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ANO 1 NÚMERO 4 Abril/ Maio de 2013 Turismo de A modalidade esportiva que vem ganhando cada vez mais adeptos no Brasil Crédito de carbono Quanto vale cada tipo de gás lançado na atmosfera? Horário de verão Descubra quanto o país economizou na última edição Aventura

Revista Brasil 21 1#4

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Quarta ediçÞao da Brasil 21

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ANO 1 NÚMERO 4 Abril/ Maio de 2013

Turismo de

A modalidade esportivaque vem ganhando cada vez mais adeptos no Brasil

Crédito de carbonoQuanto valecada tipo de gás lançadona atmosfera?

Horário de verãoDescubra quanto o país economizou naúltima edição

Aventura

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Nos últimos 10 anos a popu-lação da cidade de São Paulo aumentou 7,9% e o número de habitantes já ultrapassa os 11 milhões. Mas o que assus-

ta nos dados divulgados pelo Departamen-to Nacional de Trânsito é o crescimento da frota de veículos: 68,2%, quase sete milhões de carros rodando nas ruas e causando con-gestionamentos que chegam a 157 km de lentidão. Para fugir do estresse do trânsito e do corre-corre da vida nas grandes cida-des as pessoas têm procurado viajar nas fé-rias para lugares mais afastados, como Bro-tas (SP) ou Boa Vista (RR), onde é possível praticar esportes radicais. A quarta edição da Revista Brasil 21 traz um guia com luga-res para explorar o turismo de aventura e praticar atividades como rafting e trekking. Nas próximas páginas você encontra tam-bém os cuidados que devem ser tomados antes de mergulhar no Ecoturismo.

Outro destaque desta edição é o resulta-do da economia obtida com o último horá-rio de verão. O leitor vai entender quais são as vantagens para o setor elétrico nacional e o impacto da medida para o seu bolso. Também serão apresentadas as propostas de lei que pretendem acabar com o adian-tamento dos relógios durante a estação mais quente do ano. Além disso, a revista apresenta alguns projetos com reutilização das águas e preservação das nascentes dos rios que têm dado certo.

Boa leitura!

Carta ao leitor

Olá, leitor!

Equipe Brasil 21

Ano1 Número 4 Abril/ Maio de 2013

Editoração gráfica:Beatriz AguiarRosângela Menezes

Arte: Beatriz AguiarRosângela Menezes

Colaboladores:Allan GomesBeatriz AguiarGabriela DamacenoJéssica Sant’Ana

Edição:Rosângela Menezes

Capa: Rosângela MenezesFoto: Flávio Takamoto/ SXC

Contato:[email protected]@ revistabrasil21

Anúncios:[email protected]. Postal 11611 CEP: 71200-980Brasília-DF

Publicação bimestral - distribuição gratuitaTiragem: 1000 exemplares

Brasil 21 on-linewww.brasil21.net

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Sumário 4

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EM FOCO

ECONOMIA

CAPA

ENTREVISTA

ENERGIA

As soluções encontradaspara a preservação das nascentesdos rios no Ano internacional de Cooperação pela Água

Os investimentos dasempresas no Mercado Internacionalde Crédito de Carbono

Cresce no Brasil o númerode turistas que trocam as férias no litoral por regiões maisafastadas da cidade

Charlene Ribeiro:“A OELA é um grandecentro de oportunidades quedesenvolve atividadesesportivas e educacionais”

Os pontos positivose negativos do horáriobrasileiro de verão

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EM FOCO

2013O Ano Internacional de Cooperação pela Água

De acordo com o RelatórioMundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos, cerca de 3 bilhões de pessoas ainda não têm água encanada em casa

Por: Gabriela Damaceno

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Em 2010, enquanto a Assembleia das Na-ções Unidas determinava que 2013 seria o Ano Internacional das Nações Unidas para a Cooperação pela Água, os espe-cialistas da NASA identificavam a pre-sença de água congelada no polo norte da lua. Mas aqui na Terra cerca de 11%

da população mundial ainda não possui acesso à água potável e 37% vive sem rede de esgoto. Até 2015, os quase 200 países membros da ONU, comprometeram--se em reduzir pela metade o número de pessoas que não têm direito à água para beber, tomar banho e limpar a casa. No Brasil, a realidade não é diferente: a maioria da população tem acesso à água tratada, porém apenas 46% possui coleta de esgoto.

Todo efluente não-tratado que é despejado nos lençóis freáticos equivale a jogar 3 mil piscinas olímpicas de es-goto por dia nos mananciais. Com o objetivo de amenizar o problema, o Ministério do Meio Ambiente em conjunto com a Agência Nacio-nal da Água (ANA) lançou, em março, o Programa de Consolidação do Pacto Nacional pela Gestão das Águas (Progestão), que prevê o investimento de 100 milhões de reais em cinco anos no tratamento de água e rede de esgoto. De acordo com o projeto, cada estado definirá suas próprias metas, que devem ser aprovadas pelos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos. O repasse do recurso só acontecerá após o cumprimento das metas estabelecidas e apresentadas pelo conselho.

Até o momento, apenas o Distrito Federal assinou o termo de adesão.

A falta de saneamento básico é problema de saúde pública, e pode ocasionar uma série de doenças como ascaridíase, cólera, leptospirose, amebíase, esquistos-somose e diarreia, que é a principal responsável pela morte de crianças entre 0 e 5 anos, em regiões que não possuem estação de tratamento de esgoto. A cada R$ 1 investido em saneamento são economizados R$ 4 em saúde pública. Em 2010, uma pesquisa divulgada pelo Ministério das Cidades e pelo Sistema Nacional

de Informações sobre Sa-neamento Básico, apon-tou que 60% das cidades onde a rede de tratamento de esgoto é deficiente, a população apresenta altos índices de internação por diarreia. Nos 20 municí-pios com o menor índice de internação, a média da população atendida pela coleta de esgoto era de 78%, já nos dez com os maiores índices de inter-

nação, a média da população atendida pela coleta de esgotos era de apenas 29%.

No ano passado foi a vez do Instituto Trata Brasil divulgar um estudo sobre os problemas sanitários que o país enfrenta: menos da metade da população bra-sileira tem acesso à água potável e coleta de efluentes sólidos. Apenas 37,9% do esgoto recebe algum tipo de tratamento e a parcela que não passa por uma estação sanitária é descartada nos lagos, rios e mares, tornan-do-se um transmissor de doenças

Apenas 37% do esgoto

coletado vai para estações

de tratamento, e mais

de 60% é jogado diariamente

nos rios, lagos e mares

A falta de saneamento básico tem contrubuído para proliferação de doenças como dengue, diarreia e cólera

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Extrema é uma pequena cidade do sul de Minas Ge-rais, localizada na Serra da Mantiqueira, que em tupi-guarani quer dizer “gota de chuva”. O nome não é à toa, já que a Serra da Mantiqueira possui um dos principais mananciais de abastecimento do Brasil. Em 2007, foi implantado o Projeto Conser-vador das águas, pioneiro no país, em que o pro-dutor rural é um prestador de serviços ambientais.

Nesse programa, os agricultores recebem dinhei-ro pela conservação das nascentes dos rios. O projeto teve início em 2005 com a elaboração de uma lei mu-nicipal, que cria e regulamenta o pagamento por ser-viços ambientais relacionados à água. O produtor deve implementar um sistema de saneamento ambiental rural e reservar uma área para conservação, chama-da de Reserva Legal. O proprietário rural que alcança as metas estabelecidas recebe R$176 por hectare/ano. Produtores de leite inseridos no programa também re-cebem 10% a mais no preço do litro do leite. Hoje, 94 propriedades participam do projeto e contam com a plantação de 5 mil mudas de árvores nativas por mês.

O projeto é administrado pela Prefeitura Muni-cipal de Extrema e recebe apoio de entidades go-vernamentais e privadas, o que possibilita o amparo técnico e financeiro. O objetivo principal do progra-ma é implementar microcorredores ecológicos, au-mentar a cobertura vegetal da bacia hidrográfica da região e difundir o manejo sustentável e integrado.

Extrema paga ao agricultorque conservar as nascentes

Projetos com reutilização da água gerameconomia nas indústrias e na zona ruralÉ do Brasil o maior projeto de uti-lização da água de reuso aplicado à indústria. Toda a água utilizada no complexo petroquímico do Rio de Ja-neiro passa antes por uma estação de tratamento de esgoto. Para fazer essa ligação, foi construída uma adutora de mais de 49 km de extensão, que atra-vessa a Baía de Guanabara, e contou com investimento de R$ 1 milhão. Para suprir as necessidades das duas refinarias e da petroquímica instalada nos complexos, serão utilizados 1.5 mil litros por segundo, o que equiva-le ao consumo de uma cidade como Niterói, com quase 500 mil habitan-tes. No total, o setor industrial uti-liza 22% da água potável do planeta.

Agricultores no Rio Grande do Sul gastam mais de 2 mil litros de

água para cultivar apenas 1 kg de ar-roz e para diminuir a utilização de água potável nas lavouras, a Compa-nhia Rio-grandense de Saneamen-to (Corsan) implementou um siste-ma de distribuição de água de reuso para a agricultura. Hoje, o consumo chega a 30 mil litros por dia, o ne-cessário para irrigar 270 hectares de arrozal."Cerca de 75% de toda água que é captada nas duas maiores bacias da região metropolitana de Porto Ale-gre – a do Sinos e a de Gravataí – é usada na irrigação. Então, aproveitar a água de reuso para a irrigação dimi-nui consideravelmente a captação nos mananciais, preservando os cursos d'água e aumentando a disponibilida-de para o consumo humano”, desta-ca o diretor de operações da Corsan.

Capital catarinense entrapara o Livro dos RecordesCom o objetivo de amenizar a poluição na La-goa da Conceição, a Associação Comercial e In-dustrial de Florianópolis (ACIF) criou em 1998, o programa ReÓleo. No ano passado, a capital cata-rinense entrou para o Livro dos Recordes por reco-lher mais de 18 mil litros de óleo de cozinha usado em um mês. Para captação foram cadastrados 132 postos de entrega voluntária espalhados pela cida-de em escolas, condomínios, restaurantes e hotéis.

Cada litro de óleo despejado no esgoto polui 20 mil litros de água, com o projeto, mais de 300 mi-lhões de litros de água deixaram de ser poluídos por óleo de cozinha vegetal. Em 2008, o programa re-cebeu o prêmio Empresa Cidadã da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing de Santa Catari-na (ADVB/SC), na categoria Preservação Ambien-tal e, em 2012, foi considerado o Melhor Projeto de Responsabilidade Ambiental pela Associação dos Amigos dos Excepicionais (APAE), de Florianópolis.

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ECONOMIA

Em 1997 foi assina-do, no Japão, o tra-tado de Quioto, que garantia a redução da emissão de gases causadores do efeito estufa em até 5,2%

pelos países participantes. Com isso, foi instaurado aos poucos o que hoje se conhece por merca-do de créditos de carbono, uma forma alternativa para que países com altos índices de emissão de poluentes possam se adequar às novas metas e retardar o efeito es-tufa. Os créditos de carbono são certificados emitidos pelo Conse-lho Executivo do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) - que é uma repartição da ONU- quando é provada a redução de um dos seis gases causadores do efeito estufa, entre eles o Dióxido de Car-bono (CO2). Esses créditos podem ser vendidos aos países como os Estados Unidos, que superam os limites de emissões de gases estu-

fa por ano e recorrem aos países cujas taxas não tenham sido supe-radas.

No Brasil, a venda de carbono ainda é uma prática incipiente, mas já cria interesse nos empre-sários mais atentos: a venda de créditos de carbono no país pode movimentar US$ 6 bilhões nos próximos 7 anos e ultrapassar os US$ 3 trilhões em todo o mundo. A expectativa é de que em 2013 o mercado cresça pelo menos 14%, segundo dados da consultoria Thomson Reuters Point Carbon (TRPC). Na verdade, o primei-ro crédito de carbono emitido no mundo foi para uma empresa ca-rioca, em 2004.

Convencionalmente, uma tone-lada de CO2 equivale a um crédi-to de carbono. Outros gases cau-sadores do efeito estufa, como o Metano (CH4) e o Óxido Nitroso (N2O), ligados à queima de bio-massa, aterros sanitários e emissão de combustíveis fósseis, também

O MERCADO DE ARComo empresas de todo o mundo vêm investindo nos créditos decarbono, uma forma re ntável de cuidar do meio-ambientePor: Beatriz Aguiar

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podem ser comercializados no mercado internacional. Para que uma empresa possa vender crédi-tos de carbono, é necessário que desenvolva um projeto de redução dos gases poluentes, que será apro-vado pelo Conselho Executivo do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). No entanto, não é necessário criar um projeto do zero: o MDL já conta com 85 op-ções registradas, entre elas a cria-ção de aterros ou reflorestamento.

De acordo com uma pesquisa da Faculdade de Economia, Administração e Con-tabilidade de Ribei-rão Preto (FEARP) da USP, realizada pelo economista José Affonso dos Reis Junior, as empresas brasi-leiras ainda não têm priorizado a geração de cré-ditos de carbono, preferindo projetos com retorno mais ime-diato – como a redução das emissões e aumento de eficiência

energética. O economista aponta a burocracia e a demora do retorno financeiro como motivos para a falta de investimento nos projetos de crédi-tos de carbono no Brasil.

No mundo inteiro, os paí-ses ainda estão descobrindo os caminhos para in-centivar o desenvol-

vimento de um mer-cado verde. Na

Europa, 20% dos en-trevistados em uma

pesquisa da TRPC afirmaram que o esquema euro-peu de comércio de emissões (EU ETS) “não tem mais um impac-

to significativo no corte de emissões”.

Isso se deve aos bai-xos valores que o sistema

vem registrando nos últimos anos, afirma Emil Dimantchev,

analista da TRPC e autor do rela-tório. Mas 77% dos entre-

vistados manifestaram mais confiança em

relação à reforma completa do sis-tema europeu de compra e venda de crédi-tos de carbono, que deve come-

çar já no segun-do semestre de

2013. Tudo indica que a burocracia e a

rigidez dos processos de análise dos créditos de carbono

pela ONU tem dificultado a entra-da de mais empresas no mercado ambiental.

A situação merece atenção es-pecial. Em São Paulo (SP), por exemplo, a meta de reduzir em 30% as emissões de gases estufa entre 2003 e 2012 não foi cum-prida. Pelo contrário: a cidade au-mentou os índices de emissão de gás em 2010 e 2011, passando para 16 mil gigagramas a mais de gás carbônico equivalente, ou seja, um ano inteiro de emissões. Boa parte

O CARBONO NO MUNDOVeja como andam as negociações no mercado internacional

Na China, o maior emissor de gases estufa na atualidade, a esti-mativa é de que um mercado de carbono nacional seja implanta-do somente em 2015. Em janeiro deste ano, os níveis de PM2.5 – índice que mede partículas de poluentes no ar – superaram os 400 em várias cidades chinesas. O nível diário recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de apenas 20.

2Maior emissora de poluentes do continente africano, a Áfri-ca do Sul irá implantar uma taxa de carbono equivalente a US$ 14 por tonelada de CO2 a partir de 2015, para setores como o petroleiro, siderúrgi-co e elétrico. As empresas que investirem em projetos verdes também receberão a liberação de um auxílio em até 10% das emissões.

3A Comissária climática da União Europeia, Connie Hedegaard, confirmou a meta de reformar o Esquema Europeu de Comér-cio de Emissões (EU ETS) já no segundo semestre de 2013. O EU ETS passa atualmente por uma crise devido ao baixo preço dos créditos de carbono, estipulado em €4, quando deveria ultra-passar os €15 para estimular os investimentos privados.

A burocraciadificulta o

ingresso das empresas no

mercado verde

O ganho de créditos de

carbono ainda não é prioridade

no Brasil

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No início de março, o Banco Mundial anunciou o investimen-to de US$ 110 milhões na elabo-ração de mercados de carbono nos países em desenvolvimento. Até agora, países como Chile, Costa Rica, China e México receberam recursos através da Parceria para Preparação dos Mercados (PMR). O objetivo é que, no futuro, seja construído um mercado global de carbono a partir dessas iniciativas de finan-ciamento.

5Os estados do Acre (AC) e do Rio de Janeiro (RJ) assinaram em 21 de março um acordo com o Banco Nacional de De-senvolvimento Econômico e Social (BNDES), com o obje-tivo de impulsionar o desen-volvimento de um mercado de

ativos ambientais no Brasil. O tratado abre parâmetros para a regulamentação de um mercado de carbono no Brasil, além de ampliar o debate sobre temas como biodiversidade e recur-sos hídricos. Para Tião Viana, governador do Acre, o mercado de carbono pode ser o novo ativo econômico do século XXI.

dos gases (81,9%) são resultantes da queima de combustível na cida-de, e 60% da queima de combustí-vel estão relacionados aos meios de transporte na cidade. O problema se repete na China, maior emissor de gases estufa nos últimos anos, que enfrentou os piores índices de poluentes no ar em janeiro deste ano – os medidores verificaram números maiores que 400, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda não mais que 20 PM2.5.

Uma pesquisa do Grantham Institute, da London School of Eco-nomics (LSE) e da ONG Globe In-ternational aponta que, apesar das dificuldades de implantação de um mercado de carbono em muitos países, as nações emergentes ain-da são destaque no compromisso com meio ambiente – entre eles, o Brasil, que pretende reduzir em 80% o índice de desmatamento da Amazônia até 2020. De acordo com o relatório, a criação de novas legislações ambientais é motivada por situações diferentes em cada país, sejam mudanças climáticas, competitividade empresarial, ou eficiência e segurança energética, mas as tentativas acabam gerando pouco a pouco um crescimento econômico mais sustentável.

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turismo de aventuraCom cada vez mais adeptos no Brasil e no mundo, os esportes de aventura têm sido uma forma de se afastar das exigências da cidade grande e entrar em contato com a natureza

Por: Beatriz Aguiar

CAPA

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Até a fase final do período Paleolítico, por volta de 10.000 a.C., os seres huma-nos viviam do nomadismo, sem aparatos que permi-tissem a exploração segura de riachos, mares, vales,

cavernas ou montanhas. Hoje em dia, em pleno século XXI, é possível encontrar pessoas que pro-curem por conta própria aventuras junto a natu-reza – inclusive pagando por isso. Tal fenômeno deu origem ao Turismo de Aventura, inicialmente uma modalidade de turismo ambiental que hoje promove a prática de atividades recreacionais na natureza ou mesmo em ambientes urbanos, ao ar livre.

Comum em países como os Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia, Irlanda e Costa Rica, o Turismo de Aventura começou a ser praticado no Brasil por volta dos anos 80, por meio de inicia-tivas dispersas de criar negócios que aliassem o contato com a natureza e rentabilidade econômi-ca. Já nos anos 90, os primeiros equipamentos de segurança para esportes radicais, como caiaques infláveis, capacetes e cordas, passaram a ser pro-duzidos no Brasil. Como resultado do crescimen-to de interesse na área, foi organizada em 1999 a primeira feira do setor, a Adventure Sports Fair, que fez os olhares se voltarem para a área emer-gente do Ecoturismo. Regulamentado em 2003 pelo Ministério do Trabalho, o Turismo de Aven-tura tem sido foco de políticas governamentais no mundo inteiro, especialmente no Brasil, que lidera o desenvolvimento de Normas Internacio-nais (ISO) para o segmento, em conjunto com o Reino Unido.

Em uma pesquisa divulgada em 2010 pela Associação Brasileira das Empresas de Ecoturis-mo e Turismo de Aventura (ABETA) e pelo Mi-nistério do Turismo, 40% dos entrevistados rela-taram o costume de viajar como forma de relaxar e escapar do cotidiano estressante nas cidades. O hábito de pensar na natureza como um santuário afastado pode estar ligado com a crescente popu-laridade do Turismo de Aventura. Ao contrário do que se imagina, essa modalidade de turismo remete mais à ideia de paz, sentir-se livre e afas-tado do que ao medo e adrenalina, associações comuns quando se pensa em esportes radicais. Para William Moldenhauer, 26 anos, natural de Florianópolis (SC), os esportes de aventura sig-nificam uma oportunidade de contato consigo mesmo. “Geralmente são momentos que eu gos-to de parar para refletir o que estou fazendo da minha vida”, diz ele, que pratica mountain bike semanalmente e trekking – caminhada de longo prazo que geralmente envolve pernoite, comum nas áreas mais afastadas da cidade grande. Nesses casos, a prática frequente de esportes de aventura pode exigir certos cuidados com equipamentos e

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preparo físico. “O mais importante é você manter um ritmo, mesmo que seja baixo. Andar 10 minutos e parar 5 só aumenta o desgaste físi-co”, aconselha William.

Fôlego – Uma modalidade praticada por 31% dos adeptos do Turismo de Aventura é a caminha-da, por despertar o contato com a natureza e possibilitar a interação com outros ambientes. O ato de caminhar pode vir aliado com a descoberta de regiões distantes de casa, como é o caso de Izabela Fei-tosa, 28 anos, que praticou trekking de longa distância para o Monte Roraima, em Boa Vista (RR), per-correndo 90 km em 7 dias. “Foi

simplesmente inesquecível”, de-clara. Embora guarde boas lem-branças da aventura entre Brasil e Venezuela, Izabela prefere a moda-lidade de voo livre, praticado por menos de 10% dos aficio-nados por adrenali-na. “A prática desse esporte significa a plena liberdade, um verdadeiro despertar de novos sentidos”, afirma Izabela, que conheceu o voo livre em 2011 e pretende continuar praticando.

O voo livre é uma modalidade que exige extrema análise das con-

dições climáticas, como a direção do vento e a possibilidade de chu-va ou de nuvens, para que possa ser exercido com segurança. Uma

das técnicas mais comuns e mais prati-cada entre os pilotos do mundo todo é o voo de lift, que con-siste em aproveitar a corrente de ar ascen-dente do vento pró-ximo a uma monta-nha para sustentar

o voo. Mas o objetivo de Izabela Feitosa é praticar o Cross Country (XC), técnica de voo de longa dis-tância, que pode durar por muitas horas seguidas. “Seja livre para ex-perimentar e assim vencer barrei-ras e verá que não existe idade, ou perfil para se viver o melhor junto a natureza”, aconselha.

Ainda que pareçam práticas de risco, os esportes aéreos são res-ponsáveis por apenas 2% do total de acidentes, em comparação com 17% dos incidentes em atividades aquáticas. Segundo dados do Mi-nistério do Turismo, as modali-

“A prática

desse esporte significa a

plena liberdade

A caminhada ajuda na

descoberta de novos ambientes

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Izabela Lima

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“dades mais perigosas ainda são as terrestres, com 80% dos acidentes. O principal motivo de erro ainda são as falhas humanas, visto que 51% dos praticantes preferem re-alizar suas atividades esportivas por conta própria, sem intermédio de nenhuma agên-cia de turismo. Mas não há motivo para desespero: os óbitos imediatos contam somente 4% dos in-cidentes.

Se praticados com o devido cui-dado, os esportes de aventura podem proporcionar uma forma diferente de fugir da rotina. “É algo que preciso fazer de vez em quando pelo menos”, ad-mite a bióloga Patricia Torres, de 31 anos, que aposta no trekking e

no montanhismo sempre que con-segue tempo livre. Em 2009, Pa-tricia realizou um mochilão pela América Latina e subiu o vulcão Cotopaxi, no Equador. Para ela, é preciso atentar ao preparo físico nas caminhadas mais difíceis, e é

sempre aconselhável ir acompanhado de alguém experiente nas primeiras vezes.

Para praticar montanhismo, o atleta deve estudar diversas técnicas de escalada, como es-calada em gelo, em

rocha ou a escalada alpina, reali-zada em regiões de difícil acesso, geralmente com clima inóspito e terreno perigoso. Mas a escalada em altitude requer domínio do uso de piquetas e grampões, atenção

ao encordamento, ao apoio e todo um preparo técnico, o que implica em cuidado redobrado para quem quer se iniciar na prática. Nessas horas, os guias advertem: procu-re um lugar compatível com o seu preparo físico, leve mapas, verifi-que se há ajuda médica na região, confira se há sinal de telefonia e não esqueça das bússolas.

Com a facilidade de disponi-

É algo que preciso fazer

pelo menos de vez em quando

Dados divulgados

pela pesquisa do

Ministério do Turismo

e da ABEC, divulgada

em março de 2010

O voo livreexige análise

das condições climáticas como

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Patrícia Torres

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bilizar e encontrar informações na internet sobre técnicas e expe-riências, diversos esportes radicais têm crescido em popularidade pe-las ruas das cidades. É o caso do longboard, um tipo de skate com formato mais longo e que permi-te mais estabilidade em descidas e manobras. A prática do longboard vem chamando atenção especial-mente das garotas, que encontra-ram na modalidade um novo estilo de vida. Este é o caso de Thamirys Rotieh, moradora do Recife (PE), com 18 anos de idade e 2 de long-board: “É vício, na realidade tudo é sentir adrenalina, o vento no rosto e sensação de liberdade”, explica ela, que costuma viajar para o Rio de Janeiro (RJ) para descer as ladei-ras da região litorânea. Na modali-

dade Downhill, os skatistas descem ladeiras executando manobras ao aproveitar a pista e o próprio skate. Para tanto, são indispensáveis os capacetes, joelheiras, cotoveleiras e luvas de proteção.

Mas há quem se pergun-te como praticar tudo isso se as condições financeiras não forem as melhores. Para essa pergunta, Thamirys responde: “Pede ajuda para os amigos, eles são feitos para isso, né?”. Toda ajuda é válida, se-jam rifas, doações de conhecidos ou mesmo economias nos gastos gerais. O importante é ter vontade e não temer novas experiências, pois qualquer um pode entrar em contato com a natureza e encontrar um reduto de paz em meio às cor-rerias da cidade.

Adventure ClubRua Eça de Queiroz, 351 CEP: 04011-032 - Vila Mariana, São Paulo (SP)Fone: (11)5573-4142

CuzcoRua Quatro, 426Centro, Analândia (SP)Fone:(19) 9273-4150(19) 8239-9774E-mail: [email protected]

EcoAçãoBrotas, SPFone:(14) 3653-9140 (14) 9109-6466E-mail: [email protected].

PISA Trekking Viagens e TurismoAl. dos Tupiniquins, 202 -CEP: 04077-000 - Moema, São Paulo (SP)Fone:(11)5052-4085 Fax.:5052-4437E-Mail.: [email protected]

Contatos

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ENTREVISTACharlene Ribeiro

“Trabalhamos somente com madeira certificada”

Completando 15 anos em 2013 a Oficina Escola de Lutheria da Ama-zônia, mais co-nhecida pela sigla OELA, chega à

marca consolidada como referen-cial de organização sustentável na região. Tendo iniciado seus traba-lhos na periferia de Manaus, no bairro Zumbi II, uma comunidade onde a realidade vivida era de total ausência de Estado, e de políticas públicas que viessem preencher as expectativas de desenvolvimento humano. Esse fato culminou na proposta de criar uma alternati-va positiva para retirar parte dos jovens e adolescentes das ruas. A inclusão da OELA na comunida-de possibilitou crianças, adoles-centes, jovens e adultos a terem uma opção para seu crescimento e desenvolvimento pessoal e profissional. Muitos deixaram vidas de desigualdades, exclusões e de violações de direitos para se destacarem no âmbito educacional e no mercado de trabalho.

Desde 2007, a OELA preside o Grupo de Trabalho da Amazônia (GTA), a maior rede socioambiental da Amazônia Bra-sileira, criado em 1992, e que hoje conta com 18 escritórios regionais nos nove es-tados da Amazônia Legal. Além disso, Ar-ticula com mais de 600 organizações que incluem pescadores, seringueiros, agri-cultores familiares, quebradeiras de coco babaçu, ribeirinhos, quilombolas, casta-nheiros, ambientalistas, pesquisadores, as-sociações indígenas, rádios comunitárias e ONGs de assessoria e de direitos humanos.

A OELA já abriga diversos outros pro-jetos e programas, como o grupo musical

Pássaros da Amazônia, formado por 10 estudantes entre 8 e 21 anos, moradores do bairro do Zumbi. Os alunos utilizam os violões fabricados pela própria escola e também instrumentos como flauta, tam-bor e pandeiro.

Vencedor do Prêmio FINEP 2010, o projeto da OELA está prestes a sair do pa-pel, recentemente foi assinado um conve-nio com a Fundação Amazônica de Defesa da Biosfera, para receber os recursos do projeto que serão executados pela OELA, em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA) e o De-partamento de Mecânica da Universidade Federal de Santa Catarina. O projeto tam-bém visa criar o primeiro curso técnico de lutheria na Amazônia brasileira, e aprimo-rar o desenvolvimento tecnológico para a construção dos instrumentos musicais.

A coordenadora de projetos da Oela fala sobre as principais conquistas da instituição nos 15 anos que atua em Manaus

Por: Allan Gomes

A escola possui mais de 13

instrumentosem seu catálogo

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Brasil 21- A Oficina Escola de Lutheria da Amazônia completou 15 anos em 2013. Como surgiu a ideia de abrir uma oficina de lutheria na periferia de Manaus?Charlene Ribeiro - A OELA surgiu em 1998, quando Rubens Gomes impactado com o cenário de violência e descaso com a juventude, cria uma alternativa positiva para retirar parte destes adolescentes e jovens das ruas. Ele implantou o curso de lutheria seguindo um modelo inovador de educação profissional, voltada para a transformação dos recursos florestais em bens sociais. A missão é contribuir para o bem-estar socio ambiental, através da formação de cidadãos comprometidos e aptos a gerarem, difundirem e aplicarem conhecimentos, coerentes com os princípios de manejo florestal sustentável.

Hoje, a OELA é um grande centro de oportunidades e disponibiliza atividades como: curso básico de lutheria, práticas esportivas, inclusão digital, cursos de qualificação profissional, educação ambiental, educação musical, idiomas, desenho artístico, acompanhamento psicossocial e pedagógico, oficina de segurança alimentar e nutricional.B.21- Quais os principais frutos que o trabalho da OELA proporcionou nestes 15 anos?C. R. - Nesses 15 anos desenvol-vemos pesquisa e identificação de mais de dez espécies florestais da região Amazônica, com o mesmo teor de qualidade sonora das es-pécies tradicionais em processo de extinção antes sem valor econômi-co agregado. Também somos a úni-ca Escola de Lutheria do mundo a ter o selo da certificação do FSC [Forest Stewardship Council] desde 2001 e trabalhamos somente com madeiras certificadas. Chegamos no nível em que transformamos re-

cursos florestais em valores sociais por meio da educação. Fizemos a implantação do curso técnico de lutheria em parceria com o Institu-to Nacional de Pesquisa da Ama-zônia (INPA) e também a Implan-tação do Atelier OELA - Unidade do Programa Geração de Renda. O atelier proporciona emprega-bilidade para os egressos do curso básico de lutheria e sustentabilida-de para o programa educacional da instituição. A Oela é, acima de tudo, um centro de oportunidade no processo de transformação so-cial.

B.21- Como funciona o processo de certificação dos instrumentos e o quanto de valor é agregado a um instrumento certificado? C. R. - O processo de Certificação agrega valores como: Ambiental-mente adequado, socialmente be-néfico e economicamente viável. Proporcionando a inserção no mercado internacional e o reco-nhecimento do produto sustentá-vel. B.21- Recentemente, tivemos o jul-gamento dos assassinos de Zé Cláu-dio e Maria, ativistas ambientais em uma região no sul do Pará - asso-lada por conflitos agrários mas que também têm proporcionado inicia-tivas positivas no manejo florestal. Como o trabalho da OELA dialoga com esse tipo de ativismo ambien-tal, mais combativo, e como as lutas dos ativistas em áreas como a do sul do Pará influenciam no trabalho da OELA?

C. R. - Há cinco anos a OELA é presidente do GTA - a maior rede socioambiental da Amazônia Bra-sileira. O GTA atua na defesa da floresta e povos da comunidade tradicional. Estamos atentos aos episódios e lamentamos profunda-mente. Na ausência do Estado as lideranças que protegem a flores-ta acabam sofrendo as represálias, pois o Estado tem o papel de pro-teger o patrimônio da União e as pessoas.B.21- Fale um pouco dos principais projetos desenvolvidos pela institui-ção e também dos projetos planeja-dos para os próximos anos.C. R. - Atualmente estamos de-senvolvndo os projetos: Lutheria na Amazônia - Sustentabilidade e Inclusão Social, Fortalecimento Familiar e Comunitário - Inclusão Socioambiental por meio da Edu-cação e o Centro de Referência Es-portiva do Amazonas.B.21- Quais os números da OELA: quantos alunos já foram formados? Quantos instrumentos diferentes a instituição produz? Quais os avan-ços destes 15 anos?C. R. - Tivemos mais de 15 mil pessoas atendidas pela OELA nos diversos cursos oferecidos e te-mos mais de 13 tipos de instru-mentos no catálogo da instituição. Na cidade de Boa Vista do Ramos (AM) conseguimos dez planos de manejo comunitário e os extrati-vistas da região estão em processo de certificação do selo verde, FSC. A OELA já desenvolve tecnologia bastante requintada que possibi-lita a construção de instrumentos de alta qualidade em certa escala, esse processo é resultado de quinze anos de pesquisa e queremos, jun-tos com os parceiros, aprimorar e desenvolver essa área tecnológica da construção, para que possamos aumentar a produção, sem com-prometer a qualidade artesanal do processo.

“A Oela é, acima de tudo, um centro deoportunidade noprocesso de mudançasocial”

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ENERGIA

O horário de verão é mesmo necessário?

Os 119 dias do último horário de verão economizaram quase 3 mil megawatts no horário de pico, entre às 18 e 21 horasPor: Jéssica Sant’Ana

Em um ano de escassez de chuvas, o ho-rário de verão 2012/2013 deixou de reduzir gastos com energia porque o governo teve que acionar em sua totali-dade as usinas termelétricas para evitar o racionamento de eletricidade. Se essas usinas, que produzem energia mais cara

e poluente, não tivessem sido ligadas, a economia seria de 200 milhões de reais. A previsão da ONS (Opera-dor Nacional do Sistema Elétrico) era uma economia de 280 milhões de reais em energia durante o período.

O uso intenso das térmicas durante o verão aumen-tou a segurança operacional do setor, mas os percen-tuais dos reservatórios das hidrelétricas continuam abaixo da média. Um mês após o fim do horário de verão, a capacidade máxima do subsistema Sudeste/Centro-Oeste, que representam 70% dos reservatórios de água do país, era de 49,9%. No Nordeste, o nível dos reservatórios das hidrelétricas da região estava em 42% da capacidade total. No ano passado, os números des-sas regiões estavam em 78,5% e 82%, respectivamente.

Diante desse cenário, o professor Reinaldo Castro Souza, do Departamento de Engenharia Elétrica do Centro Técnico Científico da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (CTC/PUC-Rio), afirma que as térmicas devem continuar a ser despachadas em sua totalidade ao longo do ano, principalmente por estarmos no outono, estação onde há escassez de chu-vas. Segundo o professor, alguns projetos eólicos pode-riam contribuir ao sistema interligado para diminuir o acionamento das usinas termelétricas, só que “em

função do atraso nas linhas de transmissão, plantas eólicas prontas não puderam entrar em operação”.

Mas o governo prefere não falar em perdas. O horário de verão, que este ano durou 119 dias, eco-nomizou 2.477 megawatts (MW) nas faixas de horá-rio de pico do consumo (entre 18h e 21h). Dos 2.477 MW economizados, 1.858 MW foram no subsiste-ma Sudeste/Centro-Oeste, 610 MW no subsistema Sul e 9 MW no subsistema Norte, representado ape-nas pelo estado do Tocantins. A redução represen-ta 4,5% da demanda máxima dos três subsistemas.

Segundo nota emitida pelo diretor geral da ONS, Hermes Chipp, o principal benefício da implantação

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do horário de verão é o aumento da seguran-ça operacional e redução dos custos, já que du-rante o período diminuíam-se os carregamen-tos na rede de transmissão. A medida também evita cortes de carga em situações de emergên-cia e facilita a manutenção de equipamentos.

Sobre o fato deste ano o horário de verão não ter contribuído para reduzir gastos com ener-gia, a ONS enfatizou que houve uma “despesa evitada”. Isso aconteceu porque os 250 MWmed de redução de consumo durante o período con-tribuíram para a recuperação dos reservatórios, sendo incorporados aos ganhos de armazena-mento. Também não foi necessário gastar cerca de três bilhões de reais para construir usinas tér-micas, medida que teria sido adotada caso não houvesse sido implementado o horário de verão.

Deslocamento de uso - Só que para os consu-midores residenciais, de baixa tensão, é quase inexistente o benefício do horário de verão, de acordo com o professor Reinaldo Souza. “Isto porque neste periodo há um aumento natural do consumo de aparelhos que trazem o bem estar ambiental, como ar condicionado, ventiladores, refrigeradores, freezers, entre outros. A vanta-gem está apenas no deslocamento desse uso”

Durante o verão, o sistema elétrico nacional fica sobrecarregado das 18 horas até às 21 horas, o chamado “horário de pico”. É neste período de tempo que a iluminação pública é ativada e que as pessoas retornam para as suas residências, onde consomem diversos aparelhos que neces-sitam de energia, como chuveiros, televisores e ventiladores. O horário de verão evita essa coin-cidência no consumo de eletricidade para não sobrecarregar o sistema operacional. Assim, diminui o risco de interrupção de energia, o que pode ser considerado “um ganho indireto para os consumidores”, afirma Reinaldo Souza.

O professor da PUC-Rio lembra ainda que “utilizar a luz natural para deslocar o con-sumo é uma medida eficaz, mas o ganho só acontece em dias de verão de fato, quando a duração da luz natural é intensa”. Em dias nu-blados, com pouca iluminação natural, o sis-tema elétrico volta a ficar sobrecarregado no horário de pico, já que o acionamento da ilu-minação pública acontece mais cedo. Por isso, Reinaldo Souza defende que, além do horá-rio de verão, uma política rigorosa de efici-ência energética terá que ser implementada.

A margem de segurança proporcionada du-rante o horário de verão 2012/2013 ainda é in-suficiente para garantir estabilidade a médio e longo prazo ao setor elétrico. Com o crescimen-to da economia nos últimos anos e os incentivos do próprio governo, os brasileiros passaram a consumir mais, principalmente aparelhos que dependem de eletricidade. Isso gera um aumen-to da demanda de energia, o que obriga o go-verno a continuar investindo na construção de usinas e na ampliação das linhas de transmissão.

Projeto de Lei defende o final do horário de verãoNa Câmara dos Deputados tramitam três Pro-jetos de Lei (PL) que propõem acabar com o horário de verão em território nacional. As pro-postas estão sendo analisadas em conjunto e precisam passar pela aprovação das comissões julgadoras. A justificativa comum dos deputa-dos é que a adoção do horário especial prejudica a população.

O projeto de lei 5066/09, do deputado Mário de Oliveira, explica que nenhum país subequa-torial, com exceção do Brasil, adota o horário de verão. Em países de grandes latitudes, a variação da duração dos dias e noites é bastante significa-tiva ao longo do ano. Já em regiões próximas à linha do Equador essa variação não existe, o que reduz as vantagens de se adiantar em uma hora o relógio.

O deputado Armando Abílio, autor da PL 2540/07, afirma que durante o horário de verão há um aumento verificado nos casos de vio-lência urbana. Isso acontece porque as pessoas saem para trabalhar em um horário que ainda predomina a escuridão, facilitando a ação de criminosos.

Já o projeto de lei do deputado Valdir Co-latto, nº 397/07, é baseado na publicação “Os grandes malefícios do horário de verão”, do mé-dico Guilherme Honório Moreira, especialista da Sociedade Brasileira de Cardiologia. O mé-dico constatou que uma hora a menos de sono pode aumentar o número de mortes nas estra-das, infartos do miocárdio e piorar o controle do diabetes mellitus. Além disso, destaca que a adaptação do corpo ao horário de verão nunca ocorre, o que prejudica o rendimento escolar ou profissional.

O deputador Valdir Colatto é um dos autoresFo

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O primeiro país a adotar oficialmente o horário especial foi a Alemanha, em 1916, durante a Primeira Guerra Mundial.

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Desde 1985 acontece na segunda

quinzena de outubro. A exceção foi o ano de 2006,

quando começou em novembro.

O horário de verão existe há 28 anos

A primeira edição do horário de ve-rão brasileiro aconteceu em 1931. De lá para cá, a medida foi adotada 11 vezes até 1968, de forma descon-tinuada. As edições consecutivas

só começaram no verão de 1985/1986, quando o horário especial foi novamente implemen-tado. Esta foi a 39ª edição do horário brasilei-ro de verão. O estado do Tocantins adotou a medida pela primeira vez e a Bahia, que havia aderido ao sistema ano passado, saiu do gru-po. Todos os estados das regiões Sul, Sudes-te e Centro-Oeste adotam o horário especial.

Desde 2008, um decreto presidencial estipula datas fixas para o começo e o fim do período. O início está marcado para o terceiro domingo de outubro e o término para o terceiro domingo de fevereiro. Caso a data coincida com o domingo de Carnaval, como aconteceu neste ano, o últi-mo dia do horário de verão é transferido para o domingo seguinte. A medida é adotada sempre nessas datas porque é o período em que os dias são mais longos, devido à posição da Terra em relação ao sol. Com isso, aproveita-se por mais tempo a luminosidade natural e evita a coin-cidência do consumo de energia pela ilumina-ção pública, comércio, indústria e residências.

O que pensa a população?

A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétri-ca) já realizou cinco pesquisas de opinião pú-blica a respeito do horário de verão e, em todas elas, a maioria da população foi favorável a im-plantação da medida. As pessoas ressaltaram os benefícios proporcionados pelo horário es-pecial, como economia de energia elétrica, au-mento do convívio familiar e da segurança, já que retornam do trabalho antes do anoitecer. A primeira pesquisa foi realizada no período de 1985/1986 e a última em 2001, conduzida por meio da FIPE/USP nas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e estados da Bahia e Tocantins.

Na consulta mais recente, 74% dos brasi-leiros aprovaram o horário de verão, 25% re-provaram e 1% não soube responder. A maio-ria dos entrevistados não teve dificuldades para adaptar seu relógio biológico, com 70% das respostas entre muito fácil, fácil e razo-avelmente fácil. Dos restantes, apenas 30% encontraram dificuldades ou alegaram não terem se acostumados. Sobre a continuida-de da aplicação da medida, 55% acreditam que deve ser repetido nos próximos anos.

No Brasil, a estréia aconteceu em 3 de

outubro de 1931. Os relógios continuaram adiantados até 31 de

março de 1932.

O horário de verãofunciona melhor em cidades que estejam

longe da linha do Equador, por isso a Região Norte não

participa.

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