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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES DEPARTAMENTO DE ARTES VISUAIS – CAP
Relatório parcial Bolsa IC - RUSP
Período: agosto de 2012 a janeiro de 2013
Diálogos e aproximações entre os trabalhos do artista e do educador nas práticas artística e processos
de mediação contemporâneos
Orientadora: Profª Drª Sumaya Mattar
Bolsista: Renato França Pires Nº USP: 7099615
São Paulo fevereiro de 2013
2
Sumário
1 – Introdução 03
1.1 – Súmula do projeto 03
1.2 – Atividades desenvolvidas 04
1.3 – Atividades previstas para o próximo semestre 06
1.4 – Cronograma 06
1.5 – Primeiras análises 07
1.6 – Dificuldades encontradas 08
2 – A arte está no tempo, não no produto 09
2.1 – O mundo é uma malha de átomos: a visão ilude 09
2.2 – O homem-máquina e o “acaso em conserva” 11
2.4 – Modernidade e dessacralização 12
2.5 – Tempo mítico e universalidade da arte 13
3 – Proposta de oficina : Ateliê a Céu Aberto - Semana de Arte e Cultura da USP 14
3.1 – O projeto 14
3.2 – Objetivos 15
3.3 – Justificativa 16
3.4 – Conceito e Metodologia 16
3.5 – Materiais e equipamentos 16
4. Proposta de oficina: Vivências com arte para jovens e adolescentes 17
4.1 – O projeto 17
4.2 – Objetivos 18
4.3 – Justificativa 18
4.4 – Conceito e Metodologia 18
4.5 – Materiais e equipamentos 19
4.6 – Resumo das aulas 19
5. Referências 20
6. Bibliografia Geral 20
7- Anexos 22
7.1 Plano de Aula 1 ( 24/08/2012 )
7.2 Plano de Aula 2 ( 31/08/2012 )
7.3 Plano de Aula 6 ( 05/10/2012 )
7.4 Plano de Aula 7 ( 19/10/2012 )
7.5 Plano de Aula 9 ( 09/11/2012 )
3
1 – Introdução
Projeto: Diálogos e aproximações entre os trabalhos do artista e do educador nas práticas artística
e processos de mediação contemporâneos
1.1 – Súmula do projeto
A pesquisa tem como objetivo promover a reflexão sobre os procedimentos da arte contemporânea em
relação às instituições museológicas e sobre as práticas educativas tanto em museus quanto em escolas. A partir
dessa reflexão, teremos condições de determinar as zonas de convergência entre a ação do artista e do professor.
Analisando as transformações históricas que incentivaram a total desmaterialização do objeto artístico depois
do advento das vanguardas modernas, podemos confirmar a ruptura definitiva das fronteiras entre arte. Cada
vez mais, a participação ativa do espectador vem sendo estimulada pelos artistas, desviando a experiência
estética do olhar sobre a aparência de um objeto para a imersão no processo criativo da obra de arte.
Na contramão desse processo, as exposições de arte permanecem organizadas a partir da disposição de
objetos fora do alcance do público e as metodologias de ensino praticadas na maioria das escolas não
favorecem as ações poéticas. Sendo assim, o que ocorre hoje tanto nos museus como nas escolas não
proporciona a experiência estética.
A partir dessa justificativa, apresento a seguinte questão:
Tendo em vista a arte como experiência de quem realiza a obra, como os educadores estão desenvolvendo
estratégias para aproximar o público das produções contemporâneas, estimulando suas faculdades de
imaginação e criação?
Hipóteses a serem consideradas:
Há um propósito comum entre o trabalho do artista e do professor de arte.
Há um caráter essencial em toda produção artística, que reflete uma universalidade que pode ser
identificada mesmo a partir da singularidade da cada ser humano.
4
A atuação dos artistas encontra como obstáculo as convenções de um sistema museológico que busca
reproduzir uma lógica que mercadoriza a celebração artística. Isso ocorre porque a obra, ao ser inserida
nesse contexto, acaba se distanciando do público, que não pode tocar os trabalhos nem se relacionar com
eles.
A atuação dos professores de arte encontra como obstáculo a exigência de pais e dirigentes da escola,
associados a uma perspectiva de ensino restrita à assimilação e reprodução de conteúdos, levando adiante uma
lógica que também reduz a arte a um sistema de produção de objetos.
Metodologia de trabalho:
– Pesquisa bibliográfica: leitura e organização de referências que sustentam as hipóteses levantadas.
– Pesquisa experimental: desenvolvimento de projetos de cultura e extensão e prática docente.
– Realização de entrevistas com artistas para coleta de dados sobre a adequação de suas práticas às
restrições das instituições culturais e museus.
1.2 – Atividades desenvolvidas
Durante o período correspondente à primeira etapa do desenvolvimento da pesquisa, duas atividades de
extensão foram realizadas simultaneamente à elaboração do projeto, ambas sob coordenação da Profª Drª
Sumaya Mattar.
Havia, portanto, na escolha e leitura das referências bibliográficas, uma determinação para relacionar todas
essas atividades a partir do mesmo fundamento, que era a reflexão sobre a natureza imaterial e temporal da
realização artística.
A primeira atividade estava vinculada à 17 ª Semana de Arte e Cultura da USP , realizada nos dias 17, 19 e
21 de setembro de 2012 e se tratava de um ateliê a céu aberto. Foram realizadas reuniões com uma equipe
multidisciplinar composta por alunos da licenciatura e da pós-graduação e a elaborações dos conceitos
envolvidos no projeto foi distribuída entre eles. Para viabilizar a execução do projeto, alguns materiais tiveram
que ser confeccionados pela equipe nos dias que antecederam a prática.
As atividades que se seguiram se referem à prática docente em um curso de extensão do Departamento de
Artes Plásticas, onde os estudantes da Licenciatura realizam estágios de docência. Intitulado Vivências com
5
Arte para Jovens e Adolescentes, o curso é semestral, gratuito, com aulas semanais e direcionado a estudantes
entre 13 e 18 anos. Para esse curso, foram preparadas aulas teóricas e propostas de vivências visando favorecer
a reflexão e a potencialidade criativa dos jovens.
As leituras realizadas durante essa primeira etapa visavam aprofundar os conhecimentos em arte moderna e
conceitual, bem como seus antecedentes e influências na produção contemporânea. Antes de começar a tratar
dos processos de mediação entre a arte o público, julguei procedente investigar o processo criativo como uma
experiência, inicialmente a partir dos escritos de John Dewey1 e assim ter um contraponto a visão da arte como
produção de quadros ou esculturas para exposição. Na essência do movimento impressionista, os artistas já
contestavam essa primazia do olhar sobre a aparência externa dos objetos, como escreveu Meyer Schapiro2 em
suas reflexões e percepções sobre esse mesmo movimento.
Com a oportunidade de realizar vivências para jovens, busquei um aprofundamento no aspecto mítico e
simbólico da arte, através da leitura de autores que escreveram sobre a relação dos povos antigos com a
mitologia como Antonio Carlos Farjani3, Jean-Pierre Vernant
4 e Mircea Eliade
5. Além dessas leituras, fiz a
opção de trabalhar a partir de textos conceituais e teóricos escritos por artistas como Fayga Ostrower6,
buscando evidenciar a relação do processo criativo com a parte sensível do intelecto. Sobre os processos de
criação, foram analisadas entrevistas de artistas como Joseph Beuys7, Jasper Johns
8 e, principalmente, Marcel
Duchamp9.
Este relatório está organizado em duas partes. Na primeira, apresentamos as reflexões teóricas suscitadas a
partir das leituras e da prática desenvolvida como aluno/professor. Na segunda parte, apresentamos os planos
de ação educativa e as reflexões sobre o trabalho realizado no âmbito do Ateliê a Céu Aberto e o curso de
extensão Vivências com a Arte para Jovens e Adolescentes.
1 DEWEY, John. Experiência e Educação. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2010.
2 SCHAPIRO, Meyer. Impressionismo: reflexões e percepções. São Paulo: Cosac & Naify,2002
3 FARJANI, Antonio Carlos. A linguagem dos deuses. São Paulo: Mercuryo, 1991
4 VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Difel, 2004; VERNANT, Jean-
Pierre. O universo, os deuses, os homens. São Paulo: Companhia das Letras, 2006
5 ELIADE, Mircea. Mito e realidade. São Paulo: Perspectiva, 2004
6 OSTROWER, Fayga. A Sensibilidade do Intelecto. Rio de Janeiro: Campus, 1998.
7 BEUYS, Joseph. A revolução somos nós. São Paulo: SESC SP, 2010. Catálogo da exposição.
8 BATTCOCK, Gregory. A nova arte. São Paulo: Perspectiva, 2008.
9 CABANNE, Pierre. Marchel Duchamp: engenheiro do tempo perdido. São Paulo: Perspectiva, 1987.
6
1.3 – Atividades previstas para o próximo semestre
O trabalho que será desenvolvido na segunda etapa do projeto está centrado na aproximação do público com
a arte e consequentemente, no trabalho do professor de educação artística. Inicialmente, será efetuada uma
análise aprofundada dos registros das Vivências com arte para jovens e adolescentes, assim como uma reflexão
panorâmica de todo o processo experimentado.
Após concluir a revisão bibliográfica, terá início a escrita do texto da segunda parte da pesquisa, que visa
associar os conceitos de experiência e temporalidade com os processos de mediação em arte contemporânea.
Também serão planejadas e posteriormente efetuadas entrevistas com artistas visando registrar seus
processos de trabalho, sua relação com o aparato museológico e se ocorrem adaptações em suas obras para que
se ajustem ao espaço expositivo.
Outros materiais, como as aulas teóricas realizadas durante o curso para jovens, serão avaliados e
possivelmente adaptados para também constarem no projeto final.
1.4 – CRONOGRAMA – Vigência 01/08/2012 a 31/07/2013
( 1° semestre )
Ag Set Out Nov Dez Jan
Revisão bibliográfica × × × ×
Elaboração do projeto de pesquisa × × ×
Preparo e realização do projeto de ateliê a céu aberto × ×
Preparo e realização das vivências com arte × × × ×
Avaliação e registro das vivências em relatórios × × × × ×
Elaboração do relatório parcial × ×
Análise de dados das aulas ministradas × ×
( 2° semestre )
Fev Mar Abr Mai Jun Jul
Revisão bibliográfica × ×
Análise de dados das aulas ministradas × ×
Planejamento de entrevista e definição dos entrevistados × ×
Realização das entrevistas × ×
Apreciação dos dados coletados nas entrevistas ×
Escrita do texto final × × ×
7
1.5 – Primeira análises
As imagens simbólicas são um recurso muito utilizado por artistas em palestras e entrevistas. O crescimento
das plantas e a imagem da árvore como metáforas para o processo de criação surgiram a partir das falas de
artistas como Paul Klee e Joseph Beuys. Durante as aulas realizadas nessa etapa da investigação, recorri muitas
vezes a essa metáfora, que influenciou inclusive a opção por aulas ao ar livre, entre as árvores, para que alguns
conceitos fossem trabalhados de forma espontânea, sem a intervenção direta do professor. Esses conceitos se
referem a relações, interdependência e a sugestão de que, embora nos relacionemos com o mundo através de
nossos sentidos objetivos, em veículos separados que são os corpos físicos, estamos todos ligados a partir de
nossas expressões intelectuais e emocionais. Somos, portanto, árvores diversas interligadas a uma mesma raiz,
que pode ser cultural, por exemplo.
A descoberta da arte como linguagem e sua intrínseca relação com a narrativa simbólica e mitológica,
sufocadas a partir do advento da modernidade, ajudaram muito na compreensão dos processos pelos quais a arte
foi se distanciando da produção de objetos e se manifestando na forma de propostas conceituais, performances,
happenings e instalações: instáveis no tempo e transitórias no espaço.
Assim sendo, a questão da linguagem foi muito enfatizada e demostrou-se um instrumento eficiente de convite
à experiência estética, principalmente quando essa linguagem era capaz de produzir um efeito de familiaridade
em seus receptores. Foram utilizados com sucesso alguns recursos poéticos adaptados de trabalhos conceituais
realizadas por artistas como Sol Lewitt, por exemplo.
A partir da escrita, pudemos ressaltar a dicotomia de muitas das nossas concepções, revelando que os nossos
pensamentos não se encontram em um estado ideal para a apreciação estética por estarem deslocados em
conceitos opostos e irreconciliáveis como “certo/ errado” ou “feio/ bonito”
Os escritos de artistas se tornaram fundamentais na realização desta pesquisa, principalmente textos
elaborados a partir de sua relação direta com o público, em palestras. Constatei com muita surpresa o quanto
esses textos aproximavam os artistas do professor e os distanciavam do crítico de arte. A partir da conclusão
dessa primeira etapa, passei a ver o trabalho do crítico como complementar ao trabalho do artista e não mais
como uma tentativa de explicar ao público as intenções da obra.
8
1.6 – Dificuldades encontradas
Durante o planejamento do cronograma de trabalho do primeiro semestre, a etapa de revisão bibliográfica teve
que ser postergada para que fossem realizadas investigações em ateliê coletivo e propostas de docência. Esse
fator acabou ocasionando um atraso na escrita do texto de introdução da pesquisa e alteração na estrutura
habitual de realização do projeto.
9
2 - A arte está no tempo, não no produto
Podemos pensar em arte como uma compreensão de que a realidade vivenciada abrange um espectro muito
maior do que podemos perceber somente através dos nossos recursos sensoriais e dos processos intelectuais que
utilizamos na tentativa de definir e comunicar essa realidade.
Estamos inseridos em um contexto sociocultural que exalta o raciocínio e a linguagem como recursos
fundamentais e conclusivos em detrimento da manifestação subjetiva como parte integrante dos nossos
processos mentais, impedindo-nos assim de vivenciar a realidade de forma mais completa e integrada.
Ao separar a arte da vida e projetá-la na exterioridade dos objetos de valor material, vemos uma
civilização confirmando sua lógica de separar a experiência de estar no mundo de seu aspecto subjetivo e
simbólico, reduzindo-a a uma necessidade de possuir coisas ou reverenciar o valor elevado de um
patrimônio.
Porém uma obra de arte não está dissociada da experiência de sua realização. E essa experiência
dificilmente será compartilhada se for reduzida à apreciação retiniana de um objeto.
Baudelaire dizia que a arte pura, segundo a concepção moderna era capaz de conter ao mesmo tempo o
mundo exterior ao artista e o próprio artista..10
Desde a recusa às determinações acadêmicas empreendida pelos impressionistas até a completa
desmaterialização do suporte na arte conceitual, podemos encontrar na produção artística contemporânea
propostas que sustentam a relevância deste argumento.
2.1- O mundo é uma malha de átomos: a visão ilude
Entre 1872 e 1879, Monet adicionou a palavra impressão ao título de três de suas pinturas11
como um
estratagema para esclarecer ao observador que não se tratavam de representações descritivas do gênero
paisagem, mas sim registros da experiência sensível de estar presente naquelas situações. Dentro desse
contexto, Schapiro descreve o conceito de impressão como uma experiência, matizada pelo sentimento,
da qualidade de um objeto ou cena12
e que também pode ter um significado em um nível quase
10 BAUDELAIRE, Charles. Escritos sobre arte. São Paulo: EDUSP,1991
11 Impressão, sol nascente, 18 Fumaça na bruma:Impressão, 1874, Vétheuil na bruma: Impressão, 1879. 12 SCHAPIRO, Meyer. Impressionismo: reflexões e percepções. São Paulo: Cosac & Naify,2002 p.36
10
fisiológico, também transmitido pela “sensação”, termo frequentemente usado com o sentido de
“impressão”, como um efeito sobre os sentidos.13
A recusa do público na apreciação dessas pinturas adveio da estranheza em relação a temas como
fumaça ou bruma, considerando que o tema estava circunscrito a uma espécie de cartilha do
gosto oficial da Academia. Além disso, a pintura tinha por razão de sua existência a satisfação retiniana e
os padrões estéticos eram muito rígidos.
Querer compartilhar uma vivência que se processa majoritariamente nos níveis subjetivos da
consciência parece ser uma empreitada de grande ousadia nessas circunstâncias.
Como os impressionistas buscavam capturar o instante, não havia a preocupação com o acabamento
do objeto e haviam muitas áreas em que a camada de base da pintura estava aparente.
Sua temática era a luz. Não exatamente a luz, mas a experiência de sua presença.
No século XX, durante as experiências cubistas, o objeto que serve de modelo para a realização da obra
apresenta poucas semelhanças com a forma com que esse objeto original se apresenta para a nossa visão.
É o que Fayga chamou de espacialidade desmaterializada, onde poderíamos perceber as partículas
elementares que compõe a matéria. Fayga explica que no cubismo a matéria aparece como energia,
desprovida de sua corporeidade.14
Ainda no contexto da pintura cubista, Duchamp realiza em 1912 uma pintura intitulada Nu Descendo
uma Escada, onde o tema não é exatamente o nu, presente no título como uma referência à tradição. O
objeto da pintura se reporta a algo imaterial, que é o movimento de descer a escada.
Pela representação bidimensional de um fenômeno que só poderia ser descrito no tempo de sua duração,
notamos a preocupação do artista com a relação entre o meio de expressão estático e o conteúdo
dinâmico. Na obra Nu Descendo uma Escada, as formas são estáticas pelo seu meio, mas há um sentido
para além delas. Em uma entrevista, Duchamp declarou que queria fazer uma imagem estática onde o
movimento seria o olho do espectador que o incorpora ao quadro.15
13 Ibidem, p. 36
14 OSTROWER, Fayga. A Sensibilidade do Intelecto. Rio de Janeiro: Campus, 1998.
15 CABANNE, Pierre. Marchel Duchamp: engenheiro do tempo perdido. São Paulo: Perspectiva, 1987.
11
Temos aqui o início de um processo que mais tarde resultará no que se convencionou chamar de
desmaterialização da arte.
Os artistas estão se referindo a conceitos imateriais como a luz, o movimento e a percepção do tempo e
do espaço. Mas a solidez das representações tradicionais da arte não está se desfazendo para torná-la
invisível ao público. O que acontece é exatamente o oposto, como ficou claro na declaração de Duchamp.
A obra de arte só se completará na presença do espectador.
2.2 – O homem-máquina e o “acaso em conserva”
A ocorrência de vários manifestos e movimentos artísticos demonstra o quanto a arte está vinculada
às mudanças sociais e tecnológicas de uma época. Os futuristas, para Duchamp,são impressionistas
urbanos porque se servem da cidade em vez da paisagem.16
Antes de pintar o Nu Descendo uma Escada, Duchamp realizou estudos preparatórios através da
utilização da cronofotografia, explicitando a ideia da mecanização do homem em oposição à beleza
sensível.
Por acreditar que a pintura tinha se tornado excessivamente retiniana, Duchamp realiza um esforço
em apreender não a aparência das coisas, mas sua gênese. O “readymade” é uma espécie de mecanismo
que indaga a própria gênese porque é um construto análogo à máquina, porém a energia que ele produz
não tem eficácia. Sendo um trabalho insolúvel do ponto de vista de predicar um sentido, esse objeto
parece promover uma recusa a comunicação com o espectador, mas na verdade trata-se de uma recusa a
se atribuir uma função, uma utilidade para a arte. Como se o “readymade” perguntasse: o que é essa
tentativa de sentido que nós buscamos atribuir a um trabalho de arte? Por que a gente supõe que há algo
proposto pelo autor que visa ser desvendado?
O que determinava a escolha do objeto era sempre uma espécie de indiferença visual. Sua intenção
com os “readymades” era acabar com as limitações de uma arte voltada apenas para os sentidos.17
Se
considerarmos que essas obras consistiam na simples justaposição de objetos comuns que nem mesmo
haviam sido fabricados pelo artista, eliminando do processo de criação as habilidades manuais, onde
16 CABANNE, Pierre. Marchel Duchamp: engenheiro do tempo perdido. São Paulo: Perspectiva, 1987.
17 WOOD, Paul. Arte Conceitual. São Paulo: Cosac & Naify, 2003
12
reside seu valor como arte?
A resposta, como vimos até agora, está na presença do artista durante o instante da criação.
Sobre essa questão, Anne Cauquelin afirma que um “readymade” pode ser qualquer coisa, mas numa
hora determinada. O valor mudou de lugar: está agora relacionado ao lugar e ao tempo, desertou o
próprio objeto.18
“Se o fazer é impossível, resta a escolha, a qual está reduzida a parte do artista. Com efeito,já que o
continente espacial é importante, o continente temporal, o momento, o é da mesma maneira, pois a
escolha do objeto pertence ao acaso, à ocasião. Duchamp chamará esse exercício de acaso em
conserva.19
2.4 – Modernidade e dessacralização
Marshall Berman traça um paralelo entre os escritos de Marx e Baudelaire, e conclui que para ambos
uma das mais cruciais experiências endêmicas da vida moderna, e um dos temas centrais da arte e do
pensamento modernos é a dessacralização.20
A experiência impressionista é o último momento em que a arte nos mostra o mundo natural
distanciado da interferência da técnica. A arte que se faz depois do impressionismo percebe que o mundo
da técnica interfere tanto e com tanta velocidade no mundo natural que já não há mais possibilidades
desse contato primevo com a natureza.
Baudelaire preocupa-se com a crescente confusão entre ordem material e espiritual, disseminada pela
epopeia do progresso:
Essa ideia grotesca de progresso, que floresceu no solo da fatuidade moderna, desobrigou cada
homem dos seus deveres, desobrigou a alma de sua responsabilidade, desatrelou a vontade de todas as
cauções impostas a ela pelo amor à Beleza[...] Tal obsessão é sintoma de uma já bem visível
18 CAUQUELIN, Anne. Arte contemporânea: uma introdução. São Paulo: Martins Fontes, 2005 p.95 19 Ibidem, p. 95
20 BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo: Companhia das
Letras, 1986 p.136
13
decadência.21
Dentro do contexto da cidade moderna, Baudelaire foi capaz de analisar a euforia do progresso com o
discernimento necessário para relatar as contradições e prejuízos que a ênfase no desenvolvimento
técnico poderia ocasionar na alma dos cidadãos.
A vertigem da máquina com seus vapores e chaminés de fumaça é um reflexo de toda uma tradição
racionalista que sustentou a primazia da faculdade da visão. Essa condição começa a se esvair no início
do século XX, quando a arte se desinteressa da dimensão fenomênica. A partir de então, o mundo interno
parece reclamar os seus direitos e querer intervir.
2.5 – Tempo mítico e universalidade da arte
O instante criador é presença. Por isso a arte se confunde com a ritualística.
Tzara, um dos fundadores do Dada, afirmava no manifesto do movimento a vitalidade de cada
instante!22
Podemos afirmar que o sentimento de modernidade está intrinsecamente relacionado à nossa percepção
temporal, pois implica na ideia do progresso linear e evolucionista da tecnologia, assim como na crença
de que esses recursos irão suprir todas as necessidades humanas. Dessa maneira, a modernidade
redireciona todas as aspirações do sujeito para fora de si, realizando assim a investida
final de um processo de supressão da vivência interior e simbólica que pode ser bem observado na
história da filosofia e da religião ocidental nos últimos séculos.
Todo o otimismo moderno acaba resultando numa postura estritamente materialista que considera que
a consciência humana é unicamente o produto das atividades do cérebro, reduzindo a totalidade da
inteligência ao intelecto, ou seja, à capacidade de raciocinar logicamente sobre fatos concretos e
tangíveis. Consequentemente, a maior parte das pessoas sente dificuldade para visualizar, imaginar ou
concentrar-se em ideias abstratas, pois o conjunto de seus processos mentais está aprisionado a uma
tendência para racionalizar tudo.
21 Idem, p. 136
22 TZARA, Tristan. Sete manifestos dada. Lisboa: Hiena, 1963
14
A razão sempre se fez presente na narrativa mitológica, que contempla igualmente os aspectos
subjetivo e objetivo da consciência.
Sobre a mesma questão, Fayga Ostrower esclarece que a maior parte da sensibilidade está vinculada ao
inconsciente e que a parte restante, que é a nossa consciência objetiva, também participa do sensório
Durante a elaboração das atividades de Cultura e Extensão que realizei nesta etapa, tanto a
apresentação do espaço quanto as proposições tinham como objetivo deslocar o público de seu “tempo
psicológico”, regido pelas preocupações cotidianas em relação ao tempo passado e futuro.
A presença de imagens simbólicas se fazia necessária porque dentro da lógica do mito, o tempo é uma
entidade tão ilusória quanto o espaço.25
A disposição do espaço, dos materiais e os conceitos envolvidos buscavam uma aproximação com o
ritual, que tem o poder de anular tempo e espaço, de maneira que seus participantes se situem não mais
na dimensão do profano, mas no Centro do Mundo, e saiam do TEMPO FORMAL para participar do
EVENTO CRIADOR.”26
25 FARJANI, Antonio Carlos. A linguagem dos deuses. São Paulo: Mercuryo, 1991 p. 76
26 Idem, p.77
15
3. Proposta de oficina : Ateliê a céu aberto
3.1– O projeto
O projeto de ateliê a céu aberto Varanda do Pôr do Sol foi realizado durante a 17 ª Semana de Arte e
Cultura da USP , nos dias 17, 19 e 21 de setembro de 2012, na praça do pôr do sol, localizada na Avenida
Lineu Prestes, ao lado da Faculdade de Odontologia.
O ateliê Varanda do Pôr do Sol foi pensado por alunos da licenciatura e da pós-graduação para ser um
lugar de passagem, repouso e encontro; um laboratório a céu aberto para a preparação simbólica da
chegada da Primavera. O projeto foi coordenado pela Profª Drª Sumaya Mattar e apresentava três
estações: Ciranda de Girassóis, P.I.P.A.- Poesia, Invenção, Prazer e Arte e finalmente Ovos da
Fertilidade, planejada como parte dessa pesquisa e que descrevo a seguir:
Estação 1: Ovos da fertilidade
A oficina Ovos da fertilidade convida os participantes a fertilizarem simbolicamente a terra,
entregando à nova estação o cultivo de seus sonhos. A palavra equinócio refere-se ao período do
ano em que a duração do dia e da noite são equivalentes em todas as regiões do planeta. (do latim
aequinoctium: “noite igual”). Os povos antigos, especialmente os celtas, celebravam esses ciclos e
compreendiam que o equinócio da primavera é uma data de equilíbrio e reflexão. Os dias escuros se
vão, e a terra está pronta para ser plantada. Este povo considerava que havia quatro importantes
horários que representavam momentos de equilíbrio entre o dia e a noite, o acordar e o dormir, o
descansar e o trabalhar, o nascer e o morrer: seis horas da manhã, meio dia, dezoito horas e meia-
noite. A alternância entre a luz do dia e a escuridão nos permite ter uma noção do tempo. Trazendo
para o plano simbólico, podemos pensar no dia e na noite como polaridades, sendo o dia um
momento de expansão e a noite, um momento de recolhimento. Assim como os antigos celtas
faziam para homenagear a Deusa da Fertilidade Eoster, ao meio-dia, no intervalo entre o trabalhar e
o descansar, os participantes pintarão e decorarão ovos previamente confeccionados em papier
mâché, que serão dependurados na varanda, no interior dos quais depositarão sonhos e mensagens
relacionados ao tempo vindouro.
16
3.2 – Objetivos
Propõe-se a criação de um ambiente leve, lúdico e aberto ao meio circundante, uma grande varanda
que propicie a vivência de experiências estéticas e artísticas, a contemplação, o devaneio e a ação poética
por meio da apropriação experimental do espaço físico.
Tomando por base as obras Tropicália, de Hélio Oiticica, e Riposatevi27
de Lucio Costa, a Praça do
Pôr do Sol abrigará redes de descanso e mesas de trabalho, transformando-se em uma grande varanda,
onde serão desenvolvidas oficinas, cujo objetivo é subverter as lógicas convencionais que presidem os
modos de ação e de percepção, convidando o público participante ao estabelecimento de uma nova
relação com o campus.
3.3 – Justificativa
As questões levantadas durante o planejamento do projeto de ateliê a céu aberto foram de grande
importância para esta pesquisa principalmente pelo seu caráter de celebração simbólica ( fertilidade do
ciclo da primavera) e pela tentativa de se criar um ambiente que atraísse o público e proporcionasse o
deslocamento de sua atenção das preocupações cotidianas para o tempo presente, desenvolvendo a
sensibilidade estética.
3.4 – Conceito e metodologia
A alternância entre a luz do dia e a escuridão é um dos fatores que influenciam a nossa percepção
da passagem do tempo. Porém a experiência estética acontece dentro de um contexto especial porque
implica em uma desidentificação com os fenômenos exteriores e preocupações com eventos passados ou
27
As obras operam com elementos e valores da cultura popular e da cultura de massa e convergem na proposição de
experiências estéticas que vão além da experiência meramente visual, abrindo a possibilidade de o visitante olhar
para si e para o mundo em que vive. Tropicália, de Hélio Oiticica, foi montada nos jardins do Museu de Arte
Moderna do Rio de Janeiro em 1967. Trata-se de um espaço organizado por dois “penetráveis” dispostos num
cenário tropical, que deveria ser desbravado pelo visitante, com plantas, araras, caminhos de areia, cascalho ou de
terra, junto a vasos e poemas-objetos de Roberta Oiticica. Ao fundo, o um aparelho de televisão ligado. Pretendia
denunciar e deslegitimar os estereótipos de “tropicalidade”, trazer à consciência a importância de se libertar dos
condicionamentos das estruturas e padrões estabelecidos no âmbito político, econômico, cultural, social e artístico.
Com Riposatevi, apresentada na XIII Trienal de Milão, em 1964, Lúcio Costa subverte os tempos e ritmos da
produção e vida moderna/industrial ao instituir um espaço para o ócio, ao propor o descanso, a pausa, a suspensão
do tempo, o desvio da rotina estressante e incessante. Para a construção desse ambiente o arquiteto se apropria, pelo
viés indígena, de um elemento da cultura popular brasileira: a rede, ampliando o diálogo de sua arquitetura moderna
com a cultura popular ao definir os índices espaciais do ambiente a partir das redes de dormir.
17
expectativas futuras. E também porque, como no ritual, dentro da vivência estética cada ação passa a ter
um significado.
3.5 – Materiais e equipamentos
15 tubos de cola
15 tesouras
Papel de seda de cores variadas
Papel celofane de cores variadas
Tiras de jornal em grande quantidade
Balões de látex
Fitas de cetim de cores e espessuras variadas
5 potes de tinta acrílica amarela (250 ml)
5 potes de tinta acrílica vermelha ( 250 ml)
02 potes de tinta acrílica preta (250 ml)
02 potes de tinta acrílica branca (250 ml)
25 pincéis de tamanhos variados (250 ml)
3 pacotes de copinhos plásticos de café (para a mistura das tintas)
10 cortes de panos para a limpeza dos pincéis
Linha de nylon.
18
4. Proposta de oficina: Vivências com arte para jovens e adolescentes:
4.1 – O projeto:
O curso de extensão Vivências com Arte para Jovens e Adolescentes é dirigido a jovens e adolescentes
entre 13 e 18 anos, o curso constitui-se de experiências individuais e coletivas voltadas para a produção
artística e a apreciação estética, articuladas em torno de obras, linguagens e procedimentos artísticos
diversos ( desenho, gravura, pintura, escultura, modelagem, fotografia, vídeo e instalação). O curso faz
parte do estágio supervisionado da disciplina Metodologias do Ensino das Artes Visuais II e, por seu
caráter multidisciplinar, conta com a participação de bolsistas da pós-graduação além dos alunos da
licenciatura.
Durante o curso, tive a oportunidade de planejar individualmente cinco aulas, a partir das questões
levantadas pela pesquisa bibliográfica realizada para este trabalho. Ao todo foram realizadas onze
oficinas e um encontro final de confraternização.
4.2 – Objetivos
- Favorecer o aprendizado em História da Arte, através da contextualização.
- Proporcionar um ambiente de estímulo ao potencial criativo, com autonomia e liberdade, atentando
para as necessidades e temperamento de cada aluno em particular.
- Refletir sobre a prática docente em relação às metodologias estudadas nas disciplinas da licenciatura
e experiências anteriores no campo da arte.
- Avaliar as possibilidades de mediação que podem ser desenvolvidas em salas de aulas e visitas a
museus e exposições de arte.
4.3 – Justificativa
O fato do ensino da arte ser tão negligenciado pelas escolas acaba gerando uma lacuna na
formação dos estudantes no que diz respeito à capacidade criativa e de reflexão sobre conceitos
abstratos. A ironia advém do fato de que nada pode ser mais ameaçador para a manutenção de
19
uma sociedade centrada no utilitário do que a existência e o ensino de um fazer voltado para o
interior do sujeito. Ainda mais quando esse fazer pode se tornar libertador.
Esse caráter libertador da arte pode resultar da constatação de que, ao comandarmos a
criatividade desprovida de todas as limitações, despertamos para a consciência de que não somos
indivíduos inteiramente subjugados pela condições exteriores, pois é através do contato com o
mundo interior que consequentemente criamos a realidade vivenciada no mundo manifesto.
4.4 – Conceito e Metodologia
As oficinas realizadas possuíam em sua concepção um interesse de investigar a existência de um caráter
essencial na arte, que poderia ser facilmente reconhecido e contextualizado dentro do cotidiano de cada
aluno em particular. O reconhecimento de um caráter singular e universal convivendo simultaneamente
em toda experiência humana é um dos fios condutores dessa pesquisa.
4.5 – Materiais e equipamentos
Foram utilizados durante o curso recursos digitais como projeções de textos, imagens e vídeos
em extensão flash. Em algumas aulas, os estudantes receberam um texto contendo a síntese da
proposta ou escritos de artistas, como convite à reflexão.
Os materiais oferecidos foram selecionados e dispostos de maneira a favorecer uma experiência
sensorial desafiadora, por isso as tintas industrializadas foram evitadas. Em seu lugar, optou-se pela
proposta de trabalho com os pigmentos puros, além de materiais familiares do cotidiano como
corantes alimentícios, terra e ovos para que os próprios alunos produzissem suas têmperas.
4.6 – Resumo das aulas:
Diante do desafio de ensinar algo que não pode ser objetivamente delimitado, as investigações
realizadas durante o semestre inicial desta pesquisa se fundamentavam no pressuposto de que a realização
artística não tem sua gênese inteiramente condicionada a uma construção intelectual porque grande parte
desse processo surge a partir de experiências pessoais e subjetivas.
A hipótese que fundamentava o planejamento do curso de extensão direcionado aos jovens e
20
adolescentes partia da concepção de que a criatividade é inerente a todo individuo, não sendo, portanto,
resultante de uma transmissão progressiva . Se a capacidade criadora já está presente no aluno, a função
do professor, nesse caso, seria de orientá-lo para que se torne consciente desse potencial que já possui.
Para que o aluno desenvolvesse confiança em seu potencial criativo, era preciso que pudesse reconhecer
algum elemento que estivesse presente na produção artística independentemente de seu estilo, suporte ou
período histórico. Buscando refletir junto com os estudantes a respeito de elementos universais
reconhecíveis na arte, fiz a opção por ressaltar o aspecto mítico e simbólico de suas produções, atentando
para o caráter ritualístico das ações realizadas no ateliê.
Algumas proposições realizadas junto aos estudantes do projeto de vivências para jovens derivaram
dessa primeira experiência com o ateliê a céu aberto. Os planos de aula foram pensados para favorecer
uma aproximação dos interesses dos jovens com o contexto circunstancial da criação de alguns artistas,
em períodos históricos diversos.
Já a visita ao MAC-USP foi resultante de um planejamento que tinha como objetivo mostrar aos
alunos que, embora os museus se baseassem na exposição de objetos, desde o século XIX que a arte vem
passando por um processo que demonstra que a nossa convicção da solidez da matéria não se sustenta
perante as descobertas da ciência e a sensibilidade dos artistas. A arte passou por um processo de
desmaterialização onde chegou inclusive a se tornar puramente conceitual. Assim se pretendia aproximar
os alunos dos trabalhos vistos em museus, principalmente quando se tratavam de registros como vídeos e
fotografias. O objetivo da proposta era viabilizar um debate em torno da institucionalização da arte e as
possibilidades oferecidas ao público por esse sistema, tendo como ponto central a questão levantada pela
curadora da exposição Redes Alternativas, Cristina Freire: para quem vê a fotografia de uma
performance, a aquisição da imagem se dá como informação e não como experiência.28
Outra estratégia de aproximação foi levantar discussões sobre procedimentos que estão presentes no
cotidiano como intervenções em placas de trânsito e stickers nos muros da cidade, fazendo um paralelo
com ações artísticas semelhantes, porém já institucionalizadas e que os alunos tiveram a oportunidade de
conhecer durante a visita mediada ao museu.
Como contraponto à exposição Redes Alternativas, foi sugerida aos estudantes uma experiência de
diálogo com o trabalho de Hervé Fischer, também expostos no MAC, utilizando-se os carimbos que ele
produziu para modificar desenhos realizados nas aulas anteriores.
28
FREIRE, Cristina. Redes alternativas. São Paulo: MAC USP, 2011. Catálogo da exposição.
21
5. Referências
BAUDELAIRE, Charles. Escritos sobre arte. São Paulo: EDUSP,1991 BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo:
Companhia das Letras, 1986
CABANNE, Pierre. Marchel Duchamp: engenheiro do tempo perdido. São Paulo: Perspectiva, 1987.
CAUQUELIN, Anne. Arte contemporânea: uma introdução. São Paulo: Martins Fontes, 2005
FARJANI, Antonio Carlos. A linguagem dos deuses. São Paulo: Mercuryo, 1991
FREIRE, Cristina. Poéticas do processo: arte conceitual no museu. São Paulo: Iluminuras, 1999
OSTROWER, Fayga. A Sensibilidade do Intelecto. Rio de Janeiro: Campus, 1998.
SCHAPIRO, Meyer. Impressionismo: reflexões e percepções. São Paulo: Cosac & Naify,200 WOOD,
Paul. Arte Conceitual. São Paulo: Cosac & Naify, 2003
.
6.Bibliografia Geral
BARBOSA, Ana Mae. Diálogos entre arte e público – Caderno de Textos. Recife: Fundação de Cultura
Cidade do Recife, 2008.
BAUDELAIRE, Charles. Escritos sobre arte. São Paulo: EDUSP,1991
BAUDELAIRE, Charles. Sobre a modernidade: o pintor da vida moderna. Rio de janeiro: Paz e Terra,
1996
BATTCOCK, Gregory. A nova arte. São Paulo: Perspectiva, 2008.
BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo:
Companhia das Letras, 1986
BEUYS, Joseph. A revolução somos nós. São Paulo: SESC SP, 2010. Catálogo da exposição.
CAUQUELIN, Anne. Arte contemporânea: uma introdução. São Paulo: Martins Fontes, 2005
CABANNE, Pierre. Marchel Duchamp: engenheiro do tempo perdido. São Paulo: Perspectiva, 1987.
DEWEY, John. Experiência e Educação. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2010.
ELIADE, Mircea. Mito e realidade. São Paulo: Perspectiva,2004
FARJANI, Antonio Carlos. A linguagem dos deuses. São Paulo: Mercuryo, 1991
FERREIRA, Glória; COTRIM, Cecília (org.) Escritos de artistas: anos 60/70. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2006
FREIRE, Cristina. Poéticas do processo: arte conceitual no museu. São Paulo: Iluminuras, 1999
FREIRE, Cristina. Redes alternativas. São Paulo: MAC USP, 2011. Catálogo da exposição.
MORAIS, Frederico. Artes plásticas: a crise da hora atual. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1975 OEHLER, Dolf. Quadros Parisienses: estética antiburguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1997
OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. Rio de Janeiro: Vozes, 1977
OSTROWER, Fayga. A Sensibilidade do Intelecto. Rio de Janeiro: Campus, 1998.
VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Difel, 2004
VERNANT, Jean-Pierre. O universo, os deuses, os homens. São Paulo: Companhia das Letras, 2006
RANCIÈRE, Jacques. O espectador emancipado. São Paulo: Martins Fontes, 2012
RITCHER, Ivone Mendes. Interculturalidade e estética do cotidiano no ensino das artes visuais.
Campinas: Mercado das Letras, 2003
SCHAPIRO, Meyer. Impressionismo: reflexões e percepções. São Paulo: Cosac & Naify,2002
WOOD, Paul. Arte Conceitual. São Paulo: Cosac & Naify, 2003
22
7 – Anexos
7.1 – Aula 1 ( 24/08/2012 )
Nenhum ser humano está isolado.
Experimentar as nossas ações como fragmentos que conectados integram uma Unidade.
Palavra-chave: RELAÇÃO
Primeiro momento- 14:30 às 15:00
-Nos encontraremos dentro da sala, onde começaremos a visita pelo CAP.
Segundo momento- 15:00 às 15:30
-Faremos uma roda no lugar que iremos dar a oficina / apresentação da oficina e da proposta do
primeiro encontro/ delimitação do espaço onde faremos a oficina.
Terceiro momento- 15:30 às 16:00
-Registro: depois do jogo do barbante faremos o registro em um grande papel craft disposto no
chão do espaço onde fizemos o jogo, no meio dele disporemos os materiais, disponibilizando-os
para os participantes. Pode-se desenhar e/ou escrever, até mesmo introduzir colagem de coisas que
acharem que tem haver com o registro (colar folha, barbante, etc).
>Materiais: caneta bastão, canetinha, giz, lápis de cor, carvão, fita crepe e tesoura.
> Atuação: coletivo – > apresenta um estímulo mais generalizado
particular – > conversa sobre os conceitos envolvidos no trabalho de acordo com a
receptividade de cada um
(Renato) : – Então vou pedir a atenção de todos para narrar um episódio. Quero que vocês
percebam através desse episódio que eu vou contar que muitas vezes estamos tão envolvidos no
nosso dia a dia, nos nossos compromissos que não notamos quando bem na nossa frente
presenciamos um acontecimento mágico, que pode ser o ponto de partida para uma experiência
artística. É como se de repente no meio da nossa rotina aparece diante de nós alguma coisa que
parece que não faz nenhum sentido....uma coisa estranha, fora do comum. Tão fora do comum que
de repente a gente conclui que parar pra pensar sobre essa coisa estranha seria perda de tempo. E
hoje em dia a gente não quer perder tempo.....
23
Então eu vou ler um poema que fala de uma pessoa comum...que tem um vida comum onde nada
de mais acontece...até que de repente essa pessoa acorda de manhã e olha na rua...e vê alguma
coisa que parece que não tem nenhuma lógica...aquela coisa não faz sentido.....
Mas em vez de ignorar e deixar pra lá, como sempre fazemos...naquele dia aquela pessoa resolveu
fazer diferente...e ela decidiu que ia embarcar naquela viagem, deixar a imaginação seguir aquele
episódio estranho pra ver até onde ele ia levar....essa pessoa seguiu uma ideia bizarra que só fazia
sentido no mundo absurdo da imaginação...e então...essa pessoa descobre que por trás de tudo que
nos parece familiar e lógico....existe um tesouro que é um mundo rico e cheio de encantamento e
possibilidades. E nós existimos também nesse mundo...embora a gente não se dê conta disso.
EPISÓDIO
Carlos Drummond de Andrade
Manhã cedo passa
à minha porta um boi.
De onde vem ele
se não há fazendas?
Vem cheirando o tempo
entre noite e rosa
Para à minha porta
sua lenta máquina.
Alheio à polícia
anterior ao tráfego
ó boi, me conquistas
para outro, teu reino.
Seguro teus chifres:
eis-me transportado
sonho e compromisso
ao País Profundo.
“ – então assim: se quando você estava amarrando, ou preso no barbante...você sentiu ou
pensou alguma coisa fora do normal ou sem sentido .....alguma coisa que se você contasse pra
alguém do seu lado no ônibus, essa pessoa ia te chamar de louco......essa coisa é importante. Aqui
nas nossas vivências são coisas assim que a gente vai procurar...e é através desse estranhamento
que vamos encontrar o nosso boi....ou um cavalo marinho...ou um submarino......e é essa carona
que vai nos conduzir pelos caminhos da arte...
Então o que a gente vai procurar agora....usando os materiais que a gente tem aqui....é esse
sentimento. É essa coisa diferente que a gente experimentou aqui. E quando o sentimento entrar
dentro da gente, ou quando ele já estiver chegando...é só deixar o corpo fazer o resto, soltar as
mãos, o gesto.
24
E o resultado é a sua experiência....aquilo que aconteceu mas você ainda não entende como
compartilhar com os outros....mas isso aos poucos vamos aprendendo. Primeiro a gente
experimenta pra depois aprendermos a compartilhar....
e se você acha que o que você desenhou não faz nenhum sentido..nem se parece com nada que
você já tenha visto na rua...mas que ainda assim você percebeu que foi a coisa mais sincera que
você já expressou na sua vida....então você está começando a aprender esse novo caminho, que é o
caminho da arte...Porque quando você estava ali diante do papel..dos materiais...você conseguiu
encontrar o sentimento. E essa é a chave.
Então na arte a gente aprende sobre os materiais, aprende pintura, aprende gravuras e muitas
outras técnicas. E a técnica é importante porque são as nossas ferramentas. Mas o que vale é o
sentimento. É isso que a gente vai procurar nas nossas vivências. Sem se preocupar com a opinião
dos outros sobre o nosso trabalho. E se a gente conseguiu achar o sentimento que a gente queria,
então está perfeito. Vale o sentimento que você colocou ali.
Pensando sobre a oficina:
-barbante que envolve as árvores e junta as pessoas lá dentro. Uma ilha.
-Onde termina meu espaço e onde/quando ele começa a entrar no espaço do outro/relação
-Caminhos, lugares – mapa.
-círculo grande
-delimitar um espaço para você dentro deste círculo.
-envolver o outro no meio do caminho.
-uma ação que eu provoco interfere na ação do outro?
-harmonia/desarmonia
-sentir o material que estamos usando: o barbante. É firme, pouco firme, se puxar muito estoura?
Linha- cria espaço, delimita, cria relações, isola, cria ilhas, se enrosca nas árvores e pessoas.
Quarto momento- após as 16:00
Chamaremos os participantes para a sala para conversarmos a respeito do encontro
25
7.2– Aula 2 ( 31/08/2012 )
Paradoxos da Linguagem
CONCEITOS: Contraste Polarização
Esta aula foi desenvolvida a partir do capítulo A significação antitética das palavras primitivas
do livro A Linguagem dos deuses, de Antonio Carlos Farjani. A respeito da escolha do título desse
capítulo, Farjani esclarece:
“O título deste item foi emprestado de um trabalho de Freud que se ocupa do mesmo tema.
No mencionado artigo, Freud, por sua vez, apresenta alguns trechos do trabalho de Karl Abel,
publicado em 1884, no qual o autor disserta sobre uma estranha característica da língua egípcia:
Atualmente, na língua egípcia, esta relíquia única de um mundo primitivo, há um bom
número de palavras com duas significações, uma das quais é o oposto da outra.
De todas as excentricidades do vocabulário egípcio, talvez a característica mais
extraordinária seja que, excetuando inteiramente as palavras que aliam significações antitéticas,
ele possui outras palavras compostas em que dois vocabulários de significações opostas se unem
de modo a formar um composto que tem a significação de apenas um de seus dois componentes.
Assim, nessa extraordinária língua há não só palavras significando igualmente 'forte' ou 'fraco', e
'comandar' e 'obedecer'; mas há também compostos como 'velho-jovem', 'longe-perto', 'ligar-
cortar', 'fora-dentro'... que, apesar de combinarem os extremos de diferença, significam somente
'jovem', 'perto', 'ligar' e 'dentro' respectivamente... Desse modo, nessas palavras compostas,
conceitos contraditórios se combinaram de modo inteiramente intencional, não de maneira a
produzirem um terceiro conceito, como à vezes acontece no chinês, mas apenas de modo a usar o
composto para exprimir a significação de uma de suas partes contraditórias – uma parte que teria
tido a mesma significação só por si...”
● apresentação:
( 14:30 – 14:45 )
– A aula se inicia a partir da retomada do trabalho anterior
□ CONHECENDO OS MATERIAIS:
dureza do grafite ( HB , 6B )
gramatura do papel ( no mínimo sulfite e canson )
aglutinantes e pigmentos ( ovo, goma arábica, pó xadrez )
outros materiais ( goivas, argila )
□ EXPERIMENTANDO OS MATERIAIS:
Por exemplo, ao trabalharmos com as cores, nos sentimos instigados a misturar as temperaturas
26
se quisermos encontrar um lugar intermediário entre os opostos.
1° Desafio:
Reconciliando paradoxos.
□ GRAFITE:
CLARO/ESCURO VAZIO/CHEIO
GRANDE/PEQUENO ALTO/BAIXO
FORTE/FRACO LENTO/RÁPIDO
□ COR:
FRIO/ QUENTE
DIURNO/ NOTURNO
2° Desafio:
□ TODOS OS MATERIAIS:
IRREGULARIDADE/REGULARIDADE FRAGMENTO/ UNIDADE
COMPLEXIDADE/ SIMPLICIDADE EXAGERO/ COMEDIMENTO
MONOTONIA/ VARIAÇÃO OUSADIA/ SUTILEZA
CAOS/ORDEM
□ REFLEXÃO ( 16:00 )
▬ ( CONVITE – DISPOSIÇÃO DA SALA E DOS MATERIAIS ) :
27
Relatório referente à vivência com arte para jovens e adolescentes realizada no dia 31 de agosto
de 2012.
Iniciamos esse trabalho sem um consenso em relação a um conceito teórico ou poético que
pudesse servir como fundamento para nossa proposta e como reflexão para os jovens. O que eu
pretendia com a sugestão das palavras com sentidos opostos era que pensássemos na arte como uma
opção para superarmos dualidades que limitam nossa linguagem habitual. Acredito que a
apresentação dessa ideia no início do trabalho não foi comunicada de forma clara por não ter sido
uma proposta avaliada e decidida em conjunto pelos mediadores.
A apresentação dos materiais foi muito bem conduzida, com ênfase nas possibilidades expressivas
dos materiais. Um bom exemplo foram as variações gestuais e de posicionamento do lápis sobre o
papel, que todos observaram com interesse. O que prevaleceu durante os momentos que se
seguiram foi a integração dos jovens com os mediadores, todos sentados e trabalhando juntos,
favorecendo a horizontalidade do diálogo.
Havia pensado anteriormente em organizar as mesas para que sugerissem uma roda,
e embora tenhamos optado por outro formato, acredito que a ideia da circunferência estava presente
nas manifestações de interesse e nas gargalhadas que encontravam ressonância nos que estavam ao
redor.
Uma coisa engraçada que também acontecia no meu estágio na escola é que muitas vezes quando
a gente apresenta uma proposta de desenho eles acabam saindo com um trabalho tridimensional e se
a proposta é modelagem, eles começam a desenhar na peça. Desta vez, combinamos antes da aula
que começaríamos com a argila e as peças modeladas iriam motivar desenhos posteriores.
Um dos garotos havia feito algumas esferas e conversei com ele sobre os recursos que ele poderia
utilizar para sinalizar no papel que a imagem foi realizada a partir de um modelo tridimensional.( o
que esclarece para mim que a apresentação do começo da aula teria sido mais bem-sucedida com
exemplos visíveis no desenho) Como esse aluno não estava interessado na modelagem, sugeri a
ele uma ferramenta para que pudesse desenhar na placa de argila que havia esticado.
Em relação à transição do suporte, antecipei para cada um deles esse momento, para que a
atividade não fosse interrompida de forma inesperada. Um deles mudou de ideia em relação ao que
estava modelando por causa disso, pois considerou que seu interesse em explorar grafismos em um
cubo de argila se dava pela plasticidade do material, característica que, ausente no papel,
transformaria algo prazeroso em uma repetição incômoda.
Outro exemplo ainda sobre essa questão de bi e tridimensionalidade foi o comentário de uma
menina que afirmou que seu trabalho com a argila era praticamente idêntico aos desenhos que
costuma fazer ( era uma montagem de elementos planos ). Conversamos por um tempo até que ela
pudesse notar um detalhe muito sutil que a modelagem havia possibilitado e que ela desconhecia
nos seus desenhos, que era a sugestão de frontalidade nos pés da figura.
Para encerrar, relato uma situação que considero especial porque ajuda a esclarecer meu ponto
de vista a respeito do aprendizado pela arte. Uma das meninas estava há um bom tempo pensando
em como solucionar um problema da sua peça, no qual o corpo da figura feminina sentada sobre
uma base, se inclinava para trás, ameaçando se quebrar com o peso dos cabelos. Há algo nessa
situação que só se resolverá com a compreensão do que é harmonia e equilíbrio. E isso foi se
28
resolvendo conforme a menina percebia que a saturação da base da peça podia ser transferida para
outro ponto, deslocando o tronco da figura para equilibrar a peça.
Quanto à surpresa e satisfação dessa menina com o resultado, isso eu não seria capaz de expressar
nesse relatório. Digo apenas que ela me pediu uma oportunidade no próximo encontro para realizar
mais desenhos a partir desse novo olhar que redescobriu nessa tarde.
Ao final, mais de uma vez me pediram para que os desenhos fossem guardados com cuidado e me
pareceu bem clara a compreensão que eles tem de que a vivência artística não é um processo que se
encerra em cada jornada no ateliê, mas que pressupõe uma retomada.
consideração positiva: a apresentação dos trabalhos de outros artistas durante a execução dos
trabalhos me pareceu dinâmica e promissora
crítica: a proposta que havia sido pensada para o suporte bidimensional foi adaptada para outro
tipo de material sem que ninguém se importasse em sugerir ou adaptar o que seria falado para eles
inicialmente. Senti um grande desinteresse da parte dos meus colegas por essa questão importante
que é a proposta e a fundamentação do plano de aula em alguma hipótese/conceito. Um dos jovens
veio conversar a esse respeito comigo ao final da aula, demonstrando que eles TEM SIM interesse
de que haja algum tipo de convite à reflexão antes de começarem o trabalho prático.
29
7.3– Aula 6 ( 5/10/2012 )
– mediação entre os alunos e a exposição Redes Alternativas e Hervé Fischer no MAC-USP
O álbum de retratos registros de ações artísticas no Museu de Arte Contemporânea
Esta proposta tem por objetivo estimular o debate sobre a relação do público com os
trabalhos expostos nos museus de arte.
Nas palavras da curadora da exposição Redes Alternativas, Cristina Freire: “para quem vê a
fotografia de uma performance, a aquisição da imagem se dá como informação e não como
experiência”.
● apresentação:
( 14:30 – 14:45 )
● visita ao museu: restrita às seguintes exposições: REDES ALTERNATIVAS
HERVÉ FISCHER
( 15:00 – 16:00 )
Ao final da segunda exposição, haverá a sugestão de uma experiência de diálogo com o
trabalho de Fischer, utilizando-se os carimbos que ele produziu para modificar desenhos realizados
nas aulas anteriores.
● conversa:
( 16:00 – 16:30 )
30
7.4 – Aula 7 ( 19/10/2012)
Uma arte efêmera para uma vida breve
misturando arte e cotidiano
● aula teórica: apresentação da proposta das 4 aulas e retomada da conversa da aula anterior
( 14:30 – 15:00 ) ( obs.: esta aula corresponde à função pensamento )
durante esta etapa, será projetada uma apresentação com imagens de trabalhos de arte
moderna e conceitual, organizados a partir de questões levantadas pelos estudantes durante a visita
ao MAC.
Esse trabalho obedecerá esta sequência : ( 15 minutos para cada par de tópicos )
1) A palavra como protagonista da obra de arte: uso da linguagem pelos artistas
modernos e conceituais, o que os diferencia e os aproxima.
2) Adentrando o espaço da vida: colagens e violões de Picasso, pintura como objeto,
readymades. O que a efemeridade das propostas de instalações e performances tem a
dizer sobre o nosso cotidiano?
3) Destruindo convenções e valorizando a criação coletiva: apresentação de
propostas de intervenção no espaço urbano realizadas por anônimos. Espaço para
questionar a legitimidade da ação de stickers e grafiteiros como reflexão conceitual .
Ilustração 1: intervenções no espaço urbano
31
4) Apresentação das etapas do processo de criação:
1 2 3 4
IDEIA FORMA ESTRUTURA HABILIDADE
(livro,desenho, (materiais, (conhecimento
OBJETIVO escultura,etc) composição) técnico)
as etapas 2, 3 e 4 se referem a um aspecto superficial da obra de arte. Embora seja o aspecto
mais valorizado em muitos trabalhos de arte moderna, é importante que os estudantes tenham
condições de investigar uma obra a partir da etapa conceitual e não da aparência.
● experimento: período dedicado ao olhar e à reflexão.
( 15:00 – 16:00 )
Aos estudantes será sugerido que neste período de uma hora, reflitam a respeito de seus
valores em contraposição com os valores da sociedade em que vivem e encontrem uma questão que
gostariam de modificar ou para a qual gostariam de chamar a atenção das outras pessoas. Essa
questão será o núcleo gerador de uma ideia que poderá ser trabalhada em grupo ou individualmente.
Será apresentada como ponto de partida a seguinte questão, proposta por Joseph Beuys:
“ Como o materialismo que marca a visão moderna de mundo pode ser superado?”
Além disso, os estudantes terão à sua disposição para se motivarem as sentenças sobre arte
conceitual de Sol LeWitt, recortadas e entregues em um envelope para que cada um possa retirá-las
aleatoriamente.
Em seguida, utilizando de palavras e/ou imagens, devem anotar as três etapas que deverão
seguir para que essa ideia seja comunicada:
FORMA: será um video, uma pintura, um objeto, uma intervenção no espaço?
ESTRUTURA: como seria a execução desse trabalho? Quais os materiais utilizados e por que
foram escolhidos? ( aqui entrariam os esboços preliminares no caso de um desenho/ escultura )
HABILIDADE: o que eu precisaria saber para realizar esse trabalho? Alguma técnica de
pintura? Cerâmica? Marcenaria? Habilidade com algum equipamento ou software específico?
Objetivo:
Esse exercício visa comunicar aos estudantes a importância da fundamentação dos conceitos
em um projeto de arte, auxiliando a compreensão dos processos pessoais de criação e estendendo
esse aprendizado para um novo olhar sobre o trabalho dos artistas.
Aqui temos como referência as definições de Sol LeWitt :
32
“Em arte conceitual, a ideia ou conceito é o aspecto mais importante da obra. Significa que todo
o planejamento e decisões são tomadas antecipadamente, sendo a execução um assunto
secundário. A ideia torna-se a máquina que origina a arte.”
● conversa:
( 16:00 – 16:30 )
alguns pontos a serem levantados:
– desmaterialização da arte: nem todas as ideias precisam ser concretizadas
a comunicação do conceito por si mesmo já não seria uma execução?
ação dos stickers e grafiteiros: há uma proposta ou na maioria das vezes se
trata apenas de saturação visual sem conteúdo?
* amontoe-se na metrópole
como a elaboração de um projeto com etapas demarcadas pode contribuir
para que o seu trabalho de arte não seja vazio por trás de uma bela aparência.
● Materiais:
saquinho ou envelope contendo as Sentenças sobre arte conceitual de Sol LeWitt,
com as frases recortadas e soltas;
Papéis em tamanho A3 e algum tipo de suporte para que possam apoiar enquanto se
deslocam pelo CAP;
lápis, borracha e canetas;
papel Contact transparente e se possível, pre
33
7.5 – Aula 9 ( 09/11/2012 )
A árvore como imagem do cosmos
a natureza da fantasia visionária
● apresentação: proposta da aula e sua relação com as vivências anteriores
( 14:30 – 15:00 )
durante esta etapa, será projetada uma apresentação de 20 a 30 minutos
O simbólico como fundamento da obra de arte: a linguagem simbólica esteve presente em
todas as manifestações artísticas desde a antiguidade, permanecendo nas vanguardas modernas e na
arte conceitual até os dias atuais.
Alguns artistas que serão citados:
Ai Weiwei ( Sunflower seeds )
Brancusi ( Maiastra, e “o começo do mundo” )
Joseph Beuys
Kandinsky
Paul Klee
Miró
Michelangelo
Ilustração 2: apresentação dos materiais
34
Jasper Johns
Van Gogh
Bruce Nauman
A árvore da voz interna:
Joseph Beuys, Kandinsky e Klee utilizaram-se da imagem do crescimento das plantas para
exemplificar a aspiração e a necessidade interior do homem.
Klee falava a seus alunos nos seguintes termos:
“ O ponto de origem entre o solo e a atmosfera se alarga e a imagem generalizada da planta se
torna em árvore, raiz, tronco, copa. O tronco é o meio para que a seiva suba do chão para o topo. As
forças lineares se reúnem em seu interior para formar uma poderosa corrente, e irradiam para fora,
com o fim de impregnar o espaço aéreo a uma altitude livre. Daí que a articulação dianteira se
ramifique e se abra mais e mais, para aproveitar ao máximo o ar e a luz. As folhas se tornam lóbulos
planos e tudo isso começa a ficar semelhante a um pulmão. Este organismo pode servir-nos de
exemplo: uma estrutura que funciona de dentro para fora ou vice-versa. Devemos aprender o
seguinte: que a forma em sua totalidade é o resultado de uma só base, a base da necessidade
interna. A necessidade se encontra no fundo.”
O simbolismo do CENTRO :
Nos mitos, lendas e contos de fada do mundo inteiro, insiste-se que devem ser superados
múltiplos obstáculos ( provas de fortaleza, combate com feras etc ) para atingir o centro ( conseguir
o fim proposto, conquistar a donzela, encontrar o tesouro etc ).
Este centro constitui o ponto do “começo absoluto”, quando os Seres Sobrenaturais criaram o
mundo e o homem. É a “Raiz das Raízes”, “o Ovo Divino” ( como na obra de Brancusi, por ex )
Os desafios para encontrar o centro são uma espiral contínua em forma de labirinto. Derrotar o
minotauro é desviar o olhar dos fenômenos exteriores e aprender a visualizar a nossa realidade
interna.
O herói só terá acesso pessoal ao reino do Sagrado se obtiver êxito na difícil tarefa de dominar as
forças vitais, simbolizadas pelos “poderes animais”.
ALQUIMIA:
Jung pensava que a estranha linguagem simbólica dos antigos alquimistas poderia nos ensinar
muito sobre a natureza da psique. Ele definiu a persona do ego – isto é, as máscaras que usamos
no mundo – como uma miragem cenográfica circunstancial, do mesmo modo que uma roupa não é
aquilo que ela veste, mas ainda assim é uma ferramenta útil para exibir o Self – a totalidade da
psique – ao mundo.
serão abordados : – o ouro alquímico;
o pensar, sentir e querer ( sal, mercúrio e enxofre na árvore
demonstrada por Joseph Beuys);
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os heróis solares e suas jornadas;
o simbolismo da árvore nas civilizações antigas;
a semelhança entre os cantos de gordura de Beuys, os alvos de
Jasper Johns e os girassóis de VanGogh;
Na sua obra “Psicologia e Alquimia”, Jung mostra que a tentativa do indivíduo de transmutar o
metal comum em ouro constitui a manifestação externa de um processo interior cujo objetivo real
consiste em transformar-se a si próprio.
ATELIÊ – LABORATÓRIO: O corpo contra a máquina
O instante criador é PRESENÇA. Por isso a arte se confunde com a ritualística.
Tzara, um dos fundadores do Dada, afirmava: “Nós não procuramos nada, nós afirmamos a
vitalidade de cada instante!”
Como um convite para vivenciar esta presença, alguns materiais serão apresentados: fogo (a
ideia), o ar ( pensamento) e a água ( emocional ) – levarei alguma coisa para acender e estimular o
olfato: palo santo ou alfazema …
A turma estará disposta em roda ao redor do papel/tecido no chão.
[em seguida, haverá um pequeno experimento onde os colegas da equipe também participarão.
Afinal, não vale entrar na chuva sem se molhar...]
Ilustração 3: iniciando a aula teórica
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A árvore da Imaginação:
(as emoções ocorrem no teatro do corpo, os sentimentos ocorrem no teatro da mente)
● visualização criativa: olhos fechados para uma vivência que será conduzida através da fala,
do ritmo do tambor e do olfato ( estudo dos espaços sonhados, íntimos e subjetivos)
( 15:00 – 15:10 )
Esta etapa é muito importante e trata da escuta de si mesmo como aprendizagem. Como dizia
William Blake: “ a natureza da fantasia visionária ou Imaginação é muito pouco conhecida e suas
imagens são consideradas menos permanentes do que as coisas da natureza objetiva. Todavia, o
carvalho morre, mas sua imagem e individualidade podem retornar, graças à sua semente, da mesma
forma que a Imagem Imaginativa retorna através da semente do Pensamento Contemplativo.”
Sendo assim, realizaremos uma jornada arquetípica até o nosso centro, onde se encontra uma
árvore simbólica e outros elementos que nos ensinarão sobre quem somos.
Experimento de visualização:
Vamos agora nos preparar para a realização do nosso experimento.
Sentem-se confortavelmente, com os pés no chão e as mãos sobre os joelhos.
Fechem os olhos.
Concentre-se em seu corpo.
Perceba as sensações de estar em um corpo.
Sinta a pressão que você exerce sobre a cadeira.
Sinta a força da gravidade, o peso de seus pés no chão.
Sinta suas mãos sobre os joelhos.
Sinta o seu pescoço, o peso da cabeça,
Sinta o movimento do seu peito, a sua respiração.
Perceba agora a multidão de pensamentos que povoam a sua mente.
Recordações, desejos, preocupações...
Procure não dar atenção para esses pensamentos. Observe-os como se fossem passarinhos
pousando e indo embora.
Deixe que todos os pensamentos vão embora...
Perceba e vivencie o silêncio. O silêncio que existe dentro de você...
Visualize agora que está caminhando em uma trilha na mata...
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Acima da sua cabeça, o céu está azul e você pode sentir os raios de sol tocando suavemente o
seu corpo.
Vivencie a sensação de um eterno caminhar...ouça os sons do vento nas folhas, dos pássaros...de
uma cachoeira que está próxima...
De repente, o caminho se alarga e você se encontra diante de um grande bosque de árvores..
São árvores imensas, antigas, cobertas de musgo...
Caminhe na direção desse bosque.
Você está agora rodeado pelas árvores.
O silêncio é total.
Não há nenhum movimento.
O bosque parece congelado num momento eterno do passado.
Sinta as emoções que esse bosque lhe sugere.
A passagem do tempo...o peso das eras..
Continue o seu caminho até chegar ao centro do bosque.
No centro do bosque, olhe ao seu redor e escolha uma árvore.
Olhe para a sua árvore por um momento. Observe os seus detalhes...
A partir de agora, o passado, o presente e o futuro se tornam um só tempo...
Perceba que atrás da sua árvore brilha uma luz bem intensa, no meio de uma nuvem de fumaça...
Perceba que, lentamente, a luz vai se intensificando...
Pouco a pouco, você vai percebendo uma silenciosa presença...
● Compartilhando quem você é :
( 15:10 – 16:30 )
Todos serão convidados a preparar os pigmentos e os aglutinantes. A disposição da sala e o
formato circular do suporte terão um papel fundamental na tentativa de reunir as conversas que
antes ficavam reduzidas a pequenos grupos e indivíduos isolados.
Não haverá proposta. O objetivo é criarmos um ambiente favorável ao diálogo e à troca de
impressões, com autonomia para que eles façam o que tiverem vontade. Conversem sobre as
máscaras que vieram da queima, por exemplo, ou sobre os trabalhos anteriores que ainda
interessarem.
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Materiais:
Vamos precisar também de papel craft para montarmos um grande círculo no chão....
segue uma lista com os materiais:
– pequenos recipientes de vidro/ plástico...garrafinhas etc
- corantes culinários: açafrão, canela em pó, café, cúrcuma
pelo menos uma dúzia de ovos;
goma arábica;
– papel craft sufiente para fazer um grande círculo onde eles se reunirão.
Ilustração 4: pigmentos e aglutinante
utilizados na oficina
Ilustração 5: experimentando os materiais
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Ilustração 6: prática realizada após experimento de visualização