contraçãomusculatura lisa

O principal regulador das vias res-piratórias através da árvore brônquicaé a musculatura lisa. No animal sadio,a musculatura lisa é regulada prima-riamente pelo sistema nervoso autôno-mo e por algumas interações com oepitélio. Em animais doentes, a dimi-nuição do espaço das vias respiratóriasse dá através da liberação de mediado-res químicos que provocam contraçãoda musculatura lisa.

A) Regulação nervosa da mus-culatura lisa das vias respiratórias

A descrição clássica de inervaçãopulmonar incluem 2 sistemas eferen-tes - simpático e parassimpático e umsistema aferente - sensorial (Pendry,1993).

B) Fatores epiteliaisO epitélio produz fatores que ini-

bem a contração da musculatura lisa.Apesar do epitélio ser fonte de prosta-nóides inibitórios, como prostaglandi-na E2 (PGE2) (Gray et al., 1992), o fa-tor inibitório derivado do epitélio apa-rentemente não se trata de um prosta-nóide (Tessier et al., 1991; Yu et al.,1993b). Yu et al., 1994 propuseram queo próprio dano epitelial pode levar aum aumento da contração da muscu-latura lisa. Entretanto, no cavalo comdoença pulmonar obstrutiva crônica (-DPOC) ocorre redução da contraçãoda musculatura lisa.

C) Mediadores da inflamaçãoUma série de mediadores da infla-

mação podem causar broncoespasmos.Histamina (Derksen et. al., 1985;Doucet et. al., 1991) quando se liga aoreceptor H1 contrai diretamente a mus-culatura lisa das vias respiratórias. Aserotonina tem efeitos diretos e indi-retos similares. Os prostanóides têmefeitos variados dependendo do tipo de

Page 61: Revista CFMV n26

59Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

prostaglandina liberada e do receptora que se ligam. Nas vias aéreas nor-mais, PGE2 é o principal produto da ci-

clo-oxigenase sendo produzido espe-cialmente no epitélio (Gray et al.,1992). Age inibindo a contração da

musculatura lisa (Wang et al., 1992).As leucotrinas, produto do metabolis-mo do acido araquidônico tem uma va-riedade de ações nas vias respiratórias,tais como atrair os neutrófilos, aumen-tar a secreção de muco e broncoespas-mo. No cavalo, a administração de ae-rosol contendo leucotrina B4 (LTB4)causa acúmulo de neutrófilos nos pul-mões (Marr et al., 1995). A adminis-tração de leucotrinas cisteinílicas, taiscomo LTC4, LTD4, e LTE4, causam con-tração da musculatura lisa das vias res-piratórias (Doucet, et al., 1990; Marret al., 1995). Os efeitos de leucotrinasna musculatura lisa são mais consisten-tes nas vias aéreas periféricas.

5. Sistema mucociliar

A árvore bronquial é delineada poruma camada de líquido mucoso que étransportado para a laringe através doscílios (Fig. 2). Apesar do conhecimen-to adquirido em diversas espécies sobrealteração do sistema ciliar em doençasdo trato respiratório, pouco se tem es-tudado este fenômeno na espécie eqüi-na. Wanner et al (1996) apresentaramuma revisão do sistema muco ciliar emanimais sadios e afetados. Diversos fa-tores são importantes para manter omovimento ciliar funcionando adequa-damente. Se a camada periciliar é mui-to profunda, a ponta dos cílios não al-cança o muco. Isto pode ocorrer quan-do há uma quantidade exagerada de se-creção. A viscosidade do muco tam-bém é ponto crítico para liberação nor-mal. Na descarga purulenta, quandoocorre um aumento da viscosidade domuco pela presença de neutrófilos e/oubactéria a ação de “varredura” efetua-da pelos cílios pode ser impedida. Omovimento muco-ciliar nos cavalos po-de ser medido por cintigrafia. A elimi-nação do muco é reduzida após admi-nistração de xilazina e detomidina, as-sim como em infecções respiratóriasvirais como na influenza. No caso es-

Figura 1

Corte de traquéia mostrando epitélio respiratório, membrana basal espessa, tecido conjuntivo muitovascularizado da lâmina própria e glândulas seromucosas. Abaixo das glândulas situa-se o tecidoconjuntivo denso do pericôndrio. Abaixo: ampliação da área retangular indicada na foto de cima.A luz da traquéia é recoberta por epitélio pseudo-estratificado colunar ciliado com células caliciformes. Este epitélio desempenha importantepapel na purificação do ar inspirado. Abaixo da membrana basal (MB) situa-se a lâmina própria cuja rica vascularização ajuda a aquecer o ar que se dirige aos pulmões.C, célula caliciforme, contendo secreção mucosa; X, células colunares ciliadas; B, célula emescova não-ciliada; cabeças de setas, células basais arredondadas; setas verticais, cílios; E, vistafrontal de células endoteliais de uma vênula. (Reproduzido com permissão da Editora GuanabaraKoogan S.A. do livro Histologia Básica – Junqueira e Carneiro 8ª Edição, pág. 288).

Page 62: Revista CFMV n26

60 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

pecífico da influenza leva-se até ummês para os movimentos retornaremao normal. Fatores como esse deixamo cavalo susceptível a infecções bac-terianas secundárias.

Vírus que danificam o epitélio brôn-quio-traqueal como a influenza, dimi-nuem a atividade mucociliar dramatica-mente, possivelmente devido a danoprovocado no epitélio. A ação de bac-térias e leucócitos reduzem a ação dadefesa mucociliar através do aumentoda secreção de muco e da diminuiçãoda função ciliar.

6. Tosse

A tosse é uma expiração violentade ar oriundo dos pulmões. Trata-se domecanismo de defesa utilizado para eli-minação de material estranho das viaspulmonares. O mecanismo de tosse éiniciado pela estimulação reflexa docentro da tosse na medula oblonga, apartir de um estímulo dos receptoreslocalizados dentro e imediatamenteabaixo do epitélio. A tosse também po-

de ocorrer a partir da irritação dos re-ceptores pela presença de material nasuperfície epitelial. Pode ser provoca-da pela presença de corpo estranho ouacúmulo de secreção e também podeocorrer após contração da musculaturalisa, por essa razão ocorre um alívioapós o uso de drogas brônquio-dilata-doras (Robinson et al., 1997).

7. Consegüências da obstrução das vias

respiratórias

A obstrução das vias respiratóriascausa estresse respiratório profundopela dificuldade da passagem do ar pa-ra os pulmões através do sistema brôn-quio-traqueal. Um corpo estranho po-de provocar uma obstrução deste tipo.Na maioria das doenças das vias respi-ratórias, a inflamação é mais intensa anível de bronquíolos. Animais com bai-xo grau de bronquite apresentam baixade performance devido a uma má dis-tribuição da ventilação nos pulmões(Robinson, 1997).

A distribuição da ventilação é umdos fatores mais importantes para de-terminar a eficiência das trocas gaso-sas nos pulmões. Desequilíbrio nestadistribuição diminui a relação perfu-são-ventilação resultando em hipoxe-mia. Quando as vias aéreas inferioressão obstruídas, o desequilíbrio se tor-na ainda maior a medida que a taxarespiratória aumenta. Como exercí-cio extenuante requer um aumento nataxa respiratória, as afecções das viasaéreas inferiores levam a um desequi-líbrio na distribuição de ventilaçãodurante treinamento ou competições,o que possivelmente é a causa maiorde baixa performance em cavalos comdoenças inflamatórias de baixo grau(Robinson, 1997).

8. Farmacologia da árvorebrônquica

Muitos grupos de drogas são utili-zados na terapia das doenças respira-tórias, com o objetivo de melhorar amucocinese ou o transporte mucoci-liar eficiente (Wanner et. al., 1996).

8.1. ReceptoresSão componentes celulares direta-

mente envolvido na ação das drogas(Hoffman and Lefkowitz, 1996).Hormônios, mediadores da inflama-ção e neurotransmissores são substân-cias ligantes endógenas para os recep-tores que regulam a função da árvorebrônquica. Ativação dos receptoresinicia uma cascata de eventos que po-de resultar em modificação no tônusbronquial, na secreção de muco, nacirculação sanguínea local, no recru-tamento de células inflamatórias oufluido, e no transporte de eletrólitospara o epitélio das vias respiratórias(Ross, 1996).

8.1.1. Receptores MuscarínicosResponsáveis pelos efeitos autôno-

mos da acetilcolina (ACh), que é libe-

Figura 2

Microscopia eletrônica de varredura da superfície de mucosa respiratória. C, célulacaliciforme. A maior parte da superfície é coberta por cílios. (Reproduzido com permissãoda Editora Guanabara Koogan S.A. do livro Histologia Básica – Junqueira e Carneiro 8ª Edição, pág. 287- Andrews P: A scanning eletron microscopy study of theextra-pulmonary respiratory tract. American Journal of Anatomy, 139:421, 1974).

Page 63: Revista CFMV n26

61Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

rada das fibras pós-gangliônicas do sis-tema nervoso parasimpático (Brown &Taylor, 1996).

a) Musculatura lisaA musculatura lisa das vias aéreas é

altamente rica em receptores muscarí-nicos. A contração da musculatura lisadas vias aéreas em resposta a libera-ção de ACh e ativação de receptoresmuscarínicos M3 é o mecanismo pri-mário do broncoespasmo no cavalo.Na presença de inflamação das viasrespiratórias, o broncoespasmo media-do por M3 é uma causa muito impor-tante de obstrução das vias aéreas(Broadstone, 1988).

b) MucoCélulas epiteliais e glândulas sub-

mucosas expressam receptores musca-rínicos M1, M2 e M3. A administraçãode drogas colinérgicas agonistas pro-vocam um aumento na secreção de mu-cina (Steel & Hanrahan, 1997) e na ta-xa de batimento dos cílios (Salathe etal., 1997).

c) Antagonistas muscarínicos Os antagonistas muscarínicos são

não-seletivos, ou seja, bloqueiam to-dos os receptores. Drogas antimuscarí-nicas como atropina e bromídio ipratro-pium (Tabela 1) são utilizadas na prá-tica principalmente para o alívio dosbroncoespasmos, sendo efetivos bron-quiodilatadores (Murphy et al., 1980;Robinson et al., 1993). A administraçãointravenosa de pequenas doses de atro-pina (5-7 mg em um cavalo de 450 kg)reduz a resistência pulmonar tendo umamelhora significativa em animais afe-tados por doença pulmonar obstrutivacrônica (DPOC) (Tabela 2). É impor-tante frisar que o sistema parasimpáti-co tem ação reguladora em vários ór-gãos. Por essa razão a administraçãosistêmica destes antagonistas provo-cam uma série de efeitos colaterais in-desejáveis, tais como, taquicardia e re-

dução da motilidade gastrointestinal(Broadstone et al., 1988).

O Ipratropium faz parte de um gru-po de antagonistas muscarínicos quater-nários juntamente com o oxitropium eo tiotropium. O ipratropium tem umtempo de meia-vida curto (4-6 horas).O tiotropium droga já testada em outrasespécies e em fase IV de testes parahumanos tem um tempo de duração depelo menos 12 horas. Já estando emfase de estudos no cavalo (Smith, 2002comunicação pessoal).

8.1.2. Receptores adrenérgicosSão ativados pela norepinefrina li-

berado pelas fibras pós-gangliônicasdos nervos simpáticos e pela epinefri-na que é liberada pela medula adrenalatingindo os pulmões através da circu-lação sistêmica (Hoffman & Lefkowitz,1996). A principal função do sistemanervoso simpático no cavalo é a regu-lação da circulação.

8.1.3. αα−−Receptores: Nas vias respiratórias eqüina, a libe-

ração de receptores α inibe a liberaçãode ACh pelos nervos parasimpáticos(Yu et al., 1993a). Circulação de epi-nefrina e norepinefrina em cavalos tra-balhados em esteira ativam esses re-ceptores e podem ser um importantemecanismo para prevenir o broncoes-pasmo durante exercício (Robinson et.al, 1995). Inibição da liberação de AChpode explicar o efeito bonquiodilata-dor de agonistas α2 como xilazina e clo-nidina. A administração intravenosa dexilazina em pôneis reduz a resistênciapulmonar dentro 2 minutos com o efei-to persistindo por outros 30 minutos(Broadstone et. al, 1992).

8.1.4. ββ-Receptores:Na medicina humana, drogas ago-

nistas de receptores β são largamenteutilizados para o tratamento de obstru-ção da árvore brônquica. A ativaçãodesses receptores provoca um relaxa-

mento da musculatura lisa, estimula asecreção de muco e a função ciliar einibe a liberação de mediadores infla-matórios dos mastócitos. A droga deeleição é o isoproterenol, porém seuefeito taquicardíaco é tão potente quenão é usado clinicamente como bron-quiodilatador (Hoffman & Lefkowitz,1996).

Agonistas β2-adrenérgicos:Existem uma série desses produtos

disponíveis em medicina humana quepodem ser utilizados em eqüinos paraalívio de bronquioespasmos. O incon-veniente é que a maioria deles temapresentação em aerosol. Apesar de jáexistirem máscaras específicas para aaplicação em eqüinos (Aero-mask)(Tesarowski et al., 1994), não se en-contram facilmente disponíveis, nemsão de fácil manuseio. Por essa razãofoi desenvolvida uma apresentação sis-têmica para o clenbuterol (Tabela 1).A dose recomendada para o clenbute-rol é de 0.8 µg/kg de 12 em 12 horas(Tabela 2). Um estudo demonstrou quenessa dosagem apenas 25% dos cava-los acometidos obtiveram resultadossatisfatórios e que em alguns casos énecessário aumentar a dose até um li-mite máximo de 3.2µg/kg. Para se che-gar a esta dose é necessário um aumen-to gradual de 0.8 µg/kg por semanaevitando assim os indesejáveis efeitoscolaterais (Erichsen et. al., 1994).

Qualquer das drogas usadas em me-dicina podem ser utilizadas na medici-na eqüina, tomando-se o cuidado comrelação a dosagem, visto que tratam-sede drogas de ação imediata. Até o mo-mento apenas 2 drogas utilizadas emhumanos tem sido testada em cavalos:o pirbuterol e o albuterol (Tabela 2).

A duração de ação é variável deacordo com a droga utilizada. Albuteroltem uma duração longa (4 horas).Salmeterol (Tabela 2), droga que apre-senta até 12 horas de efeito em huma-nos, foi testada recentemente em ca-valos com um tempo de meia-vida de

Page 64: Revista CFMV n26

até 6 horas e pode vir a ser de muitautilidade em animais acometidos comDPOC (Henrikson & Rush, 2001).

8.1.5. ββ-Bloqueadores:Estes agentes não tem nenhuma ati-

vidade no tratamento de doenças respi-ratórias, porém é importante frisar seuuso para outros tratamentos e que po-

de afetar diretamente um animal comdoença crônica das vias respiratórias,como é o caso da DPOC. O propanolol,um β-bloqueador clássico aumenta gra-vemente a severidade de obstrução dasvias respiratórias provavelmente atra-vés do bloqueio dos β2-adrenoceptoresna musculatura lisa (Scott et. al, 1988).

9. Inibidores da fosfodiesterase

Derivados da Metilxantinas, espe-cialmente a aminofilina promovem de-puração mais eficaz do muco e agemcomo promotores da função ciliar oubroncodilatadores. A ação broncodila-tadora desses agentes está relacionadacom a habilidade de inibição da fosfo-diesterase e, conseqüentemente, o au-mento da concentração intracelular deAMP cíclico (cAMP). Apesar da ami-nofilina ser um bronquiodilatador efe-tivo, seu efeito é variável de animalpara animal (McKiernan et al.,1990).Os efeitos colaterais estão associados aexcitação, nervosismo e taquicardia.

10. Leucotrinas

Em humanos, inibidores da síntesede leucotrinas e antagonistas dos re-ceptores de leucotrinas tem sido usadono tratamento de doenças respiratóriasde origem alérgica. Como leucotrinascausam broncoespasmos e secreção demuco, sua inibição tem possivelmenteum efeito benéfico (Doucet et al.,1990).

11. Corticoesteróides

Supressão de resposta inflamatóriaé sem duvida uma terapia efetiva(Robinson et al., 1996) quando a cau-sa não pode ser identificado e/ou elimi-nada. Prednisolona oral é um tratamen-to bastante efetivo. Uso intravenoso dedexametasona demonstrou diminuiçãode resistência pulmonar, redução no

número de neutrófilos em lavado brôn-quio-alveolar e redução nas trocas depressão pleural (Rush, 1997).

12. Cromolina

Estabilizadores dos mastócitos co-mo a cromolina é usado como preven-ção de asma em humanos. Age inibin-do a liberação de histamina e subse-qüente produção de leucotrinas pelosmatócitos. Estudos demonstraram quea utilização do cromoglicato disódico(Tabela 1) preveniu o aparecimento desintomas em animais afetados em até 3semanas (Thomson & McPherson,1981; Hare et al., 1994).

13. Furosemida

No final da década de 80 Bianco etal. (1988, 1989) demonstraram efeitosbenéficos do uso da furosemida em as-ma humana. Posteriormente,Broadstone et al. (1991) reportaramque a aplicação intravenosa ou por ae-rosol de furosemida alivia sensivel-mente a obstrução das vias aéreas empôneis com DPOC. O efeito persistepor várias horas. O mecanismo de açãoé diretamente ligado na neurotransmis-são, além de ter envolvimento com a li-beração de prostanóides.

14. Acupuntura

A acupuntura tem sido utilizada pa-ra tratamento de afecções das vias res-piratórias em eqüinos. Um estudo pa-ralelo comparou acupuntura com pred-nisolona em 12 animais acometidos deDPOC avaliando teste de função pul-monar, sintomatologia clínica, radio-grafias e citologia do lavado brônquio-alveolar (Paradis et. al, 1997). No gru-po de cavalos tratados com acupuntu-ra houve uma melhora de 50% nos sin-tomas, redução da função pulmonar edo percentual de neutrófilos no lava-do brônquio-alveolar.

62 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Figura 3

Exame endoscópico das vias aéreassuperiores. A) Laringe normal, semalteração; B) Hemiplegia laringeana,note a diferença entre um lado que nãofunciona adequadamente (seta); C)Deslocamento dorsal do palato mole,observe como o palato mole bloqueia aepiglote (seta). (Reproduzido compermissão do Center for Equine Healthda Universidade de Davis na Califórnia).

Page 65: Revista CFMV n26

63Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

MANEJO DE ALGUMAS AFECÇÕES DAS VIAS RESPIRATÓRIAS QUE PODEM CAUSAR BAIXO DESEMPENHO

As doenças das vias respiratóriassão reconhecidas em diferentes for-mas. As infecções virais, especialmen-te influenza eqüina, causam inflama-ção aguda e ruptura severa do epitéliodas vias aéreas, mas seus efeitos sãotransitórios. As principais afecções dasvias respiratórias que provocam baixade performance e que serão aqui dis-cutidas são: doença pulmonar obstru-tiva crônica (DPOC) e hemorragia pul-monar induzida pelo exercício (HPIE).Outras afecções que provocam obs-trução das vias aéreas superiores comconseqüente ação direta no desempe-nho é a hemiplegia laríngea e o deslo-camento dorsal do palato mole (-DDPM).

IncidênciaAfecções das vias respiratórias for-

mam a segunda causa de baixa de per-formance no cavalo atleta depois deafecções músculo-esqueléticos(Rossdale et al., 1985). Na Suíça, umestudo indicou que 37% dos animaisnecropsiados apresentavam sintomasde doença inflamatória das vias respi-ratórias (Bracher et al., 1991). Nomesmo estudo, os sintomas clínicosassociados ao acúmulo de muco che-gou a 54%. Dixon et al (1995a) repor-taram em um estudo contendo 300 ca-valos encaminhados para aUniversidade de Edinburgh, com sin-tomas clínicos de problemas respira-tórios e baixa de performance, onde55% foram diagnosticados comDPOC, baseado no percentual de neu-trófilos no lavado bronco-alveolar.Outro estudo na Universidade daPensilvânia (Martin et al., 2000) diag-nosticaram 55 de 348 casos com bati-mentos cardíacos irregulares. Após o

teste de função na esteira, foi sugeri-do que a hipoxemia predispõe o de-senvolvimento de batimentos cardía-cos irregulares. Dos casos diagnosti-cados por perda de performance, ascausas apresentadas incluíram:

Obstrução das vias aéreas superio-res: 42%Hemiplegia laringeal, colapso farin-geano e deslocamento do palato mole.Cardíacas: 21%Arritmias induzidas por exercício

(batimentos cardíacos anormais), dis-função miocardial.

Manqueira: 4%Problemas musculares: 2%

A) DOENÇA PULMONAROBSTRUTIVA CRÔNICA –DPOC

A mais severa forma de inflama-ção crônica é a Doença PulmonarObstrutiva Crônica – DPOC. Os ani-mais afetados, geralmente vivendo emregime de éstabulos, desenvolvemobstrução das vias respiratórias. Estaobstrução é resultado de inflamaçãoneutrofílica, estando associada aobroncoespasmo, ao acúmulo de mu-co e com presença de exsudato no lú-men das vias respiratórias. Existemevidências que esta condição está cor-relacionada a resposta imunológicaprovocada pelo feno mofado, mas épossível que outros fatores tambémcontribuam para a inflamação respi-ratória formada. Em potros em fasede preparação e treinamento para cor-rida (2-3 anos de idade), doenças dasvias respiratórias é comum. No histó-rico apresentam perda de performan-ce e presença de secreção muco-pu-rulenta na traquéia. Alguns autores di-ferenciam estes casos de DPOC clas-sificando-os de doença inflamatóriadas vias respiratórias (Moore et al,1995). Possivelmente são decorrentesde infecções bacterianas respiratórias,mas sabe-se que a qualidade do am-

biente que os animais vivem tambémpossui um papel prepoderante no de-senvolvimento dessas afecções(Burrell et al., 1996).

TratamentoOs princípios do tratamento são: re-

moção da causa incitante, redução dainflamação nas vias aéreas, broncodi-latadores e correção da hipoxemia.Todos esses tratamentos são sintomáti-cos. A remoção dos animais para umambiente mais saudável que não conte-nha alérgenos é uma conduta eficiente(Lavoie, 1996).

ControleO alojamento dos eqüinos em baias

com boa qualidade de ar é essencialpara reduzir a ocorrência da doença.Uma ventilação adequada é crucial àmanutenção de uma boa qualidade doar nas baias.

B) HEMORRAGIAPULMONAR INDUZIDA PELO EXERCÍCIO (HPIE)

A etiologia é desconhecida, apesarde estar relacionada com níveis eleva-dos das pressões arterial e pulmonardos capilares pulmonares que ocorremem eqüinos durante corridas em altavelocidade.

O exame dos aspirados traqueaisdemonstra que os hemossiderófagossão encontrados em todos os animaispuro-sangue submetidos ao treinamen-to para corrida, sugerindo que ao me-nos algum grau de hemorragia ocorraem quase todos os eqüinos, se foremsubmetidos a exercícios suficiente-mente rápidos (Larson & Busch,1985).

De 60 equinos utilizados em corri-das, examinados uma hora após a com-petição e em três corridas diferentes,87% demonstraram evidência endos-cópica de hemorragia pulmonar(Burrell et al., 1996).

Page 66: Revista CFMV n26

PatogeniaA patogênese da HPIE não foi deter-

minada, apesar de haver evidências queapóiam a hipótese de insuficiência doscapilares pulmonares provocada peloestresse secundário à hipertensão pul-monar induzida pelo exercício (Dixonet al., 1995b). A inflamação das viasaéreas inferiores e a doença não pos-suem um papel muito claro na patogê-nese da HPIE. Quase todos os eqüinoscom HPIE moderada a grave demons-tram evidência histológica de inflama-ção das vias aéreas inferiores (Dixon etal., 1995c).

É provável que a ruptura dos capi-lares pulmonares e a hemorragia sub-seqüente dentro das vias aéreas e in-terstício possam causar inflamaçãotanto das vias aéreas quanto do inters-tício, com o desenvolvimento posteriorde fibrose. Essas alterações são exacer-badas por inflamação e obstrução dasvias aéreas inferiores, resultando eminsuflação irregular dos pulmões e de-senvolvimento de estresse nos limitesentre os tecidos pulmonares normais ealterados, quase sempre nos campospulmonares caudo- dorsais.Combinado com as forças intratorá-cicas acentuadas e as altas pressõesassociadas com a respiração durante

o exercício extenuante, há lesão no li-mite entre os tecidos sadios e doen-tes, com mais hemorragia e inflama-ção. O processo, uma vez iniciado, épara toda a vida, dando seqüência to-da vez que o animal realiza um exer-cício árduo (Pascoe, 1996).

TratamentoComo tratamento profilático, a fu-

rosemida é administrada de uma a qua-tro horas antes da competição. Apesardo efeito demonstrado na redução daspressões pulmonares capilar e arterial,a eficiência desse diurético na preven-ção ou atenuação da HPIE ainda nãofoi provada (Dixon et. al., 1995a).

OBSTRUÇÃO DAS VIAS AÉREAS SUPERIORES EMEQUINOS

A obstrução das vias aéreas supe-riores é uma causa comum da intole-rância ao exercício, caracterizando-sena maioria dos casos por ruído respi-ratório anormal durante exercício ex-tenuante.

A) Hemiplegia laríngea (cavalos roncadores)

É provocada pela degeneração donervo laríngeo recorrente com subse-qüente atrofia neurogênica do múscu-

lo criocoaritenóide dorsal e outros in-trínsecos a laringe. De etiologia desco-nhecida com alterações patológicas tí-picas da axonopatia distal (Cahill,1987). Há evidências de distribuiçãofamiliar da enfermidade (Ohnesorgeet. al., 1993). A degeneração recorren-te provoca uma atrofia dos músculosadutores da laringe (cricoaritenóidesdorsal e lateral). A função comprome-tida dos músculos adutores resulta emoclusão parcial da laringe pela carti-lagem aritenóide e pelas cordas vocaisdurante a inspiração. A obstrução émais grave quando o fluxo de ar atra-vés da laringe é maior, como ocorredurante o exercício, quando há um au-mento da hipoxemia pela redução dataxa de consumo de oxigênio. Essesefeitos resultam em acentuada limita-ção da capacidade atlética e do desem-penho. A endoscopia fornece diagnós-tico definitivo na maioria dos casos(Fig.3).

Tratamento:A laringoplastia prostética com ou

sem ventriculectomia. A doença nãoapresenta risco de vida para o animal,não havendo necessidade de cirurgiapara os eqüinos que não são exigidospara trabalho exaustivo ou aqueles on-de o ruído respiratório, associado comexercício moderado, não incomoda ocavaleiro durante a montaria.

64 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Tabela 1. Relação de medicamentos com seus respectivos laboratórios e endereços

Medicação LaboratórioaAtrovent Boehringer Ingelheim Ridgefield, CT 06977bVentipulmin Boehringer Ingelheim Ridgefield, CT 06977cMaxair 3M Pharmaceuticals St. Paul, MN 55133dVentolin Glaxco Wellcome, Inc. Research Triangle Park,

NC 27709eSerevent Glaxco Wellcome, Inc. Research Triangle Park,

NC 27709fIntal Rhone-Poulenc Rorer Pharmaceuticals, Inc.,

Collegeville, PA 19426

Figura 5

Catéter localizado na artéria facial paraanálise de gases no sangue. Obstrução érefletida através da queda naconcentração de oxigênio no sangue.(Reproduzido com permissão do Centerfor Equine Health da Universidade deDavis na Califórnia).

Page 67: Revista CFMV n26

65

B) Deslocamento dorsal dopalato mole (DDPM)

O palato mole fornece uma veda-ção aérea entre a orofaringe e a nasofa-ringe durante a respiração. No decorrerda deglutição, ele apresenta-se por umcerto tempo, deslocado dorsalmentecomo parte do ato normal de engolir,permitindo a passagem do bolo alimen-tar. O deslocamento dorsal intermiten-te do palato mole ocorre durante o exer-cício em alguns eqüinos e causa obstru-ção expiratória da corrente de ar atra-vés da laringe e faringe (Radostits etal., 2000).

A causa do DDPM durante o exer-cício é desconhecida, apesar de umavariedade de mecanismos serem suge-ridos, como a miosite palatal, úlceras dopalato mole ou retração da laringe. Acausa imediata do deslocamento é apressão intrafaríngea negativa geradadurante o exercício. Bloqueio do ramofaríngeo do nervo vago causa desloca-mento dorsal persistente do palato mo-le sugerindo envolvimento vagal.

Os sintomas são de intolerância aoexercício e produção intermitente deum ruído semelhante a um gargarejodurante a montaria.

O exame endoscópico das vias aé-reas superiores revela o DDPM e outrasanormalidades (Fig. 3).

TratamentoNão há um tratamento definitivo.

Os métodos usuais de intervenção ci-rúrgica são o alargamento da epiglotepor meio de injeção de uma pasta depolitetrafluoroetileno, amputação daborda caudal do palato mole ou ester-notireoideomiectomia. Nos prados decorrida, utiliza-se o procedimento de“amarrar” a língua antes do páreo como objetivo de evitar deglutição de sali-va durante a corrida prevenindo assimum deslocamento parcial durante acompetição (observações pessoais doautor).

PROCEDIMENTOSDIAGNÓSTICOS

1. Teste de exercício oufunção pulmonar

Existem 2 tipos de testes que podemser utilizados. O teste de campo e o tes-te de esteira. O inconveniente do teste decampo esta correlacionado com as difi-culdades de medição dos parâmetros,assim como as variações de ambiente,umidade, pista, etc. Na esteira as con-dições são mais homogêneas. Duranteestes testes podemos medir: batimentocardíaco através de um medidor cardía-co ou eletrocardiograma (mais realizadona esteira devido a facilidade). Amostrassanguíneas podem ser coletadas antes edepois do exercício para medição deconcentração de lactato e marcadoresenzimáticos de dano muscular. O siste-

ma respiratório pode ser examinado atra-vés do uso de endoscópio de fibra óticae de lavado brônquio-alveolar.

O uso de esteiras (Fig.4) vem au-mentando a cada ano e apesar do altocusto e do número limitado deste com-ponente no Brasil, na qual possibilita oenvio de um caso específico para oscentros que o possuem. A grande van-tagem é de poder monitorar o cavalodurante o exercício. Obstruções do tra-to respiratório superior podem ser diag-nosticadas com o endoscópio instaladoenquanto o animal está em exercíciona esteira, procedimento crucial parao diagnóstico definitivo de alguns des-ses componentes.

Apesar das desvantagens como cus-to e dificuldade de comparar o cavalosem o cavaleiro, foi a partir do uso daesteira que se evoluiu em determina-dos diagnósticos de alguns casos deperda de performance.

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Tabela 2. Dosagem das medicações recomendas para o tratamento de afecções respi-tórias na espécie eqüina

Medicação DoseBroncodilatadoresClenbuterol 0.8 – 3.2 µg/kg oral.

0.8 µg/kg IV.Aminofilina 5-10 mg/kg oral ou IV.Xilazina 0.5 mg/kg IV.Aliviadores do broncoespasmoAtropina 10-14 µg/kg IV.CorticoesteróidesDexametasona 40 µg/kg oral, IV ou IM durante 3 dias, passando

a dias alternados reduzindo paulatinamente para10 µg/kg ao final da sexta aplicação.

Prednisona 800µg/kg – 1.6 g/kg oral ou IM diariamente por 1semana, reduzindo a dias alternados.

Estabilizadores dos mastócitosCromolina 80 mg em soro fisiológico 1 vez ao dia por 4 dias

através de nebulização.Expectorantes e agentes mucolíticos Superhidratação 30 Litros de soro fisiológico IV durante espaço

de 3 horas totalizando 3 dias.Iodeto de potássio 4-40 mg oral 1 vez ao dia por 15 dias.Dombrexina 0.3-0.5 mg/kg oral 2 vezes ao dia até alívio dos

sintomasNeurotransmissoresFurosemida 1.0 mg/kg IV ou oral.

Adaptado de Lavoie, JP (Current Therapy in Equine Medicine, pág. 434)

Page 68: Revista CFMV n26

Existem diversos tipos de testesutilizados de acordo com o exame ouesporte desempenhado pelo cavalo.Um dos testes utilizados é o de au-mento do exercício, que utiliza umasérie de intervalos de corrida na es-teira aumentando-se a velocidade, uti-lizando para medição da capacidadeaeróbica máxima batimentos cardía-cos ou concentração de lactato no san-gue. Após um aquecimento ao trotenuma velocidade de 4 metros/segundo,a velocidade é aumentada seqüencial-mente a intervalos de 60 a 90 segun-dos até que o cavalo se canse e nãoconsiga acompanhar a esteira. Um pro-tocolo usual requer o cavalo correr por3 minutos a 4 m/seg, 90 segundos a 6m/seg, seguindo em intervalos de 60segundos 8, 10, 11, 12, 13, 14, 15.Geralmente bem tolerado por cavalosde corrida (protocolo utilizado noEquine Athletic PerformanceLaboratory da Universidade daCalifórnia em Davis).

Um protocolo modificado é usadopara análise de animais com perda deperformance. Para avaliação das viasaéreas superiores com o auxílio do en-

doscópio, o animal tem que ser exami-nado na sua capacidade máxima, poisa maioria das anormalidades, tais comohemiplegia laringeana e deslocamen-to do palato mole ocorrem durante aventilação máxima. Nesses casos, apóso aquecimento, o endoscópio é posi-cionado e se mantém à velocidade má-xima (12-14 m/seg) até atingir uma dis-tância de aproximadamente 1.600 me-tros. O teste continua até que a veloci-dade da esteira vai se reduzindo gra-dualmente pelo cansaço do cavalo (pro-tocolo utilizado no Equine AthleticPerformance Laboratory daUniversidade da Califórnia em Davis).

Medição da quantidade de oxigê-nio no sangue é outra maneira de semedir a função respiratória. Para ob-tenção desta análise, coloca-se um ca-teter na artéria facial e analisa-se aquantidade de oxigênio no sangue emrepouso, durante o exercício (a cadaminuto) e após o uso da esteira (Fig.5). Em casos de obstrução durante oexame é refletido através de uma que-da na concentração de oxigênio no san-gue (hipoxemia) (protocolo utilizadono Equine Athletic Performance

Laboratory da Universidade daCalifórnia em Davis).

Para monitorar função cardíaca,uma unidade de radiotelemetria podeser usado que avalia qualquer condi-ção cardíaca transmitindo os sinais pa-ra o aparelho de radiotelemetria e pro-duzindo paralelamente uma avaliaçãode eletrocardiograma durante o examena esteira (protocolo utilizado noEquine Athletic Performance Labo-ratory da Universidade da Califórniaem Davis).

2. Ecocardiografia

Estudos indicam que o uso de ul-trasonografia do coração após exercíciotrata-se de um meio diagnóstico útilpara detecção de problemas que nãosão evidentes no animal em repouso.Este exame é realizado em um espaçode 5 minutos após o término do exercí-cio (Martin et. al., 2000).

3. Endoscopia

O surgimento do endoscópio flexí-vel de fibras ópticas permitiu o exame

66 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Figura 4

A), B) e C) Esteira – colocando o cavalo em esteira, o clínico pode simular as condições de treinamento/competição e avaliar odesempenho fisiológico do animal durante exercício. Algumas anormalidades que causam baixa de performance só é reconhecida apósexercício extenuante. (4 A e 4 B reproduzido com permissão do Center for Equine Health da Universidade de Davis na Califórnia;4 C com permissão da Revista The Horse: Your Guide To Equine Health Care)

Page 69: Revista CFMV n26

67

do trato respiratório superior de eqüinos,incluindo as cavidades nasais, nasofa-ringe, divertículo da tuba auditiva (bol-sas guturais), arco palatino, epiglote,laringe, traquéia e brônquios principais.O exame endoscópico é parte essencialna avaliação das vias respiratórias eqüi-nas. Deve-se incluir o exame das viasaéreas superiores, assim como da ár-vore brônquica. A inflamação das viasrespiratórias inferiores é diagnosticadapela presença de secreção e exudato nolúmen. Cavalos com doenças media-nas apresentam pequena quantidade demuco que pode ser branca por contercélulas inflamatórias. Cavalos com se-vero DPOC, apresentam quantidadesexcessivas de conteúdo muco-purulen-to. Outros achados incluem hiperemiae edema da parede respiratória com umatendência a sangramento quando trau-matizado pelo endoscópio. É normal-mente realizada após 1 hora de exercí-cio, bastante útil para o diagnóstico dehemorragia pulmonar induzida peloexercício (HPIE), onde se monitora pre-sença de sangue ou muco na traquéia(Radostits et al., 1995).

O endoscópio flexível de fibras óp-ticas pode ser utilizado para obter amos-tras de lavado traqueal e ao mesmo tem-po ver as condições das vias aéreas. Emequinos com doença inflamatória dasvias aéreas a contagem de neutrófilos éde 39,5 ± 5,5 células/µl e os neutrófiloscorrespondem a 10% das células nu-cleadas (Whitwell & Greet, 1984).

4. Lavado bronco-alveolar(LBA)

A análise laboratorial das amostrasdo líquido do LBA, utilizando o en-doscópio flexível de fibras ópticas, éusada extensamente na medicina hu-mana para o diagnóstico de doença pul-monar sendo adaptada para uso namedicina eqüina. Trata-se de um proce-dimento relativamente não invasivoque permite a avaliação citológica e

bioquímica das vias aéreas inferiorese alvéolos, revestindo-se de útil auxíliono diagnóstico e na avaliação de eqüi-nos com enfermidade pulmonar crôni-ca. A broncoscopia com fibras ópticase os aspirados traqueais permitem oacesso a um número maior de brôn-quios e das vias aéreas superiores, maso LBA oferece maior extensão do po-tencial diagnóstico por meio da amos-tragem das vias aéreas terminais e dosespaços alveolares. Pode ser realizadacom um endoscópio longo (com pelomenos 2 metros) ou com um cateter deLBA comercial. O animal deve ser se-dado para minimizar a tosse. A lava-gem se dá através da inserção de 200 a300 ml de soro fisiológico aquecido a37ºC em alíquotas de 50-100 ml aspi-rados de imediato em seringas de 60ml. Geralmente, em torno da metadedo volume inserido é recuperado. O lí-quido recuperado é examinado macros-copicamente para a presença de exu-dato muco-purulento ou sangue.Contagem total e diferencial de célulasé realizada (Moore, 1996). Em equi-nos clinicamente normais a contagemneutrofílica absoluta no LBA varia de4,4 ± 3,3 a 8,9 ± 1,2 células/µl, e osneutrófilos constituem menos de 5%da contagem das células nucleadas.

Em eqüinos acometidos pela DPOC,a contagem absoluta dos neutrófilos noLBA varia de 61,5 ± 25,8 a 184 ± 43,6células/µl e os neutrófilos correspon-dem aproximadamente a 58-60% dacontagem das células nucleadas.

5. Determinação deCreatina Fosfoquinase (CK)

Para avaliar dano muscular duranteo exercício, amostras de sangue são ti-radas para medição de creatinina an-tes e após o exercício. Esta enzima éproduzida pelas células musculares eliberada na corrente sanguínea quan-do ocorre dano muscular. No estudodesenvolvido por Martin et al. (2000),

53 de 348 cavalos mostraram aumentosignificativo desta enzima.

Considerações Finais

As anormalidades associadas ao sis-tema respiratório são descritas como asegunda maior causa de baixa de per-formance no cavalo atleta e uma dasprimeiras causas de frustração para oveterinário que labuta nessa área.Compreendendo os mecanismos bási-cos das afecções respiratórias ajudam-nos a sobrepor alguns dos problemasencontrados no dia a dia. As investi-gações cientificas realizadas nesta áreaassociadas ao uso de novas técnicasdiagnósticas têm proporcionado umamelhor resolução desses problemas.

Agradecimentos

A Editora Guanabara Koogan SA,pela autorização de uso das imagenshistológicas provenientes do livroHistologia Básica de Junqueira eCarneiro; ao Center for Equine Healthda Universidade da Califórnia emDavis pelas imagens endoscópicas pro-venientes do Equine AthleticPerformance Laboratory; ao Dr. RayGeor, e a Revista The Horse: YourGuide To Equine Health Care pelasidéias e sugestões.

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Page 70: Revista CFMV n26

68 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

BIANCO, S.; VAHGI, A.; ROBUSCHI, M. Prevention ofexercise-induced bronchoconstriction by inhaled furose-mide. Lancet, 2: 252, 1988.

BIANCO, S.; PIERONI, M.G.; REFINI, R.M. Protectiveeffect of inhaled furosemide on allegen-induced early nalate asthmatic reactions. New England Journal ofMedicine, 321-1069, 1989.

BRACHER, V.; VON FELLENBERG, R.; WINDER, C.N.An investigation of the incidence of chronic obstructi-ve pulmonary disease (COPD) in random populations ofSwiss horses. Equine Veterinary Journal, 23: 136-141, 1991.

BROADSTONE, R.V. Effects of atropine in ponies with re-current airway obstruction. Journal of AppliedPhysiology, 65: 2720-2725, 1988.

BROADSTONE, R.V.; ROBINSON, N.E.; GRAY, P.R.Effects of furosemide on ponies with recurrent airwayobstruction. Pulmonary Pharmacology, 4: 203-208,1991.

BROADSTONE, R.V.; GRAY, P.G.; ROBINSON, N.E.Effects of xylazine on airway fuction in ponies with re-current airway obstruction. American Journal ofVeterinary Research, 53: 1818-1827, 1992.

BROWN, J.H.; TAYLOR, P. Muscarinic receptor agonistsand antagonists. In: Hardman J.G., Limbird L.E.,Molinoff P.B. (eds.) Goodman & Gilman’s. ThePharmacological Basis of Therapeutics. New York:McGraw-Hill, 1996, p. 141-160.

BURRELL, M.H.; WOOD, J.L.N.; WHITWELL, K.E.Respiratory disease in thoroughbred horses in training: therelationship between disease and viruses, bacteria andenvironment. Veterinary Records, 139: 308-313, 1996.

CAHILL, J.L.; GOULDEN, B.E. The pathogenesis of equi-ne laryngeal hemiplegia – a review. New ZealandVeterinary Journal. 35: 82-87, 1987.

DERCKSEN, F.J.; ROBINSON, N.E.; ARMSTRONG, P.J.Airway reactivity in ponies with recurrent airway obs-truction (heaves). Journal of Applied Physiology, 58:598-604, 1985.

DIXONa, P.M.; RAILTON, D.I.; McGORUM, B.C. Equinepulmonary disease: a case control study of 300 refer-red cases. Part 1: examination techniques, diagnosticcriteria and diagnoses. Equine Veterinary Journal 27:416-421, 1995.

DIXONb, P.M.; RAILTON, D.I.; McGORUM, B.C. Equinepulmonary disease: a case control study of 300 refer-red cases. Part 2: details of animals and of historicaland clinical findings. Equine Veterinary Journal 27:422-427, 1995.

DIXONc, P.M.; RAILTON, D.I.; McGORUM, B.C. Equinepulmonary disease: a case control study of 300 refer-red cases. Part 3: ancilliary diagnostic findings. EquineVeterinary Journal 27: 428-435, 1995.

DOUCET, M.Y.; JONES, T.R.; FORD-HUTCHINSON,A.W. Responses of equine trachealis and lung parenchy-ma to methacholine, histamine, serotonin, prostanoids,and leukotrienes in vitro. Canadian Journal ofPhysiology and Pharmacology, 68: 279-383, 1990.

DOUCET M.Y., VRINS A.A., FORD-HUTCHINSON A.W.Histamine inhalation challenge in normal horses and inhorses with small airway disease. Canadian Journalof Veterinary Research, 55: 285-293, 1991.

ERICHSEN, D.F.; AVIAD, A.D.; SCHULTZ, R.H. Clinicalefficacy and safety of clenbuterol when administered toeffect in horses with chronic obstructive pulmonary di-sease (COPD). Equine Veterinary Journal, 15: 370-374, 1994.

GRAY, PR, DERKSEN, FJ; BROADSTONE, RV. Decreasedairway mucosal prostaglandin E2 production during air-way obstruction in an animal model of asthma.American Review of Respiratory Diseases, 146: 586-591, 1992.

HENRIKSON, S.L.; Rush B.R. Efficacy of salmeterol xina-foate in horses with recurrent airway obstruction.Journal of American Veterinary MedicineAssocication, Jun 15, 218 (12):1961-1965, 2001.

HOFFMAN, B.B.; LEFKOWITZ R.J. Catecholamines,sympathomimetic drugs, and adrenergic receptor anta-gonist. In: Hardman JG, Limbird LE, Molinoff PB,

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Page 71: Revista CFMV n26

69

(Eds.) Goodman & Gilman’s The PharmacologicalBasis of Therapeutics. New York: McGraw-Hill, 1996;p. 199-248.

HARE, J.E.; VIEL, L.; O’BYRNE, P.M. Effect of sodiumcromoglycate on light racehorses with elevated metach-romatic cell numbers on bronchoalveolar lavage and re-duced exercise tolerance. Journal of VeterinaryPharmacology Therapeutics, 17: 237-244, 1994.

JUNQUEIRA, L.C.; CARNEIRO, J. Aparelho respiratório.In: Junqueira e Carneiro (8ª ed.) Histologia básica. Riode Janeiro: (8a Ed.) Editora Guanabara Koogan S.A.1995. p. 285-300.

LARSON, V.L.; BUSCH, R.H. Equine tracheobronchial la-vage: comparison of lavage cytologic and pulmanry his-topathologic findings. American Journal of VeterinaryResearch, 46:144-146, 1985.

LAVOIE, J.P. Chronic Obstructive Pulmonary Disease. In:Current Therapy in Equine Medicine 4. Philadelphia,PA: W.B. Saunders Company 1996 p. 434.

MARR, K.A.; LEES, P.; PAGE, C.P. Effects of inhaledLTD4 and LTB4 on bronchoconstriction and radiolabel-led neutrophill accumulation in the horse. AmericanJournal of Respiratory and Critical Care Medicine,151: A 825, 1995.

MARTIN, B.B.; REEF V.B.; PARENTE E.J.; SAGE A.D.Causes of poor performance of horses during training, ra-cing, or showing: 348 cases (1992-1996). Journal ofAmerican Veterinary Medicine Association, 216: 554-558, 2000.

McKIERNAN, B.C.; KORITZ, G.D.; SCOTT, J.S. Plasmatheophylline concentration and lung function in ponieswith recurrent obstructive lung disease. EquineVeterinary Journal, 22: 194-197, 1990.

MOORE, B.R.; KRAKOWKA, S.; ROBERTSON, J.T.Cytologic evaluation of bronchoalveolar lavage fluidobtained from Standardbred racehorses with inflamma-tory airway disease. American Journal of VeterinaryResearch, 56: 562-567, 1995.

MOORE, B.R. Lower respiratory tract disease. VeterinaryClinics of North America [Equine Practice] 12: 457-472, 1996.

MURPHY, J.R.; McPHERSON, E.A.; DIXON, P.M. Chronicobstructive pulmonary disease (COPD): effects of bron-chodilator drugs on normal and affected horses. EquineVeterinary Journal, 12: 10-14, 1980.

OHNESORGE, B.; DEEGEN, E.; MIESNER, K.; GEL-DERMANN, H. Laryngeal hemiplegia in warmbloodhorses - a study of stallions, mares and their offspring.Zentralbl Veterinarmed, Mar; 40(2): 134-154, 1993.

PARADIS, M.R. The efficacy of acupuncture as comparedto prednisone treatment for chronic obstructive pulmo-nary disease (COPD) in horses. In: Fifteenth ACVIMForum, Lake Buena Vista, Fla, 1997. Proceedings, p.655.

PASCOE, J.R. Exercise-induced pulmonary hemorrhage: aunifying concept. In: AMERICAN ASSOCIATON FOREQUINE PRACTITIONERS, Vol 42 Denver, 1996.Proceedings: AAEP, 1996, p. 220-226.

PENDRY, Y.D. Neuronal control of airways smooth muscle.Pharmacology and Therapeutics, 57: (2-3) 171-202,1993.

RAIDAL, S.L.; LOVE, D.N.; BAILEY, G.D. Effects ofposture and accumulated airway secretions on trachealmucociliary transport in the horse. AustralianVeterinary Journal, 73: 45-49, 1996.

RADOSTITS, O.M.; GAY, C.C.; BLOOD, D.C.; HINCH-CLIFF, K.W. Doenças do Sistema Respiratório. In:Clínica Veterinária: um tratado de doenças dos bo-vinos, ovinos, suínos, caprinos e eqüinos. Rio deJaneiro: (9a Ed.) Editora Guanabara Koogan S.A. 2002.p. 377-427.

ROBINSON, N.E.; DERKSEN, F.J.; BERNEY, C. The air-way response of horses with recurrent airway obstruc-tion (heaves) to aerosol administration of ipratropiumbromide. Equine Veterinary Journal, 25: 299-303,1993.

ROBINSON, N.E.; ZHANG, X.Y.; LeBLANC, P.H.Exercise catecholamine concentrations inhibit acetyl-choline release in airways. Equine Veterinary JournalSupplement, 18: 33-36, 1995.

ROBINSON N.E., DERKSEN, F.J.; OLSZEWSKI, M.A.The pathogenesis of chronic obstructive pulmonary di-

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Page 72: Revista CFMV n26

sease of horses. British Veterinary Journal, 152: 283-306, 1996.

ROBINSON, N.E. Structure and Function of the tracheo-bronchial system. In: AMERICAN ASSOCIATON FOREQUINE PRACTITIONERS, Vol 43 Phoenix, 1997.Proceedings: AAEP, 1997, p. 87-94.

ROBINSON, N.E.; SONEA, I.M.; CARROLL, N. Appliedphisiology of the lower airway. In: DUBAI INT EQUI-NE SYMP, 1997, Dubai. Proceedings p. 37-55.

ROSS, E.M. Pharmacodynamics: mechanisms of drug ac-tion and the relationship between drug concentrationand effect. In: Hardman J.G., Limbird L.E., MolinoffP.B. (eds.) Goodman & Gilman’s. The Pharmacologicalbasis of Therapeutics. New York: McGraw-Hill, 1996,p. 29-41.

ROSSDALE, P.D.; HOPES, R.; WINGFIELD, N.J.Epidemiological study of wastage among racehorses1982 and 1983. Veterinary Records, 116: 66-69, 1985.

RUSH, B.R. Inhaled beclomethasone dipropionate for treat-ment of heaves. In: Fifteenth Veterinary RespiratorySymposium, Liege, Belgium, 1997. The ComparativeRespiratory Society, 1997, p. S18.

SALATHE, M.; LIPSON, E.J.; IVONNET P.I. Muscarinicsignaling in ciliated tracheal epithelial cells: dual ef-fects on Ca2+ and ciliary beating. American Journal ofPhysiology, 272: L301- L310, 1997.

SCOTT, J.S.; BROADSTONE, R.V., DERKSEN, F.J. ?-Adrenergic blockade in ponies with recurrent obstructi-ve pulmonary disease. Journal of Applied Physiology,64: 2324-2328, 1988.

STEEL, D.M.; HANRAHAN, J.W. Muscarinic-inducedmucin secretion and intracellular signaling by hamstertracheal goblet cells. American Journal of Physiology272: L230-L237, 1997.

TESAROWSKI, T.B.; VIEL, L.; McDONELL, W.N.; NE-WHOUSE, M.T. The rapid and effective administrationof a ?-2-agonist to horses with heaves using a compactinhalation device and metered-dose inhalers. CanadianVeterinary Journal, 35: 170-173, 1994.

TESSIER, G.J.; LACKNER, P.A.; O’GRADY, S.M.Modulation of equine tracheal smooth muscle contrac-tility by epithelial derived and cycooxygenase metabo-lites. Respiratory Physiology, 84: 105-114, 1991.

THOMSON, J.R.; McPHERSON, E.A. Prophylactic effectsof sodium cromoglycate on chronic obstructive pulmo-nary disease in the horse. Equine Veterinary Journal,13: 243-246, 1981.

WANNER, A.; SALATHE, M.; O’RIORDAN, T.G.Mucocialiary clearance in the airways. AmericanJournal of Respiratory and Critical Care Medicine154: 1868-1902, 1996.

WANG, Z.; YU, M.; ROBINSON, N.E. Exogenous but notendogenous PGE2 modulates pony tracheal smooth mus-cle contractions. Pulmonary Pharmacology, 5: 225-231, 1992.

WHITWELL, K.E.; GREET, T.C. Collection and evaluationof tracheobronchial washes in the horse. EquineVeterinary Journal, 16 (6): 499-508, 1984.

YU, M.; WANG, Z.; ROBINSON, N.E. Prejunctional ?-2adrenoceptors inhibit acetylcholine release from choli-nergic nerves in equine airways. American Journal ofPhysiology, 265: L565-L570, 1993a.

YU, M.; ROBINSON, N.E., WANG Z. Independent mo-dulation of horse airway smooth muscle by epitheliumand prostanoids. Respiratory Physiology, 93: 279-288,1993b.

YU, M.F.; WANG, Z.W.; ROBINSON, N.E. Modulationof bronchial smooth muscle function in horses with hea-ves. Journal of Applied Physiology, 77: 2149-2154,1994.

70 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Page 73: Revista CFMV n26

71Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

INFORMAÇÕES GERAIS

A Revista do Conselho Federal de Medicina Veterináriatem como objetivo principal a publicação de artigos de revi-sãoe de educação continuada, básica, geral ou profissionalizante, quecontribuam para o desenvolvimento da ciência nas áreas de Medicina Veterinária e Zootecnia, podendo ser apre-sentados também manuscritos de investigação científica. Os ar-tigos, cujos conteúdos serão de inteira responsabilidade dosautores, devem ser originais e previamente submetidos à apre-ciação do Conselho Editorial do CFMV, bem como, de asses-sores ad hoc de reconhecido saber na especialidade. Apublica-ção do artigo dependerá da sua apresentação dentro das NormasEditoriais e de pareceres favoráveis do Comitê Científico daRevista. Os pareceres terão caráter sigiloso e imparcial. A pe-riodicidade da publicação será quadrimestral.

Os artigos e toda a correspondência pertinente deverãoser encaminhados para:

REVISTA CFMVConselho Editorial

SCS, Quadra 01 Bl. E, nº 30, Ed. Ceará, 14º andar70703-900 - Brasília, DF

Tel: (61) 322-7708Fax: (61) 226-1326

e-mail: [email protected]

NORMAS EDITORIAIS

Os textos de revisão e de educação continuada e cientí-ficos devem ser inéditos, de primeira submissão, escritossegundo as normas ortográficas oficiais da língua portu-guesa e com abreviaturas consagradas, exceto o Abstract eKey Words que serão apresentados em inglês.

Artigo de Revisão e de Educação ContinuadaOs Artigos de Revisão e de Educação Continuada serão

publicados por especialistas, nacionais ou internacionais, aconvite do Comitê Editorial, atendendo à solicitação dos pro-fissionais Médicos Veterinários e Zootecnistas. Devem serestruturados para conter Resumo, Abstract, Unitermos, KeyWords, Referências Bibliográficas e Agradecimentos (quan-do houver). A divisão e subtítulos do texto principal ficarãoa cargo do(s) autor(es).

Artigo CientíficoOs Artigos Científicos deverão conter dados conclusi-vos

de uma pesquisa e conter Resumo, Abstract, Unitermos, KeyWords, Introdução, Material e Métodos, Resultados,Discussão, Conclusão(ões), Referências Bibliográficas,Agradecimento(s) (quando houver) e Tabela(s) e Figura(s)(quando houver). A critério do(s) autor(es) e/ou do ConselhoEditorial, os ítens Resultados e Discussão poderão ser apre-sentados como uma única seção. Quando a pesquisa envolvera utilização de animais, os princípios éticos de experimenta-ção animal preconizados pelo Conselho Brasileiro deExperimentação Animal (COBEA) e aqueles contidos noDecreto n° 24.645 de 10 de julho de 1934 e na Lei n° 6.638de 8 de maio de 1979 devem ser observados.

ApresentaçãoOs manuscritos deverão ser encaminhados na primeira sub-

missão em três vias (uma original e duas cópias). Aprimeira pá-gina da via original conterá o título do trabalho, o nome com-pleto do(s) autor(es), suas respectivas afiliações e o nome e en-dereço, telefone, fax e endereço eletrônico do autor para corres-pondência. As diferentes instituições dos autores serão indica-das por número sobrescrito. Nas duas cópias, a página de ros-to deve omitir o(s) nome(s) do(s) autor(es). Uma vez aceita a pu-blicação, além de uma cópia impressa, deve ser enviada uma gra-vação do artigo em mídia magnética (disquete de 3” ou compactdisk) de alta densidade, identificado com o título do trabalho enome do(s) autor(es).

DigitaçãoO texto será digitado com o uso do editor de texto

Microsoft Word for Windows, versão 6.0 ou superior, em for-mato A4 (21,0 x 29,7 cm), com espaço simples em uma sóface de papel, com margens laterais de 3,0 cm e margens su-perior e inferior de 2,5 cm, fonte Times New Roman de 16cpi para o título, 12 cpi para o texto e 9 cpi para rodapé e in-formações de tabelas e figuras. As páginas e as linhas de ca-da página devem ser numeradas.

TítuloO título do artigo, com 25 palavras no máximo, deverá

ser escrito em negrito e centralizado na página. Não utilizarabreviaturas.

Page 74: Revista CFMV n26

Resumo e AbstractO Resumo e a sua tradução para o inglês, o Abstract,

não podem ultrapassar 250 palavras, com informações quepermitam uma adequada caracterização do artigo como umtodo. No caso de artigos científicos, o Resumo deve infor-mar o objetivo, a metodologia aplicada, os resultados prin-cipais e conclusões.

Unitermos e KeywordsNo máximo 5 palavras serão apresentadas em seguida ao

Resumo e Abstract. As palavras serão escolhidas do texto enão necessariamente do título.

Texto principalNão há número limite de páginas para a apresentação

do artigo. No entanto, recomenda-se que sejam concisos.Poderão ser utilizadas abreviaturas consagradas pelo SistemaMétrico Internacional; exemplo kg, g, cm, mL, EM, etc.Quando for o caso, abreviaturas não usuais serão apre-sen-tadas no rodapé da primeira página do trabalho; exemplo GH= hormônio do crescimento, etc. As citações bibliográficasdo texto devem ser pelo sobrenome do(s) autor(es) seguidodo ano. Quando houver 2 autores, ambos devem ser citados.Com mais de dois autores, somente o sobrenome do pri-meiro será citado, seguido da expressão et al. Exemplos:Rodrigues (1999), (Rodrigues, 1999), Silva e Santos (2000),(Silva e Santos, 2000), Gonçalves et al., (1998), (Gonçalveset al., 1998).

Referências BibliográficasA lista de referências bibliográficas será apresentada em

ordem alfabética por sobrenome de autores, de acordo com aNorma ABNT/NBR-6023 da Associação Brasileira de NormasTécnicas. Inicia-se a referência com o último sobrenome do(s) au-tor(es) seguido do(s) prenome(s), exceto aqueles de origem espa-nhola ou de dupla entrada, registrando-se os dois últimos sobre-nomes. Todos os autores devem ser citados.

Obras anônimas têm sua entrada pelo título do artigoou pela entidade responsável por sua publicação. A referên-cia deve ser alinhada à esquerda e a sua segunda linha ini-ciada abaixo do terceiro caractere da primeira linha. Os tí-tulos de periódicos da referência podem ser abreviados,segundo a notação do BIOSES (BIOSIS. Serial sources forthe BIOSIS previews database. Philadelphia, 1996. 468p).Abaixo são apresentados alguns exemplos de ReferênciasBibliográficas.

l. Artigos de periódico

EUCLIDES FILHO, K., EUCLIDES, V.P.B., FIGUEI-

REDO, G.R., OLIVEIRA, M.P. Avaliação de animais nelo-re e seus mestiços com charolês, fleckvieh e chianina, em trêsdietas l. Ganho de peso e conversão alimentar. RevistaBrasileira de Zootecnia, v.26, n. l, p.66-72, 1997.

2. Livros

MACARI, M., FURLAN, R.L., GONZALES, E. Fisiologiaaviária aplicada a frangos de corte. Jaboticabal: FU-NEP,1994. 296p.

3. Capítulos de livro

WEEKES, T.E.C. Insulin and growth. In: BUTTERY, P.J.,LINDSAY, D.B., HAYNES, N.B. (ed.). Control and mani-pulation of animal growth. Londres: Butterworths, 1986,p.187-206.

4. Teses (doutorado) ou dissertações (mestrado)

MARTINEZ, F. Ação de desinfetantes sobre Salmonella napresença de matéria orgânica. Jaboticabal, 1998. 53p.Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Ciências Agrárias eVeterinárias. Universidade Estadual Paulista.

5. Artigos apresentados em congressos, reuniões, seminários, etc

RAHAL, S.S., SAAD, W.H., TEIXEIRA, E.M.S. Uso defluoresceína na identificação dos vasos linfáticos superfi-ciais das glândulas mamárias em cadelas. In: CONGRES-SO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 23,Recife, 1994. Anais... Recife: SPEMVE, 1994, p.19.

Tabelas e Ilustrações

As Tabelas e Ilustrações (gráficos, fotografias, desenhosetc.) devem ser apresentados nas últimas páginas do artigo,uma em cada página. Serão numeradas consecutivamentecom números arábicos. A tabela deve ter a sua estruturaconstruída segundo as Normas de Apresentação Tabular doConselho Nacional de Estatística (Rev. Bras. Est., v.24,p.42-60, 1963).

Revisões

Os artigos sofrerão as seguintes revisões antes da publicação: 1) Revisão técnica por consultor ad hoc; 2)Revisão de língua portuguesa e inglesa por revisores profis-sionais; 3) Revisão de Normas Técnicas por revisor profis-sional; 4) Revisão final pelo Comitê Editorial; 4) Revisão final pelo(s) autor(es) do texto antes da publica-ção.

72 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Page 75: Revista CFMV n26

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

“Vivo, bem vivo, é quem, morto,o Bronze perpetua”

Valdemiro Pimentel

Aqui tratamos um pouco da histó-ria da Medicina Veterinária no Brasil,com nossa homenagem e gratidão aoTenente Coronel Médico do ExércitoBrasileiro, Dr. João Muniz Barreto deAragão, um dos que acreditou na ne-cessidade de uma ação contra as doen-ças dos animais e as antropozoono-ses que grassavam no Brasil e dedicousua vida a instituição de uma profis-são, mesmo não sendo dela um inte-grante.

Tivemos a rara oportunidade e ahonra de receber um exemplar da bio-grafia do Coronel Dr. Muniz de Aragão,datada de 1942, de autoria do CapitãoVeterinário Valdemiro Pimentel, for-mado pela Escola de Veterinária doExército, um dos discípulos e subor-dinados e autor da frase colocada naherna de Muniz de Aragão, donde tira-mos as passagens abaixo descritas, co-mo forma de partilhar com os colegasveterinários o início da história da pro-fissão no Brasil e reconhecermos aque-les que, efetivamente, contribuíram pa-ra a implantação do ensino oficial damedicina veterinária no Brasil.

73

HISTORIOGRAFIA

Fernando Leandro dos SantosMédico Veterinário, CRMV-PE nº, Doutor,Professor Assistente do Departamento deMedicina Veterinária da UniversidadeFederal Rural de Pernambuco. membro daCNRMV do CFMV.

A Medicina Veterinária não esquece seu Patrono

Page 76: Revista CFMV n26

A Medicina Veterinária tem suasatividades reconhecidas no Brasil des-de 1808, quando Dom João VI, porDecreto-Lei mandoucriar no 1º Regimento deCavalaria do Exército,um curso de “Alveia-taria”, nomeando comocoordenador dos ensina-mentos, o “Artista Vete-rinário” (Artis Veteri-naire) João BaptistaMoncuet. Em 1810, oConde Linhares, Minis-tro do Estado dos Negó-cios Estrangeiros e daGuerra criava o cargo deVeterinário naquele Regi-mento (Camoleze, 1991).

A partir de D. João VI, passandopor D. Pedro II que sonhava com o en-sino científico da medicina veterináriano Brasil, chegando a visitar por vá-rias vezes a Ecolle Veterinaire D’Alfort,até a tentativa do Professor AzevedoSodré, apresentada pelo deputadoGastão Cunha, todas as iniciativas deimplantar o ensino medicino-veteriná-rio no Brasil fracassaram, inexplica-velmente, segundo Pimentel (1942).

Mais uma tentativa parecia estar fa-dada a falhar, desta vez no Exército,comandada pelo Coronel Dr. MarcolinoSouza, que compreendia a importân-cia e a necessidade do Exército ter umnúcleo formador de profissionais deseu quadro, considerando que “a vete-rinária, ali como existia, era como senão existisse” (Cel Cerqueira Alves).Com um grupo de outros oficias che-gou a preparar planos de ensino, pro-grama de disciplinas, se fez e nada seaproveitou.

Aí surge a figura do Dr. João MunizBarreto de Aragão, que compreendeu aimportância do trabalho de Marcolinode Souza e deu continuidade aos seustrabalhos, tomando como objetivo a

implantação do ensino da medicina ve-terinária no Brasil. Baiano, nascido em17 de junho de 1874, filho de Maria

Tereza Muniz de Aragão,Baronesa de Mataripe, ede Antônio Muniz Barretode Aragão, Barão deMataripe. Médico, forma-do pela Faculdade deMedicina da Baía, quan-do em 1897 iniciou suasatividades profissionaispelo interior daqueleEstado. Em 7 de setembrode 1900 foi nomeadoMédico Adjunto doExército; em 1901 pres-tou concurso de admissão

ao Corpo de Saúde, sendo aprovadoem segundo lugar; em 19 de abril de1901 foi nomeado 1º Tenente Médicodo Exército. Em 1904 realizou seugrande sonho, foi designado para oLaboratório Militar de Bacteriologia,onde ocupou, dentre outras, a função deDiretor e onde foram iniciadas as pes-quisas científicas voltadas para Vete-rinária Militar no Brasil.

De 1904 a 1907, as atividades empatologia foram significativas, no sen-tido de controlar as doenças dos reba-nhos nacionais, então de baixa qualida-de zootécnica e sanitária, que obrigavaa importação de produtos de origemanimal para o consumo da população.

Em 1906, candidatou-se a Aca-demia Nacional de Medicina, sendoeleito membro titular da Seção deCirurgia.

Consagrado os seus estudos, me-diante aprovação do Conselho Superiorde Saúde do Exército, e, posteriormen-te, publicado na Ordem do Dia nº 7,de 05 de fevereiro de 1907, a memóriaoriginal intitulada “Contribuição aoEstudo do Mormo no Homem”. Nesteano, ainda, recebeu a missão daAcademia Nacional de Medicina para

estudar a Febre Aftosa, que grassavana região de Cantagalo, Estado do Riode Janeiro.

O esforço para a fundação do Cen-tro de Ensino Veterinário, não abranda-va a sua ação, mas faltavam professo-res com conhecimento em biologia epatologia animal. Não havia por isso,meios para controlar os problemaszoossanitários nos plantéis do Exérci-to, muito menos o do âmbito civil.

Nesse período, o General Dr. Israelda Rocha, Diretor de Saúde do Exércitofoi designado para contratar profissio-nais europeus, propiciando auxílio aoCoronel Muniz de Aragão para fundaro Ensino da Medicina Veterinária noBrasil. Foram indicados pelo InstituoPasteur, o Tenente-Coronel AntoineDupuy e o Capitão Paul Ferret, quejuntamente com Ten-Cel Muniz deAragão encontraram o Mormo dizi-mando cerca de 25% dos eqüídeos datropa militar. O ataque sistemático asdoenças infecciosas e parasitárias dossemoventes da tropa se prolongou pormais 12 anos.

Em 1909, numa sessão daAcademia de Medicina, o ProfessorLima de Castro fez um comentárioacerca do que escreveu Muniz deAragão em um trabalho sobre Mormo,dizendo que “esta é uma questão mag-na. Questão capital, de toda transcen-dência, talvez das mais importantes aagitar-se entre nós. E por todos os mo-tivos: sob o ponto de vista médico ehumanitário, científico e patriótico,econômico e social. Grande parte dofuturo do Brasil vai nela”. Nesse traba-lho, recordava que, Muniz de Aragãohavia verificado dois casos de Mormoem soldados, concluindo acreditar quemuitos supostos casos de tuberculosenos soldados não passa de verdadeiromormo pulmonar.

Seus estudos e orientações levaramao diagnóstico de mormo na tropa e o

74

HISTORIOGRAFIA

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

O esforço para afundação doCentro de EnsinoVeterinário, nãoabrandava a suaação, mas falta-vam professorescom conhecimen-to em biologia epatologia animal

Page 77: Revista CFMV n26

75

governo ouviu a ciência, determinandoque os cavalos doentes fossem sacri-ficados e os suspeitos separados. Cercade 30 anos depois não havia mais casosda doença no plantel eqüino do Exérci-to.

Em 1910, o Ministério daAgricultura pediu auxílio ao Ministérioda Guerra no sentido de organizar umserviço veterinário naquele Ministério,para solucionar inúmeros problemassanitários e econômicos da produçãoanimal. O Dr. Muniz de Aragão per-maneceu cedido ao Ministério daAgricultura até dezembro de 1911,quando o Ministro da Guerra reclamoude volta os seus serviços no Exército.

Em 1911 com o retorno de Dupuy eFerret, Muniz de Aragão perde a cola-boração dos veterinários para a funda-ção do centro de ensino de veterinária,sua persistência é digna e exemplar.

Em junho de 1912, juntamente comEmílio Gomes, Augusto de Freitas,Teófilo Torres, Júlio de Novais,Henrique Autran e Hernani Pinto, fo-ram discutidas as condições sanitáriasdos estábulos do Rio de Janeiro, apro-vando na Academia Nacional deMedicina, as seguintes conclusões re-comendadas ao governo:

Proibição dos estábulos;Exame sistemático do gado e cria-

ção do hospital veterinário;Tuberculinização sistemática do

gado; Vigilância médica do pessoal que

trata do gado; Fiscalização do comércio de leite

com pessoal, veterinário e médico su-ficiente e de provada competência;

Organização de laboratório de pes-quisa completa para análises de leite eprodutos lacticínios;

Prêmio para estábulos e leiteriasmodelos;

Leite filtrado, pasteurizado e homo-geneizado.

Nova missão francesa vem aoBrasil, continua as atividades em polí-cia sanitária animal, dentro do exérci-to, ficando aqui até 1914, retornando aFrança por conta da guerra. Mesmocom isso, Muniz de Aragão não desis-tiu do firme propósito de fundar o en-sino de veterinária no Brasil e, por is-so, com a colaboração do Capitão Mé-dico Antônio Alves Cerqueira, AugustoTito da Fonseca e outros, que juntarama ele para levar adiante a sua idéia,manteve em funcionamento o CursoPrático de Veterinária do Exército.

Em 17 de julho de 1914, foi insta-lada a Escola Veterinária do Exército noantigo quartel em São Cristóvão.

Em dezembro de 1917, Muniz deAragão teve realizado mais um de seussonhos, como Diretor da EscolaVeterinária do Exército, acompanhoua formatura da primeira turma, e emseu discurso destacou a importância doensino da veterinária, afirmando:

“... É, pois do ensino da medicina ani-

mal que havemos de estabelecer coisaútil em prol da pecuária em nosso paíse, por tanto, em prol dos animais datropa.

Sem o estudo da veterinária, semos conhecimentos para a seleção inte-ligentemente dirigida, sem a noção damaneira pela qual se faz a transmissãodas moléstias, nada poderemos fazerde proveitoso ...”

De setembro de 1918 a 1920, parti-cipou pela última vez da comissão deprofilaxia das enfermidades dos ani-mais do exército.

Em julho de 1919 foi promovido,por merecimento, a Tenente Coronele, no mesmo ato, nomeado diretor doHospital Militar de Juiz de Fora. Mas,no dia 15, o ato foi retificado pelo go-verno com o intuito de conservá-lo àfrente de sua obra, e nomeado Diretorda Escola de Veterinária do Exército.

No ano de 1920, se dedicou a cons-trução da nova sede da Escola deVeterinária do Exército, na AvenidaBartolomeu Gusmão, em SãoCristóvão, Rio de Janeiro.

No discurso de inauguração, Munizde Aragão, profundamente emociona-do teve uma síncope cardíaca, mas foisocorrido a tempo e salvo. Apesar dis-so, fez questão que o discurso fosse li-do por outrem, do qual transcrevemosum trecho, onde destacava o papel e aimportância do médico veterinário pa-ra o país:

“... em um país como o nosso, novo,vivendo de esperanças, e que entre es-tas vê apontado, como elemento funda-mental para a sua grandeza econômica,para sua prosperidade, o vasto campoda criação animal, não se pode deixarde lado o estudo da Veterinária.

Três são os elementos principais pa-ra o seu desenvolvimento prático: bonsprofissionais, boa política sanitária dosanimais e bons campos de culturas for-rageiras.

O veterinário é hoje um colaboradorinteligente do desenvolvimento econô-mico de um país, e ao mesmo tempo,da sua organização militar.

É o guarda dos nossos rebanhos, éo conselheiro, o guia na aplicação dosmétodos modernos da criação animal,fazendo adaptarem os científicos queensinam, e retirar, em menor lapso detempo, todo o proveito que essa indús-tria deve e pode prodigalizar.

.... o veterinário de hoje não é maiso ferrador, le marechal ferrant, o al-beytars, embora com as honras e privi-légios nobiliárquicos; a veterinária mo-derna, que teve como precursor ClaudeBourgelat e como estimuladores, entreoutros, os espíritos investigadores dePasteur, Chauveu, Nocard, Kock, etc.É uma ciência definida, difícil,e que ca-minha em rápido progresso, desvendan-do segredos mais transcendentais ...”

HISTORIOGRAFIA

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Page 78: Revista CFMV n26

Em setembro de 1920 foi nomeadocomo primeiro Inspetor do ServiçoVeterinário do Exército, deixando a dire-ção da Escola. Ainda nesse ano, chegouao Brasil a terceira missão francesa queconsolidou a obra de Muniz de Aragão.

Foi nomeado para a comissão en-carregada de fixar a composição dasrações das tropas em tempo de paz,mas em janeiro de 1922 foi acometi-do por uma síncope cardíaca, desta fei-ta fatal.

O Capitão Valdemiro Pimentel des-tacou, ainda, “ o valor deste homemresidiu em compreender com argúcia,na época em que viveu, o sentido supe-rior da cultura a serviço da organizaçãonacional... O nobre exemplo, a nós fi-cou nas suas obras; e, da grandeza hu-mana sentimos profundamente nele,

quando diz em um de seus discursosmagistrais: A gratidão, como o amor,é tão duradoura quanto o tempo”.

O Presidente Getúlio Vargas, emdezembro de 1940, baixou Decreto-Leide nº 2.893, determinando o CoronelMédico Dr. João Muniz Barreto deAragão, Patrono do Serviço Veterináriodo Exército, como reconhecimento aosseus esforços para a fundação e desen-volvimento daquele Serviço.

É, pois, com o espírito de destacar erenovar o reconhecimento àquele quededicou sua vida para implantar, conso-lidar e reconhecer a importância daMedicina Veterinária que, transcreve-mos parte da biografia de Muniz deAragão, escrita por Valdemiro Pimentel,autor, também, da legenda colocada naherna e citada no início desta matéria.

Ao Coronel Dr. Muniz de Aragãoa eterna gratidão da classe médico ve-terinária brasileira.

Fonte:PIMENTEL, V. Vulto da História

Militar do Brasil Coronel João MunizBarreto de Aragão, Patrono daVeterinária Militar. Rio de Janeiro,Duarte Neves & Cia. 1942. 153p.

CAMOLEZE, E. Cel Dr. JoãoMuniz Barreto de Aragão. Publicaçãodo Instituto de Biologia do Exército,em 1991, em homenagem ao Dia daVeterinária.

CERQUEIRA, ALVES apudPimentel, V. Vulto da História Militardo Brasil Coronel João MunizBarreto de Aragão, Patrono daVeterinária Militar. Rio de Janeiro,Duarte Neves & Cia. 1942. 153p.

76

HISTORIOGRAFIA

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

REVISTA CFMV - FICHA DE ASSINATURACONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA

Assinatura anual – 3 (três) edições: R$ 15,00 (quinze reais)Depósito: Banco do Brasil S.A., Agência 2883-5, conta corrente nº 5477-1

Nome:Endereço:Bairro:Cidade: CEP: UF:Tel - 1: (0xx....) Tel - 2: (0xx....)e-mail:

Pessoa física Formação profissional: Estudante Curso:

Pessoa jurídica Ramo de atividade:

Preencha os dados acima, recorte a ficha e encaminhe juntamente com o comprovante de depósito para o endereço: SCS, Quadra 01, Bloco E, nº 30, Ed. Ceará, 14º Andar, Brasília – DF, CEP 70303-900.Tel: (0xx61) 322 7708 - Fax: (0xx61) 226 1326 - e-mail: [email protected]

Page 79: Revista CFMV n26
Page 80: Revista CFMV n26

Informações gerais

O curso de Medicina Veterináriainiciou-se em 26 de agosto de 1993,autorizado pelo Decreto de 08 de de-zembro de 1992, publicado no DiárioOficial da União em 09 de dezembrodo mesmo ano. A implantação do Curso

contou com o importante o apoio doDepartamento de Zootecnia da UFLAe teve como primeiro coordenador oProfessor Henrique Ribeiro Alves deResende. Tal implantação foi conco-mitante à criação do Departamento deMedicina Veterinária, que teve comoprimeiro chefe o Professor Rogério

Santoro Neiva, responsável pelo proje-to inicial do curso.

Desde seu primeiro vestibular, ocurso de Medicina Veterinária tem si-do o mais procurado na instituição eum dos mais concorridos do país, comuma média de 37 candidatos/vaga nosúltimos seis anos. Tal demanda é de-

Curso de Graduação em Medicina Veterinária daUniversidade Federal de Lavras

U F L A

78

HISTÓRIA

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Prédio central do Departamento de Medicina Veterinária

Page 81: Revista CFMV n26

vida à localização central da UFLA naregião Sudeste e pela qualidade do cur-so, com turmas de 25 alunos por se-mestre, que permite um amplo proces-so de aprendizagem e vivência práticaem Medicina Veterinária. Nas últimasquatro edições do Exame Nacional deCursos (Provão) o curso de MedicinaVeterinária obteve os conceitos B, A, Ae B, estando entre os melhores classi-ficados do Brasil. Outro ponto a sedestacar é que todos os seus alunos quese submeteram ao Exame Nacional deCertificação Profissional foram aprova-dos, atestando mais uma vez a qualida-de de ensino ali praticada.

Para se ter uma visão mais comple-ta sobre o Departamento de MedicinaVeterinária informa-se que o mesmopossui, atualmente, oito setores fun-cionais, sendo: Morfologia, Fisiologiae Farmacologia, Patologia, MedicinaVeterinária Preventiva e Epidemiologia,Reprodução Animal, Cirurgia, Clínicade Pequenos Animais e Clínica deGrandes Animais.

O corpo docente do curso é consti-tuído de 69 professores, distribuídosnas 60 disciplinas que compõe a gradecurricular. Desses, 33 são doDepartamento de Medicina Veterináriae os demais pertencentes aos departa-mentos didático-científicos de Zoo-tecnia, Ciência dos Alimentos, Biolo-gia, Química, Ciências Exatas,Administração e Economia e EducaçãoFísica.

A visão do profissional que se querformar

O Curso de Medicina Veterináriada UFLA tem o ser humano como fo-co de seu maior interesse. Formar pro-fissionais competentes e com amplacultura geral, capazes de primar pelasmais adequadas técnicas nos diferentescampos da Medicina Veterinária, e/ou

tomar decisões realistas e engajadascom as necessidades sociais, caracteri-za o bem estar humano e social comoobjetivo principal do processo educati-vo. Neste contexto, não basta ensinartécnicas e métodos. É fundamental edu-car, preparando o indivíduo para inter-pretar carências sociais e promoverações de correção das distorções gera-das pelas novas tendências econômi-cas e políticas do mundo atual. O com-promisso do ensino está em prepararpessoas para atuarem frente às situa-ções com as quais irão defrontar-se nofuturo, com base no conhecimento maissignificativo existente.

A produção animal, a saúde públi-ca e o bem estar animal, sob diferentesaspectos, são referenciais de uma socie-dade justa e organizada. O médico ve-terinário constitui o sustentáculo desteramo do saber. Este profissional devepossuir conhecimentos teóricos e prá-ticos referentes ao seu campo de atua-ção. Deve também ser capaz de relacio-nar-se com profissionais de outrasáreas, mostrando grande capacidade de

relacionamento interdisciplinar, con-dição importante para o ajuste necessá-rio aos desafios da profissão. As açõesda Universidade devem estar direciona-das para a formação profissional e hu-mana dos indivíduos. Princípios demo-cráticos, éticos e humanitários devemser o norte orientador durante toda aformação acadêmica dos futuros profis-sionais.

Objetivos do Curso

O curso de Medicina Veterinária daUniversidade Federal de Lavras visa aformação e a capacitação profissionalpara o exercício amplo de suas atribui-ções profissionais. Durante o curso oaluno receberá inicialmente a forma-ção em diversos campos das CiênciasBiológicas e Ciências da Saúde e de-senvolverá um espírito crítico e refle-xivo sobre os mesmos. Receberá tam-bém formação nas áreas de CiênciasHumanas e Sociais, que fornecerão ha-bilidades de comunicação, gestão admi-nistrativa, informática e de compreen-

79

HISTÓRIA

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Laboratório de anatomia animal

Page 82: Revista CFMV n26

são dos determinantes sociais e cultu-rais envolvidos no exercício da profis-são. Em seguida, o aluno receberá aformação nas Ciências da MedicinaVeterinária, nos campos da saúde ani-mal, clínica e cirurgia veterinárias, me-dicina veterinária preventiva, saúde pú-blica, zootecnia, reprodução animal etecnologia e inspeção de produtos deorigem animal, desenvolvendo com-petências e senso crítico para a atua-ção profissional e para a gestão de suaeducação continuada.

O perfil profissiográfico

O Médico Veterinário formado pe-la UFLA deve ser um profissional comformação generalista e reconhecida ca-pacidade de raciocínio lógico, de obser-vação, de interpretação e de análise dedados e informações, bem como co-nhecedor dos aspectos essenciais daMedicina Veterinária, para identificaçãoe resolução de problemas, consideran-do seus aspectos políticos, econômi-cos, sociais, ambientais e culturais, com

visão ética e humanística, em atendi-mento às demandas da sociedade. Destaforma, o médico veterinário egressodeverá ter habilidades para desenvolverações no âmbito de seus campos espe-cíficos de atuação em saúde animal eclínica veterinária; saneamento e medi-cina veterinária preventiva; saúde pú-blica e inspeção e tecnologia de pro-dutos de origem animal; zootecnia, pro-dução e reprodução animal e ecologiae proteção ao meio ambiente.

A Universidade terá direcionamen-to das ações para habilitar o profissio-

nal egresso a construir atitudes de sen-sibilidade e compromisso social, aomesmo tempo em que lhes provê sóli-da formação científica e profissionalgeral que os capacite a absorver e de-senvolver tecnologias, observando tan-to o aspecto do progresso social quan-to da competência científica e tecno-lógica, permitindo ao profissional aatuação crítica e criativa no reconheci-mento e tomada de decisões com rela-ção às necessidades dos indivíduos,grupos sociais e comunidade.

Estrutura acadêmica do cursoO quadro abaixo resume a estrutu-

ra curricular do curso de medicina ve-terinária da UFLA. Destaca-se o fato deque o décimo período do curso é reali-zado fora da universidade, pela discipli-na Estágio Supervisionado, com 480horas de duração, e que permite ao alu-no o contato direto com diferentes seg-mentos do mercado de trabalho, deacordo com as aptidões e curiosidadesdo mesmo. Ao final da disciplina, oaluno apresenta um relatório de estágioe uma monografia, como requisitos pa-ra a obtençao do grau de MédicoVeterinário.

Coordenação do Curso

A concepção e a gestão de qualida-de do curso de Medicina Veterinára daUFLA são realizadas pelo Colegiado

80

HISTÓRIA

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Laboratório de reprodução animal

Page 83: Revista CFMV n26

81

de curso, composto por respresentantesde professores, alunos e técnicos-ad-ministrativos da Instituição. Cabe aoCoordenador do Curso o monitoramen-to da qualidade das disciplinas e de-mais atividades acadêmicas para a gra-duação, a reformulação do projeto po-lítico pedagógico do Curso, a adequa-ção acadêmica de novas áreas de ex-pansão do conhecimento em MedicinaVeterinária, a realização periódica depesquisa de egressos (ex-alunos) paraa verificação e adequação do perfil pro-fissiográfico porporcionado pelo Curso,dentre outros.

Atividades curriculares e estraté-gias pedagógicas

A estratégia pedagógica adotada pe-los professores da UFLA consiste fun-damentalmente em ensino de teorias epráticas, sendo que as teorias são nor-malmente ministradas por meio de au-las expositivas e as práticas por meio dedesenvolvimento de atividades no cam-po e/ou nos laboratórios. Os conteú-dos das disciplinas são ainda comple-mentados por visitas técnicas a fazen-das e empresas com atividades relacio-nadas à medicina veterinária, bem co-mo, aos centros de pesquisas estaduaise federais. Trabalhos escolares extra-classe contemplam conteúdos teóricose práticos e podem ser desenvolvidostanto na biblioteca central, como nosdiversos laboratórios e setores de ativi-dades de campo.

Participação de alunos em eventostécnicos, esportivos, artísticos ou

atividades de extensão

A participação de alunos em con-gressos, competições esportivas e ar-tísticas, encontros técnicos, seminários,simpósios, cursos ou atividades de ex-tensão é fomentada com o objetivo de

proporcionar uma formação acadêmi-ca mais ampla. Para tal, a cada semes-tre letivo, os alunos têm direito à par-ticipação em um evento, como abonode faltas e trabalhos escolares estabele-cidos por regimento.

Realização de estágio

A UFLA oferece estágios nos seuslaboratórios e setores para alunos daprópria Instituição, bem como de outrasinstituições de ensino superior. Estágiose participações diversas em outras ins-tituições de ensino, empresas e unida-des de produção também são ofertadosaos alunos .Todos os estágios são admi-nistrados pela Pró-Reitoria de Extensãoe regidos por resolução própria.

Atividades de extensão

Os docentes e alunos do curso deMedicina Veterinária estáo envolvidosem diversas atividades de extensão quepromovem uma maior interface uni-versidade-sociedade. Dentre essas ati-vidades pode ser destacado: programasde controle gerencial e estudo da ren-tabilidade de sistemas de produção deleite em Lavras e região; Grupo deApoio a Pecuária Leiteira (UFLALEI-TE), que presta assistência técnica apequenos produtores da região deLavras; campanhas periódicas de con-trole populacional de cães e gatos, atra-vés da esterilização cirúrgica em ambosos sexos; projeto Vida Animal eEquitação, que visa o contato de crian-

HISTÓRIA

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Laboratório de virologia animal

Page 84: Revista CFMV n26

ças com os animais de produção e es-timação; curso de atualização para mé-dicos veterinários, via internet, sobredoenças da reprodução em bovinos.Além de tais atividades, serviços técni-cos nas áreas de clínica, cirurgia, pato-logia , patologia clínica, parasitologia,microbiologia, dentre outros, são ofe-recidos regularmente para a comuni-dade.

Atividades de pesquisa

Os alunos de graduação participamativamente das atividades de pesquisadesenvolvidas pelos docentes do Curso,de forma voluntária, ou por meio debolsas de iniciação científica. Nos úl-timos cinco anos, foram concedidas 51bolsas para alunos do curso deMedicina Veterinária, sendo publica-dos mais de 120 trabalhos científicosem congressos de Iniciação Científica.As principais atividades de pesquisaestão concentradas nas áreas de morfo-logia veterinária, fisiologia e farmaco-logia, patologia, medicina veterináriapreventiva, reprodução animal, ciên-cias clínicas e cirúrgicas, tecnologia einspeção de produtos de origem ani-mal e zootecnia.

Assistência aos estudantesA assistência aos estudantes é pres-

tada através da Pró-Reitoria deAssuntos Estudantis, Comunitários eCulturais (PRAECC), como uma po-lítica de inclusão de alunos carentes noensino superior. São oferecidos os se-guintes serviços: médico e odontoló-gico, ambulância, laboratório de análi-ses clínicas, restaurante universitário,alojamento misto e feminino,Cooperativa de Consumo dosProfessores, Alunos e Funcionários(COOPESAL), creche e atividades delazer, cultura e recreação no Centrode Integração Universitária (CIUNI).Além desses serviços, a PRAECC con-

cede isenção de taxa de vestibular pa-ra candidatos carentes.

Programas de pós-graduação

O curso de Medicina Veterinária daUFLA ainda não oferece programas detreinamento em pós-graduação na mo-dalidade Strictu sensu. Entretanto, doiscursos de pós-graduação, modalidadeLato sensu já foram criados e são ofe-recidos como demanda do curso deMedicina Veterinária. O primeiro cur-so criado foi o de “Farmacologia –Atualização e Perspectivas”. Trata-sede um curso de especialização à dis-tância, colaborando desde 1999 no pro-cesso de educação continuada deMédicos Veterinários e profissionaisde áreas afins. Ao término do curso ca-da aluno escreve uma monografia, co-mo parte das exigências para obtençãodo título de Especialista.

O segundo curso foi implantado co-mo programa de Residência MédicoVeterinária, sendo também um cursode Especialização. A Especializaçãoem Residência Médico-Veterinária éuma modalidade de ensino de pós-graduação, destinada a MédicosVeterinários, caracterizada por um pro-grama intensivo de treinamento em ser-viço. As atividades do programa deResidência são desenvolvidas no pe-ríodo de um ano, podendo ser estendi-das por até dois anos, sob orientaçãodo docente responsável pela área deatuação do MédicoVeterinárioResidente. A duração mínima destaEspecialização é de 1760 horas por ano,em um regime de 40 horas semanais.

Pespectivas e metas para o cursode graduação

No ano de 2003 será estabelecida a

82

HISTÓRIA

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Laboratório de anatomia animal

Page 85: Revista CFMV n26

83

reforma curricular do curso deMedicina Veterinária da UFLA, visan-do o aprimoramento do processo ensi-no-aprendizagem e da formação aca-dêmica. Será implantada uma flexibi-lização curricular que permitirá aos alu-nos a escolha de diversas atividadesacadêmicas (disciplinas eletivas, está-gios, iniciação à docência, pesquisa eextensão, cursos à distância, serviço devoluntariado etc) como elementos desua formação profissional e contabili-zando créditos para a finalização doCurso. Outra área a ser aprimorada é otreinamento do aluno, ao longo de to-do o Curso, para a realização e autoges-tão de sua educação continuada, comoforma de melhor adequação do médicoveterinário aos desafios profissionais.

O Departamento de MedicinaVeterinária da UFLA, juntamente coma Pró-Reitoria de Pós-Graduação estáelaborando o projeto de curso deMestrado Stricto sensu em MedicinaVeterinária, com previsão de ser im-plementado em 2004.

HISTÓRIA

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Sala de cirurgia

E N D E R E Ç O S

Reitor:Fabiano Ribeiro do VallePró-Reitor de Graduação:

Valéria da Glória Pereira BritoCoordenador do curso de Medicina

Veterinária:Henrique César Pereira Figueiredo

Vice-Coordenador:Luciano da Silva Alonso

Chefe do Departamento de MedicinaVeterinária:

Flamarion Tenório de Albuquerque

Endereço para correspondência:

Colegiado de Graduação em Medicina Veterinária,

Departamento de Medicina Veterinária,

Universidade Federal de Lavras,

caixa postal 37, CEP 37.200-000, Lavras, Minas

Gerais. e-mail: [email protected]

Os interessados em conhecer o Projeto Pedagógico

do Curso de Medicina Veterinária da UFLA podem

solicitar por meio do e-mail [email protected]

Page 86: Revista CFMV n26

84

PUBLICAÇÕES

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Farmacologia Aplicada à Medicina Veterinária

Lançada a 3ª edição do livro Farmacologia Aplicada

à Medicina Veterinária, de autoria de Helenice de

Souza Spinosa, Silvana Lima Górniak e Maria Martha

Bernardi, pela editora Guanabara Koogan, uma obra

básica para leitura e consulta. A nova publicação, além

dos 53 capítulos da edição anterior, incorpora temas,

como: Eutanásia, Promotores de Crescimento e

Homeopatia. Assim, as principais questões ligadas à

farmacologia no campo da medicina veterinária es-

tão contempladas neste livro, numa edição rica em

ilustrações, gráficos e tabelas, exigindo um formato

adequado para conter suas mais de 750 páginas de

valiosas informações que, além das autoras, exigiu

uma equipe de colaboradores composta de cerca de 40

especialistas, pesquisadores e professores.

Patologia Veterinária

Classificado pelo autor como um compêndio onde

a simplicidade se aprimora na sutileza das lesões e na

maneira objetiva de encará-las, o livro Patologia

Veterinária constitui-se em uma importante obra de

consulta para alunos de Medicina Veterinária, mas

também para os profissionais que atuam na área.

Escrito pelo médico veterinário e professor

Humberto Eustáquio Coelho, publicado pela editora

Manole Ltda (SP) o livro procura ser bastante didáti-

co em sua forma de apresentação, oferecendo respos-

tas objetivas para as principais questões ligadas à área,

dividido em dois grandes blocos: Patologia Geral e

Patologia Especial, com um encarte central contendo

35 ilustrações referentes à obra toda. Portanto, uma lei-

tura obrigatória.

Page 87: Revista CFMV n26

Manual de Procedimentos Veterinários &Tratamento Emergencial

O valor e a importância deste Manual se atesta porsuas sucessivas edições, sempre revisadas e ampliadasnesses últimos 30 anos. A marca registrada da obra é acapacidade dos autores em condensar e editar omaterial para torná-lo o mais compreensível paratodos.

No decorrer de todos esses anos, o Manual deProcedimentos Veterinários & Tratamento Emergencialtem procurado aperfeiçoar o objetivo inicial da obra,que é selecionar os conteúdos mais significantes para oMédico Veterinário e para o estudante da área. As seisseções do livro abrangem desde os cuidadosemergenciais, passando pelos procedimentos clínicos echegando à interpretação de testes laboratoriais. Osautores, Stephen I. Bistner, Richard B. Ford e Mark R.Raffe, produziram uma obra referencial significante,daí suas sucessivas edições em inúmeros países. Nesta7ª edição, pela Editora Rocca Ltda (SP), ressalta-se aqualidade técnica do trabalho do tradutor, o Dr. PauloMarcos Agria de Oliveira

85

PUBLICAÇÕES

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Produção de Novilhos Precoces – Nutrição,

manejo e custos de produção

O Médico Veterinário e Mestre em Zootecnia

Carlos S. Gottschall tem carga profissional e exerce

também funções universitárias. A teoria aliada à prá-

tica permitiram a ele escrever este livro extremamen-

te claro, objetivo e capaz de ser entendido por todo

aquele que precisa saber mais sobre conceitos bási-

cos de nutrição e manejo de gado de corte.

Além da parte técnica, nutrição, genética e sa-

nidade, o professor Carlos Gottschall enfoca ques-

tões gerenciais, o como e quando fazer para se obter

resultados positivos.

A publicação compreende 208 páginas e saiu pe-

la Livraria e Editora Agropecuária (Guaiba/RS) e

mereceu do Mético Veterinário Valter José Pöter e

Produtor Rural o seguinte comentário: “Este livro

tem uma grande qualidade porque apresenta tecnolo-

gia utilizada com gestão e custos”

Page 88: Revista CFMV n26

Outu

bro

86

AGENDA

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

XXIX Congresso Brasileiro de MedicinaVeterinária (CONBRAVET)XV Congresso Estadual de Medicina VeterináriaIV Congresso de Medicina Veterinária do CONE-SULI Congresso Estadual da ANCLIVEPA/RSVIII Exposição de Produtos e Serviços emMedicina Veterinária (EXPOVET) Gramado (RS), 10 a 14 de outubro de 2002Informações: (51) 3228.1194 Home page: www.sovergs.com.br e-mail: [email protected]

VI Simpósio Paulista de BuiatriaUbatuba (SP), 18 a 20 de outubro de 2002Local: Hotel Cassino Sol e VidaInformações: (12) 3842.0188 Home page: www.mgar.vet.br/buiatria

XXVI Congresso Brasileiro de Homeopatia Natal (RN), 21 a 25 de outubro de 2002Informações: Telefax: (84) 202.5424/202.4889Home page: www.homeopatiam.com.br e-mail: [email protected]

II Congresso Paulista de Clínicos Veterinários dePequenos Animais - PET FAIR 2002São Paulo (SP), 24 a 26 de outubro de 2002Informações: (11) 3873.0081

VII ENBRAPOA - Encontro Brasileiro dePatologistas de Organismos AquáticosIII ELAPOA - Encontro Latino-Americano dePatologistas de Organismos Aquáticos Foz do Iguaçu (PR), 28 a 31 de outubro de 2002Informações: (44) 261.4642 Home page: www.wnet.com.br/abrapoa e-mail: [email protected]

7º Curso de Nutrição e Formulação de Rações emMicrocomputadores para Bovinos de Corte29 a 31 de outubro de 2002Local: Centro de Difusão de Tecnologia - FEALQInformações: (19) 3417.6600 e-mail: [email protected]

Congresso Latino Americano de Suinocultura3º Congresso de Suinocultura do Mercosul e 9ºCongresso da ALVEC (Associação Latina deVeterinários Especialistas em Suínos)Foz do Iguaçu (PR), 16 a 18 de outubro de 2002Informações: Telefax: (45) 529.0123 Home page: www.porkeventos.com

Page 89: Revista CFMV n26

87

AGENDA

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VIII - Nº 26 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2002

Nov

emem

bro

Desem

broSimpósio de Nefrologia VeterináriaBelo Horizonte (MG), novembro de 2002Local: Escola de Veterinária da UFMGInformações: (31) 3499.2051

3º Curso de Planejamento Técnico-Econômico daExploração de Bovinos de Corte25 a 27 de novembro de 2002Local: Centro de Difusão de Tecnologia - FEALQInformações: (19) 3417.6600 e-mail: [email protected]

10º Curso de Manejo de Ordenha e Qualidade doLeite3 a 5 de dezembro de 2002Local: Centro de Difusão de Tecnologia - FEALQInformações: (19) 3417.6600 e-mail: [email protected]

15ª Reunião Anual do Instituto Biológico São Paulo (SP), 4 a 8 de novembro de 2002Home page: www.biologico.br e-mail: [email protected]

XVIII Congreso Panamericano de CienciasVeterinarias (XVIII PANVET) La Habana (Cuba), 18 a 22 de novembro de 2002Local: El Palacio de las Convenciones de la Habana Informações: (537) 308064 Home page: www.geocities.com/csjocientificovet/index.htm e-mail: [email protected]

Page 90: Revista CFMV n26
Page 91: Revista CFMV n26
Page 92: Revista CFMV n26