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RELATÓRIO 2 A
2ª SESSÃO: Lourdes de Castro
5º Ano
(Grupo A)
Centro de Arte Manuel de Brito, 13 de Novembro de 2009
2
Índice
Pág.
RELATÓRIO DA DISCUSSÃO 3
Análise de relevância temática da discussão 5
Leitura das obras 5
Agenda da Discussão 5
Discussão 7
Dois desenhos 8
Técnica utilizada 10
Descrição da obra 11
Importância do que percebemos 13
Análise de relevância da discussão por género (Crianças-participantes e Adultos) 17
1.Porque é que a Lourdes de Castro pintou duas vezes a mesma tela, o mesmo desenho? 18
2. Como é que ela fez desenhos exactamente iguais? 20
3. Como descrever a obra? 22
4. Que importância tem o que percebemos da obra? 25
Análise etnográfica do registo de vídeo 29
Retratos e análise de participação por indivíduo (Crianças-participantes e Adultos) 35
CONCLUSÕES FINAIS 40
REGISTO DE CONTROLO 45
Análise da obra e enquadramento no espaço 46
Avaliação da sessão 47
Discussão 48
Observação participante 49
Avaliação da construção de teorias enraizadas 50
Avaliação do processo de pesquisa 51
3
RELATÓRIO DA DISCUSSÃO
Os resultados apresentados no presente relatório referem-se a um grupo de 9 crianças-participantes (6 rapazes e 3 raparigas),
com idades compreendidas entre os 10 e os 11 anos de idade, e 3 adultos: o professor (CONV1); a professora de EVT como
observadora (CONV4) e a própria investigadora (INV), que participaram na Sessão de Filosofia que teve lugar no dia 13 de
Novembro de 2009, com a duração de 57 minutos, no 2º andar do Centro de Arte Manuel de Brito (Algés). A Sessão foi
moderada em parceria pelo professor (CONV1) e a investigadora (INV).
O grupo de crianças-participantes supracitado pertence à turma do 5º ano de escolaridade do ano lectivo 2009/2010 e é
constituída por um total de 11 crianças (8 rapazes e 3 raparigas), sendo que a especificação do grupo se mantém conforme
R1A.
A Sessão de Filosofia, segundo o Protocolo de Matthew Lipman assumido por esta investigação, organiza-se em 3 fases
distintas: Leitura do texto e reflexão do mesmo; constituição da Agenda da discussão e Discussão. Nesta 2ª Sessão as
fases referenciadas serão mantidas, contudo, irá proceder-se à alteração do paradigma habitual que assiste uma Sessão de
Filosofia do seguinte modo: a Leitura do texto e reflexão do mesmo é alterado para Leitura da obra e reflexão sobre a
mesma (sendo que neste caso serão duas obras da mesma autora, em discurso paralelo entre si e conjuntamente com os
participantes); os participantes deslocar-se-ão ao espaço público onde estas permanecem em exposição pública temporária;
e as obras manter-se-ão sempre em presença durante toda a Sessão.
Procedimentos
O R2A reporta-se à sessão que ocorreu a propósito da exposição retrospectiva dos trabalhos artista plástica Lourdes de
Castro pertencentes à colecção particular de Manuel de Brito. A Sessão realizada procurou respeitar o protocolo de Matthew
Lipman assumido por esta investigação, contudo, adaptada às circunstâncias provocadas e que foram acima especificadas.
Uma vez que, a grande maioria das obras em exposição, aproximava-nos da linguagem muito própria da artista com o
registo de sombras através da linha, toda a exposição se tornou, por mero acaso, na exposição ideal para manter um discurso
de continuidade em relação à Sessão anterior (R1A sobre o texto de Plínio, O Velho, O Retrato).
Figura 1 - Lourdes de Castro (1930) Sombra Projectada de Arália, 1977 Serigrafia original, 255 x 155 cm
Figura 2 - Lourdes de Castro (1930) Sombra Projectada de Arália, 1977 Serigrafia original, 255 x 155 cm
4
Assim, as duas serigrafias de arálias foram previamente selecccionadas pela sua colocação no centro da parede da sala
principal.
O que tornou estas peças particularmente convidativas para a discussão é o facto de funcionarem em duplicidade, ou seja, o
evidente diálogo entre ambas, a representação em desenho dos registos ou cópias da mobilidade eterna de um outro vivo e
móvel à mercê da luz – a arália; e, ainda, a sua colocação central defronte para a entrada da sala, que naturalmente as
evidências poderá vir a ser relevante para o fenómeno em observação.
A atenção da própria INV foi provocada pela sombra da planta e dos outros registos da mesma, pelo jogo de sobreposições
e dos diálogos internos que estes estabeleciam - uma dança de sombras que joga com o olhar.
A dupla relação entre as duas serigrafias resulta por numa das obras a sombra da planta estar registada em tons de cinzentos
e na outra em tons de cinzento, verde e amarelo pálido.
5
ANÁLISE POR RELEVÂNCIA TEMÁTICA DA DISCUSSÃO
A ARTD resultou da análise da Agenda da Discussão (2ª Fase da Sessão) e da Discussão (3ª Fase da Sessão) e manteve os
objectivos sinalizados no R1A: constituir uma visão de conjunto dos temas lançados na discussão pelas
crianças-participantes, numa perspectiva Grounded theory uma vez que possibilita a associam da restruturação
paradigmática já referida.
Uma vez que esta sessão é a primeira a ser realizada num espaço público e em discussão directa com obras de arte será
necessário alargar o desempenho particular da investigadora enquanto observadora-participante uma vez que terá de se
acomodar a uma possível teorização de caracter estético directamente relacionada com critérios comportamentais.
Na análise do fenómeno em questão manteve-se o mesmo sistema de categorização anteriormente estabelecido: registar a
organização natural da própria discussão por fases alternadas ou distintas (Categorização processual); observar a pertinência
de um conteúdo-base representativo de um tópico que evidencie uma ideia, conceito ou fenómeno que circunscreva ou
auxilie a teoria constituída (Categorização estrutural); investigar e registar os elementos descritivos da(s) obra(s) e que tipos
de relações estabelecem entre si (Categorização descritiva); investigar e registar como é que na percepção e experimentação
da obra se relacionam estes elementos descritivos, ou seja, como é que se estabelece o fenómeno revelador da experiência
estética (Categorização por valorização).
Leitura das obras (1ª Fase da Sessão)
A Leitura das obras teve a duração de aproximadamente 47 segundos.
A Leitura das obras iniciou-se uma breve explicação da metodologia e procedimentos que iriam ser utilizados na 2ª
Sessão, em tudo semelhante às sessões de Filosofia com Crianças que ocorriam na sala de aula, com a excepção de que
naquele espaço as crianças-participantes iriam discorrer sobre obras previamente seleccionadas que substituiriam textos ou
as novelas de Matthew Lipman.
As crianças-participantes sentaram-se em meia-lua para poderem integrar no seu círculo de discussão as obras
seleccionadas, foram esclarecidas algumas dúvidas e deu-se seguimento a um momento de silêncio para
observação/reflexão individual das obras.
Agenda da discussão (2ª Fase da Sessão)
Para a Agenda de discussão foi registada uma duração aproximada de 5 minutos e 54 segundos.
Code: AGENDA DA DISCUSSÃO
Classificação: CATEGORIA – Categorização Processual (teorização activa)
A constituição da Agenda da discussão não causou qualquer tipo de constrangimento nas crianças-participantes (à
excepção do IND 2 e da IND 11, para quem este processo é ainda uma novidade).
As crianças-participantes apresentaram 4 questões:
1. Porque é que a Lourdes de Castro pintou duas vezes a mesma tela, o mesmo desenho? IND 1 (Masculino)
6
2. Como é que a Lourdes conseguiu, que às vezes, a linha ficasse em cima da planta que está pintada por dentro e às vezes
por debaixo? IND 7 (Feminino)
3. Qual é a planta que está à frente a verde ou a branca? IND 8 (Masculino)
4. Como é possível ela fazer desenhos com o traço exactamente igual? IND 6 (Masculino)
Figura 3 - Agenda da Discussão
(Diagrama)
A categoria Agenda da Discussão (Figura 3) formou-se a partir de 4 questões que se relacionaram entre si pela necessidade
de as crianças-participantes encontrarem uma possível explicação que fundamente a trama de linhas e o facto de as duas
serigrafias serem idênticas.
A 1ª Questão debruçou-se sobre a razão pela qual a tela foi pintada duas vezes; a 2ª Questão na alternância das linhas, o que
obrigou a uma observação mais incisiva; a 3ª Questão deriva da 2ª Questão e como a alternância das linhas obriga à
construção de diferentes planos; por último, a 4ª Questão como se explica desenhos com traços tão idênticos.
Tabela 1 - Agenda da Discussão
(ARTD)
Na ARTD (Figura 4) da categoria Agenda da Discussão (Tabela 1) das 4 questões colocadas podemos verificar que a 4ª
questão “Como é possível ela fazer desenhos com o traço exactamente igual?” IND 6 (Masculino), foi a que provocou um
maior interesse ao longo da Discussão, uma vez que o âmbito natural da questão inicial foi claramente excedido.
0 1 2 3 4 5 6
AGENDA DA DISCUSSÃO
Pintou duas vezes a mesma tela
Linhas alternadas
Definição de planos
Desenhos iguais
7
Discussão (3ª Fase da Sessão)
O registo da Discussão verificou uma duração aproximada de 52 minutos e 6 segundos.
Code: DISCUSSÃO
Classificação: CATEGORIA – Categorização processual (teorização activa)
Figura 4 - Discussão
(Diagrama)
A categoria Discussão (Figura 4) descreve os conteúdos desenvolvidos ao longo da 3ª Fase da Sessão.
Na fase inicial da Discussão as crianças-participantes mantiveram-se focadas, precisamente na procura do tipo de relação
que poderia estar inerente às duas obras através da descrição das mesmas (Categorias descritivas).
Dado o carácter específico desta Discussão (a primeira a sair dos parâmetros das sessões a que as crianças-participantes
foram habituadas desde os 5 anos de idade), verificou-se que as três primeiras subcategorias reveladas pela análise geral dos
conteúdos temáticos da discussão, Dois desenhos, Técnica utilizada e Descrição da obra, manifestam a tendência de uma
primeira leitura das obras associada a questões provenientes da percepção das mesmas.
Este tipo de categorização resultou de um contínuo movimento físico em direcção à obra (aproximação e afastamento), onde
se constatou a necessidade de verificação, clarificação e sinalização individual ou colectiva, de uma exemplificação e/ou
constituição de fundamento para as argumentações.
Neste mesmo contexto foi observado outro tipo de comportamento específico referente a um cenário de introspecção
individual na formação de um diálogo mudo entre a obra e o observador/participante. Este fenómeno comportamental de
assiduidade pontual foi denominado na Sessão 1 A de alheamento aparente (AERV). Na Sessão 2 A tal comportamento
inscreve-se num acto de isolamento individual, ou antes, um diálogo inicialmente inverbalizável que, posteriormente, se
adapta ao contexto da própria Discussão com argumentações estruturadas em conteúdos sensíveis, de natureza abstracta e
com a pretensão de agregar conteúdos dispersos sem associação possível ou, ainda, com a estranho desfecho que confirme a
impossibilidade de respostas fechadas e conclusivas, mas sim, abertas e inconclusivas.
Este fenómeno comportamental foi o berço da última subcategoria sugerida para categorização Importância do que
percebemos que enquadra um nível diferente de preocupação: as argumentações manifestaram-se no interesse de
compreender que tipo de importância poderá revelar o que se percebe através da observação/análise de uma obra de arte Ex:
“Eu acho que no fundo, o que eu estou a olhar e agora não estava a olhar só para este quadro, estava a olhar para todos, e
percebi que todos não registam uma coisa, registam várias, uma série de coisas. Por exemplo, são várias as coisas que ela nos
mostra. Por exemplo aqui, não está uma coisa representada, estão várias coisas, várias coisas mesmo. Aqui acontece o
8
mesmo, aqui está um coração no meio (…) Que o que ela quer dizer, ela ao fazer estes quadros não queria nos mostrar uma
coisa, mas queria que nós descobríssemos uma coisa, através dos quadros dela, porque cada um interpreta o quadro como
quer. Cada um dos quadros dela não tem uma forma de ver, não tem uma forma de ler, como essas dos quadros que nos
mostram muita coisa.” IND 6 (Masculino).
Tabela 2 - DISCUSSÃO
(ARTD)
A ARTD da categoria Discussão (Tabela 2) observa como a subcategoria Importância do que percebemos se distingue,
no que diz respeito ao seu grau de relevância, das restantes subcategorias. Mais, considera-se que esta subcategoria
Importância do que percebemos, sustenta de imediato a abertura discursiva necessária e imprescindível para os interesses
directos desta investigação.
Quanto ao grau de relevância apresentado pela subcategoria Descrição da obra, pode-se afirmar que a mesma deriva da
natural necessidade de as argumentações procurarem a sua sustentação na verificação directa ou percepção da própria obra,
tal como já havia sido referido.
Dois desenhos
Code: DISCUSSÃO \ Dois desenhos
Classificação: SUBCATEGORIA 1 - Categorização descritiva
Figura 5 – Dois desenhos
(Diagrama)
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
DISCUSSÃO
Dois desenhos
Técnica utilizada
Descrição da Obra
Importância do que percebemos
9
A subcategoria Dois desenhos (Figura 5) foi constituída espontaneamente uma vez que as crianças-participantes usufruíram
do confronto simultâneo entre as duas serigrafias. Assim, a discussão inicial debruçou-se na contenda de se, perante a
semelhança aparente das obras, estas seriam de facto Desenhos diferentes uma vez que apresentavam Encaixes diferentes
Ex: “Não há nada que encaixe, queres ver?” IND 8 (Masculino) ou Desenhos iguais Ex: “Esta planta aqui, aqui mais
marcada com as pintinhas, eu acho que é a mesma coisa que esta aqui que está também marcada. Esta aqui que está quase
desbotada é a mesma que aquela. Praticamente são iguais, mas só que têm cores diferentes e dá-nos mais ou menos uma
visão diferente.” IND 1 (Masculino). As várias argumentações críticas apresentadas posicionaram de imediato os
participantes, contudo, ao longo da Discussão, verificou-se que os vários retornos ao tema em questão derivavam de uma
atitude que se pretendia mais observadora e direccionada à observação da obra, o que tornava mais difícil manter esta
distinção tão precisa da diferença ou semelhança entre os Dois desenhos. A certa altura, este fenómeno repercutiu-se na
intervenção da INV enquanto moderadora Ex: “Porque é que achas que há duas peças exactamente iguais, mas exactamente
diferentes?”.
É ainda de referir a relação da subcategoria Dois desenhos com a subcategoria Descrição da obra asseverada pela dupla
categorização que, por sua vez, enquanto fenómeno registado, confirma o que anteriormente havia sido referido sobre a
alternância constante de comportamentos: uns que se declaram por uma atitude mais activa de aproximação às obras; outros
que se sustém na sua condição de quietude, observação e circunspecção.
Tabela 3 – Dois desenhos
(ARDT)
A ARTD da subcategoria Dois desenhos (Tabela 3) revelou como o fenómeno descrito (Figura 7) se reflecte na intensidade
das várias intervenções.
Assim, a subcategoria Dois desenhos, que inaugura a Discussão, apresenta um grau de relevância baixo, contudo as sua
subcategoria Desenhos diferentes teve uma elevada intensidade de relevância, seguida pela sua subsequente subcategoria
com um grau de relevância que se reduz para praticamente metade da sua expressão.
A subcategoria Desenhos iguais teve uma expressão muito idêntica à subcategoria Dois desenhos. Esta proximidade de
relevância pode reflectir a dificuldade assinalada nas argumentações dos participantes em conseguir chegar a uma conclusão
definitiva, pelo que, apelam à autora da obra para quem o conteúdo e significado da obra não é estranho Ex: “É sobre o
comentário da [IND 6]. O que ela disse, basicamente, é que nós não podemos chegar a uma conclusão através disto. Nós não
vamos chegar a uma conclusão. Se por um lado, pensamos de uma maneira, essa maneira também está errada e da outra
também está errada. Por isso só podemos saber perguntando à Lourdes, porque isto é muito difícil de perceber.” IND8
(Masculino). Este contexto específico da entrada da autora na discussão é posteriormente contextualizado pela subcategoria
Importância do que percebemos.
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DOIS DESENHOS
Desenhos diferentes
"Encaixes" diferentes
Desenhos iguais
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Técnica utilizada
Code: DISCUSSÃO \ Técnica utilizada
Classificação: SUBCATEGORIA 1 - Categorização descritiva
Figura 7 – Técnica utilizada
(Diagrama)
A subcategoria Técnica utilizada (Figura 9) surge na Discussão imediatamente a seguir à subcategoria Dois desenhos e, tal
como esta, apresenta-se muito associada à percepção directa e de aproximação às obras. O contexto assim descritivo e
desenvolvido permite descortinar se através da técnica utilizada é possível conceber a resposta à dúvida se, de facto, os
desenhos são iguais ou diferentes Ex: “Porque é que foi preciso fazer aquilo, essas coisinhas [amarelas dentro da linha],
quando na outra, na outra que está [por] debaixo, não fez?” IND 3 (Feminino). Assim, a subcategoria Cópia Ex: “Aquela
pode ser a sombra mas aquela pode ter sido ela a copiar. A sombra não tem de estar igual, aquela não tem de ser a mesma
sombra, pode ser aquela com cores diferentes.” IND 4 (Masculino); a subcategoria Contorno verde Ex: “A [linha] verde
está sempre em cima da branca.” IND 8 (Masculino) e a subcategoria Registo da sombra Ex: “Eu acho que já sei como é
que ela fez. Ela tinha lá a sombra, porque ela faz desenhos de sombras, e depois fez a planta, a primeira planta que é a que
está por cima, através da sombra.” IND 3 (Feminino) surgem como corpo teórico experimental deste contexto enigmático.
Tabela 4 – Técnica utilizada
(ARDT)
A ARTD da subcategoria Técnica utilizada (Tabela 4) revela um interesse bastante diminuto por esta temática em relação
à que foi evidenciada pela subcategoria Dois desenhos. Todavia, é de referir a intersecção com os registos
comportamentais, ou seja, a relevância demonstrada pela necessidade intrínseca de um comportamento físico de
aproximação à obra para verificação ou para demonstração do que estava em causa nos argumentos apresentados.
0 1 2 3 4 5 6 7 8
TÉCNICA UTILIZADA
Cópia
Contorno verde
Registo da sombra
11
Descrição da obra
Code: DISCUSSÃO \ Descrição da obra
Classificação: SUBCATEGORIA 1 - Categorização descritiva e Categorização por valorização
Figura 8 – Descrição da obra
(Diagrama)
A subcategoria Descrição da obra (Figura 8) apresenta uma estrutura entroncada e algo complexa.
Assim a subcategoria Descrição da obra declara o seu âmbito expositivo Ex: “ [uma planta] que está num vaso sobre um
banco.” IND 6 (Masculino) que, se circunscreve por ligação directa e óbvia através da subcategoria Planta Ex: “Eu gosto
mais ou menos da ideia da [IND 3], mas eu acho que esta planta tem dois lados e isto pode ser aquela vista do outro lado e
pode ser o outro lado da planta visto por cima desta para se verem os dois lados da planta.” IND 4 (Masculino).
Por sua vez, a subcategoria Planta estende-se à subcategoria Sombra, uma vez que o objecto representado é referenciado
pelas crianças-participantes como o registo da sombra de uma planta Ex: “(…)Por isso a Lourdes pode ter pegado na
sombra e ter feito duas. Não sei… pode ter feito duas….” IND 7 (Feminino); e, ainda, à subcategoria Definição de planos
invocada pelo efeito visual sugerido pelo cruzamento dos vários registos de sombra Ex: “Ela fez essa primeira planta através
da sombra depois, e depois como queria que fosse um bocadinho mais realista, pôs a sombra da outra planta. Mas eu não
tenho a certeza porque, a outra planta que às vezes está por detrás às vezes está pela frente, a sombra normalmente não nos
dá aqui. Se tivesse aqui só, a sombra iria para trás e não aqui.” IND 3 (Feminino).
A subcategoria Definição de planos foi ainda definida pela subcategoria Luz, responsável pela possibilidade das várias
sombras registadas Ex: “(…) Então aqui às vezes a Lourdes pode ter, como o sol se mexe-se a posição da sombra da planta
também muda. Por isso ela teve de procurar conseguir fazer com que ficasse parecido mas teve de seguir a sombra real.”
IND 7 (Feminino); pela subcategoria Movimento (ver), em que o próprio movimento do olhar regista e verifica os
diferentes planos Ex: “Aquela também não está certa, mas também está completamente direita. Aquela parte de cima se tu
mexeres um bocado [movimento do olhar] já está, mas as outras mesmo que tu mexas não fica sombra. Ah, mas tu mexes
12
mas só na sombra.” IND 8 (Masculino); e pela subcategoria Posição das crianças-participantes, ou seja, a sua distância em
relação à obra observada Ex: “(…) Eu acho que tanto uma como a outra [serigrafia] têm uma coisa em comum que é, para
além de serem as duas a mesma planta, querem representar mais ou menos a mesma coisa, porque se nós repararmos bem, se
nós virmos isto de longe até parece a mesma planta. Se nós nos aproximarmos aí é que vimos a diferença. De longe parece a
mesma coisa.” IND 7 (Feminino).
A subcategoria Descrição da obra apresenta ainda intersecções externas (Figura 8) que a relacionam à subcategoria Dois
desenhos e à sua subcategoria Desenhos diferentes. Estas intersecções confirmam a necessidade de resposta à questão
sempre em evidência: se os desenhos são iguais ou diferentes, ou seja, revela a necessidade de descrever a obra e os efeitos
por ela provocados.
Tabela 5 – Descrição da obra
(ARTD)
No que diz respeito à ARTD da subcategoria Descrição da obra (Tabela 5) constata-se que esta, em geral, apresenta um
grau de relevância elevado.
A subcategoria Descrição da obra apresenta igualmente uma grande proximidade à subcategoria Dois desenhos, pelo que,
ambas apresentam a mesma tipologia de entradas dispersas ao longo da Discussão.
Na ARTD da subcategoria Descrição da obra, a subcategoria Sombra é a que apresenta o grau de relevância mais elevado
enquanto, as subcategorias Planta, Definição de planos e Posição apresentam graus de relevância baixos. A subcategoria
Descrição da obra apresenta um grau de relevância médio, bem como as subcategorias Luz e Movimento (ver).
Apesar da estrutura subcategoria Descrição da obra se apresentar mais complexa, o seu carácter presencial, bem como, a
sua relevância para a Discussão em geral, apresenta uma grande proximidade com a subcategoria Dois desenhos. Assim,
consideram-se ambas com uma relação de complementaridade muito próxima que, posteriormente, se irá verificar ao surgir
a subcategoria Importância do que percebemos, a última a dar entrada na Discussão.
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DESCRIÇÃO DA OBRA
Planta
Sombra
Definição de planos
Luz
Movimento (ver)
Posição
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Importância do que percebemos
Code: DISCUSSÃO \ Importância do que percebemos
Classificação: SUBCATEGORIA 1 - Categorização por valorização e Categorização estrutural
Figura 9 – Importância do que percebemos
(Diagrama)
A subcategoria Importância do que percebemos (Figura 9) apresenta uma estrutura linear simples mas teoricamente
diversificada e com uma forte presença na Discussão.
Esta subcategoria intensifica-se a partir da segunda metade da Discussão e assim permanece até ao final da mesma. O seu
principal objectivo é confinar a questão encoberta Ex: “Se por um lado, pensamos de uma maneira, essa maneira também
está errada, mas da outra também está errada. Por isso, só podemos saber perguntando à Lourdes, porque isto é muito difícil
de perceber.” IND 6 (Masculino). O CONV 1 reage endereçando a preocupação de novo para a Discussão, porém, altera a
dinâmica intrínseca ao sujeito visado pela questão: Ex: “Mas a Lourdes ia ter um problema diferente, julgo eu. Pensem só:
imaginem que perguntavam à Lourdes o que é que ela tinha pretendido (…) E a Lourdes só poderia explicar o que tinha
pretendido se soubesse o que é que vocês viam, o que é que vocês entendiam.”
Deste modo, a subcategoria Importância do que percebemos espelhou-se no comentário do IND 6 (Masculino) “O que ela
quer dizer ao fazer estes quadros, não queria mostrar-nos uma coisa, mas queria que nós descobríssemos uma coisa, através
dos quadros dela, porque cada um interpreta o quadro como quer. Cada um dos quadros dela não tem uma forma de ver, não
tem uma forma de ler, como essas dos quadros que nos mostram muita coisa.”. Excluída a hipótese de resposta através da
pessoa criadora da obra, Lourdes de Castro, remanescem as circunstâncias que observaram na sua relação com as obras, o
que dessa relação compreenderam e que de algum modo foi revelado e que se constituiu através das diferentes
subcategorias:
14
⋅ A subcategoria Linha constituiu-se através das observações directas e incisivas da obra e da aproximação a esta, de
modo a possibilitar a descrição de um valor específico que estabelece o modo como a artista compôs e formou um
todo visível e confirmável Ex: “E a [linha] verde, se se vir ao perto, ela nunca passa por baixo da branca é sempre ela
que está por cima.” IND 3 (Feminino);
⋅ A subcategoria Sombra, amplamente abordada no contexto da subcategoria Descrição da obra, estrutura o
almejado carácter de conclusão, denunciando a necessidade intrínseca de epílogo de questões que permanecem em
aberto Ex: “Ela fez apenas uma coisa foi, em vez de usar apenas umas destas sombras usou em certas [zonas] uma
delas, e em outras, outras [sombras]. Porque aqui está a sombra de uma destas folhas, aqui em baixo, e na sombra
esta folha ela toca nela mas na realidade não toca… é exactamente aquilo que a [INV] estava a explicar de elas se
sobreporem, é uma sombra que foi tirada de cima para baixo. É a minha conclusão!” IND 6 (Masculino);
⋅ A subcategoria Lourdes, tal como já havia sido referido, debruça-se sobre a questão: “Isto é a sombra mas é isto que
nos dá a confusão… para que é que ela quis fazer isto?” IND 7 (Feminino). Posteriormente a questão foi respondida
por um comentário denunciador de um carácter algo metafísico: “A base disto tudo é a Lourdes!” IND 4
(Masculino);
⋅ A subcategoria Luz, que também já havia sido referida na subcategoria Descrição da obra, surge agora como o que
dá origem ao desenho com referências à Sessão 1 (O Retrato) Ex: “Sem a luz não conseguimos fazer isto!” IND 1
(Masculino);
⋅ A subcategoria obras duplas evidencia a repetição de representação do mesmo elemento Ex: “Porque num quadro
e noutro está a mesma coisa.” IND 5 (Masculino) que, por sua vez, se estende à subcategoria Cor muda a
aparência que se constituiu através da observação crítica dos efeitos provocados pelas diferentes cores, ou seja, das
diferentes possibilidades de percepção Ex: “Então é assim, aqui o que eu acho que ela tentou fazer… como este é
preto, não é bem preto, eu acho que dá mais a impressão de estar cheio, ter aqui a planta mesmo. Neste que está a
branco dá a impressão que está vazio, que não está cheio como naquela planta.” IND 8 (Masculino);
⋅ A subcategoria Confusão espelha o modo como os participantes se sentem ao observarem as obras e ao reflectir
sobre os efeitos das mesmas, bem como, sobre a dificuldade em descortinar a sua finalidade Ex: “Quando nós nos
aproximamos vamos tendo a noção de que a planta vai começando a ser diferente. Então a noção do que a Lourdes
de Castro nos quer fazer, é dar confusão à cabeça, que é: aqui é a mesma planta, depois começamos a perceber que
a linha não é a mesma, ou seja, nós ficamos confusos. Porque a linha é muito parecida mas detrás, fica esquisito.
Detrás parece a mesma, à frente, foi o que nos deu, nós começamos a discutir porque começámos a olhar aqui para
dentro e começamos a ver figuras a mais.” IND 7 (Feminino);
⋅ A subcategoria Sobressair evidência o carácter perceptivo que levou as crianças-participantes a deslocarem-se no
espaço de exposição, isto é, a afastarem-se das obras até à entrada da sala de modo a reconstruirem o possível
primeiro impacto com as obras visadas. Esta subcategoria constitui-se, ainda, do modo como certos elementos (o
fundo branco ou os diferentes registo das sombras) fazem sobressair, ou não, certos elementos Ex: “Dali de trás,
vê-se mais… a parte branca fica mais atrás, isto faz sobressair.” IND 4 (Masculino);
⋅ A subcategoria Tempo a passar pela planta constitui-se de um tipo de discurso muito associado a narrativas
internas pois, transpõe uma possível interpretação das obras como uma representação alegórica do que podem ser as
15
fases da vida da planta, que ao passar vai deixando as suas inevitáveis marcas. Esta subcategoria foi conceptualizada
e exemplificada por uma intervenção de carácter inevitavelmente poético “É assim, eu acho que o que está aqui
registado é como se fosse a vida dela, ou o dia-a-dia dela: a levantar-se, só não percebi, qual é que está primeiro,
qual é que está depois. Se nós reparamos ela está mais para aqui, mas depois ela podia ter andado para ali, por isso,
ter ficado a ficar mais velha, a descair e aqui a começar, a ficar maior, a começar, a rasgar-se um bocado, como se
fosse a vida dela a ganhar mais buracos porque está a ficar mais velha. Como se fosse a primeira parte da vida dela,
mais ou menos quando ela era criança, depois tivesse mais velha.” IND 8 (Masculino)
A subcategoria Importância do que percebemos integra as questões abertas e conceptualizadas no início da Discussão,
abre e estrutura a segunda metade da Discussão e encerra a Sessão, contudo, manteve-se sempre em aberto e sem conclusão
para as questões e conceitos abordados pelas crianças-participantes.
Assim, pelo modo como a subcategoria Importância do que percebemos se apresenta integradora de ideias e dos conceitos
anteriormente referidos; pelo modo como as crianças-participantes mediaram a Discussão na procura de um contexto
verosímil que contemplasse os vários conceitos; pelo modo como esta mediação reivindicou um comportamento de
introspecção integrador de discursos pessoais e internos com as obras que afastou, momentaneamente, algumas
crianças-participantes da discussão colectiva para depois se apresentarem no espaço colectivo com conceptualizações
sensíveis e de carácter mordaz, podemos indicar esta subcategoria como geradora e potencializadora de uma postura
discursiva, física e conceptual, de natureza estética.
Fica em referência, a título de possível conclusão em aberto, a intervenção do IND 4 (Masculino) mesmo no final da sessão:
“Se nós virmos de uma maneira são várias coisas, se vimos doutra pode ser só uma coisa, o que tu quiseres. Juntamos tudo e
fica a ser só uma coisa, em todos. Aquele, mais preto, pode ser muitas coisas. Não são todos ao mesmo tempo, mas cada um
de uma vez, como quisermos.”, ou seja, tal como o CONV 1 questiona, a título de síntese deste último comentário: “Então o
que tu nos estás a dizer é que o quadro nos mostra, independente daquilo que nós vemos?”.
A exegese da obra permanece em aberto.
Tabela 6 – Importância do que percebemos
(ARTD)
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
IMPORTÂNCIA DO QUE PERCEBEMOS
Linha
Sombra
Lourdes
Luz
Obras duplas
Cor muda a aparência
Confusão
Sobressair
Tempo a passar pela planta
16
Na ARTD da subcategoria Importância do que percebemos (Tabela 6), tanto a sua estrutura linear de teorização
diversificada, como a sua forte presença na Discussão, se reflectiram no modo compacto com que as conveniências
temáticas se revelaram.
Assim, destacam-se três conjuntos de graus de relevância distintos que integram a subcategoria Importância do que
percebemos e as suas respectivas subcategorias:
⋅ O primeiro grupo apresenta graus de relevância elevados e é constituído pela subcategoria Importância do que
percebemos e a sua subcategoria Sombra;
⋅ O segundo grupo apresenta graus de relevância medianos e é constituído pela subcategoria Lourdes; pela
subcategoria obras duplas e pela subcategoria Confusão;
⋅ O terceiro e último grupo, que apresenta graus de relevância baixos, é constituído pela subcategoria Linha; pela
subcategoria Luz; pela subcategoria Cor muda a aparência; pela subcategoria Sobressair e pela subcategoria
Tempo a passar pela planta.
17
ANÁLISE DE RELEVÂNCIA DA DISCUSSÃO POR GÉNERO
(Crianças-participantes e Adultos)
A ARDG do R2A manteve o protocolo proposto no R1A. A ARDG trata de um tipo de análise mais fechada que se
desenvolveu a partir da análise dos interesses temáticos revelados na ARTD, assim, esta associação permitiu formular as
respectivas questões de referência (Figura 15).
A ARDG (Crianças-participantes) do R2A mantém os mesmos parâmetros metodológicos delineados e apresentados no
R1A, ou seja, apenas incide nos comentários e argumentos mais relevantes das crianças-participantes para as questões de
referência. A ARDG (Adultos) das intervenções da INV e do CONV1 foram de igual modo consideradas separadamente,
por ser tratar de intervenções que permeiam outro tipo de intervenção – a moderação da Sessão.
Tal como no R2A, a ARDG da Sessão 2 A permitiu que se constituísse o RAPI (Crianças-participantes) e RAPI (Adultos) de
cada um dos indivíduos considerados.
Figura 10 – Questões de referência
(Diagrama)
A reflexão proposta pela ARTD permitiu, posteriormente, estabelecer uma análise de cariz mais fechado para que se consiga
aceder a uma conceptualização mais próxima da teoria constituída. Deste modo, tal como já havia sido referido, surgem as
questões de referência indicadas para a ARDG (Figura 10).
A ARDG (Crianças-participantes e Adultos) considerou as seguintes questões de referência:
1. Porque é que a Lourdes de Castro pintou duas vezes a mesma tela, o mesmo desenho? revela-se enquanto
questão de referência por se fundar em referências de diferentes proveniências, tais como: tem origem na 1ª questão
anunciada para a Agenda de Discussão; foi auxiliada por várias intervenções da INV que a manteve em aberto à
argumentação; e, ainda, por se ter mantido de modo disperso mas constante ao longo da Discussão. Assim, tal
contexto obriga a uma verificação mais fechada da teoria que a constituiu.
2. Como é que ela fez desenhos exactamente iguais? é a 4ª questão proposta para a Agenda da Discussão que
associou de imediato questões e argumentações relacionadas com a técnica utilizada pela autora das obras. Pelo seu
valor qualitativo e pela teoria vocacionada para a questão em investigação foi igualmente considerada pertinente
para uma análise mais fechada.
18
3. Como descrever a obra? é uma questão que refere o fenómeno revelado na ARTD em que houve uma forte
necessidade de prospeção sensível das obras para exemplificação de certos elementos reveladores e integrados na
estrutura das várias argumentações. Este fenómeno associa-se ao indispensável comportamento perceptivo e ao
discursivo narrativo a ele associado, pelo que, revela o modo como a conceptualização promove a construção da
teoria a si associada.
4. Que importância tem o que percebemos da obra? surge por referência às intervenções de ambos os facilitadores
que permitiram evidenciar o fenómeno discursivo que surgiu na 2ª metade da discussão, ou seja, aspira à pretensão
das crianças-participantes de deslocar as alegadas inquietações da artista Lourdes de Castro para as próprias obras
através de uma leitura mais focada e individual das mesmas.
1. Porque é que a Lourdes de Castro pintou duas vezes a mesma tela, o mesmo desenho?
Figura 11 – 1.Porque é que a Lourdes de Castro pintou duas vezes a mesma tela, o mesmo desenho?
(Diagrama)
A questão 1. Porque é que a Lourdes de Castro pintou duas vezes a mesma tela, o mesmo desenho? (Figura 11)
apresenta uma estrutura extensa e relativamente complexa.
O contexto em que esta 1ª Questão se estabelece refere uma inquietação sensorial latente associada aos objectivos da artista
para a produção de duas obras semelhantes e/ou diferentes que se validam segundo diferentes percepções.
Assim, surge esse primeiro instante em que aquilo que se observa Não é exactamente igual Ex: “Primeiro, quando estava a
andar perto da tela, nem sequer vi a branca, apareceu-me só a verde. Depois vi a verde, parecia igualzinha mas não era.”
IND4 (Masculino) e que, por sua vez, se estende à apreciação dos efeitos que concorrem para a percepção das Diferentes
cores no modo como se percepcionam das obras Ex: “Esta planta aqui mais marcada com as pintinhas, eu acho que é a
mesma coisa que esta aqui que também está marcada. Esta aqui que está quase desbotada é a mesma que aquela. São
praticamente iguais mas só que têm cores diferentes e dá-nos mais ou menos uma visão diferente.” IND 1 (Masculino).
19
Surgem, então questões que referenciam aspectos estritamente formais através da subcategoria É exactamente igual Ex:
“Eu estou a dizer, este desenho, tudo o que está aqui, também está naquele, exactamente igual.” IND6 (Masculino) que
possibilita inquerir sobre a relação dual que se estabelece entre Desenhos iguais Ex: “Todos os traços [deste] também estão
naquele.” IND6 (Masculino). A 1ª Questão especula, ainda, sobre o delinear das possíveis circunstâncias que despoletam a
percepção dos Diferentes planos na obra Ex: “Pensamos à primeira que a sombra que está mais perto de nós é exactamente
igual à outra, mas não é.” IND5 (Masculino); destaca uma observação criteriosa sobre a possibilidade de Encaixe dos vários
elementos definidos nas obras Ex: “Nem a parte de cima encaixa! Se repares bem há ali, uma coisinha a mais, há uma que
está assim, que é mais grossa do que a outra.” IND 1 (Masculino); e uma possível transferência de modelação da Luz (sol)
para as obras conforme o que se sabe da experiência quotidiana Ex: “O que eu estou a dizer é: eu acho que é muito, mas
muito difícil, que esta coisa aqui seja por causa do sol por uma única razão, por outra questão que eu já pus, aquele quadro
está igual aquele e isso é por causa do sol, exactamente. Como é que este quadro podia ter uma sombra exactamente igual
àquela no momento do sol? Não podia.” IND6 (Masculino)
A questão 1. Porque é que a Lourdes de Castro pintou duas vezes a mesma tela, o mesmo desenho? (Figura 16) apresenta
uma intercessão que a associa directamente à subcategoria 2.Como é que ela fez desenhos exactamente iguais?
Esta intersecção põe em destaque como a 1ª questão se mantém, de modo latente, associada á 2ª questão.
Tabela 7 – 1.Porque é que a Lourdes de Castro pintou duas vezes a mesma tela, o mesmo desenho? (ARDG- Crianças-participantes)
Assim, a ARDG (Crianças-participantes) apresenta a subcategoria 1. Porque é que a Lourdes de Castro pintou duas
vezes a mesma tela, o mesmo desenho? (Tabela 7) sem qualquer expressão de relevância mas que se estende às seguintes
subcategorias:
⋅ Não é exactamente igual que apresenta um grau de relevância elevado para o género masculino e muito baixo para
o género feminino que, por sua vez, se estende à subcategoria Diferentes cores com uma expressão baixa para o
género masculino e diminuta para género feminino, contudo com argumentações estruturadas por uma percepção
afinada e esclarecedora do fenómeno referido;
⋅ É exactamente igual que apresenta um grau de relevância baixa apenas para o género masculino e que se estende à
subcategoria Desenhos iguais com uma expressão diminuta apenas para o género masculino;
⋅ Diferentes planos com um grau de relevância médio-alto para o género masculino e baixo para o género feminino.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
1.Porque é que a Lourdes de Castro pintou duas vezes a mesma tela, mesmo…
Não é exactamente igual
Diferentes cores
É exactamente igual
Desenhos iguais
Diferentes planos
Encaixe
Luz (sol)
FEM
MASC
20
⋅ Encaixe com um grau de relevância alto para género masculino e médio para o género feminino;
⋅ Luz (sol) com um grau de relevância baixa para o género masculino e diminuto para o género feminino.
Tabela 8 – 1.Porque é que a Lourdes de Castro pintou duas vezes a mesma tela, o mesmo desenho?
(ARDG - Adultos)
A ARDG (Adultos) para a questão 1. Porque é que a Lourdes de Castro pintou duas vezes a mesma tela, o mesmo
desenho? (Tabela 8) revela-se, em geral, diminuta e mesmo nula para algumas subcategorias. Pode referir-se a intervenção
da INV registada para a subcategoria Encaixe Ex: “Porque é que achas que há duas peças exactamente iguais mas,
exactamente diferentes? Então, temos aqui o enigma dos encaixes, não é?” que expressa o carácter ambíguo da própria ideia
anunciada no discurso das crianças-participantes, bem como, a formalização de uma intervenção de devolução de questão ao
próprio.
2.Como é que ela fez desenhos exactamente iguais?
Figura 12 – 2.Como é que ela fez desenhos exactamente iguais?
(Diagrama)
A questão 2.Como é que ela fez desenhos exactamente iguais? (Figura 12) apresenta uma estrutura simplificada e pouco
desenvolvida na sua expressão.
0 1 2 3
1. Porque é que a Lourdes de Castro pintou duas vezes a mesma tela,…
Não é exactamente igual
Diferentes cores
É exactamente igual
Desenhos iguais
Diferentes planos
Encaixe
Luz (sol)
CONV1
INV
21
A 2ª Questão desenvolveu-se a partir de preocupações relativas à produção das obras em causa e na especificação dos
elementos que sugerem possíveis esclarecimentos. Assim, integrada no contexto de leitura dos elementos constituintes das
obras, a afinidade dos elementos representados sugere a possibilidade de Cópia Ex: “Eu acho que sei: ela pôs uma tela ao
lado da outra, não sei, e depois tentou copiar exactamente, e depois pintou de outra forma.” IND 5 (Masculino), apesar de ser
possível observarem-se Sombras diferentes Ex: “Ela fez essa primeira planta através da sombra e depois, como queria que
fosse um bocadinho mais realista, pôs a sombra da outra planta. Mas eu não tenho a certeza porque, a outra planta que às
vezes está por detrás, às vezes está pela frente, a sombra normalmente não nos dá aqui. Se tivesse aqui só, a sombra iria para
trás e não aqui.” IND 7 (Feminino). Do mesmo modo, o facto de ambas as obras assumirem Cores diferentes verifica-se
que essa diferença condiciona a leitura das obras Ex: “Pois, é isso. Porque é que foi preciso fazer aquilo, essas coisinhas
[amarelas dentro da linha], quando na outra, na outra que está debaixo, não fez?” IND7 (Feminino).
Tal como na ARTD (Pág.9), a ARDG (Crianças-participantes) aponta uma forte ligação aos comportamentos físicos em
relação às obras, ou seja, as crianças-participantes tiveram de se aproximar fisicamente das obras para observar e verificar as
ideias/argumentações que exponham na Discussão.
A ARDG da questão 2.Como é que ela fez desenhos exactamente iguais? (Figura 12) apresenta ainda uma intercessão que
a associa directamente à questão 1. Porque é que a Lourdes de Castro pintou duas vezes a mesma tela, o mesmo
desenho?, pelo que se confirma a associada latente entre as duas questões.
A ARDG (Crianças-participantes) apresenta a questão 2.Como é que ela fez desenhos exactamente iguais? (Tabela 8)
sem qualquer expressão de relevância porém, integra as seguintes subcategorias:
⋅ Cópia de relevância baixa para ambos os géneros;
⋅ Sombras diferentes com um grau de relevância alto para o género feminino e baixo para o género masculino;
⋅ Cores diferentes de relevância baixa apenas para o género feminino.
0 1 2 3 4 5 6
2.Como é que ela fez desenhos exactamente iguais?
Cópia
Sombras diferentes
Cores diferentes
FEM
MASC
Tabela 9 – 2.Como é que ela fez desenhos exactamente iguais? (ARDG - Crianças-participantes)
22
Tabela 10 – 2.Como é que ela fez desenhos exactamente iguais? (ARDG - Adultos)
A ARDG (Adultos) da questão 2.Como é que ela fez desenhos exactamente iguais? (Tabela 10) foi, em geral, de fraca
expressão.
Pode referir-se a intervenção da INV Ex: “Queres ir lá ver melhor para sugerires tu uma técnica, é que ela não está cá, a
Lourdes de Castro, ela não está para falar sobre a técnica que utilizou? Nenhum de nós assistiu, a única coisa que temos é o
produto final, o trabalho final dela.” que abre a própria subcategoria 2.Como é que ela fez desenhos exactamente iguais?
ao clarificar as orientações sugeridas nas questões e argumentações que as crianças-participantes apresentaram, enquanto,
insinua um possível comportamento físico de aproximação à obra.
A subcategoria Cópia regista alguma relevância para a intervenção dos facilitadores Ex: “Olha e esta réplica, porquê?”
CONV1, ou ainda, Ex: “Como é que é possível, ela fazer desenhos com o traço exactamente igual?” INV, que apesar do seu
grau de relevância diminuto não deixam de evidenciar um conteúdo pertinente nas suas acções de instigação à discussão.
3.Como descrever a obra?
Figura 13 – 3.Como descrever a obra?
(Diagrama)
A questão 3.Como descrever a obra? (Figura 13) apresenta uma estrutura extensa e complexa.
0 1 2 3
2.Como é que ela fez desenhos exactamente iguais?
Cópia
Sombras diferentes
Cores diferentes
INV
CONV1
23
Esta questão revela preocupações relacionadas com a percepção das obras: o que está representado, de que modo e como é
que estas se organizam no espaço físico em que estão inseridas, bem como, o evolução da construção de sentido. É de referir
que foi precisamente o IND1 (masculino) que no início da Sessão nomeou as serigrafias através do termo obras, com o qual
corrigiu o discurso da INV que as apresentava como peças a serem discutidas.
A partir deste contexto estruturou-se a 3ª Questão com conteúdos referidos nas intervenções que permitiram definir, num
primeiro momento, a possibilidade de Ver a partir da descrição do que as crianças-participantes experimentam Ex: “Eu acho
que também pode ser duas plantas. Também pode estar outra planta por detrás nesse pedacinho de vaso, se reparares bem,
pelo menos eu vejo!” IND 8 (Masculino), tendo em conta: a Localização das obras no espaço (sala de exposições) Ex:
“(…) Eu acho que, tanto uma como a outra [serigrafia], têm uma coisa em comum que é, para além de serem as duas a
mesma planta, querem representar mais ou menos a mesma coisa. Porque, se nós repararmos bem, se nós virmos isto de
longe, até parece a mesma planta, se nós nos aproximarmos, aí é que vimos a diferença, de longe parece a mesma coisa.”
IND 7 (Feminino); a Localização na tela dos elementos referenciados Ex: “Mas pode não estar exactamente igual ali, mas
está exactamente igual ali, na sombra.” IND 5 (Masculino) e como é que em Momentos diferentes sobrevêm diferentes
percepções Ex: “Quando nós entramos na sala, ali da porta, a linha com esta parte amarela, lá de trás, a linha branca deixa de
se ver mesmo, então nós achamos que isto é mesmo parecido com isto. Aquela coisa que o João disse, do sol também não
ajuda muito. Conforme a posição em que nós estamos, a sombra vai mudando, com a luz do dia o sol, vai andando, vai
passando para outro sítio.” IND 7 (Feminino). De seguida, foram consideradas as referências à Luz enquanto elemento
causador de efeitos pertinentes na leitura da obra Ex: “A luz, a luz não foi exactamente deste lado. Se a luz estivesse
exactamente virada para ela, então encaixaria, porque a sombra estaria mesmo à frente do dedo. Mas neste caso, como a luz
está por cima, a luz não pode reflectir à frente, tem de reflectir mais para baixo e não atrás.” IND 6 (Masculino); as
considerações críticas e persistentes das crianças-participantes quando procuram transpor a disposição interna dos
elementos representados que concorrem entre si para Definir diferentes planos Ex: “Qual é que achas que é a sombra da
frente?” IND 6 (Masculino); o confronto com o possível acesso à definição d’O que está representado Ex: “Se calhar a
coisa detrás é a sombra da planta” IND 8 (Masculino); e, ainda, as contínuas alusões à necessidade emergente de se definir
qual teria sido o Objectivo da artista Ex: “Isto é a sombra mas é isto que nos dá a confusão: para que é que ela quis fazer
isto?” IND 7 (Feminino). Esta intervenção da IND 7 associou o discurso interno e confuso das obras em referência ao
objectivo da artista, ou seja, conduziu a discussão a um outro patamar cujos conceitos estruturam e integram a questão
4.Que importância tem o que percebemos da obra?
A ARDG da questão 3.Como descrever a obra? (Figura 13) apresenta ainda uma intercessão interna à subcategoria
Localização na tela e uma intersecção externa à subcategoria Encaixe da 1ª Questão.
24
Tabela 11 – 3.Como descrever a obra?
(ARDG – Crianças-participantes)
A ARDG (Crianças-participantes) apresenta a questão 3.Como descrever a obra? (Tabela 11) com uma de relevância
diminuta, contudo, com uma extensão conceptual densa e de considerável relevância.
A questão 3.Como descrever a obra? apresenta ainda as seguintes subcategorias:
⋅ Ver com um grau de relevância média-alta para o género masculino e diminuta para o género feminino. Por sua vez,
esta subcategoria estende-se à subcategoria Localização da tela com uma relevância média para o género feminino
e baixa para o género masculino, à subcategoria Localização na tela com uma relevância média-alta apenas para o
género masculino e à subcategoria Momentos diferentes com uma relevância média para o género feminino e
muito baixa para o género masculino;
⋅ Luz com uma relevância alta para o género masculino e média para o género feminino;
⋅ Definir diferentes planos com um grau de relevância alta apenas para o género masculino;
⋅ O que está representado com um grau de relevância muito alta para o género masculino e média para o género
feminino;
⋅ Objectivo da artista com um grau de relevância elevada para o género feminino e muito baixa para o género
masculino.
Tabela 12 – 3.Como descrever a obra?
(ARDG - Adultos)
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
3.Como descrever a Obra?
Ver
Localização da tela
Localização na tela
Momentos diferentes
Luz
Definir diferentes planos
O que está representado
Objectivo da artista
FEM
MASC
0 1 2 3 4 5
3.Como descrever a Obra?
Ver
Localização da tela
Localização na tela
Momentos diferentes
Luz
Definir diferentes planos
O que está representado
Objectivo da artista
INV
CONV1
25
A ARDG (Adultos) da questão 3.Como descrever a obra? (Tabela 12) revela-se impulsionadora de uma moderação atenta
para ambos os facilitadores, porém, mais incisiva nas intervenções da INV e um pouco mais atenuada para o CONV1. No
que diz respeito à moderação conjunta, as duas participações criaram um discurso coeso através de um contínuo retorno à
Discussão das argumentações pouco clarificadas ou daquelas cuja importância promovia a necessidade de uma maior
acuidade.
É de referir a intervenção do CONV1 Ex: “Posso fazer-vos só uma pergunta por causa disto que a [IND 7] disse. Quando é
que tu sentes nessa aproximação, quando é que sentes que o quadro fala mais contigo, é quando a tua cabeça não está
confusa ou quando a tua cabeça começa a estar confusa?” como exemplo de instigação provocada pelo reenvio da questão à
discussão que pede, em simultâneo, uma maior acuidade dos argumentos, e que teve como resposta: “Quando está confusa!”
IND 7 (Feminino). Nesta intervenção do CONV1, assente numa argumentação que provocou um retorno à questão, ficou
formalizada a relação de proximidade à obra, dessa distância sedutora que provoca um outro discurso interno difuso,
indizível, confuso e necessário pois, obriga a uma permanência, a uma procura interna de “encaixes” dialécticos.
4.Que importância tem o que percebemos da obra?
Figura 14 – 4.Que importância tem o que percebemos da obra?
(Diagrama)
Tal como foi anteriormente referido sobre a intervenção da IND 7 que ao associar o discurso interno e confuso do
observador, permite que a constitua a questão mais densa e importante da Sessão 2 A: comprender a importância do
percebemos da obra. Ou seja, a ARDG da questão 4.Que importância tem o que percebemos da obra? (Figura 14) ilustra
um patamar de maior acuidade discursiva, ou seja, a questão projecta-se na importância à relação do observador com a obra
e do discurso que daí provém.
Assim, fica desde logo determinado que A artista é a origem da obra Ex: “A base disto tudo é a Lourdes.” IND 4
(Masculino); no entanto é necessário compreender que a obra sobrevive sem a Lourdes e que A própria obra revela sempre
algo, independentemente do que vemos ou de quando o vimos Ex: “Eu acho que já percebi. Ela fez apenas uma coisa, foi,
em vez de usar apenas umas destas sombras, usou em zonas uma delas e em outras, outras. Porque aqui está a sombra de uma
destas folhas, aqui em baixo, e na sombra esta folha ela toca nela mas na realidade não toca, é exactamente aquilo que a
26
[INV] estava a explicar de elas se sobreporem, é uma sombra que foi tirada de cima para baixo. É a minha conclusão.” IND
(Masculino); surge, então a necessidade de a percorrer e de nomear O que está representado através de uma narrativa que
é obviamente pessoal Ex: “É assim, eu acho que o que está aqui registado é como se fosse a vida dela, ou o dia-a-dia dela: a
levantar-se. Só não percebi, qual é que está primeiro, qual é que está depois. Se nós reparamos ela está mais para aqui, mas
depois ela podia ter andado para ali, por isso, ter ficado a ficar mais velha, a descair e aqui a começar a ficar maior, a
começar a rasgar-se um bocado, como se fosse a vida dela a ganhar mais buracos porque está a ficar mais velha. Como se
fosse a primeira parte da vida dela, mais ou menos, quando ela era criança e depois tivesse mais velha: [A história da vida da
planta] só que é mais o início e o fim.” IND 8 (Masculino) ou Ex: “Pois, agora é mais ou menos só uma planta. Agora com
esta conversa toda ficou só uma planta.” IND (Masculino); neste caso os Efeitos da Luz são consequências óbvias do que
fez emergir nas obras e que leva o observador a interagir com a mesma Ex: “ [IND 5] não te mexas! [IND 5] não te mexas!
Quando ele estava assim com o dedo, havia várias sombras, 3 sombras do mesmo dedo, por isso, a Lourdes pode ter pegado
na sombra e ter feito duas. Não sei… pode ter feito duas.” IND 6 (Feminino); surgem, então, os diferentes olhares que
definem um Ver enquanto acção necessária à descoberta desse discurso interno com a obra Ex: “Se nós virmos de uma
maneira são várias coisas, se vimos de outra pode ser só uma coisa, o que tu quiseres. Juntamos tudo e fica a ser só uma
coisa, em todos. Aquele mais preto pode ser muitas coisas. Não são todos ao mesmo tempo, mas cada um de uma vez, como
quisermos.” IND 4 (Masculino) e que se institui como um meio para Descobrir a interpretação individual Ex: “Porque é
que a sombra se mexeu? A sombra do vaso não se mexeu e a planta para ficar mais para ali ou mais para ali mas não há uma
linha branca do vaso por isso elas não podem ser as mesmas, tem de ser uma que se mexeu e fez outra.” IND 3 (Feminino);
sempre sujeita ao Artifício Ex: “Muda a aparência (…). Eu percebo, a [IND 7] acha que às vezes isto passa por cima e outras
vezes por baixo, mas como ela só pintou os contornos e aqui ela só pintou o contorno e à volta do contorno, não pintou
dentro, senão via-se a cor do vaso, não pintou o resto. E como fez outra linha por cima e aos lados, ficou sobreposta. Mas, se
nós olharmos para a linha de contorno que passa, esta linha, a verde, nunca está debaixo da branca.” IND 3 (Feminino),
nomeadamente, à Cor Ex: “A cor do quadro, as cores dos quadros fazem mais ou menos ilusão…” IND 1 (Masculino) e
ainda Ex: “Então é assim, aqui o que eu acho que ela tentou fazer: como este é preto, não é bem preto, eu acho que dá mais
a impressão de estar cheio, ter aqui a planta mesmo; neste que está a branco dá a impressão que está vazio, que não está cheio
como naquela planta.” IND 8 (Masculino).
A questão 4.Que importância tem o que percebemos da obra? (Figura 14) não apresenta qualquer tipo de intersecção
interna ou externa.
27
Tabela 13 – 4.Que importância tem o que percebemos da obra?
(ARDG - Crianças-participantes)
A ARDG (Crianças-participantes) apresenta a questão 4.Que importância tem o que percebemos da obra? (Tabela 13)
sem qualquer expressão de relevância, porém, agrega as seguintes subcategorias:
⋅ A artista (origem da obra) que apresenta um grau de relevância alto para o género masculino e média-baixa para o
género feminino;
⋅ A própria obra que apresenta um grau de relevância médio para o género masculino e irrelevante para o género
feminino e que se estende ainda à subcategoria O que está representado que apresenta um grau de relevância alto
para o género masculino e média-baixa para o género feminino;
⋅ Efeitos da luz (consequências) apresenta um grau de relevância médio para o género feminino e médio-baixo para
o género masculino;
⋅ Ver enquanto acção apresenta um grau de relevância alto para o género masculino e média-baixa para o género
feminino que se estende à subcategoria Descobrir interpretação individual que apresenta um grau de relevância
média-alta para o género feminino e baixa para o género masculino;
⋅ Artifício que apresenta um grau de relevância elevado para o género feminino e alto para o género masculino e que,
por sua vez, se estende A cor com um grau de média-alta para o género masculino e média para o género feminino.
Tabela 14 – 4.Que importância tem o que percebemos da obra? (ARDG- Adultos)
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
4.Que importância tem o que percebemos da Obra?
A artista (origem da obra)
A própria Obra
O que está representado
Efeitos da luz (consequências)
Ver enquanto acção
Descobrir interpretação individual
Artifício
A cor
FEM
MASC
0 1 2 3 4 5
4.Que importância tem o que percebemos da Obra?
A artista (origem da obra)
A própria Obra
O que está representado
Efeitos da luz (consequências)
Ver enquanto acção
Descobrir interpretação individual
Artifício
A cor
CONV1
INV
28
A ARDG (Adultos) na constituição da questão 4.Que importância tem o que percebemos da obra? (Figura 27) revela-se,
para ambos os facilitadores activa, e de parceria harmoniosa.
Nesta fase da discussão em que se verifica a procura interna de encaixes dialécticos, a participação dos facilitadores foi
fundamental para a clarificação, acuidade e profundidade dos argumentos.
As intervenções da INV às Argumentações iniciais associadas à questão 4.Que importância têm o que percebemos da
obra? lograram com a preocupação de associar às argumentações apresentadas teoria concretizada na 1ª Sessão.
Posteriormente, e devido ao salto discursivo que se verificou, as suas intervenções intensificaram-se num carácter de
devolução das argumentações à discussão Ex: “Vamos retirar a Lourdes de Castro aqui do cenário, não vamos pensar no que
é que ela fez e porque é que ela o fez, vamos falar no que acontece connosco quando estamos a ver isto.”.
No que diz respeito às intervenções do CONV1 destaca-se a preocupação de integrar e/ou retomar questões abordadas desde
o início da Discussão e que inclui a relação da obra com a autora; da réplica (ou cópia); e tal como já havia sido referido,
formalizar a relação do observador com a sua proximidade física e discursiva com a obra Ex: “O que é que ela sugere? Que
são cores diferentes já todos percebemos mas, não é o mesmo quadro. É a mesma representação, mas não é o mesmo quadro.
O que é que cada um deles sugere? Sugerem a mesma coisa, os dois quadros, ou coisa diferentes?”.
Estas preocupações na moderação da Discussão complementaram-se e permitiram o apoio necessário para que as
argumentações se mantivessem alinhadas e integrados no sentido dos interesses anunciados, e ainda, na coerência e
profundidade que facultou a consistência conceptual desta última questão.
29
ANÁLISE ETNOGRAFICA DO REGISTO DE VIDEO
Para a AERV desta Sessão adaptou-se por uma abordagem dedutiva, na medida em que foi observado um evento específico
e fortemente conduzido pela questão desta investigação, tal como foi anteriormente objectivado e delineado no R1A.
Uma vez que os registos de vídeo realizaram-se num cenário novo para os participantes e que o objecto da discussão foi
alterado de um texto para um objecto artístico, esta análise irá ter em conta: a relação dos comportamentos físicos com o
espaço físico envolvente; comportamentos físicos em relação às obras previamente seleccionadas; e ainda, a qualidade dos
discurso dos intervenientes.
A AERV organiza-se de acordo com dois momentos específicos: 1º Momento refere-se aos comportamentos referentes ao
momento em que as crianças-participantes entraram em contacto com a exposição e a percorreram; o 2º Momento refere-se
aos registos da Sessão em si.
30
Análise etnográfica do registo de vídeo
TEMPO CATEGORIA ACÇÃO CONTEXTUALIZAÇÃO OBSERVAÇÃO
1º Momento 00:01:09 00:01:18 00:02:32
Visita à exposição na sua totalidade Observação individual ou em grupos que se fazem e desfazem à medida que a apreciação das obras em exposição os satisfaz. Apontam para pormenores das obras e conversam entre si. Solicitação para que outros se aproximem, leitura das legendas. Parceria com a Professora de EVT convidada que só interagiu com as crianças-participantes nesta fase da visita à exposição. (interrupção da gravação) Observam em grupo trabalhos e informações expostos nas vitrinas 1º Registo de deslocação individual (IND1) para a outra sala de exposição, seguido dos outros (individualmente ou em grupos) Exploração do espaço com alguma liberdade e pouca interacção com as obras expostas enquanto conversam. (reacções comportamentais à máquina de filmar!) (interrupção da gravação) Interacção idêntica à da 1ª sala: observação individual ou em grupos que se fazem e desfazem; deslocam-se livremente no espaço sem rota estabelecida; reacções à câmara de filmar (olhares e movimentos que se desviam, sorrisos atrapalhados) (interrupção da gravação)
2º Momento 00:03:16
Início da 2ª Sessão (A) Posicionamento. As crianças-participantes sentam-se em meia-lua em frente às obras que irão ser discutidas com a ajuda do CONV1. INV coloca da câmara de filmar no tripé, verifica ângulo de filmagem e MP4 para gravação da discussão junto das crianças-participantes. Comportamento do IND1 em relação à presença da INV. Câmara não regista IND4.
00:03:51 00:04:49
INV explica o propósito e as regras da sessão associando-a à Filosofia que têm praticado. Olhares atentos à INV que mudam de direcção quando esta refere as serigrafias. Olhares virados para as obras. Silêncio. IND11 recua e fica atrás da IND7.
00:05:00 00:05:20
AGENDA DA DISCUSSÃO
Início da Agenda da Discussão Apresentação e registo das questões
IND1 e IND8 colocam dedos no ar e preparam-se para apresentar as suas questões que são registadas pela INV. IND8 repreende IND6 que começa a intervir sem respeitar as regras da filosofia. IND5 coloca dedo no ar. IND3 alheada. IND2 acompanha movimentação dos colegas com o olhar. Apresentação e registo das questões. Crianças-participantes procuram localizar nas obras através do olhar à medida que as questões são apresentadas. Registo de comportamentos atentos e focalizados. INV desloca-se para junto da IND7 para melhor registar a sua questão. Crianças-participantes mostram-se indiferentes ao movimento de outros visitantes no espaço. Conversas paralelas (conversa com o parceiro do lado, rapazes). Entrada de um grande grupo de visitantes no espaço leva a que alguns elementos se virem para os observar. Registo de ruídos na sala. Necessidade de elevar tons de voz. IND5 levanta-se para indicar na serigrafia o que está a ser referido seguido do IND1. Discutem entre si pormenores associados às questões. IND5 volta a levantar-se para indicar o que a IND3 estava a referir.
Dinâmica comportamental: comportamentos empáticos, focados e em associação física com a leitura/percepção das obras. Comportamentos agitados; necessidade de elevar o tom de voz.
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Aproximação às obras
INV esclarece contexto e levanta-se para se dirigir à obra, seguida do IND1 e convida a IND3 a dirigir-se à obra para verificar o que questiona. IND5 levanta-se (com sorriso de gozo) e dirige-se à obra, o mesmo acontece com IND8 e IND6. (Outros visitantes observam as mesmas obras e o comportamento das crianças-participantes – interrompidos pela funcionária do serviço educativo por receio da aproximação das crianças-participantes – atitude algo agressiva – passagem de pessoas à frente das crianças-participantes) Todos regressam aos seus lugares e procede-se à discussão.
IND5 comportamento jocoso. Integração no meio: intervenção agressiva da funcionária do serviço educativo
3º Momento 00:10:54 00:12:23
DISCUSSÃO DESCRIÇÃO DA OBRA
Aproximação às obras Aproximação às obras
INV retoma a discussão propondo um ponto de partida: o que está retratado? Parâmetros e referências às obras construídos através de um discurso colectivo. Olhares atentos e intervenções complementares por vezes sobrepostas. IND7 levanta-se e aproxima-se da obra (impossível registar o que disse – muito ruído na sala) INV introduz ligação à Sessão 1A IND7 entrega gravador a IND8 que se levantou para se aproximar da obra para indicar onde se localiza o que quer referir. Gravador passa a andar de mão-em-mão.
INV retoma discussão (sobreposição de vozes) INV instiga à discussão associando referências da Sessão 1 [A] Alteração eficaz do protocolo: MP4 passou a ser o “passa palavra” (naturalmente determinado pelas crianças-participantes)
00:14:08 INV Advertência ao comportamento: não tocar nas obras! INV intervém para acalmar funcionária 00:16:42
OLHAR ENCAIXAR MEXER SOMBRA
IND8 “mexer as sombras com o olhar” IND1 encaixe das sombras Elevam-se os tons de voz IND6 não encaixa IND3 planta mexe-se em reacção ao sol IND7 posição da sombra
Dinâmica comportamental: Comportamentos agitados e elevação do tom de vozes
00:18:44 INV intervém: referência a obra existente na sala ao lado que os entusiasmou INV instiga à acuidade discursiva IND8 intervém (2 plantas)
IND5 intervém (igual/diferente) IND1 intervém com argumentação forte
Dinâmica comportamental: Comportamentos agitados
00:20:25 Alteração ao protocolo Gravador mantém-se como “passa voz” por escolha das crianças-participantes
00:21:00
COR CÓPIA
IND6 intervém (quadros iguais, como pode ser possível?) INV instiga a argumentação e devolve questão ao IND8 IND5 responde IND6 intervém INV pede para regressarem à peça (olhar) IND5 intervém (cores diferentes)
Dinâmica comportamental: INV instiga à acuidade argumentativa Alteração do comportamento físico: muito relaxados (IND3 e IND11deitam-se), de joelhos prontos para agir (IND4, IND2, IND1, IND5), outros assumem postura apenas descontraída (IND8), de observação crítica (IND7 e IND6)
Conversas cruzadas (movimentação e agitação) 00:22:30
SOMBRA
Aproximação às obras IND7: -Não te mexas! Aproximação às obras
IND7 interpela o IND5 que se havia levantado e aproximado das obras para que não se mexesse: reparou como se comportava a sombra do colega projectada na parede 1ª Intervenção do CONV1: convida IND7 a esclarecer porque pediu ao colega que parasse IND7 dirige-se à parede e demonstra: refere as várias sombras projectadas e
Momento de viragem na Discussão Dinâmica comportamental: Comportamentos agitados e vozes sobrepostas.
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00:23:56 00:24:47
Aproximação às obras
o fenómeno é transposto para a leitura da obra. (analítico) IND5 e IND1 comparam a zonas da obra onde se verifica ou não o fenómeno (cepticismo/empirismo) CONV1 intervém para que regressem aos seus lugares ficando apenas a IND7 para explicar o fenómeno que salientou IND7 explica o fenómeno e enquadra-o no contexto da discussão INV intervém para que IND7 experimentasse o que argumentou
Dinâmica da discussão CONV1 intervém para firmar comportamentos integrados. INV instiga à experimentação
00:25:14 00:25:28
LUZ ENCAIXE
IND1 refere o “foco de luz” como causador daquele fenómeno IND8 refere ainda a posição do corpo em relação ao foco de luz CONV1 intervém para verificarem se a sombra projectada encaixa na mão da IND7 (intuitivo) IND6 argumenta a questão do encaixe das sombras
Dinâmica comportamental Elevação dos tons de vozes, comportamentos agitados.
CÓPIA Importância da luz IND5 intervém (fotocopia) 00:27:49 00:28:30
ARTISTA IND6: refere importância do papel da artista e à impossibilidade de chegar a uma conclusão (analítico) CONV1: instiga a discussão no sentido em que salienta que, na ausência efectiva da autora, então, como se define o papel do observador
Dinâmica da discussão CONV1 instiga à discussão Comportamentos físicos relaxados (deitados no chão)
00:29:08 00:32:44 00:34:00
COR Ilusão, aparência, contorno, pintar Confusão visual
Interpretação
IND6 apresenta a sua conclusão CONV1 questiona acerca da outra obra (réplica), o que sugere IND5 responde que é a cor IND1 intervém (ilusão) IND3 intervém (muda a aparência) IND8 levanta-se e demonstra a sua argumentação (um aparenta que está cheio e o outro vazio) (intuitivo/analítico) IND4 (céptico) e IND5 entram em controvérsia IND3 “comportamento” das diferentes linhas associando as suas respectivas cores (empirista) IND1 apresenta a questão da “confusão visual” (interpretação associada às diferentes leituras possíveis do quadro da Mona Lisa) IND1 (intuitivo) e IND5 (céptico) entram em controvérsia
Dinâmica comportamental Empatia de grupo (atentos) Comportamentos agitados, tons de voz agitados Dinâmica da discussão Argumentações “emparelhadas” e acesas
00:35:00 Focar tema (confusão visual) Intervenção INV (o que sentimos) INV instiga à acuidade temática
Movimento elíptico da discussão IND1 repõe constatação anterior (Confusão visual) IND5; IND8, IND4 expõem argumentos anteriores apresentados até então
Dinâmica da discussão Verificação dos argumentos (movimento elíptico da discussão)
00:35:48 Inclusão da outra obra seleccionada Intervenção INV (pede para que incluam a outra serigrafia) INV instiga a uma abordagem integradora
Edificação de imagem mental Exploração do espaço (alteração comportamentos físicos)
IND7 experimenta e exemplifica fisicamente a sua perceção de visual enquanto comenta experiência (empirista e contentamento) (todas as crianças-participantes imitam e dirigem-se ao fundo da sala para acompanhar discurso da IND7) IND5 (intromete-se na explanação de IND6) e IND6 apresentam argumentos anteriores (Conclusão: confusão visual)
Dinâmica comportamental Aproximação e distanciamento da obra Movimentação do grupo para o fundo da sala (movimento elíptico da discussão) Argumentações “emparelhadas” e complementares mas sobrepostas (por imposição)
00:38:00 Intervenção CONV1 (questiona subtileza preceptiva perante a confusão) Dinâmica comportamental Crianças-participantes encontram-se todas em pé e dispersas pela sala
Aproximação às obras
IND7 expõe fenómeno (empirista) IND1 e IND5 participam por associação à IND6 IND8 mantem-se estático junto à obra a observá-la; afasta IND4 que se
Dinâmica comportamental Aproximação à tela (movimento elíptico da discussão)
33
Sobressair Intenção da artista
colocou à sua frente (comportamento de observação intensa que irá sustentar posterior argumentação de carácter analítico)
00:40:09 Conversas cruzadas (CONV1 intervém para repor ordem na discussão) Reposição de lugares sentados junto às obras em meia-lua
00:40:28 00:41:05 00:42:13
Aproximação às obras IND4 apresenta a sua constatação aproximando-se da obra INV instiga a uma argumentação mais incisiva; IND7 sobrepõe a sua argumentação à do IND4 que recua (referencia à obra mais cinzenta) CONV1 intervém para que IND7 apresente uma argumentação mais incisiva da sua explanação (alteração de comportamentos: dedos no ar)
Dinâmica comportamental Comportamento impositivo da IND7 (comportamentos físicos serenos no grupo) CONV1 instiga à acuidade Reposição de lugares altera comportamentos associados às regras da discussão: pedido de intervenção
Conversas cruzadas 00:42:29
Cor altera leitura visual Momentos diferentes Plantas diferentes
Visualização lúdica Exploração do espaço Aproximação às obras
IND8 apresenta a sua argumentação revelando a sua observação/análise anterior (fenómeno visual – cegueira momentânea e “jogo visual”) (analítico) IND1 obras semelhantes com tratamento cromático diferente alteram leitura visual (IND6 mantém-se afastado a meio da sala a observar ambas as obras) (analítico) IND3 aproximação à obra para expor leitura da obra (alternância das linhas provocada por momentos diferentes de registo da sombra – exposição confusa que apesar de apresentar um natureza perspicaz não induziu à continuidade da ideia) (alternância de empirista/indutiva) IND6 intervém para explanação do que a sua inferência visual anterior (plantas diferentes com sombras sobrepostas em ambos os quadros)
Acuidade comportamental do IND8 Reposição das regras da discussão: inscrição através do no ar Comportamentos atentos e diligentes face às ideias que os colegas estão a apresentar
00:47:55
“Encaixes” Plantas diferentes Sobreposição
Exploração do espaço Aproximação às obras
INV intervém para lançar exposição anterior de IND3 (algumas crianças-participantes mantém-se de pé a deambular) IND7 aproximação à obra para expor dedução (resposta ao possível enigma dos encaixes das sombras) INV interrompe a sua intervenção para dar palavra à IND3 IND3 associa a sua leitura anterior à do IND6 (duas plantas no mesmo vaso) INV remete questão para a Discussão IND4 argumenta exposição de IND3 (possibilidade de serem apenas registos de lados diferentes da planta só que sobrepostos) (intuitivo)
Dinâmica da discussão INV instiga à discussão (reposição de tema) Dinâmica comportamental Comportamentos descoordenados (uns atentos outros deslocados)
00:49:20 Exploração do espaço
IND8 pede esclarecimento sobre cor; é esclarecido pela INV (IND5 e IND7 afasta-se para o fundo da sala)
Conversas cruzadas 00:53:41
Fase final da discussão: Apresentação de argumentações conclusivas
IND7 (visão da altera-se conforme a nossa posição face à obra; movimento da luz solar)
INV intervém com narrativa associada das possíveis alterações face a esse movimento da luz solar IND1 refere a alteração da posição da planta (mexe-se)
Apresentação de argumentações conclusivas Dinâmica da discussão INV instiga através de narrativa associativa
Conversas cruzadas 00:54:34
IND7 argumenta (planta como ser vivo; o seu registo seria como um filme) IND8 (mantém postura atenta) apresentação de argumentação com teor
34
00:56:18
narrativo apoiando-se em fenómenos deduzíveis – o passar do tempo/vida (narrativa analítico) – conclui que se trata apenas de uma mesma planta IND5 postura de gozo e deslocada do contexto da discussão – intervenção foi alvo de censura pelos facilitadores IND1 refere os diferentes registos provocados pela sombra quando uma vela passa por um determinado objecto (referência à sessão anterior)
Dinâmica da discussão INV instiga à argumentação
00:57:00 00:58:21
Objectivo da autora vs papel do observador Quadro revela
Aproximação às obras IND6 associa obras em discussão às obras presentes na exposição (registo de diferentes coisas em simultâneo); dirige-se a uma delas para exemplificar (analítico) CONV1 instiga IND6 a uma argumentação mais incisiva que explique o significado da sua argumentação IND6 remete argumentação para a intenção da artista: pretende que o observador descortine várias coisas porque, através dos quadros, cada um interpreta como quer (argumentações de cariz abstrato - sistema analítico determina conclusão) IND4 conclui que o quadro “mostra” independente do que vemos e como queremos ver (sistema intuitivo apresenta conclusão)
00:59:00 Fim da discussão Obs.
A Discussão em torno das obras selecccionadas não causou qualquer impedimento ao seu desenvolvimento no que diz respeito ao processo similar de uma Sessão de filosofia em torno
de um texto. A adesão dos participantes foi assertiva, com as mesmas excepções que foram assinaladas no Relatório da Sessão1 A: o IND2 e a IND11 não participaram, contudo,
mantiveram-se atentos e em sintonia comportamental com o resto do grupo.
Enquadrado na apetência natural para a discussão, o MP4 utilizado para o registo áudio da Discussão foi adoptado pelas crianças-participantes como o “passa palavra”.
Verificou-se uma apetência natural para um comportamento físico de aproximação e afastamento à obra. O mesmo comportamento físico serviu para a experimentação, verificação e
exposição das percepções e consequentes estruturas de pensamento associadas. Na relação dos participantes com o espaço público não houve qualquer referência a possíveis
dificuldades de integração ou estranheza. O fenómeno assim registado será denominado de movimento rotativo na discussão que se caracteriza do seguinte modo: exposição de
argumentos associados à sua verificação através da movimentação conjunta do grupo em relação à obra, ou seja, explanação com aproximação e distanciamento em relação à obra. (Os
corpos movem-se segundo um “guião” oferecido pela argumentação activa – verifica-se semblantes de aprazimento e atenção de todos os participantes).
Verificaram-se determinadas apetências que definiram tipologias do carácter argumentativo (empirista; intuitiva; analítica e céptica) que deverão ser transferidas para a análise dos
RAPI.
Em comparação com os dados registados pode afirmar-se que a Sessão 2 A desenvolveu uma dinâmica mais diligente, muito enraizada nas percepções e na necessidade de
compreensão das mesmas para a sustentação de argumentações assertivas.
Na fase final da Discussão, verificou-se um outro tipo de fenómeno: as estruturas argumentativas, geradas e sustentadas pela percepção pura dos elementos descritivos das obras,
progrediram para um outro nível de estrutura que alimentou uma configuração conclusiva dos discursos, desenvolveu-se dentro do mesmo sistema de caracteres argumentativos, o que
despoletou um discurso mais abstracto e de semblante estético. Em momento algum, nos conteúdos das argumentações apresentadas foi sinalizada qualquer preocupação em formular
um juízo de valor em relação à totalidade das obras expostas ou das obras sinalizadas para discussão nesta Sessão.
Quadro 1 - Análise etnográfica do registo de vídeo (Descrição)
35
RETRATOS E ANÁLISE DE PARTICIPAÇÃO POR INDIVÍDUO
(Crianças-participantes e Adultos)
Os RAPI (Crianças-participantes e Adultos), tal como foi referenciado no R1A, apoiam a necessidade de definir,
não só o modelo de participação por indivíduo em relação às subcategorias balizadas pela ARTD mas, também, a
sinalização da tipologia do carácter argumentativo de cada uma das crianças-participantes e adultos.
Visualizar o mapeamento categorial da participação de cada indivíduo (do Gráfico 1 ao Gráfico 14) e a descrição da
respectiva participação na dinâmica do grupo, permitiu aceder a uma maior sensibilização das possíveis relações
comportamentais e permiti avaliar, por indivíduo, a evolução da sua participação.
De igual modo foi integrado o retrato de participação dos facilitadores de modo a compreender a necessidade ou
dispensabilidade das suas intervenções, o carácter e tipologia das mesmas.
Gráfico 1 – IND 1 (Masculino)
O IND 1 participou na constituição da Agenda da Discussão.
O seu comportamento revelou-se atento; motivado e muito participativo; a sua
postura de interacção com o espaço expositivo foi aberta e sem apresentar qualquer
registo de inibição (dirigiu-se várias vezes à obra para expor as suas deduções).
A sua participação manteve-se constante durante toda a discussão, tendo focado
com uma maior relevância nas subcategorias associadas às questões referentes à
sua própria questão (mesmo desenho); à descrição da obra; e à importância do que
percebemos na obra. A sua participação, nesta última subcategoria, foi mais
incisiva e coerente. A narrativa apresentada pelo IND1 revela uma tipologia
argumentativa tendencionalmente empirista e por vezes intuitivas. Na fase
conclusiva da discussão intervém com uma associação conceptual associada à
temática desenvolvida na Sessão 1 A. Este fenómeno revela a integração/absorção
de conceitos “reutilizados”, construção e constituição do pensamento verbalizado
num outro contexto.
Gráfico 2 – IND 2 (Masculino)
O IND 2 não participou na Sessão.
Contudo, verificou-se que fazia comentários com alguma frequência aos parceiros
mais próximos. O seu comportamento revelou-se por vezes atento e em sintonia
com o resto do grupo (observava os colegas nas suas participações activas e
experimentou uma observação mais próxima das obras, bem como, o afastamento
das mesmas quando este comportamento era “proposto” na explanação de alguma
intervenção).
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Gráfico 3 – IND 3 (Feminino)
A IND 3 não participou na constituição da Agenda da Discussão.
O seu comportamento revelou-se inicialmente alheado, porém, alterou-se
rapidamente para um comportamento participativo, integrado e respeitador das
regras da discussão, alternado com alguns momentos de reflexão silenciosa, mas
atenta (introspectivo enquanto observa as obras). O seu tom de voz manteve-se
sempre num tom afável e pouco elevado, pelo que, houve necessidade de lhe ser
solicitado que o elevasse.
A sua participação sustentou a entrada de muitos dos conceitos delineados,
contudo, outros que introduziu nem sempre foram entendidos e assimilados pelos
colegas. As suas intervenções caracterizam-se por associar e alternar conceitos
discutidos em diferentes momentos da Discussão. Estas associações permitem-lhe
sustentar a sua abordagem às obras como um todo contínuo, relacionável e
coerente. De acordo com este contexto, as suas intervenções sustentam facilmente
uma narrativa coerente de natureza empirista.
Gráfico 4 – IND 4 (Masculino)
O IND 4 não participou na constituição da Agenda da Discussão.
O seu comportamento revelou-se atento, motivado e respeitador das regras da
discussão.
A sua participação, apesar de moderada, foi consistente na articulação dos
conceitos. As intervenções do IND4 revelaram uma natureza oscilante entre a
sagacidade e a pouca relevância (refere a mesma ideia com alguma frequência).
A narrativa apresentada pelo IND4 revela uma tipologia argumentativa
tendencionalmente intuitiva. No final da Discussão o IND4 propõe uma conclusão
integradora de em conceitos próprios do discurso próprio da estética (o quadro
“mostra” independente do que vemos ou de como queremos ver).
Gráfico 5 – IND 5 (Masculino)
O IND 5 não participou na constituição da Agenda da Discussão.
O seu comportamento revelou-se agitado, inquieto, por vezes jocoso, porém, com
alguns de registos opostos de atenção e de intervenções acesas. O IND 5, com
alguma frequência, não respeita as regras da discussão e sobrepõe a sua voz à dos
outros.
A sua participação revelou-se ausente no início da discussão, contudo, a partir da
2ª metade manteve-se constante. O IND 5 apresenta uma intervenção intromissiva,
pois, frequentemente, surge em sobreposição do discurso activo com a atitude de o
querer complementar/finalizar. As suas intervenções caracterizaram-se por uma
narrativa que revela uma argumentação céptica.
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Gráfico 6 – IND 6 (Masculino)
O IND 6 participou na constituição da Agenda da Discussão
O seu comportamento revela-se atento, observador e integrado na dinâmica da
discussão, contudo, verificam-se momentos de afastamento ou alheamento da
dinâmica do grupo para se recolher numa observação introspectiva.
A sua participação foi constante e consistente durante quase toda a discussão.
A sua participação manteve-se constante e focada nas questões associadas ao
desenho; à descrição da obra; e à importância do que percebemos na obra.
A narrativa apresentada pelo IND6 é bastante consistente e revela uma tipologia
argumentativa analítica fundamental para a sua vontade de conclusão de ideias.
Assim, verificou-se, na fase final da discussão, uma exposição de conceitos
bastante coerente, de carácter conclusivo e de semblante integrado em conceitos
próprios da estética (intenção da artista pode estar sobreposta ao que o fruidor da
obra apreende; porém, considera que essa fruição dispensa essa sobreposição, que
a sua interpretação está ligada à obra mas que “cada um interpreta como quer”.)
Gráfico 7 – IND 7 (Feminino)
A IND 7 participou na constituição da Agenda da Discussão
O seu comportamento revelou-se atento, respeitador e integrado na dinâmica da
discussão.
A sua participação manteve-se constante durante toda a discussão, tendo
evidenciado uma maior atenção nas questões associadas à descrição da obra e à
importância do que percebemos na obra.
A sua participação foi essencialmente reveladora de uma experimentação contínua
da obra, ou seja, de exploração de contacto directo com a obra (aproximação à
obra) e do seu espaço envolvente.
A IND 7 foi protagonista essencial para um momento muito específico de viragem
na discussão, ou seja, a sua percepção perspicaz dos fenómenos associados à
leitura e experimentação da obra potencializaram uma alteração fundamental dos
discursos e comportamentos. A ver se esta mudança se revelará edificadora de
novas teorias e atitudes no que se pretende definir como experimentação estética.
A narrativa apresentada pela IND 7 revela um forte carácter analítico.
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Gráfico 8 – IND 8 (Masculino)
O IND 8 participou na constituição da Agenda da Discussão.
O seu comportamento revelou-se motivado, atento e observador das regras da
discussão.
A sua participação foi constante durante toda a discussão, tendo focado com uma
maior relevância nas questões associadas à descrição da obra e à importância do
que percebemos na obra. De facto, o IND 8 foi responsabilizável pela
conceptualização de várias abordagens suscitadas durante a Discussão.
O IND 8 cria uma estrutura argumentativa que se sustenta na estrita relação de
observação da obra, ou seja, o que afirma (ou descreve) apresenta uma sustentação
observável na obra, bem como, um contexto verosímil fortemente apoiado na
experiência quotidiana. Assim, observa-se que a narrativa apresentada pelo IND 8
define um carácter intuitivo de apreciação da obra que associa a uma forte
argumentação de carácter analítico.
Gráfico 9 – IND 9 (Masculino)
(O IND 9 não esteve presente nesta sessão)
Gráfico 10 – IND 10 (Masculino)
(O IND 10 não esteve presente nesta sessão)
Gráfico 11 – IND 11 (Feminino)
A IND 11 não participou na Sessão.
O seu comportamento revelou o seu constrangimento e dificuldade em entrar em
sintonia com o resto do grupo (manteve-se “escudada” pelas outras duas
participantes do mesmo género). Posteriormente, acabou por experimentar uma
observação mais próxima das obras, bem como, o afastamento das mesmas quando
este comportamento foi “proposto” na explanação algumas intervenções.
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Gráfico 12 – CONV1 (Masculino)
O CONV1 participou pela primeira vez numa das Sessões desta investigação. Num
primeiro momento apresentou-se apenas como professor que conhece os seus
alunos e que apoia num segundo plano a concretização da Sessão. A alteração do
seu comportamento verificou-se no momento de viragem da Discussão, em que
solicitou à IND 7 que explicasse porque pediu ao IND 5 que se mantivesse parado
junto às obras.
A partir desde momento passou a partilhar a moderação com a INV. Esta partilha
da moderação da Discussão ocorreu naturalmente e com benefícios vários:
assentou o caracter de partilha e a empatia para a melhor aceitação da INV como
moderadora; por ser igualmente professor dos participantes o seu ascendente nas
relações comportamentais foi determinante; e, a sua vasta experiência de anos a
praticar filosofia com crianças-participantes possibilitou uma maior acuidade nas
intervenções o que trouxe benefícios evidentes ao carácter da Sessão como um
todo.
Gráfico 13 – CONV3 (Feminino)
A CONV 3 colocou-se à parte (afastada do grupo principal), onde se manteve
sempre calada e reflexiva.
Gráfico 14 – INV (Feminino)
A INV deu início à Sessão com a explicação dos procedimentos, de como estes
eram semelhantes às outras Sessões, à excepção, de passarem a ser estimuladas por
obras de Arte.
Abordou com firmeza as questões comportamentais, com especial inflexibilidade
para as exigidas à presença e interação com as obras de um espaço cultural.
A participação da INV foi incisiva e cautelosa: estava mais sensível e atenta às
intervenções das participações, sendo a sua participação mais acentuada na nas
questões referentes à descrição da obra.
Apesar do nervosismo e alguma desconfiança nas suas capacidades para moderar
uma Sessão num âmbito totalmente novo, a sua principal preocupação da INV é a
de proporcionar às crianças-participantes uma experiência satisfatória e
motivadora que alicie a sua natural curiosidade nas Sessões posteriores.
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CONCLUSÕES FINAIS
A análise à estrutura desta discussão permite localizar e distinguir distintos momentos na dinâmica da discussão:
1. Momento de interpretação em que as
crianças-participantes percepcionam os elementos que
sobressaem na obra e estruturam uma Agenda da Discussão
(posteriormente, durante a Discussão, questões específicas
poderão ser retomadas para verificação de respostas
associadas);
2. Momento de contextualização em que as
crianças-participantes procuram responder a algumas
questões em aberto sem se focarem especificamente em
nenhuma delas. As abordagens são múltiplas, por isso,
constituem momentos de passagem ou flutuantes e que
antecedem a entrada nas abordagens mais consistentes da
discussão;
3. Momento em que as crianças-participantes desenvolvem
discursos associados a interpretações focalizadas nas obras e
ainda, neste caso, à possível ligação entre as mesmas através
de discursos com estruturação narrativa;
4. Momento específico em que as crianças-participantes
desenvolvem um discurso abstracto em torno de reflexões
pertinentes à organização das suas argumentações.
Legenda: Subcategorias da Discussão Questões derivadas da ARDG Agenda da Discussão Dois desenhos 1. Porque é que a Lourdes de Castro pintou duas vezes a mesma tela, o mesmo desenho? Técnica utilizada 2.Como é que ela fez desenhos exactamente iguais? Descrição da obra 3.Como descrever a obra? Importância do que percebemos 4.Que importância tem o que percebemos da obra? (Registos comportamentais)
Gráfico 15 – RRTD2A
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INTERPRETAÇÃO
A Agenda da Discussão gerou quatro questões (Quadro 2): duas das questões estão focalizadas na percepção das
partes constituintes das obras e as outras duas questões na relação entre a obra em duplo, concebida pela artista
plástica Lourdes de Castro.
Agenda da Discussão
1. Porque é que a Lourdes de Castro pintou duas vezes a mesma tela, o mesmo desenho? IND 1 (Masculino)
2. Como é que a Lourdes conseguiu, que às vezes, a linha ficasse em cima da planta que
está pintada por dentro e, às vezes, por debaixo?
IND 7 (Feminino)
3. Qual é a planta que está à frente, a verde ou a branca? IND 8 (Masculino)
4. Como é possível ela fazer desenhos com o traço exactamente igual? IND 6 (Masculino)
Neste primeiro momento assinalou-se uma compreensível agitação provocada pelo facto de as
crianças-participantes se preparam para iniciar a Sessão num espaço diferente do habitual e com um objecto de
reflexão distinto do que haviam experimentado até ao momento.
A INV aguardou que estas se sentassem e confirmou a amplitude de registo da gravação de vídeo com o apoio do
CONV1. Em seguida informou sobre os procedimentos pretendidos para uma Sessão de discussão de obras de arte.
As crianças-participantes anuíram com um profundo silêncio e observação atenta das obras (tempo de leitura da
obra), e uma imediata inscrição na discussão com braços levantados.
Esta 1ª Fase da Sessão, na sua generalidade, decorreu com um registo geral de preocupação com o cumprimento das
regras da Filosofia com Crianças foram de atenção, integração e participação.
É ainda de referir, os vários registos de aproximação às obras essencial para algumas crianças-participantes uma vez
que, permite que seja indicado na própria serigrafia não só o que está a ser referenciado, como também, a
confirmação do enquadramento visual apresentado por outro.
CONTEXTUALIZAÇÃO
Nesta Sessão registaram-se três momentos de contextualização, durante os quais as crianças-participantes
procuraram resgatar possíveis respostas para as questões provenientes da Agenda da Discussão e de possíveis
argumentações para abordagens mais consistentes.
Este momento caracteriza-se pelas abordagens múltiplas em que as intervenções não se focam exclusivamente num
único assunto ou, quando se procura constituir elações pertinentes através da conjugação de conteúdos de natureza
diferente.
Nesta sessão, a primeira metade da Discussão é animada pela interacção entre dos quatro conceitos ou ideias
constituídas. Posteriormente, na segunda metade, verifica-se que a cuja estrutura e consequente natureza
argumentativa se alterou significativamente: verificaram-se momentos de concentração de abordagens múltiplas, ou
Quadro 2 – Agenda da Discussão (Questões)
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seja, momentos de passagem ou flutuantes que antecedem a entrada de argumentações mais consistentes na
discussão de estruturação narrativa.
Assim, o primeiro destes momentos caracteriza-se pela entrada de abordagens múltiplas e diversificadas,
desfocadas de uma ideia ou conceito específico.
No segundo momento observou-se um súbito desvio dos interesses patenteados pela subcategoria Importância do
que percebemos para se focar num regresso aos conteúdos que estruturam a subcategoria Dois desenhos. Esta
alteração surge através de uma intervenção conjunta entre o IND 5 e o IND 1 quando comparam zonas da obra
(Figura 1, pág.3) onde se verifica, ou não, o fenómeno das sombras exposto anteriormente pela IND 7. A INV ao
perceber-se do desvio interveio de modo a manter o foco da discussão no contexto anterior, contudo, as intervenções
consequentes mantiveram a temática argumentativa associada à leitura conjunta dos Dois desenhos e à Descrição
da obra. A progressão deste fenómeno conduziu a Discussão à ambivalência argumentativa de ideias associadas
(Importância do que percebemos e Dois desenhos).
No terceiro momento verificou-se uma maior abrangência dos conteúdos em discussão uma vez que estes
abarcaram os principais conceitos que estruturam a Discussão. Este momento foi inaugurado pela intervenção do
CONV1 quando procurou que as crianças-participantes associassem as duas serigrafias. Esta solicitação conduziu à
associação natural de reflexões organizadas pela subcategoria Dois desenhos que, por sua vez, obrigou a que se
retomassem questões associadas à subcategoria Técnica utilizada e à subcategoria Descrição da obra, conforme a
seguinte premissa: as serigrafias mesmo idênticas têm tratamentos diferentes (Técnica utilizada), pelo que,
provocam percepções igualmente diferentes (Descrição da obra).
Verificou-se que estes dois momentos antecederam momentos especificamente importantes na convergência e
consolidação das ideias, obedecendo ao perfil momento de passagem ou flutuante referido no R1A, ou seja,
intercalaram momentos associados à construção sólida de narrativas de sustentação de ideias e/ou conceitos
específicos.
No que diz respeito à dinâmica de grupo, nos momentos de passagem desta Sessão, verifica-se uma efectiva
alteração de comportamentos: surgem registos de movimentos individuais, de alheamento aparente alternado por
momentos de atenção, e simultaneamente, de corpos agitados a registar a sua inscrição na discussão com o dedo no
ar. Em escassos momentos foi necessária a intervenção dos facilitadores para que se retomasse o registo de
cumprimento das regras de comportamento e, consecutivamente, da Discussão.
DISCURSO COM ESTRUTURAÇÃO NARRATIVA
O primeiro registo de intervenções desenvolvidas segundo uma estrutura narrativa ocorreu na 1ª parte da Discussão.
Este primeiro momento caracteriza-se por ter dado lugar a um momento único da Discussão, isto é, a um momento
de viragem demonstrativa muito específico, em que, a IND 7 pede ao IND 5 que pare junto à parede onde estão
colocadas as serigrafias para poder observar o jogo de sombras que o corpo deste projecta na parede. Apesar das
argumentações, que participaram na percepção experimental, o fenómeno revelou uma alteração total do paradigma
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observado até ao momento, ou seja, as intervenções posteriores exigiram uma maior perspicácia, objectividade e
contextualização que permitisse almejar uma possível conclusão.
O segundo momento de entrada para um discurso com estruturação narrativa ocorreu quando o IND 6 interveio
para comentar a impossibilidade de uma conclusão almejada pela IND 7, uma vez que, qualquer conclusão está
precisamente no saber inacessível da artista. O CONV1 interpela para que o dilema seja abordado com a admissão
de que na ausência do possível esclarecimento através da própria artista, as crianças-participantes terão de o fazer
por si mesmas. A intervenção do CONV1 determinou a abertura da subcategoria Importância do que percebemos.
O terceiro momento de entrada de um discurso com estruturação narrativa emerge da explanação enunciada pela
IND 7 que pretende dar resposta às questões que surgiram no terceiro e último momento de passagem. A IND 7
explica o fenómeno estruturado através da subcategoria Confusão (da subcategoria Importância do que
percebemos) como um fenómeno de leitura visual da sombra associado à distância considerada entre a obra e o
observador, ou seja, fundamenta a experiência de convivência com as obras através de uma observação directa dos
fenómenos físicos provocados em si mesma.
No que diz respeito à dinâmica de grupo, registaram-se comportamentos de atenção, motivação, sintonização e de
participação generalizada de quase todas as crianças-participantes. O correcto exercício das regras da discussão foi
alternado pela elevação do tom de vozes que se associaram a comportamentos agitados. Este contexto
comportamental exigiu intervenções pontuais por parte dos facilitadores.
No que diz respeito à relação dos participantes com o espaço envolvente e com a obra, registou-se nestes momentos
uma frequente aproximação às obras ou, até mesmo, um afastamento das mesmas. Estes movimentos de
aproximação e afastamento possibilitaram que as argumentações das crianças-participantes se ajustassem à imagem
mental que as várias exemplificações ou demonstrações sugeriam.
DISCURSO ABSTRACTO
A entrada de discursos de cariz abstracto é sinalizada no final da Discussão com a entrada sucessiva de argumentos
conclusivos associados à subcategoria Importância do que percebemos.
O primeiro argumento que visa uma inferência conclusiva está associado à subcategoria Descrição da obra, no
qual a IND 7 associa referências de descrição da obra ao movimento, ou alteração da sombra, enquanto fenómeno
associado à posição do observador. Esta argumentação destaca-se pela sua natureza empírica que testa conclusões
emergentes através de contextualizações num real hipotético.
O segundo argumento associa-se à subcategoria Importância do que percebemos introduzido pelo IND 8 que
observa a obra e as conclusões que dela retira apoiando-se em fenómenos deduzíveis, isto é, a obra (ou retrato da
planta) é a representação metafórica da vida da planta: a sua infância, crescimento e velhice ou morte. Este
argumento é seguido de uma outra possibilidade apresentada pelo IND 1 que entende a leitura da obra muito
associada à percepção visual do movimento induzido pelos vários elementos que constituem a obra: como uma
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sucessão de imagens ou sombras projectadas. Esta conclusão apresenta um carácter argumentativo muito intuitivo e
é integrador de alusões balizadas na Sessão 1 A.
O terceiro argumento apresentado pelo IND 6 emerge de uma abordagem muito analítica do que poderão ser as
intenções da artista Lourdes de Castro. Assim, segundo IND 6, a artista não pretendia mostrar apenas uma única
coisa mas uma variedade de coisas e que, em última análise, as próprias obras estarem sujeitas a uma multiplicidade
de interpretações provenientes dos diferentes observadores, resumindo, cada observador interpreta como bem
entende.
A quarta e última conclusão, é introduzida pelo IND 4, está alinhada com a conclusão anterior mas integrada num
processo de cariz intuitivo e foi sustentada pela intervenção clarificadora do CONV1. Assim, esta deduz que
podemos ver várias ou apenas uma coisa numa mesma obra, não num mesmo momento mas em momentos
diferentes e isto porque, independentemente do que vemos ou como vemos, uma obra mostra sempre.
Estes dois últimos momentos da Discussão conduziram à necessária categorização por valorização de um fenómeno
focalizado ou alinhado na apreciação das obras em si mesmas e das consequentes inferências que surgiram.
Neste último momento da Discussão, numa perspectiva de avaliação da dinâmica de grupo, revelam-se
comportamentos atentos e preocupados com a integração dos argumentos sintonizados com os interesses da própria
discussão. As participações foram mais seletivas com a peculiaridade de não exigirem uma moderação persistente.
Se excluirmos a intervenção pertinente do CONV1 acima mencionada, não foi necessário promover ou instigar o
nível de argumentação, clarificar argumentações assumidas ou aporias.
O momento em que se revelou a potencialização de um Discurso abstracto definiu o término da Discussão não só
a nível discursivo como também a nível comportamental.
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REGISTO DE CONTROLO
O necessário ajustamento do modelo de Lipman, a sua transferência para outro discurso associado à leitura e
interpretação de Obras de Arte, obriga a que haja, desde o início do trabalho de campo, a preocupação de assegurar
a qualidade e rigor dos procedimentos.
O R2A debruçou-se sobre o possível discurso entre duas serigrafias Sombra Projectada de Arália (1977) da artista
plástica Lourdes de Castro. A Sessão foi realizada num contexto público (CAMB) estreando o percurso necessário e
integrador da principal questão desta investigação.
Assim, a Sessão realizou-se segundo os mesmos pressupostos definidos por Matthew Lipman e promoveu a
experiência fundamental para um melhor entendimento da discussão filosófica, que se adivinha, neste outro
contexto, um discurso manifestamente estético.
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ANÁLISE DA OBRA E ENQUADRAMENTO NO ESPAÇO
Sessão: 2ª Sessão, Lourdes de Castro
Exposição: Lourdes de Castro
Data: 13 de Novembro de 2009
Local: CAMB (Algés)
Horas: 14:30h às 16:00h (Vista à exposição seguida de Sessão de Filosofia)
Critérios metodológicos
Relevância Para critérios metodológicos manteve-se a abordagem dedutiva dos fenómenos observados tendo estes sido fortemente conduzidos pela teoria e pela questão de investigação.
Enquadramento temático
As crianças-participantes não revelaram qualquer dificuldade em desenvolver a interpretação e contextualização das duas obras seleccionadas.
Referências anteriores Visita à exposição.
Leitura da obra Características formais Obedeceu ao protocolo associado ao da Filosofia com Crianças salvaguardando, contudo, algumas alterações naturais assumidas pelo grupo.
Interpretação da obra Nesta 2ª Sessão verificou-se uma adaptação dos discursos das crianças-participantes à alteração do objecto em discussão – arte, visando a construção de ideias associadas e interpretativas e em conjugação com a aproximação e afastamento físico em relação às mesmas. Na fase final da Discussão, as últimas intervenções apresentaram um perfil de discurso abstracto manifestamente estético. A intervenção dos facilitadores foi consistente e em parceria, tendo a intervenção do CONV1 começado a meio da sessão.
Espaço museológico Localização CAMB (Algés) ao qual acedemos por transporte publico
Leitura/percepção Foi considerado que se percorresse a exposição primeiro na sua totalidade; a disposição física dos participantes e formação de meia-lua de modo a que todos pudessem visualizar as obras e para que estas fossem integradas no “circulo da discussão”. Não se verificaram expressões de estranheza ou recusa ao meio.
Integração na exposição A relação das crianças-participantes com as obras em questão foi bastante física: a percepção das mesmas exigiu aproximações e afastamentos consecutivos; no final da discussão a exposição foi referida como um todo (IND 6).
Obs: As crianças-participantes revelaram-se aptas, disponíveis e integradas no que diz respeito às alterações promovidas por esta investigação.
Quadro 3 – Avaliação da obra e enquadramento no espaço (Descrição)
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AVALIAÇÃO DA SESSÃO
Sessão: 2ª Sessão: Lourdes de Castro
Exposição: João Queiroz, Silvae
Data: 13 de Novembro de 2009
Local: CAMB (Algés)
Horas: 14:30h às 16:00h (Vista à exposição seguida de Sessão de Filosofia)
Participantes: IND 1; IND 2; IND 3; IND 4; IND 5; IND 6; IND 7; IND 8; IND 11; CONV1; CONV3 e INV.
ENTRADA NO CAMPO
Declarações Individuais Participação da maioria à excepção de 2 elementos (IND2 e IND11); participações individuais foram maioritariamente respeitadoras e integradas nos objectivos esperados. Registos de alguma expressão individualista e de coerência discursiva, apesar de se verificar algum apego à constituição de alguns conceitos.
Grupo Intervenções privilegiaram uma das serigrafias (Figura 1, pág.3) com poucas referências à outra (Figura 2, pág.3). Inclusão das obras e de um discurso possível entre as mesmas foi débil. Narrativas deslocadas de contextos pessoais, com maior incidência em contextos reais ou virtuais.
Professor Poucas intervenções, contudo, as que foram feitas marcaram episódios essenciais na construção da Discussão.
Investigadora As suas intervenções surgiram do início ao fim da Discussão sendo que, posteriormente, associou-se em parceria com CONV1.
Outros -
Comportamentos Individuais Inscrição na discussão através do “dedo no ar”; comportamentos de atenção, entusiasmo e de algumas imposições. Demonstrações argumentativas próximas das obras.
Grupo Comportamentos de atenção e por vezes de apatia de alguns elementos; cumprimento das regras da discussão; intervenções em à relação próxima com as obras reflectiram-se no momento em que se expunham as argumentações.
Professor A meio da sessão partilhou a moderação com a investigadora.
Investigadora Comportamentos associados à organização do equipamento; registo da sessão; participação na moderação.
Outros -
Obs. Momento inicial desafiante quando a investigadora iniciou a Sessão; participações e integração dos discursos revelou-se coerente e muito focado em questões associadas à percepção visual.
Quadro 4 – Avaliação da entrada no campo (Descrição)
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DISCUSSÃO
Obras de arte Tempo de leitura 47 segundos. Comport. Físico No 1º momento as crianças-participantes sentaram-se em meia-lua diante das telas.
Os seus comportamentos físicos adaptaram-se à necessidade das suas percepções e argumentações.
Comport. Relacional Comportamentos de empatia e complementaridade discursiva e alguns registos de comentários com o parceiro mais próximo em surdina.
Relevância Obra As obras seleccionadas revelaram-se estimulantes à percepção visual e às elações daí provenientes.
Temáticas Constituição de um leque organizado para a interpretação das partes constituintes das obras e da produção das mesmas.
Discussão Registo de 3 momentos: “leitura” das obras; constituição da Agenda de discussão; Discussão.
Investigação As intervenções possibilitaram inferir tipologias do carácter argumentativo (empirista; intuitiva; analítica e céptica)
A. Discussão Grau de participação Participação contextualizada Relevância Temática Participação alargada com a formulação de 4 questões que
apresentaram as possíveis relações de natureza perceptiva. Discussão As 4 questões da Agenda da Discussão formularam o possível
carácter da discussão. Intervenções algo lacónicas e outras pertinentes, contudo, rica em elementos para as várias análises de conteúdo. Participação de quase todos os elementos, com necessidade de moderação atenta.
Discussão Dinâmica Grupo Comportamentos descoordenados (uns atentos e participativos, outros deslocados e/ou ausentes); cumprimento das regras da discussão; intervenções integradas no assunto em discussão. Adaptação à dinâmica de grupo na discussão.
Indivíduos Todas as crianças-participantes participaram na Sessão, à excepção de duas.
Professor Iniciou a sua moderação a meio da sessão contudo, as suas intervenções foram essenciais para o cumprimento das regras, para apoio à organização argumentativa de algumas intervenções.
Investigadora Intervenção durante toda a Discussão com maior sensibilidade à dinâmica do grupo e integrada na parceria com o CONV
Acções Interrupções acidentais
Não se verificaram
Interrupções provocadas
Verificou-se: nervosismo da funcionária do Serviço educativo
Comportamentos físicos
Aproximação às obras como processo integrador da exemplificação e contextualização das argumentações.
Argumentações Narrativas Estruturadas segundo distinções perceptivas; validaram as
áreas temáticas; foram intercaladas por momentos de contextualização (momentos de passagem ou flutuantes).
Argumentativas Verificaram-se Normativas Não se verificaram Estruturalistas Verificaram-se Jocosas Não se verificaram
Quadro 5 – Avaliação da Discussão (Descrição)
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OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE
Comportamentos Flexibilidade Verificou-se
Objectividade Preocupação com a partilha da moderação
Empatia Verificou-se
Indução/Persuasão Não se verificou
Integração no grupo Boa integração no grupo, sem registos de estranheza
Avaliação do grupo Empático, boa disposição, participações constantes e interessadas.
Moderação Direcção formal
(limitada à Agenda)
Não se verificou
Condução temática
(introduz outras questões)
Verificou-se apenas para uma questão, para que se conservasse a temática em discussão.
Orientação da dinâmica Não houve grande necessidade de gestão das inscrições na discussão, as crianças-participantes integram com facilidade as questões da moderação.
Preparação da sessão
Adequação da obra A relação de duplicidade entre as obras seleccionadas; a correspondência óbvia ao tema da sessão anterior; a diferença do tratamento cromático; e a integração das mesmas no espaço da exposição, coadjuvaram na selecção prévia das mesmas.
Adequação ao grupo A discussão incidiu mais numa obra do que na outra, tendo sido induzida a inclusão da menos solicitada por intervenção dos facilitadores. Dificuldade na integração das duas obras. Adequadas aos elementos participativos do grupo, pois não houve registos de incapacidade ou bloqueio argumentativo ou desinteresse.
Adequação à discussão Adequadas e incitadoras da discussão
Benefícios Correspondência manifesta ao tema da sessão anterior poderia conduzir a uma introdução mais espontânea a natural no que diz respeito à alteração do objecto em discussão.
Dificuldades encontradas Não se verificaram
Obs.
Quadro 6 – Avaliação da observação participante (Descrição)
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AVALIAÇÃO DA CONSTRUÇÃO DE TEORIAS ENRAIZADAS1
1 Os critérios foram concebidos? Critérios de análise foram geradores de novas
possibilidades teóricas (a ver, Observações, pág.32)
2 Os conceitos estão sistematicamente relacionados? Os conceitos foram sistematicamente relacionados ao
longo de todo este Relatório sem se verificar qualquer
necessidade de alteração.
3 Há muitas ligações conceptuais e as categorias estão
bem elaboradas?
As categorias têm densidade conceptual?
As ligações conceptuais foram devidamente sustentadas
bem como a elaboração das categorias.
4 Há muita variedade introduzida na teoria? Considerou-se pertinente a variedade que se verifica
introduzida na teoria, contudo optou-se por uma
projecção menos alargada da mesma (redução de
categorias). Adopção de mais uma tipologia de
categorização – Categorização por valorização.
5 As condições mais amplas que afectam o fenómeno
estudado são contempladas na explicação?
Confirma-se (alteração do objecto de discussão e a
realização da sessão num espaço público alteram o
paradigma proposto por Matthew Lipman)
6 O “processo” foi tido em linha de conta? Sim, os processos bem como a natureza específica desta
sessão conduziram a alterações efectuadas no protocolo.
7 Os resultados teóricos parecem significativos?
Em que medida?
O que reflectem?
� “o ponto de vista do sujeito”;
� Descrição dos ambientes;
� Interesse na produção da ordem social
� Reconstituição das “estruturas de
profundidade, geradoras da acção e do
significado”?
Efectivamente. Na medida em que se pode verificar a
forte adaptação dos participantes, verificou-se alterações
conceptuais nas argumentações, definiram-se tipologias do
carácter argumentativo (empirista; intuitiva; analítica e
céptica), a natureza dos discursos de natureza abstracta
integram-se no discurso dito estético.
A alteração das suas características;
Adaptabilidade e controlo do ambiente;
Domínio das dinâmicas proporcionadas pelas regras da
discussão;
A análise de vídeo reforçou a leitura das tipologias do
carácter argumentativo que por sua vez, foi integrador na
formulação dos retratos e análise da participação.
Quadro 7 – Avaliação da construção de teorias enraizadas
1 Critérios elaborados por Corbin e Strauss (Flick, 2005, pág. 237)
51
AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE PESQUISA2
1 Como foi constituído o grupo original?
Com que base (selecção de grupo)?
O grupo enquadra-se no conceito de grupo focalizado (amostra teórica). Para esta sessão, foi constituído um grupo de 9 crianças-participantes (3 Femininos e 6 Masculinos) e 3 adultos (2 Femininos e 1 Masculino)
2 Que categorias principais emergiram? Agenda da discussão, Discussão (Dois desenhos; Técnica utilizada; Descrição da obra; Importância do que percebemos).
3 Quais foram os acontecimentos, incidentes, acções etc., que serviram de indicadores para aquelas categorias?
Relevância e integração temática, estrutura e tipologia argumentativa.
4 Que categorias serviram de base ao prosseguimento da amostragem teórica, ou seja, como é que as formulações teóricas guiaram parte da colecta de dados?
Depois de efectuada a amostragem teórica, que representatividade provaram ter estas categorias?
Prática inscrita na Filosofia com Crianças desde os 3 anos de idade; adaptabilidade ao protocolo proposto, perfeita integração no panorama pedagógico-científico da Cooperativa de Ensino a Torre.
Integrarem um discurso filosófico potencialmente estético.
5 Quais foram as hipóteses centrais acerca das relações entre as categorias?
Em que bases foram formuladas e testadas?
Como poderia uma Filosofia com Crianças possibilitar uma Estética com Crianças, de que modo o possibilitava.
Formuladas e estudadas a partir dos pressupostos metodológicos da grounded theory.
6 Houve casos em que as hipóteses não se mantiveram, face ao realmente observado?
Como foram explicadas as discrepâncias?
Como foram efectuadas as hipóteses?
Não se verificou (contudo é ainda inconclusivo).
7 Como e porquê foi escolhida a categoria nuclear? A selecção foi repentina ou gradual, fácil ou difícil? Em que bases foram tratadas as decisões da análise final? Como apareceram nessas decisões os critérios “vasto poder explicativo” e “relevância” em relação ao fenómeno estudado?
De acordo com a natureza do protocolo assumido pela Filosofia com Crianças e pela Discussão efectuada. A selecção foi de construção gradual. A análise final obrigou a uma verificação da metodologia, que obriga ao confrontação teórica dos vários relatórios ainda a formular. Sim, os critérios aparecem tanto pelo seu poder explicativo como pelo seu poder de relevância em relação ao fenómeno estudado.
Quadro 8 – Avaliação do processo de pesquisa
2 Critérios elaborados por Corbin e Strauss (Flick, 2005, pág. 236)